Versão Final para Depósito - Jefferson Marques Costa - Minter Direito Assinado
Versão Final para Depósito - Jefferson Marques Costa - Minter Direito Assinado
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Princípios: “[...] princípios são mandamentos de otimização. Como tais, são normas
que ordenam que algo seja realizado em máxima medida relativamente ás
possibilidades reais e jurídicas. Isso significa que elas podem ser realizadas em
diversos graus e que a medida exigida de sua realização depende não somente das
possibilidades reais, mas também das possibilidades jurídicas” 3.
Regras: “Regras são normas que, em caso de realização do ato, prescrevem uma
consequência jurídica definitiva, ou seja, em caso de satisfação de determinados
pressupostos, ordenam, proíbem ou permitem algo de forma definitiva, ou ainda
autorizam a fazer algo de forma definitiva. Por isso, podem ser designadas de forma
1
ALEXY, R. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros Editores, 2008. p. 54.
2
ALEXY, R. Conceito e validade do Direito. Trad. Gercélia Batista de Oliveira Mendes. São Paulo:
Martins Fontes, 2011. p. 43.
3
ALEXY, R. Conceito e validade do Direito. p. 85.
simplificada corno "mandamentos definitivos". Sua forma característica de aplicação
é a subsunção”4.
4
ALEXY, R. Conceito e validade do Direito. p. 85.
5
ALEXY, R. Teoria dos Direitos Fundamentais. p. 36.
6
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. São Paulo: Landy, 2001. p. 262/259.
7
ALEXY, R. Teoria dos Direitos Fundamentais. p. 548.
(ii) institucional ou relacional, por meio de uma elevada interferência nas atribuições
dos demais poderes. Em qualquer das situações, confere-se aos juízes um papel
que vai além das missões clássicas de aplicar o direito a disputas subjetivas ou
normativas e moderar as condutas dos demais ramos do governo. Posturas ativistas
podem verificar-se nas Jurisdições constitucional e ordinária, seja coletiva ou
individual, e podem externar-se em várias dimensões práticas de aplicação do
direito.”8
8
SALLES, Bruno Makowiecky. Acesso à justiça e equilíbrio democrático: intercâmbios entre Civil
Law e Common Law. Tese (Doutorado em Ciência Jurídica) – Universidade do Vale do
Itajaí/UNIVALI, 2019. p. 7.
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... 12
ABSTRACT ............................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 17
A EVOLUÇÃO DA ARGUMENTAÇÃO DA ANTIGUIDADE ATÉ A IDADE MÉDIA.. 17
1.1 A ARGUMENTAÇÃO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA .......................................... 17
1.2 A ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA NA IDADE MÉDIA ....................................... 24
1.3 A ARGUMENTAÇÃO E RETÓRICA NA IDADE MODERNA ................................ 27
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 30
A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA DE ROBERT ALEXY E
PONTUAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO ....................... 30
2.1 NOÇÕES GERAIS DA OBRA DE ROBERT ALEXY ............................................ 30
2.2 A TESE DO DISCURSO JURÍDICO COMO CASO ESPECIAL .......................... 36
2.3 A ARGUMENTAÇÃO DOGMÁTICA PARA ROBERT ALEXY .............................. 38
2.4 O USO DOS PRECEDENTES PARA ROBERT ALEXY ...................................... 46
2.5 DO MODELO DE TEORIA A SE DESENVOLVER .............................................. 50
2.6 PERSPECTIVAS DO DISCURSO, USO DE ARGUMENTOS JURÍDICOS
ESPECIAIS E O PAPEL DOS ARGUMENTOS PRÁTICOS GERAIS ....................... 52
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 57
ALGUMAS IMPLICAÇÕES DA TEORIA ALEXYANA NA ATUAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................................................ 57
3.1 PRETENSÃO DE CORREÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO COMO ÓRGÃO
ESTATAL E SUA LEGITIMAÇÃO FUNCIONAL ......................................................... 57
3.2 ANÁLISE DOS CASOS CONCRETOS COM ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO SOB A ÓTICA DA TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA DE ROBERT
ALEXY ....................................................................................................................... 61
3.2.1 Inovação na exigência de requisitos para a invasão de domicílio. ................... 61
3.2.2 Criminalização da homofobia por interpretação da lei contra o racismo. ......... 67
3.2.3 Argumentação jurídica perante o juízo singular e no plenário do Tribunal do Júri
....................................................................................................................................79
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 91
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ................................................................ 94
RESUMO
12
ABSTRACT
13
INTRODUÇÃO
14
b) A Teoria da Argumentação Jurídica - Teoria do Discurso Racional
como Teoria da Fundamentação Jurídica de Robert Alexy pode influenciar sem ser
determinante no sucesso da causa.
15
O Método a ser utilizado na fase de Investigação será o indutivo; na
fase de Tratamento dos Dados será o analítico, e, no Relatório da Pesquisa, foi
empregado o indutivo.
9
Sobre Métodos e Técnicas vide: PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa Jurídica: Teoria e
Prática. 14.ed.rev.atual. e amp. Florianópolis: EMais, 2018. p.89-115.
10
Sobre Categorias e Conceitos Operacionais vide: PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da Pesquisa
Jurídica: Teoria e Prática. 14.ed.rev.atual. e amp. Florianópolis: EMais, 2018. p.31-60.
16
CAPÍTULO 1
11
USP. Dicionário Etimológico da Mitologia Grega. Disponível em: https://edisciplinas.
usp.br/pluginfile.php/409973/mod_resource/content/2/demgol_pt.pdf. Acesso em 18 de mar. de
2022. p. 229.
17
meio da ágora, pertence ao mais hábil e ao melhor preparado, que é
peitho, a arte de a persuasão. Nessa evolução, nota-se um
destronamento do pensamento mítico em busca do pensamento
racional, mas de outra perspectiva epistemológica é mencionado
Georges Gusdorf, que afirma que nos gregos a coexistência de
discursos racionais e míticos não implica tensões ou conflitos e que
propõe que se leia os mitos como sistemas de representação e não
como estágios históricos.12 (livre tradução do autor)
12
DE ZONANA, María Gabriela Frannino. Frédéric Monneyron-Joël Thomas. Mitos y literatura. Buenos
Aires, Nueva Visión, 2004, 96 pp.(Colección Claves dirigida por Hugo Vezzetti. Traducción de Emilio
Bernini). Revista de Estudios Clásicos, n. 33, p. 141-147, 2006. p. 142. Texto original: “Desde un
marco antropológico se establecen los tres estatutos de la palabra en Grecia: (...) - en la democracia
la palabra es de todos, en medio del ágora, pertenece al más hábil y al mejor técnico, es peitho, el
arte de la persuasión. En esta evolución podría advertirse un descoronamiento del pensamiento
mítico en pos de un pensamiento racional, pero desde otra perspectiva epistemológica se menciona
a Georges Gusdorf, quien afirma que en los griegos la coexistencia de los discursos racional y
mítico no supone tensión ni conflictos y quien propone leer los mitos como sistemas de
representación y no como etapas históricas.”
18
o tirano lhes havia subtraído. Desde suas origens, está, portanto, a
Retórica indissociavelmente ligada ao Direito, no aspecto que
Aristóteles mais tarde chamará de "gênero judicial" do discurso
retórico. O primeiro tratado de Retórica, naturalmente rudimentar, foi
escrito em 465 a.c. por Tísias e Córax, dois oradores que se
notabilizaram na defesa das vítimas dos arbítrios cometidos pelo
tirano de Siracusa. A Retórica só se desenvolveu plenamente, no
entanto, após a consolidação da democracia ateniense. Todos os
cidadãos atenienses participavam diretamente nas assembleias
populares, que possuíam funções legislativas, executivas e
judiciárias.13
13
PACHECO, Gustavo de Britto Freire. Retórica e nova retórica: a tradição grega e a teoria da
argumentação de Chaïm Perelman. Revista e-gov UFSC. Florianópolis, SC, v. 5, n. 12, p. 72-92,
1997.
19
vulgaridades e outras iniquidades que pudessem maculá-lo. “Falar de modo claro,
com ritmo (1408b), elegância (1412a) e expressões adequadas a cada gênero
discursivo, são aspectos formais essenciais ao retórico. Tudo isso enaltece a
verdade das palavras do orador.14
14
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 358/359.
15
ARISTÓTELES. Retórica. Traduzido por Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2019. Edição Kindle, p. 163
e 249.
20
reconhecesse que era possível o uso deturpado dessas ferramentas, o que geraria
muitos males:
16
ARISTÓTELES. Retórica. p. 43/44.
17
GOMES DE OLIVEIRA, Ester. A Argumentação na Antigüidade. Signum: Estudos da
Linguagem, v. 5, n. 1, p. 213-225. p. 218.
21
[...] se ocupa: 1. dos três elementos da arte (dons naturais, técnica e
prática), e 2. das partes do discurso – 2.1. inventio (os argumentos),
dispositivo (a ordem dos argumentos), elocutio (a ornamentação com
recursos estilísticos), memória (a memorização do discurso) e actio
(a gesticulação e a dicção), e 2.2. dos sentimentos que devem ser
incentivados na audiência – conciliare (como atrair o público),
probare (como persuadir com argumentos) e movere (como
emocionar os ouvintes).18
Cícero foi seguido por Sêneca (4 a.C - 65 d.C), tendo como uma de
suas principais obras as “Cartas a Lucílio”, onde desenvolve rica argumentação que
é referência sobre o tema até os dias atuais. Citemos um pequeno trecho das
Cartas:
Para que me esforço para obter um amigo? Para que eu tenha por
quem eu possa morrer, para que eu tenha a quem seguir no exílio, à
morte de quem eu me oponha e impeça. Isso que tu descreves, do
que se aproxima em vista do que é vantajoso, do que se espera que
haja algo a ganhar, é comércio, não amizade. (11) Não duvides que
o amor possui algo similar à amizade: que se possa dizer aquele
afeto <ser> uma amizade enlouquecida. Acaso alguém ama por
causa do lucro? Acaso alguém ama por causa da ambição ou da
glória? O próprio amor, por si mesmo indiferente a todas as outras
coisas, inflama os espíritos para o desejo da Beleza8, não sem
esperança de ternura mútua. E então? A causa do que é digno forma
aliança com (12) um afeto torpe?19
18
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019.
19
SÊNECA, Lúcio Aneu. Carta a Lucílio IX (sobre filosofia e amizade). Traduzido por Aldo Dinucci.
Prometheus - Journal of Philosophy, v. 4, n. 8, 1 Mar. 2013.
22
Passada a fase de Sêneca, foi com Quintiliano (35-95 d.C) que a
retórica e argumentação ganharam um sopro de vida quando parecia já relegada em
segundo plano, conseguindo ele sistematizar o pensamento de Cícero em conjunto
com toda a tradição grega até então produzida, que resultou em sua obra “Institutos
de Oratória” (Institutio Oratoria), que foi dividida em 12 livros, sendo o Livro X um
dos mais importantes, onde ele elenca um rol de autores gregos e latinos que seriam
fundamentais para a formação de um bom orador.
No século III, a cultura romana foi abalada por uma crise econômica,
social e política. A nobreza de Roma está em decadência, esgota-se
o apogeu do grande Império e este começa a estremecer. Tudo o
que se segue já começa a referir-se à Idade Média, época em que a
oratória passa a esconder-se nos manuais escolares. ‘Seu destino já
não é determinado por uma evolução histórica viva. Mostra sintomas
de degenerescência, perda de substância, atrofia. Não se pode por
isso apresentá-la num quadro uniforme nos primeiros séculos da
Idade Média’.21
20
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 364.
21
DE OLIVEIRA, Ester Gomes. A Argumentação na Antigüidade. Signum: Estudos da Linguagem,
v. 5, n. 1, p. 213-225. p. 223.
23
É dividida em quatro livros: 1) o ofício do orador, as partes do
discurso e os gêneros da narração; 2) os gêneros das causas que
movem o orador, as constituições legais, as partes do direito e da
argumentação; 3) os gêneros, a disposição e a pronunciação, a
configuração da voz e a memória, e 4) a elocução, suas figuras e
comodidades. Nessa estrutura, a Retórica a Herênio inova:
acrescenta a memória às costumeiras fases de elaboração do
discurso – se entenda memória como a capacidade do orador de
recordar os temas e a ordem de seu discurso com determinadas
técnicas aprendidas com a retórica.22
22
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 365.
23
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 365.
24
aplicavam bem as às circunstâncias históricas do momento, pois ajudavam a
confirmar os valores religiosos e morais da sociedade romana ocidental.” 24
24
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 367.
25
OLIVEIRA, Esther Gomes. Argumentação: da Idade Média ao século XX. Signum: Estudos da
Linguagem, v. 7, n. 2, p. 109-131, 2004. P. 113.
26
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene Ferreira. Da
antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica. Revista Unimontes
Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014. p. 62.
25
Ele se valeu da retórica em várias passagens de sua monumental
obra A cidade de Deus (c. 412-426), quando explicou e interpretou
textos (especialmente a Bíblia). Por exemplo, quando discorreu sobre
o sentido do descanso de Deus no sétimo dia da criação [que deve
ser compreendido como uma figura de linguagem – “o repouso de
Deus significa o repouso dos que n’Ele descansam, assim como a
alegria de uma casa significa a alegria dos que nela se alegram” (XI,
8)]; quando abordou a essência de Deus e a ordenação das
naturezas segundo os graus de Sua essência e o sopro divino na
alma (XIII, 11 e 24); quando analisou o sentido de amor e de afeição
e as perturbações na alma do sábio estoico (XIV, 7 e 8); quando
discorreu sobre o amor da cidade de Deus e o amor da cidade dos
homens (que nada mais é, para ele, do que o amor pelos corpos das
mulheres) (XV, 22).27
27
COSTA, Ricardo da. A retórica na Antiguidade e na Idade Média. Trans/Form/Ação, v. 42, n. SPE,
p. 353-390, 2019. p. 369.
28
AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. A Doutrina Cristã: manual de exegese e formação cristã.
Tradução de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. p. 274.
26
renascimento do século XII, com grande exploração em seus textos das técnicas
ensinadas nas escolas monásticas medievais.
29
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene Ferreira. Da
antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica. Revista Unimontes
Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014. p. 64.
30
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene Ferreira. Da
antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica. Revista Unimontes
Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014. p. 64.
27
privilegiava, além da elocução, a invenção e a disposição. Dois
complexos assuntos eram estudados nesse período: as figuras de
linguagem (como construir o pensamento) e os tropos (como mudar
o sentido das palavras).31
31
OLIVEIRA, Esther Gomes. Argumentação: da Idade Média ao século XX. Signum: Estudos da
Linguagem, v. 7, n. 2, p. 109-131, 2004. p. 114.
32
ADVERSE, Helton. Política e retórica no humanismo do Renascimento. O que nos faz pensar,
[S.l.], v. 19, n. 27, p. 27-58, maio de 2010. ISSN 0104-6675. Disponível em:
http://www.oquenosfazpensar.fil.puc-rio.br/index.php/oqnfp/article/view/298>. Acesso em: 23 mar.
2022.
28
No contexto das transformações religiosas do século XVI,
conhecidas como Reforma, dá- se início a uma retórica da literatura,
na qual houve uma cisão entre os componentes lógicos e estéticos
da retórica, afastando-se do aristotelismo escolástico, isto é, do
logicismo que dominou os pensadores na segunda metade da Idade
Média.33
33
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene Ferreira. Da
antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica. Revista Unimontes
Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014. p. 64.
34
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene Ferreira. Da
antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica. Revista Unimontes
Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014. p. 64.
29
CAPÍTULO 2
35
ZANON JUNIOR, Orlando Luiz; KIRTSCHIG, Guilherme. Argumentação jurídica e aprendizado
profundo. Revista de Direito Público, v. 18, p. 194-217, 2021.
30
Daí porque Alexy, após dizer que invariavelmente a decisão jurídica
“não se segue logicamente das formulações das normas jurídicas que se supõem
vigentes”. Propõe o autor quatro motivos para tal:
36
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 18/19.
37
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 18.
38
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 19.
31
para sozinhos, darem a segurança jurídica necessária para obter a melhor decisão
racional possível.39
39
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 19.
40
SOLIANO, Vitor. Jurisdição constitucional e decisão judicial: controle através da argumentação
jurídica? Um diálogo entre Neil MacCormick e Robert Alexy. Revista do Instituto de Hermenêutica
Jurídica. Belo Horizonte, n. 21, p. 10.
41
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 195.
32
questões simples (subsunção lógica) ou casos difíceis, onde nem sempre podem
ocorrer argumentações dedutivas:
42
ATIENZA, Manuel. As Razões do Direito - Teoria da Argumentação Jurídica. Rio de Janeiro: Grupo
GEN, 2014. 978-85-309-5571-7. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-5571-7/. Acesso em: 21 abr. 2022. p.
32.
33
jurisprudência. Ela tem, além disso, um relevante peso em relação ao
problema da legitimidade da regulação dos conflitos sociais mediante
decisões judiciais.43
43
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. P. 22
44
SIFUENTES. Ernesto Galindo. ¿Qué es argumentar?: Retórica y lingüística. Revista del Instituto
de la Judicatura Federal, n° 24, México, 2007, p. 31-67. p. 35. Texto original: “La argumentación
jurídica tiene como fin la justificación de la propia posición sobre la cuestión jurídica planteada; es
decir, se deberá justificar con razones aceptables y convincentes el porqué se asume una postura.
(...) También tiene como fin lograr la adhesión del auditorio a quien se dirige, pero se discute si la
argumentación persuade o convence, debido a que persuadir significa lograr que la otra parte se
adhiera a nuestra tesis, mientras que convencer se refiere a imponer nuestra tesis frente a la tesis
del contrario, esto es, vencerlo.” (livre tradução do autor)
34
pela argumentação jurídica e racional que se desenvolve um modelo democrático de
exercício do poder estatal, eis que torna essa importante atividade mais afastada
das imprevisões (com o respeito aos precedentes os casos novos já possuem uma
perspectiva bem aproximada do resultado que terá no foro), caprichos pessoais
(com o respeito à lei as vontades pessoais ficam limitadas) e restrição à criação
inusitada de decisões sem respaldo no direito (com a submissão à dogmática
jurídica evita-se decisões embasadas, exclusivamente, em elementos de fora da
ciência do direito).
45
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. P. 22.
35
ou normativa é correta (ou verdadeira) se e somente se ela pode ser
o resultado de um discurso prático racional. As condições da
racionalidade discursiva podem ser explicitadas através de um
sistema de princípios, regras e formas do discurso prático geral. Esse
sistema compreende regras que exigem não-contradição, clareza
de linguagem, certeza das suposições empíricas e sinceridade,
bem como regras e formas que dizem respeito a consequências,
ponderações, universalizabilidade e à gênese de convicções
normativas. O núcleo procedimental consiste em regras que
garantem liberdade e igualdade no discurso, através da
concessão a todos do direito de participar no discurso e de
questionar e defender qualquer afirmação.46 (grifo nosso)
46
ALEXY, Robert. Coleção Fora de Série - Teoria Discursiva do Direito, 3ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2018. 9788530982829. Disponível em: https://integrada.minha
biblioteca.com.br/#/books/9788530982829/. Acesso em: 26 fev. 2022. p. 268.
36
O autor trata essa relação como “tese do caso especial”, que, no seu
entender, pode ter três significados: “tese da secundariedade, da adição e da
integração.”47
47
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. P. 31.
48
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 31.
49
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 31.
50
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 31.
37
geral tem sido aceita por alguns e criticada veementemente por
outros.51
A dogmática, por sua vez, deve ser utilizada para analisar logicamente
os conceitos jurídicos, mas sem correr o risco de engessar essa evolução do direito,
posto que a simples análise sem brecha para a otimização do direito redundaria num
círculo vicioso onde o direito ficaria parado no tempo. Para sanar tal inconveniente,
propõe Alexy que se reconduza esta mesma análise lógica a um sistema e, dessa
recondução, sejam aplicados os resultados dessa análise na fundamentação das
51
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 278.
52
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 28.
53
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. P. 220/221.
38
decisões jurídicas. Como a aplicação da dogmática será feita sempre em conjunto
com outros elementos (ou enunciados dogmáticos já estabelecidos ou argumentos
práticos gerais) e com algumas condicionantes (respeito à lei, a outros enunciados
dogmáticos, valores sociais à época da aplicação etc.), garante-se, desta forma, a
oxigenação do direito.54
54
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 222.
55
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 223.
56
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 224.
39
decisório para questões onde os argumentos empíricos falham ou são
insuficientes.57
57
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 224.
58
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 224.
59
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 225.
40
ter esta abertura conceitual não implica dizer que que se deve abrir mão da
investigação dogmática em prol das regras de interpretação.
60
ROTTLEUTHNER, Hubert. Rechtswissenschaft als Sozialwissenschaft (A Jurisprudência como
Ciência Social, p. 178). In: ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso
racional como teoria da fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva.
Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 226.
61
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 226.
62
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 226.
41
princípios”63 – precisam das descrições dos estados de coisas a fim de o aplicador
da norma saber o campo de atuação dela.”
63
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 227.
64
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 227.
65
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 228.
66
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 228.
42
Assim, com, não raras as vezes, essa não fundamentação é até
necessária, sob pena de inviabilizar por exemplo o sistema de Justiça. Noutros
casos, permite-se usá-los numa fundamentação, desde que justificados por outros
argumentos. Na primeira hipótese temos o uso não justificativo e, nesta última, o uso
justificativo.67
67
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 228.
68
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 228.
69
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 228.
43
(J.10) Todo enunciado dogmático, se é posto em dúvida, deve ser
fundamentado medianta o emprego, pelo menos, de um argumento
prático de tipo geral.
70
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 231.
71
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 232.
72
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 232.
44
decisão, uma vez tomada, só pode ser alterada por razões
suficientes. Numerosíssimas argumentações insistem em que nada
nesse caso justifica uma mudança.”73
73
PERELMAN, Chaïm; Olbrechts-Tyteca, Lucie; Tratado da argumentação: a nova retórica. p. 120.
74
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 233.
75
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 233/234.
45
Nada mais natural que assim seja, haja vista que caso se exigisse
sempre a comprovação ou então que se demandasse longas considerações acerca
de enunciados já sedimentados, mormente na dinâmica de rapidez e racionalidade
de tempo que o mundo moderno exige, os discursos jurídicos seriam impraticáveis.
76
SALLES, Bruno Makowiecky. Acesso à Justiça e equilíbrio democrático: intercâmbios entre civil
law e commom law. vol. 1. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021. p. 201.
46
Ocorre que o cerne da questão se resume a determinar-se o que
distingue um caso de outro e, nessas distinções, o que é relevante ou não, posto
que “nunca há dois casos completamente iguais”.77
77
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 238. p. 238.
78
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 238.
47
decisão, uma vez tomada, só deve ser alterada por razões
suficientes.79
79
PERELMAN, Chaïm; Olbrechts-Tyteca, Lucie; Tratado da argumentação: a nova retórica. 3ª ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2014. P. 119/120.
80
ALEXY, Robert. Coleção Fora de Série - Teoria Discursiva do Direito, 3ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2018. 9788530982829. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788530982829/. Acesso em: 26 fev. 2022. p. 51.
81
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 240.
48
Sobre tal tema, o art. 489, parágrafo primeiro, inciso VI, do Código de
Processo Civil, disciplina que:
82
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1045. Acesso em: 13
mar. 2022.
83
KRIELE, Martin. Theorie der Rechtsgewinnung, p. 85. In: ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação
Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da fundamentação jurídica. Tradução Zilda
Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. p. 241.
84
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 241.
49
De fato, a concentração de esforços na identificação do distinguishing e
do overruling é mais relevante do que saber a diferença entre a ratio decidendi e
obiter dictum, posto que no distinguishing, uma vez identificado determinado ponto
no fato novo que o difere do precedente, o precedente será mantido, sem prejuízo
que se crie, no caso à parte, um precedente próprio considerando aquela distinção.
No entanto, o primeiro precedente se manterá intacto. Já no overruling, o precedente
será afastado por superação mesma da orientação jurisprudencial outrora
sedimentada.
85
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 23.
50
discussão pelos juristas; d) deve-se recorrer ao sistema interno de valorações do
ordenamento jurídico? fazer uso de uma ordem objetiva de valores.86
Por outro lado, quanto aos resultados das discussões jurídicas já feitas,
também não se pode desconsiderá-las. Sugere Alexy um meio termo, um equilíbrio
na aplicação dessas proposições da seguinte maneira:
86
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 23.
87
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 24.
88
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 28.
51
deixe espaço para os critérios do correto. A teoria a se desenvolver
aqui pretende, entre outras coisas, oferecer tal modelo.89
89
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 24/25.
52
extremamente duvidoso. Os princípios obtidos dessa maneira são
concretizáveis de modo diferentes. Finalmente, dos juízos fáticos se
podem obter diferença consequências normativas.90
Para apontar uma solução para tais problemas é que Alexy vai buscar
nas “modernas discussões éticas da Filosofia da Linguagem contemporânea, assim
como na teoria da argumentação que se está desenvolvendo e que convergem em
muitos pontos”91 uma alternativa de resolver esses impasses.
90
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 26.
91
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 27.
53
científico-jurídica. Continua ele por concluir que o discurso jurídico é um caso
especial do discurso prático geral,92 aduzindo que no caso do discurso jurídico ele
pode ser analisado pela perspectiva empírica, analítica e normativa.
92
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 27.
93
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 28.
94
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 27/28.
95
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 28.
96
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 28.
54
Como argumentos jurídicos especiais, Alexy elenca a analogia, o
argumentum a contrario, o argumentum a fortiori e o argumentum ad absurdum.
Conceitua-os como “formas de argumentos que se usam especialmente na
metodologia jurídica, como a analogia”.97
97
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 241.
98
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 244.
99
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 246.
55
O fato dos argumentos práticos gerais se prestarem aos desideratos
acima mencionados, não implica dizer que não possam ser usados enunciados
dogmáticos ou dos precedentes. Ocorre que o uso destes só afasta parcial e
temporariamente a aplicação dos argumentos práticos do tipo geral. Isso porque,
não raras as vezes, o uso de um enunciado dogmático pode não ser suficiente (para
por exemplo a saturação de uma forma de argumento). Daí porque serão
necessários acréscimos de premissas fundamentadas no discurso prático geral.100
“A argumentação prática geral constitui por isso o fundamento da argumentação
jurídica.”101
100
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 246.
101
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. p. 246.
56
CAPÍTULO 3
O art. 93, IX, da CRFB estipula que “todos os julgamentos dos órgãos
do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena
de nulidade(...)”103. Judiciário e Ministério Público são órgãos com atributos
praticamente idênticos no tratamento constitucional brasileiro, de forma que, por ser
102
PEIXOTO, Fabiano Hartmann. A decisão judicial no Supremo Tribunal Federal do Brasil e a
aplicação da teoria dos princípios de Robert Alexy: a ponderação como estratégia de
argumentação jurídica. 2015. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/18603. Acesso
em 24 de mar. de 2022.
103
BRASIL. Constituição Federal, art. 93, IX. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 31 de jan. de 2022.
57
um ente com atuação eminentemente jurídica, nada mais natural do que atribuir
também ao Ministério Público o dever de fundamentar suas ações, decisões e
manifestações em geral104. Portanto, ante a esta simetria já consolidada na
dogmática jurídica brasileira, nada mais natural que ao Ministério Público também se
lhe apliquem as mesmas exigências da legitimação de suas atuações conforme
tratamento dado ao Poder Judiciário.
104
A simetria entre Poder Judiciário e Ministério Público já foi reconhecida administrativamente pelo
Conselho Nacional de Justiça através do Pedido de Providências nº 0002043-22.2009.2.00.0000.
105
BONAVIDES, Paulo. Jurisdição constitucional e legitimidade (algumas observações sobre o Brasil).
Estudos avançados, v. 18, p. 127-150, 2004. p. 128.
58
a mera previsão de sua existência no texto constitucional. E a legitimação
secundária, que é a do exercício do poder, não pode ser baseada no arbítrio, na
força ou simplesmente no poder pelo poder. É neste momento que a teoria
discursiva do direito dá o necessário amparo teórico para resolver este problema.
106
ALEXY, Robert. Coleção Fora de Série - Teoria Discursiva do Direito, 3ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2018. 9788530982829. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530982829/. p. 302.
107
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021.
59
ideal da pretensão de correção que o direito sempre busca. Alexy inicia a discussão
traçando sua ideia geral sobre a pretensão de correção do direito:
108
ALEXY, Robert. Coleção Fora de Série - Teoria Discursiva do Direito, 3ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2018. 9788530982829. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788530982829/. Acesso em: 26 fev. 2022. p. 263.
109
ALEXY, Robert. Teoria Discursiva do Direito. p. 263.
60
O Ministério Público, como órgão jurídico, deve também, por tais
razões, ter sempre em mente a pretensão de correção, pois seu agir é sempre
baseado no direito. Esta observação é importante porque consegue separar a
atuação e vontade pessoal dos membros que o compõe da atuação institucional. Um
determinado membro pode ter a opinião política, religiosa, ou de qualquer outra
espécie, mas a sua atuação funcional tem que ser o mais dissociada possível de
suas preferências pessoais (nada impede também que as opiniões pessoais
coincidam com a pretensão de correção do direito), justamente para buscar sempre
a pretensão de correção do direito através da atuação institucional do Ministério
Público.
61
atividades de repressão ao crime) para ingresso em residências nos casos de crimes
permanentes.110
110
Ver STJ: AgRg no AREsp 1440300/MG; HC 474737/RS; HC 437178/SC. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp. Acesso em 16 de mar. de 2022.
111
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Processual Penal. Habeas Corpus nº 611.918-SP.
Disponível em: https://processo.stj.jus.br/processo/pesquisa/?aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa
=tipoPesquisaGenerica&termo=HC%20611918. Acesso em 31 de jan. de 2022.
62
Conforme foi dito acima, um dos pontos que Alexy chama a atenção é
justamente as limitações próprias que o discurso jurídico tem em relação ao discurso
prático geral (tese do caso especial). Na argumentação jurídica, dentre as
condições limitadoras que a cerca, temos a “sujeição à lei, a consideração
obrigatória dos precedentes, seu enquadramento na dogmática elaborada pela
Ciência do Direito organizada institucionalmente”.112
112
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. Tradução Zilda Hutchinson Schild Silva. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 28.
113
BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em 31 de jan. de 2022.
63
domicílio prevista no inciso XI do art. 5º da Constituição, não
havendo se falar, pois, em eventual ilegalidade no fato de os policiais
terem adentrado na residência do Agravante, pois o mandado de
busca e apreensão é dispensável em tais hipóteses.114 (grifo nosso)
114
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AgRg no HC 691609/SP. Agravo Regimental no habeas
corpus 2021/0285963. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp. Acesso em 31 de
jan. de 2022.
115
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689Compilado.htm. Acesso em 31 de jan. de 2022.
64
restrições diretamente constitucionais, e as restrições
infraconstitucionais são restrições indiretamente constitucionais.116
116
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Traduzido por Virgílio Afonso da Silva. 2ª ed.,
Malheiros Editores: São Paulo, 2015. p. 286.
65
tão boas para justificar não só a nova solução, mas também para
romper com a tradição.117
117
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 232/233.
118
SOLIANO, Vitor. Jurisdição constitucional e decisão judicial: controle através da argumentação
jurídica? Um diálogo entre Neil MacCormick e Robert Alexy. Revista do Instituto de Hermenêutica
Jurídica. Belo Horizonte, n. 21, p. 73.
66
configurar o tráfico, será inconstitucional apenas para dar maior força ao princípio da
inviolabilidade do domicílio.
67
previstos na Lei 7.716/89, bem como, na hipótese de homicídio doloso, configura a
qualificadora da motivação torpe (art. 121, §2º, I, parte final).
68
elemento essencial de um valor considerado fundamental do ponto
de vista jurídico e/ou moral (cf. Atienza, 1989a). A adoção de uma
decisão em tais hipóteses não significa enfrentar uma simples
alternativa, mas sim um dilema.119
119
ATIENZA, MANUEL. As Razões do Direito - Teoria da Argumentação Jurídica. Grupo GEN, 2014.
978-85-309-5571-7. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-309-
5571-7/. Acesso em: 26 nov. 2021. p. 252.
120
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão n. 26/DF.
Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754019240.
Acesso em 28 de nov. de 2021.
69
tese posta. Não se sustenta lógica e racionalmente um argumento que reconhece a
ausência de lei criminalizando determinada conduta e, na mesma toada, faz um
verdadeiro contorcionismo jurídico para enquadrar essa mesma conduta em
determinado preceito primário de um tipo penal (no caso, do racismo). E tal
enquadramento só se dá por conta de uma compreensão da dimensão social do
termo “racismo”, esforço hermenêutico jamais visto em qualquer doutrina ou
jurisprudência penalista antes desse questionável precedente.
Quando poderia ter parado por aí, o STF vai mais longe: diz ainda que,
as condutas homofóbicas e transfóbicas ajustam-se, por identidade de razão e
mediante adequação típica, aos preceitos primários da lei do racismo.
121
BRASIL. Presidência da República. Mensagem de veto. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/VEP-LEI-7716-1989.pdf
(sublinhado no original)
70
O próprio histórico da repressão aos preconceitos no Brasil informa
que, quando a legislação se mostrou ineficaz, ampliou-se, mediante lei (e não
mediante decisão judicial), o rol de proteção dos bens jurídicos tutelados. O que se
pretende dizer é que, punir comportamentos mediante o argumento de “identidade
de razão” para se fazer a adequação típica, nos parece muito perigoso e, ao
contrário do que se prega como pensamento vanguardista, lembra muito mais a era
tenebrosa do direito penal quando ele ainda não era devoto do princípio da
legalidade.
122
BRASIL. Lei Federal 9.605/98. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm.
Acesso em 09 de abr. de 2022.
71
Constituição Federal, da mesma forma que repudia qualquer tipo de
discriminação irrazoável e odiosa aos seres humanos, também protege com grande
veemência os animais (art. 225, VII). A prevalecer o fundamento da “identidade de
razão” inserto na tese do julgamento da ADO 26/DF, teríamos também a ampliação
do apertado rol taxativo do citado parágrafo no caso de maus-tratos aos papagaios?
E qual seria o limite para tais adequações típicas?
Diz ainda o julgado da ADO 26/DF que: “Por maioria e nessa extensão,
julgá-la procedente, com eficácia geral e efeito vinculante, para: (...) dar
interpretação conforme à Constituição [...]”. (grifo nosso) A interpretação conforme
possui em regra dois principais fundamentos mencionados na doutrina: a unidade do
ordenamento jurídico e a presunção de constitucionalidade das leis 123. Ora, a
interpretação conforme é dada para “salvar” determinados textos legais que
permitem interpretações em consonância e contrárias à constituição, orientando,
evidentemente, que se mantenha o texto, mas somente com validade nos sentidos
que não contrariem a lei maior.
123
DA SILVA, Virgílio Afonso. Interpretação conforme a constituição: entre a trivialidade e a
centralização judicial. Revista Direito GV, v. 2, n. 1, p. 191-210, 2006.
72
Outro ponto importante é o que se extrai da própria petição inicial que
deflagrou a ADO 26/DF:
(d) “caso transcorra o prazo fixado por esta Suprema Corte sem que
o Congresso Nacional efetive a criminalização/punição criminal
específica citada ou caso esta Corte entenda desnecessária a
fixação deste prazo, [requer-se] sejam efetivamente tipificadas a
homofobia e a transfobia como crime(s) específico(s) por
decisão desta Suprema Corte, por troca de sujeito e atividade
legislativa atípica da Corte, ante a inércia inconstitucional do
Parlamento em fazê-lo, de sorte a dar cumprimento à ordem
constitucional de punir criminalmente a homofobia e a transfobia (...),
superando-se a exigência de legalidade estrita parlamentar”;124 (grifo
nosso)
124
Trecho da petição inicial citada no acórdão da ADO 26/DF. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754019240. Acesso em 28 de
nov. de 2021.
73
interferência cogente naquele Poder de forma a determinar-lhe que edite uma lei
criminalizando condutas objeto da ação. Neste sentido:
125
Referindo-se a Campinlongo.
126
SOLIANO, Vitor. Jurisdição constitucional e decisão judicial: controle através da argumentação
jurídica? Um diálogo entre Neil MacCormick e Robert Alexy. Revista do Instituto de Hermenêutica
Jurídica. Belo Horizonte, n. 21, p. 61.
74
que é problematizar algo que não é objeto de discussão, bem como usar uma
pseudo função contramajoritária onde na verdade não há. É dito na decisão:
127
Trecho do voto do min. Celso de Mello na ADO 26/DF. Disponível em:
<https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=754019240>. Acesso em 28
de nov. de 2021.
128
PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica.
Tradução Maria Ermantina de Almeia Prado Galvão. 3ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
p. 84/85.
75
não. O STF assentou uma possível discordância da maioria das pessoas como
fundamento de sua posição contramajoritária, quando na verdade o mais provável é
que haja consenso acerca da proteção aos interesses dessas pessoas.
Assim como ensina Perelman, poderia sem problema algum o STF ter
omitido a problematização acerca da suposta necessidade de posição
contramajoritária, já que não houve no acórdão demonstração de que a maioria das
pessoas seria contra eventual proteção que a ação pretendia conferir às minorias
mencionadas.
129
ALEXY, Robert. Tratado da argumentação: a nova retórica. p. 84/85.
76
contramajoritária do STF decidir deste ou daquele modo para fazer prevalecer a
supremacia da Constituição. Há uma inversão de prioridades aí.
É importante deixar claro que a análise aqui feita cinge-se tão somente
à técnica de argumentação estudada e jamais aos efeitos práticos desta decisão na
ADO 26/DF. É evidente que tais pessoas precisam da proteção legal do Estado,
através de lei que incrimine condutas preconceituosas a este respeito. No entanto,
num Estado democrático de direito, não se pode ofender princípios básicos de
direito constitucional penal (nulo crime sem lei prévia que o defina130) em prol de
proteção jurídica de outrem, muito menos ofendendo o princípio da legalidade penal
que possui elevadíssimo valor jurídico. A atuação do Poder Judiciário deve ser
legitimada pela argumentação e, ao agir como agiu o STF, não andou bem a
suprema corte ao reforçar sua legitimação democrática pelo argumento.
130
Em latim: Nullum crime sine (praevia) lege.
77
Os direitos fundamentais são democráticos quando, apresentando-se
como justiciáveis, garantem a existência e o desenvolvimento de
pessoas que possam se autodeterminar, mas podem ser
antidemocráticos ao vincular o legislador, prefixando desconfianças
contra o processo legislativo. As desconfianças excluem das
decisões do Parlamento vontades que atentem contra os direitos
fundamentais, elevando o Judiciário, como guardião desses direitos,
a um posto superior no processo constitucional democrático. E para
que tal superioridade seja legítima, é mister que o Poder
Judiciário represente o povo, de quem emana o poder, só
podendo realizá-lo de forma argumentativa.131 (grifo nosso)
131
SALLES, Bruno Makowiecky. Acesso à Justiça e equilíbrio democrático: intercâmbios entre civil
law e commom law. vol. 2. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021. p. 68.
78
weight132 em face da all-or-nothing-fashion133 quando se tratar de aplicação de
princípios).
132
Dimensão de peso, ligado aos princípios.
133
Modelo do tudo ou nada, atinente às regras.
79
prescreve como necessário para levar o feito a julgamento (prova da materialidade
do crime e indícios de autoria).
134
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Acórdão 804820,
20100610075217RSE, Relator: ROMÃO C. OLIVEIRA, 1ª Turma Criminal, data de julgamento:
17/7/2014, publicado no DJE: 28/7/2014. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/jurisprudencia-em-temas/jurisprudencia-em-detalhes/
tribunal-do-juri/decisao-de-pronuncia-2013-excesso-de-linguagem-do-juiz. Acesso em 10 de mar. de
2022.
80
essas limitações não só como aceitáveis, mas também como
razoáveis e necessárias.135
135
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 30.
81
jurídica, religiosa, por piedade, raiva ou até por motivações que seriam
argumentativamente impossíveis, como as baseadas em preconceitos de raça, sexo,
origem, religião etc. Por melhor que sejam os argumentos das partes, mas se algum
dos jurados entender que deva absolver o réu porque seus filhos irão passar
dificuldades financeiras (piedade) ou se quiser condená-lo porque ele é de
determinada religião que o jurado repudia ou possui esta ou aquela condição sexual,
pouco poderá ser feito, por mais absurdo que possa parecer.
136
BRASIL. Código de Processo Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del3689Compilado.htm. Acesso em 20 de fev. de 2022.
82
Portanto, o que se veda é a referência ao uso do direito ao silêncio
de forma pejorativa como argumento de autoridade ou com a simples
menção que o uso de tal direito implica no assentimento de culpa ou
coisa parecida. Não se proíbe falar que o acusado ficou em silêncio
em determinado interrogatório. Se isso vai ser levado em conta pelos
jurados em prejuízo ou benefício para a defesa, é o risco assumido
pelo réu. Numa interpretação sistemática, basta ver o inciso I que
confirma tal assertiva quando se diz da proibição de referência à
decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como
argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o
acusado.137
A proibição legal veda, por exemplo, dizer que o réu deva ser
condenado só porque o juiz ou os desembargadores, autoridades que são muito
respeitadas pelos jurados, o pronunciou, ou então que ele deva ser condenado só
porque ficou calado. Observa-se, portanto, uma clara incidência da observação de
Alexy acerca das restrições impostas aos discursos jurídicos em geral.
137
COSTA, Jefferson Marques. O legislador ordinário às vezes faz jus ao nome. Do silêncio do réu e
outras nuances do Tribunal do Júri. In: SANTOS, Alessandra; MIRANDA, Alexandre (Coord.).
Conversas sobre Direitos II. Editora Conquista: Rio de Janeiro, 2019. p. 126/127.
83
Chamada de Lei Mariana Ferrer, estas limitações argumentativas e de
instrução probatória vieram com o fito de preservar a dignidade das vítimas ou
testemunhas contra exploração de assuntos que nada digam respeito ao mérito da
causa, e que visem tão somente a criação de uma imagem negativa da vítima ou
testemunha perante os jurados, tudo no intuito de desacreditá-las. Trata-se,
portanto, de importante limitação à argumentação jurídica imposta pela lei.
84
humana, a vedação a todas as formas de discriminação, o direito à
igualdade e o direito à vida, tendo em vista os riscos elevados e
sistêmicos decorrentes da naturalização, da tolerância e do incentivo
à cultura da violência doméstica e do feminicídio. 5. Na hipótese de
a defesa lançar mão, direta ou indiretamente, da tese da
“legítima defesa da honra” (ou de qualquer argumento que a ela
induza), seja na fase pré-processual, na fase processual ou no
julgamento perante o tribunal do júri, caracterizada estará a
nulidade da prova, do ato processual ou, caso não obstada pelo
presidente do júri, dos debates por ocasião da sessão do júri,
facultando-se ao titular da acusação recorrer de apelação na
forma do art. 593, III, a, do Código de Processo Penal. 6. Medida
cautelar parcialmente concedida para (i) firmar o entendimento de
que a tese da legítima defesa da honra é inconstitucional, por
contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, da CF), da proteção à vida e da igualdade de
gênero (art. 5º, caput, da CF); (ii) conferir interpretação conforme à
Constituição aos arts. 23, inciso II, e 25, caput e parágrafo único, do
Código Penal e ao art. 65 do Código de Processo Penal, de modo a
excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima
defesa; e (iii) obstar à defesa, à acusação, à autoridade policial e
ao juízo que utilizem, direta ou indiretamente, a tese de legítima
defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas
fases pré-processual ou processual penais, bem como durante o
julgamento perante o tribunal do júri, sob pena de nulidade do
ato e do julgamento. 7. Medida cautelar referendada.138 (grifo
nosso)
138
BRASIL. STF. ADPF 779 MC-Ref/DF - Distrito Federal. Relator(a): Dias Toffoli, Tribunal Pleno,
julgado em 15/03/2021. Publicado no DJe-096 em 20-05-2021. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur446516/false. Acesso em 12 de mar. de 2022. (
85
argumentações, até mesmo na fase de inquérito policial, acerca de eventual
alegação de legítima defesa da honra em casos de homicídios.
139
FLOWE, Heather D.; EBBESEN, Ebbe B.; PUTCHA-BHAGAVATULA, Anila. Rape shield laws and
sexual behavior evidence: effects of consent level and women's sexual history on rape allegations.
Law and Human Behavior, v. 31, n. 2, p. 159, 2007. Disponível em:
https://psycnet.apa.org/record/2007-06178-003. Acesso em 14 de mar. de 2022. Tradução livre do
autor. Texto original: “The legal system has historically treated claims of rape with skepticism. Many
states, for example, once had cautionary instructions to the jury warning of women’s1 propensity to
make false charges of rape. Moreover, evidence of promiscuity was routinely admitted at trial to
undermine the credibility of a complainant and to demonstrate to the jury that in all likelihood she
consented on the occasion in question. Since the 1970’s, however, all state legislatures have passed
changes in rape statutes. One major change was the enactment of so-called rape shield laws, which
limit the introduction of evidence at trial concerning the complainant’s sexual history. Congress, the
86
Observa-se que o STF se inspirou nesse tipo de legislação a fim de
impor limites argumentativos nos casos mais do que frequentes de alegações de
legítima defesa da honra, principalmente em processos de feminicídios tentados e
consumados que tanto ocorrem no Brasil.
military, and all of the states have implemented rape shield laws. Similar to federal and military rape
shield laws, almost half of the states general exclude all sexual history evidence unless it 1) relates
to the complainant’s sexual conduct with the defendant, or 2) provides information regarding
pregnancy, disease, or the source of semen.”
140
SALLES, Bruno Makowiecky. Acesso à Justiça e equilíbrio democrático: intercâmbios entre civil
law e commom law. vol. 2. Belo Horizonte: Editora Dialética, 2021. p. 67.
87
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”141 Entra,
portanto, o STF no perigoso e difícil terreno da valoração no direito.
141
BRASIL. STF. ADPF 779 MC-Ref/DF - Distrito Federal. Relator(a): Dias Toffoli, Tribunal Pleno,
julgado em 15/03/2021. Publicado no DJe-096 em 20-05-2021. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur446516/false. Acesso em 15 de mar. de 2022.
142
ALEXY, Robert. Teoria da Argumentação Jurídica: a teoria do discurso racional como teoria da
fundamentação jurídica. 6ª ed. Tradução de: Zilda Hutchinson Schild Silva. Rio de Janeiro: Forense,
2021. p. 25.
88
No entanto, se por um lado a decisão beneficia a sociedade contra uma
possível tese que vai de encontro aos interesses da República, e que sequer pode
ser sustentada no plenário do Tribunal do Júri, por outro lado a decisão fere alguns
postulados da teoria de Alexy, conforme se vê:
143
ALEXY, Robert. Coleção Fora de Série - Teoria Discursiva do Direito, 3ª edição. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2018. 9788530982829. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
com.br/#/books/9788530982829/. Acesso em: 26 fev. 2022. p. 268.
89
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com tudo que foi abordado nos estudos, a primeira hipótese levantada
foi a mais condizente com os resultados da pesquisa realizada, uma vez que
demonstrou-se que a aplicação da teoria da argumentação jurídica de Robert Alexy
como forma racionalizar o máximo possível a atuação jurídica dos órgãos do sistema
de Justiça (Poder Judiciário e Ministério Público principalmente) é um instrumento
muito eficaz para o fim a que se propõe no estudo.
91
Vimos no capítulo 2 as características principais da Teoria da
Argumentação Jurídica de Robert Alexy e fizemos algumas incursões sobre ela na
atividade do Ministério Público.
92
respeitada, evidentemente, a independência funcional daqueles que optarem por
não seguir eventuais recomendações dos órgãos superiores da Instituição.
93
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Traduzido por Virgílio Afonso
da Silva. 2ª ed., Malheiros Editores: São Paulo, 2015.
ARISTÓTELES. Retórica. Traduzido por Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2019.
Edição Kindle.
94
BRASIL. Constituição Federal, art. 93, IX. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 31 de
jan. de 2022.
95
COSTA, Jefferson Marques. O legislador ordinário às vezes faz jus ao nome. Do
silêncio do réu e outras nuances do Tribunal do Júri. In: SANTOS, Alessandra;
MIRANDA, Alexandre (Coord.). Conversas sobre Direitos II. Editora Conquista: Rio
de Janeiro, 2019.
NEPOMUCENO, Arlete Ribeiro; LEÃO, Sarah Caroline Dias; DOS SANTOS, Edilene
Ferreira. Da antiguidade aos tempos modernos: algumas balizas sobre a retórica.
Revista Unimontes Científica, v. 16, n. 2, p. 53-66, 2014.
96
como estratégia de argumentação jurídica. 2015. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/handle/10482/18603.
SÊNECA, Lúcio Aneu. Carta a Lucílio IX (sobre filosofia e amizade). Traduzido por
Aldo Dinucci. Prometheus - Journal of Philosophy, v. 4, n. 8, 1 mar. 2013.
97