A Preceptoria de Núcleo de Serviço Social Nos Programas de Residência Multiprofissional em Porto Alegre

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL

Cristine Kuss

A PRECEPTORIA DE NÚCLEO DE SERVIÇO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE


RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM PORTO ALEGRE

Porto Alegre
2018
Cristine Kuss

A PRECEPTORIA DE NÚCLEO DE SERVIÇO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE


RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM PORTO ALEGRE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Política Social e Serviço Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito para a obtenção do título de Mestre em
Política Social e Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy

Porto Alegre
2018
Cristine Kuss

A PRECEPTORIA DE NÚCLEO DE SERVIÇO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE


RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM PORTO ALEGRE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Política Social e Serviço Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como
requisito para a obtenção do título de Mestre em
Política Social e Serviço Social.

Orientadora: Profa. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy

Aprovada 10 de agosto de 2018.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Presidente (Orientadora)

Profa. Dra. Tatiana Reidel


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Membro Interno

Profa. Dra. Ramona Fernanda Ceriotti Toassi


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Membro Interno

Profa. Dra. Maria Isabel Barros Bellini


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS
Membro Externo à Instituição
Para Clarissa, com ela e por ela, sempre.

Para Lauro Ellenor Koepp, meu querido avô, que me ensinou o bom combate.
AGRADECIMENTOS

À minha filha Clarissa, que em sua parceria e amor, sempre me perguntou


docemente: mãe, tu vai estudar hoje? Minha flor e fonte de amor, coragem pra tudo
nesta vida.

Aos Kuss. Minha mãe, Valéria, que tem o olhar preocupado e respeitoso com a
minha vida. Nosso pai, Niteróy, esta ausência amorosa e de enfrentamento pra tudo.
Meus irmãos queridos e suas famílias: Flávio e Fábia, com meus sobrinhos Eduarda
e Gustavo; Fernando e Veridiana, com meus sobrinhos Otávio e Benício; Felipe e
sua doce filha Valentina. Minha irmã Caroline e meu cunhado Juliano, minha irmã
Cibele. E um agradecimento especial pela acolhida nestes últimos dois verões, Tia
Carol, Tio Jú, Tio Lipe, Dindo Brabo, Dinda Braba e Vó Valéria, ... não seria possível
sem vocês. Santa Cruz do Sul é o lugar mais lindo do mundo, como diz Clarissa!

As pessoas especiais da minha vida, que me alegram, motivam, são felicidades e


afetos... Adjane, Ana Cláudia, Frederico (que me leva para caminhar com ele e
alegra meu coração, desde a qualificação deste Mestrado), Rita, Lea, Sônia, José
Flávio e o Leonardo Porto, o homem do mal, um co-orientador para assuntos
aleatórios. Estar com vocês alimenta minha alma e meu coração. Pra vocês guardei
o amor que sempre quis mostrar, o amor que recebi, vem visitar... Dra. Marisa Sigal,
meu lugar terapêutico e encorajador, de cuidado para os meus dias tristes, quando a
vida engole a vida.

Ao grande encontro com minha orientadora Prof. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy,
que me inspira, desafia e provoca o desejo de aprender mais e mais. O que aprendi
é eterno. Muito obrigada pelo afeto, às palavras de incentivo e a alegria de
acompanhar seus ensinamentos e sua seriedade para com a minha formação.

Às professoras que compõem a banca examinadora pela disponibilidade e os


atentos apontamentos para a qualificação do trabalho.

Às Assistentes Sociais do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Nada seria


possível se eu não tivesse colegas afetivas, com grande parceria e carinho com as
minhas ausências, meus afastamentos. Beth Calovi, Lea Kelbert e Míriam
Prikladnicki, só gratidão e a mais profunda admiração pelo trabalho que realizamos
juntas.

Aos colegas do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Fora prefeito nefasto! E
sim, agora é Greve!

As Residentes de Serviço Social do PRIMURGE/HPS. Andrea, Karine, Alzira,


Sharon, Thaiane, Juliana, Mariana, Cristiane, Fábia, Luiza, Taís, Andressa e
Verônica. Minha motivação cresceu pela alegria e preocupação de ser Preceptora
de vocês.

Ao “Comitê” do Mestrado em Políticas Sociais e Serviço Social da UFRGS, esta


primeira turma ousada e cheia de alegria. Águida, Claúdia, Daiane, Eliane, Elsa,
Janaíra, Marcela, Mariele, Silvana... Os melhores dias destes dois anos era estar
com vocês.

Aos colegas do GEFESS pelas contribuições no processo da pesquisa e pela


construção do referencial teórico para a Dissertação. Aos professores do PPG em
Políticas Sociais e Serviço Social da UFRGS, que estimularam o ensino e a
aprendizagem. À Prof. Dra. Thaisa Closs pelas orientações e compartilhamento.

Aos Preceptores de Núcleo de Serviço Social, pela disponibilidade em participar da


Pesquisa.
RESUMO

Objetivo: Conhecer o processo pedagógico da Preceptoria de Núcleo do Serviço


Social, buscando constituir um referencial para o ensino da formação em serviço,
ancorado no Projeto Ético-Político do Assistente Social inserido nos Programas de
Residência Multiprofissional em Saúde, Método: Dialético-crítico a luz do
materialismo histórico. Pesquisa qualitativa, documental e bibliográfica, realizada
junto ao Portal da CAPES, SCIELO, aos Anais dos Congressos Brasileiros de
Assistentes Sociais (CBAS), e dos Encontros Nacionais de Pesquisadores em
Serviço Social (ENPESS). A pesquisa de campo foi realizada com seis assistentes
sociais Preceptoras de Núcleos de Serviço Social de três hospitais de Porto Alegre,
RS, vinculados ao SUS. Na análise dos dados utilizou-se a análise de conteúdo
(BARDIN, 2016) e a técnica de triangulação de (TRIVINÕS, 1995). Resultados: A
concepção de Preceptoria de Núcleo em Serviço Social na formação em serviço da
Residência Multiprofissional em Saúde acena uma concepção ainda em construção.
Configura-se como espaço de mediação entre o trabalho profissional na interface
com outras áreas profissionais e como espaço de organização da demanda do
Serviço Social nos Serviços. Na constituição dos processos pedagógicos o contexto
foi determinante para as atividades que envolvem o ensino na Preceptoria, seja
pelas condições de trabalho expressas pela carga horária em virtude das demandas
do cotidiano profissional, seja pelas vivências de violência nos contextos sociais. A
formação permanente é outro elemento destacado para o exercício da preceptoria
em consonância com o Projeto Ético Político do Serviço Social. O desenvolvimento
da competência profissional no processo de preceptoria se constituiu pelas
normativas éticas, técnicas e legais, pelos Parâmetros para a Atuação de
Assistentes Sociais na Saúde e pelo Código de Ética Profissional, pelo estudo do
controle social no acesso aos direitos sociais dos usuários, pelos projetos de
intervenção e de pesquisas à apreensão da realidade social, atividades de
articulação entre as dimensões, ético-política, teórico-metodológica e técnico-
operativo. Conclusão: A Preceptoria de Núcleo de Serviço Social no universo de
ensino-serviço é uma ousadia cotidiana de quem não abandona o contraditório
mesmo em espaços duros do cuidado em saúde, que detém de altas tecnologias de
tratamento, mas que não conseguem ser resolutivas frente às mais diversas formas
de vulnerabilidade social que também geram adoecimento e morte.
A Preceptoria de Núcleo de Serviço Social, no processo de ensino-serviço,
representa um dos espaços operativos para supervisão profissional dos Assistentes
Sociais Residentes. Constitui-se também, no processo de formação, um lugar de
resistência para as relações dos Assistentes Sociais nas equipes de saúde, visando
consolidar o Sistema Único de Saúde vinculado ao projeto da Reforma Sanitária.

Palavras Chave: Preceptoria; Serviço Social; Hospitais de Ensino; Residência


Multiprofissional em Saúde. Sistema Único de Saúde.
ABSTRACT

Objective: To know the pedagogical process of the Preceptory of Social Work


Nucleus, seeking to constitute a reference for the teaching of in-service training,
anchored in the Ethical-Political Project of the Social Worker inserted in the Multi-
professional Health Residency Programs. Method: Dialectic-critical in the light of
historical materialism. Qualitative, documental and bibliographical research, carried
out at the CAPES Portal, SCIELO, the Annals of the Brazilian Congresses of Social
Workers (CBAS), and the National Meetings of Researchers in Social Work
(ENPESS). The field research was carried out with six social workers Preceptors of
Social Service Centers of three hospitals in Porto Alegre, RS, linked to SUS. In the
analysis of the data the content analysis (BARDIN, 2016) and the triangulation
technique of (TRIVINÕS, 1995) were used. Results: The conception of Preceptory of
Nucleus in Social Work in the in-service training of the Multi-professional Health
Residence promotes a conception still under construction. It is configured as a space
for mediation between professional work in the interface with other professional
areas and as a space for organizing the demand of Social Work in Services. In the
constitution of the pedagogical processes, the context was determinant for the
activities that involve teaching in the Preceptory, either by the working conditions
expressed by the workload due to the demands of the professional daily life, or by
the experiences of violence in the social contexts. The permanent formation is
another outstanding element for the exercise of the preceptory in consonance with
the Political Ethical Project of the Social Work. The development of professional
competence in the preceptory process was constituted by ethical, technical and legal
norms, by the Parameters for the Performance of Social Workers in Health and by
the Code of Professional Ethics, by the study of social control in access to social
rights of users, by projects of intervention and research to the apprehension of social
reality, activities of articulation between the dimensions, ethical-political, theoretical-
methodological and technical-operative. Conclusion: The Preceptor of Social Work
Core in the teaching-service universe is a day-to-day daring of those who do not
abandon the contradiction even in the hard spaces of health care, which have high
treatment technologies but can not be more diverse forms of social vulnerability that
also generate sickness and death.
The Preceptory of Social Work Nucleus, in the teaching-service process, represents
one of the operative spaces for professional supervision of the Resident Social
Workers. In the training process, it is also a place of resistance for the relationship of
Social Workers in health teams, aiming to consolidate Brazilian National Health
System-SUS the linked to the Sanitary Reform project.

Keywords: Preceptoria; Social Work; Teaching Hospitals; Multi-professional


Residency in Health. Brazilian National Health System-SUS

.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Categorias e subcategorias construídas a partir dos dados empíricos.... 54


SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABESS Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social

ANAS Associação Nacional de Assistentes Sociais

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CBCISS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais

CFAS Conselho Federal de assistentes Sociais

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CNEAS Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de Assistentes

Sociais

CNRMS Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde

CNE Conselho Nacional de Educação

COREMU Comissão de Residência Multiprofissional

C.O.S. Charity Organizacion Society

CRAS Conselhos Regionais de Assistentes Sociais

CRESS Conselhos Regionais de Serviço Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

GEFESS Grupo de Estudos e Pesquisa em. Formação e Exercício Profissional

em Serviço Social

IES Instituições de Ensino Superior

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MEC Ministério da Educação


PEP Projeto Ético-Político do Serviço Social

PP Projeto Pedagógico

RMS Programas de Residência Multiprofissional em Saúde

SCIELO ‘ Scientific Eletronic Library Online

SUS Sistema Único de Saúde

UERJ Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 22
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 30
2.1 FORMAÇÃO E TRABALHO PROFISSIONAL.......................................................... 30
2.2 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL .............................................. 39
2.3 PROCESSO PEDAGÓGICO E O SERVIÇO SOCIAL ................................................ 41
2.4 A PRECEPTORIA NOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
E A PRECEPTORIA DE NÚCLEO...................................................................................... 45
3 TRAJETORIA METODOLÓGICA ................................................................................ 50
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................................... 45
4.1 PRECEPTORIA DE NÚCLEO EM SERVIÇO SOCIAL: UMA CONCEPÇÃO EM
CONSTRUÇÃO ................................................................................................................... 45
4.1.1 Dispositivo de mediação entre a especificidade do Serviço Social e do trabalho
multiprofissional em saúde................................................................................................ 45
4.1.2 Dispositivo de organização da demanda do Serviço Social nos Serviços............... 50
4.2 O CONTEXTO E O TEXTO DO PROCESSO PEDAGÓGICO DA PRECEPTORIA
DE NÚCLEO DE SERVIÇO SOCIAL ................................................................................. 52
4.2.1 As condições de trabalho no qual o assistente social está inserido, determinantes no
ensino na Preceptoria. ....................................................................................................... 52
4.2.2 Necessidade de formação para o exercício da preceptoria em consonância com o
Projeto Ético Político do Serviço Social. .......................................................................... 55
4.3 DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS NA
PRECEPTORIA DE NÚCLEO EM SERVIÇO SOCIAL .................................................... 57
4.3.1 As Dimensões ético-política, teórico-metodológicas e técnico - operativas:.......... 57
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 61
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 65
ANEXO A – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO INSTITUTO DE
PSICOLOGIA DA UFRGS ...................................................................................................... 72
ANEXO B – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL MATERNO
INFANTIL PRESIDENTE VARGAS ..................................................................................... 76
ANEXO C – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL DE CLÍNICAS
DE PORTO ALEGRE .............................................................................................................. 80
ANEXO D – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL NOSSA
SENHORA DA CONCEIÇÃO ................................................................................................ 85
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................. 87
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO INSTITUCIONAL ............................... 91
APÊNDICE C– FORMULARIO DE ENTREVISTA COM OS ASSISTENTES SOCIAIS
PRECEPTORES ....................................................................................................................... 93
22

1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação de Mestrado pretende dialogar no campo da Formação e


do Trabalho em Serviço Social através do espaço da formação em ensino-serviço na
área da Saúde. O Serviço Social tem apresentado como necessidade em sua
formação profissional o debate para tornar a pesquisa “princípio e condição de
formação” (MORAES, 2013, p. 241). Neste lugar estão presentes os processos que
envolvem a graduação e a pós-graduação como campo de pesquisa e trabalho
profissional, ou seja, o lugar privilegiado para a trajetória histórica da profissão que
tem na questão social seu objeto central de intervenção e pesquisa.
Um dos espaços de formação profissional que se evidenciam para os
assistentes sociais na pós-graduação são os Programas de Residência
Multiprofissional em Saúde (RMS), vinculados ao Ministério da Saúde e também
Ministério da Educação. Historicamente, data de 1978 a primeira Residência
Multiprofissional, vinculada à Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul,
junto ao Centro de Saúde São José do Murialdo, sendo também a primeira
residência em Medicina Comunitária do País (CLOSS, 2013).
A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS),
em 2013 realizou um mapeamento da formação em saúde do Serviço Social nos
Programas de Residência e constatou que existiam em torno de cento e cinco
vagas/ano ofertadas pelos programas para assistentes sociais e que grande parte
dos programas estavam vinculados aos hospitais universitários, em serviços
secundários (saúde mental) e alguns na Atenção Básica, em Estratégias de Saúde
da Família (CASTRO, 2013).
Esses programas de Residência Multiprofissionais difundidos pelo Brasil
inserem-se como uma política pública, que apresenta em suas proposições o
comprometimento de dar conta do trabalho integrado e dos princípios do SUS,
através da modalidade da formação em serviço, seguindo as seguintes
determinações: a) da Constituição Federal Brasileira de 1988, art. 200, incisos III e
IV,1 b) da Lei 8.080/90, art. 6, inciso III e art. 152 e, em específico, c) da Lei

1 Art. 200: Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: inciso
III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde; inciso IV - participar da formulação
da política e da execução das ações de saneamento básico.
23

11.129/2005, art. 13 e 143 que cria o Programa de Residência para as demais


profissões da saúde, com exceção da área da medicina que desde 1977 já possui
essa modalidade de ensino, d) da Portaria Interministerial 2.117/MEC/MS/2005, que
institui a Residência Multiprofissional em Saúde4, e) da Portaria Interministerial
45/MEC/MS/2007 que instituiu a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional
em Saúde (LEWGOY et al., 2016).
Esta dissertação tem por motivação a inserção da mestranda em um
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde de um Hospital Público, o
Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, no qual é funcionária e exerce suas
atividades profissionais como assistente social, desde 2002. Agrega a essas
atividades a preceptoria de Núcleo em Serviço Social, no qual a considera como um
espaço de formação e trabalho do Assistente Social, necessitando para tanto
conhecê-la e desvelar suas potências frente aos desafios do Assistente Social no
campo da Saúde e na área hospitalar.
Assim, pelo pensar constante como Preceptora de Serviço Social em um
Programa de Residência Multiprofissional em um Hospital vinculado ao Sistema
Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre, RS, estas potências e inquietações foram
se constituindo e se acirrando a partir da imersão como preceptora nos processos
de trabalho nos quais os Assistentes Sociais Preceptores e Assistentes Sociais
Residentes estão inseridos. Neste sentido também apresentamos esta Dissertação
em primeira pessoa do plural por toda esta implicação pessoal e profissional nesta
trajetória de pesquisadora.
Diante destas inquietações algumas indagações ocorreram, a saber: como
se operacionaliza a Preceptoria de Núcleo em Serviço Social numa residência
multiprofissional em um hospital cuja atenção é direcionada ao modelo biomédico?

2 Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS): inciso III - a
ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; Art. 15. A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições:
inciso I - definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das ações e
serviços de saúde.
3 Art. 13. Fica instituída a Residência em Área Profissional da Saúde, definida como modalidade de

ensino de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação em serviço e destinada às categorias
profissionais que integram a área de saúde, excetuada a médica Art. 14. Fica criada, no âmbito do
Ministério da Educação, a Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde - CNRMS,
cuja organização e funcionamento serão disciplinados em ato conjunto dos Ministros de Estado da
Educação e da Saúde.
4Portaria Interministerial Nº 2.117/MEC/MS/2005: Art. 1º Instituir, no âmbito dos Ministérios da Saúde

e da Educação, a Residência Multiprofissional em Saúde, do Programa Nacional de Residência


Profissional na Área de Saúde, para a execução do Programa de Bolsas para a Educação pelo
Trabalho destinado às categorias profissionais que integram a área da saúde, excetuada a médica.
24

Qual a concepção de preceptoria de núcleo de Serviço Social concebida pelos


Assistentes Sociais? A preceptoria de núcleo em Serviço Social pode ser concebida
como uma supervisão profissional? Quais as dimensões teórico-metodológicos e
ético-políticos que alicerçam a dimensão técnico-operativa, na construção da
competência profissional nos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde?
Como se constrói uma proposta pedagógica no processo de preceptoria de núcleo,
tendo em vista ser uma ação pedagógica de ensino? O tema da preceptoria de
núcleo em Serviço Social está sendo discutido pela categoria profissional? Quais
são as polêmicas, as tendências, e os desafios postos a preceptoria de núcleo do
Serviço Social do tendo em vista a direção do Projeto Ético Político Profissional do
Serviço Social?
Diante dessas problematizações buscamos participar mais efetivamente dos
processos de discussão sobre a Residência Multiprofissional em Saúde. Em agosto
de 2016, o Grupo de Trabalho em Saúde do Conselho Regional de Serviço Social
(CRESS) 10ª Região realizou o Encontro Preparatório em Porto Alegre para o
Seminário Nacional sobre Residência em Saúde e Serviço Social, evento que
antecedeu o 15º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS). O tema
proposto foi: "A Residência Multiprofissional no contexto de precarização da política
de saúde e da educação” e como produto final foi elaborado uma carta para ser
apresentada no Encontro Nacional sobre Residências evento realizado no dia 05 de
setembro de 2016, na cidade de Olinda/PE.
No Encontro Preparatório em Porto Alegre a discussão versou sobre
formação teórica e teórico - prática. Foram sugeridas as seguintes propostas: a)
suporte para o exercício da preceptoria através de espaços de educação
permanente constituídos para esta finalidade, contemplando a atuação do assistente
social no SUS e a área de concentração do Programa; b) o aprofundamento dos
fundamentos teórico-metodológicos da preceptoria, considerando a particularidade
da mesma como uma supervisão de trabalhadores em formação; c) o
desenvolvimento de processos de avaliação do trabalho e ensino nas Residências
participativas nas equipes dos serviços, não centrados exclusivamente nos
Residentes.
Foi ressaltada ainda, no Encontro Preparatório a importância da valorização
e reconhecimento dos serviços de saúde no protagonismo histórico da constituição
dos Programas de Residência em Saúde, tendo em vista a trajetória de instituições
25

que não desenvolvem Residência em conjunto com Instituições de Ensino Superior


(IES).
No Seminário Nacional de Residência em Saúde e Serviço Social realizado
em setembro de 2016 em Olinda (PE), na mesa redonda “Questões presentes para
a formação profissional nos Programas de Residência Multiprofissional”, a
professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rodriane de Oliveira
Souza, cunhou duas questões importantes para a categoria dos Assistentes Sociais:

[...] a) necessidade da criação de Diretrizes Gerais ou princípios para


a inserção do Serviço Social nos programas de residência, pelo
conjunto CFESS\CRESS e ABEPSS; b) a proposta de criação de
uma supervisão conjunta que articule os cenários de prática (tutores,
preceptores e residentes) com os campos de estágio das instituições
de ensino como estratégia para garantir a formação do Residente,
bem como a qualificação profissional do Preceptor nas dimensões
teóricos metodológicas e técnico- operativas do Serviço Social.
Sinaliza que o exercício da Preceptoria de Núcleo seja constituído de
supervisões técnicas sistemáticas, com o objetivo de planejar e
avaliar o atendimento realizado e o cotidiano dos serviços, como
medida de superação da discussão de casos (entende este processo
ainda vinculado à prática e concepção do Serviço Social de casos,
com raízes conservadoras do trabalho profissional (SOUZA, 2016). 5

As considerações de Rodriane de Souza reforçaram o que a ABEPSS


(2013) apresentou em pesquisa realizada sobre o projeto pedagógico dos cursos, as
áreas de concentração, os sujeitos envolvidos e a relação formação/diretrizes
curriculares do Serviço Social, evidenciando questões importantes para reflexão da
categoria profissional, quais sejam:

[...] a) Refletir sobre as condições de trabalho do assistente social e


seu reflexo no desenvolvimento da Residência; b) Problematizar as
condições de implementação dos programas, o acúmulo de funções
e a carga horária de profissionais para preceptoria/tutoria e a não
contratação de novos profissionais; c) Definir o entendimento sobre
as atribuições do residente/tutor/preceptor e as competências da
instituição formadora e do serviço; d) Debater o espaço da docência
e da preceptoria na Residência; e) Problematizar o papel do
residente: aluno ou profissional em formação? Qual a sua autonomia
profissional? f)- Pensar na gestão dos programas: devemos
considerar a questão da dedicação exclusiva à Residência? g)
Necessidade de capacitação dos tutores e preceptores para além

5Informações capturadas através de um vídeo “Questões presentes para a formação profissional no


contexto das residências”, publicado online na página do You Tube. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=6L-ypRCJKy8>. Acesso em: 12 out. 2017.
26

dos modelos do Ministério da Saúde; h) Construir um conceito de


multiprofissionalidade e interdisciplinaridade para o trabalho em
saúde conectado ao debate da profissão; i) Em relação à supervisão
de estágio: o residente pode ser supervisor de campo? Se sim, o
conteúdo da supervisão de estágio deve estar presente no projeto
pedagógico e nas disciplinas de área específica? j) O que as
Residências estão produzindo em termos de trabalho de conclusão
de curso? l) Os temas vêm contribuindo com a área, com o curso e
com a atuação profissional? m) Ultrapassar a lógica de treinamento
em serviço e pensar a Residência como um espaço de formação; n)
Formação em serviço é uma bandeira de luta histórica e deve ser
garantida (CASTRO, 2013, p. 169).

Estas questões convergem para o alicerçamento do projeto ético-político da


profissão e encontram legitimidade nos “Parâmetros para a Atuação de Assistentes
Sociais na Saúde”, documento publicado pelo Conselho Federal de Serviço Social
em 2010, no qual é afirmado que a intervenção profissional deve estar orientada por
uma perspectiva teórico-política (CFESS, 2010), que pressupõe:

[...] leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das


condições materiais de vida, identificação das respostas existentes
no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e
fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização dos
trabalhadores em defesa de seus direitos; formulação e construção
coletiva, em conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e
técnicas para modificação da realidade e formulação de formas de
pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos
financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e à
ampliação dos direitos (CFESS, 2010, p. 35).

Esta orientação embasada pelo Conselho Federal de Serviço Social


(CFESS), órgão regulador da Profissão, marca como o processo da Preceptoria em
Serviço Social necessita conjugar estes conhecimentos em sua relação pedagógica
de ensino-serviço. E, na direção de fortalecer o Projeto Profissional, o CFESS e os
CRESS de todo o Brasil, a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço
Social e a Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO)
apresentaram em 2013, a Política de Educação Permanente como fruto de
discussão e trabalho coletivo, demarcando os pressupostos, concepções e
articulação com os valores e princípios da profissão frente aos processos
educacionais.
Esta ação consolida uma Política Nacional de Educação Permanente no
âmbito do Conjunto CFESS-CRESS, voltada para a promoção do aprimoramento
27

intelectual, técnico e político dos/as assistentes sociais, como forma de qualificar o


exercício profissional, fortalecendo sua inserção qualificada e crítica no mundo do
trabalho; bem como consolidar o projeto ético-político do Serviço Social e
potencializar a melhoria dos serviços prestados aos/às usuários/as (CFESS, 2012).
Portanto,

[...] é importante ressaltar que a Política de Educação Permanente


proposta pelo Conjunto CFESSCRESS torna-se estratégica no plano
da qualificação continuada dos/as profissionais, num contexto que
exige cotidianamente do Serviço Social a capacidade para desvelar,
processar e intervir numa realidade socioinstitucional complexa,
permeada por profundas transformações societárias no mundo do
trabalho, que se materializam de forma difusa e imediata nas
diversas expressões da questão social, objeto da ação profissional. A
dinâmica social exige, portanto, constante exercício crítico de
apreensão desta realidade dada a dimensão interventiva e
investigativa do Serviço Social e o compromisso ético-político
adotado pela profissão nas três últimas décadas. (CFESS, 2012,
p.18)

Da mesma forma o Ministério da Saúde, segundo a Portaria n°. 1996 de 20


de agosto de 2007, publiciza que a formação dos profissionais em saúde deve
compor um processo de Educação Permanente, o que vem se constituindo nas
esferas federal, estadual e municipal, sendo os Programas de Residência
Multiprofissional em Saúde um dos dispositivos de formação para os profissionais do
Sistema Único de Saúde.
De acordo com a referida Portaria, a educação permanente é concebida
como a aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao
cotidiano das organizações e ao trabalho e baseia-se na aprendizagem significativa
e na possibilidade de transformar as práticas profissionais, podendo ser entendida
como aprendizagem-trabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das
organizações (BRASIL, 2007).
A educação permanente é feita a partir dos problemas enfrentados na
realidade e leva em consideração os conhecimentos e as experiências que as
pessoas já possuem. Propõe que os processos de educação dos trabalhadores da
saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho (o ensino-
serviço), e considera que as necessidades de formação e desenvolvimento dos
28

trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde das pessoas e


populações.
Os processos de educação permanente em saúde têm como objetivo a
transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho em
saúde (BRASIL, 2007). Contudo, conforme Silva (2010), os processos de formação
profissional voltam-se atualmente para atender o mercado e suas demandas
imediatistas e técnicas, esvaziados de uma dimensão crítica e orientados por uma
direção pós-moderna, que nega as teorias sociais e gera a construção de
identidades esvaziadas de história.
Entende-se que essa modalidade de formação não produz conhecimento
junto às expressões advindas da formação em Serviço Social porque não atende as
demandas, ao aporte teórico e metodológico e a conjugação do ensino com o
projeto ético-político do Serviço Social. Nesse sentido é imprescindível que a
graduação e a pós-graduação em Serviço Social tenham a pesquisa vinculada às
diferentes expressões da questão social. O espaço de formação do profissional de
Serviço Social necessita ser permeado por este lugar do trabalho profissional que
qualifica um agir vinculado à “decifrar as lógicas do capitalismo contemporâneo,
sobretudo no que se refere às mudanças no mundo do trabalho e à desestruturação
dos sistemas de proteção social e das políticas sociais” (MORAES, 2013, p. 250).
Este é um debate importante que sinaliza o distanciamento dos processos
de pesquisa na construção do trabalho profissional,– o que dá ênfase à necessidade
de ser constituído na dimensão de uma intervenção qualificada – tanto nos espaços
de graduação e de pós-graduação. Em contrapartida, processos de pesquisa se
desenvolvem para ancorar e fortalecer a intervenção profissional, no âmbito da
formação em serviço, o que requer ir para além da simples observação dos
fenômenos sociais, pois esta formação “consiste na sua vinculação às múltiplas
demandas sociais historicamente determinadas pela sociedade capitalista”
(MENDES; ALMEIDA, 2014, p. 657), na perspectiva de uma ação transformadora e
no fortalecimento dos princípios ético-políticos da profissão.
É importante problematizar ainda, a partir da nossa experiência na
preceptoria do núcleo de Serviço Social, sobre as diversas formações recebidas
pelos residentes que ingressam na Residência Multiprofissional em Saúde, tendo em
vista que o espaço da graduação tem sido permeado pela precarização do ensino
superior, ao longo dos últimos anos, com as universidades gerenciadas na lógica do
29

mercado, expressamente centrada no lucro. Fato que se evidencia na


mercantilização da formação em Serviço Social, com a ampliação de cursos nos
formatos de educação à distância, o que pode impactar diretamente nos Programas
de Residência Multiprofissional que buscam um profissional mais crítico e implicado
nas demandas em saúde da população.
Tal contexto dimensionou como questão investigativa avaliar a necessidade
de construção de um processo pedagógico para a preceptoria de Núcleo em Serviço
Social, com a finalidade de desenvolver uma mudança no processo de formação
para além das funções técnicas que lhe são atribuídas pela Legislação. Nesta
direção, este estudo apresentou o seguinte problema de pesquisa: Como se
constitui o processo pedagógico da Preceptoria de Núcleo de Serviço Social, nos
programas de Residência Multiprofissional nos Hospitais da cidade de Porto Alegre
(RS)?
O objetivo geral delineado foi conhecer como se constitui o processo
pedagógico da Preceptoria de Núcleo do Serviço Social nestes Serviços,
considerando a possibilidade de construção de referencial para o ensino da
formação em serviço nos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde,
ancorado no projeto ético-político da Profissão de Serviço Social. E os objetivos
específicos desdobraram-se:
a. Analisar a concepção de preceptoria de núcleo de Serviço Social utilizada
pelos assistentes sociais no processo de formação em serviço junto aos
residentes.
b. Desvelar como se constitui os processos pedagógicos da preceptoria de
núcleo de Serviço Social entre os assistentes sociais preceptores e
residentes na formação em serviço.
c. Examinar como ocorre o desenvolvimento da competência profissional na
articulação entre as dimensões ético-político, teórico-metodológico no
balizamento do técnico-operativo do assistente social nos Programas de
Residência Multiprofissional em Saúde.
30

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Na revisão da literatura foram abordadas as seguintes categorias teóricas


que alicerçaram esta produção: que se constituem: Formação em Serviço e Trabalho
Profissional, Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEP), Processo Pedagógico e
Serviço Social e Preceptoria de Núcleo nos Programas de Residência
Multiprofissional.

2.1 FORMAÇÃO E TRABALHO PROFISSIONAL

O Serviço Social como profissão é reconhecido em seus primeiros


movimentos na Inglaterra, em 1869, com a fundação da Sociedade de Organização
da Caridade (Charity Organizacion Society [C.O.S.]), em Londres, no ano de 1869,
como o marco de nascimento da assistência organizada e racionalizada,
embrionária do Serviço Social. Seguidas em outros países como os Estados Unidos,
estas C.O.S. foram o espaço de legitimidade para a construção da primeira obra do
Serviço Social, elaborado por Mary Richmond em 1917 (Diagnóstico Social).
Historicamente a formação dos Assistentes Sociais é constituída na primeira
metade do século XX, inserida numa visão moralista e de cunho psicologizante da
questão social, individualizando-a na capacidade de superá-la dentro do universo do
sujeito em processo de ajuda. Ajuda esta realizada pelos Assistentes Sociais
inseridos em programas que respondiam às demandas impostas pela acumulação
do Capital.
Em 1898, a S.O.C. de Nova Iorque, fundou o primeiro curso de formação
dos trabalhadores filantrópicos (da Summer School of Philanthropic Workers) que,
em 1919, passou a se denominar Escola de Serviço Social, onde Mary Richmond
atuava e hoje faz parte da Universidade de Colúmbia, Nova Iorque. Em Chicago
também é fundada a Escola de Serviço Social, vinculada à Universidade de Illinois,
coordenada por Jane Addams. Nestes mesmos periodos são fundadas escolas na
Holanda, França e Bélgica e, em 1925 no Chile e em 1930 chegam ao Brasil.
31

Importante sinalizar que nas duas universidades americanas existia já um embate


que era determinante no projeto político da profissão:

[...] Mary Richmond e o grupo da Sociedade de Organização da


Assistência (C.O.S.) estavam preocupados com a pessoa dos
assistidos, sua capacidade e possibilidade de mudar de atitude
diante de seus problemas. O ambiente melhoraria à medida que os
assistidos melhorassem de vida. O trabalho era individualizado. [...]
Jane Addams e o grupo do Centro de Vizinhança, a Hull House,
centravam sua atuação nas reformas sociais e na política social,
entendendo que a pobreza não era um problema individual. A
solução desse problema estava na dependência de mudanças nas
condições sociais (BULLA, 1992, p. 24).

Estas diferenças na consolidação da Profissão já denotam o constante


pensar sobre a intervenção junto aos sujeitos destinatários do trabalho profissional.
O Serviço Social no Brasil surge em um contexto de importantes transformações do
desenvolvimento da produção capitalista no país e alicerçado junto à Igreja Católica.
Segundo Aguiar (2011) é dentro da visão da Igreja que surgem as primeiras escolas
de Serviço Social (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Natal) e a questão
social – a luta contra a desiguladade social – é uma preocupação assumida pela
Igreja dentro de uma luta contra o liberalismo e o comunismo. Nesta análise,
percebe-se que a luta contra o liberalismo é sim travestida, já que o temor comunista
da sociedade capitalista é sempre em relação à perda da propriedade privada.
Mesmo com este referencial cristão e vocacional (também amparado nas
teorias humanistas franco-belga), no que tange à formação, a influência das escolas
norte americanas trazem um referencial positivista, centrado na racionalidade
científica e no aprimoramento técnico, o que impulsiona a busca por conteúdos
técnicos e metodológicos. Estes movimentos impulsionam a presença do trabalho do
Assistente Social na execução de políticas sociais nos espaços da Previdência
Social, a criação e os processos de reoganização dos serviços de saúde, educação,
habitação e assistência.
Vinculados a períodos populistas de governos oriundos da Era Vargas, o
Serviço Social beneficia-se desta conjuntura econômica e política, emergindo como
trabalho especializado e o ensino vinculado ainda aos pensadores cristãos. Assim, o
Serviço Social,
32

[...] foi-se consolidando e os profissionais se afirmavam como


agentes do Estado, estreitamente ligados ao aparato institucional. O
exercício profissional passou a aser desenvolvido
predominantemente nas instituições públicas, condicionados pelas
diretrizes de política social emanadas do governo populista, que
reforçavam a prática assistencialista e a busca de consenso entre as
classes. Esta prática, além de não trazer a solução para os
problemas sociais, aumentava a submissão da classe trabalhadora,
ao mesmo tempo em que permitia um comportamento autoritário e
controlador dos que detinham o poder (BULLA, 2008, p.18).

Os movimentos de questionamento e renovação à esta visão conservadora


e assistencialista estão nos próprios caminhos endógenos do Serviço Social. O
rompimento com as práticas empiristas e funcionalistas, orientadas pela lógica
burguesa dá-se nas organizações e encontros realizados pelos Assistentes Sociais
ao longo dos anos 1940 a 1970, com o crescente amadurecimento dos processos
metodológicos. Os encontros de Araxá, Teresópolis e Alto da Boa Vista, ainda que
expressem os avanços metodológicos e políticos do Serviço Social como profissão,
estão vinculados há movimentos de modernização conservadora. Ao mesmo tempo
em que condicionam expressões do trabalho profissional, estão direcionadas pelas
conjunturas históricas e econômicas que retratam as constantes crises do
capitalismo e a sua relação com a cidadania e os direitos sociais dos trabalhadores,
mesmo em um referencial de participação popular.
Uma leitura interessante sobre este período, ao localizá-lo em um Brasil que
é marcado pelas chamadas ideologias desenvolvimentistas e da doutrina de
segurança nacional, é a perspectiva que:

(...) oculta a questão social sob a problemática do


subdesenvolvimento, na medida em que este, sob a ótica da teoria
da modernização, é caracterizado pelo dualismo econômico e
cultural, ou seja, pela presença no país de áreas atrasadas,
demarcadas pela predominância da atividade agrícola e de tabus e
crendices na base dos padrões de sociabilidade e áreas
desenvolvidas baseadas na industrialização onde há o predomínio de
critérios racionais de pensamento (ABREU, 2016, p. 137).

Como segue referindo a autora, o projeto profissional (formação e trabalho)


se dimensiona em uma realidade sem indagar os conflitos e interesses do
capitalismo imperialista e da contradição de classes, legitimando o bem estar social
nos moldes do desenvolvimentismo. É a passagem do contexto de ajuda para o de
33

participação, sendo este um “artifício direcionado ao mascaramento da estrutura


concentradora do poder e de renda” (ABREU, 2016). Estes períodos são marcados
ao longo dos governos de Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros e Geisel e são
permeados de questionamentos dos segmentos da profissão que levam ao
movimento de Reconceituação.
José Paulo Netto (1990) apresenta três vetores que atingem a reprodução
do trabalho profissional e geram profundas mudanças no Serviço Social brasileiro: a
questão teórica das ciências sociais, com a crítica ampliada nas teorias
(funcionalistas, quantitativistas) que davam sustentação teórico-metodológica; as
modificações sócio políticas da Igreja Católica (a Teologia da Libertação) e
Protestante construindo leituras teológicas que rompem com a exploração capitalista
estendendo-se tanto no meio da formação docente e no quadro da ação e por último
o movimento estudantil, que em sua intervenção no privilegiado lugar de formação,
acaba por cooptar para suas bases a reflexão docente para o profundo rompimento
com o conservadorismo.
Este movimento localiza documentos cuja elaboração profissional encontra-
se nos Anais de Congressos e Encontros, principalmente os descritos na Revista
Debates Sociais do Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços
Sociais (CBCISS), nas Associações Profissionais (ABESS) e Sindicatos; sofrendo
toda a efervescência da ditadura militar, pós-golpe de 1964 no Brasil e na América
latina, que também vivenciava o processo de Reconceituação.
O Movimento de Reconceituação é mobilizado pela intensificação das lutas
sociais que se refratavam na universidade, nas Ciências Sociais, na Igreja, nos
movimentos estudantis, com nítidas particularidades nacionais. Acompanha no
Brasil, o período da Ditadura Militar - 1964 a 1985 e expressa a recusa à importação
de teorias e métodos alheios à nossa história, na crítica aos fundamentos das
abordagens de Serviço Social de caso, de grupo e de comunidade. De base teórica
e metodológica eclética, esse movimento foi, inicialmente, polarizado pelas teorias
desenvolvimentistas, e no início da década de 1970 ocorrem as primeiras
aproximações do Serviço Social à tradição marxista. (Iamamoto, 2017, p.25).
E é no final da década de 1970 e início dos anos 1980 que, na transição de
reabertura política, o Serviço Social se insere de forma contundente na ampliação
dos direitos sociais a partir dos interesses das classes subalternas. Para Abreu
(2016) é inquestionável o significativo avanço da organização dos Assistentes
34

Sociais, com a criação de entidades sindicais, a Associação Nacional de Assistentes


Sociais (ANAS) – antes Comissão Executiva Nacional de Entidades Sindicais de
Assistentes Sociais (CNEAS) –, a reestruturação das já existentes como: a ABESS,
o Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e Conselhos Regionais de
Assistentes Sociais (CRAS). Hoje respectivamente ABEPSS, CFESS e CRESS; e
envolvimento destas com o movimento estudantil e com a produção de divergências
político ideológicas no processo de construção profissional.
Com o efetivo delineamento do pensamento dialético-crítico no Serviço
Social e a ruptura com os processos metodológicos baseados em caso, grupo e
comunidade, são os anos de 1980 e 1990 que conduzem para reformas curriculares
(1982 e1996), no qual propõem “uma formação generalista e o Serviço Social como
especialização do trabalho e sua prática formulada como concretização de um
processo de trabalho que tem como objeto as múltiplas expressões da questão
social” (ABEPSS, 2004, p. 378). Iamamoto (2014) refere que é desse período a
introdução da política social no universo da formação acadêmica, quando se vincula
o exercício profissional às políticas sociais públicas, sendo as relações entre o
Estado e a sociedade de classes decisivas para decifrar o significado social da
profissão.
Nessa direção as Diretrizes Curriculares formuladas pela Associação
Brasileira de Serviço Social em 1996 explicitam:

[...] a clara direção de oposição à educação mercantilista, o


reconhecimento do caráter de formação processual, continuada e
generalista, em detrimento da especialista, e, no eixo das
competências e habilidades, orientando que a formação profissional
deve viabilizar uma capacidade teórico-metodológica e ético-política,
como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-
operativas (LEWGOY, 2016, p.12).

Quanto ao perfil do bacharel em Serviço Social, as diretrizes curriculares


para o curso de Serviço Social, organizadas pela ABEPSS (1996) e referendada
pela CFESS concebe um profissional que:

[...] atua nas expressões da questão social, formulando e


implementando propostas para seu enfrentamento, por meio de
políticas sociais públicas, empresariais, de organizações da
sociedade civil e m,ovimentos sociais. Profissional dotado de
formação intelectual e cultural generalista crítica, competente em sua
área de desempenho, com capacidade de inserção criativa e
35

propositiva, no conjunto das relações sociais e no mercado de


trabalho. Profissional comprometido com os valores e princípios
norteadores do Código de Ética do Assistente Social (BRASIL, 1996,
p. 01).

Desse modo, ao discorrer sobre a formação no projeto de formação


profissional supõe entendê-la, como referenda Lewgoy (2016), na lógica das
Diretrizes Curriculares de 1996, que distinguem o ensino de formação. Esta
diferenciação é demarcada por um conjunto de recomendações refirmadas pela
ABEPSS em 2011, a saber: a dimensão interventiva e investigativa como condição
central da formação profissional; a superação da visão tecnicista e instrumental; a
adoção de uma teoria social crítica que permite a apreensão da realidade na
perspectiva da totalidade; a unidade entre teoria e prática; e a afirmação da
articulação entre as competências técnica e política.
O que emerge significativamente nesta discussão é a mudança do trabalho
profissional, historicamente centrado em atendimentos individualizantes e
desenvolvimentistas para um processo instituído pela Questão Social e pelo
Trabalho como categorias fundamentais para o processo de formação dos
Assistentes Sociais.
Busca-se adensar o campo de determinações e relações para
a apreensão da profissão em seu processamento: acionada
pelos sujeitos profissionais na relação com os segmentos de
classe — em suas bases institucionais públicas e privadas —
que contratam o(a) assistente social; e aqueles a quem se
dirige prioritariamente o trabalho profissional (segmentos das
classes trabalhadoras com recortes de gênero,etnia, geração,
renda etc.). No processo de construção das diretrizes
curriculares, o núcleo teórico estruturante dessa análise foi a
centralidade do trabalho na conformação das atividades desse
segmento especial de trabalhadores assalariados: os
assistentes sociais, o que tem sido fonte de provocativas
polêmicas.( Iamamoto, 2014, p.620)

As Diretrizes do Curso de Serviço Social também apresentam uma nova


lógica curricular, sustentada no tripé dos conhecimentos constituídos pelos três
núcleos de fundamentação da formação profissional do Assistente Social, quais
sejam:
a. núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que
compreende um conjunto de fundamentos teórico-metodológicos e ético-
políticos para conhecer o ser social enquanto totalidade histórica,
36

fornecendo os componentes fundamentais para a compreensão da


sociedade burguesa, em seu movimento contraditório;
b. núcleo de fundamentos da formação sócio histórica da sociedade
brasileira, que remete à compreensão das características históricas
particulares que presidem a sua formação e desenvolvimento urbano e
rural, em suas diversidades regionais e locais;
c. núcleo de fundamentos do trabalho profissional, que compreende todos
os elementos constitutivos do Serviço Social como uma especialização do
trabalho: sua trajetória histórica, teórica, metodológica e técnica, os
componentes éticos que envolvem o exercício profissional, a pesquisa, o
planejamento e a administração em Serviço Social e o estágio
supervisionado.

Contudo, as Diretrizes Curriculares sofreram no processo de aprovação pelo


Conselho Nacional de Educação, em 2001, substantivas alterações na proposta
apresentada pela ABESS (1996). Sobre isso, Lewgoy refere-se que na publicação
do Ministério da Educação (MEC), partes fundamentais das informações
encaminhadas pela Comissão de Especialista (ABEPSS) foram suprimidas pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE), dentre elas e de forma sucinta pode-se
identificar supressões no que se refere, ao perfil do formando, no que se refere ao
profissional comprometido com os valores norteadores do código de ética do
assistente social, no que se vinculam as competências e habilidades, na apreensão
crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade, análise do movimento
histórico da sociedade brasileira, na apreensão das particularidades do
desenvolvimento do capitalismo no país; e no que se refere aos conteúdos das
matérias e disciplinas, uma indicação sucinta dos tópicos que devem estruturar o
projeto pedagógico (LEWGOY, 2015).
Nesse sentido, o desafio está em acompanhar e monitorar a implementação
das Diretrizes da entidade juntos aos cursos de Serviço Social e das escolas filiadas
às entidades. Nesta condição de entidade organizativa, que tem como finalidade
coordenar e avaliar a política de formação profissional na área de Serviço Social, a
ABEPSS defende a formação profissional como um processo permanente de
qualificação e atualização para o deciframento do cotidiano da realidade social, com
vistas a evitar a fragmentação e a imediaticidade de conteúdos descolados do
37

projeto de formação profissional que possam contribuir para a proliferação e


recorrência do pensamento conservador no interior da profissão (CASTRO, 2013)
O Trabalho do Assistente Social é alicerçado enquanto profissão como
especialização do trabalho, tendo como objeto de intervenção social a “questão
social”, definida por Iamamoto (2009), como o conjunto das expressões de
desigualdades sociais da sociedade capitalista que tem uma raiz comum: a
produção social é cada vez mais social, enquanto a apropriação dos seus frutos
mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade. Continua a autora,
que a questão social sendo desigualdade, é também rebeldia por que:

[...] os sujeitos sociais ao vivenciarem as desigualdades, a elas


também resistem e expressam seu inconformismo. É nesta tensão
entre produção da desigualdade, da rebeldia e da resistência que
trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por
interesses sociais distintos, os quais não é possível abstrair – ou
deles fugir – porque tecem a trama da vida em sociedade
(IAMAMOTO, 2009, p.176).

E é nesse cenário de luta, resistências e desafios que o profissional irá


intervir considerando as dimensões da competência profissional que serão
“construídas tendo como base o aperfeiçoamento intelectual do Assistente Social”
(NETTO, 2009, p. 155). O autor destaca ainda, que a necessária ênfase na
formação acadêmica qualificada está fundada em concepções teórico-metodológicas
críticas e sólidas, capazes de viabilizar uma análise concreta da realidade social –
formação que deve abrir a via à preocupação com a (auto) formação permanente e
estimular uma constante preocupação investigativa.
Nesta perspectiva é importante a reflexão sobre as atribuições e
competências para discutir a particularidade da intervenção profissional na “divisão
social e técnica do trabalho, num contexto contemporâneo, em que empregadores
vêm buscando ditar como e de que forma devem trabalhar os(as) assistentes
sociais" (MATOS, 2015, p. 679). E nesse sentido, dando ênfase à Legislação para
conjugar a compreensão legal de competência profissional, citamos a Lei de
Regulamentação Profissional, Lei 8.662, de junho de 1993, que no seu artigo 4º,
refere que são competências do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a


órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas,
entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar,
38

executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito


de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;III -
encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos,
grupos e à população; IV - (Vetado); V - orientar indivíduos e grupos
de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e
de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus
direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços
Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam
contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações
profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da
administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras
entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste
artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em
matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos
direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento,
organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de
Serviço Social; XI - realizar estudos sócio-econômicos com os
usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da
administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras
entidades (BRASIL, 1993, p. 01).

Estas competências circunscrevem o panorama de trabalho do assistente


social, e é preciso entendê-las em conformação em seus referenciais éticos-
políticos, teóricos metodológicos e técnico-operativos. Matos (2015, p. 681) refere
que trazer para o debate não apenas as atribuições privativas, mas as competências
profissionais, coloca em cena não somente aquilo que, pela lei, é função exclusiva
do Serviço Social, mas também aquilo que potencialmente podemos/devemos
desenvolver no trabalho profissional.
As atribuições privativas geralmente estão vinculadas às coordenações de
Cursos de Serviço Social e de Setores e Serviços (equipes, programas), e as
competências são as ações que podemos desenvolver/construir - resultados de
conquistas da organização política dos assistentes sociais e que se legitimam a
partir das respostas que conseguem [os assistentes sociais] emitir para usuários (as)
dos seus serviços e para seus (suas) contratantes.
Essas respostas são referenciadas pelas normativas profissionais agregadas
pelos Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na política de saúde, que
somente serão resultados de competência, ao reconhecer a questão social como
objeto de intervenção, sendo imperativo desenvolver o trabalho profissional em uma
perspectiva totalizante, construída a partir das determinações sociais, econômicas e
culturais (CFESS, 2010).
A intervenção orientada por essa perspectiva teórico-política pressupõe:
39

[...] leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das


condições materiais de vida, identificação das respostas existentes
no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e
fortalecimento dos espaços de luta e organização dos trabalhadores
em defesa dos seus direitos, formulação e construção coletiva, em
conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas
para a modificação da realidade e formulação de formas de pressão
sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos financeiros,
materiais, técnicos e humanos necessários à garantia de direitos
(CFESS, 2010, p. 33).

Sendo assim o arcabouço legal das competências nos permite adicionar a


permanente análise cotidiana e crítica da realidade social, estabelecer
enfrentamentos, intervenções e respostas para as demandas sociais apresentadas
pelos usuários. Neste panorama de trabalho do assistente social é preciso descrever
como se constitui sua formação profissional, e como seus referenciais ético-políticos,
teóricos metodológicos e técnico-operativos estão sendo constituídos nos espaços
da pós-graduação.

2.2 PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

Problematizar o projeto ético-político do Serviço Social pressupõe analisar


de que forma a profissão - na composição sócio-técnica do trabalho do assistente
social se insere na sociedade contemporânea entre os distintos e contraditórios
interesses e movimentos de classes. O projeto tem em seu núcleo o reconhecimento
da liberdade como valor ético central – a liberdade concebida historicamente, como
possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a
autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais (NETTO,
1999).
Os elementos constitutivos deste projeto profissional identificados por Braz e
Teixeira (2014), evidenciam-se na explicitação dos princípios e dos valores ético-
políticos; na matriz teórico-metodológica em que ancora à crítica radical à ordem
vigente – a da sociedade do capital – que produz e reproduz a miséria ao mesmo
tempo em que exibe uma produção monumental de riqueza e as lutas e
posicionamentos políticos acumulados pela categoria através de suas formas
40

coletivas de organização política em aliança com os setores mais progressistas da


sociedade, pois:

[...] Ao mesmo tempo, o projeto profissional se constrói e é


construído, dialeticamente, no tenso processo sócio histórico das
lutas sociais materializado na formação sócio histórica do Brasil.
Conceber trabalho e questão social como base ontológica da
sociedade capitalista, sobretudo porque estruturam a desigualdade
social – o acirramento e a metamorfose da questão social incidem no
Serviço Social; nessa linha é necessária a apropriação destes
conceitos como fundantes e constitutivos do estatuto teórico da
profissão (SILVA, 2016 p. 30).

Esses elementos constitutivos possuem visibilidade social através de


componentes criados pelo trabalho dos próprios assistentes sociais no que se
refere: a produção de conhecimento no interior do Serviço Social – a sua dimensão
investigativa; as instâncias político-organizativas da profissão (CFESS\CRESS,
ABEPSS, ENESSO) e a dimensão jurídico-política da profissão , os legitimados pela
categoria, – o Código de Ética Profissional, a Lei de Regulamentação da Profissão e
as Diretrizes Curriculares, e os legitimados pela Sociedade – a Constituição e as
Leis (Lei Orgânica da Assistência Social [LOAS], Estatuto da Criança e do
Adolescente [ECA] e o SUS) que envolvem diretamente o trabalho do assistente
social.
Entende-se, ainda, que este projeto na contemporaneidade apresenta dois
movimentos inter-relacionados: a continuidade do processo de consolidação e as
fragilidades à que está exposto pelas políticas neoliberais e as práticas profissionais
travestidas do neoconservadorismo profissional. Nessa direção reafirmamos que o
debate no Serviço Social brasileiro tem sido polarizado por um duplo e contraditório
movimento:

[...] um que impulsiona o processo de ruptura teórica e política com o


lastro conservador de suas origens e outra que revigora uma reação
neoconservadora aberta e disfarçada que a dissimulam apoiada no
lastro da produção pós-moderna e sua negação da sociedade de
classes (IAMAMOTO, 2014, p. 612).
41

É um momento de muita preocupação e atenção para a pluralidade de


ideias. Ao mesmo tempo em que afirmam as teorias filosóficas centradas na teoria
revolucionária de Marx, agregam-se ao Serviço Social processos de interpretação e
perspectivas neoconservadoras, travestidas na produção acadêmica, de “[...] um
ecletismo tornando cânone metodológico, o relativismo como postura científica
básica e a reintronização do empirismo” (NETTO, 2016, p. 67).6
Iamamoto também reforça que o núcleo central do Serviço Social brasileiro é
a compreensão da história a partir das classes sociais e suas lutas e o
reconhecimento da centralidade do trabalho e dos trabalhadores, afirmando que o
Serviço Social foi alimentado "[...] teoricamente pela tradição marxista – no diálogo
com outras matrizes analíticas – e politicamente pela aproximação às forças vivas
que movem a história: a luta e os movimentos sociais" (IAMAMOTO, 2014, p. 615).
Esta discussão vem fortalecer o necessário debate sobre a Formação e os
Fundamentos em Serviço Social que formatam esta centralidade crítica, gerada na
contradição de classes.
A construção para o trabalho profissional precisa então ser acompanhado de
uma preocupação junto ao processo pedagógico nos espaços de formação,
reconhecendo-os como um lugar de criação e desenvolvimento de competências
para o trabalho.

2.3 PROCESSO PEDAGÓGICO E O SERVIÇO SOCIAL

A fim de dar amplitude aos desafios postos no processo de preceptoria


recorre-se a Vygotsky (1998), autor de referência em áreas como educação,
psicologia e sociologia, que, na perspectiva do materialismo histórico, trouxe
elementos importantes para a compreensão das condições concretas para a
apropriação do conhecimento. O ensino formal, vindo da escola até a universidade,
por oferecer conteúdos e desenvolver modalidades de pensamento bastante

6 Está clara a hipóteses subjacente às reflexões aqui formuladas: o neoconservadorismo próprio às


posturas pós-modernas constitui um vetor de erosão das bases do projeto ético político e vem
conferindo verniz e legitimação a concepções e práticas que, invocando este projeto, tendem
efetivamente a pô-lo em questão. E por via de consequência, não creio ser razoável – se avançar
sem contraposição a influência neoconservadora, notadamente a pós-moderna, mais a resiliência dos
condicionantes sociopolíticos que a fomentam – vislumbra a emergência de uma inflexão na atual
direção social da profissão, reversão que, a meu juízo, instaurará o quadro de uma profunda
regressividade no movimento do Serviço Social no Brasil.
42

específicas, tem um papel distinto e relevante na apropriação da experiência


culturalmente acumulada. Trata-se de um processo direto e intencional (SAVIANI,
1992), por meio do qual o sujeito é levado a se apropriar das formas mais
desenvolvidas do saber objetivo produzido historicamente pelo gênero humano
(DUARTE, 2004).
Nessa perspectiva, o sujeito constitui-se pelos processos de maturação
orgânica e pelas suas interações sociais, a partir das trocas estabelecidas. Para que
possa dominar esse conhecimento, é fundamental a mediação de sujeitos,
sobretudo dos mais experientes de seu grupo cultural. Desse ponto de vista,
Vygotsky (1998) referenda que a construção do conhecimento implica ação
partilhada, já que é através dos outros que as relações entre os sujeitos e o objeto
de conhecimento são estabelecidas.
O paradigma esboçado sugere, assim, um redimensionamento das
interações sociais entre os sujeitos implicados no processo de aprendizagem. Tais
intercâmbios são a condição necessária para a produção de conhecimentos,
particularmente daqueles que permitem o diálogo, a cooperação e a troca de
informações mútuas, o confronto de pontos de vista divergentes. Significa, pois,
compartilhar ideias e responsabilidades que, potencializadas, resultarão no alcance
de um objetivo comum.
Vygotski compreende o significado da formação do ser humano como um
processo especificamente histórico-social, distinto da aprendizagem dos animais, ou
seja, não é um processo natural, mas social, formando-se pela superação e a
incorporação dos processos psíquicos elementares, de origem biológica. Também é
importante destacar que o processo de formação do homem resulta da apropriação
dos produtos da atividade social, os quais são objetivação da atividade humana,
que, assim, mediatiza a relação entre indivíduo e mundo (VYGOTSKY, 1996).
A formação sendo um processo histórico-social, a afirmativa de ser
inquestionável a função pedagógica exercida pelo assistente social nos distintos
espaços sócio-ocupacionais em que se materializa o trabalho profissional evidencia
que esta função está vinculada à Profissão, nos diferentes movimentos históricos em
que as estratégias educativas destes profissionais são desencadeadas a partir da
luta de classes. Neste sentido podem-se construir perfis profissionais subalternos e
de reprodução das relações de dominação como também perfis educativos
emancipatórios, implicados com a teoria crítica que expresse as contradições do
43

capitalismo monopolista (ABREU; CARDOSO, 2011). Tais estratégias educativas são


assimiladas/recriadas no âmbito do Serviço Social, imprimindo, [...] dois eixos
definidores dos perfis pedagógicos das práticas educativas em Serviço Social: a
ajuda e a participação (ABREU, 2011, p. 05).
A AJUDA como um eixo norteador da Profissão desde os seus primórdios
com Mary Richmond, focando na atenção especializada – seja de caso, grupo e
comunidade, com a prática voltada para recuperação dos sujeitos de intervenção
pelo contexto da moralidade, caridade e de uma lógica de inserção no mundo do
trabalho. Este foi sempre o direcionamento dos Fundamentos do Serviço Social em
sua historicidade desde a primeira metade do séc. XX e norteou a formação dos
Assistentes Sociais até 1950 quando agrega o eixo da PARTICIPAÇÂO, sinalizando
um movimento que, mesmo em consonância à manutenção do processo de ajuda,
volta-se agora aos usuários das políticas públicas de cunho desenvolvimentista.
Este direcionamento agrega ao trabalho do Assistente Social avanços
constitutivos para o atual PEP e são norteadores do processo pedagógico da
Profissão. Pensar em como este processo pedagógico se constitui nas relações de
formação e trabalho entre o Assistente Social Preceptor e Assistente Social
Residente pressupõe considerar que esta relação precisa articular as dimensões
éticas, teóricas e interventivas do trabalho profissional em toda a sua historicidade e
pluralidade, tendo como principal orientação, “um compromisso com a autonomia, a
emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais.” (NETTO, 1999).
Entendemos a Preceptoria de Núcleo do Serviço Social, nos Programas de
Residência Multiprofissional como um dos mecanismos de trabalho profissional de
educação permanente que:

[...] para além do requisito de empregabilidade implica na estratégia


de inserção e permanência qualificada dos assistentes sociais no
mercado de trabalho contemporâneo, não na subserviência funcional
a ordem de acumulação do capital, mas na perspectiva de uma
formação crítica, construção de práticas emancipatórias junto à
classe trabalhadora, defesa intransigente dos direitos sociais e
humanos e construção de uma nova sociabilidade (NASCIMENTO;
OLIVEIRA, 2016, p..137).

Então ao falarmos em processos pedagógicos do Serviço Social, ao


descrevermos nossas práticas educativas junto a classe trabalhadora, usuária do
SUS é também importante considerar a valiosa sinalização de Lewgoy (2013, p. 72),
44

de que “[...] a cotidianidade do processo de formação apresenta uma multiplicidade


de atividades que, ao se tornarem rotineiras e reprogramáveis, correm o risco de
absorver e ofuscar o exercício de pensar sobre o realizado, de forma alienante e
alienadora”. Compreende-se a importância deste processo pedagógico com suas
potencialidades e protagonismos para a consolidação do PEP nos espaços
ocupacionais do Assistente Social nas políticas de saúde.
É preciso inscrever nesta discussão qual nosso processo de compreensão
para à Política de Saúde no Brasil. Sabemos que historicamente o trabalho dos
Assistentes Sociais é constituído junto à formulação de um projeto vinculado à
Reforma Sanitária, que traz uma concepção ampliada de saúde, com o enfoque
situado na garantia de direitos; incluindo melhores condições de vida e trabalho. A
Reforma Sanitária considera a importância dos determinantes sociais,
operacionalizando o SUS em todos os seus princípios de organização (integralidade,
descentralização, universalização, participação social) e redefinição dos papéis
institucionais (união, estados, municípios, territórios), bem como a prestação de
serviços e financiamento efetivo do Estado. (Bravo, 2013)
Enfim, é situar que tanto o processo da Reforma Sanitária como o PEP dos
Assistentes Sociais são constituídos no próprio movimento da redemocratização,
que se consolidam na década de 1980. Como antítese está o Projeto Privatista, que
visa a participação mínima do Estado, com a racionalização da oferta e a
descentralização que isenta a responsabilidade do poder central: a contenção de
gastos, com o mínimo para os que não podem pagar, transferindo para o setor
privado o atendimento aos cidadãos consumidores. (Bravo, 2013)
Nessa perspectiva que é necessário destacar as exigências quanto à
capacitação profissional no qual apresentam-se numa dupla dimensão:

[...] a de contribuir para a mobilização, capacitação e fortalecimento


da participação de segmentos da referida classe na construção de
alternativas de lutas, face a seus interesses e necessidades de
subsistência e sua constituição como sujeito político na formação da
classe para si; e a de produzir e socializar conhecimentos sobre
manifestações da questão social em torno das quais se articulam e
se dinamizam formas de lutas, contribuindo para o desvendamento
das contradições e tendências do movimento social, a estas de
antecipando com propostas alternativas de intervenção (ABREU,
2016, p. 260).
45

A Residência Multiprofissional em Saúde representa um dos espaços de


trabalho e capacitação, tendo em vista sua lógica de ensino-serviço, o que
potencializa um espaço de enfrentamento e protagonismo na desmistificação da luta
por direitos ao estar inserida em um dos cenários mais potentes das políticas
sociais: o campo da saúde, hoje também duramente atacado por investidas do
governo neoliberal. Vislumbrar as práticas que despolitizam as políticas sociais e
trazem ao universo do trabalho profissional o assistencialismo caritativo e o
filantropismo estatal (ABREU, 2016, p. 268) travestido de ações e programas
“humanizadores e solidários” nos serviços de saúde que responsabilizam duramente
o usuário na superação individual do processo saúde-doença bem como à
necessária busca da emancipação que dimensiona a consciência de classe
trabalhadora.

2.4 A PRECEPTORIA NOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA


MULTIPROFISSIONAL E A PRECEPTORIA DE NÚCLEO

A Residência Multiprofissional em Saúde é uma modalidade de formação


latu senso, com a proposta de constituir-se na lógica de ensino-serviço, com
orientação técnica-profissional e desenvolvida no âmbito do Sistema Único de
Saúde, sendo um dos elementos disparadores da política de educação permanente.
Sua potencialidade reside em:

[...] estar orientada para a apreensão e atendimento ampliado às


necessidades de saúde da população e ocorre através da integração
dos eixos ensino-serviço, do trabalho em equipe interdisciplinar e da
permanente interlocução entre os núcleos de saberes e práticas das
profissões envolvidas na formação.” (CLOSS, 2013, p. 58)

A Educação Permanente em Saúde traz uma nova exigência de formação, o


de buscar a potência, levantando questões, investigando realidades e interrogando
paisagens, na perspectiva de uma aprendizagem de si, dos entornos e dos papéis
profissionais – potências profissionais (CECCIM; FERLA, 2008).
O desenvolvimento de uma escuta pedagógica no ambiente de trabalho da
saúde buscaria captar e potencializar os movimentos de interação e construção
46

coletiva introduziria dispositivos de troca para agenciar as forças que povoam os


mundos interpessoais, tendo em vista a invenção de novos territórios ao ser
profissional na saúde e mobilizaria um ensino-aprendizagem da realidade que fosse
produtor de sentidos e de capacidades críticas. Os autores, ao se referirem aos
projetos pedagógicos referem-se a certa organização dinâmica da educação,
ampliação e potencialização, via dispositivos pedagógicos, dos atos de pensar,
aprender e conhecer relativos a um atuar/proceder.
Capaz e Silva (2013) salientam que os projetos pedagógicos dos programas
de residência devem ser orientados: pelo desenvolvimento do núcleo específico de
saberes e práticas inerentes a cada profissão, em determinado campo de
conhecimento e pelo desenvolvimento de prática multiprofissional e interdisciplinar
em determinado campo de conhecimento, integrando os núcleos de saberes e
práticas de diferentes profissões.
O conceito de Preceptoria preconizado pelo Ministério da Educação e Saúde
está relacionado para as competências do profissional Preceptor, conforme a
Resolução nº 2, de 13.04.2012, da Comissão Nacional de Residência
Multiprofissional em Saúde. A função do preceptor, conforme o artigo 13 desta
resolução caracteriza-se por ser uma supervisão direta das atividades práticas
realizadas pelos residentes nos serviços de saúde onde se desenvolve o programa,
exercida por profissional vinculado à instituição formadora ou executora, com
formação mínima de especialista. Também se refere que o preceptor deverá,
necessariamente, ser da mesma área profissional do residente sob sua supervisão,
estando presente no cenário de prática.
Em relação as atribuições do preceptor, expressas no artigo 14, à este
compete:

1) exercer a função de orientador de referência para o(s) residente(s)


no desempenho das atividades práticas vivenciadas no cotidiano da
atenção e gestão em saúde; 2) orientar e acompanhar, com suporte
do(s) tutor(es) o desenvolvimento do plano de atividades teórico-
práticas e práticas do residente, devendo observar as diretrizes do
Projeto Pedagógico(PP); 3) elaborar, com suporte do(s) tutor(es) e
demais preceptores da área de concentração, as escalas de plantões
e de férias, acompanhando sua execução; 4)facilitar a integração
do(s) residente(s) com a equipe de saúde, usuários (indivíduos,
família e grupos), residentes de outros programas, bem como com
estudantes dos diferentes níveis de formação profissional na saúde
que atuam no campo de prática; 5) participar, junto com o(s)
residente(s) e demais profissionais envolvidos no programa, das
47

atividades de pesquisa e dos projetos de intervenção voltados à


produção de conhecimento e de tecnologias que integrem ensino e
serviço para qualificação do SUS; 6) identificar dificuldades e
problemas de qualificação do(s) residente(s) relacionadas ao
desenvolvimento de atividades práticas de modo a proporcionar a
aquisição das competências previstas no Projeto Pedagógico do
programa, encaminhando-as ao(s) tutor(es) quando se fizer
necessário; 7) participar da elaboração de relatórios periódicos
desenvolvidos pelo(s) residente(s) sob sua supervisão; 9) proceder,
em conjunto com tutores, a formalização do processo avaliativo do
residente, com periodicidade máxima bimestral; 10) participar da
avaliação da implementação do PP do Programa, contribuindo para o
seu aprimoramento e 11) orientar e avaliar os trabalhos de conclusão
do programa de residência, conforme as regras estabelecidas no
Regimento Interno da COREMU, respeitada a exigências mínima de
titulação de mestre (BRASIL, 2012, p. 04-05).

Estabelecidas estas premissas no campo da residência multiprofissional em


saúde, no que confere as atribuições de preceptoria de núcleo, nos perguntamos
como isto vem acontecendo junto a Preceptoria de Núcleo de Serviço Social nos
hospitais de Porto Alegre.
Para tanto, realizamos uma busca para conhecer a produção cientifica sobre
o tema (artigos e trabalhos) através de uma consulta online no portal da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), a partir das palavras chave
<preceptoria>, <residência multiprofissional> e <Serviço Social>; uma consulta junto
ao Caderno das Publicações de trabalhos do 15º Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais, realizado em Olinda, de 4 a 9 de setembro de 2016 e, consulta
ainda em livros sobre o que estava sendo produzido sobre preceptoria.
No portal da CAPES foram localizadas 02 publicações. O mesmo artigo de
Santos, Lanza e Carvalho foi publicado na Revista Educação, 01/11/2011,
vol.10(01), p. 16-25. e na Revista Textos & Contextos, 01/01/2011, vol.10(01), p.5-15
e o de Nunes, Machado e Bellini, publicado na Revista Textos & contextos,
01/01/2003, vol.02(1), p. 1-10.
As discussões desses dois artigos tem como tema a importância do
Assistente Social na residência multiprofissional, sua contribuição para as
expressões dos usuários e também dos trabalhadores acompanhados pelos
Residentes Assistentes Sociais. Sinalizam a Residência Multiprofissional em Saúde
como um espaço rico de produção de conhecimento do fazer em saúde, instituída
48

legitimamente pela Política de Educação Permanente do Ministério da Saúde.


Contudo, a discussão sobre o tema da Preceptoria em Serviço Social não se
evidencia. A preceptoria é tratada nos artigos como algo constituído no cotidiano do
ensino-serviço, sem expressar as especificidades do seu ofício em Serviço Social.
Também não é evidenciada no conteúdo uma construção pedagógica para o espaço
do Núcleo de Serviço Social no campo da Residência Multiprofissional em Saúde.
O termo Preceptoria surgiu em publicações da CAPES, e do SCIELO (busca
dos indexadores retroativa de cinco anos), mas sempre associada à uma discussão
operativa, vinculada às profissões da medicina, enfermagem e odontologia.
Constatou-se também pouca produção que verse sobre preceptoria e os conceitos
que alicerçam a dimensão formativa. Os artigos registram, ao falar sobre a
Preceptoria e Serviço Social a falta de conjugação e de diálogo com o Projeto Ético
Político do Serviço Social, com a política de educação permanente da profissão e a
interface destas no campo da Residência Multiprofissional em Saúde.
Nas publicações de trabalhos do 15º CBAS, dos três trabalhos localizados
com as palavras chaves nenhum apresentou referência ao tema. O conteúdo
expressa as potencialidades do trabalho do Assistente Social nos Programas de
Residência Multiprofissional em Saúde, dimensionando as condições de trabalho e
as especificidades referentes à carga horária, a preceptoria (campo) no espaço da
interprofissionalidade e o fazer do Assistente Social em Saúde.
Nas produções teóricas encontradas em livros, localizamos duas obras.
Primeiro, a obra de Closs (2013) “O Serviço Social nas Residências
Multiprofissionais em Saúde: formação para a integralidade". A autora apresenta a
importância desta discussão, qualificando a Preceptoria como uma ação
pedagógica, voltada para a supervisão do trabalho desenvolvido pelos residentes.
Apresenta o conceito de supervisão, trabalhado por Prates e Lewgoy (2009),
como um processo permeado por dimensões pedagógicas, mobilizadoras e
organizativas e que visa a oferecer suporte, instigar potencialidades e ao
enfrentamento de desafios postos para a materialização da política pública.
Closs (2013) apresenta também a Preceptoria de campo e núcleo, entendida
como o meio pelo qual se estabelece a troca e a integração de saberes, entre
trabalhadores e residentes. Entende-se ser neste momento que os saberes e as
práticas particulares do Serviço Social são mobilizadas em uma relação pedagógica
que se direciona para a qualificação do trabalho profissional. Silva e Capaz (2013, p.
49

213) referem-se ao preceptor e o residente como sujeitos em relação, porque: além


da “[...] horizontalidade devem construir ferramentas pedagógicas capazes de
viabilizar reflexões críticas, promover avaliações participativas e transformar o
processo como um todo, em ações, em efetivas inovações em saúde”.
A partir deste estudo exploratório formatou-se todo o processo de pesquisa
sobre o tema, bem como a produção teórica sobre como se estabelece o processo
pedagógico da Preceptoria de Serviço Social nos Programas de Residência
Multiprofissional em Saúde e o diálogo com o Projeto Ético Político da Profissão e,
durante o percurso identificou-se os desafios na garantia do direcionamento dado
pela Formação do Serviço Social nos programas de Residência, o que pressupõe as
seguintes ações:

[...] a convergência de ofertas de dispositivos de aprendizagem na


residência articulados aos núcleos de fundamentação da formação
profissional (teórico-metodológicos da vida social, sócio histórica, da
sociedade brasileira e do trabalho profissional); a operacionalização
dos conteúdos propostos pelas diretrizes do Serviço Social; as
mediações dentro do terreno das contradições e complexidades da
nossa sociedade, que devem ser estimuladas, pensadas e propostas
pelos envolvidos, superando a formação técnico-instrumental
(CASTRO, 2013, p. 162).

Ações, como diz Iamamoto (2014) das quais precisamos nos perguntar, ao
analisar as mudanças observadas no perfil do Assistente Social a partir dos anos
1990: quem é o assistente social de hoje? Esta questão nos inspirou a aprofundar o
estudo sobre o exercício da Preceptoria de Núcleo em Serviço Social, espaço
legítimo de execução das ações acima elencadas, pois é neste cenário de lutas e
contradições que se revela a capacidade do Assistente Social em compor, nas suas
dimensões pedagógicas, um eixo de reflexão que seja articulado com a Reforma
Sanitária, com o PEP e com o trabalho profissional ético e vinculado à pesquisa e
produção de conhecimento.

.
50

3. TRAJETORIA METODOLÓGICA

A pesquisa para a dissertação foi desenvolvida sob o aporte teórico


dialético-crítico que consiste antes de tudo num modo de ver a vida. Em primeiro
lugar, como movimento permanente, como processo, o que precisa ser contemplado
na análise das formas e fenômenos sociais, superando uma visão estagnada de
estados, na medida em que se reconhece o movimento como provisório e que,
portanto, será novamente negado para que o próprio movimento siga seu curso
(MENDES; PRATES, 2007). O método foi embasado no materialismo histórico,
tendo em vista a concepção dialética da realidade natural e social e do pensamento,
a materialidade dos fenômenos e o fato de que estes são possíveis de se conhecer.
Optamos pela pesquisa qualitativa, com a realização da pesquisa de campo,
documental e bibliográfica. A pesquisa qualitativa, segundo Martinelli (1999), possui
pressupostos teóricos que fundamentam o uso de sua metodologia, que se constitui
como: o reconhecimento da singularidade do sujeito, a peculiaridade da experiência
do sujeito e a importância de conhecer o modo de vida deste, a sua experiência
social cotidiana. Neste sentindo, a pesquisa qualitativa demanda o contato direto
com os sujeitos do estudo, possibilitando também se aproximar do contexto social
que os participantes da pesquisa estão imersos. A autora também traz o caráter
participante do pesquisador, sendo também sujeito de pesquisa e trazendo o caráter
interventivo, com um sentido social que a faz retornar de forma crítica e criativa na
vida social dos participantes da pesquisa.
O campo de estudo foram três hospitais de Porto Alegre, RS, vinculados ao
SUS. Desses três, dois são hospitais-escola, um vinculado à Universidade Pública e
outro com unidade própria de ensino e um hospital municipal público, vinculado
também à Universidade Pública. A amostra para a pesquisa foi construída a partir
da concepção de Turato (2011), com os critérios de seleção conduzidos através da
amostragem por variedades de tipos. Os sujeitos foram incluídos e reunidos pelo
critério da homogeneidade fundamental, contendo uma amostra fechada no número
de tipos de informantes e as características são eleitas deliberadamente pelo
pesquisador.
51

Os critérios de inclusão para os participantes da pesquisa foram os


seguintes: profissionais assistentes sociais preceptores do núcleo de serviço social
com o exercício de pelo menos dois anos de preceptoria; profissionais assistentes
sociais preceptores que trabalhem a mais de um ano na instituição; assistentes
sociais residentes do primeiro e segundo ano de Residência; e que aceitem
voluntariamente participar da pesquisa.
Para comporem as entrevistas semi-estruturadas, delimitamos em 06
assistentes sociais preceptores do Núcleo de Serviço Social, dos programas de
Residência Multiprofissional em Saúde, com ênfases comuns (Saúde da Criança e
Saúde Comunitária) em ambos hospitais. Para a realização do Grupo Focal
delimitamos também dois Residentes de cada Ênfase de em todos os hospitais, para
comporem o grupo focal.
A coleta de dados foi desencadeada no período de dez meses após
autorização do Comitê de Ética da Universidade (APENDICE A) e também de todos
os três Comitês de Ética dos respectivos Hospitais (APENDICES B, C e D),
respeitando os aspectos éticos estabelecidos na resolução nº. 510 de 07 de abril de
2016, do Conselho Nacional de Saúde, o qual incorpora sob a ótica do indivíduo e
das coletividades os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não
maleficência, beneficência e justiça, e visa a assegurar os direitos e deveres que
dizem respeito aos participantes da pesquisa, a comunidade cientifica e ao Estado
(BRASIL, 2012a).
Os prováveis riscos da pesquisa, com a aplicação das entrevistas junto aos
profissionais de saúde, não causaram desconforto com a temática abordada. Esta,
relacionada aos processos de trabalho que envolvem as atividades diárias de
assistência, frente as demandas advindas de situações de trabalho, representou
para os sujeitos pesquisados um espaço de reflexão sobre o Serviço Social nos
programas de Residência. Como principio ético, a devolução dos dados será
realizada junto aos sujeitos que participaram da pesquisa, em forma de seminário, a
ser organizado junto ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Formação e Exercício
Profissional em Serviço Social (GEFESS – UFRGS).
Destaca-se, entretanto, que a demora das avaliações dos comitês de ética
demandou tempo e modificações freqüentes no cronograma para a realização de
entrevistas com os Assistentes Sociais Preceptores e um grupo focal com os
Assistentes Sociais Residentes (primeiro e segundo ano de residência).
52

As entrevistas foram realizadas nos locais de trabalho dos participantes e


com a autorização dos sujeitos, foram gravadas. Utilizamos a entrevista
semiestruturada (APÊNDICE A) para o trabalho de campo considerando-a como
uma forma de interação social, pelo diálogo assimétrico no qual uma das partes
busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (GIL, 1996). A
entrevista semiestruturada, como técnica, permitiu ao entrevistado ser um ator do
processo, participando na elaboração do conteúdo da pesquisa; ele teve liberdade
para desenvolver cada situação em qualquer direção que considerou adequada,
sendo uma forma de explorar mais amplamente uma questão (LAKATOS;
MARCONI, 2011, p. 82).
O Grupo Focal foi agendado em dois momentos, sendo o primeiro
desmarcado pela solicitação posteriori dos sujeitos entrevistados para a troca.
Contudo, a última proposta agendada para maio não se tornou efetiva pelo impacto
de uma greve no País, no período de 21 a 31 de maio, que impedia a circulação de
transporte e de pessoas na cidade e ainda, depois a nova compatibilização de
agendas frente ao cronograma da pesquisa, já com prazos finalizados, não foi
possível contemplar a abordagem grupal junto aos profissionais residentes.
A fonte para a pesquisa bibliográfica e documental foi realizada junto ao
Portal da CAPES, fundação do Ministério da Educação que possuem um acervo que
contemplam periódicos e teses de dissertação, bem como ao SCIELO, que possui
um acervo de publicações de artigos em revistas. Além disso, foram pesquisados
nos Anais dos eventos científicos da profissão, os Congressos Brasileiros de
Assistentes Sociais, de 2013 e 2016 e os Encontros Nacionais de Pesquisadores em
Serviço Social, de 2012, 2014 e 2016, tendo em vista ser um período em que as
discussões sobre o tema da Residência foram promovidas pelas entidades
representativas da profissão.
A análise de conteúdo foi utilizada para a análise dos dados. Segundo
Bardin (2016), a técnica é um conjunto de análise das comunicações, podendo ser
uma análise de significados ou significantes. É composta por três momentos:

a. Pré-análise: momento de organizar o material e escolher documentos que


serão analisados, formulando questões norteadoras e elaborando
indicadores que irão fundamentar a interpretação final.
53

b. Exploração do material: realização das decisões tomadas na pré-análise e


onde os dados brutos serão organizados;
c. Tratamento dos resultados: momento que compreende a interpretação
dos dados, sendo a interpretação teórica o que dará sentido à
interpretação.

Também trabalhamos com a técnica de triangulação de Trivinõs (1995, p.


139) que considera três aspectos importantes nesta análise: as percepções dos
sujeitos, através das formas verbais; os elementos produzidos pelo meio, tais como
documentos, leis, decretos, pareceres, entre outros; e, a análise dos “[...] processos
e produtos originados pela estrutura socioeconômica e cultural do macro organismo
social no qual está inserido o sujeito”, o que inclui a luta de classes, o modo de
produção, as forças produtivas e relações de produção.
Conforme Triviños (1995, p. 139) a técnica da triangulação objetiva abarcar
a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo,
porque reconhece a interconexão entre os fatos e a impossibilidade de apreendê-los
de modo consistente, os isolando. Reconhece que os fenômenos sociais são
multicausais e não podem ser explicados sem o desvendamento de suas [...] raízes
históricas, sem significados culturais e sem vinculações estreitas e essenciais com
um macro realidade social.
Para dar visibilidade às etapas da análise apresentamos o seguinte quadro
do processo de categorização, que seguiu a análise categorial proposta por Bardin
(2016). Nesta analise, após a transcrição das entrevistas, os dados foram
inicialmente desmembrados e agrupados analogicamente em categorias iniciais, que
trouxeram as primeiras impressões, sobre as formas de intervenção, realidades e
atitudes no universo da Preceptoria. Com o respaldo da fundamentação teórica
estas categorias foram refinadas e aglutinadas em categorias intermediárias, que em
conjunto com as iniciais formaram a síntese do conjunto de significados, construídos
no processo de analise dos dados em estudo (SILVA; FOSSÁ, 2015), conforme
mostra o Quadro 1.
54

Quadro 1. Subcategorias e categorias finais construídas a partir dos dados empíricos

Categorias iniciais Categorias Intermediárias Categorias Finais

1. Diálogo com outras áreas. i. Lugar de mediação entre a


especificidade do Serviço
2. Articulação em rede. Social e do trabalho
3. Ações multidisciplinares e multiprofissional em saúde.
interdisciplinares. I. Preceptoria de
Núcleo em Serviço
4. Supervisão em Serviço Social.
Social: uma
concepção em
5. Supervisão semanal. construção
ii. Lugar de organização da
6. Discussão de casos. demanda do Serviço Social
nos Serviços.
7. Organização dos serviços.

8. Condições e precarização do
trabalho em saúde. iii. Condições de trabalho que
são determinantes no
9. Carga horária. ensino na Preceptoria.
10. Vivências de violência nos
contextos sociais e nas II. O contexto e o texto
relações de trabalho. do processo
pedagógico da
11. Perfil pedagógico de educador iv. Necessidade de formação preceptoria de
do assistente social. para o exercício da núcleo de serviço
preceptoria em social.
12. Despreparo para o exercício da consonância com o Projeto
preceptoria. Ético Político do Serviço
Social.
13. Educação permanente dos
preceptores.

14. Parâmetros para atuação dos


Assistentes Sociais.
v. Dimensão ético-política.
15. Código de Ética Profissional.
III. Competências
profissionais no
16. Controle Social. vi. Dimensão teórico- exercício da
metodológica. Preceptoria

17. Projetos de intervenção. vii. Dimensão técnico-


operativa.
18. Pesquisa e investigação da
realidade.
Fonte: Elaborado pela autora.
45

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, os resultados serão apresentados com os cenários e


contexto das entrevistas, bem como com os enfoques teóricos e as apreciações
obtidas pela triangulação dos dados, a partir da análise de conteúdo.

4.1 PRECEPTORIA DE NÚCLEO EM SERVIÇO SOCIAL: UMA CONCEPÇÃO EM


CONSTRUÇÃO

A Preceptoria de Núcleo em Serviço Social é reconhecida nos Programas da


Residência Multiprofissional como o espaço formal de discussão das questões ético-
políticas teórico-metodológicas e técnico-operativas da profissão. Caracteriza-se por
momentos teóricos e de discussão técnica sobre o trabalho do Assistente Social no
campo da Saúde.
A concepção de Preceptoria de Núcleo de Serviço Social é construída pelos
assistentes sociais no processo cotidiano de trabalho e também nos espaços de
formação em ensino-serviço. Na análise dos dados encontramos duas ênfases que
conduzem para esta concepção: um dispositivo de mediação entre a especificidade
do Serviço Social e do trabalho multiprofissional em saúde e um dispositivo de
organização da demanda dos serviços a partir da discussão de casos.

4.1.1 Dispositivo de mediação entre a especificidade do Serviço Social e do trabalho


multiprofissional em saúde

A concepção de Preceptoria de Núcleo como um dispositivo de mediação da


especificidade dos fundamentos do Serviço Social e do trabalho multiprofissional em
saúde, expressa a relação teórico-prática construída a partir do trabalho do
assistente social na relação com a equipe multiprofissional. Representa ao mesmo
tempo o caráter dinâmico da categoria mediação que vai imprimir direção e
qualidade no trabalho profissional na busca de romper com a rede de imbricações
que dão sustentação a ideologia que permeia as ações nas instituições, no caso das
hospitalares com o modelo médico centrado, bem como, um espaço de qualificação
46

e problematização das equipes de Serviço Social (profissionais do serviço e


residentes) junto às outras áreas que constituem os Programas de Residência. Isto
fica evidenciado nos depoimentos a seguir:

[...] Ela [a preceptoria] tem como perspectiva delimitar o que é o fazer


específico da nossa área e o diálogo com as outras áreas que
compõe a residência; é me dar o contorno necessário para dialogar
com o outro, mas não se misturar com o outro (Preceptor 1)
[...] Eu acho que é um acompanhamento que tu faz de um colega. É
um suporte que tu dá o tempo todo para o teu colega que está numa
formação em serviço. Mas acho que é um espaço mais formal de
discussão teórico-prática. [...] a gente aprende muito com eles, as
dúvidas, a gente não tem as respostas, vai construindo junto até os
questionamentos, tu descristaliza um pouco determinadas coisas que
tu vai acostumando da instituição (Preceptor 4).

Evidencia-se a Preceptoria no campo da saúde como uma das dimensões


do trabalho profissional do Assistente Social, na relação com os seus pares e na
percepção da Profissão junto à outras categorias. Este espaço teórico-prático
permeado de contradições que precisam ser mediadas e também desveladas na
relação do profissional, no seu processo de trabalho junto às Equipes, colegas e
usuários reforça o caráter de educação permanente. A delimitação da intervenção
profissional através do diálogo com outras áreas será a mediação à luz do projeto
ético-político da profissão de assistente social, cuja direção e compromisso é com o
processo de transformação da realidade concreta dos usuários, que se apresenta
como espaço contraditório e complexo. A mediação será uma categoria central do
trabalho profissional porque é reflexiva, ontológica e se processa segundo o método
dialético.
Trabalhar nesta articulação entre trabalho profissional, formação em serviço
e saúde nos programas de residência possibilita-nos contextualizar também todos os
pressupostos que contemplam a formação dos assistentes sociais. Estes, já
desenhados nas diretrizes curriculares precisam ser potencializados na Pós-
Graduação e, no campo da Preceptoria de Núcleo, considerando a necessidade de
trazer a problematização da vida social, da formação sócio-histórica da sociedade
brasileira e os elementos constitutivos do trabalho profissional no campo da saúde, o
que se explicita na concepção de preceptoria nos depoimentos a seguir:

[...] É trabalhar com uma colega assistente social, é qualificar o que é


assistente social em formação. Ela é uma assistente social formada e
47

pode atender situações que vierem dentro do que é criança e


adolescente e suas famílias. É o trabalho de preceptoria dentro da
especificidade, mas vinculado ao Serviço Social (Preceptora 01).
[...] qual é o objetivo? Qual a proposta? É a questão de garantia de
direitos, a questão de articulação de rede, de buscar não só o nosso
espaço no hospital, mas de buscar articulação externa dentro do
nosso espaço profissional. É bem interessante (Preceptora 3).

O trabalho do assistente social na Preceptoria de Núcleo é polarizado pelos


dois projetos hegemônicos na área da saúde: o da Reforma Sanitária e do Projeto
Privatista, este último amplamente introjetado nos caminhos da Residência
Multiprofissional e que tem formatado as políticas de saúde, não no campo de
formação para profissionais do SUS, mas sim para a formação técnica e privatista.
Como consequência deste modelo privatista, a submissão de profissionais em
formação às lacunas funcionais nos campos de trabalho na saúde constitui a
realidade atual, potencializando a contra-reforma do Estado, que gera recursos
humanos para as parcerias público-privadas, produzindo diferentes formas de
atenção para a população usuária sem considerar as reais demandas desta.
Segundo Paula (2014), as ações formativas dos Assistentes Sociais são
processos pelos quais o profissional desenvolve uma atuação sócio-educativa que
incide sobre outras pessoas influenciando seu modo de perceber a realidade. Desta
forma a Preceptoria de Núcleo integra esta atuação de formador na relação com o
colega residente, dimensionando o exercício profissional na área da saúde.

[...] Assim como a gente se relaciona com as colegas, o ensino é na


prática, e eu penso nisso, delas terem uma formação, daquilo que a
gente, que eu espero do assistente social. Eu vejo que é muita teoria
e na prática e os colegas ficam muito distanciados. Então a minha
procura com os residentes, é de realmente poder trabalhar
interdisciplinarmente, ter o respeito com os usuários, ter o respeito
com os colegas e ter a realidade. Porque eles estão aqui no campo,
eles me vêem como um profissional. Então não tem como atuar: “eu
vou ser preceptora de um jeito e atender de outro” (Preceptora 05).
[...] Eu acho que é a possibilidade de facilitar esse processo de
inserção do assistente social residente nesse espaço do campo, de
poder orientar, enfim, acho que é muito de facilitar esse processo. É
um pouco diferente, muda o nosso processo de trabalho, tu podes
contar com outros colegas, porque muitas vezes a gente se sente
muito sozinho no campo da saúde. Eu sou a única profissional
assistente social aqui dentro, contratada e então tu consegues ter
mais parcerias no trabalho, pensar coisas mais da profissão, ter
outras pessoas que pensam mais parecidos contigo (Preceptora 6).
48

Este processo de "pensar parecido contigo" associado ao processo de


"sentir-se muito sozinho no campo da saúde" retrata as potencialidades desta
tendência da Preceptoria de Núcleo apresentada pelos participantes da pesquisa:
como um espaço que formaliza uma constituição de equipe tanto na relação entre
dois ou mais assistentes sociais e suas interfaces com as outras profissões. Este
processo, se constituído na contemporaneidade da garantia de direitos dos usuários
e dos trabalhadores preconizadas pelo SUS e pelos preceitos da política de
educação permanente, representa um dos espaços mais revolucionários no campo
da saúde, compreendendo os Assistentes Sociais como os principais conhecedores
da vida social dos usuários e das intrínsecas faces do fetiche desenhado pelo
modelo privatista e que permeiam as relações de trabalho na saúde.
É na percepção de mediar às relações entre as diferentes áreas e a relação
entre o preceptor e o residente que se instituem as expressões do trabalho do
assistente social na saúde, e as importantes responsabilidades da Preceptoria.
Ambas as relações se concentram tanto nos processos interventivos como nas
definições de trabalho e ensino-serviço expressas a seguir:

[...] Eu acho que essa interferência é na postura de como a gente


trabalha, no entendimento que a gente tem do nosso fazer
profissional, porque elas [residentes] olham o que a gente faz, na
questão de como tu interfere no dia a dia, de como tu qualifica o
atendimento, no respeito ao usuário, na forma como que a gente
interage (Preceptor 04).
[...] no campo elas [residentes], são várias e a gente também
trabalha. A questão da multi, não é somente entre elas. São elas
trabalhando com as equipes de uma forma multi, é a intervenção
com a equipe médica, com a psicologia, com a fonoaudiologia, com a
fisioterapia, é um trabalho na verdade de equipe que é feito em cada
caso. E tu tens intervenções diferentes em rede (Preceptor 3).
[...] eu acho que pra mim a grande vantagem de ter a residência é
que você não consegue estar enquanto assistente social
problematizando em todos os espaços, e eles [os residentes]
também oxigenam, trazem coisas que tu não percebe da equipe,
conhecem a equipe de outro jeito. Então eles apresentam uma
equipe pra mim eu não sabia que existia e vão desconstruindo
situações. Então acho que as questões das problematizações
técnicas, o fôlego que isso dá com a residência é um dos maiores
ganhos (Preceptor 01).

Os depoimentos expressam as especificidades no campo da saúde e esta


realidade não é somente pertinente ao Serviço Social. Observamos, empiricamente,
49

que o residente dos Programas de Residência Multiprofissional é hoje grande parte


da força de trabalho expressa nos serviços de saúde e fomentam lugares de
trabalho e formação, e neste caminho da pós-graduação em ensino-serviço, a
relação de aluno e profissional ficam bem promulgadas em diferentes áreas no
campo da saúde.
Ainda no processo de conceituação sobre a Preceptoria de Núcleo de
Serviço Social todos os entrevistados trouxeram o termo estágio e supervisão de
estágio, em um processo comparativo com o exercício da Preceptoria ao se
referirem:

[...] eu não estou falando com estagiário, estou falando com um


profissional formado (Preceptor 01).
[...] eu não vou dizer supervisão porque eu sou da época de
supervisão para estagiário, e é diferente a preceptoria (Preceptor 02).
[...] Como é que vai ter um residente de serviço social naquele
hospital se não tem supervisão de serviço social lá (Preceptor 03).
[...] eu acho que é um acompanhamento que tu faz de um colega que
é um pouco diferente de estágio (Preceptor 05).
[...] é muito melhor do que ter estagiário, porque estagiário é muito
mais dependente, mesmo que a residência te exija muito (Preceptor
06).

Estes depoimentos reforçam uma hipótese inicial da pesquisadora de que a


concepção da Preceptoria de Núcleo como uma supervisão profissional em Serviço
Social ainda não está construída, na medida em que há pouca produção sobre o
tema e reduzida problematização sobre a importância pelos preceptores. Embora
isto se constitua parte das atribuições dos profissionais do campo da saúde que
compõem a Residência Multiprofissional, dentre eles o assistente social, de
constituir no processo da preceptoria a supervisão direta das atividades práticas
realizadas pelos residentes nos serviços de saúde onde se desenvolve o programa.
Nesta lógica de raciocínio, como já afirmamos anteriormente baseado em
Closs (2013), na preceptoria esta supervisão é alicerçada em um processo
permeado por dimensões pedagógicas, mobilizadoras e organizativas e que visa a
oferecer suporte, instigar potencialidades e ao enfrentamento de desafios postos
para a materialização da política pública. Esta discussão deve sim, ser ampliada
para condução de uma reflexão mais aprofundada.
50

No documento dos Parâmetros de Atuação dos Assistentes Sociais na


Política de Saúde, é parte das atribuições reconhecidas em um amparo legal da
profissão, reconhecendo como uma das atividades do assistente social na área da
Saúde, mas não apresenta sua construção como uma supervisão profissional
(CFESS, 2010).
Entende-se que a Supervisão profissional ou técnica com fundamentos na
teoria crítica tem:

[...] um caráter pedagógico, mobilizador e organizativo, [...] a partir de


mediações teóricas que fundamentem a operacionalização do
trabalho, além de reflexões críticas e coletivas, com base e sobre
instrumentos, como legislações, instruções programáticas, dados de
realidade, diagnósticos locais, planos, ações integradas, manejo de
situações cotidianas, avaliações programáticas, entre outras ações
que aportem maior segurança aos agentes para tomarem decisões
autônomas e legitimadas pelo grupo. (LEWGOY; PRATES, 2009,
p.171)

4.1.2 Dispositivo de organização da demanda do Serviço Social nos Serviços.

A construção desta categoria intermediária deu-se a partir das sinalizações


dos preceptores quanto às dificuldades dos residentes frente aos processos teórico-
metodológicos e técnico-interventivos nos processos formativos e de trabalho. É
justificado que o momento da preceptoria é através da discussão de casos, como
sendo o espaço significativo para a superação desta dificuldade, bem como na ação
das discussões de caso, como o espaço reconhecido, o dispositivo para a
organização dos processos de trabalho no qual se inserem o assistente social
residente, ilustradas a seguir

[...] A gente tem tentado manter horários formais, uma hora por
semana para sentar e revisar os casos. No primeiro ano a gente tem
um realinhamento, inclusive [...] mais aulas do que está estipulado
tentando ver questões de entrevistas, grupo, alguma coisa de
instrumental. Eles [residentes] chegam aqui muito perdidos, então é
uma realinhada dos casos que a gente mais usa na instituição
(Preceptora 04)
[...] Aí se discute os casos, as situações, se encaminham as várias
faces que o caso pode ter. Os rumos que ele pode tomar, enfim
montando os horários de semana [...] ás vezes, tem um momento no
dia a dia que acaba que tu não consegues fazer o trabalho como tu
gostarias, de sentar naquele momento e explicar o que isso
teoricamente significa. A gente faz nessa discussão diária as
situações que são acompanhadas, o que tem que ser feito, o que
51

não,pra articulação de rede, a discussão do que se percebeu, mas as


vezes isso não dá pra fazer como se gostaria porque tu tem a vida
correndo, tu tem os casos pra atender o relatório pra encaminhar, e
outras coisas institucionalmente (Preceptora 03).
[...] Bem, nós temos nossos horários aqui de preceptoria direto com
os residentes, e esse espaço é bem organizado, para que se tenha o
início de semana com essa atuação direta com as colegas. Ele
[preceptoria] é bem importante porque acaba por dar um rumo para a
semana. É o momento que a gente faz o censo e olha o que tem de
casos novos e o quê de casos que ficaram para se organizar
(Preceptora 02)

Os depoimentos revelam que neste lugar da preceptoria fica a sinalização do


ensino-serviço na lógica da organização de rotinas nos respectivos setores de
Serviço Social, uma ideia de formação e de movimento tecnicista do trabalho do
assistente social no seu cotidiano. Fica evidenciado um lugar da preceptoria
vinculada ao que refere Antunes (2017, p. 79) “[...] como uma educação moldada por
uma pragmática técnica que direciona a qualificação do trabalho nos limites da
coisificação e da fragmentação impostas pelo processo de trabalho capitalista”,
promovendo o desmembramento entre conceito, teoria e reflexão (o trabalho
intelectual), de um lado, e prática, a aplicação e a experimentação em detrimento
deste trabalho intelectual.
Estar constituída em um movimento de supervisão profissional
desencadeada somente em uma organização das demandas, com ênfase na análise
dos casos, acaba por reduzir a abrangência da preceptoria, e dos espaços em que o
Assistente Social pode atuar no campo da Saúde. Redução do trabalho profissional
em uma construção de alternativas e possibilidades para o "caso atendido", em um
espaço que deveria ser multiprofissional, inclusive no processo da discussão e no
aprendizado do estudo e da efetivação daquela situação “caso”. Entende-se que
esta concepção de preceptoria está centrada mais em uma organização institucional
dos setores de Serviço Social, que não dialoga com a necessidade de considerar os
potenciais espaços de atenção junto aos usuários do SUS, bem como, em discutir
processos de atendimento que valorizem ações interdisciplinares e as diferentes
singularidades dos sujeitos envolvidos na discussão.
Estas duas ênfases encontram suas formatações na compreensão do
processo pedagógico que os preceptores Assistentes Sociais descrevem no subitem
a seguir.
52

4.2 O CONTEXTO E O TEXTO DO PROCESSO PEDAGÓGICO DA


PRECEPTORIA DE NÚCLEO DE SERVIÇO SOCIAL

Na análise de como se constituiu o processo pedagógico da Preceptoria de


Núcleo, duas categorias foram dimensionadas no contexto que circunscreve a
preceptoria, qual sejam as condições de trabalho no qual o assistente social está
inserido, determinantes no ensino na preceptoria, e outra que demonstra o texto a
ser exposto pela busca de formação para o exercício da preceptoria na consonância
com o Projeto Ético Político do Serviço Social.

4.2.1 As condições de trabalho no qual o assistente social está inserido,


determinantes no ensino na Preceptoria.

Ao iniciarmos a discussão sobre o processo pedagógico da Preceptoria de


Núcleo é importante evidenciar em que contexto é realizado, o que nos convoca
contextualizar as falas dos assistentes sociais preceptores frente ao cotidiano do
trabalho em saúde e as adversidades que circunscrevem a preceptoria na
concepção da supervisão profissional. As falas corroboram o que Mendes e Wünsch
(2011) referem às configurações do trabalho no sistema capitalista, sinalizando a
precariedade subjetiva, ou seja, a instabilidade dos contextos técnicos e
organizacionais, em que se constatam a fragilidade das organizações, ilustradas
pelas assistentes sociais a seguir:

[..] Eu era de outra unidade no hospital e daí se tinha a intenção de


ter residência multiprofissional em atenção básica e não tinha
assistente social aqui no posto. Os outros núcleos profissionais já
tinham, enfermagem, farmácia, nutrição e já estavam aqui, mas, não
tinha assistente social. Então corria o risco do MEC não aprovar a
residência.Então a direção do hospital convocou a coordenação do
serviço social para transferir uma assistente social para cá. A UBS tá
pedindo assistente social há anos, mas só conseguiu porque não
teria residente (Preceptor 01).
[...] é uma função que temos que conseguir dividir, nos organizar
para dar esse espaço e ter esse espaço de preceptoria, e seguindo
as funções normais do atendimento cotidiano. Então, às vezes fico
sobrecarregada, porque ela [preceptoria] e o atendimento têm que
acontecer. Às vezes nos dá uma angústia de não ter um espaço só
para preceptoria, fora a carga horária de atendimento (Preceptor 02).
53

[...] tem momentos que os campos fecham, até porque tem uma
mudança dentro do contexto social, situações que são de extremo
risco, que mudam também na rede e nas comunidades de Porto
Alegre. E é uma questão da cidade, da administração pública, porque
tem espaços que fecharam em regiões de risco e que eram
importantes e hoje se tem um campo fechado (Preceptor 03).

O contexto narrado pelas assistentes sociais vislumbra-se no atual momento


político e econômico, agonizado no pós-golpe de 2016, com a interferência
permanente na realidade de trabalho de ambos profissionais (preceptores e
residentes), com espaços limitados de trabalho para reflexão, ação e tomada de
decisões, bem como, restringindo o acesso da população a serviços que são
essenciais no campo da saúde.
Evidencia-se este processo no cerceamento de acesso ao atendimento, com
protocolos rígidos para acolhida, redução de atenção com o fechamento de serviços,
parcerias público-privadas sem a anuência do controle social, constantes
modificações dos recursos humanos precarizando a formação de vínculos entre
usuários e profissionais de saúde.
Como segue Mendes e Wünsch (2011, p. 465), busca-se o envolvimento do
trabalhador enquanto disposição intelectual-afetiva com a lógica da valorização do
capital, portanto para além do "fazer" e do "saber". Como consequência estas
condições de trabalho levam a uma verdadeira sobressolicitação mental uma “[...]
sensação de transbordamento e saturação, impressão de não conseguir fazer o que
se planificou, sem compreender o porquê, de permanente insatisfação com o
trabalho realizado”.
Este é o território do ensino-serviço: residentes e preceptores vivenciam
todas as expressões da questão social que são dimensionadas pelo adoecimento
nos e dos espaços de saúde. Necessitam, no trabalho, contextualizar os processos
de garantia de direitos em contextos de violência urbana, doméstica,
vulnerabilidades das mais variadas em contextos de grave privação, historiadas
pelas verbalizações a seguir:

[...] Muitas coisas eu fico pensando no universo da pediatria, a gente


teve situações bem sérias de negligência, de violência, e de como a
teoria te dá um suporte pra ver “não estou inventando o que esse pai
pode ter”. Existe um índice alto de situações que acontece
[violência], de poder discutir isso com eles [ residentes] . E eu acho
que é isso, não é só fazer teu trabalho do dia a dia, que já é puxado,
54

mas de tu teres que estar buscando sempre um aporte teórico para


se reciclar mesmo constantemente (Preceptor 02).
[...] mas ele trabalha mais, tu faz trinta[ horas] e ele faz sessenta.
Então, se tu não sentares pra discutir com ele aquelas questões ou
estiver mais disponível pela própria questão hierárquica, quando a
coisa pega ele chama o profissional, então tu tem que estar inteirado
como tá acontecendo, como as coisas estão se dando no campo
todos os dias (Preceptor 04).

Nesse contexto apresentado anteriormente, enfrenta-se a realidade formal


da precarização do trabalho em saúde, com as amplas ações de privatização dos
espaços exclusivamente SUS. Os preceptores são passíveis das constantes
mudanças de gestão nos serviços públicos e as diferentes realidades de trabalho e
carga horária, muitas vezes permeada de processos autoritários de projetos de
governo que engendram relações de assédio moral, nas diferentes instituições e
serviços.
Este contexto dialoga com o processo pedagógico, pois é nele que se
constroem o trabalho do assistente social no campo da Saúde, ambas ilustradas a
seguir:

[...] Primeiro para otimizar [discussão de casos uma vez por semana]
porque é impossível conciliar o trabalho de assistência meu, que eu
sou cobrada. Eu atendo a emergência, no quarto andar, ambulatório,
programas estruturados, é uma demanda enorme, mais a preceptoria
e querendo ser atuante, porque uma coisa é tu tá na preceptoria [...]
Então assim, eu condensei a preceptoria num dia da semana com as
duas residentes e a gente faz uma vez por semana (Preceptor 04).
[...] Não é o médico que tem que te pegar no corredor e dizer que tu
vai fazer uma visita. A visita é um instrumento técnico, qual é a
intenção de fazer visita, qual é o objetivo. Ah, porque ele quer que eu
vá ali. [...] Mas não é ele que vai dizer que tu tens que avaliar
(Preceptor 01).
[...] eu me preocupava com isso. E quando o residente entrar, como
é que vai ser? Eu não vou poder ficar 60 horas grudada nele, o
dobro da minha carga horária. Como é que vai ser essa equipe
jogando o residente para tudo quanto é lado? (Preceptora 2).

Estes contextos de trabalho extenuantes, tanto pela realidade social como


pela gestão centrada no modelo de atenção biomédico e privatista, exigem que os
assistentes sociais tenham um constante enfrentamento frente às investidas
55

neoliberais (atualmente estabelecidas) que se inserem na saúde e nas políticas


sociais, contrárias ao SUS da Constituição de 1988.
Concentrar e assumir esta discussão na Residência é condição prioritária
para poder superar as tendências do trabalho tecnicista e programático, que não
permite uma análise das desigualdades sociais da população usuária do SUS bem
como intervenções pautadas em processos que rompam com estes status e
cooperem com o fortalecimento da classe trabalhadora.
Os Parâmetros para a atuação de Assistentes Sociais na Saúde trazem que
o entendimento para ação profissional se estrutura sustentado no conhecimento da
realidade e dos sujeitos para os quais são destinadas às abordagens a serem
definidas. Entende-se que o trabalho profissional pressupõe os fundamentos ético-
políticos e teórico-metodológicos no balizamento dos processos técnico-operativos,
construídos pela profissão em dado momento histórico e que conduzem-nos para a
construção do espaço de educador e formador desta ação profissional no campo do
ensino-serviço (CFESS, 2010).

4.2.2 Necessidade de formação para o exercício da preceptoria em consonância


com o Projeto Ético Político do Serviço Social.

Ensinar é um espaço de profunda preocupação e de responsabilidade na


constituição da formação em serviço, cujos espaços são de permanente contradição.
Desse modo, “[...] ensinar não é só transferir conhecimento” (FREIRE, 2005, p. 49).
Este é sim um trabalho que demanda tempo, produção de conhecimento e
permanente articulação para o Núcleo do Serviço Social, com o objetivo de qualificar
seu trabalho profissional no campo da saúde, tendo em vista que:

[...] é uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos


de assumir diante dos outros e com os outros, em face do
mundo e dos fatos, ante nós mesmos. [...] E difícil, entre outras
coisas, pela vigilância constante que temos de exercer sobre
nós próprios para evitar os simplismos, as facilidades, as
incoerências grosseiras. [...] Sem rigorosidade metódica não há
pensar certo (FREIRE, 2005, p. 49)

A preocupação com a dimensão pedagógica é uma constante na fala dos


preceptores, ao se referirem que o seu espaço de educador na instituição, muitas
vezes não é reconhecido pelas coordenações e gestões. Atribuí-se ainda, que este
56

fato precisa ser construído pelos preceptores, embora sejam resgatados nos
projetos políticos-pedagógicos, nos ambientes formais e semanais de discussão,
nos seminários, nos atendimentos conjuntos, nos espaços de discussão
multiprofissional, nas discussões transversais das Residências, como referem os
assistentes sociais a seguir:

[...] Eu fiz o magistério e depois mestrado e isso já me deu certa


habilidade de poder planejar metodologicamente algumas coisas [...]
No dia a dia tu consegue articular teoria e prática, poder dizer: olha
tal atitude ou tal procedimento não foi muito legal. Poder refletir sobre
a tua prática e a do residente avaliando o momento e o que foi
possível, o que não aconteceu (Preceptor 04).
[...] É uma tarefa gratificante, mas ao mesmo tempo tu tem o
trabalho de educação cotidiana, uma responsabilidade a mais, então
às vezes num momento do dia é sentar e explicar o que isso
teoricamente significa; A gente faz essa discussão diária com as
situações que são acompanhadas, pra articulação de rede (Preceptor
03).

Apesar de estar centrada em uma rotina extenuante algumas estratégias


têm sido viabilizadas pelos Assistentes Sociais Preceptores para poderem qualificar
a intervenção da preceptoria, criando espaços de formação para si e promovendo
discussões sobre o tema nos Serviços.
Entende-se ser nestes espaços uma possibilidade profícua de aprendizado e
desenvolvimento de competências: as discussões sobre o enfrentamento das
contradições já apresentadas no trabalho profissional permitem que concepções da
realidade social, objetivos, métodos e os processos de atenção das questões sociais
sejam objeto de estudo nos serviços de saúde, pois é referendado nos conteúdos
das verbalizações que:

[...] É no núcleo do serviço social que nós temos a parte mais teórica,
didática, a audição, tem convidados, são aulas mesmo com todos os
residentes de Serviço Social [...]. Aí estão os residentes
comunitários, o hospitalar, o materno-infantil, os pacientes críticos e
os preceptores. Então a gente se divide entre R1 e R2 dos
preceptores. (Preceptor 05)
[...] esse ano tem uma proposta e é bem importante para as
preceptoras, um curso de capacitação, seminários, [...] É a atenção
da academia para quem busca a formação pra preceptoria. Acho que
é um desafio bem sério e é uma dificuldade que se tinha: ser
preceptora. Não se tem bem definido, tem definido, mas assim, na
prática, se precisa desse espaço para debater mais e para receber
essa formação. (Preceptor 01)
57

[...] Nesse espaço do fórum de preceptores a gente fala um pouco


das atribuições da preceptoria, mas nunca teve nada formal. Tu
entras [no programa da Residência] preceptor geral de campo ou de
núcleo, tu que tem que se virar, ir correndo atrás, como que vai fazer.
Acho que de tanto da gente falar, de pedir, de problematizar, esse
ano eles estão fazendo uma educação permanente para preceptores
(Preceptor 6)

Este é o caminho para avançar e qualificar os processos pedagógicos e os


projetos de intervenção profissional. É na capacitação, nos processos de educação
permanente que se rompe com as práticas cristalizadas, normativas e burocráticas e
permite, ao assistente social preceptor, conjugar estratégias de formação que
dialoguem com o Projeto ético-político, construindo intervenções que qualifiquem o
trabalho do residente.
Indaga-se ainda: Que competências os residentes adquirem nesta
caminhada? O residente (ele) realmente apreende no cotidiano do seu trabalho
profissional? Quais as interferências dos determinantes sociais, econômicos e
culturais que estão presentes no processo saúde-doença? Quais as estratégias
político-institucionais para o enfrentamento dessas questões, conforme preconiza os
Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde. Esta
preocupação é sinalizada na próxima categoria a ser analisada.

4.3 DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS NA


PRECEPTORIA DE NÚCLEO EM SERVIÇO SOCIAL

Ao ingressarmos na análise desta categoria iremos examinar como ocorre o


desenvolvimento da competência profissional na articulação entre as dimensões
ético-política e teórico-metodológicas no balizamento técnico-operativo do assistente
social no núcleo de preceptoria do Serviço Social nos Programas de Residência
Multiprofissional em Saúde, a partir das referências teóricas estudadas.

4.3.1 As Dimensões ético-política, teórico-metodológicas e técnico - operativas:

As dimensões ético-políticas, teórico-metodológicas e técnico-operativas se


interrelacionam e subsidiam a compreensão da realidade social na busca de
conhecer o ser social enquanto totalidade histórica, fornecendo os elementos para
58

entender a sociedade capitalista em seus movimentos contraditórios. A dimensão


teórico-metodológica se refere à capacidade de apreensão do método e das teorias
e sua relação com a prática, na ação profissional.
A dimensão ético-política se relaciona aos objetivos e finalidades das ações
do assistente social e aos princípios e valores humano-genéricos que os guiam. Já a
dimensão técnico-operativa faz alusão à capacidade de o profissional articular meios
e instrumentos para materializar os objetivos, com base nos valores concebidos.
(PEREIRA, 2015) Estas dimensões articuladas entre si são partes constitutiva da
formação e do trabalho profissional e do Projeto Ético-Político, condensando lutas e
posicionamentos dos Assistentes Sociais nos seus espaços de trabalho
Pode-se perceber que no processo pedagógico da Preceptoria de Núcleo
existe uma preocupação em relacionar a dimensão técnico-operativa pelo
movimento de organização dos projetos de intervenção, de forma aproximativa, com
as dimensões ético-politica e teórico-metodológica. Os depoimentos a seguir
revelam um pouco dessa aproximação no que se refere à produção de
competências junto aos Assistentes Sociais Residentes:

[...] Aqui neste programa conseguimos nos afinar bastante. A gente


construiu durante o ano de 2017 um plano de intervenção do núcleo
do serviço social [...] construído comigo e os residentes juntos,
usando muito como base o nosso projeto ético-político que foi a base
que sustentou e os parâmetros. Foram as duas bases. Então a partir
dos parâmetros a gente construiu um projeto de intervenção com
metas, objetivos, que é o nosso guia e ajuda o residente também,
porque quando existem os embates de cotidiano a gente remete ao
projeto de intervenção do assistente social (Preceptor 2).
[...] A gente tem uma matriz curricular com todos os espaços
teóricos, com as ementas, do que trabalhar neste período de dois
anos. Então trazemos todos esses pontos [do projeto ético-político], a
gente tenta trabalhar e fazer essa articulação com a prática, com o
cotidiano do residente. Na próxima semana vamos discutir sobre os
parâmetros da atuação do assistente social na saúde fazendo um
trabalho nas unidades. Eu sempre quero trazer isso para a
supervisão. Eu acho que eles vêm [ os residentes] mais fortalecidos
no campo teórico do que nessa parte [trabalho profissional. É um
pouco do perfil da residência, tem residente que já tem pós
graduação, mestrado, até doutorado, mas são pessoas muito jovens,
e acabam chegando no campo meio despreparados, eu acho que
eles sentem mais falta disso (Preceptor 6).

A produção de projetos profissionais também qualificam as intervenções


quando alavancados pelos movimentos de pesquisa, bem como, mobilizam os
59

preceptores a envolverem-se em processos mais densos na investigação da


realidade social e de contextos ético-políticos do Serviço Social na produção de
conhecimento, ponto importante ao considerar como eixo transversal de estudo para
o núcleo do Serviço Social os determinantes sociais de saúde e as expressões da
questão social percebidas pelas assistentes sociais, às outras áreas profissionais.
Isto se evidencia nas falas a seguir:

[...] A Residência tem uma parcela importante no processo de


produção de pesquisa. O próprio aumento de profissionais, porque
as demandas aumentaram muito e paralelo a isso, colegas estão
buscando pesquisar. Possuímos uma pesquisa em andamento sobre
o nosso cotidiano que estão relacionados com a residência
(Preceptor 4).
[...] Eu e outra colega estamos dando uma disciplina de violência em
saúde da criança, coordenamos e é aqui no programa de residência.
É uma base para ir trabalhando com as Residentes, sobre estatuto,
sobre nosso código de ética. O código de ética das profissões são
diferentes e isso tem que ser respeitado, tu trabalhas em equipe
(Preceptor 3).
[...] Na verdade eu me centro na questão de seguir o que a gente tem
pra mim, o Código de ética é primordial, eterno. Sempre se retoma
isso com as colegas, [o trabalho] baseado no nosso código de
Serviço Social. Busco isso também, na Constituição Federal
[1988]...[...] temos a disciplina, estamos ajudando a coordenadora,
que é participação e controle social que também está auxiliando
muito, tanto pra mim quanto para o setor (Preceptor 02).

Os depoimentos revelam ainda, que no nível das competências técnico-


operativas, a pesquisa desenvolve a capacidade de investigar sobre os processos
que envolvem as instituições, seus usuários, as demandas profissionais, ou seja,
“[...] permite preparar respostas qualificadas às demandas institucionais,
organizacionais ou dos movimentos sociais, vislumbradas no projeto de intervenção
profissional” (GUERRA, 2009, p. 17). A autora relata que é pelo processo da
pesquisa a formulação de alternativas e intervenções que não atendem somente às
demandas, mas sim [...], compreendendo o conteúdo político delas e ao contemplá-
lo, ele possa reconstruí-las criticamente” (GUERRA, 2009, p. 17). Entende-se que a
Preceptoria de Núcleo pode sim condensar estes processos na supervisão
profissional que realiza, como verbalizadas nestas falas:

[...] o desafio é fazer com que outras profissões também entendam


que a violência é uma demanda de saúde. Isto se dá a partir da
60

preceptoria de núcleo, a partir da chegada do núcleo nas equipes


com este nosso tensionamento diário (Preceptor 02).
[...] A própria questão do controle social, da mobilização social
comunitária que a gente presume que o assistente social sai
preparado para fazer isso. Por exemplo, agora a minha meta com R2
é trabalhar a questão do controle social, da mobilização comunitária.
Já sei atender casos? Já sei trabalhar individual? Sei fazer um grupo
na comunidade. Medir relações, relações políticas da comunidade
que é uma das prerrogativas dos parâmetros. Como é que eu faço
isso? Ela não sabe. E vem de uma formação marxista (Preceptor
01).

Concluindo e parafraseando Guerra (2009), o resultado da pesquisa é a sua


legitimidade junto às classes subalternizadas e esta legitimidade é o maior resultado
para a busca de um trabalho profissional competente e emancipatório. Neste sentido
é sim a Preceptoria de Núcleo em Serviço Social balizadora e produtora das
competências técnico-operativas na relação com as dimensões teórico-
metodológicas e ético-políticas.
61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer


nas leituras não era a beleza das frases, mas a
doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu
Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que
fosse um sujeito escaleno. - Gostar de fazer
defeitos na frase é muito saudável, o Padre me
disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para
o resto da vida certo gosto por nadas...
E se riu.
Manoel de Barros, (2016)
(O Livro das Ignorãças).

Manoel de Barros é o inspirador para este momento de retomada, de


"revolucionar", de "fazer defeitos na frase de"; o conjunto de reflexões constituídas
na produção desta dissertação, que surgiu no compromisso de produzir
conhecimento tendo por provocação, as inquietações e discussões pertinentes ao
trabalho do Assistente Social. Elas foram mobilizadas em um universo particular de
trabalho como Preceptora de Núcleo e, a partir da visibilidade destas nas discussões
profissionais, percebeu-se que era sim, um espaço de pesquisa para investigar um
espaço de formação na Pós-Graduação em Serviço Social.
O Serviço Social é sim, nos Programas de Residência Multiprofissional em
Saúde, a profissão que dimensiona a vida dos sujeitos/usuários em sua
singularidade social, subjetiva e coletiva, considerando as trajetórias destes em
diferentes contextos sociais, econômicos, políticos e culturais na busca por saúde. É
o Assistente Social que infere neste campo das políticas sociais a garantia de
direitos, a proteção social, a superação de todas as vulnerabilidades em saúde. Para
tanto, precisamos cada vez mais nomear nossos espaços de trabalho e evidenciar
nossas competências profissionais voltadas para a autonomia e reconhecimento dos
usuários no SUS como classe trabalhadora, sujeitos de direitos nas políticas de
atenção à saúde.
Um destes grandes lugares é a Preceptoria de Núcleo, um espaço
privilegiado de formação entre pares, que vivenciam o trabalho do Assistente Social
no campo da Saúde em uma relação dialógica, considerando as contradições de
62

gestão, dos contextos sociais e das diferentes formas de atenção: o ambulatório, o


posto, as unidades de internação, as equipes de especialidades, os grupos, os
programas, os conselhos, as urgências e emergências.
Ao buscar conhecer como se constitui o Processo Pedagógico da
Preceptoria de Núcleo foi possível compreender a necessidade de considerá-la
como concepção em construção, nominando-a como uma Supervisão Profissional,
com a premência de ser incorporada nos espaços legitimados da Formação
Profissional e de regulação da Profissão. Entendemos que os conjuntos
CRESS/CFESS do País precisam ampliar esta discussão para além do último
documento produzido em 2017,7 otimizar as questões que envolvem os contextos
sociais dos Preceptores e Residentes Assistentes Sociais, bem como validando a
Residência Multiprofissional em Saúde como um dos espaços legítimos de produção
de conhecimento e pesquisa em Serviço Social. Com isto pode-se concentrar o
acúmulo de produções e pesquisa que são desenvolvidas na área, já que publiciza a
realidade social dos usuários, as formas de atenção em Saúde bem como as
intervenções profissionais dos Assistentes Sociais articulando as dimensões teórico-
metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas.
Uma preocupação torna-se imperativa compartilhar neste estudo: a
estratégia da discussão de casos como metodologia frequente para o exercício da
Preceptoria de Núcleo. Isto pode reforçar o tecnicismo e o estabelecimento de
protocolos e abordagens que, por mais que sejam comuns no campo da Saúde,
para a garantia de acesso aos direitos, necessita ir além do espaço diminuto da
discussão do caso, priorizando as vulnerabilidades e os enfrentamentos coletivos e
políticos que podem advir do evento particular e individual, contribuição importante
do assistente social na equipe de trabalho. Também é preciso contextualizar e
indagar: - as práticas interventivas com famílias que os assistentes sociais estão
desenvolvendo. A posição da pesquisadora é a mesma referendada pela profissão
que não devem compor intervenções identificadas como terapêuticas ou curativas
realizadas pelo Assistente Social. Estas metodologias estão em ferrenho debate no
trabalho profissional e precisam ser repensadas e avaliadas pelo Serviço Social,
pois a profissão se reconhece pelo desvelamento das contradições sociais
existentes na sociedade capitalista.

7Residência em Saúde e Serviço Social: subsídios para Reflexão, CFESS, 2017, disponível no site
do Conselho Federal de Serviço Social.
63

Nesta travessia é imperativo valorizar a importância da Preceptoria de


Núcleo como um processo pedagógico que se apresenta como um dispositivo
balizador das competências técnico-operativas do Assistente Social na relação com
as dimensões teórico-metodológicas e ético-políticas, incluindo-as como parte
integrante do processo de supervisão profissional, nos projetos de intervenção e nos
projetos pedagógicos dos programas de Residência Multiprofissional. É mister
fomentar no exercício da Preceptoria de Núcleo, a atuação junto os espaços de
controle social, estratégias interventivas que valorizam a participação social dos
usuários nos espaços de saúde, a pesquisa como instrumento de interpretação dos
determinantes sociais em saúde é o que evidenciamos na trajetória desta
dissertação de mestrado.
Desse modo, pode-se considerar no que se refere à concepção da
Preceptoria de Núcleo em Serviço Social, na formação em serviço no Programa de
Residência Multiprofissional em Saúde, que se acena para uma concepção de
preceptoria em construção na configuração de ser uma supervisão técnica
profissional. A preceptoria é concebida como espaço de mediação entre o trabalho
profissional na interface com outras áreas profissionais, mediação importante no que
se refere aos processos de formação e trabalho interprofissional e como espaço de
organização da demanda do Serviço Social nos Serviços.
Quanto à constituição dos processos pedagógicos da preceptoria de núcleo
de Serviço Social entre os assistentes sociais preceptores e residentes, o contexto
foi determinante para as atividades que envolvem o caráter pedagógico no ensino
em serviço na Preceptoria, seja pelas condições de trabalho expressas pela carga
horária reduzida em virtude das demandas no cotidiano profissional para o
preceptor, seja pelas vivências de violência nos contextos sociais e nas relações de
trabalho. Evidencia-se, também, a necessidade de formação permanente para o
exercício da preceptoria em consonância com o Projeto Ético Político do Serviço
Social, tendo em vista os sentimentos de despreparo para esta atividade ficando
como requisição, a educação permanente aos preceptores, na medida em que o
assistente social preceptor possa repensar o seu trabalho profissional buscando
adensar seus conhecimentos.
No que se refere ao desenvolvimento da competência profissional no
processo de preceptoria se constituiu pelas normativas éticas, técnicas e legais,
pelos Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde e o pelo Código
64

de Ética Profissional, documentos balizadores e orientadores para o trabalho


profissional. Nas dimensões teórico-metodológicas evidencia-se o conteúdo do
controle social, que para as assistentes sociais é de suma importância e estratégico
na compreensão do acesso aos diretos sociais dos usuários. Na dimensão técnico-
operativa os projetos de intervenção e projetos de pesquisas sobre a investigação
da realidade, convocadas aos residentes, são atividades que buscam articulação
entre as dimensões ético-políticas e teórico metodológicas, tendo em vista o esforço
intelectual que se processa na elaboração e execução de ambos os projetos.
Concluindo, observar e compartilhar trabalho e formação com Assistentes
Sociais no universo de ensino-serviço é viver a ousadia cotidiana de quem não
abandona o contraditório mesmo em espaços duros do cuidado em saúde, que
detém de altas tecnologias de tratamento, mas que não conseguem ser resolutivas
frente às mais diversas formas de vulnerabilidade social que também geram
adoecimento e morte. Encontrar estratégias de intervenção na Preceptoria é
fomentar espaços de reflexões e aprendizados coletivos e individuais, que reforcem
práticas interdisciplinares e intersetoriais no campo do trabalho em Saúde e de todas
as políticas que compõem a Seguridade Social.
Neste trabalho profissional, ao sermos sujeito Preceptor de Núcleo em
Serviço Social, ao operacionalizar assistência, ensino e pesquisa contemplamos
estas necessidades e as tornamos legítimas para qualificar as garantias de proteção
social da população usuária atendida pelo SUS, bem como efetivarmos o significado
social e político para a complexidade do trabalho profissional do Assistente Social
nos espaços de Residência Multiprofissional em Saúde.
65

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VYGOTSKY, Lev Semenovictch. A formação social da mente. 6. ed. São Paulo:


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.
72

ANEXO A – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO


INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UFRGS
73
74
75
76

ANEXO B – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL


MATERNO INFANTIL PRESIDENTE VARGAS
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79
80

ANEXO C – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL


DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE
81
82
83
84
85

ANEXO D – PARECER CONSUBTANCIADO DO CEP DO HOSPITAL


NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
86
87
88
89

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos profissionais assistentes


sociais preceptores do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde de
Hospitais vinculados ao SUS, em Porto Alegre, RS.
HOSPITAL:__________________________________________________________.
Estamos realizando um estudo com o objetivo de conhecer como se constitui
o processo pedagógico da Preceptoria de Núcleo do Serviço Social considerando a
possibilidade de constituir um referencial para o ensino da formação em serviço nos
Programas de Residência Multiprofissional em Saúde, ancorados no projeto ético-
político da Profissão de Serviço Social. A realização dessa pesquisa se justifica pelo
fato de que seus resultados poderão contribuir para um melhor entendimento em
como se dá o processo da Preceptoria de Núcleo assim como analisar o preparo dos
profissionais para este processo de trabalho e as possíveis estratégias de
qualificação. A pesquisa poderá causar algum desconforto com a temática
abordada, visto que está relacionada aos processos de trabalho que envolvem as
atividades diárias da preceptoria na assistência.
A entrevista terá a duração de aproximadamente 60 minutos e será utilizado
um gravador para a coleta da entrevista e posterior transcrição e análise dos dados.
Os materiais coletados ficarão armazenados no Grupo de Pesquisa e Estudos sobre
Formação e Exercício Profissional em Serviço Social - GEFESS, que está vinculado
ao Programa de Pós Graduação em Políticas Sociais e Serviço Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a responsabilidade da orientadora
desta pesquisa, e serão incinerados após o período de cinco anos. A participação no
estudo não acarretará custos para o participante, assim também como este não será
ressarcido pela participação. Para a publicação dos resultados desta pesquisa, a
identidade do profissional será mantida em sigilo, sendo omitidas todas as
informações que permitam identificá-lo (a). A participação na pesquisa é voluntária;
portanto, será possível desistir de participar do estudo a qualquer momento, sendo
que a desistência ou recusa em participar não acarretará qualquer prejuízo. Este
estudo faz parte do Projeto de Pesquisa “A Preceptoria de Núcleo de Serviço Social
nos Programas de Residência Multiprofissional, nos Hospitais de Porto Alegre, RS”
90

sob a coordenação da Dra. Prof.ª Alzira Maria Baptista Lewgoy, da Universidade


Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Eu, _____________________________________________________ declaro que
fui informado (a) dos objetivos e da justificativa da presente pesquisa de maneira
clara e detalhada e, estou de acordo em participar da mesma. Recebi informações a
respeito da pesquisa e tive minhas dúvidas esclarecidas. Fui informado (a) com
relação à segurança de que não serei identificado (a) e que se manterá o caráter
confidencial das informações registradas. Sei que em qualquer momento poderei
solicitar novas informações e modificar minha decisão se assim achar necessário.
Caso surjam novas dúvidas sobre o estudo, a pesquisadora ficará à disposição pelo
telefone (51) 99566667 e 33085700.
Declaro que recebi cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Porto Alegre, _____ de _____________ de 201__.

_____________________________________ __________________________
Nome (em letra de forma) Assinatura do (a) profissional
_____________________________________ __________________________
Nome (em letra de forma) Assinatura da pesquisadora
91

APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO INSTITUCIONAL

Prezado(a) Senhor(a):
Solicitamos sua autorização para realização do projeto de pesquisa intitulado
“A Preceptoria de Núcleo em Serviço Social, nos Programas de Residência
Multiprofissional, em hospitais vinculados ao SUS, em Porto Alegre\RS, com a
participação da pesquisadora Cristine Kuss, mestranda no Programa de Pós
Graduação em Políticas Sociais e Serviço Social, e da pesquisadora e coordenadora
do projeto Prof. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy. A realização dessa pesquisa se
justifica pelo fato de que seus resultados poderão contribuir para um melhor
entendimento de como se dá o processo da Preceptoria de Núcleo assim como
analisar o preparo dos profissionais para este processo de trabalho e as possíveis
estratégias de qualificação. A pesquisa poderá causar algum desconforto com a
temática abordada, visto que está relacionada aos processos de trabalho que
envolvem as atividades diárias de preceptoria na assistência. O procedimento
adotado será a realização de entrevista individual de aproximadamente sessenta
minutos com profissionais desta instituição. A participação da instituição é
voluntária, bem como do profissional. Se a instituição ou o profissional decidirem por
não participar ou quiserem desistir de continuar em qualquer momento, têm absoluta
liberdade de fazê-lo. Os materiais coletados ficarão armazenados no Grupo de
Pesquisa e Estudos sobre Formação e Exercício Profissional em Serviço Social -
GEFESS, que está vinculado ao Programa de Pós Graduação em Políticas Sociais e
Serviço Social, sob a responsabilidade da coordenadora desta pesquisa, e serão
incinerados após o período de cinco anos. A participação no estudo não acarretará
custos para o participante, assim também como este não será ressarcido pela
participação. Para a publicação dos resultados desta pesquisa, a identidade do
profissional será mantida em sigilo, sendo omitidas todas as informações que
permitam identificá-lo (a). Mesmo não tendo benefícios diretos em participar,
indiretamente a sua instituição estará contribuindo para a compreensão do
fenômeno estudado e para a produção de conhecimento científico. Esta investigação
será submetida a análise e aprovação do Comitê de Ética do Instituto de Psicologia
da UFRGS e os procedimentos previstos obedecem aos Critérios de Ética na
Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional
92

de Saúde. Caso surjam novas dúvidas sobre o estudo, a pesquisadora ficará à


disposição pelo telefone (51) 99566667 e 33085700
Autorização Institucional
Eu, ________________________________________________________________
responsável pela instituição ________________________________________
declaro que fui informado dos objetivos da pesquisa acima, e concordo em autorizar
a execução da mesma nesta Instituição. Sei que a qualquer momento posso revogar
esta Autorização, sem a necessidade de prestar qualquer informação adicional.
Declaro, também, que não recebi ou receberei qualquer tipo de pagamento por esta
autorização bem como os participantes também não receberão qualquer tipo de
pagamento.
Porto Alegre, _____ de _____________ de 201__.

_________________________________________
Assinatura do (a) Responsável Institucional

_________________________________________
Assinatura da pesquisadora
93

APÊNDICE C - FORMULARIO DE ENTREVISTA COM OS ASSISTENTES


SOCIAIS PRECEPTORES

Pesquisa: “A Preceptoria de Núcleo em Serviço Social, nos Programas de


Residência Multiprofissional, em hospitais vinculados ao SUS, em Porto Alegre\RS
Entrevista nº:______
Data da entrevista: ____/_____________/______.
Cargo ou função:____________________________________________________
Tempo que trabalha na Instituição_______________________________________

1. Relate o que você entende por Preceptoria de Núcleo de Serviço Social.

2. Narre como tem sido a experiência de preceptoria no cotidiano do trabalho (considerando


as mudanças e as suas atribuições no trabalho profissional).

3. Você tem conhecimento sobre o material do Ministério da Saúde, a Resolução N2 do


CNRMS que trata das atribuições da preceptoria?

4. Conte como a sua equipe de trabalho discutiu/ discute o programa de residência?

5. Descreva como é o processo de escolha para a preceptoria de núcleo e a inserção dos


residentes nos núcleos?

6. Descreva como se constitui o trabalho da preceptoria do núcleo de Serviço Social na


formação em serviço junto aos residentes?

7. Você entende que seu processo de preceptoria dialoga com o projeto ético-político do
Serviço Social?

8. Quais as principais potencialidades do exercício da preceptoria de núcleo em Serviço


Social?

9. Quais os maiores desafios para o trabalho de preceptoria de núcleo em Serviço Social?

10. Dê um exemplo de uma experiência positiva e de uma experiência negativa na realização


da preceptoria de núcleo em Serviço Social?

11. De que forma você busca subsídios teórico-metodológicos sobre o Serviço Social para a
realização da preceptoria em Serviço Social?

12. Você se sente preparado para o exercício da Preceptoria? Por quê?

13. Gostaria de acrescentar alguma questão a respeito da preceptoria do núcleo de Serviço


Social?

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