Psicofarmacologia
Psicofarmacologia
PSICOFARMACOLOGIA
AULA 1
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CONVERSA INICIAL
questões éticas envolvendo profissionais que atuam no tratamento de pessoas que fazem uso de
medicação controlada.
É esperado que ao final deste estudo você esteja mais bem preparado para discutir com base em
evidência científicas o efeito terapêutico, iatrogênico e os limites éticos no uso de medicação e outras
Nesta etapa, vamos abordar de forma breve um pouco do vocabulário farmacêutico, o que são as
substâncias e os medicamentos psicoativos, psicotrópicos, psicofármacos e as drogas e os seus efeitos
no organismo. Iniciaremos com algumas classes farmacológicas. Em etapas seguintes, vamos explorar
mais detalhadamente as diversas classes de psicofármacos.
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psicoativas, não nos cabe julgar se a droga é lícita ou ilícita. Os profissionais têm a função de
prestação de serviços de saúde mental, mesmo que também sejam delegados de polícia, se estiverem
compromisso de outro. Portanto, não será foco de nossa preocupação neste estudo se a substância
Alguns termos são usados para se referir às substâncias farmacológicas que agem sobre o
Drogas psicotrópicas;
Substâncias psicoativas;
Medicamento psiquiátrico;
psicotrópicas ou psicoativas e estão sujeitos a um controle especial pela Portaria SVS/MS n. 344, de 12
de maio de 1998. O que mais diferencia esses termos utilizados são as palavras medicamentos,
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produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado. Nem todas as substâncias e nem todas as
drogas adquirem o status de medicamento ou fármaco. Entretanto, pode-se utilizar o termo droga e
substância se referindo aos medicamentos e aos fármacos. A palavra psicotrópica pode significar que
determinadas substâncias podem causar dependência física ou psíquica, como também um tropismo,
um direcionamento dessas substâncias para o cérebro. Por esse motivo, trata-se de substâncias
controladas ou sujeitas a controle especial, isto é, um controle mais rígido do que o controle das
substâncias comuns.
A droga assume diferentes significados. Desde substância ou matéria-prima que tenha finalidade
medicamentosa ou sanitária, como também pode ser definida como qualquer substância que no
organismo altera processos físicos ou psíquicos (o funcionamento). Assim como pode ser
denominada como substâncias entorpecentes, psicotrópicas e precursoras e outras sob controle
medicamentos e fármacos que agem no SNC. Nem todos os medicamentos disponíveis atravessam a
base na interferência que provocam no SNC. Essas substâncias psicoativas podem (Elisabetsky, 2021):
o Exame do Estado Mental, que possibilita a observação de sinais que sugerem algumas dessas
alterações nas funções mentais.
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Tomando como base a classificação das funções mentais utilizada pela psicopatologia, podemos
FUNÇÕES
ALGUMAS ALTERAÇÕES
MENTAIS
Consciência Lucido, sonolento, hipervigilante, delirium (confusão), estados de coma, períodos de ausência.
Orientação Autopsíquica: saber que é, dizer seu próprio nome. Alopsíquica: orientação temporal e espacial, saber
dizer onde está, saber o dia da semana/mês.
Sensação Sensibilidade dos órgãos dos sentidos (tato, audição, olfato, paladar, visão). Maior ou menor
intensidade na capacitação de estímulos sensoriais. Ilusão, Alucinação.
Afetividade/humor Coerente ou contraditório com a situação, indiferença, euforia, embotamento afetivo, labilidade
comportamento autolesivo.
Pensamento Lento, acelerado, inibido, fuga de ideias, não conclui o raciocínio, esquece palavras, desagregação do
Linguagem Mutismo, fala acelerada, lentidão para falar, imitação do que o outro fala (ecolalia), emissão
involuntária de palavras.
O Exame do Estado Mental é uma observação que se faz em um dado momento, descreve o que
está acontecendo em um momento, na situação presente (aqui, agora). Não tem validade como
avaliação diagnóstica da personalidade, pois as alterações podem ser temporárias, podem mudar no
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instante seguinte. O estado mental das pessoas é dinâmico, portanto não se pode atestar que o
de testes padronizados e que são de uso privativo daquela categoria profissional. No entanto,
alterações nas funções psíquicas podem ser observadas por todas as pessoas que convivem ou
presenciam uma das alterações listadas por Jaspers (2000) e Sanches et al. (2004).
A estabilidade das funções mentais favorece a adaptação à realidade e dá sinais de uma estrutura
As drogas psicotrópicas agem sobre o sistema nervoso, influindo em várias funções mentais,
interferindo na sensibilidade, na atividade muscular somática voluntária e involuntária, no sistema
visual, e no controle do comportamento, por exemplo. Desse modo, não é possível dizer, apenas pela
observação, se a pessoa tem um transtorno mental, ou apenas está sob efeito de medicação.
Os antidepressivos são medicamentos que atuam no sistema nervoso central (SNC) empregados
Portaria 344/1998. Na embalagem da maioria dos antidepressivos, há uma tarja vermelha na caixa
desses medicamentos anunciando a necessidade de prescrição de um profissional habilitado e de que
Diferente da embalagem dos medicamentos cetamina e a escetamina, que possuem uma tarja
preta anunciando que são capazes de causar dependência. Esses dois medicamentos são
administrados sob supervisão e necessitam de uma Notificação de Receita “B” (azul). Ambos agem em
2018).
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Há uma tendência para a ampliação do uso clínico da cetamina como antidepressivo. Esse
fármaco tem potencial promissor para o tratamento dos transtornos depressivos no geral, incluindo a
depressão pós-parto e tem seu uso por via endovenosa (injetável) e não pela via oral, o que pode
Estudos clínicos constataram que uma única administração de cetamina por via intravenosa reduz
sintomas de depressão por cerca de uma semana. Seus efeitos antidepressivos aparecem dentro de
quatro horas após sua administração (Zaccarelli-Magalhães et al., 2018).
A escetamina é derivada da cetamina, tem sua apresentação farmacêutica como spray nasal, no
entanto seu valor é em torno de R$ 2.900,00. Seu uso é indicado em casos de depressão refratária. Em
outras palavras, a depressão refratária é conhecida como resistente, em que os pacientes não obtêm a
antidepressivos atípicos. Essas diferentes classes de antidepressivos serão mais detalhadas em etapa
posterior.
Estudos demonstram que não há diferenças de eficácia entre diferentes antidepressivos de uma
mesma classe, como também entre as diferentes classes farmacológicas. Cada classe de
antidepressivos apresenta peculiaridades em relação aos efeitos adversos, sendo essa a principal
Os antidepressivos não são a primeira linha de tratamento para os casos mais leves, como
também não são para o tratamento inicial em adolescentes (OPAS, 2018), em gestantes e em
mulheres que estejam amamentando (Silva; Vasconcelos; Moura, 2021). Esses medicamentos não
Em casos mais resistentes ao tratamento da depressão, pode ser necessário o uso combinado de
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para o aparecimento do efeito terapêutico, o que implica o aumento do risco de suicídios. Essa
aplicação continuada poderia resultar em alterações plásticas do SNC, responsáveis pelos efeitos
pacientes não aderem ao tratamento até o final. Em torno de 25% a 35% dos pacientes com
depressão conseguem se recuperar totalmente com o uso de antidepressivos tradicionais (Zaccarelli-
al., 2018).
de ação que escape do sistema das monoaminas, que tenham resposta rápida, maior eficácia e menos
A psicose é caracterizada como perda do contato com a realidade. Ela acompanha diversas
condições psiquiátricas, porém a esquizofrenia acaba sendo uma referência para a compreensão das
psicoses e a principal indicação terapêutica dos antipsicóticos (Graeff; Guimarães, 2021).
Os transtornos psicóticos mais comuns abrangem mania (transtorno bipolar), psicose induzida
por drogas (cocaína) e esquizofrenia. A esquizofrenia é uma condição grave, crônica e altamente
incapacitante, marcada por sintomas positivos (delírios, alucinações), negativos (isolamento social,
embotamento afetivo, anedonia) e cognitivos (déficits de memória).
O tratamento com antipsicóticos para esquizofrenia foi introduzido na década de 1950, com a
nervos (Elisabetsky, 2021). Esses medicamentos não curam a esquizofrenia e apresentam diversos
efeitos colaterais (Graeff; Guimarães, 2021).
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semelhantes, mesmo com estrutura química diferente. Ainda que tenha muitos antipsicóticos
disponíveis, com exceção da clozapina, não há superioridade de eficácia entre eles. Os antipsicóticos
Com o uso dos antipsicóticos típicos, a melhora inicial ocorre com a diminuição da ansiedade e
da agitação (contenção química). Esses fármacos são úteis no alívio de sintomas positivos e pouco
eficazes no alívio dos sintomas negativos da esquizofrenia (Graeff; Guimarães, 2021). Há resistência ao
efeito benéfico dos típicos em torno de 30% dos pacientes com esquizofrenia.
2021). Alguns exemplos de antipsicóticos típicos são: clorpromazina, tioridazina e haloperidol. Tanto a
Há uma pequena janela terapêutica entre a dose eficaz e a dose que afeta o sistema motor.
Esses medicamentos provocam com frequência síndromes extrapiramidais (movimentos). Esses efeitos
incluem parkinsonismo (rigidez muscular, tremores, lentidão dos movimentos), distonias (contração
Após anos de uso, pode aparecer a discinesia tardia, que se caracteriza por movimentos
involuntários e repetitivos, que podem incluir protusão da língua, movimentos rápidos das
efeitos adversos, pode-se usar a dose eficaz mais baixa do antipsicótico típico (Elisabetsky, 2021).
Até meados de 1980 um elevado número de compostos antipsicóticos foi desenvolvido, contudo
um progresso na terapêutica com esses fármacos só foi possível com um melhor conhecimento de
sua farmacocinética e farmacodinâmica (Graeff; Guimarães, 2021).
Guimarães, 2021).
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antipsicóticos atípicos frente aos típicos. As principais diferenças se concentram no perfil de efeitos
Vários antipsicóticos atípicos podem ser indicados (e são eficazes) para o controle da mania no
transtorno bipolar e provavelmente o início do efeito é mais rápido do que com o lítio. Além disso,
Embora o uso contínuo não seja indicado, antipsicóticos atípicos têm sido empregados no
manejo de sintomas psicóticos e agitação em pacientes com demência. Esses medicamentos estão
relacionados com o aumento da mortalidade. Seu uso pode ser justificado em pacientes com
tratamento. Esses efeitos contemplam aumento do apetite, ganho de peso, hiperglicemia, aumento
comparação com os típicos, outro fator que deve ser considerado na escolha do tratamento. Tanto os
efeitos adversos quanto a eficácia limitada fazem com que a adesão ao tratamento seja muito baixa
(Elisabetsky, 2021).
O termo opioide foi proposto para designar os medicamentos com ação semelhante à da
morfina, porém com estrutura química diferente. O conceito de opioide evoluiu e passou a incluir
todas as substâncias naturais, semissintéticas ou sintéticas que reagem com os receptores opioides.
Em outras palavras, opioide é qualquer componente, endógeno ou exógeno, que se liga ao receptor
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opioide (Duarte, 2005). Os receptores opioides estão dispostos em todo o Sistema Nervoso Central
O ópio, substância original dessa classe farmacológica de opioides, é extraído da papoula, nome
popular do Papaver somniferum. O ópio teve grande importância na civilização romana, simbolizando
o sono e a morte. Galeno, considerado o pai da medicina romana, percebeu os riscos do seu uso
exagerado. Percebe-se que, a partir dos romanos, a propriedade analgésica do ópio passou a ser
reconhecida (Duarte, 2005; Campos et al., 2021).
O uso correto de medicações prescritas para dor e para ansiedade pode produzir tolerância. O
conceito de tolerância não implica em um uso abusivo ou de dependência. A tolerância pode ser
definida como a redução na resposta a uma substância após administrações repetidas. Portanto, uma
dose maior é necessária para produzir o mesmo efeito que antes era obtido com uma dose menor
É tênue o que separa um uso abusivo de uma dependência. No uso abusivo, existe algum
aspecto da vida da pessoa sendo atingido, seja no âmbito da família, do trabalho ou educacional. Já a
dependência é entendida como um conceito mais amplo, em que todos os aspectos da vida da
pessoa são atingidos, englobando comportamentos prejudiciais, que ocasionam sofrimento e no qual
dependência física e psicológica não são mais aplicados, sendo considerados transtornos
Os opioides são mais efetivos e mais comumente utilizados no tratamento da dor moderada a
intensa, especialmente no câncer. As diferenças de respostas ao uso dos opioides são aceitas,
atualmente, como devidas a polimorfismos genéticos relacionados aos receptores opioides. Além de
serem fármacos indicados para as dores crônicas, são utilizados no tratamento de dependência ou
desintoxicação por opioides (Campos et al., 2021).
Os pacientes com dor crônica (dor superior a 30 dias) frequentemente sofrem de depressão e
essa condição deve ser tratada (Brasil, 2012). Há uma escada analgésica, que consiste em um uso
sequencial de fármacos para analgesia. Geralmente se inicia o tratamento com analgésicos simples ou
anti-inflamatórios não hormonais (dipirona, paracetamol). Se não há controle da dor, o passo
seguinte é uma combinação de analgésicos com opioides fracos (como tramadol ou codeína). Caso
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não haja melhora da dor, muda-se para um terceiro passo, que inclui o uso de analgésicos simples em
associação com opioides fortes (como morfina, metadona, oxicodona) (Campos et al., 2021).
De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica (Brasil, 2012), a base
do tratamento de um tipo de dor chamada neuropática (que aparece em pacientes com diabetes e
pacientes que fazem quimioterapia) envolve o uso de medicamentos antidepressivos tricíclicos e
anticonvulsivantes na maioria dos casos, sendo os opioides reservados somente a pacientes com dor
a eles refratária. Vale ressaltar que, apesar de os medicamentos fazerem parte de classes
farmacológicas, eles não servem para tratarem apenas determinadas patologias. Assim, dependendo
anticonvulsionante (carbamazepina, ácido valproico, lamotrigina) também pode ser utilizado como
estabilizador do humor para o tratamento de transtornos afetivos bipolares e não apenas convulsões.
O aumento da dose de opioides é associado com efeitos adversos que incluem sedação,
Codeína (fármaco de escolha em dor leve a moderada, não controlada com anti-inflamatórios);
Tramadol (causa menos constipação intestinal, depressão respiratória e dependência do que
outros opioides);
Metadona (opioide sintético e potente. É uma alternativa à morfina, causa menos dependência,
Os opioides morfina, metadona e codeína estão disponíveis na rede pública de saúde pelo
NA PRÁTICA
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Com base em uma compreensão psicanalítica, as pessoas buscam o efeito da substância para
lidar com algum mal-estar, por terem dificuldade em tolerar frustrações impostas por uma dada
Um exemplo bastante comum é a pessoa que, diante de muitas preocupações que a deixam
ansiosa e hipervigilante, faz uso de um remédio para conseguir dormir. Ela não resolveu a rotina diária
que a deixa ansiosa, no entanto se utiliza de uma substância que lhe traga as condições necessárias
para que ela possa relaxar e dormir.
exausto, buscou ajuda médica e iniciou o uso de uma medicação estimulante. Passou a se sentir mais
disposto e produtivo nos meses e seguiu o uso. Cada vez que seu médico orientava a retirada da
medicação, o paciente dizia que não queria mais voltar a ser como era antes. Preferia ser a pessoa
organicamente a ele. É bem frequente que as pessoas não queiram tocar no assunto quando se
sentem incapazes de interferir em uma situação, por exemplo: luto, separações traumáticas, medo de
uma derrocada financeira. É importante que o psicanalista ajude a pessoa a identificar qual é a função
da substância na vida dela, qual lugar ocupa e como a pessoa se sente fazendo uso ou não daquela
substância. O resultado desse processo leva à autonomia da pessoa que vai decidir se sustenta a
decisão de continuar ou interromper o uso da substância, e tal posicionamento precisa ser respeitado
pelos profissionais da saúde, inclusive pelos psicanalistas.
Como vimos, muitas das substâncias psicoativas fazem parte dos hábitos de vida das pessoas e
são empregadas em tratamentos médicos para fins terapêuticos. Passa a ser um problema quando o
uso é abusivo, de modo que cause dependência e prejuízo à saúde. O consumo de substâncias
alucinógenas e estimulantes tem crescido ao longo do tempo. Elas são consumidas em diferentes
contextos, nas mais variadas formas e objetivos. Os dados estatísticos revelam que o consumo de
drogas tem aumentado de um modo geral, em especial nos jovens, como apresenta o artigo de
autoria da psicanalista Tânia Mara Monteiro (2020).
Uma análise crítica que precisa ser feita é em relação ao excesso de demandas do mundo do
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FINALIZANDO
e os seus efeitos no organismo, assim como aprendemos sobre o termo droga, que pode ser aplicado
tanto para medicamentos, fármacos como para substâncias que causam alteração no organismo.
Nossa preocupação não é diferenciar as substâncias em lícitas ou ilícitas, no entanto elas adquirem
um status diferenciado em termos de legitimidade para seu uso social. Vale lembrar que, no caso dos
Essas substâncias e medicamentos podem ser divididos em três grandes grupos: as que
estimulam o SNC (estimulantes como anfetaminas, cocaína, café), as que deprimem o SNC
Também abordamos sobre o estado mental das pessoas que se faz de forma dinâmica. A pessoa
pode estar de determinada forma, mas não de maneira fixa, ou seja, ela não é daquela maneira.
Como as drogas psicotrópicas agem sobre o sistema nervoso, interferindo na sensibilidade, nos
pensamentos e no comportamento, não é possível dizer, apenas pela observação, se a pessoa tem um
etapas que se seguirão. Cabe ressaltar que, apesar de serem classificados, esses medicamentos não
ficam engessados em suas classificações, podendo ter indicações variadas para o tratamento de
REFERÊNCIAS
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jun. 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 344, de 12 de maio de 1998. Diário Oficial da União,
_____. Portaria n. 1083, de 2 de outubro de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Campos, v. 3, n. 1, 2021.
DUARTE, D. F. Uma breve história do ópio e dos opioides. Revista Brasileira de Anestesiologia,
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. G. As bases farmacológicas da terapêutica. 10. ed. Rio de Janeiro:
6 jun. 2023.
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transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção
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CONVERSA INICIAL
Psicodélica. Desde os anos 2000 tem havido uma crescente relevância biomédica do tema. A última
década vem colocando os psicodélicos no centro da psiquiatria do século XXI, com participação
“manifestação da alma”. Sua definição tem variações e é objeto de disputa. Os psicodélicos clássicos
contemplam o LSD (dietilamida do ácido lisérgico), a mescalina (peiote), a psilocibina (princípio ativo
Sidarta Ribeira chama atenção no prefácio do livro Psiconautas: viagens com a ciência psicodélica
brasileira (2021), do jornalista Marcelo leite, acerca da urgência em educar os brasileiros quanto aos
efeitos terapêuticos da ligação de pequenas moléculas parecidas com a serotonina, com enormes
proteínas acopladas às membranas neuronais.
Essa ligação bioquímica altera a conformação estrutural de enormes moléculas, ativando enzimas
Muito tem se falado a respeito da plasticidade neuronal, que consiste na capacidade que os
neurônios possuem de formar novas conexões – mais contatos sinápticos – a cada momento, e de sua
maleabilidade. Aos psicodélicos tem sido dada essa capacidade intensa da modificação das conexões
neuronais e das alterações biológicas, que ocasionam mudanças nas emoções, percepções e em
formas de raciocinar (Leite, 2021).
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Os mecanismos de ação utilizados por parte dos psicodélicos são ainda misteriosos, apesar de
de paradigma" no universo acadêmico, como também por uma "revolução da consciência" mundial.
Não à toa que novas propostas surgiram, como a psicologia transpessoal de Abraham Maslow e
Stanislav Grof, que incluíam as experiências espirituais e o seu desenvolvimento na história humana; a
Charles Tart sobre “o preconceito de que nosso estado ordinário de consciência é algo natural e o
único modo de lidar corretamente com a realidade é um grande obstáculo à compreensão da
natureza da mente e dos estados de consciência” (Almeida; Lotufo Neto, 2003, p. 23-24).
No entanto, a Convenção das Nações Unidas sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, condenou
os psicodélicos internacionalmente, incluindo-os na sua Lista 1 (de alto potencial de abuso e sem
nenhum uso medicinal). Com isso, as pesquisas com DMT, psilocibina, mescalina e LSD começaram a
No Brasil, o uso religioso de ayahuasca é permitido desde 1987, o que possibilita a pesquisa
primeiro psicodélico a ser prescrito associado à psicoterapia (Leary; Metzner; Alpert, 2022).
Dessa forma, os objetivos desta etapa contemplam as terapias psicodélicas, termos como bad
trips, set e setting e microdose serão explorados, assim como o potencial terapêutico de algumas
substâncias psicodélicas. Vale ressaltar que esta etapa visa informar sobre as pesquisas que vêm
sendo realizadas com os psicodélicos e de maneira alguma pretende estimular o uso dessas
substâncias.
O termo psicodélico surgiu em 1957 pelo psiquiatra britânico Humphry Osmond em uma troca
de cartas com o escritor Aldous Huxley. Trata-se de um neologismo, com a união de psique (mente,
espírito, alma, self, psiquismo) e delos (manifestação, revelação, visão). A psicodelia carrega a ideia de
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manifestação da mente, revelação do espírito, e o psicodélico é o que torna essa revelação possível.
Torna visível a alma, o self ou o psiquismo. Alude a experiências de transformação por redução de
A palavra droga deve ser questionada ao se referir aos psicodélicos, uma vez que pode evocar
um significado de violência e sofrimento, o que não condiz com o seu potencial de cura (Leary;
Metzner; Alpert, 2022). O termo enteógenos foi cunhado em 1979, para se distanciar do uso
recreacional, e significa união com o divino a partir do seu uso (Oró et al. 2020).
abusivo de drogas. O abuso significa o uso nocivo de alguma substância psicoativa, seja pela forma
de uso, quantidade ou efeitos causados pela droga. O abuso ocorre por decisão da pessoa, e não por
prescrição médica. O uso abusivo não está somente atrelado a substâncias proibidas (como LSD,
Outro termo que foi amplamente relacionado aos psicodélicos até meados do século XX é o
psicomimético, associado aos efeitos de induzir uma psicose temporária e reversível, como as
alucinações (Oró et al., 2020). Estudiosos dos psicodélicos acreditam que a associação com a palavra
alucinação não se mostra precisa, visto que em um episódio alucinatório a pessoa não consegue
distinguir a visão imaginada da realidade material, o que não tem sido observado com os
psicodélicos. Para uma maior precisão tem sido dada preferência ao uso da expressão “alterações
efeitos clínicos dos transes induzidos por psicodélicos. Sejam eles de origem natural, tais como
cogumelos mágicos, iboga, ayahuasca e mescalina, ou de substâncias semissintéticas, como o LSD, ou
Os psicodélicos naturais são de uso milenar em rituais religiosos e de cura. Nesse sentido, é
importante respeitar a sabedoria dos povos indígenas, que desenvolveram essas tecnologias
terapêuticas por meio do uso dessas substâncias. Os psicodélicos não podem ser pensados somente
pelos seus efeitos farmacológicos, mas também de interações sociais (Leary; Metzner; Alpert, 2022).
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Apesar desses usos milenares, foi a partir das pesquisas científicas com o LSD nas décadas de
1950 e 1960 que cientistas e psicoterapeutas norte-americanos e europeus passaram a dar mais
Cabe destacar que os psicodélicos são uma classe farmacológica de psicotrópicos, o que significa
que são substâncias que se dirigem (tropismo) à psique (psiquismo como função cerebral) (Rodrigues,
2019).
crônico. Em vez disso, a psilocibina e o MDMA, que aumentam os níveis de serotonina, noradrenalina
poucas ocasiões. Essa técnica é conceitualmente diferente dos atuais tratamentos medicamentosos
Uma administração mais espaçada pode reduzir os efeitos adversos, incluindo os sintomas de
sob supervisão médica e/ou psicológica pode reduzir o risco de abuso de substâncias. O risco de
dependência é muito baixo ou nulo para substâncias psicodélicas, sobretudo quando administrado
Ainda não há previsão legal no Brasil de quando será possível aplicar as substâncias psicodélicas
no contexto psicoterapêutico. Embora existam várias pesquisas em andamento com retornos
A literatura científica da psicodelia traz alguns termos que se diferem. Por exemplo, nos Estados
Unidos, nomeiam certos aspectos do efeito psicodélico como experiências místicas. Já os britânicos
preferem nomear como dissolução do ego. Esse conceito reconecta a neurociência com Sigmund
Robin Carhart-Harris chefiou um estudo piloto com psilocibina para depressão, investigando as
imagens do cérebro de pessoas sob efeito da substância no Imperial College. Esse pesquisador está
convencido de que o ego freudiano existe e que ele pode estar localizado no cérebro. Os psicodélicos
apresentam grande afinidade com receptores para serotonina 5-HT2A (Leite, 2021).
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Psilocibina atua como um lubrificante, um relaxante das redes de comando e controle cerebral
que estariam rígidas e com ideias fixas na ruminação típica da depressão, de transtornos obsessivo-
Freud falou da descoberta da mente inconsciente e sua diferenciação do ego como um tipo de
golpe narcísico, a percepção de que não somos realmente senhores de nossa própria casa, de que
há forças inconscientes em nós que estão influenciando nosso comportamento e nosso
pensamento. Para mim, também é um golpe narcísico que o nosso senso de self, de ser alguém, de
que existimos absolutamente, seja realmente um tipo de ilusão, um produto da atividade cerebral. O
fantasioso. Na experiência psicodélica podem aparecer alterações visuais, mas o que emerge não são
conteúdos arbitrários, mas algo que já estava na mente, mesmo que inconsciente ou reprimido (Leite,
2021).
Os primeiros estudiosos dos psicodélicos acreditavam que essas substâncias produziam psicose,
uma perda da realidade. No entanto, a experiência subjetiva desses efeitos evidencia que o
psiconauta (usuário) dificilmente perde a noção de que está tendo alterações de visões.
poderia ser um caminho contrário da ruminação, da dependência e das ideias fixas (Leite, 2021).
Denomina-se “viagens ruins”, “experiência desafiadora”, “crise induzida por psicodélicos” ou “bad
trips” quando a experiência pode ser profundamente perturbadora. Surtos psicóticos podem ocorrer
induzidos pelos psicodélicos, contudo, há consenso que isso acontece com pessoas que têm
propensão para tal. As orientações envolvem que pessoas que já tiveram transtornos psicóticos não
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usem essas substâncias, sendo um dos critérios de exclusão para participação em pesquisas clínicas
(Leite, 2021).
Há vários materiais disponíveis para se realizar uma viagem segura com o uso de psicodélicos.
Uma das recomendações recorrentes é não usar a substância desacompanhada, sobretudo em uma
primeira experiência. É importante ter uma pessoa sóbria por perto ou um psicoterapeuta, caso a
pessoa tenha uma experiência difícil, em termos físicos ou emocionais (Leite, 2021).
Existe uma Associação Psicodélica do Brasil (APB) que atua no campo da política de drogas,
Brasil. A APB é composta por usuários, ativistas, pesquisadores, psicólogos e médicos. Ela contempla
trabalhos educativos, oferecendo cursos, palestras e ação em festas com práticas de cuidado e apoio
para pessoas durante uma viagem ruim. Por exemplo, o uso de reagentes para identificar a presença
No entanto, para reduzir riscos de uma bad trips, deve-se fazer leituras prévias de guias
corpo, memórias afetivamente carregadas podem emergir à consciência, o sentimento de união com
o universo, distorções de tempo e espaço, dentre outras. Ter em mente o que pode acontecer diminui
Outras orientações que se aplicam são quanto à importância de confiar no fornecedor, evitar uso
quando deprimido ou ansioso, não dirigir sob efeito das substâncias. A Global Drug Survey (GDS) tem
aplicativos de controle pessoal de consumo para uso no celular, tanto para drogas quanto para álcool
(Leite, 2021). As doses podem ser fracionadas, para serem ingeridas aos poucos, conforme observação
dos efeitos (Leary; Metzner; Alpert, 2022).
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McCririck, ela desenvolveu um sistema chamado de “terapia fusional”, na qual ela se deitava ao lado
de seus pacientes e os abraçava, dando conforto como uma boa mãe (Dubus, 2023).
Margot Cutner foi uma psicanalista Jungiana. Uma das técnicas que ela desenvolveu envolvia
encontrar a posição do corpo mais confortável para o paciente. Em 1955, ela começou a participar de
pesquisas com LSD, não sendo adepta ao uso repetitivo da substância, como uma tentativa de
quebrar a resistência psíquica do paciente. Foi uma pessoa sensível para a necessidade de contato
(toque) de pessoas sob efeito do LSD (Dubus, 2023).
Betty Eisner passou por duas sessões como cobaia e havia vivenciado experiências terríveis pela
ausência do apoio adequado, uma vez que na segunda sessão foi deixada sozinha. Eisner defendia
que os pacientes sempre fossem acompanhados durante toda a sessão e que as doses começassem
baixas e fossem aumentando gradativamente. Ela foi a primeira a versar sobre a importância de
músicas durante as sessões. Também defendia a presença de dois terapeutas, um homem e uma
mulher, de forma que os pacientes pudessem projetar nesse par seus sentimentos em relação ao que
Essas mulheres tiveram um importante impacto para o entendimento das principais mudanças e
transformações trazidas para a terapia assistida com LSD, evidenciando a importância dos corpos e
das emoções de seus pacientes. Elas romperam com métodos tradicionais, contribuindo com a
Set e setting são termos que surgiram após décadas de práticas terapêuticas com psicodélicos,
que designam respectivamente a condição mental do psiconauta e o contexto físico, social e cultural
Set pode se referir aos cuidados em termos de anamnese, como critérios de exclusão para o uso
dessas substâncias, como tendências psicóticas. Assim como não usar as substâncias quando estiver
com muita ansiedade, fazendo uso de medicações psiquiátricas ou sem clareza quanto ao objetivo da
experiência (Leite, 2021).
Em tratamento, a pessoa irá receber orientações e preparo psicoterapêutico sobre o que poderá
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enfrentar sob efeito da substância. Em geral, o ambiente onde ocorre a sessão apresenta móveis
confortáveis, luz indireta, música ambiente ou em fones de ouvido, podendo usar venda para os
olhos. Tem sido preconizado uma dupla de terapeutas, masculino e feminino, que permanece o
tempo todo com o paciente, podendo dar apoio em momentos difíceis. O conteúdo que emerge
precisa ser integrado em outras sessões de psicoterapia (Leite, 2021).
Cabe ressaltar que essas terapias com o uso de substâncias são pontuais, são poucas vezes
utilizadas, diferentemente dos tratamentos com fármacos psiquiátricos, que precisam ser utilizados
diariamente (Leite, 2021). No Brasil, esse tipo de tratamento é realizado somente no contexto de
pesquisa científica, que tem ocorrido no Instituto Phaneros. Caso sejam aprovados o uso de
psicodélicos como psilocibina, MDMA e LSD para o tratamento da saúde mental, é possível que o
3.1 MICRODOSE
Nos últimos anos tem sido usado entre jovens da tecnologia da informação e do mercado
financeiro no Vale do Silício e em Wall Street, o LSD e a psilocibina. A prática envolve o uso de
sendo que a dose recreativa é mais de 100 µg. São raros os estudos científicos que envolvem o uso
de microdose. Existe um guia, um protocolo de James Fadiman, que aborda os supostos benefícios da
microdosagem pode ser uma resposta do pensamento mercadológico enraizado que manteria, se
está presente em várias espécies, sendo uma das mais comuns a Psilocybe cubensis (Rodrigues, 2019).
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psicodélicos. A psilocina se liga com alta afinidade aos receptores 5-HT2A, agindo como agonista.
Pode ser encontrada no cérebro de 15 a 30 minutos após a ingestão e com duração de até 6 horas
(Rodrigues, 2019).
A psilocibina representa em torno de 1% do peso dos cogumelos Psilocybe cubensis. A dose letal
em humanos é 6 gramas, bem distante da sua dose terapêutica (6 mg), conferindo baixa toxicidade.
Usuários podem se envenenar por engano, consumindo algum cogumelo venenoso, mas isso é raro.
No aspecto psicológico, a psilocibina é similar ao LSD, embora menos intensa e com menos reações
de pânico e paranoia. Ela provoca um estado alterado de consciência assinalado pela estimulação do
afeto e uma maior introspecção. Altera a forma que a pessoa enfrenta a dor e a apatia, diminuindo a
ansiedade e o limiar de dor. Pesquisas evidenciam seus efeitos antidepressivos (Rodrigues, 2019).
Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não tem previsão de autorização para o seu
uso em tratamento de saúde, apesar da existência de vários ensaios cínicos ao redor do mundo que
(Leite, 2021). Tem sido utilizada em pessoas com câncer e sem possibilidades terapêuticas, a fim de
Um estudo clínico de fase II, publicado na revista New England Journal of Medicine, evidenciou
que a psilocibina tem ao menos a mesma eficácia e a segurança que o antidepressivo escitalopram da
O LSD foi sintetizado em 1938 por Albert Hofmann. Em 1943, Hofmann ingeriu acidentalmente
esse composto, descobrindo a sua psicoatividade. Esse composto foi testado para diferentes
condições durante a década de 1950, sendo a mais conhecida a relacionada ao alcoolismo
(Schenberg, 2021).
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2021).
A dose mínima perceptível em humanos é por volta de 25µg, enquanto uma dose plena fica por
volta de 100 a 200µg. Uma dose moderada, de 75 a 150µg, altera de modo significativo o estado de
consciência, pela hiperestimulação do afeto (vivida como euforia), pelo aumento da capacidade de
temporais, mudanças na imagem corporal e nas funções do ego. (Rodrigues, 2019, p. 36)
Os efeitos psicológicos agudos podem durar em torno de 6 a 10 horas. Não há registro de morte
por overdose ou danos fisiológicos associados ao seu uso. Fora de setting controlado, é comum
identificadas como ataques de pânico e de ansiedade, assim como sensação de estar sendo
perseguido. Na psicoterapia pode ser percebida como uma manifestação intensificada de elementos
4.2 MDMA
supostamente contêm MDMA. Esses comprimidos são muito utilizados em festas eletrônicas devido a
seus efeitos estimulantes de longa duração. Os efeitos causados pelo uso são euforia, perda da
inibição, aumento da resistência física e sensação de onda de energia com alterações de percepção
Alguns psicólogos passaram a usar o MDMA em suas práticas clínicas entre os anos de 1970 ao
início de 1980. No entanto, com o aumento do uso recreativo do ecstasy, a Agência Antidrogas dos
Estados Unidos classificou esse composto em 1985 como da Lista I. Dessa forma, o uso terapêutico
desse composto passou à clandestinidade (Rodrigues, 2019).
com psicodélicos em vários países. Há publicações sobre os efeitos promissores da psicoterapia com
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MDMA no transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Este estudo internacional está na Fase 3,
No início do estudo científico com os psicodélicos, havia o modelo psicomimético, que consistia
em desencadear psicose química reversível. Esse modelo era uma concepção popular entre os
psiquiatras, mas essa ideia não se sustentou. Muitas pessoas que relataram terem experimentado
momentos difíceis ao longo dos efeitos da administração de psicodélicos (bad trips) afirmam que
A intenção do uso de substâncias como LSD ou a mescalina era em função de acessar de forma
mais rápida a associação livre e os sonhos como uma maneira de alcançar conteúdos do inconsciente
para poder analisar. Existem duas abordagens principais: a psicolítica e a psicodélica. O modelo
psicolítico consistia em fornecer doses relativamente baixas da substância. Essa foi a abordagem que
predominou na Europa na década de 1960, com cerca de 18 centros realizando esse tipo de terapia e
Esses estudos clínicos não tinham os mesmos controles de pesquisa atuais, mas indicavam o
cuidadosos. O modelo psicolítico se diferenciava de uma nova visão emergente, que começou a se
fortalecer na década de 1960, na qual os estados alterados de consciência eram percebidos como
portas de entrada para o universo espiritual. Tratava-se de um instrumento para uma revolução da
Consciência Ocidental (Oró et al., 2020). Esse modelo foi chamado de psicodélico, na qual se
O termo psicolítico significa soltar a mente (lysis, dissolução), como relaxar as defesas egoicas,
2019).
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observou que alguns pacientes alcoolistas só conseguiram abandonar o vício após alcançarem um
terrível fundo do poço. A experiência intensa de horrores costuma ser seguida por um renascimento.
alma. Esse tipo de terapia se tornou mais popular na América do Norte (Rodrigues, 2019).
NA PRÁTICA
São muitas as terapias que prometem melhora na condição de saúde mental das pessoas. Alguns
profissionais usam erroneamente o título de psicanalistas quando se utilizam de métodos que não
são psicanalíticos.
método psicanalítico.
Quando Freud ainda trabalhava como médico neurologista, antes de elaborar o método
psicanalítico, ele e seus outros colegas médicos buscavam encontrar alguma substância que pudesse
ser usada como anestésico durante as cirurgias e, dentre as diversas substâncias experimentadas,
Freud e seus colegas médicos acreditaram que a cocaína poderia ter essa finalidade terapêutica.
Freud chegou a acreditar que com a cocaína poderia se fazer uma “cura mágica”. No entanto, os
médicos não demoraram em perceber os efeitos iatrogênicos da cocaína. Isso fez com que eles
parassem com o uso experimental. Esse “Freud psicofarmacologista” aconteceu no período pré-
psicanalítico e foi completamente abandonado depois por todos os psicanalistas. O artigo escrito por
Decio Gurfinkel conta um pouco desta história: “O episódio de Freud com a cocaína: o médico e o
É importante saber que existem várias terapias que podem ser usadas para o tratamento de
sofrimentos e transtornos mentais, mas cada uma tem seu método de tratamento. O método da
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Algumas terapias que não fazem parte do método psicanalítico: prescrição de remédios e outras
complementares. Essas outras terapias são métodos considerados válidos, mas não caracterizam o
método psicanalítico.
O uso de substâncias deve ser cuidadoso, especialmente quando a pessoa faz uso de
serotoninérgica. Nesse sentido, as substâncias psicodélicas não podem ser pensadas como opção
para todas as pessoas, há necessidade de ser planejada e administrada por um profissional habilitado
para essa prescrição, fazer uma anamnese e excluir riscos, por exemplo, episódios de psicose. Na
prática, é possível encontrar pessoas que fazem uso de várias substâncias psicodélicas com certa
regularidade, como o chá da ayahuasca (DMT), os cogumelos mágicos e o LSD. Esses usos podem ser
variados, como o consumo do chá da ayahuasca em um contexto religioso (Barquinha, União Vegetal
e Santo Daime), em que há segurança e pessoas preparadas para lidarem com as situações que
surgirem. Nesse contexto, há uma anamnese antes de a pessoa consumir a bebida. O consumo dessa
substância pode ocorrer com os povos indígenas, que são os que descobriram os efeitos
considerados sagrados da ayahuasca. Entretanto, o acesso da ayahuasca ocorre também pela internet,
e pessoas podem consumir em suas próprias casas, mantendo a bebida em suas geladeiras.
Importante ter em mente que não se trata da mesma substância, uma vez que não estamos
pensando apenas a farmacologia contida no chá, mas a forma em que esse consumo ocorre (set e
setting). Deve-se ter cuidado na escolha de fornecedores, saber de onde está vindo a substância, qual
a sua procedência. No caso dos cogumelos, há lojas específicas que produzem e vendem, assim como
podem ser adquiridos pela internet. Cabe destacar que a legislação brasileira deixa uma brecha acerca
dos cogumelos, estando proibida a extração ou a síntese da psilocibina e psilocina, mas não o
cogumelo. Ter uma noção de como o universo psicodélico funciona pode contribuir com a prática
FINALIZANDO
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em relação à experiencia. O setting é o contexto físico, social e cultural em que essa experiência
ocorre. Ainda não temos uma data definida de quando alguns psicodélicos ganharão o status de
fármaco, o mais próximo disso acontecer é o MDMA. É muito provável, que após ser aprovado, será
administrado sob supervisão. Isso ocorre com a quetamina e com a escetamina. Enquanto isso,
pesquisas seguem sendo realizadas em várias partes do mundo. Por aqui, no Brasil, o uso do chá de
ayahuasca não é visto de forma terapêutica pelo modelo biomédico, ou seja, não precisa de
prescrição para ter acesso. Pesquisadores brasileiros já comprovaram o seu efeito antidepressivo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. M. de; LOTUFO NETO, F. Diretrizes metodológicas para investigar estados alterados
solicitação para importação, em caráter excepcional, de 4 (quatro) kits de Microdosing kit (Psilocibina
e Psilocina).
%20Associa%C3%A7%C3%A3o%20Psicod%C3%A9lica%20do%20Brasil%20A%20Associa%C3%A7%C3
%A3o,pr%C3%B3%20redu%C3%A7%C3%A3o%20de%20riscos%20e%20danos%20no%20Brasil.>.
Acesso em: 6 mar. 2023.
DUBUS, Z. A influência histórica das mulheres no debate sobre “set” e “setting”. Disponível
em: <https://chacruna-la.org/influencia-das-mulheres-no-debate-sobre-set-e-setting/>. Acesso em: 6
mar. 2023.
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LEARY, T.; METZNER, R.; ALPERT, R. A experiência psicodélica: um manual baseado no Livro
LEITE, M. Psiconautas: viagens com a ciência psicodélica brasileira. São Paulo: Editora Fósforo,
2021.
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PSICOFARMACOLOGIA
AULA 3
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CONVERSA INICIAL
Nesta etapa, abordaremos os medicamentos que atuam no sistema nervoso central – SNC,
classes de antidepressivos.
farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado. A palavra psicotrópico tanto pode significar que
determinadas substâncias podem causar dependência física ou psíquica, como também indicar um
uma tarja vermelha na caixa desses medicamentos, anunciando a necessidade de prescrição e de que
não são capazes de causar dependência. Diferente da embalagem dos medicamentos cetamina e a
escetamina, que possuem uma tarja preta, anunciando que são capazes de causar dependência. Esses
dois medicamentos são administrados sob supervisão e necessitam de uma Notificação de Receita “B”
(azul).
controlados podem mudar de classificação (Listas). Substâncias que eram proscritas (proibidas)
podem passar a ganhar status de medicamento. Por exemplo, o canabidiol – CBD, da Cannabis sativa.
Outras palavras que podem ser utilizadas para identificar substâncias, fármacos ou medicamentos
que atuam no SNC são psicoativas e drogas. Também pode ser utilizado o termo psicofármaco, mas
medicamentosa ou sanitária, também pode ser definida como qualquer substância, natural ou não,
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droga pode significar violência e sofrimento, a ideia de substância proibida, ilegal e nociva ao usuário.
Elas estão classificadas em três categorias: as depressoras, as estimulantes e as perturbadoras. As
cerebral. As estimulantes do SNC (guaraná, cafeína, anfetamina, cocaína) aceleram o ritmo cerebral. E
recomendados para as pessoas com depressão; b) identificar quais são as primeiras linhas de
A depressão maior se caracteriza por uma constelação de sintomas, como humor deprimido ou
perda de interesse na maior parte das atividades, sentimento de desesperança, vazio, culpa,
A depressão pode ser caracterizada como leve, moderada e grave. Em casos graves, sintomas
alucinações auditivas (como vozes de comando) e/ou visuais. É comum a presença de outros
transtornos associados, como os transtornos ansiosos, o transtorno obsessivo-compulsivo – TOC e o
A depressão é uma síndrome clínica bastante comum, sendo considerada a principal responsável
por incapacitação e a principal causa de morte por suicídio (Guimarães-Fernandes et al., 2021). Trata-
se de um grande problema de saúde pública, que coloca o Brasil como maior índice percentual da
América Latina e o quinto maior do mundo em termos de prevalência (5,8%), sendo maior em
mulheres do que em homens (Almeida; Demarzo; Neufeld, 2020).
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importantes, humilhação, rejeição social, entre outros, podem desencadear um primeiro episódio
depressivo. Após um primeiro episódio, mais da metade das pessoas apresentará pelo menos um
segundo, um risco que aumenta com o número de episódios (Graeff; Guimarães, 2021).
estressores psicossociais, reativar as redes sociais (como reuniões de família, saídas com amigos,
visitas a vizinhos, atividades sociais no trabalho) e atividades físicas. No quesito psicoeducação, deve-
se insistir nos seguintes pontos: a) a não interrupção de atividades que eram interessantes ou que
proporcionavam prazer; b) procurar manter um ritmo de sono regular; c) manter uma regularidade de
atividades sociais, como conversar todos os dias com alguém, de preferência pessoalmente, e
participar de atividade comunitárias, se possível; e, d) buscar ajuda na presença de ideias de
autodestruição ou suicídio. Os tratamentos psicossociais também são efetivos para depressão (Opas,
2018).
Alguns modelos de psicoterapia são recomendados como tratamento isolado para casos leves e
evidência para a depressão na fase aguda são a terapia cognitivo-comportamental – TCC, a terapia
2021). Nessa última, “há uma ênfase na mudança da consciência em relação ao eu e aos estados de
A psicanálise, por outro lado, tem a proposta de ouvir a experiência da pessoa em sua condição.
São propostas terapêuticas diferentes.
simbolização e elaboração. Analisa e interpreta a relação que a pessoa tem com a medicação,
com os seus sintomas e o que eles significam no conjunto da sua vida.
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comprovou que as atividades físicas são mais eficazes que o uso de antidepressivos.
farmacológico da depressão contempla a fase aguda, na qual se busca a remissão dos sintomas e a
recuperação da funcionalidade, e a fase de manutenção, na qual se busca o retorno completo da
deve-se afastar o diagnóstico de transtorno bipolar, visto que podem provocar o aparecimento de
mania (Cunha, 2020).
Estudos demonstram que não há diferenças de eficácia entre diferentes psicofármacos de uma
mesma classe, como também entre as diferentes classes farmacológicas. Cada classe de
antidepressivos apresenta peculiaridades em relação aos efeitos adversos, sendo essa a principal
aumentar o risco de pensamento e/ou comportamento suicida em crianças e jovens adultos (< 24
anos). Esses pacientes devem ser monitorados com relação a mudanças de comportamento”
Os antidepressivos não são a primeira linha de tratamento para os casos mais leves, como
também não são para o tratamento inicial em adolescentes (Opas, 2018), em gestantes e em
mulheres que estejam amamentando (Da-Silva; Vasconcelos; Moura, 2021). Esses medicamentos não
devem ser usados para tratar depressão em crianças. Em casos mais resistentes ao tratamento da
depressão, pode ser necessário o uso combinado de mais de um antidepressivo ou a adição de outras
plásticas do SNC, responsáveis pelos efeitos terapêuticos conquistados pelo uso prolongado (Graeff;
Guimarães, 2021).
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conduzir uma informação fisiológica a outro neurônio. Essas moléculas podem atuar estimulando ou
inibindo uma transmissão nervosa após a ativação de um receptor específico em outro neurônio
(Cunha, 2020).
vesículas nas terminações sinápticas. Ao receber um estímulo, há um aumento do influxo de Ca2+ por
canais iônicos que resulta na exocitose (liberação) dos neurotransmissores na fenda sináptica.
ser reduzido pela recaptação, por uma proteína transportadora presente na membrana ou por
α1A, α1B Influencia o sistema de alerta e vigília, participa de respostas emocionais e do controle da
Noradrenalina α1D, α2A-C fome e saciedade.
β1-3
Dopamina D1-5
5-HT2A-C depressivos, certas formas de ansiedade, TOC e ideação suicida. Participa da regulação do
vômito e controle da fome e da saciedade.
5-HT3
Serotonina ou
5-HT4
5-
5-HT5A-B
hidroxitriptamina
5-HT6
5-HT7
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H3
com estruturas especializadas, localizadas nas membranas celulares, denominadas de receptores. Esse
conceito é a base da Farmacologia. Ao atuarem sobre receptores, os fármacos podem produzir efeitos
compostos endógenos são conhecidos como agonistas totais. Alguns compostos possuem
capacidade de se ligarem aos receptores (possuem afinidade), mas não são capazes de ativá-los. Por
antagonistas de receptores. Já os agonistas parciais são capazes de se ligarem aos receptores e ativá-
los, porém não conseguem produzir, mesmo em doses elevadas, o efeito máximo observado com
agonistas totais (Graeff; Guimarães, 2021).
Outro conceito importante é o da interação alostérica, que se refere à ligação de uma molécula
efetora a um sítio distinto (alostérico) do seu sítio ativo. Com essa ligação, ocorrem alterações
conformacionais na proteína que podem modificar a eficácia do agonista. Os receptores podem ser
agrupados em superfamílias, como os canais iônicos operados por ligantes e receptores acoplados à
proteína G. Muitos fármacos, ao se combinarem com seus receptores, provocam a formação de
substâncias conhecidas como “segundos mensageiros” no citoplasma, que permitem a ação dos
fármacos e de substâncias endógenas (Graeff; Guimarães, 2021).
aos íons sódio (Na+) e potássio (K+). Ao ser ativado, abre-se o canal iônico, permitindo a entrada de
sódio e a saída de potássio através da membrana, provocando a despolarização. As proteínas G são
compostas por três subunidades (alfa, beta e gama) que, em estado inativo, permanecem associadas.
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A partir dessa compreensão, os principais alvos pelos quais os psicotrópicos agem são: a)
apresentam estrutura tricíclica e efeitos farmacológicos semelhantes (Graeff; Guimarães, 2021). Além
da depressão, são utilizados no tratamento de outras complicações, como dor crônica, enxaqueca,
Apesar de eficazes, são considerados tratamento de segunda linha para a depressão devido à
Amitriptilina* 50-300 Também é utilizada para dor crônica e como profilaxia para enxaqueca.
Nortriptilina* 30-200 Metabólito ativo da amitriptilina, tratamento de segunda linha para TDAH**
Nota: *Essas medicações geralmente estão disponíveis na rede pública de saúde; **Transtorno do
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muscarínicos, histamínicos e adrenérgicos, o que implica efeitos adversos, tais como a sedação e a
perda de coordenação motora (histaminérgicos), boca seca, constipação, retenção urinária, visão
Os ADT possuem baixo índice terapêutico. Isso significa que a dose terapêutica é muito próxima
à dose tóxica. Em elevadas concentrações, são capazes de desencadear alterações cardíacas,
depressão respiratória, agitação, delírio, alucinações, convulsões, coma e morte. Como a overdose
dessas medicações pode levar à morte, faz-se necessário monitorar pacientes, evitar essas medicações
em pessoas com ideação suicida ou a prescrição de grandes quantidades (Graeff; Guimarães, 2021).
A maioria dos ADT possui meia-vida elevada, o que pode ocasionar o acúmulo gradual e o
aparecimento de efeitos adversos. Eles são tipicamente administrados uma vez ao dia, no período
noturno, em decorrência do efeito sedativo. A interação medicamentosa mais grave envolve o uso
concomitante com etanol, que pode resultar em uma depressão respiratória grave, caso o consumo
Na parada do tratamento, deve-se evitar a retirada súbita, pois podem aparecer náuseas, tontura,
(CUNHA, 2020).
da MAO-A) e capacidade de inibição (reversível ou irreversível), como pode ser observado no Quadro
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3. Esses fármacos são reservados como terceira linha de tratamento da depressão, pois apresentam
maior taxa de efeitos colaterais e potenciais interações graves (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
O uso dos IMAO pode desencadear o efeito dos queijos e a síndrome serotoninérgica. O primeiro
se refere à ingestão de alimentos ricos em tiramina (chocolate, queijos) que não será metabolizada
pela MAO, ocasionando uma hipertensão aguda. Enquanto o segundo está relacionado com um
excesso de serotonina na fenda sináptica quando os IMAO são utilizados em conjunto com o ADT ou
ISRS (Cunha, 2020).
antidepressivos clássicos, com perfil de efeitos adversos mais favorável. Contudo, a maioria dos IMAO
inibe a enzima de forma irreversível, portanto, deve-se aguardar um período de pelo menos 14 dias
entre a retirada dos IMAO e a introdução de um fármaco serotoninérgico ou vice-versa, a fim de que
os neurônios possam produzir novas MAOs. Os efeitos adversos comuns são: tremores, insônia,
genérico (mg/dia)
estão entre os mais prescritos em psiquiatria, sendo na maioria dos casos a primeira escolha para o
tratamento da depressão, sobretudo pela maior segurança quando se compara com os ADT e IMAO.
por meio da inibição da recaptação desse neurotransmissor nos neurônios pré-sinápticos. Esse
processo resulta em uma neurotransmissão serotoninérgica potencializada e prolongada (Cunha,
2020).
Esses fármacos apresentam eficácia similar à dos ADT e IMAO na melhora dos sintomas da
depressão, com o benefício de terem baixa tendência de provocar efeitos cardiovasculares severos.
Além disso, não bloqueiam os receptores muscarínicos, histamínicos e adrenérgicos, o que torna os
efeitos indesejados menos intensos, possibilitando uma melhor adesão (Cunha, 2020).
Os efeitos colaterais dos ISRS são distúrbios gastrointestinais (náusea, diarreia), prejuízo da
cognição, insônia e ideação suicida. A disfunção sexual é reconhecida como um problema bastante
comum. Esses efeitos incluem a diminuição da libido, a disfunção erétil, a anorgasmia e o retardo
ejaculatório (Graeff; Guimarães, 2021). Os ajustes das doses consideram a avaliação da resposta clínica
Citalopram 10-60 Possui maior seletividade pelo transportador de 5-HT dentre os ISRS.
Fluoxetina* 20-80 Primeiro ISRS. Metabólito ativo norfluoxetina com meia-vida de 14 dias.
α1– adrenérgico.
Nota: Essa medicação está geralmente disponível na rede pública de saúde. É tipicamente
administrada 1 vez/dia.
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do tratamento, uma vez que a súbita retirada de um fármaco com meia-vida curta (paroxetina) pode
desencadear essa síndrome, o que pode não ser observado com a retirada da fluoxetina (meia-vida
fármacos também são aprovados para uso em transtorno de ansiedade generalizada (venlafaxina e
de efeitos adversos, como cefaleia, insônia, disfunção sexual, boca seca, tontura e alteração do
apetite. Esses fármacos não devem ser associados aos ISRS, pois há risco aumentado de ocorrência de
síndrome serotoninérgica por conta do aumento de serotonina no SNC. Essa síndrome é
Trata-se de um grupo misto de fármacos que tem mecanismo de ação em vários locais diferentes.
possível sua associação com outros antidepressivos, como os ISRS, a fim de atenuar as alterações
sexuais.
antidepressivo. Esse fármaco não altera a parte sexual, possui um menor risco de interação
medicamentosa e tem uso associado com outros antidepressivos. Por ter um menor perfil de
interação medicamentosa com outros fármacos, é útil para pacientes idosos com depressão, que
tendem a ter um consumo maior de medicamentos. Pode causar sedação e ganho de peso.
sedação, o que pode ser favorável para pacientes deprimidos com insônia (Elisabetsky, 2021). Tem
cetamina é um fármaco aprovado para uso medicinal na classe dos psicodélicos. Psicodélico é um
neologismo criado na década de 1950 que significa a manifestação da mente. São substâncias
capazes de produzir alterações nos processos cognitivos, como alteração da percepção do tempo, do
pensamento, da visão, da audição e emocionais, isto é, são capazes de provocar um estado não
ordinário de consciência. A cetamina é um fármaco sintético que atua como antagonista dos
da dor. Apresenta efeitos antidepressivos. Tem sido utilizada na psicoterapia assistida por via
endovenosa, com acompanhamento psicológico e sob prescrição e supervisão médica (Higashi, 2023).
ser administrada sob forma de spray nasal e sob supervisão médica. Tem sido indicada para pacientes
que não responderam adequadamente a pelo menos dois antidepressivos diferentes, configurando
resistência ao tratamento convencional. Apresenta uma resposta clínica rápida (em 24 horas). É usada
em combinação com antidepressivos orais, como os ISRS ou IRSN, sendo indicada para a rápida
redução dos sintomas depressivos em pessoas com comportamento ou ideação suicida aguda
(Spravato, 2023).
No Brasil, o uso religioso de ayahuasca é permitido desde 1987. Porém, o uso da ayahuasca não
configura um tratamento médico. Em 2017, pesquisadores brasileiros confirmaram os efeitos
antidepressivos da ayahuasca (Leary; Metzner; Alpert, 2022). O canabidiol – CBD, da Cannabis sativa,
também apresenta propriedades antidepressivas e para ansiedade, até antipsicóticas, porém, devido
ao estigma, não há tantos estudos científicos.
Outro antidepressivo com mecanismo de ação diferente é a agomelatina. É uma potente agonista
dos receptores da melatonina de tipos 1 e 2 e antagoniza receptores de serotonina. Ainda não está
claro qual dos dois mecanismos é responsável por seus efeitos antidepressivos. A brexanolona foi
recentemente aprovada para a depressão pós-parto. Trata-se de um metabólito natural da
progesterona. Com o parto, existe uma diminuição importante de progesterona, o que poderia
prejudicar a neurotransmissão relacionada com o ácido gama-aminobutírico – GABA, que é o
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NA PRÁTICA
E se a depressão ocorrer durante a gravidez? A primeira linha de tratamento para a gestante com
depressão leve a moderada é o modelo de Tl e o modelo de TCC. Caso a psicoterapia não esteja
disponível ou a gestante não deseje essa abordagem, o uso de antidepressivos pode ser
associados a depressão não tratada e em relação aos fármacos e seus efeitos no bebê. Em caso de
depressão grave, a primeira linha de tratamento são os antidepressivos, tais como os ISRS, de
preferência sertralina ou fluoxetina. A paroxetina deve ser evitada, pois há risco de malformação
parecem estar associados a risco de malformação fetal, porém há menos estudos a esse respeito. Os
com depressão deve envolver uma equipe multidisciplinar. Vários profissionais podem atuar
psicanalistas contribuem por assumirem uma postura não diretiva, favorecendo que a gestante fale
livremente de sua experiência com o tratamento da depressão, com a gestação e com a maternidade.
Na remissão dos sintomas, a gestante pode optar em retirar o medicamento. Essa retirada deve
medicamentos, portanto, não são prescritores e nem dirigem o tratamento, mas fazem parte da
equipe, pois favorecem que os pacientes elaborem seus conflitos, encontrem sentido e significado
de risco para o desmame precoce. Algumas estratégias poderiam ser realizadas, tais como utilizar a
dose mínima eficaz e ajuste dos horários de administração. A sertralina é o fármaco de escolha, por
sua baixa concentração no leite materno. A maioria das diretrizes recomenda a utilização de
antidepressivos como terapia inicial apenas na depressão pós-parto grave, pois, de leve a moderada,
as psicoterapias são preconizadas como tratamento inicial (Da-Silva; Vasconcelos; Moura, 2021). Além
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da depressão materna já ser um fator de risco para a qualidade de risco da relação mãe-bebê, a
interrupção da amamentação pode ser mais um fator de risco psíquico para o bom desenvolvimento
FINALIZANDO
e/ou dopaminérgico. Mesmo com essas opções, um conjunto de pacientes não responde ao
tratamento. Isso levanta suspeitas de que a depressão não estaria apenas relacionada a distúrbios nos
sistemas das monoaminas. Outros fármacos cujo mecanismo antidepressivo seria independente das
Nesta etapa, evidenciamos que não há diferença de eficácia entre as diversas classes de
moderada não é tão evidente. Modelos de psicoterapia são recomendados como monoterapia para
casos leves e moderados, como a TCC, a TIP e a AC. Em casos de maior gravidade, deve-se combinar o
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, N. de O.; DEMARZO, M.; NEUFELD, C. B.. Terapia cognitiva baseada em mindfulness no
atendimento clínico individual de depressão. SMAD Revista Eletrônica de Saúde Mental Álcool e
Drogas, v. 16, n. 3, p. 55-63, 2020.
DA-SILVA, T. G.; VASCONCELOS, P. F. de; MOURA, I. G. S.. Uma abordagem atual da utilização de
antidepressivos no manejo da depressão pós-parto. SMAD Revista Eletrônica de Saúde Mental
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Atheneu, 2021.
transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção
SPRAVATO. Spray nasal. Erika Diago Rufino. Nova Jersey. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. 2023.
(BULA).
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PSICOFARMACOLOGIA
AULA 4
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CONVERSA INICIAL
fundamental dos transtornos psicóticos (Elisabetsky, 2021). A psicose acompanha diversas condições
psiquiátricas, porém a esquizofrenia acaba sendo uma referência para a compreensão das psicoses e a
Os transtornos psicóticos mais comuns abrangem mania (transtorno bipolar), psicose induzida
por drogas (cocaína) e esquizofrenia. A esquizofrenia é uma condição grave, crônica e altamente
2021).
em que a pessoa ficaria em um estado de indiferença aos estímulos externos, porém sem perda de
consciência. Por isso, os antipsicóticos foram chamados inicialmente de neurolépticos, que significa
“segurar”, “controlar os nervos”. Outros antipsicóticos foram lançados nas décadas seguintes,
semelhantes à clorpromazina, até o aparecimento da clozapina, primeiro antipsicótico atípico
(Elisabetsky, 2021). Porém, esses medicamentos não curam a esquizofrenia e apresentam diversos
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amplamente substituída, ficando reservada para situações específicas (Graeff; Guimarães, 2021).
pela presença de sintomas psicóticos positivos, tais como delírios, alucinações e agitação psicomotora
(Graeff; Guimarães, 2021).
da adolescência ou no início da idade adulta. Pacientes não tratados podem desencadear quadro de
esquizofrenia grave (Graeff; Guimarães, 2021).
As causas da esquizofrenia não são conhecidas, embora haja o entendimento de que sejam uma
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traumas e drogas durante a infância e a adolescência. Mecanismos inflamatórios também têm sido
vida das pessoas com esquizofrenia. Estudos evidenciam que os antipsicóticos eliminam ou atenuam
as manifestações agudas, assim como diminuem a frequência de recidivas, porém não curam a
destaque para as orientações diretivas a serem feitas pelos profissionais da saúde. Algumas delas são
(Opas, 2018):
explicar que os sintomas são causados por uma condição de saúde mental;
explicar que a psicose pode ser tratada e que a pessoa pode se recuperar;
esclarecer equívocos comuns sobre as psicoses, como não culpabilizar a pessoa ou a família pela
esclarecer que a piora dos sintomas pode acontecer e que a procura do estabelecimento de
orientar a família a planejar uma agenda ocupacional, a fim de evitar o estresse da pessoa e dos
cuidadores;
incentivar a pessoa com psicose a pedir conselhos ao tomar decisões importantes, como as
relacionadas a dinheiro;
manter uma relação de harmonia com a pessoa, pois a confiança mútua entre ela e a equipe de
saúde é crucial para maior adesão ao tratamento;
incentivar atividades sociais como meio de propiciar apoio psicológico e social, por exemplo
reuniões familiares, saídas com amigos, visitas a vizinhos, atividades sociais no trabalho,
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orientar cuidadores a não tentar convencer a pessoa de que suas crenças são irreais e a oferecer
psicose devem ser evitadas; em geral, é melhor que a pessoa viva com a família ou com
Perceba que essa lista de atribuições caracteriza uma atuação diretiva, de ensino, em que o
profissional de saúde assume uma posição de professor na orientação de condutas. Essas atribuições
referem-se a profissões que têm como método terapêutico intervenções voltadas para a parte
consciente da personalidade. Quando se trata de psicanalistas, essa lista de atribuições não se aplica.
falar livremente como se sente diante de sua condição de vida, com tantas orientações de conduta
recebidas. É a oportunidade que o paciente tem de ser espontâneo ao falar de sua experiência com o
Cada vez mais as políticas públicas estão induzindo a inclusão de pessoas com esquizofrenia em
ambientes educacionais, de trabalho e sociais. Identificar e ocupar seu lugar social é um fator de
proteção emocional e isso pode ser sustentado com a ajuda do método psicanalítico.
semelhantes, mesmo com estrutura química diferente (Quadro 1). Ainda que haja muitos
antipsicóticos disponíveis, com exceção da clozapina não há superioridade de eficácia entre eles. Os
Com o uso dos antipsicóticos, a melhora inicial ocorre com a diminuição da ansiedade e da
agitação. Esses fármacos são úteis no alívio de sintomas positivos e pouco eficazes no alívio dos
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podem ser observados após a administração de anfetamina (agonista dopaminérgico), que libera
dopamina nos terminais nervosos e inibe sua recaptação neuronial, e de cocaína, que bloqueia a
diária
Clorpromazina* 200-800 Baixa potência, ↑ problemas cognitivos e cardiovasculares, menos SEP**, mais sedação, mais
Mesoridazina 75-300
Flufenazina 2-20 Alta potência, ↓ problemas cognitivos e cardiovasculares, mais SEP, menos sedação, menos
Haloperidol* 2-20
Notas:
** Sintomas extrapiramidais.
então, com a afinidade pelo receptor D2; em outras palavras, quanto maior a força de ligação com
esse receptor, menor a dose necessária para produzir efeito antipsicótico. Doses terapêuticas de
antipsicóticos ocupam de 60 a 70% dos receptores D2 e o uso prolongado causa aumento do número
desses sítios. Esse fenômeno poderia estar envolvido na discinesia tardia (Graeff; Guimarães, 2021).
A ocupação em mais de 80% dos receptores provoca efeitos extrapiramidais. Isso significa que
existe uma pequena janela entre a dose eficaz e a dose que afeta o sistema motor. Com a descoberta
do mecanismo de ação dos antipsicóticos e com a observação de que sintomas psicóticos podem ser
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induzidos com agonistas dopaminérgicos, considerou-se que a esquizofrenia seria determinada por
se a uma parte do sistema motor que controla e modula os movimentos. Esses efeitos podem
aparecer de forma aguda ou subaguda (horas a semanas) como parkinsonismo (rigidez muscular,
tremores, marcha em bloco, lentidão dos movimentos), distonias (contração muscular tetânica e
A acatisia pode ser confundida com sintomas de uma crise psicótica e pode-se pensar que o
antipsicótico não está fazendo efeito. Caso a dose seja aumentada, essa manifestação pode piorar.
Nesse sentido, o perfil de efeitos adversos dessas medicações deve ser bem conhecido (Elisabetsky,
2021).
Após anos pode aparecer distúrbio do movimento de instalação crônica, a chamada discinesia
tardia. Essa discinesia caracteriza-se por movimentos involuntários e repetitivos, que podem incluir
tentativa de se prevenir efeitos adversos, pode-se usar a dose eficaz mais baixa de antipsicótico
(Elisabetsky, 2021).
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Ao se diagnosticar discinesia tardia, o uso de antipsicótico deve ser suspenso. Uma possibilidade
de prevenção e manejo é usar um antipsicótico atípico, com menor propensão de provocar efeitos
extrapiramidais. A valbenazina é o primeiro fármaco desenvolvido para tratar discinesia tardia. Outros
Até meados de 1980 um elevado número de compostos antipsicóticos foi desenvolvido, contudo
um progresso na terapêutica com esses fármacos só foi possível com melhor conhecimento de sua
farmacocinética e farmacodinâmica, o que ocasionou uso mais racional (Graeff; Guimarães, 2021).
divergem quanto a esses fármacos constituírem um grupo independente. Além disso, tem-se
questionado o termo atípico, sugerindo-se apenas o termo antipsicóticos de segunda geração (Graeff;
Guimarães, 2021). De acordo com o PCDT de esquizofrenia, essa classificação nem deveria ser
antipsicóticos constituem um grupo heterogêneo, com mecanismos de ação, eficácia, efeitos adversos
Uma dificuldade seria que os efeitos extrapiramidais são em geral considerados de forma
unitária, porém contemplam diferentes síndromes, como distonia aguda, acatisia e parkinsonismo. As
escalas para medidas desses efeitos, em geral, consideram o conjunto dessas síndromes. Entretanto, a
propensão dos antipsicóticos atípicos para essas síndromes difere; a risperidona, por exemplo, tem
menor propensão para induzir parkinsonismo que a acatisia (Graeff; Guimarães, 2021).
O mecanismo de ação comum dos atípicos reside no fato de serem antagonistas do 5-HT2A e do
D2, com menor afinidade pelo segundo. A serotonina exerce um controle inibitório na liberação da
Vários estudos clínicos demonstraram que não há superioridade alguma dos antipsicóticos
atípicos em relação aos típicos. Estudos evidenciam que as principais diferenças concentram-se no
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3.1 CLOZAPINA
É um fármaco igual ou superior aos demais antipsicóticos, sendo mais eficaz em pacientes
resistentes. Até 60% dos pacientes que não respondem ao tratamento com antipsicóticos típicos
acentuada do número de neutrófilos, o que torna o paciente suscetível a infecções graves. Devido à
potencial letalidade da agranulocitose, seu uso é restrito a casos refratários aos tratamentos
convencionais. Apresenta afinidade por diversos receptores de dopamina (D1, D3 e D4), serotonina (5-
HT2A e 5-HT2C, 5-HT6 e 5-HT7), histamina (H1), muscarínico (M1) e α1 adrenérgico (Cunha, 2020).
Vários efeitos adversos resultam da alta afinidade que a clozapina tem com receptores muscarínicos,
Estudos recentes não conseguiram concluir que a risperidona e outros compostos atípicos são mais
eficazes que os antipsicóticos tradicionais. Em dosagem habitual, a incidência de efeitos
extrapiramidais é menor comparada com o haloperidol, embora com doses maiores esses sintomas
apareçam. Recentemente foi introduzida na clínica a paliperidona, metabólito ativo da risperidona que
vem sendo utilizado pela forma de liberação lenta (Graeff; Guimarães, 2021).
3.3 OLANZAPINA
com afinidade por vários receptores (D1, D2, D4, 5-HT2A, 5-HT2C, H1, α1- adrenérgicos e
muscarínicos). Apresenta eficácia pelo menos igual à do haloperidol. Em relação à clozapina, essa
comparação ainda não foi estabelecida. O benefício em relação à clozapina refere-se aos parâmetros
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hematológicos, uma vez que não foram verificados efeitos significativos. Deve ser usada com cautela
2021).
3.4 ARIPIPRAZOL
Age como agonista parcial de receptores D2. Apresenta afinidade por receptores de serotonina,
ganho de peso e hiperprolactinemia. Ensaios demonstram que é pelo menos tão eficaz quanto o
somente os selecionados pelo protocolo). Os tratamentos devem ser realizados em monoterapia (um
terapêutica (uso de antipsicóticos por pelo menos seis semanas, em doses adequadas, sem melhora
de 30% na Escala Breve de Avaliação Psiquiátrica –Brief Psychiatric Rating Scale – BPRS), um outro
(zotepina, quetiapina). A ziprasidona vai agir como antagonista do 5-HT2C e 5-HT1D, como agonista
provavelmente o início do efeito é mais rápido do que com o lítio. Esses fármacos foram aprovados
para o tratamento de mania aguda e a olanzapina já foi liberada para o tratamento de manutenção
do transtorno afetivo bipolar I (Graeff; Guimarães, 2021). A clozapina também possui propriedades
antimaníacas em adição a suas propriedades antipsicóticas (Machado-Vieira et al., 2003).
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A quetiapina foi recentemente aprovada nos Estados Unidos como monoterapia em depressão
bipolar. Também tem sido utilizada no tratamento da insônia devido ao seu potente efeito sedativo.
Os antipsicóticos atípicos podem ser utilizados como potencializadores de fármacos antidepressivos
Os antipsicóticos apresentam um rápido efeito nos episódios maníacos e são usados para
controlar hiperatividade e sintomas psicóticos nos casos mais severos. O uso de antipsicóticos típicos
no transtorno afetivo bipolar está associado a um aumento dos efeitos colaterais neurológicos.
Devem ser dados durante um período limitado para evitar a discinesia tardia (Machado-Vieira et al.,
2003).
relação aos prejuízos cognitivos na esquizofrenia, foram durante bastante tempo pouco considerados
processamento, na memória, dentre outros. Esses sintomas não respondem aos antipsicóticos
déficits cognitivos na esquizofrenia que incluem drogas nicotínicas (atuam em receptores nicotínicos)
Guimarães, 2021).
receptores D1 no córtex pré-frontal, o que poderia ser um fator agravante de déficits cognitivos
manejo de sintomas psicóticos e agitação em pacientes com demência. Esses medicamentos estão
relacionados com o aumento da mortalidade. Seu uso pode ser justificado em pacientes com
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O bloqueio de receptores dopaminérgicos é responsável por muitos dos efeitos colaterais dos
antipsicóticos (Quadro 2). Esse bloqueio (na via tuberoinfundibular) aumenta a concentração de
2021).
frequentes com os antipsicóticos atípicos. Esses efeitos ocorrem quando os receptores D2 estão
ocupados entre 75% e 80%. Entretanto, essa ocupação nunca ultrapassa 67% com a clozapina, o que
pode explicar seu baixo risco para esses efeitos (Graeff; Guimarães, 2021).
variável das extremidades (aumenta com a movimentação), imobilidade da expressão facial, alteração
da marcha e postura rígida (Graeff; Guimarães, 2021).
As reações distônicas agudas são espasmos dos músculos da face, do pescoço e da língua. A
de manter as pernas paradas. A ocorrência de acatisia não parece ser significativamente menor com
os antipsicóticos atípicos.
Em casos de intolerância aos efeitos extrapiramidais, quanto foi realizado ajuste da dose do
muscarínicos* postural2
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Risperidona ++ + ++ + +
Paliperidona ++ + ++ + +
Olanzapina + ++ ++ + +++
Quetiapina 0 ++ ++ +++ +
Notas:
A clozapina poderá ser utilizada em caso de refratariedade a pelo menos dois antipsicóticos
utilizados por pelo menos seis semanas, em doses adequadas, e se não houver pelo menos 30% de
melhora na escala BPRS. Na discinesia tardia e na tentativa de suicídio, o medicamento em uso deve
ser substituído por clozapina. Em caso de intolerância à clozapina, a troca poderá ser por olanzapina,
quetiapina, risperidona ou ziprasidona (Brasil, 2013).
tendem a ter mais propensão de ganho de peso e demais alterações metabólicas (Elisabetsky, 2021).
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Caso essas alterações metabólicas aconteçam com o uso de olanzapina e quetiapina, deve-se
risco de vida que causa rigidez muscular, hipertermia e elevação da pressão arterial (Elisabetsky,
2021).
tratamento na forma oral. Após aplicação o fármaco vai sendo liberado lentamente durante duas a
quatro semanas. Essa possibilidade faz com que o risco de recaídas e hospitalizações devido a falta de
quanto a eficácia limitada fazem com que a adesão ao tratamento seja muito baixa (Elisabetsky, 2021).
NA PRÁTICA
Quando as pessoas com sofrimentos mentais e transtornos mentais graves não encontram um
ambiente social que seja inclusivo, o risco de violência social é maior. Alguns filmes retratam
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Estamira (documentário).
Esses dois filmes retratam a violência institucional que provocou males piores do que aqueles
que a pessoa já tinha por causa do transtorno mental. Nos dois casos os pacientes estavam “em
tratamento”. No entanto, o que se observa é que o tratamento pode anular a subjetividade das
pessoas quando não dá lugar para que elas falem sobre o que sentem. O tratamento apenas
medicamentoso tem foco no controle dos sintomas, mas não podemos chamar de cura uma pessoa
Atualmente o que se busca é alcançar saúde por meio da compreensão de que saúde é o bem-
apropriados à sua idade, considerando que estão saindo de um grupo social primário (família) e se
inserindo em novos grupos sociais. A psicoterapia de grupo pode ser uma boa indicação para que
esses pacientes possam se beneficiar de um laço social e encontrar um lugar nesse coletivo. Essas
A psicoterapia pode ser um meio que ajude o paciente a integrar a experiência psicótica em seu
contexto de vida, dando sentido a essa experiência. A psicoterapia pode atuar no sentido de
com diferentes sensações e sentimentos. Pode aumentar a capacidade de gerenciar a própria vida,
melhorar a autoestima e diminuir o isolamento.
por meio de atividades artísticas, seja pela palavra. O psicanalista poderá ajudar os pacientes com
psicose a diferenciar o “eu” do “não eu”. Sempre que a intervenção for prescrever e recomendar
orientações de conduta, não será psicanalítica, pois o terapeuta está focando a parte consciente da
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pessoa, aquela parte que presta atenção, que entende racionalmente que é melhor seguir as
orientações. O psicanalista não tem como prioridade o treinamento de habilidades sociais nem a
psicoeducação, ainda que concorde que ela seja feita por enfermeiros, médicos e psicólogos.
FINALIZANDO
semelhante para a maioria dos pacientes com esquizofrenia, com exceção da clozapina. Sabe-se que
eficaz.
Dito isso, os antipsicóticos são selecionados com base no perfil de efeitos colaterais e do custo.
Há uma baixa adesão ao tratamento e uma parte significativa dos pacientes com esquizofrenia não
Os antipsicóticos atípicos têm sido usados em transtornos do humor, são eficazes em manias do
REFERÊNCIAS
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Manole, 2021.
transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção
básica à saúde: versão 2.0. Brasília: OPAS, 2018.
USP – Universidade de São Paulo. Farmacologia clínica. Disponível em: <Curso: ERP0320 -
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PSICOFARMACOLOGIA
AULA 5
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CONVERSA INICIAL
Os transtornos afetivos são afecções comuns que podem se apresentar sob a forma de
autoestima, verborreia, energia aumentada, fuga de ideias, menor necessidade de sono, fácil
sexuais). Sintomas psicóticos podem aparecer. Episódios hipomaníacos apresentam menor gravidade,
não chegam a causar prejuízo significativo no funcionamento social e não apresentam sintomas
apresentaram um primeiro episódio maníaco terão novos episódios no futuro. Aumenta em até 15
vezes o risco de suicídio (Graeff; Guimarães, 2021).
a presença, por pelo menos dois anos, de vários períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos
(Graeff; Guimarães, 2021).
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desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências científicas. Existem diversos guias, como, por
exemplo, a diretriz conjunta da Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments – CANMAT
(versão 2018) e da International Society for Bipolar Disorder – ISBD e o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas do TAB I – PCDT (Brasil, 2016).
Os objetivos desta etapa são: a) tratar de forma breve o TAB tipo I e II; b) abordar de forma breve
humor pela presença de manifestações tanto do lado maníaco quanto do lado depressivo
TAB é uma condição psiquiátrica comum com elevadas taxas de morbidade e mortalidade. De
acordo com suas características, são divididos em: a) tipo I – pelo menos um episódio de mania ao
vida, sem apresentar mania; e c) transtorno ciclotímico – flutuações patológicas de humor sem que
existam sintomas graves que caracterizem um episódio de depressão ou de mania (Guimarães-
A prevalência do TAB I é de 0,6% ao longo da vida e a do TAB II é de 0,4%. O tipo I não apresenta
diferença entre sexos e o tipo II é mais frequente em mulheres. A ciclotimia apresenta uma
prevalência de 1,4%. No total, a prevalência do espectro bipolar é em torno de 2,4% (Guimarães-
O TAB II não é uma forma branda do tipo I, apresenta perfil próprio em termos de sintomas,
comorbidades, curso e tratamento. O TAB é um dos transtornos psiquiátricos com maior componente
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Estudos evidenciam uma progressão para uma piora cognitiva em pelo menos 30% dos casos.
Pacientes com TAB podem apresentar perdas funcionais, especialmente após vários episódios, e se
psicomotricidade pode apresentar-se reduzida e lentificada, com dificuldade para realizar tarefas
simples e mover-se, com sensação de peso nas pernas. Outra forma de apresentação é de agitação
psicomotora, com intensa ansiedade. Prejuízos cognitivos estão presentes, como dificuldade de
O autocuidado em relação à higiene pode estar prejudicado, o sono e o apetite podem estar
alterados e a libido pode estar diminuída ou inexistente. Em casos graves, podem aparecer sintomas
exagerada. Em casos graves, a mania pode cursar com sintomas psicóticos, catatonia e alterações da
estrutura do pensamento (salada de palavras) (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
A psicoterapia é uma abordagem não farmacológica que deve ser utilizada em associação com o
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terapia interpessoal têm demonstrado vantagens como coadjuvantes na melhora dos sintomas dos
pacientes. Os objetivos desses tratamentos são: a) reduzir a negação do TAB; b) aumentar a adesão ao
Rosalino, 2017).
A abordagem psicoeducacional oferece informações sobre o TAB aos pacientes e seus familiares,
diante de questões acerca dos sintomas, dos tratamentos e das medicações, visando a aumentar o
das crises. Em relação à família, essa abordagem auxilia na compreensão da pessoa que possui o
transtorno e lida com os sentimentos de culpa, raiva e impotência (Silva; Dias; Rosalino, 2017).
Outra abordagem seria a experiência em grupo, que propicia um espaço de fala e escuta de
experiências, amenizando o isolamento social tão comum entre pessoas que vivem com o TAB e
profissionais da saúde, como médico, psicólogo, enfermeiro, dentre outros (Silva; Dias; Rosalino,
2017).
o tratamento. A família tem um papel essencial no tratamento, uma vez que ela é capaz de identificar
uma crise e de procurar assistência e tratamento, até que o paciente tenha condições de fazer por si
mesmo. A medicação melhora o tratamento e o prognóstico dos pacientes, mas não altera as
sequelas psicológicas e sociais, tais como: suicídio, violência, alcoolismo, abuso de drogas,
desestruturação familiar, hospitalizações, dentre outras. Esses pacientes podem apresentar
fatores que promovem o que a família busca no tratamento: melhorar as condições gerais de vida.
Sabemos que não é fácil conviver com estados depressivos graves e que eles elevam o risco de
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suicídio. Mas queremos aqui, novamente, diferenciar as psicoterapias de ajuste (para manejo e
suas experiências para que se produza um sentido a partir dessas considerações. Não há o objetivo de
psicoeducar ou de desenvolver habilidades sociais.
tratamento do transtorno bipolar. Essa classe é representada pelo carbonato de lítio e alguns
alternativa ao uso do lítio, e têm recebido maior destaque o ácido valproico (e seus derivados), a
As evidências em relação à eficácia do lítio na profilaxia dos episódios bipolares são bem
superiores àquelas que apoiam o seu uso na mania aguda. Trata-se do único estabilizador do humor
com dados clínicos consistentes mostrando redução do risco do suicídio. O lítio pode ser usado em
associação com antidepressivos em pacientes refratários ao tratamento com antidepressivos na
depressão maior, nos quais o lítio também reduz o risco de suicídio (Graeff; Guimarães, 2021).
antidepressivos. O lítio pode aumentar a liberação de serotonina, por meio do aumento da captação
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Os efeitos citados nas monoaminas podem estar relacionados à ação do lítio em crises de mania
palavras, o efeito profilático sobre novas crises bipolares (Graeff; Guimarães, 2021).
Vários mecanismos de ação têm sido propostos. Por exemplo, o lítio altera a distribuição de íons
por meio de membranas celulares, visto que apresenta similaridade com outros cátions alcalinos,
como sódio, potássio, cálcio e magnésio. O lítio pode agir com vários sistemas de segundo
2021).
Alguns autores supõem que sintomas psiquiátricos sejam fruto de atividade anormal de regiões
que podem com o tempo provocar convulsões. Em relação à depressão, ocorre aumento na
frequência e na intensidade das crises de humor, com o decorrer da repetição. De forma parecida, a
Os efeitos adversos do lítio surgem, sobretudo, com o seu uso crônico, visto que vai acarretando
um acúmulo do metal no organismo. Pacientes que utilizam o lítio devem frequentemente ser
terapêutica. O seu uso deve ser cauteloso. Contudo, pode ser considerado seguro em médio prazo
(Cunha, 2020).
Entre os efeitos adversos, mesmo dentro da faixa terapêutica, podem aparecer boca seca,
poliúria, polidipsia, leucocitose benigna, tremor, ganho de peso, problemas cognitivos (dificuldade de
uso crônico, hipotireoidismo e possíveis danos renais (Graeff; Guimarães, 2021). Dessa maneira, deve
ser monitorada a toxicidade renal e tireoidiana (Brasil, 2013).
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cardíacas, dano neurológico permanente, coma e morte. As interações medicamentosas com o lítio
estão conectadas com as alterações na cinética de eliminação. Situações como a deficiência de sódio
induzida por diuréticos (tiazídicos) e a diarreia ocasionam maior reabsorção do lítio, provocando seu
aumento no sangue (Graeff; Guimarães, 2021). A intoxicação por lítio também pode ser precipitada
Apesar de provocar muitos efeitos adversos, o lítio continua sendo a base do tratamento para o
TAB e tem sido recomendado como primeira escolha entre as opções de estabilizadores do humor
(Brasil, 2016). Se não houver possibilidade de fazer exames laboratoriais, não se deve administrar lítio
e deve-se considerar a prescrição de valproato ou carbamazepina. A irregularidade de uso ou a
interrupção súbita do tratamento com lítio aumentam o risco de recaída (Opas, 2018).
TEMA 4 – ANTICONVULSIVANTES
Trata-se de um dos transtornos neurológicos mais comuns e pode ser bem controlado na maioria das
pessoas (Opas, 2018). O tratamento farmacológico das epilepsias tem como base a inibição da
(GABA) ou inibição da função dos canais para Na+ ou Ca+. Os anticonvulsivantes podem causar uma
passou a ser considerado um composto controlado (lista C1). A agência regulamentou e permitiu o
uso legal desse composto para fins medicinais, desde que comprovada a necessidade médica com
prescrição. O CBD era importado dos Estados Unidos pelos pacientes e familiares, a um alto custo, e
os meios jurídicos eram utilizados para conseguir a autorização de importação (Oliveira; Vieira;
Akerman, 2020).
O CBD é extraído da Cannabis sativa, a planta da maconha, mas não é psicoativo nem tóxico.
Essa planta é constituída por cerca de 400 compostos químicos, com vários canabinoides, que são
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princípios ativos distintos. Também se destaca o tetrahidrocanabinol – THC, que, apesar de seus
efeitos terapêuticos, é o único com efeito psicoativo (Morais; Silva; Lima, 2021).
Após a vigência da RDC n. 327, de 9 de dezembro de 2019, a Anvisa passou a permitir no país a
apetite, propiciam relaxamento muscular e diminuição da insônia. Apesar de sua atividade terapêutica
comprovada, tornou-se um desafio aprovar o uso para fins medicinais, sobretudo, do CBD. Existe uma
preocupação de que a liberação do uso terapêutico dos canabinoides poderia favorecer o uso da
por bloqueio dos canais de Na+ sensíveis a voltagem e inibindo as descargas de alta frequência. A
carbamazepina é uma importante indutora enzimática, o que pode provocar várias interações
medicamentosas, pois interfere no nível plasmático de outros fármacos. Ela induz o próprio
metabolismo, reduzindo sua meia-vida com o uso crônico. Dessa forma, há necessidade de rever a
dosagem com frequência. Os efeitos indesejados do uso dessa medicação são: sedação, tontura,
ataxia, cefaleia, náuseas, vômitos, diarreia e hiponatremia. Exames são necessários para o
O ácido valproico é o anticonvulsivante mais utilizado, por possuir amplo espectro de ação em
todos os tipos de convulsões. Seu mecanismo de ação se deve à inativação dos canais para Na+
sensíveis à voltagem, redução das correntes de Ca2+ tipo T e alteração do ácido gama-aminobutírico
(GABA). Algumas reações adversas incluem: desconfortos gastrintestinais, alteração das transaminases
hepáticas (Cunha, 2020), ganho de peso, sedação, tremores e queda de cabelo (usar zinco e selênio).
Deve-se monitorar alterações hematológicas e hepáticas (Brasil, 2013).
A lamotrigina atua inibindo os canais para Na+ sensíveis à voltagem e altera o influxo de Ca+ em
neurônios, inibindo a liberação de neurotransmissores excitatórios (Cunha, 2020).
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carbamazepina e a lamotrigina são tão eficazes quanto o lítio no tratamento da crise aguda de mania.
O lítio, o ácido valproico ou a carbamazepina podem ser usados no tratamento agudo da crise
maníaca, assim como na prevenção de crises tanto maníacas quanto depressivas. Porém, a demora da
resposta clínica (de 3 a 5 dias com o ácido valproico e de 7 a 14 dias com o lítio) e a baixa adesão dos
pacientes fazem que o emprego isolado desses fármacos seja reduzido na mania aguda. Tem sido
dada preferência ao uso em associação com os antipsicóticos. Também tem sido utilizado
A prescrição de carbamazepina, valproato e lítio para mulheres grávidas deve ser evitada em
razão da possibilidade de danos fetais. Pode-se considerar o uso oral de haloperidol em doses baixas.
A decisão de prescrever estabilizadores do humor para uma gestante deve ser tomada em conjunto
com a mulher. Devem-se levar em conta a intensidade e a frequência dos episódios maníacos e
A duração do tratamento depende do quadro clínico e poderá ser contínua em casos mais
graves. A retirada deve ser gradual, pois retiradas rápidas podem favorecer a recorrência do quadro
(Graeff; Guimarães, 2021).
estabilizador do humor com um antipsicótico. Essa combinação demonstrou-se mais eficaz do que a
monoterapia com um estabilizador do humor. No entanto, o tratamento em monoterapia tanto com
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opções de antipsicóticos. Dessa forma, a combinação de lítio com risperidona é indicada em nível 1
no tratamento de mania, de acordo com o esquema apresentado no Quadro 1. O objetivo do
tratamento é a remissão de sintomas maníacos e o tempo de tratamento da fase aguda gira em torno
de 8 a 24 semanas (Brasil, 2016).
A clozapina deve ser aplicada somente após a falha terapêutica de duas combinações de
estabilizador mais antipsicótico. Deve-se avaliar a resposta ao tratamento em até duas semanas, em
dose adequada, antes de troca de medicamento. Na ausência de resposta ou intolerância, deve ser
avaliado qual fármaco pode ser substituído. Em um estado grave de agitação, os antipsicóticos são os
Estabilizador Antipsicótico
Nível 4 Clozapina
aripiprazol, ziprasidona e olanzapina, têm sido combinados com inibidores seletivos de recaptação da
serotonina – ISRS ou usados de forma isolada. Os principais sintomas evidenciados (ansiedade,
De acordo com o PCDT do TAB I, o tratamento do episódio depressivo deve ser feito
preferencialmente em monoterapia. O lítio, a lamotrigina e a quetiapina são considerados
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todas as suas fases, estando no nível 1 na depressão bipolar. O segundo medicamento com melhor
antidepressivo deve ser interrompido caso surjam sintomas de episódio maníaco. A avaliação da
resposta clínica deve ser feita em até 4 a 6 semanas, antes da troca por outro fármaco (Brasil, 2016).
Deve-se procurar reduzir a dose de antidepressivos após a remissão dos sintomas e suspender o uso
sempre que possível. A monoterapia deve ser buscada, mas dificilmente é atingida (Brasil, 2016).
manutenção. No entanto, de forma geral, deve-se manter o medicamento que foi eficaz no
tratamento do episódio agudo. Os medicamentos utilizados na manutenção são: lítio, ácido valproico,
ocorrido com o uso de haloperidol, este medicamento pode ser continuado na fase de manutenção. A
clozapina é indicada após a falha terapêutica de duas combinações de estabilizadores do humor e
antipsicóticos (Brasil, 2016).
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NA PRÁTICA
Atualmente, têm sido noticiados um aumento dos diagnósticos de depressão e um uso muito
grande de medicamentos antidepressivos. Nas redes sociais, há muito conteúdo nos ensinando sobre
inteligência emocional, sobre felicidade e bem-estar, várias vezes associado com a venda de produtos
ou serviços.
Há uma diferença entre tristeza e depressão. O que vai diferenciar uma emoção de tristeza que
faz parte da vida dos seres humanos e um transtorno mental que precisa ser medicado é a sua
intensidade, frequência com que acontece e os prejuízos que causa na vida diária da pessoa.
Mesmo quando se trata de depressão, cujo tratamento requer uso de medicação, o que se
observa é que as pessoas em sofrimento buscam resolver com o remédio e pouco expressam em
palavras o sofrimento.
são utilizados para justificar o afastamento da pessoa do convívio social, do trabalho e até a
algumas situações, precisamos considerar que em boa parte delas o tratamento farmacológico não
restabelece a pessoa. É necessária a atuação de uma equipe multiprofissional para que de fato
aconteça o que é o objetivo da Lei da Reforma Psiquiátrica: a emancipação dos sujeitos.
tratamento exitoso.
FINALIZANDO
humor (como lítio e os anticonvulsivantes) e antipsicóticos atípicos. O lítio tem sido considerado
padrão-ouro para o tratamento do TAB em todas as suas fases. Os anticonvulsivantes configuram
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uma alternativa ao uso do lítio e têm recebido maior destaque o ácido valproico (e seus derivados), a
carbamazepina e a lamotrigina.
combinada com o lítio em nível 1 no tratamento de mania. O tratamento do episódio depressivo deve
ser feito preferencialmente em monoterapia. O lítio, a lamotrigina e a quetiapina são considerados
monoterapias de primeira linha. Não deve ser utilizada monoterapia com antidepressivos, pois os
antidepressivos podem causar um episódio de mania.
evidências científicas para o tratamento do TAB. No entanto, nesta etapa, a escolha dos fármacos para
A psicoterapia é uma abordagem não farmacológica que deve ser combinada com o tratamento
REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de Atenção Básica, n. 34. Brasília: MS, 2013.
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Atheneu, 2021.
Manole, 2021.
MORAIS, C. E.; SILVA, E. P. da; LIMA, R. S. O uso do canabidiol como medicamento no Brasil para
transtornos mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção
Afetivo Bipolar: Revisão Integrativa. Revista Psicologia e Saúde, v. 9, n. 3, p. 63-76, set./dez. 2017.
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PSICOFARMACOLOGIA
AULA 6
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CONVERSA INICIAL
Nesta etapa, vamos abordar os transtornos relacionados ao uso e ao abuso de substâncias. Esses
transtornos abrangem tanto os transtornos por consumo de drogas e álcool quanto outras condições,
contexto histórico e cultural de cada sociedade. No campo da saúde, a questão das drogas passou a
ser percebida como um problema de saúde mental, não mais no âmbito da moral e dos costumes.
sociais e biológicos relacionados à motivação e à persistência do uso, uma vez que ela está ancorada
no modo singular de vida de cada sujeito e na frequência com que cada um a utiliza.
Interessante compreender como cada sujeito na sua subjetividade constrói sua relação consigo,
com o outro e com a substância utilizada, sendo um usuário de drogas ou um dependente químico.
Dessa forma, faz-se necessário saber a respeito do uso ao longo dos anos para compreender sua
Analisar a biografia da pessoa, seu momento de vida e sua relação com a droga pode trazer luz
ao fato de que, muitas vezes, a substância é utilizada para diminuir algum desconforto, como
automedicação ou para ocupar o lugar de algo que faltou. Como automedicação, por exemplo, tem-
A investigação familiar e do grupo de pares do usuário também pode ser necessária, pois há
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mediado principalmente pela dopamina e pelo glutamato, sendo responsáveis pela sensação de
prazer associada a atividades essenciais à sobrevivência (como se alimentar e fazer sexo), o que
diferenciar alguns termos utilizados para se referir ao consumo de drogas; c) conhecer algumas
classes farmacológicas capazes de causar dependência; e, d) conhecer alguns fármacos ou substâncias
apresentam características específicas de tratamento (Guimarães-Fernandes et al., 2021), uma vez que
O profissional da saúde não tem o papel de julgar como certo ou errado o consumo de drogas.
Isso significa que deve manter o tom de conversa não ameaçador e ter uma forma empática de
perguntar. Na maioria das vezes, o paciente não deseja parar de usar a droga, mas manter o uso de
forma não problemática. No entanto, isso se torna bastante difícil em pessoas já dependentes
(Guimarães-Fernandes et al., 2021).
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conectado à frequência do uso e/ou à quantidade, mas ao prejuízo que o uso desencadeia na vida da
pessoa e o desejo de consumir a droga. É tênue o que separa um uso abusivo de uma dependência, o
pessoa. Enquanto no uso abusivo já existe algum aspecto da vida da pessoa sendo atingido, seja no
amplo, em que todos os aspectos da vida da pessoa são atingidos, englobando comportamentos
prejudiciais que ocasionam sofrimento e em que há controle prejudicado, resultando em desinteresse
2021).
Os termos “dependência física” e “psicológica” não são mais aplicados, sendo considerados
Cabe ressaltar o conceito de tolerância, ele não implica um uso abusivo ou de dependência. O
uso correto de medicações prescritas para dor e para ansiedade pode produzir tolerância. Estas são
tolerância é a resposta mais comum ao uso repetido de uma mesma substância e pode ser definida
como a redução na resposta a uma substância após administrações repetidas. Portanto, uma dose
maior é necessária para produzir o mesmo efeito que antes era obtido com uma dose menor
mostrado eficaz nos estudos. As medicações podem ajudar os pacientes nos diferentes estágios do
tratamento, sobretudo no manejo dos efeitos indesejáveis da abstinência e de outras circunstâncias
vividas (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
indivíduo em lidar com momentos difíceis e podendo fazer emergir conflitos que estão no cerne do
problema com as drogas. Como dito em conteúdos anteriores, não é papel do psicanalista
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desenvolver habilidades sociais e educacionais, mas a de abrir um espaço para que a pessoa perceba
o lugar da droga na sua vida e a relação que a pessoa estabelece com a droga.
pacientes, e o tratamento adequado pode levar a um maior controle do uso de drogas (Guimarães-
Fernandes et al., 2021).
Durante o tratamento é comum o paciente recair e retornar ao uso de substância, mas isso não
significa falha no tratamento, na medida em que não é fácil mudar comportamentos arraigados no
cotidiano. Assim como em outros tratamentos de doenças crônicas (hipertensão arterial, diabetes), os
controlado das drogas (lícitas). Como isso é muito difícil de alcançar, busca-se aumentar o bem-estar,
Quadro 1 – Classificação das drogas segundo seu efeito primário e sua probabilidade de causar
dependência
Anfetamina Alta
Álcool Alta
Barbitúricos Alta
Depressores
Benzodiazepínicos Moderada
Solventes Alta
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náuseas e vômitos. Em casos mais graves pode ocorrer convulsões e delirium tremens.
auxiliada pelo uso de algumas medicações. No entanto, o efeito dessas medicações na interrupção do
uso do álcool é de pequeno a moderado. Medicamentos utilizados para o tratamento do uso abusivo
Dissulfiram: seu uso combinado com o álcool desencadeia sintomas como rubor, suor, náusea,
vômitos, cefaleia, taquicardia, tontura e sonolência, o que dificulta o uso do álcool. O paciente
deve consentir o uso dessa medicação;
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Ibogaína: essa substância psicodélica está sendo pesquisada pela Universidade de São Paulo, a
fim de combater a dependência de crack/cocaína e álcool. É usada desde os anos de 1960 para
tratar crises de abstinência e interromper o uso compulsivo. Há risco de arritmias cardíacas. No
Brasil, ela não aparece na lista de substâncias controladas (pela Portaria n. 344/1998) e nem está
regulamentada para uso terapêutico. Não há estudos conclusivos sobre sua eficácia, porém há
Acamprosato: a maioria dos estudos evidencia que previne recaídas ao uso do álcool (OPAS,
2018).
As complicações relacionadas ao uso do álcool são várias, como aumento do risco do suicídio,
2.1 PSICOESTIMULANTES
não inclui manifestações marcantes, porém pode resultar em depressão do humor. Os antidepressivos
tricíclicos ou inibidores seletivos de recaptação da serotonina podem ser utilizados nesses casos. O
ponto mais importante não é a desintoxicação, mas a ajuda para que a pessoa resista ao desejo de
Guimarães, 2021).
A cocaína é um alcaloide extraído das folhas secas da coca. Foi muito utilizada na clínica médica
durante a segunda metade do século XIX na Europa. Até 1903 fazia parte da fórmula da Coca-Cola e
de outras bebidas. Freud explorou o seu uso como psicoestimulante na psiquiatria, mas os resultados
não foram convincentes. É facilmente absorvida pelas mucosas, sendo utilizada por via nasal e
chegando rapidamente no SNC. A rapidez desse processo contribui para seus fortes efeitos no
sistema de recompensa. A cocaína potencializa as transmissões dos neurotransmissores dopamina,
sensação de aumento de energia física e mental, com pouca tendencia de causar delírios e
alucinações (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
2.2 NICOTINA
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A nicotina está presente nas folhas de tabaco e se liga aos receptores nicotínicos. A ativação
desses receptores no SNC causa aumento de atenção e do estado de alerta, diminuição da ansiedade
e sensação prazerosa. A nicotina aumenta a liberação de dopamina, um dos motivos pelos quais
A síndrome de abstinência de nicotina pode ser aliviada com a terapia de reposição de nicotina
por via de administração nasal (inalador, aerossol), oral (goma de mascar) ou transdérmico (adesivos).
Por essas vias de administração, não tem o mesmo efeito subjetivo após a inalação da fumaça do
cigarro, mas são suficientes para suprimir os sintomas físicos da retirada (Graeff; Guimarães, 2021).
se que o tratamento seja iniciado enquanto o paciente ainda estiver fumando (Graeff; Guimarães,
2021). Essa medicação faz parte do Programa Nacional de Controle do Tabagismo do SUS.
vacinas. A vantagem da vacina consiste no fato de que a administração diária não é necessária, com
apenas injeções ocasionais para manter o título de anticorpos. Ainda há dúvidas a respeito de sua
TEMA 3 – BENZODIAZEPÍNICOS
Nessa classe estão diversas medicações que variam sobretudo em seus aspectos
abuso, ainda em condição de tratamento, ou ainda para acalmar após uso de drogas estimulantes
(Guimarães-Fernandes et al., 2021).
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Como são fármacos que apresentam um bom perfil de tolerabilidade, seu uso deve ser sempre
ponderado, dado o risco de tolerância e dependência de sua utilização crônica, assim como
abstinência em caso de retirada súbita. De maneira geral, essas medicações promovem sonolência,
depressão respiratória e coma. Em caso de tentativa de suicídio com ingestão recente é realizada uma
A suspensão abrupta dessas medicações pode causar síndrome de abstinência, com sintomas de
convulsão, alucinações e ilusões. O tratamento para esses casos é a troca da medicação por
al., 2021).
humor, quadros psicóticos, aumento do risco de queda e acidentes em geral. Existe controvérsia se
Clonazepam: geralmente está disponível na rede pública de saúde. Sua apresentação na forma
de solução oral facilita a diminuição progressiva dessa medicação sem que o paciente apresente
tolerância;
Diazepam: geralmente está disponível na rede pública de saúde. Apresenta indicações e efeitos
colaterais semelhantes ao do clonazepam. É o medicamento geralmente utilizado no tratamento
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Por muitos anos, o manejo da ansiedade foi dominado pelos benzodiazepínicos. Essas drogas são
muito mais seguras que aquelas até então usadas (barbitúricos), cuja overdose podia ser fatal e era
frequentemente utilizado para suicídio. No entanto, por terem sido tomada como seguras, o seu
consumo passou a ser feito de maneira indiscriminada, ocasionando o mau uso e o abuso. Tanto os
As Z drugs (zolpidem, zopiclona) têm efeitos parecidos aos benzodiazepínicos, podendo haver
TEMA 4 – OPIOIDES
O termo “opioide” foi proposto para designar os medicamentos com ação semelhante à da
morfina, porém com estrutura química diferente. Essas substâncias se ligam aos receptores opioides
que estão dispostos em todo o SNC e periférico. No entanto, o nosso cérebro produz seus próprios
opioides endógenos, sendo o mais conhecido as endorfinas liberadas durante a atividade física, que
Por isso, as atividades físicas são muito indicadas tanto para quadros depressivos quanto para
Por muito tempo no Brasil a dependência por opioides foi negligenciada, pois há pouca entrada
de heroína (droga sintetizada) no país. Entretanto, a prescrição de opioides cresceu em torno de 465%
entre os anos de 2009 e 2015, o que traz a necessidade de evidenciar o tema da dependência por
intoxicação por opioides é marcado por analgesia, apatia e/ou disforia, agitação ou retardo
psicomotor, fala arrastada, obstipação intestinal, hipotermia, hipotensão, depressão respiratória,
convulsão e coma. O início, a duração e a intensidade dos sintomas dependem de qual opioide foi
consumido e de qual via foi administrado (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
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no câncer. Além de serem fármacos indicados para as dores crônicas (superior a 30 dias), são
utilizados no tratamento de dependência ou desintoxicação por opioides (Campos et al., 2023).
Há uma escada analgésica, em que o tratamento se inicia com analgésicos simples ou anti-
inflamatórios não hormonais (dipirona, paracetamol) e que, caso a dor persista, os opioides fortes
ficam reservados para serem utilizados quando os fracos não forem suficientes para o manejo da dor
crônica (Campos et al., 2023).
Indivíduos com dor crônica têm quatro vezes mais chance de apresentar depressão ou ansiedade
comparados aos sem dor. Observou-se também que a dor crônica é mais prevalente em pessoas com
De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dor Crônica (2012) a base do
casos refratários.
O aumento da dose de opioides é associado com efeitos adversos que incluem sedação,
A síndrome de abstinência dos opioides é uma das mais fortes. Pacientes relatam intenso
desconforto, com sintomas de fissura, ansiedade, disforia, fadiga, irritabilidade, inquietação, náuseas,
vômitos, diarreia, dores muscular e óssea, dentre outros. Pode-se usar a metadona para diminuir os
sintomas de abstinência aguda de heroína e outros opioides, reduzindo-a de forma gradativa, até a
suspensão. Após a abstinência, o tratamento com a metadona pode continuar (Elisabetsky, 2021).
curta duração da ação, que exige tomada repetida, facilita falhas propositais quando a pessoa deseja
usar heroína ou outro opioide. De modo semelhante ao mencionado para a nicotina e a cocaína,
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vários estudos têm sido realizados na busca de vacinas que possam ser empregadas no tratamento da
(causa menos constipação intestinal, depressão respiratória e dependência do que outros opioides); e)
metadona (sintético e potente, causa menos dependência, menos euforia e sedação do que a maioria
Os opioides passiveis de abuso são a morfina e seus derivados, como heroína e oxicodona. Eles
agem nos mesmos receptores que os opioides endógenos, o que os tornam potentes analgésicos. Os
Por causarem rápida tolerância se faz necessário quantidades cada vez maiores de opioides para
TEMA 5 – CANNABIS
skank), variando as concentrações de seus compostos ativos. Isso significa que o que muda é a
2021).
O CBD é extraído da Cannabis sativa, a planta da maconha, mas não é psicoativo nem tóxico.
Essa planta é constituída por cerca de 400 compostos químicos, com vários canabinoides, que são
princípios ativos distintos. O 9-tetrahidrocanabinol (THC), apesar de seus efeitos terapêuticos, é o
Assim como no caso dos opioides, o cérebro também produz canabinoides, denominados
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Após a vigência da RDC n. 327 de 9 de dezembro de 2019, a Anvisa passou a permitir no país a
drogarias devidamente autorizadas (Morais; Silva; Lima, 2021). Essa RDC não aborda a permissão para
Em doses usuais, a maconha produz sensação de bem-estar, relaxamento, melhora das relações
sociais, raciocínio mais lento, analgesia, aumento do apetite, diminuição da pressão intraocular
(Elisabetsky, 2021).
intoxicação. Mas a busca médica pode se dar quando o uso desencadeia sintomas ansiosos e/ou
psicóticos. São efeitos da intoxicação aguda: euforia, relaxamento, alteração da percepção de tempo,
cores, sons, aumento do apetite, boca seca, tremores de mãos e alteração da coordenação motora e
A maconha pode desencadear paranoia, ansiedade, crise de pânico, alucinações, sintomas que
podem levar a pessoa a buscar ajuda. Nesses casos, devem receber tratamento com o uso de
insônia, náuseas, vômitos, diarreia e tremor. Não há tratamento farmacológico para a abstinência, mas
o controle sintomático com medicações (Guimarães-Fernandes et al., 2021).
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Brasil. Tem sido empregada como antiemético, para aumento do apetite em pacientes com câncer e
HIV, para reduzir a espasticidade em pacientes com esclerose múltipla e como anticonvulsivante para
NA PRÁTICA
consumo aumentou no período da pandemia da Covid-19. A maior parte do consumo do álcool e das
drogas ocorre de maneira recreativa, visto que uma pequena porcentagem progride para o uso
É comum que quem faça uso abusivo ou seja dependente de alguma substância tenha uma
narrativa de que tem o controle da situação, que quando quiser parar irá conseguir.
No caso do álcool, deve-se ter mente que essa substância não deve ser usada antes dos 18 anos
de idade, uma vez que o cérebro não está preparado para receber essa substância. Evitar o álcool
antes da maioridade seria uma forma de proteger o cérebro. Não é à toa, que essa proibição existe no
maneira a aumentar o tetrahidrocanabinol (THC). O problema decorrente disso é que o CBD não é
psicoativo e se constitui como um protetor cerebral. O componente que protege o cérebro tem
diminuído e isso pode gerar consequências negativas para a pessoa que faz uso abusivo ou que seja
dependente da droga.
FINALIZANDO
psicoativas. Essas substâncias são capazes de alterar a consciência. No campo da saúde, a questão das
drogas passou a ser percebida como um problema de saúde mental, e a dependência química passou
para se referir ao consumo de drogas, tais como o uso recreativo, o uso abusivo e a dependência.
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Cada sujeito, na sua subjetividade, constrói sua relação consigo, com o outro e com a substância
utilizada, sendo um usuário ocasional, abusivo ou compulsivo (dependente). É necessário saber acerca
do uso ao longo dos anos, para compreender sua dinâmica, implicações e consumo na sociedade
contemporânea. É preciso analisar a biografia da pessoa, seu momento de vida e sua relação com a
Foram abordadas as classes farmacológicas dos benzodiazepínicos e dos opioides, uma vez que
são medicamentos que podem causar tolerância, uso abusivo, abstinência e dependência. Por fim,
REFERÊNCIAS
Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Brasília, DF, 12 maio 1998.
2019.
2020.
GOODMAN, G. As bases farmacológicas da terapêutica. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora McGraw-
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GUIMARÃES-FERNANDES, F. et al. Clínica psiquiátrica: guia prático. 2. ed. São Paulo: Manole,
2021.
MORAIS, C. E.; SILVA, E. P. da.; LIMA, R. S. O uso do canabidiol como medicamento no Brasil para
tratar doenças crônicas. Revista Pubsaúde, Maringá, v. 5, a087, p. 1-7, 2021.
mentais, neurológicos e por uso de álcool e outras drogas na rede de atenção básica à saúde. v.
USP testa psicodélico ibogaína contra dependência de crack e álcool. Instituto Perdizes FMUSP,
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