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ENEM 2023
De acordo com a pensadora brasileira Djamila Ribeiro, o primeiro passo a ser tomado para solucionar uma
questão é tirá-la da invisibilidade. Porém, no contexto atual do Brasil, as mulheres enfrentam diversos
desafios para que seu trabalho de cuidado seja reconhecido, gerando graves impactos em suas vidas, como
a falta de destaque. Nesse sentido, essa problemática ocorre em virtude da omissão governamental e da
influência midiática.
Dessa forma, em primeiro plano, é preciso atentar para o descaso estatal em relação aos
obstáculos enfrentados diariamente por mulheres que trabalham como cuidadoras. Segundo John
Locke, “as leis fizeram-se para os homens e não para as leis”. No entanto, a inércia governamental
direcionada à tais pessoas não cumpre com o previsto na Carta Magna, visto que a falta de
investimento em políticas públicas causa dificuldades no âmbito profissional deste setor - como a
desvalorização salarial. Isso contribui para que suas necessidades sejam cada vez mais
negligenciadas.
Além disso, a influência dos meios digitais é um fator agravante no que tange ao problema. Para
Chimamanda Adichie, mudar o “status quo” - o estado atual das coisas - é sempre penoso. Essa
conjuntura pode ser observada no papel que a mídia possui na luta diária de mulheres que
exercem o trabalho do cuidado ou doméstico, uma vez que ela auxilia no fortalecimento de uma
mentalidade social machista no país. Isso ocasionou o silenciamento da população feminina,
enraizando a lógica do patriarcado na sociedade. Diante do exposto, as mulheres perdem a voz na
busca por direitos profissionais na área de cuidado, ao ser propagada a ideia de que essa função é
sua, e somente sua, obrigação.
Portanto, é necessário que esta situação seja dissolvida. Para isso, o governo, órgão responsável
por garantir a condição e existência de todos, deve prover apoio psicológico e financeiro às
cuidadoras, por meio de investimentos e pelo exercício das leis, a fim de sanar a vulnerabilidade
socioeconômica existente no cotidiano desses grupos. Paralelamente, os meios de comunicação
precisam combater a lógica de inferioridade e a concepção machista agregadas a este trabalho.
Assim, será possível solucionar esta questão, pois será retirada do cenário de invisibilidade, como
propõe Djamila.
Por meio do seu livro Brasil, país do futuro - publicado no último século - o escritor austríaco Stefan eig
expressou a sua confiança de que a nação cresceria e se desenvolveria exponencialmente. Para além disso, nos dias
atuais, a sociedade brasileira vivencia uma situação inversa, uma vez que a constante invisibilidade feminina
relacionada ao trabalho de cuidado e seus impactos negativos na contemporaneidade não são características de um
país do futuro . Desse modo, algumas negligências governamentais impulsionam a desvalorização trabalhista de
cuidado desempenhado pela mulher brasileira e promovem o desenvolvimento de diversas desigualdades
econômicas. Logo, tanto a inefetividade das leis direcionadas ao público feminino quanto a escassez de investimentos
na educação capacitiva são suscitadores da problemática.
Em primeiro plano, é imprescindível destacar a baixa eficiência das leis relacionadas ao trabalho da mulher como um
fato que potencializa a invisibilidade do esforço doméstico e de cuidados desse grupo. Nesse sentido, o escritor
brasileiro ilberto Dimenstein defende que a legislação brasileira funciona somente no papel e, na prática, é
ineficiente. A partir disso, tal tese pode ser comprovada por meio da má aplicação das leis trabalhistas femininas, uma
vez que tais documentos não garantem, efetivamente, os direitos fundamentais da mulher, especialmente no âmbito
do trabalho, e geram uma dependência dessa parcela ao cuidado doméstico, que é amplamente desvalorizado e,
muitas vezes, não remunerado. Logo, tal insuficiência do sistema legislativo promove uma exploração exagerada da
população feminina no país.
Além disso, vale ressaltar, ainda, a falta de verbas destinadas à educação como um fator que agrava e desvaloriza o
trabalho de cuidado exercido pela mulher brasileira. Nesse sentido, o filósofo esloveno Slavoj izek afirma que os
políticos liberais modernos priorizam interesses mercadológicos e menosprezam atitudes que beneficiem a
coletividade. Dessa maneira, verifica-se uma imprudência estatal que, por sua vez, despreza a importância da
educação ao não investir na capacitação feminina, o que impede a entrada desse grupo no mercado de trabalho e
obriga a mulher a realizar os desvalorizados trabalhos de cuidado . Com isso, atitudes que visem ampliar a qualidade
do sistema educacional brasileiro mostram-se amplamente necessárias.
Portanto, vistos os fatores que impactam negativamente na valorização do trabalho de cuidado feminino, medidas são
necessárias para combatê-los. Cabe ao governo federal a realização de fiscalizações legislativas e, por meio de
inspeções e vistorias em residências de risco, verificar se as leis trabalhistas femininas estão sendo devidamente
aplicadas, a fim de garantir a não exploração da mulher doméstica. Ademais, o Ministério da Educação deve, através
do NDEB - o undo Nacional de Educação Básica destinar investimentos às escolas, visando promover uma
capacitação geral e inserir as mulheres em um mercado de trabalho justo. Somente assim, o público feminino
conquistará a devida visibilidade no âmbito do trabalho.
Na obra “Utopia”, de Thomas More, é retratada uma sociedade perfeita e em harmonia, a qual é livre de
conflitos e mazelas. Todavia, fora de ficção, a realidade contemporânea está distante disso, haja vista os
desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado exercido pela mulher no Brasil. Por certo, a
negligência governamental e a desigualdade social são fatores que favorecem esse quadro.
Percebe-se, a princípio, que o descaso estatal possui íntima relação com o revés. Nessa ótica, de acordo com
o filósofo John Locke, configura-se como um rompimento do Contrato Social, já que o Estado não cumpre
com sua função de garantir que todos desfrutem de seus direitos. Assim, devido à débil ação do Poder
Público e à insuficiência de legislações, os impasses para acabar com a invisibilidade vivenciada por aquelas
que realizam o trabalho de cuidadoras, sejam elas babás, donas de casa ou empregadas domésticas, têm
crescido cada vez mais no Brasil. Dessa forma, é inadmissível que esse cenário continue a perdurar.
Ressalta-se, ademais, a situação de vulnerabilidade em que diversas cuidadoras estão inseridas como
impulsionadora do problema. Nesse contexto, segundo o escritor Ariano Suassuna, o Brasil é dividido em
dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos. Sob esse viés, grande parte dessas
mulheres vivem em condições precárias, por isso, tendem a aceitar qualquer coisa e realizam até mesmo
trabalhos sem remuneração; o que faz com que as dificuldades para enfrentar essa problemática aumentem
e tornem essas mulheres cada dia mais invisíveis perante o corpo social. Destarte, é imprescindível que haja
mudança.
Infere-se, portanto, a necessidade de combater essa problemática no Brasil. Logo, cabe ao Governo, como
Ministério do Trabalho, desenvolver leis mais rígidas e projetos sociais, por meio de petições e da criação da
campanha “Cuidar também é trabalhar”, a fim de vencer os impasses enfrentados pelas cidadãs que exercem
a função de cuidadoras e garantir que passem a ser enxergadas e não sofram mais com a invisibilidade e a
desvalorização. Por conseguinte, uma sociedade mais próxima da que é citada em “Utopia” será consolidada.
As décadas finais do século , no Brasil, foram marcadas pela presença de movimentos sociais diversos,
como o de ruptura das condições de gênero que prejudicavam as mulheres no meio social. Embora as
manifestações tenham conquistado direitos, ainda há problemas que assolam o cotidiano feminino das
brasileiras, como a invisibilidade do trabalho de cuidado. De fato, essa questão é influenciada pelo
sistema capitalista e pela manutenção da visão patriarcal. Logo, é urgente sanar os desafios e enfrentar a
problemática.
Diante desse cenário, cabe analisar a relação entre o modelo econômico e a invisibilidade referida.
Consoante a tese do sociólogo Karl Marx, os donos de produção, no capitalismo, possuem como fim o maior
lucro possível. Nessa perspectiva do autor, nota-se que essa mentalidade econômica ainda rege as relações
atuais, incluindo as do Brasil. Desse modo, em um contexto que o trabalho de cuidado não reproduz o capital
desejado pelas empresas, esse é invisibilizado e mal remunerado. Portanto, é visível que o sistema capitalista
é um entrave na questão sofrida pelas mulheres.
Ademais, a permanência da visão patriarcal acentua o problema dessa invisibilidade. Tal situação é explicada
pois, desde o período colonial do Brasil, as mulheres foram designadas a cumprir funções domésticas e de
cuidado, já que não eram vistas como capazes de exercer outro ofício. Nesse cenário, ao relacionar com a
atualidade, é nítido que essa convenção social do papel da mulher foi mantido como modo de continuar o
privilégio dos homens, detentores do poder. Assim, ao passo que esses se consideram superiores, não há
uma luta para valorizar o trabalho de cuidado, já que é visto como função intrínseca e obrigatória do gênero
feminino.
Em suma, constata-se que mudanças devem ocorrer para enfrentar os desafios da invisibilidade do trabalho
de cuidado realizado pela mulher. Para isso, cabe ao poder legislativo, na condição de detentor dos meios
legais de transformação, criar leis que tornem obrigatória a remuneração digna desse ofício com inclusão no
mercado, além de regulamentar sua valorização. Essa proposta deve ser aprovada por meio de um debate na
Câmara dos Deputados e tem como fim acabar com a invisibilidade desse trabalho. Feito isso, a questão
deixará de ser um problema do corpo social brasileiro.
O livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, escrito por Carolina Maria de Jesus na década de 1950, narra as
vivências da autora na favela do Canindé e suas dificuldades para obter sozinha o sustento de seus três filhos. De
maneira análoga, cerca de setenta anos após a publicação do diário, a realidade enfrentada por Carolina permanece no
Brasil contemporâneo, visto que o trabalho de cuidado realizado por mulheres, apesar de extremamente importante
para a sociedade nacional, continua invisibilizado. Diante disso, cabe refletir acerca do legado histórico patriarcal e da
intensificação das desigualdades para compreender os desafios que impedem a valorização do serviço feminino de
assistência.
Nesse contexto, é válido considerar a existência de permanências históricas como o principal fator causador da
invisibilidade do trabalho de cuidado exercido por mulheres. Isso ocorre, pois, desde os primórdios do Brasil Colônia, a
população feminina tem recebido o status de sexo frágil e, por supostamente não possuírem aptidões para o sustento,
tornaram-se encarregadas apenas das tarefas domésticas. Sob essa ótica, é nítido que, duzentos anos depois da
superação da condição de colônia, as raízes patriarcais continuam sendo refletidas nas relações modernas brasileiras,
uma vez que as mulheres permanecem responsáveis por serviços não remunerados associados à maternidade e à
existência de idosos da família, o que resulta na manutenção de estereótipos de gênero e na redução do tempo
disponível para a inserção feminina no mercado de trabalho, posto que os trabalhos assistencialistas são - geralmente -
exercidos de forma integral. Assim, torna-se evidente que o legado histórico desvaloriza o papel da mulher no cuidado
familiar, além de corroborar seu estado de vulnerabilidade devido à falta de remuneração e à dependência financeira
de seus maridos.
Ademais, é relevante considerar a ampliação de disparidades sociais como uma consequência direta da problemática
do cuidado invisibilizado. De acordo com o escritor brasileiro Ariano Suassuna, o Brasil é uma nação dividida em dois
fragmentos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos, sendo a estrutura nacional criada para suprir apenas as
necessidades dos primeiros. A partir disso, percebe-se que, em famílias cuja renda não é suficiente para contratar
profissionais especializados na assistência de diversos setores sociais, tal tarefa recai sobre as mulheres que compõe o
âmbito familiar, o que os condiciona a permanecer na miséria por impossibilitar seu acesso a meios de mudança de
vida, como a educação e o emprego remunerado. Logo, é notório que a desvalorização do trabalho de cuidado reforça o
pensamento de Suassuna, intensificando a marginalização feminina e a separação dos privilegiados e dos despossuídos.
Portanto, tornam-se claros os desafios enfrentados pela invisibilidade dos serviços de cuidado e a necessidade de
combatê-los. Dessa maneira, é imperativo que o Governo Federal atue na criação de subsídios destinados a mulheres
que exercem o trabalho assistencialista em tempo integral. Isso deve ocorrer por meio de alteração na Lei de Diretrizes
Orçamentárias - redirecionando verbas de forma igualitária para famílias vulneráveis em todo o país -, a fim de reduzir
as disparidades sociais e, consequentemente, superar o legado histórico patriarcal que atingiu Carolina Maria de Jesus e
outros expoentes da população feminina brasileira.
Conforme estudos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
população de idosos crescerá drasticamente nas próximas décadas. Nesse contexto, o trabalho de cuidado
realizado pelas mulheres é fundamental para acolher essa parcela populacional. Todavia, a invisibilidade e a
omissão estatal são desafios que perpetuam o descaso sofrido por essas trabalhadoras no Brasil. Logo, faz-se
imperioso a tomada de medidas que resolvam esse contexto de emergência generalizada.
Sob essa perspectiva, é crucial que a escassez de debates acerca da importância das atividades de assistência
seja superado. A esse respeito, a ilustre filósofa Djamila Ribeiro defende que, para atuar em uma situação,
deve-se, antes de tudo, tirá-lo da invisibilidade. Entretanto, o panorama nacional destoa do pensamento da
autora, já que o alto índice de empregadas domésticas em condições ocupacionais precárias não é enxergado
pelo círculo social, de modo que discussões sobre essa questão não sejam priorizadas, dificultando
intervenções nesse problema. Então, essa nebulosidade prescisa ser exposta para conscientizar a sociedade.
Outrossim, vale ressaltar de que maneira a negligência do Estado fomenta a marginalização das cuidadoras. A
partir disso, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman utiliza o termo "Instituição Zumbi" para simbolizar as
entidades que não cumprem seu papel previamente estabelecido. Segundo o raciocínio, é possível
compreender o Poder Executivo como um exemplo da ideia do expoente da Sociologia, uma vez que a sua
função de garantir dignidade profissional a todo não está sendo cumprida em sua totalidade, pois muitas
trabalhadoras de acolhimento ainda encontram-se em situações indignas. Por isso, a conduta governamental
necessita ser reformulada para assegurar os direitos dessas profissionais.
Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino.
Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e
pesquisas que revelem a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas
midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a
coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de
proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos.
Assim, a acolhida da nova geração de pessoas de terceira idade poderá ser efetiva.
A Constituição Federal de 1988, documento jurídico mais importante do país, garante o trabalho remunerado e a
dignidade humana como direitos de todo cidadão brasileiro, além de estabelecer a igualdade entre os gêneros
masculino e feminino na sociedade. Entretanto, nota-se que tal prerrogativa não tem se reverberado na prática, visto
que ainda há uma invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, o qual, muitas vezes, não
apresenta retorno financeiro. Portanto, faz-se necessária a análise dos principais fatores que contribuem para esse
triste cenário: o machismo e o descaso estatal.
Em primeira análise, é importante destacar que a mulher ocupa uma posição subjugada na sociedade brasileira desde o
período colonial, sendo encarregada dos afazeres domésticos e dos cuidados familiares. A partir desse contexto, após
anos de inferiorização, as mulheres conquistaram diversos direitos sociopolíticos, como o direito ao voto e o trabalho
remunerado. Todavia, mesmo com essas conquistas, ainda é notável que existe um machismo estrutural na sociedade
contemporânea, já que, segundo o IBGE, as mulheres gastam o dobro de tempo com tarefas de cuidado, quando
comparadas aos homens. Nesse sentido, por ser uma tradição enraizada na sociedade, o trabalho de cuidado realizado
pela população feminina é ignorado por grande parte das pessoas.
Ademais, é imperioso ressaltar que a invisibilidade e a desvalorização desse tipo de trabalho resultam, em alguns casos,
na falta de remuneração, o que contraria o direito estabelecido na Constituição. De acordo com o filósofo Nicolau
Maquiagem, o principal objetivo do governante é a manutenção do poder, deixando em segundo plano a busca pelo
bem comum. Assim, é evidente que o Estado não se preocupa com a garantia dos direitos das mulheres, o que reflete na
ausência de políticas públicas que assegurem uma remuneração digna àquelas que trabalham. Dessa forma, as mulheres
se encontram desamparadas, ao mesmo tempo, pela sociedade e pelo governo.
Portanto, é necessário promover ações concretas, as quais alterem o quadro de invisibilidade do trabalho realizado pela
população feminina. Logo, cabe às emissoras de TV, as quais são grandes formadoras de opinião da sociedade, realizar
campanhas sobre a importância de lutar contra o machismo, por meio de anúncios publicitários, a fim de desconstruir
ideias de subjugação presentes no Brasil contemporâneo. Além disso, o Governo Federal deve fiscalizar as relações de
trabalho para garantir a remuneração feminina.
O trabalho de cuidado se mostra necessário na medida em que é o responsável pelo zelo de crianças, idosos, pessoas
com deficiências e afazeres domésticos. Entretanto, nota-se, na comunidade brasileira, a invisibilidade desse serviço e
seu protagonismo majoritariamente feminino. Isso ocorre por duas causas principais: o baixo prestígio social
estigmatizado a essas tarefas e as convenções de gênero estabelecidas pela sociedade brasileira.
A princípio, o prestígio social de um trabalho é um fator importante para a determinação de seu reconhecimento e
remuneração. Nesse raciocínio, atividades de cuidado são estigmatizadas dentro do corpo social como inferiores e
descriminalizadas pelo seu baixo nível de escolaridade. Isso acontece, pois com a predominância do capitalismo no
ocidente e a Revolução Tecnológica introduzida a partir da 3ª Revolução Industrial no mundo contemporâneo, houve a
crescente valorização de serviços de alto grau de especialização e nível acadêmico. Dessa forma, atividades de baixo ou
nenhum valor tecnológico, como o trabalho do cuidado ou tarefas domésticas, foram socialmente marginalizadas em
escala global.
Além disso, percebe-se a predominância de mulheres na realização de serviços de assistência. Essa é uma realidade que
demonstra que as transformações sociais ocorridas no Brasil não foram suficientes para desconstruir convenções de
gênero e seus papéis sociais, pois atividades relacionadas ao cuidado e de cunho doméstico são predominantemente
associadas a mulheres. Como exemplificação, “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, retrata esse cenário pela
personagem Macuabé, nordestina que trabalha como empregada doméstica no Rio de Janeiro. Descrita ao longo da
narrativa como pequena e inviável, ausente de acontecimentos ou importância em sua própria história. Clarice
representa, dessa maneira, a invisibilidade e o preconceito da sociedade brasileira pelas mulheres que realizam o
trabalho do cuidado e seus desafios.
Portanto, é necessária a aplicação de medidas para o enfrentamento da desvalorização do trabalho de cuidado no Brasil.
Para isso, o Governo Executivo Federal deverá realizar ações de combate à desigualdade social sofrida por essa
atividade, por meio de políticas de valorização do serviço de assistência, como a validação legal dessa prestação como
trabalho remunerado e a obrigatoriedade do pagamento do salário mínimo. Assim, o Brasil se tornará um país que
enxerga e prioriza todos os tipos de serviços.
A filósofa contemporânea Hannah Arendt constata, por meio do conceito denominado “banalidade do mal”, a
tendência existente nas sociedades no que tange à naturalização das mazelas presentes na coletividade. Nessa
vertente, percebe-se que, na realidade brasileira atual, a proposição teórica mencionada se torna evidente, sobretudo
quando são considerados os entraves para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pelas
mulheres. Com efeito, hão de ser analisados os principais intensificadores da temática em questão: o machismo
estrutural e a omissão estatal.
Diante desse cenário, a persistência de um ideário preconceituoso contra o público feminino potencializa a
desvalorização de atividades relacionadas ao cuidado. Nesse viés, cabe citar que durante o Período Colonial, houve a
estruturação da família brasileira com valores patriarcais, de modo a haver a restrição do papel social da mulher à
reprodução e aos afazeres domésticos. No entanto, apesar do lapso temporal, tais convenções ainda estão presentes
no território nacional, haja vista que, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as
mulheres se dedicariam mais que o dobro de horas semanais, em 2019, em comparação aos homens, às tarefas de
cuidado. Nessa linha de raciocínio, atividades desse tipo – que incluem o trabalho com crianças, idosos, e pessoas com
deficiência, assim como as demandas domésticas – são comumente vistas como uma obrigação feminina, mas,
lamentavelmente, recebem um grau inferior de reconhecimento e importância. Isso se torna ainda mais claro pelo fato
de muitas tarefas dessa natureza serem mal pagas ou não remuneradas, o que é extremamente preocupante em um
país como o Brasil – o qual apresenta, em sua Constituição Federal de 1988, o direito à igualdade laboral.
Ademais, é imperioso mostrar a postura inerte do Estado brasileiro quanto à tentativa de invisibilização que acomete a
problemática. Sob tal ótica, o sociólogo polonês Zigmunt Bauman define como “Instituições Zumbi” aquelas entidades
que mantêm suas estruturas vigentes, contudo não cumprem adequadamente seus papéis sociais. Nesse sentido, o
aparato estatal nacional pode ser enquadrado na visão baumaniana, tendo em vista que o trabalho do cuidado
colocado em prática pelas mulheres é decorrente, em muitos contextos, da intersecção das desigualdades
socioeconômicas e étnicas. Dessa forma, enquanto não for combatida a conjuntura precária vivenciada por tantas
meninas e mulheres, as quais se encontram, principalmente, em situação de pobreza e de vulnerabilidade, elas
continuarão inseridas em um trabalho de cuidado sem o amparo estatal necessário.
Portanto, fazem-se urgentes medidas de enfrentamento aos impasses da temática supracitada. Assim, o Ministério do
Trabalho e Emprego deve realizar um registro das principais áreas com presença do trabalho de cuidado. Tal iniciativa
será efetivada por intermédio de profissionais do IBGE, os quais, em parceria com o Poder Executivo, irão às
residências onde as mulheres exercem suas atividades e organizarão um auxílio financeiro para ajudá-las a garantir
suas dignidades enquanto cidadão. Isso poderá proporcionar melhores perspectivas de vida para o público feminino,
de maneira a fragilizar o machismo e ampliar a igualdade.
A Constituição Cidadã traz, entre suas diretrizes legais, a igualdade entre homens e mulheres, nas diversas áreas, o que
inclui a esfera laboral. No entanto, na prática, a realidade brasileira tem sido diferente do que propõe a lei, sobretudo,
no que se refere aos desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado, em grande parte, realizado
pelas mulheres. Logo, debater sobre os principais fatores relacionados à problemática — raiz cultural e negligência
estatal — é indispensável para a reversão do atual quadro no Brasil.
De início, é válido salientar que os impasses relativos à ausente visibilidade do trabalho feminino de cuidados decorre de
padrões culturais construídos ao longo dos séculos. Nesse sentido, a sociedade brasileira naturalizou as atribuições de
zelo como o outro de trabalho doméstico, fundamentalmente, às mulheres, como se tais atividades estivessem
associadas às suas características biológicas. Entretanto, segundo o que afirma a socióloga Simone de Beauvoir, em seu
livro “O Segundo Sexo”: “Não se nasce mulher, torna-se”. Sob a ótica “beauvoiana”, percebe-se, então, que aquilo que
vem a ser tido do escopo feminino, por exemplo, os cuidados com o próximo e com o lar às mulheres e não aos homens.
Em consequência do exposto, dificulta-se a valorização desse tipo de labor em termos legais e remunerativos, pois, já que
é “natural”, em consequência, para o senso comum, não haveria motivos para reconhecimentos formais. Portanto,
corrigir as visões deturpadas não apenas de contradizer a Constituição de 88, como também é essencial para o
enfrentamento do problema no país.
Ademais, é imprescindível destacar o falho papel do Estado quanto ao endosso da invisibilidade do mundo laboral das
cuidadoras da nação, principalmente, a partir de um olhar socioeconômico. Isso acontece, porque, conforme apontava o
sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, desde o final da escravatura, no Brasil, pouco foi feito pelo governo no que diz
respeito à inserção do negro na sociedade; sendo, naquele contexto, os meninos pretos destinados aos trabalhos nas
feiras e as meninas pretas, para o serviço doméstico. Assim, como de outrora até os dias atuais, pouco foi feito pelo
poder público, para modificar tal padrão, é esta última a maioria a qual permanece como empregadas domésticas ainda
pouco valorizadas, cuidadoras mal remuneradas e donas de casa com pouca qualificação educacional e profissional.
Dessarte, gerar mais benefícios legais a esse público é medida incontroversa para reverter o cunho de desigualdade de
etnia e de classe relacionadas à questão.
Destarte, para enfrentar a invisibilidade do trabalho feminino de cuidado, algumas ações devem ser adotadas. Dessa
forma, o Poder Legislativo, na figura das deputadas (estaduais e federais) e das senadoras, dada a sua representatividade
do coletivo feminino, deve difundir informações e ampliar direitos às cuidadoras de pessoas e de lares. Isso pode ser feito
através do desenvolvimento de projetos de lei responsáveis por criar campanhas modificadoras das construções sociais
de gênero e por meio da elaboração de emendas constitucionais (inclusive para a PEC das domésticas). Com tais atitudes,
objetiva-se corrigir desproporcionalidade de gênero no desempenho das referidas atividades, bem como, aumentar a
visibilidade e as benesses legais às mulheres pretas cuidadoras, reduzindo-se, consequentemente, as desigualdades
ligadas ao tema.
Em seu poema "Vou-me embora pra Pasárgada", o autor modernista Manoel Bandeira vislumbrou uma sociedade
idealizada, para se refugiar de uma realidade na qual o eu lírico não era feliz, evidenciando a insatisfação no tocante
ao mundo concreto. Nesse sentido, fora da ficção, no Brasil, muitos indivíduos são acometidos por tal disfunção, uma
vez que são vários os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher.
Logo, entre eles, estão a negligência estatal e a precária formação do ser.
Sob esse viés, vale pontuar, como uma das principais dificuldades associadas à não visibilidade do cuidado exercido em
forma de labor pela mulher, no país, a indiligência governamental. Nessa perspectiva, o jornalista Gilberto Dimenstein
elucida que a letargia das instituições públicas predispõe um empecilho significativo na materialização dos direitos
preconizados na Carta Magna. À luz dessa asserção, é notório que o Estado não tem cumprido seu papel de modo
adequado, visto que são ínfimas as políticas de remuneração adequada promovidas, as quais visem ao oferecimento
de salários suficientes para viabilizar melhores condições de vida, como o aumento do poder compra de itens básicos e
essenciais à sobrevivência, a exemplo de artigos de alimentação e de higiene pessoal. Como efeito, observa-se um
cenário de desfacelamento da dignidade humana de muitas mulheres no ofício em voga.
Outrossim, faz-se mister destacar, como outra dificuldade a ser defrontada para combater a invisibilidade do trabalho
de cuidadoras, na nação, a deficitária formação civil, que leva ao preconceito social. Nesse contexto, pode-se citar o
fato de que muitas escolas são ineficientes em promover uma maior conscientização acerca da importância dos
serviços de cuidado desempenhado, principalmente, por pessoas do sexo feminino, o que provoca um panorama de
desvalorização e de descriminação das profissionais que, em grande parte das vezes, são subjugadas por suas
características fenotípicas. Na linha desse raciocínio, cabe mencionar a "Teoria da Coercitividade", do sociólogo Émile
Durkheim, ao afirmar que, se o pensamento hegemônico defende determinada ideia, nesse caso, de que essas
atividades de cuidado não são relevantes para o desenvolvimento do país e de que as mulheres que a praticam são
inferiores, por questão de raça ou gênero, o povo tende a segui-la.
Portanto, com o fito de dar visibilidade ao trabalho de cuidado realizado pela mulher, no Brasil, o Governo Federal,
pilar inicial da pátria, deve investir mais em políticas de remuneração adequada e justa, por meio da destinação de um
maior erário, que deverá ser retirado do Produto Interno Bruto, correspondente ao fornecedor de capital para fins
como esse. Ademais, as Escolas, como agentes de socialização, precisam promover uma maior conscientização,
mediante a elaboração de palestras e de debates, os quais informem a relevância desse ofício e da não discriminação
das mulheres que o exercem, com o intuito de minimizar o preconceito. Assim, os brasileiros deixarão de protagonizar
a distopia de Bandeira.
Historicamente, o mundo do trabalho foi dominado pelos homens, restando para as mulheres, principalmente, o
trabalho doméstico e de cuidado com a família. Com efeito, no Brasil não foi diferente, e, ainda hoje, existem desafios
que precisam ser enfrentados para reduzir a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no país, uma
vez que esse grupo da sociedade permanece em situação de exclusão e subserviência no mercado trabalhista. Diante
desse cenário, é fundamental compreender as causas desse revés, dentre as quais a desigualdade social e o
patriarcalismo enraizado na sociedade são fatores agravantes dessa problemática.
Em uma primeira análise, destaca-se a desigualdade social como um dos desafios a ser enfrentado para amenizar a
invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. Nesse sentido, a escritora Carolina Maria de
Jesus, em sua obra literária "Quarto de Despejo", escrita em meados do século XX, traz uma denúncia social, com uma
visão feminina de uma moradora da favela, na qual retrata a invisibilidade das pessoas que vivem em regiões
desprestigiadas pelo poder público e que precisam se submeter a situações degradantes para conseguir sobreviver e
não morrer de fome. Sob essa ótica, percebe-se que a desigualdade social gerada pela ausência do amparo estatal para
as camadas mais pobres da população acarreta na aceitação de trabalhos mal remunerados e informais, principalmente
pelas mulheres. Assim, é fundamental que haja políticas públicas que reconheçam a importância do trabalho de
cuidado no país e tragam garantias para essa atividade que será cada vez mais demandada com o envelhecimento da
população.
Outrossim, salienta-se que o patriarcalismo enraizado na sociedade brasileira é outro fator que contribui para a falta de
visibilidade do trabalho de cuidado desempenhado pela mulher no país, sendo a desconstrução dessa cultura de
inferioridade feminina mais um desafio a ser superado para solucionar esse gravame social. Segundo preconiza a
Constituição Federal, em seu artigo 3º, é objetivo do Estado a construção de uma sociedade justa e igualitária, sem
distinção de gênero, raça, etc. No entanto, as mulheres ainda são prejudicadas quanto aos direitos trabalhistas,
recebendo salários menores e não sendo valorizadas especialmente nos trabalhos realizados em ambientes
domésticos. Dessa forma, é preciso que haja uma mudança cultural no pensamento patriarcal a fim de ampliar a
importância desse trabalho de cuidado feminino com o reconhecimento das garantias constitucionais.
É evidente, portanto, que medidas precisam ser tomadas para solucionar esse problema. Para tanto, o Congresso
Nacional, por meio da elaboração de leis específicas, deve criar normas que assegurem a visibilidade do trabalho de
cuidado existente no país, executado majoritariamente por mulheres, com a regulamentação de direitos trabalhistas
para essa categoria, a fim de que essas trabalhadoras possam ter uma vida digna, uma jornada legal de trabalho e uma
remuneração justa que lhes permita ter acesso à moradia, alimentação, saúde e lazer.