Trabalho de HAA

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

A CONTRIBUIÇÃO DA HISTORIOGRAFIA AFROCENTRISTA NA

REINTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA AFRICANA

Nome do Estudante: Antônio Celestino Manhã Ampambadza


Codigo do Estudante: 61231078
Tutor: Mestre, Luís Diogo Alberto

1.Introdução

Os primeiros documentos escritos da história de África foram iniciados por mercadores,


viajantes e geógrafos, nos finais do primeiro milénio da nossa era. No século XV,
inicia-se a produção de obras literárias, de inspiração eurocêntrica. Trata-se sobretudo,
das descrições da costa ocidental africana, no contexto da chegada dos europeus a
África.
Entre os séculos XVI e XVIII, os missionários forneceram testemunhos directos e
datados dos acontecimentos e experiências em África. Estes materiais são descrições de
factos sem análise histórica. A partir dos finais do século XVIII, a África tropical
mereceu uma outra atenção por parte dos historiadores europeus que passaram também
a utilizar fontes escritas africanas. Mas a eurocentrismo era corrente historiográfica de
maior peso.
1.1.Objectivos
1.1.1.Objectivos Geral
 Compreender sobre a Contribuição da Historiografia Africana na
Reinterpretação da História Africana.
1.1.2.Objectivos Especificos
 Contextualizar a historiografia africana;
 Descrever o eurocentrismo como um elemento para retroceder a História da
África;
 Mencionar as limitações dos arqueólogos europeus na escrita da História da
África;

 Analisar Problemática das fontes para escrever a História da África.
2. Historiografia Africana
2.1.Corrente afrocentrica
Surge em reacção à corrente eurocêntrica. Critica radicalmente a colonização,
afirmando que influenciou negativamente a evolução histórica africana. É uma corrente
que valoriza excessivamente as realizações africanas. Recusa influência que os outros
povos exerceram sobre a história de África. Para eles, a história é o que graças ao
esforço exclusivo dos africanos, sem concorrência de nenhum factor externo.
O afrocentrismo defende que se deve interpretar e estudar as culturas não europeias,
nomeadamente a africana, e os seus povos do ponto de vista de sujeitos ou agentes e não
como objectos ou destinatários. Estes não defendem que o mundo seja interpretado sob
uma única perspectiva cultural, como foi o caso do eurocentrismo, mais que seja
reconhecida a existência de uma cultura e a sua avaliação em termo de pensamento e
conhecimento através da sua própria perspectiva, nesse caso, mais concretamente a
cultura africana seja analisada, por si, enquanto sujeito e não através de modelos
culturais que por vezes não só a entendem como a desprezam e desvalorizam.
(FARIAS, 2003).

A teoria da afrocentricidade fora sistematizada por Asante em 1980, a partir da


articulação das contribuições de diversos movimentos políticos, artísticos, culturais e
intelectuais dos povos de origem africana no mundo. Diretamente relacionada às lutas
negras dos anos 1960 e 1970 nos Estados Unidos e no mundo, a afrocentricidade
enquanto teoria se materializa no bojo dos primeiros programas de pesquisa e pós-
graduação em estudos africanos estabelecidos a partir da luta de estudantes negras e
negros no século XX.

O potencial da afrocentricidade como campo filosófico africano, que (re)compõe o


próprio pensamento e cultura africana estabelece-se tanto ao seu povo em continente e
em diásporas quanto ao mundo, como elemento desestabilizador da ideia, até então
aceita, de pensamento universal europeu ocidental como padrão único e legítimo de
produção de concepção de mundo e de epistemologias, práticas culturais etc. Isso
porque sugere de imediato não só uma mudança de pensamento, mas de lógicas e
práticas sociais ao povo africano em continente e diáspora orientados por seus próprios
sistemas de pensamentos

2.2.O eurocentrismo como um elemento para retroceder a História da África


Hegel (1770-1831) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofiada Histária, que
contém afirmações como as que seguem: “A África não é um continente histórico; ela
não demonstra nem mudança nem desenvolvimento”.
Os povos negros “são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles
sempre foram tal como os vemos hoje”. É interessante notar que, já em 1793, o
responsável pela publicação do livro de Dalzel julgará necessário justificar o surgimento
de uma história do Daomé.
Em primeiro lugar, uma das correntes mais importantes da Arqueologia, ciência então
em desenvolvimento, professava que, assim como a História, ela deveria orientar-se
essencialmente pelas fontes escritas. Consagrava-se aos problemas como encontrar o
local exacto da antiga cidade de Tróia ou detectar fatos ainda desconhecidos através de
fontes literárias relativas às antigas sociedades da Grécia, de Roma ou do Egipto, cujos
principais monumentos haviam sido fontes de especulações durante séculos.
2.3.As limitações dos arqueólogos europeus na escrita da História da África
A Arqueologia era e às vezes ainda é estreitamente ligada ao ramo da História
conhecido pelo nome de História Antiga. Em geral, ela se preocupava mais em procurar
e decifrar antigas inscrições do que em encontrar outras relíquias. Só muito raramente
por exemplo em Axum e Zimbabwe e em torno desses sítios admitia-se que a África
subsahariana possuía monumentos suficientemente importantes para atrair a atenção
dessa escola de arqueologia.
Em segundo lugar, uma outra actividade essencial da pesquisa arqueológica se
concentrava nas origens do homem, tendo como consequência uma perspectiva mais
geológica do que histórica de seu passado. É verdade que, em função de especialistas
como L. S. B.
Leakey e Raymond Dart, uma parte substancial dessa pesquisa acabou finalmente por se
concentrar na África oriental e do sul.
Mas esses homens buscavam um passado longínquo demais, no qual não se podia
afirmar que existissem sociedades; além disso, habitualmente havia um abismo entre as
conjunturas sobre os fósseis que esses pesquisadores descobriam e as populações
modernas cujo passados os historiadores desejavam estudar.
Mas homens como Burton e S. W. Koelle (Polyglotte Africana, 1854) em boa hora
demonstraram o valor da pesquisa de campo, e os antropólogos, em particular,
tornaram-se os pioneiros desse trabalho na África. Mas, ao contrário dos historiadores e
dos arqueólogos, nem os antropólogos nem os linguístas sentiam-se obrigados a
descobrir o que ocorrera no passado.
2.4.O surgimento de uma geração dos intelectuais Africanos
O surgimento de uma geração dos intelectuais africanos e as Primeiras Universidade
africanas.

Em 1948, aparecia a obra History of the Gold Coast de W. E. F. Ward. No mesmo ano,
a Universidade de Londres criava o cargo de lecturer em História da África na School of
Oriental and African Studies, confiado ao Dr. Roland Oliver. É a partir dessa mesma
data que a Grã-Bretanha empreende um programa de desenvolvimento das
universidades nos territórios que dela dependiam: fundação de estabelecimentos
universitários na Costa do Ouro e na Nigéria; elevação do Gordon College de Cartum e
do Makerere College de Kampala à categoria de universidades. Nas colónias francesas e
belgas, desenrolava-se um processo semelhante.

Os primeiros intelectuais assim como as primeiras Universidades africanas, vão surgir


depois da segunda Guerra Mundial, isto é apartir da década de 1950, cujos esses
estabelecimentos de ensino superior vão desempenhar um papel crucial para o avanço
da historiografia africana.
2.5.Problemática das fontes para escrever a História da África

O estudo da Historia de África depara-se com escassez de fontes, deficiências em


termos de cronologia e predominâncias de mitos. As que existem são: as fontes
egípcias, axumitas, meroítas, núbias, grecolatinas, árabes, europeias, soviéticas,
americanas, e africanas recentes.
Mas não contribuem para escrever Historia africana, uma vez as fontes orais estão
escritas em línguas que não são faladas pela maioria da população africana.
3. O papel dos arquivos e do trabalho do campo para a História africana
A partir de 1948, a historiografia da África vai progressivamente se assemelhando à de
qualquer outra parte do mundo. É evidente que ela possui problemas específicos, como
a escassez relativa de fontes escritas para os períodos antigos e a consequente
necessidade de lançar mão de outras fontes como a tradição oral, a linguística ou a
arqueologia. Mas, embora historiografi africana tenha trazido importantes contribuições
no que diz respeito ao uso e à interpretação dessas fontes, ela não se distingue
fundamentalmente da historiografia de certos países da América Latina, da Ásia e da
Europa que enfrentam problemas análogos.

Compreendendo desde logo esta necessidade, a UNESCO promoveu ou facilitou a


realização de encontros entre especialistas. De certa forma, colocou como pré-requisito
a colecta sistemática de tradições orais. Respondendo aos desejos dos intelectuais e dos
Estados Africanos essa entidade lançou, a partir de 1966, a ideia da elaboração de uma
História Geral da África. A execução desse importante projecto foi iniciada sob os seus
auspícios, em 1969.
Os progressos da história analítica – que é também “a história de campo” baseada em
investigações e questões colocadas nos próprios locais de pesquisa, e não somente a
consulta aos arquivos –constituem um importante passo nessa direcção. A
independência em relação aos arquivos se mostra tão essencial para o período colonial
quanto para o período pré-colonial, cuja documentação é relativamente rara.
O problema da “história colonial” sempre foi que, ao contrário do que se passou e se
passa na Europa ou nos Estados Unidos, os arquivos foram criados e alimentados por
estrangeiros. Os escritos incorporaram necessariamente os pré-conceitos de seus
autores, seus sentimentos sobre eles mesmos, sobre aqueles a quem governavam e sobre
seus respectivos papéis. É o caso da história da política interna da Europa ou dos
Estados Unidos, na qual o pré-conceito é apenas pro-governamental.

4.Os grandes períodos em que se evidenciaram os historiadores africanos


O primeiro período, entre 1890 e 1914, uma geração de administradores letrados, então
a serviço das potências coloniais, começou a assegurar a conservação das tradições orais
de importância histórica e o segundo período remonta ao início dos anos 60.
Segundo Murdock, “era impossível confiar nas tradições orais indígenas”7. A década
seguinte abriu-se com a publicação de Jan Vansina, Oral tradition. A studyin historical
methodology. Ela indicava quais os controles e as críticas necessárias para a utilização
científica das tradições orais. Os trabalhos históricos recentes, baseados na tradição oral,
geralmente utilizada em conjunto com outras fontes de documentação, podem ser
considerados um sucesso notável.
O seminário de Dacar organizado em 1961 pelo International African Institute sobre o
tema “O historiador na África tropical” e o de Dar-esSalam, em 1965, sobre o tema
“Novas perspectivas sobre a história africana” acentuaram vigorosamente a necessidade
de novos enfoques, sublinhando o papel insubstituível da tradição oral como fonte da
história africana assim como todo o partido que o historiador pode tirar da linguística e
da arqueologia informada pela tradição oral.
Graças a seus trabalhos sobre a época pré-colonial, os historiadores da África já
influenciaram as outras ciências sociais. Tal influência se faz sentir em diversos planos.

5.Considerações Final
a história de África foi por muitos pensadores ignorados na medida em que viam a
África como se fosse um continente sem história devido a forte presença da oralidade e
da ausência de escritos sobre ela. Outro passo foi dado na historiógrafa africana, quando
Malinowski e Radcliffe Brown começaram a influenciar as obras sobre a África, pois
eles criticavam uma história que não tivesse um lastro de fontes. Essa influência fez sair
algumas obras de cunho mais histórico, como as de Leo Frobernius que era etnólogo,
antropólogo cultural, arqueólogo e historiador camuflado.
Ele publicou inúmeros trabalhos com os resultados de suas pesquisas, dentre outros
pontos ele encontrou as estatuetas da cidade de Ifé. Ele buscava uma influência etrusca
na cultura africana, inclusive nas estátuas. Fage aponta que obras de Frobernius
praticamente não são lidas e são muito criticadas, mas o autor ressalta que se faz
necessária uma releitura das mesmas, pois elas são repletas de informações.

6.Referencias Bibliograficas
1. FARIAS, P. F. De Moraes. Afrocentrismo: entre Uma Contranarrativa histórica
Universalista e o Relativismo Cultural. São Paulo. 2003
2. KI-ZERBO, Joseph. História Geral de África I: metodologias e pré-historia de
África. Brasília: Unesco.
3. 7-KI-ZERBO, Joseph. (2010). História Geral da África, I: Metodologia e pré-
História da África. 2ª.ed. rev. – Brasília: UNESCO.
4. MACEDO, José Rivair. (2013). História da África. São Paulo.
5. MOKHTAR, Gamal. (2010). História Geral da África, II: África Antiga. 2ª.ed.
rev. Brasília: UNESCO.

Você também pode gostar