Guia Pratico para Captacao e Aproveitamento de Agua de Chuva 2

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

Guia Prático

para captação
e aproveitamento
de água de chuva
Material de apoio para Video-Aula
Introdução
Elemento essencial para todas as formas de vida, a água é tanto
um dos maiores desafios da humanidade como uma grande
oportunidade na mudança de cultura para uma sociedade mais
sustentável. Não à toa, as Nações Unidas proclamaram uma
década de ação pela água, chamada Década Internacional para
a Ação: Água para o Desenvolvimento Sustentável (2018-2028).

Uma forma muito simples e acessível de favorecer esta mudança


é criar a cultura de captar e aproveitar as águas de chuva.

Este material foi desenvolvido em apoio à vídeo-aula de captação


e aproveitamento de água de chuva como parte da programação
em Educação para Sustentabilidade do Sesc Vila Mariana e está
disponível em vídeo aberto no YouTube. Ele é oferecido às
pessoas que tenham interesse em implantar um sistema de
captação e aproveitamento de água de chuva em pequena escala,
e procura traduzir alguns conceitos e procedimentos de cálculo
em tabelas e informações simples, de forma acessível ao público
em geral. Para aqueles que buscam referências de estudos mais
aprofundados, ou de cálculos técnicos, oferecemos uma pequena
lista de referências ao final deste na seção “Para saber mais”.

Conheça mais alguns dos programas de Educação para


Sustentabilidade do Sesc SP nos links abaixo:

https://www.sescsp.org.br/ideiaseacoes

https://www.sescsp.org.br/territorios-do-comum-quando-o-pen
samento-e-acao-coletiva-transformam-territorios-2/

Bons estudos!

1
Informações básicas
Para calcular o volume de água de chuva disponível para sua cisterna,
ou mesmo dimensionar os elementos de projeto, você vai precisar
levantar algumas informações:

Área do telhado:
Você precisa saber qual é a área de telhado a partir do qual você quer
captar água. Esta é uma informação super importante porque é a partir
desta área que vamos dimensionar todo o conjunto do projeto;

Índice Pluviométrico:
Esta informação pode ser acessada numa pesquisa simples em algum
site de busca, como o Google, por exemplo, ou pode ser pesquisada
de forma mais técnica no site do Hidroweb (ver referências ao final)
onde você pode levantar as séries históricas de chuvas das estações
pluviométricas de todo o país.
Lembre-se de que 1 mm de chuva corresponde à um litro por metro
quadrado, de forma que digamos que em sua cidade chovam 1.500 mm
por ano, assim tem-se 1.500 litros por metro quadrado de telhado;

Intensidade de chuva:
Esta informação diz respeito à quantidade de chuva que cai
em um determinado período de tempo, e é geralmente oferecida
em milímetros por hora (mm/hr). Neste material adotamos a intensidade
pluviométrica de 150 mm/hr, que atende de forma ampla a maioria
das situações de projeto onde um eventual transbordamento da calha
não seja um problema. Caso você queira calcular o tamanho apropriado
das calhas e dos condutores do seu projeto para condições específicas
recorra à seção técnica indicada ao final do manual;

2
Passo a passo
Vamos focar este trabalho para te ajudar a planejar seu sistema
de captação e aproveitamento de água de chuva, pra isso vamos
explorar o dimensionamento de cada elemento utilizado

1 Calha
2 Condutor vertical
3 Condutor horizontal
4 Descarte da primeira água (em tubos de PVC)
5 Cisterna
6 Bomba de recalque ou bomba pressurizadora
7 Caixa elevada

3
1. Calha
Seu dimensionamento pode ser feito de forma prática, através de tabelas produzidas
por fabricantes, ou mesmo por tabelas simplificadas de cálculos de engenharia.
Lembrando que as tabelas apresentam dados genéricos que podem não atender
sua necessidade específica.

As calhas são geralmente apresentadas no mercado com nomenclatura


correspondente à largura dos cortes das chapas, com identificação
dentre 25, 28 e 33. Calhas de corte 25 correspondem àquelas construídas
a partir de chapas com 25cm de largura. A tabela abaixo apresenta
o tamanho da calha a ser usado em função da área de telhado.

Utilização dos diversos cortes quanto ao volume da água.

Telhado de até 50m² • Calha corte 25 ou maior

Telhado de 50m² a 80m² • Calha corte 28 ou maior

Telhado de 80m² a 100m² • Calha corte 33 ou maior

Telhado de 100m² a 150m² • Calha corte 40 ou maior

Comprimento Largura
Outra forma é recorrer à dimensão do telhado (m) da calha (m)
mínima da calha em função
do comprimento do telhado, Até 5 0,15
conforme os trabalhos de Azevedo 5 a 10 0,20
Netto e Vanderley de Oliveira Melo,
em “Instalações Prediais”, de 1998, 10 a 15 0,30
que apresenta a tabela ao lado. 15 a 20 0,40

20 a 25 0,50

25 a 30 0,60

4
2

4 2 Condutor vertical
3 Condutor horizontal
4 Descarte da primeira água
(em tubos de PVC)

2. Condutor vertical
Os condutores verticais são os tubos que ligam o fluxo de água da calha, em
posição vertical, aos próximos elementos de projeto. Procure trabalhar sempre
que possível com tubos circulares, que apresentam menor chance de bloqueio de
sólidos na saída da calha. Se possível, valorize a dimensão mínima de 100mm, o
que vai requerer a especificação de calhas com largura compatível (maior do que
100mm).

Segundo o trabalho de Botelho e Ribeiro Jr, no livro “Instalações


Hidráulicas Prediais”, podemos simplificar o cálculo do diâmetro do
condutor à partir da adoção de uma intensidade pluviométrica de
150mm/hr e da área máxima de captação.

Usando a tabela ao lado, e


Diâmetro Área do telhado
escolhendo um condutor vertical (mm) (m²)
de 100mm, teríamos uma área de
telhado atendida de 90m² por 50 14
condutor. Para áreas maiores 75 42
basta acrescentar mais
condutores de mesmo diâmetro, 100 90
ou aumentar o diâmetro do 150 167
condutor.
200 600

5
3. Condutor horizontal
O condutor horizontal é usado em diferentes posições em um projeto de captação
de água de chuva. Ele pode reunir diferentes pontos de descida de água das calhas
em um único condutor vertical, ou pode ser usado para conduzir a água após
a passagem por um tubo de descarte até a cisterna (vide ilustração página 5).

A tabela a seguir apresenta a área máxima para captação de água


em função da declividade do tubo condutor, tendo como partido
a intensidade pluviométrica de 150mm/hr.

Diâmetro (mm) Área (em m²)

Declividade 0,5% 1,0% 2,0% 4,0%

75 47 69 97 139

100 102 144 199 288

150 278 390 557 780

200 548 808 1.105 1.616

6
4. Descarte da primeira água (em tubos de pvc)
Telhados livres de folhas, com superfície exposta ao sol, e com boa inclinação
podem ter descarte na faixa de 0,5 litro por metro quadrado, enquanto telhados
planos, com baixa exposição ao sol e maior presença de folhas de árvores
precisam de um descarte maior, de 2 litros por metro quadrado.

Assim, se você tem um telhado de 50 metros quadrados e uma boa condição


de insolação precisaria descartar o volume que segue esta conta:
50 metros quadrados x 0,5 litro por metro quadrado = 25 litros

Se você considerar um telhado com a mesma área, mas uma condição longe
da ideal, então descartaria este volume:
50 metros quadrados x 2 litro por metro quadrado = 100 litros

Para situações intermediárias descarte 1 litro por metro quadrado de área de captação.

Digamos que você decidiu descartar 50 litros no seu sistema de captação.


O comprimento vertical do tubo escolhido corresponde ao volume de descarte
(50 litros, por exemplo) dividido pelo volume armazenado por metro de tubo.
No caso de um tubo de 150mm (6 polegadas) você precisaria de um comprimento
equivalente à 50 litros dividido por 17,7 = 2,82m, ou aproximadamente 3m.

Ilustração de Luise Stabile (2015)

7
5. Cisterna
O dimensionamento da cisterna é um dos passos que requer maior reflexão,
seja pelo seu custo, pelo espaço ocupado, pelo desejo de autosuficiência,
ou de uma série de outras questões. Não existe um guia prático, pois cada caso
depende de um conjunto de variáveis, então vamos recorrer ao bom senso no caso
de cisternas de pequeno porte para uso em áreas externas, e à uma fórmula
simplificada para uso da água de chuva em usos internos, conforme veremos à seguir.

Para iniciar nosso trabalho precisamos ter um melhor entendimento da situação


na qual iremos trabalhar. Vamos adotar que um telhado possua 100m², que o índice
pluviométrico anual seja de 1.500 mm/ano e que o consumo diário total de água de
chuva seja de 300 litros por dia, dos quais 50 litros sejam usados apenas para usos
externos. Vamos considerar também que o uso do sistema de descarte causará
uma perda de cerca de 20% do volume consumido. O primeiro passo é calcular
o potencial de aproveitamento, e a demanda anual de água:

Volume de captação máxima por ano = 1.500 mm . 100 m² . 80%


(descontadas as perdas do descarte da primeira água) = 120.000 l/ano

Demanda anual total de água de chuva:


365 dias . 300 l/dia = 109.500 l/ano

Demanda anual de água de chuva para áreas externas:


365 dias . 50 l/dia = 18.250 l/ano

Assim, percebemos imediatamente que o potencial de aproveitamento de água


de chuva é maior do que a necessidade total anual, e claro, muito superior
à necessidade para uso em áreas externas.

Vamos começar projetando uma cisterna de pequeno porte no quintal, apenas


para uso para rega de plantas, ou de lavagem de áreas externas.
Assumindo o consumo diário de 50 litros mencionado antes, e a mesma área
de captação de 100 m², sabemos que a cada 1mm de chuva teremos cerca
de 100 litros de captação, dos quais cerca de 20% são dispensados no descarte,
restando 80 litros no total. Assim, para uma chuva pequena de 10mm temos
um volume disponível de 800 litros, o que é equivalente ao volume consumido
em 16 dias (800 litros divididos por 50 litros por dia). Sabendo ainda que cerca
de 90% das chuvas no Sudeste e no Sul do país estão numa faixa de até 25mm,
podemos usar essa informação para calcular o volume de uma cisterna capaz
de armazenar (quando vazia) até 90% das chuvas, o que no nosso caso seria
2.000 litros (25 mm x 100m² x 80%).

8
Por outro lado, temos alguns pontos a considerar:

Talvez não queiramos construir um reservatório muito grande, que


teria um custo muito elevado, ou que ocuparia um espaço maior do que
o que podemos usar. Se este for o caso você pode dividir o volume de
armazenamento em mais de uma cisterna, ou ainda, pode vir a adotar
um volume menor, fazendo um bom uso dentro dos limites de espaço,
financeiros, ou de outros que se apresentarem à você.

Pode acontecer ainda que o volume captado no período chuvoso seja


menor do que a necessidade do período de seca, em cujo caso não
adianta ter uma cisterna muito grande que possivelmente jamais seria
enchida. Para verificar se esse é o caso, procure descobrir o índice
pluviométrico de sua região de estudo no período de chuvas, calcule o
potencial de captação no período, e sua necessidade de água no
período de seca.

Um método de cálculo simplificado bastante empregado por técnicos para o caso


de usos mais intensos de água de chuva, principalmente quando se envolvem usos
não-potáveis dentro de casa, é o Método Prático Alemão, que estabelece
que o volume do reservatório deve ser o menor entre dois casos:

1. 6% da demanda anual por água não-potável


2. 6% do volume anual de precipitação aproveitável

Assumindo para efeito de cálculo os mesmos dados assumidos antes, temos que:

1. Volume do reservatório = 6% . 300 l/dia . 365 dias por ano = 6.570 litros
2. Volume do reservatório = 6% . 1.500 mm . 100 m² . 80% = 7.200 litros

Assim, para o atendimento da demanda diária total de água de chuva,


nosso reservatório teria um volume de cerca de 6.500 litros.

Se você está buscando mais precisão em seu dimensionamento pesquise junto


ao site do Prof. Plinio Tomaz pelo método das simulações, ou ainda pelo programa
Netuno, desenvolvido pelo Labeee da Universidade Federal de Santa Catarina.

9
6. Bomba de recalque ou pressurizadora
A definição do modelo de bomba depende de uma série de variáveis.
Quando falar com um fornecedor tenha em mãos a diferença de altura (em metros)
entre o ponto de bombeamento e a altura da chegada da água na caixa,
o comprimento e o diâmetro da tubulação

No caso de uma bomba de recalque, a vazão de bombeamento precisa ser


suficiente para atender a necessidade diária de consumo em 1 ou 2 horas
de funcionamento. Na prática, para a maioria dos casos de residências,
quando falamos de consumo diário menor do que 1.000 litros por dia, a maioria
absoluta das bombas disponíveis no mercado oferece esta vazão em menos
do que uma hora de funcionamento diário.

Já para o caso de uma bomba pressurizadora, geralmente usada para consumo


em áreas externas, a vazão da bomba é geralmente superior à necessidade

10
7. Caixa elevada
Geralmente determinamos o volume desta caixa em função do consumo, de forma
que ela tenha água para atender suas necessidades para dois ou três dias de
consumo. Você pode fazer essa conta estimando o consumo nos diferentes
pontos da casa, levando em conta as seguintes informações:

• Vaso sanitário:
4 usos por pessoa por dia. Se sua descarga usar 6 litros, e morarem
4 pessoas em sua casa, o consumo estimado de água para descargas
é de 4 pessoas x 4 usos por pessoa x 6 litros por uso = 96 litros por dia;

• Irrigação:
pode ser calculada pela quantidade de água consumida por área irrigada.
Se tiver um jardim de 20 metros quadrados, e definirmos o consumo
em 2 litros por metro quadrado por dia,
então temos 20 x 2 litros por m² = 40 litros por dia;

• Limpeza de áreas externas:


pode ser calculada multiplicando o tempo de uso previsto em segundos
por um volume pré-definido. Vamos dizer que use um balde de 20 litros
para limpar uma área de quintal, então são necessários 20 litros por dia;

• Máquina de lavar:
cada modelo de máquina oferece um consumo diferente de água.
Os modelos de carregamento frontal consomem menos água,
cerca de 80 litros, até 150 a 180 litros pelos modelos de máquinas
de carregamento pelo topo. Vamos assumir uma máquina de lavar
com consumo de 150 litros por ciclo.

• Consumo Total Diário:


96 (descarga) + 40 (irrigação) + 20 (limpeza) + 150 (máquina de lavar) =
306 litros por dia

• Volume da caixa d´água:


Algo ao redor de 600 a 900 litros.

11
Para saber mais
Sites informativos:
• Cisterna Já: https://pt.wikiversity.org/wiki/Cisterna_J%C3%A1
• Sempre Sustentável: https://www.sempresustentavel.com.br/
• Instituto Nova Água: https://institutonovaagua.wixsite.com/website
• Canal da Fluxus Design Ecológico no YouTube: https://bit.ly/fluxus_youtube

Conteúdo Técnico:
• NBR 15.527: Aproveitamento de água de chuva de coberturas para fins
não-potáveis - requisitos
• NBR 10.844: Instalações Prediais de Águas Pluviais
• Professor Plinio Tomaz: https://www.pliniotomaz.com/
• Hidroweb (pesquisa de índices pluviométricos de todas as estações disponíveis
no país): https://www.snirh.gov.br/hidroweb/serieshistoricas
• Netuno (software de apoio ao cálculo de sistemas de aproveitamento de água de
chuva): http://labeee.ufsc.br/downloads/softwares/netuno

12
Expediente
Projeto
Caio Ferraz e Guilherme Castagna

Autor
Guilherme Castagna

Ilustrações, Projeto gráfico e Diagramação


Isabela Ruffino

Produção

Realização

Você também pode gostar