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FLORISVALDO CAVALCANTE DE ALMEIDA

Prefácio

Rodolfo Pamplona Filho

DIREITO CONSTITUCIONAL
TRANSCENDENTAL

VOLUME I
Teoria da Constituição
2022
Foto da capa: William Blake.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Almeida, Florisvaldo Cavalcante de


Direito constitucional transcendental : volume I :
teoria da constituição / Florisvaldo Cavalcante de
Almeida ; prefácio Rodolfo Pamplona Filho. -- Ilhéus,
BA : Ed. do Autor, 2022.

Bibliografia.
ISBN 978-65-00-39031-5

1. Brasil - Constituição (1988) 2. Direito


constitucional 3. Direito constitucional - Brasil
4. Direitos humanos - Brasil 5. Garantias
constitucionais I. Título.

22-100155 CDU-342.4
Índices para catálogo sistemático:

1. Constituição : Teoria geral : Direito


constitucional 342.4

Eliete Marques da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9380


CAPÍTULO I
PECULIARIDADES DO DIREITO

1. PECULIARIDADES DO DIREITO
1.1. Noções preliminares
Desde a antiguidade, afirma-se que o ser humano é um animal
político, e viver em sociedade é inerente à sua natureza. Confor-
me ensinamentos de Aristóteles1, somente vivendo no seio social
o consegue desenvolver suas habilidades como a de pensar, de
amar, de inventar, de procriar, de se comunicar, de se relacionar,
dentre outras, com as quais evolui material, mental, intelectual,
moral e espiritualmente.
Dessa convivência social, caracterizadora das relações in-
terpessoais, surge para os seres humanos direitos e deveres, cuja
obediência e respeito devem ocorrer com reciprocidade, já que
todos, de modo concomitante, usufruem dos mesmos direitos no
recinto dessa vivência.
Os direitos, segundo John Locke2, são inerentes à natureza hu-
mana porque ao nascer o ser humano, com esse ato, eclodem
todos os seus direitos tal como a vida, propriedade, liberdade e
igualdade. Nasce com vida e ao nascer dispõe do direito à vida.
Por ter direito à vida, essa é de sua propriedade e por ser pro-
prietário da sua vida, possui direito à propriedade. Tem direito à
liberdade porque é livre para usar e usufruir da sua propriedade.
Por ser detentor dessa propriedade, logo, além de terem a mesma
origem e o mesmo destino, todos são iguais; portam o direito à
igualdade.
O reconhecimento da necessidade do mútuo respeito por
esses direitos provém das relações intrapessoais, que asseguram
uma convivência no âmbito social pacífica por meio das relações
interpessoais mesmo diante das diversidades sociais. Cada ser
humano é dotado de identidade própria, advinda da sua caracte-
rística denominada unidade existencial, que o conduz a possuir
valores, interesses, anseios, diferentes dos demais, configurando

1. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martin Claret, 2007.


2. LOCKE, John. Dos Tratados do Governo Civil. Rio de Janeiro: Edições
70, 2006.
PECULIARIDADES DO DIREITO
o que se convencionou a denominar Dignidade Humana, que não
é senão valores virtuosos universais inerentes à natureza da pes-
soa humana.
Ressalte-se que, essas diversidades podem ser denominadas de
justas e injustas. As primeiras são as diversidades naturais - as
provenientes das virtudes - que se referem àquelas constituídas e
adquiridas de acordo com esforços efetuados no exercício do livre
arbítrio e da boa vontade. Já as segundas, que provém dos vícios,
são concernentes àquelas instituídas e adquiridas por meio de
privilégios para atender a interesses de um ser humano ou grupo
de pessoas. Cabe ao Direito combater as injustas e contribuir as-
segurando o desenvolvimento das justas.
O Direito é criado para disciplinar as relações intrapessoais e
interpessoais traçadas no ambiente social visando a assegurar a
dignidade humana. A sua finalidade é possibilitar a evolução da
humanidade, proporcionando a cada ser humano o desenvolver
das suas habilidades ao estabelecer sanções como forma de des-
pertar a consciência daquele que adota comportamentos anima-
lescos, prejudiciais à convivência social.
Destarte, o Direito tem por objetivo proibir a volta dos seres
humanos à era primitiva, à barbárie, na qual por não utilizarem
da razão para agir em pensamentos, palavras, hábitos e ações de
forma consciente, digladiavam-se sem pensar no próximo e em si
mesmo como pessoas humanas.
Esse comportamento irracional do ser humano teve como con-
sequência o seu distanciamento da Consciência Universal. Mas,
permanecer junto a essa Consciência é uma necessidade inerente
à sua natural, por ser a sua essência dela parte integrante. Para
tanto, lhe é dada a oportunidade, por meio do livre arbítrio e da
vontade, de modificar suas atitudes indecentes e se aproximar da
verdadeira essência, que é o amor, paz, prosperidade e abundân-
cia.
Compete ao Direito efetuar essa aproximação quando utilizado
como instrumento de justiça, porque disciplina as regras de con-
duta provenientes do dever moral, a ser adotada pelo ser huma-
no, que o torna racional e consciencioso para agir durante a sua
existência terrena de boa vontade e de acordo com a sua própria
natureza.

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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

Desta forma, o Direito não é coisa restrita ao ser humano. Nada


mais é senão a materialização das leis universais adaptadas às re-
lações humanas. São pensamentos, ideologias incutidas na mente
humana em grandes momentos de necessidade da humanidade
para que possa ocorrer o processo evolutivo da natureza humana,
da barbárie à civilização da matéria, dessa à civilização intelec-
tual, dessa à civilização moral e à plenitude interior.
Quando ocorre a materialização das leis universais por meio das
leis humanas, essas são justas. Quando as leis humanas são inter-
pretadas conforme as leis espirituais, se faz justiça. Porém, mes-
mo não havendo relação entre as leis humanas e as leis naturais,
aquelas, ainda injustas, devem ser obedecidas porque mantêm a
ordem e a segurança social. Sendo possível, contudo, a realização
da justiça caso as leis humanas sejam interpretadas em conformi-
dade com as leis espirituais.
O Direito como instrumento de materialização das leis espiri-
tuais, somente, cumpre sua função de cura social e contribui para
a evolução do ser humano se, ao disciplinar as relações intrapes-
soais e interpessoais, no ato de sua criação e de sua interpreta-
ção combater no ser humano todos os sentimentos inferiores que
causam mal à sociedade, como a intemperança, a imprudência, a
fraqueza e a injustiça, que são fontes do egoísmo, do orgulho e da
vaidade, dos quais emanam todos os vícios.

1.2. O que é o Direito?


Ao perguntar-se para os membros de uma sociedade, dotados
de instrução, “o que é o Direito?”, quase que por unanimidade,
tem-se que o Direito, quando considerado sob o aspecto positivo,
é o conjunto de normas jurídicas, criadas por um Estado soberano
e impostas a todos os seres humanos que habitam determinado
território, com a finalidade de regular as relações humanas ou so-
ciais nele firmadas.
Ademais, quando considerado sob o aspecto subjetivo, afirma-
-se que o direito é a faculdade que tem o ser humano, no exercício
do seu livre arbítrio, de utilizar do ordenamento jurídico confor-
me a sua vontade para satisfazer aos seus interesses.
Todavia, essas respostas não retratam essencialmente a nature-
za do Direito, porque se referem a aspectos do sistema jurídico,
como as normas, o órgão criador das normas, a obrigatoriedade
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PECULIARIDADES DO DIREITO
das normas, o campo de atuação das normas e a finalidade das
normas, e não abordam a sua verdadeira essência, cuja caracte-
rística mais importante é exteriorizada mediante o ideal de justi-
ça. Ao abordar particularidades do ordenamento jurídico e não a
sua substância, o positivismo jurídico institucionaliza a injustiça,
porque constitui o Direito sob a perspectiva de interesses e privi-
légios de segmentos sociais.
Essa definição de Direito atribuída pelo positivismo tem sido
rejeitada, antes mesmo de formulada. Para Platão, citado por
Villey3, uma lei injusta, uma lei ruim não é Direito. O trabalho
do jurista não consiste em conhecer e aplicar textos legais, mas,
assim como o médico que procura o remédio mais útil, está o ju-
rista em buscar a melhor solução. A finalidade do Direito não é o
deleite dos desejos, nem o acúmulo de riquezas, nem a ordem ou
segurança, que poderão ser encontradas nas leis mais adequadas
a esses interesses. A finalidade do Direito, portanto, é a realização
do bem, que o denominou de justiça.
Naquela época, conforme o autor, a justiça já era entendida
como uma virtude que consiste em devolver ou distribuir para
cada ser humano, o que lhe pertence ou lhe corresponde por di-
reito supremo nas relações sociais. Já se sustentava que essa vir-
tude deveria ser exercida tanto no interior do ser humano, por
meio das relações intrapessoais, como no seio de uma sociedade,
por meio das relações interpessoais. Pois, o mesmo equilíbrio in-
terior que a virtude constitui no ser humano ela faz na sociedade,
o que os torna indissociáveis porque a sociedade é constituída de
matéria humana.
Por meio das relações intrapessoais, o ser humano aperfeiçoa
essa virtude, que faz florescer no seu interior o sentimento do
bem porque institui a submissão dos instintos ao coração, e deste
à razão. Já por meio das relações interpessoais, ele a coloca em
atividade que, mediante suas ações no âmbito social, propaga o
amor ou o bem como a única condição de convivência harmoniosa
capaz de encontrar a sua verdadeira essência.
Ademais, segundo os ensinamentos do autor, afirmava-se ser a
virtude a finalidade da lei, que deveria ter por objeto a piedade, os
bons costumes e a educação. Sendo a educação o primeiro ofício
3. PLATÃO. A República, 1959 apud VILLEY, Michel. A formação do pen-
samento jurídico moderno. Tradução Cláudia Berliner. São Paulo: Martins
Fontes, 2005, p. 24/7.
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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

do Direito. Consequentemente, por meio da educação, o Direito


passa a ser visto como instrumento de efetivação da justiça por
desenvolver habilidades capazes de tornar o ser humano virtuo-
so, de fazê-lo agir com dignidade e decência. Ou seja, o Direito
deve ser utilizado como mecanismo que propicie a educação hu-
mana para agir com o intuito de promover a benignidade.
Não obstante, o Direito não tem sido utilizado como instrumen-
to capaz de consolidar a importância da educação no processo
evolutivo da humanidade. A disciplina denominada “educação
moral e cívica”, que tem por objetivo promover as relações inter-
pessoais, possibilitando o (re)conhecimento de virtudes univer-
sais ou valores morais e éticos que contribuem para a formação
do caráter do ser humano, direcionando-o a comportar-se no âm-
bito da sociedade, fazia parte da base curricular nacional desde
1940, mas foi excluída em 1993. Somente, em 2012, houve uma
tentativa de reinserção com a denominação “Cidadania, moral
e ética”, contudo não logrou êxito, recebendo inúmeras críticas,
inclusive de educadores por formação.
Ademais, “Noções Básicas de Direito Constitucional”, em espe-
cial os direitos fundamentais por se referirem à natureza huma-
na, deve ser disciplina obrigatória da base curricular nacional,
com a qual cada ser humano, na idade cronológica devida, incita
sua mente a (re)conhecer sua verdadeira essência e a desenvolver
suas relações intrapessoais, no que entende a origem de toda a
diversidade e adquire discernimento para agir com tolerância em
sociedade.
Porém, utiliza-se do Direito para estabelecer a “aprovação auto-
mática”. O que impossibilita, assim, o ser humano de ter a opor-
tunidade de conhecer-se e de compreender o meio em que vive
e ao qual pertence, mantendo-se alienado. Recorrer ao Direito
com o intuito de consolidar interesses e privilégios é conveniente
àqueles que defendem, de forma velada, ser instrumento apto à
efetivação da institucionalização da injustiça. Enquanto que o
coerente é utilizá-lo como instrumento de concretização da edu-
cação à realização da justiça, mecanismo regente do processo de
ascensão do ser humano.
A institucionalização da injustiça pelo Direito positivo advém da
confusão formada, de forma consciente, pelo ser humano entre
os aspectos do Direito, por ele delineados, e a essência do Direito,
que provém da natureza. Valendo-se das atribuições conferidas
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PECULIARIDADES DO DIREITO
pelo próprio Direito, que o faz detentor do poder de operacionali-
zá-lo, estabelece critérios que atendem a interesses particulares e
específicos, com que constitui as desigualdades sociais e contribui
para as pessoas, cada vez mais, se afastarem da sua essência. E,
ainda, sustenta-se ser o produto dessa ação o que se entende por
Direito.
Nesse sentido, faz-se menção aos ensinamentos de Herbert Lio-
nel Adolphus Hart4 em que aponta várias afirmações e negações
de autores sobre a natureza do Direito, com o intuito de atribuir
uma resposta:

O que as autoridades fazem a respeito dos


litígios é o próprio direito”; “As previsões
sobre o que os Tribunais farão... são o que
entendo por direito”; a legislação é “fonte
do direito... e não o próprio direito”; “o di-
reito constitucional é mera moral positiva”;
“É proibido roubar; se alguém roubar, será
punido. ... Caso exista de fato, a primeira
norma está contida na segunda, que é a
única norma genuína... O direito é a norma
primária que estipula a sanção.

Embora formuladas por sérios pensadores, continua o autor,


que se dedicaram ao estudo do tema, essas respostas são estra-
nhas e paradoxais por terem sido ditas e debatidas com eloquên-
cia e paixão, como se fossem revelações de grandes verdades
sobre o Direito, mas os tornam obscuras por não demonstrar au-
tenticidade da sua natureza essencial.
Não obstante, conforme o pensador inglês, essas afirma-
ções, frutos de reflexões sobre o Direito, ditas em seu tempo e lu-
gar, efetivamente contribuiu para aumentar a compreensão. Vis-
tas em seu contexto, essas declarações esclarecem e confundem
ao mesmo tempo: mais parecem grandes exageros de algumas
verdades negligenciadas sobre o Direito do que frias definições.
Isto porque, ao mesmo tempo em que lançam uma luz, abrindo
os olhos do ser humano para ver o que havia de oculto no Direito,
por muito brilhar, essa luz o torna cego para outros aspectos, im-
pedindo, assim, uma visão clara do todo, capaz de demonstrar a
4. HART, H. L. A. O conceito de direito. 2ª edição. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2009, p. 1-22.
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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

verdadeira caracterização do Direito.


Menciona-se, a Presidência da República que, em
11/04/2019, edita o Decreto nº 9.758 dispondo sobre a forma de
tratamento e endereçamento nas comunicações orais e escritas
com agentes públicos da administração pública federal direta e
indireta (Poder Executivo). Dispõe, ainda, que o mesmo não se
aplica quando a comunicação ocorrer com agentes dos outros
Órgãos (Legislativo e Judiciário), autoridades internacionais, au-
toridades de organismos internacionais ou de outros entes fede-
rativos.
Tal Decreto foi editado sob a justificativa de desburocratizar e
eliminar barreiras que criam distinção entre funcionários. Para
tanto, prevê que agentes públicos utilizem os termos “senhor” ou
“senhora” e, veda a utilização de termos como “Vossa Excelência
ou Excelentíssimo, Vossa Senhoria, Vossa Magnificência, doutor,
ilustre ou ilustríssimo, digno ou digníssimo e respeitável” em co-
municações, atos e cerimônias públicas.
Diante do exposto, faz-se necessário elaborar dois ques-
tionamentos: primeiro, é possível responder “o que é o Direito?”,
considerando esse Decreto? Segundo, quais os critérios a serem
utilizados pelo agente público para definir quem deve ser consi-
derado autoridade internacional?
Quanto ao primeiro questionamento a resposta não é senão ne-
gativa. Inadmite-se afirmação contrária, mesmo considerando as
alegações dos positivistas sob o argumento de que o ato foi prati-
cado por um ser humano legítimo, porque essa alegação se refere
a aspectos do Direito e não a sua natureza. Quanto ao segundo,
deve-se levar em consideração o que se entende por autoridade,
sendo esta considerada o “direito ou poder de ordenar, de decidir,
de atuar, de se fazer obedecer”. Configura, assim, a existência de
várias autoridades como da ciência, da política, da moral, da éti-
ca, dentre outras, o que dificulta sobremaneira estabelecer quem
é ou não uma autoridade, com a qual será efetivado o disposto no
Decreto.
Esta dificuldade em determinar quem é uma autoridade pode
ensejar a interpretação de uma atuação pautada nos critérios de
conveniência e oportunidade, visando à promoção ou ascensão
pessoal, o que configura uma verdadeira injustiça. Esse raciocínio
ganha força ao se analisar a justificativa utilizada para a edição da

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PECULIARIDADES DO DIREITO
referida espécie normativa.
É possível que uma repartição pública funcione sem uma
estrutura caracterizada por regras de comportamento e de pro-
cedimentos? O simples fato de se utilizar ou não determinada ex-
pressão visando a promover a desburocratização no tratamento
entre agentes públicos possibilita à prestação do serviço público
com mais eficiência, ou essa eficiência está atrelada às condutas
adotadas pelos seres humanos responsáveis em prestar o serviço
público? A distinção entre agentes públicos é estabelecida pelo
uso de pronomes de tratamento ou pela institucionalização hie-
rarquizada de cargos públicos, segundo privilégios que os assegu-
ra? Os obstáculos existentes entre os agentes públicos não seriam
provenientes dos instintos, emoções ou sentimentos impregna-
dos na alma do ser humano ocupante do cargo público?
De nada adianta abolir as formalidades, os pronomes ou as for-
mas de tratamento, se não houver o respeito que vem de dentro,
da intenção da alma, cuja exteriorização independe de formalis-
mo, mas, sem dúvida, da compreensão do alfabeto universal e do
agir de boa vontade.
Em 15/04/2019, a Presidência da República ao prestar homena-
gem honrosa a Arnold Schwarzenegger, o define como autoridade
estrangeira sem critérios objetivos. Entrega-lhe uma placa de boas-
-vindas com a seguinte mensagem: “Ao ilustríssimo senhor Arnold
Schwarzenegger. Os agradecimentos da República Federativa do
Brasil pela dedicação e integridade durante sua trajetória na vida
artística, social e política”.
Depreende-se que, o Direito é utilizado como mecanismo para le-
galizar comportamentos e interesses, independentemente das con-
sequências, somente, por ser elaborado por autoridade competen-
te. Posto que, a justificativa utilizada tanto na sua criação como na
sua aplicação carece de critérios pautados no ideal de justiça, pró-
prios das leis universais. Em vez de ser utilizado como instrumento
instituidor de proibições que atentam contra a essência humana, o
Direito deve legitimar a utilização de pronomes de tratamento já
que eles demonstram civilidade e respeito, padrões comportamen-
tais nas relações interpessoais, como forma de reconhecimento de
méritos adquiridos pelo ser humano por meio da boa vontade e de
experiência no exercício do seu livre arbítrio.
Ressalte-se que, essa conquista não deve ser internalizada nem
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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

exteriorizada por quem a detém como um aspecto de superiorida-


de. Devendo ser pelo possuidor absorvida como dever moral que
se manifesta na sua consciência a título de estímulo ao exercício
da liberdade como forma de contribuir com o processo civilizató-
rio, visando ao progresso da humanidade.
Destarte, o cumprimento do dever moral pelo ser humano ocor-
re primeiro consigo mesmo e depois com o seu semelhante, e con-
comitantemente com o Universo. O dever de cada pessoa começa
exatamente no ponto em que possa ameaçar a tranquilidade do
próximo e termina no limite, o qual não gostaria que fosse ultra-
passado em relação a si. Diante do estágio de consciência ador-
mecida do ser humano, cabe ao Direito despertá-lo visando à sua
ascensão até a perfeição possível, contribuindo para se cumprir
esse dever, que ao regulá-lo de forma precisa indica onde começa
e onde termina. No entanto, o Direito não tem desempenhado
essa função.
Nos ensinamentos de Hart, pode-se afirmar que a maioria dos
seres humanos de determinado Estado, a título de exemplo o Es-
tado Brasileiro, consegue dizer o que venha a ser o Direito: em
saber da existência de uma lei que proíbe dirigir sob a influência
de bebida alcoólica; de outra que coíbe a violência doméstica e
familiar contra a mulher; e de outra que exige o pagamento de
tributos.
Ademais, continua o autor, os seres humanos instruídos sabe que
todos os Estados soberanos dispõem de sistemas jurídicos estru-
turalmente semelhantes, apesar de certas diferenças substanciais.
Desses seres humanos, espera-se que sejam capazes de identificar
características de um ordenamento jurídico, de forma esquemáti-
ca, como:
• normas que coíbem ou proíbem certos comportamentos sob
pena de sanção;
• normas que requerem que se ofereça reparação àqueles que
sofreram um dano físico, material ou moral;
• normas que especificam o que fazer para redigir testamento,
contratos ou criam obrigações;
• um poder legislativo para criar novas normas e abolir as an-
tigas;

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PECULIARIDADES DO DIREITO
• tribunais que determinam quais as normas aplicáveis e quan-
do foram infringidas, e, estipulam a sanção a ser aplicada ou
a indenização a ser paga.
Se essas informações são do conhecimento geral, indaga Hart,
por que subsiste a pergunta “O que é o Direito?”, e por que tem
ela recebido tantas respostas diferentes e extraordinárias? Será
que isso se deve a que, além dos casos-padrão constituídos pe-
los sistemas jurídicos dos Estados modernos a respeito dos quais,
ninguém em sã consciência duvidaria de que são sistemas jurídi-
cos, há também os casos duvidosos sobre cuja juridicidade não só
os seres humanos instruídos, mas até os juristas se questionam?5
Explica o autor que, atualmente é de conhecimento geral que a
distinção de casos-padrão e de casos-limites questionáveis deve
ser feita no caso de praticamente toda palavra genérica usada para
classificar os fenômenos da vida humana e do mundo em que vi-
vem os seres humanos6. Posto que, às vezes, a diferença entre o
caso claro para o uso de uma expressão e os casos questionáveis é
5. Nos ensinamentos do autor, o Direito internacional é um dos mais desta-
cados entre esses casos duvidosos. E, muitos pensam haver razões, embora
não conclusivas, para se negar a exatidão do uso já convencional do termo
“Direito” nesse caso. Essa objeção deu origem a uma controvérsia prolonga-
da, mas ela não basta para explicar a perplexidade sobre a natureza geral do
Direito, expressa na pergunta persistente “O que é o Direito?”. Por duas ra-
zões, esse caso não pode ser a raiz da dificuldade: primeira, o Direito interna-
cional não dispõe de um poder legislativo, os Estados não podem ser levados
a juízo perante tribunais internacionais sem seu consentimento prévio e não
existe na esfera internacional um sistema de sanções eficiente, centralizado
e organizado; segundo, o fato do ser humano ser forçado a reconhecer a
existência tanto de casos-padrão como de casos limítrofes questionáveis não
é uma peculiaridade de termos complexos como “direito” e “sistema jurídico”.
Cf. Op., cit., p. 4-5.
6. Isto se deve à existência de expressões com significados ambíguos, aber-
tos ou indeterminados, cuja utilização depende do contexto em que está inse-
rida. Por exemplo, a palavra JUSTIÇA pode referir-se ao conjunto de órgãos
que formam o Poder Judiciário; bem como, o poder de fazer, de fazer valer
o direito de cada um; ou ainda, o princípio moral em nome do qual o direito
deve ser respeitado. A palavra CABO pode reportar-se a corda, fibra natural
ou sintética; bem como, um posto existente em várias forças armadas (paten-
te da carreira militar). A palavra PATENTE pode dizer respeito à concessão
pública ao titular de uma invenção os direitos para exploração comercial; bem
como, pode referir-se ao título oficial de uma concessão ou privilégio. A pa-
lavra BANCO pode estar relacionada a determinado assento, seja público ou
privado; bem como, pode referir-se a instituição financeira.

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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

apenas uma questão de grau7. Porém, em certos casos,


o desvio em relação ao caso-padrão não é mera questão de grau,
mas surge quando aquele constitui de fato um complexo de ele-
mentos normalmente concomitantes, mas distintos, um ou mais
dos quais podem faltar nos casos questionáveis8.
Desta forma, atribuir uma resposta à pergunta persistente “O
que é o Direito?” capaz de ser utilizada de modo geral, em todas as
circunstâncias e situações, por mais que possua relevante aparên-
cia de simplicidade, é extremamente difícil. O Direito é composto
de palavras, locuções que visam a exteriorizar a essência humana
pelo pensamento fazendo o uso da linguagem; porém, o pensa-
mento é ilimitado e a linguagem é limitada.
A princípio, para Hart, seria fácil por fim a essa pergunta arro-
lando uma série de lembranças do que já é familiar, consideran-
do a reflexão sobre a capacidade relativamente generalizada dos
seres humanos para citar o que venha a ser o Direito e sobre o
quanto se sabe em geral a respeito do caso-padrão de um ordena-
mento jurídico.
A dificuldade surge, justamente, segundo o filósofo inglês, por-
que ao repetir a descrição esquemática das principais caracterís-
ticas de um sistema jurídico descritas na voz de um ser humano
instruído, deve-se lembrar de que, além desses casos-padrão, en-
contra-se também, na vida em sociedade, certos sistemas - como
o Direito internacional - que venha a carecer de quaisquer daque-
les elementos, embora partilhem algumas daquelas característi-
cas marcantes.
Essa perplexidade que tem emprestado relevância à pergunta,
nas lições de Hart, não se deve à ignorância, ao esquecimento ou à
7. O autor exemplifica da seguinte forma: “um homem que tem a cabeça lisa
e brilhante é evidentemente calvo; outro, que exibem luxuriantes madeixas,
obviamente não o é; mas a questão de saber se é calvo um terceiro homem,
que tem alguns cabelos aqui e ali, poderia ser discutida indefinitivamente se
fosse considerada relevante ou se dela dependesse algum assunto de ordem
prática”. Cf. HART, H. L. A. Op., cit., p. 5.

8. O autor exemplifica com a seguinte narrativa: “Será um hidroavião um “na-


vio”? O jogo pode ainda ser chamado de “xadrez” se for disputado sem a
rainha? são instrutivos para nos forçarem a refletir sobre a concepção da com-
posição do caso-padrão e a explicitá-lo; mas, é evidente que o que podemos
chamar de aspecto limítrofe das coisas é demasiado e corriqueiro para expli-
car a longa discussão sobre o direito”. Cf. HART, H. L. A. Op., cit., p. 5.
34
PECULIARIDADES DO DIREITO
incapacidade de reconhecer os fenômenos a que a palavra direito
comumente se refere. Ao considerar os termos de descrição es-
quemática de uma ordem jurídica, fica claro que a palavra Direito
pouco faz além de afirmar que, no caso-padrão normal, leis de
vários tipos se aglutinam. A razão para isso é que tanto um tri-
bunal quanto o poder Legislativo, que aparecem nessa descrição
resumida como elementos típicos de um sistema jurídico padrão,
são eles próprios criaturas do Direito9.
A falta de cumprimento da missão do Direito no âmbito social
advém, justamente, da finalidade a que lhe foi atribuída. Essa
problemática está atrelada à sua elaboração, à sua essência e à sua
interpretação. Considera-se como Direito tudo aquilo que tenha
sido elaborado por uma autoridade competente respeitando de-
terminado procedimento. Como consequência, o que se exteriori-
za quando da sua elaboração não tem relação com a sua natureza
verdadeira, que é o ideal de justiça, mas com interesses predeter-
minados. Por fim, quando da sua interpretação a sua verdadeira
essência continua ausente por faltar aos membros da sociedade,
responsáveis pelo exercício da atividade hermenêutica, obediên-
cia ao dever moral.
No concernente à essência do Direito, conforme ensina-
mentos de Hart, os temas que a reflexão sobre a sua natureza tem
versado, são aspectos do Direito que parecem dar causa a equívo-
cos, de tal modo que a confusão, e a subsequente necessidade de
ulterior elucidação, podem coexistir mesmo nas mentes de seres
humanos ponderados e com sólido conhecimento do Direito.
A primeira questão que merece reflexão, para o autor, está
atrelada a existência de comandos comportamentais não opcionais.
Há comandos comportamentais existentes que não estão descritos
em uma das normas jurídicas, mas são obrigatórios. Por exem-
plo, um ser humano é obrigado a fazer o que outro lhe diz, sobre
ameaças com consequências desagradáveis caso se recuse. O
assaltante ordena a vítima a lhe entregar determinado objeto e
ameaça dar-lhe um tiro se ela recusar.
A característica da obrigatoriedade, afirma Hart, está presente
no ordenamento jurídico. Uma norma penal ao declarar que de-
terminada conduta constitui uma infração e especifica a pena à
9. Só quando existem certos tipos de leis que concedem aos seres humanos
jurisdição litigiosa e poder para legislar é que se podem constituir um tribunal
ou um poder Legislativo.
35
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

qual o infrator está sujeito pode parecer uma simples ampliação


da situação do assaltante; a única diferença, relativamente secun-
dária, é que, no caso da legislação, as ordens se dirigem de modo
geral a um grupo que as obedeça de forma habitual. Em que senti-
do é possível dizer que o Direito e a obrigação jurídica diferem das
ordens sustentadas das ameaças e como se relacionam com estas?
Quanto à primeira questão que se refere à característica da obri-
gatoriedade, não há diferença entre as normas jurídicas consti-
tuídas pelo Direito positivo e as ordens sustentadas por ameaças.
Não é o fato de determinado comando comportamental estar ou
não previsto no ordenamento jurídico que o faz ser obrigatório.
A obrigatoriedade está relacionada ao dever moral que cada ser
humano deve cumprir consigo mesmo nas relações intrapessoais
e com o próximo nas relações interpessoais.
A segunda questão a ser refletida, nos ensinos de Hart, está
ligada ao modo pelo qual a conduta humana pode não ser op-
cional, mas obrigatória. As normas morais impõem obrigações e
subtraem certas áreas de conduta à livre opção do ser humano de
agir como desejar.
As leis morais ou espirituais, nos comentários do filósofo, con-
têm elementos de ordens que se apoiam em ameaças e o Direito
compreende elementos relacionados aos aspectos da moral. Não
só o Direito e a moral compartilham um mesmo vocabulário, de
modo que há obrigações, deveres, direitos tanto jurídicos como
morais, mas, também, todos os sistemas jurídicos reproduzem a
substância de exigências morais fundamentais. A ideia de justiça
que parece unir os dois campos é uma virtude apropriada ao Di-
reito e ao mesmo tempo a mais jurídica das virtudes.
Ensina ainda Hart, esses fatos sugerem a interpretação de que
o Direito deve ser compreendido como um ramo da moral ou da
justiça, porque não é senão a congruência com os princípios da
moral ou da justiça, e também da ética, que constitui seu elemen-
to essencial, e não a incorporação de ordens e ameaças. Assim,
em que a obrigação jurídica difere do dever moral e como uma se
relaciona com a outra?
Quanto a essa segunda questão que está atrelada à caracte-
rística da liberdade do ser humano, não há diferença na exigência
do comportamento humano para cumprir uma obrigação jurídi-
ca ou uma obrigação moral. No cumprimento de ambas as obri-

36
PECULIARIDADES DO DIREITO
gações, o ser humano deve atuar conforme os valores virtuosos
constantes das leis naturais, segundo as quais não se deve fazer
ao próximo o que não quer que seja feito para si. O ser humano é
dotado de livre arbítrio e no seu exercício, livremente, deve agir
de boa vontade e ter a consciência de que todo ato ao ser pratica-
do gera uma consequência idêntica em proporção e efeito para o
autor da ação.
A terceira questão passível de intensa reflexão, nas lições do au-
tor, está atrelada à composição do sistema jurídico. Tanto aqueles
que encontram a chave para a compreensão do Direito na noção
de ordens apoiadas por ameaças como aqueles que a encontram
em sua relação com a moral ou a justiça se referem ao Direito
como uma disciplina que contém normas.
Para Hart, a insatisfação, a confusão e a incerteza do que de fato
são as normas, forma boa parte da perplexidade da natureza do
Direito. Isto porque existem vários tipos de normas: além das
normas jurídicas, existem as normas de etiqueta, as normas da
língua, as normas que descrevem as regras do jogo, as normas
de clubes ou condomínios. As normas podem ter origens diver-
sas, umas originam da legislação, outras de nenhuma deliberação
desse tipo. O mais importante é que algumas normas são vincu-
lantes, no sentido de que exigem que os seres humanos se com-
portem de certa maneira. Mas, o ser humano não é tentado a fazer
somente o que prescreve uma norma de caráter obrigatório. Inda-
ga-se, o que são as normas e até que ponto elas são os elementos
essenciais do Direito?
Por isto, afirma o autor, deve-se elucidar a diferença crucial en-
tre a mera convergência de comportamentos habituais num grupo
social e a existência de uma norma assinalada pelo uso das pala-
vras “precisa”, “deve” e “tem que”. No caso das normas jurídicas,
essa consequência previsível – a sanção - é organizada de forma
definida e oficial, ao passo que, no caso das normas não jurídicas,
embora se possa esperar uma reação hostil diante do desvio, essa
reação não é organizada nem definida.
Claro está, continua Hart, que a previsibilidade da punição é
um aspecto importante das normas jurídicas, mas isso não pode
ser aceito como descrição exaustiva do significado da afirmação
de que uma norma social existente ou do elemento traduzido por
“deve” ou “precisa” ou “tem que” está envolvido nas normas, já
que a sanção das normas não jurídicas é previsível, embora não
37
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

seja por ela definida.


Hart ensina que existe algo obscuro, algo que resiste à análise
em termos claros, definidos e concretos. Ainda que útil, afirmar
que pode haver em uma norma algo que a distinga de um sim-
ples hábito de um grupo humano, além da sanção ou reprovação
regular e, portanto previsível, aplicada àqueles que se afastam
do padrão usual de conduta é uma ilusão. Tudo que existe além
dos fatos claramente verificáveis do comportamento do grupo de
seres humanos e da reação previsível ao desvio, são os próprios
sentimentos fortes de compulsão no sentido contra aqueles que
não o fazem.
Conforme os ensinamentos do autor, esses sentimentos não se
reconhece pelo que de fato são, mas imagina-se existir algo exter-
no, uma parte invisível da estrutura do universo, que guia e con-
trola o ser humano nessas atividades. Encontra-se no domínio da
ficção, com a qual se diz que o Direito sempre esteve relacionado.
É só pelo fato de se adotar essa ficção que se pode falar solene-
mente de uma soberania “das leis, e não de homens”.
No que se refere à terceira questão que está vinculada a exis-
tência de norma que prevê sanção pela não observância do co-
mando comportamental, não há diferença entre a sanção descrita
pela norma jurídica e a prevista por desvio de comportamento
social. Pois, em ambos os casos, a sanção não deve ser entendida
como uma punição pelo descumprimento da norma, mas como
uma forma de despertar da consciência para que o ser humano
não mais possa adotar tal comportamento por causar dano a si
mesmo e ao próximo. Isto porque o ser humano não é culpado
de nada, mas, responsável pelos seus atos, sejam praticados em
pensamentos, palavras ou ações.
Ressalte-se que, sendo culpado o ser humano carrega consigo o
peso da condenação, julgando-se merecedor de todos os castigos,
penas e aflições. Já a responsabilidade implica na compreensão
e consciência residente na capacidade de entender as ações e as
suas consequências. A sanção, prevista ou não em uma norma, é
o instrumento pelo qual visa a despertar a consciência humana
para o entendimento dos seus atos e das suas consequências.
Destarte, por haver congruência entre o Direito, a moral e a
justiça, não se pode afirmar que o sistema jurídico depende es-
sencialmente de normas, porque estas por serem vagas e duvido-

38
PECULIARIDADES DO DIREITO
sas trazem incertezas e a sua interpretação pelos tribunais além
de válidas, sob a ótica do próprio Direito, podem ser definitivas.
Vagas, porque se utiliza de expressões cujos significados não são
precisos e aceitos em todas as circunstâncias; duvidosas, porque
o seu conteúdo não exterioriza o ideal de justiça, mas conformam
ideias segundo as necessidades e interesses do próprio ser huma-
no.
Apesar de o Direito não depender de normas para alcançar sua
função, porque os seres humanos devem agir em consonância com
as leis naturais, quando as normas jurídicas se fizerem necessá-
rias devem apresentar a moral como conteúdo, pois, a materiali-
zação das leis universais ocorre pela exteriorização de princípios
éticos e morais, como meio de concretização do ideal de justiça. O
ordenamento jurídico como atividade humana deve ser desenvol-
vido adequadamente para alcançar o fim a que se destina.
Destarte, da resposta atribuída à pergunta “O que é o Direito?”
deve-se levar em consideração, além das normas, a realidade so-
cial ou fática (que é a exteriorização da essência humana) a res-
peito da qual se refere o sistema jurídico. Essa atividade humana
é controlada e inspirada por uma parte invisível do Universo de-
nominada de leis universais ou morais, presentes na consciência
humana, por tanto, por algo externo ao Direito.

1.3. Fundamento do Direito


Demonstrou-se, no tópico anterior, que os aspectos do
Direito não o definem. Pretende-se, agora, esclarecer se o fun-
damento do Direito está atrelado às formas da sua produção, ao
conteúdo das suas normas ou à sua interpretação. Ou seja, busca-
-se aclarar se, realmente, o seu fundamento guarda ou não rela-
ção com seus aspectos.
Na seara da Teoria Geral do Direito, afirma-se que a noção de
fundamento está relacionada à validade das normas jurídicas, e
à fonte de irradiação dos efeitos dela decorrentes. É dizer que o
fundamento do Direito se encontra no pressuposto lógico de que
as leis são válidas e devem ser obedecidas quando forem elabo-
radas por autoridades competentes conforme determinado pro-
cedimento, de acordo com os princípios também anteriormente
nelas estabelecidos e aceitos10.
10. COMPARATO, Fábio Konder. Fundamento dos direitos humanos. São
Paulo: IEA USP, 1997, p. 1-30. (3-5).
39
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

Essa é uma explicação formal do fundamento de validade do


Direito, e não uma elucidação do fundamento do Direito. Essa
constatação possibilita a afirmar, de forma segura, que o funda-
mento do Direito não é senão transcendental ao ser humano, à
sociedade ou ao Universo. Aceitar a afirmação, segundo a qual o
fundamento do Direito se encontra no próprio Direito, é declarar
que a criatura serve de fundamento para o criador, uma vez que a
autoridade competente e as regras de procedimento são designa-
ções feitas pelo próprio Direito, do que figuram como elementos11.
Seguindo esse pensamento, jamais, se pode afirmar que, assim
como o seu conceito, o fundamento do Direito está relacionado
aos seus aspectos.
O fundamento do Direito existe fora do Direito, como sua causa
transcendente, não pode nunca ser confundido com um dos ele-
mentos que o compõem.
O que quer dizer fundamento? Nos ensinamentos de Aristóte-
les, ainda, não se falava em fundamento e sim em princípio. Para
quem, citado por Comparato, de forma sintética, princípio é “a
fonte de onde deriva o ser, a geração, ou o conhecimento”; ou
seja, a condição primeira para a existência de algo; é o alicerce, a
origem, a base, a coluna da existência de alguma coisa.
Nas lições de Immanuel Kant, citadas por Comparato, a noção
de princípio passa para fundamento. Kant desenvolveu o seu pen-
samento no campo ético. Fez nesse campo uma dedução trans-
cendental, ao utilizar da ética sob a acepção de razão justificativa
da ação humana cujo objetivo visava a encontrar, em última ins-
tância, o supremo princípio da moralidade, o qual denominou de
imperativo categórico. Ou seja, “uma lei prática incondicional”
ou absoluta capaz de servir de fundamento último para todas as
ações dos seres humanos.
Essa lei prática incondicional é a lei da verdade Universal – a lei
de justiça e amor -, segundo a qual o ser humano deve amar ao
11. As experiências totalitárias do século XX demonstraram a incapacidade do
positivismo jurídico de encontrar o fundamento do Direito dentro do próprio
Direito. O fundamento do poder constituinte ou a legitimidade da criação de
um novo Estado não se encontram em si mesmos, mas em uma causa que
os transcende. Na ausência de um fundamento exterior e superior ao sistema
jurídico, um regime de terror, imposto por autoridades estatais investidas se-
gundo as regras constitucionais vigentes, e que exercem seus poderes dentro
da esfera formal de sua competência, não encontra outro fundamento, senão
a sua própria subsistência. Cf. Fábio Konder Comparato. Op., cit., p. 5/6.
40
PECULIARIDADES DO DIREITO
próximo como a si mesmo; deve fazer o bem a todos os semelhan-
tes. Ao agir em pensamentos, palavras, hábitos ou ações, não deve
fazer a outrem o que não quer que seja feito para si. Ao pensar, o
ser humano exerce grande poder sobre a sua realidade capaz de
alterar o mundo ao seu redor e de determinar o seu destino ou
propósito de vida. Isto porque o mundo exterior de cada pessoa é
constituído pelo seu mundo interior, no que reside a verdade Uni-
versal, uma vez que para cada ação praticada existe uma reação
na mesma proporção e efeito, mas em sentido oposto que atinge
o autor do ato.
Destarte, toda ação humana encontra seu fundamento na rea-
lidade social, compreendida como a força dominadora de um ser
humano ou da sociedade, ou em um princípio ético, considerado
a razão justificativa de conduta que transcende o autor da ação.
Ambas as forças condicionam-se no agir humano. Por isso, a jus-
tificativa ética utilizada como fundamento de toda ação humana,
inclusive o ato de criar o Direito pela produção de normas ou pela
sua interpretação, apresenta-se como transcendente a Unidade
Cósmica.
A força dominadora do ser humano e o princípio ético justifi-
cante das suas ações estão contidos em sua essência, porque são
formas de exteriorizar sua energia ou força vital impulsionadora
do seu existir e agir, enquanto energia condensada. Cada ser hu-
mano, reduzido à sua essência, é energia e informação que ao mo-
vimentar-se produz efeitos aos quais será submetido, conforme
suas intenções e desejos.
Ressalte-se, como organismo vivo, o ser humano é formado por
unidades estruturais e funcionais denominadas por células, sen-
do cada célula constituída por diversas moléculas. A molécula é
formada por um grupo de átomos. O átomo é uma partícula mi-
núscula eterna e indivisível composta de prótons, nêutrons e elé-
trons. A partícula é a menor porção localizada de massa-energia
conhecida; o agrupamento de elementos necessários à matéria.

Tudo o que existe no Universo é energia - esforço, trabalho e


ação -, cujo campo unificado denomina-se de Consciência Uni-
versal12. Essa energia constitui-se em dois elementos gerais: a ma-
téria e o espírito, também denominado de alma. Esse designado,
12. RAMOS, Osny. A física quântica na vida real. 2ª ed. Blumenau: Odorizzi, 2015.
41
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

por alguns espiritualistas, de princípio inteligente do Universo,


embora não seja palpável, a sua existência é indiscutível, uma vez
que a essência do ser humano é a consciência, que tem o mes-
mo nível do espírito e quando elevada ao estágio denominado
por Superconsciência o ser humano entra em contato direto com
a sua essência. A matéria é o instrumento que o Espírito usa e
sobre a qual ele atua. Os corpos, considerados como corpos, são
transformações de energias que constituem as diferentes proprie-
dades da matéria. Essas propriedades advêm das alterações que
as moléculas elementares sofrem quando se unem.
No concernente a essa energia vital constitutiva do ser humano,
enquanto matéria, a Consciência Universal continua a suprir e a
renovar enviando-a para as células do corpo humano. As células
são nutridas por essa energia que é recebida e liberada e em razão
dessa transformação energética, permanecem vivas e dão vida ao
corpo físico.
Nos ensinamentos de Leadbeater13, esse processo ocorre por
meio dos centros de forças, denominados pela cultura indiana
de chacras. Esses vórtices energéticos são centros localizados no
corpo extrafísico ou campo magnético do ser humano e atuam
diretamente no corpo físico, por meio de determinados órgãos,
proporcionando a realização de permuta de energia com tudo o
que o cerca. Por ter as funções de receber, transformar e trans-
mitir energias, esses campos energéticos propiciam a presença
constante da Consciência Universal e a manifestação do Espírito
no corpo físico da pessoa humana.
Segundo Leadbeater, os centros energéticos principais do corpo
físico são: o básico ou genésico, o esplênico ou sexual, o plexo so-
lar ou gástrico, o cardíaco ou do coração, o laríngeo, o frontal ou
do terceiro olho e o coronário. Esses centros magnéticos atuam
diretamente, e na devida ordem: nas glândulas suprarrenais, nas
gônadas, no pâncreas, no timo, na tireoide, na hipófise e na pi-
neal. Estão distribuídos pelo corpo humano, localizados da base
da coluna vertical até o alto da cabeça, nos seguintes órgãos, res-
pectivamente: na base da espinha dorsal, no baço, no estômago
– acima do umbigo -, no coração, na garganta, no frontal e no
cérebro – no topo da cabeça14.

13. LEADBEATER, C. W. Os Chakras: os centros magnéticos vitais do ser


humano. São Paulo: Pensamento, 2006.

42
PECULIARIDADES DO DIREITO
14. Os rins têm como função central filtrar e purificar o sangue com o objetivo
de eliminar substâncias perigosas ao organismo por meio da urina. Seu mau
funcionamento pode causar doenças como cálculo renal, infecção urinária,
nefrite, dentre outras. A glândula suprarrenal se relaciona com os rins em ter-
mos de função: regula o metabolismo do potássio, do sódio e da água, além
de regular a reação do corpo ao estresse; produz hormônios como a adrena-
lina, responsável por preparar o ser humano para grandes feitos; e produz
o cortisol, hormônio de combate ao estresse. O baço, órgão rico em células
(macrófagos) que destroem microrganismos que penetram no sangue. É um
órgão importante nos mecanismos de defesa, produzindo glóbulos brancos
(leucócitos), além de atuar na degradação das células sanguíneas conheci-
das como glóbulos vermelhos (hemácias). Não é glândula endócrina, mas
age como se fosse. Seu mau funcionamento pode ser sintomas de infecções
virais ou parasitárias, leucemia, linfomas, dentre outras. As gônadas agem no
sistema urinário e reprodutor. Produz os hormônios responsáveis pela repro-
dução e ciclo de maturação. O estômago é o órgão do sistema digestivo em
que parte da digestão acontece. É responsável por produzir o suco gástrico,
quando o produz em excesso devido ao seu mau funcionamento, pode en-
sejar úlcera, gastrite, dentre outras. O pâncreas produz o hormônio insulina,
responsável pela redução da glicemia, ao promover a entrada de glicose no
sangue, e a somatostatina, hormônio proteico que regula a retroalimentação
negativa e, indiretamente, intervém na regulação da glicemia, modulando a
secreção da insulina. O coração é órgão responsável por impulsionar o san-
gue para o corpo. Devido a esse bombeamento as células conseguem adquirir
oxigênio e outros nutrientes necessários. Seu mau funcionamento pode gerar
doenças como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão arterial,
dentre outras. O timo produz a timosina, responsável em manter e promover a
maturação de linfócitos e órgãos linfoides, como o baço e linfonodos. No timo
se concentra a energia da compaixão, do amor incondicional, a fonte vital. A
laringe, órgão do sistema respiratório, é responsável pela produção da fala.
Nela se encontra as pregas vocais. Seu funcionamento inadequado pode cau-
sar doenças como a laringite, cisto de pregas vocais, câncer, dentre outras.
A tireoide produz a tiroxina, que estimula o metabolismo aumentando a taxa
funcional de outros sistemas do corpo; produz a calcitonina, hormônio que
possui importante papel na homeostase do cálcio; e regula as funções do co-
ração, cérebro, fígado e rins. O frontal, região do rosto acima da sobrancelha
constituída pelo osso frontal, que protege o lobo frontal do cérebro, além de
formar o maxilar, a cavidade nasal, a órbita ocular e as maçãs do rosto. A hipó-
fise armazena hormônios produzidos pelo hipotálamo como a oxitocina, que
serve para promover as contrações uterinas e diminuir o sangramento durante
o parto e para devolver apego e empatia entre pessoas. Produz hormônios do
crescimento – como a somatotrofina, proteína que estimula o crescimento. O
cérebro, órgão mais importante do sistema nervoso, está relacionado com a
memória, inteligência, excitação, motivação, controle motor e processamento
da visão, da audição, do olfato, do paladar e da fonação. Quando não funcio-
na adequadamente o ser humano adoece de cegueira, surdez, esquecimento
(Alzheimer), dentre outras. A glândula pineal regula o sistema imunológico,
ao produzir a hormona melatonina que serve para regular o sono - atividade/
repouso, sono/vigília. Por ser antioxidante, age na recuperação de células epi-
43
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

Os campos energéticos por estarem conectados às principais


glândulas que formam o sistema endócrino, responsável pela
produção de hormônios que são lançados na circulação sanguí-
nea pelas glândulas que o compõem e percorrem o corpo até che-
gar aos órgãos sobre os quais atuam, são encarregados pelo equi-
líbrio químico no corpo físico. Pois, os hormônios produzidos e
lançados na corrente sanguínea são feitos de energia vital por eles
fornecida com a qual são nutridas as células, o que permite o ade-
quado funcionamento físico, mental e emocional do ser humano.
Os centros de forças funcionam, concomitantemente e ininter-
ruptamente, segundo Leadbeater, em círculo e em grande veloci-
dade, permitindo que a energia vital flua por todo o corpo humano
através do sistema nervoso. Não obstante, ocorrendo à inativida-
de ou diminuição da velocidade de um deles, o fluxo energético
é bloqueado, porque afeta a glândula correspondente e o ser hu-
mano se desequilibra físico, emocional ou mental, podendo vir a
adoecer.
Ressalte-se que, essas glândulas em que se concatenam os cen-
tros de forças são emissoras de energias, mas, apenas, o timo, a
hipófise e a pineal são receptores de energia. Sendo que, somente
a pineal exerce a função de transmitir a energia vital para todo o
corpo físico.
No concernente ao relacionamento desses centros de forças com
o corpo físico, menciona-se os ensinamentos de Sérgio Felipe de
Oliveira15, citado por Beraldo Lopes Figueiredo, para quem, esses
campos correspondem aos plexos nervosos emissores de energia.
Ao receber a energia, os centros de forças a enviam para os ple-
xos, que a conduzem para todo o organismo por meio do sistema
nervoso central. Somente o centro de força coronariano, locali-
zado nesse sistema nervoso, consegue captar a energia vital do
corpo espiritual e enviar diretamente para o corpo físico por estar
ligado à pineal, órgão receptor e sensitivo.
Essa glândula, localizada na parte central do cérebro, no nível
da sobrancelha, foi descrita por René Descartes como “assento

teliais expostas à radiação, e por meio de administração suplementar, recupe-


ra neurônios afetados pela doença de Alzheimer e por episódio de isquemia.
Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br. Acesso em: 19/07/2019.
15. OLIVEIRA, Sérgio Felipe de. Chacras etéricos e seus relacionamentos físi-
cos. Entrevista para Revista Espiritismo & Ciência. Apud FIGUEIREDO, Be-
raldo Lopes. Disponível em: www.espiritualismo.inf. Acesso em: 19/07/2019.
44
PECULIARIDADES DO DIREITO
principal da alma”. Após essa associação com o plano espiritual, a
pineal passou a ser considerada a zona de conexão transcendente
entre o corpo e espírito, o que despertou o interesse da ciência
em estudar, com cautela, suas funções. É um local do corpo físico
do ser humano em que ocorrem as transformações da consciên-
cia. Afirma Oliveira, ela capta e recebe energia pelo “períspirito”
ou corpo material invisível de todos os outros centros de forças e
emite para todo o corpo físico.
Os demais centros energéticos, continua o autor, estão ligados
a órgãos emissores, mas não sensitivos, impossibilitando que a
energia vital a eles destinada seja por eles enviada ao corpo visí-
vel. O chacra cardíaco, localizado no sistema nervoso autônomo,
e o terceiro olho, localizado no sistema nervoso central, estão li-
gados a órgãos que funcionam como captadores de energia. Este
último por estar conectado à pineal capta energia vital, mas é o
coronário que envia para o corpo físico. O cardíaco capta energia
do corpo visível emitida pelo coração e pelo corpo material invisí-
vel envia para o coronário, que por meio da pineal capta, transfor-
ma e entrega essa energia ao corpo material. Os demais centros
energéticos emitem energia do corpo físico, porque pertencem ao
sistema nervoso periférico, ou seja, sua inervação vem do sistema
nervoso central, e assim como o cardíaco, pelo “períspirito” man-
dam a energia para o coronário que a envia para o corpo visível.
Desta forma, a ativação e o equilíbrio dos campos energéticos,
especificamente do coronário, são fundamentais para o processo
de cura do ser humano. A produção de energia pelas glândulas do
sistema endócrino, que propicia o equilíbrio geral do organismo,
essencial ao funcionamento físico, mental e emocional, necessi-
ta dessa ativação e equilíbrio. Mas, é enviada para o corpo físi-
co pelo coronário, porque além de ser o único centro energético
localizado no sistema nervoso central, responsável pelo controle
do corpo humano por atuar em diferentes órgãos, está ligado à
glândula pineal, único local em que ocorre o contato do ser huma-
no com a quinta dimensão16 – com o plano do amor incondicio-
nal e da unidade consciencial ou Consciência Universal -, do que
emana toda a energia vital.
16. A primeira dimensão é a altura, a segunda é a largura, a terceira é a pro-
fundidade, a quarta é o tempo e a quinta é a Consciência Universal, do que
emana o amor universal e incondicional, representado pelo infinito, que não
é senão um estado ou frequência vibracional positiva. Para alguns seres hu-
manos não é concebível nem em imaginação; outros chegam a vivenciar essa
infinidade relativa.
45
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

O centro de força denominado básico ou genésico, conforme os


ensinamentos de Leadbeater, está situado na base da coluna ver-
tebral, abaixo do órgão sexual, e é ligado às glândulas suprarre-
nais. O único centro voltado para o solo, o que permite receber
a energia chamada de “fogo serpentino” ou de telúrica que em
forma de serpente sobe para todo o corpo pela coluna vertebral
vitalizando os demais campos vitais e atuando na circulação do
sangue. É agente modelador dos estímulos da vida orgânica e
espiritual do ser humano, pois, essa energia, pura e advinda da
Consciência Universal, representa os quatro elementos da maté-
ria: a terra, o fogo, a água e o ar, devendo alimentar a vida dos
quatro corpos inferiores: físico, emocional, mental e da memória
ou etéreo.
Ressalte-se que, segundo os ensinamentos de Simões17, a terra é
alimento do corpo físico, que como casa da Consciência Universal
é caminho do Plano Etéreo e é ativado pelo chacra básico. A água
é alimento do corpo emocional, que está relacionado aos dese-
jos, ao medo, à vontade, ao sentimento e é ativado pelo chacra
do plexo solar. O ar é alimento do corpo mental, que se refere ao
raciocínio, ao pensamento, à intuição, à consciência e é ativado
pelo chacra frontal. O fogo é o alimento do corpo da memória, que
é ativado por palavra ou som por meio do chacra laríngeo.
Desta forma, de acordo com a sua localização, o centro energé-
tico básico está relacionado ao instinto de sobrevivência e fun-
ciona como um depósito de energia de realização material, que a
transmite para os demais centros de forças. Ademais, este cam-
po é regente dos órgãos que estruturam o corpo humano, como
as pernas, a coluna e os pés, permitindo ao ser humano um ca-
minhar de forma equilibrada pelo plano terreno. E, por agir nas
glândulas suprarrenais, que emitem hormônios como a adrenali-
na e o cortisol, liberam-nos no sangue para responder a possíveis
níveis elevados de estresse.
Ativado e equilibrado, o ser humano demonstra equilíbrio de
energia na base da matéria e nos quatro corpos inferiores, im-
pulsionando-o a cuidar da própria sobrevivência, como preservar
a vida em situações perigosas e a suprir as necessidades básicas
como comer, beber, dormir, sexo e abrigo. O seu desequilíbrio ou
bloqueio o torna vicioso, inseguro, violento, furioso, ganancioso,
o que pode levá-lo à depressão e a tentar, inclusive, contra sua
17. SIMÕES, Paulo R. Os quatro corpos inferiores do ser humano. Disponí-
vel em: www.grandefraternidadebranca.com.br. Acesso em: 20/07/2019.
46
PECULIARIDADES DO DIREITO
própria vida.
O esplênico ou centro de força do baço, de acordo os ensina-
mentos de Leadbeater, está situado na região do baixo ventre ou
sobre o baço. Esse centro energético está ligado aos órgãos do
sistema reprodutor - às gônadas. Fisicamente, além de energi-
zar toda a área genital e urinária, é responsável pela filtragem e
circulação de líquidos nos rins e por expelir todas as excreções
do corpo físico. Mentalmente, sua energia é responsável pela pro-
criação, capacidade criativa em geral e vitalidade, no concernente
ao controle de líquido em todo o corpo humano.
De acordo com a sua localização e função, o centro energético
do baço administra as energias vitais relacionadas à sexualida-
de, à vitalidade e à criatividade, tendo a capacidade de buscar a
ação infinita sobre os outros centros. Corresponde à autoestima,
à energia sexual e à expressão do “ser” através da sexualidade, as-
sim como da criatividade. Efetivamente, é o campo de energia do
bem-estar físico, do prazer e da realização que representa o corpo
emocional em que ocorre o armazenar das emoções adquiridas
nas relações interpessoais, e no qual se percebe alguns estímu-
los como o medo, a culpa, a mágoa, a tristeza e a ansiedade. Por
regular a entrada do princípio da vida no duplo etérico18 do ser
humano, é de sua atribuição à missão de interação com o mundo
de forma harmoniosa.
Quando esse centro de força está bloqueado o ser humano fica
impregnado de vícios, sofre de desequilíbrio emocional, de im-
potência sexual, de desintegração familiar e social e de baixa
autoestima; o torna inconstante, intransigente, desorganizado,
possesso, invejoso, ciumento e com desejo em excesso. Quando
está hiperativo, a pessoa humana possui intenso desejo sexual e
se torna compulsiva, pratica crueldade, injustiça e libertinagem.
Se equilibrado, estimula no ser humano o funcionamento dos de-
mais campos de forças e ajuda no despertar do fogo serpentino,
tendo equilíbrio de vida, o que possibilita a aproveitá-la e a apre-
ciá-la, porque manifesta virtudes como a liberdade, a justiça, a
tolerância, o perdão, a misericórdia e a diplomacia.
18. Considerado matéria física, ainda que invisível, tem por função ligar as
correntes vitais que mantêm vivo o corpo, e serve de ponte para transferir as
ondulações de pensamento e a emoção do corpo astral ao corpo físico denso.
Funciona como um filtro das energias que chegam e saem do físico, prote-
gendo o ser humano de cargas negativas que podem gerar desequilíbrios e
doenças. Cf. LEADBEATER. Op., cit., p. 26/7.
47
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

O centro de força plexo solar ou umbilical ou ainda gástrico está,


conforme Leadbeater, situado sobre o umbigo. Por ser ligado ao
pâncreas, fisicamente é o responsável pelo processo de digestão
no corpo físico. Mentalmente é o responsável por assentar o “ego”
ou o poder pessoal do ser humano, representando a sua força, o
seu poder, a sua vontade, os seus humores e o seu controle.
Em conformidade com a sua localização e função, o cento de
força gástrico está relacionado à fisiologia da alma, ao campo das
emoções eufóricas ou inferiores (raiva, mágoa, medo, rancor, tris-
teza, angústia, ansiedade), aos sentimentos primários (amor, paz
e harmonia) e ao sistema nervoso, razão pela qual as emoções vio-
lentas paralisam a digestão e repercutem sobre o fígado. Influen-
cia a relação entre matéria e poder pessoal, porque esse campo
ativa o corpo emocional, mas representa o corpo mental do ser
humano.
Por controlar a região das vísceras, quando esse centro energé-
tico está ativado e equilibrado, o ser humano emana paz, evitando
que sentimentos densos, como desejo e paixão, sejam alojados
em sua mente - no cérebro, em seu sistema límbico. É importante
que as energias de desejos emitidas por meio desse centro de for-
ça sejam positivas, porque um dia elas voltarão para esse mesmo
ser que as emitiu. Quando bloqueado ou desequilibrado, a pes-
soa humana se torna egocêntrica e sofre de problemas físicos, de
doenças gastrointestinais.
O centro de força denominado cardíaco, conforme ensina Lea-
dbeater, está localizado sobre o coração, no centro do peito. Esse
centro de força é ligado à glândula timo. Fisicamente, é o respon-
sável pelo equilíbrio e intercâmbio das emoções e sentimentos.
Mentalmente, é o responsável pelo poder, pelo amor e pela sabe-
doria Universal nas relações emocionais que gera estabilidade e
confiança por cuidar das manifestações reprimidas e das feridas
emocionais. Ademais, devido à sua localização e função, é o res-
ponsável por equilibrar os outros campos de forças, porque nele
ocorre o encontro do fogo serpentino com as energias que são ab-
sorvidas pelo centro energético coronariano.
Quando o cardíaco está ativado e equilibrado, o ser humano se
torna um canal de amor e um instrumento de trabalho assisten-
cial, por lhe trazer unidade, compaixão, piedade, criatividade,
harmonia, conforto, abnegação e beleza. Quando está bloqueado
ou desequilibrado, pode ocorrer instabilidade emocional na pes-
48
PECULIARIDADES DO DIREITO
soa em que expressa sentimentos de opressão, angústia, feiura,
vaidade, desconforto, desunião, decadência, dentre outros vícios.
O laríngeo, de acordo com Leadbeater, fica situado sobre a gar-
ganta. Esse centro de força está ligado à glândula tireoide. Fisica-
mente ele exerce influência no controle do metabolismo - como
em filtrar o sangue -, cuidando da boca, das pregas vocais, da gar-
ganta, do ouvido e do nariz; as mãos e os braços são extensões
físicas desse centro energético, porque são por meio deles que as
ideias são colocadas no plano da matéria. Já mentalmente, exerce
a função do expressar-se – da autoexpressão e da comunicação,
ou seja, é o responsável pela expressão da verdade pessoal.
Devido à sua localização e função, o centro energético laríngeo
permite a comunicação do ser humano com a Consciência Univer-
sal na expressão de ideias, verbalização e concretização de proje-
tos. Além disso, funciona como um filtro energético evitando que
as energias emocionais cheguem ao centro de força coronariano.
Quando ativado e equilibrado, o ser humano manifesta prote-
ção, firmeza, fortaleza, direção, construção, perfeição, obediên-
cia, coragem e ordem. Porém, quando bloqueado ou desequili-
brado, pode manifestar imperfeição, desobediência, destruição,
rebeldia, fraqueza, desorganização; podendo, inclusive, causar
doenças na garganta.
O centro de força frontal ou do terceiro olho, conforme Leadbea-
ter, está situado entre as sobrancelhas. Esse centro de força é vin-
culado à glândula hipófise e conectado à pineal. Fisicamente, ele
está atrelado aos olhos e nariz. Mentalmente, representa a mente
e intuição permitindo aguçar a criatividade e a imaginação. Além
disso, é responsável pelos hemisférios esquerdo e direito do cé-
rebro, sendo que o esquerdo se manifesta pelo raciocínio e se ex-
pressa através da linguagem verbal, e o direito, se manifesta por
meio da emoção e se expressa pela linguagem visual.
Devido à sua localização e função, esse centro aguça as ideias, os
pensamentos e a capacidade de aprendizado e controla todos os
centros energéticos, porque, ao representar o corpo celestial por
meio da intuição e consciência, dele emanam os comandos que
são enviados pelo coronário ou cérebro para o corpo físico.
Quando ativado e equilibrado, o ser humano expressa alegria,
verdade, abundância e unidade. Quando desequilibrado ou desa-

49
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

tivado, a pessoa manifesta erro, insuficiência e ausência de virtu-


des, ocasionando doenças como dores de cabeça, sinusite ou até
problemas mentais.
O centro de força coronariano está, conforme os ensinamentos
de Leadbeater, localizado no alto da cabeça. Esse centro energé-
tico é ligado à glândula pineal. Fisicamente, ele representa o cé-
rebro, cuidando das suas funções como a motivação, a percepção,
o controle motor, a homeostase (o processo pelo qual o organis-
mo mantém constantes condições internas necessárias à vida),
a aprendizagem e a memória. Mentalmente, representa a Cons-
ciência Universal, uma vez que é por meio dele que o ser huma-
no se conecta com o transcendental, recebendo energia cósmica
e energia solar com que mostra a direção que o deve tomar. É por
meio dessas energias que alimenta o cérebro, influenciando nas
funções mentais – conhecer, saber e lembrar - e na produção da
serotonina, hormona do bem-estar e da melatonina, hormona do
sono.
Quando ativado e equilibrado, o ser humano se torna mais
consciente do seu propósito de vida, porque manifesta prudência,
fortaleza ou amor, justiça, temperança, sabedoria, humildade,
discernimento, bem relativo e inteligência. Quando bloqueado ou
desequilibrado, a pessoa pode vir a desenvolver fobias, depres-
são e problemas neurológicos, porque manifesta a estupidez, a
imprudência, a negligência, a injustiça, a ignorância e o orgulho.
Segundo os ensinamentos de Leadbeater, esses centros de for-
ças de acordo com as suas disposições e funções, que exercem no
corpo humano, são classificados em três níveis: inferior, mediano
e superior.
Os centros de nível inferior - o básico, o esplênio e o plexo solar
- estão associados à existência na terra. São reativos e sensíveis
a estímulos exteriores e passíveis de reações imediatas de inten-
sidade variada. Os seres humanos que utilizam esses centros de
forças, em excesso, estão voltados às atitudes instintivas próprias
de emoções inferiores, como as alimentares e a sexualidade.
Os centros de nível mediano – o cardíaco e o laríngeo - se relacio-
nam com o equilíbrio e comunicação das emoções e sentimentos.
Quando ativados e em equilíbrio, o ser humano apresenta ser
saudável por já possuir ou estar em busca do equilíbrio, físico,
mental e emocional, demonstrando interesses por atividades in-

50
PECULIARIDADES DO DIREITO
telectuais.
Os centros de nível superior - o frontal e o coronário - estão re-
lacionados ao plano transcendental. O ser humano que consegue
ativá-los e os mantém equilibrados se mostra mais voltado para a
Consciência Universal, prefere as coisas espirituais as coisas ter-
renas.
Com os centros de forças ativados e equilibrados, o ser humano
se mostra detentor de saúde física, mental, emocional e espiri-
tual, consegue vivenciar a plenitude interior ou felicidade, porque
recebe por meio deles (especificamente pelo coronário) a energia
vital que emana da Consciência Universal e disseminar por todo
o ser. Por estar sintonizado em uma frequência vibracional posi-
tiva, o que possibilita a viver em consonância com sua verdadei-
ra essência da qual germina virtudes ou sentimentos superiores,
como: prudência, fortaleza ou amor, justiça, temperança, paz,
abundância, prosperidade, unidade, discernimento, sabedoria,
alegria, humildade, doçura, moderação, mansuetude, afabilidade,
gratidão, solidariedade, tolerância, abnegação, direção, perfei-
ção, resignação, esperança, paciência, beleza, verdade, harmonia,
compaixão, criatividade, coragem, piedade, perdão, beneficência,
ordem, obediência, dentre outros, porque esses sentimentos não
são senão energias positivas.
Com apenas um, desses centros energéticos, bloqueado ou de-
sequilibrado, o ser humano se afasta da sua essência e pode con-
trair enfermidades física, mental, emocional e espiritual, por não
receber da Consciência Universal a energia vital. Distante da sua
essência, por se encontrar em um estado vibracional negativo, a
pessoa não promove no corpo físico a transformação de energia,
impregnando, assim, sua alma de vícios ou sentimentos inferio-
res, como: orgulho, egoísmo, vaidade, soberba, estupidez, violên-
cia, insegurança, ambição, possessividade, opressão, imperfei-
ção, rebeldia, imprudência, negligência, presunção, hipocrisia,
obstinação, maldade, desprezo, inveja, ira, mágoa, ódio, rancor,
raiva, cólera, medo, desespero, desânimo, cinismo, repressão, de-
sordem, culpa, frustração, vingança, duelo, dor, tristeza, solidão,
desconforto, feiura, imperfeição, pessimismo, preguiça, tibieza,
gula, avareza, injustiça, traição, indignação, blasfêmia, luxúria,
dentre outros, já que esses sentimentos não são senão energias
negativas.
O bloqueio dos centros de forças e a impregnação da alma huma-
51
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

na pelos sentimentos inferiores são consequências das escolhas


feitas pelo ser humano sobre as formas de viver. Sem ter ideia das
forças transcendentais que agem no universo invisível, porque ao
nascer do vazio infinito se equipara a uma “tábula rasa”, de nada
tendo conhecimento, constitui seu interior com o que lhe é ofe-
recido no plano terreno como a família, amigos, valores, desejos,
conquistas e concepções, o que determina suas relações sociais.
Ao acreditar que essas coisas são o que de mais importante pos-
sui, a elas se apega, se torna delas dependente, condicionando a
essas circunstâncias externas sua plenitude interior. Com esse
apego se sujeita a um vazio existencial, por acreditar que tudo o
que precisa estar fora de si, o que nunca lhe é suficiente. Quando
suas expectativas não são suprimento por esse mundo exterior,
se sente contrariado e frustrado, desenvolvendo em si todos os ví-
cios inferiores, tanto físicos como emocionais, e, por conseguinte,
o adoece físico, emocional, psíquico e espiritualmente.
Diante disso, faz-se necessário o ser humano preencher o vazio
existencial, cuja forma é se reconhecer como um ser completo,
fonte de tudo aquilo que precisa. Essa completude se manifes-
ta por meio da respiração, que é a evidência de que existe uma
energia (a energia vital) que move, impulsiona e o mantém vivo,
embora não a veja. Essa energia advém do mundo transcendental
(da Consciência Universal) e penetra no corpo físico por meio dos
campos energéticos, em que as funções são desempenhadas ade-
quadamente quando ativados e equilibrados, permitindo, assim,
o processo de transmutação, extirpando todos os sentimentos in-
feriores da alma humana e promovendo a germinação das suas
virtudes inatas.
Esse processo de transmutação é desenvolvido pelo ser huma-
no mediante a internalização e operacionalização das leis espiri-
tuais do desapego, do perdão, da gratidão, da não resistência e da
consciência ou solidariedade, porque ativam e equilibram todos
os centros de forças, possibilitando-o a sintonizar em uma fre-
quência vibracional positiva, do que emana energia positiva. Em-
bora essas leis sejam imutáveis, os fenômenos, as situações e as
circunstâncias que ocasionam os vícios físicos e emocionais sobre
as quais elas atuam, são modificáveis.
O desapego19 é uma exigência do Universo ao ser humano,
19. Cf. Os Filhos da Alva (Vinícius Francis). Trabalho metafísico - Meditação
do Desapego. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8yIdGw-
B9i7. Acesso em: 10/10/2019.
52
PECULIARIDADES DO DIREITO
como condição à sua plenitude. O apego vibra na energia do “não
ter”, manifestando o medo da perda. Quando essa energia é emi-
tida, permite que as coisas se distanciem daquele que a emanou,
porque ela é resistente. O ser humano tem tudo o que precisa, e
tudo de que precisa a ele vem, mas somente chegará quando es-
tiver em conjuntura de receptividade, em uma situação pacífica
e permissiva, o que se consolida com o desapego. Quando esse
sentimento é internalizado, a pessoa desenvolve em si o despren-
dimento das preocupações, das aflições e da posse de tudo aquilo
que o cerca, permitindo-o a se relacionar com o próximo e a uti-
lizar de tudo o que a vida lhe proporciona com liberdade; reco-
nhece que tudo se vai, que não há perda de nada, porque nada o
pertence. Como consequência, passa a acreditar que tudo de que
precisa se encontra em si mesmo, de que é completo em si mes-
mo, uma vez que foi retirado o condicionamento causador das ex-
pectativas não trabalhadas, germinando em sua alma o amor pró-
prio e universal, com o qual passa a suprir a si mesmo, se amando
e amando o próximo incondicionalmente.
O perdão, assim como o desapego, é uma necessidade humana
para se voltar à Consciência Universal, porque é a primeira con-
dição imposta ao ser humano para que possa ficar em harmonia
com a lei do seu “ser”. Ao agir conforme as sensações externas
captadas pelos órgãos dos sentidos, e não segundo a sua essên-
cia, o é traído, conduzido ao erro, ao engano, e desenvolve em si
graus de imperfeições. Por meio da lei do perdão abandona ou
deixa de lado os pensamentos e ações sobre situações ou pessoas
que cometeu o equívoco e renuncia a tudo o que não deve fazer,
porque se fortalece para não mais cair na tentação de repetir o
mesmo engano. Assim, ao cultivar as energias do perdão, dissolve
em si e no próximo as energias imperfeitas provenientes de erros,
transformando-as em virtudes pelas quais reconhece o ser que
realmente o é.
A gratidão20 é o princípio universal indispensável à obtenção
de alegria e prosperidade na vida. Por meio dessa lei o ser huma-
no reconhece que todos os acontecimentos em sua vida, sejam
experiências boas ou ruins, foram fundamentais para se tornar
no que, de fato, hoje ele é. Reconhece que a passagem de coi-
sas e pessoas por sua vida lhe trouxe muitos ensinamentos cons-
titutivos do seu ser. A operacionalização da gratidão permite a
20. Cf. Yoga Mudra (Raissa Zoccal). Meditação para Gratidão. Disponível
em: https://www.youtube.com/channel/UCTqpr2W0r2cC3wefoUrxftQ. Acesso
em: 10/05/2019.
53
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

emanar energia movedora do verdadeiro perdão, porque essa


energia cria condições capazes de transformar o ser humano em
nível corpóreo, psicológico, bioquímico e quântico, isto é, físico,
mental, emocional e espiritual, permitindo-lhe a olhar o próximo
com compaixão, sem julgamento, como parte integrante do seu
ser. O agradecer pelas experiências vividas possibilita a liberação
de energias negativas como a calúnia, ódio, rancor, raiva, propor-
cionando-o a sintonizar em uma frequência vibracional positiva,
por meio da qual se cria as bases para que a verdadeira realidade
se manifeste em novas situações e pessoas. O que possibilita o ser
humano por pensamentos, palavras, hábitos e ações a expressar
sua verdadeira essência com amor e coragem.
A não resistência21 é uma lei espiritual cuja prática possibilita
o ser humano a se harmonizar com todos os obstáculos e oposições,
tornando-os elementos para o seu aperfeiçoamento. Ao operacio-
nalizar essa lei, ele passa a enxergar os erros, os problemas e obs-
táculos como algo passageiro que acontece para lhe mostrar um
ensinamento. Por de nada reclamar, afirma que tudo está bem –
“tudo está azul” -, conseguindo, assim, todos os objetivos, porque
nada resiste a um ser humano não resistente que acredita na exis-
tência de um único poder, sendo os demais frutos da imaginação
humana. O que permite a ver as coisas além das aparências.
No concernente à lei da consciência ou da solidariedade,
ou ainda do amor incondicional, afirma-se que a consciência
é a lei moral e a liberdade de cada ser humano. Essa lei quando
operacionalizada adequadamente, proporciona a pessoa no exer-
cício da sua liberdade a praticar toda ação em consonância com
o dever moral. O que a predispõe ao autoconhecimento, aceitan-
do-se como energia (amor e consciência Universal), possuidora
de tudo o que precisa e necessita. E, por utilizar de toda a energia
do seu “ser” que é o ser humano, em cada pensamento, palavra,
hábito e ação, enxerga o próximo como parte de si, não fazendo
ao semelhante o que não quer que seja feito contra si. Esse com-
portamento visa à ascensão de todos os seres humanos, da fase
primitiva até a moral e espiritual. Ocorrendo, assim, o reconheci-
mento de que o ser humano e o Universo são um único “ser”, de
bases profundas que constitui fonte inesgotável do prazer.
Não obstante, a utilização dessas leis espirituais, além da in-
ternalização, necessita que o ser humano reconheça, em todas as
21. Cf. PRADO, Lourenço. Alegria e triunfo. 89ª ed., São Paulo: Pensamento,
2013.
54
PECULIARIDADES DO DIREITO
circunstâncias, a intenção com que executa seus atos, porque ela
agrava ou atenua a sua falta. Essa apreensão consiste em identifi-
car os motivos ou sentimentos impregnados em sua alma ocasio-
nadores da ação. O ápice dessa observação ocorre ao se reconhe-
cer e aceitar que as leis físicas exercem influência determinante
sobre as ações humanas, porque são por meio dessas leis que se
manifestam aquelas leis espirituais. Logo, a identificação da von-
tade do agir, que ocorre com a indagação da consciência, deve
ser desenvolvida em conformidade com as leis físicas de opera-
cionalização. São elas: lei da inércia, da superposição de energia,
da ação e reação, da conservação de energia e da assimilação e
repulsão dos fluidos. As três primeiras foram desenvolvidas por
Isaac Newton; a quarta por Galileu Galilei; e a última, por Charles
Augustin de Coulomb.
A lei da inércia está relacionada ao movimento de corpos ou
energias. Essa lei prescreve que o ser humano pode não se sub-
meter em afronta a ação de energias que modifiquem o seu estado
vibracional, permanecendo-se em repouso enquanto as energias
atuam no estabelecimento de uma nova frequência vibracional,
assim como ele pode resistir, opondo-se à modificação da sua fre-
quência vibracional, conservando-se em movimento visando a
coibir a mudança do estado vibracional em que se encontra, por
meio das energias atuantes. O comportamento do ser humano,
em repouso ou em movimento, é manifestado por meio de pen-
samentos, palavras, hábitos e ações, devendo sempre conscien-
temente procurar permanecer sintonizado em uma frequência
vibracional positiva.
A lei da superposição de energia estabelece que várias
energias de fontes e proporções diferentes atuam sobre o mesmo
corpo físico. Afirma-se que várias energias de origem e conformi-
dades distintas agem sobre o mesmo ser humano, sendo que a sua
energia não é modificada, mas corresponde à soma de todas as
energias que com a dele interage. Essas energias compartilhadas
com a pessoa humana, ainda que não venha a perder sua iden-
tidade, podem ser positivas ou negativas, segundo a frequência
vibracional em que se encontra, influenciando sobremaneira em
sua forma de agir, inclusive, condicionando-a, tanto quanto por
meio de pensamentos, palavras, hábitos e ações. Daí a necessida-
de de o ser humano empreender força de vontade para alcançar
ou permanecer em um estado vibracional positivo, no qual não
sofrerá influência de energias negativas que são emanadas pelo

55
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

mundo que o cerca.


A ação e reação é a lei que prescreve a interação entre duas
energias. Segundo essa lei, para toda energia intencionada pelo
ser humano, em resposta à interação com outra pessoa, existirá
uma reação de mesmo valor e direção, mas em sentido oposto.
Ou seja, toda ação possui uma reação com o mesmo efeito e pro-
porção para aquele que a praticou. Quando a pessoa humana se
encontra em uma frequência vibracional positiva emana energia,
também, positiva, que produz nobres sentimentos e, em respos-
ta a essa ação recebe sentimentos do mesmo nível. Mas, quando
se encontra em estado vibracional negativo, as energias de que
emanam são negativas, produzindo sentimentos inferiores e, em
contra partida a pessoa recebe sentimentos do mesmo nível.
A conservação de energia prescreve que a quantidade total
de energia no ser humano possui permanência constante. Segun-
do essa lei, a quantidade de energia na pessoa é permanente, não
podendo ser criada nem destruída, mas transformada. Essa ener-
gia é adquirida no momento da sua criação e vai se transformando
incessantemente, através dos centros de forças, de acordo com o
estado vibracional em que a pessoa se encontra, em sua interação
com o meio em que estar inserida, o que determina seus pensa-
mentos, palavras, gosto musical, higiene ambiental, pessoas com
quem se relaciona, coisas ou programas de televisão que assiste e
o agradecimento. Assim, deve o ser humano agir sempre de boa
vontade e fazer suas escolhas por aquilo que, de fato, o permi-
te sintonizar em uma frequência vibracional positiva, porque ao
emanar energia positiva conservará no seu “ser”, apenas, energia
positiva.
A lei da assimilação e repulsão dos fluidos ou princípio
da atração e repulsão estabelece a simpatia ou empatia e a
antipatia ou desprezo entre os seres humanos. Segundo ensina
Allan Kardec, os pensamentos benignos e generosos envolvem
as pessoas de agradável impressão, porque deles emana eflúvio
atraente e amável. Os pensamentos maléficos e perniciosos dirige
a elas corrente fluídica de penosa impressão, causando-as des-
conforto. Com efeito, pelo pensamento e vontade o ser humano
possui um poder de ação que vai muito além do campo físico, por-
que o pensamento é força, imagem e criação visível e tangível no
campo espiritual. Agindo de boa vontade, a natureza das ideias e
aspirações o possibilita a sintonizar em uma frequência vibracio-

56
PECULIARIDADES DO DIREITO
nal positiva e atrai o bem, o amor, ficando suscetível a melhoras,
por emanar valores sublimes. Ao agir de má vontade, sintoniza-se
em um estado vibracional negativo, emitindo os sentimentos in-
feriores e atraindo para si situações embaraçosas resultantes de
sensações semelhantes.
Ressalte-se que, a manifestação das cinco leis espirituais, quan-
do da sua operacionalização pelo ser humano, ocorre mediante
as cinco leis físicas de operacionalização, que são exteriorizadas
por meio das ações humanas. O que significa dizer que essas leis
espirituais são reveladas nas ações humanas, quando o ser huma-
no age em pensamentos, palavras e ações em consonância com os
ensinamentos das leis físicas.
Depreende-se, o ser humano não é senão energia condensada
com que ocorre a materialização da Consciência Universal, cuja
finalidade é desenvolver, por meio da sua liberdade e da sua boa
vontade, o propósito de vida que é amar a si mesmo e ao próxi-
mo, amando ao inimigo e fazendo o bem àquele que o persegue.
Por meio desse amor Fraterno Universal, ou amor incondicional,
a pessoa humana consegue ascender-se auxiliando o semelhante
e, juntos seguem rumo ao progresso cada qual no estágio que se
encontra.
A prática do amor incondicional e invulnerável é o desígnio de
todo ser humano, que se evola do seu coração. Sua realização
ocorre com o reconhecimento e internalização da influência das
leis físicas nas ações humanas, com que a pessoa passa a atuar
em conformidade com as leis espirituais existentes em sua cons-
ciência, porque esse comportamento permite que todos os senti-
mentos inferiores, fontes do apego, de dores emocionais, aflições,
dificuldades, dilemas, medo, ansiedade e insegurança, sejam
transmutados para sentimentos nobres ou desfeitos pelo Univer-
so.
O Universo possui duas classes de seres corpóreos: uma for-
mada por aqueles que apenas existem – os inanimados -, como
as estrelas, planetas, satélites, árvores, automóveis, utensílios,
eletrodomésticos, dentre outros; outra formada por aqueles que
existem e vivem – os animados. Alguns que compõem essa classe
existem e vivem, mas não sabem que vivem, como o gato, cachor-
ro, cavalo, galo, macaco, dentre outros; outros existem, vivem e
sabem que vivem, como o ser humano. Este é o único ser do Uni-
verso que existe, vive e compreende. Sendo possível, inclusive,
57
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

ultrapassar o limite da sua consciência.


O ser humano, além do corpo, possui alma ou Espírito. O corpo
é a parte visível e perecível que deixa de existir com o fenômeno
morte. O corpo por pertencer a terra deixa a pessoa consciente do
mundo terreno. A alma é o princípio da vida em que o intelecto/
mente, a personalidade/emoção e a vontade se relacionam, tor-
nando à pessoa consciente de si. A alma atribui ao corpo vida e
inteligência, utilizando os órgãos dos sentidos - visão, audição,
tato, olfato e paladar - para receber impressões do mundo exter-
no e utilizando os órgãos do corpo físico - língua, boca, faringe,
coração, cérebro e etc. - para se expressar. O Espírito, ou a alma
imortal, é o princípio ativo da vida espiritual e imortal que liga o
ser humano, quando em Superconsciência, à Consciência Univer-
sal. Com efeito, o Espírito recebe impressões do corpo e da mente,
bem como conhecimento direto do Universo, com que mantém
uma comunhão espiritual por meio dos centros energéticos e em
estado de Superconsciência que ultrapassa os raciocínios men-
tais, torna o ser humano consciente da Unidade Cósmica. O es-
pírito é a natureza maior do ser humano e rege de modo elevado
seu caráter, cuja regência ocorre com a concepção da Consciência
Universal22.
A diferença entre o ser humano e os outros seres animados está
no elemento que os animam, denominado de alma. Nos outros
seres é entendida como alma biológica, porque sua única função
é conferir-lhes a vida. Já no ser humano, além de alma biológi-
ca, há ainda a alma como sentimento e alma eterna. Somente a
alma sentimental e eterna é dotada de intelectualidade, emoções
e vontade que atribui à pessoa vida inteligente e livre arbítrio,
tornando-a capaz de fazer escolhas para utilizar os sentidos físi-
cos e receber impressões, expressando por meio da utilização dos
órgãos do corpo físico.
Essa diferença, que reside na alma, denominou-se de raciona-
lidade humana. O que se convencionou a chamar de saber não é
senão o que se percebe pela razão. Pela razão o ser humano tem
consciência de si e, por conseguinte, das suas ações. Esse conhe-
cimento somente é possível se a pessoa for dotada de inteligência.
Ser possuidor de inteligente é procurar viver com esplendor, bus-
car a ascensão até a perfeição relativa, graças a essa luz da men-
te, porque, ensina Agostinho, ninguém prefere algo diferente da
vida, mas uma vida melhor do que uma vida qualquer.
22. Santo Agostinho. O livre arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995, p 43-53.
58
PECULIARIDADES DO DIREITO
O ser humano quando da busca por conhecimento deve ter for-
ça de vontade, deve agir com liberdade e de boa vontade na utili-
zação da sua inteligência para alcançar uma maneira de viver que
considere adequada, porque somente ele sabe o que lhe faz bem,
mas essa forma de viver não deve ocasionar dano ao semelhan-
te. Essa ação transforma não só a si, mas a todos, porque produz
sentimentos em consonância com as energias emanadas da Cons-
ciência Universal que constam das leis espirituais e físicas.
Nesse sentido, os ensinamentos kantiano, citados por Compa-
rato:
Ora, enquanto a “dedução transcendental”,
no campo da razão sensitiva pura, diz respeito
à possibilidade de um conhecimento a priori de
objetos, em matéria de razão prática, ela visa
a encontrar a justificação (Rechtfertigung) da
validade objetiva e geral de um fundamento
determinante (Bestmmungsgrund) da vonta-
de, ou, em outras palavras uma razão justifi-
cativa para a lei moral, semelhante à causali-
dade do campo da natureza. Esse fundamento
último da moralidade só pode ser a liberdade23.

Continua o autor:
A noção de princípio ético, no sentido de ra-
zão justificativa, foi inteiramente substituída
pela de fundamento (Grund). Interrogando-
-se, assim, sobre a bondade ou a maldade da
natureza humana, Kant afirma que a resposta
a essa indagação só pode ser encontrada num
“primeiro fundamento” da aceitação pelo ho-
mem do bem ou do mal, sob a forma de máxi-
mas (subjetivas) de comportamento. Esse pri-
meiro fundamento, não podendo ser um fato
apreciável pela experiência, deve ser tido como
inato, no sentido de ser posto por algo que an-
tecede a todo o uso da liberdade24.

Destarte, na utilização do livre arbítrio, o ser humano deve agir


de boa vontade, seguindo os ensinamentos relacionados com a éti-
23. Fundamento dos Direitos Humanos, p. 2.
24. Ibidem, p. 2/3.
59
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

ca e com a moral, isto é, com as leis físicas e com as leis da moral.


Conforme esses ensinamentos, antes de agi-lo deve interrogar sua
consciência visando a identificar como reagiria se o ato que pre-
tende praticar fosse executado por outra pessoa. Devendo atuar
de forma positiva, somente, se a resposta a essa indagação for pela
sua aprovação do mesmo ato quando praticado pelo próximo. Ao
adotar esse comportamento, inclusive, na operacionalização do
Direito, o ser humano passará a viver com retidão e honestidade,
tornando-se digno e apto à aquisição do cimo saber, a usufruir o
verdadeiro bem25, uma vez que a sua ação está em conformidade
com as leis espirituais de operacionalização resumidas em uma
única lei, a de justiça e de amor.
Essa conformação do agir humano com as leis universais estar
atrelada à alma como sentimento e eterna. Esta última denomi-
nada de Espírito, que tem acesso a Consciência Universal, do que
emana o fundamento da liberdade, conduz o ser humano a agir
em pensamentos, palavras e ações de maneira racional, inclusive
em estado acima da consciência pelo qual conhece e coloca em
prática a sua verdadeira essência, fonte de todos os sentimentos
positivos ou das nobres virtudes.

1.3.1. O ser humano como fundamento do Direito


As faculdades humanas denominadas de mente, de emoção ou
sentimento e de vontade se relacionam na alma, e atribuem ao ser
humano consciência de si, que é adquirida por meio da inteligên-
cia. As mesmas o torna senhor de si no concernente ao pensar, ao
agir e ao falar, capacitando-o a desenvolver suas atividades com
intenção e desejo em conformidade com a Consciência Universal.
Portanto, a inteligência, os conhecimentos e as qualidades mo-
rais, que são de uso da alma, constituem a verdadeira proprieda-
de do ser humano, além de ninguém poder tirá-las,
são verdadeiros mecanismos por ele utilizados na consecução

25. Essa boa vontade implica o exercício de quatro virtudes: a prudência, a


fortaleza, a temperança e a justiça. A prudência consiste no conhecimento
das coisas que precisam ser desejadas e das que precisam ser evitadas; a
fortaleza estar relacionada à disposição da alma pela qual se despreza todos
os dissabores e a perda das coisas que não estão sob o poder do ser humano;
a temperança refere-se à disposição que reprime e retém o apetite longe da-
quelas coisas que constituem uma vergonha ao serem desejadas; e a justiça
significa dá a cada qual o que lhe pertence por direito. Cf. Santo Agostinho. O
livre arbítrio, p. 57/8.
60
PECULIARIDADES DO DIREITO
do seu propósito de vida.
A compreensão de algo pela alma humana ocorre pela mente,
mediante o raciocínio, com que pensa, fala e age. Mas, no com-
portar-se de maneira responsável, intencionando suas ações na
satisfação dos desejos em conformidade com as leis espirituais,
isto é, para se manifestar de acordo com a sua boa vontade, é ne-
cessário ao ser humano compreender com a emoção ou coração.
Pois, não basta simplesmente aceitar os ensinamentos que lhe são
proporcionados, é preciso que os entenda de verdade, e o enten-
dimento verdadeiro advém do amor incondicional, fruto da sua
relação com a Consciência Universal, porque vem da alma que
ao ser iluminada internamente por esse amor, aquieta e aquece
o coração.
Essa relação é firmada pela operacionalização das leis espirituais
e das leis físicas, porque as possibilitam o ser humano a potencia-
lizar o processo de transmutação em sua alma, sintonizando-se
em uma frequência vibracional positiva, de que emana o nobre
sentimento condutor daquela compreensão, porque as energias
que passa a emanar são positivas.
Ao conhecer e saber da realidade social utilizando suas capa-
cidades, o ser humano lembra que deve fazer escolhas que con-
sistem em recusar, ou não, tudo aquilo que esteja em contradi-
ção com a Consciência Universal e agir conforme as necessidades
para germinar sentimentos que o eleve, ou não, mental, moral,
intelectual e espiritualmente. Ou seja, a pessoa dotada de livre
arbítrio possui a faculdade de escolher livremente os próprios fins
e os objetivos a alcançar pela sua atividade ao pensar, falar e agir.
Destarte, o ser humano possui valores virtuosos inerentes à sua
natureza, denominados de direitos naturais e esboçados na ética,
moral, justiça e verdade Universal. Para sua fruição, fez-se ne-
cessário criar estabilidade para esses direitos e universalizar leis
como mecanismos de luta, ou formas de prevenção, visando a se
libertar das ações daqueles que, por má vontade ou por estarem
com a consciência adormecida, venham a contrariar a verdadeira
essência humana.
Por ser uma ficção, o Direito não possui, por si mesmo, a moral,
a ética, a justiça e a verdade Universal, mas há congruência com
esses valores, porque o seu conteúdo não deve ser outro senão
aquele a que corresponde à natureza de quem o cria. Em outros
61
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

dizeres, o conteúdo do Direito deve corresponder à essência do


ser humano, que é a materialização da Consciência Universal.
Feito do vazio infinito à imagem e à semelhança do seu Criador, o
ser humano deve exteriorizá-lo por meio das suas ações, utilizan-
do-se como instrumento o pensamento e as palavras. Possuindo,
assim, um valor próprio e independente acima de todas as outras
criaturas.
Nesse sentido, os ensinamentos de Fábio Comparato:

Se o direito é uma criação humana, o seu


valor deriva, justamente, daquele que o
criou. O que significa que esse fundamento
não é outro, senão o próprio homem, con-
siderado em sua dignidade substancial de
pessoa, diante da qual as especificações
individuais e grupais são sempre secundá-
rias26.
Essa dignidade substancial de pessoa, denominada dignidade
humana, está relacionada à essência do ser humano. A sua cria-
ção à imagem e à semelhança da Consciência Universal está in-
serida na sua alma, que é representada pela razão e se concretiza
em pensamentos, palavras e ações. Essa racionalização reside na
capacidade de inventar e não em comportamentos intuitivos. O
Direito, assim, como obra da cocriação é uma invenção humana,
mas o fundamento dessa ação não está senão nas leis universais,
que regem o ser humano, uma vez que elas são o fundamento da
sua essência27. Ao materializar a Consciência Universal, ele se
torna parte dessa Consciência que tem como essência os valores
virtuosos universais, caracterizadores da sua dignidade, que não
é senão a substância do Direito, isto é, o próprio Direito.
Ressalte-se que, o ser humano por ser Consciência Cósmica que
assumiu a forma humana, para cumprir seu propósito de vida,
deve praticar suas ações em consonância com essa Unidade, para
que não haja distanciamento de si mesmo.
Nos ensinamentos de Fábio Comparato, a dignidade humana no
mundo funda-se em algumas características próprias do ser hu-
26. Fundamento dos Direitos Humanos, p. 7.
27. Essas leis estão incutidas na alma humana (mente, vontade e emoção).
Elas fazem o ser humano pensar e raciocinar, escolher e recusar, rir e chorar,
amar e odiar.
62
PECULIARIDADES DO DIREITO
mano, a saber: a liberdade como fonte de vida ética, a autocons-
ciência, a sociabilidade, a historicidade e a unidade existencial.
O autor afirma que a liberdade faz do ser humano o único ser
dotado de vontade e com capacidade de agir livremente, sem a
condução de instintos. É sobre o fundamento da liberdade que
se funda todo o universo das preferências valorativas, bem como
toda a ética - o mundo das normas – que, devido ao livre arbítrio
da pessoa, se apresentam como preceitos suscetíveis de conscien-
te violação. É a liberdade, embora limitada, que o faz um ser dota-
do de autonomia, de capacidade para editar suas próprias normas
de convivência, pelas quais se estabelecem os comandos compor-
tamentos.
A autoconsciência, nos ensinamentos de Comparato, além de
memória de fatos exteriores que é incorporada ao mecanismo de
seus instintos, confere à pessoa humana consciência de sua pró-
pria subjetividade no tempo e no espaço. Sobretudo, a consciência
de ser vivente e mortal, para alguns, e imortal, para outros. Pois,
pelo fato de ser dotado de corpo, de alma e de espírito, admite-se
que somente a parte corpórea, que pertence a terra, morre. A evo-
lução vital e acumulação da memória histórica jamais se apagam
em cada um a permanência consciente na identidade do ser. O
ser humano é um animal essencialmente reflexivo, capaz de se
enxergar como sujeito no mundo terreno e no mundo espiritual.
No concernente à sociabilidade, Comparato defende que o ser
humano somente desenvolve as suas virtualidades de pessoa
quando vive em sociedade. É preciso não esquecer que as quali-
dades eminentes e próprias da pessoa humana – a razão, a capa-
cidade de criação estética, o amor próprio e universal - são essen-
cialmente comunicativas.
Para o autor, a historicidade revela que a natureza humana é
substância histórica, que vive em perpétua transformação pela
memória do passado e na projeção do futuro. Significa dizer que o
próprio ser humano, por ser produto da história, é um incessante
devir. Um devir que se desenvolve e se transforma deixando sem-
pre resquícios de sua trajetória, numa incessante acumulação de
inventos culturais de todo o gênero. A especificidade da condição
humana não se esgota na mera transformação do mundo circuns-
tancial, com a acumulação de cultura objetiva, mas compreende
também uma alteração essencial do próprio sujeito histórico.

63
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

Destarte, os atos praticados pelo ser humano, por pensamentos,


palavras, hábitos e ações no decurso da sua história interferem no
meio em que vive e constituem a sua essência que pode estar re-
lacionada à Unidade Cósmica ou desta se distanciar quando não
realizados em consonância com as leis da moral. Sendo, assim, fa-
z-se necessário a aquisição do estado de vigília consciencial para
guiar suas ações a ser executadas.
A unidade existencial, afirma o autor, faz do ser humano um
ente único e rigorosamente insubstituível. A biologia contempo-
rânea acabou confirmando o fundamento dessa grande verdade.
A combinação de genes que cada ente recebe, em razão de rear-
ranjos complexos e aleatórios de cromossomos durante a meiose
– processo de divisão das células vivas, no qual as células filhas
têm metade dos cromossomos da célula-mãe; esse processo pre-
cede a formação das células reprodutoras -, é única, invariável
e improdutível, constituindo identidade própria dotada de carga
valorativa distinta de todas as dos outros seres existentes, sejam
animados ou inanimados.
A dignidade humana, conclui o autor, reside em afirmar que toda
pessoa tem dignidade ou valor e não um preço, como as coisas. O
ser humano como espécie, e cada pessoa em sua individualidade,
é insubstituível: não tem equivalente, não pode ser trocado por
nada. O ser humano não é somente o único capaz de orientar suas
ações em função de finalidade racionalmente percebida e livre-
mente desejada, como é o único ser cuja existência, em si mesma,
constitui um valor absoluto, isto é, um fim em si e nunca um meio
para a consecução de outros fins.
A criação do Direito pelo ser humano é justificada pela exigên-
cia de determinados comportamentos sociais a ser adotados por
cada pessoa, visando a assegurar a exteriorização da sua essência,
como verdade Universal, ao desenvolver princípios éticos, morais
e de justiça. Como consequência, o seu fundamento está naque-
le que o criou, especificamente na parte invisível denominada de
dignidade humana, valor pertencente à Consciência Universal e
constituinte da sua verdadeira essência.

64
PECULIARIDADES DO DIREITO
1.4. O Direito em compreensão

1.4.1. A necessidade humana


Na matéria desta pequena Terra, desde os primórdios dos tem-
pos aos dias atuais, quanta perturbação e evolução! Quanto es-
forço do ser humano para germinar ou desenvolver as virtudes
universais, para se aproximar da sua verdadeira essência, dos va-
lores sublimes! Tudo isso são reflexos das suas constantes guerras
internas que, por ser ávido de riquezas, sensualismo e glória, o
torna repleto de vícios ou sentimentos inferiores.
Esse conflito advém da sua composição. O ser humano é com-
posto de corpo, alma (alma biológica, emocional e eterna). A alma
eterna ou espírito, por ser, em si mesmo, as virtudes, sempre as
quer; o corpo por representar a matéria visível tende aos senti-
mentos inferiores, porque se apega as formas; e a alma (biológica
e emocional), que anima e dá cores ou brilho o ser humano, fica a
absorver as virtudes e/ou os vícios.
Não obstante esse conflito entre corpo e alma, entre alma e espí-
rito, o ser humano, criado do vazio infinito, é parte integrante da
Consciência Universal, possuindo suas qualidades, como: o Eter-
no, o Belo, o Imutável, o Incorruptível, o Venturoso, o Poderoso,
o Vivo, o Justo, o Sábio, o Imortal, o Bom e o Espírito, que se ma-
nifestam por pensamentos, palavras e ações. O aperfeiçoamen-
to dessas particularidades ocorre pela utilização de mecanismos,
como a força de vontade, a ciência e as virtudes, próprias das leis
morais. Pois, é através da boa vontade que a pessoa humana se
instrui na ciência e desenvolve em si as virtudes.
Como microcosmo, o ser humano está naturalmente integrado
ao Universo, ao macrocosmo. Tudo no Universo, inclusive a pes-
soa humana, obedece às leis da natureza ou físicas: ação, reação e
inércia, por que elas são a manifestação da lei universal de jus-
tiça e amor, pela qual não se deve fazer ao próximo o que não
quer que seja feito para si. A ação corresponde ao agir positivo
ou negativamente da pessoa por meio do pensamento, palavras e
ações. A reação é a consequência do ato praticado na mesma in-
tensidade e direção, mas em sentido oposto. A inércia é a calma,
que cai em estagnação devido à falta de progresso. Novamente
vem à ação, a reação e a inércia, agora como reajustamento. Ou
seja, para cada ação existe uma reação na mesma proporção que

65
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

produz efeitos para o seu autor. Assim, pode-se afirmar que o ser
humano é o exercício daquilo que pensa e do que faz.
Dentre as forças naturais que o cercam, o ser humano tem certa
liberdade para pensar e agir, e, portanto, mérito e responsabilida-
de. O livre arbítrio, quando utilizado adequadamente pela pessoa,
demonstra sua evolução nos aspectos material, emocional, inte-
lectual, ético, moral e espiritual, de modo que ao interrogar sua
consciência quando das guerras internas, deseja ardentemente
combater todos os vícios que constituem um estado físico, emo-
cional, psíquico e/ou espiritual doentio.
O ser humano é capaz disso porque “é um bambu pensante”,
parafraseando Pascal. Um bambu agitado e curvado por todos os
ventos de todas as direções. Porém, um bambu que pensa e que
tem livre arbítrio, porque passada a ventania procura, como o
bambu, a ascensão. Em outros dizeres, a pessoa humana quando
em dificuldades, imerge-se em um estado de desânimo, de fracas-
so aparente, mas, utilizando-se da sua liberdade, se volta para si,
por meio da reflexão se fortalece e obtém consciência da situação,
em seguida, posiciona-se em direção à verdade Universal, à sua
essência verdadeira.
De outro modo, o ser humano cambaleia, às vezes, como o bê-
bado, mas como este, diz sempre que não está bêbado. Ele tem
consciência que a linha do bêbado não é a linha correta. Quando
cambaleia é porque se afasta da Consciência Universal e, ao se
afastar, cai porque se animaliza e fica de quatro. Após um desas-
tre, apruma-se, adota postura descente, a única que lhe foi traça-
da pela Consciência Infinita para chegar à sua essência verdadei-
ra. Basta interrogar sua consciência para compreender a Unidade
Cósmica, da qual faz parte, e se erguer naturalmente e de forma
inteligente.
A grande diferença entre o ser humano e os outros animais, já
que todos tem alma como princípio da vida, é o senso ético e mo-
ral. O animal humano é um ser à parte, um ser superior que, por
ter adquirido racionalidade, consciência de si, no momento da
sua criação, desenvolve durante a sua existência o intelectual, a
personalidade e a vontade, exteriorizando essas faculdades por
meio de pensamentos, palavras e ações. Essas habilidades cons-
tituem a ascensão como destino humano, já que fazem parte da
sua alma eterna, pela qual o ser humano se comunica com a Cons-
ciência Universal.
66
PECULIARIDADES DO DIREITO
Essa missão só é possível devido ao livre arbítrio. Para se cons-
cientizar da necessidade de ascender-se, o ser humano deve rela-
cionar a razão com a moral, porque à medida que a ciência avan-
ça surge a compreensão da ordem para explicar o que parecia,
até então, mistério: de onde veio, porque veio e para onde vai.
Somente a razão humana pode decifrar os mistérios da Unida-
de Universal. Essa explicação tem a fé (o acreditar) por caminho,
uma vez que a caminhada deve ter como parâmetro a Consciência
Universal, que o aponta nas leis da ciência e nas leis da moral, as
quais aclaram todas as interrogações humanas, conforme o esta-
do vibracional em que se encontra o ser humano.
Em outras palavras, na compreensão de si mesmo e da Cons-
ciência Universal, condição à realização do seu desígnio, o ser
humano necessita de diretrizes que são adquiridas pelas leis da
ciência ou físicas e pelas leis da moral ou espirituais. Utilizando-
-se somente a ciência, cai-se, às vezes, no materialismo de que
surge o orgulho, o egoísmo e a vaidade, porque “a ciência incha”.
Somente com a moral, cai-se, às vezes, na superstição e no fana-
tismo ou intolerância, porque se entrega a uma fé (a uma crença)
cega.
A impregnação de sentimentos inferiores na alma humana
ocorre porque ela é composta de três partes: a mente, emoção e
vontade. A mente tem por função o conhecer, o saber e o lembrar;
a vontade tem a função de buscar, recusar e escolher; e a emo-
ção tem por função atribuir cor à vida humana, manifestando-se
por sentimentos como o amor, alegria, verdade, humildade, ódio,
rancor, pesar, tristeza, saudade, desejo, dentre outros. As leis da
ciência desenvolve a mente e a vontade e as leis da moral, desen-
volve as emoções e a vontade. Ou seja, de nada vale compreender
pela razão - conhecer, saber e lembrar - se não houver o entendi-
mento e aceitação da lição pela emoção, mediante a qual ocorre
a compreensão verdadeira, porque vem do mundo interior, fonte
de manifestação da boa vontade.
O conhecimento e o exercício das leis físicas e das leis da moral
delineia a personalidade no ser humano, qualquer fase da vida.
Esse caráter desenvolve o sentimento mais sublime que existe:
o amor incondicional. O único sentimento que reúne todas as
aspirações e revelações humanas, quando vivenciado em pensa-
mento e exteriorizado por palavras e ações amplia a consciência
e a pessoa humana cumpre o propósito da Consciência Universal,

67
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

porque age de boa vontade buscando e efetuando as escolhas cor-


retas, justas e adequadas para a manifestação desse nobre senti-
mento, fonte de todas as virtudes inatas.
Instruir-se nessas leis tem como consequência a cura do ser
humano, porque elas acalmam sua alma e elevam seus padrões
mentais, cuja função é a produção de pensamentos, palavras e
ações positivas criadoras do bem, que por sua vez extirpa todos
os sentimentos negativos e aprimora todos os sentimentos positi-
vos, constituindo na pessoa humana um estado físico, emocional,
mental, moral e espiritual saudável, porque se encontra sintoni-
zado em uma frequência vibracional positiva. E, por conseguinte,
ao germinar na sua alma seus atributos inatos, torna-se livre para
se comunicar com a Consciência Universal, uma vez que por es-
tar saudável semeia o amor incondicional, mecanismo a ser por
ele utilizado na realização do seu propósito de vida, que é fazer o
bem, e em contrapartida, de forma natural, recebe o bem.
Essa situação é, justamente, a consolidação da internalização e
aplicação das leis da moral e da ciência, segundo as quais o ser
humano recebe, exatamente, aquilo que doa.
Essa busca da alma pelo curar-se, devido ao apego excessivo
ou exagero na utilização28, o ser humano necessita de conheci-
mento para escolher adequadamente o que lhe proporciona a sua
evolução e recusar o que constitui o seu estacionar. Essa apreen-
são é adquirida mediante o livre arbítrio. A liberdade, assim, se
manifesta como um dever/poder, sendo o único instrumento do
qual carece a pessoa humana para a sua ascensão, que depende
somente de harmonização mental, constituída entre os padrões
mentais, equilíbrio emocional e racionalização da boa vontade.
Essa harmonização é regida pelo bem, que tem como fonte os
bons pensamentos, as boas palavras e as boas ações, todos obti-
dos pelo exercício da boa vontade de forma consciente ao utilizar
adequadamente das leis físicas e das leis espirituais de operacio-
nalização na realização dos seus atos, visando à consecução do
processo de transmutação na sua alma.
Destarte, para satisfazer a necessidade natural de ascender até
a perfeição relativa, é incumbência do ser humano equilibrar as
28. O ser humano necessita tanta dos órgãos corporais como dos bens mate-
riais, mas o uso, de ambos, deve ocorrer mediante justiça, fortaleza ou amor,
temperança e prudência.
68
PECULIARIDADES DO DIREITO
forças da natureza que estão dentro e fora de si mesmo.
Devendo, assim, atribuir atenção aos componentes emocionais
e sociais capazes de contribuir para o desenvolvimento, em si e no
próximo, das virtudes universais denominadas de prudência, justi-
ça, fortaleza ou amor e temperança, das quais emanam as demais
virtudes, como a humildade, paciência, devotamento, abnegação,
resignação, perdão, gratidão, fontes de cura de todas as doenças
emocionais, psicológicas e psicossomáticas, visando à harmonia
consigo mesmo, no estabelecer das relações intrapessoais, e com
o próximo, no estabelecer das relações interpessoais.
Essa harmonia se fortalece e engrandece com a moralidade e
a inteligência, cujos efeitos são o aperfeiçoamento das leis físi-
cas e espirituais nas ações humanas e a plenitude individual no
âmbito da sociedade, sendo a ausência do bem-estar um proble-
ma pessoal e social. Pessoal, porque a promoção das habilidades
individuais para trabalhar, produzir e amar está relacionada ao
conforto físico, emocional e mental da pessoa; e social, porque a
falta desse bem-estar individual pode afetar àqueles que fazem
parte do seu convívio social.

1.4.2. A necessidade das leis humanas


O amor incondicional é o destino de todo ser humano, de
quem em cujo caminho a ser percorrido exige perseverança, cora-
gem e esperança, dado que em um mundo em crises de ideais e de
valores, facilmente se perde o rumo do próprio caminhar. Cami-
nho que já foi por muitos trilhado através dos séculos e descrito
por alguns no cimo de sua alegria e no umbral de sua realização.
Nesse caminhar, que nunca cessa, deve o caminhante se compor-
tar com justeza, serenidade, honestidade e responsabilidade. Exi-
ge-se desprendimento desde o início do seu percurso, determina-
ção durante todo o transcurso e realismo e humildade em todos
os seus passos e ações.
O ser humano, nesse contínuo caminhar, ao jogar o jogo da vida
em consonância com as regras das leis universais e físicas tem o
poder de amar, abençoar, multiplicar e prosperar, uma vez que
sendo a materialização da Consciência Universal, o é o suprimen-
to de si mesmo. O que possibilita a manifestar o amor incondi-
cional, a fazer o bem, em todas as suas ações. Por meio dos pen-
samentos emanados e palavras proferidas, ao acreditar que não
as voltarão vazias, o faz passar da substância para a forma tudo o
69
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

que lhe pertence por direito.


Destarte, a abundância existe sempre no caminho do ser hu-
mano. Mas, esse sucesso se apresenta, exclusivamente, pelo seu
desejo mental ou palavras pronunciadas ao operar conjuntamen-
te suas faculdades: memória ou intelecto, emoção ou sentimento
e vontade29. Ao manifestar essas habilidades no âmbito do seu
mundo interior, a pessoa humana cria conscientemente, e nas
mesmas circunstâncias, suas próprias condições de existência
terrena ou seu mundo exterior.
O que for a profundeza do ser humano, assim será seu desejo.
O que for o seu desejo, assim será sua vontade. O que for a sua
vontade, assim serão seus atos. O que forem seus atos, assim será
seu destino30. Em outros dizeres, a essência humana reflete-se em
pensamentos, que são exteriorizados por palavras. Estas se tor-
nam ações, que se transformam em hábitos. E, estes constituem o
caráter que, por sua vez, determina o destino humano.
Na utilização do livre arbítrio, o ser humano deve agir de boa
vontade e fazer escolhas manifestantes dos atributos universais,
uma vez que suas ações refletem o verdadeiro entendimento das
coisas pelo coração. Como efeito, seus atos devem anunciar em si
e no meio em que vive o nobre sentimento, o amor incondicional,
que o capacita a utilizar das coisas corpóreas com justiça, fortale-
za, prudência e temperança, visando a desenvolver sua ascensão
até a perfeição relativa para praticar somente o bem.
Assim sendo, a vontade livre, dom da Consciência Universal, é
mecanismo da realização do bem que concede ao ser humano a
possibilidade de viver com retidão. A liberdade, que deve ser utili-
zada de boa vontade, é um bem que ocupa posição intermediária,
estando às virtudes morais acima e os bens corpóreos e os vícios
ou sentimentos inferiores abaixo.
A necessidade da lei humana surge devido às escolhas equivo-
cadas realizadas pelo ser humano na utilização inadequada dos
pensamentos e das palavras, bem como dos bens corpóreos, esta-
belecendo-se a submissão da mente aos bens terrenos e a submis-
29. Por meio dessa operação ocorre à manifestação dos atributos universais,
como o eterno, belo, imutável, incorruptível, venturoso, poderoso, vivo, justo,
sábio, imortal, bom e o espírito.
30. Yajinavalkya, em sua obra Brihadaranyaka Upanishad, IV, 4.5. Yajina-
valkya é considerando um dos mais antigos filósofos da Antiga Índia que viveu
no primeiro milênio a. C.
70
PECULIARIDADES DO DIREITO
são da razão à emoção. Ao agir de má vontade, a pessoa se afasta
da verdadeira essência e constitui o desequilíbrio entre as forças
da natureza – do Universo -, que estão dentro e fora de si, e que
são disciplinadas pelas leis da moral e manifestadas pelas leis da
ciência, fazendo brotar de si e do próximo os sentimentos nega-
tivos ou vícios impregnados em sua alma, em razão das condutas
equivocadas.
Esses vícios introduzem-se na mente humana e são externados
pelos órgãos corporais mediante a vontade. A pessoa, constituída
de energia e informação, direciona sua atenção (que é um alimen-
to, energia) para algo. Utiliza a mente para lembrar o que conhece
e sabe e passa as memórias registradas no inconsciente para o
consciente; usa a vontade para buscar suas emoções e escolhe por
manifestar os vícios, que também são energias. Os órgãos mais
atingidos nesse processo são os rins, fígado, baço, pâncreas, estô-
mago, coração, garganta, visão e cérebro31, de acordo com o senti-
mento a que direciona a atenção, porque estão associados com as
glândulas do sistema endócrino em que ocorre a transformação
de energia operacionalizada pelos centros de forças, ligados a es-
sas glândulas e a esses órgãos.
Esse processo é realizado pela alma humana da seguinte manei-
ra: o cérebro (a mente) recebe um estímulo externo e responde
a esse estímulo considerando as memórias emocionais, mani-
festando-as por meio dos órgãos do corpo. Os resultados dessa
experiência emocional, que são constituídos das reações geradas
pela emoção, criam na mente humana os sentimentos. Quando os
sentimentos gerados pela emoção são negativos, e o ser humano
não consegue eliminá-los imediatamente, a alma adoece, e, por
conseguinte, essas doenças denominadas de psicológicas (como
transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, transtorno de per-
sonalidade, transtorno compulsivo, anorexia, esquizofrenia, de-
pressão, estresse, dentre outras) ou denominadas de psicossomá-
ticas (como resfriados frequentes, enxaqueca, diarreia, herpes,
dentre outras) são exteriorizadas.
Apontando a relevância das doenças da alma nas doenças do
31. Conforme Hipócrates, que viveu na Grécia Antiga, nos anos 460 – 377 a.
C., considerado o “pai da medicina”, os quatro fluidos primários - o sangue, as
bílis negra e amarela e a linfa ou fleuma – representam os humores corporais,
que quando equilibrados harmoniosamente, no ser humano, denota saúde.
O sangue origina-se no coração, a bílis amarela, no fígado, a bílis negra, no
baço e a fleuma, no sistema respiratório.
71
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

corpo, provocadas pelos vícios ou sentimentos inferiores, o mé-


dico cardiologista, Dr. Fernando Lucchese32 afirma que “o trio
maléfico Raiva, Inveja e Maldade, associado ao quarteto Solidão,
Pessimismo Egoísmo e Depressão, são como um perigoso deto-
nador da vida”. A tristeza, medo, ódio, desespero, desânimo, frus-
tração, culpa e o ato de não perdoar são geradores de doenças
físicas, pois deixam o ser humano violento, aumentam à circula-
ção, o cortisol e a adrenalina - hormônios do estresse – (a pessoa
fica extremamente estressada), assim como aumenta o colesterol
e a pressão arterial, e diminui a imunidade, o que abre a porta do
câncer.
Tudo isso é fruto de uma sociedade materialista, que desenvolve
o conhecimento científico, ou as relações humanas, ignorando a
espiritualidade, sem se preocupar com a essência humana, por
olvidar a relação do ser humano com a Consciência Universal.
Essa sociedade mede o ser humano pelo “ter” e não pelo “ser”;
pelas aparências, aspectos físicos e não pelos seus ideais, pela
verdadeira essência. O que faz a pessoa humana a desejar aquilo
que não deve ou não consegue possuir, e, como consequência, co-
meça a manifestar emoções geradoras de sentimentos inferiores
por se sentirem impotentes, diante das suas expectativas frustra-
das e não trabalhadas.
No concernente a esses seres doentes ou com problemas no
seio social, considerando as concepções dos leigos em medicina,
Claudine Herzlich, citado por Albuquerque e Oliveira, classifica
as doenças em três categorias: doença como destruidora, doença
como libertadora e doença como desafio33. Com a devida vênia,
cumpre-se afirmar que não existe doença, mas seres humanos
doentes - com instabilidade emocional. Conforme o comporta-
mento por eles adotado, identifica-se a existência de três grupos
sociais denominados de: protetores, dependentes e conscientes
da imaturidade emocional.
O primeiro é formado por aqueles que se denominam respon-
sáveis pelos outros, considerando qualquer interferência em suas
obrigações um problema, porque a veem como perda de posição
social. Encaram a doença como destruidora, uma vez que depen-
32. Palestra em comemoração aos 15 anos da Oncologia Centenária. Dispo-
nível em: https://setorsaude.com.br. Acesso em 06/07/2019.
33. ALBUQUERQUE, Carlos Manuel de Sousa e OLIVEIRA, Cristina Paula
Ferreira de. Saúde e Doença: Significações e Perspectivas em Mudança. Dis-
ponível em: www.ipv.pt. Acesso em 08/07/2019.
72
PECULIARIDADES DO DIREITO
der do próximo o fazem se sentirem diminuídos. Asseguram-se
serem fortes, mas, essa fortaleza só existe enquanto estão se rela-
cionando com seus semelhantes considerados mais fracos, devido
à falta de virtudes universais e a presença de vícios impregnados
em sua alma.
Os seres humanos que fazem parte desse grupo, por serem pos-
sessivos, são dominados por sentimentos inferiores como o orgu-
lho, egoísmo, vaidade, possessão, raiva, rancor, ira, ódio, irrita-
ção, braveza, malevolência, dentre outros, uma vez que se sentem
bem, somente, quando estão em posição de destaque ou de supe-
rioridade, na qual exercem o controle da situação por exterioriza-
rem o desejo de evitar, limitar, permitir ou destruir os objetivos
dos seus semelhantes.
O segundo grupo é formado por seres humanos que utilizam a
doença como uma forma de obter os cuidados e a simpatia dos
semelhantes, além de a considerarem como uma maneira de se
libertarem das suas preocupações e responsabilidades. Os que es-
tão nesse grupo têm uma alma doentia de tal modo que só se sen-
tem saudáveis quando a “doença”, ou melhor, seu aspecto doentio
se manifesta exteriormente, porque nesse estágio, ao sentirem-se
dignos de atenção, possuem a certeza de que o seu semelhante
estará, sempre, ao seu lado.
Os seres humanos que fazem parte desse grupo são controla-
dos por vícios como a inveja, angústia, aflição, agonia, amargura,
ambição, desânimo, medo, descrença, irritabilidade, ansiedade,
tristeza, culpa, tédio, desgosto, solidão, dentre outros, pois, ao se-
rem reprimidos pela sensação de vazio e isolamento almejam a
companhia do próximo por necessitarem de algo novo, que seja
capaz de ocasionar em sua transformação interior.
Observa-se que, os seres humanos presentes no primeiro e no
segundo grupo, de forma recíproca, atraem-se no seio social, uma
vez que as relações firmadas entre ambos lhes confere a falsa sen-
sação de preenchimento do vazio existencial, pois a presença dos
protetores traz momentâneo contentamento para os dependentes
e vice-versa.
O terceiro grupo é formado pelos que consideram a doença um
desafio, e acreditam no poder da mente sobre o corpo, utilizando
de muita energia com o intuito de ficarem bem. Para tanto lutam
contra a enfermidade com todos os poderes e meios que estão à
73
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

sua disposição. Esses seres humanos são influenciados por vícios


como o orgulho, egoísmo, vaidade, arrogância, grosseria, negligên-
cia, estupidez, soberba, brutalidade, empáfia, desdém, presunção,
convencimento, dentre outros, emanando energias de satisfação
e capacidade que conduzem à auto realização ou ao feito do pró-
ximo.
Tendo em vista que todos os seres humanos que habitam de-
terminada sociedade são doentes por estarem impregnados de
vícios, suas relações intrapessoais e interpessoais são firmadas
em bases doentias. Com forma de discipliná-las, surge o Direito
descrevendo regras de condutas e impondo sanções àqueles que
se comportam de modo contrário aos seus comandos, como me-
canismo de extirpação dos vícios da alma humana.
Destarte, o Direito como materialização das leis universais que
refletem à natureza humana, ao ser utilizado como instrumen-
to de justiça, deve ser compreendido não somente como forma
de adequação dos comportamentos humanos às relações sociais,
mas, também, e principalmente, como um remédio de cura so-
cial, fabricado e aplicado pelos seus operadores, cuja fórmula e
bula encontram-se na consciência de cada responsável por desen-
volver essa atividade. Devendo, assim, quando da sua operacio-
nalização, ser utilizado não apenas com o objetivo de prescrever
comandos comportamentais, mas, sobretudo, com o propósito de
extirpar da alma humana todos os vícios ou sentimentos inferio-
res, fontes de todo o estado doentio. O que possibilita a germina-
ção das virtudes inatas em seu íntimo.
As normas jurídicas são energias condensadas. Tanto na elabo-
ração dessas normas como na sua interpretação e aplicação, essas
energias se movimentam na direção em que lhe é dada pela inten-
ção do ser humano, operador do Direito. Os sentimentos contidos
nessas energias – inferiores ou superiores - são emitidos e envia-
dos para o Universo, que por meio do corpo espiritual ou campo
magnético, ou ainda períspirito, transmite para o centro de força
coronariano da pessoa que enviou o sentimento e para o das pes-
soas na intenção de quem o sentimento foi direcionado, e entra
no corpo físico desses seres humanos por meio dos demais cam-
pos energéticos que recebe os comandos diretamente do cérebro.
Ademais, a atividade de criar ou operacionalizar o Direito é em
sua essência fazer julgamentos, pois essa criação visa a disciplinar
um comando comportamental exteriorizado por meio da prática
74
PECULIARIDADES DO DIREITO
de determinado ato ou ocorrência de um fato no âmbito social.
No entanto, esse juízo de valor deve ser operacionalizado sobre as
emoções ou sentimentos impulsionadores da ação, que está sob
análise, e não do ser humano que acometido por sensações visce-
rais tenha executado o ato.
Os atos praticados pelo ser humano mediante pensamentos,
palavras e ações, quando não praticados de boa vontade, fazem
mal a si mesmo e ao próximo, e são provenientes dos sentimentos
inferiores que estão atrelados à sua essência por ter se afastado
da verdade Universal. Esses sentimentos constituem problemas
nas relações intrapessoais com os quais a pessoa humana não mais
suportando a si mesmo passa a agredir ao próximo quando da ope-
ração das relações interpessoais.
Nessas circunstâncias, o Direito não deve ser utilizado como
meio de castigo ao ser humano que se encontra em estado doentio
por estar dominado pelos sentimentos inferiores, contribuindo
para que o torne dependente desses vícios. Deve ser manuseado
como instrumento de cura social capaz de despertar a consciência
humana, dando-lhe esperança de uma vida melhor mesmo diante
de indicações contrárias. A pessoa consciente é capaz de se libertar
dos vícios, porque pode adotar atitudes diferentes, constituindo,
assim, consequências diferentes. Por ser livre, basta querer e agir
de boa vontade.
Não obstante, para despertar a consciência humana, dando-lhe
liberdade, é imprescindível que a atividade de operacionalizar o
Direito seja desenvolvida pelos responsáveis em consonância com
as leis espirituais e com as leis físicas de operacionalização, pre-
sentes na consciência humana e exteriorizada por meio dos seus
pensamentos, palavras e ações, porque são essas leis que permite
ao ser humano a ativar e equilibrar seus centros energéticos que
ao transformarem suas energias equilibram seu metabolismo, ne-
cessário à saúde física, emocional, mental e espiritual.

1.5. A essência do Direito


Sendo o Direito uma das invenções do ser humano, então, ele
deve por meio dessa ação cocriadora exteriorizar sua essência. O
resultado desse ato constitutivo deve ser o reflexo do íntimo do
seu criador, que em cuja produção tem por parâmetro as leis da
moral e da ciência, constantes da sua consciência, disciplinado-
ras da sua liberdade de agir em pensamentos, palavras, hábitos e
75
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

ações. Como é composto de corpo, alma e espírito, e localizando-


-se na alma eterna a sua capacidade criativa, deve-se manifestar
o que nela se encontra: a mente/intelecto, emoção/sentimento e
vontade.
A inteligência ou razão, própria da mente, confere a percepção
de impressões do Universo pelos sentidos físicos e sua manifesta-
ção por meio dos órgãos do corpo. A emoção, parte da alma que
tem por função atribuir cor à vida humana, se manifesta por sen-
timentos como o amor, humildade, indulgência, perdão, gratidão,
solidariedade, ódio, rancor, pesar, tristeza, saudade, desejo, den-
tre outros, que estão acondicionados no coração humano e são
exteriorizados por pensamentos, palavras e ações. Para tanto, ao
manifestar a sua vontade no exercício do seu livre arbítrio, o ser
humano deve fazer escolhas sobre quais sentimentos irá expres-
sá-los.
Deve-se observar o comportamento do ser humano, suas atitu-
des, para identificar em qual frequência vibracional está sintoni-
zado, e o que tem armazenado em seu coração. Estando em um
estado emocional positivo, por meio das energias de que emana,
manifestará sentimentos nobres como o amor, alegria, gratidão,
perdão, tolerância, prudência, temperança, justiça; se em estado
emocional negativo, mediante as energias de que exala, exterio-
rizará sentimentos inferiores como raiva, rancor, ódio, tristeza,
medo, ira. Sintonizado em uma frequência vibracional positiva,
possui um equilíbrio emocional, cujas energias que intencio-
na demonstram ser uma pessoa dotada de honestidade, probi-
dade, honradez, prudência, temperança, justiça, benevolência;
já em uma frequência vibracional negativa, as energias por ele
emanadas anunciam um ser humano malévolo, desacreditado,
indecente, injusto. Um ser doente.
Destarte, para que o Direito possa vir a cumprir sua função de
remédio de cura social, possibilitando o autoconhecimento e re-
forma íntima da humanidade, deve ser produzido por pessoas que
se encontrem em um estado emocional positivo estável, porque
possuem habilidades para exteriorizar por meio do pensamento,
palavras e ações o sentimento mais nobre - o amor universal.
Quando produzido por seres humanos que se encontrem sin-
tonizados em uma frequência vibracional negativa, o Direito não
consegue atingir a essa finalidade, porque um doente não con-
segue cuidar de doentes, e a essência do Direito não deve ser se-
76
PECULIARIDADES DO DIREITO
não a materialização da natureza humana, de quem o criou. Pos-
to que, estando com sua essência doente, a pessoa não consegue
exteriorizar por meio do Direito o remédio necessário para a cura
social, mas, utiliza-o como instrumento para externar interesses
e privilégios que possibilitem o consumo excessivo de tudo o que
sirva de alimento para a sua alma, que se encontra impregnada de
sentimentos inferiores.
O problema é que os membros da sociedade, onde se encontram
os responsáveis pela criação do Direito, são todos doentes. Sem
possuírem a consciência de que estão no mundo terreno por pre-
cisarem de cura, extirpar da sua essência todos os sentimentos
negativos, utilizam da enfermidade por meio do Direito para ter
a falsa sensação de liberdade, para destruírem a si mesmo e ao
próximo e para desafiarem a si e ao semelhante.
Cabe, todavia, a escolha recair sobre os menos adoentados, em-
bora isso seja extremamente difícil, porque o próximo serve de
modelo ou espelho, isto é, o ser humano se vê, ainda que incons-
cientemente, no outro. Sendo enfermo vai atrair outro e outros
que estejam no mesmo nível doentio. A pessoa humana, ao amar-
-se vai amar o próximo, ao se odiar vai odiar os outros, porque
o relacionamento da pessoa com seus semelhantes é apenas um
espelho que reflete como ela se relaciona consigo mesmo, haja
vista ser o seu mundo exterior determinado pelo seu mundo in-
terior.

Diante desta constatação, afirma-se, o Direito deve ser produ-


zido pelos seres humanos que já ativaram e equilibraram os cen-
tros energéticos superiores, uma vez que estão voltados para o
intelecto e para a Consciência Universal, cujas ações são pautadas
nas leis espirituais e nas leis físicas de operacionalização. Como
encontrá-los no âmbito social é uma raridade, a escolha deve re-
cair entre aqueles que já conseguiram desenvolver os centros de
forças medianos, porque já atingiram ou estão lutando por equili-
brar as suas emoções e sentimentos, e, ao comunicá-los, demons-
tram interesses pelas coisas intelectuais. O que permite produzir
o Direito em consonância com as leis universais e com as leis da
ciência.
Ressalte-se que, jamais essa escolha deve recair sobre aqueles
que estão arraigados à existência terrena, uma vez que o com-
77
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

portamento assemelha-se aos animais irracionais que agem por


instintos e prezam pela força, por atividades sexuais e alimenta-
res, e como consequências suas ações estão ainda distantes ou em
dissonância com as leis da moral e da ciência.
Essas leis de operacionalização determinam que as energias do
Universo se manifestem por ações e operem-na por meio de tro-
cas dinâmicas entre os seus habitantes. O fluxo dessas energias é
constituído de diferentes aspectos, denominados de dá e receber.
Mas, somente, aquele dotado de capacidade humana em fazer o
bem, em propagar o amor incondicional, pode atrair a fortuna
universal, porque o consegue dar tudo aquilo que almeja, já que
ninguém consegue dar aquilo que não possui.
Destarte, o ato da produção do Direito quando exercido pelos
seres humanos que se encontram em baixa frequência vibracio-
nal, tem como consequência leis desumanas e injustas. Devendo
o responsável pela sua interpretação ser mais esclarecido, inclu-
sive espiritualmente falando, uma vez que o processo de escolha
exige desse um amadurecimento pela bagagem intelectual, ética,
moral e espiritual que o possui.
Não obstante, a ascensão intelectual não seja determinante, ela
contribui para o equilíbrio físico, emocional e mental, bem como
para a evolução material, intelectual, moral e espiritual do ser hu-
mano, porque há uma tendência maior de compreensão das leis
da moral e da ciência por aqueles que no exercício do livre arbí-
trio escolher nelas se instruírem.
O ato de criação e interpretação ou operacionalização do Direito
advém da exteriorização do pensamento pelas palavras. Em virtu-
de das forças vibratórias dos pensamentos e das palavras, quando
o ser humano pensa ou fala algo começa a atraí-lo para si. Por
ser energia, cada pensamento ou palavra que é dita possui uma
força interna e secreta, de natureza boa ou má, a qual determina
se a expressão deve ser benéfica ou maléfica que atinge o autor da
ação e o seu destinatário, conforme a frequência vibracional em
que esse se encontra.
Destarte, essa força do pensamento e das palavras, quando da
produção do Direito, pode favorecer a cura social ou atrasá-la, prin-
cipalmente quando expressas com profundeza, porque o modo de
falar determina o ambiente no qual está inserido o ser humano, o
lugar em que estão as coisas a serem realizadas e como enfrentar

78
PECULIARIDADES DO DIREITO
as situações que se deve passar. Isto se deve ao fato de ser o pen-
samento e as palavras energias, sem limites de espaço e tempo.
Quando se direciona pensamentos de amor e desejos de felicida-
de para os doentes da sociedade, por meio da operacionalização
do Direito, eles perdem todo o poder de resistência. Pois, existe
um conhecimento de poder da linguagem falada que, quando se
quer realmente produzir o bem-estar e o progresso, deve-se ad-
quirir esse conhecimento, que é o amor incondicional, e estabele-
cer as conversas de acordo com ele.
Esse conhecimento se adquire por meio da instrução nas leis
da ciência e nas leis da moral, porque permite o ser humano a se
conscientizar de que toda ação humana gera uma reação na mes-
ma proporção em sentido oposto, e que não se deve fazer a outrem
o que não quer que seja feito para si mesmo. Devendo o ser huma-
no obter esse conhecimento para desenvolver pensamentos posi-
tivos, capazes de elevar a sua vibração mental, e proferir palavras
com a finalidade de curar, abençoar e prosperar. Somente, assim,
elimina em si mesmo todas as memórias causadoras de proble-
mas internos e externos, e, por conseguinte, retorna ao vazio infi-
nito em que a inspiração Universal age naturalmente.
Justamente, nesse diapasão, encontra-se a bondade da
Consciência Universal ao colocar na mente humana pensamentos
e ideias, concedendo ao ser humano a capacidade de realização
do bem no seio social, atribuindo-lhe a missão de elaborar e ope-
racionalizar o Direito em consonância com a sua verdadeira es-
sência, que está atrelada à lei da verdade Universal (a lei do amor
e da justiça), como instrumento de cura social.

1.6. O Direito como instrumento de justiça


Faz-se necessário frisar que, o ser humano ao se distanciar da
Consciência Universal, utilizando-se de palavras e pensamen-
tos de maneira equivocada, o adoece físico, mental, emocional e
espiritualmente, uma vez que esse comportamento o leva a sinto-
nizar-se em uma frequência vibracional negativa, deixando-o im-
possibilitado de promover o processo de transformação de energia.
Desse estado vibracional emanam as energias caracterizadoras de
sentimentos inferiores (como orgulho, egoísmo, vaidade, soberba,
estupidez, violência, insegurança, ambição, possessão, opressão,
repressão, presunção, hipocrisia, obstinação, desprezo, negligên-
cia, imperfeição, imprudência, maldade, inveja, rebeldia, desor-
79
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

dem, culpa, angústia, desespero, ansiedade, frustração, feiura,


solidão, desconforto, pessimismo, ira, mágoa, ódio, rancor, raiva,
cólera, medo, tibieza, desânimo, vingança, duelo, cinismo, dor, tris-
teza, preguiça, gula, avareza, injustiça, traição, indignação, blasfê-
mia, luxúria, dentre outros), que surgem como pequenos hábitos,
depois se tornam vícios e, posteriormente, transformam-se em
dependência.
Essa atitude é prejudicial a todos os seres humanos que vivem
em sociedade, inclusive para o autor do ato, uma vez que para
cada ação há sempre uma reação que produz os mesmos efeitos
em sentido oposto. Não havendo mudanças de condutas não ha-
verá resultados diferentes, já que as mesmas ações geram as mes-
mas consequências.
Com efeito, o Direito, além de visar a corrigir o prejuízo que esse
comportamento causa aos membros da sociedade, impondo uma
medida reparatória do dano ao responsável pela ação, deve possi-
bilitar ao autor da atuação lesiva a mudar de hábitos, de modo a
ser capaz de extirpar da sua alma o sentimento inferior impulsio-
nador do procedimento enfermiço, permitindo-lhe a agir em con-
formidade com sua verdadeira essência – amor, paz, abundância
e prosperidade -, por meio da qual ocorre a germinação de todas
as virtudes inatas no seu íntimo, exteriorizando-as em sua nova
forma de agir por pensamentos, palavras e ações.
Destarte, ao prescrever comandos comportamentais que dis-
ciplinam as relações humanas intrapessoais e interpessoais em
consonância com as leis universais, o Direito cumpre sua missão
de instrumento de cura social capaz de contribuir para a ascensão
da humanidade até a perfeição relativa. Por certo, o Direito viabi-
liza o processo de transmutação de energia, extirpando os vícios
do íntimo dos seres humanos e permitindo a cada um no âmbito
social, a desenvolver habilidades que o torne virtuoso, constituin-
do, assim, os mecanismos propiciadores das relações intrapes-
soais, pelas quais o adquire capacidade de autoconhecer-se e de
atingir conduta consciente, obtendo, assim, os meios necessários
à realização das relações interpessoais.
Infere-se que, o Direito, por ser instrumento capaz de desper-
tar a consciência do ser humano, contribui para que os membros
da sociedade desenvolvam e exerçam a faculdade denominada de
conduta consciente, com a qual buscam compreender adequada-
mente a vida. Essa compreensão é adquirida ao analisar a existên-
80
PECULIARIDADES DO DIREITO
cia terrena com que se capacitam a identificar o que é imperma-
nente, bem como de reconhecer e compreender a influência das
leis da ciência em suas ações, que o possibilita a assumir o dever
de agir, em todas as circunstâncias, de acordo com as leis morais.
Independentemente do que possam fazer os seres humanos, e
de como será essa atuação, cada qual por meio do seu agir cria
as condições do que irá se tornar, as ações definem como será o
seu autor e como será o mundo ao seu redor. Sabe-se que, o seu
mundo interior é determinante do seu mundo exterior, uma vez
que em cada ação praticada há uma reação na mesma proporção
e efeito para o seu autor. O que permite conferir-lhe mérito e res-
ponsabilidade pelas suas escolhas. Com efeito, o ser humano é o
único responsável pelo seu propósito de vida ou destino.
Ressalte-se que, a análise da existência terrena, para a qual se
exige o despertar consciencial, deve ser desenvolvida mediante
a aplicação das leis morais e da física de operacionalização por
todos os seres humanos, em todas suas ações, visando a perma-
necer sintonizado em uma frequência vibracional positiva, sobre-
tudo o operador do Direito. Dado que, mediante pensamentos e
palavras, ele direciona energias para os membros da sociedade
que podem ser benéficas ou maléficas, conforme a intenção em-
pregada, avançando ou retardando o caminhar das pessoas na
realização do propósito de vida. Essa permuta de energias com o
meio que o cerca é realizada pelos centros de forças, que as emi-
tem e as recebem do campo magnético.
Coube ao Direito Constitucional, ao organizar a sociedade po-
lítica, constituir a primeira etapa de universalização da conduta
consciente. Por objetivar a garantia dos direitos universais na sua
completude, não deve a mente humana, valendo-se das aptidões
adquiridas durante sua vivência, utilizar dessa organização como
forma de segregação e diferenciar cada povo em sua própria na-
ção, uma vez que todo ser humano tem a mesma origem e o mes-
mo destino. O Estado não deve agir de maneira a formar pessoas
egoístas (por ser o egoísmo fonte de todos os vícios), já que o ane-
lo dessa organização é disseminar a solidariedade e fraternidade
- o amor incondicional -, sendo o Estado na pessoa do governante
o coordenador dessa ação. O que exige dos agentes estatais uma
conduta voltada a germinar na alma, de todas as pessoas presen-
tes no seio social, os valores virtuosos universais.
Destaca-se, visando a alcançar o almejado, que não é senão a
81
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

ascensão do ser humano até a perfeição relativa, a organização da


sociedade política deve adotar, por analogia, a estrutura do Uni-
verso ou a organização Cósmica. Essa ordenação social deve ser
realizada em consonância com as leis naturais ou morais de es-
truturação, provenientes da Consciência Universal, que regem o
Universo, quais sejam: a lei de adoração, lei do trabalho, lei de re-
produção, lei de conservação, lei de destruição, lei de sociedade,
lei do progresso, lei de igualdade, lei de liberdade e lei de justiça
e de amor34.
34. A busca por explicações sobre a origem do ser humano, os problemas da
sua existência e o seu destino, tem acompanhado o ser humano desde os
primórdios do tempo, e nas mais diversas culturas. Visando a atribuir respos-
tas às indagações sobre o ser humano, desenvolveu-se a crença consistente
na afirmação de que o mundo invisível e o mundo visível estão em constante
relação; são as duas faces de um mesmo rosto. Isso é o que se tem compro-
vado nos tempos atuais. Menciona-se os ensinamentos do egípcio Hermes
Trismegisto, que viveu por volta de 1.500 a.C., fundador do Hermetismo.
Esse filósofo estabeleceu sete Princípios ou Leis Herméticas, quais sejam: Lei
do Mentalismo, Lei da Correspondência, Lei da Vibração, Lei da Polaridade,
Lei do Ritmo, Lei do Gênero e Lei de Causa e Efeito, em cuja lição afirma que
elas são regentes de todas as coisas manifestadas. Cf. Caibalion. Os Sete
Princípios Herméticos. Estudo da Filosofia Hermética do Antigo Egito e da
Grécia. Tradução de Ricardo Uchoa. Joinville - SC: Clube dos Autores, 2017.
Menciona-se a mitologia grega, que surge por volta de 700 a.C., em que se
criou doze deuses imortais, seis do sexo feminino e seis do sexo masculino,
cada um simbolizando uma virtude ou qualidade eterna. Zeus, deus do su-
premo céus e pai dos deuses e dos homens, tem por característica o poder;
Hera, deusa da maternidade, do casamento, temo como característica a fi-
delidade; Poseidon, deus dos mares e das tempestades, tem a característica
da violência e instabilidade; Atena, deusa da sabedoria e das artes, tem por
característica a prudência, a invenção ou criação; Ares, deus da guerra, tem
por característica a cólera e a revolta; Deméter, deusa das estações e da agri-
cultura e teve vários relacionamentos, tem por característica a incerteza e a
infidelidade; Apolo, deus do sol, da arte e da profecia, tem como característica
a justiça e a ordem; Ártemis, deusa da caça, da vida selvagem, da virgindade
e da lua, tem por característica a pureza e o amor; Hefesto, deus do fogo e
dos metais, tem por característica a vingança; Afrodite, deusa do amor, da
beleza e da sexualidade, tem por característica, o belo, o amor e a sensuali-
dade; Hermes, deus do comercio, da riqueza, da sorte, tem por característica
a prosperidade; e Dionísio, deus do vinho e das festas, tem por característica
o prazer, o conhecimento, a fertilidade, a simpatia e a alegria. Por ser difícil
a um humano imitar um deus, conta-se que vários deuses se uniram aos hu-
manos mortais, e dessa união surgiram os heróis, considerados semideuses,
e por ser considerados super-humanos e não deuses poderiam ser imitados
pelos humanos. Os seres humanos imitavam os heróis, ao adquirir virtudes
semelhantes faziam grande feito no âmbito social. Cf. Mitologia Grega (volu-
mes I, II e III) de Junito de Souza Brandão pela editora vozes. Por fim, men-
ciona-se a sistematização das leis morais feita por Allan Kardec, em o Livro
82
PECULIARIDADES DO DIREITO
A lei de adoração está relacionada ao reconhecimento do ser
humano como um fim em si mesmo. O respeito é um sentimen-
to inato de toda pessoa que, por ser autoconsciente, ao desen-
volver o autoconhecimento reconhece suas próprias fraquezas, o
que lhe permite a elevar seu pensamento visando a se aproximar
da Consciência Cósmica. Porém, por estar com sua consciência
adormecida, deve a pessoa reverenciar direta ou indiretamente
a Constituição Federal, por exteriorizar os valores virtuosos uni-
versais constantes da alma humana. Essa reverência ocorre por
meio da obrigação caracterizada pelo dever moral, que reside na
consciência humana, segundo o qual deve observar as normas
constitucionais. Devido a essa obrigação, essas normas são dota-
das de força normativa e consideradas normas supremas do or-
denamento jurídico das quais se desdobram as demais normas
dessa ordem.
A lei do trabalho se refere aos esforços indispensáveis ao ser
humano rumo à sua ascensão até a perfeição relativa. A aquisi-
ção das aptidões pelas quais aperfeiçoa sua inteligência e supera
os obstáculos e sofrimentos, tornando-se uma pessoa propícia a
praticar o bem, ocorre por meio da atividade laborativa. O traba-
lho se apresenta ao ser humano como uma necessidade natural e,
como tal, se manifesta no processo da civilização humana - de pri-
mitiva à civilização moral -, uma vez que esse processo aumenta
as necessidades e os prazeres humanos, sendo o seu suprimento
realizado mediante as diligências do trabalho, o que proporciona,
com o uso da boa vontade, a desenvolver o seu pensamento e o
progresso da humanidade. Devendo, assim, a Constituição Fede-
ral assegurar aos seres humanos mecanismos que lhes possibili-
tem a evitar a ociosidade e a desenvolver a atividade laborativa,
sempre, de acordo com suas habilidades, sendo o repouso carac-
terizado pelo limite das suas energias produtivas e criativas.
A lei de reprodução concerne à forma essencial de manu-
tenção da espécie humana, como ser civilizado. Tudo no univer-
dos Espíritos, escrito em 1857. Cf. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos
(Livro 3º). São Paulo: Edições FEESP. No presente trabalho, se adotou essas
leis apresentadas por Kardec devido ao fato de sua obra conter os princípios
espiritualistas de moral cristã sobre a imortalidade da essência humana, a na-
tureza do Espírito, a origem da pessoa humana e as relações do Espírito com
o ser humano no passado, no presente, no futuro e no porvir da humanidade,
ou seja, a relação do mundo invisível ou transcendental com o mundo visível
ou corpóreo, com o ser humano. Inúmeras das suas afirmações já foram com-
provadas pela Ciência (Física Quântica, Neurociência e Medicina).
83
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

so é energia, que por meio da lei de reprodução ganha forma, e


é constantemente transformada, inclusive o ser humano. Essa
transmutação necessita da reprodução incessante, porque visa ao
aprimoramento da pessoa humana, desenvolvendo sua inteligên-
cia, como condição à sua ascensão. O que impede a prática da re-
produção irracional com o objetivo de satisfazer a sensualidade,
os prazeres materiais, sob pena de retardar a elevação da humani-
dade. Porém, essa lei não se aplica tão somente à atividade repro-
dutora da espécie, mas a todas as formas de agir do ser humano,
como cocriador. Por ser uma necessidade natural, a Constituição
Federal deve assegurar que o seu uso ocorra de forma consciente
pelo ser humano, para que se efetive o seu aperfeiçoamento.
A lei de conservação diz respeito à permanência do ser
humano como manifestação da Consciência Universal. Para
cumprir seu propósito de vida, a pessoa necessita dos órgãos do
seu corpo e das coisas materiais oferecidas pela vida terrena que,
por serem finitos, tanto os órgãos do corpo como os objetos ma-
teriais, devem ser utilizados com justiça, fortaleza ou amor, pru-
dência e temperança. Para tanto, ao utilizar do seu livre arbítrio,
deve agir com razão valendo-se do necessário, próprio de pessoas
virtuosas, e dispensando o supérfluo, próprio de pessoas viciosas
e insaciáveis que alteram sua própria constituição, criando em
sua mente necessidades irreais. Cabendo, assim, a Constituição
Federal estabelecer instrumentos que possam assegurar ao ser
humano a possibilidade de desenvolver as virtudes inatas que lhe
proporcionam a utilizar adequadamente das coisas que estão à
sua disposição, conservando-se em uma frequência vibracional
positiva, já que seu modo de agir está em consonância com os
valores virtuosos universais, de que emanam os nobres sentimen-
tos, por observar as leis da moral e da física.
A lei de destruição está relaciona à transformação do ser hu-
mano. É permitido as pessoas destruírem as coisas materiais que
o cercam, quando dotadas de utilidades, visando ao renascimen-
to e regeneração como impulso ao equilíbrio humano. Essa des-
truição, além das coisas materiais, permite a transformação do
ser humano, como energia, durante sua existência terrena e após
cumprir o seu propósito de vida. Mas, essa última transformação
deve ocorrer naturalmente, o que impede de a existência terrena
ser ceifada pelo próximo ou por si mesmo. Como ato ordenador
da organização social, a Constituição Federal deve assegurar ao
ser humano que essa destruição ocorra em conformidade com as

84
PECULIARIDADES DO DIREITO
virtudes inatas, para que posteriormente não o seja privado do
necessário ao seu aperfeiçoamento.
A lei de sociedade abarca a necessidade do ser humano de vi-
ver no âmbito social. Dotado de habilidades comunicativas, pos-
sui o dever/poder de viver em sociedade e de trabalhar pelo pro-
gresso da humanidade. Não devendo se isolar do mundo social,
uma vez que com essa atitude comete um ato de egoísmo. Sendo o
isolamento absoluto da pessoa contrário a essa lei, exceto quando
visar a abandonar os prazeres materiais, deve a Constituição Fe-
deral adotar mecanismos que proporcionem, nessa convivência
social, existência digna ao ser humano, em que consegue alcançar
a plenitude interior, e, por conseguinte, desenvolver atos de soli-
dariedade, fraternidade e o amor incondicional.
A lei do progresso cuida da ascensão do ser humano de pri-
mitivo para a civilização material, desta para a intelectual, desta
para a moral, e desta para a ascensão espiritual. Advindo do vazio
infinito, a pessoa progride intelectualmente para depois alcançar
a ascensão moral, o que nem sempre ocorre de imediato, assim
como a ascensão intelectual não é condição para o progresso mo-
ral. Mas, quando o ser humano consegue ascender-se, apenas, in-
telectualmente, não deve utilizar desse progresso para fazer o mal
de forma elaborada com o intuito de alimentar seus sentimentos
inferiores. A princípio, deve conhecer o certo e o errado que vai
orientar o seu livre arbítrio, uma vez que o conhecimento aumen-
ta a responsabilidade sobre suas ações. Ao optar por fazer sempre
o bem ou o correto, consolida-se em si o aperfeiçoamento moral e
espiritual. Cabe a Constituição Federal estabelecer instrumentos
que lhe assegure méritos e responsabilidades como consequência
das suas ações, visando a propiciar a utilização da boa vontade
nesse processo evolutivo.
A lei de igualdade consiste em afirmar que todos os seres hu-
manos são iguais, advindos da mesma origem e determinados a
alçar para o mesmo destino. Apesar de terem sido criados iguais,
submetidos às mesmas leis e condições, as experiências e a boa
vontade de cada um, diferem-no dos demais, mas essa diferença
constitui uma desigualdade de mérito e não uma desigualdade
social. Diante dessa desigualdade de aptidões, e como conse-
quência, de posição social, a lei de igualdade possibilita a todos
o exercício do livre arbítrio para escolher a melhor forma de agir
em seu progresso, uma vez que todos experimentam situações de

85
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

glórias e misérias, de força física, de capacidades intelectuais e


de questões morais. Visando a garantia dessa lei, a Constituição
Federal deve assegurar oportunidades para os seres humanos de-
senvolver suas habilidades, assim como deve estabelecer, para os
mais evoluídos, o compromisso de auxiliar àqueles que ainda se
encontram estagnados em seu processo de aprimoramento.
A lei de liberdade importa na possibilidade de o ser humano
ser “senhor” de si mesmo. Embora seja uma habilidade inata, a
liberdade não é absoluta e se manifesta por meio do libre arbí-
trio, que representa a capacidade de fazer escolhas, cujo limite
residente na consciência humana consiste no dever de respeitar
os direitos dos semelhantes. A única maneira de agir que permite
liberdade absoluta é por meio do pensamento, mas, mesmo as-
sim, deve prestar conta a si mesmo, porque as regras que discipli-
nam o seu pensar estão dentro da própria consciência. Devendo
a Constituição Federal prever mecanismos que possibilite o ser
humano a se libertar interiormente dos grilhões que sufocam sua
alma, possibilitando-o a conhecer seus limites e, por conseguinte,
a agir conforme o ciclo natural das coisas que o cercam.
A lei de justiça e amor está relacionada à forma de agir com o
próximo. Justiça é respeitar o direito do outro; é conceder a cada
ser humano o que lhe pertence por direito natural ou universal.
Fazer ao semelhante o que quer que seja feito para si mesmo; é
praticar o amor ao próximo, o amor incondicional, sem o qual não
existiria justiça. Agindo assim, é benevolente com todos, indul-
gentes com as imperfeições dos semelhantes e perdoará as ofen-
sas cometidas, além de agradecê-las por ter com elas aprendido.
Para tanto, a Constituição Federal deve impor ao ser humano o
dever de agir em consonância com as cinco leis espirituais e físi-
cas de operacionalização.
A ação coordenadora do Estado, visando a atender a finalidade
da organização da sociedade política, deve considerar os direitos
fundamentais dispostos na Constituição Federal como direitos
inerentes à natureza humana, cuja prescrição tem por objetivo a
exteriorização da essência humana. Ao estabelecer esses direitos
no texto constitucional e assegurá-los no âmbito da sociedade de
acordo com as leis naturais, o Estado confere ao ser humano a
única condição necessária à sua plenitude interior ou saúde men-
tal consistente na máxima de amar a si mesmo e ao próximo, por-
que o torna apto a fazer o bem, tanto a si quanto ao próximo, por

86
PECULIARIDADES DO DIREITO
meio das relações intrapessoais e interpessoais, respectivamente.
A consciência humana desenvolvida pela fruição dos direitos
fundamentais confere a pessoa humana, principalmente nos mo-
mentos de dificuldade (nos obstáculos impostos no caminhar pela
vida), o reconhecimento de que existe algo acima de si, a que deve
buscar para ser feliz, ser pleno. Dotado de conduta consciente, me-
diante a boa vontade, o ser humano consegue elevar o pensamento
e adentrar no plano da Superconsciência, no que se entrelaça com
a Consciência Universal, que o indica de onde veio, porque veio e
para onde vai. Com efeito, reconhece-se que a pertence.
Ao compreender que todos têm a mesma origem e o mesmo des-
tino, o ser humano em pensamentos, palavras e ações reconhece
conscientemente que todos são iguais, dotados de liberdade, e,
por conseguinte, que cada um deve agir com tolerância para com
seu semelhante, porque o que os separam são os degraus da es-
cada evolutiva em que cada um se encontra. Essa aceitação lhe
possibilita a enxergar o seu semelhante como parte integrante de
si mesmo (todos são Consciência Cósmica), de modo que, ao agir
passa a fazer ao seu semelhante o que quer que seja feito para si,
por já entender que o próximo é seu espelho, o que faz ao próximo
faz a si mesmo.
Tudo isso é devido à vida social. Ao atribuir ao ser humano a pa-
lavra e as outras faculdades necessárias à vida de relação, a Cons-
ciência Universal não o criou para viver no isolamento. Como lei
natural, a vida em sociedade exige assistência mútua para que
todos concorram para a ascensão até a perfeição relativa, de modo
a conquistar a felicidade, a saúde mental. Esse triunfo o ser hu-
mano não consegue de forma isolada, porque não possui todas as
faculdades que lhe são exigidas pelo seu processo evolutivo. To-
davia, essa vida social deve ter como regras norteadoras das suas
ações as leis espirituais e as leis da ciência de operacionalização,
para que se desenvolva a tolerância e aumente os laços de família.
Com a consolidação dos laços de família entre os membros da so-
ciedade, por meio das relações interpessoais, o progresso moral
considerado uma necessidade humana é realizado.
Com a ocorrência do aperfeiçoamento moral, os seres humanos
amam-se fraternalmente, e, por conseguinte, reconhecem a so-
ciedade como civilizada. Para cumprir essa missão, deve o Direito
assegurá-los o desenvolvimento das suas habilidades – pensar,
raciocinar, escolher, recusar, rir, chorar, amar -, com as quais se
87
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

alcança o estágio mais avançado da dessa civilização, em que se


tornam capazes de promover a depuração do gosto.
Destarte, o Direito que visa a garantir a convivência social deve
proceder à organização da sociedade conforme as leis espirituais
de estruturação, além de adotar mecanismos educacionais pauta-
dos nas leis da moral e da ciência de operacionalização capazes de
contribuir para o progresso da humanidade. Assim o faz quando
elege a família como base da sociedade e exige proteção especial
por parte do Estado. As normas reconhecendo as várias espécies
de família e fortalecendo os laços familiares, para caracterizar
esse progresso, devem ser estruturadas em consonância com as
leis naturais de reprodução, de conservação, de sociedade, de li-
berdade, de igualdade e do progresso, uma vez que sem o respei-
to a essas leis o mundo corpóreo perece e, por conseguinte, não
ocorrerá à ascensão da humanidade.
Menciona-se, a título de exemplo, as normas do artigo 226,
caput, e do §3º, da Constituição da República Federativa do Bra-
sil, de 1988, ao dispor sobre a proteção da família pelo Estado
reconhece como entidade familiar, e, portanto, como base da so-
ciedade, a união estável entre pessoas de sexo oposto, devendo a
lei facilitar a sua conversão em casamento. Provocado sobre as
uniões homoafetivas, o Supremo Tribunal Federal – STF35, ao
fundamentar a sua decisão nos princípios da igualdade, da liber-
dade e da dignidade da pessoa humana, reconheceu como entida-
de familiar a união entre pessoas do mesmo sexo e estendeu aos
companheiros dessa união os direitos e os deveres dos compa-
nheiros nas uniões estáveis firmadas entre homem e mulher.
Ressalte-se que, a interpretação da norma pelo STF foi feita de
acordo com as leis espirituais de liberdade, de igualdade, de so-
ciedade, de conservação, do progresso e de justiça e amor. Como
medida de justiça, o tratamento desigual por meio da ação huma-
na só deve ser feito se a situação de desigualdade se originou de
aptidões adquiridas pelo ser humano por meio da sua experiência
e boa vontade. O que não ocorre nesse caso. Todo ser humano
adveio do vazio infinito ou princípio inteligente criados em iguais
condições, dotados de livre arbítrio, o que permite afirmar que
não se deve atribuir sexo ao Espirito porque não o possui; o sexo
pertence à parte corpórea. Se o espírito ao adquirir a forma hu-
mana escolhe unir-se a outro do mesmo sexo como condição para
35. ADI nº 4277 e ADPF nº 132. Julgamento em 05/05/2011. Disponível em:
www.stf.jus.br.
88
PECULIARIDADES DO DIREITO
o progresso, essa escolha está em acordo com as leis espirituais de
igualdade, de liberdade e de sociedade, de conservação e do pro-
gresso. O que exige respeito por todos os membros da sociedade,
especialmente pelos operadores do Direito, como forma de obser-
vância da lei de justiça e de amor, externada nas ações humanas
firmadas em conformidade com as leis espirituais e leis da física
de operacionalização.
Desta forma, a ação consistente nessa interpretação foi pratica-
da conforme essas leis espirituais e físicas, possibilitando os seres
humanos, no seio social, a amarem-se uns aos outros sem con-
dicionamento, a ser tolerantes e irmãos universais. Tornando-os
capazes de compreender com o coração o nobre sentimento (o
amor incondicional), e, por conseguinte, a exercitá-lo, uma vez
que essa prática lhes confere o estado de plenitude interior.
O Direito, também, cumpre essa função ao estabelecer como de-
ver da família, da sociedade e do Estado garantir às crianças os
direitos inerentes a sua natureza como a vida, a liberdade, a ali-
mentação, a saúde, a educação, o respeito e a convivência familiar
e social; bem como a salvaguardá-las da violência, da opressão,
da negligência, da discriminação e da exploração, além do medo,
do ódio, do rancor, dentre outros sentimentos inferiores.
Ademais, impõe sanção aos pais ou responsáveis que não cum-
prir com esse dever, seja pela prática de ações de forma direta ou
por permitir que atos sejam praticados por terceiros capazes de
violar ou macular a essência da criança. Essa sanção não tem por
função punir aos pais ou responsáveis, porque a punição ocorre
em ver um ser humano, especialmente com quem se tem um laço
familiar forte e apertado, em sofrimento e se sentir impotente
por não poder aliviar tal sofrimento, mas conscientizá-los de que
aquela conduta ou comportamento que causou dano à criança ja-
mais deverá ser repetida.
Essas normas estão em consonância com as leis naturais de con-
servação, de reprodução, de sociedade, do progresso, de liberdade
e de igualdade. O ser humano dotado de pensamento e palavras
não foi criado para viver isoladamente; bem como por não pos-
suir todas as faculdades necessárias para o desenvolvimento físi-
co, material, intelectual, moral e espiritual, a vida em sociedade
lhe assegura o progresso na medida em que melhor compreende
e melhor executa essas leis, porque são nessas leis que estão os
ensinamentos que o conduzem à ascensão.
89
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

Os direitos inerentes à natureza das crianças, quando assegu-


rados, permitem a elas desenvolverem a sua verdadeira essência,
formando e delineando sua personalidade de acordo com a Cons-
ciência Universal. Quando adultos dotados de livre arbítrio, ao
efetuarem suas escolhas, agirão de boa vontade e os seus pensa-
mentos, palavras, hábitos e ações serão praticados de acordo com
a lei de justiça e de amor, pela qual não farão ao próximo o que
não querem que seja feito para si. Pois, com a sua personalidade
desenvolvida em consonância com os valores virtuosos univer-
sais, estão aptas a operacionalizarem as leis espirituais e físicas
em todas as suas ações.
As normas que prescrevem aos pais o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores e aos filhos maiores o dever de ajudar
e amparar os pais na velhice e na carência ou na doença, visam
a consolidar os laços de família que constituem os vínculos so-
ciais necessários ao progresso humano, uma vez que obedecem a
conservação da espécie humana. No que, observam as leis espiri-
tuais de sociedade, de reprodução, de conservação, do trabalho,
de igualdade e do progresso.
Esse dever atribuído aos pais se encerra quando o filho maior
consegue cuidar de si mesmo, após a aquisição de mecanismos
necessários à emancipação da alma e ao desenvolvimento de to-
das as habilidades mentais, emocionais e de vontade. Mas, como,
além das necessidades físicas, há também a necessidade de pro-
gresso, com que os seres humanos aprendem a amarem-se uns
aos outros, como irmãos, surge, assim, o dever dos filhos para
com os respectivos pais.
Esse dever dos filhos de “honrar pai e mãe” é uma consequência
da lei de justiça e de amor, porque é impossível amar o seu seme-
lhante, praticar o amor incondicional, sem amar a seu pai e a sua
mãe. Assim, para assisti-los na necessidade, não basta dizer que
os ama, é necessário atribuir, em suas ações, respeito, atenção,
submissão, compaixão e condescendência.
Ressalte-se que, mesmo não havendo o cumprimento do dever
do pai em relação ao filho, o dever deste para com aquele não
cessa. Nesse caso, a ação desenvolvida pelo filho possibilita a
ascensão moral de ambos, porque permite ao pai reconhecer sua
falta e não mais adotar o mesmo comportamento em relação aos
demais filhos consanguíneos ou por afinidade que a vida o pre-
senteou; ao filho, por reconhecer que toda conduta geradora do
90
PECULIARIDADES DO DIREITO
mal deve ser combatida pela realização do bem, para que possa
em contrapartida recebê-lo do Universo na mesma proporção que
o praticou.
Quando não ocorre o cumprimento do dever pelos pais o Direito
estabelece como sanção a “prisão civil por dívidas de alimentos e/
ou a perda do poder familiar”. Não havendo o respeito dos filhos
para com os seus pais, o Direito como sanção prevê o mecanismo
da deserção, com que impossibilita de o filho faltoso com seus as-
cendentes participar do processo sucessório dos mesmos. Faz-se
imperioso destacar que, a sanção visa a despertar a consciência
do pai faltoso e do filho ingrato para que não mais praticar qual-
quer ato causador de dano ao seu próximo. Mediante o cumpri-
mento dessa medida não punitiva, denominada de sanção, o ser
humano desenvolve o mérito de suportar as consequências dos
males que causou ao seu semelhante, não podendo evitar por ser
instrumento para o aperfeiçoamento moral, além de reconhecer
ser o único responsável pelos seus próprios atos.
O aperfeiçoamento moral ocorre por meio dessas normas refe-
rentes às responsabilidades do seio familiar, porque, ao serem ela-
boradas em consonância com as leis universais de sociedade, do
progresso, de reprodução, de conservação, de liberdade, de igual-
dade, de justiça e de amor, extirpam da alma humana os sentimen-
tos inferiores como orgulho, egoísmo, soberba, estupidez, violên-
cia, vingança, duelo, desordem, dor, tristeza, desprezo, maldade,
ódio, rancor, raiva, mágoa, frustração, dentre outros. Além disso,
propiciam, aos seus destinatários, a desenvolver os sentimentos
superiores como humildade, solidariedade, gratidão, compaixão,
piedade, obediência, verdade, harmonia, prudência, temperança,
fortaleza, justiça, amor, paz, abundância, prosperidade, dentre
outros.
As normas que instituem o direito tributário, levando em con-
sideração os princípios limitadores do poder de tributar, como as
que se referem à capacidade contributiva, além de assegurar a dis-
tribuição de riquezas, estão em consonância com as leis naturais de
conservação, de reprodução, de sociedade, do progresso, de liber-
dade, de igualdade e de justiça e de amor. Ao efetuar a justiça dis-
tributiva, tirando dos mais ricos e distribuindo com os mais neces-
sitados, por meio da conversão em bens e serviços, essas normas
garantem a conservação e o aprimoramento da espécie humana.
Entretanto, essa ação distributiva jamais deve verter em uma es-

91
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

tagnação social, constituindo, para o ser humano, uma depen-


dência, o que ocasionaria um peso para a sociedade, e impediria o
progresso da humanidade, além de caracterizar flagrante violação
da lei moral do trabalho.
Com efeito, essas normas devem ser elaboradas em consonân-
cia com as leis morais supramencionadas. O Direito deve impor
ao ser humano o trabalho físico ou intelectual para que possa dele
satisfazer suas necessidades que o conduz à elevação até a Cons-
ciência Universal. Essa imposição deve considerar as aptidões
humanas, segundo as quais o seu proprietário é livre para desen-
volver a atividade que melhor lhe aprouver; bem como considerar
os valores sociais do trabalho, pelos quais todo trabalho é digno
de respeito e consideração, porque, ao assegurar existência digna,
contribui para o aperfeiçoamento da humanidade.
Destarte, o Direito deve assegurar oportunidades de desempe-
nho de atividades laborativas para que o ser humano possa de-
senvolver e aperfeiçoar a sua inteligência, uma vez que o trabalho
é o único mecanismo que possibilita o ser humano a aprimorar
essa faculdade, com que possibilita a ascender-se desde a civiliza-
ção material até a civilização espiritual. Comportando-se, assim,
as normas jurídicas que versam sobre direito do trabalho são pro-
duzidas e interpretadas em consonância com as leis naturais, es-
pecialmente, de conservação, de sociedade, do trabalho, do pro-
gresso, de igualdade, de liberdade e de justiça e de amor.
As normas que disciplinam as atividades dos agentes econômi-
cos devem levar em consideração as diferentes habilidades que
possuem cada ser humano no seio social, para que não haja dis-
criminação social ou desenvolvimento do trabalho em situações
análogas a de escravo, práticas que desconstituem a essência hu-
mana. Para tanto, essas normas devem ser elaboradas em confor-
midades com as leis naturais acima mencionadas.
Ressalte-se que, as normas de direito tributário e de direito do
trabalho, além das que se referem à ordem econômica, desenvol-
vem a razão no ser humano, preservando-o dos excessos; discipli-
nam o uso dos bens pelas pessoas para atender às necessidades
no cumprimento do seu propósito de vida, permitindo-o a conhe-
cer de maneira racional o que é necessário e supérfluo, ou quando
insensato à custa de suas próprias experiências.

92
PECULIARIDADES DO DIREITO
Essas normas referentes ao direito tributário, ao direito do tra-
balho e às disciplinadoras da ordem econômica, elaboradas e
interpretadas em consonância com as leis naturais e da ciência,
visam ao aperfeiçoamento moral do ser humano, porque extirpam
da sua alma os vícios como o orgulho, egoísmo, vaidade, possessi-
vidade, opressão, imprudência, negligência, ambição, avareza, in-
justiça, fraqueza, dentre outros, e desenvolvem sentimentos supe-
riores como amor, paz, justiça, fortaleza, prudência, temperança,
humildade, tolerância, compaixão, piedade, solidariedade, dentre
outros. Como consequência, permitem aos seres humanos, no âm-
bito social, a agir por meio de pensamentos, palavras e ações con-
forme as leis morais e físicas de operacionalização.
Desta forma, como obra do Universo, o Direito é instrumento de
materialização das leis morais e remédio de cura social que con-
tribui para o desenvolvimento material, emocional, mental ou in-
telectual, moral e espiritual do ser humano, porque lhe assegura a
efetivar o processo de transmutação, na sua alma, no que extirpa
os sentimentos inferiores e a impregna de nobres sentimentos,
e, por conseguinte, se reaproxima da sua verdadeira essência, de
acordo com as aptidões e possibilidades adquiridas pela expe-
riência e pela boa vontade.
No que concerne ao reconhecimento da igualdade entre os seres
humanos, afirma-se que essa igualdade natural é adquirida desde
o nascimento, uma vez que todos provêm da mesma origem e ten-
dem para o mesmo fim. Nascem com a mesma fragilidade, estão
sujeitos às mesmas dores e submetidos às mesmas leis e condi-
ções, porque foram criados do vazio infinito, e têm por propósito
a ascensão até a perfeição relativa. Porém, devido à experiência e
boa vontade provenientes do exercício do livre arbítrio, cada ser
humano, na utilização dessa faculdade natural (da liberdade), ad-
quire habilidades diversas, caracterizando, assim, as denomina-
das desigualdades de mérito.
Essa diferença é necessária para que cada ser humano possa
contribuir na realização do bem maior, como seu propósito de
vida e do seu semelhante, nos limites de suas forças físicas e nos
limites do seu aperfeiçoamento intelectual e moral, o que faz de
cada uma das pessoas peça útil na realização desse feito, de acor-
do com suas capacidades atribuídas pela Consciência Universal
e desenvolvidas conforme a sua vontade e experiência, na utili-
zação do livre arbítrio, em consonância com as leis espirituais e

93
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

físicas de operacionalização.
Não obstante a necessidade da existência dessa diferença de ap-
tidão, devido ao seu estágio atrasado, o ser humano desenvolveu
em si o orgulho, o egoísmo e a vaidade, dentre outros sentimentos
inferiores, que caracterizam as desigualdades sociais. Desigual-
dades estas que estão em desacordo com a verdade Universal,
porque não representam a exteriorização das leis morais de estru-
turação, e como consequência seus instituidores não observaram
as leis espirituais e físicas de operacionalização.
Cabe ao Direito coibir as práticas abusivas do ser humano pro-
venientes de sua posição de superioridade, adquiridas pelas qua-
lidades pessoais, quando visam a oprimir àqueles que estão com
a consciência adormecida, principalmente, para tirar proveito,
além de extirpar do âmago da pessoa humana os sentimentos in-
feriores como o orgulho, egoísmo, vaidade, dentre outros. Essa
função do Direito, além de exercida em consonância com a lei
natural da igualdade, visa a tutelar a humildade pela prática da
solidariedade e fraternidade.
Desta maneira, o Direito deve, portanto, proibir a todos os
agentes públicos a prática de qualquer ato em razão de posição
de superioridade criada pela ação humana, como aceitar viagens
ou presentes pelo fato de exercer determinada função pública.
Devendo exigir desses seres humanos, na execução de qualquer
ato relacionado à função que lhes foi confiada, a mesma respon-
sabilidade e as mesmas condições em que estão submetidas todas
as pessoas presentes no âmbito da sociedade. Não deve conceder
aos agentes públicos prerrogativas de foro em razão da função,
nem tampouco imunidades; bem como, não deve outorgar direi-
tos a gratificações como auxílio transporte, auxílio saúde, verbas
de representação, carro oficial com motorista, secretária particu-
lar, apartamento funcional ou auxílio moradia, dentre outras.
Assegurar aos agentes públicos essas prerrogativas em razão
da função que os exerce, é utilizar o Direito como instrumento
para promover a institucionalização da injustiça, estabelecendo
as desigualdades sociais, a intolerância e a corrupção por falta de
transparência na prática dos atos públicos, necessários ao desen-
volvimento das relações interpessoais. É legitimar a ação humana
com a finalidade de alimentar seus sentimentos negativos. Essas
previsões são imorais, antiéticas e injustas porque estão em dis-
sonância com as leis naturais de sociedade, de conservação, do
94
PECULIARIDADES DO DIREITO
trabalho, do progresso, de igualdade, de liberdade e de justiça e
de amor. Consequentemente, impossibilita aos seus destinatários
de agir em consonância com as leis espirituais e físicas de opera-
cionalização.
No concernente à liberdade como um direito natural, afirma-se
que esse direito é relativo porque todos os seres humanos, inde-
pendente da posição que ocupam no âmbito social, devido às suas
inclinações, necessitam uns dos outros. Devendo ser parcimonio-
so no agir de modo que seus pensamentos, palavras e ações não
venham a ocasionar dano a si e ao próximo.
No seu livre arbítrio, nem tudo que o ser humano pensa e tem
vontade de fazer, deve ser por ele realizado. Ao desenvolver apti-
dões, o torna capaz de instruir-se nas leis da ciência e da moral e
de compreender, com o coração, as leis espirituais, que o conduz
a sopesar com seus vícios como o orgulho, o egoísmo, a vaidade,
entre outros, e escolher o que deve fazer e o que não deve fazer.
Somente, assim, está agindo em conformidade com a lei natural
de justiça e de amor.
Quanto mais inteligência desenvolvida possuir o ser humano
para essa compreensão, que deve ser de coração, mais adiantado
se encontra no caminho da Unidade Cósmica, porque age de boa
vontade, uma vez que ao utilizar da sua liberdade de pensamento
e de consciência de forma adequada, pensa sem limites, mas in-
terroga sua consciência. O que impede de proceder com manifes-
tações que sejam prejudiciais a si, à sociedade, na qual habita, e
ao Universo, do qual é parte.
Destarte, as liberdades de pensamento e de consciência são ab-
solutas. Mas, a liberdade de agir, proveniente do livre arbítrio e
que se constitui na vontade de fazer algo, é relativa. Pode-se pen-
sar em tudo, mas nem tudo deve ser feito, porque as liberdades
de expressão e de manifestação são limitadas. São limitadas pela
própria consciência. É dizer que o ser humano pode tudo, mas
nem tudo lhe convém.
O Direito deve assegurar ao ser humano as liberdades de pensa-
mento, de consciência, de expressão, de manifestação, de reunião
e de associação conforme a lei espiritual. Na fruição das suas ap-
tidões, ao exercer o seu livre arbítrio, deve agir de boa vontade,
manifestando-se ou expressando-se por meio de pensamentos,
palavras e ações, de modo que seus atos não sejam prejudiciais a
95
Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

si nas relações intrapessoais e nem ao próximo nas relações inter-


pessoais. É afirmar que sua maneira de agir deve estar de acordo
com as leis espirituais e físicas de operacionalização.
Quando o ser humano age em desacordo com a lei natural da
liberdade, seja por se encontrar com a consciência adormecida
ou por estar dominado pelos vícios, cabe ao Direito impor san-
ções, como direito de resposta proporcional à afronta, reparação
moral, reparação material, não como punição, mas como medida
de despertar da consciência humana, visando a extirpar os sen-
timentos inferiores da sua alma para que não mais repita o ato
causador do dano social.
Depreende-se, a lei humana é dotada de valores éticos, por des-
crever justamente as obrigações humanas de acordo com a es-
sência do ser humano; de valores morais, porque assegura o agir
humano pautado na boa vontade, sempre visando a cumprir as
leis naturais; e de justiça, porque possibilita a agraciar a cada ser
humano o que lhe pertence por direito, por conduzir cada pessoa
a fazer a seu semelhante somente o que quer que seja feito para si.
Ao estabelecer normas que disciplinam os crimes contra a
Administração Pública (peculato, concussão, corrupção passi-
va, prevaricação, advocacia administrativa, violência arbitrária,
entre outros), o Direito visa a instruir o funcionário público de
se abster de trair a si mesmo e a sociedade. Além da tutela feita
à Administração Pública nos aspectos patrimonial e moral, por
extirpar do íntimo humano de quem exerce função pública senti-
mentos inferiores como o orgulho, o egoísmo, a avareza, a luxúria
e o apego, essas normas tutelam, ainda, os valores virtuosos uni-
versais como a honestidade, o desprendimento, a honra, a soli-
dariedade e a moralidade, direcionando o ser humano a agir em
consonância com a verdade Universal.
O Direito ao disciplinar os crimes contra a vida (homicídio, in-
fanticídio, instigação ou indução ao suicídio e aborto) orienta ao
ser humano que deve abster-se de matar, de ceifar a vida do seme-
lhante. Essas normas não tutelam somente o direito à vida, mas
também as virtudes universais como o amor e a solidariedade.
Pois, objetivam a honrar toda a vida, não agir por conta do ódio
ou aversão de tal modo que cause mal a qualquer criatura huma-
na, por meio de pensamentos, palavras ou ações. Essas normas
visam a extirpar sentimentos negativos como a vingança, violên-
cia, possessão, ira, ódio, rancor, raiva, duelo, crueldade, soberba,
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PECULIARIDADES DO DIREITO
intolerância e a injustiça. Assim, estão de acordo com a lei espiri-
tual de adoração, de sociedade, do progresso, de conservação, de
igualdade, de liberdade e de justiça e de amor.
As normas que disciplinam os crimes contra o patrimônio (rou-
bo, furto e extorsão), orientam que não se deve querer para si o
que pertence ao próximo por direito. Essas normas não visam a
tutelar somente o bem jurídico denominado patrimônio (o direi-
to de propriedade material e imaterial), mas, e principalmente,
as virtudes universais do desapego, generosidade, solidariedade,
fraternidade, verdade e justiça. Essas normas denotam ensina-
mentos voltados a abandonar a avidez, a não pegar para si mais
do que se necessita, a utilizar as coisas de forma sensata e com
cuidado, desenvolvendo o senso de compartilhar a vida com o
próximo, como condição ao cumprimento das leis universais de
sociedade, de conservação, do progresso, de liberdade, de igual-
dade e de justiça e de amor.
Destarte, essas normas por proibirem a usurpação do que é do
outro, visam a extirpar os sentimentos inferiores como o orgulho,
o egoísmo, a vaidade, a obstinação, a avareza, a ambição, o apego,
a possessão, a inveja, o medo, a insegurança, dentre outros.
As normas disciplinadoras dos crimes contra a honra (calúnia,
injúria e difamação) e dos crimes contra a fé pública (moeda falsa,
falsificação de papéis públicos, falsidade documental, etc.) orien-
tam que o ser humano deve, sempre, praticar seus atos com sin-
ceridade, se abster do falso pensar, do falso falar e do falso agir.
Objetivam a extirpar da alma humana os sentimentos negativos
como a mentira, a blasfêmia, a inveja, a traição, dentre outros.
Essas normas estão de acordo com a lei de justiça e de amor.
Além de tutelarem a honra do ser humano e a veracidade dos do-
cumentos públicos, tutelam as virtudes da sinceridade, da sabe-
doria, da justiça, da fortaleza, da temperança, da prudência e da
responsabilidade. Ensinam as pessoas a utilizarem das energias
dos seus pensamentos, palavras e ações de forma consciente, so-
mente com a finalidade de abençoar, curar e progredir, porque
essas energias são poderosas e podem destruir ou ascender aque-
le que age e aquele na intenção de quem está agindo. Possibili-
tando, assim, a observância das leis morais e físicas de operacio-
nalização.

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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

As normas que disciplinam os crimes contra a dignidade sexual


(estupro, violação sexual mediante fraude, assédio sexual, den-
tre outros) estão de acordo com as leis espirituais de liberdade,
igualdade, sociedade, do progresso e de justiça e de amor. Além
de tutelarem a liberdade sexual das pessoas, tutelam as virtudes
da honestidade, da verdade, da sinceridade e do amor universal.
Determinam que o ser humano seja digno e honesto nas relações
sexuais (interpessoais), a praticar com amor, e o orientam a não
agir por conta do desejo sexual de modo a causar dano a outrem,
extirpando da alma humana vícios como a luxúria, libertinagem,
agressão, traição, desprezo, compulsão e indecência.
As normas que visam a disciplinar a proibição do tráfico de dro-
gas, orientam o ser humano a não usar substância tóxica. Essas
normas, além de protegerem a saúde pública, tutelam virtudes
como o amor, paz, sabedoria, responsabilidade, prudência, tem-
perança, verdade, honradez, justiça, decência, dentre outras. De-
terminam, ainda, que a pessoa humana deve fazer abstinência ou
distanciar-se do uso descuidado de tóxicos, evitando a tornar a
mente turva de modo a dificultar o desenvolvimento da clareza e
da vigilância no seu pensar, no falar e no agir. Essas normas ex-
tirpam da alma humana os sentimentos negativos como a obsti-
nação, tibieza ou medo, impulso, insegurança, tristeza, desânimo,
desespero, frustração, solidão, dente outros vícios. Normas essas
que estão em consonância com as leis espirituais de liberdade, de
igualdade, de sociedade, de conservação, do progresso e de justi-
ça e de amor.
Todos os sentimentos inferiores que impregnam a alma huma-
na e ficam alojados no subconsciente são energias mal dirigidas,
de modo que precisam receber nova direção ou serem transmuta-
das para o Superconsciente, no que serão eliminadas. Essa nova
direção ou transmutação compete ao Direito, como instrumento
de justiça e remédio de cura social. Essa missão é cumprida quan-
do o Direito, além de disciplinar as relações interpessoais, pres-
crevendo comandos comportamentais, disciplina as relações in-
trapessoais, descrevendo métodos de desenvolvimento dos bons
sentimentos ou das virtudes (em relação à música, ao ambiente
que o cerca, aos programas televisivos a que assiste, dentre ou-
tros) no que o ser humano se encontra consigo e com a Consciên-
cia Universal.

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PECULIARIDADES DO DIREITO
Tais relações devem ser pautadas, única e exclusivamente, em
algo reconhecido e aceito por todos independentemente de tempo
e lugar. Esse “algo” sempre foi denominado de valores ou dogmas
aceitos no âmbito social em que vive o ser humano. Esses valores
o orientam no crescimento pessoal por meio do convencimento
intelectual, porque a inteligência humana os conhece, aceita e
vive como algo bom para si e para o próximo.
Porém, nem todos consideram as mesmas realidades como va-
lores, mesmo havendo mútuo respeito. Para que desenvolva sua
função de instrumento de justiça e remédio de cura social, o Di-
reito deve considerar como condição disciplinadora das relações
humanas os valores provenientes de virtudes, por possuir caráter
universal, uma vez que o que for uma virtude em um ser humano
a é em todos os outros. O que ocorre quando o Direito é elabo-
rado e interpretado em consonância com as leis espirituais e da
ciência, exteriorizadas por meio de princípios éticos e morais e
mediante ideais de justiça válidos e aceitos por todos em qualquer
tempo e lugar.
Ressalte-se que, as afirmações proferidas por meio de pensa-
mentos, palavras e ações, tanto na elaboração como na inter-
pretação do Direito, que se destinam a atribuir nova direção às
energias, ou transmutá-las, quanto mais convincentes e apoiadas
nas leis universais e físicas de operacionalização serão mais po-
derosas e efetivas. Em outros dizeres, as forças criadoras do ser
humano se manifestam de forma propícia ao bem maior, para si e
para o próximo, quando os seus atos forem justificados por valo-
res virtuosos universais, uma vez que constam das leis da moral.
Cumpre-se essa recomendação, quando o Direito for produzi-
do pelos seres humanos que já ativaram e equilibraram os cen-
tros de força superiores, porque estão voltados para o intelecto
e Consciência Universal. No exercício desse poder, são capazes
de expressarem sentimentos superiores, uma vez que estão sin-
tonizados em uma frequência vibracional positiva. Na ausência
de seres humanos com esse perfil, deve ser elaborado por aqueles
que já conseguiram desenvolver os centros de forças medianos, já
que conseguiram ou estão lutando por equilibrar as suas emoções
e sentimentos, e os comunicarão em consonância com as leis es-
pirituais e da ciência.
O Direito, em especial o Direito Constitucional, é formado de
regras e princípios. Os princípios devem prescrever decisões polí-
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Direito Constitucional Transcendental - Teoria da Constituição.-Almeida

ticas fundamentais, objetivos ou finalidades e valores éticos, mo-


rais e de justiça de acordo com as leis espirituais. As regras que
prescrevem comandos comportamentais só devem estabelecer
um direito quando for desdobramento de um princípio, conside-
rando o grau de fundamento, valor ou finalidade.
As normas jurídicas que formam o Direito Constitucional de-
vem exteriorizar energias superiores para quando movimentadas
na direção em que lhes é dada pela intenção do ser humano sejam
capazes de realizar o processo de transmutação, na alma humana,
pelo qual os sentimentos inferiores dela são expulsos e os nobres
sentimentos passam a ela impregnar, e o Direito cumpre a missão
de instrumento de justiça e remédio de cura social.
Destarte, o Direito por conferir ao ser humano a possibilidade
de agir em consonância com as leis da moral e físicas de opera-
cionalização, combatendo o orgulho, egoísmo, vaidade, arrogân-
cia, dentre outros vícios, o capacita a desenvolver o amor por si
mesmo, e como consequência pelo semelhante, porque não mais
se entrega à satisfação dos desejos, das expectativas e das exigên-
cias dos outros. Permitindo, assim, a pessoa a observar como se
relaciona com o mundo que a cerca, definindo-se por meio das
palavras que profere, das emoções e sentimentos que demonstra
e dos relacionamentos que realiza consigo mesma e com os seme-
lhantes.
Esse comportamento proporciona a pessoa humana a ter cons-
ciência de si como ser único, centelha Universal e esplêndida ex-
pressão da vida, manifestada em condutas de respeito, atenção,
responsabilidade e cuidado no agir, uma vez que suas ações po-
dem ter consequências positivas ou negativas para si e para o pró-
ximo. Esse estado consciencial de amor por si mesmo, permite o
ser humano a reconhecer suas imperfeições, a se aceitar como o
é física e emocionalmente, sem autocríticas, porque compreende
as manifestações das suas emoções e dos seus sentimentos, e ao
desenvolver a paciência reconhece os próprios limites e respeita o
tempo de mudança, em si e no próximo. Ocasionando, assim, um
dever constante de se aperfeiçoar moralmente.
Amar a si mesmo é um estado de plenitude interior, de saúde
mental, ou seja, é um estado de “ser” e não de “ter”, o que signi-
fica afirmar que nem tudo que o ser humano deseja consegue al-
cançar, porque as coisas segue um percurso e respeita um tempo
que não é o seu, mas o da própria natureza. Com efeito, ao seguir
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PECULIARIDADES DO DIREITO
o seu caminhar em consonância com as leis da moral e da ciên-
cia, a pessoa não desenvolve sentimentos inferiores, e quando os
apresenta desde já consegue eliminá-los; não julga a si mesmo
e nem os outros pelas práticas equivocadas, mas as emoções ou
sentimentos impulsionadores das ações; não depende de nin-
guém para se sentir bem, pleno, alegre e feliz, porque reconhece
que tudo de que necessita se encontra dentro de si; e admite ser
o único responsável pelo seu bem-estar físico, emocional, mental,
moral e espiritual.
Esse estado de plenitude ou saúde mental possibilita o ser hu-
mano a enxergar a vida com confiança, coragem e responsabilida-
de para atingir equilíbrio material, emocional, mental e espiritual,
desenvolvendo em si a prudência, a fortaleza ou amor, a justiça e
a temperança, das quais se desdobram as demais virtudes inatas.
Com as quais se torna capaz de amar ao próximo, mesmo diante
dos desafios impostos pelo jogo da vida porque já consegue amar
a si mesmo.

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