Neuronegociação e Tomada de Decisão
Neuronegociação e Tomada de Decisão
Neuronegociação e Tomada de Decisão
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NOSSA HISTÓRIA
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Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
DA AUTONOMIA PRIVADA À TOMADA DE DECISÃO................................... 8
ABRINDO A “CAIXA PRETA” DO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO11
O PROCESSO DE ESCOLHA………………………………………………...….. 13
TOMADA DE DECISÃO………………………………………………...…………. 15
A CONSTRUÇÃO DO ‘EU' NA TOMADA DE DECISÃO…...………............... 19
REFERÊNCIAS………………………………………………...………….............. 25
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INTRODUÇÃO
A ideia de ‘construção de nós mesmos' abordada ao longo da dissertação,
se baseia na ideia biológica de Maturana e Varela (1997) sobre a descoberta do
conceito de autopoiese, que nos permite pensar os seres vivos com a capaci-
dade de autocriação e realização, homeostaticamente, assim como máquinas
no processo de organização produtiva dos seus componentes, desde o nível ce-
lular.
É notório que pessoas a todo o momento têm que decidir ante as mais
diversas situações e sobre problemas o mais diferentes possível, utilizando-se
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para isso de suas experiências passadas, seus valores e crenças, seus conhe-
cimentos técnicos, suas habilidades e filosofias, as quais norteiam a forma pela
qual tomam decisões. Essas diversas maneiras de tomar uma decisão podem
representar tanto o sucesso como o fracasso das pessoas que a tomam e da-
quelas que dependem deste processo, bem como da organização que estejam
inseridas, quando são investidas do poder decisório. Com a evolução do mundo
e seu decorrente aumento de complexidade, as decisões também se tornam
mais complexas nas organizações, exigem do líder e dos colaboradores precisão
na tomada de decisão.
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ao organismo que decide; e não assumem a limitação da capacidade computa-
cional do organismo que decide (WALD, 1947; SIMON, 1955). Se o sujeito to-
masse decisões de acordo com essa visão racional, ele deveria ser capaz: de
identificar todos os resultados possíveis, não havendo espaço para a possibili-
dade de ocorrência de resultados inesperados; calcular todos os pay-offs para
todos os resultados, ordenando-os em uma ordem precisa de preferência; ser
capaz de prever todas as probabilidades de ocorrência de cada pay-off em de-
corrência de cada alternativa analisada para decisão (SIMON, 1955). Simon, em
1955, já apontava: o “homem econômico” é um mito e “para vários propósitos
estamos interessados em modelos de racionalidade ‘limitada’ mais do que mo-
delos de racionalidade relativamente ‘global’.” (SIMON, 1955, p. 113).
Os estudos de Simon foram tão intrigantes que, muitos anos após a divul-
gação de sua teoria ainda são feitas pesquisas mostrando que a racionalidade é
limitada em processos de Tomada de Decisão; essas pesquisas buscam com-
preender os elementos considerados como a “caixa preta” dos processos deci-
sórios, assim designada por conter variáveis não observadas diretamente. Essas
variáveis, cuja mensuração é feita por proxies, entram no modelo “como se fos-
sem” (as if) representações dos constructos a serem medidos (CAMERER,
2007). Outra vertente de estudos que surgiu a partir da teoria de Simon, reúne
estudos nos quais são analisados os aspectos que desviam as decisões quando
há risco envolvido (KAHNEMAN e TVERSKY, 1979); esses estudos consideram
a influência de variáveis que, por não serem facilmente mensuradas, são consi-
deradas a “caixa preta” dos modelos de Tomada de Decisão, como: as emoções
suscitadas pelo objeto da decisão; os sentimentos relacionados ao ambiente da
decisão; os aspectos motivacionais em relação à decisão; a experiência prévia
em relação ao ambiente ou ao objeto de decisão; os processos grupais que in-
fluenciam o tomador de decisão; o arrependimento pela decisão; dentre muitos
outros aspectos de natureza afetiva ou cognitiva (PLOUS, 1993, p. 80).
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complexidade do funcionamento cerebral; trata-se de uma oportunidade de com-
preensão dos aspectos não racionais da decisão, fugindo-se dos postulados
clássicos da teoria econômica para Tomada de Decisão (CAMERER, 2007, p.
29; BEAR, CONNORS e PARADISO, 2008, p. 27; COHEN, 2005, p. 3).
Sartre (2015) faz uma análise da realidade humana a partir do cogito car-
tesiano “Eu penso”. Acerca disso ele percebe que ao fazer essa introspecção à
realidade humana, ela estaria presa a uma instantaneidade temporal e o ‘eu'
estaria limitado ao instante, sem qualquer pretensão de futuro, sendo necessária
uma contínua “criação" do futuro, instante após instante (SARTRE, 2015).
Quando pensamos em nós mesmos em termos de tentar definir o que somos,
limitamo-nos a pensar em nós no momento presente: “Eu sou”. Esse pensa-
mento por si encerra qualquer possibilidade de um “eu futuro”, uma vez que já
estou definido em minha afirmação, dentro da minha realidade momentânea, e,
para Sartre (2015), “O possível é aquilo que falta ao Para-si para ser si mesmo”
(SARTRE, 2015, p. 154).
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DA AUTONOMIA PRIVADA À TOMADA DE DECISÃO
Autonomia não é termo unívoco, que traduz em uma só palavra um signi-
ficado consensual. Como explica Gerald Dworkin, adotando distinções introduzi-
das por Herbert Hart e desenvolvidas por John Rawls, parece existir um conceito,
que se desdobra em várias concepções de autonomia. O conceito é uma noção
abstrata que traduz, em termos gerais, o papel que o termo desempenha. Des-
tarte, várias correntes filosóficas compartilham o conceito de autonomia como a
ideia de autodeterminação da pessoa. Mas o preenchimento deste conceito abs-
trato com conteúdos mais específicos, por exemplo, sobre quais princípios justi-
ficam interferir com a autonomia, qual a natureza do eu que faz as escolhas,
quais as conexões entre autonomia e interdependência, resulta na formulação
de diferentes concepções conflitantes.
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Em Kant, a concepção de autonomia estava intrinsecamente ligada a um
ideal de racionalidade iluminista, que esperava que a razão produzisse uma von-
tade boa em si mesma, ou seja, um querer que é apreciado não em decorrência
dos fins que almeja, mas da máxima que o determina. E daí derivam as várias
formulações do imperativo categórico, que universalizam a máxima da ação gui-
ada pela razão (“devo proceder sempre de maneira que eu possa querer também
que a minha máxima se torne uma lei universal”; “age apenas segundo uma má-
xima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”; “age
como se a máxima da tua ação se devesse tornar, pela tua vontade, em lei uni-
versal da natureza”).
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se, contudo, que nem o “homem médio” nem o homo economicus podem ser
encontrados desfrutando uma cerveja gelada no bar da esquina, em especial no
final do mês, em um país em crise econômica.
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ABRINDO A “CAIXA PRETA” DO PROCESSO DE TOMADA DE
DECISÃO
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portamental? (HO, LIM e CAMERER, 2007, p. 307); Como os modelos de per-
suasão usados em marketing afetam o livre arbítrio do consumidor e como isso
sensibiliza os sistemas neurais do sujeito? (WILSON, GAINES e HILL, 2008, p.
389); Como a Neurociência pode afetar as decisões de governança? (FARMER,
2006, p. 655). Estudos dessa natureza podem gerar um avanço para a modela-
gem do processo de TD em ambientes complexos, que envolvam estimativas de
valores e de nível de metas, por exemplo.
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O PROCESSO DE ESCOLHA
Segundo Dorneles (2014), que associa as emoções aos processos de
aprendizagem e como essa relação afeta à tomada de decisão, as emoções po-
sitivas exercem um papel importante no indivíduo, pois influenciam diretamente
nos sistemas de motivação, recompensa e prazer (DORNELES, 2014). De
acordo com sua pesquisa, ao realizarmos coisas que nos dão prazer o “que sen-
timos resulta da ativação de neurônios de dopamina no núcleo accumbes” (DOR-
NELES, 2014, p. 04), o que altera os comportamentos motivacionais para busca
e repetição desses momentos, pois a liberação de dopamina causa bem estar
ao organismo (DORNELES, 2014). Consequentemente, a tomada de decisão,
com base emocional, sofrerá influencia tanto para a busca de prazer, quanto
para alertas de perigo e proteção.
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Somos responsáveis pelo mundo que criamos a partir das escolhas que
fazemos, portanto o processo sobre o qual eu dou valor ao mundo a minha volta
precisa abarcar o que faz com que eu realize essas escolhas. A minha percep-
ção de mundo, as experiências que obtive, as emoções e sentimentos que car-
rego comigo, a forma como o conhecimento emerge em minha mente, são fato-
res a considerar nas escolhas realizadas, uma vez que como projeto de um ser
em construção, tudo isso é base para a construção de uma nova realidade.
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TOMADA DE DECISÃO
“A informação é um recurso efetivo e inexorável para as empresas, espe-
cialmente quando planejada e disseminada de forma personalizada, com quali-
dade inquestionável e preferencialmente antecipada para facilitar as decisões.”
(REZENDE, 2005 p.247).
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administração, as técnicas de lideranças tiveram que passar por revisão, por
conta disso foram feitas pesquisas rigorosas no campo do comércio e da indús-
tria, estudando as reações dos indivíduos através de observação e registro com
relação aos vários tipos de liderança.
Esses estudos mostraram que o líder deve valorizar o trabalho dos indiví-
duos e das equipes, ressaltando os aspectos positivo do que foi realizado e in-
fluindo na construção de um ambiente estimulante para a realização das ativida-
des, portanto a produção não depende apenas da qualidade da matéria-prima e
da perfeição do funcionamento das modernas máquinas, a produtividade em ge-
ral de um grupo tem correlação com determinados tipos de liderança.
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Além disso, a decisão sobre qualquer um dos três tipos de problema pode
ser diferenciada por nível de decisão:
Por outro lado, Ansoff (1977, p.30) define a decisão estratégica como a
que se preocupa principalmente com problemas externos, ou com a empresa e
seu ambiente. As decisões táticas preocupam-se com a estruturação dos recur-
sos da empresa, de modo a crias alternativas de execução que visam aos me-
lhores resultados. As decisões operacionais visam a maximizar a eficiência do
processo de conversão dos recursos, a rentabilidade das operações correntes.
Embora distintas todas as decisões interagem entre si, são interdependentes e
complementares.
Shimizu (2001, p.73) julga que muitos excelentes decisores não utilizam
uma teoria para ajudá-los a decidir e lança a seguinte dúvida: “As boas decisões
são acidentais, ou existem princípios lógicos que guiam o raciocínio no processo
de decisão?”
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De acordo com a afirmação de Ansoff (1977, p.30), “no processo de to-
mada de decisão, existem vários enfoques sobre decisões empresarias individu-
ais ou em grupo. Decisões estratégicas tendem a ser tomadas por esses gru-
pos”.
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A CONSTRUÇÃO DO ‘EU' NA TOMADA DE DECISÃO
De acordo António Damásio (1996), a percepção do ambiente se dá por
meio da interação entre corpo e cérebro. Ele nos descreve como a simples ob-
servação de uma paisagem pode nos causar alterações tanto no corpo, quanto
no cérebro, na formação de uma memória (DAMÁSIO, 1996).
O que pode surgir da interação entre corpo e cérebro? Está claro que a
mente emerge das atividades nos circuitos neurais, porém muitos dos circuitos
são configurados a partir de funcionalidades do organismo. Portanto, de acordo
com Damásio (1996, p. 257) “só poderá haver uma mente normal se esses cir-
cuitos contiverem representações básicas do organismo e se continuarem a mo-
nitorar os estados do organismo em ação”. Daí a importância do meio ambiente
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em que o indivíduo está inserido, pois através dos estímulos recebidos por esse
meio ambiente, os circuitos neurais sofrerão alterações de acordo com as repre-
sentações que chegarão até eles, e, consequentemente o processo de emersão
da mente (DAMÁSIO, 1996).
Para entender um pouco mais sobre o ‘eu' que Damásio (1996) procura
nos explicar, precisamos compreender que ele entende que a base neural para
o ‘eu' depende de dois conjuntos de representações: “um deles diz respeito às
representações de acontecimentos chave na autobiografia de um indivíduo, com
base nas quais é possível reconstituir repetidamente uma noção de identidade
por ativação parcial de mapas sensoriais dotados de organização topográfica”
(DAMÁSIO, 1996, p. 270). A nossa autobiografia, a partir de conjunto de repre-
sentações, diz respeito a uma série de fatos que definem quem somos, o que
fazemos, o que gostamos, o que usamos, aonde vamos etc. Nosso passado
pode ser ativado por meio de representações localizadas: nosso nome, onde
trabalhamos, onde moramos, lugares que conhecemos, e assim por diante.
Ainda na memória temos o conjunto dos acontecimentos recentes, ligados a pla-
nos e acontecimentos imaginários, como uma “memória do futuro possível” (DA-
MÁSIO, 1996, p. 270).
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O segundo conjunto de representações diz respeito ao modo como o
corpo participa da construção do conceito de ‘eu', através das representações
primordiais que o corpo possui, levando em conta não só o que este corpo tem
sido em geral, mas o que ele tem sido ultimamente e como os estados do corpo
se alteram à percepção dos objetos, durante e após seu processamento (DAMÁ-
SIO, 1996).
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Para sentirmos um sentimento por determinado objeto é preciso basear-
se na subjetividade da percepção desse objeto, o estado corporal que este ob-
jeto causa e a percepção destas modificações e os pensamentos que acontecem
durante esse processo (DAMÁSIO, 1996).
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De acordo com Damásio (2011), três processos de self ocorrem em nossa
mente. O primeiro deles é o protosself, que mapeia a todo momento as estrutu-
ras físicas corporais, gerando não somente imagens corporais, mas também
imagens corporais sentidas, ou sentimentos primordiais. Na composição do pro-
tosself encontramos três mapas que são de suma importância: os mapas intero-
ceptivos gerais, mapas gerais do organismo e os mapas dos portais sensoriais
direcionados para o exterior (DAMÁSIO, 2011).
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O terceiro self que Damásio (2011) define é o self autobiográfico, que
neste momento nos apoia na compreensão sobre como o self auxilia no pro-
cesso de tomada de decisão, uma vez que ele “é uma autobiografia que se tor-
nou consciente (DAMÁSIO, 2011, p. 139)”. O self autobiográfico tem como base
tudo o que carregamos na memória, seja recente ou passada, tudo o que fize-
mos ou gostaríamos de ter feito, assim como nossas experiências emocionais.
Pode tanto atuar no estado manifesto, produzindo mente consciente, quanto em
estado latente, aguardando a vez de se apresentar (DAMÁSIO, 2011).
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REFERÊNCIAS
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