EU SOU - Vol.5

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DEDICATÓRIA

Devo este livro principalmente a meus professores americanos de mestrado


que, na década de 1980, vieram ao Brasil para transmitir as verdades fiéis
de Deus, sem que tivessem, em contrapartida, qualquer vantagem por seus
esforços em auxiliar a Igreja brasileira. Lamento, contudo, que a presente
homenagem esteja ocorrendo apenas após a morte deles, mas eu não podia
tê-la prestado antes, em uma época ainda de muita imaturidade de minha
parte. Hoje, essa imaturidade é menor.
Minha manifestação honrosa a: Dr. Gerard van Groningen, Dr. Fred H.
Klooster e Dr. Simon Kistemaker, mestres a quem dedico esta obra.
AGRADECIMENTOS
Sou muito grato a alguns acadêmicos do Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper. Todos eles me auxiliaram em pesquisas sem as
quais este livro teria sido mais pobre:

André Luís Araújo de Brito


Anderson José da Silva
Giovanni G. R. Zardini
Josué Francisco dos Santos Filho

Minha oração é para que Deus abençoe esses irmãos, tornando-os cada
vez mais prósperos e diligentes no exercício de seus ministérios de ensino
no meio do povo de Deus.
SUMÁRIO

Prefácio
Introdução
PARTE I | O ENSINO DE JESUS SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
1 | Jesus adverte sobre os falsos profetas
PARTE II | O ENSINO DE PAULO SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
2 | Paulo adverte sobre os falsos profetas
3 | Os falsos profetas/mestres podem vir de fora da igreja
4 | Os falsos profetas/mestres podem vir de dentro da própria igreja
5 | Os falsos profetas/mestres produzem apostasia
6 | Os falsos profetas/mestres provocam desordem na igreja
7 | Os falsos profetas/mestres apresentam-se disfarçados
8 | Os crentes precisam do conforto de Deus em meio à pregação dos falsos
profetas/mestres
9 | Os crentes precisam tomar cuidado com o erro
10 | Os crentes precisam ser grandemente advertidos
11 | Os crentes também podem cair em erro teológico
12 | Crentes podem ser privados da verdade
13 | Os falsos mestres são descritos com precisão
PARTE III | O ENSINO DE PEDRO SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
14 | Pedro adverte sobre os falsos profetas
PARTE IV | O ENSINO DE JUDAS SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
15 | Judas adverte sobre os falsos profetas
PARTE V | O ENSINO DE JOÃO SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
16 | João adverte sobre os falsos profetas
17 | Os nomes do falso profeta final
18 | A natureza do falso profeta final
19 | As funções teológicas do falso profeta final
20 | Os “ministérios” do falso profeta final
21 | Os sinais operados pelo falso profeta final
22 | A importância dos sinais no ministério profético
23 | A natureza dos milagres operados pelos falsos profetas
24 | Os objetivos do falso profeta na operação dos sinais
25 | A condenação do falso profeta final
26 | Posturas dos crentes diante dos falsos profetas
27 | Regras gerais para se livrar do falso ensino
PREFÁCIO

E
u me lembro do primeiro contato com os escritos do Dr. Heber
Carlos de Campos. Foi no ano de 2001, quando iniciei os meus
estudos preparatórios para o vestibular em Teologia, com o objetivo
de ingressar em um dos seminários da Igreja Presbiteriana do Brasil. Fiquei
fascinado com a combinação de simplicidade e profundidade da sua obra O
Ser de Deus e os seus Atributos. Algum tempo depois, já próximo da
conclusão do curso, fiz a leitura de outra obra da sua lavra, A Providência e
sua Realização Histórica, pois precisava consubstanciar a minha pesquisa
para a escrita do meu trabalho de conclusão de curso. Foi o livro que me
deixou definitivamente fascinado com a maneira como o Dr. Heber faz
Teologia Sistemática, com sua preocupação em trabalhar as passagens da
Escritura e, a partir daí, formular o seu pensamento sistemático. Lembro que
a exposição do assunto, bem como as aplicações ao final de cada capítulo,
sedimentou as minhas convicções acerca do governo, preservação, provisão,
retribuição e concorrência realizados pelo Deus soberano.
Tudo isso serviu para fazer crescer em mim o desejo de um dia me tornar
seu aluno, o que, pela graça e bondade de Deus, veio a ocorrer a partir de
2010, no mestrado pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper. Lembro do meu primeiro contato com o Dr. Heber. Fui à sua sala,
para uma entrevista e planejamento do meu curso. Ele me perguntou por qual
motivo eu desejava estudar Teologia Sistemática e a minha resposta foi:
“Poder estudar com o senhor!” Foi nesse momento que ele levantou os olhos
e os fitou em mim. Sua resposta: “Não vai ser moleza!”
De fato, não foi moleza. Não obstante, posso testemunhar de como tem
sido extremamente enriquecedor e abençoador estudar “aos seus pés”. A
primeira disciplina que estudei com ele foi justamente Teologia da
Revelação. Mais uma vez, fiquei impactado com a amplitude do assunto e
com a abordagem do professor. Lembro-me da apostila compartilhada
conosco. Hoje, aquela apostila tem se desenvolvido e se transformado em
uma preciosa coleção sobre a Teologia da Revelação.
Um dos conceitos de que mais gosto é o que chamamos de
“Progressividade da Revelação”, o qual ensina, de modo simples, que Deus
não revelou todas as coisas de uma só vez, em um único momento da história
da redenção; mas que, aos poucos, à medida que a história foi se
desenvolvendo, Deus foi adicionando mais luz, mais informações, visando
dar a conhecer mais de si e conduzir o seu povo pactual nos seus santos
caminhos. Menciono a progressividade da revelação para fazer um
trocadilho com o que eu costumo chamar de “progressividade das
publicações”. Até alguns anos, não tínhamos quase nada disponível em
português sobre revelação. O livro-texto que usei no seminário, por
exemplo, não possui o locus conhecido como Prolegômenos, que trata das
primeiras coisas a serem ditas na Teologia Sistemática, o que envolve o
estudo da revelação. Com o passar dos anos, novas Teologias Sistemáticas
foram publicadas com excelentes exposições a respeito da revelação divina.
E tudo culminou com a publicação da coleção escrita pelo Dr. Heber
Campos, que chega agora ao seu quinto volume.
O foco deste volume está na exposição feita pelo Novo Testamento acerca
da falsificação da revelação verbal. A relevância desse assunto para a igreja
evangélica brasileira está justamente no fato de que ela está inserida dentro
do contexto histórico anunciado pelo Novo Testamento: os Últimos Dias.
Vivemos no interregno entre a primeira e a segunda vindas de Cristo. O
Senhor nos advertiu a respeito do grande perigo dos falsos profetas, pois, de
acordo com ele, tais homens “enganarão a muitos” (Mateus 24.5,11). Na
verdade, tão insidiosos são os falsos profetas, que o Senhor afirma que
mesmo os eleitos, se possível, serão vítimas dos enganos de tais homens (v.
24).
Falsos profetas já são encontrados desde os dias do Antigo Testamento,
perturbando o povo de Deus. Eles se multiplicaram a partir do Novo
Testamento. Antes mesmo de o período da revelação cessar e o último livro
do cânon neotestamentário ser escrito, nós já os encontramos como motivo
de grande preocupação por parte dos apóstolos. Paulo, por exemplo,
destacou a capacidade dos falsos profetas de se travestirem em “ministros
de justiça”, capacidade essa compartilhada pelo próprio Satanás, que se
traveste em “anjo de luz” (2 Coríntios 11.13-15). Em sua despedida dos
presbíteros da igreja de Éfeso, Paulo apontou o dedo para eles mesmos e
falou sobre como do meio deles se levantariam “homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos” (Atos 20.30). Semelhantemente, o
apóstolo João advertiu os leitores das suas duas primeiras cartas, a respeito
de como “muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora”, que “não
confessam Jesus Cristo vindo em carne” (1 João 4.1; 2 João 7).
Impressiona-me a maneira como nós, com frequência, não damos a devida
importância a tais advertências do Novo Testamento. Vivemos em uma época
em que falsos profetas são celebrados como “irmãos em Cristo” e
convidados para pregar em muitos púlpitos. Muitos membros de nossas
igrejas assistem a programas de televisão nos quais falsos mestres inoculam
o seu veneno em seus lares, mentes e corações. Eles também estão presentes
na internet. Tudo isso coopera para que os pastores tenham de lidar com
inúmeras dificuldades para apascentarem as ovelhas do Grande Pastor.
Por todas as razões elencadas acima, a presente obra se reveste de
importância monumental. O Dr. Heber discorre de modo didático e profundo,
destacando, primeiramente, as advertências feitas pelo próprio Senhor Jesus
Cristo e pelos apóstolos, como falsos profetas surgem tanto fora quanto
dentro da própria igreja, como produzem apostasia e provocam desordem na
igreja. De modo especial, o capítulo 7, que trata de como os falsos profetas
se apresentam disfarçados, me impactou muito. Ele me fez pensar no
heresiarca Marcião, que, de acordo com Justin Holcomb, chegou a Roma por
volta do ano 140 d.C. e foi recebido por aquela igreja, inicialmente, de
braços abertos, provavelmente por logo ter doado uma grande quantia em
dinheiro, além de um edifício. Somente quatro anos depois, em 144 d.C., foi
que os ensinamentos de Marcião o levaram à excomunhão.1 A mesma coisa
tem ocorrido em inúmeras igrejas cristãs ao longo da história. Talvez você,
que tem este livro em mãos, já tenha vivenciado alguma dificuldade dessa
natureza em sua igreja local.
Atente, então, para a exposição feita aqui a respeito de como os crentes
precisam tomar cuidado com o erro, de como precisamos ser advertidos
constantemente sobre o perigo dos falsos mestres e de como devemos vigiar,
uma vez que nós mesmos estamos sujeitos a cair em erro teológico A fim de
nos ajudar, o Dr. Heber oferece uma detalhada descrição das características
dos falsos mestres: sua abundância, rebeldia, falatório doentio, engano e
conexões religiosas. Por fim, de modo peremptório, porém necessário,
somos admoestados a calá-los, a fazer o possível para que os falsos profetas
sejam silenciados e não mais tenham acesso às ovelhas de Cristo.
Na parte final da obra, o autor nos instrui a respeito do falso profeta final,
com destaque para seus nomes, natureza, funções teológicas, ministérios,
sinais por ele operados e sua condenação final.
Como se proteger de tudo isso? Seguindo a Escritura Sagrada, enchendo-
se de conhecimento da verdade de Deus, não tolerando o falso ensino,
reservando tempo para o exercício espiritual e ouvindo atentamente a
pregação da Escritura, enxergando-a como um verdadeiro meio de graça.
Leitor, você não tem em mãos meramente um livro de teologia. Diante dos
seus olhos você tem uma lente diáfana, que permite enxergar as coisas como
elas realmente são. Junto aos seus ouvidos você tem o soar de uma trombeta,
para que se mantenha desperto e atento, orando e vigiando. É com grande
alegria, entusiasmo e senso de urgência que lhe recomendo a leitura e o
estudo detido da presente obra.
Que o Senhor abençoe a sua vida!

Alan Rennê Alexandrino Lima


Pastor efetivo da Igreja Presbiteriana do Cruzeiro do Anil,
em São Luís-MA
Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste, em Teresina-
PI e pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, em São Paulo-SP
Mestre em Teologia Sagrada (Sacrae Theologiae Magister), com
concentração em Estudos Histórico-Teológicos e linha de pesquisa em
Teologia Sistemática, pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper, em São Paulo-SP
Doutorando em Ministério pelo Centro Presbiteriano
de Pós-Graduação Andrew Jumper/Reformed Theological
Seminary, Jackson, Mississipi
Abril de 2022
Justin S. Holcomb. Know the Heretics. Grand Rap ids, M I: Zondervan, 2014. p . 45.
INTRODUÇÃO

A falsificação da revelação verbal está presente não apenas no ensino do


Antigo Testamento — tema abordado no livro anterior —, como também no 2

ensino do Novo Testamento. Esse período, denominado, em geral, de


“Últimos Dias”, é incerto, situando-se entre a primeira e a segunda vindas de
Cristo, com duas especificações: “era presente” e “era futura”.
Por era presente, entendem-se os dias que têm início na época do Novo
Testamento, incluindo o período que vivemos hoje, até o tempo dos últimos
dias.
Por era futura, compreendem-se os eventos que terão lugar nos dias
finais, antes da volta de Jesus, e que culminarão com a manifestação do falso
profeta final.
Ao longo da história, os falsos profetas nunca deixaram de perturbar o
povo de Deus. Eles existiram no Antigo Testamento e também não ficaram
ausentes por ocasião do Novo Testamento. Todavia, nesse último período, a
autoridade do profeta não era a mesma, pois o ofício profético já havia
cessado, porém a tentativa de engano permaneceu e se fez presente já nos
dias iniciais do Novo Testamento.
Anos atrás, um professor de seminário disse à sua turma, no início do período letivo, que, juntos,
trabalhariam em um grande projeto ao longo do semestre. Eles percorreriam, sistematicamente,
o Novo Testamento, com o propósito de categorizar cada área da verdade e determinar quantas
vezes cada uma delas é mencionada. Seu objetivo seria encontrar quais áreas têm mais ênfase
que outras no Novo Testamento. Quando eles completaram o projeto, ficaram surpresos ao
ver que a advertência contra a falsa doutrina é enfatizada mais do que qualquer outra,
mais ainda que o amor, a unidade e a experiência.3

Esse excerto mostra a importância que Deus dá às advertências contra a


falsa profecia e o falso ensino. É espantoso observar em que medida os
escritores do Novo Testamento lidam com a questão da falsificação da
revelação verbal.
Neste livro, você vai ler sobre a ênfase dispensada contra a falsa profecia
e o falso ensino por cinco personagens do Novo Testamento: Jesus Cristo,
Paulo, Pedro, Judas e João.
É preciso que os leitores da igreja evangélica brasileira acordem para a
(triste) realidade da deturpação do evangelho verdadeiro. Creio que a
apostasia final, ou a denominada “grande apostasia”, decorrerá do
desenvolvimento de teologias que não atribuem à Escritura Sagrada o valor
que lhe é devido. Muitas igrejas evangélicas têm trilhado caminhos que não
são de fidelidade aos ensinos da Tota Scriptura. Se Deus nos conceder vida
mais longa, teremos a grande tristeza de ver alguns evangélicos no caminho
da apostasia — caminho que culminará na “grande apostasia”, nos anos
imediatamente precedentes à vinda de nosso Redentor.
Busca-se, portanto, despertar o povo de Deus para essa situação caótica
em que o mundo teológico está imerso e para que aqueles que pertencem
realmente a Deus venham a conhecer cada vez mais e melhor sua verdade —
a verdade que está registrada na Escritura Sagrada.
Se você quiser conhecer mais sobre essa matéria, leia meu livro A falsificação da revelação verbal no ensino do Antigo
Testamento. São José dos Camp os: Fiel, 2019.
“A Final Warning: Beware of False Teachers!”, de Steven Cole. Disp onível em: http s://bible.org/seriesp age/lesson-107-final-
warning-beware-false-teachers-romans-1617-20. Acesso em: fev. 2018.
PARTE I | O ENSINO DE JESUS
SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
1 | JESUS ADVERTE SOBRE OS
FALSOS PROFETAS

J
esus Cristo prenunciou que, na igreja dos séculos seguintes, até o final
do mundo, muitos haveriam de se levantar, no meio do povo de Deus,
contra o evangelho verdadeiro e falsear seus ensinamentos.
Nesse contexto, a apostasia é um assunto que se faz presente nos
ensinamentos de Jesus, o Redentor dos filhos de Deus, ainda que não seja um
tema ministrado com a mesma frequência nos escritos de Paulo, Pedro, Judas
e João — apóstolos para quem os ensinamentos de Jesus serviram de
fundamento.
Em seguida, passemos à análise de Mateus 7.15-20.
Mt 7.15-20 — “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se,
porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons
frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus,
nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e
lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis”.

Jesus ensina muitas coisas preciosas sobre a falsificação da revelação


verbal. A todas essas coisas, o leitor deveria prestar bastante atenção, pois
Jesus é o Profeta por excelência, aquele que fala a verdade de Deus!

1. OS FALSOS PROFETAS
TÊM UM MINISTÉRIO DE DISSIMULAÇÃO
Mt 7.15a — “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em
ovelhas”

No volume 4 desta série — A falsificação da revelação verbal no ensino do


Antigo Testamento —, já nos referimos a essa característica dos falsos
profetas. Logo no início, eles não anunciam seus reais objetivos e se ocultam
entre os cristãos genuínos, comungando as mesmas crenças. Entretanto,
quando conquistam a confiança dos crentes, os falsos profetas começam a
mostrar sua real intenção de ensinar coisas diferentes, enganando. E, assim
que conseguem imiscuir-se entre o povo de Deus, assemelham-se a cordeiros
(ou ovelhas), caracterizando-se por aparente mansidão, por não criarem
confusão, por não atacarem outras pessoas, e assim por diante. Entretanto,
assim que conquistam a simpatia dos crentes, começam a expor suas crenças
de engano — crenças que eles próprios têm como corretas.

2. OS FALSOS PROFETAS TÊM UM MINISTÉRIO


DE GANÂNCIA FINANCEIRA
Mt 7.15b — “mas por dentro são lobos roubadores”.

É importante lembrar que Jesus usa imagens do mundo natural para expressar
verdades do reino espiritual. Por isso, recorre à expressão lobos roubadores
para ilustrar o que os falsos profetas representam para as ovelhas de Deus
ou para aqueles que estão prestes a pertencer espiritualmente a Deus. Essa
expressão pode ser compreendida como animais predadores — aqueles que
roubam a presa e passam a privá-la de tudo que ela possui.
A palavra roubadores também sugere que eles têm muita ganância e não
fazem nada que não seja por dinheiro. Eles investem contra o bolso (e a
bolsa) dos crentes, os quais, então, dominados pelo engano, contribuem, de
forma liberal, para o enriquecimento dos líderes espirituais, na esperança de
eles próprios ficarem ricos — essa é a promessa dos falsos profetas. Foi
assim no passado e continua a ser assim no presente. Eles exploram a “boa-
fé” daqueles que, ingenuamente, confiam nas promessas de riqueza e
prosperidade que os falsos profetas anunciam.
A igreja chamada “evangélica” é abundante em falsos profetas, pessoas
que distorcem o evangelho de Deus, pregando outro evangelho para enganar
o povo. Muitos já foram — e são — vítimas desses lobos roubadores. Após
tirarem tudo que os “fiéis” têm, a falsa promessa de prosperidade nunca é
cumprida. No entanto, algumas pessoas ainda buscam, com bastante avidez,
esse tipo de falso profeta, que as alimenta com falsas esperanças.

3. OS FALSOS PROFETAS TÊM UM


MINISTÉRIO DE ENGANO
Mt 24.11 — “levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos”.
O prenúncio de Jesus está se tornando cada vez mais claro nos tempos em
que vivemos. Ainda que esses falsos profetas não tenham consciência de que
são enganadores, eles, de fato, o são. Pensam estar com a verdade, mas eles
próprios estão sendo enganados por doutrinas de demônios. Cada vez mais
vemos falsos profetas se levantando no meio do povo e proclamando sua
própria autoridade para enganar outras pessoas. O texto citado diz que são
“muitos falsos profetas” que se levantam para enganar. O número de
enganados é proporcional ao número de enganadores. A igreja evangélica é
vasta no Brasil e no mundo, e são muitos os forjados na escola do engano e
da extorsão. Com frequência, eles se apresentam piedosamente, mas, de fato,
são homens de engano desviando as pessoas do verdadeiro evangelho.

4. OS FALSOS PROFETAS DISPÕEM


DE INSTRUMENTOS PARA ENGANAR

Mt 24.24-25 — “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.”

Via de regra, os falsos profetas se servem de habilidades espetaculares para


enganar até mesmo os eleitos de Deus. Era algo típico dos profetas do
Antigo Testamento realizar milagres e prodígios. Não existem instrumentos
mais poderosos para o engano do que esses! Em geral, tudo que apela para o
sobrenatural atrai as pessoas. E, ainda que seus prodígios venham a se
realizar (cf. Dt 13.1-3), o intento dos falsos profetas é conduzir o povo ao
erro, afastando todos da verdade de Deus e de seu amor por ele.
Os sinais e os prodígios que acontecem são para o engano do povo. Essa
é a profecia de Jesus Cristo. Portanto, a realização de um milagre ou de um
prodígio não atesta a veracidade de um profeta. Até mesmo o último dos
falsos profetas, chamado “Besta da Terra” ou “Falso Profeta”, aparecerá
com poderes para realizar sinais e prodígios de engano. Por essa razão, os
cristãos devem estar atentos à real Palavra de Deus — a Palavra que está
registrada na Escritura Sagrada —, e não à palavra atraente e criativa dos
falsos profetas.
Nós, os que vivemos nos chamados “Últimos Dias”, presenciamos, com
bastante frequência, o dano que esses homens causam à Igreja de Deus,
conduzindo-a a descaminhos. E não são poucos os que fazem isso. À medida
que o tempo do fim vai se aproximando, o número de falsos profetas
aumenta. Não é difícil perceber a presença e a influência deles em nossa
geração. Eles pregam ao povo de Deus o que dizem ser a palavra do Senhor
e em nome do Senhor, enganam muitos do povo de Deus, ainda que
temporariamente. Deus, contudo, também tem levantado homens que
corrigem seu povo, alertando seus filhos da presença dos falsos profetas.
Não se esqueça de que Jesus predisse o aparecimento dessa categoria. Não
há desculpa para dar ouvidos a eles!

5. OS FALSOS PROFETAS PODEM SER IDENTIFICADOS


Mt 7.16-20 — “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros
ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz
frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos
bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos
seus frutos os conhecereis”.

Quando a Igreja de Deus começa a estudar a Escritura, muitos de seus


líderes tornam-se capazes de discernir, com maior prontidão, quem são os
falsos profetas. A Igreja não fica por muito tempo sem reagir correta e
adequadamente ao ensino do falso profeta.
Os crentes instruídos na Escritura percebem que os falsos profetas não
são uma árvore boa, por causa dos frutos que produzem. Os frutos tardam a
aparecer, pois tem de haver semeadura, crescimento e florescimento.
Somente mais tarde, o fruto surge. Então, nesse momento, os crentes
instruídos podem, passo a passo, traçar a jornada dos falsos profetas na
igreja, até se darem conta de eventuais irregularidades e os repelirem.
Hoje, a capacidade de discernir espiritualmente é uma necessidade
premente no meio do povo de Deus. Não é difícil perceber quão carente a
Igreja está da manifestação do Espírito de que a Escritura fala. Se
pudéssemos contar com mais homens e mulheres capacitados, ainda que
apenas em determinados momentos, muitos enganos poderiam ser evitados,
identificando-se, com maior precisão, quem é o falso profeta e o que a falsa
profecia significa.
Jesus alertou seu povo, direta e pessoalmente, para a falsa profecia e o
falso ensinamento. Entretanto, o ensino de Jesus sobre a falsa profecia é
visto no ensino de seus apóstolos, já que foi Jesus quem lhes revelou essas
coisas. Vejamos, então, o que ele ensinou por intermédio de Paulo, Pedro,
Judas e João.
PARTE II | O ENSINO DE
PAULO SOBRE A
FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
2 | PAULO ADVERTE SOBRE OS
FALSOS PROFETAS

E
xistem vários textos na Escritura que apontam para o apóstolo Paulo
advertindo o povo de Deus a respeito da falsa profecia e do falso
ensino.
É significativo o fato de que a primeira advertência de Paulo foi feita aos
presbíteros. Afinal de contas, eles eram os pregadores (profetas), pastores,
mestres e administradores da Igreja de Deus. Portanto, preste atenção à
análise do texto que se segue, para compreender a seriedade da advertência
aos presbíteros de Éfeso.
At 20.28-31 — “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio
sangue. Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por
três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um”.

O ponto importante nessa passagem é que Paulo, em seu ministério


apostólico, chama os presbíteros da igreja de Éfeso e os alerta a respeito
dos falsos profetas daquela época, a quem ele chama de lobos vorazes. Eles
vêm para destruir o rebanho, ainda que, na visão de Jesus, pareçam
inocentes como cordeiros.
De uma forma surpreendente, o que Paulo mostrou aos presbíteros de
Éfeso é que, logo após sua partida, os lobos vorazes entrariam no meio do
rebanho. Paulo também ensina, de modo categórico, que, do meio do corpo
presbiterial, sairiam pessoas com heresia. Esse ensino de Paulo é perspicaz.
Ele conseguiu enxergar, pela luz do Espírito de Deus, uma futura apostasia
entre os líderes daquela congregação. Não se esqueça de que a apostasia
sempre acontecerá no interior da própria igreja, especialmente entre a
liderança da igreja local.
Paulo disse: “atendei por vós” e por todo o rebanho de Deus”. Em outras
palavras, Paulo está advertindo os presbíteros acerca do que haveria de
acontecer teologicamente na igreja. Por isso, ele diz: “Cuidem de vocês
mesmos”, ou seja, “não se envolvam com ensino estranho. Vocês podem ser
engodados pelos que já estão contaminados dentro da própria igreja.”
Paulo queria a pureza doutrinária primariamente dos presbíteros. Porque,
se os ministros da palavra não se cuidam teologicamente, eles não terão
cuidado com o povo de Deus. E acrescenta: “atendei por vós e por todo o
rebanho de Deus”. Além de sua posição de apóstolo, Paulo tinha
preocupação pastoral. Ele queria ver o povo da igreja bem ensinado pelos
presbíteros, os quais deveriam ter seu coração firmado nas ovelhas de Deus.
Essas ovelhas não poderiam ficar largadas, entregues ao acaso. Todo
presbítero da Igreja de Deus deve cuidar de si mesmo e cuidar, não menos,
do rebanho que Deus lhe deu.
3 | OS FALSOS
PROFETAS/MESTRES PODEM
VIR DE FORA DA IGREJA

At 20.29 — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho”.

S
e essa passagem fala que os falsos profetas penetrarão no meio do
povo de Deus, devemos entender que eles podem vir de fora, ou
seja, de outra comunidade denominada cristã, de uma estranha
denominação ou de um movimento religioso supostamente cristão.
Paulo estava certo de que, quando saísse de alguns lugares, os falsos
profetas de fora invadiriam o aprisco das ovelhas de Deus. Paulo sabia que,
por trás da semeadura verdadeira, Satanás haveria de semear mentira e
confusão.

1. A ANALOGIA A RESPEITO
DOS FALSOS PROFETAS/MESTRES
At 20.29 — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes...”

Paulo descreveu os falsos mestres como lobos vorazes. Certamente ele


aprendeu de Jesus Cristo essa analogia. Referindo-se aos mesmos falsos
mestres, nosso Senhor disse:
Mt 7.15 – “Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas,
mas por dentro são lobos roubadores”.

Por causa do perigo que os lobos sempre oferecem às ovelhas, Jesus


disse ao seu rebanho: “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de
lobos [...]” (Mt 10.16). Os discípulos de Jesus estavam conscientes de que
haveriam de enfrentar lobos roubadores de ovelhas, mas que esses lobos
viriam disfarçados de ovelhas. Com isso, Jesus quis dizer que os falsos
profetas não se apresentariam como falsos profetas, pois seu intuito sempre
seria enganar as próprias ovelhas e os pastores.
Não estou certo de que todos eles sabem quem realmente são. Alguns,
sem dúvida, creem que estão com a verdade. Por isso, fazem o possível para
que as pessoas creiam neles. Eles próprios, porém, estão enganados.

2. O OPORTUNISMO DOS FALSOS MESTRES


At 20.29b — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes [...]”.

Os falsos profetas, em geral, não têm coragem de debater com os


verdadeiros e fiéis ministros da Palavra. Eles não têm coragem de enfrentar
o ensino da totalidade das Escrituras. O que, então, fazem? Esperam que os
ministros se afastem, que não estejam atentos; que se descuidem do rebanho,
para que, nesse momento, eles possam invadir o aprisco. Pois, quando os
falsos profetas mais atingem as igrejas? Quando não existem os guardiões da
fé, que são os presbíteros. Observe se, numa igreja que conta com pastores e
mestres verdadeiros, a heresia entra. Os falsos profetas não penetram onde
há homens verdadeiros que “batalham pela fé que, uma vez por todas, foi
entregue aos santos” (Jd 3), aqueles que “lutam pela fé evangélica” (Fp
1.27).
Os falsos profetas são oportunistas. Eles tiram vantagem de igrejas fracas
ou de congregações em que seus ministros da palavra estão ausentes ou não
ensinam da forma devida. Esse devia ser o caso da igreja de Éfeso. Paulo
precisava partir e, então, advertiu-os acerca dessa grande realidade da
presença oportunista dos falsos mestres.

3. A ESTRATÉGIA DOS FALSOS MESTRES


At 20.29c — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes [...]. ”

Paulo advertiu os presbíteros de que os falsos mestres viriam — e,


certamente, eles vieram para a igreja de Éfeso, pois o texto de Apocalipse 2
confirma isso.
Os falsos mestres têm uma estratégia bem interessante: imiscuem-se no
meio do povo de Deus de modo sorrateiro. O texto diz que eles penetrarão,
uma forma diferente de dizer que eles se infiltrariam no meio do povo de
Deus, a princípio, de modo imperceptível, mas depois eles revelam suas
crenças e seus propósitos.
Paulo menciona que alguns “penetram sorrateiramente” no meio do povo
para aliciá-lo com seus ensinos e práticas.

4. A SUBJUGAÇÃO DOS FALSOS MESTRES


At 20.29d — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não
pouparão o rebanho”.

Após a saída de Paulo, os obreiros fraudulentos penetraram nas igrejas da


Ásia Menor: Esmirna (Ap 2.9): Pérgamo (Ap 2.14); e Tiatira (Ap 2.20). A
igreja de Éfeso, igualmente, não foi poupada (veja Ap 2.2-3). Os falsos
mestres e profetas invadiram as igrejas nascentes do primeiro século.
Os falsos ensinos que vinham de fora trouxeram muitos estragos para as
igrejas da Ásia Menor — e ainda trazem a toda parte em que entram. Uma
igreja pode até ser vitoriosa sobre os falsos ensinos que penetraram nela,
mas, em geral, ocorrem perdas — e, em alguns casos, perdas importantes.
Algumas, inclusive, são irreparáveis, por causa da voracidade dos falsos
obreiros.

5. A CERTEZA DE PAULO A RESPEITO


DOS FALSOS MESTRES
At 20.29a — “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não
pouparão o rebanho”.

Paulo disse: “Eu sei que...”. Isso é o mesmo que dizer: “Tenho a forte
convicção de que os falsos mestres que vêm de fora, aproveitando minha
ausência, haverão de invadir o rebanho, seduzi-lo e subjugá-lo”. Não era
apenas um pressentimento de Paulo, mas uma forte convicção! E ele não
estava errado, pois, após a sua partida, muitos falsos mestres penetraram na
Igreja de Deus.
Como Paulo sabia disso? Paulo conhecia muito bem a obra satânica de
disseminar o erro. Ao escrever aos ministros jovens, muitas vezes ele os
advertia do perigo que o Maligno traz por meio do falso ensinamento. Onde
o verdadeiro evangelho era pregado, logo atrás vinham obreiros fraudulentos
para disseminar o erro, especialmente quando os ministros fiéis saíam para
realizar outras tarefas, como era o caso de Paulo.
Os lobos atacam, em geral, quando a casa está desguarnecida. E Paulo
precisou advertir as pessoas da presença próxima e constante dos lobos
devoradores.
4 | OS FALSOS
PROFETAS/MESTRES PODEM
VIR DE DENTRO DA PRÓPRIA
IGREJA

At 20.30-31 — “E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas
para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos,
noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um”.

1. PAULO NOS ENSINA QUE OS FALSOS


MESTRES/PROFETAS PODEM NASCER NO INTERIOR
DA LIDERANÇA DA IGREJA
At 20.30a — “E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens [...].”

Paulo faz uma afirmação espantosa a respeito da procedência dos falsos


profetas (ou falsos mestres). Ele faz uma profecia (ou predição) sobre o que
haveria de acontecer na igreja de Éfeso. Ele afirma, com muita convicção,
que os perigos viriam de fora, mas especialmente que viriam de dentro do
próprio círculo de presbíteros daquela igreja local. Eles eram crentes
confessantes, mas teriam suas ideias mudadas e começariam a pregar falsa
profecia e falso ensino.
Paulo foi um verdadeiro profeta de Deus porque disse exatamente o que
haveria de acontecer. Logo após a sua partida, a igreja de Éfeso começou a
ter problemas com a liderança. Eram homens que estavam dentro do
conselho presbiterial.

2. PAULO NOS ENSINA QUE OS FALSOS


MESTRES/PROFETAS TÊM A VER COM A PERVERSÃO DA VERDADE
At 20.30b — “E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas”.

Tanto os falsos mestres que vieram de fora como aqueles que tiveram origem
na própria liderança de Éfeso começaram a perverter o ensino que Paulo
havia deixado. Isso significa que os falsos profetas cometeriam perversão da
revelação verbal de Deus. Eles haveriam de distorcer aquilo em que antes
criam, ainda que nominalmente. Somente depois da saída de Paulo, os falsos
profetas e mestres tiveram coragem de ensinar outro evangelho. Então, a
heresia penetrou na igreja de Éfeso.
É importante lembrar que a heresia não entra de uma só vez. O trabalho é
feito sorrateira e paulatinamente. Se os falsos profetas e mestres “abrissem
totalmente o jogo”, até mesmo os crentes mais ignorantes poderiam detectar
as distorções praticadas no evangelho. A Escritura diz que o engano tem a
ver com “anjos de luz”, que ensinam uma mentira que tem a aparência de
verdade, mas, no final, a distorção sempre aparece. Eles vão ensinando em
doses homeopáticas, até que, finalmente, não conseguem mais perceber a
diferença entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira. Por isso, a
Escritura diz que os falsos mestres trabalham sorrateiramente.

3. PAULO NOS ENSINA QUE OS FALSOS


MESTRES/PROFETAS ARRASTAM MUITOS CONSIGO

At 20.30c — “para arrastar os discípulos atrás deles”.

Os falsos profetas e os falsos mestres têm um propósito do qual não


abrem mão. Eles não se contentam em pregar e ensinar o engano; eles
querem ver o resultado de seu trabalho maligno. Eles querem tirar discípulos
dentre o povo de Deus para arrastá-los consigo. A palavra “arrastar”
significa retirar pessoas do lugar em que se encontram para levá-las a um
lugar no qual nunca imaginariam estar.
Por essa razão, os verdadeiros profetas e mestres devem ser duros contra
os falsos profetas e mestres. Não se engane: o ensino falso sempre vem
acompanhado de alguma verdade e, quando ensinado e pregado por gente
que tem convicção, arrasta as pessoas em um redemoinho de engano.

4. PAULO NOS ENSINA


QUE DEVEMOS ESTAR ATENTOS

At 20.31 — “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de
admoestar, com lágrimas, a cada um”.
O verbo grego traduzido como “vigiai” é gregoreo,4 que significa,
literalmente, “manter-se acordado” ou “não dormir”. Com bastante
frequência, esse termo é traduzido como “tenha cuidado”, “abra os olhos” ou
“não durma”.
Não se esqueça de que esse verbo está num imperativo no tempo presente,
alertando-nos, portanto, para que estejamos constantemente prontos para a
ação. Ele sugere um esforço da mente para ver incessantemente o perigo que
nos ronda.

5. PAULO NOS DÁ SEU


EXEMPLO PESSOAL DE VIGILÂNCIA
At 20.31 — “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de
admoestar, com lágrimas, a cada um”.

Paulo apresenta um grande exemplo de cuidado pastoral com seu rebanho.


Ele advertiu os crentes de Éfeso porque não queria que caíssem em engano
teológico. O termo grego para “admoestar” é noutheteo, que significa
advertir, aconselhar, dar força. As palavras de advertência servem como
corretivo para as pessoas que as recebem. No texto em exame, o verbo
“admoestar” envolve a instrução aos presbíteros para que deem a devida
importância ao problema da falsa pregação e do falso ensino na igreja.
Hoje, esse tipo de trabalho dos pastores [presbíteros] deve ser muito
cuidadoso. Não se esqueça de que os bispos [ou presbíteros] são os
verdadeiros pastores da igreja. Paulo afirmou isso com muita clareza [At
20.28].
5.1. A ADVERTÊNCIA AOS PRESBÍTEROS FOI LONGA

At 20.31b — “lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar”.

Lucas registra três ocasiões em que Paulo dedicou-se a ensinar a verdade de


Deus ao seu povo: em Atos 19.8, ele ensinou na sinagoga durante três meses;
em Atos 10.10, ensinou por dois anos na Escola de Tirano, a judeus e
gregos; em Atos 20.31, ele menciona um período de três anos em que
admoestou os crentes de Éfeso a não darem ouvidos aos falsos mestres e
falsos profetas que haveriam de aparecer no meio da igreja, provenientes de
fora e de dentro da própria igreja.
Paulo sempre insistiu na pregação e no ensino da verdade aos seus
leitores. Ele sabia da importância de uma doutrina correta. Então, de forma
incansável, ele orou e advertiu os crentes de Éfeso sobre o perigo dos falsos
profetas e mestres.
5.2. A ADVERTÊNCIA AOS PRESBÍTEROS
FOI INCESSANTE

At 20.31c — “lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar”.

A advertência cheia de lágrimas durou três anos, mas essa passagem enfatiza
que tal prática admoestadora era ininterrupta. Paulo não se esquecia, dia e
noite, de sua tarefa de velar pela saúde espiritual dos presbíteros da igreja.
Esse é o maior exemplo de dedicação no ensino sobre a falsa profecia na
vida de uma igreja. Paulo falou muitas coisas aos presbíteros da igreja — os
responsáveis pela pregação e pelo ensino. Eles tiveram Paulo “no cangote”
deles, noite e dia, sem cessar, o que mostra a grande preocupação teológica
e o amor de Paulo por eles.
Paulo foi um vigilante fiel e leal da vida dos presbíteros. Ele sabia que a
saúde espiritual deles dependia de não serem enganados pelos falsos
profetas e falsos mestres. Por essa razão, Paulo foi incansável nesse tema.
5.3. A ADVERTÊNCIA AOS PRESBÍTEROS
FOI CHEIA DE SENTIMENTOS

At 20.31d — “lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com
lágrimas (...).”

As advertências de Paulo aos presbíteros foram regadas de lágrimas. Não


foram advertências de raiva ou de ira, mas, sim, cheias de sentimento, por
causa do amor que ele lhes dedicava.5 Sua compaixão pelo povo de Deus era
grande a ponto de ele não se conter. Paulo dedicava uma grande afeição que
se manifestava em sentimentos profundos pelos presbíteros e pela própria
igreja! E, sim, Paulo derramava lágrimas porque sabia dos grandes danos
que a falsa profecia e o falso ensino causariam na vida da igreja.
5.4. A ADVERTÊNCIA AOS PRESBÍTEROS FOI INDIVIDUAL

At 20.31e — “lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com
lágrimas, a cada um”.
Além das advertências públicas de Paulo enquanto esteve em Éfeso,
também o fez de modo ainda mais específico, dirigindo-se à liderança da
igreja.
Certamente, a expressão “a cada um” não se refere a cada membro
particular da igreja de Éfeso, pois era impossível advertir cada um a
distância, mas a cada membro do corpo de presbíteros — o guardião
espiritual da igreja. Assim, a admoestação pessoal foi, ao mesmo tempo,
inclusiva [dirigida a todos os presbíteros] e exclusiva [feita somente aos
presbíteros].
Hoje, os presbíteros mais experientes deveriam exercer esse cuidado
pastoral com os presbíteros mais inexperientes. As forças espirituais do mal
ainda rondam todo o rebanho. Se os pastores [presbíteros] do rebanho não
estiverem atentos, a Igreja toda será induzida a um erro que pode chegar ao
ponto da apostasia.
Veja M ateus 26.38; Lucas 12.37.
Essa não foi a única ocasião em que Paulo chorou p or causa da verdade (veja At 20.19 e Fp 3.18).
5 | OS FALSOS
PROFETAS/MESTRES
PRODUZEM APOSTASIA

P
aulo usa o termo “apostasia” para fazer referência ao falso ensino ou
à falsa profecia.
1Tm 4.1-3 — “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns
apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o
casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações
de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade [...]”.

A apostasia é o mal que surgiu já no princípio dos tempos, ainda está


presente em nosso meio e se tornará pior nos tempos futuros. Diz respeito ao
abandono da verdade revelada nas Escrituras. A apostasia não deve ser
confundida com desinteresse pela Palavra, pois envolve a aceitação
intelectual das Escrituras. Tampouco deve ser confundida com erro, pois não
é necessariamente a crença numa doutrina falsa. Um apóstata pode
reconhecer que certas doutrinas são verdadeiras, mas não crê nelas em seu
coração. Um apóstata pode reconhecer Cristo sem crer nele de todo o
coração. Por outro lado, um cristão verdadeiro pode cair em erro
doutrinário, o que, contudo, não é apostasia.
Os apóstatas recebem algum entendimento da verdade, mas não têm vida.
Eles conheceram a Palavra escrita, mas nunca se encontraram com Cristo, a
Palavra Viva. Provavelmente, você conhece pessoas assim. Há pessoas
assim na igreja que frequentam a adoração o tempo todo, ouvem a verdade,
mas nunca se comprometem com ela. A apostasia é uma rejeição deliberada
da verdade após tê-la conhecido. Portanto, é um dos pecados mais
condenáveis (veja Hb 10.29). Quem conhece a verdade e não se compromete
com ela merece punição mais severa do que quem não a conhece.

1. A APOSTASIA SURGE DOS ESPÍRITOS ENGANADORES


1Tm 4.1a — “por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios”.

Esse é um grande perigo que muitos cristãos têm dificuldade de


compreender. Eles não sabem que, assim como a fé vem pela pregação da
Palavra de Cristo, também a apostasia vem por ouvir a pregação de espíritos
enganadores.
A questão do “ouvir” é crucial. Aquilo que você ouve sempre tem
influência sobre os crentes. Portanto, não dê ouvido a falsos
profetas/mestres, pois você poderá, sem perceber, abraçar o que dizem. Você
precisa saber a quem ouvir. Você precisa dar ouvido àqueles que falam
verdadeiramente da parte de Deus. Isso porque, do seu ouvir, depende aquilo
em que você crê.
Não se esqueça de que os “espíritos enganadores” estão presentes na
igreja cristã, não importando o rótulo denominacional. Eles atingem o
máximo possível de pessoas e têm causado grande estrago na igreja dos
confessantes, pois há muitos que não têm um relacionamento pessoal
significativo com Cristo.

2. A APOSTASIA TEM SUA


FONTE ÚLTIMA NOS DEMÔNIOS
1Tm 4.1b — “por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios [...]”.

Por outro lado, sabemos que os “espíritos enganadores” (que são os


falsos mestres e os falsos profetas) também são, eles mesmos, enganados. Os
demônios estão por trás de seus ensinos e pregações. Toda a pregação falsa
tem a ver, em última instância, com a obra demoníaca dentro das
congregações cristãs espalhadas pelo mundo. Quanto mais houver bons
mestres e verdadeiros profetas na igreja, menos os espíritos enganadores
influenciarão os crentes em geral. Se a igreja estuda a Escritura com
seriedade, terá mais facilidade de repelir os que pregam ensinos de
demônios.

3. A APOSTASIA VEM POR INTERMÉDIO


DAQUELES QUE FALAM MENTIRAS
1Tm 4.2a – “[...] pela hipocrisia dos que falam mentiras”.
Os falsos profetas são hipócritas mentirosos. Quando querem ganhar as
pessoas que os ouvem, assumem uma posição hipócrita. Algumas pessoas
multimilionárias, para ganhar a atenção ou a aprovação do mundo, fazem
discursos em favor dos pobres. Em sua hipocrisia, defendem aquilo que,
verdadeiramente, não são.
John Lennon, o famoso componente da banda “The Beatles”, era um
homem multimilionário que vivia imerso em luxo e luxúria num dos edifícios
mais famosos de Nova York, mas, em sua música Imagine, ele cantava a
respeito dos benefícios daqueles que não tinham posse alguma. Imagine um
multimilionário passar por uma calçada de Nova York e ver mendigos
dormindo sob um frio intenso e dizer-lhes: “Vocês são favorecidos por não
possuírem nada”.6 Essa é uma atitude hipócrita que algumas pessoas têm,
pois falam de um comportamento que elas próprias não exibem e de
verdades que não são a expressão de sua realidade.
Falsos profetas são hipócritas e mentirosos quando falam uma coisa e
vivem de acordo com outra. Já vimos que eles são, via de regra, imorais. E
acabam desapontando outras pessoas com sua hipocrisia. Estamos cercados
de mentirosos e hipócritas em nossa sociedade, especialmente dentro do
ministério chamado “profético”. Há muita mentira por aí sendo pregada e
ensinada por homens e mulheres com suas atitudes hipócritas.

4. A APOSTASIA VEM DAQUELES QUE TÊM A CONSCIÊNCIA CAUTERIZADA


1Tm 4.2 – “[...] pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria
consciência”.

Os falsos mestres e os falsos profetas não somente agem com hipocrisia e


falam mentira, como também têm a consciência cauterizada. Uma
consciência cauterizada tem a ver com extrema insensibilidade, pois se
encontra amortecida e não consegue perceber o erro.
Uma consciência cauterizada tem a ver com endurecimento, com a
impossibilidade de enxergar o erro. O cautério é o ferro quente que torna a
pele rígida e dura, morta para a sensibilidade. Nesse contexto, uma
consciência cauterizada pode conviver perfeitamente com a mentira e a
hipocrisia, porque é calosa e não tem mais qualquer tipo de percepção do
que é a verdade. A consciência é a esfera de nossa alma que normalmente
mostra sensibilidade, mas, por causa da mentira e da hipocrisia, torna-se
insensível em relação às coisas santas.
A consciência cauterizada caminha de mãos dadas com a mentira e a
hipocrisia. Assim como a fé e a boa consciência estão unidas (1Tm 1.5), a
hipocrisia (que é incredulidade — Mt 24.5; 24.51; Lc 12.46) está associada
a uma consciência cauterizada. Por essa razão, temos de cuidar bem de nossa
consciência, obedecendo ao que, original e primordialmente, ela nos manda
fazer; caso contrário, com o passar do tempo, vamos nos tornar insensíveis
às coisas santas.

5. A APOSTASIA É O ABANDONO DA FÉ, O AFASTAMENTO DA VERDADE


2Tm 4.3 — “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-
ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.

Ao se apartarem da verdade, as pessoas vão encontrar somente o que é falso.


Satanás está ativo neste mundo, buscando levar o falso profeta à ação. Em
1Timóteo 4.2, eles são chamados de “hipócritas e mentirosos”, aqueles que,
em consequência, “têm a própria consciência cauterizada”.
Não haverá somente falsos mestres, mas também falsas congregações
criadas pelos falsos mestres (2Tm 4.3). Há uma apostasia no púlpito e uma
apostasia nos bancos das igrejas. Ela inclui cada pessoa que um dia ouviu o
evangelho, mas que virou as costas à revelação de Deus.
Por que muitos hoje abandonam a fé? Porque não creem na inspiração das
Escrituras, na concepção virginal de Cristo, em sua ressurreição literal e em
seu retorno literal. Isso já começou há bastante tempo, nas últimas gerações.
E não podemos esperar muito de quem pensa dessa forma.
Citação retirada do sermão de Geoffrey Thomas. Disp onível em: http ://www.alfredp lacechurch.org.uk/sermons/1tim16.htm,
acessado em julho de 2018.
6 | OS FALSOS
PROFETAS/MESTRES
PROVOCAM DESORDEM NA
IGREJA

Rm 16.17-20 — “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e
escândalos em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais
não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e
lisonjas, enganam o coração dos incautos. Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por
isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal. E
o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso
Senhor Jesus seja convosco”.

O verbo grego para “rogo-vos” é parakalo, que pode ser traduzido como “eu
vos encorajo” ou “eu vos exorto”. Paulo se esforça ao máximo para que os
crentes tenham seus olhos voltados atentamente ao perigo dos semeadores da
falsa doutrina e da falsa profecia.

1. OS FALSOS PROFETAS DEVEM SER CUIDADOSAMENTE OBSERVADOS

Rm 16.17a — “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos
[...].”

A exortação é para que os ministros da Palavra “notem bem”, ou “observem


cuidadosamente”, “observem atentamente”, aqueles que provocam divisões e
escândalos na igreja. Em outras palavras, “não tirem os olhos deles”;
“observem os movimentos dos inimigos da fé”.7 “Mantenham-se de guarda
em relação a eles.”
Em muitos casos, as divisões aparecem pela semeadura da falsa doutrina,
assim como os escândalos que aparecem no meio do povo de Deus. Você não
deve desviar os olhos daqueles que podem causar divisões e escândalos. A
consequência da ação deles é nefasta! Ame sua igreja e mantenha-se
vigilante com respeito aos que não amam a fé que nos foi entregue.
2. OS FALSOS PROFETAS PROVOCAM
DESARMONIA NA IGREJA

Rm 16.17b — “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e
escândalos [...].”

No texto em exame, podemos ver que Paulo tem uma grande preocupação
com a unidade da igreja. A unidade é altamente prejudicada quando há
divisões e escândalos no meio do povo de Deus. Por isso, os líderes da
igreja de Roma tinham de estar de olho nos falsos profetas e mestres,
pessoas que causavam desarmonia na igreja.
Paulo menciona dois termos: divisões e escândalos. Eles não significam a
mesma coisa. As divisões têm a ver com os vários partidos ou facções na
igreja, pelas mais variadas razões;8 os escândalos têm a ver com o curso da
vida que levava outras pessoas a atitudes de desarmonia na igreja. É
possível que os “partidos” tivessem mais a ver com os crentes judaizantes e
que os escândalos estivessem mais ligados aos crentes gentios.
De qualquer forma, qualquer pessoa responsável por divisões ou
escândalos deveria ser evitada. Paulo não tolera a permanência dessas
pessoas no meio do povo de Deus, pois elas causam desarmonia no corpo e
tiram a unidade e a paz da igreja.
2.1. A DESARMONIA SE MANIFESTA NAS DIVISÕES
Via de regra, as divisões na igreja surgem quando os falsos profetas e
falsos mestres anunciam um evangelho diferente e distorcem a Palavra de
Deus. Esses falsos profetas e mestres se encontravam na igreja gálata.9 Por
isso, é possível que essa expressão de Paulo esteja se referindo à entrada
dos mestres com mentalidade judaica. Eles insistiam na necessidade de os
crentes gentios praticarem os ritos de Moisés, e consideravam isso uma
espécie de santidade. Se não observassem os ritos, não seriam santos. Os
judaizantes causaram muito dano na igreja dos gentios.
Além dos gálatas, a igreja de Corinto mostrava as constantes divisões
mencionadas por Paulo — divisões que, de alguma forma, estavam ligadas
ao falso ensino e à falsa profecia.10
Entretanto, não pense que Paulo estivesse falando que os crentes
verdadeiros não deveriam entrar em controvérsia. Jesus provocou divisão
nas pessoas por causa da verdade. Em algum sentido, podemos dizer que a
verdade causa divisão.11 Paulo provocou e participou de controvérsias,
inclusive com um dos pilares da Igreja (Pedro), falando das divisões que
havia na Igreja.12
Os líderes cristãos não devem temer controvérsia teológica, ainda que
isso possa causar divisões. Devemos pregar a verdade da Palavra de Deus,
ainda que nossa verdadeira profecia e nosso verdadeiro ensino causem
divisão. Paulo não se opunha à controvérsia quando a verdade de Deus
estava em questão! Por isso, ele sempre “combateu o bom combate da fé”
(1Tm 4.7). A preocupação de Paulo era que os cristãos de Corinto não
tivessem partidos entre si, quebrando a unidade da igreja, por causa de um
ensino falso ou de uma falsa profecia.
2.2. A DESARMONIA SE MANIFESTA NOS ESCÂNDALOS
A desarmonia acontece quando alguns irmãos geram obstáculos ou
representam pedras de tropeço para outras pessoas. Como os falsos profetas
e mestres abandonam a verdade, ou misturam a verdade com o erro,
cometem pecados que trazem escândalo para a igreja, produzindo, assim,
intensa desarmonia na congregação.
Já vimos, no volume 4 desta série, que os falsos profetas frequentemente
caem em pecado moral e geram intenso mal-estar no meio do povo de Deus.
Portanto, é importante recordar esse assunto para que não venhamos a ser
pegos em desastre moral.

3. OS FALSOS PROFETAS NÃO VIVEM EM CONSONÂNCIA COM A DOUTRINA DE


DEUS
Rm 16.17c — “em desacordo com a doutrina que aprendestes”.

Paulo já estivera em Roma por algum tempo, ensinando à congregação a


verdadeira doutrina de Deus. Muitas pessoas haviam aprendido com Paulo
desde a sua conversão a Cristo. Portanto, todas essas estavam bem firmadas
na doutrina correta.
Como a passagem em foco remete a falsa profecia ou falso ensino, Paulo
teme pelos crentes de Roma. Ele não queria que o ensino em desacordo com
a doutrina encontrasse abrigo em seus corações. Por causa da inclinação
pecaminosa que ainda permanece em nós, não é difícil aceitarmos a falsa
profecia, quando não observamos atentamente aqueles que causam
desarmonia teológica na igreja.
A doutrina em desacordo com o ensino apostólico não pode ser acolhida
pela igreja. Não deve haver inovação doutrinária que os crentes venham a
acolher. Não se esqueça de velar pela segurança do conteúdo da palavra
profética. A boa profecia, a exemplo da boa doutrina, é vital para a saúde da
igreja de Deus.

4. OS FALSOS PROFETAS DEVEM SER REPELIDOS


Rm 16.17d — “afastai-vos deles”.

Os crentes fiéis de Roma não poderiam ter comunhão com os que


ensinavam uma nova (outra) doutrina em desacordo com o que Paulo havia
ensinado. Os falsos mestres e os falsos profetas deveriam, portanto, ser
evitados.
É como se Paulo dissesse a eles: “Não comam com eles”; “Não
participem das reuniões deles”; “Não os convidem para vir às suas casas”;
“Fiquem longe deles”; “Apartem-se deles”; “Vocês devem virar as costas a
eles”.13 Esse é o sentido de “Afastai-vos deles”. Paulo queria que os grupos
de estudo dos falsos profetas e mestres fossem esvaziados. Ele não os queria
na casa dos irmãos de Roma. Uma das maneiras de mostrar o
descontentamento com o falso ensino é afastando-se dos que promovem o
“desacordo com a doutrina de Deus”, ou dos que ensinam contrariamente à
verdade de Deus.
Se aplicarmos essa verdade ao nosso tempo, podemos afirmar que Paulo
está ordenando aos crentes de Roma que condenem os falsos mestres e os
falsos profetas à excomunhão!

5. OS FALSOS PROFETAS SERVEM A SI MESMOS


Rm 16.18a — “porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio
ventre”.

5.1. OS FALSOS MESTRES NÃO SÃO ESCRAVOS DE CRISTO

“porque esses tais não servem a Cristo”


Os falsos mestres não têm como alvo o serviço a Cristo Jesus. O termo
usado por Paulo para servir é δουλεύουσιν (douleuousin), compreendido
como os falsos mestres não estarem à disposição de Cristo, pois não são
escravos de Cristo. Eles não pregam Cristo, mas falam de si mesmos; eles
não procuram as coisas de Cristo, mas suas próprias coisas; eles não
procuram a glória de Cristo, mas sua própria glória; eles não procuram o
aumento do reino de Cristo, mas o aumento de suas próprias paixões; eles
não procuram a honra de Cristo, mas aplauso para si mesmos; eles não
procuram agradar a Cristo, mas aplauso para si mesmos; eles não procuram
a riqueza de Cristo, mas sua própria riqueza.
Os falsos mestres ensinavam sobre a observância de comidas e receitas
que eles próprios indicavam para o povo.
5.2. OS FALSOS MESTRES SÃO ESCRAVOS DE SEUS PRÓPRIOS APETITES

“e sim a seu próprio ventre”

A tradução literal de κοιλίᾳ (koilia) é ventre ou barriga. Já vimos que os


falsos profetas têm como alvo o ganho financeiro e, com recursos
provenientes de seu engano, satisfazem seus apetites físicos, caindo em uma
comilança desmedida. Os banquetes eram comuns nas religiões da época
para agradar aos deuses. Os falsos mestres e profetas tinham o vício de se
afundar em comida. Paulo os chama de “cães” (Fp 3.2), apontando para a
voracidade e a violência com que comiam. Os falsos profetas do tempo de
Paulo lembravam os falsos profetas dos tempos de Isaías.
Is 56.11 — “Tais cães são gulosos, nunca se fartam; são pastores que nada compreendem, e
todos se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção”.

No tempo do Novo Testamento, essas pessoas escravas de seus apetites


eram os “devoradores das casas das viúvas”, que, hipocritamente, faziam
longas orações para justificar seu comportamento ímpio (Mt 23.14). A
respeito deles, Paulo disse que eram como “cretenses […] de ventres
preguiçosos”, ou seja, pessoas indolentes, que não gostavam de trabalhar.
Eles exploravam outras pessoas.

6. OS FALSOS PROFETAS PARECEM SER “GENTE BOA”


Rm 16.18b — “[...] e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos”.
Em geral, os falsos profetas apresentam duas características a respeito das
pessoas que lhes interessam:
6.1. ELES FALAM “SUAVES PALAVRAS” COM AQUELES A QUEM DESEJAM
ENGANAR
A palavra grega χρηστολογίας (xrestologias), traduzida como “palavras
suaves”, também pode ser entendida como “palavras escorregadias” ou
“linguagem agradável e plausível”. Eles querem ter ouvintes à custa de um
discurso plausível à mente dos ouvintes. Em qualquer tipo de
relacionamento, uma palavra “suave” sempre produz os efeitos esperados
para conquistar os ouvintes. Essa é uma estratégia inteligente que os falsos
profetas e mestres adotam. Por isso, a princípio, eles não são duros com seus
ouvintes, mas, ao contrário, muito amáveis. Em última instância, para
enganar seus ouvintes, eles falam o que muitos deles querem ouvir.
6.2. ELES FALAM “LISONJAS” ÀQUELES A QUEM DESEJAM ENGANAR
A palavra grega εὐλογίας (eulogias), traduzida como “lisonjas”, pode ser
traduzida como “elegia”, “louvor” ou “falsa eloquência”. De qualquer modo,
eles gostam de agradar às pessoas que lhes são interessantes, a fim de
conquistá-las para o erro.
O intento dos falsos mestres e profetas consiste em atrair pessoas, e não
afastá-las. Eles querem ser ouvidos, de modo que recorrem a palavras
suaves, praticando bajulação. Portanto, os falsos mestres e falsos profetas
não são antipáticos, mas amáveis e lisonjeiros. Todos os que os ouvem
imaginam que são “gente boa”!

7. OS FALSOS PROFETAS ENGANAM


O CORAÇÃO DOS CRENTES
Rm 16.18c — “[...] e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos”.

Por serem “gente boa”, os falsos mestres e profetas ludibriam seus


ouvintes, os quais, segundo essa passagem, têm seus corações enganados. E,
ainda que eu acredite que os falsos profetas são sinceros no que creem, devo
admitir que são desonestos na maneira como se portam para conquistar
simpatizantes para sua doutrina. Quando se tornam bajuladores, falando de
forma lisonjeira, têm intenções absolutamente impuras em suas almas. Não
são ingênuos; eles têm o mal encravado em suas almas. Proclamam uma
mensagem, seja como ensino, seja como pregação, para tirar os homens de
suas crenças corretas, causando-lhes prejuízos, inclusive a pessoas que são
crentes.
Como os falsos profetas sabem que a maioria dos cristãos é composta de
gente simples e ignorante de muitas coisas acerca da Escritura, enganam seus
corações. Há muita gente no meio do povo de Deus que não sabe distinguir
entre o certo e o errado, e não conseguem explicar por que fazem ou deixam
de fazer algo. O Pregador, do Livro de Provérbios, disse sabiamente: “O
simples dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta para os seus
passos” (Pv 14.15).
Pela palavra “simples”, devemos entender as pessoas que não têm
discernimento espiritual, que são como meninos levados por qualquer vento
de doutrina. Sabedores dessa realidade, os falsos profetas e os falsos
mestres tiram proveito da situação de fraqueza teológica e os enganam,
trazendo grande prejuízo à vida espiritual deles.
Não se esqueça de que os falsos mestres e os falsos profetas têm o
costume de se mostrar amáveis, de bom-trato, atraentes, “gente boa”,
conquistando a simpatia dos crentes simples. Além disso, eles são bons de
retórica. Então, quando ganham o coração dos “simples”, semeiam, em seu
interior, que a mentira é a verdade e que a verdade de Deus é mentira.
O engano do coração é algo muito sério, pois atinge o ponto mais íntimo
do ser humano. Se uma pessoa é enganada em seu próprio coração, torna-se
presa da mentira e [exceto Deus] ninguém é capaz de demovê-la da nova
posição teológica assumida. Estou dizendo que ninguém pode fazer a pessoa
enganada voltar-se para o que é correto porque, quando se atinge seu
coração (e o coração é a sede das intelecções, afeições e volições), sua
situação se torna irreversível, pois já não tem mais acesso e domínio sobre
seu próprio coração. Então, os simples que são enganados passam a
entender, a sentir e a crer que a mentira é a verdade. Nesse momento, eles
decidem fazer coisas que correspondem à “nova verdade” assumida.

8. OS FALSOS PROFETAS SÃO CONTRASTADOS COM A OBEDIÊNCIA DOS


CRENTES DE ROMA
Rm 16.19 — “Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso
respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal”.
Os falsos profetas e mestres eram exatamente tudo que os crentes de Roma
não eram. Sua desobediência era patente aos olhos dos verdadeiros filhos de
Deus, os quais, por sua vez, eram o reverso. Por isso Paulo faz um elogio
que contrasta os dois grupos: os infiéis e os fiéis à verdadeira doutrina.
8.1. PAULO RECONHECEU A OBEDIÊNCIA DA IGREJA DE ROMA

Rm 16.19a — “Pois a vossa obediência é conhecida por todos”

Parece-me que as recomendações de Paulo foram bem acolhidas pela


igreja de Roma. Paulo reconheceu que, ao contrário dos falsos profetas, os
crentes de Roma eram pessoas obedientes. E a evidência última de fé é a
obediência inquestionável aos preceitos de Deus. Por essa razão, todos os
crentes de outras igrejas enalteciam e recomendavam o comportamento
obediente dos crentes de Roma, os quais acatavam a verdade apostólica
paulina. Esse comportamento deles já era conhecido de muitas pessoas no
primeiro século.
8.2. PAULO SE ALEGROU COM A OBEDIÊNCIA DOS CRENTES DE ROMA

Rm 16.19b — “por isso, me alegro a vosso respeito”.

John Gill afirma que as versões arábica e etíope desse verso traduzem a
expressão em itálico como “a fama” dos crentes de Roma por sua obediência
de fé.14 Paulo disse o mesmo aos tessalonicenses e à igreja de Roma (1Ts
1.8).
No começo de sua carta, Paulo já havia elogiado a obediência de fé dos
crentes de Roma (Rm 1.8). Por onde Paulo passava, havia notícia da
obediência de fé da igreja de Roma. Todos testemunhavam essa grande
virtude dos irmãos de Roma. Portanto, era uma alegria para Paulo ter uma
igreja conhecida internacionalmente por sua obediência de fé. Então, ele
manifesta seu gozo com o comportamento obediente deles. Isso significa que
eles haviam abraçado pronta e firmemente o evangelho de Cristo. A doutrina
de Deus havia impactado suas vidas e, portanto, eles permaneciam firmes,
sem o engano no coração deles.
8.3. PAULO ACONSELHOU OS CRENTES OBEDIENTES DE ROMA

Rm 16.19c — “e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal”.

Após reconhecer a obediência dos crentes de Roma, e de se alegrar com


eles, Paulo traz esse conselho tão importante que todos nós deveríamos
seguir. Paulo os aconselha a serem sábios com respeito ao bem. Pela palavra
“bem”, devemos entender aquilo que é a verdade, que é o discernimento
para as coisas boas. O que Paulo lhes diz é que tenham o inverso do
comportamento natural dos não regenerados, que eram sábios para o mal e
ignorantes do bem.
Esse conselho de Paulo parece refletir alguma coisa que ele havia
aprendido com Jesus Cristo e que está registrado no evangelho: “Eis que vos
envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as
serpentes e símplices como as pombas” (Mt 10.16). A palavra grega usada
por Paulo e Jesus, traduzida como “símplices” é ἀκέραιοι (akepaloi), que
aponta para a ideia de alguém que é puro, que não tem conhecimento ou que
ignora o mal. Paulo está dizendo que a melhor maneira de vencer a
corrupção e o pecado é manter-se puro na sabedoria do bem, que é a
obediência ao puro evangelho.

9. OS FALSOS PROFETAS RECEBERÃO PUNIÇÃO DIVINA


Rm 16.20 — “E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A
graça de nosso Senhor Jesus seja convosco”.

Obviamente, não aparece aqui a expressão “falsos profetas”, mas todos os


falsos profetas (incluindo o falso profeta final), estão debaixo do poder de
Satanás, o príncipe das trevas, que é o responsável final pelo engano. Os
falsos profetas serão esmagados no esmagamento de Satanás, pois são
“filhos” do Maligno.
Entretanto, creio que, aqui, Paulo não está falando da derrota de Satanás
na cruz (Cl 2.15), nem mesmo do cumprimento da promessa de Deus — de
que Satanás haveria de ter sua cabeça esmagada pelo descendente da mulher
(Gn 3.15), que também deu a si mesmo na cruz. Paulo está falando da derrota
final de Satanás diante dos crentes na segunda vinda de Jesus, quando, então,
ele será lançado nas profundezas da punição divina (Ap 20.10). Com esse
verso de Romanos 16.20, Paulo está ensinando aos crentes de Roma que, no
dia determinado por Deus, a verdade triunfará sobre a mentira. Nunca mais o
bem sofreria derrota diante do mal. Nunca mais a sã doutrina seria atacada
pela falsa doutrina.
Como Paulo acreditava que a vinda do Senhor estava próxima, usa o
verbo “esmagar” no tempo futuro, pois esperava a derrota final do Inimigo
diante dos olhos e dos pés dos crentes a quem ele estava escrevendo.
Quando o responsável último do engano, Satanás, for derrotado, todos os
falsos profetas enganados por ele também serão esmagados nele e com ele.
Paulo faz uma advertência similar em Filip enses 3.17.
Veja Romanos 4.15.
Veja Gálatas ٨-٥.١ ;٣.١; Atos ٢٤ ,١٥.١.
Veja 1Coríntios 3.3; Gálatas 5.20.
Veja M ateus 10.34-36; 23.1-36.
Veja Gálatas 2.11-15.
Veja 2Tessalonicenses 3.6 e 2João 1.10.
Em seu comentário online do texto em estudo. Disp onível em: http s://www.biblestudy tools.com/commentaries/gills-exp osition-
of-the-bible/romans-16-19.htm. Acesso em: jul. 2018.
7 | OS FALSOS
PROFETAS/MESTRES
APRESENTAM-SE
DISFARÇADOS

2Co 11.3-15 — “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia,
assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a
Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais
espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a
esse, de boa mente, o tolerais. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos.
E, embora seja falto no falar, não o sou no conhecimento; mas, em tudo e por todos os modos,
vos temos feito conhecer isto. Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver
humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho
de Deus? Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir, e, estando entre vós,
ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da
Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser
pesado. A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória nas regiões
da Acaia. Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe. Mas o que faço e farei é para
cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito de serem considerados iguais a nós, naquilo
em que se gloriam. Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se
em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de
luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e
o fim deles será conforme as suas obras”.

C
reio que é interessante analisar essa passagem longa, a fim de que
possamos compreender a importância do verdadeiro ensino e da
verdadeira profecia. Uma igreja será sadia somente quando atentar
para o perigo teológico que a ronda constantemente. Veja, a seguir, o ensino
paulino de forma mais detalhada.

1. PAULO ADVERTE PARA QUE


A IGREJA NÃO SEJA ENGANADA
2Co 11.3 — “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim
também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a
Cristo”.

Paulo remonta aos primórdios da existência humana para apresentar o


assunto do engano. Ele recorda o engano que aconteceu com Eva. Ele
entendia que, assim como acontecera com Eva, também poderia acontecer
com os crentes de Corinto. Eles poderiam ser enganados e cair na artimanha
enganosa de Satanás. E, quando o engano acontece, a mente começa a
raciocinar de modo diferente. Esse é o grande efeito noético15 do pecado. O
engano torna a mente, outrora santa, corrompida, além de distorcer o modo
como raciocinamos. Paulo lembra, em Romanos 1.21, que, por causa do
pecado de negligenciar o Deus verdadeiro na criação, a mente dos homens
tornou-se obscurecida de entendimento, e o raciocínio deles tornou-se
insensato.
O temor de Paulo era que a igreja de Corinto caísse na mesma situação de
nossos primeiros pais, que se afastaram de seu Criador. Da mesma forma, a
igreja de Corinto mostrava uma inclinação que os “afastava da simplicidade
e da pureza devidas a Cristo”. O temor de Paulo não era desprovido de
fundamento. Paulo sabia que alguns crentes dessa igreja tinham tendência
doutrinária errônea por causa dos efeitos noéticos do pecado sobre a mente
deles. Quando somos enganados, nossa mente se torna bastante suscetível ao
erro teológico. Na verdade, o engano mental [que é o obscurecimento do
entendimento] torna-se a base para o comportamento ético/moral de uma
igreja. E isso era exatamente o que estava acontecendo em Corinto.

2. PAULO ADVERTE SOBRE A PREGAÇÃO


DISTORCIDA DO EVANGELHO
2Co 11.4 — “Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou
se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes
abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”.

Os falsos profetas e mestres sempre estiveram presentes no meio da igreja


cristã, anunciando algo inédito , um evangelho que ainda não foi pregado ou
anteriormente abraçado. As novidades heréticas começaram a aparecer já no
primeiro século.
Paulo chama essa pregação de “outro Jesus”. Jesus Cristo já havia predito
que, nos anos subsequentes, haveriam de aparecer falsos cristos. No final do
primeiro século do cristianismo, o gnosticismo apareceu apresentando
“outro Jesus”, um Jesus diferente daquele que ele próprio havia pregado, um
Jesus destituído de sua verdadeira e completa humanidade. No meio da
igreja de então, algumas pessoas espalhavam que Jesus não viera em carne
(1Jo).
Paulo chama a pregação de “outro Jesus” como um “evangelho diferente”.
O evangelho que corria por algumas igrejas do primeiro século começava a
destoar do verdadeiro evangelho que Jesus havia pregado. E o evangelho era
diferente porque o Cristo apresentado era diferente.
Paulo afirma que esse evangelho diferente vinha de um “espírito
diferente”. O “espírito diferente” não procedia do Espírito Santo. O próprio
Paulo disse a Timóteo que haveria apostasia (ou seja, abandono do
verdadeiro evangelho), pois os falsos profetas haveriam de ser guiados por
“espíritos enganadores” e “ensinos de demônios” (1Tm 4.1). Esse espírito
diferente é que dominava o pensamento de algumas pessoas das igrejas em
que Paulo trabalhava.
Paulo fala sobre a grande possibilidade de os líderes da igreja pregarem
um evangelho diferente. A preocupação de Paulo era a distorção sutil do
evangelho. Os falsos profetas, falsos pastores, falsos mestres e falsos
apóstolos não começam com uma distorção total do evangelho; eles iniciam
de forma sutil, aceitando um “espírito diferente” que os crentes não
conheceram até então, e a verdade é misturada com o erro. Esse tipo de
estratégia não é facilmente percebida. Observe que o que Paulo falou aos
crentes gálatas também fora dito por ele aos crentes de Corinto. Veja a
reclamação dele com a igreja gálata:
Gl 1.6-7 — “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na
graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos
perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo”.

A mensagem de Paulo aos coríntios era coerente com sua mensagem aos
gálatas, porque ele tinha em mente a pureza doutrinária da igreja.
7.3. PAULO COMPARA O VERDADEIRO
PROFETA COM O FALSO PROFETA

2Co 11.5 — “Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos. E, embora seja
falto no falar, não o sou no conhecimento; mas, em tudo e por todos os modos, vos temos feito
conhecer isto”.

Paulo estabelece uma comparação entre os falsos apóstolos que estavam


trabalhando em Corinto e o próprio ministério deles. Paulo tinha certeza
daquele em quem ele havia crido. Por isso, teve a audácia de aferir sua
capacidade em relação à deles.
3.1. PAULO RECONHECE SUA SUPERIORIDADE APOSTÓLICA

2Co 11.5 — “Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos”.

Paulo havia sido vocacionado diretamente por Cristo para ser apóstolo
(1Co 1.1) e estava certo de que os falsos apóstolos não haviam sido
vocacionados por Deus. A vocação é que faz a diferença tanto nos profetas
do Antigo Testamento como nos apóstolos do Novo Testamento. Sua
vocação era o que o distinguia daqueles que declaravam a si mesmos
apóstolos. Estes não tinham autoridade, mas Paulo tinha, em virtude de sua
vocação, que provinha de Cristo. Além disso, Paulo estivera
presencialmente com Cristo. Esse é um de seus argumentos para mostrar a
própria autenticidade apostólica (1Co 9.1). Por essa razão, ele era
capacitado a realizar milagres e curas, o que autenticava seu apostolado. No
entanto, os falsos apóstolos que ele menciona eram inferiores porque “se
faziam apóstolos a si mesmos”, não tendo sido chamados por Deus.
3.2. PAULO RECONHECE SUAS LIMITAÇÕES

2Co 11.6a — “E, embora seja falto no falar [...]”.

A palavra grega traduzida como “falto” no falar é ἰδιώτης (idiotes), que


significa uma pessoa leiga em contraste com um especialista no assunto.
Idiotes também pode significar alguém que não conta com treinamento
formal.
Paulo admite essa fraqueza em comparação com alguns que a si mesmos
se faziam apóstolos. A expressão grega idiotes pode indicar que ele não era
formado em retórica, e sua eloquência parecia não ser boa. Ao menos, sua
retórica não refletia os moldes acadêmicos em voga naquela época. Além
disso, talvez Paulo não tivesse fineza em sua linguagem ou seu linguajar
fosse rude. Calvino argumenta que Paulo reconhece a si mesmo como alguém
rude e desprovido de polimento em seus discursos; isso, contudo, não
significa que ele fosse como mero infante, mas, sim, que não era distinguido
por uma eloquência esplêndida .16
É provável que Paulo não fosse especialmente instruído na arte de falar.
Paulo “não era um erudito na eloquência segundo as regras das escolas de
retórica”17 de sua época. Ou seja, é provável que ele não tenha sido educado
na tradição rabínica de retórica. Ele admite esse tipo de “fraqueza” em
comparação com alguns homens eruditos de seu tempo que se viram
envolvidos com falso apostolado.
3.3. PAULO RECONHECE SEU CONHECIMENTO SUPERIOR

2Co 11.6b — “não o sou no conhecimento”.

Ainda que ele admitisse um grau de dificuldade no uso correto de sua


retórica na pregação, tinha uma grande vantagem sobre os falsos apóstolos:
como nenhum outro em sua época, Paulo detinha conhecimento ímpar. Deus
se havia revelado a ele por intermédio de Jesus Cristo. Paulo entendia que
sua familiaridade com os assuntos que abordava era muito mais importante
do que com os modos de elocução. Portanto, Paulo arrogou para si a
condição de apóstolo verdadeiro, em virtude de seu conhecimento. Os falsos
apóstolos não têm essa qualidade mencionada por Paulo.
Os falsos apóstolos até poderiam ter uma retórica melhor, mas não
tinham, nem de longe, o conhecimento de Paulo. Ele conhecia os mistérios
que Deus lhe havia revelado, coisas que os homens jamais tinham ouvido e
visto na história humana. Veja o que Paulo disse aos coríntios:
1Co 2.6-8 — “Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria
deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a
sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para
a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a
tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória”.

Ninguém se comparava a Paulo nesse quesito de conhecimento e


sabedoria. Nem mesmo os mais poderosos deste mundo tinham qualquer
vantagem sobre Paulo na questão do conhecimento da revelação verbal.
Entretanto, ele não se gabava de conhecimento advindo da própria
inteligência; ao contrário, ele reconhecia que seu conhecimento vinha da
ação reveladora e graciosa de Deus a ele (Ef 3.2-7).
3.4. PAULO RECONHECE A PROPAGANDA EFICAZ DE SEU TRABALHO

2Co 11.6c — “mas, em tudo e por todos os modos, vos temos feito conhecer isto”.

Paulo não somente tinha conhecimento sobre Deus e sua revelação, como
também foi capaz de transmitir essas verdades aos seus leitores. Ele, de fato,
não era um orador exímio (de acordo com os padrões de seu tempo), mas era
um comunicador honesto e transparente, alguém que falava a respeito de todo
o conselho de Deus. Além disso, Paulo recorreu a diversos meios para
convencer seus leitores da verdade. De qualquer modo, ele tornou conhecido
o verdadeiro evangelho de Cristo a muitas igrejas (inclusive a de Corinto),
mas sempre se mostrava dependente da graça de Deus na fidelidade de sua
palavra, em sua irrepreensibilidade de caráter e em seu sustento.

4. PAULO RECONHECE SUAS VIRTUDES


2Co 11.7-9 — “Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que
fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus? Despojei
outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir, e, estando entre vós, ao passar
privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram
o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado”.

Ao mesmo tempo que reconhece suas limitações, Paulo também admite


que tem muitas virtudes na compararão que faz de si mesmo em contraste
com os falsos apóstolos. Paulo faz alguns apelos que não deveriam ser
esquecidos — apelos que servem para mostrar suas virtudes ministeriais.
4.1. ELE APELA PARA SUA “FICHA LIMPA”

2Co 11.7 — “Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que
fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus?”.

Nessa passagem, Paulo está afirmando que não havia nada em sua vida
que o desabonasse. Ele estava limpo, era irrepreensível em sua vida e
ninguém poderia fazer qualquer acusação à sua função profética ou mesmo à
sua vida pessoal. Isso significa que ele tinha uma “ficha limpa” e que
ninguém poderia apontar o dedo contra ele. Ele foi corajoso ao se afirmar
isento de culpa em relação à igreja de Corinto. Certamente, a autoridade de
Paulo vinha não somente de sua vocação apostólica, mas também de seu
comportamento ilibado.
Na verdade, Paulo falava de si mesmo para que a igreja de Corinto
aprendesse acerca de sua própria vulnerabilidade. A igreja de Corinto tinha
muitos pecados e era, por essa razão, fortemente atacável. Todavia, Paulo se
portava de um modo que impossibilitava qualquer pessoa de acusá-lo de
pecado em relação à igreja e ao seu próprio apostolado.
4.2. ELE APELA PARA A LISURA EM SUA VIDA FINANCEIRA

2Co 11.8 — “Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir”.

Além de apelar para a integridade de sua vida espiritual, Paulo aborda


um problema delicado que tem a ver com o comportamento de muitos
obreiros nos tempos modernos — os “roubadores” do rebanho.
O verbo traduzido como “despojei”, no grego clássico, era usado com o
sentido de privar alguém do que lhe pertence; de roubar os bens de um
soldado morto; de retirar a roupa de um morto. Era um verbo muito frequente
nas questões militares, por causa das batalhas e dos despojos constantes.
Paulo defende a si mesmo porque, provavelmente, alguém o acusou de
deslize financeiro. É provável que sua argumentação seja uma reação a
comentários desairosos a respeito de seu sustento. Então, ele pergunta:
“Despojei outras igrejas?”. Em outras palavras, “Acaso mexi no cofre da
igreja?” ou “Para poder servir a vocês, recebi algum salário?”. Desde os
primórdios, a questão do sustento do obreiro sempre foi problemática na
igreja cristã.
Essas questões ainda se fazem presentes nos dias de hoje. Muitos
ministros da Palavra sofrem por causa da mesquinhez de algumas igrejas,
enquanto outros sofrem por agir de forma imprudente em relação a dinheiro
em sua própria família. Paulo, então, descarta qualquer acusação a respeito
dessa matéria. Ele está totalmente “limpo”.
4.3. ELE APELA PARA SUA NÃO DEPENDÊNCIA DE SUSTENTO

2Co 11.9 — “e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os
irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me
guardarei de vos ser pesado”.

Não se esqueça que Paulo, ainda que tenha recebido auxílio de outras
igrejas, nunca dependeu dos coríntios para se sustentar. Ninguém podia
acusá-lo de explorar o povo de Deus em Corinto. Ele ficou ali por muito
tempo, e era irrepreensível nessa matéria. Para evitar comentários
desairosos, inclusive, ele “fazia tendas” para se sustentar. Ele não era um
aproveitador da boa-vontade dos crentes. Ele ganhava o próprio dinheiro
com seu trabalho paralelo ao apostolado.
Paulo tinha direito ao sustento das igrejas em que trabalhava, mas
encontrava objeção de alguns crentes de Corinto, que tentavam impedi-lo em
relação a isso. Veja o que ele diz aos coríntios em sua primeira carta:
1Co 9.3-4 — “A minha defesa perante os que me interpelam é esta: não temos nós o direito de
comer e beber?”

Na igreja de Corinto, havia alguns adversários que negavam a Paulo o


que lhe era devido, porque entendiam que os obreiros não deviam ser
sustentados por seu trabalho. Um mal ensino na igreja tenta roubar deles esse
direito de sustento. É uma pena que, ainda hoje, há pessoas que interpelam
os ministros da Palavra quanto ao seu “direito” de viver do evangelho.
1Co 9.5 — “E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais
apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?”.

Paulo até apela para uma questão que, aparentemente, está fora de
contexto. Certamente questionavam sobre se Paulo e Barnabé poderiam ter
uma esposa, como os demais apóstolos tinham. Ele toma o argumento do
casamento dos apóstolos que tinham esse privilégio conjugal, colocando-os
na necessidade de ser provedores para suas famílias.
O falso ensino e a falsa profecia haviam ofuscado a mente dos coríntios
sobre essas necessidades — a de ter esposa e sobre o dever de sustentar a
própria família. Paulo, então, defende o direito de casamento e de ser
provedor. Entretanto, parece-me que ele abriu mão desse direito e
permaneceu sem família. Ele não queria ser um fardo para aquela igreja tão
crítica para seu trabalho apostólico.
1Co 9.6 — “Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar?”.
Paulo argumenta que ele, assim como Barnabé, tinha o “direito” de deixar
de trabalhar em outra profissão para viver unicamente do evangelho. O mau
ensino dos falsos mestre e falsos profetas havia contaminado a vida dos
coríntios, de modo que eles contestavam essa prerrogativa apostólica. Eles
não admitiam que Paulo e Barnabé vivessem da verdadeira profecia. Então,
Paulo combate os interpeladores chamando seu sustento de “direito”.
1Co 9.7 — “Quem jamais vai à guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do
seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?”.

Paulo compara a pregação do verdadeiro evangelho a uma batalha


espiritual. Ele tinha o encargo de trazer a luz aos gentios por meio de uma
boa palavra profética. Ele também entendia que, em benefício de seu
trabalho profético, tinha o direito de ser sustentado pela igreja. Então, Paulo
recorre a um argumento irretorquível: “Quem jamais vai à guerra à sua
própria custa?”. Aqueles que vai à guerra tem de ser sustentado por quem o
envia! Outro argumento: o lavrador tem direito a comer do fruto de seu
trabalho; e mais um: o pastor de ovelhas tem o direito de beber do leite de
seu rebanho. Ora, se Paulo era um guerreiro do evangelho, um vinhateiro, um
pastor, ele tinha o direito de receber pelo que fazia.
No entanto, quando numa igreja se levantam falsos profetas, eles
distorcem a verdade, trocando-a pela mentira. Esse é o ponto que Paulo quer
combater: os cristãos de corinto haviam sido ensinados por aqueles que “a si
mesmos se faziam apóstolos”, profetizando erroneamente para o povo de
Deus.
1Co 9.8 — “Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei?”

Paulo está argumentando que seu ensino e sua pregação sobre essa
matéria não eram apenas um pensamento seu. Esse ensino não nascera na
cabeça de Paulo. O fundamento era o que já fora ensinado e pregado no
passado histórico de sua própria nação.
1Co 9.9 — “Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa o trigo.
Acaso, é com bois que Deus se preocupa?”.

Então, Paulo argumenta que aquele que trabalha tem direito ao seu
sustento com o exemplo do boi. Os profetas de Deus têm o direito de viver
de seu glorioso trabalho. O fato de Paulo renunciar ao sustento, ou seja, de
não depender de igreja alguma, não significa que o obreiro não tenha direito
ao sustento. Por fim, ele conclui seu raciocínio dizendo que Deus está mais
preocupado com os verdadeiros profetas do que com os bois. Portanto, se
Deus providencia o sustento daqueles com quem menos se preocupa, mais
ainda providencia em relação àqueles com quem mais se preocupa.
1Co 9.10-11 — “Ou é, seguramente, por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está
escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança
de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito
recolhermos de vós bens materiais?”.

O raciocínio de Paulo é perfeito, partindo do menor para o maior, do


menos importante para o mais importante, do que semeia coisas materiais
para o que semeia coisas espirituais. Se o que semeia trigo deve ter
esperança de receber seu sustento, quanto mais aqueles que semeiam coisas
que não perecem. Esses últimos têm a prerrogativa dada por Deus de
receber bens materiais por causa do trabalho espiritual que realizam.

5. PAULO DECLARA-SE DETENTOR DA VERDADE

2Co 11.10-11 — “A verdade de Cristo está em mim; por isso, não me será tirada esta glória
nas regiões da Acaia. Por que razão? É porque não vos amo? Deus o sabe”.

Em sua luta contra os falsos profetas que distorciam a mensagem divina,


Paulo sustenta outra característica importante em sua defesa. Ele está
absolutamente certo de ter a verdade de Cristo, seu redentor. Nenhum falso
profeta tinha o direito de tirar dele a glória de ser verdadeiro nas regiões em
que trabalhava. E quem detém a verdade tem supremacia sobre todos os que
não a detêm. Ele está se colocando em contraste com os falsos profetas,
mostrando que a glória da verdade é muito mais do que a pregação de um
evangelho falsificado.
Na época em que vivemos, a verdade não é algo muito importante, exceto
para alguns. Agora, a verdade está sendo privatizada. Cada um tem a sua
própria. Entretanto, Paulo apela para a verdade que ele havia recebido de
Jesus Cristo. Por essa verdade, ele daria a própria vida!

6. PAULO PROMETE BARRAR OS FALSOS APÓSTOLOS


2Co 11.12 — “Mas o que faço e farei é para cortar ocasião àqueles que a buscam com o intuito
de serem considerados iguais a nós, naquilo em que se gloriam”.

Esse verso mostra o desconforto de Paulo ao abordar o assunto dos falsos


apóstolos. Esses arrogavam para si os mesmos direitos de Paulo, afirmando-
se iguais a Paulo em sua apostolicidade.
Paulo percebia claramente que seus inimigos sempre buscariam
oportunidades de acusá-lo, com o propósito de arruinar seu caráter e reduzir
sua influência sobre a igreja. Os falsos apóstolos buscavam uma
oportunidade para justificar a si mesmos em sua falsa trajetória cristã.
Paulo não se contém e afirma que se esforçaria para retirar a influência
deles do meio do povo. Paulo iria “cortar ocasião”, ou seja, faria o possível
para impedir que os falsos apóstolos tivessem a mesma glória dos
verdadeiros apóstolos. Quando contestado sobre a razão pela qual fora
convertido após a subida de Jesus ao céu, Paulo afirmou que ele havia visto
ao Senhor (1Co 9), enquanto os falsos apóstolos não o tinham visto nem
haviam sido vocacionados por ele. Os falsos apóstolos jactavam-se daquilo
que não eram.

7. PAULO CHAMA OS FALSOS APÓSTOLOS DE OBREIROS FRAUDULENTOS


2Co 11.13 — “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se
em apóstolos de Cristo”.

7.1. OS OBREIROS SÃO CHAMADOS DE FALSOS APÓSTOLOS


Alguns obreiros que estavam em Corinto desejavam ter a glória do
apostolado. Afinal de contas, ser apóstolo era uma grande honra! Ser
apóstolo significava — como significa — ser vocacionado por Deus para
uma tarefa gloriosa: a de ser profeta da justiça e a glória de ser o alargador
das fronteiras do reino.
Entretanto, os obreiros que trabalhavam em Corinto não contavam com as
mesmas credenciais apostólicas de Paulo, o qual alegava, com veemência,
ter a verdade de Jesus, com quem estivera presencialmente. Alguns obreiros
em Corinto eram chamados de “falsos apóstolos” porque eram apóstolos que
vieram de baixo, enquanto os verdadeiros apóstolos vinham de cima. Ou
seja, Deus vocacionava os verdadeiros apóstolos, enquanto os obreiros de
Corinto “transformavam a si mesmos em falsos apóstolos”. Eles afirmavam
ser o que não eram! Eles tinham ascendência judaica e tentavam adequar a
religião aos preceitos dos homens. Não era legítima a alegação apostólica
deles. Eles viviam enganando os incautos crentes de Corinto e, contra eles,
Paulo vociferou fortemente!
7.2. OS OBREIROS SÃO CHAMADOS DE FRAUDULENTOS
Como eles se passavam por apóstolos, são chamados por Paulo de
“obreiros fraudulentos” — e a palavra grega correspondente é
ψευδαπόστολοι [pseudoapostoloi]. Literalmente, eles eram falsos apóstolos,
pois apresentavam a mentira revestida de algumas verdades. Já mencionei
que o erro sempre aparece travestido de engano.
A fraude é um mal terrível, especialmente no meio de um povo ignorante
das Escrituras, o que era o caso dos crentes de Corinto. É possível que eles
tenham observado os privilégios que os verdadeiros apóstolos recebiam e,
então, quiseram também para si. Havia muita vantagem em ser apóstolo.
A fraude dos falsos pregadores estava no fato de eles se autoproclamarem
apóstolos quando não haviam sido vocacionados por Jesus Cristo. A fraude
era apresentar mentira travestida de verdade. Não é diferente do que
acontece em nossos dias. Basta ligar a televisão e ver quantas pessoas
enganam, especialmente os necessitados, em relação a finanças e doenças.
Então, nessa situação, muitos crentes buscam a solução para esses problemas
que só os obreiros fraudulentos se atrevem a apresentar — uma solução que
não existe, à parte da bondosa graça de Deus.
7.3. OS OBREIROS SE AUTOPROMOVEM A APÓSTOLOS DE CRISTO
Em geral, a promoção atinge aqueles que recebem a honraria de alguém
que lhes é superior. Por exemplo, quando alguém, dentro do sistema
presbiteriano, torna-se presbítero, recebe a autoridade de um concílio que
está sobre ele e, então, pode exercer o ofício presbiteral. O próprio Paulo
apela para alguém que lhe é superior: Deus, que o havia vocacionado, por
sua vontade soberana.
Os falsos obreiros, contudo, afirmavam ser aquilo que sonhavam ser:
pessoas reconhecidas pela congregação. Mas Paulo pulou na frente e
impediu que eles continuassem naquela autopromoção. Os obreiros
fraudulentos tinham de ser expulsos do meio da congregação. Tem de haver
punição para os falsos obreiros que estão trabalhando no meio do povo de
Deus. Nós, os que somos da verdade, não podemos nos calar diante de
tamanha falsificação em nosso meio. Temos de exercer disciplina sobre eles.
Não deixe que essa verdade passe despercebida!

8. PAULO CONSIDERA DISSIMULADOS


OS FALSOS APÓSTOLOS
2Co 11.14-15 — “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.
Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o
fim deles será conforme as suas obras”.

8.1. O ENGANADOR PRINCIPAL É DISSIMULADO, APRESENTANDO-SE COMO ANJO


DE LUZ

2Co 11.14 — “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”.15

Por ser um anjo apóstata, Satanás é o responsável maior pelo engano que
há no mundo teológico. Ele é o que “inspira” os pseudoapóstolos. Ele é
quem está por trás do falso ensino e da falsa pregação. Paulo fala, em outro
lugar, que os ensinos dos falsos apóstolos e profetas procedem dos demônios
(1Tm 4.1). Para enganar os obreiros (que se tornam fraudulentos), Satanás se
“transforma em anjo de luz”. É possível que Paulo “tivesse diante de seus
olhos casos em que Satanás adquiriu aparência falsa com o propósito de
enganar ou aparência de grande santidade e reverência, como se fosse
Deus”.18
Satanás, o principal e o primeiro enganador, apresentou-se no Éden (Gn
3.16) e na tentação de Jesus (Mt 4) com a autoridade e o poder de Deus.
Conquanto ele tenha conseguido enganar Eva, não enganou o Filho do
Homem. Em ambos os casos, o “anjo de luz” falsificou a revelação verbal
de Deus. Ele distorceu as palavras de Deus para Eva e fez uma exegese bem
equivocada de textos bíblicos no caso da tentação de Jesus. A perversão e a
falsificação da revelação verbal são típicas de todo enganador!
Aqui, na passagem em estudo, a expressão “anjos de luz” significa um
anjo puro e santo — sendo luz o emblema de pureza e santidade. Os
verdadeiros anjos de luz habitam no céu; e a ideia é que Satanás assume essa
forma, adquirindo a aparência de um santo anjo, porque também veio do
céu.19 E assume essa aparência para enganar os obreiros, os quais, então,
falsificam a revelação verbal. Satanás se traveste de luz porque ele é trevas!
Somente quem é trevas é capaz de trapacear dessa forma. Aliás, não poderia
haver engano se não houvesse uma apresentação da mentira com ares de
verdade.
Quando Satanás entra na presença de Deus, apresenta-se como Satanás,
porque sabe que Deus não é tolo e não pode ser enganado, mas, quando ele
se apresenta aos homens, não tem a aparência de Satanás. Ele sempre
desempenha papel bem diferente, de modo que as pessoas, se não tiverem
uma manifestação de discernimento da parte de Deus, serão enganadas de
forma absoluta.
8.2. OS ENGANADORES SECUNDÁRIOS TRANSFORMAM-SE EM MINISTROS DA
JUSTIÇA

2Co 11.15 — “Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros
de justiça”.

O pai do engano, Satanás, faz uma obra extraordinária com aqueles que
Paulo chama de “obreiros fraudulentos” (ψευδαπόστολοι —
pseudoapostoloi) ou falsos profetas. Ora, se o próprio Satanás se transforma
em anjo de luz, não causa estranheza que seus obreiros se vistam de engano,
afirmando-se ministros. Os falsos profetas são os que estão a serviço de
Satanás. O termo grego para “ministros” é διάκονοι (diaconoi), ou seja, eles
são servos ou ministros que estão a serviço de Satanás. Eles não se
apresentam como enganadores, mas como pessoas que estão do lado da
retidão, do lado de Deus. Eles sempre tentam as pessoas com alguma coisa
desejável, de maneira sutilmente enganosa. Afinal de contas, são
especialistas na arte da camuflagem. Entretanto, eles sempre tentarão desviar
sua atenção de Jesus Cristo.
Os líderes espirituais das igrejas locais são os favoritos de Satanás e dos
falsos profetas. Se eles conseguirem enganá-los, causarão grande estrago na
vida da igreja, afastando-os do caminho santo. Jesus advertiu os líderes
religiosos do seu tempo, dizendo: “Vede que ninguém vos engane. Porque
virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”
(Mt 24.4-5). Esse engano dos falsos profetas e mestres, que a si mesmos
chamam “ministros da justiça”, serão cada vez mais abundantes à medida
que se vai aproximando o tempo do fim.
Além de serem ministros (diaconoi), o texto os classifica como
“ministros da justiça” (διάκονοι δικαιοσύνης). A expressão “ministros da
justiça” aponta para uma característica peculiar dos rivais dos apóstolos.
Eles fingem ser apóstolos, mas se opõem às doutrinas da graça, ainda que
tentem dar a ideia de que creem nelas. Os “ministros da justiça” querem que
os crentes comuns pensem o melhor a seu respeito, para que tenham acesso a
eles.
A palavra dikaousunes qualifica esse tipo de “ministro”. Eles se
apresentam exatamente como aquilo que não são. Como foram enganados por
Satanás, os falsos profetas e os falsos mestres apresentam-se de forma
enganadora, com o propósito de arrastar para o erro os cristãos nominais e
alguns cristãos incautos.
8.3. TANTO O ENGANADOR PRINCIPAL COMO OS SECUNDÁRIOS SERÃO PUNIDOS

2Co 11.15b — “e o fim deles será conforme as suas obras”.

Entretanto, não se esqueça de dizer aos falsos profetas/apóstolos que eles


haverão de receber a justa retribuição de Deus. O destino final deles será
muito duro. Haverá consequências eternas. A aplicação das penas decorre,
em parte, da impossibilidade de Deus ser enganado. Eles podem enganar os
homens, mas Deus, não.
Em nossa geração, não temos o direito legal de punir com a morte os
falsos profetas, mas Deus exercerá sua justiça com eles e com o mestre
deles. Os falsos profetas fazem toda a sua pregação de conteúdo falso, e a
justiça humana falha na aplicação de penalidades, mas a justiça de Deus,
não. Nenhuma pessoa que pratica o ensino enganoso escapará da espada da
Justiça!
A punição divina sobre eles será conforme suas obras. Não se esqueça de
que a manifestação da ira divina não será expressão de sua soberania, mas
de seu atributo essencial de justiça. Por isso, afirma-se que a razão da
punição deles será relativa às obras que praticaram.

LIÇÕES

1) NÃO DEVEMOS TOLERAR QUEM DISTORCE O EVANGELHO

2Co 11.4 — “a esse, de boa mente, o tolerais”.


O que Paulo encontrou na Galácia a respeito da falsificação da revelação
verbal também estava observando em Corinto. Por essa razão, ele exibe,
com tanta intensidade, sua preocupação teológica. Ele sabia do grande
prejuízo que recairia sobre aqueles que dão abrigo a um evangelho
distorcido.
Os crentes da Galácia e de Corinto estavam sendo enganados de tal forma
que não conseguiam perceber o caminho teológico que estavam trilhando.
Paulo fala que eles toleravam os falsos mestres/profetas “de boa mente”.
Isso significa que alguns crentes estavam dando boas-vindas aos falsos
mestres em suas igrejas.
Como a igreja da Galácia, a igreja de Corinto estava sendo permissiva e
tolerante com os falsos apóstolos. E estava abrindo a guarda para a entrada
do evangelho falsificado.
2) NÃO DEVEMOS TOLERAR QUEM DISTORCE O EVANGELHO “EM NOME DO
AMOR”
Hoje, esse mal é frequente. Em nome de um amor que não é lícito, alguns
crentes mostram-se tolerantes com aqueles que distorcem o evangelho em
algumas igrejas de nossa geração. Eles anunciam um evangelho diferente
daquele ensinado nas Escrituras.
Se amamos as pessoas a quem o evangelho é pregado, não devemos
permitir que assimilem um evangelho destituído de seu significado
verdadeiro. Temos de agir duramente contra os falsos profetas/mestres que
trabalham a favor do engano nesta geração. Mas, se amamos as pessoas que
distorcem o evangelho, temos de discipliná-las de várias maneiras, a fim de
que se voltem do erro. O verdadeiro amor tem a ousadia de repreender.
Ficar silente em meio a essa invasão de “evangelho diferente” implica
rechaçar a verdade de Deus!
Entretanto, quando as pessoas da igreja se desviam do verdadeiro
evangelho, nós temos o dever de nos afastar delas, não as ouvindo,
ignorando seus ensinamentos e castigando-as inapelavelmente. Quem ama
corrige!
3) NÃO DEVEMOS TOLERAR AQUELES QUE DISTORCEM O EVANGELHO EM NOME
DO “POLITICAMENTE CORRETO”
Em nossa geração, o ensino exclusivo da verdade de Deus é proibido. A
nenhum de nós, é permitido atacar o pensamento teológico de outra pessoa,
porque todos igualmente detêm a verdade. A verdade é privatizada, e nós
não temos o direito de ofender as pessoas dizendo que nossa pregação
corresponde à verdade e a deles, não.
É fato que não devemos ofender as pessoas que pensam de forma
diferente, mas não podemos nos calar quando o evangelho de Jesus é
distorcido. Devemos ter sabedoria para distinguir entre o que devemos ou
não fazer. Certamente, não devemos tolerar os que distorcem o evangelho,
pois a Escritura diz que devemos “batalhar diligentemente pela fé [o
conjunto da revelação verbal] que, uma vez por todas, foi entregue aos
santos” (Jd 3).
Portanto, não tenha medo de lutar pela verdade, de fazer o que é certo,
ainda que isso seja dolorido. Ademais, você não precisa atacar pessoas,
mas, sim, o pensamento delas. Entendo que, eventualmente, é difícil separar
uma coisa da outra. No entanto, se você tiver de escolher [o que sempre
deve acontecer] entre a tolerância em relação àqueles que distorcem o
evangelho e o amor por condescender, seja intolerante, pois a verdade de
Deus tem primazia sobre a mentira dos homens!
Essa exp ressão significa o efeito do p ecado sobre a mente (nous).
João Calvino, em seu comentário on-line. Disp onível em: http ://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom40.xvii.i.html. Acesso em: julho
de 2018.
Cambridge Bible for Schools and Colleges. Disp onível em: http ://biblehub.com/commentaries/cambridge/2_corinthians/11.htm.
Disp onível em: http ://classic.study light.org/com/bnn/view.cgi?book=2co&chap ter=011. Acesso em: ago. 2018.
Ibid.
8 | OS CRENTES PRECISAM DO
CONFORTO DE DEUS EM MEIO
À PREGAÇÃO DOS FALSOS
PROFETAS/MESTRES

Cl 2.1-5 — “Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos
laodicenses e por quantos não me viram face a face; para que o coração deles seja confortado
e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do
entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos. Assim digo para que ninguém vos
engane com raciocínios falazes. Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito,
estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em
Cristo”.

1. PAULO ENTENDIA QUE O VERDADEIRO ENSINO EXIGE LUTA ESPIRITUAL


Cl 2.1 — “Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós”.

A batalha em questão aqui é agona [ἀγῶνα], o mesmo termo grego para


descrever a luta ou a oposição que dois atletas sustentam agonizantemente
numa batalha para que um deles venha a ter vitória. Essa luta também incluía
oração em favor da igreja.20
A ideia desse tipo de “luta” é encontrada na Epístola aos Efésios, em que
Paulo assinala que a luta “é contra os principados, potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal
[...].” (Ef 6.12). A pregação de Paulo era uma espécie de luta contra o
engano que estava tentando penetrar na igreja de Colossos. Era uma batalha
entre o certo e o errado, entre a verdade e a mentira, entre o bem e o mal.
Era uma guerra espiritual da qual só podia participar aquele que estivesse
munido de toda a verdade.

2. PAULO PREOCUPAVA-SE
COM OS CRENTES EM GERAL
Cl 2.1b — “Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos
laodicenses [...]”.

Paulo combateu aguerridamente o falso ensino e a falsa profecia em suas


cartas. Sua preocupação com as igrejas era intensa, pois ele as amava e não
queria vê-las se apartando do evangelho. Essa preocupação com as igrejas,
ele chama “grande luta”, pois, para ele, eram como filhas amadas. Por isso,
ele não cessava de fazer esse precioso serviço de advertência a respeito da
falsificação das coisas do reino de Deus. Ele queria que os crentes de
Colossos e Laodicea fossem confortados com a verdade de Deus, com um
entendimento cheio de convicção da verdade em que haviam sido formados.

3. PAULO PREOCUPAVA-SE COM OS CRENTES QUE NUNCA O TINHAM VISTO


Cl 2.1c — “e por quantos não me viram face a face”.

Havia pequenas congregações na Ásia Menor que ainda não tinham visto o
rosto de Paulo. Algumas dessas pessoas viviam nas regiões da atual Turquia,
incluindo os crentes de Hierápolis, que são mencionados em Colossenses
4.13.
Paulo se preocupava com as pessoas que nunca o tinham visto face a face.
Na verdade, poderíamos dizer que sua preocupação tinha alcance
internacional, atingindo os limites da Ásia Menor. Sua preocupação era com
os crentes que estavam geograficamente distantes dos colossenses e dos
laodicenses. Paulo tinha uma visão de reino abrangente pois, quando ele
escrevia suas cartas, tinha a doce esperança de que gente de toda parte
poderia ler o conteúdo de sua mensagem.

4. PAULO PREOCUPAVA-SE EM OFERECER


CONFORTO ESPIRITUAL A TODOS
Cl 2.2a — “para que o coração deles seja confortado [παρακληθῶσιν] e vinculado juntamente
em amor”.

O verbo parakaleo pode ser traduzido como consolar, confortar, encorajar,


animar. Paulo tinha o desejo de que, ao enfrentar os falsos mestres, os
crentes não se sentissem desencorajados, mas firmes no Senhor, em sua
interioridade. O propósito último do consolo era levar aos crentes
entendimento correto — esse entendimento, então, os conduziria a tomar
ações corretas diante do falso ensino.
O consolo que Paulo queria para eles deveria situar-se na parte mais
interior da vida deles (kardia), que era o coração, o lugar de onde provêm
todas as intelecções, afeições e volições. Além disso, Paulo queria que os
crentes fossem unidos [sumbibazô] pelo amor [ἀγάπῃ]. A unidade entre os
crentes era fundamental para seu bem-estar. Paulo tinha em vista a união
deles, evitando qualquer espécie de desavença. Somente o amor junta as
pessoas.

5. PAULO PREOCUPAVA-SE EM TORNÁ-LOS


CONVICTOS DE ENTENDIMENTO
Cl 2.2b — “e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento [συνέσεως]
(...)”.

5.1. PAULO QUERIA QUE OS CRENTES DE COLOSSOS TIVESSEM FORTE


CONVICÇÃO
Paulo escreveu a pessoas que enfrentavam o ataque do ensino de muitos
falsos profetas e mestres. Não se esqueça de que os crentes de Colossos
enfrentavam falso ensino a respeito da pessoa e da obra de Cristo (Cl 1.13-
23). Sabedor disso, Paulo lhes escreve para que não hesitem quanto à
verdade de Deus em Cristo. Paulo travava luta intensa (v. 1) para que seus
leitores, a igreja de Laodiceia e aqueles que não o conheciam pessoalmente
(v.1b) se livrassem de dúvidas espirituais e se mostrassem firmes no pleno
conhecimento da verdade. Por isso, ele usa a palavra grega πληροφορίας
[plerhophoria] que significa “plena segurança”, “forte convicção” ou
“certeza” a respeito da verdade do Deus encarnado — Jesus Cristo.
Nenhuma dúvida deveria pairar na vida deles sobre o Redentor que havia
morrido por eles.
5.2. PAULO DIZ QUE A FORTE CONVICÇÃO
É UMA RIQUEZA
Paulo desejava que os crentes que não haviam visto sua face (v. 1)
tivessem algo significativamente rico em suas vidas. E essa riqueza tem a
ver com o pleno conhecimento de Cristo.
Paulo usa a palavra grega “πλοῦτον ” [plouton] para falar da importância
da “forte convicção”. E Paulo chama essa convicção de “riqueza”. A “forte
convicção” mencionada por Paulo aponta para algo de valor inestimável na
esfera do entendimento espiritual. A “forte convicção” não é alguma coisa
completa e perfeita nesta presente existência. Somente no completamento de
nossa redenção, na vinda de Cristo, teremos uma convicção absolutamente
perfeita. Todavia, essa “forte convicção” deve ser compreendida como
extremamente rica quando examinamos a condição na qual vivemos
presentemente.
Poucas pessoas têm essa “riqueza” neste mundo. Deus não dá igualmente
a mesma convicção a todos e no mesmo grau, mas o desejo de Paulo era para
que seus irmãos na fé possuíssem essa riqueza inestimável do conhecimento
de Cristo.
5.3. PAULO DIZ QUE A FORTE CONVICÇÃO ESTÁ VINCULADA AO ENTENDIMENTO
A palavra grega συνέσεως [suneseos] é a faculdade do entendimento ou
da compreensão. A sunesis é absolutamente necessária para que haja
convicção daquilo em que os crentes creem.
A palavra grega ἐπίγνωσιν [epignosin], por sua vez, significa o
conhecimento ou o insight correto que ganhamos pela experiência, e não
pela simples observação de uma fonte externa. Os falsos profetas usavam
argumentos lógicos, mas seu conhecimento provinha de suas próprias ideias,
e não de revelação divina.
5.4. PAULO DIZIA QUE O ENTENDIMENTO TEM UM PROPÓSITO

Cl 2.2 — “para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo (...)”.

Todos os cristãos devem ter uma mente que conheça o maior mistério de
Deus. Todavia, para ter esse tipo de compreensão, é necessário que
adquiramos, pela graça, a mente de Cristo. Cristo só é conhecido pelos
cristãos quando eles têm a mente de Cristo. Esse é o mistério de Deus que
veio a ser revelado. Aquilo que os crentes do Antigo Testamento não haviam
conseguido compreender plenamente era, então, revelado aos crentes do
Novo Testamento. Aquilo com que os antigos sonhavam em relação à
pregação dos profetas era, então, transformado em realidade na pregação
apostólica. E Paulo queria que os colossenses conhecessem o mesmo que ele
desejava para os crentes filipenses:
Fp 1.9 — “E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno
conhecimento e toda a percepção”.

Paulo queria que os crentes de sua época tivessem “pleno conhecimento e


toda a percepção” sobre aquilo em que deveriam crer verticalmente, o
mistério de Cristo, e sobre o que deveriam fazer horizontalmente, que é o
amor pelos irmãos.
Conhecer Cristo corresponde a conhecer o maior mistério de Deus. E
você tem o privilégio de conhecer hoje muitas coisas das quais os crentes
antigos foram privados! Dedique-se a compreender cada vez mais o grande
mistério de Deus. Conheça-o hoje, em sua Palavra!

6. PAULO PREOCUPAVA-SE EM APRESENTAR


A BASE DE TODA A VERDADE
Cl 2.2c — “para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.

A base de toda a verdade enfrentava forte oposição por parte dos falsos
mestres, falsos profetas e falsos apóstolos. Todos esses queriam que os
crentes a quem Paulo escreve tivessem dúvidas sobre o mistério de Deus,
que é Cristo.
A base de toda a verdade se encontrava nessa pessoa que os crentes ainda
conheciam pouco, mas que Paulo queria que conhecessem muito. Essa
pessoa era um mistério para muitos crentes, mas Paulo queria que eles a
conhecessem plenamente [plêrophoria].
Jesus Cristo é o mistério de Deus revelado para ser a chave de
entendimento da história. Ele é o autor e o condutor da história (Jo 1.3).
Quanto mais você conhece Cristo, mais se torna capaz de compreender os
planos de Deus na história.
Jesus Cristo é o mistério de Deus para ser o fundamento de tudo o que
sabemos e experimentamos espiritualmente, pois os tesouros do maior
conhecimento e da mais excelente sabedoria estão nele.
7. PAULO ESTAVA CONVICTO DE QUE O MISTÉRIO DE DEUS ERA O REPOSITÓRIO
DE TODO O CONHECIMENTO E DE TODA A SABEDORIA
Cl 2.3 — “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.

Paulo argumenta que os crentes devem seguir o padrão de verdade


encontrado em Cristo. Eles não deveriam procurar a verdade em alguém fora
de Cristo. Por quê? Porque nele “todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos”.
7.1. O SIGNIFICADO DE SABEDORIA E CONHECIMENTO
Podemos dizer que o conhecimento significa apreensão intelectual/interna
que os crentes têm da verdade a respeito do mistério de Deus, que é Cristo.
Em relação à sabedoria, refere-se à aplicação de conhecimento à vida. A
verdade que está no interior de um crente precisa ser aplicada à vida
relacional dele com os homens e com o próprio Deus. É essa sabedoria que
torna as pessoas mais justas, retas e santas. A sabedoria, via de regra, tem a
ver com o conhecimento aplicado. Veja o que diz Moisés:
Dt 4.5-6 — “Eis que vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu
Deus, para que assim façais no meio da terra que passais a possuir. 6 Guardai-os, pois, e
cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos
povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e
inteligente”.

A sabedoria e a inteligência estão intimamente ligadas à Palavra de Deus,


que, nos versos de Deuteronômio, são chamadas de “estatutos e juízos”. O
salmista, por sua vez, diz que o conhecimento da Palavra de Deus traz
maturidade ao jovem (Sl 119.97-99). Quanto mais estudamos piedosamente a
Palavra de Deus, mais adquirimos inteligência; e, quanto mais a aplicamos
em nossa vida e na vida dos outros, mais nos tornamos conhecidos como
sábios.
A igreja de Deus precisa urgentemente de bons conhecedores da verdade
e aplicadores dela!
7.2. SABEDORIA E CONHECIMENTO SÃO TESOUROS
Sabedoria e conhecimento são os tesouros mais preciosos nos dias de
hoje. Com frequência, assinala-se que quem tem conhecimento tem poder. No
entanto, bem diferente do conhecimento das coisas deste mundo, o
conhecimento da revelação divina torna os crentes mais humildes e
submissos a Deus, e não poderosos que exercem domínio sobre outras
pessoas.
Curiosamente, os falsificadores da revelação verbal não têm o que os
crentes mais simples têm: o conhecimento e a sabedoria de Deus. Até mesmo
os crentes mais simples possuem tesouros que ninguém jamais poderá
arrancar deles, porque não são coisas externas ou físicas. Esses tesouros
estão dentro das pessoas que se encontram em Cristo. E ninguém pode pôr a
mão nesses tesouros!
7.3. SABEDORIA E CONHECIMENTO ESTÃO OCULTOS
A palavra grega traduzida como ocultos é ἀπόκρυφοι [apokrufoi], que
significa alguma coisa “escondida”, “velada”, “secreta”.
Nesses versos em estudo, a palavra apokrufos21 significa algo
continuamente guardado em segredo e, por implicação, mantido em oculto ou
entesourado.22
Em Efésios 3.9, a forma verbal de apokrupto é usada em sentido
figurativo para descrever o conhecimento que só pode ser adquirido por
revelação divina.23
Tudo que os crentes podem conhecer de Deus está oculto em Cristo. Ele
já revelou algumas coisas acerca da Divindade, mas ainda há muitas coisas
de Deus desconhecidas. Um dia, ele vai revelar-nos mais coisas. Por ora, o
próprio Cristo é o mistério de Deus, mas existem muitas coisas que o
Misterioso esconde de seu povo. Chegará o tempo em que algumas coisas
ocultas serão conhecidas.

8. PAULO ADVERTE OS CRENTES


DOS RISCOS DO ENGANO
Cl 2.4 — “Assim digo para que ninguém vos engane com raciocínios falazes”.

Paulo se dedica a fazer dos crentes de Colossos homens e mulheres


perfeitamente doutrinados, pois não queria que vacilassem teologicamente
diante de falsos profetas e falsos mestres. Ele sabia que esses são homens
perigosos, pois seus argumentos são “falazes”, ou seja, persuasivos.
A heresia sempre se torna um perigo constante para os crentes incautos,
pois vem travestida de verdade. Os falsos profetas nunca apresentam o falso
ensino absolutamente contrário à verdade de Deus; eles são inteligentes e
convidativos. Não sem razão, eles mesmos foram enganados pelos ensinos
demoníacos. Portanto, crentes sem uma boa formação teológica
frequentemente assimilam muita informação teologicamente ruim, produto da
falácia dos deturpadores da verdade.
O que foi prejudicial nos tempos de Paulo também o é nos dias atuais.
Ainda existem muitos evangélicos sendo facilmente levados pela falácia de
pregadores. Eles enganam por meio de raciocínios falazes [paralogizomai],
revestidos de muita lógica e, por isso, enganosamente plausíveis, ainda que
falsos [πιθανολογίᾳ — pithanologia]. Nenhuma outra época na história da
igreja reuniu tantos crentes que caem em engano como em nossa geração!

9. PAULO SE CONGRATULA COM OS CRENTES


POR SUA FIRMEZA NA FÉ
Cl 2.5 — “Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco,
alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo”.

A igreja de Colossos estava sendo atacada pelos falsos mestres. No


entanto, é verdade que muitos permaneciam firmes na fé (o que justifica o
regozijo de Paulo), mas sempre debaixo de luta teológica. E, ao mesmo
tempo que Paulo, com sua preocupação amorosa, adverte os crentes de
Colossos a respeito dos perigos iminentes dos falsos profetas e mestres,
reconhece que a igreja de Colossos tem duas virtudes preciosas: boa ordem
e firmeza na fé em Cristo.
9.1 A BOA ORDEM
A expressão grega traduzida como “boa ordem” é τάξιs [taxis], também
traduzida como “boa disciplina”. Trata-se de uma expressão militar que
aponta para a descrição de soldados alinhados para a batalha.24 Isso porque,
se um exército não estivesse devidamente alinhado, poderia pôr a batalha a
perder. Quando atacados, os soldados deveriam mostrar alinhamento correto
em suas posições. A disciplina sempre é importante numa batalha.
Como os cristãos são soldados de Cristo, devem estar sempre preparados
para combater o erro. A “boa ordem” [taxis] é elemento indispensável aos
soldados de Cristo. Em sua ausência, eles podem desertar da verdade. Isso,
portanto, significa que eles não podem fugir da batalha contra o engano.
9.2. A FIRMEZA DA FÉ EM CRISTO
Em sua averiguação sobre a situação da igreja de Colossos, ainda que
estivesse fisicamente ausente, Paulo reconhece que os colossenses estavam
bem firmados [στερέωμα — stereoma] em sua fé. A palavra stereoma
descreve algo que é estável, sólido, firme e forte. Uma igreja que conta com
stereoma enfrenta corajosamente o ataque dos falsos profetas e mestres.
A palavra “fé” [πίστεως] deve ser compreendida como o conjunto de
verdades que eles haviam recebido dos ensinamentos de Paulo. Enquanto
muitos se mantêm firmes no erro, os crentes de Colossos estavam firmes na
fé em Cristo. Esse era o grande consolo de Paulo num período em que o erro
já se alastrava por alguns setores da igreja cristã do primeiro século.
Nosso presente século [ou geração] tem experimentado muito engano
teológico. Não se pode afirmar que a igreja evangélica, em geral, está firme
em sua fé em Cristo, pois, em muitos casos, o Cristo sobre o qual ouvem não
é necessariamente o Cristo das Escrituras, mas produto do engano dos falsos
profetas. Por isso, a Igreja de Cristo precisa estudar muito “a fé que, uma
vez por todas, foi entregue aos santos” (Jd 3). Quando a igreja se mantém
firme “na fé”, não corre o risco de ser levada por “raciocínios falazes”.

LIÇÕES
Toda preocupação e toda luta de Paulo envolviam alguns propósitos bastante
claros no que diz respeito aos crentes:
1) PAULO QUERIA QUE OS CRENTES ANDASSEM EM CRISTO

Cl 2.6 — “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele”

Os crentes a quem ele escreve já haviam recebido, por meio da fé, a pessoa
e a obra de Cristo. Isso não precisava voltar a acontecer. Trata-se de um ato
único. Mas, embora a redenção já tivesse iniciado, o recebimento de Cristo
não encerra esse processo. Então, Paulo os exorta ao desenvolvimento do
processo de salvação. O “andai” [περιπατεῖτε do verbo peripateo] significa
dar passos contínuos, ter uma conduta progressiva. Ele já havia ensinado aos
filipenses que a salvação é um processo em desenvolvimento contínuo:
Fp 2.12 — “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença,
porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor”.
A expressão “desenvolvei a vossa salvação” deve ser compreendida
como equivalente a “andai nele”. A redenção deve continuar neste mundo,
até que se complete com a vinda de Cristo. Segundo Gill, a expressão andar
em Cristo significa
andar segundo o Espírito de Cristo, sob sua influência e direção, e através de sua assistência; é
andar na doutrina de Cristo, permanecer em Cristo, crescer no conhecimento dele; é andar nas
ordenanças de Cristo (...), fazer uso de Cristo como aquele que é o caminho, o único acesso a
Deus, o caminho da salvação, o único meio de acesso a Deus (...).25

2) PAULO QUERIA QUE OS CRENTES TIVESSEM FIRMEZA EM CRISTO

Cl 2.7a — “nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos,
crescendo em ações de graças”.

As três expressões, “nele radicados, e edificados, e confirmados na fé”,


apontam para a ideia de firmeza em Cristo e em sua doutrina. Se um cristão
não é radicado em Cristo, edificado nele e confirmado na fé”, não pode
“andar em Cristo”.
John Gill diz que
os crentes são, algumas vezes, comparados a árvores, e são árvores de justiça, plantadas pelo
Senhor; e a raiz deles é Cristo, de onde surgem e por causa de quem estão cheias de frutos de
justiça; nele, elas permanecem, guardadas nele e andando nele; derivam toda a sua vida dele, e
são nutridas e frutíferas [...] estão enraizadas nele; algumas vezes, os crentes são comparados a
um edifício, uma casa, um templo, uma habitação de Deus.26

Assim, os crentes podem firmar-se nele, de modo que ninguém pode tirá-
los dele. Essa firmeza está no fato de eles estarem intrinsecamente ligados à
raiz; eles crescem como um prolongamento da raiz e permanecem seguros
para todo o sempre nela, pois estão “confirmados na fé”. Não se esqueça: a
palavra “fé” denota mais o conjunto de doutrinas do que simplesmente
confiança pessoal em Cristo e está vinculada à pessoa e ao ensinamento de
Cristo.
Por fim, não se deve perder de vista que essas coisas mencionadas por
Paulo já eram conhecidas de seus destinatários. Provavelmente, eles já
haviam sido ensinados por Epafras, ministro da Palavra. Mais uma razão,
portanto, para que não desprezassem tal aprendizado.
3) PAULO QUERIA QUE OS CRENTES CRESCESSEM EM GRATIDÃO
Cl 2.7b — “nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos,
crescendo em ações de graças”.

A bênção de os crentes serem radicados em Cristo, edificados nele e


confirmados na fé deveria gerar um senso de gratidão. Da mesma forma que
deveriam crescer no conhecimento de Cristo, também deveriam crescer na
virtude da ação de graças —princípio que deve ser desenvolvido na vida
do cristão.
O verbo grego traduzido como “crescendo” é περισσεύοντες [de
περισσεύω — perisseuo] e pode ser traduzido como abundante,
transbordante, portador de excelência! As ações de graças devem
manifestar-se copiosamente na vida dos cristãos firmados em Cristo. Não há
possibilidade de crescimento continuado em Cristo se não houver
crescimento em ação de graças. Todos nós, beneficiários da obra de Cristo
por causa de nosso vínculo com ele, devemos crescer na virtude da ação de
graças.
Matthew Henry, célebre comentarista bíblico, disse que, certa vez, foi
roubado enquanto caminhava por uma rodovia. Posteriormente, disse a seus
amigos que havia quatro coisas pelas quais era grato. Em primeiro lugar, por
nunca ter sido roubado antes, em tantos anos de vida. Em segundo, porque,
embora eles “tivessem levado meu dinheiro, não levaram tudo o que eu
tinha”. Isso era algo pelo que ele dava graças. Em terceiro, porque, “embora
tivessem tomado meu dinheiro, não tiraram minha vida, e sinto-me grato por
isso”. E, por derradeiro, “ estou grato porque fui eu o roubado, e não eu o
que roubei”.27
Henry, sem dúvida, aprendeu a virtude da ação de graças que deve
permear a vida de todos os crentes. Nessa experiência, Matthew Henry
aprendeu a ser transbordante em ação de graças!
Veja Sermão Paul’s Desire & Struggle. Disp onível em: http ://gracebibleny.org/p aul_s_desire_struggle_colossians_2_1_5.
A p alavra apokrifos é a raiz da p alavra apócrifo, que significa escritos ou afirmações de autenticidade dúbia.
Disp onível em: http ://gracebibleny.org/p aul_s_desire_struggle_colossians_2_1_5. Acesso em: ago. 2018.
Disp onível em: http ://gracebibleny.org/p aul_s_desire_struggle_colossians_2_1_5. Acesso em: ago. 2018.
Disp onível em: http ://gracebibleny.org/p aul_s_desire_struggle_colossians_2_1_5.
John Gill´s Exposition of the Bible. Disp onível em: http s://www.biblestudy tools.com/commentaries/gills-exp osition-of-the-
bible/colossians-2-6.html. Acesso em: set. 2018.
Ibid.
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/colossians_24-71#2:7.
9 | OS CRENTES PRECISAM
TOMAR CUIDADO COM O
ERRO

Cl 2.8 — “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas,
conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”.

1. PAULO ADVERTE OS CRENTES


PARA QUE SE CUIDEM TEOLOGICAMENTE

Cl 2.8a – “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas”

Você já deve ter percebido com que frequência Paulo se dedicava a lidar
com os problemas teológicos que invadiam a igreja apostólica! Paulo usa
bastante a palavra “cuidado”, advertindo para o risco que correm aqueles
que enveredam pelo caminho da falsificação da verdade.
O verbo grego traduzido como “cuidado” é blepo, que pode ser traduzido
como “tome cuidado, examine, veja, observe” o que está acontecendo
teologicamente na igreja. Em toda a história da redenção, o povo de Deus é,
muitas vezes, confrontado com erros que trazem prejuízo ao crescimento do
reino. E esse cuidado se justifica porque os pervertedores da verdade
costumavam “sequestrar” os crentes incautos da igreja, enganando-os. Desde
o princípio da igreja cristã, essa prática era constante. Paulo queria que a
igreja de Colossos tivesse a mesma preocupação expressa pela igreja de
Bereia, a qual examinava cuidadosamente o que ali se pregava, recorrendo
às Escrituras (At 17.11).
Especialmente os irmãos mais experientes devem ter espírito de
discernimento para distinguir entre o certo e o errado no meio do povo de
Deus. Dizem alguns que não deve haver espírito crítico na igreja, porque
essa tendência destrói; deve haver, sim, espírito de discernimento, o qual
constrói. Essa é uma diferença crucial.28
Lembre-se, por fim, de que o verbo blepo está no modo imperativo. Isso
significa que a advertência de Paulo não é uma sugestão, mas uma ordenança
voltada ao bem-estar da igreja.

2. PAULO ADVERTE OS CRENTES


PARA QUE NÃO SEJAM ENGANADOS
Cl 2.8b–Cl 2.8a — “Cuidado que ninguém vos venha a enredar”.

A palavra grega traduzida como “enredar” é συλαγωγῶν [silagogon],


que também pode ser traduzida como “tornar cativo”. Em todo o Novo
Testamento, esse termo é usado somente aqui. Paulo está advertindo a igreja
de Colossos para que os irmãos não sejam dominados pelo erro teológico
daqueles que falsificam a revelação verbal. Literalmente, em português,
enredar significa ficar preso na rede. Os crentes devem tomar cuidado para
não se tornar imóveis, cativados e amarrados pela rede do erro.
O verbo grego silagogeo “é uma descrição figurativa dos efeitos
destrutivos dos falsos mestres, que procuram roubar, dos crentes de
Colossos, as riquezas disponíveis em Cristo”.29 Quando ocorre esse roubo
da verdade, as pessoas se apartam de Cristo. Se os colossenses haviam sido
libertos, não mais poderiam deixar-se levar pelo erro.

3. PAULO ADVERTE OS CRENTES


PARA QUE REAJAM À FILOSOFIA VIGENTE

Cl 2.8c — “Cuidado para que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas”.

Filosofia, literalmente, significa ter amor à sabedoria. No entanto, a filosofia


a que Paulo se refere é a sabedoria dos homens, e não de Deus. Essa
filosofia estava em contraste com a cosmovisão cristã que era ensinada
pelos apóstolos. Um exemplo de filosofia da época é o pensamento dos
epicureus e dos estoicos (At 17). O ensino gnóstico começava a se espalhar,
chocando-se com a teologia cristã da época, pois refletia conceitos bastante
equivocados sobre a pessoa de Cristo.
Spurgeon assinala que “a história da ignorância humana, que chama a si
mesma de ‘filosofia’, é absolutamente idêntica à história dos tolos, exceto
nos pontos em que diverge em loucura”.30 O modo de vida pregado pelos
homens difere grandemente do modus vivendi pregado pelo cristianismo
genuíno. É nesse sentido que a filosofia humana deve ser rejeitada. Tudo que
a filosofia cristã preconiza está vinculado à obra de redenção em Cristo.
Entretanto, a filosofia vigente no tempo de Paulo era o pensamento de
homens que se rebelavam contra o fundamento da fé cristã, que é o
derramamento do sangue de Cristo.
A filosofia do mundo não corresponde aos anseios mais profundos do
homem. Ela não serve nem mesmo de paliativo aos cristãos, pois carece de
aplicabilidade pessoal. J. I. Packer diz que “os filósofos são pessoas que
falam a respeito de alguma coisa que não entendem e fazem você pensar que
a falha é sua”. A filosofia dos filósofos mundanos não tem uma resposta às
grandes perguntas do mundo e não é capaz de explicar nada sobre a razão da
morte ou mesmo da própria vida; tampouco conhece algo a respeito do
princípio ou do fim. Packer, em alusão a terceiros, afirma que “a filosofia
diz que todo mundo conhece na linguagem aquilo que ninguém consegue
entender”.31 E acrescenta que “uma definição mais dignificada de filosofia é
a tentativa do homem de se fazer incapaz de pensar com clareza”.32

4. PAULO ADVERTE OS CRENTES PARA QUE NÃO SE APEGUEM ÀS VÃS SUTILEZAS


Cl 2.8d — “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas”.

No início do verso 8, Paulo adverte os cristãos de Colossos: “Cuidado”, ou


seja, “estejam atentos” à filosofia dos homens e às suas sutilezas.
A expressão “vãs sutilezas” [κενῆς ἀπάτης] pode ser traduzida como
“enganos que não levam a nada”. Não causa espanto que Bertrand Russell,
famoso filósofo do século passado, no final de sua vida, aos 90 anos, tenha
dito: “A filosofia tem-se mostrado dispensável a mim”.33
A filosofia humana é cheia de enganos que não levam a nada. Trata-se, em
verdade, de um engano vazio, pois não fornece o que se espera dela. É uma
espécie de anzol que fisga aqueles que não estão firmes na Palavra. Quando
o peixe morde a isca, não sabe que está sendo fisgado. A filosofia tem o
mesmo papel do anzol, escondendo as reais intenções, e o resultado final é
inútil para quem a abraça. Quando a filosofia é ensinada, aqueles que a
absorvem não têm consciência do engano que estão abraçando. A filosofia é
vã porque traz desapontamento aos que se servem dela, não trazendo
respostas às questões últimas da vida.
5. A ADVERTÊNCIA DE PAULO É PARA QUE
OS CRENTES NÃO ANDEM CONFORME
AS TRADIÇÕES DOS HOMENS
Cl 2.8e — “conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não
segundo Cristo”.

Na história do mundo, a grande maioria das ideias filosóficas nasce na


mente de homens desprovidos do entendimento de Deus. Em todos os
filósofos, a tradição dos homens tem prevalência sobre os pensamentos de
Deus. No pensamento dos filósofos, a tradição dos homens suplanta a
revelação divina! Aliás, isso é o que acontece com todos os seres humanos
que ainda andam em trevas espirituais. Eles preferem a tradição dos homens
à verdade de Deus.
Quando o Filho de Deus encarnou, viu como os judeus haviam desprezado
a Palavra de Deus e passado a seguir a tradição dos homens. Seus princípios
religiosos estavam mais ligados às tradições dos homens do que à verdade
de Deus. Veja o que Jesus disse deles:
Mc 7.6-9 — “Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está
escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me
adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento
de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito
de Deus para guardardes a vossa própria tradição”.

Esse comportamento dos líderes judeus aponta claramente para o repúdio


da revelação divina e para a aceitação da filosofia humana. Por isso Paulo
adverte contra a sabedoria dos homens. Ela engana, trapaceia e, no final das
contas, acaba desapontando, pois não resolve as questões mais cruciais da
vida humana. A tradição dos homens é inútil quando se trata das coisas
relacionais entre homens e homens, e entre os homens e Deus. A tradição dos
homens não resolve as questões horizontais porque, igualmente, não resolve
as questões verticais. O fato é que, hoje, a tradição dos homens tem tido
primazia sobre a Palavra de Deus na vida de muitos cristãos.
Quando alguém estiver estudando filosofia, não deve se esquecer de onde
ela procede. Faz toda a diferença quando temos uma visão correta sobre a
tradição dos homens, o que está intrinsecamente relacionado com a
falsificação da revelação verbal. Busque conhecer a revelação divina antes
da tradição dos homens, porque os filósofos sempre construíram sobre o
pensamento de outros filósofos! Não despreze os valores de Deus ao aceitar
os valores dos homens! Os cristãos não podem, ao mesmo tempo, ficar com
a tradição dos homens e a Palavra de Deus — ambas são mutuamente
excludentes!

6. PAULO ADVERTE PARA QUE OS CRENTES NÃO SE CONFORMEM SEGUNDO OS


RUDIMENTOS DO MUNDO
Cl 2.8f — “conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não
segundo Cristo”.

O que essa expressão significa? Não é fácil compreendê-la.


A palavra grega traduzida como “rudimentos” é στοιχεῖα (stoikeia), que
aponta para o sentido literal dos elementos básicos do aprendizado. Assim
como as crianças recebem um ensino rudimentar básico em sua instrução,
mas não uma instrução de adultos,34 as pessoas em geral podem assimilar os
elementos básicos ensinados no mundo — elementos que não servem ao seu
amadurecimento. Quando o cristão se volta exclusivamente para a filosofia,
caminha para o aprendizado das coisas rudimentares do mundo, o que
dificulta seu entendimento acerca das coisas espirituais que o fazem
realmente amadurecer.
O ensino de Paulo sobre os “rudimentos do mundo” aponta para a ideia
de uma pessoa que não amadurece em Cristo. Em sua carta as gálatas, Paulo
refere-se aos tempos de imaturidade como os tempos da escravidão aos
princípios do abecedário espiritual.
Gl 4.3 — “Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos
rudimentos do mundo [στοιχεῖα τοῦ κόσμου]”.

Esses princípios rudimentares não fazem o cristão crescer


espiritualmente, porque tratam apenas das coisas dos homens. Os crentes
judaizantes da Galácia não eram pessoas amadurecidas, pois se encontravam
sob a servidão dos rudimentos do mundo, ou seja, dos princípios
elementares estabelecidos pelos homens, e não por Deus. Por isso, a religião
deles é imatura e não tem proveito para o desenvolvimento espiritual.
O escritor aos hebreus usa a mesma palavra stoikeia (rudimentos) para
falar da imaturidade dos cristãos de origem judaica a quem ele se dirige.
Hb 5.12 — “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido,
tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios
elementares [στοιχεῖα] dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e
não de alimento sólido”.

Os crentes de origem judaica não eram pessoas amadurecidas. Muitos


ficavam apenas nos rudimentos do aprendizado. Esse é o significado de
“leite”. Esses crentes não possuíam o devido crescimento spiritual, mesmo
com o passar dos anos. Os princípios elementares podem até ser tomados até
certa altura da vida, mas não para sempre. Esse é o sentido do “alimento
sólido” que lhes faltava.
Em Colossenses 2.8, Paulo fala de algo muito mais amplo e,
consequentemente, mais grave. Não era simplesmente falta de maturidade,
mas a intromissão de coisas erradas inclusive nos princípios elementares da
fé cristã. Os crentes de Colossos estavam sendo atacados por erros
teológicos. Era uma espécie de leite azedo que os transformava em doentes
espirituais, pois eles conheciam os princípios elementares sem qualquer
noção de pureza espiritual. A expressão “rudimentos do mundo”, surgida em
Colossenses, aponta para a ideia de ausência ou de falsificação da verdade.
Quando não existe maturidade espiritual, ou seja, um crescimento
constante sobre a pessoa de Cristo, a tendência é assimilar as “tradições dos
homens”. Quando não há um aprendizado correto, ao longo dos anos os erros
tornam-se “tradições de homens”, suas “filosofias e vãs sutilezas”.
Da mesma forma, hoje, temos em nossas igrejas pessoas imaturas, que
nunca crescem, pois se agarram às tradições dos homens. Esse tipo de
“tradição dos homens” tem sido uma constante na igreja contemporânea.
Muitos desses crentes têm recebido um evangelho falsificado, deturpado, o
que atrapalha seu crescimento na fé. Por essa razão, em muitos casos, a
stoikeia é a causa da imaturidade espiritual.

7. PAULO ADVERTE PARA QUE OS CRENTES DEVEM AMOLDAR-SE UNICAMENTE


À FILOSOFIA DE CRISTO
Cl 2.8g — “conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não
segundo Cristo”.
Paulo complementa seu ensinamento no versículo 8, mostrando claramente o
caminho a seguir, o qual deve ser conformado segundo Cristo. Não há
alternativa para o crescimento espiritual!
Por essa razão, Paulo, ao longo do texto, move-se para a ideia da
verdadeira natureza divina de Jesus Cristo, pois o apóstolo fala que, “nele,
habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (v. 9). Em Cristo,
alguns dos crentes de Colossos “estavam aperfeiçoados” (v. 10), pois Cristo
era tudo neles!
O crescimento espiritual acontece quando temos uma noção bem clara
sobre a pessoa do Redentor. Eis a base e a motivação de toda a nossa fé.
Tudo está vinculado a Cristo. Não há como escapar dessa verdade, se
quisermos ser pessoas amadurecidas na fé, pessoas que não se limitam a ter
apenas “os rudimentos do mundo”. A maturidade em Cristo é o alvo final de
toda a teologia cristã.
A “filosofia e as vãs sutilezas”, que são o conteúdo da “tradição dos
homens”, devem ser desprezadas por aqueles que querem tornar-se
semelhantes a Cristo e crescerem nele.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/colossians_28-15. Acesso em: nov. 2019.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/colossians_28-15. Acesso em: ago. 2018.
Ibidem.
Ibid.
Ibid.
John M acArthur Jr., em seu sermão sobre essa p assagem. Disp onível em: http s://www.gty.org/library /sermons-library /2141.
Acesso em: ago. 2018.
John M acArthur Jr. Disp onível em: http s://www.gty.org/library /sermons-library /2141. Acesso em: ago. 2018.
10 | OS CRENTES PRECISAM
SER GRANDEMENTE
ADVERTIDOS

1Tm 4.1-2 — “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns
apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que
proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos,
com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade (...)”.

A
s cartas pastorais de Paulo trazem advertências abundantes contra
os falsificadores da revelação verbal. Esse texto de Paulo a
Timóteo é apenas um exemplo das muitas passagens em que ele
aborda tal assunto.

1. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO VEM DE FORMA “EXPRESSA”


1Tm 4.1a — “Ora, o Espírito afirma expressamente”.

Além de sua função de conselheiro, encorajador e consolador, o Espírito


Santo adverte os cristãos em relação aos tempos difíceis de apostasia no
meio da igreja.
A palavra grega ῥητῶς [retos], traduzida como “expressamente”, também
é compreendida como “em palavras simples, claras e explícitas”. Paulo
alude às profecias que o Espírito Santo lhe dava a conhecer naquela época.
Em outras palavras, o Espírito não se limitava a sugerir o que poderia
acontecer em um futuro próximo ou remoto, mas afirmava, com toda a
clareza, que as coisas anunciadas se passariam por determinação divina.
Ninguém pode ignorar o que Paulo disse. Os eventos relativos à apostasia
serão tão nítidos que todos serão capazes de percebê-los. Esse é o sentido
de “expressamente” nessa passagem.

2. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO
É PARA O TEMPO DOS “ÚLTIMOS DIAS”
1Tm 4.1b — “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos”.

Paulo tinha uma nítida compreensão de que “os últimos dias” eram o
período no qual eles estavam vivendo. Isso porque a expressão não significa
apenas os dias que precedem imediatamente a vinda de Cristo, mas também
o período indefinido entre a primeira e a segunda vinda do Senhor. Esse será
um tempo muito difícil para os cristãos, um tempo não somente de abandono
da fé, como também de manifestação de muitos pecados por parte dos
homens (2Tm 3.1).

3. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO É SOBRE A APOSTASIA


1Tm 4.1c — “nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios”.

O termo grego para apostasia é ἀποστήσονταί [apostesontai], significando


que as pessoas, nos últimos dias, se apartarão do conjunto de verdades em
que um dia creram. O tempo da apostasia será de muito engano, um tempo no
qual muitas pessoas falsificarão a revelação verbal de Deus. Nesse período
da história da igreja cristã, algumas pessoas farão um movimento de retração
quanto à fé, abandonando aquilo que um dia aceitaram como a verdade.
A apostasia sempre existiu, mas, à medida que o tempo do fim se
aproxima, o número de apóstatas será ainda maior. A chamada “Grande
Apostasia” terá lugar nos anos que precederem imediatamente a volta de
Cristo (2Ts 2.3).
3.1. A APOSTASIA ENVOLVE SUA MENTE
A apostasia envolve a mente porque os demônios trabalham com o
propósito de enganar as pessoas. A luta exige raciocínio para ludibriar os
obreiros, que, por serem enganados, acabam por se tornar fraudulentos. Os
demônios usam sua própria mente para enganar os pregadores, os quais, por
sua vez, enganam as pessoas.
Nesse contexto, tanto os demônios como os obreiros fraudulentos usam o
raciocínio falaz para enganar. Eles apresentam uma doutrina que soa como
bíblica, mas sua intenção real é a falsificação da revelação verbal. Eles
conseguem levar seus “discípulos” a crerem que a mentira deles supera a
verdade de Deus. Esse engano vem do processo mental dos demônios e dos
falsos obreiros.
Os espíritos enganadores, portanto, por meio de um raciocínio falaz,
induzem a mente a pensar de um modo diferente do modo de Deus. Steven
Cole afirma:
num extremo, há um amplo movimento na igreja americana que minimiza a verdade. Esse lado
diz: “Eles saberão que somos cristãos por nosso amor”, de modo que adotam “a paz a qualquer
custo”, posição que dilui e, por fim, acaba destruindo a verdade cristã. Eles enfatizam a
tolerância e a diversidade doutrinária. Se você fala contra o erro, acusam-no de não ter amor e
causar divisão.35

Assim, se você seguir nessa direção, acabará por admitir a mentira e já


não lutará mais tão ferozmente em prol da verdade. Steven Cole, contudo,
acrescenta que, “no outro extremo, podemos ser tão zelosos em relação à
verdade que [...] acabamos caindo em orgulho espiritual, pois ‘sustentamos a
verdade’”.36 Ambos os extremos podem ser perigosos, e é preciso evitarmos
o engano pela mentira em nome da verdade.
Portanto, tenha sua mente afiada para que você não seja enganado nem por
um lado nem por outro. Mantenha sua mente sintonizada com a Palavra de
Deus, para que o engano não seja uma realidade também em você.
3.2. A APOSTASIA ENVOLVE SUAS AFEIÇÕES
Quando mudamos nossos pensamentos, nossas afeições também mudam.
Não há independência nas faculdades humanas. Ao contrário, uma ideia afeta
as demais. Portanto, a mudança não é somente de ideias, mas também de
amores. Nossos gostos mudam quando nossos pensamentos mudam. A
Escritura proíbe os crentes de ouvir a pregação e o ensino dos falsos
profetas e mestres, pois, do contrário, isso pode levá-los a amar o erro. E a
Escritura bem reconhece o poder de encantamento que o ensino errôneo pode
exercer sobre a mente de seus ouvintes.
Quando há apostasia, nós simplesmente mudamos do amor pela sã
doutrina para um amor por outro tipo de doutrina. Todas as faculdades da
alma estão envolvidas no processo de apostasia. Portanto, fuja de ouvir
pregações que não o aproximem de Deus. Se você continuar a ouvir os falsos
profetas, Deus exercerá juízo sério sobre sua vida. Se você quiser amar
somente a doutrina de Deus, não ouça aqueles que pregam outras doutrinas.
Ouça a Palavra de Deus e aqueles que a pregam com fidelidade, de modo
que sua afeição por Deus não seja alterada.
3.3. A APOSTASIA ENVOLVE SUA VOLIÇÃO
A mente e as afeições têm grande poder sobre o tipo de moral que
decidimos seguir. O processo mental e nossos sentimentos afetam seriamente
o comportamento que temos, pois nos levam a alterar as decisões que
tomamos na vida. Então, aquilo que julgávamos como correto passa a não
mais ser; e deixamos de amar aquilo ou aqueles que amávamos no passado.
Assim, nossos valores e nossa moral são alterados. E, quando nossos
princípios morais mudam, passamos a fazer coisas inimagináveis.
Quando Demas deu ouvido às coisas do presente século, desistiu de andar
com Paulo. A volição dos homens está entretecida com seus pensamentos e
afeições. A vontade humana faz apenas aquilo que o pensamento quer e a
afeição estimula. As volições são servas dos pensamentos e das afeições.
Portanto, nunca dê ouvidos à teologia que ensina que a vontade humana é
independente das outras faculdades da alma. Esse tipo de pensamento o leva
a caminhar em sentido oposto às coisas que Deus ama.

LIÇÕES

1. NÃO SE SURPREENDA COM O FATO DE HAVER APÓSTATAS NO MEIO DE SUA


IGREJA LOCAL.
Paulo disse que, na igreja de Éfeso, algumas pessoas entre os presbíteros
haveriam de apostatar (At 20.29-31). Pessoas que cantaram com você, que
oraram com você e por você, que ouviram a Palavra em sua companhia e até
mesmo que pregaram ou ensinaram a você podem cair da verdade. Não
ignore que isso pode acontecer.
2. NÃO SE SURPREENDA COM O FATO DE QUE O ESPÍRITO SANTO DISSE QUE ISSO
HAVERIA DE ACONTECER.
Se o Espírito Santo “expressamente” diz que a apostasia acontecerá, não
duvide disso.
3. NÃO SE SURPREENDA COM A PRESENÇA DE APÓSTATAS NO MEIO DA IGREJA,
POIS O FILHO DE DEUS ENCARNADO DISSE ESSA TRISTE VERDADE DE
MANEIRA BEM CLARA:

Mt 24.24-25 — “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.25 Vede que vo-lo tenho predito”.
4. NÃO SE SURPREENDA COM A PRESENÇA DE APÓSTATAS NO MEIO DE SUA
IGREJA.
Paulo não diz que os crentes regenerados eventualmente perderão o que
Cristo conquistou por eles, mas que as pessoas que assumem o cristianismo
podem abandonar as verdades de Cristo. Elas podem até ter professado a fé,
mas vir a se encantar com alguns ensinamentos que não correspondem à
verdade de Deus. Lembre-se do que João disse a respeito dessas pessoas:
1Jo 2.19 — “Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem
sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto
que nenhum deles é dos nossos”.

João é o único escritor da Escritura que menciona os “Anticristos”, ou


seja, os falsificadores da revelação verbal. Eles já existiam naquele tempo e
existirão até o fim dos tempos, quando o Anticristo [falso profeta] final
aparecer. Entretanto, somente aqueles que receberam a graça regeneradora
permanecerão firmes na fé, porque contam com “a unção”, que é a Palavra
de Deus! Se você foi “ungido” de Deus com sua Palavra, permanecerá para
sempre crente” (veja 1Jo 2.27-29).

4. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO SOBRE


A APOSTASIA ENVOLVE ANJOS E HOMENS
1Tm 4.1d — “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão
da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios”.

Existem dois tipos de influenciadores que fazem as pessoas abandonarem


suas crenças: (i) os seres criados celestes caídos e (ii) os seres humanos
caídos. Trata-se de uma cadeia de autoridade. Em primeiro lugar, os anjos
caídos (demônios) estão em posição de autoridade sobre os falsos profetas e
mestres. Em segundo lugar, os falsos profetas e mestres estão em posição de
autoridade sobre muitos na igreja de Deus. A apostasia tem início no mundo
celestial e culmina no mundo terreal.
4.1. A INFLUÊNCIA DOS DEMÔNIOS SOBRE OS FALSOS OBREIROS
Demônios são espíritos sedutores cuja tarefa consiste em preparar os
profetas, mestres e apóstolos para que ministrem heresias. São espíritos de
erro que contrastam com o Espírito da verdade — esse, sim, fala aos
verdadeiros mestres, profetas e apóstolos.
O termo “demônios” é sinônimo de “espíritos enganadores”. Sua obra não
é executada diretamente junto aos crentes da igreja, mas, sim, junto aos seus
líderes espirituais. A função precípua dos demônios é enganar os obreiros,
que acabam revelando-se falsos obreiros. Eles os seduzem com coisas
espantosas que são capacitados a fazer; e, por causa dos sinais que são
capacitados a fazer, produzem encantamento. Por essa razão, o tempo da
apostasia será de guerra espiritual entre verdade e erro. Com muita
frequência, o erro prevalecerá em detrimento da verdade, pois as pessoas se
verão envolvidas com seres espirituais caídos e com homens que caíram da
verdade. Nesse contexto, o período de retração da fé tem a ver com a ação
dos demônios na vida de pessoas em posição de liderança na pregação e no
ensino da igreja. Esses são os falsos profetas e os falsos mestres.
Em Efésios, Paulo disse que nossa luta maior não é contra os homens,
mas, primariamente, contra “os principados e as potestades”, aqueles que
dominam como “forças espirituais do mal”. Eles têm o controle sobre seus
agentes, que são os falsos profetas, os falsos mestres e até mesmo os falsos
apóstolos. Todos esses são cativos dos demônios que pervertem a verdade
de Deus! Em geral, não vemos esses demônios porque são seres espirituais,
mas nenhum de nós pode negar sua ação na vida de muitos pregadores,
mestres e apóstolos de nossa geração! Esses demônios, portanto, estão
debaixo da autoridade de Satanás, o maioral deles. Veja novamente o que
Paulo disse a esse respeito:
2Co 11.13-15 — “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se
em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de
luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e
o fim deles será conforme as suas obras”.

Todos os obreiros fraudulentos, que afirmam, sobre si mesmos, estar a


serviço de Cristo, são pervertedores da verdade, falsificando a revelação
verbal divina. Portanto, é de importância basilar que a igreja cristã esteja
bem firmada na Escritura, para que não tenha seus membros enganados e
caindo em apostasia.
4.2. A INFLUÊNCIA DOS FALSOS OBREIROS SOBRE O POVO
O conteúdo das mensagens dos falsos obreiros revela o que eles
aprenderam com os espíritos enganadores e o ensino [didaskalia] de
demônios. Os obreiros só podem dar o que receberam. Se eles próprios
foram enganados pelos demônios, o que vão produzir no povo também é
engano.
Os falsos obreiros são enganados pelos demônios e acabam influenciando
sobremaneira os que prestam atenção ao que dizem. A igreja será
teologicamente dizimada nos dias precedentes à vinda de Cristo. A apostasia
será um fenômeno mundial, afetando todos os recantos da terra, e os
demônios se servirão da atividade dos falsos obreiros para influenciar
negativamente o povo de Deus.
Não é difícil perceber a apostasia crescente em nossa geração! Muitos
que são conhecidos como “evangélicos” têm absorvido bastante deturpação
da verdade de Deus. Temos uma grande quantidade de falsos profetas em
nosso meio. Em geral, eles estão em evidência nas mídias sociais e na mídia
tradicional. Eles pregam uma mensagem travestida de verdade, mas cheia de
erro. Como muitos crentes não têm discernimento, facilmente dão ouvidos
àquilo que os obreiros fraudulentos dizem. Aqueles de nós que conhecem
melhor a verdade de Deus têm a obrigação de vociferar contra esses
obreiros fraudulentos que têm dizimado o rebanho de Deus em nossa
geração.

5. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO EM RELAÇÃO AOS OBREIROS FRAUDULENTOS


VEM ACOMPANHADA DE ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
1Tm 4.2-3 — “pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria
consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para
serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a
verdade”.

5.1. OS OBREIROS FRAUDULENTOS SÃO CONSIDERADOS HIPÓCRITAS E


MENTIROSOS

1Tm 4.2a — “pela hipocrisia dos que falam mentiras”

A palavra grega traduzida como “hipocrisia” é ὑποκρίσει [hipocrisei] e


diz respeito a uma ação dissimulada, equivalente à incredulidade diante da
verdade de Deus. Assim como “a fé e a boa consciência” andam juntas (1Tm
1.5), também a hipocrisia [que é incredulidade] e a consciência cauterizada
caminham lado a lado (Mt 24.5, 51).
A palavra grega traduzida como “mentiras” é ψευδολόγων
[pseudologon], ou seja, recorrer a palavras que não são verdadeiras —
literalmente, “palavras falsas”.
Os obreiros que falsificam a revelação divina são chamados pelas
palavras que caracterizam suas vidas: hipócritas e mentirosos. “As palavras
gregas aqui deveriam ser traduzidas como hipocrisia dos homens que falam
mentiras [...]. A hipocrisia deles consiste em suas próprias concepções de
uma máscara de santidade, que eles consideram derivar de seu falso
ascetismo e de sua abstinência [...]”.373
Nesse contexto, como a mente afeta a moral, os maus obreiros passam a
se comportar como os demônios, exibindo atitudes hipócritas e mentirosas.
Isso porque a hipocrisia se evidencia pelo fato de alguém manter uma
aparência exterior que não se coaduna com suas crenças interiores.
5.2. CONSIDERA-SE QUE OS OBREIROS FRAUDULENTOS TÊM A CONSCIÊNCIA
CAUTERIZADA

1Tm 4.2b — “pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada
[κεκαυτηριασμένων] a própria consciência”.

A tradução mais literal dessa expressão deveria ser “consciência


cauterizada com ferro quente que marca”, pois o verbo grego καυτηριάζω
[xauteriazo] aponta para essa ideia. Quando as pessoas cometem
constantemente os mesmos pecados, suas consciências tornam-se
cauterizadas “ou insensíveis, da mesma forma que a pele de um animal
marcado a ferro em brasa torna-se insensível a mais dor. Para os seres
humanos, ter a consciência cauterizada é resultado do pecado contínuo e
impenitente”.384 Os falsos mestres, falsos profetas e falsos apóstolos
pretendiam conduzir outras pessoas à santidade, mas, como suas próprias
consciências estavam cauterizadas, eles estavam enganados sobre seus
próprios ensinamentos.
Quando o mau obreiro torna-se hipócrita, luta contra a própria
consciência, violando-a, porque crê em uma coisa e faz outra.
Eventualmente, qualquer pecado sem arrependimento adormece o senso
moral do que é certo ou errado, e o pecador impenitente torna-se insensível
aos avisos da consciência que Deus colocou dentro de cada um de nós para
nos guiar (Rm 2.15).
A princípio, a consciência dói, mas essa dor não dura para sempre. E,
enquanto os falsos obreiros continuam em sua hipocrisia, vão matando sua
consciência. Assim, quando os falsos obreiros não se arrependem de seus
pecados, caminham para a derrocada de sua consciência. Se você não se
arrepende, sua consciência se tornará endurecida e calosa. E, quanto mais
tempo gasta na batalha contra a verdade de Deus, menos vai perceber a
gravidade de sua própria situação.
Não se pode confiar cegamente na consciência. Ela não é um guia
infalível, pois talvez esteja habituada a pensar de modo equivocado por
muito tempo. Portanto, não confie em sua consciência, a menos que ela esteja
em sintonia com a verdade da Palavra de Deus.

6. A ADVERTÊNCIA DO ESPÍRITO TAMBÉM É SOBRE O ENSINO ERRÔNEO DOS


OBREIROS FRAUDULENTOS
Os obreiros que têm suas consciências afetadas pela “hipocrisia e pela
mentira” tendem ao moralismo e ao legalismo. Quem abandona a fé
[apostasia] torna-se legalista ou licencioso.
6.1. OS OBREIROS FRAUDULENTOS DISTORCEM A VERDADE DE DEUS SOBRE A
FAMÍLIA

1Tm 4.3a — “Que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou
para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a
verdade”.

A licenciosidade está vinculada ao casamento


O texto diz que os falsificadores da revelação verbal vão “proibir o
casamento”. A essa altura, os obreiros fraudulentos se separam da verdade
de Deus no ensino sobre família. Assim, contrariando a verdade de Deus, no
sentido de que a união entre um homem e uma mulher é algo bom, os
falsificadores da verdade desacreditam a instituição da família, e o
casamento acaba por cair em descrédito pela nova moralidade que caminha
a passos largos rumo à libertinagem moral!
Quanto mais os homens se afastam da doutrina de Deus, mais se voltam
para um conceito libertino de família. Nos tempos da apostasia mencionada
por Paulo, muitos já não mais haverão de crer no casamento e na família.
Mais do que nunca na história humana, os conceitos de casamento e família
têm sido contestados. A célula mater da sociedade está sendo grandemente
desafiada. O casamento, que é a célula básica para o início de uma família,
está em queda acentuada.
Quando uma geração nega os fatos narrados pelo livro de Gênesis, ou
seja, a criação, acaba negando toda a noção de família. Essa proibição de
casamento é uma nítida afronta ao Deus Criador! É a negação do que Deus
estabeleceu desde o princípio e para sempre!
6.2. OS OBREIROS FRAUDULENTOS DISTORCEM A VERDADE DE DEUS SOBRE O
ALIMENTO

1Tm 4.3b — “exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com
ações de graças”

Seu legalismo está vinculado aos alimentos


Essa passagem diz que os falsificadores da revelação verbal também
exigem um procedimento legalista que era bastante comum entre alguns
judeus dos tempos bíblicos, quando o consumo de determinados alimentos
era proibido.
No tempo de Paulo, havia a ideia de que, se você se abstivesse de
relações sexuais e da comida de animal, seria capaz de alcançar uma
espiritualidade maior. Esse era o pensamento gnóstico presente já no
primeiro século. Assim, as coisas da matéria (ou da carne) eram prejudiciais
ou inferiores às coisas do espírito (ou imateriais). Essa era a visão que
alguns deturpadores da verdade transmitiam. Nesse sentido, de acordo com
Albert Barnes,
como a comida animal era particularmente proibida sob o código judaico, e como as questões
sobre essa matéria entre os cristãos correspondem às mesmas espécies de proibição, é provável
que o termo tenha o mesmo significado limitado aqui, significando a mesma coisa que a palavra
carne significa para nós. Aqui, portanto, proibir o uso de determinadas carnes é uma das
características daqueles que instruíam a igreja no tempo da Grande Apostasia.395

Portanto, não podemos dar atenção a esses ensinamentos sobre casamento


ou proibição de alimentos. Trata-se de ensinamentos errôneos à luz da fé
cristã. Os obreiros fraudulentos, contudo, tentarão provar que são
verdadeiros e que os cristãos autênticos estão errados no consumo desses
alimentos. Portanto, Paulo deixa absolutamente claro que todos os alimentos
são dados por Deus para nosso sustento e devem ser recebidos com o
coração agradecido. Desse modo, ninguém deve abster-se de consumi-los
por questões religiosas.
É curioso que aqueles que não são legalistas tendem a conhecer
plenamente a verdade a esse respeito, participando de todas as refeições
disponibilizadas por Deus, sempre com o coração agradecido. Eles não são
escravos de regras a respeito dos alimentos; devem, sim, dar graças pelas
bênçãos alimentares recebidas de Deus.
Steven Cole. Disp onível em: http ://www.fcfonline.org/content/1/sermons/041094.p df. Acesso em: ago. 2018.
Ibidem.
3
Ellicot´s Commentary for English Readers. Disp onível em: http s://biblehub.com/commentaries/1_timothy /4-2.htm. Acesso
em: ago. 2018.
4
“O que significa ter uma consciência cauterizada”. Disp onível em: http s://www.gotquestions.org/Portugues/consciencia-
cauterizada.html. Acesso em: ago. 2018.
Albert Barnes. Disp onível em: http ://classic.study light.org/com/bnn/view.cgi?book=1ti&chap ter=004. Acesso em: ago. 2018.
11 | OS CRENTES TAMBÉM
PODEM CAIR EM ERRO
TEOLÓGICO

2Tm 4.1-4 — “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela
sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não
suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas”.

N
essa passagem, Paulo está exortando Timóteo para que faça o que
for necessário em relação àqueles que se afastam da doutrina de
Deus, como consequência dos ensinos dos falsificadores da
revelação verbal.

1. MUITOS CRENTES PRECISAM


SER TEOLOGICAMENTE ADVERTIDOS
2Tm 4.1-2a — “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela
sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não,
corrige, repreende”

Uma palavra aos pregadores: Não sejam pregadores apenas das grandes
ocasiões. Não esperem contar sempre com um grande auditório ou com
pessoas importantes para ouvi-los. O texto fala que o ministro fiel deve
instar seus ouvintes, corrigindo-os, repreendendo-os e exortando-os, “quer
seja oportuno, quer não” (v. 2). O sentido dessas palavras é “a tempo e fora
de tempo”. Em suma, não percam a franca oportunidade de exercer fielmente
sua função de pregadores.
Nosso Senhor vivia constantemente praticando o bem. Ele fazia disso sua
comida e sua bebida. Paulo disse aos presbíteros de Éfeso: “Por três anos,
dia e noite, não cessei de admoestá-los, nem de derramar lágrimas por vós”
(At 20). Paulo nunca deixava passar uma oportunidade sequer de pregar a
Palavra de Deus. Portanto, ministro do evangelho, pregue a verdade de Deus
a tempo e fora de tempo. Use as pequenas oportunidades que Deus lhe dá a
cada dia para atuar como porta-voz de sua verdade!

2. MUITOS CRENTES PRECISAM


SER PACIENTEMENTE ADVERTIDOS
1Tm 4.2b — “exorta com toda a longanimidade e doutrina”.

Os pregadores e mestres têm de prestar atenção à necessidade de advertir o


povo contra a apostasia que se avizinha.
2.1. EXORTE COM PACIÊNCIA
O texto traz a palavra longanimidade, que significa paciência e
resignação contínuas. Não há graça tão necessária no ministério cristão
quanto essa.
A pregação da Palavra é para corrigir, repreender e exortar, “com toda a
longanimidade” (v. 4). Devemos aprender com Deus essa virtude, pois a
Escritura diz que ele “é longânimo e assaz benigno” (Sl 103). Os ministros
de Deus devem ser pacientes para corrigir, repreender e exortar. Vez ou
outra, você vai encontrar pessoas obstinadas e endurecidas em seus pecados.
Em casos tais, você se sentirá tentado a lhes dar um ultimato, ou perder a
paciência com eles, como aqueles discípulos que pediram a Jesus que
fizesse descer fogo do céu. Mas você, formando ou ministro de Deus, deve
ter outro espírito quando estiver corrigindo, repreendendo e exortando.
Lembre-se de que a “ira dos homens não opera a justiça divina”.
2.2. EXORTE COM A DOUTRINA
Como ministro fiel, você deve educar as pessoas segundo a Palavra. Não
há outra saída. A doutrina é o único meio que Deus usa para colocar as
pessoas no caminho da retidão. Os apóstolos sempre pregaram a sã doutrina.
Paulo sempre agiu assim. E é isso que ele insta seu discípulo Timóteo a
também fazer.
A Escritura é “útil para o ensino e para a educação na justiça” (2Tm
3.16). Use-a como instrumento de ensino, para que as pessoas sejam
encaminhadas na seara da retidão. Todos que recebem repreensão, correção
e exortação devem contar com o ensino da sã doutrina.
3. MUITOS CRENTES PRECISAM SER ADVERTIDOS PORQUE ENFRENTARÃO
TEMPOS DIFÍCEIS
1Tm 4.3a — “Pois haverá tempo [καιρὸς] em que não suportarão a são doutrina”

3.1. O SIGNIFICADO DE TEMPO


O termo grego usado por Paulo não é cronos, mas kairós. Paulo usa a
palavra tempo não no sentido de sucessão de minutos, horas e dias (o
significado de kronos), mas, sim, em relação a uma época decisiva, um
tempo definitivo no qual os eventos provocarão uma crise. O kairós refere-
se a um tempo estratégico no calendário de Deus em que os eventos têm seu
ápice.40
Esse tempo não aponta para uma contagem cronológica, mas para os
eventos que se darão em determinada época, também conhecida como
“Últimos Dias”. Portanto, o termo kairós (traduzido como “tempo”) significa
“ocasião oportuna”, “estação”, “momento apropriado”, “oportunidade”,
“tempo favorável”. Kairós é um termo usado para uma situação específica,
sem dar ênfase à cronologia exata. Portanto, não é igual a cronos (que se
refere a um relógio ou a um calendário); trata-se de um momento em que
alguma coisa específica acontece.
3.2. A DURAÇÃO DO TEMPO
Esse é um período indefinido que se situa nos chamados “Últimos Dias”.
A oposição à verdade de Deus sempre apareceu, com maior ou menor
intensidade, na história do povo de Deus. Pode-se até mesmo afirmar que
nunca houve um tempo em que a falsificação da revelação verbal estivesse
ausente. Entretanto, temos a convicção de que esse kairós terá sua
manifestação mais aguda nos dias que antecederem a vinda do Filho de
Deus, ou seja, no final do período dos “Últimos Dias”.
3.3. A MANIFESTAÇÃO DO TEMPO
Certamente, Paulo refere-se a algo que ainda está por acontecer, porque
fala de um tempo no futuro (“Pois haverá um tempo...”). Esse tempo será
crítico, um período que marcará época e já determinado de antemão por
Deus. E nós sabemos que todos os acontecimentos da história são
determinados por Deus, porque ele é o Senhor da história. Entretanto,
existem alguns vaticínios de Deus que ele designa de antemão. Esse é um
deles. Pelas coisas que estão acontecendo em nossa geração, podemos dizer
que esse kairós se avizinha. A oposição humana à verdade de Deus caminha
a passos largos para o cumprimento dessa profecia.
Como já mencionamos, sempre houve oposição à verdade, mas essa
oposição de que Paulo fala está por vir em dias futuros, não necessariamente
distantes no tempo. Entretanto, a manifestação mais violenta desse tempo de
oposição à verdade há de se dar antes da volta do Redentor.
3.4. AS DIFICULDADES DO TEMPO
Na mesma carta, Paulo menciona que esses serão “tempos difíceis” (2Tm
3.1). Assim, os cristãos que estiverem vivendo naquele kairós enfrentarão
muita oposição ao que eles creem acerca da revelação verbal. Nesse
“tempo” por vir, a revelação verbal sofrerá grande oposição. Os homens
tentarão distorcê-la, enganando os crentes desinformados e teologicamente
despreparados. Muitos crentes haverão de ficar esfomeados por “novidades”
na teologia e receberão grande influência dos falsos profetas, dos falsos
mestres e dos falsos apóstolos.
Os cristãos fiéis enfrentarão tempos muito difíceis e serão mais
perseguidos que nunca na história da igreja. Está aumentando a oposição à
verdade revelada, porém a maior oposição ocorrerá num tempo designado
por Deus que precederá imediatamente a vinda do Senhor.
A expressão kairoi chalepoi (“tempos difíceis”, em 2Tm 3.1) é
encontrada em várias passagens do Antigo Testamento e do Novo
Testamento. Essa expressão tem sido traduzida de várias formas: “tempos
violentos”, “tempos terríveis”, “tempos de opressão”, “tempos perigosos”,
“tempos duros de suportar”, “tempos problemáticos” e “tempos
aterrorizantes”.
Calvino observa que “a dureza [ou o perigo] desse tempo é, na visão de
Paulo, não em relação a fome ou doença, tampouco a quaisquer outras
calamidades ou enfermidades que recaem sobre o corpo, mas, sim, a
respeito dos modos ímpios e depravados dos homens...”.41 Calvino está
falando da imoralidade violenta que campeará abertamente nos últimos dias.
Ele ainda diz que a “igreja será sujeita a doenças terríveis, que exigirão dos
ministros uma fidelidade incomum, diligência, prudência e constância”.42
Serão tempos difíceis de suportar!
Não quero tornar esse ensino uma aula de terror, mas também não quero
que vocês ignorem o que a Escritura diz acerca dos tempos finais. Não quero
que ninguém se apavore pensando que, àquela altura, Deus terá perdido o
controle do mundo, mas tão somente que confie na santa providência de Deus
para cuidar das famílias que lhe são fiéis.
Paulo está tentando mostrar a nós e a Timóteo que os tempos que
precedem a volta de Cristo serão muito difíceis, em virtude do aumento da
pecaminosidade no mundo. Esse será um tempo no qual Deus soltará os
homens, entregando-os a si mesmos, e eles serão muito maus, especialmente
em relação aos cristãos. E essa situação atingirá o ápice no que a Bíblia
chama de “Grande Tribulação”.
Paulo sugere que a expressão chalepoi (difíceis) está associada a uma
ação demoníaca por trás dos atos maus dos homens de quem os demônios se
servem. A violência dos Últimos Dias, seja verbal, seja física, estará ligada
a uma energização que procede dos demônios.
1Tm 4.1 — “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão
da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios”

Não se esqueça de que os “Últimos Tempos” equivalem à expressão


“Últimos Dias” no Novo Testamento.43 Nos tempos difíceis, o povo de Deus
terá dificuldade de se manter no caminho da retidão. Será um período de
grande tentação e inimizade. Paulo adverte Timóteo (e os crentes) de que
esses seriam tempos crescentemente violentos, tempos difíceis de suportar,
perigosos e maus, tempos de sofrimento e de dureza! Serão dias de anarquia
moral, de apostasia religiosa e de violência física e verbal.
1Tm 3.12-13 — “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo
enganados”.

Haverá uma súbita progressão de maldade nos homens à medida que o


tempo final for se aproximando. Os ímpios serão entregues a si mesmos e
farão tudo que sua potencialidade para o mal permitir. A maldade estará
presente entre eles contra todos os cristãos genuínos.

4. MUITOS CRENTES NÃO TERÃO


CONSIDERAÇÃO PELA SÃ DOUTRINA
2Tm 4.3b — “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina”

4.1. O SIGNIFICADO DE “NÃO SUPORTARÃO”


Nesse tempo, os homens, em sua maioria, não apreciarão a sã doutrina,
sentindo, inclusive, ódio dela! É fácil chegar a essa conclusão observando as
palavras empregadas por Paulo: não suportarão. O verbo grego usado por
Paulo, ἀνέξομαι (anechomai), precedido pela partícula οὐκ [não], pode ser
traduzido como “não tolerar”, “não suportar” ou “não aguentar”.
Os ímpios não terão nenhum tipo de indulgência para com os cristãos
fiéis. Em outras palavras, os ímpios que estiverem vivendo nesse kairós
sentirão extremo desconforto ao ouvirem a pregação da sã doutrina, tão
grande é o ódio que têm por ela. Eles não suportarão nada que se relacione à
verdade da revelação verbal. E não apenas resistirão à verdade revelada,
como também a atacarão e cometerão violência em relação ao povo de Deus.
Será um período de grande adversidade. A intolerância com a verdade e
com aqueles que a sustentam será inusitada, em face de sua força e de sua
enormidade!
4.2. O SIGNIFICADO DE SÃ DOUTRINA

2Tm 4.3c — “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina”

O objeto de ódio dos homens ímpios, naquele kairós, será a “sã


doutrina”. A expressão grega para “sã doutrina” é ὑγιαινούσης διδασκαλίας
[hugiainouses didaskalias]. Todas as falsas religiões e todos os falsos
mestres e profetas têm doutrina. A palavra doutrina diz respeito a um corpo
de pensamentos sobre determinado assunto. No caso em questão, a matéria
religiosa. Quando Paulo aborda essa matéria, ele tem em vista um
pensamento saudável e uma doutrina sadia, em contraposição à falsa
doutrina dos falsos mestres e profetas.
Todos têm doutrina, mas poucos têm umadoutrina saudável. A palavra
grega para “saudável” é hugiaino,44 que significa, literalmente, saúde física
e mental; e, figurativamente, algo sem nódoas, de boa saúde, um ensino
isento de erro e adulteração, que é o significado atribuído por Paulo.

5. MUITOS CRENTES PROCURARÃO


SEUS “GURUS ESPIRITUAIS”
1Tm 4.3a — “pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças,
como que sentindo coceira nos ouvidos”

Mais do que em qualquer época da história da igreja cristã, muitos de


nossa geração não se contentam em ter apenas a Escritura. Assim,
desprezando o ensino da verdade, eles têm procurado encontrar respostas às
questões insolúveis em “gurus” espirituais, ou seja, pessoas que se
apresentam como cheias de respostas, mas não desprovidas de um ensino
sério da Escritura.
Quanto ao significado do termo “guru”, verifica-se que a sílaba gu
significa sombra e a sílaba ru, aquele que dissipa — em outras palavras,
seria aquele que dissipa a escuridão.45
Esses a quem chamei de “gurus” são os falsos mestres, os falsos profetas
ou ainda os “falsos apóstolos” que se acumularão em torno dos crentes
incautos. Eles se apresentarão como aqueles capazes de trazer respostas às
questões doutrinárias, eliminando, assim, as trevas espirituais que pairam
sobre os que sustentam a fé histórica. Também se apresentarão, portanto,
como aqueles aptos a dirimir as dúvidas na igreja cristã. Essas pessoas
tentarão enganar os crentes teologicamente despreparados e arrogarão para
si a condição de “gurus” espirituais.
Nesse contexto, quanto mais o tempo passar, maior será o número de
falsificadores da revelação verbal. Eles cercarão aqueles que são
identificados com os crentes, e farão o serviço “sujo” de lançar dúvida em
seus corações. Sua palavra se tornará lei e, frequentemente, serão chamados
de “ungidos de Deus”, impondo aos crentes seus próprios pensamentos
divergentes dos pensamentos de Deus.
5.1. OS CRENTES DÉBEIS SÃO CERCADOS DE “GURUS” ESPIRITUAIS

1Tm 4.3b — “pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como
que sentindo coceira nos ouvidos”

O verbo grego traduzido como “cercar-se” é ἐπισωρεύω [episoreuo], que


pode ser traduzido como “acumular”. Assim, nesse kairós, haverá muitos
opositores à revelação verbal, os quais cercarão aqueles que têm a verdade
mas não a conhecem firmemente (muitos são fracos e não guardam
familiaridade com a Escritura). Nem todos os que possuem a verdade estão
preparados para defendê-la. E, quando são abalroados pela doutrina que não
é saudável, sentem-se tentados a abandonar aquela que os sustenta.
O verbo episoreuo [acumular] descreve aqueles que potencialmente vão
adotar a apostasia, porque o que eles querem não é contar com alguém que
lhes exponha corretamente as Escrituras, mas, sim, com quem os faça
afastar-se da “sã doutrina”. Os gurus espirituais ensinam coisas que os
crentes gostam de ouvir. Por isso, os falsos mestres e profetas “caem como
urubu na carniça”. Eles cercam os crentes mais frágeis na fé e destroem até
mesmo o pouco conhecimento que possuem. E, à medida que o tempo do fim
for se aproximando, mais gurus irão aparecer. Eles começam professando
uma fé parecida com a dos crentes nominais, mas, em seguida, passam a
mostrar sua essência genuína. Com frequência, quando alguém quer reverter
a situação, percebe que é tarde demais! Esse é o tempo da apostasia!
5.2. OS CRENTES DÉBEIS CERCAM-SE DE “GURUS” PARA A SATISFAÇÃO DE SUAS
COBIÇAS

1Tm 4.3b — “pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças,
como que sentindo coceira nos ouvidos”

Os gurus espirituais sabem exatamente como funciona o coração dos


crentes superficiais; eles conhecem seus gostos e predileções. Portanto, eles
atacam mortalmente essas pessoas, levando-as a abandonar o pouco de
crença que lhes resta.
A palavra grega traduzida como “cobiças” é ἐπιθυμίας [epithumias], que
também pode ser traduzida como “desejos” e “paixões”. As epithumias são
sensações intensas que podem ser alimentadas, tornando-se ainda mais fortes
e de difícil controle. Por essa razão, os falsos mestres e profetas cercam os
que são superficiais na fé.
A regra é: se você quiser agradar as pessoas, precisa dar-lhes aquilo de
que gostam. Como o coração dos homens é cheio de “cobiça”, o ataque dos
gurus é fulminante! A apostasia será o resultado das paixões de quem não
leva a sério a verdade.
No tempo de Paulo e João, era muito fácil ver falsificadores da verdade
que invadiam o povo de Deus, tentando desviar alguns para a doutrina
impura. Assim, ao lado da doutrina impura, esses simpatizantes do
evangelho também acabam por assumir uma ética mundana e bastante
evidente em nossa geração. Perceba que esses “gurus espirituais” costumam
apresentar escândalos que fazem a igreja de Deus sofrer. O que os
pervertedores da fé querem, como sua doutrina e ética, é desarticular a
igreja de Deus. As igrejas locais que contam com falsificadores da verdade
não dão valor a uma ética genuinamente cristã. Aqueles que pecam contra o
Senhor não são disciplinados, e seus desejos são cada vez mais vis!
5.3. OS CRENTES DÉBEIS QUEREM A SATISFAÇÃO DE SUAS COBIÇAS PORQUE TÊM
COCEIRA NOS OUVIDOS

1Tm 4.3c — “pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como
que sentindo coceira nos ouvidos”.

(a) Significado de “coceira nos ouvidos”


A cobiça produz um efeito bem interessante: leva os crentes superficiais a
se coçarem prazerosamente diante dos estímulos produzidos pelos
falsificadores da verdade. Você já reparou que, quando algum lugar do corpo
coça, você tem vontade de se coçar continuamente, pois isso lhe proporciona
uma espécie de prazer? Na esfera das coisas espirituais, ocorre o mesmo.
A palavra grega traduzida como “coçar” é κνήθω [knetho]. Wuest explica
que “knetho descreve aquela pessoa que deseja ouvir por mera gratificação,
assim como alguns gregos em Atenas gastavam seu tempo em nada mais além
de dizer ou ouvir, não uma coisa nova, mas uma coisa mais nova ainda [At
17.21]”.46
A sensação que uma coceira causa é incessante e contínua. Quanto mais
você coça, mais tem vontade de coçar. O verbo está no tempo presente, o
que indica uma ação contínua e reiterada.
Os gurus espirituais estão atentos àquilo de que os crentes fracos gostam.
Então, apresentam algo que lhes proporciona prazer, produzindo, assim, uma
espécie de simbiose entre a fome e a vontade de comer. Ou seja, eles
descobrem o que esses crentes querem e alimentam seus desejos com coisas
que lhes agradam. Em outras palavras, eles falam o que as pessoas querem
ouvir.
Se “coceira” significa coçar ou fazer cócegas, então poderíamos dizer
“que aqueles que têm coceira nos ouvidos “desejam massagens antes que
mensagens, ou seja, sermões que apelam ao charme, e não ao desafio;
mensagens que causam entretenimento, e não edificação, e que agradam em
vez de pregar”.47
(b) Exemplo de “coceira nos ouvidos”
Veja algumas manifestações de “coceira nos ouvidos” na igreja de hoje,
que se vê cercada de falsificadores da revelação verbal. Não podemos
esquecer que, “quando as pessoas têm coceira nos ouvidos, decidem por si
mesmas o que é certo ou errado, e procuram outras pessoas para dar suporte
às suas próprias ideias. A noção de ‘coceira nos ouvidos’ está voltada ao
‘sentir-se bem’ ou confortável, e não à verdade — afinal de contas, a
verdade é frequentemente desconfortável”.48 Muitos crentes só encontram
conforto nos ensinos que lhes convêm ou favorecem.
Em algumas igrejas de nossa época pós-moderna,
vemos muitos se afastando da verdade que é dura. Algumas igrejas que no passado pregaram a
sã doutrina hoje ensinam como aceitáveis muitos males que a Escritura condena. Alguns
pastores temem pregar sobre certas passagens da Bíblia. Cristãos feministas negam Deus como
um Pai celestial, referindo-se a ele como “ela”.49

Além disso, os cristãos gays querem ser aceitos sem qualquer


arrependimento, porque não veem pecado em suas práticas sexuais. Todos
eles têm coceira nos ouvidos para ouvir e pregar o que lhes agrada, e não a
verdade proposicional de Deus. Eles gostam de mensagens que agradam aos
seus ouvidos, mensagens que não envolvem mudança de comportamento, que
não exigem arrependimento ou retorno à ortodoxia cristã. Para eles, o sangue
de Jesus nada tem a ver com alguma coisa necessária para o perdão deles,
porque eles não precisam arrepender-se daquilo que consideram correto crer
e fazer.
Afastar-se da verdade é muito mais fácil do que aproximar-se dela. Eles
optam por suas próprias mentiras e rejeitam a verdade de Deus. Por isso,
são falsificadores da revelação verbal.

6. MUITOS CRENTES SE RECUSARÃO


A DAR OUVIDOS À VERDADE

1Tm 4.4 — “e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se a fábulas”.


Estamos entrando num período de grande apostasia na história da igreja.
Nunca houve um tempo em que as pessoas da igreja nutriram tamanho
desprezo pela sã doutrina e perdido tanto amor à Palavra de Deus da forma
como é registrada nas Sagradas Escrituras.
Lembre-se de que a apostasia, que é o abandono da verdadeira fé, se dará
dentro de nossas igrejas, e não fora delas. O que Paulo fala aqui diz respeito
às congregações cristãs, não ao ajuntamento de pagãos. Portanto, este é o
tempo em que as pessoas começam a sentir aversão pela verdade das
Escrituras Sagradas. O texto diz que essas pessoas das igrejas “não
suportarão a sã doutrina”. Nesse tempo, elas vão gostar dos “gurus
espirituais”, ou seja, “cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias
cobiças” (v. 3). E andarão atrás desses mestres, e não da doutrina.
Portanto, formandos, ministros do evangelho, não temam ser fiéis, pois,
hoje, a igreja está precisando de expositores fiéis da Palavra que firmem
aqueles que nunca haverão de apostatar.
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_timothy _43-4#4:3. Acesso em: set. 2018.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_timothy _31-5#3:1. Acesso em: fev. 2017.
Ibidem.
Daniel 7:8; 7:20-25; 11:36-45; 12:1, 7, 11; 2Tessalonicenses 2:3-12; 1Tm 4:1-3.
Há uma p alavra em nossa língua que se assemelha ao termo grego hugiaino, higiene, que significa coisa limp a, sem
contaminação.
Disp onível em: http s://p t.wikip edia.org/wiki/Guru. Acesso em: set. 2018.
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_timothy _43-4#4:3. Acesso em: set. 2018.
Feliz observação do artigo “What Does 2 Timothy 4:3 M ean by Itching Ears?”. Disp onível em:
http s://www.gotquestions.org/itching-ears.html.
Ibidem.
Ibidem.
12 | CRENTES PODEM SER
PRIVADOS DA VERDADE

1Tm 6.3-5 – “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso
Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem
mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações,
suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da
verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro.”

E
sses versos merecem análise porque tratam de uma realidade muito
presente na vida de muitas igrejas de nossa geração. Estudemos
cada parte desses versos para alertar o povo de Deus que vive
espalhado em nossa nação e em outras nações.

1. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL NASCEM DENTRO DA IGREJA


1Tm 6.3 – “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso
Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade.”

Só pode ensinar uma doutrina diferente aquele que está no meio da igreja.
Ele frequentemente se levanta e, por não concordar com a doutrina que “não
está de acordo com as palavras de nosso Senhor Jesus”, tentará impor outra
doutrina.
É mais difícil para quem vem de fora conseguir voz para falar no meio da
igreja e pregar outra doutrina. Via de regra, os ministros da Palavra não
entregam a cátedra ou o púlpito para alguém que vem de fora – a menos que
esses ministros já tenham intenções escusas com relação à verdade de Deus.
Entretanto, os que fazem parte da igreja, estando arrolados nela, têm
melhores chances de se levantar no meio dela e ensinar o que é devido à
verdade. Não é incomum, já em nossa geração, que presbíteros se levantem e
comecem a questionar a doutrina de Cristo, em nome de uma falsa piedade,
deixando de lado da verdade de Cristo e sua piedade.
Você, que se preocupa com a sã doutrina na igreja, fique de olho naqueles
que se levantam para perverter o ensino correto. Movimente-se para que
ninguém infielmente ensine no meio do povo de Deus!
2. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL TRAZEM CONFLITOS
RELACIONAIS NA IGREJA

1Tm 6.4-5a – “é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de
palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem
fim.”

Frequentemente, os falsificadores da revelação verbal dividem a igreja. Eles


são cismáticos e não procuram a unidade dela. O surgimento de pessoas
produzindo conflitos relacionais na igreja é muito antigo. Desde o tempo de
Paulo há violadores das boas relações entre irmãos. O interesse deles está
na luta que promove divisões.
Paulo faz uma avaliação corretíssima dos falsos mestres, conforme
destacado nos próximos tópicos.
2.1. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL SÃO ARROGANTES E
IGNORANTES

1Tm 6.4a – “é enfatuado”

O termo grego traduzido como “enfatuado” é τετύφωται (tetufotai), que


pode ser traduzido também como “presunçoso”, ou “arrogante”, ou
“ensoberbecido” (1Tm 3.6). É muito curioso que o texto latino traduz como
inflatus. Em uma linguagem bem coloquial, os falsificadores da revelação
verbal “se acham”; ou seja, eles possuem um conceito muito elevado sobre
si mesmos. Eles pensam que são alguma coisa superior, ou “inchados” pelo
conhecimento.
Falsos mestres são invariavelmente arrogantes. Isso se evidencia no fato
deles ensinarem coisas que estão em um plano superior ao da Escritura. Eles
ensinam coisas que estão sobre as do próprio Deus em sua Palavra.
Pedro faz coro com Paulo quando diz que os falsos mestres são
“atrevidos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores” (2Pe
2.10). Judas não fica atrás em sua avaliação. Ele diz que “a sua boca vive
propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros por motivos
interesseiros” (Jd 1.16).
Qualquer um que ensina alguma coisa que não está sob a Palavra de Deus
é arrogante, porque se recusa a aceitar a única regra de fé e prática: a
Escritura (ou “sãs palavras de Jesus Cristo”). O que poderíamos esperar
deles, se o pai deles é o pai de todo o engano e fala o que é mentira? Em sua
arrogância, o falso mestre mostra ser maior do que Deus, e ele tem levado
muitos a pensar de um modo diferente do de Deus. Maldita arrogância que
ainda não morreu!
Eles possuem um forte tom de arrogância, porque eles estão na contramão
da verdade e, por causa disso, ela fica em evidência, o que os torna
soberbos. Eles gostam de ficar em autoridade e no controle sobre muitos
irmãos, pelo engano que provocam nos crentes frágeis.
2.2. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL SÃO IGNORANTES

1Tm 6.4b - “nada entende”

Não importa o grau que ele possa ter na universidade. O cristianismo


moderno está cheio de Ph.Ds. que, na verdade, mostram a sua falta de
entendimento da verdade de Deus. Falando dos falsos mestres, Paulo diz que
eles “pretendem passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem
o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações”
(1Tm 1.7).
A arrogância deles faz com que sejam inchados, senhores do saber,
considerem a si mesmos como eruditos, imbatíveis no que ensinam, e que
não aceitem que ninguém questione o que ensinam. Contudo, diz a Palavra
infalível, “eles não entendem nada”.
Paulo diz que a sabedoria deles não passa de “loucura diante de Deus;
porquanto está escrito: Ele apanha os sábios na própria astúcia deles. E
outra vez: O Senhor conhece o pensamento dos sábios, que são pensamentos
vãos” (1Co 3.19-20).
Pedro tem, ainda, uma outra opinião mais violenta a respeito deles. Ele
diz que os falsos mestres “são como o brutos irracionais, falando mal
daquilo em que são ignorantes” (2Pe 2.12).
Tiago é ainda mais contundente em sua avaliação. Ele diz que a sabedoria
daquele que vive em contenda de palavras, provocações, etc., “é terrena,
animal e demoníaca”, em contraste com a sabedoria de Deus que é pura,
perfeita, pacífica, etc., (Tg 3.15-18).
Além da ignorância espiritual, há vários falsos mestres que se indispõem
contra outras pessoas porque ignoram como os cristãos devem viver. Por sua
arrogância, comportamentalmente eles são ignorantes a respeito do real
cristianismo. Eles adoram entrar morbidamente em uma controvérsia
doutrinária. Eles não conseguem viver sem que causem algum tipo de
discórdia. Vivem metidos em controvérsias, mostrando sua atitude soberba.
Eles não entendem o que o cristianismo significa em termos de
comportamento. Porque professam ser mais espertos que outros, “eles
realmente não entendem as verdades rudimentares da graça do evangelho
revelada na Palavra de Deus”.50
Os fariseus, no tempo de Jesus Cristo, mostraram exatamente a sua
arrogância e a falta de entendimento de como viver a vida relacionalmente.
Na sua arrogância, eles se mostravam superiores a outras pessoas, e
causavam enorme desconforto porque mostravam a sua ignorância espiritual.
Eram legalistas na interpretação de leis criadas por eles próprios, e isso os
impedia de enxergar corretamente como deveriam se portar em relação a
outras pessoas. Em sua arrogância, faziam ousadas asseverações mas não
entendiam nada do que falavam. A arrogância e a ignorância são
características muito peculiares daqueles que falsificam a revelação verbal,
impondo o seu próprio pensamento aos do povo de Deus.
2.3. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL SÃO DIVISIVOS

1Tm 6.4c – “mas tem mania por questões e contendas de palavras”

Além da arrogância e da ignorância, os falsos profetas e mestres não


conseguem ficar muito tempo em uma comunidade cristã sem levantar
controvérsias sobre assuntos sem muita importância e, ainda, sem
fundamentação legitimada na palavra de Deus.
Curiosamente, Paulo usa uma terminologia médica para descrever o
procedimento dos falsos mestres. Paulo diz que eles têm “mania” (νοσέω =
anelo mórbido, doentio) por questões sem importância.
Porque eles não entendem nada, eles vivem teorizando. Eles dão
importância excessiva ao que não é importante. Por essa razão, o texto diz
que eles fazem uso de “contendas de palavras” (λογομαχία; latim – et
pugnas verborum).
Os mestres judeus gostavam muito de disputas de palavras e, no texto,
Paulo parece se referir aos mestres de tendência judaica dentro da igreja
cristã.
Calvino, ao comentar 1 Timoteo 6.4, diz:
Não é sem razão que o apóstolo conecta “questões e contendas de palavras”; pelo termo
“questões” Paulo não quer dizer cada espécie de questões que surgem de um desejo sóbrio e
moderado de aprender, ou que contribui para uma explicação clara de coisas úteis, mas se
refere a questões que são agitadas, no tempo presente, nas escolas da Sorbonne, para exibir
agudez de intelecto.

Porque os falsos mestres possuem esterilidade mental, perdem-se na


batalha das palavras. Paulo diz que esses falsos mestres, por se desviarem
do verdadeiro ensino, “perderam-se em loquacidade frívola” (1Tm 1.6),
palavras vãs, que não têm proveito algum.
2.4. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL SÃO CAUSADORES DE
PECADOS NO MEIO DO POVO

1Tm 6.4c-5a – “de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas e altercação
sem fim”

Como consequência desse espírito arrogantemente divisivo, os


falsificadores da revelação verbal são a causa de alguns pecados no meio do
povo de Deus:
(a) Produzem inveja
A inveja tem sido o motivo do falso ensino. Eles não podem ver pessoas
se projetando na vida da igreja, tendo prosperidade e popularidade. A inveja
é nascida no desaponto consigo mesmo e no desejo de ser como outros são.
Na verdade, a inveja significa descontentamento. Aqueles que vivem a
contender em palavras frequentemente revelam inveja.
(b) Produzem provocação
Os que têm “mania por contendas de palavras” frequentemente são
perturbadores da ordem nos estudos bíblicos. Eles provocam outras pessoas
com seus comentários e ofendem pessoas nas suas contendas.
(c) Produzem difamações
A difamação tem a ver com maledicência (latim – maledicentiae). A
contenda de palavras resulta também na maledicência porque em disputas,
geralmente, as pessoas querem vencer o adversário, e para conseguir tal
intento elas difamam a vida do oponente. Em geral, essas disputas de
contendas acontecem por questões que não são importantes, questões sutis e
secundárias. Os falsos mestre têm algum tipo de patologia teológica, porque
o interesse deles é promover a si mesmos mais do que a Cristo. Por isso,
eles vivem em contenda não pela verdade, mas para o seu próprio lucro.
Eles derrubam outras pessoas com as suas palavras para se promoverem.
Eles sempre estão engajados em uma controvérsia. Todavia, o alvo deles
não é construir o reino de Deus, mas o reino deles próprios. Assim, eles
dominam as pessoas pela intimidação antes que pelo amor.
(d) Produzem suspeitas malignas
Quando existe contenda de palavras, logo aparecem as suspeitas de uma
pessoa em relação a outras. As suspeitas geralmente são malignas. Ninguém
tem suspeitas de coisas boas, mas sempre de coisas más. As suspeitas são
sempre de coisas más, porque o mal pode vir disfarçado de bem mas o bem
nunca vem disfarçado. Ele sempre se mostra. Por essa razão, você nunca
suspeita de uma ação boa, mas você pode suspeitar do mal escondido e
disfarçado. Essas suspeitas são sempre nascidas em motivos sórdidos e
mundanos, mas nunca provêm do amor à verdade.
Quando uma contenda de palavras aparece, as suspeitas se levantam para
poder manchar a vida do outro. Quando os motivos dos homens são sujos, a
injustiça frequentemente surge. Por isso Paulo as chama de “suspeitas
malignas”.
(e) Produzem altercações sem fim
Altercar é discutir acaloradamente, polemizar. A palavra grega
diaparatribai, traduzida como “altercações”, ocorre somente nesse texto no
Novo Testamento. Ela significa, aqui, discutir questões fora do tempo, fora
do lugar. São discussões intermináveis sem proveito algum e sem qualquer
valor prático.
2.5. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL POSSUEM MENTE PERVERTIDA

1Tm 6.5b - “Homens cuja mente é pervertida”

Os falsos mestres não são realmente homens regenerados pelo Espírito


Santo. Eles não possuem a mente de Cristo. Por essa razão, é dito deles que
possuem mentes corrompidas. Eles possuem uma “mente carnal, que é
inimizade contra Deus” (Rm 8.7). De modo semelhante ao que foi
mencionado no capítulo primeiro de Romanos, podemos dizer deles que
Deus “os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem
coisas inconvenientes” (Rm 1.28).
As suas faculdades mentais não funcionam como as do verdadeiro mestre
de Deus. As coisas do reino espiritual estão absolutamente confusas em suas
mentes, porque elas estão pervertidas. Como homem natural, “ele não pode
entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2.14).
Os efeitos noéticos do pecado aparecem nele em medida muito maior do
que em outros homens! Eles se manifestam de maneira inequívoca, porque as
suas mentes estão corrompidas.
A fonte desse procedimento patológico é a perversão da mente. Por isso,
eles invertem a ordem de Deus; eles revertem o verdadeiro ensino, tornando-
o em mentira e falsidade. O entendimento deles está obscurecido e estão
alienados de Deus (Rm 1.21).
Falando dos falsos mestres, Paulo diz que “tanto a consciência quanto a
mente deles estão corrompidas. No tocante a Deus, professam conhecê-lo,
entretanto “o negam por suas obras” (Tt 1.15-16).
Seja um mestre da verdade. Você só será um mestre da verdade, se você
possuir a mente de Cristo. Paulo está escrevendo a respeito do homem
espiritual, e este somente tem as sãs palavras de nosso Senhor Jesus porque
tem a mente de Cristo Jesus (1Co 2.16).
2.6. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL SÃO HOMENS PRIVADOS DA
VERDADE

1Tm 6.5c - “Homens privados da verdade”

A palavra grega usada para “privados” vem de um verbo que significa


“roubar” ou “destituir”. A palavra grega usada para “privados” (ou
“destituídos”) poderia estar na voz média ou na voz passiva. As formas
dessa palavra são iguais. Os falsos mestres são “privados” da verdade, e
essa palavra pode ser entendida de duas formas:
(a) O entendimento do verbo quando ele está na voz média
Se o verbo está na voz média, a palavra “privados” indicaria que eles
estiveram em contato com a verdade mas voluntária e desejosamente eles
privaram a si mesmos dela. Isso não significa que uma vez eles foram
salvos, mas que eles tiveram noção clara do ensino verdadeiro e se
afastaram dele. Voluntariamente eles abandonaram a verdade, por isso estão
destituídos dela.
Esses falsos profetas estiveram em contato com a verdade, mas agora
estão privados dela. Por isso, o texto diz que eles “não entendem nada”.
Houve uma época em que eles foram iluminados (Hb 6.4), mas eles
abandonaram o que creram (2Tm 2.18; 3.8). Agora, não mais possuem a
verdade. Apostaram da verdadeira fé.
(b) O entendimento do verbo quando ele está na voz passiva
Se o verbo está na voz passiva, a ideia é de que a verdade foi tirada
deles. É possível que eles estivessem sob a influência de alguém que
arrancou deles a verdade. Por essa razão, é necessário que os que estão
aprendendo não sejam expostos aos ensinamentos perniciosos de falsos
mestres, pois estes podem influenciá-los no modo de crerem.
A Escritura diz que Satanás cega o entendimento dos homens:
2Co 4:3-4 - “Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está
encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que
lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.”

O Diabo arranca-lhes a verdade do coração, quando esta já foi semeada


(parábola do Semeador - Mt 13.19). Por essa razão, podemos dizer que eles
estão privados da verdade. Essa é a condição moral deles!
2.7. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL TÊM SEDE DE DINHEIRO

1Tm 6.5d - “[Homens] que supõem que a piedade é fonte de lucro”

Já vimos abundantemente essa matéria quando tratamos dos falsos


profetas mencionados no Antigo Testamento. Uma das características deles é
o gosto pelo dinheiro.
Como no tempo de Paulo, muitos falsos mestres hoje usam a “falsa
piedade” deles como fonte de lucro. Eles querem ganhar dinheiro com o que
fazem.
Embora Paulo reconheça que quem prega o evangelho deva viver do
evangelho, ele próprio nunca deu motivo para que as pessoas pensassem
nele como sendo “mercadejador da Palavra de Deus”. Veja o que ele diz na
sua conversa de despedida aos seus presbíteros de Éfeso:
At 20.29-34 – “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por
três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. Agora, pois,
encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar
herança entre todos os que são santificados. De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem
vestes; vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e
aos que estavam comigo.”

Escrevendo a Tito, Paulo afirma categoricamente que os verdadeiros


mestres não devem fazer nenhuma obra no reino de Deus que seja pelo ganho
ilícito. Veja o que ele diz:
Tt 1.10-11 – “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores,
especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas
inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância.”

Por que Paulo disse isso? Porque no seu tempo já havia aqueles que se
aproveitavam do evangelho e da piedade cristã para fazer dinheiro. Eles não
serviam ao rebanho, mas serviam-se do rebanho. Eram falsos pastores do
povo de Deus.
Uma coisa que você tem que saber nesse verso é que o falso ensino não
produz verdadeira piedade.
Somente o verdadeiro ensino e o contato leal com a Palavra de Cristo é
que produz verdadeira piedade. Essa piedade tem a ver com ser parecido
com Jesus Cristo, com pureza, com integridade, com limpeza de vida.
Porque os falsos mestres ignoram a Palavra de Deus, eles não podem
mostrar vida de transparência espiritual - embora muitos hoje, querendo
mostrar que são verdadeiros mestres, terem a aparência de piedade, falta-
lhes, entretanto, o poder.
Você tem que saber nesse verso que a piedade é o teste da verdadeira
espiritualidade. Por essa razão, Paulo aconselha ao jovem ministro: “Mas
rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente,
na piedade” (1Tm 4.7). O falso ensino, a heresia e o erro não podem
produzir a verdadeira piedade. Somente a verdade de Deus é que produz
homens verdadeiramente piedosos.
Tenho que lembrar aos que serão sustentados pela igreja que nunca façam
da piedade uma fonte de lucro. Não sejam mercadejadores da Palavra de
Deus. Vocês serão presbíteros docentes, mas obedeçam aos ensinos da
Palavra. Paulo diz que o presbítero não deve ser “avarento” (1Tm 3.3) e ser
“não cobiçoso de torpe ganância” (3.8).

3. APLICAÇÕES

3.1. A PRIMEIRA CONCLUSÃO QUE VOCÊ DEVE DEDUZIR DO ENSINO DE PAULO É


QUE VOCÊ PODE COMBATER O VÍRUS INFECCIOSO DO FALSO ENSINO.
Se você conhece a Escritura e está cheio “das sãs palavras de Jesus
Cristo”, você será um fiel e forte ministro de Cristo Jesus.
João disse: “Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de
Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno” (1Jo 2.14b).
Paulo possuía consciência da grande obra maligna que avassalava as
igrejas. Com um temor de um velho pastor que está prestes a deixar o seu
rebanho, Paulo profeticamente vaticina:
At 20.29-30 - “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não
pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas
pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles.”

Então, Paulo conclui:


At 20.32 - “Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder
para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados.”51

Ao próprio jovem ministro, Timóteo, Paulo diz:


1Tm 4.6 - “Expondo estas coisas [doutrina] aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus,
alimentado com as palavras de fé e da boa doutrina que tens seguido.”

Paulo entendeu que somente o Senhor e sua Palavra podem trazer


verdadeiro crescimento para a salvação! Mergulhem a vida no estudo das
sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, ministros! Por isso, disse a
Timóteo:
1Tm 4.16 - “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo
assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.”

3.2. A SEGUNDA CONCLUSÃO A QUE VOCÊ DEVE CHEGAR É QUE VOCÊ DEVE SE
AFASTAR DO FALSO ENSINO E DOS FALSOS MESTRES.
Paulo dá um conselho a Timóteo que também serve para nós nestes
tempos de grande vacilação doutrinária:
1Tm 6.11-12 - “Tu, porém, ó homem, foge destas coisas (...). Combate o bom combate da
fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste boa
confissão perante muitas testemunhas.”

Afaste-se das pessoas que ensinam uma doutrina que é contrária ou que vá
além daquilo que o Senhor Jesus ensinou, ou ainda que interpretam
erroneamente a Santa Escritura.
Afaste-se daqueles que não se parecem com Jesus Cristo na sua conduta,
que têm aparência de piedade mas sem o poder.
Afaste-se daqueles que são arrogantes, ignorantes das verdades
espirituais e fazem contendas de palavras, que produzem especulações
inúteis. Essas coisas só geram contendas e divisões.
Afaste-se daqueles que corrompem as mentes dos ministros mais jovens
por ensinarem coisas sobre as quais nada sabem.
Seja “bom ministro de Cristo Jesus” e “cumpra cabalmente o seu
ministério”.
J. Ligon Duncan III, em seu sermão “The Love of M oney ” sobre o texto em estudo. Disp onível em:
http s://www.fp cjackson.org/resource-library /sermons/the-love-of-money . Acesso em: set.2018.
Paulo deixa transp arecer a mesma ideia em Efésios.
13 | OS FALSOS MESTRES SÃO
DESCRITOS COM PRECISÃO

Tt 1.10-16 — “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores,


especialmente os da circuncisão. É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas
inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância. Foi mesmo, dentre eles, um seu
profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal
testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé e não se
ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade. Todas
as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é puro. Porque
tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. No tocante a Deus, professam
conhecê-lo; entretanto, o negam por suas obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes
e reprovados para toda boa obra”.

1. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO
VERBAL SÃO MUITOS

Tt 1.10a — “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores.”

A quantidade de falsos mestres e falsos profetas no povo de Deus já era


grande no tempo de Paulo. Já no primeiro século, eles haviam invadido a
igreja cristã.
É crença comum, entre os cristãos da ortodoxia, que, à medida que vai
chegando o tempo da volta de Cristo, veremos muito mais gente envolvida na
falsificação da revelação verbal. Então, esse surgimento massivo causará
grande apostasia. Por que acontecerá isso? Porque, a essa altura, haverá
muitos falsos mestres e profetas.
O crescimento da apostasia é um fenômeno paulatino, mas creio que, no
final dos “últimos dias”, essa progressão será rapidamente precipitada. A
multiplicação de falsos mestres e profetas levará muitos na igreja a se voltar
para o lado oposto da verdade.

2. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO
VERBAL SÃO REBELDES
Tt 1.10b — “Porque existem muitos insubordinados”
O termo grego ἀνυπότακτοι [anupotaktoi], traduzido como
“insubordinados”, também pode ser compreendido como “indisciplinados”
ou “rebeldes”. São pessoas que se recusam a tomar a Escritura toda para ser
fonte de entendimento da realidade espiritual, tomando como base de seus
ensinamentos as fábulas humanas. No tempo de Paulo, essas pessoas
recusavam-se a obedecer à autoridade apostólica e impingiam a própria
autoridade. Em geral, elas têm um espírito de independência em relação à
verdade de Deus e querem impor a própria “verdade” — os pensamentos
dos homens contra os de Deus. A autoridade final está neles, e não na
Palavra de Deus. Essa era a rebeldia dos falsificadores da revelação verbal!
Eles costumavam ter um espírito desafiador contra qualquer autoridade,
especialmente a da Palavra de Deus, que era pregada pelos servos de Deus.
Por isso, a igreja de Deus deve ter muito cuidado com aqueles que se
recusam a ouvir a autoridade suprema, tentando fazer valer sua própria
autoridade.

3. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO
VERBAL SÃO FALADORES DOENTIOS
Tt 1.10c — “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos”

Vejamos o significado de “palradores frívolos” [ματαιολόγοι, mataiologoi ].


A palavra logoi se refere a pessoas que gostam de tagarelar. Falar muito não
é um problema em si, mas a qualidade do que se fala pode representar um
grande problema. O texto diz que eles eram “faladores” mataio, termo que
significa vazios, doentios, fúteis, sem qualquer utilidade. Essas falas cheias
de frivolidade exemplificavam a rebeldia mencionada no ponto anterior.
Paulo usa a mesma expressão, ματαιολογίαν, em 1Timóteo 1.6, ainda que a
tradução em português seja ligeiramente diferente, porque os mataiologois
tinham uma “loquacidade frívola”. Nessas duas passagens, a expressão
usada por Paulo está associada à discussão sobre falsos ensinamentos.
O fato é que, quando alguém despreza a verdade de Deus, a verdade
registrada na Escritura, começa a falar coisas frívolas, desnecessárias,
inúteis, esvaziadas de seu significado correto. São discussões inúteis que
não levam ao crescimento espiritual em Cristo. Provavelmente, a frivolidade
de suas palavras estava associada a fábulas ou lendas fictícias acrescentadas
à religiosidade do Antigo Testamento. No tempo de Paulo, os falsos mestres
tinham diálogos que não conduziam a um desenvolvimento espiritual.52 A
ênfase na expressão mataiologois, usada por Paulo, não está na quantidade
de palavras, mas, sim, em sua qualidade. Nossas falas devem estar
recheadas de conteúdo útil e proveitoso, de conteúdo que produza
crescimento em Cristo.

4. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO
VERBAL SÃO ENGANADORES
Tt 1.10d — “Porque existem muitos insubordinados, palradores frívolos e enganadores”

A expressão φρεναπάται [phrenapatai], traduzida como “enganadores”, é


composta de dois vocábulos gregos: phren [mente] e apate [engano]. Em
outras palavras, “eles têm mentes enganadoras”.
O objetivo dos “palradores frívolos” é enganar as pessoas. O excesso de
palavras desprovidas de significado confunde as pessoas, especialmente
aquelas menos preparadas — e essas são muitas! Portanto, há muitos
“meninos” no meio do povo de Deus que são enganados com bastante
facilidade.53 Os “palradores frívolos” têm por objetivo desviar as pessoas
da Palavra de Deus. Com suas conversas inúteis, eles conduzem muitos à
apostasia. E, à medida que o tempo do fim vai-se aproximando, o número de
enganadores também aumenta e, em consequência, o número dos enganados.
O curioso é que, de acordo com Paulo, eles próprios estão enganados e
acabam enganando muitos no meio do povo de Deus.54 Entretanto, temos de
admitir que, para enganar muitas pessoas, eles têm de ser teologicamente
muito bem articulados. É verdade que eles têm, por trás de si, os ensinos de
demônios.55 Disso, contudo, eles não se dão conta. Para eles, é segredo o
fato de serem enganados. Eles pensam ter consigo a verdade, mas trazem
apenas o engano em suas próprias almas. Como estão enganados, eles
pregam com convicção, de modo que têm arrebanhado uma porção razoável
de crentes ao redor do mundo.
Sem dúvida, o crescimento do número de enganados e enganadores é
espantoso, pois, cada vez mais, vemos novas heresias surgindo ao longo da
história. Obviamente, esse fenômeno é parte da palavra profética de que
muitos virão a apostatar da fé. Todo esse fenômeno de engano é o
cumprimento dos desígnios de Deus — desígnios que estão afirmados nas
Escrituras.

5. OS FALSIFICADORES DA REVELAÇÃO VERBAL


TÊM CONEXÕES RELIGIOSAS
Tt 1.10e — “especialmente os da circuncisão”

O fato de os enganadores exercerem sua tarefa de engano não significa que


sejam pessoas fora da esfera religiosa. Os enganadores estavam — como,
em alguns casos, estão — dentro da própria igreja e tinham conexões
judaizantes. Entre eles, estavam alguns presbíteros das igrejas locais (veja
At 20.30].
Paulo fala do engano vindo “especialmente dos da circuncisão
[περιτομῆς]”. O que isso significa? Significa que, na sua época, os
enganadores procediam da tradição judaica. Eles tinham fortes conexões
religiosas com o antigo sistema judaico legalístico, que ainda estava em
vigência naquele tempo. E Paulo também luta contra essas pessoas na igreja
gálata56 e em vários outros lugares. Esses foram seus maiores adversários.
Eles eram legalistas e queriam a volta de alguns costumes judaicos na jovem
igreja cristã, tentando desviar e apartar aqueles que haviam crido, pela
graça, na pessoa e na obra de Cristo. Eles queriam acrescentar algo [obras]
para que as pessoas pudessem alcançar a vida eterna!
Esses judaizantes queriam impor seus costumes judaicos [que eram tão
somente “preceitos de homens”] aos crentes sinceros, porém desavisados,
trazendo, assim, desarmonia ao seio da igreja. Eles pugnavam por um
sistema legal judaico sobre as igrejas então nascituras. Obviamente, ainda
não se via maturidade suficiente nos crentes, pois havia muito pouco tempo
que tinham chegado à fé. É muito mais fácil enganar neoconvertidos do que
crentes experimentados. E os enganadores não perdiam tempo nessa tarefa
de trabalhar junto aos neófitos, tentando desviá-los da verdade.
Os enganadores tinham várias origens, mas Paulo destaca os religiosos de
mentalidade judaica. Nunca pense que os ensinos enganosos vêm da parte
dos ímpios; eles vêm da parte de pessoas que se autointitulam “crentes” —
as mesmas que comungam e adoram com você. Mantenha-se atento!

6. OS FALSOS MESTRES PRECISAM SER SILENCIADOS


Tt 1.11a — “É preciso fazê-los calar”

Com a consciência do que os enganadores poderiam fazer, Paulo se interpõe


para pôr um fim no trabalho deles. A frase que ele usa é bem forte: “É
preciso fazê-los calar”. Os crentes fiéis deveriam fazer o possível para
silenciar esses palradores frívolos e enganadores.
Em seu conselho a Tito, Paulo o responsabiliza pela tarefa de pôr um fim
nas falas inúteis desses palradores. Na verdade, todos os presbíteros [que
são os responsáveis formais pelo ensino e a pregação na igreja] também
deveriam participar dessa luta árdua de silenciar os enganadores. Em outras
palavras, Paulo está dizendo que Tito e os presbíteros não deveriam permitir
que os enganadores tivessem voz no meio da igreja de Deus. Eles até
poderiam enganar pessoalmente, mas não poderiam fazer isso no meio da
congregação. Não havia como impedir isso, mas eles não poderiam mais
falar à congregação de Deus. Somente aqueles que eram “apegados à palavra
fiel, que é segundo a doutrina” (Tt 1.19), poderiam falar à igreja. E todos os
que não obedecessem à sã doutrina deveriam ser alijados.
O verbo grego traduzido como “fazer calar” é epistome, que também pode
ser traduzido, do ponto de vista metafórico, como “calar a boca, ou
silenciar”. Fazê-los calar era uma coisa necessária [δεῖ]. Não havia
alternativa. Os líderes da igreja não podiam falhar nesse quesito. Tito e os
presbíteros não poderiam deixar que os enganadores continuassem a falar.
Eles deveriam ser impedidos de tomar a frente em qualquer atividade de
ensino e de pregação. A eles, deveriam ser vedados o púlpito e a cátedra.
Não havia outra saída se quisessem preservar a doutrina de Deus no coração
dos crentes!
6.1. É PRECISO SILENCIÁ-LOS PORQUE ELES PERVERTEM FAMÍLIAS INTEIRAS

Tt 1.11b — “porque andam pervertendo casas inteiras ensinando o que não devem”.

Essa expressão de Paulo significa que os enganadores trabalhavam


sorrateiramente. Eles frequentavam as casas dos crentes ainda ignorantes de
toda a verdade com o propósito de costurar o engano na mente deles.
A palavra grega ἀνατρέπω [anatrepo], traduzida como “perverter”,
também pode ser traduzida como “arruinar” ou “destruir”. Eles estavam
destruindo o que Paulo havia feito entre eles, tentando anular os efeitos
trazidos pela mensagem verdadeira. Por essa razão, Paulo denuncia o grande
estrago que os enganadores faziam no meio do povo de Deus. Por isso, Paulo
ordena, com veemência, que os enganadores sejam silenciados. Seguindo o
mesmo raciocínio de Paulo a respeito desses enganadores, o apóstolo João
ainda sugere duas atitudes pouco recomendadas nos dias de hoje:
2Jo 10 — “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina [a de Cristo], não o recebais
em casa, nem lhe deis as boas-vindas”.

Em outras palavras, os chefes de família devem fechar as portas para


pessoas que, sabidamente, não pregam a doutrina de Cristo. Não devem ser
corteses com os enganadores. João não teve a preocupação que hoje muitos
têm de ser “politicamente corretos”. Ele advertia os pais de família a serem
“curtos e grossos”, deixando do lado de fora da casa aqueles que não portam
a doutrina de Deus. Ele recomendava, portanto, que os chefes de família
fossem politicamente incorretos no silenciar dos enganadores!
Os enganadores deveriam ser silenciados porque estavam invadindo o
território da igreja, ensinando nas casas. A obra dos enganadores parecia
estar sendo eficaz porque “famílias inteiras” estavam adotando a nova
teologia deles. E, por “famílias inteiras”, devemos entender uma boa parte
das igrejas da região. O termo grego para “famílias” é oikoi, que,
possivelmente, apontava para os parentes de sangue ou até mesmo para os
servos que ali se encontravam. Ademais, não se deve esquecer que, na época
de Paulo, as igrejas se reuniam nas casas, e não em templos. Por isso, a
necessidade premente de conseguir um meio de fechar a boca deles.
6.2. É PRECISO SILENCIÁ-LOS PORQUE FALAM O QUE NÃO DEVEM

Tt 1.11b — “porque andam pervertendo casas inteiras ensinando o que não devem”.

A expressão “ensinando o que não devem” é um modo atenuado de dizer


que eles falsificam a revelação verbal. A perversão das famílias acontece
quando o ensino não corresponde à verdade. A função dos falsos mestres é
bastante sagaz. Eles penetram sorrateiramente na célula mater da sociedade,
que são as unidades familiares. Quando um falso mestre convence o pai e a
mãe de família, os filhos, consequentemente, também o seguem. Assim, ao
perverter casas inteiras, eles acabam pervertendo também a igreja de Deus,
que é composta por células familiares.
Hoje, muitas doutrinas que ouvimos em várias comunidades evangélicas
em nada se assemelham ao verdadeiro evangelho de Cristo. Devemos ser
zelosos a respeito do ensino desautorizado pela Escritura, que deve ser
mantido fora dos currículos dos seminários e de nossas igrejas em geral.
Temos de combater abertamente esses falsificadores da verdade, sem medo
ou constrangimento. Não compactue com o pensamento moderno do
“politicamente correto”. Defenda abertamente (mas de forma sábia) a
doutrina de Deus. Se eles “falam o que não devem”, precisam ouvir o que
não gostam.
6.3. É PRECISO SILENCIÁ-LOS PORQUE ELES ESTÃO INTERESSADOS EM DINHEIRO

Tt 1.11c — “ensinando o que não devem, por torpe ganância”.

Os enganadores tinham uma razão muito forte para exercer a função


docente: eles almejavam um lucro sujo ou um ganho sórdido com sua
mensagem. Eles tinham por objetivo ganhar muito através do engano dos
crentes. Em suma, a mensagem que traziam visava a um ganho impuro ou
indevido.
A ideia toda parece envolver dinheiro. A busca dos falsos profetas e dos
falsos mestres sempre esteve relacionada a ganho financeiro. Até hoje, os
falsos profetas, que pregam outro evangelho, estão envolvidos com dinheiro,
pois, sem dúvida, são gananciosos. Conquanto o dinheiro não seja um mal
em si mesmo, muitos enganadores, ainda hoje, evidenciam o pecado do amor
ao dinheiro, o que os leva a construir grandes impérios econômicos. E, de
forma ardil, eles sugam os crentes ingênuos, os quais, por sua vez, enchem os
bolsos desses enganadores.
Os falsos profetas do Antigo Testamento já ostentavam essa ambição
financeira. Veja o que Deus diz a respeito deles, por intermédio de Ezequiel:
Ez 34.2-3 — “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes:
Assim diz o S Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não
apascentarão os pastores as ovelhas?”.

Os falsos pastores e os falsos profetas tinham como alvo o lucro


financeiro, pensando tão somente em si mesmos. Por isso, é dito que eles
“apascentavam a si mesmos”. Desse modo, cada vez mais aumentavam sua
riqueza. O ensino errôneo, portanto, representava um grande negócio,
rendendo muito dinheiro para eles!
De modo semelhante, os falsos profetas mencionados no Novo
Testamento também se preocupavam com o ganho próprio. Eles eram
avarentos [cf. 1Tm 33.3; Tt 1.7]. Pedro adverte os presbíteros da igreja a
não se portarem como pessoas “de sórdida ganância” [1Pe 5.2].
Nós, que ministramos a Palavra, devemos ter muito cuidado com a
questão do dinheiro, para não trazermos desonra ao evangelho de Cristo.

7. OS FALSOS MESTRES SÃO DESMASCARADOS DENTRO DE SEU PRÓPRIO


CÍRCULO

Tt 1.12 — “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos,
feras terríveis, ventres preguiçosos”.

Um profeta falso, dentre os muitos já existentes naquele tempo, sempre acaba


desmascarando outros profetas falsos de sua terra. O testemunho de um
adversário contra outro tem menos peso do que o testemunho de gente que
está do mesmo lado. É significativo o fato de que um falso profeta fale
contra outros falsos profetas! Portanto, Paulo avalia que os falsos profetas
contam com o suporte de um falso profeta “dentre eles”, o que lhes dá grande
força em seu argumento. Trata-se de uma avaliação isenta de qualquer tipo
de preconceito — de fato, uma avaliação justa!
Não é incomum vermos os inimigos de Deus se digladiando. Não pode
haver harmonia duradoura entre aqueles que são adversários da verdade de
Deus. Eles todos podem unir-se contra o inimigo comum, que é Cristo, mas
não serão capazes de permanecer em união uns com os outros, por causa de
seus interesses escusos, que têm a ver com algumas vantagens próprias das
grandes corporações eclesiais. Eles podem permanecer juntos na luta contra
a verdade de Deus, mas acabam brigando entre si por causa do caráter da
liderança falsificadora da verdade. Não tardará o momento em que grandes
líderes religiosos de nosso tempo, competindo uns com os outros, virão a se
digladiar, apontando os pecados recíprocos — uns acusarão os outros,
difamando seu caráter duvidoso. Será uma exposição terrível da maldade
humana dentro das denominações evangélicas.
Em Creta, havia muitos falsos profetas, e um deles abriu a boca (ou
“rasgou o verbo”) contra outros falsos profetas a quem ele chama de
“mentirosos constantes”, de “feras terríveis” e de “ventres preguiçosos”. O
que esse falso profeta quis dizer com todos esses adjetivos?
7.1. O SIGNIFICADO DE “CRETENSES MENTIROSOS”
Naquele tempo, portar-se como um cretense significava o mesmo que “ser
mentiroso”. Assim, falar mentiras equivalia a “cretanizar” (kretizein). Ser
mentiroso era equivalente a ter sua origem em Creta. Daí, advém a palavra
em português “cretinos”, ou seja, pessoas que falam mentiras. Barnes afirma
que “ser cretense tornara-se sinônimo de ser mentiroso, assim como ser de
Corinto tornara-se sinônimo de levar uma vida licenciosa”.57
Esse designativo [cretense], porém, não é uma invenção de Paulo, mas “a
pura verdade” (veja v. 13a). Em todas as gerações, as sociedades e culturas
sempre tenderão a perpetuar o caráter caído das pessoas. Sem o evangelho
redentor, a crítica é sempre no sentido de denegrir o caráter alheio. E foi
isso que o falso profeta de Creta fez com os outros falsos profetas cretenses.
Observe-se que “cretense” não diz respeito exclusivamente às pessoas que
viviam na ilha de Creta; serve também para a presente sociedade, que tem
sido construída sobre mentiras. Os seres humanos caídos sempre preferirão
a mentira à verdade, exceto se houver uma obra restauradora divina neles.
Reflita um pouco sobre a seriedade do pecado na sociedade
contemporânea: Você já imaginou se todos os nossos líderes, dos mais
variados poderes, resolvessem falar a verdade? Essa sociedade entraria em
colapso, porque nunca se fala da podridão de suas intenções e da sujeira de
suas motivações.
7.2. O SIGNIFICADO DE CRETENSES COMO
“FERAS TERRÍVEIS”
Esses falsos profetas não são simplesmente descritos como “feras”; eles
são qualificados como “terríveis”. “Feras terríveis” é uma designação para
os falsos profetas que se serviam de selvageria, brutalidade e ferocidade,
mostrando-se amantes da crueldade. Esses falsos profetas de Creta, em seu
caráter, eram comparados a animais sem qualquer sentimento de apreço à
verdade, a inimigos ferozes da verdade de Deus. Em certo sentido, eles eram
mesmo bárbaros e não tinham compaixão alguma por aqueles que pensavam
diferente deles.
Alguns estudiosos, como Crisóstomo, Teofilato, Epifânio e Jerônimo,
criam que o profeta falso que denunciou os cretenses teria sido um sábio
grego chamado Epimênides, nascido no século VI a. C.58 Um comentarista
diz: “Creta era um país sem bestas selvagens. O sarcasmo de Epimênides
consistia em sustentar que os humanos que ali habitavam supriam a falta de
bestas selvagens”,59 pois eram como animais perigosos ou como víboras
venenosas que, por meio de seus falsos ensinos, injetavam veneno na vida
das pessoas.
Não se afasta, contudo, a possibilidade de que essa expressão [feras
terríveis] também seja uma referência a apetite sexual, lembrando uma forma
animalesca. Todos os seres humanos que querem satisfazer seus apetites
sexuais animalescos podem ser chamados de “bestas terríveis”. Nesse
particular, é curioso observar que, no curso da história, muitos falsos
profetas foram flagrados em grandes escândalos sexuais. Nesse sentido, eles
são como “feras terríveis”. Como não possuem o Espírito Santo, perdem-se
em sua sensualidade. Via de regra, esse é o pecado comum daqueles que se
desviam do caminho reto, pois, sem a verdade, não há freios para impedir a
manifestação dos instintos animalescos.
7.3. O SIGNIFICADO DE CRETENSES COM “VENTRES PREGUIÇOSOS”
Os falsos profetas de Creta foram acusados de ter “ventres preguiçosos”.
A palavra grega traduzida como preguiçosos é argos, que, literalmente,
significa aquele que não trabalha, que é doente, que não faz nada, que não faz
bem à sociedade.
O que, então, dizer dos “ventres preguiçosos”? Provavelmente, esses
falsos profetas se dedicavam mais a comer e a beber do que à execução de
qualquer trabalho honesto. Paulo cuidava para que Tito nunca se envolvesse
com os da circuncisão, que eram os falsos profetas afeitos à preguiça em
relação à verdade.
Os falsos profetas, por desprezarem as coisas santas e os comportamentos
corretos, não têm freio, e são libertinos em suas atitudes e ações. Por causa
de sua fraqueza moral, eles não cuidam de seus corpos e não controlam seus
apetites, de modo que os daquela época “acabavam se tornando corpulentos
e indolentes”.60 Por isso, eram chamados de “ventres preguiçosos”. Esta era
uma característica das pessoas de Creta: dedicavam-se à glutonaria
desenfreada e à sensualidade. A falsa profecia transtorna os homens de tal
maneira que eles lutam contra qualquer coisa que se encaixe nos padrões da
natureza santa criada por Deus.
CONCLUSÃO
Muitas terras que, no passado, foram terras de homens que criam
corretamente na verdade de Deus hoje não são mais conhecidas como
genuinamente cristãs.
Alexis de Tocqueville (1805–1859), um viajor, historiador e político
francês, visitou a América com o propósito de observar a grandeza desse
lugar. E acabou por constatar que essa grandeza, na verdade, repousava nos
púlpitos, que pregavam coisas verdadeiras. Numa referência ao pensamento
de Alexis de Tocqueville sobre a América, em termos de avaliação
religiosa, Charles Colson e Ellen Vaughn observam: “Ele creditou boa parte
do sucesso notável da América à sua natureza religiosa; mais tarde, o local
foi chamado de uma nação com ‘alma de uma igreja’”.61
Entretanto, essa conclusão de Tocqueville, datada do século XIX, não é
mais a mesma. Muita coisa mudou moral e espiritualmente na América — e
está mudando também em nosso país. Os valores antigos não são mais vistos
nos dias de hoje porque os púlpitos não são mais os mesmos. Esses valores
se perderam com o passar dos anos. A grande maioria dos movimentos de
falsa profecia e falsificação da revelação verbal tem seu nascedouro nos
Estados Unidos da América, outrora voltado às verdades divinas. O que
Paulo disse a Tito a respeito dos cretenses passa a ser verdadeiro
praticamente em todas as nações que serviram de berço para o genuíno
evangelho de Cristo.

8. OS FALSOS MESTRES SÃO DESCRITOS


COM PRECISÃO

Tt 1.13a — “Tal testemunho é exato”.

Paulo disse a Tito, a respeito dos cretenses, exatamente o que se passava


naquela ilha. Seu testemunho a respeito do que acontecia moral e
teologicamente em Creta era verdadeiro. Tito deveria ter cuidado com os
falsos profetas em exercício por ali. É possível que o próprio Paulo tenha
passado pelo lugar e visto com os próprios olhos o que ocorria ali. A
afirmação de Paulo a respeito dos cretenses era desfavorável a eles, mas
representava um grande serviço de denúncia para a igreja de Deus daquela
época e para todas as gerações vindouras. O importante não é o lugar, mas,
sim, o conteúdo do que se prega em nome de Deus. A falsificação da
revelação verbal deve ser sempre corajosamente denunciada!
O que é verdade, seja bom ou ruim, sempre deve ser proclamado. Existem
muitos enganos em nossa geração, e nós precisamos aprender a detectar onde
reside o erro, seja qual for sua natureza.

9. OS FALSOS MESTRES E SEUS OUVINTES PRECISAM SER SEVERAMENTE


REPREENDIDOS

Tt 1.13b — “Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam
sadios na fé”.

Tito recebeu uma tarefa pesada de Paulo: o encargo de trazer reprimenda


aos que estavam dando ouvidos a homens desviados da verdade. Paulo usa
um adjetivo muito pesado sobre a repreensão que Tito deveria fazer. Ele usa
a palavra grega ἀποτόμως (apotomos), que pode ser traduzida como preciso,
severo ou rigoroso. Em outras palavras, Paulo disse a Tito que não atenuasse
sua repreensão aos falsos profetas. E isso visava ao bem de seus leitores.
A verdade é muito importante para Deus, razão pela qual a falsificação
traz grande prejuízo para o povo de Deus. Nesse contexto, os verdadeiros e
fiéis ministros da Palavra devem exercer forte disciplina sobre esses falsos
profetas. Os pregadores de doutrinas falsas devem ser “severamente”
repreendidos. Não devemos ter compaixão nem temor dos que pregam
heresias. O único temor que somos ordenados a ter é o temor de Deus, a
quem devemos fidelidade.
O objetivo último da repreensão severa era que os crentes fossem “sadios
na fé”.
9.1. O SIGNIFICADO DE “FÉ”
Aqui, a palavra “fé” não diz respeito a uma fé pessoal, aquela fé que
consiste em crermos em Deus, mas, sim, ao conjunto de verdades que Deus
deixou para seu povo —a verdade dos profetas do Antigo Testamento e a
verdade apostólica que os crentes do Novo Testamento haviam recebido, a
qual veio a se tornar a totalidade da Escritura Sagrada.
9.2. O SIGNIFICADO DE “SADIOS”
O termo em grego para “sadios” é ὑγιαίνωσιν (hugainosin), de onde vem
a palavra “higiene” em português, que significa algo limpo, puro,
higienizado e livre de contaminação. Assim deve ser a nossa fé. Precisamos
crer numa fé que seja livre de qualquer impureza teológica, uma fé que
corresponda à verdade de Deus. Nesse sentido, devemos ter fé (confiança
pessoal) na fé (revelação divina), a fim de que sejamos sadios. Isso é o
mesmo que crer apenas nas coisas que correspondem ao que está registrado
na Escritura. Ser “sadio na fé” significa ser livre da sujeira que entra pela
pregação cheia de falsidade.
Usando a mesma expressão de Tito 1.13, Paulo ensina, em Tito 2.2, que
os homens idosos da igreja também devem ser “sadios na fé” (ὑγιαίνοντας
τῇ πίστει — hugiainontas te pistei). Perceba que a expressão “sadios na fé”
está diretamente conectada à expressão grega ὑγιαινούσῃ διδασκαλίᾳ
(hugiainouse didaskalia, “doutrina sadia”), no versículo 1. Portanto, a
“doutrina sadia” é o que torna os cristãos “sadios na fé”, quando fazemos o
que é benéfico ao nosso ser interior. Esse alvo deve ser buscado com todas
as forças pelos ministros da Palavra, pois os falsificadores da verdade
distorcem a verdade de Deus, suprimindo-a de nossa mente. Por isso, os
ministros fiéis devem lutar árdua e corajosamente contra a penetração da
mentira no meio do povo de Deus!

10. OS FALSOS MESTRES SE PREOCUPAM


COM O QUE NÃO PERTENCE À ESCRITURA

Tt 1.14 — “e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens
desviados da verdade”.

Perceba que os falsificadores da verdade estavam entre os religiosos da


época, ou seja, entre os muitos judeus que se ocupavam “com fábulas
judaicas”. Provavelmente, Paulo está se referindo, aqui, aos judaizantes, que
tentavam sobrepor os costumes dos homens em prejuízo da verdade do
evangelho. Essas “fábulas judaicas” devem ser uma referência às histórias
fictícias acrescidas ao Antigo Testamento, a respeito de alguns santos da
época. Essas histórias estavam sendo absorvidas pelos crentes de Creta, e
Paulo também adverte Timóteo em relação a isso.62
No meio da igreja, em Creta, havia pessoas que estavam acostumadas a
ouvir os “homens desviados da verdade”, os quais se encontravam entre os
crentes. Portanto, a repreensão não somente deve ser feita aos falsos
profetas, mas também àqueles que os ouvem. Deus leva tão a sério que tanto
uns como os outros deveriam ser repreendidos severamente. Aqueles que
pregam não são menos culpados do que aqueles que gostam de ouvir os
“mandamentos de homens desviados da verdade”.
Paulo insiste com Timóteo e Tito que esses “desvios da verdade”
deveriam ser cortados pela raiz, da mesma forma que um cirurgião corta a
carne doente que está prestes a apodrecer. Quando a falsificação da verdade
entra na igreja, os crentes adoecem e caem em desgraça espiritual. Nesse
caso, a cura consiste em nos dedicarmos a um ensino sadio.
O que a igreja brasileira contemporânea mais necessita hoje é ter a saúde
doutrinária restaurada. A igreja tem estado muito doente e precisa do
remédio divino, que é a sua verdade. Por isso, “os mentirosos, as feras
terríveis e os ventres preguiçosos” devem ser severamente extirpados da
igreja. A igreja precisa de alimento saudável, e não de comida contaminada!

11. OS FALSOS MESTRES TÊM A MENTE E A CONSCIÊNCIA CORROMPIDAS


Tt 1.15 — “Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes,
nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência (νοῦς καὶ ἡ συνείδησις) deles estão
corrompidas”.

“Mente” e “consciência” são dois termos distintos que apontam para a


mesma interioridade do ser humano. O pecado ou a santidade de uma pessoa
dependem de seu estado de interioridade: ímpio ou pio.
11.1 A MENTE DE MUITOS MESTRES E PROFETAS, NO TEMPO DE PAULO, ESTAVA
CORROMPIDA
A corrupção da interioridade humana afetou todos os compartimentos da
alma humana, que tem o coração como sua sede.
A mente é o lugar no qual o conhecimento é absorvido e fica armazenado.
O grande problema da mente dos falsos obreiros é estar debaixo de
corrupção, pois, sem o saber, eles são enganados por espíritos malignos
(1Tm 4.1). A palavra “corrompidos” (miaino) pode ser atribuída tanto à
mente como à consciência. E pode ser traduzida como “poluídos”, ou seja,
esvaziados de qualquer noção de santidade.
11.2. A CONSCIÊNCIA DE MUITOS MESTRES E PROFETAS, DO TEMPO DE PAULO,
ESTAVA CORROMPIDA
A consciência diz respeito a uma espécie de “órgão” censor que nos
ajuda a detectar o próprio erro. Assim, “essencialmente, a consciência é uma
corte de apelo, o lugar de nossos padrões e normas, nosso senso de certo e
errado em relação à doutrina e à conduta. É o nosso lugar de consciência
moral. Mas não é útil se não for uma consciência boa e limpa”.63
Paulo diz que existe uma consciência corrompida nos falsos
mestres/profetas, mas que eles não a percebem. Por quê? Porque eles têm
sua consciência cauterizada (1Tm 4.2). O cautério deixa as pessoas sem a
percepção de que estão corrompidas. Elas ficam espiritualmente
anestesiadas e não percebem a própria condição espiritual. E, ao pregarem
doutrinas falsas, não se dão conta de que suas doutrinas não estão em
harmonia com a verdadeira Palavra de Deus. Elas próprias estão enganadas
pelos demônios e tornam a própria mentira em verdade, e a verdade de Deus
em mentira, porque creem que essa é sua responsabilidade. Ao agirem
assim, perdem qualquer noção da realidade à sua volta. Essas pessoas têm a
forte sensação de que a “verdade de Deus” deve ser rechaçada e de que “sua
mentira” é que deve ser acolhida, porque não conseguem vislumbrar a justa
diferença entre o que é certo e o que é errado à vista de Deus.
LIÇÕES
A consciência dos remidos tem qualidades que a dos réprobos não tem.
Quando uma pessoa está emparelhada com as normas e os padrões
bíblicos do que é certo ou errado, tem consciência de que está limpa de
obras mortas (ou seja, as cerimônias e os preceitos humanos), porque anda
de acordo com os princípios da Escritura (Hb 5.14; 9.14). Portanto, sua
consciência se torna cada vez mais sensível ao que está ali prescrito.
Quando uma pessoa está emparelhada com as normas bíblicas, tem grande
senso de culpa ao cometer algum pecado de natureza ética ou teológica. Por
isso, “o mistério da fé” é preservado, e a consciência torna-se cada vez mais
limpa (veja 1Tm 3.9).
Quando uma pessoa está emparelhada com as normas bíblicas, não tem
vontade de parar com o estudo e a prática das Escrituras, “mas se esforça
por ter sempre a consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16).
A mente e a consciência demonstram verdadeira pureza não na
observância de ritos ou regulamentos externos, mas na pureza interior do
coração regenerado e santificado pelo Espírito, por meio da confiança na
Palavra de Deus (Hb 9.13-14).64

12. OS FALSOS MESTRES TÊM APARÊNCIA DE PIEDADE


Tt 1.16a — “No tocante a Deus, professam conhecê-lo;”

Não podemos cair no engano de que os falsos mestres/profetas sejam


pessoas incrédulas; ao contrário, em geral, são pessoas muito religiosas.
Aqueles que falseavam a verdade eram pessoas religiosas sérias, mas que
haviam recebido uma grande carga de regulamentos do judaísmo e, em
contraste, uma carga menor das doutrinas da graça. Paulo teve problema com
os crentes da Galácia logo no início da igreja cristã. Várias igrejas do Novo
Testamento haviam sido atacadas pelos judaizantes, que transformavam a
graça de Deus em obras.
Essa passagem aponta para o fato de que a apostasia se dá tão somente no
meio da igreja, porque os falsos mestres e profetas sempre professam
formalmente conhecer a Deus. O assunto sobre Deus é o ponto de contato
entre eles e os crentes verdadeiros. Então, estes últimos, sem o verdadeiro
conhecimento de Deus, são mais facilmente enganados pelos falsos obreiros.
Quando os falsos profetas e mestres se afirmam “crentes” em Deus, falam
daquilo que qualquer outro pagão falaria. Todavia, eles não têm real
conhecimento experimental de Deus. Sua fé consiste simplesmente na
admissão de que Deus existe, mas eles não falam coisas corretas a seu
respeito. Eles têm religiosidade, mas falta-lhes experiência pessoal com o
Senhor.
Na igreja contemporânea, existem muitos mestres e seguidores que estão
numa igreja considerada evangélica, mas tanto sua teoria (teologia) como
sua prática (ética) são afetadas pela corrupção. Há um sentido em que a
igreja contemporânea é pior do que a do tempo de Paulo, porque estamos
caminhando, a passos largos, para o tempo do fim, no qual a apostasia
haverá de prevalecer no meio da igreja confessante. Espero que Deus livre
sua igreja local e também a você de serem apenas confessantes formais. O
que é importante para você é ser um confessante que ensine e viva em
consonância com os fiéis ensinamentos das Santas Escrituras.

13. OS FALSOS MESTRES NEGAM


O CRISTIANISMO POR SUAS OBRAS

Tt 1.16b — “entretanto, o negam por suas obras”

A palavra “entretanto” está em oposição à confissão feita formalmente


pelos falseadores da revelação verbal, que afirmavam “conhecer a Deus”.
Existem dois problemas sérios na vida desses homens: (i) eles não seguiam
a teoria correta; (ii) e, ainda que fossem muito religiosos, apegavam-se às
tradições dos homens. Além disso, a prática deles também era equivocada
— aquilo que eles professavam formalmente com a boca era contraditado
por seu proceder.
O Deus verdadeiro era negado pelas obras que os falsificadores da
verdade realizavam. A palavra grega para “negar” é arneomai,
correspondente a “recusar, desconsiderar ou repudiar”. Essa negação pode
manifestar-se, pelo menos, de duas maneiras: (i) eles podiam crer em Cristo,
mas opor-se ao reconhecimento de que Jesus era o Filho de Deus encarnado,
negando sua plena humanidade, inclusive sua fisicalidade (1Jo 2.22); (ii)
eles podiam opor-se ao reconhecimento de que os crentes não precisavam de
cuidados daqueles que estavam sob sua guarda, que eram piores do que os
incrédulos (1Tm 5.8).
Em geral, a prática deles divergia da teoria da confissão deles. Todavia,
não devemos considerá-los inconsistentes. Por quê? Porque aquilo em que
eles realmente criam era falso — e, nesse caso, a prática deles combinava
com a teoria errônea formal deles. Eles professavam falsamente com a boca,
mas negavam a profissão com as obras. Em outras palavras, suas crenças
errôneas combinavam com sua prática errônea.

14. OS FALSOS MESTRES


SÃO PESSOAS DE PÉSSIMO CARÁTER
Tt 1.16c — “é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra”.
O caráter dos falsos mestres/profetas é descrito por Paulo através de três
termos com sentido negativo e contundente: abomináveis, desobedientes e
reprovados.
14.1. ELES ERAM ABOMINÁVEIS
A palavra grega para “abomináveis” é βδελυκτοὶ (bedluxtoi), que traz
consigo a ideia de algo detestável e nojento. Os falsos mestres são
considerados pessoas sem qualquer respeitabilidade, e Deus não mede
palavras para desqualificar o caráter deles. Deus não é um assassino de
caráter (como, frequentemente, os homens podem ser). Ocorre que, por
conhecer perfeitamente o interior e as intenções dos falsos profetas, é capaz
de emitir um juízo exato sobre aquilo em que creem e o que fazem.
14.2.ELES ERAM DESOBEDIENTES
O termo grego para desobedientes é ἀπειθεῖς (apeitheis), referente
àqueles que se recusam a ser persuadidos. “O termo se refere à
desobediência, que é o resultado da falta de confiança em ser persuadido.”65
Os falsos profetas e os falsos mestres insistem em desobedecer aos preceitos
de Deus: “Esses falsos profetas, que professam conhecer a Deus, não são
persuadidos pela clareza da Palavra de Deus”.66
14.3. ELES ERAM REPROVADOS

“e reprovados para toda boa obra.”

A palavra traduzida como reprovados é adokimos, que significa alguma


coisa que, embora testada, não passou no teste. Em resumo, adokimos diz
respeito àquilo que é indigno, espúrio, desqualificado, corrupto e não
aprovado: “A palavra adokimos era comumente usada a respeito de metais
que eram rejeitados pelos refinadores, por causa das impurezas. Os metais
impuros são descartados, de modo que adokimos passou a abarcar o sentido
de indignidade e inutilidade”.67 O termo era igualmente usado para descrever
um soldado que, covardemente, falhava no teste, na hora da batalha, ou para
descrever o candidato a um ofício que os cidadãos em geral consideravam
inútil.68
As boas obras dos falsos mestres/profetas não são dignas de aceitação,
pois não são confiáveis e, quando trazidas diante de Deus, não cumprem as
exigências divinas.
2Tm 3.8-9 — “E, do modo por que Janes e Jambres resistiram a Moisés, também estes resistem
à verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia,
não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a
daqueles”.

Janes e Jambres tentaram apresentar obras, mas não passaram no teste,


porque resistiram à verdade. As obras, ainda que pareçam boas diante dos
homens, não passam pelo crivo das Escrituras, porque são praticadas por
quem não crê na verdade de Deus. A verdade de Deus é condição
indispensável para a aceitação de uma obra.
Os falsos profetas/mestres não conseguiam praticar boas obras. Quando
tentavam fazer qualquer coisa boa aos próprios olhos, não conseguiam
agradar a Deus, pois eram reprováveis em tudo o que faziam. Eles não
conseguiam praticar aquilo que somente os remidos praticam. Eles não
conseguiam alcançar o padrão das verdadeiras boas obras dos
regenerados/convertidos, que são feitas em Cristo.
CONCLUSÃO
Você e eu, que somos ministros da Palavra, devemos esforçar-nos ao
máximo para pôr em prática as palavras de Paulo a respeito dos
falsificadores da revelação verbal:
Faça todo o possível para silenciá-los. (Tt 1.11)

Faça todo o possível para repreendê-los severamente. (Tt. 1.13)


Veja o exemp lo descrito em Colossenses 2.16-23.
Veja Efésios 4.14.
Veja 2Timóteo 3.13.
Veja 1Timóteo 4.1.
Esses eram os judaizantes. Veja Gálatas 1.6-9.
Albert Barnes. Disp onível em: http s://biblehub.com/commentaries/barnes/titus/1.htm. Acesso em: outubro de 2019.
Meyer’s New Testament Commentary. Disp onível em: http s://biblehub.com/commentaries/titus/1-12.htm. Acesso em: outubro
de 2019.
Jamieson-Fausset-Brown Bible Commentary. Disp onível em: http s://biblehub.com/commentaries/titus/1-12.htm. Acesso em:
outubro de 2019.
D. Thomas, “The Sins Of The Sect And The Sins Of The Tribe”. Disp onível em:
http s://biblehub.com/commentaries/homiletics/titus/1.htm. Acesso em: outubro de 2019.
Charles Colson e Ellen Santili Vaughn, Kingdoms in Conflict. William M orrow/Zondervan Publishing House/Grand Rap ids,
1987, p . 47.
Veja 1Timóteo 1.4 e 2Timóteo 4.4.
J. Hamp ton Keathley, III, “Instruction Concerning False Teachers in the Church”. Disp onível em:
http s://bible.org/seriesp age/instruction-concerning-false-teachers-church-titus-110-16. Acesso em: outubro de 2019.
Ibidem.
Em todas as outras p assagens em que ap arecem os termos apeithes e epeitheia (desobediência), o contexto sugere desobediência
a Deus, p rincip almente em contraste com a fé. (O. Becker, New International Dictionary of New Testament Theology
[Zondervan, Grand Rap ids, 1986], edição eletrônica, 1999.)
Disp onível em: http s://bible.org/seriesp age/instruction-concerning-false-teachers-church-titus-110-16. Acesso em: out. 2019.
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/titus_116. Acesso em: out. 2019.
Ibidem.
PARTE III | O ENSINO DE
PEDRO SOBRE A
FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
14 | PEDRO ADVERTE SOBRE
OS FALSOS PROFETAS

P
edro ensina as mesmas coisas que Paulo sobre os falsos
profetas/mestres, pois ambos têm o mesmo padrão de verdade, que é
de Deus.
2Pe 2.1-3 — “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá
entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao
ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o
caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras
fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme”.

1. OS FALSOS PROFETAS SURGIRÃO


NO MEIO DO POVO DE DEUS

2Pe 2.1a — “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas [ψευδοπροφῆται], assim
também haverá entre vós falsos mestres [ψευδοδιδάσκαλοι]”.

A referência ao surgimento dos falsos profetas está associada aos que se


levantaram no Antigo Testamento contra a verdade de Deus. No entanto,
Pedro afirma que o que aconteceu no Antigo também haveria de acontecer no
meio do povo de Deus, no Novo Testamento.
A palavra usada por Pedro para “falsos mestres” é pseudodidaskalos, ou
seja, aqueles que falsamente se apresentam como portadores da verdade,
mas distorcem o ensino de Cristo. Eles repetem exatamente o que os
pseudoprofetas pregam.
Temos testemunhado o surgimento de muitos falsos profetas ao longo da
história da Igreja. Jesus Cristo alertou para a manifestação desses falsos
profetas. Entretanto, as Escrituras mencionam a manifestação de um falso
profeta final que fará um trabalho de engano mundial. As referências ao
Falso Profeta final são bastante claras na Escritura, especialmente pelo
apóstolo João, tanto em suas cartas como no Apocalipse. Esse Falso Profeta
final encarnará todas as formas de engano que levarão muitas pessoas crer
em suas mentiras. Muitos segmentos da Igreja cristã cairão nesse engano —
a Escritura diz que “alguns apostatarão da fé” (1Tm 4), porque a apostasia
só é possível dentro da Igreja cristã.

2. O LUGAR NO QUAL OS FALSOS PROFETAS


E OS FALSOS MESTRES SÃO ENCONTRADOS
Pedro usa uma palavra genérica que serve tanto para crentes convictos como
para crentes sem justa convicção: “no meio do povo”. Todavia, que povo é
esse a que Pedro se refere? Certamente, eles não são necessariamente
remidos, mas estão no meio da Igreja confessante.
Os falsos profetas e os falsos mestres já não são mais encontrados com
frequência no meio das igrejas liberais da América ou da Europa. Essas
igrejas praticamente já são apóstatas, exceto umas poucas congregações
locais. Eles não precisam trabalhar nesses lugares, porque ali as pessoas já
são enganadas. Entretanto, Arthur Pink diz que
os falsos profetas devem ser encontrados nos círculos dos mais ortodoxos, e eles fingem ter um
amor cheio de fervor pelas almas, mas, fatalmente, iludirão multidões a respeito do modo de
salvação.69

A finalidade dos falsos mestres e profetas é trazer conservadores ou


ortodoxos para a fé que abraçaram. Eles querem tirar essas pessoas daquilo
que aprenderam na Escritura e torná-las apóstatas, como muitas já são em
nossa geração. Isso porque há muitos conservadores na igreja que não têm
entendimento da doutrina. Seu conservadorismo está atrelado à tradição de
costumes e às práticas religiosas. Eles apenas simpatizam com o que
ouviram dos ministros conservadores e não têm firmeza doutrinária. Esses
são os alvos de ataques dos falsos mestres e falsos profetas. Eles querem
perverter a mente dos crentes incautos, falsificando a revelação verbal de
Deus.

3. O MODO COMO OS FALSOS PROFETAS


E MESTRES TRABALHAM NO MEIO DO POVO
2Pe 2.1b — “os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras”.

Quando os falsos mestres/profetas se imiscuem no meio do povo, assumem


um comportamento que não deveria passar despercebido. Entretanto, porque
eles agem de forma dissimulada, conseguem ocultar suas reais intenções. A
princípio, eles concordarão com o que está sendo ensinado no meio da
igreja, sem propor mudanças teológicas. Eles contam com uma agenda
secreta, que não é revelada, pelo menos inicialmente. Eles são muito
espertos e trazem mensagens atrativas nas quais introduzem,
dissimuladamente, erros misturados com a verdade. A princípio, eles
pregam coisas práticas que não têm implicação teológica importante. O
veneno deles é injetado num “combo” encantador de verdades que traz,
subjacente, o erro, para destruir as almas dos homens. Por causa de sua
simpatia e amabilidade solícita, eles conseguem a atenção das pessoas na
igreja. Quando chegam ao ponto de ensinar na igreja, então começam a
mostrar suas garras, anunciando, de forma imperceptível e sutil, a doutrina
errônea.
A palavra grega traduzida como dissimuladamente é pareisago, que
também pode ser traduzida como “secretamente”, “disfarçadamente”,
“maliciosamente” ou ainda “sub-repticiamente”, portando falsas intenções.70
Em outras palavras, os falsos profetas/mestres são uma espécie de espias
que se dissimulam no meio do povo, trabalhando no campo inimigo de modo
a não serem percebidos. O trabalho deles no meio do povo de Deus é sutil:
falam a respeito de Deus e até mesmo de Jesus, mas não se agarram
firmemente à totalidade do ensino escriturístico. Podemos dizer que sua
terminologia é boa, mas eles a usam para ludibriar os crentes incautos.
Pedro diz o que já havia sido dito por Paulo e Jesus. Os falsos mestres e
profetas conquistam a simpatia dos irmãos fracos por meio de dissimulação.
Aproveitando a fraqueza teológica de muitos crentes, os falsos mestres
penetram no meio do povo com suas motivações secretas. A princípio, eles
afirmam crer nas coisas que os crentes creem, até terem uma oportunidade
para ensinar o povo de Deus. Nesse momento, as reais intenções podem ser
detectadas — pelo menos pelos mais robustos na fé. Então, para muitos
fracos, já terá sido tarde.
Perceba que, hoje, a maioria dos evangélicos está em igrejas nas quais o
nome “Jesus” é usado, mas eles não conseguem discernir se o que os
ministros da Palavra dizem é a verdade. Então, é mais fácil enganar aqueles
que não têm um bom conhecimento da Escritura. Esse é o caso da maioria
dos crentes que estão em algumas igrejas evangélicas. Os pastores usam o
nome de Cristo, mas não são fiéis aos ensinamentos do Mestre.

4. OS FALSOS PROFETAS INTRODUZIRÃO HERESIAS DESTRUIDORAS NO MEIO DO


POVO
2Pe 2.1c – “os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de
renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”.

4.1. O SIGNIFICADO DE “HERESIA DESTRUIDORA”


A palavra grega hairesis, traduzida como heresias, não tinha,
originalmente, uma conotação má ou de uma doutrina errônea. Significava,
primariamente, uma escolha e, então, aquilo que era escolhido era
considerado uma opinião pessoal.71 Todavia, porque as ideias esposadas
eram frequentemente substitutas da verdade, o termo hairesis veio a denotar
ensinos errôneos ou heresias.72 Observe-se que, no versículo em estudo, o
termo hairesis vem acompanhado de um qualificativo muito forte, com uma
conotação de “erro muito perigoso”. Pedro chama essas heresias de
“destruidoras”.
A palavra grega traduzida como destruidoras é ἀπωλείας (apoleias), que
significa aquilo que conduz à destruição. Tanto pessoas como pensamentos
podem ser destruídos. Uma heresia pode causar grande dano a quem a
sustenta. Essas “heresias” mencionadas por Pedro podem conduzir a uma
separação absoluta da verdade de Deus e do Deus da verdade. Por isso, são
chamadas “destruidoras”.73 Essa é a consequência do ensino dos falsos
profetas/mestres no tempo de Pedro.
Praticamente em todas as ocasiões em que apoleia aparece em Pedro, tem
um significado escatológico, em que o juízo de Deus não significa
aniquilação ou extinção, mas ruína; não significa a perda do ser, mas a perda
do bem viver.74
4.2. O EXEMPLO DE “HERESIA DESTRUIDORA”

2Pe 2.1d — “até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”.

Uma heresia não é somente uma crença errônea, mas também uma prática
errônea. A teologia sempre afeta a ética. A heresia destruidora é aquela que,
quando seguida, conduz à perdição.75 Leighton afirma: “Observe
cuidadosamente que, no Novo Testamento, heresia implica falsa conduta, e
não somente opinião errônea”.76 Quando uma pessoa envereda por opiniões
errôneas, também abraça práticas errôneas que podem levar à perdição.
O verbo grego arneoma, traduzido como “renegaram”, pode ser
traduzido como negar ou não reconhecer uma pessoa. Pedro renegou o
Senhor três vezes quando disse que não o conhecia (Mt 26.34, 35, 70, 75),
mas a Escritura diz que Pedro se arrependeu amargamente (Lc 22.61-62) de
haver agido assim.
Ao que parece, ao contrário do caso de Pedro, que teve uma atitude
pontual de negação a Jesus, os falsos profetas parecem fazer dessa negação
uma constante em seu proceder. Continuamente, eles repudiam Jesus. Trata-
se de um repúdio deliberado da pessoa do Senhor que afirmava ser o Filho
de Deus. John MacArthur Jr. sugere que essa negação inclui alguns aspectos
muito importantes, que devem ser tidos como “heresias destruidoras”, como
a negação de seu nascimento virginal, da divindade, da ressurreição
corporal e sua segunda vinda. O erro básico dos falsos profetas é que eles
não submetiam suas vidas ao governo de Cristo.77 Na verdade, essas pessoas
que negaram Jesus não são genuinamente regeneradas, nem crentes nele. Elas
faziam profissão de fé nele, mas negavam sua divindade, rejeitando quem ele
afirmava ser.
A negação de Cristo pode ser algo pontual e perdoável, como aconteceu
com o apóstolo Pedro, mas uma negação continuada é motivo de condenação
séria. Jesus diz: “Aquele que me negar diante dos homens, também eu o
negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.33).
4.3. OS FALSOS PROFETAS RENEGARAM O SOBERANO SENHOR

2Pe 2.1e – “até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”

Os falsos profetas/mestres são ousados. Provavelmente eles não têm ideia


de quem é o Deus verdadeiro! O texto emprega uma palavra muito forte a
respeito de Deus. Ele diz que o Senhor (kyrios) é “soberano” (despotes, de
onde vem a palavra déspota). Um despotes é aquele que tem um governo
absoluto ou uma autoridade irrestrita, o possuidor e dono indisputado de
todas as coisas.78
É incrível a petulância dos falsos profetas/mestres ao desafiar a
soberania do Senhor Jesus, ensinando coisas diferentes e contrárias ao que
ele sempre ensinou! Eles não sabem o que os espera quando a ira de Deus se
manifestar contra eles! Deus é um soberano (despotes) muito longânimo, que
retarda, por muito tempo, a manifestação de sua ira contra os falsos profetas.
Nesse sentido, ele “é tardio em se irar”. Entretanto, eles, com certeza, serão
violentamente punidos quando o tempo decretado estiver prestes a se
cumprir.
4.4. OS FALSOS PROFETAS RENEGARAM AQUELE QUE OS RESGATOU

2Pe 2.1f — “até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”

O verbo grego traduzido como “resgatar” é agorazo. Esse verbo era


usado a respeito das transações feitas num mercado — lugar no qual os
escravos eram vendidos ou comprados. Um exemplo típico desse uso está
registrado no primeiro evangelho:
Mt 13.44 — “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo
homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e
compra [ἀγοράζει] aquele campo”.

Na Grécia antiga, os lugares em que as coisas eram resgatadas ou


compradas se chamava ágora. Era o lugar ou espaço no mercado em que as
transações eram feitas publicamente.
A grande questão que devemos levantar é: Em que sentido o Soberano
Senhor resgatou esses falsos mestres? Se você for um libertário, vai afirmar
que ele morreu por todos os homens, sem exceção, mas não é isso que o
texto ensina. Se você quiser imprimir seriedade na análise desse versículo,
terá de seguir outro caminho, um caminho diferente daquele que é proposto
pelos libertários. Não se esqueça de que os falsos mestres/profetas são
pessoas ligadas à igreja, ou seja, membros confessos nela. Elas estão no
meio do povo de Deus e professam sua fé nele desfrutando as bênçãos pelo
convívio com os crentes. Entretanto, suas teologia e prática divergem
daquelas dos cristãos genuínos. Eles se beneficiam dos privilégios de
receber bênçãos pela convivência com os cristãos, sendo resgatados de
procedimentos imorais, mas, assim mesmo, se insurgem contra os
ensinamentos do Senhor Soberano, negando-o. A passagem, da forma como a
entendo, quer dizer que Jesus Cristo havia livrado os homens da imundície
moral e religiosa, por meio da convivência com os cristãos genuínos.
Entretanto, eles não reconheceram o que Jesus fez por eles, tampouco seu
ensino e sua ética. Eles desprezaram aquele que os havia retirado da miséria
moral.
Vários comentadores de tendência libertária entendem que o “resgate” diz
respeito ao sangue remidor. Esses falsos profetas haviam sido objeto do
amor redentor de Jesus, mas caíram desse amor ao rejeitar o Soberano
Senhor. Entretanto, esse não pode ser o sentido do verbo agorazo em 2Pedro
2.1. É fato que o verbo agorazo é usado em um contexto de redenção de
pecados. Essa redenção tem a ver com aqueles que, pela graça, têm-se
tornado crentes, verdadeiros beneficiários da redenção de Cristo. Entretanto,
em muitos estudos, na passagem de 2Pedro 2.1, o verbo agorazo não está
tratando da redenção pelo sangue. Quando os falsos profetas negaram o
Senhor soberano, estavam desprezando o fato de eles terem sido arrancados
da imoralidade da sociedade, mas desprezaram a verdade sobre Jesus e
impuseram seu próprio ensino errôneo. Eles não perderam a salvação, mas,
sim, o bem-viver que haviam adquirido.
Sobre esse bem-viver, podemos dizer, com John Piper, que “ser resgatado
por Cristo significa libertar-se do domínio das paixões sexuais, as quais
conduzem a preocupações e relações sexuais ilícitas”.79 Negam o Soberano
Senhor aqueles que foram libertos de práticas libertinas e, em vez de
seguirem os preceitos da Escritura, voltam-se contra a doutrina de Cristo.
Quando uma pessoa se liberta da escravidão de determinados
comportamentos, diz-se que foi “resgatada”. Entretanto, pela negação da
verdade daquele que a resgatou, ela peca contra o Soberano Senhor.
Resgatada, mas rebelde! Essa triste realidade é exemplificada por Pedro em
sua segunda carta:
2Pe 2.20 — “Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos,
tornou-se o seu último estado pior que o primeiro”.

Os falsos profetas a quem Pedro se refere tornaram-se piores quando


conheceram a verdade. Ao rejeitá-la, eles tiveram seu estado pior do que no
tempo em que não tinham contato com a verdade. Aqueles que negam o
Soberano Senhor, depois de haverem sido resgatados dos vis procedimentos
pelo conhecimento da verdade, são considerados aqueles que “voltam ao seu
próprio vômito” ou como “a porca lavada que volta a revolver-se no
lamaçal” (2Pe 2.22).
Hoje em dia, existem muitos ministros evangélicos que se rebelam contra
o ensino de Cristo, mesmo estando no meio de “irmãos na fé”. Eles são
abençoados com esse fato, mas têm dificuldade para confessar uma fé sadia.
Eles preferem outro evangelho. Certamente, eles receberão punição da parte
de Deus, por seus ensinos falsos. Por isso, é muito importante que os
ministros da Palavra permaneçam fiéis ao Evangelho de Cristo, para que não
venham a negá-lo por suas obras.

5. OS FALSOS PROFETAS TERÃO MUITOS DISCÍPULOS


2Pe 2.2a — “E muitos seguirão as suas práticas libertinas”.

Esses falsos profetas/mestres trazem prejuízo tanto a si mesmos como aos


seus ouvintes. A pregação e o ensino falsos nunca deixam de impregnar as
almas dos ouvintes. O texto diz que muitos seguirão suas palavras, pois, em
geral, eles são agradáveis e conseguem conquistar seus ouvintes. Por isso, os
falsos mestres e os falsos profetas sempre têm admiradores, pessoas que se
encantam com seus ensinos. Muitos crentes não somente ouvem as palavras
dos falsos profetas e mestres, como também acabam por seguir suas práticas
libertinas, acompanhando sua teoria e sua ética.
A palavra grega traduzida como práticas libertinas é ἀσελγείαις
(aselgeiais), também entendida como licenciosidade, sensualidade ou
libertinagem.80 Essa palavra grega é usada para denotar o uso desenfreado de
imoralidade sexual ou excesso de lascívia. John MacArthur Jr. assevera que
aselgeia “refere-se a uma licenciosidade total, ausência de todo o
refreamento moral, especialmente na área de pecados sexuais”.81
O que havia de libertinagem na época em que Pedro descreve tem havido
em nossa presente sociedade. A presente geração é libertina. No entanto, o
que mais assusta é que essa aselgeia tem atingido muitos evangélicos que
são falsos profetas e falsos mestres. Consequentemente, por falsificarem a
revelação verbal, acabam eles também se mostrando libertinos em suas
práticas sexuais imorais. Muitos têm caído vergonhosamente em pecado. É
comum a má teologia conduzir à má ética!

6. OS FALSOS PROFETAS TRARÃO


VERGONHA AO EVANGELHO

2Pe 2.2b — “e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade”.

O comportamento teológico errôneo dos falsos profetas influencia o modo


como a verdade de Deus é vista entre os homens em geral.
“O caminho da verdade [aletheia]”: Essa expressão aponta para a
trajetória da verdade ao longo dos séculos. Quando existem falsos profetas,
eles fazem com que o evangelho seja infamado, ou seja, que perca sua boa
fama.
“Será infamado”: O verbo traduzido como “infamar” é βλασφημέω
(blasfemeo), que também pode entendido como “desonrar”, “falar contra” ou
“perverter”. O verbo blasfemeo significa, portanto, dizer coisas de um modo
desrespeitoso que diminui e denigre a reputação de algo ou de alguém.82 Em
outras palavras, Pedro está dizendo que, por causa do estilo de vida
libertino de algumas pessoas que se dizem cristãs, o mundo que os observa
julgará toda a Igreja e a verdade de Deus pela conduta daqueles que
falsificam a verdade. Em consequência, a fama do cristianismo fica
diminuída. Os falsos profetas prejudicam a trajetória da verdade na história
da Igreja. Por causa da teoria e da ética dos falsos profetas, o pensamento do
mundo a respeito da verdade do evangelho fica alterado. Em geral, os
homens zombarão daquilo em que os crentes creem.
Tt 1.16 — “No tocante a Deus, professam conhecê-lo; entretanto, o negam por suas
obras; é por isso que são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra”.

Há muitos que se dizem cristãos, mas o comportamento deles desdiz o que


afirmam em sua confissão de fé. Eles “professam conhecer Deus”, mas
negam Deus pelo que fazem. Isso está muito evidente no comportamento
ético-moral de muitos que se dizem ministros da Palavra. Por isso, trazem
desonra ao evangelho.
Os cristãos nominais, sejam eles homens ou mulheres, por causa da
desobediência, podem trazer má fama à palavra de Deus. Veja o que
acontece quando as senhoras casadas não obedecem aos mandamentos de
Deus. Paulo diz que elas “difamam [βλασφημέω] a Palavra de Deus” (Tt
2.5). Além disso, Paulo fala aos cristãos nominais o que trazia desonra ao
nome de Deus:
Rm 2.23-24 — “Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Pois, como
está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa”.

Os falsos profetas e mestres, por meio de “suas doutrinas destruidoras”,


fazem com que Deus seja desonrado [βλασφημέω] no meio dos gentios, que
é palavra indicativa de “incrédulos”. Portanto, eles que se cuidem, pois
haverão de receber o juízo de Deus quando menos esperarem!

7. OS FALSOS PROFETAS SERÃO AVARENTOS


2Pe 2.3a — “também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias”.

A palavra grega traduzida como “avareza” é pleonexia, que, literalmente,


“significa ter mais e mais e, assim, ter um forte desejo de adquirir cada vez
mais posses materiais, especialmente o que é proibido. É um desejo de ter
mais sem se importar com as necessidades alheias. Assim, o termo sempre é
usado em sentido negativo, descrevendo egoísmo insaciável”.83 Sempre
houve homens avarentos. E, no tempo do Novo Testamento, vemos que
Simão, o Mágico (At 8.18-20), tinha desejos de poder e de amor pelo
dinheiro.
Os falsos profetas que gostam de dinheiro, que amam a prata, sempre
procuram para si os confortos e poderes que o dinheiro pode trazer. O amor
ao dinheiro é a raiz da qual procedem outros males. O maior mal que pode
acontecer é a idolatria do poder pela aquisição de bens. Mamon é o deus
deles (Mt 6.24)!
Cuidemos para não cair no pecado em que frequentemente os falsos
profetas caem. O que move o trabalho profético deles é o dinheiro que tiram
daqueles que os ouvem. Eles exploram a credulidade dos crentes nominais
(e até mesmo dos crentes sérios, mas que não conhecem devidamente a
Escritura Sagrada). Muitos há na igreja contemporânea que são
exploradores, nutrindo amor indevido por dinheiro/poder.
“Farão comércio de vós”: Em outras palavras, os falsos profetas se
aproveitam da ingenuidade teológica dos crentes para que eles sejam
financeiramente manipulados. Então, esse tipo de crente abre o bolso e põe
lenha no fogo da avareza dos falsos profetas. Estes, através do falso ensino,
exploram a boa-fé dos crentes. E, enquanto eles próprios enriquecem, os
crentes incautos ficam mais pobres.
A expressão “com palavras fictícias” [do grego, plastos] nos dá a
entender a astúcia dos falsos profetas. Eles cativam os crentes fracos na fé,
dirigindo-lhes palavras fictícias, ou seja, palavras forjadas que não são a
expressão da verdade. São palavras inventadas e fabricadas para enganar
doutrinariamente os fracos. São palavras mentalmente montadas para
ludibriar as presas do engano. Os falsos profetas e mestres não retiram suas
palavras da tota scriptura (a totalidade das Escrituras), porque, se o
fizessem, seriam contraditados por elas. Eles até se servem da Escritura,
mas sua hermenêutica é tendenciosa, pois eles têm a finalidade de enganar.
São charlatães espirituais, falseando tudo que dizem aos crentes imaturos.
Esse é o modus operandi dos falsos profetas e mestres enganadores.
Portanto, ministros da Palavra (e cristãos em geral!), tenham cuidado com
aqueles que são falsos! Como saber que são falsos? Examine o que eles
ensinam e pregam, e peçam a Deus um vislumbre de discernimento
espiritual.

8. OS FALSOS PROFETAS SERÃO PUNIDOS COM A MORTE POR CAUSA DE SUAS


HERESIAS

8.1. O DECRETO DA PUNIÇÃO DOS FALSOS PROFETAS É DE LONGO TEMPO

2Pe 2.3b — “para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não
dorme”.

O que aconteceu com os profetas do passado, com aqueles que sofreram


punição divina, também acontecerá com os falsificadores da revelação
verbal que vivem no presente. Desde há muito, o juízo já está lavrado e
certamente acontecerá. Deus já pronunciou antecipadamente esse juízo.
Como os do passado, os falsos profetas de hoje também se comportam de
forma vergonhosa, mas sem sentir, eles próprios, vergonha do que fazem.
8.2. O DECRETO DA PUNIÇÃO DIZ QUE ELA NÃO FALTA

2Pe 2.3c — “para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não
dorme”.
Todos os crentes verdadeiros têm ânsia de ver Deus manifestando seu
juízo sobre os homens maus, mas, algumas vezes, parece que Deus tarda na
aplicação de sua ira.
Há um ditado popular que diz: “Deus tarda, mas não falha”. Há um
sentimento de que ele é verdadeiro. Deus pode demorar na manifestação de
seu juízo, mas certamente virá. A ação de punição “não dorme”, ou seja,
“não está morta”. No tempo apropriado, Deus mostrará seu desagrado contra
os que falsificam sua revelação verbal.
8.3. O DECRETO DIZ QUE ELES SERÃO ENVERGONHADOS
O profeta Jeremias repete duas vezes a mesma triste verdade sobre o
primeiro destino dos falsificadores da revelação verbal: eles haveriam de
ser envergonhados. E os falsos profetas passarão por isso porque Deus
haverá de mostrar ao mundo que eles estão errados. Eles serão
desmascarados. Esse o primeiro juízo que Deus vai exercer sobre eles. Veja
o que Jeremias diz duas vezes:
Jr 6.15 e Jr 8.12 — “Serão envergonhados porque cometem abominação sem sentir por isso
vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se. Portanto, cairão com os que caem; quando
eu os castigar, tropeçarão, diz o S ”.

Esses dois versos de Jeremias mostram quão descarados eram os falsos


profetas. Eles pecavam abertamente e não sentiam vergonha disso. Em outras
palavras, Jeremias diz que a “vergonha” não fazia parte do vocabulário
deles. No entanto, por causa desse comportamento descarado e sem-
vergonha, eles receberão um castigo mais severo da parte de Deus. O castigo
de serem envergonhados diante dos próprios homens é suave em relação à
destruição definitiva que lhes está reservada. Quando eles pensarem que está
tudo bem com eles, que nada lhes acontecerá por causa de sua libertinagem,
Deus fará com que eles sejam destruídos repentinamente.
8.4. O DECRETO DIZ QUE ELES SERÃO DESTRUÍDOS REPENTINAMENTE

2Pe 2.3d — “e a sua destruição não dorme”.

A palavra grega para dormir é nustazo, que dá a ideia de algo que está
dormente, mas que se levantará. Pedro está dizendo que a destruição dos
ímpios não é algo que está no esquecimento indefinido. A destruição tem
sido deixada para o tempo apropriado, mas não permanecerá adormecida.
Quando o tempo determinado por Deus chegar, então a destruição deles
acontecerá com intensidade.
Pedro também está dizendo que haverá destruição para os falsos
profetas/mestres. A palavra grega para destruição é apoleia, que pode
referir-se à destruição de pessoas, objetos ou instituições. Entretanto, esse
termo não significa extinção ou aniquilação. Ele aponta para uma punição
divina que já teve início neste presente tempo (como a separação de Deus e
a ruina sem esperança!), mas que terá sua manifestação última e definitiva no
tempo apropriado do final, quando os falsos profetas/mestres serão lançados
no lago de fogo, onde também se encontram a Besta do Mar e o Falso
Profeta, juntamente com Satanás. Essa destruição é eterna, sem qualquer
possibilidade de reversão!
A argumentação anterior, no texto de Pedro, mostra que a destruição será
quando os falsos profetas não estiverem esperando. Essa situação será uma
surpresa para eles porque será repentina, sem aviso prévio. Veja o que
Pedro diz:
2Pe 2.1c — “trazendo sobre si mesmos repentina destruição”.

Como a punição divina parece tardar, os homens pensam que nunca


acontecerá. Por essa razão, eles se demoram em seus pecados e, de forma
voraz, caem na prática de pecado. Veja o que diz o Pregador:
Ec 8.11 — “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos
dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal”.

Entretanto, no tempo predeterminado por Deus, a vingança destruidora


virá repentinamente. E os ímpios serão surpreendidos em meio à prática do
mal. Então, já não restará mais esperança para eles!
Citado em comentário on-line sobre o texto em estudo. Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11. Acesso
em: jul. 2018.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11. Acesso em: jul. 2018.
Observe que o termo hairesis é encontrado várias vezes no Novo Testamento, mas nem semp re com a ideia p rimária de ser um
ensino necessariamente errôneo (veja At 5.17; 15.5; 24.5, 14; 26.5; 28.22). Perceba que, em todos esses textos, a p alavra
hairesis é traduzida como “seita”, ainda que nem semp re seja sinônimo de heresia, no sentido atual do termo. Veja ainda outros
textos: em 1Coríntios 11.19, o termo hairesis é traduzido como “p artidos”); em Gálatas 5.20 (hairesis é traduzido como
“facções). Nessas p assagens, o termo hairesis não significa algo necessariamente errôneo.
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11. Acesso em: out. 2019.
Das 18 ocasiões em que a p alavra grega apoleia é usada no Novo Testamento, em cinco está p resente em Pedro (2Pe 2.1 [2x];
2Pe 2.3; 3.7, 16 [3x]).
Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11. Acesso em: out. 2019.
Adam Clarke. Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11. Acesso em: outubro de 2019
Leighton, R.;Thomas, G. 1, 2 Peter. The Crossway Classic Commentaries. Wheaton, Ill.: Crossway Books.
MacArthur Study Bible. Disp onível em: http s://www.p recep taustin.org/2_p eter_21-11.
A p alavra despotes (soberano) ap arece várias vezes na Escritura, como uma referência a Deus. Veja Lucas 2.29; Atos 4.24;
1Timóteo 6.1 e ss.; 2Timóteo 2.21; Tito 2.9; 1Pedro 2.18; 2Pedro 2.1; Judas 1.4; Ap ocalip se 6.10.
Disp onível em: http s://www.the-highway.com/agorazo_Ellis.html. Acesso em: out. 2019.
Das dez vezes em que a p alavra aselgeia ap arece no Novo Testamento, três delas estão em Pedro: 2Pedro 2.1 (traduzida como
“p ráticas libertinas”); 2Pedro 2.7 (traduzida como “libertino”) e 2Pedro 2.18 (traduzida como “libertinagens”).
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_p eter_22-3#2:2. Acesso em: jul. de 2018.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_p eter_22-3#2:2. Acesso em: jul. 2018.
Disp onível em: http ://www.p recep taustin.org/2_p eter_22-3#2:2. Acesso em: jul. de 2018.
PARTE IV | O ENSINO DE
JUDAS SOBRE A
FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
15 | JUDAS ADVERTE SOBRE
OS FALSOS PROFETAS

Jd 3–4 – “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa


comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a
batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Pois certos
indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente
pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça
de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.

E
mbora Judas não tenha usado o termo apostasia, vamos nos referir
ao ensino de Judas sobre os falsos profetas chamando-os de
apóstatas. Sua carta é, basicamente, sobre a falsa profecia em seu
tempo. Por intermédio de Judas, percebemos quanto Deus odeia o ensino e a
profecia que pervertem sua verdade.

1. OS DESTINATÁRIOS DE JUDAS QUANDO ELE ESCREVIA SOBRE APOSTASIA


Jd 3a — “Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos estas coisas [...]”.

Os leitores dessa carta são aqui chamados amados, um termo comum que os
escritores da Bíblia usam para se dirigir a eles. Seria muito precioso se nós,
ministros da Palavra, tivéssemos em alta consideração aqueles a quem
pregamos, chamando-os de “amados”. Todavia, essa palavra nunca deveria
ser usada sem envolver a verdadeira afeição do coração. A sinceridade do
que dizemos a respeito dos irmãos da igreja faz toda a diferença. Eles são
capazes de perceber muito bem quando somos insinceros no tratamento que
dispensamos a eles. Portanto, não use essa expressão quando não os tiver em
alta conta!
A esses amados, Judas se esforça para escrever a respeito da comum
salvação deles. Os amados compartilhavam com Judas salvação idêntica.
Não importa se Judas era irmão de Jesus ou se ocupava outra posição de
honra. O que Judas está dizendo é que ele era beneficiário da mesma
salvação.
2. A OBRIGAÇÃO DA CORRESPONDÊNCIA
DE JUDAS ACERCA DA APOSTASIA

Jd 3.b — “[...] acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-
me convosco [...]”.

Judas viu-se na “obrigação” de escrever para “batalhardes pela fé que uma


vez por todas foi entregue aos santos”.
2.1. A COMPULSÃO DA CORRESPONDÊNCIA
Judas se viu na obrigação, certamente por uma compulsão divina, de lhes
comunicar alguns fatos que estavam acontecendo na vida das comunidades
cristãs. Ele se viu levado por uma compulsão forte e inexplicável — uma
compulsão que o texto não explica. Certamente, era o Santo Espírito que o
levava a essa compulsão (veja 1Co 9.16), pois é quem inspira os escritores
da Bíblia. Judas estava sendo levado ou pressionado internamente a escrever
aquelas palavras. E ele não pôde fugir dessa tarefa. Seu trabalho de
“correspondência por obrigação” tinha a ver com a situação dos campos
missionários fora da Palestina.
2.2. O CONTEÚDO DA CORRESPONDÊNCIA

Jd 3c — “[...] exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi
entregue aos santos”.

Judas reconhece que sua carta é uma “exortação”. Ao mesmo tempo que
ele quer consolar seus leitores, também deseja adverti-los em relação aos
maus obreiros que estão no meio do povo de Deus.
a) O significado de “batalha”
Jd 3c — “exortando-vos a batalhardes, diligentemente”.

A batalha referida por Judas significa “a batalha por algo com grande
força, que merece ser defendido com unhas e dentes”.
A luta do cristão na esfera da verdade é contra Satanás, o pai da mentira.
Estamos numa guerra pela pureza da fé. Você tem de entender isso. Hoje,
Satanás, através de vãs filosofias, procurar desviar a ideia de verdade em
nosso mundo. A verdade é algo não essencial para a vida hodierna. A
verdade não importa. Portanto, devemos defender, de forma ferrenha, a
verdade. Esse é o maior problema que o cristianismo enfrenta hoje: a defesa
da verdade.
O que mais me deixa triste na Igreja contemporânea é ver ministros que
não dão importância à verdade, e que não se importam em lutar contra a
falsa doutrina. O que importa para eles é apenas a vida prática. Não importa
o conteúdo da crença. Assim, eles apresentam um quadro confuso do que o
cristianismo realmente é. Mas, aqui, Judas está dizendo que devemos lutar
pela fé que nos foi entregue; do contrário, os falsos mestres haverão de
destruí-la, transformando em libertinagem a graça de nosso Senhor (v. 4).
Essa é uma luta que deve prosseguir até que o Senhor volte.
Espero que você se sinta encorajado a aprender a fé cristã e a lutar por
ela. Queira ou não, você está no meio dessa batalha, ainda que não pegue em
suas armas. Todavia, se você não é um soldado da verdade, logo poderá ser
atingido pela espada da mentira.
O verbo grego usado para “batalhardes” (epagonizesthai) tem raiz na
palavra agon, de onde vem a palavra em língua portuguesa agonia. É um
tipo de luta que leva à agonia, ao sofrimento de uma batalha real. Na
verdade, o crente deve estar num local de batalha, onde se exige dele o
sacrifício agonizante da luta contra as trevas. Essa batalha exige
determinação, sacrifício e perseverança. Veja o uso similar desse termo na
Escritura:
1Tm 6.12 — “Combate [Αγωνίζου] o bom combate [ἀγῶνα] da fé. Toma posse da vida
eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas”.

Combater o bom combate da fé significa fazer a sua defesa, a defesa do


conjunto de verdades reveladas, na luta contra a apostasia. É uma batalha
que exige muito esforço por parte dos ministros da Palavra, causando, assim,
uma espécie de agonia.
b) O modo como se luta na batalha
Jd 3d — “exortando-vos a batalhardes, diligentemente”.

Ao longo dos séculos, a verdadeira Igreja de Cristo tem enfrentado essa


batalha com muito esforço. Essa é a ideia de “diligentemente”. Essa luta não
é fácil, pois não é contra carne e sangue, mas contra as forças espirituais do
mal, que querem perverter a verdade que Deus nos entregou. O esforço nessa
batalha é tão grande que, com alguma frequência, causou derramamento de
sangue.
c) O alvo da batalha é a defesa da fé
Jd 3e — “exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi
entregue aos santos”.

A luta na qual os crentes se encontram não tem o propósito de defesa em


relação aos ataques promovidos por outros homens; nem de proteção
daqueles que se encontram em posições de autoridade; tampouco é para
proveito próprio. Sua luta consiste em defender a verdade que lhes foi
entregue.
Veja o significado da palavra fé:
Aqui, fé nada tem a ver com confiança pessoal em Cristo, mas, sim, com o
conjunto de verdades que Deus nos entregou, para que lutássemos por ele.
Perceba que essa fé foi entregue “de uma vez por todas”. Isso significa que
ela nos foi dada de uma vez só, de modo definitivo. Não há nada mais a ser
acrescido a ela: trata-se da Palavra revelada de Deus, o evangelho de
Cristo, o corpo de doutrina que Deus nos deu, pelo qual devemos lutar.
Veja que essa fé precisa ser defendida:
O cristão precisa defender essa fé, no sentido de ela jamais ser adulterada
ou corrompida! Nada novo pode ser acrescentado a ela. A fé é imutável,
pois a Bíblia é completa. Toda nova doutrina que aparece como nova
revelação é falsa. Não tenha medo de dizer isso. Lute pela fé bíblica.
Veja que você não pode acrescentar ou diminuir nada da fé:
Dt 4.2 — “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que
guardeis os mandamentos do S , vosso Deus, que eu vos mando”.

Pv 30.5-6 — “Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam. Nada
acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso”.

Por esses dois versos, entendemos que a batalha pela fé implica que o
conjunto de verdades dado por Deus não pode ser alterado. Deus não
permite que sua palavra, a palavra registrada nas Escrituras, sofra algum
acréscimo ou decréscimo. A palavra de João em Apocalipse 22.18 é um
exemplo mais particularizado da importância dessa matéria.
Você, como defensor da fé, não deve permitir que algo seja acrescentado
à verdade já afirmada por Deus de uma vez por todas. Nada deve ser
colocado além do que Deus já disse. Esse é um meio de defender a pureza
da verdade de Deus. Contemporaneamente, temos várias tentativas de
pessoas que não estão satisfeitas com a Palavra escrita. Elas sempre
aparecem com a ideia de uma nova revelação. Com a autoridade que a
própria Escritura lhe dá, você deve dizer que essa pessoa não acredita na “fé
que, uma vez por todas, foi entregue aos santos”.
A palavra “entregue” está no aoristo, que significa uma ação terminada
no passado. Essa revelação sobrenatural de Deus foi dada de modo
definitivo. Ela não se repete. Portanto, não existem novas revelações ou
novas doutrinas. A revelação de Deus já está completa. Nada mais deve ser
acrescido a ela.

3. A PENETRAÇÃO DOS APÓSTATAS


Jd 4a — “Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação [...]”.

Em geral, não é um só indivíduo que se imiscui no meio dos crentes. Eles


não trabalham isoladamente. Eles não são uma ilha no deserto. Um apóstata
isolado não afeta ninguém. Ao lado das igrejas, os apóstatas invadem os
seminários. E, ao arruinarem os seminários, eles produzem apóstatas que
causam ruína às suas igrejas. Eles se infiltram em igrejas locais, ensinando
falsas doutrinas. Mas, por ora, não é a ameaça de perseguição que deve
preocupar a igreja. Essa vem depois. A primeira providência dos apóstatas é
tentar fazer você pensar diferente da crença histórica da Igreja. Em primeiro
lugar, a apostasia penetra na liderança e, em seguida, entre os membros da
igreja.
Judas afirma que os apóstatas se introduzem dissimuladamente. O plano
sutil dos falsos profetas e mestres é a infiltração. O verbo grego aqui
empregado não se faz presente em nenhum outro lugar do Novo Testamento.
É uma palavra rara que tem a ver com astúcia, esperteza e alegações sutis.
Por exemplo, esse termo é usado em sentido legal para falar de alguém que
pleiteia um caso com esperteza ou malícia, ou de alguém que permite que
essa espécie de coisa se infiltre na mente de um juiz ou de um júri de modo
ardiloso. É a ideia de fazer “penetrar secretamente”, de modo a ocultar a
natureza verdadeira e enganar.
É exatamente assim que os apóstatas se comportam. Eles não aparecem
anunciando: “Olhem, eu sou um herege, e gostaria de me unir à igreja de
vocês”. Sua ideia consiste em “penetrar sorrateiramente, sem se fazer
percebido”. Os apóstatas penetram na igreja e ficam ao lado dos cristãos.
Eles fingem que creem, mas são falsificações de Satanás e desejam destruir
a verdade de Deus. Essa infiltração já havia começado nos dias de Judas,
sob o rótulo de gnosticismo. Os apóstatas se haviam infiltrado na igreja e
estavam começando a semear mentiras a respeito de Jesus Cristo. Essa
forma de ataque tem ocorrido ao longo dos séculos e, ainda hoje, é o método
que utilizam.

4. A DESCRIÇÃO DOS APÓSTATAS


Jd 4c — “[...] homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus, e
negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.

Judas caracteriza os apóstatas da seguinte forma: eles são ímpios,


pervertedores da graça divina e negadores de Cristo. Há algum sentido em
que o verso 11 é uma repetição dessa parte final do verso 4.
Jd 11 — “Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim e, movidos de ganância, se
precipitaram no erro de Balão, e pereceram na revolta de Core”.

Caim ilustra a impiedade da apostasia; Balaão exemplifica a perversão


da graça em direção ao pecado; e Core, por sua vez, a negação do líder
indicado por Deus (que é uma figura de Cristo).
4.1. O CARÁTER DELES

“homens ímpios”

Isso é o mesmo que apóstatas que não têm reverência alguma por Deus.
Eles sempre falam de Deus, mas, na verdade, são ímpios. Eles não têm lugar
para Deus em suas vidas, nem lugar para sua Palavra. Eles negam a Deus o
direito de dizer o que ele disse. Você até pode esperar um apóstata dizer:
“Creio em Deus e sou um de seus servos, mas não creio na Bíblia como sua
revelação”. Essa afirmação é inconsistente. Como alguém pode crer em
Deus se não crê no que ele diz?
A palavra “ímpio” indica que os apóstatas são pessoas heréticas e ateias.
Eles podem falar de Deus, e até mesmo pregar a respeito dele, mas negam o
Deus verdadeiro. Eles alegam ser ministros de Deus, mas suas vidas
mostram que eles não vivem piamente.
4.2. A CONDUTA DELES

“[...] transformam em libertinagem a graça do nosso Deus [...].”

Uma possível perversão da graça de Deus é a ilegalidade. Uma pessoa


pode tomar o perdão gracioso de Deus e torcê-lo até fazer o que quiser e
viver pecando, sem levar em conta a lei de Deus. Por exemplo: “Estou
debaixo da graça; Deus vai perdoar-me. Então, eu faço o que quero”. Essas
pessoas buscam a livre graça de Deus para fazer o que querem, como uma
desculpa para o pecado. A palavra grega usada aqui é aselgeias.
O aselges é o homem que está tão perdido para a honra, para a decência e
para a vergonha que não se preocupa quando alguém vê seu pecado e sua
imoralidade. Não significa que ele, arrogante e orgulhosamente, se pavoneie
do pecado; significa apenas que ele pode, publicamente, fazer as coisas
desavergonhadamente, pois cessou, em definitivo, de se preocupar com a
vergonha e com a decência. Sem dúvida, esses homens estavam tingidos pelo
gnosticismo. O gnosticismo era aquela linha de pensamento que estabelecia a
ideia de que somente o espírito é bom, e que a matéria é essencialmente má.
Se isso é assim, significa que o corpo é essencialmente mau. E, se isso é
assim, não importa o que o homem faz com seu corpo; visto que ele é mau,
suas luxúrias e seus desejos podem ser satisfeitos e fartos, porque não tem
importância alguma o que é feito com o corpo. Além disso, esses homens
criam que, visto que a graça de Deus é ampla o suficiente para cobrir
qualquer pecado, um homem pode pecar à vontade. De qualquer modo, ele
será perdoado; e, quanto mais ele peca, mais vê a manifestação da graça;
portanto, por que se preocupar com o pecado? A graça vai dar um jeito nele.
A graça está sendo pervertida na tentativa de justificar o pecado.84
Hoje, algumas pessoas no cristianismo são extremamente lenientes com o
pecado na igreja e costumam dizer: “Jesus Cristo vai perdoar todos esses
comportamentos”. Esse tipo de pessoa é que favorece o surgimento da
homossexualidade no seio da igreja e tenta minimizar o problema, dizendo
que a graça divina perdoa. Esses são pervertedores da graça de Deus. Não é
difícil encontrar pessoas que pensam dessa forma e que têm tentado
perverter a graça de Cristo. Essa é uma característica da apostasia que
começa a assolar a igreja evangélica em geral.
4.3. AS NEGAÇÕES DELES

“[...] e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.

Os apóstatas sempre negam a divindade de Cristo, alegando que ele era


meramente um homem. Essa é a doutrina mais aviltante que existe. Os
liberais que pervertem essa doutrina estão lutando contra o cerne do
cristianismo e contra o caráter de Deus.
a) Eles negam o governo do Soberano Senhor
A palavra grega para “soberano” é despotes, que diz respeito a alguém
que tem um poder absoluto.85 Esse termo aparece várias vezes com
referência a Deus e seu Cristo. Aqui, em Judas, o termo se refere à soberania
de Cristo. Obviamente, os apóstatas negavam que Cristo fosse o soberano
absoluto do universo.
b) Eles negam o senhorio de Cristo
Além de usar a palavra despotes, Judas também usa outro termo para
aludir ao governo absoluto de Cristo. A palavra para “Senhor” é kurios, um
título de honra e essencial de Jesus Cristo. Entretanto, os apóstatas não
honravam Jesus como Soberano e como Senhor. Eles queriam trazer Jesus
simplesmente ao nível humano.
Sempre houve movimentos na história da Igreja que encontraram
dificuldade com essa matéria, em virtude da ênfase que a teologia deles
atribui ao humanismo libertário. Em nosso meio evangélico, há algumas
pessoas que não conseguem enxergar em Cristo uma soberania soteriológica
absoluta. As definições últimas de salvação cabem, na conta deles, ao que
eles chamam de livre-arbítrio humano, ou seja, um libertarismo que,
necessariamente, conduz a uma negação da soberania e do senhorio de Jesus
Cristo.
c) Eles negam o caráter salvador de Jesus
A palavra “Jesus” significa salvador de seu povo (Mt 1.21), mas os
liberais e outros apóstatas de nossa época querem que Jesus seja apenas um
exemplo ou, no máximo, um mártir. Eles não creem no sacrifício expiatório
substitutivo dele. Eles não creem na redenção de pecados daqueles por quem
ele morreu. Qualquer efeito da obra redentora de Cristo depende do
exercício da fé por parte dos homens. É a fé deles que chancela a obra de
Cristo. É lamentável que essa inversão doutrinária ainda esteja vigente na
Igreja de Deus, depois de mais de dois mil anos de cristianismo!
d) Eles negam a messianidade de Cristo
A palavra “Cristo” significa ungido de Deus, e os apóstatas negam seu
caráter messiânico-libertador. Portanto, os apóstatas negam a soberania de
Cristo, seu senhorio, seu caráter salvador e sua messianidade. Não é de
espantar, portanto, que Judas tenha sido compelido pelo Espírito a advertir
seus leitores a respeito da apostasia e dos apóstatas.

5. O COMPORTAMENTO DIFAMATÓRIO
DOS APÓSTATAS

5.1. OS APÓSTATAS DIFAMAM PESSOAS

Jd 8 — “Ora, estes, da mesma sorte, quais sonhadores alucinados, não só contaminam a carne,
como também rejeitam governo e difamam autoridades superiores”.

Quando os apóstatas não creem na verdade que os cristãos pregam, tentam


destruir seu caráter e aniquilar sua reputação. Essa é uma prática bastante
comum por parte dos apóstatas quando se veem confrontados de forma
inteligente pelos cristãos. A difamação é o pecado daquele que não tem
força para vencer os que sobrepujam os apóstatas com a verdade.
Com a expressão “[os apóstatas] rejeitam governo e difamam autoridades
superiores”, o texto está falando de um governo justo composto de
autoridades que procedem de forma irrepreensível. Os apóstatas não gostam
de ninguém que esteja em posição de autoridade sobre eles e, por isso,
denigrem sua imagem.
5.2. OS APÓSTATAS DIFAMAM IDEIAS

Jd 10 — “Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que
compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem”.

Os apóstatas denigrem as pessoas, mas não somente isso. Eles denigrem


as ideias em relação às quais não podem ser vencedores. O texto fala que
eles difamam aquilo que não entendem. De fato, somente os que têm a graça
iluminadora de Deus é que conseguem entender corretamente a revelação
divina. Como os apóstatas estão sem a luz de Deus, difamam “a fé que foi
entregue aos santos”. Eles falam mal do evangelho da graça de Deus.
Difamar pessoas vem de difamar ideias.

6. A IMITAÇÃO QUE OS APÓSTATAS


EM RELAÇÃO AO PASSADO
Judas compara a apostasia de seu tempo à apostasia ocorrida no passado de
Israel.
Jd 11 — “Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se
precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá”.

Judas mostrou aos seus leitores, nos versículos 5-7, que a apostasia não
era uma coisa nova; era algo tão antigo quanto a desobediência dos filhos de
Israel no deserto (v. 5), o pecado dos anjos (v. 6) e a imoralidade de
Sodoma e Gomorra (v. 7).
Deus sempre julgou a apostasia e continuará a fazer isso. Judas mostra
três casos do julgamento de Deus sobre a apostasia.
Nos versículos 8-13, ele aplica a atitude de juízo de Deus aos apóstatas
do presente.
No passado, a primeira geração de Israel murmurou contra Deus e foi
destruída. Eles foram apóstatas no deserto; e não creram em Deus. Houve
anjos que corromperam sua natureza e abandonaram seu estado original, e
foram julgados por sua apostasia. Também as cidades de Sodoma e Gomorra
se apartaram da verdade. Por isso, praticaram homossexualidade e Deus as
destruiu.
Judas está comparando os apóstatas de seu tempo aos do passado.
Quando um apóstata chega ao fim inevitável de sua apostasia, polui a carne
como Sodoma e Gomorra fizeram; ele despreza autoridade como os anjos
desprezaram e blasfema contra Deus como os filhos de Israel blasfemaram.
Judas diz que as coisas verdadeiras a respeito dos apóstatas no passado
ainda são verdadeiras hoje. A expressão da mesma sorte significa que
aqueles falsos mestres (“sonhadores”) estão fazendo as mesmas coisas. É
impressionante observar como os apóstatas continuam a se comportar, ainda
que a Bíblia diga coisas terríveis sobre a apostasia.

7. A CONDENAÇÃO DOS APÓSTATAS

Jd 4b — “[...] os quais desde há muito, foram antecipadamente pronunciados para esta


condenação [...]”.

A condenação é pronunciada de antemão, ou seja, “escrita de antemão” (do


grego progegrammenoi). Algumas pessoas têm distorcido esse versículo
para dar a entender que os apóstatas não tiveram escolha, ou seja, que eles
teriam sido ordenados por Deus para ser apóstatas. Mas não é isso que o
texto quer dizer. O texto não trata de um decreto, mas de uma proclamação
antecipada da condenação dos apóstatas, por causa de seus ensinos errôneos.
Esse termo grego aparece apenas quatro vezes e não é traduzido como
“ordenado”, exceto em Judas. Consequentemente, a palavra deveria ser
traduzida como “foram antecipadamente pronunciados para a condenação”.
Em outros termos, a apostasia foi predita como algo condenado muito tempo
atrás. Judas diz que a condenação dos apóstatas foi pronunciada por Deus
muito tempo atrás.
William Barclay, The Letters of John and Jude (Philadelp hia: The Westminster Press, 1960), 211-12.
Veja o comentário do mesmo termo despotes no texto de 2Pedro 2.1, analisado anteriormente.
PARTE V | O ENSINO DE JOÃO
SOBRE A FALSIFICAÇÃO DA
REVELAÇÃO VERBAL
16 | JOÃO ADVERTE SOBRE OS
FALSOS PROFETAS

D
e todos os escritores do Novo Testamento, João talvez seja o que
mais enfatiza a questão da apostasia, ou seja, o abandono da
verdade. Todavia, ele não usa o termo apostasia em suas cartas.
Ele recorre a um vocabulário singular que, até então, não era conhecido. Ele
chama os falsificadores da revelação verbal de “anticristos”.
Um anticristo, segundo o ensino de João, é aquele que apresenta uma
doutrina falsa sobre Cristo, ensinando inverdades a seu respeito, com o
propósito de denegrir sua real essência humana ou mesmo divina.
Em nenhum outro lugar da Escritura encontramos os termos anticristos e
anticristo. São termos típicos e exclusivos de João, em suas cartas. Também
não os encontramos como equivalentes a Besta do Mar ou Homem da
Iniquidade, como historicamente tem sido crido, mesmo entre os reformados.
João ensina algumas coisas sobre o anticristo ou falso profeta final em
suas cartas, que serão estudadas em capítulos subsequentes.

CONCLUSÃO
Você consegue compreender a seriedade do pecado da apostasia? Jesus
disse: “Aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante
de meu Pai que está nos céus” (Mt 10.33). Você não pode negar a divindade
soberana de Cristo, seu senhorio, seu caráter redentor ou sua messianidade e
ainda pensar que isso não significa muita coisa (2Tm 2.12; Tt 1.16). Não era
em vão que Judas estava preocupado com a apostasia. E a Igreja também
deve se preocupar.
Nesse contexto, você pode perguntar: “Como posso batalhar
diligentemente pela fé que, uma vez por todas, foi entregue aos santos?”
Um modo de fazer isso é dando suporte aos ministros que firmemente
honram a fé sem comprometê-la. Outro modo é dando testemunho da
veracidade da Bíblia em palavras e atos, pois, se as pessoas não percebem
isso em sua vida, vão duvidar da veracidade da Palavra de Deus. Outra
forma ainda é defendendo a fé ao treinar mais pessoas que vão lutar por ela.
Não tenha medo de defender a fé. Deus não precisa de defensores, mas a
fé que ele nos entregou precisa ser preservada por causa das gerações
futuras, e para que Deus seja honrado em sua verdade. Portanto, siga as
instruções do Pregador: “Filho meu, se deixas de ouvir a instrução, desviar-
te-ás das palavras do conhecimento” (Pv 19.27).
17 | OS NOMES DO FALSO
PROFETA FINAL

O ensino sobre os falsos profetas é abundante na Escritura. Entretanto, não


devemos nos esquecer de que os falsos profetas existentes em todas as
épocas são uma espécie de amostra do Falso Profeta Final, o qual ocupará a
atenção da igreja genuinamente cristã nos dias imediatos que precedem a
vinda de Cristo. Ele conduzirá todos os homens do mundo (exceto os
cristãos genuínos) a um tipo de culto nunca dantes praticado na história da
Igreja. Primeiramente, ele ajudará no ensino de que todas as religiões são
falsas e as exterminará; em segundo lugar, ele preparará o caminho de
entrada do Homem da Iniquidade no cenário religioso mundial. Será um
tempo muito difícil para a igreja de Cristo; mas será, também, um tempo
onde a igreja verá a sua maior glória, porque sofrerá por amor ao seu
Redentor.
Vejamos os vários nomes que esse Falso Profeta Final recebe nas
próprias Escrituras:

1. O FALSO PROFETA É CHAMADO


DE “BESTA DA TERRA”
O livro profético de Apocalipse nos aponta dois personagens
importantíssimos nos dias que precederão a vinda do Senhor. Ele as chama
de bestas. A primeira besta, que é chamada de “Besta do Mar”, pode ser
identificada como o “Homem da Iniquidade”. Ela será objeto de adoração de
todos os homens, exceto dos genuínos crentes. A segunda besta, que é a
“Besta da Terra”, é equalizada no próprio texto da Escritura ao Falso
Profeta.
Ap 16.13 – “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três
espíritos imundos semelhantes a rãs.”

Nesse texto, estão presentes três pessoas importantes no cenário final:


Satanás (que é o Dragão, a antiga serpente), a Besta do Mar (que pode ser
identificada com o Homem da Iniquidade), e o Falso Profeta (que é a Besta
da Terra, como veremos posteriormente).
Essa tríade da malignidade será responsável pelo maior engano
doutrinário da história. Eles levarão a totalidade da humanidade (exceto a
genuína igreja cristã) a ter uma só religião, onde a Besta do Mar será
adorada. Será uma religião universal, como nunca houve antes sobre a face
da terra. O elemento responsável pela disseminação desse erro doutrinário é
o Falso Profeta final, porque ele é o agente teológico da Besta do Mar. O
Falso Profeta levará o mundo a um pensamento totalmente contrário ao que
existe hoje, mesmo em todas as religiões mundiais.
Estas três pessoas – o Falso Profeta, a Besta do Mar e Satanás –
compõem a chamada “Trindade da Maldade”. Nesse pensamento, alguns
dizem que:
Satanás – ou o dragão – é a falsificação do Pai; a Besta do Mar é a falsificação de Cristo e o
Falso Profeta é a falsificação do Espírito Santo. Um dos ministérios do Espírito Santo é
glorificar a Cristo e conduzir o povo a confiar nele e a adorá-lo. O Falso Profeta apontará para
a Besta do Mar e compelirá o povo a adorar Satanás adorando a Besta.86

Essa alegoria pode até ser interessante; mas, ela está longe de ser
verdadeira, porque não existe identidade essencial entre a primeira pessoa e
as outras duas. Elas são de naturezas diferentes. Satanás é um ser espiritual,
enquanto que as outras duas são seres humanos. Essa tentativa de igualá-las à
trindade pode diminuir a noção desta como o que é eterno, e onde as três
pessoas são coessenciais.
1.1. A PROCEDÊNCIA DESSA BESTA

Ap 13.11a – “Vi ainda outra besta emergir da terra.”

Emergir da terra significa ter origem no mundo. A Besta da Terra não é


um ser extraterrestre, não será um ser espiritual, e sim um ser humano,
dotado de poderes espetaculares e extraordinários, incomuns!
O profeta Daniel usa a mesma linguagem, quando diz que os animais “são
quatro reis que se levantarão da terra” (Dn 7.17). João disse, em
Apocalipse 1.5, que Jesus é “o soberano dos reis da terra”. Isso significa
que esses reis se levantarão de nações existentes na época, mas que estarão a
serviço do Dragão, como a Besta da Terra. Provavelmente, essa besta será
um líder religioso (não um rei) deste mundo, mas com a força da primeira
besta e com a arrogância de Satanás.
Ap 13.11a – “Vi ainda outra besta emergir da terra.”

Há duas bestas no livro de Apocalipse. Elas são seres humanos e têm a


mesma essência. A palavra grega “allos” significa “outra” besta mas “da
mesma espécie”. Ela possui a mesma capacitação demoníaca que a primeira
besta para o cumprimento dos propósitos malignos de Satanás.
Além disso, as duas bestas são homens reais agindo debaixo da atuação
do Maligno, pois são seus servos diretos. Eles compõem o que alguns
estudiosos costumam chamar de “a trindade ao reverso”. Três pessoas (uma
da esfera angélica e duas de origem humana) com propósitos impuros. O
Falso Profeta e a Besta que emerge do mar atuam em um ambicioso plano
satânico de engano. Eles são comissionados, não atuam sob sua autoridade,
tão pouco procuram agradar a si mesmos. Assim como a primeira besta
emergirá do mar, a segunda besta emergirá da terra.
Provavelmente, a origem religiosa do Falso Profeta esteja dentro do
próprio cristianismo, apóstata àquela altura, pois ele será um homem
religioso. Ele será um profeta. Portanto, um pregador; um ministro que
professa, a princípio, ser seguidor de Jesus Cristo, mas que depois se aparta
totalmente dele.
O Falso Profeta é um agente de Satanás para o engano. Seu papel é o de
difundir a adoração ao Homem da Iniquidade e finalmente ao próprio
Satanás. Seu ministério profético será reconhecido entre os homens, muito
em virtude da operosidade de seus atos. Semelhante ao modo como a
Escritura se refere ao verdadeiro profeta de Deus (o Messias), o Falso
Profeta será apresentado aos homens como operador de grandes milagres.
1.2. A APARÊNCIA DA BESTA DA TERRA

Ap 13.11b – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo
cordeiro.”

O fato de a Besta da Terra possuir “chifres” e “parecer um cordeiro” nos


remete ao pensamento sobre Jesus. Jesus foi o maior dos profetas de Deus, e
foi dito que ele era o “Cordeiro de Deus”. O Falso Profeta se assemelhará
ao Cordeiro com dois chifres. Cordeiros, no entanto, não possuem chifres
para demonstrar autoridade; são animais mansos e gentis. O Falso Profeta, a
princípio, parecerá inocente e sem intenção de causar qualquer dano ao povo
de Deus. Ele parecerá um seguidor de Jesus Cristo como líder religioso. Ele
não aterrorizará ninguém no início de suas funções religiosas. Muitos
cristãos pensarão que ele não terá nada a ver com o erro teológico; mas se
assemelhará, à princípio, a um pregador com boas intenções. É curioso que
as potestades das trevas sempre parecem ter alguma coisa que nos remete às
potestades da luz. Daí a ideia de se parecer um cordeiro.
Os dois chifres na cabeça do Falso Profeta (Besta da Terra) vistos por
João simbolizam poder. Esses chifres indicam que o Falso Profeta possui
grande poder de influência sobre os homens em geral; e, especialmente,
sobre muitos membros das igrejas que haverão de ser enganados. O poder
dele não deve estar vinculado com política, e sim com aspectos religiosos,
pois o seu papel é de engano teológico.
Ao mesmo tempo em que seus chifres indicam poder, o Falso Profeta
apresenta uma aparência de ser manso e gentil, pois o texto diz que ele
parecia um “cordeiro”. Lembre-se das palavras de Jesus sobre os falsos
profetas:
Mt 7.15 – “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas,
mas por dentro são lobos roubadores.”

O Falso Profeta é um homem que, aparentemente, não causa mal a


ninguém. Um homem devoto, de origem profundamente religiosa.
Não levará muito tempo para que o Falso Profeta mostre as suas reais
intenções. Com sua aparência de cordeiro, ele acabará falando “como um
dragão”. Ele trairá a suposta confiança daqueles que haverão de pensar que
ele é manso. Ele revelará a sua verdadeira identidade; não como um profeta
de Deus, mas como um profeta das hostes do mal. Ele não ensinará a palavra
de Cristo, mas falará como um anticristo (que é a sua real identidade, pois é
falso profeta).
Quando o Falso Profeta se põe a falar, entretanto, ele se expressa
poderoso e temível, “pois fala como um dragão”. Essa expressão sugere que
ele deriva a sua linguagem do Dragão, o diabo. Essa expressão relativa ao
Falso Profeta pode ser um indicativo de que ele falará como Satanás, que é o
Dragão.
A Besta da Terra é suficientemente sutil para enganar os homens; possui,
ao mesmo tempo, a arrogância de Satanás e a humildade de um cordeiro. A
aparência que ela toma depende das pessoas que ela quer conquistar. Aos
que já pertencem diretamente ao maligno, ela se mostrar soberba e arrogante
como Satanás, para impressioná-los. De outro lado, quando quer seduzir os
religiosos deste mundo, sejam eles de origem cristã ou não, ela se porta
mansa e humilde como um cordeiro. Em outras palavras, ela intentará se
parecer com Jesus, o Cordeiro de Deus, para poder enganar os incautos que
estão teologicamente perdidos, sem saber o que é a verdade. Aliás, a noção
de verdade praticamente terá desaparecido da terra quando houver a
manifestação das duas bestas. Os homens não mais saberão o que a verdade
significa. Por essa razão, eles darão crédito à mentira.
Dando a aparência mansa e humilde de cordeiro enviado (não por Deus,
mas por Satanás), a Besta da Terra seduzirá o restante que ainda quer uma
religião diferente daquela que ela estará propagando.
1.3. A AUTORIDADE DA BESTA DA TERRA

Ap 13.11-12a – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro,
mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença.”

Indubitavelmente, o profeta do engano se manifestará com grande


autoridade sobre a humanidade incrédula e sobre a igreja que caminha para a
apostasia. A descrição da sua autoridade feita por João não deixa dúvida
disso. Os chifres, como já afirmamos, são sinais de seu poder. Os homens de
toda a terra o reconhecerão como um grande líder religioso, talvez o maior
que a humanidade conheceu, porque a religião dele será uma religião
mundial. Embora se reconheça sua autoridade, o que os homens não podem
saber, em um primeiro momento, é que ele age no engano.
(a) A autoridade do Falso Profeta procede da Besta do Mar
O mesmo que inspirou as palavras e as ações do Falso Profeta, também
deu sua autoridade a ele. A autoridade do Falso Profeta em nada é inferior à
da primeira besta. Esta, recebeu do Dragão o poder, o trono e grande
autoridade (Ap 12.2). Sendo assim, o Falso Profeta Final encontra-se
satanicamente revestido à semelhança da primeira besta, em matéria de
poder. Daí, sua capacitação na operação de sinais únicos e sua sedução e
domínio mundiais sobre a vida, sobre a religião e o comércio. Seu público
não é pequeno, envolve toda a terra, determinando que os mesmos tenham um
só governo, uma só fé e um só mercado.
O Falso Profeta será um homem religioso, cheio de poderes para operar
sinais e maravilhas. Ele fará todo e qualquer esforço para igualar a besta ao
poder e prestígio de Jesus Cristo. Este foi rejeitado pela maioria dos
homens, que provavelmente será a mesma maioria que haverá de aceitar a
Besta do Mar através da palavra e ação profética do Falso Profeta. Ele
preparará o caminho do “senhor da mundanidade” através do seu
“ministério” de profecia iníqua.
Ap 13.12a – “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença.”

Não se esqueça de identificar a primeira besta (a Besta do Mar) com o


Homem da Iniquidade mencionado por Paulo em 2 Tessalonicenses 2, pois
este é o único personagem da Escritura que se encaixa nas funções dela. Não
a identifique com o Anticristo, pois esse é o Falso Profeta (Besta da Terra).
Debaixo da autoridade da primeira besta, a segunda besta (o Falso
Profeta) fará uso de seu poder para enganar os homens. Sua aparência de
cordeiro fará com que as pessoas confiem nele e acreditem em seus
ensinamentos.
O Falso Profeta exerce toda a autoridade da primeira besta. Ele age no
mesmo objetivo da primeira besta de promover a falsa adoração. A besta
que emerge do mar tem no Falso Profeta seu aliado mais próximo, nele o seu
poder é potencializado.
Essa associação demonstra que, embora se manifestem de formas
diferentes, eles possuem substancialmente o mesmo poder. Estando na
presença da primeira besta, o Falso Profeta é sustentado, adora e cumpre a
vontade da Besta do Mar, sujeitando-se a ela para cumprir seus desígnios.
Qualquer que seja o movimento religioso, trabalhará com elementos
naturais e sobrenaturais. Isso está na constituição básica do senso religioso
do homem. É exatamente nesse aspecto que o Falso Profeta atua para exercer
o seu poder sobre a humanidade. Como líder religioso, ele trabalha aquilo
que sustenta a religiosidade humana: revelações e racionalidade. Assim, ele
dominará o coração dos homens.
(b) A autoridade do Falso Profeta procede de Satanás
Ap 13.11 – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas
falava como dragão.”

Quando o texto diz que o Falso Profeta falava “como dragão”, ele aponta
para uma autoridade que é recebida de Satanás. Somente Satanás pode ser o
autor intelectual de todo o engano. Satanás é o grande instrutor das duas
bestas. Afinal de contas, ele está por detrás de todo o engano, porque ele é o
“pai da mentira”. A sua mentira começa com o fato de que ele se apresenta
como o único deus, proclamando a sua própria adoração, e fazendo com que
a primeira besta seja adorada. A sua autoridade sobre o Falso Profeta é
muito grande. Por isso, é dito que o profeta do engano fala como um dragão e
exerce o seu poder por meio do seu mestre, Satanás. O Falso Profeta exerce
a função de precursor e introdutor da Besta do Mar. Ele não vem em nome de
si mesmo, não fala de si mesmo e nem age sob seu próprio poder.
1.4. OS FEITOS DA BESTA DA TERRA

Ap 13.11-15 – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro,
mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com
que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.
Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos
homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela
que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que
não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da
besta.”

(a) A Besta da Terra falará como dragão


Ap 13.11 – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas
falava como dragão.”

A Besta da Terra, embora se pareça com um cordeiro em alguns


ambientes, se manifestará com a violência de um dragão. Ela empurrará os
homens para abismos teológicos que eles nunca imaginariam que pudessem
estar, mesmo os mais distantes da religião. Eles serão coagidos
externamente, pela força da autoridade da Besta da Terra, a fazerem coisas
que nunca imaginaram fazer. A Besta do Mar se imporá e os homens a
atenderão.
Entretanto, cederão diante da força dela por questões de conveniência,
por que, do contrário, não poderão sequer comprar ou vender, como veremos
posteriormente.
(b) A Besta da Terra exercerá o poder da Besta do Mar
Ap 13.12a – “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença.”

A Besta do Mar, que será poderosíssima, emprestará o seu poder ao seu


auxiliar imediato, que é a Besta da Terra. Esta, para mostrar a sua lealdade à
primeira besta, fará seus milagres na presença dela. Ela mostrará serviço
àquela que a arregimentou para exercer a função de ser seu tenente. A
primeira besta ficará obscura até o tempo devido de se manifestar
abertamente. Todavia, mesmo enquanto não houver a revelação da Besta do
Mar (Homem da Iniquidade), a operação do erro já existirá para enfeitiçar
os homens, ganhando deles a confiança para que a religião mundial seja
estabelecida.
A Besta da Terra terá, inclusive, autoridade para matar os que se
rebelarem contra a primeira besta ao não se submeterem à ela.
(c) A Besta da Terra conduzirá à adoração da primeira besta
Ap 13.12b – “Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida
mortal fora curada.”

A função de ensinar falsamente, mas com autoridade satânica, levará os


seres humanos existentes na terra a um comportamento homogêneo de
adoração da primeira besta. A Besta da Terra será a promotora do maior
culto pagão da história humana, muito maior do que a adoração aos
imperadores romanos, porque terá um caráter universal. O Falso Profeta é o
responsável religioso do curto, mas violento, império da primeira besta.
Todas as atividades religiosas, então, serão conduzidas pela Besta da Terra.
Será uma adoração oficialmente mundial àquela altura. Ninguém escapará
desse tipo de adoração da primeira besta.
Além disso, os homens adorarão a primeira besta porque eles não
acolherão o “amor da verdade”. Eles simplesmente farão coisas que estão de
acordo com a operação do erro (2Ts 2.10-12).
(d) A Besta da Terra operará grandes sinais
Ap 13.13 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens.”

A Besta da Terra tem o importante papel de promover a adoração da


Besta do Mar pela força dos seus milagres. O Falso Profeta falará como
dragão (Ap 13.11), possuindo a empáfia e o poder do pai da mentira, e usará
sua força para capacitar o tenente da primeira besta a desempenhar coisas
espantosas para enganar os homens. Não se esqueça de que o Homem da
Iniquidade (que é o mesmo que Besta do Mar) também fará seus sinais sob o
poder de Satanás (2Ts 2.9).
Além de outras manifestações poderosas, o Falso Profeta se apresentará
fazendo grandes sinais, como o de “fazer descer fogo do céu à terra”. É
bom que o leitor não pense que esse fenômeno é ilusório. Não! Será um
fenômeno real, que fará com que os homens creiam na primeira besta, pois a
segunda besta age para promover a primeira. Será um fenômeno espetacular
e incomum, que confundirá os religiosos da época.
Esse fenômeno de fazer descer fogo do céu é próprio do Deus verdadeiro,
que tem domínio sobre os elementos; ele aconteceu em Sodoma e Gomorra,
quando Deus fez chover sua ira sobre o mundo caído. Elias fez descer fogo
do céu, mas sob o poder de Deus. Não há notícias que outros homens tenham
feito esse sinal. Ele será típico dos enganos do fim dos tempos. Deus já
deixou isso claro a todos os cristãos, para que eles não venham dar crédito à
mentira e abandonem a verdade.
A tentativa do Falso Profeta, com seus milagres, será de angariar
autoridade entre os homens para ser ouvido religiosamente entre eles.
(e) A Besta da Terra seduzirá os seres humanos
Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado
executar diante da besta.”

O que parece uma tarefa impossível hoje, será perfeitamente possível nos
dias que precederão a vinda de Cristo; pois, o terreno estará preparado para
isso, com a apostasia de muitos setores da igreja chamada cristã e de outras
religiões mundiais.
A besta simplesmente seduzirá os homens para uma única religião, a da
adoração à Besta do Mar, ou Homem da Iniquidade. A adoração de uma
pessoa má parece impossível hoje, mas será perfeitamente possível em
função do engano perpetrado pelo ensino da Besta da Terra, ou Falso
Profeta.
As pessoas que, àquela altura, não amarem a verdade de Deus, darão
crédito à mentira pregada pela Besta da Terra. Eles serão facilmente
seduzidos por ela em virtude dos sinais que ela fará diante deles. Mais do
que nunca, os homens serão seduzidos pelos sinais, pois as coisas
sobrenaturais é o que mais buscam! Isso acontece mesmo dentro da igreja
chamada evangélica. Muitas dessas igrejas abandonarão a fé e darão crédito
à mentira, sendo seduzidos pelos espíritos enganadores e pelos ensinos de
demônios, como afirma Paulo (1Tm 4.1).
(f) A Besta da Terra ordenará a ereção de imagens da besta
Ap 13.14b – “Dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela
que, ferida à espada, sobreviveu.”

Os homens serão ordenados pelo Falso Profeta a construírem imagens que


reflitam a Besta do Mar (ou Homem da Iniquidade). Nos tempos do Império
Romano, essa atividade era comum, pois os seus imperadores tinham
imagens de si mesmos por toda parte do Império, a fim de que fossem
adorados.
A Besta da Terra será responsável por promover formalmente a idolatria
no mundo. Ela incentivará e superintenderá toda a tarefa de construção
dessas imagens, a fim de que ela reflita a aparência da Besta do Mar, que é o
Homem da Iniquidade. Fotografias dela estarão por toda parte, a fim de que
as imagens reflitam com exatidão a sua aparência.
Esse trabalho de construção de imagens por parte dos homens será de
ordem natural, enquanto que o trabalho do Falso Profeta será sobrenatural,
porque ele dará vida a essas imagens que forem construídas para o culto à
Besta do Mar.
Nessa tarefa de construção e vivificação de imagens, o povo ímpio e o
Falso Profeta estarão batendo de frente com o ensino de Deus sobre a ereção
de imagens. Por causa disso, todos receberão o pesado juízo de Deus!
(g) A Besta da Terra comunicará fôlego à imagem da besta
Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Provavelmente, todas as repartições públicas, escolas e logradouros


públicos terão imagens da besta naquele período. Essa ação será apenas o
início das manifestações miraculosas. É importante que o leitor entenda que
essas manifestações poderosas não são ilusórias, e sim reais. Não serão
truques de mágica, serão feitas com poder sobrenatural. A realidade delas é
que tornará possível a mudança religiosa dos seres humanos da época. Eles
mudarão de qualquer uma das religiões para a religião que adorará a
primeira besta.
O Falso profeta terá a capacidade de vivificar as imagens em todos os
lugares. Essas imagens serão capazes de falar. Esse fenômeno impressionará
muito os homens, que não resistirão aos apelos religiosos do Falso Profeta e
acabarão adorando a primeira besta, de quem ele é profeta. Obviamente esse
poder não vem dele próprio, mas de Satanás.
O Falso Profeta terá autoridade de matar os homens que não adorarem a
besta. Certamente, os cristãos que estiverem vivendo àquela altura não se
dobrarão diante da imagem “vivificada” da besta para lhe adorar. Eles serão
os únicos a morrer por causa da sua fidelidade a Cristo Jesus, o Cordeiro de
Deus. Serão tempos difíceis, mas gloriosos para o povo de Deus, porque
eles serão bem-aventurados por morrer pelo nome de seu Redentor!
(h) A Besta da Terra colocará um sinal da Besta do Mar nos homens
ímpios
Ap 13.16-17 – “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos,
faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém
possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu
nome.”

A Besta da Terra terá poder de controle sobre todos os seres humanos,


quer crentes quer incrédulos. Esse controle será exercido através do poder
que lhe foi dado de estabelecer marcas sobre as pessoas. Os seres humanos
de todas as classes sociais, quer ricos quer pobres, grandes ou pequenos,
receberão uma espécie de marca na mão ou na fronte para poderem exercer
funções básicas de compra e venda. Sem ela, será uma impossibilidade o
exercício desse direito básico da sociedade.
Os cristãos que, por qualquer razão, não forem mortos, serão privados de
algumas funções básicas na sociedade, como de comprar e vender. Eles
serão os únicos sem a marca (senha) na fronte, ou em seus braços, para
poderem exercer essas atividades. Os cristãos privados da marca sofrerão
bastante nesse período, inclusive para poderem se alimentar. Serão tempos
difíceis para eles, mas tempos em que eles se sentirão honrados em sofrer
por causa do nome de Cristo!
1.5. O DESTINO DA BESTA DA TERRA

Ap 19.20 – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua
imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.”

Esse verso aponta para o destino final dos dois seres humanos mais
significativos do final da história humana.
(a) A Besta da Terra será aprisionada
A Besta da Terra será aprisionada juntamente com a Besta do Mar. Ela
estará em prisão por algum tempo junto com o seu comparsa, que é o Homem
da Iniquidade. A prisão deles será um sinal de grande vergonha para eles.
Antes, reinavam em sua maldade sobre os homens. Quando se der a prisão,
serão humilhados perante todos os que os seguiam, criam neles, e que
adoravam a Besta do Mar. Eles serão expostos à ignomínia diante de todos.
A prisão deles significa que Jesus Cristo porá um fim na tarefa da
maldade que exercem. Eles não mais enganarão as pessoas, nem terão mais
poderes para exercer os seus sinais miraculosos, nem mais perseguirão os
resgatados do Senhor. Este, os porá à vergonha diante de todos.
(b) A Besta da Terra será lançada no lago de fogo
Assim como a Besta da Terra e a Besta do Mar serão aprisionadas juntas,
elas também serão lançadas no lago de fogo, que é a condenação final. Além
disso, serão lançadas vivas dentro desse lago de terror!
Juntas, elas serão completamente derrotadas e violentamente castigadas.
Serão colocadas debaixo de um intenso calor. Eu não tenho nenhum
problema de entender esses versos de modo literal, ainda que muitas
passagens de Apocalipse possuam um sentido simbólico. Mesmo que essa
passagem seja interpretada simbolicamente, os termos usados no texto
apontam para um sofrimento físico inimaginável! Esse sofrimento será muito
grande, porque a imposição judicial de Deus será resultado da sua santidade
e justiça que não vai tolerar para sempre os pecados dos homens.
Essas duas personagens serão castigadas da mesma forma que Satanás.
Essas três pessoas receberão um tratamento especial de sofrimento, porque
não experimentarão a morte do modo como os outros homens experimentam;
elas entrarão de corpo e alma no lugar de condenação.
É significativo que todos os que não estão em Cristo terão o mesmo fim,
porque o lago de fogo nivela todos os seres espirituais e humanos no mesmo
plano. É o destino final de todos eles.
Veja os textos abaixo, que apontam para essa terrível má nova para todos
os que são opositores de Deus:
Ap 20.10 – “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre,
onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia
e de noite, pelos séculos dos séculos.”

Ap 14.10-11 – “Também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do
cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na
presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm
descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem
quer que receba a marca do seu nome.”

2. O FALSO PROFETA É CHAMADO DE “O ANTICRISTO”


O apóstolo João possui um ensino sui generis sobre a apostasia que não é
levado em conta pela maioria dos cristãos, inclusive alguns dentre os
Reformados. Muitas pessoas não têm prestado atenção à terminologia usada
pelo apóstolo e têm feito uso indevido dos termos exclusivos de João sobre
a apostasia. Trataremos aqui de modo mais extenso o ensino de João sobre o
Anticristo.
2.1. A IDENTIFICAÇÃO DO ANTICRISTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
A interpretação da palavra “Anticristo” tem sido muito variada na
história da igreja. Pessoas individuais e confissões de fé têm se apegado
mais a tradição da interpretação do que à terminologia bíblica onde essa
palavra aparece. Vejamos algumas sugestões sobre a matéria:
(a) A identificação do Anticristo com Satanás
Para muitos teólogos, o termo “Anticristo” tem sido significativo de
Satanás. Estes o têm considerado como Satanás vindo em carne, ou um
homem que se havia entregado a Satanás para fazer a sua vontade, habilitado
para fazer sinais miraculosos. Outros, chegaram a crer que o Anticristo fosse
um homem ressuscitado por Satanás para cumprir todos os seus desígnios
finais neste mundo.
Esses intérpretes nem sonham com a identificação do Anticristo com falsa
profecia e nem mesmo com o Falso Profeta Final.
(b) A identificação do Anticristo como um movimento
Durante o longo período da Idade Média, uma outra ideia ganhou corpo: a
ideia de que o Anticristo não era uma pessoa, mas sim um sistema ou
organização.
(c) A identificação do Anticristo com o papado na pré-Reforma
John Wycliffe (1331-1384), no período da pré-Reforma, cria que o
papado (como uma instituição, antes que um papa em particular) era o
Anticristo.
A partir desta suposição, dependendo do modo de vida de Cristo e do modo de vida do papa,
parece reconhecidamente fiel que o papa é o Anticristo evidente, não apenas como pessoa
individual que estabelece mais leis que são contra a lei de Cristo, mas a multidão de papas desde
o tempo da dotação da Igreja – e dos cardeais, bispos, e seus outros cúmplices. A pessoa do
Anticristo é um composto monstruoso.87

John Huss (1372-1415), o Reformador da Boêmia, que foi queimado por


sua oposição a Roma, também assumiu a mesma posição de Wycliffe.
(d) A identificação do Anticristo com o papado na Reforma
Desde o período da Reforma, as igrejas protestantes não têm permanecido
em apenas um posicionamento. As correntes oscilam entre a ideia de o
Anticristo ser uma pessoa ou uma organização. Foi mais comum, entretanto,
a ideia de o Anticristo ser uma organização (tal como o ofício do papado),
porque o inimigo comum era a Igreja de Roma.
Por exemplo, o papado era considerado como uma organização poderosa
que ensinava doutrinas errôneas, as quais foram combatidas fortemente no
período da Reforma do século XVI.
Lutero vociferou contra Roma dizendo que “nós estamos convencidos de
que o papado é a sede do verdadeiro e real Anticristo”88. E ainda:
Vocês deveriam saber que o papa é o Anticristo real, verdadeiro e final, de quem a totalidade da
Escritura fala, a quem o Senhor está começando a consumir com o espírito de sua boca e, muito
logo, destruirá com o brilho da sua vinda, pela qual estamos esperando.89

Calvino disse:
Daniel (9.27) e Paulo (2Ts 2.4) predisseram que o Anticristo haverá de se assentar no tempo de
Deus; de nossa parte, fazemos o pontífice romano o chefe e guarda-estandarte desse reino mau
e abominado. Pelo fato de que seu assento está colocado no templo de Deus, com isso quer
dizer que seu reino será tal que não extinguirá o nome de Cristo nem de sua igreja.90

Todos os outros Reformadores, seja de primeira, de segunda ou de


terceira geração, sejam eles das ilhas ou do continente, vieram a pensar da
mesma maneira que Lutero e Calvino.91
Esses intérpretes, também, nem sonham com a identificação do Anticristo
com falsa profecia, nem mesmo com o Falso Profeta Final. Eles preferem
falar de movimentos do que de pessoas.
(e) A identificação do Anticristo com o papado na pós-Reforma
Na época da Reforma, por causa dos acontecimentos históricos e da
controvérsia com Roma, o papado foi identificado com o Anticristo.
Praticamente todos os protestantes da época da pós-Reforma vieram a
assimilar esse pensamento.
Os símbolos de fé de Westminster não fugiram à regra, dando combustível
para essa interpretação entre Reformados:
Não há outro cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa
de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da
perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus. (Confissão
de Fé de Westminster, cap. XXV, VI)

No meu entendimento, o grande engano dos reformadores e pós


reformadores, incluindo os documentos de Westminster, foi o de identificar o
Anticristo com o Homem da Iniquidade, ao invés de identificá-lo
simplesmente com o Falso Profeta ou com a Besta da Terra de Apocalipse.
Essa interpretação seria justa, porque o Papa (ou o papado) sempre inventou
novas doutrinas retiradas da tradução, para o prejuízo da igreja.
(f) A identificação do Anticristo na escatologia do tempo presente
Outras pessoas além do Papa já levaram a fama de Anticristo, como
Hitler, Mussolini e Stalin. Quanto às organizações, podemos citar como
exemplos de serem identificados como Anticristo o socialismo, o
comunismo, a Rússia, a China, etc. Novamente, o Anticristo tem tido
ligações mais íntimas com o Homem da Iniquidade, e não com o Falso
Profeta Final de Apocalipse. É mais prudente, em todas as circunstâncias,
considerar o papado (ou outra organização) em relação ao ensino da
doutrina errônea, ao invés de ligá-lo à pessoa do Homem da Iniquidade ou
da Besta do Mar.
Esses intérpretes, quer sejam pessoais ou confessionais, também nem
sonham com a identificação do Anticristo com o Falso Profeta Final.
(g) A identificação do Anticristo na Escritura
Ao longo da história da igreja cristã, de maneira geral, o Anticristo tem
sido identificado com o Homem da Iniquidade, conforme o relato de Paulo
em 2 Tessalonicenses 2.3. Contudo, essa não é a ideia que a Escritura dá
daquele a quem ela chama de “Anticristo”. Há algumas verdades na
Escritura sobre o Anticristo das quais não podemos abrir mão. O Anticristo
da Escritura não é a mesma coisa que a Besta do Mar ou o Homem da
Iniquidade, e sim igual ao Falso Profeta Final mencionado por João em
Apocalipse.
Portanto, ao falar dos anticristos ou do Anticristo, você deve sempre ter
em mente aqueles que ensinam uma doutrina falsa sobre a pessoa de Cristo
ou a falsificação de qualquer outra doutrina basilar da Escritura.

3. A MENSAGEM ENGANOSA DO ANTICRISTO


1Jo 2.22 – “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o
anticristo, o que nega o Pai e o Filho.”

No entendimento de João, uma heresia do Anticristo é a negação de algum


ponto cristológico. Onde é encontrada a mensagem enganosa do Anticristo?
No entendimento de João, a mensagem enganosa está em qualquer
pregação ou ensino que nega a plena humanidade de Jesus Cristo, negando
a sua real corporeidade.
1Jo 4.2-3 – “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus
Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de
Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem
e, presentemente, já está no mundo.”
Além disso, podemos dizer que seria uma heresia do Anticristo a negação
das distinções pessoais entre o Pai e o Filho.
1Jo 2.23 – “Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem
igualmente o Pai.”

Quando João fala dos anticristos, ele tem em mente essas pessoas que
ensinavam doutrinas falsas, e não aquele personagem final que será o
Homem da Iniquidade, como faz a maior parte dos teólogos (até mesmo
alguns Reformados).

4. O TEMPO DA MANIFESTAÇÃO DO ANTICRISTO

1Jo 4.3b – “Pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que
vem e, presentemente, já está no mundo.”

A apostasia tem início no período do Antigo Testamento, mas ela é tratada


como apostasia no cristianismo já desde o primeiro século.
4.1 O ESPÍRITO DO ANTICRISTO JÁ TEM APARECIDO

1Jo 4.3b – “Pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que
vem e, presentemente, já está no mundo.”

O espírito do Anticristo diz respeito aos pensamentos falsificados da


revelação verbal que são desenvolvidos durante a história da igreja e que
apontam para o Anticristo Final. Praticamente nunca houve geração neste
mundo em que não tenha havido a manifestação do espírito do Anticristo,
que é uma manifestação em engano teológico. Essa é uma constatação
inequívoca feita por João, enquanto sofria por causa da pregação do
evangelho.
4.2 OS ANTICRISTOS JÁ ESTÃO PRESENTES NO MUNDO

2Jo 1:7 – “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam
Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo.”

Além de falar “do espírito do Anticristo”, João fala de muitos anticristos


que já estavam presentes no seu tempo. Ele chama esses anticristos de
“enganadores” que já estavam se espalhando pelas igrejas do império
romano e, especialmente, da Ásia Menor. Todos esses enganadores
ensinavam uma doutrina errônea sobre Jesus Cristo, dizendo que ele não
possuía uma plena humanidade, pois negavam uma verdadeira corporeidade
nele.
1Jo 2.18 – “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora,
muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora.”

Como outros apóstolos do Novo Testamento, João também tinha um forte


sentimento de que o tempo do fim estava chegando por causa das heresias
que começavam a aparecer. Perceba que nesse verso, ele menciona duas
vezes a expressão “última hora”. Na verdade, a apostasia é um dos sinais
que apontam para a volta do Redentor. Certamente, por causa do sofrimento
do exílio, João tinha anelos de que o tempo da volta do Senhor viesse como
consolação para os que passavam por tribulação. A perseguição já era forte
nos tempos de João e, certamente, será ainda mais forte à medida que o dia
do fim chega.
4.3. O ANTICRISTO É AINDA FUTURO

1Jo 4.3b – “Pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido
que vem e, presentemente, já está no mundo.”

O “espírito do Anticristo” se manifesta nos vários anticristos que, desde o


início do cristianismo, tem perturbado a boa ordem teológica da igreja
cristã; ele já está presente no meio das igrejas evangélicas. Na verdade,
durante todos os séculos da igreja cristã, esse “espírito do Anticristo” tem
influenciado muitas pessoas a crerem de modo incorreto.
Entretanto, João afirma com todas as letras que, além do “espírito do
Anticristo” e dos anticristos que têm aparecido, um Anticristo Final (ou o
Falso Profeta Final) ainda estava por aparecer. Parece-me que João está
falando de uma pessoa (não de um movimento) que haverá de encarnar toda
a rebeldia teológica, sendo o maior e o último dos profetas falsos; o inimigo,
por excelência, da verdade de Deus. Não se esqueça de que o Anticristo
Final virá para preparar o caminho de entrada do Homem da Iniquidade,
para que este seja adorado, culminando naquilo que a Escritura chama de
“grande apostasia”.
1Jo 2.18 – “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora
muitos anticristos têm surgido, pelo que conhecemos que é a última hora.”
Há duas abordagens interpretativas desse texto.
(a) 1ª. Abordagem
Aqueles que creem que o Anticristo será uma pessoa no futuro,
interpretam-no da seguinte forma: “Vocês têm ouvido que o Anticristo virá e,
agora, em nosso tempo, há muitos anticristos que já são precursores do
próprio Anticristo e, por isso, sabemos que sua vinda está próxima, e que
estamos no fim dos tempos.” Se interpretado dessa forma, podemos entender
que João está falando de uma pessoa futura.
(b) 2ª. abordagem
Há outros que interpretam o texto de maneira diferente: “Vocês ouviram
que o Anticristo virá antes do dia do juízo. A profecia se cumpre na aparição
de muitos anticristos e, por isso, sabemos que estamos no último tempo,
dirigindo-nos para o dia do juízo.” Enxergar desse ponto de vista aponta
para o fato de que João não cria no Anticristo como uma pessoa, mas como
uma força do mal que se mostra por meio de falsos mestres e de falsos
profetas no decorrer da história.
Qual dessas duas interpretações é a mais correta? Apenas pelo estudo
desse verso de João não é possível chegar a uma conclusão definitiva.
Comparemos esse verso com outros do mesmo apóstolo João.
1Jo 2.22 - “Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é Cristo? Este é o anticristo,
o que nega o Pai e o Filho.”

É óbvio que o apóstolo está usando a expressão “anticristo” para denotar


qualquer pessoa que sustenta um erro cristológico, como o que está
mencionado no texto. No seu tempo havia um pensamento herético conhecido
como gnosticismo. Debaixo do pensamento grego, um de seus erros era a
identificação da matéria como algo de natureza má. É por isso que os
gnósticos negavam Jesus Cristo vindo em carne. Não é sem razão que João
inicia essa carta dizendo: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido,
o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as
nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida.” (1Jo 1.1). João
enfatiza a natureza humana de Jesus Cristo, que também tem consistência
material. Contudo, muitos do tempo de João negavam a humanidade de Jesus
e, na conta dele, os que ensinavam essa heresia eram anticristos.
Obviamente, a negação do Filho levaria à negação do Pai. Porque, quem
rejeita o Filho, também rejeita o Pai. Ou, quem não tem o Filho, não tem o
Pai.
1Jo 4.2-3 – “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa que Jesus Cristo
veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e,
presentemente, já está no mundo.”

Esses dois versos dão uma ideia bem clara da negação da humanidade de
Jesus debaixo da influência gnóstica, em contraposição ao verdadeiro ensino
de que Jesus Cristo é também humano e que possui uma natureza realmente
visível (não imaginária) e palpável. Todas as pessoas que ensinavam tal
cousa, fossem falsos mestres ou falsos profetas, possuíam o “espírito do
Anticristo”, que sempre tem a ver com a heresia que, em última instância,
conduz à apostasia, ou seja, ao abandono da verdadeira doutrina. Esse
“espírito do Anticristo” já era uma realidade no tempo de João e continuou a
sê-lo nos séculos subsequentes, pois o gnosticismo durou muito tempo.
Ainda hoje, temos manifestações dessa heresia. Contudo, o ensino geral da
Escritura mostra que o “espírito do Anticristo” tem permeado a vida da
igreja e, à medida que nos aproximamos do último dia, esse espírito que não
procede de Deus invadirá o pensamento dos homens. Esses homens haverão
de negar uma grande verdade a respeito de Cristo ou haverão de distorcer o
ensino de sua Palavra. Esse espírito está muito presente em nossos dias, com
o surgimento de tantas heresias.
João dá uma indicação muito clara no verso 5, dizendo que esses falsos
profetas “procedem do mundo; por essa razão falam do mundo, e o mundo os
ouve”. À medida que o tempo do fim chega, os homens não-remidos haverão
de dar mais atenção ao “espírito do Anticristo”, que é o espírito do engano.
2Jo 1.7 - “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam
Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo.”

A tendência dos intérpretes da Escritura é a separação do “enganador” do


“Anticristo”, como se eles fossem duas pessoas ou espíritos diferentes.
Contudo, o texto, na sua totalidade, ensina que os enganadores de todos os
séculos da era cristã tipificam o Enganador, que é o Anticristo Final. É meu
entendimento desse verso, à luz do contexto das cartas de João, que os
enganadores (isto é, os que ensinam doutrinas falsas a respeito de Cristo e
de sua palavra) eram precursores do Anticristo Final. Os enganadores
precedem o Enganador, que é o Anticristo.
Não tenho qualquer problema em dizer que o Anticristo é uma força que
se expressa na vida de muitas pessoas, de cada geração, que ensinam coisas
errôneas. É possível, também, que uma pessoa futura revele o espírito do
engano de uma maneira até então desconhecida, e que faça parecer
insignificantes os anticristos anteriores. Essa pessoa levará muitíssimos da
igreja visível para a apostasia. Portanto, as duas ideias podem ser
combinadas. Sempre houve um espírito de engano na vida dos falsos mestres
e falsos profetas no decorrer da história, que vai culminar em uma pessoa
que encarnará o espírito do engano, que é o espírito do Anticristo. Esse
espírito do Anticristo, que tem atuado na história e que culminará na
revelação de uma pessoa no final, é que causa a apostasia da igreja em todas
as épocas; mas, a apostasia final será ímpar.

5. O ANTICRISTO DE JOÃO NÃO DEVE SER IDENTIFICADO COM O HOMEM DO


PECADO DE PAULO
Como vimos anteriormente, os anticristos ou o Anticristo não pode ser
identificado com o Homem do Pecado de Paulo em 2 Tessalonicenses 2.
A partícula grega “anti” pode significar o “oposto”, ou algo “falso”. A
expressão “Anticristo”, portanto, pode significar “oposto a Cristo” ou “falso
Cristo”, dentro do contexto da Escritura.
É significativo recordar que nem tudo que se opõe a Cristo pode ser
chamado de “anticristo”. Os judeus se opuseram a Cristo; assim, também, se
portou o governo romano, que o perseguiu. Essas coisas aconteceram no
tempo em que o apóstolo João escreveu a expressão “anticristo” nas suas
cartas. No entanto, João não se referiu a eles como anticristos. O Anticristo
não se refere a todos os que odeiam a Cristo e se opõem a ele, mas se refere
especificamente àqueles que apresentam um Cristo falso, com a pretensão de
adorar a Deus. João usa essa expressão “anticristo” exatamente no contexto
de falso ensino.
Todos os bons comentaristas da Escritura concordam que João escreveu
esse texto tendo em mente a heresia gnóstica. Como já vimos, parte dessa
heresia era que tudo o que era físico seria mau, e o que era espiritual seria
bom. Como consequência disso, negavam que Jesus Cristo era humano,
porque a carne possuía uma natureza física e material e, por isso, impura.
Em hipótese alguma Deus poderia ter qualquer coisa impura. Foi por essa
razão que João disse que não era de Deus aquele que negava Jesus Cristo
vindo em carne (1Jo 4.3). Nos tempos de João, essa heresia era pregada
constantemente, sem que houvesse qualquer restrição da parte da igreja já
estabelecida. Então, João toma as dores da verdade e insta aos crentes a
quem escreve a não darem guarida a esses pregadores da heresia gnóstica
(2Jo 1.7-10). Contudo, devemos lembrar que a heresia gnóstica não era algo
grosseiramente pregado. Havia sofisticação no ensino errôneo. Se não
houvesse essa sofisticação, os crentes em geral haveriam de perceber o
engano do ensino. Se os falsos mestres negassem abertamente o Filho e o
Pai, certamente, mesmos os crentes comuns haveriam de detectar, se eram
sinceros na sua fé, e não haveriam de dar boas-vindas a eles.
Em outras palavras, segundo João, para que uma organização ou uma
pessoa fosse o Anticristo não era suficiente que odiasse a Cristo e se
opusesse a ele, como já observamos. Para ser Anticristo, era preciso negar
um ponto fundamental da fé e, ainda assim, se declarar adorador e profeta do
Deus Altíssimo, o Deus dos cristãos. O Anticristo não irá contra Cristo, mas
tentará enganar o povo cristão, apresentando um falso Cristo, um Cristo que
não combina com o que a Escritura apresenta; mas, fará isso de modo que os
incautos não haverão de perceber, como historicamente já tem acontecido
mas em escala menor.
Portanto, são anticristos organizações ou pessoas que, em nome de Deus,
tratam de apresentar-nos um Cristo falso, uma espécie de imitação do
verdadeiro, um salvador destituído de alguns atributos próprios do Filho de
Deus encarnado.
Por essa razão, segundo a linguagem usada pela Escritura, o Homem do
Pecado, mostrado por Paulo na segunda carta aos Tessalonicenses, não pode
ser equivalente ao Anticristo apresentado por João. O Homem do Pecado
declara a si mesmo que odeia a Jesus e a qualquer forma de Deus. Sua
mensagem não tem nada a ver com a de um profeta enviado por Deus, de que
“não há Deus além de mim”, do modo como disse o Deus verdadeiro. Ele
vai tentar colocar-se no lugar e no trono de Deus opondo-se violentamente
contra Deus e contra o seu povo.
Não existe boa fundamentação baseada na Escritura para se identificar o
Anticristo com o Homem do Pecado, como alguns teólogos fazem. Esse é um
engano histórico do qual até mesmo os Padrões de Fé de Westminster não se
livraram. Quase todos os reformados vêm repetindo esse posicionamento,
sem darem conta do significado que a Escritura dá ao termo “anticristo”. Um
exame bem cuidadoso haverá de mostrar que esses dois são distintos. O
Homem do Pecado será um perseguidor público do povo de Deus, como
veremos adiante, enquanto que o Anticristo é um falso profeta que nega uma
doutrina fundamental da fé mas que tenta enganar o povo de Deus, até mesmo
os próprios eleitos se possível (Mt 24.24-25), preparando o caminho para o
surgimento do Homem da Iniquidade (Besta do Mar).
Se quisermos identificar o Anticristo com uma outra personagem da
Escritura, o único que se encaixará é o Falso Profeta, a Besta da Terra da
qual o mesmo João fala (Ap 13.11). O texto diz que essa besta saía da terra
“parecendo Cordeiro”, aparentando ser o Cristo, mas falando como dragão.
Esse texto é indicativo de que a Besta da Terra aparecerá com a autoridade
de Satanás para enganar as pessoas a respeito da verdade.
Tim By rd, The Beast from the Earth. Disp onível em: http ://www.sermoncentral.com/sermons/the-beast-from-the-earth-tim-
by rd-sermon-on-bible-influence-59896.asp . Acesso em: mar. 2014.
John Wy cliffe, Opus Evangelicum, livro III, p .107; ver também p . 131-138, 181.
M artinho Lutero, What Luther Says, ed. Ewald M . Plass (St. Louis: Concordia, 2006), 1:34.
M artinho Lutero, What Luther Says, ed. Ewald M . Plass (St. Louis: Concordia, 2006), 1:36-37.
João Calvino, Institutas, livro 4, trad. Elaine Sartorelli (São Paulo: Editora Unesp , 2009), cap . 2, seção 12.
Se você quiser conhecer mais sobre essas p ersp ectivas históricas sobre o Anticristo, veja o livro de Bernard M cGinn,
Antichrist: Two Thousand Years of the Human Fascination with Evil (San Francisco: Harp er, 1994). Outra obra imp ortante
sobre o assunto é a de Robert C. Fuller, Naming the Antichrist: The History of an American Obsession (Oxford: Oxford
University Press, 1995). [N.A.]
18 | A NATUREZA DO FALSO
PROFETA FINAL92

O presente capítulo consiste em uma breve análise de Apocalipse 13.11-


18. Diante de nós, temos um texto que, por muitas vezes, foi e tem sido
passível de várias especulações, razão essa que lamentavelmente tem levado
muitos estudantes da Bíblia a uma atitude indiferente para com ele. A
literatura apocalíptica é estereotipada como um gênero que trata “apenas”
sobre o fim dos tempos e, por essa razão, somos privados da bem-
aventurança que abre o Apocalipse: “Bem-aventurados aqueles que leem e
aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela
escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1.3). Fugindo de estereótipos e
especulações, nos deteremos em analisar o presente texto tendo em vista as
obras do Falso Profeta Final, e veremos como a presente análise será útil à
nossa compreensão da teologia da revelação.
Apesar de termos diante de nós a mentira protagonizada e patrocinada
pelo maligno, ser-nos-á importante que, em sua obra de imitação,
observemos um padrão revelacional que perpassa toda a revelação bíblica.

1. O FALSO PROFETA É UM DISSIMULADOR

Ap 13.11b – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro,
mas falava como dragão.”

Por detrás da fala e dos atos do Falso Profeta está Satanás. Toda a
inspiração vem dele. A fala do Dragão é o fundamento da falsa profecia. O
Dragão-Satanás (Ap 12.3,7,9) tem no Falso Profeta Final o seu porta-voz
direto. A fala do Dragão consiste na mentira, porém nunca abertamente; essa
foi a tática da serpente no princípio e em todo o desenrolar da história. Ou
seja, o Dragão distorceu a verdade desde o Éden, como nos revela o texto
bíblico:
Gn 3.1 – “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus
tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”
A menção do nome de Deus pela serpente demonstra não só sua ousadia
mas também sua estratégia de mesclar o que Deus disse com a sua mentira, a
fim de não chocar de imediato a mulher. Desde então, essa tem sido sua
estratégia.
Todos os falsos profetas no desenrolar da história bíblica sempre
associaram o nome de Deus às suas mentiras e, assim, obtiveram muitas
vezes êxito entre os incautos. Dessa forma, a serpente fará sua última
investida concedendo ao Falso Profeta Final sua inspiração em máxima
intensidade, com o intuito de formar seu séquito.
O séquito do Dragão é atraído por uma falsa imagem expressa pela besta
que emerge da terra – parecendo cordeiro, ela destila o veneno da serpente
através do falso ensino. A imagem de um cordeiro evoca mansidão e
humildade, características do Senhor Jesus, que afirmou: “Aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11.29b). Não podemos deixar
de mencionar, também, o cordeiro exaltado no meio do trono na visão de
João, no capítulo 5 deste mesmo livro. Assim, tanto na própria estrutura
esboçada por João como no agir do próprio Satanás, vemos que a obra da
tríade satânica é uma imitação grotesca do Grandioso Deus, a fim de iludir
os homens que amam a mentira; e, mais especificamente, podemos ressaltar
que o Falso Profeta ardilosamente e sem originalidade irá seduzir a terra.

2. O FALSO PROFETA É UM SUBSERVIENTE


Ap 13.11 – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro,
mas falava como dragão.”

O Falso Profeta Final estará debaixo do poder de Satanás, portando-se como


Satanás se porta. Satanás é a “antiga serpente” e o “dragão”. Ele procura
atacar as pessoas “como leão que ruge procurando alguém para devorar”
(1Pe 5.8b). Ele estará subservientemente agindo sob autoridade maligna de
Satanás e da própria Besta do Mar.
De modo semelhante, debaixo do poder de Satanás, o Falso Profeta cairá
sobre as pessoas para seduzi-las, cativá-las, tornando-as presas do Maligno
no que diz respeito ao engano. Ele se portará como Satanás, imitando-o. É
notória, também, a semelhança com que a Besta da Terra é “inspirada” pelo
Dragão em sua fala; com certeza vemos aqui mais uma vez a grotesca
imitação, pois sabemos que o Filho fala as palavras de Deus (Jo 3.34), e que
também o Espírito dá testemunho de Cristo aqui na terra, levando os homens
à adoração ao Pai em Jesus Cristo (Jo 16.14). E claro, ainda há o paralelo
entre o séquito do Dragão e os santos de Deus.
Parte da p esquisa deste cap ítulo devo ao acadêmico André Luís Araújo Brito, como cump rimento da exigência da discip lina
Teologia da Revelação, ministrada no CPAJ, em 2014. [N.A.]
19 | AS FUNÇÕES TEOLÓGICAS
DO FALSO PROFETA FINAL

O Falso Profeta não terá outra função além de estabelecer o esquema


teológico que o mundo haverá de seguir, nos dias que precederão a volta de
Jesus Cristo. Ele tem funções eminentemente teológicas, porque ele será o
maior dos líderes religiosos àquela altura no mundo.

1. O FALSO PROFETA PROMOVERÁ


A BESTA DO MAR À CONDIÇÃO DE DEUS
A importante função do Falso Profeta (Besta da Terra) é promover a Besta
do Mar (Homem da Iniquidade) à condição de divindade. O Falso Profeta é
uma espécie de ministro de propaganda para a Besta do Mar (Homem da
Iniquidade), com o intuito de espalhar o movimento mundial de engano. Ele
será uma espécie de motivador das massas para que elas adorem a Besta do
Mar.
Os homens enganados pelo Falso Profeta Final adorarão duas pessoas
importantes do final do mundo: Satanás e a Besta do Mar.

2 O FALSO PROFETA INDUZIRÁ À ADORAÇÃO DE SATANÁS POR SER ELE UM


DEUS
Ap 13.4 – “E adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a
besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?”

Satanás deu todo seu poder à Besta do Mar. Por isso, ela se tornou
invencível. Por causa desse poder concedido à ela, todos os habitantes da
terra prestarão reverência, respeito ou homenagem ao Diabo. Pessoalmente,
prefiro interpretar o verbo grego “proskineo” como “adoração”, pois
Satanás sempre quis ser igual a Deus, desde o princípio. Afinal de contas,
ser Deus significa ser senhor de todo o universo. Por seu poder concedido à
Besta do Mar, os homens haverão de lhe prestar culto.
3. O FALSO PROFETA INCITARÁ A ADORAÇÃO DA BESTA DO MAR POR ELE SE
FAZER DEUS
Todo os povos da terra adorarão dois grandes personagens da iniquidade.
Tanto o Dragão como Falso Profeta promovem o trabalho de entronização à
divindade da Besta do Mar. Os homens da terra adorarão Satanás, porque
ele dará “a sua autoridade à Besta”. A adoração do Homem da Iniquidade
acontecerá por duas razões:
3.1. A PRÓPRIA BESTA DO MAR SE PROCLAMARÁ DEUS
Quando o Homem da Iniquidade se manifestar, a sua principal função será
receber adoração por parte dos habitantes da terra, porque ele se elevará à
condição de Deus. Veja o que Paulo diz sobre essa terrível situação:
2Ts 2.4 – “[O homem da iniquidade] o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama
Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se
fosse o próprio Deus.”

Os homens prestarão culto ao Homem da Iniquidade porque ele refletirá,


em mais alta medida, o que fizeram os grandes imperadores da história.
Estes sempre exigiram adoração da parte dos seus súditos. Assim, de
maneira superior a todos os imperadores que já existiram (e ainda existirão),
o Homem da Iniquidade será adorado em seu poder e arrogância. Ele negará
qualquer divindade e dirá aos homens que somente ele é Deus. Ele solicitará
a adoração dos homens que estão debaixo do seu governo.
3.2. O PRÓPRIO FALSO PROFETA CONDUZIRÁ OS HOMENS À ADORAÇÃO DA
BESTA DO MAR
Quando a Besta do Mar exigir adoração por parte dos habitantes da terra
não será uma novidade, e nem os homens se espantarão diante do
homem/deus. Por quê? Porque o Falso Profeta já terá preparado o caminho
para a adoração dela. O Falso Profeta:
Ap 13.12 – “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra
e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”

O propósito do Falso Profeta, em sua função teológica, é promover e


glorificar a Besta, da mesma forma que o propósito do Espírito Santo é
glorificar a Cristo. Por essa razão, o Falso Profeta ordena aos homens do
mundo que construam estátuas para que a glória seja trazida à Besta.
Da mesma forma que somos educados na fé, e assim nos tornamos
verdadeiros adoradores do Deus verdadeiro, o Falso Profeta Final, munido
da autoridade e da fala do Dragão, catequizará os habitantes da terra à
adoração a Satanás e ao seu principal agente aqui na terra.
Na sua promoção da Besta do Mar, o Falso Profeta incentivará a
adoração do seu chefe imediato, através da sedução perpetrada sobre os
homens da terra. Portanto, ele encorajará todos os habitantes da terra à
adoração de um homem que faz de si mesmo deus.
Ap 13.14 – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta,
àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

Sem sombra de dúvida, podemos afirmar, sem exceção, que o falso ensino
conduz à falsa adoração. De fato, podemos afirmar que não existe
neutralidade, todos adoram, e se não adoram o Deus verdadeiro são
catequizados em seus devaneios filosóficos à falsa adoração, que encontra
sua expressão final na Besta do Mar e seu agente, a Besta da Terra.
A sedução é uma marcante arma do Dragão: “E foi expulso o grande
dragão, (...) o sedutor de todo o mundo (...)” (Ap 12.9). Paulo fala que a
mulher foi iludida, e Adão não foi; mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão (1Tm 2.14). Também demonstra seu receio quanto ao engano e
astúcia característicos da serpente. Tal ação é corruptora da mente,
apartando os homens de Cristo, bem como de sua simplicidade e pureza.
“Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia,
assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e
pureza devidas a Cristo” (2Co 11.3).
Observemos a fatídica sequência: falso ensino, sinais e, por fim, a falsa
adoração. A iconização da falsa adoração é uma questão de autonomia
diante de Deus, autonomia esta que tem sua origem no Éden com a serpente.
Somos sabedores que nisso consistia o comer do fruto, ou seja, no
estabelecimento do ego humano em uma projeção divina do mesmo: “e,
como Deus, sereis” (Gn 3:5).
Outra função importante do Falso Profeta é promover a adoração da Besta
do Mar.
4. O FALSO PROFETA LEVARÁ O MUNDO
À ADORAÇÃO DA BESTA DO MAR

Ap 13.12b – “Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida
mortal fora curada.”

Se o Falso Profeta haverá de promover a Besta do Mar à condição de Deus,


obviamente, ele vai fazer com que ela seja adorada.
Se usarmos a linguagem do cinema, podemos dizer que a primeira besta é
o ator principal e a segunda besta é o ator coadjuvante. O ator coadjuvante
trabalha para que fique em evidência o papel do ator principal. Ele fica mais
escondido na cena para encorajar as pessoas à adoração da Besta do Mar.
Ao invés de dirigir a atenção para si mesmo, ele chama a atenção dos
habitantes da terra para a primeira besta, a fim de que ela seja adorada.
A segunda besta não possui qualquer intenção de ser adorada pelos outros
homens. Esse aspecto é altamente enganoso. Se ela procurasse a adoração
dos homens ela não iludiria, porque os homens perceberiam claramente o
seu engano. O que, então, o Falso Profeta faz? Ele chama a atenção para a
adoração da primeira besta (que é o Homem da Iniquidade). Na verdade, o
principal objetivo do engano do Falso Profeta é fazer com que os homens
adorem a Besta.
Poucos homens pediram a adoração do povo para si mesmos, mas outros
pediram a adoração deles. Foi este o papel da segunda besta: fazer “com que
a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta” (Ap 13:12).
Os falsos profetas hoje, via de regra, não pedem qualquer tipo de
adoração para si mesmos, mas sempre acabam conduzindo o povo a adorar
deuses que são diferentes do Deus da Escritura. Eles sempre promovem a
adoração a falsos deuses. Portanto, não será diferente com a Besta da Terra.
Ela será o último dos profetas e o maior deles, o Falso Profeta, promovendo
a adoração da primeira besta.
20 | OS “MINISTÉRIOS” DO
FALSO PROFETA FINAL

P
ela palavra “ministérios”, aqui, não entenda o exercício de dons
espirituais, mas sim tarefas que o Falso Profeta fará para beneficiar
a Besta do Mar e trazer segurança àqueles que não obedecem à
Palavra do Deus verdadeiro.

1. O FALSO PROFETA EXERCE O “MINISTÉRIO”


DE DIVULGAR A PRIMEIRA BESTA

Ap 13.12 — “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a
terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”

O Falso Profeta é o ministro de propaganda da primeira besta, mas sob o


controle supremo de Satanás. Ele exercerá o serviço de propagar o poder, a
honra e glória da Besta do Mar (que é o Homem da Iniquidade).
Portanto, a grande meta do Falso Profeta é promover a primeira besta. Ele
é o seu precursor, quem apontará o caminho até ela. Como João, o Batista,
anunciava e apontava para o Messias como o Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo; sendo digno de adoração e de receber a obediência dos
homens, o Falso Profeta atuará com relação à Besta do Mar.
O Falso Profeta apontará para o Homem da Iniquidade como sendo digno
de adoração pelos homens. Ele unirá os homens de toda a terra sob o mesmo
culto, um culto de adoração à Besta e ao Dragão. Por meio de sua pregação,
o Falso Profeta conduzirá pessoas de todas as condições sociais e de todos
os seguimentos religiosos a adoração da Besta. Ele persuadirá os homens a
adorarem a Besta, conformando-os com a sua vontade. Por meio do Falso
Profeta, “aqueles que não têm o seu nome escrito no livro da vida” prestarão
serviço religioso a primeira besta, submetidos à escravidão espiritual por
causa do engano profético e do falso ensino.

2. O FALSO PROFETA EXERCE O MINISTÉRIO


DE SEDUZIR OS HOMENS
Ap 13.14 — “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado
executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à
besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

Ao contrário do verdadeiro profeta do Senhor, que anuncia a verdade que


liberta, a arma do Falso Profeta é a mentira e o engano que ocasionam a
sedução. Com o objetivo de seduzir os homens, o Falso Profeta age com
mentiras tão convincentes que se não fora a condição de escolhidos por
Deus, até estes seriam enganados.
2.1. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ ATRAVÉS DE SUAS MENSAGENS DE FALSAS
ESPERANÇAS

Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra.”

A princípio, o Falso Profeta tentará desviar os cristãos da genuína


doutrina de Cristo. O verbo “seduzir” no grego é “πλανaw” (planao), e pode
ser traduzido também como “enganar” ou “desviar a trajetória”. Como já
acontece hoje através dos falsos profetas já existentes, assim acontecerá, em
medida muito maior, com o ministério do Falso Profeta. Quando ele chegar,
ele vai tentar desviar os cristãos da trajetória de fé e conduzi-los para longe
da Palavra de Deus. Ele fará com que muitos membros das igrejas
abandonem a Escritura e deem atenção ao seu ensino.
Àquela altura, mais do que agora, muitos cristãos não terão boa formação
doutrinária, pelo desprezo que já vemos nos tempos de hoje à verdadeira
palavra profética. A falsa profecia tem sido sedutora, porque ela apela para
falsas esperanças em um tempo de muita vacilação teológica e ética: a falsa
profecia prega esperança de paz, esperança de curas físicas, esperança de
não mais ter enfermidade, além da esperança de prosperidade. Se essas
pessoas ficarem vivas até o tempo do fim, uma porção delas vai acabar
acreditando, ainda que parcialmente, nas mentiras do Falso Profeta; mentiras
que possuem aparência de verdade. Se as mentiras não se parecerem com a
verdade, não há sedução.
2.2. O FALSO PROFETA EXERCERÁ SEU PODER DE SEDUÇÃO NA PRESENÇA DA
BESTA DO MAR

Ap 13.12 – “Exerce toda a autoridade [ἐξουσίαν] da primeira besta na sua presença. Faz
com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”
Há uma espécie de cadeia de comando dentro da tríade do mal. A
autoridade maior é a de Satanás, que tem o seu controle sobre a Besta do
Mar e do Falso Profeta; em segundo lugar, vem a Besta do Mar, que tem
ascendência sobre o Falso Profeta; em terceiro lugar, vem o Falso Profeta,
que se reporta aos dois primeiros e engana toda a terra diante da primeira
besta.
Entretanto, a ordem de autoridade não significa necessariamente a ordem
de importância à vista de Deus. O Falso Profeta, o mais inferior da tríade,
tem a maior responsabilidade teológica neste mundo. Ainda que ele receba
seus ensinos dos demônios, ele tem autonomia para atingir todo o mundo.
Essa autonomia dele é usada para se exibir à Besta do Mar e para se tornar
conhecido do mundo. Por isso, ele fará vários sinais e prodígios para
produzir fascinação, engano e sedução. Não obstante, o Falso Profeta tem
que se reportar aos dois primeiros, através de dotação recebida de grandes
poderes. Por isso, é dito que ele “exerce autoridade [ἐξουσίαν - exousian]”.
Assim como um subalterno quer mostrar a sua capacidade de produção no
trabalho ao seu superior, o Falso Profeta tentará impressionar o seu chefe (a
Besta do Mar) com as coisas que vai fazer. Ele tem um grande poder, e ele
não vai perder tempo para adquirir prestígio como um funcionário subalterno
na tríade, porque a sua autoridade (poder) veio da Besta do Mar.
Curiosamente, o Falso Profeta, com toda sua exousia (autoridade), nunca
reivindica adoração para si. Isso é notável, quando levamos em conta todo o
poder que ele terá entre os homens e na presença da Besta do Mar.
Portanto, porque estará debaixo do domínio da Besta do Mar, que possui
um domínio político/militar, o Falso Profeta vai exibir o seu poder na frente
do seu superior imediato. É uma espécie de satisfação que ele dá, à Besta do
Mar, de sua eficiência.
2.3. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ A TOTALIDADE DA TERRA

Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais.”

No final desse ministério, a sedução, por parte do Falso Profeta, terá


proporções mundiais, porque o texto diz que ele seduz “os que habitam
sobre a terra”. Essa expressão envolve mais do que os membros da igreja
chamada cristã, os quais vão apostatar. Ela abrange pessoas de todas as
outras religiões ainda existentes, que não possuem convicção da sua própria
fé, e elas serão engodadas pela mensagem do Falso Profeta.
Se você quer aprender sobre sedução, você tem que ler, ouvir e ver o que
os falsos profetas de hoje fazem nos cultos que promovem. Sempre houve
pessoas, na história da igreja, alegando produção de sinais. A tendência é
que essa sedução recrudesça à medida que o tempo do fim se aproxima. No
tempo do Falso Profeta Final, a sedução terá proporções mundiais.
2.4. O FALSO PROFETA SE SERVIRÁ DE SEUS PODERES PARA SEDUZIR
Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais.”
Jesus Cristo já havia dito a respeito dos falsos profetas que eles haveriam
de enganar, mesmo alguns escolhidos, através da realização de grandes
sinais. As palavras de Jesus sobre essa matéria são inequívocas:
Mt 24.24 – “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.”
No decorrer da história da igreja, sempre houve aqueles que diziam fazer
grandes sinais e prodígios para enganar o povo. Na verdade, os falsos
profetas não são hipócritas, porque eles creem que estão pregando a
verdade. Eles também estão enganados. Mas Satanás se serve deles para
enganar, já que ele é o Pai da mentira.
No tempo do fim, a feitura de “sinais e prodígios” será espantosa por
parte do Falso Profeta Final. Assim como nos tempos apostólicos os
apóstolos realizavam sinais para “autenticação da fé”, no tempo do fim os
falsos profetas e, finalmente, o Falso Profeta, farão coisas extraordinárias
para engodar aos incautos.
Apenas relembre rapidamente os tipos de prodígios que o Falso Profeta
Final (o Anticristo) fará, a fim de seduzir os habitantes da terra:
(a) O Falso Profeta fará descer fogo do céu:
Ap 13.13 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens.”

(b) O Falso Profeta comunicará fôlego à imagem da Besta:


Ap 13.15 - “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

(c) O falso profeta fará a imagem da Besta falar:


Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Um profeta com esses poderes pode convencer qualquer pessoa que não
seja pertencente genuinamente a Jesus Cristo. Não é sem razão que há tanta
gente hoje seduzida por sinais. O pior é que haverá bilhões de pessoas no
tempo do fim que serão seduzidas pelos poderes do Falso Profeta Final!
2.5. O FALSO PROFETA FARÁ COM QUE CRISTÃOS MORRAM POR MEIO DA
IMAGEM DA BESTA

Ap 13.15 - “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

O Falso Profeta, através de seus ministérios, fará desencadear a maior


perseguição de que se tem notícia. Nunca a perseguição dos cristãos, nem
mesmo em tempos de grandes crises, terá sido da envergadura da
perseguição que será causada pelo fato dos cristãos não adorarem a imagem
da primeira besta, erigida pelo Falso Profeta.
Essa imagem será colocada, provavelmente, em todas as repartições
públicas, escolas e logradouros. Ninguém poderá escapar de ver essa
imagem. Ninguém poderá alegar que não a adorou porque não conhecia nada
a respeito dela. Os cristãos fiéis, mesmo sabendo do terrível ministério do
Falso Profeta, se manterão unidos na adoração somente do verdadeiro Deus.
Como consequência, muitos deles serão mortos por essa espantosa
imagem, que terá algum tipo de vida animada; ela poderá se movimentar e
terá o poder de perseguir, até à morte, os que não se inclinam perante ela em
adoração.
2.6. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ O MUNDO APONTANDO UM NOVO DEUS

Ap 13.14b – “Dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta,
àquela que, ferida à espada, sobreviveu”

Mt 24.11 – “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.”

Se a função do profeta de Deus é anunciar a verdade que liberta e edifica


o homem, levando-o a prática da obediência a Deus, o papel do Falso
Profeta é exatamente o contrário. Paulo antevê esse estado de coisas quando
escreve a Timóteo:
1Tm 4.1-2 – “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão
da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que
falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência.”

Os homens são atraídos pela mensagem do Falso Profeta, porque ele lhes
oferece uma mensagem atraente aos ouvidos. Os homens sempre querem
encontrar uma forma de acalmar a sua consciência, abrandar a culpa. Uma
mensagem que tem como origem a verdadeira revelação de Deus, sendo
anunciada por alguém que ab-roga ser homem de Deus, que promete
liberdade sem cruz e salvação sem arrependimento, torna-se extremamente
agradável aos ouvidos do pecador. Eis a razão porque o Falso Profeta
sempre parte da deturpação da escritura para formalizar sua mensagem.

3. O FALSO PROFETA EXERCE O “MINISTÉRIO” DE COLOCAR A MARCA DA


BESTA NOS HOMENS ÍMPIOS
Ap 13.16 – “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos,
faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte.”

O Falso Profeta não somente enganará pessoas, mas fará com que elas
recebam uma marca de identificação de modo que somente elas possam
receber benefícios naqueles dias tenebrosos.
3.1. A MARCA DA BESTA RELEMBRA A MARCA QUE DEUS COLOCA NO SEU POVO
O contexto imediato do livro de Apocalipse já menciona o ato de Deus
em marcar os seus santos (Ap 7.3), o que mais uma vez destaca a imitação
maligna. Acredito ser importante destacarmos, também, o contexto judaico
do próprio autor que, embora mais remoto, é pertinente em nossa
compreensão desta visão.
Como todo bom judeu, João conhecia e sabia a importância de
Deuteronômio 6 para a adoração judaica. Esse texto destaca a devoção plena
ao único Deus sendo, assim, o coração da verdadeira adoração:
Dt 6.4-8 – “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o
SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas
palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas
falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.”
As palavras italicizadas do último versículo visam destacar a semelhança
com o nosso texto em foco no livro de Apocalipse. Apesar das muitas
especulações quanto ao que seja essa marca, ou como será aplicada, creio
que seja importante ressaltarmos o princípio exposto nesse texto, que será
útil em nossa compreensão da marca promovida pela Besta da Terra.
Moisés fala da importância da internalização da lei de Deus no coração
do homem; ou seja, o povo de Deus ama a lei de seu Deus, e assim a
transmitirá a seus filhos como seu bem mais precioso. Tão abrangente e
poderosa é a Palavra de Deus que estará nas mãos de cada judeu; ou seja,
todas as suas ações serão norteadas por essa lei. Mas, não somente terá um
campo de ação em suas atitudes como também em toda sua cosmovisão; ou
seja, ela estará entre seus olhos, em sua mente, como critério de
interpretação para toda a vida.
Se especularmos ou forçarmos demais alguma alegorização, nos
tornaremos semelhantes aos fariseus, que baseados nesse texto inventaram
seus estranhos filactérios. O princípio coerente e saudável aplicado a
Deuteronômio 6 deve ser o mesmo aplicado a Apocalipse no que se refere a
marca da Besta; ou seja, o Dragão demandará devoção, cosmovisão e ações
norteadas pelo seu falso ensino.
3.2. A MARCA DA BESTA SERÁ COLOCADA EM TODAS AS CAMADAS DE PESSOAS
Aqueles que forem enganados pelo Falso Profeta Final receberão um
sinal de identificação que lhes dará privilégios naquela época, em
contraposição aos que não receberem essa marca. Muita gente, de todas as
partes do mundo, sejam grandes ou pequenos, ricos ou pobres, livres ou
escravos, receberão essa marca.
O Falso Profeta será o responsável por colocar esse sinal da Besta nas
pessoas que ele conseguir enganar. Certamente, a grande maioria dos
habitantes da terra será enganada. Todas as camadas de pessoas, sejam
religiosas ou não, acabarão se tornando membros da igreja mundial sob o
controle teológico do Falso Profeta.
3.3. A MARCA DA BESTA SERÁ COLOCADA NA MÃO OU NA FRONTE
A marca do engano será alguma coisa visível, que será colocada em dois
lugares bem aparentes nas pessoas, o que ajudará na identificação daqueles
que foram enganados pelo Falso Profeta. Nenhum daqueles que são rebeldes
a Deus deixará de ter a marca da Besta em um dos dois lugares mais visíveis
que um ser humano pode ter: na mão ou na fronte. Essa marca mostrará uma
plena lealdade ao estado constituído e representado pela Besta do Mar.
3.4. A MARCA DA BESTA TERÁ ALGUNS PROPÓSITOS

Ap 13.16-17 – “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos,


faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém
possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu
nome.”

O todo da vida é, praticamente, determinado pela religião. A sociedade


falaciosamente tenta se desvencilhar da religião como sendo isso sinônimo
de desenvolvimento de um povo; porém, tal ideia é impossível. De fato, tudo
envolve a religião.
Sendo assim, a Besta da Terra abrangerá todas as esferas do viver
humano, não se contentando apenas com uma parte da esfera do viver. No
verso 16, é possível verificar todas as classes mencionadas e envolvidas
nesse sistema, bem como no verso 17 podemos observar o comprar e o
vender; ou seja, todas as relações que envolvem o trabalho humano (e claro,
sua ética) pautados pelo novo sistema que se afirma totalitariamente no
poder.
A adoração ao Deus verdadeiro reivindica legitimamente todas as esferas
da vida humana. Podemos chegar à conclusão de que temos aqui a tentativa
final de usurpação, por parte das trevas, do que pertence exclusivamente ao
Deus Altíssimo. O texto clássico de Paulo confirma o que estamos
argumentando: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).
O Falso Profeta mostrará a sua lealdade à Besta do Mar criando uma
espécie de controle econômico que beneficia uns e prejudica outros. Os
enganados receberão benefícios de comprar e vender muito facilmente,
enquanto que os cristãos fiéis não serão contemplados com tais direitos
básicos.
A base de toda a economia, na época, estará sob o controle dele. O
controle do abastecimento será efetuado pelo Falso Profeta. Toda a comida e
suprimentos poderão ser adquiridos por aqueles que foram enganados. Se
uma pessoa quiser receber o que é básico para a vida, terá que se submeter
ao engano do Falso Profeta. Ela terá que mostrar lealdade às autoridades
supremas vigentes na época. Provavelmente, haverá casos de pessoas que
tenham pertencido às igrejas cristãs que não serão enganadas como as outras
pessoas do mundo, mas que cederão às pressões econômicas e acabarão
seguindo os ensinamentos do Falso Profeta.
3.5. A MARCA IMPOSTA PELO FALSO PROFETA DEVE SER INTERPRETADA COM
ENTENDIMENTO

Ap 13.18 – “Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta,
pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.”

Com certeza temos diante de nós um dos textos bíblicos mais passíveis,
se não o mais passível, de discussões e interpretações divergentes. Não
pretendemos, aqui, por fim a tão antigo debate. Também não é nosso objetivo
trabalhar com especulações, apesar de ser essa, lamentavelmente, a
metodologia de muitos.
Dentre os muitos problemas que enfrentamos diante do presente texto,
existe o fato de estarmos lidando com uma variante textual; sendo assim,
muitos acham que uma palavra final seria muita pretensão.
Portanto, nos restam apenas algumas considerações quanto ao princípio
que já esboçamos em textos anteriores. Temos diante de nós um sistema que
demanda plena devoção de seus seguidores, e também já consideramos
acima que a marca em si é melhor interpretada como o agir e o pensar de
acordo com esse sistema. Todas as suas relações visam usurpar o que
pertence a Deus pela centralização no homem. Dessa forma, vemos que,
ainda que seja revestida de autoridade e capacidade sobrenatural, a Besta da
Terra não prescindirá de trabalhar com o que mais envaidece o homem - ou
seja, ele mesmo. Por isso, nos atemos ao que João expressa como “número
de homem” para enfatizarmos que, mais uma vez, temos diante de nós a velha
mentira, “como Deus, sereis”, propagada pela velha serpente de forma final
através de seu agente mais espetacular sobre a face da terra.
3.6. CONCLUSÃO
O Falso Profeta Final, como nos é apresentado no Apocalipse, é a
investida final da antiga serpente em sua promoção da mentira. O Falso
Profeta não surgirá para promover a si próprio, mas estará a serviço do
Homem da Iniquidade que, por sua vez, também receberá sua autoridade do
Dragão.
Analisando o presente texto de Apocalipse, observamos a estratégia
recorrente da tríade satânica em sua tentativa de imitar o único Deus Trino; o
Dragão, a Besta do Mar e a Besta da Terra conspiram e se empenham nessa
obra.
As obras do Falso Profeta Final, em sua imitação do Reino de Deus, nos
apresentam o modus operandi, o alcance e o resultado da verdadeira
profecia. O Espírito de Cristo estava em seus profetas dando de antemão
testemunho acerca dele (1Pe 1.10-12); sua mensagem era confirmada através
de grandes sinais, que visavam a constatação da mão de Deus sobre eles (Ex
4.1-9; Hb 2.1-4); o ensino dos mesmos visava a totalidade do ser e
consequentemente a devoção de todo o povo (Dt 8).
Embora tenhamos diante de nós um arremedo, podemos observar, no
mesmo, o padrão e a eficácia da revelação divina através de seus santos
profetas, compreendendo, assim, a teologia da revelação e a razão do apelo
do maligno em sua imitação.

4. O FALSO PROFETA EXERCE O “MINISTÉRIO”


DE DESTRUIR OS QUE CREEM EM JESUS
Além de comunicar fôlego à imagem da Besta e de fazê-la falar, o Falso
Profeta vai comandar a matança dos cristãos que se recusarem a adorar a
Besta do Mar.
O poder do Falso Profeta, com a sua autoridade, inclui o de matar os
homens que não adorarem a Besta. Certamente, os cristãos que estiverem
vivendo àquela altura, não se dobrarão diante da imagem “vivificada” da
Besta para lhe adorar. Eles serão os únicos a morrer por causa da sua
fidelidade a Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus. Serão tempos difíceis, mas
gloriosos para o povo de Deus, porque eles serão bem-aventurados por
morrer pelo nome de seu Redentor!
Ap 13.15-17 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. A todos, os
pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada
certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender,
senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.”
Como não pode enganar os eleitos, o Falso Profeta os persegue. Foi assim
em toda a história do povo de Deus. Aqueles que não forem seduzidos pela
mensagem do engano pagarão com sua vida, ou com a sua liberdade, o preço
de se manterem na verdade.
Os que amam a verdade serão perseguidos por amarem a verdade. Desde
profetas (como Jeremias) até cristãos comuns (como aqueles que não
conhecemos seus nomes mas que se descreve a perseguição a eles em Atos),
quando a comunidade de cristãos é perseguida todos os que operam na
verdade são odiados por aqueles que operam na mentira.
Com seus sinais e prodígios, o Falso Profeta encontrará uma comunidade
fiel a ele. Os que são verdadeiramente fiéis ao Senhor se manterão
alicerçados na palavra da verdade e serão, por isso, uma denúncia viva da
falsidade do Falso Profeta. Aqueles que guardam a verdade operam como
guardiões da verdade e denunciam o erro; por isso, serão mal-vindos no
“reino” do Falso Profeta.
Aqueles que não são seduzidos pela mentira serão distintos daqueles que
se embrenharão nela. Estes, serão marcados. Poderá se ver neles a marca do
engano, serão reconhecidos como seguidores da Besta do Mar e terão acesso
a todos os benefícios que o sistema corrompido pelo pecado pode oferecer.
21 | OS SINAIS OPERADOS
PELO FALSO PROFETA FINAL93

A Besta da Terra tem o importante papel de promover a adoração da Besta


do Mar pela força dos seus milagres. O Falso Profeta falará como dragão
(Ap 13.11), possuindo a empáfia e o poder do pai da mentira, e
desempenhará coisas espantosas para enganar os homens. Não se esqueça de
que o Homem da Iniquidade (que é o mesmo que Besta do Mar) também fará
seus sinais sob o mesmo poder de Satanás (2Ts 2.9).
A tentativa do Falso Profeta, com seus milagres, é angariar autoridade
entre os homens para ser ouvido religiosamente entre eles.
A expressão “grandes sinais” aparece com referência a Jesus Cristo (Jo
2.11, 23; 6.2). O propósito dos grandes sinais operados pelo Falso Profeta é
o engano das pessoas, para que elas adorem a Besta do Mar como se ela
fosse o único deus.
Ap 13.11-12 – “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro,
mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com
que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”

Analisaremos, a seguir, os três sinais operados pelo Falso Profeta: o


primeiro, em Apocalipse 13.13, que trata-se do Falso Profeta fazer descer
fogo do céu; o segundo, em Apocalipse 13.15, quando o Falso Profeta dá
fôlego à imagem e a faz falar; e o terceiro, nesse mesmo capítulo, versículo
16, que coloca a sua marca nas mãos e na testa dos homens.
Nesta parte do capítulo, vamos analisar os sinais operados pelo Falso
Profeta que possuem uma procedência não-humana. São poderes exercidos
por homens, mas vindos de fora deles.

1. O SINAL DE FAZER DESCER FOGO DO CÉU


Além de outras manifestações poderosas, o Falso Profeta se apresentará com
grandes sinais, como o de “fazer descer fogo do céu à terra”. É bom que o
leitor não pense que esse fenômeno é ilusório. Ao contrário, será um
fenômeno real, que fará com que os homens creiam na primeira besta, pois a
segunda besta age para promover a primeira. Será um fenômeno espetacular
e incomum, que confundirá os religiosos da época.
Inicialmente, esse fenômeno de fazer descer fogo do céu é próprio do
Deus verdadeiro, que tem domínio sobre os elementos. Esse fenômeno
divino aconteceu em Sodoma e Gomorra e, posteriormente, com Elias; será
um sinal típico do engano do fim dos tempos (conforme mencionado no
capítulo 16 deste livro).
Fazer descer fogo do céu, portanto, era típico dos tempos bíblicos. A
menção de fogo descer do céu é abundante na adoração verdadeira a Iavé. É
importante ressaltar que a vinda de fogo do céu é sinal (tanto no Antigo
Testamento como no Novo Testamento) da aprovação divina, principalmente
quanto à verdadeira adoração.
1.1. FOGO NO TABERNÁCULO, NO TEMPO DE MOISÉS

Lv 9:22-24 – “Depois, Arão levantou as mãos para o povo e o abençoou; e desceu, havendo
feito a oferta pelo pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. Então, entraram Moisés e Arão
na tenda da congregação; e, saindo, abençoaram o povo; e a glória do SENHOR apareceu a
todo o povo. E eis que, saindo fogo de diante do SENHOR, consumiu o holocausto e a gordura
sobre o altar; o que vendo o povo, jubilou e prostrou-se sobre o rosto.”

Vemos, aqui, a aceitação e confirmação de Deus de toda prática cúltica


vétero-testamentária. Isso se deu com fogo vindo de Deus sobre as ofertas
apresentadas pelos sacerdotes diante do povo chancelando, assim, o
tabernáculo, o sacerdócio Aarônico e a prescrição das ofertas diante de toda
a congregação.
1.2. FOGO NO TEMPLO NO TEMPO DA MONARQUIA

2 Cr 7.1-3 – “Tendo Salomão acabado de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e
os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. Os sacerdotes não podiam entrar na Casa
do SENHOR, porque a glória do SENHOR tinha enchido a Casa do SENHOR. Todos os filhos
de Israel, vendo descer o fogo e a glória do SENHOR sobre a casa, se encurvaram com o rosto
em terra sobre o pavimento, e adoraram, e louvaram o SENHOR, porque é bom, porque a sua
misericórdia dura para sempre.”

À semelhança do tabernáculo, o templo também teve seu momento de


dedicação que foi cercado de solenidade. A belíssima oração de Salomão
foi respondida de imediato com fogo do céu. Tamanha era a glória, que os
sacerdotes ficaram impossibilitados de oficiar e a multidão foi levada à
adoração prostrando-se diante do único e verdadeiro Deus.
1.3. FOGO NO TEMPO DOS PROFETAS
O profeta Elias, que era típico dos profetas do Antigo Testamento, fez
descer fogo do céu para mostrar que ele era verdadeiramente profeta e
homem de Deus:
1Rs 18.38 – “Então, caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e a
terra, e ainda lambeu a água que estava no rego.”

2Rs 1.7-14 – “Ele lhes perguntou: Qual era a aparência do homem que vos veio ao encontro e
vos falou tais palavras? Eles lhe responderam: Era homem vestido de pelos, com os lombos
cingidos de um cinto de couro. Então, disse ele: É Elias, o tesbita. Então, lhe enviou o rei um
capitão de cinquenta, com seus cinquenta soldados, que subiram ao profeta, pois este estava
assentado no cimo do monte; disse-lhe o capitão: Homem de Deus, o rei diz: Desce. Elias,
porém, respondeu ao capitão de cinquenta: Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu e te
consuma a ti e aos teus cinquenta. Então, fogo desceu do céu e o consumiu a ele e aos
seus cinquenta. Tornou o rei a enviar-lhe outro capitão de cinquenta, com os seus cinquenta;
este lhe falou e disse: Homem de Deus, assim diz o rei: Desce depressa. Respondeu Elias e
disse-lhe: Se eu sou homem de Deus, desça fogo do céu e te consuma a ti e aos teus
cinquenta. Então, fogo de Deus desceu do céu e o consumiu a ele e aos seus cinquenta.
Tornou o rei a enviar terceira vez um capitão de cinquenta, com os seus cinquenta; então, subiu
o capitão de cinquenta. Indo ele, pôs-se de joelhos diante de Elias, e suplicou-lhe, e disse-lhe:
Homem de Deus, seja, peço-te, preciosa aos teus olhos a minha vida e a vida destes cinquenta,
teus servos; pois fogo desceu do céu e consumiu aqueles dois primeiros capitães de
cinquenta, com os seus cinquenta; porém, agora, seja preciosa aos teus olhos a minha vida.”

Essas realizações miraculosas eram atestadoras da sua posição de profeta


de Deus. O Falso Profeta será um imitador de profetas do Antigo
Testamento, para adquirir respeitabilidade e credibilidade dos homens, a fim
de que creiam nas suas palavras e no seu governo religioso. Para isso, ele
fará portentos semelhantes aos profetas verdadeiros de Deus no passado; ou
seja, tentará imitar as ações dos verdadeiros profetas de Deus no passado.
É importante pensar que será realmente fogo vindo do céu, de tal forma
que impressionará realmente os homens que presenciarem esses eventos.
1.4. FOGO NO TEMPO DA IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

At 2.1-4 – “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de
repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam
assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre
cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas,
segundo o Espírito lhes concedia que falassem.”

O templo espiritual, a igreja, não teve um momento de dedicação muito


diferente. Apesar de não termos aqui uma tenda ou um edifício com seus
aparatos cúlticos, temos o edifício espiritual; sendo Cristo Jesus a pedra
angular, seus apóstolos como fundamento e os discípulos como pedras vivas,
recebendo o fogo do céu como evidência da presença aprovadora de Deus.
A menção do fogo descendo do céu nos remete também ao profeta Elias
que, apesar de não estar em um momento de consagração cúltica, desbanca a
falsa adoração a Baal ao invocar fogo do céu como prova do Deus
verdadeiro (1Re 18.20-40).
Assim, podemos observar que no caso do Falso Profeta Final temos um
caminho inverso àquele que demonstramos em todo o ensino vétero e neo-
testamentário; ou seja, enquanto ali vemos o fogo do céu conduzindo os
adoradores à adoração verdadeira, aqui temos o fogo do céu conduzindo o
povo à falsa adoração.
1.5. CONCLUSÃO

Ap 13.13 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens.”

Esse sinal operado pelo Falso Profeta Final é uma espécie de imitação
daquilo que profetas do Antigo Testamento fizeram pelo poder de Deus. O
Falso Profeta quererá ter o mesmo prestígio que os homens de Deus do
passado tiveram. Nesse sentido, o Falso Profeta tenta se equiparar a profetas
do Antigo Testamento, que fizeram descer do céu alguma coisa espetacular
para que o povo entendesse que eles eram reais profetas de Deus. Todavia, o
poder de causar o fenômeno não procederá de Deus, mas de Satanás.
À semelhança dos verdadeiros profetas de Deus, que faziam milagres na
sua época, os falsos profetas (e especialmente o Falso Profeta Final) farão
milagres para atrair o mundo e grande parte da igreja nominal que existir na
época.
Como vimos rapidamente na introdução, o propósito da segunda besta,
conhecida como Anticristo ou Falso Profeta, é imitar os feitos dos profetas
de Deus e até mesmo a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, no caso
da ferida mortal.
Assim, fazer fogo cair do céu é um dos sinais que o Falso Profeta fará
para iludir os homens ímpios. Podemos voltar nossos olhos para os milagres
sobrenaturais feitos pelos magos de Faraó, registrados em Êxodo:
Êx 7.11 – “Faraó, porém, mandou vir os sábios e encantadores; e eles, os sábios do Egito,
fizeram também o mesmo com as suas ciências ocultas.”

Êx 7.22 – “Porém os magos do Egito fizeram também o mesmo com as suas ciências ocultas;
de maneira que o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito.”

Êx 8.7 – “Então, os magos fizeram o mesmo com suas ciências ocultas e fizeram aparecer rãs
sobre a terra do Egito.”

Observe o destaque: os magos de Faraó fizeram o mesmo que Moisés,


para impressionar o povo. Certamente, Satanás se utilizará da Besta da
Terra, não para realizar truques mas sinais genuínos e portentos
maravilhosos! Ele fará isso para entorpecer as mentes cauterizadas de um
mundo em busca de coisas espetaculares.
Sabe-se que imperadores romanos gostavam de ser chamados de “senhor”
e “salvador”. Seus sacerdotes, para tal empreendimento, utilizavam-se de
vários truques para manipular a grande massa, fazendo com que surgisse
fogo de forma improvável.94
Vejamos como a Bíblia trata disso em alguns textos:
Ap 16.13-14 – “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta
três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de
sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande
Dia do Deus Todo-Poderoso.”

Ap 19.20 – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua
imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.”

Mt 24.4-5 – “E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu
nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.”

Mt 24.11 – “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos.”

Mt 24.24-25 – “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.”
2Ts 2.9 – “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e
sinais, e prodígios da mentira.”

O interessante, aqui, é a ideia de poder supremo através desse sinal. O


próprio apóstolo João teve uma reação nesse sentido. Em Lucas 9.54, vemos
seu desejo de fazer cair fogo do céu sobre os samaritanos:
“Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo
do céu para os consumir?”

John Gill, conhecido comentarista, menciona um relato sobre o papa


Zacarias (século VIII) em que ele, em uma viagem a Ravenna (Itália), teria
tido a experiência miraculosa de ter nuvens o protegendo do calor do dia e
fogo do céu para protegê-lo do frio à noite. Tudo isso impressionava o povo.
Certamente, manifestações propostas como a do Falso Profeta ratificam este
desejo do homem em apresentar grandes poderes ou grandes experiências.95
No tocante ao povo que presenciará tais feitos, tudo parecerá como o
poder máximo sobre terra e céus, de maneira que se prostrarão sem
resistência diante da besta. O poder de convencimento do Anticristo, unido a
uma postura que anseia por tais sinais e prodígios, é a receita ideal para
Satanás manipular as multidões. O Falso Profeta será grande em poder de
convencimento. Inclusive, repetindo grandes feitos e até a ressurreição de
Cristo, obviamente em falseamento.
Antony Garland registra, em seu comentário sobre o versículo em foco, o
fato de que sinais sempre expressaram uma autenticação das obras de Deus
através de seus profetas e apóstolos. O Falso Profeta utilizará desse
expediente para convencer as pessoas de que aquilo é verdadeiro. E
certamente, os homens ímpios se convenceram disso. Ele nos lembra dos
textos de Êxodo 7.22 e 8.7, nos quais os magos de Faraó realizavam os
mesmos prodígios de Moisés, que esses portentos faziam com que Faraó
permanecesse em seu estado de rebeldia. Mesmo sabendo que Deus havia
endurecido a Faraó, esse fato é significativo.96
A relevância desses dados se dá também para os cristãos do tempo
presente, que muitas vezes tem lançado fundamento sobre sinais e
maravilhas.97 As Escrituras devem ser nosso alicerce de fé, pois são a
Revelação Especial.
John MacArthur Jr., conhecido escritor e teólogo, nos lembra que o Falso
Profeta é estratégico para Satanás, tendo em vista que a religião tem um
poder grandioso sobre as mentes das pessoas.98
Ninguém consegue viver sem um sistema de crença transcendente. Está na
constituição do homem acreditar em algum poder transcendente, algo além
de si mesmo. Todos possuem fé em alguma coisa, divina ou invisível. E é a
partir disso que Satanás trabalhará. Utilizará dessa realidade indubitável.
Será a força religiosa unindo-se ao poderio militar e político.99
John Phillips, ao escrever sobre o livro do Apocalipse, diz de modo
categórico:
O apelo dinâmico do falso profeta vai estar na sua habilidade em combinar conveniência política
com paixão religiosa. Seus argumentos serão sutis, convincentes e atraentes. Sua oratória será
hipnótica, pois ele será capaz de mover as massas às lágrimas ou chicoteá-los em um delírio.
Ele irá controlar os meios de comunicação do mundo e vai habilmente organizar a publicidade de
massa para promover seus fins. Ele irá gerenciar e divulgar enganos através de sua mensagem.
Ele moldará o pensamento do mundo (...).100

É algo assustador, e com indicativos em nossa sociedade no tempo


presente. É a Palavra de Deus se cumprindo. Jesus nos advertiu: “Pois
surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para
enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mc 13.22).
Alguns textos nos mostram a semelhança do que ele pretende:
Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Ap 14.9 – “Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a
besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão.”

Ap 16.2 – “Saiu, pois, o primeiro anjo e derramou a sua taça pela terra, e, aos homens
portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem, sobrevieram úlceras malignas e
perniciosas.”

Ap 19.20 – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua
imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.”

Ap 20.4 – “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de
julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por
causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem,
e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil
anos.”

Dn 3.4-6 – “Nisto, o arauto apregoava em alta voz: Ordena-se a vós outros, ó povos, nações e
homens de todas as línguas: no momento em que ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da
harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de toda sorte de música, vos prostrareis e
adorareis a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor levantou. Qualquer que se não prostrar e
não a adorar será, no mesmo instante, lançado na fornalha de fogo ardente.”

Ora, quando seguimos o raciocínio de MacArthur e apreciamos com


calma os textos bíblicos supracitados, não fica difícil de olhar à volta e
perceber que a cultura pós-moderna, se é que podemos conceituar assim, se
baseia em resultados.
Não seria o mesmo procedimento que vemos em cristãos da atualidade?
Não seria algo semelhante termos homens e mulheres que balizam sua fé a
partir de suas experiências? Quantos, em nossa geração, chegam ao ponto de
rejeitar a Escritura, caso esta não ratifique racionalmente sua experiência?
Chegam a dizer, nesses casos, que a “letra mata, mas o espírito vivifica”.
Além do erro hermenêutico nessas palavras, Garland não está equivocado ao
fazer crítica aos cristãos que baseiam seu relacionamento com a Escritura
partir de sinais que dizem ter experimentado.101
Há mais alguns textos que nos advertem sobre tudo o que tratamos até
aqui:
Ap 19.20 – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua
imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.”

Ora, através dos sinais, o Falso Profeta seduz os homens. Se estes firmam
seus passos fora da Escritura, não será difícil caírem em tal sedução.102
At 8.9-11 – “Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a mágica, iludindo o
povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao
maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Aderiam a ele
porque havia muito os iludira com mágicas.”

É impressionante com a Escritura nos dá informações que, quando


analisadas em conjunto, abrem nossos olhos para a profundidade do assunto.
Ainda vejamos este, agora no Antigo Testamento:
Dt 13.1-4 – “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou
prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros
deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus,
de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a
ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos
achegareis.”

Observe que o alerta é dado. A história tem se repetido. Claro que


estamos tratando de um tempo final; mas, em todo o caso, devemos estar
alertas para as manipulações e enganos do Falso Profeta e dos demais
enganadores. Certamente, a única maneira de proteção se dá quando há
fidelidade para com a Revelação Especial.

2. SINAL DE COMUNICAR FÔLEGO


À IMAGEM DA BESTA

Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Nesta parte do capítulo, vamos olhar esse fenômeno por um prisma diferente
do que fizemos no capítulo anterior.
Além de exercer o seu poder diante da Besta, o Falso Profeta vai executar
um milagre de proporções ininteligíveis. Sendo capacitado pelo poder
maligno, o Falso Profeta executará um fenômeno inexplicável
cientificamente, que é o de tornar viva uma estátua morta. Todas as imagens
da Besta feitas pelos homens na face da terra serão vivificadas, a fim de que
os homens possam adorar a Besta. A pregação do Falso Profeta é a de que a
Besta é um deus e, portanto, digna da adoração dos homens. Ao “comunicar
fôlego à imagem da Besta”, o Falso Profeta estará unindo o mundo na crença
de um só deus, havendo uma única religião. Todos os homens que não
pertencerem a Cristo Jesus serão compelidos a adorar a imagem da Besta.
Este tipo de sinal operado pelo Falso Profeta não tem paralelo na
Escritura. O Falso Profeta fará alguma coisa inusitada.
Provavelmente, todas as repartições públicas, escolas e logradouros
públicos venham a ter imagens da Besta naquele período do fim da história
humana. Essa ação será apenas o início de mais manifestações miraculosas.
É importante que o leitor entenda que essas manifestações poderosas não são
ilusórias, e sim reais. Não serão truques de mágica, mas serão feitas com
poder sobrenatural, que vem do Maligno. A realidade delas é que tornará
possível a mudança religiosa dos seres humanos da época. Eles mudarão de
qualquer uma das religiões que houver no mundo para a religião que adorará
a primeira besta.
O Falso Profeta terá a capacidade de vivificar as imagens em todos os
lugares. Essas imagens serão capazes de movimentos e outras coisas
próprias que indicam uma espécie de vivificação.
Esse fenômeno impressionará muito os homens que não resistirão aos
apelos religiosos do Falso Profeta e acabarão adorando a primeira besta, de
quem ele é profeta. Obviamente esse poder não vem dele próprio, mas de
Satanás.

3. O SINAL DE FAZER A IMAGEM DA BESTA FALAR

Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Além de exercer o seu poder diante da Besta, o Falso Profeta vai executar
um milagre de proporções ininteligíveis. O arremedo ganha proporções
inimagináveis. A tríade satânica não mede esforços em arrogar divindade e
em empenhar esforços a fim de que toda a terra seja iludida ante a suposta
divindade. Sim, pois sabemos que o único que possui vida em si mesmo,
sendo também o autor de toda vida, é Deus. A confecção da imagem seguida
da vivificação da mesma, claramente, é mais uma paródia da criação.
Conforme mencionado anteriormente, o Falso Profeta executará um
fenômeno de tornar uma estátua viva. Alguns comentaristas relatam a proeza
de um imperador romano que confeccionou uma imagem de si mesmo e dava
ordens por detrás da mesma, incentivando e demandando, dessa forma, o
culto ao imperador; uma espécie de ventriloquia. Porém, pela descrição
joanina, podemos perceber que esse sinal é de uma magnitude bem além do
que as dos truques usados pelos ventríloquos.
O Falso Profeta dará condições para que a imagem fale. O termo grego
utilizado pelo escritor é “pneuma”. Isso nos leva ao ato criador de Deus. É
isso que podemos ver na Escritura: “O qual se opõe e se levanta contra tudo
que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário
de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2.4). A Besta da
Terra procura realizar tudo a partir da semelhança com aquilo que o
Altíssimo fez. Esse tipo de acontecimento era utilizado por falsos religiosos
para impressionar as pessoas e, neste caso,103 alguns estudiosos fazem
menção da arte do ventriloquismo. Esta arte era realizada, inclusive, por
sacerdotes responsáveis pela adoração dos imperadores romanos.104
Esta linha de raciocínio também é mencionada por William Barclay, que
também volta os olhos para o episódio entre Moisés e Faraó, além dos
imperadores romanos que possuíam estátuas em vários locais do Império
Romano, exigindo adoração, sempre evocando a si mesmos como deuses.105
George Ladd relata que escritos cristãos da época tratam daquilo que
Simão, o mago, fazia, conforme registrado em Atos 18. Diz-se que foi
confeccionado um rosário de lendas, além de ênfase no fato dele fazer
estátuas falarem.106
John MacArthur nos traz a memória alguns textos bíblicos que tratam dos
deuses dos povos. São interessantes exatamente pelo fato de apresentarem o
que são os ídolos dos povos. Em contraposição ao que a Escritura ensina, o
Falso Profeta fará com que o anormal ocorra.107 Vejamos os textos:
Sl 115.4-7 – “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não
falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos
não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta.”

Sl 135.15-17 – “Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca e
não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; pois não há alento de vida em sua
boca.”

Hc 2.18-19 – “Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de
fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai
daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que
está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum.”

Percebemos, nesses textos, a necessidade daqueles que adoram imagens


de escultura e o quanto Deus adverte e orienta seu povo para que entenda
que ele é o verdadeiro Deus, o Deus vivo e verdadeiro.
Há sentido nisso, pois o termo apresentado, como vimos anteriormente, é
“pneuma”. Não é “zoe” ou “bios”, que seriam os termos bíblicos para vida.
Ora, Satanás e todos os seus agentes, não possuem o poder de conceder vida
ou criar vida. Ele é um falsificador e impostor, um enganador.108
Ainda segundo MacArthur, é possível que o Falso Profeta utilize-se de
toda tecnologia com seus avanços, e com os demais avanços em tempos
vindouros, para fazer tais procedimentos. Aquilo que se vê em produções
cinematográficas pode ser um indicativo de coisas que parecem ser, mas não
são.109
A grande questão, segundo o mesmo autor, é que toda esta parafernália
estará unida ao desejo ardente de pessoas idólatras por ídolos para realizar
sinais e prodígios. Ainda que o Falso Profeta não possa dar a vida, os
homens ímpios, cegos em seus próprios entendimentos, aceitarão a
falsificação como sendo verdade e elevarão a imagem à posição de poder
supremo.110
Realmente, Satanás utilizará de tudo o que for possível para ludibriar as
pessoas, passando a ideia de que nele reside o poder criativo. Ter
conhecimento da Palavra e das falsas doutrinas que imperam nos tempos é
algo fundamental. Seguem esse raciocínio Richard Brooks111 e Donald
Barnhouse.112
Barnhouse não economiza linhas para tratar seriamente deste assunto,
abordando inclusive fatos que já foram abordados no primeiro capítulo.
Todavia, vale ressaltar seu apanhado histórico, não apenas biblicamente
falando mas abordando também reinos e impérios no decorrer da história da
civilização.113
Já Philip Hughes, nos convida a refletir sobre alguns textos bíblicos
interessantes,114 sobre os quais já somos induzidos a pensar mas que neste
momento torna-se importantes mencioná-los, ainda que já tenhamos
apreendido o objetivo de Satanás através da aliança entre as duas bestas
numa perspectiva anticristã, em que almeja-se apresentar o poder criativo de
dar vida e também a morte.
Atentemos para estes textos:
Mt 4.10 – “Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu
Deus, adorarás, e só a ele darás culto.”

Aqui, devemos lembrar que como apenas Deus tem poder de dar a vida, e
também poder sobre a morte, apenas ele deve ser adorado. Satanás sempre
almejou a adoração dos homens, criados para adorar a Deus.
Rm 1.25 – “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura
em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!”

Com a Queda, os homens rejeitam a Palavra de Deus. E por prazeres e


egoísmo, criam seus próprios deuses. Não será nenhuma novidade a grande
alegria de homens e mulheres, os quais buscam poder e glória, em
contemplar o clímax de suas próprias maldades, expressa em uma imagem
com “vida” e falante.
Gn 3.5 – “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como
Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.”

Junta-se a idolatria do coração, do próprio conhecimento, com alguém


que promete a liberdade de independência de qualquer poder.
Dn 1.1-21 – “No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da
Babilônia, a Jerusalém e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoaquim, rei de Judá, e
alguns dos utensílios da Casa de Deus; a estes, levou-os para a terra de Sinar, para a casa do
seu deus, e os pôs na casa do tesouro do seu deus. Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus
eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres,
jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em
ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei
e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus. Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas
iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao
cabo dos quais assistiriam diante do rei. Entre eles, se achavam, dos filhos de Judá, Daniel,
Hananias, Misael e Azarias. O chefe dos eunucos lhes pôs outros nomes, a saber: a Daniel, o de
Beltessazar; a Hananias, o de Sadraque; a Misael, o de Mesaque; e a Azarias, o de Abede-
Nego. Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o
vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se.
Ora, Deus concedeu a Daniel misericórdia e compreensão da parte do chefe dos eunucos.
Disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa
comida e a vossa bebida; por que, pois, veria ele o vosso rosto mais abatido do que o dos outros
jovens da vossa idade? Assim, poríeis em perigo a minha cabeça para com o rei. Então, disse
Daniel ao cozinheiro-chefe, a quem o chefe dos eunucos havia encarregado de cuidar de Daniel,
Hananias, Misael e Azarias: Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias; e que se nos deem
legumes a comer e água a beber. Então, se veja diante de ti a nossa aparência e a dos jovens
que comem das finas iguarias do rei; e, segundo vires, age com os teus servos. Ele atendeu e os
experimentou dez dias. No fim dos dez dias, a sua aparência era melhor; estavam eles mais
robustos do que todos os jovens que comiam das finas iguarias do rei. Com isto, o cozinheiro-
chefe tirou deles as finas iguarias e o vinho que deviam beber e lhes dava legumes. Ora, a estes
quatro jovens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e sabedoria; mas a
Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos. Vencido o tempo determinado pelo rei para
que os trouxessem, o chefe dos eunucos os trouxe à presença de Nabucodonosor. Então, o rei
falou com eles; e, entre todos, não foram achados outros como Daniel, Hananias, Misael e
Azarias; por isso, passaram a assistir diante do rei. Em toda matéria de sabedoria e de
inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os
magos e encantadores que havia em todo o seu reino. Daniel continuou até ao primeiro ano do
rei Ciro.”

Observe, aqui, a fúria que o opositor tem contra aqueles que não querem
fazer parte da imundícia que é a rebeldia contra o Eterno. Ora, não será
diferente no momento histórico em que nos depararmos com as duas grandes
bestas.
Rm 1.21-23 – “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem
lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes
o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus
incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes
e répteis.”

Por vezes, dar glórias a Deus é indispor-se com o mundo, com os hereges,
com aqueles que deturpam as Escrituras. Se a Bíblia é interpretada de modo
errôneo, pouco falta para que ídolos sejam erguidos; não meramente através
de madeira ou pedra, mas ídolos do próprio coração.
O único destaque em meio a toda esta realidade, que traz, inclusive,
alento ao coração do fiel a Deus, é o fato de que em tudo isso Deus
permanece reinando e tem um propósito em todas as coisas. Além daquilo
que encontramos em Romanos 8.28 (“Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo
o seu propósito”), vemos que a Palavra de Deus estará se cumprindo.
Apocalipse 17.17 diz: “Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o
seu pensamento, o executem à uma e deem à Besta o reino que possuem, até
que se cumpram as palavras de Deus.”
Ora, tendo em vista essa verdade, cabe aos santos de Deus guardar com
fidelidade a Palavra de Deus, como orienta 1 Coríntios 4.2: “Ora, além
disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado
fiel.”
É indubitável que o momento será histórico e marcante para todos que
enfrentarem tal situação. Nunca devemos esquecer que o dar “fôlego de
vida” à imagem da Besta precederá a fala. Tudo isso levará um povo ansioso
por maravilhas à devoção.
David Stern é contundente: “A segunda besta engana o povo que vive na
terra, da mesma forma que os magos e feiticeiros da corte do faraó o
enganaram, rebaixando o Deus de Israel”.115
O profeta Jeremias menciona em sua profecia algo relevante:
Jr 10.14-15 – “Todo homem se tornou estúpido e não tem saber; todo ourives é envergonhado
pela imagem que ele mesmo esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego.
Vaidade são, obra ridícula; no tempo do seu castigo, virão a perecer.”

Mas no caso da imagem que falará, ela receberá fôlego. Será algo
espantoso! Mais uma vez somos levados à veracidade de que Satanás deseja
repetir os feitos de Deus, ainda que, como sabemos, de modo falseado.
O mesmo profeta registra novamente:
Jr 51.17-18 – “Todo homem se tornou estúpido e não tem saber; todo ourives é envergonhado
pela imagem que esculpiu; pois as suas imagens são mentira, e nelas não há fôlego. Vaidade
são, obra ridícula; no tempo do seu castigo, virão a perecer.”

Garland discorda daqueles que acham impossível que a imagem venha a


receber tal espírito de vida. Ele entende que não haverá recursos
tecnológicos para um falseamento desse fôlego.116 Garland discorda,
também, de Leon Morris, que defende que esse fenômeno pode ser a
possessão de um espírito maligno a tomar a imagem e fazê-la falar. Morris
crê que tal imagem estará sob autoridade de Satanás, que utilizará seus
maiores demônios para realizar tais eventos. Assim, para ele, será um
demônio a falar através da imagem.117
Garland nos lembra que o Falso Profeta exercerá toda autoridade da
primeira besta, conforme encontramos em Apocalipse 13:12: “Exerce toda a
autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus
habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.”
Somente isso, já demonstra a capacidade que ele terá de fazer a besta
falar, além de produzir nela aparente capacidade intelectual. Todavia,
ressalta-se o fato de que espíritos imundos sempre se apossaram de
hospedeiros vivos, assim como podemos encontrar em Marcos 5.12: “E os
espíritos imundos rogaram a Jesus, dizendo: Manda-nos para os porcos, para
que entremos neles.”
Stedman, por outro lado, segue contrariamente a Garland, mencionando
inclusive o caso na Disneylândia, em que uma espécie de robô do ex-
presidente Abraham Lincoln era exibido de maneira que ele se levantava e
falava com o turista. Segundo ele, era algo de muito impacto para os
visitantes. Assim, entende Stedman, as pessoas serão levadas ao crédito por
coisas maiores que os homens poderão produzir para enganá-las.118
É certo que será algo bem realista, que impressionará a maioria das
pessoas, de maneira que a população será dividida entre aqueles que
conservarão a vida espiritual e perderão a vida, e aqueles que manterão a
vida física mas ficarão para sempre sem a vida espiritual.
O arremedo do Falso Profeta ganha proporções inimagináveis! Não só
veremos o poder vital evocado pela Besta e comunicado a imagem, mas
também veremos nessa imagem um poder mortal que é infringido sobre todos
os que não se dobram em adoração à Besta. Mais uma vez, não podemos
deixar de perceber a imitação, pois bem sabemos que Deus é o único que dá
e tira a vida.

4. O SINAL DE COLOCAR A MARCA


DA BESTA NOS HOMENS ÍMPIOS

Ap 13.16 – “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos,


faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte.”

Penso que após as duas primeiras atitudes, em nível de sinais e prodígios


da segunda besta, não haveria outra consequência se não o que lemos no
versículo supracitado. O propósito primário de Satanás é ludibriar as
pessoas, a fim de que possa dominá-las.
O Falso Profeta Final saberá que a totalidade da humanidade poderá ficar
encantada e enfeitiçada com seus portentos. Como muitas pessoas estão em
busca de sinais e prodígios, elas são presas fáceis para aquele que intenta
contra a glória de Deus e sua criação.
Assim que o Falso Profeta conseguir seus súditos, através das maravilhas
realizadas (como fogo do céu e imagem falante), poderá utilizá-los para
guerrear contra os servos de Deus – aqueles que não aceitarão adoração e,
por consequência, não receberão a marca da besta para comprar ou vender
qualquer produto.
Essa marca é assunto de variadas teorias. São muitos os que a estudaram,
estudam e defendem suas teses. Há quem diga que é “o símbolo da
maçonaria, os dois lados de uma moeda americana, uma alcunha própria, a
observância do sábado como primeiro dia da semana, as iniciais do
Anticristo aparecendo na fronte dos ímpios”, e daí por diante.119
Comumente, entende-se esta marca como lealdade ao sistema imposto
pelo Anticristo, quando a mente e a atividade estarão sujeitas aos ideais de
Satanás.120
Historicamente, não se marcava apenas o gado ou algum animal. Escravos
também eram marcados. Até mesmo alguns soldados romanos eram
marcados com a marca de seu general, quando o apreciavam.121
O princípio de lealdade e autenticidade é arrefecido quando a mão direita
e a fronte são marcadas. Se tomarmos o Pentateuco e voltarmos nossos olhos
para Deuteronômio, ficaremos boquiabertos com a astúcia satânica em
querer ser ou fazer coisas semelhantes às que Deus fez. Vejamos:
Dt 6.5-8 – “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de
toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a
teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao
levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.”

É impressionante a maneira como o Falso Profeta age. Observe a


orientação de Deus ao seu povo e observe, ao mesmo tempo, a estratégia do
Falso Profeta de marcar os homens ímpios após a demonstração de
maravilhas realizadas diante deles.
É certo que Deus tem um povo e seu povo não se curvará ante a pressão
terrena, quer seja econômica, quer política, quer social.
Como é importante conhecer a Palavra de Deus! Na carta ao jovem pastor
Timóteo, o apóstolo Paulo já ensinava:
1Tm 4.1-2 – “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão
da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que
falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência.”
No primeiro século, antes do massacre dos cristãos sob os Césares,
exigiu-se adoração ao imperados através do gesto de se lançar um punhado
de sal sobre o altar onde havia uma imagem do imperador. Era simplesmente
isso. Mas os cristãos não se submetiam a essa ordem, e assim muitos foram
mortos.122
Outra questão é o fato de que os homens e mulheres, no passado, tinham
praticamente todo os seus corpos cobertos pelas vestes. Assim, as mãos e a
fronte, mesmo esta sendo coberta por véu, ficavam visíveis. Em religiões
míticas do passado, e também no presente, utiliza-se a prática de marcar
seus seguidores como sinal de lealdade.123
Gill aponta, de maneira contundente, não apenas esses fatos
supramencionado mas, também, para o Papa e papistas, tomando dados
históricos a fim de demonstrar que o Papa é o falso profeta.124 Aliás, em
muitos comentários, especialmente os mais antigos, encontramos de forma
metódica a afirmação quanto à está questão da Igreja Romana.
O apóstolo Paulo, em Gálatas 6.17, faz menção da prática de escravos
que eram marcados pelos seus senhores, muitos voluntariamente, para
estabelecer o princípio de fidelidade ao seu senhor. Diz o texto: “Quanto ao
mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus.”
O único ponto a se observar nessa colocação de MacArthur é que, como
nos lembra Garland, o termo grego utilizado por Paulo é “στίγμα” (estigma),
enquanto que o termo grego para a marca da Besta é “χάραγμα” (charagma),
de “charassō”, que traz a ideia de gravar; ou seja, esta seria uma marca ou
selo, enquanto a marca da qual Paulo trata é de uma cicatriz,125 não
produzida por alguém no sentido de produção em escala semelhante em
todas as pessoas, onde se retiraria a pele ou a perfuraria.
A gravação que será feita na mão direita e na fronte dos seguidores da
Besta estabelece um elo de lealdade e fidelidade aos seus ideais.126
Encontramos esse sentido em Atos 17.29, quando lemos: “Sendo, pois,
geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro,
à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem.” A
expressão “trabalhados pela arte” traz, em si, a ideia de lealdade colocada
na palavra utilizada.
Garland ainda nos diz:
Nos Papiros, χάραγμα (charagma), está sempre conectado com o Imperador, e às vezes
contém o seu nome e efígie, com o ano de seu reinado. Era necessário para a compra e venda e
deveria estar em todos os tipos de documentos, tornando-os válidos; e havia muitos em “notas
de venda”. Charagma é, portanto, o selo oficial.127

Quanto à marca na mão, o mesmo autor menciona o seguinte:


Ela exige que o adorador desfigure permanentemente seu corpo como um ato de homenagem à
imagem. Ela fornece um meio fácil de identificar aqueles que não terão a marca. É imune à
fragilidade dos sistemas, especialmente técnicos, dada a natureza destrutiva do tempo do fim.128

Há ainda a observação da terminologia επι (epi), que traz a ideia de uma


inserção subcutânea, o que leva alguns à defesa de inserção de microchip.129
Neste sentido, Garland nos traz alguns textos que, segundo ele, nos apontam
para esse fato, ainda que ele seja pela linha de uma gravação. Vejamos:
Mt 18.8 – “Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti;
melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado
no fogo eterno.”

Ap 14.9-10 – “Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora
a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá
do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado
com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro.”

Ap 20.4 – “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de
julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por
causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem,
e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil
anos.”

Quanto a marca da Besta na testa, devemos nos lembrar de um texto do


Antigo Testamento, em Êxodo 28, que nos revela que o Sumo Sacerdote
carregaria uma lâmina de ouro, onde estava em alto relevo a frase
“Santidade ao Senhor”:
Êx 28.34-36 – “Haverá em toda a orla da sobrepeliz uma campainha de ouro e uma romã, outra
campainha de ouro e outra romã. Esta sobrepeliz estará sobre Arão quando ministrar, para que
se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do SENHOR e quando sair; e isso para
que não morra. Farás também uma lâmina de ouro puro e nela gravarás à maneira de gravuras
de sinetes: Santidade ao SENHOR.”
Esse texto nos leva, por exemplo, para Ezequiel, no qual é registrada a
marca na testa como sinal, não de santidade mas de abominação: “E lhe
disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um
sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as
abominações que se cometem no meio dela” (Ez 9.4).
Mais dois textos nos falam da marca em um sentido pecaminoso e
vergonhoso de rebeldia:
Jr 3.3 – “Pelo que foram retiradas as chuvas, e não houve chuva serôdia; mas tu tens a fronte
de prostituta e não queres ter vergonha.”

Ap 17.5 – “Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: Babilônia, a Grande, a Mãe
das Meretrizes e das Abominações da Terra.”

Mas também temos o mesmo termo que trata daquilo que é original, a
marca na fronte que estabelece o reinado de Cristo sobre os seus: “Olhei, e
eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e
quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai” (Ap
14.1). E também: “Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores,
até selarmos na fronte os servos do nosso Deus” (Ap 7.3). Ou seja, a marca
na fronte e na mão direita estabelece a quem se pertence. Mente e serviços
dedicados a quem se adora. Certamente, aqueles que têm o coração fincado
nesta presente terra, não conseguirão deixar que seus corações vivam o que
sempre buscaram. Não apenas nos prazeres do mundo, mas neste desejo que
foi buscado na religião. Esses receberão, sem dúvida, a marca da Besta.
Apenas os fiéis a Deus, pela graça do mesmo Deus, estabelecem uma
caminhada de fidelidade, ainda que tenham que perder a vida. MacArthur faz
um levantamento de acontecimentos presentes, relevantes ao menos para que
pensemos sobre o fato de que tudo em nossa sociedade depende de uma
marca.
Ele traz à tona os microchips subcutâneos que têm sido usados em cães.
Recentemente, um artigo foi publicado informando que algumas pessoas
também já o possuem. Esses microchips possuem os dados dos animais. Se
eles se perderem, podem ser achados mais facilmente, além de poder se
utilizado um scanner que confirmará a identidade do mesmo.130
Ora, isso não seria tão relevante se não tivéssemos o código de barra e os
famosos e importantes computadores, que fazem refletir sobre como nossas
informações estão, de maneira geral, armazenadas em várias esferas, seja
econômica, política, militar ou religiosa. Tomando o exemplo de cartões
bancários, atualmente já há estabelecimentos que fazem leitura de digitais e
até mesmo de face.131
Sem tais códigos (marcas), não somos nada. Não podemos sacar dinheiro,
não podemos movimentar a conta bancária, fazer uma compra, etc.132
Há identidade de tudo e de todos. Todas essas coisas apontam para a
verdade de que há marcas que fazem com que sejamos quem somos. Sem tais
credenciais, registros, identificações, cartões, digitais, entre outros, não
somos reconhecidos. No Brasil, poderíamos ser considerados como
indigentes.133
Assim, não será difícil um sistema político, militar e/ou religioso
determinar o assassinato daqueles que não aceitarem a determinação do
Falso Profeta. Mundialmente, as pessoas estão interligadas e com seus dados
armazenados.
Podemos destacar, também, a questão da globalização, que tem integrado
nações e onde culturas estão em intercâmbio e sofrendo mudanças profundas.
Isso nos leva a pensar na globalização da perseguição que, a partir da marca,
terá dois modos de ataque aos que não se submeterem à ordem do falso
profeta: o primeiro, será a ordem de assassinato sem direito de defesa, para
aqueles que serão considerados rebeldes e infiéis; o segundo, quanto à
questão de aquisição de coisas úteis para a sobrevivência.134
Stedman segue a mesma linha, destacando o comércio global no qual
também podemos tratar das grandes corporações, ou multinacionais. Ele nos
lembra, ainda, de que a marca da Besta é mais uma cópia que Satanás
procurará fazer das coisas de Deus. Ele lembra que a marca é da primeira
besta e que Deus já havia selado os 144.000 fiéis a ele.135 Assim, o diabo
deseja imitar a Deus. Quão tolo é ele.
Atentemos para o texto de Apocalipse 7:
Ap 7.1-8 – “Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando
seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o
mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus
vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e
ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na
fronte os servos do nosso Deus. Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel: da tribo de Judá foram selados
doze mil; da tribo de Rúben, doze mil; da tribo de Gade, doze mil; da tribo de Aser, doze mil; da
tribo de Naftali, doze mil; da tribo de Manassés, doze mil; da tribo de Simeão, doze mil; da tribo
de Levi, doze mil; da tribo de Issacar, doze mil; da tribo de Zebulom, doze mil; da tribo de José,
doze mil; da tribo de Benjamim foram selados doze mil.”

Além disso, vale ressaltar o que diz a Palavra de Deus quanto ao selo do
Espírito Santo, que os crentes em Jesus Cristo recebem: “Acaso, não sabeis
que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co
6.19-20).
Ora, nitidamente o apóstolo diz à igreja que ela não pertence a si mesma.
Ou seja, haverá sempre a existência de uma marca. A marca de Deus para
aqueles que o servem, ou a marca da Besta para aqueles que seguiram a sua
imagem. A humanidade estará dividida. De um lado, os seguidores da Besta;
de outro, os fiéis ao Deus vivo e verdadeiro.
Em Daniel, encontramos o texto referente à imagem que o rei
Nabucodonosor fez e que exigiu adoração do povo. A imagem não foi
adorada pelos fiéis, os quais foram lançados na fornalha de fogo ardente.
Estudiosos apontam para esta semelhança, ainda que com variações na
aplicação do Falso Profeta: “No momento em que ouvirdes o som da
trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita de foles e de
toda sorte de música, vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro que o rei
Nabucodonosor levantou” (Dn 3.5).
Graças a Deus, temos a Bíblia Sagrada, revelação do Deus vivo e
verdadeiro, que nos fala dos acontecimentos difíceis deste período, mas
também de nossa vida eterna com Ele. Vejamos os textos a seguir, que é um
consolo para os fiéis, ainda que morram por guardar a fé:
Ap 7.14 – “Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da
grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro.”

Ap 15.2 – “Vi como que um mar de vidro, mesclado de fogo, e os vencedores da besta, da sua
imagem e do número do seu nome, que se achavam em pé no mar de vidro, tendo harpas de
Deus.”
Ap 20.4 – “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de
julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por
causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem,
e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil
anos.”

Os cristãos, como nos lembra Eugene Peterson (citado por Stedman), que
corroboram com tal raciocínio, devem se preocupar em guardar a Palavra e
proclamá-la em fidelidade. Não devem gastar tempo fazendo contas e mais
contas para saber qual é a marca da Besta. Peterson cita vários estudiosos
que, ao longo da história, têm apresentado diversos nomes, do Imperador
Nero à Adolf Hitler.136 Seria mais sábio trilhar o caminho da fidelidade a
Deus e guardar o coração em oração para dias tão difíceis.
Penso, também, que melhor do que os cálculos e apostas sobre qual será a
marca da Besta é cuidar daquilo que a Palavra revela, pois muitos enganos
têm sido ensinados e muitos não têm tido o cuidado de proclamar a verdade
bíblica com fidelidade. Antes, têm desejado colocar suas ideias para criar
seus próprios reinos.
Embora muitos estudiosos mantenham suas expectativas no Papa e na
igreja romana, penso que não deveríamos ficar restritos a eles. Kretzmann
segue por esta linha também. Cita, inclusive, Martinho Lutero, o qual foi um
convicto neste quesito.137
Lutero menciona em seu comentário sobre o capítulo 13 de Apocalipse:
As abominações que este papado cometeu no mundo não podem ser relacionadas em apenas
um livro. Idolatria, mosteiros, instituições, santos, peregrinações, purgatório, indulgências, a falta
de casamento, e inúmeros outros exemplares de doutrina humana e de obras. Em segundo lugar,
quem é capaz de dizer o quanto o derramamento de sangue, assassinato, guerra e miséria os
papas têm sido a causa, ambos com suas próprias guerras e provocando imperadores, reis e
príncipes?138

Todavia, Wilcock nos dá uma boa visão, mais uma vez, quando nos
convida a refletir sobre a força da religião na vida humana, fazendo com que
foquemos no falso ensino e não exatamente em qual instituição estão as
bestas que se levantarão:
Em outras palavras, onde quer que esta segunda besta se manifeste, ela leva os homens a dizer
“esta religião é tão impressionante, que estamos prontos a consagrar nossas vidas para serem
salvas pelo sistema para o qual ela nos aponta” (...). Religião é, de fato, uma descrição muito
restrita para caracterizar esta segunda besta. Ela é, na forma hodierna de expressão, a
ideologia, seja religiosa, filosófica ou política — que “dá vida” a toda estrutura social humana
organizada independentemente de Deus. Ela é “a mensagem”. Quando em Apocalipse 19.20
essa besta é rotulada como o falso profeta, o texto nos leva de volta à passagem que descreve
profecias falsas em Deuteronômio, e lá encontramos uma advertência, a qual, pela linguagem
religiosa utilizada, aplica-se a qualquer tipo de ideologia: “Quando profeta ou sonhador se
levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou um prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de
que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conhecestes, e sirvamo-los,
não ouvirás as palavras desse profeta” (Dt 13.1-3).139

5. O SINAL DA PRESENÇA DE ESPÍRITOS MALIGNOS


Ap 16.13-14 – “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta
três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de
sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande
Dia do Deus Todo-Poderoso.”

5.1. O TEXTO NOS ENSINA SOBRE A COOPERAÇÃO NA TRÍADE DO MAL NA


PRODUÇÃO DE ESPÍRITOS MALIGNOS

Ap 16.13 – “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três
espíritos imundos semelhantes a rãs.”

Os três personagens finais e mais importantes da história humana (o


Diabo, a Besta do Mar e o Falso Profeta) são dedicados exclusivamente à
obra do mal. A sinergia entre eles será muito forte, porque a associação
deles é alguma coisa que aponta para uma grande harmonia da maldade. Eles
andarão de braços dados para executar os seus propósitos de malignidade.
Eles compartilharão da mesma maldade e também, posteriormente,
compartilharão do mesmo destino eterno.
A tríade será capaz de apresentar três espíritos demoníacos, sendo um
provindo de cada uma das pessoas da tríade do mal.
(a) Esses espíritos são espíritos imundos
No Antigo Testamento, os falsos profetas estão associados ao “espírito
imundo” (Zc 13.2). Pessoalmente, creio que esses espíritos imundos do texto
em estudo tenham alguma coisa a ver com a disseminação da falsa profecia.
Esses espíritos imundos são agentes da tríade da maldade, espalhando o erro
e preparando o mundo para uma grande batalha contra aqueles que são da
verdade.
(b) Esses espíritos possuem formas corpóreas
João afirma que viu “três espíritos imundos” saindo da boca dos três
personagens da tríade do mal. João não poderia ver aquilo que não possui
forma corpórea. Por essa razão, o texto diz que espíritos se apresentarão
como “semelhantes a rãs”.
Praticamente, toda vez que um ser espiritual vai tratar com os seres
humanos, eles têm que tomar forma corpórea a fim de que sejam vistos pelos
homens.
Este é o único lugar no Novo Testamento onde aparece a expressão
“batrachoi” (βατράχοι), que é traduzida como rãs (ou sapos). Obviamente, a
expressão “rãs” é usada como um símbolo de alguma coisa detestável e
nojenta.
Além disso, os sapos coaxam sempre durante a noite, da mesma forma
que os espíritos imundos trabalham no tempo das trevas espirituais. Eles
fazem o erro proliferar e são os grandes auxiliadores da tríade da maldade.
(c) Esses espíritos são demoníacos
Ap 16.14a – “Porque eles são espíritos de demônios.”

É curioso que tanto um ser espiritual (que é Satanás) quanto os seres


humanos (a Besta do Mar e o Falso Profeta) possuam os mesmos poderes de
produzir espíritos de demônios, ou seja, de espírito que executam maldade.
Portanto, esses espíritos estarão a serviço da tríade da maldade. Paulo já
havia advertido, antes de João no Apocalipse, que os espíritos enganadores
são espíritos demoníacos que trabalham no sistema de maldade. Eles é que
estão por detrás dos falsos profetas, falsos mestres, falsos pastores e falsos
apóstolos.
(d) Esses espíritos produzem sinais
Ap 16.14b – “Operadores de sinais.”

Por causa da procedência deles, esses espíritos serão capacitados a


desempenhar sinais, que sempre têm o objetivo de enganar as pessoas de
sobre a face da terra, naquela geração final.
Como esses espíritos procedem da tríade do mal, eles farão obra que
combine com os propósitos malignos da sua procedência. Eles farão
exatamente aquilo para o que são capacitados. Como eles procedem do mal,
eles somente farão as coisas do mal, para o engano e espanto dos homens.
5.2. O TEXTO NOS ENSINA SOBRE A FINALIDADE DOS ESPÍRITOS DE DEMÔNIOS

Ap 16.14c – “E se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do
grande Dia do Deus Todo-Poderoso.”

(a) Os espíritos demoníacos se dirigem aos reis do mundo inteiro


Esses espíritos demoníacos serão de grande ajuda para o Falso Profeta,
porque eles se dirigem aos reis do mundo inteiro com suas finalidades de
enganos pelos sinais. É significativo que eles se dirijam às autoridades
maiores de cada nação. Quando se convence o líder da nação, toda a nação
segue o seu rei; da mesma forma que, quando você convence o chefe de uma
casa, toda a casa o acompanha. Este é o sentido do texto.
(b) Os espíritos demoníacos tentarão reunir todos para a peleja final
O engano produzido pelos espíritos demoníacos é para todos eles se
juntarem para a batalha contra as hostes do bem. O texto afirma que essa
batalha haverá de acontecer “no grande dia do Todo-Poderoso”. Eles
tentarão invadir a região onde está a cidade querida. Do Oriente, virão reis
juntamente com um exército extremamente numeroso (Ap 16.12). Na
verdade, quando eles cruzarem o rio Eufrates, eles não terão permissão para
entrar na antiga terra de Canaã, e essa batalha desejada por eles nunca
acontecerá, por duas razões: porque os cristãos não terão um exército
aparelhado com armas, e porque Deus e seu Cristo lutarão de forma que o
seu povo não precise lutar contra as forças do mal. A tríade do bem, por si
mesma, sem a ajuda de seus remidos, terá a função de derrotar a tríade do
mal e seus asseclas.
5.3. APLICAÇÃO
Aqueles de nós que não estivermos presentes nos dias terríveis da
manifestação do Falso Profeta, já podem ter um antegosto daquilo que ele
fará em grande medida no tempo do fim.
(a) Os falsos profetas de nosso tempo dão ênfase a sinais e maravilhas
Muitos brasileiros, cristãos do evangelicalismo herdado dos Estados
Unidos, desde algumas décadas atrás estão sendo enganados por falsos
profetas que se aplicam na operação de milagres. Por causa dos sinais
supostamente realizados, eles atraem muitos incautos que estão
desesperadamente atentos a coisas sobrenaturais e têm a sua vida pautada em
eventos espetaculares. A espetacularidade de uma religião seduz muitas
pessoas. Jesus Cristo e Paulo já nos advertiram de que, nos últimos tempos,
muitos estariam prestando atenção aos operadores de sinais e maravilhas
que seduzem até os que são seguidores de Cristo. Portanto, os crentes que
prestam atenção às advertências da Escritura não são enganados pelos falsos
profetas, os quais são operadores de sinais e maravilhas. Os falsos profetas
que apresentam sinais e maravilhas têm a potencialidade de seduzir pessoas.
Os eleitos de Deus que se cuidem!
O que acontece hoje, em medida qualitativa menor, acontecerá em medida
qualitativa muito maior quando o Falso Profeta se levantar sobre a terra.
(b) Os falsos profetas de nosso tempo se preocupam com o evangelho
da prosperidade
Talvez o Brasil seja campeão de igrejas locais e denominacionais que
pugnam pelo evangelho da prosperidade. É um evangelho descaracterizado
da verdade de Deus. Se Paulo vivesse entre nós, hoje, provavelmente ele
seria tão ou mais duro com eles do que foi com a igreja gálata (Gl 1.6-9). É
muito triste mexer no rádio ou na TV e ouvir uma grosseira caricatura do
evangelho. O mais triste ainda é que milhões de evangélicos, que não sabem
distinguir teologicamente a mão direita da esquerda, dão suporte financeiro
para que vários de seus líderes se tornem ricos. Esses próprios crentes
vivem na expectativa de se tornarem ricos; mas essa é uma quimera, porque
não existe promessa na Escritura que os defensores da teologia da
prosperidade propalam. Assim, muitos vão vivendo e morrendo na escuridão
espiritual, a despeito de estarem envolvidos com a igreja chamada
evangélica.
Esses falsos profetas enganam o povo de Deus com uma mensagem que
nasce nos corações deles, e não na Palavra de Deus e no verdadeiro
evangelho de Cristo Jesus. Os falsos profetas de nossa geração estão
preparando o caminho para a entrada do Falso Profeta (Anticristo ou Besta
da Terra) no cenário mundial. Com grande probabilidade, esse Falso Profeta
virá do mundo chamado evangélico.
(c) Os falsos profetas de nosso tempo ainda se preocupam com sonhos
e visões
Esse tipo de pregação baseada em sonhos e visões não é tão comum hoje,
exceto em alguns círculos pentecostais mais tradicionais. Embora ele ainda
exista no neopentecostalismo, não é o que mais atrai o povo. Esse tipo de
pregação certamente ilude o povo de Deus, mas não promete muitas
vantagens de riquezas, porque os sonhos comumente não se realizam.
No entanto, ainda há aqueles que vivem dependurados nesses falsos
profetas (especialmente mulheres dependentes de profetizas), guiando suas
vidas por sonhos e visões. É uma tentativa de reviver o profetismo do
passado. Como a ênfase, hoje, está mais ligada ao aparecimento de
apóstolos (que é um movimento mais moderno), a ideia do profetismo já está
sendo deixada de lado. Mas essa tendência nunca irá morrer, apenas
enfraquecer com o aparecimento de outras heresias, antes que o Falso
Profeta Final se manifeste.
A temática do capítulo 13 de Apocalipse gira em torno destas duas
bestas: a que emerge do mar e a que emerge da terra, sendo que esta é serva
da primeira e tem como missão levar os homens a adorarem a besta que
emerge do mar (a qual claramente já demonstramos ser o Homem da
Iniquidade descrito por Paulo na segunda carta aos Tessalonicenses).
Arthur W. Pink, apesar de divergir em determinados aspectos sobre as
Bestas no livro de Apocalipse, corrobora com o parágrafo acima quando nos
diz que o Anticristo é a obra-mestra do Diabo, de forma que ele satisfará os
desejos do mundo que anseia por um super-homem. Será o Anticristo a
consumação das suas obras. Diz ele que “será a pessoa mais extraordinária
que jamais havia aparecido no cenário da história humana”140, com exceção,
claro, de Jesus Cristo, o Deus-Homem.
O mesmo autor considera que haverá genialidade no Anticristo quanto à
intelectualidade, quanto à oratória, quanto à política, quanto ao comércio,
quanto ao governo, quanto ao militarismo e quanto à religiosidade.141
William Hendriksen nos diz que a Besta da Terra é mais perigosa do que
a Besta do Mar, pois é a mente de Satanás, enquanto que a primeira é sua
mão. É mais perigosa, também, porque tem aparência inofensiva. Segundo
ele, tal besta simboliza as falsas religiões e filosofias, as quais fazem
oposição contínua à Igreja de Cristo.142
É interessante, para os estudiosos do assunto, pesquisar as semelhanças
que o Falso Profeta (ou Anticristo, ou ainda a Besta da Terra) procura ter
com Jesus Cristo, o Rei dos reis. Inclusive, quanto aos sinais operados, e
que a Bíblia nos diz que Cristo realizou.
At 2.22 – “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por
Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por
intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis.”

Ora, é exatamente essa uma das semelhanças que o Falso Profeta


estabelecerá com Jesus Cristo. A Bíblia fala sobre isso:
2Ts 2.9 – “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e
sinais, e prodígios da mentira.”

Vale, ainda, mencionar a sagacidade do Diabo, ao querer reproduzir a


Trindade, quando tomamos os capítulos 12 e 13 do Apocalipse. Claro que só
consegue estabelecer a trindade do mal, que há de perseguir cristãos e
alegrar os ímpios com seus sinais e prodígios.
Boa é a colocação de Oliver Martin Thomson em seu comentário:
Infelizmente, a cristandade está cheia dessas cousas, hoje em dia. Há milagreiros, sedutores e
falsificadores de línguas por toda a parte, e o poder atrás de tudo isso, é o dragão; é satânico.143

Interessante é que seu comentário data de 1979. Imagine se pudesse ver o


que tem acontecido no descortinar do terceiro milênio!
Boa p arte da argumentação deste cap ítulo devo à p esquisa feita p elo acadêmico Anderson José da Silva, nos seus deveres da
discip lina Teologia da Revelação, ministrada no CPAJ, em 2014.
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Acesso em: mai. 2014.
Ibidem.
Ibidem.
Anthony Garland, Book of Revelation. Disp onível em:
http ://www.sp iritandtruth.org/teaching/Book_of_Revelation/commentary /htm/chap ters/13.html#Revelation%2013%3A13.
Acesso em: mai. 2014.
Ibidem.
John Fullerton M acArthur Jr., The Final False Prophet, part 2. Disp onível em: http ://www.gty.org/Resources/Sermons/66-48.
Acesso em: abr. 2014.
Ibidem.
John Fullerton M acArthur Jr., The Final False Prophet, part 2. Disp onível em: http ://www.gty.org/Resources/Sermons/66-48.
Acesso em: abr. 2014.
Ibidem.
Anthony Garland, Book of Revelation. Disp onível em:
http ://www.sp iritandtruth.org/teaching/Book_of_Revelation/commentary /htm/chap ters/13.html#Revelation%2013%3A13.
Acesso em: mai. 2014.
Ray Stedman, When Men become Beasts. Disp onível em: http ://www.ray stedman.org/new-testament/revelation/when-men-
become-beasts. Acesso em: mai. 2014.
Eugene Peterson, em Ray Stedman, When Men become Beasts. Disp onível em: http ://www.ray stedman.org/new-
testament/revelation/when-men-become-beasts. Acesso em: mai. 2014.
Paul Kretzmann, Bible Commentaries. Disp onível em: http ://www.study light.org/commentaries/kp c/view.cgi?bk=re&ch=13#1-
4. Acesso em: mai. 2014.
M artinho Lutero, em Paul Kretzmann. Disp onível em: http ://www.study light.org/commentaries/kp c/view.cgi?bk=re&ch=13#1-
4. Acesso em: mai. 2014.
M ichael Wilcock, A mensagem de Apocalipse: eu vi o céu aberto, ٣ª Reimp ressão, trad. Alexandros M eimaridis (São Paulo:
ABU Editora, 2003) p .54.
W. Arthur Pink, El Anticristo (Barcelona: Editorial CLIE, 1923) p .74. Entretanto, Pink confunde o Anticristo com o Homem da
Iniquidade, que é uma confusão comum inclusive dentro de círculos Reformados. [N.A.]
W. Arthur Pink, El Anticristo (Barcelona: Editorial CLIE, 1923) p .74-78.
William Hendriksen, Mais Que Vencedores: Uma interpretação do livro do Apocalipse (São Paulo: Cultura Cristã, 1987) p .175.
Oliver M artin Thomson, O Apocalipse (Jaú: Refúgio gráfica e editora, 1979) p .93.
22 | A IMPORTÂNCIA DOS
SINAIS NO MINISTÉRIO
PROFÉTICO

E
ste capítulo tratará sobre a grande importância dos sinais, tanto dos
verdadeiros como dos falsos profetas:

1. A IMPORTÂNCIA DOS SINAIS


NO MINISTÉRIO DOS VERDADEIROS PROFETAS
Em geral, o exercício do ofício profético do Antigo Testamento era
acompanhado do desempenho de milagres, pois os milagres autenticavam a
atividade profética. Deus sempre deu testemunho de sua palavra junto aos
seus santos profetas. Se olharmos o rio da inspiração bíblica perceberemos
que, no decorrer da revelação de sua vontade, Deus sinalizou sua palavra.
Moisés, Elias, Eliseu, os demais profetas, Cristo e seus apóstolos foram
aprovados em palavras e sinais. Os sinais confirmam a mensagem,
apontando para a verdade proclamada.
Observemos o ministério de nosso Senhor Jesus Cristo, mais
especificamente no evangelho de João. Sendo este o mesmo o autor de
apocalipse, é pertinente que consideremos a maneira como João organiza seu
evangelho em torno de sinais. Podemos observar um padrão em seu
evangelho de sinais e ensino, ou ensino e sinais.
Jo 2.11 — “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a
sua glória, e os seus discípulos creram nele.”

Jesus Cristo é o profeta supremo. Ele tomou para si o ofício profético e,


para seguir na mesma linha dos profetas do Antigo Testamento, começou seu
ministério realizando milagres, dos quais esse foi o primeiro. A
apresentação de um milagre aponta para a glória do profeta e, de certa
forma, o habilita a ser visto como um verdadeiro profeta de Deus. Pelo que
Jesus fez em Caná, os seus discípulos creram nele, ou em sua messianidade.
Um dos admiradores e seguidor de longe, durante a noite, “foi ter com
Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus;
porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com
ele” (Jo 3.2). Vemos, aqui, o testemunho de uma autoridade judaica de que
era evidente que Jesus procedia de Deus, pois tais sinais eram provas
irrefutáveis de sua aprovação.
“E, contudo, muitos de entre a multidão creram nele e diziam: Quando
vier o Cristo, fará, porventura, maiores sinais do que este homem tem feito?”
(Jo 7.31). Era consenso por parte da multidão que o Cristo, quando viesse,
faria grandes sinais e assim, diante do que presenciavam quanto a Jesus,
ficaram em suspenso se porventura não seria ele o Cristo.
Jo 20.30-31 — “Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão
escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”

Aqui, João define sua intenção em seu evangelho de forma clara: ele
selecionou alguns sinais, a fim de conduzir seus leitores à crença e à vida
mediante o Filho de Deus.
Diante dos discípulos, diante das autoridades, diante da multidão e, por
fim, diante dos leitores do evangelho, Jesus é apresentado como Filho de
Deus por meio de seu ensino sinalizado. João sabia da importância dos
sinais a ponto de organizar seu evangelho em torno dos mesmos.

2. A IMPORTÂNCIA DOS SINAIS


NO MINISTÉRIO DOS FALSOS PROFETAS
Quando os falsos profetas apareceram, durante o decorrer da história, eles
tentaram imitar o grande profeta, que é Cristo Jesus. O Falso Profeta não
agirá de modo diferente. Todavia, diferentemente de muitos falsos profetas
do tempo presente, que apresentam sinais que não podem ser comprovados,
o Falso Profeta se apresentará publicamente para desempenhar sinais reais,
os quais causarão grande impacto na vida do povo.
Para poderem enganar o povo, os falsos profetas, no decorrer da história,
sempre se apresentam com sinais, ainda que estes procedam do pai da
mentira, que é Satanás. Não será diferente na manifestação do Falso Profeta
Final. Ele se apresentará como capaz de fazer sinais e prodígios.
Ap 13.13 — “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra,
diante dos homens.”

Assim, quando nos voltamos para o Apocalipse de João e sua descrição


do Falso Profeta a operar grandes sinais, sabemos que a ação do Dragão
nele é de uma magnitude singular. Dessa forma, a Besta da Terra consegue
seduzir uma multidão inumerável, de proporções mundiais, à crença e à
adoração a Besta do Mar.
É pertinente, aqui, não deixarmos de mencionar o ensino clássico do
apóstolo Paulo que, de fato, é também uma revelação acerca desses dias de
domínio das trevas:
2Ts 2.9-10 — “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder,
e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não
acolheram o amor da verdade para serem salvos.”

Os falsos profetas ensinam a mentira e são assistidos por poderes do


engano, a fim de validarem a mentira segundo a eficácia de Satanás. Observe
a ênfase paulina quanto a manifestação do iníquo ser assistida com poder,
sinais e prodígios associados ao falso ensino.
Desde os tempos antigos, a estratégia de Satanás é a mesma. Os falsos
profetas sempre se apresentaram com sinais e prodígios. Moisés já advertira
o povo de Israel quanto a esse estratagema:
Dt 13.1-5 — “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou
prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após
outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou
sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR,
vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso
Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a
ele vos achegareis. Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o
SENHOR, vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para
vos apartar do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim,
eliminarás o mal do meio de ti.”

A ingenuidade consiste em não perceber o conteúdo do ensino por ficar


maravilhado com os feitos prodigiosos. Os falsos profetas pregam rebeldia
contra o Senhor; falam mentira procedente do pai da mentira, que a
fundamenta com conteúdo e poder.
Os sinais são muito importantes para conseguir a confiança daqueles que
ouvem os falsos profetas. Na verdade, eles são imitadores dos verdadeiros
profetas de Deus do Antigo Testamento e de Jesus Cristo, o supremo profeta,
apóstolo e bispo de nossas almas.
23 | A NATUREZA DOS
MILAGRES OPERADOS PELOS
FALSOS PROFETAS

O Falso Profeta será um homem de muitos milagres. Os sinais e prodígios


serão a sua ferramenta para enganar o coração dos homens e conduzi-los ao
erro e a adorar a primeira besta e, consequentemente, o Dragão.
Ap 13.13-14 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe
foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma
imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

1. OS MILAGRES DO FALSO PROFETA


NÃO SERÃO MERAS FALSIFICAÇÕES
Ap 13.13 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens.”

Ele operará sinais e maravilhas; se reais ou ilusórios, não temos como


saber exatamente. Todavia, é minha crença pessoal que os milagres
apresentados por eles não serão mero exercício de prestidigitação ou de
algum truque, porque não serão sinais feitos como se faz em um show de
mágica. Eles terão propriedades enormes e espantarão os que estiverem
presentes nos eventos miraculosos. Do que podemos ter certeza é que seus
sinais terão uma noção de falsidade (porque procedem, em última instância,
do pai da mentira) e a sua finalidade é enganar o povo; mas, serão milagres
reais, que poderão ser comprovados.
O Falso Profeta usará de milagres para promover a falsa adoração. Elias
pediu fogo do céu justamente como uma forma de determinar quem eram os
falsos profetas em Israel e, assim, eliminá-los da face da terra e
reestabelecer o culto a Javé, o qual havia sido corrompido pelos profetas de
Baal.
Agora, o Falso Profeta irá fazer descer fogo do céu como uma maneira de
provocar culto a Satanás. É bem provável que as pessoas façam correlações
com os atos dos profetas de Deus e, por isso, creiam que o ele que faz é da
parte de Deus.
Lidamos com um ser das trevas que é enganador, algo expresso no seu
nome. Pela instrumentalidade do Falso Profeta, Satanás irá enganar os
homens.
Nesses falsos milagres, Deus observará aqueles que verdadeiramente o
amam. Quando o profeta anuncia e faz algo, e conduz o povo para um
caminho que não é o do Senhor, esse profeta deve ser reconhecido como
falso. É isso que preceitua a lei do Senhor (Dt 13.1-3).

2. OS MILAGRES DO FALSO PROFETA


SERÃO CONVINCENTES.
Ap 13.14 –“Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado
executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à
besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

Os efeitos sedutores dos milagres serão muito grandes. Os homens que


estiverem em dúvida sobre quem é a Besta do Mar serão convencidos pelo
poder da Besta da Terra de que ele deve ser adorado. Muitos milagres são
realizados em nome de Deus e convencem as pessoas de que, realmente, elas
foram alvos de algum benefício vindo do céu, quando na verdade se trata de
ação diabólica. Albert Barnes144 traz, em seu comentário, uma lista de
grandes milagres creditados aos santos romanos e que mantém inúmeras
pessoas presas a adoração a esses santos.
A realização de milagres não autentica o ministério de uma pessoa.
Satanás e sua trindade profana produzirão milagres que enganarão o mundo.
Jesus já nos advertiu quanto a isso:
Mt 7.15 – “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas,
mas por dentro são lobos roubadores.”

Mt 7.21-23 – “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor,
Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos
demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca
vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade.”
Se homens fizeram milagres, e a Escritura não diz que foram milagres
falsos, o que impede que as duas figuras finais mais importantes façam reais
milagres para o engano das pessoas? Se hoje já é assim, quanto mais nos
dias finais!

3. OS MILAGRES DO FALSO PROFETA


SERÃO UMA FORMA DE COERÇÃO
Ap 13.14 – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta,
àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

Os milagres do Falso Profeta serão capazes de manipular a vontade das


pessoas. Os homens se sentirão tão seduzidos por esse líder religioso que
não serão capazes de pensar por si mesmos, mas se submeterão
completamente a influência maligna do falso profeta. Ele lhes dirá o que
fazer e as pessoas obedecerão! Seguirão as suas ordens sem questionamento,
por que foram seduzidos pela grandeza de seus sinais.
O nível de submissão será tão grande, que os homens entregarão a esse
profeta o controle total de suas vidas.
Ap 13.16-18 – “A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos,
faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém
possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu
nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é
número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.”

Os homens, em obediência ao Falso Profeta, se permitirão serem


marcados, ricos e pobres, escravos e livres; será dado a eles uma marca
para que tenham acesso aos bens de consumo. Os homens serão
completamente subjugados por esse líder religioso. A marca essencial do
poder religioso do Falso Profeta é a opressão. É um poder religioso que
cerceia a liberdade do indivíduo, que o escraviza. Os falsos profetas que já
operam em nosso meio fizeram exatamente isso. Operam de forma muito
opressora na vida de seus seguidores, obrigando-os a se portarem com
fidelidade absoluta aos seus ensinamentos, afastando-os de seus familiares e
de qualquer pessoa que possa ser ameaça a essa escravidão.
Muito se discute sobre o número da besta. Existem posições variadas
quanto ao significado desse número. Para alguns é o papado, outros apostam
em um líder político. Já se fez todo tipo de numerologia, na tentativa de
identificar o significado desse número. De Hitler a Gorbachev, todos os
grandes líderes mundiais já tiveram seus nomes associados ao número da
besta.
Precisamos considerar, primeiro, que a besta que emerge da terra é um
líder religioso que surgirá para proclamar a adoração a primeira besta. Ele
seduzirá os homens não pelo poder político, mas pelo poder religioso.
Segundo, que a intenção de João não é que consigamos identificar com
antecedência quem, entre os homens, é o candidato a Besta da Terra. Isso, os
que se mantiverem fiéis ao Senhor saberão pelas indicações que a própria
revelação nos oferece. Em terceiro lugar, devemos considerar que parece
sensato entender esse número como uma forma de João dizer aos seus
leitores que é possível identificar o Falso Profeta; é possível conhecer
usando a sabedoria, porque é humano.
Ap 13.18 – “Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta,
pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.”

Assim, a ênfase de João não está sobre o significado do número mas


sobre a possibilidade de se reconhecer o Falso Profeta. Esse número, de
alguma maneira, expressa o caráter do Falso Profeta, expondo sua
identidade.
Albert Barnes, Notes on the Bible, Disp onível em: e-Sword.
24 | OS OBJETIVOS DO FALSO
PROFETA NA OPERAÇÃO DOS
SINAIS

É importante observar que o verbo grego “poieo” (traduzido como


“operar”) está no presente do indicativo, e sugere que o Falso Profeta
passará toda a sua existência apresentando atos espetaculares diante do
mundo que o observa encantado. Portanto, a operação de sinais feita por ele
será contínua.

1. O FALSO PROFETA OPERARÁ


GRANDES SINAIS PARA EXIBIÇÃO
O Falso Profeta, parece-nos, quer prestígio dos que dominam e dos que são
dominados; ou seja, da Besta do Mar e dos homens ímpios. Ainda que ele
opere milagres a fim de enganar os homens para que adorem a Besta, ele
apresenta seus milagres para receber agrado, tanto dos homens como da
Besta.
1.1. A EXIBIÇÃO DOS SINAIS É FEITA DIANTE DO POVO
Ap 13.13 – “Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à
terra, diante dos homens.”

Da mesma forma como os profetas verdadeiros de Deus faziam seus


portentos perante o povo, assim também fará o Falso Profeta. Todas as
pessoas ímpias prestarão atenção à performance do Falso Profeta e,
certamente, o louvarão pelo seu poder. O texto diz que “até fogo do céu faz
descer à terra, diante dos homens”. Se um líder religioso quer o prestígio
dos homens, ele tem que fazer coisas que encantam aqueles que vão
reconhecer o seu poder.
1.2. A EXIBIÇÃO DOS SINAIS É FEITA DIANTE DA BESTA
Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta.”
O Falso Profeta receberá o poder de executar milagres; mas ele se
preocupará em executá-los, também, perante a Besta do Mar (que, àquela
altura, será a governante da política mundial). Ele certamente quererá o
prestígio e os elogios vindos do maior governante humano de toda a história,
pois o poder que este terá ultrapassará o poder dos governantes até agora
existentes.
O Falso Profeta, como oficial imediato da Besta, se exibirá diante do
“chefe” para receber prestígio dele perante o povo. O povo verá que ele tem
prestígio, porque a presença da Besta na hora da execução dos milagres
aponta para o prestígio do Falso Profeta; assim, todos darão crédito a ele e
adorarão seu “chefe”.

2. O FALSO PROFETA OPERARÁ GRANDES SINAIS PARA ATRAIR AS PESSOAS


Ap 13.14a – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta.”

Debaixo da influência de Satanás, o Falso Profeta estará certo de que a única


maneira de convencer os homens do mundo será com a performance de
coisas que lembrarão Cristo, com seus sinais e prodígios. Ele quererá
provar que está servindo ao deus verdadeiro, mas que não é o Deus e Pai de
Jesus. Porém, a essa altura, o povo não saberá da procedência dele. A
apresentação de sinais e maravilhas será uma estonteante demonstração de
que ele é um profeta verdadeiro!
2.1. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ PORQUE SE APRESENTARÁ DISFARÇADO
O método do Falso Profeta é o uso do engano. Não tem como haver
sedução sem haver algo que engane. A fim de seduzir um homem, uma
mulher usa artifícios que não pertencem a ela mas que atraem o homem
incauto. Essa tática funciona em qualquer empreitada onde uma pessoa quer
convencer outra a passar para o seu lado ou para crer nas coisas que crê.
Não se esqueça de que o texto em estudo diz que a Besta da Terra “se
parece com cordeiro mas fala como dragão” (Ap 13.11). Ela parecerá mansa
e humilde, mas fala com grande autoridade. Esses dois aspectos de um
profeta são elementos fortíssimos para seduzir pessoas.
Jesus advertiu que os falsos profetas sempre se apresentarão disfarçados
de ovelhas, mas que por dentro são lobos devoradores.
Mt 7.15 – “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas,
mas por dentro são lobos roubadores.”

Paulo diz que o “chefe” da Besta da Terra também se servirá de artifícios


para seduzir as pessoas, a fim de que estas o adorem. Essa é a artimanha
mais poderosa que aparecerá na história humana para tentar arrebanhar
inclusive os crentes que estiverem vivendo no mundo.
2Ts 2.9-12. – “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder,
e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque
não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes
manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos
não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.”

Certamente, os crentes não serão definitivamente enganados; porém,


poderão ficar em dúvida sobre algumas coisas em virtude do que vierem a
ver e a ouvir.
Os dias que precedem a vinda de Cristo serão dias em que a igreja de
Deus precisará de muitas pessoas com um real dom de discernimento
espiritual, a fim de ajudar os cristãos que estiverem claudicando.
2.2. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ PORQUE OS SEUS SINAIS SERÃO
IMPRESSIONANTEMENTE CONVINCENTES
Eu já mencionei, em outro lugar deste livro, que os sinais apresentados
pelo Falso Profeta serão muito impressionantes devido ao portento deles.
Todos os que não derem crédito à verdade de Deus, àquela altura, serão
seguidores certos dos ensinos do Falso Profeta. Mesmo os que sejam
cristãos, mas não possuírem uma porção boa da luz de Deus, certamente
seguirão aos ensinos do Falso Profeta, ainda que temporariamente, em
virtude da força dos sinais apresentados por ele.
A realidade dos sinais colocará em cheque a crença de muitas pessoas,
porque os sinais serão muito convincentes. Quando falsos profetas
apresentam alguns sinais hoje, não é difícil provar a falsidade deles, porque
eles tentam simplesmente manipular as pessoas; mas os milagres do Falso
Profeta Final terão por detrás o poder de Satanás, assim como o da própria
Besta do Mar. Os sinais dele serão convincentes e porão muitas pessoas
debaixo de grandes dúvidas espirituais.
É minha oração que se alguns de meus leitores estiverem vivos no tempo
da manifestação do Falso Profeta, não se dobrem diante do engano. Serão
tempos em que os cristãos serão postos à prova, e rogo a graça de Deus
sobre esses irmãos para que eles sejam mais que vencedores, por causa de
seu amor a Cristo e do amor de Cristo por eles, sobre o falso ensino e a falsa
profecia desses tempos finais.
2.3. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ PORQUE OS SEUS SINAIS SERÃO EFICAZES
Se há alguém que pode seduzir outro alguém, é aquele que tem poder em
suas mãos. Nos dias de hoje, os falsos profetas já seduzem muitos crentes
incautos e desejosos de ver manifestações espetaculares. Muitos crentes têm
sido seduzidos pelos sinais operados pelos falsos profetas. Veja o que Cristo
disse desses falsos profetas:
Mt 24.24 – “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.”

Os sinais encantam muitos crentes ainda hoje. Além disso, há eleitos de


Deus que podem ficar enganados, ao menos temporariamente, pelo encanto
dos sinais. Portanto, é importante que os crentes em Cristo Jesus prestem
atenção a esses perigos e não se exponham à pregação e às operações
miraculosas desses falsos profetas; porque, por detrás da pregação e dos
sinais deles, há o intuito satânico do engano dos crentes.
Se isso é verdadeiro a respeito dos falsos profetas que hoje existem, que
se pode dizer, então, do Falso Profeta? Ele terá poderes muito grandes de
sedução.
2.4. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ PORQUE OS SEUS SINAIS SERÃO
CONTROLADORES

Ap 13.14 – “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar
diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta,
àquela que, ferida à espada, sobreviveu.”

Por causa dos sinais operados diante do povo e da Besta, o Falso Profeta
terá o controle dos homens para levá-los à obedecê-lo. O Falso Profeta
ordenará que os homens da terra façam uma imagem à Besta, e ele será
ouvido naquilo que ordenou.
A humanidade perdida não terá como não obedecer ao Falso Profeta, pela
força e prestígio dele em razão dos sinais que executa. O povo que habita
sobre a terra não mais será capaz de pensar e agir por si mesmo, mas
pensará e agirá de acordo com a mente do Falso Profeta, que é o líder
religioso do governo da Besta. Assim como hoje muitos já começam a
pensar pela mente de homens inteligentemente maus, praticando coisas más,
de maneira muito mais eficaz os seres humanos serão subservientes ao Falso
Profeta.
2.5. O FALSO PROFETA SEDUZIRÁ PORQUE OS SEUS SINAIS SERÃO ESPANTOSOS

Ap 13.15 – “E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem
falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta.”

Os homens ficarão tão extasiados com o poder sedutor do Falso Profeta


que eles serão completamente submissos a ele. Eles ficarão confusos diante
dos sinais, porque nunca se ouviu na história que imagens viessem a possuir
vida e a serem capazes de falar.
Aqueles de nós que vivemos em uma geração de robótica e de tecnologia,
dantes impensável, podemos ter várias ideias a esse respeito. Alguns filmes
mostram algumas possibilidades com efeitos gráficos fantásticos; mas,
pessoalmente, não creio que os sinais operados pelo Falso Profeta terão
qualquer caráter científico. Serão sinais que estarão além da compreensão
da razão humana, porque possuem uma origem não-humana. Eles não podem
encontrar razão na simples capacidade humana, meramente porque esses
milagres operados pelo Falso Profeta serão executados pelo poder de
Satanás. O Falso Profeta operará sinais que deixarão os homens sem fôlego
e eles acabarão obedecendo e sendo subservientes ao seu líder religioso.
2.6. O FALSO PROFETA TENTARÁ SEDUZIR OS PRÓPRIOS CRISTÃOS
O Falso Profeta Final, como seus antecessores na história, tentará não
simplesmente enganar os membros de outras religiões mundiais mas enganar,
se possível, os próprios eleitos.
Mt 24.24-25 – “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito.”

Essa profecia de Jesus Cristo é muito significativa. Podemos estar certos


de que os que estiverem vivendo naquela época serão tentados a passar para
o outro lado, de tão sedutora que será a mensagem e a performance poderosa
do Falso Profeta.
O alvo de um Falso Profeta será sempre o de seduzir os que o veem e o
ouvem. Até àquela altura, os cristãos estarão no meio da multidão,
observando as peripécias espirituais e proféticas do Falso Profeta. Eles
estarão sujeitos ao engano, ao menos temporariamente, até que tenham seus
olhos abertos pelo próprio Deus. Não se esqueçam de que a performance de
sinais é extremamente sedutora.
Ainda hoje, muitos crentes vão atrás de sinais e ficam em igrejas
apóstatas por causa de sinais. Não é incomum vermos pessoas que
ingenuamente permanecem em algumas igrejas simplesmente por causa de
sinais. O engano deles é muito sutil e gradual. Há uma crescente de engano
para que haja uma real sedução. Os que estão sob engano não caíram de uma
hora para outra. Pouco a pouco eles vieram a ser encantados com o que se
oferece em muitas igrejas evangélicas. Se a graça divina não operar, eles
vão ficar por muito tempo sob o feitiço dos sinais e prodígios supostamente
feitos nesses lugares.
Para esses crentes sob engano, os sinais são atestados da veracidade dos
profetas. Alguns deles ficam seduzidos por muitos anos, até que um dia caem
na realidade e choram de tristeza.
25 | A CONDENAÇÃO DO
FALSO PROFETA FINAL

O que aconteceu com os falsos mestres do passado é o que acontecerá, em


medida muito mais rigorosa, ao Falso Profeta Final. O que Deus exigiu do
seu povo fiel, com respeito ao castigo que eles deviam impingir aos falsos
profetas, é o que ele próprio fará com o Falso Profeta Final. O castigo deste,
possuirá alguns passos que estudaremos abaixo:
Ap 19.20 – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos
diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua
imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre.”

1. A PRIMEIRA PARTE DA CONDENAÇÃO É O APRISIONAMENTO

Ap 19.20a – “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta.”

Nesse verso, os dois personagens mais importantes dos dias finais, que
precedem a vinda de Cristo, sofrerão sua primeira grande derrota. O grande
revés do Falso Profeta e da primeira besta é que eles serão aprisionados.
1.1. A PRISÃO DO FALSO PROFETA SERÁ REPENTINA
Quando todas as forças inimigas tiverem contando vitória sobre os
cristãos, haverá uma ação divina inesperada. O aparecimento de Cristo
colocará um fim na liderança do mal. Portanto, não haverá um combate longo
entre as duas forças, do bem e do mal, porque são exércitos de natureza
diferente. Os exércitos inimigos de Cristo não poderão fazer frente aos
exércitos do bem.
Parece-me que, repentinamente, como em um piscar de olhos, os exércitos
do mundo ficarão sem os seus líderes mundiais – a Besta do Mar (que é a
primeira besta) e o Falso Profeta (“ψευδοπροφήτης” [pseudoprophētēs]),
que é a segunda besta. A primeira besta é a realeza do mal, e a segunda é a
porta-voz da primeira.
A Besta e o Falso Profeta estarão prontos para a batalha do grande dia e
estarão esperando que os reis que vêm do leste cheguem (Ap 16.12). Não
sabemos se eles realmente chegarão, mas de qualquer forma, os dois
personagens serão aprisionados repentinamente, sem que possam iniciar a
batalha. Eles terão esperança de exterminar os crentes da cidade querida,
mas não contarão com a intervenção do céu que virá contra eles de modo
rápido, sem lhes dar a oportunidade de fuga. A prisão deles será a primeira
manifestação do castigo divino.
1.2. A PRISÃO DO FALSO PROFETA POSSUIRÁ UMA NATUREZA FÍSICA
Esses dois grandes comandantes do mundo ímpio são tomados e levados à
prisão. A expressão grega para “foram aprisionadas” é “ἐπιάσθη”
[epiasthē], que pode ser traduzida como “ficar sob custódia”. Essas duas
pessoas não mais estariam comandando suas forças, nem poderiam instruí-
las.
Geralmente, a tendência dos evangélicos é espiritualizar todas as coisas,
especialmente as de Apocalipse. Eles não conseguem ver quase nada de
modo literal; ou seja, eles têm muita dificuldade de interpretar um texto
literalmente. Por quê? Porque o livro do Apocalipse é um livro simbólico.
Ora, é verdade que o livro seja altamente simbólico, mas não quer dizer que
todas as coisas devam ser interpretadas simbolicamente. Certamente, a
prisão deles não será algo sem fisicalidade. Por causa da humanidade deles,
serão colocados em uma prisão, como deve acontecer com todos os
malfeitores. Lembre-se, também, de que as duas bestas possuem fisicalidade,
sendo perfeitamente humanos e, portanto, podem ser colocadas por detrás
das grades, sem qualquer poder para comandar suas tropas do mal de dentro
das prisões.
Não vejo como a prisão deles deva ser algo simbólico, ou que a prisão
não seja em um lugar físico. É perfeitamente possível entender essa prisão
como sendo um lugar seguro, mantendo-os sob custódia até o momento da
condenação. Portanto, não devemos interpretar todas essas passagens
espiritualizando-as, como se a fisicalidade delas fosse uma irrealidade.
Não sabemos onde estará essa prisão, mas existe a probabilidade de que
sejam levados a Jerusalém, onde será o refúgio dos cristãos àquela altura.
1.3. A PRISÃO DO FALSO PROFETA ACONTECERÁ NA IMINÊNCIA DE UM COMBATE
O texto parece sugerir que um conflito está prestes a acontecer entre as
forças da Besta do Mar e a dos cristãos. Entretanto, as forças do mal serão
pegas de surpresa, porque os seus líderes serão sorrateiramente presos. É
possível que o aprisionamento das duas grandes figuras seja um só evento,
ou seja, que as duas sejam presas juntas.
A ideia de um combate iminente aparece no contexto mais amplo do texto
em estudo:
Ap 16.12-14 – “Derramou o sexto [anjo] a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas
secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol.
Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos
imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se
dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia
do Deus Todo-Poderoso.”

A prisão da Besta e do Falso Profeta acontecerá após um enorme


movimento militar, liderado por eles com a finalidade de serem vencedores
na maior batalha da história. O lugar desse combate é conhecido na Escritura
como “Armagedom” (Ap 16.16), descrito como um lugar imenso dentro do
Oriente Médio em que, supostamente, caberia muitíssimos soldados para a
batalha.
Além disso, os aliados da Besta e do Falso Profeta, que são os grandes
reis do “mundo inteiro”, virão do oriente de nosso planeta, do lugar onde o
sol nasce. É nessa época que a Escritura diz que Satanás será solto para
“seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra” (Ap 20.8a) e ajuntará
todos para a peleja do grande dia do Senhor. Eles marcharão pela superfície
da terra, até chegar a Armagedom, sitiando o acampamento dos santos. Estes,
não serão soldados, e sim refugiados, tentando se proteger da grande
perseguição.
Entretanto, essa batalha no Armagedom, na realidade, nunca acontecerá,
porque os crentes não possuem exército para vencer uma multidão tão
inumerável de inimigos.145 É nessa hora que entrarão em cena os anjos e o
Senhor Jesus Cristo, que lutarão por eles.
Depois do combate, que na realidade não existirá, o Falso Profeta e a
Besta serão presos, sendo envergonhados diante dos reis da terra e de seus
exércitos.
1.4. A PRISÃO DO FALSO PROFETA SE DARÁ NA CHEGADA DE CRISTO
Os cristãos, a essa altura, sofrerão muito pelas perseguições mortais
impostas pela Besta e pelo Falso Profeta. Sozinhos, por si mesmos, os
cristãos não teriam como vencer as forças do mal. Somente quando o
Capitão da Salvação deles chega é que eles podem ver sua primeira grande
vitória, com o aprisionamento dessas duas figuras. Somente Jesus terá força
maior do que aqueles homens, que estarão sob as forças espirituais do mal.
Será Jesus a causa do aprisionamento deles.
Não podemos esquecer que os cristãos não serão chamados à luta, porque
a batalha é feita contra homens que estão debaixo do poder de Satanás.
Portanto, não seremos nós a lutar, mas Jesus e seus anjos.
Não podemos esquecer que quando Jesus Cristo voltar, ele virá com suas
miríades de anjos. Esse grande exército será composto de seres espirituais,
mas se apresentarão em uma espécie de angelofania, ou seja, os seres
espirituais se apresentarão com aparência de formas físicas. Veja o que o
texto diz:
Ap 19.13-14 – “Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de
Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de
linho finíssimo, branco e puro.”

Esse será o exército usado por Jesus para aprisionar os maiores inimigos
do cristianismo. Esses seres celestiais, montados em cavalos, farão o
serviço de aprisionamento e nenhuma das bestas terá poder sobre eles.
Não podemos nos esquecer de que as forças do exército de Cristo não
usam armas belicosas, como as armas do exército comandado pelas duas
bestas. Jesus Cristo e seus anjos não precisam de armas físicas, porque eles
possuem força suficiente para tornar os libertinos presos.
1.5. A PENA DE MORTE PARA OS FALSOS PROFETAS ERA PARA A EXISTÊNCIA
PRESENTE
A Escritura está repleta de ordens divinas, no Antigo Testamento, para
que se mate os falsos profetas por causa do engano que eles causavam no
meio do povo de Deus:
Dt 13.1-10 – “Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou
prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros
deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador;
porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus,
de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a
ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos
achegareis. Esse profeta ou sonhador será morto, pois pregou rebeldia contra o SENHOR,
vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito e vos resgatou da casa da servidão, para vos apartar
do caminho que vos ordenou o SENHOR, vosso Deus, para andardes nele. Assim, eliminarás o
mal do meio de ti. Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu
amor, ou teu amigo que amas como à tua alma te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos
a outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem teus pais, dentre os deuses dos povos que
estão em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma até à outra extremidade da terra, não
concordarás com ele, nem o ouvirás; não olharás com piedade, não o pouparás, nem o
esconderás, mas, certamente, o matarás. A tua mão será a primeira contra ele, para o
matar, e depois a mão de todo o povo. Apedrejá-lo-ás até que morra, pois te procurou
apartar do SENHOR, teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão.

Dt. 18.20 – “Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe
não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto.”

Jr 14.14-15 – “Disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca os


enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu
íntimo são o que eles vos profetizam. Portanto, assim diz o SENHOR acerca dos profetas que,
profetizando em meu nome, sem que eu os tenha mandado, dizem que nem espada, nem fome
haverá nesta terra: À espada e à fome serão consumidos esses profetas.”

A morte da qual o texto de Deuteronômio 13.1-10 fala é a respeito da


chamada “morte física”, que é a separação das duas partes constituintes do
ser humano. Ou seja, o seu corpo é separado de sua alma. Esta vai para Deus
e aquele para a sepultura, a fim de se tornar pó.
Os fiéis que, conforme o ensino de Deuteronômio 13, são os executores
da morte, não possuem poder para lançar as pessoas na condenação eterna.
Eles são, somente, os instrumentos da justiça divina para a condenação dos
falsos mestres nesta presente existência. É prerrogativa somente de Deus a
condenação ao lago de fogo.
1.6. A PENA DE MORTE PARA O FALSO PROFETA FINAL É PARA A EXISTÊNCIA
FUTURA
Parece-me que a punição dada ao Profeta Final (assim como ao Homem
da Iniquidade) será diferente da dos homens comuns. Enquanto estes
recebem alguma punição nesta presente existência, o Falso Profeta Final e a
Besta do Mar serão punidos para a existência futura. Além disso, parece-me,
eles não experimentarão a chamada “morte física” que os outros homens
experimentam, porque serão lançados vivos dentro do lago de fogo.

2. A SEGUNDA PARTE DA CONDENAÇÃO É O LANÇAMENTO NO LAGO DE FOGO


Depois de serem aprisionados, os dois líderes das forças do mal serão
mortos, ressuscitados e lançados no lugar definitivo de morada deles, que é
o lago de fogo.
Digo que serão “ressuscitados” porque ambos os líderes são homens e
terão de experimentar a morte, como pagamento de seus pecados (Hb 9.27).
Serão, então, ressuscitados e lançados de corpo e alma no lugar definitivo de
existência sob tormento.
É curioso que essas duas bestas, possivelmente já ressuscitadas, serão
lançadas vivas dentro do lago de fogo. Se você comparar a primeira besta
com o Homem da Iniquidade (que é o que eu faço), você verá no texto de 2
Tessalonicenses que ela será morta por Jesus Cristo. Veja:
2Ts 2.7-8 – “Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado
aquele que agora o detém; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda.”

Jesus matará a Besta do Mar, que eu identifico como sendo o Homem da


Iniquidade. Depois da morte deste e do Falso Profeta, todos os outros serão
mortos pela espada do Cordeiro, que é o que monta o cavalo branco:
Ap 19.21 – “Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava
montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”

Portanto, após morrerem e serem ressuscitados, com os corpos adaptados


para o lugar devido, todos os ímpios, a liderança e os liderados, serão
banidos deste mundo e serão lançados em um outro lugar, o qual é de
tormento eterno.
A expressão “fogo e enxofre” precisa ser devidamente entendida. A
alusão a “fogo” e “enxofre” parece se relacionar ao que aconteceu em
Sodoma e Gomorra (que tornaram-se em um lago sulfuroso), e a expressão é
usada como um emblema de “fogo eterno” que nunca cessa (Jd 1.7). Essa
expressão denota a inevitabilidade, a intensidade e a severidade da
condenação do Falso Profeta e da Besta.
Esses dois personagens serão lançados vivos (de corpo e alma) no lago
de fogo. Esse lançamento será contemplado por todos os seus asseclas.
Depois, então, haverá o lançamento dos demais, como castigo divino:
Ap 21.8 – “ Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos
impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago
que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.”

Essa é a ordem das condenações eternas que são devidas a todos os


inimigos de Deus, por causa de seus pecados, e que não foram objeto da
bondosa, graciosa e amorosa graça divina!
Ap 20.10 – “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já
se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de
noite, pelos séculos dos séculos.”

O castigo definitivo será manifesto, em primeiro lugar, aos três


personagens significativos do final dos tempos: O Falso Profeta, a Besta e
Satanás, por ordem de importância. Eles compõe o que chamamos, aqui, de
tríade do mal.
2.1. A CONDENAÇÃO DEFINITIVA DA TRÍADE MALIGNA SERÁ EM UM LUGAR
FÍSICO, PARA ONDE VÃO TODOS OS INIMIGOS DE DEUS
Defendo que Deus habitará eternamente em um lugar físico – a Nova
Terra (Ap 21). Mesmo que Deus seja um ser eminentemente espiritual, ele
poderá ser contemplado pelos homens porque assumirá formas físicas. Se
isso não acontecer, ninguém poderá contemplá-lo. Mas as Escrituras dizem
que os remidos estarão em pé, diante do trono, e contemplarão a sua face. De
igual modo, também defendo que acontecerá o mesmo com o grande opositor
de Deus – o Diabo.
Da mesma forma como o destino final dos remidos será em um lugar
físico (a Nova Terra, a terra restaurada), assim também o destino dos
ímpios; sejam anjos ou homens, experimentarão a ira divina em um único
lugar. Os seres humanos caídos (e não redimidos) estarão juntos no mesmo
lugar, que será um lugar físico, longe do habitat natural dos homens, que é a
terra. Creio eu que parte do sofrimento deles será estar fora do habitat
natural de todos os seres humanos. Mas você objetará que Satanás não é um
ser físico, e sim espiritual. Como ele precisa viver em um ambiente físico,
que é o lago de fogo? Pessoalmente, creio que o Diabo, o sedutor deles,
tomará forma física para que seja contemplado pelos dois personagens
humanos (Besta e Falso Profeta) e por todos os outros seres humanos, para
ser visto por todos eles em sua derrota. Todos experimentarão a vergonha e
o horror eterno, do qual Daniel fala (Dn 12.2).
2.2. A CONDENAÇÃO DEFINITIVA DA TRÍADE MALIGNA SERÁ NO FINAL DA
HISTÓRIA DESTE MUNDO CAÍDO

Ap 20.10b – “E serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.”

Todos nós, quando vemos a injustiça campear em nosso mundo, ficamos


atônitos dos ímpios por continuarem a viver (e alguns deles recebendo
muitas coisas boas da parte de Deus como sol, chuva, saúde, dinheiro,
projeção, etc., enquanto muitos crentes sofrem profundamente). À vista desse
quadro, ficamos pensando por qual razão Deus não coloca um fim nessas
pessoas de uma vez. Nós gostaríamos de ver os ímpios, de cada geração da
história humana, serem punidos. No entanto, não é assim que Deus resolveu
fazer. Ele decidiu que os todos os ímpios, a começar da tríade, deveriam
receber a merecida punição somente no ocaso da história humana, no último
e grande dia!
A cortina da história humana, debaixo da maldição divina por causa da
queda, se fechará no dia em que a tríade for lançada no lago de fogo e,
consequentemente, também aqueles que os seguiram.
2.3. A CONDENAÇÃO DEFINITIVA DE SATANÁS SERÁ EM ÚLTIMO LUGAR

Ap 20.10a – “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde
já se encontram não só a besta como também o falso profeta.”

Nesse verso de Apocalipse 20.10, há a menção de mais uma criatura, a


mais importante dos inimigos de Deus, que fará companhia ao Falso Profeta
e ao Homem da Iniquidade (a Besta do Mar). A tríade do mal experimentará
os ardores da ira divina. Esse grande inimigo a ser colocado em punição é a
Antiga Serpente, Satanás, o Diabo.
Perceba que a condenação da tríade começa por ordem de importância
dentre os três grandes inimigos de Cristo e de seu povo.
O primeiro a ser lançado no lago de fogo é a primeira besta, que,
supostamente, tem sido considerada por muitos intérpretes cristãos como
sendo a besta mais importante. É verdade que ela será a mais feroz das
bestas, e o chefe executivo de todas as sanhas diabólicas que são
maquinadas pelo Falso Profeta.
O segundo a ser lançado no lago de fogo é o Falso Profeta. Essa ordem de
morte aponta para uma importância muito grande dada por Deus ao
verdadeiro ensino. A punição divina não vai falhar ao Falso Profeta. Muitos
falsos profetas hoje não sofrem punição, mas o Falso Profeta Final vai
experimentar o poder da ira divina, porque Deus ama a verdade e o supremo
falsificador dela receberá o duro castigo. Pessoalmente, creio que o Falso
Profeta é ainda mais responsável do que a primeira besta, em relação ao que
acontecerá nos dias finais, porque ela ocasionará todas as coisas más
visando o mal dos remidos:
(1) O Falso Profeta preparará o mundo com o seu falso ensino e sua falsa
profecia para a manifestação da primeira besta.
(2) O Falso Profeta preparará o mundo para a adoração da primeira
besta. Muitos que se encontrarem ainda dentro da igreja cristã serão
convencidos a seguir e adorar a primeira besta.
(3) O Falso Profeta preparará totalmente o ambiente do mundo para que
aconteça a grande perseguição dos cristãos, que ocasionará a chamada
“grande tribulação”.
Portanto, não podemos nos esquecer de que o Falso Profeta é o causador
da apostasia, da adoração da primeira besta e da perseguição do povo de
Deus. O poder e a importância da falsa profecia é muito mais sério do que
imaginamos. Os estragos que ela causou na história do povo foram muito
grandes.
O terceiro a ser lançado na prisão é o Diabo. Depois do lançamento
desses dois primeiros no lago de fogo, vem a terceira e mais importante
figura da tríade. Satanás é o mais importante deles, pois é o incitador e o
dominador de ambos; será o último a experimentar a justiça divina. Por essa
razão, o texto diz que ele será enviado ao lago de fogo “onde já se
encontram não só a besta como também o falso profeta”. Ele fará
companhia aos dois importantes ocupantes deste mundo.
Os dois líderes (a Besta e o Falso Profeta) serão lançados no lago de
fogo. Eles são apenas seres humanos, mas agindo sob o controle de Satanás
(Ap 16.13-14). Depois da sentença condenatória deles, o último a ser
lançado na condenação definitiva é o controlador de suas mentes. Portanto,
como Satanás é o principal personagem, ele enfrentará o ápice da aplicação
do juízo divino.
Lembre-se de que Satanás é um ser espiritual e, portanto, não precisa
experimentar a morte física. Ele irá direto para o lago de fogo com aqueles
que tinham experimentado a morte física por serem seres físicos. A trindade
maligna experimentará, na sua plena forma, a ira daquele que estará
assentado no trono e a ira daquele que está junto dele, à direta do trono.
2.4. A CONDENAÇÃO DEFINITIVA DA TRÍADE MALIGNA SERÁ NO LAGO DE FOGO

Ap 21.10a - “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre.”

Nenhum ser humano é capaz de imaginar o tipo de sofrimento que haverá


nesse lugar físico!
O lançamento do Diabo e de seus comparsas no lago de fogo é
mencionado duas vezes (Ap 19.20 e 20.10). A repetição da ideia enfatiza a
singularidade do tratamento que eles receberão em comparação com os
demais homens que são inimigos de Deus. A tormenta no lago de fogo será
muito mais forte para eles.
Pessoalmente, creio que o Falso Profeta e a Besta morrem, como
argumentei anteriormente, ainda que haja alguns autores que pensam que eles
não morrem e são lançados de corpo e alma, do jeito em que viveram neste
mundo. Entretanto, vejo a necessidade da morte deles, porque a Escritura diz
que é necessário que todo homem morra uma vez e, depois disso, o juízo. O
profeta Isaías nos ensina que os remidos “sairão e verão os cadáveres dos
homens [porque sofrem a morte física], que prevaricaram contra mim” (Is
66.24a). Então, o profeta fala do destino final deles: “porque o seu verme
nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a
carne” (Is 66.24b). No entanto, você não deve se esquecer de que o lago de
fogo é a mesma coisa que “segunda morte” (Ap 20.14).
Só poderá ter a segunda morte aquele que passou pela primeira (que é a
física, neste caso). O Diabo foi o primeiro e o único ser que não passa pela
morte entre os caídos. Por isso, será tratado com especialidade no lago de
fogo.
O lago de fogo é muito pior do que as penas deste mundo. O exército do
mal será vencido pelas forças do Messias. Elas serão penas definitivas,
impostas aos líderes que acabaram se tornando prisioneiros de guerra pela
ação dos anjos e do Cordeiro. Os líderes espirituais do mal (a Besta e o
Falso profeta) sofrerão uma derrota muito grande, que ultrapassa a vergonha
de serem aprisionados. Eles estão destinados a um sofrimento muito mais
severo do que a derrota no campo de batalha com o aprisionamento.
2.5. A CONDENAÇÃO DA TRÍADE DURARÁ PARA SEMPRE
Ap 20.10 – “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já
se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de
noite, pelos séculos dos séculos.”

(a) Este verso nos ensina que haverá um tormento eterno


A condenação da Tríade maligna nunca terá um fim. Será um sofrimento
interminável. Não dá para imaginar o que isso realmente significa! Eles
serão atormentados intensiva e extensivamente.
Satanás, a Besta e o Falso Profeta experimentarão incessantemente o
sofrimento vindo da parte de Deus. A Escritura diz que “horrível coisa é cair
nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31). Há um sentido em sofrerem mais do
que os demais homens, pois eles foram os responsáveis pelo engano no
mundo. Satanás é o sedutor deles, o Falso Profeta é o proclamador do
engano, e a Besta é o executor dos filhos de Deus; estes, os quais, só não
serão dizimados totalmente porque Deus os livrará desse fato pelo
aparecimento do Redentor em nuvens, com poder e glória!
A punição de Deus à Tríade do Mal, e aos que a seguem, será
tremendamente forte!146 O “lago de fogo” não necessariamente precisa ser
interpretado literalmente, mas aponta para algum tipo de sofrimento físico
provocado pela ira divina. A referência ao fogo e ao enxofre nos lembra o
lago sulfuroso que veio sobre Sodoma e Gomorra, queimando tudo o que
havia. Entretanto, se a alusão de João é ao enxofre de Sodoma, então
podemos crer que o fogo e o enxofre da punição definitiva poderá ser físico.
O uso da expressão “enxofre” aponta para algum odor intolerável, que causa
náuseas e que não termina nunca!
(b) Este texto nos ensina que o tormento eterno será inevitável
A inevitabilidade do tormento é algo claríssimo na Escritura. Não há
como escapar da ira divina. Em suas visões, João narra algo que acontecerá
nos dias que precedem a vinda de Cristo, quando os homens tentarão escapar
da ira daquele que está assentado no trono e da do Cordeiro. Veja o que ele
diz:
Ap 6.15-17 – “Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo
escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos
montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e
da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?”

Não importa a qualificação de poder dos homens como “reis, grandes,


ricos, poderosos” e mesmo os “pequenos e pobres”. Todos eles tentarão
fugir da ira divina, mas ninguém “poderá se suster”. Não há como fugir da
ira divina. Não há escapatória para aqueles que não estão em Cristo, seja
Satanás, as duas bestas ou os homens que seguem a tríade do mal. Todos
eles, certamente, experimentarão o terror do juízo divino.
(c) Esse verso nos ensina que o tormento será incessante
Esse verso nos ensina que o tormento será eterno, mas que também será
incessante. Um sofrimento contínuo acometerá todos os que não estão em
Cristo. Os seres humanos (sejam crentes ou incrédulos) possuem sofrimento
nesta presente vida; mas esses sofrimentos frequentemente possuem
intervalos, onde há alívio e momentos de repouso. Porém, não será assim
com o tormento experimentado pelos ímpios.
João nos diz que essas pessoas “serão atormentadas de dia e de noite”
(Ap 10.20). Essa expressão leva à ideia de continuamente. Isso significa que
não haverá nenhum intervalo de alívio ou momento de descanso para as
pessoas contra as quais Deus ficará irado! Assim como haverá continuidade
nas bênçãos para os remidos (Lc 18.7), inversamente, os sofrimentos dos
ímpios serão incessantes, não lhes dando descanso algum.
(d) Esse verso nos ensina que o tormento eterno virá de Deus
Essa é a parte mais terrível que o texto nos ensina. Para muitos, essa parte
é uma grande surpresa. Se pensa, muito erroneamente, que o Deus de amor
não seria capaz de ser um atormentador dos homens; mas o texto implica que
os aplicadores da ira serão o Pai e o Filho.
Ap 6.16b – “Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do
Cordeiro.”

O Senhor (Pai e Filho) será o atormentador deles, porque a ira lhe


pertence. Entretanto, poucas pessoas param para pensar nesse assunto,
porque não conhecem a totalidade das Escrituras, por se apegarem a
crendices que a igreja pregou desde tempos muito antigos.
A ideia de tormento interminável tem sofrido uma deturpação muito
grande no decorrer dos séculos dentro da igreja cristã. É quase que
generalizada a crença infeliz, na igreja cristã, de que Satanás é o chefe do
inferno e o aplicador do tormento. A ideia é que os ímpios estarão sob o
tacão poderoso de Satanás, o qual é o dirigente do lugar de condenação. A
igreja cristã, seja católica ou mesmo vários setores da igreja evangélica,
assimilou essa ideia estranha porque a igreja adotou mais o ensino pagão do
que o da própria Escritura. Nessa teologia, Deus é o Senhor de tudo, menos
do Inferno. O dono e o administrador dele é Satanás, e os ímpios vão sofrer
nas mãos dele.
Entretanto, não podemos (e nem devemos!) nos esquecer de que a glória
de Deus se manifesta de várias maneiras:
1 - A glória de Deus se manifesta na redenção de pecadores, que hoje são
escravos mas tornados livres. Nesse grande milagre regenerador, a igreja
glorifica ao Senhor.
2 - A glória de Deus se manifestará ainda mais abundantemente amanhã,
no Novo Céu e na Nova Terra, onde muitas coisas maravilhosamente
esplendorosas terão lugar! Enquanto a Nova Terra não chega, Deus manifesta
de modo espetacular a sua glória de uma outra maneira.
3 - A glória de Deus se manifestará, igualmente, pelo uso justo de sua ira,
no lago de fogo. Aquilo pelo que os santos tanto esperaram - a vingança de
Deus aos pecadores impenitentes - será uma grande realidade nesse dia
final. Ali, veremos a glória da justiça de Deus ser manifestada! Então, nós
nos regozijaremos na manifestação de sua justiça gloriosa, em um vitória
completa e definitiva de Deus sobre o mal.
Não sei se João faz uso de uma hip érbole ao falar do tamanho desses exércitos que vem do leste. A informação que temos na
Escritura é que os exércitos serão comp ostos de cerca de 200.000.000 de soldados (Ap 9.16) que marcharão sobre a terra.
Ap 21.8 – “Quanto, p orém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos imp uros, aos feiticeiros, aos
idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.”
26 | POSTURAS DOS CRENTES
DIANTE DOS FALSOS
PROFETAS147

A Escritura nos aponta algumas posturas que os verdadeiros crentes devem


ter em relação aos falsos profetas. Essas posturas devem ser válidas ainda
hoje, em tempos de tanta vacilação teológica.
Mais do que nunca, as posturas a serem estudadas devem ser tomadas
pelos genuínos cristãos. Não é uma questão de opção, mas de sobrevivência
no meio da tempestade que se avizinha sobre todos nós!

1. OS CRENTES FIEIS DEVEM SE ACAUTELAR DOS FALSOS PROFETAS148

Mt 7.15-20 – “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em


ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se,
porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons
frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus,
nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e
lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.”

A leitura do verso 15, nesse sermão de Jesus, nos leva intuitivamente a


pensar que um novo (e aparentemente desconexo) assunto é introduzido em
relação ao que o precede imediatamente. Contudo, após descrever o mais
excelente e solene modo de vida guiado através da estreita porta de seu
evangelho, a advertência subsequente de Jesus visa alertar-nos,
precisamente, contra um dos principais impedimentos para andar nesse
caminho: os falsos guias e suas mentiras encobertas (“aqueles que, sob o
pretexto de oferecer-nos direções divinas, irão fatalmente nos enganar se
lhes dermos ouvidos”149). Em seu sermão, o Senhor quer que seus ouvintes
saibam que no caminho do reino haverá ladrões da verdade, mascarados na
sutileza de sua falsidade, para iludir e desviar todos que lhes dedicarem
oportunidade, crédito e atenção. Destes, os discípulos devem manter-se em
cautelosa alerta.
A forma minuciosa e consideravelmente sistemática com que Mateus
registra o evento do Sermão do Monte demonstra seu foco de importância em
torno dos ensinamentos de Jesus. A audiência desses ensinamentos
específicos é formada, além de seus discípulos e seguidores, por multidões,
incluindo entusiastas e incrédulos, sem qualquer indício de compromisso
com a pessoa ou a mensagem de Jesus. Contudo, mesmo diante desse público
de disposições do coração tão distintas, Mateus registra o encadeamento da
fala de Jesus que, em suma, aponta a direção para o superior caminho da
vida através da porta estreita de seu discipulado150. A realidade de engano
cerca a todos. A ambos cabem cautela e discernimento diante da falsa
profecia.
1.1. “ACAUTELAI-VOS …”
Após apontar o caminho estreito que conduz à vida (Mt 7.13-14), a
admoestação de Jesus, a seus discípulos e à multidão evidencia que mesmo
nesse caminho, onde poucos trilham, há diversos e astutos inimigos que
caminham lado a lado, trazendo em sua companhia sorrateira o engano e a
necessidade de vigilância.
As advertências sobre os falsos profetas, e suas respectivas falsas
profecias, revelam que: existem profetas que não são genuínos e, portanto,
desautorizados da parte de Deus; a verdade pode ser adulterada no mundo e
no meio do povo de Deus; e que tais inimigos do evangelho podem estar
ocultos em meio a disfarces cristãos.151 Ao chamar seus discípulos à cautela,
Jesus está revelando uma realidade de engano que cerca a vida da igreja e
concorre com a atividade do evangelho.
A exortação de Jesus se posiciona em tom profético, pois anuncia a
presente e futura responsabilidade que a igreja neotestamentária152 tem
perante a existência dos falsos profetas:
Mt 24.11,24 – “Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. (…) porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se
possível, os próprios eleitos.”

At 20.29-31a – “Eu [Paulo] sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos
vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando
coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai.”
Rm 16.17-18 – “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos,
em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque os tais não servem a
Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam os
corações dos incautos.”

2Pe 2.1-2 – “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá
entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até o
ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
destruição. E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o
caminho da verdade.”

1Jo 4.1 – “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes provai se os espíritos procedem
de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo a fora.”

Além disso, há o grave histórico de testemunhos registrados no Antigo


Testamento153 da atividade de tais mensageiros do engano e de suas profecias
absolutamente perniciosas e desautorizadas:
Jr 5.30-31a – “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam
falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles.”

Jr 14.14 – “Disse-me o Senhor: Os profetas profetizam mentiras em meu nome, nunca nos
enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão Falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu
íntimo são o que eles vos profetizam.”

Jr 23.14,16 – “Mas nos profetas de Jerusalém vejo coisa horrenda; cometem adultérios, andam
com falsidade e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam cada um da
sua maldade; todos eles se tornaram para mim como Sodoma, e os moradores de Jerusalém,
como Gomorra. (...). Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos
profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu
coração, não o que vem da boca do Senhor.”

Ez 22.25 – “Conspiração dos profetas há no meio dela [Jerusalém]; como um leão que ruge, que
arrebata a presa, assim eles devoram as almas; tesouros e coisas preciosas tomam, multiplicam
as suas viúvas no meio dela.”

Os falsos profetas, e a mentira de suas profecias autóctones, foram um dos


principais fatores para a apostasia e a ruína do povo de Deus ao longo do
Antigo Testamento. Esse histórico estrutura a gravidade da admoestação na
advertência de Jesus para seus discípulos e para as multidões.
No relato de Mateus, a exclamação de Jesus chama a atenção para a densa
realidade de ilusão, proveniente tanto da existência como da atividade hostil
e má intencionada dos falsos guias autoproclamados “profetas”. Eles
existem, estão (como sempre estiveram) no meio do povo de Deus, e se
“apresentam” a fim de roubar. Cabe ao discípulo cautela e responsabilidade
constantes no estreito caminho que conduz à vida. São estas bagagens
imprescindíveis, através das quais o cuidado de Deus se faz presente e a
caminhada torna-se mais segura.
1.2. O DEVER DE CAUTELA É UM IMPERATIVO DIVINO
A primeira palavra desse texto, o verbo grego “proséchete”
(“prose,cete”) que se encontra no imperativo, impõe um dever de cautela, de
cuidado; ele ordena ao ouvinte e leitor guardar-se, acautelar-se, estar atento,
proteger a si mesmo, premunir-se, com o objetivo de evitar maus resultados.
O termo grego é o mesmo existente em Atos 20.28, no qual o apóstolo
Paulo, através desse imperativo, ordena aos presbíteros de Éfeso o cuidado,
zelo, atenção e proteção ao rebanho adquirido pelo Senhor.
A ordem do Senhor é que seus ouvintes, literalmente, “se mantenham (de
mentes e ouvidos) longe”154 dos falsos profetas. Há neles um padrão objetivo
e, portanto, identificável em suas mentiras, que se distingue da verdade do
Evangelho. Enquanto verdadeiros profetas ensinavam a verdade por
inspiração divina, o falso reivindicava para si e para sua mensagem a mesma
inspiração da parte de Deus, pregando, então, sobre uma base falsa de
autoridade, conteúdo e designação. Isto é, ensinando a mentira em nome e
com aparência de verdade. Desse modo, o profeta Jeremias contrastou o
verdadeiro do falso quando disse que diferentemente dos profetas de Deus,
que permanecem no conselho divino (Jr 23.18,22), os falsos profetas “falam
visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor” (Jr 23.16).
Quando Jesus declara sua ordem em relação aos falsos profetas, está
claramente dizendo que sua verdade é objetiva e que, ainda que semelhante,
todo ensino que lhe seja distinto é mentira, que seus portadores são arautos
do engano e da falsidade dos quais a igreja deve se acautelar.155
O texto parece afirmar que o risco não estava apenas em alguma questão
doutrinária específica, mas também na pessoalidade dos envolvidos, ou seja,
no próprio proceder, através do qual já seria possível saber o grau de
legitimidade do locutor mesmo antes de ouvir a sua mensagem.
1.3. O DEVER DE CAUTELA É UM ALERTA À SUTILEZA
Quando observamos as palavras do Senhor ordenando acautelar-nos dos
falsos profetas que se nos apresentam disfarçados de ovelhas, devemos notar
esta sutileza: eles nos aparecerão como ovelhas.
Tal fato deve levar-nos a reforçar a guarda, avaliando à luz das escrituras
não apenas os que demonstram alguma evidência de falsidade, mas sim todo
e qualquer profeta, a fim de não incorrermos no risco de recebermos
palavras de lobo como sendo de ovelhas.
A realidade de engano é construída através de movimentação e
interatividade sutis dos “falsos”, que não apenas existem desde os tempos
antigos, quando Deus começou a falar aos homens, mas que aumentarão em
número e eficácia. Jesus avisou-nos de que o período que precede o fim será
caracterizado tanto pela expansão da pregação do verdadeiro Evangelho
quanto pela exponencial manifestação de falsos mestres pregando evangelho
falso (Mt 24.11-14). Através de engano e sugestão, pela imitação da forma e
aparência, discípulos foram e ainda correm o risco de serem conduzidos
para “o caminho largo que leva à destruição por homens que professam ser
mestres da Verdade e ministros de Cristo, embora não sejam dele e sequer
tenham o seu espírito: líderes cegos, que com os seus crédulos caem na
vala”156.
Os “pseudoprofetas” são assim designados por, certamente, se
autodesignarem portadores de uma mensagem inspirada de Deus. De modo
semelhante, sua falsa identidade (pseudo) é condizente com a atividade dos
“pseudoapóstolos”, por presumirem para si autoridade apostólica designada
pelo próprio Cristo; condiz, também, com a dos “pseudocristos”, tanto por
afirmarem para si mesmos identidade messiânica, quanto por,
consequentemente, negarem a identidade do verdadeiro Cristo ou sua vinda
em carne (Mt 24.24; Mc 13.22; 1Jo 2.18,22). Além disso, há também os mais
condizentes com nosso tempo: “pseudomestres” (pseudopregadores), que,
apesar das suas diferentes prerrogativas, juntamente com os demais são
identificados com o engano que segue seus nomes. Afinal, “pseudo” é o
nome grego para “mentira”.157
Logo após a parábola do semeador, a sutileza da mentira tecida pelos
lobos que cercam o rebanho é evidenciada na declaração de Cristo: “Veio o
inimigo e semeou joio no meio do trigo e retirou-se” (Mt 13.25b). O Senhor
está dizendo que a semelhança visível entre o joio e o trigo é suficiente para
que cresçam juntos sem serem distinguidos. E que isso é um parâmetro de
comparação com a aparência e atividade dos falsos profetas. Assim,
somente na colheita é que ficaria desmascarado o “falso trigo”, ao se atentar
para a fraude de seus frutos.
Ao colocar essas parábolas em justaposição, o Senhor está expondo o
método de seu inimigo. Seu estratagema é a imitação da verdade para
produzir o engano, o desvio e a destruição. De modo que, como “Janes e
Jambres [os magos de Faraó] resistiram a Moisés” (2Tm 3.8) imitando seus
milagres, quando Deus envia seus servos para pregar o Evangelho, o Diabo
comanda seus emissários para proclamar um “outro evangelho” logo em
seguida - quando Deus fala, o Diabo dá um eco zombeteiro.158 Satanás
descobriu que suas chances de sucesso seriam imensamente maiores através
da falsificação da verdade ao invés da autenticidade de seu mal.
Para que sejam analisados os frutos, deve-se acompanhar o
desenvolvimento da árvore; neste caso, devemos estar atentos a qualquer
profeta ou profecia, avaliando-os sob o crivo das escrituras, uma vez que
“os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas” (1Co 14.32).
Se há uma área com alto risco de manifestar uma tendência enganosa entre
o povo de Deus, é a profecia e o ensino. Falsos profetas e falsos mestres têm
trabalhado juntos, às vezes sob a mesma pessoa, para alcançar seus fins.
Alerta o apóstolo (2Pe 2.1) que, da mesma forma como surgiram os falsos
profetas, surgiriam entre nós os falsos mestres e introduziriam suas heresias
destruidoras de forma dissimulada (pareisa,gw = pareisago), enganosa e
sorrateiramente.
Não pensemos que sua falsa profecia é declaradamente infiel,
frontalmente anticristã, liturgicamente inaceitável: ela é sutil, maliciosa,
secreta, com verdadeiras intenções escusas (Jd 1.12).
Através dela, clama-se “Senhor, Senhor”, profetiza-se em nome do
Senhor, expelindo demônios e realizando muitos milagres, enganando a
muitos com essa prática.
Jensen, ao comentar esse texto, afirma que “as partes culpadas não são
simplesmente aqueles que receberam experiências espirituais, mas aqueles
que as ministraram”159.
Mateus (7.21-23) registra que essas pessoas faziam tudo o que os
verdadeiros profetas de sua época faziam, verdadeiros lobos se passando
por ovelhas ministrando ao povo de Deus e ensinando pelos púlpitos. Mas
Jesus nos alerta: “Acautelai-vos!” Por isso, dele eles ouvirão: “Nunca vos
conheci.”
1.4. O DEVER DE CAUTELA SE EVIDENCIA NA ANÁLISE NOS FRUTOS
A melhor forma de identificar uma árvore é através de seu fruto. Afinal,
ela foi plantada, desenvolvida e florida com o fim específico de produzir seu
produto final: os frutos. Portanto, ele não é algo independente, mas sim um
resultado natural de todo um processo com um fim específico.
O fruto não é algo que surge primeiro em uma planta; ele surge apenas
posteriormente, pois é o seu objetivo, seu fim, sua razão de existência, e não
uma consequência incidental.
Ao observar as folhas ou galhos de uma árvore, é possível que sejamos
enganados pela similaridade na aparência de várias espécies. Porém, o fruto
é uma evidência inequívoca do tipo de árvore que o produziu; afinal, “não
pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos
bons” (Mt. 7.18).
Por isso, adverte João Batista que seus ouvintes deveriam produzir frutos
dignos de arrependimento (Lc 3.8), ou seja, frutos legitimamente resultantes,
como que um produto final de um processo de conversão ou mudança de
vida.
Aqueles contra os quais estamos advertidos são homens que, estando sob
uma falsa comissão, pregam o erro de modo subversivo, como “doutrina
que é segundo a piedade” (1Tm 6.3); dessa maneira, o fruto que possuem é,
sempre, uma imitação do fruto do Espírito.
A marca distintiva dos falsos profetas sempre foi sua declaração vazia por “paz” quando não há
(Jr 23.17; Mq 3.5; 1Ts 5.3). Eles curam superficialmente as feridas dos pecadores (Jr 8.11) e
tingem com fino cal (Ez 8.14; 22.28). Eles profetizam “as coisas irão bem” (Is 30.10),
inventando maneiras fáceis para o céu, e favorecem a natureza corrupta. Não há nada em sua
pregação que busca a consciência; nada que leve seus ouvintes a se humilharem e chorarem
diante de Deus; mas sim o que os exalta, os satisfazem, e o que os deixam descansados em uma
falsa segurança.160
2. OS CRENTES FIEIS NÃO DEVEM
TEMER OS FALSOS PROFETAS
Não ouvir aos falsos profetas significa não ter temor deles:
Dt 18.22 – “Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra dele se não
cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o Senhor não disse; com soberba, a
falou o tal profeta; não tenhas temor dele.”

O mandamento final do verso 22 não é para que o profeta seja morto (o


que já está afirmado no verso 20), mas para que o falso profeta não seja
temido. É comum entre os falsos profetas aqueles que tentam impor respeito
e obediência por ameaças de quem está no poder. Não se esqueça de quem
“tem o microfone”, tem muita autoridade nas mãos. Por isso, muitos deles
abusam da autoridade que geralmente eles próprios se atribuem.
Geralmente, o povo se retrai e não tem coragem de enfrentar um falso
profeta com medo de estarem lutando contra o “ungido” de Deus. Esse é o
tipo de comportamento imposto pelos próprios falsos profetas. Muitos
crentes têm medo de serem feridos por Deus por estarem em oposição aos
falsos profetas.
Em todas as épocas, sempre houve crentes que tiveram temor de homens.
No entanto, a ordem de Deus é para que os crentes não temam um homem que
falseia a verdade de Deus com medo do que lhe possa acontecer. Os
israelitas deveriam temer a Deus, que era a verdade expressa.
A geração anterior à daquele tempo havia presenciado as manifestações
poderosas diretas de Deus e de seu profeta Moisés. Todos os que temem a
Deus devem temer os seus verdadeiros profetas, obedecendo-os. Quando um
profeta “semelhante a Moises” surge no meio do povo de Deus, este deve ser
temido. Todavia, os crentes devem desobedecer aos ensinos dos falsos
profetas, sem qualquer temor deles. Devemos temer os verdadeiros profetas
de Deus, que falam a real palavra de Deus, mas não os falsos profetas com
suas ameaças.

3. OS CRENTES FIÉIS TÊM O DEVER


DE ELIMINAR OS FALSOS PROFETAS
Na sua Palavra, Deus ordena que os falsos profetas sejam mortos pelos que
são fiéis à sua Palavra.
Dt 13.6-11 – “Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do teu amor,
ou teu amigo que amas como à tua alma te incitar em segredo, dizendo: Vamos e sirvamos a
outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem teus pais, dentre os deuses dos povos que estão
em redor de ti, perto ou longe de ti, desde uma até à outra extremidade da terra, não
concordarás com ele, nem o ouvirás; não olharás com piedade, não o pouparás, nem o
esconderás, mas, certamente, o matarás. A tua mão será a primeira contra ele, para o matar, e
depois a mão de todo o povo. Apedrejá-lo-ás até que morra, pois te procurou apartar do Senhor,
teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. E todo o Israel ouvirá e temerá, e
não se tornará a praticar maldade como esta no meio de ti.”

Este é um mandamento que bate de frente com o presente tempo em que


vivemos. A liberdade religiosa propagada em nosso meio é uma falácia!
Os verdadeiros cristãos sempre são perseguidos por causa de sua piedade
e, em muitos lugares, estão sendo mortos, em pleno século 21. Você, por
acaso, tem ouvido os nossos governos falarem alguma coisa em favor dos
cristãos que morrem por causa da sua fé?
Em vários regimes políticos do tempo presente não somos tolerados em
nossa fé ortodoxa. Todavia, os crentes hoje são ensinados a ser tolerantes
com todos os outros tipos de crença existentes. Na verdade, somos ensinados
a nos conformar com esse status quo. No entanto, a conformação diante do
que está acontecendo não nos deve fazer passivos quando a continuidade da
religião verdadeira está em jogo.
Precisamos voltar, em alguma medida, ao senso de pureza doutrinária que
a igreja deve ter. Veja uma observação interessante feita por um cristão
contemporâneo que deveria nos despertar para o zelo da verdade de Deus.
Os falsos profetas confrontam o povo de Deus com uma escolha – ou eles ouvirão e
obedecerão a Deus ou eles seguirão a falsos deuses que são promovidos pelos falsos profetas.
Se os israelitas escolhessem se apegar a Deus e aos seus mandamentos, então eles deveriam
tomar os falsos profetas e matá-los. Eles não deveriam tolerá-los. Não deveria haver nenhum
tipo de pluralismo religioso na terra de Israel. Eles deveriam seguir a Deus que os havia
redimido da escravidão do Egito eliminando aqueles que os seduziam a abandonar o seu Deus e
seguir a um outro deus. Deste modo, Israel purgaria o mal do meio deles.161

Todavia, não é o espírito do tempo presente aceitar nem praticar o que o


próprio Deus ordena que se pratique em relação aos falsos profetas.
Todavia, permanece válida a ordem divina, pois o que está em jogo é a
verdade de Deus. Como a verdade não é algo pelo qual a presente geração
se importa realmente, então, certamente, mesmo a igreja cristã nominal não
terá qualquer atitude de punição séria para com os falsos profetas. É
lamentável que essa ordem divina seja negligenciada. Isso é assim porque a
presente igreja cristã é tolerante e assimilou um pluralismo religioso do qual
ela ainda não tomou consciência.

4. CONCLUSÃO
A penalidade de Deus sobre os falsos profetas é tão pesada que parece aos
nossos olhos, hoje, impossível de ser cumprida! Todavia, independentemente
do espírito do tempo presente, Deus se preocupa muito com a distorção da
sua verdade!
Você pensa que Deus tem menos repulsa hoje com relação ao pecado da
heresia no meio do seu povo? Você pensa que Deus é mais tolerante com o
erro teológico hoje do que foi no passado? Você pensa que Deus é menos
severo nas suas punições por desvios doutrinários?
A argumentação desta p arte do cap ítulo é devida ao inestimável esforço do acadêmico Josué Francisco dos Santos Filho, em
cump rimento de suas tarefas da discip lina “Teologia da Revelação” ministrada no CPAJ, a quem muito agradeço.
Algumas notas deste cap ítulo devo também à p esquisa feita p elo acadêmico Giovanni G.R. Zardini, em cump rimento de
exigências da discip lina “Teologia da Revelação” ministrada no CPAJ, no p rimeiro semestre de 2014.
Arthur W. Pink. Disp onível em: http ://www.p bministries.org/books/p ink/Sermon/sermon_50.htm. Acesso em: abr. 2014.
I. Howard M arshall, Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2007) p . 90-92.
Donald A. Carson, O Comentário de Mateus (São Paulo: Shedd Publicações, 2011) p . 232.
Ver também Atos 20.29; 2 Coríntios 11.11-15; 2 Pedro 2.1-3,17-22; 1 João 2.18,22, 4.1-6.
Ver também Jeremias 6.13-15, 8.8-12; Ezequiel 13, 22.27; Sofonias 3.4.
William Hendriksen, Comentário do Novo Testamento - Mateus, Vol.1 (São Paulo: Cultura Cristã, 2001), p .460.
John Stott, A mensagem do Sermão do Monte - Contracultura Cristã (São Paulo: ABU, 1981) p .209.
Arthur W. Pink. Disp onível em: http ://www.p bministries.org/books/p ink/Sermon/sermon_50.htm. Acesso em: abr. 2014.
John Stott, A mensagem do Sermão do Monte - Contracultura Cristã. (São Paulo: ABU, 1981) p .207-208.
Arthur W. Pink. Disp onível em: http ://www.p bministries.org/books/p ink/Sermon/sermon_50.htm. Acesso em: abr. 2014.
Peter Jensen, A Revelação de Deus – Série Teologia Cristã (São Paulo: Cultura Cristã, 2007) p . 131
Arthur W. Pink. Disp onível em: http ://www.p bministries.org/books/p ink/Sermon/sermon_50.htm Acesso em: abr. 2014.
Bob Deffinbaugh, False Prophets. Disp onível em: http ://www.bible.org/p age.p hp ?p age_id=2397#P298_85767#P298_85767.
Acesso em: mai. 2008.
27 | REGRAS GERAIS
PARA SE LIVRAR DO FALSO
ENSINO

E
u vou tratar você, leitor, como se você tivesse a responsabilidade de
pregar e de ensinar na sua igreja. Há algumas sugestões para que
você fique livre da influência de falsos profetas, dos falsos mestres
e dos falsos pastores que campeiam por todos os redis da igreja cristã.
Observe estas sugestões para que você não seja uma vítima da artimanha do
ensino deles.162
Os falsos profetas atingem todas as camadas. Houve um tempo em que
eles atingiam somente as classes, tanto intelectual como financeiramente,
mais baixas. Eles estavam imiscuídos entre os mais desprivilegiados. No
entanto, hoje a situação é bem diferente. Os falsos profetas perceberam que a
questão da mudança de paradigma teológico não é uma questão de posição
social, simplicidade de mente, ou mesmo de fraca formação acadêmica. Veja
que há gente de todos os segmentos sociais e intelectuais sendo envolvida
pela falsa profecia.
Não pense, porque você é inteligente ou esperto, que você é imune a
erros. Ser atacável teologicamente é uma questão espiritual, não
simplesmente uma matéria de intelecto. Há muitas pessoas espertas e
inteligentes que têm fraquejado porque a questão é de cegueira espiritual,
não intelectual. Muitos homens inteligentes e bem formados têm caído nas
redes dos falsos profetas.
Não custa tomar algumas precauções para que você seja livre das
influências do profetismo moderno. Reflita sobre as sugestões elaboradas a
seguir:

1. NÃO SEJA UM SEGUIDOR DA TRADIÇÃO,


MAS UM SEGUIDOR DA ESCRITURA
Em nosso país, especialmente em termos religiosos, há muita coisa de
tradição. Muitos sustentam um pensamento religioso porque ele foi
sustentado pelos pais, avós, bisavós, etc. Esse tipo de pessoa segue a
tradição; ou seja, faz desta a sua fonte de referência. Muitos permanecem
debaixo das trevas espirituais por simplesmente seguirem o que seus
antepassados seguiram. Ouvi dizer uma vez que o conceito da tradição
“provavelmente reivindicará mais vítimas espirituais no Dia do Juízo do que
qualquer outro”163. Por que muitos seguem a tradição espiritual dos
antepassados? A resposta é que dificilmente alguém criado em uma
determinada tradição muda de ideia. Não passa pela mente dessas pessoas
que seus pais, avós ou bisavós tenham trilhado caminhos espirituais
errôneos. Além disso, seguir a tradição dos antepassados é uma espécie de
honra que eles lhes prestam.
Porque a “armadilha da tradição” é tão poderosa, os falsos profetas provavelmente desfrutam o
seu mais fácil sucesso às expensas dos cristãos orientados pela tradição. O caminho largo que
conduz à destruição é perfeitamente adaptável a eles. Na verdade, a maioria dos falsos profetas
têm sido vítimas da mesma influência, porque teria sido difícil para eles terem completado com
sucesso o seu treinamento religioso se eles tivessem falhado em reverenciar os pontos de vista
tradicionais da religião deles.164

Você não pode continuar na tradição de seus pais sem verificar se o que
eles creem é verdadeiro. Via de regra, seus antepassados fizeram o que os
antepassados deles fizeram. Eles nunca questionaram porque nunca foram
ensinados a ter um padrão de fé confiável.
Você não pode ter o padrão da tradição em matéria espiritual, mas deve
buscar o padrão estabelecido por Deus para a orientação do seu pensamento
e comportamento. Você tem de ter um parâmetro correto para fazer essa
verificação, que é a Escritura Sagrada – a Bíblia. Ela é o único documento
que pode mostrar o norte espiritual a ser seguido. Seja um estudioso do
ensino geral das Escrituras. Elas são confiáveis e podem livrá-lo do assédio
dos falsos profetas e falsos mestres.
A Escritura Sagrada é a verdade de Deus. Siga a verdade de Deus,
porque Jesus Cristo disse que a verdade haveria de libertar os seus
discípulos da ignorância e do erro dos falsos mestres (Jo 8:31-32).
2. NÃO SEJA IGNORANTE, MAS ENCHA-SE DE CONHECIMENTO DA VERDADE DE
DEUS
O índice de ignorância da Escritura é muito grande entre aqueles que se
chamam “crentes” na maioria das igrejas locais. Se a mensagem dos profetas
é falseada, esses crentes não têm condições de se opor a ela. Eles dizem
“amém” ao que seus pregadores dizem e ficam satisfeitos em ouvir seus
líderes religiosos. Eles engolem qualquer mensagem, porque os profetas são
vistos por eles próprios como “ungidos de Deus” e não têm ousadia de lhes
fazer frente. Eles não possuem um espírito crítico e nem sabem avaliar
minimamente as pregações, como fazia a igreja de Beréia. Tristemente
constatamos que eles não examinam se o conteúdo da mensagem passa pelo
crivo da Escritura Sagrada. Simplesmente aplaudem a mensagem, o que
significa que podem ter sido enganados pelos falsos profetas.
Os filhos de Deus precisam se munir do conhecimento geral e de
conhecimentos específicos de algumas verdades de Deus encontradas na
Escritura. Mergulhe a sua mente no exame das Escrituras. Procure ler
bastante; mas escolha bons livros escritos por cristãos confiáveis, porque há
muitos livros sem conteúdo saudável no mercado! Evite-os, a fim de que a
sua saúde espiritual não seja prejudicada.
Se você não adquirir conhecimento, mais cedo ou mais tarde, será
abordado por falsos profetas e você não saberá dar razão da esperança que
há em você. Você não saberá responder aos questionamentos dos falsos
profetas que estão em evidência em nossa geração.
Você nunca será capaz de identificar um falso profeta se não tiver um bom
conhecimento da verdade de Deus. Você precisa aprender a identificar um
falso profeta e, então, você poderá dizer que possui conhecimento. O
reconhecimento de um falso profeta aponta para o fato de que você cresceu
no conhecimento de Deus através do estudo sério das Escrituras!

3. NÃO SEJA COMPLACENTE COM O ERRO


Usualmente, os falsos profetas concentram-se em pessoas que estão
satisfeitas em sua vida espiritual, pessoas que não possuem preocupações ou
grandes aspirações de crescer no conhecimento de Deus.
“Indivíduos complacentes não possuem um senso de urgência com
respeito ao seu destino eterno. Eles se sentem salvos e seguros.”165 Há
muitos que se imaginam seguros em sua religiosidade. Eles não possuem
nenhuma preocupação com a pureza doutrinária, e a doutrina nem mesmo é
importante para eles. Dessa forma, esse tipo de crente se torna presa fácil
para os propósitos dos falsos profetas. Com tristeza, percebo que uma
grande parcela dos cristãos de nossa geração está nessa complacência.
Os indivíduos complacentes são os sustentadores dos ministérios dos
falsos profetas. Estes se servem daqueles para levar avante as suas empresas
espirituais. A quantia de dinheiro exigido de boa parte desses falsos profetas
tem possibilitado não somente o enriquecimento pessoal deles, mas também
a aquisição de grandes empresas de comunicação e a capacidade de espalhar
suas ideias em canais de TV muitíssimo caros. As ofertas e dízimos são
dados, na sua maior parte, por gente que não possui preocupações de pureza
de fé. Eles são levados a crer que a “obra” tem de ser feita e abrem-se em
suporte do ministério dos que dominam a mídia e seus corações.
Os falsos profetas têm se servido desse método desde tempos muito
antigos na Igreja. O apóstolo Pedro, ao tratar de falsos mestres/profetas, diz
uma verdade incontestável, mesmo nos dias de hoje:
2Pe 2.2-3 – “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o
caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras
fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme.”

Os crentes complacentes sempre se tornam presa fácil para os avarentos


falsos profetas. Estes sempre terão recursos à sua disposição para mergulhar
pessoas inadvertidas no erro através do engano. Os falsos profetas, embora
creiam no que pregam, têm o papel de atrapalhar a pregação da verdade e,
para isso, usam todos os recursos possíveis para lograr sucesso em seu
trabalho. Não é sem razão que Pedro diz que os falsos profetas/mestres são
“movidos por avareza”.

4. NÃO TRABALHE EM DEMASIA, MAS RESERVE


TEMPO PARA O EXERCÍCIO ESPIRITUAL
É muito comum vermos homens com dons proféticos na igreja se afundarem
em aridez teológica porque se esquecem de cuidar de si mesmos
espiritualmente. Eles trabalham em demasia, não dão tempo para a sua
família e igreja. Eles não se preocupam muito consigo mesmos, contanto que
eles cresçam no conhecimento daquilo que ensinam. Além disso, se afundam
na pesquisa e não dão tempo para a devoção em suas vidas pessoais.
A tônica dos profetas é fazer com que os seus ouvintes se tornem
seguidores dos princípios estabelecidos por Deus, como norma de
comportamento; mas eles mesmos se esquecem de que precisam ser
exemplos para aqueles a quem pregam.
Quando eles se esquecem da devoção na vida pessoal, acabam perdendo
a luta contra os falsos profetas que os acusam de aridez e de inutilidade, pois
as igrejas locais deles não tendem a crescer.
Se você quer se livrar dos falsos mestres, tenha um equilíbrio entre o
estudo acadêmico e a vida de comunhão pessoal com Deus. Se você
conseguir esse equilíbrio, você não será atacável no confronto com os falsos
profetas.

5. NÃO FIQUE DESATENTO COM RELAÇÃO


À PREGAÇÃO NA SUA IGREJA
Uma maneira eficaz de você se livrar dos falsos profetas é ter cuidado com o
púlpito da sua igreja. Empenhe-se por alimentar o seu povo de maneira que
ele se sinta atraído pela boa pregação e se perceba bem norteado. Apronte-
se convenientemente para a pregação; estude a Escritura com seriedade;
peça a Deus a graça de aplicar a mensagem fiel ao coração do seu povo.
Uma outra maneira de você se livrar dos falsos profetas é não deixar que
eles tomem o seu púlpito. Não importa que eles sejam famosos pregadores.
Não se esqueça de que, quanto mais famosos, mais influência eles terão
sobre a sua igreja.
Não importa, também, que eles sejam seus amigos pessoais; não se
constranja em não ceder o púlpito a eles. Eles podem até ser bons amigos na
vida pessoal, mas a fé deles é mais importante do que o relacionamento com
você. Eles se servirão do púlpito ou da cátedra para lançar uma palavra
errônea, que certamente será causadora de divisão.
Se você perceber que no meio da sua liderança há algum presbítero, ou
outro alguém, com desvios doutrinários ou que tenha simpatias pela profecia
da forma que temos combatido neste livro, não se constranja em não dar a
cátedra e o púlpito para ele. Se você não prestar atenção a esse ponto, você
poderá sofrer muito para apagar os incêndios teológicos dentro da sua
igreja. Certamente, em sua igreja ainda há muitas pessoas que são como que
“meninos, agitados de um lado para outro por todo vento de doutrina, pela
artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14).
Uma outra maneira de se livrar dos falsos profetas e falsos mestres, tem a
ver com a sua conduta pessoal em relação a eles. Não gaste tempo ouvindo
as pregações deles. Eles são inteligentes, pregam com convicção e podem
influenciar a sua maneira de pensar. Não pense que você será imune a todas
as ideias deles. O poder da convicção deles poderá abalar as suas antigas
crenças.
Se você não cuidar da pregação em sua igreja, não fizer com que ela seja
muito boa, certamente você vai colher os terríveis frutos de dúvidas sendo
lançadas no meio do seu povo.

6. APLICAÇÕES166
Não se esqueça de que Jesus Cristo nos ensinou a sermos atentos e vigilantes
em tudo. Além disso, ele ordenou a seus discípulos que fossem “símplices
como as pombas e prudentes como as serpentes” (Mt 10.16). Você não pode
abrir mão das ovelhas que Deus colocou sob sua guarda! Você vai responder
por elas diante de Deus! Em algum sentido, o destino eterno delas está em
sua responsabilidade, porque no que elas creem determinará para onde elas
irão!
6.1. PARA EVITAR O ENGANO ESPIRITUAL, RECONHEÇA QUE A FALSA PROFECIA E
O FALSO ENSINO SÃO UM SÉRIO PERIGO
Enquanto a igreja pensar que sua missão principal é a obra missionária
(ainda que ela seja sempre e absolutamente necessária), os falsos mestres e
profetas andarão “soltinhos” no meio do povo de Deus. Enquanto se pensa
que é mais importante “encher” a igreja, cada vez mais, com novos
convertidos, estes são facilmente suscetíveis ao engano dos falsos profetas
por não possuírem a capacidade de discernir. Observe que o engano
espiritual é sempre mais sutil do que um ataque aberto e frontal. Portanto,
participe do combate ao engano sutil no meio da sua igreja.
Há muitos na igreja, hoje, que são uma espécie de obstetras espirituais,
pela graça de Deus trazendo pessoas à vida; mas, a igreja não tem tido
muitos pediatras, que conduzam os recém-nascidos espirituais ao
fortalecimento.
É preciso recordar que a função primordial da igreja é fazer homens e
mulheres crescidos e amadurecidos, para que possuam a “varonilidade”
(maturidade e estatura) de Cristo, sendo parecidos com ele. Se tivermos
mais gente parecida com Cristo, mais a igreja será evangelizadora.
Portanto, lembre-se de que você tem de ajudar a limpar a igreja do falso
ensino e da falsa profecia. Esse assunto é de suprema importância. Enquanto
você não entender isto, a igreja será sempre vulnerável ao engano.
6.2. PARA EVITAR O ENGANO ESPIRITUAL, RECONHEÇA A SAGACIDADE DE
SATANÁS
Mantenha os olhos abertos para poder enxergar onde está o grande
inimigo de nossas almas. Quando menos você esperar, ele vai atacá-lo. Se
você não tiver olhos bem abertos, será presa dele. Ele é extremamente sagaz,
desde os tempos em que penetrou no Jardim do Éden. Ele sempre toma
formas, de modo que as pessoas tentadas jamais imaginam que estão sendo
confrontadas por ele.
Veja a percepção espiritual que Paulo possuía sobre o fato dos falsos
profetas, falsos mestres e falsos apóstolos estarem sob o engano poderoso
do Maligno:
2Co 11.13-15 – “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se
em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de
luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e
o fim deles será conforme as suas obras.”

(a) Os falsos apóstolos podem se travestir de apóstolos de Cristo


2Co 11.13 – “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em
apóstolos de Cristo.”

Os falsos apóstolos eram aqueles que “a si mesmos se faziam apóstolos”.


Todos os genuínos apóstolos do Novo Testamento foram chamados um a um
por Jesus Cristo. Paulo bateu muito fortemente nessa tecla, pois um apóstolo
de Cristo era vocacionado diretamente por ele, pela vontade de Deus.167
O falso ensino e a falsa profecia levam a igreja cristã a grandes erros,
especialmente em nossos dias. Muito constantemente podemos perceber que,
na igreja evangélica brasileira, aparecem homens que “a si mesmos se
declaram apóstolos, e não são” (Ap 2.2). Portanto, nenhum apóstolo de
Cristo pode se fazer a si mesmo apóstolo, como acontece abundantemente na
igreja evangélica brasileira. Esses falsos apóstolos possuem uma audiência
enorme e são como que “gurus” espirituais, transformando-se em apóstolos
de Cristo.
Ministros da Palavra, fiquem atentos contra esses homens, porque eles
vão semear o engano no meio das igrejas. Eles têm, frequentemente, a mídia
nas mãos. Eles possuem dinheiro e projeção e, por causa da ignorância
teológica dos evangélicos, possuem poder de influência pelos meios de
comunicação. Instruam os seus crentes para que eles venham a rechaçar
esses tipos de falsos apóstolos.
(b) O tenebroso Satanás se traveste de luz
2Co 11.14 – “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.”

Os falsos apóstolos possuem um grande paradigma na atitude que eles


tomam. Eles seguem a sua grande figura “exemplar”, por crerem que ele é o
deus deles. Satanás tem servido de modelo para esses falsos apóstolos nesse
tipo de transformação de trevas em luz, de falsos apóstolos para apóstolos
de Cristo.
Satanás, desde o princípio, se apresenta como aquele que conhece a
verdade. Ele driblou Eva, dizendo que ele estava certo e que Deus estava
errado ao ordenar não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Ele teve sucesso com Eva e com Adão, assim como tem tido sucesso em
muitos arraiais evangélicos, além de outros ramos do cristianismo,
enganando a muitos sobre a sua real identidade. Estamos caminhando
rapidamente para o tempo da apostasia pelo engano que Satanás ocasiona
nos falsos profetas, falsos mestres, falsos pastores e falsos apóstolos. Eles
têm invadido o rebanho de Deus procurando a quem possam tragar.
Os ministros da Palavra devem ter grande discernimento para entender
essa obra de Satanás neste mundo. Ele está “preso”, no sentido de não mais
impedir que o evangelho chegue às nações (Ap 20.2-3); mas, ele está “solto”
para enganar as pessoas individualmente, para que creiam na “luz” que está
nele, para que o vejam como verdadeiro e não como mentiroso.
(c) Os ministros de Satanás se travestem de justiça
2Co 11.15a – “Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de
justiça.”

Os falsos profetas, falsos mestres, falsos pastores e falsos apóstolos se


mascaram para denotar que eles são ministros das coisas justas. Eles são
travestidos de cristãos, vestindo uma capa de homens retos; mas, enganam o
povo de Deus. Esses “ministros de Satanás” sempre se apresentarão como
aqueles que querem ser o que, na realidade, não são.
Pessoalmente, creio que eles não percebem conscientemente o que fazem;
mas certamente, querem desviar os cristãos de seus caminhos, crendo que a
verdade está nas mãos deles e que a injustiça está nas mãos dos cristãos.
Eles são predadores espirituais, e muitos do povo de Deus são suas
indefesas presas. Por essa razão, nós, os genuínos cristãos, não devemos nos
espantar pelo acontecimento desses fenômenos de engano que crescem e
culminarão na grande apostasia que precede a chegada de Cristo.
(d) O fim de todos eles será determinado pelas obras deles
2 Co 11.15b – “E o fim deles será conforme as suas obras.”

A redenção de pessoas é segundo a graça de Deus. Ela é imerecida.


Diferentemente, a condenação é pelas obras. Deus aplica sua justiça tanto a
Satanás como a seus ministros. A vingança, tanto esperada por nós, haverá
de aparecer no tempo apropriado. Todos eles terão um fim que estará de
acordo com a malignidade de suas obras!
O destino definitivo de Satanás e de seus asseclas será o lago de fogo,
que é a segunda morte. Eles não serão condenados simplesmente por suas
intenções, pelo seu caráter, mas pelas suas obras. A obra de engano é uma
das mais odiadas de Deus, e ele as julgará muito fortemente!
No dia final, nós conheceremos a respeito da ira de Deus contra a
falsificação da verdade. Hoje, os falsos profetas/mestres/pastores/apóstolos
vivem tranquilos, como se nada fosse acontecer com eles; mas, vem o dia em
que a ira de Deus será manifesta contra eles. Será um dia muito grave e
solene o da manifestação da ira! Então, todos os falsificadores da verdade
verão com clareza o grande pecado que cometeram contra o Senhor; mas, a
percepção dessa realidade será tardia, porque não haverá mais caminho de
volta para eles! A condenação será definitiva!
Ao analisar o texto de Paulo, parece-me, João Calvino traz uma
consolação para aqueles que estavam debaixo de grande ataque do engano,
prometendo-lhes a vitória sobre eles no final. Ele diz que Paulo “acrescenta
isto para a consolação dos piedosos. Daí a afirmação de um homem
corajoso, que despreza o julgamento tolo dos homens. Enquanto isso, ele
mostra uma intrepidez singular de consciência, que não se apavora diante do
julgamento de Deus”.168

7. PRINCÍPIOS A SEREM PONDERADOS

7.1. OS ENSINOS FALSOS REALMENTE CAUSAM REPULSA EM VOCÊ, COMO


CAUSAVAM NO SALMISTA?

Sl 119.128 – “Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos e aborreço todo
caminho de falsidade.”

Você realmente possui ódio pelos falsos ensinos que acontecem na igreja
evangélica hoje? A verdade é importante para você? O salmista diz que o
caminho da falsidade (das coisas falsas) exige de você ódio, algo que causa
repulsa e desprezo da sua parte.
É lamentável que o ensino falso não tenha provocado fortes sentimentos
de repulsa em vários ministros da igreja. A teologia não é importante para
eles, conquanto haja o crescimento da igreja. Eles são capazes de sacrificar
o ensino sadio em nome do progresso do número de membros da igreja. A
estatística vale mais que o conteúdo do que se ensina ou prega.
Eu oro a Deus para que vocês, ministros do Evangelho, venham a ter
repulsa pelo ensino falsificado do evangelho, para que vocês não admitam,
em nenhum grau, um outro evangelho. O evangelicalismo brasileiro, nesta
geração, tem sido muito condescendente com o erro, e não existe qualquer
sentimento de repulsa a ele que fique evidenciado na firme disciplina
eclesiástica. Observe que praticamente nenhum ministro é punido por causa
de doutrina errônea. Precisa haver comportamento moral para receberem
disciplina. Entretanto, não há quase nada que seja feito contra os
desprezadores do princípio da Tota Scriptura. Eles ensinam princípios
isolados da Escritura, mas não o ensino da totalidade das Escrituras. E
ninguém faz nada contra eles!
7.2. VOCÊ CONSEGUE ODIAR OS ENSINOS FALSOS SEM NECESSARIAMENTE ODIAR
OS FALSIFICADORES DA VERDADE?
Como expressar o seu ódio pelo sistema de falso ensino, sem dar a
impressão que odiamos pessoalmente os falsos mestres? Não se esqueça de
que os falsificadores da verdade possuem convicção de que estão certos! Na
verdade, eles pensam assim porque eles próprios são enganados pelos
demônios.
2Tm 2.24-26 – “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser
brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se
opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem
plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo,
tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.”

Se esses falsificadores da verdade estão em suas congregações, como


vocês devem proceder? Os mestres verdadeiros do povo de Deus devem ser
“brandos para com todos, aptos para instruir e pacientes”. Devem ter
paciência em relação àqueles que não têm entendimento. Gaste tempo
ajudando-os a enxergar, ao menos racionalmente, o que pode ser enxergado.
Não podemos, como mestres, fazer mais do que isso. O restante, definitivo
para o real entendimento da verdade, é obra divina. Não tente fazer o que é
de Deus.
Se esses falsificadores da verdade estão na sua congregação, discipline-
os. Essa é parte da tarefa dos verdadeiros presbíteros. Disciplinem com
mansidão, sem descarregar a ira de vocês contra eles. O descarregamento da
ira é propriedade exclusiva de Deus.
Se os falsificadores da verdade estão no meio da sua congregação, ao
pregar a eles, tenha sempre esperança de que Deus vá causar neles “o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. O arrependimento
e a fé são dons divinos. Portanto, não pense que eles são caso perdido.
Tenha esperança na ação de Deus neles. Só depois do arrependimento é que
eles passam a possuir olhos para enxergar corretamente a Palavra da
verdade.
Se esses falsificadores da verdade estão na sua congregação, ore a Deus
para que, depois de conhecerem plenamente a verdade, eles “retornem à
sensatez”. Por rejeitarem a verdade, eles são insensatos; mas espere na graça
de Deus para que eles saiam da escuridão espiritual em que se encontram e
sejam pessoas espiritualmente sensatas.
Se esses falsificadores da verdade estão na sua congregação, ore a Deus
para que eles sejam libertos dos laços do diabo, porque foram “feitos
cativos por ele para cumprirem a sua vontade”. Por causa do engano em que
se encontram, eles acabam, sem o saber, cumprindo os planos diabólicos na
vida deles. Por isso, vocês devem ser pacientes ao instruí-los, serem mansos
com eles, esperançosos de que alguma coisa sobrenatural da parte de Deus
acontecerá com eles. Entretanto, nós não temos direito de fazer nada contra
eles, exceto uma justa punição eclesiástica. Os castigos mais severos e
definitivos são dados pelo Justo Juiz!
7.3. VOCÊ REALMENTE DÁ SUPORTE AOS MINISTROS QUE LUTAM PELA VERDADE
DE DEUS?
Quando você percebe que em uma igreja irmã os ministros da palavra
estão sofrendo por causa da presença de falsificadores da verdade, você
mostra sinceramente a eles o seu suporte? Você se importa mesmo com o que
está acontecendo no meio de outras congregações? Não se esqueça de que
esses ministros da palavra estão em grande dificuldade. Se você não os
ajudar, eles serão derrotados na grande batalha pela verdade. Corra para dar
o seu suporte a eles. Eles precisam de vocês. Não há luta mais árdua do que
o combate contra o falso ensino, pois os falsificadores da verdade são
sorrateiros e escorregadios. Frequentemente, eles não assumem abertamente
os seus erros. Eles sugerem ao povo de Deus o oposto da verdade (ou a
verdade misturada com erro) de tal modo que o povo não percebe. Vá em
socorro dos ministros que possuem menos recursos teológicos que você.
Não fuja da luta! Ajude os que sabem menos, para que o povo dessas igrejas
não venha a abandonar a verdadeira doutrina.
Se você não faz isso, deve mudar de atitude para com eles e para com a
verdade.
7.4. A SUA VIDA REFLETE UM AMOR IGUAL AO DO SALMISTA PELA PALAVRA DE
DEUS?
A repulsa que você tem pelo erro, o ódio que você tem pela falsificação
da verdade, o real suporte que você dará aos ministros que estão debaixo de
fogo, estão relacionados ao amor que você tem pela verdade? Se você não
tiver amor pela verdade, não terá ódio pelo erro. Você não vai socorrer aos
que estão sob fogo, porque você vai pensar que o problema é deles. Se isso
acontecer, é porque a verdade de Deus não é realmente objeto do seu amor.
O salmista detestava a falsificação da verdade:
Sl 119.101-104 – “De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua palavra. Não me
aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas. Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar!
Mais que o mel à minha boca. Por meio dos teus preceitos, consigo entendimento; por isso,
detesto todo caminho de falsidade.”

O amor pela verdade de Deus fazia com que o salmista odiasse a


falsificação da verdade. Onde não há amor pela verdade, não há ódio em
defesa dela. A igreja de Deus precisa de ministros da Palavra que amem a
verdade de Deus, a fim de que possam detestar sua falsificação.
Sl 119.127-128 – “Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro
refinado. Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos e aborreço todo caminho de
falsidade.”

O salmista amava os mandamentos de Deus mais do que as coisas mais


preciosas que ele podia ter neste mundo. Davi era rei, tinha tudo o que
precisava e muito mais. Entretanto, a sua riqueza era a verdade dos
mandamentos de Deus. Ele mesmo se espanta por sua consideração amorosa
pela Palavra, quando diz: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo
o dia!” (Sl 119.97). O tempo que você gasta para a meditação na Palavra de
Deus mostra o tamanho do seu amor por ela!
Sl 119.162-165 – “Alegro-me nas tuas promessas, como quem acha grandes despojos. Abomino
e detesto a mentira; porém amo a tua lei. Sete vezes no dia, eu te louvo pela justiça dos teus
juízos. Grande paz têm os que amam a tua lei; para eles não há tropeço.”

O salmista tinha alegria pelas promessas da Palavra de Deus. Elas eram,


para ele, uma grande riqueza. Ele odiava a mentira porque amava a lei do
Senhor, e tinha paz pelo amor à lei do Senhor. A igreja de Deus carece
desesperadamente de homens que tenham esse tipo de reação em relação à
Palavra de Deus em sua vida!
Com base no artigo “False Prop hets – p art 1”. Disp onível em:
http ://www.religiously incorrect.com/articles/falsep rop hets1.shtml Acesso em: mar. 2014.
Com base no artigo “False Prop hets – p art 1”. Disp onível em:.
http ://www.religiously incorrect.com/articles/falsep rop hets1.shtml, Acesso em: mar. 2014.
Ibidem.
Com base no artigo “False Prop hets – p art 1”. Disp onível em:.
http ://www.religiously incorrect.com/articles/falsep rop hets1.shtml Acesso em: mar. 2014.
Algumas das ap licações, ao menos nos seus títulos, são encontradas nos comentários de Steven Cole, disp oníveis em:
http s://bible.org/seriesp age/lesson-9-avoiding-sp iritual-decep tion-colossians-21-5. Acesso em: ago. 2018.
Confira: Romanos 1.6; 1 Coríntios 1.1; 2 Coríntios 1.1; Gálatas 1.1; Efésios 1.1; Colossenses 1.1; 1 Timóteo 1.1; 2 Timóteo
1.1; Tito 1.1.
João Calvino, em seu comentário de 2 Coríntios. Disp onível em: http ://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom40.xvii.iii.html. Acesso
em: out. 2019.
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