Indulgencia - Um Tesouro Da Santa Igreja A Sua Disposicao

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Este material foi gentilmente cedido pela


"Coleção O Livro Católico" para os
colaboradores e amigos da
Associação Devotos de Fátima.
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Introdução

Um atento leitor da revista Catolicismo, depois


de ler meu artigo sobre o grande tesouro das
indulgências, publicado no número de janeiro
de 2018, manifestou-se decepcionado por ainda
não conhecer assunto tão importante, e
levantou a pergunta:

“por que hoje em dia não se ensinam mais essas


coisas tão preciosas?”

Não foi esta a única vez que ouvi a indagação,


muitos a manifestaram durante conversas e
conferências em que tratei do assunto,
geralmente despertando grande interesse em
conhecê-lo melhor.

Pessoas maduras e com prática de piedade


bem alicerçada têm manifestado ignorar os
preceitos da Igreja nesse campo. Mas o
conhecimento insuficiente da doutrina católica
não se limita ao assunto das indulgências, já
encontrei jovens e adultos que não sabiam o
Credo, os Mandamentos, os Sacramentos da
Igreja, etc.

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O problema não é novo, mas a nova pastoral
introduzida pelo progressismo vem contribuindo
ainda mais para essa ignorância religiosa.

Infelizmente, a experiência tem mostrado que


cursos de Catecismo se fazem com a finalidade
específica de preparação para a primeira
comunhão, mas muitos que participam não
apreendem dele o básico.

Não surpreende, por isso, que o Papa São Pio X,


no início do século XX, tenha insistido em que o
catecismo deve ser ensinado às crianças, mas
também aos adultos, e ele mesmo se dedicava
a esse ensino na Praça de São Pedro, em alguns
dias da semana.

Neste opúsculo, procurei definir bem o que são


as indulgências, sua utilidade, os meios de
obtê-las, sua história e as polêmicas que a
envolveram. Não é minha intenção escrever um
tratado, e sim explicar a prática das indulgências
para o fiel comum, de maneira acessível e sem
exigir conhecimento profundo de teologia.

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Maior aprofundamento pode ser adquirido no
Manual das Indulgências, documento oficial
da Igreja, acessível com facilidade em livrarias
católicas e na internet.

O católico que se aprofunda em sua religião


percebe, de maneira paulatina, a riqueza espiritual
da Igreja Católica. Em sentido contrário, os que têm
uma vida espiritual superficial não conhecem nem
podem usufruir os tesouros sobrenaturais com que
Nosso Senhor Jesus Cristo dotou a sua Igreja.

Desejo e espero que estas considerações sirvam


a muitas almas, para se afervorarem na sua vida
espiritual, e que passem também a colaborar
para o alívio dos sofrimentos das Santas Almas
do Purgatório.

Os tesouros de graças da Santa Igreja estão ao


alcance de todos, sem parcimônia e sem
dificuldades.

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Capítulo I
O que são as indulgências

Contrariando o que indica o título, começo expondo


sinteticamente o que as indulgências não são.
Indulgência não é nenhuma licença para pecar.

Não é a compra de um pedaço no céu. Não


significa submeter-se a uma prática da Igreja, e
achar que com isso estão perdoados os pecados.
E nem de longe se pode pensar que indulgência
plenária seja uma espécie de carta-branca para
cometer todo tipo de pecado.

Não têm fundamento, portanto, as acusações


de Lutero, gratuitas e largamente difundidas.
A legenda afirma que ele se revoltou devido ao
abuso que a Igreja estaria fazendo através da
venda das indulgências, apresentadas como
suficientes para abrir as portas do Céu aos
grandes pecadores que não mudavam de vida.

Todas as normas da Igreja sobre as indulgências


estavam e estão muito longe disso, como se
pode facilmente constatar na leitura do que
exponho a seguir.

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O que são então as indulgências? Segundo o
Catecismo da Santa Igreja, “indulgência é a
remissão da pena temporal devida pelos nossos
pecados já perdoados quanto à culpa, que a
Igreja concede fora do sacramento da Penitência”.

Vamos explicar melhor e exemplificar.

Podemos cometer a suprema infelicidade de


ofender a Deus Nosso Senhor. Neste caso,
pecamos e perdemos sua amizade. Para um
fiel sério, não há maior mal do que este, nem a
morte, a doença, a perda de um ente querido,
nada.

Os santos preferiam morrer uma infinidade de


vezes, ao invés de cometer um só pecado mortal,
e até um só pecado venial, pois Deus não deve
ser ofendido de nenhuma maneira. Branca de
Castela, mãe de São Luís IX, Rei de França, dizia
que preferia mil vezes vê-lo morrer de lepra do que
cometer um só pecado mortal.

Isto demonstrava um amor primoroso dela para


com seu santo filho. É tão grande o prejuízo
de um pecado mortal – para quem o comete,

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e para toda a sociedade humana – que São
Tomás de Aquino afirmava, em princípio, que o
pecador seria réu de morte.

Após cometermos um pecado, podemos


procurar um sacerdote e pedir a absolvição.
Absolvendo-nos, ele nos reconcilia com Deus
(livra-nos da culpa) e estaremos em estado de
graça (voltamos a ser amigos de Deus).

E se morrermos logo após cumprir a penitência


indicada pelo confessor, poderemos gozar
junto a Deus a felicidade do Céu, por toda a
eternidade. Mas basta isso para sermos
levados ao Céu?

Ensina-nos a Santa Igreja, baseada na Bíblia


Sagrada, que há também uma pena temporal a
pagar.

Por quê?

Porque todo pecado, todo crime, acarreta


consigo duas consequências: culpa e castigo
(ou pena).

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A culpa pode ser perdoada gratuitamente por
quem foi ofendido, mas o castigo deve ser pago
de outra forma. Nisso não há diferença com o
que ocorre na Justiça terrena. Por exemplo,
alguém pode ser culpado de ter assassinado
meu irmão, e eu posso perdoar a ele a culpa por
esse crime, posso até admiti-lo em minha casa
como amigo.

Mas a Justiça e a própria sociedade exigem uma


pena, ou seja, um castigo para o criminoso, e não
cabe a mim livrá-lo desse castigo. O que acontece
com o pecado é igual: a culpa do pecado pode
ser perdoada pelo sacerdote, em nome de Deus,
mas o castigo pelo mesmo pecado (também
chamado pena temporal) deve ser redimido de
outra forma.

O Antigo Testamento descreve o crime e o castigo


de David, a quem o profeta Natan havia
assegurado:

“O Senhor também te perdoou o pecado, e não


morrerás”.

Apesar disso, David implorava constantemente

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a Deus a misericórdia (ou indulgência) divina.
Submeteu-se voluntariamente a grandes
penitências, pedindo a Deus que perdoasse o
crime, mas perdoasse também o castigo (ou
pena) merecido pelo crime.

O fervor das preces era grande, como se pode


ver nos salmos, mas Deus lhe aplicou como
castigo a morte do filho que tivera do adultério,
e também a revolta e morte de Absalão, a quem
amava com particular carinho.

Ainda no Antigo Testamento, o livro do Êxodo


descreve o crime de idolatria em que caíra o
povo. Moisés suplicou a Deus e obteve o perdão
da culpa pela idolatria, mas Deus aplicou o castigo
aos idólatras até a terceira e quarta gerações.

Em alguns casos, a extinção da culpa pode


significar também o perdão do castigo ou pena.
Porém, como declarou o Concílio de Trento,
Nosso Senhor nem sempre perdoa a pena
temporal e os remanescentes dos pecados.

Daí a necessidade de um local para pagarmos


depois da morte a pena temporal devida pelos

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pecados, mesmo os que já foram perdoados.
Esse local se chama Purgatório, e o leitor
encontrará algumas referências a ele nas
próximas páginas.

Esta é a doutrina que os Santos Padres e os


Concílios ensinaram na Igreja Católica.

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Capítulo II

Pode a Igreja perdoar nossos


pecados e penas junto a Deus?

Nas Sagradas Escrituras está claro este poder.


Para isso, basta recordar as palavras de Nosso
Senhor a São Pedro e aos seus sucessores, os
Papas:

“Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e


tudo o que desligares na terra será desligado nos
céus” (Mt 16,19).

Quase as mesmas palavras são repetidas numa


ocasião posterior a todos os Apóstolos,
extensivas aos seus sucessores, aos bispos da
Igreja Católica (Mt 18,18).

Jesus pronunciou essas palavras sem acrescentar


condições ou exceções, portanto deu à sua Igreja
o poder de tirar da alma dos homens qualquer
impedimento que dificultasse a sua entrada no
Céu. Desde os primeiros séculos do Cristianismo,
a Igreja usou deste poder.

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Nos primórdios da Igreja, a noção que os fiéis
tinham da gravidade do pecado era muito mais
precisa, clara e correta. Quem cometesse um
pecado, e se reconciliasse com Deus pela
confissão, recebia do confessor o perdão, e
além disso uma penitência (ou pena).

Muitas vezes, a critério do confessor, a pena era


bem severa. Por exemplo: trezentos dias na
porta de uma igreja, pedindo perdão aos que
passassem; jejum durante vários dias;
peregrinação à Terra Santa; e muitas outras.

Havia o costume de o penitente recorrer a um


fiel que fosse condenado à morte por causa de
sua Fé, como era o caso dos primeiros mártires.

O penitente ia até a prisão e pedia ao futuro


mártir um documento chamado “carta de paz”,
endereçado ao Bispo. De posse desse documento,
o Bispo podia absolver o penitente da sua pena.
Começava assim na Santa Igreja a prática das
indulgências.

Entre os belos dogmas católicos está a Comunhão


dos Santos, como todos rezamos no Credo.

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Nenhuma boa ação, nenhuma lágrima de
arrependimento, nenhuma oração é indiferente a
Deus, e sempre será útil para remir nossos
pecados. E os méritos que superam nossas
necessidades pessoais podem ser aplicados a
outros fieis.

É o tesouro da Igreja, distribuindo graças


incontáveis ao rebanho de Nosso Senhor por
meio da Comunhão dos Santos.

A pena temporal por nossos pecados pode ser


cumprida diante de Deus de vários modos:

• Penitência que escolhemos voluntariamente,


sem que ela nos tenha sido imposta: jejuns,
sacrifícios físicos, privações de bens
legítimos, etc.

• Oração, jejuns, esmolas.

• Indulgências concedidas pela Santa Igreja.

• Depois do Juízo particular, pelas penas do


Purgatório.

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Capítulo III
Indulgência parcial e indulgência plenária

Não podemos esquecer que a graça concedida


pela Igreja por meio das indulgências é obtida
pelos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, pelos méritos incomensuráveis de Nossa
Senhora, pelos méritos dos santos, e se incluem
nos tesouros espirituais da Igreja.

Nossas orações, boas obras e tudo que


concerne a nossa vida espiritual podem
alcançar para nós, diante de Deus, o perdão
parcial de nossas faltas.

Por exemplo, um Pai Nosso, uma Ave Maria, um


pequeno sacrifício, uma esmola, etc. O Manual
das Indulgências, resumido no final deste livro,
enumera grande quantidade desses atos de
piedade. Cada um deles pode ir “descontando”
as penas que devemos pelas nossas culpas.

O perdão que cada ato desses obtém diante de


Deus chama-se indulgência parcial. Podemos
lucrar ao longo do dia um número incontável de
indulgências parciais, mesmo que não tenhamos
presente isto a cada momento. Basta uma
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intenção genérica no começo do dia, ou mesmo
no início da semana.

Mas a Santa Igreja pode também nos dar um


“cheque em branco”. Na sua bondade extrema,
ela nos autoriza a preencher o cheque no valor que
pague todas as “dívidas” para com Deus. Isto se
chama indulgência plenária. Se morrermos logo
depois de ter recebido uma indulgência plenária, nos
uniremos imediatamente a Deus, sem passarmos
pelo Purgatório.

É possível termos a certeza concreta de que


recebemos uma indulgência plenária? Nem sempre.
Não quer isso dizer que não a recebemos, pois
estamos falando de certeza concreta.

Mas existem condições para recebermos a


indulgência plenária, e se cumprirmos todas
essas condições, podemos ter a certeza moral
de que a obtivemos. Caso não recebamos a
indulgência plenária por não termos realizado
as condições, mesmo assim receberemos
indulgências parciais, o que não é pouco.
Relacionamos em seguida as condições para
receber as indulgências.

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Capítulo IV

Condições para receber uma


indulgência plenária

Explicarei com clareza, item por item, as condições


para se receber uma Indulgência plenária.

• Intenção – A Igreja não obriga ninguém a


receber uma indulgência, por isso é necessário
termos a intenção de recebê-la. A intenção de
receber a indulgência pode ser genérica.

Por exemplo, em cada domingo, ou num dia


escolhido por nós, dizermos: “Deus misericordioso,
desejo ganhar todas as indulgências que puder
nesta semana, e sempre”. O ideal é incluirmos
esta intenção todos os dias em nossa oração da
manhã.

• Confissão sacramental. Uma confissão vale


para muitas indulgências plenárias.

• Comunhão eucarística. Uma comunhão


vale somente para uma indulgência plenária.

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• Rezar pelo Santo Padre, o Papa. Pode ser
um Pai Nosso e uma Ave Maria.

• Não ter apego ao pecado, mesmo venial.


Isto não significa que não cometeremos mais
nenhum pecado, e sim não ter apego a ele,
detestá-lo e desejar abandoná-lo.

• Execução de uma obra. Dou cinco


exemplos de atos fáceis de serem realizados:

- Visita de meia hora ao Santíssimo


Sacramento.

- Rezar um terço em família, em grupo ou


com algum amigo.

- Ler durante meia hora um dos livros da


Bíblia Sagrada.

- Ensinar o Catecismo durante meia hora.

- Assistir a uma Primeira Comunhão.

Mesmo se a pessoa tiver a infelicidade de estar


em pecado, pode realizar esses atos e rezar pelo

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Papa antes da confissão. Tendo-se confessado,
receberá a indulgência plenária no momento em
que receber a Sagrada Comunhão. A indulgência
plenária só pode ser obtida uma vez por dia.

Além de ganhar uma indulgência plenária


todos os dias, o fiel que ao longo de sua vida
rezar uma vez por semana, por exemplo, uma
oração como a Alma de Cristo, ou qualquer
outra, receberá uma indulgência plenária no
momento de sua morte. É louvável que se faça o
uso de um crucifixo nesta ocasião.

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Capítulo V
Observações diversas

As indulgências que obtivermos, tanto parciais


quanto plenárias, só se aplicam a nós e não a
outrem, pois neste assunto cada um é
responsável pelos seus débitos.

Indulgências obtidas podem ser oferecidas


pelas almas do Purgatório em geral ou somente
por uma em concreto. Mas, como a Santa Igreja
só tem autoridade sobre seus membros vivos,
não necessariamente será aplicada essa
indulgência à alma do Purgatório.

Ela terá apenas um caráter de súplica junto a


Deus, e sua aplicação dependerá da misericórdia
de Deus. Neste sentido, poderemos oferecer pelas
mesmas almas mais de uma indulgência plenária.

O documento da Igreja Enchiridion Indulgentiarum


contém itens que incentivam nosso progresso na
vida espiritual, nossa santificação. E informa-nos
que as indulgências parciais se obtêm:

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• Cumprindo nossos deveres de estado e aceit-
ando os sacrifícios do dia a dia, elevando nos-
sas mentes a Deus Nosso Senhor.

• Ajudando nosso próximo em suas necessi-


dades.

• Privando-nos de algum prazer legítimo, em


espírito de penitência.

Ficou eliminada a determinação anterior de dias ou


anos ao se obter uma indulgência. Por exemplo, já
não existem especificações como esta: ‘Se
oscular um crucifixo, terá 300 dias de indulgência’.
Portanto, a remissão ou diminuição da pena
será de acordo com o fervor com que o fiel
pratica sua piedade.

O Pe. Leo J. Treze, em seu livro A Fé explicada,


comenta:

“Quando consideramos o grande número de


indulgências plenárias que a Igreja pôs à nossa
disposição, torna-se evidente que, se tivermos
de sofrer no Purgatório antes de entrar no Céu,
será duplamente por culpa nossa.

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As indulgências plenárias são tão numerosas,
e as obras para obtê-las são tão fáceis, que só
a mais irresponsável das preguiças espirituais
nos pode levar a negligenciá-las ou ignorá-las”.

A grande Santa Teresa d’Ávila, durante uma


visão de Nosso Senhor, viu no Céu uma
religiosa de sua Ordem, que era pouco
fervorosa. Perguntou por que essa religiosa se
livrou tão rapidamente do Purgatório, e o Divino
Redentor respondeu:

“Ela soube aproveitar bem as indulgências


que a Santa Igreja lhe concedia”.

As indulgências ajudam não só os fiéis a cumprir


as penas que devem, mas os incitam à piedade,
inflamam a caridade e o amor a Deus.

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Conclusão

Termino este livro transcrevendo meu artigo


publicado na revista Catolicismo, e também um
resumo usado como roteiro nas conferências
que realizei. Algumas repetições, impossíveis
de evitar, ajudarão os leitores a fixar melhor os
conceitos de assunto tão precioso e importante
para cada um de nós.

Agradeço a Nossa Senhora, de quem sou


escravo de amor, ter-me inspirado a escrever este
opúsculo. Pedindo perdão pelas deficiências que
ele possa conter, peço também que todo o fruto
de meu esforço se reverta no bem das almas,
para a maior glória da Virgem Santíssima e de
seu Divino Filho.

“Fazei para vós um tesouro inesgotável no céu,


onde o ladrão não se aproxima nem a traça
corrói” (Lc 12, 33).

***

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O tesouro das indulgências
Fonte: Revista Catolicismo, nº 805, janeiro de 2018

Para um católico seriamente praticante, que


conhece pelo menos os pontos básicos do
Catecismo, a Santa Igreja é de uma beleza
incomparável. Seus tesouros espirituais,
descobertos a cada dia, são sempre motivo de
encantamento, alegria e admiração.

Para os não católicos ou os indiferentes à Igreja,


mas principalmente para aqueles que lhe têm
um ódio profundo, qualquer pequena calúnia
levantada contra Ela ou o mau procedimento de
algum de seus filhos é pretexto para arroubos
de indignação e deblateração.

É o que sucede, por exemplo, com a doutrina


sobre as indulgências. Quanta calúnia se levantou
contra a Igreja a propósito do famigerado
heresiarca Lutero, com sua revolta baseada em
uma suposta “venda da salvação eterna pelas
indulgências”! Quanta invenção, mentira,
superficialidade e ignorância histórica!

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Dedicando-me à formação religiosa de
adolescentes, tenho observado uma atenção e
um interesse especial deles pelo assunto, o que
me levou muitas vezes a orientá-los.

Recentemente fui convidado a expor a doutrina


sobre as indulgências para pessoas já bem
longe da adolescência, conhecedoras da
doutrina católica e com décadas na prática
séria da religião.

Para surpresa minha, o interesse dos


componentes desse público era igual ou até
maior que o dos jovens, mas observei também,
da parte deles, um conhecimento insuficiente e
não aprofundado sobre a matéria, que os leva
a não aproveitar esta riqueza incomparável
da Igreja.

A grande Santa Teresa d’Ávila teve uma visão


de Nosso Senhor, durante a qual ela viu no Céu
uma religiosa de sua Ordem que era pouco
fervorosa. Espantada, quis saber por que a
mesma se livrou tão rapidamente do Purgatório.
O Divino Redentor então lhe respondeu:

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“Ela soube aproveitar bem as indulgências
que a Santa Igreja lhe concedia”.

Explicarei do modo mais sucinto e didático


possível como um católico pode obter facilmente
uma indulgência plenária, e também como ele
pode ir diretamente para o Céu sem passar pelo
Purgatório, bastando rezar algumas orações
durante a vida.

Nada disso é impossível aos católicos que têm


uma vida de piedade normal. Não se requerem
méritos nem “truques” pessoais, pois os
benefícios advindos das indulgências nos são
fornecidos pelos méritos infinitos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, da Virgem Santíssima e dos santos.

Tudo está claramente definido no Manual das


Indulgências, documento oficial da Santa Igreja,
do qual colhi as condições, normas e vantagens
para a obtenção durante a vida da remissão das
próprias penas, bem como as vantagens
decorrentes, como exponho a seguir.

A remissão das penas temporais devidas aos


pecados já perdoados pode ser obtida de várias

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maneiras: por atos de penitência voluntária,
jejuns, sofrimentos no Purgatório, ou através
das indulgências.

São seis as condições para se receber uma


indulgência plenária:

1 – Ter a intenção de recebê-la. Pode ser


uma intenção genérica, enunciada no
começo do dia, uma vez por semana ou até
uma vez por mês.

2 – Confessar-se. Uma única confissão vale


para muitas indulgências plenárias.

3 – Comungar. Uma comunhão vale apenas


para uma indulgência plenária.

4 – Rezar pelas intenções do Santo Padre.


Pode ser um Padre-Nosso e uma Ave- Maria.

5 – Não ter apego ao pecado, mesmo venial.


Isto não significa a exigência de a pessoa
não cometer pecado, mas sim de não ter
apego a ele e desejar abandoná-lo.

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6 – Execução da obra. Dou cinco exemplos
de atos fáceis de serem realizados:

a) Meia hora de visita ao Santíssimo Sacra-


mento.

b) Rezar um terço em família, em grupo, ou


com algum amigo.

c) Ler durante meia hora um dos livros da Bí-


blia Sagrada.

d) Ensinar o Catecismo durante meia hora.

e) Assistir a uma Primeira Comunhão.

Além de ganhar uma indulgência plenária


todos os dias, o fiel que ao longo de sua vida
rezar — uma vez por semana, por exemplo —
uma oração (a Alma de Cristo ou qualquer outra)
fazendo uso de um crucifixo, receberá uma
indulgência plenária no momento de sua morte.

Uma dádiva como esta constitui uma verdadeira


misericórdia de Deus, desde que queiramos e
nos esforcemos para viver na Sua amizade. Ela

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nos induz a abandonar o pecado e nos livra dos
pesos de consciência que sempre acompanham
o estado de pecado grave.

Aproveitemos todas as indulgências que nos


são concedidas para o nosso proveito, o bem
das almas e as necessidades da Santa Igreja,
mas principalmente para a maior glória de Deus
Nosso Senhor.

Mais em: http://catolicismo.com.br/Acervo/Num/0805/


p14-15.html

Contato por email: [email protected]

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Pontos essenciais e noção geral
sobre a doutrina das indulgências

Para um estudo mais aprofundado, recomenda-se


adquirir em livrarias católicas o “Manual das
Indulgências”. A numeração deste resumo não
segue a do original.

1 - indulgência é a remissão, diante de Deus,


da pena temporal devida pelos pecados já
perdoados quanto à culpa, que o fiel
devidamente disposto, e em certas e
determinadas condições, alcança por meio
da Igreja, a qual, como dispensadora da
Redenção, distribui e aplica com autoridade
o tesouro das satisfações de Cristo e dos
Santos.

2 - A indulgência é parcial ou plenária


conforme liberta, em parte ou no todo, da
pena temporal devida pelos pecados.

3 - Ninguém pode lucrar indulgências a


favor de outras pessoas vivas.

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4 - Qualquer fiel pode lucrar indulgências
parciais ou plenárias para si mesmo, ou
aplicá-las aos defuntos como sufrágio.

5 - O fiel que, ao menos com o coração


contrito, faz uma obra enriquecida de
indulgência parcial, com o auxílio da
Igreja alcança o perdão da pena temporal,
em valor correspondente ao que ele próprio
já ganha com sua ação.

6 - O fiel cristão que usa objetos de piedade


(crucifixo ou cruz, rosário, escapulário,
medalha) devidamente abençoados por
qualquer sacerdote ou diácono, ganha
indulgência parcial.

Se os mesmos objetos forem bentos pelo


Sumo Pontífice ou por qualquer Bispo, o fiel,
ao usá-los com piedade, pode alcançar até a
indulgência plenária na solenidade dos
Santos Apóstolos Pedro e Paulo, se
acrescentar alguma fórmula legítima
de profissão de fé.

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7 - Para que alguém seja capaz de lucrar
indulgências, deve ser batizado, não estar
excomungado e encontrar-se em estado de
graça, pelo menos no fim das obras prescritas.

O fiel deve também ter intenção, ao menos


geral, de ganhar a indulgência e cumprir as
ações prescritas, no tempo determinado e no
modo devido, segundo o teor da concessão.

8 - A indulgência plenária só pode ser obtida


uma vez ao dia. Contudo, o fiel em artigo de
morte pode ganhá-la, mesmo que já a tenha
conseguido nesse dia. A indulgência parcial
pode ser obtida mais vezes ao dia, se
expressamente não se determinar o
contrário.

9 - A obra prescrita para se alcançar a


indulgência plenária anexa a uma igreja ou
oratório é a visita aos mesmos. Neles se
recitam a oração dominical e o símbolo dos
apóstolos (Pai Nosso e Credo), a não ser
caso especial em que se marque outra coisa.

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10 - Para lucrar a indulgência plenária
requerem-se – além da repulsa de todo o
afeto a qualquer pecado, até venial – a
execução da obra enriquecida da indulgência
e o cumprimento das três condições seguintes:
confissão sacramental, comunhão eucarística
e oração nas intenções do Sumo Pontífice.

• Com uma só confissão podem ganhar-se


várias indulgências, mas com uma só
comunhão e uma só oração alcança-se
uma só indulgência plenária.

• As três condições podem cumprir-se em


vários dias, antes ou depois da execução
da obra prescrita. Convém, contudo, que
tal comunhão e tal oração se pratiquem no
próprio dia da obra prescrita.

• Se falta a devida disposição, ou se a obra


prescrita e as três condições não se
cumprem, a indulgência será só parcial;
salvo o que se prescreve nos números 27 e
28 do manual em favor dos ‘impedidos’.

35
• A condição de se rezar nas intenções do
Sumo Pontífice se cumpre ao se recitar
nessas intenções um Pai Nosso e uma Ave
Maria, mas podem os fiéis acrescentar
outras orações conforme sua piedade e
devoção.

11 - Concede-se indulgência parcial ao fiel


que, no cumprimento de seus deveres e na
tolerância das aflições da vida, ergue o
espírito a Deus com humilde confiança,
acrescentando alguma piedosa invocação,
mesmo só em pensamento.

Concessões
(Aqui só constam algumas das concessões
contidas no manual)

Indulgência parcial:

• Atos de Fé, Esperança e Caridade.

• Nós vos damos graças, Senhor, por todos


os vossos benefícios. Vós que viveis e
reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

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• Santo Anjo (oração ao Anjo da Guarda).

• Ângelus, Regina Coeli.

• Alma de Cristo.

• Comunhão Espiritual.

• Credo.

• Ladainhas aprovadas pela autoridade


competente. Sobressaem-se as
seguintes: Santíssimo Nome de Jesus,
Sagrado Coração de Jesus, da Santíssima
Virgem Maria, de São José‚ e de Todos os
Santos.

• Magnificat.

• Lembrai-vos.

• Miserere (Tende piedade).

• Ofícios breves: Ofícios breves da Paixão de


NSJC, Sagrado Coração de Jesus, da
Santíssima Virgem Maria, da Imaculada
Conceição e de São José.

• Oração mental.
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• Salve Rainha.

• Sinal da Cruz.

• Veni Creator.

• Renovação das promessas do batismo.

Indulgências plenárias

(Como acima, aqui só constam algumas das


indulgências do manual).

• Visita ao Santíssimo – Concede-se


indulgência parcial ao fiel que visitar o
Santíssimo Sacramento para adorá-Lo. Se o
fizer por meia hora ao menos, a indulgência
será plenária.

• Visita ao cemitério – Ao fiel que visitar


devotamente um cemitério e rezar pelos
defuntos, mesmo em espírito, concede-se
indulgência aplicável somente às almas do
purgatório. Do dia 1º ao dia 8 de novembro,
esta indulgência será plenária em cada dia.
Nos outros dias, será parcial.

• Exercícios espirituais – Concede-se


indulgência plenária ao fiel que faz os
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exercícios espirituais ao menos por três dias.

• Indulgência na hora da morte – O sacerdote


que administra os sacramentos ao fiel em
perigo de vida, não deixe de lhe comunicar a
bênção apostólica com a indulgência plenária.

Se não houver sacerdote, a Igreja, como


mãe compassiva, concede a mesma
indulgência ao cristão bem disposto para
ganhá-la na hora da morte, se durante a vida
tiver recitado habitualmente para isso
algumas orações.

Para alcançar esta indulgência plenária,


louvavelmente se rezam tais orações fazendo
uso de um crucifixo ou de uma simples cruz.

A condição de o fiel ter recitado


habitualmente algumas orações supre as
três condições requeridas para ganhar a
indulgência plenária. A mesma indulgência
plenária em artigo de morte, pode ganhá-la o
fiel que no mesmo dia já tenha ganho outra
indulgência plenária. (Esta concessão vem
assinalada na Const. Apost. Indulgentiarum
Doctrina, norma 18)
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• Primeira Comunhão – Concede-se
indulgência plenária aos fiéis que se
aproximarem pela primeira vez da sagrada
comunhão, ou que assistam a outros que se
aproximam.

• Reza do Rosário de Nossa Senhora –


Indulgência plenária, se o Rosário se recitar
na igreja, em oratório público ou em família,
na comunidade religiosa ou em pia
associação. Indulgência parcial em outras
circunstancias.
Para a indulgência plenária pela reza do
Rosário, determina-se o seguinte:

1 - Basta rezar a terça parte do Rosário, mas


as cinco dezenas devem ser recitadas juntas.

2 - Piedosa meditação deve acompanhar a


oração vocal.

3 - Na recitação pública, devem-se anunciar


os mistérios, conforme o costume aprovado
do lugar; na recitação privada, basta que
o fiel ajunte a meditação dos mistérios à
oração vocal.

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• Leitura espiritual da Sagrada Escritura –
Concede-se indulgência parcial ao fiel que
ler a Sagrada Escritura com a veneração
devida à palavra divina, e a modo de leitura
espiritual. A indulgência será plenária, se o
fizer pelo espaço de meia hora pelo menos.

• Visita à igreja ou altar no dia da dedicação,


e ali piedosamente rezar o Pai-nosso e o
Credo.

Transcrito do “Manual das Indulgências”,


editado pela Penitenciária Apostólica em 29 de
junho de 1968 (Edições Paulinas, São Paulo, 1990)

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