Angus Tia

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ANGÚSTIA

O seminário 10 de Lacan, datado de agosto de 1962 a julho 1963, contém 24


lições, foi o último seminário ditado na clínica Santana. A partir daí, Lacan faz, em 63,
uma primeira aula sobre o seminário "o nome do pai", interrompe, vai começar, então, na
escola normal de filosofia, o seminário 11 e fica uma única aula sobre O Nome do Pai.

Esse seminário 10 é o último de Lacan no hospital de Santana. Esse seminário


tem uma relação muito grande com o seminário anterior que ainda não foi traduzido para o
português - a identificação -.

Ele vai avançar, com esse seminário 10, aquilo que ele já vinha trabalhando na
identificação, a saber, a visão da identificação do traço unário, constituição do sujeito
barrado representado por um significante pra outro significante.

E vai pensar (retomar) as três identificações freudianas, que estão na


Psicologia das Massas, Análise do Eu, capítulo 7: identificação ao pai ou identificação ao
traço unário, identificação simbólica e uma identificação do imaginário ou identificação
histérica.

Na verdade, é uma identificação real ou real do grande outro, que é


identificação por incorporação mítica ao pai num laço amoroso. A identificação simbólica
ao grande outro, que é a identificação ao traço unário - um traço do outro, e a
identificação do imaginário ao outro imaginário que é também chamada de identificação
histérica, onde ele vai trazer a Moça do Pensionato, ele vai trabalhar com essas
identificações e retoma no seminário 24.

Sobre o seminário 24, pensando que estamos, a partir de 74, na terceira


conferência de Lacan, em Roma - O último ensino de Lacan - , Miler diz que em sua
primeira aula, ele retoma a constituição do eu, a partir desses processos
identificatórios, trabalhado no seminário 9.

O seminário 10 é o inicio do trabalho de Lacan com o registro do real. Esse


conceito (apesar de não ser um conceito) esse termo, esse significante Angústia, é
trabalhado no sem 10 até o seminário 22, tendo um desdobramento importante e vai culminar
no seminário, com uma leitura muito interessante, que é uma leitura da angústia ou da
constituição, sob ponto de vista topológico, coisa que ele havia começado no seminário 9.

No seminário 9, ele introduz as identificações, introduz já uma topologia,


numa leitura que não é mais uma leitura lógica, mas uma leitura topológica, e isso volta
no 24. Ou seja, do 9 ao 24, elaboração do real, começa a pensar do ponto de vista
topológico, começa a pensar que é o mais além do inconsciente estruturado como uma
linguagem, que o final de análise não se dá única e exclusivamente pelo trabalho do
inconsciente estruturado como uma linguagem do simbólico, que temos que transcender esse
inconsciente simbólico.

O que existe mais além desse inconsciente simbólico? ele vai nos dizer: o
inconsciente real. Equivaleria pensar, já desde Freud, que esse inconsciente real é o
recalcado primário, o umbigo do sonho, como se fosse descascando a cebola e se aproximando
do núcleo, do miolo e é desse miolo que efetivamente se produz um sonho, mas esse miolo
não é dito, não é simbolizado.

Há um núcleo real do inconsciente, algo que é do registro do não dito, ou o


saber que não se sabe. Se o inconsciente é saber, o núcleo do inconsciente, que é o
inconsciente real, é o saber que não se sabe.

O sem 10 - angústia - possibilita o entendimento dessa passagem do simbólico ao


imaginário e o enodamento do simbólico e imaginário com o real, para se pensar,
borromeanamente, esses registros da forma como eles se enodam, para se chegar até uma
leitura do último ensino de Lacan, do inconsciente real, voltada para a questão teórica,
para a questão metapsicológica.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ANGÚSTIA

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Na atualidade, como diz o Forbes, "a clínica do sec. 21” se modificou
completamente, exatamente pelo último ensino de Lacan, por todo o discurso do capital e
por uma série de questões, as manifestações clínicas da angústia tem levado uma série de
pessoas aos consultórios. Se Freud fala do Mal Estar, o mal estar na atualidade se agravou
de forma importante, mas se apresenta de forma diferente da época que Freud escreve o Mal
estar. Eu diria que hoje, a angústia se apresenta na clínica travestida de um monte de
significantes e significados:

os adolescentes e adultos jovens continuam com as auto mutilações e cortes e


quando se estuda na clínica, eles dizem, de uma forma muito clara, que são levados a se
cortar com a função de esvaziar uma excitação, angústia, no corpo. A angústia se
apresenta na clínica de vários formas: nas adições, nas passagens ao ?ato ?setting, na
crise de pânico, nos fenômenos psicossomáticos, doenças orgânicas, manifestações,
acontecimentos de corpo, nas tatuagens, na depressão.

Na depressão, ela se apresenta na medida que a depressão produz uma degradação


do desejo.

Nas Anorexias, transtornos alimentares. A maneira mais contundente e a nomeação


mais importante para os dias de hoje para a angústia é o estresse, cansaço. O estresse é
um significante que vem de um grande outro da cultura que é a medicina - outro da medicina
- é a medicina que fala do estresse. È muito mais falar simpático, falar que está
estressada do que angustiada Quando alguém diz que está estressado, diz que também está,
vamos descansar, mas quando alguém diz que está angustiado, de alguma forma a gente se
angustia também.

Junto com o estresse, poderia colocar outros significantes; a família super


exige, impotência, ausência de um sentimento de vida.

Se a angústia hoje se faz presente e se manifesta clinicamente das mais


variadas formas, um dos fatores que permitem a sua manifestação é exatamente a falha da
função paterna, ou seja, o fracasso do não. As crianças e adolescentes de hoje não sabem
mais o que é limite, o que é não, o que é lei.
Esse declínio da função paterna produz uma elisão (supressão, eliminação) da
subjetividade, levando a uma série de falhas no simbólico. Se o simbólico falha, falha a
lei, falha o não, a falta falta, se a falta falta: angústia. È uma das definições que
Lacan faz no seminário da angústia.

A angústia não é um conceito, Lacan não faz um conceito, Lacan diz que Freud
também não faz, diz Miler que exatamente porque ele trabalhou um ano sem estabelecer um
conceito da angústia, depois ele vai falar sobre os quatro conceitos fundamentais?.

Tanto pra Lacan quanto pra Freud, a angústia é um conceito fundamental.


Quando eu pego, principalmente para Freud, imagina se eu falo da neurose sem a
referência à angústia.

A angústia é, de um lado, constitutiva da subjetividade. Nesse sentido tem uma


estrutura. Não é possível sermos sujeitos falantes sem nos angustiarmos. O preço que eu
pago por sermos sujeitos falante é a angústia. A angústia é constitutiva do sujeito.
Então a angústia tem uma estrutura.Isso é uma coisa.

O que não quer dizer que essa angústia com a qual eu me constituo um sujeito
dividido, um sujeito da representação, um sujeito de desejo, ela se apresente do ponto de
vista clínico, mas eu tenho que localizar a angústia na estrutura.

Se o sujeito só se constitui sujeito representado no significante por outro


significante como sujeito de desejo na perda do objeto pulsional com a castração, a
angustia de castração é constitutiva da subjetividade.

De um lado, a angústia tem um estrutura. A estrutura da angústia se aproxima da


estrutura da fantasia fundamental, aquela matematizada pelo sujeito? barrado, losango de
A.

A angústia é inerente a qualquer ser falante, a angustia tem que ser localizada
na estrutura. que se aproxima da fantasia fundamental. Logo, há pontos de aproximação e

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diferenças na estrutura da angustia e da fantasia. Fantasia fundamental é constitutiva da
subjetividade, é o segundo tempo básico? da criança que deve ser construída numa analise.

A angustia constitutiva da subjetividade, com ela vamos ter que nos haver na
experiência psicanalítica. A partir do momento que o analisando chega e começa numa
demanda de análise, numa associação livre, a movimentar, produzir novas redes, novas
cadeias de significantes com produção de novos sentidos, novas significações e a partir do
momento que vai havendo uma perda das identificações, ele cai na falta ?ser, e ao cair na
falta ?c, ele e se angustia.

No final de analise nós trabalhamos com essa angústia, que nos permite ter
acesso ao real, é a via do acesso ao real.

Se ela é constitutiva da subjetividade, ela se apresenta na experiência


psicanalítica.

A travessia da fantasia não se faz sem angústia. A perda das identificações não
se dá sem a angústia. A constatação da falta C? não se dá sem angústia.

Obviamente, no seminário, na terceira, que é o texto de 74, na conferencia que


Lacan faz em Roma, ele fala que a angústia é completamente instrutiva. Ela nos instrui, a
nós analistas, do que está acontecendo com nosso paciente dentro da experiência
psicanalítica.

E Lacan vai mais longe e nos diz: Há angustia do paciente, mas há angústia
também do analista. Há que se perguntar se a angústia do analista é a mesma do paciente.
Ele se pergunta isso. De toda forma, ter que dosar essa angústia do nosso paciente, no
processo de psicanálise, essa é uma direção de tratamento.

Logo, a angústia é constitutiva da subjetividade, a angustia tem um estrutura e


essa estrutura se aproxima da estrutura do fantasma.

Porque a angustia é localizada na estrutura, efetivamente eu vou me deparar


com a angústia do paciente na experiência analítica pelo processo de desidentificação,
pela falta C, pela ? do fantasma.

Na medida que ele vai ter acesso ao real, nós encontramos a angústia.

Mas a angustia é também uma manifestação clínica. São dois níveis diferentes.
Uma angústia ligada à estrutura e angústia enquanto um sintoma. Não que a angustia seja
sintoma, sabemos que não. Ela é muito mais um acontecimento do corpo: Só tem angústia quem
tem corpo. Está por fora do significante, do simbólico.
Ela se apresenta na clinica de duas formas diferentes. Nessa altura, estamos
falando de quatro de angustia diferentes:

Angustia ligada, angustia de castração constitutiva da subjetividade de todos


seres falantes e a angustia que tem um estrutura com aproximações da estrutura do
fantasma, fantasia fundamental.

E tem duas apresentações da angustia na clinica: uma que a gente chama de


angustia sem nenhuma delimitação, uma angustia maciça, que invade, que te toma, que
permanece dias, horas. que não tem um marco, uma janela -lembrar da janela do fantasma, do
marco da fantasia-. Essa angustia pura, sem nenhum enquadramento, sem nenhuma delimitação,
que invade, que te toma, te afeta. Mas há a angustia enquanto ponto de angustia, há pontos
de angustia em angústia que tem um enquadro e essa angustia avassaladora, sem nenhum
enquadro.

Prestar atenção quando Lacan fala da angústia na estrutura e quando fala da


angustia enquanto manifestações clinicas.

Freud trabalha do mesmo jeito:

Ele fala da angustia de castração como sinal que coloca em jogo o processo de
recalque (inibição, sintoma e angustia) e da neurose de angustia, cujas manifestações são

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corporais: taquicardia, sudorese, bolo no esôfago, não consegue comer, respirar bem,
sensação de sufocamento.

No seminário 24. Lacan diz que só quem tem um corpo se angustia. e trás as
manifestações de angustia enquanto acontecimento de corpo, ele vai fazer essa distinção do
sintoma enquanto uma formação do inconsciente simbólico (que tem um sentido, que é uma
metáfora), e a angustia enquanto um acontecimento do corpo ?parletere.

Outra coisa importante é que tanto Freud quanto Lacan vão falar que a angústia
é um afeto. Lacan não define afeto. Mais ou menos, ele fala que esse afeto, pagina 10,
tem uma estreita relação de estrutura com o que é o sujeito. (ele está falando da
angustia constitutiva da subjetividade). Ele fala que esse afeto é da ordem de uma
perturbação, não é um sentimento.

O que é que perturba o vivente? O que é que perturba o organismo? A pulsão.

Como a pulsão chega até esse corpo vivente, a esse organismo? Na linguagem, nos
ditos maternos. Não há dito sem dizer. É o dizer que está implícito no dito da mãe que
marca o corpo e a partir daí Lacan vai dizer: tudo começa a se dar mal, porque há um mal
encontro entre o dizer e o organismo.

È como se a gente falasse: no princípio existe o verbo e o verbo se faz carne.


No princípios, há os ditos maternos?lalangue, os dito trazem o dizer. Não há enunciado sem
enunciação. Uma vez que o verbo se encarna e marca, constitui um corpo, a partir desse
momento tem um corpo: Os S1, os enxames de S1 que depois vão virar letrinhas.

Pergunta: A gente pode trazer as três identificações propostas por Breuler?


Sim, aí se dá uma leitura das identificações que Lacan retoma no seminário 24.

Pergunta: Quando um ser que ainda não é sujeito, encontra com outro, ele vem
cuidar com a estrutura que tem. Essa estrutura que a pessoa tem, também é constitutiva do
outro, passa p outro?
Resposta: não, porque aí se está reificando? um conceito, função da mãe, quando
a estrutura são elementos que se organizam de uma determinada forma. Quais são esses
elementos que estabelecem uma certa ordenação? É o significante do desejo da mãe, o
significante nome do paia, e o falo simbólico. É a maneira como se organiza esses três
elementos. È claro que num primeiro momento, você dá consistência a esse outro na função
materna, porém o que vai interessar é a maneira com que o significante em nome do pai
metaforiza ou não o significante desejo da mãe, o desejo da mãe valor fálico ou não. A
criança de uma forma, fazendo uma escolha, uma escolha inconsciente, mas é uma insondável
decisão desse ser, rejeitar ou afirmar esse significante nome do pai que advem pelo
discurso da mãe.
Pergunta: Mãe neurótica obsessiva vai cuidar da criança...

Resposta: o que vejo na clínica é somente em relação à histeria. Uma mãe


histérica que não faz análise que não sabe o que é o registro da feminilidade não pode
transmitir para filha o que é ser uma mulher. É que se passa nas relações a não ser que a
filha busque analise, ou outras significações.

Pergunta A analise é sempre uma analise do infantil? historias da mãe, do


pai...

Resposta O desejo da mãe é desconhecido, nem a mãe sabe qual o desejo que ela
tem em relação ao filho, Não é porque eu amo meu filho que eu vou dar uma situação... Uma
mãe só nasce quando nasce o filho. Isso no seminário da angustia é muito claro: A angustia
está relacionada com o desejo do outro. Essa é uma tese que Lacan vai trabalhar no
seminário 10. Existem mil problemas, porque o desejo é absolutamente desconhecido. O
desejo é falta. Uma coisa é demanda outra coisa é o desejo. Eu tenho clareza do que eu
demando; sucesso, casamento feliz. Meu filho é capaz de entender muito bem o que está
sendo demandado. Cabe a ele a decisão de responder ou não. Pode ser exatamente o
contrário. Por mais que ele diga, eu não serei o que eles demandam, por outro lado ele
nunca vai saber o que os pais desejam. Da mesma forma, o filho não vai poder saber se ele
está sustentando esse desejo ou não, porque ele é desconhecido tanto para um quando para o
grande outro, porque o grande outro é inconsistente, é uma suposição.

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Se isso fosse assim, Freud não teria razão ao falar que não se pode fazer
profilaxia. Não é porque eu sou analista, que eu sei tudo, sou analisada, com desejo, que
eu posso fazer profilaxia. Ele pode virar um adolescente e me matar.

Casos clínicos, como no caso de São Paulo, a mãe era uma bela analista. não
garante nada.

O homem dos ratos mostra isso: A mãe está conversando com a vizinha e falando
sobre um menino que morava na rua, ela diz: esse menino não vai dar em nada. O homem dos
ratos, criança, passa, escuta e toma isso pra ele. (A mãe tem que ficar muda, mas se ficar
muda, corre um risco.)

Pergunta: O que perturba o sujeito, na primeira lição, Lacan diz que não é uma
perturbação, porque em uma perturbação, há alguma coisa que te perturba. Ele diferencia a
perturbação que ele chama de efusão como emoção, que é diferente do afeto que não é uma
emoção, justamente porque ele não esta ligado a nada, está solto, não é recalcado. A
angustia seria justamente aquilo que vc não sabe dizer o que é que te perturba? Não tem
uma resposta?

Resposta? Sim, a perturbação, vc não tem essa resposta, é do registro do não


saber. Quando ele trás essa idéia no sem 24, ele não está trazendo a perturbação dentro
desse quadro que Lacan fala no .... sintoma e angustia. Ele está querendo dizer do mal
encontro, que a palavra perturba, porque há um mal entendido fundamental na linguagem,
principalmente a linguagem como ela é pensada, a partir da comunicação. Há um mal
entendido fundamental, nós não nos compreendemos.

E mais grave: Esse encontro da palavra com o vivente é um mal encontro porque
efetivamente se escreve da inexistência da relação sexual, O homem e uma mulher tem uma
relação sexual que dá origem a uma criança. No inconsciente não há a diferença sexual
anatômica. Há mãe e há pai. Mãe e pai não tem relação sexual. Por isso a criança tem que
construir uma teoria da sexualidade infantis, pra dar conta dessa impossibilidade da
escrita da existência relação sexual. Ela faz a relação sexual existir pelas suas teorias
infantis como nós fazemos a relação sexual existir a partir de nossas pulsões edípicas.
Quando eu digo que não há relação sexual, eu estou querendo dizer que homem e mulher não
são inscritos no inconsciente, a sexualidade não está inscrita no inconsciente assim como
a morte.

Pergunta. No Inibição, sintoma e angustia Freud já fala que a neurose pós


guerra não pode ser de uma angustia porque não é recalque, não é sexual e que a morte não
tem representação no inconsciente.

Resposta: Sim, já está na Segunda tópica, já tinha escrito para além do


princípio do prazer, pulsão de morte, está trabalhando com a segunda teoria pulsional vida
e morte. Então aquilo que não tem representação, pulsão de morte não tem representação,
que é pulsão enquanto força, que faz uma exigência no aparelho psíquico da sua inscrição.

Então eu teria o principio do prazer, que é o simbólico, implica numa


inscrição, numa representação, sujeito divido, de linguagem, de desejo e tenho o Para além
do principio do prazer, que é exatamente aquilo não é passível de ser simbolizado, não é
passível de ser dito, mas que é aquilo que constitui o núcleo real do inconsciente e é
aqui que reside a angustia. Então, o seminário da angustia começa exatamente colocando em
questão o fato de que nem tudo é significante, nem tudo é simbolizado, nem tudo está na
palavra, nem tudo é representado, nem tudo é simbolizado.

Então, o quê que é que resta da simbolização? O objeto A.

Começa aqui, Lacan a ter que pensar a constituição dos objetos, o que ele já
havia trabalhado no seminário 4, nas relações do objeto. Mas ali ele trabalha o objeto
revestido imaginariamente. Com o objeto do desejo.

Agora, ele vai trabalhar com o objeto A. que não tem imagem e não tem palavra.
Esse objeto A que não tem imagem, que não tem palavra é o objeto que causa o desejo. Ao
teorizar esse objeto A, que não tem imagem, não tem palavra e que é real, que causa o
desejo, ele se pergunta, Qual é o objeto que causa a angustia? Olha a virada que ele
faz: do objeto de desejo para o objeto causa do desejo. Ele pega o objeto e coloca antes
do sujeito barrado A seta que causa o S. Como eu posso ler isso? O objeto que causa o meu

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desejo é o desejo que me impulsiona enquanto um objeto a encontrar o objeto do desejo
revestido imaginariamente. A, seta, S barrado, I izinho e azinho.

Essa é a grande guinada de Lacan, no sentido de trazer pra gente agora, um


objeto que não está revestido imaginariamente: o objeto A. Agora ele vai poder falar da
angústia.

É esse seminário da angustia que possibilita se pensar no real, a partir da


introdução desse conceito do objeto A, que é pensado aí, se introduz aí e vai produzir
uma mudança sensacional. Até o seminário 10, Lacan vinha trabalhando a constituição do
sujeito a partir da alienação. Existia um grande outro, enquanto tesouro dos
significantes, completo.

A partir do momento que ele teoriza o objeto A e o objeto e o objeto A não é um


significante, mas um resto do processo de simbolização, ele vai barrar o grande outro.

Ao barrar esse grande outro, ele pode falar do desejo desse outro: se o outro
falta o outro deseja, o outro é castrado. Como o sujeito então agora se constitui enquanto
sujeito? ele vai se constituir a partir da separação.

O que faz com que, no sem 11, ele diga: as duas operações lógicas da
constituição do sujeito são alienação e separação. É necessário se separar. Como se
separa? A separação, que vai ficar efetivamente na entrada na linguagem nesse sujeito, ele
vai ter que encontrar um lugar nesse campo do grande outro um significante que o
represente. Por isso o grande outro vai estar agora barrado. Haverá um significante que
não faz parte do campo do grande outro.

Isso é uma mudança importante, pensar única e exclusivamente na alienação,


começar a pensar na separação e pensar nesse processo de separação que se faz em dois
tempos é que se tem como resto o objeto A. O objeto A nada mais é do que aquilo que resta
na constituição da subjetividade por não ser simbolizado. Se o sujeito barrado está no
campo do outro, o objeto A é um resto também no campo do outro.

Com isso ele vai pensar o que é demanda e o que é desejo. Vai pensar na
fantasia e na angustia. nas diferenças e aquilo que se aproxima `a angustia da fantasia e
aquilo que marca uma diferença.

A primeira grande diferença entre esses dois elementos constitutivos da


subjetividade é que o fantasma é uma resposta ao desejo do outro, é a interpretação que
se dá ao desejo do outro: O que queres? Respondo: Que eu seja uma moça legal. O Ideal, é o
que eu serei, Identifico com essa interpretação dada, àquilo que o outro deseja que eu
desconheço.
Angústia é a pergunta sobre o que queres? O fantasma ou a fantasia fundamental
é a resposta ao desejo do outro. Se eu não respondo, se eu não interpreto o que o outro
deseja, que é o fantasma, eu fico na angústia. A saída da angustia é interpretar o desejo
do outro.

Logo, o remédio para a angustia é o desejo. (Aqui está Gozo, aqui está o
desejo, aqui está angustia) A angústia faz essa báscula. Se eu desejo, não há angustia. A
angustia é aquele estranhamento de eu me deparar com aquilo que não podia aparecer.

Outra diferença fundamental entre fantasma e angustia. Na fantasia fundamental,


o objeto tem um revestimento imaginário. O que o outro deseja? Revestimento desse objeto
imaginário que é um izinho de azinho. A fantasia sustenta o desejo. Ela vai dizer; tá
tudo certo, encontra esse objeto que você realiza o seu desejo.

Há um revestimento imaginário no objeto. E na angústia, há revestimento


imaginário? Não. É o objeto A, objeto da pulsão; é o olhar, a voz, o seio, as fezes que
se apresentam.

Quando esses objetos pulsionais são perdidos, esses objetos causam desejo.
Quando esses objetos se presentificam e eu me identifico com esse objeto: (então o que
queres?) Você me quer, enquanto um objeto.

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Se você me quer enquanto objeto, ou enquanto olhar, voz, está aí a angústia.
Esse objeto A causa angustia, causa desejo, que vai depender se há revestimento imaginário
ou se não há revestimento imaginário.

O seminário é dividido em 5 sessões. Numa primeira sessão, ele vai falar sobre
a estrutura da angustia, no segundo vai fazer uma revisão do status do objeto, ou seja,
vai fazer toda uma revisão do objeto de desejo e vai construir teoricamente o objeto causa
de desejo, o objeto causa de angustia e mais tarde, o objeto mais gozar.
Anotar qual a diferença desse objeto A enquanto

Objeto de desejo
Objeto causa de desejo
Objeto causa de angustia
Objeto mais de gozo

Quatro leituras diferentes para o objeto A, até aqui no sem 10, ele vinha
falando do objeto de desejo. Agora ele trás o objeto A como causa de desejo e causa de
angustia.

Depois na terceira sessão ele fala da angustia entre gozo e desejo. Vai falar
das 5 formas do objeto do pequeno A.

Primeira sessão, estrutura da angustia, segunda revisão do status do objeto,


terceira angustia que o outro deseja e as cinco formas do objeto pequeno a.

Ele trabalha no seminário com axiomas.

O primeiro dele é que há uma relação fundamental entre a angustia e o desejo do


outro.

Ele traz algumas frases para serem trabalhadas.

Primeira A angustia é um afeto que não engana porque é angustia do real, não
passa pelo simbólico. È no simbólico que nos fazemos nós grandes ficcionais edípicas, que
são verdades mentirosas. Na analise a gente conclui que não é nada disso que se trata mas
eu precisei supor da existência do grande outro, crer o desejo que eu fui amada, vivi
isso ou aquilo na infância, construí uma ficção, construção que é simbólica, imaginária
para me deparar que o sujeito não é nada disso. E se a angustia é um afeto não engana é
porque ela fora do simbólico. Eu devo localizar a angustia entre o real e imaginário, fora
do simbólico.

Segunda A angustia é signo do real, que tem muito a ver com a ideia que é um
afeto que não engana, fora do simbólico, está exatamente nesse furo entre real e
imaginário.

Terceira A angustia não é sem objeto. O que vai fazer Lacan é revisar toda a
sua teoria sobre a constituição dos objetos e no sem 10 ele faz uma critica importante à
relação especular e vai propor esquema ótico, por uma razão específica: o objeto A não é
especularizável, não tem imagem. O objeto A é aquilo que permanece sem imagem e sem
palavra. É uma mancha no espelho. A relação especular pensada a partir do imaginário não
dá conta de entender o que é o objeto A real.

A angústia é quando a falta falta, Trabalha a angústia de castração de Freud


mas vai falar que temos essa modalidade de angustia que é quando a falta falta.

A angustia está entre o gozo e o desejo.

Tem uma relação entre o desejo do outro.

Pergunta: sobre a pergunta, o que perturba o organismo, na construção sujeito,


do eu, na medida que se vai construindo uma imagem pra esse objeto, posso pensar em
revestir imaginário na constituição do sujeito ?

Resposta Pode, por isso termos que pensar novamente a relação especular. Até
então, ele pensava na relação especular na constituição do eu narcísico onde o eu se
constituía a partir de uma identificação com essa imagem. Obviamente ele já havia dito que

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não basta imagem, é necessário a palavra desse outro que está com a criança no espelho e
diz: é você, meu filho. É uma palavra ligada a uma imagem. Requer uma nomeação dado pelo
simbólico a essa imagem na qual eu me identifico.

Lacan diz que discurso livre - termo que vem substituindo a associação livre -
(ultimo ensino de Lacan) é completamente é uma charlatan?, é uma bobagem,falácia, um faz
de conta. O que não quer dizer que não vai ouvir, cortar a fala do paciente. O Mario
Eduardo diz que o discurso oficial onde eu me reconheço, eu sou isso, eu sou aquilo, é
papo furado, mas eu preciso ouvir, porque é exatamente onde o discurso oficial falha que o
inconsciente advém. É uma bobagem que precisamos acolher muito bem porque a partir dessas
palavras que a gente extrai os significantes.

Pergunta: No movimento da desconstrução, o grande outro também.


Resp Para se concluir da inexistência desse grande outro.

O seminário deve ser lido com inibição sintoma e angustia e analise finita e
infinita. Esses dois textos de Freud falam dessa desconstrução desse simbólico, desse
imaginário, com a possibilidade de se deparar com o real e enodar o real agora no
simbólico e no imaginário pela travessia da fantasia que vai ter uma angustia, os
analistas terão que administrar esse quantum de angustia para que efetivamente uma letra
se constituía num sintoma e que você possa fazer um novo giro e ir pra praia em Copacabana
e viver feliz.

Pergunta Duas manifestações angustias na clinica, a primeira que invade e a


outra seria pontos de angustia, ex.: sintoma fóbico, a partir de uma angustia localizada,
lança mão de um significante: medo cavalo. Não é uma angustia que toma o sujeito.

Pergunta: Angustia junto com a fantasia seria condução clinica, solução seria
desejar, essa seria a condução clinica para a estrutural ou para as duas formas de
angustia?
Resposta: perguntar-se se essa angustia estrutural tem manifestações clinicas
ou não.

Pergunta As duas manifestações, a que invade e o ponto, a estrutural e a


clinica são da falta que faz falta?

A estrutural tem a ver com a castração.

Castração em Lacan é diferente de Freud. Castração lacaniana é o sujeito


barrado, é perda do objeto, Não é a perda enquanto luto, mas a perda do objeto necessário
para a constituição do sujeito. São perdas necessárias.

A castração tem que ser lida a partir desses dois elementos: sujeito barrado,
sujeito castrado. O sujeito que está na linguagem, sujeito de desejo, sujeito
representado.

A perda do objeto não tem relação com a perda do objeto a partir do paradigma
do luto, que é o objeto amado, mas os objetos que é necessário perder para a constituição
subjetiva.

Quando a falta falta, eu estaria falando do estranho em Freud, estaria falando


das manifestações clinicas de uma angustia curável. A angustia não demarcada que te
invade, que te toma, a primeira coisa a ser feita é por o sujeito pra falar, colocar uma
rede de significantes, e não cabe ao analista nenhum tipo de interpretação.

Pergunta. Essa angustia estrutural não é uma identificação imposta ao sujeito


violenta ou precocemente de uma maneira, que ele engole essa identificação, e não sabe
quem é ele e quem é o outro e se torne um sujeito estruturalmente melancólico?

Resposta A Identificação melancólica que Freud também trabalha, ocorre onde a


perda do objeto recai sobre o eu, numa identificação do eu com objeto. A angustia
estrutural é a perda do objeto necessário para a constituição do sujeito. Quais são as
perdas necessárias para a constituição do sujeito? Os objetos pulsionais: olhar, voz, o
seio, as fezes.

Ler Primeira e segunda lição,sem 10, Lacan.

8
Três identificações Freud Capitulo7 Psicologia das massas e análise do Eu.

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