Silva Corrigida
Silva Corrigida
Silva Corrigida
Instituto de Psicologia
Renata da Silva
São Paulo
2018
Renata da Silva
Versão corrigida
São Paulo
2018
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Silva, Renata da
Psicologia e políticas públicas de enfrentamento da pobreza: desafios para a
formação e atuação de psicólogos (as) / Renata da Silva; orientadora Marie Claire
Sekkel. -- São Paulo, 2018.
226 f.
Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano) -- Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo,
2018.
Banca Examinadora
À Claire, pela orientação, pelo acolhimento e pelas contribuições para meu desenvolvimento
como profissional e como ser humano.
Às queridas amigas Maria Antelma de Mendonça Jensen, Hilusca Alves Leite, Solange
Pereira Marques Rossato, Eloisa Beppu pelas valiosas contribuições em diferentes momentos
de realização deste trabalho, pelo carinho e pelas parcerias na Psicologia.
Aos amigos do grupo de orientação: Adilson Paes de Souza, Angelina Pandita-Pereira, Anita
Machado, Bruna Cândido Terra, Cárita Portilho de Lima, Catarina Decome Poker, Daniela
Pannuti, Érica Bizama, Fernanda Dias da Silva, Luiza Goulart, Priscila Gonçalves, Roberto
Salazar, Rosângela Neves pelo companheirismo durante os anos de realização deste trabalho.
À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos, o que possibilitou a realização deste trabalho.
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
....
O tempo é a minha matéria, do tempo presente,
os homens presentes, a vida presente.
Silva, R. (2018). Psychology and public policies to confront poverty: challenges for the
psychologists education and performance. (Tese de Doutorado). Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo
This research consisted on reflecting about poverty and about the education and performance
of psychologists in public policies directed to confront this phenomenon. The methodology
used was based on documental analyses regarding legislation, resumes and postgraduate
researches relative to the approached themes. Therefore, the legislations regarding the public
policies to confront poverty were contemplated, mainly, the social assistance policy; the
legislation and the technical orientations about the education and performance of
psychologists in the referred area; the researches accomplished in postgraduate courses of
Psychology from different regions of the country, obtained by the websites of Institutions of
Superior Education (Instituições de Educação Superior - IES). The analyses were done and
based on the referential of the historical-dialectical materialism. It was considered that the
policies to confront poverty present contradictions in what refers to the objectives established
and how they are concretized, because many are the structural and institutional disparities that
historically have difficulted, and even impeded, the offer of qualified services to all those who
need it. In reference to the performance of psychologists in the services of basic protection of
social assistance, there is, on one hand, a maintenance of ideologies, prejudices and
stereotypes by part of professionals against poverty and the poor individual; on the other
hand, the investigations signalize, also, the occurrence of changes in professional practices,
that express themselves in the search for ways to comprehend the multideterminants about the
social issue and the rupture with naturalized and individualized conceptions, rooted in
Psychology. Regarding the education, through the analyses of resumes, it was possible to
verify that the public policies and poverty consist on themes that begin to be discussed in
disciplines that set the grade curriculum of some IES. However, in others, there is a lack of
disciplines which are fundamental for the reflexion about the social issue and the preparation
for the work in public policies. It is considered that the absence of theoretical-practical
subsidies throughout the professional formation contributes to its fragmented way of
occurrence and the professional continues to perform in traditional forms of intervention, as
based in the clinical individual model, which has as basis pathologizing conceptions. The
production of knowledge through the postgraduate researches, mostly, present reviewed
conceptions about the formation and performance of psychologists in public policies, thus,
being able to contribute in the organization of the education and in search for a education that
is consistent with the social reality. Lastly, it is weighed the necessity of the education to
contemplate not only contents and techniques but, also, experiences and theoretical-practical
reflexions, performed collectively, through teaching and learning presential activities. Thus, it
is made possible for the future professional the development of his/her consciousness in a way
that permits him/her to contribute for the transformation of beliefs and affections crystallized
social and historically and, hence, for the overcome of ideologies among poverty, being this
phenomenon the main responsible for exclusions and prejudice nowadays.
Key words: Poverty. Public Policies. Psychologists education. Psychologists performance.
Social assistance policy.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CF – Constituição Federal
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................14
2.4. Expressões da pobreza visibilizadas na atualidade – raça, etnia e sexo como fatores
geradores de desigualdade .............................................................................................49
CAPÍTULO III - POLÍTICAS PÚBLICAS E OS DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL ........ 57
3.1. As Políticas de enfrentamento da pobreza ..................................................................64
4.1. A pesquisa em Psicologia e o contexto social nas duas últimas décadas .........................86
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................181
REFERÊNCIAS......................................................................................................................187
APÊNDICE.............................................................................................................................208
14
INTRODUÇÃO
O trabalho realizado durante dez anos como psicóloga, nas áreas da Assistência
Social e no Judiciário, possibilitou reflexões e indagações sobre o papel da Psicologia diante
de condições de vida em que privações e dificuldades de sobrevivência eram parte integrante
do cotidiano das pessoas. Foi possível vivenciar ou observar, situações como: as imensas filas
para os recadastros do Programa Bolsa Família (PBF) ou para a retirada de benefícios
eventuais (quando disponíveis), como cotas de alimentos; em reuniões de rede ouvir colegas
dizendo “não adianta fazer nada no bairro X antes do meio-dia, porque as pessoas não
acordam cedo”, ou ainda, “essas crianças são difíceis porque está no sangue delas”. Ouvir da
gerente da proteção básica1, nomeada por meio de um favorecimento político-partidário,
afirmar que “eu não entendo nada da política de assistência social porque eu nunca precisei”;
durante Conferência Municipal da Assistência Social, funcionárias denunciarem a falta de
estrutura do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) em que atuavam, e, na
semana seguinte, terem sido transferidas, cada uma para um setor diferente, sem
questionamentos das chefias sobre o trabalho que realizavam, acerca do vínculo que tinham
com os usuários ou se o novo local de trabalho lhes seria acessível; Ou ainda, sobre a
judicialização da pobreza, em processo com pedido de providências em relação aos pais,
acusados de negligência no que se refere à escolarização dos filhos. Os relatórios juntados ao
processo faziam referências às privações da família, que morava em local precário e de difícil
acesso. Para “ajudá-los”, os profissionais de entidades beneficentes e da equipe pedagógica se
1
Os serviços de proteção básica e especial do SUAS serão discutidos no capítulo 3.
15
Diante das várias indagações que surgiram no decorrer da atuação profissional como
psicóloga, perante condições de vida caracterizadas sobretudo pela desigualdade, chamava a
atenção o grande número de indivíduos atendidos pelos serviços da assistência social que
eram, também, usuários dos serviços de saúde mental. Eles eram diagnosticados como
portadoras de algum tipo de psicopatologia, tais como depressão, transtorno de ansiedade,
etc.; cujos filhos e filhas (crianças e adolescentes) também eram considerados como
portadores de transtornos de conduta, de atenção, para os quais eram prescritos os
“calmantes”. Como maneira de refletir sobre tal realidade, na pesquisa do mestrado buscamos,
com base na Teoria Histórico-Cultural, conhecer os processos de desenvolvimento emocional
a partir das condições de vida, do contexto em que as pessoas se encontram inseridas e o
modo como essas determinações afetam o desenvolvimento afetivo e cognitivo, como
também as possibilidades de as pessoas compreenderem e controlarem a própria conduta
(Silva, 2011).
2
Os múltiplos determinantes da pobreza são discutidos no capítulo 2 deste trabalho.
3
As políticas públicas universais e focalizadas são discutidas no capítulo 3 deste trabalho.
17
Além dos números, que oferecem uma representação de como essa questão se
apresenta em âmbito nacional e mundial, a pobreza no Brasil possui uma dimensão
historicamente marcada pela injustiça social e pela segregação, cujas raízes remetem ao
período colonial. Atualmente, as desigualdades se evidenciam, principalmente, nas distinções
de classe, gênero, raça e etnia, em expressões de preconceitos e estereótipos4 voltados aos
pobres. As ações discriminatórias se manifestam nas relações sociais cotidianas como formas
dissimuladas de submissão, ou mesmo de maneira explícita, por meio da violência – muitas
vezes, perpetrada por agentes do Estado – contra moradores das periferias das grandes cidades
e trabalhadores do campo (Comissão Pastoral da Terra, 2016; Euzébios Filho & Guzzo, 2009;
Coimbra, 2001).
4
Essa discussão é aprofundada no capítulo 2 deste trabalho.
18
surgiram: como deve ser, portanto, a atuação em políticas públicas? Em quais referenciais
teóricos e instrumentais se pautar? Que condições estão sendo oferecidas para o atendimento
de tais demandas?
Tais apontamentos nos levam a considerar que a formação em Psicologia, que visa à
atuação em políticas públicas, constitui tema relevante para novos debates e reflexões sobre as
atuais condições de trabalho dos psicólogos nos serviços públicos. No que se refere às
políticas públicas de enfrentamento da pobreza, a busca por maneiras de romper ideologias5,
preconceitos e estereótipos que historicamente marcam os pobres no Brasil constituem
necessidades fundamentais para a concretização dos direitos sociais.
5
O conceito de ideologia é discutido no capítulo 2 deste trabalho.
19
com as demandas com as quais se depara. Com isso se vê impotente diante da realidade social
em que deve intervir e, em alguns momentos, ao trabalhar com realidades complexas – como
as encontradas na prática em políticas públicas e sociais –, tende a reproduzir as ideologias,
estereótipos e preconceitos socialmente estabelecidos em relação à pobreza. Desse modo,
considerar a política social como um direito de cidadania envolve também ultrapassar as
concepções que colocam os pobres na condição de acomodados e dependentes do Estado,
vadios ou perigosos, ou ainda, como incapazes de tomar decisões em relação à própria
realidade e cotidiano.
O objetivo específico é:
Para tanto, este trabalho está organizado em cinco capítulos e considerações finais.
Ao considerar as várias facetas que compõe o tema proposto para este estudo, por
meio da organização dos capítulos buscou-se problematizar a pobreza de modo que esta
discussão contribua com as reflexões sobre esse fenômeno, o qual se caracteriza como
gerador de várias formas de exclusão, no mundo atual. A compreensão e o enfrentamento da
pobreza envolvem não só o conhecimento da base material que a produz, mas, também,
refletir sobre os processos subjetivos decorrentes da vivência de tal condição, esse fato remete
à Psicologia, tanto no que se refere à produção de conhecimento, como no trabalho realizado
em políticas públicas, como maneira de buscar a mudança de práticas historicamente
arraigadas, o que implica pensar sobre a formação e a atuação do(a) psicólogo(a) como
processos indissociáveis.
22
CAPÍTULO 1
CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
6
Segundo Abbagnano (2007), idealismo foi um termo que passou a ser utilizado na Filosofia no século XVII,
inicialmente como referência à teoria platônica das ideias, mas o conceito sofreu variações de acordo com as
interpretações de vários filósofos. O autor apresenta dois sentidos para o termo, quais sejam: o primeiro deles
considera que o objeto do conhecimento está reduzido à representação ou ideia; o segundo tem Hegel como um
de seus representantes, sendo que uma de suas principais características é a inexistência do finito e a não
resolução do infinito, ou seja, há uma negação do real, da matéria. Hegel considerava que a consciência é que
determina o ser social. Nessa concepção do idealismo, que, por exemplo, Piaget adota, está inclusa a ideia de
progresso, ou seja, o mundo caminha para melhor em um processo evolutivo.
23
sua ação ocorre de acordo com as condições dadas pela realidade objetiva. Assim, o trabalho
passou a ser visto como a chave para a compreensão do desenvolvimento humano, para sua
humanização, sua ação criadora em relação à realidade.
Marx, por sua vez, partindo das ideias de Hegel, pensou a dialética em uma base
materialista, ou seja, em que sujeito e objeto são considerados como objetivos e reais, agindo
um sobre o outro como unidade de contrários. Porém, essa contradição entre sujeito e objeto
não envolve polos opostos, mas abrange a relação entre o singular (indivíduo), o universal
(sociedade) e o particular, que se caracteriza pelas mediações. Estas envolvem dimensões que
estão além do fenômeno imediato, do aparente, e se caracterizam por diversos fatos e ações
humanas que constituem e determinam os processos, as conexões que ligam sujeito e objeto,
assim como indivíduo e sociedade. As mediações constituem, portanto, as múltiplas relações
que se estabelecem a partir da atividade humana e do movimento histórico (Konder, 2008; B.
Oliveira, 2005; Netto, 1998; Castanho, 2010).
Com este enfoque, foram estabelecidas unidades de análise que contribuem para a
reflexão sobre a totalidade complexa que sustenta o presente trabalho. De acordo com
Vigotski (2001, p. 8), “subentendemos por unidade um produto da análise que, diferente dos
elementos, possui todas as propriedades que são inerentes ao todo e, concomitantemente, são
partes vivas e indecomponíveis dessa unidade.”
currículos provenientes de uma amostra de cursos de graduação em Psicologia. Para tanto, foi
realizado levantamento das grades curriculares, por intermédio do website de instituições que
oferecem os cursos de Psicologia, sendo uma delas pública e uma outra privada, localizadas
em cada região do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).
7
Segundo o IBGE (2016), concentrações urbanas de médio porte são cidades que compreendem população
acima de 100.000 a 750.000 habitantes. Já as cidades consideradas de grande concentração urbana apresentam
população com mais de 750.000 habitantes.
29
8
Informações disponíveis em:
http://www.periodicos.capes.gov.br/index.php?option=com_pcontent&view=pcontent&alias=historico&Itemid=
100
9
Informações disponíveis em: http://www.psi.homolog.bvs.br/php/level.php?lang=pt&component=19&item=53
10
A discussão referente à Carta de Serra Negra será devidamente aprofundada no capítulo 4, em que abordamos
a formação em Psicologia.
30
frequência no texto analisado. Nas fichas de leitura das pesquisas acadêmicas, foram
considerados também: a autoria e fatores quantitativos para expressar os locais em que foram
realizadas; os principais temas abordados; as metodologias; e os procedimentos e abordagens
teóricas apresentadas com maior frequência, entre outros elementos.
CAPÍTULO 2
A reflexão sobre esses fatores requer uma maior compreensão acerca dos conceitos
de pobreza, como também da desigualdade e exclusão, elementos que se encontram
intimamente relacionados. Dessa maneira, de acordo com Cunha (2007), no sentido
etimológico, pobreza e pobre são vocábulos que se originam do latim paupere, como
referência a quem não tem o necessário à vida. O termo começou a ser utilizado no século
XIII e, posteriormente, gerou palavras como depauperação (1813) e depauperado (1899). Do
português medieval, eprouecer era o termo utilizado para designar pobreza (século XIII), do
qual surgiram empobrecido, empobrecimento, pauperismo, cujos primeiros registros são da
segunda metade do século XIX.
acompanham as mudanças que vêm ocorrendo desde épocas remotas, quando a acumulação e
a privação de bens começaram a gerar profundos contrastes sociais (Galindo & Ardila, 2012).
Rego e Pinzani (2014), Yazbek (2012), Netto (2007), Rocha (2003), Silva e Silva
(2002) ressaltam que a pobreza contemporânea é fenômeno pluridimensional e complexo,
consequência das relações estabelecidas social e historicamente, caracterizadas não apenas
pela falta de acesso a bens, mas também por múltiplas dimensões, que abrangem fatores
políticos, de direitos, oportunidades, possibilidades, informações e esperança. Netto (2007)
indica que a pobreza, no período atual, é decorrente da dinâmica de exploração inerente ao
modo de produção capitalista, que gera, simultaneamente, acumulação e miséria. Embora a
pobreza seja um conceito que não se restringe à insuficiência de renda, o fundamento
socioeconômico é a condição elementar para sua compreensão em nossa sociedade, assim
como de sua vinculação com a desigualdade social e a distribuição de renda, da produção e da
riqueza.
Este processo que nós chamamos de exclusão não cria mais os pobres que nós conhecíamos e
reconhecíamos até outro dia. Ele cria uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista
econômico e excludente do ponto de vista social, moral e até político.
De modo análogo, Wanderley (2006) ressalta que os excluídos não são simplesmente
rejeitados do mercado e de suas trocas, mas também dos bens espirituais presentes na cultura.
Embora pobreza e exclusão não sejam termos sinônimos, constituem fenômenos que estão
articulados, pois a pobreza pode levar à exclusão social, de acordo com o que é apreciado em
um determinado grupo ou sociedade, que se encontra inserido em um tempo e espaço
específicos, em que pode ocorrer a rejeição de algumas pessoas em relação a outras, de acordo
com um sistema de valores e normas criados cultural e historicamente.
Rego e Pinzani (2014), Yazbek (2012), Wanderley (2006), Sawaia (2006b), Suenker
e Braches-Chyrek (2016) apontam que a compreensão da pobreza e de sua relação com a
desigualdade e a exclusão refere-se também ao acesso a bens materiais e simbólicos, a
recursos e a políticas públicas e sociais mantidas pelo Estado. Estes constituem meios
necessários não apenas à sobrevivência, mas, principalmente, ao bem-estar das pessoas, ao
seu poder de ação e exercício da cidadania em uma sociedade justa e democrática, não
somente em termos legais, mas que tenha a equidade como elemento de sua cultura.
11
O neoliberalismo originou-se, tal como ressaltam Anderson (1998), McChesney (2002) e Chauí (2014), como
uma reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar social. Para os seus idealizadores, a
intervenção estatal dizimava a livre concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos. Segundo Ramalho
36
são significativos e abrangem desde a perda de direitos trabalhistas – para aquela parcela da
população que está inserida no mercado – à retirada de benefícios sociais de trabalhadores
ativos e aposentados; aumento do número de pessoas em situação de trabalho informal, e
também daquelas que estão excluídas das atividades laborais. Nesta realidade, o desemprego é
apenas uma das consequências da aplicação de medidas que privilegiam o monetarismo e o
livre mercado, ou seja, ações fomentadas pelo Banco Mundial, e por outras instituições
financeiras internacionais que intervêm na economia e no mercado de trabalho de vários
países (Hobsbawm, 1995; Ugá, 2004).
Júnior (2012a e 2012b), o termo neoliberalismo é de difícil definição em decorrência do fato de que, na prática,
as medidas neoliberais tiveram características distintas no que se refere à intensidade e impacto das ações. Tais
diferenças implicam na conceituação do termo a partir dos referenciais teórico-filosófico e empírico. Na
compreensão teórico-filosófica, Ramalho Júnior (2012a) considera que o neoliberalismo mantém vinculação
histórica com o liberalismo econômico de Adam Smith (1723-1790), em que predominam as concepções de
liberdade individual, livre mercado e propriedade privada, que foram retomadas pelo economista e filósofo
Friedrich Von Hayek (1899-1992). Este condena a intervenção estatal nos mercados– por impedir o princípio de
liberdade – e também a ação do Estado em políticas públicas e de bem-estar social voltadas às necessidades da
população, com o argumento de que as necessidades sociais dependem de julgamentos individuais e que,
portanto, as políticas voltadas para alguns grupo gerariam privilégios em relação a outros, que também exigiriam
os mesmos direitos e, consequentemente, a maior intervenção do Estado. Tal contexto impediria a liberdade
individual e a busca por formas de adaptação à sociedade. Já no neoliberalismo empírico (Ramalho Júnior,
2012b), as concepções econômicas de Hayek se aproximam do monetarismo de Milton Friedman (1912-2006)
que, como reação às crises econômicas mundiais da década de 1970, propôs a livre circulação de mercadorias e
capitais entre os países, além de medidas como a privatização de serviços de saúde, educação, transporte, etc.,
que foram aplicadas de maneiras distintas, de acordo com o contexto ou região.
37
Com este enfoque, Ezequiel (1998) alerta que o termo pobreza possui caráter
polissêmico, sentidos variados lhe foram atribuídos de acordo com o período histórico
analisado. Assim, em determinados períodos históricos, foi associada a uma acepção moral e
religiosa e, em outros, adquiriu um significado de vadiagem ou mesmo de risco para a
sociedade. Desse modo, a pobreza, durante a Idade Média (período entre os séculos V e XV,
aproximadamente), constituiu-se em uma realidade que fazia parte da vida de camponeses que
trabalhavam e moravam em condições miseráveis, nas terras dos senhores feudais. Nessa
época, ainda não havia pensamentos sobre a igualdade entre o senhor, detentor das terras e do
poder, e os servos, pois as posições sociais eram compreendidas como decorrentes da vontade
divina.
No feudalismo, devido a uma visão religiosa dominante, a pobreza era vista como
caminho para o céu, de modo que os ricos davam esmolas aos pobres como forma de buscar
uma aproximação ao poder divino. Essas ideias e práticas tornaram a Igreja a maior
proprietária de terras no período feudal, pois recebia doação de senhores que acreditavam que,
para se redimirem de seus pecados e conseguirem a salvação de suas almas, deveriam
colaborar com as obras de caridade concedidas aos desprovidos e aos doentes (Ezequiel,
1998; Huberman, 1983; Suenker e Braches-Chyrek, 2016).
Devido às mudanças sociais e econômicas que ocorreram por volta dos séculos XV e
XVI, tornou-se possível o desenvolvimento do mercado. De acordo com Huberman (1983),
com o surgimento do comércio, as cidades cresceram e deram início a uma crise no sistema
feudal, em decorrência de começarem a representar a liberdade quando comparadas à servidão
existente nos feudos; assim, novos padrões foram sendo criados e a riqueza, que
anteriormente era atribuída somente à posse da terra, passou também a ser relacionada ao
dinheiro. A partir de então, novas necessidades foram criadas e muitos camponeses deixaram
as terras em que viviam, outros simplesmente foram expulsos desses locais. O trabalho
artesanal também sofreu transformações e, aos poucos, a indústria e a manufatura foram
sendo criadas, o que provocou profundas mudanças nas relações de trabalho.
Nas cidades, os trabalhadores que se emancipavam para vender sua mão de obra,
muitas vezes o faziam em condições precárias e salários escassos e, com isso, os contrastes
sociais aumentavam, com a presença de mendigos e de pessoas que ostentavam riquezas.
Nesse contexto de transição, a pobreza passou a ser compreendida pelos ricos como um
38
12
A autora ressalta as diferenças na atuação das Casas de Misericórdia em Portugal e nas colônias, entre elas, a
da Bahia. Suas atividades eram destinadas a soldados do rei, em sua maioria de origem portuguesa, e, no caso da
Bahia, aos escravos, que desempenhavam um papel econômico importante naquela localidade. Contudo, não
havia participação feminina no exercício da caridade nas Misericórdias, pois as mulheres eram afastadas das
esferas públicas em que era exercido o poder social, político e o controle decorrente da proteção aos desprovidos,
aos quais as práticas de tutela estavam associadas; também eram raras as que recebiam a caridade ofertada.
39
Singer (2005) assinala que tais transformações contribuíram para que os necessitados
tivessem acesso à subsistência, com a pretensão de que esse fato não fosse mais visto como
um favor, como caridade, mas sim como um direito.
13
Milton Friedman (1912-2006), um dos principais expoentes da ideologia neoliberal e teórico do monetarismo,
defendia a ideia de que todo desempregado é responsável pela situação que o afeta, que ele assim permanece
devido à sua própria vontade (Singer, 2005; Gonçalves, 2010).
40
necessidades. Mas, por não conseguir suprir suas carências e por estar excluída dos padrões
de trabalho e produção, torna-se alvo de julgamentos sociais praticados por grande parcela da
sociedade, com base em estereótipos e preconceitos contra os pobres (Paugam, 2006).
Com isso, a reação dos setores mais conservadores da sociedade brasileira ainda
mantém o entendimento de que a concessão de direitos à população pobre constitui regalia
para a qual não há justificativa (Singer, 2005). Dessa maneira, é mantida a opinião de que a
inclusão no mundo do trabalho, o bom desempenho das pessoas no emprego, na educação e
no mundo produtivo como um todo sejam vistos como fatores que se devem ao interesse e à
dedicação de cada indivíduo, independentemente das condições objetivas em que vivem. Tais
ideologias, que servem como instrumentos de manutenção de formas de dominação social,
podem constituir-se como elementos geradores de preconceitos em relação aos pobres e às
suas famílias, as quais são vistas e avaliadas como desestruturadas e inadequadas para ofertar
os cuidados aos seus membros. Estes fatores se refletem no cotidiano e nas relações
estabelecidas entre os indivíduos, tanto no âmbito familiar, como nas instituições das quais
participam e na sociedade em que estão inseridos.
Segundo Crochík (2006 e 2008) e Heller (2008), o preconceito é formado com base
em determinadas condições objetivas e históricas que são, também, determinantes do
indivíduo. Este é um fenômeno psíquico e social contrário ao conhecimento e à experiência
que possibilitam a identificação e a aproximação com o outro; baseia-se em afetos como a
crença e a confiança em um determinado julgamento, sem requerer uma análise cuidadosa da
realidade. Embora apareça como uma manifestação individual, o preconceito resulta de
expressões culturais, ideológicas e subjetivas, que levam os indivíduos a não desenvolverem
formas eficazes de percepção e de compreensão da realidade. O estereótipo, por sua vez,
caracteriza-se como um dos elementos do preconceito, e assim como este, é produzido
culturalmente, envolvendo definições precisas que eliminam a dúvida e, portanto, considera
um fato criado ideologicamente como se fosse real.
Com essa perspectiva, as questões sociais e culturais são vistas como problemas que
são transmitidos de pais para filhos (Mioto 2010). Atualmente, temas referentes à família têm
sido discutidos e polemizados em diversos aspectos, desde os que envolvem sua constituição,
até os fatores históricos e sociais relacionados aos processos de crises e conflitos que
acometem seus membros, com problemáticas alusivas à drogadição, relações de gênero, entre
outras14.
14
Sobre tais discussões, é importante citar o Projeto de Lei que tramita na Câmara Federal denominado “Estatuto
da Família” (PL nº 6583/2013), o qual apresenta como uma de suas propostas mais polêmicas o conceito de
família como sendo o núcleo formado pela união entre homem e mulher, por meio do casamento ou união
estável, ou o grupo formado por um dos pais e seus descendentes, sendo excluídas dessa concepção outras
formas de arranjos familiares.
43
Esta concepção atualmente ainda se mostra presente nas práticas escolares que,
conforme Patias, Abaid e Gabriel (2011), em estudo realizado a partir de uma atividade de
estágio em Psicologia Escolar, constataram que concepções tradicionais acerca da família e
arraigadas na cultura manifestam-se nos discursos e na atuação dos profissionais de educação.
A família nuclear é vista como a melhor e a mais adequada para proporcionar às crianças um
desenvolvimento apropriado e saudável. As configurações que fogem a este modelo – como
44
as famílias monoparentais, com pais separados, em que houve recasamento – são relacionadas
às patologias causadoras de dificuldades de aprendizagem e comportamento inadequado dos
alunos.
A compreensão sobre a pobreza, neste período em que vivemos, tal como propõe
Ezequiel (1998), remete também às formas de entendimento que possibilitam o enfrentamento
desse fenômeno, considerando-o não como fator natural, mas sim, como fenômeno
engendrado social e historicamente.
Sob essa perspectiva, Netto (2007) expõe os conceitos de pobreza relativa e absoluta,
fundamentados na teoria de Marx. Tendo como referencial as características do sistema
produtivo e das relações de trabalho, pobreza absoluta refere-se aos momentos em que os
meios de vida e emprego apresentam grande declínio, acarretando perdas salariais e das
condições trabalhistas adequadas, bem como diminuição nas qualidades de alimentação,
saúde e moradia, entre outras. A pobreza relativa pode acontecer quando existem boas
oportunidades de trabalho e de possibilidades para as pessoas usufruírem de qualidade de
vida, mas continua a ocorrer redução da riqueza para os trabalhadores, enquanto os
capitalistas se apropriam da maior parte.
Rocha (2003), em uma leitura econômica da pobreza no Brasil, ressalta que estudos
sobre a mensuração da desigualdade e da pobreza foram realizados na transição entre os
séculos XIX e XX, na Europa. Em 1901, o inglês Rowntree publicou pesquisas que definiram
os primeiros valores referentes às linhas de pobreza, as quais eram diferentes de acordo com o
tamanho das famílias; em 1914, o italiano Gini estabeleceu o índice para medir a desigualdade
de renda15. Mas, as preocupações com as formas de sobrevivência de grupos desprivilegiados
se ampliaram em decorrência da atuação de cientistas sociais nos países desenvolvidos, no
período de reconstrução após a Segunda Guerra. Nessa época, as discussões remetiam ao
caráter relativo da pobreza, ou seja, referiam-se às necessidades a serem satisfeitas a partir das
formas de viver predominantes em uma determinada sociedade, mas tal noção abrangia
grupos de indivíduos que já possuíam o mínimo necessário para a sua manutenção, embora se
15
Benjamin Seebohm Rowntree (1871-1954) foi um sociólogo inglês que realizou estudos sobre a pobreza na
cidade de York, na Inglaterra, por meio dos quais foram estabelecidos parâmetros de valor para as linhas de
pobreza, a partir de preços e quantidades de produtos consumidos. Já o índice de desigualdade econômica foi
desenvolvido em 1914 pelo economista italiano Corrado Gini (1884-1965). Esta forma de mensuração pode ser
definida por meio do coeficiente de Gini, que faz a medida entre escalas que variam de 0,0, indicando não
existência de desigualdade econômica, e 1,0, que assinala desigualdade máxima. (Rocha, 2003; Hobsbawm,
1995).
46
encontrassem em condição de desigualdade. Tal situação se difere da dos países pobres, que
apresentam pobreza absoluta, a qual remete à privação de fatores necessários à sobrevivência
física das pessoas.
A autora ressalta que a renda se tornou um critério de pobreza com base nas
especificações de economias monetárias, em que as trocas de mercadorias constituem a
maneira pela qual são atendidas as necessidades das pessoas. É desta concepção que provém a
ideia de linha de pobreza, que se reporta ao valor indispensável para o atendimento de
necessidades específicas, como a alimentação. Todavia, estas conceituações apresentam
variações entre países com diferenças de renda, e podem se tornar controvertidas quando
especificam, em determinadas sociedades, valores de consumo que não são, necessariamente,
indispensáveis à sobrevivência.
O fato de que o combate à pobreza e a implementação de políticas visando à redução das desigualdades
sociais implicavam intervenção governamental crescente – cujos efeitos em termos de ofertas de
serviços públicos, subsídios e outros benefícios que não se refletem através da renda, deu impulso
adicional às abordagens que utilizavam indicadores sociais ao invés da renda como medida de bem-
estar (p. 18).
Ainda no que se refere a uma compreensão mais ampla da pobreza, esta tem sido
associada à vulnerabilidade. Como destaca Romagnoli (2015), embora estas concepções não
sejam sinônimas, os sujeitos pauperizados podem encontrar-se em situação de maior
fragilidade diante dos riscos a que são submetidos. Afim de entender os fatores que
aproximam e distanciam as duas noções, torna-se necessário aprofundar o conhecimento
sobre seus significados.
Conforme Bronzo (2009) e Busso (2001), vulnerabilidade remete aos processos que
as pessoas, famílias ou grupos sociais dispõem para lidar com riscos e às possibilidades de seu
47
(IPEA, 2015) estipulou o “índice de vulnerabilidade social”16, que estabelece, além do aspecto
monetário, diferentes indicadores, tais como: infraestrutura urbana (reflete as condições e
locais de moradia por meio do acesso ao saneamento básico e a serviços de mobilidade);
capital humano (indicam perspectivas atuais e futuras de inclusão em serviços de saúde e
educação, como taxas de analfabetismo e nível de escolaridade, mortalidade infantil, gestação
precoce, etc.); e renda e trabalho (envolve índices de insuficiência de renda, ausência ou
informalidade na inserção no mercado de trabalho, trabalho infantil, dependência de renda de
idosos). Estes representam um conjunto de ativos cujo acesso ou privação são determinantes
para o bem-estar na atualidade.
16
Índice criado pelo IPEA com base nos resultados dos censos demográficos realizados pelo IBGE em 2000 e
2010 (IPEA, 2015).
49
Tais informações demonstram que a desigualdade social abarca eventos mais amplos
do que aqueles referentes à renda e à classe social, de modo que abrange questões de raça,
etnia e gênero. Estes fatores estão historicamente arraigados no país e mantêm poderes
políticos e econômicos nas mãos de poucos, o que faz do Brasil um dos países com o mais
alto índice de desigualdade no mundo (Hobsbawm, 1995).
2.4. Expressões da pobreza visibilizadas na atualidade – raça, etnia e sexo como fatores
geradores de desigualdade
Nesta tarefa, recorremos a Ianni (2004a), que, em uma leitura histórica e social,
reporta-nos às mudanças no sistema produtivo ocorridas na segunda metade do século XIX.
Estas acarretaram o desenvolvimento da produção industrial, artesanal e de serviços nas
cidades brasileiras, e o campo, que até então prevalecia econômica e socialmente com a
produção cafeeira, foi perdendo a hegemonia. Com isso, o trabalho escravo foi perdendo
importância para os investidores e o seu impacto nas cidades não era semelhante ao do meio
rural. Assim, a figura do escravo se tornou incompatível com a geração de lucros em um
sistema econômico e social que se encontrava em transformação. O novo modelo produtivo
que entrou em vigor conciliava com a figura do homem livre cuja força de trabalho podia ser
comprada, fator este que promoveu a abolição da escravatura e fez com que o negro fosse
colocado na condição de cidadão livre.
Contudo, as condições oferecidas aos ex-escravos não eram as mesmas das quais
usufruíam os trabalhadores brancos, categoria constituída principalmente por imigrantes
51
Esta condição também foi endossada pela ciência médica da época, que tinha como
base a concepção de que as diferenças entre as pessoas eram um fenômeno natural, que
ocorriam em decorrência de aptidões inatas, fator que tornariam algumas delas superiores às
outras. Os sujeitos vistos como inferiores eram colocados na posição de perigosos ou doentes
(Boarini, 2003; Santos, Schucman & Martins, 2012).
O autor ressalta que a questão racial é um fenômeno antigo, mas que se modificou ao
longo do tempo em decorrência das diversas forças sociais que se transformaram e
determinaram novas formas de relações. Na atualidade, o preconceito racial e os estereótipos
dele consequentes criam personalidades racistas, individualistas e autoritárias, que se refletem
na relação do indivíduo com o outro e têm contribuído para ações de intolerância e de
xenofobia, de modo que, com base nesses preconceitos, são recriadas formas de dominação.
52
O trabalho escravo contemporâneo reflete mais uma das facetas que constituem a
questão social atual, que se reapropriou de formas antigas de exploração, mas de maneira
readaptada às novas configurações do capitalismo. Apesar da gravidade do problema, ocorre
movimento político17 que questiona os conceitos de trabalho análogo à escravidão e de
condições degradantes de trabalho, visando retroceder à concepção de escravatura como
17
Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 3842/2012 que objetiva mudar a definição de trabalho
escravo, sobretudo aquela apresentada no Código Penal, com a justificativa de que a lei em vigor é inadequada
quanto aos critérios que definem o trabalho escravo. O Projeto questiona principalmente a conduta de jornada
exaustiva e de condições degradantes de trabalho, com a alegação de que se referem a questões pouco precisas e
de difícil avaliação pelos agentes do Estado que devem realizar a fiscalização e punição dos responsáveis
(Recuperado de: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=544185. Acesso
em 01/02/2017).
53
Retomamos Ianni (2004b), que argumenta que no século XXI as tensões de luta de
classes se revestem de preconceitos e de ideologias, sendo que estas, por sua vez, alimentam
interesses de dominação e que, além da questão racial, expressam novas e velhas formas de
discriminação. Existem, ainda, as questões religiosas; de migração; e as diferenças étnicas que
reafirmam problemas que não são novos, mas que se agravam (Ianni, 2004a). Dentre estas, há
as condições referentes aos índios, que continuam sendo expropriados de suas terras, de suas
formas de vida e de sua cultura, sendo vistos por muitos setores da sociedade como um
obstáculo ao progresso. Atualmente, os índios têm buscado nas cidades outras formas de
suprir suas necessidades, mas são submetidos a situações precárias de vida.
Além dos estigmas e preconceitos decorrentes das questões raciais e étnicas, Ianni
(2004a) aponta também a condição da mulher – que foi e continua sendo, na sociedade atual –
subjugada a uma posição subalterna.
Para a autora,
Fatores de ordem natural, tais como sexo e etnia, operam como válvulas de escape no sentido de um
aliviamento de tensões sociais geradas pelo modo capitalista de produção; no sentido, ainda, de desviar
da estrutura de classes, a atenção dos membros da sociedade, centrando-a nas características físicas que,
involuntariamente, certas categorias sociais possuem. (Saffioti, 2013, p. 29).
54
Para além das questões referentes à atividade produtiva, ainda pesa sobre a mulher as
diferenças simbólicas, arraigadas culturalmente, que infligem à condição feminina a
responsabilidade pela socialização dos filhos, pelo bem-estar da família e a pela realização
das tarefas domésticas, ainda que acumule também o trabalho fora de casa. (Saffioti, 2013;
55
Mariano & Carloto, 2011; Davis, 2016). Para Saffioti (2013), a imposição para que a mulher
assuma os encargos do âmbito privado adquire conotação tão ampla como se a correta
organização da economia doméstica, a ela conferida, tivesse o poder de superar a pobreza.
Estas diferentes atribuições e discriminações fazem com que a mulher tenha uma vivência de
classe distinta da do homem; torna-se necessário, portanto, a fim de que haja a efetiva
superação das desigualdades, que sejam superadas também as ideologias que a inferiorizam, o
que pressupõe mudanças na ordem social e historicamente estabelecida. Como forma de
buscar tal superação, a autora argumenta que a sociedade deve oferecer meios que
possibilitem a igualdade.
CAPÍTULO 3
Na compreensão desse processo, torna-se necessário rememorar que a luta por direitos
sociais no mundo envolveu – e ainda envolve – história de avanços e retrocessos,
principalmente em momentos de crise do capital. Tais aspectos se manifestam por meio de
conflitos existentes não apenas na elaboração e na implementação de políticas sociais,
direcionadas a problemas específicos que envolvem a questão social, mas também em sua
concretização adequada diante da realidade a que se direciona (Hobsbawm, 1995; Yamamoto,
2007).
dezembro de 1996) assegura que todas as pessoas, em diferentes faixas etárias, podem ter
acesso ao ensino em seus diversos níveis. Além da formação, a escola deverá contribuir para a
constituição da cidadania, para a atuação no mundo do trabalho, para o exercício da tolerância
e para o pluralismo de ideias, com base nos princípios de liberdade e solidariedade.
Segundo Souza (2006), os estudos sobre políticas públicas foram iniciados nos
Estados Unidos na década de 1930, como subárea da Ciência Política, com base na suposição
de que, em sociedades democráticas, as ações governamentais são suscetíveis de análise
59
18
O Consenso de Washington refere-se a um encontro, realizado em novembro de 1989, com a participação dos
presidentes dos países da América Latina e de representantes do Fundo Monetário Internacional, Banco
Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para a implantação de medidas de ajustes políticos e
econômicos de caráter neoliberal (Yazbek, 2012).
60
contraditório com o qual agências financeiras como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional (FMI) participam das reformas econômicas. Sobre tal situação, tomamos
exemplos dados pelo autor:
Nossa análise do sistema de economia global concentra-se no papel do desemprego mundial. Nesse
contexto, as reformas patrocinadas pelo FMI têm sido decisivas no controle de custos da mão-de-obra
em grande número de países. Todavia, a minimização desses custos solapa a expansão dos mercados
consumidores, ou seja, o empobrecimento de grandes setores da população mundial, derivado da
reforma macroeconômica, conduz a uma redução crítica do poder de compra. (Chossudovsky, 1999, p.
12).
O Banco Mundial desempenha um papel chave nesse particular, .... Esse enfoque ético e as categorias
subjacentes (por exemplo, diminuição da pobreza, questões ligadas a gênero, equidade, etc.) fornecem
uma . . . aparência de compromisso com a mudança social. Todavia, uma vez que está funcionalmente
divorciada de um entendimento das principais reformas macroeconômicas, essa análise raramente
constitui uma ameaça para a agenda econômica neoliberal.
Embora as disparidades sociais e de renda entre as nações e dentro destas tenham se ampliado, a
realidade da pobreza mundial é cada vez mais dissimulada pela manipulação das estatísticas de renda.
O Banco mundial “estima” que 18% do terceiro mundo são “extremamente pobres”. .... a “linha de
pobreza superior” é arbitrariamente estabelecida a uma renda per capita de US$1 por dia .... Grupos
de população em países com rendas per capita excedendo a US$1 por dia são arbitrariamente
identificados como “não pobres”. Em outras palavras, por meio da manipulação das estatísticas de
renda, os números do Banco Mundial servem ao útil propósito de representar o pobre nos países em
desenvolvimento como um grupo minoritário. (Chossudovsky, 1999, ps. 34 e 35).
Esses fatores, entre outros, têm gerado o aumento da desigualdade e da pobreza, bem
como, desemprego, perda de direitos sociais e marginalização de vários grupos populacionais.
Estes fatos ocorrem em razão da estrutura do comércio de produtos avaliados como matérias-
primas (commodities), que atribuem aos países em desenvolvimento uma posição de
subordinação no sistema econômico internacionalizado, além de haver desigualdade na
organização internacional do trabalho, o que acarreta assimetrias na disputa de mercados e,
consequentemente, na oferta de empregos (Chossudovsky, 1999).
tem contribuído para o sucateamento dos serviços estatais e para o aumento da concentração
da renda nas mãos de poucos, ao se tornarem proprietários dessas empresas.
19
O economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) defendia a proposta de um Estado interventor, fazia
oposição ao liberalismo. Após a crise de 1929, suas ideias adquiriram repercussão, culminando, no período após
a Segunda Guerra, em ações que visavam regular o desenvolvimento econômico por meio de planejamento,
financiamento e garantia de pleno emprego. As ideias de Keynes subsidiaram políticas na Europa, EUA e Brasil,
no período de Vargas, as quais ficaram conhecidas como “Bem-estar Social”. Tais ações visavam ao crescimento
e à distribuição de renda, porém, sem o rompimento com a propriedade privada e a socialização dos meios de
produção, mas defendiam que a sociedade deveria se apoiar no tripé capital/Estado/trabalho, sem conflitos que
desestabilizem o sistema em vigor (Xavier da Silva & Souza, 2010).
62
O caráter histórico foi ressaltado por Marx (2015) como fator determinante das
relações políticas e sociais, e em momentos de crise revolucionária, as manifestações do
passado tendem a se tornar presentes com novas configurações. No que se refere ao Brasil,
essas manifestações se expressam nas condições de desigualdades que marcam as diferenças
63
entre as classes sociais, como também nas distinções de raça, etnia e sexo20, caracterizando
avanços e retrocessos nas ações estatais voltadas ao atendimento das demandas da população.
Desse modo, intervenções por meio de políticas sociais, em determinados momentos,
apresentam-se como necessárias à sociedade, e, nesse contexto, ora mantêm em sua essência
um caráter conservador, ora são explicitadas como fator que pode romper com a ordem
hegemônica.
No caso das políticas sociais, apesar de a Constituição Federal de 1988 ser decorrente
de um amplo debate, movido pela perspectiva de ampliação dos direitos de cidadania, que
aconteceu durante o processo de democratização do país, as demandas político-financeiras
vêm dificultando sua concretização. De acordo com Singer (2005), “A Constituição tem um
capítulo inteiro consagrado aos direitos sociais.... dir-se-ia que o Brasil é um dos mais
completos Estados de bem-estar do planeta.” Contudo, “para avaliar a vigência dos direitos
sociais, não basta verificar que constam de leis em vigor. É preciso avaliar seu gozo efetivo
pela população ou de sua parte necessitada.” (pp. 252-253).
20
Discussão realizada no capítulo 2 do presente trabalho.
64
Nos artigos 6º e 24º, essa Lei organiza os programas e serviços de proteção social
básica e especial. A proteção social básica tem a finalidade de desenvolver potencialidades,
aquisições e fortalecer vínculos, mediante ações direcionadas às populações vulnerabilizadas
– em decorrência da pobreza, privações, ausência ou precariedade no acesso aos serviços
públicos – e com vínculos sociais fragilizados. As suas ações são realizadas preferencialmente
nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS). Este equipamento constitui-se como
unidade pública territorial, ou seja, deve ser instalado em locais que apresentem altos índices
de vulnerabilidade e riscos sociais, visando à realização de serviços, programas e projetos
socioassistenciais; já a proteção social especial objetiva o atendimento de pessoas e famílias
que se encontram com direitos violados ou vivenciam vulnerabilidade decorrente do
rompimento de vínculos familiares ou comunitários. As ações são realizadas no Centro de
Referência Especializado da Assistência Social (CREAS).
21
As “Orientações Técnicas sobre o PAIF, segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais”
(MDS, 2012a) definem as ações preventivas como aquelas direcionadas a evitar acontecimentos que provoquem
danos ou prejudiquem o exercício de direitos; as ações protetivas visam apoiar e amparar as famílias e indivíduos
no acesso aos seus direitos; já as ações proativas referem-se à atuação diante de situações causadoras de
vulnerabilidade e risco, que prejudicam o acesso das famílias aos seus direitos.
66
No entanto, a ênfase dada à família nos permite questionar se, desse modo, são
valorizados os deveres para com seus membros como uma maneira de promover a retirada das
atribuições do Estado, no atendimento dos direitos e necessidades dos cidadãos?
22
O movimento higienista ganhou repercussão em países da Europa e nos Estados Unidos ao final do século
XIX, com base nas ideias de Francis Galton (1822 – 1911), que, em 1883, cunhou o termo eugenia, que tem
origem grega e significa boa geração, tendo sido inspirado nos trabalhos de Charles Darwin (1809-1882) sobre a
origem das espécies e a seleção natural. Segundo os preceitos de Galton, a espécie humana poderia se
desenvolver e se aperfeiçoar por meio da aplicação de procedimentos biológicos para a higienização das raças.
No Brasil, tanto a eugenia como o higienismo foram propagados por médicos e intelectuais que, por intermédio
de pesquisas e intervenções, propunham explicações e soluções baseadas nas ciências da natureza para
problemas decorrentes das desigualdades sociais, engendradas em uma realidade histórica, política e social. Com
este viés naturalizante, foram fundadas várias associações no país, as quais determinaram práticas,
principalmente nas áreas de saúde e de educação, o que contribuiu para o surgimento de diversos mitos
relacionados à discriminação das raças, dos pobres e dos deficientes (Boarini, 2003).
67
provedor – e para a mulher – mãe e esposa, responsável pelos cuidados, afetos e bem-estar
dos membros da família, tendo suas ações circunscritas ao âmbito doméstico.
Quanto ao PBF, este surgiu em 2003 e consiste na transferência de renda para famílias
que vivem em extrema pobreza ou em pobreza (absoluta ou relativa), com renda per capita
cujos valores atuais referem-se a R$ 77,00 mensais, ou entre R$ 77,01 e R$ 154,00 mensais
que tenham em sua composição crianças e/ou adolescentes de 0 a 17 anos. O referido
programa constava, no mês de dezembro de 2015, com 13.936.791 famílias cadastradas, que
receberam, em todo o país, benefícios no valor médio de R$ 162,94. O Programa tem como
condicionalidade para seu recebimento a frequência escolar de crianças e adolescentes e o
acompanhamento de mães, crianças e gestantes pelos serviços de saúde, visando à garantia de
acesso das famílias pobres aos direitos sociais. O controle de comparecimento dos seus
membros nas instituições é feito por equipes de Saúde e de Educação, responsáveis pelos
registros e repasses das informações. As equipes da Assistência Social, que atuam nos CRAS,
também realizam o acompanhamento das condicionalidades, além de oferecer o trabalho
sociofamiliar e de atualizações cadastrais. O não cumprimento das condicionalidades pode
provocar sanções, como advertências e até mesmo o corte no recebimento do benefício (MDS,
2015a e 2015b). Nestes casos cabe indagar: como estabelecer a diferença entre o
acompanhamento a ser realizado e a vigilância? Como contribuir com a emancipação e
autonomia dos usuários da política, se o controle torna-se fator predominante?
No mês de setembro de 2015, existiam 26.850.486 famílias inscritas no Cadastro Único para Programas
Sociais, o que corresponde a 80.034.574 pessoas cadastradas. A distribuição das famílias cadastradas
conforme a renda per capita mensal declarada aponta que: 12.362.376 com renda per capita familiar de
até R$77,00; 4.219.431 com renda per capita familiar entre R$77,00 e R$ 154,00; 6.144.320 com renda
per capita familiar entre R$ 154,00 e meio salário mínimo; 4.124.359 com renda per capita acima de
meio salário mínimo. (MDS, 2015b).
69
Para Vaitsman, Andrade e Farias (2009), o PBF sofreu críticas tanto de setores
conservadores da sociedade – que traziam implícita a negação da assistência como um direito
– como também de esquerda – que atribuía dificuldades em se atingir os mais pobres e
superar as desigualdades, não mudando o aspecto filantrópico da assistência. Todavia,
observam que as famílias beneficiadas, até pouco tempo, constituíam os piores índices sociais
e se encontravam excluídas de qualquer política de direitos; sem acesso aos serviços de
educação e de saúde, como deve ocorrer com os beneficiários do programa. Para os autores, o
PBF cumpriu a meta de inclusão dos mais pobres no sistema de proteção e de alívio da
pobreza. A regulamentação da PNAS, por sua vez, trouxe a proposta de rompimento da
filantropia, que consistia em problema histórico no país, e os benefícios assistenciais, com
distribuição de renda, passaram a ser vistos como direito.
geradoras de desigualdade e pobreza não são mudadas. A focalização nas formas extremas de
manifestação desse fenômeno, decorrente do impacto da ideologia neoliberal, favorece
medidas compensatórias e administradas, em detrimento das políticas sociais universais, às
quais todos que necessitam têm acesso, de maneira efetiva. Outro fator tomado como
problemático é o uso da renda per capita para definição de pobres e de extremamente pobres,
utilizada como critério para a concessão do benefício, o que contraria o caráter
multideterminado da pobreza ao atentar apenas para o fator monetário.
Os autores criticam ainda o fato de que o valor oferecido é muito baixo para a
manutenção das necessidades das famílias. Esta crítica também foi realizada pelas próprias
beneficiárias, residentes nas regiões mais pobres do país, as quais foram ouvidas na pesquisa
longitudinal feita por Rego e Pinzani (2014). Estes, ao dar voz e visibilidade às mulheres
incluídas no PBF, confrontam os preconceitos difundidos em relação às beneficiárias, ao
ressaltar que elas e seus familiares não deixaram de executar o trabalho difícil e pesado que já
faziam, para viver apenas da bolsa, ademais argumentaram, em suas narrativas, preferirem um
emprego regular – com salário e direitos trabalhistas garantidos – a usufruir do benefício.
Por outro lado, Mariano e Carloto (2011, p. 63) tecem críticas ao “modo como o
PBF, em uma estratégia de combate à pobreza, desenvolve mecanismos que reforçam a
tradicional associação da mulher com a maternidade e com as tarefas pertencentes à clássica
esfera reprodutiva.” Esta forma de considerar a mulher, relacionando-a aos papéis tradicionais
vinculados ao cuidado e à reprodução familiar e social, é fator que tende a acirrar as
desigualdades de gênero e, de forma mais ampla, as desigualdades sociais. No que se refere às
condicionalidades associadas ao benefício, estas remetem-se às ações histórica e
culturalmente direcionadas ao gênero feminino.
71
Ainda sobre as condicionalidades, Dal Bello (2014) chama a atenção para o fato de
que a lógica de controle em relação ao seu cumprimento pode burocratizar os serviços
oferecidos pela proteção básica e, por conseguinte, retirar os profissionais do trabalho
qualificado, que deve ser voltado ao acompanhamento das famílias. Os beneficiários dos
programas são responsabilizados pela ausência nos serviços de saúde e de educação, mas os
municípios que não os ofertam à população, ou o realizam de maneira inadequada, não sofrem
críticas ou penalidades por isso.
A política de Assistência Social, como uma das principais expressões das políticas
sociais em vigor atualmente no Brasil, apresenta critério para a organização dos serviços e
para composição das equipes, o que deve ser realizado de acordo com o princípio da
territorialidade. Conforme apontado no SUAS, esse princípio significa o reconhecimento de
diversos fatores que atuam como determinantes das condições de vulnerabilidade e de risco
social que podem afetar indivíduos e famílias, e contribui para orientar as ações
socioassistenciais.
voltada ao acesso aos demais serviços e à garantia dos direitos de cidadania, para possibilitar
o rompimento do ciclo de reprodução intergeracional de exclusão (MDS, 2005).
Na procura por conhecimentos mais aprofundados que possam contribuir tanto para a
compreensão da realidade social determinante do contexto em que se estabelecem as políticas
públicas e sociais, como para o enfrentamento da pobreza e a formação profissional em
Psicologia, torna-se necessário recorrer às pesquisas que abordam os temas que norteiam a
presente pesquisa.
75
CAPÍTULO 4
Além desse fato, a realidade atual faz com que a Psicologia, ao se constituir como
área do conhecimento que está sendo chamada para contribuir no atendimento das demandas
da sociedade brasileira, insira-se cada vez mais no trabalho institucional; deste modo, o
profissional precisa atuar em equipes multiprofissionais, para oferecer atendimento a um
público diferente do cliente do consultório particular (Borges, 2014).
Buscamos, desta forma, tanto compreender como se estabeleceu, nos últimos anos, a
relação entre produção do conhecimento em Psicologia, por meio da pós-graduação, e a
formação do psicólogo, por intermédio da graduação, assim como perscrutar o modo como se
apresenta a Psicologia como área de conhecimento, haja vista os acontecimentos políticos,
econômicos e sociais que caracterizaram os períodos destacados e o movimento de
implementação de políticas públicas no país. A fim de ter conhecimento acerca dos aspectos
quantitativos e qualitativos das pesquisas em Psicologia, realizadas no país entre os anos de
1992 e 2014, que abordavam os temas “formação e atuação”, “políticas públicas” e
“pobreza”, recorremos às bases de dados Index Psi Teses e Portal de Periódicos da CAPES23.
23
A apresentação das bases de dados utilizadas e a discussão sobre os procedimentos adotados para a pesquisa
encontram-se no primeiro capítulo do presente trabalho.
77
Gráfico 2: Quantidade de teses e dissertações resultante do levantamento realizado nas bases de dados
“Index Psi Teses” e “Portal Periódicos CAPES”, por meio das palavras “Psicologia e políticas
públicas”.
Gráfico 3: Quantidade de teses e dissertações resultante do levantamento realizado nas bases de dados
“Index-Psi Teses” e “Portal Periódicos CAPES” por meio da utilização das palavras “psicologia e
pobreza”.
O gráfico 3 demonstra que a pobreza, por sua vez, constituiu um tema presente nas
pesquisas em Psicologia já na década de 1990 e se manteve durante todo o período destacado,
fato este que se deve, possivelmente, aos debates referentes aos direitos sociais de uma
população empobrecida. Tais discussões se expandiram nessa fase, a partir da Constituição
Federal de 1988, que abordou a seguridade social e assinalou o enfrentamento da pobreza
como um dos objetivos da República (Yamamoto & Oliveira, 2010; Spink, 2009; Yamamoto,
2007). Contudo, seria este tema abordado por pesquisas em Psicologia de modo a considerar
as configurações estruturais da sociedade capitalista e a questão social? Investigação de
Dantas, Oliveira e Yamamoto (2010) apontou que a maioria das publicações em periódicos
sobre a temática da pobreza e desigualdade, no Brasil, avançou pouco, no que se refere ao
caráter assistencialista e higienista que historicamente domina a visão em relação aos pobres.
Este viés, por muito tempo no país, fundamentou intervenções e análises frente a questão
social (Boarini, 2003). Será esta também a perspectiva predominante nas pesquisas de pós-
graduação que abordam o tema? As respostas para esta questão – além de outras que
constituem os objetivos da presente pesquisa – serão buscadas no próximo item; por ora,
reportar-nos-emos tanto aos elementos quantitativos alusivos às áreas enfocadas nas
investigações, como também aos aspectos metodológicos e regionais em que as pesquisas
foram realizadas.
80
Tabela 4.1- Número de Teses e Dissertações que abordam a “formação e atuação do(a) psicólogo(a)”, de acordo
com as Instituições de Educação Superior (IES) em que foram realizadas as pesquisas e com a área de
abrangência.
UFRN* 1 1 1 1 2
UFSC* 10 1 3 1 1 6 11
UFRS* 1 1 1
USP* 7 3 1 4 5 10
UNESP* 2 1 1 2
UNIME 2 2 2
SP**
UNIFOR 1 1 1
**
PUC 1 2 1 1 1 3
SP**
PUC 6 5 1 1 1 6 2 11
CAMP**
PUC 2 1 1 2
RS**
Total 33 12 4 1 6 4 3 11 16 45
* Instituições públicas. ** Instituições particulares.
Fonte: Levantamento realizado nas bases “Index Psi Teses” e “Portal de Periódicos da CAPES”.
24
As pesquisas realizadas em instituições que apresentam programas de pós-graduação em Psicologia em
campus diferentes foram quantificadas a partir de sua sigla principal.
81
25
É importante ressaltar que algumas pesquisas foram analisadas apenas por intermédio dos resumos disponíveis
nas bases consultadas, entre as quais se inclui a de Senra (2005). Isto ocorreu em razão de a pesquisa completa
não estar disponível. O apêndice do presente trabalho fornece informações mais detalhadas sobre as pesquisas
cujo acesso ocorreu por meio de resumo ou trabalho completo, assim como as bases em que foram levantadas.
82
Tabela 4.2 - Número de Teses e Dissertações que abordam “políticas públicas”, de acordo com as Instituições de
Educação Superior (IES) em que foram realizadas as pesquisas e com a área de abrangência.
USP* 21 15 6 3 8 8 11 36
UFRS* 4 1 1 1 3 5
UNB* 7 4 1 7 3 11
UFC* 5 1 2 2 5
UFSC* 2 2 2
UNESP* 3 1 1 1 3
UFMG* 1 1 1
UFPB* 1 1 1
UCPE** 1 1 1
UCB** 2 1 1 2
UNIMEP 1 1 1
SP**
PUC 7 5 5 4 1 2 12
SP**
PUC 1 1 1
CAMP**
PUC 1 1 1 1 2
RS**
Total 57 26 15 6 20 23 19 83
* Instituições públicas. ** Instituições particulares.
Fonte: Levantamento realizado nas bases “Index Psi Teses” e “Portal de Periódicos da CAPES”.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), tanto com a elaboração de teses
como também de dissertações sobre o tema. A Universidade de Brasília (UNB) também teve
destaque em relação ao número de trabalhos referentes ao tema.
Tabela 4.3 - Número de Teses e Dissertações que abordam o tema “pobreza”, de acordo com as Instituições de
Educação Superior (IES) em que foram realizadas as pesquisas e com a área de abrangência.
USP* 18 11 8 1 15 1 3 1 29
UFC* 3 3 3
UFRN* 3 1 2 1 1 4
UFSC* 1 1 1
UFRS* 5 2 4 1 1 1 7
UFPB* 3 3 3
UNB* 2 1 1 1 1 3
UFMG 1 1 1
*
UFPA* 1 1 1
PUC 7 2 1 2 2 2 2 9
SP**
PUC 1 1 1
RJ**
PUC 2 2 2
RS**
UCPE* 1 1 1
*
UCB** 1 1 1
UNI 1 1 1
FOR**
Total 50 17 17 3 31 2 6 4 4 67
* Instituições públicas. ** Instituições particulares.
Fonte: Levantamento realizado nas bases “Index Psi Teses” e “Portal de Periódicos da CAPES”.
84
Por meio da análise dos resumos das pesquisas apresentadas nos gráficos 1 a 3,
buscamos conhecer os aspectos metodológicos – procedimentos e instrumentos – utilizados
na obtenção de dados e de informações que subsidiaram tais pesquisas. Os números são os
seguintes:
14 60 12 25 6 21 57
Fonte: Levantamento realizado nas bases “Index Psi Teses” e “Portal de Periódicos da CAPES”.
85
A partir dos números apresentados na tabela 4.4, é possível notar que a maioria dos
procedimentos utilizados remete à pesquisa qualitativa, a qual Minayo e Sanches (1993)
apontam como método que possibilita a aproximação do pesquisador com a realidade
investigada, por meio do conhecimento, da compreensão e da explicação dos significados,
motivos, atitudes, crenças e valores sociais que se expressam nas falas e nas ações cotidianas.
Tal abordagem é empregada visando à compreensão de fenômenos específicos, que podem ser
delimitados a partir de um foco para a investigação; quanto aos procedimentos quantitativos
ou quali-quanti, os dados apontam que tais metodologias foram pouco utilizadas nas
pesquisas levantadas. Ainda segundo os autores supracitados, as abordagens quantitativas são
aplicadas para focalizar aglomerados de dados observáveis, que podem ser classificados e
compreendidos por meio de variáveis estatísticas e de probabilidade, questões pouco comuns
nas investigações psicológicas às quais nos reportamos.
Buscamos, ainda, a partir dos resumos de todos os trabalhos acessados por meio do
levantamento realizado, e com base nos objetivos da presente pesquisa, identificar as
abordagens teóricas utilizadas para se fundamentar as pesquisas referentes à “formação e
atuação em psicologia”, “políticas públicas” e “pobreza”, visando conhecer se havia teorias
predominantes no estudo desses temas. Desse modo, as principais teorias psicológicas
utilizadas para se fundamentar as pesquisas foram: a Psicanálise, em suas várias vertentes e
enfoques (18); Construcionismo (9); Psicologia Histórico-Cultural (8); Sócio-histórica (7);
Fenomenologia (6); Comportamental, referencial foucaultiano e teoria das Representações
Sociais (5 para cada uma delas); outras abordagens (38). Contudo, a maioria dos resumos não
fazia referência evidente à abordagem utilizada (94).
Neste sentido, a relação entre formação e atuação destaca-se como fator importante a
ser investigado e debatido, como forma de compreender os elementos políticos e históricos
que embasam tanto o currículo, como as diretrizes e a relação entre teoria e prática (Barboza
da Silva, 2010). Estas considerações remetem à necessidade de compreensão das pesquisas
como forma de produção de conhecimento e à relação com o contexto que caracteriza as
mudanças recentes ocorridas no país, e também ao impacto desse processo no ensino, na
formação de psicólogos diante da realidade social que se apresenta à profissão.
Nas palavras de Antunes (2005, p. 105): “considera-se que a psicologia, como área do
conhecimento, é uma produção histórica que expressa uma leitura determinada da realidade,
concretizada nas e pelas relações que estabelece com múltiplos fatores, dentre eles, os sociais,
políticos, econômicos, culturais, etc.”
O processo de democratização no Brasil foi marcado por intensa luta política e social,
que culminou na promulgação da Constituição Federal de 1988, por meio da qual se tornou
possível que políticas públicas e sociais fossem colocadas em prática. Nesse contexto,
marcado por mudanças políticas e sociais, buscaremos compreender a produção de
conhecimento em Psicologia no que se refere à formação e à atuação profissional, com ênfase
em políticas públicas que vão se destacando a partir desse momento no país, e também a visão
diante da pobreza apresentada nos estudos desenvolvidos nesse período.
87
Nesse processo de mudanças ocorridas no país entre as décadas de 1980 e 1990, houve a
participação de psicólogos, por intermédio de entidades representativas da categoria. Hur
(2012), ao retomar a história do Conselho Regional de Psicologia (CRP-SP) e do Sindicato
dos Psicólogos do Estado de São Paulo (SPESP), ressaltou que durante o período da ditadura
tais órgãos estiveram atrelados ao poder hegemônico. Nessa fase, não eram realizadas
discussões sobre temas que envolviam a formação profissional, a saúde mental ou as
condições de trabalho dos profissionais em diversos setores de atuação. Mas, ao acompanhar
o retorno dos movimentos sociais no país, no início dos anos 1980, um grupo de psicólogos
passou a criticar a atuação do SPESP em relação à defesa de interesses da categoria que
atuava no funcionalismo público. Logo após, um novo grupo assumiu a direção, tanto do
Sindicato como do CRPSP, e juntamente com outros movimentos sociais atuantes naquele
momento, desenvolveu debates políticos internos e externos. As discussões internas se
referiam à defesa do psicólogo como trabalhador e à criação de grupos para fomentar a
discussão de temas até então desconsiderados, tais como os voltados à formação profissional e
às políticas públicas. Quanto aos debates realizados no campo social e político mais amplo, a
Psicologia contribuiu para a organização sindical, participou do movimento por eleições
diretas e pelo estabelecimento de uma assembleia constituinte democrática, com plena
participação popular; como resultado da reabertura democrática, foi promulgada a
Constituição Federal de 1988.
26
Informações disponíveis no site: http://www.linhadotempopp.com.br/. Acesso em agosto e setembro de 2017.
27
As informações sobre o CONPAS já foram anteriormente apresentadas. Vide capítulo 1.
89
O avanço legislativo realizado nesse período logo passa a ser acompanhado pelas
determinações neoliberais, que exigem reformas, a reestruturação produtiva e a diminuição
das intervenções estatais, o que atinge os recursos disponibilizados para as políticas públicas e
sociais (Yazbek, 2012; Anderson, 1998).
Com o início do governo do presidente Fernando Collor de Mello (gestão entre 1990 e
1992), ocorreu a adesão às demandas neoliberais, por meio de planos econômicos que
colocaram em prática a privatização de empresas estatais e o arrocho salarial. Nessa fase, não
ocorreu qualquer alusão ao desenvolvimento de políticas sociais e de projetos de erradicação
da miséria, conforme preconizados pela recente CF (R. Antunes, 2005).
. . . a eleição de Fernando Collor que busca de diversas formas obstruir a realização dos novos direitos
constitucionais. .... E, como não poderia deixar de ser, a emergente proposta de Seguridade Social não
se consolida e mostra-se incapaz de, naquele momento, realizar suas promessas. (Yazbek, 2012, p. 303).
Nesse contexto, marcado pelo corte de gastos públicos destinados aos serviços e ações
voltadas às necessidades da população, foi aprovada a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993, a chamada Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), já no período do governo de
28
A Convenção Internacional sobre os direitos da criança, promovida pela Organização das Nações Unidas
(ONU) em 1989, é considerada um marco no reconhecimento dos direitos de liberdade e proteção de crianças e
adolescentes. A Constituição Federal e o ECA incorporaram as diretrizes da Convenção que, segundo
Rosemberg e Mariano (2010), no Brasil e nos demais países da América Latina, coincidiu com o processo de
democratização política.
90
Itamar Franco (gestão entre 1993 a 1995). Porém, R. Antunes (2005) ressalta a continuidade
de posicionamentos governamentais ambíguos que caracterizaram o governo Collor e que
permaneceram na gestão de Itamar Franco, em que muito se falava da necessidade de superar
a miséria, o sofrimento e as privações vivenciados por milhões de brasileiros. Todavia, poucas
ações foram efetivamente colocadas em prática visando ao enfrentamento da pobreza. O
crescimento econômico foi apontado como forma de superar as mazelas sociais, mas não
foram colocadas em prática medidas a fim de suplantar os fatores geradores da desigualdade.
Como argumentou R. Antunes (2005, p. 22): “Falar seriamente em transformar
estruturalmente o país sem contemplar em alguma dimensão estas questões é puro exercício
de retórica, eivada de sentido manipulatório.”
No que tange à formação, em 1992 ocorreu o Encontro de Serra Negra, promovido pelo
Conselho Federal de Psicologia, do qual participaram representantes dos cursos de Psicologia.
Esse evento constituiu-se como marco para as discussões sobre o tema e para a elaboração da
Carta de Serra Negra, que estabeleceu diretrizes para que a formação se desse de maneira
implicada social e politicamente com a realidade do país (Japur, 1994; Bernardes, 2003; Cury
& Ferreira Neto, 2014).
91
29
É importante salientar que as bases consultadas disponibilizaram apenas os resumos das pesquisas referentes a
esse período.
92
portanto, não ocorre a superação, mas apenas o alívio imediato desse fenômeno. No que se
refere à reforma da previdência, a autora aponta que tal medida beneficiou apenas os
trabalhadores mais qualificados, devido à diferenciação referente aos benefícios concedidos,
de acordo com a contribuição realizada.
Ainda em relação à educação superior, com base nas mudanças estabelecidas pela
recém-criada LDB (Lei nº 9394/96), S. Ferreira (2012) ressalta que foi possibilitada uma
diferenciação jurídica entre as IES, ao distingui-las entre públicas e privadas, sendo estas com
e sem fins lucrativos. Ainda como resultado das mudanças decorrentes da nova LDB, é
iniciado um debate sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, referentes ao ensino superior, o
que envolve também a graduação em Psicologia. Em 1997, o MEC lançou edital convocando
as IES do país a apresentarem propostas e, em 1999, foram divulgadas pela Comissão de
Especialistas em Ensino de Psicologia duas versões iniciais referentes às novas DCNs30.
No âmbito das políticas públicas de proteção à infância pobre, em 1996 foi criado o
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que na fase inicial teve ações
direcionadas a determinadas regiões do país, sendo, posteriormente, ampliado para o âmbito
nacional.
30
Informações recuperadas do site da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP).
http://www.abepsi.org.br/formacao/linha-do-tempo-da-psicologia/. Acesso em 29/08/2017.
94
ou ainda, trabalhos como o de Benzi (1996), que abordou a atuação do(a) psicólogo(a) em
escolas particulares. Já o levantamento sobre políticas públicas (gráfico 2) resultou em
trabalhos como o de Loureiro (1997), o qual também apresenta discussões acerca do âmbito
educacional, ao abordar a política de formação de professores e o ensino público.
Já a pesquisa de Poletto (1999) buscou conhecer as redes de apoio social e afetivo para
as crianças pobres, considerando as condições socioeconômicas decorrentes da pobreza como
fatores geradores de risco e que acarretam implicações para o desenvolvimento infantil, tais
como baixa escolaridade dos pais, baixa autoestima, depressão, e outros problemas que
podem interferir nos cuidados para com os filhos. Neste sentido, a autora procurou
compreender os aspectos que contribuem para o desencadeamento de patologias e quais deles
interferem na adaptação e no desenvolvimento de competências, por meio de comportamentos
resilientes. Para tanto, o objetivo foi conhecer se e como são estabelecidas as redes de apoio
social e afetivo para crianças e pais; a pesquisa atenta para a importância de programas que
beneficiem famílias pobres e que possam abranger os diferentes ambientes frequentados pelas
crianças.
2000 – 2004: O novo milênio se inicia sem grandes mudanças no que se refere à
implantação das políticas sociais estabelecidas pela CF. Ainda durante o governo de FHC,
especificamente no ano de 2001, foi lançado o “Programa Nacional de Renda Mínima”,
vinculado à área de educação, que ficou conhecido como “Bolsa Escola”. O objetivo era
minimizar os índices de evasão escolar de crianças pobres, por meio da concessão de um
determinado valor financeiro para as famílias; esta foi uma ação de caráter compensatório e
focalizado, com a apresentação de critérios de renda e de educação para o cadastro e a
manutenção dos beneficiários.
31
As discussões referentes à pobreza e aos processos multidimensionais que a constituem foram apresentados no
capítulo 2 do presente trabalho.
96
vagas por meio da ampliação da educação privada e do ensino à distância. Para S. Ferreira
(2012), esse plano transfere para a sociedade a responsabilidade pelo financiamento da
educação, já que os recursos destinados ao ensino público diminuíram. Quanto ao FIES, com
a pretensão de possibilitar o aumento de matrículas, esta medida possibilitou transferência de
recursos públicos para a educação privada.
A Resolução que entrou em vigor nesse ano aborda discussões semelhantes àquelas
que foram iniciadas com a Carta de Serra Negra, ou seja, com a abordagem das necessidades
sociais e o compromisso com a promoção da justiça social no país, além da atuação
interdisciplinar, que se apresenta como forma de atender à necessidades que se abrem para a
área, com a ampliação do campo de políticas públicas, principalmente em decorrência do SUS
– ainda que as ações nesse campo, nessa fase, já estejam comprometidas devido às
determinações políticas e econômicas.
Em 2003 se inicia o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, período em que
ocorre hesitação entre a continuidade das ações adotadas nos governos anteriores, com a
retirada de recursos públicos e a ampliação do setor privado, e as possibilidades de avanços
em relação às políticas educacionais, com ampliação de verbas, contratação de professores e
de funcionários para as IES públicas (S. Ferreira, 2012). Ocorreram também mudanças
econômicas na esfera externa, porém, as alterações foram irrisórias em relação à previdência e
ao “. . . combate à fome, que oscila entre a justa diagnose da barbárie e o remédio assistencial
etc.” (R. Antunes, 2005, p. 142). Nesta instabilidade, a política social teve significativos
progressos, mas também enfrentou barreiras decorrentes das políticas econômicas impostas
pelas práticas neoliberais.
No campo das políticas públicas de assistência social, ainda em 2003 foi criado o
Programa Bolsa Família (PBF), que unificou outros programas de distribuição de renda
mantidos pelo governo federal, como escola “Bolsa Escola” e “vale gás”. Segundo Yazbek
(2012), esta nova política constituiu importante medida protetiva, com intenção de combater a
fome e superar a pobreza no país. No entanto, apresentou progressos e limitações no que se
refere às possibilidades de enfrentamento significativo da pobreza32.
Com essa perspectiva, a PNAS entra em vigor como uma possibilidade de rompimento
da visão assistencialista, ao ser apresentada no campo dos direitos constitucionais, com os
quais o Estado deveria se comprometer para colocar em prática ações voltadas ao
enfrentamento da pobreza, com ênfase no controle social e por meio da participação
32
Os avanços e limitações das políticas de enfrentamento da pobreza foram discutidos de modo mais
aprofundado no capítulo 3 deste trabalho.
98
democrática. Por outro lado, ela surge a partir de uma ótica compensatória, que não busca o
rompimento com os fatores que originam a questão social no país, mas que enfatiza apenas as
grandes disparidades, como a fome e a miséria absoluta (Yazbek, 2012; I.F. Oliveira, 2012).
A pesquisa de Wruck (2004), por sua vez, abrange a dimensão ética envolvendo a
formação profissional do psicólogo como uma somatória de características que constituem um
profissional em relação com a sociedade, e não apenas concernente ao domínio de conteúdos.
A pesquisa tem como base as recém-criadas DCNs para os cursos de graduação em Psicologia
e também os planos de ensino de disciplinas relacionadas à ética. As análises apontaram que
as proposições sobre a formação e sobre os comportamentos a serem aprendidos pelos
psicólogos em formação, são feitas de modo impreciso, em que os aspectos conteudistas são
99
mais enfatizados. A autora considera que as DCNs abordam a ética apenas de maneira
burocrática, por meio de condutas morais estabelecidas legalmente, o que não implica que as
pessoas aprendam a ponderar sobre os próprios comportamentos e sobre as relações
estabelecidas na prática profissional, restringindo-se à obediência às normas de conduta como
forma de se evitar punições.
2005 – 2009: Nesse período foi dada continuidade às ações anteriormente colocadas em
prática, assim como novas políticas foram implementadas, tanto no que se refere à educação
superior como também à assistência social.
Assim, por meio de isenções fiscais, as IES privadas com e sem fins lucrativos incluem
em seus quadros discentes a população historicamente excluída da educação superior. Ainda
em 2005, o sistema de Educação à Distância (EAD) é normatizado, o que, para S. Ferreira
(2012), representa a abertura ao capital estrangeiro para a exploração do mercado
educacional.
Todavia, a oscilação presente nesse período, a qual R. Antunes (2005) chama a atenção,
envolve também a continuidade de políticas neoliberais que geram o empobrecimento da
população, com ações econômicas suscetíveis às demandas financeiras internacionais, que
contribuem tanto para o desemprego, como para a precarização das relações trabalhistas e as
perdas salariais. A estes fatos soma-se ainda a concentração da propriedade da terra – fator
que invariavelmente contribui para a violência no campo e para o aumento da exclusão social.
As ambiguidades que marcam as ações desse governo abrangem a redução da pobreza por
meio de políticas focalizadas, em especial o PBF e o aumento de investimentos na educação,
o que promoveu a elevação do número de estudantes na educação superior. Por outro lado, a
continuidade da política econômica e das ações que contribuíram para a desmobilização dos
trabalhadores em suas reivindicações por maiores direitos para a categoria – sem enfatizar a
redução do desemprego e das jornadas de trabalho – geraram críticas no sentido de que o
governo servia a dois senhores (R. Antunes, 2005; Yamamoto & Oliveira, 2010).
Nas palavras de Anderson (2011, p. 37): “em vez de fazer qualquer dano aos
proprietários . . . este foi um governo que os beneficiou bastante. Nunca o capital prosperou
tanto como no governo Lula.”
O autor ressaltou também a visão dos profissionais atuantes nos programas de proteção
à criança e ao adolescente, que manifestaram em seus discursos a visão historicamente
arraigada da função disciplinadora do trabalho infantil, o qual contribuiria para evitar o
contato das crianças pobres com a criminalidade. Porém, tal concepção mais contribui para a
manutenção do trabalho precoce e para a marginalização do que para a proteção de crianças e
adolescentes. Assim, o Estado não exerce sua função de proporcionar às famílias condições
101
para a inclusão social, já que os programas destinados à erradicação do trabalho infantil não
são eficazes e não conseguem superar a visão assistencialista, e, por conseguinte, não
contribuem para que os beneficiários consigam romper com o ciclo de reprodução
intergeracional da pobreza. O autor destaca ainda que, embora quando inseridas no PETI as
crianças não estejam expostas ao trabalho, muitas delas, após deixarem o Programa, ficam
submetidas às condições de emprego informal, sem garantias de acesso aos direitos básicos.
Neste sentido, esta política voltada à superação do trabalho infantil não consegue romper
efetivamente com as formas de reprodução da pobreza.
No mesmo ano, o CFP (2007), por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia
e Políticas Públicas (CREPOP) – criado em 2005, com o objetivo de ampliar os debates e
conhecimentos sobre a relação entre Psicologia e políticas públicas33 – publica as
“Referências Técnicas para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS”, cujo objetivo era
subsidiar os debates e a atuação dos profissionais inseridos nos serviços de proteção básica
estabelecidos pela PNAS. As orientações apresentadas voltam-se à necessidade de o
profissional intervir no âmbito da promoção e da prevenção, para tal, deve contribuir para as
potencialidades dos sujeitos que vivem nas comunidades e nos territórios referenciados como
forma de colaborar para o acesso aos direitos, e não direcionar suas ações profissionais para
as ausências:
Temos muito que ver fora dos consultórios, dos settings convencionais. Temos a oportunidade de
estabelecer muitos olhares, muitas conexões, muitas redes. Temos a oportunidade de trabalhar com a
vida, não com o pobre, o pouco, o menos. Temos o dever de devolver para a sociedade a contradição,
quando muitos não usufruem de um lugar de cidadania, que deveria ser garantido a todos, como direito.
Para tanto e para chegar perto de quem realmente mais precisa, será importante não inventar a roda,
e, sim, fazer a roda andar. É preciso articular com ações existentes nas regiões, nas comunidades. (CFP,
2007, pgs. 12 e 13).
Mas como fazer a roda girar diante das condições econômicas e sociais que
caracterizam o sucateamento de setores fundamentais para o bem-estar das pessoas, como
saúde, educação, emprego e previdência social? Os apontamentos feitos por R. Antunes
(2005), Anderson (2011), Yamamoto e Oliveira (2010) remetem aos inegáveis e necessários
avanços no campo das políticas sociais que aconteceram nesse período, contudo, sem alterar
as estruturas que historicamente deram origem e mantêm a desigualdade.
33
Informações disponíveis em http://crepop.pol.org.br/conheca-o-crepop. Acesso em 13 de setembro de 2017.
103
Porém, o que revelam as pesquisas sobre o cotidiano do trabalho realizado nas políticas
públicas?
Oliveira (2009), por sua vez, pesquisou a política social voltada ao enfrentamento da
pobreza por meio das ações executadas no “Programa Bolsa Família”, a partir dos sentidos
atribuídos pelos beneficiários e pelos profissionais dos serviços que devem acompanhar as
famílias contempladas. Dentre os beneficiários:
As falas desse grupo revelam que receber o benefício do PBF não deixa de ser bom, mas nelas sublinha-
se também, claramente, que prefeririam não ter que recebê-lo; notou-se naquele espaço um misto de
necessidade e vergonha. Disseram que ter trabalho e poder, com o salário, pagar as contas é melhor do
que ter que depender do benefício. (Oliveira, 2009, p. 71).
34
Esta e as demais pesquisas sobre o trabalho no SUAS serão retomadas no capítulo 5, ao serem discutidas as
especificidades da atuação do psicólogo.
104
Eles qualificam estas ocorrências como “acomodação”. Referem que muitos beneficiários do PBF
migraram de outros programas ou estão na dependência dos programas da área social há vários anos.
Esses profissionais dizem, ainda, que os assistidos demonstram desinteresse pela mudança, parecem
apáticos quanto à participação em atividades de qualificação profissional e geração de renda. ... Não se
pode deixar de notar, a par da possível razão, certo preconceito ao qualificarem os indivíduos como
apáticos, acomodados, e mesmo, a princípio, mal intencionados, confrontando a ética dos gestores do
programa. Estarão deixando de perceber a principal transferência inter-geracional e histórica, a
condição crônica de excluídos de alguns desses indivíduos? [Itálicos nossos]. (Oliveira, 2009, ps. 78 e
79).
As autoras apontam uma visão ampla, que abrange diversos fatores relacionados à
pobreza e à vida das pessoas. As diversas situações de exclusão são apresentadas como
dificuldades, ou mesmo impossibilidades, de concretizar os direitos sociais, e quando as
políticas públicas são acessadas, isto ocorre de maneira parcial, sem propostas de participação
efetiva das pessoas nas decisões que afetam diretamente suas vidas. Outro fator apresentado,
106
. . . uma Psicologia comprometida com o social não precisa se prover de escudos e espadas, na postura
cavalheiresca de querer “salvar o mundo”, mas precisa conhecer seu contexto de atuação, rever suas
posturas e buscar soluções reais para os grupos comunitários a que serve, sempre em direção da
emancipação. (Paiva, 2008, p. 56).
No entanto, a autora constatou que os profissionais não têm clareza de seu papel e das
problematizações que envolvem as práticas realizadas no terceiro setor, o que ocorre também
acerca das políticas públicas e sociais. Desse modo, atuam a partir de um imaginário social
voltado às boas intenções referentes à oferta de serviços básicos não proporcionados pelo
Estado, mas pouco consideram sobre as possibilidades de contribuir para a promoção da
participação social e para o envolvimento da comunidade nas decisões, nos planejamentos e
nas execuções das atividades, assim como para a emancipação e autonomia das pessoas e
grupos. De tal modo, “os profissionais que atuam no campo estão alheios a uma discussão
mais ampla sobre políticas públicas: apenas fazem o seu trabalho.” (Paiva, 2008, p. 182).
Ocorre, ainda, a reprodução de práticas assistencialistas, voltadas a amenizar os efeitos mais
intensos da pobreza, contudo, sem ações de enfrentamento, de planejamento e avaliações de
maneira sistemática, com a participação da comunidade a que se direciona; além disso,
apresentam desconhecimento acerca da área em que atuam, em decorrência de uma formação
que não os preparou para outros contextos além daquele da clínica tradicional. Com isso, o
107
profissional vivencia uma crise ao se ver desvinculado de seu papel e de sua identidade
tradicionais.
Outro fato relevante constatado por Paiva (2008) refere-se à precarização do trabalho
realizado no terceiro setor, com contratos problemáticos e extensa carga de tarefas a serem
cumpridas. Tal fato implica em questionamentos sobre as relações trabalhistas e sobre os
papéis dessas instituições no real enfrentamento da questão social.
Ribeiro (2007), por sua vez, analisou as mudanças legislativas que configuram a
formação profissional (LDB e DCNs) e as necessidades decorrentes do trabalho realizado em
saúde mental. O autor apontou que a intervenção, nesse campo, requer uma formação política
em consonância com os pressupostos da luta antimanicomial, e não apenas a incorporação de
novas técnicas e disciplinas a compor os conteúdos e os currículos abordados no decorrer do
curso de graduação. Ele ainda criticou a presença de determinações econômicas por parte do
Banco Mundial incorporadas pela LDB e pelas DCNs, que se manifestam por meio de
currículos flexíveis, cursos rápidos e enfoque técnico-instrumental, que direcionam para uma
109
formação atrelada às necessidades do mercado; discutiu também que, nos princípios gerais, as
DCNs buscam superar o modelo clínico e enfatizar o trabalho em diferentes contextos, mas a
ênfase dada à formação em saúde – o que não necessariamente engloba as reflexões sobre a
saúde mental – pode abrir um leque de possibilidades de formação, que abrangem desde
discussões democráticas “sobre o papel social do psicólogo e suas práticas” (p. 65); ou seguir
diretamente as orientações das diretrizes e ofertar uma formação técnica, sem abordar as
discussões políticas referentes à saúde mental; ou ainda, centralizar as especificidades da
saúde presente nas DCNs, o que não contribuiria para a abordagem dos multideterminantes
relacionados à saúde mental.
Em ponto pequeno, o ensaio desenvolvimentista de Dilma teria, assim, seguido as pegadas da década de
1960. Na partida, a burguesia industrial pede ofensiva estatal contra os interesses estabelecidos, pois
depende de política pública que a favoreça. Para isso, alia-se à classe trabalhadora. No segundo ato, os
industriais “descobrem” que, dado o passo inicial de apoiar o ativismo estatal, estão às voltas com um
poder que não controlam, o qual favorece os adversários de classe, até há pouco aliados. No terceiro
episódio, a burguesia industrial volta-se “contra seus próprios interesses” (Cardoso35) para evitar o que
seria um mal maior: Estado demasiado forte e aliado aos trabalhadores. Une-se, então, ao bloco rentista
para interromper a experiência indesejada. Tal como em 1964, as camadas populares não foram
mobilizadas para defender o governo quando a burguesia o abandonou. Mais uma vez o mecanismo
burguês pendular ficou sem contrapartida dos trabalhadores. (A. Singer, 2015, p. 66).
Ainda segundo A. Singer (2015), o resultado, mais uma vez, refletiu-se tanto na
elevação das taxas de juros, que incidem sobre os salários, como na diminuição de gastos
públicos, cujos efeitos repercutem diretamente sobre as políticas sociais.
35
O autor cita a análise sociológica feita por Fernando Henrique Cardoso sobre a proposta e a aliança
desenvolvimentista realizada na década de 1960 e, de modo semelhante como aconteceu no contexto destacado,
foi rompida devido a conflitos políticos e econômicos.
111
Em 2010, do total de 12,5 milhões de famílias beneficiárias, cerca de 4,3 milhões superaram a linha de
extrema pobreza do Programa (R$ 70 per capita/mês) mas, apesar desses avanços o número de pessoas
em situação de pobreza no país ainda é muito alto (por volta de 30 milhões) e a taxa de desigualdade
continua entre as mais altas do mundo. (Yazbek, 2012, p. 309).
Na busca por promover avanços sociais nesse período, o governo criou em 2011 o Plano
Brasil Sem Miséria (PBSM), que abrange: o Cadastro Único, com informações para os
programas sociais; o Programa Bolsa Família; ações na área da educação, com ampliação de
vagas em creches e oferta de educação integral para crianças cujas famílias estão incluídas em
programas sociais; e a capacitação profissional, visando aumentar as possibilidades de
inclusão no mercado de trabalho, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec Brasil Sem Miséria). O PBSM envolve ainda a promoção de
incentivos por meio de programas de geração de renda voltados às necessidades do campo e
da cidade, tais como o fornecimento de microcréditos e capacitações para o desenvolvimento
de empreendimentos e economia solidária; no campo, as ações se voltam aos investimentos
para o desenvolvimento da agricultura familiar, com incentivos que possibilitam aos pequenos
agricultores acesso à assistência técnica e a tecnologias que permitem o aumento da produção
de alimentos. Além disso, o PBSM ainda contempla ações direcionadas a questões
ambientais, como: a criação de cisternas para famílias residentes em regiões do semiárido;
programas de moradia; e acesso à luz elétrica. As ações envolvem parcerias entre governos
federal, estaduais, municipais e sociedade civil (Campello, Falcão e Costa, 2014).
36
Sandroni (1999) define distribuição de renda como a maneira como é realizada a repartição das riquezas
socialmente produzidas entre os membros de uma determinada sociedade. Fatores históricos, a organização da
produção, a divisão do trabalho e as características atribuídas à propriedade caracterizam as diferentes formas de
distribuição. Assim, há a distribuição física, que acontece por meio de trocas e comercialização de produtos, e há
também a distribuição funcional, que se refere às maneiras de repartir o produto global, que aparece como juros,
lucros, rendas e salários.
113
37
A discussão sobre as DCNss e as novas demandas relacionadas à reestruturação produtiva serão retomadas no
capítulo 5.
38
Os capítulos 2 e 3 deste trabalho apresentam discussões sobre estes temas.
114
os documentos que devem orientar o trabalho no SUAS oscilam entre uma perspectiva emancipadora e
inovadora e a manutenção de posições sectárias e individualizantes, o que mostra um processo que
ainda é inconcluso. Percebe-se um esforço das agências reguladoras em avançar nas concepções de
sujeito, família, proteção social, política, mas ainda há um hiato significativo entre o planejamento e a
execução de um projeto não amadurecido.
desigualdades decorrentes das discriminações de classe, gênero e raça (Saffioti, 2013), entre
outros.39
39
Os fatores relacionados à multidimensionalidade da pobreza foram discutidos de modo mais amplo no capítulo
2 deste trabalho.
40
Esta discussão será retomada no capítulo 5 do presente trabalho.
116
Não só o trabalhador pobre sofre adversidades, mas aqueles que estão excluídos
totalmente do sistema produtivo, como a condição dos moradores de rua, situação apresentada
na pesquisa de Moura Junior (2012), como aqueles que vivenciam os maiores infortúnios
decorrentes da pobreza. Tais fatos ocorrem devido à discriminação e humilhação a que são
submetidos, em decorrência de concepções historicamente arraigadas em relação à pobreza e
à visão – ainda presente na sociedade atual – de que o pobre é responsável por sua miséria
pelo fato de não se esforçar suficientemente para superá-la. A condição subjetiva resultante de
tais vivências constitui os sentimentos de vergonha e de impotência diante das condições a
que são submetidos.
lhes atribuem a responsabilidade pelas dificuldades vivenciadas. Estes fatores também estão
presentes na visão de grande parte de profissionais que atuam nos CRAS, conforme
apontaram as pesquisas de Pereira (2013) e de Araújo (2014). Este seria um problema da
formação dos profissionais, a qual não contribui para superar concepções historicamente
arraigadas e presentes no senso comum?
Mas, o que fazer diante de tal realidade que se apresenta objetiva e subjetivamente,
atingindo os diferentes atores envolvidos?
41
Esta discussão será retomada no capítulo 5 deste trabalho.
119
Nesse sentido, ao lidar com realidades complexas, tal como a que se estabelece no
trabalho em políticas públicas de enfrentamento da pobreza, em condições que pouco
contribuem para a superação dos problemas, as explicações e manifestações baseadas em
preconceitos e estereótipos tendem a se constituir como elementos presentes no cotidiano. De
tal modo, fatores historicamente arraigados se manifestam em relações objetivas, por meio de
julgamentos sobre os usuários dos serviços ou por meio de práticas assistencialistas, que
retiram do outro as potencialidades e as possibilidades de emancipação; ou ainda, de modo
subjetivo, que se expressa nos sentimentos de vergonha e resignação apresentados pelas
pessoas em razão de serem beneficiárias de algum programa, ou usuários de determinados
serviços, tal como a pesquisa de Oliveira (2009) constatou em relação aos favorecidos pelo
PBF.
Conforme o debate feito por Heller (2008) e por Crochík (2006), o preconceito tem
fundamento afetivo, associado à fé e à confiança; o indivíduo que o manifesta tem convicção
sobre suas crenças, não se preocupando, portanto, em fazer uma análise cuidadosa e racional
da realidade, com base na experiência e na reflexão. Como julgamento moral, pautado na
crença e nos afetos, o preconceito tende a se pautar em ideologias como forma de justificar as
ações contra um determinado objeto ou fenômeno, isto é, são reações aparentemente
racionais, mas, em sua essência, envolve a irracionalidade.
120
Toda cultura que exija sacrifícios individuais para sua manutenção, quando ela própria não se dirige
para o bem-estar de seus indivíduos, e se estabeleça de forma independente dos interesses racionais de
seus membros, .... necessita da ideologia para se perpetuar.
42
O conceito de ideologia, com base no debate feito por Chauí (2012), foi apresentado no capítulo 2 deste
trabalho.
121
Na busca pela superação dos afetos que impedem o conhecimento dos múltiplos
determinantes do fenômeno a ser enfrentado, consideramos fundamental a presença das
emoções em sintonia com os processos cognitivos, racionais. Por meio da unidade entre
emoção e razão, torna-se possível aos indivíduos pensar e reconhecer seus afetos como
decorrentes da interação que estabelecem com a sociedade em que vivem, o que contribui
para compreendê-los e modificá-los por meio da experiência. Vigotski (2004b) ressaltou que
as emoções, de modo semelhante aos demais processos psicológicos e em consonância com a
cognição, podem passar por transformações, permitindo, assim, a configuração e
reconfiguração da consciência e da autoconsciência como função psicológica superior. Tal
122
postulado vai ao encontro da compreensão de que o preconceito, que tem como base a crença
e o afeto, pode ser superado a partir da compreensão racional que articula pensamento e afeto.
Desta maneira, emoção e razão constituem uma unidade que se estabelece e se modifica por
meio da atividade humana.
Mas, para tanto, consideramos, conforme Martínez (2003), que o ensino deve ser
organizado de modo que os conhecimentos e problematizações apresentados pelas pesquisas
sobre o trabalho em políticas públicas, e as visões sobre a pobreza – as quais, em sua maioria,
partem de situações concretas – ofereçam subsídios para uma formação que colabore na busca
por superar ideologias e preconceitos que foram criados diante das desigualdades.
Ressaltamos, portanto, para a formação dos psicólogos a importância da relação entre
123
pesquisa e ensino, dos conhecimentos provenientes das investigações realizadas no campo das
políticas públicas e sociais. É importante frisar também sobre o contato com a questão social,
por meio de experiências proporcionadas pela prática e pensada pela teoria.
Por intermédio de um ensino organizado que amplie, para além dos conteúdos, os
conhecimentos e reflexões entre os educandos, podem ser criadas bases para que a formação
supere a visão de contexto apenas referendada pelas concepções de habilidades e
competências voltadas às necessidades do mercado de trabalho (L.M. Martins, 2004), mas que
envolvam também, conforme indicam Adorno (2000) e Vigotski (2001), possibilidades de
emancipação e de desenvolvimento, por meio de experiências que promovam a superação dos
preconceitos.
Em consonância com essa perspectiva, autores como Yamamoto (2007), Bock et al.
(2007), Gonçalves (2010), Afonso et al. (2012) argumentam que os profissionais devem
contribuir para a transformação social e para o exercício da cidadania. Este fator remete ao
compromisso social do psicólogo e, portanto, à compreensão da questão social como uma
problemática complexa e multideterminada, que deve ser conhecida e superada. Porém, para
ocorrer tal superação, é necessário que sejam ampliadas as possibilidades de conscientização
em relação à questão social, para não se reproduzir o preconceito e a culpabilização dos
pobres, estabelecendo maneiras de lidar com a pobreza que criam obstáculos para o
relacionamento entre as pessoas.
124
CAPÍTULO 5
Por outro lado, a busca por uma Psicologia condizente com a realidade nacional
permitiu grandes mudanças, que ocorreram tanto no âmbito das pesquisas e novas elaborações
científicas, como também na prática profissional. O trabalho de Silvia Lane (1933-2006) se
destaca em razão da composição de uma Psicologia brasileira, articulada a uma concepção
teórico-prática comprometida com a compreensão da exclusão e das desigualdades em sua
essência, como também com a transformação dessa realidade.
realizado com base nas interações grupais, com a mediação da linguagem, das representações
e das emoções que permeiam as relações estabelecidas com os outros, nas quais se define a
identidade dos indivíduos.
Com o início das atividades na área da Assistência Social, a situação não foi
diferente da que ocorreu na saúde pública e, mesmo com as orientações técnicas para que o
trabalho do psicólogo no Sistema Único da Assistência Social (SUAS) não fosse baseado na
psicoterapia individual, esta prática ainda é uma realidade presente no que se refere ao nível
da atenção básica desenvolvida nas unidades do CRAS, conforme constatado por
Constantino, Perez e Silva (2010), Oliveira, Dantas, Solon e Amorim (2011); Afonso, Vieira-
Silva, Abade, Abrantes e Fadul (2012).
modelo que não se aplica a estas exigências específicas, o que deve ser mudado? Quais outros
padrões poderão substituir aqueles que ainda são predominantes?
Trata-se da coexistência de uma Psicologia que avançou para uma ampliação em seu espectro de ação e
que se consolidou como instância social comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária, e uma Psicologia que ainda se submete a concepções tradicionais e ultrapassadas, que não se
atualiza e que atua com base em modelos que já foram analisados, criticados e superados há décadas.
Desde então, a formação tornou-se tema de preocupação e de debates que vêm sendo
realizados por instituições formadoras e de representação, bem como por alunos e psicólogos.
A ênfase no tradicional modelo clínico é uma crítica recorrente. Entretanto, quais fatores
contribuem para a manutenção dessa identidade profissional? Em que se baseiam as
discussões sobre a formação na atualidade? Na tentativa de sanar tais dúvidas, reportamo-nos
aos fatores envolvidos na formação do psicólogo, tais como os legislativos e curriculares em
vigor na atualidade.
Este documento teve importância tanto na esfera política, por incluir nos debates os
envolvidos no processo de formação e os Conselhos, como também em relação aos conteúdos
propostos naquele período, que abordavam mudanças significativas para a formação
profissional. Entretanto, tais propostas continuam atuais, ao abordar temas que remetem à
relação entre teoria e prática, à formação do profissional e seu compromisso ético para lidar
com a realidade social do país, entre outros elementos (Maluf, 2001; Cury & Ferreira Neto,
2014; ABEP, 2015).
Todavia, o debate sobre a formação do psicólogo – assim como das demais profissões –
ganhou maior repercussão a partir da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, cujas
determinações fundamentaram as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Psicologia, instituídas em 2004. Sua versão mais recente foi apresentada pela
Resolução nº 5, de 15 de março de 2011, do Conselho Nacional de Educação – Câmara de
Educação Superior (CNE-CES, 2011). Essa versão ainda estabelece normas para o projeto
pedagógico para a formação de professores de Psicologia.
As Diretrizes resultam de debates e propostas feitos por uma Comissão de Especialistas
em Ensino de Psicologia, apresentados ao Ministério da Educação e à categoria. Nelas, são
estabelecidas “orientações sobre os princípios, fundamentos, condições de oferecimento e
procedimentos para o planejamento, a implementação e a avaliação deste curso.” (Art. 2º).
Exibem como meta a formação direcionada à atuação, à pesquisa e ao ensino a partir da
interlocução com outras áreas, por intermédio de uma compreensão crítica tanto da sociedade
como de diferentes contextos. Isto deve ocorrer por meio de conhecimentos que possibilitem
o exercício com base em competências e habilidades a serem desenvolvidas no decorrer do
curso.
Segundo Maluf (2001), Ferreira Neto (2004), Lisboa e Barbosa (2009), Brasileiro e
Souza (2010), as Diretrizes substituíram o currículo mínimo43 que vigorava desde a
regulamentação da profissão e da formação. Para estes autores, houve avanço na superação do
viés conteudista que predominava até então, passando a ser enfatizado o desenvolvimento de
competências e de habilidades na formação profissional. Mas a que se referem estes conceitos
presentes e enfatizados nas Diretrizes? Na tentativa de conhecer a gênese que envolve tais
questões, retomamos os fatores que remetem à LDB e a seus direcionamentos para as DCNs.
A LDB nº 9394/96 foi aprovada após intenso debate, com a participação de diversos
setores da sociedade, cujos interesses eram divergentes. Entre estes estavam: representantes
43
O currículo mínimo previa que a formação deveria ocorrer em quatro anos, para a Licenciatura e o
Bacharelado, e em cinco anos para a Formação de Psicólogo, com base em estágios supervisionados. Estes
deveriam ser antecedidos por disciplinas obrigatórias, tais como Estatística, Fisiologia, Psicologia Geral,
Psicologia Experimental, Psicologia do Desenvolvimento, dentre outras. (Mello, 1989).
132
No que se refere às DCNs, Brasileiro e Souza (2010) afirmam que estas têm suas
metas, princípios e objetivos apoiados na concepção construtivista de aprendizagem44, ao
conceber a construção do currículo com o propósito de atingir competências e habilidades
para o exercício profissional.
44
O termo construtivismo, em seu sentido original, foi introduzido na Psicologia por Jean Piaget (1896-1980);
refere-se à construção de conhecimento por meio da interação entre o sujeito e o objeto. Neste processo, ocorre a
assimilação de novas experiências em esquemas já existentes, os quais são modificados ao se acomodarem à
realidade (Castañon, 2005).
133
Sobre tal questão, L. M. Martins (2004) ressalta que a pedagogia das competências,
embora traga em seu bojo o âmbito social e o contexto, que são elementos constituintes da
atividade humana, não avança ao propor conhecimentos formados e reproduzidos no
cotidiano, direcionados à individualização e à adaptação das pessoas à sua realidade imediata,
porém, sem considerar os fatores mediadores que constituem a realidade social em sua
totalidade.
historicamente hegemônicas. Outra constatação feita pelo autor diz respeito ao fato de que os
cursos passaram a ter a obrigatoriedade de ofertar pelo menos duas ênfases, reduzidas aos
estágios, o que, no currículo mínimo, contemplavam três áreas, quais sejam: clínica, trabalho
e escolar. Estes fatores, ressaltados pela ideia de competências, contribuíram para promover
uma forma de especialização ainda na graduação, dificultando-se constituição de uma
formação generalista.
Como vimos, o debate sobre a formação do psicólogo não é recente, mas, na atualidade,
remete a questões políticas e sociais presentes desde a implementação de legislações até a
maneira de se estruturar os cursos visando à preparação dos profissionais para a prática
profissional e às exigências do mercado de trabalho.
Questões sobre o que e como ensinar, quais conhecimentos podem ser mais condizentes
para atingir determinados objetivos, constituem discussões e debates educacionais em que
diferentes teorias e interpretações são realizadas de modo a apontar para diversos caminhos,
alguns convergentes, outros bastante distintos. Com este caráter polêmico e multifacetado, o
currículo tem sido tema de controvérsias na esfera educacional.
As discussões em torno do currículo e sua utilização na prática educacional não foram
iniciadas recentemente, mas, na atualidade, o currículo adquiriu diferentes interpretações sob
o olhar de diversas perspectivas, como: a da abordagem pós-estruturalista, que o concebe
como uma prática discursiva que atribui sentidos e significados a determinadas ações
educativas; a freireana, que compreende o processo educativo como fator a ser embasado pela
realidade vivida pelos educandos; a perspectiva marxista, que, por sua vez, apresenta críticas
ao tecnicismo (Lopes & Macedo, 2013).
Apesar das divergências, alguns fatores são comuns entre os estudiosos do tema e, a
partir dessas congruências, o currículo é definido por Lopes e Macedo (2013) como um
conjunto de experiências de aprendizagem que são planejadas e executadas em prol de
determinados objetivos. O planejamento envolve a seleção de atividades e de conteúdos a
serem trabalhados em um período de tempo previamente definido.
De forma semelhante, Botomé e Kubo (2002) referem-se a currículo como um
agrupamento de procedimentos reunindo disciplinas e conhecimentos que os professores
apresentarão aos alunos, organizados no decorrer do tempo estabelecido para a efetivação do
curso. Portes e Máximo (2010), por sua vez, argumentam que o currículo é composto por
valores diretamente vinculados à formação e ao conhecimento a ser produzido.
Psicologia têm abordado questões voltadas às políticas públicas e à pobreza. Para tanto, foram
consultados cursos oferecidos por instituições formadoras (universidades e faculdades) das
cinco regiões do país, mediante acesso à grade curricular e – quando disponibilizado – ao
Projeto Político-Pedagógico (PPP) presentes nos websites das Instituições de Educação
Superior (IES), no ano de 2016. Esta investigação foi realizada em uma instituição pública e
em uma particular, pertencentes a cada região do país (Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-
Oeste e Sul), a fim de verificar a existência de disciplinas que discutam tais temas.
Nas tabelas a seguir são apresentadas as disciplinas que abordam temas relacionados
às políticas públicas, de maneira direta ou que criam possibilidades de reflexão sobre esse
campo de intervenção, oferecidas pelas IES em que foi verificada a grade curricular dos
cursos de Psicologia:
Tabela 5.1 - Disciplinas em cursos de formação oferecidos por IES na região Sul (continua)
IES
Disciplina Ementa e objetivos Hs.Teoria/Prática Referenciais e temas que subsidiam a
discussão
Optativa - Psicologia e Conhecer o SUAS, desenvolver habilidades voltadas ao trabalho 68 hs. O SUAS, trabalho interdisciplinar e
Assistência Social interdisciplinar e competências relacionadas à atuação comunitário.
psicossocial e comunitária.
Optativa - Psicologia e Proporcionar conhecimentos sobre o papel do psicólogo na 68 hs. Políticas Públicas e áreas de atuação do(a)
Políticas Públicas transformação social e na intervenção em políticas públicas. psicólogo(a).
Públi
ca Optativa - Psicologia e Conhecer a história da saúde, da saúde mental; das políticas 68 hs. História, fundamentos e intervenção em
Saúde Pública voltadas à área; as possibilidades de intervenção. Saúde Pública.
Optativa - História da Compreender a historicidade das representações sobre infância e 68 hs. A historicidade das representações, sentimentos
Infância e da Família família, desde a idade média até a atualidade. e ações sobre a infância e a família.
Optativa – Psicologia Conhecer o desenvolvimento histórico da Psicologia social 68 hs. Teorias, temas e perspectivas da área.
Social Comunitária comunitária, teorias, métodos e formas de intervenção.
Obrigatória– Filosofia Conhecer a Filosofia moderna e contemporânea e refletir sobre os 136 hs. A Filosofia desenvolvida nos períodos
Moderna e Contemporânea fundamentos conceituais e filosóficos da Psicologia. moderno e contemporâneo
Obrigatória – Sociologia Conhecer as bases históricas do capitalismo e o papel do trabalho 68 hs. Origem e desenvolvimento da sociedade
Geral nesse sistema de produção; as formas de alienação, formação da capitalista, processo histórico,
subjetividade e construção ideológica. contradições e o mundo do trabalho.
139
(Conclusão)
Parti-
Obrigatória– Psicologia Não consta 80 hs. Não consta
cular Social e Comunitária
140
141
Na IES pública, chama à atenção o fato de a grade apresentar disciplinas optativas que
podem oferecer conhecimentos significativos para o trabalho em políticas públicas – nas áreas
da Assistência Social e da Saúde Pública – e conhecimentos e reflexões sobre o trabalho com
famílias, de maneira a promover o rompimento com concepções a-históricas (Romagnoli,
2012); embora não apresente informações acerca de a carga horária contemplar – ou não – o
estabelecimento de relações teórico-práticas. As ementas abordam legislações pertinentes à
área e possibilidades de intervenção.
De modo geral, é possível observar que tanto a IES pública como também a privada
apresentam disciplinas relacionadas à Sociologia e à Filosofia, as quais se constituem como
disciplinas importantes para se estabelecer a relação entre subjetividade e objetividade
(Crochík & Patto, 2012), fator imprescindível para a atuação psicológica na área de políticas
públicas e sociais (esta discussão será retomada com base nos gráficos 5.2 e 5.3).
Tabela 5.2 - Disciplinas em cursos de formação oferecidos por IES na região Sudeste (Continua)
Optativa - Psicologia e Abordar questões teóricas e práticas referentes aos direitos 65hs T Questão social; Referenciais do CFP;
Políticas Públicas de sociais, campo de atuação e a implementação do SUAS. Políticas Públicas e Assistência social;
Assistência Social 40hs P Direitos Humanos; SUAS; LOAS
Total: 105hs.
Optativa - Políticas públicas, Desenvolver discussões teóricas e experiências práticas 90hs T Temas sobre políticas públicas e saúde
saúde coletiva e Psicologia voltadas às políticas públicas em saúde, à construção de coletiva; Processos grupais e institucionais;
Social políticas e implementação de ações em saúde mental, a 30h P SUS; Saúde mental e atenção psicossocial.
consequência dessas ações e o papel do psicólogo diante de
tal realidade. Total: 120hs.
Públi
ca
Optativa – Psicologia Social Conhecer a área, as possibilidades de atuação em contextos 45hs T Epistemologia e teorias sobre a Psicologia
Comunitária de exclusão, o conceito de vulnerabilidade. Conhecer bases Comunitária; Movimentos sociais; exclusão;
epistemológicas e teóricas; a interface do campo com a 30hs P opressão.
saúde, a educação, a habitação, a proteção social; as políticas
públicas e redes. Total: 75 hs.
Obrigatória – Introdução à A relação indivíduo-sociedade: os clássicos da teoria social. 60hs. Sociedade e História: Karl Marx;
Sociologia A relação indivíduo sociedade na teoria social Solidariedade social e indivíduo: Émile
contemporânea. Durkheim; Ação social e dominação: Max
Weber; Indivíduo e instituições, Reprodução
social e movimentos sociais, Indivíduo,
público e massa
142
(Conclusão)
143
144
Já a IES particular, assim como ocorreu com a instituição da região Sul, não exibe em
seu website a ementa ou o Projeto Pedagógico com os temas a serem discutidos, apenas
consta a carga horária geral, sem referências se são – ou não – estabelecidas relações entre
teoria e prática.
IES Disciplina Ementa e objetivos Hs. Teória/Prática Referenciais que subsidiam a discussão
Optativa para ênfase em Discutir a política educacional com contexto das políticas 60hs T, 12hs P Política educacional brasileira, política
licenciatura – Políticas públicas; legislação e projetos educacionais, reformas na pública, escola pública.
públicas em educação educação, políticas públicas para a educação básica Total 72hs
Obrigatória – Psicologia Conhecer diferentes abordagens e métodos de pesquisa e 60hs T, 12hs P Psicologia Social comunitária, avanços e
Comunitária intervenção na área; papel do psicólogo na comunidade; estudos atuais.
promoção da saúde, cidadania e qualidade de vida Total 72hs
Parti Optativa– Promoção e Conhecer o processo de saúde e doença na dinâmica 72hs. Psicologia comunitária; intervenções
cular prevenção em saúde mental comunitária; a função do psicólogo e as ações de prevenção e grupais; epidemiologia da saúde mental;
nas comunidades. promoção em uma perspectiva multidisciplinar. psicoterapia psicodinâmica breve.
145
(Conclusão)
Parti Obrigatória – Saúde Discutir Conceitos de saúde e doença; Antropologia e 54hs T. 18hs P. Saúde mental e saúde pública, SUS, Saúde
cular Coletiva Sociologia da saúde; níveis de saúde, saúde mental; SUS; coletiva.
funções da Unidade Básica de Saúde; o psicólogo na saúde Total 72hs
Obrigatória – Bases Conhecer conceitos e métodos da Filosofia antiga e moderna; a 72hs T. A Filosofia antiga, moderna e
Filosóficas da Psicologia atitude e o pensamento críticos; o dualismo e o método contemporânea.
cartesiano; o pensamento de Hume, Kant, Hegel, Marx,
Nietzsche; a fenomenologia e o existencialismo; a Filosofia no
século XX.
Obrigatória – Bases Sócio Conhecer as dimensões essenciais entre sociedade e ser 60hs T, 12hs P Os clássicos da Sociologia. Antropologia e
antropológicas da humano. Modernidade, capitalismo e origem da Sociologia. O o conceito de cultura, os processos
Psicologia. pensamento de Marx, Durkheim e Weber; a Escola de Total 72hs. socioculturais; a cultura e a relação saúde e
Frankfurt; Sociologia e sociedade contemporânea. Conceito de doença.
Antropologia e a relação com a Psicologia; principais
abordagens teóricas da Antropologia.
146
147
Nas duas IES da região Centro-Oeste, em que foi realizado o levantamento da grade
curricular, estão presentes disciplinas que abordam o tema políticas públicas. Na IES pública,
consta a disciplina “Psicologia e o SUAS”, porém, não são indicadas informações sobre as
discussões realizadas no decorrer do curso e se é estabelecida relação entre teoria e prática na
formação dos futuros profissionais.
Obrigatória – Introdução à saúde Visa conhecimentos sobre o SUS, processos de 60hs. Vigilância em saúde; saúde do trabalhador;
pública saúde e doença, epidemiologia, saúde coletiva e do atenção primária; determinantes das
trabalhador e atenção primária doenças e agravos à saúde; epidemiologia;
índices usados na saúde; processo saúde e
doença.
Obrigatória – Psicologia comunitária Discutir sociedade, movimentos sociais, 75hs T Realidade brasileira; histórico e diferentes
e estágio na área – optativo. comunidade. Conceitos da área, papel, teoria e vertentes da área; teorias e técnicas de
Públi 150hs P
métodos. grupo, diferenças culturais e subjetividade.
ca
Total 225hs.
Obrigatória – Filosofia Conhecer os clássicos gregos e medievais; as 75hs. Formação sociocultural do ocidente e do
teorias sobre o conhecimento científico; oriente; o senso-comum, a religião, a
existencialismo e marxismo. ideologia e o Estado. O pensamento grego,
cristão, moderno e contemporâneo.
Obrigatória – Sociologia Geral Conhecer a Sociologia como ciência, os métodos; 60hs. Conceitos e métodos sociológicos; as
estruturas sociais e institucionais; estratificação e teorias de Marx, Durkheim e Weber;
classes sociais; cultura e ideologia. concepções de ideologia e cultura.
148
149
Obrigatória – Psicologia e Discutir o papel do psicólogo diante dos 60hs. Teórica. Dispositivos de regulação social; marcos legais; atuação
políticas públicas marcos legais que regulamentam os direitos do(a) psicólogo(a).
sociais e as ações públicas.
Optativa – intervenções Discutir perspectivas teóricas de intervenção, 60hs. Teórica. Perspectivas teóricas; análise de situações, planejamento e
psicossociais a análise e planejamento de ações, intervenções com coletividade; elaboração de instrumentos
monitoramento, avaliação e práticas para intervenção; atuação multidisciplinar.
multidisciplinares.
Optativa – Psicologia e Família Discutir concepções e configurações 60hs. Teórica. Abrange conteúdos relacionados aos contextos sociais de
familiares ao longo da história, diversidades desenvolvimento, parentalidade, gênero, sexualidade,
de contextos e desenvolvimento, família e situações de vulnerabilidade.
sociedade.
Optativa – Psicologia Discutir perspectivas teóricas e históricas, 60hs. Teórica. Aspectos históricos, teóricos, metodológicos e de
Públi comunitária metodologias, atuação e papel do profissional intervenção.
ca na comunidade.
Obrigatória – Bases filosóficas Conhecer os pressupostos das principais 60hs. Teórica Subjetivismo e objetivismo; determinismo e liberdade;
da Psicologia. abordagens psicológicas; positivismo e naturalismo; ciência e existência;
Humanismo e fenomenologia.
Optativa – Fundamentos de Conhecer a relação entre a Sociologia e as 60hs. Teórica Principais conceitos e métodos sociológicos; análise
Sociologia. outras ciências. sociológica.
150
149
A grade da IES particular, por sua vez, apresenta uma disciplina referente às políticas
públicas e saúde, porém, sem informações sobre os temas abordados, apenas consta a carga
horária geral; apresenta ainda a disciplina “Fundamentos socioantropológicos”, na
modalidade de ensino à distância (EAD), como parte da formação básica. Não são
apresentadas matérias com denominações referentes à Psicologia comunitária, a qual está
presente no currículo das demais instituições consultadas, tanto nas IES públicas como nas
particulares. Também foi possível verificar que não há menção à Filosofia na referida grade.
De modo geral, por meio da análise das tabelas referentes às disciplinas que abordam
políticas públicas, assim como das matérias que possibilitam conhecimento e reflexão sobre a
realidade social – tanto a partir do contexto imediato em que as pessoas vivem como também
das mediações que extrapolam o cotidiano (L. M. Martins, 2004) – torna-se possível constatar
as diferenças entre os cursos de Psicologia. Em princípio, tal constatação não parece
apresentar contradições, ao se considerar que os cursos devem se adequar às realidades e às
necessidades regionais, e, evidentemente, há diferenças significativas entre as regiões do país,
determinadas por fatores econômicos, históricos e socioculturais. Tal elemento vai ao
encontro dos pressupostos apresentados no artigo 10º das DCNs, que remetem à possibilidade
de ênfases curriculares, ao focalizar algum campo de domínio da Psicologia como maneira de
adequar os cursos aos diferentes contextos de atuação, entre outros fatores que caracterizam
especificidades para a área.
150
Outro aspecto observado remete à carga horária ofertada para a realização das
disciplinas e se estas comungam atividades teóricas e práticas. Por meio das tabelas, é
possível constatar que a maioria das grades consultadas apresenta apenas a carga horária total.
Mas, em três instituições, há a definição da relação entre teoria e prática, o que, para o ensino
na área de Políticas Públicas, pode constituir-se em possibilidade de oferecer ao educando
tanto um contato com as várias facetas que caracterizam este campo de atuação, como a
oportunidade de exercer uma práxis que possibilite a reflexão e a transformação (Adorno
1995; Lane, 2002). Dito de outro modo, por meio da relação entre teoria e prática, o aluno
pode familiarizar-se com as determinações legais e com as intercorrências provenientes da
realidade em que se dá o trabalho, além do contato com outras áreas de conhecimento, em
uma atuação interdisciplinar.
disponibilizada para este processo – e nas relações que se estabelecem entre os envolvidos na
busca pelo conhecimento.
Com base nos currículos analisados, a carga horária disponibilizada para os cursos é
suficiente para a realização de debates e práticas – quando acontecem – acerca de temas e
áreas complexas, como as que constituem a atuação em políticas públicas? O tempo constitui
a possibilidade de mudança, do movimento concreto do objeto que se apresentava de uma
determinada maneira em algo novo. Contudo, o tempo e o movimento implicados em um
processo formativo nem sempre conduzem ao desenvolvimento e à superação (Cheptulin,
2004). No que se refere aos processos de ensino e aprendizagem de temas complexos e
permeados por estereótipos e preconceitos, social e historicamente estabelecidos em uma
sociedade, não só a carga horária dedicada a estes temas, mas também a maneira como são
trabalhados, como são apresentadas as teorias, a relação com a prática e como esta se
concretiza para os educandos tornam-se fatores determinantes para as possibilidades de
reflexão e desenvolvimento.
Quanto ao conteúdo ofertado nesses cursos, tal como ressaltaram Paiva e Yamamoto
(2010), Senra e Guzzo (2012) e CFP (2016), a formação para o exercício profissional em
políticas públicas exige conhecimentos sobre: legislações; funcionamento de políticas sociais,
assim como sobre os programas e serviços, teorias e técnicas de intervenção em níveis
individual, grupal e comunitário; métodos de planejamento; e avaliação de necessidades e
ações.
outras voltadas à atuação institucional. Diante dessa realidade atual que se apresenta aos
psicólogos, não seria necessário que os cursos de graduação oferecessem matérias
direcionadas à especificidade desses temas?
As DCNs abordam concepções que podem comungar com o argumento dos autores
citados, ao apresentar, no artigo 4º, os objetivos da formação em Psicologia, dentre os quais se
destaca a capacitação do profissional para avaliar, sistematizar e tomar decisões a partir de
evidências científicas – e não embasadas em concepções formadas a partir do senso comum,
tal como ocorrem com os estereótipos e preconceitos. Este objetivo exige, do profissional,
reflexão crítica sobre as concepções de ciência e de sociedade para que possa realizar, de
maneira ética, decisões e intervenções. No artigo 17º, ressalta-se que as atividades acadêmicas
devem fornecer conhecimentos básicos para o exercício profissional; e, no 19º, a necessidade
de o processo de formação possibilitar: o envolvimento do aluno em atividades voltadas ao
conhecimento do comportamento humano em diferentes contextos; conhecimento de
processos institucionais em que é desenvolvido o trabalho de psicólogos; e a participação em
projetos de extensão. Estas atividades podem possibilitar o contato de alunos com diferentes
realidades, bem como estabelecer relação entre teoria e prática, por meio de uma práxis que
permita a reflexão constante (Adorno, 1995 e 2000).
154
Gráfico 5.1 - Carga horária da disciplina Psicologia Comunitária, oferecida pelas instituições cuja
grade curricular foi analisada.
Outro fator que se destaca nas grades curriculares diz respeito às disciplinas voltadas à
saúde pública e coletiva, o que possivelmente se deve ao fato de que muitos cursos de
Psicologia estão vinculados à Saúde como área de conhecimento. É inegável a importância do
SUS e das políticas de saúde coletiva e mental, tanto em seus aspectos históricos –
relacionados à luta antimanicomial –, como também no campo de trabalho ofertado aos
profissionais, o que exige conhecimentos sobre a área. Assim como as políticas de Educação e
demais políticas sociais, a Saúde constitui área em que, por um lado, os recursos públicos para
sua implementação, manutenção e ampliação têm diminuído, e, por outro, tem se destacado
em campo cujo foco e interesses mercadológicos têm se ampliado e são apresentados como
uma suposta alternativa à população.
Quanto à relação entre ensino e pesquisa, é importante salientar que das oito
instituições que apresentam em seu currículo para a graduação disciplinas voltadas às
políticas públicas, cinco (públicas) estão vinculadas a cursos de Pós-Graduação em
Psicologia, o que sugere ser este fato um indicativo da contribuição da pesquisa para a
qualificação da formação básica na área, conforme ressaltam Yamamoto (2006) e Bastos et al.
156
(2011). Esta constatação parece ser também uma evidência das mudanças na formação em
Psicologia no Brasil, no que se refere às implicações da área com questões sociais e
necessidades decorrentes da prática que se apresenta aos profissionais.
Deste modo, o acolhimento, presente nos objetivos para as ações tanto do SUAS como
também do SUS, constitui-se como essencial para a realização de atividades voltadas à
promoção, prevenção e acesso aos direitos, quando estes já foram violados, além de contribuir
para o convívio familiar e comunitário (MDS, 2005). Diante deste fato, a relação com os
usuários dos serviços, tanto na área da assistência social como também na da saúde, deve ser
permeada por uma postura empática, que possa contribuir para que o olhar para o outro não se
paute nas diferenças e no distanciamento, de maneira acrítica, atitude que permite que os
preconceitos e os estereótipos se manifestem e promovam julgamentos morais que mantêm a
desigualdade, ao invés de promover a superação desse fenômeno social (Crochík, 2006;
Sawaia, 2009). A formação deve, portanto, buscar formas de promover ações que contribuam
para o fortalecimento da empatia (Sampaio, Camino e Roazzi, 2009), por meio não apenas de
estágios, mas também de atividades que permitam a aproximação afetiva e cognitiva com o
outro, bem como o reconhecimento dos fatores sociais e históricos que originam as diferenças
entre as pessoas e grupos sociais e as mantêm na sociedade atual.
A fim de entender os processos sociais de uma forma mais ampla e sua relação com os
diferentes contextos, torna-se necessário o conhecimento de teorias sociais e filosóficas como
processo básico – e necessário – para se discutir políticas públicas e sociais. Isto se deve ao
fato de que, para falar de direitos e ações para a promoção da inclusão social, o acesso às
condições básicas para a vida e o bem-estar das pessoas, invariavelmente é preciso falar de
exclusão e de desigualdades que, por sua vez constituem, na contemporaneidade, condições
de vida engendradas pelo sistema capitalista de produção. Conforme Crochík e Patto (2012), a
formação sociológica é essencial para compreender a relação entre objetividade e
subjetividade. Acrescentamos, ainda, que o conhecimento filosófico é imprescindível ao
158
futuro profissional para a reflexão e a crítica referente aos fatores sociais, históricos e
ideológicos que perpassam sua prática e sua relação com os usuários dos serviços e de
programas que constituem as políticas públicas.
Gráfico 5.2 - Carga horária da disciplina Sociologia, oferecida pelas instituições cuja grade curricular
foi analisada.
Gráfico 5.3 - Carga horária da disciplina Filosofia, oferecida pelas instituições cuja grade curricular foi
analisada.
159
Para que a atuação profissional ocorra de forma questionadora, crítica e contribua para
mudanças nas relações desiguais que permeiam a sociedade brasileira, é necessário, conforme
Martínez (2003), a superação do caráter conteudista que compõe a essência da educação
formal, que transmite conhecimentos apenas voltados às habilidades operacionais. Tal
superação se torna necessária pelo fato de que só a inserção de novos conteúdos nos
currículos não determina uma formação que supere ideologias, preconceitos e estereótipos,
estabelecidos social e historicamente.
A atuação no SUAS requer não só exigências técnicas, mas também intervenções que
compreendam a práxis, ou seja, a reflexão constante e crítica da prática subsidiada pela teoria
160
(Konder, 2010; Adorno, 1995). O que envolve conhecer como tem ocorrido a prática
profissional dos psicólogos nas políticas sociais.
A compreensão do outro como sujeito histórico, que vivencia uma realidade que se
define a partir de múltiplas determinações, constitui-se como possibilidade e, também, como
necessidade para a atuação do(a) psicólogo(a) em políticas públicas.
Para tanto, a Tipificação (MDS, 2013a) expõe que as ações na proteção básica devem
ter, como meios essenciais a fim de se atingir seus objetivos: a acolhida, o estudo e
diagnóstico dos territórios; trabalhos em grupos e oficinas; encaminhamentos para outros
serviços da proteção especial ou da rede socioassistencial; mobilização para participação
social e exercício da cidadania; informações e promoção de acesso aos direitos; busca ativa;
visita domiciliar, dentre outras. Estas formas de intervenção, que têm como base os territórios,
as particularidades de grupos familiares, o pertencimento e o estabelecimento de vínculos,
visam superar as mazelas sociais que afetam as pessoas em sua vivência objetiva e em sua
subjetividade, de modo que o conhecimento destes fatores é imprescindível para a realização
das diversas práticas na política de assistência social.
emancipação de homens e mulheres que delas necessitam, pode ocorrer a sujeição das pessoas
às práticas que mantêm a desigualdade (Gonçalves, 2010; Rego & Pinzani, 2014).
Tal compreensão torna-se importante pelo fato de que, conforme Gonçalves (2010) e
Afonso et al. (2012), a valorização da subjetividade e de suas formas de expressão, em
consonância com a objetividade, torna-se imprescindível para o conhecimento das
contradições que permeiam explicações sobre a questão social. Estas, ora se voltam ao
sociologismo, que nega os processos psíquicos, ora direcionam-se às explicações psicológicas
descontextualizadas, que individualizam e naturalizam os aspectos subjetivos, separando-os
dos fenômenos sociais. Assim, a compreensão da subjetividade, que se forma a partir de
fatores materiais determinados histórica e socialmente, torna-se indispensável na atuação
do(a) psicólogo(a) no âmbito das políticas públicas, pois permite a constituição de atividades
que colaborem para a mudança social. Nas ações desenvolvidas na atenção básica no SUAS,
relacionadas ao enfrentamento da pobreza, a subjetividade é vista, portanto, como uma
questão fundamental, pois possibilita colocar em prática ações significativas para o
desenvolvimento e para o exercício da cidadania (Afonso et al., 2012).
A partir dessa compreensão, torna-se possível para a Psicologia contribuir para que
as políticas públicas, em especial as políticas sociais de enfrentamento da pobreza,
estabeleçam ações voltadas ao atendimento das necessidades apresentadas pelas pessoas,
sendo essas ações concebidas como direitos. Pois, quando colocadas em prática como
assistencialismo e paternalismo, podem se tornar mais um instrumento de controle e de
normatização da vida das famílias, o que tende a contribuir para o acirramento das
desigualdades arraigadas social e culturalmente – como as de gênero, ao serem reforçados
papéis sociais relacionados ao homem e à mulher, de paternidade e maternidade – do que para
a transformação social (Gonçalves, 2010; Mioto, 2010).
dificuldades estruturais que interferem no atendimento oferecido à população, tais como: falta
de equipamentos adequados; equipes incompletas; fraca articulação com a rede de
atendimento local ou mesmo ausência de instituições que possibilitem o atendimento integral
às famílias; profissionais com contratos precários, feitos por períodos curtos de tempo, sem
vínculo e segurança em relação às questões trabalhistas (Afonso, et. al., 2012; Senra e Guzzo,
2012; Macedo et al. 2011; Dimenstein e Macedo, 2012b).
situações podem ter reflexos não só no que diz respeito aos indicadores do trabalho, mas
também na realidade dos usuários dos serviços.
Assim, mais uma vez, pode não haver reflexão teórica sobre as ações realizadas, e o
profissional, nesta área, vê-se obrigado a atuar diante de situações emergenciais, que deveriam
ser atendidas por outros serviços, ou que se mostram alheias às possibilidades e aos objetivos
do CRAS e da política de assistência social. As incertezas diante da realidade que se apresenta
e as inseguranças decorrentes da precarização dos serviços geram ao profissional sentimentos
de “estranhamento, medo, impotência, frustração, compaixão e ressentimento” diante da
realidade em que deve intervir. (Dimenstein & Macedo, 2012b, p. 187).
Tal realidade contribui para gerar contradições, pois o profissional que deve laborar
na promoção e na prevenção de situações relacionadas à saúde mental e ao bem-estar, no
fortalecimento de vínculos, diante de um público fragilizado pela exclusão decorrente da
pobreza e das desigualdades, vê-se também enfraquecido. Estes fatores determinam condições
afetivas e emocionais para o psicólogo que, embora detentor de supostos saber e posição
social diferenciada daquela de seu público, está inserido em uma realidade concreta
semelhante a que ele vive. E, dessa maneira, tornam-se profissionais oprimidos, que atuam
diante da realidade igualmente opressora e geradora de sofrimentos (Guzzo & Lacerda, 2007).
Não adianta os psicólogos mudarem seus “endereços” de trabalho, se os modelos postos em prática são
os mesmos que favoreceram uma intervenção elitista e, descontextualizada, que naturalizaram os
fenômenos psicológicos e compreendem a prática como curativa, remediativa e terapêutica, ou seja, um
modelo médico de intervenção (p. 65).
a ‘desapropriação’ dos profissionais da Psicologia diante desse processo pode fazer com que os
psicólogos atuem apenas como executores de programas, no cumprimento de diretrizes e estatutos, sem
uma perspectiva crítica e reflexiva capaz de questionar esses parâmetros e buscar outras possibilidades
teórico-metodológicas que dialoguem melhor com as necessidades da população. (p. 88).
Mas a busca por promover um compromisso ético e político que visa à transformação
envolve compreender como ocorre a prática profissional na política de assistência social e no
enfrentamento da pobreza.
apontada nas orientações realizadas pelo Conselho Federal de Psicologia e pelo Conselho
Federal de Serviço Social (2007), ao recomendar práticas diferenciadas daquelas realizadas
em settings tradicionais, e, quando constatada tal necessidade, os encaminhamentos devem ser
realizados para outros serviços, o que é ratificado em orientação técnica divulgada
recentemente (CFP, 2016).
Apesar das recomendações para que haja a superação do modelo clínico/médico, que
abrange uma postura profissional prescritiva e curativa, esta forma de atuação ainda
permanece nas ações realizadas no campo socioassistencial (Fontenele, 2008). Sobre os
fatores relacionados à manutenção de formas tradicionais de atendimento pelos psicólogos
que atuam nas unidades do CRAS, Pereira (2013) aponta os encaminhamentos realizados,
principalmente por escolas e Conselhos Tutelares, que compreendem a função do psicólogo
como sendo aquela de normatizar os indivíduos considerados inadaptados, fazendo com que
muitos profissionais atendam a estas demandas de maneira acrítica, sem esclarecer quais
devem ser as funções realizadas por eles na proteção básica da Assistência Social. Tal forma
de atuação se mantém também em decorrência da falta de rede de atendimento, fator que
dificulta a realização de encaminhamentos, para outros locais, de pessoas que solicitem ou
necessitem de serviços terapêuticos, e, na ausência de possibilidades, os profissionais optam
pela realização de atendimento psicoterápico, mesmo tendo conhecimento de sua inadequação
em relação ao serviço oferecido na proteção básica do SUAS (Fontenele, 2008; Pereira, 2013;
Araújo, 2014). Desse modo, não apenas as lacunas decorrentes da formação se apresentam
aos profissionais como desafios a serem superados, mas também problemas institucionais –
que evidenciam falhas nas redes de atendimento – e culturais, que envolvem a identidade do
psicólogo na sociedade, visão que também requer mudanças, tais como as já apontadas por
Mello (1975) há bastante tempo.
demandas que lhes são apresentadas, como a realização de grupos de estudo que visam à
obtenção de conhecimentos voltados para as exigências da área.
Esta visão desconsidera o contexto em que as pessoas vivem e contribui para posturas
moralizantes que fazem com que o usuário seja avaliado como sujeito acomodado,
subordinado aos serviços. Outras formas de julgamento ocorrem a partir de concepções
patologizantes, que presumem ser a conduta das pessoas decorrente de alguma doença, como
a depressão; ou ainda, prevalece uma compreensão assistencialista, em que a busca pelos
serviços não é vista como um direito, em que o serviço socioassistencial se constitui como
uma “porta de entrada” para as demais políticas públicas (Fontenele, 2008; Pereira, 2013;
Araújo, 2014).
As atividades exercidas pelos profissionais que atuam na proteção básica são compostas
por ações diversificadas: há as de caráter assistencialista, que reproduzem concepções
tradicionais relacionadas aos serviços de assistência social; há outras, de cunho individualista,
que repetem práticas prescritivas e controladoras; mas também já existem ações voltadas ao
campo dos direitos, com ênfase em atividades que podem contribuir para mudanças e para a
emancipação dos indivíduos. A partir de pesquisas realizadas sobre a prática profissional na
área, são apontados os fatores que se repetem, como também as transformações que começam
a acontecer nesse contexto de atuação.
Segundo Fontenele (2008), muitas ações realizadas pelos psicólogos nas unidades do
CRAS possuem caráter técnico e assistencial. Neste enfoque, as necessidades dos usuários são
compreendidas a partir da concepção de ajuda, que mantém pressupostos paternalistas. Já as
atividades voltadas a uma visão técnica abordam as demandas e dificuldades dos usuários a
partir de uma perspectiva individualizante.
A regulação da vida das pessoas pela equipe técnica das unidades do CRAS também é
apontada por Pereira (2013) e por Araújo (2014), que consideram esta prática como
tradicional nos serviços de assistência social, constituindo intervenções higienistas, as quais
aparentam ser progressistas e voltadas à melhoria da vida dos pobres, mas ocorre de maneira
hierarquizada, com a imposição de normas de conduta e preceitos morais aos quais os outros
devem simplesmente obedecer, sem poder expressar suas vontades e necessidades.
Quanto às famílias, estas ainda são vistas, pela maioria dos profissionais, com base em
uma visão idealizada no modelo nuclear burguês, em que a mulher/mãe deve cuidar dos
172
filhos, e o pai atuar como provedor; assim, os problemas existentes são atribuídos tanto à
ausência de uma figura masculina, como ao número de filhos e à desorganização, que
teoricamente as impediria de cuidar de maneira adequada de seus membros. Para Pereira
(2013), ainda existe, dentre alguns profissionais que atuam na área, a concepção de família
sob um enfoque individualista ou familiarista, que culpa os sujeitos por seus problemas, que
as normatizam, de modo que aquelas que fogem ao padrão são vistas como desestruturadas.
No entanto, algumas mudanças são apresentadas por Pereira (2013), que identificou, no
relato dos profissionais, compreensões sobre as diferentes formas de organização familiar,
realizadas de acordo com as possibilidades que as pessoas têm para tal – o que não significa
ser patológico por fugir ao padrão de família nuclear. O autor aponta ainda que o papel da
Psicologia no CRAS também já é visto como sendo voltado à desconstrução de práticas
assistencialistas, historicamente arraigadas nos serviços de assistência social, por meio da
concepção de que os serviços e benefícios são decorrentes de direitos sociais. As visões
individualizantes e patologizantes também vêm apresentando mudanças, com o entendimento
de que a não adesão aos serviços e aos encaminhamentos podem constituir estratégias de
resistência, geradas pelo contexto de vida dos usuários, o que pode significar também uma
busca por autonomia e por escolhas sobre o melhor para suas vidas, de acordo com suas
necessidades e desejos.
No que se refere às ações na área, Araújo (2014) discute que os psicólogos, nas unidades
do CRAS, realizam o “acolhimento” da demanda espontânea que procura pelo serviço. Sobre
a especificidade desta ação, Pereira (2013) apontou diferenças existentes entre as instituições
por ele pesquisadas: em algumas delas, os profissionais participavam, em outras, este serviço
era realizado por assistentes sociais, que posteriormente realizavam encaminhamentos para os
psicólogos, se fosse verificada esta necessidade. O profissional que recebe
“encaminhamentos”, também o faz para outros serviços, de acordo com as possibilidades da
rede socioassistencial (conforme já discutido anteriormente no item 5.2.1.1.).
A “visita domiciliar” é uma ação comumente colocada em prática pelos profissionais que
atuam na proteção básica do SUAS; Oliveira et al. (2011) consideram a realização dessa
atividade, que se diferencia daquelas tradicionalmente executadas por psicólogos, como a
evidência da presença de algumas mudanças na profissão. Já a pesquisa de Araújo (2014)
discute que este procedimento ainda não faz parte da formação do psicólogo, com a oferta de
subsídios teóricos e metodológicos para a sua realização. Mas que, ainda assim, os
173
Este olhar e escuta diferenciados também estão presentes na pesquisa de Perez (2009),
que ressalta a compreensão da subjetividade de maneira que busque romper com as
tradicionais posturas moralistas e psicologizantes, por meio da realização de intervenções com
conhecimento contextualizado, que envolve não só a história das pessoas, mas a compreensão
de fatores mais amplos, como as relações que estabelece, os valores culturais e as
possibilidades concretas de existência e realizações.
deliberações, mas sim de maneira integrada à realidade social em que vivem as pessoas. Tal
vinculação também se mostra importante para a realização de planejamentos conjuntos, em
que os usuários participam das decisões sobre as atividades a serem executadas, assim como
são criadas maiores possibilidades de participação e de emancipação, rompendo, deste modo,
com a concepção hierárquica de relação entre especialista – detentor do saber – e paciente –
alvo das intervenções realizadas (Perez, 2009; Pereira, 2013).
Estas posturas profissionais que rompem com o saber especializado, o qual dita regras de
convívio e condutas a serem seguidas pelas pessoas, possibilitam também ao profissional o
exercício da práxis, em que teoria e prática são mediadas por processos cotidianos,
decorrentes do conhecimento do território em que as pessoas vivem e das possibilidades
existentes nesse meio (Lane, 2002); possibilita também conhecer os limites que se interpõem
à sua atuação.
Urnau (2013), por meio de investigação realizada com um grupo social que à época
vivenciava situações de vulnerabilidade e de pobreza, apresenta limitações da política de
assistência social, a qual não atinge a todos que dela necessitam, consoante pressupõem as
diretrizes que a regulamentam. A autora ressalta que as famílias por ela entrevistadas
vivenciavam situações que demonstravam o acesso parcial aos serviços e aos programas de
transferência de renda, sem receberem o acompanhamento e as orientações sobre trabalho,
renda, acesso a informações sobre direitos e qualidade de vida que a LOAS e a PNAS
estabelecem.
175
A autora ressaltou que as pessoas por ela entrevistadas buscam estabelecer redes sociais
de apoio junto a outros migrantes como alternativa de enfrentamento das adversidades. No
entanto, essas redes não eram mediadas pelos equipamentos públicos, – como as unidades do
CRAS, com sua função de estabelecimento de vínculos em territórios vulnerabilizados –, os
quais eram pouco conhecidos pelas pessoas, fator que evidencia a ausência do Estado na
garantia dos direitos constitucionais, no enfrentamento da pobreza e das vulnerabilidades
sociais, tanto em relação aos locais de origem destas pessoas, como aos destinos a que
recorrem na busca por melhores condições de vida. A subjetividade decorrente dessas
situações se manifesta na percepção que as pessoas têm, acerca das adversidades vivenciadas
por elas próprias, como sendo algo decorrente de situações individualizadas, que acarretam
sentimentos de culpa ou vergonha por não conseguirem prosperar na cidade grande, apesar
dos esforços despendidos para tal.
Essas limitações das políticas públicas e sociais vão muito além de diferenças geográficas
e econômicas entre o Norte e o Sul do país – já que a pesquisa de Urnau (2013) se deu em um
garimpo no interior de Rondônia, e, a de Ferreira (2013), com migrantes que se mudaram para
a cidade de São Paulo –, mas envolvem questões de ordem histórica e política que mantêm as
176
desigualdades, condições que fazem do Brasil um dos países mais assimétricos do mundo na
distribuição das riquezas produzidas socialmente (Hobsbawn, 1995).
No que se refere aos aspectos focais da política, Kinpara (2013) investigou o impacto do
PBF sobre a pobreza, por meio da análise quantitativa de dados oficiais sobre o referido
programa e sua relação com as demais políticas públicas, tais como as de saúde, de educação,
de produção de alimentos e de segurança alimentar; realizou ainda a comparação entre
períodos anteriores e posteriores à implementação do PBF. Com base na teoria do “capital
humano” – que compõe os indicadores de vulnerabilidade em educação e em saúde (IPEA,
2015) –, o autor considerou que o impacto maior do programa se deve às possibilidades em
educação.
Frigotto (2009) argumenta que o conceito de capital humano surgiu na década de 1950
com base no preceito de promover trabalhadores treinados, educados e saudáveis, capazes de
se adaptar às exigências do mercado de trabalho e com boas capacidades de produção. Em
uma perspectiva economicista compreende-se, a partir da teoria do capital humano, que a
educação seria uma maneira de superar a desigualdade, sem alterar as relações de classe e de
produção que fundamentam as assimetrias, dentre elas, a pobreza e a qualidade da educação
oferecida pelas escolas públicas aos mais pobres. Na reconfiguração do capital, presente na
sociedade contemporânea, não apenas a força física dos trabalhadores se torna importante,
mas também sua subjetividade.
Diante de tal realidade, a execução das políticas públicas e sociais se torna precária, fator
este que tem implicações no que se refere às ações de enfrentamento da pobreza e à pratica
178
profissional dos psicólogos que atuam na área, acarretando condições que reduzem as
possibilidades de realização de um trabalho efetivo, com caráter emancipador.
I. F. Oliveira (2012) tece críticas tanto à política social como uma estratégia
capitalista que visa objetivos compensatórios, ou seja, direcionados apenas a minimizar as
condições de pobreza absoluta, mas não o real enfrentamento da pobreza em suas várias
dimensões, assim como à Psicologia como prática profissional, que se originou para atender a
necessidades que emergem do sistema social e produtivo em vigor. Todavia, a busca por
meios de superação da desigualdade deve se constituir como um norte para a atuação
profissional, rompendo com formas preconceituosas e assistencialistas de considerar a
pobreza e os pobres.
O fato de que a pobreza possui várias dimensões que a constituem faz com que as
estratégias para seu enfrentamento não sejam exclusivas da política assistencial (Romagnoli,
2014; Mendes da Silva, 2007). Tal fato remete à necessidade de buscar formas de se
promover a articulação com ações de caráter emancipatório, ao invés de constituir apenas
práticas compensatórias (Carvalho, 2010). Porém, tal postura não exige mais ações de gestão
do que propriamente de intervenção profissional ou de equipes que atuam nas unidades do
CRAS?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
assistência social como caridade, tal como apontado na denúncia feita pelos trabalhadores do
SUAS na cidade de São Paulo, em julho de 2017. (Silveira, 2017; Ramos, 2017).
Tal como o mito de Sísifo, apresentado por Camus (2004) ao discutir o absurdo que
caracteriza o trabalho repetitivo e sem resultado – essa crítica, embora apresentada pelo
filósofo francês na primeira metade do século XX, ainda é uma reflexão atual –, o
enfrentamento da pobreza, com os avanços e retrocessos das políticas públicas, nos condena à
repetição. Será que estamos, de maneira semelhante a Sísifo, condenados à tarefa de rolar uma
grande pedra até o cume de uma montanha para, ao chegar ao topo, voltar a cair até o ponto
de partida, levada pelo próprio peso? Até quando ficaremos submetidos às repetições
perversas de ações político-econômicas que já não deram certo em outros momentos, mas são
reproduzidas com novas roupagens? (Singer, 2015; Marx, 2015). Todavia, conhecer e refletir
sobre as origens e os processos que levam à repetição da tarefa realizada por Sísifo se
constitui como o meio, apontado por Camus (2004), para promover a revolta a transformação.
Nesse sentido, a repetição traz em seu bojo a possibilidade de transformação. Já na
perspectiva do materialismo histórico e dialético, o conhecimento e a crítica em relação às
contradições, as ações e as condições que caracterizam a estrutura material, na qual se
183
possibilidades de intervenção tenham novos sentidos, criados por meio da reflexão teórico-
prática.
profissional deve atuar, de modo que lhe permita compreensões que ultrapassem o contexto
imediato em que os indivíduos estão inseridos (Martins, 2004). Tais fatos podem compor
desafios a serem ponderados na organização do ensino e na superação do pragmatismo e do
imediatismo, cada vez mais presentes nas formações profissionais estabelecidas a partir da
LDB de 1996.
Por fim, cabe ressaltar, no que se refere à formação e à atuação em Psicologia e aos
determinantes histórico-sociais presentes na educação e na preparação para o mercado de
trabalho atual, a importância de serem buscadas maneiras para que o ensino contribua com o
desenvolvimento da subjetividade dos futuros profissionais – com a abordagem de processos
cognitivos e afetivos – e com o pensamento crítico, diante das contradições que constituem a
sociedade contemporânea e estabelecem a desigualdade. No que tange à prática profissional
em políticas públicas e às especificidades do enfrentamento da pobreza, a complexidade e as
limitações da atuação remetem à necessidade da participação em espaços coletivos, que
permitem reflexões, debates e reivindicações, concernentes aos direitos de profissionais e de
usuários da política de assistência social, tais como os fóruns de trabalhadores e trabalhadoras
do SUAS45, que têm representação em âmbito nacional, na maioria dos estados e em alguns
municípios do país. O enfrentamento da pobreza requer tanto reflexões constantes em relação
às práticas e às ideias que se estabelecem, como o cuidado para que não sejam reiteradas
formas de fazer e de pensar que conservam o que já está posto – o que constitui grande
desafio para a formação e para o trabalho de profissionais que atuam não só na política de
assistência social, mas também nas demais políticas públicas e sociais.
45
Maiores informações sobre os fóruns de trabalhadores e trabalhadoras do SUAS podem ser obtidas pelo site
http://fntsuas.blogspot.com.br/p/estrutura-do-fntsuas.html
187
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