A Importância Do Uso Da Tecnologia

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A IMPORTÂNCIA DO USO DA TECNOLOGIA COMO FERRAMENTA

PEDAGÓGICA NA SALA DE AULA

THE IMPORTANCE OF THE USE OF TECHNOLOGY AS A PEDAGOGICAL TOOL IN THE CLASSROOM

 Joelma de Pontes Silveira Queiroz – (Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) –


[email protected])

Resumo:
Mesmo diante de tantas mudanças tecnológicas, as práticas pedagógicas
presentes na escola do Século XXI continuam as mesmas. Entretanto, as
metodologias que funcionavam bem até o início do Século XXI, já não surtem mais
efeitos porque não atendem às necessidades dos alunos que hoje frequentam as
salas de aula e não são suficientes para desenvolver as habilidades e
competências de que eles necessitam para enfrentar os desafios atuais e futuros.
Diante dessa nova realidade, o objetivo deste estudo consiste em verificar de que
forma as mudanças tecnológicas e a globalização têm afetado o currículo escolar,
pesquisar se as práticas pedagógicas presentes na escola têm acompanhado as
mudanças tecnológicas; identificar as habilidades e competências que os
professores e alunos precisam desenvolver para enfrentarem os desafios atuais e
futuros e buscar caminhos para inserir o uso das tecnologias como ferramenta
pedagógica na sala de aula. Para realizar este estudo foi desenvolvida uma
pesquisa qualitativa, de caráter bibliográfico, na qual, pautada na literatura
11
científica educacional, buscou os fundamentos teóricos necessários para
compreender as mudanças de paradigmas e metodologias que favorecem o uso
das ferramentas tecnológicas na sala de aula e possibilitam uma aprendizagem
significativa que coopere para a formação de cidadãos mais críticos, criativos e
que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Palavras-chave: novas tecnologias, ferramentas educacionais, aprendizagem
significativa.

Abstract:
Even in the face of so many technological changes, the pedagogical practices
present in the 21ST century school remain the same. However, the methodologies
that worked well until the beginning of the 21st century, no longer they produce
more effects because it does not meet the needs of students who today attend the
classrooms and are not sufficient to develop the skills and competencies that they
need to face current and future challenges. On this new reality, the objective of
this study is to verify how technological change and globalization have affected
the school curriculum, search if the pedagogical practices present in the school
have been following technological changes; identify the skills and competencies
that teachers and students need to develop to face current and future challenges
and seek ways to insert the use of technologies such as educational tool in the
classroom. To perform this study was developed a qualitative research,
bibliographic character, in which, based on educational, scientific literature sought
the theoretical foundations needed to understand changes in paradigms and
methodologies that encourage the use of technological tools in the classroom and
allow a significant learning that cooperate in the formation of critical, creative
citizens and contribute to the construction of a more just and solidary society.
Keywords: new technologies, educational tools, meaningful learning.

1. Influência das mudanças tecnológicas na educação

A sociedade que se configura no século XXI é formada por pessoas que estão
cada vez mais conectadas à internet em virtude do rápido avanço da tecnologia e
acesso à cultura das mídias virtuais. Nesse contexto, surgiram novas formas de
relações humanas, baseadas em modelos digitais que influenciam a forma de pensar e
viver.
A novíssima geração, que hoje frequenta a escola nasceu e cresceu cercada
pela tecnologia. Sendo assim, nada mais natural do que trazer a tecnologia para a sala
de aula, pois são inúmeras as possibilidades que proporcionam para auxiliar o
processo didático: redes sociais para compartilhamento de informações, de vídeos e
discussão de determinados assuntos; plataformas wikis e fóruns para a construção de
trabalhos coletivos; blogs para a publicação de trabalhos realizados em sala de aula,
simuladores, jogos, entre outros. No entanto, segundo Branco (2012), mesmo diante
de tantas mudanças tecnológicas, a educação do Século XXI ainda está fundamentada
na aula expositiva com um modelo de ensino focado no professor e no conteúdo
disponibilizado em textos impressos e, aparentemente, muito pouco tem sido feito 22
para mudar esse cenário.
Sobre isso, Branco (2012) dá um exemplo interessante: se fosse possível viajar
no tempo, um médico que viveu no Século XX e revivesse no Século XXI ficaria
maravilhado com os avanços tecnológicos da medicina atual. Assim também seria com
muitos outros profissionais. Os avanços influenciaram tanto o desenvolvimento de
suas profissões que seria impossível atuar adequadamente. Entretanto, se um
professor do Século XX fosse transportado para uma escola do Século XXI, entraria na
sala de aula e lecionaria sem maiores problemas, pois a forma de lecionar não mudou
muito nesse intervalo de tempo.

1.1. Políticas públicas de inclusão digital

O Governo Federal do Brasil tem estimulado por meio de programas


governamentais a utilização da tecnologia e inclusão digital na educação. Entretanto,
de acordo com o Censo 2016, apenas 68,2% dos alunos matriculados têm acesso ao
laboratório de informática nas escolas em que estudam. Dessa maneira, é importante
ressaltar que as tecnologias educacionais, infelizmente, não estão à disposição de
todos os alunos e professores. Se considerarmos a sociedade informatizada em que
vivemos, esses dados são insatisfatórios e demonstram realidades discrepantes que
dificultam o uso das tecnologias como ferramenta pedagógica na sala de aula. Por
outro lado, Almeida (2011), aponta que:

As tecnologias começaram a entrar nos espaços educativos trazidos pelas


mãos dos alunos ou pelo seu modo de pensar e agir inerente a um
representante da geração dos nativos digitais e passaram a fazer parte da
cultura, tomando lugar nas práticas sociais, ressignificando as relações
educativas ainda que nem sempre estejam presentes fisicamente nas
organizações educativas. Dentre os artefatos tecnológicos típicos da atual
cultura digital, com os quais os alunos interagem mesmo fora dos espaços
da escola, estão os jogos eletrônicos, que instigam a imersão numa estética
visual da cultura digital; as ferramentas características da Web 2.0, como as
mídias sociais apresentadas em diferentes interfaces; os dispositivos
móveis, como celulares e computadores portáteis, que permitem o acesso
aos ambientes virtuais em diferentes espaços e tempos, dentre outros.
(ALMEIDA, 2011, p. 5).

Nesse sentido, Quaresma (2015) aponta que apesar da Ciência da Computação


ter desenvolvido tecnologias que permitem a inclusão tecnológica em sala de aula, a
educação sofre pelo fato de não ter acompanhado os avanços tecnológicos.

1.2. Perfil de alunos e professores do século XXI

Embora as metodologias utilizadas nas escolas do Século XXI sejam


semelhantes às utilizadas no Século XX, os alunos que hoje frequentam as escolas
mudaram muito. Segundo Prensky (2001), eles são nativos digitais e representam uma 33
geração que nasceu e cresceu cercada pela tecnologia. As experiências dos nativos
digitais com a tecnologia transformaram, de modo significativo, a forma como
aprendem e produzem conhecimento. Para a autora, os nativos digitais são
acostumados a receber e processar a informação de modo rápido, preferem gráficos a
textos, transitam através da leitura/escrita pelas salas de bate-papo e troca de e-mails
e buscam informações, não apenas nos sites de busca, mas nas trocas de ideias em
salas de bate-papo virtual sobre os temas de seu interesse. Nesse contexto, a escrita
segue a lógica do teclado, adequando-se ao novo suporte e ganhando contornos
diferentes nos espaços visuais que revelam uma forma rápida e divertida de escrever
com frases curtas, diretas e palavras abreviadas. O essencial é teclar pouco e dizer
muito. Além disso, interagem simultaneamente com as diferentes mídias: ouvem e
trocam músicas, jogam on-line com os colegas, veem filmes, conversam com os amigos
nos softwares de comunicação instantânea ou em telefones ao mesmo tempo em
fazem as atividades escolares. Dessa forma, constroem o conhecimento de forma
randômica.
Em contrapartida, Ferreira (2010) aponta que os professores, em sua maioria,
começaram a ter acesso a essas tecnologias já na fase adulta, por isso são chamados
de imigrantes digitais. Essa geração foi surpreendida pela inserção das inovações
tecnológicas na educação que ocasionou a ampliação do acesso às informações
disponíveis e a aproximação de pessoas de culturas diferentes. Essa geração não
domina a linguagem digital e constrói o conhecimento de forma linear (começo, meio
e fim) numa prática oral e presencial, mas enfrenta o desafio de aprender e aplicar
novos conhecimentos por meio das tecnologias.
Percebe-se assim a convivência de duas gerações no ambiente escolar: os
nativos digitais e os imigrantes digitais. A diferença na forma como essas gerações se
relacionam com a tecnologia e constroem o conhecimento gera conflitos entre a forma
de ensinar e aprender. Prensky (2001) enfatiza que, ao tentar ensinar com
metodologias tradicionais, os professores sofrem rejeição por parte dos nativos
digitais. Carrano (2008) alerta que muitos alunos são diagnosticados erroneamente
por seus professores com déficit de atenção e hiperatividade por não demonstrarem
atenção e interesse nas aulas e atividades escolares em geral. Na mesma linha de
pesquisa, Santos, Scarabotto e Matos (2011) também apontam que muitos
professores reclamam que seus alunos leem pouco, que são desmotivados para as
atividades em sala de aula e possuem dificuldade de trabalhar em grupo. No entanto
observa-se o mesmo grupo de alunos interagindo com seus colegas nas redes sociais e
aplicativos de celular desfrutando dos recursos da internet de forma criativa e
imersiva.
No momento em que identificamos que a tecnologia foi inserida no ambiente
escolar viabilizada pela implantação de políticas públicas ou trazida pelos alunos, seja
em seus artefatos tecnológicos ou pelo seu modo de pensar inerente à geração dos
nativos digitais, passamos a investigar caminhos para o uso das tecnologias como
ferramenta pedagógica na sala de aula.

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2. Caminhos para o uso das tecnologias como ferramenta pedagógica
na sala de aula

Um dos objetivos proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais é que os


alunos saibam utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para
adquirir e construir conhecimentos. Diante disso, este capítulo busca identificar as
habilidades e competências que os alunos precisam desenvolver para enfrentarem os
desafios do Século XXI e buscar caminhos para inserir o uso das tecnologias como
ferramenta pedagógica na sala de aula.

2.1 Desafios da educação no Século XXI: as novas competências

A escola de hoje, conforme apontam Serafim e Sousa (2011), não é a mesma


para a qual o sistema de ensino foi criado. Esse sistema, fruto da era industrial, foi
estruturado tendo em vista preparar as pessoas para viver e trabalhar na sociedade
industrial. Kenski (2003) corrobora com os autores ao afirmar que as organizações
industriais visavam a produção de mercadorias em série, portanto a formação de
profissionais exigia a incorporação de saberes estáveis e reconhecidos. Para tanto, o
modelo educacional baseava-se em transferir informações e instrumentar alunos com
fórmulas e modelos-padrão para aplicar em situações conhecidas e específicas. Hoje
esse sistema é insuficiente, faz-se necessário desenvolver estratégias mais eficientes
para enfrentar situações novas com criatividade e entusiasmo, deixando as atividades
repetitivas, aplicações de procedimentos-padrão e as operações de rotina para as
máquinas. Portanto, a escola do Século XXI é desafiada a se reinventar para atender às
novas exigências de formação muito diferentes daquelas que eram necessárias na era
industrial. Nesse sentido, os processos de aquisição do conhecimento na Sociedade da
Informação adquirem um papel e, de acordo com Mercado (2002), passam a exigir
novas habilidades e competências que envolvem a formação crítica e criativa tendo
em vista a autonomia, a comunicação, a capacidade de pensar, de aprender a
aprender, de trabalhar em grupo, de adaptar-se ao novo, de criar o novo a partir do
conhecido, de resolver problemas e de responder rapidamente às mudanças
contínuas.
Coutinho e Lisbôa (2011), assim como Moran, Masetto e Behrens (2007)
apontam como desafios para o Século XXI, o desenvolvimento de competências e
habilidades para transformar informação em conhecimento, o desenvolvimento do
gosto por aprender. Sendo que o gosto surge do desejo de conhecer (curiosidade) e da
facilidade de fazê-lo. A facilidade depende do domínio técnico da leitura, da escrita, da
capacidade de análise, comparação, síntese, organização das ideias e sua aplicação.
Não há gosto sem facilidade que vem com a prática e domínio. E não há motivação se
o gosto não foi desenvolvido em clima de estímulo, liberdade e orientação positiva.
Portanto, a curiosidade, a motivação e o gosto por aprender estão inter-relacionados.
Nesse contexto, trazem destaque a algumas competências: aprender a navegar entre
tantas informações, escolher as verdadeiramente importantes e transformá-las em
conhecimento relacionando-a com a vida; aprender a comunicar-se em todas as 55
linguagens oral, escrita, áudio-vídeo-gráfica e desenvolver formas de interação
sensorial, intelectual, emocional, criativa e organizada; desenvolver valores de
solidariedade, respeito, diversidade, interação, colaboração, a criatividade e a
capacidade de ousar, de inventar, de inovar e de avaliar os riscos.
Diante deste quadro, cabe ao professor intermediar um processo educacional
que integre a utilização de ferramentas tecnológicas e a busca de recursos que
despertem o interesse e a curiosidade pelo conhecimento tendo em vista à melhoria
da aprendizagem. Para tanto, Mercado (2002) aponta que é necessário que o
professor desenvolva algumas competências: conhecimento das novas tecnologias e
da maneira de aplicá-las; estímulo a pesquisa como base da construção do
conhecimento; capacidade de provocar hipóteses e deduções que possam servir de
base para a construção e compreensão dos conceitos; habilidade de permitir que o
aluno justifique as hipótese que construiu e as discuta; habilidade de conduzir análises
e conclusões dos grupos a partir de posições ou encaminhamentos diferentes do
problema; capacidade de divulgar os resultados de forma que suscite novos problemas
interessantes à pesquisa.
2.2 Caminhos para o uso das tecnologias como ferramenta pedagógica na sala de
aula Desafios da educação no Século XXI: as novas competências

O uso das tecnologias como ferramenta pedagógica na sala de aula precisa


estar baseado em propostas pedagógicas bem planejadas e fundamentadas em
concepções que permitam a aplicabilidade de tecnologias inovadoras que
potencializem o processo de ensino e aprendizagem e tornem a aula mais dinâmica,
interativa e contextualizada com a realidade dos alunos. Portanto, inserir ferramentas
tecnológicas na sala de aula não implica apenas em mudanças tecnológicas, mas em
mudanças de concepções e paradigmas dos professores sobre o modo como se
aprende, interage e se constrói o conhecimento. Nesse sentido, esta seção busca
explicitar caminhos para utilizar ferramentas tecnológicas na sala de aula e
potencializar o processo de construção de conhecimento fundamentados em
referências teóricas que auxiliam a reflexão sobre a construção de conhecimento
mediada pelo uso de ferramentas tecnológicas na sala de aula e que melhor atendam
ao perfil dos alunos que hoje frequentam as escolas. Para tanto, selecionamos os
conceitos e fundamentos da educação na teoria da Aprendizagem Significativa,
proposta por Ausubel, Novak e Hanesian (1980), nos quatro pilares da educação
propostos por Delors (1999) na UNESCO e na teoria das Aprendizagens Múltiplas
proposta por Gardner (1995).

2.2.1 Fundamentos da Educação no Século XXI

A Aprendizagem Significativa, de acordo com Ausubel, Novak e Hanesian


(1980), pressupõe que o cérebro humano não aprende de uma única maneira, mas
pelo procedimento randômico em que uma nova informação se relaciona de maneira
não arbitrária e substantiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. Por isso, 66
deve-se instigar no aluno o desenvolvimento de formas ativas de aprendizagem
promovendo a compreensão e integração de novos conhecimentos. Para que a
aprendizagem aconteça, segundo os autores são necessárias duas condições:
disposição do aluno para aprender e conteúdo significativo.
Para Santos (2007), a aprendizagem acontece quando o aluno (re) constrói o
conhecimento e forma conceitos sólidos sobre o mundo, o que vai lhe proporcionar
meios para agir e reagir diante da realidade e ocorre por meio de sete passos de (re)
construção do conhecimento:

1. O sentir – toda aprendizagem parte de um significado contextual e


emocional. 2. O perceber – após contextualizar o educando precisa ser
levado a perceber características específicas do que está sendo estudado. 3.
O compreender – é quando se dá a construção do conceito, o que garante a
possibilidade de utilização do conhecimento em diversos conceitos. 4. O
definir – significa esclarecer um conceito. O aluno deve definir com suas
palavras, de forma que o conceito lhe seja claro. 5 – O argumentar – após
definir, o aluno precisa relacionar logicamente vários conceitos e isso ocorre
através do texto falado, escrito, verbal e não verbal. 6. O discutir – nesse
passo, o aluno deve formular uma cadeia de raciocínio através da
argumentação. 7. O transformar – o sétimo e último passo da (re)
construção do conhecimento é a transformação. O fim último da
aprendizagem significativa é a intervenção da realidade. Sem esse
propósito, qualquer aprendizagem é inócua (SANTOS, 2007, p.2).

No Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o


Século XXI, coordenada por Jacques Delors (1999), foram propostos os quatro pilares
da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a
ser.
Aprender a conhecer implica em adquirir as competências para a compreensão,
incluindo o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento. Quem aprende a
conhecer, aprende a aprender ao longo da vida. Essa aprendizagem é importante
também para as relações interpessoais, capacidades profissionais e fundamentos de
uma vida digna. Permite compreender melhor o meio social e seus diversos aspectos e
desenvolve o senso crítico e reflexivo frente às situações vivenciadas. Essas
competências são necessárias para que o indivíduo possa se posicionar frente aos
inúmeros desafios do Século XXI.
Aprender a fazer tem como base o desenvolvimento de competências e
habilidades tendo em vista a formação de indivíduos aptos a enfrentarem inúmeras
situações, bem como a desenvolverem a capacidade do trabalho em equipe, a
formação profissional e o preparo para o mundo do trabalho.
Aprender a viver juntos implica no desenvolvimento da capacidade de
estabelecer vínculos sociais através da compreensão do outro, respeitando o
pluralismo cultural, bem como na capacidade de gerir possíveis conflitos.
Aprender a ser pressupõe que a aprendizagem deve ser integral, isto é,
preparar o ser humano em todas as suas dimensões: espiritual, física, cognitiva,
emocional, ética e estética. Pressupõe ainda, formar indivíduos com pensamentos
autônomos e críticos, capazes de formular os próprios juízos de valor, de modo a 77
poder decidir por si mesmo como agir em diferentes circunstâncias da vida.
A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida e caracterizada no início
da década de 1980 por Howard Gardner na Universidade de Harvard. Gardner (1995)
define inteligência como a capacidade para resolver problemas encontrados na vida
real; capacidade para gerar novos problemas a serem resolvidos; capacidade para
fazer algo ou oferecer um serviço que é valorizado em sua própria cultura. Segundo o
autor, as pessoas possuem todos os tipos de inteligências, mas cada uma apresenta
características cognitivas distintas. Isso quer dizer que possuímos quantidades
variáveis das inteligências e as combinamos e usamos de maneiras pessoais.
A partir desses fundamentos, conforme aponta Moura et al (2016), os
professores precisam estabelecer um planejamento didático-pedagógico bem
estruturado tendo em vista a criação de ambientes e situações de aprendizagem que
auxiliem os alunos a desenvolver suas potencialidades. Para isso, é importante
desenvolver metodologias que favoreçam a reflexão e a compreensão crítica da
realidade.

2.2.2 Currículos, metodologias e ferramentas tecnológicas


Conforme constatamos no capítulo anterior, as ferramentas tecnológicas já são
utilizadas pelos alunos no seu dia a dia e integrada paulatinamente pelos professores
no processo pedagógico. No momento em que as tecnologias da informação e
comunicação marcam presença nos espaços escolares, currículos e metodologias
precisam ser repensadas para possibilitarem uma aprendizagem significativa,
colaborativa e inovadora.
Mercado (2002) indica que o reconhecimento de uma sociedade cada vez mais
tecnológica deve ser acompanhado da conscientização da necessidade de incluir nos
currículos escolares as habilidades e competências para lidar com as novas
tecnologias. Para tanto, a escola deve partir das concepções que os aprendizes têm
sobre estas tecnologias para elaborar, desenvolver, e avaliar práticas pedagógicas que
promovam o desenvolvimento de uma disposição reflexiva sobre os conhecimentos e
usos tecnológicos na sociedade atual.
O conhecimento, conforme aponta Moran (2007), acontece quando algo faz
sentido, quando é experimentado, quando pode ser aplicado de alguma forma em
algum momento. Portanto, o currículo precisa estar ligado à vida, ao cotidiano, fazer
sentido, ter significado, ser contextualizado para que o objeto de estudo se torne
importante para o aluno. As ferramentas tecnológicas auxiliam na flexibilização dos
currículos e multiplicam os espaços, os tempos de aprendizagem e as formas de fazê-
lo.
O professor deve investigar, antecipadamente, todos os programas e
ferramentas tecnológicas que podem ser utilizados para a elaboração de projetos
pedagógicos que sejam, ao mesmo tempo, funcionais e cativantes para criar um
ambiente no qual os alunos possam construir seu conhecimento por meio de um
processo ativo de descobertas que atinja os objetivos propostos. Entretanto, Martins e
Giraffa (2008) enfatizam que o uso de ferramentas tecnológicas sem um planejamento 88
didático estabelecido não são capazes de transformar práticas pedagógicas, é
necessário que o professor realize a mediação e condução a partir de objetivos claros e
bem definidos durante todo o processo pedagógico.
Sobre isso, Flemming e Mello (2003) salientam que é importante que as
ferramentas tecnológicas estejam dispostas em um plano de aula bem estruturado,
com uma sequência didática que promova a interação entre o objeto de estudo e as
estratégias de aprendizagem. Lemos (2011) aponta que a metodologia utilizada precisa
estar baseada na cooperação, participação e motivação dos alunos.
Nesse estudo foram selecionados três modelos pedagógicos que, por
apresentarem características motivadoras, podem despertar o interesse dos alunos e
mantê-los envolvidos e co-responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem: a
aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseada em projetos e
aprendizagem baseada em games.
A aprendizagem baseada em problemas, segundo Borges, et al (2014), é uma
proposta pedagógica baseada na solução de problemas reais ou simulados. Para tanto,
os alunos utilizam conhecimentos prévios, estudam, elaboram discussões, adquirem e
compartilham novos conhecimentos. Essa proposta valoriza o papel ativo do aluno no
processo, o desenvolvimento da autonomia, a interdisciplinaridade, a associação entre
teoria e prática e o desenvolvimento do raciocínio crítico e de habilidades de
comunicação.
A Aprendizagem baseada em Projetos, de acordo com Markham et al., 2008)
baseia-se num conjunto de experiências de aprendizagem e tarefas que orientam os
alunos para uma investigação através de um problema central em que são desafiados
intelectualmente para resolver o problema ou criar algo a partir de atividades de
leitura, pesquisa, discussão, escrita e apresentação oral. Apresenta uma abordagem
construtivista, isto é, os alunos constroem o seu próprio entendimento e
conhecimento das situações através da interação com o objeto real e com seus pares
por meio das reflexões e discussões. O papel do professor consiste em mediar e
facilitar o processo. Para tanto, investe na preparação e planejamento para depois
fornecer autonomia para que os alunos invistam esforços na própria experiência de
aprendizagem.
A aprendizagem baseada em games, de acordo com Moratori (2003) apud
Moura et al (2016), é uma importante ferramenta educacional tendo em vista a
exploração lúdica da aprendizagem e o estimulo do interesse do aluno pelo objeto de
estudo, concomitante com a diversão. Possui potencial de influenciar, engajar, motivar
e propiciar um desenvolvimento integral e dinâmico nas áreas cognitiva, afetiva,
linguística, social, moral e motora. Contribui com a construção da autonomia,
criticidade, criatividade, responsabilidade e cooperação das crianças e adolescentes na
aquisição do conhecimento como algo natural e agradável.

2.2.3 A importância do uso das ferramentas tecnológicas na sala de aula

Moran, Masetto e Behrens (2007) apontam que o maior desafio da educação


no Século XXI consiste em caminhar para uma educação de qualidade que integre 99
todas as dimensões do ser humano. Nesse sentido, Almeida (2011) aponta que o uso
das ferramentas tecnológicas na sala de aula contribuem para a busca da qualidade da
educação. Ao tornar o processo de aprendizagem dinâmico, abrem novas perspectivas
de ensino, tornam a prática pedagógica reflexiva e exigem mais capacitação dos
professores contribuindo para a formação desses profissionais.
Anna Penido apresenta três benefícios alcançados pelo uso da tecnologia na
educação (PORVIR EDUCAÇÃO, 2015):
 Equidade: ampliação do acesso a recursos de qualidade, como vídeo
aulas, plataformas, games, além da personalização do ensino;
 Qualidade: oferta de recursos diversificados, interativos e dinâmicos
que auxiliem o professor na criação de novas estratégias pedagógicas e
o aluno a entender e aplicar o conhecimento.
 Contemporaneidade: aproximação da educação ao universo dos alunos
do século XXI, preparando-os para a vida cada vez mais mediada pelos
recursos tecnológicos.
3. Considerações finais

Essa pesquisa buscou contribuir para a reflexão sobre a importância do uso de


tecnologias como ferramentas tecnológicas na sala de aula para a construção de uma
prática inovadora, colaborativa e centrada na construção do conhecimento.
Sobre isso, é importante ressaltar que a escola não pode ficar alheia à evolução
tecnológica da sociedade em que estamos inseridos. Os professores ocupam um papel
fundamental nesse processo, não mais de detentor e transmissor de conhecimentos,
mas de mediador, facilitador da aprendizagem evitando que os estudantes sejam
meros consumidores da informação ou façam uso equivocado dessas ferramentas. Seu
trabalho requer estímulo e valorização para enfrentarem os desafios e as mudanças
que estão ocorrendo dentro e fora dos muros da escola.
Entretanto, é preciso considerar as dificuldades enfrentadas pelos professores
já no início de sua formação pela ausência das tecnologias nos currículos de
licenciatura. Os cursos de formação continuada a que têm acesso, normalmente são
focados no uso instrumental da tecnologia e não correspondem às habilidades que
precisam desenvolver para utilizar as ferramentas tecnológicas na sala de aula
integrada ao currículo.
Um outro ponto que ressalto nessas considerações é a importância do uso da
tecnologia como ferramenta pedagógica na inclusão de pessoas com deficiência ou
dificuldades de aprendizagem tendo em vista a equidade e qualidade da educação
ofertada, uma vez que possibilita a autonomia dessas pessoas nos processos de
compreensão e de relação com o outro.
Evidencia-se, portanto, a relevância da continuidade da pesquisa sobre o uso 1010
de ferramentas tecnológicas na sala de aula integrada ao currículo tendo em vista a
busca de uma educação de qualidade para todos os alunos e a formação de cidadãos
mais críticos, criativos e preparados para atuar na sociedade e contribuir para a
construção de uma sociedade mais justa e solidária.

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