Conceitos e Correlação Entre Saúde e Meio Ambiente

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Saúde e Meio Ambiente

Material Teórico
Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nilza Maria Coradi

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicarone
Conceitos e Correlação entre Saúde e
Meio Ambiente

• Introdução

• Meio Ambiente e Saúde

• Desenvolvimento dos Conceitos Saúde,


Ambiente e Sustentabilidade

• Modificações Ambientais e seus Impactos


na Saúde

• Dispersão dos Poluentes

• As Formas mais Comuns de Poluição


e seus Efeitos na Saúde (Ar, Água, Solo)

Nesta unidade, vamos tratar do tema Saúde e Meio Ambiente.


Discutiremos os conceitos de saúde e meio ambiente bem
como a interdependência entre essas áreas. Verificaremos
como o profissional de meio ambiente pode interferir e gerir
o meio de modo a proporcionar um ambiente saudável e
equilibrado, com mais saúde e qualidade de vida. Daremos
início, também, ao tema Poluição Ambiental, no qual iremos
nos aprofundar no decorrer do curso.

Como método de estudo, você deverá realizar as atividades de leitura. Na sequência, realizar
as atividades de fixação do conteúdo (Atividade de Sistematização) e as atividades de
interação (Fórum, Reflexiva ou Aplicação).
Explore todos os recursos do blackboard. Não acumule dúvidas! Participe, pergunte!
Bons estudos e aproveite ao máximo todo o material disponível e sugerido!

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

Contextualização

As modificações no meio ambiente decorrentes dos processos antrópicos, que acontecem em


escala global, ocorrem em taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas,
resultando no esgotamento dos recursos naturais e na poluição ambiental.
As modificações ambientais decorrentes dos padrões de consumo e de produção das
sociedades modernas alteram significativamente o ambiente natural, aumentando o risco de
doenças e atuando de forma negativa na qualidade de vida da população.
O mundo moderno apresenta muitas contradições para a humanidade. Se, por um lado,
propicia melhores condições de vida, por outro, cria novos desafios para o homem ao alterar
profundamente seu habitat.
Fica clara a importância de os profissionais de saúde e meio ambiente aprofundarem seus
estudos sobre a epidemiologia ambiental, fazerem uma análise que envolva a importância do
saneamento e do manejo ambiental para a promoção da saúde e suas interações com o meio
ambiente, estudarem as condições sanitárias, doenças infecciosas e parasitárias e as políticas
públicas relacionadas.
Assim podemos começar a desenvolver um ambiente sustentável com maior equilíbrio,
proporcionando uma melhora na qualidade de vida da população sem deixar de lado as
necessidades de todos os seres vivos do planeta em que vivemos.

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Introdução

Nesta unidade discutiremos os conceitos de saúde e meio ambiente bem como a


interdependência entre essas áreas. Vamos verificar, também, como o profissional de meio
ambiente pode interferir e gerir o meio, de modo a proporcionar ambiente saudável e equilibrado,
com mais saúde e qualidade de vida. A saúde ocupa uma posição de destaque na vida do
indivíduo e da sociedade. Vamos ver como o indivíduo compõe uma relação com o corpo,
consigo mesmo e com o meio em que vive.

As modificações no meio ambiente decorrentes dos processos antrópicos, que acontecem em


escala global, ocorrem em taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas,
resultando no esgotamento dos recursos naturais e na poluição ambiental.

As modificações ambientais decorrentes dos padrões de consumo e de produção das


sociedades modernas alteram significativamente o ambiente natural, aumentando o risco de
doenças e atuando de forma negativa na qualidade de vida da população.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a saúde é entendida como um estado de completo


bem-estar físico, mental e social ou, simplesmente, ausência de doença.

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, apresenta um conceito amplo de


saúde, definindo-o da seguinte forma:

A saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio


ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a
serviços de saúde.

Nesse conceito, a situação de saúde é direta ou indiretamente produto das condições da vida
biológica, social e cultural e da interação entre o meio físico e social.

A preocupação com a saúde sempre acompanhou o homem ao longo da história. Os homens


desenvolveram diversas formas de explicar os fenômenos naturais e sociais. A doença, ao longo
do tempo, obteve diversas explicações, algumas atribuídas a causas externas e relacionadas a
fatores ambientais, e para elas, depois de identificadas, foram desenvolvidas práticas curativas
incorporadas à sabedoria popular.

É fácil percebermos que, até hoje, há diferentes concepções do que seja saúde e sobre as causas
das doenças. Esse conceito varia no tempo e no espaço. Cada cultura, cada época tem seus
conceitos e critérios para distinguir o normal do patológico. Daí a importância de incorporarmos
os aspectos que focalizam a posição do indivíduo em relação ao sistema econômico, social e ao
meio ambiente no qual está inserido.

A Epidemiologia, ciência que estuda o processo saúde-doença na comunidade, analisando


a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades e dos agravos à saúde coletiva e
sugerindo medidas específicas de prevenção, de controle ou de erradicação, apresentou, ao
longo da história, várias teorias que mostram a origem das doenças. Apresentamos, a seguir, um
resumo dos métodos epidemiológicos convencionais e suas peculiaridades:

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

• TEORIA UNICAUSAL: a doença decorre de uma única causa, sempre fora do


organismo agredido, sendo um agente biológico capaz de promover um processo
patológico e que penetra no organismo e desencadeia a doença, a qual apresenta
sintomas característicos, com causa, patogenia e patologia. Esse modelo foi reforçado
com as descobertas microbiológicas que colocaram, como foco da causa da doença,
o micro-organismo.

• TEORIA MULTICAUSAL: a doença, segundo esta teoria, tem multiplicidade de causas


coexistentes, capazes de produzir alterações físicas, com possível correção a partir de
medidas que intervêm na cadeia causal.

• TEORIA DA TRIADE ECOLÓGICA: o equilíbrio da saúde depende da interação


entre o meio ambiente físico, social e econômico, com os diferentes agentes biológicos e
físicos, e o homem, com características etárias, de raça, sexo, hábitos, fatores genéticos,
personalidade e mecanismo de defesa. O mais interessante deste modelo é que ele
apresenta intervenções na promoção da saúde - com ações sobre o ambiente, educação,
alimentação e lazer - na proteção da saúde - com imunizações, diagnósticos precoces – e
na limitação do dano e reabilitação.

A interdependência entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento é reconhecida há muito


tempo, no entanto nosso modelo de desenvolvimento vem provocando danos irreversíveis ao
meio ambiente e, consequentemente, à saúde. Com o rápido crescimento populacional e a
urbanização vem toda espécie de abusos e destruição que colocam em risco não só a qualidade
de vida e a saúde das pessoas, mas também a biodiversidade e os processos naturais que
sustentam a sobrevivência na terra.
Em um ecossistema primitivo, o conjunto de atividades antrópicas apresenta uma pequena
ou nenhuma modificação no ecossistema. Entende-se por ecossistema o sistema onde se vive.
É uma unidade natural constituída de parte não viva (água, gases atmosféricos, sais minerais e
radiação solar) e de parcela viva (plantas e animais, incluindo os microrganismos), que interagem
ou se relacionam entre si, formando um sistema estável.
Em um ecossistema rural, já ocorrem mudanças no ambiente. Nesse ecossistema já se
observa um processo de importação energética, com os fertilizantes químicos, combustível
para movimentação de máquinas, plantio e colheita, importação de água. Ocorre também
a importação de espécies vegetais e animais de outras regiões, além da retirada de
vegetação primária.
No ecossistema urbano, as alterações ocorridas já se apresentam de forma bem mais
significativa, evidenciando características bastante alteradas em relação aos ambientes
primitivos. Nos ecossistemas urbanos, temos como principais características a alta densidade
demográfica, elevado volume de resíduos, alterações significativas da diversidade biológica
natural, impermeabilização do solo, alterações de cursos de água, etc.
Os diversos estudos mostram diferenças importantes entre um ambiente natural e um ambiente
urbano. Como exemplo, podemos citar a poluição atmosférica, responsável pelo maior risco de
problemas de saúde e pela piora da qualidade de vida da população.

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O homem está submetido não só à exposição obrigatória à natureza, ar, água, solo e radiações
solares como também à exposição provocada por outros agentes, como os aditivos alimentares,
pesticidas, agrotóxicos e hormônios. Nas indústrias, moradias e transportes, temos os dejetos,
contaminando solo, ar e água e afetando o meio ambiente e a saúde humana.
Os processos de industrialização e de urbanização desencadearam processos de alteração
do equilíbrio sociedade-natureza e homem-ambiente. Os avanços tecnológicos e os modos
de produção após a Segunda Guerra, com o uso da química e petroquímica, aumentaram
a nocividade ambiental.
O desequilíbrio socioecológico contemporâneo está distribuído de maneira diferente no
planeta. Nos países desenvolvidos, concentra-se a poluição da riqueza, como usinas nucleares,
chuva ácida, montanhas de lixo, doenças provocadas por excesso de alimentos, álcool, drogas
e medicamentos. Nos países em desenvolvimento, concentra-se a poluição da pobreza, como
escassez de água potável, falta de rede de esgoto, lixo sem disposição adequada, com doenças
provocadas por esses desequilíbrios, como diarreias, malária e dengue.

Países desenvolvidos, poluição da riqueza – usina nuclear. | Países em desenvolvimento, poluição da pobreza – população sem rede de esgoto.
Fontes: Thinkstock/Getty Images

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –, no entanto, sustenta que
o desenvolvimento humano tem consequências diretas sobre a proteção do meio ambiente e
adverte que a pobreza é uma das piores ameaças ao meio ambiente e à sustentabilidade da vida.
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, chamada Comissão BRUNDTLAND, em 1987,
conceituou desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente
sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”
O Conceito de ECODESENVOLVIMENTO, que tem como foco o desenvolvimento
econômico, a sustentabilidade social e humana e a biosfera, possui um conjunto de cinco
dimensões da sustentabilidade:
a) Sustentabilidade Social, apoiada nos princípios de distribuição de renda e solidariedade
dos laços sociais;
b) Sustentabilidade Ecológica, apoiada no princípio da solidariedade com o planeta e
suas riquezas e a biosfera;
c) Sustentabilidade Econômica, apoiada no desenvolvimento menos agressivo ao meio
ambiente com base na organização da vida material;
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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

d) Sustentabilidade Geográfica ou Espacial, apoiada no princípio da equanimidade


nas relações inter-regionais e na distribuição espacial mais equilibrada dos assentamentos
humanos e das atividades econômicas;
e) Sustentabilidade Cultural, baseada em uma pluralidade de soluções locais, adaptadas
a cada ecossistema e a cada cultura.

Vale a pena ressaltar que o conceito de desenvolvimento sustentável engloba não só o


crescimento econômico mas também a igualdade social e o equilíbrio ecológico. Esses princípios
apontam para uma nova forma de ver o mundo, focando na responsabilidade presente e na
qualidade de vida das futuras gerações.
As condições ambientais em que vivem as pessoas têm grande influência na saúde e
contribuem para a incidência de muitas doenças, incluindo câncer, doenças respiratórias e
distúrbios mentais. Em áreas carentes e densamente habitadas, o próprio ambiente de moradia
constitui um risco para a saúde, resultado da falta de saneamento e abastecimento de água
inadequado, disposição do lixo e drenagem impróprias, condições de higiene precárias, entre
outros fatores. Pequenas melhorias nesse ambiente e no entorno exerceriam grandes impactos
na redução do sofrimento humano, na melhoria da qualidade de vida e na diminuição de
doenças como diarreias e infecções respiratórias.
Nesse contexto, as concepções de saúde, meio ambiente e desenvolvimento adquirem
novas dimensões: a saúde ambiental, além de envolver aspectos da saúde humana, inclui
qualidade de vida, determinada pelos fatores ambientais físicos, químicos, biológicos e sociais.
Para a construção de um processo sustentável de desenvolvimento econômico e social, o
meio ambiente e os efeitos nocivos desse ambiente na saúde humana e nos desequilíbrios
ambientais devem ser considerados.
Para tratarmos dos desafios envolvendo saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável,
são fundamentais ações integradas e estratégicas intra e intersetoriais para uma abordagem
integral e interdisciplinar. Só assim teremos resultados mais efetivos.
O desenvolvimento sustentável inclui, entre outros aspectos, abastecimento seguro de água,
coleta, tratamento e destino sanitário dos dejetos e resíduos sólidos, controle dos riscos derivados
do processo de desenvolvimento, como a contaminação por produtos tóxicos utilizados nas
atividades humanas, redução da poluição do ar e do desmatamento, a qual gera o desequilíbrio
dos ciclos de vida dos vetores, aumentando a incidência de outras doenças.

Meio Ambiente e Saúde


A relação saúde e meio ambiente sempre esteve presente no discurso e nas práticas de saúde
pública, mas foi a partir do século XX que a preocupação com as questões ambientais tornou-se
evidente em diversos países. Algumas publicações, como Primavera Silenciosa (Silent Spring), de
Rachel Carson e o relatório Limites de Crescimento (Limits to Growth), e duas grandes conferências
mundiais sobre o tema, realizadas em Estocolmo (1972) pelas Nações Unidas e no Rio de janeiro,
em 1992, colocaram um holofote sobre a necessidade de dar atenção aos problemas ambientais.
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Esquema do crescimento da população e as consequências no desequilíbrio ambiental

Concomitantemente, uma nova saúde pública despontou com um enfoque na saúde


preventiva, passando a direcionar as ações para as dimensões ambientais da saúde. Com essa
ideia mais abrangente de saúde, podemos perceber a importância da qualidade de vida. Entre
essas ações, podemos destacar a educação relativa aos problemas de saúde e os métodos de
prevenção, o aporte de alimentos e nutrição adequada, o abastecimento de água potável e
saneamento básico, a imunizações contra enfermidades infecciosas, o tratamento apropriado
das enfermidades e a disponibilidades de medicamentos.
Essa nova concepção de promoção da saúde, no campo da medicina preventiva e social,
inclusive com aumento das pesquisas no campo das ciências sociais aplicadas à saúde, trouxe
um novo enfoque calçado nos fatores sociais e ambientais. De uma forma mais abrangente,
podemos colocar o entorno físico e social como determinante na condição da saúde. Aspectos
como a violência, acidentes, contaminação da água e do ar, má alimentação, falta de habitação
e hábitos higiênicos, consequências de ambientes totalmente desfavoráveis, exigem uma ação
efetiva que inclua a responsabilidade do indivíduo e políticas públicas mais eficientes.

Desenvolvimento dos Conceitos Saúde, Ambiente e Sustentabilidade


Foi no século XX, após a Segunda Guerra Mundial – quando houve um pico na taxa de
consumo dos recursos naturais, um processo acelerado de urbanização, aumento dos índices de
poluição urbana, com alterações ambientais na escala global, como aumento do efeito estufa,
redução da camada de ozônio e redução da biodiversidade – que houve a necessidade de iniciar
uma discussão a respeito das questões ambientais e suas consequências para a saúde humana.

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

Na década de 70, iniciaram-se, então, as discussões ambientais de forma mais efetiva. A


conferência de Estocolmo (1972) deu início ao processo de estruturação dos órgãos ambientais.
Nesse contexto, poluir passou a ser crime em diversos países.
Em 1974, a Alemanha aprovou o primeiro SELO ECOLÓGICO, chamado Anjo Azul, para
destacar produtos que se distinguiam por sua qualidade ambiental. Nesse mesmo ano, ficou
estabelecida a relação entre os CFCs – clorofluorcarbonos – e a destruição da camada de ozônio.
Nos anos 80, no Brasil, passaram a vigorar as legislações específicas sobre poluição, com
o objetivo de controlar a instalação de novas indústrias e controlar as já existentes. Para a
aplicação dessa legislação, foram implementados os Estudos de Impactos Ambientais (EIAs) e
os Relatórios de Impactos Ambientais (RIMAS). A partir daí, foi marcante a preocupação com
os impactos gerados no ambiente e na saúde humana.
No entanto, a década de 90, sem dúvida, foi a mais produtiva em termos de preocupação
com a inter-relação saúde e meio ambiente. A conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) mostrou que os problemas ambientais extrapolavam
os limites de ações localizadas e constituíam preocupação para toda a humanidade. Vários
documentos foram elaborados, dentre os quais se destaca a Aprovação da Agenda 21. Esse
documento é um orientador para a integração, em âmbito mundial, de ações articuladas para o
desenvolvimento sustentável, a saúde humana e a proteção ao meio ambiente.

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92). UN Photo/Michos Tzovaras

Testemunhou-se, também, a entrada em vigor das Normas Internacionais de Gestão


Ambiental, sob o título de ISO 14000, coroando o processo de conservação do meio ambiente
em bases sustentáveis.
Em 1995, em Washington, durante a Conferência Pan-Americana sobre saúde e Ambiente
no Desenvolvimento Humano Sustentável, a qual objetivava a adoção de políticas e estratégias
sobre a saúde e meio ambiente, concluiu-se que as ações visando à saúde humana ainda eram
incipientes em diversas partes do mundo.
Não são recentes os problemas relacionados à poluição. Surgiram com o advento da Revolução
Industrial, que acelerou o processo de urbanização, adensou as cidades, aumentando as necessidades
de fontes de energia e promovendo, assim, o maior lançamento de poluentes ao meio ambiente.

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Modificações Ambientais e seus Impactos na Saúde

As últimas décadas foram marcadas pelas ações antrópicas e pela destruição ambiental;
nunca se destruiu tanto em tão curto período de tempo.
A exposição do ser humano a poluentes presentes no ar, na água, no solo e nos alimentos
contribui, de forma direta ou indireta, para o aumento da morbidade e da mortalidade. O fator
ambiente na condição da saúde é percebido facilmente quando ocorre a exposição à poluição,
tanto na forma aguda, com altos níveis de concentração de poluentes, como ao longo do tempo,
com baixos, mas constantes, níveis de exposição.
A exposição a poluentes é, normalmente, involuntária; as pessoas não percebem a
presença dos poluentes, e isso faz com que elas não exerçam um controle sobre os riscos da
exposição. Agentes biológicos, químicos e físicos podem ser encontrados nos diversos tipos
de ambientes e são responsáveis por diferentes efeitos à saúde. Esses efeitos vão depender
da periculosidade intrínseca do poluente, da intensidade da exposição e da suscetibilidade
do indivíduo exposto.
Os riscos ao meio ambiente e à saúde são diversos e englobam tanto os riscos tradicionais,
representados pelos dejetos humanos em áreas densamente povoadas, como os riscos
provocados por poluentes atmosféricos resultantes do tráfego dos veículos automotores. No
entanto, a origem de todos é similar; o ponto inicial é, normalmente, alguma forma de atividade
ou intervenção humana. Esse processo é chamado de emissão. Uma vez no ambiente, os
poluentes são dispersados por meio do ar, da água, do solo ou dos alimentos.
As atividades humanas geram uma série de resíduos que são dispostos no ambiente. A
emissão de resíduos pode ocorrer durante todo o ciclo de vida de um produto, desde a extração
inicial até a rejeição final. A área de origem de resíduos é conhecida como fonte. Uma grande
variedade de fontes gera a emissão de poluentes, que podem ser classificados como poluentes
primários ou secundários.
Os poluentes primários originam-se nas fontes de emissão, as quais podem ser classificadas como:

- pontuais (incinerador);

- lineares (rodovias);

- de área (drenagem urbana);

- estacionárias (refinaria de petróleo);

- móveis (automóveis);

- antropogênicas (lixão).

Os poluentes secundários aparecem por meio da condensação de vapores e de reações


químicas, produzindo novos compostos.

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

Os problemas relacionados à poluição química acabam impactando a qualidade da água,


do solo e dos alimentos, trazendo uma série de riscos associados, como a redução da camada
de ozônio, contaminações atmosféricas, e desencadeando diversos problemas de saúde na
população. O problema da poluição do ar atinge todas as regiões do planeta. Na Índia, respirar
o ar de Bombaim é equivalente a fumar dez cigarros por dia. A OMS calcula que três milhões
de pessoas morrem por ano devido à poluição do ar.

Poluição do ar em Bombaim (Índia). Thinkstock/Getty Images

Pesquisas desenvolvidas nos anos 70 já apontavam a presença, no ambiente, de resíduos


de produtos farmacêuticos (hormônios, medicamentos de uso humano e veterinário) e
agroquímicos (pesticidas e fertilizantes). Tais produtos podem produzir alterações no meio
ambiente e nos seres vivos.
Podemos citar, como exemplo, os resíduos do diclofenaco (anti-inflamatório de amplo
uso mundial humano e veterinário) presentes em carcaças consumidas por abutres de uma
determinada espécie acabou levando um grande número de animais à falência renal. Hoje essa
espécie encontra-se em ameaça de extinção no Paquistão.
Os medicamentos têm um importante papel no tratamento e na prevenção de doenças tanto
em humanos como em animais, mas também apresentam outros efeitos no meio ambiente e
merecem ser estudados na área da saúde ambiental.

Dispersão dos Poluentes


Os poluentes são dispersos pelo ar, água, solo, organismos vivos, alimentos. Existem diversas
formas de dispersão, dependendo tanto da fonte do poluente como do próprio poluente. A
dispersão da poluição do ar, por exemplo, depende das condições climáticas, da altura da
emissão, das fontes, como exaustão de veículos automotores, que ficam ao nível do solo, ou
como as chaminés de indústrias, que estão em níveis altos. A topografia local e regional também
influencia o comportamento da dispersão dos poluentes. No solo, por exemplo, a dispersão
ocorre dependendo da estrutura, da textura e da característica de drenagem.

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Os poluentes entram no corpo humano de diferentes maneiras; pode ser por inalação, ingestão
ou por absorção pela pele. A quantidade de poluente que entra no corpo é chamada de dose e
depende da duração e da intensidade da exposição. A quantidade de poluente absorvida pode
ser metabolizada, transportada, acumulada ou eliminada pelo organismo. O poluente absorvido
pelo organismo pode alcançar um órgão, podendo causar efeitos adversos. Os primeiros efeitos
podem ser alterações subclínicas, podendo ser seguidas por doenças e até pela morte.

As Formas mais Comuns de Poluição e seus Efeitos na Saúde


(Ar, Água, Solo)
O ar contaminado entra no organismo por inalação dos poluentes e também por absorção
pela pele. Os efeitos mais comuns estão associados ao sistema respiratório. Em pessoas mais
suscetíveis, como crianças e idosos, o material particulado inalado pode levar à constrição
brônquica, bronquite crônica, agravar as alergias do sistema respiratório, etc.
A água contaminada é absorvida pelo corpo humano por ingestão. Alguns contaminantes
ainda podem ser absorvidos por inalação ou contato dérmico. Dependendo do tipo de
contaminação, diferentes órgãos podem ser atingidos. Alguns contaminantes, como
compostos orgânicos voláteis, podem afetar o fígado e os rins, causando hepatite ou
paralisação renal.
A exposição ao alimento ou solo contaminado pode apresentar muitas formas. O chumbo,
por exemplo, pode atingir quase todos os sistemas orgânicos. Efeitos do chumbo podem ser
sentidos tanto no sistema nervoso como na pressão sanguínea.
Um amplo espectro de efeitos adversos à saúde pode ser percebido como resultado
de exposição a ambientes contaminados. Podemos dividir esses efeitos em duas categorias
principais: efeitos agudos e efeitos crônicos. Eles variam de gravidade, podendo ser desde um
simples desconforto ou até a morte prematura.
Água e alimentos contaminados por micro-organismos, por exemplo, podem provocar
um agravamento à saúde pouco tempo após uma exposição. Por outro lado, o arsênico na
água pode levar a um efeito grave após longo período de exposição a níveis baixos, porém
constantes, causando o câncer, por exemplo. O chumbo, por sua vez, pode causar efeitos
tanto agudos como crônicos. Dessa maneira, alguns poluentes provocam um efeito quase
imediato após o contato, enquanto outros precisam se acumular antes de causar qualquer
efeito detectável à saúde.
De uma forma geral, as pessoas não são afetadas igualmente pelo mesmo risco ambiental.
Existe uma variação na sensibilidade para determinada exposição devido a muitos fatores. Essa
diferença acontece, além das características genéticas individuais, por conta da idade, do estado
nutricional e do estado geral da saúde. Alguns subgrupos populacionais, como crianças, idosos,
gestantes, indivíduos subnutridos ou doentes, são considerados mais suscetíveis.

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

A vulnerabilidade a esses riscos de agressões ambientais depende, também, das diferentes


habilidades de grupos de indivíduos. A ocorrência e a gravidade de casos de doença devido
à contaminação de água por microrganismos, por exemplo, vai depender do acesso dessa
população a fontes de água alternativas e acesso ao atendimento médico. A condição econômica,
muitas vezes, limita a população e deixa-a mais vulnerável a riscos ambientais.
Para uma avaliação mais ampla e segura dos efeitos da poluição ambiental na população,
precisamos de dados de saúde para estudos. Eles fornecem indicadores dos efeitos à saúde
humana de exposições conhecidas a poluentes ambientais, que, quando relacionados aos dados
ambientais, tornam possível confirmar as associações entre exposição e efeito em uma área
específica ou quantificar a contribuição da exposição para o total de mortes. O monitoramento
pode fornecer também informações sobre os efeitos de mudanças na exposição como resultado
de políticas de intervenção ou adoção de novas tecnologias.
O mundo moderno apresenta muitas contradições para a humanidade. Se, por um lado,
propicia melhores condições de vida, por outro, cria novos desafios para o homem ao alterar
profundamente seu habitat.
Nas próximas unidades, iremos aprofundar nossos estudos sobre a epidemiologia ambiental,
fazer uma análise que envolve a importância do saneamento e manejo ambiental para a
promoção da saúde e suas interações com o meio ambiente, estudar as condições sanitárias,
doenças infecciosas e parasitárias e as políticas públicas relacionadas.

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Material Complementar

Sustentabilidade - Saúde e Meio Ambiente - Jornal Minas.


www.youtube.com/watch?v=g1MEqJN1Lh4

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Unidade: Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente

Referências

Battaglin, P. et al. Saúde Coletiva: um Campo em Construção. Curitiba: Ibpex, 2006.

Philippi, A; Pelicioni, M.C.F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. 2 ed. Barueri:


Manoele, 2014.

Philippi, A. Saneamento, Saúde e Ambiente. Editor. Barueri: Manoele, 2014.

Rosa , A et al. Meio Ambiente e Sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre:


Bookman, 2012.

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Anotações

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