Dissertação

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Instituto Superior de Engenharia do Porto

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOTÉCNICA

Instrumentação e monitorização na avaliação do


comportamento de maciços e estruturas envolventes: caso
de poços em meio urbano

Fernando Guilhermino Neiva Ferreira

2012
Instituto Superior de Engenharia do Porto
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOTÉCNICA

Instrumentação e monitorização na avaliação do


comportamento de maciços e estruturas envolventes: caso
de poços em meio urbano

Fernando Guilhermino Neiva Ferreira

1940193

Projeto apresentado ao Instituto Superior de Engenharia do Porto para


cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre
em Engenharia Geotécnica e Geoambiente, realizado sob a orientação do
Doutor João Paulo Meixedo dos Santos Silva, Professor Adjunto do
Departamento de Engenharia Geotécnica do ISEP.
Júri

Presidente Doutor Helder Gil Iglésias de Oliveira Chaminé


Professor Coordenador com Agregação, Instituto Superior de Engenharia do Porto

Doutor João Manuel Abreu dos Santos Baptista


Professor Associado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Doutor João Paulo Meixedo dos Santos Silva


Professor Adjunto, Instituto Superior de Engenharia do Porto

Doutora Maria Eugénia Oliveira Lopes


Assistente 2º Triénio, Instituto Superior de Engenharia do Porto

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“O problema do mundo de hoje é que as pessoas
inteligentes estão cheias de dúvidas, e as pessoas idiotas
estão cheias de certezas”.
Henry Charles Bukowski Jr.

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Agradecimentos

São devidos agradecimentos a todos aqueles, que apoiaram direta ou indiretamente na


elaboração desta tese de mestrado, o meu muito obrigado. Os meus sinceros agradecimentos:

Ao meu orientador, Professor João Paulo Meixedo pela supervisão, sugestões e apoio na
partilha das suas experiências profissionais e académicas, bem como na cedência de
bibliografia de especialidade. Pela disponibilidade na revisão das várias versões do
manuscrito.

À empresa Nova Estação, ACE, composto pelas empresas ZAGOPE, TEIXEIRA DUARTE, SOARES
DA COSTA E CONSTRUTORA TÂMEGA. Um especial agradecimento aos colegas de trabalho
Eng.º Tiago Pereira e Eng.ª Manuela Correia pelos esclarecimentos e disponibilidade de
informação documental, entre os quais projetos, memórias descritivas, notas técnicas, entre
outros. Ao colega José Carrilho pelos esclarecimentos e apoio técnico relativo a desenhos de
projeto e telas finais.

À empresa EPOS na pessoa do Dr. Luis Gonçalves, pela autorização e disponibilidade de acesso
a documentos e relatórios de instrumentação e monitorização e ao colega Dr. Luís Santos,
responsável pela monitorização da obra, pela sua disponibilidade e conhecimentos técnicos,
bem como a sua generosidade pela partilha da sua experiência da obra.

Um especial agradecimento à empresa CJC, na pessoa do Eng.º Júlio Torres pela sua
disponibilidade, esclarecimentos e apoio documental de projeto, mesmo estando do outro
lado do oceano atlântico, no seu país, o Brasil.

A todos o meu sincero obrigado!

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Palavras-chave

Instrumentação geotécnica, monitorização, investigação geotécnica, escavações a céu aberto,


poço.

Resumo

Atualmente, a escavação de poços em locais densamente ocupados requer medidas severas


para reduzir riscos e possíveis influências quer na própria obra quer em estruturas próximas.
Neste campo, a instrumentação geotécnica e a sua monitorização tem um papel
determinante na execução de obras geotécnicas, sendo que neste trabalho é dado um
especial realce à instrumentação utilizada, às atividades de observação geotécnica, bem
como à análise e interpretação das leituras para o controlo de movimentos induzidos no
terreno pelas escavações. Este acompanhamento é baseado num plano de instrumentação,
sendo descrito de uma forma transversal a importância do projeto e em particular das fases
do processo de investigação geotécnica.
O acompanhamento da execução dos poços para a futura Estação da Reboleira, permitiu
validar as soluções de projeto para um determinado método construtivo, determinadas
através de métodos numéricos e semi-empíricos, e abordados neste trabalho. A
monitorização sistemática desde o início das escavações até ao revestimento secundário,
permitiu tecer apreciações sobre os valores obtidos, apresentando-se alguns registos.
Todas estas ações visam controlar e antecipar riscos de acidentes provocados pela execução
de escavações, pelo que nesta tese é também realçada a importância da segurança e higiene
no trabalho na prevenção dos riscos profissionais, independentemente da sua origem.

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Keywords

Geotechnical instrumentation, monitoring, geotechnical investigation, open excavations,


wells

Abstract

Currently, the digging of wells in areas densely populated requires stringent measures to
reduce risks and possible influences both in the work itself and in nearby structures. In this
field, the geotechnical instrumentation and its monitoring have a special role in the
execution of geotechnical works. In this work is given a special emphasis on
instrumentation, geotechnical activities of observation and analysis and interpretation of
the readings for the control of field movements induced by the excavations. This
monitoring is based on a instrumentation plan, and described in a cross-sectional design
along with the importance of particular stages of the geotechnical investigation.
The implementation of the wells for future Station Reboleira allowed to validate the
design solutions for a particular construction method, determined by numerical methods
and semi-empirical, topics covered in this document. The systematic monitoring of the
excavations from the beginning to the secondary coating, allowed assessments of the
values obtained by presenting some records.
All these actions aim to control and anticipate the risks of accidents caused by the
execution of excavations, reason why the importance of safety and hygiene at work in the
prevention of occupational risks, regardless of their origin, in also highlighted in the
present work.

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ÍNDICE

1. Introdução ........................................................................................................................... 1
1.1 Enquadramento da tese ....................................................................................................... 3
1.2 Objetivos ............................................................................................................................. 3
1.3 Organização da tese ............................................................................................................. 4
2. Escavações ........................................................................................................................... 7
2.1 Introdução ........................................................................................................................... 9
2.2 Evolução Histórica ................................................................................................................ 9
2.3 Ocupação do espaço do subsolo......................................................................................... 10
2.4 Classificação das escavações .............................................................................................. 11
2.5 Tipos de escavações ........................................................................................................... 11
2.6 Geometria das escavações ................................................................................................. 12
2.7 Técnicas de escavação........................................................................................................ 13
2.8 Fatores que influenciam a movimentação do terreno......................................................... 15
2.9 Estruturas de contenção com escavação na vertical ........................................................... 16
2.9.1 Contenções do tipo Berlim definitivo .......................................................................... 17
2.9.2 Contenções do tipo Berlim provisório ......................................................................... 18
2.9.3 Parede moldada ......................................................................................................... 19
2.9.4 Cortina de estacas ...................................................................................................... 20
2.9.5 Cortina de colunas de jet grouting .............................................................................. 21
2.9.6 Cortina de estacas prancha ......................................................................................... 22
2.9.7 Método de escavação sequencial ............................................................................... 23
3. Projeto e investigação geotécnica ...................................................................................... 25
3.1 Introdução ......................................................................................................................... 27
3.2 Investigação geotécnica ..................................................................................................... 27
3.2.1 Fases do processo de investigação geotécnica ............................................................ 28
3.2.2 Relatórios dos resultados da investigação ................................................................... 28
3.3 Reconhecimento geológico-geotécnico .............................................................................. 29
3.3.1 Investigação preliminar............................................................................................... 29
3.3.2 Consequências............................................................................................................ 30
3.4 Programa de prospeção geotécnica.................................................................................... 31
3.5 Métodos de caraterização geomecânica............................................................................. 32
3.6 Zonamento geotécnico ...................................................................................................... 34
3.7 Eurocódigos estruturais ..................................................................................................... 35

xii
3.7.1 Eurocódigo 7 .............................................................................................................. 35
3.7.2 Requisitos fundamentais para o projeto de estruturas geotécnicas ............................. 37
3.7.3 Categorias geotécnicas ............................................................................................... 37
3.7.4 Dimensionamento geotécnico .................................................................................... 39
3.7.4.1 Com base no cálculo ............................................................................................. 39
3.7.4.2 Por medidas prescritivas ....................................................................................... 40
3.7.4.3 Uso de ensaios de carga e ensaios em modelo experimental................................. 40
3.7.4.4 Método observacional .......................................................................................... 40
3.7.4.5 Relatório do projeto geotécnico ............................................................................ 40
4. Instrumentação e monitorização ........................................................................................ 41
4.1 Instrumentação.................................................................................................................. 43
4.1.1 Introdução .................................................................................................................. 43
4.1.2 Objetivos .................................................................................................................... 43
4.1.3 Escolha de instrumentação ......................................................................................... 43
4.1.4 Recolha e tratamento da informação .......................................................................... 44
4.1.5 Plano de observação ................................................................................................... 45
4.1.6 Plano de instrumentação ............................................................................................ 46
4.2 Instrumentação utilizada em obras de engenharia ............................................................. 47
4.2.1 Instrumentos para medição de grandezas relativas à água.......................................... 47
4.2.2 Instrumentos para determiação de inclinação e rotação ............................................. 48
4.2.3 Instrumentos para medição de deslocamentos e deformações ................................... 49
4.2.4 Instrumentos para monitorização de juntas e fissuras................................................. 50
4.2.5 Instrumentos para medição de pressões ..................................................................... 50
4.3 Competências dos diversos intervenientes ......................................................................... 51
4.3.1 Geo-profissionais ........................................................................................................ 51
4.3.2 Acompanhamento técnico da obra ............................................................................. 51
4.4 Procedimentos e metodologias para a análise dos assentamentos, monitorização e
proteção dos edifícios circundantes ................................................................................... 52
4.4.1 Considerações iniciais ................................................................................................. 52
4.4.2 Definição da bacia de subsidência ............................................................................... 53
4.4.3 Definição do plano de monitorização das estruturas dos poços e das estruturas e
utilidades circundantes às escavações. ................................................................................. 54
4.4.4 Avaliação do risco de cada edifício .............................................................................. 55
4.4.4.1 Introdução ............................................................................................................ 55
4.4.4.2 Avaliação do risco ................................................................................................. 56

xiii
4.4.4.3 Medidas a Serem Adotadas ................................................................................... 56
5. Segurança e Higiene ........................................................................................................... 59
5.1 Introdução ......................................................................................................................... 61
5.2 Atividade da segurança e higiene ....................................................................................... 61
5.3 Legislação de segurança aplicável em obra ......................................................................... 62
5.4 Acidentes de trabalho ........................................................................................................ 63
5.5 Prevenção .......................................................................................................................... 65
5.5.1 Princípios gerais de prevenção.................................................................................... 65
5.5.2 Plano de segurança e saúde ........................................................................................ 66
5.5.2.1 Objetivo do PSS..................................................................................................... 67
5.5.2.2 Responsabilidades dos diversos intervenientes na segurança da obra ................... 67
5.5.2.3 Atividades ou trabalhos de risco elevado / especiais ............................................. 70
5.6 Avaliação de riscos ............................................................................................................. 72
5.6.1 Ações para a prevenção de riscos ............................................................................... 72
5.6.2 Metodologia de Identificação de Perigos e Avaliação de Riscos ................................... 73
5.7 Riscos psicossociais ............................................................................................................ 79
6. Projeto de execução ........................................................................................................... 81
6.1 Caracterização da empreitada ............................................................................................ 83
6.1.1 Introdução .................................................................................................................. 83
6.1.2 Localização da empreitada .......................................................................................... 83
6.1.3 Trabalhos executados ................................................................................................. 84
6.1.4 Principais características da empreitada ..................................................................... 85
6.1.5 Principais intervenientes............................................................................................. 87
6.2 Processo construtivo .......................................................................................................... 87
6.2.1 Método NATM ............................................................................................................ 87
6.2.2 Tempo de auto-sustentação ....................................................................................... 88
6.3 Faseamento construtivo ..................................................................................................... 89
6.3.1 Estação da Reboleira .................................................................................................. 89
6.3.1.1 Faseamento posto a concurso ............................................................................... 89
6.3.1.2 Faseamento executado – otimização .................................................................... 92
6.3.2 Poço de Ventilação ..................................................................................................... 94
6.4 Execução do projeto em escavação e revestimento primário ............................................. 97
6.4.1 Estação ....................................................................................................................... 97
6.4.2 Poço de ventilação.................................................................................................... 106
7. Estudo de Caso................................................................................................................. 111

xiv
7.1 Enquadramento geológico ............................................................................................... 113
7.1.1 Cartografia Geológica ............................................................................................... 113
7.1.2 Unidades geológicas – litótipos ................................................................................. 113
7.1.3 Caracterização Geotécnica ........................................................................................ 115
7.1.3.1 Poços da Estação ................................................................................................ 115
7.1.3.2 Poço de Ventilação ............................................................................................. 116
7.1.4 Parâmetros geomecânicos ........................................................................................ 117
7.2 Determinação dos esforços solicitantes............................................................................ 119
7.2.1 Estação Reboleira ..................................................................................................... 119
7.2.1.1 Condições de estabilidade dos poços da estação ................................................. 120
7.2.1.2 Análise numérica tridimensional – simulação da escavação ................................ 120
7.2.1.3 Resultados .......................................................................................................... 122
7.2.1.4 Análise numérica tridimensional – Simulação do revestimento primário ............. 124
7.2.1.5 Resultados obtidos no revestimento Primário ..................................................... 125
7.2.2 Poço de ventilação.................................................................................................... 126
7.2.2.1 Análise numérica axissimétrica ........................................................................... 126
7.2.2.2 Modelo e malha utilizada .................................................................................... 127
7.2.2.3 Resultados .......................................................................................................... 129
7.2.2.4 Análise numérica tridimensional – simulação revestimento primário do PV ........ 130
7.2.2.5 Resultados obtidos no revestimento Primário ..................................................... 132
7.3 Estimativas dos assentamentos na superfície ................................................................... 134
7.3.1 Considerações iniciais ............................................................................................... 134
7.3.2 Assentamento na superfície devido a escavação do poço ......................................... 134
7.4 Instrumentação da obra ................................................................................................... 135
7.4.1 Instrumentação aplicada .......................................................................................... 135
7.4.2 Instrumentação da Estação Reboleira ....................................................................... 145
7.4.3 Instrumentação do poço de ventilação ..................................................................... 148
7.4.4 Níveis de referência .................................................................................................. 149
7.4.4.1 Considerações iniciais ......................................................................................... 149
7.4.4.2 Valores de referência .......................................................................................... 151
7.5 Resultados da monitorização ........................................................................................... 153
7.5.1 Frequência de leituras em obra ................................................................................ 153
7.5.2 Estação ..................................................................................................................... 153
7.5.2.1 Alvos e réguas em taludes e estruturas ............................................................... 154

xv
7.5.2.2 Marcas de superfície ........................................................................................... 156
7.5.2.3 Inclinómetros...................................................................................................... 159
7.5.2.4 Piezómetro ......................................................................................................... 160
7.5.2.5 Convergências..................................................................................................... 160
7.5.2.6 Strain-gauges ...................................................................................................... 162
7.5.3 Poço de Ventilação ................................................................................................... 164
7.5.3.1 Alvos e réguas em estruturas .............................................................................. 165
7.5.3.2 Marcas de superfície ........................................................................................... 169
7.5.3.3 Convergências..................................................................................................... 170
7.5.4 Considerações finais ................................................................................................. 171
7.5.5 Poços pelo método NATM ........................................................................................ 172
8. Conclusões ....................................................................................................................... 177
9. Referências bibliográficas ................................................................................................. 181
10. ANEXOS ........................................................................................................................... 189

xvi
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1 – Geometria dos poços: a) Quadrada; b) Retangular; c) Circular/elíptica; d) Mista. ...... 13
Figura 2.2 - Acessórios para acoplar na escavadora. ..................................................................... 14
Figura 2.3 - Equipamentos – a) TBM; B) Máquina de ataque pontual; C) Escavadora giratória. ..... 14
Figura 2.4 - Esquema de tipos de estruturas de contenção. .......................................................... 17
Figura 2.5 - Contenção tipo Berlim definitivo. .............................................................................. 18
Figura 2.6 - Cortina de contenção tipo Berlim provisório com escoramento ................................. 19
Figura 2.7 - Contenção tipo Berlim provisório com ancoragens . .................................................. 19
Figura 2.8 - Metodologia executiva de parede moldada “in situ” ................................................. 20
Figura 2.9 - Cortina de estacas com ancoragens nas vigas, executada na obra em estudo . .......... 21
Figura 2.10 - Execução de jet-grouting ......................................................................................... 22
Figura 2.11 - Cortina de estaca prancha. ...................................................................................... 23
Figura 4.12 - Hierarquização de procedimentos num processo de monitorização em obra. .......... 44
Figura 4.13 - Aplicação em escavação em meio urbano . .............................................................. 46
Figura 4.14 - Aplicação em túneis em meio urbano ..................................................................... 47
Figura 4.15 - Bacia de subsidência. ............................................................................................... 54
Figura 4.16 - Esquema de instrumentação mínima a aplicar em escavações. ................................ 55
Figura 5.17 – Esquema de avaliação de riscos. ............................................................................. 73
Figura 5.18 – a) Plataforma não integrada suspensa em grua-torre; b) Plataformas suspensas. ... 79
Figura 6.19 - Mapa da rede geral do metropolitano de Lisboa. ..................................................... 83
Figura 6.20 - Prolongamento da linha azul – Estação da Reboleira ............................................... 84
Figura 6.21 - Planta geral da obra................................................................................................. 85
Figura 6.22 - Planta do corpo dos poços da estação da Reboleira. ................................................ 85
Figura 6.23 - Corte transversal dos poços da estação. .................................................................. 86
Figura 6.24 - Planta do Túnel de ventilação . ................................................................................ 86
Figura 6.25 - Planta com execução das vigas de travamento e revestimento secundário nos poços
1, 3 e 5 ......................................................................................................................................... 91
Figura 6. 26 - Planta com execução do revestimento secundário no poço 2 e 4. ........................... 91
Figura 6.27 - Planta das estacas pilares e muros de contenção. .................................................... 92
Figura 6.28 - Planta das vigas de travamento dos poços 1 a 5 ...................................................... 93
Figura 6.29 - Planta e corte transversal do faseamento construtivo da escavação e revestimento
primário . ..................................................................................................................................... 93
Figura 6.30 - Esquema tridimensional da estação. ........................................................................ 94
Figura 6.31 - Projeto inicial da localização do poço de ventilação ................................................. 95

xvii
Figura 6.32 - Planta do poço de ventilação de secção elíptica....................................................... 96
Figura 6.33 - Cortes pelo maior e menor diâmetro do poço de ventilação. ................................... 96
Figura 6.34 - Planta com a implantação das estacas e as suas referências . .................................. 97
Figura 6.35 – a) furação para as estacas; b) Colocação de armadura na estaca pilar no furo. ........ 98
Figura 6.36 – a) Montagem da armadura das vigas de travamento entre estacas pilar; b) Vigas de
bordadura no topo de cada poço. ................................................................................................ 98
Figura 6.37 - Esquemas da geometria adotada relativamente aos níveis de escavação. ................ 99
Figura 6.38 - Plano geral dos poços 3 a 5. a) Com pormenor da rampa utilizada pelo dumper; b)
sem rampa, utilizando caçamba para remoção do material. ....................................................... 100
Figura 6.39 - Pormenor do revestimento primário ..................................................................... 100
Figura 6.40 - a) Aplicação da malha sol após 1ª camada de 4 cm de betão projetado. b) Abertura
de painéis intercalados para execução de revestimento primário............................................... 101
Figura 6.41 - a) Execução de pregagens tipo swellex e execução de geodrenos; b)
Emboquilhamento do túnel norte – Poço 1. ............................................................................... 102
Figura 6.42 – Alçado do reforço do emboquilhamento do túnel norte. ...................................... 102
Figura 6.43 – a) Execução de pregagens tipo swellex e execução de geodrenos; b) Plano aéreo da
laje betonada do poço 1 e impermeabilização do poço 1 e 2. ..................................................... 103
Figura 6.44 - Esquema de tratamento do emboquilhamento norte. ........................................... 104
Figura 6.45 - Perfil longitudinal do emboquilhamento do túnel norte ........................................ 104
Figura 6.46 - Tratamento do emboquilhamento do túnel sul ...................................................... 105
Figura 6.47 - Vista geral do interior do poço da estação próximo da cota de projeto. ................. 105
Figura 6.48 - Vista aérea da estação com a escavação terminada à cota de projeto. ................... 106
Figura 6.49 – a) Viga de bordadura do PV; b) Execução de escavação por meios mecânicos. ...... 107
Figura 6.50 – a) Drenos da parede do poço em pleno funcionamento; b) Revestimento primário na
parede do poço de ventilação. ................................................................................................... 107
Figura 6.51 - a) Planta do poço com o esquema de pregagens tipo swellex; b) Perfil da secção AA
do Poço de Ventilação, com os níveis de escavação definidos .................................................... 108
Figura 6.52 – a) Tratamento do emboquilhamento do túnel de ventilação; b) Cortina de enfilagens
e pregagens do túnel de ventilação. ........................................................................................... 108
Figura 6.53 – a) 1ª fase de reforço na zona do emboquilhamento do túnel de ventilação; b) 2ª fase
de reforço na zona do emboquilhamento do túnel de ventilação.. ............................................. 109
Figura 6.54 - Execução da laje de soleira e impermeabilização do poço de ventilação. ............... 109
Figura 6.55 - Vista aérea do poço de ventilação. ........................................................................ 110
Figura 7.56 – Enquadramento geológico regional....................................................................... 113
Figura 7.57 - Planta de localização das sondagens executadas na estação. ................................. 115

xviii
Figura 7.58 - Perfil geológico-geotécnico B-B, baseada nas sondagens S37 e S38 . ..................... 116
Figura 7.59 - Perfil geológico-geotécnico do poço de ventilação. ................................................ 117
Figura 7.60 - Geologia utilizada no modelo tridimensional ......................................................... 121
Figura 7.61 - Campo de tensões verticais na cota 91,15m e 81,45m. ......................................... 122
Figura 7.62 - Campo de tensões horizontais na cota 91,15m e 81,45m ....................................... 122
Figura 7.63 - Campo de deformações plásticas na cota 91,15m e 81,45m .................................. 122
Figura 7.64 - Modelo numérico tridimensional considerado nos poços 1 a 5 . ............................ 125
Figura 7.65 - Malha de elementos finitos utilizada ..................................................................... 125
Figura 7.66 - Deformações perpendiculares à parede dos poços. ............................................... 126
Figura 7.67 - Aspeto da malha deformada – Vista em planta e perspetiva. ................................. 126
Figura 7.68 - Malha de diferenças finitas no poço de ventilação ................................................. 127
Figura 7.69 – Dois dos parâmetros considerados na análise: a) Coesão; b) Peso Especifico......... 129
Figura 7.70 - Desenvolvimento das tensões verticais. Avanço de 5m e de 40m .......................... 129
Figura 7.71 - Desenvolvimento das tensões horizontais. Avanço de 5m e de 40m ...................... 130
Figura 7.72 - Desenvolvimento das plastificações no maciço. Avanço de 5m e de 40m ............... 130
Figura 7.73 - Ilustração das diferentes espessuras do revestimento primário do PV ................... 131
Figura 7.74 - Malha utilizada – revestimento primário - Vista 3D. ............................................... 131
Figura 7.75 - Força na direção horizontal e vertical .................................................................... 133
Figura 7.76 - Deformações perpendiculares á parede do poço ................................................... 133
Figura 7.77 - Considerações dos volumes equivalentes ............................................................. 134
Figura 7.78 - Equipamento e material utilizado. ......................................................................... 137
Figura 7.79 - Exemplo de esquema de implantação de alvos em edifícios (EMEF) da estação ..... 137
Figura 7.80 - Exemplo de aplicação de réguas de nivelamento.. ................................................. 138
Figura 7.81 - Exemplo de aplicação e leitura das marcas de superfície. ...................................... 139
Figura 7.82 - Exemplos de tipos de piezómetros . ....................................................................... 140
Figura 7.83 - Esquema de implantação dos inclinómetros da estação. ........................................ 141
Figura 7.84 - Exemplo de inclinómetro e a sua leitura. ............................................................... 141
Figura 7.85 – Exemplos de strain gauges. ................................................................................... 142
Figura 7.86 – Esquema de implantação dos strain gauges no pilar 7 e 8 da estação ................... 143
Figura 7.87 - Esquema de implantação das secções de convergência no poço 1, 2, 3 e 4 ............ 144
Figura 7.88 - Esquema de implantação das secções de convergência no poço de ventilação ...... 144
Figura 7.89 - Instrumentação da Estação da Reboleira – Planta .................................................. 147
Figura 7.90 - Instrumentação da Estação da Reboleira – perfil. .................................................. 148
Figura 7.91 - Instrumentação do Poço de Ventilação – Planta e perfil......................................... 149
Figura 7.92 - Cartografia geológica-geotécnica – caraterização geotécnica da estação . ............. 154

xix
Figura 7.93 - Esquema de implantação das marcas de superfície na estação . ............................ 157
Figura 7.94 – Esquema de implantação das cordas de convergências nos poços 1 a 5 - Planta.... 160
Figura 7.95 – Cartografia geológico-geotécnico – caraterização geotécnica no PV ..................... 165
Figura 7.96 - Instrumentação do poço de ventilação – planta. .................................................... 166
Figura 7. 97 – Foto aérea dos poços pelo método NATM............................................................ 174

xx
ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1 - Campo de Aplicação das Estruturas de Contenção sem Escavação na Tardoz........... 24
Quadro 3.2 - Volumes de terras movimentadas. .......................................................................... 30
Quadro 3.3 - Fatores/Causas e respetivas consequências do défice de investigação geotécnica. .. 31
Quadro 3.4 - Esquema dos Eurocódigos e a estrutura do EC7-1.................................................... 36
Quadro 4.5 - Instrumentos para medição de grandezas relativas à água. ..................................... 48
Quadro 4.6 - Instrumentos para determinação de inclinação e rotação. ...................................... 48
Quadro 4.7 - Instrumentos para medição de deslocamentos e deformações................................ 49
Quadro 4.8 - Instrumentos para monitorização de juntas e fissuras. ............................................ 50
Quadro 4.9 - Instrumentos para medição de pressões. ................................................................ 50
Quadro 4.10 - Classes de risco relativo ao tipo de dano em edifícios. ........................................... 56
Quadro 4.11 – Medidas a adotar relativo ao tipo de dano em edifícios. ....................................... 57
Quadro 5.12 – Listagem de atividades de riscos elevados/especiais. ............................................ 71
Quadro 5.13 - Quadro tipo de matriz de identificação de perigos e avaliação de riscos. ............... 74
Quadro 5.14 – Lista não exaustiva de riscos potenciais, equipamentos e mão-de-obra. ............... 75
Quadro 5.15 - Riscos decorrentes da escavação dos poços. ......................................................... 76
Quadro 5.16 - Riscos decorrentes da instalação de instrumentação e da atividade de
monitorização. ............................................................................................................................. 76
Quadro 5.17 – Procedimentos para autorização na utilização de plataformas. ............................. 78
Quadro 7.18 – Parâmetros considerados para cada zonamento geotécnico da estação. ............ 117
Quadro 7.19 – Parâmetros geomecânicos. ................................................................................. 128
Quadro 7.20 - Dados relativos aos alvos instalados. ................................................................... 136
Quadro 7.21 - Dados relativos às réguas de nivelamento instalados nos edifícios. ..................... 138
Quadro 7.22 - Dados relativos às marcas de superfície instalados. ............................................. 139
Quadro 7.23 - Dados relativos aos piezómetros instalados......................................................... 140
Quadro 7.24 -Dados relativos aos inclinómetros instalados. ...................................................... 141
Quadro 7.25 - Dados relativos aos strain-gauges instalados. ...................................................... 142
Quadro 7.26 -Dados relativos às convergências instaladas. ........................................................ 143
Quadro 7.27 - Resumo da instrumentação aplicada na estação e no poço de ventilação. ........... 145
Quadro 7.28 - Valores de referência de assentamentos nos marcos de superfície. ..................... 151
Quadro 7.29 - Valores de referência das convergências dos poços 1 a 5 . ................................... 152
Quadro 7.30 - Valores de referência para recalques e convergência/divergência ...................... 152
Quadro 7.31 – Principais diferenças e semelhantes de poços idênticos pelo método NATM. ..... 173
Quadro 7.32 – diferenças dos parâmetros geotécnicos considerados para ambas os poços. ...... 174

xxi
INDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 5.1 – Acidentes de trabalho por setor de atividade em 2010 ............................................ 64


Gráfico 5.2 – Acidentes de trabalho, total e mortais, do ano 200 a 2009. ..................................... 64
Gráfico 7.3 - Impulso do maciço atuante – esq.) No poço 1; dir.) No poço 2, 3 e 4 ..................... 123
Gráfico 7.4 - Impulso adotado como carregamento para o revestimento dos poços ................... 123
Gráfico 7.5 – Evolução das deformações do alvo A-4 ................................................................. 155
Gráfico 7.6 – Evolução das deformações do alvo TA-3 do talude 5 ............................................. 155
Gráfico 7.7 – Evolução das deformações dos alvos T1 e T4 ......................................................... 156
Gráfico 7.8 - Evolução das deformações nas marcas de superfície M1 a M4 - poço 1 ................. 158
Gráfico 7.9 - Evolução das deformações das marcas de superfície da Grua 1 .............................. 158
Gráfico 7.10 – Evolução dos deslocamentos do inclinómetro InP-1 ............................................ 159
Gráfico 7.11 - Evolução do medidor de nível de água Mna-1 entre o poço 1 e 2 ......................... 160
Gráfico 7.12 – Evolução da deformação das cordas à cota 90,65, no poço 1 . ............................. 161
Gráfico 7.13 – Evolução da deformação das cordas à cota 90,65, no poço 5 . ............................. 162
Gráfico 7.14 - Evolução das tensões dos strain gauges instalados na viga 4.. .............................. 163
Gráfico 7.15 - Evolução das tensões dos strain gauges instalados na estaca-pilar 7 e 8. ............. 164
Gráfico 7.16 -Evolução dos alvos em edifício A-12.5 e A-12.6 ..................................................... 167
Gráfico 7.17 - Evolução dos alvos em edifício A-5.1 e A-5.2 ....................................................... 167
Gráfico 7.18 – Evolução dos alvos em edifício A-3.3 e A-3.4 ....................................................... 168
Gráfico 7.19 - Evolução das deslocações das réguas nos edifícios R 5.1 ...................................... 168
Gráfico 7.20 - Evolução das deslocações das réguas no edifício R 12.2 ....................................... 169
Gráfico 7.21 – Evolução das deformações das marcas de superfície na periferia do PV .............. 170
Gráfico 7.22 – Evolução da deformação das cordas N1-N3 e N2-N4 à cota 93,04 ....................... 171

xxii
LISTA DE ABREVIATURAS

ACT – Autoridade para as Condições de Trabalho


APA – Agência Portuguesa do Ambiente
ATO – Acompanhamento Técnico da Obra
CVL – Complexo Vulcânico de Lisboa
CSG - Coeficiente de Segurança Global
CJC – CJC Engenharia e Projecto Ltda
EC7 - Eurocódigo 7
ELU – Estado Limite Último
FLAC – Fast Lagrangian Analysis of Continua
GEP – Gabinete de Estratégia e Planeamento
GSI – Geological Strength Index
ISSMGE - International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering
NA – Não Aplicado
NATM – New Austriac Tunnelling Method
ML – Metropolitano de Lisboa
NE, ACE – Nova Estação, ACE
NF – Nível Freático
OERN – Ordem dos Engenheiros da Região Norte
OMS – Organização Mundial de Saúde
PMEP – Plataforma Móvel de Elevação de Pessoas
PV – Poço de Ventilação
Q-system - Rock Tunnelling Quality Index

RECAPE – Relatório de Acompanhamento Ambiental do Projeto de Execução


RMR - Rock Mass Rating
RQD - Rock Quality Designation
STRAP – Strutural Analysis Program
TF – Telas Finais

xxiii
LISTA DE SÍMBOLOS

a Aceleração
A, S Área
C Coesão
D Diâmetro da escavação
Em Módulo de elasticidade do maciço
E Módulo de deformabilidade
F Grau fraturação (ISRM)
H Profundidade de escavação
K Módulo de compressibilidade
k0 Coeficiente de impulso em repouso do terreno
ka Coeficiente de impulso ativo do terreno
W Grau de alteração (ISRM)
V Volume
r Raio
x Distância da parede
 Ângulo de dilatância do maciço
δ Deslocamento

φ Ângulo de atrito

 Peso específico do solo


S Peso específico dos sólidos
 Tensão tangencial ou de corte
ν Coeficiente de Poisson

xxiv
xxv
1. Introdução

1
2
1.1 Enquadramento da tese

O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito da unidade curricular de projeto do Curso de


Mestrado em Engenharia Geotécnica e Geoambiente do Instituto Superior de Engenharia do
Porto.

1.2 Objetivos

Este trabalho pretende abordar a execução de poços em meios urbanos, onde existe pouca
informação bibliográfica tendo como comparação a imensa informação relativa a obras
subterrâneas – túneis. Ainda mais, a solução construtiva abordada nesta tese, composta por cinco
poços, com estas dimensões são únicas em Portugal, e com maior interesse do ponto de vista da
engenharia.

São abordadas as soluções adotadas pelo projetista, bem como o plano de instrumentação, com a
função de monitorizar o comportamento dos maciços durante a fase de construção e estabelecer
comparações com as simulações que integram o projeto, procurando esclarecer as incertezas de
projeto, dado que as condições oferecidas pela natureza não se regem por um padrão, mesmo em
maciços de características semelhantes, existindo sempre um determinado grau de incerteza e a
que a instrumentação pretende dar resposta.

Ao longo do presente trabalho é referido o momento atual da economia, e como este se reflete
de imediato no setor da construção, com inerente necessidade de redução de custos e como
poderá afetar a investigação geotécnica e comprometer o projeto. Estes fornecem parâmetros
necessários ao projetista. Não obstante os constrangimentos financeiros, há etapas do projeto
que não deverão ser comprometidas, como seja a fase de investigação geotécnica, que, numa
obra do cariz da que é estudada no presente trabalho, terá necessariamente que ser levada a
cabo com um detalhe tal que permita fornecer uma base para o cálculo de, por exemplo, a
previsão da bacia de subsidência (ou assentamentos superficiais) que é resultado de uma apurada
investigação geotécnica, que permite fornecer ao projetista elementos para realização de análise
numérica e semi-empírica para o cálculo dos esforços solicitantes.

Devido à abrangência do tema anteriormente mencionado, alguns assuntos serão tratados


superficialmente, tendo-se optado unicamente pela sua descrição simplificada e apresentação de
resultados com exposição de alguns exemplos, devido ao facto de constituírem matérias

3
importantes e de estarem relacionados com a instrumentação e monitorização deste tipo de
obras e com os processos construtivos adotados.
A instrumentação geotécnica utilizada e descrita, foi a suficiente para a informação pretendida,
no que aos poços diz respeito. Na obra em questão que incluía a construção de três túneis existiu
mais instrumentação, mas esta foi instalada para acompanhamento dos referidos túneis, que por
estarem próximos dos poços em estudo, forneciam a informação suplementar sem necessidade
de duplicação de instrumentação, não sendo no entanto alvo de abordagem neste trabalho,
limitado exclusivamente aos poços.

1.3 Organização da tese

O presente documento encontra-se dividido em oito capítulos, de acordo com a organização do


trabalho. No primeiro capítulo são apresentados os objetivos e a organização da tese.

O segundo capítulo aborda as escavações em termos gerais, diferenciando essencialmente as


escavações pela sua classificação e técnicas de escavação. Ainda aborda, de uma forma mais
concreta, somente as estruturas de contenção com escavação na vertical, remetendo para a
execução de poços, tema em apreço no estudo de caso.

No terceiro capítulo descreve-se o projeto e investigação geotécnica, e os passos necessários ao


esclarecimento geológico-geotécnico que visa fornecimento de elementos fundamentais para
execução do projeto. Ainda é abordado o Eurocódigo 7, peça igualmente fundamental no projeto
de estruturas geotécnicas.

Tudo o que envolve a instrumentação e a monitorização em termos gerais é descrito no capítulo


quatro. Aqui é também realçada a função de cada um dos intervenientes em fase de obra no
acompanhamento da monitorização.

No quinto capítulo descreve-se a segurança e higiene no trabalho, focando as responsabilidades


dos vários intervenientes e avaliação de riscos no papel da prevenção com realce a dois aspetos
distintos: riscos profissionais decorrentes da execução da escavação dos poços e a outra, os riscos
profissionais específicos do trabalho de monitorização da obra.

4
No sexto capítulo realiza-se uma discrição do projeto da obra da Estação da Reboleira. Nele se
descrevem as principais características da empreitada, como o processo, faseamento e a
execução do projeto na fase de escavação e revestimento primário.

No sétimo capítulo apresenta-se o caso em estudo sobre os poços da estação e o poço de


ventilação. Toda a instrumentação da empreitada, as atividades da observação geotécnica,
relatórios de acompanhamento, comportamentos das estruturas envolventes. No final, os poços
da estação pela sua dimensão e método executivo é feita uma comparação com outro poço de
execução semelhante.

Por último, e não menos importante, o oitavo capítulo, relativo à apresentação das necessárias
conclusões, onde se realça a importância do tema para o setor da construção, para a segurança
das obras e em particular para a geotecnia.

5
6
2. Escavações

7
8
2.1 Introdução

De uma maneira geral, as obras de engenharia civil de grande ou pequeno porte exigem trabalhos
prévios de terraplanagem ou movimento de terras. A escavação é uma das operações que é,
porventura, uma das mais importantes de todo o processo de terraplanagem. Uma escavação
pode ser realizada com dois diferentes objetivos, os quais podem ser a de bens minerais ou a
abertura de espaços para fins diversos.
A escavação é o processo empregado para romper a compacidade do solo ou rocha, por meio de
ferramentas e processos convenientes, tornando possível a sua remoção. As operações de
escavações são normalmente completadas pelo carregamento do material escavado, transporte e
descarga para corpo de aterro ou para o vazadouro.
As escavações com finalidade de abertura de espaços visam a retirada de solo de um dado
terreno a fim de se atingir a profundidade ou a cota necessária à execução de uma determinada
construção, desde edifícios, adutoras de água, canais, coletores de esgoto, barragens, rede de
metropolitano, estradas, ferrovia, aeroportos, pontes, portos, aterros sanitários, entre outros.
Por esse amplo espetro de aplicações, fica claro que devemos estudar os serviços de escavação
em função dos aspetos técnicos neles envolvidos, e não pelo porte ou tipo da obra a que se
destinam. Estes aspetos serão descritos no ponto 2.5 – Tipos de escavação.

2.2 Evolução Histórica

Até ao aparecimento dos equipamentos mecanizados, a movimentação de terras e mais


concretamente a escavação era feita totalmente pelo homem utilizando pás e picaretas para o
corte. Este tipo de trabalho era de pouco rendimento e, como tal, a sua continuidade dependia,
sobretudo, de mão-de-obra abundante e barata. Segundo Ricardo e Catalini (1981) “para obter a
produção de 50 m3/h de escavação, empregar-se-iam, pelo menos 100 homens”. Estes autores
referem ainda que, embora a escavação manual seja um processo mais lento, “os prazos de
execução da movimentação de terras em grandes volumes eram razoáveis, se comparados com
os atuais”, isto desde que a mão-de-obra fosse abundante.
Entretanto, com uma mão-de-obra cada vez mais cara e em consequência do desenvolvimento
tecnológico, aparecem os equipamentos mecanizados. Estes equipamentos não eliminaram
totalmente a terraplanagem manual, embora seja esta a intenção de muitas pessoas ligadas ao
ramo da construção. Com a diminuição e encarecimento da mão-de-obra devido sobretudo à
industrialização, os atuais equipamentos mecanizados tem a vantagem de proporcionar alto

9
rendimento ou produtividade o que naturalmente conduz a preços mais baixos se comparados
com os preços referentes ao processo de escavação manual.

A escavação mecanizada permite o desmonte de grandes volumes de terras em prazos curtos mas
requer investimentos em equipamentos de alto custo, investimentos estes que nem todas as
empresas podem suportar. Por outro lado, a escavação mecânica exige um bom planeamento e
execução o que só está ao alcance de empresas com alto padrão de eficiência. Outra das
características da escavação mecanizada é que reduz a mão-de-obra, mas necessita de
especialização profissional.

Nos dias de hoje, cada vez mais se aposta no rendimento do operador/manobrador dos
equipamentos introduzindo tecnologias sofisticadas no apoio aos trabalhos (lubrificação
automática e sistema de ventilação em martelos demolidores hidráulicos, computador de bordo),
bem como no melhoramento do conforto do posto de trabalho (introdução de cabines
insonorizadas, disponibilização de meios áudio, ar condicionado, assentos ergonómicos, redução
das vibrações). Estes últimos contribuem também para a redução da sinistralidade laboral
específicos desta categoria profissional.

2.3 Ocupação do espaço do subsolo

A ocupação do subsolo para a implantação de uma obra de engenharia civil tem, nas últimas
décadas, registado uma tendência cada vez maior para a utilização do espaço subterrâneo,
satisfazendo não só as carências de espaço nas áreas urbanas em grande desenvolvimento, mas
também resolvendo problemas que o desenvolvimento de uma sociedade moderna impõe,
aproveitando algumas características interessantes do meio rochoso, para construção de
infraestruturas, sendo exemplos:

 Câmaras frigoríficas;
 Depósitos de combustíveis, águas das chuvas para controle de cheias;
 Depósito de armamento e abrigos especiais;
 Barragens, entre outros.

10
2.4 Classificação das escavações

As escavações podem ser classificadas em duas classes distintas: as escavações a céu aberto e as
escavações subterrâneas. Em ambas as categorias encontramos diferenças nos procedimentos de
corte e desmonte do maciço rochoso e na estruturação do desmonte para que não haja
desabamentos. Na presente tese serão abordados exclusivamente as escavações a céu aberto, no
caso específicos dos poços.
Com base no comprimento da fundação, na sua largura, e na profundidade medida na vertical do
nível do terreno, definem-se para estas os seguintes tipos:

 Trincheira ou vala: Escavação longa com largura e profundidade variável;


 Galeria / Túnel: Escavação subterrânea horizontal ou inclinada, que estabelece ligação
entre poços de uma mina. A escavação pode ser realizada por meio de explosivos ou por
meio de equipamentos mecânicos.
 Escavação a céu aberto: Escavação mais ou menos larga normalmente destinada a
fundações para a construção de edifícios e implantação de poços ou aterros.

2.5 Tipos de escavações

Diferentes autores defendem que as escavações podem ser classificadas relativamente ao tipo de
maciço, quanto ao tipo de utilização final, bem como relativamente a eventuais
constrangimentos. Outros, defendem a classificação dos serviços de escavação em função dos
aspetos técnicos neles envolvidos, e não pelo porte ou tipo da obra a que se destinam. Quanto a
nós este é a perspetiva mais adequada.

Assim, as escavações caracterizam-se pelos seguintes aspetos:


 Quantidade de solo a ser removido;
 Localização da escavação;
 Dimensões da escavação;
 Tipo de solo a ser escavado;
 Destino dado ao material retirado.

Ao considerarmos esses diferentes aspetos, podemos então classificar os tipos de escavações nas
diferentes categorias abaixo apresentadas, a saber:

11
 Grandes volumes em áreas limitadas (p.e. construção de edifícios com vários pisos
enterrados);
 Grandes volumes em grandes áreas (p.e terraplanagem);
 Solos não consolidados, sobretudo argilas e siltes (p.e. canais e construção de portos);
 Escavações verticais em áreas limitadas (p.e. construção de edifícios, mas são tipicamente
executadas em solos não coesivos ou quando existe a presença de água);
 Abertura de valas (p.e. em obras lineares: galerias, adutoras, túneis);
 Abertura de túneis (p.e. rodoviários e ferroviários);
 Dragagem (p.e. em leitos de rio e portos marítimos);

2.6 Geometria das escavações

O projeto de uma escavação a céu aberto é condicionado na sua grande maioria pelo espaço
disponível para o efeito. Principalmente quando pretendemos implementar num meio urbano,
onde existem constrangimentos ao nível de ocupação do espaço, derivado ao excesso de
construções. Assim, a forma que os mesmos podem apresentar são em função dos
condicionalismos existentes, podendo ser: quadrados (figura 2.1a), retangulares (figura 2.1b),
circulares e elípticos (figura 2.1c) e mistos (figura 2.1d). Quando estes condicionalismos não
existem, os projetos podem ter as mais diversas formas, tendo o projetista mais liberdade de
opção, sendo que os mais vantajosos em função do aproveitamento do espaço, em função do
volume de material retirado, bem como da melhor capacidade de auto-sustenção do terreno, em
termos de distribuição de tensões de forma a tirar maior proveito das características do terreno
que são o caso dos circulares e elípticos.

Assim a forma vai depender de:


 Tipo de maciço terroso/rochoso;
 Tipo de construção;
 Existência de construções na proximidade da escavação;
 Prazo de execução imposto pelo dono de obra;
 Custos de execução.

12
Figura 2.1 – Geometria dos poços: a) Quadrada; b) Retangular; c) Circular/elíptica; d) Mista.

2.7 Técnicas de escavação

Sob o ponto de vista da escavabilidade, os materiais da superfície terrestre classificam-se em:


rochas e solos. A maior ou menor dificuldade que este materiais oferecem ao desmonte
(resistência ao desmonte) vai condicionar as técnicas a utilizar no mesmo. Assim, a escavação
pode ser realizada com recursos a explosivos ou com meios mecânicos (ver figura 2.3). Nos meios
mecânicos poderão ser realizados através de balde, riper, roçadora e por martelo demolidor,
acessórios acoplados nos mais diversos equipamentos de escavação (figura 2.2).

13
Riper Balde Roçadora Martelo demolidor
Figura 2.2 - Acessórios para acoplar na escavadora.

São exemplos de equipamentos mecânicos as tuneladoras, vulgarmente designadas por TBM


(Tunnel Boring Machine), as máquinas de ataque pontual, vulgarmente designadas por roçadoras
e as escavadoras giratórias. Esta última, a mais utilizada quer nos trabalhos de escavação a céu
aberto como subterrâneas, devido em grande parte à sua versatilidade de acoplar acessórios
mencionados anteriormente. (ver figura 2.2).

a) b) c)
Figura 2.3 - Equipamentos – a) TBM; B) Máquina de ataque pontual; C) Escavadora giratória.

A escolha da técnica de desmonte é feita em função dos seguintes fatores (adaptado de Bastos,
1998):

 Geológico-geotécnicos (geomecânica; zonamento geotécnico, entre outros);


 Geométricos (dependendo da forma, dimensões e comprimento, profundidade da
escavação impostos pelo dono de obra ou pelo projetista);
 Estruturais (gasodutos, refinarias, caminhos de ferro, hospitais, centrais nucleares, entre
outros);
 Riscos (Assentamentos à superfície, danos estruturais na vizinhança, entre outros);
 Geográficos (meio urbano densamente populacional);
 Ambientais (Preservação ambiental, zonas ecológicas protegidas, cursos de água e
aquíferos, entre outros);

14
 Económicos;
 Prazo1;
 Burocráticos2

De uma forma sucinta, as razões burocráticas e de prazos podem sobrepor-se por exemplo à
opção de escavação mecânica em detrimento de utilização de meios explosivos e a forma
geométrica na execução de uma escavação devido à necessidade de cumprimento de prazos.

2.8 Fatores que influenciam a movimentação do terreno

Na execução das escavações e nos trabalhos no seu interior, o principal e mais evidente perigo
são os movimentos acidentais do terreno. Dependendo da dimensão do movimento e quanto à
sua origem, este pode trazer graves consequências aos trabalhadores e às estruturas da própria
obra e outras vizinhas à escavação.

As possíveis movimentações do terreno podem ter origem por influências e perturbações de


fatores internos e externos, a seguir mencionados:

Fatores Internos:

 Dimensões da escavação (p.e. profundidade);


 Propriedades dos solos ou rochas envolvidos (p.e. coesão, ângulo atrito, coeficiente
poisson, cisalhamento, resistência compressão e tração, entre outros);
 Pressão hidrostática devido à água no terreno;
 Velocidade de escavação;
 Tempo decorrido entre a escavação de cada painel e a execução da contenção;
 Sequência nos processos de escavação e contenção;
 Tipo de contenção adotado e características mecânicas do mesmo;

1
Incluímos mais estes dois fatores, que são de razão burocrática e de cumprimento de prazos, que podem anular a
maior parte dos fatores anteriormente enumerados e que serão abordados no Capítulo 6 – Projeto de execução.
2
idem.

15
Fatores Externos:

 Estruturas e instalações vizinhas (infra-estruturas enterradas próximas, fundações rasas


ou diretas);
 Cargas temporárias (material removido depositado junto da escavação, movimentação de
máquinas próximas à escavação, entre outros);
 Condições meteorológicas adversas ou abrutas.

Tendo em conta estes fatores é necessário estudar as características geológicas-geotécnicas do


terreno a escavar, tanto mais quando se trabalha em zonas urbanas. Assim, os riscos de acidentes
em escavações são diretamente proporcionais ao conhecimento insuficiente das características
do terreno escavado.

Desta forma, ao longo dos capítulos da presente tese será dada enfâse à importância da
investigação geotécnica e a importância desses dados no apoio e opções de projeto, que através
de medidas preventivas minimizaram ou excluíram possíveis riscos por influência dos fatores atrás
mencionados.

2.9 Estruturas de contenção com escavação na vertical

Para além de estruturas de contenção com escavação na vertical, existem outras estruturas de
contenção a considerar quando não temos limitação de espaço, como a execução de escavação
em talude para execução de muro de gravidade/contenção. No âmbito da presente tese, somente
serão abordadas as estruturas de contenção com escavação na vertical, dada a sua particular
relevância na execução de poços.

A contenção de escavações torna-se necessária quando a estrutura do maciço não apresenta


condições de manter-se estável por si só, ou quando se deseja restringir os deslocamentos dentro
de certo intervalo, ou ainda por questões de segurança. Para isto utilizam-se as estruturas de
contenção, sendo frequente hoje em dia a utilização de contenções nas escavações, com maior
ocorrência nos meios urbanos onde as aéreas disponíveis de construção são muito reduzidas. A
geotecnia de fundações disponibiliza um leque alargado de soluções que se apresenta de seguida
(figura 2.4) e podemos distingui-las de duas formas:

16
FUNCIONAMENTO ESTRUTURAL FORMA DE OBTENÇÃO DO EQUILÍBRIO

ESCORADAS
CONTENÇÕES PROVISÓRIAS Por escoras horizontais;
São flexiveis (capazes de absorverem Por escoras inclinadas;
deformações do terreno) Por atirantamento (pregagens ou
ancoragens).

CONTENÇÕES DEFINITIVAS
NÃO ESCORADAS
São rigidas (capazes de conter o terreno
Pela forma da escavação, capazes de
escavado e de servir como vedação
absorver os impulsos do terreno.
vertical da parte enterrada).

Figura 2.4 - Esquema de tipos de estruturas de contenção.

É cada vez mais frequente a utilização de pregagens ou ancoragens pelas mais variadas razões:
permite uma parede de contenção de menor espessura e com menor consumo de aço e betão, já
que está sujeito a menores esforços. Outra vantagem é que a área escavada fica livre das
interferências causadas pelas escoras, facilitando a execução das estruturas nela previstas.

Os tipos mais comuns de estruturas de contenção executadas com escavação na vertical,


correspondem, atualmente em Portugal, às soluções de Berlim definitivo, Berlim provisório,
parede moldada, cortina de estacas, cortina de colunas de jet-grouting e cortina de estacas
prancha, e método de escavação sequencial ou método NATM desde 2003. Estas soluções são
adotadas quando as condições de vizinhança não permitem a escavação e o aterro no tardoz,
distinguem-se pelos materiais e, sobretudo, pelas metodologias construtivas.

2.9.1 Contenções do tipo Berlim definitivo

Este tipo de solução muito utilizada em Portugal é, em teoria, económica quando o desnível de
terras a conter não é superior a cerca de 12 m e quando os terrenos a conter apresentam média a
elevada compacidade e/ou coesão. Como principal desvantagem destaca-se a possibilidade de
descompressão dos terrenos durante as operações de escavação e a dependência do fator

17
humano, tornando os rendimentos baixos quando os faseamentos construtivos teóricos são
respeitados, condição importante para evitar a referida descompressão dos terrenos a conter.

Este tipo de contenção consiste na execução de uma parede constituída por painéis com
espessura, em geral variável entre 0,25 a 0,35 m, de cima para baixo, apoiados em perfis verticais,
previamente instalados no terreno antes do início dos trabalhos de escavação e com afastamento
médio em geral não superior a 3 m. O travamento é garantido através da realização de
ancoragens ou escoramentos aplicados, em geral, no centro dos painéis, conforme representado
na figura 2.5.

Figura 2.5 - Contenção tipo Berlim definitivo (site: construironline, 2012).

2.9.2 Contenções do tipo Berlim provisório

Este tipo de solução é igualmente muito utilizada em Portugal em particular em obras provisórias
e quando os terrenos a conter apresentam média a elevada compacidade e/ou coesão.
Conceptualmente apresenta muitas semelhanças com a anterior, sendo contudo menor a
possibilidade de descompressão dos terrenos durante as operações de escavação, em virtude da
colocação das pranchas de madeira poder ser mais rápida do que a betonagem dos painéis.

De uma forma simples, este tipo de contenção consiste na execução de uma parede constituída
por barrotes de madeira, com espessura em geral de 8 a 10 cm, de cima para baixo, apoiados em
perfis verticais, previamente instalados no terreno antes do início dos trabalhos de escavação
com afastamento médio em planta, em geral, não superior a 1,5 m. Como mostra a figura 2.6 e

18
2.7, a contenção é em geral travada por ancoragens ou escoramentos apoiados em perfis
metálicos horizontais de distribuição.

Figura 2.6 - Cortina de contenção tipo Berlim provisório com escoramento (site: engenhariacivil.com).

Figura 2.7 - Contenção tipo Berlim provisório com ancoragens (site construironline, 2012).

2.9.3 Parede moldada

Este tipo de solução tem sido muito utilizada em Portugal, recorrendo a equipamentos mecânicos
e hidráulicos, quando os terrenos a conter apresentam um desnível grande, baixa compacidade
e/ou coesão e ainda quando o nível freático se localiza acima do fundo da escavação em terrenos
permeáveis e isentos de materiais pedregosos. Como principal vantagem destaca-se a limitação
da descompressão dos terrenos durante as operações de escavação e a menor dependência do
fator humano, tornando os rendimentos altos e sem riscos para a obra. Como principal

19
desvantagem refere-se a espessura mínima de 0,40 m, determinada por razões construtivas, que
a parede deverá dispor, à qual deverá ser adicionada a espessura mínima de 0,20 m dos muros
guia, exteriores à parede ao nível da viga de coroamento.

Genericamente consiste na execução de painéis verticais (barretas) justapostos e sem


continuidade estrutural no sentido horizontal, com exceção da conferida pela viga de
coroamento. Os painéis são escavados numa vala com a espessura da parede e betonados, de
baixo para cima, a partir da superfície do terreno, previamente aos trabalhos de escavação,
conforme metodologia apresentada na figura 2.8. Os travamentos são conferidos em geral
através de ancoragens e de escoramentos. Comparativamente com as soluções de Berlim, esta
técnica minimiza a descompressão dos terrenos escavados uma vez que a parede é realizada, com
exceção dos respetivos travamentos, integralmente antes da escavação (construironline).

Figura 2.8 - Metodologia executiva de parede moldada “in situ” (site: geofund.com.br).

2.9.4 Cortina de estacas

Este tipo de solução tem sido muito utilizada em Portugal quando os terrenos a conter
apresentam grande desnível, integram elementos pedregosos que tornam difícil o recurso à
solução de paredes moldadas com equipamentos mecânicos e hidráulicos e quando o nível
freático se situa acima do fundo da escavação. Como principal vantagem destaca-se a limitação da
descompressão dos terrenos durante as operações de escavação e a menor dependência do fator
humano, tornando os rendimentos altos e sem riscos para a obra. Como principal desvantagem
refere-se o diâmetro mínimo de estacas moldadas de 0,40 m (trado contínuo) ou 0,50 m (vara
telescópica), determinado por razões construtivas, que a cortina deverá dispor.

20
Genericamente consiste na execução de estacas, em geral não justapostas, ou seja, no limite
apenas secantes. Quando é necessário assegurar o efeito de parede, por exemplo em escavações
abaixo da cota do nível freático e em terrenos permeáveis, é usual intercalar estacas de betão
simples ou colunas de jet grouting com estacas de betão armado. As estacas são realizadas a
partir da superfície do terreno, previamente aos trabalhos de escavação. Os travamentos são
conferidos em geral através de ancoragens e de escoramentos (ver figura 2.9). Tenta-se que o
primeiro travamento seja realizado ao nível da viga de coroamento, de forma a minimizar o
número de vigas de distribuição onde são, em geral e de modo a garantir um comportamento
mais uniforme da cortina, aplicados os travamentos dos níveis inferiores. Comparativamente com
as soluções de Berlim esta técnica minimiza a descompressão dos terrenos escavados uma vez
que a cortina, com exceção dos respetivos travamentos, é realizada integralmente antes da
escavação.

Figura 2.9 - Cortina de estacas com ancoragens nas vigas, executada na obra em estudo (NE ACE, 2011).

Na figura anterior é percetível que o espaçamento entre estacas pode ser variável e depende
essencialmente do terreno (solo ou rocha), do nível freático e presença de estruturas vizinhas à
escavação.

2.9.5 Cortina de colunas de jet grouting

Este tipo de solução tem nos últimos anos sido muita utilizada em Portugal quando os terrenos a
conter apresentam reduzido a médio desnível, quando o nível freático se situa acima do fundo da
escavação e as condições de acesso não permitem o recurso a equipamentos pesados e de grande
dimensão, como é o caso dos que executam paredes moldadas e estacas. Constitui igualmente
uma alternativa à solução de cortina de estacas prancha, em particular se existem restrições às
condições de acesso de equipamentos e se os terrenos integram materiais pedregosos. Como

21
principal vantagem destaca-se a limitação da descompressão dos terrenos durante as operações
de escavação e a menor dependência do fator humano, tornando os rendimentos altos e sem
riscos para a obra.

Genericamente consiste na execução de colunas justapostas, por vezes armadas com perfis
metálicos. As colunas são realizadas a partir da superfície do terreno, previamente aos trabalhos
de escavação. Comparativamente com as soluções de Berlim esta técnica minimiza a
descompressão dos terrenos escavados uma vez que a cortina é realizada integralmente antes da
escavação, conforme mostra figura 2.10.

Figura 2.10 - Execução de jet-grouting (site: brasfond, 2012).

2.9.6 Cortina de estacas prancha

Este tipo de solução é bastante utilizada em Portugal quando os terrenos a conter apresentam
baixa compacidade e/ou coesão, encontram-se isentos de elementos pedregosos, e quando o
nível freático se localiza acima do fundo da escavação em terrenos permeáveis. O sistema de
juntas permite garantir a estanqueidade da cortina caso a mesma disponha de uma geometria,
em planta, fechada. Este campo de aplicação corresponde assim, na maioria das situações, a
trabalhos de natureza marítima e fluvial. Nas intervenções de carácter provisório é corrente o
reaproveitamento das estacas prancha (construironline).

22
Como principal vantagem destaca-se a limitação da descompressão dos terrenos durante as
operações de escavação e a menor dependência do fator humano, tornando os rendimentos altos
e sem riscos para a obra. Como principal desvantagem refere-se a esbelteza da grande maioria
das estacas prancha, assim como o recurso a um processo de cravação e descravação que induz
vibrações no terreno, comprometendo, por vezes, a utilização deste tipo de solução em zonas
urbanas.

Genericamente consiste na cravação de pranchas metálicas a partir da superfície, previamente


aos trabalhos de escavação, conforme mostra figura 2.11. Comparativamente com as soluções de
Berlim esta técnica minimiza a descompressão dos terrenos escavados uma vez que a cortina é
realizada integralmente antes da escavação.

Figura 2.11 - Cortina de estaca prancha (site: engenhariacivil.com).

2.9.7 Método de escavação sequencial

Este método de escavação sequencial, na vertical, é concretizado por um conjunto de atividades


sequenciais que se assemelham às construções de um túnel, com a diferença da sua orientação
na direção vertical. Por esse motivo são designados vulgarmente por poços NATM (New Austriac
Tunnelling Method). Este tipo de solução foi pela primeira vez utilizada em Portugal em 2003, no
Metro do Porto, nas estacões do Marquês e em seguida em Salgueiros.

23
Por se tratar do método utilizado nos poços em estudo do presente trabalho, a descrição do
método de escavação sequencial ou métodos NATM será detalhado no ponto 6.2 – Processo
construtivo.

De seguida, apresenta-se no quadro 2.1 um resumo do tipo de contenção descritas


anteriormente, com indicação do campo de aplicação e as características do terreno.

Quadro 2.1 - Campo de Aplicação das Estruturas de Contenção sem Escavação na Tardoz.

Tipo de Contenção Campo de Aplicação Características dos Terrenos


Quando existem limitações à espessura da Compacidade e coesão média a alta e
Contenção tipo
parede e de acessibilidades de ausência de nível freático acima da
Berlim definitivo
equipamentos. cota final da escavação.
Compacidade e coesão média a alta e
Contenção tipo
Escavações com carácter provisório. ausência de nível freático acima da
Berlim provisório
cota final da escavação.
Escavações onde é importante limitar a Compacidade e coesão média a baixa e
Parede moldada
descompressão do terreno. ausência de materiais pedregosos.
Escavações onde é importante limitar a Compacidade e coesão média a baixa e
Cortina de estacas
descompressão do terreno. existência de materiais pedregosos.
Escavações onde é importante limitar a
Compacidade e coesão média a baixa,
Cortina de colunas descompressão do terreno e quando existem
sendo independente da existência de
de jet grouting limitações de acessibilidades de
materiais pedregosos.
equipamentos.
Cortina de estacas Escavações onde é importante limitar a Compacidade e coesão média a baixa e
prancha descompressão do terreno. ausência de materiais pedregosos.
Maciço rochoso a solo residual.
Escavações onde existe grande espaço de
Compacidade e coesão baixa a alta e
Método NATM construção e necessidade de rapidez
nível freático abaixo da cota de
executiva.
escavação.
(adaptado da fonte: Construironline.dashofer.pt)

O quadro reflete bem as limitações do tipo de contenção a aplicar numa determinada escavação,
sendo que as que mais influenciam são as características dos terrenos, necessidade de limitar ou
não a descompressão do terreno e a acessibilidade aos equipamentos.

24
3. Projeto e investigação geotécnica

25
26
3.1 Introdução

Muitos dos riscos associados a projetos de construção estão relacionados com as condições
geotécnicas do local e, portanto, o êxito de tais projetos depende de um programa adequado do
solo, investigação e sobre a gestão dos riscos associados com o solo. A International Society for
Soil Mechanics and Geotechnical Engineering (ISSMGE), definiu as orientações para a condução
de investigações geotécnicas do solo. Estas orientações gerais serão detalhadas mais à frente.

No momento atual de mudanças na economia, a crise económica e financeira mundial que se


arrasta desde 2008, com especial atenção à crise europeia denominada pelas “dívidas soberanas”
nos estados membros e com o programa de ajustamento financeiro a Portugal, o investimento no
setor público e privado, foi e será afetado com a necessidade inerente de redução de custos.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o setor da construção sendo um pilar de
desenvolvimento do país, representava em 2010 um peso 6,7% do VAB (Valor Acrescentado
Bruto) no VAB total da economia, vê refletida de imediato os efeitos da crise. Uma das
consequências desta crise é a prática de preços anormalmente baixos, um problema que se faz
sentir sobretudo no segmento das obras públicas. As propostas de concursos públicos já em si
refletem reduções significativas no preço base, ainda agravado pela necessidade das empresas
manterem as “portas abertas” e assegurar os postos de trabalho, apresentam propostas de valor
abaixo do preço base de concurso (que pode ir até 40%).

Neste contexto atual, é natural que a geotecnia em geral seja afetada com redução de custos e
venha influenciar com maior incidência a investigação geotécnica para o que é uma extensão
desejável de investigação, sem comprometer o projeto.

3.2 Investigação geotécnica

É imprudente, e potencialmente arriscado, tentar reduzir o programa de investigação do solo


abaixo do que é avaliado como desejável, a fim de gerir os riscos terrestres relevantes para o
projeto. A investigação deve ser suficientemente abrangente para fornecer os parâmetros
necessários para o projeto e permitir que a avaliação seja feita com base em fatores que vão
afetar o método de construção. A investigação deve estender-se tanto lateral como verticalmente
para cobrir todo o terreno que irá influenciar o desenvolvimento.

27
3.2.1 Fases do processo de investigação geotécnica

É prudente considerar o processo de investigação do solo como um todo e que continua para
além da fase de construção, ao invés de apenas uma atividade preliminar que antecede a
construção principal. Para a maioria dos projetos, o processo de investigação do solo deve ser
composto das seguintes fases3:

 Um estudo teórico detalhado, incluindo a compreensão da história geológica do local;


 Desenvolvimento de um modelo preliminar geológico e geotécnico para ajudar na
formulação do programa de investigação do solo;
 Investigações preliminares básicas para estudos de viabilidade;
 A fase de investigação principal detalhada do solo, para permitir refinamento do modelo
preliminar geológico e geotécnico e para contribuir para o projeto de engenharia e
avaliação de métodos de construção;
 Um fundo para a investigação suplementar para examinar anomalias ou incertezas que
surgem durante o processo de design;
 Um fundo para a investigação adicional “in situ” durante a construção;
 A provisão para a presença de um profissional geotécnico para estar no local durante
estas fases da construção que envolvem os riscos associados;
 Interpretação contínua das condições do solo como-construídos e dados de
monitorização de construção, para permitir a comparação com os pressupostos do
projeto, e para permitir a implementação de quaisquer alterações que possam ser
necessários durante a construção.

3.2.2 Relatórios dos resultados da investigação

O relatório deve documentar factualmente os resultados da investigação, e deve incluir a


interpretação, como foi acordado antes do início da investigação. Após a conclusão do projeto, é
desejável produzir um relatório final de geotecnia que documenta a aquisição, a interpretação e a
utilização de dados de construção, de modo que ele possa estar disponível para referência futura.

3
Procedimento recomendado para investigações Geotécnicas do solo - International Society for Soil Mechanics and
Geotechnical Engineering, 9 February 2005.

28
Das diferentes fases de investigação abordadas anteriormente, apenas será mencionado através
de uma pequena descrição a prospeção geotécnica e o reconhecimento geológico-geotécnico,
que parecem mais adequadas e/ou de maior interesse para a presente tese.

3.3 Reconhecimento geológico-geotécnico

Como já foi referido, antes da execução de uma contenção periférica é essencial ter o maior nível
de conhecimento possível quer da envolvente à obra, quer da natureza e da formação do terreno
da área a intervir. Surge então a necessidade de se efetuar um reconhecimento Geológico-
Geotécnico do local.

3.3.1 Investigação preliminar

Esta investigação preliminar poderá abranger, dependendo do fim para que é realizado o estudo,
uma série de elementos informativos do terreno, como por exemplo: análises topográficas gerais,
descrição de possíveis alterações litológicas e físicas verificadas, tipo de estruturas existentes nas
proximidades e anotações de eventuais danificações, níveis de água no subsolo (recolhidos
principalmente a partir de medições em poços ou escavações), colheitas de amostras
características, entre outros.
Uma referência também para a documentação oficial da zona, que é mais uma fonte de
informação útil para o início dos trabalhos. Neste caso, podem ser consultados, por exemplo, as
cartas topográficas, artigos e relatórios sobre prospeção e geologia dos locais e suas vizinhanças,
registos hidrológicos e fotografias aéreas.

Para ilustrar a importância do reconhecimento geotécnico indicam-se, de seguida, alguns dados


que Silvério Coelho (Coelho, 1996) contabilizou em relação às falhas que originaram acidentes
com origem em fundações, no período de 1950 a 1972, em França:
- 40% por falta de reconhecimento geotécnico;

- 35% por má interpretação das sondagens ou mau conhecimento das leis de mecânicas
dos solos;

15% por defeitos de execução;

10% por agressividade do meio, nomeadamente por corrosão da água ou por se estar em
contacto com ambientes agressivos.

29
Face a estes dados, também é preocupante a percentagem de falhas causadas pela má
formação/fracos conhecimentos dos intervenientes responsáveis pela conceção do projeto. Ainda
assim, verifica-se que a maior percentagem remete para a falta de reconhecimento geotécnico
(Coelho, 1996), o que se pode explicar por uma tentativa de minimizar os custos totais da obra. É
um erro seguir este tipo de procedimento, uma vez que a pequena percentagem que se
economiza em não realizar estudos prévios não justifica, de maneira nenhuma, os riscos inerentes
(estragos materiais e até mesmo a perda de vidas humanas). Os riscos humanos, através da
avaliação dos riscos profissionais serão referidos no Capítulo 5 - Segurança e Higiene no Trabalho.

3.3.2 Consequências

O défice de reconhecimento geotécnico poderá levar a consequências graves como acidentes com
origem em fundações, como anteriormente descrito, mas também poderá conduzir a deficiente
avaliação das necessidades e consequentemente grandes desvios orçamentais. Este último aspeto
abordado pelo signatário da presente tese no projeto da licenciatura em Engenharia Geotécnica e
Geoambiente com o tema “ A importância da Caracterização Geotécnica no Sucesso Técnico e
Económico duma Obra”.
A nível de exemplo, passamos a referir, de uma forma sucinta, que a deficiente caracterização
geotécnica levou aos seguintes aspetos negativos:
- Desvios orçamentais;
- Prolongamento de prazos de obra.
O estudo foi realizado na execução de uma via rodoviária urbana, obra a cargo de uma entidade
pública. Estas alterações ao projeto, resultaram num custo acrescido para a terraplanagem na
ordem de 540.000 €, que totalizou um acréscimo de custos de 118%, em que a maior fatia desta
percentagem, é resultante do grande volume de terras a movimentar, conforme indicado no
quadro 3.2.

Quadro 3.2 - Volumes de terras movimentadas.


VOLUME (m3) Escavação Aterro Vazadouro Empréstimo

Contratual 133.000 97.000 36.000 -

Executado 145.000 83.000 101.000 39.000

Para além destas consequências, existem outras que envolvem direta e indiretamente os
intervenientes na obra, e no qual se apresenta no quadro 3.3 uma sínteses dos fatores mais
relevantes:

30
Quadro 3.3 - Fatores/Causas e respetivas consequências do défice de investigação geotécnica.
FATORES/CAUSAS CONSEQUÊNCIAS

Empreiteiro Alargamento do prazo de obra, - Encargos financeiros;


implica aumento de encargos - Mão-de-obra de enquadramento técnico da obra;
diretos e indiretos. - Estaleiro industrial e social, etc…

Alterações no planeamento e - Desdobramento de pessoal em várias obras;


execução, com perdas de - Horas a mais de trabalho;
produtividade. - Cansaço físico e psicológico dos trabalhadores;
- Redução de rendimentos dos trabalhadores;
- Acidentes de trabalho.

Dono de obra Encarecimento da obra inicialmente prevista;


Alterações ao projeto de execução, o que implica
alterações técnicas e económicas da obra, assim como
a paragem ou abrandamento da obra.

População vizinha Zona densamente populacional – - Alteração de rotina do dia-a-dia;


Agravamento e arrastamento das - Fatores ambientais, tais como ruido, poluição;
condições existentes. - Estrangulamento e cortes de acesso a casas, rampas;
- Provoca conflitos, perda de paciência e exaltação.
País - Baixa taxa de concretização de desenvolvimento;
- Derrapagem orçamentais;
- Má gestão dos dinheiros públicos;
- Mais impostos cobrados aos contribuintes;
- Desvios de recursos económicos e sociais.

3.4 Programa de prospeção geotécnica

Os trabalhos de prospeção e de interpretação do estudo geotécnico são feitos normalmente por


empresas da especialidade, tendo por base normas existentes relativas à prospeção geotécnica de
terrenos, permitindo complementar, pormenorizar e refinar as informações até aqui obtidos
(como por exemplo, as obtidas na investigação preliminar e reconhecimento geológico-
geotécnico). Este estudo informa sobre a constituição dos solos, as suas propriedades físicas e a
presença de água em função das respetivas profundidades.
Caso este tipo de estudo seja bem conduzido, o custo em relação ao valor total da obra situa-se
nos 0,5 a 1%. Complementado com uma boa investigação preliminar, este valor poderá ainda ser
substancialmente reduzido, dependendo da importância da construção.
Os projetos geotécnicos são usualmente executados tendo por base ensaios de campo e de
laboratório, os quais permitem obter resultados satisfatórios relativamente às formações
existentes bem como as suas propriedades, nomeadamente, as propriedades mecânicas.

31
3.5 Métodos de caraterização geomecânica

A procura incessante de compreender os parâmetros geomecânicos dos maciços rochosos e


terrosos, tem evoluído significativamente nas últimas décadas. Para estes desenvolvimentos têm
contribuído diversos fatores dos quais se destacam os seguintes:

 O aparecimento de novos instrumentos e equipamentos para os ensaios “in situ” e em


laboratório que permitem uma maior precisão na avaliação do comportamento dos
materiais e dos maciços;
 O aperfeiçoamento dos sistemas empíricos de classificação de maciços rochosos e de
quantificação dos parâmetros geomecânicos;
 O melhoramento das técnicas de monitorização que permitem uma maior precisão na
medição das grandezas observadas;
 A introdução de metodologias probabilísticas na caracterização de maciços;
 O desenvolvimento de ferramentas numéricas mais potentes que permitem a realização
de análises inversas com modelos mais complexos;
 O desenvolvimento de ferramentas inovadoras com recurso a técnicas de Inteligência
Artificial (IA) para o apoio à decisão no domínio da avaliação das propriedades
geomecânicas.

No caso dos maciços rochosos, a obtenção de parâmetros processa-se, para além do recurso a
ensaios, através de metodologias empíricas que tentam relacionar os fatores que influenciam o
comportamento dos maciços. Os maciços heterogéneos são de natureza mais complexa, pelo que,
para a sua caracterização, utilizam-se metodologias que combinam ensaios e classificações
empíricas com ferramentas probabilísticas.
As metodologias numéricas associadas ao uso de meios de cálculo automático poderoso
permitem resolver problemas de elevada complexidade, considerando corretamente os aspetos
não contemplados por metodologias analíticas. A modelação e a segurança constituem, assim, as
bases do dimensionamento, o que pressupõe a elaboração de modelos, a análise das ações e a
avaliação das propriedades dos materiais e do risco associado à construção da obra, de onde
decorre a formulação de critérios de segurança (Cardoso, 2004). Tendo presente as incertezas
inerentes a qualquer dimensionamento, este deve assegurar um nível de risco aceitável ou um
nível de segurança especificado dependente da obra em questão e das consequências de um
possível colapso (Caldeira, 2005).

32
A seleção dos valores característicos dos parâmetros geotécnicos é um dos aspetos cruciais das
metodologias semi-probabilísticas de avaliação da segurança, como é o caso das preconizadas no
Eurocódigo 7 (EC7), tema a ser abordado mais adiante, neste capítulo.

Da variabilidade natural dos maciços decorre que, no dimensionamento geotécnico, a avaliação


das propriedades geotécnicas é o aspeto sobre o qual recai o maior grau de incerteza. Este facto
decorre dos complexos processos geológicos envolvidos na formação dos maciços e das
dificuldades da sua caracterização.
O domínio da caracterização dos maciços tem vindo a experimentar progressos consideráveis nas
últimas décadas. Nos maciços rochosos a caracterização processa-se, fundamentalmente, através
da realização de ensaios e da utilização de metodologias empíricas, como os sistemas RMR
(Bieniawski, 1989), Q-system (Barton et al., 1974) e GSI (Hoek et al., 2002). Anote-se, também, os
desenvolvimentos feitos na avaliação da resistência dos maciços rochosos. Assim, Hoek et al.
(2002) atualizaram as expressões para o critério de Hoek-Brown modificado (HB) de forma a
resolver alguns problemas das expressões anteriores. Douglas (2002) apresentou novas
expressões para o mesmo critério, de forma a contemplar tipos de rocha e maciços para os quais
o critério inicial não apresentava um desempenho satisfatório. Todas estas metodologias estão
mais direcionadas para as obras subterrâneas (túneis) do que propriamente para escavações a
céu aberto. Em determinadas obras existem estes dois tipos de escavação, em que o zonamento
geotécnico da escavação a céu aberto é definido pelo resultado da caraterização geomecânica dos
túneis.
Nos maciços marcadamente heterogéneos, a caracterização geomecânica torna-se ainda mais
complexa. A definição determinística dos parâmetros e da geometria do zonamento são tarefas
muito difíceis. Não obstante, têm vindo a ser propostas metodologias de caracterização que
combinam de formas diferentes ferramentas probabilísticas, resultados de ensaios, aplicação dos
sistemas empíricos e resultados da observação.
Os modelos numéricos desenvolvidos em qualquer tipo de maciço devem ser sempre validados
quer seja através de cálculos expeditos com recurso a métodos analíticos que permitem
facilmente a realização de estudos de sensibilidade, quer seja através da comparação com
resultados da monitorização.
A monitorização e observação das obras visam a validação e calibração dos modelos geotécnicos,
aspeto fundamental para a compreensão dos mecanismos que regem o comportamento dos
maciços e das obras geotécnicas. Através da comparação entre os comportamentos previstos e
observados pode-se concluir da razoabilidade das hipóteses assumidas e da fiabilidade do modelo
geotécnico adotado. Neste aspeto particular, as técnicas de retro análise assumem particular

33
destaque, pois permitem obter os parâmetros do modelo com base no comportamento real da
obra através de técnicas matemáticas formalmente adequadas. (Miranda, 2006)

3.6 Zonamento geotécnico

A partir da caraterização geotécnica mencionado no ponto anterior, é possível estabelecer um


zonamento geotécnico com a finalidade de definir maciços geológicos com idênticas respostas
geotécnicas a curto e a longo prazo (Oliveira, 1986a). Esta forma de repartir o maciço em zonas
que exibem comportamentos geomecânicos semelhantes, tem sido um valioso auxiliar dos
técnicos ligados às obras subterrâneas, uma vez que permite a aplicação das mesmas técnicas em
zonas com características comparáveis, fornecendo facilidade no dimensionamento e permitindo
a otimização da execução. Segundo Oliveira, trata-se assim de balizar o maciço rochoso dentro de
limites bem definidos e aceitáveis, relativos à deformabilidade, resistência, permeabilidade e
estado de tensão.
O zonamento geotécnico é uma eficiente metodologia de trabalho, se forem atendidos os
constrangimentos próprios das obras desta natureza. Por si só, esta metodologia não é suficiente
na organização total do processo construtivo, apesar de definir valores mecânicos característicos
de cada zona geotécnica. O âmbito do zonamento geotécnico não pode, muitas vezes, abranger
simultaneamente os métodos de escavação, sustimento, constrangimentos ambientais, etc.
(Bastos, 1998). Como exemplo, a execução de dois poços podem sofrer distintos métodos de
escavação e sustimento, pelo simples facto de encontrar-se perto de estruturas de risco, em áreas
urbanas ou não, para a mesma classificação geotécnica.

Assim, o zonamento geotécnico é peça fundamental do “puzzle”, que permite fornecer uma
abordagem de cenários característicos para zonas relativamente homogéneas, onde a sua
aplicação não induza custos acrescidos na escavação, suporte ou a redução das condições de
segurança. A adoção eficaz desta metodologia carece igualmente de reconhecimento e
instrumentação contínuos do maciço a escavar, que terá de ir muito para além da mera
classificação geológica das frentes de desmonte, por si só insuficiente para a aferição das
condições mecânicas e estruturais do maciço rochoso.
O zonamento geotécnico é também uma importante ferramenta de contributo para o projetista
na utilização dos programas de simulação dos episódios construtivos e com estes obter resultados
dos desenvolvimentos das tensões e deformações no maciço, em função do avanço da escavação
e do zonamento geotécnico atravessado e que será abordado no Capítulo 7 – Estudo de caso.

34
3.7 Eurocódigos estruturais

Os Eurocódigos estruturais são normas relativas ao projeto estrutural e geotécnico de edifícios e


obras de engenharia civil. Os Eurocódigos fornecem regras comuns de cálculo estrutural para a
aplicação corrente no projeto de estruturas e dos componentes, de natureza quer tradicional
quer inovadora. Elementos construtivos ou condições de cálculo não usuais não são
especificamente incluídos, devendo o projetista, nestes casos, assegurar o apoio especializado
necessário.

São nove os Eurocódigos estruturais, sendo o Eurocódigo 7 (EC7) relativo ao projeto geotécnico,
através da Norma Europeia EN 1997, que se divide 2 partes.
A parte 1 através da Norma Europeia EN 1997-1:2004 - Regras gerais para os aspetos geotécnicos
do projeto de edifícios e de outras obras de engenharia civil e a parte 2 através da Norma
Europeia EN 1997-2:2007 – Caracterização geotécnica – estabelece requisitos para a realização e
para a avaliação dos resultados de ensaios de campo e laboratório. Ambas as Normas Europeias
são transpostas para a Norma Portuguesa (NP), respetivamente NP EN 1997-1:2010 e NP EN
1997-2 (ainda não publicada). A Norma EN 1997-1 substitui a ENV 1997-1:1994.

3.7.1 Eurocódigo 7

O EC7 estabelece que a escolha dos valores característicos das propriedades dos solos e das
rochas deve basear-se nos resultados de ensaios de laboratório e de campo. No entanto, segundo
o mesmo EC7, o valor característico de uma propriedade deve ser entendido como uma
estimativa cautelosa do valor médio que essa propriedade pode tomar. A avaliação dos valores
característicos deve basear-se não só em resultados experimentais (que utilizam quantidades
relativamente pequenas de terreno), mas também na experiência e no risco inerente à obra. O
EC7 permite também a utilização de métodos estatísticos na avaliação dos valores característicos
das propriedades dos terrenos.
Como foi referido, têm sido desenvolvidas novas metodologias de cálculo numérico e ferramentas
de cálculo automático cada vez mais poderosas. No entanto, sem uma rigorosa caracterização dos
parâmetros dos materiais envolvidos não é possível a obtenção de resultados relativamente
fiáveis.

No quadro 3.4, apresentam-se listados os Eurocódigos estruturais, com desenvolvimento da


estrutura do EC7 – Projeto de geotécnico e os respetivos anexos.

35
Quadro 3.4 - Esquema dos Eurocódigos e a estrutura do EC7-1.

Eurocódigos estruturais
Eurocódigo 1 – Bases de projeto e ações em estruturas;
Eurocódigo 2 – Projeto de estruturas de betão;
Eurocódigo 3 – Projeto de estruturas de aço;
Eurocódigo 4 – Projeto de estruturas mistas betão-aço;
Eurocódigo 5 – Projeto de estruturas de madeira;
Eurocódigo 6 – Projeto de estruturas de alvenaria;
Eurocódigo 7 – Projeto geotécnico EN (1997);
Eurocódigo 8 – Disposições para projeto de estruturas sismo-
resistentes;
Eurocódigo 9 – Projeto de estruturas de alumínio;
Norma EN 1997-1 trata os seguintes assuntos
Seção 1 – Generalidades;
Seção 2 – Bases do projeto geotécnico;
Seção 3 – Dados geotécnicos;
Seção 4 - Supervisão da construção, observação e
manutenção;
Seção 5 – Aterros, rebaixamento freático e
melhoramento ou reforço do terreno;
Seção 6 – Fundações superficiais;
Anexos da Norma EN 1997-1 (EC7-1)
Seção 7 – Fundações por estacas;
Anexo A (normativo) – Coeficientes parciais e de correlação para Seção 8 – Ancoragens;
estados limites últimos e valores recomendados; Seção 9 – Estruturas de suporte;
Anexo B (informativo) – Informação básica sobre os coeficientes Seção 10 – Rotura hidráulica;
parciais a utilizar nas abordagens de cálculo 1,2 e 3; Seção 11 – Estabilidade global;
Anexo C (informativo) – Exemplos de procedimentos para a Seção 12 – Aterros.
determinação dos valores limites das pressões de terras sobre
estruturas de suporte verticais;
Anexo D (informativo) – Exemplo de um método analítico de
cálculo da capacidade resistente do terreno ao carregamento;
Anexo E (informativo) – Exemplo de um método semi-empirico
para a estimativa da capacidade resistente do terreno ao
carregamento;
Anexo F (informativo) – Exemplos de métodos de avaliação do
assentamento;
Anexo G (informativo) – Exemplo de um método para a
determinação da capacidade resistente presumida do terreno de
fundações superficiais em rocha;
Anexo H (informativo) – Valores limites da deformação
estrutural e dos movimentos das fundações;
Anexo J (informativo) – Lista de verificação para a supervisão da
construção e a observação do comportamento;
4
Anexo Nacional NA.

4
Nos Eurocódigos foram atribuídos valores indicativos a determinados parâmetros relativos à segurança, que as
autoridades de cada país membro deverão indicar neste anexo nacional os valores definitivos para esses parâmetros,
denominadas Parâmetros Determinados a nível Nacional (NDP).

36
O EC7 trouxe relevância para os projetos geotécnicos em Portugal, pois estabelece uma
metodologia (princípios, requisitos e critérios) e uma terminologia idênticas às já utilizadas nos
aspetos estruturais dos projetos, isto é, facilita a articulação entre os aspetos estruturais e
geotécnicos dos projetos, introduz um enquadramento mais racional da problemática da
fiabilidade das obras geotécnicas (que permitirá ganhos de economia, sem redução da
fiabilidade). Pois a prática corrente do projeto geotécnico em Portugal era ainda
preponderantemente a tradicional. Utilização de um Coeficiente de Segurança Global (CSG) como
critério de cumprimento do requisito de segurança estrutural e recurso frequente ao CSG como
critério indireto de cumprimento do requisito de aptidão para a utilização.

3.7.2 Requisitos fundamentais para o projeto de estruturas geotécnicas

Os requisitos fundamentais para o projeto de estruturas geotécnicas são apresentadas de


seguida:
a) Os fatores a ter em consideração no estabelecimento dos requisitos e que dependem das
categorias geotécnicas, são as seguintes:
 Natureza e dimensão da estrutura e dos seus elementos;
 Condições relativas à vizinhança (Estruturas próximas, tráfego, redes de serviço,
vegetação, produtos químicos perigosos);
 Condições do terreno;
 Condições de ocorrência da água no terreno;
 Sismicidade regional;
 Influência do ambiente (hidrologia, aguas superficiais, subsidência, variações sazonais
do teor em água do terreno).
b) Situações de projeto;
c) Durabilidade.

3.7.3 Categorias geotécnicas

Os requisitos do projeto são estabelecidos em função das três categorias geotécnicas, abaixo
mencionadas.

Categoria geotécnica 1: Estruturas pequenas e relativamente simples

37
 Para as quais se possa assegurar que são satisfeitos os requisitos fundamentais apenas
com base na experiência e em estudos de caraterização geotécnica de natureza
qualitativa;
 Riscos desprezáveis para bens e vidas;
 Existir experiência comparável que comprove que as condições do terreno são
suficientemente simples para que seja possível usar métodos de rotina no projeto.
 Não houver escavações abaixo do nível freático ou se a experiência local comparável
indicar que a escavação abaixo do nível freático é uma operação simples.

Nesta categoria os resultados da observação, relativa a avaliação do comportamento poderá ser


simplificada, qualitativa e baseada em inspeção visual.

Categoria geotécnica 2: Tipos convencionais de estruturas e fundações


 Que não envolvam riscos fora do comum ou condições do terreno e de carregamento
invulgares ou particularmente difíceis.
 Requer a quantificação e análise dos dados geotécnicos e uma análise quantitativa que
assegurem que são satisfeitos os requisitos fundamentais
 Podem ser usados procedimentos de rotina nos ensaios de campo e laboratório, bem
como na elaboração do projeto e na execução.

São exemplos:
 Fundações superficiais, ensoleiramento e fundações em estacas;
 Muros, estruturas de contenção e escavação;
 Pilares e encontros de pontes;
 Aterros e movimento de terras;
 Ancoragens no terreno e outros sistemas de ancoragem;

Túneis em rocha resistente e não fraturada e sem requisitos especiais de impermeabilização ou


outros.
Nesta categoria os resultados da observação, relativa a avaliação do comportamento poderá ser
baseada em medições de movimentos de alguns pontos escolhidos da estrutura.

Categoria geotécnica 3: Estruturas de grande dimensão ou pouco comuns, Não abrangidas pelas
categorias geotécnicas 1 e 2;

38
 Estruturas que envolvam riscos fora do comum;
 Condições do terreno e de carregamento invulgares ou excecionalmente difíceis,
 Estruturas em áreas de sismicidade elevada;
 Estruturas em áreas com provável instabilidade local ou movimentos persistentes do
terreno que requeiram estudos específicos de caraterização geotécnica ou medidas
especiais.

São exemplos:
 As grandes estruturas subterrâneas;
 As caves profundas;
 Túneis;
 Os taludes e as estruturas de suporte de terras ou de retenção de água.

Nesta categoria os resultados da observação, relativa a avaliação do comportamento, deverá


normalmente ser baseada em medições de deslocamentos e em análises que tenham em conta a
sequência das operações de construção.

3.7.4 Dimensionamento geotécnico

3.7.4.1 Com base no cálculo

O dimensionamento com base no cálculo implica a consideração de:


 Ações, que poderão ser quer forças impostas quer deslocamentos impostos, devidos, por
exemplo, a movimento de terreno;
 Propriedades de solos, de rochas e de outros materiais (parâmetros geotécnicos), obtidos
por ensaios de campo ou laboratoriais;
 Grandeza geométricas (p.e. inclinação do terreno, os níveis de água, os níveis de
escavação e as dimensões da estrutura geotécnica, etc.);
 Valores limites das deformações, da largura de fendas, das vibrações, etc.. Estados Limites
Últimos (ELU) a considerar no projeto geotécnico:
- Perda de equilíbrio (EQU);
- Rotura estrutural (STR)
- Rotura do terreno (GEO)
- Perda de equilíbrio por impulsão (UPL)
- Rotura hidráulica do terreno (HYD)

39
 Modelos de cálculo (modelos analítico, semi-empírico e numérico).

3.7.4.2 Por medidas prescritivas

Quando o projeto não disponha de modelos de cálculo ou em que se dispense a sua utilização, a
excedência dos estados limites poderá ser evitada através da utilização de medidas prescritivas.
Estas envolvem a utilização no projeto, de regras correntes, geralmente conservativas, bem como
uma especial atenção à especificação e controlo dos materiais, à qualidade da execução e aos
procedimentos de proteção e de manutenção.

3.7.4.3 Uso de ensaios de carga e ensaios em modelo experimental

Quando sejam utilizados resultados destes ensaios na justificação de um dimensionamento, ou


para complementar um das outras alternativas dos estados limites, devem ser considerados os
seguintes aspetos:
 As diferenças entre as condições do terreno no ensaio e na obra;
 Os efeitos do tempo, especialmente se a duração do ensaio for muito inferior à duração
do carregamento da obra;
 Os efeitos de escala, especialmente se forem utilizados modelos de dimensão reduzidas
(nível de tensões, dimensões das partículas, etc.);

3.7.4.4 Método observacional

Quando a previsão do comportamento geotécnico seja difícil, pode ser apropriado adotar o
chamado “método observacional”, no qual o projeto é revisto durante a construção. Devem ser
satisfeitos alguns requisitos como a adequada escolha de instrumentação, elaboração de plano de
observação e instrumentação, critérios de alerta, entre outros. Estes requisitos são abordados
com maior pormenor no Capítulo 4 – Instrumentação e Monitorização.

3.7.4.5 Relatório do projeto geotécnico

As hipóteses, os dados, os métodos de cálculo e os resultados da verificação da segurança e da


aptidão para a utilização devem ser registados no Relatório do Projeto Geotécnico. O nível de
pormenorização pode variar muito, dependendo do tipo de projeto e deverá normalmente incluir
referências ao relatório de caraterização geotécnica.

40
4. Instrumentação e monitorização

41
42
4.1 Instrumentação

4.1.1 Introdução

Como tem sido referido por variados especialistas da área, a execução apropriada de uma obra de
escavação deve fundamentar-se nos estudos realizados tanto antes como no decorrer da
construção, perante o conhecimento efetivo do maciço e das condições reais, de tal forma que
permita a avaliação do comportamento maciço-estrutura real. Este aspeto depende
essencialmente das técnicas de instrumentação e respetivos equipamentos, com vista à aquisição
de informação relevante.

Desde que devidamente definido e articulado com as fases diferentes de projeto e de obra, a
instrumentação permite gerir o risco associado aos trabalhos de escavação, decorrente da
aleatoriedade e da incerteza descritas, contribuindo para a execução dos trabalhos nas
indispensáveis condições de economia e segurança, para a obra e para as zonas vizinhas.

4.1.2 Objetivos

Deste modo, os objetivos do controlo da obra são (Quiralte López, 1997):

 Antes da construção: obter a informação necessária à elaboração do projeto, em termos


de escavação e suporte;
 Durante a construção: auscultar o comportamento das estruturas de forma a confirmar os
cálculos anteriores ou adquirir dados para os alterar;
 Após a construção: controlar a evolução das cargas e deformações para prevenção de
possíveis anomalias.

4.1.3 Escolha de instrumentação

Aquando da escolha dos métodos e equipamentos a aplicar na monitorização da obra, é boa regra
a utilização de meios que forneçam, estritamente, os dados com utilidade para as análises
pretendidas e, simultaneamente, a escolha das técnicas mais simples e robustas de entre as que
satisfaçam essa exigência. A opção pelas metodologias a seguir deve ser realizada em fase de
projeto, podendo ser modificada por variante proposta pelo empreiteiro a quem for adjudicada a
obra, e adaptada (pelo projetista e fiscalização) em fase de obra, no que se refere às técnicas,
circunstâncias e parâmetros a obter.

43
4.1.4 Recolha e tratamento da informação

A recolha e tratamento da informação é tanto ou mais importante que a escolha do tipo de


instrumentação, sua localização e frequência das leituras. Isto é, podemos ser criteriosos e
exigentes quanto à qualidade e quantidade da instrumentação instalada, mas se a análise dos
resultados de observação em estado bruto não forem devidamente tratados não permitirá aos
responsáveis uma interpretação adequada.
Deverão ser estabelecidos procedimentos escritos para recolha, processamento, apresentação,
interpretação, comunicação dos dados de instrumentação, de acordo com esquema abaixo
apresentado (figura 4.12).

RECOLHA DE DADOS
Equipa de topografia Geo-profissional

TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO
Geo-profissional

DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS
Empreiteiro Dono de Obra/Fiscalização ATO/Projetista

Figura 4.12 - Hierarquização de procedimentos num processo de monitorização em obra.

As informações resultantes dos trabalhos de observação sistemática da obra e o seu consequente


tratamento devem servir, paralelamente, diferentes propósitos e entidades intervenientes na
obra. Assim, esta metodologia permite:

 Projetista: redimensionamento das estruturas, aferição da segurança e fiabilidade do


projeto, previsão de prazos e custos;
 Empreiteiro: antecipação e escolha dos métodos de escavação e sustimento, alocação
e/ou dispensa de equipamentos e pessoal, previsão de prazos e custos, aumento do
rendimento e maior velocidade de execução;
 Fiscalização: planeamento das atividades de controlo, previsão de situações de risco e
aferição da segurança e qualidade da obra;
 Dono de Obra: controlo de custos e prazos, menor prazo de execução.
 Projetista / Consultor Geotécnico / Dono de Obra: A elaboração do as-built ou relatório de
execução.

44
Trata-se assim de utilizar os meios que permitam intervir tanto nos métodos de escavação,
suportes e técnicas de execução, como realizar uma retro análise para aferir a qualidade e o nível
de segurança real da obra.

Esta informação será tanto ou mais valiosa, quando devidamente trabalhada no final da obra, que
resultará em informação essencial na tomada de decisões em futuras obras, para as várias
entidades envolvidas e referidas anteriormente.

4.1.5 Plano de observação

Normalmente o plano de instrumentação é desenvolvida durante o projeto por um especialista


geotécnico.
Segundo Cunha e Fernandes (1980), o estabelecimento de um plano de observação apropriado
deve atender aos seguintes aspetos:

• Natureza, tipo e localização da obra:


A natureza da obra influência o tipo e robustez dos equipamentos, que poderão ter de operar à
distância e por longos períodos; o tipo de obra e os métodos construtivos condicionam os
equipamentos, que se deverão adaptar ao método de suporte, espaço disponível, etc.; a
localização da obra, relativamente à profundidade e ao meio em que se insere (urbano, rural,
etc.), pode induzir concentração de sistemas de controlo superficiais e a instalação de
instrumentação ao nível do eixo do túnel a partir da superfície.

• Características geotécnicas:
A litologia, a hidrogeologia, o grau de alteração, os acidentes tectónicos e a fracturação, entre
outros, condicionam a malha de observação a definir, o tipo de instrumentação e a frequência de
leituras.

• Métodos construtivos e ritmo da construção:


O plano de observação estabelecido em fase de projeto permite ao Empreiteiro a sua inclusão no
planeamento geral dos trabalhos, minimizando os atrasos na construção. Deste modo, é possível
obter mais segurança e adequabilidade dos sistemas de suporte, compensando os eventuais
atrasos devidos à observação.
Um aspeto importante a ter em conta, refere-se à hierarquização da instrumentação dos
trabalhos, aplicando métodos mais precisos, e consequentemente mais onerosos, em zonas mais

45
sensíveis ou onde tenham sido detetadas anomalias que careçam de estudos detalhados. Para tal,
é necessário definir cenários de aplicação destes meios, estabelecendo e quantificando os limites
de intervenção.

4.1.6 Plano de instrumentação

As obras geotécnicas contêm um elevado grau de incerteza, relativamente a outros


empreendimentos, razão que levou na obra de objeto de estudo no presente trabalho, a adoção
da metodologia construtiva com o NATM envolveu necessariamente um plano de instrumentação
e monitoração que envolvem:
 O maciço onde a obra está sendo implantada;
 Estruturas de suporte de primeira e segunda fases e;
 Estruturas e utilidades dentro da área afetada pelas escavações.

Desta forma, foram implementadas as instrumentações de modo a manter sob controlo a


grandeza dos campos de deformações induzidas pelas escavações e suas comparações com os de
projeto. Tema este que apresentado e desenvolvido no Capítulo 7 – Estudo de caso.

De seguida apresentam-se dois exemplos (figura 4.13 e 4.14) de planos de instrumentação para
escavações e túneis.

Figura 4.13 - Aplicação em escavação em meio urbano (adaptada Geokon.com, 2012).

46
Figura 4.14 - Aplicação em túneis em meio urbano (Adaptada de Geokon.com, 2012).

4.2 Instrumentação utilizada em obras de engenharia

Os diferentes tipos de instrumentação utilizada nas mais diversas obras de engenharia, serão
mencionados de forma sucinta neste ponto, de acordo com o tipo de medição a que se destinam.

4.2.1 Instrumentos para medição de grandezas relativas à água

Os seguintes quadros (quadro 4.5 a 4.9), pretende identificar os principais instrumentos de


medição de grandezas mais comuns, relativas à água e utilizados nas mais diversas atividades,
como por exemplo na construção e na agricultura.

47
Quadro 4.5 - Instrumentos para medição de grandezas relativas à água (tensões neutras e NF).
Instrumento/
Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Infiltrómetros / Duplo Anel Infiltração vertical da água no Hidrogeologia. Tipo de irrigação a


permeâmetro solo aplicar. Aterros sanitários.
Guelph Permeabilidade do solo Hidrogeologia. Determinar a
saturado condutividade hidráulica. Aterros
sanitários
Pluviómetro Báscula Pluviosidade Hidrogeologia, aterros, plataformas
rodoviárias e ferroviárias.
Gangorra

Piezómetro Corda vibrante Pressão da água e nível de Monitorizar a pressão intersticial


água em taludes, barragens de terra e
aterros, acompanhar os efeitos de
Pneumático Pressão intersticial sistemas de rebaixamento em
escavações.
Casagrande Monitorizar o rebaixamento do
nível freático, tensão neutra, entre
outros.
Nível de água
Furo aberto Monitorizar a cota do nível
freático.

4.2.2 Instrumentos para determinação de inclinação e rotação

O quadro 4.6 identifica alguns dos instrumentos/equipamentos utilizados para determinar a


inclinação e rotação nas mais diversos tipos de obra, não sendo, no entanto, uma lista exaustiva.

Quadro 4.6 - Instrumentos para determinação de inclinação e rotação.


Instrumento/ Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Sensores de viga - Posição horizontal: Monitorizar os efeitos de túneis e escavações


assentamentos e em estruturas, convergências e outros
elevações; Posição movimentos em túneis, estabilização em
vertical: Deformações e injeções de caldas e reforço de fundações.
movimentos laterais.
Clinómetro EL Inclinações e avaliar a Monitorizar com exatidão a rotação de
sua variação. estruturas de contenção, molhes e
fundações.
MEMS Monitorizar potenciais danos estruturais (por
antecipação) e efeitos de escavações
subterrâneas nas imediações.
Portáteis Monitorizar rotações causadas por escavação
mineiras, túneis e compactação de terrenos
ou escavações.

48
4.2.3 Instrumentos para medição de deslocamentos e deformações

No quadro 4.7 identifica-se a grande variedade de instrumentação/equipamentos disponíveis no


mercado para medição de deslocamentos e deformações, de grande importância em obras
geotécnicas.

Quadro 4.7 - Instrumentos para medição de deslocamentos e deformações.


Instrumento/ Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Inclinómetros Horizontais Deformações verticais Monitorizar tanques de armazenamento,


de aterros, de barragens e aterros
sanitários.
Verticais Deformações Monitorizar impacto das escavações nas
horizontais instalações vizinhas, das deformações de
estruturas.
Fixos Deformações verticais e Monitorizar paredes de contenção,
horizontais deformações em aterro, movimentos
originados pela construção de túneis.
Marcas de nivelamento Monitorizar terrenos em torno de
topográfico Deformações verticais escavações. Bench marks (marca de
-
referência que serve de referência a todas
as outras).
Réguas de nivelamento Monitorizar edifícios na área de influência
-
de escavações.
Alvos topográficos Deformações Monitorizar edifícios, escavações, taludes.
-
tridimensionais
Extensómetros Magnético Deformações verticais e Monitorizar assentamento e deformações,
horizontais escavações, aterros, fundações e
(dependendo da barragens.
posição de instalação)
Estruturais (strain Tensão de elementos Monitorizar estruturas em betão (pilares,
gages) estruturais vigas).
Deformações verticais e Monitorizar em torno de escavações
Incremental (increx) horizontais (3D) subterrâneas, assentamentos no decurso
de execução de túneis, fundações de
barragens. (aplicação em rocha e betão).
Cana (Borehole Deformações verticais Monitorizar deslocamentos de estruturas
Rod) em profundidade de contenção e deformações em
escavações subterrâneas, movimentos em
Sondex fundações.

Assentamento Grandes deformações Monitorizar solos moles por baixo de


verticais aterros.
Fita Deformações Monitorizar deformações em estruturas ou
movimentos superficiais. Usado
principalmente na construção de túneis e
em escavações.
Células de Cordas vibrantes Deformações verticais Monitorizar solos associados a
assentamento (assentamento e consolidações e sobrecargas; subsidência
elevações) devido a túneis.
Hidráulicas Monitorizar aterros, consolidação do
terreno sob tanques de armazenamento.
Convergências Medição Deformação geral Monitorizar convergências do sustimento
convergências (Distância entre pontos) de túneis, poços, cavernas.

49
Instrumento/ Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Convergenciómetro
digitais de fita
Convergenciómetro
barras, fios
Sistema de pêndulo Suspenso Movimentos Monitorizar movimento horizontal em
horizontais associados barragens, fundações em barragens,
Invertido com a rotação e pontes, torres, arcos, cais
inclinação de estrutura.

4.2.4 Instrumentos para monitorização de juntas e fissuras

No seguinte quadro 4.8 identifica-se os principais instrumentos para monitorização de juntas e


fissuras em estruturas em betão ou rocha.

Quadro 4.8 - Instrumentos para monitorização de juntas e fissuras.


Instrumento/ Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Fissurómetro Tell-Tale Deslocamento Monitorizar fissuras superficiais e


(Movimento de juntas em estruturas de betão ou
Corda vibrante (VW)
abertura ou fecho de rocha.
fissuras existentes).
Corda vibrante, 3D Deslocamentos Monitorizar juntas em estruturas
tridimensionais (planos submersas como barragens de
x,y e z). betão, túneis ou tanques.

4.2.5 Instrumentos para medição de pressões

O quadro 4.9 identifica alguns dos instrumentos/equipamentos utilizados para determinar as


pressões exercidas em estruturas, não se tratando, todavia, de uma lista exaustiva.

Quadro 4.9 - Instrumentos para medição de pressões.


Instrumento/ Tipo/Variante Medição Aplicação
Equipamento

Células Pressão total Tensões transmitidas Monitorizar pressão total


pelo terreno exercida sobre uma estrutura (ex.
Pressão total de macaco Tensões em estruturas sustimento de túneis), medir os
campos de pressão em betão
hidráulico betonadas no local projetado, estimar a pressão de
sobrecarga a atuar na fundação.
Estações de pressão Tensões em solos ou
rocha branda.

50
4.3 Competências dos diversos intervenientes

4.3.1 Geo-profissionais

Era de todo inútil, o trabalho de realização de projeto de instrumentação se não fosse possível
aferir em obra, os resultados obtidos em fase de projeto. Este trabalho fica a cargo de um de um
geo-profissional (Geólogo – especialidade Geologia Aplicada ou Geologia de Engenharia,
Engenheiro Geotécnico, Engenheiro Geólogo e de Minas – especialidade Geotecnia, Engenheiro
Civil – especialidade Geotecnia), que realiza uma observação sistemática da obra, sendo um
elemento fulcral no desenvolvimento de escavações sejam elas a céu aberto ou subterrâneas -
único elemento que está um passo à frente de todos os outros - possuidor de informação
privilegiada, obtida pelas mais variadas formas: por levantamento da cartografia; pelas leituras
fornecidos pelo(s) topógrafo(s); pelas suas próprias leituras dos instrumentos geotécnicos, entre
outros, permitindo correlacioná-las entre si e interpretá-las e apresentar sob forma de relatório.
Assim, as suas principais funções são:

 Planear as atividades diárias das equipas de trabalho (p.e. equipa de topografia e equipa de
leitura dos instrumentos geotécnicos – piezómetros, inclinómetros, extensómetros);
 Realizar leituras nos diversos instrumentos instalados (inclinómetros, piezómetros,
extensómetros), caso não exista equipa específica para esse efeito;
 Realizar a cartografia geológico-geotécnica das frentes de escavação;
 Realizar as diversas classificações geotécnicas associadas (às cartografias);
 Processar e analisar os dados recolhidos pelas equipas de trabalho;
 Participar nas reuniões de produção, justificando qualquer variação encontrada nos
dispositivos de instrumentação instalados bem como aspetos das cartografias e
classificações.

4.3.2 Acompanhamento técnico da obra

O acompanhamento técnico de uma obra subterrânea (inclui escavações a céu aberto - poços) é
um fator decisivo para a sua qualidade, segurança, custo e prazo de execução. Este facto resulta
do desconhecimento preciso das condições geológicas existentes, motivando constantes
adaptações e alterações ao projeto (ou anteprojeto). Assim, o Acompanhamento Técnico de Obra
(ATO) tem como principais funções na obra:

 Supervisão do cumprimento integral do projeto;

51
 Acompanhamento das frentes de trabalho com registo diário da evolução dos trabalhos,
seus rendimentos, os avanços, observação visual do terreno, diálogo com os
encarregados de frente e respetivo registo fotográfico;
 Análise e interpretação da monitorização durante a construção, avaliando o
comportamento geotécnico da escavação e decidindo sobre a aplicação de alternativas
para a adaptação do projeto às condições reais de execução;
 Apoio para a resolução dos problemas que surjam no decorrer da obra;
 Apoio às partes envolvidas nos trabalhos, relativamente às alterações ao projeto inicial e
discussões técnicas e contratuais resultantes;
 Recomendações de adaptação do projeto à realidade do maciço e do seu comportamento
perante as escavações (corrigindo desvios entre as previsões do projeto e a realidade
imposta pelo maciço; otimizações do passo de avanço, natureza dos suportes,
necessidade de utilização de dispositivos auxiliares, como enfilagens, pregagens, etc,);
 Apoio à entidade executante na garantia da qualidade da execução, segurança da obra e
otimização do projeto;
 Elo de ligação entre os vários intervenientes da obra (Projetista, fiscalização/dono de obra
e entidade executante) na resolução dos problemas que surjam no decorrer da obra;

As atividades do ATO serão sempre baseadas no projeto, respeitando os seus limites e ouvindo o
parecer do projetista sempre que as adaptações necessárias envolvam decisões que modifiquem
de forma significativa a metodologia de projeto ou suas hipóteses de cálculo.

4.4 Procedimentos e metodologias para a análise dos assentamentos, monitorização e


proteção dos edifícios circundantes

4.4.1 Considerações iniciais

A realização de obras subterrâneas acarreta uma descompressão e movimentos do meio


escavado. Em particular, quando o meio for constituído por solo, rocha mole ou maciço rochoso
fraturado, e em condições de baixa e/ou moderada cobertura. Tais perturbações manifestam-se à
superfície como uma bacia de subsidência, cuja extensão precede à frente de escavação.

O projeto das obras subterrâneas em área urbana não pode prescindir da avaliação do impacto
sobre as estruturas, infra-estruturas e serviços enterrados existentes nas proximidades das
escavações.

52
Para a avaliação do impacto nas estruturas adjacentes à escavação, poderá ser aplicada uma
metodologia que consiste em algumas etapas a serem realizadas de uma forma conjunta,
conforme descrito abaixo (CJC 2009):

 Definição de uma bacia de subsidência;


 Caracterização dos edifícios afetados;
 Definição do plano de monitorização das estruturas dos túneis e das estruturas e
utilidades circundantes às escavações;
 Avaliação do risco para cada edifício;
 Medidas a serem adotadas.

Abaixo são descritas de maneira sucinta cada uma das etapas.

4.4.2 Definição da bacia de subsidência

Durante a fase de projeto são desenvolvidas análises numéricas através de programas


computacionais, bem como análises semi-empíricas que levam em conta a experiência do
projetista em obras e situações similares para a estimativa prévia dos assentamentos dentro da
área de influência das escavações.

Sabendo que a área de influência das escavações depende diretamente da geometria do


problema:
 Diâmetro da escavação; e
 Profundidade da escavação.
(Este assunto será desenvolvido no Capítulo 7 – Estudo de caso, e apresentados os respetivos
cálculos da estimativa de assentamentos na superfície).

Além destes fatores, outros influem diretamente no campo dos deslocamentos induzidos pela
escavação, tais como:
 Natureza do maciço local;
 Condições e metodologias executivas (parcializações);
 Utilização de dispositivos auxiliares (tratamentos de maciço, etc.);
 Condições hidrogeológicas e drenagem do maciço durante a construção; e
 Rigidez do suporte utilizado.

53
Observa-se que os assentamentos dependem de fatores geométricos, geotécnicos e executivos,
sendo o resultado da interação destes fatores, portanto, de difícil previsão. Neste caso, influi
muito a experiência do projetista e um acompanhamento técnico da obra (ATO) com a
participação direta no projeto.

Os assentamentos em superfície são em geral expressos pela relação entre a área da bacia de
assentamentos e a área da seção transversal da escavação. Normalmente esta relação é chamada
de “perda de solo” e representa, portanto, uma área percentagem da seção de escavação, por
exemplo 0.3%, 0.5%, 1.0%, etc. Quanto menor esta “perda de solo”, menor o impacto das
escavações sobre o maciço, estruturas e utilidades existentes na sua área de influência. Este tema
será abordado no Capítulo 7 – Estudo de caso.

A primeira finalidade da determinação da bacia de subsidência é determinar os edifícios que


serão potencialmente atingidos pela execução da obra. Para tal, é necessário uma monitorização
com acompanhamento sistemático. A figura 4.15 mostra o exemplo de um túnel em meio urbano
com a respetiva bacia de subsidência.

Figura 4.15 - Bacia de subsidência (linha azul a tracejado) e interferência com estruturas (a vermelho a via-
férrea e a verde edifícios habitacionais).

4.4.3 Definição do plano de monitorização das estruturas dos poços e das estruturas e
utilidades circundantes às escavações.

Uma das responsabilidades do projetista é a elaboração de um plano completo de monitorização


das escavações e das edificações e utilidades circundantes às escavações.

O projeto de instrumentação externo às escavações, visará observar a adequabilidade da


metodologia construtiva, o grau de segurança das estruturas e do impacto das escavações sobre o

54
maciço. Como instrumentação interna às escavações o projeto, visando observar a
adequabilidade do processo executivo, a rigidez dos suportes e a qualidade da execução.
Assim a instrumentação deverá de acordo com as características da obra, sendo tipicamente
utilizada os seguintes dispositivos de instrumentação:

Instrumentação do Maciço
Instalação de tassómetros (extensómetros);
Instalação de marcos de superfície;
Instalação de piezómetros e medidores de nível
d’água;
Inclinómetros.
Externa
Instrumentação das Edificações
Medidas de assentamentos/recalques;

Instrumentação Medidas de inclinações de muros e paredes;


Medidas de aberturas de fissuras;
(típica)
Medidas de vibrações (se necessário).

Estrutura dos poços


Medidas de convergência
Interna
Medidas de assentamentos/recalques
Medida de abertura de fissuras

Figura 4.16 - Esquema de instrumentação mínima a aplicar em escavações.

4.4.4 Avaliação do risco de cada edifício

4.4.4.1 Introdução

No desenvolvimento do projetos de escavações é necessário prever movimentos induzidos em


edifícios localizados à superfície (túneis) e edifícios próximos (escavações a céu aberto). Assim, a
capacidade de cada edifício afetado (potencialmente atingido pela execução da obra) resistir a
movimentos diferenciais sem apresentar danos deve ser avaliada. A classificação realizada
pondera fatores como característica estrutural, funcionalidade, aspeto estético, conservação,
orientação e posição relativa ao poço de cada edifício. Para cada edifício é determinado o seu
Índice de Vulnerabilidade (Iv) com base no levantamento realizado em campo (Auto de Vistoria).

No presente trabalho não será dado desenvolvimento aos procedimentos e metodologias para
inspeção prévia dos edifícios, onde a caracterização dos edifícios e o trabalho desenvolvido pela
equipa de campo momento de inspeção dos edifícios é mais detalhada.

55
4.4.4.2 Avaliação do risco

A avaliação do risco pertinente a cada edifício é de acordo com uma classificação que prevê várias
categorias de risco, que depende de autor para autor e que se referem a danos estéticos, danos
funcionais e danos estruturais. No quadro abaixo é indicado duas classificações, uma proposta por
Burland (1977) e outra por Rankin, de acordo com o quadro seguinte:

Quadro 4.10 - Classes de risco relativo ao tipo de dano em edifícios (adaptado CJC, 2008).

Classificação de risco Tipo de


Descrição
Burland Rankin dano

0 1 Apresentam-se sobre a forma de leves fissurações ou deslocamentos em

1 panos de enchimento, paredes divisórias, pavimentações e acabamentos em


Estético
2 geral. Estes efeitos podem ser toleráveis enquanto facilmente reparáveis,
2
sobretudo para edifícios correntes, sem particular importância.
3

3 Referem-se à funcionalidade de partes da estrutura ou nelas alojadas (p. e.


instrumentos de precisão sensíveis a movimentos diferenciais), sem que seja
Funcional
4 3 colocada em perigo a estabilidade ou segurança da estrutura.

Referem-se a fissurações (estruturas em betão armado) ou excessiva


deformação (estruturas com paredes resistentes) dos elementos estruturais.
Podem conduzir ao colapso só de elementos estruturais, da ligação entre
eles ou até da estrutura completa. A evidência de tal tipo de dados pode
5 4 Estrutural também permanecer ocultada pelos acabamentos, que podem permanecer
razoavelmente intactos (os acabamentos são realizados quando a estrutura
portante já sofreu grande parte das deformações próprias e portanto
mantêm, em teoria, um grau de resistência às solicitações externas mais
elevado).

4.4.4.3 Medidas a serem adotadas

As medidas a serem adotadas são baseadas na tabela abaixo indicada, em função das diferentes
categorias de risco pertinentes a cada edifício.

56
Quadro 4.11 – Medidas a adotar relativo ao tipo de dano em edifícios (adaptado CJC, 2008).

Classificação de risco de Medidas a adotar


dano antes ou durante a Descrição das medidas tipo A, B e C
Burland Rankin execução das obras.

Incluem a monitorização básica dos edifícios, sendo esta


0
constituída apenas por um reduzido número de dispositivos, de
(Estético)
1 modo a possibilitar a deteção de uma eventual anomalia em
Medidas do tipo A
(Estético) termos de assentamentos ou deslocamentos no plano do
1
edifício que, a ocorrer, conduzirá ao reforço da instrumentação
(Estético)
instalada.
Incluem a monitorização corrente dos edifícios, sendo esta
constituída por um maior número de dispositivos, de forma a
monitorizar mais rigorosamente as grandezas já referidas e,
2 2
Medidas do tipo B ainda, os deslocamentos relativos, o desenvolvimento da
(Estético) (Estético)
fissuração e os níveis de vibração registrados pelos edifícios.
Este tipo de medidas inclui ainda a fixação ou a remoção de
elementos soltos existentes nos edifícios.
3 Incluem todas as medidas definidas para o tipo B, e ainda a
3
(Estético / implementação de medidas corretivas, como por exemplo o
(Funcional)
funcional) reforço das fundações ou da estrutura do edifício, a
4 4 consolidação do maciço, nomeadamente no tardoz da
Medidas do tipo C
(Funcional) (Estrutural) estrutura de contenção, a alteração do projeto no sentido de
se reduzirem as deformações associadas à escavação, a
5
evacuação prévia de edifícios, etc.
(Estrutural)

As medidas dos tipos B e C incluem ainda a realização de inspeções técnicas periódicas aos
edifícios, a realizar durante o período de execução dos trabalhos. Estas têm como objetivo o de,
por um lado, se detetar eventuais sinais ou evidências de deficiente comportamento dos edifícios,
quer a nível funcional, quer a nível estrutural e, por outro, aferir a relação entre os resultados das
leituras da monitorização realizada e os danos efetivamente sofridos pelos edifícios.

Antes do início da obra, é necessário realizar uma vistoria técnica a todas as estruturas,
identificadas no projeto como potencialmente atingido pela execução da obra, de forma a aferir
as patologias existentes. Posteriormente estas patologias deverão ser comparadas com as
patologias da vistoria técnica final, de forma a assegurar que não houve danos nas estruturas
resultante da execução da obra.

57
58
5. Segurança e Higiene

59
60
5.1 Introdução

As mudanças na economia e no mundo do trabalho, a crise económica e financeira mundial, o


paradigma da falência financeira portuguesa e os novos riscos emergentes, trazem à sociedade no
geral, nomeadamente a trabalhadores e empregadores, novos desafios que importa analisar e
antecipar. Estes novos desafios, nomeadamente na prevenção do risco laboral, não se localizam
apenas nos países industrializados e com economias mais robustas. Estes novos desafios
encontram-se disseminados por todo o mundo globalizado, nomeadamente nas economias mais
modernas, mas mais fragilizadas com a recente crise do mercado financeiro mundial e em
particular no nosso país.

O manifesto atraso na implementação de uma verdadeira cultura da segurança e saúde no


trabalho sentida no nosso país, constitui um dos fatores de maior entrave ao desenvolvimento e
sustentabilidade do trabalho e ao mesmo tempo um fator de inércia para encarar todos os novos
desafios de uma forma mais positiva e otimista. Desta forma os novos riscos emergentes
transformam-se em algo de difícil antecipação, tornando-se mesmo em matérias futuristas e de
fraco relevo ao nível da sua prioridade em termos de prevenção (OERN - 10º Congresso
internacional de segurança e saúde no trabalho).

Em Portugal, desde a última década, quer por força da implementação de certificação nas
empresas, quer por nova legislação em matéria de higiene, segurança e saúde, levaram a um
aumento significativo na melhoria das condições de segurança nos locais de trabalho,
nomeadamente nas obras. Mesmo assim, muito aquém do desejável, pois os custos diretos e
indiretos na segurança são por vezes muito elevados face ao valor de adjudicação de uma obra. É
frequente o subempreiteiro ou até mesmo o empreiteiro abdicar ou não incluir na proposta os
custos com a segurança, permitindo ganhar obras de forma desleal face à concorrência.
Entendemos que para ultrapassar estas situações de desigualdade, que tendem a aumentar com a
situação que o país atravessa, uma das ações a tomar é a inclusão no mapa de quantidade uma
rubrica para a segurança, atribuindo um valor fixo ou uma percentagem em relação ao valor
adjudicado.

5.2 Atividade da segurança e higiene

A Segurança do Trabalho é a atividade decorrente da análise de riscos, prevenção, proteção,


gestão dos riscos e demais medidas necessárias, no decurso dos riscos de operação (por exemplo,
falta de sinalização de segurança, máquinas desprotegidas ou pisos molhados).

61
A Higiene do Trabalho, por sua vez, pode ser considerada como:
 A atividade que contém a prevenção e controlo dos riscos do ambiente (por exemplo: as
atmosferas perigosas, o ruído, o calor e a radiação);
 As técnicas de atuação sobre os contaminantes físicos, químicos e biológicos que têm por
finalidade prevenirem doenças profissionais.

A higiene e a segurança são duas atividades que estão intimamente relacionadas com o objetivo
de garantir condições de trabalho capazes de manter um nível de saúde dos colaboradores e
trabalhadores de uma empresa.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a verificação de condições de Higiene e
Segurança consiste "num estado de bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de
doença e enfermidade ".

Para além disso, as condições de segurança, higiene e saúde no trabalho constituem o


fundamento material de qualquer programa de prevenção de riscos profissionais e contribuem,
na empresa, para o aumento da competitividade com diminuição da sinistralidade.

5.3 Legislação de segurança aplicável em obra

A entidade executante e todas as entidades por si contratadas ou que intervêm direta ou


indiretamente na obra são obrigadas a cumprir todas as disposições legais e contratuais, bem
como a assegurar o seu cumprimento pelos intervenientes que se encontram na sua
dependência. Segue-se a apresentação da lista mínima da principal legislação de segurança e de
saúde aplicáveis no estaleiro:

 Lei n.º 102/2009 de 10 de Setembro – Regime jurídico da promoção da segurança e saúde


no trabalho.
 Decreto-Lei n.º 110/2000 de 30 de Junho – Estabelece as condições de acesso e de
exercício das profissões de técnico superior de segurança e higiene do trabalho e de
técnico de segurança e higiene no trabalho.
 Decreto-Lei n.º 109/2000 de 30 de Junho – Altera o Decreto-Lei n.º 26/94 de 1 de
Fevereiro, alterado pelas Leis n.ºs 7/95 de 29 de Março e 118/99 de 11 de Agosto, que
contém o regime de organização e funcionamento das atividades de segurança, higiene e
saúde no trabalho.

62
 Decreto-Lei n.º 273/2003 de 29 de Outubro – Procede à revisão da regulamentação das
condições de segurança e de saúde no trabalho a aplicar em estaleiros temporários ou
móveis, constante do Decreto-Lei n.º 155/95 de 1 de Julho.
 Decreto-Lei n.º 46 427/65 de 10 de Julho – Aprova o Regulamento de Segurança no
Trabalho da Construção Civil.
 Decreto n.º 41 821 de 11 de Agosto de 1958 – Aprova o Regulamento de Segurança no
Trabalho da Construção Civil.
 Decreto-Lei n.º 41 820 de 11 de Agosto de 1958 – Promulga várias disposições atinentes à
segurança e proteção do trabalho nas obras de construção civil.
 Decreto n.º 46427, de 10 de Julho de 1965 - Aprova o Regulamento das Instalações
Provisórias Destinadas ao Pessoal Empregado nas Obras.
 Decreto-Lei n.º 50/2005 de 25 de Fevereiro - Prescrições mínimas de segurança e de
saúde para a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de trabalho.
 Decreto-Lei n.º 103/2008 de 24 de junho - Estabelece as regras a que deve obedecer a
colocação no mercado e a entrada em serviço das máquinas.

5.4 Acidentes de trabalho

A dimensão relativa dos acidentes em estaleiros de construção assume uma importância


significativa, comprovada pelas estatísticas da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT),
segundo as quais, em Portugal, ocorreram no ano de 2010, nestes locais, 55 acidentes de trabalho
mortais, sendo as quedas (e destas as quedas em altura) a principal causa de morte que
representam 41%. Estes factos assumem uma dimensão que deve preocupar os intervenientes.
O gráfico 5.1, apresenta uma perspetiva dos acidentes de trabalho mortais por setor de atividade
em 2010 e que refletem o elevado número de acidentes de trabalho no setor da construção, face
aos outros setores de atividade.

63
Gráfico 5.1 – Acidentes de trabalho mortais por setor de atividade em 2010 (fonte: GEP).

Em determinados sectores de atividade, onde se inclui nomeadamente a construção, o trabalho


está, por norma, associado a uma maior perigosidade, o que permite afirmar que os
trabalhadores destes sectores produtivos estão mais expostos do que outros aos riscos
profissionais, conforme ilustra o gráfico 5.1.
A seguir, apresenta-se a evolução dos acidentes de trabalho totais e mortais entre o ano de 2000
e 2009, ocorridos em Portugal, em todos os setores de atividade.

Gráfico 5.2 – Acidentes de trabalho, total e mortais, do ano 200 a 2009. (fonte: GEP).

Constata-se que os acidentes de trabalho mortais têm sofrido uma tendência de descida e que se
manteve em 2010, com um total de acidentes mortais de 130 (gráfico 5.1), face ao ano de 2009
com 217 acidentes mortais. Aqui é importante salientar dois aspetos que têm influenciado estes
resultados: a diminuição da atividade económica, em especial o setor da construção e as diversas
campanhas de sensibilização e informação.

64
É prática comum apelar ao slogan “Acidentes zero”, mas só é possível com o esforço de todos e
investindo de uma forma séria e eficaz na cultura da prevenção, indo de encontro da campanha
lançada pela Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho.

5.5 Prevenção

Tratando-se de aspetos que envolvem riscos físicos, a prevenção é o fator que merece maior
destaque, motivando para tal que se exerçam atividades prévias à execução da obra.
As ações de intervenção, em termos de prevenção, podem ser efetuadas pela eliminação ou
limitação do risco, correspondendo a medidas de engenharia tomadas na conceção e
dimensionamento no projeto; envolvimento do risco, através de medidas protetoras em obra;
afastamento dos indivíduos, com aspetos técnicos e organizacionais que motivem o afastamento
de terceiros e impeçam a negligência ou inadvertência dos trabalhadores; e de proteção pessoal,
através da utilização, pelos trabalhadores, de equipamentos de proteção individual adequados às
tarefas em desenvolvimento.
Em geral, as intervenções de proteção através de medidas de engenharia, relacionadas com a
conceção, projeto e organização, são as mais eficazes e de menor custo, constituindo uma
preocupação que deve nortear todas estas atividades. A acrescer a estas medidas, devem ser
preconizadas ações periódicas de formação e informação dos trabalhadores, devendo-se evitar a
contratação de pessoal temporário sem formação específica para a obra, principalmente se forem
executar trabalhos com riscos especiais (ver quadro 5.12).

5.5.1 Princípios gerais de prevenção

São nove os Princípios Gerais de Prevenção de acordo com a Diretiva 89/391/CEE, e estão
descritos no quadro abaixo mencionado. Esta diretiva foi transposta para o direito interno
Português através do Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro, alterado posteriormente pelo
Decreto-Lei n.º 133/99, de 21 de Abril.

Mais tarde os princípios gerais da prevenção foram assumidos pela Lei nº 102/2009, de 10 de
Setembro, que revoga os diplomas atrás referidos. Teve por objeto a execução de medidas
destinadas a promover no espaço europeu a melhoria da segurança e saúde dos trabalhadores.
Nela se incluíram nove princípios gerais – atribuídos às entidades empregadoras - relativos à
prevenção dos riscos profissionais e à proteção da segurança e da saúde, à eliminação dos fatores
de risco e de acidente, à informação, à consulta, à participação, de acordo com as legislações e/ou

65
práticas nacionais, à formação dos trabalhadores e seus representantes, assim como linhas
mestras a observar com vista à sua aplicação no terreno.

Primeiro: Evitar os riscos;


Segundo: Avaliar os riscos que não possam ser evitados;
Terceiro: Combater os riscos na origem;
Quarto: Adaptar o trabalho ao homem, especialmente no que se refere à
conceção dos postos de trabalho, bem como à escolha dos equipamentos
de trabalho e dos métodos de trabalho e de produção, tendo em vista,
nomeadamente, atenuar o trabalho monótono e o trabalho cadenciado e
reduzir os efeitos destes sobre a saúde;
Quinto: Ter em conta o estado de evolução da técnica;
Sexto: Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos
perigoso;
Sétimo: Planificar a prevenção com um sistema coerente que integre a técnica, a
organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações sociais e a
influência dos fatores ambientais no trabalho;
Oitavo: Dar prioridade às medidas de prevenção coletiva em relação às medidas
de proteção individual;

Nono: Dar instruções adequadas aos trabalhadores.

De forma a dar cumprimento ao anteriormente descrito, e elaborado legislação específica para o


setor da construção, foi constituído um dos instrumentos fundamentais do planeamento e da
organização da segurança no trabalho em estaleiros temporário e móveis, através do plano de
segurança e saúde a seguir descrito.

5.5.2 Plano de segurança e saúde

O Plano de Segurança e Saúde (PSS) É um documento dinâmico, iniciado na conceção do


empreendimento e alvo de permanentes atualizações nas etapas posteriores de projeto,
adjudicação e execução, sendo concluído apenas com a receção da obra.
Iniciado na fase de projeto o PSS vai sendo posteriormente desenvolvido e especificado antes de
se passar à execução da obra pela entidade executante, normalmente designado por
Desenvolvimento do Plano de Segurança e Saúde (DPSS).

66
5.5.2.1 Objetivo do PSS

O PSS tem por objetivo principal identificar e avaliar os riscos associados ao processo construtivo
e aos materiais a aplicar, garantindo que a entidade executante tem conhecimento dos riscos que
terá de considerar para proceder ao controlo e minimização dos acidentes de trabalho através da
organização e gestão de segurança a implementar na obra que se projeta levar a execução.
Para a concretização deste objetivo, o referido plano estabelece as condições mínimas de
segurança e saúde no trabalho a implementar e as formas de evidência das ações desenvolvidas
no sentido de dar cumprimento à sua aplicação.

Para que não ocorram ou se evitem acidentes, é necessário que todos os trabalhos sejam
concebidos, programados e executados corretamente e que, simultaneamente, haja um empenho
consciente de todos e de cada um, independentemente das áreas de que se ocupem e funções
que desempenhem.

5.5.2.2 Responsabilidades dos diversos intervenientes na segurança da obra

O ato de construir envolve a intervenção de um vasto conjunto de intervenientes que são


destinatários de obrigações específicas no âmbito da segurança e saúde do trabalho. A seguir são
identificadas algumas das principais responsabilidades relativas à segurança e saúde dos
intervenientes nas obras de construção (para detalhe das obrigações dos intervenientes, devem
ser consultados os Artigos 17.º a 20.º do decreto-lei 273/2003 de 29 de outubro).

DONO DA OBRA
Entende-se por dono da obra como sendo a entidade por conta de quem a obra é realizada.
O papel do dono da obra, no que diz respeito à prevenção de riscos profissionais, assume
expressão significativa no quadro das opções conceptuais, da programação e preparação da
execução e da execução propriamente dita, nos seguintes aspetos:

 Nomear os coordenadores de segurança em projeto e em obra;


 Elaborar ou mandar elaborar o Plano de Segurança e Saúde (PSS), quando tal for
obrigatório;
 Aprovar o desenvolvimento e as alterações do plano de segurança e saúde para a
execução da obra;
 Impedir que a entidade executante inicie a implantação do estaleiro sem que esteja
aprovado o Plano de Segurança e Saúde para execução da obra;

67
 Comunicar previamente a abertura do estaleiro à Autoridade para as Condições de
Trabalho (ACT), nas situações em que exista essa obrigatoriedade, entregando cópia
dessa comunicação à entidade executante;
 Elaborar ou mandar elaborar a compilação técnica da obra;
 Quando intervierem duas ou mais empresas executantes na obra, designar a entidade
que deve tomar as medidas necessárias, para que o acesso ao estaleiro seja reservado a
pessoas autorizadas;
 Assegurar o cumprimento das regras de gestão e organização geral do estaleiro incluídas
no plano de segurança e saúde.

AUTOR DO PROJETO
Entende-se por autor do projeto como sendo a pessoa que é reconhecida como projetista, que
elabora ou participa na elaboração do projeto da obra.
Ao autor do projeto competirá garantir, no projeto, a prevenção de riscos profissionais, em
termos de conceção da obra e de dimensionamento, tendo em conta os princípios gerais de
prevenção de riscos profissionais, designadamente nos seguintes domínios:

 No âmbito das escolhas técnicas equacionadas e desenvolvidas no projeto, incluindo as


metodologias relativas aos processos e métodos construtivos, bem como os materiais e
equipamentos a incorporarem na edificação;
 Nas definições relativas aos processos de execução do projeto, incluindo as relativas à
estabilidade e às diversas especialidades, as condições de implantação da edificação e os
condicionalismos envolventes da execução dos trabalhos;
 No que diz respeito às soluções organizativas que se destinem a planificar os trabalhos ou
as suas fases, bem como a previsão do prazo da sua realização;
 Quanto aos riscos especiais para a segurança e saúde, enumerados no artigo 7.º do
Decreto-Lei n.º 273/2003;
 Nas definições relativas à utilização, manutenção, conservação e demolição da edificação;
 Prestar informações ao coordenador de segurança em obra e à entidade executante
sobre Aspetos relevantes dos riscos associados à execução do projeto;

COORDENADORES DE SEGURANÇA
Os coordenadores de segurança e saúde em projeto e em obra desempenham um papel
fundamental de aconselhamento e apoio técnico aos processos de decisão do dono de obra e de

68
dinamização da ação dos diversos intervenientes no que se refere à observância dos princípios
gerais de prevenção nas fases de elaboração do projeto, de contratualização da empreitada, de
execução dos trabalhos de construção e, até, quanto à consideração das intervenções
subsequentes à conclusão da edificação.
Em Portugal, a figura do Coordenador de Segurança em Obra (CSO) não se encontra
regulamentada e é ainda um pouco desvalorizada e inexistente em muitas das obras particulares
e públicas. Em muitos dos casos o dono de obra contrata por obrigações legislativas, mas por
razões meramente de custos, com afetações à obra muitos reduzidos, não permitindo ao CSO na
grande maioria das obras desempenhar com rigor e atempadamente as suas funções, ficando
muito aquém das responsabilidades que lhe são atribuídas pela legislação em vigor.

ENTIDADE EXECUTANTE
O conceito de entidade executante foi estabelecido para designar a intervenção do empreiteiro.
À entidade executante cabe, de acordo com a relação contratual estabelecida com o dono da
obra, assegurar a execução da totalidade ou de parte da obra. A entidade executante,
habitualmente designada como “adjudicatário” ou “empreiteiro geral” fornece os equipamentos
de trabalho, seleciona os métodos de trabalho que entende mais adequados à realização da obra,
decide sobre a organização do trabalho no estaleiro da obra, constitui e/ou define a necessidade
de constituição das equipas de trabalho. Nestas circunstâncias encontra-se, em posição adequada
para promover o desenvolvimento do planeamento da prevenção de riscos profissionais iniciado
na fase de projeto e para equacionar estes aspetos no quadro dos mecanismos de contratação de
subempreiteiros e trabalhadores independentes. Assim, à entidade executante cabe,
nomeadamente:
 Avaliar os riscos associados à execução da obra e definir e implementar as medidas de
prevenção adequadas;
 Mobilizar os recursos adequados dos seus serviços de prevenção;
 Propor ao dono da obra o desenvolvimento e a adaptação do PSS;
 Tomar as medidas necessárias a uma adequada organização e gestão do estaleiro,
incluindo a organização do sistema de emergência;
 Tomar as medidas necessárias para que o acesso ao estaleiro seja reservado a pessoas
autorizadas;
 Dar a conhecer o plano de segurança e saúde para a execução da obra e as suas
alterações aos subempreiteiros e trabalhadores independentes, ou pelo menos a parte
que os mesmos necessitam de conhecer por razoes de prevenção;

69
 Comunicar, à ACT e ao coordenador de segurança, qualquer acidente de trabalho de que
resulte a morte ou lesão grave de trabalhos ou trabalhador independente colocado sob
sua responsabilidade;
 Fornecer os elementos necessários à elaboração da compilação técnica.

Entendemos que existe já legislação suficiente para assegurar melhores condições de segurança
dos trabalhadores, é preciso pô-la em prática. Já foi referido anteriormente a falta de
acompanhamento de obras pelo CSO, é também necessário a existência efetiva de um
Coordenador de Segurança em Projeto (CSJ) e que esse elemento faça parte integrante das
soluções de projeto, como por exemplo:
 Incorporar nas peças desenhadas, nos avanços de escavação ou em elementos
estruturais, pontos de amarração para linhas de vida;
 Incorporar nas peças desenhadas, nas armaduras dos pilares, vigas de bordadura e lajes,
ferros de espera específicos ou negativos para colocação de elementos de segurança,
como por exemplo para amarração de linha de vida e/ou montagem de guarda-corpos;
 Limitar a altura de cofragens à altura média dos trabalhadores, indo de encontro ao 4º
principio da prevenção;
 Incorporar nas peças desenhadas, soluções ou opções arquitetónicas que permitam na
vida útil da obra edificada, aceder a locais que necessitem de manutenção, conservação e
que garantam condições de segurança necessárias;
 Garantir que as coberturas tem platibanda com altura mínima de 1,0 m;
 Garantir que a viga de bordadura é dimensionada para que, pelo menos, garanta a fixação
de plataformas suspensas.

5.5.2.3 Atividades ou trabalhos de risco elevado / especiais

Tendo em conta o descrito no ponto 5.4.2, a legislação em vigor confere um destaque muito
particular ao conceito de risco especial, dele fazendo depender dois desenvolvimentos:
Um relativo ao papel dos diversos intervenientes no empreendimento construtivo (dono da obra,
projetistas, executantes e coordenadores de segurança). Por outro lado, tais riscos especiais
devem ser objeto de análise detalhada quer do PSS, quer na Compilação Técnica (CT), em função
da conjugação da sua probabilidade e da sua gravidade.

Tratando-se da execução de determinadas tarefas, a exposição aos respetivos riscos profissionais


poderá ter consequências mais gravosas, pelo que, nestes casos, haverá que abordar a proteção
dos trabalhadores relativamente aos fatores de risco de forma ainda mais aprofundada.

70
A Lei nº 102/2009, de 10 de Setembro - Regime jurídico da promoção da segurança e saúde no
trabalho, aplicado a todos os setores de atividade, considera de risco elevado as seguintes
atividades gerais mencionadas no quadro 5.12. Enquanto o Decreto-Lei n.º 273/2003 de 29 de
Outubro – Procede à revisão da regulamentação das condições de segurança e de saúde no
trabalho a aplicar em estaleiros temporários ou móveis, mais específico para a área da
construção.

Quadro 5.12 – Listagem de atividades de riscos elevados/especiais.


A Lei nº 102/2009, Consideram-se de risco Decreto-Lei 273/2003, consideram-se riscos
elevado: especiais:
- Trabalhos em obras de construção, escavação, Queda em altura, soterramento e afundamento
movimentação de terras, túneis, com riscos de quedas agravados por qualquer circunstância envolvente da
de altura ou de soterramento, demolições e execução dos trabalhos;
intervenção em ferrovias e rodovias sem interrupção de - Doenças profissionais causadas por agentes químicos
tráfego; e biológicos;
- Atividades de indústrias extrativas; - Exposição a radiações ionizantes (quando for
- Trabalho hiperbárico; obrigatória a designação de zonas controladas ou
- Atividades que envolvam a utilização ou vigiadas);
armazenagem de quantidades significativas de - Situações que pela sua própria natureza envolvem
produtos químicos perigosos suscetíveis de provocar risco elevado, tais como os trabalhos:
acidentes graves; - Na proximidade de linhas elétricas de média e alta
- Fabrico, transporte e utilização de explosivos e tensão;
pirotecnia; - Nas vias rodoviárias e ferroviárias que se encontrem
- Atividades de indústria siderúrgica e construção em exploração, ou na sua proximidade;
naval; - De mergulho com aparelhagem;
- Atividades que envolvam contato com correntes - Em poços, túneis, galerias ou caixões de ar
elétricas de média e alta tensão; comprimido;
- Produção e transporte de gases comprimidos, - Na utilização de explosivos e em trabalhos em
liquefeitos ou dissolvidos, ou a utilização significativa atmosferas explosivas;
dos mesmos; - Na montagem e desmontagem de elementos (pré-
- Atividades que impliquem a exposição a radiações fabricados ou de outra natureza) de grandes dimensões
ionizantes; e peso.
- Atividades que impliquem a exposição a agentes
cancerígenos, mutagénicos ou tóxicos para a
reprodução;
- Atividades que impliquem a exposição a agentes
biológicos do grupo 3 ou 4;
- Trabalhos que envolvam risco de silicose.

71
5.6 Avaliação de riscos

É o processo de avaliação dos riscos para a saúde e a segurança dos trabalhadores decorrentes de
perigos no local de trabalho. Na prevenção e no controlo dos riscos, importa ter em conta os
princípios gerais de prevenção já mencionados no ponto 5.4.1.
A avaliação dos riscos passa por uma consciente monitorização, acompanhamento e supervisão
técnica, e avaliação constante do projeto e construção.

Como a avaliação de riscos é uma área muito complexa, a sua abordagem será somente
superficial e de forma a refletir algumas das atividade/tarefas relacionadas com o tema da
presente tese, de forma a suscitar a reflexão e sensibilidade para a prevenção.
Neste ponto será abordada a segurança e higiene no trabalho, com realce a dois aspetos distintos:
riscos profissionais decorrentes da execução da escavação dos poços e os riscos profissionais
específicos do trabalho de monitorização da obra.

5.6.1 Ações para a prevenção de riscos

Um dos pontos fundamentais na prevenção de riscos é a boa preparação e planeamento dos


trabalhos. É importante a realização de uma reunião de preparação dos trabalhos em que estejam
envolvidos os principais intervenientes nesses trabalhos, onde se incluiu o encarregado, a direção
de obra, o técnico de segurança e, se o trabalho for executado por um subempreiteiro, que esteja
presente o representante/responsável em obra dessa empresa. Da discussão resultará
necessariamente um conjunto de ações que visam a prevenção de riscos profissionais.
Desta reunião será possível, ao responsável da segurança, elaborar um documento denominado
por Procedimento Especifico de Segurança (PES), também designado por Plano de Trabalhos com
Riscos Especiais (PTRE) que será obrigatório ser validado pelo CSO e aprovado pelo dono de obra,
antes do início dos trabalhos.
Desse documento deve constar uma série de elementos, tais como:
 Cronograma de trabalhos;
 Memória descritiva/faseamento construtivo;
 Meio humanos e equipamentos;
 Condicionalismos existentes;
 Materiais e produtos com riscos especiais;
 Identificação e avaliação de riscos;
 Medidas preventivas e de proteção;
 Proteções individuais e coletivas;

72
 Procedimentos de emergência;
 Fichas técnicas, fichas de segurança, peças desenhadas, memórias de cálculo (se
aplicável).

Após aprovação do dono de obra, deverá ser ministrada a formação a todos os trabalhadores
afetos à atividade. Por último lugar, de forma a fechar o ciclo, há que assegurar o necessário
acompanhamento do cumprimento das regras de segurança através dos Procedimentos e Registos
de Inspeção e Prevenção (PRIP), parte integrante do PES ou PTRE.

5.6.2 Metodologia de identificação de perigos e avaliação de riscos

Definição de perigo: fonte ou situação para o dano, em termos de lesões ou ferimentos para o
corpo humano ou de danos para a saúde, para o património, para o ambiente do local de
trabalho, ou uma combinação destes.
Definição de risco: expressa uma probabilidade de possíveis danos dentro de um período
específico de tempo ou número de ciclos operacionais.

O primeiro passo para a identificação de perigos, avaliação e controlo de riscos consiste em


selecionar uma atividade ou tarefa. Deverá ser dada prioridade às atividades ou tarefas que se
julgue apresentarem riscos acrescidos baseado em: experiência do passado; riscos especiais;
preocupações expressas pelos trabalhadores e requisitos legais, outros requisitos ou
procedimentos.
Após identificação de perigos, procede-se à avaliação de riscos de forma a determinar a ordem de
grandeza do risco analisado.

Exposição

Frequência

Probabilidade Risco

Gravidade

Figura 5.17 – Esquema de avaliação de riscos.

73
A avaliação de riscos é neste caso efetuada através da combinação da frequência com a
gravidade, conforme figura anterior, em que a frequência do dano é baseada no nível de
exposição dos seres humanos ao perigo e da probabilidade de provocar dano nas pessoas
expostas.

A partir destas combinações e dos valores atribuídos a cada uma, é possível realizar uma matriz
de identificação de perigos e avaliação de riscos, com as necessárias medidas preventivas para
cada risco identificado na atividade/tarefa, conforme quadro 5.13 abaixo mencionado.

Quadro 5.13 - Quadro tipo de matriz de identificação de perigos e avaliação de riscos.

ATIVIDADE PERIGO RISCO CLASSIFICAÇÃO AVALIAÇÃO MEDIDAS DOCS. RE-CLASSIFICAÇÃO AVALIAÇÃO DOC. DE
/ TAREFA DE RISCO IMPLEMENTADAS REF.ª DE RISCO Controlo
FREQUÊNCIA

FREQUÊNCIA
RESULTADO

RESULTADO
GRAVIDADE

GRAVIDADE

Na matriz de identificação de perigos e avaliação de riscos indicam-se as atividades previstas que,


em função do risco não controlado no projeto ou ainda que, tendo por base os métodos de
execução habituais, são consideradas atividades com risco. Excluem-se destes riscos as atividades
de trabalhos preparatórios, desvios de infraestruturas, execução de viga de bordadura, entre
outros. O fundamento deste capítulo é abordar o tema da segurança e higiene de forma genérica,
sem esquecer contudo, os riscos profissionais decorrentes das atividades de execução de
escavação de poços e o trabalho de monitorização da obra. Quanto aos riscos causados a
terceiros decorrentes de assentamentos/deformações nas estruturas envolventes, estes riscos
foram tidos em consideração em toda a fase projeto. A instrumentação e a monitorização são
bons exemplos no controlo dos possíveis riscos, pelo que não será dado enfase nesta abordagem
aos riscos.

O quadro seguinte permite identificar uma lista não exaustiva de riscos potenciais, equipamentos
e mão-de-obra para as atividades mencionadas anteriormente.

74
Quadro 5.14 – Lista não exaustiva de riscos potenciais, equipamentos e mão-de-obra.

Riscos potenciais Máquinas / Equipamentos Mão-de-Obra


(categ. profissional/função)
1 Atropelamento E1 Grua torre C1 Encarregado
2 Capotamento E2 Escavadora giratória C2 Chefe de equipa
3 Esmagamento E3 Retroescavadora C3 Gruista
4 Entalamento E4 Dumper’s C4 Manobrador Escavadora
5 Queda em altura E5 Caçamba C5 Manobrador equip. furação
6 Queda ao mesmo nível E6 Robot projeção / C6 Manobrador robot projeção
Misturadora
7 Queda de materiais E7 Equipamento furação C7 Motorista pesados
8 Desprendimento/queda de E8 Bomba Hidropneumática C8 Responsável da central de
blocos injeção
9 Choque com objetos/materiais E9 Central de injeção C9 Soldador
10 Choque entre equipamentos E10 Autobomba C10 Pedreiro
11 Soterramento E11 Compressor C11 Serralheiro
12 Ruído E12 Multifunções C12 carpinteiro
13 Inalação de poeiras e gases E13 Autobetoneira C13 Servente

14 Projeção de partículas / E14 Plataforma não C14 Topografo


líquidos integrada
15 Esforços músculo-esqueléticas E15 Escada torre C15 Porta miras
16 Eletrocussão/Eletrização E16 Escada de mão C16 Geólogo / Geotécnico
17 Queimaduras/irritações E17 Aparelho de topografia C17 Técnico de segurança
18 Cortes /perfurações
19 Amputação
20 Incêndio
21 Explosão

Tendo em conta o quadro 5.14, é atribuído para a cada atividade/tarefa os potenciais riscos,
equipamentos e mão-de-obra que poderão ser utilizados ou que foram utilizados no estudo de
caso. No quadro 5.15, apresenta-se os riscos decorrentes da escavação, tendo como base os
métodos de execução e contenção preconizado no estudo de caso.

75
Quadro 5.15 - Riscos decorrentes da escavação dos poços.

Atividade/tarefa Riscos potenciais Máquinas / Mão-de-obra


Equipamentos
Escavação de painéis e sustimento primário
Escavação na vertical 1-2-3-8-10-11-12-13-14 E2-E3 C1-C2-C4-C13
Carregamento e transporte de terras 1-2-3-7-10-13 E1-E2-E4-E5 C3-C4-C7
Colocação de malha eletrosoldada 4-5-6-15-18 C2-C9-C11
Projeção de Betão 6-9-13-14-15-16-17 E6-E13 C2-C6-C13
Execução de pregagens e geodrenos
Execução de furação horizontal 4-12-13-14 E7 C2-C5-C13
Colocação de pregagens e geodrenos 4-5-6-7-8-15-18 E12-E16 C2-C13
Aperto das pregagens 5-9-18 E8-E16 C2-C13
Injeção de selagem 4-6-13-14-15-17 E9 C2-C8-C13

No quadro 5.16 apresentam-se as atividades decorrentes da instalação de instrumentação e da


atividade diária dos trabalhadores especializados no acompanhamento da monitorização (geo-
profissional e equipa de topografia).

Quadro 5.16 - Riscos decorrentes da instalação de instrumentação e da atividade de monitorização.

Atividade/tarefa Riscos potenciais Máquinas / Mão-de-obra


Equipamentos
Instalação de instrumentação (piezómetros, inclinómetros e marcas de superfície)
Execução de furação vertical 4-6-7-12-13-14-15-
E7 C5-C13
18
Colocação de instrumentação geotécnica 6-7-15-18 - C5-C13
Selagem 6-13-14 E9 C5-C8
Instalação de instrumentação (alvos, réguas, strain-gauges)
Colocação de instrumentação geotécnica 5-6-18 E16 C14-C15-C16
Monitorização
Instalação de instrumentação (Alvos e réguas) 4-5-6-9-18 E16-E14-E12 C2-C3-C14-C16-C17
Monitorização diária da instrumentação /
1-6-15 E17 C14-C15-C16
cartografia
Limpeza de elementos de instrumentação 4-5-6-9-18 E1-E14 C3-C14-C15-C17

Nas várias atividades de monitorização, pontualmente é necessário aceder a locais que pelas
dimensões dos poços (diâmetro e/ou profundidade), como o caso em estudo, exigem a utilização
de equipamentos de elevação de trabalhadores, para as seguintes tarefas:

76
 Colocação de elementos de instrumentação;
 Colocação de nova instrumentação;
 Limpeza de elementos de instrumentação (p.e. alvos);

Podemos distinguir 4 tipos de equipamentos que são habitualmente mais usados, e que deverão
ser objeto de especial atenção:

 Plataformas Móveis de Elevação de Pessoas (PMEP);


 Multicarregadores telescópicos ou empilhador multifunções, equipados com plataformas
integradas de elevação de pessoas e concebidas para essa finalidade;
 Plataformas suspensas por cabos (também designados por bailéus);
 Plataformas não integradas, suspensas por gruas destinadas à elevação de cargas,
utilizadas a título excecional para elevação de pessoas.

Os dois primeiros são equipamentos operados a partir do solo, com as respetivas limitações, seja
pelo seu alcance limitado, seja por necessitarem de solo nivelado (PMEP impossíveis de operar
em fase de escavações), seja ainda pela existência de estruturas que condicionam o seu acesso à
instrumentação.

Nesses casos é necessária a utilização de plataforma não integrada, mas que só pode ser utilizada
mediante a autorização por escrito do CSO e em casos muitos específicos, sendo necessário o
cumprimento de medidas preventivas específicas.

Aqui convém distinguir plataforma não integrada (figura 5.18a) de plataforma suspensa, também
designada por bailéu (figura 5.18b) essencialmente diferem em dois aspetos fundamentais: uma é
a entidade a quem é solicitado a autorização para utilização destas plataformas, outra é o tempo
necessário para os processos administrativos de autorização.
No quadro abaixo, são apresentadas as diferenças para cada uma das duas plataformas
apresentadas, com base na experiência prática em obra, pois é comum a existência de dúvidas
sobre os procedimentos respeitantes aos processos administrativos de autorização.

77
Quadro 5.17 – Procedimentos para autorização na utilização de plataformas.

PLATAFORMAS SUSPENSAS (BAILÉU) PLATAFORMA NÃO INTEGRADA

PROCEDIMENTOS
- Necessária autorização do ACT; - Necessária autorização do CSO;
-Preparação de documento para apresentação ao ACT; - Preparação de Procedimento Específico de Segurança
- Apôs autorização do ACT, necessário preparar um (PES) para o dono de obra;
Procedimento Específico de Segurança (PES) para o - Validação pelo CSO e aprovação do dono de obra;
dono de obra, remetendo em anexo a aprovação do - Formação específica aos trabalhadores;
ACT; - Início dos trabalhos previstos.
- Validação pelo CSO e aprovação do dono de obra;
- Formação específica aos trabalhadores;
- Início dos trabalhos previstos.

OBSERVAÇÕES

Sempre que haja necessidade de executar trabalhos Sempre que haja necessidade de executar trabalhos
noutro local ou o trabalho a executar não esteja com estas plataformas que não esteja previsto no PES,
previsto na autorização do ACT, é obrigatório seguir os é obrigatório o envio do pedido de autorização ao dono
trâmites anteriores. Nestes casos, deve-se contatar o de obra.
ACT local para esclarecer os procedimentos a tomar.
O recurso a este tipo de solução, é apenas admissível
excecionalmente em situações onde outros meios de
trabalho (p.e. utilização de andaimes) sejam
impraticáveis ou suscetíveis de ocasionar riscos
superiores e/ou quando se tratar de situações pontuais,
imprevistas e de curta duração.

DURAÇÃO
(tempo que medeia o início de preparação de toda a documentação até aprovação do dono de obra.)
30 a 45 dias Até 5 dias.
(Dependendo da unidade central ou local do ACT).

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Decreto-lei n.º 103/2008 de 24 de junho. Artigos 10.º a 29.º do Decreto-lei n.º 50/2005 de 25 de
fevereiro.
(Equipamento não abrangido pela diretiva máquinas).

No caso das plataformas suspensas, devido à duração necessária, de acordo com o quadro 5.17, é
fundamental a existência em obra de um bom planeamento e organização no setor da produção
de obra. Um caso prático no uso destas plataformas é a execução de impermeabilização de poços.

78
a) b)
Figura 5.18 – a) Plataforma não integrada suspensa em grua-torre; b) Plataformas suspensas.

5.7 Riscos psicossociais

Segundo a Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho (EU-OSHA), o mundo está a
passar por transformações que implicam novos desafios em matéria de segurança e saúde dos
trabalhadores. Estas transformações levam ao surgimento de riscos psicossociais. Estes riscos,
que estão relacionados com a forma como o trabalho é concebido, organizado e gerido, bem
como com o seu contexto económico e social, suscitam um maior nível de stresse e podem
originar uma grave detioração da saúde mental e física.
As transformações socioeconómicas, demográficas e políticas, incluindo o atual fenómeno da
“globalização”, também são fatores significativos. Os dez principais riscos psicossociais
emergentes (qualquer risco simultaneamente novo e que está a aumentar) identificados por
peritos podem agrupar-se nas cinco áreas seguintes:
 Novas formas de contrato de trabalho e insegurança no emprego;
 Mão-de-obra em envelhecimento;
 Intensificação do trabalho;
 Exigências emocionais elevadas no trabalho;
 Difícil conciliação entre a vida profissional e a vida privada;

Estas novas realidades vão ser um desafio acrescido para os responsáveis de segurança das
empresas, pela dificuldade na deteção de alguns dos seus riscos. Aqui, a análise e investigação de
acidentes de trabalho de forma responsável, vai permitir aflorar possíveis causas que se
enquadram nestes novos riscos, que aparentemente indiciavam outras causas possíveis.

79
A Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho lançou a sua nova campanha bianual
- Locais de Trabalho Seguros e Saudáveis - dedicada ao tema "Juntos na prevenção dos riscos
profissionais: Através da liderança e participação dos trabalhadores”.
A participação e empenho dos diversos intervenientes quer antes, quer depois do início da obra,
conduz a uma melhoria muito significativa do desempenho em matéria de segurança e saúde no
trabalho, que não só da exclusividade dos responsáveis que participam diariamente e ativamente
na segurança.

80
6. Projeto de execução

81
82
6.1 Caracterização da empreitada

6.1.1 Introdução

Neste capítulo pretende-se descrever de forma geral todos os trabalhos da “Empreitada ML-
671/07 – Conceção/Construção dos Toscos do Prolongamento entre a Estação da Amadora-Este e
Estação da Reboleira, da Linha Azul, do Metropolitano de Lisboa, E.P”, que serviu de base ao
presente estudo e que será detalhada no próximo capítulo. O troço em questão, composto pelos
troços 75 e 76 do Metropolitano de Lisboa, desenvolve-se entre o PK 25+247,8 e o PK 25+842,1,
integrando a Estação da Reboleira entre os PK 25+529,3 e o PK 25+640,3.

6.1.2 Localização da empreitada

A futura Estação de Metropolitano da Reboleira, situada no concelho da Amadora, faz parte do


plano de expansão do Metropolitano de Lisboa e insere-se na estratégia de reforço da
intermodalidade com a ferrovia e assegurará a ligação da Linha Azul, com a linha de comboios de
Sintra - Estação Ferroviária da Reboleira (Figura 6.19 e 6.20).

Figura 6.19 - Mapa da rede geral do metropolitano de Lisboa (Fonte: www.metrolisboa.pt).


ESTAÇÃO AMADO

83
ÍNICIO E TÉRMINO DA OBRA

ESTAÇÃO AMADORA ESTE

FUTURA ESTAÇÃO DA REBOLEIRA

Figura 6.20 - Prolongamento da linha azul – Estação da Reboleira (Adaptado google maps).

6.1.3 Trabalhos executados

Os trabalhos que fizeram parte da empreitada foram os seguintes:


- Execução dos toscos da galeria que engloba o 75º Troço Parcial (entre o término existente e a
Estação da Reboleira) e da galeria até ao novo término provisório, com início na Estação da
Reboleira;
- Toscos da Estação da Reboleira e respetiva interface com o Apeadeiro Ferroviário da Reboleira
Acessos Nascente e Poente;
- Toscos do Posto de Ventilação (Poço de Ventilação e Túnel de Ventilação);
- Elaboração dos projetos de todos os trabalhos, para todas as especialidades correspondentes
aos trabalhos de túneis, estruturas, alvenarias e redes de drenagem de águas residuais, pluviais
de lavagem e domésticas;
- Elaboração do Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução RECAPE (Relatório
de Acompanhamento Ambiental do Projeto de Execução).

Os túneis, a estação e o poço de ventilação foram construídos segundo os princípios do Novo


Método Austríaco de Construção de Túneis, que será abordado mais à frente.
A figura 6.21, mostra o aspeto geral da empreitada, com indicação dos poços em estudo, bem
como a sua localização.

84
Túnel Norte Túnel Sul

Poços em estudo

Figura 6.21 - Planta geral da obra (adaptado NE, ACE).

6.1.4 Principais características da empreitada

Prazo de execução: 27 meses;

Túnel Norte
Desenvolve-se entre o PK 25+640,3 e o PK 25+842, ou seja, Faz ligação entre o término da Estação
Amadora-Este (75º troço) e a Estação da Reboleira com 201,7 metros;

A Estação da Reboleira
Com o propósito de manter os principais espaços válidos, do ponto de vista arquitetónico e
funcional, foi desenvolvida uma solução construtiva composta por cinco poços que se intercetam
formando no seu conjunto uma vala alongada (Figura 6.22).

Poço 1 Poço 3 Poço 5

Figura 6.22 - Planta do corpo dos poços da estação da Reboleira (Adaptado CJC 2009).

85
Figura 6.23 - Corte transversal dos poços da estação (adaptado TF, 2011).

O conjunto dos cinco poços perfaz uma vala alongada de 115 metros e variável em altura entre os
15,10 metros (poço 1 a 4) e 20,25 metros (poço 5), conforme indica o corte transversal da figura
6.23. É constituída por um poço central elíptico onde integra dois acessos, nascente e poente
(figura 6.30a) com aproximadamente 37 metros no maior diâmetro e 30 metros no menor; 2
poços de 27 metros de diâmetro nas extremidades e poços intermédios com 33 metros no maior
diâmetro.

Túnel Sul
Desenvolve-se entre a Estação da Reboleira ao PK 25+247,8 e o 25+529,1, zona de término, com
aproximadamente 281 metros, onde fica localizado o posto de tração (zona de cais e inversão das
composições) e a ligação ao posto de ventilação;

Posto de ventilação
Constituído por um poço de ventilação com 45 metros de altura de secção elíptica e túnel de
ventilação com 55 metros, onde está incluído o poço de bombagem. Serve de saída de
emergência do Túnel Sul (figura 6.24). Como veremos mais à frente, o poço fica localizado numa
zona habitacional.

Figura 6.24 - Planta do Túnel de ventilação (adaptado CJC, 2009).

86
6.1.5 Principais intervenientes

Os principais intervenientes na obra em estudo foram os seguintes:

Cliente: Metropolitano de Lisboa, E.P.;


Projeto de arquitetura: Metropolitano de Lisboa, E.P.;

Construtores: Nova Estação ACE, constituído pelas Empresas: Teixeira Duarte, Zagope,
Construtora do Tâmega e Soares da Costa;

Projeto de estruturas: CJC Engenharia e Projetos LTDA e NSE ENGINEERING, Consultores de


Engenharia, Lda;

Fiscalização: Ferconsult, Consultadoria Estudos e Projetos de Engenharia de Transportes;

6.2 Processo construtivo

6.2.1 Método NATM

Sendo o âmbito da tese relativo a construção de poços, neste item somente será descrito o
processo construtivo da Estação da Reboleira e do poço de ventilação.
De uma maneira geral, a metodologia utilizada para a empreitada foi o método NATM (New
Austrian Tunnelling Method), também conhecida por túnel mineiro. Esta metodologia tira partido
do maciço em volta da escavação tornando-o parte integrante do sistema de redistribuição e
reequilíbrio das tensões do maciço originadas pela escavação. Este sistema que se baseia na
interação entre o maciço e o suporte exige, além de uma execução cuidadosa que perturbe ao
mínimo o maciço em torno da escavação, que o sistema de suporte primário seja adequado, ou
seja, com rigidez suficiente para se deformar controladamente (juntamente com o maciço)
imobilizando assim o maciço.
Este processo é conhecido como convergência-confinamento ou método das deformações
controladas onde o revestimento e o maciço interagem até se atingir o equilíbrio. É tanto mais
intenso quanto maior for a necessidade de suporte do maciço, necessitando assim de
revestimentos mais pesados e colocados num menor espaço de tempo, o qual está
correlacionado com o tempo de auto-sustentação do maciço.

87
6.2.2 Tempo de auto-sustentação

O tempo de auto-sustentação é fundamental para o sucesso na aplicação do método NATM pois


exige que o maciço seja autoportante durante o tempo necessário para se proceder à aplicação
do suporte primário. Até que o revestimento seja aplicado, apenas o maciço é responsável pela
estabilidade do passo de avanço.
Tendo em conta estes conceitos, desenvolveram-se metodologias construtivas adequadas a cada
zona geotécnica, de forma a respeitar ao máximo as propriedades geomecânica do maciço (CJC
2008).

Na metodologia NATM, são utilizados dois tipos de suporte, com funções diferentes e aplicados
em tempos também diferentes: suporte de 1ª e de 2ª fase.

Suporte de 1ª fase
No conceito do NATM o suporte de 1ª fase é mais flexível tendo como papel o de interagir com o
maciço, sendo o responsável pela estabilização da cavidade fazendo com que seja mobilizada a
capacidade autoportante do maciço até se atingir um novo equilíbrio. Estes suportes variam
conforme a classificação geomecânica do maciço sendo mais leve quanto melhores forem as
características do maciço. Em função de sua forma (circular ou elíptica) que privilegia os esforços
de compressão das paredes do poço, não necessitam de muita armadura e as espessuras serão as
necessárias para absorver os impulsos do maciço. Os suportes primários ou revestimentos
primários são constituídos por malhasol e por betão projetado. Se o maciço apresentar
competência, é aplicada uma malha de pregagens tipo swellex, de forma a reduzir ao mínimo a
degradação do maciço no contorno escavado, e criar num espaço de tempo curto a rigidez
adequada.

É válido também o efeito tridimensional da base, devido ao efeito de fundo; as cargas nesta
região são mínimas e serão crescentes, sendo absorvidas pelo revestimento à medida que o poço
se aprofunda, até atingir o estado plano de tensões e deformações.
Assim, o passo de avanço subsequente só deverá ser iniciado quando o passo precedente estiver
inteiramente concluído. Esta é a situação ideal para o funcionamento do NATM, inclusive de
túnel, com revestimento fechado junto à face e execução em secção plena. Por este motivo
conseguem-se, através de poços em NATM, grandes áreas livres, com um mínimo de suporte, sem
necessidade de suportes temporários do tipo escoramentos e/ou atirantamentos. (Peça escrita
CJC, 2008).

88
Durante esta fase não estão previstos impulsos hidrostáticos sobre o suporte, e foram
desconsiderados nos cálculos, Para tal, foram executados drenos curtos de alívio, instalados
radialmente aos poços, de acordo com projeto.

Suporte de 2ª fase
No conceito do NATM, o suporte de 2ª fase destina-se a prover a estrutura de coeficiente de
segurança para a vida útil da obra. O revestimento secundário pelo seu carácter definitivo deve
possuir coeficiente de segurança adequado a esta condição de longo prazo, bem como resistir a
eventuais pressões hidrostáticas presentes.

6.3 Faseamento construtivo

O 75º troço da Linha Azul está concebido para respeitar na íntegra todas as condicionantes e
imposições postas a concurso. Com este projeto o empreiteiro mostrou preocupação em procurar
soluções alternativas mais ágeis e ao mesmo tempo mais económicas e acima de tudo que o fator
de segurança se mantivesse o mesmo, garantindo também estas vantagens para o dono de obra.

6.3.1 Estação da Reboleira

A Estação da Reboleira foi concebida como uma obra a céu aberto que explora o fator geométrico
em benefício do seu funcionamento estrutural, minimizando escoramentos e tirantes ou
ancoragens para a estabilização de seus suportes temporários. Como já mencionado
anteriormente, é composta por um conjunto de 5 círculos interconectados que recebem os
impulsos do maciço e os equilibra em sua forma geométrica resultando essencialmente em
esforços de compressão o que resulta numa estrutura leve, sem necessidades de elementos
estabilizantes adicionais que não sejam suas paredes laterais.
Esta configuração com cerca de 114 metros de comprimento, é constituída por um poço central
elíptico com aproximadamente 37 metros no maior diâmetro e 30 metros no menor; 2 poços de
27 metros de diâmetro nas extremidades e poços intermédios com 33 metros no maior diâmetro.

6.3.1.1 Faseamento posto a concurso

De seguida descreve-se o faseamento construtivo que foi posto a concurso e o faseamento da


solução variante que foi proposta em alternativa à de concurso, tendo em vista a diminuição do
prazo de execução da empreitada.

89
O faseamento construtivo inicial foi abandonado uma vez que existiu um atraso considerável no
início da empreitada, resultante da não aprovação do Relatório de Acompanhamento Ambiental
do Projeto de Execução (RECAPE), por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Sem esta
aprovação a obra não poderia ser consignada.
Esta decisão implicaria no mínimo em 2 meses de atraso na consignação, uma vez que a APA tinha
legalmente 60 dias para analisar o documento. Durante o período de tempo em que era suposto
ter-se iniciado a obra, foi estudado pela equipa técnica da Nova Estação ACE em conjunto com a
equipa do projetista uma solução que se enquadrasse nos prazos previstos.
O estudo levado a cabo pela Nova Estação ACE a que se chamou “Otimização do Processo
Construtivo da Estação da Reboleira” teve aprovação junto do dono de obra o que permitiu o
comprimento dos prazos de execução e melhorou em muito as condições de segurança da obra, a
qual manteve por base o princípio de escavação recorrendo aos 5 poços. (Pereira, 2011).

O faseamento construtivo previsto no concurso, de uma forma esquemática, previa o seguinte


faseamento:

1ª Fase: Execução dos trabalhos de terraplenagens e estruturas de contenção, necessárias à


implantação dos patamares, para execução dos poços que compõem a estação.

2ª Fase: Execução dos Poços Iniciais


A sequência de implantação dos poços que constituem o corpo da estação, pressupunha a
execução em primeiro lugar dos poços extremos (1 e 5) e central (3), que permitiam abrir as
frentes de trabalho para as demais obras da estação (túnel sul, túnel norte e acessos).

Os poços dentro da sua metodologia construtiva tinham duas fases distintas:


Numa primeira fase seria executado o revestimento primário dos poços extremos e central (6.25).
Em seguida seria feito o revestimento secundário destes mesmos poços, assim como os
elementos estruturais de travamento transversais.

1° Etapa - Escavação e execução do suporte de 1°fase dos poços iniciais do corpo da


Estação Reboleira

90
Figura 6.25 - Planta com execução das vigas de travamento e revestimento secundário nos poços 1, 3 e 5
(Adaptado CJC, 2008).

2° Etapa - Execução do suporte de 2° fase e dos elementos estruturais de travamentos


transversais das zonas de interconexão dos poços iniciais do corpo da Estação da
Reboleira.

3ª Fase: Execução dos restantes poços, ou seja, dos poços intermédios 2 e 4.

1° Etapa – Escavação e execução do suporte de 1°fase dos poços intermédios (2 e 4) do


corpo da Estação da Reboleira (para esta etapa, deveriam estar concluídos os elementos
estruturais de travamento transversais nas zonas de intersecção dos poços iniciais).

2° Etapa – Execução do suporte de 2°fase do corpo da Estação da Reboleira

Figura 6. 26 - Planta com execução do revestimento secundário no poço 2 e 4 (Adaptado CJC, 2008).

Os túneis norte e sul poderiam começar assim que estivessem concluídos os poços da
extremidade, mas a estrutura interna da estação só poderia ser iniciada após a conclusão do
revestimento secundário (figura 6.26).

91
6.3.1.2 Faseamento executado – otimização

A “Otimização do processo construtivo da Estação da Reboleira” diferiu do processo de execução


apresentado na proposta, num único aspeto central, ou seja, a escavação simultânea dos poços
extremos, central e intermédios.
Esta alteração foi conseguida através da execução de um conjunto de oito estacas pilares de 1500
mm de diâmetro e 20 metros e 25 metros de comprimento, que conduzem a quatro pórticos,
localizados nas interceções dos cinco poços que constituem a estação. Estas estacas foram
executadas desde a superfície até cinco metros abaixo da linha inferior de escavação e
encontram-se contraventadas duas a duas por vigas transversais ao desenvolvimento do corpo da
estação.
O seu faseamento construtivo passou pela execução das seguintes etapas:

1ªFase – Execução dos muros de contenção junto dos poços 5, 4 e 3 e na sequência as estacas-
pilares (estas fazem parte dos pórticos transversais que permitiram o equilíbrio estrutural durante
a fase de execução do revestimento primário).

Figura 6.27 - Planta das estacas pilares e muros de contenção (Adaptado CJC, 2009).

2ª Fase - Após a execução das contenções e das estacas, executou-se a viga de bordadura em
todo o contorno dos cinco poços
3ª Fase - Com parte da viga de bordadura já implementada, iniciou-se então a execução das vigas
de travamento, ligadas nas suas extremidades pelas estacas pilares.

92
Figura 6.28 - Planta das vigas de travamento dos poços 1 a 5 (Adaptado CJC, 2009).

4ª Fase – Ao mesmo tempo que se concluíram as vigas de travamento (figura 6.28) iniciou-se a
escavação da estação com aplicação do revestimento primário, constituído por malhasol, betão
projetado, pregagens e geodrenos.
5ª Fase – A escavação e execução do revestimento primário, foi dividido em duas zonas distintas,
uma formada pelos poços 1,2 e 3 e a outra formada pelos restantes poços 4 e 5.
Nesta 5ª fase da obra foram então cumpridos à risca os pressupostos de projeto da solução de
concurso.

Figura 6.29 - Planta e corte transversal do faseamento construtivo da escavação e revestimento primário
(Adaptado CJC, 2009).

Para se visualizar melhor a obra da Estação da Reboleira, apresentam-se na figura 6.30 algumas
perspetivas tridimensionais, que incluem os acessos não abordados nesta tese.

93
a)

b) c)

Figura 6.30 - Esquema tridimensional da estação: a) Geral; b) Planta do cais; c) Planta do sub-cais.

6.3.2 Poço de Ventilação

Este projeto sofreu alterações ao inicialmente levado a concurso, com a alteração da localização
do poço de ventilação por parte do dono de obra, o que obrigou a rever os pressupostos do
projeto levado a concurso. A posição inicial causava demasiados transtornos à população da zona,
como se identifica na figura 6.31. A nova localização situada numa zona ajardinada, permitiu
afastar um pouco mais o poço das edificações, diminuindo a exposição ao ruído e poeiras
resultantes dos trabalhos no poço, bem como um aumento considerável da zona de estaleiro.
Logo após a consignação da obra, foi solicitada autorização à Câmara Municipal da Amadora para
a utilização de explosivos na escavação do poço de ventilação, uma vez que o maciço era de boa
qualidade (W1-2 , F1-2) e a secção do poço com diâmetro 9,20m não permitia a utilização de
equipamentos de grandes dimensões capazes de se movimentarem satisfatoriamente no espaço
confinado da obra.

94
POSTO A CONCURSO

ALTERAÇÃO REVISTO PELO ML

Figura 6.31 - Projeto inicial da localização do poço de ventilação (Adaptado ML, 2008).

Este processo foi demorado, exigiu vários estudos e pareceres, pelo que quando foi dada a
autorização, por parte da C.M. Amadora, já era tarde de mais. Como a resposta da C.M. Amadora
tardava, foi decidido pelo Conselho de Administração do A.C.E., avançar com a escavação do poço
de ventilação, mas com secção ovoide e não circular conforme previsto no Projeto de Execução.
Esta solução ovoide foi estudada para que os equipamentos de grandes dimensões que iriam
executar a escavação do poço, pudessem operar sem dificuldades e ao mesmo tempo fosse
possível retirar a terra e executar os trabalhos de contenção dos terrenos, sem retirar os
equipamentos. Foi colocada a hipótese de alterar a secção do poço para circular quando fosse
dada a autorização para o uso de explosivos, mas como a autorização chegou tarde demais, esta
solução não foi adotada. Esta alteração da configuração do poço levou à necessidade de sobre-
escavação não prevista no caderno de encargos, resultando de um custo adicional para a NE, ACE.
(adaptado Pereira, 2011).

Para além de facilitar todas as manobras operativas, o poço de ventilação de seção elíptica com
17,35 metros no maior diâmetro, 12,00 metros no menor e uma altura aproximadamente de 45
metros, atende às necessidades de circulação e indução de ar, conforme figura 6.32 e 6.33.
O poço é constituído por uma viga de bordadura em todo o seu perímetro. A sua escavação foi
executada com avanços na vertical de 1,0 metro, passando depois para 2,0 metros aquando da
melhoria da qualidade do terreno. Cada avanço era escavado em painéis com dimensões
variáveis, sendo aplicado malhasol electrosoldada (A500ER) e betão projetado (C25/30) com 20 e
30 cm de espessura (mediante a profundidade), devidamente pregados e drenados.

95
Figura 6.32 - Planta do poço de ventilação de secção elíptica (adaptado CJC, 2009).

Figura 6.33 - Cortes pelo maior e menor diâmetro do poço de ventilação (adaptado CJC, 2009).

96
6.4 Execução do projeto em escavação e revestimento primário

6.4.1 Estação

Antes dos trabalhos propriamente ditos para execução dos poços, foi necessário realizar um
conjunto de trabalhos preparatórios, tais como o desvio de infra-estruturas (gás, esgotos, cabos
de média e baixa tensão e telecomunicações) e alteração dos percursos do trânsito rodoviário
local.

Com a conclusão destes trabalhos, na estação tiveram lugar duas atividades em simultâneo, que
no caso do poço de ventilação não se executaram: a execução das estacas de diâmetro 1500 mm,
e comprimento de 20,0 m (pilares 1 a 6) e 25,0 m (pilares 7 e 8) que conferem ao revestimento
primário a estabilidade estrutural conjuntamente com as vigas de travamento e iniciou-se ao
mesmo tempo os taludes de modo a criar as plataformas necessárias para a execução dos vários
poços que constituem o corpo da estação (figura 6.34 e 6.35a).
Ao todo foram executadas 8 estacas que ditam as intersecções entre poços. Estas estacas
incorporam elementos (esferovite de alta densidade) de modo a deixar negativos para a futura
ligação às paredes curvas dos poços (figura 6.35b).

Figura 6.34 - Planta com a implantação das estacas e as suas referências (adaptado CJC, 2009).

97
a) b)

Figura 6.35 – a) furação para as estacas pilares; b) Colocação de armadura na estaca pilar no furo.

Em seguida iniciaram-se as vigas transversais de travamento entre as estacas, de modo a


formarem pórticos (figura 6.36a).
No topo dos poços definiu-se a construção de uma viga de bordadura, elemento destinado a
oferecer maior resistência a esforços eventualmente impostos à superfície, devido a circulação de
máquinas, camiões e operação de auto gruas. Esta viga começou a ser realizada em consonância
com as vigas de travamento anteriormente descritas (figura 6.36b).

a) b)

Figura 6.36 – a) Montagem da armadura das vigas de travamento entre estacas pilar; b) Vigas de bordadura
no topo de cada poço.

98
Na medida em que se foram fechando o conjunto de vigas de travamento e de bordadura
formando o topo de cada poço, estes começaram a ser escavados por meios mecânicos, segundo
os critérios definidos em projeto (ver figura 6.37). Porém estes critérios tiveram de ser adequados
em obra de modo a salvaguardar o planeamento e prazos de execução. Inicialmente estava
prevista a escavação em praça completa e nivelada, porém na prática os poços foram escavados
individualmente até um desnível máximo entre eles definidos pelo ATO em dois níveis de
escavação. Esta geometria em pirâmide, possibilitou assim libertar os emboquilhamentos dos
túneis para início dos trabalhos, mantendo a rampa de acesso para retirada do escombro com
dumpers.

Figura 6.37 - Esquemas da geometria adotada relativamente aos níveis de escavação, em duas fases
diferentes da escavação (NE ACE, 2009).

Com esta disposição conseguiu-se adiar ao máximo o uso de caçamba na remoção de terras. Com
este sistema alcançou-se nos poços extremos a cota final de escavação, tendo ficado apenas por
executar as zonas indicadas a amarelo, conforme indica figura 6.37. A partir deste ponto foi
retirada a rampa e passou-se a utilizar duas gruas torre, cada uma utilizando uma caçamba de seis
metros cúbicos (figura 6.38).

99
a) b)

Figura 6.38 - Plano geral dos poços 3 a 5. a) Com pormenor da rampa utilizada pelo dumper; b) sem rampa,
utilizando caçamba para remoção do material.

O revestimento primário dos poços (figura 6.39) foi executado em malha electrosoldada em duas
camadas e betão projetado (30 cm espessura), reforçada na zona de encastre das estacas pilares,
em painéis com 1,8m de altura e 6,0 m de comprido e opostos no poço, conforme figura 6.40.
Estas dimensões foram seguidas numa 1ª fase, onde o terreno escavado apresentava aterro e
solos residuais. Numa 2ª fase, com os resultados da instrumentação e da verificação visual “in
situ” dos terrenos escavados, com terrenos mais competentes, desde basaltos com diferentes
níveis de fraturação até basalto compacto, permitiu ao ATO autorizar a abertura de painéis com
2,20 m de altura e comprimento de 8,0m, passando a 10,0m numa fase posterior.

Figura 6.39 - Pormenor do revestimento primário (adaptado TF, 2011).

100
A figura 6.40a, apresenta o pormenor para aplicação do revestimento primário, que seguiu a
seguinte sequência construtiva, de acordo com o projeto de execução:
- Após escavação, aplicação imediata da 1ª camada de betão projetado com 4 cm espessura;
- Instalação da 1ª malha eletrosoldada;
- Aplicação sucessiva de camadas de 5 cm em betão projetado até atingir a espessura de 26 cm;
- Instalação da 2ª malha eletrosoldada;
- Aplicação de 4 cm de espessura de betão projetado, completando a espessura prevista do
revestimento primário.

a) b)

Figura 6.40 - a) Aplicação da malha sol após 1ª camada de 4 cm de betão projetado. b) Abertura de painéis
intercalados para execução de revestimento primário.

Em cada nível de execução do revestimento primário, foi necessário proceder à execução dos
geodrenos (malha 4,0 x 1,8 m, com 3,0 m de comprimento e furação 89 mm) para baixar o nível
freático que se encontrava bastante alto, de modo a retirar a água do tardoz do revestimento,
pois este não estava dimensionado para suportar a pressão hidrostática. Igualmente eram
executadas pregagens tipo swellex (malha 5,0 x 1,8 m, com 6,0 metros de comprimento e
diâmetro 38 mm) de acordo com o previsto no projeto. Quanto às pregagens, nem sempre foi
possível executá-las pois os maciços rochosos nem sempre possuíam competências para que
fosse possível a sua aplicação (figura 6.40b).
A furação das pregagens de atrito do tipo swellex era executada após a projeção da 2ª camada de
betão, exceto quando existia a necessidade de pregagem de blocos específicos de rocha. Neste
caso, poderiam ser executadas ainda antes da 1ª camada de betão projetado tendo em vista
melhor identificação visual do local a furar. A furação era executada com recurso a equipamento
de furação horizontal (figura 6.41a).

101
Ao atingir-se a cota de reforço do emboque do Túnel Norte, foi necessário garantir um maior
espessamento da parede do revestimento primário. O primário propriamente dito foi encastrado
mais fundo no terreno de modo a poder acomodar o reforço (ver figura 6.41b e 6.42).

a) b)

Figura 6.41 - a) Execução de pregagens tipo swellex e execução de geodrenos; b) Emboquilhamento do


túnel norte – Poço 1.

Figura 6.42 – Alçado do reforço do emboquilhamento do túnel norte (Adaptado CJC, 2008).

Após o nivelamento de cada um dos poços, estes foram sujeitos a aplicação de brita, envolta em
geotêxtil e aplicação de betão de limpeza por cima do geotêxtil, de modo a criar uma camada
drenante que serviria os poços provisórios de bombagem. A laje de soleira tem 1,5 m de altura,
uma vez que foi dimensionada para funcionar como ensoleiramento geral de forma a minimizar
possíveis deformações diferenciais que possam vir a ocorrer, para além disto a laje de soleira foi
dimensionada para funcionar como piscina invertida uma vez que os poços de bombagem
provisórios serão selados quando se encontrar concluída toda a estrutura interna. Estes foram

102
colocados de modo a aliviar as pressões que eventualmente se poderiam instalar, visto ainda não
suportar as cargas de projeto (figura 6.43a).
O poço de bombagem definitivo executado no poço três recebe apenas águas provenientes das
paredes dos túneis e estação, não servindo assim para rebaixar o nível freático.

a) b)

Figura 6.43 – a) Execução de pregagens tipo swellex e execução de geodrenos; b) Plano aéreo da laje
betonada do poço 1 e impermeabilização do poço 1 e 2.

De seguida é executada a impermeabilização com a colocação da 1ª camada do sistema de


impermeabilização – geotêxtil não tecido de polipropileno 500g/m2, fixo por meio de pregos de
disparo. Depois segue a colocação da 2ª camada do sistema de impermeabilização – Membrana
de PVC flexível sem armadura de 2,0mm de espessura, a soldar entre si por termo-soldadura
(figura 6.43b).

Após a execução de reforço, deu-se início os trabalhos no emboquilhamento do túnel sul e norte.
Após a execução do reforço, já anteriormente referido, executou-se o tratamento no contorno da
abóbada com 29 enfilagens metálicas 76mm e 12m de comprimento, 2 drenos de 50mm e na face
de escavação 9 pregagens de fibra de vidro Y35 com 12 m de comprimento (figura 6.44 a 6.46). O
tratamento em ambos os túneis é em todo semelhante, porém, no túnel norte devido às
condições do maciço rochoso apresentarem-se de pior qualidade foram usadas 4 fiadas de
pregagens frontais em fibra de vidro (figura 6.44).
O maciço rochoso nesta zona apresenta-se composto por várias litologias na base com tufos
vulcânicos de cor avermelhada, depois basalto muito alterado e, tangente à calote, basalto
decomposto e solos de cobertura.

103
Figura 6.44 - Esquema de tratamento do emboquilhamento norte (Adaptado CJC, 2008).

Figura 6.45 - Perfil longitudinal do emboquilhamento do túnel norte (Adaptado CJC, 2008).

104
Figura 6.46 - Tratamento do emboquilhamento do túnel sul, com equipamento de perfuração de 2 braços.

As figuras 6.47 e 6.48 apresentam respetivamente uma vista do interior do poço e vista aérea do
corpo da estação da Reboleira.

Figura 6.47 - Vista geral do interior do poço da estação próximo da cota de projeto.

105
Figura 6.48 - Vista aérea da estação com a escavação terminada à cota de projeto.

6.4.2 Poço de ventilação

O poço de ventilação, de secção elíptica, está ligado ao túnel sul por intermédio da galeria de
ventilação e do túnel de conexão (ver figura 6.24).
É constituído por uma viga de bordadura no anel superior do poço, a qual garantiu que o arco de
solos escavados e revestimento provisório funcionasse em pleno e com aba de segurança com
guarda corpos no topo, em tudo semelhante aos poços da estação (figura 6.49a).

A metodologia executiva da escavação do poço foi por níveis, de altura máxima de 2,0 m, largura
de aproximadamente 6,0 m e com banquetas. A escavação processou-se em avanços na vertical
de 1,0 m nos primeiros 10 m, passando depois para 2,0 m aquando da melhoria da qualidade do
maciço rochoso.
No maciço rochoso foram também aplicadas pregagens e drenos, no sentido de melhorar a
resistência no limite da escavação e revestimento primário, quer pela redução da pressão de água
nas fraturas (figura 6.50a).

106
A Escavação foi feita com recurso a giratória e as terras foram retiradas através de caçambas
içadas por uma grua torre instalada nas imediações do Poço (figura 6.49b).

a) b)
Figura 6.49 – a) Viga de bordadura do poço de ventilação; b) Execução de escavação por meios mecânicos.

Para o revestimento primário dos painéis escavados foi aplicado betão projetado, numa primeira
camada de 4 cm, com recurso a equipamento de projeção. Após executada a primeira projeção,
de seguida, o primeiro pano de malha electrosoldada. A malha foi colocada tão próxima quanto
possível à face já projetada, através do uso de bitolas de fixação, e com sobreposição entre panos
de malha consecutivos, com betão projetado inicialmente com 20 cm de espessura e em
profundidade 30 cm, em tudo idêntico ao revestimento primário dos poços da estação (figura
6.50b). A grande diferença foi o espaço reduzido de trabalho que limitou o avanço dos trabalhos e
a profundidade da escavação.

a) b)
Figura 6.50 – a) Drenos da parede do poço em pleno funcionamento; b) Revestimento primário na parede
do poço de ventilação.

107
A furação das pregagens de atrito do tipo swellex (malha de 3,00m x 2,00m e comprimento de
4,00m) foi executada após conclusão da projeção de betão, ou blocos específicos de rocha (figura
6.51). Neste caso, foram executadas ainda antes da 1ª camada de betão projetado tendo em vista
melhor identificação visual do local a furar.

a)
b)
Figura 6.51 - a) Planta do poço com o esquema de pregagens tipo swellex; b) Perfil da secção AA do Poço de
Ventilação, com os níveis de escavação definidos (adaptado CJC, 2009).

Os trabalhos continuaram, tomando atenção aos dois alargamentos da secção, até à cota de
emboquilhamento da galeria de ventilação em que foi necessário começar a executar o
tratamento. Este teve de ser faseado de acordo com a execução dos níveis.

b)
a)

Figura 6.52 – a) Tratamento do emboquilhamento do túnel de ventilação; b) Cortina de enfilagens e


pregagens do túnel de ventilação.

108
Atingida a cota de trabalho do posto de ventilação, os trabalhos no poço pararam até se iniciar o
rebaixamento. Desta forma foi necessário prolongar o reforço do emboquilhamento na zona
inferior em meia secção. Este reforço provisório foi depois demolido após o contorno do reforço
da secção ficar completa (figura 6.53).

a) b)

Figura 6.53 – a) 1ª fase de reforço na zona do emboquilhamento do túnel de ventilação; b) 2ª fase de


reforço na zona do emboquilhamento do túnel de ventilação. (adaptado NE ACE, 2010).

Os trabalhos de escavação foram retomados e concluiu-se a escavação e revestimento primário


com a aplicação na laje de soleira de camada drenante em brita e betão de limpeza. A forma
côncava da laje de soleira foi dimensionada para minimizar possíveis deformações diferenciais
que possam vir a ocorrer, para além disto, receber as águas provenientes do tardoz da parede do
poço e encaminha-las para o poço de bombagem.
Nas figuras 6.54 e 6.55 são apresentadas as vistas aéreas do poço de ventilação.

Figura 6.54 - Execução da laje de soleira e impermeabilização do poço de ventilação.

109
Figura 6.55 - Vista aérea do poço de ventilação.

110
7. Estudo de Caso

111
112
7.1 Enquadramento geológico

7.1.1 Cartografia Geológica

A obra desenvolveu-se, com exceção dos níveis superiores dos poços, no denominado “Complexo
Vulcânico de Lisboa” da idade Neocretácica (figura 7.56).
O “Complexo Vulcânico de Lisboa” ou CVL como atualmente é mais conhecido, durante muitos
anos foi designado, por Manto Basáltico, de acordo com Choffat (1924), ou Manto Basáltico de
Lisboa como a maioria dos autores mais recentes utiliza. Qualquer das designações referidas é
incorreta face à localização geográfica dos centros eruptivos, sendo a designação de Complexo
Vulcânico da Malveira e arredores a que melhor se adequa (Serralheiro, 1978).
O CVL na sua fase atual de conservação é essencialmente caracterizado em termos litótipos por
basaltos vários e rochas piroclásticas (escórias, tufos e brechas vulcânicas).

Local em estudo

Figura 7.56 – Enquadramento geológico regional (Fonte: extrato da carta geológica de Portugal, folha 34-D).

7.1.2 Unidades geológicas – litótipos

A combinação dos eventos cíclicos de vulcanismo resultou na estratificação e repetição de


diferentes horizontes litológicos, que podem ser subdivididos em:

113
A) Basaltos
O maciço basáltico que, provavelmente, devido aos aspectos ligados à sua gênese, apresenta
horizontes diferenciados, pode ocorrer na sequência estratigráfica, apresentada, da base para o
topo, ou, localmente, haver uma predominância de um ou dois termos litológicos. Pode ser
subdividido em três horizontes distintos, ou seja:
 Derrames basálticos delgados;
 Basalto Compacto;
 Basalto Vesículo-amigdaloidal / vacuolar.

A matriz rochosa é constituída por basalto e apresenta-se desde moderadamente alterada a


basalto são. A fraturação predominante nos derrames basálticos é sub-horizontal e no basalto
compacto por descontinuidades oblíquas persistentes associadas às sub-verticais do basalto
vesiculo-amigdaloidal / vacuolar.

B) Brechas Vulcânicas
Materiais piroclásticos são formados por blocos de basaltos envolvidos por uma matriz mais fina.
Essa matriz envolve blocos de rochas básicas de mineralogia variada, de características finas, mas
com predominância ora siltítica, ora argilosa ou carbonatada. Esta predominância granulométrica
da matriz permite a seguinte subdivisão:
 Brechas Vulcânicas Desagregadas;
 Brechas Vulcânicas Compactas.

C) Tufos Vulcânicos
Trata-se de um material constituído por uma matriz fina de textura silto-argilosa, contendo
clastos milimétricos a centimétricos de basaltos extremamente alterados, e mais restritamente de
basaltos duros. A coloração é predominantemente avermelhada e amarelada.
Apresentam características semelhantes de um solo silto-argiloso de consistência média a rija.

D) Solos Residuais e Aterros


Recobrindo a sequência de escoadas basálticas e rochas piroclásticas, ocorre subordinadamente
um horizonte de solo residual que alcança a espessura máxima de 5 metros, formado por argilas
castanhas, por vezes muito escuras, restos orgânicos, e esparsos blocos e seixos de basalto
decomposto.

114
Aterros ocorrem também como uma forma de capeamento de até 5 metros sobre os solos
residuais, ou mesmo sobre o sub-estrato rochoso. Geralmente são compostos por areias silto-
argilosas, por vezes carbonáticas, com fragmentos de cerâmica, brita, tijolos, basalto e restos
vegetais de cor castanha escura a acinzentada.

7.1.3 Caracterização Geotécnica

7.1.3.1 Poços da Estação

A escavação desenvolveu-se maioritariamente em rocha basáltica. Sendo de referir apenas a


interseção de uma bancada de tufo vulcânico e a presença de material de aterro e
aluvionar/coluvionar no extremo norte (Poço 1).

Apresenta-se na figura 7.57, os perfis geológicos considerados na análise, efetuadas com base
numa campanha de sondagens mecânicas.

Figura 7.57 - Planta de localização das sondagens executadas na estação.

A título de exemplo é apresentado na figura 7.58, o corte geológico B-B, baseado nas sondagens
efetuadas com a designação S37 e S38.

115
Figura 7.58 - Perfil geológico-geotécnico B-B, baseada nas sondagens S37 e S38 (adaptado NE ACE, 2008).

7.1.3.2 Poço de Ventilação

Com cerca de 50 metros de profundidade a escavação desenvolveu-se predominantemente em


rocha basáltica com boa qualidade (W1-2, F1-2), à exceção dos primeiros 10 metros e da zona de
ligação ao posto de ventilação onde a escavação intersectou níveis piroclásticos.

Apresenta-se na figura 7.59, o perfil geológico onde o poço de ventilação está inserido.

116
Figura 7.59 - Perfil geológico-geotécnico do poço de ventilação.

7.1.4 Parâmetros geomecânicos

Com base na distribuição das unidades geológicas, litótipos, feições estruturais e nos parâmetros
geomecânicos obtidos nas 10 sondagens rotativas (das quais 6 sondagens de interesse para os
poços em estudo), foram identificadas as classes geomecânicas sintetizadas no quadro 7.18, para
avaliação do comportamento do maciço face às escavações dos poços:

Quadro 7.18 – Parâmetros considerados para cada zonamento geotécnico da estação.

ZG1 ZG2 ZG3 ZG4 ZG5


Basalto pouco Basalto muito Brecha Tufo Aterro/Solo
fraturado fraturado Residual

Módulo de Deformabilidade (E) MPa 15000 5000 2500 160 80

Coeficiente de Poisson (v) 0,25 0,26 0,26 0,27 0,27

Coesão (c) kPa 3500 1400 105 7 3,5

117
ZG1 ZG2 ZG3 ZG4 ZG5
Basalto pouco Basalto muito Brecha Tufo Aterro/Solo
fraturado fraturado Residual
0
Angulo de Atrito (ϕ´) 21 17,5 24,5 17,5 21

Dilatância (ᵠ) 0 0 0 0 0 0

Densidade (ϒ) kN/m3 30 28 24 18 18

Coeficiente Impulso em repouso (K0) 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70

Resumidamente, o zonamento geotécnico é constituído por:

ZG5
Constituída pelos depósitos recentes (solos superficiais e aterros). Para estes depósitos, podem
ser estimadas características de maciço terroso.
De uma forma genérica o comportamento dos maciços terrosos dá-se em função das
características texturais das unidades.

ZG4
Compreende os tufos vulcânicos que, por serem constituídos por uma matriz fina, ressaltam as
estruturas existentes. É marcada pelo intenso fraturamento sub-horizontal, decorrente do
processo genético de formação do maciço vulcânico, e do alivio de carga litostática promovida
pela erosão; e pelo alto grau de meteorização, representado pela abundante quantidade de
argilas. Esta combinação constitui um forte condicionante à desarticulação de blocos, quer por
essas estruturas apresentarem um preenchimento por argilas expansivas, quer por alteração de
suas paredes.

ZG3
É definida pelos estratos de brechas compactas. Nesta classe, o intenso fraturamento sub-
horizontal pode ocorrer aberto, em decorrência do processo de alivio da carga litostática pelos
mecanismos de modelagem do relevo, constituindo-se um forte condicionante à desarticulação
de blocos, na zona de influência da abóbada. Esta, em combinação com juntas subverticais e
oblíquas, de persistência razoável, preenchidas por calcite, é o principal mecanismo de
desarticulação.

118
ZG2
Caracterizada pelos basaltos vacuolares e pelos múltiplos derrames delgados, constitui-se de
rochas alteradas a sãs. O sistema de fraturamento sub-vertical e oblíquo é o mais importante, mas
normalmente encontra-se preenchido por calcite, chegando a ser da ordem da espessura de veio.
Contudo são as fraturas sub-horizontais de alivio e as interfaces de escoadas constituem o
principal mecanismo de desarticulação dos blocos. As feições estruturais sub-horizontais são
muito densas e apresentam alta persistência. Esta unidade é, geralmente, representativa, quando
a camada de derrame tem expressão (métrica ou maior).

ZG1
Caracterizada pelo basalto compacto, constitui-se de rocha pouco alterada a sã. O sistema de
fraturamento sub-vertical é mais esparso e sempre preenchido por calcite. As feições estruturais
sub-horizontais são igualmente mais esparsas e apresentam pequena persistência. Esta unidade
é, geralmente, representativa, quando a camada de derrame tem expressão métrica.

7.2 Determinação dos esforços solicitantes

7.2.1 Estação Reboleira

Como já referido anteriormente a Estação da Reboleira explora o fator geométrico em forma


(circular ou elíptica) em benefício do seu funcionamento estrutural, minimizando escoramentos e
tirantes ou ancoragens para a estabilização de seus suportes temporários. O conjunto de 5
círculos/elipses interconectados, que constituem a estação são auxiliados por elementos
estruturais de travamentos transversais, recebem os impulsos de solo que os equilibra na sua
forma geométrica, resultando essencialmente em esforços de compressão o que resulta numa
estrutura leve, sem a necessidade de elementos estabilizantes adicionais que não sejam as suas
paredes laterais, não necessitando de muita armadura e as espessuras serão as necessárias para
absorver os impulsos de solo. Durante a fase provisória (revestimento de primeira fase) não
foram previstos impulsos hidrostáticos sobre o suporte, pois as águas foram drenadas ou os seus
impulsos aliviados por um conjunto de drenos.
Esta forma é a que melhor tira proveito do material empregado na sua execução.

Sendo um processo executivo muito similar ao NATM, os princípios da sua execução são os
mesmos, ou seja, reduzir ao mínimo a degradação do maciço no contorno escavado e aplicação
do suporte no tempo certo e com a rigidez adequada. É válido também o efeito tridimensional da

119
face, devido ao efeito de fundo; as cargas nesta região são mínimas e serão crescentes, sendo
absorvidas pelo revestimento à medida que o poço se aprofunda, até atingir o estado plano de
tensões e deformações.
Assim, o passo de avanço subsequente só deverá ser iniciado quando o passo precedente estiver
inteiramente concluído. Esta é a situação ideal para o funcionamento do NATM, inclusive de
túnel, com revestimento fechado junto à face e execução em secção plena. Por este motivo
conseguem-se através de poços em NATM grandes áreas livres, com um mínimo de suporte, sem
necessidade de suportes temporários do tipo escoramentos e/ou atirantamentos.

7.2.1.1 Condições de estabilidade dos poços da estação

Uma vez que os poços atravessam depósitos sucessivos de basalto, com profundidades variáveis,
entre 15,20m e 20,35m, com escavações em materiais diferenciados, desde solos até rocha sã, o
revestimento primário foi constituído por: betão projetado, malhas electrosoldada e sempre que
o maciço permitisse a execução de pregagens swellex.

7.2.1.2 Análise numérica tridimensional – simulação da escavação

Para análise numérica tridimensional do poço, foi utilizado para a simulação da escavação do
maciço o programa baseado no método dos elementos finito denominado TOCHNOG. Trata-se de
um programa desenvolvido originalmente por Dennis Roddeman na Universidade de Twente. O
programa permite a simulação de episódios construtivos, possibilitando introduzir nos cálculos a
sequência executiva prevista em projeto.

Para estas análises, utilizou-se uma malha tridimensional capaz de simular as principais
características construtivas dos poços. Esta análise tridimensional tem a finalidade de determinar
os esforços que solicitam o revestimento dos poços. (ver figura 7.60).

Para as análises tensão-deformação foram realizadas utilizando o modelo elasto-plástico perfeito


com critério de rotura de Mohr-Coulomb, com lei de fluxo plástico não associado, considerando
toda a sequência construtiva preconizado em projeto. É considerada uma condição drenada do
maciço durante a escavação.

120
O Sistema Internacional de Unidades (SI) utilizado foi:
Força: kN;
Tensão: kPa;
Comprimento: m;
Peso Específico: kN/m3;
Aceleração: m/s2, etc.

Os modelos apresentados ilustram a geometria utilizada na análise numérica, onde é possível


observar a estratigrafia do maciço representado por diferentes cores e a malha de elementos
finitos obtida.
Na análise numérica apresentada na figura 7.60 tiveram em consideração as seções geológicas
obtidas nas sondagens efetuadas na figura 7.58.

Figura 7.60 - Geologia utilizada no modelo tridimensional (Adaptado CJC, 2009).

A malha de elementos finitos obtida, teve em consideração os seguintes elementos:


 Experiência do projetista;
 Densidade adequada (tamanho e quantidade dos elementos);
 As etapas de escavação;

121
7.2.1.3 Resultados

Os resultados obtidos com a modelagem numérica tridimensional pelo programa TOCHNOG, são
em função do avanço da escavação do maciço, sendo eles:
 Desenvolvimento das tensões verticais no maciço;
 Desenvolvimento das tensões horizontais no maciço;
 Desenvolvimento das deformações plásticas no maciço.

Assim se obtiveram os seguintes resultados relativos aos diferentes avanços. Nas figuras 7.61 a
7.63 são apresentados dois exemplos para os avanços à cota 91,15 e 81,45m.

2
1

Figura 7.61 - Campo de tensões verticais na cota 91,15m e 81,45m (kPa).

4
Figura 7.62 - Campo de tensões horizontais na cota 91,15m e 81,45m (kPa).

5
6
Figura 7.63 - Campo de deformações plásticas na cota 91,15m e 81,45m (kPa).

122
Os impulsos do maciço atuantes na estrutura de revestimento dos poços da estação, que serviram
para os cálculos das estruturas de betão armado, foram determinados a partir da modelagem
numérica tridimensional, conforme figuras abaixo apresentadas.

7 8
Gráfico 7.3 - Impulso do maciço atuante – esq.) No poço 1; dir.) No poço 2, 3 e 4 (CJC, 2009)

O gráfico 7.4 representam os impulsos adotados como carregamento para o revestimento dos
Poços da Estação. Estes impulsos foram simplificados a partir da figura anterior, tendo sido
tomados os maiores valores existentes. Como já mencionado estes resultados servirão para
análise numérica da estrutura de betão da Estação.

Gráfico 7.4 - Impulso adotado como carregamento para o revestimento dos poços (adaptada CJC, 2009).

123
7.2.1.4 Análise numérica tridimensional – Simulação do revestimento primário

As análises numéricas tridimensionais também foram realizadas com o programa STRAP


(Structural Analysis Program). Trata-se de um programa tridimensional elástico não evolutivo que
utiliza o método dos elementos finitos. Simulou-se o revestimento dos poços com elementos de
área (placa), as vigas de travamento e de bordadura com elementos lineares (de viga) e o maciço
com molas de Winkler. Evison (1988) realizou ampla pesquisa em modelos de apoio elástico, que
será abordado no ponto 7.2.2.4.

As análises tridimensionais têm a finalidade de determinar os esforços que solicitam o


revestimento do poço. Tem a finalidade também de determinar os deslocamentos na estrutura.

Apresenta-se, a seguir, a dimensão da malha de elementos finitos utilizada no programa STRAP.

Sistema de unidades utilizado


Adotou-se o Sistema Internacional de unidades (SI):
Força: kN;
Tensão: kPa;
Comprimento: m;
Massa Específica: t/m3;
Aceleração: m/s2, etc.

Ações
As ações consideradas no dimensionamento das peças estruturais foram as seguintes:
Peso próprio do betão armado (25,0 kN/m3);
Impulso de solo (ver gráfico 7.3).

Foram considerados, para o Estado Limite Último (ELU) as combinações de ações.

124
Figura 7.64 - Modelo numérico tridimensional considerado nos poços 1 a 5 (adaptado CJC, 2009).

As figuras 7.64 e 7.65 ilustram a malha de elementos finitos utilizada para a modelagem numérica
tridimensional da Estação da Reboleira.

Figura 7.65 - Malha de elementos finitos utilizada (adaptado CJC, 2009).

7.2.1.5 Resultados obtidos no revestimento Primário

Foram realizadas as seguintes análises:


 Força na direção horizontal e vertical (kN);
 Momento fletor na direção horizontal e vertical (kNm);
 Deformações perpendiculares à parede do poço;

A seguir é ilustrada pelas figuras 7.66 e 7.67 a malha em 3D, a título de exemplo referente às
deformações previstas:

125
Figura 7.66 - Deformações perpendiculares à parede dos poços (adaptado CJC, 2009).

Figura 7.67 - Aspeto da malha deformada – Vista em planta e perspetiva (adaptado CJC, 2009).

7.2.2 Poço de ventilação

7.2.2.1 Análise numérica axissimétrica

Foi realizada análise numérica axissimétrica com o programa FLAC 2D (Fast Lagrangian Analysis of
Continua). Nesse programa bidimensional de diferenças finitas a relação tensão/deformação
pode ser linear ou não-linear e a superfície de rutura pode ser definida segundo vários modelos
constitutivos. Caso o campo de tensões seja tal que ocorra a plastificação do material, o programa
está em condições de produzir deformações permanentes. O cálculo é evolutivo permitindo
grandes alterações na geometria e parâmetros do problema.

126
A análise axissimétrica (que representa simetria em relação a um eixo) permite que se simule
todos os passos de avanço da escavação do poço. A análise pressupõe um eixo axial e possibilita a
obtenção dos desenvolvimentos das tensões e deformações no maciço circundante ao poço.

Sistema de unidades utilizado


O Sistema Internacional de Unidades (SI) foi o utilizado:
Força: kN;
Tensão: kPa;
Comprimento: m;
Peso Específico: kN/m3;
Aceleração: m/s2, etc.

7.2.2.2 Modelo e malha utilizada

O modelo constitutivo adotado foi o modelo elasto-plástico de Mohr-Coulumb para a


apresentação do comportamento do maciço. O revestimento do poço foi representado em
regime linear elástico perfeito.

A malha adotada obedeceu às recomendações propostas pela ITASCA (FLAC) e à literatura sobre o
assunto, além da vasta experiência do projetista nesse tipo de análise (CJC, 2009).

Figura 7.68 - Malha de diferenças finitas no poço de ventilação (CJC, 2009).

127
As tensões horizontais apresentadas na figura 7.62 não foram obtidas com equações simplificadas
como, por exemplo, as propostas por Jaki (1944) e Frazer (1957) para empuxo em repouso, e as
propostas por Rankine (1856) e Résal (1910) para empuxo ativo; em função disso, elas não estão
exclusivamente relacionadas com os valores de ângulo de atrito interno e coesão. As tensões
horizontais foram obtidas mediante análise numérica que leva em consideração uma série de
fatores, como os parâmetros de deformabilidade (E,), os parâmetros de resistência (c, ), o peso
específico () e a dilatância ( ) dos diferentes materiais do maciço envolvente ao poço; as
características geométricas do revestimento dos poços e a sequência executiva dos poços (CJC,
2009).

A tensão horizontal considerada foi resultado final de todas as fases de cálculo da análise
numérica do poço (com o programa FLAC), que levou em consideração toda a sequência executiva
do poço e todos os parâmetros do maciço onde o poço está inserido. Esta tensão foi aplicada
como impulso de maciço (atuante no revestimento do poço) na análise tridimensional realizada
com o programa STRAP.
Os parâmetros geomecânicos considerados na análise com o programa FLAC e que são:

Quadro 7.19 – Parâmetros geomecânicos.

Símbolo Descrição Unidade


C Coesão kPa
0
Ø Ângulo de atrito

ϒ Peso específico do solo kN/m3

K Módulo de deformação volumétrica kPa

G Módulo de deformação cisalhamento kPa

Na figura 7.69 são apresentados dois exemplos dos principais parâmetros considerados na
análise:

128
9 10
a) b)
Figura 7.69 – Dois dos parâmetros considerados na análise: a) Coesão; b) Peso Especifico. (adaptado CJC,
2009).

7.2.2.3 Resultados

Os resultados obtidos com a modelagem bidimensional pelo programa FLAC, são em função do
avanço da escavação do maciço, sendo eles:
 Desenvolvimento das tensões verticais no maciço;
 Desenvolvimento das tensões horizontais no maciço;
 Desenvolvimento das deformações plásticas no maciço.

São apresentados alguns exemplos gráficos (figura 7.70 a 7.72) que se obtiveram na análise
axissimétrica para diferentes avanços (5 m e 40 m)e respectivas tensões e deformações:

11 12
Figura 7.70 - Desenvolvimento das tensões verticais. Avanço de 5m e de 40m (adaptado CJC, 2009).

129
13 14
Figura 7.71 - Desenvolvimento das tensões horizontais. Avanço de 5m e de 40m (adaptado CJC, 2009).

15
Figura 7.72 - Desenvolvimento das plastificações no maciço. Avanço de 5m e de 40m (adaptado CJC, 2009).

Tendo em conta o desenvolvimento dos parâmetros utilizados anteriormente e os respectivos


resultados obtidos, permitiu obter uma percepção do comportamento expetável do maciço em
obra, partindo do pressuposto do cumprimento dos critérios do projetista. Por outro lado, com
base nestes resultados, fornecer elementos para a simulação do revestimento primário e a
estimativa dos assentamentos.

7.2.2.4 Análise numérica tridimensional – simulação revestimento primário do PV

Foi utilizado o mesmo programa que nos poços da estação mencionado no ponto 7.2.1.4. Neste
caso, simulou-se o revestimento do poço com elementos laminar e o maciço com molas de
Winkler.

Conforme mencionado, realizou-se somente o estudo contemplando o poço circular fechado.


A figura 7.73, ilustram o modelo considerado na análise. As diferentes cores indicam as diferentes
espessuras do revestimento primário.

130
Vista superior

Figura 7.73 - Ilustração das diferentes espessuras do revestimento primário do PV (adaptado CJC, 2009).

Apresenta-se na figura 7.74, a dimensão da malha de elementos finitos utilizada no programa


STRAP. Adotou-se o mesmo Sistema Internacional de unidades (SI), de igual modo que nos poços
da estação.

Figura 7.74 - Malha utilizada – revestimento primário - Vista 3D (CJC, 2009).

131
7.2.2.5 Resultados obtidos no revestimento Primário

Para análise do revestimento primário, foi tido em consideração os seguintes dados:

 O maciço foi considerado drenado durante a execução do poço, não existindo, portanto, o
desenvolvimento da pressão hidrostática;
 Foram impostos cargas majorados de 1,35 nos elementos que compõem a malha de
elementos finitos no programa STRAP, de forma a simular a atuação do solo sobre o
revestimento primário.
 O maciço foi representado através da utilização de molas Winkler. Evison (1988),realizou
ampla pesquisa em modelos de apoio elástico e concluiu, para casos similares ao do poço
em questão, o valor da rigidez radial dos apoios deve ser:

Onde k é a rigidez elástica do apoio, V é o coeficiente de Poisson, Em é o módulo de elasticidade


do maciço e r é o raio (neste caso, o raio do poço). As molas utilizadas na análise trabalham
somente à compressão.

Foram realizadas as seguintes análises:


 Força na direção horizontal e vertical (kN);
 Momento na direção horizontal e vertical (kNm);
 Deformações perpendiculares à parede do poço;

A seguir é ilustrada através das figuras 7.75 e 7.76, a malha em 3D, referente às forças atuantes.

132
16 17
Figura 7.75 - Força na direção horizontal e vertical (kN) (CJC, 2009).

Planta - Aspeto da malha deformada

Figura 7.76 - Deformações perpendiculares á parede do poço (mm) (CJC, 2009).

133
7.3 Estimativas dos assentamentos na superfície

7.3.1 Considerações iniciais

Apresenta-se neste capítulo uma estimativa dos assentamentos ou recalques superficiais


induzidos pelo processo de escavação do poço de ventilação.
É importante ressaltar que todas as estimativas de assentamentos superficiais devem ser vistas
como de fato são, ou seja como estimativas. Estes valores são estimados por qualquer método
disponível – numérico ou empírico, podem antecipar com precisão os valores a serem verificados
na obra. Vários condicionantes dos recalques, como por exemplo as singularidades do maciço e os
muitos fatores executivos não são contemplados em sua completa especificação com estas
estimativas. A forma prevista da bacia de assentamento, por exemplo, deve ser valorizada, mas os
valores em si devem ser recebidos com reservas. O trabalho do engenheiro projetista não pode
ser dispensado na interpretação destas estimativas, e as estimativas não podem ter uma
autonomia fora desta interpretação especializada.

7.3.2 Assentamento na superfície devido a escavação do poço

A avaliação da bacia de recalques nas proximidades do poço está baseada no método proposto
por Bowles. O método avalia o volume de terra deslocado (VPAREDE) junto da parede através da
integração numérica da deformação da parede do poço. Este volume de deslocamento horizontal
é considerado igual ao volume de assentamento/recalque na superfície (VRECALQUE). Admite-se que
a área de influência dos recalques induzidos pela escavação do poço é igual a profundidade do
poço (H), Conforme figura 7.77:

Figura 7.77 - Considerações dos volumes equivalentes (CJC, 2009).

O Volume VPAREDE médio do poço que constitui a parede é de aproximadamente 0,14m2 (em 1
metro). Por tanto, tem-se que:

134
VRECALQUE = VPAREDE = 0,14m2 (em 1 metro).
Onde,
= Constante;
= Distância da parede do poço;
= Profundidade de escavação ≈ 46m.

Sendo possível, desta forma, determinar o valor da constante ,

Dessa forma, a bacia de recalques nas proximidades da parede do poço é dada pela seguinte
função:

Onde,
=recalque (m);
= Distância da parede do poço (m).

O maior recalque/assentamento é de aproximadamente 9 mm e ocorre junto à parede do poço,


onde =0.

Com estes valores de assentamentos não se espera qualquer tipo de dano aos edifícios situados
na zona onde o poço está inserido (CJC, 2009).

7.4 Instrumentação da obra

7.4.1 Instrumentação aplicada

Antes de se ter dado início à escavação e execução do revestimento primário foi necessário
proceder à instalação de um conjunto de instrumentos de modo a monitorizar os edifícios
envolventes, o terreno em torno da escavação, assim como a própria contenção provisória. A
instrumentação instalada consistiu em colocação de alvos topográficos nos edifícios e no
revestimento primário; implementação de marcas de superfície em torno do perímetro da

135
estação tal como nas vigas de bordadura e de travamento; instalou-se também um conjunto de
inclinómetros a fim de se monitorizar em profundidade as deformações no terreno envolvente;
instalação de piezómetros de forma a verificar o nível freático à medida que a escavação ia
avançando. Nas quatro vigas de travamento assim como nas estacas que compõem o pórtico
situado entre o poço quatro e cinco foram instalados aquando da sua execução um conjunto de
strain-gauges de modo a permitir monitorizar a evolução das tensões instaladas nestes elementos
estruturais. A leitura destes instrumentos era feita de forma periódica conforme definido pelo
ATO e consoante os resultados destas a periodicidade com que eram lidos era encurtada ou
alargada.

Apresenta-se em seguida um quadro resumo para cada um dos diferentes dispositivos utilizados
para monitorizar o maciço e as edificações da envolvente na execução dos poços da estação e do
poço de ventilação.

Convêm frisar que nem toda a instrumentação proposta pelo projetista foi aplicada, da mesma
forma que foi utilizada instrumentação não prevista em projeto. Somente será abordada a
instrumentação aplicada em obra e intimamente relacionada com os poços em estudo e que
consta das telas finais.

Quadro 7.20 - Dados relativos aos alvos instalados.

Alvos

Objetivo Alvos topográficos:


Permite monitorizar deslocamentos sofridos nas três direções. Consiste num alvo feito de um
material refletor que devolve o sinal enviado pela estação total. Consegue-se assim monitorizar
os deslocamentos da estrutura onde estes estão colocados, através de ângulos e distâncias.
Alvos prismáticos:
São utilizados para monitorizar deslocamentos nas três direções com maior rigor que os alvos
topográficos.

Aplicação Alvos topográficos:


Nos edifícios envolventes da escavação.
Alvos prismáticos:
Este tipo de alvo foi aplicado na monitorização do sustimento primário, e nas estacas à medida
que a escavação avançava. As leituras eram realizadas em termos de convergências entre
alvos, obtendo-se um gráfico com a evolução da convergência entre dois alvos.

Leitura Medição de deslocamentos nas 3 direções.

Símbolo Letra “A”

136
Alvos

Quantidade Estação: Poço de Ventilação:


5 Alvos no Edifício da EMEF; 6 Alvos no edifício da Rua José Mergulhão nº 3 e
13 Alvos talude 5 adjacente ao poço 5; 5;
6 Alvos no talude 4 adjacente ao poço 4. 8 Alvos no edifício da Rua José Mergulhão nº 12.

Observações Foram instalados 2 alvos no mesmo alinhamento vertical, espaçados de aproximadamente


5,00m.

A figura 7.78 apresenta equipamentos e material variado na leitura de alvos e a figura 7.79 um
exemplo de alvos instalados em edifício.

Figura 7.78 - Equipamento e material utilizado.

Figura 7.79 - Exemplo de esquema de implantação de alvos em edifícios (EMEF) da estação (EPOS, 2009).

137
No seguinte quadro 7.21, são apresentados as réguas de nivelamento instaladas nos edifícios
próximos dos poços da estação e poço de ventilação.

Quadro 7.21 - Dados relativos às réguas de nivelamento instalados nos edifícios.

Réguas de Nivelamento
Objetivo São utilizadas para medir apenas a deformação vertical em edifícios.

Aplicação
Estas réguas foram aplicadas nos edifícios na área de influência das escavações.

Leitura
Leitura de assentamentos/empolamentos da estrutura onde está aplicado.

Símbolo
Letra “R”

Quantidade Estação:
2 Réguas – Edifício EMEF;
5 réguas no aqueduto das águas livres.
Poço de Ventilação:
3 Réguas no edifício da Rua José Mergulhão nº 3 e 5;
4 Réguas no edifício da Rua José Mergulhão nº 12;

Observações É um instrumento não um aparelho de leitura, e para a sua leitura são utilizados níveis óticos.

A seguinte figura 7.80, representa um exemplo de réguas de nivelamento aplicadas na


proximidade da escavação.

Figura 7.80 - Exemplo de aplicação de réguas de nivelamento. (adaptado de construironline.dashofer,


2012).

No seguinte quadro 7.22, são apresentados as marcas de superfície instaladas nos poços da
estação e poço de ventilação.

138
Quadro 7.22 - Dados relativos às marcas de superfície instalados.

Marca de Superfície
Objetivo Estes aparelhos permitem a medição dos deslocamentos verticais de terrenos ou estruturas. As
marcas de superfície, também designadas por marcas de nivelamento. Como marcas de
nivelamento considera-se as marcas topográficas e os pinos por fixação em estruturas. As
primeiras são geralmente instaladas diretamente no terreno enquanto os pinos são
normalmente instalados em superfícies de betão.

Aplicação De modo a monitorizar o terreno em torno da escavação foi instalado um conjunto de marcas
de superfície, para além disso instalou-se também um conjunto de pinos em todo o perímetro
da viga de bordadura e ao eixo de cada uma das vigas de travamento.

Leitura Medidas dos assentamentos / Empolamentos do maciço.

Símbolo Letra “M”

Quantidade Estação: Poço de Ventilação:


20 Unidades (M) na periferia dos poços. 8 Unidades.
30 Unidades (Mv) na viga de bordadura (1).
4 Unidades na viga de travamento.
8 Unidades na grua G1 e G2.

Observações Para iniciar o percurso de nivelamento, é feita a partir da marca de referência, designada por
“Bench Mark”.
(1) Não prevista em projeto. Estas Marcas Mv, pelo seu custo e por serem colocados num
elemento estrutural, optou-se por substituir de uma forma expedita e prática por porcas de
“mama” de cabeça redonda que serviam de pontos de leitura topográfica de nivelamento. De
salientar que permitia obter a mesma leitura informação que as marcas de superfície.

Na seguinte figura 7.81, apresenta um exemplo de marca de superfície e respetiva leitura em


obra.

(seismicsurveys, 2012) (Adaptado de construironline.dashofer, 2012)


Figura 7.81 - Exemplo de aplicação e leitura das marcas de superfície.

139
No seguinte quadro 7.23, são apresentados os piezómetros instaladas nos poços da estação.

Quadro 7.23 - Dados relativos aos piezómetros instalados.

Piezómetro
Objetivo Os piezómetros são instrumentos que permitem monitorizar o nível de água, como tal foram
aplicados para avaliar o nível de água no tardoz do revestimento primário, de modo a verificar
a eficácia dos geodrenos realizados, dado que o sustimento primário não está dimensionado
para pressões hidrostáticas elevadas.

Aplicação Monitorizar a eficácia do plano de rebaixamento do nível freático (malha de geodrenos)

Leitura Medida do nível da água

Símbolo Letra “Mna” – Medidor nível água

Quantidade Estação:
Foram instalados quatro em torno dos poços (1 a 5):
Mna 1 – Entre o poço 1 e 2 – lado nascente;
Mna 2 – No poço 3 – lado poente.
Mna 3 – Entre o poço 3 e 4 – lado nascente;
Mna 4 – Entre o poço 4 e 5 – lado nascente.
Poço de Ventilação:
Prevista em projeto, mas não foram aplicadas em obra.

Observações Os medidores de nível de água foram instalados até 30,0 m de profundidade.

A seguinte figura 7.82 apresenta diferentes tipos de piezómetros na leitura de medição de


grandeza relativa á água.

Figura 7.82 - Exemplos de tipos de piezómetros (adaptado de construironline.dashofer, 2012).

No seguinte quadro 7.24, são apresentados os inclinómetros instaladas nos poços da estação.

140
Quadro 7.24 -Dados relativos aos inclinómetros instalados.

Inclinómetro
Objetivo Este aparelho permite obter medições das inclinações em relação à vertical do terreno, de
modo a observar o comportamento durante a execução do processo construtivo.

Aplicação Monitorizar as estruturas de contenção de modo a verificar se as deformações estão dentro


dos limites definidos e se os edifícios adjacentes são afetados pelos movimentos do terreno.

Leitura Medidas dos assentamentos / empolamentos do maciço, isto é deslocamentos verticais dentro
do maciço.

Símbolo Letra “In”

Quantidade Estação:
Foram aplicados três inclinómetros junto ao pilar –estaca:
InP1 (entre o poço 1 e 2) – lado poente;
InP2 (entre o poço 2 e 3) – Lado nascente;
InP3 (entre o poço 4 e 5) – Lado poente.
Poço de Ventilação:
Prevista em projeto, mas não foram aplicadas em obra.

Observações
Foram instalados até 8,0 metros abaixo do nível de escavações dos poços.

Figura 7.83 - Esquema de implantação dos inclinómetros da estação.

Leitura do inclinómetro (entre o poço 1 e 2) (Adaptado de construironline.dashofer, 2012)

Figura 7.84 - Exemplo de inclinómetro e a sua leitura.

141
No seguinte quadro 7.25, são apresentados os strain gauges instaladas nos poços da estação.

Quadro 7.25 - Dados relativos aos strain-gauges instalados.

Strain-gauges
Objetivo Este instrumento permite a medição da tensão dos elementos estruturais de aço e/ou betão
armado, como estacas, pontes, entre outros.

Aplicação Neste caso foi aplicado no aço dos elementos estruturais das vigas de travamento e estacas-
pilar. Neste último, foi instalado de modo a perceber a reação de cada um dos pórticos à
medida que a escavação progredia.

Leitura Medição de tensões

Símbolo Letra “SG”

Quantidade Estação:
Conjunto de quatro strain-gauges em cada um dos cantos da secção a meio vão nas quatro
vigas de travamento (VG1 a VG4) – conjunto de quatro strain gauges, nas duas estacas-pilar (P7
e P8) que compõem o pórtico que divide o poço quatro e cinco
Poço de Ventilação:
Não aplicável

Observações Modelo VW OVK4000; Tipo Vibrating Wire GEOKON (corda vibrante)

Na figura 7.85 apresentam-se exemplos de strain gauges a aplicar em elementos estruturais.

Strain-gauges (Slope indicator, 2012) e


(soilinvestigation, 2012)
Extensómetros do tipo “strain-gauge”.

Figura 7.85 – Exemplos de strain gauges.

142
Figura 7.86 – Esquema de implantação dos strain gauges no pilar 7 e 8 da estação (TF, 2011).

No quadro 7.26, são apresentados as convergências instaladas nos poços da estação e poço de
ventilação.

Quadro 7.26 -Dados relativos às convergências instaladas.

Convergências/Nivelamento
Objetivo Controlar o estado de deformação, ou seja, medir a variação da distância entre dois pontos.
Estas medições efetuaram-se através da leitura direta da corda.

Aplicação Utilizado para verificar o comportamento na parede de revestimento primário dos poços.

Leitura Medição de deformações no revestimento.

Símbolo Letra “C” e/ou “N”

Quantidade Estação:
7 Conjuntos colocados nos poços 1 a 4, à cota (90.65; 85.00; 79.00);
2 Conjuntos colocados no poço 5, à cota (95.80; 90.65; 85.00; 79.00);
1 Conjunto colocado entre o poço 1 e 5 (longitudinal
Poço de Ventilação:
4 Conjuntos colocados no poço à cota (121.70; 107.37; 93.04; 78.69).

Observações Neste caso entende-se por conjunto, constituído por 1 ou mais cordas que permitem efetuar a
leitura. Por exemplo na figura 7.32 na planta do poço 1, estão representados 2 conjuntos (1
conjunto constituído pelas cordas a cor azul, vermelho e verde, e outro conjunto constituído
pela corda amarela).

143
Na figura 7.87 apresenta o esquema de implantação das convergências do poço 1 nas diferentes
cotas da escavação.

Poço 1 - Estação

Figura 7.87 - Esquema de implantação das secções de convergência no poço 1, 2, 3 e 4 (adaptado EPOS,
2010).

Na figura 7.88 apresenta o esquema de implantação das convergências no poço de ventilação nas
diferentes cotas da escavação.

Figura 7.88 - Esquema de implantação das secções de convergência no poço de ventilação (adaptado EPOS,
2010).

144
No quadro 7.27, apresentamos um resumo da quantidade de instrumentação instalada dos poços
em estudo.

Quadro 7.27 - Resumo da instrumentação aplicada na estação e no poço de ventilação.

INSTRUMENTOS APLICADOS ESTAÇÃO POÇO VENTILAÇÃO


(Quantidade) (Quantidade)
Marcas superfície (M) 20 Unid. (M1 a M20) 8 Unidades (M1 a M8)
30 Unid viga de bordadura
8 Unid. nas gruas G1 e G2
4 Unid. vigas de travamento

Alvos 3 Unid. (Edf. EMEF) 14 Unidades em edifícios


19 Unid. (taludes 4 e 5)

Réguas 2 Unid. (Edf. EMEF) 7 Unidades em edifícios


5 Unid. (Aqueduto)

Convergências/Nivelamento (N) 30 Unid. (Poço 1 a 5) 16 Unidades

Inclinómetro (In) 3 Unid. (InP1 a InP3) NA

Piezómetro (Mna) 4 Unid. (Mna1 a Mna4) NA

Strain gauges (SG) 4 Unid. (vigas travamento) NA


4 Unid. (P7 eP8)

As leituras obtidas com a instrumentação possibilitaram ao ATO, fundamentado nos estudos de


dimensionamento das estruturas de suporte e das previsões dos deslocamentos, avaliar o
desempenho da construção e a segurança da obra.
Com o progresso da obra as hipóteses de projeto foram aferidas e as previsões ajustadas ao real
comportamento do maciço face às escavações e medidas de ajuste foram devidamente tidas em
consideração.

7.4.2 Instrumentação da Estação Reboleira

O projeto previu a instrumentação do maciço e das estruturas visando observar a adequação da


metodologia construtiva e do sistema de suporte dos poços que compõem o corpo da Estação
Reboleira. Como já referido, a instrumentação sofreu algumas alterações relativamente ao
projeto.

145
A instrumentação adotada para a corpo da estação, compreendeu os seguintes instrumentos:

 Marcos superficiais;
 Inclinómetros;
 Pinos de convergência e nivelamento da estrutura dos poços;
 Strain gauges;
 Piezómetros;

A Instrumentação dos Edifícios, Estruturas e Utilidades:

Para a instrumentação dos edifícios e estruturas que possam sofrer influência das escavações,
foram previstos alvos fixos para observação topográfica tridimensional.

Para os edifícios que possibilitaram somente a instalação de alvos fixos nos alçados, sem
possibilidade de instrumentar os fundos, foi prevista a instalação de clinômetros, o que não veio a
acorrer. Para os edifícios em fase de obra, foram instalados réguas.

Eventualmente poderiam ter ser utilizados fissurómetros a instalar em edifícios, o que não se
verificou pertinente na obra em estudo.

Em ambas situações, edifícios, estruturas e utilidades, em função da real situação encontrada, a


instrumentação necessitou de ser complementada em obra pelo ATO, seguindo o parecer do
projeto.

Apresentam-se nas próximas páginas ilustrações da instrumentação da Estação Reboleira (Figura


7.89 e 7.90).

146
Figura 7.89 - Instrumentação da Estação da Reboleira – Planta (CJC 2009).

Nota: na presente planta não está incluído as marcas de superfície da viga de bordadura
(Mv), visto não estar previsto em projeto e pelas razões apresentadas no quadro Marcas de
Superfície.

147
Figura 7.90 - Instrumentação da Estação da Reboleira – perfil (CJC, 2009).

7.4.3 Instrumentação do poço de ventilação

Neste ponto são apresentadas as instrumentações que foram adotadas no poço de ventilação.
O projeto previu a instrumentação do maciço e das estruturas buscando observar a adequação da
metodologia construtiva, dos sistemas de suporte e o fator de segurança adjacente às escavações.
Os instrumentos geotécnicos adotados no poço de ventilação, foram os de uso corrente no
acompanhamento da instrumentação de suporte e escavação do poço. Tais instrumentos
possibilitam uma rápida avaliação de desempenho da escavação.

A instrumentação em projeto compreendeu os seguintes instrumentos:


 Inclinómetros (não aplicado em obra);
 Pinos de convergência e nivelação da estrutura do poço;

148
 Piezómetros (não aplicado em obra);
 Marcos superficiais.

Para a instrumentação dos edifícios e estruturas que pudessem sofrer influência das escavações,
foram previstos réguas e alvos fixos para observação topográfica (x, y, z).

A figura 7.91, apresenta a instrumentação do poço de ventilação em duas perspetivas.

18
19
20
21
22
Figura 7.91 - Instrumentação do Poço de Ventilação – Planta e perfil.

7.4.4 Níveis de referência

7.4.4.1 Considerações iniciais

São apresentados neste capítulo os valores de referência para as deformações no maciço e na


estrutura dos poços que compõem a Estação da Reboleira e do poço de ventilação. Os valores são
baseados em análise numérica e em outros cálculos apresentados anteriormente.

149
Nota-se que os valores de deformações obtidos nas análises numéricas podem e possivelmente
não conseguem reproduzir exatamente os assentamentos verificados “in situ” em algumas das
seções instrumentadas. Estas diferenças devem-se não somente às simplificações que são
necessárias para reproduzir as inumeráveis variáveis que estão envolvidas no problema, mas
também as hipóteses simplificadoras que consideram as características iniciais do maciço
(parâmetros como módulo de deformabilidade (E), ângulo de atrito Φ, coesão c´, densidade γ,
etc.) dentro de um modelo matemático do maciço com um comportamento ideal, ou seja, que
estarão, dentro do possível, consideradas.

Portanto, os cálculos efetuados não levam em conta as eventuais degradações do maciço por
causas naturais ou por defeitos na aplicação da metodologia de execução na obra.
Os aspetos anteriores não diminuem a confiabilidade das considerações anteriormente descritas,
portanto as estimativas atribuídas aos resultados da análise numérica constituem-se em valores
numéricos de referência, para condições ideais de escavação e suporte, os quais permitem uma
interpretação aproximada do comportamento apresentado no maciço da obra.

Se as deformações encontradas em obra fossem maiores que os valores de referência, não se


poderia considerar risco iminente. Considerou-se que o projetista estava em condições de efetuar
modificações ou alterar a aplicação de procedimentos auxiliares de segurança com a utilização de
injeções para tratamento do maciço, incremento do sistema de drenagem, entre outras. Tais
procedimentos são cabíveis sempre que o maciço escavado não apresente o comportamento
idealizado, buscando deste modo estabilizar as deformações, minimizar os recalques e garantir a
segurança da obra. Estas medidas estão desenvolvidas no ponto 7.5.4.

Como critério o projetista adotou os seguintes níveis de referência:

Nível de Referência I
O Nível de Referência I é o nível referente aos valores estimados pelos cálculos. São esses os
níveis de deformação esperados para a obra. Se esses níveis forem atingidos, imediatamente a
frequência de leitura deve ser dobrada. Ao projetista deve ser comunicado pelos responsáveis
pela obra e pela empresa responsável pela instrumentação. Não houve necessidade de adoção de
medidas adicionais de segurança.

150
Nível de Referência II
O Nível de Referência II é o nível referente a um acréscimo de 20% sobre os valores estimados
pelos cálculos. Se esses níveis forem atingidos, o projetista deve manifestar um parecer oficial
sobre o fato. O parecer é enviado para todas as partes envolvidas na obra (projetista, ATO’s,
produção, fiscalização/dono de obra, etc).

7.4.4.2 Valores de referência

Estação da Reboleira
Apresentam-se no quadro 7.28, os níveis de referência estimados de assentamentos para os
marcos superficiais da Estação Reboleira:

Quadro 7.28 - Valores de referência de assentamentos nos marcos de superfície dos poços 1 a 5 (adaptado
CJC, 2009).

Nível de Referência I Nível de Referência II


(mm) (mm)

M1 12 14
M2 20 24
M3 20 24
M4 12 14
M5 15 18
Assentamentos nos marcos de superfície

M6 22 26
M7 22 26
M8 15 18
M9 15 18
M10 22 26
M11 22 26
M12 15 18
M13 15 18
M14 22 26
M15 22 26
M16 15 18
M17 12 14
M18 20 24
M19 20 24
M20 12 14

151
Apresentam-se a seguir no quadro 7.29, os níveis de referência estimados de convergências para
as cordas dos pinos dos poços que compõem a Estação da Reboleira:

Quadro 7.29 - Valores de referência das convergências dos poços 1 a 5 (CJC, 2009).

Nível de referência I (mm) Nível de referência II (mm)


Nível Nível Nível Nível Nível Nível Nível Nível
95.80 90.65 85.00 79.00 95.80 90.65 85.00 79.00

∆C 1-11 5 5 6 7 6 7 8 9
Convergências – Poços 1 a 5

∆C 2-12 9 18 12 13 11 22 14 16

∆C 3-13 5 10 6 7 6 12 8 9

∆C 4-14 10 20 13 14 12 24 16 17

∆C 5-15 6 12 8 9 7 14 9 10

∆C 6-16 10 20 13 14 12 24 16 17

∆C 7-17 6 12 8 9 7 14 9 10

∆C 8-18 10 20 13 14 12 24 16 17

∆C 9-19 5 10 6 7 6 12 8 9

∆C 10-20 9 18 12 13 11 22 14 16

Poço de ventilação
Assim os valores de referência para os assentamentos no poço de ventilação de acordo com o
quadro 7.30 são:

Quadro 7.30 - Valores de referência para recalques (assentamentos) e convergência/divergência (adaptado


CJC, 2009).

Nível de Referência I Nível de Referência II


(mm) (mm)

M1 9 11
Recalques nos marcos de

M2 9 11

M3 9 11
superfície

M4 9 11

M5 7 9

M6 7 9

M7 7 9

152
M8 7 9

Nível de Referência I Nível de Referência II


(mm) (mm)

Cota/Nível N1 – N3 N2 – N4 N1 – N3 N2 – N4

estruturas do poço
divergência nas
Convergência /
Nível 121,70m 18 26 22 31

Nível 107,37m 18 26 22 31

Nível 93,04m 18 26 22 31

Nível 78,69m 19 27 23 32

7.5 Resultados da monitorização

7.5.1 Frequência de leituras em obra

A frequência das leituras foram de acordo com o estabelecido em projeto, e ajustadas em fase de
obra, sempre que necessário e autorizado pelo projetista. O critério geral para as leituras da
instrumentação das edificações, maciço e poços durante a execução foram as seguintes:

 Leitura 2 vezes por semana: inclinómetros, piezómetros e medidores de nível da água;


 Leituras diárias: marcos e convergências. Após estabilização ainda em revestimento
primário, leituras 3 vezes por semana;

Após execução do revestimento secundário, leituras 1 vez por semana até a estabilização do nível
de água de toda a instrumentação. Para a execução da impermeabilização houve necessidade de
remover toda a instrumentação instalada nas paredes dos poços.

Antes do início das leituras, foi efetuada a leitura de “zeragem” correspondente à referência
inicial, sendo necessário três leituras para se obter uma “zeragem” sendo através deste valor que
as alterações foram acompanhadas por comparação com a leitura inicial. Sempre que era
necessário colocar novos instrumentos por exemplo nos alvos topográficos, a “zeragem” era
efetuada nessa altura.

7.5.2 Estação

Na figura 7.92 apresenta-se a cartografia geológica final dos poços da estação, com a respetiva
caraterização geotécnica, decorrente do registo de acompanhamento diário das frentes de
trabalho pelo geólogo responsável. Os resultados da monitorização, como veremos mais adiante,

153
estarão intimamente correlacionados com o zonamento geológico-geotécnico aferido. A figura
7.92 é apresentada no ponto 10. Anexos - anexo III.

Figura 7.92 - Cartografia geológica-geotécnica – caraterização geotécnica da estação (EPOS, 2011).

7.5.2.1 Alvos e réguas em taludes e estruturas

Para além da observação de diversos alvos e réguas instalados nos edifícios localizados na
proximidade da estação, foram ainda observados alguns taludes e estruturas provisórias, como
por exemplo estrutura treliçada de suporte à conduta de gás.
No período em que decorreram os trabalhos de escavação da empreitada, não foram registados
deslocamentos significativos no edifício da EMEF próximo dos poços.

Alvos em edifício EMEF – Alvo A-4 (x e z)

154
Gráfico de evolução (X – Longitudinal)
Gráfico de evolução (Z – Cota)

Gráfico 7.5 – Evolução das deformações do alvo A-4 (EPOS, 2011).

Pela observação do gráfico 7.5, verifica-se que os resultados de deformação obtidos para este
edifício correspondem a oscilações de valores associados à precisão do equipamento de leitura,
nunca ultrapassando os 4mm na direção da escavação.

Gráfico 7.6 – Evolução das deformações do alvo TA-3 do talude 5 (EPOS, 2011).

Serve de exemplo o talude 5 adjacente ao poço 5 (gráfico 7.6), talude com maiores dimensões e
talvez o mais sensível, dados os trabalhos de escavação do poço e a passagem do túnel sul sobre
ele, que apresentou valores de deformação vertical na ordem de 10 mm e horizontal na ordem de
12 mm. Os valores de deformação vertical e horizontal apresentaram valores relativamente
reduzidos e dentro dos limites expectáveis em projeto.

155
Alvos em talude 4 – Alvo TA-3 (x e z)

Gráfico 7.7 – Evolução das deformações dos alvos T1 e T4 (EPOS, 2011).

Sem deformações significativas, no entanto, as maiores deformações deram-se na direção do eixo


X (direção da escavação), e que eram previsíveis. Como é possível observar no gráfico, as
deformações evoluíram de forma constante durante a escavação, tendo estabilizado a partir do
início do revestimento secundário.

7.5.2.2 Marcas de superfície

Durante o período da obra foram observadas 20 marcas localizadas na periferia da estação, 30


marcas instaladas na viga de bordadura, 4 marcas instaladas no maciço de fundação das duas
gruas torre (no total de 8 marcas) e 4 nas vigas de travamento.

156
Figura 7.93 – Esquema de implantação das marcas de superfície na estação (CJC, 2009).

Da análise dos deslocamentos observados, verificou-se um maior assentamento nas marcas


instaladas na vizinhança do poço 1, mais acentuada nas marcas 2 e 3 (mais próximas da
escavação), com deformações cerca de 19 e 15 mm respetivamente, conforme mostra o gráfico
7.8. Nos poços 2 a 5 as deformações foram pouco expressivas entre 4 a 6 mm. Este diferencial é
facilmente explicável devido à ocorrência de depósitos recentes (aluviões/coluviões/aluviões)
junto ao poço 1, contrariamente à interseção dos poços 2 e 5 onde o maciço escavado é de
natureza rochosa (CVL).

Quanto às marcas instaladas na viga de bordadura e vigas transversais, os deslocamentos


observados respeitaram, seguindo o projetista, o estimado para a estrutura. A movimentação do
terreno é também visível no inclinómetro, como veremos no próximo ponto, confirmando esses
deslocamentos.

157
Marcas de Superfície [mm]
(M1 a M4) 5

3 M1

1 M2

-1 M3
-3
M4
-5

-7

-9
-11

-13

-15

-17

-19
-21
11-Nov 1-Dez 21-Dez 10-Jan 30-Jan 19-Fev11-Mar31-Mar 20-Abr 10-Mai 30-Mai 19-Jun 9-Jul 29-Jul 18-Ago 7-Set 27-Set 17-Out

Gráfico 7.8 – Evolução das deformações nas marcas de superfície M1 a M4 – poço 1(EPOS, 2010).

A marca M4 danificou-se por circulação de veículos, não permitindo a respetiva leitura a partir de
um determinado período. A leitura era somente realizada pela marca M3, a mais próxima da
escavação.

Marcas de Superfície [mm]


(Grua 1) 5
G1 - 1
4
G1 - 2
3
G1 - 3
2
G1 - 4
1

-1

-2

-3

-4

-5
22-Mar 1-Abr 11-Abr 21-Abr 1-Mai 11-Mai 21-Mai 31-Mai 10-Jun 20-Jun 30-Jun 10-Jul 20-Jul 30-Jul 9-Ago 19-Ago29-Ago 8-Set 18-Set 28-Set

Gráfico 7.9 - Evolução das deformações das marcas de superfície da Grua 1 (EPOS, 2010).

Tendo em conta as características da grua 1 - Potain MD345B (lança de 50,0m; carga máxima de
16 ton., com alcance intermédio aos 20,6 m; carga na ponta de 5,6 ton., altura do gancho de 35,8
m), implantada junto ao poços 1 e 2, o projetista previu a execução de maciço de fundação
constituído por um maciço em betão armado de espessura de 1,50 m com ligação a micro-estacas
e até atingirem uma cota abaixo da cota de fundação da soleira dos poços.
Como é visível no gráfico 7.9, as deslocações foram no limite da ordem de 1mm, não trazendo
qualquer restrições à execução da escavação e à movimentação de cargas máximas admissíveis da
grua. O mesmo sucedeu com a grua 2, junto ao poço 5.

158
7.5.2.3 Inclinómetros

Os inclinómetros instalados nos poços da estação para verificar as deformações, apresentaram


valores horizontais para InP-1 (ver gráfico 7.10) e InP-2 na ordem de 10mm. No caso do InP-3 as
deformações foram mínimas, tendo ficado próximo da ordem de precisão do equipamento.

Gráfico 7.10 – Evolução dos deslocamentos do inclinómetro InP-1 (EPOS, 2010).

No gráfico 7.10, é apresentado o inclinómetro InP1, que foi o que apresentou maiores
deformações, justificando a sua apresentação. Como é percetível, existe uma “barriga”
pronunciada, com maior visibilidade na direção A (direção à escavação). Esta deformação
correlaciona-se com as características geológicas-geotécnicas do local. Presença de aterro/solo
residual e escória basáltica. Esta deformação foi registada pelas marcas de superfície
anteriormente referida.

159
7.5.2.4 Piezómetro

Foram instalados piezómetros de modo a registar a influência da escavação na evolução do nível


freático local. Desta forma permitiu aferir o dimensionamento da malha de drenagem e por outro
lado assegurar a não existência de impulsos hidrostáticos, conforme previsto em projeto.
Da análise dos resultados obtidos constatou-se a existência do fenómeno de drenagem do maciço
em função do avanço dos trabalhos de escavação.

Medidor de nível de água (m)


(Mna 1) 93,0

91,0
Viga de Nível …
89,0 Bordadura
87,0

85,0

83,0

81,0 PBV
79,0
Soleira
77,0

75,0

73,0
19-Mar

08-Abr

28-Abr

06-Ago

26-Ago
18-Mai
27-Fev
18-Jan

07-Fev

17-Jul
07-Jun

27-Jun
19-Nov

09-Dez

29-Dez

15-Set
Gráfico 7.11 - Evolução do medidor de nível de água Mna-1 entre o poço 1 e 2 (EPOS, 2011).

Com o decorrer do tempo o nível de água estabilizou aos 77,5 m junto à soleira (linha verde do
gráfico 7.11), mantendo-se constante até ao final da obra como se previa.

7.5.2.5 Convergências

Na estação foram colocados diversos níveis de alvos topográficos, em cotas pré-definidas em


projeto (ver figura 7.87), durante a escavação do mesmo, para medição das convergências.

Figura 7.94 – Esquema de implantação das cordas de convergências nos poços 1 a 5 - Planta.

160
Medição de convergências
(Poço 1)

Convergências
4,0

C 2-3 (Poço)
C 1-2 (Poço)
2,0
C 1-3 (Poço)
C 1-2 (Viga)
0,0

-2,0
(mm)

-4,0

-6,0

-8,0
11-Nov 1-Dez 21-Dez 10-Jan 30-Jan 19-Fev 11-Mar 31-Mar 20-Abr 10-Mai 30-Mai 19-Jun 9-Jul 29-Jul 18-Ago 7-Set 27-Set 17-Out

Gráfico 7.12 – Evolução da deformação das cordas à cota 90,65, no poço 1 (EPOS, 2011).

Os resultados obtidos evidenciaram deformações na ordem de 17 mm no poço 1 à cota 85,00,


reduzindo-se gradualmente o valor para os poços adjacentes para cerca de 13 mm. No entanto,
verificou-se uma exceção na corda entre estacas (7 e 8) do poço 5, à cota 85,00 cuja deformação
foi cerca de 20mm.

Pela comparação entre os gráficos 7.12 e 7.13, verifica-se no poço 5 uma maior deformação, em
termos teóricos perfeitamente previsível, pois este apresenta maior desenvolvimento vertical e
na proximidade existirem 2 taludes, já anteriormente referidos.
Em caso de necessidade, as medidas a tomar para controlar as deformações estão descritas no
ponto 7.5.4.

161
Medição de convergências
(Poço 5)

Convergências
4,0

C 1-2 (Poço)
2,0
C 1-3 (Poço)
C 2-3 (Poço)
0,0
C 1-2 (Viga)

-2,0

-4,0
(mm)

-6,0

-8,0

-10,0

-12,0

-14,0
28-Jan 7-Fev 17-Fev 27-Fev 9-Mar 19-Mar 29-Mar 8-Abr 18-Abr 28-Abr 8-Mai 18-Mai 28-Mai 7-Jun

Gráfico 7.13 – Evolução da deformação das cordas à cota 90,65, no poço 5 (EPOS, 2011).

7.5.2.6 Strain-gauges

Esta instrumentação foi instalada em todas as vigas de travamento e nas estacas-pilar 7 e 8,


sendo apresentado o gráfico respeitante ao poço 5, onde a altura do poço era superior em 5
metros em comparação aos restantes onde era, portanto, mais previsível que as tensões sobre os
elementos estruturais tivessem maior impacto.

162
Medição dos Strain gauges
Viga 4

Tensão [me ] me-microstrain


250,00
SG1

150,00 SG2
Tracção
SG3
50,00

SG4
-50,00

-150,00

-250,00

Compressão
-350,00

-450,00

-550,00

-650,00
21-12-2009

10-01-2010

30-01-2010

19-02-2010

11-03-2010

31-03-2010

20-04-2010

10-05-2010

30-05-2010

19-06-2010

09-07-2010

29-07-2010

18-08-2010

07-09-2010

27-09-2010

17-10-2010

06-11-2010

Gráfico 7.14 - Evolução das tensões dos strain gauges instalados na viga 4. (EPOS, 2010).

O gráfico 7.14, apresenta os 4 instrumentos colocados na viga, designada por VG4, no qual
permitiu obter informações do comportamento estrutural da viga face aos impulsos do terreno
sobre as estacas e estas sobre a viga de travamento. Com este conhecimento, permitirá ao
projetista um maior conforto dimensional e experiência em futuras obras.

163
Medição dos Strain gauges
Estacas-pilar P7 e P8

Tensão [me]
Pilar 8- me-microstrain SG1 Tensão [me] Pilar 8- me-microstrain
200,00 SG2 200,00
SG3 SG1
SG4
150,00 150,00 SG2
Linha
Compressão SG3
100,00 Tracção Tracção 100,00 Tracção
SG1 SG4
50,00 SG2 50,00

0,00 0,00

-50,00 -50,00

-100,00 -100,00

-150,00 -150,00
Compressão Compressão
-200,00 -200,00

-250,00 -250,00

-300,00 -300,00
4-Fev
15-Jan

4-Fev
16-Mar

15-Jan
24-Fev

24-Jun

22-Out
16-Nov

26-Dez

16-Mar

24-Jun

22-Out
2-Out

26-Dez
25-Abr

4-Jun

16-Nov
6-Dez

24-Fev
23-Ago

12-Set
15-Mai

25-Abr

4-Jun

2-Out
6-Dez

23-Ago

12-Set
5-Abr

15-Mai
14-Jul

3-Ago

5-Abr

14-Jul

3-Ago
Gráfico 7.15 - Evolução das tensões dos strain gauges instalados na estaca-pilar 7 e 8. (EPOS, 2010).

A instalação deste tipo de instrumentação permitiu medir a tensão a que estes elementos estão
submetidos. O comportamento observado enquadrou-se no expectável para a estrutura. No caso
dos pilares 7 e 8 (ver gráfico 7.15) os fenómenos de compressão/tração entre sensores coincidiu
com a evolução da corda C1-2 (viga 4), conforme mostra o gráfico 7.13. Nem sempre os
resultados obtidos se correlacionaram com as deformações obtidas por topografia
(convergências).

7.5.3 Poço de Ventilação

Na figura 7.95, apresenta-se a cartografia geológica final do poço de ventilação, com a respetiva
caraterização geotécnica, decorrente do registo de acompanhamento diário das frentes de
trabalho pelo geólogo responsável. Os resultados da monitorização, como veremos mais adiante,
estarão intimamente correlacionados com o zonamento geológico-geotécnico aferido.

164
A figura 7.95 encontra-se detalhada e mais completa no ponto 10. Anexos, anexo III – cartografia
final do PV.

Figura 7.95 – Cartografia geológico-geotécnico – caraterização geotécnica no PV (EPOS, 2011).

7.5.3.1 Alvos e réguas em estruturas

Foram considerados os edifícios que se encontravam dentro da bacia de subsidência, bem como
próximos da mesma, por questões de segurança e de eventuais reclamações, como mostra a
figura 7.96.

165
Como anteriormente já referido, nos edifícios foram instalados 2 alvos no mesmo alinhamento
vertical, espaçados de aproximadamente 5,0 metros, como mostra foto do gráfico 7.17.

Figura 7.96 - Instrumentação do poço de ventilação – planta (adaptada CJC 2009).

Somente foi tida em consideração a instrumentação dos edifícios identificados na figura anterior,
situados na Rua José Mergulhão n.º 3, 5 e 12 por estarem na área de influência do poço. A
restante instrumentação e edifícios monitorizados fazem parte da estrutura do túnel de
ventilação.

Alvos
Relativamente aos alvos procedeu-se de acordo com o que está citado nos parágrafos anteriores.

Os gráficos 7.16 a 7.18, apresentam leitura de alguns dos alvos acompanhados pela topografia em
vários edifícios, não se tendo registado qualquer variação significativa, não ultrapassando 1mm,
estando relacionado com a margem de erro do equipamento topográfico.

166
Medição dos alvos em edifícios
Rua José Mergulhão nº 12

Gráfico 7.16 -Evolução dos alvos em edifício A-12.5 e A-12.6 (EPOS, 2011).

Medição dos alvos em edifícios


Rua José Mergulhão nº 5

Gráfico 7.17 - Evolução dos alvos em edifício A-5.1 e A-5.2 (EPOS, 2011).

167
Medição dos alvos em edifícios
Rua José Mergulhão nº 3

Gráfico 7.18 – Evolução dos alvos em edifício A-3.3 e A-3.4 (EPOS, 2010/11).

Réguas
As réguas foram colocadas nos mesmos edifícios dos alvos para monitorizar as deformações
suscetiveis de aparecer com a execução do poço, conforme se mostra no gráfico 7.19 e 7.20.

Medição das réguas em edifícios


Rua José Mergulhão nº 5 R5.1

5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5
08-Jul

28-Jul
18-Jun

04-Jan

24-Jan
16-Out
17-Ago

06-Set

26-Set

13-Fev
19-Abr

09-Mai

29-Mai

05-Nov

25-Nov

15-Dez

Gráfico 7.19 - Evolução das deslocações das réguas nos edifícios R 5.1 (EPOS 2010/11).

168
Medição das réguas em edifícios
Rua José Mergulhão nº 12 R 12.2

5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5

06-Set

26-Set
19-Abr

16-Out
18-Jun

17-Ago

04-Jan

24-Jan
08-Jul

28-Jul
09-Mai

29-Mai

05-Nov

25-Nov

15-Dez
Gráfico 7.20 - Evolução das deslocações das réguas no edifício R 12.2 (EPOS, 2010/11).

Todas as restantes réguas dos edifícios identificadas na planta, os seus valores mantiveram-se
equivalentes ao apresentado no gráfico (R 12.2), onde se pode constatar a ausência de
deformação vertical (assentamento).

As avaliações de cada edifício referido no ponto 4.4 do Capítulo 4, necessária para este tipo de
construção, permitiram reforçar a validação de não existência de novas patologias nos edifícios,
quando comparadas a vistoria inicial e final da obra. Na eventualidade de existirem novas
patologias, os valores nos gráficos anteriores dos alvos e réguas permitiam assegurar a não
existência de movimentos induzidos nos edifícios provocados pela escavação, portanto,
impossível de imputar qualquer patologia de responsabilidade da obra.

7.5.3.2 Marcas de superfície

Junto ao poço de ventilação foram instaladas oito marcas de superfície, como mostra o gráfico
7.21. Os valores de assentamento foram bastante reduzidos, verificando-se no máximo valores na
ordem de 5 mm nas marcas mais próximas do poço; valor abaixo do estimado em projeto que
seria de 9 mm mencionado no ponto 7.3.2 - Assentamento na superfície devido à escavação do
poço.

169
Medição das marcas de superfície
M1 a M4

[mm] M1
5
M2
4 M3

3 M4

-1

-2

-3

-4

-5

4-Out
17-Mai
27-Mai

16-Jul
26-Jul
16-Jun
26-Jun

15-Ago
25-Ago
6-Jul
6-Jun

5-Ago

14-Set
24-Set
7-Mai

13-Nov
14-Out
24-Out
17-Abr
27-Abr

4-Set

3-Nov
Gráfico 7.21 – Evolução das deformações das marcas de superfície na periferia do PV (EPOS, 2011).

De referir que as marcas M5 a M8, os mais afastados do poço registaram valores de deformação
abaixo dos 3mm, inferior às marcas de superfície apresentados no gráfico 7.21.

7.5.3.3 Convergências

No poço foram colocados diversos níveis de alvos topográficos, em cotas pré-definidas em projeto
(ver gráfico 7.22), durante a escavação do mesmo, para medição das convergências. Foram
analisadas duas cordas, a N1-3 e N2-4.

170
Medição das convergências
N1-3 e N2-4

4,0 (mm)
Convergências
3,0 C 1-3
2,0
C 2-4
1,0
0,0
-1,0
-2,0
-3,0
-4,0
-5,0
-6,0
-7,0
30-Jul 19-Ago 8-Set 28-Set 18-Out 7-Nov 27-Nov 17-Dez 6-Jan 26-Jan 15-Fev

Gráfico 7.22 – Evolução da deformação das cordas N1-N3 e N2-N4 à cota 93,04 (EPOS, 2011).

Com exceção da secção à cota 107,37 (2º nível), os resultados das observações evidenciaram
deformações relativamente pequenas, na ordem de 3 a 6mm na corda N1-3. À cota 107,37 a
deformação excedeu numa ordem de grandeza os valores da generalidade do poço, facto que
motivou um reforço de monitorização com a materialização de novas cordas intermédias à
mesma cota.

7.5.4 Considerações finais

A monitorização da obra foi eficaz e precisa, permitiu aferir os resultados e acompanhar a


evolução sistemática das escavações dos poços e evidenciar o comportamento do maciço e
estruturas envolventes.
No decorrer da obra houve ajustes que foram necessários efetuar por diversas razões, e sempre
que existiram valores não expetáveis ou fora de comum, foram tomadas as seguintes medidas,
não se tendo necessariamente seguido esta ordem:

 Repetição da leitura;
 Verificação de existência de erro de leitura do aparelho;

171
 Reforço de pontos de leitura, com instalação de nova instrumentação;
 Alerta pelo responsável quando os valores ultrapassaram os valores de referência de
projeto, isto é, os níveis de alerta;
 Verificação de outros instrumentos geotécnicos de comparação, para confirmar possíveis
deformações/deslocamentos;

No caso de existência real de movimentação do terreno, as medidas a implementar seriam:

 Reforço da frequência das leituras para maior informação e tomada de decisão por parte
do projetista;
 Reforço de pregagens, evitando o aumento de espessura do revestimento primário, pois
iria invadir o revestimento secundário;
 Diminuição da velocidade de avanço da escavação;
 Reforço da malha eletrosoldada;
 Paragem dos trabalhos de escavação.

As situações reais de obras que poderiam causar maior atenção e medidas de acompanhamento
ou reforço estrutural foram 3 situações (marca de superfície M2 e 3, inclinómetro In1,
convergências N1-3 no poço ventilação) e devidamente abordadas nos pontos anteriores.

7.5.5 Poços pelo método NATM

No que toca ao tipo de execução dos poços da estação (conhecido como poços NATM), este tipo
de estrutura foi utilizada pela 1ª vez em Portugal, na estação de Salgueiros para o Metro do Porto
em 2004, trazido pelo mesmo projetista brasileiro (CJC). Estes poços elípticos ou circulares já
utilizados com mais frequência, nomeadamente no metro de São Paulo. Existem algumas
diferenças que são facilmente observáveis pelo quadro abaixo mencionado. Essencialmente as
diferenças residiram em dois aspetos distintos: Um, pelo número de poço executados. Um outro,
pelas características geológicas-geotécnicas do solo.

172
Quadro 7.31 – Principais diferenças e semelhantes de poços idênticos pelo método NATM.

Estação de Salgueiros Estação da Reboleira


Data de execução 2004 2010

N.º de poços 2 5

- Profundidade dos poços (m) 22,22 15,10 (Poço 1 a 4) e 20,25 (poço 5)

- Comprimento maior (m) 81,15 115

- Comprimento menor (m) 39,51 33 a 37

N.º estacas-pilar 2 8

- Diâmetro estacas-pilar (m) 3,5 1,5

- Profundidade das estacas- 6 m abaixo da cota final de escavação 5 m abaixo da cota final de escavação
pilar (m) dos poços dos poços

Distância entre estaca-pilar (m) 28,70 18,50 a 26,70

Metodologia executiva Poços executados simultaneamente

Sequência construtiva 1º execução estacas-pilar;


2º Execução viga de bordadura;
3º Execução viga de travamento/transversal;
4º Escavação corpo da estação.

Revestimento primário Constituído por malhasol, betão projetado, pregagens e geodrenos

Espessura revestimento primário Variou com a profundidade entre os 30


30 cm
cm e os 60 cm

Geologia Constituída basicamente por solos Constituído maioritariamente por


residuais de granito com diversos graus rocha basáltica, com interseção de
de alteração sobrepostos por um aterro uma bancada de tufo vulcânico e a
com espessura média de 2 m. aos 20 m presença de material de aterro e
o granito já se encontra são com aluvionar/coluvionar à superfície.
classificação de branda a dura.

De seguida, apresenta-se o quadro 7.32 com as diferenças mais relevantes dos parâmetros
geotécnicos e na figura 7.97 a foto aérea da estação da Reboleira e da estação de Salgueiros:

173
Quadro 7.32 – diferenças dos parâmetros geotécnicos considerados para ambas os poços.

ZG1 ZG2 ZG3 ZG4 ZG5


ESTAÇÃO DA REBOLEIRA Basalto pouco Basalto muito Brecha Tufo Aterro/Solo
fraturado fraturado Residual

Módulo de Deformabilidade (E) Mpa 15000 5000 2500 160 80

Coeficiente de Poisson (v) 0,25 0,26 0,26 0,27 0,27

Coesão (c) kPa 3500 1400 105 7 3,5


0
Angulo de Atrito (ϕ´) 21 17,5 24,5 17,5 21
0
Dilatância (ᵠ) 0 0 0 0 0
3
Densidade (ϒ) kN/m 30 28 24 18 18

Coeficiente Impulso em repouso (K0) 0,70 0,70 0,70 0,70 0,70

G4 G5 G6 G7
ESTAÇÃO DE SALGUEIROS
Granito Granito alterado Solo residual Aterro

Módulo de Deformabilidade (E) Mpa 500 150 45 40

Coeficiente de Poisson (v) - - - -

Coesão (c) kPa 100 40 10 0

Angulo de Atrito (ϕ´) 0 40 35 32 28


0
Dilatância (ᵠ) - - - -

Densidade (ϒ) kN/m3 21 20 19 19

Coeficiente Impulso em repouso (K0) 0,70 0,70 0,70 0,50

Estação de Salgueiros – Metro do Porto. Estação da reboleira – Metropolitano de Lisboa.

Figura 7. 97 – Foto aérea dos poços pelo método NATM.

174
Este tipo de execução de poços elípticos pelo método NATM tende a serem usados com mais
frequência, pois as vantagens são superiores às desvantagens e desde que o espaço de
construção não esteja limitado. A seguir apresentam-se as respetivas vantagens e desvantagens
deste método construção (Campanhã, C):

Vantagens Desvantagens
 Grande versatilidade;  Interferência com a superfície;
 Rapidez executiva;  Maiores áreas escavadas;
 Equipamentos convencionais;  Rigor executivo (forma).
 Custos competitivos;
 Grandes áreas livres para
movimentação de equipamentos
e materiais.

175
176
8. Conclusões

177
178
8. Conclusões

Na presente tese foram apresentados os dispositivos de instrumentação e os níveis de


deformações da estrutura e do maciço adotados para um determinado método construtivo e que
servirão como referência para acompanhamento de futuras obras do Metropolitano Lisboa.
Para os assentamentos estimados em projeto e abordados no capítulo 7, não se esperava danos
significativos nas estruturas envolventes e a instrumentação implantada foi suficiente para fazer o
acompanhamento que procurou garantir a segurança da obra e da sua envolvente, não se tendo
registado a necessidade de aplicar nenhum plano de contingência.
Neste tipo de obra não existe a probabilidade de eliminação total das instabilidades nas
escavações, quer por singularidades não detectadas no maciço, quer por ocorrências induzidas
por falhas de equipamentos, cadastro equivocado de interferências e até mesmo falhas humanas
ou construtivas.
Somente na fase de construção é que se definiu, através de adaptações, o projeto final. Estas
adaptações e definições dependem do mapeamento geológico-geotécnico detalhado das faces de
escavação, associado à magnitude das deformações induzidas pela construção, tendo como base
o modelo desenvolvido durante a fase de projeto. Mesmo que os estudos da fase de projeto
tenham sido bem conduzidos, muitos aspectos geológico-geotécnicos só foram bem definidos
durante o acompanhamento das escavações pelo geo-profissional. Nesta fase, apareceram
situações que exigiram tratamento adequado, mencionados no capitulo 7, e que impuseram a
reformulação dos critérios adotados no projeto.

Assim sendo, mais uma vez, salientamos a importância da análise da instrumentação através de
um Acompanhamento Técnico de Obra sistemático com as atividades de escavação, que foram
necessários para a tomada de providências, quando necessárias, procurando garantir a segurança
da obra e sua envolvente.
É neste contexto que a abordagem relativa à segurança neste presente trabalho foi uma
constante pela sua importância, sempre com referência à atual conjuntura de Portugal, com
consequências no atraso na implementação de uma cultura da segurança, com o natural entrave
ao desenvolvimento e sustentabilidade do trabalho, com aumento da precariedade no trabalho,
com a redução de custos com o pessoal, com a procura de mão-de-obra barata e pouco
especializada, com uso de equipamentos e materiais inadequados ou de qualidade duvidosa,
entre outros, com nítida influência na produtividade e qualidade do trabalho executado. A
redução da investigação e instrumentação geotécnica são também, a par de alguns fatores
apresentados, independentemente da sua origem serem causadores de acidentes de obra, que

179
mediante a amplitude, podem repercutir a terceiros e colocar em causa todo um projeto. Pois os
acidentes só acontecem quando estão reunidos uma série de acontecimentos/falhas. Ora a
instrumentação, um dos objetivos visa antecipar acontecimentos que possam colocar em perigo
pessoas e estruturas através do acompanhamento sistemático da obra, por isso a sua grande
importância na avaliação de comportamento de maciços e estruturas envolventes.

A instrumentação geotécnica tem vindo a assumir um papel cada vez mais relevante na execução
de obras de engenharia, o mercado percebeu e adaptou-se, novas empresas apareceram que
permitiram disponibilizar ao mercado um diversificado número de equipamentos e aparelhos de
medição, para as mais diversas aplicações, tornando-os mais eficientes, precisos e autónomos. O
próximo passo, no meu entender, é garantir que a informação chegue de forma célere, se possível
online, com desenvolvimento de software, não somente aplicada a cada instrumento, como já
hoje em dia existe para alguns, mas de forma a compilar numa só aplicação, todas a informação
provenientes das mais variadas fontes, quer por parte da instrumentação, quer das informações
dos topógrafos, entre outros. Com isto, vai permitir otimizar e reduzir o tempo de análise e
interpretação das leituras realizadas pelo pessoal qualificado.
A diminuição do tratamento da informação, ainda com uma grande percentagem por meios
manuais, vai permitir evitar perdas de tempo e erros humanos no lançamento das leituras e seu
tratamento, e garantir um elevado padrão de qualidade e quantidade de informação na
elaboração de relatórios diários, semanais e mensais.

180
9. Referências bibliográficas

181
182
Referências bibliográficas:

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http://www.lnec.pt (consulta em maio 2012)

http://hw.osha.europa.eu (consulta em julho 2012)

http://riskobservatory.osha.europa.eu (consulta em julho 2012)

187
188
10. ANEXOS
(ver CD-ROM)

189
190
Anexo I - Relatório tipo diário e mensal
Anexo II - Peças desenhadas – TF – instrumentação
Anexo III - Cartografia inicial e final

(ver CD-ROM)

191

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