Edf Anos Iniciais Do Ensino Fundamental
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Artigos Originais
Revista Kinesis, Santa Maria v.36 n.1, 2018, jan - abr. p. 44– 57
Centro de Educação Física e Desporto - UFSM
DOI 10.5902/2316546431365
Revista Kinesis
Data de submissão: 28-08-2018
Data de Aceite: 05-04-2018
Physical Education in Early Childhood Education: The role of the Physical Education teacher
Educación Física en Educación Infantil: el papel del profesor de Educación Física
RESUMO
Esta pesquisa tematiza e objetiva compreender e analisar a importância do professor de EF na EI, especialmente
para contribuir com o desenvolvimento da criança nessa fase e com o trabalho conjunto entre a uni docente e o
professor de EF. O trabalho de campo foi realizado através de observação participante, análise de documentos e
entrevistas com a equipe docente. Os resultados destacam a importância de oportunizar a ludicidade nas aulas de
EF, a afetividade na EI e a relevância da construção de um trabalho coletivo para a realização de uma prática peda-
gógica que considere a integralidade da criança de 0 a 5 anos.
Palavras-Chave: Educação Física. Educação Infantil. Professor de Educação Física.
ABSTRACT
This research discusses the importance of Physical education teacher in early childhood education, especially to
contribute to the development of the child at this step and the possibility of joint work between the Professor
Unidocente and professor of physical education. Aims to understand and analyze the importance of Physical edu-
-
ment analysis and interviews with the team. The results highlight the importance of encouraging the playfulness in
between the teachers Unidocentes and the teacher of physical education, for conducting a pedagogical practice
that consider the entirety of the child of 0 to 5 years.
Keywords: Physical Education. Child education. Physical education teacher.
RESUMEN
Esta investigación tiene como objetivo comprender y analizar la importancia del profesor de Educación Física (EF)
en Educación Infantil (EI), especialmente para contribuir al desarrollo del niño y el trabajo conjunto entre el maes-
tro y el profesor de EF. El trabajo de campo se llevó a cabo a través de la observación participante, análisis de docu-
mentos y entrevistas con el equipo pedagógico. Los resultados destacan la importancia de fomentar la ludicidade
en EF y afectividad en la importancia de la construcción de un trabajo colectivo para la realización de una práctica
pedagógica que considera la totalidad del niño de 0 a 5 años.
Palabras Clave: Educación Física. Educación Infantil. Profesor de Educación Física.
D’AVILA E SILVA - Educação Física na Educação Infantil: o papel do professor de Educação Física 45
Introdução
A Educação Física na Educação Infantil, etapa compreendida de 0 a 5 anos, vem sendo foco de
diversas discussões sobre a importância de se ter um professor específico nessa área de conhecimento,
desde a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/96 (BRASIL, 1996).
De acordo com a LDB (Art.26, § 3o.): “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é
Na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, é importante que a criança tenha o
desenvolver corporalmente através dessas experiências ao longo de sua vida. É nessa fase que a criança
necessita trabalhar de forma específica aspectos do desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo social.
É necessário pensar sobre o papel do professor de Educação Física na Educação Infantil, sobre a sua
que o primordial é uma variedade de experiências direcionadas de acordo com a especificidade dessa
fase significativa para seu desenvolvimento ao longo da vida. Desse modo, o professor de Educação Física
pode e deve trabalhar em conjunto com a professora unidocente , unindo seus conhecimentos em prol
de uma experiência enriquecedora para docentes e crianças, a fim de que desenvolvam-se integralmente
A criança utiliza seu corpo, primordialmente, para expressar-se, quando está triste, quando está feliz,
quando está gostando ou não de alguma situação. Por isso, o trabalho da Educação Física com a cultura
corporal do movimento é de significativa importância nessa fase. Por conseguinte, é preciso pensar em
um currículo na Educação Infantil que utilize essas características a seu favor, trabalhando a expressão
corporal, seja através de jogos imitativos, dança, entre outras modalidades que visem o desenvolvimento
Sendo a Educação Infantil uma fase de extrema importância para que se construam experiências
motoras diversas – para que, posteriormente, a criança consiga realizar movimentos mais complexos, por
exemplo, nos esportes, na dança, nas ginásticas, nas lutas, entre outros –, pensamos que é importante
que a Educação Física neste nível de ensino seja oportunizada em conjunto com a professora unidocente,
visto que, essas professoras, juntas, poderão planejar as aulas de acordo com os objetivos específicos
da turma, respeitando suas características e realidades, em que as habilidades fundamentais devem ser
exploradas de todas as formas, juntamente com o jogo e a brincadeira de forma lúdica, sem focar em
uma especialização precoce dos elementos da cultura corporal de movimento (MAGALHÃES; KOBAL;
A criança brinca de forma lúdica, a partir de seu universo infantil, modificando a atividade a todo
momento, experimentando o que está disponível ao seu redor e construindo relações com o outro e com
o mundo. Na escola não é diferente, assim, que o professor de Educação Física possui o papel fundamental
de também orientar essas e outras atividades mais específicas, a fim de alcançar os objetivos propostos
coloque no mundo como ser que não é único e que necessita aprender a conviver com outras crianças,
D’AVILA E SILVA - Educação Física na Educação Infantil: o papel do professor de Educação Física 47
Além disso, muito se fala sobre a criança, nessa etapa, necessitar de um professor referência, alguém
em quem possa se espelhar e saber que pode se reportar a ele, bem como, sobre a não fragmentação
dos conhecimentos que poderão ser trabalhados. Entretanto, um professor especialista, a nosso ver, não
trará essa fragmentação de conteúdos, pois pensamos que o trabalho deva ser realizado em conjunto,
entre o professor de Educação Física e a professora unidocente. Por conseguinte, a criança constrói suas
relações a todo momento dentro e fora do ambiente escolar, e o fato de ter mais de um professor já
ocorre nas escolas de Educação Infantil, com monitores e estagiários, por exemplo (LIMA; MUNARIM;
Quando iniciamos as observações na escola, carregávamos a inquietação sobre qual seria o papel
do professor de Educação Física em um ambiente que prima pela não escolarização, um ambiente que
considera a criança um ser integral e que está lá para desenvolver-se em sua integralidade e não em
áreas específicas. Contudo, conforme fomos inserindo-nos na rotina da escola, fomos percebendo a
construção diária da Educação Física junto àquela rotina, visto que, uma aula de Educação Física para
crianças de 0 a 5 anos, com docentes de Educação Física, não é comum na Rede Escolar do Estado do Rio
Grande do Sul. Em fala do professor Cravo , compreendemos a relação da Educação Física no contexto
da Educação Infantil, bem como suas implicações na rotina da escola. Segundo Cravo, a Educação Física
Ela [Educação Física] vai se legitimar a partir do modo, a partir dos caminhos que vai percor-
rendo [...]. Então, a minha perspectiva é essa, da Educação Física mais como uma arte e menos
como uma ciência, no sentido rígido do termo ciência, obviamente nós somos uma ciência, mas
no sentido de certo cientificismo, de algo que vai trazer uma receita de bolo ou uma padroni-
zação, de que com isso vamos contribuir. Acho que a gente contribui quando a gente entende
a importância da cultura humana, a importância da cultura corporal das próprias crianças e a
importância do prazer e da ludicidade no corpo. Se não tiver isso, esse papel não se legitima
(Entrevista nº 9, professor Cravo, 06/09/2016).
Contudo, essa visão da Educação Física como uma prática lúdica nem sempre é bem acolhida por todos,
pois, em outros tempos, a Educação Física tinha um caráter mais biologicista, e essa mudança, por vezes,
se torna desafiadora para a compreensão de quem não está acostumado com esse tratamento das aulas,
de forma mais lúdica, integral e coletiva. Isso ficou claro na fala de uma das professoras entrevistadas,
que percebe a Educação Física ainda dessa forma, mais voltada para o ser biológico. Segundo Gérbera,
Eu sempre tive assim, é que a gente teve outro tipo de Educação né, então, eu vivi outro tipo
de aula de Educação Física, eu tenho outra visão de aula de Educação Física, uma aula toda diri-
gida, assim. E aí tu pensa, aula de Educação Física, as crianças vão brincar, sei lá, de polichinelo,
vão fazer umas aulas mais dirigidas mesmo assim, atividades mais paradinhas sabe, mais exer-
cícios de, não digo abdominal, não, mas uma coisa assim (Entrevista nº 4, professora Gérbera,
20/07/2016).
Portanto, é preciso um trabalho diário para transformar esse entendimento da Educação Física,
principalmente na Educação Infantil, em que se deve ter o máximo de cuidado para não tornar as aulas
repletas de movimentos mecânicos e modelos escolarizantes. Na entrevista com o professor Cravo, ele
deixou claro essa questão sobre a consolidação e a legitimidade da Educação Física na Educação Infantil,
relatando ser uma construção dia após dia com a comunidade escolar, corroborando com estudos
de Galvão (2002), que tratam sobre a valorização ou não do professor de Educação Física, dentro das
Fica evidente a importância do professor de Educação Física inserido no contexto da Educação Infantil,
mas de uma forma totalmente direcionada e pedagogicamente desenvolvido para a especificidade das
crianças de 0 a 5 anos. E para os espaços e rotinas diferenciados existentes nas escolas de Educação
Infantil, totalmente longe de um modelo escolarizante que passa a vigorar no Ensino Fundamental, onde
as crianças têm menos liberdade para expressar-se, pois as demandas e as exigências para que aprendam
a ler e a escrever, por vezes, acabam por limitar outros fatores, por exemplo, a linguagem através da
expressão corporal.
Um dos objetivos desta pesquisa tratava de identificar o papel da Educação Física na Educação
Infantil, e conforme as entrevistas foram sendo realizadas, foi possível compreender que a Educação
Física, finalmente, nesta escola, está sendo muito bem inserida e contribuindo para a formação da
integralidade das crianças de 0 a 5 anos, a partir das suas especificidades do trabalho com a cultura
corporal de movimento. Sua contribuição vem a partir do diálogo e do trabalho conjunto com as
professoras unidocentes.
Não se pode negar que a professora de sala é o elemento chave para o trabalho da Educação Física
na Educação Infantil, já que, são elas que estão a maior parte do tempo com as crianças, são elas que
vão nos dizer como está a turma, se é um dia bom, se é um dia ruim, se a turma está agitada, se está
sem pátio há muito tempo, entre outros elementos. Todas essas situações são determinantes para o
planejamento e o bom andamento das aulas de Educação Física. A partir disso, pensamos ser necessário
D’AVILA E SILVA - Educação Física na Educação Infantil: o papel do professor de Educação Física 49
abordar a relação das unidocentes com o professor de Educação Física, visto que, além desse assunto ter
sido tratado nas entrevistas, diversos estudos, como de Sayão (1999), abordam essa questão do trabalho
conjunto entre unidocentes e especializados na Educação Infantil, que trataremos na próxima sessão.
Diversos estudos referentes à Educação Física na Educação Infantil vêm sendo realizados e discutidos
em virtude da importância dessa fase na vida humana. O número de Instituições de Educação Infantil vem
crescendo significativamente nos últimos anos e, do mesmo modo, faz parte desse olhar mais atento à
A partir dessas novas concepções das Instituições de Educação Infantil e da legislação que inclui a
Educação Física como Componente Curricular obrigatório desde a primeira etapa da Educação Básica,
uma nova questão vem sendo abordada em diversos estudos: é possível criar uma relação entre a
professora unidocente e o professor especialista? Essa relação é necessária para o trabalho na Educação
Através do trabalho de campo que realizamos para esta pesquisa, refletimos que essa relação entre
o professor especialista e a professora unidocente não só é possível, como é essencial para a construção
da relação e do trabalho pedagógico com a Educação Infantil. Portanto, é fundamental que haja uma
parceria entre os professores atuantes na Educação Infantil, juntamente, também, com as famílias e/ou
Já é sabido que a Educação Física não é a “dona” do trabalho corporal na escola, pois este pode ser
com a Instituição em que estiver inserido. Por isso, é importante que a professora unidocente possa
acompanhar as aulas de Educação Física, bem como o inverso, o que possibilita aos professores
conhecerem melhor as crianças em diversos contextos e construírem vínculos entre estes, qualificando,
Para a construção da pesquisa, nos apoiamos em alguns marcos legais que tratam da Educação
Infantil no contexto nacional. A Educação Infantil, etapa compreendida de 0 a 5 anos, de acordo com a
Baixado por Yue Schwatz ([email protected])
lOMoARcPSD|42664598
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o de-
senvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (Redação dada pela
Lei nº 12.796, de 2013, p. 25)
Na consulta que realizamos aos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL,
2006), tivemos orientação para a compreensão do que deve ser oferecido na Educação Infantil para
que se possibilite o desenvolvimento global da criança. De acordo com esses Parâmetros, a proposta
pedagógica para este nível de ensino se refere aos princípios éticos, políticos e estéticos.
Já os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997) indicam que, na Educação Infantil,
as crianças devem aprender com as experiências advindas de seu círculo familiar/social e, além disso,
experimentar novas práticas. Assim, os conhecimentos a serem trabalhados são aqueles de fácil
motoras fundamentais.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998) apresenta a importância
do trabalho com a cultura corporal do movimento, procurando orientar a prática pedagógica desse
componente.
Apesar de a Educação Física ter se tornado Componente Curricular obrigatório na Educação Básica
ainda não existe leis específicas que atentem a quem deve ministrar essas aulas na Educação Infantil,
deixando uma lacuna ainda a ser preenchida para que a Educação Física, de fato, tenha legitimidade no
contexto escolar.
Em setembro de 2015, iniciamos uma busca por escolas de Educação Infantil na Rede Municipal de
Ensino de Porto Alegre/RS que já possuíssem professor de Educação Física. Identificamos o número de
turmas das escolas, os dias das aulas de Educação Física e a disponibilidade da Escola em receber-nos
para a realização da pesquisa. A partir disso, realizamos novo contato com uma das escolas, o Jardim das
Bromélias , pois atendia as nossas reais necessidades para materialização da pesquisa. Essa escola conta
D’AVILA E SILVA - Educação Física na Educação Infantil: o papel do professor de Educação Física 51
com 9 turmas de Educação Infantil e todas as turmas têm aulas de Educação Física com um professor
que já atua nessa área há 5 anos, e com um trabalho pedagógico consolidado nesse contexto. No ano
de 2016, realizamos novo contato com a escola e com a Secretaria Municipal de Educação (SMED), em
que conversamos novamente com a Vice Diretora e a Coordenadora Pedagógica para darmos início ao
Educação Física na Educação Infantil e o problema de pesquisa ficou configurado na seguinte questão:
descrever e analisar o papel do professor de Educação Física na Educação Infantil, bem como, a visão das
Realizamos, aproximadamente, 200 horas de observação participante das aulas de Educação Física
Destacamos que a SMED de Porto Alegre tem o seguinte entendimento sobre Educação Infantil
Na cidade de Porto Alegre, a educação das crianças pequenas é prioridade. Desenvolve-se a po-
lítica de uma escola para as infâncias, que acolhe crianças e famílias. O espaço da escola infantil
é um lugar de encontro entre as crianças e das crianças com os adultos, de modo a promover
aprendizagens significativas, contribuindo para o desenvolvimento das crianças. O papel da es-
cola é complementar a ação da família e se desenvolve em um trabalho de parceria. (PREFEITU-
RA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE, 2016, s/a)
A escola tem em seus princípios a criança como sendo um sujeito histórico e de direitos, que constrói
sua identidade a partir das experiências vividas. Para a escola, de acordo com o Projeto Político Pedagógico,
a criança de 0 a 5 anos está em uma fase extremamente importante para o seu desenvolvimento,
Esta categoria emergiu das entrevistas com as professoras unidocentes e com a Coordenadora
Pedagógica, especialmente quando dialogamos sobre o ato de ministrar uma aula de Educação Física,
preparadas para esta tarefa, caso não tivesse um docente especialista em Educação Física na escola
A maioria das professoras relatou que teriam muita dificuldade em planejar uma aula com objetivos
voltados para a Educação Física, visto que em sua formação acadêmica tiveram pouca ou nenhuma
disciplina que abordasse questões de planejamento em Educação Física, fato que nos chamou atenção,
visto que, em diversos Municípios do Estado do Rio Grande do Sul, não existe docente especialista
neste componente curricular, e as professoras precisam ministrar as aulas de Educação Física (GUIRRA;
PRODÓCIMO, 2010).
Nas entrevistas realizadas ficou muito clara a insegurança de algumas professoras em relação a esse
função da formação acadêmica que não proporcionou a base necessária para o trabalho em Educação
Eu fui fazer Magistério porque eu não sabia fazer plano de aula e eu sentia falta, eu achava que
faltava aquilo dalí e inclusive quando eu fui fazer o estágio curricular a gente tinha sim que fazer
um planejamento semanal pra Educação Física, mas era uma brincadeira, não era uma coisa pen-
sada. Quando a gente fazia o planejamento da aula, eu me lembro direitinho, tinha um desenho
de um bonequinho, que era o cognitivo, o emocional que era o coração e o motor que aí era o
corpinho todo do boneco. (Entrevista nº 04, docente Gérbera, 20/07/2016)
Fica evidente na fala da professora a questão da formação acadêmica que não proporcionou, de
certo modo, certa base para ministrar as aulas de Educação Física. Na fala da professora, ainda podemos
perceber a dicotomia corpo e mente, que ainda separa o trabalho com o corpo, enquanto parte motora,
Infantil, que, segundo ele, existem algumas demandas que as professoras unidocentes podem não ter
D’AVILA E SILVA - Educação Física na Educação Infantil: o papel do professor de Educação Física 53
Então, isso é muito importante que tenha uma aula mais conduzida, ela vai ensinar um conteú-
do, pra nós, as nossas estratégias, elas vão um pouco no sentido contrário, é de possibilitar que
as crianças extravasem, é fazer com que borbulhe. Então, pra isso acontecer, nós temos que
dar certa liberdade na aula, possibilitar certa liberdade e compreender que isso é o que move,
justamente a nossa intencionalidade, pra depois a gente trabalhar com as crianças no momento
né, de sentir o corpo numa volta à calma. (Entrevista nº 9, docente Cravo, 06/09/2016)
Além disso, ficaram evidentes em nossas conversas que além da formação das unidocentes, outro
fator importante, que pode determinar a possibilidade de se realizar ou não uma aula de Educação Física,
é o currículo da escola e sua estrutura, pois não se faz um trabalho em determinada área se a comunidade
escolar não estiver engajada e ciente da responsabilidade e seriedade, neste caso, do trabalho corporal
para o desenvolvimento integral das crianças na Educação Infantil. De acordo com o estudo de Guirra
(2009), “O meio tem importante papel na construção dessa realidade e deve contribuir, sendo desafiador,
da Educação Infantil, bem como sua contribuição para a formação integral das crianças, além disso,
como mencionado em fala do professor Cravo, a Educação Física trabalha com a “agitação das crianças”,
trabalhar com outras demandas que exigem, na maioria das vezes, que as crianças permaneçam calmas,
em silêncio, sentadas em seus lugares. Contudo, é preciso que as duas áreas trabalhem juntas para
que uma complemente a outra. O que pode ser agitação demais para a sala de aula é um excelente
termômetro para a aula de Educação Física, assim que, cada área tem sua especificidade e não só pode,
As formas de organização, de planejamento, bem como a rotina de uma escola de Educação Infantil
são distintas de uma escola de Ensino Fundamental, especialmente para que não se vivencie na Educação
Infantil uma preparação para os anos seguintes. É preciso ter esse cuidado para não sobrecarregar o
unidocente, e isso foi evidenciado, do mesmo modo, nesta pesquisa, a partir da análise das entrevistas.
Em todas as entrevistas realizadas, as professoras unidocentes relataram ser fundamental a relação com
o professor especialista, pois sem ela não existe trabalho pedagógico na Educação Infantil.
A Educação Física na Educação Infantil vem complementar o fazer pedagógico para as crianças de
0 a 5 anos. Para que esse trabalho possa ser realizado com a qualidade que necessita, é de extrema
importância essa relação entre as professoras unidocentes e os especializados. Nesse sentido, Sayão
Neste caso, é preciso superar a concepção disciplinar de Educação Física fortemente enraizada
na formação docente e partir para a ideia de complementaridade de ações pedagógicas que
englobam diferentes profissionais, de diferentes áreas de formação que pensam, planejam e
desenvolvem planos de trabalho tendo as crianças como centro irradiador das interações e
não, o conhecimento determinado a priori pelos adultos [grifo da autora].
Na concepção do professor Cravo, essa relação com as professoras da turma é imprescindível, já que,
no caso da escola pesquisada, o professor de Educação Física ministra seus encontros para nove turmas,
do berçário aos jardins. Segundo o professor, se não fosse essa relação direta com as professoras, seria
A professora Papoula destaca, “Eu acho que existe essa relação né, sempre existe, então talvez se abrir
mais espaços de tempo assim para essas trocas né” (Entrevista nº 05, professora Papoula, 20/07/2016).
Já a professora Camélia apresenta, ainda, outro aspecto sobre essa relação entre os professores
Eu acredito que sim, eu gosto muito dessa parte, eu gosto de participar das aulas e até digo
mais, porque tem umas crianças que ainda são inibidas na participação e eu acredito que como
a gente é referência, quando a gente tá junto e participa como professor, eles participam mais
e melhor. (Entrevista nº 03, professora Camélia, 19/07/2016)
Essa relação, além de proporcionar uma troca de experiências, muitas vezes, ajuda a turma a sentir-
se mais segura com o professor que está vindo de fora, e com quem ainda não estão acostumadas a
se relacionar. Portanto, são diversos aspectos que tornam o trabalho pedagógico conjunto entre os
Além disso, o que mais nos chamou a atenção nas entrevistas, em relação ao trabalho conjunto
entre os professores, foi o fato de que a grande maioria das professoras gostaria de ter mais espaços
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para a troca de conhecimentos e de diálogo com o professor de Educação Física, procurando sempre
melhorar as aulas.
Considerações Transitórias
É imprescindível que se construa uma relação de trabalho pedagógico entre todos os professores da
Educação Infantil, e ousamos dizer que o professor que atua na Educação Infantil em uma determinada
Algumas de nossas dúvidas foram sanadas com essa pesquisa, por exemplo, a falta de uma formação
aprofundar a compreensão de que, falta um maior conhecimento sobre a cultura corporal de movimento
para que as professoras unidocentes possam realizar esse trabalho com as crianças. Além disso,
percebemos que certas escolas e Redes de Ensino possuem o professor especialista atuando juntamente
com a professora unidocente, o que significa um grande avanço para a Educação Infantil, visto que, em
muitos municípios essa realidade está longe de ser alcançada, e essa relação de parceria só tende a trazer
Pudemos observar professoras muito interessadas no trabalho com a cultura corporal de movimento
das crianças e engajadas na construção de uma relação pedagógica com o professor de Educação
Física. Entretanto, muitas vezes, o horário das aulas de Educação Física era o único momento em que as
unidocentes tinham para realizarem o planejamento e outras demandas de suas práticas pedagógicas.
Física, através dos autores em que nos apoiamos nesta pesquisa, pudemos perceber o valor dessa relação,
também, na análise das entrevistas. Pensamos que essa aprendizagem nos ajuda a compreender como
o papel do professor de Educação Física é importante na Educação Infantil, na medida em que ele está
corporal de movimento, juntamente com os saberes construídos pelas unidocentes em sala de aula.
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