Livro Orfeu
Livro Orfeu
Livro Orfeu
O NOVO LAR
DE ORFEU
Ilustrações CRIS EICH
QUEM SÃO?
As capivaras (Hydrochoerus
hydrochaeris) são os maiores
mamíferos roedores vivos
conhecidos. Elas habitam áreas
alagadas ou próximas à água, e
estão presentes em quase toda a
América do Sul. Alimentam-se
de plantas, especialmente gramas.
As capivaras são parentes das pacas
e cutias. São animais pacíficos e
que devido à perda de seu habitat
natural, vêm cada vez mais sendo
encontrados em ambientes urbanos.
Elas são bastante sociáveis,
podendo ser encontradas em
grandes bandos. Quando se
sentem ameaçadas, emitem sons
que se assemelham ao latido
de um cachorro.
O NOVO LAR
DE ORFEU
Ilustrações
CRIS EICH
PROJETO CAPIVARAS
DO PARANOÁ
Brasília, 2023
Agradecimentos:
As autoras agradecem as valiosas sugestões
feitas pela equipe do Projeto Capivaras para
o enriquecimento da estória e todas as experiências
O QUE É, O QUE É…
compartilhadas durante a sua execução, que
possibilitaram a realização desta obra.
…que parece um porco, mas tem dente de rato, que gosta de água, mas
não come peixe?... Esses foram os questionamentos feitos pelos coloniza-
Copyright dores europeus quando chegaram ao Brasil em 1500 e viram pela primeira vez
Texto © Melina Guimarães © Morgana Bruno
Ilustração © Cris Eich uma capivara. Que animal é esse? No início, a classificaram como parente do
Coordenação editorial porco. Mais tarde, acharam que estava relacionada a um camundongo! Hoje
Melina Guimarães, Morgana Bruno
sabemos que é, na realidade, um porquinho-da-Índia gigante, o maior dos
Projeto gráfico, edição de arte
e diagramação roedores, herbívoro comedor de capim, que habita as savanas alagadas, que
Amaiscom
Ilustrações
adora a água e que vive socialmente em haréns. Sendo um animal carismáti-
Cris Eich
co, desde então a capivara fascina a todos.
Revisão
Melina Guimarães, Morgana Bruno
Nos Estados Unidos, são criadas como animais de estimação; no Japão, tem
fã-clubes de capivaras... No Brasil, porém, com o desaparecimento de seus
G963n
Guimarães, Melina.
predadores naturais, suas populações têm aumentado e elas podem ser vistas
O novo lar de Orfeu / Melina Guimarães e Morgana Bruno ; ilustrações, Cris
Eich. – Brasília, DF : Universidade Católica de Brasília, 2023.
como um animal problema – praga agrícola, vetor de doenças. Em grandes
32 p. : il. ; 28 cm. cidades acabam entrando em conflito com os moradores por invadirem os
ISBN 978-65-87629-15-5 jardins de suas casas, acabarem com plantas ornamentais, revidarem ataques
1. Fauna. 2. Cerrado. 3. Animais silvestres. 4. Meio ambiente. I. Bruno,
Morgana. II. Eich, Cris. III. Projeto Capivaras do Paranoá. IV. Título. de cachorros, propagarem carrapatos, serem temidas pelo risco de dissemi-
CDU 087.5:504
nação de doenças.
Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Brasília (SIBI/UCB)
Bibliotecária Sara Mesquita Ribeiro CRB1/2814
Em Brasília, no Lago Paranoá, que abraça a capital do país, a população de
capivaras está sujeita a todos esses humores — dos que as adoram e dos que
2023
Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Católica de Brasília. as odeiam. Temos que aprender a conviver com a vida silvestre — há lugar
QS 07 – Lote 01 – EPCT – Taguatinga, Brasília/DF - CEP: 71966-700
Tel: (61) 3356-9020. para as capivaras no espaço urbano. Devemos nos orgulhar de poder partil-
[email protected]
har dessa proximidade. É um grande bônus.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma
sem a prévia autorização da Universidade Católica de Brasília. A violação dos direitos autorais
José Roberto Moreira, PhD
é crime estabelecido na Lei no 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
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O rfeu era curioso, não parava quieto.
Para ele, não bastava viver às margens do rio,
comer, dormir e nadar com seus irmãos.
Ele era um explorador. Queria conhecer novas
terras, sentir novos ares. À cada oportunidade
que tinha, distanciava-se do bando, e seguia à
busca de aventuras.
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C erto dia, sua busca por novas aventuras
o levou para longe. Ele caminhou pela mata
distraído por horas. Sem perceber, havia
perdido o caminho de volta.
Correu aflito ao longo do rio, na tentativa
de ouvir algum som vindo de seus irmãos.
Não ouviu qualquer assovio ou latido.
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A o contrário, ouviu um canto alto de aves
que passaram rasante por cima da floresta.
Elas se dirigiam para o norte.
Curioso e por um instante esquecido da sua
aflição de estar longe da família, seguiu
o som dos pássaros.
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O rfeu viu a mata se abrir em um campo extenso,
onde pousava uma imensa lagoa. Tão grande ela era
que ele mal podia enxergar a outra margem.
Ficou mesmerizado com o que viu.
As marrecas que passavam por lá faziam uma dança
sincronizada no ar, rasgando a lâmina d´água e
voltando para as margens. Lá, uma vastidão de plantas
de hastes longas com flores brancas emergia do fundo,
em água cristalina.
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O rfeu percebeu que
estava cansado de tanto
andar. Já era tarde, a noite
caíra. Deitou-se por um
instante e adormeceu.
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A cordou com estalos, vindos do lado
da mata. Uma fumaça branca subia pelo
ar. Pensou em seus pais, em seus irmãos.
Será que estariam em perigo?
Sem muito pensar, correu em direção
à fumaça. Queria encontrá-los!
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E mbrenhou-se na mata escura.
Ele corria, latindo e chamando pela
sua família. Foi quando ouviu latidos
de volta. E não eram ecos de seu
chamado. Eram eles! Todos estavam
fugindo da floresta. A sua casa
pegava fogo.
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O rfeu correu em direção aos seus irmãos,
em um misto de pavor e alegria.
Na tentativa de salvar a todos, conduziu-os
para fora da floresta, rumo à lagoa que havia
descoberto quando estava perdido.
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A o avistarem a belíssima lagoa, quase não
acreditaram. Pularam na água imediatamente
para se refrescar do calor da queimada.
Os mais velhos da família, que em outra situação
brigariam com o Orfeu por ter novamente
desaparecido, dessa vez, só conseguiram pensar
que sua perigosa aventura havia salvado a vida
de todos eles.
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N aquela noite, todos ficaram em
vigília, assistindo a mata pegar fogo.
Sorte foi que o fogo se apagou antes
de chegar aos campos, onde estava
a lagoa de Orfeu.
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O s dias se passaram, Orfeu e sua família, além de
sobreviverem, possuíam agora um novo lar, a grande
lagoa com flores brancas e águas cristalinas.
Dizem que até hoje moram lá...
Quanto a Orfeu, hoje é um adulto e tem sua própria
família cheia de lindos filhotes, e um, em especial,
também adora grandes aventuras.
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© Morgana Bruno
CONHEÇA UM POUCO MAIS
SOBRE AS CAPIVARAS
Esses animais tão queridos fazem parte do grupo dos
roedores, assim como as cutias, preás, pacas e porquinhos-
da-índia. São os maiores roedores do mundo, podendo pesar
mais de 70kg e medir mais de um metro de comprimento.
Jovem macho
© Nathalia Coelho
se alimentando.
As capivaras gostam de
morar em locais
Vivem em grupo
próximos à água de Os bandos de capivaras costumam ser formados por um macho e
lagos, rios e pântanos,
suas várias fêmeas, tipo um harém. Um bando pode chegar a ter mais
e possuem adaptações
no seu corpo que fazem de 40 indivíduos, só que neste caso, veremos mais de um macho para
com que elas consigam a judar a gerar filhotes e proteger o bando.
nadar muito bem, como As mamães cuidam juntas de todos os filhotes do bando, os quais
membranas entre os são amamentados até os 4 meses de idade. Cada mamãe pode ter de
dedos que funcionam
como os “pés-de-pato”
dois a oito filhotes por vez, e os filhotes nascem pesando em média 1,5kg.
usados pelos
mergulhadores.
À procura das capivaras
Se você gostou e quer ver uma capivara ao vivo, procure locais
Sua aparência
como lagos ou rios e sempre vá no finalzinho da tarde, pois as capiva-
Para você que já viu uma capivara, ou ainda vai ver, uma caracte- ras costumam ficar tomando sol quietinhas durante o dia, mas quando
rística bem marcante é a presença de uma mancha escura em cima do começa a anoitecer, elas se movimentam para procurar locais onde
focinho. Essa mancha é bem fácil de notar nos machos adultos, pois podem se alimentar. Só não esqueça de manter a distância mínima
trata-se de uma glândula que produz um cheiro que os ajuda a atrair de 10 m para não estressá-las. Afinal, mesmo sendo muito dóceis, são
as fêmeas e também a marcar as áreas que ele usa como território. animais selvagens e que, quando se sentem ameaçadas, podem se
Esse cheiro ajuda a avisar para os outros machos que aquele local já defender de forma agressiva.
tem dono.
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Os carrapatos-estrela (Amblyomma sculptum), que foram
encontrados na vegetação da orla do Lago Paranoá, per- COMO EVITAR A INFESTAÇÃO COM CARRAPATOS?
© Isadora Gomes
tencem ao grupo dos Ixodídeos. São animais invertebra- Os carrapatos e as capivaras já habitavam o cerrado há mais tempo
dos, parente das aranhas, capazes de produzir milhares de do que nós, humanos, passamos a ocupá-lo. Se quisermos visitar ou
ovos de cada vez! conviver com a natureza é preciso entender esses perigos, agindo de
forma consciente.
Carrapatos no Lago? Quando andamos pelo campo, sabendo que é possível encontrar
Na orla do Lago Paranoá encontramos carrapatos em to- carrapatos, é preciso estar protegido. Vista roupas claras, que possam
das as épocas do ano. Isso ocorre porque eles vivem em grupos, facilitar a visualização do animal, mangas e calças longas. Passe repe-
Fêmea de
assim como as próprias capivaras. carrapato-estrela lente nas áreas mais vulneráveis, como os tornozelos, cintura e pescoço.
Portanto, você pode fazer várias visitas à orla e nunca encontrar um Leve consigo uma fita adesiva larga, que é o instrumento mais efetivo
carrapato, ou, você pode ser encontrado por algum ou muitos, espe- para remover os carrapatos da roupa ou da pele. Não tente removê-
cialmente se houver capivaras por perto. As capivaras são animais, as- -los com calor de um fósforo. Também não esprema o animal entre
sim como nós, os saruês, as aves e os ratos, que podem servir como os dedos. O sangue do carrapato, se tiver infectado, pode transmitir
hospedeiros de carrapatos. E infelizmente, elas não conseguem se livrar doenças.
tão bem deles como nós. Uma só capivara pode abrigar várias centenas Na volta para casa, inspecione a sua mochila e suas roupas antes
desses animais! de entrar em casa. Trazer carrapatos para casa nunca é uma boa ideia,
especialmente se temos um melhor amigo pet à nossa espera.
O gavião-carrapateiro e as capivaras
Embora as capivaras não possuam mãos longas como as nossas e A febre maculosa e outras doenças transmitidas por carrapatos
o polegar oponível, elas contam com a ajuda de um colega inusitado Os carrapatos-estrela podem transportar microorganis-
A febre maculosa
para remover os incômodos carrapatos, são os gaviões carrapateiros. mos (vírus, bactérias e protozoários) que provocam doenças é provocada por bactérias
Eles têm este nome justamente porque sua principal fonte de nos seres humanos. Quando eles estão infectados logo mor- do gênero Rickettsia. As ver-
alimento são os carrapatos e o berne. rem, mas se eles antes disso picar um animal ou um ser hu- sões mais virulentas desse
Para os gaviões, um banquete, e para as capivaras, um alívio! mano, podem transmitir a doença através da saliva, a febre grupo podem levar um ser
maculosa é uma delas. humano a óbito em poucos
© Morgana Bruno
Se você for ao campo e for picado por carrapatos e logo dias. Porém, se for diagnos-
ticada a tempo, pode ser
em seguida tiver febre, tontura, vermelhidão pelo corpo ou
combatida com medicamen-
náuseas, procure o serviço hospitalar e informe que foi picado tos de baixo custo e levar à
ou que esteve em área de ocorrência de carrapatos. O profis- pronta recuperação.
sional de saúde poderá dar um melhor encaminhamento com
base nessas informações.
Gavião-carrapateiro
(Milvago chimachima)
Essas aves, parentes dos
falcões, são importantes
parceiros das capivaras.
Eles têm a coloração
creme e marrom e
possuem de 36 a 45 cm
de comprimento.
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AS ESCRITORAS
Melina Guimarães é bióloga, mestre
em Ciências e doutora em Botânica.
É professora, pesquisadora na área de
ecossistemas aquáticos e educadora
ambiental há mais de 20 anos.
É mãe de dois jovens, Thomas e
Laura, que por muitos anos demandaram
a elaboração diária de novas estorinhas
para dormir.
Morgana Bruno é bióloga, doutora em
Ecologia e pesquisadora em ecologia
da Caatinga e Cerrado. É professora e
educadora ambiental, mãe dos filhos
de quatro patas Romeo, da Vitória e do
Orfeu Luís (in memorian), inspiração para
a nossa estória.
A ILUSTRADORA
Cris Eich é aquarelista e ilustradora
atuante no mercado editorial há 30
anos. Passa seus dias desenhando
livros, criando histórias e viajando em
aquarelas. Mora entre duas cidades,
uma metrópole e outro pequeninin-
ha,cheia de bichos por perto. É mãe
da Caié e da Juju, parceiras de leitura
compartilhada quando crianças e agora
parceiras de caminhadas e viagens.
O delicioso livro O Novo Lar de
Orfeu busca nos aproximar da vida
silvestre. Conta a história de uma
capivarinha e de suas aventuras
exploratórias pelo mundo. Nos leva
pelo universo das capivaras e pelos
perigos que podem viver. E como,
inesperadamente, essa capivarinha
acaba por salvar sua família. Venha
curtir as proezas de Orfeu!
QUEM SÃO?
As capivaras (Hydrochoerus
hydrochaeris) são os maiores
mamíferos roedores vivos
conhecidos. Elas habitam áreas
alagadas ou próximas à água, e
estão presentes em quase toda a
América do Sul. Alimentam-se
de plantas, especialmente gramas.
As capivaras são parentes das pacas
e cutias. São animais pacíficos e
que devido à perda de seu habitat
natural, vêm cada vez mais sendo
encontrados em ambientes urbanos.
Elas são bastante sociáveis,
podendo ser encontradas em
grandes bandos. Quando se
sentem ameaçadas, emitem sons
que se assemelham ao latido
de um cachorro.