Historia de Moçambique II
Historia de Moçambique II
Historia de Moçambique II
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Origem:
Após o declínio do sistema de prazos e a deterioração do sistema político dominante na
Zambézia, criou-se um vácuo de poder que foi preenchido por um certo número de
Estados (Estados Militares, Estados de Conquista ou Estados Muzungos).
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Massangano, fundado por Joaquim da Cruz “Nhaude” em 1849 Portugal faz
várias tentativas para o conquistar sobretudo no tempo de António Vicente da
Cruz “Bonga”;
Gorongosa , fundado por Manuel António de Sousa “Gouveia”;
Kanyemba;
Mataquenha;
Maganja da Costa, fundado por João Bonifácio Alves da Silva (1862-1898)
Makololo
Outros.
“ Este grupo étnico e linguístico tem sido designado pelos termos mais dispares: Mujau,
Mujano, Hiao, Mudsau, Mujoa, Wahyao, Ayaw, etc. Com o decorrer do tempo foi-se
popularizando o nome Ajaua, embora a palavra correcta seja Iao”.
O nome Yao, segundo a tradição local, provem de uma montanha, atapetada com capim
mas desprovida de árvores, que se situava entre Mwebe e o Rio Lucheringo. A palavra
Yao significa um monte sem árvores e sem qualquer tipo de vegetação.
Localização:
O centro do país Yao encontra-se a noroeste de Moçambique, limitado a ocidente pelo
rio Lucheringo, a sul pelo Luambala, a oriente pelo rio Lugenda e a norte pelo rio
Rovuma.
Base Económica:
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Até meados do século XVIII, altura em que o comércio do marfim começou a ganhar
um peso considerável na economia, os ajaua praticavam a agricultura (actividade por
excelência das mulheres); a pesca e a caça (actividade masculina) e a metalurgia do
ferro (particular destaque para a clã A-Chisi, que se especializou no fabrico de
instrumentos de trabalho, utensílios domésticos, armamento e objectos de adorno, etc.
A partir do século XIX a base da economia ajaua passa a ser o comércio de escravos. O
tráfico de escravos, para além de ter garantido a continuidade de acesso aos produtos
importados, introduziu muitos elementos novos no sistema da organização política e
social.
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O estatuto dos chefes, definia-se pelo número dos seus seguidores. A acumulação de
riquezas (através do comércio), não tornava um chefe poderoso porque apenas a
riqueza não lhe dava esse, mas sim o número de seguidores que podia ter.
Ideologia:
No plano ideológico, a realização de cerimónias mágico-religiosas e a distribuição de
amuletos por ocasião da realização de actividades consideradas perigosas (por exemplo,
a caça ao escravo) eram mecanismos que produziam atitudes e comportamentos
favoráveis à manutenção e reprodução das classes dirigentes.
Outrossim, o contacto com a costa trouxe aos ajaua novas mudanças. A maior foi a
conversão ao islamismo de grandes chefes (por exemplo Mataca e Maakanjila) e,
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embora nem todos os ajaua fossem islâmicos foram identificados como povo onde o
islamismo era sinónimo de ser yao.
Esta islamização dos chefes, fortaleceu ainda mais o poder teocrático destes, que
passaram a ser designados e considerados como xeiques, posição elevada na
hierarquia religiosa islâmica.
Decadência:
Para a decadência deste Estado contribuíram entre outros, os seguintes factores:
As lutas pelo controlo das rotas dos escravos entre os macuas e os ajaua;
As invasões nguni;
As campanhas de pacificação levadas a cabo por portugueses (a Companhia de
Niassa desempenhou importante papel); britânicos e alemães.
i) Sultanato de Angoxe
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Segundo se conta, a origem deste Sultanato está ligado à fixação em Angoxe de
refugiados de Quilóa já estabelecidos em Quelimane e na ilha de Moçambique.
O 1º Sultão de Angoxe teria sido Xosa, filho de um tal Hassani que vivera em
Quelimane por ter constatado que Angoxe reunia melhores condições para o comércio.
Com efeito, Angoxe ganhou importância crescente quando a capital do Estado dos
Monomutapa mudou para próximo do Zambeze e com abertura de rotas comerciais
seguindo os rios Mazoe e Lhuenha.
Durante longos anos Sofala havia sido o entreposto que controlava todo o comércio
com o Hinterland. Porém, com a fiação portuguesa neste ponto, em 1505, esta perderia
a sua importância a favor de Angoxe. Os árabes-swahili, comerciantes de longa data
nestas paragens, desviariam a rota do ouro para o seu términos em Angoxe, donde
continuavam a comercializar. Por este facto, Angoxe seria atacada por portugueses
em1511 mas sem grandes resultados. Só com a fixação gradual dos portugueses no vale
do rio Zambeze desde 1530 aliado a rivalidades internas, é que Angoxe seria eliminada
como escoador de ouro.
Os filhos de Xosa e sua esposa macua Mwana Moapeta, deram origem a quatro
linhagens angoxeanas: Inhanadadre, Inhamilala, Mbillizini e Inhaitide – Recebiam
colectivamente a designação de Inhapaco, clã matrilinear de Mwena Moapeta.
A situação mudou quando morreu o quarto sultão sem deixar filhos varões. Sucedeu-lhe
uma irmã casada com Milidi da linhagem de Inhamilala. Esta morreu sem deixar
descendência, o que provocou uma luta pelo poder entre os Inhamilala e os
Inhanandare, são expulsos de Angoxe.
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Estes acontecimentos ocorridos na segunda metade do séc. XVI, produziram o
enfraquecimento político de Angoxe, o declínio do comércio e facilitaram a dominação
portuguesa.
A sua localização entre o Lumbo e o Mongicual com numerosos braços de mar de fácil
acesso, permitia-lhe grande intercâmbio comercial com o exterior.
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A partir deste incidente, os sucessores do Xeique assassinado, afastaram-se cada vez
mais dos portugueses mantendo activas as operações comerciais e a exportação de
escravos. Todas as tentativas portuguesas para impedir o tráfico e para submeter a
aristocrácia de Sancul mostraram-se infrutíferas até finais do séc. XIX. Destaque
para a resistência levada a cabo por (Marave, o capitão-mor Suali Bin Ibrahimo.
Tal como Sancul, este sheicado foi formado no séc. XVI por emigrantes da Ilha de
Moçambique.
Uma aliança com os portugueses que perdurou até ao ultimo quarto do séc. XVIII
permitiu o florescimento do comércio de escravos em Quitangonha.
A sucessão dos Xeiques de Sangage era definida por via matrilinear o que garantiu o
estabelecimento de fortes laços económicos e de parentesco entre um número reduzido
de famílias do Sheicado.
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Graças ao apoio português contra os seus vizinhos de Sancul e Angoxe Sangage
possuía uma certa independência e propriedade no comércio de escravos.
Mas, na primeira década do séc. XX, as terras do xeicado foram ocupados por
portugueses e transformadas num regulado, com um chefe colaborador à testa.
O ESTADO DE GAZA
I. Ano: c. 1770
Reinos existentes: 20
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Acontecimentos importantes: lutas pelo controlo da baía de Maputo, agravada
pela crise ecológica da qual derivava a disputa pelas
melhores terras e pastagens.
O Estado de Gaza
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o 1862 – 1884 – Muzila é chefe do Estado de Gaza; (durante o seu governo,
importantes transformações económicas ocorreram: os elefantes começaram a
rarear, a principal força de trabalho começa a procurar emprego na África do
Sul e o Estado de Gaza integra-se na economia monetária);
o 1884 – 1895 – Ngugunhane filho de muzila herda o trono do pai, tornando-se o
ultimo chefe do Estado de Gaza;
o 1889 – A capital do Estado de Gaza é novamente transferida para Manjacaze;
esta mudança deveu-se ao facto de:
i.) O vale do limpopo e as zonas vizinhas possuírem todos recursos que
começavam a escassear em Mossurize;
ii.) Evitar pressões de Manica onde britânicos e portugueses desejavam
começar com a mineração do ouro
O Estado de Gaza resultou da conquista dio Sul de Moçambique por exércitos Nguni,
chefiados por Sochangane. Na sua extenção máxima o território deste Estado
abrangia regiões situadas entre a Baía de Maputo e o Rio Zambeze.
A organização Política-Administartiva
A conquista e administração de um território tão vasto como este foram possibilitadas
por uma política de assimilação praticada pelos Nguni através da qual alguns elementos
das populações conquistadas eram integradas em regimentos nguni e mais tarde
serviam como funcionários no exército e na administração territorial. Populações do
vale do Limpopo e os Cossa de Magude, foram integrados em bloco como assimilados,
daí serem conhecidos até hoje como Changana/súbitos de Sochangane.
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Funcionamento :
A capital, onde residia o monarca “Inkosi”, acumulava funções políticas, militares,
judiciais, económicas e religiosas.
Organização Sócio-Económica
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Várias chamadas são identificaveis neste Estado: no topo da hierarquia social, estava a
Alta Aristocracia (Rei e seus familiares); logo a seguir a Média Aristocracia (outros
nguni que não fossem da linhagem real). Estes constituíam a classe dominante aliada
aos “assimilados” (elementos da população dominada já integrados na estrutura social
nguni). Por baixo, estavam as populações dominadas que independentemente do seu
grupo etno-linguistico eram designados por Tonga.
Existiam também cativos que trabalhavam nas comunidades domésticas nguni.
Mulheres cativas podiam ser tomadas por esposas de homens nguni sem necessidade de
lobolo. Em todos os casos, estes cativos gradualmente eram emancipados. Mas, como
existiam guerras constantes sempre existiam cativos
Ideologia
Os cultos e outros rituais eram oficiados pelo rei, pois entre Nguni o exercício do poder
real não estava dissociado do exercício das cerimónias mágico-religiosa. Existiam
cultos agrários (Nkwaya); os destinados a “dar força” aos homens que partiam para a
guerra (Mbengululu) e os de inovação da chuva, entre outros.
Decadência
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A necessidade de “ocupação efectiva do território”, determinada pela conferência de
Berlim, como o único facto que, a partir daí, legitimaria a posse dos territórios em
África levou Portugal a iniciar com as “campanhas de pacificação” no Sul de
Moçambique a partir de 1895, tendo como alvo principal o Estado de Gaza.
b) Políticas
Os Estados europeus, em luta pela supremacia, preocupam-se em ocupar posições
estratégicas; por outro lado, os governos procuram afirmar o prestígio e poder
nacionais e satisfazer a opinião pública;
c) Ideológicos
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A ideia de missão civilizadora, de evangelização, de glória do passado, orienta
certos países; daí certos projectos como os do Magrebe (território do Norte de
África, que actualmente abrange Marrocos, a Argélia e a Tunisia) francês, da
ligação do Cabo ao Cairo (Inglaterra), da ocupação da Costa à Contra-Costa
(Portugal). Em apoio a estes projecto, as associações coloniais (1876 – Associação
Internacional do Congo) e os grupos missionários estimulam a opinião pública.
A expansão e anexação de África do Sul foi regra geral precedida por “viagens de
reconhecimento” levadas a cabo por missionários, aventureiros, etc.., com
frequência patrocinada por organizações cientificas.
A disputa do Congo entre a Bélgica ea França conduz à partilha de África. Com efeito,
Leopoldo II da Bélgica, interessado em criar uma colónia em África, envia Stanley a
explorar o curso superior do Congo (1874 – 1878). Ora, paralelamente desenvolvia-se a
empresa de Brazza nessa mesma região (1875 – 1878). Daí um conflito de interesses
entre os dois países. Por outro lado, a Alemanha de Bismarck pretende criar um império
colonial. Para isso aproveita a questão do Congo e promove uma Conferência
Internacional em Berlim (1884 – 1885). Os objectivos desta conferência eram:
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b) Adaptação e aplicação aos rios Niger e Congo dos princípios da
Conferência de Viena, no respeitante a liberdade da navegação em
vários rios intercontinentais;
c) Estruturação de normas a serem observadas para que as ocupações nas
costas de África fossem consideradas efectivas
Nos finais do séc. XIX, a economia portuguesa estava numa fase de transição do
feudalismo para o capitalismo. A industria, os transportes, o sistema bancário, etc.,
estavam numa fase embrionária e dependiam fortemente de países mais
desenvolvidos como a Inglaterra, França e Alemanha.
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único facto que, a partir daí, legitimaria a posse dos territórios em África. Daí a
corrida a África, e, no que diz respeito a Moçambique, os conflitos entre Portugal e
Grã-Bretanha.
Foi entre conflitos, arbitrariedades e tratados que se definiu o traçado das actuais
fronteiras de Moçambique.
Já no séc. XVIII, portugueses, holandeses e austríacos lutavam pela posse da Baía
de Lourenço Marques.
a) Fronteira Sul-Ocidental
b) Fronteira Norte
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Em Dezembro de 1886, Portugal e Alemanha assinam um tratado em esta
reconhece o Rio Rovuma como sendo a fronteira norte de Moçambique. Portugal
em troca faz algumas concessões no Sul de Angola (actual Namíbia).
A definição desta fronteira deu mais tarde origem a conflitos militares com a
Alemanha. Esta, que tinha ocupado o Tanganhica (Tanzânia) e hasteado a sua
bandeira em ambas margens do Rovuma, penetrou em 1894, na margem sul,
expulsando a reduzida guarnição portuguesa ali estacionada, substituindo-a por uma
alemã. Apesar do protesto português, os alemães alargaram a sua ocupação até
Quionga, área que só voltaria a Portugal nos finais da I Guerra Mundial de 1914 –
18. Alemanha, não pretendia ocupar integralmente a colónia portuguesa.
c) Restantes Fronteiras
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A 20 de Agosto de 1890 foi assinado um acordo. Nele as cedências portuguesas
eram grandes, porque para além da delimitação das fronteiras, Portugal fazia
concessões a nível de completa liberdade de comércio, livre navegação nos lagos,
rios e portos, isenção de impostos alfandegários nas zonas de livre comércio,
isenção de taxas de trânsito, etc. Era a humilhação para Portugal! Em 14 de
Novembro de 1890, é assinado um “modus vivendi”.
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Perante a ocupação do seu território, um processo que durou mais de duas décadas
(1886-1920), os moçambicanos resistiram para defender a sua soberania, independência
e valores culturais. Nessas resistências, utilizaram como forma de luta: o confronto
directo e a aliança ou a diplomacia.
Era claro, para os portugueses, que a destruição do império de Gaza constituiria uma
base forte para a sua afirmação como potência colonizadora, bem como para o início
das guerras de conquista a norte do território.
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Como pretexto, os portugueses utilizaram uma pequena agitação ocorrida nas terras da
Coroa de Angoana (Marracuene), em torno de disputa de terras.
Depois de ter sido preso, Ngungunhane é levado para Portugal, juntamente com seu
filho Godide e um tio seu, Nuamantibjana Morreu exilado em Açores.
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Outra figura importante na região foi o rei Nguanaze, de Maputo que aos portugueses,
refugiou-se a sul da Ponta de Ouro, onde estabeleceu o seu reino
A conquista militar desta região foi promovida conjuntamente pelo Estado colonial e
pelas Companhias de Moçambique e da Zambézia. Recordemos, entre outras, as
campanhas levadas a cabo contra Massingir e Gorongosa (1897); Maganja da costa
(1898) e Macanga(1902).
As formações políticas que mais problemas causaram aos portugueses foram Bárue e
Maganja da costa.
Com efeito, Bárue (1902) era um reino poderoso e de grande capacidade militar que
tinha conseguido resistir às invasões Ngunis e às constantes disputas com os estados
militares vizinhos.
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Em troca do ouro e marfim, Bárue tinha adquirido dos mercadores portugueses e
indianos, armamento suficiente para resistir, tendo inclusive, fabriquetas de pólvora
(tinha cerca de sete mil armas modernas).
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A vitória portuguesa, em ambas ocasiões, ficou a dever-se, grosso modo, aos seguintes
factores:
Em jeito de conclusão:
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Apesar das resistências á ocupação e conquista militar, aquelas fracassaram, devidos ás
seguintes razões:
- a competição e conflitos de interesses entre os diferentes grupos moçambicanos;
- os conflitos internos, clivagens entre a classe governante e a oposição popular;
- as vantagens tecnológicas por parte de Portugal;
-a capacidade dos portugueses em recrutar grande números de “colaboradores”.
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