Julio Plaza - Tradução Intersemiótica - Relevante
Julio Plaza - Tradução Intersemiótica - Relevante
Julio Plaza - Tradução Intersemiótica - Relevante
PE dao da
: TRADUÇÃO
SEMIÓTICA INTERSEMIÓTICA
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Tradução Intersemiótica
Coleção Estudos
Dirigida por J. Guinsburg
Equipe de realização — Revisão de provas: Stella Regina A. À. dos Anjos e Plinio Martins Filho;
Programação visual: Julio Plaza; Produção: Ricardo W. Neves, Heda Maria Lopes e Raquel
Femandes Abranches,
Julio Plaza
TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Es
= & PERSPECTIVA
F
Is
1º edição — 2 reimpressão
Direitos reservados à
EDITORA PERSFECTIVA S.A.
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3025
01401-000 — São Paulo — SP — Brasil
Telefax: (0--11) 3885-8388
www.editoraperspectiva.com.br
2003
Sumário
AO LEITOR... Fagesteceereteeterte
teta cs TraçenTo KI
INVENÇÃO...ccionscoiicnsnonmssecna
sen cenas 39
A Tradução Criativa e os Níveis de INVENÇÃO scores 41
Háptico-SensilivO «occitano se
Classes de Legissignos.
Importância do Legissigno para a Tradução
84
Tradução Indicial....
Tradução Simbólica.
Comparação dos Tipos
SUMÁRIO VII
5. TRADUÇÃO SIMBÓLICA... 99
UBI LUX
IBI PATRIA
Ao Leitor
Julio Plaza
introdução:
A Tradução Como
Poética Sincrônica
OCTAVIO PAZ
E mais:
na realidade, a poética sincrônica procura agir crítica e retificadoramente sobre
as coisas julgadas pela poética diacrônica. Sincronia e diacronia estão pois, como
é óbvio, em relação dialética”.
Dentro desse mesmo espírito de ruptura em relação a uma his-
toriografia sintagmática e cumulativa, num trabalho mais recente”,
Haroldo de Campos encontra na acepção monadológica da histó-
ria, ta: como concebida por W. Benjamim, a veia para se pensar
estética e criativamente a história literária como “produto de uma
construção” ou “apropriação re-configuradora””.
A vartir disso, é também na concepção beniaminiana da histó-
ria entrevista pela fresta de um olhar radicalizado na sincronia que
pudemos encontrar uma espécie de síntese privilegiada para se pen-
sar o modo particularíssimo através do qual a história se instaura
no processo tradutor. É certo que a radicalização do projeto de Ben-
jamin se insere no corpo de uma estratégia política que toma a pró-
pria visão da história como fu!cro desse projeto. Nessa medida, não
pretendemos ler as Teses de Filosofia da História à revelia desse pro-
jeto e à margem do complexo contexto do pensamento benjamiínia-
no. Contudo, o flagrante de um flash apenas, a ser extraído desse
11. A referência dessa paráfrase se encontra na seguinte citação: ““Os homens fazem a pró-
pria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha
e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”,
KARL MARX, “O 18 Brumário de Luís Bonaparte", in Os Pensadores, São Paulo, 1978, p. 329.
6 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
12. JORGE LUIS BORGES, *"Pierre Menard, autor del Quijote"", in Obras Completas, Bue-
nos Aires, Emecé, 1974, p. 444.
13, OCTAVIO PAZ, Los Hijos del Limo, Barcelona, Seix Barral, 1974, p, 8,
14. BORIS SCHNAIDERMAN, “Uma Visão Dialética e Radical da Literatura", in Lin-
gúlstica. Poética. Cinema, São Paulo, Perspectiva, 1970, p. 175.
15. JORGE LUIS BORGES, *“Kaíka y sus Precursores"", Op. cit., p. 712.
INTRODUÇÃO: A TRADUÇÃO COMO POÉTICA SINCRÔNICA 7
TRADUÇÃO E TEMPORALIDADE
PRODUÇÃO E HISTORICIDADE
Falar na historicidade dos meios de produção artística signifi-
ca novamente não podermos escapar a W. Benjamin,
visto que a partir desse pensador, passamos a enxergar quê a historicidade da
realidade objetiva impõe, ão mesmo tempo, uma historicidade dos meios de produção
artística, sem a qual não se torna possível inteligir o próprio movimento de transfor-
mação da arte. (...) Com isso, Benjamin dá um passo adiante nas considerações acerca
das relações entre infra-estrutura econômica e produção artística, dado o fato de que
as transformações dos meios artísticos estão inextricavelmente ligadas ao desenvol-
vimento das forças produtivas. Por outro lado, os modos de produção artística de que
uma sociedade dispõe são determinantes das relações entre produtores e consumido-
res, assim como interferem substancialmente na natureza da própria obra de arte 23,
As transformações, que se processam nos suportes físicos da
arte e nos meios de produção artística, constituem as bases mate-
riais da historicidade das formas artísticas e, sobretudo, dos pro-
cessos sociais de recepção. Para Medvedev, “o significado da arte
é completamente inseparável de todos os detalhes de seu corpo ma-
terial”*A, o que é confirmado por Volosinov: “todo fenômeno que
funciona como signo ideológico tem uma encarnação material, seja
em som, massa física, como cor...“
Esses aspectos são importantes face ao problema que nos ocu-
pa: o da Tradução Intersemiótica. Aqui, o tradutor se situa diante
de uma história de preferências e diferenças de variados tipos de elei-
ção entre deterininadas alternativas de suportes, de códigos, de for-
Inas é convenções. O processo tradutor intersemiótico sofre a influên-
cia não somente dos procedimentos de linguagem, mas também dos
suportes e meios empregados, pois que neies estão embutidos tanto
a história quanto seus procedimentos. Conforme W, Benjamin,
Os meios de produção e as relações de produção artísticas são interiores à pró-
pria arte, configurando suas formas a partir de dentro, Nessa medida, os meios téc-
nicos de produção da arte não são meros aparatos estranhos à criação, mas determi-
nantes dos procedimentos de que se vale o processo criador e das formas artísticas
que eles possibilitam?6,
Consideramos, a esse respeito, que as formas da linguagem
atual, junto com as formas técnicas produtivas, contaminam e se-
mantizam a leitura da história assim como determinam a recepção,
ao mesmo tempo em que elas definem sua própria historicidade. Pas-
sado-presente-futuro estão atrravessados pelas antigas e novas for-
23. LÚCIA SANTAELLA, Arte & Cultura, São Paulo, Cortez, 1982, p. 103.
24. Apud MARIA LUCIA SANTAELLA BRAGA, Produção de Linguagem e Ideologia,
São Paulo, 1980, p. 28.
25. Idem, p. 29.
26. LÚCIA SANTAELLA, Op. cit., p. 104,
INTRODUÇÃO: A TRADUÇÃO COMO POÉTICA SINCRÔNICA nu
INTERSEMIÓTICA
27. Cf. PAUL VALÉRY, “Pieces sur Part", in OuvresII, Paris, Gallimard, 1960, p. 1284.
28. JOHN MILNER, “On the Fusion of Verbal and Visual Media", in Leonardo, vol. 9,
nº 1, winter 1976, Pergamon Press.
29, Cf. ANA HATHERLY, O Espaço Crítico, Lisboa, Editorial Caminho, 1979, p. 77.
12 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
A Semiose da Tradução
Intersemiótica
1. À Tradução Intersemiótica como
Pensamento em Signos
CONTINUIDADE
Para Charles S., Peirce, o signo não é uma entidade monolíiti-
ca, mas um complexo de relações triádicas, relações estas que, ten-
do um poder de autogeração, caracterizam o processo signico como
continuidade e devir. A definição de signo peirciana é, nessa medi-
da, vm ireio 'ógico de explicação do processo de semiose (ação do
signo) como transformação de signos em signos. À semiose é uma
relação de momentos num processo segtiencial-sucessivo ininterrupto.
A infinitude da cadeia semiótica é formulada nor Peirce do se-
guinte modo:
A idéia mais simples de terceiridade dotada de interesse filosófico é a idéia de
um signo ou representação. Um signo “representa” algo para a idéia que provoca
ou modifica. Ou assim é um veículo que comunica à mente algo do exterior. O *re-
presentado” é seu objeto; o comunicado, a significação; a idéia que provoca, o seu
interpretante, O objeto da representação é uma representação que a primeira repre-
sentação interpreta. Pode conceber-se que uma série sem fim de representações, ca-
da uma delas representando a anterior, encontre um objeto absoluto como limite.
À significação de uma representação é outra representação. Consiste, de fato, na re-
presentação despida de roupagens irrelevantes; mas nunça se conseguirá despi-la por
completo; muda-se apenas de roupa mais diáfana. Lidamos apenas, então, com uma
regressão infinita. Finalmente, o interpretante é outra representação a cujas mãos
passa o facho da verdade; e como representação também possui interpretante. AÍ
está nova série infinita!!
1, C. S., PEIRCE, “Escritos Coligidos”", in Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1974,
$ 339, p. 99. Os conceitos semióticos são bastante complexos. Não introduziremos neste traba-
lho uma apresentação à parte desses conceitos, visto que leitores não familiarizados com a teoria
de Peirce podem encontrar apresentações desse tipo em alguns trabalhos publicados no Brasil,
Entre eles, indicamos, para uma síntese dos principais tipos de signos formulados por Peirce,
à nota redigida por Haroldo de Campos, às páginas 56, 57 e 58 da Peguena Estética, de Max
Bense, ed. Perspectiva, São Paulo, 1971,
18 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
2. Idem, p. 74.
3. C.S. PEIRCE, Semidrica, São Paulo, Perspectiva, 1977, p. 272.
4. C.S. PEIRCE, Collected Papers, $ 7.103.
À TI COMO PENSAMENTO EM SIGNOS 19
5. C.S. PEIRCE, “Escritos Coligidos”", Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, p. 74.
6. Cf. GEORGE STEINER, After Babel (Aspects of Language and Translation), New York,
Oxford, 1977, pp. 82-83.
7. JOSEPH RANSDELL, ““Semiotic and Linguistics”, in The Signifying Animal: The Gram-
mar of Language and Experience, ed. by. J.T. Rauch and G, Carr (Indiana University Press,
1983), p. 154.
8. KLAUS OEHLER, “Peirce's Foundation of a Semiotiç Theory of Cognition" in: Peirce
Studies, Lubbock, Institute for Studies in Pragmaticísm, Texas, nº 1, p. 73.
20 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
está apto a gerar. Ora, na medida em que o signo estético não está
apto a representar, quer dizer, a substituir outro objeto, constituin-
do-se ele mesmo como objeto real no mundo, ele se caracteriza por
sua talidade como fenômeno, O signo estético não quer comunicar
algo que está fora dele, nem ““distrair-se de si”* pela remessa a um
outro signo, mas colocar-se ele próprio como objeto. Daí que ele
esteja apto a produzir como interpretante simplesmente qualidades
de sentimento inanalisáveis, inexplicáveis e.inintelectuais. O seu ca-
ráter de “imediato insusceptível de mediação” gera um tom abso-
iuto e totalizador que produz o efeito de isomorfia entre o funda-
mento, objeto imediato e interpretante imediato.
Nessa medida, o signo estético aparece como uma ““razoabili-
dade concreta” que, despertando qualidades de sentimento inanali-
Sáveis, ao mesmo tempo, aspira a ser interligido.
28. Cf. MAX BENSE, apud HAROLDO DE CAMPOS, *“Da Tradução como Criação e
como Critica", in Metolinguagem, Rio de Janeiro, 1970, pp. 22-23.
259, HAROLDO DE CAMPOS, op. cif., p. 24.
30. WALTER BENJAMIN, “A Tarefa do Tradutor", Revista Humboldt n?d, Munique,
Eruckmann, 1979, pp. 38-44.
31. HAROLDO DE CAMPOS, op. cil., p. 24.
32. HAROLDO DE CAMPOS, "A Poética da Tradução”, A Arte no Horizonte do Próvá-
vel, p. 98-111.
À TI COMO PENSAMENTO EM SIGNOS 29
37. DÉCIO PIGNATARI, “Nova Linguagem, Nova Poesia"", in Tepria da Poesia Concre-
ta, São Paulo, 1975, p. 161.
38. Idem, p. 162
39, Idem, pp. 38-44.
40, JORGE LUIS BORGES, “Las Versiones Homéricas”", in Obras Completas, Buenos Ai-
tes, 1974, p. 239,
À TI COMO PENSAMENTO EM SIGNOS 31
LEITURA
Há três tipos de leitores: aquele quese deleita sem jul=
Ear, um ferceiro que julga sem deleitar-se, e o outro, o
intermediário, que juíga se deteitando ou se deleita jul
gando,. Este realmente recria uma obra de arte, Os mem-
bros desta casta não são numerosos.
GOETHE
mas não é tudo que se traduz. Traduz-se aquilo que nos interessa
dentro de um projeto criativo (tradução como arte), aquilo que em
nós suscita empatia e simpatia como primeira qualidade de senti-
mento, presente à consciência de modo instantâneo e inexaminável,
no sentido em que uma coisa está a outra conforme os princípios
da analogia e da ressonância. Pela empatia, possuímos a totalidade
sem partes do signo por instantes imperceptíveis. Não se traduz qual-
quer coisa, mas aquilo que conosco sintoniza como eleição da sen-
sibilidade, como ““afinidade eletiva”.
À simpatia contém analogia, pois muito antes de ser uma cate-
goria psicológica a empatia é “o murmúrio insistente da semelhan-
ça”, uma semelhança encantada e imantada. À andança do tra-
dutor se dá na procura das similitudes e de falas semelhantes ador-
mecidas no original. Ou como diz Octavio Paz: ““O diálogo não é
mais do que uma das formas, talvez a mais elevada, da simpatia cós-
mica”.
Mas o projeto tradutor se inscreve dentro da idéia configura-
dora do paideuma, como solidariedade entre criador e re-criador e,
sobretudo, como instância poético-política face a um projeto estético-
criativo. Estas, parece-nos, são as condições prévias e inerentes ao
projeto do tradutor. Obviamente há outros interesses, mas, para nós,
estes são os mais proeminentes.
O processo de leitura, como cognição de um signo, desenvol-
ve-se de forma dialógica mediada pela ação do signo, entre uma men-
te que conhece e o objeto conhecível. À consciência de linguagem
será então a consciência da existência de uma relação dialógica en-
tre o signo e leitor e não o predomínio de um eu cartesiano, pois
que “não é nosso ego que dá sentido à linguagem, mas a linguagem
que dá sentido ao homem***, No cruzamento entre o que fala e o
que ouve é que se descobre à linguagem e seus sentidos. No movi-
mento da linguagem é que esta se realiza no seu devir, como um
diálogo entre um eu e um outro. Consciência de linguagem será en-
tão a consciência de transmutação e, portanto, de leitura.
Na leitura do original, atualizamos os interpretantes embuti-
dos na leitura, pois tradução “é a forma mais atenta de ler""5º,
Num primeiro nível de leitura, o efeito causado pelo signo não
é senão a qualidade de sentimento que o signo pode provocar. Isto,
sem qualquer reação efetivada ou mesmo manifestação do nosso
mundo interior, onde ainda não temos recognição, somente idéias
vagas, possibilidades. No caso do objeto estético isto tende a se acen-
tuar, pois que o signo e sua essência estão aptos a produzir meros
48, MICHEL FOUCAULT, As Palavras é as Coisas, São Paulo, Martins Fontes, 5. d., pp.
42-44.
49. MARIA LÚCIA SANTAELLA BRAGA, *“Dialogismo"", op. cit.
50, SALAS SUBIRATS, apud HAROLDO DE CAMPOS, “Da Tradução como Criação
e como Crítica”, op. cif., p. 31.
À TI COMO PENSAMENTO EM SIGNOS 35
54. CRISTOPHER HUBIG, *“Is it Possible to Apply the Concept *Interpretant' to Diver-
ging Fields Uniformly? — Something about the relationship between Semiotics as Philosophy
of Science and Semiotics of Arts”, in Proceedings of the C.5. Peirce Bicentennia! Congress, Te-
xas Tech. Press, 1981, pp. 71 a 75.
55. H. BUCZYNSKA-GAREWICZ, “Sign and Dialogue", Armerican Journal of Semio-
tics, 1-2, v. 2, 1983, p. 27.
A TI COMO PENSAMENTO EM SIGNOS 37
tes. Uma vez que os sentimentos, em si mesmos, não podem ser com-
parados e, portanto, não podem ser semelhantes, de tal forma que
dizer que são semelhantes significa apenas dizer que a consciência
sintética encara-os dessa forma, isso equivale a dizer que somos in-
ternamente compelidos a sintetizá-los ou separá-los. Este tipo de sín-
tese aparece numa forma secundária de associação por
semelhança”. Nesta consciência sintética de nível segundo, parecem
seincorporar aqueles aspectos que como a memória preparam para
nossa mente aqueles momentos que, embora unidos e conjuntos, des-
tacam-se pela similaridade de sentimento: a memória involuntária
de M. Proust, ou ainda as associações sinestésicas tão caras a Bau-
delaire.
Já o tipo mais elevado de síntese é aquele que a mente é compe-
lida a realizar não pelas atrações interiores dos próprios sentimen-
tos ou representações, nem por uma força transcendental de neces-
sidade, mas sim no interesse da inteligibilidade, isto é, no interesse
do próprio “Eu penso” sintetizador; e isto a mente faz através da
introdução de uma idéia que não está contida nos dados e que pro-
duz conexões que estes dados, de outro modo, não teriam“, Nessa
consciência sintética de terceiro e mais aprimorado grau, Peirce pa-
rece se referir ao caráter sintetizador da mente que toma sua forma
no trabalho do artista e do cientista como forma de síntese. Assim,
a construção por coordenação da linguagem, por justaposição, quer
dizer, à linguagem da poesia, a função poética da linguagem, que
atua no eixo da similaridade, encontraria aqui, nesta consciência sin-
tética, o seu lugar natural. Seguindo o nosso diagrama mental, ao
considerar a tradução como organização de conjuntos por seme-
lhança (como principal escopo do projeto tradutor poético e icôni-
co), temos que seria no lugar ou espaço da consciência sintética em
terceiro nível que se daria proeminentemente essa operação asso-
ciativa.
INVENÇÃO
«.. Ora, há muitas idéias vagamente na minha cabeça, e nenhuma delas, tomada
em si mesma, tem qualquer analogia particular com o meu problema. Mas um dia,
todas essas idéias, todas presentes à consciência, mas ainda muito vagas e profun-
das, na profundeza do pensamento subconsciente, têm a chance de se verem reuni-
das num modo tão particular que a combinação (“forma**) realmente apresenta uma
forte analogia com a minha dificuldade, Essa combinação quase instantaneamente
se ilumina na vividez. Ora, isso não pode ser contigitidade; pois a combinação é,
além do mais, uma idéia nova. Ela nunca tinha me ocorrido antes; e conseqiiente-
mente não pode estar submetida a qualquer hábito adquirido. Deve ser, como pare-
ce ser, sua analogia ou semelhança na forma em relação ao nódulo do meu problema
que a traz para a vividez. Ber, o que pode ser isso, senão pura e fundamental asso-
ciação por semelhança?
73. PAUL VALÉRY, “EL 'Invention Esthétique", in Oevres1, Paris, 1957, pp. 1412-1415,
2. À Tradução Intersemiótica como
Intercurso dos Sentidos
2. Cf. F. P., KILPATRIK apud EDWARD T, HALL, A Dimensão Oculta, Rio de Janeiro,
1977, p. 45.
A TI COMO INTERCURSO DOS SENTIDOS 47
5. CE. RUDOLF ARNHEIM, Hacia una Psicologia del Arte, Madrid, Alianza Editorial,
1980, p. 43.
À TI COMO INTERCURSO DOS SENTIDOS 49
Individual-Coletivo
GRAFITTE URBANO
Sensibilidade Visual
12, EDWARD T. HALL, A Dimensão Oculta, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves
Editora S.A., 1979.
13. KURT KOFFKA, Princípios de Psicologia da Gestalt, São Paulo, Cultrix, 1975, p, 212,
TIM o TER ra
54 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Háptico-Sensitivo
Analógico-Digital
Xícara, você pode combinar a sensação de forma com a imagem que ela representa.
E se alguém disser: “Isto é uma xícara", você ganha uma etiqueta para esse objeto
e a etiqueta pode ser escrita ou falada. Sem as habilidades integradoras da área de
superassociação, seria difícil manipular uma linguagem complexa*?.
à5. Cf. PAUL GUILLAUME, Psicologia da Forma, Rio de Janeiro, Editora Nacional, 1966,
p. 165.
36. H.J. CAMPBELL, Las Areas del Placer, Madrid, 1976, pp. 78-79,
37. Idem, pp. 78-19.
4 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Intermídia e Multimídia
41. A classificação das linguagens conforme os caracteres das categorias semióticas — Pri-
meiridade, Secundidade e Terceiridade — revelou-se de especial valor para a inteleoção e viabili-
dade das operações tradutoras interlinguagens. Neste sentido, estamos nos referindo aos traba-
lhos já realizados ou em processo sobre as classificações da linguagem verbal, musical e visual
que Lúcia Santaella está levando a cabo, Cf. “Por uma Classificação da Linguagem Escrita",
in Produção de Linguagem e Ideologia, São Faulo, Cortez Editora, 1980.
LINGUAGENS ANALOY LINGUAGENS ANALÓGICAS
que delimitam seu ol gpendem de objeto
LINGUAGENS ANALÓGICAS
que dependem de convenção
3. A Tradução Intersemiótica como
Transcriação de Formas
NORMA E FORMA
Um Iegissigno é uma lei que é um signo. Tal lei é comumente estabelecida nor
homens. Todo signo convencional é um legissigno, porém a recíproca não é verda-
deira. (...) Todo legissigno ganha significado por meio de um caso de sua aplicação,
pode ser denominado Réplica. (...) Nem a réplica seria revestida de significação não
fosse a lei que lhe confere tal significação!.
Classes de Legissignos
(Y)
Remático
Icônico
Legissigno
(VL)
a Remártico x)
Remático Simbolo Argumento
Ieônico 1 egissigno Simbólico
Qualissigno 1 egissigno
(DD
ús Remático IX)
Remático Indicativo Dicente
Tcônico Legissigno Símbolo
Sinsigno T egissigno
(11) (Yi)
Rermárico Dicente
Indicativo Indicativo
Sinsigno Legissigno
(VY)
Dicente
Indicativo
Sinsigno
(mesmo que esta organização seja sui generis e que sua lei, conse-
qlientemente, se estabeleça ad hoc) nenhuma ordenação seria poss:-
vel. É o legissigno, por assim dizer, que regulamenta o processamento
interno de uma estrutura, garantindo sua coerência e otimização.
Sem o legissigno, por exemplo, um ícone não passaria de mera pos-
sibilidade irreajlizada. Para se realizar, ele necessariamente tem não
só de se materializar num meio, enfrentando, em primeira instân-
cia, as leis que são próprias ao meio ele mesmo, como também deve
gerar as leis de sua própria configuração. Daí termos colocado o
legissigno como signo Transductor.
O uso de cada grupo de legissignos define, pois, a dominância
de caracteres em termos de tradução. Os legissignos icônicos, indi-
ciais ou simbólicos, definem por sua vez três tipos de tradução con-
forme a dominância seja a do paramorfismo, a da indicialidade ou
a do símbolo. Desse modo, jogamos com a polaridade sensível-inte-
ligível, pois em contraposição aos signos de lei simbólicos existem
os icônicos que estabelecem uma outra classe cujo reconhecimento
implica em atos criativos, isto porque eles “admitem grande varie-
dade de formas”"!?,
INTRACÓDIGO
Contigitidade Topológica
Semelhança de Qualidades
15. IURI TINIANOV, O Problema da Linguagem Poética II, o Sentido da Palavra Poética,
Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1975, pp. 5-6.
s2 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
16, FERDINAND DE SAUSSURE, Curso de Lingiiística Geral, São Paulo, Cultrix, 1975,
p. 205.
A TI COMO TRANSCRIAÇÃO DE FORMAS 83
FORMA
Tradução Icônica
Tradução Tndicial
4. Foi HUGH KENNER, em The Poetry of Ezra Pound, quem apontou para a importância
da transposição do fenômeno do alotropismo para o campo da estética. Diz ele: “A fragmenta-
ção da idéia estética em imagens alotrópicas, tal como teorizada pela primeira vez por Mallarmê,
foi uma descoberta cuja importância para o artista corresponde à da fissão nuclear para o físi-
co", Apud. AUGUSTO DE CAMPOS, “Pontos — Periferia — Poesia Concreta" e HAROL-
DO DE CAMPOS, “Aspectos da Poesia Concreta", in Teoria da Poesia Concreta, p. 17 e p.
96 respectivamente.
5. DÉCIO PIGNATARI, Revista Através, Martins Fontes, ed. (São Paulo, 1582).
POR UMA TIPOLOGIA DAS TRADUÇÕES 23
Tradução Simbólica
OO
OS
OOrOo
o
OD
oO
OD
(5
mr
Oq
=
significa
ARTE
em linguagem
binária.
deria existir, pois como símbolo consistirá numa regra que determi-
nará sua significação. Neste caso a tradução é transcodificação.
Finalmente, a tradução como processo simbólico irá determi-
nar as leis de como “um signo dá surgimento à outro, pois o símbo-
lo “é uma lei ou regularidade de futuro indefinido”, uma lei que
governará e será materializada e que determinará algumas de suas
qualidades, unindo o sensível ao inteligível, isto é, será uma forma
significante.
Parte |!
OCTAVIO PAZ
Original:
*nascemorre”
Haroldo de Campos (1958)
Tradução Intersemiótica:
Julio Plaza (1984)
102 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA-
—+
— + —.
Te
desnasce
desmorre desnasce
desmorre desnasce desmorre
ou: —
+ —
+ —+
E, no segundo subconjunto da segunda configuração:
nNascermorrenasce
Imorrenasce
morre
se
OU! + — +
—+
104 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
“LUA NA ÁGUA”
O organismo quer re
o organismo quer
O Organism
OF gas
Original:
**organismo”*
Décio Pignatari (1960)
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É
SSo” Yo :
Tradução Intersemiótica
“Organismo Áureo”
Julio Plaza (1980)
12 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
LEITURA DE “ORGANISMO-ORGASMO”
“ORGANISMO ÁUREO”
ESPELHO
LENTE
EXPANSORA
SUPERFÍCIE
SEMI-REFLETORA
LENTE
EXPANSORA
o velho tanque
rã salt
tomba
rumor de água
Original:
“o velho tanque", Hai-cai Traduções Intersemióticas: Julio Plaza
HÁ =zalt tomba
120 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
rã salt
tomba
rumor de água
salt
tomba
rumor
INTRADUÇÕES
A atividade tradutora e o trânsito sensorial entre o visual, ver-
bal, sonoro e tátil em níveis de intracódigo é patente. O trânsito tra-
dutor entre esses aspectos interiores à linguagem parece permitir fa-
lar em tradução interna ou intradtução.
Os casos que serão apresentados, embora sejam, na maioria,
associações signicas por contigilidade, tendem à associação por si-
milaridade que detona o lampejo da semelhança. São, por isso mes-
mo, rotulados de “intraduções icônicas”*.
Interessa captar nessa atividade as relações de semelhança
projetando-se sobre a contigilidade como forma icônica transfor-
mativa, criadora dos sentidos inerentes ao signo e que têm por ob-
jetivo os objetos imedjatos expressos no signo,
A SACA DA CASA
A VELA À LEVA
IeUNcs
Sim
renminas
Original:
Poemobiles — “Luz Mente Muda Cor...”
Augusto de Campos (Poema)
Julio Plaza (Objeto) (1974)
Tradução Intersemiótica
para Holografia
Augusto de Campos
Julio Plaza (1985)
IEMENTE
HENTEMUDA
MHUDAMENTE.
MUDA LUZ
COR MENTE
LUZ MENTE MUDA COR
COR MUDA MENTE LUJZ
MENTE COR
LUZ MUDA
TRADUÇÕES
O ENCOURAÇADO POTEMKIN
O Argumento Narrativo
Os Cinco Átos
L. Homens e Vermes
Exposição da ação, Às condições a bordo do Encouraçado. Car-
ne cheia de vermes. Inquietação entre os marinheiros. Conflitos en-
tre oficiais e tripulação,
V. Diante da Esquadra
Noite de vigília. À esquerda é divisada a esquadra que vem com-
bater o Encouraçado. Sinalização: “Unam-se a nós!” As tripula-
ções da esquadra: “Irmãos!” À esquadra recusa-se a atirar. Passa-
gem triunfal do navio.
Potemkin: a Tradução
2. SERGUEI EISENSTEIN, O Couraçado Potemkin, São Paulo, Global Editora, 1982, p. 98.
3. MARIA LÚCIA SANTAELLA BRAGA, “Por uma Classificação da Linguagem Escri-
ta", op. cif., p. 156.
4, SERGUEI EISENSTEIN, op. cit,, p. 99.
138 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Traduções Interpretadas
Montagem Expressiva
conflito
HIERARQUIA / ANARQUIA — — =——— — uu = >-—m—m—=—— =—— HIERARQUIA / ANARQUIA — — — = —— = — —.——
TEMA: ORGANICIDADE DA REVOLUÇÃO .
uma vez, que fundamento do signo, seu objeto imediato e seu inter-
pretante imediato se confundem num amálgama sígnico,
O Cinema e o Ideograma
A Representação Desintegrada
mesmo caminhando
Original:
“Iua'de outono”, Haicai
u
Chiyo-ni (século XVIII) BR a
Tradução para o português: Traduções Intersemióticas:
Alice Ruiz (1982) Julio Plaza (1984)
|
lua de outono
tos varia, mas deve haver dois pólos elétricos, entre os quais salte
à centelha, para que o haicai se torne efetivo”4,
A estrutura sintética e ideogrâmica, como qualidade concreta
do haical, torna-se muito mais impressionante e poética quando pas-
samos das imagens simples e originárias para as imagens compos-
tas. “Nesse processo de compor, duas coisas que se somam não pro-
duzem uma terceira, mas sugerem uma relação fundamental entre
ambas”. Assim, o haicai possui a qualidade de detonar ícones e
imagens-diagramas mentais que nos mostram as propriedades ge-
néricas e as relações subjacentes não observáveis diretamente nos
fenômenos físicos. Seu sentido imagético é estabelecido de forma
conflitiva entre os elementos propostos, possuindo, assim, um ca-
ráter icônico-indicador. Pode-se passar do ““visível nara o invisível”
através de um processso metafórico: ““a utilização de imagens ma-
teriais para sugerir relações imateriais”*6,
A estrutura geral do haicai é um legissigno-icônico-remático,
visto que determina uma forma imutável como suporte de ocorrên-
cias singulares, isto é, de cada haicai particular.
“LUA DE OUTONO”
Homenagem a Malevitch
CÉU PARIETAL)
Original:
““Noosfera”*
Décio Pignatari (1974)
Tradução Intersemiótica:
“Olho para Noosfera”
Julio Plaza (1980)
162 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
LEITURA DE “NOOSFERA”
“FRÍGONOS
PATA
OUIASMÁ,
feTteO
HiLie €
LINHA,
TOPOLOGICA,
E E
VEM E VA!
Original:
“VAI E VEM"
José Lino Grunewald (1959)
Figura la
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TRADUÇÃO ICÔNICA 169
Figura 2
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VV o o
TRADUÇÃO ICÔNICA 171
3, BERNHARD LEITNER, Sound Space,New York, New York University Press, 1978, p. 109.
cem
com
cor
dor
dar
mar
Original;
*Céu-Mar"”, Doublet
Augusto de Campos (1977)
Tradução Intersemiótica:
“Céu-Mar”*
Julio Plaza (1980)
174 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
LEITURA DE “CÉU-MAR”
HEAD
heal
teal
tell
tall
TAIL!
céu
cem
com
cor
dor
dar
mar
TRADUÇÃO
Leitura do 1 Ching
Descrição
Oriente/Ocidente
Semiótica do 1 Ching
O Todo
A Mudança, o Conflito
3, Idem, p. 69,
6. Idem, p. 21.
7. Idem, p. 35.
TRADUÇÃO ICÔNICA 185
O Eterno Retorno
8. HELLMUT WILHELM, Eight Lectures on the I Ching, Princeton University Press, 1973,
p. 23.
186 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
Linguagem do I Ching
Textos
Trigramas, Hexagramas
10. MARIA LÚCIA SANTAELLA BRAGA, “Por uma Classificação da Linguagem Escri-
ta", op. cit., p. 155.
11. RICHARD WILHELM, op. cit., p. 5.
188 TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA
O Diagrama-Stinholo do Yin-Yang
12. RUDOLF ARNHEIM, Hacia una Psicologia del Arte, Madrid, Alianza Editorial, p. 225.
TRADUÇÃO ICÔNICA 189
is Wi!
HH dE
ni Him
ut 1
OW À
1
4
Os oito Kua é sua relação espacial com os oito pontos cardeais. Na periferia,
os 64 hexagramas produto da combinatória dos trigramas. Ao centro o símbolo do
Tao + Yin - Yang.
0904
AGUA
A roda, orientada espacialmente em relação aos oito pontos cardeais com seus
correspondentes trigramas.
A roda, agora vista em três dimensões, traduz-se pelo hemisfério que orientará
os movimentos de câmera (ver diagrama a seguir).
NORTE
OESTE LESTE
(
=
"Via da Terra"
>)NS
é
m
Tradução Intersemiótica:
Luzazul
Filme S-8
Julio Plaza (1981)
“Via do Céu” para o S-O até encontrar seu oposto o N-E, seguin-
do, então, para o Leste e seu oposto o Oeste (cf. diagrama). Nesta
segiiência de movimentos dialógicos entre pares de opostos, e fe-
chando o filme com uma panorâmica inversa à primeira, isto é, no
sentido de “Via da Terra” (ou da direita para a esquerda), temos
uma dominante, a do movimento yin-yang representado por movi-
mento panorâmico da esquerda para a direita.
Vê-se, a partir disso, que os dois eixos produtores da lingua-
gem cinematográfica, o eixo da contigúidade e o eixo da similarida-
de transam conjuntamente os sentidos do filme: o caráter metafóri-
co ou eixo paradigmático e o caráter metonímico ou eixo sintasmá-
tico colaboram nur diálogo onde toda metonímia é metaforizada
e toda metáfora é metonimizada, produzindo o fato estético. A lin-
guagem também tem seu oriente, a linguagem representando se apre-
senta, revelando nesse seu autoproduzir-se o caráter metalingiiísti-
co do filme, acionado que está através do dispositivo da linguagem
como universo auto-suficiente e sincrônico no ato de filmar, em iso-
morfia com a própria linguagem do 7 Ching. Quer dizer: há super-
posição dos fatos de linguagem sobre o referencial da paisagem.
Pela exclusão do referencial o filme volta-se sobre si mesmo,
procurando seus modelos internos, seus paradigmas. Nessa medi-
da, o significado do filme não está na paisagem, mas na sua própria
estrutura. À paisagem, no caso (passagem), acaba por funcionar co-
mo marcação (pontuação rítmica) de uma forma em movimento:
transformação. O referente se faz Objeto Imediato. Os códigos se
repensam constantemente durante o processo de filmagem.
À câmera, ao focalizar pontos de vista plurais, tem uma ten-
dência a desarticular a linearidade, a trocar o espaço visual contínuo
pelo espaço visual descontínuo. O resultado é que o filme tende a
saturar o tempo de espaço, criando uma sincronia e um envolvimento
não visual, mas sinestésico: olho, ouvido e tato coexistem,
O próprio título do filme: LUZAZUL, organizado em palín-
dromo, já reflete, na sua construção, o princípio formador da Mu-
dança através das metáfora “LUZ” (yang) e “AZUL” (yYim com
suas características adjetivadas. O título, na sua organização simé-
trica, indícia iconicamente as operações de montagem do filme. As-
sim, a montagem sintática do filme consegue realmente atingir a qua-
lidade da sincronia e da semelhança, requerida pela formação do
Ícone mental ou, nas palavras de Mallarmé: ““a espacialidade como
abertura para o infinito”, Tanto é assim que o filme se resolve no
puro espaço plano do cinema em conflito de contrários: espaço
real/espaço de representação: conflito produtivo da hexadimensio-
nalidade do espaço.
O operar da câmera, seguindo o eixo seqiiencial da contigitida-
de, encontra-se em oposição e conflito com a forma e posição espa-
cial dos objetos, quer dizer, tal como estes deveriam aparecer na te-
la. Isto fica claro, quando o movimento da câmera, partindo de um
TRADUÇÃO ICÔNICA 201
À negação deixou de ser criadora. Não digo que vivemos o fim da arte: vivemos o
fim da idéia da arte moderna!.
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