Conservação Do Solo e Da Água

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SUMÁRIO

BOAS PRÁTICAS EM
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

1. INTRODUÇÃO .................................................................................1
2. EROSÃO HÍDRICA...........................................................................3
2.1. Erosividade das chuvas.................................................................5
2.2. Erodibilidade do solo......................................................................6
2.3. Topografia do terreno.....................................................................7
2.4. Uso e manejo do solo.....................................................................8
2.4.1. Uso do solo .................................................................................9
3. SISTEMA DE CLASSES DE CAPACIDADE DE USO DAS
TERRAS AGRÍCOLAS.......................................................................10
3.1. Capacidade de uso de terra........................................................12
3.1.1. Grupos e capacidade de uso de terra......................................12
4. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO PARA O COMBATE À EROSÃO.........15
4.1. Tecnologias disponíveis para aumentar a cobertura vegetal e
a infiltração de água no solo..............................................................16
4.2. Tecnologias disponíveis para controlar o escorrimento
superficial do solo ..............................................................................27
4.3. Tecnologias disponíveis para a implementação de técnicas
complementares no solo....................................................................32
5. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES.........................................35
6. PROPOSTA PARA AVALIAÇÃO TÉCNICA EM PROPRIEDADES
RURAIS EM TERMOS DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS......36
Referências Bibliográficas..................................................................38
ANEXO - Estratégias Técnicas de Consevação do Solo

ix
x
BOAS PRÁTICAS EM
CONSERVAÇÃO DO
SOLO E DA ÁGUA

1. INTRODUÇÃO

O problema mais importante da agricultura paulista é a erosão hí-


drica que vem, ano a ano, se agravando, comprometendo os recursos
naturais e pondo em risco a produção econômica. Além de degradar
o nosso mais importante recurso, o solo, tem causado problemas na
qualidade e disponibilidade da água em função da poluição, do asso-
reamento de mananciais e das enchentes no período das chuvas ou
escassez de água no período da estiagem.

O processo erosivo, dada a sua intensidade, além de degradar o


perfil do solo, é a causa primeira de outros problemas que levam à baixa
produtividade e ao empobrecimento do meio rural. Portanto, todos os
problemas de produção agrícola ou de água para uso múltiplo têm suas
causas interligadas, tendo como as principais aquelas vinculadas ao
uso, manejo e à conservação do solo e suas consequências no processo
erosivo (Figura 1).
1
Figura 1 – Esquema demonstrativo da baixa produtividade como agente e resultado da erosão.

A Figura 2 mostra a erosão como problema central e seus efeitos


nos recursos naturais. Outros problemas, apesar de importantes, não
atingem o seu nível de magnitude, sendo efeitos do processo erosivo
que se interagem, passando cada um a ser causa do outro.

Em função da erosão, ocorrem a poluição e o assoreamento dos


mananciais e, consequentemente, enchentes que às vezes causam
prejuízos de grande monta, principalmente nas cidades localizadas
às margens dos rios. Por outro lado, a erosão tem causado prejuízos
diretos na produção, devido ao desgaste do perfil do solo e ao arrasta-
mento de quantidades razoáveis de insumos agrícolas. O uso e manejo
inadequados do solo têm reduzido a cobertura vegetal e a infiltração
da água no solo, aumentando consideravelmente o escorrimento su-
perficial, causando a erosão.

Os problemas inter-relacionados com a erosão serão descritos de


forma detalhada, com proposta de técnicas para sua minimização.
2
FIGURA 2 – Erosão e seus efeitos nos recursos naturais.

2. EROSÃO HÍDRICA

Erosão é o processo de desprendimento e arraste acelerado das


partículas do solo causado pela água e pelo vento. A erosão do solo
constitui, sem dúvida, a principal causa de depauperamento acelerado
das terras.
3
Foto 1 – Antes da implantação do Projeto de Recuperação de Voçoroca em Espírito Santo do Turvo (SP).
Autor: Paulo Henrique Interliche – UTE Ourinhos/CATI.

Foto 2 – Depois da implantação do Projeto de Recuperação de Voçoroca em Espírito Santo do


Turvo (SP). Notar esticador de cerca como referência.
Autor: Paulo Henrique Interliche – UTE Ourinhos/CATI.

4
A erosão hídrica no Estado de São Paulo é causada pela erosividade
das chuvas, erodibilidade do solo, topografia do terreno, uso e manejo
do solo.

A erosão hídrica, causada pelo impacto das gotas da chuva, afeta a


produtividade agrícola em diferentes níveis. A dificuldade para visualizar,
objetivamente, as perdas decorrentes deste processo remete a um ce-
nário em que as justificativas técnicas não são claras o suficiente para
a sensibilização do Governo a investir na solução desses problemas e
os agricultores a adotarem técnicas conservacionistas para aumentar
suas rendas.

Foto 3 ─ Assoreamento causado pela erosão.


Autor: Banco de Imagens CATI.

2.1. Erosividade das chuvas

No Estado de São Paulo, a erosividade da chuva varia de 5.500


a 10.000 MJ.mm/ha.h.ano. A distribuição concentra-se de 74 a 94%
no período coincidente com o de máxima mobilização do solo em que
o mesmo fica menos protegido pela vegetação e mais desagregado,
portanto mais vulnerável ao processo erosivo.
5
Na Figura 3, pode ser observada a distribuição do índice de erosão
durante o ano para três regiões do Estado. Na região oeste (Presidente
Prudente) 83% do potencial erosivo anual ocorre no período de outu-
bro a março; na região nordeste do Estado (Ribeirão Preto) 94% do
potencial erosivo anual ocorre no mesmo período e na região do litoral
sul (Registro) 74% ocorre, também, no mesmo período.

Isso salienta a necessidade de se prover o solo de uma cobertura


vegetal adequada e/ou reduzir a sua mobilização no referido período,
tornando o efeito erosivo da chuva menos intenso.

Figura 3 – Curvas de distribuição do índice de erosão para três regiões do Estado de São Paulo.
Fonte: BERTONI e LOMBARDI NETO, 1990.

2.2 - Erodibilidade do solo

Todos os solos com ‘B’ textural, com exceção dos Nitossolos, as-
sim como os Neosoloslitólicos, apresentam problemas de erosão em
razão das baixas taxas de infiltração e do relevo movimentado em que
ocorrem. Já os Latossolos arenosos e também os Neosolosquartzarê-
nicos são altamente suscetíveis à erosão, devido à textura arenosa e
6
aos relevos suaves, porém, de longos comprimentos de rampa. Essas
unidades, em função das características e aliadas ao clima dominante
no Estado, tornam 143.934km2 ou 60,2% da área territorial altamente
suscetível à erosão quando cultivada. Os limites de tolerância de perdas
por erosão, para algumas unidades de solos de Estado de São Paulo,
variam de 4,5 a 13,4t.ha-1.ano-1 e de 9,6 a 15,0t.ha-1.ano-1, respectiva-
mente, para solos com ‘B’ textural e com ‘B’ latossólico.

Foto 4 – Ilustra o efeito do impacto direto das gotas das chuvas no solo, tendo como referência
o solo protegido abaixo das pedras, que absorvem o impacto.
Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.

2.3 - Topografia do terreno

As áreas planas representam 3,5%, ou seja, 8.803km² da área do


Estado, sendo constituídas principalmente por várzeas e mangues, sem
problemas de erosão, mas que apresentam limitações por excesso de
água, necessitando de drenagem para seu aproveitamento agrícola.

Nas regiões serranas (Planalto Atlântico e Cuestas Basálticas)


predomina relevo montanhoso com declividades superiores a 40%,
onde a exploração agropecuária é praticamente inviável. Essas áre-
as representam em torno de 16,2% da área total do Estado ou seja,
40.343km².
7
As terras com declividade variando entre 20 e 40% abrangem 8,5%
do Estado (área de 21.235km²) onde, devido aos altos riscos de erosão,
adaptam-se melhor as pastagens ou o reflorestamento. Essas áreas,
localizadas principalmente nos contrafortes da Serra do Mar, Serra de
Mantiqueira e das Cuestas Basálticas, são as que dividem o Planalto
Ocidental da Depressão Periférica.

As áreas com relevo suave ondulado ou ondulado, cuja declividade


varia de 0 a 20%, estão localizadas principalmente no Planalto Ocidental
e na Depressão Periférica, onde os riscos de erosão pelo fator relevo
são menores. Abrangem 71,8% do Estado, com 178.219km², e repre-
sentam o local mais importante para a agricultura e pecuária paulista.

2.4 – Uso e manejo do solo

Em 1910, 64,7% da área do Estado de São Paulo eram cobertas


com florestas primitivas. Atualmente, apenas 5% da área ainda se
mantêm florestados. Esse desmatamento para uso agrícola foi feito de
modo desordenado, não levando em consideração a capacidade de uso
das terras e, sim, fatores de pressão econômica. Com essa ocupação
inadequada, apareceram sérios problemas de erosão e degradação do
solo e da água, refletindo na produção e produtividade agrícolas.

Foto 5 – Erosão laminar.


Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.

8
Foto 6 – Erosão em sulco, causada por rompimento de terraço.
Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

2.4.1. Uso do solo

No Estado de São Paulo podemos identificar o uso da terra com


culturas anuais e temporárias, culturas perenes, pastagens e reflo-
restamento, sendo os riscos de erosão decrescentes na sequência
apresentada, conforme Tabela 1 (página 10).

Nos últimos anos, em virtude da difusão, aceitação e aplicação do


Sistema de Plantio Direto na Palha (PDP), os problemas de erosão vêm
sendo minimizados pela manutenção de cobertura e mínima mobilização
do solo.

Em quaisquer ocupações descritas, ainda são comuns os seguintes


fatores causadores ou agravadores da erosão: baixa ou inexistente
cobertura arbórea, sejam florestas, bosque ou culturas perenes; des-
preocupação sobre a necessidade de se adequar o uso ao potencial
do solo; insuficiência de cobertura vegetal, viva ou morta, em períodos
críticos; e estrutura superficial e/ou subsuperficial degradada em relação
às condições naturais.
9
Tabela 1 – Ocupação do solo no Estado de São Paulo.
UPAs(*) Área
Ocupação
Número % Hectare %
Área com cultura perene 83.971 25,87 1.225.035 5,97
Área com cultura temporária 168.104 51,79 6.737.699 32,86
Área com pastagem 234.148 72,13 8.072.849 39,37
Área com reflorestamento 43.906 13,53 1.023.158 4,99
Área com vegetação natural 155.211 47,82 2.432.912 11,87
Área de vegetação de brejo e
64.242 19,79 294.754 1,44
várzea
Área em descanso 25.806 7,95 222.419 1,08
Área complementar 268.485 82,71 495.280 2,42
Área total 324.601 100,00 20.504.107 100,00

Fonte – LUPA 2007/08 – CATI/IEA – SAA


(*) – Unidades de Produção Agropecuária

3. SISTEMA DE CLASSES DE CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS


AGRÍCOLAS

A classificação de qualquer objeto tem por finalidade ordenar os


conhecimentos a seu respeito de maneira simples e precisa. Objetos
iguais ou semelhantes em suas características e propriedades são
agrupados nas mesmas classes.

No âmbito da ciência do solo, as inúmeras classificações existentes


podem ser reunidas em duas categorias distintas: classificação pedoló-
gica (ou taxonômica) e classificação técnica. Na primeira, os solos são
agrupados a partir de uma quantidade muito grande de propriedades
e características em comum, na maior parte dos casos tendo por base
aqueles que refletem processos genéticos similares. Na classificação
técnica (ou interpretativa), os indivíduos são agrupados em função de
determinadas características de interesse prático e específico. Há,
assim, grupamentos de terras em função de sua arabilidade com irri-
gação e subsequente drenagem; grupamentos por risco de erosão; por
necessidade de calagem; em função da capacidade máxima de uso;
entre outros.
10
Um levantamento de solos que utiliza uma classificação pedo-
lógica não é feito para atender a uma finalidade específica, mas, se
convenientemente interpretado, pode servir como base para diferentes
classificações técnicas ou interpretativas. O objetivo principal do le-
vantamento de solos é o conhecimento da natureza e distribuição das
unidades pedológicas, procurando identificar e cartografar os solos
ocorrentes em determinada área, fazendo a caracterização morfológica
e analítica da maneira mais completa possível, a fim de permitir o en-
quadramento das unidades de mapeamento em um sistema natural de
classificação de solos. Já as classificações técnicas ou interpretativas,
agrupam as unidades pedológicas em classes de terras, tomando por
base características e propriedades selecionadas, mais relacionadas
com o comportamento agrícola dos solos.

A classificação técnica tem o propósito particular de indicar os


dados que levem a decidir qual a combinação de uso agrícola e quais
as medidas de controle da erosão, permitindo o aproveitamento mais
intensivo da terra, sem risco de depauperamento do solo.

Assim, o sistema se baseia nas limitações permanentes das terras e


é todo voltado para as possibilidades e limitações para a utilização das
mesmas; essa ideia está diretamente relacionada com sua intensidade
de uso.

A intensidade de uso exprime a maior ou menor mobilização imposta


ao solo, expondo-o a certo risco de erosão e/ou perda de produtividade.
Geralmente, culturas anuais impõem alta intensidade de uso, enquanto
vegetações naturais representam o mais baixo grau de intensidade.

Para empresas agrícolas e/ou microbacias hidrográficas, a situação


ideal é dispor de um levantamento pedológico detalhado como ponto de
partida para as interpretações. Raras são, contudo, as áreas do Brasil
que os possuem e sua execução demanda uma soma muito grande
de recursos e pedólogos especializados, nem sempre disponíveis para
todas as necessidades. Por isso, deve-se efetuar um levantamento do
meio físico mais simplificado, denominado “Levantamento Utilitário”,
voltado para o potencial produtivo das terras, que possa ser executado
dentro das possibilidades e dos recursos dos técnicos conservacionis-
tas. Nesse tipo de levantamento, o principal objetivo é inventariar as
características diagnósticas da terra, necessárias para a determinação
do seu potencial produtivo.
11
Apesar de ser considerado um levantamento simplificado em re-
lação ao pedológico, não deve ser tomado como impreciso ou pouco
detalhado, pois nele devem ser inventariados os principais aspectos da
terra, necessários ao planejamento do seu uso agrícola e, em especial,
às práticas de conservação do solo.

3.1. Capacidade de uso de terras

A capacidade de uso da terra dá uma ideia das possibilidades e


limitações da terra, conceituando a sua adaptabilidade para diversos fins.

3.1.1. Grupos e Classes de capacidade de uso da terra

• Grupo A – terras passíveis de utilização com culturas anuais, perenes,


pastagens e/ou reflorestamento e vida silvestre:
99Classe I – terras cultiváveis, aparentemente sem problemas especiais
de conservação;
99Classe II – terras cultiváveis, com problemas simples de conser-
vação;
99Classe III –─terras cultiváveis com problemas complexos de
conservação;
99Classe IV – terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em ex-
tensão limitada, com sérios problemas de conservação.

• Grupo B – terras impróprias para cultivos intensivos, mas ainda adap-


tadas para pastagens e/ou reflorestamento e/ou vida silvestre, porém,
cultiváveis em casos de algumas culturas especiais protetoras do solo:
99Classe V – terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflores-
tamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação,
cultiváveis apenas em casos muito especiais;
99Classe VI – terras adaptadas em geral para pastagens e/ou reflo-
restamento, com problemas simples de conservação, cultiváveis
apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes
protetoras do solo;
99Classe VII – terras adaptadas em geral somente para pastagens
ou reflorestamento, com problemas complexos de conservação.

12
• Grupo C – terras não adequadas para cultivos anuais, perenes, pas-
tagens ou reflorestamento, porém, apropriadas para proteção da flora
e fauna silvestres, recreação ou armazenamento de água:
99Classe VIII – terras impróprias para cultura, pastagem ou reflores-
tamento, podendo servir apenas como abrigo e proteção da fauna
e flora silvestres, como ambiente para recreação, ou para fins de
armazenamento de água.

Foto 7 – Foto retratando o enquadramento nas diferentes Classes de Capacidade de Uso para
efeito de planejamento.
Fonte: Google Earth – Adaptação Tom Ribeiro (Cecor/CATI/SAA).

13
14
Figura 4 – Resumo da variação do tipo e da intensidade máxima de utilização da terra sem risco de erosão acelerada, em função das
classes de capacidade de uso.
Extraído: LOMBARDI NETO, F & DRUGOWICH, M. I (Coordenadores), Manual Técnico de Conservação do Solo e da Agua, Boletim n.o
39, Volume II, pág. 124, figura 1, CATI, 1994.
4. ESTRATÉGIAS DE AÇÃO PARA O COMBATE À EROSÃO

A erosão deve ser enfrentada de forma global e integrada, com o


consequente aumento da produção, produtividade e da renda do produ-
tor. Isto explica o porquê de algumas práticas isoladas, especialmente
o terraceamento, deixarem a desejar no que concerne ao combate à
erosão. As medidas e ações deverão ser aplicadas de forma a evitar o
desgaste e empobrecimento do solo nas suas diversas fases e formas,
por intermédio do uso de práticas que aumentem a infiltração da água
no seu perfil, que intensifiquem a cobertura vegetal, seja ela viva ou
morta, e que reduzam o escorrimento superficial.

Dessa forma, além de controlar a erosão, obter-se-á um aumento


da quantidade e a melhoria da qualidade das águas, além da preser-
vação da vida silvestre (fauna e flora), por proporcionar uma redução
acentuada dos níveis de erosão hídrica, conduzindo a uma reversão
do processo de degradação do meio ambiente.

Essas estratégias são possíveis de serem aplicadas, considerando--


-se três princípios fundamentais (conforme poderá ser verificado na
matriz [Figura 7], no final deste Manual):
• aumento da cobertura vegetal, visando reduzir a desagregação do solo,
pela redução da energia de impacto das gotas de chuva na superfície;
• melhoria da infiltração da água no perfil do solo, objetivando a dimi-
nuição do deflúvio superficial, aumentando a capacidade de arma-
zenamento, proporcionando um aumento na produtividade vegetal e
redução dos riscos durante veranicos;
• controle do escorrimento superficial, proporcionando a redução do
desgaste do solo pelo processo erosivo, com consequente redução
da poluição dos mananciais por sedimentos ou insumos agrícolas e
regularização do regime hídrico da bacia hidrográfica.

Deve-se sempre ter em mente que os objetivos ora consignados,


só serão alcançados graças ao uso conjunto de várias práticas conser-
vacionistas integradas, com estratégias diferenciadas, com o objetivo
de garantir o sinergismo entre elas. É comum ao produtor a adoção,
por exemplo, do sistema de terraceamento de forma isolada, tendo em
vista, muitas vezes, o oposto ao que se propõe. Ao invés de disciplinar
o escoamento e promover a infiltração, ocorre o acúmulo de águas
pluviais para pontos específicos, em função de erros de concepção
15
e/ou execução do projeto, com o consequente rompimento dos cama-
lhões, causando erosão em sulcos e, eventualmente, evoluindo para
voçorocas, que é a expressão mais midiática da erosão.

4.1. Tecnologias disponíveis para aumentar a cobertura vegetal e


a infiltração de água no solo

O potencial genético de nossas variedades é tão alto para produ-


tividade que o melhoramento genético, hoje, está mais voltado para
obtenção de cultivares resistentes aos fatores limitantes de produção,
como pragas, doenças, elementos tóxicos do solo, ou como forma de
reduzir custos de produção.

O sucesso para se alcançar maiores níveis de produtividade, além


do melhoramento genético, reside na adoção de técnicas modernas de
manejo, desde a escolha da semente até a colheita.

Atualmente, dispõe-se de tecnologias para o manejo das grandes


culturas nas mais variadas condições edafoclimáticas das principais
regiões agrícolas do Estado. Dentro deste contexto, as tecnologias
disponíveis para aumentar a cobertura vegetal e a infiltração de água
no solo, com produtividades crescentes e riscos mitigados, são apre-
sentadas a seguir:
• Amostragem de solo – importante para separar áreas homogêneas
em relação às necessidades de adubação, calagem e gessagem.
• Calagem – prática com melhor relação custo/benefício (cerca de 3:1) e
essencial para o bom aproveitamento dos insumos aplicados, ao mesmo
tempo em que propicia melhorias na física do solo e no ambiente radi-
cular, promovendo melhor infiltração. É fonte de cálcio e/ou magnésio,
atuando na complexação da matéria orgânica e na disponibilidade de
alguns micronutrientes essenciais (Foto 8, página 17).
• Adubação – visa à máxima produção com o mínimo de aplicação de
insumos, de acordo com curvas de produção obtidas em situações
reais.
• Gessagem – possibilita melhor estrutura do solo, em função da agre-
gação de coloides, ao mesmo tempo em que promove o fornecimento
de cálcio e enxofre e, principalmente, a melhoria das condições
físicas e químicas na subsuperfície, propiciando condições para me-
lhoria da infiltração e do desenvolvimento radicular em profundidade.
16
É prática que vem sendo largamente utilizada com vistas à melhoria
do ambiente radicular, lembrando que o volume de massa produzido
é reflexo, principalmente, do desenvolvimento radicular (Foto 9).

Foto 8 – Calagem em área sob o sistema de plantio direto.


Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.

Foto 9 – Proporcionalidade entre o volume de massa produzida em superfície e o desenvolvimento


radicular, mostrando a importância da melhoria do ambiente radicular.
Autor: Inovação Agrícola (cessão de uso).
17
• Adubação orgânica – os adubos orgânicos podem ser descritos como
fertilizantes volumosos de baixo valor em nutrientes, geralmente os
diversos tipos de tortas e resíduos animais, urbanos e industriais, com
sérias restrições de oferta.

Foto 10 – Implemento distribuindo composto orgânico em sulcos.


Autor: Rafael Otto – professor Esalq/USP.

• Adubação verde – adubo verde é a planta cultivada ou não, de pre-


ferência uma leguminosa, em virtude da capacidade de fixação de
nitrogênio, com a finalidade de elevar a fertilidade do solo e a pro-
dutividade das culturas, por meio de sua massa vegetal produzida
no local ou trazida de fora. Consiste no cultivo e no corte de plantas
imaturas, no pleno florescimento, com ou sem a incorporação da
fitomassa (Foto 11).
18
Foto 11 – Rotação de culturas em área explorada com cana-de-açúcar, utilizando adubação
verde com crotalária.
Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

• Rotação de culturas – é o sistema de alternar, em um mesmo terreno,


diferentes culturas numa sequência, de acordo com um plano defini-
do. Para a escolha das culturas que deverão entrar numa rotação é
preciso levar em conta as condições do solo, a topografia, o clima e a
procura do mercado. As culturas escolhidas não precisam ser anuais,
pois aquelas de ciclo mais longo, como a mandioca, a cana-de-açúcar
e mesmo as pastagens, podem estar num mesmo plano de rotação
das culturas anuais. Os principais objetivos dessa rotação consistem
em: melhor organização da distribuição das culturas na propriedade
agrícola; economia do trabalho; auxílio no controle das ervas daninhas,
pragas e doenças; ajuda na manutenção da matéria orgânica do solo
e do nitrogênio; aumento das produções e redução das perdas por
erosão. Pressupõe, ainda, a exploração de diferentes volumes de
solo por alternância dos tipos de sistemas radiculares, otimizando a
ciclagem de nutrientes. Assim, a rotação de culturas tem em vista a
preservação da produtividade do solo e a manutenção das colheitas.
19
Foto 12 – Rotação com a cultura de amendoim com fins comerciais, em área explorada com
cana-de-açúcar.
Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

• Cultura em faixas – consiste na disposição das culturas em faixas de


largura variável, de forma que se alternem a cada ano as plantas que
oferecem pouca proteção ao solo com outras de crescimento denso.
Pode se considerá-la como uma prática complexa, pois combina o
plantio em contorno, a rotação de culturas, as plantas de cobertura e,
em muitos casos, os terraços. O efeito da cultura em faixa no controle
de erosão é baseado em três princípios: as diferenças em densidades
das culturas empregadas; o parcelamento dos lançantes; e a disposi-
ção em contorno. A disposição alternada de culturas diferentes faz com
que as perdas por erosão sofridas por determinada cultura sejam, em
parte, controladas pela cultura que vem logo abaixo. Culturas como
feijão, mamona e mandioca perdem mais solo e água por erosão do
que o amendoim, o algodão e o arroz, e estas, por sua vez, perdem
mais que a soja, a batatinha, o milho e a cana-de-açúcar (Foto 13).
20
Foto 13 – Culturas em faixa.
Autor: Jairo Antonio Mazza – professor Esalq/USP.

• Roçadas – uma das maneiras


eficientes de controlar a erosão é
a ceifa do mato nas culturas pere-
nes, cortando as ervas daninhas
a uma pequena altura da super-
fície do solo, deixando intactos
os sistemas radiculares do mato
e das plantas perenes e uma
pequena vegetação protetora de
cobertura, constituída de tocos. A
ceifa deve ser convenientemente
repetida, a fim de não prejudicar
a cultura pela concorrência do
mato, e executada com o auxílio
de implementos ou ferramentas
adequadas. O controle das ervas
daninhas nas culturas perenes
pode ser realizado, quimicamen-
te, por intermédio de herbicidas,
porém, o efeito contra a ação do
impacto da gota de chuva deve
ser menor. A ceifa controla o
desenvolvimento exagerado e
prejudicial das ervas daninhas,
eliminando-as logo que sua com-
petição em umidade e elementos Foto 14 – Manejo de cultura de citros, com
roçada do mato e manutenção de cobertura
nutritivos comece a ser sentida nas entrelinhas.
pelas culturas. Autora: Isabella Clérici de Maria – Apta/IAC/SAA

21
• Cobertura morta – a cobertura do solo com restos de culturas é uma
das mais eficientes práticas de controle da erosão. A cobertura morta
protege o solo contra o impacto das gotas de chuva, faz diminuir o
escoamento da enxurrada, e incorpora ao solo a matéria orgânica,
que aumenta a sua resistência ao processo erosivo. No caso da ero-
são eólica, protege o solo contra a ação direta dos ventos e impede
o transporte das partículas. A cobertura morta com palha ou resíduos
vegetais contribui para a conservação da água, devendo ser preconi-
zada nas zonas de precipitações pouco abundantes, além de diminuir
a temperatura do solo, reduzindo, assim, as perdas por evapotrans-
piração. Estima-se que a prática controla a erosão na porcentagem
de 53%, nas perdas de solo, a 57% nas perdas de água.

Foto 15 – Cobertura morta com palhada de capim braquiária recebendo o plantio direto de soja.
Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.
22
• Preparo do solo – essa prática pode ser definida como a manipulação
física, química (referindo se principalmente à aplicação de calcário ou
gesso) ou biológica do solo, com o objetivo de otimizar as condições
para a germinação das sementes e emergência e estabelecimento
das plântulas. O preparo e as manipulações do solo podem, em geral,
ser divididos em três categorias.
a) Preparo primário do solo – operações mais profundas e grossei-
ras que visam, entre outras, eliminar ou enterrar as ervas daninhas
estabelecidas, assim como os restos de culturas e, também, soltar
o solo. Exemplos: aração, desmatamento, operações com rolo faca.

Foto 16 – Preparo primário do solo com rolo faca em adubo verde.


Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

b) Preparo secundário do solo – pode ser definido como o conjunto


de operações superficiais subsequentes ao preparo primário, quanto
ao nivelamento do terreno, ao destorroamento, à incorporação de
herbicidas, à eliminação de ervas daninhas no início do seu de-
senvolvimento, ou seja, ações que permitam a fácil colocação da
semente no solo, assim como a sua cobertura com terra, produ-
23
zindo um ambiente favorável ao desenvolvimento inicial da cultura
implantada. Exemplos: gradagem (pesada, niveladora, de dentes);
enxada rotativa.
c) Cultivo do solo após plantio – é toda a manipulação do solo após
a implantação da cultura, visando, entre outras coisas, eliminar as
ervas daninhas que concorrem com a cultura, principalmente em
água, nutrientes e luz, além de outras operações, como adubação
de cobertura. As técnicas de preparo do solo desenvolvidas na
Europa, sob clima temperado ou frio, inclusive com ocorrência de
neve, em topografia pouco acidentada e chuvas caracterizadas por
uma energia cinética baixa, foram introduzidas sem modificações
nos trópicos. Essas técnicas, que consistem no enterrio de resíduos
vegetais, deixando a superfície do solo nua por muitos meses (pousio
no inverno com solo preparado), demostraram, sob condições de
altas temperaturas e chuvas intensas com alta energia cinética e
relevo ondulado, efeitos desastrosos em termos de perdas de solo
por erosão.

Foto 17 – Pivô torto em função de camada compactada.


Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.

24
• Plantio Direto na Palha (PDP) – é um sistema de produção em que
se evita a perturbação do solo, mantendo sua superfície sempre re-
coberta por resíduos (palha) e/ou vegetação. Considerando as suas
premissas básicas, pode-se afirmar que o PDP é, hoje, a melhor tec-
nologia agrícola disponível, aplicável a praticamente todas as culturas
comerciais, inclusive a cana-de-açúcar e culturas perenes. É, também,
a que mais se aproxima das condições em que a natureza opera. Traz
em sua essência a busca pelo equilíbrio do ecossistema, possibili-
tando para a agricultura a autossustentação em termos econômicos,
sociais e ambientais. Propicia a melhoria da infiltração e retenção de
água, a oxigenação, a redução da amplitude térmica, a manutenção
da umidade, a reciclagem de nutrientes e a riqueza biológica. Remete,
ainda, à redução dos custos de mecanização e mão de obra, ao menor
consumo de combustíveis fósseis e a maior eficiência no uso da água
e dos insumos.

Foto 18 – Integração Lavoura-Pecuária sob PDP.


Autor: Rodrigo Estevam Munhoz de Almeida – doutorando Esalq/USP.

25
• Sistema de Integração entre Agricultura, Pecuária e Floresta (ILP,
ILPS e SAF) – são sistemas de cultivos que integram a produção de
grãos, fibras, madeiras, carnes, leite e/ou agroenergia em uma mesma
área. Nesses sistemas o cultivo de grãos, a exploração de pastagens
e a produção arbóreas são realizados em consórcio, em rotação ou
em sucessão, de forma planejada, para benefício das interações eco-
lógicas e econômicas resultantes da diversidade de espécies. Além
da conservação do solo, incluindo o controle da erosão e a melhoria
de suas propriedades, esses sistemas objetivam promover a susten-
tabilidade da produção agropecuária, a diversificação de atividades
e o bem-estar animal.

Foto 19 – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta [Fazenda Nelson Guerreiro, em Brotas (SP)],


mostrando em primeiro plano a Integração Pecuária-Floresta, com eucalipto e braquiária. Em
segundo plano, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – com eucalipto, milho e após, braquiária.
Autor: Mário Ivo Drugowich – engenheiro agrônomo Ciagro/CATI/SAA.

26
4.2. Tecnologias disponíveis para controlar o escorrimento super-
ficial do solo

• Distribuição racional de estradas e carreadores – problemas mais


graves têm como base as estradas e os carreadores mal locados,
de forma que acabam sendo transformados em canais escoadouros,
recebendo o desague do próprio leito e das áreas lindeiras (Foto 20).

• Plantio em nível – consiste em dispor as fileiras das plantas e


executar todas as operações de cultivo no sentido transversal ao
pendente, em curvas de nível ou linhas em contorno. Dentre as prá-
ticas simples, além de constituir uma medida de controle da erosão,
proporciona maior facilidade e eficiência no estabelecimento de
outras práticas complementares, baseadas na orientação em nível,
com o menor custo.

Foto 20 – Estrada com bom preparo primário, abaulamento e sangras para terraços.
Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

27
• Faixas de vegetação permanente – faixas ou cordões de vegetação
permanente são fileiras de plantas perenes e de crescimento denso,
dispostas com determinado espancamento horizontal e sempre em
nível. Em culturas anuais cultivadas continuamente na mesma faixa,
ou em rotação, são intercaladas faixas estreitas de vegetação cerrada,
formando os cordões de vegetação permanente. Nas culturas pere-
nes, também podem ser usadas as faixas de vegetação permanente,
formando barreiras vivas entre as árvores para controlar a erosão e
servir de quebra-vento. Quebrando a velocidade de escorrimento da
enxurrada, o cordão de vegetação permanente provocará a deposição
de sedimentos transportados e facilitará a infiltração da água que es-
corre no terreno, concorrendo para diminuir a erosão do solo. Esses
cordões possibilitam a formação gradual de terraços com o correr dos
anos; com o preparo do solo e com os cultivos que se fazem entre as
faixas. Também, como resultado da própria erosão, a terra vai sendo
deslocada do seu lado de cima, formando, gradativamente, terraços
que, com um pequeno trabalho de acabamento, serão terminados.
Nos padrões atuais de ocupação do solo, a cultura em faixa também
se presta como elemento fundamental no Sistema Integração Lavoura-
Pecuária-Floresta (ILPF), em que, além de poder receber nos primeiros
anos culturas anuais intercalares, ao final poderão ser estabelecidas
pastagens, as quais tornam possível o aproveitamento econômico da
cultura explorada na faixa, normalmente espécies florestais.

• Terraceamento agrícola – as práticas mecânicas de controle de erosão


são procedimentos onde as porções de terra são dispostas adequada-
mente em relação ao declive do terreno. Essas práticas têm a finalidade
de parcelar o comprimento de rampa, possibilitando a redução da velo-
cidade e subdividindo o volume do deflúvio superficial para possibilitar
a infiltração da água no solo, ou disciplinar o seu escoamento até um
leito estável de drenagem natural ou construído. O terraço é uma das
práticas mecânicas mais antigas e eficientes de controle de erosão
das terras cultivadas, sendo constituído de um canal e um camalhão
ou dique levantado com terra removida do canal. A priori, em terrenos
de até 2% de declividade, com solos permeáveis em todo o perfil, sem
compactação, homogêneos, com lançantes inferiores a 120m, pode-se
abolir o uso dos terraços, desde que as operações sejam em nível (pre-
paro, quando for o caso, plantio, cultivos etc) e sejam adotadas práticas
complementares, como o plantio direto, a rotação de culturas, melhoria
do ambiente radicular e as demais indicadas pela matriz (Figura 5).
28
Figura 5 - Representação esquemática de um terraço em perfil, mostrando a faixa de movimen-
tação de terra.
Fonte: Manual Técnico de Manejo e Conservação do Soloe Água – CATI/SAA, 1994.

Esta prática é a mais disseminada em todas as situações no Estado


de São Paulo, porém, para que o sistema funcione com plena eficiência,
além de não poder ser implantado como prática isolada, é necessário
um correto dimensionamento. As escolhas relativas ao tipo, devem
ser baseadas em atributos técnicos, como características do solo,
topografia do terreno, condições climáticas, cultura a ser implantada,
sistema de cultivo e disponibilidade de máquinas. Outros fatores que
determinam o sucesso do sistema são a locação, a construção e o
controle de qualidade, com relação à execução das obras civis, como
nivelamento, declividade, espaçamentos, altura do camalhão, secção
do canal, dentre outros. Tão importantes quanto a qualidade e execu-
ção do projeto, são as etapas posteriores, no sentido de se prover de
manutenção adequada todos os componentes do sistema como, por
exemplo, a limpeza e melhoria da infiltração nos canais; a manutenção
do nível e o reforço dos pontos frágeis dos camalhões; o seccionamento
dos canais em situações específicas; e a racionalidade no manejo das
áreas entre os terraços, pelo uso adequado e concomitante das práticas
conservacionistas recomendadas para a cultura.
29
Foto 21 – Canal e camalhão de terraço, com representação esquemática mostrando as dimensões
e o cálculo da capacidade de armazenamento de água.
Autor: Pedro Henrique de Cerqueira Luz – professor FZEA/USP.

• Canais escoadouros vegetados – do volume de água que cai sob a


forma de chuva sobre uma área, parte infiltra no solo, parte evapora
e parte corre sobre a superfície do terreno. Quando se constroem es-
truturas no terreno com o objetivo de recolher esse excesso de água,
é necessário conduzir a enxurrada de forma segura até as partes
mais baixas do terreno. A estrutura que se constrói para encaminhar
essas águas é denominada canal escoadouro. Canais escoadouros
são, portanto, estruturas normalmente rasas e largas, com declivi-
dade moderada e estabelecidas em leitos resistentes à erosão. Sua
melhor localização talvez seja a depressão natural, para onde as
águas escorrem em um terreno, desde os espigões até o rio ou de-
pressão mais baixa. Em alguns solos bastante permeáveis, como os
Latossolos, consegue-se, muitas vezes, dispensar com segurança o
uso desses canais. Com o emprego de práticas mecânicas, como o
terraceamento em nível, associadas às práticas vegetativas, ocorre
uma retenção quase completa das águas de chuvas. O mesmo não
se pode dizer para solos como, por exemplo, os Argissolos, especial-
mente os abruptos, que favorecem uma drenagem maior de águas
em superfície, com redução drástica da drenagem em profundidade,
provocando o arreste da camada superficial. Na ocorrência de de-
30
ficiências na capacidade e na velocidade de infiltração por motivos
pedogenéticos, recomenda-se a construção de canais ou terraços em
desnível e a construção prévia de canais escoadouros vegetados, a
fim de conduzir com segurança o excesso de água.

Foto 22 – Terraços em nível e estruturas primárias e secundárias de coleta de água por sistema
de canais escoadouros vegetados.
Fonte: NRCS/USDA.

• Embaciamento – consiste em se construir um pequeno terraço em


cada entrelinha da cultura, mediante tratos culturais mecanizados com
regulagem certa do implemento, no caso, a grade de disco. Em culturas
permanentes, devido à mecanização e à necessidade de carreadores
para a retirada das colheitas, a utilização de terraços causa certos
transtornos. Esse fato leva alguns agricultores a substituírem os terraços
pelo embaciamento. Embora não existam na Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo dados de pesquisa, o em-
baciamento é uma prática que vem sendo introduzida principalmente
em pomares de citros, demonstrando grande eficiência no controle da
erosão, e podendo ser estendida a outras culturas permanentes.
31
4.3. Tecnologias disponíveis para a implementação de técnicas
complementares no solo

• Controle de erosão em estradas rurais – como as águas pluviais


constituem a principal causa dos estragos ocasionados pela erosão
nas estradas, reveste-se de grande importância a captação e o disci-
plinamento dessas águas, de forma a eliminar seu efeito destruidor,
acumulando-as em locais adequados, e forçando sua infiltração, com
favorecimento da recarga do lençol freático e, consequentemente, ali-
mentando fontes e nascentes. Atenção especial deve ser dada à área
de contribuição, ou seja, áreas lindeiras que lançam seus excessos
de águas pluviais no leito das estradas, ou vice-versa. É bom lembrar
que existem limitações para o planejamento e para as indicações de
uso de determinadas práticas para situações específicas. Algumas
delas, no caso de bacias de captação, são: a aplicação em solos
impermeáveis; o espaçamento excessivo; o subdimensionamento; a
inclinação inadequada dos taludes; as falhas na locação; e a construção
e manutenção inadequadas. O uso de estruturas de armazenamento
não é recomendado em muitas situações quando outras alternativas se
mostram mais interessantes. Como exemplo, a utilização de sistemas
de terraceamento de áreas lindeiras para o recebimento das águas
pluviais das estradas, a condução disciplinada das águas por meio
de canais escoadouros naturais ou artificiais previamente definidos
e vegetados, o seccionamento da rampa com a adoção de “bigodes”
ou lombadas, conduzindo as águas de forma controlada às áreas de
pastagens nas margens das estradas, desde que devidamente vege-
tadas e manejadas racionalmente durante todas as estações do ano,
com a estratégia de dissipar a energia e promover o “espalhamento”
da lâmina d’água (Foto 23).

• Controle de voçorocas – a voçoroca é a visão mais impressionante


do fenômeno da erosão, muitas vezes usada pelos conservacionistas
como um sintoma característico. Deve-se, porém, ter o cuidado de não
superestimá-la. Naturalmente, essa forma de erosão é muito impor-
tante como uma fonte de sedimentos para os córregos. Contribuem
para sua formação, certas condições edafoclimáticas do Estado de
São Paulo, como chuvas intensas de verão sobre solos de textura
que vão de arenosa à média e susceptíveis à erosão. Essas condi-
ções, aliadas às ações equivocadas no manejo de solo, acabaram
por provocar, em certas áreas, uma catástrofe ambiental, tornando
muitas propriedades improdutivas, total ou parcialmente, além de
32
contribuírem com os impactos de assoreamento e redução de vazão
em cursos d’água. O controle de voçoroca, além de complexo é muito
caro, podendo até ser mais elevado que o próprio valor da terra. A
voçoroca se forma quando a enxurrada se concentra em depressões
mal protegidas e a água escorre por longos períodos de forma volumo-
sa, adquirindo grande velocidade. À medida que essa ação progride,
as grotas vão atingindo maior dimensão, chegando, às vezes, a ter
vários quilômetros de comprimento, de 10 a 15m de largura e 6m ou
mais de profundidade. O crescimento em comprimento é mais rápido
que o transversal, em razão de o volume de enxurrada que penetra na
extremidade ser superior e maior que nas laterais. Já o crescimento
em profundidade, é maior nas regiões de maior declividade. A adoção
de práticas conservacionistas equivocadas, como é o caso de terra-
ceamento em nível em áreas com restrições de infiltração, contribui
para a formação e evolução da voçoroca. A maioria dos trabalhos
de controle de voçorocas consiste em disciplinar o escorrimento da
água superficial e subterrânea, quando presente, e em estabilizar a
superfície das grotas por meio de terraplenagem e de revegetação,
sendo necessária sua vedação até a estabilização dos taludes.

Foto 23 – Comportamento da água, por meio de uma alternativa simples de sistema de condução
de águas em estrada rural devidamente projetada.
Autor: Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI/SAA.

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Foto 24 – Estrada Santa Cruz Rio Pardo, antigamente.
Autor: Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI/SAA.

Foto 25 – Estrada Santa Cruz Rio Pardo, atualmente.


Autor: Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI/SAA.

34
5. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

Além das práticas citadas, cumpre salientar que muitas outras


estarão embutidas em práticas agrícolas consideradas conservacionis-
tas, como por exemplo: o reflorestamento, a irrigação, a recomposição
de mata ciliar, a drenagem de várzeas, o depósito de lixo tóxico, a
construção de açudes e abastecedouros comunitários, o manejo e a
reforma de pastagens, além do planejamento do arcabouço da pro-
priedade.

Apesar de as mesmas não terem sido contempladas individual-


mente em tópicos, são consideradas como práticas complementares
e está implícito que são tão importantes quanto todas as já elencadas,
não cabendo detalhamento em função da destinação deste trabalho.

A CATI conta com escritórios municipais (Casas da Agricultura) em


praticamente todos os municípios paulistas. Elas são administadas por
40 Regionais, que dispõem de 25 Unidades Técnicas de Engenharia
(UTEs), as quais atendem toda a estrutura nas áreas de Conservação
do Solo e Engenharia Rural. Cabe às UTEs o desenvolvimento de
protocolos pioneiros e específicos para o Controle de Voçorocas e
Adequação de Estradas Rurais, copiado, hoje, por grande parte das
instituições ligadas à área, em todo o País.

Dessa forma, o produtor rural pode contar com o suporte necessá-


rio para utilizar as práticas que melhor se adequem às especificações
de cada propriedade. Para cada intervenção proposta, é feito um
estudo com detalhamento das práticas conservacionistas, visando à
obtenção do máximo rendimento com o mínimo de impacto ao meio
ambiente – Modelo de planejamento executado para o município de
Quintana – CATI Regional Marília (Figura 6).

O produtor pode contar, ainda, com o apoio dos técnicos da CATI


para o preenchimento adequado da matriz para enquadramento da
sua propriedade (ANEXO), no sentido de possibilitar a visualização
da mesma sob o aspecto da conservação do solo e a indicação de
tecnoclogias que venham a conferir sustentabilidade e maiores lucros
ao sistema.
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Figura 6 – Modelo de Planejamento Estratégico realizado em Quintana (SP), município da área
de atuação da CATI Regional Marília.
Fonte: Ciagro/CATI/SAA

6. PROPOSTA PARA AVALIAÇÃO TÉCNICA EM PROPRIEDADES


RURAIS EM TERMOS DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS

Para efeito de avaliação da situação atual da propriedade rural em


termos de conservação do solo, pode-se aplicar a matriz “Tecnologia
e Estratégias Conservacionistas” encontrada no site da CATI, na qual
constam as principais práticas conservacionistas aplicadas às mais
diferentes condições, com pesos diferenciados, de acordo com o po-
tencial e a importância das mesmas.
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Figura 7 – Matriz “Tecnologias e Estratégias Conservacionistas” (planilha eletrônica)
Disponível em: www.cati.sp.gov.br/site/tec_cons.php
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