JOWANKAAMORIMCorrig
JOWANKAAMORIMCorrig
JOWANKAAMORIMCorrig
JOWANKA AMORIM
Ribeirão Preto, SP
2017
JOWANKA AMORIM
Ribeirão Preto, SP
2017
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRÁFICA
Amorim, Jowanka
74f.;30cm
Jowanka Amorim
Avaliação do extrato etanólico das flores de Erythrina mulungu Benth. no tratamento da asma
em um modelo animal
Banca Examinadora:
Agradeço a Deus pela vida, pelos dons concedidos e por Ele ser guia na minha
jornada.
Agradeço aos meus pais pela dedicação que tiveram e pela oportunidade que deram à
educação dos filhos; agradeço o incentivo em todas as minhas escolhas, encorajando-me e
sendo o solo firme para eu poder pisar e ir em busca dos sonhos. Vocês serão para sempre
meu lar, onde quer que eu vá.
Agradeço ao meu irmão Wellington pelo incentivo, pelo exercício da escuta, por me
ensinar muito sobre a vida, muito além de livros.
Ao professor orientador, Fabio Carmona, por ter concedido a oportunidade de
ingressar na pós-graduação; por ter confiado no meu trabalho para a execução deste projeto
e ter redirecionado os caminhos quando o projeto inicial não se efetivou. Eu não ia desistir,
mas você soube lidar de um modo muito tranquilo, transmitindo-me confiança, e foi daí que
novas possibilidades surgiram.
Ao meu professor co-orientador, Marcos de Carvalho Borges, pelo acolhimento
dentro do seu grupo de pesquisa, pela condução dos trabalhos durante o percurso de 2 anos,
mantendo-se constante, paciente, dedicado, acessível e incentivando-nos ao desenvolvimento
pleno das nossas aptidões.
A minha co-orientadora Profª Dra. Ana Maria Soares Pereira por ser referência de
pessoa e profissional, pela atenção, pelo carinho e prontidão em dar todas as condições para
o desenvolvimento do trabalho.
Aos três professores agradeço por acreditarem no estudo científico com plantas
medicinais e por hoje se tornarem minhas referências em pesquisa. Agradeço também pelo
exemplo de trabalho em equipe; embora ele exija mais e se torne cansativo, os fazem vencer
obstáculos e colher frutos mais fecundos junto aos seus alunos.
Aos dedicados colegas de laboratório, Bruna Cestari, Camila Carla Guimarães,
Lucas Junqueira, Camila Sandy, Vanessa Maciel, Andiamira Balestra e Leandra Zanetti, pelo
comprometimento, pela determinação e persistência; pelo espírito de companheirismo,
humildade e empatia.
Aos professores do Curso de Nutrição, Rosa Wanda Diez Garcia, Paula Garcia
Chiarello pela oportunidade que tive em me aproximar da prática da nutrição através do
estágio docência. Ao Professor Júlio Sergio Marchini também meus agradecimentos, pela
referência e pelas muitas oportunidades construtivas.
Agradeço aos meus amigos também, aos de longe e aos de perto, porque não
desistiram de mim, preencheram espaços, trouxeram alegrias e suavizaram a saudade. Em
especial, às amigas Elaine Hillesheim, Débora Marcos Rubim e Regina Helena Carmo.
Ao laboratório de Fisiopatologia Pulmonar Experimental, em nome do Prof. Dr.
Marcos Borges de Carvalho pela concessão do espaço e dos aparelhos para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Ao laboratório de Fitoquímica da Universidade de Ribeirão Preto, em nome da Prof.
Dra. Ana Maria Soares Pereira, pela concessão do espaço e equipamentos para o preparo do
extrato da planta medicinal.
Ao Laboratório de Patologia Celular e Molecular de Doenças do Fígado, no nome do
Prof. Dr. Fernando Silva Ramalho e da técnica Deisy Mara da Silva pelo preparo das
lâminas de histologia.
Ao Laboratório de Neurologia Experimental, no nome do Prof. Dr. Amilton Antunes
Barreira, e ao Antônio Renato Meirelles e Silva pela concessão do uso dos microscópios para
que as lâminas de histologia fossem fotografadas e pela edição das mesmas.
A Universidade de São Paulo, pela estrutura e pelas condições de trabalho aos pós-
graduandos.
A CAPES pela concessão da bolsa; à CNPq e FAPESP pelo apoio financeiro.
“Quando amamos e acreditamos do fundo da nossa
alma, em algo, nos sentimos mais fortes que o
mundo, e somos tomados de uma serenidade que
vem da certeza de que nada poderá vencer a nossa
fé. Essa força estranha faz com que sempre tomemos
a decisão certa, na hora exata e, quando atingimos
nossos objetivos, ficamos surpresos com a nossa
própria capacidade”.
(Paulo Coelho)
RESUMO
Introdução: Estima-se que 300 milhões de pessoas no mundo possuam asma e há expectativa
de aumentar o número de mortes pela doença nos próximos 10 anos. Parte disto deve-se à
limitação na eficácia dos tratamentos atuais e à heterogeneidade da doença. Erythrina
mulungu Benth. (Leguminosae, mulungu) é uma planta nativa brasileira de interesse do
Sistema Único de Saúde para ser estudada e que apresenta potenciais efeitos anti-
inflamatórios. Objetivo: Avaliar os efeitos da administração do extrato etanólico das flores de
E. mulungu no tratamento da asma em um modelo experimental, e os mecanismos envolvidos.
Métodos: Camundongos Balb/c sensibilizados com ovalbumina (OVA) foram tratados por
via intraperitoneal com 4 doses (200, 400, 600 e 800 mg/kg) do extrato de E. mulungu, ou
dexametasona (2 mg/kg) – controle positivo – durante 7 dias consecutivos e foram
paralelamente desafiados com ovalbumina intranasal. A hiper-responsividade brônquica foi
avaliada in vivo, 24 h após o último desafio; o lavado broncoalveolar (LBA) foi coletado para
avaliação do número de células totais e diferencial por citômetro e contagem microscópica,
respectivamente. O sangue foi coletado para dosagem de anconticorpos IgE para ovalbumina.
Níveis de citocinas IL-4, IL-5, IL-10, IL-13 e INF-γ foram dosados no homogenato pulmonar
através do ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA); e o recrutamento de células
inflamatórias no tecido foi avaliado coloração Hematoxilina-Eosina (H&E). O perfil
cromatográfico da planta foi analisado por cromatografia líquida de alta pressão (HPLC),
seguido de espectrofotometria de massas (MS). Resultados: O tratamento com E. mulungu
diminuiu significativamente o aumento da hiper-responsividade brônquica nos animais em
todas as doses testadas. Diminuiu o número de células totais, eosinófilos e linfócitos no LBA,
significativamente na dose de 600 mg/kg e suprimiu significativamente a concentração de IL-
4 e IL-5. Além disso, E. mulungu diminuiu significativamente o recrutamento de células
inflamatórias no tecido dos animais asmáticos. Erisotrina, N-óxido-erisotrina e hipaforina
foram os constituintes majoritários encontrados. Conclusão: Coletivamente esses resultados
sugerem que E. mulungu tem potencial para uso no tratamento da asma, através da modulação
da resposta inflamatória, apresentando efeitos imunomodulador e anti-inflamatório.
Palavras-chave: Asma, planta medicinal, inflamação, Leguminosae
ABSTRACT
Background: Asthma affects 300 million people worldwide and the number of victims of the
disease is expected to increase in the next 10 years. Part of this may be a result of the limited
efficacy of current treatments and disease heterogeneity. Erythrina mulungu Benth.
(Leguminosae, mulungu) is a Brazilian native species which is listed by the Brazilian
National Program of Medicinal Plants and Herbal Medicines to be studied and that has
potential anti-inflammatory effects. Objective: To evaluate the effects of E. mulungu flowers
ethanolic extract in ovalbumin (OVA)-induced asthma in mice, and to study the mechanisms
involved. Methods: OVA-sensitized mice were intraperitoneally treated with four doses (200,
400, 600 e 800 mg/kg) of the E. mulungu extract or dexamethasone (2 mg/kg) – positive
control – during seven consecutive days and simultaneously challenged with intranasal
ovalbumin. Airway hyperresponsiveness was evaluated in vivo, 24 h after the last OVA
challenge; broncoalveolar lavage fluids (BAL) was collected for counting the number of total
and differential inflammatory cells. Blood was collected for measurement of anti-OVA IgE
levels. Levels of cytokines IL-4, IL-5, IL-10 IL-13 and INF-γ were measured in pulmonary
homogenate by Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA); and the inflammatory cells
recruitment to the lung tissue were determined using hematoxylin and eosin staining (H&E).
The species’ chromatographic profile was evaluated by Ultra Performance Liquid
Chromatography – Tandem Mass Spectrometer. Results: The treatment with E. mulungu
extract significantilly reduced the airway hyperresponsiveness in all doses evaluated. It
significantly reduced the number of total cells, eosinophils and lymphocytes in BAL, at 600
mg/kg and significantly decresead the levels of IL-4 and IL-5. In addition, E. mulungu
significantly decreased the cellular inflammatory infiltration in the lung tissue of allergic
mice. Erysothrine, erysothrine-N-oxide and hypaphorine were the major constituents in the
extract. Conclusions: Collectively, these results suggest the potential of E. mulungu for
asthma treatment, through modulation of inflammatory response.
H&E Hematoxilina-Eosina
Ig Imunoglobulina
IL Interleucina
ILC Innate lymphoid cells (Células linfóide inata)
IMC Índice de Massa Corporal
INF Interferon
LB Linfócito B
LBA Lavado broncoalveolar
Mch Metacolina
NF- kB Fator de transcrição nuclear NF-KB
OMS Organização Mundial da Saúde
OVA Ovalbulina (proteína)
PA Princípio ativo
RENAFITO Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos
RENISUS Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS
RR Risco relativo
SUS Sistema Único de Saúde
TH Linfócito T helper (auxiliar)
TSLP Thymic Stromal Lymphopoietin (Citocina linfopoetina do estroma tímico)
UPLC-MS/MS Ultra Performance Liquid Chromatography – Tandem Mass Spectrometer
Cromatografia Líquida de Ultra-alta Pressão Acoplado a Espectro de
Massas
VCAM-1 Vascular cell adhesion molecule 1 (molécula de adesão celular-vascular-1)
LISTA DE TABELAS
Tabela 2. Evidências científicas dos efeitos terapêuticos da Erythrina mulungu Benth., parte
da planta, tipo de extrato, características do tratamento, dose e via de administração. ............ 29
Figura 2. Fluxograma da busca dos estudos científicos com Erythrina mulungu Benth. ....... 27
Figura 3. Flores secas (esquerda) e o pó (direita) obtidos da Erythrina mulungu Benth. ....... 35
Figura 4. Modelo experimental de asma e tratamento com o extrato etanólico das flores de
Erythrina mulungu Benth. (EV). .............................................................................................. 37
Figura 5. Efeitos do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800mg/kg do
extrato etanólico das flores de Erythrina mulungu Benth (EV) e de dexametasona (DEXA) na
hiper-responsividade brônquica................................................................................................ 45
Figura 6. Efeitos do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800 mg/kg do
extrato etanólico das flores de Erythrina mulungu Benth. (EV) no número de células totais
(A) e na contagem diferencial absoluta de células (B) no lavado bronquio-alveolar (LBA). .. 47
Figura 7. Efeito do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 mg/kg do extrato
etanólico das flores de Erythrina mulungu (EV) e de dexametasona (DEXA) sobre os níveis
de IgE sérico. ............................................................................................................................ 48
Figura 8. Efeito do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800 mg/kg do
extrato etanólico das flores de Erythrina mulungu (EV) e de dexametasona (DEXA) sobre os
níveis de IL-4, IL-5, IL-10, IL-13 e INF-γ ............................................................................... 50
Figura 9. Efeito do tratamento com Erythrina mulungu Benth. sobre a infiltração de células
inflamatórias no tecido pulmonar ............................................................................................. 51
Figura 11. Desenho da estrutura química dos constituintes majoritários da Erythrina mulungu
Benth. ........................................................................................................................................ 54
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16
1.2 A prática da Fitoterapia: perspectivas históricas, atuais e justificativas para uso ........... 23
1.5 Hipótese........................................................................................................................... 32
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 33
3. MÉTODO ............................................................................................................................ 34
3.18 Análise fitoquímica do extrato etanólico das flores de Erythrina mulungu ................. 42
4. RESULTADOS ................................................................................................................... 44
4.5 Efeito de E. mulungu sobre a infiltração por células inflamatórias no tecido ................ 51
5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 55
6. CONCLUSÃO..................................................................................................................... 61
7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 62
A asma é a doença inflamatória mais comum dos pulmões e é umas das doenças
imunológicas crônica de maior ocorrência em humanos, que afeta pessoas da infância à fase
adulta (1, 2). Segundo a Iniciativa Global da Asma, é uma doença heterogênea, definida pelo
histórico de sintomas respiratórios, que variam ao longo do tempo e em intensidade,
juntamente com um padrão variável de obstrução das vias aéreas 3.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que aproximadamente 300 milhões
pessoas no mundo possuam asma, sendo esta prevalente em 1 a 18 % da população em
diferentes países; e que esta prevalência está aumentando, especialmente entre crianças 4.
Estima-se que aproximadamente 1000 pessoas morrem por dia devido à doença 5.
No Brasil, estima-se que existam 20 milhões de asmáticos se considerada a
prevalência global de 10 %. Dados de 2011 mostram que no país, a asma é a 4ª causa de
hospitalizações e que a taxa de mortalidade, entre 1998 e 2007, foi de 1,52/100.000 habitantes
(variação 0,85 – 1,72/100.000 habitantes) 6.
A resposta inflamatória nos pulmões frequentemente inicia-se na infância quando os
estímulos ambientais - tais como infecções virais do trato respiratório, exposição à alérgenos,
fumaça de cigarro e outros poluentes oxidantes - ativam a produção de citocinas pelo epitélio
das vias aéreas - entre as principais estão as interleucinas (IL) 25, IL-33 e/ou TSLP (Thymic
Stromal Lymphopoietin) - desencadeando uma série de reações patológicas subsequentes que
levam ao desenvolvimento da asma em crianças suscetíveis por apresentarem atopia pré-
existente e/ou fatores de risco genéticos específicos em reguladores da resposta inflamatória
2, 7
e/ou outras vulnerabilidades menos compreendidas . O desenvolvimento da asma sofre
influência, portanto, de fatores de risco genéticos e ambientais.
Tem sido amplamente investigada, mais recentemente, a influência da microbiota
intestinal na maturação e no funcionamento do sistema imunológico. O estudo de coorte de
Fujimura, et al (2016), publicado na revista Nature, investigou se a composição da microbiota
de neonatos com 1 mês de vida influenciaria a população de linfócitos T CD4+, de modo a
aumentar ou diminuir o risco relativo (RR) para o desenvolvimento de atopia aos 24 meses e
de asma aos 48 meses de idade. Em conclusão, verificou-se a susceptibilidade para asma
16
alérgica nas crianças com um padrão de microbiota menos abundante de bactérias
Bifidobacterium, Akkermansia e Faecalibacterium; e com maior proporção de Candida e
Rhodotorula. Assim, estuda-se que alteração no microambiente intestinal é uma via potencial
para alterar função de células T CD4+. O estudo sugere que a intervenção na primeira
infância para manipular a composição e a função do microbiota intestinal pode ser uma
estratégia viável para prevenção da doença 8.
Não são bem conhecidas as razões pelas quais as respostas imunes iniciadas na
infância se tornam persistentes na vida adulta. Talvez se possa atribuir à “memória” das
reações pela fixação de programações imunológicas aberrantes estabelecidas durante a janela
metabólica na primeira infância, quando o sistema imunológico ainda tem plasticidade.
Durante esse período do desenvolvimento, tanto as células da resposta imune inata, quanto da
resposta imune adaptativa são susceptíveis às mudanças epigenéticas que levam a mudanças
persistentes no comportamento celular das mesmas 2.
Uma vez manifestada, o diagnóstico da asma é baseado na história clínica de sintomas
respiratórios como tosse, sibilância, dispneia e/ou desconforto torácico, e na obstrução da via
aérea (limitação variável ao fluxo aéreo expiratório). Como critério diagnóstico diferencial às
demais doenças respiratórias crônicas, esses sintomas geralmente se apresentam com piora
característica no início da manhã e à noite e se exacerbam na presença de gatilhos, tais como
atividade física, contato com alérgenos/irritantes de mucosa (cheiro fortes de perfumes,
fumaça de cigarro), mudanças climáticas e infecções virais. Os sintomas também variam ao
longo do tempo e em intensidade e podem apresentar melhora espontânea ou com tratamento
medicamentoso 3.
A obstrução da via aérea e a condição de variabilidade da função pulmonar podem ser
confirmadas por espirometria, onde a resposta de constrição brônquica é induzida por
exercício físico, metacolina (Mch) ou histamina e medida sua reversibilidade com
broncodilatores ou anti-inflamatórios 3. Este teste avalia também a característica intrínseca e
diagnóstica da asma, chamada de hiper-responsividade brônquica, um estado patológico no
qual o estreitamento das vias aéreas podem ser rapidamente disparado 9.
A asma é frequentemente caracterizada por períodos assintomáticos pontuados com
2, 9
manifestações clínicas que podem variar de moderadas a graves . Um subgrupo
considerável de indivíduos com asma sofre do tipo mais grave da doença que é caracterizado
por sintomas mais frequentes e exacerbações. As exacerbações são fenômenos clínicos
complexos que envolvem a perda do controle da asma e o aparecimento dos sintomas citados
17
anteriormente. O resultado desse processo é o estreitamento da via aérea, que resulta não
apenas da contração do músculo liso, mas também do edema de mucosa e da formação
exacerbada de muco intraluminal 2. Os episódios de exacerbação podem também variar de
moderados a graves e até mesmo serem fatais por falência respiratória.
Na última década, métodos de detecção viral baseada em ácidos nucleicos demonstram
que a infecção por rinovírus é o gatilho mais comum de exacerbação da doença. Cerca de
90% das exacerbações da asma na infância estão associadas a viroses. As explicações do por
que a infecção por rinovírus tem consequências tão graves em pacientes asmáticos, e não em
saudáveis, ainda têm sido estudadas. Evidências mostraram que as células epiteliais
brônquicas de pacientes asmáticos produzem menos interferon (INF) tipo I e tipo III,
comparados aos controles saudáveis, quando induzidas por rinovírus. Ainda não se sabe se
esse defeito é uma causa ou um efeito da patogenia da asma 9.
Como visto, as manifestações clínicas variáveis tornam a asma uma doença
heterogênea. Com base nas características comuns dos pacientes asmáticos, têm sido
propostos diferentes fenótipos para a asma. Os indivíduos podem ser agrupados em 4-5
“clusters” de acordo com idade, gênero, atopia, função pulmonar, cuidado com a saúde e o
índice de massa corporal (IMC). Por essa divisão, por exemplo, o maior grupo é caracterizado
por obstrução média da via aérea e relativamente resistente às exacerbações. O outro grupo é
caracterizado por obstrução grave e mais propenso a exacerbações. Nesse cluster de pacientes
com asma mais grave incluem-se os indivíduos mais velhos e indivíduos obesos. Pesquisas
mais atuais buscam esclarecer se a heterogeneidade de fenótipos pode ser explicada por
mecanismos celulares ou moleculares em comum 2. Alguns dos fenótipos mais comuns
incluem:
Asma alérgica: é o fenótipo mais facilmente reconhecido, que frequentemente
tem início na infância e está associado ao passado ou história familiar de
doença alérgica (rinite, eczema etc). O exame de escarro desses pacientes
geralmente revela uma inflamação eosinofílica nas vias aéreas. Os pacientes
com este fenótipo de asma são bons respondedores ao tratamento com
corticosteroides inalados.
Asma não alérgica: alguns adultos que desenvolvem asma não associada com
alergias. O perfil celular do escarro pode ser neutrofílico, eosinofílico ou
conter poucas células inflamatórias. Pacientes com este fenótico geralmente
respondem menos com corticosteroides inalados.
18
Asma tardia: asma apresentada pela primeira vez na vida adulta,
particularmente em mulheres. Esses pacientes tendem a não ser alérgicos e a
necessitar de doses extremamente altas de corticosteroides, ou mesmo serem
refratários ao tratamento.
Asma com limitação fixa ao fluxo aéreo: são pacientes que já apresentam
mudanças estruturais no epitélio pulmonar, chamado remodelamento
brônquico, decorrente da inflamação crônica; cursam com limitação
permanente ao fluxo aéreo.
Asma e obesidade: pacientes com excesso de peso apresentam sintomas
respiratórios proeminentes e pouca inflamação eosinofílica na via aérea 3.
Outro termo proposto para asma e atualmente discutido é baseado no mecanismo
imunopatológico da doença. Por ele, foi proposto o endotipo de asma, chamado “TH2- alto”
que é caracterizado por níveis aumentados de inflamação do tipo 2 nas vias aéreas. O termo
“endotipo” foi proposto em 2008 para direcionar os estudos na heterogeneidade molecular da
asma. Assim, um endotipo é um subtipo da doença definido por um mecanismo funcional ou
patológico distinto, diferentemente de fenótipo, que são características observacionais. A
vantagem dessa divisão consiste que um endotipo pode ser alvo de um tipo de tratamento
específico para um mecanismo molecular causador 2.
A base da fisiopatologia da asma envolve a quebra da homeostasia imunológica no
trato respiratório e a liberação de citocinas que ativam um processo inflamatório que garantem
1, 10
a manutenção crônica, característica da doença . É importante salientar que a resposta
inflamatória é um processo agudo, fisiológico e necessário para manutenção da integridade do
organismo, e que se encerra após a remoção do estímulo desencadeante. No entanto, pode
haver doenças com inflamação inapropriada, em que a resposta inflamatória progride para
11
uma fase crônica, em resposta a determinado estímulo, como alergia, transplantes, etc. .
Nesse mesmo contexto, a asma é uma doença crônica, na qual uma resposta inflamatória
anormal é ativada contra substâncias ambientais comuns, a que a maioria indivíduos
saudáveis não responde.
Quando um antígeno entra em contato com a via aérea, sua detecção imunológica
inicial se dá por células sensoras no local da infecção ou do dano tecidual. As células sensoras
são células epiteliais, macrófagos, células dentríticas e mastócitos que promovem a resposta
imune inata, como primeira linha de defesa, para remover o estímulo, reparar o tecido e cessar
a resposta inflamatória. As células sensoras, bem como boa parte das células do sistema
19
imunológico, atuam liberando citocinas de primeira ordem (tais como IL-1α, IL-1β, IL-23,
IL-25) capazes de ativar e recrutar células efetoras (monócitos, neutrófilos, eosinófilos,
basófilos, mastócitos) para o local da infecção/dano e ativar linfócitos residentes no tecido 9.
A produção de IL-25, IL-33 e TSLP pelas células epiteliais estão vinculadas à ativação de
resposta inflamatória tipo 2, discutida a seguir 1, 2, 9.
Os linfócitos T auxiliares (T helper/ CD4+) desencadeiam e reforçam a resposta imune
11
através de um determinado conjunto de citocinas , que descrevem as distintas respostas do
tipo 1 e tipo 2, principalmente reguladas por subpopulações de T helper 1 e (TH1) e T helper 2
(TH2), respectivamente 2.
Uma das possíveis explicações para a inflamação observada na asma é o desequilíbrio
12
entre as respostas imunológicas TH1 e TH2, com um desvio para TH2 . Este último tipo de
inflamação ocorre em cerca de 80% das crianças e na maioria dos adultos com asma
sensibilizada a alérgenos ambientais (pelo de animais de estimação, pólen, ácaros, fungos). É
bem estabelecido o papel central dos linfócitos TH2 na asma alérgica clássica, ou asma
eosinofílica (este último termo não é mais utilizado), mas não explica todas as variações
fenotípicas encontradas. Portanto, uma variedade de outras células T em diferentes subtipos
de asma, incluindo a associação de linfócitos TH1 e TH17 com a asma neutrofílica também
têm sido investigadas 1, ampliando o conhecimento sobre a fisiologia dessas células no
contexto da asma.
Após terem sido ativadas, as células TH2, na asma alérgica e, potencialmente, na asma
não alérgica, secretam citocinas do tipo 2, tais como IL-3, IL-4, IL-5, IL-13 e fator
estimulador de colônias de granulócitos-macrófagos (GM-CSF), conhecidas como citocinas
de segunda ordem, que vão ativar uma série de respostas sobre as células efetoras (neutrófilos,
eosinófilos, mastócitos, basófilos, macrófagos), além de ativarem a resposta imune adaptativa
humoral com produção de anticorpos por linfócitos B (LB) e formação de LB de memória 13.
Tais citocinas se caracterizam por ativar um resposta mediada principalmente por eosinófilos,
1,9
mastócitos, basófilos e imunoglobulina E (IgE), característica da asma alérgica . Trabalhos
em ratos Rag2-/- que não possuem células T e B mostraram que o tratamento por IL-25
(citocina de primeira ordem liberada pelas células epiteliais em resposta à alérgenos)
provocou a liberação de IL-5 e IL-13 e a indução de resposta imunológica tipo 2. Tais
achados levaram a acreditar que não haveria somente a produção de citocinas do tipo 2 por
TH; foi então que se identificou congêneres de células linfoides inatas (conhecidas por uma
variedade de nomes na literatura: células naturais auxiliadoras, nuócitos e células inatas
20
auxiliadoras 2), e que recentemente foi proposto que todas as ILCs (innate lymphoid cells)
que produzem citocinas do tipo 2, fossem determinadas ILC2.
Na sequência dos eventos, algumas células TH2 ativas migram para folículos de
células B (localizados nos órgão linfoides secundários - baço, linfonodos e tecidos linfoides
associado à mucosa) para ativar as células B virgens (naive) e dar início à proliferação e
diferenciação das mesmas, culminando com troca de isótipo (classe) da cadeia pesada das
imunoglobulinas de IgM para IgE, produção aumentada de IgE pelos plasmócitos e formação
de células B de memória. O evento de troca e maturação da afinidade das imunoglobulinas é
mediada pelas citocinas produzidas pelos TH – no caso, IL-4 que induz a mudança de classe
para IgE; maturação da afinidade decorre da exposição continuada ao alérgeno, gerando
anticorpos com capacidade aumentada de ligação ao antígeno, de modo que ao se ligar,
neutraliza-o com maior eficiência. Os linfócitos B de memória são células capazes de
sobreviver a longos períodos e montam respostas rápidas à introdução de um antígeno
subsequente. Elas permanecem nos órgãos linfoides ou circulam no sangue. A ativação gera
anticorpos de alta afinidade e produção de grandes quantidades após a segunda exposição aos
antígenos 13.
Dessa forma, a resposta imune adaptativa mediada por TH2 na asma envolve tanto a
resposta celular, para atração e expansão clonal de células T, quanto a resposta humoral
1,9,11
(produção de anticorpos e de células de memória) . A consequência da cascata
inflamatória desencadeada, é a hipersensibilidade mediada por IgE a aeroalérgenos, a ativação
de células epiteliais da via aérea, a quimioatração de células efetoras (mastócitos, eosinófilos
9
e basófilos) e o remodelamento do epitélio e da matrix subepitelial . O termo
“hipersensibilidade” nada mais é do que uma definição clínica de imunidade como
“sensibilidade”, que se baseia no fato de o indivíduo ter sido exposto a um antígeno e
apresentar uma reação detectável, ou seja, é “sensível” ao antígeno em contato subsequente 13.
O remodelamento da via aérea é, portanto, uma consequência da inflamação crônica
que acomete o tecido, em que mudanças estruturais são vistas tanto no epitélio, quanto na
submucosa. No epitélio, há metaplasia de células de goblet ou caliciformes (células
produtoras de muco e mucinas, componentes chaves da barreira protetora que impede a
entrada de patógenos pelo epitélio). Na mucosa, observam-se mudanças de fibrose
subepitelial (aumento da deposição de colágeno tipo I, III e V, fibronectina e tenascin C na
lâmina reticular na zona basal da membrana basal), aumento do volume das glândulas
submucosas, hiperplasia e hiperplasia das células do músculo liso, aumento do número de
21
vasos sanguíneos. Tais mudanças tornam o indivíduo mais susceptível a exageradas respostas
a alérgenos ambientais inalados e a exacerbação mais proeminente pelo estreitamento basal
do calibre da via aérea 2.
O tratamento da asma envolve as medidas educacionais sobre a exposição a
desencadeantes alérgenos e o tratamento farmacológico. Este último tem por finalidade
intervir na resposta inflamatória através da modificação dos mediadores de sinalização ou
supressão dos componentes do sistema imune 11. Entre os mediadores de sinalização estão os
fármacos que agem sobre os eicosanoides, a histamina e as células do sistema imune. Os
agonistas de receptor ß2-adrenérgicos e os glicocorticoides continuam sendo o principal
2
tratamento para os indivíduos asmáticos . Os glicocorticoides têm eficácia sobre a
imunossupressão do tipo 2. No entanto, são conhecidos seus efeitos colaterais, locais e
sistêmicos, como disfonia, candidíase, catarata, osteoporose e supressão da glândula adrenal,
particularmente quando utilizado em altas doses e por prolongados períodos de tempo.
Tipicamente os regimes de tratamento atuais incluem a combinação de diferentes drogas.
Além das citadas, incluem-se anticolinérgicos, antagonistas de receptores de leucotrienos e
terapias direcionadas a IgE (estes dois últimos mais recentemente). Além deles, inibidores
específicos da inflamação do tipo 2, tais como anticorpos monoclonais anti-IgE
(Omalizumab®), IL-5, IL-13 e TSLP, estão sendo estudados como novos recursos
terapêuticos e adjuvantes ao tratamento com corticosteroides 2.
Como visto, a asma é uma doença de amplo espectro, desencadeada por muitos
fatores, que induz respostas imunológicas e inflamatórias diversas, envolvendo mediadores
não somente mediados por TH2, mas também por TH1 e TH17, e tem seus mecanismos ainda
sendo estudados. Esse amplo espectro faz com que um grupo de pacientes permaneça sem
controle ou com controle inadequado da doença. Dada a complexidade envolvendo a resposta
imunológica na asma, a limitação do tratamento farmacológico, seja pelos efeitos colaterais
dos medicamentos existentes, seja pelo difícil controle da doença, faz-se necessário que se
busquem potenciais agentes anti-inflamatórios para o manejo e tratamento da doença. Neste
ínterim, o uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos surgem como uma fonte
promissora de novas substâncias para o estudo em asma.
22
1.2 A prática da Fitoterapia: perspectivas históricas, atuais e justificativas para uso
23
atualmente vigente) ou nas monografias de fitoterápicos de uso bem estabelecido da
Comunidade Europeia (Community herbal monographs with well-estabilish use) elaborada
pelo Comitê de Produtos Medicinais Fitoterápicos (Committe on Herbal Medicinal Products)
da Eurepean Medicines Agency.
Os benefícios à saúde atribuídos ao uso de fitoterápicos são devido à presença de
diversos compostos bioativos (CBAs) ou princípios ativos (PAs) encontrados nas folhas,
flores, cascas, caules ou raízes das plantas 21.
Os PAs são substâncias orgânicas produzidas pelo metabolismo secundário das
plantas, isto é, o conjunto de reações químicas da célula vegetal nas quais se transformam
carboidratos, aminoácidos e lipídios (produtos da reação de fotossíntese, chamado de
22
metabolismo primário) em uma rica e vasta diversidade de substâncias . Mas por que razão
as plantas produzem uma vasta diversidade de substâncias? Entre as teorias levantadas, a mais
aceita é que, evolutivamente, as plantas passaram a produzi-las para conferir vantagem na
capacidade de sobrevivência, garantindo assim o afastamento de predadores (animais, insetos,
micro-organismos patogênicos) e à perpetuação da espécie pela atração de polinizadores
(abelhas, pássaros, etc.) 23.
Uma vez ingeridas, na forma de chás, tinturas, extratos, xaropes ou medicamentos
industrializados, tais substâncias são responsáveis por diversos efeitos farmacológicos no
organismo.
Ao conjunto de todas as substâncias originadas do metabolismo secundário de uma
planta, que são responsáveis, conjuntamente, pelos efeitos biológicos observados, dá-se o
nome de fitocomplexo 20.
O fitocomplexo caracteriza-se, por sua vez, como a principal vantagem dos
fitoterápicos em relação à terapia convencional. O isolamento de um único PA pode ser
vantajoso em algumas situações, mas não em outras, onde a atuação do fitocomplexo é
superior à de quaisquer dos componentes isoladamente 15. Um exemplo disto é o fato de que,
no tratamento da malária, o extrato bruto de Artemisia annua L. (“artemísia”, Compositae) é
mais eficaz e induz menos resistência do que do que a substância isolada artemisinina (24,
25).
Inúmeros estudos têm sido publicados sobre o efeito de diversos extratos vegetais com
26–28
propriedades anti-inflamatórias e broncodilatadoras . Em um estudo experimental, foi
proposto tratamento para asma através da curcumina, um polifenol presente no rizoma da
espécie Curcuma longa L. (“açafrão-da-terra”, Zingiberaceae), que tem sido usado há séculos
24
como remédio anti-inflamatório na medicina asiática. Neste trabalho, foi demonstrado que a
curcumina pode ter um efeito benéfico no tratamento da asma através da inibição do fator de
29
transcrição nuclear kappa B (NF-kB) . Outros estudos realizados com Mikania glomerata
Spreng. (“guaco”, Asteraceae) e Mikania laevigata Sch. Bip. ex Baker (“guaco”, Asteraceae)
demonstraram que estas plantas também apresentam ação anti-inflamatória nas vias aéreas
30,31
.
Atualmente, no Brasil, a ANVISA regulamenta o uso de algumas espécies vegetais
32
como anti-inflamatórias e outras como broncodilatadoras . Porém, ainda existem outras
espécies que necessitam de investigação quanto a sua eficácia no tratamento da asma. Dentre
as espécies com ação anti-inflamatória e com potencial para o tratamento da asma, destaca-se
a Erythrina mulungu Benth (E. mulungu) (“mulungu”, Fabaceae)
Esta planta consta na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS
33
(RENISUS) , na qual se tem interesse em ser investigada para futuramente compor a
RENAFITO (Relação Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos), aplicada na prática de
prescrição do SUS.
25
botânica. Tais sinônimos são frequentemente substituídos, e o nome científico pode ser
consultado na base de dados http://www.theplantlist.org/.
O nome Erythrina vem do grego erythros, que significa vermelho, em referência à cor
das flores 36.
26
41–45
trabalhos científicos utilizaram as flores para testar a eficácia e segurança terapêutica ,e
dentre as justificativas para o uso, foi por se colocar em risco a conservação da biodiversidade
e do uso sustentável da espécie devido ao dano causado à planta pela raspagem da casca do
caule 41.
Há cerca de trinta e cinco anos (na década de 80), pesquisas científicas passaram a ser
desenvolvidas com E. mulungu, objetivando-se avaliar a segurança e a eficácia terapêutica
alegada pela medicina popular tradicional, até então descrito em trabalhos
etnofarmacológicos, bem como caracterizar os PAs possivelmente envolvidos em seus efeitos.
A Figura 2 mostra o resultado da busca sistemática conduzida no dia 22/03/2017 nas
bases de dados Science Direct, Pubmed, Clinical trials, Web of Science and Cochrane Library
com os descritores “Erythrina mulungu” e “Erythrina verna” (separadamente):
n = 55 e 21, respectivamente,
excluídos por utilizarem outra
espécie do gênero ou por não
estarem relacionados ao conteúdo
da pesquisa.
Figura 2. Fluxograma da busca dos estudos científicos com Erythrina mulungu Benth.
28
Tabela 2. Evidências científicas dos efeitos terapêuticos da Erythrina mulungu Benth., parte da planta, tipo de extrato, características do tratamento, dose e via de administração.
Via de
Autor/Referência Efeito Extrato Tipo de tratamento Doses com efeito terapêutico
adm
Flores
Onusic et al, 2002 41 ansiolítico EHA 30% água e 70% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste. 200 mg/kg v.o.
maceração por 10 dias
Onusic et al, 2003 42 ansiolítico EHA 30% água e 70% etanol Crônico, de 9 a 14 dias. 50, 100 e 200 mg/kg v.o.
maceração por 10 dias
Ribeiro et al, 2006 43 sedativo EHA 70% água e 30% etanol Agudo, 1 hora anterior pré-teste e 100, 200 e 400 mg/kg (agudo) v.o.
Não há informações sobre o tempo de Crônico, por 21 dias. 50, 100 e 200 mg/kg (crônico)
maceração
44
Flausino Jr., et al, 2007 ansiolítico EHA 30% água e 70% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste. 200 e 400 mg/kg v.o.
maceração por 10 dias
45
Flausino Jr., et al, 2007 ansiolítico EHA 30% água e 70% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste. 100 e 200 mg/kg v.o.
maceração por 10 dias
De Bona, et al, 2012 / 51 DL50 de 1, 37 g/kg, EHA 30% água e 70% etanol Agudo, avaliado nº de óbitos 250, 500 e 1000 mg/kg (para i.p
ausência de Maceração por 3 dias após 48h determinar a DL50)
citotoxicidade, 200 e 400 mg/kg (teste de
micronúcleo)
Casca do caule
Vasconcelos, et al, 2004 63 atividade EHA 70% água e 30% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste; i.p. 200 e 400 mg/kg (i.p) i.p. e
depressora do SNC Mistura aquecida à 60ºC por 2h Agudo, 1 hora pré-teste; v.o. 800 (v.o.) v.o.
Vasconcelos, et al, 2007 64 anticonvulsivante EHA 70% água e 30% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste 400 mg/kg i.p
Mistura aquecida à 60ºC por 2h
Vasconcelos, et al, 2003 62 nociceptivo EHA 70% água e 30% etanol Agudo, 30 minutos pré-teste. 200 e 400 mg/kg i.p.
Mistura aquecida à 60ºC por 2h
Oliveira, et al, 2012 66 anti-inflamatório e EHA 10% água e 90% etanol Agudo, 30 a 40 minutos pré- 100 mg/kg v.o.
antinociceptivo Maceração por 3 dias teste.
Vasconcelos, et al, 2011 65 anti-inflamatório EHA 70% água e 30% etanol Agudo, 1 hora pré-teste. 200 e 400 mg/kg v.o
Mistura aquecida 60ºC por 2h à
Lima, et al, 2006 38 bactericida - - Concentração de 100 mg/mL in vitro
Omena, et al, 2007 56 larvicida EHA 95% etanol - < 200 µg/mL in vitro
Percolação por 3 dias ou Soxhlet por
2 dias
Mazzari et al, 2016 59 Não inibe: Infusão por 20 minutos - 100 µg/mL in vitro
expressão de
CYP3A4; níveis de
GSH; atividade Gp
Legenda: adm administração; EHA extrato hidroalcoólico; DL dose letal; Gp glicoproteína P; SNC sistema nervoso central; v.o. via oral; i.p. intraperitoneal
29
Tabela 2 (Continuação)
Via de
Autor/Referência Efeito Extrato Tipo de tratamento Doses com efeito terapêutico
adm
Folhas
Mateus et al, 201357 Nematocida Aquoso, 100mL de extrato em contato 10, 20, 30, 40 e 50 g/L in vitro
Maceração por 24 horas com 100mL de uma solução com
ovos de Meloidogyne incognita
Proença, et al, 2012 68 Mudanças no HAE 70% etanol Crônico, 1-19 dias gestacionais 1,5 mg/kg v.o
desenvolvimento Percolação
gestacional
Raiz
Oliveira, et al, 2012 66 Anti-inflamatório EHA 10% água e 90% etanol Agudo, 30 a 40 minutos pré- 100 mg/kg v.o.
e nociceptivo Maceração por 3 dias teste.
Frações e PA isolados
Flausino Jr., et al, 2007a 44 Ansiolítico (+)-11a-hydroxy-erythravine, (+)- Agudo, 30 minutos pré-teste. 3 e 10 mg/kg v.o.
erythravine e (+)-a-hydroxyerysotrine
(flores)
Flausino Jr., et al, 2007b 45 ansiolítico (+)-11a-hydroxy-erythravine e (+)- Agudo, 30 minutos pré-teste. 3 e 10 mg/kg v.o.
erythravine (flores)
Faggion, et al, 2011 35 Anticonvulsivante (+)-erythravine e (+)-11a-hydroxy- Agudo, 10 minutos pré-teste 0,25 a 3,0 µg/µL i.c.v.
erythravine (flores)
Santos Rosa, et al, 2012 67 Anticonvulsivante (+)erysothrine Agudo 0,5, 2,0 e 3,0 µg/µL i.c.v.
e ansiolítico
Oliveira, et al, 2012 66 Anti-inflamatório Fração clorofórmio (raiz) Agudo, 30 a 40 minutos pré- 100 mg/kg v.o.
e nociceptivo teste.
31
1.4 Justificativa
1.5 Hipótese
32
2. OBJETIVOS
33
3. MÉTODO
34
3.4 Preparo da droga vegetal
Para extração dos princípios ativos presente nas flores de E. mulungu, utilizaram-se
5,6 L de etanol e 1020 g de droga vegetal. Ambos, foram acondicionados em um bécker (6 L),
misturados, e mantidos em maceração por 7 dias, com agitação diária, na ausência de luz, e
em temperatura ambiente. Transcorrido o período, o extrato etanólico das flores obtido foi
filtrado em papel de filtro e rota-evaporado. Em seguida, o líquido remanescente foi
congelado e liofilizado, resultando em um resíduo seco final de 32,4316 g. O extrato etanólico
das flores obtido foi armazenado em tubo Falcon fechado, na ausência de luz e em
temperatura ambiente, até o momento do uso.
35
3.6 Controle de qualidade
3.9 Camundongos
Figura 4. Modelo experimental de asma e tratamento com o extrato etanólico das flores de
Erythrina mulungu Benth. (EV); i.p. intraperitoneal
3.11 Intervenção
Os animais foram tratados diariamente, por sete dias consecutivos via ip. com uma das
doses citadas. Os grupos controles – negativo e positivo – receberam respectivamente,
solução salina-solvente e dexametasona (2 mg/kg), seguindo o mesmo protocolo de
tratamento. Ao total, 7 grupos (contendo de 5 a 10 animais cada) foram estudados, sendo
estes:
No D22, ou 24h após último desafio, os animais foram anestesiados i.p. com xilazina
(10 mg/kg) e quetamina (80 mg/kg), e sedados, submetidos a uma traqueostomia e à
colocação de uma cânula traqueal (Precision Tips – Engenered fluid Dispensing – Nordon
EFD, Tip 20 GA PP 0,19 x 1,5 PNK 50P). Imediatamente após a finalização desse
procedimento, o animal foi conectado através da cânula a um ventilador mecânico para
animais FlexiVent® (Scireq, Montreal, QC, Canadá) com frequência respiratória de 150
respirações/minuto e pressão expiratória final positiva (PEEP) de 3 cm H2O para medir os
parâmetros in vivo da função pulmonar.
Antes de iniciar as medidas respiratórias no respirador mecânico FlexiVent® os
animais foram paralisados com 1,2 mg/kg de brometo de pancurônio, via i.p. Este ventilador
permite a realização de medidas in vivo de diversos parâmetros fisiológicos através da técnica
de oscilação forçada, com o modelo de compartimento simples e o modelo de impedância
complexo. Estes dois modelos permitem a separação das alterações nos diferentes
compartimentos pulmonares, como vias aéreas e parênquima.
Para analisar a hiper-responsividade brônquica foram feitas medidas na condição basal
e após a provocação com a administração de aerossóis com concentrações crescentes de
metacolina (6,25; 12,5; e 25 mg/dL) por 10 segundos cada, através de um nebulizador
ultrassônico (Hudson RCI, Teleflex Medical, Temecula, CA, USA). Os parâmetros
respiratórios foram selecionados das curvas que apresentarem um coeficiente de determinação
38
maior ou igual a 0,9 (COD 0,9). Foram avaliados e comparados os seguintes parâmetros:
resistência total (RRS), elastância total (ERS), resistência tecidual (G) e elastância tecidual
(H).
Ao final desse procedimento, os animais foram desconectados do ventilador para
análises descritas a seguir.
39
3.14 Avaliação de celularidade total e diferencial
Para contagem de célula total foi utilizado o aparelho Countess® Automated Cell
Counter (Life Technologies, Carlsbad, Califórnia, EUA). Foram adicionados 10 µL da
amostra com 10 µL de azul de Trypan e o valor absoluto fornecido pelo aparelho.
Para a contagem e diferenciação das células inflamatórias, as lâminas foram
inicialmente preparadas. Para isso, 100 µL da amostra foram centrifugadas a 400 rpm por 3
minutos em centrífuga tipo Citospin (Centrífuga Citológica, ThermoFisher Scientific,
Shandon Cytopin), em lâminas de microscopia fosca lapidada (26,0 x 76,0 mm – Espessura 1
a 1,2 mm) e coradas pela técnica de Diff-Quick. Foram contadas manualmente 300 células
inflamatórias de cada amostra.
40
3.16 Dosagem de citocinas inflamatórias TH1 e TH2 no homogenato pulmonar
42
3.19 Análise estatística
43
4. RESULTADOS
44
Figura 5. Efeitos do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800 mg/kg do extrato etanólico das
flores de Erythrina mulungu Benth (EV) e de dexametasona (DEXA) na hiper-responsividade brônquica medida
na condição basal e após teste de provocação com metacolina (Mch) (6,25, 12,5 e 25 mg/dL). Os dados estão
expressos em média e erro padrão da média. n=7 SAL/SAL, OVA/SALTW, OVA/EV200, OVA/EV400 e
OVA/DEXA; n=11 OVA/EV600; n=5 OVA/EV800. Um símbolo único significa p<0,05; dois símbolos
repetidos, p<0,01; três símbolos, p<0,001.
45
4.2 Efeito de E. mulungu sobre a celularidade total e diferencial
46
a 2.5 10 6 SAL/ SAL
OVA/SALTW
OVA/EV200
2.0 10 6 OVA/EV400
Número de células/animal
OVA/EV600
OVA/EV800
1.5 10 6 OVA/DEXA
1.0 10 6
***
***
5.0 10 5
***
0
b c
Eosinófilos Linfócitos
2.0 10 6 2.0 10 5
Número de células/ml
*
***
5.0 10 5
* *
5.0 10 4
***
*** ***
*** ***
0 0
Neutrófilos
d e 1.5
10 5
Macrófagos
Número de células/ml
4.0 10 5
Número de células/ml
3.0 10 5
5.0 10 4
2.0 10 5
1.0 10 5
0 0
Figura 6. Efeitos do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800 mg/kg do extrato etanólico das
flores de Erythrina mulungu Benth. (EV) no número de células totais (A) e na contagem diferencial absoluta de
células (B) no lavado bronquio-alveolar (LBA) de camundongos asmáticos. Os dados estão expressos em média
e erro padrão da média. n=7 SAL/SAL, OVA/SALTW, OVA/EV200, OVA/EV400 e OVA/DEXA; n=11
OVA/EV600; n=5 OVA/EV800. Um símbolo único significa p<0,05; dois símbolos repetidos, p<0,01; três
símbolos, p<0,001. *diferença de OVA/SALTW.
47
4.3 Efeito de E. mulungu sobre os níveis de IgE sérico
Houve uma aparente diminuição da produção de IgE nos grupos de tratados com 200,
400 e 600 mg/kg do extrato etanólico de E. mulungu, porém essa diminuição não foi
confirmada estatisticamente. O tratamento com a dexametasona não demonstrou efeito sobre
a diminuição da produção de IgE.
Figura 7. Efeito do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 mg/kg do extrato etanólico das flores de
Erythrina mulungu (EV) e de dexametasona (DEXA) sobre os níveis de IgE sérico. Os dados estão expressos em
média e erro padrão da média. n=5 SAL/SAL; n=4 OVA/SALTW; n=6 EV200, OVA/EV400, OVA/EV600 e
OVA/DEXA. Um símbolo único significa p<0,05; dois símbolos repetidos, p<0,01; três símbolos, p<0,001.
*diferença de OVA/SALTW.
48
4.4 Efeito de E. mulungu sobre os níveis de citocinas do tecido pulmonar
49
a b
500 1000
400 800
300 600
pg/mL
pg/mL
** **
200 400 *
100 200
0 0
Concentração de IL-4 (pg/mL) Concentração de IL-5 (pg/mL)
500
c d ***
***
400 *
1500
300
pg/mL
* *
1000
200
pg/mL
500 100 **
0 0
Concentração de IL-10 (pg/mL) Concentração de IL-13 (pg/mL)
e
800
SAL/ SAL
OVA/SALTW
** OVA/EV200
600 * OVA/EV400
OVA/EV600
OVA/EV800
OVA/DEXA
pg/mL
400
200
0
Concentração de INF-gama (pg/mL)
Figura 8. Efeito do tratamento de 7 dias com as doses de 200, 400, 600 e 800 mg/kg do extrato etanólico das
flores de Erythrina mulungu (EV) e de dexametasona (DEXA) sobre os níveis de IL-4, IL-5, IL-10, IL-13 e INF-
γ. Os dados estão expressos em média e erro padrão da média. n=5 SAL/SAL, OVA/EV800; n=6 OVA/SALTW,
EV200, OVA/EV400, OVA/EV600 e OVA/DEXA. Um símbolo único significa p<0,05; dois símbolos
repetidos, p<0,01; três símbolos, p<0,001. *diferença de OVA/SALTW .
50
4.5 Efeito de E. mulungu sobre a infiltração por células inflamatórias no tecido
Figura 9. Efeito do tratamento com Erythrina mulungu Benth. sobre a infiltração de células inflamatórias no
tecido pulmonar: 0 normal; 1 poucas células; 2 um anel de células inflamatórias; 3 um anel de células
inflamatórias de 2 a 4 camadas; 4 um anel de células inflamatórias com mais de 4 camadas. Valores representam
a média do escore e o EPM de 7 animais por grupo. ***p<0,001. *diferença de OVA/SALTW. a SAL/SAL; b
OVA/SALTW; c OVA/DEXA; d OVA/EV200; e OVA/EV400; f OVA/EV600; g OVA/EV800.
51
4.6 Identificação dos componentes de E. mulungu
52
1: MS2 ES+
a) 9.30 TIC
100 314.2
100 1.02e1 0
%
%
266.1 352.3
0 m/z
100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
0
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00
1: MS2 ES+
9.78 TIC
100 b) 330.1
100 1.59e1 0
%
%
280.1 346.1
0 m/z
100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
0
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00
1: MS2 ES+
6.85 TIC
100 c) 247.0
100 1.63e1 0
%
%
279.2
0 m/z
100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500
0
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00
1: MS2 ES+
9.22 TIC
100 d)
1.14e1 0
9.75
%
6.87
8.13 16.68
13.49
19.66
0 Time
5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00
Figura 10. Perfis cromatográficos obtidos por UPLC-MS. a) Padrão de erisotrina, b) Padrão de N-Oxido
Erisotrina, c) Padrão de hipaforina e d) Extrato bruto etanólico de flor de Erythrina mulungu Benth.
53
Figura 11. Desenho da estrutura química dos constituintes majoritários da Erythrina mulungu Benth. a)
Erisotrina, b) N-Oxido Erisotrina, c) Hipaforina
54
5. DISCUSSÃO
56
estudados e precisam ser aprofundados para se elucidar o mecanismo de ação para inibir a
expressão proteica. Mais recentemente, estudos em camundongos Rag2-/-, deficientes de
linfócitos T e B, quando estimulados com IL-25 (citocina indutora de resposta TH2)
produziram IL-5 e IL-13. Em outros modelos, de populações de células não-T e não-B,
também foi encontrada a produção de citocinas TH2, mediante o tratamento com IL-25. Esses
achados mostraram que outros tipos celulares, nesse caso, as ILC-2 (Innate Lymphoid Cell 2),
são igualmente capazes de promover funções pró-inflamatórias, semelhantes aos linfócitos
85
TH2 . Assim, questiona-se este tipo celular como outro possível local de atuação de E.
mulungu.
As citocinas IL-4 e IL-13 têm um papel chave na estimulação de linfócitos B para a
produção de IgE. Dentre os efeitos da IL-4 está a indução da mudança da cadeia pesada da
13
IgM para IgE . A produção aumentada de ambas citocinas por células T-específicas é
responsável pela síntese de IgE e o desenvolvimento de doenças alérgicas em certos
86
indivíduos . Neste trabalho, E. mulungu reduziu a expressão de IL-4, porém aumentou
gradativamente a expressão de IL-13 de acordo com as doses testadas. A menor expressão de
IL-4 pode ser considerada aspecto positivo na melhora da resposta inflamatória na asma.
Observou-se que houve uma diminuição de IgE anti-ova sérico nos grupos tratados com E.
mulungu, embora não confirmado pela estatística, sugerindo que a inibição de IL-4 possa ter
influenciado nesta menor produção de IgE, contribuindo para melhora da asma. Outras
repetições da análise poderiam ser feitas para comprovar esta afirmação.
Foi demonstrado também a influência da IL-4 no recrutamento de células TH2 para os
pulmões e na indução da inflamação 7. Fisiologicamente, há uma baixa produção de muco
pelas células de goblet (caliciformes) e o aumento na produção deste é reflexo de
hiperestimulação. A IL-13 compartilha muitas atividades biológicas com a IL-4; em modelos
animais geneticamente modificados para superexpressar IL-13 nas vias aéreas, uma
87
importante inflamação e hiperplasia foram observadas . Como já foi apresentado, poucos
trabalhos estudaram o papel imunomodulador de E. mulungu, e pouco se sabe sobre a via de
resposta preferencial, se seria TH1 ou TH2. Neste modelo de inflamação das vias aéreas houve
um aumento de IL-13, podendo assim favorecer o desenvolvimento da inflamação do tipo
TH2. Análises histológicas poderiam auxiliar em um maior esclarecimento deste efeito.
IFN-γ é uma das principais citocinas produzidas pelas células TH1 e característica da
resposta imunológica tipo 1 9. O desequilíbrio entre a produção das citocinas efetoras TH1/TH2
57
é característico na asma, e a ação de citocinas TH1 exerce ação moduladora negativa na
27
inflamação alérgica . Neste trabalho, o modelo alérgico de indução com ovalbumina
aumentou a concentração de IFN-γ nos animais asmáticos, comparado ao grupo controle
negativo. Este comportamento difere do trabalho de Shen et al (2008) com animais C57BL6,
no qual obtiveram-se menores concentrações de IFN-γ nos animais asmáticos, também em um
modelo induzido com ovalbumina. Segundo o autor, camundongos Balb/c têm uma resposta
TH2 superior do que C57BL6 27. Neste trabalho E. mulungu aumentou a expressão proteica de
IFN-γ nas doses de 200 e 400 mg/kg, parecendo potencializar a resposta TH1, e diminuiu na
dose de 600 mg/kg. Podemos especular que o desvio da inflamação para um padrão TH1 e,
consequentemente, redução do padrão TH2, tenha sido responsável, ao menos em parte, pelos
resultados que obtivemos.
Estudos que utilizaram modelos animais de asma induzida por ovalbumina observaram
com outras plantas efeitos semelhantes à modulação da E mulungu neste trabalho. Entre essas
plantas estão:
Saururus chinenesa (planta nativa da China/Coreia): Quan, et al (2010) utilizaram o
extrato etanólico das partes aéreas da planta, nas doses de 10 à 100 mg/kg (v.o.) e obtiveram
diminuição da expressão proteica de IL-4, IL-5 e IL-13; IgE; menor infiltrado de células
inflamatórias no tecido e hiperplasia de células caliciformes; e diminuição nos níveis de PGE2
e LTC4, potentes mediadores lipídios inflamatórios 26.
Astragalus Membranaceus (planta nativa da China): Shen, et al (2008) utilizaram o
extrato aquoso das raízes da planta fervida por 1 hora, na dose de 10g/kg/d (i.p.) por 28 dias.
Observaram diminuição da expressão proteica de IL-5, IL-13, (nenhum efeito sobre IL-4) e
aumento de IFN- γ; redução no número de leucócitos totais e eosinófilos no LBA; menor
infiltrado de células inflamatórias no tecido e hiperplasia de células caliciformes; diminuição
ao aumento da hiper-responsividade brônquica 27.
Scropularia striata (planta nativa do Irã): Azadmerh et al (2013) utilizaram o extrato
hidroetanólico das partes aéreas da planta, macerada por 3 dias, nas doses de 100 e 200mg/kg
(i.p) por 7 dias e obtiveram diminuição da expressão proteica de IL-4 e IL-5; IgE total e IgE
ova específica; redução no número de leucócitos totais e eosinófilos no LBA; redução da
infiltração de células inflamatórias no tecido 28.
Em nosso estudo, inicialmente, observamos a morte de 45% dos animais que
receberem o tratamento com a dose 800 mg/kg do extrato de E. mulungu seguido da anestesia.
58
Esta dose pode ter causado depressão do sistema nervoso central (SNC), possivelmente
interagindo ou potencializando os efeitos do anestésico inalatório, o que é indesejável. A
observação corrobora com dados da literatura em que são comprovados os efeitos desta planta
sobre o SNC 41– 44. Quanto à toxicidade salienta-se que apesar da morte dos animais, De Bona
et al (2012) estabeleceu a dose letal média (DL50) da inflorescência de E. mulungu em 1,37
g/kg, portanto segura ao uso em doses inferiores.
O perfil cromatográfico do extrato de E. mulungu revelou a presença de erisotrina, N-
óxido erisotrina e hipaforina. Essas substâncias são alcaloides e se destacam pela presença nas
88
plantas da família Fabaceae . Ao total, são conhecidos mais de 110 alcaloides eritrinianos,
sendo que nas flores também são encontrados: (+)-11a-hidroxi-erithravina, (+)-eritravina e
(+)-a-hidroxierisotrina, eritartrina e eritristemina 44, 50.
A literatura mostra a presença também de flavanonas, flavonois, chalconas, estilbenos,
isoflavonas, isoflavanois, isoflavanoides, pterocarpanos, coumestamos, 3-fenil-coumarinas,
lignanas, triterpenos e sesquiterpenos em E. mulungu. Alguns destes compostos têm,
documentadas, atividade antimicrobiana, antiinflamatória, inibição da tirosinase, da
37
fosfolipase A2 e da enzima ciclooxigenase (COX) . É possível, portanto, que o extrato
vegetal possa ter atuado por diferentes mecanismos, causando efeitos sinérgicos para a
melhora da asma, e o fitocomplexo é até onde os estudos mostram, a principal vantagem
atribuída ao uso de fitoterápicos, comparado aos medicamentos alopáticos 89.
Coletivamente esses resultados sugerem que E. mulungu tem potencial para uso na
asma, através da modulação da resposta inflamatória, apresentando efeitos de
imunomodulador e anti-inflamatório.
O estudo da asma em modelos murinos apresenta grandes críticas na literatura. Entre
os motivos estão a evidente diferença na composição celular da via aérea humana com a dos
animais e por se utilizarem dosagens de compostos, até mesmo adjuvantes, que extrapolam a
realidade na indução da asma. No entanto, este modelo é largamente utilizado na literatura,
inclusive foi utilizado no estudo para o desenvolvimento de broncodilatores, garantindo a
viabilidade dos resultados nesse trabalho.
Além desta, outras limitações deste estudo incluem:
Um período de tratamento mais prolongado poderia mostrar resultados mais
expressivos sobre a produção de IgE e sobre os marcadores inflamatórios.
59
A utilização da ovalbumina (uma proteína) para indução da inflamação gerou
um padrão de resposta característico de asma alérgica. No entanto, o uso de E.
mulungu em outros subtipos de asma, marcado pela ativação de outros tipos
celulares, precisa ser estudado.
A via de administração para testar o extrato foi intraperitoneal. Ou seja, não
houve a interferência da barreira intestinal, bem como do metabolismo de
primeira passagem do fígado sobre os compostos; o que pode levar à ativação
ou desativação dos mesmos. Assim é necessário ser avaliado pela
administração oral, que se assemelha ao uso tradicional em humanos.
60
6. CONCLUSÃO
61
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ANEXO A - Aprovação do Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMRP-USP
72
ANEXO B - Protocolo utilizado no preparo do homogenato pulmonar
PONTOS CRÍTICOS:
*Cuidado para não contaminar os comprimidos. Retirar com uma pinça ESTERILIZADA
(passar álcool 70 %, deixar na UV por 30 minutos e flambar no fogo antes do uso).
a. Solução 10X:
80 g de NaCl (cloreto de sódio)
11,5 g de Na2PO4 (fosfato ...)
2,0 g de KCl (cloreto de potássio)
2,0 g de KH2PO4 (fosfato monopotássico)
b. Solução 1X:
10mL de PBS 10X+ 90mL de água destilada.
*Não utilizar o PBS 10X se este estiver cristalizado. Caso isso ocorra, deixar chegar a
temperatura ambiente, homogeneizar no agitador magnético e checar o pH (deve ser de 7,2-
7,4) até que a solução esteja homogênea.
3. Preparar o Homogenato
a. Retirar as amostras do pulmão do freezer e deixar no gelo.
b. Pipetar 1 mL do inibidor em eppendorfs de 2mL (manter no gelo).
c. Secar bem o pulmão em papel filtro. Só utilizar quando o mesmo não umedecer o papel.
d. Pesar 50 mg do pulmão e colocar em 1mL do inibidor de protease. Manter o eppendorf
no gelo durante o uso do homogeneizador, para não esquentar.
e. Limpar o homogeneizador antes do uso:
- Separar 3 falcons de 50 mL: no 1º e no 3º, adicionar água destilada; no 2º, álcool 70 %
73
- Proceder limpando o homogeneizador sempre na seguinte ordem: água destilada, álcool,
água destilada.
- Secar o homogeneizador com lenço de papel.
f. Colocar o eppendorf pulmão + protease (inserido com gelo) no homogeneizador devagar
para que o líquido não vaze. Proceder até que este esteja totalmente diluído.
g. Limpar o homogeneizador como descrito antes do processamento de cada amostra.
h. Colocar as amostras já homogeneizadas na centrífuga (1900 rpm – 10 minutos – 4 ºC).
i. Coletar o sobrenadante e acondicionar em novos eppendorfs (1,5mL).
j. Manter no freezer a -80 ºC (Dica: para garantir que o processo descongelamento-
congelamento não deteriore as amostras, fazer alíquotas de cerca de 200 μL/eppendorf).
74