Boletim N° 010

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CAO-Crim

Boletim Criminal Comentado - 010

Mário Luiz Sarrubbo


Subprocurador-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais

Coordenador do CAO Criminal:


Arthur Pinto de Lemos Júnior

Assessores:
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha

1 Analista de Promotoria:
Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal
Comentado – n° 010
julho 2018

Sumário

ESTUDOS DO CAOCRIM ................................................................................................................. 3


1 - Colaboração premiada, legitimidade do Delegado de Polícia e as atribuições/deveres do Ministério
Público ..................................................................................................................................................... 3
2 - Conflito de atribuições entre MPs e o Aviso 150/17 PGJ e CGMP ........................................................ 5
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM .................................... 9
DIREITO PROCESSUAL PENAL ......................................................................................................... 9

1 – Tema: Reconhecimento fotográfico. Validade quando ratificado em juízo ....................................... 9

2 – Tema: Testemunho prestado por policiais. Validade. .......................................................................10


DIREITO PENAL. .......................................................................................................................... 12
1 - Tema: STJ. Aplicação da pena. Possibilidade ou não de substituição da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos quando o tráfico de drogas for praticado com o intuito de
introduzir substâncias ilícitas em estabelecimento prisional .................................................... 12

STF/STJ: Notícias de interesse institucional .................................................................................. 14

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ESTUDOS DO CAOCRIM

1 - Colaboração premiada, legitimidade do Delegado de Polícia e as atribuições/deveres do


Ministério Público

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 5.508-DF, na qual julgou constitucional os
parágrafos 2o. e 6o. do art. 4o. da Lei 12.850/13, reconhecendo a legitimidade de o Delegado
de Polícia celebrar acordo de colaboração premiada, foi formado, a pedido do CAOCRIM,
Grupo de Trabalho na Subprocuradoria-Geral de Justiça Criminal (ATO 43/18) para tratar dos
seus reflexos nas atribuições e os deveres do órgão de execução do Ministério Público quando
diante de um acordo policial.

Muito antes do prazo estipulado para o encerramento dos trabalhos, o Grupo apresentou ao
Procurador-Geral de Justiça os seguintes enunciados, todos aprovados por unanimidade:

ENUNCIADO N. 1

Apresentada proposta de acordo de colaboração premiada subscrita pelo Delegado de Polícia


para homologação judicial, pode o Ministério Público, como titular da ação penal (art. 129, I,
da CF), depois de ouvido o colaborador na presença de seu defensor:

a) ratificar os termos do acordo, em especial quando dele participou desde a origem;

b) substituir o acordo por outro;

c) recusar o acordo, ressalvada a possiblidade de o juiz, dissentindo, remeter a questão ao


Procurador-Geral de Justiça, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP;

d) entendendo não existir justa causa para a ação penal, manifestar-se pela rejeição do acordo
policial, promovendo o arquivamento da investigação;

e) realizar ou requisitar diligências imprescindíveis à análise dos termos do acordo ou da


formação da “opinio deliciti”.

ENUNCIADO N. 2

O acordo celebrado pela Autoridade Policial não deve impedir ou restringir, direta ou
indiretamente, o direito de ação ou de punir do Estado, ficando vedada a concessão de
imunidade processual, perdão judicial, substituição de pena, regime prisional diverso daquele
ditado pelo art. 33 do CP ou efeitos de eventual condenação.

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ENUNCIADO N. 3

Não havendo previsão legal do cabimento de recurso em sentido estrito, da decisão que
homologa o acordo policial desafia recurso de apelação, com fundamento no art. 593, II, CPP;
se proferida por Tribunal, agravo interno.

ENUNCIADO N. 4

A atribuição do Delegado de Polícia para firmar acordo se limita à fase de investigação, com a
fiscalização do Ministério Público, sob pena de reclamação. Proposta a ação penal, a
Autoridade Policial fica impedida de celebrar acordo de colaboração envolvendo fatos e
pessoas constantes da denúncia-crime, sob pena de violação do art. 129, I, da CF.

ENUNCIADO N. 5

Acordo celebrado pela Autoridade Policial versando, direta ou indiretamente, sobre matérias
extrapenais deve ser recusado pelo Ministério Público.

ENUNCIADO N. 6

Na hipótese de homologação judicial da colaboração premiada celebrada pela Autoridade


Policial, cabe ao MP ou querelante, como titular da ação penal, após analisar a eficácia da
colaboração com base nos resultados obtidos, requerer a concessão parcial ou integral dos
benefícios previstos no acordo, ou deixar de requerer sua aplicação.

Participaram ativamente do Grupo os seguintes colegas:

Mário Luiz Sarrubbo (Subprocurador-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais),


Marcio Sergio Christino (134o. Procurador de Justiça da Proc. de Justiça Criminal), Adriana
Ribeiro Soares de Morais (Promotora de Justiça Secretária da 3a. Promotoria Criminal da Barra
Funda), Alexandre Affonso Castilho (Promotor de Justiça – GAECO/Vale do Paraíba), Alexandre
Cebrian Araujo Reis (Promotor de Justiça – assessor da Procuradoria-Geral de Justiça), Amauri
Silveira Filho (Promotor de Justiça – Secretário Executivo dos GAECOs), Arthur Pinto de Lemos
Jr. (Promotor de Justiça - Coordenador do CAOCRIM), Cléber Rogério Masson (Promotor de
Justiça – assessor da Procuradoria-Geral de Justiça), Daniel Zulian (Promotor de Justiça –
GAECO/Campinas), Guilherme Sampaio Sevilha Martins (Promotor de Justiça –
GAECO/Bauru), Letícia Rosa Ravacci (Promotora de Justiça – GAECO/SP), Leonardo Leonel
Romanelli (Promotor de Justiça – GAECO/Ribeirão Preto), Rafael Queiroz Piola (Promotor de
Justiça – GAECO/Franca), Roberto Victor Anelli Bodini (Promotor de Justiça – GEDEC), Rogério
Sanches Cunha (Promotor de Justiça – assessor CAOCRIM).

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2 - Conflito de atribuições entre MPs e o Aviso 150/17 PGJ e CGMP

O Supremo Tribunal Federal, nas Ações Cíveis Originárias (ACO) 924 e 1394, mudou seu
posicionamento e decidiu que, no conflito de atribuições entre Ministérios Públicos de
Estados diversos, ou entre o Ministério Público estadual e Ministério Público da União, é o
Procurador Geral da República quem deve solucionar a controvérsia.

Essa decisão tem merecido críticas, não sem razão, pois afronta a Constituição Federal e a
legislação infraconstitucional. O novo posicionamento rendeu MOÇÃO DE
DESCONTENTAMENTO aprovada no Conselho Nacional de Corregedores Gerais dos Estados e
da União, em agosto de 2016. Vejamos.

Nos termos do art. 128 da CF/88, o Ministério Público abrange: o Ministério Público Federal,
o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar, o Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios e os Ministérios Públicos dos Estados. O §1o. do mesmo artigo anuncia
que o Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República (...).

Percebe-se, com certa facilidade, autonomia entre o MPU os MPEs, os últimos não sendo
subordinados funcional, financeira e/ou administrativamente ao primeiro. Essa arquitetura
montada pelo Constituinte fica confirmada pelos §§ 1o. ao 3o. do art. 127 da Carta Maior, ao
dispor que são princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a
independência funcional (§1o.), sendo que cada MP elaborará sua proposta orçamentária
dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (§3o.).

Informada pela estrutura anunciada na Constituição, a Lei Complementar 75/93(Lei Orgânica


do MPU), nos seus artigos 26, inciso VII, e 49, inciso VIII, estabelece ser atribuição do PGR,
como chefe do MPU, dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do
MPU e os conflitos de atribuições entre órgãos do MPF. Já a Lei 8.625/93 (Lei Orgânica
Nacional dos MPs estaduais), no seu artigo 10, inciso X, prevê competir ao PGJ, como chefe
da instituição, dirimir conflitos de atribuições entre seus membros.

A LOMPU, portanto, seguindo fielmente a Carta Maior, consideradas as atribuições legais do


PGR, estabeleceu a ele competir, como chefe do MPU, apenas e tão somente solucionar os
conflitos entre integrantes de ramos diferentes do MPU e entre órgãos do MPF. E não poderia
ser diferente. MP da União e MP dos Estados têm estruturas funcionalmente autônomas. Por
isso, alerta Emerson Garcia:

“Tratando-se de estruturas funcionalmente autônomas, é juridicamente insustentável a tese


de que o conflito deveria ser solucionado por integrante de uma delas, o que terminaria por

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dar azo a uma espécie de subordinação institucional. Nessa perspectiva, sendo a federação a
forma de Estado adotada no Brasil, não é admissível, com parece a alguns, que um órgão que
atue no âmbito federal, como é o PGR, possa impor suas deliberações aos MPs dos Estados. A
resolução dos conflitos de atribuições, em sede administrativa, pressupõe a existência de um
escalonamento hierárquico entre a autoridade que irá solucioná-lo e aqueles que deverão
acatar sua decisão, pressupondo que permitirá a eventual punição do recalcitrante e que se
encontra ausente na hipótese” (Ministério Público: organização, atribuições e regime jurídico,
5a.ed, SP, Saraiva, 2015, p. 315).

Ora, não sendo possível, lógica, política e juridicamente, a tese de o PGR dirimir conflitos
envolvendo órgãos do MPU e MP dos Estados ou entre MPs de Estados diferentes, pergunta-
se: qual (a instituição) o órgão que deve assumir essa tarefa? A lacuna existe e o uso da
analogia é inevitável. Na tarefa de suprimi-la, no entanto, o intérprete deve ater-se aos
seguintes pressupostos, a saber: a existência de um conflito federativo, cuja apreciação só
pode passar por órgão institucionalmente equidistante daqueles envolvidos e, ao mesmo
tempo, colegiado.

Dentro desse espírito democrático, no plano constitucional chama a atenção um dispositivo:


o artigo 102, inciso I, “f”, que afirma ser de competência do STF processar e julgar,
originariamente, as causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,
ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta.

Quando dois MPs de Estados diferentes (ou MP estadual e MPF) colidem nas suas teses,
instaurado está um conflito federativo. Por esta razão, parece-me que o STF é o órgão
competente para dirimir a controvérsia, na esteira do já mencionado artigo 102, I, “f”, da
nossa Bíblia Política”. E não seria a primeira vez que se recorreria à Corte Maior na salvaguarda
da federação. Sabemos que a ação popular deve ser proposta, originariamente, no primeiro
grau da Justiça comum, não existindo competência originária dos Tribunais para julgar ações
dessa natureza, ainda que movida contra alguma autoridade detentora de foro por
prerrogativa de função. Contudo, como bem lembram Juliano Taveira Bernardes e Olavo
Augusto Vianna Alves Ferreira, o STF, na ACO 622/RJ e Rcl 2.833/RR, já decidiu a ele competir
julgar originariamente ação popular quando envolver conflito federativo estabelecido entre a
União e Estado-membro ou Distrito Federal, aplicando o art. 102, I, “f”, da CF (Direito
Constitucional Positivo, T II, 2017, Salvador: Juspodivm, versão digital).

E, de fato, não existe no nosso arcabouço legislativo, constitucional ou infraconstitucional,


solução melhor. De lege lata, não cabe ao STJ, pois encarregado apenas de resolver conflitos
de jurisdição (art. 105, I, “d”, CF). Ao PGR muito menos, pois lhe falta os pressupostos acima
mencionados, destacando-se: órgão institucionalmente equidistante dos interessados e

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colegiado. Aliás, suas decisões em futuros conflitos não vinculam o Judiciário, bem como os
MPs sobre os quais não exerce tem função de chefia.

Existem ações institucionais visando reverter esse quadro, como, por exemplo, a reunião do
CONACRIM (Centros de Apoio de todos os Estados), a ser realizada no dia 17/8, em Goiânia,
tendo como um dos temas da pauta exatamente o conflito de atribuições entre MPs.

Por ora, enquanto não se reverte a decisão aqui combatida, os colegas devem observar o
AVISO 150/17, subscrito conjuntamente pela Procuradoria-Geral de Justiça e Corregedoria-
Geral do Ministério Público, nos seguintes termos:

O Procurador-Geral de Justiça e o Corregedor-Geral do Ministério Público, no uso de suas


atribuições,

Considerando que, nos casos de conflito de atribuições entre Ministério Público Federal e
Ministério Público Estadual, ou entre Ministérios Públicos de Estados diversos, não há como
se reconhecer simples conflito entre membros dos Ministérios Públicos envolvidos, mas entre
as próprias Instituições;

Considerando a existência de divergências no Supremo Tribunal Federal, conforme se vê de


inúmeras decisões proferidas em Ações Cíveis Originárias ou Petições que por lá tramitaram
(Pet 3528, ACO 1445/MG, Pet 5117, AgrReg na Petição 5098/SP, ACO 852/BA, ACO 889/RJ,
ACO 1041/SP, ACO 1079/SP, ACO 1193/PI, ACO 1239/DF, ACO 2739/RJ, Petição no 1503/MG,
Petição no 3094, ACO 924, ACO 1394);

Considerando que as decisões proferidas nas ações cíveis originárias não possuem efeito
vinculante em relação à parte dispositiva e mesmo em relação aos chamados fundamentos
ou motivos determinantes, pois, de conformidade com o disposto no artigo 102, § 2o, da
Constituição Federal, essa força cabe apenas às Ações Declaratórias de Constitucionalidade
(ADC) e às Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI); e,

Considerando que compete ao Procurador-Geral de Justiça representar judicialmente o


Ministério Público, nos termos do art.10, I, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei
no 8625/93), e do art.19, II, a, da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público (Lei
Complementar Estadual no 734/93);

Avisam aos senhores membros do Ministério Público do Estado de São Paulo que, em casos
concretos, desde que formada a convicção no sentido da necessidade de instauração de
conflito de atribuições entre o Ministério Público do Estado de São Paulo e o Ministério Público
Federal, ou Ministérios Públicos de outros Estados, provoquem a instauração do conflito
mediante representação fundamentada dirigida à Procuradoria-Geral de Justiça.

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Avisam, ainda, que a provocação não deve ser encaminhada diretamente, pelo membro do
Ministério Público, ao E. Supremo Tribunal Federal ou à D. Procuradoria- Geral da República,
para fins de instauração do conflito, dada a atribuição exclusiva do Procurador-Geral de Justiça
para representação judicial da instituição.

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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1 – Tema: Reconhecimento fotográfico. Validade quando ratificado em juízo.

Para STJ, o reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia
do contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar
a condenação.

Comentários do CAOCRIM:

Pode se definir o reconhecimento como o cotejo entre elementos atuais e passados, capazes
de propiciar a identidade de determinada pessoa ou coisa. Nesse sentido pronuncia-se Enrico
Altavilla, citado por Adalberto Camargo Aranha, para quem o reconhecimento “é um juízo de
identidade entre uma percepção presente e uma percepção passada” (Da prova no processo
penal. Saraiva: São Paulo, 2007, p. 168). Numa definição mais estrita, formulada por Hélio
Tornaghi, “reconhecimento é o ato pelo qual alguém verifica e confirma a identidade de
pessoa ou coisa que lhe é mostrada, com pessoa ou coisa que já viu” (Curso de processo penal,
1990, vol. 1, p. 429).

Considerando que se trata de meio de prova que pode realmente contribuir para a imputação
da autoria delitiva, o Código de Processo Penal estabelece, no art. 226, diversos requisitos
para que o ato de reconhecer alguém seja seguro e livre de induzimento ou sugestionamento.

A despeito disso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é absolutamente pacífica no


sentido de que, não atendidas tais formalidades, nem por isso perde o ato a sua validade:

“É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é legítimo o


reconhecimento pessoal ainda quando realizado de modo diverso do previsto no art. 226 do
Código de Processo Penal, servindo o paradigma legal como mera recomendação” (HC
443.769/SP, j. 12/06/2018).

Uma das formas pelas quais o reconhecimento se dá sem a observância do art. 226 é a
fotográfica, não contemplada.

Se ao reconhecimento pessoal já são apontadas restrições, com muito mais razão doutrina e
jurisprudência nutrem enormes ressalvas quanto à validade do chamado reconhecimento
fotográfico. Há quem simplesmente lhe negue a natureza probatória, enquanto outros
defendem sua utilização, como José Frederico Marques ao alertar que “não nos parece muito

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acertado rejeitar-se de plano, como elemento de prova, o reconhecimento feito diante de


fotografias. Tudo depende, em cada caso, das circunstâncias que rodearam o reconhecimento
e dos dados que foram fornecidos pela vítima ou testemunha, para fundamentar suas
afirmativas” (Elementos de direito processual penal, Bookseller: Campinas, 1997, vol. II, p.
308).

Com efeito, embora precário, o reconhecimento fotográfico submete-se, como de resto toda
e qualquer prova penal, a uma análise global, dentro de um contexto probatório forjado nos
autos e, como tal, deve ser tomado pelo juiz, na formação de sua convicção, dentro da
liberdade que orienta tal raciocínio. Não tem, é óbvio, valor absoluto – que, aliás, não tem
nem a confissão judicial – e, portanto, não pode isoladamente fundamentar um decreto
condenatório. Deve ser recebido com as ressalvas decorrentes de sua natureza precária e
cotejado com os demais elementos probatórios que compõem o processo, especialmente
aqueles produzidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. É neste sentido a tese
firmada pelo STJ:

(…) V – O reconhecimento fotográfico não é inválido como meio de prova, pois, conquanto
seja aconselhável a utilização, por analogia, das regras previstas no art. 226 do Código de
Processo Penal, as disposições nele previstas são meras recomendações, cuja inobservância
não causa, por si só, a nulidade do ato. Precedentes. VI – In casu, consta que o reconhecimento
fotográfico não foi o único elemento de prova a fundamentar a condenação, pois foi
corroborado por outros elementos, como ‘termos de reconhecimento pessoal’ e os ‘relatos
efetuados pelos ofendidos em juízo’” (HC 427.051/SC, j. 05/04/2018).

2 – Tema: Testemunho prestado por policiais. Validade.

Para o STJ, é válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais
envolvidos em ação investigativa e/ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver
em harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e
da ampla defesa.

Comentários do CAOCRIM:

A regra geral estabelecida no Código de Processo Penal é de que toda pessoa pode ser
testemunha (art. 202), assim considerada a pessoa física que narra em juízo qualquer
circunstância a respeito de determinada prática delituosa de que tenha conhecimento.

Ao dispor que toda pessoa pode servir como testemunha, procurou o Código afastar qualquer
espécie de preconceito, deixando a critério do julgador, em uma análise global do conjunto

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probatório, a valoração de cada depoimento de acordo com os princípios da busca da verdade


real e da livre apreciação da prova.

Há, no entanto, certa controvérsia a respeito da validade do depoimento de policiais que


efetuaram a prisão em flagrante ou de alguma forma atuaram na investigação do fato
criminoso.

Parte da jurisprudência e da doutrina veem com enormes reservas essa espécie de


depoimento. Afinal – argumentam – se o policial foi o responsável pela prisão do réu ou pela
investigação, buscará, sempre, conferir ares de legalidade ao seu ato. Em vista da posição
antagônica em que se encontra em relação ao acusado, sua tendência seria de carregar nas
cores, pintando um quadro mais grave do que o efetivamente verificado, de modo a prejudicar
a situação do agente.

Há, de outra parte, posicionamento francamente favorável ao depoimento de policiais. É que,


tendo participado diretamente da diligência que culminou com a deflagração de processo
contra o réu, mais do que ninguém se encontra preparado para depor sobre os fatos. Demais
disso, importaria em verdadeiro contrassenso que o Estado, de um lado, habilitasse o agente
a prestar-lhe serviços, mediante, inclusive, ingresso na carreira por um concurso público para,
de outro, negar credibilidade a seu depoimento.

De fato, não há razão plausível para colocar sob suspeita o relato de um agente público
legitimado para o combate ao crime simplesmente em razão de sua condição. Seu testemunho
deve ser tomado sem nenhuma espécie de reserva a esse respeito, e deve ser cotejado – como
qualquer outro – com outros elementos probatórios que integrem o processo. Se não há
indicação de vício no relato apresentado, é plenamente possível sua utilização para
fundamentar a sentença condenatória. O simples fato de que a testemunha é policial não
pode jamais servir para desacreditá-la.

Assim se firmou a tese do Superior Tribunal de Justiça:

“Conforme entendimento reiterado do Superior Tribunal de Justiça, os depoimentos dos


policiais responsáveis pela prisão em flagrante são meio idôneo e suficiente para a formação
do édito condenatório, quando em harmonia com as demais provas dos autos, e colhidos sob
o crivo do contraditório e da ampla defesa, como ocorreu na hipótese, cabendo a defesa
demonstrar sua imprestabilidade” (HC 436.168/RJ, j. 22/03/2018).

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DIREITO PENAL:

1 - Tema: STJ. Aplicação da pena. Possibilidade ou não de substituição da pena privativa de


liberdade por restritiva de direitos quando o tráfico de drogas for praticado com o intuito
de introduzir substâncias ilícitas em estabelecimento prisional.

Comentários do CAOCRIM:

Sempre se discutiu (na doutrina e jurisprudência) a possibilidade de pena alternativa para


crime rotulado como hediondo (ou equiparado). Vamos analisar a questão seguindo a ordem
cronológica das várias leis (e decisões) que, explicita ou implicitamente, trataram do assunto.

A Lei nº 8.072/90 não trouxe, expressamente, qualquer vedação ao benefício. Contudo, na


versão primeira, previu o regime integral fechado, fomentando a controvérsia: para uns, tal
regime tornava inviável a substituição (vedação implícita); para outros, partindo da premissa
que não existem vedações implícitas (devendo ser, sempre, explícitas) e que o regime integral
fechado era inconstitucional, ferindo, dentre outros, o princípio da individualização da pena,
não havia base legal para a vedação da substituição.

Depois de mais de uma década, o STF declarou a inconstitucionalidade do regime integral


fechado (HC 82.959-7), silenciando sobre a compatibilidade ou não dessa espécie de crime
com as penas alternativas (a discussão persistiu).

Com o advento da Lei nº 11.464/2007, alterou-se a redação do artigo 2º, §1º da Lei de Crimes
Hediondos, não mais prevendo o regime integral, mas sim inicial fechado.

Com a mudança, a maioria entendeu não haver mais óbice (implícito ou explícito) à
substituição da pena em se tratando de crimes hediondos ou equiparados.

Restava, contudo, a vedação expressa na Lei de Drogas (Lei 11.343/06), que foi também
declarada inconstitucional pelo STF (HC 97.256) e teve sua eficácia suspensa por meio de
resolução do Senado Federal (Resolução nº 5 de 2012).

Diante desse quadro, cabe ao magistrado, na análise do caso concreto, aquilatar se estão
presentes os requisitos que autorizam a substituição, observando, ainda, o princípio da
suficiência da pena alternativa diante da gravidade do crime hediondo (ou equiparado)
cometido pelo sentenciado, evitando, assim, insuficiente intervenção do Estado. Aliás, em
várias oportunidades, o STF vem reafirmando o seu posicionamento sobre a
inconstitucionalidade de qualquer cláusula legal que veda, apenas com base na gravidade em
abstrato do crime, benefícios penais (restritivas de direitos, por exemplo) ou processuais
(como a liberdade provisória). Vislumbra, nessas situações, um abuso do poder de legislar por

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parte do Congresso Nacional que, na verdade, culmina por substituir-se ao próprio magistrado
no desempenho da atividade jurisdicional.

O caso ora comentado se resume num processo em que o réu é acusado de tráfico, mais
precisamente, de buscar introduzir drogas no sistema prisional. O juiz, analisando o caso
concreto, negou a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
julgando ausentes os requisitos subjetivos permissivos da benesse legal. Não sem razão,
entendeu que a pena diversa da prisão, no caso, era insuficiente para atingir as finalidades da
retribuição e prevenção.

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STF/STJ: Notícias de interesse institucional

Notícias STF

2 de julho de 2018

1- Decisão determina arquivamento de inquérito contra deputado federal Bruno Araújo

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

3 de julho de 2018

2-Relatores determinam arquivamento de inquéritos contra senadores por ausência de provas


na investigação

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

3- Ação pede que STF afirme direito de transexuais e travestis de cumprir pena em presídio
feminino

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

4 de julho de 2018

4-Ministra Cármen Lúcia assina protocolo para ampliar atendimento a mulheres em situação
de violência doméstica

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

5- Liminar suspende ação penal contra sócios de rede varejista acusados de crime tributário

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

6- Mantida pena de ex-prefeito de município do Paraná condenado por desvio de recursos

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

5 de julho de 2018

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julho 2018

7-Íntegra do voto do ministro Celso de Mello no julgamento sobre condução coercitiva

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

6 de julho de 2018

8- Relator restabelece decisão de primeira instância e absolve acusado de dispensa ilegal de


licitação

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

Notícias STJ

5 de julho de 2018

9- Terceira Turma não admite novas provas sobre fato antigo apresentadas em momento
processual inoportuno

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

6 de julho de 2018

10-Alteração de marco para concessão de benefícios da execução penal, por unificação das
penas, não tem respaldo legal

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

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