Apostila Alfabetização e Letramento
Apostila Alfabetização e Letramento
Apostila Alfabetização e Letramento
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ........................................... 4
2
INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
3
1 CONCEITO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
4
a leitura e a escrita. É preciso ir além e se torna fundamental pensar na formação de
sujeitos capazes de interpretar e transformar a leitura e a escrita utilizando-as em suas
práticas cotidianas.
Traçando uma breve trajetória da alfabetização, você pode perceber que até
meados de 1980 ela era pensada a partir de métodos sintéticos e analíticos
ocasionando em formas definidas de como o professor deveria ensinar. Nesses
métodos, em especial no silábico ou no fônico, a criança repetia informações prontas,
transmitidas por meio de cartilhas, nas quais aprendia a memorizar o nome e o traçado
das letras, decorando seus sons. A correspondência som-grafia e a memorização das
famílias silábicas eram utilizadas nas atividades diárias do professor, de forma com
que a criança era exposta a textos prontos para fixar as letras e sílabas trabalhadas.
Exemplo
5
contínua, desenvolvida simultaneamente dentro e fora da sala de aula, em processo
interativo ocorrendo desde as primeiras relações da criança com a escrita. Aqui, a
criança não é mais vista como mero receptor de conhecimento, mas como um sujeito
imagina a escrita desde muito cedo, buscando compreender como ela funciona. As
cartilhas são substituídas por atividades e elementos fornecendo indícios para a
elaboração de atividades desafiadoras, a fim de que as hipóteses construídas pelos
alunos sejam colocadas em pauta.
Para perceber o Sistema de Escrita Alfabética (SEA), é preciso que a criança
compreenda a suas propriedades. Esse sistema envolve um conjunto de hipóteses e,
sabendo disso, o aluno pode realizar a leitura ou a escrita de novas palavras apenas
memorizando a relação entre letra e som de forma produtiva.
O SEA significa muito mais que a aquisição de um código, como propunham as
teorias tradicionais. Ele é um sistema notacional de representação da escrita, onde as
habilidades perceptivas e de motricidade não têm um peso fundamental. Nesse caso,
atividades reflexivas e desafiadoras auxiliarão a criança a compreender os segmentos
sonoros da fala e das palavras.
É preciso tratar a escrita alfabética como um objeto de conhecimento. Assim, o
professor auxiliará o aluno a descobrir, reconstruir e se apropriar do SEA. Morais
(2005, p. 45) destaca que para alfabetizar letrando é preciso:
6
elas podem ser trabalhadas de diferentes formas. Vale apostar em atividades
estimulando a criança identificar e compreender o significado de uma palavra, quantas
sílabas ela possui, quais os fonemas existentes e como são feitas as
correspondências entre os fonemas e as letras.
Por isso, você pode utilizar atividades envolvendo separação, contagem e
comparação quanto ao tamanho ou semelhança sonora. Além disso, pode se valer de
atividades abrangendo rimas, som inicial e som final, contribuindo para que o aluno
perceba os sons da fala. Mas, sobretudo, o aluno deve ser incentivado a escrever e a
elaborar hipóteses, mesmo que ainda não domine o sistema alfabético de escrita. A
ideia é a criança construir o conceito de língua escrita e caminhe por esse processo
consideravelmente. Portanto, para aprender a ler e escrever, é necessário que seja
exposta a situações no qual a desafiem a refletir sobre a língua, transformando as
informações recebidas em saberes próprios.
Conceito de letramento
7
sala de aula quanto os demais espaços da escola sejam vistos pela criança como
lugares agradáveis e com múltiplas possibilidades de atividades e aprendizagens. Em
síntese, é preciso instigar a criança a interagir com as práticas de letramento,
alimentando seu desejo de estar na escola. Visitas à biblioteca, por exemplo, podem
proporcionar o contato com diferentes tipos de materiais escritos e possibilitar ainda
uma experiência fora da sala de aula.
Quanto mais objetos, instrumentos, linguagens, gêneros e portadores de textos
de conhecimento da criança forem utilizados, maior será o sentido, o desejo e o
significado internalizado por ela. Pensar na função social da leitura e da escrita é
pensar no que os textos representam no dia a dia desses sujeitos dentro e fora da
sala de aula. Ou seja, à medida que elas compreendem o uso e a função da escrita,
elas têm as suas intenções de aprendizagem contempladas.
Nessa perspectiva, você deve considerar utilizar a leitura no seu dia a dia para
os mais variados propósitos, como localizar endereços, fazer uma receita, ler uma
bula de remédio, mandar uma mensagem para algum amigo ou familiar, entre tantas
outras. Essas leituras diversas envolvem o confronto de opiniões e interpretações e a
exploração mais aprofundada do conteúdo abordado. Deve ser incorporado tais
conhecimentos na rotina da sala de aula para que os alunos se tornem verdadeiros
leitores e escritores.
O ponto de partida para o processo de efetivo aprendizado é a convivência, o
contato e a experimentação com o mundo da cultura escrita. Os conhecimentos sobre
a linguagem adquiridos nas mais variadas situações que a criança traz quando chega
à escola evidenciam que ela está inserida em um contexto comunicativo de produção
e compreensão das funções da língua escrita. Assim, a ideia é criar nas novas
gerações a necessidade de utilizar a escrita socialmente, coletivamente, de acordo
com a função para a qual foi criada.
Além disso, é possível ampliar a comunicação e a troca de vivências entre os
alunos, de forma que eles interajam, auxiliem-se e aproximem-se das atividades
propostas pelo letramento. Esse é o sentido, a significação e a reconstrução proposta
por diferentes perspectivas de apropriação do sistema de leitura e escrita.
Essa apropriação da escrita possibilita um avanço no desenvolvimento cultural,
pois abre possibilidades para um conhecimento mais refinado do mundo e,
consequentemente, para o raciocínio e o pensamento mais complexos. Por conta
8
disso, é importante favorecer o contato dos alunos com diferentes tipos de textos para
que façam uso dessa tecnologia da escrita nas diferentes situações vivenciadas.
Nesse sentido, você precisa ter em mente que a criança, como membro da
sociedade, precisa do convívio com a leitura e a escrita para conhecer o mundo que
a rodeia. Ela se interessa e busca respostas para suas indagações, tornando o
processo de aprendizagem mais significativo. É fundamental que a mesma possa
falar, escutar, escrever e se envolver em situações reais de mediação e interação na
sociedade, de forma que a sala de aula também se torne um espaço de participação,
partilha, cooperação recíproca, trocas de opiniões, informações e experiências.
Segundo Franchi (2012), essa interação social proporciona vastas experiências
entre as crianças, além de favorecer que o professor observe as dificuldades e
peculiaridades existentes durante a realização das atividades, na medida em que faz
os devidos encaminhamentos nos momentos apropriados.
Esse processo ainda deve levar em consideração os modelos escritos sejam
contextualizados com uma significação. Ou seja, é fundamental que a criança faça
relações entre a palavra trabalhada e o objeto apresentado. Para isso, o professor
deve traçar diferentes estratégias colocando o sujeito em contato com distintas
situações e informações do cotidiano, levando-o a compreender aquilo que está
escrevendo ou lendo.
Tais atividades, atreladas a debates e discussões, contribuem para que a
criança contextualize as palavras, fazendo relações entre som, grafia e interpretando
o sentido a que está sendo exposta. Além disso, essas atividades se tornam
significativas quando envolvem os sujeitos na construção do conhecimento e na
resolução de problemas e desafios.
Outra questão pertinente que favorece a compreensão e a apropriação do
sistema de escrita é o uso de atividades orais e espontâneas. O professor deve
trabalhar tanto a letra, a sílaba e a junção delas na formação de palavras quanto a
contextualização desse conhecimento reflitindo sobre o processo. A promoção dessas
situações dialogadas dá oportunidade para que os alunos construam novas
significações voltadas à proposta de alfabetização e letramento.
É importante você notar que o letramento não é um treinamento repetitivo de
determinada habilidade trabalhada em sala de aula, muito menos pode ser aprendido
ou medido. Ele vai além do conhecimento das letras e dos sons. É preciso que o
9
significado da língua escrita tenha relevância no mundo letrado possa identificar e
refletir sobre os usos sociais, de maneira que interaja com os mais variados gêneros
de textos. Para ela estar inserida nesse mundo, não é necessário apenas
compreender o sistema de escrita alfabética. É preciso que o aluno use a língua nas
diversas práticas sociais de leitura e escrita, a fim de produzir novos sentidos e a fim
de participar de forma integrada da sociedade.
10
específicas que devem ser seguidas pela criança para aprender a codificar e
decodificar a leitura e a escrita.
A partir dessas discussões, você pode conhecer, então, os métodos que foram
utilizados ao longo dos anos para alfabetizar as crianças. Araújo (1996) destaca que
os métodos sintéticos e analíticos, criados entre os séculos XVI e XVIII e se
estendendo até meados de 1960, surgiram para se opor aos métodos de soletração,
predominantes na Antiguidade e na Idade Média. Esses métodos de soletração eram
considerados difíceis e contribuíam para os grandes índices de fracasso escolar na
fase de alfabetização.
Os métodos sintéticos, segundo Frade (2005), são procedimentos que partem
das unidades menores para as unidades maiores. Ou seja, inicia-se pelo ensino das
letras, da memorização, da decoração e do domínio do alfabeto para, posteriormente,
passar às sílabas, às palavras, às frases e aos textos.
Esse método em específico impossibilita que a criança avance para uma nova
fase de conhecimento se não tiver, primeiro, dominado e passado por todas as etapas
anteriores. Isto é, está em jogo um processo no qual a criança aprende das partes
para o todo. É, portanto, um método que foca seu ensino na decifração e na leitura
mecânica, dando ênfase à correspondência entre o som e a grafia e utilizando como
estratégia principal a percepção auditiva, por meio de exercícios de leitura em voz alta
e ditados feitos pelos professores.
Por ser um método de decoração e memorização, ele traz suas regras já
estabelecidas, o que torna o ensino cansativo, desmotivador e com pouco significado
para a criança. Afinal, as palavras utilizadas nas cartilhas já eram determinadas,
apresentando pouca relevância na percepção da leitura e da escrita.
O aluno, nessa concepção de alfabetização, recebe o conhecimento pronto.
Porém, na maioria das vezes não compreende e possui dificuldades para produzir
textos devido ao restrito vocabulário a que foi exposto. Em contrapartida, acredita-se
que o método sintético seja positivo, devido à grande exposição da criança às
repetições e regras impostas, pois ela alcança a ortografia perfeita mais rapidamente,
visto que já conhece e domina as palavras que necessita escrever em suas atividades.
Do ponto de vista da alfabetização, o método analítico favorece que a criança
se aproxime um pouco mais de sua realidade. Afinal, em vez de reconhecer primeiro
11
as letras e as sílabas fora de contexto, o aluno tem a oportunidade de aprender a partir
das palavras emitidas de forma inteira e não apenas das partes ou pedaços delas.
Nessa perspectiva, os textos podiam ter sentido um pouco maior, pois a leitura
não era realizada por meio da silabação. Em contrapartida, há as duas faces da
moeda, visto que, por ser um método que parte da leitura de palavra por palavra, pode
também trabalhar a partir de elementos isolados e com poucos significados,
impossibilitando a criança olhar o texto na sua totalidade.
Além disso, diferente do método sintético, no analítico os professores não
exigiam que os alunos fizessem a correspondência sonora entre a fala e o texto
escrito. Na maioria das atividades, eram propostos exercícios orais em que as
crianças deveriam reconhecer a palavra sem pronunciá-la oralmente e eram
instigadas a realizar cópias e leituras silenciosas, o que também as desestimulava e
tornava o trabalho cansativo e pouco produtivo.
De acordo com Mortatti (2006), iniciaram-se, por volta da década de 1920, os
embates contrários aos métodos analíticos. Buscava-se um ensino que contemplasse
o aprendizado da leitura e da escrita ao mesmo tempo. Surge então o método misto,
que varia entre o analítico e o sintético e destaca-se tanto pelo ensino do todo quanto
pelo ensino das partes, de forma conjunta. Nesse método, o professor escolhe se as
atividades partirão das palavras, das frases ou dos textos.
Mortatti (2006) ainda destaca que o método misto se tornou especialmente
relevante a partir de 1934, quando foram criadas as bases psicológicas de
alfabetização contidas no livro Testes ABC, escrito por Manoel Bergström Lourenço
Filho. Esse autor verificava a maturidade necessária para a criança aprender o
processo de leitura e escrita e classificava os alunos, organizando-os em classes
homogêneas, com vistas à eficácia da alfabetização.
A partir dessa proposta, o ensino volta a ser visto como tradicional. O trabalho
do professor, por sua vez, se baseava na produção de manuais prontos e cartilhas,
que visavam a interligar a habilidade da leitura com a habilidade da caligrafia e da
ortografia.
Nessa fase, instaurou-se também o período preparatório, no qual a criança era
envolvida em atividades de prontidão, de discriminação auditiva e visual, além de
realizar atividades que testavam a coordenação motora por meio de exercícios com
identificação e traçado das letras. Tal proposta tinha como objetivo medir as
12
habilidades e conhecimentos das crianças relativos à leitura e à escrita. Além disso,
as separava conforme a sua maturidade.
Em todos os métodos apresentados, tanto nos sintéticos quanto nos analíticos
e mistos, predominava a utilização das cartilhas, cuja proposta principal era
apresentar às crianças letras, sílabas soltas, palavras, frases e textos com pouca
relevância e significado no contexto em que os alfabetizandos estavam inseridos. Da
mesma forma, o objetivo das cartilhas visava a abordar apenas a codificação (escrita)
e a decodificação (decifração) e pouco agregava conhecimentos aos envolvidos.
A aprendizagem do código alfabético acontecia por meio da transmissão do
ensino, cuja proposta era iniciar a alfabetização partindo das unidades mais fáceis
para, em seguida, apresentar as mais difíceis. Nessas concepções de métodos,
acreditava-se que o aluno chegava à escola com pouco ou quase nada de
conhecimento a respeito da língua. Portanto, a escola teria o papel de iniciar o
processo da leitura e da escrita por meio do ensino de letras, sílabas e palavras,
passando para os alunos, que eram meros receptores, as informações prontas e fora
do contexto.
A partir desse período, Mortatti (2006) destaca que houve uma descrença muito
grande nos métodos para se alfabetizar. Isso ocorreu, pois, os altos índices de
fracasso escolar e reprovação, assim como a aprendizagem superficial que as
crianças eram submetidas, tornaram-se pontos de discussão entre os educadores que
buscavam respostas e caminhos para alfabetizar de forma mais efetiva.
O processo de ensino e aprendizagem passou a ser debatido e pensado sob
um novo enfoque. Iniciaram-se as discussões acerca do construtivismo como forma
de desmetodizar a alfabetização. Esse campo foi muito estudado por Jean Piaget,
apontado como um dos precursores da teoria construtivista. A aprendizagem, nessa
concepção, é vista como um processo contínuo de desenvolvimento, em que o
conhecimento é construído pelo próprio sujeito na sua interação com o mundo, na
medida em que é envolvido em situações de aprendizagens relevantes e
significativas.
Em meados de 1980, seguindo a linha construtivista, surgem os estudos e
pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1985) acerca da psicogênese da língua escrita.
Esses estudos reforçam que a escrita alfabética não é um código no qual se aprende
a partir de métodos e atividades de memorização. Pelo contrário: a criança elabora e
13
formula diferentes hipóteses sobre a escrita, sendo este um processo gradativo que
acontece em momentos diferenciados do seu desenvolvimento.
Além disso, outra questão levantada é que os processos de aprendizagem
acontecem antes mesmo do ingresso da criança na escola. Isso se dá por meio da
sua inserção em ambientes letrados e da sua participação em vivências e práticas
sociais de leitura e escrita, de forma que o aluno interage com diferentes tipos de
textos nas mais variadas atividades desenvolvidas.
Diante dessas questões, é fundamental refletir, não existem métodos perfeitos,
tampouco teorias milagrosas que farão a criança aprender de forma plena. Cada
indivíduo concebe o conhecimento ao seu tempo e da sua maneira. O importante é
que sejam desenvolvidas metodologias de ensino auxiliando a criança a refletir sobre
a escrita alfabética, tornando-a pensante, crítica, reflexiva e questionadora.
Frade (2005, p. 15) destaca “Muitas vezes, à própria menção da palavra
método, temos um comportamento intolerante, porque pensamos que essa palavra se
refere a apenas um caminho para alfabetizar ou a uma fórmula inflexível”. Para que
não haja retrocessos, é preciso combater aquele ensino a partir de métodos rígidos
em que os professores ficam presos à mesma forma de ensinar e às mesmas práticas
pedagógicas.
Nesse sentido, Ferreiro e Teberosky (1985, p. 29) destaca: “O método
(enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar [...] A
obtenção do conhecimento é um resultado da própria atividade do sujeito”. Assim, é
importante a escola pensar em intervenções ajudando a criança a aprender de forma
conjunta, tornando-a um sujeito capaz de formular hipóteses, discutir e ser
“intelectualmente ativo”
É necessário, portanto, relacionar o momento atual da educação às discussões
de problemática social que permeiam o cenário educacional. Isso principalmente no
que diz respeito ao fato de não existir uma ideia definitiva ou limitada acerca das
metodologias, apenas a busca por caminhos que levem a criança a se alfabetizar a
partir de conteúdos mais complexos e significativos.
14
As especificidades do método sintético de alfabetização
Albuquerque (2012) destaca que o método sintético de ensino surgiu por volta
do século XVII. Nesse período, a leitura e a escrita passaram a ter maior importância
frente às mudanças históricas que a sociedade vivia. Como a grande maioria da
população não dominava o código escrito, iniciaram-se as discussões acerca de um
método no qual contemplasse a decodificação como forma de expandir a
escolarização ao restante da população, focando, assim, na prática escolar da leitura.
Surge aí o método sintético, baseado no ensino da leitura e da decifração de
forma mecânica. O objetivo principal desse processo é que a criança faça a
correspondência entre o oral e o escrito por meio do aprendizado de unidades
menores para unidades maiores (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985).
O aluno, nesse contexto, aprende primeiro as letras, partindo para as sílabas e
as letras dentro de cada sílaba, para depois, por fim, chegar à leitura da palavra. Até
que todo esse processo aconteça, a criança é submetida a uma gama de atividades
de memorização e decoração de letras e traçados, como forma de garantir um
aprendizado mais efetivo.
As cartilhas ou livros utilizados durante esse período eram um dos principais
recursos que o professor tinha à sua disposição, sendo também o primeiro contato da
criança com algum material impresso. Para compreender melhor o método sintético,
você deve conhecer as três fases distintas caracterizadas a partir dos métodos
alfabético, fônico e silábico.
Método alfabético
15
etapa, a criança apenas memorizava e não estabelecia a relação entre a escrita e a
fala.
Segundo Frade (2007), as famílias silábicas eram apresentadas para as
crianças de forma que elas pudessem fazer todas as combinações possíveis. Havia
também a estratégia de que as letras e sílabas fossem cantadas e memorizadas.
Assim, o processo se tornava lento e pouco representativo para a criança.
Carvalho (2005, p. 22) ainda complementa que o método alfabético “[...] baseia-
se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da memorização como
estímulo didático, o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são
aprendidas de cor e com elas se formam palavras isoladas”. Nesse sentido, você pode
considerar que as palavras eram apresentadas e trabalhadas fora do contexto, sem
haver relação entre elas.
De acordo com os estudos de Frade (2007), até os dias de hoje, regiões como
o Nordeste, por exemplo, utilizam esse método para alfabetizar. Seja na alfabetização
doméstica, realizada pelos familiares, seja na educação levada a cabo por professores
leigos e com pouca formação, ainda há o emprego e os estudos repetitivos partindo
das cartas de ABC e que possuem como fundamento o ensino partindo das letras.
Método fônico
No método fônico, a unidade de ensino parte dos sons e tem como principal
objetivo estabelecer a relação entre a letra e o som que ela representa. A união da
consoante com a vogal auxilia a criança a trabalhar a pronúncia das sílabas que estão
sendo formadas, relacionando a palavra falada à escrita.
Em um primeiro momento, por possuírem nomes e sons iguais, eram
trabalhadas as vogais, depois palavras formadas apenas por elas. No segundo
momento, eram apresentadas as consoantes e as formas mais complexas dos seus
sons dentro da palavra. Para Frade (2007, p. 23), o objetivo do método fônico é fazer
a relação de que: “Cada letra (grafema) é aprendida como um fonema (som), que,
junto a outro fonema, pode formar sílabas e palavras”. A partir da formação das
palavras, surgem as frases e os textos.
Esse método é muito utilizado e possui suas vantagens e desvantagens. Entre
as vantagens está o fato de, se o aluno compreender a relação entre as letras e os
16
fonemas, haverá uma correspondência direta que será decifrada mais rapidamente,
sem oferecer maiores dificuldades. Isso se dá principalmente quando é preciso
escrever palavras com P, B, T, D e V, por exemplo, nas quais os fonemas representam
a escrita das letras. Em contrapartida, algumas consoantes, para terem seus sons
identificados, precisam do apoio de uma vogal, mesmo que ela fique oculta na hora
da pronúncia. Um exemplo é o fonema /m/, ele necessita de um mê para ser
referenciado.
Entre as desvantagens está o fato das letras, podem apresentar diferentes
sons e fonemas conforme a posição que ocupam na palavra. Assim, esse processo
de transição até que a criança chegue ao nível ortográfico se torna mais lento. Outra
questão são as variações quanto à pronúncia das palavras, trazendo confusões na
hora da escrita, pois uma mesma palavra é falada de uma forma e escrita de outra.
Como você sabe, o sotaque e as variações da língua conforme cada região do país
influenciam essas inconstâncias.
O método fônico, nesse sentido, tem o objetivo de fazer com que a criança
demonstre compreensão dos padrões regulares de correspondência entre o som e a
soletração, entre os fonemas e os grafemas. A ideia é que, a partir desse domínio,
possa identificar os sons e realizar a leitura de palavras.
Método silábico
17
O ensino das famílias silábicas compostas por essas letras era apresentado à
criança de forma que a sílaba era indicada e estudada sistematicamente. A partir do
estudo das famílias, partia-se para a formação de palavras, frases e textos que
continham as sílabas já trabalhadas anteriormente.
Hoje, o método silábico é utilizado, por exemplo, nos silabários simples, que
servem para a fixação das famílias silábicas pelas crianças (Figura 1).
Fonte: https://bit.ly/3fx17I2
18
que partiam da sílaba trabalhada. Dentro dessa letra, eram apresentadas então várias
palavras, frases e textos no qual a sílaba ensinada ganhava destaque. Essas
palavras, na maioria das vezes, não tinham sentido dentro do texto, pois a
preocupação maior era que as famílias silábicas pudessem ser trabalhadas e
evidenciadas pelas crianças. Os textos e histórias eram artificiais, sem relação com
os usos sociais, e tinham o propósito de trabalhar e treinar o ensino das sílabas de
forma mecanizada.
Nesse sentido, os métodos sintéticos, sejam eles alfabéticos, fônicos ou
silábicos, têm como proposta a progressão das unidades menores para as mais
complexas. Além disso, privilegiam a aprendizagem das partes para o todo por meio
da decodificação, da análise fonológica e da relação entre letras e sons. Você pode
perceber, no entanto, que os métodos da marcha sintética são inflexíveis e tendem a
desconsiderar os usos e funções sociais da escrita, dando pouca importância ao
sentido que os textos têm no contexto da criança.
Método da palavração
19
partir dessa escrita elas eram divididas silabicamente, estudadas e relacionadas a
palavras novas que contivessem as sílabas vistas anteriormente.
Com base nas palavras e no estudo das sílabas, partia-se para a relação entre
grafema e fonema, a criança percebia os sons que representavam cada unidade. A
etapa seguinte era a formação das frases com essas palavras e de textos com as
frases trabalhadas.
A diferença entre o método da palavração e o método silábico de marcha
sintética, segundo Frade (2005), as palavras não têm a obrigatoriedade de ser
decompostas no início do processo. Pelo contrário, elas primeiro precisam ser
compreendidas e reconhecidas para depois serem esmiuçadas. Além disso, na
palavração não existia a lógica de que deveria iniciar-se a alfabetização pelas palavras
mais fáceis. Levava em consideração se as palavras apresentavam sentido e
significado para os alunos.
Para exemplificar o método da palavração, considere a palavra “boca”. Em
primeiro momento, a palavra será analisada em sílabas (bo-ca). A partir dessa análise,
é desenvolvido o trabalho com as famílias silábicas pertencentes à palavra
(ba/be/bi/bo/bu), chegando-se enfim à aprendizagem das letras (b-o-c-a). Entre as
desvantagens da palavração, as dificuldades enfrentadas pelos alunos para escrever
palavras novas, visto que não era incentivada a análise e o reconhecimento das partes
(FRADE, 2005).
Método da sentenciação
20
Método global de contos
21
aprendizagem a partir do reconhecimento do todo. Assim, têm como vantagem a
possibilidade de a criança realizar, desde seu primeiro contato com o processo de
escolarização, a leitura de palavras, frases ou textos que tenham significado para ela.
Como você pode imaginar, se não for conduzido e orientado corretamente pelo
professor, esse processo pode tornar-se um ponto de dificuldade para o aluno,
correndo-se o risco de perder o sentido diante da apresentação de novas palavras.
22
escrita, tanto no âmbito escolar como nas demais esferas, promovendo uma postura
investigativa no qual a autonomia, o respeito e o diálogo sejam as peças-chave para
o aprendizado.
Nesse sentido, a escola e o professor devem fazer a mediação entre as práticas
de alfabetização (importantes para o desenvolvimento das competências dos alunos)
e os objetivos sociais e práticas relevantes presentes nas situações do cotidiano.
É fundamental que, na fase de alfabetização, a criança possa vivenciar a
leitura, assim como a produção, a compreensão e a reflexão de textos orais e escritos,
a fim de se apropriar do Sistema de Escrita Alfabética. A ideia é que as diferentes
ideias e posicionamentos dos alunos possam fazer parte do trabalho como um todo.
Partindo desse pressuposto, o trabalho com diferentes portadores de texto e
gêneros textuais serve como ponto de partida para enriquecer a aula. Afinal, tais
portadores e gêneros se aproximam da realidade em que a criança está inserida,
valorizam as suas experiências, instigam a imaginação, possibilitam um aprendizado
mais significativo e propiciam vivências práticas que vão além dos conteúdos
escolares.
A seguir, você pode ver alguns dos muitos portadores de texto e gêneros
textuais existentes. Eles podem ser trabalhados em sala de aula na perspectiva da
alfabetização e do letramento. Além disso, se aproximam das práticas sociais
vivenciadas pelos alunos.
• Receitas;
• Manuais, regras de jogos, listas e instruções;
• Bilhetes;
• Cartas;
• Convites;
• Histórias em quadrinhos, tirinhas;
• Parlendas, cantigas de roda, trava-línguas, lendas;
• Músicas;
• Piadas;
• Poesias, contos, fábulas;
• Rótulos e embalagens;
• Símbolos, placas;
23
• Cardápios;
• Jornais, revistas, sites, noticiários, cartazes informativos.
24
Cabe ao professor compreender o processo, buscar soluções por meio de
estudo, reflexão e troca com seus pares. Assim, ele deve trabalhar com esses
diferentes saberes, conhecendo as práticas culturais e sociais vivenciadas pela
comunidade e pelos alunos. Ele precisa ainda favorecer o contato com a escrita nas
mais variadas circunstâncias, para que a criança vá se familiarizado com as situações
de aprendizagem e avance de nível.
Mesmo que as mesmas não tenham dominado todos os conhecimentos
propostos pelos professores ao final do ano letivo, isso não significa que elas não
aprenderam, pelo contrário, alguns saberes foram agregados e construídos. Contudo,
é necessário observar e identificar quais conquistas foram possibilitadas, de forma
que a criança se sinta segura, valorizada e motivada para novas aprendizagens.
Por fim, é urgente que escolas e educadores pensem em práticas de
alfabetização e letramento partindo de um planejamento contemplando atividades
capazes de auxiliar os alunos a avançarem em sua aprendizagem. Tais atividades
devem ser do interesse da criança e estar de acordo com a realidade em que ela está
inserida. Somente por meio dessas experiências será possível refletir sobre a prática
da leitura e da escrita em diferentes circunstâncias. Portanto, o desenvolvimento das
capacidades dos alunos em relação à língua escrita não é um processo que se encerra
assim que eles se apropriam do sistema de escrita, pelo contrário, ele se estende por
toda a vida. O que os sujeitos fazem é apenas aprimorar e criar possibilidades na
construção de novos conhecimentos e habilidades.
25
primeiro momento, parece óbvia e lógica: a fala. Contudo, é importante discutir e
refletir sobre as implicâncias e relações dessas modalidades.
Nessa perspectiva, no ensino formal, “[...] a escrita tem sido vista como de
estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a fala, de estrutura simples ou
desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto [...]” (FAVERO;
ANDRADE; AQUINO, 2000, p. 9). Assim, a escrita sempre foi privilegiada como a
“verdadeira forma de linguagem”, mas a língua falada deve ter um lugar de destaque
nas relações de ensino e aprendizagem.
A escola não deve pôr de lado a língua falada como tópico já aprendido em
casa. Nesse sentido, “[...] o ensino da oralidade não pode ser visto isoladamente, isto
é, sem relação com a escrita, pois elas mantêm entre si relações mútuas e
intercambiáveis [...]” (FAVERO; ANDRADE; AQUINO, 2000, p. 13). Por isso, é
fundamental descrever as relações intercambiáveis entre esses dois elementos, de
modo que o aluno construa relações entre a sua fala e a sua escrita. O texto falado
possui as seguintes características:
O papel do professor
26
educativo. Quando se fala sobre o professor e sobre a sua importância no processo
de aquisição da escrita, é importante destacar que muitos problemas da educação
decorrem do modo como os livros literários são utilizados na escola.
Nesse contexto, o professor, antes de tudo, deve ser também um leitor, para
que o aluno encontre nele um modelo. As obras literárias a serem trabalhadas em sala
de aula, conforme Saraiva (2001), devem estar distantes dos textos que possuem
como único objetivo disseminar formas estereotipadas de literatura, simplesmente
pedagogizantes ou apartadas da realidade do receptor.
Em outras palavras, os livros literários a serem trabalhados em sala de aula
devem ser pensados primeiramente a partir da forma estética e da proximidade com
a realidade dos leitores. Além disso, o professor deve ler as obras e só depois utilizá-
las como ferramentas para a leitura e a escrita de seus alunos. Assim, o professor é
um agente que contribui para a aquisição da escrita pelo aluno, visto enquanto sujeito
que constrói o seu aprendizado. Ou seja, o aluno não é mais objeto da aprendizagem.
Esta é um processo dialético em que o aluno se apropria da escrita e também de si
mesmo enquanto produtor de textos.
Nesse contexto, é importante tratar dos níveis de consciência fonológica,
listados a seguir.
27
A seguir, veja as estratégias envolvidas na escrita (KOCH; ELIAS, 2011).
Como você já sabe, o processo de escrita não se baseia apenas numa simples
substituição entre fonema (unidade sonora que forma e distingue palavras) e grafema
(símbolo gráfico usado para construir palavras), mas na compreensão da escrita e da
sua organização. O modelo tradicional de ensino deu relevância desde sempre ao
aspecto material da escrita, ou seja, ao desenho das letras. Contudo, as novas teorias
de aquisição de língua materna, principalmente os estudos realizados por Emília
Ferreiro presentes no livro Reflexões sobre alfabetização, publicado em 1993 dão
relevância e priorizam a reflexão acerca do conteúdo da escrita. Em síntese, isso
significa que tudo aquilo que o professor ensina deve fazer sentido para o aluno.
Na obra A psicogênese da língua escrita, Ferreiro e Teberosky (1985)
apresentam uma série de hipóteses sobre os níveis do processo de construção da
escrita. Tais hipóteses foram formuladas a partir de uma extensa pesquisa realizada
com crianças em fase de alfabetização.
No primeiro momento, a criança percebe que a escrita representa o mundo de
forma direta, ou seja, que significante e significado se identificam. Segundo Saussure
(2003), o significado seria o sentido, a ideia de alguma coisa, o conceito, ou mesmo a
representação mental de algo. Já o significante seria a imagem acústica: “Esta não é
o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse
28
som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos [...]”
(SAUSSURE, 2003, p. 80). Ou seja, o significante seria a parte perceptível do signo,
e o significado, a parte inteligível.
O sujeito começa a perceber a escrita como a soma dos desenhos enquanto
representações dos objetos. “O desenho pode ser interpretado, o texto serve para ler
o que o desenho representa. Neste caso, como em muitos outros, a expectativa é a
de que o texto corresponda ao desenho, o objeto representado em um também o está
no outro [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 73). Desse modo, o que deve ser
buscado é a percepção de que há diferença entre desenhar e escrever. O aluno
também pode relacionar o que escreve com a forma (tamanho) do desenho, ou seja,
as formas escritas devem reproduzir as formas dos objetos.
A segunda hipótese é convencionalmente chamada de pré-silábica (as autoras
não chamam esse estágio dessa forma; apenas mais tarde é que outros teóricos o
fazem). Esse é o momento em que a criança começa a perceber o caráter arbitrário e
convencional do sistema de escrita. Ela começa a perceber as distinções entre
significante e significado, de modo que os símbolos da escrita não representam
diretamente a realidade. Assim, ela começa a depreender significados diferentes nas
escritas que faz. Além disso, há o início da diferenciação entre números e letras.
Exemplo
No estágio pré-silábico, se a criança quiser escrever a palavra
“boi”, por exemplo, é normal que ela relacione a grafia com o
tamanho do animal. Assim, ela pode escrever com uma letra
maior.
29
Figura 2 – Exemplo da hipótese silábica
Fonte: https://bit.ly/3TzeCFO
Mesmo assim, a criança ainda não se libertou da hipótese silábica, visto que
em alguns momentos representa a sílaba e em outros, o fonema. Nesse estágio, ela
se encontraria na hipótese silábico-alfabética. No momento em que a criança percebe
que cada letra escrita pode representar um fonema, ela se encontraria na hipótese
alfabética, ou seja, ela estaria alfabetizada.
No Quadro 1, a seguir, você pode ver uma síntese das diferentes hipóteses.
30
Nível silábico Manifestação alternante de valor silábico ou fonético para
alfabético as diferentes letras.
Nível silábico Cada letra vale por uma sílaba. Escrita com ou sem o
predomínio do valor sonoro convencional.
Nível pré-silábico Marcado por escritas que não apresentam nenhum tipo
de correspondência sonora, isto é, sem relação com
grafia e som.
Somente rabiscos.
De todo modo, as autoras deixam claro: “[...] é conveniente esclarecer que não
pretendemos propor nem uma nova metodologia da aprendizagem nem uma nova
classificação dos transtornos da aprendizagem [...]” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985,
p. 15). Por isso, em nenhum momento elas falam de uma proposição de um método,
mas de hipóteses e constatações derivadas das suas pesquisas.
31
há cinco sequências didáticas: as narrativas, as descritivas, as expositivas, as
injuntivas e as argumentativas. Em um mesmo gênero, mais de uma sequência pode
estar presente.
Sequências narrativas
Vitória-régia
Essa é uma história linda de amor de uma bela índia pelas estrelas, a ponto
de querer se tornar uma. Naiá era uma jovem guerreira que, por amar a
natureza, tinha o hábito de contemplação por longo período da lua e das
estrelas. Com o sonho de ser de fato uma estrela, pediu a Jaci — a lua —
que a fizesse uma estrela, mas os dias passaram sem que o desejo se
concretizasse, fazendo com que a jovem índia, triste, em um dia de lua
cheia, fosse esperar por Jaci na beira do lago.
Ao ver a bela imagem refletida na água, se encantou e ali mergulhou para
nunca mais voltar. Como sempre foi querida na tribo e na região, os peixes
e os pássaros pediram a Jaci que a tratasse de forma especial. Assim,
Naiá foi transformada na mais bela planta aquática já vista — a vitória-régia
ou estrela das águas — no Rio Amazonas. A flor de pétalas brancas é
perfumada e só abre à noite, para amanhecer rosada e ainda bela (CELI,
2019, documento on-line).
32
Sequências descritivas
Sequências expositivas
33
Sequências injuntivas
BRIGADEIRO
INGREDIENTES
1 caixa de leite condensado
1 colher (sopa) de margarina sem sal
7 colheres (sopa) de achocolatado ou 4 colheres (sopa) de chocolate
em pó Chocolate granulado
MODO DE PREPARO
Em uma panela funda, acrescente o leite condensado, a margarina e
o chocolate em pó. Cozinhe em fogo médio e mexa até que o
brigadeiro comece a desgrudar da panela. Deixe esfriar e faça
pequenas bolas com a mão passando a massa no chocolate
granulado (TUDOGOSTOSO, 2019, documento on-line).
34
Cabe à escola, então, possibilitar que o aluno domine diferentes gêneros
textuais e as sequências didáticas que eles implicam. Desse modo, o estudante vai
ser capaz de, dentro e fora da escola, produzir gêneros textuais próximos ou distantes
de sua realidade. Da mesma forma, cabe à escola colocar os alunos próximos de
situações verdadeiras de comunicação, aproximando a prática da teoria e atribuindo,
assim, sentido ao aprendizado. “Quanto mais claramente o objeto do trabalho é
descrito e explicado, mais ele se torna acessível aos alunos não só nas práticas
linguajeiras de aprendizagem, como em situações concretas [...]” (KOCH; ELIAS,
2011, p. 74).
35
Segundo as ideias de Smith (1999) as crianças buscam compreender o
ambiente em sua volta, sempre que este tem sentido, levantando hipóteses sobre os
escritos que encontram. As palavras localizadas dentro de um contexto significativo,
no universo mais particular da criança, são tão importantes quanto as encontradas
dentro de um livro. O autor destaca que as placas, as embalagens, os rótulos, os
símbolos publicitários, aumentam a percepção sobre a função da linguagem escrita.
Como bem aponta Teberosky (1989) um texto não demanda extensão,
podendo ser longo ou curto, desde um romance até uma placa de trânsito. A placa
escrita “PARE” é um texto, em que se tem uma função comunicativa de prescrever
um comportamento. Os textos importam mais no nível do significado do que da
extensão.
Quando falamos em destacar a linguagem escrita nos espaços escolares,
Smith (1999) aponta diversas maneiras de como isso pode ser possível, como por
exemplo, a identificação de salas, banheiros, armários, utilização de cardápio, placas
indicativas, cartazes, horários, catálogos, entre outros. Que devem ser organizados
na forma que a criança tenha acesso e manipule os materiais escritos com facilidade,
bem como as letras precisam estar visíveis para a criança.
Assim, as imagens e as letras tem uma importância especial para as crianças
em processo de alfabetização. Curto et al (2000) recomendam o uso da letra
maiúscula no trabalho com textos, principalmente para as crianças que frequentam a
etapa inicial de alfabetização. De acordo com as autoras esse tipo de letra facilita
percebê-las e distingui-las uma das outras, além de serem mais fáceis para escrevêlas
e visualizá-las. Outro fator que as autoras consideram importante é a maior presença
de materiais escritos com letra maiúscula nos espaços extraescolares, fato esse que
não leva o estranhamento da criança frente esse tipo de letra no ambiente escolar. Já
as imagens auxiliam nas previsões que a criança fará frente o texto, antecipando
informações do seu conteúdo.
Cagliari (1999) também destaca a utilização da letra maiúscula no início do
processo de alfabetização, pois o tipo de letra maiúscula é mais fácil de visualizar e
distinguir na palavra. O autor faz uma crítica ao uso da letra cursiva dizendo neste tipo
é mais difícil identificar onde começa e termina o traçado da letra e é enfático ao dizer
que “as letras cursivas foram inventadas para o uso de quem já sabe ler e escrever e
36
precisa escrever muito rapidamente. Letra cursiva é ponto de chegada, não ponto de
partida” (CAGLIARI, 1999, p. 141).
Outro fator considerado importante sobre a escolha dos materiais escritos está
relacionado na utilização de “textos do mundo”, aqueles que circulam socialmente. A
escola não deve se limitar a utilizar textos exclusivamente escolares, mas apresentar
textos encontrados nas ruas, lojas, supermercados, em espaços culturais, Entre
outros. Tal como Teberosky e Colomer (2003) recomendam que a utilização de textos
autênticos auxilia em dois processos: contextualiza a aprendizagem e, em
contrapartida, colabora para a interação da criança com a escrita fora da escola.
Smith (1999) considera a disponibilidade de materiais interessantes e
significativos como requisitos básicos para o aprendizado da leitura. Portanto, para
tornar o espaço escolar um ambiente alfabetizador é necessário a seleção criteriosa
de materiais que efetivem o propósito de tornar toda escola orgânica, dinâmica e
estimulante para a criança que está construindo seu comportamento leitor. No
entanto, o autor destaca que o problema não é a falta de materiais e sim, às vezes, o
excesso, pois encontramos uma diversidade de escritos em nosso cotidiano como
livros, jornais, revistas, outdoors, cartazes, panfletos, entre outros. O problema maior
está em selecionar quais materiais e como devem estar presentes no ambiente para
que este se torne alfabetizador.
Ao comentar o papel dos materiais escritos disponíveis para auxiliar na
apropriação da leitura, o autor salienta que é preciso certo cuidado para não confundir
a decoração das paredes, como as letras e palavras isoladas afixadas e folhas
impressas como sendo materiais significativos de leitura. Essa cultura tende a dar uma
ideia de “ambiente educacional”. O autor comenta que o material escrito só é
significativo no ambiente se a criança puder interagir com ele e procurá-lo
constantemente com um propósito ou uma necessidade. Um bom exemplo disso é o
gênero textual cardápio, em que a criança, a partir de sua necessidade diária e ao
interrogar-se sobre as opções disponíveis, busca o texto para verificar as
possibilidades de alimentação.
Além disso, baseado nos apontamentos de Smith (1999), cabe ressaltar que
quando a palavra está dentro de um contexto significativo, a identificação ocorre de
forma mais rápida e previsível. Usando o mesmo exemplo do gênero textual cardápio,
a criança ao se deparar com uma palavra iniciada com a sílaba “FE” poderá supor que
37
a palavra é “FEIJÃO”, pois pode relacionar com o início do nome de seu colega
“FELIPE”. É nesse contexto que a criança ativará seus conhecimentos prévios e
testará hipóteses, buscando construir o significado das mensagens escritas e
compreender o texto. A motivação para buscar a compreensão é impulsionada
sempre por uma necessidade real, seja para obter uma informação, seguir regras,
recordar fatos ou por prazer.
É importante destacar que, sendo a leitura um processo permeado pela
decodificação e compreensão, a construção de um ambiente alfabetizador não tem a
pretensão de garantir que as crianças se apropriem da linguagem escrita apenas com
a exposição de materiais escritos no ambiente, pois Teberosky (1989) aponta que o
papel do professor se faz fundamental nesse processo, além de ser o principal modelo
de leitor e escritor na escola, assumindo uma postura de mediador de situações de
leitura e escrita.
Em contrapartida, a falta de um ambiente alfabetizador, enriquecido com
materiais escritos contextualizados e significativos, implica na elaboração de
conhecimentos sobre a linguagem escrita. Conforme aponta Ferreiro:
38
sobre um objeto de acordo com seu nível, antecipando significados dos materiais
escritos a partir de dados do contexto, para posteriormente compreender os dados
textuais. A criança não espera um ensino sistematizado para perceber o porquê a
escrita é importante, mas ela pode descobrir por si mesma através das experiências
no ambiente alfabetizador.
Pretende-se salientar que a diversidade de textos utilizados em situações reais
de uso no cotidiano da criança e a frequência deste contato nos espaços escolares
podem ser valiosas na construção dos conhecimentos implícitos, ou seja, aqueles que
a criança adquire a partir do contato com materiais escritos.
Para explicar a importância dos conhecimentos implícitos na aprendizagem
inicial da leitura e escrita recorremos aos estudos de Maluf e Gombert (2008), pois os
autores comentam que os conhecimentos implícitos colaboram para uma leitura
proficiente e automatizada, desde que possam evoluir dentro de um contexto de
escrita. Ao contrário do conhecimento explícito, referente às capacidades
metalinguísticas, aquelas em que a criança passa a refletir conscientemente sobre os
aspectos linguísticos, o conhecimento implícito representa todos os comportamentos
precoces e espontâneos frente à linguagem. Para os autores:
39
conhecimento que as aprendizagens implícitas não conseguem atingir diretamente,
mas são essenciais para avançar nessa ideia. Em virtude dos fatos mencionados, a
leitura proficiente é decorrente das aprendizagens implícitas acrescidas das
aprendizagens explícitas.
A experiência frequente com a linguagem escrita nos espaços escolares auxilia
as crianças na previsão e na construção dos conhecimentos explícitos, sistematizados
em sala de aula, como a decodificação do escrito e a compreensão, habilidades
consideradas fundamentais para a aprendizagem da leitura.
Sendo assim, é possível afirmar que o ambiente alfabetizador atua na
construção de conhecimentos implícitos que são essenciais para refletir sobre a
escrita como sistema de representação. Smith (1999) mostra que compreender a
função social da escrita e saber que utilizamos o texto para suprir uma necessidade
cotidiana, e que são através dos textos que encontramos informações necessárias
para a nossa comunicação com o mundo, portanto não são habilidades ensinadas de
forma explícita.
Nesse contexto, Teberosky e Colomer (2003) apontam dois tipos de
conhecimentos que se desenvolvem no início das experiências com a linguagem
escrita: os conhecimentos elaborados pelas crianças, partindo da interação com
leitores e materiais escritos e os conhecimentos socialmente transmitidos pelos
adultos, que são assimilados por elas.
De acordo com as autoras fazem parte dos conhecimentos elaborados pelas
crianças, aqueles que são construídos a partir da interação com o texto, como a
função dos nomes, a relação entre escrita e linguagem, o conceito de texto e de
palavra. Sobre os conhecimentos transmitidos pelos adultos e assimilados pelas
crianças, cabe destacar o domínio das convenções do material impresso, a
identificação dos materiais escritos e suas funções.
Os dois conhecimentos acontecem antes e durante o ensino escolar,
começando no meio familiar e urbano e ampliando a partir do ensino convencional.
Afirmam que “ambos os conhecimentos parecem estar influenciados pelas condições
do ambiente, desenvolvendo-se melhor se o ambiente alfabetizador é rico em
materiais escritos e em interações e práticas de leitura” (TEBEROSKY; COLOMER,
2003, p. 18).
40
Conforme apontam os estudos de Ferreiro (2008), partimos do pressuposto que
a criança crescendo em um meio letrado, participando de situações nas quais percebe
o quanto a leitura é importante, por exemplo, quando participa da construção de uma
lista de supermercado, ou quando veem adultos lendo histórias, bilhetes, revistas,
quando observam as placas e letreiros nas ruas e veem os adultos procurando-as em
função de uma necessidade, quando recebem convites de aniversários e festas,
quando frequentam restaurantes e fazem a leitura de um cardápio, e hoje mais
fortemente mediadas pelas tecnologias, quando acessam à internet e jogos
eletrônicos, utilizando tablets, notebooks, celulares e video games. Tem maior
facilidade em consolidar os conhecimentos aprendidos no ensino explícito.
Ferreiro (2008) levantam a ideia, quando a escola considera que todas as
crianças tem o mesmo acesso ao mundo letrado, discrimina as crianças que não
tiveram a mesma oportunidade de participar nas atividades de cultura escrita, em
função de pertencer a uma classe social mais desfavorecida.
O ensino sistemático da leitura e escrita, tradicionalmente realizado na
perspectiva da aquisição de uma técnica, torna a aprendizagem dessas habilidades
algo difícil e distante das crianças que não tem em sua bagagem a compreensão sobre
a função da escrita em suas vidas. Desta forma, as autoras destacam que é
fundamental que a escola considere a diversidade existente entre os estudantes,
compreendendo que a aprendizagem da linguagem escrita é uma construção pessoal
e torne possível o acesso à leitura significativa, especialmente para aquelas crianças
que não tiveram a oportunidade de interagir com esse objeto social fora da escola.
Conforme aponta Ferreiro:
Quando as crianças têm em suas casas outros materiais de leitura, não é tão
grave que na escola se use um único texto. Torna-se grave precisamente
quando o ambiente escolar é praticamente o único ambiente alfabetizador
existente. ” (FERREIRO, 2008, p. 33).
41
responsabilidade de assegurar este direito de aprendizagem da leitura e escrita com
qualidade e equidade.
Neste contexto explicitado, a escola tem a responsabilidade de oferecer nos
ambientes escolares vivências significativas com textos autênticos, tais como circulam
na sociedade, para os que não tiverem oportunidade de vivenciar a escrita fora do
ambiente escolar. É nesta experiência com o ambiente alfabetizador que as crianças
construirão sua bagagem para assimilar outros materiais escritos que encontrarem,
facilitando o processo de predição e compreensão, habilidades essenciais para um
ensino explícito. Quando a professora em sala realizar uma lista de brinquedos, a
criança que já observou uma lista de brinquedos do ambiente escolar elabora
associações e inferências com mais facilidade, transpondo um conhecimento que
adquiriu em outra situação, já sabendo algumas características do gênero lista, como
a escrita de nomes definidos em ordem.
A este respeito, Jolibert (2006) comenta que quando um fenômeno é observado
frequentemente, a criança que está construindo suas ideias a respeito de um objeto,
percebe que a estrutura se mantém, fornecendo apoio para aprendizagens futuras.
A intenção em tornar a escola como um ambiente alfabetizador consiste em
oferecer às crianças a maior possibilidade de interação com a linguagem escrita em
seus espaços. Para a criança, que busca ativamente compreender o mundo ao seu
redor, os estímulos externos do ambiente provocam a confrontação de hipóteses
internas, criando o que Ferreiro e Teberosky (1999) chamam de “conflito cognitivo”,
quando a presença do objeto cultural escrita modifica seus esquemas de
conhecimentos anteriores, proporcionando o desenvolvimento de novas habilidades
relacionadas à leitura.
Dado o exposto dos referidos teóricos, entendemos a escrita como um objeto
cultural, presente na sociedade em forma de textos que desempenham uma
diversidade de funções. Deste modo, é fundamental oferecer condições adequadas
para que muitos atos sociais de leitura também sejam realizados dentro da escola,
tornando-a uma tarefa cotidiana. Quando nos referimos estar “dentro” da escola, isso
não significa centralizar os materiais escritos na sala de aula e na biblioteca, se faz
necessário presenciar a cultura escrita nos diversos espaços que a escola é
composta, tais como parques, pátio, corredores, horta, banheiros, refeitórios, canchas
42
esportivas, entre outros, todos estes espaços se tornam potencialmente educativos
para a construção de um comportamento leitor.
Com o passar dos séculos, a escola assumiu um papel central na vida em
sociedade. A educação escolar passou a classifi car os indivíduos, estratifi cando
socialmente aqueles que iriam exercer certos papéis sociais, galgar certas categorias
profi ssionais, serem vistos como capazes e pessoas de sucesso. Ou seja, a educação
escolar, sobretudo na contemporaneidade, é fundamental e representa um parâmetro,
uma meta, um objetivo muito importante a ser perseguido por todos, caso queiram
desfrutar das melhores possibilidades que a sociedade oferece.
A escola, na contemporaneidade, é a instituição social que cumpre a finalidade
de alfabetizar, ou seja, de “tornar o indivíduo capaz de ler e escrever” (SOARES, 2012,
p. 31). Isso fez com que a escola procurasse criar metodologias e técnicas em busca
de alcançar esse objetivo considerado primordial na sua própria existência. A
importância da escrita é notória no interior das instituições escolares, em todos os
níveis da educação. É a partir dela, de sua apropriação, que os alunos são inclusive
classificados e avaliados.
Porém, é importante que você realize a seguinte reflexão “[...] a escrita é
importante na escola porque é importante fora da escola, e não o inverso”
(FERREIRO, 1999, p. 21). Ou seja, aprender a ler e escrever é essencial para que o
indivíduo possa viver em sociedade e apropriar-se das mudanças e reconfigurações
em que se encontra imerso diariamente. Logo, a capacidade de ler e escrever é um
marcador social importante e que coloca o indivíduo em condições de interpretar
melhor o mundo, interagir com as pessoas e exercer sua cidadania. Basta você se
deter rapidamente nos pré-requisitos para seleção de profissionais para algumas
vagas no mercado de trabalho que identificará tal importância.
Como você viu, então, a escola se constitui como principal espaço, ainda na
contemporaneidade, onde a aprendizagem da leitura e da escrita se dará. Ferreiro
(1999, p. 21) complementa a ideia afirmando que:
43
Ora, se você acompanhar o raciocínio proposto na citação, pode inferir que, por
mais criativo e inovador que o professor alfabetizador se torne, ainda assim o objeto
de conhecimento a ser aprendido conservará suas características, não é mesmo? Ou
seja, o alfabeto existe, é real e concreto e deve ser apreendido, assimilado e
reproduzido com maestria por aqueles que aprendem. E ainda existem as normas de
ortografia a serem conhecidas e também seguidas e respeitadas
Então, como professor alfabetizador, você tem um grande compromisso, no
interior da escola, de torná-la o ambiente mais favorável e propício para o
desenvolvimento do processo de alfabetização. Isso passa, necessariamente, pela
construção de bons ambientes alfabetizadores, capazes de potencializar a
aprendizagem significativa da leitura e da escrita nos alunos.
A escola, ao promover um ambiente alfabetizador, estará fazendo com que os
alunos possam despertar seu interesse pela leitura e pela escrita. Assim, eles são
motivados a perceber que aquilo que estudam e aprendem no interior da escola possui
aplicação prática e se encontra ao seu redor na sociedade.
Existem algumas questões que você deve levar em conta, como professor
alfabetizador, para construir um ambiente propício à alfabetização. Agora, você vai
compreender melhor esses aspectos.
O primeiro aspecto a considerar é que você, como professor, deve reconhecer
que a criança necessita perceber o caráter prático e funcional que a aprendizagem da
escrita e da leitura representa na sua vida social. Reforçando essa ideia, Ferreiro
(1999, p. 25) comenta que:
44
Outra observação importante é que “a aprendizagem da leitura e da escrita é
um processo de construção pessoal do conhecimento que, no entanto, não pode
acontecer sozinho. Nesse processo, a interação, a ajuda, é muito relevante” (PAUSAS
et al., 2004, p. 21). Você deve considerar que a criança, ainda antes de entrar na
escola, já se encontra envolta em experiências que se relacionam à escrita e à leitura,
ou seja, já traz consigo uma bagagem em relação a esses objetos de conhecimento.
Ao chegar na escola, porém, para que possa apropriar-se e de fato adquirir as
habilidades da escrita e da leitura, é imprescindível o trabalho do professor
alfabetizador. Este deverá, além de considerar o que a criança já traz consigo,
entender que cada um dos alunos pode se apresentar num nível diferente na
organização de suas ideias, conhecimentos e representações sobre a leitura e a
escrita, o que deve ser respeitado.,
Aqui, é oportuno que você se lembre de Vygotsky (1979). Ele afirma que, ao
estudar a linguagem, a criança nunca parte do zero para aprender algo, pois suas
vivências histórico-sociais a acompanham. Cabe ao professor atuar na Zona de
Desenvolvimento Proximal (ZDP) dos alunos, estimulando o seu máximo
desenvolvimento potencial.
Na Figura 4, você pode ver uma síntese de alguns aspectos que favorecerão a
aprendizagem da leitura e da escrita.
Agora, você vai ver cada um dos itens mostrados na Figura 4, que poderão
auxiliar muito na tarefa da alfabetização escolar.
45
• Participação: a participação dos alunos é primordial. Em vez de uma sala de aula
já repleta de estímulos visuais gráficos que levem ao objeto de conhecimento
(alfabeto nas paredes, por exemplo), melhor seria se o alfabeto fosse sendo
introduzido aos poucos, junto com os alunos. Ele deve ser trabalhado
cotidianamente e, então, após isso, ir ocupando seu espaço na sala de aula. Ainda
antes da entrada no alfabeto propriamente dito, por que não trabalhar os rótulos
e reconhecer quais significados as crianças já possuem a respeito da leitura
deles? Enfim, tudo aquilo que é realizado com a participação dos alunos se torna
mais significativo, o que favorece a aprendizagem.
• Diversificação: você viu anteriormente que o professor deve estar atento aos
diferentes níveis de conhecimento que seus alunos possuem sobre a leitura e a
escrita. Logo, não seria coerente que todos, obrigatoriamente, tivessem de
realizar as mesmas atividades, não é mesmo? Nesse caso, é interessante que,
na sala de aula, ao montar seus cantinhos pedagógicos, os meninos e as meninas
possam perceber atividades diferentes. É interessante que se apresentem
escolhas a serem realizadas para trabalhar os objetos. Por exemplo, se você
utilizar um conto, este poderá ser olhado, escutado, assistido em DVD,
dramatizado com fantoches, escrito com as mais diferentes letras. Enfim, são
inúmeras as possibilidades de escolha que poderão ser oferecidas para que os
alunos possam optar.
46
ajuda na hora de propor atividades colaborativas, em que os alunos possam
ajudar a desenvolver seus colegas.
• Interação: outro instrumento importante para que a leitura e a escrita possam ser
aprendidas em sala de aula é a interação entre alunos e professor e entre os
próprios colegas. Por meio do intercâmbio, da troca entre os alunos e os grupos
que frequentam cotidianamente, normalmente haverá a assimilação dos níveis de
conhecimento mais altos daqueles grupos. A interação favorece a atuação na
zona de desenvolvimento proximal, que você viu anteriormente, apoiando aqueles
que precisam para que possam ir adiante na aquisição das habilidades da leitura
e da escrita.
Você viu até aqui alguns aspectos que poderá considerar para que a
alfabetização ocorra com maior sucesso no ambiente escolar. Os pontos que
conheceu farão com que o ambiente alfabetizador possa ser estabelecido e favoreça
a aprendizagem destes tão importantes e essenciais objetos de conhecimento que
são a leitura e a escrita. Porém, a percepção do professor, sua capacidade de
observação e leitura de cada aluno e de cada grupo é imprescindível para que todos
esses itens sejam aplicados. Como você sabe, cada aluno é diferente, pode ter vivido
experiências sociais totalmente diversas e traz consigo uma bagagem única, que deve
ser conhecida pelo professor em seus primeiros contatos e que irá definir, muitas
vezes, os caminhos a seguir nas ações futuras.
3 O SIGNO LINGUÍSTICO
Em primeiro lugar, você deve saber que os fundamentos da noção de signo não
estão exclusivamente enraizados na linguística, mas na semiótica. A semiótica é uma
ciência mais abrangente (da qual, a propósito, a linguística faz parte), que se ocupa
da associação entre fenômenos em geral (linguísticos ou não) e do que eles significam
dentro de determinado sistema.
Dessa forma, de um ponto de vista semiótico (portanto, em termos mais gerais),
um signo se refere a algum fato ou entidade (quer seja um objeto, um evento ou, até
mesmo, uma impressão) que representa um estado de coisas para, por exemplo,
determinada cultura.
47
De acordo com Pierce (2005), existem três tipos de signo. O primeiro deles, o
ícone, é um tipo de signo de natureza imagística, cuja forma possui uma relação de
identidade com o objeto que representa. Alguns exemplos de ícones são a escultura
de uma pessoa ou a maquete de uma casa.
Outro tipo de signo é o índice, que possui uma relação de contiguidade com o
objeto que representa, podendo ser considerado, na verdade, um fragmento extraído
desse objeto. Esse é o caso da fumaça, que é um índice de fogo, e de nuvens negras
no céu, que seriam um índice de chuva.
Por último, temos o símbolo, um tipo de signo que representa o seu objeto com
base em alguma convenção ou lei. Por exemplo, a cruz é o símbolo do cristianismo,
a balança é o símbolo da justiça e a cor verde é o símbolo da esperança.
Ao ser trazida para dentro do campo dos estudos da linguagem, a partir,
principalmente, das teorizações feitas por Saussure (2012), na obra póstuma Curso
de linguística geral, o signo, como componente mínimo da língua, passa a denotar o
produto da relação (convencionalizada) entre uma forma linguística tal e um
significado particular, sendo, portanto, denominado especificamente signo linguístico.
Uma explicação fundamental de Saussure (2012, p. 80) a respeito do conceito
de signo linguístico é a de que este “une não uma coisa e uma palavra, mas um
conceito e uma imagem acústica”. Isso quer dizer que o signo linguístico é de natureza
puramente psíquica e estabelece uma associação entre, de um lado, a nossa
representação mental de um dado fato ou objeto no mundo e, de outro, a impressão
mental dos sons que compõem uma dada palavra. Por fim, para efeitos de uma
terminologia mais precisa, o autor chama a imagem acústica de significante e o
conceito que ela representa de significado.
Exemplo
O que compõe o signo linguístico “mesa” não é a relação
entre um objeto tal (isto é, um certo móvel) e a sequência
de letras “m-e-s-a”, mas a nossa concepção mental desse
móvel (isto é, de uma mesa) e a nossa lembrança mental
dos sons que compõem a palavra “mesa”.
48
Um último ponto, relativo à noção de signo linguístico (Figura 5), no qual
Saussure (2012) insiste bastante, é o de que esse componente constitui,
invariavelmente, uma relação indissociável entre um dado significado e o seu
significante (ou, ainda, entre um dado conceito e a sua respectiva imagem acústica).
Ou seja, os dois elementos que compõem o signo linguístico “estão intimamente
unidos e um reclama o outro” (SAUSSURE, 2012, p. 80).
Para ilustrar esse ponto, Saussure (2012) compara o signo linguístico a uma
folha de papel. Não podemos separar o verso de uma folha de papel do seu anverso,
tampouco podemos cortar um sem cortar o outro; da mesma forma, não podemos
isolar um significante do seu significado. Portanto, seria impossível evocarmos uma
imagem acústica sem trazermos à mente, ao mesmo tempo, o conceito que ela
representa.
Com base nas considerações feitas por Saussure (2012), podemos definir o
signo linguístico, de um modo geral, como o produto da combinação entre um
49
significado e o seu significante (ou, ainda, entre um dado conceito e a sua respectiva
imagem acústica).
Ainda segundo o autor, existe um conjunto de características específicas que
servem para definir a natureza dessa associação. A primeira (e talvez a mais
emblemática) das características do signo linguístico está traduzida na noção de
arbitrariedade.
Afirmar que o signo linguístico é arbitrário significa dizer que a associação entre
um dado significado e o seu significante é casual. Portanto, não existem, por exemplo,
relações naturais ou intrínsecas entre o nosso conceito de mesa e a imagem acústica
“mesa”, em português. Tanto o é, que o conceito de mesa está associado a outras
imagens acústicas (que não à “mesa”) em outras línguas, como “tafel”, em holandês,
“bord”, em sueco, “tisch”, em alemão, etc.
A segunda característica fundamental do signo linguístico, de acordo com
Saussure (2012), diz respeito à linearidade dos significantes. Porque constitui um
fenômeno acústico, o significante se realiza na mesma dimensão que quaisquer
outros sons; ou seja, no tempo. Em outras palavras, podemos dizer que a sequência
dos elementos que compõem a imagem acústica do signo linguístico somente se
desenvolve ao longo da linha do tempo, com os respectivos sons sendo pronunciados
um após o outro.
Essa característica do significante parece ficar mais clara quando tentamos
transpor, para o papel, a sequência dos elementos que o compõem. De fato, em
diversas línguas (como no português), as imagens gráficas que representam
conceitos também estão dispostas em linha, com as letras sendo escritas uma após
a outra.
No entanto, embora a linearidade impere sobre a imagem acústica na maioria
das línguas, a modalidade escrita nem sempre segue esse princípio. É o caso de
línguas cujo sistema gráfico se baseia em ideogramas, como o chinês e o japonês.
Nessas línguas, conceitos são representados graficamente por símbolos não lineares,
com os seus componentes (isto é, traços) sendo dispostos em várias direções: uns
em cima, outros em baixo, alguns dos lados ou, ainda, uns sobre os outros.
Finalmente, Saussure (2012) apresenta duas características do signo
linguístico que parecem contraditórias, mas que, na verdade, são complementares: a
sua imutabilidade e a sua mutabilidade. De fato, o signo linguístico é imutável, na
50
medida em que o elo que une um significado qualquer ao seu significante não é livre;
ele está cristalizado conforme as convenções estabelecidas (aqui e agora, isto é, na
sua dimensão sincrônica) pela comunidade linguística como um todo. Logo, não cabe
a nenhum falante, por exemplo, substituir um significante por outro, na composição de
um signo já instituído na sua língua, quando ou como bem quiser.
Com relação ao princípio da mutabilidade do signo linguístico, Saussure (2012)
explica que o elo que une um significado e ao seu significante não está imune à
passagem do tempo (nesse caso, em uma dimensão diacrônica). Mais
especificamente, está claro que um dos efeitos do tempo sobre a língua seria,
justamente, o de promover (sempre por meio de fatores que escapam à vontade
individual dos seus falantes) deslocamentos (mais ou menos drásticos) da relação
entre um dado significado e um certo significante.
O valor linguístico
51
Exemplo
52
casou” e “estou atrasado, preciso correr”. Esse tipo de relação (de oposição ao longo
da cadeia da fala) já serve para definir uma parte do valor do signo linguístico.
De acordo com Saussure (2012, p. 142), de fato, “colocado num sintagma, um
signo só adquire seu valor porque se opõe ao que o precede ou ao que o segue, ou a
ambos”. Ou seja, em relações sintagmáticas, o valor de um signo linguístico existe na
sua correspondência com os outros signos concomitantes ou, conforme determina nas
suas relações “in praesentia”.
Já as relações associativas (ou, ainda, paradigmáticas) são aquelas que os
signos estabelecem com os outros signos que não estão na mesma cadeia da fala
(ou, ainda, in absentia), mas com os quais mantêm algum tipo de correspondência
(Figura 6). É esse tipo de relação que se manifesta, por exemplo, quando nos
referimos ao conceito de “pai” em uma sentença qualquer. O mais razoável de se
esperar é que essa referência evoque tantos outros conceitos quantos estão
associados a ele (como “filho”, “mãe”, “filha”, etc.) se consideramos como o principal
critério dessas associações, nesse caso, o fato de o conceito de “pai” se referir a um
membro da família.
O valor de um signo linguístico, a partir das relações associativas, determina-
se, portanto, nas bases do conjunto total de elementos com que ele mantém algum
tipo de relação, mas que não ocorrem formalmente na cadeia da fala, visto que são
apenas virtualmente evocados. Na figura 6 mostra diferentes relações associativas
que, segundo Saussure (2012), o conceito de “ensinamento” pode estabelecer, em
função de critérios diversos.
53
4 AVALIAÇÃO NA ALFABETIZAÇÃO
A avaliação age, então, a serviço do saber e das pessoas que aprendem. Ela
deveria ser o momento no qual quem ensina e quem aprende encontram-se
com a sã intenção de aprender. Avaliamos para conhecer e aprendemos com
a avaliação. Somente assegurando a aprendizagem podemos assegurar a
avaliação, isto é, a boa avaliação, que forma continuamente, que seria
também significativa e catalisadora de novas aprendizagens. Avaliamos
enquanto aprendemos; aprendemos enquanto avaliamos.
54
Uma criança, ao ler, deverá usar uma forma específica de processamento de
informação. Aprender a leitura é aprender os processos necessários para ler. O ensino
e a aprendizagem devem agir no entendimento de que “[...] ler é transformar
representações gráficas da linguagem em representações mentais da sua forma
sonora e do seu significado. Quando se trata de um texto, o objetivo da leitura é poder
apreender o seu sentido” (MALUF; CARDOSO-MARTINS, 2013, p. 16).
Não distante de tais entendimentos devem estar, concomitantemente, as
avaliações oferecidas às crianças. O professor não poderá exigir em avaliações que
todas as crianças tenham níveis de leitura iguais. Ele precisa levar em conta o
extenso, intenso, pessoal e intransferível processo de habilidade de identificação das
palavras escritas. A avaliação oferece ao educador a possibilidade de acompanhar o
processo de alfabetização, compreendendo as hipóteses das crianças quanto à leitura
e à escrita, bem como entendendo de que forma a criança pode ser auxiliada nesse
processo.
Você pode estar se fazendo as seguintes perguntas: como comparar os alunos
em uma única provinha aos oito anos, no final do 2º ano? E como impedir os que já
evoluíram em suas compreensões de responder questões que para outros são
difíceis?
55
Caso o processo de ensino e aprendizagem não leve em conta que há uma
evolução, por meio de estágios, na aquisição da leitura e da escrita, é possível exigir
das crianças que ainda representam a linguagem somente por meio de desenhos que
façam grafismos, rabiscos e apresentem concepções das distinções entre o desenho
e a escrita. Já é bastante difundido nos estudos sobre o assunto que, para além dos
recursos didáticos, métodos e manuais, as crianças buscam adquirir conhecimentos.
E não ficam isoladamente memorizando e repetindo supostas técnicas para se
alfabetizar, para serem avaliadas.
Você deve notar que os meninos e meninas são sujeitos de suas aquisições de
conhecimentos sobre a leitura e a escrita. Ferreiro e Teberosky trouxeram à luz uma
criança desconhecida à época de suas pioneiras pesquisas. As autoras escreveram
sobre a criança que: “[...] se propõe problemas e trata de solucioná-los, segundo sua
própria metodologia... Insistiremos sobre o que se segue: trata-se de um sujeito que
procura adquirir o conhecimento, e não simplesmente de um sujeito disposto a adquirir
uma técnica particular” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p. 11).
Além dos suores das mãos, as avaliações deverão incluir as certezas que as
etapas anteriores do planejamento e da execução trouxeram para a vida de meninos
e meninas com relação à leitura e à escrita. O longo e construtivo processo de
aquisição da lectoescrita é muito mais do que aprender a ler e escrever para fazer
provinhas. Não haveria sentido em apenas ensinar e nada querer saber sobre o
aprender. O certo é que o encontro com a escola é também o momento em que as
crianças descobrem a existência da avaliação. A palavra avaliação pode não ter uma
conotação pesada para todos os que passaram por escolas nos tempos de aprender
a ler e escrever. E tantos outros devem ter lembranças de apuros passados.
Nos últimos 30 anos, tanto o cenário educacional brasileiro quanto as leis
mudaram para garantir alterações na hora de ensinar, aprender e avaliar. Com o
passar do tempo, as salas de aula foram deixando de ser cenários de controle
excessivo, autoritarismo, punições, memorizações de lições acríticas, repetições das
mesmas lições, recompensas, pavores relacionados ao fracasso escolar, exclusões
em massa, excessivas reprovações e classificações dos mais fortes aos mais fracos.
Também foram sendo deixadas de lado as seleções favoráveis aos mais favorecidos
socioeconomicamente, as reproduções de desigualdades sociais, os comentários
56
demolidores das vontades de aprender e a certeza de que a avaliação era um entrave
aos sonhos das crianças e famílias de acesso pleno e bem-sucedido à cultura letrada.
A avaliação precisou afastar-se da escolha de premiar os melhores com
medalhas de honra ao mérito. Ela teve de insistir na garantia, contida nas leis, do
direito à aprendizagem ampla da leitura e da escrita a todas as crianças, utilizando
formas de avaliação individualizadas, capazes de fazer as dificuldades e
aprendizagens consolidadas emergirem.
Cordeiro (2012) afirma que, na década de 1990, surgiram várias discussões
sobre os mecanismos de exclusão. Além disso, os procedimentos de avaliação “[...]
se multiplicaram e, nos dias de hoje, todos falam sobre a inclusão, a progressão
continuada, o reforço escolar, a recuperação contínua e outros procedimentos
destinados a enfrentar o problema do fracasso e da exclusão” (CORDEIRO, 2012, p.
145).
No Brasil, ficou evidente a necessidade, pós-redemocratização, de repensar a
escolarização das crianças. Isso diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem
e também à avaliação. O avanço das legislações educacionais, o acesso às
teorizações ditas justas para a alfabetização mais eficaz de todas as crianças e as
ações em prol da alfabetização e letramento foram criando um lugar mais facilitador
para os desejos das crianças de aprender a ler e escrever. As atividades colocaram
as crianças em situações ativas no aprender, e as avaliações são realizadas com
sujeitos ativos e reais, independentemente de suas condições socioeconômicas,
levadas em conta na hora de planejar atividades.
57
metodológicas alinhadas com os objetivos e as finalidades pretendidas. Também é
fundamental o desenvolvimento de “[...] estratégias de observação para avaliar,
depois, o que realmente acontece em aula e os comportamentos e as atitudes dos
meninos e das meninas” (ZABALA et al., 2016, p. 139).
Para crianças com seis anos, na chegada ao ensino fundamental, são
essenciais ações pedagógicas que avaliem as potencialidades trazidas da educação
infantil. É importante avaliar os conhecimentos e habilidades adquiridas nessa etapa
da educação básica. Conhecer seus conhecimentos prévios sobre a escrita e
estimular a criança a prosseguir seus estudos e ampliá-los é tarefa básica da escola,
que “[...] deverá planejar sua intervenção a partir da informação que cada um dos
alunos possui sobre a forma e a função do código escrito” (ZABALA et al., 2016, p.
29).
Alfabetizar crianças a partir dos seis anos não é focar nos tradicionais giz,
quadro e cartilhas. Sempre é bom lembrar que o ensino, a aprendizagem e a avaliação
de tais crianças precisam ser pensados criativamente, já que os “[...] conhecimentos
delas advêm da interação direta — corporal, experimental, sensorial — com
elementos que agucem a curiosidade e que permitam experimentar, desenvolver,
sistematizar, conectar” (BARBOSA; DELGADO, 2012, p. 141). É importante, a partir
desse ingresso no ensino fundamental, a garantia do “[...] desenvolvimento de sua
oralidade, de imersã o nas diferentes linguagens simbó licas da cultura e no acesso
aos usos e à s funções da cultura escrita em nossa sociedade” (BARBOSA;
DELGADO, 2012, p. 114).
As legislações da educação básicas enfatizam que é necessário cuidado
constante com a avaliação não punitiva e não classificatória. Tal avaliação deve estar
aliada aos direitos das crianças à aprendizagem eficaz do ler e do escrever, bem como
ao direito ao acesso e à permanência tranquila na escola. Além disso, as legislações
adotam um currículo que pensa na sequência dos níveis, enfatizando o
aprofundamento das aprendizagens necessárias. Entretanto,
58
A avaliação, nos dois anos iniciais do ensino fundamental, passa pelo
acompanhamento e pela documentação do desenvolvimento das crianças. Isso é feito
pelos professores e já preconizado na BNCC, homologada com parecer do Conselho
Nacional de Educação (CNE) em 2017. Cabe aos educadores o processo permanente
de planejar ou rever as futuras propostas e metas, alinhadas à BNCC, a partir dos
dados das avaliações. A ideia é garantir as aprendizagens, sempre lembrando que as
crianças do 1º ano têm promoção automática para o 2º ano e direito a consolidar
verdadeiramente a sua aprendizagem. Com relação à proposta pedagógica, o 2º ano
deve dar continuidade à quilo que o 1º ano realizou.
[...] centra-se nos atores que constroem o conhecimento para que participem
progressivamente, através do processo educativo, da(s) cultura(s) que os
constituem como seres sócio-histórico-culturais. A pedagogia da participação
realiza uma dialogia constante entre a intencionalidade conhecida para o ato
educativo e a sua prossecução no contexto com os atores, porque estes são
pensados como ativos, competentes e com direito a codefinir o itinerário do
projeto de apropriação da cultura que chamamos educação (OLIVEIRA;
KISHIMOTO; PINAZZA, 2007, p. 18).
As atividades das crianças não poderão ser de outra ordem que não:
questionamento, planejamento, experimentação, confirmação de hipótese,
investigação, cooperação e resolução de problemas. Os professores alfabetizadores
59
deverão agir para estruturar o ambiente. Eles precisam estar atentos à escuta,
observando tudo, avaliando as crianças e seus intentos com elas constantemente,
replanejando a partir dos resultados, formulando perguntas, abertos aos interesses e
conhecimentos prévios das crianças e do grupo. No século XXI, deixaram de ser
preocupações centrais do educador, ao avaliar, as ações de testar, reforçar, punir e
só analisar os produtos. Hoje, a avaliação é um qualificador da aprendizagem.
A Base Nacional Comum Curricular, homologada em 2017, preconiza que nos
anos iniciais (1º e 2º anos) do ensino fundamental é esperado que a criança se
alfabetize (BRASIL, 2018). A alfabetização é o foco da ação pedagógica e se supõe
que isso traga uma consequência: a avaliação precisará dar conta desse processo.
A BNCC (BRASIL, 2018) prevê que o conhecimento do alfabeto é
imprescindível para o desenvolvimento do processo de escrita e leitura. Uma criança
alfabetizada é capaz de codificar e decodificar os fonemas (sons da língua) em
grafemas/letras (materiais gráficos), o que envolve o desenvolvimento de uma
consciência fonológica (fonemas da língua e organização em seguimentos sonoros
como sílabas e palavras) e o conhecimento do alfabeto em diferentes formatos (letras
imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas). Além disso, a criança deve estabelecer
relações grafofônicas entre esses dois sistemas de materialização do português do
Brasil.
A avaliação da alfabetização, possível a partir da BNCC, deverá levar em conta
todos esses elementos e ainda o processo de construção de habilidades e
capacidades de análise e de transcodificação linguística, presentes no processo
alfabetizador. Segundo esse documento, alfabetizar é lidar com a apropriação pelo
aluno da ortografia da língua escrita. Isso inclui a compreensão do longo processo
vivenciado em prol da construção do funcionamento fonológico da língua e a
necessidade de conhecer as relações fono-ortográficas (relações entre os
sons/fonemas, em suas variedades, e as letras/grafemas) (BRASIL, 2018).
Então, a avaliação da alfabetização precisará dar conta do funcionamento da
escrita alfabética necessária para a criança ler e escrever. Ela também deverá
comprovar que as crianças conseguem perceber as relações complexas
estabelecidas entre os sons da fala (fonemas) e as letras da escrita (grafemas). Já
que a ação pedagógica deve estimular a consciência fonológica da linguagem, as
60
avaliações irão analisar as crianças em suas habilidades de perceber sons e de
verificar como se separam e se juntam em novas palavras, em suas complexidades.
61
E você sabe o que seria essencial planejar na prática pedagógica para
alfabetizar crianças e realizar a avaliação? As crianças precisam aprender, em
situações com função social, a refletir sobre a própria língua, a criar vocabulários
específicos, a experimentar estratégias para ler e a contar histórias vividas e
inventadas. Para o aprendizado da cultura escrita, é preciso construir a perspectiva
do arbitrário, do descontextualizado, do limite, do que está além do aqui e do agora.
É importante você lembrar-se de que a aprendizagem da linguagem escrita é também
uma alteraç ã o nas estruturas cognitivas, afinal o pensamento se materializa em
palavras. Como afirmam Barbosa e Delgado (2012, p. 123):
62
Como afirmam Barbosa e Delgado (2012, p. 122): “Pertencer à cultura escrita é muito
mais do que saber ler e escrever; é estar em processo contí nuo de letramento.
Podemos até́ afirmar que hoje, com as novas mí dias, estamos presenciando o
nascimento de novas formas de praticar a escrita e a leitura”.
Como você viu, alfabetização e letramento são tarefas interdependentes
(SOARES, 2004). Letramento é a “[...] ação de ensinar e aprender prá ticas sociais de
leitura e escrita e envolve a identidade e agê ncia do aprendiz na aquisiç ã o da
linguagem” (KISHIMOTO; OLIVEIRA, 2013, p. 22). Portanto, é imprescindível ver o
letramento como uma base, ou seja, “[...] leitura e escrita são, fundamentalmente,
meios de comunicação e interaç ã o, enquanto a alfabetizaç ã o deve ser vista pela
criança como instrumento para envolver-se nas prá ticas e usos da língua”
(KISHIMOTO; OLIVEIRA, 2013, p. 34).
O letramento é “[...] prá tica social de aquisiç ã o de significados da linguagem
verbal e nã o verbal, contempla um sistema linguístico que contém regras, estruturas
e significações construídas em contextos situados” (KISHIMOTO; OLIVEIRA, 2013, p.
26). Além disso, o letramento serve para a reflexão dos educadores, que devem
entender a aprendizagem do letramento como processo interno e autoguiado pela
criança. Isso implica entender as etapas do ensino e da aprendizagem pelo foco do
aprendiz.
O sucesso de tal aprendizagem “[...] depende da decisão, da vontade e do
interesse de cada criança, de sua agência, o que tem gerado perspectivas que
valorizam a escuta da criança como ponto de partida da educação” (KISHIMOTO;
OLIVEIRA, 2013, p. 26). As autoras lembram que “[...] Ferreiro e Teberosky (1985)
utilizam a noção de agê ncia ou tomada de decisão como categoria para explicar o
funcionamento da mente e a aquisiç ã o de conhecimentos sobre o letramento”.
Programas educacionais que consideram as crianças como iguais não
beneficiam o letramento, mas dificultam a visibilidade dos significados e a pronúncia
de palavras. Quando o educador refletir sobre as diversas formas de letramento
presentes nas diferentes crianças que recebe em sua sala de aula será capaz de
conduzir o seu cotidiano com a certeza de que a aprendizagem é individual. Assim,
terá sucesso no “[...] suporte ao conhecimento de cada criança, [n]a organização das
classes para facilitar a aprendizagem de diversos aprendizes e [n]a relação com a
família e a cultura popular” (KISHIMOTO; OLIVEIRA, 2013, p. 34).
63
Objetivar a linguagem em textos escritos, despertar a consciência para os
fatos da linguagem, analisar a linguagem em sua composição por partes
(frases, palavras, sílabas, letras). Conhecer a “mecânica” ou funcionamento
da escrita alfabética para ler e escrever significa, principalmente, perceber as
relações bastante complexas que se estabelecem entre os sons da fala
(fonemas) e as letras da escrita (grafemas), o que envolve o despertar de
uma consciência fonológica da linguagem: perceber seus sons, como se
separam e se juntam em novas palavras, etc. Ocorre que essas relações não
são tão simples quanto as cartilhas fazem parecer (KISHIMOTO; OLIVEIRA,
2013, p. 92).
64
Concluindo, a avaliação, parte integrante do processo de ensino e
aprendizagem, está ligada ao sucesso escolar das crianças, à alfabetização e ao
letramento. A avaliação na alfabetização colabora essencialmente com a qualificação
do professor alfabetizador. Como você viu, ela não pode ser punitiva e deve apoiar as
tentativas e ações bem-sucedidas da criança ao se alfabetizar. Além disso, é certo
entender que a avaliação deve sempre estar de acordo como a prática pedagógica
desenvolvida no processo de alfabetização e letramento.
65
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
66
FAVERO, L. L.; ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. Oralidade e escrita:
perspectiva para o ensino de língua materna. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FERREIRO, E. Com todas as letras. 15. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.
JOLIBERT, J. et al. Além dos muros da escola: a escrita como ponte entre alunos e
comunidade. 1. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2. ed. São
Paulo: Contexto, 2011.
67
MACIEL, F. I. P.; LÚCIO, I. S. Os conceitos de alfabetização e letramento e os desafios
da articulação entre teoria e prática. Alfabetização e letramento na sala de aula. 2.
ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 25. ed. São Paulo: Cultrix, 2003.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
68
SOARES, M. Língua escrita, sociedade e cultura: relações, dimensões e perspectivas.
Revista Brasileira de Educação, n. 0, p. 5-16 set./dez. 1995.
69