Corpo e Alma Do Brasil O PCB, Edgard Carone

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ar oraness vs.GNC.EEE.

9 20 |L 40 5 0 jo | AA

O Partido Comunista brasileiro comemo-


ra, em 1982, seu sexagésimo aniversário.
Período longo, que cobre momentos inten-
sos de nossa vida política e social.
Os textos da antologia evidenciam o
interesse que o partido sempre manifestou
pela realidade brasileira. Desde seu apareci-
mento, em março de 1922, a "arma da cri-
tica" tornou-se o motivo de sua existência, O
de sua combatividade e do radicalismo de PCB.
suas posições.
Os documentos apresentados são pratica- (1922 - 1943)
mente inéditos e foram levantados de fon-
tes comunistas, nacionais e estrangeiras,
com caráter oficial ou oficioso. Para facili- Volume I
tar a análise, o livro está dividido em duas
partes, que abrangem toda a problemática
partidária: Ação Política e Formas de Or-
ganização e Ideologia.
Na primeira parte, são analisadas as ques-
tões fundamentais enfrentadas na época.
Entre 1922 e 1929, momento de estrutura-
ção do PCB, a razão maior foi a ocupação
de um espaço próprio, o que o levou ao
confronto com os momentos existentes
(anarquismo, anarco-sindicalismo, socialis-
mo amarelo etc.): consequentemente, tive-
mos a elaboração de um Estatuto particu-
lar, a adoção de uma nova política sindical,
a formação de uma frente única política
sui-generis (Bloco Operário e Camponês), .
posição particular diante das eleições, além
de crises estatutárias e ideológicas. De 1929
a 1935, a ação tornou-se mais radical, o que
levou o partido a atitudes de crítica ao Go-
verno Provisório de Getúlio Vargas, à Cons- livraria brasiliense editora soc. an
tituinte e ao integralismo; o ponto culimi- . barão de ilapetininga , 93/99
tel.: 2381-1344 |- são paulo
nante foi a formação de um movimento
(mpar, a Aliança Nacional Libertadora.
Da DFANBSB VB.GNC.EE
E 90) )

CORPO E ALMA

DO BRASIL

Direção dos
Profs. Fernando Henrique. Cardoso
e Boris Fausto

Fevereiro, 1982
E DG ARD C ARONE

P.C. B.

(1922 - 1943)

Volume I

am) DIFEL
Difusão Editorial SA,
Br oranass ve.enc.ee 820 LLHO5 om sol
5.5
OBRAS DO AUTOR

Revoluções do Brasil Contemporâneo (1922-1938). S. Paulo. Col. Buriti,


n.o 11, Desa Editora, 1965; 2.a ed., S. Paulo, Difel, 1975; 3.a ed., 1977.
"Coleção Azul", Crítica Pequeno-Burguesa à Crise Brasileira de 1930.
Separata da Revista Brasileira de Estudos Políticos, n,oa 25/26, 1968/1969.
Primeira República (Texto e Contexto) (1889-1930). S. Paulo, Difel, 1969;
à

2.a ed, 1973; 3.a ed., 197%.


República Velha - I (Instituições e Classes Sociais). S. Paulo, Difel,
à

1970; 2a ed, 1972; 3.a ed, 1975; 4a «d., 1978.


República Velha - II (Evolução Política). S. Paulo, Difel, 1971; 2.a ed.,
A

1974; 3.a ed., 1977.


Segunda República (1930-1937). S. Paulo, Difel, 1973; 2.a ed., 1974; 3.a
1

ed., 1978.
República Nova (1930-1937). S. Paulo, Difel, 1974; 2.a ed., 1976.
O8à212

Terceira República (1937-1945). S. Paulo, Difel, 1976.


Estado Novo (1937-1945). S. Paulo, Difel, 1976; 2.a ed., 1977.
Tenentismo. S. Paulo, Difel, 1975.
A Quarta República. S. Paulo, Difel, 1979,
O Pensamento Industrial no Brasil (1880-1945). S. Paulo, Difel, 1977.
O Centro Industrial do Rio de Janeiro e a sua participação na economia
nacional (1827-1977). Rio, CIRJ/Editora Cátedra, 1978.
Movimento Operário no Brasil (1877-1944). S. Paulo, Difel, 1979.
Movimento Operário no Brasil (1945-1964). S. Paulo, Difel, 1981.

1982

Direitos reservados para a língua portuguesa por:

ED] DIFEL
Difusão Editorial S.A.
Sede:
Av. Vieira de Carvalho, 40 - 5.o andar - CEP 01210
São Paulo - SP - Tels.: 223-6923 e 223-4619
Telex: 32294 DFEL-BR
Vendas:
Rua Doze de Setembro, 1305 - V. Guilherme
CEP 02052 - São Paulo - SP - Tel.: 267-0331
, o- o
ar oranass va.cnc.eEE, 320 ( 14 0 Samoo!l

Aos Fundadores do P.C.B.


Abílio de Neguete,
Astrojildo Pereira,
Cristiano Cordeiro,
Hermogêneo Silva,
João da Costa Pimenta,
Joaquim Barbosa,
José Elias da Silva,
Luís Peres
e
Manuel Cendôón.
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 22 O LLUOS om eo if Q

INDICE

Introdução "| . . i o so ala i i ta lido, a, desa, eeu e A4 e ea


PRIMEIRA PARTE
A AÇÃO DO P.C.B.
1 ao Ill Congresso (1922-1929) u... ee ee ee ea e e e e e o o
A fundação do P.C.B.: o I Congresso (25, 26, 27.3.1922) ......
Estatutos i i ae teria io **
O 1.o' de maio de 1924 ** . ne eva lego ari ao o va.
Ararise de 4923 .o o Ao ea Canellas .............
a) A posição de Antonio Bernardo s
b) O contra-ataque do C.C,(16,do17,P.C.B,
18,5,1925) .... o
O II Congresso do P.C.B.
A política brasileira e a atual situação do Partido (1928) ......
A cisão de 1928
Bloco Operário e Camponês srie ..... u.. eee ee e e e e e e e eiie eae e e11e a
a) Formação, [U. cec nos l...... sra sato bo rs B Y e e e eo
b) O caráter eleitoral (1928)de 1928 - .... eee eee e ee e e
O III Congresso (dezembro janeiro de 1929) ......
III! Congresso à Revolução de 1935 (1929-1935) ...............
O 111 Pleno do C.C, (outubro de 1929) :...... . e vae e e e...... e
A luta contra o Prestismo .... ...... vee ra e
a) O Partido Comunista perante o Manifesto de Luís9699999 Carlos
Prestes (junho de 1930) Brasil e a Liga Revolucio-
b) O Movimento Revolucionáriodedo1930)
nária de Prestes (setembro da Internacional Comunistao-
A crise do P.C.B.: Resolução de 1930) ................
sobre a Questão Brasileira (fevereiro
A questão da sucessão presidencial de 1929) ..............
a) A sucessão presidencial (janeiro
b) A significação das eleições para o proletariado (fevereiro de
1930)
c) Aos Trabalhadores das cidades e dos campos, a todos os
explorados do Brasil: mobilização das massas para a Jornada
Internacional de 1.o de agosto (julho de 1930) ..........
Os últimos acontecimentos i no Brasil e as perspectivas de novas 111
lutas Ganeiro de 1931) e ic l tv, s a AAA,...
O Partido Comunista do Brasil frente aos próximos combates
(janeiro-fevereiro de 1931) ...... eee eee e 120
VII
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, SA elles ,WGGÉ (O- 8
O trotskismo: Aos Camaradas do Partido e a todos os trabalha-
dores conscientes Guilho de 1930) ...... . ..... ........] 130
Contra a Constituinte dos ricos (dezembro de 1931) .......... 131
Brasil: Campo de grandes lutas armadas (dezembro de 1932) ... 132
A posição do P.C.B. frente às eleições (agosto de 1934) ...... 143
1.a Conferência Nacional do P.C.B, (julho de 1934) ........
Aliança Nacional Libertadora à Conferência de Mantiqueira
941949) .... ... ...... » i 171
1) Resposta à "Lei Monstro" (março de 1935) .... ...... 171
2) Aliança Nacional Libertadora . ... ...... ...... ! 99» 9 ssa 172
a) Manifesto de Luis Carlos Prestes (5,7.1935) ............ 172
b) Instruções para a organização de núcleos da A.N.L. ...... 181
c) Como os trabalhadores do Brasil resolverão a crise (março
de 1935) -- ara e ca arado e o era oo oa ao 182
d) A insurreição nacional-libertadora do Brasil (1935) ...... 186
e) A A.N.L.: seu debate no VII Congresso da I.C. (dezembro
de 1935) 190
f) A última insurreição brasileira e as provocações do governo
do Brasil (1936), ..... prisao (!, SA 1 01 194
As condições de um verdadeiro programa democrático no Brasil
(1937) 197
As vidas de Ghioldi, Prestes, Ewert e de suas mulheres estão
em perigo! (1936) 200
O perigo fascista e as eleições presidenciais no Brasil (1937) 202
O golpe de estado fascista no Brasil é um golpe contra a Paz
e a Democraçiaomundiais (1937); -. q. se eos ra ao + ++ - ea 208
No Brasil, o "Estado Novo" de Getúlio Vargas permanece
instável (1938) ... . .. ... ...... ..... anal . so, vao a, . oo 211
Carta de Prestes a Severo Fourier (1938) ..... e eeo > ve 215
Por uma frente única democrática brasileira (1938) .......... 218
A U.R.S.S. e o momento internacional (setembro de 1939) .... 220
Ao povo e especialmente ao Exército e à Marinha (outubro
de 1939) 222
Ao povo brasileiro (abril de 1940) . . .... ... ..... 225
A reorganização do. P.C,B . (1941-1942) 0008, 4 cols o A os 227
A Conferência da Mantiqueira (agosto de 1943) .............. 234
SEGUNDA PARTE
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO E IDEOLOGIA
A) Assddeotogia Isola! . sh . a., , 1.9. 2.4. ah . prba. .A. il 245
1) Oliveira Lima e a NEP (Cristiano Cordeiro, 1923) umas - Ao - và 245
2) Para ser comunista 44 - mma A . /a. > -- 250
3) Agradismo e, Industrializmo, (1926) 0 sea ses tivo de e e v e a e o 256
t
B) Ligação Internacional 305. >, bebia 44h . . 04. do.... 263
1) Apoio ao Socorro Operário Internacional (1924) ,.,.......... 263
2) As tarefas do movimento sindical na América Latina: resoluções
tomadas pela Conferência Sindical Latino-Americana realizada
deçabritede 1929: (010 . nh. - obi (<) . 41 265
3) O movimento revolucionário na América Latina (1929)... ... 269
VIII
ar oransse va.onc.eee 820 LU 405, n 0o ! : Tun
4) Projeto de teses sobre o movimento revolucionário da América
Latina (1930) 274
5) A luta pela frente única nos países sul-americanos (1926) .... 286
6) A política de organização para a conquista das grandes massas:
a emulação revolucionária nas campanhas de recrutamento
(oa) a o oo o aa a a ad o ao 289
7) Em defesa da União Soviética: apelo do Bureau Sul-Americano
da Internacional Comunista aos Partidos Comunistas e a todos
os trabalhadores ...... . ., ir.... ele aa e ve e eae er a de e e raia hoo

€ Política Qperária ,... ..... u. via e ave a v a va va ve eos ee v ea e ea


Explicação necessária (1924) J...... eee eee e o
Novo Rumo (A. B. Canellas, 1924) L...... eee eee o
Aos: proletários (1926) .., . . iii Mii, . vale e eve e
Ao operariado em fábricas de tecidos: ao proletariado em
geral
A classe trabalhadora em geral e aos companheiros representantes
dos sindicatos aderentes à Federação Operária de São Paulo
(1939). 325 . A AAA VA Aa, av a, Aviva vv e
6) Aos trabalhadores em fábricas de tecidos de São Paulo (1931) ..
7) A "Legislação Social" fascista (1930) ................9.......
8) A ditadura outubrista (1934)

©) AMorimenio Sindical .... ... us aaa da eve eo e a ea a ao e e e ae na na eo roma


1), Os sindicatos revolucionários (1926) ..... sc. cie. aa eee tias
2) O caminho da Unidade Sindical no Brasil (1927) ............
3) O movimento sindical revolucionário do Brasil e seus objetivos
(1931)
4) O Congresso dos Colonos Assalariados Agrícolas (1930) ......
on ool,p- 10
820
aroranase vs.enc.ee,

INTRODUÇÃO

Em 1982 o P.C.B. completa sessenta anos de vida. Fenômeno


extraordinário de longevidade na história político-partidária brasileira,
onde as agremiações oposicionistas da classe operária nascem e morrem,
excluindo-se o caso do Partido Socialista Brasileiro (1945-1965). Os
que sobrevivem são os representativos da classe dominante, como o
Conservador e o Liberal, no Império, ou o Partido Republicano Pau-
lista, que subsiste de 1873 a 1945. Desta maneira, o P.R.P. é a
nossa mais duradoura organização, tendo existido por setenta e dois
anos; 0 P.C.B. ocupa o segundo lugar, com seus sessenta ànos.
O aspecto cronológico é importante, mas outros fatores têm que
ser considerados: um dos elementos-base é o de que os partidos da
classe dominante beneficiaram-se das benesses do poder, enquanto
os diversos partidos operários passaram por vicissitudes e dissabores
os mais graves. Especificamente no caso do P.C.B., que viveu períodos
mínimos de legalidade e liberdade, que se situam entre os meses de
março a julho de 1924, janeiro a agosto de 1927, fevereiro de 1945
a janeiro de 1948. Nos demais períodos teve que lutar contra as
perseguições ferozes ou o desprezo e a marginalidade impostos pelas
oligarquias e burguesia. A luta contra estes fatores negativos, a tena-
cidade e a constância com que essas batalhas foram vencidas fazem
com que os sessenta anos da história do P.C.B. apareçam como prova
da persistência e idealismo dos militantes operários.
Neste primeiro volume tratamos do período que vai de 1922 a
1943, isto é, da fundação do partido até a Conferência da Mantiqueira
(agosto). É um momento curto, mas de profundas transformações,
não só no desenvolvimento do sistema capitalista como na própria
organização e ideologia comunistas.
,
O Partido Comunista do Brasil nasceu do seu I Congresso
25, 26 e 27 de março de 1922: a reunião do dia
realizado nos dias
compare-
25 se deu no Rio de Janeiro, as outras em Niterói. Nelas
Os delegados agem
ceram 9 delegados representando 73 membros.
que vinham questiona ndo a problemát ica
em nome de grupos estaduais
Revoluçã o Russa e a necessida de de uma nova organizaç ão revo-
da
Porto
lucionária. Dentre estes se encontram o Grupo Comunista de

1
BR DFANBSB Va.GNC.EEE. 320114
09 ano ol; |]

Alegre, tendo à frente Abílio de Nequete; o Grupo


Comunista do
Rio de Janeiro, com Astrojildo Pereira; e o Grupo
Comunista do
Recife, com Cristiano Cordeiro. Estes e os de
Cruzeiro, Niterói e
São Paulo fazem-se representar diretamente
no 1 Congresso do
P.C.B.; Abílio de Nequete, cumulativamente, fala
em nome do Bureau
da Internacional Comunista para a América
do Sul e do Partido
Comunista do Uruguai. Deixam de comparecer
os representantes de
Santos e de Juiz de Fora. Os que marcam
a sua presença são:
Abílio de Nequete, Astrojildo Pereira, Cristia
no Cordeiro, Hermo-
gêneo Silva, João da Costa Pimenta, Joaquim
Barbosa, José Elias da
Silva, Luís Peres e Manuel Cendôn. Assim,
estes nove são considerados
os fundadores do P.C.B,
O trabalho do Congresso fica estabelecido em ordem
do dia,
tratando de: 1) exame das 21 condições de admissão
na Internacional
Comunista: o II Congresso da Internacional Comuni
sta em Moscou,
no ano de 1920, estipula as condições em que um
partido comunista
possa filiar-se à entidade máxima, a I.C.; estas
condições são discu-
tidas e "aceitas, unanimemente, uma a uma". 2)
Estatutos do Partido
Comunista: copiados quase integralmente do modelo
do P.C, Argentino,
são "discutidos e aprovados, a título provisó
rio, pela unanimidade
dos delegados". 3) Eleição da Comissão
Central Executiva: Abílio
de Nequete torna-se secretário-geral; titulare
s são Astrojildo Pereira,
Luís Peres, Gomes Cruz Júnior e Antonio Canella
s; suplentes, Cristiano
Cordeiro, Rodolfo Coutinho, Antonio de
Carvalho, Joaquim Barbosa
e Manuel Cendón. 4) Ação pró-flagelados
do Volga: como existisse
um Comitê de auxílio, formado em 1921, pede-se
a sua ampliação.
5) Assuntos vários: são aprovadas moções
de Saudação à Interna-
cional Comunista, à Revolução Russa, aos
Perseguidos pela Reação
Capitalista, ao Bureau da I.C, para a América
do Sul etc. (A. Pereira,
Formação do P.C.B.).
O aparecimento do novo partido, num país onde
o marxismo
era praticamente desconhecido, não produz de
imediato resultado
grandemente positivo. Existem várias razões: 1)
o movimento ope-
tário, de tradição socialista - numericamente o
mais importante -
não conseguira, no passado, criar estruturas partidá
rias estáveis e
Permanentes. A falta de tradição organizatória,
com todas as conse-
quências que deste fato resulta - disciplina partidár
ia, coesão em
torno do programa, sentimento de coletividade
etc. - sempre foi
fator negativo entre o nosso movimento proletário;
2) existe predo-
mínio de correntes reformistas entre os trabalhadores
brasileiros, re-
presentada por movimentos católicos, socialistas
evolucionistas, coope-
rativistas etc.; 3) o movimento anarquista sempre
foi contra qualquer
tipo de organização, a não ser os anarco-sindica
listas que aceitam a
idéia de sindicatos; 4) no Brasil existe quase total
ignorância sobre
a filosofia e a tradição marxista: apesar de alguma
s obras de Marx

%
0 LL4O5 an od!
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 82

e Engels serem divulgadas entre nós, em edições francesas e italianas,


sua concepção do mundo e a consegiiente estratégia política decor-
rente de sua filosofia são praticamente ignoradas; 4) existe total
desconhecimento sobre o bolchevismo russo e o consequente sentido
do movimento; na maior parte da literatura sobre a luta revolucionária
na Rússia escritas antes da I Guerra Mundial e que chegavam a nós
através dos idiomas francês, italiano e espanhol, não há referência
ao Partido Social Democrata Russo (bolchevique e menchevique);
5) as notícias sobre a Revolução de Outubro de 1917, por causa da
censura imposta pelas potências capitalistas, que se somam à in-
compreensão dos fatos que se passam na Rússia, tão transmitidas
erroneamente ao mundo ocidental: daí a revolução ser denominada
de anarquista etc.
Estes fatores, entre outros, dificultam a expansão do movimento
do P.C.B., resultando em lento crescimento de seus quadros: os 73
membros iniciais, em março de 1922, passam a 250 no fim deste
mesmo ano, sendo 123 residentes no Rio e em Niterói; em maio de
1923 existem 300; em 1928, 500; e as estatísticas falam em 1.000
aderentes até 1930. É com a crise de 1929 e suas consegiências
internacionais e nacionais que teremos um grande aumento dos quadros,
mas, infelizmente, não existem estatísticas sobre estes momentos
posteriores.
Apesar de não haver tradição marxista entre nós, o recém-fundado
P.C.B. vai procurar manter linha consequente com a nova concepção
estratégica. Faltamnos maiores informações sobre os dois ou três
primeiros anos de sua existência, o que torna mais confuso o conhe-
cimento sobre os problemas que teve que enfrentar. Um destes
problemas é o da luta contra a herança anarquista no movimento
operário, não só pela importância deste movimento, mas porque
alguns dos militantes do partido pertenceram àquela corrente. Entre-
tanto, a influência anarquista tem sido exagerada, principalmente
quando se diz que boa parte do contingente humano do partido viera
dela. Pelo que podemos avaliar, a herança anarquista não é domi-
nante, havendo entre os fundadores do P.C.B. bom número de mili-
tantes socialistas e sindicalistas; e com as novas adesões, os novos
militantes frequentemente são pessoas que se iniciam com o marxismo.
Um fator que comprova como o problema do anarquismo é encarado
secundariamente é a pouca importância crítica que o partido dá a
esta questão, resultando numa literatura marginal. Exemplo desta
literatura pode ser visto na Segunda Parte, no capítulo sobre Ideologia.
Um dos campos da atividade inicial do P.C.B. é o sindical. Esta
questão é primordial na história do movimento operário e o partido
a considera básica. Rodolfo Coutinho, em 1924, preconiza que o
partido deve esforçar-se para aceitar todos os que possam ter simpatia
pela agremiação e "o recrutamento de elementos obreiros deve ser

3
BR DFANBSB V8.GNC.EEE. 3 2 5) ]jo
s oa L. ip 3

feito agora com uma liberdade extrema"; e na


hora em que o partido
está na ilegalidade, "devemos, sobretudo, aprovei
tar as aptidões dos
camaradas neste momento de provável estagn
ação política canalizando
sua atividade para o trabalho sindical" (Rodol
fo Coutinho, Memória
e História, no 1, p 127, 129 e 138).
No campo da atividade sindical, ao contrário
das correntes
anarco-sindicalista, cooperativista e socialista (denom
inados de ama-
relos), os comunistas dão enfoque ao caráter
político dos sindicatos,
não deixando de lado o sentido reivindicatóri
o de classe. Esta ação
apresenta características próprias, inovadoras para a época
e obtém
bons resultados. A infiltração nos sindicatos, por causa
da ilegalidade
do partido, resulta, a partir de 1923, numa prepon
derância em mais
de vinte sindicatos do Rio, num acordo com a Confed
eração Sindi-
calista Cooperativista Brasileira, de tendência
governista etc. No
entanto, estrategicamente, o partido luta a favor
da unidade sindical,
sendo contrário à sua pluralidade, forma predom
inante até então.
A fraqueza do partido aparece em outro aspecto, que
é o da
divulgação de seu pensamento. Até 1925 poucos
são os canais exis-
tentes que traduzem os problemas e a ideologia do
P.C.B.: aparecem
folhetos, divulga-se a posição partidária através de
entrevistas a jornais
etc. Em 1923, depois de um acordo com Serandy
Raposo, presidente
da Confederação Sindicalista Cooperativista Brasile
ira, consegue-se
que o jornal O País, publicado no Rio de Janeiro e
com grande circu-
lação nacional, ceda uma página diária, onde são public
ados artigos
e documentos do partido; a situação dura pouco
mais de um ano. A
interrupção deste veículo de propaganda obriga
o partido a encarar
novamente a necessidade de um órgão próprio
, que se realiza com
a publicação do jornal A Classe Operária, cujo primei
ro número sai
no dia 1.o de maio de 1925, com tiragem de 5.000
exemplares.
Outros meios de divulgação tornam-se necessários. Desde
1919
surge no mercado grande número de obras de Lenine,
Boukharine,
Trotski, Losovski, K. Radek e outros: eles chegam da
Argentina e do
Uruguai, também da França. O partido divulga as de
língua espanhola,
revendendo-as aos interessados. No entanto, elas
atingem pequeno
número de interessados, por serem em língua estrang
eira, o que torna
necessária a publicação de textos na língua vernácu
la. A falta de
recursos financeiros -- além de outros fatores, como
o de recursos
humanos - leva o partido, até 1930, a avançar muito
pouco no
campo da divulgação: entre 1919 e 1922 saem reprod
uzidos alguns
artigos de Lenine na imprensa operária. Mas é a partir
de 1923
que o partido se torna responsável por algumas edições
: neste ano,
a seção de Pernambuco edita o Programa Comunista,
de Boukharine
(1.000 exemplares); sai em Porto Alegre, pela primeir
a vez, em 1924,
em tradução de Otávio Brandão, o Manifesto Comuni
sta, que fora
publicado em capítulos por um jornal, em 1919;
de 1924 temos o

4
Gan gol jp 4:
aroranese veenc.eee, 4 20

Comunismo Científico, de Boukharine, O Cidadão e o Produtor, entre-


vista com Lenine e Noções de Comunismo, de Charles Rappoport;
em 1926, o ABC do Comunismo, saído em Porto Alegre. Juntamente
com as traduções aparece a literatura original: os Estatutos (1922),
O Processo de um Traidor (1924) de Astrojildo Pereira, Agrarismo e
Industrialismo (1926) de Otávio Brandão, A Organização Operária
(1926) de Joaquim Barbosa. Desta época são duas revistas: Movi-
mento Comunista, cujos dois primeiros números são anteriores à
fundação do P.C.B. (sairam 8 números); e a Revista Proletária, de
1926, que sai uma única vez.
É no campo da ação política que o partido tornou-se inovador
e, consequentemente, a fracção mais dinâmica do proletariado nacio-
nal. Não podemos esquecer que até 1922 os socialistas e anarquistas
no
de todo jaez manifestavam-se contra o regime dominante, sem
entanto terem partidos que disputassem as eleições; e desta maneira,
havia toda uma limitação prática destes grupos, o que tornava sua
participação reduzida a atos importantes, mas limitados (greves, luta
a favor de melhores salários etc.), sem atingir no seu interior o próprio
sistema dominante. Na Europa, com a formação dos partidos social-
democratas, a partir de 1880, o proletariado conseguira maiores bene-
fícios quando elegera, através de suas agremiações, representantes para
o Legislativo e o Executivo. O movimento trabalhista adotara, assim,
as próprias armas da burguesia, forçando-a a conceder maiores van-
R
tagens e proteção à força de trabalho.
O P.C.B. vai seguir esta tática, porém ela será totalizada unica-
parte
mente em 1927. Durante os cinco primeiros anos ele esboça
voltando -se mais para problem as em que se
de sua nova política,
sente familiar, como a questão sindical e da agitação. Quando realiza
o seu II Congresso, em 16, 17 e 18 de maio de 1925, nada transparece
sobre problemas eleitorais nem de frente única com outras frações
do proletariado e da pequena burguesia. O momento histórico não
é propício, pois estamos sob o governo Artur Bernardes e seu estado
de sítio, consequência do segundo 5 de julho (1924). Com a posse
à
de Washington Luís, a 15 de novembro de 1926, o país volta
normalidade institucional. A partir desta situação e de um outro
fato feliz, a cessão do jornal A Nação, de Leônidas de Rezende, ao
P.C.B., é que a situação se modifica radicalmente.
Leônidas de Rezende é positivista e dono de A Nação e durante
os anos de estado de sítio (praticamente de 1922 a 1926) ele é perse-
guido. Nos fins de 1926 procura a direção do P.C.B. e diz ter-se
convertido ao comunismo e que cederia sua folha ao partido. Pela
primeira vez o P.C.B. terá um grande veículo de comunicação de
massa, o que irá projetá-lo de maneira ampla. Segundo Astrojildo
Pereira "a existência atribulada de A Nação se confundiu, durante

3
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, B) 3
“LMS am oc, o 15
os 7 meses seguintes, com a vida do próprio partido" (in Edgard
Carone, Movimento Operário no Brasil (1877-1944), p. 500).
É através desta folha que o P.C.B. lança a idéia do Bloco Ope-
rário, tentativa de frente única entre líderes da classe média e do
movimento operário. Na época existem indivíduos, não ligados a
partidos, que por diversas razões tinham influência pessoal
suburbanos do Rio, como são os casos de Azevedo Lima enosMaurício bairros
de Lacerda; o convite para a frente única se estende também a
instituições, como o Partido Socialista, o Centro Político dos Ope-
rários do Distrito Federal etc. O documento, denomin
Aberta, datado de 5 de janeiro de 1927, destina-se aadorealizar de Carta
um
esforço comum a favor de candidaturas operárias para a eleição
federal de 24 de fevereiro daquele ano. Como afirma: "pode-se
dizer que pela primeira vez, entre nós, vê o proletari
a possibilidade de sua intervenção direta e independenteadonobrasileiro
travar-se. Com efeito, até aqui - salvo alguma ou outra pleito exceção
a
de caráter local ou pessoal - jamais o eleitorado operário do Brasil
participou de uma campanha como força própria, como classe
pendente, apresentando um programa de reivindicações ditadasinde-
seus interesses e aspirações de classe" (Astrojildo Pereira, Formaçãporo
do P.C.B., p. 87). É dentro deste espírito, com programa próprio
(ver o documento), que o Bloco Operário, depois
Bloco Operário e Camponês. lança as candidaturas dedenominAzevedo
ado de
Lima
e João da Costa Pimenta: o primeiro se elege deputado; o outro,
um dos fundadores do partido, consegue boa votação pelo Distrito
Federal.
O passo seguinte é o da participação na eleição
1928, quando Otávio Brandão e Minervino de Oliveiramunicipa se
l de
elegem
intendentes, ambos pertencentes ao partido. Desta maneira, via
eleitoral aparece como viável e justifica o maior interesse pela a ação
política e a luta a favor de instrumentos legais.
A influência do Bloco Operário e Camponê
São Paulo, Rio Grande do Sul e outros Estadoss e estendera
seu
-se para
crescime nto
leva o partido a se voltar demasiadamente para a política eleitoral
e cair em outro perigo mais grave: no III Congresso do P.C.B., em
fins de 1928 e começo de 1929, este reconhece o erro,
que o "sucesso eleitoral" pode levar a "alguns perigosconsider de
ando
desvio
oportunista e eleitoralista, que é preciso combater energicamente. Uma
certa tendência se manifesta, mesmo no Partido, em considera
BOC como o partido do proletariado, espécie de substituto legalr doo
P.C. Tendência errônea e perigosa. O BOC é organização política de
frente única das massas laboriosas em geral sob a hegemoni
Este é e deve ser cada vez mais o cerne, o núcleo centraladirigentedo P.C.
do BOC. Para combater tais perigos, o
como medida principal a da intensificação III Congresso determinou
do trabalho ilegal do P.C.
6
4050 00 byp:L 6
ar pranase veoncieee, 82 011

Como tal, paralelamente ao trabalho do BOC" (III Congresso do


Partido, datilografado).
No III Congresso do P.C.B., realizado nos dias 29, 30 e 31 de
dezembro de 1928, e 1, 2 e 3 de janeiro de 1929, além desta e várias
outras questões, é levantado o problema relativo à cisão interna no
partido, que será conhecida pelo nome de um de seus líderes, Joaquim
Barbosa. Este é o segundo momento crítico interno do partido, o
primeiro tendo sido o Caso Canellas, em 1923; Este episódio é o
menos grave dos dois e gira em torno do reconhecimento do P.C.B.
pela Internacional Comunista. Em 1922 o partido nomeia dois dele-
gados para irem a Moscou; por falta de recursos pecuniários, são
escolhidos dois membros do partido que se encontravam na Europa
de
naquele momento. Mário Barrel, entretanto, não pôde viajar
Paris para Moscou e Antonio Bernardo Canellas dirige-se sozinho
para a capital soviética. Lá, depois de vários qiiiproquós, participa
faz
das sessões do IV Congresso da I.C. (a partir de 5.11.1922) e
declarações comprometedoras e não verdadeiras sobre a linha política
e a ideologia do P.C.B.: entre outras coisas afirma que os maçons,
positivistas, católicos etc., agem independentemente e com liberdade
juntamente
no seio do partido. Estas declarações insólitas, que se dão
a I.C. a não reconhecer o P.C.B.; após
com outros incidentes, leva
de Canellas ao Brasil (1923), o episódio se esclarece e são
a volta
tomadas medidas para sanar tal situação: Canellas é expulso e Rodolfo
Ghioldi, o encarregado da I.C., vem ao Brasil para verificar a situação
real do partido. Em abril de 1924, finalmente, o P.C.B. entra na I.C.
(Edgard Carone, Uma Polêmica nos Primórdios do P.C.B.: o incidente
Canellas e Astrojildo, Memória e História, n.o 1).
A crise de 1928 é mais grave, não só pela profundidade dos
problemas, como pelo número de militantes que abandonam o partido.
A questão sindical é o pivô, cuja diretriz vem sendo levantada
como suspeita desde 1925. Joaquim Barbosa, líder sindicalista, é
quem critica a posição assumida pelo P.C.B. em várias ocasiões: 1) em
1925, ele é contrário à presença de delegados do partido no Conselho
Nacional do Trabalho, que está discutindo o problema da lei de
férias; ele pretende que se deva pressionar exteriormente o organismo,
pois as falas dos delegados eram mantidas sigilosas, não sendo publi-
cadas nos órgãos de imprensa; 2) segundo as diretrizes do II Con-
gresso do P.C.B. (1925), Barbosa pretende organizar uma Con-
federação Geral do Trabalho, incluindo os sindicatos do Rio e do
Distrito Federal; por diversas dificuldades, o plano não se realiza.
O partido pretende plano mais amplo, que também aglutinaria as
federações locais. A idéia também fracassa e desta maneira passa-se
à organização de um Congresso Sindical. Nesta hora, A Nação faz
críticas contundentes às posições de vários sindicatos, fator que leva à
deserção de muitos grupos sindicalistas e, consequentemente, ao

7
BR DFANBSB VB
.GNC.EEE, 3
2 ( LLUgs5
ôm sel; tá)
13
fracasso do Congresso Sindical; 3) a ênfase dada à posição
política
do sindicato é outra questão que Barbosa levanta, pois
ele pretende
valorizar os problemas especificamente sindicais - como
o salário,
horas de trabalho, greves etc.
Os fatores relativos aos problemas sindicais somam-se com outras
críticas feitas em 1928, como a falta de "centralismo democrático"
no partido e o fato de a direção fugir às decisões do II Congresso
do P.C.B. (1925). Por isso exigem a convocação de uma Conferência
Nacional. A Comissão Central Executiva nega-se a convocá-la,
ale-
gando que as questões seriam discutidas no III Congresso do Partido,
que já estava marcado para o fim daquele ano (1928). E que as
questões controvertidas deveriam ser analisadas numa publicação espe-
cífica, que será a Autocrítica, revista da qual saem 8 números. O
resultado final é a saída dos 50 protestantes, que não aceitam a
solução, e dos quais só alguns retornam às fileiras do P.C.B,
O III Congresso do P.C.B. é, afinal, o balanço destes e de outros
problemas: as conclusões comportam não só a questão .síndical e á
do Bloco Operário e Camponês, como vimos, mas também a definiçã
o
do que é a sociedade brasileira. Para a compreensão de suas linhas
estratégica e tática, os congressistas concluem que o Brasil é país
semicolonial, dominado pelo imperialismo; que a sua economi
a é
particularmente agrária; que o desenvolvimento da indústria é
entra-
vado pelo imperialismo; que a burguesia nacional, que parecia
de-
sempenhar papel revolucionário, a partir de 1924, capitulou
diante
do imperialismo e da classe agrária; que esta capitulação agravou
a
situação de exploração contra a massa trabalhadora e a pequena
burguesia; por isto, "a pequena burguesia constitui um fator revolu-
cionário que é necessário aproveitar e apoiar com todas as forças";
"mas a pequena burguesia não poderá levar a revolução até à
sua
própria finalidade democrática-burguesa; só o proletariado, assumin
do
a direção do movimento, com apoio das mais amplas massas,
poderá
fazê-lo"; desta maneira, o proletariado deve "apoiar energic
amente,
desde já, o movimento revolucionário que se prepara", exigindo a
confiscação da terra, a supressão dos vestígios semifeudais e a liber-
tação do jugo do capital estrangeiro.
O realce ao papel que deve desempenhar a pequena burguesia
é justificado pelos «movimentos revolucionários tenentistas, que se
iniciam a partir de 1922, e prosseguem em 1924 e na Coluna Prestes
(1925-1927). Esta é a razão por que o P.C.B. manda emissários pro-
curarem Luís Carlos Prestes no exterior, em 1927 e 1928. Astrojildo
Pereira e Leôncio Basbaum, em momentos diferentes, são os que
tentam entrar em contato com o Cavaleiro da Esperança, e pretendem
que ele adira ao partido, não só por causa de seu prestígio, mas por
acreditarem que a "terceira revolta" revolucionária está inserida no
movimento pequeno-burguês do tenentismo. A decepção surge quando

8
00
Broransse ve.oncieeÉ, 2201440 501

Prestes vacila diante do convite e; cresce, depois da publicação do


Manifesto de Maio de 1930, momento em que este rompe com seus
amigos no exílio - que apóiam a candidatura de Getúlio Vargas,
lançada pela Aliança Liberal - e resolve fundar a Liga de Ação
Revolucionária.
O ataque à Liga de Ação Revolucionária se estende por todo
o ano de 1930, porque a LAR pretende que o P.C.B. se filie a ela,
enquanto o partido afirma o contrário. A polêmica é grande, mas
perde a sua força com a Revolução de Outubro de 1930. Neste mo-
mento, o partido passa por transformações graves, que resultam da
sua nova linha política, definida no III Congresso. Este traduz posição
que condiz com os resultados do VI Congresso da Internacional
Comunista, em Moscou: no ano de 1928, a I.C. abandona a sua
tática de frente única e adota a de "classe contra classe"; no Brasil,
o resultado acaba traduzindo-se na oposição aberta a todas posições
antagônicas, desde as burguesas até as operárias; e na adoção de
uma falsa posição obreirista, que obriga os intelectuais a se afastarem
do partido ou a ocuparem posições secundárias, enquanto a direção
é preenchida por pessoas de origem proletária, muitas delas sem o
preparo para as funções que ocupam.
O obreirismo é fator de afastamento das antigas lideranças do
P.C.B., a maioria tendo vindo dos primórdios do partido. O caso
mais grave é o de Astrojildo Pereira, da Secretaria Geral. Em docu-
mento enviado pela I.C., datado de fevereiro de 1930 - resultado
parcial das resoluções da 1.a Conferência dos Partidos Comunistas
Latino-americanos, realizada em Buenos Aires, em outubro de 1929
- condena-se violentamente a política do P.C.B. frente à questão
do Bloco Operário e Camponês e o seu atrelamento a este órgão.
Na Resolução da I.C. sobre a Questão Brasileira mostra-se que, se
a direção do processo revolucionário couber à pequena burguesia
revolucionária (entenda-se tenentismo), a "revolução brasileira estará
condenada a uma derrota semelhante à da revolução mexicana. Se
o proletariado tomar a hegemonia no curso da revolução, sob a direção
do P.C., e realizar resolutamente e sem hesitação, a linha leninista
da I.C., esta revolução terá, então, grandes probabilidades de triunfo,
principalmente se provocar movimentos revolucionários nas outras
repúblicas da América Latina". A afirmação é a condenação da
política do P.C. e a marginalização da tática de frente única, con-
cretizadas nos casos do Bloco Operário e Camponês e na tentativa
de aliança com Luís Carlos Prestes. Astrojildo Pereira e Otávio
Brandão são praticamente os fautores desta linha e por isto são
afastados da direção do P.C.B.
A Revolução de 1930. é vista como resultado da ação imperialista
no Brasil, os americanos ajudando Getúlio Vargas, e os ingleses,
2
Washington Luís. Este dualismo mecanicista é a tônica apresentada

9
BR DFANBSB V.GNC.EEE, 22 OLL
UOS5S em OL ip 14

para a explicação das revoluções de outubro e a de 1932: crise interna


significa automaticamente alianças com facções da burguesia impe-
rialista mundial. O simplismo analítico faz com que o partido se
afaste de qualquer compromisso com a Aliança Liberal. Na verdade,
não é justa a crítica, feita posteriormente, de que 0 P.C.B.
errara
em não participar dos acontecimentos revolucionários: além
de ser
contrário àquele tipo de "revolução", como afirmavam, o partido é
frágil numericamente e nenhuma facção aliancista ou tenentista pre-
tendia se confundir com os comunistas, acusados de subversivos. Neste
caso, a sua posição contrária às duas correntes políticas da Época:
situacionistas de Washington Luís e aliancistas e tenentistas da
Aliança
Liberal, evita constrangimento que eles poderiam eventualmente
ter
em relação a uma possível aliança proposta pelo R.C!B.
Após 1930 começa o período de agitações social e política, resul-
tado da crise mundial de 1929. É o momento em que a ação do
partido cresce, não só nos meios sindicais como entre o proletariado
em geral. E a sua direção, entre 1930-1934, vai-se modificando:
devido à perseguição da polícia e por causa da crise interna partidária,
Astrojildo Pereira, Otávio Brandão, Heitor Ferreira Lima, Fernando
Lacerda, Leôncio Basbaum, Mário Grazini etc., vão sendo deslocados
do mando da Comissão Central ou Comissões Regionais, e a direção
passa para as mãos de Américo Maciel Bonfim (Miranda), Lauro
Reginaldo da Rocha (Bangu), Agildo Barata, Luís Carlos Prestes etc.
Este processo é lento, cheio de vicissitudes e de atitudes radicais,
que
provoca descontentamento e até o abandono das fileiras do
partido
por algumas das pessoas atingidas.
A política do partido é mais vasta e agressiva após 1930: a
Marcha da Fome, manifestação contra o desemprego, que se dá em
19 de janeiro de 1931 no Rio e em São Paulo, mostra a liderança
que ele vai conquistando entre o proletariado; as comemorações do
1.o de maio, em 1931 e 1932, é de grande repercussão; as greves sob
a sua direção são inúmeras; a luta contra o integralismo, cujo ápice
está nos acontecimentos da Praça da Sé, em agosto de 1934, mostra
sua tática contra o direitismo político no Brasil.
A 1.a Conferência Nacional do Partido Comunista do Brasil
acentua a tônica radical: depois de analisar a situação, o documento
fala em "tomada violenta das terras", em "dividi as terras assim
conquistadas entre vós mesmos e defendei sua posse pelas armas";
o futuro governo Operário e Camponês acabará com a fome e a
miséria, "pondo à disposição das massas o estoque de todos os produtos
açambarcados hoje pelos grandes senhores nacionais e estrangeiros";
e, depois de outras promessas, fala na formação de "amplos comitês
de frente única de luta para a conquista de nossas reivindicações,
contra a reação e a guerra imperialista".

10
22 O LL 0 GOL; po
Br Dranese va.enc.ere.

A idéia de frente única, não só de grupos proletários, mas de


todas as forças antiimper ialista e antifasci sta, começa a se delinear
em 1934, quando Hitler sobe ao poder. O fascismo italiano,o restrito apesar
de seu caráter agressivo, parecia a muitos como um fenômen
à Itália; mas, quando o nazismo domina a Alemanha e inicia passa a feroz
perseguição interna aos democratas e comunistas e, depois, à
agressão externa, ameaçando os países limítrofe s, nada subsiste da
ilusão anterior. A U.R.S.S. sabe que o ataque ão comunisque mo é um
dos objetivos máximos do fascismo mundial, comprov ação vai-se
completar com as ocupações da Abissínia (1935), Tcheco-E slováquia
(1936), Áustria (1938), Guerra da Espanha (1936-1939) etática Polônia
(1939). O VII Congresso da I.C., em 1935, abandon a a da
luta de "classe contra classe". e inicia a de "frente única" contra as
direitas: os democratas liberais, os antifascistas, os movimentos ope-
rários de todas as tendências deveriam reunir-se para a batalha comum
contra o fascismo, de qualquer tendência.
No Brasil a resposta é dada pela fundação, em março de 1935,
da Aliança Nacional Libertadora. A nova agremiação reúne comu- numa
nistas, liberais, tenentistas, correntes operárias diversas, todos de Getúlio
frente contra o imperial ismo e o fascismo externo e o
Vargas, internamente. Para a A.N.L., o governo se encamin ha em
direção à direita, o que leva os aliancistas a igualarem-no aos fascistas.
A acusação parece se confirmar em julho, quando grande as autoridades
fecham a A.N.L., intervêm em sindicat os e prendem número
de líderes antifascistas. Deste momento à Revolução de Novembro
de 1935, o caminho é curto.
Ainda permanece obscuro uma série de fatores que levaram os
comunistas a desencadearem o movimen to: no entanto, a idéia de que
haveria um clima revoluci onário no Brasil, propício para a derrubad a
do governo, deve ter nascido de grupos minoritá rios no Brasil, que
a transmitiram para a direção da Internacional Comunista. asNesta
Introdução não pretendemos discutir a questão, mas mostrar con-
segiências: a revolução desencadeia-se em três regiões, que por razões
desconhecidas, dão-se em datas diferentes: 21 de novembro, emJaneiro. Natal;
23 de novembro, em Recife; 25 de novembr o, no Rio de
Ao contrário de que se afirma, a revolta pôs em pânico persegui as camadas
governamentais, mas ela é sufocada e é pretexto para sindicatçãoos
feroz às esquerdas e aos liberais. Agora a intervenção nos culminar,
é total, fecham-se jornais, as prisões são arbitrárias e, para
reforma-se a recém-nascida Lei de Segurança Nacional e cria-se o
Tribunal de Segurança Nacional.
Mesmo perseguido, o P.C.B. continua a usar a sigla e daa posição A.N.L.
Os documen tos que aparece m falam em nome de ambos,
de frente única divulgada pela A.N.L. continua a ser o lema degenérico .
O partido tem que esperar os momento s piores de estado sítio e
11
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, B20! ip

estado de guerra, que vigoram entre fins de 1935 e o ano inteiro de


1936; a partir de 1937, as classes dirigentes, por causa da eleição
presidencial de 1.o de janeiro de 1938, pretendem suspender o estado
de exceção. É que José Américo, apoiado por Getúlio Vargas, e
Armando de Salles Oliveira, apoiado pelos paulistas, pretendem fazer
campanha eleitoral e agir, consegiientemente, de maneira livre. Esta
nova situação é fator favorável aos comunistas, que além de poderem
beneficiar-se dos mecanismos constitucionais democráticos, podem
participar das lutas eleitorais. O que fazem é tentar impor condições
para os candidatos à presidência da República: pedem a eles garantia
do restabelecimento das liberdades públicas, a anistia, a ajuda na luta
contra o integralismo etc. Como nenhum responde às exigências, os
comunistas se dividem em apoio a um ou a outro dos candidatos,
fato que leva o Comitê Regional de São Paulo a uma crise e parte
de seus membros abandona o partido.
O golpe de novembro de 1937 interrompe a normalidade cons-
titucional e provoca nova série de golpes ao partido: entre 1938 e
1940, ele sofre os maiores reveses de sua história, praticamente aca-
bando por se desbaratar. As prisões dos membros do Comitê Regional
de São Paulo, em maio de 1939, e do Comitê Central, em 1940, leva
O P.C.B. a se tornar quase acéfalo, deixando de existir uma direção
unificada e centralizada. Os grupos que subsistem nos Estados não
têm condições de voltar a se unir, não só por estarem vigiados pela
polícia, mas também pelo receio fundado da infiltração policial nos
núcleos do partido, razão de algumas prisões havidas nestes últimos
anos. Entre 1940 e 1942, no apogeu do Estado Novo, praticamente
a ação existente limita-se a algumas articulações regionais e o trabalho
em torno de problemas marginais (ver o depoimento de João Cunha,
A Reorganização do P.C.B. 1941-1942).
O Estado Novo, instaurado com o golpe de 10 de novembro de
1937, consolida-se lentamente. A partir de 1939, as oposições ope-
rárias, como todas as outras tendências oposicionistas, deixam de ter
esperança numa desagregação da ditadura interna, ainda mais que
a guerra e as espetaculares vitórias militares da Alemanha pareciam
confirmar a supremacia do totalitarismo sobre as democracias. É a
entrada dos Estados Unidos na guerra, seguida da invasão da U.R.S.S.
pela Alemanha, que muda as perspectivas da II Guerra Mundial.
A entrada dos Estados Unidos e da U.R.S.S. na guerra permite
que as forças oposicionistas brasileiras voltem a agir. Getúlio Vargas
criara regime autoritário, mas suas ligações com os países fascistas
são mais circunstanciais, sem ligação ideológica e sem compromisso
estratégico; o que faz é se aproveitar da divisão do mundo capitalista
e encontrar opções econômicas para a crise brasileira. Mesmo após
a guerra, nada se descobriu de grave que o pudesse comprometer,
nenhuma aliança, nenhum acordo secreto que embarcasse o Brasil na

12
ado
om er Lage
NC.EE e 22o
BRDFANBSB VB.G
o
e Japão). O que há é a instauraçã
canoa do Eixo (Alemanha, Itália a para a
mund o que se enca minh
de uma ditadura interna, num
direita.
mundial, que começa a Se
É exatamente esta circunstância a,
dos Unidos e da U.R.S.S. na guerr
modificar com a entrada dos Esta do conte xto
ção volt em a parti cipar
que permite que as forças de oposi
surgem sinais de rebeldia contra
político brasileiro. A partir de 1942
diversa, como a de grupos da
o Estado Novo, que partem de fonte
de milit ares com tendência demo-
oligarquia dissidente, de liberais,
Os últim os são os que iniciam estas mani-
crática e de comunistas.
liderança de um sem número de
festações e, até 1945, cabe a eles a
movimentos.
e esfacelado a partir de 1940
Como dissemos, o P.C.B. encontra-s
os nos Estados, sem ligação entre
e o que subsiste são pequenos grup
assim, não deixa de haver ação
si, muitos deles acéfalos. Mesmo
da em defesa do seu programa.
clandestina e a contínua propagan
da insta lação de uma futura usina side-
Em 1939 e 1940, a pretexto
para que a iniciativa parta do
rúrgica, o partido faz campanha de
o, bate-se a favor da anistia e
governo brasileiro; ao mesmo temp rama demo -
A idéia de um prog
um retorno ao regime constitucional. o regi me
ém é básica. Mas, como
crático e anti-Estado Novo tamb
mant ém polít ica visce ralmente anticomunista, de nada
se consolida e
pelo P.CB.
adianta as formulações levantadas os
ã à U.R.S.S. (agosto de 1941), que
É a partir da invasão alem defe nder o
tática. Agora é preci so
comunistas se voltam para nova iro sinal é
mento mundi al. O prime
regime russo, eixo de todo movi ça até 1940,
mora ndo na Fran
o retorno dos exilados, muitos deles
deslocam-se para a Argentina; a
e que diante da ocupação alemã
da no país, são presos e logo
partir de 1942, eles forçam sua entra já
voltado para lutar contra o Eixo,
soltos. É que afirmam terem aliar am para o
terra e a U.R.S .S. se
que os Estados Unidos, a Ingla
a à Alemanha e Itália. Getúlio
mesmo objetivo, o de fazer a guerr das
afirma que o Brasil está ao lado
Vargas sente-se constrangido, pois contr a os que
nada pode rá fazer
democracias e, automaticamente,
dizem ter o mesmo objetivo. s
nistas aliam-se a todas as força
A partir deste momento, os comu preci so der-
smo nazista e fasci sta. É
internas contrárias ao totalitari m,
cias totalitárias. O esforço comu
rotar o inimigo principal, as potên oposi cioni sta,
militares e oligarquia
que engloba liberais e comunistas, o
ros do gove rno Vargas, traduz-se na organizaçã
e até alguns memb Liga de Defe sa
esforços: é criad a a
de canais que congreguem estes a
favor da entrada do Brasil na guerr
Nacional; inicia-se a campanha a ialme nte
as abrem editoras, espec
etc.; e, particularmente, os comunist
povo uma nova imag em da U.R.S.S,, da China revolucio-
para dar ao
nária e da guerra.

13
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 2
20 L1up5 am 0o| 10: 2

A defesa da U.R.S.S, e a luta


do Brasil ao lado das democrac
são pontos pacíficos entre ias
todos Os grupos comunistas.
a repressão atingira profunda Como vimos,
mente o P.C.B., este se enco
lado e subsiste em forma ntra esface-
de agrupamentos nos Estados,
nem todos estes grupos man No entanto,
têm o mesmo ponto de
ao governo Vargas. Nest vista em relação
e momento, formam-se
três correntes com

Heitor Ferreira Lima etc.; 2)


os que querem a luta contra
externo e, ao mesmo tempo, o inimigo
pedem para adiar a luta cont
interno; para isto, deve-se ra o inimigo
anular tudo que possa inco
de guerra, até o próprio P.C. modar o esforço
B., que deve desaparecer com
esta fração, que é pequena, o partido:
se faz representar por Fern
cerda; 3) os que querem a ando de La-
luta contra o inimigo externo,
para o fim da guerra a questão adia ndo-se
da luta contra o inimigo interno:
é a posição de um gtupo da Bahi esta
a, do Rio de Janeiro etc., e é conh
cido pelo nome de CNOP (Com e-
issão Nacional de Organização
visória). Pro-
5

, através dos elementos do Rio


de Janeiro, mantém contato
secreto com Luís Carlos Prest
es, que se encontra preso: daí
temente ele se identificar cada aparen-
vez mais com o partido e
tepresentar o pensamento ofici parecer
al.
A oficialização da linha do
CNOP vai-se dar na II Conf
Nacional do P.C.B., chamad erência
a Conferência da Mantiqueira,
de 1943; a 1 Conferência em agosto
é a de 1934, A reunião
mente, em local do Vale do se deu secreta-
Paraíba, tendo comparecido,
parte, os que se encontravam na maior
no Rio de Janeiro, pois o conv
foi estendido aos Btupos com ite não
outra linha política. Dela part
Diógenes Arruda, João Amaz iciparam
onas, Maurício Grabois, Amar
concelos, Pedro Pomar, Ivan ílio Vas-
Ramos Ribeiro, Francisco Leiv
Vitorino Antunes, Armênio as Otero,
Guedes, Mário Alves, Francisc
Lindolfo Hill, o ferroviário o Gomes,
Jovelino e outros. Da reunião
nenhum documento oficial, não saiu
mas a reafirmação oral da
Posição que será reforçada com sua posição,
o contínuo beneplácito de Luís
Prestes e a maior dinâmica do Carlos
Btupo. Apesar disto, a divisão
correntes continua. a existir de
dentro do P.C.B, só desapare
Pleno do Comitê Nacional do cendo no
P.C.B., em agosto de 1945,

*. * *
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 2201 1 405.9» oo (? "A4

Esta antologia beneficiou-se largamente da compreensão da Fun-


dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que em 1979
concedeu-me um auxílio para uma viagem à Europa: graças a ela
pude recolher rico material no Institut Maurice Thorez, em Paris, e
no Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis (Instituto de
História Social), em Amsterdã.
Outra fonte preciosa da qual me servi, foi o Arquivo Histórico
do Movimento Operário Brasileiro, em Milão, rico manancial sobre
o nosso movimento trabalhista.
Quero deixar consignado, particularmente, os meus agradecimen-
tos ao Dr. William Saad Hosney, da FAPESP, e a José Luiz Del Roio
e a Maurício Martins de Mello, da Asmob, por tudo que me facilitaram,
para a viagem como para a pesquisa.

São Paulo, março-junho de 1981.


! ;p;
, 22041705 on 00
aroransse va.onç ger

PRIMEIRA PARTE

A AÇÃO DO P.C.B.
& ga oLi 405 om do! (o. Ã
BR DFANBSB V8.GNC.EE

A) DO I AO III CONGRESSO (1922-1929)

1) A fundação do P.C.B.: o I Congresso


(25, 26, 27 .3.1922)

Antecedentes
era o
O mais antigo dos grupos comunistas existentes no Brasil
sob a denomi nação
de Porto Alegre, organizado em novembro de 1918
o mais
de União Maximalista. Esta constituía, assim, o núcleo orgânic
os partidár ios da Revoluç ão Sovietis ta Russa e da
antigo de decidid
Internacional Comunista.
Paulo etc.,
Noutras cidades, como Rio de Janeiro, Recife, São
as do proleta riado foram sempre quase
onde as camadas mais avançad
influen ciadas pelos anarquis tas, muitos militant es
que exclusivamente
pela obra do
demonstraram, desde a primeira hora, fundas simpatias
Todavia, só
Partido Comunista Russo e da Terceira Internacional.
lições e experiê ncias da Revolu ção Russa e pela
lentamente, mercê das
direta da literatu ra bolchev ista, foi a ideolog ia mais ou menos
leitura
o num
caótica até então predominante se transformando e firmand
sentido marxista.
de 1921,
Estas tendências se acentuaram no Rio por meados
alguns camara das definit ivament e ganhos à causa do comu-
quando
militantes do
nismo, provocaram reuniões gerais dos mais conhecidos
proletariado local.
os problemas da
Nessas reuniões foram largamente debatidos
curso na U.R.S.S. Inú-
Revolução Mundial à luz das experiências em
os. Depois de uma série de
meros documentos foram lidos e discutid
s e atitudes se definir am numa parte -
ardentes debates, as posiçõe
inclino u decidid amente pelos bolchev istas e, outra,
a maior parte - se
Isto indicou aos partidários
permaneceu irredutivelmente contra.
com os debates . Era preciso
de Moscou que seria inútil continuar
que doze dos camarad as mais esclarec idos deci-
concretizar. Foi assim
do a propagar e de-
diram a fundação do Grupo Comunista, destina
Internac ional. A sessão de
fender, no Brasil, o programa da III
se realizou precisa mente por uma
fundação do Grupo Comunista
bom augúrio a 7 de novemb ro de 1921.
coincidência de

19
ar oranass va.enclese, SAO LLUOS em ooL , a. 24 .
Constituído o Grupo Comunista do Rio de Janeiro, este entrou
imediatament
expondo seu eprog em relações com todos os centros proletários do Brasil,
Terceira Internaciorama
nal
, divulgando as 21 condições de admissão na
e decidindo a publicação de um mensário de
doutrina e informações sobre o movimento revolucionário internacional,
intitulado Movimento Comunist a, cujo primeiro número se publicou
em janeiro último,
Outros grupos se formam
Da troca
os diversos centrdeoscorre
obrei
spondência do Grupo Comunista do Rio com
congêneres nas seguintesroslocaldo país surgiram desde logo outros grupos
Isso, além da antiga União Maximidade s: Recife, Juiz de Fora, Cruzeiro.
alist
em Grupo Comunista, em concordânciaa com de Porto Alegre, transformada
o Grupo do Rio. Noutras
muitas cidades do interior do País, vários eleme
embora esparsos, se manifestaram de acordo comntosa obra revolucionários,;
Este último ia, ao mesmo tempo, criando raízes no doRio,Grupcon-o.
quistando pouco a pouco a adesão de militantes dos melhores e mais
conhecidos nos sindi catos revolucionários. Assim, os doze iniciadores
do Grupo se foram multi plicando, semana a semana, contando já, por
ocasião da abertura do Congr esso, com 70 aderentes seguros, selecio-
nados entre os trabalhadores consc ientes, mais ativos e mais influentes
em nosso meio,
A realização do congresso
Em mead fevereiro, por iniciativa dos camaradas do Grupo
de Porto Alegrose, deo Grup o do Rio entendeu-se com os demais grupos
existentes sobre a necessidad
dos delegados dos mesmos, e para de se apressar a reunião, em congresso,
definitiva organização do Partido
Comunista. Havia urgência na organ
aproximação do IV Congresso da Interizaçã o do Partido em vista da
nacio
deveriam fazer-se representar os comunistas nal do
de Moscou, no qual
Brasil
ativo foi iniciado, neste sentido, marcando-se a data . deUmreunitraba ão
lho
do
Congresso: 25, 26 e 27 de março.
Chegando mente o dia 25 de março, realizou-se a primeira
sessão do Congrfinal
sendo lida então esso uma
Constituinte do Partido Comunista do Brasil,
Internacional Comunistaentus iástica saudação enviada pelo Bureau da
para
sessões se realizaram ainda noa dia propaganda na América do Sul. Duas
27. Estavam representados por delegsegui nte, 26, e duas finais no dia
ação direta os Grupos de Porto
Alegre, de Recife, de S. Paulo, de Cruzeiro,
Não puderam enviar delegados os Grupos de Santodes Niter e de
ói e do Rio,
Igualmente, se fizeram representar O Bureau da I.C. paraJuiza Amér de Fora.
ica
do Sul e o Partido Comunista do Uruguai.
20
BRDFANBSSB 8 20 14405 Om 00 RB

Ordem do dia
Foi estabelecida a seguinte ordem do dia para os trabalhos do
Congresso:
1.o) Exame das 21 condições de admissão na Internacional
Comunista;
2.o) Estatutos do Partido Comunista;
3.) Eleição da Comissão Central Executiva;
4.o) Ação pró-flagelados do Volga
5.o) Assuntos vários.
1.o) As 21 condições de admissão estabelecidas pela Interna-
cional Comunista foram objeto de minucioso e demorado exame por
parte dos delegados presentes, sendo discutidas e aceitas unanime-
mente, uma a uma.
2.) Os estatutos do novo Partido, inspirados nos do Partido
Comunista da Argentina, e tendo em conta as condições especiais da
situação brasileira, foram elaborados, discutidos e aprovados, a título
provisório, pela unanimidade dos delegados.
3.) A eleição para os cargos da Comissão Central Executiva
do Partido foi feita com um perfeito espírito de cordialidade, tendo-se
em vista as habilitações e possibilidades de cada um.
4.o) Como já existe, funcionando desde setembro do ano pas-
sado, um Comitê de Socorros aos Flagelados Russos, do qual fazem
parte comunistas, anarquistas e sindicalistas, o Congresso deliberou
que a C.C.E. promovesse, de acordo com o referido Comitê, uma maior
ampliação na composição do mesmo, convidando indistintamente, para
a organização de uma ação comum, todos os organismos operários
e revolucionários do Brasil, sejam quais forem suas tendências.
Depois de outras resoluções de caráter secundário e aprovadas
as moções que vão mais adiante, deu-se o Congresso por encerrado,
entoando os delegados, de pé, comovidamente, as estrofes da "Inter-
nacional". Um viva à Terceira Internacional! e estavam terminados
os trabalhos preliminares de fundação do Partido Comunista do Brasil.
Nem por serem poucos, e sem exagerarem a modéstia de sua
obra, os delegados presentes ao Congresso não menos convictos se
mostravam da importância histórica do ato que realizavam. Eles
representavam, ali, senão organicamente, de certo em espírito, as
aspirações mais altas do proletariado do Brasil, finalmente integrado
na vanguarda revolucionária do proletariado mundial.

Moções aprovadas
1.8

Saudação à Internacional Comunista - O Congresso Consti-

tuinte do Partido Comunista do Brasil, reunido no Rio de Janeiro

21
BR DFaNBSB va.GnC.EEE, 220 0 Som oo ,(. 24

a 25, 26 e 27 de março do ano V da Revolução Social, saúda efusiva


e fraternalmente a família comunista mundial e sua gloriosa van-
guarda, a Internacional Comunista.
Viva a Internacional Comunista!

2a

Saudação à Revolução Russa - A gloriosa Revolução Russa e


à sua invencível vanguarda, o Partido Comunista Russo, nossa mais
entusiástica saudação e nossa mais inquebrantável solidariedade revo-
lucionária.
Viva a Revolução Russa!

3.8

A Memória dos Heróis da Revolução - A memória dos heróicos

batalhadores da causa proletária mundial, gloriosamente tombados no

campo da luta revolucionária, nossa comovida homenagem de soldados

da mesma legião vermelha empenhada na libertação integral dos

trabalhadores do mundo!

Salve os mártires da Revolução!

4,

Saudação aos perseguidos pela Reação Capitalista - Aos bravos

camaradas que purgam, nos calabouços da burguesia internacional, o

pecado de sua dedicação à causa do Comunismo, nossa cordial sau-

dação de solidariedade e admiração.

5a

Ao Bureau da I.C. para a América do Sul - Aos Camaradas

do Bureau da I.C. para a América do Sul expressamos nossa palavra

de entusiasmo pelo alentador e vibrante apelo que nos dirigiram por

ocasião da abertura do Congresso Constituinte do Partido Comunista

do Brasil.

Firmamos aqui, nesta hora histórica para o proletariado brasileiro,

nossa mais decidida e ardente vontade de trabalhar, ao lado dos co-

munistas de todo o mundo, pela mesma causa comum.

Viva o Bureau da I.C. para a América do Sul!

6.a

Aos Partidos Comunistas da Argentina, do Uruguai e do Chile -

Aos camaradas dos Partidos Comunistas da Argentina, do Uruguai e

do Chile, o Congresso Constituinte do Partido Comunista do Brasil

22
|
S an 00b 30
BR orlnass vá.cho eee 22 0 LO

lança uma saudação de fraternal solidariedade continental, por sobre


as convencionais fronteiras das pátrias capitalistas.
Viva a União dos Trabalhadores Sul-Americanos integrados na
Internacional Comunista!

Aos Trabalhadores do Brasil - O Congresso Constituinte do


Partido Comunista do Brasil, realizado na Cidade do Rio de Janeiro
nos dias 25, 26 e 27 de março, resolvendo sua adesão incondicional
à Terceira Internacional, formando assim ao lado da vanguarda prole-
tária mundial, lança uma saudação fraterna ao proletariado do Brasil,
concitando-o a arregimentar-se em sua organização sindical e do Par-
tido a fim de, uma vez firmado nos dois organismos que se comple-
mentam, poder travar as últimas batalhas para sua emancipação inte-
gral.
A Comissão Central Executiva

(Movimento Comunista, n.o 7, julho de 1922, p. 175-182).

2) Estatutos

Da constituição do Partido

Art. 1.o - Fica fundada, por tempo indeterminado, uma Socie-


dade Civil, no Rio de Janeiro, ramificando-se por todo o Brasil, tendo
por título - Centro do Partido Comunista do Brasil, mas que será
chamada Partido Comunista, Seção Brasileira da Internacional Comu-
nista.
Art. 2.o - O Partido Comunista tem por fim promover o en-
tendimento e a ação internacional dos trabalhadores e a organização
política do proletariado em partido de classe para a conquista do
poder e consegiiente transformação política e econômica da Sociedade
Capitalista em Sociedade Comunista.

Das adesões

Art. 3.o - O Partido é organizado à base de adesões pessoais,


sendo estabelecidas as seguintes condições de admissão:
a) ter a idade mínima de 18 anos;
b) assinar a fórmula de ingresso subscrita por três aderentes
com mais de 3 meses de antiguidade;
C) pertencer ao respectivo sindicato de indústria ou ofício,
quando este exista;

23
ar oranass eee, 220 0m oe b, p 31

d) os membros da sociedade não respondem subsidiariamente


pelas obrigações sociais.
Art. 4.o - Os aderentes adquirem direito de voto somente
quando passados 3 meses a contar da data de sua admissão.
Art. 5.o - O Partido admite também a adesão de pessoas que,
por motivos justificáveis, não possam militar ativamente em seus or-
ganismos. Esses aderentes, chamados contribuintes, não têm, porém,
direito de voto.

Dos Centros

Art. 6o - O Partido é constituído por centros locais ou dis-


tritais, desde que contenha um mínimo de 9 aderentes. Nas locali-
dades onde não haja centros organizados admitem-se aderentes isolados,
os quais devem constituir-se em grupos de propaganda logo que atinjam
o número de três.
Art. 7.o - Não é admitido mais que um centro em cada loca-
lidade do país, exceção feita das grandes cidades, onde os centros
podem organizar-se por distrito. Neste: último caso os novos centros
são sempre inicialmente constituídos por aderentes de um centro já
existente.
Art. 8." - É obrigação de cada aderente retirar de seu respectivo
centro, no primeiro trimestre de cada ano, a caderneta oficial do
Partido, pagando pela mesma a quantia de 1$000.
a) Dentro do mesmo prazo cada centro deve remeter à Co-
missão Central Executiva do Partido a lista de seus aderentes com as
indicações necessárias, a fim de lhe serem remetidas as cadernetas e
os selos correspondentes.
b) A quota mensal de cada aderente é de 1$000, paga ao
respectivo centro. Desta quota 50% são remetidos à Tesouraria Geral
do Partido em pagamento dos selos fornecidos pela Comissão Central
Executiva.
c) Ficam isentos das mensalidades os aderentes que, a juízo
dos respectivos centros, estejam impossibilitados de satisfazê-las.
d) Os aderentes isolados ou dos grupos de propaganda pagam
suas quotas integralmente à Tesouraria Geral do Partido.
Art. 9. - São, também, obrigatórias as contribuições extraor-
dinárias ou subscrições de caráter nacional, as quais só podem ser
estabelecidas pelos congressos do Partido ou pela Comissão Central
Executiva, para fins determinados.
Art. 10.a - Os centros, em casos de emergência, podem recorrer
à Comissão Central Executiva no sentido de obterem o auxílio finan-
ceiro de que necessitem.

24
32
aroFanase va.onc.eee, € 20 LL TOS 0% 004 p:
Das juventudes comunistas

Art. 11.o - É dever de cada centro organizar uma juventude


comunista constituída por jovens menores de 18 anos. Os que ultra-
passem essa idade podem permanecer na juventude, com a obrigação,
porém, de se filiarem diretamente ao Partido.
Art. 12." - As juventudes comunistas, para serem reconhecidas
como tais, devem aceitar os princípios fundamentais do Partido e
adotar estatutos concordes com os mesmos, sob o controle da Comissão
Central Executiva e dos centros. Quanto ao mais, gozam de plena
autonomia, quer no concernente à sua constituição interna como sobre
a forma de desenvolver sua propaganda.

Da Comissão Central Executiva

Art. 13.o - A Comissão Central Executiva se compõe de 5


membros titulares e 5 suplentes, eleitos pelo Congresso.
a) Até a realização do 2.o Congresso Ordinário do Partido, só
podem ser eleitos para a Comissão Central Executiva aderentes já
filiados anteriormente à data de realização do Congresso Constituinte.
Art. 14. - De acordo com o princípio da centralização demo-
crática, a Comissão Central Executiva:
a) Representa e dirige o Partido em sua multíplice atividade e
promove a execução das resoluções dos Congressos Nacionais e Inter-
nacionais;
b) Vela pelo respeito ao programa e aos Estatutos do Partido,
tornando efetivas as medidas disciplinares previstas nos mesmos
Estatutos.
€) Mantém o mais rigoroso controle político sobre todos os
organismos do Partido, e é responsável pela orientação dos órgãos
centrais e em geral controla todas as publicações do Partido;
d) Mantém relações com os Partidos Comunistas de outros
países, com a Internacional Comunista e com outras instituições
proletárias;
e) Apresenta em cada Congresso do Partido um relatório geral
sobre a marcha e o estado dos organismos componentes do Partido.
Art. 15." - As resoluções da Comissão Central Executiva, para
serem válidas, devem ser aprovadas por maioria em suas reuniões
ordinárias e extraordinárias.
Art. 16. - Cada membro titular da Comissão Central Executiva
encarrega-se de um ramo especial de atividade, de acordo com a
seguinte distribuição:
a) Serviço de secretaria geral, organização e propaganda;
b) Serviço de secretaria internacional, relações e informações
mundiais;

25
01 L405 am:
aroransse va.enc.ere. 22

c) Serviço de imprensa e publicidade;


organizações sindicais e
d) Serviço de núcleos comunistas nas
cooperativas;
o e controle das finanças.
e) Serviço de tesouraria geral, direçã
atribu ições especiais de cada
Art. 17.o - São as seguintes as
encarregado de serviço:
a)Serviço de secretaria geral:
à Secretaria Geral do
Tem a seu cargo as funções inerentes
são Centr al Execu tiva, vela pela aplicação
Partido, representa a Comis
o e disciplina dos centros,
das resoluções da mesma, pela organizaçã
do Partido.
organiza e controla a propaganda geral
e a Secret aria Geral é o representante
O membro titular que exerc
e passi vamen te, judici al e extraj udicialmente.
da Sociedade ativa
b)Serviço de secretaria internacional:
Executivo da Interna-
Mantém relações contínuas com o Comitê
de outros países, e
cional Comunista e com os Partidos Comunistas
ações sobre o movimento
organiza um serviço metódico de inform
comunista internacional.

c)Serviço de imprensa e publicidade:


do e controla todas as
Dirige as publicações centrais do Parti
istas do país, sejam de iniciativa coletiva
demais publicações comun
ra alguma, que a pretexto
ou individual, não se aúmitindo, de manei
quer publicações contrárias à
de autonomia se possam fazer quais
orientação política geral do Partid o.
são Central Executiva,
Tem a responsabilidade, perante a Comis
s centrais do Partido.
das doutrinas sustentadas nas publicaçõe
Faz publicar no órgão centra l do Partid o, ou em boletim especial,
da Comis são Centr al Execu tiva, os balanços da
os atos e resoluções
o.
tesouraria e das diversas empresas do Partid
o, todas as resoluções
Dá à publicidade, no órgão central do Partid
s, bem como admit e as observações que
das assembléias dos centro
tos intern os ou de intere sse geral sejam feitas pelos filiados.
sobre assun
d)Serviço de núcleos:
e controle dos núcleos
Tem a seu cargo a organização, direção
mant endo um contato direto
comunistas nos sindicatos e cooperativas,
e a Comis são Centr al Executiva.
e disciplinado entre os núcleos
c) Serviço de tesouraria geral:
sável pelas finanças
O encarregado da Tesouraria Geral, respon
da caixa central
do Partido, tem a seu cargo a administração direta
todos os demais serviços finan-
do Partido, dirigindo ou controlando
vos dos jornais , ediçõe s e caixas diversa s do Par-
ceiros e administrati
tido em geral, como dos centros .

26
aroransse 930 LEMOS om. 0 04; TEM

si, em conselho sob


Art. 18o - Cada membro titular agrega a
o, os aderen tes indica dos pela Comissão Central
sua imediata direçã
s e segundo as ne-
Executiva com a aprovação dos respectivos centro
ou cargos de cada um, a juízo
cessidades de serviço e as habilitações
iva. Estes consel hos estud am e organizam
da Comissão Central Execut
s, planos e trabal hos atinen tes ao respec tivo ramo de ativi-
os projeto
o, membr o titular da Co-
dade, sendo porém o encarregado de serviç
respon sável perant e esta, de quem
missão Central Executiva, o único
última instân cia, a aprova ção e adoção dos referidos
depende, em
projetos, planos e trabalhos.
l Executiva se
Art. 19o - Os membros da Comissão Centra
uma vez por semana . São válidas so-
reúnem em sessão ordinária
es a que compa reçam pelo menos 3 titulares, sendo
mente as reuniõ
r a todas as
as faltas preenchidas pelos suplentes. Estes devem assisti
iva, só tendo voto, porém, quando
reuniões da Comissão Central Execut
funcionam em substi tuição dos titular es.
os da Comis-
Art. 20.o - São considerados demitidos os membr
sem a necessária
são Central Executiva que faltem às sessões da mesma
justificação.

Do Congresso
sso ordinário anual-
Art. 21.o - O Partido se reúne em congre
io da Comissão Central
mente, em lugar e data determinados a critér
ssos extrao rdinár ios por convoca-
Executiva. Podem reunir-se congre
l Execut iva ou por iniciat iva de dois terços
ção da Comissão Centra
dos centros .
sso um delegado por
Art. 22.o - Cada centro envia ao congre
15, sendo porém os votos das dele-
30 quotizantes ou fração maior de
númer o de quotiz antes repres entados.
gações contados pelo
podem concor rer ao congre sso Os centros que
Art. 23.o - Não
do Partid ou não tenham
o
não estejam em dia com a Tesouraria Geral
pelo menos 3 meses de antiguidade.
a serem discutidas no
Art. 24.o - A ordem do dia e as teses
Comis são Centra l Executiva e enviadas
congresso são preparadas pela
de 60 dias a todos os centro s. Estes, com antece-
com antecedência
são Central Executiva
dência de 90 dias, podem apresentar à Comis
es import antes e de interesse geral,
teses ou proposições sobre questõ
a serem discutidas no congre sso.
são Central Executiva,
Art. 25.o - Cada centro envia à Comis
geral sobre o estado e a
com antecedência de 30 dias, um relatório
marcha de seu movimento anual.
l Executiva lê
Art. 26.o - Cada membro da Comissão Centra
um relató rio sobre o movim ento do serviço a seu
perante o congresso
cargo. O congre sso julga esses relatór ios.

27
u
,SQOLL TO Som C
ar oransse va.one EEE
congresso é formada pela Co-
Art. 27.o - A mesa provisória do
se efetue a verificação de poderes
missão Central Executiva até que
tal fim.
por uma comissão nomeada para
ficar a ordem do dia pro-
Art. 28.o - O congresso pode modi
al Execu tiva e incluir na mesma questões
posta pela Comissão Centr
s dos delegados.
novas se assim o resolvem dois terço
resso não pode representar
Art. 29. - Cada delegado ao cong
mais de um centro local,

Da administração

Partido é constituída pela con-


Art. 30. - A caixa central do
de 500 réis por aderente quites;
tribuição mensal dos centros à razão
1$000 por aderente quites e pelas
pela dos filiados diretos à razão de
e renda s eventuais.
demais entradas extraordinárias
Art. 31.o - O tesou reiro -gera l do Partido informa mensalmente
o movimento geral da caixa cen-
à Comissão Central Executiva sobre
pela comissão de contas.
tral, sendo os balanços examinados
de conta s, comp osta de 3 membros elei-
Art. 32.o - A comissão
a fiscalização mensal dos balanços
tos pelo congresso, tem a seu cargo
refere às quotizações dos centros
da Tesouraria Geral, tanto no que se
de publicidade e demais entradas
como à administração dos serviços
extraordinárias .
o, seus haveres passam à Co-
Art. 33.o - Dissolvido um centr
missão Central Executiva.

e juventudes
Dos estatutos dos centros, núcleos
os, núcleos e juventudes co-
Art. 34.o - Os estatutos dos centr
entado pela Comissão Central
munistas são redigidos sob modelo apres
ão final da aprovação da mesma
Executiva, dependendo sua redaç
Comissão Central Executiva.

Da disciplina

rama, da moralidade e da har-


Art. 35." - Em defesa do prog
m resolver, por dois terços de seus
monia do Partido, os centros pode
a suspensão, não maior de seis
membros, em assembléia especial,
membros, com apelação: perante
meses, e a exclusão de um de seus
utiv a e o cong resso do Partido. O aderente
a Comissão Central Exec
r no Partido sempre que hajam
suspenso ou excluído pode reingressa
m sua exclusão ou suspensão.
desaparecido as causas que motivara
Art. 36.o - Pelas mesm as razõe s, a Comissão Central Execu-
ender ou excluir um centro
tiva pode, por unanimidade de votos, susp
agan da, com apelação para
local ou distrital ou grupo local de prop
o Congresso.

28
BR Dranbss va.cne.eEE
©2920 L405 (MOQLQ, %
Art. 37. - Os aderentesseusquerespe faltem, sem causa justisuspe ficada, a
3 assembléias consecutivas dete as 3 assembléias seguintes. Em nsos
ctivo s centr os, têm
caso
seus direitos de voto duran ídos do Parti do.
de reincidência são considerados exclufalte m, durante 2 meses con-
Art. 38.o - Os adere ntes que
secutivos, ao pagamento das quotizações estabelecidas, dos têm suspensos
3 assem
seus direitos de voto durante asidênc bléia s segui ntes respectivos
centros. Em caso de reinc ia são consi derad os exclu ídos do
Partido.
a) Escapam às condições8.o. impostas por este artigo os casos
previstos na letra c) do art. os € juventudes comunistas nãodo
Art. 39.o - Os centros, grup o com agrupações alheias ao Parti
podem realizar atos em colab oraçã
sem prévia aprovação da Comissão Cent ral Executiva.
Art. 40. - Unicamente os cong ressos do Partido têm capaci-
dade de realizar reformas e nos modificações nos presentesdaEstat utos,
uma vez que sejam baseadas só um congresso, especialmente convona--
princ ípios e resol uções Inter
cional Comunista, bem comoção da sociedade e determinar o destino
cado; pode resolver a extin
de seu patrimônio.!
Art. 41. - Os casos não previstos nestes Estatutos são solu-
cionados pela Comissão Central Executiva.
(Partido Comun ista [SBIC], Estatutos: aprovados no
Comunista reunido no Rio de Janeiro, a
Congresso 27.03.
25, 26 e 1922).

3) O 1.o de maio de 1924


O P.CBo e o, h.a de maio
Aos trabalhadores do Brasil
Aproxima-se o 1.o de maio de 1924. É necessáriovosquedigno vós,
comem oreis esse
trabalhadores do Brasil, trabalhadores do mundo. dia, mostr ando- s
companheiros de todos os
Para isto, é preciso: s, como uma
1.o - Reforçardes os asso vossos sindicatos; entrarde diar iamente; con-
avalancha, para dentro dass sóciociaç ões, visit ando- as
s; tran sfor mard es
quistardes novos e novos de força; melhorardes as biblioteca as asse mbléias em
verdadeiras manifestaçõe s.
1. O textoira.do último período deste. artigo obedece às fórmulas exigidas
pela lci brasile
29
BR DFANBSB VE.GNC.EEE. 22 O LL405 an go lip: 3a

2.o - Estudardes o comunismo, a doutrina do proletariado, a


doutrina que ensina v proletariado a vencer.
3.o - Fortificardes e defenderdes o Partido Comunista, cérebro
do proletariado, contra os assaltos da reação burguesa-policial.
4.o - Defenderdes a Revolução Russa, isto é, a Revolução
Comunista, a Revolução Proletária, contra todos os ataques capitalistas
e de seus aliados diretos ou indiretos.
5.o - Formardes a frente única dos trabalhadores, pondo de
lado, nesta questão, os princípios filosóficos ou sociais e desprezando
todos os que combatem a frente única, porque eles não passam de
meros colaboradores do capital, porque só querem ver o vosso enfra-
quecimento, a vossa desgraça.
6.o - Mostrardes a vossa condenação contra os que só se ocupam
em promover questões pessoais no vosso seio, porque eles são lobos
vestidos de cordeiros.
7.o - Combaterdes todos os divisionistas do proletariado, aque-
les que vivem procurando dividir as associações. E
8.o - Liquidardes os sindicatos esqueléticos em proveito das
grandes associações, quer dizer, em lugar de três ou quatro sindicati-
nhos de uma só classe, formardes uma só associação, forte, coesa.
Procedendo assim, de acordo com os vossos interesses, sereis
dignos dos mártires de 1848, de 1871, de 1905, de 1917-1924, sereis
dignos dos mártires de Chicago, da grande causa do proletariado
internacional, que é a causa da Revolução Russa, da Revolução Pro-
letária, da Revolução Mundial.
Que o próximo 1.o de maio seja o dia da reorganização do pro-
letariado do Brasil.
Trabalhadores, levantai as vossas associações! Aderi ao Partido
Comunista! Defendei a 3.a Internacional e a Internacional Sindical
Vermelha! Combatei o divisionismo!
Rio de Janeiro, 14 de abril de 1924.
A Comissão Central Executiva do Partido Comunista do Brasil.

(O País, 17.04.1924).

4) A crise de 1923

a) A POSIÇÃO DE ANTONIO BERNARDO CANELLAS


Durante a discussão, no seio da Comissão respectiva, da questão
francesa, veio à baila, no Congresso, o "caso" da Maçonaria. Originou-
-se esse caso da circunstância de pertencerem à Maçonaria numerosos
membros do Partido Comunista francês, pertencentes às frações da
"esquerda" e do "Centro", sobretudo a esta última. Sucede que os

30
BR DFaNBSB va.onc.EEE, 8201LLUOS amO

apologistas da esquerda, encabeçados por Trotski, tiveram a habili-


dade de, a um dado momento, enxertar essa questão da Maçonaria na
ordem geral da discussão, e isso de forma que a causa do Centro
aparecia solidária com o destino que eventualmente tivesse o caso da
Maçonaria. Foi esse um golpe extraordinariamente hábil, porque a
decisão do caso não padecia dúvidas: a Internacional Comunista não
pode ter ligações diretas ou indiretas com uma organização profunda-
mente aburguesada, como é a Maçonaria. O assunto foi muito discu-
tido nas rodas do Congresso. O Bolchevik, quotidiano em 3 línguas
que se publicou em Moscou durante o IV Congresso, promoveu um
inquérito entre os delegados dos diversos países, propondo-lhes um
questionário cujas respostas seriam publicadas para confronto. As
barbas do Centro já estavam a arder por causa da Maçonaria e os
demais delegados houveram por bem pôr as suas (deles) de molho,
condenando num diapasão mais ou menos igual essa malfadada insti-
tuição. Mas, sem guardar conveniências preconceituosas, entendi que
essa questão poderia talvez comportar uma controvérsia: como aprendiz
que sou, semelhante controvérsia só me poderia aproveitar, oferecendo-
-me a oportunidade de ouvir a opinião das mais eminentes competências
do marxismo sobre a posição do mesmo no terreno moral e, na minha
resposta ao questionário, firmei-me nesse tema. Não pude conservar
exemplar algum do número do Bolchevik que trouxe as respostas dos
delegados. É devido a isso que não posso reproduzir aqui, textual-
mente, a minha resposta. No entretanto, reconstituindo-a de memória,
posso avançar que ela estava mais ou menos assim redigida, na sua
parte final:
"Considerando que, no terreno moral, só o socialismo utópico
e o socialismo sectário tomaram posições definidas;
«s . á job é
Considerando que o nosso gênero de socialismo é neutro no
terreno moral;
"Considerando que a Maçonaria do rito escocês, como as demais
seitas religiosas,a é negócio privado, de ordem moral;
"O nosso Partido, que conta, entre os seus aderentes alguns bons
camaradas maçons, cuja ação pró-revolucionária no seio da sua seita
é notável e notória, decerto não julgará de grande urgência a abertura
de uma campanha contra a Maçonaria. Sou, todavia, de opinião que
os camaradas que porventura ocupem na Maçonaria posição de
destaque, não poderão ser eleitos para cargos de responsabilidade
política no Partido. Tal medida deverá ser extensiva aos camaradas
católicos, positivistas, protestantes, israelitas etc., que ocupem posições
de destaque no seio das suas respectivas seitas."

2. Nos primeiros quesitos do inquérito eu havia explicado o caráter da


Maçonaria no Brasil.

31
BR DFANBSB Va.GNC. EFE BM
0LLUOS OMO Lªt O 31
Ora, numerosos delegados e, disseram-me, o Praesidium do Con-
gresso, ficaram algo escandalizados com esse parecer que, no dizer
do Bolchevik, denotava "um espírito de transigência e de tolerância
deploráveis!"
Nunca pude saber até que ponto o Praesidium ficou impressionado
com as minhas opiniões. O que pude saber, chegou ao meu conhe-
cimento por vias indiretas e por isso não saberia dizer se é a expressão
da verdade ou o produto do exagero.
Entretanto, acho que não cometi nenhuma leviandade. O que
fiz foi exprimir com franqueza minha opinião. Se não era para que
os delegados se exprimissem com toda a franqueza, escusava o Bol-
chevik de abrir seu inquérito. Ademais, eu, como aliás a grande
maioria do Congresso, ignorava a decisão tomada a respeito do caso
pelo II Congresso da Internacional. Com efeito, o II Congresso
havia estatuído que os membros dos partidos comunistas não podem
fazer parte de lojas 'maçônicas. Porém todo o mundo - Trotski
inclusive - ignorava esse dispositivo. Foi só alguns dias mais tarde o
que, suponho que por lembrança de Serratti, alguém consultou as
atas do II Congresso e "desenterrou" a resolução que dizia respeito
à Maçonaria. Se eu conhecesse esse artigo no momento do inquérito,
a minha resposta não tenderia à controvérsia: limitá-la-ia às informa-
ções de detalhe pedidas nos primeiros itens do inquérito e concluiria
pela afirmação de que o nosso Partido procuraria aplicar essa dispo-
sição antimaçônica. Por conseguinte, a minha resposta não poderia
ser tomada como uma intransigência deplorável ou como prova de
espírito de tolerância mal compreendida. Quando estou a cavalo de
um direito e a situação o exige, também sei ser intransigente.
A minha resposta contém duas afirmações que se prestam à
controvérsia, a saber:
1.o) Se de fato, o nosso gênero de socialismo é neutro no terreno
estritamente moral;
2.) Se a Maçonaria do rito escocês no Brasil poderá ser consi-
derada como seita religiosa.
Quanto ao primeiro ponto, aos que porventura sustentarem o
contrário, lhes peço o obséquio de me fazerem um curso de "moral
marxista", expondo-me os postulados dessa ética, seu gênero e sua
finalidade. O marxismo ortodoxo limita sua análise dos problemas
humanos aos terrenos político e econômico; ele não tem moral pre-
concebida, devendo isso a que vulgarmente se dá à denominação
genérica de "moral" ser uma situação decorrente da organização
econômica e política da coletividade. Por sua própria natureza, ele
é amoral e antiidealístico. Mas, se se lhe quer a todo custo impingir
uma ética, diríamos que a moral marxista é circunstancial, podendo
ser classificada em três gêneros ou fases: anti-revolucionária, revolu-
cionária e pós-revolucionária. Dada esta hipótese, seria possível deter-
32
BROFANBSS Vecho.eee, 82 044 405 0m 00440

minar certos princípios de ética para a fase contemporânea, que é


revolucionária na U.R.S.S. e pré-revolucionária num certo número de
países capitalistas. Esses princípios de ética teriam de ser subordi-
nados à razão política e, nestas condições, não poderiam eles ser sis-
tematicamente anti-religiosos posto que, sob o ponto de vista político,
nenhuma razão nos induz a encetarmos nos países de situação pré-
«revolucionária uma campanha que chocaria as massas que precisamos
captar e que ainda estão imbuídas de preconceitos religiosos - os
quais, de resto, não constituem para nós um obstáculo digno dos
esforços que seriam necessários fazer para o remover desde já. Quanto
à ética comunista do período pós-revolucionário, ninguém pode dizer
a feição que ela tomará porque não é possível prever a direção que
tomarão no futuro a arte, as diversas manifestações do pensamento,
enfim, todo esse conjunto de fatos ultrapassando o domínio da mate-
rialidade estrita aos quais se convencionou dar o nome de "Ética".
Quanto ao segundo ponto, a saber, se a Maçonaria do rito escocês
deverá ser considerada como seita religiosa ou a isso tendente, deixo
aos especialistas o cuidado de fazer lei sobre o assunto. Respondi ao
questionário com os olhos fitos na situação particular do meu país,
onde a Maçonaria não se nos afigura um obstáculo digno de nota.
Aliás, tudo isso fiz sem ser levado por nenhuma simpatia especial por
essa instituição, que considero grotesca, anódina e anacrônica. Mas
achei por demais rigoroso dar-se à Maçonaria um tratamento diferente
do que reservamos às demais seitas religiosas ou mitológicas. Não me
consta que pelo mundo afora a Maçonaria tenha tocado a rebate contra
o comunismo. Na U.R.S.S., no momento da Revolução, todos os mili-
tares das missões estrangeiras pertencentes à Maçonaria passaram-se
com armas e bagagens para os bolchevistas. Os organizadores da re-
volta da esquadra e das tropas aliadas em operações no Mar Negro
contra os Soviets, eram igualmente franco-maçons. Nos Estados Unidos,
os senadores que mais se têm pronunciado a favor de uma atitude
"conciliadora para com os Soviets são também maçons. Durante a
Comuna, certas lojas maçônicas de Paris tomaram corporativamente
partido pelos comunardos contra os versalheses.

QUESTOES SUL-AMERICANAS

Resolução sobre o Partido Comunista do Brasil

O Comitê Executivo da Internacional Comunista, depois de ter


discutido o relatório do representante do Partido Comunista do Brasil,
estabelece que este Partido não é ainda um verdadeiro Partido Comu-
nista. Ele conserva restos da ideologia burguesa, sustentados pela
presença de elementos da Maçonaria e influenciados por preconceitos

33
Broranase va.enceee 820114905 0n0Aa Lit Qt“
anarquistas, o que explica a estrutura centralizada do Partido e a
confusão reinante sobre a teoria e a tática comunistas.
No entanto, é possível fundar no Brasil um bom e forte Par-
tido Comunista. O núcleo deste novo Partido deverá ser formado
pelos grupos atualmente existentes.
Segundo as idéias do delegado Canellas, depreende-se que este
camarada não está liberto da confusão ideológica reinante no seu
Partido.
O Comitê Executivo da Internacional Comunista decide:
1.o) Provisoriamente, o Partido Comunista do Brasil deve ser
aceito na Internacional Comunista como Partido simpatizante;
2.o) A Agência de Propaganda para a América do Sul ("Bureau pela
de Propaganda pour 1'Amérique du Sud"), é convidada a trabalhar
(sic) com os
organização do Partido Comunista brasileiro, de acordo
camaradas brasileiros.
(Antonio Bernardo Canellas, Relatório da Viagem à
U.R.SS,, p. 29-33 e 58).

b) O CONTRA-ATAQUE DO C.C. DO P.C.B.


O regresso do "phénomêne"
De regresso ao Brasil, contou-nos Canellas que, em Moscou,
devido a seu "ativismo" e a suas atitudes e intervenções de "home
brabo", o apelidaram: "le phénom&ne de 1'Amerique du Sud. e. ptodo,
papalvo, sem compreender o ridículo do "sobriquet", babava-s
muito convencido, ao narrar-nos o episódio. . . Mas o caso é que, aqui
chegado, entendeu ele de bancar, também entre nós, o "phénomêne".
Coisa de rastaquera, de brasileiro pernóstico, que se havia sentado na
sala do trono do Kremlin.
Canellas desembarcou no Rio a 29 de janeiro. Pois bem: só
no mês de abril havia ele terminado a redação de seu Relatório e
começado sua leitura, em sessão da C.C.E. Essa leitura, arrastada e
fanhosa, só acabou em maio, depois de três ou quatro sessões. Um
"pronunciamento literário" fenomenal... Mas era sobretudo um
completo desastre. Uma decepção. Percebendo isso, durante o decor-
rer da leitura, Canellas preparara seu golpe: ele mesmo redigiu um
projeto de resolução da C.C.E. sobre o Relatório. Quer dizer: Canellas
pretendia que a C.C.E. subscrevesse o julgamento por ele mesmo
proferido sobre sua mesma missão. Os demais membros da CCE.
não tinham direito, nem liberdade de opinião. Deviam concordar,
34
l % 43
22044 405 emu
ar oransse

aprovar, bater palmas. Sem discutir, sem examinar, sem opinar sobre
o Relatório, bastando-lhe "ter ouvido a leitura" do mesmo, a C.C.E.
devia aprovar "a atitude" de Canellas em Moscou, e devia ainda por
cima renovar-lhe "sua inteira confiança". Essa aprovação, por parte
da C.C.E., "constituiria a condição sine qua non da minha perma-
nência (dele Canellas) no Partido". É bem de ver que os demais
membros da C.C.E. repeliram energicamente semelhante absurda pre-
tensão. Eles queriam opinar por conta própria e não podiam admitir,
de forma alguma, as ameaças do "phénomê&ne". Apesar de tudo, o
"home brabo" não metia medo a ninguém...
Tomando a sério a questão, a C.C.E. deliberou convocar vários
outros militantes de responsabilidade a colaborar com ela no exame
e na resolução a ser tomada sobre o Relatório. O original deste foi
então passado de mão em mão, durante 16 dias e lido pessoalmente
por todos os membros da C.C.E. e pelos camaradas que havíamos
deliberado convidar para uma sessão ampliada. Isso mostra a serie-
dade, o escrúpulo e a paciência com que procedeu a C.C.E. A sessão
ampliada, realizada a 20 de maio, compareceram, além de Canellas,
mais os seguintes membros da C.C.E.: A. Carvalho, J. Barbosa, M.
Cendón e Astrojildo, faltando Luís Peres, que se achava preso. Dos
demais camaradas convocados a participarem da reunião, estavam pre-
sentes: Everardo Dias, Otávio Brandão, J. E. da Silva e J. A. Diniz.
Aberto o debate, Canellas tornou a ler seu projeto de resolução. Em
seguida, cada qual foi externando a própria opinião sobre o assunto.
Vale a pena transcrever aqui as notas para a ata da sessão: "Otávio
não duvida da boa fé e da lealdade do delegado, mas acha que ele
pode não estar conforme a realidade. Canellas foi a Moscou com
algumas ilusões, o que o prejudicou. Não se trata de negar o direito
de manifestar opinião contrária, mas sim se essa opinião é marxista.
Canellas não soube desfazer as falsas informações a nosso respeito.
Não teve a serenidade bastante para tratar das questões do partido. . .
- (Canellas retira-se intempestivamente da sessão)". É preciso por-
menorizar esse episódio, que é típico.
Canellas teve um ataque de nervos, um autêntico chilique. Foi
para a cama, doente. O fato é inacreditável e deixou-nos a todos
verdadeiramente pasmados. O "phénom&ne" não podia sofrer a
controvérsia: seus nervos explodiam, destrambelhados, como os de
qualquer melindrosa histérica. .. Não se pense que fazemos pilhéria.
O caso é muito sério. Todos os camaradas citados são testemunhas
da ocorrência, cuja veracidade afirmamos com a responsabilidade ex-
pressa de nossos nomes. Certo, esse episódio é de um visível grotesco,
de um ridículo imenso, e deveria ficar sepultado em nossa lembrança.
Citamo-lo, porém, aqui, por duas razões: porque ele constitui uma
demonstração típica do temperamento irritadiço e não-me-toques de
Canellas e porque vale por uma prova cabal da extrema paciência e

35
RR NFaNRGR VQECEEE 00-00; G 43
condescendência de que sempre se mostraram animados os membros
da C.C.E. nesta questão.
Retirando-se 'o possesso, e passado o primeiro momento de estu-
pefação, em que todos ficáramos, os presentes prosseguiram em seus
trabalhos. Uma questão de ordem foi levantada: se a reunião podia
continuar sem a presença de Canellas (das notas para a ata): "e que
se indague deste último se continua ou não a comparecer à reunião;
se não, por que motivo - se porque não pode ou porque não quer.
J. E. da Silva é enviado a entender-se com Canellas. Este comunica
que se retirou não por indisciplina ou por protesto, mas por achar-se
incomodado, e mais que não poderá assistir às reuniões deste assunto
por não possuir serenidade para isso, e mais que estaria pronto a
responder a qualquer consulta escrita sobre o assunto, caso a C.C.E.
julgue conveniente". Pacientíssimos, e não sem um certo sentimento
de piedade pelo coitado, acedemos a tudo. Terminados, por fim, os
debates (daí por diante, na verdade, constrangidos e a baixo diapasão
de voz, para não incomodar o enfermo, recolhido a um quarto paredes
e meia), nomeou-se uma comissão de três membros para redigir a
resolução: J. E. da Silva, Otávio Brandão e Astrojildo, sendo apenas
este último da C.C.E. Deliberou-se ainda que o projeto de resolução,
a ser redigido, fosse previamente apresentado a Canellas, para "receber
deste ratificação ou argumentação nova em contrário, com seu voto
definitivo por fim".
Dias depois, redigido o projeto de resolução, foi o mesmo levado
ao conhecimento de Canellas. Este, grafomaniaco delirante, respondeu
com um novo chumaço de 28 laudas, rabiscadas com aquela sua carac-
terística letra-hieróglifo. E como respondeu? Logo de começo: "Essa
moção está redlgxda de uma forma que não comporta alterações, Ou
deve ser aceita "in-totum" ou de todo rejeitada". E uma série de
ameaças: ...se concordam (com ele, Canellas), muito bem, se não
concordam, que passem adiante, perca quem perder, suceda o que
suceder . Nossa não aprovação a seus atos e atitudes em Moscou
"equivaleria" a matá-lo, a destruí-lo, como "militante revolucionário"
e "até como homem": "ora, eu ainda estou muito novo para morrer,
e muito menos para me suicidar. Quem pretender o contrário poderá
arrepender-se amargamente (o grifo é nosso). Quer dizer: a C.C.E.
devia submeter-se a ele- Canellas - mesmo que opinasse diversamente
dele. O projeto de resoluçao por ele mesmo redigido, é que devna
ser aprovado. Condição sine qua non de sua colaboração "ativista"
no PIC. O dilema fatal estava estabelecido. A C.C.E,, que optasse!
porque. . "com vocês, sem vocês ou contra vocês eu seguirei o meu
caminho . .." Pobres de nós outros! A resposta continha ainda uma
deliciosa justificação do ataque de nervos: . . . "eu sou dono dos meus
nervos e só os deixo agirem quando a minha consciência o ordena"
(grifo nosso). Eis um grave problema de psiquiatria, que só a ciência

36
BR DFANBSB V8.GNC.EEE DO LLhes 44

profunda do Sr. Dr. Juliano Moreira poderia resolver. Completa-


mente leigos no assunto, nós o interpretamos ao pé da letra, isto é,
concluindo que o tal chilique fora uma fita desenrolada muito de
propósito, calculadamente, para impressionar-nos ou desorientar-nos.
Mas o fato é que nós nem nos desorientamos, nem nos impres-
sionamos, como tampouco não nos intimidamos com as ameaças do
"home brabo". Nossos trabalhos prosseguiram, serenamente, pauente—
mente - e firmemente,
Em nova reunião da C.C.E., foi o projeto de resolução redigido
pela comissão citada submetido a debate e, após diversas emendas,
aprovado por unanimidade. Todos os membros da C.C.E. - exclusive
Canellas (que não compareceu) e inclusive o camarada Rodolfo
Coutinho, de Pernambuco, na ocasião de passagem pelo Rio - e mais
os militantes convidados para as sessões ampliadas e já nomeados,
manifestaram-se todos unanimemente pela aprovação do projeto de
resolução apresentado.
Foi, pois, assim, depois de longos e pacientes debates, adotada a
resolução transcrita a seguir, a qual, em tempo, foi comunicada a
todos os Centros do P.C., bem como ao Executivo da I.C.
(Partido Comunista [SBIC], O processo de um traidor:
o caso do ex-comunista A.B, Canellas, 1924, p. 4-10).

5) O II Congresso do P.C.B. (16, 17, 18.05.1925)

"Conforme a convocação feita em tempo, reuniu-se no Rio, em


maio de 1925, o II Congresso Nacional do Partido Comunista do
Brasil. As sessões realizaram-se regularmente nos dias 16, 17 e 18
daquele mês, com a seguinte ordem do dia:
1. Relatórios.
2. A situação política nacional.
3. A situação internacional.
4. A organização. Reforma dos Estatutos do P.C.B. As células.
Os comitês regionais. Reorganização dos serviços da C.C.E.
5. Agitação e propaganda.
6. Sindicatos e cooperativas.
7. A organização das J.C.
8, Eleição da C.C E, e da C,CC.
9. Diversos.
Além dos membros da antiga C.C.E. (6 presentes), tomaram parte
no Congresso os delegados das organizações do Rio e de Niterói (5),
Pernambuco (2), São Paulo (1), Santos (2), Cubatão (1). Não compa-
receu a delegação do Rio Grande do Sul, por impossibilidade.

37
sr oranssa va.cnc.ere. 320 LL40 50-00) ;ç 45

izara o modo
Uma sessão preparatória, reunida no dia 15, regular
várias comiss ões neces-
de funcionamento do Congresso, nomeara as
realiza da no dia 16 de maio, foi con-
sárias. Toda a primeira sessão,
ios das organiz ações regiona is e ao Relatór io Geral
sagrada aos Relatór
Relatór ios, bem como o Balanç o geral da Tesouraria
do Partido. Estes
Congresso do P.C.B. serão
da C.C.E. e alguns outros documentos do II
mais tarde publicados.
e resoluções sobre as
Publicamos aqui, a seguir, somente as teses
dia e aprova das pelo Congresso.
matérias constantes da ordem do
áveis retard aram infeliz mente esta publi-
Motivos diversos e insuper
mais, que suprimimos aqui
cação. E é, para que se não retarde ainda
o de menos importância e urgência."

Resolução sobre os relatórios


do Secretário-geral
"O II Congresso do P.C.B. aprova o Relatório
ho desenv olvido pela C.C.E.
do partido, no qual se expôs todo o trabal
lada existê ncia do P.C. brasileiro.
durante estes três anos de atribu
vista as excepc ionais difícul-
"De um mudo geral, e tendo-se em
seu início pelo partido , este, se não deu
dades enfrentadas desde
se podia esperar , soube, no entant o, manter -se de pé,
tudo quanto
ulos surgidos no
tenazmente, atravessando todos os múltiplos obstác
que a CCE.
caminho de sua atividade. O II Congresso reconhece
ncias e mutila da embora , trabal hou com per-
apesar de certas deficiê
severa nça e dedica ção, dirigin do e guiand o o partido .

"Quanto aos Relatórios apresentados pelos delegados das orga-


nizações estaduais, o II Congresso constata que apenas o Relatório
de Pernambuco dá uma idéia de atividade constante e profícua. As
organizações de Santos, Cubatão e São Paulo, especialmente esta
última, ressentem-se de muita deficiência em sua atividade prática.
Com efeito, só a inércia e o desleixo podem explicar o atraso da
de três
organização comunista - 12 escassíssimos aderentes ao cabo
como São Paulo. O Congress o
anos - num grande centro industrial
camarada s dessas localidad es para que de futuro
insiste, pois, com os
e propaganda,
desenvolvam um mais profícuo trabalho de organização
as daquele Estado.
conquistando para o partido as massas proletári
comunista, organi-
"Conquistar as massas operárias à influência
nas células do P.C.B!
zando sua vanguarda consciente e combativa
ental do II Congre sso do P.C.B."
- Tal a palavra de ordem fundam

Conclusões sobre a situação política nacional


política nacional,
Sumariadas, assim, as características da situação
sso consid era como tarefa polític a imedia ta do P.C.B.:
o II Congre

38
a Esf É a
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 82 O LLMUOS 4e

I - Levar por diante a luta ideológica tendente a despertar e


cristalizar a consciência de classe do proletariado. Estabelecer nitida-
mente, em todas as lutas políticas do país, a diferenciação dos inte-
resses e da ideologia das classes. Combater energicamente erros, des-
vios e ilusões tanto da extrema-esquerda anarquista como da direita
socialista (reformista).
II - Em meio das lutas políticas, civis e militares, entre o capi-
talismo agrário e -o capitalismo industrial, manobrar as forças prole-
tárias como forças independentes visando seus próprios interesses de
classe.
III - Em face da pequena burguesia, O P.C.B. deve, sem
alimentar suas ilusões democratas e suas confusões ideológicas, antes
combatendo-as decididamente, esforçar-se por conquistar ou pelo menos
neutralizar seus elementos em vias de proletarização e em luta contra
a grande burguesia industrial ou agrária. Numa palavra: o P.C.B,.,
partido da classe operária, deve conduzir a pequena burguesia e não
ser conduzido por ela.
IV - Com relação aos lavradores pobres e aos operários agrí-
colas, massa enorme, numericamente predominante na população labo-
riosa do país, impõe-se, ao P.C.B., uma política a um tempo segura
e hábil, no sentido de arrancá-la à influência reacionária e obscuran-
tista. A solução do problema camponês constitui a pedra toque do
movimento comunista mundial. Ela sobe de vulto nos países princi-
palmente agrícolas, como é o caso do Brasil. A bem dizer, nada há
feito, entre nós, neste terreno. Tudo está ainda por fazer. Mas é
absolutamente necessário e urgente iniciar um trabalho sério e sagaz
para resolver a questão sobre todas grave das relações do P.C.B. entre
as massàs camponesas do Brasil.
V - Toda a obra, a ser realizada pelo P.C.B., quer no terreno da
agitação e da propaganda, quer no terreno da organização e da ação,
deve ser ligada, estrategicamente e taticamente, à situação mundial,
em conexão - de um lado, com o movimento revolucionário interna-
cional - de outro lado, com a luta contra o imperialismo. Luta
geral em prol da U.R.S.S., contra o imperialismo e seus aliados capita-
listas ou servidores fascistas e socialistas (reformistas). Luta coordena-
da em comum com os partidos irmãos de toda a América, particular-
mente contra o imperialismo anglo-americano.

A situação internacional

Analisando a situação no mundo, diz o informe aprovado pelo


II Congresso, relativamente às palavras de ordem internacionais:
Contra o imperialismo burguês internacional e em especial contra
o imperialismo anglo-americano, na América do Sul.
Contra o terror branco internacional.
l s

om? OL, 47
É
BRDFANBSB VB.GNC.EEE.

uma ameaça de
sul-americano, criando
Contra o armamentismo
ntina
cialmente entre a Arge
sul-americanos e espe
guerra entre os povos

e o Brasil.
e em especial pela
proletária internacional
Pela aproximação

proletariado sul-americano!
aproximação do
proletária mundial!
Pela revolução

Os novos estatutos

Questões de organização

aprova, de um
- O II Congresso
A) REORGANIZAÇÃO
de fevereiro, realizada
adotadas na Conferência
modo geral, as bases
do P.C.B., desde as células
Em relação porém à estrutura
no Rio.
rme a experiência
es devem ser feitas, confo
à C.C.E., certas modificaçõ
dos Estat utos novos .
já realizada e as indicações
, a título provisório
B) - O II Congresso adota
ESTATUTOS
uto-t ipo para as Seçõe s da 1.C., elaborado pelo
e experimental, o Estat
maio de 1925.
Executivo da 1.C., a 4 de
Bureau de Organização do
primi tivos do P.C.B. A adaptação
Estatutos
Ficam, assim, abolidos os
Estatu tos será feita pelo III Congresso.
e adoção definitiva dos novos
indicadas, de-
emendas de adaptação são
Desde já, porém, algumas
do Estatu to-tip o.
s à publicação
vendo as mesmas ser junta
emendas referem-se prin-
DE SERVIÇOS - Essas
C) LINHA
ços estabelecida para o trabalho de direção,
cipalmente à linha de servi
Sete serviços especiais são
corre nte do P.C.B.
coordenação e prática
, desde a C.C.E,,
a da organização do P.C.B,
estatuídos, em toda a escal
Zona, até às células, sempre
de Região e de
e passando pelos Comitês
s; são as seguin tes: 1. Organização
as escala
que possível, nestas últim
5. Cooperativas
raria - 4, Sindicatos -
- 2. Agitprop - 3. Tesou
res. Os três primeiros
Juventudes e Mulhe
- 6. Camponeses - 7.
ção de todos os Comit ês, mesmo
forma
serviços são obrigatórios na
das células menores.
- É aprovada uma indica-
D) QUOTAS PROPORCIONAIS
mente a questão,
autorizando a C.C.E. a examinar circunstanciada
ção
a categoria de "sócios contri-
em definitivo. Fica abolida
decidindo
deve, por definição, ser
que todo aderente do P.C.B.
buintes", visto
organização de base do
ativo trabalhando nalguma
um membro

mesmo.

Movimento sindical

e difícil, mas a ela


terreno sindical é imensa
Nossa tarefa no
O trabalho sindical
o maior de nossas atividades.
devemos dedicar
método e tenacidade, sistematica-
ser levado a cabo com
necessita
teses. A hora é dos traba-
o plano esboçado nestas
mente, segundo

40
ar oraness va.onc.erE, 42 0 LLUO5 am o 04, (2: 48

lhadores intemeratos, dos militantes ativos e perseverantes, embora


modestos que empregam todos os minutos sobrantes das horas do
labor quotidiano na obra coletiva de defesa dos interesses da classe
operária.
Pela organização e reorganização dos trabalhadores!
Pela unidade nacional e internacional!

Sobre a cooperação

Atendendo a que a cooperação pode oferecer vantagens imediatas


à propaganda comunista e que, além disso, deve merecer especial
atenção do P.C. como fator importante da luta de resistência operária,
o II Congresso resolve:
a) que a CLASSE OPERÁRIA crie uma seção especial de
informações e propaganda sobre cooperação;
b) que a CLASSE OPERÁRIA publique com as adaptações de
linguagem necessárias as teses e resoluções adotadas em fins de 1928,
pela C.C.E., sobre cooperação e igualmente publique todas as resolu-
ções tomadas sobre o assunto pelo Comintern e Profintern;
d) que 0 encarregado da seção de cooperação faça circular
largamente este material entre as seções do P.C. e entre os grupos de
operários e sindicatos do país, interessados na questão;
€) que seja adotada e aconselhada a cooperação ligada ao sin-
dicato, dependendo do sindicato; '
f) que a cooperação seja não somente uma arma de resistência
à exploração econômica comercial, mas uma arma de resistência na
luta pela emancipação completa do proletariado.

A organização das juventudes comunistas


Não é preciso mais insistir sobre a importância das Juventudes
Comunistas para o movimento proletário. A importância da criação
da vanguarda dos jovens militantes é tanto maior agora, quanto a sua
organização obedecendo à mesma orientação da organização do par-
tido, isto é, sendo feita à base de células, vai conquistar os jovens
obrtÍiros e proletários dentro das próprias oficinas e locais de
trabalho.
Já na conferência da C.C.E. ampliada do P.C.B. em janeiro de
1924, foi traçado o assunto e se recomendou às seções que cuidassem
da organização das J.C.
Infelizmente, só no Rio se tratou disso e isso mesmo de modo
deficiente. No entanto, avulta, cada vez mais, a necessidade de sc
encarar a questão da organização das J.C.

41
LE4O5 om Bol (0 a
ar Dranasa va.onc.eee 220
a
menda às seções, uma redobrad
O II Congresso do P.C. reco P.C.
da e orga niza ção do
energia neste ramo da propagan e o
ular o material informativo sobr
Em tempo a C.C.E., fará circ
assunto.

Moções diversas

"A Classe Operária"


nsificar
tua a necessidade de se inte
O II Congresso do P.C.B. acen sent ido da susten-
nizações do part ido no
o esforço de todas as orga se Operária.
lmente divulgação de A Clas
tação e divulgação, principa etariado,
foi recebida no seio do prol
A aceitação geral com que ent and o de nú-
vai progressivamente aum
o nosso jornal, cuja tiragem da impr ensa comu-
prova a importân cia
mero para número, bem com o entr e as mais largas
ão e infl uenc iaçã
nista na obra de penetraç
massas.
de ajuda
e logo, como meio prático
O II Congresso indica, desd das cidades
parte, nas oficinas e fábricas
ao jornal, que por toda a comi tês pró-Classe
interior, se constituam
e fazendas e usinas do a e divu lgaç ão do nosso
mente à propagand
Operária, dedicados especial
órgão.
ao mesmo
o uma dupla importância:
De resto, esses comitês terã al torn ar-s e-ão verda-
preciosa ajud a ao jorn
tempo que serão a mais e orga niza ção
ios de propaganda, agitação
deiros instrumentos proletár las do part ido e de
a constituição de célu
- abrindo caminho para
sindicatos.
comitês de fábrica à base dos

Saudação
saúda em
ao encerrar seus trabalhos,
O II Congresso do P.C.B. espe cial aos
os de todo o mundo e em
geral a todos os partidos irmã deve cola bora r mais
com os quais o P.C.B.
partidos de toda a América, aos part idos vizi nhos
imperialismo ianq ue;
de perto na luta contra o erna l pala vra de soli-
o envi a a mais frat
sulamericanos o II Congress com os
o ao P.C.B. a necessidade de
dariedade e saudação, indicand estr eita s e afet ivas
futuro, relações mais
mesmos estabelecer, para o um, exig ida pela
de uma ativ idad e com
do que até aqui, em vista operárias e
ma luta com um em prol da emancipação das massas
mes
camponesas da América do Sul.
da América do Sul!
Viva a união fraternal dos P.C.
-
a América na luta contra o impe
Viva a união dos P.C. de toda
rialismo ianque!
mundial invencível!
Viva a I.C. unida num bloco

42
MOOLXP 50
! BRDFANBSBVBGNCEEEÉÃGLHOS
Contra a reação nacional e internacional
O II Congresso do P.C.B. prote sta sua indignação contra os
cra
manejos da reação nacional e interres. nal, que oprime e massa
nacio
centenas de milhares de traba lhado até
Desde os operários brasileiropelo s deportados para o Oiapoque Bulgá ria,
bandido Tsank ov, na
as recentes matanças chefiadas geme sob o peso da mais cínica emais
o prole taria do inter nacio nal
brutal reação burguesa que ea ohistó ria registra.
Abaixo o imper ialis mo fasci smo reacionários! Inter-
Viva a solidariedade proletária mundial, sob a égide da
nacional Comunista!
Observações sobre o II Congradas esso para orientação
dos camar
As resoluções que reproduzimos anos, do II Congresso do Partido
Comunista do Brasil, reali zado há 21 são um documento histó-
rico de inegável valor. O II Congresso do nosso Partido, como podem
ver os companheiros pelas suas resol uções, constituiu um esforço posi-e
tivo, com conclusões justas, embo rio interra forma is. Dizemos formais porqu
as perspectivas do movi ment o operá nacional eram transplan-
tadas mecanicamente para o nosso país, sem levar em consideração,
muitas vezes, as nossas condiçõesdébilespec íficas de país semicolonial.
O Partido, jovem, inexperien possibilidades degadolevardasà ampla
te, , desli s massas
-
do povo brasileiro, não tinha das. Vemos, por exemplo, comoconse práti ca,
nas
quentemente, as resoluções adota nacional, alínea III, o problema
conclusões sobre a situação não política do
dos aliados do proletariado eleme é justamente compreendido, falanem
inclusive em "neutralizar seus de procu ntos (da peque na burgu esia)
vias de prole tariz ação" , em vez rar resolutamente conquistá-
Jos. Lembremos que Lênin consirático-burguesaaliad
derav a como os do proletariado,
no problema da revolução democ , a pequena burguesia
s, que
urbana e rural, o proletariado agrícola e os camponeses pobre
constituem o povo. la época, tinha uma com-,
Por outro lado, o Partido, jáistasnaque de organização, quando exigia
preensão exata dos princípios as, lenin
para admissão nas suas fileir a auma aceitação do programa e Estatutos do,
da I.C. e do Partido, pertencer organização de base do PartiP.C.
, acata r todas as decis ões da I.C. e do
nela trabalhar ativamente quotizações. Considerava também - e
e pagar regularmente suas para a proletarização - que a célula
isto era o seu primeiro passo do Partido, devendo ser fundada com
de empresa é a base orgânica
um mínimo de três membros.
(Classe Operária, Ano I, n.o 11, 08.05.1946).
43
AO Li4Yos
(o'—Sí
sr oransse va.enc.eee £

6) A política brasileira e a atual situação do Partido (1928)


7 meses de legalidade
Foi prevendo os poucos meses de legalid ade que se sucederiam
que, em fins de 1926, a direção do Partido traçou as tarefas a realizar
em 1927.
Um novo governo se. iniciava a 15de dedezemb novembro de 1926. O
estado de sítio havia termin ado a 31 ro. Eleições gerais
deveriam realizar-se a 24 de fevereiabriria ro de 1927. A imprensa, amor-
daçada durante o estado de fazia sítio, o debate com um grau exX-
tremo de violência. Tudo ade política. E osassimprimei
supor que ros meses de
1927 seriam de completa liberd foi, efetivamente.
A direção lançou, para este períodário o, como palavra de ordem:
ampla agitaç ão de massas ! Era necess fazer surgir o Partido da
obscuridade ilegal à luz do sol da mais intens a agitação pública; era
necessário fazer com que a agitaç ão comuni sta penetrasse o mais
profundamente possíve l no seio da classe operári a; era necessário
acreditar no Partido Comunista como vanguarda decidi da da classe
zar a classe
trabalhadora; era necessário organipolítico. Previa-se que, passad trabalh adora, tanto no
terreno sindical como no terren o os os
primeiros meses de legalidade, a reação necessá se desencadeari a novam ente
contra o proletariado e seu Partido ; era rio, então, prepar ar-se
para resistir, com o máximo das forças acumuladas, aos golpes da
reação.
Para a realização dessas tarefas, rio o Partido iniciou a publicaçãoo
de um diário, fundo u o Bloco Operá e promoveu a organizaçã
de um Congresso Sindical para hoa consti tuição da Federação Sindical.
Tracemos um esboço do trabal realizado:
a) "A Nação". O Partido, com ussão. seus próprios meios, não podia
publicar um diário de grande repercmuito mais Teria que se contentar
com um semaná rio de reperc ussão limitada. Este pro-
blema estava em estudo quando um antigo jornalista liberal burguês,
que fora perseguido durante o estado de osítiodo ePartid que tinha seu diário
fechado pela censura, se dirigi u à direçã o, declarando-se
comunista e coloca ndo seu cotidi ano, que faria reapar ecer em janeiro
de 1927, à disposição do Partido. Aceit amos a oferta. E assim, no
dia 3 de janeiro de 1927, reapar ecia "A Nação ", grande vespertino,
fazendo profissão de fé comuni sta.
A existência atribulada de "A Nação " se confundiu, durante os
7 meses seguin tes, com a vida do própri o partido. O diário teve uma
enorme repercussão popular. Sem dúvid a, apareceu cheio de defeitos,
erros, deficiências inevitáveis. Politi cament e, por causas diversas, com-
plexas, invenc íveis, o diário era caótic o, desord enado, confuso. Mas,
44
"BrROFANBSS VB.GNC.EEE, BO LÁLÍOS om O0b p: 57—
apesar de tudo, realizavaintentarefa que haviamos traçamassa do: levar a pala-
vra comunista, forte e samente, ao seio das s.
b) Bloco operário. Como iro. dissemos, as eleiçõ es gerais estavam
fevere
fixadas para o dia 24 deo fizesse O Partid o devia intervi r. Era
importante, porém, que como tal, como Partid o Comun ista.
A máquina eleitoral no Brasil está completamente nas mãos da bur-
guesia. Mesmo no Rio depopul Janeiro, o eleitorado habitantes -esto:á
- aliás reduzi díssim
80.000 eleitores numa indiví ação de 1.300.000 .
organizado em torno zaçãoduos
de e não de partidos, inexistentes al, o
Não contando com organia-se a -umanemderrot experi ência - eleitor
Partido Comunista expunh a segura , caso se apte-
sentasse à luta como tal. Ademais, era necessário, de uma parte,desmas atrair
certos elementos próxi que pretendiam representar interesses prole--
mos ao comun ismo e, de outra parte,
carar alguns indivíduos
tários. tos,
A direção do Partido dirigiuaberta-se, então, a todos esses elemen ção do
por intermédio de uma carta , propon do-lhe s a forma
Bloco Operário, tendo por base um amplo progr ama de reivin dicaçõ es
concretas e imediatas paraguimo as grandes massas labori Operário bonsoosas. O projet
teve êxito absoluto. Conse maus, s atrair para o Bloco o
elementos e desmascarasermosdesmoos inclusive a um soi-disantdaPartid nossa
Socialista, cujo castelo ronou por compl eto ao sopro
agitação. o apre-
O Bloco Operário concorreu às eleições no Rio de Janeir o camar ada
sentando dois candidatos,doumsindic deles membro do Partid o,
J, C. Pimenta, dirigente ato gráfic o, e outro, Azeve do Lima,
antigo político pequeno-burguês, simpat izante do comunismo e que
possuía um forte eleito rado organi zado, havendo já sido eleito nasde
eleições anteriores. Azevedoe Lima fizera declarações terminantes
adesão ao Bloco Operário de aceitação do programacomum do mesmo;
mos
nessas condições, entranunca na campa nha eleitor al em , reali-
zando uma agitação vista na história do prolet ariado brasi-
leiro. O resultado das eleiçõ es de 24 de fevere iro foi promis sor:
Azevedo Lima eleito com pela uma boa porce ntage m de votos e Pimen ta
conquistando, unica mente agitaç ão, uma boa quant idade de su-
frágios.
Em suma, a campanha doqueBloco Operário constituiu-se num
êxito completo para o Partido, conseguiu, com ela, todos os ob-
jetivos buscados.
ce) Congresso Sindical e F.S.R.pela R. - Desde meados de 1926 quee
Comit
o Partido havia criado um Comitê foi ê C.G.T., com apoio de grando
parte dos sindic atos. A este entregue especialmente
trabalho de preparação e convocação do Congresso Sindical regional,
concentrando-se nesse trabalho todas as forças do Partido. Pelas co-
45
BR DFanBSB va.onc.ecE. 1405 P. 35

lunas de "A Nação" fez-se propaganda diária do Congresso. Este


se reuniu durante a última semana de abril, encerrando-se solenemente
a 1.o de maio.
Participaram do Congresso quase todos os sindicatos do Rio e
cidades vizinhas: tecidos, marinheiros, cocheiros e carroceiros, grá-
ficos, padeiros, garçons e cozinheiros, carpinteiros navais, calçados,
operários municipais, veículos de Niterói, alfaiates, ferroviários (ofi-
cinas), marceneiros, cervejeiros, tecidos de Petrópolis, construção ci-
vil de Niterói, metalúrgicos de Niterói, metalúrgicos do Rio, e outros
menores, representando um total de 30.000 operários.
Além das delegações dos sindicatos, participaram do Congresso
representantes das minorias sindicais da Construção Civil do Rio,
chofer e barbeiros e, também, diretamente, delegados de 9 fábricas
de tecidos, 2 fábricas de calçado, 5 estaleiros, 3 usinas metalúrgicas,
fábricas de móveis, estabelecimentos gráficos etc. representando um
total de 12.000 operários.
Todas as teses, informes e resoluções aprovados pelo Congresso
foram redigidos e defendidos pelos comunistas, amplamente discuti-
dos e aprovados quase sempre por unanimidade. Fundou-se, com
grande entusiasmo, a Federação Sindical Regional do Rio, tendo o
Congresso eleito um Conselho Federal de 25 membros, dos quais 18
são comunistas.

Novas diretrizes

A readaptação das atividades do Partido, contudo, teve de se


fazer não somente no terreno da organização, mas principalmente
no terreno político. Terminada a etapa da legalidade, durante a qual
a tarefa fundamental do Partido havia consistido em um amplo tra-
balho de agitação entre as massas, uma nova etapa se abria, em con-
dições totalmente diversas, para a qual se fazia necessário traçar novas
diretrizes para orientar e dirigir a luta posterior.
Como quer que fosse, os objetivos visados pela direção e esta-
belecidos para a etapa precedente foram em boa parte alcançados.
O Partido Comunista era então conhecido pelo grande público; afir-
mava-se na arena política do país como um fator com o qual se devia
contar. Se bem que forçados a nos retirar para a vida ilegal, o
presente era nosso; nós o haviamos conquistado em meses de rude
batalha. Era necessário cuidar do futuro, ampliar as perspectivas e
horizontes da luta. O Partido necessitava de um amplo plano estra-
tégico de ação, sobre cuja base deveria traçar a linha de sua tática
política a ser aplicada concretamente em cada momento. A este tra-
balho se entregou a direção.

46
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 93 3,0 L “105% wi l () ,SLÍ

Aliança com a vanguarda da pequena burguesia


começado
Já nas últimas semanas da luta contra a reação, havia
do Partid o, a idéia de uma alianç a com a
a cristalizar-se, no seio os
encab eçara
vanguarda revolucionária da pequena burguesia que muito
Nesse momen to
movimentos revolucionários de 1922 e 1924.
grandes simpatias
se falava do "Kuomintang" chinês, que despertava
tanto entre os trabal hadore s como entre os eleme ntos revolucionários
da pequena burguesia. Pelas colunas de "A Nação ", um tanto preci-
Pelo Kuomi ntang brasile iro! Esta
pitadamente, foi lançada a sugestão:
precip itadam ente lançad a a públic o, não teve
palavra de ordem, assim
a aprov ação da direçã o do Partid o. Mas a eventu alidad e de uma
palavra de ordem semelhante era perfei tament e aceitá vel; o que se
fazia necessário de imedia to era proce der a um profu ndo exame do
a conex ão com os demai s probl emas que interes -
problema, em estreit
ada do C.C,,
savam ao Partido. Foi convocada uma reunião ampli
ndo-se
dela participando uma dezena de militantes responsáveis, decidi
então provocar o debate nas organi zações de base do Partid o. Foram
in-
remetidas circulares a todas as células, usando-se o termo "Kuom
que como fórmu la da
tang", mais por comodidade de expressão do
, aprov eitan do as facili dades que
aliança sugerida. Ao mesmo tempo
camara-
nos oferecia um diário burguês de esquerda, um de nossos
série de artigos
das, a título pessoal, iniciou a publicação de uma longa
explicando a situação.
do ma-
Isto foi em agosto. Mas somente em outubro, de posse
das célula s, inicio u o C.C. o debate
terial de discussão proveniente dis-
o ou cinco sessõe s foram realiz adas para essa
do assunto. Quatr
uer forma que fosse,
cussão especial. A idéia de aliança, sob qualq
fo Couti-
foi combatida por um só membro do C.C., o doutor Rodol
im Barbos a. Este, na votaçã o, abs-
nho, em parte apoiado por Joaqu
do todos os demai s a favor, com exceçã o do doutor
teve-se, votan
Coutinho, que votou contra.
redigida
A justificação teórica, em detalhe, dessa discussão, foi
ho "O prolet ário frente à revo-
pelo camarada Brandão em seu trabal
no-bu rgues a". Apres entar emos aqui apenas
lução democrática peque
ções princi pais, de forma esquem ática, das razões e conclu-
as indica
sões finais a que chegou o C.C. depois das discussões,
a Prestes,
a) A revolução de 5 de julho, continuada pela Colun
ompida . As condiç ões que a deter-
não foi vencida. Está apenas interr nuam
iram seu desdo brame nto de 1924 a 1926 conti
minaram e permit
existindo na base da situação objetiva do país.
criou um ver-
b) Movimento de grande repercussão popular,
cionár io nas mais ampla s camadas
dadeiro estado de espírito revolu ganda
de espíri to manté m-se pela intens a propa
do povo, e este estado
dos ideais e fatos revolucionários.
47
55
ar oranBss 30 11405 em

c) A luta revolucionária, pela lógica de seu próprio desenvol-


vimento, tende a "esquerdizar-se" cada vez mais. Isto se verificou de
1922 a 1924 e de 1925 a 1926.
d) O programa da revolução de 5 de julho apresenta certos
pontos de contato com o programa econômico da revolução pequeno-
-burguesa do México. Seu conteúdo político, democrático e liberal,
tem por base o restabelecimento das garantias constitucionais de 1889
abolidas pelas diversas e sucessivas leis de exceção e pela revisão
constitucional de 1926. Isto significará para os trabalhadores, pelo
menos, a possibilidade legal de organização e propaganda revolucio-
nária.
e) A revolução de 5 de julho triunfante marcará incontestavel-
mente uma etapa progressiva nas condições políticas do país, até hoje
governado e oprimido pela fração mais reacionária da grande bur-
guesia.
f) Os revolucionários simpatizam particularmente com nossa
um
luta contra o imperialismo, se bem que sua simpatia parta de
ponto de vista patriótico e nacionalist a.
g) A situação econômica e política do país, objetivamente exa-
minada, faz prever uma conjuntura francamente revolucionária, que
resultará da coincidência dos seguintes fatores: 1) crise econômica
resultante de uma catástrofe na política cafeeira (a subida de Hoover
à presidência dos E.U.A. favorecerá este fator); 2) crise política vin-
culada ao problema da sucessão presidencial no Brasil (1930); 3)
possibilidades de uma repetição de um novo 5 de julho.
h) Frente à provável 3.a revolução, que tomará proporções mui-
to maiores que as de 1924/26, não é de supor que as massas traba-
lhadoras se mantenham indiferentes ou neutras e muito menos que
combatam contra os revolucionários. Nessas condições, o dever do
Partido Comunista consistirá em colocar-se à frente das massas, pro-
curando conquistar não somente a direção da fração proletária, mas
a hegemonia de todo o movimento.
i) Sem dúvida alguma, entre os militares revolucionários existe
uma direita com uma tendência filofascista. É um perigo real que
não devemos desconhecer, ao contrário devemos encará-lo de frente,
para vencê-lo melhor. No nosso entender, a intervenção decidida do
Partido Comunista no movimento, em estreita aliança com os revo-
lucionários pequeno-burgueses, na 1.a fase do movimento, na luta
comum contra o inimigo comum, pelo menos dificultará e poderá
vencer com maior facilidade essa tendência fascista.
j) Toda e qualquer aliança entre o Partido Comunista e a van-
guarda revolucionária da pequena burguesia somente poderá ser rea-
lizada tendo por base as seguintes condições: 1) completa indepen-
dência e autonomia do Partido, antes e durante o movimento; 2) com-
pleta liberdade de organização e propaganda para o Partido durante

48
br oranese 820 [1409 MOOL- ("5ª
o movimento; 3) liberdade de crítica durante o movimento, paraõeso
Partido e sua imprensa; 4) aceitação do programa de reivindicaç
imediatas sustentado pelo B.O.C.; 5) trabalho preparatório, paralelo
e convergente, desde já, do Partido e do Comando Militar revolucio-
nário, estabelecendo-se um mínimo de ligação estritamente controlada,
entre as duas direções; 6) representação do Partido no E.M. revolu-
cionário durante a luta; 7) armamento do proletariado e formação de
unidades proletárias de combate.
As tarefas atuais
Além dessa resolução sobre a questão específica da aliança com
os revolucionários da Coluna Prestes, outros problemas políticos fo-
ram debatidos, tendo o C.C. resolvido a concretizar uma série de
palavras de ordem e as tarefas a serem realizadas pelo Partido no
período seguinte.
Em Boletim enviado a todas as células e grupos locais, às reso-
luções do C.C. foram levadas ao conhecimento do Partido, em fins
de dezembro de 1926. Eis aqui o resumo dessas resoluções:
1.o) Organizar ligas contra o imperialismo.
2.) Realizar a frente única sindical.
3.) Lançar a iniciativa de organizar ligas operárias no inte-
rior, incluindo trabalhadores urbanos e rurais.
4.o) Exercer influência sobre as organizações de arrendatários
pobres, pequenos lavradores, funcionários de baixa categoria, empre-
gados inferiores e pescadores, fazendo propaganda, entre essas orga-
nizações, por meio de palavras de ordem concretas e adequadas a
cada categoria.
5.o) Desenvolver e sistematizar a atividade dos blocos ope-
rários e camponeses no Rio de Janeiro, promover sua organização
em todos os Estados, sob controle do P.C,
6.o) Vivificar as organizações regionais do P.C.
7.o) Publicar um órgão central para as massas ("A Classe
Operária"). * * 3
Já mostramos, anteriormente, os diversos aspectos São, que
0 processo da industria lização da economi a nacional. por um
lado, as exigências da técnica moderna, que penetram nas ndo fazendas
de café e nos engenhos de açúcar, concentrando e mecaniza cada
vez mais a produção. Por outro lado, são as próprias tendência s de
desenvol vimento da indústria fabril e urbana. Observa mos que esta
indústria aumenta de importância, cada ano, principalmente na região
do café, São Paulo; são os mesmos grandes fazendeiros e proprietários
de terra, nadando em ouro, que se trasladam para as cidades e ali
intervêm nas indústrias, nos bancos, no comércio, com os capitais
49
/a 00 b0 SP
ar oraNBSO va ane less DF

acumulados na exploração do solo. Todo grande industrial paulista,


ro
mineiro ou fluminense, é quase sempre, ao mesmo tempo, fazendei
e proprietário de terras.
nte
Este processo de diferenciação econômica - duplo e converge
reagrupa mento de forças que é
- acarreta, como consegiiência, um
de perto. Pensamos não nos equivoca rmos ao
necessário observar
estabelecer os seguintes pontos básicos deste processo:
a) Choque de interesses entre o capitalismo industrial e urbano,
mo
cujo desenvolvimento se acelera de ano para ano, e o capitalis
agrário, dominad or absoluto do país;
das in-
b) Exploração intensificada das massas operárias, seja
dústrias urbanas, seja das plantações de café, açúcar etc.;
c) Pulverização e proletarização da pequena burguesia urbana
e rural, por efeito da concentração da indústria e da agricultura;
acordo
d) Tendência, mais acentuada nos últimos tempos, até um
capitalismo
tácito entre os interesses do capitalismo agrário e do
industrial.
complexos e
Em suma, todos esses fenômenos, extremadamente
cujos fatores determin antes devemos incluir os de origem inter-
entre
dão origem a
nacional (guerras, conflitos imperialistas, revoluções),
geral que caracteri za a situação social
uma situação de instabilidade
no Brasil nestes últimos tempos. Graves aconteci mentos
dominante
num
resultaram disso e ainda mais graves resultarão provavelmente
futuro não muito remoto.

As Revoluções de 1922 e 1924


foram mais
Os movimentos revolucionários de 1922 e 1924 não
Aparec iam na superfí cie como a
que a expressão de tais fenômenos.
tentam entos popular es general izados. Entretanto,
explosão dos descon
fundo, respon diam a causas objetiv as de importâ ncia muito mais
no
de ambos
sérias do que aquelas que lhes davam os próprios chefes
os movimentos.
(para
Analisemos, de forma sumária, seus aspectos essenciais
Mayer.
maiores detalhes, leia-se o livro de nosso camarada Fritz
Agrarismo e Industrialismo).
1) A revolta militar de 5 de julho de 1922, no Rio de Janeiro,
explorou a continuação de um período de intensa agitação política
democrática e popular contra a política reacionária e conservadora
dominante. O movimento foi rápida e brutalmente esmagado, mas
determi-
abriu um sulco profundo na opinião pública. Suas causas
uavam atuando , subterr aneamen te, e um segund o movi-
nantes contin
mento era considerado inevitável.
2) No dia do segundo aniversário da revolta de 1922, 5 de
julho de 1924, gdeclarava-se a revolução em São Paulo, encabeçada

50
82 01 1 405 B
sr pransse
Com a
pelos mesmos elementos militares da Revolução de 1922.
o no movime nto do Rio de Janeiro, dois anos
diferença que, enquant
circunsc rito apenas a algumas unidade s da guarniç ão militar,
antes,
mais
fora esmagada em três dias, o movimento de São Paulo, muito
domina ndo a segunda e mais rica cidade do
amplo, durou 20 dias,
com o apoio e a simpatia da populaç ão em geral. Contra ele
Brasil,
deviam concentrar-se todas as forças reacionárias do governo federal
e dos governos provinciais.
legalistas,
3) Retirados de São Paulo, sob a pressão dos canhões
onários se dirigira m até o sul do país para se reunire m com
os revoluci
iniciou, pouco depois,
ias forças rebeldes do Rio Grande do Sul. Aí se
o formidável "raid" da chamada Coluna Prestes, que se internou
ando,
pelo resto do país, em direção ao norte, invadindo e atravess
dois anos, 10 Estados e fazendo um percurso total de 25 mil
durante
oficiais em
quilômetros. Perseguida incessantemente, pelas forças
Prestes, realizan do uma rapidíssima
número muito maior, a Coluna
tos, não foi jamais vencida e combate u até o fim
guerra de movimen
o
do governo Bernardes, internando-se voluntariamente em territóri
de 1927. Menos que objetivo s
estrangeiro (Bolívia) nos primeiros dias
"raid"
propriamente militares - este fato é da maior importância - o
as
da Coluna Prestes visava objetivos de ordem política: sacudir
massas populares do campo e manter vivo, amplian do-o cada vez mais,
o sentimento revolucionário do povo em geral.
4) A maioria absoluta dos militares que participaram dos dois
movimentos compunha-se de oficiais de baixa graduação. Por sua
origem e por suas condições mesmas no seio do Exército, os tevo-
à camada
lucionários de 1922 e, mais ainda, os de 1924, pertenciam
da pequena burguesi a à qual estão diretam ente ligados por mil laços
os
de interesses e de sangue. Entre a população civil, muitos element
da pequena burguesia particip aram, de uma ou de outra forma, do
movimento revolucionário.
5) Nenhuma participação direta teve o proletariado na revolta
movi-
de 1922. Entretanto, em 1924, em São Paulo, esboçou-se um
de caráter econômi co, verifica ndo-se uma
mento elementar de massas,
crescent e de assaltos aos depósito s de víveres. O movimen to
série
que poderia ter alcançado proporções grandiosas e decisivas no desen-
proletariado
rolar dos acontecimentos. Intervenções episódicas do
verificaram-se mais tarde, especia lmente em Pernamb uco, quando por
passou a Coluna Prestes. No Rio de Janeiro, nosso Partido man-
ali
a, mas pronto a
teve-se alerta, sem poder tomar nenhuma iniciativ
ia específi ca, em qualque r movimen to
participar, como força proletár
de massa que se declarasse.
bur-
6) Em São Paulo, durante a Revolução de 1924, a grande
o - desempe nhou um
guesia liberal - da indústria e do comérci
importante papel no sentido de tirar para si 0 máximo de proveito

54
,(; 54
320 L L
ar pransse ve.enc.ece,

de suceder no poder
do movimento - sem excluir a pretensão
anto, quando começaram
burguesia agrária e conservadora. Entret
s de assalt o aos armaz éns de víveres,
se produzir as manifestaçõe
, que até esse momen to procu rou mostra r-se "neutra
burguesia liberal
a maior pressão sobre
frente aos revolucionários e aos legalistas, fez
buiu em parte para a retirada das
os revolucionários, o que contri
forças rebeldes.
l dos movimentos
Podemos sintetizar assim o caráter fundamenta
a expres são militar de
revolucionários dos dois 5 de julho: foram
zido pela instab ilidad e econômica
um estado latente de rebeldia produ
olou-s e, em suas primei ras etapas (1922- 1924),
e social do país; desenr
o de um agrup ament o da burgue sia liberal e a pequena
no sentid
conservadora; depois
burguesia contra a grande burguesia agrária e
na Prestes , 1925-1 926), prosseguiu num
de sua terceira etapa (Colu
vez mais popula r, tende ndo a agrup ar à pequena bur-
sentido cada
a grande burguesia
guesia e à massa trabalhadora em geral contra
mente , o movim ento pequen o-bur-
agrária e industrial aliadas. Atual
um perío do interm ediári o - e pacífi co - entre
guês encontra-se em
a defini tiva com a burgue sia liberal e uma aliança mais es-
a ruptur
revolucionária
treita com o proletariado. É claro que uma situação
so; e é esta a perspe ctiva prováv el que se nos
apressará este proces
apresenta ante os olhos...

Solução pacífica e solução revolucionária


sia aprendeu com
Como se compreende, também a grande burgue
deu a extrair as circuns tâncias convenientes
os acontecimentos. Apren
para seus interesses.
do processo de transfor-
Já vimos que uma das características
al é o da industrialização
mação que se verifica na economia nacion
a do café, marcando uma tendência
técnica e orgânica da grande cultur
lismo de estado. Isto ocorreu contemporanea-
visível para o capita
ia fabril. Aparecem assim
mente com o desenvolvimento da indústr
amorte cer os choques de inte-
as condições objetivas que permitem
agrári o e o capita lismo industrial.
resses entre o capitalismo
e suas reperc ussões criaram as condições
A revolta de São Paulo
da revolta, ocupada a cidade
subjetivas no mesmo sentido. No início
paulistas - alegando neu-
pelos revolucionários, grandes industriais
situaç ão de "fato" - aproximaram-se dos
tralidade diante de uma
este, em caso de vitória,
chefes do movimento e tudo fez «supor que
e liberal. Mas a burguesia
seria aproveitado pela burguesia industrial
ameaça s de ação popular nos bairros
liberal, diante das primeiras
o grito de alarma , apavor ada com o "perigo bol-
operários, lançou
ento poderia fazer "de-
chevique", que com a continuação do movim
generar" a revolução. . .

52
Br ese, $2 044 405

a de amor-
Os acontecimentos posteriores confirmaram a polític
ses entre as duas facções da grande
tecimento do choque de interes
l. É a polític a de "soluç ão pacífic a" dos problemas
burguesia naciona
a expens as das
nacionais. Solução "pacífica", bem entendido que
massas trabalhadoras.
ramos:
Como expressão visível dessa política encont
amente depois da
1) A fundação do partido democrático, precis
Paulo. Basea do numa pla-
Revolução de 1924 e precisamente em São
em forma superd emagóg ica, o P.D.
taforma liberal e democrática,
fileira s e mante ve sua influê ncia sobre grande s mas-
atraiu para suas
classe operár ia. Entre-
sas populares, da pequena burguesia como da
burgue sia e toda sua ativi-
tanto, sua direção está em mãos da grande
de soluçõ es pacífi cas: a instit uição do voto
dade encara a aplicação
panacé ias do mesmo gênero . Seu lema é o seguinte:
secreto e outras
ental destinado
"representação e justiça". Palavrório sonoro e sentim
pura e simplesmente a amorte cer o descon tentam ento da massa po-
mesmo tempo, em sua qualid ade de braço esquerdo da
pular. Ao
ascender
burguesia, o P.D. prepara-se, a favor das circunstâncias, para
te" o braço direito , conser vador e
ao poder e suceder "pacificamen
reacionário, que se acha no govern o. '
2) A estabilização da moeda, ponto central do programa admi-
nistrativo e político do atual governo que é, e não por casualidade,
paulista; a estabilização promovida por decreto de dezembro de 1926
e realizada sobre uma dupla base: um grande empréstimo externo de
consolidação e com pressão artificial do câmbio mantendo baixa a
taxa. Tal processo de estabilização, mantido com câmbio envelhecido,
significa estabilização de uma moeda desvalorizada frente à moeda
estrangeira que favorece, portanto, aos exportadores de café e aos
industriais.
Aliam-se assim as dua: grandes facções da burguesia nacional,
procurando dar "solução pacífica" aos problemas que agitam o país.
Mas esta "solução pacífica" satisfará também a pequena burgue-
sia? Não é concebível visto que a estabilização em baixa traz como
primeira consequência o agravamento da carestia da vida. As palavras
sonoras do P.D. não conseguirão melhorar estas condições. Por outra
parte, a vanguarda revolucionária da pequena burguesia (militares e
civis) continua preparando a terceira revolução... Ela não aceita
a "solução pacífica".
o chefe
Eis aqui o que declarou, a este respeito, recentemente,
militar indiscutível da revolução:
"Não existe solução possível para os problemas brasileiros den-
senão
tro dos quadros legais vigentes. A questão não é de homens,
que
de fatos, isto é, de sistema e regime. Nenhum governo, ainda
do mundo, poderá, nos limites da
animado das melhores intenções

53
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 2201 405 om Obi ( (1,611-
legalidade normal, resolver os probl emas nacionais que se apresentam.
É preciso quebrar, resolu tament e, as cadeias que oprimem o Brasil
e imped em seu desenv olvime nto posteri or. Tudo isso somente poderá
ser alcançado pela Revolução."
Conferência de Organização
Traçadas as tarefas políticas seaplicafazia necessário melhorar a má-
quina do Partido, instrumento de a queçãohavia das resoluções tomadas.
Especialmente a situação desast rosa chegado a F.S.R.R.,
exigia medidas urgent es e enérgi cas. Assim é que em fins de janeiro,
o C.C. convocou para o mês seguin te uma conferência de organiza-
ção com o propósito de examinar os problemas de organização das
células, das facções sindica is e da F.S. do C.R. e dos diversos C.Z.
responsáveis pelo trabal ho de organi zação no Partido e na FSRR.
A conferência procedeu a umtoman exame severo das falhas e erros
verificadas no trabalho anterior, e no sentid do medidas práticas no sen-
tido de emendá-las e especialment o de vivificar a atividade
da F.S.R.R. Estas resolu ções foram public adas no Boletim Regional
de março e distribuídas a todas as organi zações básicas, sendo, desde
logo, iniciada a aplicação pelos divers organismos.
os
Oposição malograda
As resoluções da Conferência dede Organi zação ofereceram o pre-
texto para o surgimento inesperado a.umaEste, queãoeraencabe
oposiç çada por
um membro do C.C., Joaquim Barbos no C.C. pre-
cisamente o dirigente da seção sindica l - e que nessa qualid ade ti-
nha participado da conferência, meio votando a favor das resoluç ões ali
aprovadas - desligou-se, por aos membr de uma carta, do C.C. e a
seguir dirigiu uma Carta Aberta os do Partido, passando
por cima de todas as norma s de discipl ina apesar da prudência e
das garantias que lhe ofereceu eoatéC.C.elogiadA Carta Aberta - que desde
logo foi fartamente explorada - não contin a pela imprensa burguesa,
pelos reformistas e anarqu istas ha senão uma crítica
virulenta, agress iva e negati va contra a polític a sindical preconizada
pela direção do C.C. do Partido.
A atitude de Joaquim Barbosa produz iu o efeito de um imã,
atraindo em torno de si todos os elemen tos descon tentes, em sua maio-
ria intelectuais pequen o-burg ueses, incomp reendi dos e intrigantes. Ou-
tro membro do C.C., o Dr. Rodolfo ndo Coutinho, també m se desligou
do mesmo e se uniu a Barbosa, inicia então o mais ativo trabalho
divisionista.
O C.C., desde o primeiro momento da ruptura de Barbosa, pro-
cedendo com a maior serenidade e ao mesmo tempo com a maior
54
BR DFaNESS 20 LEO S Ca 00! rp 49

firmeza na defesa da disciplina e da integridade do Partido, resolveu


levar a questão à massa dos filiados, abrindo um amplo debate não
somente em torno da política sindical, mas também de todas as ques-
tões que interessavam ao Partido, as que deveriam ser discutidas a
fundo até o III Congresso Nacional a realizar-se dentro de alguns
meses. Um órgão especial de discussão, Autocrítica, foi criado para
esse fim.
A oposição, depois de algumas semanas de intensa atividade di-
visionista e utilizando vergonhosos procedimentos de luta, não aceitou
a discussão dentro do Partido, não teve coragem de enfrentar as
forças sadias do Partido; um mês depois da publicação da Carta
Aberta seus componentes, em número de 46, desligaram-se do Par-
tido. Uma dezena de operários, bons companheiros desviados mais
por influência pessoal dos chefes da oposição do que por razões de
ordem política, estavam incluídos entre os 46 desertores. Mas a
maioria destes se compunha de intelectuais pequeno-burgueses (7),
pequenos patrões (3), artesãos (10), ex-anarquistas (18), sendo mais
da metade deles novos no Partido (16 filiados em 1927 e 8 em 1926).
A direção prosseguiu a discussão. Todos os documentos apare-
ao
cidos de parte a parte durante a luta faccionista foram levados
conhecimento das células e organizações locais. Todos os membros
do Partido foram convidados a participarem do debate sobre todas as
questões de qualquer natureza de interesse para o mesmo, formando-
-se de tal maneira o mais completo material para o III Congresso.
emente
A exceção dos 46 demissionários, todo o Partido, unanim
e apoiou a linha seguida pelo C.C. na luta contra a oposição.
aprovo u
resoluções e
No número 3 de Autocrítica publicou-se uma série de
as à direção pelas organiz ações de base.
moções neste sentido remetid
o desertor a
Segundo informações mais ou menos exatas, a oposiçã
purame nte cultural , realiza ndo
procurava organizar-se sobre uma base
teórica,
cursos doutrinários, talvez publicando alguma pequena revista
que através de suas páginas os 7 sábios que a dirigiam terão oportu-
e amplitude
nidade de mostrar aos pobres operários a profundidade
.. Pensam os que semelha nte ativi-
de seus conhecimentos científicos.
de vista político , nenhum a consegi ência grave acar-
dade, do ponto
retará ao comunismo!
Todos os documentos relacionados com a oposição, estão contidos
de
nos n.os 3 e 4 do Boletim Regional e nos números já publicados
Autocrítica. É fácil consultá-los e verificar sua importância. Prescin-
dimo-nos assim de maiores detalhes.
(Astrojildo Pereira, A Situação Política (1928); Síntese
da Política Atual (1928); A Situação Atual do Partido
(1928), La Correspondencia Sudamericana, 15 e
30.09.1928).

55
0LL405 om G5
ar pranasa valenc.ese, 32

7) A cisão de 1928

Uma explicação preliminar


que o primeiro passo que
Para tomar a presente atitude julguei
. do Partid o. Foi o que fiz por
tinha a dar era desligar-me da C.C.E
expli quei os motiv os da minha renúncia.
meio de uma carta, na qual
dava a entender não
Recebi, em resposta, uma outra que me
em que me encontrava de
haver a C.C.E. compreendido a disposição
ros do Parti do, pondo de parte
dirigir-me diretamente aos memb
s entre mim e a C.C.E .
quaisquer démarche
eci certos detalhes omi-
Respondendo, frisei este ponto e esclar
ira carta.
tidos involuntariamente na minha prime
ou melho r, um ultimato a que deixei
Recebo de novo uma carta,
r que ele nem seque r tinha sentido, atento o
de responder por julga
.
teor das duas cartas que enviei à C.C.E
Pense i em publi car esta corre spond ência. Deixei, porém, de
rem detalhes que, no mo-
fazê-lo em virtude dos seus termos conte
. inter essam . $
mento, só a mim e à C.C.E
rer da discu ssão a isso me obrigar.
Fálo-ei se o decor

A lei de férias
R
referência à questão sindical,
A falência do bom senso, com
. do partido com a chamada lei
começou a se fazer sentir na C.C.E
de férias.
com o ampliamento do pri-
A que visou o governo Bernardes
Henrique Dodsworth que,
meiro projeto da autoria do deputado
aos empr egad os no comércio com 15
para efeitos eleitorais, acenava E
dias de férias anualmente? r,
nto contr a a revol ta milita
Bernardes, que lutava naquele mome
amea çand o esten der-s e pelas cama das populares, punha em sério
que,
a que aludi, um bom meio de,
perigo o seu governo, viu no projeto
aos proletários das indústrias,
estendendo as suas supostas regalias
que cada vez mais o afastavam
contrabalançar o círculo das antipatias
das massas.
perfeitamente a coberto de
Armado do estado de sítio, sentia-se
resse de uma participação séria
qualquer perigo que porventura decor
da lei.
dos trabalhadores na regulamentação
esso ampliem a lei e
Manda que os seus áulicos no Congr
Cons elho Nacio nal do Trabalho para que
entrega-a, em seguida, ao
a regulamentasse.
tia o sítio, não trepidou
Este, crente na impunidade que lhe garan
"asso ciações interessadas"
em representar a comédia do convite às
que a lei, ao invés de regulamentada
para as famosas sessões em

56
05 om oob ;p. G4
sr oranass ve:.GNC.EEE, $20 LL4

segundo o interesse dos trabalhadores, foi revogada mercê de um


regulamento capcioso e inexequivel.
"
A comédia foi precedida de um prólogo: o pedido de "sugestões
aos sindicatos . Iniciei a política que se me afigurou mais coerente
"
com um partido que não seja reformista, isto é, redigi "sugestões
para diversos sindicatos, a serem enviadas ao Conselho, nas quais
reivindicamos para os sindicatos o direito de fiscalizar a execução
da lei além de outras exigências que sabíamos inaceitáveis pelos
bonzos do Conselho, mas que eram as únicas garantias da lei.
Vi que o estado de sítio não nos permitia realizar um trabalho
positivo dentro do Conselho e nesse caso a nossa representação
colocava-nos na posição de cúmplices daqueles mistificadores e foi
esse o nosso papel e preparava a luta fora do Conselho contra as
suas mistificações.
Com surpresa minha verifiquei, mais tarde, que não era esse
sem a
o pensar da maioria da C.C.E. Pelo contrário, esta aprovou
menor consideraç ão pelas minhas ponderaçõ es, a adesão de todos os
sindicatos, sob nossa direção, às sessões do Conselho.
Vejamos, porém, o motivo invocado pelos defensores da parti-
cipação. Alegavam eles que, constando do anteprojeto publicado um
artigo que obrigava o operário a ser identificado por meio de uma
caderneta controlada pela polícia, cumpria ao Partido salvaguardar os
trabalhadores desse vexame, O resto, se fosse aprovado, não teria
grande importância. Mesmo que fosse necessário transigir em outras
questões para salvar esta conquista, que assim se fizesse.
A qualquer cidadão que não houvesse perdido a bola, ocorreria
logo a seguinte conclusão: se o número de representantes operários
não sobrepujasse o dos patrões, estaria mais do que visto que estes
não fariam nenhuma concessão aos trabalhadores, senão por bene-
volência. E foi isso exatamente o que se deu. Com exceção de um
descuido das delegações patronais (descuido que repararam, logo no
dia seguinte), a nossa ação naquelas reuniões nada decidiu, salvando-
-se apenas de todos aqueles esforços os protestos enérgicos que por
iniciativa própria tomaram alguns dos nossos delegados.
Deduz-se que o nosso papel, nas reuniões do Conselho, foi pior
do que o de simples expectador: foi o de comparsas da comédia
ignóbil, o de colaboradores desse mistério que é o regulamento da
lei de férias.
Argumentava-se, para justificar a participação, com uma página
de Lenine na qual este diz que os comunistas não devem temer os
compromissos. Mas é forçoso convir que os compromissos só devem
ser efetuados, quando possam trazer resultados aos trabalhadores.
Além do que, no caso, o argumento não procedia, porque nem sequer
se podia classificar a questão como compromisso.

57
E, 32 0 LLX 03 Wool“ º (69
sroranese ve.enc.eE

Tratava-se de coonestar uma fecha mistificação com a cumplicidade-


das associações operárias, algumas das, outras sem vida, manie
tadas pela ditadura policial.
Se tivesse a C.C.E. optado pela parti cipação com o fim de sabotar
a obra mistificadora do Conselho, desmo ralizando-o mesmo no seio
das suas sessões, mostr ando ao prole taria do o atentado que se plane-
java naquelas assembléias de operá rios e patrões com as regalias da
lei de férias, se essa fosse a sua decisão, se bem que eu ainda votasse
contra ela - por julgá-la um sacrif ício inútil, dadas as condições
do momento - então poder -se-i a suste ntar uma tal participação, por-
que os resultados positivos dos probls emas que se propunha a resolver
que
eram os efeitos das suas campanha sentido revol deve m visar sempre à edu-
cação das massas traba lhado ras num ucionário.
Dizia-se tamb ém que aquel a minh a irred utibi lidade, era fruto,
por um lado, de resquícios do anarquismo e por outro lado de um
inconsciente comunismo de esque do Conselho à participaçseão com-
rda. Em segui da, procu rava-
dos
parar a participação nas reuniõesês. y
comunistas no parlamento burgu
Não há absolutamente analogia, como poderei demonstrar: pri-
meiro, porque, se no parla mento pode um comunista apresentar pro-
jetos, defendê-los e mesmo fazê-suas lo aprovar, toda a sua ação, todos
os seus argumentos, todas as palavras se projetam além do
parlamento até as massas operárias. Além disso o trabalho positivo
do representante comun ista no parla mento é exatamente a tarefa de
mostrar a inutilidade da sua exist ência. Segundo, porque, aprovei-
tando-se das imunidades, pode uminfor representante comunista fazer as
massas trabalhadoras não some nte madas dos seus interesses, como
também agitá-las, torná-las aptas a parti cipar, como classe, no choque
de todas as questões que lhes afetam. férias?
Era este o caso na questão da lei de
Positivamente não. m
Nem os delegados tinham imuni dades, nem seus discursos seria dade
publicados para chegar até as critér massas, nem sequer teria m liber
para se exter nar segun do um io revolucionário, em virtude do
estado de sítio.
Conclui-se de tudo issodizerque a mesma participação constituiu um
passo mal dado, para não um desvio.
A idéia da C.G.T.
Foi ainda em consequência dasadereuni ões do Conselho que alguns
ão
camaradas conceberam a possibilid da fundação da Confederaç
Geral do Trabalho.
Empolgados por uma . imagi2 nária unidades de vistas entre Os
delegados das associações operárias que se fizeram representar, viram
58
Br Va.GNC.EEE, Só L 4OS dm 0061 (i 66

diante. Chegaram
que era aquela a oportunidade de levar a obra por
ivas mais absurda s, esquec idos de que o II
a fazer as estimat
do acurad amente a
Congresso do partido havia, depois de ter analisa
o, traçad o o plano de trabalho
situação do nosso movimento operári
terreno sindica l, o único plano aliás compat ível
a ser realizado no
com o meio em que
não só com os nossos recursos como também
atuamos.
trabalho iniciado pela seção
Aqui se faz mister recapitular o
mento às teses adotadas pelo Congresso.
sindical do partido em cumpri
Niterói com os do Distrito
Procurando unificar os sindicatos de
ção Operár ia do Estado do Rio, uma
Federal, convocou a Federa
aquilo era obra nossa, fizemos
reunião para tratar do assunto; como
se fizessem representar. De
com que os sindicatos sob nossa direção
(vinte e tantas) , que participaram da
fato, o número de associações
prever resulta dos bastant e satisfatórios. Além
primeira reunião, fazia
projeto, submetido a apre-
disso, ficamos autorizados a redigir um
constit uído, aprovado: tomadas
ciação do núcleo que imediatamente foi
amos a reunião . Entra em ação a polícia, que
as providências, convoc
os passos, que não permit e a contin uação da obra encetada.
nos tolhe
quando fomos
Aguardávamos a oportunidade para prosseguir,
surpreendido s pela formaç ão de grupos pró-C. G.T.
ação de um comitê de orga-
O projeto a que aludi, visava à form
cal. Certamente que era mo-
nização, reorganização e unidade sindi
senão preparar a base de uma
desto, não se propunha a outra coisa,
o sindi cal, mas evidentemente, no
nova estrutura do nosso moviment
o de acord o com as circunstâncias, sem espe-
seu devido tempo, agind
sem sobrepor a realidade à
taculosidades ridículas e fora de tempo,
atira r no lixo uma coisa tão mes-
nossa vontade. O partido resolveu
sindi catin hos, dizia m: o que se impõe já
quinha. Não são precisos
ações locais etc. etc., esque-
e já, é a formação da C.G.T,, das feder
pelo fim, como infelizmente
cidos de começar pelo começo, e não
cal. Nada de ilusõ es aéreas, nada de
se tem feito no terreno sindi
tos fantá stico s, o prole taria do preci sa de coisas práticas
irritantes proje
e concretas.
sos sindicatos. Expedem-
Formam-se grupos pró-C.G.T. em diver
olant e. Mas sucede que os gru-
-se circulares contendo o plano mirab
passa va de simpl es abstr ação. Tinham nome.
pos, na sua maioria, não
m trabalho. Mas este tra-
Com raríssimas exceções desenvolviam algu
co.
balho nunca chegou a produzir resultado práti
a campanha ao grupo dos
Entregue que foi, primitivamente,
pela fenomenal capacidade
empregados no comércio, dirigido então
conq uant o imberbe ainda, surgia na
de trabalho de um colegial que,
stina do, julga do capaz de zombar, mercê de
arena como um prede
iares, de todos os obs-
qualidades revolucionárias que lhe são pecul

59
EA QrANess 82 6 LLMOS om og | 10,65?
táculos que se antepunham à realização das empresas a seu cargo.
entregue a liderança do movimento àquele grupo, repetimos, este,
apesar de tudo, outro trabalho não apresentou além de algumas
entrevistas cheias de diatribes contra a direção da União dos Empre-
gados no Comércio, entrevistas estas sem consequência de nenhuma
espécie.
Procurando um homem no Rio, para tomar conta do Comitê
Central pró-C.G.T., este não foi encontrado. . . Foi preciso importá-lo
de Santos. Faltava um homem apenas, para dirigir a empresa formi-
dável. Mas havia uma outra empresa também importante a dirigir
e o nosso homem foi transferido daquela para esta.
Iam as coisas neste pé quando a direção do Partido, julgando
o movimento já bastante maduro, lançou a idéia da realização do
Congresso Sindical.
Papel de "A Nação"
A "A Nação", como bem classificou o camarada Pimenta, foi
"um presente de gregos", apesar de ter esgotado todas as energias
desta vanguarda incansável que não recua diante de sacrifícios, não
realizou no terreno sindical nenhuma obra séria, duradoura, com-
pensadora dos esforços ingentes despendidos na sua manutenção.
Pelo contrário, realizou, por vezes, um trabalho negativo, pre-
judicial à própria obra a que se abalançara.
Enquanto, por um lado, os camaradas mais responsáveis procu-
ravam realizar um trabalho de reagrupamento das forças dispersas
pelas lutas de tendência, "A Nação", movida por um mal compreen-
dido zelo pelos seus pontos de vista, provocava muitas vezes conflitos
de tendência, usando dos mais intempestivos processos de ataque,
prejudicando deste modo o ambiente de menos tensão e mais calma
que se tornava indispensável ao êxito do Congresso Sindical.
Dizíamos: "o congresso visará congregar, unificar todas as
forças dispersas dos trabalhadores sem ter em conta as suasosdiferenças
ideológicas". Em vez, no entanto, de procurar amainar ânimos,
acalmar as paixões, diminuir a temperatura do ambiente, dávamo-nos
ao esporte de agredir os adversários, no momento mesmo em que os
convidávamos para a obra de unificação. Não quero dizer que os
adversários devam ser tratados a pão-de-ló. Quero, apenas, mostrar
que aqueles ataques muito justos e oportunos noutra ocasião, reve-
lavam naquele momento a mais absoluta falta de tática.
Não afirmarei que o não-comparecimento dos Estivadores, Car-
pinteiros Navais, Trapiches e Café etc., fora consequência unicamente
das campanhas movidas contra os seus chefes pela "A Nação"; este
fato todavia concorreu grandemente para um tal resultado.
60
BR OFANBse va.onc.eEE, 3 0 LL 405 om 8

Convém notar que as campanhas movidas pelo Partido contra


os chefes amarelos dos trabalhadores, só têm sentido no meio da
massa, quando está prestigiada por uma vanguarda que se encarregue
de dificultar a defesa do traidor ou dos traidores atingidos.
Tem o Partido núcleos nestes sindicatos capazes de neutralizar
ou mesmo dificultar as arremetidas dos nossos adversários? Não tem,
infelizmente. Sucede que as nossas campanhas nestas condições, em
vez de refletirem satisfatoriamente entre as massas, pelo contrário,
ferem fazem com que, dado o seu atraso, se julguem elas atacadas
e neste caso os resultados são, por isso mesmo, negativos.

O Congresso Sindical

Atingiu os fins colimados o Congresso Sindical?


A prática está mostrando que infelizmente não.
Além da abstenção dos sindicatos mais importantes, a maior parte
dos sindicatos que participaram do Congresso, não ratificou as con-
clusões do mesmo. Por quê? Porque tais sindicatos, lutando grande
parte deles com desavenças internas, tornaram-se infensos aos pontos
de vista comunista. Aqueles que chegaram a ratificar as resoluções
do Congresso, fizeram-no formalmente, não chegando sequer a enviar
as suas quotas à Federação. Este fato naturalmente não diz que
nestes sindicatos tenhamos perdido terreno com referência à Fede-
ração, mas os núcleos sindicais não deram à obra do Congresso a
menor importância.
Como é, pois, que com núcleos desta espécie (e este é o melhor
dos casos) abalançamo-nos a empresas tão aparatosas?
Acusamos os anarquistas de arrotar força com federações de
carimbo e incidimos no mesmo ridículo. ..
Não afirmo que os comunistas da F.S. tenham sido um modelo
de trabalho, mas é bem de ver que mesmo que o fossem, a situação
da Federação continuaria a ser praticamente a mesma, apenas com
um pouco mais de esforços malbaratados.
Convém notar que o nosso sectarismo concorreu para que a
Federação fosse mal vista pelos dirigentes portadores de outras ten-
dências. Enquanto afirmávamos que a Federação era alheia às ten-
dências, dizíamos em praça pública no comício de 1.o de Maio, que
ela tinha sido obra do Partido. Eis um trecho de um dos discursos
então pronunciados. "É o Partido (referindo-se ao Partido Comu-
nista) que promoveu e levou a bom termo o Congresso Sindical re-
cente etc."
Isso, como modelo de tática sindical, num meio onde o já pequeno
movimento operário está dividido, mercê de uma luta de tendências
que há seis anos o vem solapando, não deixa de ser curioso...

61
Br oranBse va.GNC.EEE, 3201/4095 o A&0! , p: 64

Além disso, a "A Nação" dedicava uma coluna onde enumerava


as vitórias do Partido. O Congresso e a Federação figuravam como
vitórias do Partido.
Mas, perguntar-se-á: vitórias sobre quem?
A tomar-se a F.S. como vitória do Partido; convenhamos que foi
uma vitória bem precária...

A política dos "blocos"

Conforme é sabido, em diversos sindicatos foram formados blocos


com o fim de agregar em torno dos respectivos núcleos o maior nú-
mero possível de companheiros sem partido, para a luta em comum
contra os desmandos dos dirigentes amarelos. Até aí vai tudo muito
bem, teoricamente muito acertado. Mas, como a espinha dorsal destes
blocos só poderia ser constituída pelo núcleo comunista, sucedeu que
onde os núcleos não tinham a experiência e a capacidade de direção
necessária, a ação do bloco resultava totalmente nula, quando não
se tornava prejudicial.
Se não me engano, uma das "vitórias" atribuídas ao Partido pela
"A Nação", era a vitória do bloco têxtil.
Vejamos a obra realizada pelo bloco têxtil.
O sindicato estava nas mãos de Pereira de Oliveira e seus adeptos,
apesar de ter um núcleo numeroso. Surge no Partido, não no núcleo,
a idéia da formação do bloco têxtil. Os comunistas aceitam a idéia
não sem certa relutância e até mesmo com certo temor. Julgavam-se
os camaradas tecelões incapazes de levar a bom termo a importante
tarefa de desagregar as hostes inimigas e expulsá-las da direção do
sindicato. O Partido toma a si a tarefa de dirigir o trabalho. Pon-
derava-se que isso seria deslocar uma atribuição do núcleo, o qual
se demonstra receoso das responsabilidades com que teria de arcar
no caso da vitória do bloco têxtil. (Estas ponderações eram feitas
pelo?i camaradas tecelões de maior responsabilidade). A nada se
atendeu.
Deve-se dizer, de passagem, que os resultados da campanha
foram aparentemente apreciáveis. Mas a questão não é essa. A
questão é que na hora da escolha da chapa para a nova diretoria,
não se encontrava no núcleo, apesar de ser numeroso, um camarada
para a presidência. Foi necessário apelar para um camarada sem
partido, o qual, só mais tarde, isto é, só quando certo da vitória
decidiu-se a entrar para as nossas fileiras.
Verificada a vitória do bloco nas urnas, tinha-se que passar a
uma nova etapa, a mais importante: o engrandecimento do sindicato,
porque nós afirmávamos que só os comunistas dirigem bem os sindi-
catos. Começa, então, a suceder exatamente o contrário.

62
ar oranese galp: 70

Se a campanha do bloco havia dado alguma vida ao sindicato,


os eleitos desse mesmo bloco não souberam tocar para diante e, não
demorou muito, que o próprio Pereira de Oliveira anunciasse sole-
nemente a morte do bloco têxtil, o que infelizmente se deu.
Conclusão: a obra do bloco têxtil foi uma obra artificial, não
assentava em bases sólidas, o processo não consultava nem os inte-
resses nem o estado de espírito da massa.
Ora, se a União dos O. em F. de Tecidos devia ser, por natureza,
o esteio, a base mais sólida da F. Sindical, é intuitivo que com a sua
debandada faltou à Federação um dos seus esteios mais fortes.
Ora, recapitulando-se de boa fé, os fatos e os raciocínios aqui
expostos pode-se chegar à conclusão de que o fracasso da Federação
é devido à inatividade ou ao espírito corporativista do seu núcleo?
Não. O que se conclui é o resultado das nossas iniciativas, é o re-
sultado da nossa falta de visão. É que o nosso lirismo é superior à
nossa capacidade de apreender as situações e o meio que nos cerca.
É que o nosso Partido, ou melhor, os nossos dirigentes, se deixam
empolgar por idéias espetaculosas, afastando-se das massas, seguindo
à sua frente, mas em distância inatingível para estas últimas.

Como repercute internacionalmente a nossa imaginação

As fitas que a nossa imaginação têm concebido, repercutem inter-


nacionalmente de uma forma que devia fazer-nos corar...
Vejamos, por exemplo, como Losovsky aprecia a nossa obra:
num folheto de publicação recente, ele afirma (coitado) que no Brasil
há 40.000 (quarenta mil) trabalhadores, que constituem a minoria
revolucionária filiada à I.S.R.
Teria Losovsky inventado semelhante balela? Será ele um menti-
roso vulgar?
Qual nada. Ele apenas comete a leviandade de nos levar a
sério. ..
Quem se der ao trabalho de manusear a coleção de "A Nação",
verá que não é ele o culpado de semelhante barbaridade.
Eu não me sinto satisfeito por isso ser assim. Pelo contrário,
eu quisera que tivéssemos, não os imaginários 40.000, mas 100, 200,
300 mil ou mais ainda.
O que quero dizer é que, com semelhantes blagues, não servimos
a I.S.R., mas a desservimos despreocupadamente.
Segundo diz o texto da resolução da Conferência de Organização,
trata-se da realização de uma conferência sul-americana em fins do
corrente ano, com o fim de promover a criação de uma "Confederação
Operária Sul-Americana". Os líricos esqueceram o que leram. A
coisa não chega a ser parecida. A coisa e o seu nome civil: "une

63
ar pranasa va.enc.eze, 22 01LLU05 emnoo! “>.“
conférence des syndicats de toute !'Amérique latine, dans le but
de constituer un Secrétariat Syndical delAmérique Latine". coisa.
Secretariado e Confederação não são uma e a mesma
A primeira é a etapa sensata da segunda. Mas há muita gente que
gosta de começar pelo fim. Assim, vence-se com velocidade astronô-
mica... em palavras.
Conclusões
Estas as críticas que me julguei no dever de fazer à direção do
nosso partido, como comunista que sou. Quais as razões imediatas
de as ter feito agora e deste modo sem esperar que o nosso partido
se reunisse em congresso regular?
1.o)' Porque a direção do partido, lavando as mãos, como
Pilatos, pretendeu arranjar à última hora bodes expiatórios dos erros
por ela mesma cometidos, como quem diz: "salve-se quem puder",
no momento em que a instância superior de todos os partidos comu-
nistas do mundo, a I.C., se prepara para pedir coritas da atividade dos
continuadores de Lenine nos vários setores nacionais. pela direção
2.o) Porque os processos adotados ultimament e
não nomear certos mentores
do partido (digo direção do partido, para disto"),
atrabiliários que se julgam os "donos ridículo, nonão que respeita à
questão sindical, além de cobrir-nos de são de molde,
como julgo ter provado irrefutavelmente, a levar o sópartido à desejada
direção das massas operárias, mas, pelo contrário, o poderão levar
aos fracassos mais irreparáveis.
Era o que tinha a dizer, por enquanto.
(Publicações do Grupo Braço e Cérebro, n.o 1, 1928).
8) Bloco Operário e Camponês
a) FORMAÇÃO
Carta Aberta a Maurício de Lacerda, a Azevedo Lima, ao Partido
Socialista, ao Centro Político dos Operários do Distrito Federal, ao
Comércio, ao Centro
Centro Político Unionista dos Empregados no Proletário
Político Proletário da Gávea, ao Centro Político de Niterói:
Candidaturas de classe - As próximas eleições federais, para
renovação do Parlamento Nacional, estão interessando osobremane ira
ao proletariado e às classes laboriosas em geral de todo Brasil. do
Pode dizer-se que pela primeira vez, entre nós, vê o proletariante
brasileiro a possibilidade de sua intervenção direta e independeoutra
no pleito a travar-se. Com efeito, até aqui - salvo alguma ou
exceção de caráter local ou pessoal - jamais o eleitorado operário
do Brasil participou de uma campanha eleitoral nacional como força
64
| 1405 0m. 0a a
ar oransse va.enc.eEE,290
programa de
própria, como classe independente, apresentando um
interess es e aspiraçõ es de classe. Os
reivindicações ditadas por seus
votavam indistin tamente nos diversos candidatos
operários eleitores
l
da burguesia, a isto quase sempre obrigados pela pressão patrona
e devido à sua própria desorganização partidár ia.
vai adqui-
Mas esses tempos são passados. O proletariado já
consciên cia de classe - o que quer dizer que já vai com-
rindo uma
es da bur-
preendendo serem seus interesses antagônicos aos interess
e e pro-
guesia. Ora, este despertar da consciência proletária reflete-s
nte sobre o terreno eleitoral . O mesmo instinto de
jeta-se igualme
classe diz aos operários eleitores que eles, nas eleições para os cargos
públicos, devem votar nos próprios candidatos, isto é, nos candidatos
que representam realmente seus interesses de classe independente.
enviar
É o que agora se verifica. O eleitorado proletário quer
nto
gente sua, lídimos e autênticos representantes seus, ao Parlame
to-patr ão -- ou aliado
Nacional. Ele não quer mais votar no candida
,
e criatura do patrão - o qual será, necessariamente, nas Câmaras
s
como tem acontecido até hoje, o defensor dos interesses patronai
contra os interesses proletários.
demais
Demais, o proletariado brasileiro vê o que se passa nos
no exemplo prático que nos vem - nisto,
países do mundo e aprende
em tudo o mais - do estrange iro. O proletar iado dos países
como
nas
europeus e americanos possui seus próprios partidos de classe e,
seus partidos . Aqui mesmo bem
eleições, só vota nos candidatos de
operários
perto de nós, no Uruguai, na Argentina, no Chile, os partidos
pam dos pleitos eleitorai s como força indepen dente e como tais
partici
elegem seus próprios candidatos.
Comunista do
A intervenção do P.C.B. - Assim sendo, o Partido
pela vanguar da conscie nte do proletar iado deste
Brasil, constituído
eleições de feve-
país, não podia deixar de participar nas próximas
ta não são
reiro. Os interesses e as aspirações do Partido Comunis
es e das aspiraçõ es do proletar iado em geral. Pelo
diversos dos interess
o, o Partido Comunis ta é o único partido operário que verda-
contrári
es e as aspiraçõ es totais da
deiramente representa os reais interess
classe operária. É, pois, em nome da massa proletár ia, que o P.C.B.
Carta Aberta, às pessoas, aos partidos e aos centros
se dirige, nesta
apresentam-
acima mencionados, os quais, de uma forma ou de outra,
laboriosas e
-se aos sufrágios operários como candidatos das classes
espezinhadas, cujos interess es dizem represen tar.
larga popu-
É o caso de Maurício de Lacerda. Gozando da mais
lutas parlame ntares em prol
laridade, com um passado de brilhantes
ele surge no cenário da campan ha eleitoral
das liberdades públicas,
candida to dos oprimid os e explora dos. O Partido Socialista
como
de modo
o apóia como candidato dos operários. Nós não concordamos
individu alista, não partidár ia, gerador a de
algum com a sua política

65
BR oFansss ve.enc.eÉ 22011405 om og LW 3
confusões e mal-entendidos, que só podem servir aos inimigos da
política proletária, prejudicando, por conseguinte, ao próprio Maurício
de Lacerda. Certo, sua popularidade é grande, e a massa, apesar de
tudo, apesar daquelas reservas formuladas pela vanguarda, tem-no
como um dos seus e irá votar nele, convicta de que votará num
candidato proletário, defensor dos interesses proletários. Pois bem:
o P.C.B., mesmo desconfiando, quer confiar em Maurício de Lacerda,
e, em nome da classe operária, propõe-lhe a formação de uma frente
única proletária na campanha eleitoral iniciada, tomando para base
uma plataforma única de combate, contendo as reivindicações mais
elementares comuns às massas laboriosas em geral.
Igual proposta fazemos a Azevedo Lima. Este possui um elei-
torado próprio, fortemente arregimentado e não depende de ninguém
do ponto de vista estritamente eleitoral. Mas sua atuação combativa
durante a extinta legislatura, com o criar-lhe uma justa auréola de
indômita bravura no bom combate em prol das causas populares,
criou também, tacitamente, uma espécie de compromisso moral entre
ele e o proletariado. Demais, como reforço a esse compromisso, Aze-
vedo Lima, embora ainda revelando certas contradições ideológicas,
tem feito afirmações peremptórias de simpatia ao comunismo e tem
tomado atitudes de desassombrado apoio às lutas de classe do prole-
tariado, como foi principalmente no caso da campanha de A Classe
Operária contra Luís de Oliveira. De tal sorte, a aliança de Azevedo
Lima ao Bloco Operário, cuja formação propomos, parece decorrer
logicamente de todo seu recente passado e assim o esperamos firme-
mente. Sua eleição é geralmente tida como assegurada pelo numeroso
e dedicado eleitorado que ele pessoalmente arregimentou. Neste sen-
tido é evidente que sua aliança conosco pouco resultado prático, nu-
mérico lhe trará. Há, porém, o aspecto essencialmente político da
batalha e neste sentido sua adesão ao Bloco Operário, que propomos,
é não só uma adesão lógica, mas necessária e de recíprocas vantagens,
isto é, de vantagens para a política proletária, feita de verdade, nitidez
e firmeza.
Aos demais partidos e centros - O Partido Socialista, partido
reformista, mas que pretende representar as massas laboriosas, além
de apoiar a candidatura de Maurício de Lacerda, apresenta vários
candidatos seus, não só aqui no Distrito Federal, como também no
Estado do Rio, na Bahia, em Pernambuco, em Santa Catarina. Adver-
sários intransigentes da nefasta política reformista, confusionista, cola-
boracionista do P.S.B., entendemos, todavia, que é esta uma excelente
oportunidade para, aos olhos das massas, pôr-se à prova a sinceridade
dos socialistas, que se apresentam aos sufrágios proletários. O P.C.B.
quer unir, reunir numa frente única todas as forças proletárias que
se apresentam para o próximo combate eleitoral. É o próprio inte-
resse proletário - que o P.C.B. põe acima de tudo, visto como o in-
66
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, ?AOILHOS Om 501.393 t
teresse proletário é o próprio interesse do comunismo - que comanda,
em momentos tais, a coesão e a unificação das forças diante do
inimigo comum. E como nós não fazemos questão de nomes pessoais
- guardadas, é claro, certas exigências mínimas - porém, sim, de
programa, de compromisso coletivo, convidamos o P.S.B.a integrar-se
na formação do Bloco Operário, sob cuja bandeira comum, batalhando
sobre a mesma comum plataforma proletária, se apresentarão seus
candidatos, no Distrito Federal e nos Estados. Falando claro e franco,
nós não acreditamos na sinceridade dos chefes do P.S.B. nem dos seus
candidatos, e muito menos em sua influência ou força eleitoral, mas
estamos prontos a apoiá-los, desde que assumam publicamente, perante
o proletariado, o compromisso de defender e submeter-se à plataforma
proletária do Bloco Operário.
Não sabemos ainda que atitude vão tomar, com relação às pró-
ximas eleições, o Centro Político Operário, o Centro Político dos
Choferes, o Partido Unionista dos Empregados no Comércio, o Centro
Político Proletário da Gávea e o Centro Político Proletário de Niterói.
Quanto a estes dois últimos, não temos dúvida de que formarão ao
nosso lado, dadas as afinidades entre o seu programa e o nosso.
Quanto aos outros, não sabemos se pretendem apresentar candidatos
próprios ou apoiar eventualmente tais ou quais candidatos. Seja como
for, tornamos extensivo a essas organizações políticas operárias este
convite para sua adesão ao Bloco Operário, na base dos princípios
e reivindicações mais adiante expostas.
Frente única proletária - É coisa muito fácil de compreender
que a participação no pleito eleitoral de todos esses candidatos e
partidos, concorrendo uns contra os outros, dispersivamente, só pode
dar como resultado o enfraquecimento das forças operárias, que todos
eles pretendem representar. Enfraquecimento e dispersão não somente
no terreno estritamente eleitoral, aritmético, do pleito, mas sobretudo
enfraquecimento e dispersão no terreno político.
As massas operárias e as classes laboriosas em geral estão entre
si ligadas por uma afinidade básica de interesses que lhes são comuns.
Toda a gente pobre - operários, empregados no comércio, pequenos
funcionários, artesãos, trabalhadores agrícolas, pequenos lavradores,
todos aqueles que vivem de seu trabalho pessoal cotidiano -- toda
essa grande massa sofredora e oprimida passa a mesma "vida aper-
tada", porque seus ganhos mal chegam, quando chegam, para fazer
frente às dificuldades crescentes da existência. A carestia dos gê-
neros, a crise de habitações, a falta de trabalho, a inflação, a baixa
cambial, a política escorchadora dos impostos federais, estaduais e
municipais, toda a sorte de gravames pesando principalmente sobre
os pobres, tudo isso cria uma base comum de interesses que o bom
senso indica deverem ser defendidos pelo esforço comum dos inte-
ressados.
67
sr oranase vs.encee, 82 O LL40Samo em) 75
É esta uma verdade claríssima, que ninguém poderá contestar:
na defesa dos interesses, que são comuns, todos os interessados deverão
unificar e concentrar seus esforços num bloco único que vá ao com-
bate de fileiras cerradas, obedecendo a um plano comum único.
É isto precisamente que nós vimos propor. O Partido Comu-
nista, cônscio de que os interesses supremos do proletariado devem
_ser postos acima das tendências desta ou daquela facção política,
propõe a formação de uma frente única, de um bloco operário de
todos os candidatos, partidos e grupos que vão disputar as próximas
eleições alegando ou pleiteando representação das classes laboriosas.
O Partido Comunista não pretende concorrer com candidatos próprios
e de tal sorte dividir as forças operárias. O Partido Comunista, que
pleiteia a vitória da política proletária independente, propõe, portanto,
a concentração de todas as forças operárias. O Partido Comunista
está disposto a apoiar a campanha eleitoral dos candidatos e demais
grupos e partidos que aceitem travar a batalha em comum, na base
de uma plataforma comum, segundo um plano comum.
Demais disso, o Partido Comunista, interpretando o verdadei ro
e instintivo pensamento de classe das massas trabalhad oras, pretende,
por este meio, iniciar uma vasta campanha de saneamenpersonali to do meio
político nacional, combate ndo sem tréguas a política sta,
individualista e irresponsável dos cabos eleitorais sem princípio,istosemé
programa, sem finalidade. É preciso sanear a política eentregue para
preciso intervir nela e não se afastar dela, deixando -a aos
manejos imorais de ambicios os e negocista s sem escrúpulo s. E o
primeiro passo a dar no sentido do saneamen to da política está em
exigir a responsabilidade dos políticos perante responsabas massas. Queremos
uma política de princípio s, de programa s, de ilidades.
riado,
O Partido Comunista, partido do proletaprograma. Daí, tem responsabi-
lidade, defende princípios e bate-se por um sua ati-
tude presente, saltan do na arena do combat e eleitor al e convoc ando
para a defesa em comum dos interesses doproleta proletariado todos aqueles
que se apresentam como partidários do riado.
(Astrojildo Pereira, Formação do P.C.B., p. 87-92).

b) O CARÁTER ELEITORAL (1928)


Não desconhecemos, em absoluto, a importância da luta extra- nós
parlamentar, da luta ilegal dos proletários, cujo valor ése paraque nos
maior do que o da luta parlamentar. Mas, daí concluir-
devemos abster da particip ação no parlamen to burguês é avançar no
perigoso e contrapr oducente terreno do abstenci onismo, cujas conse-
68
BR DFANBSB V8.GNC.EEE 220 LÍÉMSQM Oq Lí p ; 6:
quências foram e serão sempre reforçar as posições dos inimigos deé
classe do proletariado.
Duas políticas se defrontam, atualmente, em todo o mundo:Osa
proletária e a burguesa. Desertar de uma é favorecer a outra.
operários não participaram, até hoje da neutralidade, tão recomen-
dada pelos puristas da anarquia e pelos anarco-sindicalistas.
Muito pelo contrário: longe de manterem esta falada neutralidade,
incorporaram-se sempre na causa dos candidatos burgueses, cuja lábia
era mais própria para iludi-los e arrastá-los às urnas, nos pleitos
eleitorais.
E as eleições que deviam constituir um episódio de luta em de
classes, uma das muitas batalhas de classe, convertera m-se sempre
tablado público onde se exibiam os arlequins da burguesia, fantasiados
de amigos das classes menos favorecidas da sorte.
E a consciência de classe dos trabalhadores mais e mais se
dissolvia ao contato mascarado destes políticos sem escrúpulos, puros
trampolineiros, cheios de um verbalismo mais ou menos demagógico,
mas profundamente ligados aos interesses de sua classe, da classe
burguesa, a que estavam presos pelos múltiplos laços de família e
de inconfessáveis compromissos.
E a famosa neutralidade política do proletariado só deu em
resultado a palhaçada que vemos na política do Distrito Federal e
na de todo o Brasil.
Assim, pois, combater a política de classe do proletariado é
favorecer os interesses da classe dominante, é dar aos burgueses quese
oprimem e exploram os trabalhadores, satisfação inigualável de
sentirem livres para os seus atropelos à grande massa dos que sofrem
e curtem miséria no regime atual.
Não há como negar esta verdade elementar, baseada nos fatos
concretos a que assistimos diariamente.
E só nos devem encher de satisfação as novas diretivas que vem
adotando o movimento proletário entre nós, arregimentando suas for- na
ças para as futuras batalhas eleitorais, que inaugurarão uma fase nte
política, fazendo com que o proletariado entre em cena, independe
dos chorrilhos políticos da burguesia, manifestando sua vontade firme
de afirmar-se numa classe forte e politicamente capaz de escolher seus
mais dedicados membros para as investiduras legislativas.
Será um dos muitos meios de alargar sua luta geral contra os
exploradores, criando uma nova frente de combate e preparando com
ela novas bases para um mais largo movimento de massas capaz de
derrubar definitivamente os seus exploradores e levá-los à definitiva
vitória contra os seus inimigos seculares.
E a burguesia sentirá, através da voz destes representantes ope-
rários, que a grande massa anônima já desperta e que os seus desejos,
as suas aspirações elaboradas no meio dos sofrimentos e das lutas
69
2201 amo o L) - 3a
sr oransase va.onc.ere,

obscuras, tendem a transformar-se eme suble clamor - no clamor irrepri-


mível que será convertido na grandpara a conqu vação de todas as forças
proletárias para a sua libertação, ista integral de seus
direitos, comprimidos e afoga dos pelo tação de ferro da burguesia.
Operários fabris e em transp ortes, lavra dores pobres, pequenos
funcionários, empregados no comércioho,e na indúst ria, técnicos e inte-
lectuais que viveis do próprio trabal peque nos propri etários opri-
midos, pobres de todas as catego rias, alista i-vos gratui tament e no 1.o
distrito, no Bloco Operário e Camponês,. Praça da Repúbl ica, 40, 1.o
andar, esquina da Rua da Consti tuição Todos os dias úteis das 14
às 19 horas! Votai nos vosso s e nossos própr ios candid atos de classe
independente!
Eleitores proletários, inscrevei-vos em nossas listas! Colocai os
vossos títulos à nossa disposição!
Trabalhadores, auxiliai a nossa e vossa organização genuína!
Criai Centros Políticos Proletários por todo o Brasil!
Atividade e método! Disciplina e coesão! Entusiasmo e cons-
ciência! Sejamos como um bloco de aço maciço.
P. Lavinsky
(A Esquerda, Rio, 16.02.1928).

9) O III Congresso (dezembro de 1928-janeiro de 1929)


Reuniu-se, nos primeiros dias destegrand ano, o III Congresso do
P.C. brasileiro, o qual se revest iu de e importância, dada a
situação política atual do Brasil.
Coisa que desde logo avultou, aos olhos de quem assistiu ao
III Congresso, foi o enorme progre sso realizado pelo Partido no
período de tempo decorr ido entre o II Congr esso (maio de 1925) e
o de agora. Progresso não só numércá ico e orgânico - os efetivos do
Partido duplicaram de então para -, mas sobretudo progresso
político. É incontestável que o nosso Partid o, apesar de todas as
insuficiências, tem sabido fazer um trabal ho de massas, sendo hoje
um fator político nacional com questõ o qual há que contar. A ordeme do
dia do III Congresso, cheia de nas comis es políticas fundamentais, os
debates travados no plenár io e sões mostraram também que
os nossos militantes já adquiriramer apreci ável capacidade política e
ideológica para enfrentar e resolvas sessões do emas
os probl que se apresentam
ao Partido. Não houve, duran te Congre sso, que duraram
toda uma semana, nenhum partic grande discurso, mas a discussão
cerrada, sóbria, geral, em que iparam todos os delega dos, cada
qual contribuindo com o seu contin gente de fatos e argum entos para
70
ol
BROFanass ve.enc.ess. 220 11465 emoi
so realizou
o esclarecimento das questões em debate. O III Congres
ões - um
ainda - foi essa uma nota característica das suas discuss
que os erros e as falhas do
sério trabalho de autocrítica, sendo
das sem qualque r preocup ação de ordem pes-
Partido foram examina
francam ente, abertam ente, mas sempre num tom fraterna l, sendo
soal,
por fim as resoluções aprovadas por unanimidade.

A linha política do Congresso


base
O exame da situação nacional forneceu ao Congresso a
para traçar a linha política do Partido no período a seguir. A situação
não
brasileira, quase virgem ainda de uma análise marxista rigorosa,
nos aparecia com a necessár ia clareza. O III Congress o prestou- nos
inestimável serviço esclarecendo, senão todos os detalhes, pelo menos
os contornos essenciais da situação. Podemos dizer que depois do
III Congresso já o Partido possui um conhecimento em conjunto
seguro da situação nacional, o que tornou possível firmar o seu plano
estratégico e traçou a linha tática de sua ação política na etapa atual
do movimento revolucionário brasileiro.
Procedendo à análise da situação econômica, política e social
do Brasil, o III Congresso levou em conta os seguintes elementos
fundamentais de sua formação: a) a dominação imperialista; b) a
economia agrária; c) o problema da terra; d) a revolução democrático-
-burguesa. Partindo do exame desses elementos, as teses políticas
chegaram a conclusões que podem ser assim resumidas:
1.o) O Brasil é um país de tipo semicolonial, economicamente
dominado pelo imperialismo, se bem que politicamente "indepen-
dente",
2.) O Brasil é um país de economia principalmente agrária,
massas
baseada na grande propriedade e na exploração de grandes
campesinas.
produ-
3.o) O desenvolvimento autônomo e normal das forças
tivas do país - notadamen te da indústria pesada - é entravado
pelas forças de compressão imperialista.
4.o) Involuntariamente, porém, o próprio imperialismo promo-
de
ve certas condições técnicas que favorecem esse desenvolvimento,
que resulta a formação de núcleos industriais (como o Rio e São
Paulo), onde se aglomeram massas proletárias consideráveis.
(Revo-
5.) A burguesia nacional, que até um certo momento
de 1924) parecia poder desempen har um papel revolucion ário,
lução
aos gran-
capitulou completamente diante do imperialismo, aliando-se
des proprietários de terra, que estão no poder.
diante
6.o) Em virtude mesmo dessa capitulação da burguesia
deste último,
do imperialismo, agravando-se cada vez mais a opressão
consegiiente-
acentua-se cada vez mais a exploração econômica e

71
A9
sr VB.GNC.EEE, DQ) 4OS en 00 bo ("O
o e da
das massas laboriosas do camp
mente a radicalização política burg uesi a.
mais pobr es da pequ ena
cidade, inclusive as camadas -
burguesia constitui um fator revo
7,o) De tal sorte, a pequena endo a aliar -
no momento atual , tend
lucionário da maior importância
proletaria do.
-se às forças revolucionárias do o
a pequ ena burg uesi a não poderá levar a revoluçã
8.o) Mas crát ico-
mo dent ro do quad ro demo
às suas últimas conseguências, mes do
rá fazê-lo, assumindo a direção
burguês. Só o proletariado pode cond uzin do-a s a
largas mass as e
movimento, com o apoio das mais
s.
etapas superiores e mais avançada
iado apoiar energicamente, des-
9.o) Assim, pois, deve o proletar
luci onár io em preparação. Este apoio, no
de já, o movimento revo
seguintes reivindicações funda-
entanto, deve ser dado na base das
essencial da revolução na sua
mentais, que constituem o conteúdo
primeira etapa:
io, confiscação da terra;
a) solução do problema agrár
feudais;
b) supressão dos vestígios semi
libe rtaç ão do jugo do capit al estrangeiro.
c)

Contra o imperialismo
rialismo e os perigos de guerra
A questão da luta contra o impe fio
m do dia - foi a bem dizer o
- posta no 2.o ponto da orde ment o revo-
do Cong ress o. Todo movi
condutor de todos os debates forço-
semicolonial como o Brasil tem
lucionário em países do tipo ra a domi naçã o
principal na luta cont
samente que assentar sua base ress o reso lveu
vista é que o III Cong
imperialista. Desse ponto de pró-
do, traçando a perspectiva das
os problemas políticos do Parti a apre sent a
da luta antiimperi alist
ximas batalhas. Mas a questão ssão espec ial.
am ser resolvid os em discu
aspectos particulares, que devi etudo o
disc ussã o proc edeu o III Congresso, mostrando sobr
A esta imper ialistas
o a penetração das forças
que tem sido e o que vai send neste país um
o-americano, que tem
no Brasil e o antagonismo angl isso, fora m
ue e hosti lidad e. Com
dos campos principais de choq na luta contra
as práti cas e espec ífica s
indicadas ao Partido as taref
tarefas impõe-se, como a de mais
a dominação imperialista. Dessas
nal da Liga Antiimperialista, que
urgente necessidade, a criação nacio
a espe cialmente dedicada à agitação
deve ser a organização de mass a ainda
mas tentativas locais, não havi
antiimperialista. A parte algu Cong ress o tornou
mperialista. O III
o Partido cuidado da Liga Antii pape l dos mais
que tem, entr e nós, um
obrigação a fundação da Liga, luta revolucionária.
na prep araç ão da
importantes a desempenhar entos
organizar em suas fileiras os elem
Com efeito, a Liga pode e deve ém da mass a cam-
tariado, com o tamb
revolucionários não só do prole etud o, mostra-se
a. Esta últi ma, sobr
pesina e da pequena burguesi

72
BR DFANBSB Va.GNC.EEE. BARAO LL4G5 amoo
(3:80
antiimperialista - coisa de alcanseio ce
extremamente acessível à agitadeçãoeferv escên cia revol ucion ária no
incalculável no estado atual
da pequena burguesia,
A atividade comunista nos sindicatos operários
Toda a vida do P.C. do Brasil tem-s e desenvolvido, desde sua
fundação, dentro dos sindic atos revolu cionár ios. Sema menor dú-
vida, tem sido este um dos fatore s deter minan tes da sólida estrutura
proletária do nosso Partido, que duranando te anos tem resistido a todos
os embates da reação burguesa. Agrup em seu seio os melhores
militantes do nosso movim ento sindic al, por meio deles pôde sempre
o Partido manter-se ligado à massa operária, dirigindo a sua fração
mais consciente e mais combativa.
Mas este fato, se tem sido de vanta gem incontestável para o
Partido, apresenta, contudo, algum al entre nós.ns, Em
as desva ntage decorrentes mesmo
das condições do movim ento sindic primeiro lugar,
o espírito corporativista, a tradição anarcoeensã -sindicalist a rotina pro-
a,
fissionalista, coisas que dificultam a compr istaso,dentr por parte de muitos
camaradas, da verdadeira tarefa dos comun o dos sindicatos.
Em segun do lugar, o excess o contrá rio, antian arquis ta, isto é, a
tendência exagerada para combater o tercei verba lismo anarqu ista levando
ao quase reformismo "praticista" . Em ro lugar, a pouca influên-
cia do Partid o entre certas catego rias de operár ios, notad ament e dos
penetr
transportes, em cujos sindicatos jamais chegoseu aa isso a falta de um ar, anteri or
Junte-
mente, a influência anarco-sindicalista. ático, coletivo - e teremos
trabalho de conjunto metódico, sistem rendimento obtido pelo
explicadas as causas principais do pouco - com o esforço des-
Partido - em relação ao que poderia obtero dos sindicatos.
pendido pelos militantes comun istas dentr
Não é de agora que a direçã o do Parti do vem combatendo tais
falhas. Mas no III Congr esso foram elas bem caract erizad as, traçando-
-se, em conseguência, para corrigi-las,o asCongr tarefa s que o Partido deve
esso
realizar neste domínio. De resto, lho que já vinha sendo execu não fez mais que
acentuar e precisar as linhas de traba tado
desde algum tempo, isto é, desde a voltaI.S.V. dos camar adas que parti-
ciparam do IV Congresso Mundial daenação e Essas tarefas podem
ser resumidas em duas palavr as: coord conce ntraç ão. Coor-
denação do apare lho e da ativid ade sindic al do Partid o, de modo a
sistematizar, sob uma direção central firme,Concentração das nossos
o esforç o dos
forças
núcleos dentro dos sindicatos existentes. intern aciona l.
sindicais no plano local, nacion al e
Igualmente tratados pelo Congresso foram os problemas rela-
tivos à organização sindical das mulhe res e dos jovens operários e,
sobretudo, das massas operár ias desor ganizadas. Em suma, pode
73
aa 8 |
Br DFANBSB VB.GNC.EEE, 420 LL4OS

que podia
concluir-se dizendo que o III Congresso fez o melhor
respeito, se bem que não tenha sido - nem poderia
fazer, a este
os
ser - trabalho perfeito. Estamos certos de que não tardarão
frutos do esforço perseverante que o Partido está emprega ndo neste
terreno.

A questão camponesa
III Congresso,
Pela primeira vez na vida do Partido, com o
a sério. Problema
foi o problema agrário e camponês enfrentado
enorme s dificul dades de
essencial no Brasil, ele apresenta, porém,
à vista da carênci a quase total de dados seguros
estudo e compreensão,
inform em. Ademai s, a grande extens ão territor ial do país,
que o
s de região
permitindo a coexistência de condições as mais diversa
difícil o proble ma. Em conjunt o, os
para região, torna ainda mais
primord iais da questão , sobre os quais não pairam dú-
dois pontos
2.o) as
vidas, são: 1.o) o predomínio absoluto da grande propriedade;
as
condições de semi-escravidão em que vivem os trabalhadores agrícol
do país, calcula ndo-se o seu número em mais de
em todas as regiões
8 milhões. É na exploração desumana dessa. massa formidável que
assenta a base principal da economia brasileira. Isto, que é funda-
mental, basta para mostrar o que representa, para o nosso Partido,
o problema agrário e camponês. O III Congresso não o resolveu,
não lhe deu solução definitiva, nem o poderia fazer, de golpe; mas
teve o mérito de pôr a questão, em toda a sua grandiosidade, na ordem
do dia do Partido.
do
Se bem que insuficientes, os materiais trazidos à discussão
so oferecem o maior interesse . Eles serão publicad os e for-
Congres
deve
marão a base inicial para o estudo aprofundado a que o Partido
o Congress o, levando em conta a
proceder, desde logo. Com isso,
experiência das primeira s tentativa s já feitas pelo Partido no sentido
da organização campesina, traçou palavras de ordem provisórias vi-
-
sando à penetração da obra comunista entre as massas de trabalha
dores dos campos. A tarefa é imensa, mas o Partido começa a enfren-
tá-la, com a consciência da importância revolucionária que ela tem
num país como o Brasil. Esta, a melhor lição do III Congresso a
respeito do magno problema: despertar no Partido a consciência do
dever a cumprir nesse domínio, que a todos os outros sobreleva em
gravidade. à

O Bloco Operário e Camponês

A obra do B.O.C. pode ser apontada como das melhores coisas


,
que tem feito o Partido. O B.O.C. é hoje uma força política nacional
agi-
organização autorizada das massas trabalhadoras. Por meio da

74
140 sol,p.. 82...
ar pransss va.enc.ee 8201

tação e das campanhas políticas levadas a efeito, o B.O.C. tem des-


pertado as massas laboriosas para a atividade política independente.
Este é um resultado positivo incontestável, cuja importância não é
preciso encarecer. Mas, a par disso, o B.O.C. apresenta alguns perigos
de desvio oportunista e eleitoralista, que é necessário combater ener-
gicamente. De resto, a direção do Partido sempre se conservou
vigilante, condenando firmemente tais desvios, como, por exemplo,
em São Paulo, quando os camaradas dali fizeram o B.O.C. apoiar os
candidatos democráticos nas eleições estaduais de fevereiro de 1928.
Outro perigo está na tendência que se manifesta, mesmo no Partido,
de considerar o B.O.C. como "O" partido do proletariado, espécie
de substituto legal do P.C.
O III Congresso discutiu amplamente tudo isso, esclarecendo
que o B.O.C. é a organização política da frente única das massas
laboriosas em geral sob a hegemonia do P.C. Este último é e deve
ser cada vez mais o núcleo central dirigente do B.O.C., o cerne
compacto e resistente em torno do qual se agrupam as mais largas
massas de operários, camponeses, gente pobre de toda natureza.
Dentro do B.O.C., dirigindo-o, guiando-o, dando-lhe vida revolucio-
nária, o Partido deve sempre conservar a sua própria fisionomia de
Partido Comunista como tal, isto é, como único verdadeiro partido
do proletariado, como "o" partido: específico do proletariado, chefe
das massas laboriosas na luta revolucionária. Firmando, assim, as
características políticas e orgânicas do B.O.C., o Congresso, para
combater aqueles perigos, determinou, como tarefa primordial, que
se intensificasse o trabalho ilegal do P.C. como tal, paralelamente ao
trabalho legal do B.O.C.

Outras questões

a) Resoluções práticas foram traçadas para o trabalho do Par-


tido nas diversas organizações de massas além do B.O.C. e dos sin-
dicatos: na Liga Antiimperialista, no Socorro Vermelho, nos esportes,
na cooperação revolucionária, nas organizações antifascistas, entre as
massas de imigrantes, entre os inquilinos pobres etc. É trabalhando
ativamente - e sistematicamente - nessas organizações de massa
exteriores ao Partido, que nós conseguiremos enraizar cada vez mais
nossa influência comunista no seio das massas laboriosas. Até agora,
o nosso trabalho nesse sentido - ou não se tem feito ou, quando se
fez, o foi dispersivamente, sem ligação sistemática com a atividade
e a política geral do Partido. As resoluções do III Congresso procuram
justamente corrigir tais falhas.
b) Insuficiente atenção também, até agora, dera o Partido à
organização da Juventude Comunista. O III Congresso também
neste ponto estabeleceu diretivas claras, exigindo mais vigilante apoio

75
83
ar oranase va.enc. ese B20 LL4OS on o o | 5 /
ser realizada pelos cama-
à obra já realizada e sobretudo a que deve
comba tiva organização da J.C. ao
radas da J.C. Sem uma forte e
não poder á jamais desem penhar o seu papel de
lado do Partido, este
guia das massas.
da nossa situação em
c) Outro ponto fraco do Partido é o
somen te os camar adas dali pelo quase
São Paulo. Não é justo culpar
ho comun ista numa cidade da importância
nulo resultado do trabal
dade tem causas políti cas objeti vas que é
de São Paulo. Esta debili
tituinte necessário.
preciso examinar a fundo para aplicar-lhe o recons
as medidas práticas de
O III Congresso tomou a este respeito algum
de proceder ao estudo
aplicação imediata, incumbindo ao novo C.C.
tarefas definitivas
aprofundado da situação paulista para então traçar
. "A conqui sta de São
e enérgicas para o partido naquela Região
a pelo III Congre sso.
Paulo" - tal a palavra de ordem lançad
liquidada pelo
d) A questão da ex-oposição foi definitivamente
so. A resoluç ão aprova da examin ou o assunto de um
III Congres
he a solução
ponto de vista objetivo, estritamente político, dando-l
o de
política mais adequada e mais justa. Caracterizado como imbuíd
nte pequeno -burgue sa, por sua fraseol ogia "es-
mentalidade clarame
o
querdista" e sua atitude oportunista, o pequeno grupo de oposiçã
o e de traição, quando aban-
cometeu um verdadeiro ato de deserçã
donou o Partido e, mais, fornecendo aos inimigos de classe uma
arma de combate - contra o Partido (publicação de seus documentos
justas
na imprensa burguesa). Se bem que, objetivamente, fossem
pela oposiçã o, esta não fez trabalh o
certas falhas do Partido apontadas
seria útil, mas lançou mão de process os calunio sos,
de autocrítica, que
a
rebelando-se abertamente contra a direção do Partido, contra
ndo vergon hosame nte
maioria absoluta do Partido, por fim deserta
tica realizado
de suas fileiras. O fecundo trabalho de verdadeira autocrí
so, com a partici pação ativa da antiga direção , provou
pelo III Congres
a sem-raz ão dos ataques calunio sos da oposiçã o e demonstrou,
a absolut
. Neste sentido,
pelo contrário, o espírito sadio dominante no Partido
ação total da oposiçã o. Considerando,
o Congresso foi uma conden
alguns operári os, sincera mente revoluc ionário s, haviam sido
porém, que
s de ligação pessoal com
arrastados para a oposição mais por motivo
u podere m os mesmos voltar ao
seus chefes, o III Congresso declaro
ecimen to da saída do Partido como tendo
Partido, mediante o reconh
reservas das resoluções do
sido ato de deserção e o acatamento sem
Congresso e da disciplina do Partido.

Questões de organização - o novo C.C.


, o III Congresso
No domínio da organização interna do Partido
com uma série de medida s tendentes a
concluiu a discussão travada

76
E. q 20 L1405 em
00? N. R4 -
Br pranase va.onc.eE

corrigir as insuficiências observadas e a melhorar o aparelhamento


de direção do Partido. ão do Congresso foi oParti fato da
O que sobretudo feriu aa atenç ência políti ca do do e
desproporção existente entre realnãoinflu apren demos a conso lidar orga-
a sua debilidade orgânica. Ainda temos alcançado. É
nicamente o êxito dedeagita ção e propaganda quefeito quase por acaso,
que o recrutamento puram novos membros se temsem nenh um plano de
segundo um critério ente individual ,
adotada
conjunto. Na resolução nto sobre esta quest ão foi dada a palavra
político", isto é, do recruemtamen
de ordem do "recrutames sistem to intens ivo,
operado segundo planocampanhasáticos , pelas células, segui da e como
aprov eitam ento das de agitação.
Com a adoção definitiva dos novos Estatutos, segu ndo o tipo
fornecido pela Internaciomnal,tomamedi das diver sas, ditad as pela nossa
das no
própria experiência, foraaté o centr senti do de melh orar o nosso
aparelho, desde a base rosos militantes da província, passando acom
o. O novo C.C. foi ampl iado
ser
a participação de nume direção nacional do Partido.
assim uma verdadeira
Conclusão
Todas as condições econ ômicas, políticas e socia is do *
se desenvolvem, no mome nto atual , rapid ament e,
revolucionário. Esta situa ção respo nsabilidade
histórica. Sua linha política necessitavidia a de ser traça da com a maior
que a ação
nitidez possível, paraacont quot na do Parti do, na previ são
e preparação dos ecimentos revolucionáriosO, gran se desen volve sse
com segurança, com firme za, com autor idade . de mérito do
III Congresso, que acab a de se reunir, consi stiu preci samen te em ter
s polít icos
o os problema obra do III Congress
abordado e esclarecidpode da atual idade brasileira.
Certamente, não se ráNão. dizer que a o tenha
sido completa e perfeita. do prole Mas é incontestá As perspprest
vel que ele ou
inestimável serviço à causaaos nossostaria do no Brasi l. ectiv as
abrem-se hoje claramente olhos . O nosso Parti do, criad o
e mantido em condições semp re difíceis, saberá com a da própria ajuda da I.C.
conduzir-se sem desfa iciências , que
lecim entos corrigindo, no decorfor rer
luta, as falhas e insuf a ação práti ca apontando.
Temos confiança no prole tariado e trab alha mos enca rniç adam ente para
conquistar e merecer a confi ança do prole taria do.
Rio, 11 de fevereiro de 1929 - O C.C. do P.CB.
(Arquivo Astrojildo Pereira, cópia à máquina).
* Os espaços em branco estão ilegíveis na cópia original, à máquina.
77
EE. 81011405 am
mªs
oo!
BR DFANBSB VB8.GNC.E

B) DO III CONGRESSO A REVOLUÇÃO DE 1935


(1929-1935)

1) O III Pleno do C.C. (outubro de 1929)


No final de outubro deste ano realizou-se o III Pleno do Comitê
. Central do Partido Comunista donto,Brasil. Esta reunião encontrou o
Partido em franco desenvolvime à sua composição tanto no que se refere à sua
organização política, como també m social, cada
vez mais proletária. Isso permit eiro trabalho coletivoo sede desen-
iu que a citada reuniã
volvesse sobre a base de um verdad todas as falhas e deficiêauto- ncias
crítica, através do qual foram analisseadasestabeleceram as novas tarefas
do Partido, ao mesmo tempo que
para seu reforço ideológico e organizativo.
Para compreender a importânciaemdeste Pleno é preciso que se
ressalte que esta reunião realiz ou-se um perío do de agravamento
da luta de classes na ordem nacional, que coincide com a que se
observa na situação internacional. fundo Todas as questões contidas na
ordem do dia foram discutidas a tomando parte nos debates
todos os membros presentes.
As discussões mais importantes foram as que trataram dativassitua-
ção polític a do país, como as eleiçõe s presidenciais e legisla de
março próximo, os resultados da Primeira ConferênciaExecut Comunista
Latino-Americana, os result ados do X Pleno do Comitê ivo da
Internacional Comunista e os perigo s de direita , e a questã o sindica l.
Na análise da situaçãoessopolíti ca, agravada pela criseuteeconô mica
prevista já pelo III Congr tação nacional o café, o Pleno chegou oa
do Partid o a qual reperc sobre
principal produto de exporo Comunista do Brasil deverá acrescentar
conclusão de que o Partid ca, estabelecendo sua própri a fisio-
sua atividade em sua lutair apolíti todo preço a hegem onia no movim ento
nomia tendendo a adquirdesenvolve no Brasil , cujas princi pais forças
revolucionário que se
motrizes serão o proletariado e a massa de "assalariados agrícolas equeos
camponeses pobres. Com base nesta resolução determ inou-se
deveria ser intensificado tâncio traba lho de organ izaçã o das células nas
empresas de maior impor a do ponto de vista estratitarista.assimégico,
como também a intensificação de nosso trabalho antimil ando algum
Sobre este último ponto consta tou-se que se está efetu necessário
trabalho entre os marin heiro s e soldad os, mas que será
melhorá-lo, estender mais o controle do Partido e aperfeiçoar o aparato
técnico para este fim.
78
820 L Lºlº ia Be:
BRDFAanaSB

A eleição presidencial
O problema da eleição presidencial desenvo lve-se em um am-
biente de luta, agravad a entre as frações da burgues ia por coinci-
dência da crise econômica e finance ira pela qual atraves sa o país,
e a crise política atual da qual a da burguesia dominante.observa
é um índice a luta que se
Luta
entre a fração chamada "liberal", e ades entre o imperiálismo inglês
alimentada e agravadapelas rivalid ianque que apóia a fração
que apóia o Governo e o imperialismo presidencial foi encarado pelo
"liberal". Este problema da eleição Comuni sta interviesse na luta com
Pleno, decidin do que o Partido
programa e candidatos próprios por intermé dio do bloco operário e
camponês, desmascarando a todas essas agrupaç ões políticas burgue-
sas, inclusive o Partido Democr ático e transf ormand o a luta eleitoral
em uma verdadeira batalha de classe.proleta Contra a burguesia nacional
e o imperialismo anglo-americano, o riado e as massas explo-
radas das cidades e dos campos revolução. Amaconsign
com seu progra próprio, deverão
desenvolver uma vasta agitaçã o pela a do Pleno
do C.C. do Partido: "Aproveratifica itar a luta para a sucessã as medida o preside ncial
com vistas à revolução", foi da e resolve u-se tomar s
práticas para a agitação e organiz ação revoluc ionária com este fim.
Resulta que o Pleno havia decidido atos dar um caráter mais nacional
à luta mediante a aprese ntação de candid próprios, por intermédio
do B.O. e C., para as eleiçõe s presid enciai s e legisla tivas, não somente
no Rio de Janeiro, como também em todas as regiões do país onde
existam organizações do Partid o Comuni sta.
Sobre a I Conferência Comunista Latino-Americana
O Pleno, depois de haver escutado um inform e da delegação que
participara na 1 Conferência Comuni sta Latino-Americana, e de haver
estudado as resoluções que encontrouio ajusta das às necessidades do
movimento comunista e relevo revolucionár latino -americano, aprovou-as
unanimemente. Pôs de a import ância política dessa Confe-
rência para a conformação ideológ ica e orgânica dos P.C. latino- ativi-
-americanos, porque permitiue um estudo autocrítico coletivo dasituaç ão
embas ado de uma
dade dos diversos partidos conjunto dos países latino-americanos pu- análise da
objetiva de cada país e do
deram estabelecer-se as tarefas futuras.
O Pleno comprovou a necessidadeSul-Am de manter uma ligação polí-
tica mais estreita com o Secretariado ericano que se tornará
cada vez mais o órgão de coorde o é mais necesso ária
nação e direçã do movimento comu-
nista latino -ameri cano. Essa ligaçã ainda para nosso
Partido, neste difícil período de sua luta endent no qual se coloc am problemas
revolucionários de importância transc al. Verifi cou que so-
79
ar praness va.onc.ece. 82011405 g. gol M$ 32.

mente mediante uma ligação efetiva - que nem sempre existiu de


parte de nosso Partido - com o Secretariado Sul-Americano, da parte
de todos os Partidos, se tornará possível que este possa cumprir o papel
de direção que o indica, cada vez mais o movimento revolucionário
latino-americano em pleno desenvolvimento.

As resoluções do X Pleno do C.E, da Internacional Comunista


e os perigos de direita

As resoluções do X Pleno da C.E. da I.C. foram também tratadas


e discutidas. Tendo-se comprovado que os perigos de direita que se
manifestam em escala internacional são correlatos ao agravamento
da luta de classes no período de desagregação do capitalismo, tornam-se
necessárias, no momento, ações mais revolucionárias de todos os
P.C. e maior firmeza ideológica. Esses desvios de direita mani-
festavam-se em nossas próprias fileiras e procuravam caracterizar-se
em correntes determinadas:
1.o) Através de nossa atuação no parlamento burguês (Conselho
Municipal). Comprovou-se que na atividade parlamentar nosso par-
tido nem sempre havia assumido atitudes enérgicas, verdadeiramente
revolucionárias, procurando desmascarar ante as massas a verdadeira
função do parlamento burguês, ligando de modo mais eficaz a luta
no terreno parlamentar com a que se desenvolve fora do parlamento.
Estabeleceu-se que nossos parlamentares haviam incorrido em desvios
oportunistas como o de submeter-se às disposições regulamentares da
Câmara Municipal para obter a "aprovação" de projetos que conti-
nham as "reivindicações" imediatas dos trabalhadores. Além disso,
quando se apresentavam projetos de índole revolucionária, não se
combinavam com uma ampla agitação entre as massas que lhes
servisse para demonstrar a verdadeira causa de sua recusa pelo
Conselho, ou seja, o papel que desempenham os organismos parla-
mentares da burguesia: Órgãos de ditadura de classe. Essas falhas e
desvios que necessitavam uma correção enérgica foram amplamente
criticadas no Pleno, resolvendo-se que, com o fim de evitá-las, esta-
belecer-se-á um controle mais estreito sobre a atividade de nossos
representantes, cuja responsabilidade política recaia sobre a direção
do Partido.
Resolveu-se, por conseguinte, imprimir um caráter mais marca-
damente revolucionário a nossas intervenções na Câmara Municipal;
maior energia em nossas críticas ao vereador "esquerdista" Maurício
de Lacerda, cujas atitudes confusas e cuja adesão à Aliança Liberal
tendem a fazer penetrar nas massas trabalhadoras a ilusão de que
a luta entre essa fração e o Governo Central seria capaz de resolver
o problema econômico é político do Brasil em benefício das mesmas.
Em cima disso, resolveu-se reforçar nossa luta contra dito vereador,

80
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 620 LH 05 amo L «Lªg
desmascarando-o perante as massas pela ação contra-revolucionária
que realiza.
2.o) Através de toda a nossa atividade em geral, frente à reação
que domina na ordem nacional. O Pleno comprovou uma certa pas-
sividade do P.C. frente à reação. Quando se projetavam amplas ma-
nifestações do Partido contra a reação e visando à conquista da- rua
para o proletariado como melhor meio de realizar uma contra-ofensiva,
existia uma corrente em nosso seio que se submetia às imposições
e proibições das autoridades burguesas, não querendo apresentar o
P.C. às massas trabalhadoras com sua fisionomia política clara, sob
pretexto de que isso provocaria uma maior reação da burguesia. O
Pleno decidiu que era necessário lutar energicamente contra essa
tendência liquidacionista e procurar por todos os meios realizar de-
monstrações de rua, reivindicando para as massas o direito de
manifestar-se pelas ruas.
3.) A tendência a atribuir a reação burguesa como conse-
quência das atividades revolucionárias do P.C. e, além disso, a subes-
timação da situação objetivamente revolucionária do país e das forças
do partido. Esta tendência se manifestou particularmente entre os
membros de uma célula que trabalhava numa imprensa. Os membros
de tal célula, militantes sindicais que sofriam de um corporativismo
acentuado com tendências marcadamente reformistas, atribuíam a
reação ao que chamavam "exibicionismo revolucionário" do Partido,
exigindo da direção do mesmo uma atitude menos combativa e um
maior trabalho de organização sindical. Alegavam a incapacidade das
massas "desorganizadas" do país para fazer a revolução, e que o
P.C. devia tratar de organizá-las primeiramente em sindicatos e depois
lançar-se à luta revolucionária.
O Pleno, tendo por base o material publicado na revista interna
do Partido ("Autocrítica"), estudou o assunto resolvendo condenar
essa tendência direitista que subestimava as forças do Partido, pois
importava a introdução do derrotismo no seio do mesmo, de graves
consegiências no momento político que atualmente atravessa o país,
para o qual é necessário maior coesão e disciplina férrea, verdadei-
ramente revolucionária em nossas fileiras; além do que impedia que
o Partido aparecesse como o único guia do proletariado em sua luta
contra a burguesia, e tendia a subordinar a atividade política do
mesmo aos interesses corporativos dos sindicatos.
O Pleno comprovou também que estes erros, em grande parte,
tinham sua base nas indecisões manifestadas pelo P.C. em sua linha
política, sua falta de precisão nas perspectivas revolucionárias, e
estabeleceu a necessidade de fazer um estudo mais amplo das raízes
econômicas, das contradições internas que determinam o momento
atual, a crise política agravada pelas contradições externas como
consegiência da luta interimperialista anglo-americana.
81
BR DFANBSB V.GNC.EEE 8 20 LI l10,5 gx cpf ig: 34.

O Pleno resolveu também iniciar a luta ideológica contra os


desvios de direita, mas começando por proceder à expulsão dos
componentes da célula precitada, cuja ação contra-revolucionária
nas fileiras do Partido foi cabalmente comprovada. Os fatos poste-
riores a essa resolução confirmam sua justeza, posto que a atividade
destes elementos se dirige pelo caminho da contra-revolução.

A questão sindical

O Pleno realizou também uma detalhada autocrítica das falhas


cometidas no terreno sindical. Resolveu-se aperfeiçoar o trabalho
comunista nesta ordem de atividade, melhorando o funcionamento das
frações comunistas dos diversos sindicatos. Serão estudados e criti-
cados os erros cometidos na greve de São Paulo - restrição da greve
e sua limitação somente no campo puramente sindical - que não
permitiram a ampliação do movimento até uma greve de caráter
político. Comprovou-se, assim mesmo, este caso curioso: a greve de
São Paulo, que teve uma repercussão nacional e internacional, não
era conhecida na mesma cidade. Isto se deveu à preocupação dos
camaradas membros do C.R. de São Paulo, de conservá-la em abso-
luta ilegalidade sem fazê-la conhecer às massas trabalhadoras de São
Paulo, restringindo-a em lugar de ampliá-la. Tendo-se em conta a
importância política dessa greve, o Pleno decidiu que o Partido a
discutiria amplamente em todos os organismos de base objetivando
extrair da crítica as lições para o futuro com o fim de constituir um
material de estudo para a educação ideológica de todo o Partido.
Decidiu-se, também, que a C.G.T. pusesse em prática as decisões
do Pleno anterior que consistia em dar um programa de reivindicações
imediatas às massas trabalhadoras das cidades e dos campos e exigir
maior atividade desse organismo, o qual deverá trabalhar mais rapi-
damente nas lutas que se desenvolvem diariamente no país, entre os
trabalhadores das fábricas e os capitalistas, sob pena de ficar a
reboque dos acontecimentos.

Sobre organização
N
Quanto à organização, constatou-se que o P.C. do Brasil se
desenvolve ligando-se cada vez mais às massas das grandes fábricas,
nas quais se formam células de empresa de alguma importância.
Decidiu-se que essas células deverão desenvolver maior atividade
política aumentando o número de seus periódicos de fábrica, os quais
aumentam dia a dia. Será preciso que elas compreendam melhor seu
papel de guia das massas trabalhadoras nos locais de trabalho, acos-
tumando-se a conduzi-las e incorporá-las nas manifestações de rua.

82
BR DFaNBSB va.cnC.EEE 820 | | [amigo—
Pôs-se de relevo, também, o desenvolvimento crescente que vai
adquirindo o trabalho entre as mulheres e a juventude trabalhadora,
e entre os soldados e marinheiros. Decidiu-se que uma comissão
encarregar-se-á de elaborar um projeto de programa agrário para ser
apresentado ao Praesidium do Partido, e que seja ativada a constituição
dos Comitês Camponeses nas grandes fazendas de café e em outras
regiões agrícolas do país.
Estes são, em suma, os trabalhos realizados pelo III Pleno do
P.C. neste ano, cujas sessões duraram três dias consecutivos e nos
quais se verificou a mais ampla discussão sobre todos os assuntos.
É claro que este esquema escrito sem o material do Pleno, que
se está terminando para ser remetido ao S.S.A., é incompleto, mas
desde logo se pode deduzir que o P.C. do Brasil, fazendo uma auto-
crítica leninista de suas falhas e de seus erros, está decidido a enca-
minhar-se por uma linha justa, uma linha política marxista-leninista,
combatendo todos os desvios de direita que representem um perigo
para sua estrutura orgânica e sua firme linha política, a fim de colocar-
-se à altura dos acontecimentos que se desenvolvem neste setor da
luta internacional do proletariado e de seguir cada vez mais as dire-
tivas da Internacional Comunista.
O futuro encarregar-se-á de estabelecer se nosso Partido, cujas
dificuldades de luta em um país atrasado economicamente e sob a
ditadura burguesa mais torpe se tornam cada vez mais patentes, será
capaz de cumprir as tarefas que a situação objetiva o impõe.
(La Correspondencia Sul-Americana, n.o 21, 20.11.1929).

2) A luta contra o Prestismo


a) O PARTIDO COMUNISTA PERANTE O MANIFESTO DE
LUIS CARLOS PRESTES JUNHO DE 1930)
O manifesto de Luís Carlos Prestes só podia aterrar e surpreen-
der aos políticos da burguesia, aos grandes senhores de terras, dos
seringais, dos engenhos, das fazendas e das estâncias, aos grandes
tubarões da indústria, do comércio e das finanças, aos elementos
corrompidos da pequena burguesia, a serviço desses tubarões e dos
imperialistas ingleses e norte-americanos.
Mas, a nós, vanguarda revolucionária do proletariado, às massas
trabalhadoras dos campos e das cidades, de forma alguma esse mani-
festo poderia apavorar ou surpreender.
Para as massas, ele veio desmascarar ainda mais o caráter rea-
cionário de agente do imperialismo da Aliança Liberal, e a tapeação
indigna de certos elementos da pequena burguesia, como Maurício de
83
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 820 [HO San vol; al
Lacerda. Embora sem confessar abertamente, o manifesto reconhece
a justeza da linha política do Partido Comunista, que, muito tempo
antes do chefe da Coluna Prestes, denunciou, não só a mistificação
dos liberais, como o revolucionarismo verbal de Maurício de Lacerda.
Veio penitenciar-se em público do silêncio cúmplice da Coluna, diante
dessas tapeações, silêncio que também o Partido Comunista apontara
e censurara perante as massas.
Para nós, o manifesto representa, apenas, a comprovação mais
segura do aprofundamento da marcha para a esquerda, para a revo-
lução das vastas massas dos campos e das cidades. Revela a prova
mais incontestável do que temos afirmado sobre a agudeza crescente
da luta de classes revolucionária no Brasil.
A profunda crise econômica e política do país, originada do seu
caráter semicolonial, agravada pela penetração cada vez maior dos
imperialismos inglês e norte-americano, que deformam sua economia
e disputam um ao outro a dominação exclusiva da economia e da
política brasileiras, reduz o proletariado à miséria e empobrece cada
vez mais as massas laboriosas.
A burguesia nacional, sustentada pelo imperialismo, querendo
resolver essa crise nas costas do proletariado e das massas laboriosas
em geral, aumenta o desemprego, diminui os salários, fecha as fá-
bricas, redobra a exploração e a opressão, atira essas massas na miséria,
às portas da fome, rouba-lhes todos os direitos, toda a liberdade.
Essa situação levou as massas à radicalização sempre crescente.
A princípio, elas se deixaram iludir pelo revolucionarismo verbal da
Aliança e de Maurício de Lacerda. Essa ilusão das massas foi favo-
recida pelo silêncio da Coluna Prestes diante das tapeações liberais.
Agora, porém, que a Aliança se desmascara dia a dia, as massas,
mesmo pequeno-burguesas, perdem uma parte de suas ilusões e
marcham rapidamente para a esquerda, para a revolução.
O manifesto é a expressão da diferenciação havida no seio da
Coluna Prestes em virtude dessa marcha para a esquerda das próprias
massas inclusive de certas camadas da pequena burguesia. Parte dos
chefes pequeno-burgueses, mais ou menos corrompidos, cai na reação
aberta, abandona seu chefe supremo, insulta-o ou despreza-o. Outra
parte, revolucionária, compreende finalmente que, sem as massas,
é impossível lutar-se atualmente, tenta romper com suas próprias ilu-
sões liberais e procura aproximar-se das massas. Lança palavras de
ordem desejadas pelas massas, perante as quais confessa que errou.
Mas, apesar da sua nova posição, esses elementos revolucionários
da Coluna Prestes não perderam a sua natureza de pequeno-bur-
gueses.
É como pequeno-burgueses que eles querem dirigir a revolução,
porque não salientam no manifesto que a direção da revolução agrária
84
BroFanass va.enc.ece, 820 an gol, (ºqA

e antiimperialista tem de ser do proletariado. O manifesto não diz


que o governo dos conselhos de operários, camponeses, soldados e
marinheiros tem de concentrar em suas mãos todo o poder e deve
ser sustentado pelos operários e camponeses armados contra a bur-
guesia desarmada totalmente,
E esse é o ponto básico, fundamental, da revolução agrária e
antiimperialista. é
As forças pequeno-burguesas, mesmo revolucionárias, não podem
levar as massas à vitória, nem realizar as próprias palavras de ordem
que lançam.
A pequena burguesia não é homogênea, não tem um interesse
único, uma só base econômica. Ela é constituída, nos campos e nas
cidades, das mais variadas camadas, com interesses muitas vezes
opostos, rolando, umas para o proletariado, e outras para a burguesia.
Vive dispersa, não concentrada, sem instinto revolucionário de classe.
Oscila sempre entre a burguesia e o proletariado. E, no poder, acaba
por se entregar à burguesia.
Na direção da luta revolucionária, a pequena burguesia, incons-
cientemente ou não, acabará por trair a revolução, porque contrairá
compromissos com a burguesia e com o imperialismo, e esmagará o
proletariado e as próprias massas pequeno-burguesas. Foi assim no
México e na China e o mesmo sucederia no Brasil, se o proletariado
não dirigisse a revolução.
Só o proletariado pode levar a revolução agrária e antiimperia-
lista ao triunfo definitivo. Porque o proletariado (operários das
grandes empresas industriais, em primeiro lugar, operários da in-
dústria em geral, operários dos campos, dos transportes etc.) é a
única classe consegiientemente revolucionária. Tem uma experiência
internacional formidável. É organizada pelo próprio capitalismo em
massas compactas, nas fábricas e usinas, onde adquire o instinto revo-
lucionário de classe. Luta pelo socialismo. Expulsou os imperialistas
e burgueses da sexta parte do mundo, instaurando o primeiro governo
de operários e camponeses, construindo a sociedade socialista na
União Soviética (Rússia Proletária). Dirige a luta revolucionária na
China, combatendo os grandes proprietários, a burguesia e os impe-
rialistas, já tendo organizado soviets sobre um território habitado por
dezenas de milhões de camponeses. Toma uma parte integrante nas
lutas antiimperialistas das massas da Índia, desencadeando greves
formidáveis, recorrendo à violência organizada, desmascarando a tática
reacionária de Ghandi.
É, enfim, a única classe que não possui propriedade privada,
que só dispõe dos seus braços para o trabalho. É, por conseguinte,
a única classe que luta historicamente para, com a própria libertação,
libertar toda a humanidade.

85
BRDFANBSB V8.GNC.EEE. 220 LHOS oa d0tp 43
Só o proletariado, dirigido pelo Partido Comunista, poderá con-
duzir as vastas massas laboriosas dos campos e das senhores cidades do
Brasil para a sua libertação do jugo imperialista e dos de
terras.
Nenhuma outra classe, nem pessoa alguma, individualmente,
poderá levar essa revolução até a vitória. "A emancipação dos traba-
lhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores."
Nós temos direito de pensar que Luís Carlos Prestessuasejacate- de
novo arrastado para o jogo da Aliança e do imperialismo,
goria social, a pequena burguesia, suas ligações passadas com os
elementos reacionários da Coluna Prestes e com a AliançaqueLiberal,
suas vacilações anteriores, justificam essa nossa opinião, temos
o dever de apontar às massas.
Para evitar qualquer ilusão dessas massas, nesse ponto, con-
tinuaremos nossa política, intervindo na luta como classe indepen-
dente. Criticaremos as declarações dos pequeno-burgueses mais es-
querdistas, empurrando-os cada vez mais para a esquerda. Denun-
ciaremos as oscilações dos elementos mais esquerdistas da pequena
burguesia. Educaremos a classe operária no sentido dos seus próprios
interesses de classe, na luta pelo socialismo, na luta pela hegemonia
em todos os movimentos, desde o início da revolução agrária e anti-
imperialista.
Se, na luta revolucionária das massas, os elementos esquerdistas
aceita-
da Coluna Prestes passarem das palavras aos fatos concretos,a criticá-los,
remos a aliança com esses elementos, mas continuaremos
explicando às massas o sentido de sua posição, confiando unicamente
na luta das massas desconfiando da firmeza política dos chefes pe-
queno-burgueses mesmo dos mais esquerdistas, lutando por todos
os meios pela hegemonia do proletariado na luta.
Desde já, agora mais do que nunca, concitamos às massas pro-
proletariado,
letárias e camponesas a que apóiem o Partido de classe doComunista.
o Partido Comunista, seção brasileira da Internacional
Só o proletariado, organizado em seus próprios organismos dede
luta (sindicatos revolucionários, comitês de fábricas, de usinas,lutas
fazendas, comitês de luta), experimentado por suas próprias
econômicas e políticas (greves, luta pela terra e contra o imperia-
lismo), sob a direção da vanguarda consciente do proletariado, o
Partido Comunista do Brasil, poderá dirigir e levar até a vitória a
revolução agrária e antiimperialista.
Aos milhões de trabalhadores das cidades e dos campos, aos
operários, camponeses, soldados e marinheiros, lançamos o nosso grito
de guerra:
Organizai-vos e armai-vos!
Apossai-vos de toda a terra!
BR oranass ve.one.eee220 LL4 05 em 001 “,qu
Confiscai-a! Dividi-a!
Apossai-vos das empresas imperialistas!
Dia de 7 horas!
Aumento geral dos salários!
Dia de 6 horas para os menores e às mulheres!
Pão e trabalho para os desempregados!
Criai o governo operário e camponês baseado nos:Soviets, isto
é, nos Conselhos de Operários e Camponeses, Soldados e Marinheiros!
Pela União das Repúblicas Sovietistas da América Latina!
Rio, junho de 1930.
O Presidium do Partido Comunista do Brasil
(A Classe Operária, 08.07.1930).
O MOVIMEN
b) REVOLUC TO REVOLUCIONÁRIO DO BRASIL E A LIGA
IONÁRIA DE PRESTES (SETEMBRO DE 1930)
Brasil e coloca inevi-
A crise econômica paralisa toda a vidadadorevolução.
tavelmente na ordem do dia o problema A crise da
monocultura dominante do café, que representaas80condições por cento de toda
a exportação do Brasil, não se resolve, dadas de super-
produção mundial de café, das existência s em forma de posse e de
trabalhos feudais. Lançam-se ao mar milhares de sacas de café;
despachos telegráficos noticiam com frequêncidaa riqueza incêndios "casuais"
nos armazéns de café; à custa da destruição nacional os
feudais e a burguesia querem livrar-se da superprod ução. Os porta-
-vozes do Presidente do Brasil nos Estados Unidos não provaram que o
explorar o petróleo, tem intenção
imperialismo ianque, que querempresas
de aplicar capital nas falidas de café. O governo do Brasil
procura justificar o enorme empobreci mento do povo afirmando que
é resultado da crise do capitalismo mundial.criseNa jáverdade, a crise do
capitalismo agravou e complicou uma grave existente em toda
a economia do Brasil. A penetração rápida de capital em um país
ainda com vestígios feudais e semi-escra vagistas de trabalho, levantou
de forma grave a questão do mercado foge interno. Dos 40 milhões de
habitantes do Brasil, quase um quarto avelãs. do jugo feudal morando
nos bosques e alimentand o-se de cocos e de A grande maioria
da população é formada pelos trabalhadoresA produção agrícolas, que recebem
um salário insuficiente para seu sustento.pós-guerra, encontra-s têxtil, que se
de
desenvolveu rapidamente no períodocausa da concorrência estrangeir e numa
situação insolúvel não somente por a,
mento de toda a população. 'Oartifi-
mas também graças ao empobrecirapidamen mil-
te. Para sustentá-lo
«réis - moeda brasileira -a caicapitalistas estrangeiro
cialmente vendem-se terras s, organiza-se um
87
aroransse va.enc.erE, 220 LLU09 om oo b ª«(x-ºl S

do país, vende-se o pe-


controle estrangeiro sobre todas as atividades
o da terra, vende- se o trabalho das gerações
tróleo e o ouro debaix
O país torna- se cada vez mais colonia l.
futuras,
o período de
Caem a exportação e a importação do País. Para
os dados seguin tes do livro
janeiro a maio, de 1925 a 1930, tiramos
de Sterling:
Exportações de janeiro a maio:

Libras
Ano
---
36.224.000
1926
31.908.000
1927
40.682.000
1928
38.840.000
1929
33.655.000
1930

iu em 5.185.000
A exportação, em comparação com 1929, diminu
no mesmo período, em
' libras esterlinas. A importação diminuiu,
12.657.000 libras.
o ano mais crítico
A importação caiu mais baixo que em 1927,
ica do Brasil. Estas cifras são muito otimistas, como
da vida econôm
eira situaçã o é muito
são todas as cifras oficiais do Brasil. A verdad
l da econom ia dos diferen tes esta-
pior. O desenvolvimento desigua
a opress ão dos imperia listas, levam a uma luta perma-
dos do Brasil,
a Paraíba levada a
nente entre os diferentes estados. A luta contra
ações organi zadas com o apoio
efeito pelo governo central, as conspir
pelo govern o de Minas Gerais, as ameaças
do imperialismo ianque
de parte do govern o do Rio Grande do Sul, a quase
permanentes
mãos de Ford, carac-
independência do Amazonas que se acha nas
e suficie nte a instabi lidade política e
terizam de forma bastante clara
econômica de todo o país.
do Brasil lutando
Os dois imperialismos preparam a divisão
que os golpes de Estado se
ferozmente um contra o outro. É por isso
com as tentati vas de compro misso, com
alternam com os populares,
o assassi nato de ministr os, com tentati vas novas
ameaças novas, com
base de relaçõe s entre os
para se chegar a um compromisso sobre a
café se encont ra firme nas mãos
dois imperialismos. A produção do
o, nas mãos dos Estado s Unidos . Todas
da Inglaterra. Seu consum
com a venda do subsolo
as esperanças de obter novos empréstimos,
ao imperialismo ianque.
para a exploração do petróleo, estão ligadas
e a burgue sia do Brasil capitularam defini-
É por isso que os feudais
dos imperia listas. É por isso que os feudais e os
tivamente diante
alismo s, e estão prontos,
capitalistas se movimentam entre os dois imperi
estrang eiras, a salvar seus privilégios
graças ao dinheiro e às armas
massa empobr ecida do país. A função parasit ária do
e a explorar a

88
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 2 O UH 05 am 00 L,? 46
capital estrangeiro se manifesta no Brasil de hoje com uma fran-
queza única: os Estados Unidos fazem tentati vas de criar dois estados
produtores de petróleo, no norte e no sul, organi zar a raciona lização
capitalista, que deve - nas condiç ões semi-es cravas de trabalh o-
levar até a exterminação uma parte da popula ção.
Nestas condições o Brasil, que é um dos países mais ricos do
mundo (possui ouro, petróle o, borrac ha, madeir a, 23% de todo o
ferro do mundo, a mesma quanti dade que os Estado s Unidos ), não
pode desenvolver uma única produção. No país em que há as terras
mais férteis, reina a fome, agoniz a uma parte da popula ção.

II
Nestas condições, nenhum grupo político do econôm Brasil nega que a
crise atualm ente alcanç ou toda a vida polític a e ica do país.
Nada faz crer que se possa salvar a situaçã o com emprés timos par-
ciais, entregando o café a diferen tes países sem indeniz ação. As clas-
ses dominantes do Brasil compre endera m bem que não poderã o mais
governar usando os métodos antigos. Um dos mais intelig entes con-
servadores escreveu em "La Nación" de Buenos Aires no dia 1.o de
agosto:
"Uma coisa Prestes, sem dúvida, compreendeu bem:no oBrasil, tempo das
revoluções políticas no Brasil já passou. Atualmente, só é
do artigo
possível uma revolução social." O autor a inquietação dos grupos mostro u que com-
preende bem o caráter da crise atual, reflete golpe de Estado,
dominantes que começam a compreender que. cada a uma revolução ver-
nas condições atuais do Brasil, pode conduz ir
dadeira, quer dizer, fazer passar o poder de uma classe para outra.
Na relação das forças de classe no Brasil produz em-se mo-
dificaç ões muito sérias. Essas mudan ças depend em, sobretu do, de:
1) do agravamento da crise econômica e polític a do País; 2) de uma
inevitabilidade de lutas de classe, tanto na cidade como no campo,
lutas que se desenr olam sob dois aspecto s: de um lado a luta contra
o feudalismo e, de outro, a luta do proleta riado contra o capital
estrangeiro e nacional; 3) a luta agravada entre os dois rápidos imperialismos;
4) pela inevitá vel revolu ção agrária ; 5) pelos efeitos da ori-
gem da crise sobre a pequena burguesia.
Os conservadores ligados à política tradicional do ação Instituto do
Café, nas mãos de Londre s, e com a técnica de explor feudal-
«capita lista de São Paulo, Santos, mostra ram tendênc ia de fazer con-
cessões ao imperialismo ianque para atenua r a gravid ade da crise
financeira. Os conservadores compreenderam bem que oAimperi alismo
ianque não preten de mudar a base feudal do país. viagem do
presidente a Nova Iorque devia dar uma afirma ção precisa a esta
89
Br oDranass 820LL4O Sa, 00 T 47

política de concessões. Com essa medid


a, os conservadores anularam
a esfera de sua influência, ganharam o
governo do Rio Grande do Sul,
heutralizaram em grande parte o gover
no de Minas Gerais, que está
completamente debaixo da direção do
imperialismo ianque. A Aliança
Liberal, ligada às mesmas formas
de exploração feudal-capitalista,
continuou ameaçando com a "revolução
" a fim de obter concessões
maiores e mais eficazes por parte dos
conservadores e assim debilitar
0 movimento revolucionário de operá
rios e campesinos. A derrota
da Aliança Liberal diante dos conse
rvadores não pôde, naturalmente,
debilitar a luta entre os dois imperialis
mos principais. A luta con-
tinua, se agrava, e continua sendo
um dos maiores fatores da de-
composição econômica da vida do Brasil
. A luta entre os diferentes
estados continua sendo a verdadeira reali
dade como expressão da luta
entre os dois imperialismos pela monop
olização do Brasil. A am-
pliação do apoio dos conservadores
que fazem concessões ao impe-
rialismo ianque, a capitulação da
Aliança Liberal que teme uma
verdadeira revolução de massa, a
crise agravada em todo O país,
levaram a uma diferenciação bastante
rápida da pequena burguesia da
cidade; uma parte é combatida econo
micamente graças ao mercado
interno muito rígido, desvalorização
da moeda, racionalização capi-
talista; a outra parte ligada aos privil
égios feudais e capitalistas que
vive das sobras que recebe da mesa
do patrão, se adapta à raciona-
lização capitalista e tem uma funçã
o intermediária na exploração dos
Operários e sobretudo das massas
(população) agrícolas. Politica-
mente, as simpatias da pequena burgu
esia têm sido para a Coluna
Prestes. A Coluna, que tivera tradiç
ões revolucionárias, não tem há
muito tempo qualquer sentido revol
ucionário. A Coluna quis lutar
sem nenhum programa político; desli
gada das massas, na realidade
era um aparato militar em mãos
da Aliança Liberal. Por meio da
Coluna, a Aliança Liberal podia realiz
ar sua própria política, quer
dizer, ameaçar, pressionar os conservado
res de um lado e de outro,
enfraquecer o movimento revolucion
ário dos operários e campone-
ses mediante a fraseologia de uma
"revolução de preparação". Na
realidade, a Coluna Prestes era o inimi
go pronunciado do movimento
revolucionário, defende os interesses
"dos capitalistas estrangeiros,
sustenta os feudais e está pronta a lutar
contra todo verdadeiro mo-
vimento revolucionário de massas. Todas
as conversas sobre "revolu-
ção" são, nos países da América Latina
, um dos métodos mais gros-
seiros de enganar as massas, empregados
por agentes dos capitalistas
estrangeiros. Essas "revoluções" busca
m, na realidade, um certo
deslocamento do poder através da muda
nça de pessoas, nada mais.
Deslocamentos semelhantes de poder se reali
zam atualmente em todos
Os países da América Latina, na Bolívi
a (entrega do poder de Siles
à Junta Militar), no Chile (entrega prová
vel do poder de Ibánez
a "novos" ministros), no Peru, na Colômbia,
na Argentina e no Uruguai.

90
BR DFANBSB 220 L LOS 0m 004 Aú 74
$
Essas trocas não modificam nada, nem
a política nem a relação
Entre as classes, mas refletem assuntos
sérios no desenvolvimento do
movimento. Primeiramente, mostra
que a crise foi muito profunda;
segundo, que a situação é completamente
instável; terceiro, que a luta
entre os dois imperialismos tornou-se
mais grave e os imperialistas
buscam uma base mais forte no país;
quarto, que os grupos domi-
nantes temem o movimento revolucionár
io operário e camponês e
não podem mais lutar contra as massa
s apenas com o terror: para-
lelamente com o terror empregam métod
os de demagogia social. A
Coluna Távora satisfaz todas estas condi
ções e é um meio direto nas
mãos do imperialismo ianque. A Coluna
Távora pode ser empregada
na luta armada entre os diferentes Estad
os se isto for necessário para
0 imperialismo ianque. Recua durante
as conferências entre conser-
vadores e liberais e no momento atual
luta em favor de um desloca-
mento político a favor do governo de Minas
Gerais que está intei-
ramente submisso ao imperialismo ianque.
O manifesto de Távora,
chefe atual da Coluna, no qual ele defende
abertamente os capitalis-
tas estrangeiros, luta contra a revolução
agrária, demonstra que em
caso de lutas revolucionárias os chefes atuais
da Coluna massacrariam
Operários e campesinos e defenderiam a contra
-revolução. Eis a ra-
zão pela qual a Coluna Távora é um inimig
o declarado das massas
trabalhadoras e camponesas e forma uma
organização militar de feu-
dais-capitalistas que pode assemelhar-se aos
movimentos de Ibánez no
Chile ou da Junta Militar na Bolívia. A Colun
a de Távora luta aber
tamente contra mudanças nas relações agrári
as, contra as massas que
querem se libertar do jugo dos capitalistas
estrangeiros. Os elementos
que encabeçam a Coluna de Távora,
nos projetos de reformas, não
vão mais longe do que exigir a dimin
uição das plantações de café,
parte do qual mediante indenização, seria
dividida entre camponeses
ricos. A posição da Coluna está diretament
e dirigida contra os tra-
balhadores e camponeses do país. Não
pode enganar trabalhadores
e camponeses mais esclarecidos.

III

A situação do Brasil começa a se mostra


r nas lutas dos operá-
rios e camponeses: é apenas o início das batalh
as. No Rio de Janeiro
e nas províncias começa de novo uma
agitação grevista. O terror
contra operários e camponeses torna-se
cada vez mais grave nas re-
giões em que domina a Aliança Libera
l. A luta de classes torna-se
mais encarniçada: paralelamente à luta
contra o feudalismo e o im-
perialismo, agrava-se a luta contra a
burguesia nacional. Nestas con-
dições, uma parte da pequena burguesia
é levada em direção à revolu-
ão operária e camponesa, começa
a compreender que a crise atual do

91
aroransss ve.enc.ece 2) | L 4050m pb & of]! 4
país exige mudanças mais drásticas. Está pronta a sustentar a luta
das massas pela independência do país contra o jugo do capitalismo
estrangeiro. Prestes colocou-se à frente desta parte
guesia. Lançou o programa agrário antiimperialistada dapequena bur-
revolução.
Compreendeu que a Coluna, pequeno-burguesa por sua composição,
ideologia e organização, passara para a contra-revolução antes do
começo da revolução operária e camponesa. Ele, porém, não compre-
endeu que esta passagem (mudança) não é um acaso histórico nem
falta de um programa exato, mas o resultado inevitável oscilações
da pequena burguesia entre os feudais e os burgueses e das
lucionária. Somente os operários e camponeses do Brasila podem
massa revo-
fazer
a revolução agrária e antiimperialista. A grande maioria da população
do Brasil é formada pelos operários e trabalhadores
zá-los, encabeçar seus movimentos, conduzir suas lizasagrícolas;
pela
organi-
realização
verdadeira do programa agrário e antiimperialista pode fazê-lo so-
mente o partido mais organizado, mais adiantado, mais experiente,
o partido do proletariado, o P.C. Em nossa época histórica, a luta
contra o P.C. é uma luta dirigida pela classe dominante ligada ao
imperialismo. A experiência do movimento revolucionári mundial
justifica cada dia esta conclusão. Prestes mesmo cita oo exemplo
mexicano, em que a decadência da revolução foi inevitável graças «às
lutas pela pequena burguesia. Apesar disto tudo, Prestes organiza
uma segunda Coluna sabendo muito bem que deve seguir inevitavel-
mente o mesmo caminho de oscilações e chegar aos mesmos resul-
tados, é bem possível que na segunda Coluna Prestes se encontrem
elementos da pequena burguesia que estejam prontos a sustentar, no
começo, o movimento revolucionário de operários e camponeses;
porém, somente debaixo da direção do proletariado esses elementos
poderão realmente servir no início da revolução. Cada tentativa deles
de lutar pela hegemonia, para fazer uma política "independente", isto
é, oscilar entre as duas classes da sociedade levará inevitavelmente ao
fracasso da revolução. O proletariado da China teve uma grande
experiência sustentando o Kuomintang, que era um partido de dife-
rentes classes sob a direção da pequena burguesia. Somente
lutando contra o Kuomintang, o proletariado formou o P.C. que agora,
as lutas vitoriosas de operários e camponeses. Em seu segundo dirigemani-
festo, Prestes adverte aos operários, camponeses e a pequena burguesia
do Brasil a repetir a experiência fatal do Kuomintang chinês e a criar
no Brasil um partido de diferentes classes sob a direção pequena
burguesia. Ele chama este Kuomintang do Brasil de LigadaRevolucio-
nária. Para superar a desconfiança das massas diz que essa Liga não
será um partido político, mas um aparato técnico revolução; é
evidente que nada depende de um nome, mas doda conteúdo.
Liga Revolucionária luta pelo poder no país, quer dizer, a Liga é umA
partido político. Prestes diz no segundo manifesto que somente o
92
sr oransse ve.cnceze, 2201 dol jo 400

proletariado pode dirigir uma revolução vitoriosa de trabalhadores e


camponeses, nunca a oscilante burguesia: são palavras. Na realidade,
faz o contrário; busca, com a Liga Revolucionária, conservar a pe-
quena burguesia na direção da revolução agrária. Para a política da
pequena burguesia é típico propor um programa revolucionário e
entregá-lo nas mãos oscilantes de elementos não revolucionários que
devem inevitavelmente romper com a revolução no desenrolar das
lutas. A formação da Liga Revolucionária é a formação de um par-
tido político que luta contra o P.C., partido formado no Brasil pela
classe mais revolucionária, e o único guia possível da revolução
agrária. É por isso que o segundo manifesto de Prestes reafirma mais
uma vez as palavras históricas de Lênin sobre os políticos pequeno-
-burgueses:
"Sua secreta fraqueza reside primeiramente na incapacidade de
fazer uma política independente; segundo, no medo de dar plena
confiança ao proletariado revolucionário e em sustentar sua política
de independência; terceiro, como consequência, um deslocamento
inevitável em direção da burguesia em geral."
Prestes demonstrou, primeiro, por suas oscilações, por sua posi-
ção a favor do imperialismo durante as eleições, que não era capaz
de fazer uma política independente; segundo, que não pode crer sem
reservas na força revolucionária do proletariado brasileiro e dizer
claramente que reconhece que o proletariado é a classe mais revo-
lucionária, que somente o P.C. pode dirigir a revolução agrária e
antiimperialista. A consegiência inevitável destas falhas e oscilações
serão as oscilações da Liga Revolucionária entre a Coluna Távora,
o órgão do imperialismo, e o P.C., vanguarda do proletariado do
Brasil.
É por isto que a Liga Revolucionária criará um obstáculo sério
no caminho do desenvolvimento da revolução operária e camponesa
no Brasil. A Liga Revolucionária tratará de disfarçar o problema
central da revolução, a luta de classe e a função do proletariado como
único guia possível da revolução no Brasil. Eis por que a Liga Revo-
lucionária diz aos trabalhadores para não apoiarem o P.C. e sim a Liga
Revolucionária. .Os comunistas devem com todas suas forças expli-
car o papel de cada classe na revolução agrária e antiimperialista
e lutar pela hegemonia do proletariado no movimento revolucionário,
movimento que deve inevitavelmente degenerar em contra-revolução
sob a direção da pequena burguesia.
A Liga Revolucionária fornece uma idéia falsa da revolução
agrária e antiimperialista, que deve ser no começo uma revolução da
pequena burguesia e, mais tarde, do camponês e proletariado. Os
comunistas devem explicar claramente que só a luta de todas as massas
operárias e camponesas sob a direção do P.C. podem resolver vitorio-
samente o problema da revolução. A Liga Revolucionária não ex-

93
BR DFanBSB ve.cnc.ezE,
820 LUO05 q 00
4 ro Lol
plica claramente que a questão da frente única é uma
questão da
ligação de cúpula entre o P.C. e os chefes da pequena
burguesia,
da cidade e do campo; ela representa a frente única como
uma combi-
nação "desde arriba" entre o P.C. e os chefes da pequena
burguesia.
Prestes não rompeu com sua primeira Coluna para
sustentar sem
reservas a revolução agrária e antiimperialista sob
a direção do
proletariado. Cria um partido que dobra as forças revoluci
onárias, que
tem como tendência a luta da pequena burguesia
para dirigir as
massas camponesas. A Coluna número dois repete a velha
experiência
política em condições históricas diferentes; porém a segunda
Coluna
Prestes é sem dúvida mais perigosa que a primeira
experiência de
Prestes. Primeiro, porque Prestes lança um program
a da revolução
agrária e antiimperialista; segundo, porque trata de
ligar a luta
militar com o movimento . de massas; terceiro, porque
a experiência
insuficiente do proletariado e das massas camponesas nas lutas
revo-
lucionárias e pela popularidade de Prestes. Eis por que o
P. C. não
deve menosprezar o perigo que representa a Liga Revoluci
onária; a
luta por um partido de classe, verdadeiramente ligado ao
proletariado
das fábricas, empresas imperialistas, com as "fazendas"
e as empresas
rurais, deve ser continuada com toda a força. pelo P.C.
A luta por
uma linha ideológica clara, independente, contra
toda a confusão
e as oscilações entre as diferentes classes que aparece no
documento
da Liga Revolucionária, deve ser reforçada por uma
luta titânica
para ganhar verdadeiramente influência sobre o proletar
iado e campo-
neses. Deve ser condenada com toda energia a passividade do Partido
no movimento de operários e camponeses. Graças a esta passivid
ade
do Partido, Prestes ganha influência sobre certos elemento
s pequeno-
-burgueses dentro do Partido mesmo. O fato de que algumas
organi-
zações (Pernambuco) tenham distribuído o manifesto de
Prestes sem
fazer nenhuma crítica demonstra como a situação pode
ser perigosa.
Os trabalhadores da onda grevista que está tendo início, os trabalha
-
dores agrícolas das fazendas e os milhões que moram nos bosques
,
buscam uma direção revolucionária. A verdadeira frente única que
pode assegurar a realização da revolução agrária e antiimperialista
consiste numa união real, verdadeira, orgânica, destas massas nas lutas
que se aproximam e se agravam. O P.C. deve demonstrar sua força
combativa, deve realmente encabeçar as lutas que se avizinha
m.
O Partido deve explicar com toda clareza que a Liga Revoluci
o-
nária de Prestes se acha diante de dois caminhos possíveis
; um, que
seja diretamente envolvido, que pese suas declarações
sobre a greve
agrária, num golpe de Estado preparado e sustenta
do diretamente
pelos governos liberais (o de Minas Gerais, parcialmente
o do Rio
Grande do Sul) e pelo imperialismo ianque; o outro, é que
inicie a
luta independente, apoiando-se nos grupos pequeno-burgue
ses da ci-
dade e do campo. No primeiro caso, o Partido deve combate
r com

94
BRDFANBSB vs.GNc.EEE_%) O L É 44 Sa+od L (filiªl
toda sua força a Liga Revolucionária, que seria um sustentáculo di-
reto do fascismo de Távora e do capital nacional e estrangeiro. O
perigo de uma tal alternativa é grave, porque a influência da Coluna
Távora sobre os elementos pequeno-burgueses que cercam Prestes é
muito grande e porque a demagogia sobre uma "revolução" produz
grande impressão sobre a pequena burguesia oscilante que teme um
verdadeiro movimerito de massas. No caso em que Prestes realmente
seguisse suas declarações, encabeçando a luta dos grupos da pequena
burguesia contra o imperialismo e o feudalismo, o dever do Partido
seria sustentar todas as lutas verdadeiramente antiimperialistas e
antifeudais através de uma ação revolucionária independente. A pa-
lavra de ordem deve ser: "Marchar separadamente e combater jun-
tos o inimigo comum." Cada tentativa de sustentar, nas atuais
condições brasileiras, o movimento revolucionário da pequena bur-
guesia por meio de uma ação que não se baseie na frente única dos
operários e dos camponeses, a não ser que se faça por meio de pactos
com os chefes pequeno-burgueses, dará a direção do movimento aos
ditos chefes, enfraquecerá o P.C., tornará impossível a direção das
batalhas rurais pelo proletariado, o que é a única condição inevitável
para a revolução vitoriosa. É por isso que toda batalha deve ser
travada com energia, que seja realmente uma batalha de operários
e campesinos e o P.C. deve Jutar tenazmente para ser o chefe delas.
Não se deve dar a possibilidade a nenhum grupo pequeno-burguês,
a nenhum general revolucionário, de quebrar a verdadeira união do
proletariado e das massas camponesas. Descobrindo cada oscilação,
cada tendência de compromisso com os feudais e a burguesia, fazer
possíveis as lutas vitoriosas das massas do Brasil. Eis a razão porque
neste momento, quando a situação mostra que o Brasil se acha na
véspera de grandes lutas, o P.C. deve mobilizar todas suas forças,
acabar com as oscilações dos elementos pequeno-burgueses dentro
do partido mesmo; orientar cada célula do partido, que deve criar
uma frente única em cada usina (fábrica) e em cada empresa; enviar
delegados às regiões em que a luta dos camponeses teve início, a fim
de dar uma orientação a este movimento. Nas greves, é preciso expor
ao proletariado as questões políticas e começar a formar comitês ope-
rários e camponeses que possam organizar e unir as forças revolu-
cionárias dos operários e camponeses. Uma das maiores falhas no
trabalho do Partido é a ausência de formulação clara das reivindica-
ções dos operários e camponeses. A teoria dos liberais, de que du-
rante a revolução as lutas econômicas não têm um papel decisivo, é
dirigida diretamente contra os operários e camponeses. Somente nas
lutas pelas reivindicações imediatas, as massas se armarão, formarão
diante da batalha sob a direção do nosso Partido, Os revolucionários
honestos, nesta frente, farão verdadeiramente a revolução agrária e
antiimperialista. Todos os que vacilam, que substituem o Partido do
95
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 2) () | Lªi. 05 am 004 ; e:
proletariado pelos agrupamentos da pequena burguesia ou pelos gol-
pes de Estado de caudilhos que se dizem revolucionários, estarão
inevitavelmente do outro lado da barricada. A situação revolucionária
exige do Partido, com todas as forças, um aumento de fé como força
dirigente das lutas, o fortalecimento da organização, a luta pela plena
independência política e sobretudo a independência na ação revolu-
cionária, a fim de poder criar a frente única da batalha dos operários
e camponeses. Unicamente trilhando este caminho o P.C. do Brasil
poderá cumprir sua missão histórica.
(Revista Comunista, Buenos Aires, ano 1, n.o 1,
setembro de 1930).

3) A crise do P.C.B.: Resolução da Internacional Comunista


sobre a Questão Brasileira (fevereiro de 1930)
A resolução do secretariado Político da I.C., abaixo publicada,
é o resultado de um sério exame, a que se procedeu em Moscou, da
situação do Brasil e do P.C.B. Ela nos traça, em forma concisa, dire-
tivas claras e firmes para toda a atividade política do Partido no
período atual. É assim um documento da maior importância para o
nosso Partido e todos nós devemos estudá-lo a fundo, discutindo-o
minuciosamente em todas as organizações do Partido, bem como pelas
colunas de nossa imprensa. Com ela inauguramos esta rubrica na
"A Classe Operária", destinada, precisamente, ao exame e discussão
dos problemas políticos, das questões de organização, de autocrítica
do Partido. E insistimos com todos os camaradas para que participem
ativamente da discussão em torno da resolução da I.C., contribuindo,
assim, para o reforçamento ideológico e político do Partido.
1 - A crise econômica no Brasil
A crise econômica que se declarou na primavera de 1929, no
Brasil, está intimamente ligada com a baixa catastrófica dos preços
do café no mercado mundial. Esta baixa assinala a falência polí-
tica dos preços do Instituto de Defesa do Café, órgão dos da
fazendeiros de café do Brasil, no qual dominava o capital grandes
inglês.
A política de aumento exagerado dos preços do café no mercado
mundial determinou, de um lado, a acumulação de grandes
dades de café, artificialmente colocadas em estoque no paísquanti-
e, de
outro lado, em vários países (Venezuela, Colômbia, América Central,
África do Sul) desenvolveram-se rapidamente as plantações de café.
Disto resulta que a produção mundial do café excede ao consumo
mundial, ocasionando a superprodução desse produto.
96
Br oransse S20 | L 40 Sam 004 (pal o4
A falência da política dos preços mundiais elevados do café
atingiu principalmente o Brasil, que fornece mais de 2/3 da produção
mundial desse produto, cuja exportação constitui 70% de suas expor-
tações.
A crise do café se processa na base de uma economia nacional,
cuja estrutura está, por si mesmo, minada por uma crise profunda,
proveniente do caráter colonial da economia brasileira e da crescente
contradição entre o desenvolvimento rápido do modo de produção
capitalista e a base econômica e social, que ainda se conserva feudal
e escravagista. Esse fato, ligado ao amadurecimento da crise eco-
nômica mundial e, principalmente, à crise econômica dos Estados
Unidos da América do Norte, para onde o Brasil exportava, sobre-
tudo, seu café, cria condições que prolongarão a crise econômica do
país, ameaçando-lhe a economia de uma catástrofe completa, prin-
cipalmente em consequência da profunda agravação da luta entre
o imperialismo inglês e o americano, e da intervenção, nessa luta, das
diversas classes da população do Brasil.
2 - O amadurecimento da crise revolucionária no Brasil
A crise econômica do Brasil já acarretou a ruína dos pequenos
e médios produtores de café e causou um desemprego em massa nas
cidades e nas grandes fazendas de café. A condição dos operários
industriais e dos operários agrícolas, bem como a condição dos
camponeses pobres agravaram-se fortemente. Devido a isto, desen-
volveram-se no Brasil greves espontâneas de massa, que, por sua
amplitude, ainda eram desconhecidas na história de seu movimento
operário. Estas greves adquiriram uma especial importância, se ob-
servarmos que, pela primeira vez, delas participaram os operários
das empresas imperialistas.
A crise econômica do Brasil, criou, desta forma,
indispensáveis para um vasto movimento revolucionárioasdascondições
massas
operárias e camponesas.
De outro lado, no seio das classes que estão no poder aguça-se
a luta que, em 1922-1926, assumira a forma da guerra civil aberta.
Os interesses da burguesia industrial e dos grandes proprietários de
terras não produtores de café, bem como de uma parte da burguesia
agrária dos Estados - dominados pelo capital financeiro ianque -
entram cada vez mais em colisão violenta com os interesses de classe
dos grandes fazendeiros feudais (proprietários dos latifúndios de
café) que governam o país, e dos banqueiros, industriais e grandes
comerciantes, ligados à política de valorização do café. A luta entre
estas duas partes das classes dirigentes cada vez mais se agrava,
em consequência da crise econômica. A camarilha feudal agrária,
que está no governo (Partido Republicano), diretamente responsável
97
sr oransse 320 11405 G gol “c,-Lº 5
pela crise econômica do país e que a preparou pela sua política de
cupidez, procurando manter artificialme nte, em elevado nível, os
preços mundiais do café, faliu, e a Aliança
arrancar o poder das mãos dos republicanos.Liberal prepara-se para
Esta luta se aguça particular
imperialismo inglês nos fazendeirosmente pelo fato de se apoiar o
feudais,
enquanto o imperialismo ianque se apóia naqueAliança governam o país,
agravação da luta entre o imperialismo inglês e o imperialisLiberal.
mo
A
ianque,
agravamento causado pelo amadurecimento da crise econômica mun-
dial, não deixa de repercutir na luta entre os republicano s e os liberais,
principalmente se tomarmos em consideração a proximidad e das elei-
ções presidenciais e parlamentares.
A Aliança Liberal, que se constituiu com a ala esquerda do
partido republicano e com o partido democrático, conseguiu, graças
à sua demagogia, colocar sob sua influência uma parte da pequena
burguesia (Coluna Prestes). Após haver renunciado à luta vigorosa
contra o imperialismo ianque, certos elementos influentes
Prestes, sustentam, agora, abertamente, a Aliança Liberal. da Coluna
Outra parte da pequena burguesia, que tomou parte na insur-
reição de 1924-26 e que não seguiu a Prestes, aproxima-se cada vez
mais do proletariado, em cujo seio se estabeleceu sob a influência
do P.C. do Brasil, convencendo-se de que seus interesses
mente hostis aos do partido republicano e aos da AliançasãoLiberal, igual-
e são igualmente irreconciliáveis com os do imperialismo inglês e do
imperialismo norte-americano.
Assim: a agravação da crise econômica, o enorme e crescente
descontentamento que ela provoca no seio das nossas classes labo-
riosas e, finalmente, a luta crescente no seio das classes dominantes
constituem as premissas fundamentais para o rápido amadurecimento,
da situação revolucionária no Brasil.
Isto significa que o P.C. do Brasil deve, desde agora, preparar-
-se para a luta, a fim de poder encabeçar a insurreição revolucionária
das grandes massas trabalhadoras, que tanto
ocasião das eleições presidenciais, como por ocasiãopodede uma
explodir por
qualquer
greve importante ou de uma qualquer sublevação local de operários
agrícolas, de camponeses ou de desempregados.
3 - O caráter da revolução brasileira
No Brasil se desenvolvem as
tipo democrático-burguês. O curso premissas
e o
de uma revolução do
sucesso
pende da classe que conquistar, nela, a hegemonia,desta Se
revolução de-
for a pequena
burguesia revolucionária, a revolução brasileira estará condenada
uma derrota semelhante à da revolução no México. Se o proletariadoa
tomar a hegemonia no curso da revolução, sob a direção do P.C,.,
98
BR Orandoo Vo.GNC.EEE, Q ÃO ll qo S Om GOL“) i— OG

e realizar resolutamente e sem hesitação, a linha leninista da I.C.,


esta revolução terá, então, grandes probabilidades de triunfo, princi-
palmente se provocar movimentos revolucionários nas outras repú-
blicas da América Latina.
Sob a hegemonia do proletariado, a revolução brasileira resol-
verá todas as tarefas burguesus democráticas essenciais, que se lhe
apresentarão: 1) revolução agrária (libertação das massas campone-
sas e dos operários agrícolas das formas feudais e coloniais de explo-
ração, confiscação, nacionalização e entrega da terra aos camponeses
e aos operários agrícolas); 2) libertação do Brasil do jugo do impe-
rialismo (confiscação e nacionalização das empresas, das minas, dos
domínios, das concessões, das vias de comunicação, dos bancos dos
imperialistas e anulação das dívidas externas); 3) instauração da
República Operária e Camponesa sobre a base dos Soviets, agrupando
a classe operária e a massa camponesa (ditadura democrática revo-
lucionária do proletariado e da massa camponesa).
As lutas necessárias para realizar estas tarefas democrática-bur-
guesas, o desenvolvimento da luta contra o imperialismo e dos movi-
mentos revolucionários nos outros países da América Latina, a ligação
estreita da revolução brasileira com o movimento proletário revolu-
cionário internacional e com a U.R.S.S., que constrói o socialismo,
criarão as bases para a transformação da revolução democrático-bur-
guesa em revolução socialista, e para a transformação da hegemonia
do proletariado no seio da revolução democrático-burguesa em dita-
dura socialista do proletariado.

4 - Importância da independência do Partido Comunista


do Brasil
A realização da aliança revolucionária do proletariado e da
massa camponesa na revolução democrático-burguesa (ditadura revo-
lucionária democrática do proletariado e da massa camponesa) não
significa a fusão de duas classes (do proletariado e da massa cam-
ponesa) e a formação de um partido operário camponês único. O
proletariado não pode de forma nenhuma deter a hegemonia da
revolução democrático-burguesa, se não possuir seu partido "pró-
prio", conduzindo uma política de classe absolutamente "indepen-
dente", Nos países como o Brasil, onde existe uma grande massa
de operários agrícolas e de camponeses pobres e um proletariado
industrial relativamente pouco numeroso e politicamente atrasado,
o desenvolvimento do movimento nacional-revolucionário da massa
camponesa e das massas semiproletárias, ligado a este caráter agrário
fundamental da revolução, ameaça seriamente absorver, por com-
pleto, o movimento independente do proletariado, no conjunto do
movimento nacional-revolucionário. A perda, por parte do proleta-

99
sroransss vs.enc.eEÉ, 8201LUOS amo ol 10: Lo

rguesa,
riado, de seu papel independente na revolução democrático-bu
perda de sua hegemon ia, que seria conquis tada pela
significaria a
es
pequena burguesia revolucionária. Praticamente, dadas as condiçõ
, de fato, para
do Brasil, resultaria disto que a hegemonia passaria
ses e dos
as mãos dos politicastros, dos aventureiros pequeno-burgue
demagog os liberais.
do proleta-
Somente um partido marxista e leninista irredutível
os fins do
riado revolucionário que procura atingir, essencialmente,
rguesa e quer, custe o que
proletariado na revolução democrático-bu
o de sua consciên cia de classe, sem jamais
custar, o desenvolviment
prole-
perder de vista que, nesta revolução democrático-burguesa, o
campone sa revo-
tariado deve ser a vanguarda que arrasta a massa
constitu i a "única garantia do
lucionária, só um semelhante partido
revoluç ão e de sua transfo rmação mais rápida e
acabamento" desta
mais fácil numa revolução socialista.
ta do
Diversos fatos indicam que, no seio do Partido Comunis
nder a importâ ncia da
Brasil, muito longe estão ainda de compree
iado na revoluçã o democrá tico-bu rguesa, e a
hegemonia do proletar
de um partido "indepe ndente" do proletar iado,
necessidade absoluta
teoria da "revo-
para realizá-la. No partido, prega-se abertamente a
sob cuja cobertur a "o prole-
lução democrática pequeno-burguesa",
-se para a conquis ta do poder" (camarada
tariado poderia preparar
menchev ista, antileni nista e antimarx ista, nega
Brandão). Esta teoria
tico-bu rguesa, como
a hegemonia do proletariado na revolução democrá
preparação
garantia essencial contra sua derrota e como a melhor
do proletariado para a conquis ta do poder.
teoria, é a prática
Mas o que é muitíssimo mais perigoso desta
papel independente ao
do P.C. do Brasil, consistindo em ceder seu
estes últimos anos.
B.O.C., o que se verificou durante

5 - O Partido Comunista do Brasil e o


Bloco Operário e Camponês
um
O Bloco Operário e Camponês não representa, no Brasil,
e camponê s; ele não tem nenhum a ligação com a
partido operário
o Bloco
massa camponesa e com o proletariado agrícola. De fato,
,
Operário e Camponês transformou-se num segundo partido operário
que não faz uma política revoluci onária consegiu ente. Este partido
realidade, ele
tem seus estatutos, suas organizações nas fábricas. Na
se substitui ao partido comunista, em vez de cobri-lo legalmente e
. O program a do Bloco Operário
de ligá-lo com as massas operárias
s, compost o de diversas reivindi cações, absoluta mente des-
e Camponê
e resul-
ligadas das palavras de ordem revolucionárias fundamentais
tantes da crise revolucionária crescente, demonstra o falso caminho
em que se meteu a política do Bloco Operário e Camponês. A linha

100
sr pranasa ve.cnc.eze, 82011 405 em oot i º to8
política do Bloco só poderá mudar-se radicalmente com a condição
de que o P.C. do Brasil se torne o "único" partido operário revolu-
cionário, desolidarizando-se, por completo, de todos os partidos pe-
queno-burgueses, e nenhuma reserva fazendo à sua política indepen-
dente de classe, do proletariado.
Isto significa que o Bloco Operário e Camponês, servindo tem-
porariamente para encobrir o partido comunista, sob o aspecto da
legalidade, deve seguir efetivamente uma linha leninista. De outro
lado, o partido comunista deve aproveitar-se cada vez mais de todas
as ocasiões para aparecer abertamente na arena política,
O surto revolucionário do movimento operário e camponês da
massa, que se desenvolve anualmente no Brasil, criará certamente
tais possibilidades.
6 - O Partido Comunista do Brasil e as
organizações de massa
O Partido Comunista do Brasil só poderá desempenhar o papel
de vanguarda do proletariado deste país e conservar a direção na
revolução democrático-burguesa, sob a condição de saber organizar
as massas operárias e camponesas nas largas organizações sem partido
e de se garantir na direção destas organizações. Além dos sindicatos,
o partido comunista deve tomar a iniciativa para a organização de
Uniões (ou comitês) revolucionários camponeses sem, no entanto,
transformá-las em partido camponês independente. A convocação de
conferências dos representantes dos sindicatos e das Uniões revolu-
cionárias camponesas dará a possibilidade de realizar, períodica-
mente, o Bloco de combate dos operários e dos camponeses para a
realização de tal ou qual ação em comum (blocos eleitorais, blocos
para ações políticas em comum, blocos de combate para a insurreição).
Por meio de tais blocos, serão criadas as premissas para sua trans-
formação ulterior em soviets, em órgãos de insurreição e de poder.
7 - As tarefas imediatas do Partido Comunista do Brasil
O P.C. do Brasil não poderá ser, nos combates revolucionários
que se anunciam, o chefe das massas operárias e camponesas sem
lutar decididamente e irredutivelmente contra todas as espécies de
tendências liquidacionistas que procuram destruir completamente ou
diminuir seu papel revolucionário (negação da hegemonia do prole-
tariado da revolução democrático-burguesa, negação da necessidade
de um partido revolucionário independente do proletariado, substi-
tuição pelo B.O.C. de um tal partido etc.). O partido deve depurar
«resolutamente os quadros dirigentes de todos os elementos liquida-
cionistas, oportunistas de direita, que se arrastam a reboque da massa
101
o rp" Lo4
aroranssa va.oncece, 820 LL4OS and

dirigentes de modo a assegurar


e escolher a composição dos órgãos
política proletária revolucionária.
a realização consequente e firme da
s na base de uma luta
O P.C. só poderá conquistar as massa
palav ras de orde m revolucionárias colo-
heróica pela realização das
desenvolvimento revolucio-
cadas em foco pela própria marcha do
do jugo do imperialismo,
nário (revolução agrária, libertação do Brasil
operá ria e campo nesa sobre a base
organização de uma República
dos soviets).
s, é preciso essencialmente
Atualmente, para conquistar as massa
uma curva decisiva, no sentido da
que o P.C. e a C.GT. procedam a
grand es empresas imperialistas, bem
conquista dos operários das
do agríc ola das grandes fazendas. Ao mesmo
como do proletaria
ização de conferências de
tempo, o P.C. deve empreender a organ
datár ios, propondo nestas confe-
camponeses, de meeiros e de arren
ndica ções imedi atas e preparando, assim,
rências o programa de reivi
ucionárias camponesas.
a base para grandes organizações revol
os emigrados e, também,
O trabalho sistemático e sério entre
€ índios ) dará igualmente ao partido
entre as raças oprimidas (negros
tar e de esten der sua influência entre as
a possibilidade de aumen
massas.
O Secretariado Político da 1.C.

Moscou, fevereiro, 1930.


(A Classe Operária, 17.04.1930).

4) A questão da sucessão presidencial

a) A SUCESSÃO PRESIDENCIAL (1929)

são presidencial, o inten-


Assim nos falou, a propósito da suces
dente Otávio Brandão:
não separamos os indivíduos
De acordo com os nossos princípios,
dos respectivos partidos e classe s.
eira, vemos três classes:
Examinando a realidade política brasil
propri etários e o proletariado,
os grandes proprietários, os pequenos
isto é, os não proprietários.

Os grandes proprietários
e o "democrático" nacional:
Têm dois partidos: o republicano
senta a extrema-direita da contra-
O partido republicano repre
pelo ouro de Londres e de Nova
«revolução brasileira. Corrompido
a ao imperialismo, à contra-revo-
Iorque, cada vez mais se subordin
class e é representada especialmente
lução internacional. Sua base de

102
broransse 22 04 LUOS or aO byello

pelos 73 grandes proprietários rurais de São Paulo e pelos 133 de


Minas Gerais. Esta insignificante minoria de agrários é constituída
pelos grandes fazendeiros de café. Eis por que o partido republicano
é o partido da valorização artificial do café, em benefício da oligarquia
dos grandes fazendeiros de São Paulo e de Minas, prejudicando todo o
país. ( ;
Dispondo da máquina do Estado por intermédio de seus instru-
mentos bacharelescos no executivo, no legislativo e no judiciário, esses
fazendeiros tiram o máximo proveito da máquina governamental em
benefício próprio. E para que os protestos contra a sua dominação
oligárquica não atinjam amiudamente formas revolucionárias, essa
máquina governamental dos fazendeiros de café, de quando em vez,
faz concessões às outras categorias sociais: a lei de férias (não
cumprida) aos operários, os créditos no Banco do Brasil aos comer-
ciantes e usineiros, o aumento das tarifas aos industriais. . .
Pouco importa que o partido republicano arvore um ou outro
nome: Bernardes, ontem, Washington, hoje, e, amanhã, Júlio Prestes.
A essência é a mesma: conservadora, contra-revolucionária.
Pouco importa que alguns de seus membros - Mello Vianna,
ontem, Antonio Carlos, hoje - representem a comédia democrática.
Da mesma forma que os dois intendentes operários não podem re-
belar-se contra o Bloco Operário e Camponês sob pena de expulsão
e perda do mandato, Mello Vianna, Antonio Carlos, ou Getúlio
Vargas têm de continuar, no poder, a mesma política do partido
republicano, a política da miséria e da opressão para as massas
laboriosas, a política de Epitácio, Bernardes, Washington e Júlio
Prestes.
A continuação do domínio do partido republicano quer dizer:
Economicamente: a monocultura cafeeira; a valorização artificial
do café; a carestia; o aumento dos aluguéis; os salários ridículos;
os horários demasiados; os impostos exorbitantes; os ordenados e
vencimentos desvalorizados . ..
Politicamente: a dominação dos grandes proprietários rurais,
impregnados de feudalismo e escravagismo: a opressão atingindo
formas bestiais; uma subordinação cada vez maior ao imperialismo;
o governo composto de verdadeiros bonecos de engonço dos banqueiros
de Nova Iorque, o Estado rolando para o fascismo. ..
Socialmente: o analfabetismo; o parasitismo; o monopólio de
uma cultura superficial por uma insignificante minoria da população;
a massa trabalhadora, urbana e rural, oprimida e bestializada; o se-
mifeudalismo com restos de escravagismo; a pornografia na literatura;
o servilismo na política; o cinismo e a hipocrisia nas relações sociais. . .
E a ascensão do partido "democrático" nacional ou de seus
correlativos como o partido pretensamente libertador, e os partidos
pretensamente democráticos do Rio e de São Paulo. Que significaria?

103
BRDOFAN
BSB ve.c
NC.E EE, 3MO
L/4G S
- Mais ou menos a mes m opl
N 1a
ma política!
Perante os agrários; Mor
ais Barros é um defens
deiros feudais. E diz- or dos fazen-
se "democrático"! Assi
s Brasil é proprietário
a
os (os fazendeiros, os esta
Engenho, os usineiros) n-
massa de operários para servir a grande
agrícolas, arrendatário
Proprietários, s e pequenos lavrad
ores
Perante os imperialista
s: o Partido pretensam
apoiou o empréstimo que ente libertador
o governo gaúcho contraiu
de Nova Iorque; o par com White Weld,
tido pretensamente dem
em favor das homenagen ocrático do Rio votou
s ao agente imperialista
Herbert Hoover.
e aos imperialistas

delirante disenteria ver


borrágica,
O povo deixe-se de ilus
ões: examine os político
O partido e com a classe s de acordo com
que representam.

»
de fundo revolucionár
io.
O proletariado está Org
anizado nacionalmente
rário e Camponês, Org no Bloco Ope-
anização de massas.
Os pequenos proprietá
rios oprimidos não est
partido político. Mas ão organizados em
sua vanguarda dispõe
simpatias. Essa Vangua de um vasto círculo de
rda da classe média emp
Por Luís Carlos Preste obrecida é formada
s e seus bravos compan
heiros,
104
BROFANBSB ve.onc.EE
E 8207 1 40 Sam
00 LW“! 12
Seria da mais alta conveniência
1922 e de 1924/1 se prolon,
nando-o do mesmo 927
do povo brasileiro con teúdo revo
deve travar-se em todos os terrenos - cultural,
pedagógico, literário, científico, artístico, moral, reli
jurídico, eleitoral, orgâ
a luta ao terreno milinico , econômico, político, social, gios
mili
o, filosófico,
tar. Limitar
derrotas. tar é uma estr eite za que só pod e acarretar
Luís Carlos Pres
suas responsabilidadestese etiraseus
r o
bravos companheiros devem pesar as
máximo partido de todos os aconte-
cimentos em benefício do seu e nos so ideal próximo: a derrubada do
inimigo comum.
A Campanha
importância de umadoeleiBloc o Operário e Camponês acaba de provar a
ção, desde que saibamos dar-lhe um conteúdo
revolucionário,
Ela despertou mas ainda virgens de toda luta,
Perante seus olhos atônsas itos, horizontes ilimitados. . , rasgando
Tendo em vista a sucessão presidencial e as suas consegiê
icas e sociais, a luta cont ncias
Proprietários, especialmente contraraososimpe rialistas e contra os gran
des agrários, deve constitudesir
a base de uma aliança entre o proletargran
Nem partido republicano, nem partiado com Luís Carlos Prestes.
ticos! Bloco do proletariado com a classeidosmédpret ensamente democrá-
ia proletarizada tend o
de resolver o problema agrário e libe, rtar 0 único verdadeiramente capaz
o Brasil das garras do im-
perialismo!
Seja este o grito de guerra das massas laboriosas!
(Diário Carioca, Rio, 30.01.1929).
b) A SIGNIFICAÇÃO DAS ELEIÇOES PARA O PROLETARIADO
(FEVEREIRO DE 1930)

Aproxima-se o pleito eleitoral de março.


As forças polí s da burguesia se movimentam para
burgueses de todos tica ele. Os
os matizes Se apresentam ao eleitorado cada
se esforçando por pint qual
eles, quer os conservaar-s
dore
e com as cores mais convidativas. E todo
s, quer os chamados "liberais" se dizems
amigos dos operários,
Por que esta brusca simpatia pelos operários? Pela
de que estes consti tuem Uma apreciável fração do eleisim ples razão
torado.
105
BR DFANBSB Ve.GNC.EEE 2201 L4O0
S5 amoo! 0a 13

Por isto, precisamente por isto, é preciso mistificá-los,


é preciso
arrebatá-los para votar em seus inimigos francos
ou encobertos des-
viando sua atenção dos problemas mais sérios de
sua vida, fazendo-
-os esquecer de que, num regime de classes, a
classe capitalista não
pode, de forma alguma, defender os interesses
da classe proletária.
É preciso analisar o ambiente em que se vai
ferir o pleito de
março. Que vemos nele?
Vemos o proletariado reduzido à fome. Negam-lhe o
pão, ne-
gam-lhe os direitos mais elementares. Não se pode reunir,
não pode
realizar comícios, não pode manifestar livremente
as suas preferên-
cias pelos seus candidatos, saídos de sua classe.
Enquanto o governo atual, essencialmente burguês, procura
, por
todas as formas, garantir a exploração econômica
que ele sofre, a
Aliança Liberal mistifica, tapeia, com uma demago
gia fofa a fim de
enfeudá-lo às suas manobras.
Os ridículos personagens que se movimentam nesta luta
polí-
tica quer de um, quer de outro lado da burguesia, maneja
do pelo
ouro inglês e pelo ouro norte-americano, procuram por todos os meios
impedir que o proletariado se manifeste como força independente,
intervindo na luta com o seu programa de classe.
Eis por que constitui um dever para o proletariado repelir todas
essas manobras, opor-se à reação do governo e combater a
mistifi-
cação da Aliança Liberal, apoiando as suas próprias organiza
ções
políticas que são as únicas a defendê-lo e a guiá-lo nesta hora de
grandes privações para a massa trabalhadora.
Só o Partido Comunista será capaz de guiar as massas traba-
lhadoras em suas lutas. Só ele deve merecer a confiança dos traba-
lhadores.
Existem candidatos apresentados à presidência e vice-presidên-
cia da República, à senatoria do Distrito, à deputação pelo 1.o e
2.o distrito da Capital, e candidatos estaduais à Câmara e ao Senado.
Todos eles são operários, e operários conscientes.
Eles, só eles, defenderão os interesses dos trabalhadores, porque
são trabalhadores e pertencem a uma organização de trabalhadores,
que deles exigirá o cumprimento de seus compromissos.
Só eles serão candidatos responsáveis perante o proletariado.
Além de tudo, o voto nos candidatos do Bloco Operário e
Camponês será um voto de princípio.
Votar em Júlio Prestes, significa votar na reação aberta, significa
apoiar o imperialismo inglês.
. Votar em Getúlio Vargas, significa votar na reação
disfarçada,
significa apoiar o imperialismo norte-americano.
Votar em Minervino de Oliveira, significa votar pela
revolução.

106
BR DFANBSB va.cnc.eEE- 220 LL4OS om 00 tip» 44
Votar nos candidatos operários, apresentados pelo
rário e Camponês, será uma formidável manifestação da Bloco vontade
Ope-
de
luta das massas trabalhadoras, contra os seus exploradores e opres-
sores, nacionais e internacionais.
Esta a verdadeira posição que devem assumir os trabalhadores
no pleito de março, quanto às eleições.
Tudo pelos candidatos do Bloco Operário i e Camponês! N
Nada para os candidatos burgueses, mesmo pintados de "li-
berais".
Tudo pela vitória dos candidatos dos trabalhadores!
Tudo pela derrota dos candidatos burgueses!
(A Classe Operária, 15.02.1930).

c) AOS TRABALHADORES DAS CIDADES E DOS CAMPOS,


A TODOS OS EXPLORADOS DO BRASIL:
Mobilização das massas para a Jornada Internacional
de 1.o de agosto (julho de 1930)
Camaradas!
Nossa situação torna-se cada vez mais insuportável. A crise
aumenta. Cada dia são fechadas mais fábricas. Os fazendeiros
diminuem os salários dos colonos e os expulsam da terra. Milhares
e milhares de desempregados e suas famílias são abandonados à
morte pela fome. A miséria alastra-se. Os impostos crescem. O
câmbio do mil-réis cai, tornando a vida ainda mais cara.
Aumenta a opressão patronal e política contra os trabalhadores.
A burguesia prepara os seus bandos fascistas contra as massas.
Os burgueses, os fazendeiros, o governo pretendem "resolver"
a crise à custa dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, eles continuam
a vender o país aos capitalistas estrangeiros. O sr. Júlio Prestes
foi a Nova Iorque preparar a venda completa do Brasil aos imperia-
listas ianques. Para se manter no governo e continuar a boa-vida
de rega-bofes, os fazendeiros, os burgueses vendem-se a si mesmos,
vendem o sangue e o suor de milhões de trabalhadores do Brasil,
negociam com a miséria e o sofrimento do povo,
Camaradas!
A hora é chegada de lutar, pois quanto mais nós curvamos as
costas, mais e mais somos maltratados e explorados!
Para os trabalhadores das cidades e dos campos, para
explorados que mourejam nas indústrias, nos transportes etodos na
os
la-
voura, a única saída, a única salvação verdadeira está na
lucionária por suas reivindicações e para abater o regime luta revo-
atual!
107
BR OFANBSS va.onclEEE,
820/1405 ,,, col

Não há, não pode haver outra


solução enquanto os banqueiros
estrangeiros dominarem O país
inteiro, sugando o sangue dos
lhadores. traba-
Está mais do que visto que não
pode haver solução enquanto
toda a terra cultivável esteja
nas mãos dos fazendeiros-negreiro
enquanto os trabalhadores das s,
cidades e dos campos trabalhe
atuais condições de semi-escravidão m nas
!
Camaradas! Operários e pequenos
lavradores!
O Partido Comunista do Brasil
- vanguarda consciente do
proletariado - apela para vós, para
a luta por vossas reivindicações,
contra o regime atual.
Pelo pão e pelo trabalho para os
desempregados, e pelo aumento
dos salários. Pela liberdade de
organização operária e campones
Pela expulsão do Brasil de a.
todos os bandidos estrangeiros.
tomada da terra e sua divisão Pela
entre os operários agrícolas, colo
e pequenos lavradores. Pela nos
organização de uma verdadeira
Cracia das largas massas, com demo-
a instauração do governo dos
e camponeses do Brasil. operários
Nesta luta os trabalhadores
devem confiar unicamente nas
Próprias forças, nas suas Própr suas
ias organizações.,
Os governistas, os Júlios Prest
es, só fazem Enganar as
com as suas promessas, que massas
se transformam na realidade
camentos e na opressão mais em espan-
brutal contra os trabalhadores,
A Aliança Liberal também
outra coisa não faz senão enga
nar
magogia revolucionária, ludib
riando o povo,
amento do povo em benefício
os imperialistas ianques. Está dos seus amos:
bem claro agora para todos
lhadores que a Aliança Liber os traba-
al é reacionária, porque ela
Pacto com os governistas contr fez um
a as massas para vender O
Nova Iorque, porque ela prende país a
e espanca os operários revolucion
Porque ela explora as massas ários,
da mesma forma que os gover
As massas só têm sido Enga nistas.
nadas pelos Maurícios de Lace
politiqueiros corrompidos, rdas,
que se vendem por um posto
.
As massas só têm sido enganada
s pelos chefes pequeno-burguese
da Coluna Prestes, que semp s
re apoiaram os fascistas alian
que agora, com os Távoras à cistas e
frente, se tornam o destacamento
cista dos imperialistas contra fas-
as massas.
As massas devem tirar as
conclusões destas lições, que
têm custado tanto sofrimen lhes
to e tanto sangue,
Depois destas lições, as mass
as devem também encarar com
maior desconfiança as nova a
s declarações do general
Prestes. Impelido pela pressão Luís Carlos
das massas, ele começa a falar
revolução agrária e antiimperi na
alista; mas como todos
Pequeno-burgueses, que osci os chefes
lam Sempre entre a revolução
e a reação,
108
I
sroranese 4201 LUg Sampo) ba 116

ele demonstrou já que não pode conduzir as massas à vitória.


Todos
os revolucionários pequeno-burgueses "estão mais ou
menos ligados
aos exploradores e daí as suas oscilações. O próprio
general L.C.
Prestes viu-se obrigado a reconhecer que já apoiou
a Aliança Liberal
fascista e imperialista. Não serão os "heróis" e
"cavaleiros da es-
perança" pequeno-burgueses que salvarão as
massas, porém sim a
luta direta das próprias massas, das amplas
"massas operárias e
camponesas.
A única salvação - é a luta revolucionária.
A única aliança - é a aliança revolucionária das massas
explo-
tadas das cidades e dos campos.
O único guia - é o proletariado revolucionário e
seu partido,
0 Partido Comunista.

A jornada de 1.o de agosto

Camaradas! -
O 1.o de agosto é a jornada internacional de
luta dos explo-
rados do mundo inteiro contra a exploração e
a guerra imperialista,
e por suas reivindicações.
A luta proletária cresce no mundo inteiro.
Na União Soviética, os operários e camponeses
constroem o
socialismo, aumentam a produção, aumentam os
salários e o bem-
-estar dos trabalhadores, ao mesmo tempo que
os países capitalistas
se debatem numa crise sem saída.
Na China, 60 milhões de trabalhadores organizaram
já o seu
poder, os seus soviets.
Nas Índias, 400 milhões de trabalhadores se uniram para a luta
e não há forças no mundo que as possam vencer.
Na Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos,
os combates
de classe cada vez tomam maior vulto.
Crescem os combates de classe e crescem os
perigos de guerra
imperialista. Os imperialistas, os burgueses
preparam novas matan-
cas para repartir de novo entre si as colônias,
para sair da crise
em que se debatem, para esmagar antes
de tudo a União Soviética,
que mostra aos trabalhadores do mundo
inteiro o caminho da liber-
tação.
Na China lutam os generais entre si, ao serviço
dos imperia-
listas. Os canhões ingleses bombardeiam os trabalhadores
hindus.
É já a guerra.
Entre nós, no Brasil, a luta imperialista já provocou
também
a luta armada: na Paraíba corre o sangue dos filhos
dos traba-
lhadores, em proveito dos banqueiros estrangeiros.
Amanhã, os
ianques lançarão os seus agentes para fazer pronunciamentos
para
depois "restabelecer" a ordem, massacrar os trabalhadores
e reforçar

109
BR DFANBSB Vve.cGNC.EEE, 220)1 405 êm o OL No 147
a sua dominação no Brasil, com apoio daquele
o que eles já fizeram ia Colômbia, na Bolívia,s namesmos agentes. É
América Central.
De pé, camaradas!
No dia 1.o de agosto as massas trabalhadoras provarão que
querem lutar contra os perigos de guerra e por suas reivindicações.
Basta de escravidão! Viva a luta decidida e corajosa contra
todos os exploradores e opressores!
Operários! - organizai comitês de luta em todas as fábricas;
organizai a frente única de todo o proletariado; manifestai no dia
1.o de agosto fazendo greves e demonstrações de rua!
Trabalhadores agrícolas, colonos, pequenos lavrado - orga-
nizai comitês de luta em todas as fazendas e localidadesres!do interior;
manifestai no dia 1.o de agosto contra os senhores feudais e o
governo, contra a polícia e os fazendeiros; tomai a terra, recusai-
-vos a pagar impostos; resisti à polícia dos negreiros!
Soldados e marinheiros! - preparai-vos para a luta; fraternizai
com os trabalhadores!
Trabalhadores negros! - a vossa escravidão continua! lutai
em conjunto com os demais trabalhadores contra a explora ção feudal,
por vossa libertação definitiva!
Índios! - organizai-vos para reconquistar pela luta as terras
que vos roubaram e para a vossa completa emancip ação!
Desempregados! - organizai os vossos comitês de luta em
todos os bairros e em todas as localidades, e manifes
com os demais trabalhadores no dia 1.o de agosto! tai juntamente
Viva a frente única proletária de massas nas demonstrações de
1.o de agosto!
Contra a guerra imperialista, pela defesa da União Soviética,
pátria comum dos trabalhadores do mundo inteiro!
Pela defesa da revolução na China e nas Índias!
Contra a reação policial, pelo direito à rua, pela liberdade de
organização e de greve!
Pela verdadeira libertação dos trabalhadores negros!
Pão ou trabalho para os operários desempregados, terra aos
trabalhadores da lavoura!
Indenização de 6$000 diários por conta dos patrões aos ope-
rários desempregados!
Pela jornada de 7 horas de trabalho, pelo aumento geral dos
salários!
Confiscação dos latifúndios e fazendas e sua divisão entre os
colonos, pequenos lavradores e trabalhadores agrícola s!
Trabalhadores da terra - tomai a terra!
Para fora do Brasil os imperialistas!
Viva a aliança revolucionária dos milhões de operários e cam-
poneses!
110
BR DFANBSB vaGNCEEEfgÃôl H 0 Sem 00.1.» - “8
Viva o governo operário e camponês, baseado nos conselhos
de operários, camponeses, soldados e marinheiros!
Viva a aliança revolucionária dos operários e camponeses da
América Latina na luta contra o imperialismo!
Viva a revolução brasileira!
O Bureau Político do P.C.B.
(A Classe Operária, 19.07.1930).

5) Os últimos acontecimentos no Brasil e as perspectivas


de novas lutas (janeiro de 1931)
Os acontecimentos que se desenrolaram ultimamente no Brasil
tiveram larga repercussão internacional. Faz-se necessário mostrar a
verdadeira significação desta "revolução" que abalou a República
brasileira.
O movimento dirigido pela Aliança Liberal está longe de ser
um movimento democrático, progressista. Sua vitória é uma vitória
da reação, dirigida contra o proletariado das cidades e do campo,
contra as massas camponesas e contra a pequena burguesis empo-
brecida.
Esta "revolução", desencadeada e comandada pelos ex-Presi-
dentes da República como Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e Ven-
ceslau Brás, e pelos Presidentes dos três Estados governados pelos
"liberais", isto é, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba do
Norte, teve como único objetivo evitar o desencadeamento de uma
verdadeira revolução de massas que acabaria pela instauração de
um governo operário e camponês.
Foi o ex-Presidente do Estado de Minas Gerais que lançou a
palavra de ordem de defesa da burguesia contra os movimentos de
massa verdadeiramente revolucionários. Ele idealizou e organizou
a "revolução" contra o governo federal, dizendo: "É preciso fazer
a revolução antes que o povo a faça." Com efeito, ele apelava à
burguesia para desencadear a "contra-revolução, que deve impedir
o povo de fazer sua revolução, que acabará com o nosso domínio".
A frase: "É preciso fazer a revolução antes que o povo a faça",
possui um significado profundo. Seu autor, Antonio Carlos, de-
monstrou ter compreendido que o descontentamento das cidades e
do campo aumentava cada vez mais, agravado por uma situação
econômica e política cada vez mais insuportável.
Antonio Carlos viu o perigo que ameaçava a burguesia, com-
preendeu a necessidade de superar a crise realizando uma política
inteligente e demagógica, enganando a pequena burguesia e o prole-

111
BR DFANBSB V38.GNC.EEE, 220 [Hog am 00 50» 14
tariado para poder, assim, continuar a política de agravamento das
condições econômicas e políticas das amplas massas.
Diante das possibilidades de uma repetição dos acontecimentos
de 1922-24, com a perspectiva de uma intervenção enérgica do prole-
tariado, Antonio Carlos desviou a corrente revolucio
contra a reação e "fez a revolução antes que o povo anária existente
fizesse". Foi
O que fizeram os liberais,
As forças políticas brasileiras
Quais as forças políticas que tomaram
acontecimentos? Há quatro grupos políticos: posição
a) a
no curso dos
Aliança
b) a Concentração Conservadora; c) a Coluna Prestes; d) o Liberal;
Partido
Comunista.
Os partidos republicanos, compostos pelos semifeuda
industriais, não são partidos de massa, não têm o apoio isdas e am- os
plas camadas da população.
Como explicar, então, o fato de a Aliança Liberal ter conseguido
mobilizar as massas em seu favor? Três fatores colaborar
tornar possível a Aliança Liberal obter o apoio das massas:am para
1) A ausência de um Partido Comunista forte,
capaz de agitar, organizar e mobilizá-las para a luta dedeconquista
massas,
de suas reivindicações mais imediatas, ao mesmo
gradualmente o conteúdo de luta dos movimentostempo de
que elevar
massa;
2) O apoio tácito da Coluna Prestes que,
eleitoral para a sucessão presidencial, permitiu àdurante
Aliança
a campanha
Liberal a
exploração demagógica das tradições revolucionárias da Coluna;
3) O apoio dos partidos democráticos dos diferentes Estados
e das oposições dos Estados governados por elementos da Concen-
tração Conservadora, e o apoio do Partido Libertador do Rio
do Sul, o qual, em diversas ocasiões combateu, com armas naGrande mão,
o governo do Estado e gozava da simpatia das massas.
Foi graças a uma agitação demagógica, desencadeada por ele-
mentos insuficientemente desmascarados diante das massas, que foi
possível à Aliança Liberal mobilizá-las para sua política estreita-
mente reacionária,
Seria a Aliança Liberal um instrumento dos
imperialistas americanos?
É preciso fazer uma análise profunda e séria
categoricamente que a Aliança Liberal é um instrumepara
nto
se afirmar
rialistas ianques. O Partido Comunista do Brasil sempredosafirmou
impe-
que a Aliança Liberal praticava a política do
e a Concentração Conservadora a do imperialimperiali smo americano
ismo inglês. Não po-
112
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 8361331 0 94 0ogl 10 L20
demos, no entanto, fazer uma afirmação tão categórica apesar da
nossa convicção de que o imperialismo americano aproveitar-se-á da
política antiprotecionista do novo governo. Também os ingleses,
entretanto, se aproveitarão dessa política, póis que tentaram dissuadir,
por várias ocasiões, o governo derrotado pela revolução, da política
protecionista à indústria "nacional" têxtil. !
Dos capitais investidos no Brasil, a Inglaterra dispõe de um
milhão de dólares a mais que os Estados Unidos. É este um fator
importante que impede de se afirmar categoricamente que o golpe
de força foi realizado pelos imperialistas americanos.
Segundo uma publicação do financista americano Max Winkle,
surgida a 18 de abril de 1930, os capitais aplicados no Brasil elevam-
-se a 3.259.720.000 dólares. O primeiro lugar é ocupado pela Ingla-
terra, com 1.512.180.000 dólares; o segundo, pelos Estados Unidos,
com 504.760.000; o terceiro lugar pertence à França com 88.700.000.
Seguem-se os capitalistas holandeses, belgas, italianos, alemães etc.
A superioridade inglesa é enorme e é essa desvantagem que os Estados
Unidos querem superar.
É possível que o imperialismo americano tenha apoiado a Aliança
Liberal com o fim de combater a política de valorização do café,
mas o imperialismo americano não poderá fazer da Aliança Liberal
um instrumento cego a serviço de seus interesses. É preciso consi-
derar a diversidade de estrutura econômica de cada Estado e o
fato de que as posições econômicas decisivas estão nas mãos ou sob
o controle dos imperialismos inglês e americano. E o imperialismo
inglês controla a parte mais importante . .
A atitude das organizações sindicais diante dos
acontecimentos políticos
As organizações sindicais tiveram uma participação ativa na
questão da sucessão presidencial. Os sindicatos dividiram-se em
quatro grupos. Um primeiro, partidário da Concentração Conser-
vadora; outro, partidário da Aliança Liberal; um outro, partidário
dos candidatos do Partido Comunista; e um quarto guardou uma
atitude de "neutralidade".
Para obter o apoio de algumas organizações sindicais, o governo
empregou todos os meios. A corrupção para alguns, a prisão para
os dirigentes sindicais que queriam ser independentes, substituindo-os
por elementos corrompidos.
O governo realizou verdadeiros "golpes de estado" nos sindi-
catos mais importantes que apoiaram a linha luta de classes * do
Partido Comunista. Ele prendeu seus dirigentes e convocou assem-
* Grifado por nós.
BR OFANBSB V3.GNC.EEE, 890 om 60 MQ Lal
bléias, que ele próprio presidia, para eleger substitutos dos dirigentes
que não se deixavam corromper; pôs na ilegalidade todos os sindi-
catos que permaneceram fiéis à luta de classes; confiscou os arquivos
e fechou as sedes dos sindicatos aderentes à Confederação Geral
do Trabalho do Brasil e à C.G.T. ela própria. Será que nos Estados
governados pela Aliança Liberal a situação dos operários melhorou?
De maneira nenhuma. A política de combate ao movimento sindical
revolucionário está sendo conduzida de acordo com o governo federal,
apesar das divergências entre "liberais" e reacionários na questão
da sucessão presidencial. A luta demonstra aos operários que os
burgueses, apesar de suas divergências, unem-se para combater o
proletariado. Nesses últimos Estados, as organizações revolucionárias
foram tomadas de assalto, suas sedes foram fechadas e os militantes
presos ou expulsos do país.
Durante a luta armada, os sindicatos aderentes à Concentração
"Operária" Júlio Prestes organizaram batalhões operários para de-
fender o governo federal. A característica mais importante nesta
intervenção dos sindicatos foi sua atitude franca na questão da
sucessão presidencial. Nenhum grupo procurou disfarçar o apoio
que deu a um dos partidos participantes 'da luta política. As decla-
rações tradicionais segundo as quais os sindicatos são organizações
que nada têm que ver com a política deixaram de funcionar comple-
tamente desta vez. Cada um deles tomou posição.
A Coluna Prestes
A "Coluna Prestes" foi organizada depois da Revolução de 1924,
durante a marcha do Norte ao Sul, através do país, sempre na luta
contra o governo federal. Com esta campanha ela conseguiu ganhar
grande prestígio entre as massas do campo e das cidades. Após ter-se
refugiado na República da Bolívia, continuou no preparo de uma
nova insurreição. Durante a campanha eleitoral apoiou tacitamente
a Aliança Liberal, permitindo-lhe explorar a tradição revolucionária
da Coluna, sem nunca dizer uma única palavra contra esta demagogia.
Vendo que seu prestígio diminuiria entre as massas, a Coluna
decidiu publicar um apelo, declarando-se partidária da revolução
agrária e antiimperialista. Este apelo forçou as diversas correntes
que formavam a Coluna a se definir e cada uma delas a tomar
posição. Todos os elementos que tinham capitulado diante da Aliança
Liberal e diante dos imperialistas, afastaram-se da Coluna sob o
pretexto de que ela havia aderido ao comunismo e pretendia realizar
uma obra nociva aos interesses do país etc. Todos os que pretendiam
ser amigos e soldados fiéis de Prestes, como Távora, Miguel Costa,
Isidoro Dias Lopes e Maurício de Lacerda, abandonaram-no. Távora
114
BR DFANBSB V8.GNC.EEE. ªg; 1 L LOS aw'oob pular
publicou um manifesto contra Prestes, o que lhe valeu a procla-
mação de chefe de todos os que capitularam diante dos imperialistas.
Em seu manifesto Prestes declara: "Ainda uma vez os verda-
deiros interesses do povo foram sacrificados e o povo ordinaria-
mente enganado por uma campanha dita democrática, mas que, na
realidade, não passa de uma luta entre os interesses antagônicos de
duas correntes oligárquicas, ambas apoiadas e animadas pelos dois
imperialismos que nos oprimem e aos quais os políticos brasileiros
entregam o povo subjugado."
Prestes, com o fim de reconquistar a confiança das massas,
confessa seu erro de não haver denunciado anteriormente a misti-
ficação da Aliança e diz: "É verdade que, em parte por omissão, e
em parte por indecisão, fomos também cúmplices da grande mis-
tificação. Mantivemos silêncio quando os liberais de todas as nuanças
e todas as categorias, da primeira e da última hora, serviram-se do
nome da Revolução e particularmente dos nomes de seus chefes."
E mais adiante ele diz ainda: "A caravana política que foi ao Norte
do país para se aproveitar do profundo sentimento revolucionário
de nossos irmãos mais infelizes, os do Norte, orientou toda sua
propaganda em nome da "Revolução" e, entretanto, um dos seus
membros de maior destaque era O atual diretor de "A Federação",
o órgão que traduz e melhor interpreta o pensamento dos reacio-
nários do sul."
_ Prestes, compreendendo a importância das massas como o único
fator decisivo, numa revolução dirigida contra os proprietários de
terra e os imperialistas, e de luta, pela verdadeira libertação nacional
do jugo dos imperialistas, declara no seu manifesto que a "verdadeira
luta pela independência nacional deve, portanto, ser dirigida contra
os grandes latifundiários e contra o imperialismo, e que ela poderá
ser realizada unicamente com a ajuda de uma verdadeira insurreição
nacional de todos os trabalhadores".
Em seu manifesto ele fala dos soviets de operários, camponeses,
soldados e marinheiros e de um governo de todos os operários na
base destes soviets.
Prestes é um oficial inteligente e que possui uma visão política
e compreendeu que no Brasil o movimento de massas, de largas
dimensões, está em gestação e adotou, com o objetivo de conquistar
a simpatia das massas que serão a força motriz desse movimento,
o programa da revolução agrária e antiimperialista; ao mesmo tempo
ele organizava a Liga de Ação Revolucionária destinada a preparar
a insurreição unicamente do ponto de vista "técnico", deixando ao
proletariado a "hegemonia" e ao Partido Comunista a "direção po-
lítica". Ele mesmo deveria ser um "simples" dirigente "técnico".
"Para sustentar - diz Prestes em seu manifesto -- as reivin-
dicações da revolução que nós propomos, - a única que cremos
115
BR DFAnNBSS &) (1140 Sam gol 0. L23

útil aos interesses nacionais - o governo que deverá surgir, deverá


ser imposto pelas verdadeiras massas trabalhadoras das cidades e
do campo; um governo capaz de assegurar todas as reivindicações
sociais, as mais necessárias e indispensáveis: limitação das horas de
trabalho, proteção às mulheres e às crianças, seguros sociais contra
os acidentes, o desemprego, à velhice, à invalidez e às doenças, direito
de greve, de reunião e de organização." "Unicamente um governo
de todos os trabalhadores, na base de conselhos de operários das
cidades e do campo, dos soldados e dos marinheiros, poderá realizar
um tal programa." "A vitória da Revolução, num determinado mo-
mento, depende mais da firmeza na direção da luta do que da resis-
tência que nos possa ser oposta pelos senhores de hoje, em estado
de desorganização manifesta e dirigida de uma maneira inepta."
"Portanto, temos necessidade da revolução agrária e antiimperialista,
realizada e sustentada pelas amplas massas de nossa população."
"Lutamos pela libertação completa dos operários agrícolas de todas
as formas de exploração, feudais e coloniais, por meio do confisco,
da nacionalização e da divisão da terra, pela sua doação gratuita
aos que a trabalham." "Lutamos pela libertação do Brasil do jugo
do imperialismo por meio do confisco e da nacionalização das em-
presas imperialistas, das propriedades territoriais, das concessões, das
vias de comunicação, dos serviços públicos, das minas, dos bancos;
anulação das dívidas externas." "Pela instauração de um governo
realmente saído dos trabalhadores das cidades e das plantações, em
ligação estreita com os movimentos revolucionários antiimperialistas
dos países latino-americanos e capaz de destruir todos os privilégios
dos senhores atuais e de defender as reivindicações revolucionárias."
Enquanto Prestes conta com a capacidade revolucionária das
massas, seu antigo camarada de campanha, Juarez Távora, hoje um
dos chefes de maior prestígio no movimento da Aliança Liberal, não
acredita na eficácia revolucionária das massas, na época atual de
canhões, metralhadoras etc.; ele acredita unicamente nas elites. Hoje
Távora fuzila seus antigos camaradas e os comunistas, mas quando
da publicação de seu manifesto-resposta a Prestes, ele afirmava se
sentir numa posição incômoda por não estar de acordo com seu
"caro amigo e camarada". Hoje, ele, forçado, manda fuzilar os
partidários de seu "caro amigo e camarada", os comunistas, e tam-
bém simples operários, apesar de "constatando a iniguidade de um
tal regime onde a maioria proletária debate-se na miséria sem nenhuma
ajuda material, sob o peso de uma lei a serviço de uma minoria
burguesa de banqueiros, industriais e proprietários de terra...".
"Não acredito - diz Távora -- na viabilidade de uma revo-
lução desencadeada pela massa sem armas do proletariado das ci-
dades, dos colonos das plantações, dos peões das fazendas de criação,
dos habitantes do interior do país. Falta a esta massa todas as

116
"BR DFanBSa va.onc.ezE. 220 Lis 05 MOC)!“ p 24
qualidades essenciais para a realização de uma insurreição genera-
lizada como a propõe o general Prestes: coesão, iniciativa, audácia
e, sobretudo, capacidade militar."
Naturalmente, Távora não podia acreditar numa revolução rea-
lizada pelo proletariado. A revolução do proletariado é uma revo-
lução libertadora, enquanto que Távora queria uma revolução para
explorar e submeter à escravidão as massas laboriosas.
A atitude do Partido Comunista
O Partido Comunista do Brasil cometeu uma série de graves
erros durante toda a campanha da sucessão presidencial. O Partido
teve uma atitude de completa independência em relação aos dois
grupos de proprietários fundiários e industriais, mas, apesar de suas
afirmações teóricas sobre uma aliança com a Coluna Prestes, em
que guardava a liberdade de crítica e de organização, ao mesmo
tempo que lutava pela hegemonia do proletariado sob a direção do
Partido, a sua política foi, praticamente, de completa dependência
frente à Coluna Prestes.
Enquanto Prestes falava da hegemonia do movimento que deve
pertencer ao proletariado sob a direção do Partido Comunista, ele
preparava "somente" a parte "técnica" da insurreição. O Partido,
que afirmava que unicamente o proletariado, sob a direção do Partido
Comunista, poderia conduzir a revolução agrária e antiimperialista
até o seu final, praticamente não realizava nenhum trabalho para
conquistar efetivamente a hegemonia do proletariado e a direção da
revolução.
O Partido, na verdade, esperava que Prestes realizasse a revo-
lução que, depois, deveria dar ao proletariado a hegemonia e ao
Partido a direção do movimento revolucionário.
Foi um dos grandes erros do Partido e será necessário muito
tempo para corrigir as consegiuências extremamente nocivas à causa
da classe operária. Ao invés de agitar, organizar e de mobilizar as
massas em torno de suas reivindicações imediatas, em lugar de orga-
nizar as greves e de coordenar os movimentos espontâneos e isolados
para os alargar e elevá-los a um nível superior, o Partido limitou-se
a discutir a questão da hegemonia do proletariado.
A crise econômica e as perspectivas revolucionárias
O governo revolucionário de Getúlio Vargas não poderá resolver
a trise econômica que abala o Brasil.
A base fundamental da economia brasileira é o café e o Brasil
é o seu maior produtor. A produção mundial para o ano de 1930
está avaliada em 32 milhões de sacas, das quais 23 milhões são
117
UB Samoa
aroranasa va.cne.EcE. 87 0 [L

brasileiras. Mundialmente, a venda do café para o ano é de 23


milhões e 500 mil sacas, e vê-se, por esse número, que só o Brasil
produz uma quantidade suficiente para todas as necessidades do
mercado.
Não é, porém, o Brasil, o único participante do mercado. Se-
gundo uma estatística do jornal O Estado de S. Paulo, o Brasil, por
causa da superprodução de 1928, 1929 e 1930, dispõe de um estoque,
sem condições de venda, que sobe a 17 milhões e 652 mil sacas e
a capacidade de compra das grandes massas de todos os países,
incluindo o Brasil, reduz-se cada vez mais.
Em sua origem a crise brasileira é somente local. Ela está
ligada à crise mundial do capitalismo e isso impede de se lhe dar
uma solução particular, independente da crise mundial. É uma crise
do regime e é evidente que nem o governo de Getúlio Vargas nem
um outro governo burguês qualquer é capaz de resolvê-la.
De maneira nenhuma a formação do novo governo, que tomou
o poder com as armas na mão, cercado pela simpatia das amplas
massas e da pequena burguesia, afastou as perspectivas dos movi-
mentos revolucionários das massas. As perspectivas de novas lutas
revolucionárias estão cada vez mais próximas.
Em consegiência do agravamento dá crise mundial e da crise
do café, a crise na economia brasileira - na indústria têxtil e de
calçados, no comércio, na atividade bancária etc. - será cada vez
mais profunda. O descontentamento no seio das massas proletárias
e semiproletárias e da pequena burguesia das cidades e do campo
aumentará sempre.
O governo atual, apesar das garantias que deu de acabar com
a política de impostos que pesa sobre a pequena propriedade e
sobre o pequeno comércio e de liquidar progressivamente "a grande
propriedade latifundiária", será obrigado a adotar uma política diri-
gida exatamente contra os interesses da pequena propriedade e do
pequeno comércio.
Apesar de suas declarações demagógicas sobre a necessidade de
respeitar os interesses da classe operária, o governo não poderá aten-
der aos interesses das amplas massas proletárias. As declarações sobre
a jornada de 8 horas de trabalho, sobre a liberdade sindical, a me-
lhoria das leis sociais em benefício do proletariado, o respeito pelas
leis de férias, de acidentes, de proteção das crianças, de proteção
do trabalho das mulheres proletárias, todas essas declarações tradu-
zir-se-ão por uma exploração maior das massas laboriosas, por uma
opressão política mais acentuada. Sabe-se, já, como a burguesia
"defende" os interesses dos operários.
A jornada de trabalho será aumentada, os salários sofrerão re-
duções, o desemprego aumentará, os impostos também, o custo de
vida será cada vez mais insuportável para as massas. Não é preciso

118
ar oransse vs.onc.ere, 82 0 L L 405 gm GOL,“? 26
muito tempo. As massas trabalhadoras e a pequenasolução burguesia per-
derão depressa todas as ilusões sobre uma possível de seus
problemas pelo governo atual.
As greves desencadeadas serão cada vez mais te.profundas, as
revoltas armadas no interior rebentarão inevitavelmen relativo à exe-
O decreto da Junta Revolucionária doà Maranhão execução dos elementos
cução de todos os agitadores cumunistas,
da Coluna Prestes e dos comunistas no Estado do Rio Grande do
Sul, de cinquenta comunistas no Rio derevolução Janeiro, provam as tentativas
da massa de realizar, ela própria, a democrática-burguesa,
que resolverá uma parte de seus problemas.
As medidas reacionárias adotadas pelo governo mostram que
este não vê outro meio para a consolidação do poder da Aliança
Liberal senão a aplicação de um regime de terror, desconhecido até
hoje no Brasil, contra os elementos mais ativos e mais conscientes
da classe operária.
As massas trabalhadoras do Brasilum marcham para a revolução
movimento
agrária e antiimperialista que será do Brasil ainda não revolucionário
de uma impetuosidade que a história conheceu.
A quem pertencerá a direção das Prestes?próximas lutas revolucionárias?
Coluna
Ao Partido Comunista ou àpossibilidade Atualmente, a Coluna
Prestes dispõe de melhores s.. No entanto, se o Partido
Comunista souber organizar a agitação e a mobilização da massa em
torno de palavras de ordem concretas, adaptadas ao momento, se
ele souber organizar as massas e dirigi-las para a luta, se ele souber
- não discutir com Prestes sobre a hegemonia que deve pertencer
ao proletariado sob a direção do Partido - e, sim, organizar as
greves por reivindicações econômicas e políticas mais elementares,
alargá-las e de tal maneira que elas sejam dirigidas cada vez mais
contra o poder burguês e para a conquista do poder pelo proleta-
riado, então, sim, a hegemonia pertencerá ao proletariado e a direção
das lutas ao Partido Comunista.
O Partido não deve ter ilusões sobre Prestes. Este se prepara
para dirigir a revolução e desta maneira aesperar hegemonia não estará
nas mãos do proletariado. Não podemos ao Partido que Prestes dê
por um "decreto" a direção da revolução Comunista.
Nossa tarefa consiste em conquistar a direção e a hegemonia para
o proletariado. Para isto, é preciso desencadear um vasto trabalho
de agitação, é preciso organizar as massas, desencadeand o greves,
movimentos armados no interior, greves de operários agrícolas, e
coordenando e dirigindo os movimentos das massas espontâneas etc.
Assim, o Partido Comunista estará à altura de suas tarefas, como o
único Partido do proletariado.
(Oran, LesLuttes,
Nouvelles DerniersL'International
Événements duSyndicale
Brésil etRouge,
les Perspectives des
janeiro, 1931).
119
BR DFANBSB VB.GNC.EEE. 290
| W 05 amo LX 0 L94
6) O Partido Comunista do Brasil frente aos próximos
combates (janeiro-fevereiro de 1931)
A crise brasileira alcança proporções cadade vezEstado mais graves. A
superprodução do café, que antes do golpe passava de
20 milhõe s de sacas, chega atualme nte à cifra de 24.775. 807.
A colheit a deste ano não será feita e, soment e em São Paulo.
um milhão e duzentos mil trabalhadores transitó rios, sem contar os
colonos, estão destinados a morrer de fome.
Os plantadores de Minas Gerais, sustentados desde o golpe luta
militar pelos imperialistas ianques que os utilizavam em suaPaulo
contra o governo central e contra as posições inglesas de São
e Rio de Janeiro, perderam hoje este apoio.
A questão do café continua sendo, como antes, ao catástrofe problema
principal da situação brasileira. Na esfera financeira
não é menos acentuada. Os interventores dos diversos Estados cla-
mam às portas do Governo Federal, sem nenhuma perspecti va séria
de que este possa socorrê- los. Os bancos não podem saldar seus
compromissos; um dos maiores do país, o Banco de Petrópolis , com
grandes interesses na produção do café e arroz, cujos depósitos em
ouro ultrapass avam 20 milhões, precisou fechar suas portas, vendo-se
o governo obrigado a assumir a responsabilidade pelas obrigações do
mesmo.
O governo não pode pagar regularmente seus funcionár ios. O
empréstimo interno lançado pela Junta e que desde o começo não
passou de uma miserável contribuição - não política, teve nenhum signi-
ficado sério. Foi uma medida de demagogia nada mais.
Os empréstimos do imperialismo ianque não são mais que um
meio para organizar a luta entre os diferentes Estados, sem sequer
solucionar temporar iamente as dificulda des financeira s. Os imperia-
listas de Wall Street enviam suas felicitações à Junta do Governo
muito
surgida com a "revolução", porém mantêm-se severas que importam reservado s quanto
a abrir-lhe a bolsa, exigindo condições muito
numa maior colonização do país.
Os "conselheiros" ingleses que pretendem "salvar" as finanças
brasileiras organizam o contragolpe militar. vel:
A situação das massas tornou-se, sem exagero, insuportá
em Santos, por exemplo, um trabalhad ganha atualmente peloa
or que ganhava de 450
5004000 para cuidar de mil pés de café no máximo,
mesmo trabalho apenas 120#4000. Um homem pode, por ano. Acres-
cuidar de 3 mil pés, o que significa ganhar 3604000
cente-se a isto outros 360$000 que pode obter nos meses da colheita,
e terá 7004000 por ano, isto é, pouco menos de 60$000extra, mensais.
Mesmo supondo que o trabalhador produza, plantando todo
120
- BROFANBSB Va.GNCiEEE, RO 128

terá apenas 60$000 mensais


o necessário para seu próprio sustento,
tratar-se da tracoma e de
para se vestir, calçar e, principalmente,
sua famíli a, coisa sem importância
outras enfermidades suas e de
farma cêuti co. Além disso, faz mais de 15 ou 20
para o médico e o
adas não recebem seus paga-
meses que a maioria dos colonos e camar
os patrões nem para os cama-
mentos. Não existe crédito nem para
adas, não oferecem garantia alguma
radas. As fazendas, desvaloriz
os abastece mais nem sequer
para o comércio do interior, que não
com artigos de primeira necessidade.
grandes planos de
O novo governo não fala mais sobre seus
r as velha s fórmu las do governo
reorganização e se limita a repeti
venda de algun s milhõ es de sacas de café para
de Minas, tais como:
"capa" de camponeses
a U.R.S.S. e para os Balcãs; formação de uma
latifú ndios de São Paulo,
ricos mediante a divisão de uma parte dos
s e desde já com uma inden izaçã o con-
com acordo dos proprietário
venie nte . . .*
ógicás de im-
Esfumaram-se completamente as promessas demag
ria leve não conta com
plantar uma nova era no Brasil. A indúst
volvi mento , o proce sso de empobre-
nenhuma perspectiva de desen
ia da popul ação se acent ua rapid ament e, e a crise
cimento da maior
ca, em todos os Estad os, adqui re conto rnos mais graves e pro-
políti
fundos do que antes do golpe de Estado.
ameaça da
Os discursos oficiais não mais podem ocultar a
nte e se ocup am exclu sivam ente da organ ização da
catástrofe imine
demag ogo dos
luta interimperialista. Maurício de Lacerda - o maior
Brasil - decla ra que "se formos
agentes do imperialismo ianque no
fasci smo ou o comu nism o consti tuirão
lutar entre nós mesmos, o
ável no desen rolar da crise" . O probl ema funda mental
um perigo inevit
queiros brasileiros é
que expõem em seus discursos todos os politi
massa s, dos operá rios e camponeses.
o de como evitar a revolução de
Sobre a base da crise produ z-se uma decom posição de todos
os grupo s políti cos que parti cipar am do golpe de Estado.
ao imper ialismo ianque
Getúlio Vargas, que encabeçou - aliado
capita listas nacion ais, não é mais a
- a luta dos latifundiários e
l da políti ca brasil eira e vacila novam ente em direção
figura centra
do imperialismo inglês.
o ministro da
Londres passa abertamente à contra-ofensiva e
am certos eleme ntos da colun a Távora,
guerra, a cujo redor se agrup

o "Correio da Manhã"
* "Em dez meses, incluindo outubro último - diz
ação nada menos de 23.346. 000 libras esterlinas.
- perdemos com a export
sequer a 82 milhões
Se considerarmos que, desde 1926, a exportação não chegou
ida pelo déficit de uma
de esterlinas, se aquilata melhor a repercussão produz
comércio exportador
soma que representa mais de um quarto do valor total do
É como se se fizesse uma transfu são de sangue em um anêmico,
do Brasil. an»
deixando-o em um estado de quase inanição ".

121
ar vacono sem, 820 LL MOS exa 9

se alia mais estreitamente com o imperialismo inglês, desencantado


com as condições severas e a enorme cautela que manifestam os
banqueiros norte-americanos. Outra parte da coluna, com Távora
e João Alberto, liga-se cada vez mais com Bernardes (que procura
agrupar fazendeiros e capitalistas relacionados com o café), unindo-
-se assim ao imperialismo ianque.
Vê-se, portanto, como as facções pró-imperialismo se agrupam
e reagrupam sobre a base da crise, preparando por todos os meios
novas e cruentas lutas armadas.
de
As ilusões de uma parte da pequena burguesia (Maurício
"chino" no desenvolvi mento do
Lacerda fala abertamente do caminho
mo ianque
Brasil), que acreditou no papel progressivo do imperialis
de de uma solução temporária para a crise brasileira,
e na possibilida
sofreram um rude golpe.
da luta inter-
O caráter do golpe de estado como expressão
pelos latifundiár ios e capitalistas nacionais,
imperialista, encabeçado
completam ente desmascara do. Esta parte da pequena bur-
está hoje
arrastados pelo
guesia, dos camponeses e em parte dos operários
que algumas reformas seriam a
último movimento, e que pensaram
ia de sua participaçã o na luta, começa a ver
inevitável consequênc
s pensa em
mais e melhor que nenhuma das duas facções imperialista
ambas (que defendem uma maior
tocar nos privilégios feudais e que
das
colonização do país) lutam por uma intensificação da exploração
massas trabalhado ras e camponesas , esmagadas pela crise.
burguesia para
As tentativas de alguns politiqueiros da pequena
imperialis mo são frustradas pelo
jogar ora com um, ora com outro
da crise. A tentativa de João Alberto para
catastrófico desenrolar
arbitragem, um
formar, demagogicamente, mediante reformas sobre
Liberal, fracassou redon-
movimento de massas em favor da Aliança
do o caráter governamen tal e policial dos
damente. Ficou demonstra
paulistanos formados por Josias e Plínio. O governo pro-
sindicatos
sobre o
visório do Estado de São Paulo, num comunicado oficial
caráter das organizações trabalhistas , declara num de seus comuni-
cados:
as classes
"1) Fiscalizar a organização dos sindicatos de todas
parte deles os anarquistas ,
operárias, no sentido de impedir que façam
comunistas e outros elementos perigosos à ordem social.
2) Que esses sindicatos não tenham nenhum caráter político
e sim de associação de classe, com fins de beneficência e destinados
a resolver assuntos de interesse exclusivo da própria classe" etc.
O partido paulista ganhou todas as posições, utilizando as pro-
posições demagógicas de João Alberto e obrigando o governo central
a concluir um compromisso totalmente a seu favor. Da mesma forma
desmascararam, em grande parte, a política de Josias, de Plínio, de
João Alberto.

122
arbransse vsonc.eee.
320 LLUOS dar oo Lix? ikg0
Podemos sintetizar assim as consegiiências mais graves da luta
armada no Brasil:
1) Uma profunda agravação da crisesobre em todo o país; prepa-
ração de novas lutas interimperiali stas bases mais amplas;
aprofundamento da dependência do país ao imperi alismo, sobretudo
ao imperialismo ianque,
2) Novas experiências das grande s massas que, pela primeira
vez no desenvolvimento do sBrasil, se confrontaram com as táticas
da luta entre as duas facçõe aimperia listas e o papel servil desem-
penhado pelos latifundiários, burgue sia e a pequena burguesia
nacional, em favor de seus interes ses.
Como na Argentina, Bolívia eesPeru, o golpe de Estado do Brasil
não modificou em nada as relaçõPorém, de classe, nem nas formas polí-
ticas nem na forma do poder. é maisaoprofun contrário daqueles golpes
militares, o desencanto das massas do no Brasil porque,
mais que nos países citados , as massas foram arrastadas para as
lutas que se iniciaram nos diversos Estados.
# % 3
No desenrolar dos últimos acontno-bu ecimentos brasileiros, formaram-
-se distintamente dois partidosconqu peque rgueses, estreitame nte liga-
dos entre si, que lutam para nesasistar a hegem onia do movim ento
das massas operárias e campo . Ambo s os parti dos mostr am a
rápida passagem dos velho s eleme ntos do movim ento revol ucion ário
pequeno-burguês, uns para Omo.nacional-reformismo, outro s já aberta -
mente para o nacional-fascis
Josias Leão e Plínio Mello, repre sentantes da ala esquerda daé
Aliança Liberal, encabeçamçaumLiberal sdesba
deste partidos, cujo objetivo
salvar as posições da Alian ratadas pela desastrosa
situação do país e pela grande desilusão sofrida pelas massas em tão
pequeno espaço de tempo.
Seu programa não tem (nas condi ções atuais) um conteúdo sério,m
porém tende a formar organ izaçõ es de fundo operário que sirva
de obstáculo ao desen volvi mento do movim ento revolucionário. A
plataforma deste partido, de granddee influê ncia em São Paulo, é a
mesma que Sanchez Cerro defen no Peru: arbitramento, ajuda
oficial aos desemprega dos, paz entre o capita l e o trabalho, criação
de um Ministério do Trabalho que tos colabore com deleg ações patronais
e operárias para a solução de confli etc. etc.
Apesar de os dirigentes desta tendência se dissimularem com uma
ama
fraseologia bem radical, seu progr o trotskismo políti co fundamental é o cor-
porativismo do tipo fascis ta, sendo o que constitui à
ideolo gia e bande ira desta corre nte nacion al-fas cista. Seus líderes
123
ar oranass 820 1LUg SomÓO ly L3L

pretendem que a luta interimperialista terminou com esta "revo-


lução" que declaram ser uma verdadeira revolução de massas e,
"como o socialismo não é possível num só país", preconizam aber-
tamente a exploração feudal e capitalista, e a colonização do Brasil.
Na luta encarniçada travada contra o P.C.B. e no terror fascista
com que o perseguem, estes renegados agentes vendidos ao imperia-
lismo ianque utilizam seu passado comunista para organizar sindi-
catos policiais e criar uma frente de operários que sirvam diretamente
aos interesses dos latifundiários brasileiros.*
A atitude destes renegados mostrou com toda clareza o papel
miserável que representam, porém sua força se assenta no fato de
que esgrimem as reivindicações de operários que lutam para melhorar
suas penosas condições de existência. Josias Leão e Plínio Mello,
que bem compreenderam este sentimento das massas e aonde conduz
esta situação, tratam de utilizar sua radicalização abertamente a favor
de uma corrente nacional-fascista.
Mais complicada e muito mais perigosa é a posição do grupo
político encabeçado por Luís Carlos Prestes, que em todas suas
manifestações se separa e se declara contrário à corrente liberal de
Plínio, Josias etc., representando o radicalismo pequeno-burguês, que
ainda não se bandeou para o campo do imperialismo.
Luís Carlos Prestes "ab-roga" em seus discursos pela revolução
agrária e antiimperialista, porém, na realidade, todos seus agentes
colaboram com os Josias e Plínios, na sua tarefa fundamental de
lutar pela desagregação da seção brasileira da I.C.
O desenvolvimento político do prestismo no Brasil constitui uma
lição prática de valor inestimável para caracterizar todas as vacilações
da pequena burguesia.
Prestes, no transcurso de um ano, mudou três vezes de posição;
primeiro, foi chefe da atual Coluna Távora, que constituiu a força
decisiva no último movimento dos latifundiários e capitalistas brasi-
leiros ligados ao imperialismo ianque; utilizando seu passado revo-
lucionário, sustentou a Aliança Liberal durante as eleições de março
do ano passado.
Não demora, separando-se da Coluna (já abertamente iigada aos
feudais e imperialistas) funda um partido denominado "Liga de
Ação Revolucionária", sustentando que esta organização será apenas
um apoio técnico de defesa das lutas do proletariado. .. No final,

* Os chefes do trotskismo brasileiro (M. Pedrosa, Aristides Lobo e outros)


colaboram abertamente com o partido policial de Josias e Plínio, para desta
forma melhor enganar as massas, explicando que dito partido - organizado
por João Alberto - foi "legalizado" pelo governo sob pressão das massas.
Na realidade, foi legalizado para combater por todos os meios o P.C.B. e
utilizar o movimento das massas trabalhadoras em favor da Aliança Liberal.

124
BR DFanBSB Va.GNC.EEE. Q 01 L4 ip: L32

a Liga de Ação Revolucionária se transformou no partido policial de


Josias e Plínio (em São Paulo), e que pretende arrastar as massas
trabalhadoras atrás da bandeira da Aliança Liberal.
Então Prestes se separou também da Liga e formou uma nova
agremiação cujo objetivo principal é combater o partido comunista,
tratando de desagregá-lo por intermédio de seus agentes, ao mesmo
tempo em que ele próprio se declara comunista para poder, com
mais um argumento, melhor lutar contra o partido do proletariado.*
É contundente o aspecto atual da luta pela hegemonia do
movimento, hegemonia cuja conquista, dada a rápida e profunda
radicalização das massas, constitui para os elementos pequeno-bur-
gueses o objetivo primordial da hora presente.
As greves de São Paulo, as declarações dos camponeses do Norte
de que "se o governo não lhes entregar a terra eles mesmos as
tomarão" etc., provocam um acerbamento da luta entre o proletariado
e a pequena burguesia pela hegemonia do movimento revolucionário
de massas. O primeiro, o proletariado, quer fazer a revolução agrária
e antiimperialista para chegar a implantar seu próprio poder; a
pequena burguesia só pretende utilizar o movimento de massas para
obter algumas reformas e terminar com o estado de insegurança que
trazem as grandes lutas e choques entre o capital e o trabalho.
Prestes, que ainda não passou abertamente para o lado do
imperialismo, luta pela hegemonia no campo; reflete o estado de
espírito revolucionário do campo porém, por sua própria ação de
pretender a direção do campo, constitui já hoje uma luta contra-
«revolucionária dirigida contra o proletariado e contra a futura revo-
lução.
Não compreender esta jogada de Prestes e do prestismo é o
maior perigo que paira sobre nosso partido. Os camaradas que, sem
muito refletir, afirmaram que Prestes não tem nenhuma intenção
oculta, que é uma figura do passado porque não tomou parte ativa
nos últimos acontecimentos - não perceberam este perigo e na
realidade dão aos prestistas a possibilidade de perturbar algumas
organizações locais do partido, pois não compreenderam que nas
atuais lutas de massas, o problema central gira ao redor desta questão:
quem encabeçará estas lutas, o proletariado ou a pequena burguesia?

# ae l

* A luta encarniçada que desenvolve o renegado Aristides Lobo -


agente mais responsável de Prestes - para lutar em favor da Aliança Liberal
e do imperialismo ianque aliados com os trotskistas, caracteriza suficientemente
a posição atual de Luís Carlos Prestes que vacila, sem tomar posição clara e
franca, contra estes renegados agentes da Aliança Liberal.

125
BR DFaNBSS V8.GNC.EEE.30 L LU OS Qm 004 s 0 L33

Apesar de ter ocupado uma posição independente, o P.C.B.


demonstrou, de forma clássica, todas suas fraquezas frente e durante
o desenrolar dos últimos acontecimentos. Não foi sequer capaz de
penetrar com sua linha revolucionária nas próprias organizações do
Partido.
Num grande número de Estados, manifestaram-se grandes vaci-
lações na linha geral partidária, até mesmo a ter medo de lutar contra
a Junta Militar. Em Santos, por exemplo, os companheiros susten-
taram as instruções dos liberais, como a convocação de constituintes
etc.; não tomaram posição alguma frente à Aliança Liberal e à luta
por ela encabeçada; não explicaram à massa o conteúdo social desta
luta. A idéia de que não se trava uma luta interimperialista e sim
uma verdadeira revolução de massas, penetrou também nas nossas
fileiras.
É evidente que em tais condições o Partido não podia mobilizar
as grandes massas e organizar suas lutas nos instantes precisos em
que - em razão da luta encarniçada que se desenrolava em todo o
país - se dava o desmoronamento de todas as forças burguesas e
feudais.
É por isso que a luta pela proletarização do partido toma uma
característica tão aguda. Na realidade, a luta de classes se reflete
"em nosso próprio partido graças à sua debilidade ideológica e orgê-
nica. Os elementos do prestismo e da Aliança Liberal penetram (se
infiltram) continuamente nele para conscientemente perturbá-lo, para
combater e enganar os poucos quadros proletários recentemente for-
mados e contudo pouco desenvolvidos. O fato de que Plínio Mello,
apesar de ser abertamente um agente policial da Aliança, não ter
sido expulso do partido, caracteriza bem sua situação interna. Dois
meses antes de sua clara traição Plínio, no "Plenum" do B.S.S,,
com gesto dramático, chorava e amaldiçoava seus grandes erros. Já
convertido em agente policial, continua desfrutando do título de
comunista e se declara disposto a submeter-se às decisões do partido. . .
Processo igual ou semelhante se repete com Josias que, depois de
encabeçar uma parte da polícia armada a serviço do imperialismo,
declara cinicamente que acatará as ordens do partido.
2
Josias, Plínio, Lobo e Prestes - que é responsável por todos
seus agentes - demonstram, pela luta encarniçada que desenvolvem
contra o P.C.B., ter compreendido muito bem o que significa e repre-
senta um partido de apenas uma classe, independente de toda influên-
cia das ideologias pequeno-burguesas, com quadros formados dentro
do próprio proletariado, capazes de dirigir as formidáveis lutas de
milhões de operários e camponeses que vêem na revolução a única
saída para suas desesperadoras existências.

126
aroransssvacneerE, 220 LLUOG i( 434

Enquanto o Partido Comunista do Brasil não se desembaraçar


dos agentes da Aliança Liberal, não por meio de uma expulsão auto-
mática, mas por uma séria explicação à massa do partido e do
proletariado em geral sobre o papel representado por esses agentes
do imperialismo, utilizando as próprias experiências das massas para
demonstrá-lo -- o partido não poderá efetivamente se transformar
numa força independente, capaz de conquistar a hegemonia do movi-
mento revolucionário das massas e dirigir suas lutas.
No processo de todo seu desenvolvimento, através de cada crise
política do país, o P.C.B. converteu-se numa espécie de Kuomintang,
nuim partido de várias classes sob a direção dos elementos pequeno-
-burgueses. Assim o constatamos na Liga Antiimperialista; prova-o
com mais firmeza o Bloco Operário e Camponês - atrás do qual
se escondeu o partido, sendo substituído por aquele - para se con-
verter logo em um partido composto de liberais, prestistas, trotskistas,
anarco-sindicalistas.
Os novos quadros trabalhadores, "edificados" no ano passado,
depois da Carta Aberta da I.C., enriquecidos pela experiência da
traição da pequena burguesia à revolução, com força suficiente para
combater tal estado de coisa. Entendem bem a situação do partido
porém, muitas vezes, não sabem a razão pela qual o Partido deve
tornar impossível toda atividade dos agentes da Aliança Liberal, como
Plínio, josias e Lobo, dentro do proletariado, explicando com abso-
luta clareza quem são estes renegados, quais são as promessas que
fizeram às massas e de que forma elas foram cumpridas.
A luta contra ambos os partidos da pequena burguesia, que deve
ser enérgica, decidida, implacável, exige ao mesmo tempo uma grande
paciência, muito esclarecimento entre as massas, uma utilização in-
teligente de suas próprias experiências dos últimos meses, para assim
ganhar (convencer) os elementos proletários que porventura vacilem.
Sem dúvida alguma é preciso expulsar sem compaixão os agentes de
nossos adversários que se infiltraram em nossas fileiras; porém, em
cada caso, devemos explicar as causas diretas e gerais de tal medida,
explicar e explicar uma vez mais o sentido de nossa luta contra essa
gente, para que o fato se torne claro para os trabalhadores que ainda
mantêm ilusão sobre eles.
O trabalho do partido, até há alguns meses, andava à deriva.
Excesso de conciliação em alguns núcleos dirigentes do partido, muita,
porém muita cortesia, demasiada prudência diante de Plínio, Josias
e companhia, enquanto havia uma total falta de compreensão e de
prudência nas medidas para a expulsão de militantes trabalhadores
do partido.
Cabe agora ao partido expor às massas, sem demora, o processo
dos últimos acontecimentos, explicar-lhes na sua linguagem e de-
monstrar-lhes ao mesmo tempo (sobre a base das experiências da

127
aroranass 820 L 4OS am ool ( LS

mesma massa) o papel de caaa grupo que atuou na contenda, por


quais interesses lutava, o que prometeu e O que realmente deu cada
uma das facções em luta, qual é a função de cada um dos setores
sociais à luz dos fatos. Isto é tanto mais necessário quanto se sabe
que a crise e a luta armada levaram a vida política do país a novas
camadas das mais atrasadas da população, enriquecendo-as com uma
nova experiência política. O Partido não compreendeu suficiente-
mente a importância desta experiência, realizada pelas próprias mas-
sas, e a necessidade de utilizá-la em sua propaganda e ação revolu-
cionária.
Formulações gerais, os exemplos da experiência internacional não
são, muitas vezes, compreensíveis às grandes massas brasileiras. De-
vemos substituí-las pela experiência da própria massa porque é em
base à mesma que podemos demonstrar-lhe que o Partido tinha razão
na análise e caracterização do papel dos inimigos do proletariado.
O Plenum do C.C. do P.C.B. tinha muita razão quando decla-
rava que "sem o partido comunista não pode haver nenhuma verda-
deira revolução de operários e camponeses" e que "sem uma luta
encarniçada contra os elementos prestistas, trotskistas, aliancistas etc.
não pode existir um partido comunista que mereça este nome" que
represente realmente a linha da Internacional Comunista - linha
política do proletariado, de classe, que seja capaz de encabeçar as
lutas das massas trabalhadoras.
Esta luta ideológica pela verdadeira existência de nosso partido,
é a tarefa primordial do P.C.B.
a e ak

A influência dos dois partidos pequeno-burgueses, sobretudo do


prestismo, penetrou até mesmo na tática do P.C.B.
A facção liberal da pequena burguesia especula com as reivin-
dicações elementais das grandes massas que não mais podem suportar
e se vêem forçadas a lutar para melhorar suas miseráveis condições
de vida. O radicalismo pequeno-burguês (o prestismo) não se preo-
cupa com as reivindicações parciais, porém elabora planos para a
"revolução futura", pretendendo concretizar, com muita confusão, o
programa da revolução agrária e antiimperialista, enquanto pretende
utilizar cada greve dos trabalhadores para organizar os choques ar-
mados em favor de seus fins políticos.
Ambas as tendências pequeno-burguesas, tanto a liberal como a
radical, se aproveitam de toda fraqueza do partido comunista nos
dois tópicos assinalados. Nossos camaradas do Brasil não compreen-
dem, ainda hoje, que as reivindicações imediatas arrastarão à luta
maiores contingentes da massa, a única capaz de realizar a revolução,
sob a direção da vanguarda do proletariado.

128
Br oransse 420 LL ((- LG

Até há bem pouco, os camaradas brasileiros menosprezavam o


importantíssimo papel que ocupa, em posição de objetividade revo-
lucionária como a presente, a organização sindical; Plínio Mello
aproveitou esta grande lacuna do Partido fundando sindicatos policiais
em São Paulo. As reivindicações das massas, formuladas justamente
pelo Partido, tais como o subsídio de 6 mil-réis aos desempregados,
pão e trabalho etc., não são aproveitadas pelos sindicatos vermelhos,
nem mesmo pelo partido, como reivindicações pelas quais as grandes
massas devem-se mobilizar imediatamente.
Advoga-se simultaneamente a luta pelo "pão e trabalho" e a
luta pela "tomada das terras", a luta pelo poder, confundindo as
massas que assim não compreendem quando devem lutar pelo sub-
sídio aos desempregados ou por qualquer outra reivindicação: se
antes ou depois da revolução. Esta fraqueza, esta confusão, lançadas
pelo partido, são bem utilizadas pelos aliancistas, prestistas e trots-
kistas.
As greves se iniciam espontaneamente e o Partido não se dá
conta de que, nas circunstâncias atuais cada luta econômica, por sua
própria natureza (porque se torna imediatamente uma luta contra o
governo fascista, contra o terror dos liberais, porque surge logo a
solidariedade das grandes massas), já é uma ação eminentemente
política; o Partido não vê que essas batalhas econômicas são as únicas
que podem abrir caminho para levar as massas à luta contra o governo,
pelo poder dos operários e camponeses e que, no final de contas,
estes combates constituem uma escola formidável para a enorme
massa atrasada e ainda não conquistada pela nossa propaganda e que
termina por se aliar aos operários e camponeses.
O mesmo fenômeno se verifica no campo. O Partido acha que
é possível ganhar o apoio do movimento camponês mediante o envio
de alguns agitadores e organizadores e não vê que a luta dos traba-
lhadores agrícolas - que constituem em suma a maioria da popu-
lação - por suas reivindicações imediatas, assim como a dos cam-
poneses pobres, deve ligar-se com a luta pela posse da terra.
Quando Prestes fala da tomada da terra, ele não emprega esta
fórmula mais que como um meio de provocar pequenas lutas armadas
dirigidas por ele e seus caudilhos. Para nós, a tomada da "terra" é
uma consequência das lutas das massas camponesas sob a direção do
proletariado e das ações de classe que se desenvolvem nas cidades.
Os grandes combates no campo devem ser ligados à organização da
resistência ao pagamento dos impostos, ao desobedecimento às auto-
ridades locais etc. O partido não formula estas reivindicações com
clareza e precisão nem junta a questão das reivindicações mais
prementes das massas com uma concretização objetiva do programa
do governo operário e camponês, cuja fórmula continua sendo uma
coisa demasiado abstrata em geral.

129
sr oransse 220 L LOS em o0l, o 37

Os operários e camponeses não entendem como se poderá re-


solver os problemas econômicos e políticos mais importantes; como
poderão se salvar da catástrofe atual, como, enfim, se organizará,
por meio dos conselhos, a unidade dos operários e camponeses em
luta.
O partido tem obrigação de ajudar e explicar às massas qual
é a solução para estes problemas importantes. A passividade frente
às lutas que se desenrolam atualmente, mesmo que não sejam dirigi-
das por nós mesmos; a fraqueza que demonstra o partido na luta
por sua própria ideologia, pela sua transformação em um verdadeiro
partido do proletariado implicam, em suma, no mais sério e grave
perigo para o desenvolvimento revolucionário do Brasil.
Os caudilhos da pequena burguesia, o mais popular especial-
mente, Luís Carlos Prestes, ameaçam levar a reboque de suas tramas
de conspiração as massas proletárias e até o próprio partido. Não
compreender este grande perigo seria cometer a maior falha política
em que poderia incorrer um comunista na situação que atravessa
atualmente o Brasil.
Daí, portanto, que a concentração da luta ideológica, encarni-
cada, por um partido de classe, está indissoluvelmente ligada à maior
atividade dos comunistas à frente das lutas de massa para transformar
suas lutas econômicas em verdadeiros combates pelo poder operário
e camponês.
Os elementos trabalhadores que compreendem realmente a si-
tuação e tarefas atuais do partido, devem converter-se em forjadores
de novos quadros proletários que garantam e assegurem a liquidação
definitiva de toda tendência "kuomintanguista", tendência que cons-
titui o maior obstáculo no caminho do desenvolvimento do Partido
Comunista do Brasil.
(Revista Comunista, Ano 1, n.os 2-3, jan.-fev., 1931).

7) O trotskismo: Aos camaradas do Partido e a todos os


trabalhadores conscientes (julho de 1930)

Um grupo de renegados do comunismo, excluídos do nosso Par-


tido, começaram a publicação de um jornal "A Luta de Classe",
cheio de calúnias e de raiva contra o Partido do proletariado e
contra a Internacional Comunista.
Neste momento extremamente difícil quando todo o aparelho
da opressão: a polícia, os patrões, a imprensa, os politiqueiros marca
Maurício de Lacerda são mobilizados contra os trabalhadores e contra
o seu Partido Comunista; no momento em que o Partido, sob o fogo
da reação, deve tender todas as suas forças para "corrigir os seus

130
á L38
aroranass ve.cne. EEE. 220 LU Q

erros" e reconstruir as suas fileiras para os novos de classe que se


aproximam a passos gigantescos, neste momento, o trabalho desse
grupo de renegados e a publicação dessa folha caluniadora não podem
ser qualificados senão como traição completa aos trabalhadores e
apoio direto à contra-revolução.
Não é por acaso que esse grupo utiliza a velha bagagem do
trotskismo contra-revolucionário que o proletariado internacional já
compreendeu o que significa. Esse grupo de renegados procura uti-
lizar o trotskismo reacionário visando desagregar as fileiras do
nosso Partido. Mas engana-se, pois que o sentido reacionário do
trotskismo, sua luta contra a União Soviética e a Internacional Co-
munista, está completamente desmascarado aos olhos do proletariado
internacional, tanto mais que os trabalhadores e os chefes mais
capazes que estavam nas fileiras do trotskismo o abandonaram (por
exemplo, Radek, Piatakov, Smilga etc.), à medida que o trotskismo
se transformava numa força nitidamente anti-soviética e contra-revo-
lucionária.
O Partido Comunista do Brasil denuncia esses dirigentes da
folha caluniadora como traidores à causa do proletariado e apela
para os trabalhadores para que reforcem suas fileiras em torno do
Partido Comunista.
Os comunistas brasileiros responderão a todas as tentativas
desses inimigos de classe triplicando os seus esforços no sentido de
reforçar o Partido, corrigir os erros passados com a aplicação da
linha da Internacional Comunista e forjar um partido combatente
para as batalhas decisivas que se oferecem às massas exploradas das
cidades e dos campos do Brasil.
Abaixo os renegados e traidores!
Viva a Internacional Comunista!
Viva o Partido Comunista do Brasil!
O Bureau Político do P.C.B.
(A Classe Operária, 19.07.1930).

8) Contra a Constituinte dos ricos (dezembro de 19831)

Volta a tapeação da Constituinte. É que o povo oprimido,


desesperado pela fome, já não escuta mais a conversa fiada do
Ministério do Trabalho. As greves operárias, os assaltos de desem-
pregados, as lutas dos camponeses, a greve da luz em São Paulo, o
levante de soldados de Recife, assustam os grupos burgueses, lacaios
dos ricaços estrangeiros imperialistas.
Ao mesmo tempo, nenhum grupo consegue firmar-se. A "paz
da família" deles não se fortifica. Os imperialistas que lutam para

131
BR DFANBSB Ve.onc.EEE 2201! L(“O Sanool, 0- L3494

tomar o Brasil e que mandam nesses grupos não deixam que essa
paz seja firme e duradoura. Então, alguns deles enganam o povo
com a volta do regime constitucional. Segundo eles, a Constituinte
dará tudo o que deseja o povo, já farto de ser enganado pelas pro-
messas antigas.
Mas a nova tapeação não pega. O povo trabalhador, faminto,
desempregado, escravizado, quer pão, trabalho, terra e liberdade. A
tal Constituinte nada disso lhe dará. Ela, apenas, servirá para dar
novas pepineiras a João Neves, Maurício de Lacerda, João Alberto e
outros. Que dirão muita palavra bonita, mas que não matarão a
fome do povo. Tal como o antigo Congresso.
Por isso mesmo, o Partido Comunista, partido de operários,
camponeses, soldados e marinheiros revolucionários, é contra a Cons-
tituinte. Nós nunca mentimos ao povo.
O povo oprimido só tem um meio para sair da miséria, da
fome, do desemprego e da escravidão: é lutar todos os dias, por
greves e demonstrações de rua, em defesa de seus direitos. É por
essas lutas, dirigidas pelo próprio povo oprimido das fábricas, das
fazendas, dos quartéis e dos navios, acabar com toda essa cambada
de tapeadores, com ou sem Constituinte! - É preparar dessa forma,
sob a direção do proletariado revolucionário, organizado no Partido
Comunista, a nossa verdadeira e única Revolução, a revolução ope-
rária e camponesa, feita por todo o povo oprimido contra todos os
ricaços nacionais e estrangeiros imperialistas e seus lacaios de cartola
e galão!
Para isso, o P.C.B. apresentará um programa de luta em torno
do qual deverão se unir, numa frente única de ferro, todos os ope-
rários e camponeses, todos os soldados e marinheiros, todos os opri-
midos do Brasil!
(A Classe Operária, 15.12.1931).

9) Brasil: campo de grandes lutas armadas


(dezembro de 1932)

O Brasil continua sendo o teatro de sangrentas lutas armadas.


A sublevação do Forte Copacabana em 1922; o golpe de Estado de
1924 em São Paulo; a Coluna Prestes; o golpe de Estado de 1930
que deu o poder à Aliança Liberal; o golpe de São Paulo em julho
do corrente ano, são os pontos culminantes dessas lutas. Porém esta
última superou em intensidade a todas as anteriores. Dois exércitos
com forças que em conjunto deviam oscilar entre cento e cinquenta
e duzentos mil homens, com aviação, tanques e todo um instrumental
bélico moderno, lutaram duramente durante três meses. No curso
desta ação, numerosas pontes e lavouras foram destruídas; se têm

132
BROFANBSB Va.oNC.EEE, S20 L ol apud 40

gasto somas formidáveis, tendo, tanto o Governo federal como o


Governo rebelde de São Paulo, emitido bilhetes sem garantias por
cem mil contos (um conto é um milréis), e São Paulo, o Estado
brasileiro economicamente mais desenvolvido, tem vivido totalmente
bloqueado.
O Brasil, que por sua extensão é mais da metade da América
do Sul (oito milhões de km quadrados) e sua população quase a
metade (40 milhões de habitantes); que possui enormes riquezas
naturais (inclusive 23% das reservas mundiais de ferro), é campo
de formidáveis contradições, determinadas fundamentalmente por seu
caráter semicolonial e semifeudal. O comércio exterior, o transporte,
o crédito, estão sob controle imperialista. A terra se encontra mono-
polizada em mãos de alguns milhares de latifundiários e de empresas
estrangeiras. O trabalho dos assalariados agrícolas e camponeses se
reveste de formas semi-escravistas e semifeudais (a escravidão foi
oficialmente abolida no Brasil no século passado). As grandes massas
de negros, Índios, são nacionalidades oprimidas, sobre as quais pesa
uma forte pressão.
Tais características têm deformado e entorpecido realmente o
desenvolvimento da economia brasileira, ainda em atraso com relação
a outros países semicoloniais. Apesar de suas formidáveis riquezas
naturais, O Brasil é um país relativamente pobre. Seu movimento
comercial e bancário, por exemplo, é muito inferior ao da Argentina,
país também semicolonial, que tem somente pouco mais da quarta
parte de habitantes que o Brasil. A produção por cabeça, que para
a Nova Zelândia representa 832 xelins, para a Argentina 387, para
Cuba 318, para o Chile 225, para a Venezuela 157, para o Uruguai
154, para o Peru 101, para o Brasil só é de 47 xelins. Sob o controle
imperialista, a economia brasileira se desenvolveu fundamentalmente
como produtora de um reduzido número de vegetais e de produtos
animais, apoiando-se na exportação de uma parte dessa produção
vegetal e animal, e fundamentalmente na exportação do café, que
tem representado entre 50 e 75% do valor de toda a exportação do
país. As explorações minerais têm escassa importância, e a indústria,
de que falaremos mais adiante, tem-se desenvolvido como indústria
ligeira e indústria de transformação de produtos vegetais (açúcar
etc.).
O caráter monoprodutor da economia brasileira se traduz tam-
bém por uma formidável acentuação da desigualdade do desenvolvi-
mento econômico dos diversos Estados brasileiros. São Paulo possui
quase a metade de todas as plantações de café do país. Por seu porto,
Santos, exportam-se 71% de todo o café que é exportado. E o Estado
de São Paulo, que dos 40 milhões de habitantes do Brasil só com-
preende sete milhões, detém o monopólio econômico, representando
o valor de sua exportação 110% do valor de todas as exportações

133
BR DFANBSB va.ono eee, B XO VLUTOS oa olp ul" L

l, represen-
do resto do país, sendo sua a maior produção industria
o movimen to ban-
tando seu movimento bancário a metade de todo
a metade de toda a energia
cário brasileiro; sua energia elétrica,
elétrica produzi da no Brasil, seus automóv eis e caminhõ es, a metade
suas
de todos os existentes no país; suas linhas férreas, quase a 1/4;
Porém, apesar deste
arrecadações fiscais, as maiores entradas etc.
nos outros
maior desenvolvimento econômico, em São Paulo, como
a agricult ura se apóia em formas semifeud ais e
Estados brasileiros,
semi-escravistas do trabalho.
de São Paulo re-
Em consegiuência, os latifundiários cafeeiros
grupo mais forte dos latifun diários brasile iros. O go-
presentam o
mãos, sendo também
verno do Estado está tradicionalmente em suas
no govern o federal . Em bene-
tradicionalmente decisiva sua força
de latifun diários , o govern o federal e o do Estado
fício deste setor
café. Utili-
realizam grandes esforços para fazer subir os preços do
totalid ade pelo impe-
zando empréstimos concedidos em sua quase
compr aram grande s estoqu es de café,
rialismo inglês, esses governos
quand o os preços eram elevad os. Atualm ente, como o
que vendiam
o, e como os
café assim comprado não pôde ser colocado no mercad
é queim ado ou jogado
estoques acumulados são muito grandes, o café
ao mar pelo Conselho Nacional de Café.
pelos Estados
Tal política de valorização cafeeira foi condenada
princip al mercad o para o café brasileiro.
Unidos, que representam o
america no, para combat er tal política , impuls ionou
O imperialismo
e de outros países
(incentivou) o desenvolvimento cafeeiro da Colômbia
pela "valo-
do Caribe, coisa fácil, já que os altos preços determinados
a produç ão de café. Esta chegou a ultrapassar
rização" estimulavam
lugar a uma
muito seriamente as necessidades do mercado, dando
diminuiu os
forte crise cafeeira, que se manifestou em 1920 e que
A repercu ssão da crise capitali sta mundial,
preços em mais de 40%.
os produto s de exporta ção, restrin gindo os mer-
que afetou a todos
ao Brasil e
cados; que privou quase totalmente de empréstimos
, restringindo-se
restringiu o crédito em geral, soma-se à crise cafeeira
o em uma profund íssima crise toda a
o mercado interno e entrand
econom ia do país.
ria de ma-
A indústria leve (têxtil, calçado, açúcar etc.), tributá
tível estrang eiro, teve um sério desenv olvimento
quinarias e combus
o valor das expor-
no Brasil. O valor de sua produção é maior que
princip al centro industr ial do
tações de café. São Paulo constitui o
Estado a maiori a das fábrica s têxteis
Brasil, estando radicadas neste
têxteis de São Paulo,
e de calçado. Da importância das fábricas
existentes em 1925,
basta dizer que sobre 63 de tecidos de algodão
adores; 29, mais de 500, e 12, mais
49 tinham mais de 100 trabalh
de 1.000.

134
Br oranese va.Gne.EeE, 220 | L405 Mwl' ("ng
Entre a indústria paulista e os cafeeiros há café, sérias ligações. In
teressados estes em não estender as plantaçõ es de para sustentar
sua política de preços altos; impossibilitados inclusive de fazê-loparte por
restrições governamentais e pelo empobrecimento das terras,
deles empregaram suas economias na indústriaindústria . O capital bancário
trabalha também como laço de união entre a e os cafeeiros.
O Banco do Estado de São Paulo, por exemplo, tem como acionistas
do Estado
principais o Instituto do Café (repartiçãoos ingleses Lazard Brothers, de São Paulo
criada para valorizar o café) e os banqueir
financistas tradicionalmente ligados à política depaulistas. valorização e for-
tíssimos credores hipotecários dos latifundiários Este bloco
política protecion
de cafeeiros e industriais sustenta uma is e não molesta os cafeeiros ista em ma-
téria comercial, que favorece aos industria
que o integram, já que estes, interessados em s restringir o volume da
exportação de café, não se sentem inclinado procurar vender livre-
a uma política
mais.
-cambista de comprar mais no exterior para
Ao mesmo tempo o protecio nismo lhes assegura o mercado interior
para o milho, feijão, trigo etc,, vegetais s.de Por que uma parte desses
latifundiários do café também são produtore causas semelhantes,
monetári
este bloco é contra a desvalorizaçãosão muito maiores a. As ligações deste
grupo de latifundi ários e industria is com o impe-
rialismo inglês do que com o americano, tendo também certas ligações
com o imperialismo italiano.
Este bloco de feudais e burguesesdede1930, São Paulo, que predomi-
nava no Governo Federal até outubro encontrou séria resis-
tência à sua política de camadas de latifundi ários e burgueses de
Criadore
outros Estados e do próprio São Paulo. ários e industriai s de gado e latifun-
diários do Rio Grande do Sul, latifundi s produtores
de açúcar em Pernambu co, latifundi ários ligados ao tabaco, ao cacau,
à exploração da madeira, à borracha etc., no Norte.
Latifundiários do café de Minas, Bahia, Paraná, Rio e do próprio
São Paulo, são contrário s à política de valorizaç ão de café e à res-
trição da produção e exportação deste produto, em que lutar tal política
se baseia (produtores de cafés finos etc.,grupos de industriais livre-
que querem
e da
mente pelo comprador). (Determinados opositore s sustenta m
burguesi a comercial .) Em geral, estes grupos
uma limitação à proteção de que gozam ospaulista: cafeicult ores paulistas
ligados ao Insti:uto do Café e à indústria a depressão tratar mediante
uma política mais livre-cam bista e mediante monetária
para facilitar suas exportações, restringidas pelaianque crise. Em geral
trata-se de grupos mais ligados ao imperialismoda Bahia) dotêmquecertas ao
inglês, e alguns deles (camadas de latifundi ários
ligações com o imperialismo francês.
BR DFANBSB va.GNC.EEE. 820 LLUOSom 00 L 043
Os partidos representativos destes
burgueses, sustentados pelo imperialismo grupos
american
de latifundiários e
aproveitar o descontentamento das massas os chefeso, pequeno
utilizando para
-burgue-
ses (os dirigentes da coluna de Luís Carlos Prestes, que durante
anos de luta armada haviam jogado com muito confusionismo dois um
certo papel revolucionário), constituíram a "Aliança Liberal", parti-
ciparam na eleição presidencial com a
e depois, em outubro de 1930, deram candida tura de Getúlio Vargas,
um golpe de Estado que der-
rubou o Presidente Washington Luís e impediu que tomasse o poder
o novo Presidente Júlio Prestes. A agudeza da crise, a impossibilidade
nestes momentos, para a Inglaterra, de conceder emprést imos para
continuar a valorização do café (ocasião aproveitada pelos banquei
ianques Schroeder para conceder o empréstimo de vinte milhões ros de
dólares), determinou que uma parte dos políticos do bloco gover-
nante aderisse ao golpe de Estado.
A situação da aguda crise e o fortalecimento das posições dos
cafeicultores paulistas e do imperia
verno resultante do golpe de 1930, elismo inglês determinou no go-
encabeç
vacilações. Contratação de um técnico financeiadoro por Vargas, fortes
inglês: Niemeyer;
continuação da política de valorização cafeeira, porém valendo -se
de um empréstimo ianque; certas tentativas de passar a outras culturas
agrícolas, mas sempre sob a direção imperialista e sem maiores resul-
tados para a economia do país. Assim, o imperialismo inglês, inte-
ressado em não perder suas posições
lorizar as terras deste Estado, de que em
é
São Paulo; em não desva-
credor
contra a empresa ianque United Fruit, desenvolvehipotecá
a
rio; de lutar
fruticul tura pau-
lista. A Ford foi feita uma enorme concessão territorial no Pará,
para que explore borracha, com o qual se propõe atacar a borrach
das colônias britânicas. Foram feitas concessões territoriais ao impe-a
rialismo japonês. O governo impulsi
de 10% de carvão nacional; porém aonou o consumo em proporção
pressão inglesa faz com que
na prática não se aplique tal medida. Estas vacilaçõ es do governo
têm coincidido com crises internas nos diversos partidos
pressam como a crise econômica provoca grandes mudanças, política que ex-
Entre os blocos feudal-burgueses e grandes vacilações entre um e outros
imperialismo, buscando salvação ora em uma ligação com este, ora
com o outro.
Frente ao movimento operário o governo de Getúlio tem seguido
uma política de repressão brutal ,(apoiad
formistas e anarco-sindicalistas), impondo oumpelos chefes sindicais re-
Código
feição fascista, proibindo as greves, colocando na demaisTrabalh o de
complet
ilegalidade e perseguindo fortemente o Partido Comunista e o movi-a
mento sindical revolucionário. A frente desta política tem perma-
necido os ex-chefes dos movimentos revolucionários de 22 e da Coluna
Prestes, os chefes da pequena burguesi a, que se transformaram em
136
BR DFaNBSB VB GNC.EEE, 2204 LOS amo “ªL—('Um
ideólogos e principais cabeças da política fascistizante, apoiados,
naturalmente, por todos os chefes dos blocos políticos feudal-burgue-
ses. As intenções de formar legiões fascistas têm fracassado até o
momento. Porém, esses ex-chefes do movimento prestista tratam por
todos os meios de manter sua influência sobre a massa,
para isso com uma perigosíssima corrente de esquerda. Miguelcontando
ex-general da Coluna Prestes, chefe até maio último das forçasCosta, po-
liciais do Estado de São Paulo, conta, através de uma extremada
demagogia, com grande influência sobre o proletariado, os campo-
neses e a pequena burguesia paulista. Chegou a prometer repartir as
terras, a dizer-se comunista etc. Nos momentos de greve, "apoiando"
demagogicamente os grevistas através de sua imprensa, busca desar-
má-los, aconselhando passividade, semeando ilusões com soluções
"conciliatórias" etc. Com o apoio de latifundiários e burgueses pau-
listas, Miguel Costa funda um Partido Popular Paulista,
qual se propôs a adesão da II Internacional. Os trotskistasnobrasileiros
seio do
mantêm íntima ligação com Miguel Costa, em
"menor mal". Miguel Costa torna-se assim um nome dos
da teoria do
mais perigosos
inimigos do proletariado brasileiro.
Esses ex-chefes militares da pequena burguesia tornaram inter-
ventores em vários Estados, chefes de polícia etc. seSuas posições no
Norte são muito fortes, encontrando-se ao serviço dos latifundiár ios
e burgueses dessa parte do país, da Ford etc. Este bloco é chamado
geralmente tenentista e tem feito forte oposição à convocação da
Assembléia Constituinte, sustentando a prolongação do regime atual
de ditadura aberta, assim como a Câmara Corporativa e outras formas
de políticas fascistas. Frente a isto, os chefes dos partidos políticos
tradicionais de São Paulo, Minas e Rio
vencidos como os vencedores de outubroGrande de
do Sul, tanto os
1930,
"frentes únicas", sustentando a constitucionalização doformaram país e o
as
governo autônomo para os Estados. Estas "frentes únicas" repre-
sentaram uma séria tentativa de formar um bloco sólido, mediante
o compromisso de discutir "parlamentarmente" as divergências entre
os mais fortes blocos feudal-burgueses e de procurar assim uma maior
ajuda do imperialismo, oferecendo-se "garantias" de estabilidade.
Cabe assinalar que os trotskistas, de fato, têm-se transformado na
extrema-esquerda deste bloco, formado pelos verdugos mais tradi-
cionais dos operários brasileiros, em nome da Constituint e e dos
"governos civis, contra os governos militares". Miguel Costa tem
vacilado entre os tenentistas e as "frentes únicas".
As fortes vacilações de Getúlio Vargas o têm
com os tenentes, as vezes com tal ou qual grupo dascolocado
"frentes
às vezes
Isto tem determinado frequentes crises no seu Governo. Porémúnicas".
realizou, a partir de março, e enquanto simulava apoiar-se no Vargas
tismo, uma séria aproximação ao bloco feudal-burguês paulista,tenen- de-
137
Br vaode ces R0 4110 Dom p is Lo

posto pelo golpe de 1930 (representado pelo partido republicano, que


governou até esta data, e 0 partido democrático, que era seu opositor
e simpatizou com o golpe de 30, sem participar dele, e que se en-
contram unidos em "frentes únicas"). Designou para São Paulo um
interventor pertencente a esse bloco: Toledo. Oficializou depois de
um semigolpe (maio de 1932) um ministério para acompanhar Toledo
(que no Governo tem sido um simples boneco), pertencente a este
mesmo bloco, que fortificava assim suas posições, de tal forma, que
facilitaram o golpe de julho formidavelmente.
Depois deste triunfo, as "frentes únicas" exigiram uma recom-
posição do Governo federal, com uma maior participação
delas.
Vargas estava a ponto de ceder; mas c tenentismo o intimidou
sob
a ameaça de um pronunciamento militar, obrigando-o a voltar
sobre
seus passos. A "frente única" paulista contestou com o golpe de 9
de julho, no qual se haviam comprometido a participar os partidos
do Rio Grande do Sul e de Minas, que integravam essas "frentes
únicas", Porém, as contradições interiores, os reflexos da luta inter-
imperialista no seio destes partidos, determinaram a ruptura de
tal
"frente única" nestes dois Estados. Uma parte de seus chefes políticos,
sustentando uma política de conciliação (Flores da Cunha e Maciel),
apoiaram o Governo federal. Outra parte (Bernardes, Borges
de
Medeiros, Luzardo, Pilla etc.) passaram a organizar golpes de Estado
em apoio a São Paulo.
O golpe de São Paulo foi uma expressão da luta contínua travada
entre os diferentes grupos feudal-burgueses por se apossar do Governo
e defender seus interesses econômicos e políticos e levar a cabo seu
programa de solução da crise em favor do café, do gado e da indústria.
Mas este golpe fez-se em condições diferentes das de outubro de 1930.
A crise se agudiza terrivelmente; depois que os trabalhadores brasi-
leiros mostraram em maio de 1932, em greves extensas, sua vontade
de luta independente; quando começa na América do Sul, no Chaco.
uma guerra continental, na qual evidentemente o Brasil participará
de forma ativíssima; quando são iminentes os perigos de guerra inter-
imperialista e de ataque à U.R.S.S., o Brasil vem preparando-se para
a guerra. Missões militares estrangeiras, fábricas de aviões e munições,
missões propagandísticas japonesas, forte propaganda anti-soviética,
contratos para prover de café a Coréia, Manchúria e os países do
Báltico e para reorganizar o mercado polaco de café (formas
de
comprar o concurso dos latifundiários brasileiros para a agressão
contra a U.R.S.S.), são indícios desta afirmação. A luta interimpe-
rialista por melhores posições no Brasil torna-se aguda e se refletia
claramente na recente luta armada, na qual os interesses de cada
bloco feudal-burguês estavam intimamente ligados aos interesses do
imperialismo. Tem sido também uma luta para saber do lado de que
imperialismo participará O Brasil na guerra interimperialista e na

138
oal po. L46
BR DFANBSB VB. GNC.EEE. SAOLL4OS pa

guerra sulamericana, na que os imperialismos ianque e britânico


jogam tão grande papel. De estabelecer sob que chefe imediato o
Brasil irá atacar a Na guerra sul-americana se expressam
também as rivalidades próprias dos grupos feudal-burgueses latino-
-americanos, exasperadas por uma forte guerra aduaneira. O Brasil
tem na Colômbia o competidor mais sério para seu café. No Brasil
há grupos que buscam acordo com a Argentina (hervateiros etc.) e
grupos que buscam com ela a guerra comercial (gado, produtores
de trigo etc.). Todos estes interesses dos diversos grupos feudal-
-burgueses têm jogado também seu papel na recente luta armada
interior e com vistas à guerra exterior, isto é, visando estabelecer
com quem marchará o Brasil nela.
Bloqueado São Paulo; quase paralisada, em consegiência, sua
vida econômica; condenadas suas forças, pela grande mobilização do
governo federal, a uma luta defensiva; utilizando as vantagens na-
turais; fracassados os golpes de solidariedade em Minas, Rio Grande
do Sul, Pará e outros Estados, o movimento sedicioso paulista estava
destinado a ser vencido. O descontentamento entre as massas traba-
lhadoras de São Paulo crescia em consegiência da fome. Para sus-
tentar os exércitos paulistas havia grandes dificuldades. Em tais
circunstâncias, e no terceiro mês de luta, começaram as grandes der-
rotas militares para os paulistas. O chefe militar do movimento, o
General Klinger, constituiu-se ditador do Estado e propôs a paz ao
governo federal. Foi o momento da debacle. A força pública (força
policial) se adiantou em pedir negociações de paz por sua conta. Os
trabalhadores, que nestes acontecimentos tomaram, em geral, menos
parte do que em golpes anteriores, saíram à rua protestando contra
a fome. Os soldados desmobilizados que chegavam, juntavam-se a
eles. Uma parte dos estudantes, que quiseram lutar pela autonomia
paulista, diziam-se traídos e exigiam continuação da luta. Klinger
pôs em liberdade os oficiais federais prisioneiros para que lutassem
contra a massa. O governo federal se apressou a firmar o armistício.
Miguel Costa, que havia mantido astutas nebulosidades sobre sua
atividade, que havia estado preso, tomou a direção do movimento
das massas, para uma vez mais, desarmar estas, pôr fim a seu movi-
mento, que nessas circunstâncias se apresentava tão heterogêneo.
Apesar da derrota militar do bloco paulista, o golpe terminou
com um novo compromisso, do qual foi gestor o chefe das forças
federais Góes Monteiro. Os chefes do golpe paulista foram "depor-
tados" para a Europa, e preparam agora, com Góes Monteiro, novas
conspirações contra o Governo de Getúlio Vargas, o que não exclui
que enquanto entre o bloco feudal-burguês de São Paulo e o governo
federal se tenha selado de fato um compromisso tendendo a formar
um "governo forte" para que as massas paguem as consegiiências da
guerra, para procurar obter alguma ajuda do imperialismo, dando-lhe

139
n
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, BO LL4oGSem 00 h $M
"garantias" de estabilidade, procurando retirar algo da rivalidade
interimperialista, buscando manobrar ante a agudeza da crise. Os
trabalhadores de todo o Brasil serão os encarregados de pagar os
gastos da guerra (o governo federal deu validez ao papel-moeda
emitido pelo bloco paulista para sustentar o golpe). Para impedir
que seu descontentamento tome formas de luta independente, para
atá-los ideologicamente, os diversos partidos feudal-burgueses extre-
mam sua demagogia, constituindo vários, com o nome de "socialistas".
Mas este acordo tácito a que fazemos referência não resolve
uma só contradição. Não pode impedir a radicalização das massas,
nem sequer afastar novas lutas armadas entre os grupos feudal-
-burgueses. Os latifundiários e burgueses do Norte, e o tenentismo
a eles ligado vêm diminuir sua influência no governo devido à polí-
tica de compromisso do governo com o bloco vencido e em benefício
deste setor feudal-burguês do Rio Grande do Sul e de Minas. O tenen-
tismo fez demagogia exigindo medidas mais severas contra os chefes
do golpe paulista; sustenta uma política livre-cambista, atenuação da
proteção ao café, e uma parte dele, com João Alberto, chefe policial
do Rio de Janeiro, passou dos projetos da Câmara Corporativa ao
Governo Parlamentar. O tenentismo organizará lutas no Norte; Miguel
Costa, se não lhe fizerem grandes concessões, em São Paulo. E, como
temos visto, o próprio núcleo central do compromisso (feudal-bur-
guês de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul) está tão minado
pelas contradições, que lutou em campos opostos, dividido em dois
setores, durante o último golpe de Estado.
# * ak
A enorme exploração das massas operárias e camponesas do
Brasil tem sido ferozmente aguçada pelo desejo dos feudal-burgueses
e dos imperialistas de recuperar as perdas provocadas pela crise, à
custa das massas trabalhadoras da cidade e do campo. A seca que
assola o Nordeste do país piora ainda mais a situação das massas.
A recente luta armada representa para elas fazer frente aos formi-
dáveis gastos de guerra, além do tributo em sangue (fala-se de 20.000
baixas). A radicalização dessas massas é muito grande. Sua simpatia
pelo comunismo cresce. Em maio último os ferroviários e têxteis de
São Paulo levaram à direção de suas greves, eclodidas espontanea-
mente, a militantes das organizações sindicais revolucionárias e do
Partido Comunista. Porém o débil grau de organização do proleta-
riado brasileiro e as debilidades do próprio Partido Comunista do
Brasil entorpecem grandemente o desenvolvimento da situação de
crise revolucionária. As ilusões das massas nos Miguel Costa, Ary
Parreiras e outros chefes demagógicos "liberal-burgueses e pequeno-
140
| va.enciese, SAO L 105 am 00 , 9: [43

-burgueses - ao serviço hoje do imperialismo e dos blocos dos feudal-


-burgueses - constituem um dos maiores obstáculos para a organi-
zação destas massas pelo caminho da luta pela situação revolucio-
nária da crise. As ilusões da massa na salvação "messiânica" da
fome, através de Luís Carlos Prestes ou de qualquer outro chefe
pequeno-burguês, foram e continuam sendo muito arraigadas. O
nome de Luís Carlos Prestes é utilizado por todos os chefes pequeno-
-burgueses, hoje fascistizantes, apesar de haver sido denunciados pelo
próprio Prestes anté as massas. 2
O Partido Comunista se formou no Brasil no ano de 1922 por
companheiros saídos dos grupos anarquistas, dos movimentos revo-
lucionários pequeno-burgueses e dos ativistas do movimento sindical.
Em geral, foram elementos com pouca formação marxista-leninista,
e inclusive participaram de sua fundação elementos saídos das cor-
rentes religiosas, como o evangelismo e o espiritualismo.
A formação do P.C.B. como partido bolchevique, leninista, devido
às condições específicas do Brasil, se realiza num ritmo muito. lento,
que de nenhuma forma corresponde às condições objetivas, muito
favoráveis ao desenvolvimento do movimento revolucionário.
A não separação da influência ideológica, e às vezes orgânica,
da pequena burguesia conduz o P.C.B. a cometer uma série de graves
erros no emprego das questões mais decisivas para o desenvolvimento
do movimento revolucionário e para a formação do Partido como
vanguarda do proletariado, capaz de dirigir e encabeçar as lutas de
todos os que sofrem o jugo e a opressão feudal-burguesa-imperialista.
Muitos esforços têm custado ao P.C.B. para se desfazer da teoria
oportunista em grau máximo sobre a correlação das forças de classe
na revolução agrária e antiimperialista, segundo a qual, "à sombra
da revolução democrático-burguesa amadureceria nossa revolução
proletária". Esta teoria conduz o Partido à passividade, aos blocos
com diferentes agrupações da pequena burguesia, ao colaboracionis-
mo com os adversários. Astrojildo Pereira foi durante alguns anos
o executor desta política. Até hoje os elementos astrojildistas cons-
tituem o fogo do oportunismo mais podre, obstruem a formação do
P.C.B. e sustentam a linha da passividade na luta do Partido pela
realização de frente única das amplas massas, das lutas independen-
tes pelas reivindicações econômicas e políticas delas mesmas contra
a reação, pela solução revolucionária da crise, pela revolução agrária
e antiimperialista. Estes elementos procuram substituir a tática e a
estratégia revolucionária do Partido do proletariado pelos blocos com
os caudilhos demagógicos como Miguel Costa e outros. Os erros do
nosso Partido - sua passividade frente aos acontecimentos de São
Paulo - demonstram que o astrojildismo constitui o maior perigo
para seu desenvolvimento e que com razão tem que concentrar o

141
sRoransss va.onc.ece, Bo LL 40 S am 001. 0: 144
fogo contra este perigo, claro que sem deixar de combater a fraseo-
logia esquerdista - o sectari - que em lugar de servir de apoio
à luta contra o oportunismo smo não faz mais que alimentá-lo.
A característica da situação - dada por alguns elementos do
Partido - como de uma situação diretamente revolucionária similar
à da Rússia em 1905, teve como consegi
das forças em derredor da formação do iência
Partido
a falta de concentração
as massas trabalhadoras, alimentando assim oe deespont sua ligação com
aneismo tão
arraigado pelas tradições anarquistas no país.
A questão dos aliados
ante todo o campesinato --dafoirevoluç
mal
ão agrária e antiimperialista -
compree
vido aos desvios, tanto de direita como dendida pelo Partido, de-
"esquerd a", que sob
distintos aspectos conduziram a uma absoluta despreocupação deste
problema. Uns, aberta e cinicamente, sustentaram a aliança com
campesinato pela aliança com os caudilhos pequeno-burgueses; outros,o
preparando-se para a "insurreição proletária", cairam na passividade,
no sectarismo, favorecendo assim aos blocos sustentados pelos direi-
tistas.
Estes desvios debilitaram muito a posição do Partido frente aos
acontecimentos de São Paulo. As tentativas
a massa trabalhadora pela luta pelas reivindicdoaçõesPartido de mobilizar
a reação e o imperialismo, não deram os resultadoimediatas,
s devidos,
contra
mais que o Partido, nos primeiros momentos, mostrou confusãotanto na
apreciação destes acontecimentos, aos que chamaram guerra civil feudal-
-burguesa, sem porem o suficiente acento no conteúdo desta luta armada
baseada nas contradições agravadas pelo aprofundamento da crise
no país e pela diferenciação que se
na situação de preparação da guerra produzia no seio destas forças
mundial e anti-soviética, e na
ligação com a aspereza alcançada pela
ianque) pela dominação monopolista doluta interimperialista (anglo-
país. Tal situação impediu
ao Partido, no instante propício, lançar as palavras de ordem ade-
quadas capazes de mobilizar a massa trabalhadora para a luta por
suas reivindicações e romper a influência dos chefes tenentista s de
"esquerda" e de outros caudilhos pequeno-burgueses (Miguel Costa,
Ary Parreiras, Maurício de Lacerda etc.), como também dos chefes
anarco-sindicalistas (que constituiram um "comitê operário e campo-
nês" para apoiar o golpe de Estado) e dos trotskista s contra-revolu-
cionários, que estavam em direto enlace com os golpistas.
O Partido Comunista do Brasil discute e analisa agora a razão
de suas debilidades e trata de remediar
últimos tempos criou-se uma quantidade desuacélulas difícil situação. Nos
nas empresas de
indústrias decisivas e fazem-se tentativas para penetrar
O Partido começa a prestar mais atenção à elevação denoseucampo. nível
ideológico e à formação de seus quadros,
142
"ar bransso vs.onc.ete. 22041445 gm oo el SQ

O P.C.B. terá grandes dificuldades-no caminho da superação de


suas graves (sficiências. As resoluções do XII Pleno da C.E. da
Internacional Comunista dotam o Partido de uma eficaz arma ideo-
lógica c sem dúvida ajudaram muito ao mesmo, em sua luta contra
o oportunismo podre e contra a fraseologia esquerdista que o sustenta.
O P.C.B. tem à sua frente grandes perspectivas, e a luta ideoló-
gica que começa a levar em seu seio o ajudará a afrontar as mesmas
como corresponde. . d 1
Montevidéu, dezembro de 1932.

(P. Gonzalez Alberdi, La Correspondencia Interna-


cional, 1933, n.o 3, p. 38; n.o 4, p. 59-60 e n.o 5,
p..15).

10) A posição do P.C.B. frente às eleições


(agosto de 1934)

Verifica-se atualmente em todo o país uma grande mobilização


eleitoral. Os partidos e grupos feudal-burgueses, tanto os que estão
no poder como os de "oposição", fazem por toda parte intensa
propaganda de seus programas e candidatos tapeadores. Ao lado
deles, a burocracia sindical reformista, os trotskistas, todos os agentes
das camarilhas dominantes nas fileiras do proletariado desenvolvem
também grande atividade no sentido de semear entre as massas novas
ilusões na "democracia" burguesa e, desse modo, desviá-las de suas
lutas independentes por melhores condições de vida e de trabalho.
Um problema, portanto, que se coloca, neste momento, ante
todo o proletariado e toda a população laboriosa em geral das cidades
e dos campos é saber que posição devem tomar ante essas manobras
e como devem responder a elas. O Partido Comunista do Brasil
(seção da I.C.), único partido que luta verdadeiramente em defesa
dos interesses do proletariado e das massas populares, desmascara
essas manobras, desvenda seu conteúdo de classe e aponta o caminho
para todos os explorados e oprimidos se libertarem da insuportável
situação de miséria em que vivem: o caminho da luta de classes
revolucionária contra a fome, a guerra imperialista, os golpes ar-
mados, a reação e o fascismo - pelo pão, pela terra e pela liberdade.

O que significam as eleições

As novas eleições marcadas para outubro se caracterizam por


compromisso entre as camarilhas dominantes, compromisso feito sob
a pressão das greves combativas e das lutas heróicas de massas que
ora se desenrolam por todo o país, de norte a sul, e cujo fim é opor

143
Br oransse ve.enc.ece. 8201 LW OS em ou "p LS)
ao sentimento da unidade de luta e de ação cada vez mais vivo na
consciência das massas a frente comum reacionária dos ricaços na-
cionais e estrangeiros.. Em segundo lugar, trata-se de uma nova tenta-
tiva para desviar as massas de suas lutas, de deslocar o eixo dessas
lutas do interior das empresas de onde transbordam para as barri-
cadas de rua (como se viu recentemente em Santos) para o "terreno
constitucional", para o terreno da "legalidade" burguesa, isto é, da
colaboração de classes, da maior sujeição, portanto, das massas
operárias e camponesas a seus exploradores e opressores - o que
permitirá aos feudal-burgueses manobrar mais facilmente e defender
com maior desembaraço os interesses de seu banditismo organizado
contra os interesses e a própria vida de 45 milhões de escravos dos
senhores de terras, capitalistas e imperialistas existentes nas cidades
e nos campos do Brasil. é
Semeando entre as massas a ilusão de que seus problemas podem
ser resolvidos dentro dos quadros do regime feudal-burguês e a ilusão,
igualmente perigosa, de que elas podem, por meio do parlamento,
participar efetivamente do poder, as camarilhas dominantes procuram
frear a combatividade das massas e canalizar o seu descontentamento,
através das tapeações "constitucionais", para os golpes armados e
as guerras de rapina com que tanto o bando de Getúlio-Flores-Ar-
mando Salles, como o bando do P.R.P. e demais grupos de "oposição"
buscam uma saída para a crise de seu regime sangrento, esfomeador
e reacionário.
Não é com outro intuito que a imprensa feudal-burguesa e os
lacaios mais descarados dos senhores de terras, burgueses e impe-
rialistas, como Maurício de Lacerda, Zoroastro de Gouvêa, João
Alberto e companhia, que todos demagogos e burocratas sindicais
ministerialistas estão fazendo em torno das próximas eleições a mais
ativa preparação ideológica. Também não é com outro intuito que
Góes Monteiro, o sinistro generalão que ontem dizia cobras e lagartos
da "liberal-democracia", hoje afirma, com a maior sem-cerimônia,
que "o dever do Exército" é defender a constituição reacionária.
Devemos desmascarar implacavelmente todas essas mentiras,
manobras e mistificações. Primeiro, não é verdade que o Parlamento
seja um meio das massas participarem do poder. O Parlamento é
uma instituição burguesa e, portanto, reacionária; é um instrumento
de escravização material e política das massas operárias e camponesas
pelos patrões e seu governo; é não somente um instrumento de ta-
peação como também de opressão do proletariado e das massas popu-
lares. Nem sequer é verdade que as massas possam participar dele
efetivamente, pois todos sabemos as dificuldades que elas encontram
para isso, a começar pelos embaraços criados pelos códigos eleitorais
burgueses, como a negação do direito de voto para os analfabetos,
que no Brasil afasta das urnas e, conseguentemente, da escolha do
144
BR DraNBSB Va.oncleze, 2 A 0 | 1405 em col; pla

Parlamento, 90% da população. Além disso, todos os meios de


propaganda (imprensa, rádio etc.) acham-se nas mãos dos imperia-
listas o que impede praticamente as massas populares de toda e qual-
quer propaganda política. Ao mesmo tempo, a "democracia" bur-
guesa põe e mantém na ilegalidade todas as organizações de combate
do proletariado e das massas laboriosas. Na realidade, portanto, a
participação das massas no poder, através do Parlamento, não passa
de uma comédia monstruosa. - f

A experiência da Constituinte

Mas, se tudo isso não bastasse, temos, recente ainda, a expe-


riência da última Constituinte feudal-burguesa. Há três anos atrás,
os trotskistas e "esquerdistas", cumprindo o seu miserável papel de
tapeadores do proletariado e das massas populares, reclamavam em
altos brados a Constituinte, apontando-a às massas, cinicamente, como
o meio delas saírem de sua situação de fome e de miséria. "Consti-
tuinte imediata!" era a palavra de ordem desses agentes do inimigo
nas fileiras da classe operária. Nessa ocasião, o Partido Comunista,
consciente de sua missão histórica de guia do proletariado e das
massas exploradas e oprimidas em geral, mostrou sem meias tintas,
claramente, como sempre faz, o perigo que representam as ilusões
democráticas, na base das quais os feudais e burgueses aliados aos
imperialistas preparam ideologicamente as massas para seus golpes
armados massacradores. Os acontecimentos demonstraram como era
justo, em toda a linha, o ponto de vista do P.C. Com efeito, que
vimos então? Vimos que a palavra de ordem "revolucionária" dos
trotskistas e "esquerdistas" não era senão a palavra de ordem rea-
cionária de seus amos,* e imperialistas, e que se foram estes os
realizadores e dirigentes declarados e ostensivos do golpe de 32, em
que tombaram mortos milhares de operários e camponeses, entre os
seus preparadores mais ativos se incluíram os renegados trotskistas
e os "esquerdistas" de toda a espécie e de todos os rótulos, mistifi-
cadores do proletariado.
Que significou essa Constituinte para o proletariado, as massas
camponesas e, em geral, toda a população laboriosa? A Constituinte
foi simplesmente a realização do programa de reação das camarilhas
dominantes contra o proletariado e as massas populares. Através do
processo de sua propaganda, de sua eleição, de seu funcionamento
e da escandalosa prorrogação de seu mandato, vimos como a dita-
dura de Getúlio e seu bando se consolidou, como se "justificou" e
se "legalizou" a política de fome e reação das classes dominantes,
como as promessas feitas por Getúlio, ao subir ao poder, gradual-

* Ilegível no texto original.


BR DFANBSB va.GNC.EEE,$20LLUO OS om gol, 6a LSB
mente se foram transformando, primeiro nas ameaças e perseguições
mal encobertas pela cortina de fumaça da mais torpe demagogia e,
em seguida, na luta sem quartel contra as massas famintas e explo-
radas, ofensiva que culminou com a supressão violenta de suas mi-
nimas liberdades, com a negativa brutal de seus direitos mais ele-
mentares (como o de greve), com a aprovação, ponto por
programa guerreiro de Góes Monteiro e com as demais leisponto, do
reacio-
nárias (como a da pluralidade sindical) votadas com a cumplicidade
vergonhosa dos chamados deputados classistas trabalhistas - os
Acyr Medeiros, os Waldemar Reykdal, os Vasco de Toledo, os Ar-
mando Laydner e consortes - por essa mesma Constituinte que
trotskistas e "esquerdistas" apontavam como capaz de resolver a
situação das massas.
A Constituinte não só não resolveu a situação das massas, como
nenhum passo deu nesse sentido e, pelo contrário, a agravou. Não
só não resolveu nenhum problema de interesse imediato das massas,
como demonstrou, de maneira clara e positiva, o obstinado propó-
sito das classes dominantes de encontrar para a crise de seu regime
podre uma saída à custa da maior exploração e da maior
das massas trabalhadoras. A Constituinte demonstrou que opressão
mento, como qualquer outra forma de governo dos nossos oexplora- Parla-
dores, sob qualquer rótulo que se apresente (governo "constitucional"
ou "governo forte") de modo algum resolve a situação das massas,
situação que só poderá ser resolvida pela derrubada
governo e sua substituição pelo governo dos Soviets violenta desse
(conselho) de
operários, camponeses, soldados e marinheiros.
Quando Getúlio subiu ao poder, em 1930, com as mãos
do sangue de milhares de trabalhadores iludidos pelas tapeaçõestintasda
Aliança Liberal e criminosamente sacrificados nos campos de batalha
da "revolução" de outubro, prometeu mundos e fundos: melhoria de
vida e leis sociais para os operários, terras para os camponeses etc.
Mas que deu ele aos trabalhadores tanto das cidades como do
campo, senão mais fome, mais miséria, mais opressão, senão uma
rebaixa maior nos salários, a caderneta profissional, a Clevelândia
e demais presídios e as ilhas de deportação, os massacres de cam-
poneses pelas polícias dos interventores do Nordeste etc. etc.? Foram
aquelas "promessas" (que os renegados trotskistas apontavam às
massas como "conquistas da revolução democrático-burguesa", para
ele já realizada no Brasil!) que no seu encadeamento lógico levaram
a ditadura aberta de Getúlio à ditadura "constitucional" do mesmo
Getúlio.
Agora, que novas eleições vão-se realizar e que aqueles e outros
inimigos da classe operária procuram semear nas massas novas ilusões
democráticas, devemos saber recolher e aproveitar os frutos dessa
experiência,
146
BR DranBSB ve.cnc.eEE, OLL4U05 em- oob 165 L$4:

-As eleições e a nossa luta pelo pão, pela terra e


pela liberdade

Qual é a atitude do Partido Comunista diante das eleições?


O Partido Comunista irá às eleições com o seu próprio nome,
com listas completas de candidatos próprios.
Mas, ao mesmo tempo em que se dispõe a disputar cada voto
do povo laborioso, às forças da reação a todos os demagogos. de
"esquerda" e que utiliza a tribuna eleitoral para difundir o seu
programa entre as massas, luta também energicamente contra qual-
quer tentativa de iludi-la sobre o resultado das eleições.
A nova Câmara não resolverá nenhum dos problemas que an-
gustiam as massas: a fome, o desemprego, a falta de liberdades
populares, a questão da terra. A Câmara será a digna sucessora da
Constituinte e tratará de sustentar as camarilhas dominantes no poder,
de desarmar o povo, de impedir que lute!
O P.C.B. se apresenta justamente às eleições com o fim de
transformar essa manobra reacionária numa mobilização de massas
que lute pelo programa da revolução operária e camponesa. Porque
O Partido Comunista não se dirige à massa como os outros partidos,
dizendo-lhe: "Elege os meus candidatos que eles resolverão a tua
situação!" Ele diz à massa o seguinte; "Tens, neste momento, dois
caminhos diante de ti - um é o da tapeação, da ilusão, da confiança
nos demagogos e reformistas, que querem apenas distrair-te a atenção
dos teus mais angustiosos problemas; o outro é o caminho da luta,
é continuar a agitação das massas e as greves. Este segundo caminhe
é o nosso. Votar pelo Partido Comunista é votar contra a ditadura
das camarilhas feudal-burguesas, é votar contra a fome, é votar pela
existência legal e pública do Partido Comunista do Brasil, da C.G.T.B.
e de todos os organismos de combate do proletariado e das massas
populares. Votar pelos candidatos do Partido Comunista e pelo seu
programa é manifestar a resolução firme de lutar por este programa!
Porque não havemos de realizar este programa com a ação parla-
mentar. Havemos de conquistá-lo lutando! A representação do
Partido Comunista nas câmaras nacional, estaduais e municipais será
uma arma formidável, desvendará as verdadeiras características do
organismo do poder das classes dominantes, demonstrará a sua inca-
pacidade para resolver qualquer questão a favor das massas popu-
lares e tornará evidente a necessidade de intensificar a luta nas ruas,
as greves e as grandes manifestações de massa."
Mas é preciso compreender que as camarilhas dominantes, os
demagogos a seu serviço, os reformistas de todo calibre, a polícia
e todo o aparelho estatal feudal-burguês hão de procurar impedir a
entrada de representantes autênticos do proletariado revolucionário

147
BR DraNBSB VB.GNC.EEE. SAO L LUOS om (?O-& sp. LSS
nesses redutos da tapeação. O Partido Comunista do Brasil é ilegal,
encontra-se à margem da lei de classes.
Só a pressão da massa, greves políticas, manifestações de rua,
poderão romper o círculo de ilegalidade em que se pretende aprisionar
a vanguarda do proletariado.
Vendo que cresce a simpatia da massa pelo comunismo e pela
União Soviética, que a consciência revolucionária se torna mais clara,
as camarilhas dominantes, além de adotarem a violência como meio
de repressão, procuram também conquistar o apoio desta massa
popular para a sua própria classe, desviando-a do comunismo e dos
seus verdadeiros interesses. Com esse fim, intitulam-se "Socialistas
Proletários", "Reivindicadores" etc. E são as próprias ilusões de
certos operários, às vezes bem intencionados, que julgam poder
melhorar de situação por meio da ação parlamentar, criando legendas
proletárias etc., que vêm facilitar essa obra de confusão. Eis por que
o P.C.B. (seção da I.C.) se apresenta com esta única legenda: Partido
Comunista do Brasil, e chama todos os operários, toda a massa cam-
ponesa, todo o povo laborioso da cidade e do campo para que cerrem
fileiras em torno da vanguarda do proletariado, para que imponham
com grandes manifestações, com lutas e greves, a sua admissão pelos
tribunais de justiça eleitoral, a fiscalização de seus votos e do ato
eleitoral por elementos da própria massa e a incorporação de seus
candidatos às Câmaras. O P.C. chama todos os trabalhadores da
cidade e do campo e o proletariado, que se acha à frente das massas,
à luta pelas suas reivindicações imediatas, à continuação das greves
combativas.
Contra a jJome
Pela realização imediata dos memoriais apresentados por todos
os grevistas do país: Leopoldina, Lloyd, Central do Brasil, Marítimos,
Telegrafistas, City, Oeste de Minas, Great Western, Garçons, Cons-
trução Civil de Santos; pelo aumento geral e imediato dos salários.
pelo salário mínimo, de acordo com o custo de vida, pela abolição
das multas e pagamento em dia dos salários; pelo dia de 8 horas,
sem redução de salários, e pelo dia de 6 horas nas indústrias preju-
diciais à saúde, com o salário correspondente ao de 8 horas; pelo
repouso semanal, pelas férias anuais de 15 dias e de 30 dias nas
indústrias prejudiciais à saúde, para todos os trabalhadores, sem
exceção, com o recebimento do salário integral e garantia de em-
prego, e pelo pagamento imediato das férias desde 1930; pelo forne-
cimento gratuito de roupas de trabalho (uniformes, motorneiros,
mineiros etc.) e de outros objetos necessários à proteção do corpo,
dos olhos, das mãos dos trabalhadores; pelo seguro contra o desem-
prego, acidentes no trabalho, invalidez, enfermidade e velhice, pago
148
aroranása va.enc.ere, 8201 L4UOSOAOO La: SG:

pelos patrões e pelo governo, sem desconto nenhum nos salários, por
meio de Caixas de Pensões e Aposentadorias administradas pelos
próprios trabalhadores, pelo direito de receber essas pensões, apo-
sentadorias e outros seguros sociais a qualquer trabalhador desde o
primeiro dia que começar a trabalhar em qualquer empresa, médicos
e fornecimentos de remédios, hospitais etc., por conta só dos patrões
e do governo; pelo cumprimento rigoroso e imediato das chamadas
leis sociais nos pontos em que, de fato, aproveitam aos trabalhadores,
pela fiscalização desse cumprimento pelos próprios trabalhadores,
através de suas organizações livres de toda e qualquer intervenção
patronal ou governamental.
Por nossa liberdade!
Contra a cassação do direito de greve! Contra a pluralidade
sindical! Pela existência pública e legal do Partido Comunista, dos
Comitês de Luta e de Empresa, da Confederação Geral do Brasil, de
todas as organizações de combate do proletariado e das massas labo-
riosas! Pela liberdade imediata e anistia ampla para todos os presos
e deportados nacionais e estrangeiros por questões sociais, de luta
por pão, terra e liberdade! Pela volta imediata dos que estão nas
ilhas e no estrangeiro! Pela liberdade ampla de imprensa, organi-
zação, comício, demonstração e reunião, sem nenhuma intervenção
do Ministério do Trabalho, da polícia ou de qualquer outro órgão
do governo ou dos patrões! Pela anulação total da lei de sindicali-
zação e de todas as leis reacionárias existentes (lei acelerada, lei
infame etc.)! Contra a introdução da pena de morte! Pela dissolução
e desarmamento das polícias especiais, dos corpos e bandos fascistas,
integralistas, patrianovistas, legionários, nacional-evolucionistas etc.
do Distrito Federal e dos Estados!
Votar nos candidatos do P.C., lutar por sua entrada nas câmaras
é ganhar uma tribuna para os grevistas e lutadores, para gritar nas
barbas das camarilhas dominantes e dos seus lacaios as reivindicações
do povo que se levanta!
A luta pelos conselhos de operários, camponeses, soldados e
marinheiros.
As eleições se realizam no momento em que as massas se en-
contram empenhadas em lutas violentas. As greves se sucedem com
uma violência e uma combatividade nunca vistas na história do
movimento operário do Brasil. O proletariado, cada vez mais desi-
ludido de alcançar o nível de vida humano dentro da legalidade
constitucional, irrompe numa grande ofensiva contra o próprio Es-
tado, contra a Constituição feudal-burguesa de Getúlio, Góes Monteiro
e comparsas. A lei que proíbe as greves foi respondida com uma
avalancha de dezenas de greves, de norte a sul do país. A lei da
pluralidade sindical, que corresponde ao desejo das camarilhas do-
minantes de manter divididos os operários, está sendo respondida

149
BR DFANBSB LO S Quan og b; po LS3

por um grande movimento nacional em favor da unidade sindical


revolucionária.
Os camponeses, cansados de esperar pelas melhorias prometidas
pelos tapeadores da Aliança Liberal, lutam de armas na mão contra
a servidão feudal, que os obriga a se submeter aos senhores da terra,
revoltam-se contra a prepotência dos fazendeiros, reivindicam o di-
reito à terra, à água, a uma vida melhor.
Está profundamente abalada a autoridade do Estado dos opres-
sores. Mas não basta lutar por nossos direitos, por nosso pão, por
nossa liberdade! Não basta atacar as bases do poder dos nossos
opressores! É necessário pensar em nosso próprio poder, no poder
das massas populares, encabeçadas pelo proletariado e seu partido,
o P.C.B. É no curso da luta, por meio da frente única de ação de
todos os operários, sem distinção de tendências políticas e religiosas
da estreita aliança dos operários com os camponeses e da fraterni-
zação dos operários e camponeses com os soldados e marinheiros,
que devemos criar os organismos que, num futuro próximo e na
medida em que se avolumarem as nossas lutas pelas reivindicações
cada vez mais decisivas, se hão de transformar em órgãos do poder
operário e camponês, em conselho de operários, camponeses, sol-
dados e marinheiros! Devemos desde já, criar em cada local de
trabalho comitês de frente única e de luta, ligar esses comitês entre
si, enviando delegados para um comitê em cada localidade que
reúna os representantes de todas as empresas, fazendas, usinas,
grupos de trabalhadores disseminados, quartéis etc. Esses comitês
de frente única de luta devem existir independentemente de nossos
sindicatos revolucionários e de nossa oposição e de comitês de greve,
porque eles não somente participarão dos nossos combates quotidianos
pelo pão como também serão as organizações que hão de reunir a
maioria do proletariado à frente dos trabalhadores das cidades e dos
campos, dos camponeses, desempregados e massas populares, na
luta pelo nosso poder, contra todo o aparelho de Estado dos fazen-
deiros e capitalistas a serviço dos ricaços estrangeiros!
Esses comitês, justamente por que hão de reunir a maioria das
massas populares e laboriosas, sem indagar se sabem ler ou escrever,
sem se informar da cor que têm, preto, mulato, caboclo ou branco,
sem levar em conta se são estrangeiros ou nacionais, realizarão a
verdadeira democracia, em oposição à infame tapeação da nova elei-
ção, que se fará nas costas da grande massa popular, excluída do
voto.
A existência desses comitês, de representantes operários, campo-
neses, soldados e da massa popular deve ser defendida com unhas
e dentes por todos nós, não só por greves de massas e manifestações
na rua, mas também, no momento preciso, com todas as armas de

150
BR oranase ve.enc.eEE, 820 LLU05 0m OBLQ» L58
que pudermos lançar mão! É por isso que devemos exigir o desar-
mamento dos corpos de guarda-costas, dos capangas dos interesses
de nossos opressores, dos integralistas, das brigadas de choque na-
cional-evolucionistas, patrianovistas,* da polícia especial, dos corpos
voluntários etc. e tomar essas armas para nós, para defendermos
nossos interesses e nossas vidas! Eis por que devemos fraternizar com
os soldados e marinheiros, que são nossos irmãos de classe, e lutar
ao lado deles pelas suas reivindicações! Eis por que devemos criar
as nossas "brigadas proletárias" em cada empresa, brigadas nas fa-
zendas, nos municípios que defendam a existência pública e legal
de nossas organizações, que assegurem o respeito às nossas con-
quistas e que repilam os ataques covardes dos nossos inimigos de
classe e de seus capangas!
O proletariado está à frente da luta, neste momento. Os grevistas
combativos ocupam o destacamento de vanguarda do exército das
massas populares, camponeses, contribuintes pobres, soldados, ma-
rinheiros e estudantes! E isso não se dá por acaso. O proletariado
das fábricas, os ferroviários, os marítimos, os metalúrgicos e os
tecelões, dirigidos pelo seu partido, o P.C.B., são justamente os que
têm maior experiência da luta, e percebem com maior clareza qual
o caminho a seguir, através dos combates pelo pão, pela terra e pela
liberdade, para chegar às batalhas decisivas contra as camarilhas
dominantes e seus representantes, os Getúlio, os Góes, os Armando
Salles, os perrepistas etc. e contra todos os tapeadores, os Ary Par-
reiras, os Maurício de Lacerda, os Frola, Cabanas, Zoroastro, Plínio
Mello, Reykdal, Acyr Medeiros etc. que pretendem desviar as massas
da luta por sua vida, seu pão e seu governo próprio, arrastando-as
a novas lutas armadas, a novos golpes para substituir a camarilha
dominante por outra tão ruim e tão tapeadora quanto esta! Por isso,
o P.C.B. concita o proletariado a prosseguir no caminho da luta, a
construir e consolidar as suas organizações revolucionárias, os seus
comitês de luta e de frente única, a estreitar a aliança de ferro com
os camponeses e massas populares, soldados, marinheiros, nacionali-
dades e gente de cor oprimidas, estudantes e intelectuais revolucio-
nários e ligar às lutas proletárias as lutas das massas laboriosas por
seu programa de ação: Para as massas trabalhadoras do campo
(assalariados agrícolas "camaradas", colonos, "camas de vara", reti-
reiros, posseiros, mineiros, terceiros, arrendatários, moradores, va-
queiros, pequenos e médios agricultores etc.). As mesmas reivindi-
cações do proletariado para todos os trabalhadores agrícolas. Direito
de plantar, em seu benefício, o que quiser e onde bem entender sem
intervenção, nem insinuação dos senhores de terra.
* Patrianovistas, partidários do retorno ao Regime Monárquico.
BR DFANBSB va.onc.EEE, 820 LLGO S amo aL. R

Direito de trabalhar onde bem entender. Liberdade ampla de


sair e entrar na fazenda.
Direito de pescar, caçar, tirar lenha, carvão etc. onde quiser;
direito de usar livremente das águas de rios, açudes, represas etc.,
monopolizados pelos fazendeiros, ordens religiosas e empresas im-
perialistas. Liberdade de comprar e vender onde bem entender.
Mercados livres de impostos para a venda de seus produtos.
Pagamento em dinheiro de todos os dias de trabalho que rea-
lizarem para os fazendeiros, senhores de engenho; ordens religiosas
e imperialistas.
Direito de transitar livremente, sem pagar nenhum imposto, nas
estradas de rodagem do governo e dos senhores de terras.
Construção de estradas de rodagem por conta dos grandes
fazendeiros e do governo.
Médicos e remédios por conta dos fazendeiros e do governo.
Contra as "associações médicas" custeadas pelos trabalhadores dos
campos.
Direito dos vaqueiros tirarem a "quarta" entre as reses vivas,
sem contar as mortas, e nas mesmas condições dos fazendeiros (alto
e mal).
Contra as expulsões "a casco de boi". Pagamento de todos os
prejuízos causados por essas expulsões.
Anulação das dívidas feitas com os senhores de terras, ordens
religiosas, bancos, grande comércio e empresas imperialistas. Contra
todos os despejos.
Anulação das dívidas por adiantamento em dinheiro ou em
mantimentos, feito pelos senhores de terras.
Baixa de 50% dos fretes. Supressão de todos os impostos
federais, estaduais e municipais que pesam sobre os pequenos agri-
cultores.
Contra a lei do reajustamento econômico que, à custa das massas
trabalhadoras, dá milhões de contos de réis aos fazendeiros e bancos
imperialistas. Ajuda imediata pelo governo, em dinheiro, sementes 3
material de lavoura, aparelhos e ensino técnico, à custa de um im-
posto especial sobre os grandes senhores de terras e grande comércio
intermediário.
Abolição dos arrendamentos.
Organização de comitês armados de camponeses, cangaceiros e
assalariados agrícolas para resistirem aos despejos por falta de paga-
mento de dívidas e arrendamentos, aos ataques dos capangas e
polícias dos fazendeiros e do governo, bem como para garantir a
posse de suas terras, tomar e dividir entre si as terras dos grandes
proprietários.

152
Br DFanass 22 0 P.: LGO

Para os flagelados, desempregados e semi-empregados


Distribuição gratuita e imediata com eles e suas famílias de
todos os gêneros abarrotados nos armazéns e destinados à destruição
e do café destinado à queima ou reservado ao pagamento de emprés-
timos aos imperialistas, à troca por navios, aviões de guerra, arma-
mentos etc.
Auxílio imediato em dinheiro, água, roupa, tudo à custa dos
patrões e do governo, sem desconto nenhum nos salários dos -que
estão trabalhando e com dinheiro destinado à compra de armamentos
e ao pagamento de dívidas e juros aos imperialistas.
Casa e luz de graça. Colocação dos desempregados e dos flage-
lados sem abrigo nos casarões vazios dos grandes proprietários de
prédios, nos conventos, nas casas de "rancho" pertencentes aos
fazendeiros (e só ocupadas nos dias de festa), nos edifícios públicos.
Passes de trens, bondes e navios por conta do governo, para
transporte ao lugar escolhido pelos próprios desempregados e flage-
lados.
Ampla liberdade aos flagelados de se locomoverem e pelo direito
deles mesmos organizarem, administrarem e dirigirem suas concen-
trações nas zonas que quiserem.
Medidas de proteção aos flagelados pelas secas, para evitar
que eles sejam forçados a abandonar as suas terras; direito de plantar
nas vazantes e nas revenças; fornecimento, por conta dos fazendeiros
e do governo, de água às zonas secas em trens, caminhões, animais
de carga; perfuração de poços artesianos, à custa dos fazendeiros e
do governo, nas zonas atingidas pelas secas. Passes grátis fornecidos
pelo governo para os flagelados e emigrantes voltarem às suas terras.
Contra as prisões, espancamentos, fuzilamentos e degolamentos
dos flagelados, que buscam o que comer assaltando armazéns, feiras
e estações.
Através da luta por essas reivindicações imediatas, lutar pela
conquista do salário integral pago pelos patrões para todo o tempo
do desemprego e para os dias em que não trabalhar por culpa dos
patrões.
Para os jovens trabalhadores
Salário igual ao dos trabalhadores adultos, quando realizarem
O mesmo trabalho.
Dia de 6 horas de trabalho para os menores de 18 anos e de 4
para os menores de 16. Proibição de trabalho para os menores
de 14 anos, ficando sua manutenção custeada pelo Estado.
Proibição do trabalho noturno, pesado, e nas indústrias preju-
diciais à saúde.
Aprendizagem paga e regulamentada com limitação de prazo e
aumento progressivo de salário, de acordo com a qualificação. Forne-

153
BR DFANBSS va gre gg
S am ool ;p L6t
cimento gratuito de ensino profissional, pagamento ao aluno, como
trabalho, durante o tempo de escola e garantia de trabalho ao sair
da escola.
Direitos iguais aos dos operários adultos, mesmo aos menores
de 18 anos: de organização, reunião, greve, imprensa e de votar e
ser votado.
Ensino primário gratuito, igual, obrigatório e leigo, para todos
os filhos dos trabalhadores das cidades e dos campos, fornecendo
o governo, gratuitamente, a alimentação, os livros, a roupa e os
transportes.
Fiscalização de todas essas medidas pelas organizações operárias.

Para as mulheres trabalhadoras

Salário igual ao dos homens quando realizem o mesmo trabalho.


Licença de 2 meses antes e 2 meses depois do parto, com
salário integral e sem perda de emprego.
Construção de creches e jardins de infância por conta do go-
verno e dos patrões junto ao local de trabalho e fiscalizados pelas
próprias mães trabalhadoras. Meia hora de licença de 3 em 3 horas,
sem desconto nos salários, para amamentar o filho. Suplemento de
10% além do salário, durante o período de amamentação.
Proibição dos trabalhos noturnos, pesados e prejudiciais à saúde.
Direitos sociais e políticos iguais aos dos homens.

Para os pequenos pescadores

Contra a exploração da Companhia Nacional de Pesca. Pelo


direito dos pescadores de pescar em qualquer parte do mar, dos
rios, lagos e represas do território nacional.
Pelo direito de vender sua pesca em seu benefício a quem
entender e sem pagar nenhum imposto, federal, estadual ou municipal.
Pelo fornecimento gratuito, por conta do governo, de barcos
e mais utensílios de pesca.
Construção, por conta dos governos locais, de casas junto aos
locais de pesca.
Direito de formar, administrar e dirigir suas organizações ou
colônias, sem intervenção do Ministério da Marinha ou de qualquer
outro órgão do governo ou da Companhia Nacional de Pesca.

Para os estudantes

Taxa progressiva. Exames, material escolar e transportes gra-


tuitos nas escolas secundárias e superiores para os filhos de pais
pobres.

154
aroransse ve.enc.eee. 820105 on LGA

Nenhuma* diminuição ou limitação. do número de matrículas.


Aplicação das escolas e laboratórios e maior aproveitamento do
professorado.
Livre transferência dos estudantes pobres, por conta do governo.
Direito de administrar e dirigir as próprias escolas (superiores,
secundárias e profissionais) em igualdade de condições com os
conselhos técnicos de professores. !
Direito de escolher seus professores e forma de fazer seus
exames. 8
Liberdade de imprensa, greve, organização e de realização mes-
mo nos recintos das escolas de reuniões para a defesa de seus
interesses.

Para os empregados públicos e particulares

Extensão das reivindicações exigidas para o proletariado em


geral aos empregados no comércio, bancários, domésticos etc., e aos
professores de escolas primárias públicas e particulares.
Aumento dos ordenados dos pequenos funcionários públicos e
empregados particulares. Diminuição dos ordenados do presidente
da República, ministros de Estado, deputados e altos funcionários,
gerentes de grandes empresas etc.
Supressão da agiotagem e concessão, pelas repartições públicas,
de adiantamentos sem juros amortizáveis em pequenas parcelas.
Nenhuma demissão de pequenos funcionários a pretexto de corte
nas despesas ou por questões sociais. Reintegração de todos os fun-
cionários dispensados por esses motivos.
Férias anuais de 15 dias, pagas, e de 30 dias para os que fazem
pernoite.
Pagamento pelo governo das despesas necessárias às remoções.
Nenhuma remoção sem prévio aviso de um prazo proporcional à
distância.
Montepio por conta só do governo. Todas as facilidades para
o seu recebimento.

Para os soldados e marinheiros

Melhoria dos vencimentos (soldo e gratificação), da etapa e da


bóia. Diminuição dos vencimentos dos oficiais superiores.
Vencimentos integrais para os praças quando baixados ao hos-
pital, quando estiverem cumprindo pena menos de 2 anos ou quando
estiverem presos preventivamente, sujeitos a inquérito, conselho de
investigação ou à disposição de foro civil, embora não façam serviço.
Tratamento médico e remédios gratuitos, em caso de doença
ou acidente.

155
BR DFANBSSB Va.oNcEEE, 82011405 00 (0 ACB

Fornecimento, lavagem e reparação do fardamento porconta do


quartel.
Direito de casar (com ou sem registro civil).
Uma diária para os casados, de acordo com o número de filhos.
Dispensa de revista e de dormir no quartel para os casados.
Direito de viajar sentado e de graça nos bondes, trens e ônibus.
Ingresso gratuito nos espetáculos públicos.
Direito de votar e ser votado sem intromissão dos oficiais.
Anulação da continência fora do serviço. Direito de andar à
paisana e liquidação das exigências humilhantes do regulamento
militar.
Ampla liberdade de palavra, reunião, manifestação e organi-
zação. Direito de ler a imprensa proletária.
Supressão dos conselhos de guerra. Não entrega à polícia civil
por nenhum delito cometido no quartel ou navio, mas julgamento
pelos próprios soldados e marinheiros.
Organização dos Conselhos de Soldados e Marinheiros para
fiscalizar a apelação dessas medidas.

Para as nacionalidades e minorias nacionais e oprimidas


Amplo direito das nacionalidades oprimidas de disporem de si
mesmas, inclusive o direito de separação, constituindo seus próprios
governos, separados do governo federal e dos estaduais, com terri-
tório, governo, costumes, religião, língua e cultura próprios.
Igualdade absoluta de direitos econômicos, políticos e sociais
sem nenhuma distinção de cor ou nacionalidade.
Amplo direito das minorias nacionais conservarem seus próprios
costumes, língua, religião, terem suas escolas etc.
Revogação da infame lei de dois terços e supressão da lei, não
menos infame, da expulsão dos trabalhadores estrangeiros por questões
sociais.
Devolução das terras roubadas aos índios pelos imperialistas,
pelo Serviço Oficial de Proteção aos Índios, pelas ordens religiosas
e grandes proprietários de terras. Nenhuma expedição que, sob o
pretexto de protegê-los, vá massacrá-los e escravizá-los. Punição dos
responsáveis pelos massacres dos índios. Fornecimento gratuito pelo
governo de sementes, roupas, instrumentos de caça e de trabalho,
máquinas agrícolas etc.

Contra a carestia de vida

Baixa dos preços de todos os gêneros de primeira necessidade,


dos aluguéis, dos fretes e passagens nos trens, bondes e ônibus.
Supressão dos impostos que atingem os gêneros de primeira
necessidade, dos impostos sobre os vendedores de feiras livres, am-

156
BR DFANBSB Va.GNC.EEE220 (LOS g 00 b (Oo LG“
bulantes e pequenos comerciantes a varejo. Supressão dos impostos
que pesam sobre os salários e vencimentos. Imposto progressivo
sobre o capital dos grandes industriais, banqueiros e comerciantes
nacionais e estrangeiros.
Supressão de todos os impostos que pesam sobre casas e terrenos
dos próprios moradores pobres. £
Redução radical dos preços de luz e pena d'água. Supressão
das cláusulas escorchantes, como o pagamento da taxa-ouro dos
contratos das empresas imperialistas que exploram serviços públicos.
Construção por conta do governo e dos patrões, junto aos locais
de trabalho, de casas higiênicas e baratas para os trabalhadores, cujo
aluguel não seja superior a 10% sobre o salário. Melhoramento por
conta do governo e dos proprietários ricos dos bairros proletários
(água encanada, luz, esgotos, calçamentos etc.). Nenhum pagamento
pelos consumidores de luz, gás etc., da taxa que a Light cobra a
título de previdência.
Contra as guerras imperialistas
Reconhecimento imediato e incondicional da União Soviética.
Contra a militarização da juventude. Pelo direito de cada grupo
de trabalhadores, sob a direção deles operários, aprender o manejo
de armas com instrutores escolhidos por eles e pagos pelo governo.
Pela retirada das tropas brasileiras do Chaco e de Letícia.
Contra a passagem de tropas, navios e aviões militares estrangeiros
pelo território nacional.
Contra os orçamentos e créditos militares. Contra a remessa de
gêneros e matérias-primas de guerra para o Japão, Paraguai, Bolívia
etc.
Expulsão das missões militares e navais estrangeiras.
Outras reivindicações
Direito aos analfabetos de votarem e serem votados.
Separação absoluta da Igreja e do Estado. Supressão imediata
de toda e qualquer subvenção do governo às organizações direta ou
indiretamente ligadas à Igreja ou às ordens religiosas, destinando
esse dinheiro para os desempregados e flagelados. Nenhuma espécie
de ensino religioso nas escolas.
Direito de divórcio a pedido de qualquer dos cônjuges.
O que dará o governo operário e camponês
A questão do poder se apresenta à massa cada vez com mais
veemência. Precisamente porque está lutando por melhores condições
de vida; contra a fome que aumenta enquanto se queimam e se
157
ar pranass ve.cnc.eze, 220140 Senool, o | (5

deixam apodrecer gêneros alimentícios; pelas liberdades elementares


de reunião, palavra, greve etc. a massa quer saber que governo poderá
dar solução a esses problemas.
Por acaso a nova Câmara? As Câmaras estaduais ou municipais?
Os golpistas que nos ameaçam com lutas armadas? Os campeões da
velha República já bastante conhecidos das massas? Os chefes te-
nentistas da Aliança Liberal? Os constitucionalistas? Nenhum deles
pode resolver o problema da fome, o problema das mais amplas
liberdades populares. Todos estão presos por mil laços materiais e
ideológicos às classes dominantes. Muitos, quase todos já demons-
traram, quando estavam no poder, o seu verdadeiro caráter de repre-
sentantes das camarilhas dominantes. Todos são contra a mobilização
independente das massas, contra as greves, contra as lutas campo-
nesas. Todos participaram da tapeação da constituinte reacionária e
participam da nova tentativa de tapeação das eleições.
Mas, que poderá dar a Revolução Operária e Camponesa? Como
resolverá o governo dos Conselhos esses problemas? É evidente que
não se liquidará em 24 horas a herança dos governo de latifundiários
e burgueses que entregaram o país e suas riquezas aos ricaços estran-
geiros, que impediram o seu progresso, que freiaram o livre funcio-
namento das nacionalidades, que mantiveram na maior ignorância
a grande massa popular. Mas, o governo nas mãos das massas popu-
lares, dirigidas por sua vanguarda, o P.C., pode dar e dará solução
imediata a uma série de problemas, pode melhorar imediatamente as
condições de vida da maioria da população. Com a expropriação
das empresas imperialistas e O não reconhecimento das dívidas,
tornará mais baratos e melhores os meios de transporte e o serviço
público, porá à disposição das massas camponesas, dos flagelados,
dos desempregados, das vias férreas para levarem os seus produtos
aonde quiserem, para onde bem entenderem. Com a tomada da terra,
dos açudes e das represas, dos latifúndios da Igreja e do Estado e
sua distribuição igualitária entre a massa laboriosa do campo, com
a liquidação das dívidas camponesas, cortará os laços da escravidão
e da servidão, abrirá as portas para um rápido desenvolvimento das
populações dos municípios e aldeias, resolverá o problema da fome,
da sede e da terra no campo! Com a confiscação dos gêneros ali-
mentícios armazenados e destinados a serem destruídos e sua divisão,
com a expropriação das grandes e melhores casas da cidade, pondo-as
à disposição da massa pobre, especialmente do proletariado, resolverá
o problema do pão e do teto para todo o povo laborioso da cidade!
Com a confiscação da imprensa e do rádio, porá à disposição da
massa laboriosa e de suas organizações de combate todas as possibi-
lidades de expressão ampla e livre de suas aspirações e necessidades
e romperá o monopólio da "opinião pública" atualmente em mãos
das camarilhas dominantes! O mesmo acontecerá com a instrução

158
ar oransse va.cnc.EeE, 8201 L405 amoo, o- (46

pública; escolas, universidades, bibliotecas, teatros e cinemas serão


colocados ao serviço da grande massa popular e de suas necessidades
culturais. Dando, sem restrição, o direito de dispor de si mesmo às
nacionalidades, e de ter sua cultura, sua língua às minorias nacionais,
contribuirá para o desenvolvimento do bem-estar e da cultura do
povo e resolverá o problema da opressão nacional. Expropriando
as grandes fortunas, os fundos destinados à preparação bélica, aos
altos postos burocráticos, à diplomacia, ao luxo etc. poderá diminuir
e até abolir os impostos que pesam sobre o povo laborioso, dar sub-
sídio aos desempregados etc. Desarmando as tropas de reserva do
regime de latifundiários e burgueses, armando o povo, poderá defender
as conquistas da revolução!
Eis o caminho que propõe o Partido Comunista. É o caminho
da luta contra a fome, a guerra e as lutas armadas das camarilhas
dominantes. É o caminho contra as tapeações e os enganos. É o
caminho da Revolução Operária e Camponesa.

O Comitê Central do Partido Comunista do Brasil


(Seção da 1.€.)

(A Classe Operária, 23.08.1934).

11) 1.a Conferência Nacional do P.C.B. (julho de 1934)

Ferroviários! Marítimos! Operários da indústria têxtil! _Ope- :


rários das empresas imperialistas de transportes urbanos! Operários
de todo o país e. de todas as indústrias! Assalariados agrícolas!
Colonos, moradores, foreiros, arrendatários das fazendas de café, das
usinas de açúcar, das plantações de borracha, de cacau, de mate e
de algodão! Vaqueiros! Cangaceiros e coiteiros! Pobres! Toda a
massa camponesa! Soldados e marinheiros! Estudantes e intelectuais
pobres! Pequenos e médios proprietários e comerciantes urbanos e
rurais! Funcionários públicos e particulares! Desempregados e fla-
gelados! Povo oprimido e explorado!
Acaba de realizar-se a Primeira Conferência Nacional do Partido
Comunista do Brasil. Participaram dela - como delegados do Par-
tido Comunista -- operários e camponeses de todo o país.
Durante 8 dias ininterruptos, a Conferência discutiu a situação
de toda a massa operária e camponesa, de todo o povo que sofre
os horrores da fome, da reação, do aumento do terror fascista e da
preparação guerreira, traçando as diretivas de lutas para os próximos
combates vitoriosos do proletariado.

159
ar pranass va.GNC.EEE, 8201 L4O5 5, , 054, p LG

O país atravessa uma fase agitadissima!

A Conferência realizou-se ao mesmo tempo em que a massa


trabalhadora se lança em greves, as mais combativas e as mais amplas
destes últimos dez anos.
Nunca o Brasil viveu horas de tão profundas agitações!
A mais profunda crise do atual regime feudal-burguês - agra-
vada pela repercussão da crise mundial do capitalismo - determinou
a crise política em que vivemos.
As massas trabalhadoras, não podendo e não querendo mais
suportar essa vida de fome, de misérias e de perseguições, se decidem
audazmente a entrar na luta, passando à contra-ofensiva, pela con-
'quista duma vida melhor!

Qual é a origem desta situação?

Não somos nós os trabalhadores nem as massas populares os


causadores de tanta miséria e tanta opressão. Os causadores desta
situação são os grandes proprietários de terras; os grandes capitalistas
nacionais e os banqueiros estrangeiros; seus partidos e seus governos;
são esses ladrões do nosso suor e nosso sangue, que roubam o fruto
do nosso trabalho e monopolizam as fontes de riquezas nacionais em
benefício deles, de sua classe! É o atual regime de explorações, de
roubos, de saques, de guerras, de contradições que ele não pode
solucionar que gerou toda essa situação horrível para as massas
trabalhadoras!
A crise do café, atirando ao desemprego milhares e milhares
de assalariados e colonos, reduzindo os salários e piorando as con-
dições de vida dos que ficaram nas fazendas, causa também a expro-
priação em massa dos pequenos e médios agricultores em favor dos
grandes fazendeiros e dos bancos estrangeiros.
A crise do açúcar, fazendo o mesmo com os assalariados agrícolas
e plantadores de cana, causa a mesma expropriação dos pequenos e
médios camponeses - inclusive os engenhos "banguês" - também
em benefício dos grandes usineiros e dos bancos. O mesmo acontece
com o cacau, o mate, a borracha, o algodão etc.
Esta situação, criada pela adaptação da economia do país aos
interesses dos grandes proprietários e dos imperialistas em prejuízo
das massas populares, cria margem e facilita ainda mais a penetração
do capital estrangeiro e uma maior intensificação das lutas das ca-
madas dominantes, grupos de feudais e burgueses, ligados por seus
interesses a um ou Outro bando imperialista.

160
BR DFANBSS Va.oNclezE, 90 LL4OS AA calm "6%
O país vendido em leilão pelos "patriotas"
Nestas condições - com a cumplicidade de todas as camarilhas
dominantes - se acelera o processo de maior escravização do país
e sua população laboriosa.
Desde as escandalosas concessões da "Matte Larangeira", em
Mato Grosso; da Ford, no Pará; as concessões inglesas e japonesas
no Pará, São Paulo e Paraná, o Estado do Amazonas, onde apenas
a quarta parte dos seus imensos territórios ainda não foi entregue
aos imperialistas, até a luta pelo monopólio do algodão entresendoos
imperialismos japonês e inglês, as riquezas do país estão
entregues aos tubarões imperialistas, aos pedaços, silenciosamente,
para que o povo não o perceba.
Os nossos inimigos de classe, os que entregaram o país aos
banqueiros estrangeiros, procuram convencer ao povo trabalhador que
o imperialismo desempenha um papel "progressivo" no país. E os
renegados como Machado (Leôncio Basbaum) confirmam isto cinica-
mente. Mas, os operários da "Matte Larangeira", da "Ford" e de
todas as empresas imperialistas que sentem em sua própria carne a
opressão desses bandidos, saberão responder com a luta a essas
mentiras, a essas infâmias!
A disputa do monopólio do algodão entre os imperialismos inglês
e japonês, que pretendem açambarcar toda a sua importação em rama
para exportar em tecidos, vai determinar o fechamento das fábricas
de tecidos no Brasil, a fome e o desemprego de mais de 200 mil
trabalhadores têxteis e suas famílias! A miséria maior dos campo-
neses e assalariados agrícolas das plantações de algodão, maior para-
lisia do pequeno e médio comércio urbano e rural, maior aprofunda-
mento da crise do regime feudal-burguês atual.
Não só essas concessões territoriais, mas também os meios de
transportes, as ferrovias, as companhias de bondes, luz, força, gás,
água, esgoto, portos, minas etc., sem falar dos empréstimos de Estado,
de hipotecas de alfândegas, portos etc. estão nas garras imperialistas.
E os operários e o povo em geral gemendo ao peso da mais criminosa
exploração!
Mais exploração! Mais misérias!
Salários de fome! Horas de trabalho esgotantes! Multas! Ta-
xas pesadíssimas! Transportes e fretes que aniquilam a economia
dos camponeses e de toda a população laboriosa das cidades e dos
campos! Tudo isto arrancado à custa do chicote, de cadeias, do
tronco e do relho e transformado em rios de ouro que são canalizados
para os cofres dos banqueiros de Londres, Nova Iorque, Tóquio,
Paris!
161
aroranass 8201140 5 om oq ua, É 64

E por cima de tudo isso, impostos e contribuições diretas e


indiretas para sustentar o caríssimo aparelho estatal das classes do-
minantes, que vendem o país aos magnatas estrangeiros! Para sus-
tentar, reforçar e ampliar o aparelho policial de repressão, espionagem
e provocação contra as lutas e as organizações revolucionárias dos
trabalhadores! Para garantir os privilégios de classe, a exploração
e a opressão que fazem os grandes proprietários de terras e capita-
listas nacionais e estrangeiros! Para garantir o descarregamento de
todo o peso da crise sobre as costas do proletariado e das massas
populares! Para tentar a saída da crise - como já estão fazendo
- pela guerra e pela invasão da União Soviética!
E, enquanto eles dizem que o povo faminto vá aguentando por
mais tempo a fome, que aperte mais o cinturão, que tenha paciência,
que faça maiores sacrifícios para "salvar a pátria", que eles vendem
cinicamente, aliados e de comum acordo com os imperialistas -
empreiteiros da guerra - gastam milhões de contos de réis na
compra de aviões, de navios, de armamentos, na instalação de fábricas
de munições, na militarização de toda a população, especialmente a
juventude! Queimam milhões de sacas de café, quando não as trocam
por armas e munições, enquanto os desempregados e flagelados e
todo o povo trabalhador morrem de fome, sede e frio.

O que deram os golpes militares ao povo trabalhador,


aos soldados e marinheiros?

Os trabalhadores e o povo oprimido derramaram o seu sangue


nos golpes de 22, 24, 30 e 32, julgando lutarem por seus interesses,
quando na realidade, se sacrificaram em benefício das camarilhas
dominantes e dos chefes da pequena burguesia, traidores dos interesses
das massas populares (Távora, Miguel Costa, João Alberto, Ary
Parreiras, José Américo, Maurício de Lacerda, Juracy Magalhães etc.)
todos eles ligados a um ou Outro bando imperialista.
Além da morte e as mutilações nas trincheiras - mais fome e
mais opressão. E, por cima de tudo, uma constituição feudal-burguesa
que legaliza todas as medidas de força, de fascistização e de prepa-
ração guerreira que, indistintamente, vêm sendo desenvolvidas e
aplicadas por todos os governos passados e presentes.
As massas trabalhadoras "ganharam" o casamento do direito de
greve, imprensa e reunião; as leis de sindicalização que coloca os
sindicatos sob o controle do Estado dos patrões; de pluralidade
sindical que divide o proletariado, visando impedir a luta pela
unidade sindical revolucionária; a lei de arbitragem e contratos
coletivos que coloca as greves nas mãos dos patrões, do Ministério
do Trabalho e seus agentes; a lei contra os trabalhadores estrangeiros
(de dois terços); a legalização das polícias e da capangagem armada

162
aroransse 820 LL4OS g ou bçpul no

nas empresas públicas e particulares das cidades e dos campos, polícia


secreta de empresas de nacionais e estrangeiros.
Entre eles - os grupos feudal-burgueses e seus agentes pequeno-
-burgueses, assim como os bandos imperialistas - há desacordos
e choques que ameaçam transformar-se em novas e mais amplas
lutas armadas. Essas lutas constituem a disputa pelos postos de
mando, pelo privilégio de dirigir a mesma política de fome, de per-
seguições e de guerras contra as massas - único ponto o qual
todos eles estão de acordo. D

A onda revolucionária cresce em todo o mundo

Toda a crise mundial do sistema capitalista repercute e apro-


funda cada vez mais a crise brasileira.
A Conferência Nacional constatou a entrada do país numa crise
revolucionária. E essa situação não é isolada. A onda revolucionária,
com maior ou menor intensidade, cresce em todo o mundo: Cuba,
Chile, Estados Unidos - no continente americano; Alemanha, Es-
panha, França, Áustria, Holanda - na Europa; China e Índia, na
Ásia.
Na Alemanha, onde o capitalismo colocou no poder os seus
mais sanguinários defensores - Hitler e seus comparsas - começa
a decomposição, apesar dos chefes trotskistas terem "profetizado" e
desejado uma existência para o hitlerismo duns cingienta anos pelo
menos.
Por toda a parte o regime feudal-burguês e capitalista estala
e se decompõe. Mas ele não morre por si. As classes dominantes
estrebucham para prolongar, por mais algum tempo, a existência do
seu regime e, nos seus esforços, arrastam à desgraça e causam a
miséria de milhões e milhões de trabalhadores.

Como realizam essas tentativas?

Levam a exploração e a opressão a um ponto que ultrapassa


os limites do suportável. Desencadeiam uma reação fascista com
métodos que deixam atrás todos os processos medievais e inquisito-
riais. Colocam no poder os elementos mais patrioteiros e os mais
reacionários do regime. Fazem todas as manobras e provocações
para alastrar os focos guerreiros do Chaco e Letícia, unindo-os numa
criminosa matança imperialista sul-americana. Os mesmo que fazem
com estes, fazem com os focos guerreiros do Extremo Oriente, de
Marrocos, de todos os litígios e rivalidades entre as potências impe-
rialistas, os países dependentes e coloniais, esforçando-se por uni-los
e transformá-los na maior carnificina jamais vista na história humana:
a nova guerra imperialista mundial e anti-soviética. E, sobretudo,

163
BRDFaNBSB Va.onNCEEE, 820 LL UOS
amook ÇQ— 42
todos esses esforços das camarilhas dominantes se encaminham para
nos empurrar, a todo custo, para as matanças que já realizam e se
ampliam para o massacre dos trabalhadores da União Soviética,
porque, estes, já se libertaram do jugo dos grandes senhores de terras,
dos burgueses e dos imperialistas, desde 1917 e, por isso mesmo, já
não conhecem também mais crises, miséria, desemprego e constroem
vitoriosamente o socialismo na sexta parte do mundo, sob a direção
do seu Partido Comunista.
A guerra!
Os acontecimentos na Áustria fazem estremecer o mundo capi-
talista. Na Europa já se mobilizam tropas nas fronteiras. O quadro
horrível das vésperas da guerra de 1914 já se repete de forma ampliada.
É a guerra. Essa guerra imperialista para a qual todos os países
do mundo capitalista vêm-se preparando há muito tempo. Uma
fortuna fabulosa, incalculável, já foi arrancada do povo trabalhador
para ela!
O povo morrendo de fome! Homens de nossa classe, de todas
as idades, se liquidando nos campos de batalha. Os camponeses
arrastados de suas terras, o povo oprimido empurrado à força, à
ponta de baioneta, a coice de fuzil, para as trincheiras; as mulheres
e crianças forçadas pela fome ou pelo chicote a fabricar munições
para matar seus próprios pais, filhos, esposos ou irmãos. Tudo em
benefício dos grandes, para enriquecer ainda mais os milionários!
Eis o que é a guerra imperialista! A guerra para escravizar mais
o povo, para esmagar a União Soviética.
O Partido Comunista e as organizações revolucionárias lutam
pelo desencadeamento e vitória das greves pelas reivindicações ime-
diatas, porque só essas lutas - sem nenhuma colaboração com o
inimigo de classe e seus agentes - ampliando-as e ligando-as com
a preparação e a realização vitoriosa da revolução agrária e anti-
imperialista, conduzirão o proletariado, os camponeses e todo o
povo que vive sob as garras da fome, da miséria, da opressão e da
exploração à sua completa liberdade.
E as massas trabalhadoras começam já a compreender e a seguir
este caminho. As lutas grevistas se desenvolvem e alastram de
empresas isoladas a indústrias inteiras; de um ponto a outro do país.
Ao verem as greves de massas crescer, os homens do poder -
correndo em auxílio do patronato - com a ajuda servil dos repre-
sentantes trabalhistas na Constituinte, como Acyr Medeiros, Vasco
de Toledo, Armando Laydner, Vitaca e o renegado Waldemar Reykdal,
se apressaram em sancionar a lei tirando o direito de greve e outras
leis reacionárias. Isso, porém, não evitou e nem evitará que as
greves cada vez mais amplas e combativas surjam por todo o país.
164
Br oranase 8 à 6 LL 405 an ooL, p: LIA

E é fazendo greves - mesmo sem eles permitirem - que poderemos


exigir e conseguir nossas reivindicações e a anulação dessas leis
infames que visam impedir as lutas grevistas e justificam seu
esmagamento a ferro e fogo.
O Partido Comunista - apesar de ainda fraco e de lutar em
condições de feroz reação, na mais absoluta ilegalidade -- prepara
muitos desses movimentos e procura dirigi-los, aprofundá-los, en-
frentá-los - além da reação - os chefes traidores que procuram
introduzir ideologias estranhas, das classes inimigas, no seio do pro-
letariado, e os reformistas que realizam toda sorte de manobras,
safadezas e denúncias para trair, fazer abortar e levar os movimentos
grevistas à derrota.
As cadeias se enchem. As ilhas Grande, Fernando de Noronha,
dos Porcos, a Clevelândia, consomem a vida de muitos militantes
revolucionários e grevistas. Frequentemente, nossos camaradas tom-
bam mortos nos comícios e nas lutas.

Mas, a onda cresce!

A indignação do povo que sofre jamais calou e nem calará


com as baionetas, fuzilamentos, cadeias, deportações. Apesar de
tudo, a onda cresce. E, em consegiuência, aumenta a demagogia
"esquerdista". Os Maurícios, os Zoroastros, toda essa corja de char-
latães, se desdobram em fraseologias "esquerdistas" para arrastar as
massas.
E o Partido Comunista - avançando cada vez mais com a massa
- se prepara para ocupar seu posto de vanguarda na transformação
da atual crise econômica em crise revolucionária - que já se processa
- encaminhando todas as lutas para a revolução operária e campo-
nesa contra os grandes latifundistas e burgueses nacionais e contra
os imperialistas.

Não esmoreçamos! Prossigamos nas lutas!

Ferroviários da Central, da Leopoldina, da São Paulo Railway,


da Sorocabana, da Paulista, da Oeste de Minas, da Este Brasileira;
marítimos, tecelões, choferes; operários da Light do Rio Grande do
Sul e da City de Santos, telegrafistas: -- continuemos preparando
nossas greves! As vossas reivindicações não triunfaram totalmente
nas greves passadas por causa das manobras e traições dos chefes
reformistas que encabeçaram comissões e foram a palácio engendrar
"acordos" que resultaram - e resultarão sempre - em fracassos das
reivindicações. Não esmoreçamos! Prossigamos nas lutas! Façamos
greves independentes! Elejamos os camaradas mais firmes e comba-
tivos para os comitês de greve! E que esses Comitês de Greves -

165
aroranasa va.cne.eeE, 320 LOS em oob;p. R

eleitos em comícios e grandes assembléias - sejam garantidos por


autodefesas dos próprios grevistas. !
Nada de confabulações com o governo, com o Ministro do
Trabalho e seus agentes que são instrumentos da classe exploradora,
e, portanto, só podem (como o fazem) defender os seus pontos e os
interesses da classe dominante!
Mas, houve greves que conquistaram totalmente suas reivindi-
cações. Os trabalhadores do Lloyd Brasileiro (ilha do Mocanguê),
os bancários de todo o país, os trabalhadores da fazenda "Jurema",
em Dores do Piraí (que conseguiram 8 horas e 1#200 de aumento
por dia), os mobiliários do Rio (que arrancaram da prisão o presidente
do seu sindicato) e os garçons de Santos, sairam totalmente vitoriosos
em seus movimentos grevistas, apesar de tentativas e manobras dos
chefetes amarelos e reformistas que tentaram infiltrar-se neles para
trai-los e estrangulá-los.
Trabalhadores de todas as indústrias! Assalariados agrícolas!
De pé! Para a frente! Apoiai essas lutas heróicas! Lutai também,
ao mesmo tempo, por vossas próprias reivindicações! Unamos todas
as lutas e ampliemo-nas, aprofundando-as, elevando-as de grau revo-
lucionário! Façamos greves em conjunto, greves de massas! Lutemos
contra todas as medidas de reação e da exploração semifeudais, semi-
-escravagistas, de terror fascista! Libertemos nossos camaradas presos
e deportados! E todo o povo oprimido deve-se solidarizar e participar
nas greves operárias, como fez em Niterói e Belo Horizonte. Só
assim obteremos resultados vitoriosos!

Camponeses do Nordeste! De São Paulo! De todo o país!

Lutai também por vossas próprias reivindicações, contra os


grandes fazendeiros, usineiros, bancos e empresas que vos exploram
e escravizam! Lutai contra os impostos, os fretes, os arrendamentos,
contra os despejos e as expulsões "a casco de boi"! Elevai vossas
lutas até a tomada violenta das terras que esses bandidos vos roubaram!
Dividi as terras assim conquistadas entre vós mesmos e defendei
sua posse pelas armas! Unamos todas as nossas lutas! Ajudai as
greves dos operários agrícolas e das cidades por todos os meios e
formas ao vosso alcance! O proletariado vos ajudará e orientará
também em vossas lutas contra os latifundistas e as empresas impe-
rialistas. Forjemos na luta, a mais acesa, a mais estreita aliança
revolucionária dos operários e camponeses.

Soldados e marinheiros!

Nós todos somos irmãos de classe. Esses bandidos que nos


dominam, nos armam até os dentes para nos devorarmos uns aos

166
BR DFanBsB va.cnc.eEE, € 20 L405 am00 Lm «WH
outros em benefício deles. Não devemos proceder assim. Não atirai
sobre os trabalhadores e camponeses em luta. Fraternizai conosco.
Utilizemos as armas que nos dão para lutar contra os que fazem de
nós escravos. Lutai também pelo aumento de soldos, contra a conti-
nência obrigatória, contra os exercícios e prontidões 'extenuantes, pelo
direito de votar e ser votado. Lutai pelo direito de se organizar e
de manifestar livremente sua opinião!
Negros e Índios escravizados!
No odioso regime em que vivemos, vós sofreis duplamente a
opressão e a exploração: como classe e como nacionalidades escra-
vizadas.
Estribando-se no conceito escravocrata de raças "inferiores" e
raças "superiores", as camarilhas dominantes aproveitam-no para nos
explorar, perseguir e maltratar mais ainda.
Todos os direitos políticos, econômicos, culturais e sociais nos
são negados e usurpados. Vossas terras são roubadas. Vos pagam
menores salários. Vos impõem toda sorte de humilhações. Vos negam
o direito de dirigir vós mesmos vossos destinos. Aos nossos irmãos
índios, os feudal-burgueses e os imperialistas não dão nem o direito
da maioridade. São escravizados pelo serviço de "proteção" aos
índios e pelas missões religiosas. Suas companheiras e filhas são
roubadas para serem prostituídas, como acontece na Fordlândia e
outros lugares.
Uni-vos e levantai-vos em luta por vossos direitos econômicos.
O proletariado, os camponeses de todas as nacionalidades e o Partido
Comunista vos ajudarão nas lutas por vossa libertação, desde as lutas
pela devolução das terras roubadas e pela igualdade de direitos eco-
nômicos, políticos e sociais, até a luta pelo direito de constituirdes
vossos próprios governos, separados dos governos federal e estaduais,
caminho pelo qual vós podereis desenvolver como nacionalidades com
território, governo, costumes, religião, língua e cultura próprios.
Povo oprimido do Nordeste!
O governo dos fazendeiros e capitalistas nacionais e estrangeiros
só se lembram de vós quando é para- mandar-vos para os golpes e
guerras como bucha; para sobrecarregar-vos de impostos; para ex-
plorar-vos como mão-de-obra mais barata. Exigi auxílios do governo!
Lutai para não morrer de fome!
Discutindo, amplamente, na Conferência Nacional, a situação
das massas laboriosas do Nordeste e considerando que as lutas que
sustentais contra os "coronéis", contra os grandes proprietários de
terras e empresas imperialistas, contra os representantes dos governos
167
BR DFanass va.enciece. 920 an. cool vo AS

centrais - lutas às quais se ligam e têm também idênticas expressões


as heróicas guerrilhas dos cangaceiros - possuem rasgos profundos
de nacionalidade oprimida, apoiando cada uma das vossas lutas eco-
nômicas e políticas, o Partido Comunista apóia decididamente a luta
junto convosco pelo direito de dispordes de vós mesmos como nacio-
nalidade em formação, isto é, a lutar para que tenhais o direito de
possuir vossos próprios costumes, vossa própria língua e de viver
como bem entenderdes e resolverdes, sem dar satisfação a ninguém,
inclusive o direito de vos separardes em nacionalidade à parte do
governo federal e constituirdes vosso próprio governo.

Lutemos por nosso governo soviético!

As possibilidades de vida neste regime diminui cada vez mais.


Sangrentas guerras imperialistas se realizam já no Chaco, no
Extremo Oriente, Marrocos etc. A disputa em Letícia não terminou;
a preparação da guerra em todo o continente e com a guerra do
Pacífico, mundial e anti-soviética.
Estamos a poucos passos da guerra imperialista mundial e anti-
-soviética.
Organizemos comitês contra a guerra, a reação e o fascismo,
nos locais de produção guerreira, nas estradas de ferro, nos navios,
nos portos, em toda a parte; para impedir que se fabriquem armas e
munições, para impedir o embarque de armas, tropas e gêneros
alimentícios ou para qualquer fim destinados às tropas imperialistas.
Entregai esses gêneros ao povo necessitado. Lutemos para que o
dinheiro destinado a gastos com armamentos e com a mobilização
de tropas seja entregue aos desempregados e flagelados.
Os meios de evitar tão horrendas e criminosas carnificinas -
com as quais tudo temos a perder - estão em nossas próprias mãos:
a luta de massas, em ampla frente única sem distinção de tendências
políticas e crenças religiosas para a organização e a realização vito-
riosa da transformação da guerra imperialista em guerra civil, em
luta armada das massas laboriosas pela derrubada do feudalismo e
do capitalismo.
A onda revolucionária do proletariado, dos camponeses e todas
as camadas populares oprimidas se levantam em todo o mundo contra
a fome, a guerra, a reação e o fascismo, encaminhando-se vigorosa-
mente para "a luta pelo seu poder!"

1.o e 23 de agosto - Jornada de luta contra a guerra

A Conferência Nacional lança um apelo a toda a massa traba-


lhadora, a todos os estudantes e intelectuais revolucionários, a todo
o povo oprimido, para nas jornadas de luta contra a guerra, a reação

168
BR oFanase va.onc.eee, AQ (L 405 amO L, o 176
e o fascismo - de 1.o a 23 de agosto -- realizarmos grandes lutas
contra a guerra: greves, comícios, demonstrações, conferências,
protestos!
Precisamos fazer ressurgir às centenas, aos milhares, combatentes
antiguerreiros como Lenine, Carlos Leibknecht e Rosa Luxemburgo!
Precisamos fazer surgir heróis como o marinheiro Marty, que fez
recuar as esquadras do imperialismo francês, do porto de Odessa,
para esmagar a Revolução Russa, em 1919. - -
Nós não temos outro caminho a seguir. Aprofundemos também
as nossas lutas! Unamo-las! Ampliemo-las! Politizemo-las! Eleve-
mo-las para as lutas superiores até a tomada do poder, instaurando
o Governo Operário e Camponês, a Ditadura Democrática baseada
nos Conselhos de operários, camponeses, soldados e marinheiros!
Este é o único caminho que nos conduzirá à libertação da fome,
da miséria, das perseguições, dos golpes e guerras imperialistas. É
o caminho da União Soviética. Da China. O caminho pelo qual
enveredam já as massas proletárias, camponesas e populares de Cuba,
do Chile, da Espanha. O caminho que salvará a Alemanha, os Estados
Unidos. Todo o mundo. É o único caminho 'da solução revolucio-
nária da crise e da guerra. O caminho apontado pela invencível
Internacional Comunista e seu chefe Stalin que Orienta a heróica
União Soviética, chefe e guia da Revolução Proletária Mundial.

Que dá o Governo Operário e Camponês?


O Governo Operário e Camponês resolverá, a favor das grandes
massas proletárias e populares, todos os problemas da crise que é
fruto do regime em que vivemos.
Criado pelas próprias massas - sob a orientação do Partido
Comunista - no curso das lutas parciais e do desenvolvimento e
realização da Revolução Agrária e antiimperialista, o Governo Ope-
rário e Camponês, apoiado na estreita aliança do proletariado com
a massa camponesa, é a garantia única da terra aos camponeses, que
será arrancada, sem indenização, dos grandes proprietários, do Estado
atual, das empresas imperialistas e da Igreja e dividida gratuitamente
entre os assalariados agrícolas e toda a massa camponesa.
O Governo Operário e Camponês acabará com a fome e a
miséria pondo à disposição das massas os estoques de todos os
produtos açambarcados hoje pelos grandes senhores nacionais e es-
trangeiros; localizará as massas populares nas melhores habitações
das cidades e dos campos que, para isso, serão confiscadas aos grandes
proprietários.
O Governo Operário e Camponês acabará com o desemprego.
Enquanto não o liquidar, dará subsídio aos desempregados, flagelados
e aos que não puderem trabalhar. Cancelará todas as dívidas externas

169
BRDFaNBSB 8201405 amOOLb;p 97

2 internas e expulsará os imperialistas. Resolverá o problema das


secas no Nordeste, rompendo o monopólio dos grandes proprietários
sobre as terras, os açudes e nascentes. Melhorará progressivamente
as condições de vida de toda a massa, de todo o povo trabalhador.
O Governo Operário e Camponês dará o mais amplo direito às
nacionalidades oprimidas do Brasil de disporem de si mesmas, inclu-
sive o direito de separação.
O Governo Operário e Camponês garantirá todos os direitos
econômicos, políticos e culturais às minorias nacionais.
E sobre essas bases, o Governo Operário e Camponês lutará
pela mais ampla e consentida união de todas as nacionalidades no
Brasil em marcha para a futura União das Repúblicas Soviéticas de
brancos, negros e Índios.

Fortifiquemos o Partido Comunista, o Partido da Revolução!

Sem um partido de classe, cuja ideologia represente as condições


de vida do proletariado e as aspirações de toda a «massa sofredora,
não é possível o triunfo da Revolução.
O Partido Comunista do Brasil - seção da I.C. - é o único
neste país que está baseado nessa ideologia a qual já levou à vitória
o proletariado e as massas populares da sexta parte do mundo: da
União Soviética.
É a esse partido que incumbe essa missão histórica de guiar as
massas trabalhadoras para a Revolução, para a vitória.
Precisamos, portanto, fortalecer o nosso partido. O Partido
acaba de expulsar de suas fileiras diversos aventureiros portadores
de ideologias estranhas e inimigas do proletariado. Em seu lugar
queremos centenas de operários das empresas fundamentais.

Todos! Todos à luta!

Operários evolucionistas, integralistas, anarquistas, socialistas,


patrianovistas! Operários iludidos por todas as ideologias e chefes
contra-revolucionários! '
Interesses comuns nos unem frente a inimigos comuns. Devemos,
pois, lutar juntos ombro a ombro, por melhores condições de vida
e de trabalho.
Formemos amplos comitês de frente única de luta para a con-
quista de nossas reivindicações, contra a reação e a guerra imperia-
lista. Fortaleçamos todas as nossas organizações de luta de classes.
Essa condição é indispensável para o triunfo da nossa causa. Lutamos
pela unidade revolucionária do proletariado.
Operários grevistas! Assalariados agrícolas! Camponeses revo-
lucionários! Lutadores antifascistas e antiimperialistas de todas as

170
BRDFaNaSB Ve.onceze, 820 L 405 am COL/|P NEE
camadas oprimidas das cidades e dos. campos - fornecei novos
contingentes à única vanguarda da classe proletária e único guia
revolucionário das massas exploradas - ingressai no Partido Comu-
nista, seção brasileira da I.C.
De pé! Pelo pão, pela terra e pela liberdade!
Rio, 16 de julho de 1934.
A 1.a Conferência Nacional do P.C.B. (seção da I.C.)
(A .Classe Operária, l.º.08.l934).-

C) DA ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA A


CONFERENCIA DA MANTIQUEIRA (1935-1943)

1) Resposta à «Lei Monstro» (março de 1935)

A resposta à "Lei Monstro" não se fez esperar.


De norte a sul do país, do seio do proletariado e de todas as
camadas da população laboriosa levanta-se a mais forte, a mais
impetuosa onda de protesto contra essa lei ultra-reacionária.
As centenas de telegramas e moções de repulsa, aos numerosos
atos públicos de protesto, vieram juntar-se as combativas greves de
Santos, São Paulo, Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do
Norte.
Coube ao valente proletariado santista, que já escreveu uma
das mais belas páginas da história da luta de classes no Brasil,
resistindo durante 80 dias às manobras patronais e à reação policial,
iniciar o contra à Lei Monstro. Ali foram à greve contra o chamado
projeto de "Lei de Segurança Nacional", trabalhadores de trapiches
de café, os bancários, os operários em construção civil e os gráficos.
Na capital do Estado, os operários das indústrias de sedas e ma-
lharias, alfaiates, e anexos, construção civil, além dos operários frigo-
ríficos que incluiram no seu programa de reivindicações um item
contra a "Lei Monstro". E no Distrito Federal, no dia 1.o do
corrente, a corajosa greve dos gráficos que impediu a circulação
de dez jornais matutinos.
Avoluma-se a onda de indignação popular. Milhões de vozes
se erguem para protestar contra essa monstruosa tentativa das cama-
rilhas dominantes e imperialistas de legação da reação : de terror
branco mais desenfreados ainda. Milhões de vozes se erguem para
repelir a afronta dessa legislação ultra-reacionária com que o governo

171
BR DFanBSB va.GNC.EEE, 220LLUOS om 00 L ( [(M
de Getúlio e comparsas pretende reforçar a sua dominação contra
os interesses do proletariado e das massas populares do Brasil. Novas
e novas greves se preparam como resposta à "Lei Monstro".
Assistimos, assim, a um movimento de caráter nitidamente polí-
tico. O proletariado brasileiro, à cabeça de vastas camadas populares,
desperta rapidamente para os grandes combates de classe e vai for-
jando nas lutas uma consciência política própria. Setores proletários
como os gráficos do Rio de Janeiro, que há vários anos não articulavam
um movimento de reivindicações econômicas, atiram-se abnegada-
mente a uma luta política, enfrentando todo o aparelho de reação
policial e o ambiente de terror criado propositadamente para a apro-
vação da lei.
As camarilhas dominantes e seu poder governamental, ante a
vigorosa contra-ofensiva das massas trabalhadoras, recuam sorratei-
ramente ao perceberem que os pulsos que pretendem acorrentar se
voltam contra elas.
É preciso intensificar a luta contra a "Lei Monstro". É preciso
desencadear novas e mais combativas greves políticas de protesto,
convertendo o grandioso movimento de massas contra a "Lei Monstro",
em luta por numerosas outras reivindicações, como sejam liberdade
imediata de todos os presos por questões sociais, volta ao país por
conta do governo e dos patrões de todos os deportados pelo mesmo
motivo, nacionais ou estrangeiros, fechamento dos presídios das ilhas
infectas, direito de reunião, de organização independente, de imprensa
proletária e popular e tantas outras.
Bernardo
(A Classe Operária, 11.03.1935).

2) Aliança Nacional Libertadora


a) MANIFESTO DE LUÍS CARLOS PRESTES (5 DE JULHO DE 1935)
- A todo povo do Brasil! Aos aliancistas de todo o Brasil!
5 de julho de 1922 e 5 de julho de 1924. Troam os canhões
de Copacabana. Tombam os heróis companheiros de Siqueira Campos!
Levantam-se, com Joaquim Távora, os soldados de São Paulo e,
durante 20 dias é a cidade operária barbaramente bombardeada pelos
generais a serviço de Bernardes! Depois... a retirada. A luta he-
róica nos sertões do Paraná! Os levantes do Rio Grande do Sul!
A marcha da coluna pelo interior de todo o país, despertando a
população dos mais ínvios sertões, para a luta contra os tiranos, que
vão vendendo o Brasil ao capital estrangeiro.
Quanta energia! Quanta bravura!
172
_ BRoransss 820 4 40S a og l, p. LO

As lutas continuam - São 13 anos de lutas cruentas, de com-


bates sucessivos e vitórias seguidas das mais negras traições, ilusões
que se desfazem, como bolhas de sabão, ao sopro da realidade!
Mas as lutas continuam, porque a vitória ainda não foi alcan-
cada e o lutador heróico é incapaz de ficar a meio do caminho,
porque o objetivo a atingir é a libertação nacional do Brasil, a sua
unificação nacional e o seu progresso e o bem-estar e a liberdade
de seu povo e o lutador persistente e heróico é esse .mesmo povo,
que do Amazonas ao Rio Grande do Sul, que do litoral às fronteiras
da Bolívia, está unificado mais pelo sofrimento, pela miséria e pela
humilhação em que vegeta do que uma unidade nacional impossível
nas condições semicoloniais e semifeudal de hoje!
Aliança Nacional Libertadora - Nós, os aliancistas de todo o
Brasil, mais uma vez, levantamos hoje bem alto a bandeira dos 18
do Forte, a bandeira de Catanduvas, a bandeira que tremulou em
1925 nas portas de Teresina, depois de percorrer de Sul a Norte
todo o Brasil! A Aliança Nacional Libertadora é hoje constituída
pela massa de milhões que continua as lutas de ontem! A Aliança
Nacional Libertadora é hoje a continuadora dos combates que, pela
libertação do Brasil, do jugo imperialista, iniciaram Siqueira Campos,
Joaquim Távora, Portela, Benévolo, Cleto Campello, Janson de Mello,
Djalma Dutra, e milhares de soldados operários e camponeses em
todo o Brasil.
Somos herdeiros das melhores tradições revolucionárias de nosso
povo e é, recordando a memória de nossos heróis, que marchamos
para a luta e para a vitória!

Dias decisivos

Brasileiros!
Aproximam-se dias decisivos.
Os trabalhadores de todo o Brasil demonstram, através de lutas
sucessivas, que já não podem mais suportar e nem querem mais se
submeter ao governo em decomposição de Vargas e seus asseclas
nos Estados. Além disso, os cinco últimos anos deram uma grande
experiência a todos em que no Brasil tiveram de suportar e sofrer
a malabarista e nojenta dominação getuliana. E esses cinco anos de
manobras e traições, de contradanças de homens do poder, de situa-
cionistas que passam a oposicionistas e vice-versa, de inimigos "irre-
conciliáveis" que se abraçam, cinicamente, sobre os cadáveres ainda
quentes dos lutadores de 1922, abriram os olhos de muita gente.
Onde estão as promessas de 1930? Que diferença entre o que se
dizia e se prometia em 1930 e a tremenda realidade já vivida nestes
cinco anos getulianos!

173
| )

Da neansss va.enceEE, 8201140


50900 Lovf Lªl—
O Programa da Aliança Liberal - "A revolução brasileira não
pode ser feita com o programa anódino da Aliança Liberal", dizia
eu em maio de 1930, chamando a atenção dos companheiros da
coluna para a luta contra o imperialismo e o feudalismo, sem a
destruição dos quais tudo mais seria superficial, irrisório e mentiroso.
"Se chegarmos ao poder, vamos controlar as empresas imperialistas,
vamos evitar os abusos... vamos dar terra aos camponeses, sem ser
necessário desapropriar grandes latifundistas, vendidos ao imperia-
lismo", respondiam-me muitos deles. São passados cinco anos e
todos os que honestamente assim pensaram já devem estar conven-
cidos das utopias reacionárias que defendiam.
Dominação dos Imperialistas - Por outro lado a crise mundial
do capitalismo, na sua agravação crescente leva os imperialistas a
tornarem cada vez mais clara a dominação e a exploração dos países
subjugados por eles nas colônias e semicolônias como o Brasil. Quem
tem a coragem, nos dias de hoje, de negar que somos explorados
bárbara e brutalmente pelo capital financeiro imperialista? Somente
lacaios desprezíveis e nauseabundos, como Assis Chateaubriand ou
Herbert Moses, ou então os chefes e teóricos do integralismo que,
compreendendo e sentindo a vontade de luta das massas contra os
bancos e empresas imperialistas, tratam de desviá-la, transformando
a luta contra o imperialismo, a luta do povo contra os exploradores
ingleses ou japoneses em questão de raça, em luta contra o semitismo.
Novas Concessões - E dia a dia novas concessões são feitas
ao capital financeiro imperialista. Já não bastam os serviços públicos,
os portos, as estradas de ferro, as minas. Extensões enormes do
território pátrio são entregues a empresas estrangeiras. Toda a pro-
dução nacional, fruto do trabalho hercúleo das grandes massas traba-
lhadoras é entregue ao fascismo hitlerista, em troca de papéis sujos,
isto é, de graça para ajudar o massacre do proletariado alemão e
para organizar nova guerra imperialista. As fronteiras do país são
abertas em troca de sombrinhas e biombos à invasão militarmente
organizada do imperialismo japonês. A pequena indústria nacional,
aquela que não está nas mãos dos tubarões estrangeiros ou de seus
lacaios, é ameaçada de liquidação pelos tratados comerciais com a
Inglaterra, com os Estados Unidos e o Japão. Enfim, a divisão do
país, em zonas de influências sobre a denominação de um outro
imperialismo torna-se cada vez mais clara.
Interesses contraditórios das classes dominantes - A dominação
imperialista utiliza o regionalismo, os interesses contraditórios das
classes dominantes, que os servem, para, aprofundando esses interesses,
despedaçar o país e melhor dominá-lo. Isto se reflete, claramente,
no cenário político atual. São evidentes as divergências entre os
diversos clãs que apóiam o governo de Vargas, entre Salles de Oliveira
174
BR oFanBSE veoncieee, 820 L! 495.00
oaL'p L8a.
e Flores da Cunha, entre São Paulo e o Nordeste. Entre os "oposi-
cionistas", a mesma coisa é facilmente observada, que todos os es-
forços pela formação de um partido nacional fracassam, lamentavel-
mente. Continuamos na política asquerosa dos blocos sem princípios,
sem programa: do bloco que está no poder e do bloco que quer o
poder.
O Integralismo - Mesmo entre os fascistas tal estado de coisas
se verifica. Apesar de toda a demagogia sobre a unificação nacional,
O integralismo é bem uma fotografia da podridão, da decomposiç ão,
da divisão dos interesses contradicionários entre as cliques das classes
dominantes de um ou de outro Estado.
Plínio Salgado, obrigado a dizer hoje aquiE por
uma
isso a tragédia do Sr.
coisa, amanhã ali ao
contrário. Daí o engraçado do disse que não disse dos chefes inte-
gralistas. É que todos os partidos das classes dominantes
refletem, queiram ou não queiram, a divisão regional que dotemBrasilsuas
origens no feudalismo e se agrava com a penetração imperialista. Essa
desagregação, por sua vez, acelera a venda do país ao imperialismo
que penetra por todas as brechas e por todos os lados, porque o
bando que está no poder, para não perdê-lo, precisa
menores exigências de qualquer de suas facções. O governosatisfazer
de
às
Vargas
tem por isso satisfeito os interesses, os mais contraditórios, de todos
os magnatas estrangeiros e de seus lacaios nacionais. Despedaçando
O Brasil, sufocando na miséria o povo.
Unificação Nacional - A unificação nacional é, por isso, im-
possível sob a dominação imperialista. Só as grandes massas junta-
mente com a parte da burguesia nacional, não vendida ao imperialismo
serão capazes de, através de um governo popular revolucionário,,
acabar com esse regionalismo, com a desigualdade
a dominação dos fazendeiros e imperialistas impôs monstruosa
ao país.
que
Esta é a tarefa gigantesca da Aliança Nacional
que apresenta aos olhos de todo o Brasil, como a única Libertadora,
realmente nacional, única organização onde os verdadeirosorganização
interesses
do povo de cada Estado coincidem com os idênticos objetivos
congregam, em todo o Brasil, de norte ao sul, de este a oeste,queos
lutadores contra o imperialismo e os trabalhadores de todo o país,
juntamente com a parte da burguesia nacional, não vendida
rialismo, serão capazes de, através de um governo popularaorevolu-impe-
cionário antiimperialista *
Em Marcha para a Ditadura Fascista - Mas as classes domi-
nantes, que sentem já não poder dominar a vontade de luta das
massas, com as armas da brutal reação, que tenham sido até hoje
empregadas, dessa tão falada "liberal democracia", marcham, osten-
* Falta uma linha no original.
ar pranase va.enc.ese,
emoot. aia)
sivamente e cada dia mais abertamente, para uma ditadura ainda
mais bárbara - para a ditadura fascista - forma mais brutal, mais
feroz da ditadura dos «exploradores. Ameaçam o povo de todo o
Brasil com a ditadura de elementos terroristas, mais reacionários com
a ditadura dos mais cínicos lacaios do imperialismo. Nessa direção,
para chegarem a um tal governo para sufocarem os últimos direitos
democráticos do povo, os elementos não reacionários das classes
dominantes tratam de por um momento vencer suas próprias contra-
dições e unir-se numa "união sagrada". Vargas encontra por baixo
da "oposição" todo apoio necessário à fascistização do seu governo,
ao mesmo tempo que estimula e auxilia a organização dos bandos
integralistas. A "oposição", por seu lado, prepara golpes de Estado
e faz esforço para substituir, por ordem de seus patrões estrangeiros,
por figuras novas e menos impopulares, as que ocupam o vacilante
poder atual. O governo é abertamente fascista - essa grande ameaça
que se prepara entre as classes dominantes contra o povo brasileiro!
Os dois campos se definem - O duelo está travado. Os dois
campos se definem, cada vez com maior clareza para as massas. De
um lado, os que querem consolidar no Brasil as mais brutais ditaduras
fascistas, liquidar os últimos direitos democráticos do povo e acabar
a venda e a escravização do país ao capital estrangeiro. Desse modo
- o integralismo, como brigada de choque terrorista da reação. De
outro, todos os que nas fileiras da Aliança Nacional Libertadora
querem defender de todas as maneiras a liberdade nacional do Brasil,
pão, terra e liberdade para seu povo. A luta não é, pois, entre dois
"extremismos" como querem fazer constar os hipócritas defensores
de uma "liberal democracia" que nunca existiu e que o povo só
conhece através das ditaduras sanguinárias de Epitácio, Bernardes,
Washington Luís e Getúlio Vargas. A luta está travada entre os
libertadores do Brasil, de um lado, e os traidores, a serviço do impe-
rialismo, do outro.
Posição clara e definida - O momento exige, de todo homem
honesto, uma posição clara e definida. Pró ou contra o fascismo;
pró ou contra o imperialismo! Não há meio termo possível, nem
justificável. A Aliança Nacional Libertadora é, por isso, uma vasta
e ampla organização de frente única nacional. O perigo que nos
ameaça, o perigo que aumenta dia a dia, nos obriga a colocar em
primeiro plano nos dias de hoje, a criação do bloco, o mais amplo
de todas as classes oprimidas pelo imperialismo, pelo feudalismo, e,
portanto, da ameaça fascista. Tal a tarefa decisiva na atual etapa
da revolução brasileira. A frente única não obriga a quem quer que
nela venha formar, renunciar a defesa de seus conceitos e opiniões.
Não! Isso seria semear confusões entre as massas populares e enfra-
quecer sua força revolucionária. Reconhecendo todas as divergências
políticas, que entre nós possam existir, saberemos, como revolucio-
176
BR DFANBSB Vs.oNC.EEE, 10LL4OGS Om ool ! 0,03%
nários, que o momento atual exige de tudo a concentração de todas
as nossas forças para luta contra o imperialismo, o feudalismo e o
fascismo.
Condições para ingressar na ANL - Para a Aliança Nacional
Libertadora precisam vir todas as pessoas, grupos, correntes, orga-
nizações e mesmo partidos políticos, quaisquer que sejam os seus
programas, sob a única condição de que queiram lutar contra a
implantação do fascismo no Brasil, contra o imperialismo e o feúda-
lismo, pelos direitos democráticos. E a todas as pessoas e correntes,
que queiram, por quaisquer motivos, restringir essa frente única
nacional revolucionária, devemos opor a vontade férrea de sua reali-
zação. Todas as pessoas, grupos, associações e partidos políticos,
que participam da Aliança devem impedir, com todas as forças, aquelas
tentativas, denunciando os culpados, implacavelmente, como traidores
do Brasil e do seu povo.
Unificação do proletariado - As forças da Aliança Nacional
Libertadora são já grandes, mas podem e devem ser ainda maiores
abarcando milhões porque, com o seu programa, estão todos os que
trabalham no país, todos os que sofrem com a dominação imperia-
lista e feudal, em primeira linha o proletariado e as
do campo. A unificação do proletariado, tendência grandesjá
massas
invencível,
que se sobrepõe a todas as dificuldades opostas pela reação, é uma
das maiores forças da revolução. E as greves dos últimos tempos
aumentam, cada vez mais, a capacidade de luta do heróico proleta-
riado do Brasil e a confiança que a todos os revolucionários brasileiros
inspiram como classe dirigente da revolução. As lutas dos camponeses,
conquanto ainda espontâneas e desorientadas, são bem o indício do
ódio e da energia concentrada em séculos de sofrimento e de miséria
pela massa de milhões que quer melhores dias. Mas com a revo-
lução, portanto, com a Aliança ficarão os soldados e marinheiros de
todo o Brasil.
As classes armadas - Com a Aliança ficarão os melhores oficiais
das forças armadas do país, todos aqueles que serão incapazes
conduzir seus soldados contra os libertadores do Brasil e muitos dosde
quais já demonstraram, em lutas anteriores, que ficarão com o povo
contra O imperialismo, o feudalismo e o fascismo. Como antes de
1838, os militares do Brasil jamais se prestarão ao papel de capitães-
-do-mato, a serviço do imperialismo e seus lacaios no país. Com a
Aliança estarão todos os heróicos combatentes dos movimentos ar-
mados que se sucedem no país, desde 1922.
Os que ficarão com a Aliança - Com a Aliança formará a
juventude heróica de São Paulo, que pensou defender, nas trincheiras,
em 1932, a democracia e a liberdade contra a ditadura de Vargas
e que vê, hoje, seus chefes, nos rega-bofes do governo. Com a Aliança
17?
BroranBSB Va.eNCEEE, 22 , p LBS

estarão todos os intelectuais honestos, o que há de mais vigoroso e


capaz na intelectualidade brasileira, todos os que não podem concordar
com o obscurantismo fascista e a liquidação dos últimos direitos
democráticos do povo, todos os que querem defender a cultura do
nosso povo. Com a Aliança estará a juventude trabalhadora estudantil
do país, lutando por melhores dias e por um futuro mais claro,
disposta a dar todo o seu entusiasmo e energia, para a luta, para a
libertação nacional do Brasil, na qual vai ocupar os postos mais
avançados. Com a Aliança estarão as mulheres do Brasil, trabalha-
doras manuais, intelectuais, donas-de-casa, mães de família, irmãs,
noivas e filhas de trabalhadores, elas formarão na Aliança porque,
apesar das mentiras e calúnias da imprensa venal, elas compreendem
e entendem que só a Aliança poderá defender o pão para seus filhos
e acabar com a brutal exploração em que vivem.
Liberdade de crença - As mulheres religiosas como todas as
pessoas religiosas católicas, protestantes, espíritas ou positivistas,
desejam acima de tudo a liberdade para seus cultos e essa liberdade
é defendida pela Aliança; estão mesmo os padres brasileiros, os mais
pobres e que, entrando para a igreja não se venderam ao imperia-
lismo, nem esqueceram seus deveres frente ao povo. É natural que
os chefes da igreja, os ricos e bem nutridos cardeais e arcebispos,
como membros das classes dominantes, e lacaios do imperialismo,
estejam contra a Aliança. Já noutras épocas, Frei Caneca, Padre
Miguelinho e muitos outros lutaram ao lado do povo, pela indepen-
dência do Brasil, contra a vontade dos bispos e arcebispos que os
mandaram assassinar.
Privilégios da raça, cor e nacionalidade - Com a Aliança estarão
os pequenos comerciantes, os pequenos industriais, que, comprimidos
entre os impostos e monopólios imperialistas de um lado e a miséria
cada vez maior da massa popular do outro, ganham cada dia menos
e, à medida que se pauperizam vão passando a simples intermediários
mal remunerados da exploração do povo pelo imperialismo e pelos
impostos indiretos. Com a Aliança estarão todos os homens de cor
do Brasil, os herdeiros das tradições gloriosas das Palmares, porque
só a ampla democracia, de um governo realmente popular, será capaz
de acabar para sempre com todos os privilégios de raça, de cor ou
de nacionalidade, e de dar aos pretos no Brasil a imensa perspectiva
da liberdade e igualdade, livre de quaisquer preconceitos reacionários,
pela qual lutam com denodo há mais de três séculos.
Programa Antiimperialista - Não há pretextos que justifiquem,
aos olhos do povo, a luta contra a Frente Única Libertadora. É por
isso que as fileiras da Aliança Nacional Libertadora estão abertas a
todos os que querem lutar pelo seu programa antiimperialista, anti-
feudal e antifascista, programa que somente o governo popular
revolucionário realizará:

178
' BrDFaNBSB 820 L p.! %6

I - Não pagamento das dívidas externas, nem seu reconheci-


mento.
II - Denúncia dos tratados anticomerciais com o imperialismo.
III - Nacionalização dos serviços públicos mais importantes e
das empresas imperialistas que não se subordinem às leis do governo
. popular revolucionário.
IV - Jornada máxima de trabalho de oito horas, seguro social,
aposentadorias, aumento de salários, salário igual para igual trabalho,
garantia de salário mínimo, satisfação dos demais pedidos do prole-
tariado.
V - Luta contra as condições escravistas e feudais do trabalho.
VI - Distribuição entre a população pobre camponesa e ope-
rária das terras e utilização das águadas, tomadas sem indenização
aos imperialistas, aos grandes proprietários mais reacionários e aos
elementos da igreja, que lutam contra a liberdade do Brasil e a
emancipação do povo.
VII - Pelas mais amplas liberdades populares, pela completa
liquidação de quaisquer diferenças ou privilégios de raça, de cor
ou de nacionalidade, pela mais completa liberdade religiosa e a
separação da Igreja do Estado.
IX - Contra toda e qualquer guerra imperialista e pela estreita
união, com as Alianças Nacionais Libertadoras dos demais países
da América Latina e com todas as classes e povos oprimidos.
Divulgação dos princípios - O realismo brasileiro de um tal
programa é inegável e o entusiasmo com que todo o Brasil, as mais
vastas massas trabalhadoras procuram as fileiras da Aliança Liber-
tadora Nacional é a melhor das demonstrações. Nem o governo
reacionário de Vargas, nem nenhuma outra ditadura militar fascista
ou semifascista poderá oferecer uma resistência séria à Frente Única
Nacional Libertadora se essa souber, realmente, mobilizar as mais
amplas massas populares. Para isso precisamos, ao mesmo tempo que
unificamos e congregamos na Aliança Nacional Libertadora todas as
pessoas, grupos, correntes, organizações e partidos políticos, que
quiserem lutar pelo seu programa, precisamos criar a Frente Única
Libertadora em cada fábrica, empresa, casa comercial, universidades,
quartéis, navio mercantil ou de guerra, nos bairros, nas fazendas,
organizando a luta diária de tais massas.
Libertação nacional do Brasil - A Aliança Nacional Liberta-
dora precisa englobar todas as organizações de massas, precisa e deve
verdadeiramente representar o povo e saber lutar efetiva e conse-
quentemente, pelos seus interesses. A Aliança Nacional Libertadora
já representa a enorme força revolucionária do nosso povo e a sua
incomensurável vontade de sacrifícios para a luta pela libertação
nacional do Brasil. Os últimos acontecimentos de Petrópolis e o

179
BR DFAanBSB va.oncieEE. OS en 0O0L bye p 3aLO!
SOLT40%

"vigor com que o povo de São Paulo levou os chefes integralistas a


uma retirada medrosa, dizem do que será capaz a Frente Única
Nacional.
Implantação de um governo popular - Marchamos, assim, ra-
pidamente, à implantação de um governo popular revolucionário,
em todo Brasil, um governo do povo contra o imperialismo e o feu-
dalismo e que demonstrará na prática, às grandes massas trabalha-
doras do país, o que é a democracia e a liberdade. O governo popular,
executando o programa da Aliança unificará o Brasil e salvará a
vida dos milhões de trabalhadores, ameaçado pela fome, perseguido
pelas doenças e brutalmente explorado pelo imperialismo e pelos
grandes proprietários. A distribuição das terras dos grandes latifún-
dios aumentará a atividade do comércio interno e abrirá o caminho
a uma mais rápida industrialização do país, independentemente de
qualquer controle imperialista. O governo popular vai abrir para a
juventude brasileira as perspectivas de uma nova vida garantindo-lhe
trabalho, saúde e instrução. A força das massas, em que se apoiará
um tal governo, será a melhor garantia para a defesa do país contra
o imperialismo e a contra-revolução. O exército do povo, o exército
nacional revolucionário será capaz de defender a integridade nacional
contra a invasão imperialista, liquidando, ao mesmo tempo, todas as
forças da contra-revolução. ?
Como o poder chegará às mãos do povo - Mas o poder só
chegará nas mãos do povo através dos mais duros combates. O
principal adversário da Aliança não é somente o governo podre de
Vargas, são, fundamentalmente, os imperialistas aos quais ele serve
e que tratarão de impedir por todos os meios, a implantação de um
governo popular revolucionário no Brasil. Os mais evidentes sinais
da resistência que se prepara no campo da reação já nos são dados
pelos latidos da imprensa venal vendida ao imperialismo. A situação
é de guerra e cada um precisa ocupar o seu posto. Cabe à iniciativa
das próprias massas organizar a defesa de suas reuniões, garantir a
vida de seus chefes e preparar-se, ativamente, para o assalto.
"A idéia do assalto amadurece na consciência das grandes
massas." Cabe aos seus chefes organizá-las e dirigi-las.
Um apelo - População trabalhadora de todo o país! Em guarda,
na defesa de seus interesses! Venha ocupar o seu posto com os
libertadores do Brasil!
Soldado do Brasil! Atenção! Os tiranos querem jogar-te contra
os teus irmãos. Em luta pela liberdade do Brasil!
Soldado do Rio Grande do Sul, heróico herdeiro das melhores
tradições revolucionárias da terra gaúcha! Prepara-te! Organiza-te!
Porque só assim poderás voltar contra os tiranos que te oprimem
às armas com que eles querem eternizar a vergonha dos dias de hoje!

180
BRDFANBSB Va.oNnC.EEE, 820 LLGOS amod bp. l 88

Democratas honestos de todo o Brasil! Heróico povo de Minas


Gerais, terra tradicional das grandes lutas pela democracia! Só com
a Aliança Nacional Libertadora poderás continuar as lutas iniciadas
pelos seus antepassados!
Nortistas e nordestinos! Reserva formidável das grandes energias
nacionais! Organiza-te para a defesa de um Brasil que te pertence!
Camponês de todo o Brasil, lutador do sertão do Nordeste!
O governo popular revolucionário te garantirá a posse das terras e
dos açudes que tomáres! Prepara-te para defendê-la!
Brasileiros! Todos vós que estais unidos pela idéia, pelo sofri
mento e pela humilhação de todo Brasil! Organizai o vosso ódio
contra os dominadores transformando-o na força irresistível e inven-
cível da Revolução brasileira! Vós que nada tendes para perder,
e a riqueza imensa de todo Brasil a ganhar! Arrancai o Brasil da
guerra do imperialismo e dos seus lacaios! Todos à luta para a
libertação nacional do Brasil! Abaixo o fascismo! Abaixo o governo
odioso de Vargas! Por um governo popular nacional revolucionário.
Todo o poder à Aliança Nacional Libertadora.

(Luís Carlos Prestes, A Platéa, 06.07.1935).

b) INSTRUÇOES PARA A ORGANIZAÇÃO DE NÚCLEOS DA ANL

a) Todo grupo de 10 ou mais aderentes da ANL, ligados por


identidade de interesses, quer sejam residenciais, quer profissionais,
associativos, escolares etc., poderão arregimentar-se em núcleos da
ANL,
b) Assim, o núcleo deve ser constituído por aderentes da ANL,
moradores de um mesmo distrito urbano ou rural (núcleos distritais),
ou por pessoas de uma mesma profissão, repartição, quartel, navio,
fábrica, empresa, escritório comercial (núcleos profissionais), de uma
mesma associação de classe, desportiva, religiosa ou beneficente (nú-
cleos associativos), de uma mesma academia, colégio ou escola (núcleos
escolares), de uma mesma fazenda ou exploração rural (núcleos
rurais) etc.
c) Os núcleos podem ter, em casos especiais, o caráter estadual
Ou nacional quando compreendendo associações de caráter estadual
Ou nacional como é o caso das empresas de transporte. Nesse caso
acrescentarão a denominação Estadual ou Nacional ao respectivo
nome e para todos os efeitos, entender-se-ão, direta e respectivamente,
com os Diretórios Estaduais ou Nacional da ANL.
d) Reunidos os aderentes nessas condições em uma assembléia
ordinária, elegerão um Secretariado de 3 a 5 membros, a saber:
1 presidente, 1 secretário e 1 tesoureiro e, sendo conveniente, acres-
cido de 2 delegados para propaganda e organização. Tratando-se de

181
Br va.enc ee. B20LL4UOS anoolL (Pa La

núcleos de associações de caráter nacional, completar-se-á o Secre-


tariado com membros suplentes.
€) Eleito o Secretariado, sendo possível, deverá o mesmo com-
parecer incorporado à sede do Diretório Municipal ou, no caso de
se tratar de associações de caráter estadual, na sede dos respectivos
diretórios, Estadual ou Nacional.
f) Os diretórios municipais terão o cuidado de não exigir
obrigações rígidas e invariáveis aos núcleos. Assim, somente serão
exigidos livros de atas, de inscrição, de presença e Caixa, em deter-
minados casos de capacidade do núcleo.
8) Ao presidente do núcleo incumbe, especialmente, a ligação
com o respectivo Diretório e a presidência das Assembléias do Núcleo,
as quais se devem reunir, no mínimo, mensalmente.
h) Ao secretário do núcleo, auxiliado pelos delegados de pro-
paganda (distribuição de literatura, folhetos, impressos e transmissão
de explicações doutrinárias ou instruções aos membros do núcleo)
e de organização (inscrição de novos aderentes, organização de sub-
núcleos, no caso de se tratar de núcleos de caráter estadual ou
nacional, cuidados com a sede, preparo material de reuniões, confe-
rências e assembléias do núcleo), compete, especialmente, a agitação
dos princípios por que se bate a ANL, a anotação das aspirações e
reivindicações populares dos seus membros e fazer o respectivo rela-
tório, verbal ou escrito (atas) das assembléias do núcleo.
i) Ao tesoureiro compete o recebimento das mensalidades,
auxílios ou coletas dos membros do núcleo; o pagamento ao tesou-
reiro do respectivo Diretório da quota fixa ou da percentagem sobre
a receita do núcleo, conforme o combinado no registro do núcleo.
Nesse trabalho o tesoureiro será fiscalizado pelo Presidente e Secre-
tário do núcleo.
]) Os núcleos assim constituídos são a base da organização
da ANL, e todos os problemas consegiientes do manifesto-programa
da ANL, das resoluções dos seus congressos nacionais ou estaduais
ou municipais e das aspirações e reivindicações populares dos seus
membros deverão ser discutidos e estudados ampla e popularmente,
com o maior espírito de solidariedade, em suas respectivas assembléias.

(Documento, Arquivo Getúlio Vargas, C.P.D.O.C.).

e) COMO OS TRABALHADORES DO BRASIL RESOLVERÃO A CRISE


(MARÇO DE 1935)

Em artigo precedente esclarecemos como Getúlio tentou "resolver"


a crise, à custa do esfomeamento de todo o povo do Brasil, de seu
massacre e da opressão a mais feroz.

182
BR DFANBSE Va.GnNC.EEE 390 ]! L (: L40
Para enganar o povo, fechar-lhe os olhos, o Governo e seus
jornais pintam uma situação cor-de-rosa. O algodão vai "salvar-nos",
os japoneses nos mandarão cem milhões de dólares, os americanos
80 milhões, é o que dizem eles. Dólares e mais dólares, para as
barrigas dos magnatas; mas quem os vai pagar? Este proletariado
andrajoso e faminto, a massa camponesa pauperizada e oprimida pelos
senhores feudais, a pequena burguesia das cidades e dos campos
aperreada de impostos e fretes, todo o povo trabalhador do Brasil.
Em outros anos atrás vieram empréstimos para o Brasil, quem
os comeu? Os mesmos magnatas. Os mesmos senhores dos governos,
das indústrias e das terras. Quem os pagou? O povo escravo e
faminto do Brasil.
Todas as pinturas cor-de-rosa não iludem a fome, as barrigas
vazias dos milhões de trabalhadores das cidades e dos campos.
A miséria nos campos mais favorecidos é cada vez mais negra.
Na zona sul da Bahia, onde não há seca, onde há boas terras e matas
densas, um roceiro vende uma arroba de 15 quilos de batatas por
400 e 500 réis e compra uma caixa de fósforos pelo mesmo preço.
Vivem nus, sem ter o que comer, vendendo os produtos da terra por
preços miseráveis; e como não acham preços, vendem produtos de
meses de labor por qualquer coisa de que precisem ou trocam por
mercadorias a preços exorbitantes. Isto nas zonas mais favorecidas,
e o que não será no Nordeste, no Amazonas, e nas zonas mais pobres?
Mas o cinismo feroz dos Getúlio-Góes-Rão e canalhas não tem
limites. Esfomeiam o povo, vendem o Brasil aos imperialistas e
assentam metralhadoras, gases e canhões contra a população do Brasil
que pede um pouco de farinha, carne-seca e rapadura.
Somos um povo de escravos e oprimidos, uma colônia de párias
humilhados e escorraçados a tiros e chicotes, sem terras num país
de território imenso, sem pão num dos mais ricos pedaços do
mundo,
Os nossos irmãos índios são cinicamente tocados a chicote das
terras e plantações onde habitavam há milhares de anos, e peram-
bulam pedindo esmolas, pelas ruas do Rio de Janeiro e outras cidades
do Brasil.
E por quê? Porque esses infames "patriotas" tipo Getúlio-Góes-
-Flores da Cunha-Rão e canalhas, com o seboso Sebastião Leme à
frente, vendem o nosso Brasil em leilão aos imperialistas japoneses,
venderam as terras dos irmãos índios, e patrões japoneses chegaram
lá apoiados inconscientemente por soldados da polícia e do exército
"patriotas", dando vinte e quatro horas para os nossos pobres irmãos
índios saírem pelo mundo afora.
Camaradas camponeses, camaradas índios, camaradas negros,
trabalhadores dos campos do Brasil - que jeito dar em nossa vida
de tanta miséria? /
183
BR DFANBSB V3.GNC.EEE, 320LL4OS 000 bs (LM |
Chorar, implorar, pedir, mendigar, a esses bandidos do Governo,
traidores da pátria e de todos nós? Não, jamais! Ainda somos
gente, ainda somos um povo capaz de lutar, de se libertar e de se
governar a si mesmo.
Pegar em armas, lutar de armas nas mãos, desde já, defender,
palmo a palmo, as nossas terras, sítios e roças, casas e plantações,
mulheres e filhinhos.
Pegar em armas, desde já, não há outra solução. Ou morrer
lutando, ou ser escravo, mendigo, morrer de fome lenta, roído pelas
doenças ou assassinado por esses bandidos. É nossa situação há
dezenas de anos, mas agora ela se torna insuportável, nós desper-
tamos, sentimos a luta de perto, precisamos lutar e iremos à luta
pela nossa libertação contra a escravidão e a opressão.
Em todos os Estados do Brasil há camponeses, trabalhadores,
vaqueiros, peões, índios, negros, mestiços e brancos nas fazendas e
usinas que querem pegar em armas. Em todos os Estados do Brasil
somos expulsos de nossas terras, sítios e roças. Nosso território é
imenso e dentro dele, a exemplo de Canudos, Contestado, Juazeiro
de Padre Cícero, Princesa e milhares de outros lugares, a exemplo
da gloriosa Coluna Prestes, saberemos lutar muito bem, nos defender
e avançar. Multiplicaremos as guerrilhas, arrastaremos milhares de
irmãos conosco que vivem na mesma situação que nós, conquistaremos
as simpatias de todo o povo do Brasil para nossa luta. Nunca per-
mitiremos o saque contra nossos irmãos trabalhadores e camponeses,
nem o banditismo contra as nossas famílias e as nossas filhas. Toma-
remos as terras para nossos irmãos trabalharem; garantiremos as
terras de todos os camponeses e de nossos irmãos Índios; localiza-
remos os nossos irmãos flagelados das secas em zonas salubres e
produtivas, escolhidas por eles e os garantiremos, acabaremos com
os foros, os arrendamentos, a exploração feudal dos senhores de
terra e a opressão em todo o campo do Brasil. Registro, batizado,
casamento, enterro etc., tudo isto será grátis. Poremos muita gente
que sabe ler, lá nos sertões, para ensinar às turmas e mais turmas
de gente que não sabe ler.
Estas lutas e guerrilhas multiplicadas em todo o Brasil em
dezenas e dezenas, o governo não vai dar conta. Ele não dá conta
hoje dos nossos irmãos camponeses que se revoltam - os cangaceiros
- a quem chamam de bandidos, nem lhes cortando as cabeças, e
nós arrastaremos conosco os cangaceiros, lhes ensinaremos a lutar
melhor e a não praticar certos atos de revolta que dão armas ao
Governo para envenenar a população contra os cangaceiros. O Go-
verno terá que afrouxar, baterá em retirada diante de nossas guerrilhas
multiplicadas em todo o Brasil, e nós, nos reuniremos em zonas
seguras, tomaremos cidades e mais cidades, e com o povo dessas
184
BR DFANSSB 820 LL 4090000 L :(,“an
cidades, vilas e aldeias, formaremos nossos governos de municípios,
os nossos Conselhos (Soviets), eleitos por todos os camponeses, índios,
negros, mestiços e brancos, todos os trabalhadores, saibam ou não
ler.
O Exército e a Marinha do Brasil, formados por nossos irmãos,
nossos filhos, parentes e companheiros, fraternizarão conosco. Nos
darão armas e munições, não serão os algozes do povo do Brasil
em defesa dos imperialistas estrangeiros e dos senhores de terra.
Se soldados e marinheiros nos traírem, traírem o Brasil, atirarem
contra nós, nós ainda apelaremos para eles, os que teimarem nesse
gesto infame serão odiados, repudiados como traidores.
Os destacamentos de polícia do interior que, como os das
capitais também passam fome, tem vida difícil e trabalhosa, cujos
soldados são filhos em maioria de operários camponeses, nossos
filhos e irmãos muitas vezes, vão vir conosco, nos darão armas e
munições, lutarão a nosso lado.
Muita gente vai marchar conosco porque vê a nossa escravidão
e nossa miséria e não está de acordo com isso, acha a nossa luta justa.
Nas cidades, o operariado, já em luta travada em greves e mais
greves combativas contra seus ou nossos exploradores, vai intensi-
ficar a sua luta, e nós todos vamos nos aliar, nos fraternizar, nos dar
as mãos. Os intelectuais e a pequena burguesia, também cada vez
mais pauperizados vão compreender que para salvar o Brasil só
abrindo desde já esta luta decisiva contra os senhores de terra,
feudais e burgueses, e contra os banqueiros imperialistas estrangeiros,
e expulsando toda essa gente, tomando suas empresas e terras para
nós, não lhes pagando mais nenhum vintém dos empréstimos que não
comemos, não deixando sair mais um vintém dos lucros das empresas
imperialistas que são nossos, só assim, o povo do Brasil, nos juntando
todos das cidades e dos campos, formando o nosso Governo, só assim,
é que salvaremos a nós, nossos filhos, todo o Brasil, de tanta miséria,
da crise e da catástrofe que nos ameaça.
Na frente de toda esta luta está o nosso Partido - o partido
do proletariado, o Partido Comunista do Brasil - que nos guiará,
nos ajudará, lutará com todas as suas forças, que estendam por
todo o Brasil, em todos os Estados, em cidades e nos campos. Mobi-
lizará o proletariado e a todos nós e nos levará ao triunfo de nossa
luta.
Precisamos lutar! Precisamos começar a luta desde já. Iremos
à luta todos juntos, e a vitória será nossa e não dos "galinhas verdes",
dos integralistas que nos ameaçam com um regime de ferro como
instrumentos que são dos senhores de terra,
Foi este o caminho seguido pelos trabalhadores da Rússia So-
viética hoje livre, é este o caminho que segue a China Soviética

185
eroranass va.cnc.ese, 820 U p:L43

que se liberta, é este o nosso caminho, o caminho do Brasil sem


escravidão feudal e imperialista, o caminho do Brasil resgatado da
opressão e da miséria, o caminho do Brasil grande, unido e forte, o
caminho das Repúblicas Soviéticas do Brasil.
Miranda.
(A Classe Operária, 11.03.1935).

d) A INSURREIÇÃO NACIONAL-LIBERTADORA NO BRASIL (1935)

As guarnições das capitais dos Estados do Rio Grande do Norte


e de Pernambuco, em Natal e no Recife, sublevaram-se, apoiadas
por grandes massas populares, sobretudo pela maioria do proletariado.
Enquanto os revolucionários de Natal conseguiam, após uma luta de
vinte horas contra a polícia militar, apoderar-se da capital e de
numerosas cidades do Estado, e instaurar o primeiro governo popular
revolucionário (que pôde, de resto, manter-se apenas quatro dias),
não houve sucesso total no da Bahia. Mas, após a ocupação da
vila militar e dos principais bairros operários, os revolucionários
dispunham de uma situação estratégica favorável junto à estrada de
ferro que conduz ao interior do Estado. Esta situação, aliás, permite, .
mais tarde, o acesso ao interior do Estado e o transporte de todas as
armas e munições.
O mesmo ocorreu em relação às forças no Rio Grande do Norte,
depois que o governo nacional revolucionário foi derrubado pelas
forças mais poderosas do governo federal e do governo da Bahia.
As primeiras comunas nacionais-revolucionárias organizadas e arma-
das, compostas de soldados e operários, desfraldaram a bandeira
da sublevação nacional-revolucionária no grande e longínquo sertão.
Elas reúnem os camponeses e trabalhadores agrícolas à volta da
bandeira de Luís Carlos Prestes e da Aliança Nacional Libertadora.
O primeiro governo popular nacional revolucionário do Brasil caiu,
mas a revolução nacional empenhou-se na luta e saiu das primeiras
batalhas com grandes resultados positivos.
Toda a reação do Brasil, da América do Sul e dos países capi-
talistas fala de "um grande complô" de comunistas e de Luís Carlos
Prestes, que, com base nas resoluções do VII Congresso Mundial
da Internacional Comunista queriam realizar a revolução nacional
em todo o Brasil.
Quais são os fatos? No norte, no nordeste do Brasil, iniciava-se
em outubro, uma grande onda de greves que revestia, nos diversos
Estados, o caráter de greves gerais. Os ferroviários da Great Western
obtinham um aumento de salário de 30% no momento em que sua

186
BR bFanBSa 829 l “OSC/bºw 1 (P: L44 .
luta adquiria, cada vez mais, um caráter insurrecional. Foi igual-
mente esta luta que forneceu o impulso decisivo para a insurreição.
Os soldados receberam ordens de atirar numa demonstração de
trabalhadores. Recusaram-se unanimemente a executar essa ordem e
fraternizaram-se com os trabalhadores. Na luta contra os oficiais
reacionários, os soldados entraram, com os grevistas e suas famílias
nas casernas onde se deu a confraternização e onde foi selada uma
estreita aliança. Os governos reacionários de Natal. e do Recife,
pretendiam então, proceder ao desarmamento, o licenciamento e à
remoção das tropas revolucionárias. É então que os soldados e as
massas populares usaram do recurso à insurreição, que era dirigida
pela Aliança de Libertação Nacional e em cujas fileiras os comunistas
combatiam lado a lado com os não comunistas.
Durante os últimos meses houve ainda três greves gerais de
protesto no Espírito Santo, Bahia e Recife, dirigidas contra a reali-
zação de Congressos Integralistas nessas localidades.
Em quatro cidades do norte e do nordeste manifestava-se o início
de um grande movimento de camponeses. As contradições das classes
dominantes revestiam formas cada vez mais agudas. Nessas circuns-
tâncias as condições de uma revolução nacional e de uma insurreição
amadureciam mais depressa no norte e no nordeste do que no centro
e no sul do Brasil.
A base decisiva, influenciando o desenvolvimento revolucionário
em todo o país, não podia vir rapidamente, nesse momento, senão do
Rio de Janeiro. Após um exame aprofundado da situação, a direção
nacional revolucionária chegou à conclusão de desencadear a suble-
vação popular geral, começando pela insurreição nas casernas do
Rio de Janeiro. As forças revolucionárias estavam ali, armadas e
fortes e, com uma luta prolongada, era certa a intervenção ativa e
organizada do proletariado do Rio de Janeiro (tanto da Capital como
do Estado). Juntamente com os chefes trabalhadores, os oficiais e
soldados revolucionários examinaram a situação e a resolução insur-
recional foi tomada por absoluta unanimidade. Por uma operação
arriscada, esperavam tomar a iniciativa na luta e poder, em seguida,
desdobrar suas forças gigantescas. Em caso de vitória ou de luta
com perspectiva de vitória no Rio de Janeiro, os outros centros de
forças do movimento libertador-nacional interviriam ativamente.
É verdade que havia então uma superestimação das forças na-
cionais revolucionárias e uma subestimação das forças ainda existentes
do adversário, na capital do país.
As tropas revolucionárias insurretas do 3.o Regimento de Infan-
taria e da Escola de Aviação foram vencidas pelas forças superiores
em número, após um combate de 7 a 9 horas. A despeito dos esforços
heróicos dos oficiais e soldados revolucionários, não foi possível
chamar, à luta armada, outros contingentes decisivos (artilharia moto-
187
BR DranBsa va.cnc.ece. B20LL4OS ;p: 4a

rizada etc.). Desde as primeiras horas da manhã de 27 de novembro,


estava claro à direção revolucionária que a sublevação não teria
nenhum sucesso, mesmo que houvesse intervenção das brigadas de
choque dos trabalhadores. Não restava senão a rendição ao inimigo,
pois, nas condições particulares do Rio de Janeiro não havia possi-
bilidade de fuga para o interior do país. O governo prendeu 2.500
soldados e 50 oficiais (de tenentes até coronéis). Mas não ousou
proceder a execuções. Diante das aclamações dos detentos e das
massas populares favoráveis ao governo popular de Prestes, os sol-
dados prisioneiros foram transportados para ilhas próximas do Rio
de Janeiro. Milhares de trabalhadores, pequeno-burgueses, homens e
mulheres estavam nas ruas acompanhando os heróicos combatentes,
distribuindo-lhes alimentos, roupas e cigarros.
Desenvolve-se um grande movimento popular a favor da libertação
dos prisioneiros.
No Nordeste, a vingança dos governadores feudais, após a reti-
rada das forças revolucionárias armadas, dirigiu-se, sobretudo, contra
os operários. Nos dois únicos Estados insurretos, 1.500 trabalhadores
e intelectuais foram presos.
Os generais vencedores tiveram uma conferência, cogitaram da
imposição da pena capital aos revolucionários, Mas a simpatia das
grandes massas é tão grande, que já alguns dias após a conferência,
o Ministro da Guerra foi obrigado a declarar que a conferência dos
generais havia exigido, não a pena capital, mas uma condenação
rápida dos dirigentes, nos quadros da lei de segurança existente, que
prevê as penas de 6 a 10 anos. A corja fascista do Estado-Maior
não chega a impor suas concepções.
Mediante pressão sobre o Parlamento o governo tenta impor
agravantes da lei de segurança, mas se vê a braços com grandes
dificuldades.
Ninguém acredita na manutenção desse governo. Há poucas
semanas ainda, o Parlamento federal (sob iniciativa dos chefes do
movimento nacional libertador) adotava, por 80 votos contra 73,
uma moção exigindo do governo, a dissolução da organização dos
integralistas. Convém lembrar que o governo Vargas, que se aproxima
cada vez mais dos fascistas, não pensa, absolutamente, na dissolução.
O governo não conseguirá apresentar como "obra de Moscou",
como revolução comunista, a luta de libertação nacional revolucionária
do povo brasileiro. E a grande massa do povo sabe também que os
comunistas são os combatentes mais ativos no movimento de liber-
tação nacional-revolucionária; no amado chefe do movimento, Luís
Carlos Prestes, ela vê uma garantia de que a revolução nacional no
Brasil seguirá um caminho diferente das "insurreições" e "revoluções"
passadas.

188
BR DFANBSE Va.GNC.EEE, S20LL40 500001 144 446

Conduzido pelo amor ao povo brasileiro, rodeado -de uma falange


sólida, forjada no fogo da luta, de milhares de soldados, sargentos
e oficiais, reconhecido como um chefe que, graças à ação revolucio-
nária das massas populares e dos soldados, realizará a palavra de
ordem lançada por ele próprio: "Todo o poder para a Aliança de
Libertação Nacional", Prestes é hoje, mais do que nunca, o grande
chefe popular revolucionário do Brasil.
O governo projetava já há alguns meses o licenciamento de
milhares de sargentos, de centenas de oficiais revolucionários, ao
mesmo tempo que o reforço da polícia e da polícia militar e a pene-
tração de elementos fascistas nessas tropas. Mas não conseguirá
impedir as ligações dos oficiais e sargentos revolucionários com as
forças armadas e com a marinha brasileira, que possuem grande
tradição revolucionária. A base da armada continua a mesma: cam-
poneses pobres e operários entre os quais a efervescência revolucionária
aumenta incessantemente e os métodos de luta revolucionária encon-
tram uma extensão cada vez maior.
Grandes organizações nacionais revolucionárias e um sólido
Estado-Maior nacional da revolução, constituíram-se sob a direção
de Luís Carlos Prestes. Nos combates do Norte e do Nordeste, e
também do Rio de Janeiro, os operários, camponeses, pequeno-
-burgueses, soldados e oficiais lutaram lado a lado. É preciso cons-
tatar que os oficiais nacionais revolucionários, mesmo não comunistas,
lutaram com a maior energia, sem hesitações, colocando tudo na
balança; que após a derrota no Rio de Janeiro, eles se mantiveram
ativos diante do inimigo, reivindicando sua plena responsabilidade.
Manifestou-se claramente em suas fileiras a vontade de defender,
mesmo como prisioneiros, a idéia da libertação nacional do Brasil
e de um governo nacional-revolucionário de Prestes. O povo logo
libertará esses heróis.
Uma onda de novas lutas operárias se anuncia. Os camponeses
se organizam. O descontentamento e o desejo de luta aumentam até
nas fileiras dos fazendeiros médios. Formam-se grupos de partidários
armados. Três colunas de forças revolucionárias armadas -- que já
se compõem de alguns milhares de homens - levam a revolução
ao interior do Norte e do Nordeste. Em grandes partes do país as
forças revolucionárias estão intactas no seio da armada; nas regiões
insurretas elas serão reconstituídas. A organização ilegal do Partido
Comunista não foi afetada profundamente, embora as perdas sejam
grandes em Natal e no Recife. É agora, na realidade, que será formado
um grande front popular, mesmo que não haja participação de alguns
elementos. Utilizando todas as experiências das grandes lutas revo-
lucionárias, a revolução nacional do Brasil. continuará seu caminho:
melhor preparada, mais segura, vitoriosa.
(La Correspondance Internationale, 1935).

189
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 2GM0LL40 Sam col ; P 47

e) A ANL: SEU DEBATE NO VII CONGRESSO DA INTERNACIONAL


COMUNISTA (DEZEMBRO DE 1935)

Camarada Lacerda (Brasil) - No Brasil, hoje, a poderosa frente


popular antiimperialista que se formou ocupa o lugar central. Cami-
nha num ritmo acelerado, com ações de massas decisivas, à conquista
do poder, pela instauração de um governo nacional revolucionário.
Desde agosto e setembro de 1934 demos os primeiros passos,
ainda indecisos e pouco firmes, para a formação da frente popular
única e antiimperialista. Enfim, depois da 3.a Conferência dos
Partidos Comunistas dos países da América Latina, em outubro
último, operamos uma reviravolta resoluta tomando a iniciativa da
organização de uma Aliança de libertação nacional.
A Aliança de libertação nacional, no Brasil é o que era o Kuo-
mintang da China em 1925, isto é, uma coalizão de várias classes
representadas pelas suas Organizações respectivas e agrupadas em
uma frente unida contra o imperialismo, o latifúndio e o fascismo.
A diferença é que no Kuomintang chinês, em 1925, uma das prin-
cipais forças da frente nacional era a burguesia nacional, enquanto
que a iniciativa da criação da Aliança de libertação nacional cabe
ao movimento operário.
Por essa razão, a Aliança de libertação: nacional enraizou-se
solidamente nas massas. Seu prestígio cresceu enormemente, ainda
mais que, junto ao nome de seus criadores e dirigentes encontra-se
o do nosso camarada Luís Carlos Prestes, considerado como um dos
primeiros e melhores militantes antiimperialistas de toda a América
Latina.
A ANL organiza as mais magníficas manifestações e encontros
de massa, onde não deixam jamais de participar menos de 3.000 a
5.000 pessoas. Frequentemente o número dos participantes alcança
30.000, sobretudo no Rio de Janeiro, São Paulo, nos estados do
Norte, assim como em Petrópolis, Rio Grande do Sul, Minas Gerais,
onde se concentra a influência do "integralismo" fascista,
A frente popular antiimperialista absorveu o partido dito "tra-
balhista" afiliado à 2.a Internacional Social-Democrata, que lembra
o "Labor-Party" inglês. A frente antiimperialista provocou a decom-
posição da Liga trotskista. Contribuiu para a entrada, nas
fileiras
do movimento operário revolucionário e do partido comunista,
dos
melhores chefes sindicais e de quase 1.000 operários do
partido
socialista de São Paulo.
Graças à frente nacional pudemos organizar, em maio deste
ano, um Congresso de unidade sindical que teve uma importância
enorme na influência proletária sobre a frente nacional e na conso-
lidação orgânica do partido entre as massas operárias. Esse Con
gresso, reunindo perto de 300 sindicatos e 7 Federações, represen-

190
pla 8
BRDFanasa vs.onciecel B 20 LL4oS 0,

tando quase 500.000 operários organizados de todo o país, levantou,


apesar de suas fraquezas e de nossos erros, a questão da luta comum
por reivindicações essenciais das massas operárias, assim como a da
união desta luta com as lutas da frente nacional. O Congresso de
unidade sindical desviou do Ministério do Trabalho suas principais
forças como, por exemplo, a Federação dos Marítimos que conta
com mais de 200.000 membros, portuários e marinheiros; a Federação
Nacional dos Ferroviários, agrupando mais de 10.000 membros etc.
A nova Central Sindical Unitária do Brasil, onde nossa influência
está em crescimento, lidera numerosas greves de protesto contra a
reação e luta por reivindicações de massas de acordo com a ANL.
Esta frente nacional contribuiu da maneira mais efetiva para a
decomposição e desmoralização da principal base da reação, das
organizações fascistas-integralistas cuja base de massa devia sua exis-
tência à demagogia antiimperialista e anticapitalista a mais desaver-
gonhada. Os operários, e mesmo a pequena burguesia e os artesãos,
principal base da massa do integralismo passam para as fileiras da
ANL verificando que o fascismo é incapaz de satisfazer as reivin-
dicações da juventude brasileira e de criar uma pátria livre da escra-
vidão imperialista e dos magnatas brasileiros.
A ANL não se limita mais à agitação e à propaganda, mas
passa a ações concretas de massa. Com a direção de nossos sindicatos
ela está à frente da greve geral de protesto contra a repressão san-
grenta, antipopular, desencadeada pela polícia e os integralistas em
Petrópolis. Mais de 16.000 operários têxteis, intelectuais, pequenos
comerciantes, padeiros e ferroviários tomaram parte nesta greve. Em
São Paulo, mais de 20 organizações sindicais e agrupamentos da
pequena burguesia, compreendido aí o P.S., participaram numa ma-
nifestação grandiosa contra os integralistas. Estes se propunham
organizar uma parada de 10.000 membros de sua organização, mas
se abstiveram, temendo a greve geral que poderia ter sido organizada
pela frente antifascista. Marinheiros e ferroviários manifestaram-se
sob as palavras de ordem: "Abaixo o plano financeiro do Imperia-
lismo!" e "Pela nacionalização de toda frota mercante do Brasil!",
palavras de ordem lançadas pela Federação dos Marítimos (que uniu
em suas fileiras milhares de marinheiros organizados). A ANL tomou
parte igualmente nas manifestações dos camponeses de Minas Gerais
contra sua expulsão pelos proprietários fundiários integralistas. Ela
participou em campanhas organizadas em todo o país a favor de mais
de 20.000 empregados de bancos que reclamavam salário mínimo. Ela
dirige uma campanha a favor dessa reivindicação para toda a massa
dos assalariados do país. Ela organiza no Rio e em Recife mani-
festações para a emancipação da raça negra. Ela luta pela defesa
do povo contra os impostos e a vida cara. Enfim, diante dos rumores

191
sr oranass 820 gn ool ;. 14

relativos à preparação, pelo governo, de um golpe de Estadoditatorial,


a ANL convocou as massas para desencadear a greve geral.
Nosso partido tomou a iniciativa de organização da frente po-
pular. Nós não compreendemos a importância da etapa da frente
nacional, unida para conduzir as massas à revolução e para abordar
as massas populares, aproximar-se mais facilmente dos camponeses,
consolidar nosso partido e conquistar, enfim, sobre a base da expe-
riência das próprias massas, a hegemonia na revolução.
Lançamos, como palavras de ordem, nossas palavras de ordem
de propaganda da luta pela revolução operária e camponesa, por
um governo soviético, num momento onde as massas do povo não
compreendiam ainda tais palavras de ordem, e se uniam aos milhões
ao redor da ANL.
Entretanto, com base na experiência adquirida na atividade
prática quotidiana corrigimos em tempo esses erros. A Assembléia
Plena do C.C. de nosso partido que se reuniu em maio deste ano,
deu maior nitidez ainda às nossas posições, e vemos hoje nossa linha
melhorar. Já lançamos ousadamente a palavra de ordem: "Todo
poder à Aliança de libertação nacional".
"Pela Aliança de libertação nacional ou pelo governo de Vargas,
traidor do povo e da independência nacional. Não há um terceiro
caminho, meio termo", diz Prestes no seu apelo.
O partido aprende a utilizar as contradições no campo dos
nossos inimigos. É o que mostra, em primeiro lugar, o apelo do
camarada Prestes às massas católicas e ao clero pobre, que não
quer se deixar guiar pelo alto clero, este aliado do Imperialismo e
dos feudais, estes inimigos do povo e da libertação do país. É o que
mostra igualmente o fato de levantarmos de maneira diferente a questão
da atitude a tomar em relação aos diversos grupos de capitalistas
estrangeiros e de proprietários fundiários do país. Estimamos que a
nacionalização deve ser aplicada em primeiro lugar, no momento atual,
às empresas e terras de imperialistas, "que não se submeterão às leis
do governo revolucionário do povo, às dos proprietários fundiários
e dos elementos os mais reacionários da Igreja que poderiam lutar
contra a libertação do Brasil e do povo".
Em primeiro lugar coloca-se diante de nós a tarefa de fazer
progredir a luta das massas do povo, de alargar ainda a frente popular
e de conquistar, no curso da luta, a hegemonia na revolução.
Devemos reforçar a preparação e a organização de greves de
massa por reivindicações econômicas essenciais (salário mínimo, se-
guros sociais etc.), a luta das massas populares por liberdades demo-
cráticas e contra a reação etc.
Uma segunda tarefa importante para a ampliação e a conso-
lidação da frente nacional está estreitamente ligada, em primeiro lugar,
à atração das mais amplas massas camponesas nessas lutas.

192
BR DFaNBSB Ve.cncleee, C2 OLL4OS5 a 001 ; p. 200

Sem elas não podemos realizar no Brasil uma revolução nacional


de grande envergadura. Ainda menos poderíamos conduzi-la ao nível
da revolução agrária e chegar através dela à etapa socialista. Nesse
domínio, o trabalho prático do Partido apresentava várias falhas.
Fizemos pouco, de uma maneira concreta, para a implantação
do partido no campo.
Deste modo tememos ver o movimento camponês retardar-se
sobre o movimento nacional das cidades, o que retárdará por um
certo tempo o desencadear da revolução.
Uma autocrítica bolchevique permitiu ao nosso partido a supe-
ração parcial dessa fraqueza. Hoje temos sólidas organizações cam-
ponesas no nordeste do país e, com base nas grandes lutas antifeudais
dirigidas por nosso partido, comitês camponeses têm aderido à ANL
nos Estados do Rio e de São Paulo.
Apoiando-se nos governos do Rio Grande do Sul, da Bahia,
de São Paulo, de Minas e do Rio, Vargas prepara contra nós um
"golpe de Estado branco".
Ele nomeou chefe do Estado-Maior do Exército um general
conhecido pelas atrocidades que cometeu contra as massas populares,
integralista declarado. Ele assinou um pacto contra-revolucionário
com o presidente da Argentina. Endereça apelos a nossos inimigos,
convidando-os a organizar a "União sagrada" contra nós. A Igreja,
com os integralistas, coloca-se a seu lado, organizando as "forças
do bem e de Deus" contra as "forças do mal e do Diabo".
Segundo as últimas informações recebidas, o governo desencadeou
a ofensiva. No Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Rio Grande,
São Paulo, as reuniões da ANL foram interditadas, Perseguições
são efetivadas nesses locais, assim como intervenções da polícia nos
sindicatos. As reuniões do Congresso dos jovens são proibidas. Os
Operários, estudantes e aderentes das frentes populares que se en-
contram nesses locais no momento da distribuição dos panfletos da
ANL ou do Partido, são presos e espancados. No dia 14 de julho,
enfim, o governo declarou a ANL ilegal. A polícia operou invasões,
saqueou e fechou suas dependências em todo o país.
As massas, porém, preparam-se para a contra-ofensiva. Protestos
contra essas medidas bárbaras do governo chegam de todos os pontos
do país. A ANL e o P.C. convocam greves de protesto. A Federação
de ferroviários anuncia que contra o golpe de estado do terror
branco, responderá pela greve geral. Milhares de pessoas assistem
as reuniões onde tomam da palavra os oradores da Aliança, a despeito
das interdições e das ameaças da polícia.
Em São Paulo, mais de 2.000 operários e aderentes da Frente
Nacional manifestam-se contra as atrocidades policiais e afrontam
heroicamente o gás lacrimogênio e as balas da polícia. No Norte as

193
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, S20LL4O Sanoob ip. 20!

massas populares do Maranhão ignoram o decreto do governo e


defendem a existência legal da ANL. Tudo isso indica que batalhas
muito importantes são travadas nesse momento no Brasil.
As massas do povo brasileiro, a frente nacional unida, o prole-
tariado revolucionário e seu partido, o Partido Comunista do Brasil
saberão desencadear a contra-ofensiva, a marchar apesar da repressão
desencadeada, para as lutas decisivas a favor do pão, da terra e da
liberdade, pelo poder da Aliança de libertação nacional.

(La Correspondance Internationale, n.o 115, Ano 15,


04 . 12 . 1935).

f) A ULTIMA INSURREIÇÃO BRASILEIRA E AS PROVOCAÇOES DO


GOVERNO DO BRASIL (1936)

Getúlio Vargas, chefe do governo reacionário do Brasil, continua


empregando todos os meios para se manter no poder contra a vontade
da maioria das massas e de todas as forças vivas do país, que O
repudiam como um traidor dos interesses do povo e da libertação
nacional.
Vargas não se limita unicamente a lançar as mais ignóbeis
acusações sobre a última insurreição heróica do povo brasileiro,
como também já se utilizou dos processos os mais bárbaros e os
mais miseráveis para preparar o massacre dos presos revoltosos.
Ao mesmo tempo que faz concessões demagógicas a uma certa
camada da burguesia nacional oposta à sua vergonhosa política de
traição, Vargas se oferece como um valete servil aos mais ferozes
opressores do Brasil e do povo brasileiro, aos inimigos reconhecidos
da paz mundial, do progresso e das liberdades de todos os povos.
Copia sinistramente os métodos e os procedimentos deste bando
mundial que se encontra à frente das agressões quotidianas contra
a trangiilidade dos povos, contra a liberdade das nações fracas,
contra a cultura popular, contra o progresso da sociedade humana.
Esse governo sinistro dirige um ataque furioso contra o país que
hoje representa o único baluarte da paz, da cultura, do progresso
e da liberdade: a União Soviética.
Vargas procura antes de tudo demonstrar que a insurreição
brasileira foi obra dos comunistas, dos "agentes de Moscou". Ele
apresenta seu governo como vítima de uma "intervenção estrangeira";
apela à "solidariedade" dos países da América Latina "contra essa
intervenção", e um dos ex-ministros das Relações Exteriores acaba
de qualificar o gesto do governo do Uruguai, que rompeu as relações
diplomáticas com a União Soviética, como "o começo das hostilidades
da América Latina contra o colosso moscovita".

194
ar pranssa ve.enc.ese, 42044 4OSa-00!, (. 202

Dessa maneira Vargas procura mascarar a verdadeira intervenção


estrangeira que ele próprio articula contra seu próprio país e contra
todos os povos da América Latina - a intervenção dos agressores
da Abissínia e da China, dos elementos fascistas e imperialistas mun-
diais -, sob o pretexto de uma união dos governos e dos povos
americanos contra a União Soviética.
É preciso começar no mundo inteiro uma vasta e decisiva cam-
panha contra esse carrasco de feição demagógica, que quer fazer do
Brasil o gendarme, na América, dos mais ferozes inimigos da paz e
da liberdade.
É preciso arrancar a máscara a esse traidor do povo e da nação
brasileira.

A insurreição brasileira não foi uma revolução comunista

Não há quem negue que a última insurreição brasileira foi


organizada e dirigida pela Aliança de libertação nacional (ANL).
A própria camarilha de Vargas o confessa; e o documento do governo
uruguaio ao embaixador soviético o confirma.
Não nos resta mais do que destruir a mentira cometida por
Vargas e seu bando, quando pretendem que a ANL seja uma orga-
nização comunista com o único fim de fazer da insurreição de
novembro uma insurreição comunista.
A ANL, desde sua formação em abril/maio de 1935, apresentou-
-se como uma organização de frente única, aberta a todos aqueles
que desejavam lutar pela verdadeira independência do Brasil, pela
liberdade e o progresso da pátria oprimida pelo imperialismo e pelo
feudalismo. O programa da ANL, assim como o manifesto de Luís
Carlos Prestes de 5 de julho, demonstram nitidamente esses objetivos:
libertar o país do jugo dos imperialistas que não respeitam a sobe-
rania e as liberdades do povo brasileiro, assim como dos métodos
bárbaros dos senhores feudais e dos governos, inimigos das liberdades
e do progresso do povo.
Eis a razão pela qual se agruparam ao redor da ANL pessoas
e organizações de todas as camadas sociais, de todas as classes, de
todas as cores e tendências políticas. Governadores de vários Estados,
compreendido aí o prefeito da capital da República, partidos da
burguesia nacional, assim como proprietários agrícolas nacionais re-
voltados contra as imposições dos monopólios e dos tratados comerciais
imperialistas que asfixiam a indústria e a agricultura do país, padres,
todos se uniram numa larga frente única com a ANL, mostrando a
mais franca e aberta simpatia por ela.
Uma grande parte das pessoas que, em 1930, apoiaram o bloco
da Aliança Liberal de Getúlio Vargas, enganados pelo programa
nacional-reformista e democrático desse bloco estão, hoje, revoltados

195
sr pransss ve.enc.eee, 82 O LL4O0S amool yo: 20)

contra a traição de seu chefe de 1930, o atual Presidente Vargas;


assim como uma parte dos elementos que, em 1932, sinceramente
lutaram contra Vargas, iludidos pelo programa democrático do bloco
político de São Paulo - todos esses honestos lutadores aderiram
com entusiasmo à ANL. É por essa razão que nos manifestos da
ANL diz-se com a maior clareza que esta representa a continuação
de todas essas lutas pela libertação e pela independência da pátria,
pela democracia no Brasil. As lutas da ANL, sobretudo a insurreição
de novembro, não são outra coisa que a continuação das lutas heróicas
das classes sociais brasileiras, verdadeiramente patriotas, pela inde-
pendência do Brasil do jugo do imperialismo, pelas liberdades demo-
cráticas. A insurreição de novembro não é senão um episódio heróico
e glorioso destas lutas e os heróis da insurreição de novembro são
os dignos sucessores de "Tiradentes" de 1789, dos heróis da revo-
lução "praieira" de Pernambuco de 1824, da guerra dos "Farrapos"
em 1835 no Sul, das lutas pela Independência em 1822, pela Repú-
blica em 1888-1889, das lutas da "Coluna Prestes" e do forte de
Copacabana em 1922-26.
Tal como nessas lutas anteriores pela pátria livre, por um povo
livre, encontram-se também na insurreição de novembro, ao ladc
do proletariado e dos camponeses, simples soldados e suboficiais,
burgueses, "fazendeiros", intelectuais, oficiais, assim como padres,
todos unidos numa ação comum contra o inimigo comum. É sufi-
ciente ler a lista dos mortos e feridos na insurreição, a lista dos
milhares de prisioneiros que se encontram agora nas prisões de
Vargas, para se convencer disto.
Entretanto, a camarilha de Vargas grita que a ANL é comunista,
que a insurreição de novembro foi comunista porque o partido comu-
nista apoiou a ANL e que os elementos desse mesmo partido parti-
ciparam na insurreição porque Luís Carlos Prestes, chefe da ANL,
é membro do Partido Comunista do Brasil.
É, entretanto, assombroso que nós, os comunistas do Brasil,
estejamos ativamente ligados aos movimentos antiimperialistas? Não!
Nós, comunistas do Brasil, estivemos e estaremos sempre a frente e
ao lado de todas as lutas para a independência do país do jugo
imperialista, pela liberdade e pelo progresso do povo brasileiro.
Somos o partido do proletariado, a vanguarda desse proletariado,
ele próprio, a principal vítima da opressão imperialista e da tirania
dos governos agentes dos imperialistas no Brasil. Somos também
uma parte do povo brasileiro, cidadãos brasileiros, amigos de nossa
pátria, de sua independência e de sua liberdade. Não negamos 0
sentimento nacional do povo brasileiro. Ao contrário, somos os su-
cessores mais consegiientes desses heróicos filhos do povo brasileiro
que levantaram mais alto a bandeira desse sentimento nacional contra
os inimigos do Brasil livre e progressista. Apoiamos e participamos

196
BRDFANBSS va.oncieeE, 1 0 4! 09 2% LOL“ p,104
das primeiras fileiras nos combates dirigidos pela ANL, compreen-
dendo aí a última insurreição, não para introduzir no país um regime
comunista ou os soviets, mas para somar nossas forças aos esforços
dos valentes lutadores democráticos e antiimperialistas do Brasil e
para podermos assim, juntos, libertarmos nossa grande pátria e nosso
glorioso povo do jugo humilhante e escravista do capital estrangeiro,
imperialista, e dos inimigos do livre progresso do nosso povo.
Não cooperamos, entretanto, nos complôs e deles jamais parti-
ciparemos. Nosso partido não é um partido de complôs ou de ter-
rorismo individual. Somos o partido do proletariado e a tomada do
poder far-se-á somente com o apoio da maioria absoluta povo
brasileiro e jamais por meio de complôs contra a vontadedo desse
mesmo povo.
Luís Carlos Prestes, hoje grande chefe do nosso partido, tornou-
-se o herói nacional do povo brasileiro, seu "cavaleiro da esperança"
desde 1922-26, quando soube melhor encarar e apreciar a coragem
indomável, toda a resistência obstinada, toda a vontade enérgica de
luta das massas populares de sua pátria contra o imperialismo e seus
agentes nacionais. Nesse tempo, ele ainda não era um comunista.
É enquanto "herói nacional" do povo brasileiro que foi acla-
mado presidente de honra da ANL e o principal guia da luta anti-
imperialista atual. (...)
(Fernando Lacerda, La Correspondance Internationale,
n.o 7, 1936).
3) As condições de um verdadeiro programa
democrático no Brasil (1937)
A vaga popular democrática ascende no Brasil, repercussão que
é da luta antifascista no mundo e particularmente da resistência e
das contra-ofensivas heróicas do povo espanhol. Ela cresce e já
provocou não somente declarações calorosas a favor da democracia,
da parte dos candidatos à futura presidência da República, mas
também mudanças bruscas na política do próprio Presidente Vargas.
Suavizou-se o estado de sítio, a censura, e prometeu-se aboli-los;
ao mesmo tempo foram restritos os poderes do tribunal fascista que
condenou Prestes e seus bravos companheiros. Por outro lado foram
postos em liberdade mais de 500 democratas presos por Vargas sem
nenhum processo, e transferiram Prestes e Ewert para prisões onde
o regime é mais suave. Todos esses fatos produziram-se graças à
pressão da vaga democrática popular e, por seu lado, impulsionaram-
-na. Começou a se formar uma frente popular democrática.
197
ar oranasa va.enc.eee. 32011406 eno oliva b

Não sabemos bem ainda quais as forças que compõem essa


frente democrática, nem qual é sua posição diante da situação política
que expusemos.
Entretanto, cremos que cada brasileiro, amigo e defensor da
democracia, em bloco ou em partido, deve verificar a posição de
todos os que proclamam seu amor pela mesma, sua atitude diante
de cada um dos quatro pontos essenciais da democracia no Brasil:
1.o) em relação às emendas e às leis antidemocráticas que foram
incluídas na Constituição; 2.o) em relação aos chefes integralistas,
os piores inimigos da democracia entre nós, e os agentes do fascismo
alemão e seus aliados; 3.o) em relação a Prestes e outros demo-
cratas e revolucionários condenados pelos agentes do fascismo; 4.o)
em relação à luta mundial pela democracia e pela paz.
Nenhum amigo sincero da democracia poderá permanecer mudo
diante desses quatro problemas e ter uma opinião contrária ao desejo
democrático de nosso povo.
Nosso povo deseja, em primeiro lugar, que a Constituição seja
desembaraçada de toda emenda, de toda lei antidemocrática, e que
se aplique ao Brasil a verdadeira liberdade de organização, de
im-
prensa, de reunião, de propaganda e de consciência. Nosso povo
quer, em seguida, que se defenda a democracia contra seus principais
inimigos - os chefes fascistas integralistas. Em terceiro lugar nosso
povo quer que se anistie Prestes e os outros democratas e revolucio-
nários condenados por um tribunal antidemocrático cujo presidente,
Barros Barreto, e O juiz Raul Camargo, são fascistas ligados ao
fascismo mussoliniano. (...)
Enfim, nosso povo, tradicionalmente amigo da democracia e
da paz, não poderia compreender "democratas" brasileiros que se
ligam ou tecem elogios aos fascistas alemães, italianos e japoneses,
invasores da Abissínia, da Espanha e da China, covardes assassinos
de crianças e mulheres de Guernica e de Almeria e outras cidades
espanholas, os piores inimigos da democracia e da paz, os fautores
sangrentos e selvagens da "guerra total"!
Tais são as condições essenciais de um verdadeiro programa
democrático atualmente no Brasil. Entretanto, nem Vargas sob
sua
nova máscara democrática, nem os dois candidatos, que se dizem
democráticos, às eleições de 1938 para a presidência da República,
nenhum deles tomou ainda uma posição clara em relação a essas
questões.
De seu lado, Vargas tomou atitudes inteiramente contrárias a
essas condições. Sob o pretexto de "repressão ao comunismo", ele
quer manter os julgamentos baseados em calúnias e falsos docu-
mentos de um tribunal antidemocrático e fascista. Ao mesmo tempo
que faz elogios e cumprimentos ao partido fascista e a seu candidato

198
BR DFANBSB Va.GnNC.EEE BO LL405,9.00 L.P- 2%
às eleições de 1938, Getúlio recebe os chefes fascistas brasileiros,
esses mesmos traidores nacionais que, em 1936, quiseram desencade ar
um golpe de Estado fascista, sustentado pelo cônsul italiano na Bahia.
Tal golpe seria facilitado pelas armas enviadas da Alemanha e da
Itália, trazidas por navios desses países fascistas,
casas comerciais alemãs e italianas e ao convento edosendereçad as a
Beneditin os,
quartéis-generais dos chefes fascistas brasileiros. Isto demonstra, que
Vargas não quer romper completamente suas ligações criminosas
com os piores inimigos da democracia e do Brasil, os agentes do
fascismo alemão e seus aliados.
É preciso exigir essa ruptura de Vargas. É preciso exigir também
de José Américo de Almeida * e Armando Salles,**
cretas, claras, face às quatro condições acima referidas.posições con-
Nenhum deles falou de anistia nem de sua posição
luta mundial contra o fascismo e a guerra e, em primeirofrente lugar,
à
face à luta gloriosa da Espanha democrática e
da paz mundial e contra os selvagens fascistas. republicana a favor
Armando Salles prometeu lutar contra o rigor das leis anti-
democráticas e o povo exige a abolição completa desses monstruosos
insultos à democracia brasileira!
José Américo aceita o apoio dos integralistas como o do deputado
Barreto Pinto, recém-chegado da Alemanha e que foi acusado no
Parlamento de estar "vendido à Alemanha". José Américo aceita o
apoio dos que se dizem nacionalistas, que querem retirar o petróleo,
o ferro, o níquel e o algodão das mãos dos trustes imperialistas anglo-
-americanos, para doá-los aos Piepemeyer, Krupp e a outros agentes
dos fautores fascistas da guerra e da destruição.
É preciso exigir de José Américo que rompa suas ligações com
esses inimigos do povo e da democracia, agentes dos piores inimigos
da humanidade.
Se um desses candidatos assegurar as garantias acima expostas
e seu verdadeiro amor pela democracia, o povo poderá apoiá-los.
* José Américo de Almeida - burguês nacional-reformista, ligado às
camadas da burguesia nacional - cujo desenvolvimento é freado pelos trustes
imperialistas anglo-americanos - por
do Brasil. Ministro das Comunicaçõesconseguinte, pela burguesia do Nordeste
presidente da República, em 1930-31, saiudurante o governo provisório do atual
desse governo por causa de medidas
que tomou contra os mesmos trustes, da eletricidade; daí sua grande popula-
ridade, particularmente no Nordeste do país,
** Armando de Salles Oliveira - burguês ligado aos plantadores de
algodão do Estado de São Paulo
do Sul, estes, por sua vez, ligados eaosao frigoríficos
partido dos criadores do Rio Grande
americanos. Salles, antiga-
mente unido aos trustes americanos de eletricidade,
presidência no governo do Estado de São Paulo (1933-35),realizou,uma
durante sua
política
mente em favor dos
e japonesa. Hoje hesitainteresses da Inglaterra, assim como da penetração franca-
alemã
entre o imperialismo americano e os outros imperialismos.
199
BR oransse va.oncesE, B20LL405 amoob.1o-2 07

Em caso contrário, as verdadeiras forças da democracia e da liber-


tação nacional no Brasil devem marchar em favor de uma plataforma
democrática comum e de um bloco único eleitoral com um único
candidato, para a defesa de uma verdadeira democracia no Brasil,
contra seus falsos amigos e seus principais inimigos: os chefes do
integralismo, agentes do fascismo alemão, italiano e japonês.
(Fernando Lacerda, La Correspondance Internationale,
n.o 36, 1937)

4) As vidas de Ghioldi, Prestes, Ewert e de suas mulheres


estão em perigo (1936)

Notícia alarmante nos vem do Brasil: Luís Carlos Prestes, o


herói popular cuja glória é lendária, deve comparecer proximamente
diante do Conselho de Guerra. Dessa maneira, o perigo que ameaça
a vida de Prestes torna-se iminente. Pois o Conselho de Guerra do
sangrento ditador Vargas, inimigo mortal de Prestes, será composto
de criaturas da clique burguesa-feudal no poder e que se apressarão
em servir a seus mestres e senhores, condenando Prestes, o mais
nobre filho do povo brasileiro, a menos que os protestos universais
impeçam, no último momento, a ação dos verdugos.
Não se trata aqui "de uma oposição pessoal" entre Vargas e
Prestes. Na luta pela vida de Prestes confrontam-se a reação medieval
e o progresso, a traição nacional e a libertação nacional, o imperia-
lismo e o antiimperialismo, a contra-revolução e a revolução.
a e dk

Apesar da rigorosa censura que a ditadura do Brasil implantou


desde o levantamento popular de novembro de 1935, e do estado
de sítio existente, notícias diretas chegaram a nosso país referentes
ao tratamento dado aos prisioneiros políticos e às possibilidades fu-
turas que os esperam.
Há que se notar que entre os presos figura o dirigente do
Partido Comunista argentino, o professor Rodolfo Ghioldi. Desde
o início de sua prisão começaram a circular rumores a respeito de
sevícias de que fora vítima por parte da polícia brasileira. Sabemos
agora, com certeza, que ele foi torturado. Sabemos que, por causa
desses maus tratamentos, R. Ghioldi só pôde se alimentar, durante
dois meses, unicamente com meio litro de leite por dia. Hoje ele
se encontra na "Casa de Detenção", "Pavilhão dos Primários", situado
na rua Frei Caneca, Rio de Janeiro. Sabemos que está muito fraco
e seriamente doente, que não recebe nenhum cuidado médico, e está

200
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, SAO LL MO
SamOg L ip: 208
reduzido há vários meses, a se alimentar com uma espécie de semo-
lina duas vezes por dia e com frutas que ele próprio deve comprar.
A mulher de R. Ghioldi, também argentina, Carmem
de Ghioldi foi igualmente maltratada. Prenderam-na durante 45Alfaya dias
no mais absoluto segredo. Ela mal se alimentava, pois a comida
oferecida estava frequentemente em estado de deterioração. A única
acusação que pesa sobre ela é a de ser a esposa de Ghioldi.
Maria Benegas, argentina da Província de Santiago Del Estero,
está presa desde 9 de julho deste ano. Ela foi igualmente torturada
sem piedade. Como todas as outras mulheres presas por razões polí-
ticas ela foi desnudada e espancada; durante mais de um mês ficou
detida na polícia central na companhia de prostitutas e dos ladrões
de direito comum, em locais imundos, dormindo sobre o solo e sem
cobertas, e sem outra alimentação a não ser café e um pão indigesto.
De Luís Carlos Prestes não se sabe nada há algum tempo. Parece
que está preso no Departamento Central da Polícia do Rio.
Rumores começam a circular tendendo a fazer crer que ele já
está morto.
A mulher de Prestes teria saído da prisão e à custa de maus
tratos fizeram-na abortar. Hoje existe a intenção de entregá-la a
Hitler.
Tem-se a intenção de embarcá-la no Graf Zeppelin,
duziria diretamente para a Alemanha, a fim de evitarquequalquer a con-
demonstração a seu favor nos portos escalonados pelos navios que
fazem o trajeto entre o Brasil e a Alemanha.
A mesma sorte espera o ex-deputado comunista do Reichstag
alemão, Ewert e sua mulher (a mulher de Prestes, Olga Benário, e
de Ewert, foram entregues à Alemanha e estão internadas em Berlim.
A redação.).
Os prisioneiros estão informados que deverão ser julgados por
tribunais especiais de caráter militar. Não se dispõe diante desses
tribunais de nenhuma defesa real. Os defensores são designados de
ofício; pode-se mesmo prescindir-se da defesa e do próprio acusado.
As únicas provas possíveis são as apresentadas
não são obrigados a se pronunciarem baseando-spela
e nas
polícia; os juízes
provas e na lei,
Sua própria convicção é suficiente: julgamento de consciência .
Se julgarmos por tudo que sabemos, numerosas condenações à
morte foram pronunciadas. Os que não foram
enviados aos campos de concentração. Fala-se de executados
lugares de
serão
isola-
mento, como a ilha de Fernando de Noronha
lândia, que fica próxima à Guiana Francesa. e a região de Cleve-
Tais confinamentos equivalem a uma condenação à
um prazo um pouco mais longo. O clima e as doenças morte dizimam
com
população; os que não morrem rapidamente são marcados pelo restoa
da vida. Lembramos que durante o governo de Bernardes, mais de
201
ar pranase B20LL40S an ool, p 204

300 prisioneiros políticos aí ficaram isolados. Somente 38 leprosos


voltaram; os outros prisioneiros morreram. Tal é a ameaça que pesa
sobre milhares de homens jogados nas prisões brasileiras, tal é a
sorte que espera em primeiro lugar o "Cavaleiro da Esperança" Luís
Carlos Prestes, Rodolfo Ghioldi e Ewert. A mesma sorte está reser-
vada às mulheres argentinas Carmem Alfaya de Ghioldi e Maria
Benegas.
No fundo dos seus calabouços os prisioneiros do Brasil lançam
apelo à solidariedade internacional, única garantia de justiça. Os
prisioneiros argentinos sabem que unicamente a opinião pública da
Argentina, a imprensa de nosso país pode salvá-los.
Se não quisermos nos tornar cúmplices desses processos bárbaros,
devemos denunciar em todos os lugares o que se passa no Brasil. É
um dever de Justiça, é uma obrigação da democracia, é uma questão
de consciência e de humanidade.
(La vie de Prestes est dans le plus grand danger:
Jesus Manzanelli, Buenos Aires; La vie de Ghioldi,
Prestes, Ewert et leurs femmes est en danger. La
Correspondance Internationale, n.os 24 e 49, 1936).

5) O perigo fascista e as eleições presidenciais


no Brasil (1937)

As eleições presidenciais no Brasil terão lugar a 3 de janeiro


de 1938. A luta é encarniçada, com três candidatos apresentando-se
diante dos eleitores: Armando Salles que se diz democrata; José
Américo, liberal e nacional-reformista, e Plínio Salgado, fascista. O
Partido Comunista do Brasil estabeleceu uma série de condições para
a eleição de um governo verdadeiramente democrático e antifascista,
e de luta para a união de todas as forças democráticas. Reforça-se
o movimento antifascista, mas o perigo fascista aumenta no Brasil.
Em abril de 1933, três meses após a subida de Hitler ao poder,
um grupo de 40 pessoas em uniforme, formado em sua maioria de
pequeno-burgueses reacionários, agentes do imperialismo, desfilaram
nas ruas de São Paulo. !
Financiaram esse pequeno grupo, capitalistas e banqueiros ale-
mães, além de outros, alguns semifeudais e burgueses brasileiros
estreitamente ligados ao imperialismo. Aproveitando-se dessa situação,
o referido grupo derramou uma série de "teorias" tiradas sobretudo
do arsenal de Hitler; desenvolveu uma larga demagogia contra o
capital financeiro inglês e americano cujas posições são predomi-
nantes no Brasil, mas nada disse sobre as posições imperialistas alemãs
e italianas; utilizou-se do descontentamento de largas camadas da
pequena burguesia urbana empobrecidas e exasperadas pela crise

202
BR DFANBSB Va.GNC.EEE. 22 O LL OS
am o0byp; 240

econômica, hostis ao imperialismo e desiludidas pela dita democracia


dominante no Brasil, na realidade ditadura de uma clique de semi-
feudais e de burgueses ligados ao imperialismo. O governo reacio-
nário de Vargas deu plena liberdade a esse pequeno grupo de
demagogos furiosos que empregaram os métodos hitlerianos de ban-
ditismo político, o terror, a astúcia, a calúnia e a chantagem, com
respeito a seus adversários, os antifascistas. Aproveitaram-se das
eleições para dominar muitas municipalidades ao mesmo tempo que
conquistaram numerosas associações esportivas. E o pequeno grupo
se expandiu e tornou-se a Ação Integralista, partido fascista milita-
rizado, centralizado, hierarquizado, partido que diz ter 1 milhão de
membros organizados em mais de 3 mil "núcleos" espalhados em
todo o país e que dispõe de 5 diários, 130 semanários etc., e gasta
quase mil contos mensalmente (66 mil dólares).
Plínio Salgado é o chefe da Ação Integralista e candidato à
presidência da República. Sua vida política começa pelo "esquer-
dismo" e termina pelo fascismo. Um homem de "princípios". ..
romancista confuso e nebuloso com tendências de "esquerda", tornou-
-se o líder do governo Júlio Prestes na Câmara dos Deputados de
São Paulo onde serviu a uma "clique" reacionária de semifeudais e
de burgueses; é ele, pois, um dos responsáveis por toda a política
criminosa desta clique. Em seguida cobriu-se de máscara de "revo-
lucionário"; depois arrancou essa máscara e mostrou-se como pro-
vocador enraivecido a serviço de Hitler e Cia.!
Plínio Salgado emprega métodos "legais"; ao mesmo tempo que
lança sua candidatura à presidência da República, ele reforça suas
provocações usando da luta armada e acusa os "comunistas" de
preparar uma terrível "revolução vermelha"... Provocador! Ao
mesmo tempo sustenta que não haverá eleições a 3 de janeiro de
1938 e anuncia para dezembro sua "revolução", isto é, seu golpe
de estado à Franco. Afirma contar com a maioria do exército e da
marinha e com 1 milhão de aderentes de seu partido; ameaça mas-
sacrar todos os democratas e mesmo os indiferentes; provoca novos
conflitos, como o de Campos (18 mortos e 30 feridos), para retardar
o processo de decomposição de seu partido, suscitar o ódio entre os
membros de base da ação integralista e os democratas, impedir a
frente única dos primeiros com os segundos e dar ao Presidente
Vargas um pretexto para restabelecer o estado de guerra. Os depósitos
dos nazistas e dos integralistas estão abarrotados de armamentos for-
necidos pelos capitalistas alemães, como Hoepcke, Hanseclever e Herm
Stolz. Os chefes integralistas como Plínio Salgado não são líderes
políticos, mas sim provocadores enraivecidos a serviço de Hitler e
Cia.!
Em maio de 1934 Plínio Salgado escrevia no órgão oficial de
seu partido: "Nós temos necessidade de provocar agressões violentas

203
BR DFanasa So LLIOS am0ô L ((P: al |

para exercer uma ação violenta". Provocador! Faz-se passar pelo


"enviado de Deus". Atingido de mania de grandeza, prega o mes-
sianismo grosseiro para enganar os trabalhadores. Charlatão!
Os chefes integralistas falam sempre de coisas "espirituais"; na
realidade eles gostam muito das coisas materiais: os subsídios dos
capitalistas alemães e também os fundos secretos que o chefe da
Polícia do Rio de Janeiro distribui largamente aos chefes integralistas
que fazem o trabalho sistemático de espionagem!
O chefe da Polícia tem frequentes entrevistas com Plínio Salgado.
Uma parte dos espiões da polícia secreta é composta de integralistas.
A Ação Integralista tem seu próprio Centro de espionagem e uma
"escola" que prepara "quadros" para a polícia secreta. Está claro
que tudo isto é pago pelos fundos secretos. Plínio Salgado não é
melhor que La Rocque na França. Espião e provocador!
Plínio Salgado não tem escrúpulos. Ele cita fragmentos de um
documento falso sobre a pretensa "república soviética" no Brasil e
os atribui ao camarada Dimitrov. Cita como fonte da "técnica revo-
lucionária do bolchevismo" a Revue des Deux Mondes! Seu discurso
na rádio, a 3 de outubro, é uma obra-prima de chantagem!
Plínio Salgado finge "combater" o imperialismo e prepara a
colonização no Brasil. !
Os jornais hitleristas, como o Lokal Anzeiger, afirmam que a
Alemanha é vítima de uma "acusação estúpida do perigo fascista"
no Brasil. A Correspondance Diplomatique et Politique, de Berlim,
afirma que "a Alemanha não pretende no Brasil senão legítimas aspi-
rações econômicas". Ora, os fatos denunciados várias vezes pela
Correspondance Internationale e pela Humanité (26 de julho e 13
de agosto de 1937), demonstram precisamente o contrário! E há
muitos outros fatos...
No final de agosto um congresso da "Organização nacional
-socialista no estrangeiro" realizou-se em Stuttgart. Nesse congresso,
conferiram distinções "por trabalhos e méritos particulares" à von
Cossel, chefe dos grupos nazistas no Brasil, que, ligado a Plínio
Salgado, prepara um golpe de estado à Franco. O Centro "latino-
-americano" de Munique, formado por agentes hitlerianos, enviou
suas homenagens a Plínio Salgado. Goebbels enviou seu agente ao
Brasil, o príncipe Schaumburg-lippe, "conselheiro do ministro da
propaganda", que realiza atualmente em São Paulo uma grande agi-
tação demagógica no seio da colônia alemã.
Os nazistas do sul do Brasil colaboram não somente com os
integralistas, mas sé dizem frequentemente integralistas para melhor
realizar seu trabalho de sapa. Editam panfletos e brochuras em língua
alemã adulando Plínio Salgado. Nazistas e integralistas transformaram
Santa Catarina numa base estratégica hitlerista que ameaça as posições
inglesas em São Paulo e as posições americanas no Rio Grande do Sul.

204
sroranesa ve.onc.eeE, 820 LOS an 00,
a,2lA

Os anúncios dos monopólios alemães (Bulow) preenchem os


jornais integralistas e representam uma ajuda financeira importante.
Os monopólios alemães (Bayer e Cia.) indicam dirigentes integralistas
como representantes no Brasil. Os industriais alemães obrigam os
operários brasileiros a aderir à Ação Integralista. O Banco Alemão
Transatlântico desconta as duplicatas emitidas pela Ação Integralista
para financiar sua campanha às eleições para a presidência da Repú-
blica. Os capitalistas alemães Kron, Dannemann, Suerdich, West
phalen Bach, financiam os integralistas na Bahia.
Os jornais integralistas apoiaram a guerra da Itália contra a
Abissínia apesar da máscara de "neutralidade" e sustentaram Hitler
e Mussolini na sua ofensiva contra o. grande povo espanhol.
O banqueiro brasileiro Marcos de Souza Dantas, presidente do
Banco do Brasil, realizou uma política a favor do marco e do desen-
volvimento do comércio alemão-brasileiro, minando as posições in-
glesas. A City, então, exigiu sua demissão. Descontente dos ingleses,
devotado ao imperialismo alemão, Marcos de Souza Dantas aderiu
à Ação Integralista juntamente com 22 capitalistas e banqueiros
brasileiros.
Os democratas brasileiros colocam as seguintes tarefas: denunciar
as ligações dos chefes integralistas com os imperialistas, a Gestapo,
Vargas e a sua polícia secreta; isolar esses chefes integralistas das
massas ludibriadas por sua demagogia; convencer pacientemente essas
massas confundidas; unir a luta contra o integralismo à luta contra
a penetração imperialista alemã e italiana; defender os interesses da
Nação brasileira contra os imperialistas alemães, italianos e japo-
neses, contra todas as formas de opressão nacional; não cair nas
provocações dos chefes integralistas.
Plínio Salgado, alarmado com o aumento do movimento anti-
fascista brasileiro, nega as ligações estreitas do integralismo com c
hitlerismo, acusa os antifascistas brasileiros de articular, a esse pro-
pósito, uma "intriga miserável" e afirma que o integralismo é pura-
mente "nacional". Ora, os fatos já denunciados demonstram precisa-
mente o contrário, isto é, que a origem da Ação Integralista, seu
desenvolvimento, suas "teorias", seus métodos, seus meios financeiros
etc... estão estreitamente ligados ao hitlerismo!
Em 1932 não havia senão 11 integralistas em todo o Brasil.
Até a subida de Hitler ao poder, a Ação Integralista era muito fraca,
tinha 47 membros em abril de 1933. Ora, diz ter agora um milhão.
Como explicar este avanço sem ajuda de Hitler e Cia.?
Os chefes integralistas adotam como pontos fundamentais de
seu "programa": "o estado integral identificado com a Nação", a
centralização política (a necessidade de um "governo forte"), a
"negação" da luta de classes, o ódio da democracia e da U.R.S.S,,
O nacionalismo, o chauvinismo e o anti-semitismo. Eles são "volun-

205
BR DFANBSB Ve.GNC.EEE, 820 LL IOS amoolb ;p. &

taristas", subjetivistas; possuem uma organização semimilitar e uma


disciplina abrutecedora que aniquila a personalidade em proveito do
"chefe". Vê-se, pois, que os chefes integralistas tomaram do hitlerismo
suas concepções e atitudes fundamentais.
O "Manual do Integralista", brochura oficial, assim define o
integralismo: "a concepção totalitária do universo". A revista Crítica
Fascista, de Roma (1.o de agosto de 1937), sublinha que Plínio
Salgado "se inspirou na doutrina do fascismo". Não há, pois, nenhuma
dúvida! Os chefes integralistas tiraram de Mussolini a idéia do
estado corporativo e as atitudes teatrais; repetem palavra por palavra
todas as calúnias de Goebbels contra a U.R.S.S.
As "teorias" integralistas não têm unidade nem homogeneidade.
Assim, os chefes integralistas, com o intuito de enganar algumas
camadas do proletariado, fazem uma larga demagogia a propósito
da "revolução dos operários". Para iludir os trabalhadores ainda
influenciados pelo reformismo, preconizam a conciliação das classes
e a aplicação de pequenas reformas; para mistificar os trabalhadores
católicos pregam o messianismo e o "ideal cristão" e fazem do mate-
rialismo o sinônimo da mais grosseira materialidade; para enganar
as massas pequeno-burguesas preconizam uma "terceira fórmula de
justiça contra o comunismo e o capitalismo", fingindo ignorar que
a luta mundial se trava entre a democracia e o fascismo e que eles
próprios são fascistas enraivecidos, agentes do capitalismo estran-
geiro. Tomando em consideração o caráter semicolonial do Brasil
e para enganar o povo, os chefes integralistas atacam o capital finan-
ceiro inglês e americano, mas não dizem nada contra os elementos
os mais imperialistas do capital financeiro, os fascistas italianos e
sobretudo alemães. i '
As "teorias" integralistas estão cheias de contradições vulgares.
Os chefes integralistas são fascistas, agentes do imperialismo, e se
dizem "antiimperialistas"; são contra-revolucionários e se dizem revo-
lucionários"; são inimigos ferozes da democracia e proclamam-se
"defensores da democracia... orgânica". Misturam toda uma série
de concepções contraditórias e fazem dessa mistura uma salada, ten-
tando "conciliar" as teorias antagônicas, conciliação esta que de-
monstra toda a fraqueza ideológica do integralismo.
Os chefes integralistas possuem vastas ambições "teóricas": fazem
a "revisão" da história do Brasil e da história universal; tentam
transformar democratas como Alberto Torres em "precursores" do
integralismo; falsificam a história e as tradições do povo brasileiro.
A palavra de ordem dos chefes integralistas é: "Deus, Pátria,
Família". A família, para eles, é uma palavra vazia da qual se
utilizam para caluniar ignobilmente seus adversários; seu Deus é
o dinheiro dos capitalistas alemães e venderam sua "pátria" a esses
capitalistas por um prato de lentilha.

206
aroransse 20 LOS l p. 244

Eles não dizem nada sobre as "teorias" racistas hitleristas, É


perigoso falar de "raças inferiores" num país onde a quase totalidade
da população não é "ariana"... Nas "teorias" integralistas há um
pouco de tudo: ecletismo, misticismo grosseiro e sobretudo sofisma,
charlatanismo, tagarelice histérica, impotência e decadência ideológicas
dos fascistas enraivecidos!
Os democratas brasileiros se obrigam, como tarefa, desenvolver
uma ampla luta téÓrica contra o integralismo: refutar suas "teorias"
reacionárias, sua demagogia chauvinista, sua "filosofia", suas defor-
mações da história universal e da história do Brasil; utilizar as
tradições revolucionárias do país; demonstrar que os democratas são
os herdeiros dos heróis nacionais, como Tiradentes, e que os chefes
integralistas são os continuadores de traidores como Joaquim Silvério;
mobilizar a poesia libertadora de Castro Alves e os pensamentos
democráticos de Alberto Torres contra esses reacionários. A popu-
larização da doutrina de Lenine-Staline, feita pelos comunistas brasi-
leiros, sua aplicação às condições concretas do país, serão decisivas
na luta contra as "teorias" dos inimigos da paz e da democracia!

Mb a ake

A Ação Integralista compreende: um grupo muito influente de


semifeudais e de burgueses muito reacionários, agentes dos imperia-
listas; uma grande massa da pequena burguesia urbana; algumas
"camadas do campesinato; alguns operários. Em cima, uma clique de
agentes do imperialismo; em baixo, largas massas pequeno-burguesas
extraviadas por esses demagogos. Eles tentam "conciliar" as teorias
antagônicas e os interesses contraditórios das classes.
Os membros de base da Ação Integralista vivem numa contra-
dição permanente: 1) Desejam a independência nacional, declaram-se
inimigos do imperialismo e, entretanto, são enganados pelos agentes
do mais bárbaro imperialismo, o hitlerista. 2) Possuem sentimentos
democráticos e são mistificados pelos mais ferozes inimigos da demo-
cracia, os chefes fascistas. 3) Desejam um governo do povo, mas, na
realidade, preparam o caminho para a ditadura a mais antipopular
conhecida na história universal, a ditadura fascista. 4) Possuem
sentimentos nacionais e fazem uma obra antinacional, preparando
a divisão do Brasil pelos monopólios alemães. 5) Pensam ser defen-
sores da religião e preparam o caminho para as perseguições dos
católicos, como na Alemanha hitlerista, e para o massacre dos padres,
como na Espanha de Franco. 6) Eles se dizem amigos da paz e estão
a serviço dos mais terríveis provocadores de guerra!
Os membros de base da Ação Integralista são enganados pelos
cínicos demagogos como Plínio Salgado!

207
BR DFANBSB Va.GNC.EEE.BROLLUO Samool io à LS

Os democratas brasileiros lutando contra o fascismo e o inte


gralismo tomam para si a tarefa de desenvolver a frente única com
os membros de base da Ação Integralista, como também desenvolver
a luta contra os chefes integralistas, agentes de Hitler e de Mussolini.
Frente única na luta concreta pela paz e a democracia mundiais, pela
libertação nacional, contra o fascismo em geral e a penetração impe-
rialista alemã em particular, contra os golpes de estado, a intervenção
armada no Estado do Rio Grande do Sul, contra as provocações de
Vargas e de Plínio Salgado. Unir, num bloco único, todas as forças
democráticas na base de um programa democrático (defesa das ne-
cessidades e das aspirações das massas) e opô-las ao bloco das forças
reacionárias; apoiar os povos que lutam por sua libertação com o
espanhol e o chinês.
Os democratas brasileiros condenam os atentados pessoais e os
conflitos provocados pelos chefes integralistas, assim como os golpes
de estado mascarados de "revoluções" que preparam os integralistas
à maneira de Franco. É absolutamente falso falar, como Plínio
Salgado, de uma "revolução comunista" imediata no Brasil.
A união de todas as forças democráticas impedirá que o Brasil
torne-se uma fornalha de guerra, uma presa dos abutres hitleristas
e dos provocadores como Plínio Salgado.
Os democratas e os comunistas brasileiros estendem fraternal-
mente a mão aos membros de base da Ação Integralista!
(Otávio Brandão, La Correspondance Internationale,
n.os 43 e 44, 1937),

6) O golpe de estado fascista no Brasil é um golpe


contra a Paz e a Democracia mundiais (1937)

O bloco dos Estados fascistas no exterior, os militares fascistas


e os chefes integralistas no interior ajudaram o Presidente Vargas a
desencadear um golpe de Estado fascista, dissolver o Congresso,
anular a Constituição, abolir as liberdades mais elementares, prender
milhares de democratas e estabelecer uma ditadura terrorista decla-
radamente fascista.
Trata-se de um golpe de Estado fascista contra o povo brasileiro,
contra os povos democráticos dos Estados Unidos, Inglaterra, França
e da União Soviética, contra a paz e a democracia mundiais, em
proveito do bloco internacional dos agressores fascistas que preparam
um incêndio mundial para uma nova divisão dos territórios, dos
mercados, das fontes de matérias-primas etc.
O golpe de Estado no Brasil é um desafio a todos os povos
democráticos!

208
BR DranasB va.enc.eEE 220 L LOS anço l ip: 244

Vargas, ajudado por Hitler e Mussolini, preparou este golpe sob


a máscara da luta contra o "comunismo". Os fatos citados: disso-
lução do Congresso, anulação da Constituição, abolição das liberdades
elementares etc., demonstram definitivamente que Vargas e seus
aliados lutam, na realidade, contra a democracia!
O senador americano Borah, que não é suspeito de simpatia
ao comunismo, sublinha que "a aliança fascista estabelecida há pouco
tempo, dita contra o comunismo, é, na realidade, contra a demo-
cracia".
Eis alguns anéis da cadeia dos acontecimentos:

1. Depois de quatro meses de estado de sítio e quinze meses de


estado de guerra o governo Vargas não os pôde prorrogar a partir
de junho de 1937. O movimento democrático desenvolveu-se rapi-
damente. O governo com seus aliados fascistas tiveram medo e,
durante três meses reforçaram suas provocações sob as mais mons-
truosas formas, como os massacres provocados pelos chefes integra-
listas tendo por fim restabelecer a lei marcial. Utilizando-se de uma
deturpação infame que pretensamente continha instruções da I.C.
aos comunistas brasileiros, o governo e seus aliados fascistas conse-
guiram restabelecer a lei marcial a dois de outubro;' realizaram,
assim, a primeira parte de seu plano contra o povo brasileiro, contra
a democracia,.
2. A seis de outubro Mussolini, no seu artigo publicado no I!
Popolo D'Italia, depois de ter falado do Japão como de um estado
fascista, sublinhava: "Um outro estado que, na América do Sul está
prestes a se libertar energicamente dos restos de 1789 e luta com
armas na mão contra o bolchevismo, é o Brasil." Assim, segundo
Mussolini, o governo do Brasil luta contra o espírito de 1789 da
Revolução Francesa, contra a democracia. Mussolini desmascara a
chantagem de Vargas a propósito da luta contra o "comunismo".
3. No decorrer da primeira quinzena de outubro o governo do Brasil
decretou a intervenção no Rio Grande do Sul, anulando a autonomia
desse Estado. Foi a realização da segunda parte do plano contra o
povo brasileiro, contra a democracia.
4. Algumas semanas depois, a 6 de novembro, os fascistas alemães
e italianos e os militaristas japoneses assinaram um pacto incendiário
formando um bloco de agressores tendo por finalidade a guerra por
uma nova divisão do mundo, o desencadeamento de novos golpes
de estado fascistas etc.
5. Alguns dias depois Vargas, ajudado por esse bloco de agressores,
pelos militaristas fascistas do Brasil e pelos chefes integralistas, isto
é, pelos agentes a soldo da fiança alemã, desencadeou o golpe de estado

1. Trata-se do famoso documento chamado Plano Cohen.


BRDFANBSB 80 LLUO SamO0l p, A! 7

fascista e realizou a terceira parte do plano contra o povo brasileiro


,
contra a democracia.

A ligação entre todos esses fatos é muito evidente! O golpe de


estado fascista no Brasil é um primeiro fruto do pacto alemão-japonês-
«italiano e do bloco dos agressores.
!
Vargas desencadeou o golpe de estado com o apoio e sob a
direção do fascismo internacional; Vargas é apoiado pelas com-
panhias imperialistas alemãs, pelo Banco Alemão Transatlântico
que
espalhou 6 mil contos (400.000 dólares) para as provocações
dos
chefes integralistas, aliados de Vargas, pelo chefe do estado-ma
ior
do exército brasileiro, protetor da companhia alemã de petróleo
e
propagandista dos "métodos japoneses" contra o povo brasileiro e
contra a democracia. Hitler adquire grandes quantidades de
algodão
do Brasil. Thyssen, protetor de Hitler, apossa-se de colossais
monta-
nhas de ferro de Minas Gerais. As companhias imperialistas
alemãs
monopolizam as minas de cobre Picuhy, de níquel de Hoyas e os
terrenos petrolíferos do Nordeste e de Mato Grosso. Uma missão
especial alemã deseja monopolizar as minas de manganês do
Brasil.
O algodão, o ferro, o cobre, o níquel, o petróleo, o manganês. ..
matérias-primas para a guerra! -
Krupp prepara-se para instalar uma grande fábrica de arma-
mentos perto do Rio de Janeiro.
Vargas muito ajudou a penetração imperialista alemã. Lança
agora apelos aos reis da metalurgia alemã. .., aos Thyssen, aos
Krupp; ajuda diretamente a penetração dos monopólios alemães e
dá plena liberdade aos nazistas e aos chefes integralistas, mercenários
do fascismo alemão!
Vargas procura mascarar sua política a favor de Hitler e contra
a democracia com gritos selvagens contra o pretenso "perigo comu-
nista".
Os povos de todos os países e em particular dos Estados Unidos,
da Inglaterra e da França, não podem deixar de se alarmar em face
do perigo comum.
O golpe de estado fascista no Brasil e o bloco de agressores
ameaçam seriamente os interesses dos Estados Unidos, da Inglaterra
e da França na América Latina em geral e no Brasil em particular.
O fascismo agrava as contradições para preparar a guerra!
Vargas acaba de prender Armando Salles, líder da oposição,
ex-governador de São Paulo, estreitamente ligado aos ingleses.
É
acusado de ser "comunista". . .
Os incendiários fascistas são insaciáveis: atiçaram o incêndio
na Espanha e na China, desejam transformar a América
Latina em
geral e o Brasil em particular em nova fornalha de
guerra.

210
BR DFANBSB VB.GNC.EEE. 820 LL4O0 95 emo LW»? L é
O bloco de agressores quer que o Brasil adira a seu pacto de
guerra, utilizando-o nessas aventuras, nas suas extorsões contra o
povo brasileiro, contra os povos democráticos dos Estados Unidos,
da Inglaterra e da França, contra a paz e a democracia mundiais.
Vargas quer reduzir o Brasil a um instrumento do bloco de agres-
sores, a uma colônia, uma presa dos monstros que devastam a Espanha
e a China! (...) |
(Otávio Brandão, La Correspondance Internationale,
n.o 49, 1937).

7) No Brasil, o «estado novo» de Getúlio Vargas


permanece instável (1938)

Apesar de todos os esforços do presidente-ditador do Brasil,


Getúlio Vargas, e de seus comparsas, a ditadura instaurada a 10 de
novembro de 1937 não conseguiu consolidar-se. Falta-lhe o essencial:
uma base de massa.
Ela não encontra sustento em nenhum setor da população. Os
apelos à juventude, as promessas (elas não custam caro) de "salvação
nacional" e os planos miríficos de trabalhos gigantescos não atingiram
seu fim. Os fatos desmentiram cedo toda essa demagogia. Mesmo
certos círculos conservadores que tinham acolhido com simpatia o
golpe de Estado de Vargas, com a idéia de que ele poria fim às lutas
políticas que precedem geralmente as eleições presidenciais, e asse-
guraria "à ordem" no país ao mesmo tempo que haveria uma reto-
mada dos negócios, ficaram decepcionados pela amarga realidade e
a ofensiva conduzida pelo governo na esfera dos impostos diretos e
indiretos, sob a desculpa de revisões fiscais e de "retificações". Os
plantadores organizam congressos e enviam delegações ao Rio de
Janeiro, mas o regime de Vargas, em resposta, ameaça-os de uma
nova "contribuição de sacrifício" para a próxima colheita.
É, porém, sobre o proletariado e sobre o povo trabalhador que
recai o mais pesado fardo do "novo Estado".
A anulação das mais importantes conquistas do proletariado
inscritas na Constituição de 1934, e a revisão da legislação do tra-
balho, já fazem sentir seus efeitos. A ofensiva patronal se desencadeia,
o mesmo que seu corolário, uma série de greves, particularmente em
São Paulo. No Nordeste do país os camponeses sublevam-se, dando
- em razão de seu estado político atrasado - um caráter místico
às suas reivindicações revolucionárias da terra.
Os estados imperialistas redobram-se em esforços para conservar,
sob sua supremacia, o controle da ditadura. O escandaloso tratado
de compensação com a Alemanha permanece sempre em vigor.

211
BR DFANBSB V&.GNC.EEE, R0 | U'f O5 amei L WA
O balanço do "novo Estado" instaurado já há cinco anos pode-
-se resumir em alguns termos: fome acurada, opressão redobrada do
povo e avassalamento mais acentuado ainda do país ao imperialismo.
O povo procura uma saída para essa intolerável situação. A
polícia maquina a caça aos partidos que organizam "complôs" e
projeta novos golpes de Estado, tentando descobrir conspirações e
confiscar depósitos de armas secretas; as prisões se enchem de adver-
sários do regime. Os integralistas, que recusam reconhecer em Getúlio
Vargas o novo "chefe nacional", trabalham eles próprios para a
derrubada do "novo Estado". Eles querem O fascismo "integral", o
das Camisas Verdes.
Diante desses desígnios dos integralistas, que querem instaurar
sua própria ditadura, o P.C. brasileiro - que não justifica por isso,
afrouxar a vigilância diante da ditadura de Vargas - apela ao
proletariado e ao povo que se mantenham incessantemente em guarda
a fim de impedir todo golpe de Estado no qual se pretenderia
"melhorar" a ditadura fascista atual. E ele não tolerará que Vargas,
a pretexto do perigo de uma "insurreição" integralista, possa reforçar
sua própria ditadura. Também o P.C. proclama que a luta contra
os integralistas deva se acompanhar do combate o mais encarniçad
contra o fascismo presentemente no poder. É preciso que o prole-o
tariado e o povo denunciem a traição dos chefes oportunistas que,
abertamente ou não, sustentam a ditadura de Vargas aos gritos
"O integralismo é o pior inimigo", ou mesmo: "Viva Vargas!" de:A
esses que transigem e a esses traidores, o povo deve responder:
"Nenhum apoio a Vargas! Pela derrubada de Vargas! Contra toda
tentativa de putsch dos integralistas!"
A instauração de uma verdadeira República democrática baseada
na Constituição de 1934, aparada das emendas ulteriores que lhe
foram acrescentadas pela reação, libertação de todos os prisioneiros
políticos, medidas eficazes contra a alta do custo de vida - tal é,
em conjunto, o programa mínimo de ação que propõe o P.C. brasi-
leiro a todas as forças democráticas do país.
(La Correspondance Internationale, n.o 26, 1938).

8) O putsch fascista-integralista e a situação atual


no Brasil (1938)
Os chefes integralistas, agentes de Hitler e de Mussolini, acabam
de desencadear um putsch fascista no Rio de Janeiro. O Exército
sustentado pelo povo, esmagou o puísch. O governo de Vargas toma,
novas medidas contra o fascismo.
212
BR DFANBSB VB.GNC.EEE. 62 Q | LQOSa/nogi,“ à. 220
O fascismo sofreu uma derrota, mas não está vencido. perigo
fascista é real, sobretudo nos Estados de Santa Catarina, OParaná,
São Paulo e Rio Grande do Sul.
Sabe-se que um bloco de semifeudais e de burgueses reacio-
nários dirigido por Vargas, sustentado no interior pelos militaristas,
os chefes integralistas (civis e militares) e os grupos nazistas,
exterior por Hitler e Mussolini, desencadearam no Brasil, a 10e no
novembro de 1937, um golpe de estado de tendência fascista semde
a participação das massas e contra as mesmas.
O golpe de estado tinha por fim frear a luta das
lares do Brasil, pela democracia, pela melhora de suas massas popu-
insuportáv eis
condições de vida e de trabalho, em solidariedade com os povos
espanhol e chinês. Esta luta reforçara-se quando campanha para
as eleições à presidência da República que foramda impedidas pelo
golpe de 10 de novembro.
Os chefes integralistas, traidores infames povo brasileiro,
os grupos nazistas, Hitler e Mussolini, impelem doo Brasil
maldita da "fascistização total", isto é, da colonização totalparaema pro-
via
veito das bestas ferozes do fascismo. Eles queriam que o Brasil
aderisse ao pacto facinoroso dos três
manha e Itália fascistas, Japão militaristprovocado
a-fascista.
res de guerra: Ale
O governo Vargas, entretanto, precisou recuar da via da fascis
tização total. Por quê?
Em primeiro lugar, o golpe de estado
aspirações e os sentimentos do povo brasileiroferiu
, suas
profundamente as
cráticas. Após o citado golpe, o descontentamento tradições e os
demo-
protestos
do povo brasileiro continuaram a se
e o integralismo, contra a penetraçãofazer sentir contra o fascismo
estrangei
a traição à Nação. A massa do povo, numa sérieradehitleriana
cidades
, contra
(Rio de
Janeiro, São Paulo, Uberaba, Campo Grande etc...), combateu
corajosamente os bandidos integralis e nazistas e dissolveu suas
manifestações. Esta luta, sustentada tas
protestos contra o fascismo, em favorpordo umapovo
vaga internacional de
brasileiro, fez recuar
o governo Vargas.
Em segundo lugar, o golpe de estado descontentou um grande
número de semifeudais e burgueses brasileiro s, particularmente os
grupos da burguesia nacional-reformista, que perderam suas posições
após o 10 de novembro.
Em terceiro lugar, o golpe de estado descontentou os aliados
de um grande número de semifeudais e de burgueses
os grupos imperialistas que não estão estreitamente ligadosbrasileiro
ao
s,
bloco
dos piratas fascistizados, ao eixo Berlim-Roma-Tóquio. O governo
democrático dos Estados Unidos sobretudo, exerceu uma pressão
enérgica sobre o governo Vargas.
213
BR DFANBSS VB.GNC.EEE.620 1140 S amogl ;p: 22

Além disso, os mercenários integralistas e nazistas exigiam do


governo Vargas medidas "radicais" que deviam acelerar a fascisti-
zação - colonização do país, sua adesão ao pacto dos três agressores
etc. Eles queriam apossar-se do poder e monopolizá-lo, expulsan
do
Vargas. Ora, o bloco atual de Vargas não quer perder suas posições.
Sob a pressão sobretudo do povo brasileiro e também de
um grande
número de semifeudais e de burgueses brasileiros, assim como
de
seus aliados imperialistas (americanos em particular), o governo
não
aceitou as exigências dos chefes integralistas e dos nazistas.
Esses
bandidos fascistas sustentados pelos incendiários de Berlim e de Roma,
aceleraram seus preparativos de golpe de estado para
se apossar
violentamente do poder, desencadear uma vaga bestial de
terror e
reduzir o grande povo brasileiro a um miserável rebanho
de escravos
coloniais, carne de canhão na guerra mundial que Hitler
e Mussolini
preparam.
Começou o governo Vargas, então, a fustigar o fascismo; fecha-
mento das sedes das associações integralistas e nazistas, prisão
de
seus dirigentes, confiscação de seus armamentos fabricados na
Ale-
manha etc. As massas populares, no seu ódio sublime, invadira
m os
covis dos bandidos integralistas e nazistas reforçando
sua própria
iniciativa na luta contra o fascismo, o que é fundament
al.
O governo Vargas demitiu alguns generais e outros oficiais
fascistas. Ao mesmo tempo, determinou a reabertura das lojas
ma-
cônicas e declarou inocentes 21 oficiais, condenados e expulsos
do
Exército porque "não tinham resistido energicamente"
quando da
insurreição nacional libertadora antifascista de novembro
de, 1935.
Vargas, em sua política externa, recomeçou a se orientar
em
favor dos Estados Unidê&s da América e não levou em
consideração
os protestos oficiais do governo fascista alemão em
favor da livre
atividade dos espiões e dos provocadores nazistas, protestos
que cons-
tituem uma intervenção hitleriana na vida política
interna do país,
uma ofensa à soberania nacional do povo brasileiro
!
Vargas nomeou ministro das Relações Exteriores o embaixad
or
brasileiro nos Estados Unidos (Osvaldo Aranha). O
novo ministro
disse que "os povos devem ditar a política de
seus governos" e
prometeu uma "Convenção para corrigir os artigos
da Constituição
(de 10 de novembro) que são incompatíveis com os
fins democráticos"
(N.Y. Times, 14 de março de 1938). Fez também
um discurso de
apoio à política de Roosevelt contra os agressores
. Os jornais bur-
gueses influentes como o Jornal do Comércio
do Rio de Janeiro (16
de março de 1938), apóiam a linha política
do novo ministro.
O complô dos chefes integralistas e dos
nazistas, em março de
1938 foi descoberto a tempo, e o putsch,
em maio, foi esmagado.
Em julho de 1937 o Voelkischer Beobachter, o jornal
de Hitler,
caracterizava o governo Vargas como "o melhor
que o Brasil co-

214
BR DFANBSB Ve.cNo.eeE, 8201!
4OS i p. 222
nheceu". Em novembro de 1937, quando do golpe de estado, a
imprensa fascista alemã e italiana elogiava Vargas. Agora, depois
do putsch fascista, os jornais hitlerianos como o Berliner Boersen-
-Zeitung de 13 de maio, afirmam: "Largas camadas brasileiras repu-
diam a política do regime Vargas"; "elas consideram-se enganadas
e privadas de direitos políticos"; "é impossível governar muito tempo
contra a vontade da população" etc. Os jornais de Hitler tagarelam
sobre a falta de direitos políticos e sobre a vontade do povo! . . :
Esse mesmo jornal hitleriano, em seu número de 16 de maio,
reforça seus ataques contra Vargas.
Todos esses fatos demonstram que, de um lado, o bloco de
10 de novembro de 1937 (bloco dos semifeudais e dos burgueses
reacionários com os militaristas, os chefes integralistas e os grupos
nazistas) começou a se decompor e que, de outro lado, o moviment
o
democrático começou novamente a deslanchar. Trata-se, pois, de
uma derrota parcial do fascismo, o que tem uma grande importância
não somente para O Brasil, mas também internacionalmente.
Deve-se, porém, ainda lutar bastante para vencer definitivamente
o fascismo!
(Otávio Brandão, La Correspondance Internationale,
n.o 31, 1938).

9) Carta de Prestes a Severo Fournier (1938)

Ora, nós, nacional-libertadores, não podemos compreender que


na situação atual de nossa Pátria possam homens dignos e patriotas
ser contra nós. Se isto acontece é porque algum mal-entendido nos
separa e nosso dever é desfazê-lo. Os interesses do Brasil reclamam,
hoje, mais do que nunca, a união de todos os brasileiros - única
maneira de livrá-lo da tirania e de defendê-lo contra uma agressão
estrangeira que se torna cada vez mais provável e ameaçadora. Se
o meu passado de revolucionário lhe pode inspirar confiança e se
acredita no meu patriotismo, como eu creio no do senhor, escreva-me
com franqueza e diga-me quais são os motivos que podem separá-lo
do nosso movimento nacional-libertador. (...)
A sua carta merece uma longa e argumentada resposta que lhe
enviarei em bilhetes sucessivos, caso seja isto do seu agrado e não
prejudique a calma e a tranquilidade necessárias à sua cura. Não
creio, no entanto, que você seja diferente de mim; os homens
habi-
tuados à luta só se sentem bem na própria luta. Não é verdade? E
esta palestra nos distrairá, enquanto pudermos dispor da gentileza
do intermediário.

215
BR DFANBSB Va.GNC.EEE, 820 LL4O S en 00 LWWHÍJ
Por hoje, desfaçamos a última incompreensão que ainda nos
separa. A união de todos os brasileiros é o que reclamam, nos dias
de hoje, os supremos interesses do Brasil. Nesta formulação, como
diz, estamos de pleno acordo. Mas unir como? Em torno do movi-
mento da ANL? pergunta você. E eu lhe respondo: Não, meu
amigo, unir em torno de um programa simples e concreto que satis-
faça às necessidades mais imediatas de nosso povo. Que todos os
brasileiros, quaisquer que sejam suas opiniões políticas, suas crenças
religiosas, suas tendências ideológicas, unam-se para a luta imediata
por este programa de salvação nacional. O programa que propomos
é o seguinte: 1) DEMOCRACIA, isto é, escolha dos governantes
pelos governados e absoluto respeito às liberdades populares: liber-
dade de pensamento, de reunião, de associação etc. 2) NACIONA-
LISMO (não chauvinismo), isto é, medidas práticas que assegurem
a nossa emancipação econômica (como a criação de uma indústria
pesada e efetivamente nacional) e que facilitem a organização da
defesa nacional. 3) BEM-ESTAR DO POVO, isto é, medidas prá-
ticas que assegurem a diminuição do custo de vida e a melhoria
imediata da situação de miséria em que definha o nosso povo. Este,
em linhas gerais, é o programa que propomos, estando dispostos a
apoiar qualquer governo que o proclame ante o povo e que, efetiva-
mente, o execute. Nesta luta, meu amigo, não devemos ver os homens
e apoiar até o próprio Getúlio se, amanhã, compreender a necessidade
nacional de um tal programa, e quem lhe escreve isto é o homem
que, pessoalmente, tem a Getúlio o mais justificado ódio: você deve
saber que foi ele quem mandou entregar a Hitler minha dedicada
companheira, em adiantado estado de gravidez.
Esta unidade por um ideal, e acima dos homens e dos partidos,
é que propomos. Os homens dignos não se opõem à união em
torno de um programa prático, desde que não sejam obrigados a
renunciar suas idéias e convicções.
O contrário, isto é, submissão à força e à tirania, não é união,
é escravidão. Nós, os aliancistas e comunistas, não pretendemos impor
nosso programa a quem quer que seja, mas reclamaremos o direito
incontestável de possuí-lo e propagá-lo. Só num ambiente de liber-
dade, de respeito à livre manifestação de pensamento, poderá nosso
povo progredir e elevar ao governo os homens que realmente o
representem. E é isto o que queremos e que você, como social-de-
mocrata, também não pode deixar de desejar. Será o congraçamento
de todos os brasileiros, sem vencedores nem vencidos, para o bem
do Brasil. Outra questão, imediatamente ligada à primeira: Você
tem razão quando diz que, no momento, toda luta partidária e ex-
temporânea é favorável ao Getúlio, ou melhor, aos que com Getúlio
pretendem consolidar e eternizar a tirania. Mas não deve esquecer
216
ar oransse va.onc.eze, 220 LLYOSomoo L, p.. A 24

também do que há de prejudicial nos golpes armados e conspirações,


todos, ao menos destinados a um fracasso inevitável. Getúlio utiliza
tudo isto para reforçar a tirania e amedrontar os burgueses pacatos,
e por sua vez, Muller, Chico Campos e todos os partidários da tirania
tratam de assustar o próprio Getúlio, a fim de que ele não ceda à
pressão sempre maior dos que reclamam a liberdade. Você não
acredita nas massas, mas esteja certo de que, quando as idéias con-
seguem ganhar as massas, se transformam em forças. O nosso dever
é pregar sem desfalecimentos e com a eloquência dos convictos a
necessidade da União Nacional em torno do programa que lhe expus.
Ele traduz os mais imediatos interesses do nosso povo e obrigará
Getúlio a capitular, tanto mais cedo, quanto mais rapidamente con-
seguirmos desfazer os mal-entendidos que ainda separam os brasileiros
dignos e patriotas, isto é, os adversários da tirania que nos humilha
e degrada.
Você é militar e sabe, portanto, que nem sempre convém atacar
o inimigo de frente. Uma manobra envolvente bem feita pode as-
segurar a um general um sucesso mais rápido e menos dispendioso,
principalmente quando a retaguarda do adversário já recebeu os
germes da decomposição. Pois, na política é como na guerra - o
essencial é atingir o fim, e imagine você a que frangalho desmoralizado
e ridículo ficará reduzido o Getúlio no dia em que todos os brasileiros
possam dizer em voz alta o que pensam!
Ele mesmo compreende que depois do 10-11-37, o primeiro
passo atrás, que der, será rolar para o precipício do próprio aniqui-
lamento. Por isto ainda está resistindo, apesar da pressão que já
sente e que aumenta diariamente. (...)
Adivinho, no entanto, sua última objeção: mas os comunistas
não são partidários da ditadura do proletariado? Não é para eles
0 ideal um governo como o da Rússia soviética? Vou responder,
portanto, desde já, às suas objeções. Não pretendo, absolutamente,
transformá-lo em comunista, nem quero aqui fazer a apologia do
marxismo (isto não quer dizer que você não possa futuramente ser
um bom comunista. Na evolução do meu pensamento eu também
passei por essa etapa que você, hoje, atravessa). Posso, no entanto,
informá-lo que tudo o que se publica sobre a Rússia na nossa im-
prensa é pura mentira. Talvez ainda possamos um dia conversar
com calma e vagar e então eu lhe direi a verdade sobre um país,
um: povo e um governo que conheço de perto e que estudei aprofun-
dadamente. Mas não é disto que se trata, agora. Nós, comunistas,
somos marxistas, isto é, sabemos, através do estudo das teorias cien-
tíficas que foram desenvolvidas por Marx, que o capitalismo leva
fatalmente ao socialismo e que este, na sua primeira etapa, assumirá
a forma de ditadura do proletariado. Para os marxistas de antes de

217
anooli g. QS
BR Dransse ve.enc.eee. 220 LLUOS

controlada pela prática,


1917 era isto uma opinião teórica ainda não
ente, esta verdad e teórica já está confirmada
mas para nós, atualm
ciment os de pós-gue rra. Assim pensan do, porém, não
pelos aconte
possíve l em todo o mundo
cremos que a ditadura do proletariado seja
io fundam ental do marxis mo é que
em qualquer época. 'O princíp
e polític as não há esquem as univers ais.
em questões sociais
acordo com os ante-
Cada caso concreto terá a sua solução, de
a situaç ão objeti va de cada povo. O caso
cedentes históricos e
foi justamente a maior
brasileiro pede uma solução brasileira e esta
trando a solução russa para
lição prática que nos deixou Lênin, encon
atual é muito diferente da
o caso russo. Ora, a situação do Brasil
ial, no momen to, é romper todos os
Rússia de 1917. Aqui o essenc
o nosso desen volvi mento capitalista, im-
freios que estão impedindo
primeira vez, em nossa Pátria,
plantando democracia de verdade, pela
econômico e à cultura do nosso
e dando um impulso ao seu progresso
isto, que a Revolução brasileira
povo. Nós comunistas, dizemos, por
etapa democr ático- burguesa. E Lênin diz:
está, atualmente, em sua
ção que não vai mais além do
"A revolução burguesa é uma revolu
-econômico capitalista. A re-
marco burguês, isto é, do regime social
do desenvolvimento do capi-
volução burguesa exprime a necessidade
mas pelo contrário, ampliando-as e
talismo, sem destruir suas bases,
e, por tal motivo, não só
aprofundando-as. Esta revolução exprim
também os da burguesia. Desde
os interesses da classe operária, como
a classe operária é inevitável
que a dominação da burguesia sobre
pleno direito, que a revolução
sob o capitalismo, pode-se dizer, com
aos intere sses da burguesia do que aos
burguesa corresponde mais
Brasil de hoje, só são adver-
do proletariado. E é por isso que, no
grandes fazendeiros mais reacio-
sários conscientes da democracia os
mento da pequena proprie-
nários, que querem impedir o desenvolvi
capita l financ eiro, dos grandes banqueiros
dade agrícola, e os agentes do
ular, no momen to, do imperi alismo mais rea-
estrangeiros, em partic
cionário, o imperialismo fascista.
(Luis Carlos Prestes, Problemas Atuais da Demo-
cracia, p. 24, 25-27 e 29-30).

10) Por uma frente única democrática brasileira (1938)

mente após O
A situação política do Brasil modificou-se notavel
nazista- integral ista abortad o de 11 de maio último. Há tempos
putsch
o contra o perigo
o partido comunista alertou o povo e o govern
e fascista do governo , que pro-
fascista. Entretanto, a ala reacionária
o integra lismo fascista , tentava desviar a atenção
tegia e ainda protege

218
" Broranase ve.enc.ece, 820 LL 405 A6

do governo e do povo desse perigo, perseguindo os comunistas e os


democratas. Os integralistas desenvolviam sua atividade sob a pro-
teção - da qual continuam a se beneficiar - de uma grande parte
da polícia. Enquanto acusavam-se aos amigos e defensores do povo
e da nação, de traição à pátria, concedia-se liberdade e ajuda aos
agentes nazistas. Os democratas eram presos, os traidores recompen-
sados com altos cargos no governo. As organizações antifascistas
eram interditadas e perseguidas. O partido comunista, a ANL e
outras forças democráticas como a tendência que apóia o ministro
atual das Relações Exteriores, Osvaldo Aranha, por fim, a tendência
de esquerda no Exército (dita "tenentismo", isto é, a tendência
política à qual aderem, em particular, os tenentes do Exército),
inclinam a se unir para eliminar do governo os elementos de tendência
ultra-reacionária e para lutar pelo retorno aos princípios republicanos.
Observa-se, ademais, uma certa pressão da parte do estrangeiro,
notadamente da parte do governo Roosevelt, em vista de separar o
Brasil das potências fascistas. 'No domínio da política interna os
democratas, notadamente o tenentismo, ganham novas posições, O
mesmo ocorrendo no governo de certos estados federais brasileiros
como também em alguns comandos do Exército. No domínio da
política externa o Brasil denunciou as convenções relativas ao marco
dito compensado, convenções que puseram o país sob a dependência
quase colonial da Alemanha. A política externa do Brasil começa a
se orientar para a América do Norte e o ministro brasileiro das Re-
lações Exteriores promete colaborar na política de paz, de liberdade
e de justiça com a qual o presidente dos Estados Unidos mobiliza as
forças do continente.
O partido comunista, que está à frente de toda a luta da Nação
pela democracia e independência, propõe as seguintes reivindicações:
exclusão, do aparelho administrativo, dos traidores da pátria, fascistas
e outros; liberdade de ação para os defensores da democracia e da
independência nacional; anistia para todos os antifascistas conde-
nados, presos e em fuga; orientação democrática da política interna
e externa; criação de uma indústria pesada e metalúrgica nacional;
solução dos problemas da alta do custo de vida e da crise econômica;
supressão dos lucros vergonhosos e da usura; instituição da lei do
salário mínimo e de outras leis que respondam aos interesses e aos
desejos do povo.
Tendo por base esse programa e na intenção de suprimir a
Constituição totalitária de 10 de novembro de 1937, deve-se trabalhar
para a formação de uma grande frente democrática em todo o país,
uma frente nacional destinada a reatar um ao outro, o povo e O
governo. A tarefa não é fácil. Atualmente desenvolve-se um processo
que põe em atrito as forças adversárias. Os democratas - e, em

219
o 221
aroransse 220114 4oSonoob

primeiro lugar, os comunistas -- apelam ao povo para que ajude


o governo, com as armas na mão, para a salvação da integridade e
da independência do país, contra todo o putsch integralista.

(P. Monteiro, Rio de Janeiro, La Correspondance


Internationale, n.o 41, 1938).

11) A U.R.S.S. e o momento internacional


(setembro de 1939)

Há bastante tempo que a imprensa vem procurando baralhar


os fatos da situação internacional e fazendo repetidas provocações
contra a União Soviética.
Assim é que aparecem "balões" sobre uma suposta aliança teuto-
da
-soviética, sobre os supostos entendimentos para a "partilha
Polônia" etc. etc.
Essas provocações intensificaram-se sobremaneira nos últimos
dias e domingo apareceram manchetes anunciando uma suposta in-
vasão da Polônia pelo Exército Vermelho, Operário e Camponês. É,
pois, necessário repor a verdade para que o povo brasileiro saiba a
quem cabe a responsabilidade do alastramento da guerra imperialista,
a quem cabe a responsabilidade da derrota da Polônia e qual é a
atitude da pátria dos trabalhadores do mundo inteiro. Desde 1935
que as duas maiores potências imperialistas da Europa abandonaram
o sistema de tratado de paz de pós-guerra - o tratado de Versailles
e o tratado das nove potências - permitindo com a sua política de
"não intervenção" a agressão nazi-fascista contra a Espanha, contra
a China e a anexação da Áustria, da Tcheco-Eslováquia e da Albânia.
Fornecendo matérias-primas indispensáveis à guerra aos países agres-
sores, fechando a fronteira francesa e recusando-se a fornecer arma-
mentos aos republicanos espanhóis, os imperialistas ingleses e fran-
ceses como também os homens de Wall Street, animavam os agres-
sores. Depois de Munique ficou perfeitamente evidenciado que a
atitude equivoca desses imperialistas visava encobrir seu jogo de
atirar a Alemanha, a Itália e o Japão contra a União Soviética,
enquanto eles ficavam de fora esperando o momento para intervir,
naturalmente "em nome da paz", para impor condições tanto aos
vencidos como aos vencedores.
Em seu relatório ao 18.o Congresso do Partido Comunista
da U.R.S.S., o camarada Stalin mostrou com absoluta clareza todo
ó fundo da manobra dos provocadores imperialistas de guerra e ana-
lisou de forma inequívoca que a U.R.S.S. não se deixava levar a

220
BRoranNBSB É 20 l L40S$ am eol vê ' ªs
"tirar as casquinhas do fogo" para ninguém, e que, os que procu-
ravam atrair as potências fascistas contra a U,R.S.S. poderiam acabar
sofrendo um grave revés.
Quando do desmembramento e anexação da Tcheco-Eslováquia,
a União Soviética insistiu novamente pela convocação de uma con-
ferência internacional de todas as potências interessadas em manter
a paz. Esta proposta foi rechaçada pelos governos. inglês e francês
que preferiram organizar seu próprio sistema de segurança, dando
garantias a diversos países. Depois os governos inglês e francês
estabeleceram as negociações de Moscou demonstrando, nos quatro
meses de penosas conversações, que não queriam chegar a um pacto
de assistência mútua, mas sim obter argumentos para continuarem
a negociar com Hitler, Mussolini e os militaristas japoneses.
As conversações Hudson Walthat, em Londres, e a visita do
professor Burkhardt a Hitler demonstraram claramente que Cham-
berlain e Deladier não haviam abandonado as esperanças de atirar
a Alemanha contra a U.R.S.S. à custa de novas concessões, inclusive
a respeito de Dantzig. A composição das missões militares enviadas
a Moscou pelos governos inglês e francês, o fato de que a delegação
inglesa não levou credenciais autorizando-a a chegar a qualquer
conclusão, a recusa do governo polonês em aceitar o auxílio militar
soviético, demonstram ainda, que aquela viagem de militares anglo-
franceses representava o resultado da pressão dos povos inglês e
francês sobre seus governos e um argumento julgado mais decisivo
para fazer pressão sobre Hitler. Não havia qualquer intenção para por
parte de Chamberlain e Deladier de um entendiment o honesto
preservar a paz e organizar a segurança coletiva.
Aceitando a proposta alemã de um pacto de não agressão a
U.R.S.S. botou por terra todas as manobras dos provocadores de
guerra. Se a Polônia está sendo esmagada pelos nazistas só pode
apontar como responsáveis desse desastre seu próprio governo rea-
cionário e os imperialistas ingleses e franceses que recusaram a
única ajuda que garantiria a independência do país e a integridade
de suas fronteiras.
Outro aspecto. A imprensa faz uma confusão propositada sobre
o alcance do pacto de não agressão teuto-soviético. Não se trata de
uma aliança, trata-se apenas de um compromisso de não agressão
que a U.R.S.S. cumprirá enquanto for respeitada pela outra parte.
E, finalmente, não há partilha da Polônia pelo Exército Vermelho.
No dia 17, domingo pela manhã, o governo soviético comunicou
ao embaixador polonês em Moscou que, estando o território polaco
abandonado pelo seu governo e sujeito a qualquer acontecimento ou
surpresa, criava uma situação de insegurança para a União Soviética.
221
sroransse 220 ameolbyo 224

A. falência do governo polonês e a situação de caos em que


se encontra o território abandonado por ele, põem em perigo a
sorte de seus irmãos de sangue da Ucrânia e Bielo-Rússia (Rússia
Branca) Ocidentais.
Não era, pois, possível à U.R.S.S. ficar indiferente diante desses
fatos e o alto comando do Exército Vermelho recebeu ordens para
transpor a fronteira com a missão de defender a vida e os bens das
populações ucranianas e bielo-russas e desenvolver todos os esforços
para tirar o povo polonês da guerra criminosa em que foi arrastada
pelos seus estadistas ineptos.
Assim agindo a U.R.S.S. concorre para a libertação de 10 mi-
lhões de pessoas que viviam em estado de opressão constante desde
que foram separadas da comunidade russa com o Tratado de Versailles
e que ultimamente estavam ameaçadas pelo avanço nazista.
É evidente que isso pode não agradar aos imperialistas ingleses
e franceses, pode não agradar aos que querem manter os povos
fracos em situação de semicolônia, pode não agradar àqueles que
traem seus próprios povos -, mas é recebido com alegria e satisfação
por todos os trabalhadores, por todos os povos oprimidos que vêem
na U.R.S.S. a única potência que não tem interesses imperialistas,
que não precisa de territórios alheios e que sempre esteve pronta a
defender os povos fracos e ameaçados em sua autonomia.
Rio, 18 de setembro de 1939.

O Bureau Político do Partido Comunista do Brasil, S. da I.C.


(Polícia Civil do D. Federal, Relatório, setembro de 1940).

12) Ao povo e especialmente ao Exército e à Marinha


(outubro de 1939)

Está sendo distribuído pelo correio, sobretudo aos oficiais das


forças armadas, um manifesto de um grupo anônimo que se intitula
"Comitê supremo de união sagrada de militares do Exército e da
Armada", do qual seus autores procuram criar confusões que per-
mitam a consolidação do "estado novo" com todos seus postulados
fascistas.
Cobrindo-se com uma fraseologia pseudopatriota, procurando
explorar o anseio do povo pela solução dos problemas ligados à
independência econômica do país e seu desejo de progresso, esses
paus-mandados da ala fascista do governo procuram apresentar pro-
messas como realizações, acusam falsamente os comunistas de fazerem
"frente única com integralistas, democratas e descontentes de todo
jaez para fins insurrecionais" e, dizendo-se "apolíticos", declaram-se
defensores extremados do "estado novo" e do governo atual.

222
BR pransss ve.enc.eEE, 220 LL 4 O Sam cool. 19 20

É preciso destacar que o partido comunista luta há longos anos


pela formação da União Nacional Democrática, indispensável para
enfrentar vitoriosamente as ameaças fascistas, tanto externas como
internas. Os comunistas foram os primeiros a levantar essa bandeira
e são os únicos que a sustentam abertamente. Quando dos golpes
nazi-integralistas de 1938 fomentados e realizados de combinação e
sob a proteção da ala fascista do governo, nosso partido apoiou as
medidas antifascistas que o governo adotou e chamou o povo a
defender-se de armas na mão contra o ataque dos maus brasileiros
a serviço do nazi-fascismo. E, ao mesmo tempo, nosso partido con-
tinuou a afirmar que as facilidades concedidas aos agentes do inimigo
e aos traidores da pátria que participam ainda hoje do governo e do
aparelho de Estado, assim como a recusa de pacificar a família bra-
sileira pela concessão de anistia, a falta de democracia, a falta de
solução dos problemas econômicos nacionais, impediam -- como
impedem - o povo brasileiro de lutar eficazmente contra os perigos
fascistas que o ameaçam. Sempre chamamos o povo a lutar contra
as medidas fascistas do "estado novo" porque a defesa do país contra
os ataques do imperialismo fascista e a libertação da dominação
estrangeira não são possíveis sem liberdade para o povo, sem a união
nacional que inclua o governo -- união nacional que não pode
existir, como de fato não existe, entre o povo brasileiro e os que lhe
furtaram as conquistas democráticas dos seus antepassados, como
o golpe fascista e antinacional de 10 de novembro de 1937.
Sempre dissemos também que, expurgada a ala fascista do atual
governo encabeçada por Francisco Campos, pacificada a família
brasileira pela anistia, restituídas ao povo as liberdades democráticas
- essa união entre o povo e o governo seria realizável para que o
povo pudesse dedicar todos os seus esforços a solucionar os problemas
prementes relacionados com .a independência econômica do país e
o reforçamento do país.
Nossa voz ainda não foi ouvida. São evidentes os esforços
feitos pela ala fascista e tolerada pelo governo em conjunto para
aplicar os dispositivos fascistas da "constituição do estado novo",
para assassinar lentamente nas prisões o nosso grande Prestes e outros
líderes nacional-libertadores, para sabotar a instalação da grande
siderurgia nacional que é indispensável para reforçar eficazmente a
defesa do país contra qualquer investida imperialista. Por outro lado,
os diversos grupos democráticos em oposição ao "estado novo" têm,
até hoje, preferido uns ficar na inatividade e outros conspirar com
integralistas em vez de trabalhar pela união nacional democrática
pronunciando-se por um programa em torno do qual se mobilizariam
as grandes massas do povo brasileiro.
Temos sempre dito de público que não participamos, como não
participaremos de conspirações de bastidores, feitas à revelia do povo,

223
BRDFANBSB Ve.cNC EFE So o0L, (”QM
sem programa definido. É portanto falsa a afirmação lançada pelos
fascistas anônimos pelo Comitê da união sagrada. Mas isso não sig-
nífica que renunciamos a formar frente única
ou grupo político tendo em vista a unificaçãocomdequalquer todas as
corrente
democráticas e nacionalistas do país, desde que essa frente forças única
seja estabelecida na base de um programa de ação cujos pontos
essenciais já foram indicados inúmeras vezes por nosso Partido.
O Partido Comunista chama
rosas afirmações sobre as quais setambém baseiam
a atenção para as menti-
os fascistas anônimos
para defender a atual ditadura opressora que caminha
antinacional e antidemocrático. A ninguém de boaparaféo fascismo é lícito
confundir promessa com realização. Mobilizado em todos os recantos
do país pelo sacrifício
de brasileiros sinceramentedosdedicado
comunistas, dos nacional-libertadores e
s ao progresso do Brasil, o povo
exerce uma pressão cada vez mais forte
Promessas e a tomar algumas medidas comqueevidenteobriga o governo a fazer
intuito de acalmar
os protestos e descontentamentos e protelar a solução
problemas que interessam de forma vital à defesa nacional, eficaz a
dos
elevação
do nível de vida do povo e o progresso da nação. A sabotagem da
legislação trabalhista aí está como uma prova evidente. Alguns navios
mineiros - fabricados na maior
geitos - bem como uma fábrica parte de
com aço e materiais estran-
fuzis e metralhadoras não re-
solvem o problema da defesa do país ameaçad
do novo acordo entre os imperialistas fascistaso edenãopagarfascistas.
as custas
questão da siderurgia é outro exemplo frisante, Com certeza os paus-A
-mandados de Francisco Campos e consortes já se esqueceram que
foi proibido bastante recentemente, por aviso reservado do estado-
-maior, a discussão sobre a siderurgi
exército. Com certeza já se esquecera amaté também
mesmo entre os oficiais do
corrente ano acha-se pronto o projeto elaborado pelaquecomissão
desde abril do
especial
de estudos nomeada pelo próprio Vargas, projeto que está baseado
sobre os postulados fundamentais do plano Raul Ribeiro e prevê a
instalação de altos fornos com capacidade de 300.000 toneladas
anualmente, bem como a exportaç
carvão. Tal projeto já foi aprovadoão pelo de minério e importação de
Conselho Federal de Co-
mércio Exterior e os decretos respectivos estão dormindo nas gavetas
do governo há mais de cinco meses!
A caducidade irrevogáv do contrato da Itabira Iron, resul-
tado da pressão popular, nãoel resolve o problema da produção de
aço brasileiro em grande escala. E o povo
"estudos" são uma das formas mais em vogajá para percebe que os eternos
protelar a solução
dos problemas vitais do povo brasileiro em benefício de interesses
imperialistas escusos. Enquanto o povo espera, os magnatas impe-
rialistas Farquhar e outros vão agindo na sombra e tomando novas
posições contra o Brasil para retardar a solução do problema e con-
224
BR DFANBSB Va.GNCEEE, 820LL405S om 00 L;
p/ ABA

tinuar a manter-nos como mercado para seus produtos metalúrgicos


e presa fácil para suas ambições de matérias-primas e territórios.
Enganam-se os fascistas se pensam que o povo brasileiro me-
lhora seu nível de vida e assegura sua defesa nacional com promessas...
Palavras, o vento as leva. .. O Brasil precisa de paz e tranquilidade,
sim... Mas só as obterá e poderá garantir quando se emancipar da
humilhante tutela imperialista e construir sua independência econô-
mica. Quando tiver indústria pesada para tornar uma realidade
as
promessas feitas na inauguração da rodovia Areias-Caxambu,
que
continuam a não ser cumpridas.
União Nacional contra o fascismo, pela independência, pela
democracia, pelo progresso!
Rio de Janeiro, 2 de outubro de 1939.

O Bureau Político do Partido Comunista do Brasil.


(Polícia Civil do D. Federal, Relatório, setembro de 1940).

183) Ao povo brasileiro (abril de 1940)

União Nacional contra o Imperialismo e a guerra!


União Nacional contra a crise e a miséria!
União Nacional pela Constituição democrática!
A guerra imperialista que ensanguenta o mundo e a odiosa
tutela estrangeira imposta pela ditadura do "estado novo" tornam
cada vez mais pesado o fardo que os brasileiros têm que carregar.
Explorado e oprimido pelo imperialismo através de seu instrumento
- o governo de traição nacional e de usurpadores - o Brasil vê
agravar-se a situação de anarquia, de descalabro econômico, de
miséria, de penúria e fome a que o lançou o golpe de 10 de novembro,
que levou ao poder a atual camarilha dominante. E, agora, quando
todas as riquezas nacionais estão sendo entregues ao imperialismo,
quando o nosso sangue é sugado pela Light, Leopoldina e Cantareira
etc., pesa sobre o Brasil a ameaça de uma participação maior na
carnificina imperialista. O caminho que conduz o Brasil à guerra
está sendo trilhado, arrastado, pelos interesses inconfessáveis dos
homens do "estado novo",

Brasileiros, de pé, contra a guerra,

É para a guerra, brasileiros, que nos quer levar esse governo


quando vende aos países beligerantes, a preços vis, produtos de
consumo diário do povo, que por sua vez é obrigado a pagar preços
cada vez mais altos. É para a guerra, brasileiros, que nos quer
arrastar a tirania "estadonovista", quando dá mão forte aos
trustes
estrangeiros para que explorem o povo fazendo encarecer os
gêneros

225
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 220 L1 40 S enOoaL (47283

de primeira necessidade e demais produtos. É para a guerra, brasi-


leiros, que nos quer lançar os lacaios do imperialismo entronizado
no poder, quando prendem, espancam, deportam, caluniam, assassi-
nam heróicos lutadores populares, nacionais-libertadores, comunistas
e democratas!
É portanto para satisfazer os interesses guerreiros do imperia-
lismo e de seus criados "nacionais" que as energias da nação estão
sendo sugadas, que as empresas estrangeiras se locupletam à custa
da miséria e do sacrifício de milhões de brasileiros, que os preços
de todos os produtos aumentam, que os trustes especuladores têm
o caminho livre para a exploração que os impostos e fretes são
elevados, que os lavradores debatem-se na ruína, que, enfim, a
exploração nacional do ferro e do petróleo continua a ser uma mera
promessa com a qual se pretende ludibriar o povo toda vez que é
necessário ao "estado novo" forçar a alta dos preços de gêneros,
realizar uma negociata escandalosa com empresas estrangeiras ou
lançar uma nova emissão de moeda, o que agravará ainda mais a
miséria de nossas famílias.
Que faz o governo para conseguir realizar tais crimes anti-
nacionais? Implanta o terror fascista, governa pela coação, pela
força, suprime todas as liberdades públicas, assalta os sindicatos,
abafa vozes e opiniões livres, arrolha a imprensa democrática, prende
e assassina líderes nacional-libertadores e comunistas sob o falso
pretexto de estarem preparando um golpe armado, tentando alarmar
a opinião pública com uma publicidade escandalosa exigida da im-
prensa sob coação policial, mas sem apresentar a mínima prova
concreta da "hecatombe" que se preparava. .. Expediente desmo-
ralizado porque o povo já sabe que cada nova ofensiva dos trustes
em empresas estrangeiras contra a economia popular e nacional, cada
novo sacrifício que se exige do povo, cada passo adiante que se
pretende dar no caminho da guerra, é precedido por prisões,
por
torpes calúnias contra o Partido Comunista e seus dirigentes,
por
"documentos do Comintern forjados no Ministério da Guerra". Nesse
sentido, isto é, no sentido de poder arrastar O Brasil à guerra, no
sentido de agravar a situação de miséria dos brasileiros, no sentido
de favorecer os interesses do imperialismo e dos trustes é que foram
forjadas as infames calúnias contra os dirigentes comunistas ultima-
mente presos e contra a figura incorruptível e heróica do Cavaleiro
da Esperança.
Mas contra essas nojentas calúnias, contra essa bárbara reação
medieval, contra essa torpe manobra de inimigos do Brasil, o Partido
Comunista ergue bem alto e com punho firme a bandeira de
seu
programa, programa esse inspirado nos mais sentidos e profundos
interesses do povo brasileiro, calçado nas mais legítimas e
heróicas
tradições de luta da Nação contra o jugo estrangeiro e pela libertação

226
BROFaNaSB ValGncleze, 920 LL 10 5a no
vio 284

nacional, inspirado nos anseios de milhões e milhões de explorados


e oprimidos das cidades e dos campos! É esse programa antiimpe-
rialista - o programa de Luís Carlos Prestes e do Partido Comunista,
que devemos opor em um tal estado de coisas. Não deve o povo
cruzar os braços diante dos crimes, da barbárie, dos atentados, da
anarquia e da bancarrota econômica, das manobras guerreiras prati-
cadas pelo "estado novo". Não deve também o povo deixar-se arrastar
pelos golpes armados aventuristas, sem programa e sem objetivos
claros e definidos. Deve, ao contrário, unir-se indistintamente, tirar
todas suas forças contra o estado atual do país, lutar em defesa de
seus interesses e direitos.
O Partido. Comunista do Brasil, com seus heróicos dirigentes
presos e deportados, perseguido e caluniado, com seu chefe - o
grande líder do povo brasileiro Luís Carlos Prestes - enjaulado
como se fosse uma fera, jamais arredara de seu posto, jamais faltara
com sua palavra orientadora e sua atividade incansável em benefício
dos interesses do proletariado, do povo e da Nação. E nesse 1.o de
Maio, dia consagrado às conquistas proletárias, arrancadas com lutas
sangrentas durante anos e anos; nesse 1.o de Maio em que os povos
dos países capitalistas são arrastados a uma carnificina em benefício
do capitalismo, sem nenhum interesse para as massas oprimidas,
enquanto os povos da União Soviética, a cidadela do socialismo
e
da paz comemoram a sua libertação, sua feliz vida de progresso
e
bem-estar, é necessário que exijamos e lutemos com todas as forças
através de uma sólida União Nacional.
Pela criação da Siderurgia Nacional e pela exploração do Pe-
tróleo!
Pela anistia a Prestes e todos os presos políticos!
Pelo barateamento do custo de vida e contra o imperialismo!
Pelo restabelecimento das liberdades e pela Paz!
Pelo cumprimento das leis sociais e pela neutralidade!
Rio, abril de 1940,

O Comitê Regional do Partido Comunista do Brasil.


(Polícia Civil do D. Federal, Relatório, setembro de 1940).

14) A reorganização do P.C.B. (1941-1942)

Em 1938, na Bahia, o Partido - dentro do seu programa de


rearticulação - organizou uma revista denominada "Seiva", que
circulou, em seu primeiro exemplar, no mês de dezembro de 1938.
Essa revista - que, naquele momento, constituía o único órgão
antifascista em circulação no País - passou a ter uma atuação muito
interessante no sentido de aglomerar intelectuais, literatos e políticos

227
BRDFANBSB vacnc ese . 420 LL 40 Sen ool, p DB

de todo o País, passando a ser um órgão no qual colaboravam homens


públicos, políticos de várias tendências. Por exemplo, o Carlos La-
cerda, que escrevia com o pseudônimo - se não me falha a memória
- de Marcos Pimenta. Além dele, outros políticos ligados ao movi-
mento constitucionalista de São Paulo também colaboravam, como
o historiador Aureliano Leite, o político ... Ainda de São Paulo,
o ex-deputado federal Pereira Lima. Na Bahia, homens como Luís
Viana Filho, Aliomar Baleeiro, Nestor Duarte, Orlando Gomes, todos
democratas e antifascistas. Além de intelectuais do Rio Grande do
Sul (Érico Veríssimo), de Pernambuco, do Pará.
Enfim, essa revista foi realizando o papel de unificação do
pensamento brasileiro e ela circulava com o "slogan" de "Uma
mensagem aos povos da América".
Essa revista funcionou, com alguns períodos de interrupção,
inclusive quando seu diretor-fundador esteve exilado na Argentina,
mas logo em seguida voltou a circular sob a direção de Jacob Gorender
e finalmente foi interrompida sua circulação por um longo período
em 1943, em consegiência de uma entrevista do General Manoel
Rabelo, na qual ele acusava o Ministério da Guerra, chefiado pelo
General Dutra, de estar sabotando o esforço de guerra e maltratando
os convocados, o que estava provocando uma revolta muito grande
e um descontentamento geral entre as famílias brasileiras e o povo
brasileiro.
Esta entrevista provocou uma reação violenta do então Ministro
da Guerra, General Dutra, que mandou prender todos os diretores da
revista.
Nesta mesma ocasião, reunia-se no Rio de Janeiro um congresso
nacional dos estudantes, que tomou conhecimento da prisão arbi-
trária dos diretores da revista "Seiva" e, incorporados, representantes
de quase todos os Estados foram ao presidente da República, Sr.
Getúlio Vargas, solicitar a libertação dos diretores da revista.
Porém, antes disso, como o Ministro da Guerra havia acusado
os diretores da revista de terem publicado uma entrevista apócrifa
do General Manoel Rabelo, os estudantes foram ao general e ele não
somente confirmou os termos da entrevista como lançou uma "Carta
à Nação", ratificando-a e fazendo mais graves acusações ao Ministério
da Guerra e ao ministro de então, General Dutra.
Esse documento não pôde ser publicado na imprensa diária,
porém foi impresso pelo Partido e divulgado por todo o Brasil,
transformando-se num documento muito importante na luta contra
o fascismo e para a posição do próprio governo brasileiro em face
da guerra.
Para esclarecimento, o congresso ue se realizava nessa ocasião
era o 6.o Congresso Nacional dos Estudantes.

228
arDranass ve.enc.eee, 210 LLU05 000
infº , 236
Em começos do ano de 1940, as prisões realizadas no Rio e em
São Paulo, de elementos do Comitê Central, repercutiram na Bahia,
onde houve mais de uma dezena de prisões de elementos dirigentes,
mais
intelectuais e operários. Nessa ocasião, foi preso o dirigenteimpor-
importante do Partido na Bahia e provavelmente um dos mais
tantes do País, e que viria a ser posteriormente, com a legalidade
do Partido, um dos homens mais influentes durante muito anos. Ele
se chamava Diógenes Alves de Arruda Câmara. a
Entre os intelectuais também foram presos nessa ocasião os
irmãos Costa Pinto. -
De 1938 até essas prisões, o Partido, na Bahia, como um dos
núcleos mais puros do País - isto é, como um dos organismos sobre
o qual não havia suspeita de penetração ou infiltração da polícia -
passou a ter uma importância muito grande na reorganização do
Partido em todo o País, destacando-se a sua atuação e até mesmo
liderança no movimento estudantil nacional.
Em 1940, enviou uma delegação para o 4.o Congresso Nacional
dos Estudantes, da qual faziam parte Milton Cayres de Brito -
que seria posteriormente, na legalidade, um dos maiores dirigentes
do País, deputado federal e diretor da revista "Hoje" em São Paulo
- e João Falcão, que era diretor da "Seiva" e que seria depois
também dirigente estadual na Bahia e fundador do jornal do Partido,
chamado "O Momento", também nesse Estado.
Participaram do Congresso, que significou naquela oportunidade
talvez a maior manifestação do povo brasileiro na sua luta para
encontrar uma abertura democrática e antifascista, jovens que seriam
logo depois grandes figuras da política nacional, como Ulisses Gui-
marães, Francisco Quintanilha Ribeiro, Trajano Pupo Neto (de
São Paulo), Germinal Feijó (de São Paulo), Sílvio Vasconcelos (de
Minas) e muitos outros. 2
Mas o importante é que já nesse Congresso esboçavam-se as
diversas tendências do pensamento político brasileiro e formou-se,
como consequência dos seus trabalhos, uma verdadeira frente anti-
fascista.
Nesse mesmo Congresso participaram ainda nomes como Luís
Pinheiro Paes Leme, que foi eleito presidente da União Nacional
dos Estudantes e que viria a ser depois um político de bastante evi-
dência no Rio de Janeiro, o Hélio de Almeida, que viria também a
ser ministro no Governo de João Goulart.
Também esboçaram-se algumas tendências políticas da juven-
tude, não obstante haver um grande esforço do Governo no Estado
Novo, no sentido de que o Congresso não tivesse nenhum caráter
político. Através de seus agentes junto ao movimento estudantil e
participando ativamente do Congresso, o Governo procurava desviar
229
ar oraness va.enc.ee, 82011405 onoobç;o 237

os estudantes de deliberações e discussões sobre o problema da


guerra, sobre o problema do fascismo, enfim sobre qualquer problema
político, sustentando mesmo que o seu apoio ao Congresso (apoio
material) só seria possível se o Congresso não se desviasse para adotar
resoluções de caráter político.
Verificou-se a existência no Congresso de um espírito profunda-
mente antifascista entre os estudantes de todo o País.
É interessante relembrar um episódio marcante: todo jornal li-
gado ao Governo noticiava que os estudantes, nesse Congresso, apoia-
vam o Governo. Isso causou uma revolta muito grande entre os
congressistas, o que levou a direção do Congresso a nomear uma
comissão com representantes de todos os Estados, que foi ao Ministro
da Educação. Lá, então, através do seu orador, o estudante do Rio
Grande do Sul, Luís Aranha, declarou peremptoriamente ao ministro:
"Sr. Ministro, um pasquim ligado ao Governo noticiou que os estu-
dantes do Brasil apóiam o Governo. Mas eu estou aqui para, em
nome de todos os estudantes do Brasil, afirmar à Vossa Excelência
que os estudantes não apóiam o Estado Novo."
Era então Ministro da Educação o sr. Gustavo Capanema, que
se limitou "a passar um "sabão" no representante dos estudantes,
dizendo que estudante não cuida de política e passou a tratar de
outros assuntos mais amenos, como sua estada no Rio de Janeiro,
excursões, enfim benefícios para a classe, o que era uma orientação
do Governo no sentido de desviar os estudantes da luta política e
ideológica.
Nesse momento, a orientação do Partido junto ao movimento
estudantil era de usar a luta contra o fascismo como um "slogan"
possível para o momento, que encobria o seu objetivo real, que era
lutar contra o Estado Novo.
A posição do Partido era de luta aberta contra o Estado Novo,
denúncias e denúncias através de manifestos ilegais, de reuniões
ilegais, em pequena escala porque ele estava completamente esface-
lado, mas com bastante destemor, coragem, e sabendo aproveitar
todas as oportunidades de fazer manifestações antigovernistas.
Como eu dissera antes, em 1940, as prisões da direção nacional,
que afetaram também a Bahia, quase que esfacelaram a organização
ilegal do Partido. Então, começou um longo trabalho, um paciente
trabalho de reorganização, porque havia um verdadeiro terror e real-
mente restavam poucos quadros em todo o país.
Calculadamente, talvez pouco mais de 100 militantes existiam
naquele momento na ativa. O primeiro passo a ser dado em todo
o Brasil para a reorganização do Partido foi a viagem de um elemento
do Partido na Bahia articulado com o membro do Comitê Central,
Domingos Brás, o operário que se encontrava em São Paulo após as

230
BR DFANBSB VB8.GNC.EEE . 310 ill“! 0S amo Ls? 238
prisões de 1940 - isto, portanto, em março de 1941 --, para manter
um contato com os exilados brasileiros no Uruguai e na Argentina
e com membros da Internacional Comunista. Missão cumprida depois
da chegada à Argentina, o enviado foi recebido por Vitorio Codovila
(?) e Rodolfo Ghioldi, que eram membros da Internacional Comu-
nista. E aí, ao lado de alguns membros do Partido exilados no Prata,
como Pedro Mota Lima ...
Após alguns dias de conversação, o delegado enviado recebeu
instruções de voltar ao Brasil para rearticular o Partido, devagar,
sem nenhuma pressa, com o máximo de cautela. Isso seria um
trabalho, diziam, para anos. E que evitasse qualquer contato com
as organizações ditas ilegais de São Paulo, do Rio, porque conside-
ravam lá que elas estavam bastante infiltradas, que tinham uma
infiltração policial muito grande.
Então, concentrando seu trabalho na Bahia, o Partido na Bahia
enviou um delegado para manter contatos com os Partidos de Ser-
gipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Esses contatos foram feitos
com relativo êxito, em junho e julho de 1941, e logo em seguida,
em agosto ou setembro deste mesmo ano, realizava-se a Conferência
do Nordeste do Partido Comunista, em Salvador.
Dessa Conferência, participaram dois delegados da Bahia, um
operário que se chamava Severino Torres e que tinha o apelido
revolucionário de "Jordão", e um estudante que tinha o apelido de
"Antônio Gouveia"; um representante de Alagoas, um jovem e jor-
nalista chamado Bersalino Maia; um representante do Estado de
Sergipe, cujo nome não me recordo agora.
Nesta Conferência, as resoluções principais de que me recordo
foram: uma de caráter organizativo, que seria a constituição do
Secretariado do Nordeste, com a direção composta por um represen-
tante de cada um dos Estados que tomaram parte na Conferência;
segunda, de caráter político: seria a determinação da etapa da revo-
lução que o Brasil vivia naquele momento, que era a da revolução
democrático-burguesa; e uma de caráter tático, que seria a luta pela
derrubada do Estado Novo.
Essa organização, porém, teve vida efêmera, porque foi desba-
ratada com prisões em Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, dos
seus principais responsáveis, em dezembro de 1941.
Conseguindo sair da Bahia, no dia 24 de dezembro de 1941,
num "ita", o depoente chegou a São Paulo, onde entrou em contato
com Arruda Câmara, que havia sido posto em liberdade há pouco
tempo e encontrava-se aqui em São Paulo tentando a rearticulação
do Partido. Daqui de São Paulo, os dois seguiram clandestinamente
para a Argentina onde novamente mantiveram contatos com comu-
nistas exilados nesse país e membros da Internacional.

231
BR DFANBSB V8.GNC.EEE. %).Ó | 14 0Sanoo | io à 34
Nesse período, realizou-se um trabalho intenso entre determi-
nados membros do Partido, no sentido de discutir a sua linha política,
em janeiro, fevereiro, março de 1942, em Buenos Aires. Participaram
destas discussões Fernando Lacerda, recém-chegado da União Sovié-
tica, via Chile; Arruda Câmara, Pedro Mota Lima, o major Costa
Leite e o depoente. Nessa oportunidade, já despontavam as diver-
gências, que depois vieram a aflorar no Brasil, dos pontos de vista
de Fernando Lacerda, de Arruda Câmara, do Mota Lima e do grupo
baiano.
Fernando Lacerda manteve-se, quando voltou ao Brasil no de-
correr de 1942, dentro do ponto de vista da sua entrevista à revista
"Diretrizes", no sentido de que a luta e a união contra o fascismo e
pela defesa da Pátria levariam mesmo até à suspensão das atividades
do Partido Comunista. O Arruda Câmara e este depoente sustentavam
o ponto de vista que também veio a aflorar nas suas voltas ao Brasil
através do organismo partidário da Bahia, de que deveria haver
união nacional em defesa da Pátria e contra o fascismo, mas ao mesmo
tempo deveria se combater o inimigo fascista interno, inclusive o
Estado Novo. Esses pontos de vista constituíram depois o pivô de
uma luta interna entre vários grupos do Partido, destacando-se a
CNOP, ou seja, a Comissão Nacional de Organização Provisória, e
os elementos antiestado-novistas mais radicais de São Paulo, do Rio
e intelectuais, e o grupo baiano, conforme já expliquei antes.
Durante o ano de 1942 - e em grande parte de 1943 - essas
divergências ficaram em plano secundário, porque, com a entrada do
Brasil na guerra, o movimento patriótico cresceu muito em todos os
Estados, principalmente na Bahia e na prática da luta contra O
fascismo e a defesa da pátria havia praticamente união. Só mais tarde
é que essas divergências doutrinárias passaram para um plano mais
importante e aí surgiu o problema das divergências entre a CNOP
e o grupo baiano e os demais grupos.
A CNOP, por obter certas ligações com Prestes - através de
meios mais fáceis - passou a ter atuação mais prestigiada, uma vez
que sob certos aspectos já representava o pensamento do próprio
Prestes.
O grupo da Bahia, embora não tivesse nenhuma ligação nesse
sentido, continuava prestigiado por ser considerado o único grupo
idôneo perante os exilados na Argentina e a própria I.C. Daí o
empenho da CNOP em conseguir o apoio e fazer a unidade com o
grupo baiano, o que foi obtido através de um elemento de confiança
comum aos dois grupos, que era o Arruda Câmara.
Nos entendimentos entre os dois grupos, destacaram-se elementos
como Giocondo Alves Dias, o Capitão Ivã, Maurício Grabois, o
próprio Arruda Câmara e o depoente. Do Rio, são o Capitão Ivã e
o Grabois; os cutros, inclusive Arruda, são da Bahia.
232
BRDFANBSB Va.GNC.EEE, BO LL4O Sânool 6. 240

Nessa mesma ocasião, surgiu na Bahia uma dissidência chefiada


por Mário Alves, que representava o pensamento da CNOP. Em
agosto de 1943, realizou-se a Conferência da Mantiqueira, promovida
pela CNOP e com representantes de outros grupos, inclusive da Bahia,
que foi representada por Mário Alves e Arruda Câmara, porém sem
autorização e sem conhecimento do grupo baiano.
O grupo baiano, não obstante as prisões ocorridas em dezembro
de 1941 e janeiro de 1942, reorganizou-se durante o ano de 1942,
sobretudo em função do movimento patriótico e da luta em defesa
da pátria, passando a atuar de uma maneira importante nesse grupo
o Giocondo Dias, que estava foragido há alguns anos e que parti-
cipara do movimento de 1935 no Rio Grande do Norte (Natal).
Já no fim de 1943, as divergências existentes foram praticamente
superadas com o conhecimento de uma carta de Prestes, na qual ele
definia que não se podia separar na política de união nacional o
apoio, por um lado, para a defesa da pátria, e por outro lado a pressão
e a crítica no sentido de aberturas democráticas na luta contra o regime
atual (...?). Tudo dependia de saber combinar as duas coisas: apoio
e luta era como ele resumia dialeticamente o processo político brasi-
leiro daquele momento.
N
Com a volta do Partido à legalidade, em 1945, nota-se uma
predominância, uma presença muito grande de elementos da Bahia
nos organismos dirigentes do Partido desde o Comitê Nacional até
os órgãos de imprensa e outros órgãos. Houve sempre muitas espe-
culações em torno do assunto, mas na minha opinião isso resulta,
em primeiro lugar, de uma coincidência, e em segundo lugar o
próprio fato de a Bahia ter sido a única região onde o Partido
manteve permanentemente um trabalho organizado e livre de inge-
rência da infiltração policial, o que resultou numa formação maior
de quadros dirigentes. Isto ainda reforçado pelo fato de que o movi-
mento patriótico em defesa da Pátria, as organizações legais que
foram constituídas durante os anos de 1942, 1943, 1944 tiveram
na Bahia a sua representação mais forte, a sua expressão mais forte
no movimento legal do Brasil contra o fascismo e em defesa da
Pátria.
Não se pode, também, deixar de atribuir esse fato à presença
do Arruda Câmara como homem de grande projeção na Direção
Nacional, porque ele, tendo a sua formação na Bahia, embora fosse
pernambucano, e suas relações pessoais dentro do Partido mais
estreitas com elementos da Bahia, provocava uma atração maior para
os nomes baianos, para os órgãos diretivos do Partido.

(Entrevista de João Cunha a Edgard Carone, outubro de 1975).

233
ar oranasa ve.onc.ece. BXOLI4O EM 00L , o 24!
15) A Conferência da Mantiqueira (agosto de 1943)
a) DEPOIMENTO DE MAURÍCIO GRABOIS
1940 foi um ano negro de ascensão do fascismo. Paris caia
vergonhosamente em mãos da Whermacht, entregue sem luta pela
burguesia francesa. Hitler, eufórico, julgava assegurado por um
milênio o domínio do nazismo no mundo.
Em nosso país, levado por essa ilusória realidade, a ditadura
fascista de Vargas traçava a sua política. Navegava nas ondas da
feroz reação que assolava então o mundo capitalista. O ditador do
Estado Novo proclamava, em discurso tristemente célebre, no cou-
raçado "Minas Gerais", sua adesão à "nova ordem" de Hitler. Tal
declaração correspondia internamente, à intensificação do mais im-
piedoso terror contra o movimento operário e antifascista. A polícia
era um departamento da Gestapo que dirigia toda a sua iniminosa
atividade.
O furor e o ódio da ditadura voltam-se, particularmente, contra
o partido do proletariado, o Partido Comunista do Brasil que des-
fraldava a bandeira da luta contra o fascismo. O Partido Comunista
era duramente golpeado. A sua direção nacional fora presa pelos
cães de fila do verdugo Felinto Miller e após ela caíam as mais
importantes direções estaduais.
Nessa época, o policial Batista Teixeira, afirmava, jactanciosa-
mente, nos jornais das classes dominantes, que liquidara o Partido
Comunista e acabara com o comunismo no Brasil.
Pura fanfarronice de policial fascista.
Apesar de seriamente atingido o Partido existia e lutava. O
Partido palpitava pleno de vida na figura heróica de seu provado
chefe, o camarada Prestes, que encarcerado, diante dos algozes do
Tribunal de Segurança, a 7 de novembro daquele ano, saudava o
povo brasileiro pela passagem de mais um aniversário do maior
acontecimento da história da humanidade -- a Grande Revolução
Socialista de Outubro. Com sua atitude, Prestes mostrava que o
Partido não morrera. Onde está um comunista está o Partido.
O exemplo de Prestes inspirava muitos militantes de base e
quadros intermediários que, em liberdade, jamais deixaram de com-
bater e erguer bem alto a bandeira do Partido. Estes comunistas
lançaram-se ardorosamente no trabalho de rearticulação das forças
do Partido, então desprovidas de um centro dirigente geral capaz
de coordenar sua atividade em âmbito nacional.
O Partido reorganizado no Distrito Federal, lutava destemida-
mente entre as massas contra o fascismo e pelas liberdades, pela
anistia para Prestes e demais presos políticos e contra o Estado Novo.
O mesmo fato se verificava em vários Estados. O Partido reestrutu-
234
Broranssa ve.onc.ece, 220 LL40S0mOO bp. 24

rava-se e desenvolvia atividade política no Pará, Ceará, Sergipe,


Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Estado do Rio, Minas Gerais,
Goiás e Rio Grande do Sul.
Todos os organismos estaduais do Partido começavam a coor-
denar a sua atividade e marchavam rapidamente para a escolha de
um centro diretor único. Os criminosos desígnios da reação de
esmagar o Partido estavam sendo frustrados. :
Diante disso, o governo fascista de Vargas e sua política de
bandidos apelavam para outros recursos a fim de atingir o Partido.
Criaram uma organização nitidamente provocadora e policial, a "Ala
Militar Revolucionária" com o objetivo de envolver os militantes
pouco experientes e de menor nível político e ideológico em toda
sorte de aventuras. Essa provocação foi prontamente desmascarada
pelo Partido. No entanto, o plano principal da reação era golpear
o Partido por dentro, impedir que ele se rearticulasse e desenvolvesse
qualquer atividade política. Nessa tarefa infame tevê um papel
destacado o renegado e traidor Silo Meireles.
Alegando ser um dos dirigentes do movimento insurrecional de
1935 em Recife e de ter vivido durante alguns anos na União Sovié-
tica, Silo Meireles tentava, por todos os modos, desviar do trabalho
do Partido os militantes que o procuravam, colocava-se abertamente
contra a rearticulação do Partido e contra qualquer ação política dos
comunistas. Silo Meireles, sob o pretexto absurdo e inadmissível de
que a atividade do Partido constituía uma provocação, combatia des-
caradamente o Partido e exigia a sua dissolução. Para Silo e os poucos
elementos que o seguia os comunistas deviam ficar na mais completa
passividade e confiar na ação política dos chamados "tenentes", como
Eduardo Gomes, Etchegoyen e outros agentes dos imperialistas, dos
latifundiários e da grande burguesia. Desse modo Silo e seus sequazes
exigiam que a classe operária renunciasse a ter um partido político
independente, que renunciasse a suas reivindicações políticas próprias,
que ficasse a reboque da burguesia e dos latifundiários. Essa, em
resumo, a "teoria" liquidacionista de Silo Meireles.
O Partido, então, apesar de suas grandes debilidades, não se
deixou envolver pelas teses de Silo Meireles. Arrancou a máscara
desse traidor que se apresentava como revolucionário, denunciando-o
como inimigo do Partido e da revolução.
Já nesse período a gloriosa União Soviética tinha sido traiçoei-
ramente invadida pelos agressores nazistas. O Partido compreendeu
que os destinos de toda a humanidade, e por conseguinte os do povo
brasileiro, dependiam da vitória dos. exércitos soviéticos sobre as
hordas fascistas. Tudo, portanto, deveria estar subordinado à derrota
do nazismo. Nessa mesma época, o governo brasileiro, sob a pressão
das massas, declarava guerra às potências agressoras.

235
BR DranBSB Ve.GNC.EEE, ©20LL40S an L p -A47

O máximo de esforços deveria ser desenvolvido para ajudar


às forças em luta contra o hitlerismo, em particular a União Soviética,
que suportava toda a carga da guerra. O Partido lançou as palavras
de ordem de União Nacional contra o fascismo, pela abertura da
segunda frente na Europa e pelo envio de uma força expedicionária
brasileira para combater o nazismo.
Naquelas circunstâncias mais do que nunca, era
imprescindível
um Partido Comunista forte, coeso e audaz, a fim
de mobilizar todas
as forças contra o inimigo comum. E, justamente,
nessa emergência,
surgiram novos defensores do liquidacionismo. Levant
am a estranha
e criminosa tese de que a atividade ilegal prejudi
cava a luta contra
o nazi-fascismo, e como o Partido não tinha vida
legal deveria desa-
parecer. Ao tomar essa posição, praticamente,
tudo faziam para
destruir o Partido clandestino revolucionário do
proletariado. A
mentira, a calúnia, a distorção premeditada dos
fatos, eram empre-
gadas da maneira mais vil contra o Partido. A dissolu
ção do Partido
era pregada abertamente por antigo dirigente que
se transformara
no líder dos liquidacionistas. Em entrevista à impren
sa burguesa
defendia sem rodeios o desaparecimento do Partido.
Essa é a fase
mais séria do liquidacionismo. Devido ao nível ideológ
ico extrema-
mente baixo do Partido naquele período, essa tendênc
ia estranha ao
proletariado chegou a influenciar muitos camaradas
honestos e revo-
lucionários, particularmente os que se encontravam
no cárcere.
Na luta contra o liquidacionismo nessa fase, desemp
enhou um
papel decisivo a Conferência da Mantiqueira.
As forças do Partido cresciam. A Comissão Nacional
de Orga-
nização Provisória, que coordenava a ação de vários
organismos
estaduais, articula-se com os camaradas que levantavam
o Partido
em São Paulo e em vários Estados. Este fato foi de fundame
ntal im-
portância, pois dessa articulação surge a proposta para realizar
uma
conferência nacional que aprovasse a linha política,
traçasse uma
justa política de organização e elegesse o Comitê Central,
que orien-
tasse e dirigisse o Partido em escala nacional.
Na preparação dessa conferência - a II Conferência Naciona
l
do P.C.B. - o centro político era a luta pela derrota
do nazi-fascismo,
mas do ponto de vista ideológico, os trabalhos preparat
órios da
conferência giravam em torno do esmagamento do liquida
cionismo
como tendência no movimento revolucionário da classe
operária bra-
sileira. A Conferência da Mantiqueira - nome com
que passou à
história do P.C.B. a II Conferência Nacional -- foi
a mais elevada
expressão da luta contra o liquidacionismo. A prepara
ção da Con-
ferência desenvolveu-se num clima de combate sem tréguas
aos liqui-
dacionistas. O fato de a Conferência da Mantiqueira
ter eleito a nova
direção nacional do Partido significou um pesado golpe
nos liquida-

236
ar oranass vs.onc.eee, 22011 405 244

cionistas. A bandeira invencível do Partido foi desfraldada em todo


o país. O Partido torna-se mais forte e coeso. Os liquidacionistas
eram condenados e repelidos. A necessidade de um Partido Comu
nista combativo e revolucionário foi reafirmada. Prestes foi reco-
nhecido como o único chefe do Partido. Esse um dos grandes méritos
da Conferência da Mantiqueira.
No entanto, apesar do duro golpe que sofreram com a Confe-
rência da Mantiqueira, os liquidacionistas prosseguiram em sua ati-
vidade antipartidária. Depois da Conferência, novas teses liquidacio-
nistas surgiram sob outras formas. Elas tiveram a sua expressão nos
anos de 1944 e 1945 no chamado Comitê de Ação, na proposta de
um Congresso das Esquerdas e na formação da União Socialista
Popular, movimentos esses tendentes a rebaixar o papel dirigente do
Partido, a dissolvê-lo no seio das massas sem partido e deixar a classe
operária sem o instrumento decisivo de sua libertação.
Quem deu o golpe de misericórdia no liquidacionismo foi o
camarada Prestes. A sua atitude firme em defesa do Partido foi a
artilharia pesada assestada contra os liquidacionistas. Prestes no
cárcere jamais deixou de defender o Partido. Condenava energica-
mente todos os que se colocavam contra o Partido e, uma vez posto
em liberdade, acatou sem nenhuma reserva o Partido para assumir,
em seguida, a sua direção. O camarada Prestes contribuiu decisiva-
mente para alertar aos militantes honestos que enveredaram pelo
falso e perigoso caminho do liquidacionismo, trazendo-os para o seio
do Partido.
A Conferência da Mantiqueira e a posição de Prestes de inaba-
lável fidelidade ao Partido, desbarataram as forças do liquidacionismo
no movimento revolucionário brasileiro.
(Maurício Grabois, A Conferência da Mantiqueira,
Golpe Mortal no Liquidacionismo, Voz Operária,
28.08 . 1953).

b) DEPOIMENTO DE LUÍS CARLOS PRESTES

Há dez anos, no mês de agosto de 1943, reunia-se num ponto


da Serra da Mantiqueira, na mais dura clandestinidade, a II Con-
ferência Nacional do Partido Comunista do Brasil.
O décimo aniversário da Conferência da Mantiqueira - como
ficou sendo conhecida - é um acontecimento de profunda signifi-
cação, não só para os comunistas, mas para todos os trabalhadores
do Brasil, para todos os verdadeiros patriotas e democratas. Por isso,
grandes comemorações devem assinalar, em todo o país, o transcurso
dessa data histórica da Revolução Brasileira.

237
$20LL40 5 00 4a
BR DFANBSB

4 ep lr

A Conferência realizou-se de 27 a 30 de agosto, dela participando


46 dirigentes e militantes do Partido, vindos de quase todos os
Estados. Sua ordem do dia tinha como centro a discussão para a
elaboração da linha política. Além disso, foram discutidos também
os problemas relacionados com a organização do Partido, com o
movimento patriótico, com o trabalho de divulgação, com a atividade
sindical e com a luta ideológica. Sobre tais assuntos foram apresen-
tados informes e intervenções especiais.
A Conferência reuniu-se num momento em que, mundialmente,
a situação se caracterizava pelas sucessivas e esmagadoras vitórias
da U.R.S.S. sobre o nazismo. Nacionalmente, embora o Brasil já
tivesse declarado guerra à Alemanha nazista, a ditadura de Vargas
tudo fazia para impedir o envio de tropas brasileiras para a Europa
e perseguia ferozmente os comunistas e demais patriotas, que exigiam
a participação efetiva de nosso país na luta dos povos contra o
fascismo,
O Partido, nessa época, vinha se reorganizando, em consegiuên-
cia dos golpes sofridos nos últimos anos, sobretudo em 1940, quando
se verificou a prisão de numerosos dirigentes. Ao mesmo tempo em
que desencadeava a mais brutal violência, o inimigo procurava golpear
e minar o Partido por dentro, multiplicando as tentativas de infil-
tração de policiais em suas fileiras. Nessa ocasião surgiu o liquida-
cionismo, de que eram portadores elementos pequeno-burgueses, es-
tranhos à classe operária.

Le

A Conferência traçou a linha política do Partido, que estabelecia


a necessidade da união nacional contra o fascismo e exigia a parti-
cipação direta do Brasil na guerra, através do envio de uma Força
Expedicionária. A Conferência lançou uma vigorosa campanha de
solidariedade e apoio à U.R.S.S., que sozinha suportava todo o peso
da guerra. O objetivo dessa campanha era mobilizar a opinião pú-
blica para exigir a imediata abertura da Segunda Frente na Europa,
a qual os imperialistas americanos e ingleses opunham crescentes
obstáculos, no propósito ignóbil de fazer com que a União Soviética
continuasse a lutar sozinha contra o nazismo, e assim enfraquecê-la.
A Conferência resolveu ainda exigir as liberdades democráticas
para o nosso povo, e em primeiro lugar a anistia para os presos polí-
ticos, à frente dos quais se encontrava Luís Carlos Prestes.
Para que tais objetivos pudessem ser alcançados, a Conferência
chegou à conclusão de que era indispensável um amplo movimento
de massas, patriótico e antifascista, a cuja frente estivesse a classe

238
aroransse ve.oNcleee, 2A0LL40S on 00b p A6

operária. Comícios, passeatas, conferências, exposições antifascistas,


criação de comissões patrióticas etc. - tais as formas de luta e de
organização de massas indicadas pela Conferência.
A orientação política traçada pela Conferência da Mantiqueira
estava impregnada de profundo internacionalismo proletário e ex-
pressava a incondicional fidelidade dos comunistas brasileiros à União
Soviética. Baseada nos ensinamentos do Partido Comunista da União
Soviética e do camarada Stalin, a Conferência compreendeu que a
solução de todos os problemas de nosso país dependia, em primeiro
lugar, da vitória das Nações Unidas, da vitória da U,R.S.S. sobre o
nazismo. Graças à fidelidade do Partido à União Soviética pôde a
Conferência determinar uma orientação política justa no fundamental,
que assegurou a conquista de todos os objetivos traçados.

tes 3 se

No terreno ideológico, além da vigorosa afirmação que fez do


internacionalismo proletário, a Conferência concentrou o fogo no
combate ao liquidacionismo.
Os liquidacionistas, preconizando o abandono do trabalho ilegal
e a dissolução do Partido, constituíam uma corrente colocada a ser-
viço dos piores inimigos de nosso povo e do Partido. A Conferência
rechaçou energicamente a "teoria" liquidacionista, de que era um
dos principais pregoeiros o renegado Silo Meireles. Mantendo-se fiel
aos princípios leninistas de organização do Partido, a Conferência
afirmou que as lutas do povo brasileiro só poderiam ser vitoriosas
prole-
se à sua frente estivesse O partido independente de classe do
tariado -- o Partido Comunista do Brasil. A Conferência ergueu
bem alto, desse modo, a bandeira do Partido.

- é &

No terreno orgânico, em oposição ao liquidacionismo, a Con-


ão
ferência destacou a necessidade de se marchar no sentido da construç
de um grande e poderoso Partido Comunista de massas.
O crescimento do Partido, segundo indicava a Conferência,
ão,
exigia que se concentrasse nas empresas O trabalho de organizaç
recrutand o para o Partido o maior número dos melhores filhos da
classe operária. Além disso, a Conferência condenou o "sectarismo"
- forma estranha aos princípios de organização leninista do Partido,
baseada na criação de organismos por profissão. A Conferência
resolveu criar e fortalecer as células de empresa e dissolver as células
de setor.
Indicando a necessidade de trabalhar junto às amplas massas,
a Conferência traçou a firme Orientação de luta pela conquista da

239
BR va.onc.eEE, 820 LLUOSemoob yo 247

legalidade do Partido. Os fatos posteriores, com a conquista da


vida legal para o Partido, em 1945, confirmam plenamente a justeza
dessa orientação.

19.5 42

A Conferência da Mantiqueira elegeu o Comitê Nacional, que


dirigiu o Partido até o primeiro Pleno do período da legalidade -
o Pleno da Vitória - em agosto de 1945.
Entre os membros do Comitê Nacional eleitos na Conferência
da Mantiqueira figurava o camarada Prestes, reconhecido unanime-
mente como o chefe do Partido. A unidade em torno de Prestes
representou um fator decisivo para o êxito da Conferência, consti-
tuindo um golpe mortal nas tentativas do inimigo de liquidar o
Partido.

mo (O Ale

Quando se reuniu a Conferência, Prestes ainda se encontrava


preso, privado da leitura de documentos da maior importância do
movimento comunista dos diversos países, e sem qualquer comuni-
cação com seus companheiros de Partido. Isso, no entanto, não
impediu que as opiniões de Prestes - tanto em relação às questões
internacionais É do país, como ao papel do Partido - coincidissem
no fundamental com a análise e a orientação do Partido. Essas
opiniões de Prestes estão expressas em documentos da época, como
a "Carta a Agildo Barata", o telegrama a "La Razon" de Montevidéu,
os "Comentários a um documento aliancista", "A propósito da reor-
ganização de nossas forças" etc., e mostram a extraordinária segu-
rança e sensibilidade política de que dava provas o camarada Prestes.
A concordância de opiniões entre Prestes e a direção do Partido
deve-se a que tanto Prestes como os dirigentes do Partido que se
encontravam em liberdade, utilizavam, na análise que faziam da
situação, a arma infalível da teoria marxista-leninista, não podendo
chegar, portanto, a opiniões opostas ou diferentes.

EE uia

A Conferência da Mantiqueira constituiu um marco importan-


tíssimo na história de nosso Partido e das lutas do povo brasileiro
pela sua libertação. Dando ao Partido uma linha política fundamen-
talmente justa, rechaçando o liquidacionismo e reorganizando o Par-
tido em bases leninistas, reafirmando a inquebrantável fidelidade do
P.C.B. à U.R.S.S., ao Partido Comunista da União Soviética e ao
grande Stalin, a II Conferência Nacional representou um sólido
ponto de partida para as vitórias democráticas que se seguiram, cul-

240
BROFANBSB 320LLUOS em00l , p. 249

minando com a libertação de Prestes e demais presos políticos e com


a legalidade do Partido. É
A realização vitoriosa da II Conferência Nacional contribuiu
para que hoje exista um grande e poderoso Partido Comunista -
partido que, tendo à frente o melhor filho da classe operária e do
povo brasileiro, Luís Carlos Prestes, dirige as lutas do nosso povo
em defesa da paz e das liberdades democráticas; pela independência
nacional e por um governo democrático-popular.
(Voz Operária, 15.08.1953).
Br oDranese 320 l U 40 Gon oo (' 244

SEGUNDA PARTE

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO
E IDEOLOGIA
BR V8.GNC.EEE, ax011 ip: 29.0

A) A IDEOLOGIA

1) Oliveira Lima e a NEP (1923)

I
Nutrimos pelo Sr. Oliveira Lima uma forte, suculenta simpatia.
Internacionalistas, somos, ao nosso modo nacionalistas. Apenas O
nosso nacionalismo não destoa do concerto universal, mas se integra
nele, como os acordes de uma mesma sinfonia. Aplaudimos nesse
eminente patrício a nota genuinamente brasileira, igual a si mesma,
ao mesmo tempo que inseparável do conjunto da internacional or-
questração dos povos e das nações. É por seu internacionalismo
equilibrado, por assim dizer pragmático, que saudamos nele o nosso
mais afeiçoado nacionalista, um dos expoentes mais expressivos de
nossa quota-parte no banquete das nações.
Entendemos que o verdadeiro nacionalismo deve haurir no solo
onde se fincam suas raízes os elementos formadores da sua seiva, de
sua seiva histórica, da qual necessita para crescer e prosperar, nor-
malmente; e, na atmosfera internacional, deve procurar outros recursos
igualmente indispensáveis à garantia de sua vitalidade e à expansão
de suas energias criadoras.
Em nossa humílima opinião O. Lima realiza esse encantador
consórcio do internacional e do nacional, de que resulta um suave
equilíbrio entre estas duas forças, que são as duas condições essenciais
de toda existência, individual ou social: a tradição e o progresso.
É por isto, por estas impressões que nos desperta sua apurada
individualidade, que lhe consagramos a mais profunda e respeitosa
admiração, sem prejuízo, é claro, dos sistemas opostos por que ambos
nos orientamos e à luz dos quais compreendemos a vida e seus
fenômenos, a sociedade, a política.
Ainda assim, seja a sociedade organizada deste ou daquele modo,
vitorioso este ou aquele sistema político, retrogrademos para a mo-
narquia, estacionemos na República, ou evoluamos para os soviets,
O. Lima será sempre O. Lima: um grande vulto da Pátria, um ine-
gável servidor da humanidade.

245
aR DFanBSB Va.eNc.EEE. 320 lLIOS pn col.-, ( 29 |
Em política, o ilustre escritor é o que se pode chamar um
burguês liberal. E por isto é que no caso particular da política
sovietista não dissimula a satisfação de um "nepman'", enxergando
precisamente na Nova Política Econômica o lado bom do bolche-
vismo. ..
Embora fugazmente, tentaremos abordar os pontos capitais de
um seu magistral artigo, que o "Diário", há dias transcreveu.
Engana-se o notável publicista quando afirma que os dirigentes
atuais da Rússia vão-se tornando oportunistas no que concerne ao
sistema econômico do país, "pondo de lado o ideal exclusivo de
uma indústria do Estado". Repelindo a pecha de "oportunistas"
que os socialistas da esquerda e os anarquistas lançaram contra os
bolchevistas chamados da direita, Lenine disse com sua bonomia
habitual que esses "puros" não se dão ao trabalho de verificar à
luz da história a natureza do oportunismo, se coerente ou não com
0 processo revolucionário.
Tanto para esses psitacídios doutrinários que descobrem em a
Nova Política o lado mau do bolchevismo, como para os confiantes
burgueses que enxergam nela o seu lado: bom, são aplicáveis essas
palavras do grande tático marxista.
Temos que essa apregoada indústria do Estado, não constitui
propriamente um "ideal" do socialismo leninista, mas uma etapa
necessária do processo revolucionário, correspondente a esse período
crítico de transição entre as formas da produção capitalista e as da
produção socialista, ou como disse o mestre: "O socialismo não é
mais que a etapa que segue ao monopólio capitalista de Estado".*
Isto já escrevia ele ao tempo de Kerensky, por conseguinte
antes da Revolução de Outubro (novembro pelo nosso calendário).
A verdade é que os dirigentes sovietistas nunca pensaram em
estabelecer o socialismo em vinte e quatro horas, pois não cultivam
a "poesia revolucionária" aqueles homens a quem o capitão Jacques
Sadoul chamou de "gigantes realizando Uma obra gigantesca", edu-
cados todos eles na escola do realismo histórico, encanecidos quase
todos num entusiástico e permanente culto à Ciência,
E a ciência econômica, de par com o conhecimento perfeito das
condições especiais dos diferentes tipos econômicos que apresenta a
organização da enorme Rússia, advertia-lhes da impossibilidade do
socialismo sem a técnica 'do grande capitalismo.
Eis por que, não sendo o capitalismo de Estado um "ideal socia-
lista", é, entretanto, a fase mais importante de gestação do socialismo,
variando a duração desse período com as condições econômicas do
país, onde, porventura, se opera a revolução. Na Alemanha industrial,

* O "Capitalismo de Estado e o imposto em espécie", por Lenine.


252
BR Dranasa va.onc.ece. 22 0 LL GOS am 00 L ((p:

de H. Stines, seria certamente mais curta e menos acidentada do


que tem sido na Rússia, onde uma população de 80% de camponeses,
médios e pobres, e de pequeno-burgueses, desconhecia por completo
as formas superiores da produção capitalista, existindo mesmo em
algumas regiões, de permeio com outras formas, o regime patriarcal,
Ou seja, a economia campesina natural, espécie de comunismo
primitivo. -
Motivos políticos emergentes, tais como a guerra clandestina,
mas sistemática e o bloqueio da fome, movidos contra os soviets
pelas grandes potências militaristas: a Alemanha a princípio, depois
a Tcheco-Eslováquia, a Inglaterra, a França, o Japão e até os Estados
Unidos - estes em nome dos 14 princípios wilsonianos - preci-
pitaram a monopolização pelo Estado, de todas as forças produtivas
do país requisitando-se então todo o excedente da produção dos
campos, medida extrema para fazer face às mil e uma necessidades
da guerra. 3
Foi esta a fase terrível do chamado "Comunismo de guerra".
Aliás, esse comunismo de guerra pode ser observado nos países
capitalistas "em tempo de guerra", o que vem provar que o socia-
lismo existe em estado potencial na sociedade, ainda mesmo quando
esta se acha impregnada, como a nossa, do mais dessorante indivi-
dualismo.
Vencidos os bravos cães de fila dos governos da Entente:
Koltchalk, Yudenitch, Denikine, Wrangel, rota a muralha do bloqueio,
ineficaz ante os ímpetos da vontade soberana de um povo que não
vacila entre a liberdade e a morte, esmagada com mão de ferro, a
reação interior, à política da guerra deveria seguir-se uma política
fecunda de reconstrução e de paz - O Exército Vermelho, vitorioso
em muitas frentes, passaria a ser o Exército do Trabalho.
O comunismo de guerra impondo manu militari a requisição do
excedente da produção campesina, sem facultar às populações rurais
a necessária compensação da permuta com os centros fabris, dada
a desorganização explicável da indústria, agravada pela falta de
matéria-prima decorrente do bloqueio, dava lugar a uma profunda
desarmonia entre os interesses do campo e os da cidade.
Por outro lado, não podendo o governo, pelas razões acima
expostas, realizar a concentração estatal da indústria, isto é, o mono-
pólio capitalista, antecâmara do socialismo, foi mister organizar uma
retirada em boa ordem na frente da grande batalha econômica,
atraindo à Rússia, rica e enorme, o capital europeu e americano,
ávido de expansão.
Essa retirada feliz realizou-a a "Nep", o plano genial de Lenine.
Esboçada aqui a gênese da Nova Política, diremos em outro
artigo dos seus efeitos práticos e do sadio razoável oportunismo do
Partido Comunista russo. 2

247
ar pransss va.enc.eEE, 82011405 om pol , 0.253

II
Uma retirada em ordem vale muita vez por uma condição de
vitória. Verdade é que não se pode dizer categoricamente do resul-
tado imediato dessa formidável batalha econômica travada entre duas
civilizações, conquanto o estudo objetivo da situação nos induza a
aceitar como muito provável a hipótese de se verificar desta vez,
nas usinas de Petrogrado e Moscou, o "milagre" do Marne econômico.
Fracassado o movimento de frente, aconselha o tático da nova
guerra, faça-se um movimento giratório e se organize um trabalho
de sapa, pois não fizeram evoluções semelhantes os táticos militares?
Na fase da ofensiva militar o ex-almirante Koltchak esteve, de
uma feita, às portas de Petrogrado. Mas recuou, recuaram seus con-
tinuadores. Agora, em outro plano, desenvolve-se ofensiva dúctil e
pertinaz dos concessionários.
Significará, porventura, a Nova Política o fim da guerra de
classes? Desgraçadamente tudo nos diz que ela apenas se revestiu
de novas armas, continuando virtualmente a mesma.
Assim como os bolchevistas aprenderam a fazer a guerra com
os generais do antigo regime, incorporados ao exército vermelho,
informa Lenine, é de esperar que aprendam agora com os adiantados
capitalistas que vão à Rússia explorar suas imensas riquezas naturais,
como reorganizar a economia, de que depende em grande parte a
estabilidade do regime.
Toda a questão está em saber qual das duas forças vencerá no
tremendo prélio, se o capitalismo nascente, se o Estado proletário.
No prefácio do livro de André Morizet - "Chez Lénine et
Trotsky", este último expõe com sinceridade e clareza a situação.
Depois de mostrar o "por que" da política de concessões e definir
a natureza e possibilidade dos dois campos rivais, conclui dizendo
que o problema reside na correlação das forças em presença.
A sociologia marxista ensina que na sociedade dividida em
classes, o Estado não passa, em última análise, de um aparelho
coercivo, a serviço da classe dominante. Do mesmo modo que no
nosso regime o capitalismo leva todas as vantagens na luta cotidiana
com o proletariado, visto como ao lado da "ordem legal", isto é, da
ordem capitalista, aparece o Estado; no regime em que vivem os
russos o proletariado é que dá as cartas, certo de que, havendo
perturbação da "ordem legal", isto é, da ordem proletária, o Estado
intervirá eficazmente em nome do Direito, apelando, se for preciso,
para o argumento da metralha.
Foi por ser o Estado um órgão político de classe, explica o
temível dialético, que nunca passou de utópico o plano reformista
da absorção do capitalismo pelo cooperativismo, do qual ainda hoje,

248
4
ar oranbds Veland dez, €20 LEGÓS MQ ot R5

não obstante os mais categóricos desmentidos da experiência, é


Charles Gide um dos maiores apóstolos.
Pelo mesmo motivo será coisa fácil a absorção do socialismo
pelo capitalismo concessionário, o que constitui, de resto, a fagueira
esperança dos "nepmen'". A «
Ficou dito que a questão reside na correlação das forças. Como,
porém, se desenvolverão elas? Conquanto impossível seja precisar,
não será tão difícil prever.
Em primeiro lugar vejamos, nas suas linhas gerais, o aspecto
da guerra econômica no setor russo. Fere-nos logo a atenção a
concorrência desigual entre a indústria cessionária e a indústria
nacionalizada, abrangendo esta última os transportes e explorações
outras fundamentais.
E como que para afirmar e cada vez acentuar essa desigualdade,
a legislação inspirada nas duras necessidades da S.P. nos aparece
como uma iniludível garantia de sucesso para a segunda forma de
organização industrial.
Falando do Código Civil Sovietista, L. Brandenbougsky assim se
expressa: "Não obstante todas as concessões que temos permitido
com o fim de suscitar as sãs iniciativas privadas, necessárias ao
soerguimento do país, conservamos nossas posições dominantes, tais
sejam a propriedade coletiva, exclusiva do solo, do subsolo, cursos
de água, rede ferroviária etc. Tudo isto é patrimônio social."
Por outro lado inaugurando a N.P. o Estado teve que fazer
certas concessões ao capital privado, cuja extensão nos diferentes
casos da lei define expressis verbis. Entre outras concessões, foi
reconhecido o direito de construir. O direito de propriedade é então
assegurado ao construtor do imóvel durante 49 anos, permanecendo
o terreno propriedade social. São reconhecidos ainda a herança e
o direito de testar, limitadamente, embora. Ninguém pode herdar
mais de 10.000 rublos-ouro. O excedente reverte ao Estado. Além
da limitação legal, a herança é ainda gravada de impostos elevados
e progressivos.
Terminando sua explanação, o citado jurista diz que a necessi-
dade imperiosa do Código Civil decorre do fato de ser a Nep o
começo da luta econômica entre o Estado proletário e o capital
privado.
Outra garantia de sucesso reside no extraordinário desenvolvi-
mento do cooperativismo.
"As cooperativas, com sua feliz organização, escreve O. Lima,
salvaram a economia nacional da tirania e final absorção pelo Estado."
- Discursando no Congresso da Internacional sobre o mesmo as-
sunto, essa extraordinária mulher que é Clara Zetkin, extraordinária
pelo talento, pela bravura e pela erudição, depois de mostrar a

249
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 820/14 0 Sem 00

íntima ligação entre os órgãos do Estado, os sindicatos e as coopera-


tivas, conclui por afirmar que o controle recíproco dessas três grandes
expressões da organização soviética, é a condição mais segura da
realização do plano socialista de administração. Pois não disse
Bukharine em seu "Programa", que a sociedade comunista deveria
funcionar como uma grande, imensa cooperativa de produção?
O "Centrosoyouz" (Central das Cooperativas), não constitui, pois,
uma força econômica adversa ao Estado, mas sua principal aliada.
Isto no plano da política interna. Na esfera sem dúvida mais
vasta e complexa da política externa, não são anti-russos os prog-
nósticos. Sem falar no até agora insolúvel problema de reconstrução
capitalística dos países arruinados pela guerra e indícios outros
veementes de decomposição e anarquia reinantes, um fato, dentre
muitos, se nos afigura sintomático: o desprestígio da ideologia demo-
crática - esse sopro criador que o regime recebeu da Revolução
Francesa.
Mas as multidões, como os indivíduos, não podem prescindir de
um ideal para viver. Esse "princípio vital" do Homem-Coletivo foi
até 1914 a Democracia. A guerra foi feita em nome dela. Mas a
guerra matou-a. O movimento social de 89 tem agora encerrado
o seu ciclo histórico. Os Direitos do Homem são os direitos dos
fasci. No pedestal da Liberdade ergue-se a ditadura negra. Por
toda parte o executivo absorve os demais poderes. No Parlamento,
o órgão das liberdades públicas, grasnam as aves espantadiças, como
outrora no Capitólio.
Onde procurar, neste caos, um novo ideal salvador?
O instinto de conservação da humanidade saberá encontrá-lo.
Onde ele estiver, aí está o futuro.
C. Cordeiro.

(O País, 20 e 23.10.1923).

2) Para ser comunista (1923)

Que é preciso para ser um comunista de fato? Quais as carac-


terísticas do comunista completo?

(A) - Intelectualmente

O estudo geral de todas as ciências da natureza - da bacterio-


logia à astronomia, da mineralogia à antropologia; o conhecimento
direto e profundo da vida do proletariado através do convívio com
Os trabalhadores, nas fábricas, nos campos, nos sindicatos, dentro da
mais estreita confraternização, onde desapareçam todos os precon-

250
" BrorÁnéss vaonc.ees. 220 LL O Sam oo LxP , 256
ceitos, todo intelectualismo; o estudo integral da doutrina, especial-
mente através de Marx, Engels e Lenine; a aquisição lenta, dolorosa
e dificílima de uma mentalidade comunista proletária; o conheci-
mento da Revolução Social, não só no setor russo, mas também em
todos os outros, desde a Islândia até a Colônia. do Cabo, desde
Portugal até à Nova Zelândia; a interpretação marxista de todos os
acontecimentos mundiais, passem-se nos cotonifícios de Bombaim,
no cais de Hong-Kong ou nas fábricas de locomotivas de Filadélfia;
a intuição da vida social em toda a sua amplitude, em toda a sua
complexidade. compreender a essência do regime capitalista e como
o seu desenvolvimento acarreta a revolução comunista; saber "quan-
do" e "como" é preciso fazer a Revolução; conhecer as forças do
inimigo; ser um economista, um sociólogo, um cientista, um psicó-
logo, um pensador, um homem de ação, um político à Lenine. ..
(B) - Moralmente
Um rompimento formal com toda a ética do passado; a aqui-
sição de uma nova consciência, de uma nova tábua de valores; a
indiferença pelas vaidades sociais e literárias, pelos artistas, jorna-
listas, cientistas,a escritores * da burguesia; o desdém por todos os
sistemas religiosos; o desprezo pelas manifestações patrióticas, nacio-
nalistas; a renúncia às amizades inúteis à causa; a disciplina "volun-
tária", a obediência "consciente" às ordens do Partido, tendo em
vista uma cada vez maior coordenação dos esforços; o devotamento
sem limites à causa, ao Partido; a renúncia ao comodismo burguês,
como impossível de conciliar com as atitudes revolucionárias; a
capacidade de resistência ao sofrimento; a certeza da vitória do
proletariado; uma aversão instintiva por tudo quanto se relaciona
com o capitalismo; ser discreto; estar pronto, a qualquer momento,
a sacrificar seu repouso, seu interesse econômico para cumprir as
ordens da Comissão Central Executiva; confundir-se com a massa
proletária, desaparecer no seio dela, entrar nas fileiras, ser "soldado";
agir sem fazer questão de aparecer; desligar-se da estreiteza de sua
"pátria", para ter preocupações verdadeiramente internacionais; não
ter sentimentos cristãos;o ter certos sentimentos estóicos,a durante a
1. Bernardelli.
2.3. Austregésilo,
Felix Pacheco.Miguel Couto.
4. Machado
de Laet, Jackson dedeAssis, João Ribeiro,
Figueiredo, RonaldGraça Aranha, Affonso
de Carvalho, Pontes Celso, Carlos
de Miranda,
Monteiro Lobato etc.
5. A humildade, a consolação, a piedade, a resignação, a caridade, a
pobreza, a docilidade, o tédio de viver, o pieguismo, a compaixão, a sentimen-
talina, a efeminação, a castidade, a morbldez a inação, a renúncia, a tristeza,
o amor à ignorância etc.
6. A sobriedade, a firmeza, a serenidade, a dureza, a incorruptibilidade.

251
sr oransse 820 LL4OS an oobyp: 2 SN

guerra de classes atual, a fim de poder suportar a sua brutalidade;


ter sentimentos dionisíacos, para fazê-los desabrochar plenamente
após a guerra de classes, no período de comunismo integral; fazer
um dom de si à Causa; ter horror ao esnobismo, ao arrivismo, ao
diletantismo; considerar que a vida não lhe pertence e sim à Revo-
lução; ser um "soldado" da Internacional Comunista, considerá-la
seu estado-maior, cujas ordens tem de cumprir, mesmo passando por
cima do seu país, dos seus interesses materiais, dos seus laços de
amizade . ..
Qual o pagamento de tantos esforços?
A honra de ser um revolucionário; a alegria do dever cumprido;
a progressão da capacidade moral; o prazer de sacrificar-se pelo
futuro; a glória de lutar pela humanidade, pelo Bem Maior, por uma
classe jovem e ascendente, por suas filhas e suas irmãs que não mais
se prostituirão, pelo progresso moral e mental de 15 centenas de
milhões de seres! ...a
Li

Na formação de um comunista, a questão moral sobreleva a


questão intelectual.
%

Só é um comunista completo aquele que compreender, ruminar,


digerir as obras de Marx, modificando, renovando completamente a
velha ideologia libertária.
O anarquismo corresponde: em economia, ao artesão, ao pe-
queno-burguês; em psicologia, a sentimentalina cristã; em estilística,
ao verbalismo ou palavrismo; em literatura, ao romantismo; em filo-
sofia, ao idealismo, interpretação fantasista da realidade; em socio-
logia, ao subjetivismo; na vida ao individualismo, à hiperpreocu-
pação de sua pessoinha, que termina por querer que o mundo se
subordine a esta.

7. A lealdade, a altivez, a virilidade, o dinamismo, a solidariedade, o


prazer, a alegria, a expansão, o amor à vida, a ansiedade analítica, o desejo
de síntese, a plenitude, a exaltação, a bravura, o heroísmo, a vivacidade, o
pletorismo.
8. "No curso de toda a sua atividade, como instigador de uma greve
revolucionária, chefe de uma organização clandestina, secretário de um sindi-
cato, propagandista aos meetings Ou deputado no Parlamento, pioneiro da
cooperação ou soldado na barricada, o comunista deve ser sempre o comunista,
isto é, membro disciplinado do partido, lutador infatigável, inimigo mortal da
sociedade capitalista, de suas bases econômicas, de seu Estado, de sua mentira
democrática, de sua religião e de sua moral; soldado abnegado da revolução
proletária e anunciador incansável da sociedade nova,
Sobre a terra só existe uma bandeira que merece que se lute e pereça sob
as suas dobras: é a bandeira da Internacional Comunista." L'Internationale
Communiste, n.o 13, Petrogrado, setembro de 1920, p. 2.348.

252
Broranass va.enc ese, 220 am 001 ça: AS 8

O comunismo corresponde: em economia, ao proletário; em


psicologia, à razão a dominar o sentimento; em estilística, às fór-
mulas sintéticas, nenhuma declamação; em literatura, ao realismo,
descrição do real; em filosofia, ao materialismo; ém sociologia, ao
objetivismo, ao determinismo; na vida, à absorção do Eu pelo Todo,
do indivíduo pela coletividade, do militante pela Causa.
O marxista é o homem que fez de seu cérebro um espelho fiel
diante da Realidade Histórica, espelho que reflete as mais insigni-
ficantes modalidades da Realidade; é o homem que atua de acordo
com o ambiente econômico em primeiro lugar, e psicológico em
segundo, tendo para cada momento uma atitude correspondente; é
O homem que, antes de agir, encara friamente, objetivamente, os
fenômenos sociais em toda a sua complexidade. E quando a ação,
a experiência destrói qualquer uma de suas suposições, ele não tem
dúvida em abandonar esta.
Tal atitude, conveniente aqui, é inconveniente ali. Conveniente
hoje, será inconveniente amanhã.
O marxista jamais fantasia a Realidade, como o anarquista.
Jamais põe na balança da História suas paixões, seu subjetivismo,
aspirando a que a História se subordine a seus desejos; pelo contrário,
é objetivista, subordina seus desejos à marcha da História, à evolução
dos fenômenos econômicos.
O anarquista põe em primeiro lugar seu estado psicológico; e,
por isso, tomba na utopia, na fantasia. O marxista põe em primeiro
lugar os fenômenos econômicos; explica tudo - o moral, o inte-
lectual - pela economia.
Digerir e, depois, absorver Marx, como as veias e os vasos
chilíferos absorvem os alimentos elaborados pela digestão... tal é
um dos deveres do comunista. Digeri-lo pela leitura metódica, lenta;
absorvê-lo pelo pensamento, pela meditação. Repensar Marx; acom-
panhá-lo em todo o seu labor intelectual, em todo o processo indu-
tivo e dedutivo por que seu cérebro passou.

O dia da adesão de um proletário ao Partido Comunista deve


ser considerado por ele um dia sagrado; é o dia da sua libertação
moral e mental, o dia em que começa a dedicar-se à Causa mais
digna dentre todas as que agitaram a Humanidade.
Ser legionário romano, vestir o burel vermelho dos Cruzados,
receber as ordens sacerdotais noutros tempos, ser armado cavaleiro
na Idade Média, entrar para a Companhia de Jesus no Século XVI,
eram coisas sérias; mais sério é entrar para o P.C. Acarreta maiores
responsabilidades.
Não faças isto levianamente, trabalhador irmão!

253
Broranass va.enc ese, 220 am 001 ça: AS 8

O comunismo corresponde: em economia, ao proletário; em


psicologia, à razão a dominar o sentimento; em estilística, às fór-
mulas sintéticas, nenhuma declamação; em literatura, ao realismo,
descrição do real; em filosofia, ao materialismo; ém sociologia, ao
objetivismo, ao determinismo; na vida, à absorção do Eu pelo Todo,
do indivíduo pela coletividade, do militante pela Causa.
O marxista é o homem que fez de seu cérebro um espelho fiel
diante da Realidade Histórica, espelho que reflete as mais insigni-
ficantes modalidades da Realidade; é o homem que atua de acordo
com o ambiente econômico em primeiro lugar, e psicológico em
segundo, tendo para cada momento uma atitude correspondente; é
o homem que, antes de agir, encara friamente, objetivamente, os
fenômenos sociais em toda a sua complexidade. E quando a ação,
a experiência destrói qualquer uma de suas suposições, ele não tem
dúvida em abandonar esta.
Tal atitude, conveniente aqui, é inconveniente ali. Conveniente
hoje, será inconveniente amanhã.
O marxista jamais fantasia a Realidade, como o anarquista.
Jamais põe na balança da História suas paixões, seu subjetivismo,
aspirando a que a História se subordine a seus desejos; pelo contrário,
é objetivista, subordina seus desejos à marcha da História, à evolução
dos fenômenos econômicos.
O anarquista põe em primeiro lugar seu estado psicológico; e,
por isso, tomba na utopia, na fantasia. O marxista põe em primeiro
lugar os fenômenos econômicos; explica tudo - o moral, o inte-
lectual - pela economia.
Digerir e, depois, absorver Marx, como as veias e os vasos
chilíferos absorvem os alimentos elaborados pela digestão... tal é
um dos deveres do comunista. Digeri-lo pela leitura metódica, lenta;
absorvê-lo pelo pensamento, pela meditação. Repensar Marx; acom-
panhá-lo em todo o seu labor intelectual, em todo o processo indu-
tivo e dedutivo por que seu cérebro passou.

O dia da adesão de um proletário ao Partido Comunista deve


ser considerado por ele um dia sagrado; é o dia da sua libertação
moral e mental, o dia em que começa a dedicar-se à Causa mais
digna dentre todas as que agitaram a Humanidade.
Ser legionário romano, vestir o burel vermelho dos Cruzados,
receber as ordens sacerdotais noutros tempos, ser armado cavaleiro
na Idade Média, entrar para a Companhia de Jesus no Século XVI,
eram coisas sérias; mais sério é entrar para o P.C. Acarreta maiores
responsabilidades.
Não faças isto levianamente, trabalhador irmão!
BR ÉÃO | L40S.om 60 L. (2a GO
pode
O comunista não pode atuar por deliberação própria, não Causa
agir isoladamente como um franco atirador; faz aquilo que a
necessita, que a C.C.E. ordena, que a I.C. exige.
O comunista não é mais que um elo em uma cadeia, um soldado
em um batalhão. *
Marx, em 1850, em Londres, lutava contra a impossibilidade de
encontrar trabalho. Atrasou-se no pagamento dos aluguéis do quarto
que ocupava em Camberwell. Caiu-lhe em cima um mandado de
despejo. A justiça burguesa foi tão implacável para com ele, queO
foram vendidos os seus lençóis, colchões, cobertas e até mesmo
bercinho de seu filho Henry, recém-nascido, a fim de pagar à pro-
prietária da casa.
Em 1851, também em Londres, morreram de indigência seus
filhos Henry e Franciska.
Como é amarga a vida do comunista!
*
A coisa mais insignificante - um miligrama de cálcio perdido
no seio da massa compacta da dolomia - é um mundo de comple-
xidade. Sobre ela, poder-se-iam escrever volumes, encarando-se-lheo
o exterior, o interior, a ação sobre o meio e vice-versa, o passado,
presente, o futuro. ..
Se o miligrama de cálcio é um mundo de complexidade, que
não será o anidrido carbônico, composto binário? O ácido sulfúrico,
composto ternário? O alúmen, composto quaternário? O líquen,
vegetal inferior? O musgo, o feto, a grama, o lírio, a amoreira, O
carvalho, o baobá vegetal superior? A ameba, animal inferior? A
medusa, a linéia, o pirilampo, a morela, a salamandra, a cascavel,
a gaivota, o canguru, o narval, o camelo, o tapir, o tatu, o castor, a
toupeira, a foca, o mastim, o vampiro, o gorila, o homem, animal
superior? : A família, a clã, a tribo, a aldeia, a vila, a cidade, a
província, a nação, a Humanidade?
Vós, comunistas, que atuais sobre a humanidade, compreendeis
a complexidade, a profundeza, a amplitude da obra que procurais
realizar?
Nenhum cérebro deverá ser mais complexo, enciclopédico, que
o do comunista.
Tranqiuilamente sentado, por entre pilhas de livros, "ele" escreve
um manifesto inflamado, ou afunda nas profundezas do materialismo
histórico, hoje; constitui organizações de ferro ou bate-se, amanhã,
contra um adversário dentro de um sindicato, e esmaga-o levantando
a consciência e o entusiasmo das massas; brada, na semana seguinte,
255
BR DFanaSB va.onNc.EEE 82 0LL4 095 omool N pla I

a sua cólera anticapitalista, na praça pública, no meio do mar


ululante de 100.000 cabeças proletárias; sofre todas as perseguições,
passa por todas as angústias; galga as serranias, invade os sertões,
mergulha, no ano seguinte, no seio dos cossacos ferroviários, dos
camponeses retardados, explica-lhes a verdade marxista, organiza-os
para secundar o assalto; anos depois, empunha as armas e bate-se
contra os mercenários; vitorioso, impõe a vida nova; vencido, vai
apodrecer no fundo de uma masmorra; é metido no porão de um
navio e lá se vai para outras terras, a agitar novas almas, a conclamar
o proletariado para a Grande Batalha.
Tal é a vida do comunista ideal.
23-10-1922 (Dia 351 do ano 4.o da R.R.).
Pedro Sabarábussú

(O País, 20.10.1923).

8) Agrarismo e industrialismo (1926)

De um ponto de vista geral:


A política é fatalmente agrária, política de fazendeiros de café,
instalados no Catete. Existe uma oposição burguesa desorganizada,
caótica. Dois únicos partidos organizados - o Comunista, ainda
fraco, pobre, fundado há pouco mais de dois anos, e o Partido Repu-
blicano, dos grandes fazendeiros de café, partido forte, rico, partido
do governo - quer dizer, os dois extremos, a extrema-esquerda e a
extrema-direita. Uma burguesia industrial e comercial politicamente
nula, desorganizada. . .
O atraso político é tamanho que a burguesia industrial ainda não
formou o seu partido, enquanto o proletariado já conseguiu forjar o
seu partido desde 1922.
Toda a política nacional gira em torno da valorização do café.
Para guardá-lo, o Estado constrói armazéns gerais. Para valorizá-lo,
contrai empréstimos vultosos e emite 910 mil contos, como ultima-
mente.
Desenvolvendo melhor:
Dominado por esse agrarismo econômico, bem centralizado, o
Brasil tinha de ser dominado pelo agrarismo político, consequência
direta daquele. O agrarismo político é a dominação política do grande
proprietário. O grande proprietário no Brasil é o fazendeiro de café,
de São Paulo e Minas. O fazendeiro de café, no Sul, como o senhor
de engenho, no Norte, é o senhor feudal. O senhor feudal implica a
existência do servo. O servo é o colono sulista das fazendas de café,
é o trabalhador de enxada dos engenhos nortistas. A organização social
proveniente daí é o feudalismo na cumieira e a servidão nos alicerces.

256
BR DFanBSB Va.Gnc.EEE, 82 0 LL4OS am
GOL! 7. CA
Idade Média. A consegiência religiosa é o catolicismo, a religião que
predominou na Idade Média, "tão justamente chamada a idade cristã",
segundo o clerical Mathieu, no seu curso de História Universal,
abençoado por «Pio IX. E a consegiência psicológica: noalto, o
orgulho, a mentalidade aristocrática, feudal; em baixo, a humildade.
Como tudo isto se combina! A economia é a base social, a camada
sobre a qual se superpõem a política, a sociologia, a moral, a religião,
a arte, a filosofia, a história, a antropologia. A economia é em socio-
logia o que o granito é em geologia. +
Os Estados politicamente mais importantes são: São Paulo e
Minas, terras do fazendeiro de café, Estados que ocupam respectiva-
mente o primeiro e o terceiro lugares sob o ponto de vista do valor
dos estabelecimentos rurais, o terceiro e o segundo lugares no número
dos estabelecimentos rurais. Depois: Bahia, terra do fazendeiro de
cacau e do plantador de fumo; Estado do Rio, onde o produto
principal da receita foi ultimamente o café; Pernambuco, escravizado
pelos usineiros; e Rio Grande do Sul, o primeiro Estado em número
de estabelecimentos rurais, o segundo no valor dos mesmos, o terceiro
na área. Estados agrários, Estados feudais. ..
São Paulo e Minas são os senhores da nação. Mas São Paulo é o
senhor de Minas. Por quê? Porque enquanto os estabelecimentos
rurais de Minas valem 1 milhão e 961 mil contos, os de São Paulo
valem 2 milhões e 887 mil contos. A economia esclarece a política.
Em 1921, o Brasil exportou produtos no valor de 1 milhão e
700 mil contos. Pois, nesse total, somente o café rendeu 1 milhão
e 19 mil contos. Em 1922, numa exportação de 2 milhões e 332
mil contos, coube ao café a importância de 1 milhão e 504 mil contos.
Em 1923, numa exportação de 3 milhões e 297 mil contos, tocou ao
café a importância de 2 milhões e 124 mil contos. Por conseguinte:
a economia nacional é dominada pelo café. Corolariamente: a polí-
tica, a psicologia e a hierarquia social reinantes são cafeeiras. Coro-
lariamente: quem manda na política nacional são os fazendeiros de
café. Corolariamente: a política tem de girar fatalmente em torno
dos dois Estados mais produtores de café - São Paulo e Minas.
Corolariamente: a miséria econômica e política da nação provém,
em primeiro lugar, dos fazendeiros de café de São Paulo e Minas.
Tudo é para eles. As leis são aprovadas ou repelidas conforme seu
desejo. Os impostos caem implacavelmente sobre a burguesia indus-
trial e comercial, mas não sobre eles. Vêde, por exemplo, o imposto
sobre a renda. A lavoura e a propriedade imobiliária estão isentas
dele.
Todo o país está envenenado pelo agrarismo. Aurelino Leal,
advogado, ex-chefe de polícia, representante do ministério: público,
professor da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, pulgão consti-
tucionalista, membro da comissão de estatutos do Instituto Histórico,
257
BR DFanBSB Va.cNC.EEE. 820 LLMO 5 on oo vo 43

interventor bernardista ilegal no Estado do


Rio, era um vulgar per-
seguidor de operários e um vulgaríssimo
fazendeiro de cacau no
Espírito Santo; representava o' Sindicato
dos Agricultores de Cacau
da Bahia na Federação das Associações Comerc
iais do Brasil. Ataliba
Leonel, senador estadual, organizador
de "batalhões patrióticos",
membro do diretório do Partido Republican
o Paulista, coronel, é um
rico fazendeiro em Piraju. Salvador Concei
ção, bernardista, ex-dele-
gado do 13.o distrito, chefe de polícia
do Estado do Rio, é proprie-
tário da fazenda da Boa Fé, na região
do rio Doce. Fidelis Reis,
deputado mineiro, apologista de Bernar
des, publicou um livro cujo
título já revela tudo: "A política da
gleba". Firmiano Pinto, prefeito
de São Paulo, legalista, era proprietário
, em 1914, dos 260 mil
cafeeiros da fazenda Serra, em São
Carlos. Ripper, deputado pau-
lista, era dono, há dez anos, dos 90
mil cafeeiros da fazenda Santa
Elisa. Camboim, deputado, é um grande
proprietário rural feudal
em Alagoas. Sampaio Vidal, ministro,
era proprietário, em 1914, dos
130 mil cafeeiros da fazenda São João.
Suassuna, presidente da
Paraíba, é filho de uma família agro-ar
istrocrática, "amigo dos cam-
pos", como ele próprio se intitula,
é dono da fazenda Malhada da
Onça. Maciel, presidente de Minas,
mora na fazenda Barreiros, perto
de Belo Horizonte. Marcolino Barret
o, deputado paulista, possuía.
há dez anos, os 350 mil cafeeiros da
fazenda Canchim. Luiz Guaraná,
deputado bernardista, possui a fazenda
Bambaíba, em Campos. Alfre-
do Ellis, senador, era, em 1914, dono
dos 11 mil cafeeiros da fazenda
Embargo, dos 260 mil da Sant'Anna
e do milhão de cafeeiros da
fazenda Santa Eudoxia, todas em São Carlos
. O senador Góes foi pro-
prietário do engenho Villa Flor. Afrâni
o Peixoto, futuro deputado,
professor substituto da Faculdade
de Direito, membro da comissão
de arqueologia e etnografia do Instit
uto Histórico, professor de
higiene na Faculdade de Medicina, membr
o do conselho da Univer-
sidade, presidente da Academia de
Letras, membro da Academia
Nacional de Medicina, membro do Conse
lho Nacional do Trabalho,
é um vulgaríssimo fazendeiro de cacau
da região do rio Doce. Dentre
os velhos e novos políticos de Alagoa
s, Sinimbu era proprietário em
São Miguel; Jacinho de Mendonça era
senhor dos engenhos Jussara e
Oriente; o barão de Traipu era propri
etário da fazenda Sobrado;
Ulisses Luna e Luiz Torres são fazend
eiros em Água Branca; os
Maltas, proprietários rurais feudai
s em Cajueiro e Paulo Afonso;
Rocha Cavalcanti, senhor de Engen
ho em União; Baptista Accioly,
dono de coqueirais em Maragogi; Ferna
ndes Lima, senhor de engenho
em Camaragibe.
O perseguidor dos rebeldes palmarinos,
Bernardo Vieira de Mello,
era proprietário da fazenda Pindoba.
Em 1638, os Rêgo Barros, os
Cavalcanti, os Paes Barreto, os Vaz
Pinto já eram proprietários rurais
e feudais em Pernambuco. Em 1612,
faleceu em Olinda um Pessõa,

258
BRDFanaSB € 20 U 4 05 em 00 Lyp A4

senhor de engenho em Serinhaem, casado com uma das filhas do


primeiro senhor de engenho que houve em Pernambuco. Este último
era um Albuquerque. E hoje os descendentes de todos esses barões
feudais são os senhores da nação. Ide ao Congresso, revolvei as repar-
tições públicas, e só encontrareis isto: agrários ou descendentes de
agrários. São eles os legisladores e executores; são eles as sangues-
sugas; são eles os juízes e os carrascos. Sobretudo, os carrascos. ..
Um Vieira de Mello (Alfredo Pinto) celebrizou-se pelas deportações de
trabalhadores. Os Rêgo Barros, Os Paes Barreto são esteios do Esta-
do. Um Cavalcanti de Albuquerque é ministro do Supremo. Um
Albuquerque Cavalcanti é príncipe da Igreja. Um Pires e Albuquer-
que é procurador da República. Um Sá e Albuquerque é juiz da
1.a Vara. Um Albuquerque Coimbra é vice-presidente da República.
Um Vaz Pinto é juiz substituto. Um Pessda é comandante da polícia
militar. Outro é ministro togado do Supremo Tribunal Militar. E
um terceiro é o pior reacionário do Brasil depois de Bernardes e
(esplêndida ironia!) é membro da Corte Permanente de Justiça inter-
nacional, o que prova tal corte não valer um caracol. São eles, os
bispos, abades, priores, deães, reverendos, desembargadores, correge-
dores, ouvidores, alcaides, meirinhos, subditos d'El-Rey Nosso Senhor
o Agrarismo e do Senhor Cardeal Inquisidor-mór que Deus guarde.
Sobretudo, agrários e inquisidores,
Essa oligarquia agrária vive entrançada com a oligarquia finan-
ceira. Provas.
t
De um ponto de vista geral:
Além de 45 agentes, o Banco do Brasil, órgão financeiro do
fazendeiro de café, possui 1.404 correspondentes derramados pelo
país. Quer dizer: são 1.449 agentes da política financeira do Banco
do Brasil, agentes do fazendeiro de café, instalado no Catete. Pois
no montante desses 1.404, o primeiro lugar cabe a Minas Gerais,
o
segundo à Bahia e o terceiro ao Rio Grande do Sul, berço de Araújo
Porto Alegre, construtor do Banco do Brasil.
De um ponto de vista particular:
Vital Soares, presidente do Banco Econômico da Bahia, apóia o
agrário Góes Calmon. Ruy, expoente da política do fazendeiro de
café, foi ministro da fazenda no governo provisório. Conforme
testamento, a maior parte da sua fortuna estava depositada em bancos.
Seu neto, Raul Ayrosa, é funcionário do Banco do Comércio e Indús-
tria de Minas. Ruy, baiano, isto é, agrário, adorava a Inglaterra, isto
é, o país da burguesia financeira. Seu sucessor político é o agrário
Miguel Calmon. Geraldo Rocha, aliado de Bernardes, é financista e
fazendeiro de gado, dono de mais de 3.000 cabeças em Vassouras.
Antonio Carlos, líder da maioria, expoente político do fazendeiro de
café, é presidente da comissão de finanças da Câmara e já foi secre-
tário da fazenda, em Minas, e ministro da fazenda. José Maria

259
sr oranase va.onc.eE, 22011405 omogl (P

Whitaker, exportador de café em Santos (Whitaker Brotero & C.),


fundou o Banco Comercial de São Paulo e já foi presidente do Banco
do Brasil. Felix Pacheco, ministro de um governo agrário, é devedor
do Banco do Brasil, que facilitou os capitais para a compra do "Jornal
do Comércio". Sampaio Vidal, ministro da fazenda, fazendeiro de
café e criador de gado, fundou os primeiros armazéns gerais (war
rants), onde se combinam a finança e o café, organizou em Santos
a Bolsa do Café e foi o autor do projeto do Banco de Emissão e do
Instituto de Defesa Permanente do Café. Francisco Sá, nascido numa
fazenda, já foi secretário da agricultura, em Minas, e membro da
comissão de finanças da Câmara. Pinto da Rocha, deputado gover-
nista, gaúcho, portanto, agrário, é presidente do Banco Comercial dos
Varejistas. Bianor de Medeiros é deputado bernardista e gerente do
clerical Banco Popular do Brasil. Plácido de Mello, panegirista do
agrário Calmon, panegirista do agrário Bernardes, no comício legalis-
ta de 24 de julho, filisteu, conformista, ex-presidente do Banco Popu-
lar, de um lado ganha, no Rio, no ministério da agricultura, os venci-
mentos de ajudante de inspetor agrícola em Mato Grosso e, do outro
lado, funda caixas rurais com as diárias pagas pelo mesmo ministé-
rio e torna-se satélites do Banco do Distrito Federal, de que é presi-
dente. A Sociedade Mineira de Agricultura e o Banco Hipotecário e
Agrícola de Minas, aliam-se numa só pessoa para manifestar seu
pesar junto ao túmulo do agrário Raul Soares, presidente do agrário
Estado de Minas. O conselheiro Antonio Prado, fazendeiro, monar-
quista e católico, irmão do fazendeiro monarquista e católico Eduardo
Prado, e presidente do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo.
O atual vice-presidente da república já foi ministro da agricultura e
presidente da comissão de finanças da Câmara. Andrade Bezerra,
ex-deputado rerum novarum, é representante do Banco Nacional
Agrícola de Lisboa e presidente do conselho consultivo do Banco
Católico do Brasil. O Estado burguês agrário de Minas, o governo
burguês agrário de Minas, intervêm no Banco de Crédito Real e
Hipotecário e no Banco Hipotecário e Agrícola com o fim de empres-
tar dinheiro aos agrários de Minas, Entre os componentes da missão
inglesa, quatro são financistas, e um, Lord Lovat, é grande proprietá-
rio rural e ofereceu 20 mil contos por uma fazenda com 4 milhões de
cafeeiros em Araraquara. Fora do Brasil, Metternich baseou sua polí-
tica feudal e clerical nos agrários e financistas. Mauricio de Rotschild,
financista, ocupa-se de agricultura na Câmara francesa. Como o
agrário se dá com o financista e vice-versa!
As companhias de seguros, irmãs dos bancos, fornecem aliados
preciosos ao agrário político. Assim é que Whitaker, agrário e finan-
cista, fundou a Companhia Americana de Seguros e a Companhia
Nacional de Seguros de Vida. Afonso Celso, bernardista, foi diretor
da companhia de seguros "A Equitativa". Antonio Carlos, deputado,

260
Br pranasB ve.cNC.EEE, 820 LL405G am ob ip à 66

é diretor da SulAmérica. Henrique Lage, bernardista, é presidente de


duas grandes companhias de seguros, o Lloyd Sul-Americano e o Lloyd
Industrial Sul-Americano. Góes Calmon, agrário político, inaugura-
dor de caixas Raiffeisen. Plácido de Mello, baiano, isto é, agrário,
governador agrário do Estado da Bahia, é acionista da Companhia
Aliança, que, em 1923, duplicou o capital, deu um dividendo de 20%
na importância de 1.200 contos e um lucro líquido de 4.551 contos.
Afrânio de Mello Franco, politiqueiro agrário, é presidente do conse-
lho jurídico da companhia de seguros Previsora Rio-Grandense. Nos
Estados Unidos o bisavô do Morgan atual enriqueceu com empresas
agrícolas e especulações sobre seguros.
O agrarismo político manifesta-se na luta política das classes
pela reação. Reação agrária, feudal. Para compreender os laços
que existem entre o agrário, a política e a reação, é só olhar para
algumas figuras influentes na política, na religião etc. O presidente
da República, presidente de estados de sítio, o chefe do Estado. ..
de sítio, Metternich provinciano, apoiando-se, como este, na finança e
nos proprietários rurais feudais, é mineiro. O ministro da justiça
João Luiz Alves, nascido numa fazenda, neto de um senador e minis-
tro do império, filho espiritual do barão de Santa Helena, ex-secretá-
rio das finanças, em Minas, discípulo do caudilho gaúcho Pinheiro
Machado mineiro; e tendo ido a Academia de Letras substituir o
mineiro Pedro Lessa, foi saudado pelo mineiro Augusto de Lima.
O deputado bernardista Efigenio Salles, organizador de um batalhão
patriótico em Minas: mineiro. O deputado bernardista Joaquim Salles:
mineiro. O deputado Affonso Penna Júnior, filho de um monar-
quista, estudante do clerical Colégio do Caraça, bacharel por Minas,
deputado por Minas: mineiro. O ministro da aviação, Francisco Sá:
mineiro. O líder da maioria, Antonio Carlos, descendente do retró-
grado burguês comercial português, adversário financeiro de Ber-
nardes e colaborador político do mesmo, portanto, ventoinha política
como o outro Antonio Carlos, que foi revoltoso em 1817 e reacionário
em 1832: mineiro. O chefe da delegação brasileira junto à Liga das
Nações, Afrânio de Mello Franco: mineiro, ex-secretário da fazenda
em Minas, ex-líder da bancada mineira. O presidente de Minas, Raul
Soares: mineiro. O deputado que faz parte da Legião Marechal
Fontoura, Augusto de Lima, pai do auditor encarregado do inqué-
rito sobre a revolta de 1924: mineiro. Este último, que vai em
caminho de ser um Cruz e Silva - inquisidor dos Inconfidentes:
mineiro. O super-reacionário católico-monarquista Afonso Celso, o
filho do mais anti-republicano dos ministros do 2.o império, o homem
que teve a coragem inaudita de traduzir em verso a Imitação de
Cristo: mineiro, ex-deputado por Minas, em quatro legislaturas da
monarquia. O militante clerical João Gualberto: mineiro. O diretor
da E. F. São Paulo-Rio Grande, funcionário ultralegalista: mineiro.

261
BR DFanBSs va.onc.ere, 220 LL4 05 omo 0b;o dV £

Ora, quem diz mineiro, diz agrário, católico, feudal, reacionário. O


ministro das relações exteriores, Pacheco, ex-funcionário da polícia,
clerical, "bispo do exterior", como o chamou a mediocridade lante-
joulada do agrobanqueiro Plácido de Mello, é filho do Piauí, Estado
que, em 1920, tinha somente 55 estabelecimentos industriais ao lado
de 9.511 estabelecimentos rurais, o que revela seu atraso profundo.
O ministro da agricultura, Calmon: baiano, clerical, fazendeiro de
cacau, ex-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, agrário
retinto, amigo de Ruy, o agrofinancista. O governador da Bahia,
Góes Calmon: baiano, agrofinancista, esmagador político da revolta
de Sergipe. O ministro da fazenda, Sampaio Vidal, homem de altos
negócios: paulista, fazendeiro de café. O presidente da Câmara,
Arnolfo: paulista, fazendeiro de café, chefe político do interior, autor
de um projeto de lei celerada. Um dos membros principais da comis-
são de "justiça" do Senado, Adolpho Gordo: paulista, autor de duas
leis celeradas. O ministro da marinha, Alexandrino: gaúcho. O
ministro da guerra, Setembrino, militar profissional, filhote do Tesou-
to há meio século: gaúcho. O vice-presidente da república: usineiro,
agrário de Pernambuco. E o cardeal: pernambucano.
Examinemos este último com mais atenção. Seu antepassado
há mais de seis séculos e meio, Guido Cavalcanti, era gibelino, isto é,
partidário do imperador da Alemanha; casou-se com a filha de um
chefe gibelino (ver o panegírico dos Cavalcanti, feito pelo imperialis-
ta Elysio de Carvalho). Guido teve um amigo célebre: Dante, poeta
catolicão-feudal, primeiramente guelfo, isto é, partidário do papa,
posteriormente gibelino. Por conseguinte: Arcoverde, como cardeal,
é guelfo, partidário do papa; e, como Cavalcanti, é duplamente gibe-
lino, partidário do imperador. Alia, portanto, o papado ao imperia-
lismo ou, por outras palavras, o imperialismo romano-papal ao impe-
rialismo germânico. Ainda mais: seu antepassado no Século XV,
Giovanni Cavalcanti, foi amigo e embaixador dos banqueiros Médicis
(sempre a finança!); um outro, Bartholomeu, foi secretário de um
cardeal. E um outro, Felippo, que chegou a Pernambuco em 1558,
possuiu vários engenhos, quer dizer, foi grande proprietário rural.
O cardeal brasileiro pertence, pois, a uma família imperialista há mais
de seis séculos e meio, e agrário-aristocrática feudal há mais de três
séculos e meio.
Por essas e outras, não há que estranhar as leis excepcionais,
as prisões, os chibateamentos e as deportações, contra nós, trabalha-
dores; as prisões, o fechamento de jornais como o "Correio da Manhã"
e as intervenções anticonstitucionais, contra os pequeno-burgueses.
O burguês industrial não é tão reacionário: enquanto Bernardes
era contra a anistia aos revoltosos de 1922, Carlos de Campos era
favorável; no mesmo dia em que "O País" (7 de setembro) defende,
em artigo de fundo, a necessidade de "leis excepcionais e julgadores

262
ÉR pranssé ve:enc.eEE, 8 2 0 L 406 am oob ,o 16
8
inexoráveis", publica um telegrama sobre o indulto de Carlos de
Campos aos soldados revoltosos, considerados desertores. São dois
mundos que se chocam: o feudalismo e o industrialismo. O industria-
lismo despedaçará o feudalismo. E o comunismo despedaçará o indus-
trialismo burguês.
(Fritz Mayer, Agrarismo e Industrialismo),

B) LIGAÇÃO INTERNACIONAL

1) Apoio ao Socorro Operário Internacional (1924)


Aos camaradas da Aliança dos Operários em Calçados
e Classes Anexas
Em reunião pelo Comitê Nacional do S.O.I., realizada onteontem,
foi lido o seguinte ofício a ele dirigido:
"Rio, 5-6-924 - Ilmos. Srs. do Comitê do S.O.I. - Acusamos
o recebimento de vários ingressos da conferência em benefício
famintos alemães, e ao mesmo tempo aproveitamos a oportunidadedos de
devolvê-los, visto que nenhum compromisso assumimos com o dito
Comitê e, por conseguinte, o nosso completo desacordo por conside-
rarmos duvidosa a ação do mesmo Comitê. Sem mais (assinado) -
A comissão."
Este ofício tinha, abaixo, o seguinte adendo intimativo:
"N.B. - Pedimos não enviar-nos nada que se relacione com o
Comitê, porque não será tomado em consideração."
Até aqui o desastrado ofício. Passo a fazer
necessárias para confundir estes pseudo-intérpretes deasseusconsideraç ões
camaradas.
Fui encarregado pelos camaradas presentes à
resposta, em nome do Comitê Nacional do S.O0.I., reunião
aos
de dar uma
termos grossei-
tos do ofício que lhe foi dirigido por uma "Comissão ditatorial",
que, está ele certo, não exprime o pensamento da numerosa e cons-
ciente classe dos operários em calçados.
Isto porque a assembléia da Aliança não tomou conhecimento
do ofício a ela dirigido pelo Comitê nem tão pouco dos termos
insultuosos do ofício da "Comissão", em que lhe
Os cartões da conferência do camarada Astrojildo eram devolvidos
Pereira com o
adubo dos insultos.
Foi por isto mesmo que o Comitê Nacional do S.O.I. resolveu
apelar para os operários em calçados, a fim de que eles se manifestem,
263
ar oranese va.enc.eEE, 2201 L4 05 e'00 L.;-9 tªm
como é de seu direito, sobre os termos agressivos do ofício trans-
crito, dirigido a um organismo de que fazem parte proletários e
destinado a socorrer proletários
Nenhum operário xgnora que o Comitê Nacional do Socorro
Operário Internacional é uma seção local do Comitê Internacional
do Socorro Operário, ao qual pertencem inúmeros proletários e repre-
sentantes de todas as tendências revolucionárias do proletariado, inclu-
sive a anarquista. Basta citar, entre muitos, o nome do Dr. Elzbacher
que, por si só, vale muito mais que todos os que promovem essa
campanha antiproletária contra o S.O0.I.
Ao Comitê Nacional daqui aderiram os camaradas dos Marce-
neiros, dos Carpinteiros Navais, do Centro Cosmopolita, da União dos
Empregados em Padarias, da União dos Alfaiates, da União dos Ope-
rários em Tinturarias e do Sindicato dos Cocheiros, obtendo ele mais
algumas adesões individuais de pessoas que não podem ser suspeitas
ao proletariado.
Mesmo que os membros da chamada "Comissão" discordassem
dos fins do comitê, que talvez ignorem, ou tivessem dúvidas a seu
respeito, porque não trataram, até hoje, de verificar o seu funciona-
mento, a sua composição e não vieram até nós como inimigos leais,
não embuçados num ofício em que a insídia se alia ao destempero
de linguagem?
Saberá, por acaso, a chamada "Comissão" que o S.0.I. é uma
organização proletária internacional destinada a socorrer economica-
mente o proletariado internacional? Se ele concentra agora seus esfor-
ços no socorro ao proletariado faminto da Alemanha, pois que a fome
na Alemanha significa, em primeira linha, a fome do proletariado
alemão, é porque as condições do proletariado na Alemanha, em
contínua e heróica luta contra os seus exploradores, tornam-se cada
vez piores, sendo preciso ampará-los com o auxílio do proletariado
mundial, que sendo modesto, representa uma grande e inestimável
força moral.
O proletariado do Brasil não poderia ser o único a abandonar os
seus companheiros da Alemanha e por isto instituiu o seu Comitê
Nacional do S.O0.I., que tem sede nesta capital, e se irá estendendo
pelos Estados na medida do possível.
Amanhã, quando nos encontrarmos em situação idêntica à da
Alemanha ou, para dizer melhor e evitar o veneno de certas cobras
pseudo-revolucionárias, do proletariado da Alemanha, o proletariado
do mundo, pois estamos dentro do mundo e não constituímos um
proletariado à parte do mundo, há de vir em auxílio do proletariado
do Brasil, por intermédio deste tão malsinado Socorro Operário
Internacional.
Perguntamos, pois, aos camaradas que trabalham nas oficinas
de calçado e aos que fazem parte da Aliança, e não à "Comissão",

264
LL4 oS e- ogl,e.270
BR DFANBSB V8.GONC.EEE, 82 O

cuja entidade é desconhecida, se uma obra destas "pode ser duvidosa,


se é lícito distinguir entre operários brasileiros e estrangeiros", quando
uma só é a família operária, e ela se destina a solidificar a solidarie-
dade internacional dos trabalhadores, internacionalmente explorados
pelos exploradores internacionais.
Repelindo, portanto, o insulto que lhe foi atirado por uma
"Comissão" que não pode, de forma alguma, representar o pensa-
mento de uma classe, o Comitê Nacional do Socorro Operário Inter-
nacional apela para a coletividade dos operários, em calçados, cuja
solidariedade é por demais conhecida e cujo amor à causa proletária,
proclamado por todos, será suficiente para condenar os que abusam
do seu nome e do seu prestígio no meio proletário.
Da grosseira insinuação do ofício que recebeu, não foi lido na
assembléia da classe, e foi expedido à sua revelia, apela o Comitê para
a própria classe dos operários em calçados, certo de que ela tomará
em conta o seu apelo, e negará apoio aos que o redigiram e que inter-
pretaram, de modo infeliz, a consciência proletária e a solidariedade
dos trabalhadores.
Pelo Comitê Nacional do Socorro Operário Internacional -
Paulo P. T.acerda, secretário geral.
(O País, 13.06.1924).

2) As tarefas do movimento sindical na América Latina:


resoluções tomadas pela Conferência Sindical Latino-
Americana realizada no mês de abril de 1928

1.a) O movimento proletário da América Latina atravessa


atualmente um período de tempestuoso desenvolvimento. Isto se
explica, antes de tudo, pela rápida industrialização de toda a América
Latina e pela pressão que exerce o imperialismo americano e inglês
sobre as massas populares de todo o continente.
A industrialização incorpora ao processo da produção novas
centenas de milhares de operários, agrupa e concentra dezenas e cen-
tenas de milhares de trabalhadores, criando, assim, as perspectivas de
um movimento sindical organizado e de massas.
Por outra parte, o imperialismo, devido a toda uma série de
fatores (repressão contra 'o movimento proletário por intermédio das
ditaduras políticas, diminuição de salários, desocupação etc.) provoca
um grande movimento de protesto das massas, movimento que toma um
caráter antiimperialista nítido e inconfundível. ,
As condições econômicas nos países da América Latina são
muito diferentes. Encontram-se todas as categorias e regimes econô-
micos, começando pelo feudalismo e terminando com um capitalismo

265
BR DFanNBSB Va.GNC.EEE 820 LL405 amool 0 ªqi?
que já chegou a um nível bastante elevado de desenvolvimento, como
consegiiência da penetração imperialista.
Sem embargo, pode-se afirmar que a situação objetiva é muito
favorável para o desenvolvimento e ação da classe operária, apesar da
reação que reina em quase todos os países, apesar do terror e das
ditaduras que detêm o poder em numerosos países da América Latina.
2.a) A situação é ainda muito favorável para o crescimento e
a organização dos sindicatos, devido a que existe uma efervescência
revolucionária contínua, quase incessante, em todos os países da
América Latina; efervescência que é o reflexo de uma transição que
se opera do regime feudal e de servidão, ao regime burguês e
capitalista.
De todas as revoluções que houve na América Latina a mais
vasta foi a mexicana. E foi uma revolução pequeno-burguesa, apesar
de que o atual governo mexicano leva um rótulo socialista. A revo-
lução mexicana, que em seus princípios tinha um certo conteúdo
social, representado por importantes reivindicações econômicas e que
estalou com a participação de grandes massas operárias e camponesas,
sob a direção da pequena burguesia, se tem desviado, orientando-se
mais para a direita e entrando no caminho das concessões ao
imperialismo.
Vemos atualmente no México a consolidação do poder nas mãos
de uma burguesia nascente que trabalha para firmar sua hegemonia
e para a realização de seus fins econômicos de exploração. No estado
atual de seu desenvolvimento, o rótulo socialista é um dos meios graças
aos quais a burguesia fez participar as massas na luta pela realização
de fins burgueses na revolução.
As revoluções do Chile e Equador, em fins de 1925, são muito
diferentes da mexicana pelas suas bases sociais e pelos objetivos de
suas realizações, porém elas são provas da tendência da burguesia a
utilizar as massas operárias e camponesas para sua própria obra de
dominação.
Numa série de outros países, os partidos liberais se encobrem
com uma fraseologia de esquerda para apoderar-se do poder em bene-
fício da burguesia industrial e financeira.
3.a) Toda a vida política dos países da América Latina, e
sobretudo a dos que ainda hoje são nominalmente livres (Colômbia,
Chile, Equador, Brasil, Argentina etc.), está complicada por uma luta
encarniçada entre os imperialismos americano e inglês.
Em numerosos países, certas frações da burguesia, que são
adversárias resolutas do imperialismo americano, estão intimamente
ligadas ao imperialismo inglês, e eis como, a miúdo, a máscara da luta
pela independência encobre a diplomacia inglesa e o ouro inglês.
266
b; (1: 2792
32 0 LL 40S on 0o
Broranoss

Pelo contrário, onde os partidários da Inglaterra se encontram


no poder, outras camadas da burguesia que se encontram sob a
dependência do. imperialismo americano se apresentam como defen-
soras da nacionalidade contra a dominação do capitalismo inglês e
trabalham abertamente para a preparação de revoluções, com o fim
de transformar o país num campo de exploração do imperialismo
americano.
4.a) As massas camponesas têm uma grande importância em
toda a América Latina. Em numerosos países, as massas camponesas,
e principalmente os índios (Peru, Equador, Colômbia etc.), se encon-
tram ainda em estado de escravidão, e constituem uma vasta reserva
de energias revolucionárias. i
, Onde a revolução se produziu (México), os trabalhadores do
campo criaram importantes organizações que já desempenham um
papel sumamente ativo nos acontecimentos, e é de todo evidente que
as massas camponesas da América Latina são os melhores aliados da
classe operária na luta contra o imperialismo.
Sem embargo, as organizações operárias de todos os países da
América Latina (salvo o México), têm sido muito pouco ativas no
sentido do trabalho entre os camponeses; não avaliavam suficiente-
mente a importância dos camponeses na luta das massas laboriosas da
América Latina contra o imperialismo inglês e americano. O Equador
e o Peru, onde os camponeses são mais escravizados e o regime feudal
mais forte, se dedicou uma certa atenção ao problema camponês. Em
outros países não lhe prestam atenção, e deixam-se guiar, sem dúvida,
pela idéia de que os camponeses não podem ser aliados da classe
operária.
5.a) O movimento proletário da América Latina se caracteriza
por um fracionamento político extremo e por uma dispersão de orga-
nização. Este fato caracteriza todo o movimento proletário. Peque-
nas organizações, ausência de uma forte base financeira, ações fre-
quentes e mal preparadas, muitas frases e poucos atos revolucionários.
Estas formas e métodos de organização que, em certo sentido,
correspondiam a um período histórico bem determinado, isto é, de
pouco desenvolvimento industrial na América Latina e, por conse-
guinte, a debilidade ideológica da classe proletária, foram e são, hoje
em dia, completamente ineficazes, tomando-se em consideração o
ritmo atual da industrialização do capital imperialista.
Por outra parte, constituiram-se em vários países da América
Latina (México, Argentina), organizações reformistas muito conside-
ráveis, que têm todos os vícios do reformismo europeu e americano:
colaboração com a burguesia, abandono da luta de classes, substitui-
ção dos objetivos gerais de classe por questões puramente econômicas,
renúncia à luta revolucionária contra o imperialismo.

267
BR DFANBSB Va.GNC.EEE, 220 LLUOS amodb “»?“
Essas duas correntes que se manifestam no sindicalismo da
América Latina debilitam o movimento proletário desses países,
desviando as massas proletárias do verdadeiro caminho revolucio-
nário e dos verdadeiros métodos de luta.
6.a) Estes últimos anos se caracterizam igualmente pelo feito
de que, sob a influência da Revolução de Novembro, em todos os
países da América Latina assistimos à formação de uma vigorosa
corrente revolucionária que bate completamente aqueles métodos
primitivos e reformistas de luta e de organização das massas. É uma
corrente revolucionária, de classe, que tende a criar organizações
sindicais, não para colaborar com a burguesia, mas sim para comba-
tê-la; é uma corrente que se dá conta de que, nem a fraseologia
demagógica, nem a luta mesquinha do reformismo poderão fazer sair
as massas proletárias deste estado de dispersão, de desorganização e
de relativa debilidade em que elas se encontram.
É por isso que a maior parte das organizações operárias da
América Latina compreendeu bem que somente sobre a base da
experiência revolucionária internacional se poderá dar um novo passo
para a organização das grandes massas de trabalhadores do conti-
nente, . que somente sobre a base de uma tática clara, nítida, que já
deu suas provas, é que se poderá conduzi-las à vitória sobre a
burguesia.
7.a) Seja qual for a diversidade das condições econômicas, de
vida e de costumes, na América Latina, os sindicatos de todos os
países têm certos objetivos comuns que podem ser formulados da
seguinte maneira:
a) Luta pela organização dos não organizados, pelo recrutamento
sindical de todos os trabalhadores, inclusive jovens e imigrantes; e
pela reorganização de organizações sindicais, de acordo com o prin-
cípio dos sindicatos por indústria.
b) Luta pela criação de uma organização única em cada país
sobre a base da luta de classe.
€) Luta pelo direito sindical, liberdade de imprensa, de reunião,
de organização e greve.
d) Luta contra o terror, contra as ditaduras militares e contra
a subordinação a um ou outro grupo imperialista.
e) Luta para atrair para o campo da classe operária as grandes
massas camponesas, com o fim de estabelecer com elas uma frente
única para a luta contra o imperialismo e a reação nacional, sob a
seguinte palavra de ordem: Toda a terra para os camponeses que a
trabalham.
f) Luta contra a Confederação Pan-Americana (C.O.P.A.), que
leva a decomposição ao seio das massas proletárias e procura subor-
dinar os interesses da classe trabalhadora aos do imperialismo
ianque.
268
srofansse vsenceeE, 820 [ L40 Sá out ip 274

ao movi-
g) Luta contra o imperialismo e seus agentes, apoio
os países da
mento de emancipação das massas laboriosas de todos
padora de todos os povos
América Latina, ajuda ativa à luta emanci
coloniais e semicoloniais.
l Latino-
h) Luta direta, por intermédio da Confederação Sindica
so continen tal de Montevi déu,
-Americana, que será criada no Congres
Sindica l Única e de classe, que agrupe Os
em prol da Internacional
trabalh adores de todos os países, raças e continen tes.

(O Trabalhador Latino-Americano, 15.11.1928).

(1928)
3) O movimento revolucionário na América Latina

nossa tática. É
Aqui esboçarei somente as diretrizes gerais da
adapta das por cada partid o à situação con-
claro que deverão ser
Entret anto, essas tarefas gerais, resulta ntes da análise
creta do país.
dar a todo o nosso
precedente, devem ser fixadas se se quiser
orient ação idêntic a, e criar uma
movimento latino-americano, uma
revolu cionár ias das massas e do trabalho dos
coordenação das lutas
nossos partidos.
revolucionárias,
A primeira questão é a da frente única das forças
em geral, com as
das relações de nossos partidos e do proletariado,
revoluc ionária s. O proleta-
outras classes ou outras camadas sociais
em primei ro lugar, unir-se estreitamente
riado e seu partido devem,
organi zando os operár ios agrícol as como uma fonte
ao campesinato,
os colono s, em
para organizar os camponeses pobres, os arrendatários,
a do Krestin tern. Somen te
ligas camponesas orientadas para a polític
ariado industr ial com a grande massa dos
a aliança estreita do prolet
imperialismo
operários agrícolas e dos camponeses explorados pelo
resolve r os problemas
e pelos proprietários de terra, será capaz de
cionár io latino -ameri cano.
fundamentais do movimento revolu
coloca também
A frente única das forças revolucionárias, porém,
e dos comuni stas com a
a questão das relações do proletariado
formaç ões polític as. Nossa atitude a respei-
pequena burguesia e suas
s revolu cionár ias da pequen a burgue sia (intelectuais,
to das camada
atitude a respeito das
artesãos, funcionários etc.) é diferente de nossa
Temos a seu respeito a dupla
diversas camadas do campesinato.
com ela a frente única revolu cionár ia contra o
tarefa de constituir
em que ela seja
imperialismo e os proprietários de terra, na medida
ao mesmo tempo de combat er
um fator revolucionário da situação, e
ões, seus compro missos , suas traiçõe s, de
e denunciar suas vacilaç
arranc ar-lhe a hegem onia na luta e tomar a direçã o das
maneira a
sua influência.
grandes massas camponesas que se encontram ainda sob

269
BRDFAanBSB va.oNc.EEE, 201 Som Oºlxogqí
Com muita frequência, nossos companheiros sul-americanos não
têm observado mais que a primeira tarefa. Têm apoiado, sustentado
com todas as forças de que dispõem, o movimento revolucionário
dirigido pelos politiqueiros e os generais pequeno-burgueses, fazendo
do proletariado e das massas camponesas no movimento, o auxiliar
útil e necessário dos golpes de Estado ou das operações militares
da pequena burguesia, sem colocar com força suficiente as reivin-
dicações próprias das massas exploradas, sem conservar e desenvolver
no curso dos movimentos comuns a autonomia de organização e de
independência ideológica das organizações operárias e camponesas,
sem lutar no seio mesmo da frente ampla revolucionária pela hege-
monia do proletariado. a
Nossos partidos devem constituir uma frente única revolucionária
com a pequena burguesia revolucionária, mas não na posição de
um auxiliar benevolente que leva suas forças e sua ajuda à pequena
burguesia que dirige o movimento e sim como uma força autônoma
e consciente, conhecendo as debilidades de seus aliados, sabendo
que somente a classe operária é capaz de resolver os problemas
fundamentais do movimento revolucionário e que, sempre tomando
a si a parte mais ativa na luta, se esforça por fazer com que as
massas em movimento aceitem seu programa, imprimindo-lhes sua
ideologia, reforçando sua influência e sua organização no seio do
bloco revolucionário e, por último, conquistando sua direção.
Participar de uma frente única sem se colocar antecipadamente
a questão da conquista da hegemonia do proletariado na luta, é
colocar-se a reboque da pequena burguesia e trair definitivamente
os interesses das massas operárias e camponesas.
É partindo desta dupla missão que nossos partidos devem
abordar o problema de sua atitude a respeito dos governos revolu-
cionários pequeno-burgueses, dos partidos revolucionários e das for-
mações armadas da pequena burguesia.
É claro que nossos partidos não podem adotar, a respeito dos
governos revolucionários pequeno-burgueses - a respeito do governo
mexicano ou do governo de Sandino na Nicarágua, em particular -
a mesma atitude que a respeito dos governos burgueses da Europa
ocidental. Apesar de seus compromissos e até de suas traições, esses
governos realizam uma luta revolucionária contra o imperialismo e
contra a classe dos grandes proprietários de terra apoiados pelos
imperialismo, o clero e todas as forças revolucionárias. O partido
mexicano teve razão sustentando a ação armada do governo Calles
e do General Obregón contra as insurreições reacionárias. Porém o
fez incondicionalmente, como um auxiliar, não tendo tratado de
participar na defesa das conquistas revolucionárias, mobilizando ele
mesmo as massas, organizando-as sob sua influência, lançando pala-
vras de ordem que não somente as arrastassem à luta contra a
270
AV
"er pranesa va.enc.eE, 320 LLUO Sam 00 L, p

insurreição das forças reacionárias, mas também convidando-as a


prosseguir esta luta pela realização de suas próprias reivindicações.
Sob outra forma, pode-se fazer a mesma observação no Equador
e no Chile, onde os comunistas não conservaram sua independência,
não desenvolveram uma atividade suficiente para manter o contato
com as massas revolucionárias e atrai-las não somente à frente ampla
contra o retorno ofensivo da reação, mas também contra a política
vacilante da pequena burguesia no poder, para a solução do pro-
blema agrário e da luta antiimperialista.
A atitude dos comunistas a respeito dos partidos revolucionários
pequeno-burgueses deve inspirar-se também nos mesmos princípios:
frente única revolucionária; participação ativa em todo o movimento
revolucionário; em sua preparação, mas, paralelamente, mobilização
das massas operárias e camponesas em torno das palavras de ordem
de nosso partido e das organizações dirigidas por ele; luta no seio
do bloco revolucionário pela hegemonia do proletariado.
Os comunistas devem, pois, evitar aderir como partido a um
partido nacionalista revolucionário pequeno-burguês, como existe em
Cuba, Venezuela etc., mas devem-se esforçar por realizar, nas
condições assinaladas acima, a frente única com essas organizações.
Também é claro que a questão da hegemonia do proletariado
não pode ser colocada como uma condição para a formação de uma
frente única revolucionária. A hegemonia deve "ser conquistada" no
curso da luta comum pelo esforço e pelo trabalho do próprio par-
tido; é possível, pois, que no começo de uma ação comum, o partido
comunista, ainda débil, esteja em uma posição subordinada e que
a hegemonia pertença ainda à pequena burguesia. O essencial é
que o partido comunista não admita essa posição inicial como decisiva
e que toda sua ação tenda a conquistar a influência decisiva sobre
as massas, a direção e a hegemonia na luta, contribuindo o mais
ativamente possível para a vitória do bloco revolucionário.
Na fase democrático-burguesa do movimento revolucionário, o
momento mais importante, o momento decisivo é aquele em que
a hegemonia do proletariado passa das mãos da pequena burguesia
às mãos do proletariado. Este momento é produzido no curso da
luta revolucionária, quando o partido «do proletariado adquire a
influência decisiva sobre as massas, graças a seu trabalho de propa-
ganda e de organização entre os operários, os camponeses e certas
camadas da pequena burguesia.
A orientação posterior do movimento revolucionário, sua capa-
cidade para resolver as questões fundamentais da revolução burguesa
democrática, sua transformação em uma revolução proletária, depen-
dem disso.
A hegemonia pequeno-burguesa imprime à luta revolucionária
uma forma típica na América Latina: o golpe de Estado militar,

271
ar pranase ve.enc.eee, $20 L LOS anoob, p. 2

a ação de uma parte do exército e de destacamentos dos operários


e camponeses armados sob a direção de oficiais pequeno-burgueses
para a tomada do poder. As greves e insurreições dos operários nas
cidades e dos camponeses nas campinas, a ação de massa, em geral,
é somente um auxiliar da ação militar propriamente dita. A luta
pelo poder político está no primeiro plano e as reivindicações funda-
mentais dos camponeses e dos operários são utilizadas como alavanca
revolucionária acessória, sem que a pequena burguesia organize as
massas e as impulsione no sentido de criar os órgãos capazes de
assegurar a realização de suas reivindicações.
Em caso de triunfo do movimento, o governo da pequena
burguesia toma quase sempre a forma de um governo de ditadura
militar. Um general ou um grupo de generais exercem o poder
apoderando-se do exército, mas não das massas. O governo revolu-
cionário realiza sua política sem fiscalização e participação direta
dos operários e dos camponeses, dos quais geralmente desconfia e aos
quais trata de desarmar, de neutralizar demagogicamente, sem atender
suas reivindicações fundamentais, por causa da pressão do imperia-
lismo. Cedo ou tarde, o poder revolucionário chega a um compromisso
com o imperialismo e os proprietários de terra, traem os interesses
das massas revolucionárias e deixam sem condição os problemas
que se encontravam na base do movimento revolucionário.
A luta revolucionária sob a hegemonia da pequena burguesia
pode conduzir à tomada do poder e à mudança da equipe governa-
mental; pode acenar com alguns gestos demagógicos contra os
proprietários de terra e ampliar as liberdades democráticas. Não
pode, porém, resolver de maneira conseqgiiente e firme os problemas
fundamentais da revolução burguesa democrática, o problema agrário
e problema antiimperialista, e como as massas desiludidas e des-
contentes continuam sua agitação para a solução dessas questões
fundamentais, os governos pequeno-burgueses voltam cada vez mais
sua repressão contra o movimento operário e camponês, reprimindo
as greves e desarmando os camponeses (México, Equador).
A hegemonia do proletariado, ao contrário, determina métodos
de luta e órgãos de poder revolucionário totalmente diferentes. É
uma coisa que nunca será demais assinalar, porque muitos camaradas
da América Latina têm ainda a idéia de que a luta revolucionária
sob a direção do proletariado permanecerá nos velhos moldes da
ação puramente militar e nos mesmos quadros da luta revolucionária
da pequena burguesia liberal.
Sem dúvida a ação armada das massas pelo poder comporta a
necessidade de uma organização militar cuja importância decisiva
não pode ser desprezada. Igualmente, é extremamente importante
que o trabalho de desagregação do exército governamental seja levado
profundamente, para que uma parte das forças armadas do Estado,

272
Li 405 e, 00 (pa 218
eroraness va.cneleeE RO

passe para o lado da insurreição e sustentem ativamente o movimento


das massas. Estas verdades são elementares. Mas, enquanto sob a
hegemonia pequeno-burguesa, a ação do exército é o fator essencial,
sob a hegemonia do proletariado, a ação das massas operárias e
camponesas, seu armamento, sua organização, é o fator revolucionário
essencial. O apoio de uma parte do exército é um auxiliar impor-
tante, mas se subordinada ao movimento de massa dos operários e
camponeses.
No decurso das insurreições camponesas e dos movimentos
revolucionários, os comunistas devem não somente colocar com
firmeza a questão do fornecimento de armas aos operários e cam-
poneses, mas também a da criação dos órgãos eleitos pelos operários e
camponeses, capazes de dirigir a luta e que, de órgãos dirigentes da
insurreição, se transformem em órgãos do poder operário e camponês
após a vitória. A palavra de ordem de criação de soviets camponeses
no campo, de soviets operários e soldados nas cidades deve ser
lançada e, se possível, realizada no curso de todo o movimento
insurrecional dos camponeses e das massas operárias.
Esta palavra de ordem propõe a questão da dualidade do poder.
Ao lado do poder central, devemos forçar a tendência ao surgimento,
da massa operária e camponesa em movimento, dos elementos de
um novo poder, do poder dos operários e camponeses.
(Aqui, o autor traz exemplos do Equador, México, Colômbia,
e continua) *:
Nessas condições, o poder revolucionário terá um caráter muito
distinto. Em lugar da "tradicional" ditadura militar que repousa
primordialmente sobre o exército e que "governa" as massas por
intermédio dos governadores provinciais, o movimento revolucionário
sob a hegemonia do proletariado criará a ditadura democrática dos
operários e dos camponeses, poder surgido do seio mesmo das massas
no decurso da luta, apoiado nos soviets operários, camponeses e de
soldados.
A palavra de ordem central deve ser, então, a do governo
operário e camponês.
É claro que a revolução democrático-burguesa tem um caráter
muito diferente caso obtenha a direção a pequena burguesia liberal
ou o proletariado. Sob a hegemonia pequeno-burguesa, ela não pode
resolver seus problemas fundamentais e degenera rapidamente numa
ditadura militar, que se esforça por buscar um o
imperialismo e a velha classe dirigente dos proprietários de terra e
termina por reprimir o movimento operário e camponês. Somente
um governo operário e camponês pode realizar as tarefas históricas
da revolução democrático-burguesa.

* No original.
8)0LL40Sgâo aº“? DUB
BR DFAaNBSB va.GnC.EEE.

Qual é o programa geral de um governo semelhante?


Quais são as palavras de ordem essenciais que devemos agitar,
lançando a palavra de ordem central de governo operário e cam-
ponês?
1. Expropriação sem indenização e nacionalização do solo
do subsolo. Entrega da terra àqueles que a trabalham, para suae
exploração coletiva por comunas agrícolas.
2. Confisco e nacionalização das empresas estrangeiras (minas,
empresas industriais, bancos etc.).
3. Anulação das dívidas de Estado e de toda forma de fisca-
lização do país pelo imperialismo.
4. Jornada de 8 horas e supressão das condições semi-escravistas
de trabalho.
5. Armamento dos operários e camponeses, (empastelado)
6. Abolição do poder dos proprietários de terra e organização
do poder dos soviets operários, camponeses e soldados.
A questão da unificação nacional não se coloca nos países da
América Latina considerados separadamente, mas parece-me neces-
sário lançar uma palavra de ordem que, de uma parte, marque
bem a luta do conjunto da América Latina contra o imperialismo,
a estreita solidariedade dos países da América Latina nesta luta, e
que, de outra parte, destaque a vontade de pôr fim às divisões
às lutas nacionais entre Estados da América Latina, cuidadosamentee
alimentadas e avivadas pelo imperialismo ianque. Os conflitos
fronteiras são numerosos nos países latino-americanos, contribuemde
para manter a divisão proveitosa para os imperialistas, a manter o
chauvinismo dos povos e desviá-los da luta contra o imperialismo
e contra os proprietários de terra, levantando-os uns contra os outros.
A palavra de ordem geral para a América Latina
União federativa das repúblicas operárias e camponesas dadeve ser:
América
Latina.
J. Humbert-Droz
(La Correspondencia Sudamericana, Buenos Aires, 30.09.1928).

4) Projeto de Teses sobre o movimento revolucionário da


América Latina (1930)
INTRODUÇÃO
1. O movimento revolucionário da América
se desenvolva em alguns países sob formas específicaLatina,
s
embora
determina das
por suas diversas condições históricas, políticas e econômicas, oferece,
entretanto, um conjunto de características gerais comuns que permi-
274
Br ormoss ve.enc.ecE, 82 0 LLUO Sam oo Y 230

tem fazer uma análise de conjunto, fixar as perspectivas gerais de


seu desenvolvimento e estabelecer as grandes linhas da tática e as
tarefas essenciais dos comunistas. /
A tarefa do C.E. da I.C. será concretizar as diretrizes gerais e
R
adaptá-las à situação particular de cada país,

Características políticas e econômicas gerais


das repúblicas sul-americanas

2. Com exceção de algumas ilhas das antilhas, das três Guianas


e das Honduras Britânicas, que permaneceram colônias de diferentes
potências imperialistas européias, os países da América Latina ofere-
cem a característica comum de serem antigas colônias espanholas ou
portuguesas, que se libertaram no decorrer do século passado em
guerras de libertação nacional e se transformaram em Estados formal-
mente independentes. Sua libertação da Espanha ou de Portugal
deu-se antes do período do imperialismo, mas ela não determinou o
desenvolvimento capitalista próprio e independente desses países.
O imperialismo britânico fez rapidamente da América Latina uma
importante esfera de exploração e investimento de seus capitais.
Nas vésperas da guerra imperialista, tinha ele em investimentos, nas
grandes propriedades de terras, transportes, minas, empréstimos
públicos etc., cerca de um milhão de libras esterlinas e gozava de
uma incontestável hegemonia, deixando muito atrás os Estados
Unidos (o imperialismo norte-americano) que se esforçavam por
penetrar na América Latina.
Após a guerra imperialista, a penetração do capital ianque na
América Latina tornou-se extremamente ativa.
No período de pós-guerra ele quadruplicou o montante de seus
investimentos (300% mais em 1927 que em 1913) enquanto o
imperialismo britânico aumentava os seus na proporção de 15 a
20% apenas, durante o mesmo período. É evidente, pois, que se
a soma dos capitais do imperialismo britânico investidos na América
Latina é ainda ligeiramente superior à do imperialismo ianque, isto
não basta para estabelecer a força respectiva dos dois imperialismos
na América Latina e a tendência geral de seu desenvolvimento. Entre
eles se desenvolve uma luta encarniçada na qual, muito rapidamente,
o imperialismo ianque conquista a hegemonia. Ele já tem uma posi-
ção dominante na América Central e na parte norte da América do
Sul (Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru). Cada ano suas
posições se fortificam, em detrimento da Grã-Bretanha na parte sul
do continente (Argentina, Brasil, Uruguai), onde o imperialismo bri-
tânico possui ainda uma posição dominante.
A média anual dos investimentos de capitais norte-americanos
a partir do fim da guerra imperialista é aproximadamente cinco vezes

275
BR DFANBSB ve.oNc.EEE.3h0 L1 405 am 001, p. 28!

superior à dos investimentos britânicos. A "tendência do


desenvol-
vimento" é, pois, nitidamente orientada para a hegemonia do imperia-
lismo ianque na América Latina. Esta tendência, já evidente, quando
se considera que o desenvolvimento dos investimentos de capitais
é
confirmado por outros fatos: o comércio exterior e as trocas comer-
ciais dos países da América Latina, orientam-se cada vez mais
na
direção dos Estados Unidos. 66% dos produtos fabricados importad
os
pela América Latina provêm dos Estados Unidos. O papel
da Bolsa
de New York na fixação dos preços de produtos latino-americano
s
é determinante, e a penetração do capital ianque prossegu
e nas
empresas que até agora estavam inteiramente em mãos do
capital
britânico (cobre do Peru, nitrato do Chile, transportes etc.).
O capital americano investe seus capitais principalmente nas
minas (petróleo, cobre, nitrato etc.), nas indústrias ligadas à prepara-
ção das matérias-primas do solo e do subsolo (açúcar, tabaco, carne,
borracha), nos transportes, nos serviços públicos do Estado e nos
empréstimos públicos.

O imperialismo ianque emprega todos os meios de corrupção


e de coação, para colonizar a América Latina; provoca, aqui, os
conflitos entre Estados, inclusive guerras civis para poder intervir
como "árbitro" ou "pacificador", sustenta os governos mais reacio-
nários (Machado em Cuba, Gomez na Venezuela), ali, a pequena
burguesia revolucionária liberal (Brasil), acolá, ainda, o fascismo
(Ibafiez no Chile), segundo os interesses da luta contra o imperia-
lismo britânico e da exploração das massas operárias e campones
as
da América Latina. O controle da América Central e das Antilhas
é
particularmente importante do ponto de vista estratégico e militar,
e
para a expansão futura do imperialismo ianque (Canal do
Panamá,
projetos de canais na Nicarágua e Colômbia).
O conflito de interesses entre o imperialismo britânico e o
imperialismo dos Estados Unidos, que constituem o eixo funda-
mental das contradições internacionais do sistema capitalista, encon-
tra na América Latina, um de seus principais abrigos. A América
Latina tem, pois, uma importância de primeira ordem como uma das
fontes de conflito e de novas guerras imperialistas. O conflito entre
0 Paraguai e a Bolívia é, no fundo, um episódio da luta dos dois
mais poderosos imperialistas na conquista do petróleo sul-americano.
A América Latina é, no seu conjunto, um dos mais importantes
campos de batalha do imperialismo ianque e do imperialismo britâ-
nico. Muito rapidamente, o primeiro conquista a hegemonia e
faz da
América Latina um vasto domínio colonial. O caráter semicolonia
l
dos países da América Latina, apesar de sua independência política
formal mais ou menos grande, é, por conseguinte, evidente.

276
BR DFANBSB V8.GNC.EEE.R2O LLQOSMOO—pr, 282
3. O caráter semicolonial dos países da América Latina aparece
também em sua estrutura econômica e social.
A produção agrícola predomma no conjunto da América Latina.
Domina por toda parte o regime da grande propriedade da terra,
das grandes plantações e dos grandes latifúndios, englobando em
certos países até várias centenas de milhares de hectares.
Essas grandes proprledades foram tomadas à força aos indígenas
que viviam sob. o regime do comunismo primitivo e que foram des-
pojados de suas melhores terras pelos "brancos". As grandes pro-
priedades de terra estão atualmente nas mãos do capital estrangeiro
ou da classe dos proprietários de terras nacionais, na sua grande
maioria descendentes dos conquistadores espanhóis e portugueses.
Mas, embora as condições de trabalho se tenham. conservado ali semi-
-escravagistas €, quaisquer que sejam seus processos de cultura,
primitivos ou racionalizados, a grande propriedade territorial na
América Latina representa cada vez menos uma forma de produção
pré-capitalista feudal que entrava a integração da produção agrária
da América Latina no sistema capitalista imperialista mundial de
produção. Ao contrário, a grande propriedade territorial, qualquer
que seja sua forma de produção, incorpora-se cada vez mais ao
sistema de exploração capitalista imperialista e forma uma das bases
da ecexploração das massas operárias e camponesas e da pllhagem da
América Latina por parte dos diversos imperialismos, e em primeiro
lugar por parte do imperialismo ianque. A luta contra o regime da
grande propriedade territorial e a luta contra o imperialismo estão,
deste modo, estreitamente ligadas.

Qualquer que seja o sistema de produção agrícola das grandes


propriedades territoriais - trabalhadores agrícolas, camponeses sem
terra, arrendatários, colonos - o trabalhador agrícola está na depen-
dência absoluta dos proprietários de terras e das companhias estran-
geiras, para irrigação e trabalho do solo, melhoria das culturas e
escoamento de seus produtos. A massa dos trabalhadores agrícolas
e dos camponeses sem terra vive em condições que se assemelham
mais à escravatura do que ao sistema salarial moderno. A abolição
da escravatura modificou as relações jurídicas entre trabalhadores e
empregadores; mas não melhoraram, e frequentemente pioraram, as
condições de trabalho.
A indústria, geralmente pouco desenvolvida, está concentrada
sobretudo no preparo dos produtos e na criação (açúcar, tabaco, fri-
goríficos, peles etc.), na extração das riquezas do subsolo (petróleo,
minas etc.), em algumas indústrias leves, para satisfação das necessi-
dades imediatas do mercado interno (têxtil, sapataria) e nos transportes.
Com exceção do Brasil, Argentina e Chile, onde existe uma
burguesia nacional industrial numericamente fraca que se diferencia

277
BRDFanBSa i0: 35

dos grandes proprietários de terras, no conjunto da América


Latina,
a burguesia industrial como classe distinta é quase inexistente
e as
empresas industriais encontram-se ali quase exclusivamente
nas mãos
do capital estrangeiro ou dos grandes proprietários de terras
nacionais.
No conjunto não existe, ou existe apenas uma frágil diferenc
iação de
classes entre a burguesia industrial, bancária e comercial e
a classe
dos grandes proprietários da terra. Os grandes proprietários
da terra
mantêm, eles mesmos, uma ligação estreita e constante com
o capital
estrangeiro, a indústria que trabalha na preparação de seus
produtos,
bancos e comércio de exportação. Porém, com mais freqiênc
ia, é o
capital estrangeiro que cria e explora diretamente as indústria
s, desen-
volve os transportes, os bancos e as grandes empresa
s comerciais.
O capital usurário, como em todos os países coloniais e
semicoloniais,
reforça em um grande número de países da América Latina,
a explo-
ração das massas laboriosas, em primeiro lugar,
dos camponeses,
colonos e emigrantes. ,
A América Latina apresenta, pois, em seu conjunto, toda uma
série de sistemas econômicos superpostos que vão da "trata de
los
Índios" e do trabalho gratuito, à moderna empresa americana racio-
nalizada, sistemas que se penetram, se combinam, se combatem
e
estão em contínua evolução, mas que são todos utilizados
pelo
imperialismo para pilhar as riquezas naturais e explorar a
massa
operária e camponesa.
A "classe dominante" em quase todos os países da América
Latina, qualquer que seja a forma política do poder, é, portanto,
"a classe dos grandes proprietários de terras", a serviço e em estreita
ligação com o imperialismo britânico ou norte-americano.
Em alguns países onde se desenvolveu uma burguesia nacional
industrial independente da classe dos grandes proprietários de terras
(Chile, Argentina, Brasil), esta classe não é, absolutamente, indepen-
dente do imperialismo. Sua luta contra os grandes proprietários
de
terras é sempre a expressão da luta do imperialismo ianque contra
o imperialismo britânico. Nesses três países o imperialismo britânico
está ligado à classe dos grandes proprietários de terras. O imperiali
s-
mo ianque favoreceu ali o desenvolvimento de certos ramos
da
indústria e ligou-se, econômica e politicamente à burguesia industria
l
nascente. A ditadura de Ibafiez no Chile, e a recente vitória
do
partido irigoienista na Argentina marcam nesses dois países,
o acesso
ao poder da burguesia industrial nacional e de uma parte da
pequena
burguesia, agente do imperialismo ianque, contra a influênc
ia britâ-
nica representada pela classe dos proprietários de terras. A
burguesia
industrial de São Paulo, que luta contra o governo dos grandes
pro-
prietários de terras do Brasil, é também, agente do imperialismo
ianque
contra o imperialismo britânico. Nos outros países da América
Latina
O imperialismo ianque exerce sua tutela política por
intermédio da
278
ar pranssB ve.enc.eEE, 420 LOS e olp. CM

classe dos grandes proprietários de terras, ou mesmo no México e


no Equador, com maiores dificuldades, por intermédio da pequena
burguesia "revolucionária" que cede à sua pressão crescente,
A exploração das riquezas naturais da América Latina pelos
Estados Unidos "acelera seu desenvolvimento industrial e aumenta,
em consequência, o número, a concentração, a consciência de classe
e o papel do proletariado industrial",
O desenvolvimento industrial dos países da América Latina,
modificando sua estrutura econômica e social, desenvolvendo novas
e profundas contradições, criando maior instabilidade nas relações
políticas e sociais, não lhe modifica o caráter semicolonial.
Ao contrário, o desenvolvimento industrial está intimamente
ligado à colonização cada vez maior da América Latina pelo imperia-
lismo ianque. Mesmo onde as empresas industriais não são estran-
geiras, a burguesia nacional desenvolve-se graças ao apoio do capital
estrangeiro. O desenvolvimento industrial está, de resto, restrito
a
certos ramos ligados à extração ou à preparação das matérias-primas
para exportação, reservando, o imperialismo ianque, o mercado latino-
-americano para o escoamento dos produtos de sua indústria.
"Assim, todo o desenvolvimento industrial da América Latina
é unilateral, é a expressão de sua maior colonização, de sua trans-
formação sempre mais rápida em um vasto domínio colonial e não
de seu desenvolvimento capitalista independente, ou de sua
des-
colonização."
Este fato essencial demonstra que a burguesia nacional nascente
em certos países, desenvolvese em estreita dependência do
capital
estrangeiro e que, tanto quanto a classe dos grandes proprietários
de
terras, ela não pode ser um fator revolucionário na
luta contra o
imperialismo.
O desenvolvimento industrial rápido da América Latina reforça,
ao mesmo tempo, sua dependência face ao imperialismo e a classe
operária industrial é que se torna o fator revolucionário essencial
na
luta contra o imperialismo e que entrosará e guiará a massa
dos
trabalhadores agrícolas e camponeses explorados nessa luta.
A classe
operária, em consequência do desenvolvimento industrial
recente da
América Latina não dispõe ainda de sólidas tradições de
organização
do proletariado, nem uma consciência de classe forjada
no decurso
de grandes lutas de classe. A grande massa do proletariado
é ainda
formada de trabalhadores agrícolas que vivem em condições
de semi-
«escravatura. O proletariado industrial não atingiu ainda
um grau de
diferenciação social semelhante ao do proletariado"
európeu. Ele
provém do campo, com o qual conserva, geralmente,
profunda liga-
ção. Essa Origem camponesa da grande massa dos
trabalhadores
industriais empenha-se, em parte, em facilitar e fortificar
a aliança
estreita e a ligação necessária do proletariado industrial
com a massa

279
C
p. 18%
aroransse v.enc.ee, 82 04 L40 Som 00,

a ideológica,
camponesa. Mas ela é também uma causa de sua fraquez
cia de classe. Essa massa
de sua falta de organização e de consciên
do campo para as empresa s industri ais, não
de proletários que aflui
confusa mente, consciên cia de ser uma classe distinta.
tem, senão
pouco
É por isso que o movimento operário da América Latina é ainda
s patrões, pequeno s comer-
diferenciado. Pequenos artesãos, pequeno
de tra-
ciantes, intelectuais, dirigem frequentemente, as organizações
es. Nos sindicat os, organiza m-se, indifere ntemente , operário s
balhador
intensa influênc ia
e camponeses. O movimento operário sofreu, pois,
e
dos meios pequeno-burgueses, seja vegetando num corporativismo
num mutualismo limitado s, seja estiolan do-se no sectaris mo anarco-
to
«sindicalista e anarquista. A dispersão e as divisões do movimen
movimen to operário são
sindical, e a grande confusão ideológica do
a expressão dessa fase de formação do proletariado em uma classe
distinta, e das influências estrangeiras que ele sofreu.
O Chile, que precedeu os outros países no desenvolvimento
industrial, tem também uma classe operária mais consciente e orga-
-
nizações de classe mais desenvolvidas, correspondendo ao desenvol
vimento da estrutura econômica.
iado e
O desenvolvimento industrial, aumentando o proletar
assim, as bases para a
concentrando-o nas grandes empresas, cria,
operário e das organiza ções operária s
transformação do movimento
ão na base da luta de classes e para a depuraç ão dos
para sua unificaç
e o
vestígios do corporativismo e do anarco-sindicalismo. A crise
portanto , um resultad o da trans-
declínio do anarco-sindicalismo são,
que
formação da estrutura econômica e social da América Latina
e acelera a transfo rmação do movimen to operário em um
favorece
movimento proletário de massas, unificado na base da luta de classes.
, pequenos
A pequena e média burguesia intelectuais, artesãos
rios, oficiais etc. - em consequ ência da
comerciantes, funcioná
ncia ou da grande fraqueza de uma burgues ia nacional , desem-
inexistê
Os artesãos , pequeno s
penha um importante papel político e social.
res ameaçad os, afetados de sua parte
comerciantes e pequenos produto
por parte do
pela exploração crescente dos países da América Latina,
proprietários
imperialismo, explorados e esmagados pelos grandes
territoriais, têm seus interesses econômi cos estreita mente ligados aos
das massas operárias e campone sas; importa ntes camadas da pequena
ia rural e urbana são, em consegi ência, arrastad as pelo movi-
burgues
mento revolucionário das massas contra o imperialismo e os grandes
proprietários de terras. Os intelectuais, estudantes, funcionários,
a
oficiais formam uma camada muito flutuante da pequena burguesi
do
que, basicamente corrompida e comprada, coloca-se a serviço
imperialismo e dos grandes proprietários de terras, esforçando-se por
sujeitar e explorar as massas em benefício dos patrões, beneficiando-se
dessa exploração, ou então arrastada pelo movimento revolucionário

280
Br oranase varoncleEE, 220 cel ( 286

das massas, participa ativamente da luta antiimperialista e do movi-


mento revolucionário (estudantes). Esses elementos flutuantes da
pequena burguesia encontram-se nos campos mais extremados, pas-
sando facilmente, de um pólo a outro.

Caracteres gerais e perspectivas do movimento


revolucionário da América Latina

4. A penetração rápida do imperialismo, as lutas entre O


imperialismo inglês e ianque pela hegemonia, as condições escra-
vagistas que subsistem na produção agrícola, a exploração terrível
da grande massa de operários e camponeses pelos grandes proprie-
tários de terras e pelas empresas estrangeiras, a ausência de uma
burguesia nacional forte e organizada, as crises contínuas na produ-
ção e o escoamento dos produtos do solo provocam enorme
instabilidade nas relações sociais e na vida política das repúblicas da
América Latina.
Os golpes de Estado militares, as guerras civis, os movimentos
revolucionários indígenas, a revolta dos camponeses e trabalhadores
agrícolas pela terra, as demonstrações de massa dos operários multi-
plicam-se em todos os países da América Latina.
A revolução mexicana, que se iniciou pela luta revolucionária
dos camponeses contra os grandes proprietários de terras, que tomou
O caráter de uma luta das massas contra o imperialismo, contra a
classe dos proprietários de terras e contra a Igreja e que conduziu a
um governo da pequena burguesia em luta contra as insurreições
contra-revolucionárias fomentadas pelos Estados Unidos, pelos grandes
proprietários de terras e pela Igreja - insurreições de camponeses
no Equador contra o governo dos grandes proprietários de terras no
litoral, dos banqueiros e da burguesia comerciante de Guaiaquil pela
terra, que levou ao golpe de Estado militar e ao governo militar
ditatorial de 1925 contra o qual as massas camponesas continuaram
a sublevar-se - golpes de Estado militares sucessivos no Chile levan-
do pouco a pouco ao poder a pequena burguesia revolucionária
apoiada pelas classes agrárias, os grandes agricultores e a burguesia
industrial nacional, revolta armada na Nicarágua contra o imperia-
lismo ianque, insurreições sucessivas no sul do Brasil, levantes dos
na
trabalhadores agrícolas da Patagônia, na Argentina, dos indígenas
Bolívia, no Peru, Equador e Colômbia, motins e greves espontâneas
gerais, demonstração das massas na Venezuela e na Colômbia,
movimentos de massas antiimperialistas em Cuba, em toda a
América Central, na Colômbia, tentativas. de golpes de Estado na
Guatemala etc.
Esta instabilidade se exprime nas formas do poder político.
Na maior parte dos países da América Latina, com exceção da

281
Br Dranass va.enc.eEE, 20 LL 4OSe-n cool, Drªg
Argentina e do Uruguai que possuem um regime parlamentar mais
ou menos estável, reina a ditadura do poder executivo, frequente-
mente armada das leis de exceção, das perseguições violentas e a
repressão brutal dos movimentos de massas operárias, camponesas e
pequeno-burguesas.
As características gerais comuns desse movimentos revolucioná-
rios de massas são:
a) Luta revolucionária da massa dos trabalhadores agrícolas e
dos camponeses contra os grandes proprietários de terras, pela terra
e pela supressão das condições escravagistas de trabalho na
agricultura.
b) Luta revolucionária das massas laboriosas rurais e urbanas
e da pequena burguesia contra o imperialismo.
c) Luta das classes laboriosas e da pequena burguesia contra
as formas ditatoriais do poder político pelas liberdades e direitos
democráticos, contra o poderio da Igreja.
d) Luta da classe operária por condições de vida e de trabalho
melhores.
Pelas condições históricas nas quais se desenvolve, por seu
conteúdo de classe e por seus fins, o movimento revolucionário da
América Latina pode, portanto, ser caracterizado em geral, como um
tipo democrático-burguês nos países semicoloniais onde dominam o
problema agrário e o problema antiimperialista.
5. Das três classes que tomam uma parte ativa no movimento
revolucionário - pequena burguesia, camponeses, proletariado - os
camponeses pobres e o proletariado agrícola constituíram, quase em
toda parte, a mola mais possante do movimento revolucionário. Mas
a hegemonia no movimento revolucionário e sua direção esteve, em
toda parte, em mãos da pequena burguesia. O papel dirigente da
pequena burguesia explica-se pela falta de organização, de cons-
ciência de classe e de educação revolucionária do proletariado, por
sua fraqueza numérica, pela ausência, até os últimos anos, de partidos
comunistas de massas na América Latina, pelo distanciamento da
classe de trabalhadores do campo e industrial das cidades e, em
consegiiência, pelo papel maior dos intelectuais, oficiais e funcioná-
rios no movimento revolucionário, que tende à conquista da máquina
governamental.
Mas a pequena burguesia, levada ao poder pelo movimento
revolucionário das massas operárias e camponesas (México, 1920,
Equador, 1925, Chile, 1923), após algumas atitudes revolucionárias
(votação das leis de reforma agrária, de nacionalização do subsolo,
de proteção do trabalho) revela-se incapaz de solucionar os problemas
que constituem a base do movimento revolucionário. Ela luta, às
vezes, como no México, contra os grandes proprietários de terra,
contra a Igreja e o imperialismo estrangeiro, para conservar a con-
282
Br oraesa ve.enc.erE, 3204140Son.go l, 0.288

fiança das massas, condição necessária para conservar seu poder


político, mas não tem força para fazer uso desse poder, para expro-
priar os proprietários de terras e as companhias estrangeiras, para
repartir a terra entre os camponeses, nacionalizar as riquezas do
subsolo e aplicar as leis de proteção do trabalho. Ela sofre a formi-
dável pressão do imperialismo e da classe dos proprietários da terra,
e abandona seu,. programa revolucionário mais ou menos rapidamente,
trai os interesses das massas, realiza os compromissos com as forças
que deveria combater, e capitula diante delas, dirigindo a máquina do
poder governamental contra a classe operária cujas greves ela reprime,
principalmente quando desencadeadas nus empresas estrangeiras,
devolve as terras aos proprietários etc. A evolução do governo mexi-
cano no decurso destes últimos anos e a falência do governo equato-
riano de 1925 são a demonstração da incapacidade da pequena
burguesia para solucionar os problemas fundamentais da revolução
democrático-burguesa. Elas marcam a revolução de uma parte da
pequena burguesia revolucionária, do campo da revolução ao campo
da contra-revolução e provam que, somente a hegemonia da classe
operária pode assegurar a solução dos problemas fundamentais da
revolução burguesa-democrática e transformá-la em uma revolução de
tipo proletário.
Na fase democrático-burguesa do movimento revolucionário da
América Latina, o momento mais importante, o momento decisivo
para a realização das tarefas da revolução democrático-burguesa em
si mesma, e para a sua ulterior transformação em uma revolução
proletária é, portanto, o momento em que, no movimento das massas,
a hegemonia passa das mãos da pequena burguesia para as mãos do
proletariado e do seu partido comunista.
O movimento revolucionário da América Latina na sua fase
democrático-burguesa, a revolução mexicana, em particular na época
histórica atual do desenvolvimento da revolução proletária mundial,
é, como todos os movimentos revolucionários de colônias e semi-
colônias, um apoio, uma ajuda importante para a revolução proletária
mundial. Ela só será parte integrante desta, quando, sob a hegemonia
do proletariado, a revolução democrático-burguesa se desenvolver em
uma revolução socialista. Seria falso, portanto, considerar que O
caráter da revolução mexicana e o movimento revolucionário latino-
«americano em geral, seja do tipo proletário ou socialista, devido ao
seu alcance histórico internacional.
A revolução democrático-burguesa do México, não atingindo os
seus mais importantes objetivos -- a repartição das terras entre as
massas camponesas, a libertação do imperialismo estrangeiro - sofreu
um recuo que se traduz pela capitulação diante do imperialismo
ianque, pelo desarmamento dos camponeses etc. Esse recuo, essa
incapacidade de ir mais longe sob a direção da pequena burguesia,

283
a
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, RQ 0 LL4 0 S an op TN "d

provoca tentativas sempre novas de contra-revolução, de nova fer-


mentação revolucionária das massas, sua radicalização, sua orienta-
ção na direção do comunismo; é ao longo de uma crise da revolução
democrático-burguesa, oriunda das contradições em que caiu o movi-
mento revolucionário no curso de um novo impulso das massas e de
uma nova crise revolucionária aguda, que se realizarão a hegemonia
do proletariado e as condições favoráveis ao desenvolvimento da
revolução democrático-burguesa em revolução socialista.
6. As perspectivas do desenvolvimento do movimento revolu-
cionário estão ligadas ao processo de colonização de todo o continente
americano pelo imperialismo ianque. Em processo extremamente
rápido no curso dos últimos anos acentuar-se-á e os países da América
Latina tomarão, cada vez mais, o caráter semicolonial; os países que
parecem escapar em parte a esse processo, como a Argentina, não se
desenvolverão no sentido da independência econômica e política, mas,
ao contrário, no sentido de uma dependência cada vez mais forte
face ao imperialismo ianque, tanto do ponto de vista político, como
econômico. Na América Central, de início, e em seguida na América
do Sul, o imperialismo ianque passará a mascarar, cada vez menos
um controle político e sua intervenção nos negócios internos dos
países latino-americanos. Este processo de colonização de toda a
América Latina desenvolverá o movimento da luta das massas contra
o imperialismo.
Com a penetração do imperialismo ianque desenvolver-se-ão
rapidamente certos setores da produção (petróleo, extração de metais,
borracha etc.). A consequência disso será o aumento do número e
da importância política social do proletariado industrial, o reforço
de suas organizações e de sua luta de classe, a eliminação do anarco-
-sindicalismo e do corporativismo limitado e a revolução do movi-
mento sindical io sentido de um movimento revolucionário de massas,
o reforço da consciência de classe do proletariado e de seu partido
comunista.
* * tol

A medida que o proletariado crescer, numericamente e ideologi-


camente, eliminará o papel e a influência ideológica e política da
pequena burguesia no movimento revolucionário e no movimento
operário.
A colonização maior e o desenvolvimento industrial que o
acompanha, alargando a exploração capitalista, preparam as condições
que permitirão ao proletariado tornar-se o guia do movimento revolu-
cionário das grandes massas exploradas.
A produção agrícola, graças à concorrência crescente da África,
Indonésia, Austrália etc., sofrerá novas crises profundas que os

284
. er va.cnc.EegE, 820 11405 aonoo | ( 240
grandes proprietários de terras não poderão resolver, senão recrudes-
cendo a exploração das massas camponesas e dos trabalhadores
agrícolas. Cada vez mais as condições escravagistas e os métodos
desvalorizados do trabalho agrícola aparecerão em contradição com
o interesse das grandes massas rurais e a luta dos camponeses, dos
trabalhadores agrícolas, dos mineiros e colonos contra os grandes
proprietários de terras acentuar-se-á e tomará as formas mais violen-
tas. As massas de indígenas despojados que lutam pelas terras, as
tribos de índios em contínua rebelião com os governos espoliadores,
levarão importantes forças ao movimento revolucionário dos campo-
neses e operários. A máquina governamental, ainda fracamente desen-
volvida, a armada formada em grande parte por camponeses serão
cada vez mais desagregadas pela ação revolucionária das massas.
Os governantes serão coagidos a reforçar sua ditadura e sua
repressão, exacerbando a luta de classes e dando-lhe um caráter
revolucionário mais nítido. O imperialismo ianque, para defender
seus lacaios no poder, intervirá de modo cada vez mais aberto e
brutal para garantir a "ordem" e provocará assim, o desenvolvimento
da luta antiimperialista. A luta contra os grandes proprietários de
terras e a luta contra o imperialismo identificar-se-ão, portanto, cada
vez mais.
A experiência do governo revolucionário pequeno-burguês do
México, sua falência, sua capitulação diante do imperialismo ianque,
a capitulação mais rápida e mais completa do governo pequeno-
-burguês militar equatoriano, a experiência de todo o movimento
revolucionário da América Latina sob a conduta política da pequena
burguesia contribuirão assim para orientar as massas revolucionárias
junto ao proletariado e suas organizações de classe.
Graças ao processo de colonização e ao desenvolvimento indus-
trial dos países latino-americanos, desenvolver-se-ão, pois, e intensifi-
car-se-ão no futuro próximo as contradições internas e os conflitos
sociais delas decorrentes.
A luta revolucionária das massas trabalhadoras contra o regime
dos grandes proprietários de terras, contra seu governo e contra o
imperialismo estrangeiro crescerá paralelamente ao papel e à ação do
proletariado. Assim é criada a base para a conquista da hegemonia
do proletariado nas lutas revolucionárias da América Latina.
7. As condições econômicas e sociais da América Latina per-
mitirão o desenvolvimento rápido da revolução democrática burguesa
em uma revolução proletária. !
Com efeito, não existe classe burguesa nacional em luta contra
o imperialismo e os restos do feudalismo para o desenvolvimento
autônomo do regime capitalista na América Latina. As tentativas
feitas pelo governo revolucionário do México de favorecer o desen-
volvimento de uma burguesia agrária nacional para orientar o México
285
BR DFANBSB V3.GNC.EEE, 620 L140 SamoolL, p 29 L

no sentido do capitalismo independente, chegaram a resultados muito


reduzidos, no tocante à criação de uma burguesia agrária nacional,
e nulos, no tocante ao desenvolvimento de uma burguesia industrial.
A luta revolucionária das massas contra o imperialismo e contra
os proprietários de terras é, portanto, dirigida contra essa frágil
camada da burguesia nacional ligada ao imperialismo e aos grandes
proprietários de terras.
Os numerosos restos do regime comunista primitivo no campo
(tribos indígenas, comunas agrícolas), o trabalho coletivo do solo
nos grandes latifúndios e nas grandes plantações, a concentração das
grandes empresas industriais estrangeiras etc., facilitarão a passagem
ao regime socialista e, graças, sobretudo, à existência da primeira
república socialista, permitindo saltar o estágio de desenvolvimento
capitalista independente. Se o proletariado conquistar a hegemonia
do movimento revolucionário latino-americano, o desenvolvimento de
sua fase democrático-burguesa na fase socialista poderá ser, não
somente possível, mas rápido.

(La Correspondence Internationale, 1930, n.o 10, p.


100-113 e n.o 11, p. 112-115).

5) A luta pela frente única nos príses sul-americanos (1926)

As perspectivas do movimento operário sul e centro-americano,


que assinalamos em nosso número anterior, dão atualidade à questão
da frente única, transformando-a em um problema de urgente neces-
sidade para as massas operárias e camponesas. Ante a possibilidade
de um amplo movimento de massas, em luta por suas reivindicações
vitais - perspectivas de um porvir próximo - os partidos comunis-
tas da América do Sul devem aproveitar todas as possibilidades de
aplicar esta tática. A luta pela unidade sindical é um problema
urgente e deve merecer mais atenção da parte de todos os partidos
comunistas e as organizações proletárias da I.S.R.
Já se tem feito diversas tentativas de frente única, algumas com
êxito relativo. Devemos confessar, porém, que elas não têm chegado
a interessar profundamente as massas. E para isso tem contribuído,
em muito, a forma pouco organizada em que, até o presente, nossos
partidos realizam suas campanhas. É indubitável que isso é resultado
em grande parte da falta de um aparato regular do partido que
coordena, de forma prática e eficiente, o trabalho dos diversos agru-
pamentos e militantes. Entretanto, sem desconhecer que o problema
fundamental de um aparelho, a formação dos quadros dos partidos,
a boa direção, distribuição e organização do trabalho, chocam-se com
grandes inconvenientes e requerem o concurso do tempo, é certo

286
p 292
aroransss vé.enc.erE, 22,0 LL4OS Gm ô0l

que nossos partidos sulamericanos podem realizar, a esse respeito,


um trabalho melhor e de maiores resultados se se empenharem nisso
com toda a decisão.
Um dos defeitos característicos de nossos partidos consiste em
adotar muitas resoluções que não se cumprem ou se cumprem pela
metade. Esse defeito deve ser corrigido. É necessário, talvez, projetar
menos, tomar menos iniciativas, iniciar menos trabalhos, mas levar
adiante as tarefas iniciadas, terminá-las sistematicamente, se se quiser
obter delas algum resultado prático. As experiências do movimento
sul-americano confirmam, a esse respeito, as do movimento comunista
internacional. As tentativas de frente única feitas pelos comunistas
sul-americanos constituem uma prova. No melhor dos casos, essas
iniciativas, justas em princípio, não têm dado melhor resultado por-
que não se tem prosseguido sistematicamente, não se tem chegado às
massas, que seria o objetivo principal a ser perseguido, já que seria
desvirtuar a tática da frente única propor-se simplesmente um acordo
com os chefes, embora seja admissível um acordo com os chefes que
sirva para mobilizar as massas, tendo por base um programa que as
leve à luta, por palavras de ordem que elas compreendam e pelas
quais estejam dispostas a lutar. Nesse sentido, as experiências do
movimento comunista da Argentina são muito eloqguentes. Têm-se
podido realizar algumas tentativas de frente única parcial, como a da
constituição de um comitê antifascista entre os trabalhadores italianos,
integrado por grupos comunistas, socialistas, anarquistas e sem partido;
a constituição de comitês de unidade em alguns ramos de indústrias,
como o comitê de unidade da indústria de madeira, formado por
operários de diversas tendências, que lutam por um programa de
reivindicações imediatas, entre cujos pontos figura a unidade dos
três sindicatos de madeira existentes, a unidade nacional e interna-
cional; também poderiam ser assinaladas diversas iniciativas parecidas.
Entretanto, as tentativas mais importantes feitas a nível nacio-
nal não deram maiores resultados porque não se prosseguiu sistema-
ticamente; descuidou-se de levá-las ao seio das massas e não se fez
nenhum trabalho organizado e sistemático nesse sentido. Boas inicia-
tivas, que poderiam ter uma ampla repercussão nas massas, fracassa-
ram por falta de um trabalho organizado e perseverante no seio das
massas, a que estavam destinadas. Sem dúvida, os comunistas da
Argentina tinham experiências muito significativas a respeito, como
a da lei de jubilações, na qual, com suas palavras de ordem exatas,
que levaram ao seio das organizações sindicais, conseguiram que as
massas reformistas abandonassem seus chefes, dispondo-se a lutar
pelas palavras de ordem comunistas, obrigando seus chefes refor-
mistas a mudar sua atitude e assumir, em parte, as palavras de ordem
comunistas.

287
BR oranBSa va.onc.EEE, 820 LL4O Somo
ol p A4.

No Chile, comunistas cometeram outro erro, segundo podemos


depreender de algumas informações que temos. A representação
parlamentar comunista foi chamada por outras frações parlamentares
burguesas para lutar na Câmara contra o governo. Os comunistas
declaram-se dispostos sempre que esses parlamentares burgueses e
reformistas aceitem lutar por um governo operário e camponês e
outros pontos parecidos. Isto equivalia, naturalmente, a contestar
negativamente esse pedido. Sem dúvida, a proposição das frações
radicais e democráticas - partidos que têm atrás de si massas operárias
- não tendiam a ser mais do que um acordo entre parlamentares e
não reuniam, sob este aspecto, condições que devemos exigir para
uma frente única. Mas isso não impedia que se tivesse aproveitado
esse oferecimento dos chefes radicais e democráticos, que tinham sob
sua influência muitos elementos proletários, para levar a essa massa
uma proposição de frente única em contestação ao acordo que pre-
tendiam esses chefes. A resposta exata teria sido propor-lhes uma
frente única para lutar por um programa de reivindicações imediatas
das massas, compreensíveis a estas, que deveriam ser difundidas
amplamente e levadas à discussão no seio das organizações. É seguro
que esses chefes não tivessem aceitado, mas neste caso as massas
operárias que estão sob sua influência poderiam ser atraídas a simpa-
tizar com os comunistas, que lhes proporiam lutar por suas necessi-
dades vitais, demonstrando-lhes que unicamente o Partido Comunista
é o que está disposto a lutar por elas, Dizer a esses operários que
integram o Partido Radical ou o Partido Democrático que lutem pela
ditadura do proletariado, pondo estas palavras de ordem como con-
dição para uma frente única, constitui um erro. Essas massas não
vão compreender essas palavras de ordem. A tese da Internacional
Comunista sobre a situação polítical atual, aprovada pelo último
Executivo Ampliado, estabelece claramente que deve-se propor palavras
de ordem acessíveis às massas reformistas e não pretender que elas
lutem por palavras de ordem justas, mas que lhes sejam incompreen-
síveis. Desde logo, essas tentativas de frente única devem ser feitas
sem compromissos inadmissíveis, como os de não atacar os partidos
reformistas durante a frente única. O Partido Comunista deve conser-
var seu direito de crítica mais amplo, mesmo com os que acidental-
mente forme uma frente única, para lutar por determinadas reivin-
dicações.
A situação, sobretudo as perspectivas do movimento operário
sul-americano, coloca a necessidade do estudo e da aplicação da
tática de frente única em uma escala muito maior que até o presente.
Não demorará muito tempo para se sentir de forma aguda a necessi-
dade da luta pelas reivindicações vitais das massas. Para uma intensa
luta sindical, a fim de reconquistar as posições perdidas, e motivada
pela situação desesperada de grandes massas operárias, a unidade

288
sr oransse ve.eNc.EEE, 820 LL405 on o ob (p: A4

sindical aparecerá como absolutamente indispensável. Por isso não


tardará a se colocar urgentemente a necessidade da unidade sindical
e a se abrir um largo campo para uma aplicação inteligente da tática
da frente única. Os comunistas devem colocar-se à frente desta luta
pelas reivindicações imediatas das massas operárias e camponesas.
Têm que aproveitar todas as possibilidades de aplicar a tática da
frente única, de forma sistemática e organizada, para que elas
cheguem às massas. Não devem cometer o erro dos nossos camara-
das alemães, que propunham a frente única de forma a dar argu-
mentos aos dirigentes reformistas para rechaçá-la. Nem tampouco
devemos renunciar a nosso direito de crítica nem deixar de exercê-la.
Não devemos propor reivindicações incompreensíveis para as massas
reformistas - não para os chefes - senão palavras de ordem de
reivindicações imediatas pelas quais elas estejam dispostas a lutar.
Devemos aproveitar essas possibilidades para organizar as massas:
comitês de unidade, comitês especiais para reivindicações determi-
nadas, ligas de arrendatários etc.
As perspectivas políticas e econômicas dos países sul-americanos
são cada vez mais favoráveis para a aplicação da frente única. Os
partidos e militantes comunistas devem estudar detidamente esse
assunto e ampliar a aplicação da tática da frente única, reparando
erros e deficiências anotadas. Durante este breve período de calma, os
partidos comunistas devem preparar-se para assumir a direção das
massas operárias e camponesas. E a tática da frente única, aplicada
com exatidão, poderá, como disse a resolução do Executivo Ampliado,
transformar nossos partidos comunistas sul-americanos "senão no
único, pelo menos no principal e mais influente partido operário"
de cada país.
(La Correspondencia Sudamericana, Buenos Aires, 30.09.1926).

6) A política de organização para a conquista das grandes


massas: a emulação revolucionária nas campanhas
de recrutamento (1931)

O Bureau Sul-Americano da I.C. resolveu aproveitar de uma


maneira concreta os resultados, sem dúvida importantes, da auto-
crítica ampla e profunda que presidiu às assembléias nacionais dos
organismos dirigentes de algumas das Seções mais importantes da
I.C. na América Latina. (Plenum dos partidos do Brasil, Uruguai e
Conferência Nacional do da Argentina).
Sem modificar, de maneira alguma, os planos de trabalho de
cada um desses partidos, relativos à realização das resoluções adotadas
em tais assembléias, o B.S.A. da I.C. quer, simplesmente, dar um

289
BR DFANBSB V8.GNC.EEEBO | L40 S amo OL, (o 4a

impulso mais intenso a essa mesma realização, organizando em escala


continental uma vasta campanha de recrutamento, que deve ser esti-
mulada entre os diferentes partidos por uma verdadeira emulação
revolucionária.
É evidente que durante esta campanha os partidos deverão
acelerar o ritmo de seu trabalho, mobilizando todos os seus organismos
em suas diferentes instâncias, assim como deverão também corrigir,
no transcurso da mesma, todas as faltas passadas ou recentes, para ir
eliminando mais rapidamente as formas de aplicação mecânica e
abstrata de suas próprias resoluções e das da Internacional Comunista.
É justamente devido a essa tendência mecanicista e formal que
até hoje têm sido negativos ou mediocres, no melhor dos casos, os
resultados obtidos em todo o trabalho de organização. Será, pois,
necessário lutar, desde o início desta campanha continental de recru-
tamento, por uma realização efetiva das decisões tomadas, Esta
campanha deve assinalar o início da luta pela liquidação do que
poderiamos chamar "o tecnicismo organizativo", para substituí-lo por
uma séria e eficaz política de organização, orientada no sentido da
conquista de grandes massas, entre as quais devemos, custe o que
custar, cristalizar a nossa influência.
Convém assinalar, não obstante, a necessidade por parte dos
partidos de colocar, como primeira condição desta campanha de
recrutamento, um trabalho sério de esclarecimento, com o fim de
evitar o perigo do formalismo, que acima assinalamos, e de dar, ao
mesmo tempo, à massa do partido a explicação da verdadeira signifi-
cação política do recrutamento. Não serão obtidos resultados concre-
tos e duráveis,. se, desde o início e durante a campanha, os partidos
não estabelecem um laço de união com a massa, chamando-a com
palavras de ordem, não só políticas e gerais, mas também com outras
que encarem as reivindicações parciais e imediatas, que a incitem a
marchar na linha de seus objetivos de classe. Não haverá cristalização
orgânica do recrutamento se este não for seguido por um trabalho
de educação ideológica e política constante dos novos aderentes.
Os novos militantes devem ser incluídos imediatamente na ativi-
dade geral do partido, sendo-lhes confiadas tarefas mais ou menos
adequadas à sua capacidade política. De forma alguma, por nenhum
motivo, o novo aderente deve ficar isolado, nesse isolamento que
quase sempre se reduz a uma completa inatividade, a uma total
inutilização de excelentes elementos operários, que só pedem para tra-
balhar e que frequentemente perdem sua confiança no partido e o
abandonam, pelo fato de que o partido não os ocupa, não os coloca
no posto de luta a que aspiravam e que foi o móvel que os impulsou
a solicitar sua adesão ao partido.
Não devemos esquecer, a este respeito, que a atual fase da luta,
caracterizada por uma radicalização profunda das massas trabalhado-
aropranssa 820 LLUOSeooL p; AIC

ras, não nos permite esperdiçar assim, pela inércia, elementos pre-
ciosos do proletariado, cuja captação só deve ser realizada no desen-
volvimento das lutas organizadas pelo partido, e não nas lições dos
círculos, dos quais, sem embargo; não queremos diminuir a impor-
tância. Não devemos esquecer também que o operário que procura
militar nas fileiras do partido comunista na hora atual, quando todos
os esforços reunidos da reação e do social-fascismo se concentram,
com grande violência, contra o único partido de luta do proletariado
revolucionário, representa um tipo de operário cuja consciência de
classe já alcançou um grau tal que permite desprezar, a seu respeito,
as reservas que no passado justificavam, em parte, a demora na
utilização dos novos ingressantes.
Diz-se com frequência que é necessário agir com audácia na
inclusão de novos membros em nossos quadros, mas se está ainda
longe de haver compreendido e principalmente aplicado seriamente
essa audácia; pelo contrário, continua-se notando um excessivo temor
a este respeito. Contra este temor é necessário lutar com toda a
energia, porque é ele o causante da morosidade ou do impedimento
na formação de quadros novos e de que se realize a proletarização
das direções e da própria massa dos partidos.
Uma campanha de recrutamento que não seja preparada nesse
sentido de uma rápida assimilação das novas forças proletárias no
trabalho político do partido está destinada ao fracasso, mesmo que a
sua organização técnica seja perfeita, mesmo que algumas centenas ou
milhares de novos membros sejam captados pelas fichas de adesão
distribuídas durante os meetings e manifestações. É necessário não
se deixar enganar pelas boas quantidades obtidas durante as campa-
nhas, pois não terão um valor positivo enquanto não tenham sido
incluídas nas engrenagens do trabalho responsável do partido e se
hajam convertido em novas forças de atração e irradiação de sua
influência nos centros em que as mesmas foram recrutadas, centros,
que - como já foi dito - devem ser os da produção decisiva, os
que constituem as chaves da revolução.
Esta preocupação deve ser uma finalidade permanente de nossas
campanhas de recrutamento. Traduzindo-a, não somente em resolu-
ções, mas também na ação quotidiana do partido, se acelerará o desen-
volvimento de nossos partidos, melhorando sua composição social e
se alcançará o resultado concreto de se fazer sentir dentro do partido
o amplo espírito de classe da fábrica e das empresas imperialistas,
fator que tornará cada vez mais difícil a presença, em nossas fileiras,
dos elementos oportunistas, passivos, indolentes, e permitirá uma
mais fácil eliminação da ideologia pequeno-burguesa que os carac-
teriza e que constitui um sério empecilho para a realização de uma
verdadeira frente única de massas pela base.

291
240
Br oranass va.enc.ece, 220114 05

Esta preocupação assim compreendida abre aos partidos a marcha


eficaz no sentido da proletarização e, portanto, no sentido
da con-
quista das grandes massas.

A correção das falhas durante a campanha

Esta campanha, realizada sob o signo da emulação revolucionária


entre os diferentes partidos comunistas do continente, deve
ter em
vista o máximo de eficácia e, por isso mesmo, deve servir
para todos
os partidos como excelente ocasião para corrigir as faltas mais
recen-
tes, para a retificação de determinados métodos de trabalho
e de
ação que, no correr da própria campanha, se mostrem insuficien
tes
no objetivo de atrair rapidamente os operários à nossa
política e à
nossa tática.
Já assinalamos muitas vezes as falhas fundamentais da atividade
organizativa dos partidos latino-americanos, faltas que não se originam
principalmente da insuficiência técnica de organização, como, sem
razão, já se procurou demonstrar, mas principalmente da incompree
n-
são do papel que desempenha a estrutura orgânica dos partidos
na
realização das tarefas políticas. Esta incompreensão, agravada
pela
persistência de tradições social-democráticas, reduz toda organizaç
ão
a uma simples função administrativa e aos hábitos anarco-caudilhis-
tas, esquecendo toda a importância do centralismo democrático,
e foi
a base da resistência - no maior número dos casos passiva
-
contra a aplicação dos princípios bolchevistas de organização.
Na
hora atual, apesar de alguns resultados muito modestos obtidos nc
domínio da compreensão, estamos ainda em condições de registral
importantes fálhas no domínio do trabalho prático, para cuja elimi-
nação é necessário dirigir a atenção dos partidos. Indicaremos
as
mais importantes:
1.a) As células de usina (fábrica) são muito pouco numerosas,
havendo regiões onde, existindo empresas, não há uma única célula
(diversas regiões do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia,
Peru).
2.a) As células nas grandes fábricas são muito raras, quase a
exceção. Na sua maior parte, elas existem em pequenas oficinas e
fábricas.
3.a) Quase a totalidade das células existentes é, geralmente,
muito pouco ativa e mantém-se à parte da vida diária da empresa.
Isto produz como consegiência uma influência política muito fraca
ou absolutamente nula.
4.a) As células de usina são ligadas em geral às frações comu-
nistas dos sindicatos correspondentes.
5.a) O trabalho das células de usina é muito mal coordenado
- e às vezes não o está de forma alguma -- com o conjunto
do

292
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, B2à0LLO495 an gol
o A 48

trabalho do partido, o que faz com que os órgãos dirigentes do partido


não prestem atenção suficiente ao trabalho das células de empresa.

A organização das campanhas deve ter por base a empresa

Para fazer frente a este estado de coisas e para transformar efeti-


vamente as células de usina em verdadeiras organizações de base
dos partidos comunistas, é necessário corrigir essas falhas. É preciso
começar mudando a situação das células de usina, que estão, pode-se
assim dizer, fora do sistema geral do trabalho do partido. Geral-
mente todas as campanhas políticas importantes efetuadas pelos par-
tidos são realizadas com uma muito fraca ou mesmo sem nenhuma
participação das células de fábrica. Os partidos persistem nos velhos
métodos rotineiros dos partidos social-democráticos: reuniões públi-
cas e meetings de caráter geral numa esquina, e ainda assim não em
qualquer, porque a escolha dela depende muitas vezes da vontade
da polícia, que comumente só consegue esquinas muito afastadas do
tráfego ou da afluência do público. A isto se agrega, quase sempre,
o fato de que se descuida da mobilização dos Comitês de Bairros ou
de Raio, os quais poderiam fazer concentrar os operários de outros
bairros vizinhos nos lugares das reuniões. Os membros do partido
tomam parte na campanha na zona em que vivem, e não na zona
em que trabalham. Os fatores essenciais das campanhas são, como
no passado, a imprensa e os agitadores centrais do partido.
Apesar destes métodos serem considerados insuficientes e inefi-
cazes em todas as assembléias de autocrítica e de se propor organizar
a próxima campanha na base das empresas, se continuam aplicando
sempre os antigos e maus métodos. (O partido uruguaio - para
citar somente o exemplo mais recente - para a declaração da greve
da construção, e mesmo durante o desenvolvimento dela, não se
preocupou de maneira alguma em organizar a solidariedade operária,
vinculando as empresas por meio das células. Estas não participaram
de forma eficaz neste importante movimento grevista, que compreen-
dia a quase totalidade do grêmio, e que durou quase um mês.) Como
consequência disto, o partido foi incapaz de mobilizar, em escala
nacional, a solidariedade proletária servindo-se de sua organização,
conquanto fraca, de células de empresa. Não se conseguiu, por isso,
a mobilização celular do partido. Noutras circunstâncias, mais graves
mesmo, esta falha "clássica" foi cometida pelos partidos da Argentina,
do Brasil e do Peru.
Não poucos camaradas explicam isto com o fato das campanhas
políticas, conduzidas atualmente pelos partidos, exigirem tensão de
todas as suas forças e a utilização máxima de todo o seu aparelho.
Segundo esses camaradas, é impossível atualmente conduzir campa-
nhas sobre a base das empresas dada a fraqueza das células de

293
BR DFANBSB 22 0 1L40S omo; 0.
344

fábrica. Vê-se, facilmente, como esta explicação é falsa e como é grave


- diríamos - a responsabilidade dos que a utilizam, uma vez que
confirma o fato de que as células de usina continuam à margem das
campanhas. É justamente através das campanhas que as células se
devem fortificar, já que as campanhas nos dão ocasiões excelentes e
constantes para nos ligarmos com a massa e para captar os elementos
proletários de que carecem as células fracas. Se os camaradas pensam
curar a fraqueza das células mantendo-as à margem das campanhas
que devemos realizar nas camadas trabalhadoras essenciais, privam-
-se - como pretexto de fraqueza - do único meio de ligação com
as mesmas camadas que devemos conquistar para delas extrair novos
elementos que devem reforçar nossas fileiras e nossos quadros.
O que há de irremediavelmente fraco, em todo o caso, é a argu-
mentação dos camaradas, argumentação que não resiste aos ataques
mais simples da lógica mais vulgar.
Na realidade, o fato de que as células de fábrica continuam
afastadas das campanhas, implica, inevitavelmente, em que os parti-
dos não procedem à reorganização séria alguma sobre a base das
células de empresa e, por essa razão, não estão em condições de levar
as palavras de ordem à grande massa operária, nem de desmascarar
eficazmente a ação contra-revolucionária e a traição dos social-
fascistas, anarco-sindicalistas e de todas as outras formações dema-
gógicas da chamada esquerda burguesa que, sob a máscara do "anti-
imperialismo" etc., se esforçam, por todos os meios, por fazer
marchar os trabalhadores contra os seus próprios interesses de classe.
As células, se não recebem indicações e 'diretivas sobre os tra-
balhos a realizar, é claro que continuam sendo fracas e não desem-
penham papel político algum, não sendo sensíveis à vida orgânica
do partido,
Outro argumento que se junta à explicação da fraqueza da
estrutura celular dos partidos latino-americanos, é o da repressão
crescente contra a ação comunista nas empresas. Mesmo reconhe-
cendo a relativa exatidão desse argumento, deve dizer-se que é um
tanto excessivamente europeu, no sentido de que o trabalho orgânico
de nossos partidos nas empresas não assumiu, até o presente, a
envergadura de uma tentativa séria. Isto quer dizer que nossas
experiências no trabalho celular das usinas são tão insignificantes
que não se pode falar concretamente de repressão contra uma forma
de atividade que só praticamos muito raramente e de uma forma
ainda muito longe de ser satisfatória. Evidentemente, os camaradas
da Argentina podem citar o caso dos frigoríficos de Berisso, onde,
por causa do trabalho de nossos companheiros e simpatizantes, que
produziu efeitos formidáveis e que permitiu descobrir, entre outras
coisas, a grande simpatia que a massa dessas empresas imperialistas

294
BR DFANBSB VB.GNC.EEE,
82 O LL 40 Samoo byp
: 294

importantes - que reúnem a quase totalidade dos operários da


localidade -- tinham pelo nosso partido; este caso - dizifamos -
provocou uma violenta repressão. Depois deste golpe sério, nossos
camaradas compreenderam que haviam cometido faltas e tomaram
medidas para evitá-las no futuro. Este exemplo demonstra que a
repressão contra a ação comunista nas empresas não é a causa essen-
cial da fraqueza de nossas células. É preciso que se veja a causa
principal dessa fraqueza na existência de maus métodos de trabalho
orgânico dos partidos, métodos que, quando não são herança social-
-democrática, provam um empirismo mecânico, uma falta de pers-
pectiva na preparação e direção das lutas operárias. Já foi dito, e é
necessário deliberadamente insistir, que tudo isto é o resultado da
insuficiente compreensão política do papel organizador dos partidos,
significa não compreender absolutamente nada do papel político do
próprio partido, significa trabalhar no ar, significa preparar justificar
as retiradas e as derrotas a eterna escusa oportunista para sobre o
terreno estratégico da luta de classes, terreno que não admite em
momento algum e menos ainda no atual período de crise aguda e de
radicalização das massas, nenhuma espécie de improvisação, e que
exige, pelo contrário, uma preparação constante e orgânica de todas
as coisas antes de lançá-las na batalha.
Eis aqui, porque o esforço de nossas direções comunistas deve
ser dirigido no sentido da liquidação desses velhos métodos e dessas
péssimas tradições organizativas que têm suas raízes na ausência de
vida política que caracteriza o conjunto estrutural dos partidos.
Esses esforços, que vão ser impelidos por essa grande campanha de
recrutamento, sob o signo da emulação revolucionária, deverão adqui-
rir um dinamismo permanente, quotidiano.
A constância, à continuidade desses esforços, está ligado o desen-
volvimento dos partidos comunistas como dirigentes das lutas inde-
pendentes do proletariado para a marcha da revolução operária e
camponesa no continente.
(Boletim do Bureau Sul-Americano da Internacional
Comunista, Buenos Aires, Ano I, n.os 14-15,
1.o.05.1931).

Em defesa da União Soviética: Apelo do Bureau S.A.


da Internacional Comunista aos partidos comunistas e
a todos os trabalhadores

Companheiros:
As agências telegráficas burguesas transmitem já abertamente os
preparativos que realizam os restos do regime czarista, radicados nos

295
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 620 (140 5 LNQÓC

países imperialistas, para uma intervenção armada contra a União


Soviética. Com um descaramento e uma insolência que revelam
claramente que eles contam já com a decisão dos países imperialistas
de intervir na União Soviética, esses refugiados declaram, "que
eles dispõem de um exército bem adestrado, composto de cem
mil homens, aos quais lançarão contra o regime comunista na primeira
oportunidade".
O General Miller, general e chefe dos exércitos brancos, depois
de inspecionar as suas forças nos Balkans, declarou ao correspondente
da "United Press" que, há um ano apenas, só podia contar com um
exército de setenta mil homens. "Atualmente, dispõe de cem mil,
prontos para entrarem em luta imediatamente,
Depois de quererem negar que conspiram com outros governos,
procurando ridicularizar os documentos e as provas do recente
processo dos engenheiros sabotadores, os dirigentes dos expatriados
declararam ao correspondente em questão "que se estão preparando
Para cooperar com outros exércitos, quando a Europa inicie uma
ofensiva coordenada contra os Soviets", E, como se não bastasse
uma tão cínica declaração, que prova à sociedade que eles trabalham
de acordo com os imperialistas, o mesmo General Miller declara:
"Senti um grande orgulho ao passar em revista as minhas tropas da
Iugoslávia e da Bulgária."
Será possível que, em um país estrangeiro, se organizem exércitos,
que "desfilam uniformizados" - como se declara - sem que o
governo desse país esteja de acordo? Mais ainda: Pode-se negar a
participação do imperialismo francês nessa agressão armada que se
prepara, quando se declara abertamente: "Os chefes e oficiais desse
exército foram graduados na escola militar que os russos brancos
possuem, instalada em Paris, e na qual se instruem os alunos nos
últimos aperfeiçoamentos da técnica de guerra?" A metade dos
componentes desse exército - acrescenta-se - residem nas nações
balcânicas e o resto na França e na Alemanha. Todas as armas
acham-se representadas, inclusive os corpos auxiliares superiores, os
lanadores de matérias inflamáveis, os atiradores, a metralhadora e os
aviadores.
Não operam em cumplicidade com os imperialistas - dizem
eles - e acrescentam que isso é uma calúnia dos comunistas; mas,
em seguida, declaram: "Nós estamos prontos para iniciar a guerra.
Esperamos somente que a situação internacional seja propícia, assim
como recursos pecuniários, os quais teremos seguramente de alguma
potência que queira destruir o bolchevismo e fazer com que a Rússia
volte às mãos do povo."
Essas declarações do General Miller, do General Loukowsky
(candidato a ditador militar, segundo ficou provado no processo dos
296
- U ar neaNBSB VB.GNC.EEE220 H 4095 an 004; 02

engenheiros sabotadores), do General Denikine, de Nicolas Denissoff


(presidente do "Torgprom", associação de ex-industriais russos, e
intermediário perante o governo francês, conforme constou daquele
processo), de Milioukoff, ex-ministro de Kerensky etc., terminam
assim:
"Impacientes esperamos o chamado da fronteira."
R
Tais declarações - repetimos - foram feitas à "United Press"
e reproduzidas pela imprensa imperialista e reacionária mundial.
Eles revelam, com brutal clareza, como se tem a certeza de que as
potências estrangeiras financiarão a intervenção armada contra a
União Soviética; como vários países - Iugoslávia, Bulgária, Romênia
- onde se fuzilam os comunistas, permitem e, sem dúvida, ajudam a
formação, em seus territórios, de exércitos para a guerra contra
a pátria do proletariado mundial; como a França alberga uma escola
militar etc. A isso deve-se acrescentar que o processo dos engenhei-
ros sabotadores revelou que já existe todo um plano de agressão,
o qual partirá da Polônia e da Romênia, cujas tropas serão coman-
dadas por chefes franceses; que a Inglaterra tem participação nesses
planos, nos quais intervém o famoso Coronel Lawrence, o mesmo
que se encarregou de dividir, trair e organizar a espionagem e a
sabotagem na Turquia e em todo o Oriente Próximo, durante a
guerra passada.
Tudo está, pois, preparado em matéria militar e "a situação
internacional propicia", da qual falam os parasitas e bandidos do
regime czarista, desterrados pela revolução dos operários camponeses
russos, chegou. Todo o arcabouço capitalista se contorce, carcomido
por uma profunda e insuperável crise. Atingidos por uma formidável
crise de superprodução e pela quebra das monoculturas nos países
coloniais lançaram mão da racionalização capitalista, de uma incom-
parável intensificação da exploração das massas operárias e campo-
nesas, com a qual não só não conseguiram minorar a crise como, ao
contrário, a tornaram mais aguda, com a diminuição da capacidade
de consumo de seus mercados, a luta pela conquista dos quais
exacerbou ao extremo as lutas interimperialistas na China e na
América Latina sobretudo. Essas lutas interimperialistas, com a sua
sequência de guerras, de golpes de estado etc., torna a situação ainda
mais instável, produziu novos fatores de crise e de perturbação
econômica e política, ao mesmo tempo em que o pioramento da
situação de miséria das massas operárias é camponesas suscita novos
levantamentos, novas lutas antiimperialistas de massas na China, na
Índia, na Indochina, no Peru etc., e cria as condições para grandes
lutas revolucionárias nos restantes países coloniais e semicoloniais.

297
ar pranase 8 2 0 UL OG emos Lio X >

Paralelamente, em todos os países capitalistas -- por causa da


racionalização e da exploração intensificada - o exército dos sem-
trabalho e dos semidesocupados cresce em proporções fantásticas
criando um problema social agudo e ameaçador. Todo o sistema
capitalista está em crise e desagrega-se. As moedas depreciam-se.
A vida se encarece. Grandes massas de semiproletários sofre fome
ao mesmo tempo que numerosas camadas da pequena burguesia das
cidades e dos campos se pauperizam rapidamente.
E enquanto esse é o quadro do mundo capitalista, a União
Soviética, embora com grandes esforços e sacrifícios, edifica triun-
falmente o socialismo nas cidades e o estende, em ritmo desconhecido
na história, ao campo. O gigantesco plano quinquenal, não somente
se cumpre, contra todas as previsões e vaticínios do imperialismo
mundial, da burguesia, dos social-fascistas e dos direitistas, como em
algumas regiões se realiza em três anos e, em geral, as massas
proletárias do país da revolução se impuseram a palavra de ordem
de realizá-lo em quatro.
A sabotagem organizada pelos engenheiros, o semibloqueio -
em alguns casos bloqueio completo - do mundo capitalista, a
permanente ameaça de guerra, que obriga a distrair tantas energias
e capitais, não conseguiram impedir a aplicação vitoriosa do plano
quingienal. A produção de cereais - para citar o exemplo mais
caluniado nestes últimos tempos - superou a produção de antes da
guerra, permitindo à União Soviética exportar grandes quantidades
de trigo. O capitalismo mundial, que grita a todos os ventos que na
União Soviética se sofre a fome, grita igualmente porque a União
Soviética exporta grandes quantidades de trigo.
Gritam contra o "dumping" soviético os mesmos que matam de
fome as massas operárias e camponesas, os mesmos que concedem
privilégios à agricultura, pagos com o suor das massas, os mesmos
que, como a Argentina, fazem os trabalhadores agrícolas trabalhar pela
comida ou por salários insignificantes. Gritam porque querem enganar
às massas, para que elas não vejam os gigantescos progressos da
União Soviética. Querem que os operários e camponeses vejam na
União Soviética a causadora de suas misérias em vez de nela verem
uma orientadora, uma guia para sua completa libertação do jugo
capitalista. Querem distrair as massas, para que elas não vejam que
na União Soviética não somente não há desocupação, como também
os operários qualificados não chegam para satisfazer à exigência de
mão-de-obra das indústrias, exigência que cresce velozmente, à medi-
da que o plano se realiza. Querem que não se veja que lá se
implantou o dia de 7 horas de trabalho, ao passo que nos países
capitalistas se arranca aos trabalhadores a conquista das oito horas;
que lá se aumentam os salários e se reduz o custo de vida, se aumen-

298
p.So
32 0LL UO S onogl,
ar oranass vs.enc.ere,

.só 6 horas
tam os seguros sociais, os menores de 18 anos trabalham
trabalha dores de menos de 16 anos, nas indús-
e não se admitem
de trabalho
trias nocivas à saúde, o horário é de 6 horas e a semana
quinto, todas as
é de 5 dias, trabalhando 4 dias e descansando no
das não para os patrões, mas sim para
riquezas estão sendo acumula
dores que cada vez se aproxi mam mais do regime socialista,
os trabalha
o bem-est ar de todos
no qual as riquezas representam o patrimônio e
para com a coletivi dade, enquant o
os que cumprem os seus deveres
nos países capitalis tas acontece justame nte o contrári o.

Mas, como, apesar de todos os obstáculos, o plano quinquenal


se realiza triunfalmente e esse plano, conjuntamente com uma formi-
dável industrialização, uma extensão inusitada do socialismo nos
campos, comporta não somente um esforço estupendo da economia,
dos meios de produção e de defesa, como também um grande melho-
a
ramento das condições de vida de toda a população, mormente
e como não lhes é possível continuar enganand o
partir do terceiro ano,
eternamente as massas operárias e camponesas do mundo, os imperia-
social-
listas e todos os seus agentes e lacaios, os restos Czaristas, os
e contra-re volucioná rios preparam a
fascistas e todos os renegados
agressão amada contra a União Soviética; uns nas ordens militar
com a pro-
e financeira, os outros, com as campanhas de calúnias,
Soviética as simpa-
paganda miserável, tendente a arrancar da União
tias que conta entre as massas operárias e campones as.

Disse o mais inteligente e cínico dos porta-vozes do imperialismo,


Lloyd George: o terceiro ano, o atual, do plano quinquenal é o
decisivo. O ano de 1931 é definitivo - afirmou - e a realização
do plano, neste ano, é um perigo para todo o capitalismo.
Eis por que a guerra contra a União Soviética se prepara este
ano!
Essa mesma advertência deve fazer compreender às massas
operárias e camponesas, a cada trabalhador consciente, seja qual for
União
a sua ideologia, a cada revolucionário sincero, que a defesa da
realizar o plano quinquena l, é a defesa da
Soviética, para que possa
mundial, é parte da luta pelo derrocam ento do capitalis mo!
revolução
Os imperialistas querem impedir a realização do plano qiúinque-
ores
nal, como um meio de deter a sua própria ruína! Os trabalhad
o com a sua ação a União Soviética, lutando contra a
defendend
nto definitivo do
intervenção armada, contribuirão para o afundame
regime capitalista! o
s nacionais querem
Os imperialistas e seus agentes das burguesia
do a exploraçã o das massas operárias
fazer frente à crise, aumentan
trabalho e
e camponesas, racionalizando, aumentando as horas de
rebaixando os salários, encarecendo a vida etc.!

299
sroransse va.enc.ece; 82011405 en op by: 30%

As massas operárias e camponesas, defendendo a própria vida,


devem lutar contra o imperialismo, exigindo maiores salários, menos
horas de trabalho, auxílio aos desempregados e impedindo que de
seus respectivos países saiam homens, dinheiro ou provisões para os
exércitos imperialistas lançados contra a União Soviética!

Companheiros:
Os imperialistas e seus aliados crêem chegado o "momento
propício" para deter a aplicação vitoriosa do plano qiúinquenal,
detendo assim o avanço da revolução mundial, mediante uma agressão
armada contra a União Soviética,
Detenhamos esse propósito criminoso contra o proletariado,
lutando contra essa agressão!
Formemos Comitês pró-Defesa da União Soviética em todas as
fábricas, em todas as oficinas, em todos os povoados, em todas as
plantações e fazendas!
Façamos com que todos os sindicatos se pronunciem a favor
dessa defesa e se disponham para a luta!
Chamemos os trabalhadores a se pronunciar contra os dirigentes
sindicais anarquistas, sindicalistas ou social-fascistas, aliados do impe-
rialismo, dos ex-industriais, nobres e militares czaristas na sua luta
contra a União Soviética, e a solidarizar-se contra o imperialismo,
contra os ex-generais brancos, contra os resíduos do czarismo assassino,
contra o fascismo mundial!
Organizemos grandes comícios, reuniões e demonstrações pró-
-União Soviética!
Impeçamos com a ação que, também na América Latina, se
recrutem exércitos de russos brancos e de fascistas de outras nacio-
nalidades, para lançá-los contra a União Soviética!
Através dos Comitês pró-Defesa da União Soviética, lutemos
contra o imperialismo e contra os seus agentes, as burguesias nacio-
nais, combatendo ao mesmo tempo contra a intervenção armada,
contra a pátria do proletariado e por mais salário, por menos horas
de trabalho, pelo auxílio aos desempregados, contra a carestia de
vida, contra o envio de homens e víveres para os exércitos imperia-
listas, contra o transporte de tropas pelas estradas de ferro e contra
o seu embarque nos portos, contra o transporte de alimentos, armas,
e todo outro alimento para os inimigos da União Soviética; pela
diminuição dos arrendamentos, dos fretes e dos impostos que pesam
sobre os camponeses, pela anulação das dívidas, pela confiscação e
nacionalização das terras das empresas imperialistas, pela tomada
do poder pela Revolução Operária e Camponesa!

300
. BA04 L IOS (a 306
sroransse

Companheiros:
O imperialismo quer iniciar a guerra contra a União Soviética,
que é a guerra contra o proletariado mundial. Contra a União
Soviética conspiram todos os imperialistas, os mesmos imperialistas
que, por meio de suas empresas, de seus agentes do feudalismo, da
burguesia e das parcelas reacionárias da pequena burguesia nacionais
e dos militares a seu serviço, encarceram, lançam à fome, deportam
e massacram as massas operárias e camponesas da América Latina.
Contra a pátria do proletariado mundial, contra o seu glorioso plano
quinqguenal, que é o plano de todo o proletariado mundial, já que é
parte do derrocamento do capitalismo, conspiram todos os inimigos
do proletariado: os fascistas, os social-fascistas, o clero, os resíduos
do czarismo.
Contra essas confabulações, contra a intervenção armada, contra
o imperialismo, contra o fascismo, a frente única de todos os explo-
rados, seja qual for a sua ideologia, nos Comitês pró-Defesa da
União Soviética!

Contra a frente única burguesa, a frente única proletária!


Pela União Soviética e contra toda intervenção armada!
Por mais salário!
Pela diminuição de horas de trabalho!
Pelo auxílio aos desempregados!
Contra a carestia da vida!
Contra a racionalização capitalista!
Contra o imperialismo!
Contra o envio de homens ou provisões para os exércitos impe-
rialistas!
Pela diminuição dos arrendamentos, fretes, impostos que esfo-
meam os camponeses!
Pela anulação das dívidas, a confiscação e a nacionalização das
empresas imperialistas!
Pela tomada e nacionalização da terra e pela sua entrega a quem
a trabalha!
Pela instauração do Governo Operário e Camponês em todos os
países da América Latina! é
Pela revolução proletária mundial!

O Bureau Sul-Americano da Internacional Comunista.

(Encarte, in A Classe Operária, s/d).

301
BRDFANBSB VB.GNC.EEE, SA0LL40S an gol
07

C) POLÍTICA OPERÁRIA

1) Explicação necessária (1924)

Tinha sido, para o domingo próximo passado, convocada uma


assembléia da Associação Gráfica do Rio de Janeiro, a fim de
eleger uma nova comissão executiva e tratar de outros assuntos.
Apesar de ser essa a terceira assembléia para esse fim convocada,
a presença foi reduzida e, por esse motivo, não houve sessão.
Aproveitando, porém, a oportunidade de se acharem reunidos
alguns dos mais ativos militantes da Gráfica, fez o camarada
José
Alfredo dos Santos, secretário geral, uma declaração, que pena
é não
tivesse sido apresentada por escrito para que pudéssemos reproduzi
-la
textualmente. Dizia, em suma, nessa declaração, o camarada
José
Alfredo dos Santos, falando em seu nome e no dos demais
membros
comunistas da comissão executiva, que se demitia definitiv
amente do
cargo que ocupava na diretoria por razões de ordem
moral, a saber:
- Que sendo comunista, e pensando pudessem porvent
ura suas
opiniões constituir um empecilho para o reerguimento
da classe,
abandonava seu cargo na comissão executiva,
comprometendo-se,
contudo, a prestar à Associação o seu concurso como
de antes.
A classe que escolhesse uma comissão executiva mais de
acordo com
sua mentalidade coletiva.
Essa declaração provocou alguma surpresa entre os camaradas
à reunião presentes, os quais estranharam pudessem as convicç
ões
doutrinárias ser empecilho ao exercício de um mandato puramente
administrativo, como esse que à comissão executiva os novos estatuto
s
designam.
Corroborando as afirmações do 1.o secretário, o camarada João
Dalla Déa, 1.o tesoureiro, declarou que as razões da demissã
o dele
e do seu colega não se fundavam exclusivamente no estado financeiro
da Associação, porquanto as finanças associativas têm melhorado
bastante e havia razões para crer que para o futuro melhora
riam
ainda,
Há, porém, uma contradição manifesta entre essas declarações
e o que, no PAÍS de 17 do corrente, publicaram esses mesmos
cama-
radas. Na declaração do PAÍS são as razões de ordem moral omitidas
e sobremodo engrossadas as de ordem econômica. Diante
disso,
todos os que assistiram à reunião de domingo próximo passado
ficam
sem saber de que lado estão os verdadeiros motivos da demissão
dos
camaradas Alfredo dos Santos e João Dalla Déa: se do lado
moral
ou do lado econômico.

302
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, RAO LL4OS amo0lL Tem “308

No concernente ao moral, possoafirmar que aposição dos ditos


camaradas ante a classe não poderia ser melhor. Contra eles não há
queixa de espécie alguma e todos que deles se aproximam ficam
agradavelmente impressionados, graças à sua retidão, ao seu desin-
teresse e àR sua inteligência.
Quanto ao lado econômico, também não há motivos para
desanimar. Nestes dois últimos meses regularizou-se a cobrança das
mensalidades em vários jornais, onde os associados não estavam em
dia por falta de cobrador. Também nesse período, entraram para a
Associação 130 associados novos, dos quais alguns, é certo, já perten-
ceram à Associação, mas andavam de há muito dela afastados. Nesta
semana o movimento de volta à Associação bateu o record, porquanto
entraram 88 associados, assim repartidos: Jornal do Brasil, 31; O
Jornal, 16; avulsos. 5; Tipografia Progresso, 12, e uma outra casa de
obra, 16. Circulam ainda outras listas de aliciamento associativo,
que provavelmente entrarão ainda esta semana.
Podemos, por consequência, afirmar que a reorganização da
Gráfica, nesta sua nova fase, está agora no auge. E foi precisamente
esse o momento que os camaradas João Dalla Déa e José Alfredo dos
Santos escolheram para dizer em público, peremptoriamente, que
"não crêem no reerguimento da Associação" e que seus prognósticos,
isto é, a morte da Associação, estão a ponto de ser confirmados.
Acreditem, camaradas, que esse acesso de necrofilia e esse pânico
súbito nos deixam perplexos, a nós que acompanhamos de perto a
vida íntima da Associação.
Talvez os camaradas demissionários se tenham deixado impres-
sionar ante a ausência de exteriorizações de entusiasmo. Por exemplo,
se, em vez de terem entrado para a Associação, nesta semana, 88
associados novos, aqui tivessem vindo 44 dos antigos, com bandei-
rolas, músicas e foguetes, enchendo a sede de ruídos e discurseiras,
os camaradas que ora se demitem tomariam essa farofada por um
augúrio felicíssimo e não se teriam abandonado a esse derrotismo
desanimador que transparece em cada linha da publicação por eles
feita no PAÍS.
Na verdade, é esse um modo muito superficial de considerar a
obra da organização proletária. É não levar em conta o pensar da
classe e as tradições reformistas e derrotistas da nossa Associação,
que se não podem desfazer de um momento para outro. É preciso ir
desarmando as paixões e desfazendo a lembrança dos erros passados;
reconquistar a confiança das massas; manter em boa ordem a vida
administrativa da Associação; combinar um plano de ação e ir
martelando em cima até despertar o interesse da classe. Como
procedem os nossos irmãos das bravias selvas quando querem fazer
fogo? Pegam dois paus e esfregam-nos um ao outro, cansam e suam
303
BR DranBSB Va.GNC.EEE, 820 LLÚUOO am op] N(,.ZBÓ“

de tanto esfregar, até que, de repente, surge a centelhazinha que


depois se transforma em facho, em fogueira e em brasil. A agitação
das classes trabalhadoras é uma operação parecida com essa. Levam-
-se semanas, meses e até anos a expor idéias, a reunir os homens, a
habituá-los à solidariedade e ao convívio associativo; durante esse
tempo todo, parece que nada se está fazendo, mas, no entretanto,
esse esforço ininterrupto vai aquecendo os elementos até que um dia
deles sai a chama que transformará o rochedo em torrentes de lava
e os brutos minérios em ligas de bronze.
Fazem ainda, na sua declaração do PAÍS, os camaradas Alfredo
dos Santos e João Dalla Déa alusão à sua qualidade de comunistas,
não sei a que propósito. Mas já que assim fizeram, como comunista
que também sou, peço permissão para lembrar-lhes que o tom da sua
declaração não está de acordo com a dialética comunista, a qual se
funda no princípio de que a classe operária é para a vitória, para o
comunismo pela via da sua organização e dos combates contra a
classe descendente - a burguesia. Ora, afirmar, acerca de uma
determinada corporação de trabalhadores, que essa organização é
inexequível e que todo esforço nesse caminho feito é esforço inútil,
é ilusão, constitui um erro lamentável, já não digo para um Jeca-Tatu
opilado e cheio de vermes e de desânimo, mas para um comunista,
cuja teoria se funda toda na força de expansão da classe proletária.
Antonio Canellas
(O País, Rio, 20.06.1924).

2) Novo Rumo (1924)

Há no seio da Associação Gráfica um sincero desejo de dar um


rumo novo à orientação e aos métodos de organização até aqui
seguidos. A situação em que no presente a Associação se encontra
nem satisfaz os militantes ativos nem o grosso da classe. Todos
sentem a urgente necessidade de fazer qualquer coisa, de sair disto.
No modo de agir é que surgem as divergências. Uns pensam que tudo
está no enveredar a Associação pelo caminho dos festejos e dos salões
dançantes, satisfazendo assim o frívolo pensar de grande número
de camaradas que, convencidos de que esta vida é um fandango,
tolo é quem não baila. A seguir, temos a tendência liquidacionista,
isto é, a dos camaradas que vêem tudo negro, roxo, sombrio, desolador
e trágico e, pondo as mãos na cabeça, gritam sem cessar:
- Acabemos com tudo, deixa ir como eles querem, não vale a
pena se esforçar, a classe gráfica não presta para nada, isto é um
caso perdido, cuidemos cada qual de nós mesmos e deixemos os
patrões apertar a tarracha até eles rebentarem! . ..

304
BROT uns vslonNcleEE8 20 LUIS
am Op 6: 340

Finalmente, há os otimistas - aqueles que apesar de tudo e


assim mesmo, pensam que nem tudo está perdido, que vale a pena
fazer mais um esforço, que as dificuldades em que nos achamos estão
na ordem das coisas o que o único remédio é ter paciência e ir
esperando, até que a classe desperte.
Julgo, nessas três apreciações, ter delineado o quadro moral da
nossa associação. Façamos, pois, em torno desse quadro alguns
comentários.
No meu modo de ver, a razão não está ao lado dos foliões senão
na medida de 20%. Com efeito, as diversões são uma necessidade.
Elas fazem parte da vida e não podemos exprobrar a quem quer que
seja o gosto à alegria e ao mundanismo. A organização sindicalista não
é uma comunidade de quakers ou de cristãos antigos. Mas cumpre não
esquecer que as diversões, no sistema sindicalista, são um pormenor
secundário e não uma preocupação de primeira ordem. As diversões
só valem pelas facilidades de propaganda e de proselitismo que elas
podem ensanchar. Se não fosse isso, poderiamos prescindir das diver-
sões porque, para a prática exclusiva da dança e da música, existem
sociedades especiais, onde a liberdade de costumes é mais larga e
mais intensa a folia.
Os senhores liquidacionistas, muito embora campêem de extre-
mistas e de ultraconscientes, são um único elemento. A teoria da
liquidação na vida associativa equivale à do suicídio na vida indivi-
dual. Que os suicidas dêem cabo do próprio canastro, está muito bem,
isso é lá com eles. Devia até haver portos especiais para isso, munidos
de todos os apetrechos acidentais, desde o clássico punhal até o "raio
invisível" do sábio "Bringella Matheus", onde os desgostosos da vida
pudessem pôr termo à dita com todas as garantias de sucesso e sem
incomodar os mais. A vida é para quem quer viver. Mas que diriam
vocês se esses cavalheiros, não contentes em se suicidarem, procuras-
sem antes nos convencer de que deveriamos fazer como eles? Pois é
precisamente o mesmo o caso dos liquidacionistas. Eles sentem-se
individualmente cansados, esmorecidos, desesperados. Mas em vez
de guardarem consigo esse pessimismo, não perdem vasa de ostentá-lo.
Ora, o pessimismo social é uma moléstia sobremodo contagiosa. Um
liquidacionista faz involuntariamente mais dano à organização que
um adversário declarado, porquanto este estimula o zelo dos mili-
tantes e o interesse dos indiferentes, ao passo que aquele ocupa-se,
qual nova espécie de bombeiro, a despejar água fria em cima de todos
os entusiasmos e abafar no nascedouro qualquer chamazinha de
esperança.
Outro defeito dos liquidacionistas é gostarem de xingar a todo
o propósito a classe.

305
BR DFANBSB Va.GNC.EEE, 32
0 LL 40 S gmool, (. 31!

- Vocês não prestam, vocês são


um bando de carneiros, de
inconscientes, de degenerados, jogad
ores, cretinos, cachisbéos, e por
ai além....
Ora, na verdade, isso não são modos
de chamar ninguém à
organização. Os gráficos têm os defei
tos que devem ter. São as
condições de trabalho que os tornam tais
quais eles são e não é a eles
que devemos querer mal e sim à organizaçã
o social que torna o traba-
lhador carneiro, inconsciente ou jogad
or. Os nossos defeitos são
coletivos e é uma injustiça individualizá-l
os.
Lembrem-se os senhores liquidacionistas de que
a organização e
a emancipação dos trabalhadores há de ser
feita com esses trabalha-
dores que aí estão e não com outros caído
s do céu por via de um
descuido do carpinteiro José. E, por já estar
muito extenso este artigo,
deixo para outro a apreciação das idéias dos
otimistas, Devagar se
vai longe.

Antonio Canellas
(O País, 22.06.1924).

3) Aos proletários (1926)

Proletários brasileiros, e para nós são todos


os que, sendo
embora os produtores e não tirando de seu trabalh
o senão a parte
estritamente necessária para recuperar as forças
físicas despendidas
precisamente nesse trabalho, a fim de poder continu
á-lo a produzir,
todos os dias, isto é, os assalariados - aqui vivam,
hajam entretanto
nascido em Portugal, ou Itália, na China ou na Turqui
a - é vossa
essa revista. Tomai-a, levai-a para a frente, fazei
dela um órgão de
vossas aspirações de classe e a voz de combat
e e de defesa em pró
dos vossos interesses, mesmo dos vossos interes
ses mais imediatos.
Esta revista só pode viver do vosso acolhimento.
Precisa do vosso
auxílio que é o único com que ela deve contar,
pois, a viver à custa
das classes burguesas, perderia a razão de sua
existência. Desampa-
rada pelos proletários, morrerá. É o lançamento
dela, portanto, uma
prova de confiança no proletariado do Brasil.

Li,,

Desejamos, é de absoluta necessidade, que


a nossa revista seja
uma obra coletiva - de todos os trabal
hadores conscientes, um
órgão de classe, um instrumento de cultura,
inspirado na doutrina que
Marx construiu e que Illitch experimentou
, vitoriosamente. Será o
marxismo, restaurado em sua vitalidade por
Lenine, o método incom-
parável com que guiaremos o nosso esforç
o intelectual, com que

306
ve.ene.eee, 820 L 40 Sango

queremos levar à consciência


do proletariado a noção fundamen
de seu destino histórico e a comp tal .
reensão sistematizada de seus prof
dos, de seus verdadeiros interesses un-
. Sem a luz do marxismo iríam
nos perder nos desvios das dout os
rinas burguesas, labirinto de conf
sionismo, de meias medidas, u-
de Preconceitos, de vagos ideal
nefastos, elaborados, pelos intel ismos
ectuais burgueses, em benefício
sivo das classes dominantes, exclu-
cuja situação privilegiada legit
defendem, para uso externo, ima e
como preventivo ao desconte
justo das massas, para uso excl ntam ento
usivo do proletariado, a fim
a atuação deste seja sempre de que
inofensiva, para que continue
indefinidamente, o que hoje é: a ser,
uma maioria oprimida, porque
consciência. E porque sem cons sem
ciência, a maioria que produz,
à minoria, que explora, maioria, sujei ta
e porque maioria, que tem a
dominada pela minoria, cuja força
força e cujo domínio residem
mente na inconsciência e na precisa-
passividade daquela, E essa
assim adormecida, é como uma maior ia,
força da natureza - inconscien
das formidáveis energias de que te
dispõe: é o número e parece
que o número, queiram ou não quei ignorar
ram os intelectuais de meia patac
fetichistas do Espírito (com e maiú a,
sculo) - é a força, e a força
tudo: o poder, a riqueza, a orde é
m, a cultura, a civilização.
Despertar, na medida de nossas força
s, essas energias que dormem,
sobretudo no seio da classe operá
ria, fazê-la sentir o dever socia
reivindicar, em todos os terre l de
nos, os seus direitos históricos
nosso programa, a alta finalidade , é o
desta revista.
E é nesse estado de inconsciênci
a que, infelizmente, em sua
enorme maioria, até hoje tem
vivido o operariado brasileiro
coesão, amorfo, sem uma base : sem
comum de interesses que lhe
unidade concreta e lhe seja o dê uma
ponto de partida Para a sua
como coletividade, e finalmen atuação
te, para tudo resumir -
inorganizado, ainda

Assim, para que haja o espírito


de classe, para que de fato seja
a classe operária do Brasil uma
classe organizada - é preciso
operário saia de seu isolamento, que o
reaja contra essa maneira indi
lista de viver, que é mera tara vidua-
burguesa. O operário brasileiro
si só, tomado, cada um, isol , por
adamente, ainda na maneira
até na de sentir e de pensar de viver e
é um pequeno-burguês. Como
desfazer essa semelhança depr , pois,
imente que subordina o
pequeno-burguês, que faz daqu
ele um copiador servil,
f h! irrisão, o alto tipo social em
mira, aspirando a imitá-lo? Com que aquele se
o evitar, pois, toda e qualquer
fusão, no Brasil, desgraçadame con-
nte ainda possível, da classe oper
com a pequena burguesia, essa ária
classe anfíbia, classe sem carát
que vive perpetuamente a oscil er,
ar, ao léu das vicissitudes econ
sociais, financeiras, mesmo, que ômicas,
dominem, entre a grande burg
uesia,

307
;p: 313
ese, 320 LLX
BR oFanass vaenci
lada nos seus privilé-
até agora poderosa demais, para vacilar, acaste
da sua riquez a e de seu poder e o próprio
gios, encravada na rocha
as de sua cultura
proletariado, que ainda balbucia as primeiras palavr
passos de sua atividade
e ainda está engatinhando, nos primeiros
social e política? ..
no seu companheiro
Indo, primeiramente, o operário procurar,
e necess ária para a luta quotid iana, em defesa
de classe, a solidariedad
ameaçados pelo mecanis-
de seus imediatos interesses, constantemente.
ade em classes de interesses
mo mesmo do regime, que divide a socied
Procur ando encara r de um modo siste-
irremediavelmente contrários.
o intere sse de cada operár io, em si, sempre de
mático e ininterrupto
de vista de todos os
um ponto de vista geral, coletivo, do ponto
sempre , desse ponto de vista.
operários, em conjunto, e defendê-lo,
? O organi smo própri o, marca do indele vel-
Para isso, o que é mister
signo de classe, feito para aquela função essencial de
mente pelo
ramente, às reivindi-
definir o interesse do proletariado, dando, primei
coleti vo, de classe, distintamente
cações do proletário - um cunho
classes , depois - a elevad a significação de
marcado do das outras
ama social, a ser realiz ado, e, finalm ente, até a transcendência
um progr
co a resolve r-se: o sindicato.
e a profundeza de um problema históri
entida de coletiv a, sem esses
Porque, sem a sua organização como
e educac ionais necess ários à função social,
organismos profissionais
enhar, sem sindica tos, sem partid o nitida mente,
que tem a desemp
para a vida coleti va
intransigentemente proletário - órgãos vitais
lutar a classe operár ia contra as
e futura do trabalhador - como
parav elmen te mais bem organi zadas, mais
classes burguesas, incom
s, que contam com o
ricas, mais cultas, mais poderosas, e privilegiada
amente sustentá-las,
poder coercitivo do Estado, cuja função é precis
defendê-las? . ..
diferente da pequena
E ainda para agir, para sentir, para pensar
é de todo impres cindív el - que, dentro dos sindicatos,
burguesia -
gia própri a, absoluta-
o operariado se integre totalmente numa ideolo
Ideolo gia tirada embor a das relações
mente diferençada da burguesa.
neas e da ciênci a burgue sa, por sábios burgue-
econômicas contemporâ
última s e verdad eiras
ses (mas sábios que não tiveram medo de ir às
suas experi ências , de seu estudo ),
conclusões de suas investigações, de
contra a miséri a das massas engend radas
nasceu entretanto, da luta
melhor do que qual-
pelo capitalismo.* Ideologia que determina
ariado,** coincide com os
quer outra a causa dos males do prolet
aspira ções das massas, incita, como
interesses vitais deste, legitima as
ários à luta social e, sobret udo, revelou na previsão
um dever, os prolet
econômico, a estes, a formi-
do desenvolvimento ulterior do processus

* Lenine - "Que faire", citação de Kautsky.


** Lenine - "Que faire".

308
am 3 L4
BRDFanaSa ve.enc.eEE,

ados, de transformar o regime


dável missão histórica a que estão destin
indivi dual, sob que vivemos num regime de
social de propriedade
zação, menos anárquica,
propriedade coletiva, onde uma nova civili
er a esta que, ora, agoniza,
mais justa e mais luminosa há de suced
os assist indo, sem pesar e sem tristeza
e cuja prolonga da agonia estam
comun ista. Armad o com esta doutri na, a consciência
- é a ideologia
turbar com ilusões refor-
de classe dos trabalhadores nunca se há de
doutr inas que só visam ao
mistas, com a estreiteza egoista de certas
trade -unio nismo (que nunca há de libertar
interesse imediato, como o
fatalmente o trabal hador
o proletário do jugo capitalista) e conduzem
da nele sua dignif icador a
à contaminação da ideologia burguesa, apaga
no-bu rguês , Trata- se, pois, unica-
origem de classe, tornando-o peque
burguesa e a ideologia
mente de escolher entre a ideologia***
esta tarefa, com a das
comunista. Esta é a tarefa dessa revista. E
as, é o problema funda-
organizações profissionais e políticas própri
mental da classe operária no Brasil .
o e doutrina rigorosa-
Organização e educação. Sindicato, partid
pode dar aos espontâneos
mente de classe. E só a ideologia comunista
, movimentos, por assim
e naturais movimentos proletários no Brasil
icame nte das necess idades econômicas,
dizer, reflexos, originados empir
nador a precis a, para, hoje, levar as massas à
- a consciência conde
triunf o políti co definitivo,
satisfação dessas necessidades e, amanhã, ao
conduzi-las, gloriosas, redimidas, vence doras .
viver nossa revista,
É, pois, da própria vida do operariado que vai
próxi ma, daque le dia, que há de vir.
na esperança, remota ou
A Redação.

(Revista Proletária, n.o I, 1926).

4) Ao operariado em fábricas de tecidos:


ao proletariado em geral

ariado internacional,
O proletariado do Brasil, parcela do prolet
do Comunista - primeiro e
atravessa uma situação difícil. O Parti
único partido operário do Brasil - vangu arda desse proletariado, não
poderia silenciar tal situaç ão.

As origens
tem suas origens nos
A situação de miséria que atravessamos
fruto da rivalidade impe-
fatores seguintes: a conflagração européia,
o capita l anglo- franco-americano; a
rialista entre o capital alemão e

*** Idem.

309
BrDFanass va.enc.ere, 82011405 , p 31 o

alta dos preços em consegiência da ambição capitalista: a desorgani-


zação da produção - uma das características do regime atual; a
incapacidade da burguesia internacional para administrar a sociedade;
a incapacidade da burguesia nacional, sem visão econômica e política;
a impossibilidade de conciliar os nossos interesses de trabalhadores
com os interesses do patronato; a revolta pequeno-burguesa de julho
contra os fazendeiros de café, revolta que acentuou ainda mais a
incapacidade da burguesia para dirigir a nação; a luta entre a burgue-
sia agrária e a burguesia industrial. ..

A situação têxtil atual

Na fábrica Aliança nossos companheiros estão trabalhando 4 dias


na semana. Nos cinco estabelecimentos da América Fabril, o trabalho
está limitado a 4 dias. Em algumas seções da fábrica Corcovado, os
operários trabalham 5 dias, mas na maioria trabalham apenas 4.
Na fábrica Botafogo, 4 dias. Em Bangu, os patrões propuseram aos
operários trabalharem 6 dias perdendo, porém, o aumento de 10%,
proposta que foi recusada.
Enquanto isto, o cotonifício Gávea está funcionando 6 dias na
semana. E o Moinho Inglês, além de duas turmas, aumentou 10%
sobre os salários. Isto prova que essa redução dos dias de trabalho é
puramente artificial.
As fábricas filiadas ao Centro de Fiação e Tecelagem estão traba-
lhando 3 e 4 dias. E as fábricas filiadas ao Centro Industrial estão
com o serviço normalizado. Isto confirma o caráter artificial dessa
redução dos dias de trabalho.
Em Juiz de Fora, as malharias Stiebler e Santa Cruz, a Indústria
Mineira, a Sarmento e muitas outras estão sob o regime dos serões.
Isto acentua ainda mais a nossa afirmação relativa ao caráter arti-
ficial da redução dos dias de trabalho.

Em outras indústrias

Na metalúrgica o patronato quer reduzir os salários e aumentar


as horas de trabalho, Em várias fundições v fábricas de calçados, os
operários têm sido despedidos em quantidades crescentes. Em São
Paulo, com a crise da energia elétrica, a situação do proletariado
tornou-se mais crítica. Os ferroviários estão ameaçados de perder
suas insignificantes melhorias.
O único jornal que nos defendia de fato A CLASSE OPERÁRIA
- foi fechado pelo governo só porque atacou o socialista Albert
Thomas. Vivemos à mercê de todos os acidentes, como o acaba de
provar o desditoso companheiro Caetano Simas, das oficinas do
Engenho de Dentro, esmagado por uma roda de trem. As greves são

310
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, LHOS omo bio 3 L6
perdidas por causa da intervenção direta da polícia, isto é, do Estado
burguês, ao lado do patronato. Isto prova que a luta econômica é
inseparável da luta política. Prova que o Estado é o órgão de uma
classe para esmagar outra classe. E prova que o Estado burguês tem
por fim reprimir. os movimentos da classe operária, assegurar a solidez
do modo capitalista de produção e fazer do regime atual uma bomba
aspirante e premente, sob alta pressão, por meio da qual os capitalis-
tas arrancam dos trabalhadores o maior lucro possível,
A ofensiva da burguesia
Estamos, pois, diante de uma ofensiva dos capitalistas contra nós
trabalhadores. Ora, é fundamental respondermos a essa ofensiva por
uma ofensiva nossa porque, como diz Lenine, não temos o costume
de responder aos nossos inimigos defendendo-nos, mas sim atacando-
-os. Mas, para atacar, precisamos ter tropas organizadas, ter as massas
ao nosso lado, ter um pensamento único e uma ação única, homogênea.
Precisamos buscar a nossa ação em organizações sindicais fortíssimas
e num Partido Comunista com uma disciplina de ferro para dirigir essa
luta. Precisamos atacar o inimigo por todos os lados, descobrir suas
barreiras, desmascará-lo em seus sofismas. Precisamos compreender
a essência da batalha atual. Precisamos dar a maior amplitude possí-
vel à nossa luta, abarcando o maior número de trabalhadores, jogando
no seio da batalha contra o capital as mais vastas massas trabalha-
doras, unidas, coesas, solidificadas num bloco de aço indestrutível.
Precisamos meter na luta os trabalhadores fabris, os trabalhadores
dos transportes terrestres e marítimos, e o grosso dos operários agrí-
colas e lavradores pobres,
Toda a batalha parcial será uma derrota. Só a concentração de
todas as forças operárias nos dará o triunfo. Eis o segredo da recente
vitória dos mineiros ingleses, dirigidos pelo comunista Cook.
Por último, precisamos entrar na luta com firmeza, com sereni-
dade. "Não precisamos de entusiasmo histérico; precisamos sim da
marcha cadenciada dos batalhões de ferro do proletariado", diz o
major mestre da tática proletária, o nosso mestre genial Lenine.
A ofensiva proletária
Iniciemos nossa ofensiva no terreno do pensamento.
O Centro Industrial de Fiação e Tecelagem de Algodão, no
memorial de 28 de setembro, ameaça o chefe dos fazendeiros de café
com a dispensa de2 30 mil operários.
Esta ameaça é, antes de tudo, um jogo político. Descubramos,
aos olhos das massas, as baterias do inimigo.
311
a CIM
BR DFANBSB V3.GNC.EEE, 820 LL405 am oo by oo"

O elemento mais importante da produção nacional é o café.


Quer dizer: a economia do Brasil é dominada pelo café. Portanto,
a política do Brasil é dominada pelo café, quer dizer, pelos fazendei-
ros de café. Portanto, o presidente da república é o chefe político dos
fazendeiros de café. Os dois Estados grandes produtores de café são
São Paulo e Minas.
Mas a política financeira de São Paulo é uma e a de Minas é
outra, São Paulo quer a inflação, isto é, o abarrotamento do mercado
com o dinheiro de papel: isto facilita os negócios, dá margem à
audácia comercial e industrial. Minas, porém, quase sem indústria,
com uma burguesia de horizontes estreitos, quer a deflação, isto é, a
redução do papel-moeda ao mínimo.
Sampaio Vidal e Cincinato Braga representavam a política paulis-
ta: foram alijados. Mario Brant e Antonio Carlos representam a polí-
tica financeira de Minas: estão de pé. "O Jornal", órgão da burguesia
industrial faz oposição a esta política.
A inflação favorece a indústria: eis por que os industriais, sem a
facilidade dos redescontos, vendo o Banco do Brasil e os outros
bancos retraídos, e escasso o dinheiro de papel, desgostam-se da
política mineira e ameaçam o presidente da república com a parada
das fábricas. Eis aí o jogo político dos industriais.
Os industriais não transformarão a ameaça em realidade porque
30 mil operários sem trabalho constituem um material revolucionário
precioso. Industriais e fazendeiros prefeririam colocar de lado suas
brigas a consentir a efervescência dessa massa e sua chefia por uma
vanguarda operária capaz - pelo Partido Comunista. Mas, por
outro lado, é preciso fazer os chefes dos fazendeiros de café tremerem.
Eis um dos fatores da redução atual dos dias de trabalho: jogo político
dos industriais contra os fazendeiros, luta entre o industrialismo e o
agrarismo burguês.
Outra causa reside no seguinte: os Operários sujeitaram-se aos
serões contínuos; houve superprodução; os depósitos ficaram abarro-
tados de mercadorias. E, agora, os capitalistas querem que essas mer-
cadorias se escoem para que a produção volte à normalidade.
Mais outra causa: os capitalistas auferiram lucros fabulosos nesses
últimos anos; e não querem sujeitar-se a uma redução nesses lucros.
Ainda outra: o câmbio atual favorece a concorrência da indús-
tria estrangeira. Os industriais do Brasil temem a concorrência
estrangeira.
Tudo isto prova que as desgraças atuais do proletariado são
devidas à sua falta de organização econômica e política; organização
das massas nos sindicatos e organização da vanguarda no Partido
Comunista.

312
BR DFANBSB V&GNC.EEE, 80 LL4GOS am 064
((' 318

Os salários e o custo de vida


Segundo a opinião insuspeita do secretário geral do Centro
Industrial de Fiação e Tecelagem de Algodão, de 1913 para cá os
nossos salários de trabalhadores aumentaram 150%. Que dizer:
aumentaram o duplo mais a metade.
O custo de vida aumentou muito mais: os 14 ou 15 gêneros
alimentícios mais importantes, se custavam 100 em 1913, passaram
a custar 237 em 1925. Quer dizer: segundo os próprios cálculos da
burguesia, os salários aumentaram do duplo mais a metade; e os
gêneros de primeira necessidade aumentaram do triplo mais a meta-
de. Quer dizer, portanto: o salário atual, apesar de ser 24 vezes
maior, tem um poder de compra inferior ao salário de 1913. Estamos,
pois, realmente ganhando menos que em 1913.
A realidade, porém, ainda é pior para nós. O aumento de
150% nos salários não é geral e, assim, a nossa situação ainda é
mais trágica. Além disto, o cálculo acima da carestia refere-se apenas
aos gêneros alimentícios. Nele não há a menor indicação a respeito
da roupa e, especialmente, da casa. Só esta última bastaria para
devorar os nossos magros salários se não tivéssemos recorrido aos
barracões e aos subúrbios longínquos.
Poderíamos ganhar mundos e fundos, e nada adiantarifamos, dada
a elevação dos preços. Para que os salários atuais tivessem o mesmo
poder de compra que os salários de 1913, teria sido preciso que estes
últimos salários tivessem aumentado 3! vezes. Isto é: o operário
que regulasse ganhar 64, deveria estar recebendo 21%. Ora, tal
aumento não se deu em parte alguma. Assim, podemos formular a
nossa tese: os salários atuais, nominalmente são superiores, mas, na
realidade são inferiores aos salários de 1913, visto que têm poder de
aquisição inferior.
Convém salientar que, em carestia, o Brasil é o 3.o país do
mundo. Eis aí quais são as glórias do Brasil!

Os lucros
Os lucros têm aumentado de tal forma que os fazendeiros de
Minas chegaram a abandonar a lavoura cafeeira pelo plantio de algo-
dão e estabelecimento de fábricas de tecidos,
A CLASSE OPERÁRIA, n.o 7, referiu-se a um relatório do
secretário comercial da embaixada inglesa no Rio. Segundo este
senhor, os lucros médios anuais dos acionistas e donos de fábrica são
de 50% e até mais.
O órgão da burguesia comercial inglesa "Manchester Guardian",
de 6 de agosto, referindo-se à indústria paulista, diz que, a despeito
da revolução de julho, a média dos lucros de 100 companhias foi
de 40% e o dividendo de 11%, enquanto as reservas atingiam 80%.

313
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, 2) O L LW 0 S Qm Gol | 344
Em 16 fábricas de tecidos, o lucro médio atingiu 58% e houve uma
fábrica cujo lucro foi de 150% - número formidável. Mas o que
há de mais grave no "Manchester Guardian" é a confissão seguinte:
"a lição a deduzir do estudo desses algarismos é que, mesmo na
hipótese de se verificar uma melhora nas taxas cambiais, os fabri-
cantes locais continuarão em situação de enfrentar a concorrência
estrangeira, podendo para isso reduzir consideravelmente os seus
preços, e ainda assim obterem lucros bastante apreciáveis, lucros
esses muito acima daqueles obtidos por empresas manufatureiras na
maioria dos países, no correr destes últimos anos".
Esplêndida confissão! Muito obrigado, srs. redatores do "Man-
chester Guardian"!
Especificando os lucros de 1924, diz -a revista da Câmara de
Comércio Britânica de São Paulo, em seu número de maio de 1925,
que as Indústrias Reunidas F. Matarazzo, com um capital de 21 mil
contos, lucraram 21.562 contos, isto é, 102%; a Fábrica de Ferro
Esmaltado Silex, com um capital de 1.000 contos, lucrou 1.057 contos,
isto é, 105%; a Cia. Parque da Moóca, com um capital de 1.200
contos, lucrou 1.288 contos - 107%; a Cia. Agrícola Aurora, com
700 contos de capital, lucrou 758 contos - 109%, além de 239%
de dividendos; a Cia. Mecânica e Importadora, com 10.000 contos
de capital, lucrou 11.590 contos - 115%; a Cia. de Fiação e Tecidos
São Carlos, com um capital de 1.000 contos, lucrou 1.335 contos -
133%; e a Companhia Douradense Comissária de Café, com 500
contos de capital, lucrou 800 contos - 160%.
Colossal!
Ora, a situação dos industriais do Rio e dos outros Estados é a
mesma dos industriais de São Paulo.
A América Fabril - agora a reduzir os dias de trabalho - tinha
um capital de 400 contos em 1885. E tem hoje, um capital de 32
mil contos além de 45 mil em reservas. Seu balanço de 31 de dezem-
bro de 1924 acusou o 52.o dividendo no valor de 2.400 contos e o
balanço de 30 de junho de 1925 acusou o 53.o dividendo no mesmo
valor.
A Companhia Aliança aumentou o capital de 9 para 12 mil
contos. A Bangu distribuiu 900 contos de dividendos no 1.o semestre
de 1925. A Confiança Industrial já pagou o 69.o dividendo, no valor
de 720 contos. A Industrial Campista distribuiu 180 contos de
dividendos semestrais, além de 750 contos de lucros suspensos. A
Sapopemba acusou 3.645 contos de lucros suspensos.
A Santo Aleixo produziu 400 contos de lucros. A Companhia
São João paga 4 contos mensais a seu diretor-presidente Affonso Vizeu.
A Corcovado já pagou o seu 49.o dividendo. Pereira Carneiro, inclu-
indo a fábrica de tecidos acusa 8.609 contos no balanço de junho de
1925.
314
BR DFANBSB V8.GNC.EEE,
5 um odol, p. 32o
A solução

Para resolver a situação atual, precisamos:


1.o) desmascarar o patronato espalhando o mais possível este
manifesto; 2.o) unir, numa frente única, os trabalhadores fabris, dos
transportes e da lavoura; 3.o) organizá-los poderosamente nos sindi-
catos; 4.o) conquistar a legalidade para o Partido Comunista; 5.o) criar
um Partido Comunista com dezenas de milhares de aderentes dirigindo
centenas de milhares de trabalhadores; 6.o) ter jornais próprios que
defendam os nossos interesses do ponto de vista da luta de classe;
7.) não responder à situação atual com greves parciais porque teriam
como resultado o lockout e o enfraquecimento de nossas forças; 8.o)
compreender que a luta contra o patronato é inseparável da luta contra
o Estado; 9.o) compreender que a luta contra os capitalistas do Brasil
é inseparável da luta contra o imperialismo internacional; 10.o) com-
preender que a luta contra o imperialismo é inseparável da luta contra
'o socialismo reformista, seu aliado; 11.o) compreender que a nossa
vitória no Brasil depende da situação do proletariado russo e de todo
o proletariado internacional. £
Assim lançamos às grandes massas as nossas palavras de ordem:
Abaixo a crise inventada pelo patronato! Nenhuma redução nos
seis dias de trabalho! Nenhuma redução nos salários! Dia de 8
horas para os trabalhadores! Frente única do proletariado industrial
e agrícola! Legalidade para o Partido Comunista!
Abaixo o Partido Republicano, partido dos fazendeiros de café!
Abaixo os capitalistas do Brasil e os seus patrões imperialistas inter-
nacionais! Abaixo o socialismo reformista! Viva o proletariado inter-
nacional! Viva o Partido Comunista, gúia dos 10 milhões de traba-
lhadores do Brasil!
Novembro de 1925.
A. C. C. E. do Partido
Comunista do Brasil.
(Revista Proletária, n.o I, 1926).

5) A classe trabalhadora em geral e aos companheiros


representantes dos sindicatos aderentes à Federação
Operária de São Paulo (1931)
"A obra de emancipação dos trabalhadores tem que ser
obra dos próprios trabalhadores." - Karl Marx.

Acaba de realizar-se a Conferência Sindical Regional de São


Paulo, promovida pela Confederação Geral do Trabalho do Brasil.
Nela estiveram representados: a C.E. da C.G.T.B., o comitê
da

315
ar pranase 8Q 0 L | 40 Sam 00L, (,.ng »
C.G.T.B. em São Paulo, a União dos Trabalhadores de Ribeirão
Preto, a Liga dos Camponeses de Bauru, Presidente Alves e Pirajuí,
os operários da Light and Power, os operários ferroviários e metalúr-
gicos, a Associação Operária "23 de Agosto" de Cruzeiro, a União dos
Operários Ferroviários da São Paulo Railway, a União dos Operários
em Construção Civil de Ribeirão Preto, a minoria sindical dos sapa-
teiros, a minoria sindical dos gráficos, a minoria sindical dos garçons,
os operários das oficinas da telefônica, o Comitê da Imprensa Sindi-
cal, a União dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica, a União
dos Operários Modeladores, a minoria dos garçons de Santos, a
Liga Operária de Sertãozinho, Trabalhadores da madeira, Estivado-
res de Santos e Construção Civil de Santos, Deram também sua
adesão, justificando o não envio de representantes, por motivo de
força maior, a União dos Trabalhadores Marítimos e Portuários do
Brasil (sucursal de Santos) e a União Operária de Mútuo Socorro de
Taubaté. A União de Operários em Fábricas de Tecidos de São
Paulo participou não como adesista, porém para acompanhar os
trabalhos.
Trataram-se na Conferência os seguintes assuntos: 1.o) A
situação econômica do país e a situação de miséria e fome da classe
trabalhadora. 2.) Reivindicações imediatas para os empregados e
desempregados das cidades e dos campos. 3.o) A situação dos
trabalhadores das fazendas e das lavouras. 4.o) Problemas de orga-
nização e tática de luta. 5.o) Eleições.
Pela Unidade da Classe Operária do Brasil! Pela Unidade dos
Trabalhadores de São Paulo!
Contra todas as afirmações, insídias e calúnias de que a C.G.T.B.
patrocina e estimula a divisão da classe operária, através da nossa
delegação que enviaremos à próxima Conferência da Federação Ope-
rária de São Paulo, propomos aos delegados a mesma realizar a unida-
de de toda a organização sindical revolucionária aqui em São Paulo,
sobre a base de reivindicações imediatas e justas, dentro da Confe-
deração Geral do Trabalho do Brasil, que é o único organismo
operário central conhecido em todo o país e que tem lutado valente-
mente em todas as partes e, sobretudo, aqui em São Paulo, como,
por exemplo, na greve dos gráficos de 1929. Propomos a unidade
para a luta contra a burguesia, sustentada pelo governo e contra as
tapeações do governo, por intermédio do Ministério do Trabalho, que
manobra para enganar as massas trabalhadoras, desviá-las do terreno
da luta de classe, mergulhá-la no charco do colaboracionismo e do
reformismo, procura anular as leis mais ou menos favoráveis aos
trabalhadores, as quais além de não serem devidamente cumpridas,
estão sendo reformadas para pior, procurando, assim, frear o movi-
mento operário, dividi-lo, fracioná-lo, para ter as massas em suas
316
er oransse va.GNC.EEE, 420 LLYUOS amoo L, p 32a

mãos, para melhor nos explorar e oprimir a todos e evitar as lutas


pela conquista das reivindicações imediatas dos trabalhadores que
vivem numa situação de miséria e fome espantosa, agravada, sobre-
maneira com a crise que se aguça e aprofunda, aumentando dia a dia
o desemprego de «milhares e milhares de famílias. Propomos realizar
um Congresso Regional Sindical de São Paulo, o mais breve possível,
com representação de todos os sindicatos operários do Estado de
São Paulo, inclusive os da Federação Operária, para concretizar o
problema da unidade e eleger a direção definitiva da futura Federação
Sindical Regional, aderente à C.G.T.B.
Companheiros de São Paulo! Trabalhadores do Brasil!
Exijamos de nossos dirigentes a unidade de todas as nossas
organizações, para a luta à base de reivindicações imediatas e justas,
dentro da C.G.T.B.!
Exijamos a convocação do Congresso Regional de Unidade dos
trabalhadores de São Paulo!
Preparemos o Grande Congresso Nacional de Unidade da Classe
Trabalhadora do Brasil, convocado pela Confederação Geral do
Trabalho do Brasil!
Viva o proletariado lutador de São Paulo!
Viva a C.G.T.B. - única organização central sindical dos traba-
lhadores do Brasil!
Viva a unidade para as lutas do proletariado!
São Paulo, 12 de março de 1931.
O Comitê Provisório da F.S.R. de São Paulo (aderente à C.G.T.B.)

(Panfleto).

Aos trabalhadores em fábricas de tecidos de


São Paulo (1931)

Camaradas!

A situação de miséria em que se debate o proletariado têxtil


impõe-nos o dever, a um grupo que somos de trabalhadores do mesmo
ramo de indústria, de despertar a atenção de todos os tecelões, sócios
ou não sócios da União, para assuntos de grande importância, aos
quais estão diretamente ligados às nossas reivindicações econômicas
imediatas.
Devendo realizar-se, no próximo mês de março, em São Paulo,
(conforme comunicados publicados na imprensa) duas conferências
sindicais, uma convocada pela Confederação Geral do Trabalho do
Brasil, entra pelo Comitê de Organização sindical de São Paulo, é
muito provável que, para ambas, sejam convidados a dar sua adesão,
os operários em tecidos representados por sua associação de classe.

317
011406 am col ; 033 2
BR DFAaNBSB Vva.GnNC.EEE, 22

Reconhecendo (como não podemos deixar de fazê-lo) a necessi-


dade que têm os trabalhadores de um organismo centralizador de
suas forças para melhor enfrentar o patronato em sua exploração
desenfreada e sentindo, por esse motivo, que devemos agregar-nos a
uma Central proletária, formulamos esta pergunta:
A qual desses dois organismos, que realizam suas conferências
em março, devemos os milhares de tecelões de São Paulo dar nossa
adesão?
Antes de decidirmos por qualquer destes dois organismos, deve-
remos analisar, qual deles vai lutar sincero e decididamente pela causa
dos que passam fome.
Nossa adesão devemos dá-la somente, àquele que tiver demons-
trado ser um orfanismo de luta de classes, de luta do proletariado
contra a burguesia, de luta pela conquista imediata de melhorias
econômicas e políticas, sem entrar em conchavos com o patronato
e seus asseclas,
O proletariado Têxtil de São Paulo, tem inúmeras reivindicações a
fazer. Dentre as principais destacam-se as seguintes:
Reaver dos industriais os vinte, trinta e quarenta por cento que
foram diminuídos em nossos salários; aumento geral dos salários;
quinze dias de férias anuais estipulados nas leis burguesas e que não
conseguiremos a não ser pela força de nossa organização e através da
luta decidida de nossa parte. Não permitir que o operário que traba-
lhava com dois teares, trabalhe com seis, ganhando o mesmo salário
do que trabalhando com dois, porque além de ser explorado o triplo,
tira o pão de dois companheiros. Fazer com que as horas extraordi-
nárias nos sejam pagas. Exigir que nos sejam dadas 48 horas de
trabalho por semana e não três dias como estamos trabalhando; o que
não dá nem para o aluguel da casa; impor que quando se acaba o
rolo seja colocado outro imediatamente, para que o operário não
seja forçado a esperar uma semana, como está acontecendo. A mais
pequenina falta cometida por um operário, este é logo chamado na
gerência e repreendido estupidamente e ainda por cima ameaçado de
ser despedido; quando em qualquer peça aparece, um defeito, três
operários que nela trabalharam, sofrem um desconto de trinta mil
réis, isto é, dez mil réis cada um, quando isto só serve para reduzir-nos
0 já reduzido salário, e para engordar o patrão. Cada peça tem a sua
marca diferente justamente para isso, mas os industriais, para mais
explorarem os operários, tiram as marcas das peças para não se- saber
qual foi o trabalhador que praticou a falta e cobrarem trinta mil réis
indistintamente.
Nem ao menos temos o direito de nos manifestar, porque aquele
que falar mal do patrão, do Governo, ou se lamentar de sua precária
situação, é preso, imediatamente, como tem acontecido a muitos que
por ocasião dos últimos movimentos grevistas que se deram em diver-
318
BR DFANBSB V8.GNC.EEE, © 20 LL4OS am col 6. 324

sas fábricas. Depois de sofrerem os horrores da prisão, se são estran-


geiros o industrial os põe imediatamente na rua, e se são nacionais,
são perseguidos de tal forma que eles mesmos se vêem na contingência
de abandonar o trabalho.
Todas estas e muitas outras reivindicações que nós tecelões
temos a conquistar, é todos estes abusos que temos a combater, isto
é, isolados dos demais trabalhadores, sem o seu apoio moral, e
material que nos será dado por intermédio do organismo centralizador
de todas as forças proletárias da região de São Paulo. Muito menos
ainda obteremos estas reivindicações se aderirmos e dermos nosso
apoio à Federação Operária que o comitê de organização sindical está
pretendendo organizar.
A Federação Operária saída do Comitê Sindical tem, como
orientador principal, o pequeno-burguês Plínio Mello e outros que
nada de comum têm com o proletariado, e estão ligados diretamente
ao Conselho de Trabalho e, por meio deste organismo governamental,
pretendem criar em São Paulo os sindicatos fascistas, à moda de
Mussolini.
Sendo Plínio e a maioria dos que o rodeiam instrumentos do
governo burguês, que podemos esperar deles, nós os trabalhadores?
O que esperamos é ser tapeados como o fomos já com as
quarenta horas de trabalho que os industriais teriam que nos dar e
os cinco por cento de aumento, nos salários, aliás uma insignificância
que não compensava os descontos, sofridos em nossos salários.
O que nos espera e vamos receber, foi o que nos deram em 19
de janeiro, por ocasião da passeata da fome: pata de cavalo e cadeia.
De um governo burguês, nós operários nada temos a esperar.
Sendo um governo burguês defende a sua classe, a burguesia.
Alguns operários, diretores de sindicatos, dizem que colaboram
(ou fingem colaborar) nestas organizações fascistas, para arregimen-
tarem os trabalhadores e depois colocarem-se contra.
Estes operários, que assim pensam, em enganar o governo, terão
dentro de pouco tempo o resultado desastroso de sua ingenuidade.
Esses operários depois de consolidado o governo, serão por
seus asseclas postos em lugar seguro, como faz Mussolini, e terão
ainda por cima o desprezo da massa que foi por eles traída e
amarrada de pés e mãos ao carro da burguesia. O proletariado só
triunfará sobre a burguesia, lutando independentemente como classe.
Só sairá vencedor nessa luta, dirigido por organismos que con-
cretizem as aspirações das vastas massas Oprimidas e esfomeadas.
Sim, destes organismos é a Confederação Geral do Trabalho do
Brasil, que apesar de ter nascido sob o governo passado o mais reacio-
nário que o Brasil tem tido, e ter sido por diversas vezes varejadas
pela polícia que lhe carregou seus arquivos, varejando ao mesmo
tempo no espaço de um mês, trinta e sete vezes os sindicatos a ela

319
0 | L40S omoo b 3)
ar pransss vs.enc.eEE, 82

aderidos, conseguiu manter-se e dirigir a greve dos Gráficos de


São Paulo conseguindo para eles perto de setenta contos, mantendo
a greve durante 72 dias que foram outros tantos de reação brutal
por parte da burguesia. Esta chegou a fechar armazéns porque
vendiam gêneros aos grevistas. Dirigiu a greve dos padeiros, no Rio,
que não foi menos agitada que a dos Gráficos de São Paulo e orientou
ainda uma série de lutas entre patrões e operários.
Apesar de perseguida pela reação soube conduzir-se como orga-
nização revolucionária que é, e continuará sendo com o apoio de todos
os trabalhadores do Brasil e dos trabalhadores de toda a América
Latina, congregados na Confederação Sindical Latino-Americana à
qual a Confederação Geral do Trabalho do Brasil, está ligada.
Trabalhadores da indústria têxtil de São Paulo, demos nossa
adesão à conferência sindical da região de São Paulo, promovida pela
Confederação Geral do Trabalho do Brasil, desmascarando os plinistas
e companhia que com palavras "revolucionárias" querem amordaçar o
busto revolucionário do proletariado que caminha e continuará cami-
nhando, decididamente, para novas e decisivas batalhas de classe.
Um grupo de tecelões sócios da União dos Operários em Fábricas
de Tecidos.
(Panfleto).

7) A «Legislação Social» fascista (1930)

Sempre que a luta de classes se agrava, prenunciando combates


revolucionários agudos, surgem os charlatões do parlamento, da
imprensa, do movimento operário com a velha e desmoralizada dema-
gogia da legislação social. Foi assim no período 1917-20, quando
se fez a lei de acidentes e se projetava o chamado "código do
trabalho". Foi assim no período 1924-26, marcado sobretudo pela
fabricação de lei de férias. É assim agora, quando se fala na reforma
da lei de aposentadorias e novamente se cogita de ajeitar o código
do trabalho.
E vemos então o demagogo-mor Maurício de Lacerda, o Partido
Trabalhista, "A Noite" fascista etc., "agitarem a opinião" em torno
das questões de legislação social. A comissão de legislação social da
Câmara reuniu-se para examinar uma indicação do sr. Maurício.
Por sinal, segundo referem os jornais, que foi uma pândega essa
reunião: a miséria, a desgraça dos trabalhadores serviram de tema
a pilhérias e dichotes por parte dos senhores deputados... É assim
como esses legisladores alegres ludibriam as massas trabalhadoras!
De fato, a "legislação social" é uma pura burla. As classes domi-
nantes, por intermédio de seus lacaios do parlamento, da imprensa, do
partido trabalhista e dos sindicatos amarelos, só se lembram dela

320
ar pranase 326

quando sentem crescer o rumor da revolta das massas exploradas e


oprimidas. Lançam então a estas, para aplacar o seu desespero, as
migalhas da lei de acidentes, da lei de aposentadorias, da lei de férias,
do feriado de 1.o de Maio - ao mesmo tempo que reforça, no
trabalho a exploração dos operários e redobra de maneira inaudita a
opressão policial fascista contra os proletários revolucionários que
lutam contra essa exploração. Mas para que servem todas essas leis?
Praticamente, para nada. A de férias, por exemplo, é acintosamente,
cinicamente desrespeitada pelos patrões e quando os operários recla-
mam o seu cumprimento são presos, espancados, torturados pela
polícia patronal.
As massas já não se iludem com semelhante força de "legislação
social".
Toda esta gritaria de agora em torno dessa "legislação social"
não passa, na verdade de preparação fascista visando a uma completa
escravização das massas. O fascismo é precisamente isso: a reação
demagógica, que procura apoiar-se em certas camadas da pequena
burguesia e da "aristocracia operária", corrompendo-as, dando-lhes
0 encargo de conter as massas e fazendo dos seus líderes e das suas
organizações simples apêndice do Estado capitalista e reacionário.
Maurício de Lacerda como Juarez Tavora, o partido trabalhista
como os sindicatos policiais nada mais são que instrumentos dessa
política burguesa de preparação da reação fascista contra as massas
que despertam para a revolução, agrilhoadas pela crise.
As massas têm sido repetidamente enganadas, durante anos, com
a cantiga da "legislação social". O resultado aí está: uma crise sem
exemplo, o desemprego, a fome, o terror policial. E ainda por cima as
pilhérias da comissão de legislação social. ..* Poderão resolver de
fato a crise atual pelas próprias mãos: organizando-se para a ação
revolucionária decidido e corajosa, criando os seus comitês de luta,
ingressando nos sindicatos revolucionários, desmascarando e comba-
tendo os chefes amarelos vendidos à burguesia, realizando a frente
única de luta nas fábricas e nos sindicatos, sustentando o PARTIDO
COMUNISTA, único partido e guia do proletariado.
Tudo mais é tapeação, como estamos fartos de saber desde 1917.
(A Classe Operária, 19.07.1930).

8) A ditadura outubrista (1934)

A tapeação demagógica é exercida principalmente através do


Ministério do Trabalho, a grande criação "socialista" do outubrismo.
Em seus escritórios se forjaram inumeráveis decretos e leis "socialistas"

* Não legível no original.


3a
80 LOS em
sroranese

o social, a proteção às mulheres


que regulam a sindicalização, o segur
contra as greves etc., tudo
e aos menores operários, a arbitragem
adapt ado do italiano ou dos textos
mais ou menos mal traduzido e
Ora, o socia lismo contido nesta "legislação
modelados em Genebra.
a propriedade, qualificar de
social" é o que se pode, com toda
tapeação integral, a demagogia
socialismo. .. colorido e salgado. É :
lho "prot ege" os operários da seguinte
100%. O Ministério do Traba
os à buroc racia minist erial manejada pelos capita-
forma: amarrando-
sindicatos; proibindo-lhes
listas; controlando policialmente os seus
áveis, liquidando-as nas comis-
as greves ou, quando estas são inevit
ão"; não lhes permi tindo intervir legalmente
sões mistas de "conciliaç
partido de classe independente
na política do país com o seu próprio
a ditadura outubrista colocou
etc. etc. Não foi por mero acaso que
urá-l a, ao Sr. Lindolfo Collor, antigo
na pasta do Trabalho, para inaug
conse rvado r, o mesm o homem que antes de
jornalista e deputado
s, merecera o encargo de
outubro, por suas habilidades demagógica
l; e não foi também por mero
redigir o programa da Aliança Libera
subst ituto haja recaído no Sr. Salgado
acaso que a escolha de seu
o "socia lista" se faz, depoi s de outubro, justamente
Filho, cujo trein
a seguir na chefia de
na antiga 4.a Delegacia auxiliar, e logo
polícia . ..
rismo é a famosa
Outra grande "conquista social" do outub
de classe ", que foi intro duzid a na Constituinte pela
"representação
ção e a demagogia
porta de serviço da criadagem. Aqui a tapea
própr ia medid a e espos tejaram em
ultrapassaram os limites de sua
se levou a cabo entre nós sob a denom inação
plena safadeza. O que
dade uma reles
falsíssima de "representação de classe" foi na reali
nas de prete nsos deleg ados
mascarada semifascista, onde algumas cente
iralm ente os nome s apont ados pelo gover -
sindicais homologaram carne
porém , que a coisa, como encen ação, se efetua sse debaixo
no. Mesmo,
dali não sairia
de certa seriedade aparente e relativa, ainda assim
senta ção de (clas se", mas represen-
nunca propriamente 'uma repre
a, profis sional , sindic al - à moda fascis ta.
tação corporativ
deira repre senta ção de classe para a Const ituinte saiu,
A verda
simplesmente das próprias
não de tal indecente farsa, mas muito
As compl icaçõ es e restrições do Código
eleições gerais de 3 de maio.
ecend o 1 ming uado milhã ozinh o de eleitores para uma
Eleitoral (forn
Partido Comunista, a
população de 40 milhões!), a interdição do
ral contr ária ao governo e às
proibição de toda propaganda eleito
, o confu sioni smo alime ntado pela proliferação
classes dominantes
entes partid os, colig ações e candi datos "oper ários" e "socia-
de sedic
tariado de participar
listas" etc., impossibilitaram praticamente o prole
indep enden te - e daí que não tenha sido
das eleições como força
único deput ado saído de seu seio, nenh um autêntico repre-
eleito um
tanto s deputados eleitos
sentante da classe operária. Os duzentos e

322
n srasssve.cnc.erE., 820 amoo L iP' 240

ão, ou burgueses, ou fazendeiros,


em 3 de maio são todos, sem exceç
servi ço dos grandes senhores feudais e
ou pequeno-burgueses ao
sentantes autênticos das classes bur-
capitalistas. São todos eles repre
e eleitos por elas. São portanto
guesa e feudal, apresentados, apoiados
e, envi ados como tais para a Cons-
verdadeiros representantes de class que
testável representação de classe
tituinte. E é esta a única e incon ser assim .
Nem podia deixa r de
tomou assento na Constituinte. o, em temp o
to nenh um no mund
Nem há, nem houve nunca parlamen
composto de autênticos represen-
nenhum, que não fosse nem seja
, para obter este resultado, pro-
tantes de classe. Não é necessário ntes da
a fim de escolher os representa
mover uma eleição "especial" foi uma pura
se fez sob tal prete xto
classe operária. O que aqui eleit ores operá-
bra para desvi ar os
escamoteação, uma simples mano -
de votos nos seus próprios candi
rios de uma possível concentração
.
datos nas eleições de 3 de maio
, p. 129).
(Astrojildo Pereira, Rússia, Itália, Brasil

D) MOVIMENTO SINDICAL

1) Os sindicatos revolucionários (1926)

es que adotam o princípio


Os sindicatos revolucionários são aquel
meio de luta a ação direta das
da luta de classes, os que têm como
um juízo do que deve ser a atuação
massas trabalhadoras. Para
lhadores, começaremos por
destes sindicatos nas lutas dos traba
que tem sido a interpretação do
criticar o emaranhado de confusões
anarco-sindicalistas, sob cuja
papel destes sindicatos, por parte dos
largo s anos. Não podemos deixar de fazer
direção eles viveram por
obra dos representantes desta
menção dos aspectos negativos da a
sindical, porque, conquanto não
tendência no nosso movimento ela deixo u
mista , nem por isso
devemos equiparar à tendência refor
na nossa luta sindical.
de exercer uma ação dissolvente
inárias incompatíveis com O
Sem entrarmos em sutilezas doutr
começaremos por analisar, de uma
espírito elementar deste trabalho, s
dicalista ou a ação dos anarquista
forma resumida, a ação anarco-sin
e o seu iníci o.
no seio da nossa organização, desd
o primeiro congresso operário.
Em 1906, efetuava-se no Brasil
m dizer, o marco inicial da corpo-
Este congresso constituiu, por assi
dical ista em nosso meio.
rificação da tendência anarco-sin

323
ar oransse va.GNc.EEE, 320 LOS am 0ol p. 344
colicas,
A literatura anarquista vinda dos países latinos até nós e à
imigração, destes países, devemos a infiltração destes princípios que
foram acompanhando e influenciando, ao mesmo tempo, o nosso
desenvolvimento associativo.
Faltando ao anarquismo a flexibilidade própria das teorias que
se propõem a resolver os complicados problemas da vida social,
era natural que seu reflexo no movimento sindical não trouxesse a
este último uma capacidade de realização equivalente à multiplicidade
das questões criadas pelo aperfeiçoamento das fórmulas de explora-
ção, atingidas pelo capitalismo.
Assim é que os postulados anárquicos da "liberdade absoluta"
e da "ausência de governo", foram transplantados para os programas
dos sindicatos, criando assim, no seio destes últimos, o dogma da
autonomia de sindicato perante os órgãos federais, ou a descentra-
lização do movimento sindical, o que vem a ser a mesma coisa.
Este, um dos motivos da organização e da conservação dos
sindicatos à base de ofício.
Como consegiuência do preconceito anarquista da "ausência de
governo", os anarco-sindicalistas tornaram-se campeões de uma pseudo-
neutralidade dos sindicatos em matéria de política, fazendo assim
causa comum com os reformistas, que embora propalando esta mesma
neutralidade, outra coisa não fazem dentro dos sindicatos senão a
política burguesa.
Já mostramos como o predomínio econômico da burguesia lhe
garante o controle geral da sociedade. Os princípios de ordem moral,
jurídica etc., que predominam na sociedade burguesa, servem de
instrumentos de dominação da burguesia.
Se o Estado é um Estado de classe, se as leis são leis de classe,
se o direito e a justiça são também de classe, porque será então que
a Organização do proletariado não deverá seguir uma política, a sua
política também de classe?
Instintivamente, o proletariado segue uma política própria.
Que caráter se deve dar a uma greve, por exemplo, que não
vise a melhorias econômicas, mas que tenha por fim desagravar
uma afronta, ou conquistar melhorias de ordem moral?
Que é uma greve de solidariedade, ou contra o envio de tropas
para massacrar grevistas?
São os anarco-sindicalistas contrários a estes movimentos?
Não. Ou pelo menos dizem que não.
Cartas na mesa. O que se pretende fazer, aconselhando aos
sindicatos neutralidade política, é desviar os trabalhadores da política
comunista, que é a sua política de classe, fazendo-os servir à política
burguesa.
Neste, como em muitos outros pontos, os anarco-sindicalistas
dão as mãos aos reformistas.

324
BR DFAaNBSB Va.onc.EEE, 22 041 405gm ob; e 330

2
O apoliticismo é a política da traição. Contra a política da
burguesia e seus lacaios, os trabalhadores devem opôr a sua própria
política de classe.

Novo rumo

A crescente centralização do capitalismo mostra-nos sem grande


esforço de raciocínio que é urgente o abandono das normas caducas
de organização de sindicatos por ofício, que devem ser substituídos
por sindicatos de indústria.
Para corroborar esta necessidade, basta relembrarmos a incapa-
cidade dos nossos sindicatos de ofícios em preencher as aspirações
das massas que a eles acorriam no período de 1919 a 1920.
Com efeito, sob o influxo da vitória do proletariado russo em
1817, os trabalhadores sentiram-se acalentados pela vontade de lutar
pela realização de um conjunto de aspirações por muito tempo
abafadas pela reação.
A falta de um programa escudado numa relativa disciplina
harmonizadora dos esforços do conjunto, tornou os nossos sindicatos
incapazes de uma atuação consequente, naquele momento, como
também de manter naquelas massas a confiança na potência das
próprias forças organizadas.
A burguesia, que por vezes se ajoelhara diante dos trabalhadores,
compreendeu que todo aquele entusiasmo esfriaria matematicamente.
Efetivamente, passados os primeiros momentos as massas foram
desertando, sem que os responsáveis pela incapacidade dos sindicatos
em contlas, quando mais não fosse nas suas camadas mais repre-
sentativas e mais decisivas na luta, diligenciassem sequer os menores
reparos à insuficiência dos seus métodos. Não precisamos dizer qual
era o estado dos nossos sindicatos em 1921. A reação, aproveitando-
-se da impunibilidade, não se fez esperar. As expulsões de militantes
em massa, as prisões, as sevícias e até os assassínios, foram até certo
ponto um tributo pago à insuficiência dos métodos anarco-sindicalistas.

Sindicatos de indústria

A primeira vista poderá parecer que os interesses de um tecelão,


por exemplo, não estão estritamente ligados com os de um metalúrgico.
Não estão entrelaçados, por ser um, metalúrgico e o outro, tecelão.
Vejamos como, na maior parte dos casos, trabalhadores de vários
misteres estão de tal sorte ligados, que só em comum poderão defender
os seus interesses.
Tomemos, como exemplo, uma fábrica de tecidos. Numa fábrica
de tecidos, trabalham não somente tecelões, mas também metalúrgicos

325
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 140 Son 00| ( 331

e muitos outros trabalhadores de vários ofícios. Estes trabalhadores,


embora de vários ofícios, são explorados por um mesmo patrão ou por
uma mesma empresa. Logo, não é admissível que eles pertençam a
vários sindicatos alheios uns aos outros, seguindo cada um a sua
orientação própria, sem nenhuma harmonia de ação. Um semelhante
método de organização, ao invés de fortalecer os trabalhadores na
sua luta contra a ganância do patrão que lhes é comum, só poderá
enfraquecê-los, porque os divide por uma série de pequenas organi-
zações impotentes,
Chegaremos ao mesmo raciocínio, se tratarmos da questão de
um modo mais geral.
Se atendermos à correlação existente entre os vários ofícios ou
especialidades, determinada pelos processos modernos de produção,
constataremos a conveniência da fundação dos sindicatos de indústria,
num plano o mais elevado possível. Não ignoramos que a anarquia
da produção capitalista determina crises bem sérias nos vários ramos
industriais, crises estas que afetam direta e indistintamente todos os
trabalhadores de uma mesma indústria. A superprodução, por exem-
plo, gera a falta de trabalho. Este fenômeno, que é quase periódico
em certos ramos industriais, coloca os operários de diferentes ofícios
em situação idêntica. Estes períodos de crises são, em geral, de
caráter nacional. Este fato é uma contingência da natureza mesma
da produção capitalista que, produzindo mercadorias e não utilidades,
está sujeita às flutuações do mercado. Em nosso meio, a indústria
têxtil tem sido fértil nestes exemplos.
Compreende-se, pois, que os trabalhadores têm toda a conve-
niência em organizar-se não em sindicatos de ofício, mas em sindicatos
de indústria.
Do ponto de vista nacional, os organismos atinentes a cada ramo
de indústria, de cada localidade, serão partes integrantes da federação
nacional de indústria, que controlará todo o movimento associativo
da respectiva indústria, num plano nacional.
Esta forma de organização não exclui a necessidade da criação
de organizações horizontais como por exemplo as Uniões locais e as
Federações regionais, que devem ser constituídas por todos os orga-
nismos de uma mesma localidade ou região, ainda mesmo que estes
organismos pertençam às Federações Nacionais de Indústria.
Estes organismos terão a seu cargo as questões que digam respeito
aos seus respectivos raios de ação.
Estes. dois planos de organização, isto é, a organização vertical
(Federações Nacionais de Indústria) e a organização horizontal
(Uniões Locais e Federações Regionais) constituirão por sua vez um
organismo central de caráter nacional, que dirigirá todo o movimento
sindical do país, que será a Confederação Geral dos Trabalhadores.

326
145 am og!
BR DFANBSB VB8.GNC.EEE, So

Atendendo que a exploração de que é vítima a classe operária


é feita num plano internacional, porque, como diz Marx, o capital
não tem pátria, a C.G.T. deverá estar ligada a um organismo inter-
nacional: a Internacional Sindical Vermelha, que controla e dirige
o movimento sindical revolucionário em todo o mundo.

Recapitulemos

1) Sindicatos Locais de Indústria.


2) Uniões Locais que agrupem os trabalhadores de uma mesma
localidade.
3) Federações Regionais que agrupem todos os sindicatos de
uma mesma região.
4) Federações Nacionais de Indústria compostas por todos os
sindicatos, de uma mesma indústria, de norte a sul do país.
5) Confederação Geral dos Trabalhadores constituída por todos
os organismos acima enumerados.
6) Internacional Sindical Vermelha que é constituída pelas
Centrais ou Confederações de cada país e dirige a luta dos trabalha-
dores pela sua emancipação do jugo capitalista, num plano inter-
nacional.
(Joaquim Barbosa, A Organização Operária, 1926).

2) O caminho da unidade sindical no Brasil (1927)

I. Tentativas e fracassos

Desde o começo de sua existência, em fins de 1921, sempre


preocupou ao P.C.B. a questão da unidade sindical, colocando-a
entre as suas tarefas mais importantes de seu trabalho com vistas à
conquista das massas. Certamente, os resultados obtidos estão longe
de corresponder aos planos traçados e aos esforços realizados. Mas
os sucessivos fracassos de nossas tentativas neste sentido devem-se
mais a circunstâncias de natureza objetiva independentes de nossa
vontade, que a nossa inexperiência e a nossos erros e falhas.
Essas circunstâncias podem ser classificadas em três grupos:
a) O meio físico, econômico e político. O Brasil é um país de
enorme extensão territorial, cujos centros de trabalho se acham
separados entre si por distâncias que exigem dias e até semanas de
viagem. Economia predominantemente agrária; indústria incipiente,
ainda que concentrada e com desenvolvimento rápido; imigração hete-
rogênea. Regime político "soi disant" republicano democrático, mas
na realidade dominado pelos elementos mais reacionários da grande
burguesia agrária e industrial.

327
oo Lps >
ar oranasa va.enc.EEE, 220 LL409 om

b) A tradição dispersiva e corporativa do movimento operário,


fortemente impregnado de mentalidade anarquista na sua ala esquer-
da e, na sua ala direita, completamente enfeudada à burguesia.
c) Os acontecimentos destes últimos anos, resultantes dos motins
militares de 1922 e 1924; o estado de sítio e a censura perduram
desde então, tornando impossível todo trabalho legal: os sindicatos
revolucionários ou foram fechados ou funcionam sob a severa vigi-
lância policial. Os sindicatos amarelos - ou melhor, seus chefes -
colaboram com frequência, diretamente, com a polícia contra os
comunistas.
Lutando contra estas circunstâncias adversas, nunca perdemos as
oportunidades que se apresentam, em várias ocasiões, para nosso
trabalho em favor da unidade do movimento sindical brasileiro.
Quatro tentativas sérias se fizeram neste sentido.
A primeira no início de 1923, na conferência local promovida
pela Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, e da qual par-
ticiparam delegados não só dos sindicatos federados, mas também de
outros não federados. Os delegados comunistas lutaram pela unidade
do movimento, isto é, pela reconstituição das bases da Federação, de
modo a atrair a esta a adesão de todos os sindicatos, sem distinção
de tendências. Os delegados anarco-sindicalistas (os da construção
civil à frente), que dominavam o Comitê Federal, mas que sentiam
escapar-lhes o terreno sob os pés - mantiveram-se intransigentes em
seu ponto de vista, exigindo a "reconstrução" no sentido de uma
declaração de princípios -- anarquista, é claro - no preâmbulo dos
estatutos da Federação. Em sendo minoria, retiram-se da Conferência
e dividiram o movimento organizando a Federação Operária com a
construção civil, os sapateiros e alguns outros sindicatos, mais nomi-
nais que reais. Resultado: duas federações em vez de uma, e os
sindicatos não federados mais longe que nunca de uma e de outra. . .
A segunda tentativa, em fins de 1923, na Conferência promovida
pela Confederação Sindicalista-Cooperativista Brasileira. Esta Confe-
rência, que realizou várias sessões intermináveis, surgiu de uma
manobra do presidente da C.S.C.B., um intelectual pequeno-burguês,
arquiconfusionista, com ligações mais ou menos inconfessáveis com
a burguesia. Participamos da Conferência -- era o único meio legal
de que podiamos dispor para realizar, nesse momento, um vasto
trabalho entre as massas no sentido da unidade sindical - e
podemos dizer que nossa palavra dominou a Conferência, em cujas
sessões todas as nossas propostas e declarações tornaram-se vitoriosas.
Mas o presidente da C.S.C.B., que prolongava indefinidamente as
sessões, advertiu que sua manobra ia dando um resultado contrário
ao que perseguia... E assim a Conferência teve fim. Depois de
três ou quatro meses de discussões e discursos, nada de positivo se
resolveu.

328
ar pranase va.enc.ese, 8201 LUgs omopbiõ: 334

A terceira tentativa se fez mais recentemente, no começo do


corrente ano, na Conferência convocada pela Federação Operária do
Estado do Rio (com sede em Niterói, cidade fronteira do Rio, a 20
minutos de barco). Mais de 20 sindicatos de Niterói e do Rio
enviaram delegados a essa Conferência. Como sempre, chocaram-se
dois pontos de vista: os delegados comunistas lutando pela unidade
orgânica do movimento e os anarco-sindicalistas pela "pureza dos
princípios", isto é, pela não federação dos sindicatos que não aceitam
aqueles "princípios puros". Os comunistas obtiveram grande maioria
e assim lançaram as bases de um comitê provisório de organização,
conforme as resoluções do II Congresso do P.C.B. Nisso um novo
período de reação policial cai sobre os comunistas, interrompendo
os trabalhos daquele comitê . . .
Alguns meses depois surgia, de um grupo de empregados do
comércio, a idéia da C.G.T.

II. A regulamentação da lei do horário

Para discutir o anteprojeto de regulamentação da lei de jornada


de trabalho, sancionada em dezembro de 1925, o Conselho Nacional
do Trabalho (Repartição oficial, dependente do Ministério da Agri-
cultura, Indústria e Comércio), convocou uma conferência em comum
com os representantes dos "interessados", isto é, os representantes das
associações patronais, de empregados e de operários. A que propó-
sito obedecia a C.N.T. pondo em prática esse processo "ultrademo-
crático" a respeito da legislação operária? Evidentemente, a manobra
visava em primeiro lugar transplantar para o terreno nacional a prática
"harmonizadora" e "colaboracionista" do B.I.T., que fazia pouco
tinha sido combatida pelos comunistas a propósito da viagem do
"delegado operário" brasileiro Carlos Dias à Conferência de Genebra
de junho: em segundo lugar, prestigiar o governo ante os olhos das
massas trabalhadoras, no seio das quais causara repercussão a cam-
panha contra o renegado Carlos Dias.
Devíamos participar da Conferência? A direção do Partido
examinou detidamente o pró e o contra da participação operária na
Conferência e resolveu pela afirmativa, isto é, pela participação.
Decidida a questão em princípio, tomaram-se as medidas necessárias
para que a delegação comunista seguisse um plano previamente traça-
do. Apesar das insuficiências verificadas, durante as duas partes da
Conferência, obtivemos na segunda um grande êxito, criando uma
situação tal que a Conferência teve que ser rapidamente dissolvida
no fim de duas sessões, pela impossibilidade de conciliar os interesses
dos patrões e operários. Quer dizer: tomando a frente e a direção
das delegações operárias, os comunistas conseguiram demonstrar aos
olhos das massas que a colaboração e a harmonia entre patrões e

329
ar oranssa va.cnc.ere220 LL 405 emOoL yo 335

operários são impraticáveis na realidade. Desta maneira desfez-se a


manobra pretendida pela C.N.T.
Em todas as votações os dois campos se dividiram nitidamente:
patrões de um lado, empregados e operários de outro. As delegações
patronais eram mais numerosas que as operárias (devido, natural-
mente, a da propositadamente mal organizada Conferência), e desse
modo os patrões obtinham maioria nas votações. Porém, o importante
é que os campos se dividiam e combatiam irreconciliavelmente. Era
a luta de classe que se fazia inevitável, demonstrando aos trabalha-
dores, de modo prático, a necessidade de organizar suas forças, de
concentrar suas organizações para poder enfrentar com vantagens as
forças patronais.
Daí a idéia da Confederação Geral do Trabalho, surgida espon-
taneamente no seio dás massas.

441, O Partido e a C.G.7.

Como já foi dito, da Conferência promovida pela F.O. do


Estado do Rio surgiu um comitê de reorganização, cujas bases
obedeciam literalmente o plano traçado pelo II Congresso do Partido,
porém cujos trabalhos foram praticamente interrompidos pela reação
policial desencadeada contra os comunistas depois de 1.o de maio.
A idéia das C.G.T. surgiu em julho. Deviamos apoiá-la? Evi-
dentemente. Alguns militantes, sem dúvida, inclusive da direção do
Partido, manifestaram dúvidas, apegadas a uma simples questão de
formalidades, isto é, à existência anterior, por agora momentanea-
mente inativa, do C.O.R.U.S. (comitê de organização, reorganização
e unidade sindical), criado pela Conferência de Niterói.
Oferecia-se a oportunidade para um amplo debate da questão.
Isto se fez em duas assembléias conjuntas do C.C., do Comitê regional
do Rio e dos militantes sindicais responsáveis da região fluminense.
Foram duas esplêndidas assembléias, ardentes e agitadas, durante as
quais não somente a questão literal da C.G.T., mas o próprio problema
da unidade do movimento operário brasileiro foi examinado a fundo.
Precisamente nas vésperas de se reunir a primeira assembléia, chegava
a nossas mãos a carta do Bureau Executivo do Profintern sobre nossa
atividade sindical. Esta carta foi um elemento precioso no debate,
concorrendo em grande parte para esclarecer e fixar as diretrizes do
Partido na questão da C.G.T.

IV. Plano de trabalhos

Traçou-se um plano prático de organização, como conclusão das


duas assembléias mencionadas.

330
LOS a oob;p. 236
BR DFANBSBVB.GNC.EEE, BO

Em alguns sindicatos já se tinham organizado grupos pela C.,G.T.


Não havia outra coisa a fazer senão promover a criação de grupos
semelhantes em todos os sindicatos, estabelecendo-se a ligação entre
eles por meio de comitês locais, regionais e de um comitê central
nacional. Constituiu-se imediatamente um comitê central provisório,
sob a direção comunista, o qual, em manifesto publicado na imprensa,
expôs o seguinte plano:
"1.o) Tão logo se registrou um número de adesões de sindi-
catos com seus respectivos grupos pela C.G.T., julgados suficientes
estes grupos do Distrito Federal e Niterói, reunidos, clegeram um
Comitê Central Nacional. Este comitê dirigirá o trabalho de propa-
ganda pela organização sindical, com o auxílio dos já citados grupos
e seus comitês locais em todo o país,
2. ) Devem constituir-se igualmente grupos pró-C.G.T. nas
corporações operárias, ainda que não organizadas sindicalmente.
3.o) Esses grupos se ligarão localmente por meio de comitês
locais eleitos em assembléia geral deles mesmos e nacionalmente por
meio do C.C.N,
4.) Os grupos e comitês pró-C.G.T., em suas assembléias,
tomarão resoluções sobre o trabalho a executar no plano local, regio-
nal e nacional, visando sempre a organização de Uniões locais, de
Federações regionais, de Federações nacionais de indústria, como
etapas necessárias para a fundação da C.G.T.
5.o) A criação das Federações se iniciará o mais breve possível,
devendo surgir preferentemente dos congressos locais, regionais
e
nacionais da indústria,
Organizadas várias federações de indústria, deverá ser convocado
um Congresso Operário Nacional, com a representação de todos os
sindicatos que aderiram, do qual surgirá a Confederação Geral dos
Trabalhadores. Criada a C.G.T., o C.C.N. terá cumprido sua missão."
O comitê provisório, que dia a dia conquista novas adesões nos
sindicatos do Rio, Santos, Bahia, Rio Grande do Sul etc., pensa em
primeiro lugar na preparação do congresso regional (Distrito Federal
e Estado do Rio), de onde surgirá a Federação Operária Regional.
Este congresso se reunirá, provavelmente, nos primeiros meses do
ano de 1927.

V. Os adversários

Em todas as partes do mundo são sempre os mesmos elementos


que no seio do proletariado levantam obstáculos para a realização da
unidade sindical. Também no Brasil os anarquistas e reformistas se
dão as mãos contra os comunistas, combatendo a obra pró-C.G.T.,
tão espontaneamente aceita pelas massas,

331
ar DranBss vs.onc.eEE, 82011409 em gol o 239

Os anarquistas, que embora dominem na construção civil e em


parte dos sapateiros, nem sequer admitem discussão da questão da
unidade sindical e do movimento pró-C.G.T. Em sua cegueira sec-
tária e dogmática, basta que este movimento esteja liderado pelos
comunistas para que desapareça castigado por todos os males do
mundo.
Os amarelos e reformistas não atacam abertamente a idéia da
C.G.T. Mas fazem política de duplicidade, apoiando o movimento e
ao mesmo tempo duvidando de seu êxito. Eles sentem que as mas-
sas estão sem distinções em favor da unidade e não querem se colo-
car contra a corrente. Adotam então a tática da resistência passiva.
Há uma exceção. Os chefes oficiais da União dos Empregados
do Comércio, precisamente a organização de onde partiu a idéia da
C.G.T., abriram fogo em seguida, não propriamente contra a "idéia
em si", mas contra a participação da U.E.C. na projetada C.G.T.
"Os empregados do comércio não são operários - dizem eles -
seus interesses são diversos dos interesses dos operários. Diversas são
também suas aspirações. Todo empregado do comércio aspira a ser
patrão e seu interesse está, pois, não na luta contra o patrão, mas
em harmonizar e colaborar com ele." Deve-se notar, porém, que este
é o linguajar da camada aristocrática dos empregados do comércio,
dirigente da Associação. A massa, composta de pequenos empregados
exploradíssimos e sem futuro, pensa de outra maneira: e tanto é
verdade, que dela partiu, espontaneamente, a idéia de se ligar às
demais categorias de trabalhadores, por meio da C.G.T. (...)

Astrojildo Pereira
(La Correspondencia Sudamericana, Buenos Aires,
15.03.1927).

3) O movimento sindical revolucionário do Brasil e


seus objetivos (1931)

No Brasil, a crise econômica foi agravada pelo caráter da


economia desse país, inteiramente subordinada ao capital estrangeiro.
Foi a crise que acelerou a mudança das cliques governamentais,
pois, no fundo, a "revolução" da Aliança Liberal não foi outra coisa
senão uma mudança de clique, refletindo antes de tudo a exacerbação
da rivalidade do imperialismo inglês e ianque. Prosseguindo uma
ofensiva incessante contra o nível de existência das massas operárias,
e também usando do terror contra as organizações revolucionárias
operárias, o governo "liberal" coloca como base de sua política

332
BRDFANBSB V8.GNC.EEE, 820 L4OS am 004; p: 3 38

Operária uma demagogia desenfreada que testemunha a grande habili-


dade dos governantes atuais do Brasil, que muito bem sabem
manobrar.
Todas as cliques agrupadas pela Aliança Liberal, a começar
pelo clã Vargas que está à frente dessa organização, esforçam-se
energicamente por se insinuar no movimento operário, para criar
suas próprias organizações "operárias"; neste terreno elas são ajuda-
das com zelo pelos renegados do Partido Comunista, os trotskistas,
pelos líderes corrompidos das organizações amarelas do tipo "mutua-
lista" e pela tendência anarquista.
O governo e seus agentes locais, "interventores", prefeitos etc.,
esforçam-se energicamente para ter sob seu controle as organizações
operárias locais, imiscuindo-se na vida interior das mesmas, preten-
dendo desempenhar um papel de árbitro "imparcial" nos conflitos.
Na realidade, porém, eles esposam sempre a causa do patronato
estrangeiro e alienígena. O digno coramento desta política é a ultra-
reacionária lei sobre os sindicatos elaborada pelo governo federal
("Lei da Sindicalização").
Nos termos dessa lei, os sindicatos oficialmente "reconhecidos"
são colocados sob completa dependência das autoridades, que con-
trolam sua atividade em todos os domínios, entre eles o financeiro.
Tais autoridades possuem o mesmo direito de regulamentar a compo-
sição dos órgãos diretores e da massa dos aderentes.
Essa lei afasta dos sindicatos os jovens com menos de 18 anos
e limita rigorosamente o número de operários estrangeiros (não devem
superar 4 do efetivo dos membros do sindicato), que formam a
grande maioria da classe operária em numerosas indústrias.
No fundo, essa lei despoja os sindicatos oficialmente reconhe-
cidos (o decreto não interdita expressamente a existência de sindica-
tos não reconhecidos) de toda espécie de direito, porque os acordos
concluídos com os empregadores devem ser previamente aprovados
pelos órgãos do governo.
Bem entendido, tudo isso não representa senão "preparativos de
organização" orientados em direção de uma nova grande ofensiva
da burguesia estrangeira e nacional contra a classe operária. São os
aliancistas que vão estar à frente desta ofensiva.
Ao lado da arbitragem obrigatória, que forma um dos pontos
centrais da nova lei, ao lado da supressão total da lei sobre as
férias operárias, o governo piorou sensivelmente a lei sobre as
caixas de pensão; a jornada de oito horas não existe mais, de fato,
na maioria dos ramos da economia nacional. A supressão do repouso
dominical dos barbeiros, tipógrafos, padeiros e dos empregados de
comércio, serve de prelúdio a medidas análogas para outras catego-
rias da classe operária.

333
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 8h 0 | | 4 0 Sam goLt— $ 334
Tudo isso cria proposições sérias para um desenvolvimento do
movimento operário voltado contra a nova e cínica ofensiva da
burguesia e de seus agentes.
O movimento operário depois da revolução aliancista
O movimento das greves espontâneas eclodiu com uma grande
força logo após a subida da Aliança Liberal ao poder, no final do
ano passado. Essas greves, que se espalharam pelos mais diversos
ramos da produção de numerosas regiões do país, foram a manifes-
tação da radicalização crescente das massas operárias
espontaneamente, utilizar as divisões do campo burguês que para
tentam,
desen-
volver uma ação a favor de suas próprias reivindicações imediatas.
Na Bahia, a greve dos ferroviários que reclamavam um aumento
de salário causou sólidas preocupações à Companhia de Estrada de
Ferro, que pediu às autoridades do Estado medidas enérgicas. Teve
lugar no grande porto de São Paulo (Santos) um conflito com os
doqueiros, e foi aí também que ocorreu uma greve numa tecelagem
de seda. Segundo as informações do jornal burguês A Platéa, a luta
era dirigida por uma operária que se dizia partidária de Luís Carlos
Prestes (. ...) *
O movimento grevista espontâneo, nesta época, teve uma ampli-
tude especial em São Paulo, coração industrial do Brasil, Depois da
queda dos conservadores, a ala "esquerda" da Aliança Liberal, que
é representada por pessoas como João Alberto, Miguel Costa e outros
renegados do campo revolucionário pequeno-burguês, ex-prestistas,
tomou conta do poder em São Paulo; todos eles utilizam-se de seu
grande arsenal de frases revolucionárias em benefício do bloco dos
burgueses e dos proprietários de terra.
Nessa cidade houve quase simultaneamente, em novembro do
ano passado, numerosas greves: na usina metalúrgica, numa fábrica
de sapatos, nas oficinas da Estrada de Ferro de São Paulo, numa
fábrica de chapéus etc. (Essas greves eram essencialmente dirigidas
contra a diminuição de salários, a favor do retorno aos salários
anteriores). Um importante conflito estourou nas empresas com-
panhia canadense Light (estação central elétrica e de bondes),da tendo
como motivo a destituição do secretário do sindicato operário. No
entanto, como os trotskistas e "plinistas", ** que tinham tomado
conta do sindicato da Light, introduziram-se nesse conflito, o resul-
tado terminou em acordo com o chefe da polícia política de São Paulo
e no fracasso da greve.
* O autor,
buco, Rio Grandea seguir,
do Sul
analisa superficialmente algumas greves cm Pernam-
** Trata-se de Plínio eMello,
Rio de Janeiro. EC)
fundada em 21 de janeiro de 1931.que(E.C.)
no momento pertencia à Liga Trotskista,
334
BR DFANBSB Va:GNC.EEE, 82 0 L am og brp; 340

A mais importante foi a greve dos têxteis em São Paulo, que


englobou mais de 5.000 operários e durou mais de duas semanas
(de 10 a 27 de novembro). Nessa greve, como em outras lutas
econômicas desse período, a grande reivindicação era a luta contra
a redução de salários e pelo restabelecimento do salário anterior -
que tinha sido reduzido de 25 a 30%. Iniciado numa das maiores
usinas de São Paulo, o movimento ganhou rapidamente outras fábricas.
As massas operárias deram prova de muita combatividade e iniciativa,
criando comissões especiais que levavam outras empresas à greve
mesmo quando, como dizia a imprensa patronal e burguesa, "os ope-
rários e operárias não tinham a intenção de fazer greve".
Após a intervenção pessoal do ditador do Estado, João Alberto,
secundado com zelo pelos trotskistas (grupo Plínio Mello, Josias
Leão etc.) que intervinham sob a aparência de um partido legal e
governamental pseudocomunista, a greve terminou com um com-
promisso imposto por via de arbitragem. Somente em algumas
empresas os operários receberam o aumento de 5% prometido pelo
governo e, em alguns casos, lhes foram dados os 10% que tinham
sido retirados anteriormente.
É nessa época que se desenrolam numerosos movimentos de
desempregados. Houve, em particular, em dezembro do ano passado,
uma demonstração espontânea no Rio de Janeiro, quando milhares
de sem-trabalho tentaram, em cortejo, dirigir-se ao palácio do presi-
dente, mas foram dispersos pela polícia.
Esse movimento, caracterizado por reivindicações essencialmente
básicas, testemunhava certamente um avanço que se forjava nas
grandes massas operárias que tinham dado prova, em muitos casos,
de uma excelente combatividade,
No começo, sem dúvida, muitos trabalhadores possuíam ilusões,
imaginavam que a subida dos liberais abriria para a classe operária
uma nova era e tenderia para a melhora de sua sorte. O desenvol-
vimento da luta grevista, no entanto, e a atitude das autoridades
aliancistas, muito contribuíram para a dissipação dessas idéias
ingênuas.
Lastimamos em constatar que, com raras exceções, o Partido
Comunista e as organizações sindicais revolucionárias não tomaram
parte nenhuma nesse movimento espontâneo, em seu primeiro
momento. Essa ausência das organizações revolucionárias fazia-se
sentir especialmente em São Paulo. Os renegados trostskistas aprovei-
taram-se disto para frear o movimento e para se insinuar nas vastas
organizações sindicais que se formavam em razão do movimento
espontâneo das massas em organização, em São Paulo, onde nenhum
sindicato era tolerado antigamente.
Foi justamente aí, onde os sindicatos revolucionários não
se
esforçaram por colocar em seu proveito as circunstâncias favoráveis,

335
BR DFANBSB VB.GNC.EEE, 8201 05 amoo, -34

que João Alberto entrou em ação; secundado pelos renegados pequeno


-burgueses, os "plinistas", que deveriam ter sido expulsos muito antes
do Partido Comunista brasileiro, João Alberto fundou uma organi-
zação fascista que se disfarçava legalmente de uma bandeira
"comunista".
É por tais processos que esses ignóbeis personagens - nos quais
ao nacionalismo burguês junta-se um trotskismo inveterado - tenta-
ram submeter o movimento operário que se desenvolvia espontanea-
mente à ditadura aliancista e a seus interesses. Privada de direção, a
vaga do movimento grevista recuou rapidamente levando os trabalha-
dores a uma apatia temporária. a
O movimento não teve a amplitude que poderia e deveria
adquirir, mesmo havendo as condições objetivas para tal e, em par-
ticular, o espírito combativo das massas operárias nas vésperas da
luta e durante esta. É por isso que deve ser levantada categorica-
mente esta questão: por que o "fator subjetivo" revelou-se tão
pouco à altura de suas tarefas, no Brasil, durante este período?
Não é unicamente aos partidários do movimento sindical desse
país que uma análise séria da experiência do trabalho sindical brasi-
leiro é útil; ela também tem uma grande importância para os
militantes sindicais revolucionários dos outros países da América
Latina.

Os grandes fatos do desenvolvimento do movimento sindical


revolucionário brasileiro do último período

A situação do movimento sindical revolucionário brasileiro, como


se apresentava no fim de 1929, foi definida por uma resolução do
III Congresso do Partido Comunista desse país. Dizia-se que a
maioria das organizações sob a influência do Partido estava conta-
minada por um espírito de corporativismo estreito e que essas organi-
zações sofriam de numerosas sobrevivências anarco-sindicalistas que
se manifestavam, particularmente, pela descentralização e uma defei-
tuosa organização.
Os sindicatos estavam em estado de dilaceração. Somente os
tipógrafos e marinheiros possuíam organizações nacionais, que não
eram poderosas. A influência dos partidários da I.S.R. (Internacional
Sindical Vermelha) era relativamente considerável no Ric; era mínima
em outras regiões incluindo São Paulo, o grande centro industrial do
país.
O único centro intersindical, a Federação dos Sindicatos do Rio,
fundada em 1927, mantinha uma existência miserável, perdia os
partidários que conseguira no momento de sua fundação.
A direção do Partido, apesar de reconhecer em princípio a
importância do trabalho sindical, estava absorvida, nesta época

336
BR DFANBSB BXQLL4gG (JM—OO by p 342
(e também mais tarde, talvez), por articulações com os políticos
pequeno-burgueses; ela não se preocupava, senão insuficientemente,
pela ação sindical. Esta encontrava-se abandonada nas mãos de alguns
camaradas que a manipulavam a sua vontade e resolviam todas as
questões independentemente da participação da massa dos aderentes
ou dos próprios militantes de base.
Nessas condições, o Partido Comunista e os sindicatos de classe
defrontaram-se inesperadamente com o poderoso desenvolvimento da
luta grevista que tomou conta do Brasil na primeira metade de 1929.
Esse desenvolvimento adquiriu um caráter verdadeiramente nacional,
pois as regiões e as indústrias que antes se encontravam marginal-
mente ao movimento, nele se integraram.
Constatou-se, no curso dessas lutas, a forte combatividade das
massas operárias e, em particular, das operárias e da juventude
operária, amplamente integrados na luta. Os trabalhadores
vam-se firmes na defesa de seus interesses imediatos e demostra- suas
organizações de classe contra a repressão governamental. Esse movi-
mento, que se estendia de uma indústria a outra, tomou, em muitos
casos, um caráter político nítido e particularmente antiimperialista,
Levado pelo élan tumultuoso das massas, o Partido Comunista
e os Sindicatos Revolucionários participaram ativamente desse movi-
mento que eclodia espontaneamente na maioria dos casos; eles
ordenavam e dirigiam as grandes batalhas nos tradicionais centros do
movimento (Greve do Livro em São Paulo, Têxtil no Rio e Porto
Alegre, Padeiros no Rio), assim como numerosas greves em regiões
novas (luta dos ferroviários em Fortaleza, dos operários de fumo na
Bahia).
É verdade que essa ação alargou e fortificou a influência dos
sindicatos revolucionários entre as grandes massas operárias, mas,
ao mesmo tempo, constatou-se vários erros oportunistas no curso da
batalha, que consistiam essencialmente em cair no conformismo, em
retardar em relação à atividade militante das massas, em não saber
ampliar a luta, apoiando-se sobre o arranco do movimento. Esta falta
de habilidade transformou-se, algumas vezes, em uma grevefobia
verdadeiramente reformista; procurava-se, então, acomodar a luta da
massa, retardar o movimento de solidariedade que se desenvolvia
espontaneamente no seio da classe operária (caso que se deu duranté
a greve do Livro em São Paulo e durante outras greves importantes).
Um erro de tática dos sindicatos revolucionários consistiu
também numa passividade temporária face às greves dirigidas pelos
anarco-reformistas (greves da Construção, dos de caminhão, dos tra-
balhadores dos canteiros marítimos do Rio). E enfim, erros se mani-
festaram também na incapacidade absoluta dos sindicatos revolucio-
nários em tirar proveito das greves dirigidas por militantes revolucio-
337
am got“, , 4a
BR DFANBSâ—WGNCÍEEEQ $ào LLUOS

nários (compreendendo nelas as greves vitoriosas), para consolidar


o movimento sindical vermelho no terreno da organização.
É com o auxílio da Central Sindical Revolucionária Continental
de Montevidéu que os sindicatos revolucionários fizeram sua cam-
panha de agitação para a unificação do movimento sindical revolu-
cionário brasileiro, infinitamente dividido.
& .* *
Em abril de 1929, depois de uma certa preparação, foi convocado
um Congresso Sindical brasileiro do qual participaram delegados de
50 organizações de diferentes Estados do país (Rio, São Paulo,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Santa
Catarina, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul). Essas organiza-
ções representavam dezenas de milhares de operários organizados.
Este congresso criou uma Confederação Geral do Trabalho, tendo
assim sido dados os primeiros passos para a constituição de uma
Central Sindical de classes. Essa Central Sindical era a única organi-
zação nacional no país. Com efeito, a Federação Operária brasileira
fundada antes da guerra pelos anarquistas, tinha sido sempre uma
organização raquítica: ela cessou de existir depois do seu 3.o Con-
gresso Operário (1920).
A C.G.T. não tinha uma sólida base de organização no momento
da sua fundação, pois a influência dos sindicatos revolucionários não
estava cimentada senão na capital federal e nos arredores. Em outras
regiões, incluindo São Paulo, ela não estava consolidada. Nos princi-
pais ramos da Economia Nacional, o número de operários englobados
nas organizações confederadas era ínfimo; por outro lado, a C.G.T.
tinha um papel importante no movimento dos operários não indus-
triais, como: garçons de café e restaurantes, barbeiros etc. Num país
tão grande como o Brasil, com sua descentralização e as relações mal
organizadas entre os diversos Estados isolados uns dos outros, a
C.G.T. não podia tornar-se uma organização vigorosa desde que haja
ausência de federações sindicais regionais. A única Central Regional
que existia no Rio, foi liquidada, em grande parte, por causa das
fricções e dos desacordos entre os dirigentes do movimento sindical
revolucionário.
A antiga direção do Partido Comunista brasileiro não soube
ampliar os grupos de militantes sindicais conseguindo a adesão de
novos elementos operários. Ela mantinha uma atitude desdenhosa
em relação à formação de quadros sindicais, pois estava contaminada
por um ceticismo de intelectuais, em lugar de procurar nos meios
operários os elementos necessários.
Havia entre as organizações participantes do Congresso de
constituição da C.G.T. muitos grupos que, no fundo, eram anarco-
338
er praNass bo LU405 a- oo p: 344

sindicalistas, corporativistas, "mutualistas". É unicamente por meio


de um trabalho firme e quotidiano executado no seio dos nossos
sindicatos, que poderemos conduzir realmente essas organizações no
caminho da política sindical de classe e ligá-las fortemente à C.G.T,,
a qual aderiram nominalmente.
Aliás, o trabalho dos sindicatos inteiramente colocados sob a
direção dos comunistas (Panificação, Livro, Marinheiros, Garçons,
Têxtil etc.) era igualmente impregnados de tendências anarco-sindi-
calistas, corporativistas e outros.
Em lugar de dirigir com perseverança a ação de base entre
a massa dos aderentes desses sindicatos (era a única ação capaz de
elevar o prestígio dos sindicatos de classe e de ajudar a consolidar a
direção revolucionária), os militantes sindicais revolucionários limi-
tavam-se frequentemente em conquistar os postos de direção nos
sindicatos. Esta conquista exprimia-se no fato de uma penetração
exagerada (até 100%) da direção dos comitês sindicais pelos comu-
nistas; abstinha-se de fazer entrar na direção operários revolucionários
sem partido.
Nada foi feito, ou quase nada, para fornecer aos sindicatos uma
base sólida nas empresas, sob forma de grupos sindicais de base e de
órgãos de frente única nas empresas (Comitês de usina e Comitês de
'uta).
Na segunda metade de 1929, a repressão policial atingiu o
Partido Comunista e os sindicatos revolucionários (confisco de jornais
e de boletins, dissolução de sindicatos, lacração das sedes dos mesmos,
prisões) e os tomou de surpresa revelando e pondo a nu a linha de
conduta inteiramente oportunista da direção do Partido e dos sindi-
catos nesta época.
Face à repressão governamental que, aliás, não impunha aos
sindicatos um regime completamente ilegal, os sindicatos vermelhos
retiraram-se para a ilegalidade sem que fosse necessário; em alguns
casos eles próprios fecharam seus locais sem esperar a chegada da
polícia.
Apesar do avanço das massas operárias que exigiam do Partido
Comunista e dos sindicatos uma resistência organizada diante da
reação desencadeada, a direção do Partido e dos sindicatos bateu em
retirada, tomada de pânico, sem mesmo tentar organizar a luta das
massas contra o terror governamental. Ela recomendava às massas
operárias excitadas, a limitarem-se a protestos verbais e a "manter
a calma evitando de se deixar cair nas provocações".
O digno coroamento de toda essa política consistiu na perda,
pela C.G.T., de suas duas federações as mais importantes, as dos
marinheiros e dos trabalhadores de restaurantes. Produziu-se nessas
organizações, com o concurso direto da política, um "golpe de estado"

339
p:M
BR DFANBÉÉK/B.GNC.EEE.%RO LL 405. e000by

que colocou na direção elementos amarelos, corrompidos, que tinham


ligações com a polícia.
Quanto aos militantes sindicais revolucionár ios, aceitaram esse
"golpe de estado " como um fato consu mado, e adota ram em relação
ao mesmo uma atitude verdadeiramente concil iadora ; não fizeram
esforço algum para tentar guarda r sua influê ncia entre as massas e de
provar praticamente que os amarel os se tinha m ampar ado da bandeira
e não das próprias organizações. odiosa derrota
Fatos análogos tiveram lugar um ano antes adesta direçã o de militan-
no sindicato dos Têxteis do Rio de Janeir o, sob
tes revolucionários; esse sindic ato foi transf erido, da mesma maneira,
das mãos da polícia para os reformistas.
O resultado dessa política manifestam ente derrotista da antiga
direção foi a desmoralização total ação quasedo movim ento sindical revolucio-
nário, no começo de 1930, e a liquid absoluta das conquis-
tas do período precedente. Muitos operár ios ficaram decepcionados
com a atividade dos sindicatos revoluintere cionários, não mais acreditando
na sua capacidade de defend er os sses imediatos das massas
operárias e, sobret udo, de conduz i-las à luta contra 0 inimigo de
classe, nos momentos decisivos.
A atividade dos sindicatos revolucionários antes e depois da
"revolução" liberal
Em março de 1930 o B.E. da I.S.R. (Burea u Estadual da Inter-
nacional Sindical Vermelha) endereçava aberta conten à C.G.T. brasileira e a todos
seus partidários no Brasil uma carta do uma análise
circunstanci ada do movim ento sindica l revolu cionár io desse país,
de seus erros e de suas fraquezas. Porproble outro lado, essa carta fornecia
indicações límpidas sobre import antes mas que se apresentavam
diante do movim ento e que, ainda hoje, guard am seu valor no essen-
cial. Ainda que reconhecendo em palavr as a justez a da crítica da
I.S.R., a antiga direção nada fez, entreta nto, para explic ar seriam ente
o sentido e o fim desse documento à massa dos sindicatos, e para
assegurar a sua aplicação.
Não foi realizada nenhuma mudança foi na atividade dos sindicatos
revolucionários. Como no passado,zação da lutadada
não a devida atenção
à tarefa mais import ante: a organi econôm ica continuou
a ser muito insuficiente, enquanto que as greves isoladas pipocavam
todo o tempo, mesmo após o refluxomotori da vaga grevista (greve obstinada
dos Têxteis em Vareto, greve dos stas de Santos, dos Têxteis
de São Paulo em 1929 e no começo de 30).
Nada se fez para a preparação de movim entos de massa a favor
da existência legal das organizações dia de classe. A greve política de
massa, organizada em Petrópo lis no do aniver sário da morte de
340
| eroransse va.enc.eeE, 8AO0LLUOS anool ( 546

da defesa
Lenine (21 de janeiro de 1930), sob a palavra de ordem
demons trou a ardente acolhida
da C.G.T. e da luta contra a reação,
s a todo o apelo sério dos comunis tas e
feita pelas massas operária
es sindicai s revoluc ionário s para ações de combate ; mas
dos militant
essa greve não foi senão um fato isolado.
o por
A tendência a se afastar da luta econômica, o desprez
, sua subesti mação, a inabili dade em dar a
reivindicações parciais
iniciativa
essas reivindicações uma forma concreta apoiando-se sobre a
entre seus
das próprias massas, tudo isto se manifestava na C.G.T. e
formas, algumas vezes mesmo sob a
dirigentes sob as mais diversas
máscara de um "esquer dismo" sectário .
ainda na
Em contradição brutal com a realidade imaginava-se
os revoluc ionários
C.G.T. que o Partido Comunista e os sindicat
operári o, pois, dizia-se, não há
tinham o monopólio do movimento
a nossa. O resulta do dessa política foi não somente
senão uma C.G.T.,
participação
a ausência de uma direção coletiva e de ação, escorada na
mas também se deu
de operários sem partido e de militantes de base,
os não agrupa ram senão comunis tas.
que certos sindicatos vermelh
condu-
De outro lado, os militantes sindicais revolucionários não
sas e
ziam a luta ideológica contra as influências pequeno-burgue
sindical vermelh o e que refle-
burguesas muito fortes no movimento
s exterior es ou interior es (presti smo, trotskis mo,
tiam correntes política
aliancismo, anarco-sindicalismo).
Na véspera mesma do golpe de Estado, assinalando às massas
u
a iminente "revolução" aliancista, a imprensa revolucionária levanto
das tarefas da classe operári a e do reforço orgânic o da
o problema
ção e à
C.G.T.; mas ela não soube ligar essas questões à prepara
mobilização das massas para a luta.
da nova
O manifesto lançado pela C.G.T. depois da reunião
no Rio fazia uma análise exata, no conjunt o, do golpe
Junta Militar
operárias a ter
de estado e das forças em luta; ele apelava às massas
classe. Esse mesmo programa
confiança em suas organizações de
a geral das reivind icações imediat as as mais
antecipava um program
ntes, econômi cas (salário s, jornada de 7 horas, abonos de
importa
des para as
desemprego, moratória dos aluguéis) e políticas (liberda
nto, esse documen to, tanto como os
organizações sindicais). Entreta
outros, não respond ia plename nte à realidad e.
es
Nas fileiras do partido, e, por conseguinte, entre os militant
confusã o de idéias terríveis ,
sindicais revolucionários, havia uma
essencia l: que são os sindicat os e por que são
mesmo nessa questão
necessários sindicatos?
De um lado, mesmo nas colunas de A Classe Operária publica-
a
va-se declarações nitidamente anarco-sindicalistas: "A classe operári
obter sua libertaç ão senão sob a direção dos sindicat os
não poderá
que
de classe." De outro lado, havia um desvio anti-sindical inverso

341
BR DFANBSB Va.onC.EEE 220/14 0 Sango!
; p. 349

encontrou sua expressão completa nas "teorias"


defendidas por alguns
militantes sindicais do Rio Grande do Sul,
consistindo em afirmar
que no período de revolução, mesmo que seja
uma revolução "alian-
cista", os sindicatos são perfeitamente inúteis
,
Mas o que era grave, não o era por alguns
erros contidos nas
declarações, mas pelo fato que nenhuma ação
se concretizava segundo
as promessas. A C.G.T. e com ela todos os
militantes sindicais priva-
dos de toda espécie de direção, e notadament
e de direção prática,
recaifram na inanição depois do esmagament
o, pelas autoridades, das
primeiras tentativas de reaparecimento das
nossas organizações.
Durante o primeiro período, os sindicatos
revolucionários nada
fizeram para tentar obter segundo sua
própria força o direito à
existência legal, não somente no Rio, mas
também em São Paulo, onde
para isso havia condições favoráveis,
Notamos acima a passividade quase
absoluta da C.G.T. face
ao grande movimento grevista de São
Paulo. Os trotskistas-plinistas
aproveitaram-se disso para se amparar
da direção de certos sindicatos,
entre os quais organizações tão import
antes como a dos trabalhadores
de usinas elétricas e de tramways
(Light), que reaparecera e que
agrupava alguns milhares de aderentes;
e o velho sindicato revolucio-
nário do Livro que se pôs a colabo
rar com a polícia em troca do
repouso dominical,
Os plinistas obtiveram também uma certa
influência, no começo,
no sindicato Têxtil de São Paulo, formado
espontaneamente na base
trade-unionista de um gênero particular.
Compondo bloco com alguns
anarco-sindicalistas que ainda restavam,
tentaram fundar uma nova
central sindical regional. Primeiro, sob a
bandeira de um comitê para
a reorganização dos sindicatos do Estado
de São Paulo, depois sob
o selo de uma velha Federação anarqu
ista operária de São Paulo.
Eles queriam utilizar essa Federação
com a intenção de uma
manobra cisionista, voltada contra o movi
mento sindical revolucioná-
rio (C.G.T.) e propunham-se a convocar
em março seu Congresso
Nacional em São Paulo para fundar
uma 'nova Central Sindical
Nacional.,
Os militantes revolucionários não encontrara
m nada melhor no
começo do que retirar todos os seus parti
dários do Comitê de
reorganização no seio do qual formavam
uma minoria. Era no
momento onde as forças organizadas do movi
mento sindical revolu-
cionário estavam muito fracas em São Paulo
, num momento onde
a menor possibilidade de se pôr em conta
to com as massas tinha
uma importância ilimitada. Os camaradas
brasileiros, fiéis às suas
execráveis tradições, acreditavam que era
preciso se limitar à boico-
tagem e à divulgação verbal et done peu proba
nte da política cisionista
dos plinistas.

342
ar pranasa va.enc.eEE,É2 01 L405 o oq p pp: 348

A C.G.T. nada empreendeu de concreto e tampouco emrela


ção
às organizações amarelas e, em particular, das © que
antigamente
estiveram sob sua direção (marinheiros, trabalhadores de
restauran-
tes). Os chefes das principais organizações amarelas
(sindicato dos
Cocheiros, dos operários de construção, sindicato amarelo
dos traba-
lhadores das usinas Têxteis do Rio de Janeiro), que
representavam
uma combinação particular de "mutualismo" e reformismo
puramente
colonial, não se limitaram a declarar desde o início que
apoiariam sem
reserva o novo regime: esta promessa de apoio foi dada
com entusias-
mo. Aplaudiram ardentemente as decisões do Ministér
io do Trabalho
na questão da instituição das comissões de arbitragem
e anunciaram
a intenção de criar uma Central Sindical brasileir
a para si na luta
contra a C.,G.T,

Uma retomada se esboça

É certo que se observa uma certa retomada no movimento


sindical
revolucionário brasileiro deste o início deste ano.
Ela se dá em
estreita conexão com uma renovação parcial da
direção sindical,
com a experiência adquirida pelos jovens quadros operário
s ganhos,
nos últimos tempos, para o trabalho da direção e,
enfim, com a
ajuda eficaz dada há algum tempo ao movimento
brasileiro pelo
Secretariado Sulamericano da I.C. e pela Confede
ração Latino-
«americana dos sindicatos,
Na primeira metade de março, a C.G.T. organizou sessões
de
conferências sindicais regionais no norte, no Rio de Janeiro
e em
São Paulo. A conferência do Rio de Janeiro não produziu
resultados
sensíveis, não somente porque deu-se clandestinamente,
mas também
somente uma pequena parte do proletariado aí se represen
tou (princi-
palmente, as minorias revolucionárias, delegados de certas
usinas).
Esse fato prova que uma reviravolta não se operou ainda
no Rio de
Janeiro e que os organismos diretores ainda não se
desembaraçaram
de um oportunismo covarde que antecede a traição.
Isto é demons-
trado, por exemplo, pelo fato de que certos militante
s "revolucioná-
rios" dos sindicatos tiveram medo de representar
seus sindicatos à
Conferência Regional por temor de represálias
policiais. A Con-
ferência Sindical Regional do Estado de São Paulo
deu melhores
resultados. Organizações sindicais da cidade de
São Paulo aí se
fizeram representar, assim como o sindicato dos
ferroviários, dos
metalúrgicos, dos telefonistas e as minorias revoluci
onárias do Sindi-
cato do Livro, a Light (estação elétrica e tramways
), os trabalhadores
de restaurante e os de calçado. Tomou parte nela
igualmente, para
fins de informação, o novo sindicato têxtil,
que protestou contra as
tentativas dos trotskistas plinistas de classific
á-lo como trotskista »

343
BR DFANBSB VB.GNC.EEE,820 | US am do LIP 1 3%

ainda que esse sindicato tenha tomado parte igualmente, "para fins
de informação", na conferência plinista.
Igualmente participaram os representantes de várias organizações
sindicais do Estado entre elas, dos sindicatos dos marinheiros e
doqueiros e dos trabalhadores de restaurantes de Santos, do Sindicato
de Construção, da União local do Sindicato de Ribeirão Preto, dos
sindicatos dos ferroviários, da União Intersindical de Cruzeiro e da
organização dos operários agrícolas de Bauru e de Pirajuí.
A conferência realizou-se abertamente. Nela foram tratadas
questões importantes como a situação da classe operária e os objetivos
dos sindicatos, o programa das reivindicações imediatas, a luta contra
o desemprego, as questões de organização, os objetivos do movimento
dos assalariados agrícolas.
Esta conferência, que elegeu um comitê regional provisório de
São Paulo, desenvolveu-se sob o signo de uma luta ativa pela unidade.
Essa tendência encontrou notadamente sua expressão na eleição
de uma delegação à próxima conferência da organização plinista-
«anarquista, à "Federação Operária de São Paulo". A delegação devia
propor à Conferência dos plinistas a idéia da unidade, por meio da
sua adesão à C.G.T., adesão que seria feita oficialmente e sancionada
por um congresso regional de unidade convocado com a participação
dos sindicatos de todas as tendências que elegeriam em comum a
direção de uma federação única. Essas decisões foram ratificadas
pelo Plenum do Executivo confederal que se realizou mais tarde em
São Paulo e no qual tomaram parte representantes do Rio, de São
Paulo e do Norte.
Essa tentativa que era justa, no conjunto, não pode ser aplicada
até o fim na conferência sindical trotskista-anarquista, que realizou-se
logo após. Os representantes da C.G.T., aos quais os renegados que
ocupavam a direção da conferência recusaram a palavra, não se
fizeram escutar, apesar de terem feito um certo trabalho de agitação
em favor da unidade de classe entre os delegados que representavam
realmente a massa operária. Não assistiram à Conferência da
Federação Operária de São Paulo, com exceção das pequenas organi-
zações dos chapeleiros e dos vidreiros, e de dois sindicatos de massa
- os tipógrafos e a organização Light. As discórdias entre plinistas
e anarquistas que marcaram essa conferência, terminaram com a vitó-
ria dos anarquistas; e essa conferência limitou-se a confirmar, no
essencial, as resoluções do 3.o Congresso Operário Anarquista de 1920.
Mas seria um grave erro se acreditar que os trotskistas e os
anarquistas, depois deste sucesso duvidoso de sua conferência, tenham
perdido ou irão perder automaticamente, no futuro, a base maciça que
possuem ainda hoje. Seria igualmente uma ilusão acreditar que os
partidários do movimento sindical revolucionário possuem no momen-
344
Br oranBSBVB.GNC.EEE, SAO LU OS amo bip, 356

to posições sólidas e um papel preponderante no movime


nto operário
do Estado de São Paulo. $
Para conseguir essa preponderância é necessário que se saiba
aplicar habilmente a tática da frente única, medida esta que ainda
hoje encontra resistência no movimento sindical revolucionário.
Por outro lado, a C.G.T. e os sindicatos de classe afiliados
vomeçam tomar uma parte ativa no movimento grevista que
se reani-
ma novamente. Os despachos de jornais anunciam o início
de uma
grande greve dos trabalhadores da Companhia Nordest
e de Luz e
Energia Elétrica na capital do Estado de Alagoas, Maceió;
essa greve
teve por resultado uma suspensão do tráfego de bondes
nessa cidade.
Vários conflitos tiveram lugar na fábrica de tecidos, nos
padeiros,
nos ferroviários do Rio de Janeiro e São Paulo.
Um movimento importante foi desencadeado pelos motorist
as:
estourou espontaneamente em várias regiões, entre
elas o Rio em
meados de abril, e após um aumento do preço da gasolina
pelas com-
panhias monopolistas. A greve no Rio, onde a luta
se prolongou
durante vários dias, foi dirigida pelos sindicatos revoluci
onários e pelo
comitê de greve eleito com o seu apoio, que dirigiu
a luta indepen-
dentemente do sindicato amarelo. Os motoristas não se
limitaram a
exigir uma diminuição de preço da gasolina importada;
eles reclama-
ram também a respeito de outras coisas sobretudo
em relação aos
motoristas de ônibus e de automóveis pertencentes à Light:
jornada
de oito horas, salário mínimo de 600$000 réis por mês,
cumprimento
da lei de férias, liberdade de greve, supressão
da arbitragem
obrigatória.
O movimento sindical revolucionário conseguiu obter
algum
sucesso na campanha de 1.o de Maio. Os plinistas e os anarquis
tas,
aos quais as autoridades permitiram manifestação, limitar
amse a
convocar reuniões em recintos fechados. Não deram resposta
s às
sugestões da C.G.T., que pedia uma frente única na demonst
ração
de 1.o de Maio.
Os comunistas e os militantes sindicais revolucionários
conse-
guiram organizar pequenas demonstrações de rua no
Rio de Janeiro
e em São Paulo. As manifestações foram atacadas pela
polícia; o
espírito de combate dos manifestantes do Rio encontr
ou seu sentido
no fato, por exemplo, de que a multidão não permitiu
à polícia a
prisão dos manifestantes,

Objetivos imediates do movimento sindical revolucionário

A crise econômica se agrava, a situação das massas trabalha


doras
piora de maneira terrível, a luta entre imperialistas
torna-se cada
vez mais violenta e a decomposição vai começar inevitav
elmente nas

345
er oranase 820/1940 5 om 00 bw , pSl

fileiras da clique governante. Nessas condições é certo que a reto-


mada que se esboça na luta grevista transformar-se-á numa arrancada
revolucionária. O ritmo de desenvolvimento do movimento dependerá
em grande parte da medida com a qual o Partido Comunista e os
sindicatos revolucionários do Brasil estejam à altura de suas tarefas.
É preciso que os sindicatos revolucionários brasileiros concen-
trem todas as suas forças na preparação das lutas econômicas nas
grandes empresas e nas mais importantes indústrias onde se produzirá
uma luta entre Capital e Trabalho.
É de grande importância a organização do movimento dos desem-
pregados que se desenvolve espontaneamente, e sua orientação para
uma luta comum em direção a uma sólida aliança com os operários
não desempregados.
Importa concretizar o programa geral de reivindicações operárias
estabelecido pela C.G.T.; esse programa deve ser adaptado às diver-
sas regiões, indústrias, empresas, com a colaboração ativa dos desem-
pregados e não desempregados.
Quando se prepara uma greve é preciso acentuar as reivindica-
ções concretas bem compreensíveis às massas e capazes de conduzi-las
à luta. Desse ponto de vista, em algumas regiões deve-se preparar a
luta dos assalariados agrícolas e lançar a palavra de ordem do reem-
bolso imediato do pagamento atrasado.
Também no que concerne à luta contra o desemprego não é
suficiente estabelecer palavras de ordem gerais (abonos pagos pelo
governo e pelos capitalistas: 4#$000 réis e 1 quilo de pão por dia,
dispensa de aluguéis etc.); trata-se de formular reivindicações locais
concretas, que serão apresentadas às autoridades locais, às municipa-
lidades e aos capitalistas, exigindo sua imediata satisfação.
Mesmo dando-se o máximo de atenção à organização da luta
das massas a favor das reivindicações imediatas, é preciso procurar
politizar esta luta e dar prioridade às reivindicações políticas, e
exigir antes de tudo todas as liberdades necessárias para as organiza-
ções operárias. Seria um grave erro, entretanto, proceder mecanica-
mente esta politização, de colocar como fundamental, em cada greve
econômica, as reivindicações políticas gerais.
A tarefa essencial não consiste em decretar essas palavras de
ordem, mas em levar as massas a assimilar essas idéias baseando-se
em sua própria experiência e conduzi-las a uma luta vigorosa para a
realização de suas reivindicações.
Os sindicatos de classe devem conduzir uma luta incessante
pela sua existência legal, direito que devem conquistar pela ação
direta. A cada etapa se aproveitarão de todas às possibilidades que
se apresentam sem nunca ter ilusão a respeito do verdadeiro caráter
da política do governo.
346
BRDFANBSB 820 LL4OS am cot;p: 352

Nessas condições é necessário atentar para a nova lei sindical


.
fascista que o governo Vargas está a véspera de votar. Cremos que
é útil lembrar que os sindicatos revolucionários não poderão aceitar
nem adaptar-se a essa lei. É preciso organizar uma luta vigorosa
contra o decreto fascista, uma das tarefas essenciais do movimen
to
sindical revolucionário no futuro imediato; é preciso conseguir
que
os sindicatos recusem categoricamente em se inclinar diante
desse
decreto aproveitando-se notadamente do fato de que o mesmo
não
proíbe expressamente a existência de sindicatos "não reconhecidos",
apesar de recusar a capacidade jurídica dos mesmos,
Importa sublinhar ainda a grande importância, no Brasil, da
ação levada a efeito nas organizações sindicais inimigas (anarquis
tas,
reformistas, trotskistas, aliancistas, prestistas, católicos, e mesmo
con-
servadores), uma vez que agrupam em suas fileiras massas operárias
.
É preciso combater resolutamente toda tentativa de subestim
ar e
negligenciar esse tipo de trabalho, desvio que infelizmente
ainda não
desapareceu do movimento sindical revolucionário; em todos
esses
sindicatos devem ser organizados grupos de oposição na medida
em
que possuem um número considerável de aderentes, entre
eles os
Company Unions.
É preciso que esses grupos se apóiem, como no caso dos sindi-
catos, sobre suas células de base nas empresas. Sua ação deve
estar
estreitamente ligada à dos Sindicatos Revolucionários e de sua
Central,
a C.G.T. Denunciar-se-á em todas essas organizações as traições
dos
chefes amarelos, mostrando sua maneira de agir na luta reivindic
ativa
dos trabalhadores.
É preciso que a influência do movimento sindical revolucio
nário
seja cimentada por um trabalho de organização. E seria um
erro
limitar-se às cidades. A organização dos sindicatos dos assalaria
dos
agrícolas continua a ser um dos mais importantes problema
s do
movimento sindical revolucionário no Brasil. O reforço desse
movi-
mento não é possível senão com a condição de que se transport
e o
pivô de todo o trabalho sindical nas empresas, instituindo
em todas
as usinas, minas, plantações, células ou sessões sindicais
de base,
órgãos da frente única, dos comitês de luta e de usina.
A reorganização da estrutura orgânica exige, por outro lado,
que
se continue a impelir arduamente para os postos de direção,
os
revolucionários que se distinguiram na luta.
Deve-se prestar muita atenção ao recrutamento das operárias
e da juventude operária nos sindicatos e na organização
dos operá-
rios negros, sobretudo no Norte. Os sindicatos revolucionários
devem
levantar seriamente o problema do trabalho entre os operários
estran-
geiros. As classes dominantes querem a cisão, a decompos
ição do
movimento operário, e por isso fazem dos operários
estrangeiros os

347
sr pranBss va.GNC.EEE, 820114085 om col, p. Sa

"bodes expiatórios", reduzindo-os a condições extremamente penosas.


É preciso demonstrar aos operários brasileiros que a manobra diabó-
lica dos ditadores liberais atinge também os seus interesses e que não
se poderá resistir eficazmente à nova ofensiva capitalista se não houver
uma aliança dos proletários nacionais e estrangeiros.

(Henri J-n, Le mouvement syndical révolutionnaire


du Brésil et ses objectifs. L'Internationale Syndicale
Rouge, n.o 14, julho de 1931).

4) O Congresso dos Colonos Assalariados Agrícolas (1930)

Camaradas!

O Congresso dos Operários Agrícolas e Colonos se reuniu numa


hora de terror e reação do governo brasileiro, pago pela burguesia
e os fazendeiros, e se dirige a propósito dos seus trabalhos a todos os
operários do campo do Brasil.
Na própria sessão pública do Congresso os camaradas tiveram
uma prova de que o governo só se interessa pela defesa dos ricos.
Operários Agrícolas e Colonos de várias fazendas assistiram com os
seus próprios olhos os agentes do governo de armas em punho, com
brutal violência, prenderem os nossos camaradas que dirigiam o
Congresso, entre eles o Secretário Geral da Confederação Geral do
Trabalho do Brasil, o camarada Minervino de Oliveira, que é o
candidato revolucionário do Bloco Operário e Camponês à presidência
da República.
Mas o Congresso realizou-se. Antes da sessão pública ele se
reuniu reservadamente em local ignorado pela polícia. E tomou todas
as resoluções necessárias para orientar os trabalhadores e colonos, e
fundou o Sindicato dos Trabalhadores e Colonos, organização de
luta do proletariado do Campo do Brasil contra a opressão dos fazen-
deiros, pela libertação dos trabalhadores.

Camaradas!

Vivemos um regime de escravidão. Toda a vida passamos em


condições insuportáveis, trabalhando de sol, por um salário miserável
que só dá para morrer de fome. Nossas mulheres e nossos filhos
morrem doentes, sem nenhum direito.
Essa situação se agravou ainda mais nos últimos tempos. Os
fazendeiros e os imperialistas que querem lucros cada vez maiores,
fizeram a política de especulação chamada VALORIZAÇÃO -
provocando a crise do café e de todos os ramos da economia.

348
ar oranasa va.enc.eEE, 2 20
LL OS q; qa ip: 394

A burguesia ligada aos imperialistas ingleses e


americanos só
pensa em resolver a crise nas costas dos trabalhadores.
Nas fazendas
de café diminuiram o salário de 40%; nas fábricas
de tecidos diminuem
o salário de 20% e aumentam de 2 horas o horário
de trabalho; assim
por diante em todas as indústrias.

Camaradas!

É preciso compreender que a burguesia e o


governo em nada
vão ajudar o proletariado. Ambos os partid
os burgueses procuram
uma maneira de enganar a classe trabalhadora
e fazê-la votar em seu
favor.
A única solução certa para o proletariado é
confiar somente em
suas forças. Só com a luta constante e encarn
içada para melhorar
a situação, ligando-a com a luta política do
proletariado da cidade e
do campo e com os camponeses, poderemos
livrar-nos de nossa
miséria.

Poderemos Livrar-nos!

O Congresso convida a todos os operários


agrícolas e colonos a
se organizarem em comitês de fazenda, e aderir
em ao Sindicato dos
Trabalhadores Agrícolas e Colonos, ultimament
e criado para a LUTA.
Viva a luta de classes dos operários do
campo e da cidade!. ..
Viva o proletariado do campo do Brasil.
Viva o Comitê Intersindical do Estado de
São Paulo! . es
Viva a Confederação Geral dos Trabal
hadores Agrícolas e
Colonos! . . .
Viva a Confederação Sindical Latino : Americ
ana! . . .
Abaixo o Governo burguês, sustentado pelos
exploradores e pelo
imperialismo!
A Mesa do Congresso dos Operários Agríco
las de Ribeirão Preto.

As reivindicações

O Congresso só teve a possibilidade de adotar


as reivindicações
mais urgentes, especialmente as referentes
à luta contra as conse-
quências da crise. A realização da sessão
legal, estabelecendo um
contrato mais detalhado das reivindicaçõ
es, mas a reação policial a
impediu. Cabe ao Sindicato dos Trabalhadore
s' Agrícolas e Colonos,
que tem agora amplas possibilidades de contat
o direto com os traba-
lhadores, estudar um programa mais largo
de reivindicações. .
Eis as reivindicações adotadas:
a) Pelo pagamento integral e imediato dos
contratos findos em
Outubro de 1929;

349
Samoa l ; p ,3SS
sr oraness vs.enc.eEE 82 d Li 4 o

b) pelo pagamento dos contratos na mesma base do ano anterior;


c) casas higiênicas com água e luz elétrica, retirada das ester-
s;
queiras e mangueiras, bem como outras providências higiênica
d) fornecimento de médicos e medicam entos gratuitos ;
bem
e) liberdade aos colonos de vender os seus produtos a quem
entender;
ros, por
f) pelo contrato direto entre os colonos e os fazendei
de assalaria dos agrícolas e colonos;
intermédio das organizações
dos colonos;
g) pela livre plantação nos cafezais em benefícios
dentro das
h) abolição de todo e qualquer trabalho gratuito
fazendas ou fora delas;
ão e de livre
i) pelo direito de associação, de reunião, de locomoç
manifest ação de pensame nto;
j) pelo direito de receber visitas;
e trabalha-
k) fornecimento de passagens gratuitas aos colonos
voltarem ao lugar de origem ou outro que eles
dores agrícolas para
acharem mais conveniente; o
de colonos
1) pelo direito de eleição nas fazendas de um comitê
para resolver em todas as questões que
e «trabalhadores agrícolas
surgirem entre os trabalha dores e os fazendei ros;
e do
m) pelo seguro contra o desemprego à custa do Estado
Patrimônio, calculado por um mínimo necessár io à vida;
n) pela anulação de todos os encargos aos desocupados (dívidas,
o de despejos
aluguéis, água, luz, impostos etc.) assim como suspensã
e todas as medidas judiciárias semelhantes;
e
0) aplicação da lei de férias, acidentes e outras aos colonos
trabalhadores agrícolas;
l;
p) para os diaristas, 8 horas de trabalho, e pagamento quinzena
q) o colono não pode ser obrigado a trabalha r 'como diarista.
o
E, quando o consentir, deverá ganhar o mesmo salário que ganhou
diarista.
(A Classe Operária, 22.02.1930).
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