Recolha Teste 12º Mensagem e Manuel Da Fonseca

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 5

D.

João o Primeiro

O homem e a hora são um só


Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.

5 Mestre, sem o saber, do Templo


Que Portugal foi feito ser,
Que houveste a glória e deste o exemplo
De o defender,

Teu nome, eleito em sua fama,


10 É, na ara da nossa alma interna,
A que repele, eterna chama,
A sombra eterna.
PESSOA, Fernando (2015). Mensagem. Lisboa: Assírio & Alvim, p. 25.

1. Interprete o sentido dos dois primeiros versos do poema. (28 pontos)


“O homem e a hora são um só/Quando Deus faz e a história é feita”.(vv. 1-2) Esta
passagem dá a entender que é o homem que acha, que faz o seu destino -“O homem e
a hora são um só”, no entanto Deus é que o comanda “Quando Deus faz”. Apesar de a
última escolha ser do homem, ele precisa de Deus para lhe mostrar o caminho e assim,
é Deus quem, inexoravelmente, rege a História.

2. Explicite o valor simbólico atribuído a D. João I. (28 pontos)


O poeta retrata o rei como alguém eleito por Deus e também como um grande
homem e guerreiro que fez de tudo para salvar o país - “Que houveste a glória e deste
o exemplo/ De o defender.” (vv. 7-8). D. João foi Mestre sem saber, defensor do
Templo sagrado da Pátria e é a “eterna chama” de Portugal.

3. Analise o contraste que estrutura os versos 11 e 12. (28 pontos)


“Teu nome, eleito em sua fama,/É, na ara da nossa alma interna,/A que repele, eterna
chama,/ A sombra eterna.” (vv. 9-12). Nesta última estrofe encontramos e
confirmamos a imortalização do Rei. Através da antítese “eterna chama”/ “sombra
eterna”, transmite-se a ideia que D. João I nunca será esquecido e estará sempre vivo
em todos os portugueses (eterna chama). No entanto, fisicamente ele já não está
entre nós, está morto (sombra eterna).

OU

1. A primeira quadra apresenta uma conceção messiânica da História. Justifique a


firmação.
A primeira quadra apresenta através de afirmações de natureza axiomática, a atuação do
homem ( herói)como decorrente do desejo divino. “Quanto deus faz” através do “homem” “a
história é feita”. É essa conjugação do espírito celeste com o anseio dos predestinados que
leva aos grandes feitos e garante a imortalidade (o mito) , pois a matéria é perecível: “O mais é
carne, cujo pó/A terra espreita.”, (vv.3-4)
2. Destaque a relevância do modificador do nome “sem saber” (v.5) na caracterização de
D. João I.
O modificador realça a predestinação do herói que, desconhecendo as implicações futuras da
sua atuação, veio a iniciar uma nova época na História de Portugal e uma nova geração que
conduziu à expansão.

3. Refira o efeito de sentido produzido com a utilização da segunda pessoa.


Com o uso da segunda pessoa, o sujeito poético dirige-se diretamente a D. João I, o seu
interlocutor, estabelecendo com ele uma relação de proximidade e cumplicidade.

Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.

5 A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano

10 Ensinam estas quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

15 Só encontrará de Deus na eterna calma


O porto sempre por achar.

Fernando Pessoa, in Mensagem, Ed. Ática

Nota:
Diogo Cão: navegador português do século XV que descobriu o estuário do rio Zaire, atingindo o limite
meridional de Angola.
Padrão: marco de pedra com as armas portuguesas e uma inscrição, destinado a afirmar a soberania
portuguesa no local onde era deposto.

1. Indique as funções atribuídas ao "padrão" neste poema. (28 pontos)


Várias são as funções atribuídas, neste poema, ao "padrão". Como marco sinalizador
que é, ele surge com a função de assinalar a passagem de Diogo Cão ( "Eu, Diogo Cão,
navegador..." - v. 2) pelo "areal moreno" ("... deixei // Este padrão ao pé do areal
moreno" - vv. 2-3), dando, assim, conhecimento de que a parte da "obra ousada" que
competia ao navegador cumprir foi feita. (6 pontos) Outra função do padrão era
testemunhar, pelas "Quinas" gravadas no monumento, o domínio português das terras
que iam sendo descobertas (6 pontos). Finalmente, podemos descortinar uma terceira
função do padrão: manifestar, através da "Cruz" que encima o próprio "padrão", a
transcendência do objetivo último da navegação do "eu", mais concretamente, a
demanda de Deus. Difundir a fé cristã pelos vários cantos do mundo era anunciado,
com efeito, como a finalidade principal dos Descobrimentos (6 pontos). É claro que, no
fundo, isso não passava de mera propaganda, dado que a primazia estaria mais
voltada para os interesses económicos, mas numa sociedade tão profundamente
religiosa como era a da altura, convinha, naturalmente, acenar com a bandeira da
difusão do cristianismo!... (6+6+6= 18 pontos)

2. Comente o significado dos versos: "Que o mar com fim será grego ou romano:/ O
mar sem fim é português" (vv. 11-12). (28 pontos)
A contraposição entre o "mar com fim", que é "grego ou romano" e o "mar sem fim",
que é "português", consubstancia um enaltecimento das viagens marítimas dos
Portugueses, afirmando a sua superioridade relativamente às dos povos da
Antiguidade Clássica (6 pontos). Estes últimos dominaram apenas o conhecido, o "mar
com fim, o Mare Nostrum (6 pontos), enquanto os Portugueses se apropriaram do
desconhecido, do "mar sem fim", que foram desvendando, acentuando-se, assim, a
sua dimensão épico-heroica (6 pontos). (6+6+6=18pontos)

3. Descreva o retrato que o sujeito poético faz de si mesmo. (28 pontos)


Como traços mais relevantes do auto-retrato do sujeito poético, podemos apontar: a
ânsia e a exaltação de navegar que o impelem invariavelmente "para diante", na busca
do "porto sempre por achar" (6 pontos); o sentimento de insatisfação pela
imperfeição da sua obra e, contrastivamente, o seu desejo de alcançar a perfeição; a
tomada de consciência dos limites humanos, mas ao mesmo tempo o orgulho pela
obra realizada (6 pontos), ainda que não totalmente perfeita (a perfeição não é
própria do "homem"; a grande força de vontade e determinação, aliadas à capacidade
de esforço, de auto-superação; a ida para "diante", por estar ciente de que a obra
realizada / a realizar tem uma dimensão transcendente e colectiva).
Nota-se, ainda, que ele nutre um sentimento de respeito e de fascínio pelo oceano, tal
como se evidencia a sensação do dever cumprido (6 pontos) - "Que, da obra ousada, é
minha a parte feita:" (v. 7). Tudo o que ainda está "por-fazer", isso, segundo ele,
depende exclusivamente de Deus - "O por-fazer é só com Deus." (v. 8).
(6+6+6=18pontos) Nota: referir no mínimo 3 aspetos.
Lê atentamente o seguinte excerto do conto Sempre é uma companhia, de Manuel da
Fonseca.

Tais momentos de ira são pedaços de revolta passiva contra a mulher. É uma longa luta, esta.
A raiva do Batola demora muito, cresce com o tempo, dura anos. Ela, silenciosa e distante,
como se em nada reparasse, vai-lhe trocando as voltas. Desfaz compras, encomendas,
negócios. Tudo vem a fazer-se como ela entende que deve ser feito. E assim tem governado a
casa. Batola vai ruminando a revolta sentado pelos caixotes. Chegam ocasiões em que nem
pode encará-la. De olhos baixos, põe-se a beber de manhã à noite, solitário como um
desgraçado. O fim daquelas crises tem dado que falar: já muitas vezes, de há trinta anos para
cá, aconteceu a gente da aldeia ouvir gritos aflitivos para os lados da venda. Era o Batola,
bêbado, a espancar a mulher. Tirando isto, a vida do Batola é uma sonolência pegada. Agora,
para ali está, diante do copo, matando o tempo com longos bocejos. No estio, então, o sol faz
os dias do tamanho de meses. Sequer à noite virá alguém à venda palestrar um bocado. É
sempre o mesmo. Os homens chegam com a noitinha, cansados da faina. Vão direito a casa e
daí a pouco toda a aldeia dorme.

Manuel da Fonseca, «Sempre é uma companhia», in O Fogo e as Cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011.

✓ Responde corretamente às questões que te são apresentadas:

1. Explica o motivo desta já longa e cada vez mais intensa revolta de Batola contra a mulher.

2. Apresenta e justifica a reação da mulher face aos sentimentos do marido.

3. A vida do Batola decorre entre a raiva e a sonolência. Expõe, justificando, a tua perspetiva
sobre a possível relação entre os dois factos.

Você também pode gostar