17635-Texto Do Artigo-67513-1-10-20221123
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Dennis Castanheira1
Cristiane Dall’ Cortivo Lebler 2
Resumo: Este artigo, de cunho teórico, tem como objetivo discutir possibilidades de interface
da Linguística de Texto (LT) com outras perspectivas teórico-práticas. Para isso, serão
considerados os pressupostos basilares da LT, abordagem sociocognitiva e interacional que
tem como foco o estudo das relações textuais de forma contextualizada, em diálogo com o
Funcionalismo norte-americano, a Semântica Argumentativa e o Ensino de línguas. Será
considerada a fundamentação de cada abordagem a partir de alguns dos seus teóricos mais
relevantes e das metodologias tipicamente empregadas a fim de apresentar as possibilidades
investigativas de cada interface.
Résumé : Le but de cet article est de discuter les possibilités d’interface entre la Linguistique
Textuelle (LT) et d’autres perspectives théoriques. Pour cela, seront considérées les
hypothèses de base de la Linguistique Textuelle, qui se caractérise comme une approche
sociocognitive et interactionnelle sur l’étude des relations textuelles. Les possibilités de
dialogue se construisent au tour du Fonctionnalisme Américain, de la Sémantique
Argumentative et de l’enseignement des langues. La raison d’être de chaque approche sera
examinée par certains de ses théoriciens les plus pertinents et par des méthodologies
généralement utilisées afin de présenter les possibilités d’investigation de chaque interface.
Introdução
Diante da análise do Quadro 1, percebemos que tais teorias podem ser claramente
ligadas, e que há muitas questões a serem observadas. Em novas pesquisas, podem ser
analisados esses pontos e considerados outros fenômenos a fim de serem abarcados outros
pressupostos fundamentais. É preciso, ainda, efetuar trabalhos comparativos com outras
línguas, outros gêneros textuais, suportes e domínios discursivos, e com outras escolhas
metodológicas para que tenhamos, então, uma multiplicidade de estudos a serem
considerados, examinados e divulgados acerca dessa interface.
Por outro lado, o estabelecimento do conceito de polifonia por Ducrot (1987) trouxe
várias repercussões aos estudos do texto e do discurso ao questionar a unicidade do sujeito
3 Registramos aqui duas importantes fontes de pesquisa de trabalhos desenvolvidos com base na Semântica
Argumentativa, desde a década de 1960 até os dias atuais: o site https://semanticar.hypotheses.org/ e, mais
recentemente, o evento Colenarg – Colloque International Énonciation et Argumentation, cujas atividades se
deram de forma online e podem ser acessadas no canal homônimo na plataforma Youtube – registros completos
do evento disponíveis em https://colenarg.paginas.ufsc.br/
falante. Para Ducrot (1987) e Ducrot e Carel (2008), os enunciados não têm apenas um único
sujeito responsável, mas manifestam pelo menos três instâncias enunciativas distintas: o
sujeito falante, ser de carne e osso responsável pelos movimentos psicofisiológicos que deram
origem ao enunciado; o locutor, responsável discursivo pelo enunciado, que pode ser distinto
do sujeito falante; e os enunciadores, origem das diferentes vozes que podem ser mobilizadas
em um enunciado 4. O locutor, por sua vez, toma diferentes atitudes em relação a esses
enunciadores, assumindo, concordando ou se opondo aos pontos de vista apresentados.
Dado esse amplo panorama, que aponta as duas grandes vertentes de análise a partir da
Semântica Argumentativa, convém evidenciar as possibilidades de intersecção entre esta
abordagem teórica e a LT. Assim, alguns trabalhos desenvolvidos, sobretudo nas décadas de
1970 e 1980, por Oswald Ducrot, configuram-se como importantes pontos que criaram o
cenário para que a intersecção entre essas duas teorias tivesse lugar. Citamos os vários
trabalhos de Oswald Ducrot sobre os chamados operadores argumentativos, tais como sobre o
par pouco e um pouco (DUCROT, 2005), sobre a conjunção mas (DUCROT, et. al., 1980;
DUCROT; VOGT, 1979; DUCROT, 1998), e sobre as escalas argumentativas (DUCROT,
1980).
Desse breve panorama dos trabalhos de Ducrot, podemos apontar que a aproximação
entre a LT e a Semântica Argumentativa se deu em duas direções: a primeira delas teve início
sobretudo nos trabalhos de Ingedore Koch, principalmente pela obra Argumentação e
Linguagem ([1984]/2002), a qual reúne comunicações apresentadas pela autora, artigos e
capítulos de sua tese de doutorado, publicada em número exclusivo na Revista Letras de
Hoje. Nessa obra, Koch ([1984]/2002) assume que a argumentatividade é uma propriedade
intrínseca da linguagem, porque o homem usa a língua como uma forma de agir em
sociedade, ou, nas palavras da autora, “[...] a linguagem deve ser encarada como uma forma
de ação, ação sobre o mundo dotada de intencionalidade [...]” (KOCH, [1984]/2002, p. 15,
grifos da autora).
Embasada não apenas na Semântica Argumentativa, mas em outras correntes dos
estudos da linguagem, como a Retórica e a Pragmática, tanto o número especial de Letras de
Hoje (1983) quanto Argumentação e Linguagem (1984) apresentam robustas fundamentações
teóricas e reflexões sobre elementos como os tempos verbais, a pressuposição, as relações de
modalidades do discurso, os operadores argumentativos, a polifonia e a autoridade polifônica,
entre outras.
4 Cabe destacar que desde 2010, a Teoria da Polifonia vem passando por inúmeras reformulações, a
exemplo de Carel (2010a; 2010b; 2012ª; 2012b;2018).
A questão da argumentação e dos operadores argumentativos permaneceu como um
grande tema de interesse da LT, muitas delas voltadas para questões práticas, como a leitura e
a escrita, como Koch e Elias (2006) e Koch e Elias (2009) e Koch e Elias (2016), nas quais
tomam-se a leitura, a escrita e a argumentação como objetos. Em Koch e Elias (2016)
encontram-se definições, classificações e exemplos de operadores a partir de duas noções
definidas por Ducrot: as classes argumentativas e as escalas argumentativas.
A importância desses marcadores está justamente no papel textual – e até mesmo
enunciativo – que desempenham, uma vez que podem dar ao texto inúmeros matizes
semânticos e enunciativos: colocar em perspectiva argumentos com forças argumentativas
diferentes para uma mesma conclusão (ex.: até mesmo, inclusive, até), introduzir uma
oposição (mas, porém, apesar de), inserir uma justificativa (porque, já que, visto que),
conduzir uma comparação (mais... (do) que; tão.... quão), entre inúmeras outras funções.
Em relação ao conceito de polifonia, vale destacar a obra Intertextualidade: diálogos
possíveis (KOCH; BENTES; CAVALCANTE, 2008), em que as autoras colocam em paralelo
essas duas importantes noções. Para as autoras, a polifonia é mais ampla que a
intertextualidade, pois, na intertextualidade, faz-se necessária a presença de um intertexto,
cuja fonte pode ou não estar explícita; já na polifonia, basta que haja uma encenação na qual
sejam depreendidas diferentes perspectivas ou pontos de vista. Exemplos de polifonia como a
negação, a ironia, o futuro do pretérito, os marcadores pressuposicionais ilustram a definição
apresentada e as formas que toma no discurso.
Considerações finais
Referências bibliográficas