Guia Didatico Apocalipse
Guia Didatico Apocalipse
Guia Didatico Apocalipse
DENILSON MATOS
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4
2
3.2.1 Abordagem Futurista ............................................................................... 31
CONCLUSÃO .................................................................................................. 66
3
Introdução
4
Bons estudos!
Prof. Denilson Matos.
DIASPORA
ANTIOQUIA
PALESTINA
IMPÉRIO ROMANO
ROMA
ARQUELAU FILHO DE HERODES
6
dizendo que não o poderia fazer sem ofender o imperador. Mas
como eles continuavam a insistir, ordenou aos seus soldados,
no sétimo dia, que secretamente se conservassem em armas e
subiu em seguida ao tribunal que mandara erguer de propósito
no local dos exercícios públicos, porque era o lugar mais
apropriado para escondê-los (G.J 2.224-227; Ant.20.105-12)
7
Judeia e ordenou que Pilatos fosse se explicar perante o imperador Tibério, na
cidade de Roma. Assim, Pilatos teve de se dirigir à Roma após dez anos de
governo da Judeia.
8
Após tomar diversos espaços público e religiosos, os rebeldes se viram
cercados pelos romanos. Nero encarregou o general Flávio Vespasiano para
conter e submeter os rebeldes com fortes meios militares. Segundo Gunneweg,
Por ocasião de uma guerra civil que eclodira em Roma, após o suicídio de
Nero (68), o general Vespasiano foi nomeado imperador e em um dos seus
primeiros atos oficiais foi nomear seu filho, general Tito, para cuidar da repressão
da Revolta Judaica. Tito começou o sítio de Jerusalém na primavera do ano 70
d.C. No mês de junho do ano 70 d.C., caiu a fortaleza Antônia, e em agosto, o
recinto do templo. O templo foi consumido pelas chamas e os conquistadores
promoveram um banho de sangue entre os últimos defensores.
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O Cristianismo Primitivo ganha seu contorno fundamental na diáspora.
Desde os primeiros anos que sucederam a morte de Jesus, os primeiros cristãos
seguiram à risca a ordenança de seu mestre e buscaram ocupar os diversos
lugares do primitivo império romano, em especial na Ásia Menor. Com a missão
proposta pela Igreja de Antioquia, lideradas por Barnabé e Paulo, o mundo
ocidental foi alcançado rapidamente, tendo como exemplos citados no Novo
Testamento até mesmo nas regiões interioranas da Ásia havia a presença de
comunidades cristãs. Com a destruição de Jerusalém, e consequentemente com
o fim da Igreja cristã em Jerusalém, as diversas igrejas da diáspora ganharam
força no processo de evangelização e formação do cristianismo primitivo. Com
esse avanço da igreja nas províncias imperiais começaram os conflitos com os
judeus e consequentemente com o império romano, a ponto de causar distúrbios
e conflitos mais severos. Esse capítulo tem como objetivo estudar justamente
esse período de avanço da igreja, mas, também delinear as principais dificuldade
e conflitos enfrentados pelos primeiros cristãos tanto com judeus quanto com o
império romano.
Desde o 6º século a.C havia muitos judeus que não viviam na Palestina.
Esse fator se torna importante na transição do 1º século a.C ao 2º século d.C.
Depois do exílio babilônico, muitos judeus já ocupavam lugar de destaque em
diversos lugares tanto no Oriente, como no Ocidente. Essas comunidades que
já se estabeleceram há séculos na Ásia Menor, destacavam-se por sua
aproximação com a cultura helênica.
10
Dentro de certos limites, Roma incentivou, pois, o Império tinha
interesse em que seus diversos súditos pensassem que, ainda
que seus deuses tivessem diferentes nomes e atributos, no final
das contas eram todos os mesmos deuses. Ao Panteão Romano
foram se acrescentando deuses provenientes das diversas
regiões (GONZALES, 1995, p.25).
11
Tácito e Plínio, o Moço, que não expressam diretamente indícios de perseguição
geral contra os cristãos.
Nos dois primeiros séculos, as comunidades cristãs eram mal vistas pela
sociedade romana, por não participarem das reuniões e eventos cívicos, e, por
causa de suas “abominações” e “ódio da raça humana”, como afirma Tácito,
foram acusados de serem os causadores de problemas circunscritos, tal como o
incêndio de Roma no ano 64, e por isso foram perseguidos.
12
anonimamente e serem perseguidos pelas autoridades romanas, como
demonstrado na correspondência de Plinio a Trajano.
Entre o ano 64 e 112 d.C. a acusação contra os cristãos, afirma Croix, era
simplesmente porque diziam-se cristãos, punidos unicamente por causa do
nome. O exemplo no qual ele se baseia para tal afirmação é a correspondência
entre Plinio e o imperador Trajano. Ao se referir aos acusados trazidos diante
dele, Plinio diz: “Aqueles que foram acusados de serem cristãos”. Croix observa
que, ao interrogá-los, Plinio simplesmente perguntava se confirmavam serem
cristãos. A reposta de Trajano sobre os que foram acusados é a seguinte: “quem
negar ser cristão e sacrificar aos deuses deve ser livre”. Assim, Croix (1963, p.9)
sustenta que os primeiros cristãos foram acusados e condenados simplesmente
por serem cristãos.
Além disso, outra proposta é sugerida por alguns escritores, diz Croix. Ela
está fundamentada em textos do Novo Testamento, como Apocalipse de João e
I Pedro, supondo que a causa da proibição da “seita cristã” está relacionada com
a negação em participar do culto imperial forçado na Ásia Menor, no tempo de
Domiciano/Nero. Portanto, a acusação contra os cristãos seria de deslealdade
política. Croix (1963, p.10), todavia, não considera aconselhável colocar muito
peso sobre tais fatos, embora acredite que, sem dúvida, alguns cristãos em
Pérgamo sofreram a morte por não tributarem culto ao imperador, como descrito
no Apocalipse de João.
Não há como determinar, antes do terceiro século, quais foram as leis que
fundamentaram a perseguição aos cristãos por parte dos romanos. Dentre as
possibilidades, Luís Alberto de Boni (2014, p.135-168) reconhece três opiniões
diferentes na pesquisa.
A primeira opinião, citada pelo autor, afirma que tal prática contra os
cristãos se baseou numa legislação especial, um senatus consultum ou um edito
imperial. Para De Boni, esta teoria não se sustenta por dois motivos:
primeiramente, Tertuliano menciona em sua obra Apologeticum 4,7: “uma antiga
e confusa floresta de leis” utilizadas contra os cristãos. Por fim:
ela também não explica por que até o edito de Décio, em 250,
só houve esporádicas ações contra os cristãos e por que
também os demais autores cristãos, que sustentaram a
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existência de uma lei persecutória, não souberam citar qual foi
esta lei (DE BONI, 2014, p.140).
Uma terceira posição aceita nos últimos tempos pela maioria dos
estudiosos, atesta o autor, compreende esse ato hostil como punição por parte
do poder policial, em defesa da ordem pública. Assim:
14
CAPÍTULO 2 – APOCALIPSE:CONTEXTO
LITERÁRIO: AUTOR E DATA
2.1 AUTORIA
15
foi sugerido por Dionísio, o Grande, que foi bispo de Alexandria em meados do
século terceiro:
Há, portanto, ainda outro João nos Atos dos Apóstolos, com o
sobrenome de Marcos (At 12,25), que Barnabé e Paulo tomaram
consigo e do qual diz ainda a Escritura: “Tinham consigo, como
auxiliar, João” (At 13,5). Se é este que escreveu o Apocalipse,
não é muito claro. Pois não está escrito que tenha ido com eles
à Ásia, mas: De Pafos, onde embarcaram, Paulo e os seus
companheiros alcançaram Perge, na Panfília. João, porém,
deixou-os para voltar a Jerusalém” (At 13.13) (EUSÉBIO, H.E,
7.25,15).
Dionísio, portanto, nega sua própria hipótese quando atesta que este João
não conheceu a região da Ásia Menor, berço do Apocalipse. Porém, isso não
significava que Dionísio concordava com a autoria do Apóstolo João, pelo
contrário, afirmava que o Apóstolo não pode ser identificado como o autor do
livro por pelo menos três motivos, como aponta Carson, Moo e Morris (2017,
p.521):
Para ele, supostamente o livro de Apocalipse foi escrito por outra pessoa
de nome “João”, pois ele tinha ouvido dizer que em Éfeso havia dois túmulos de
cristãos importantes com o nome de João: “Penso ser o autor outro, dentre os
que estavam na Ásia, porque se conta que há em Éfeso dois túmulos, um e outro
ditos de João (EUSÉBIO, H.E, 7.25,16)”.
16
Batista teve antes de Jesus começar seu ministério; em seguida,
os capítulos 12-22 foram produzidos por um de seus discípulos
antes de 70 d.C.; por fim, os capítulos 1-3, compostos por um
editor final.
Quanto a Cerinto, parece que a autoria foi atribuída a ele devido ao conflito
dos Alogoi e Gaio com os montanistas, na tentativa de desvalorizar o movimento
e o livro de Apocalipse. Não há, contudo, bons indícios que atestem essa
associação.
17
cujo nome era João, um dos apóstolos do Senhor, profetizou através de
Revelação, afirmando que aqueles que acreditam em Cristo habitarão por mil
anos na cidade de Jerusalém” (Ap 20,4-6) (JUSTINO, Dial. 81). Além de Justino,
Irineu (Contra as Heresias 4.14.1; 5.26.1), Tertuliano (Contra Marcião 3.14,24) e
Clemente de Alexandria (Miscelâneas 6.106,7) afirmaram que o apóstolo João
escreveu Apocalipse, e que não existia nenhuma tradição rival antiga quanto à
autoria. Assim, não devemos rejeitar tão depressa a tradição da Igreja primitiva,
tendo em vista que os argumentos contrários podem ser explicados, como
aponta Bloomberg (2019, p.662):
2.2 DATA
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Escritos cristãos antigos e a data de Apocalipse
Fontes que datam Apocalipse segundo um
Imperador Governou em
imperador
Cláudio 41-54 Epifânio (.Haer. 51.12)
Nero 54-68 Versões siríacas de Apocalipse
Irineu (Adv. Haer. 5.30.3)(“perto do final do
reinado de Domiciano”; Vitorino (Apoc. 10.11);
Eusébio (H.E 3.18); Clemente de Alexandria
Domiciano 81-96
(Quis div. 42) e Origines (Matt. 16.6) situam o
Apocalipse no reinado do “tirano”, numa
provável referência a Domiciano.
Uma sinopse da vida e morte dos profetas
Trajano 98-117 atribuída a Doroteu; o comentário de Teofilacto
sobre Mt 20.22
19
Nero (37-68 d.C.): Nero chegou ao poder em
outubro de 54 após a morte de seu tio Claudio, que
o nomeara como seu sucessor. Nos primeiros anos
de seu governo Nero não cometeu os crimes pelos
quais ficou famoso, pelo contrário, seu governo foi
justo e de benefícios para os mais pobres e
despojados.
Nero, assim, fez de tudo para afastar as acusações e suspeitas contra sua
pessoa, dentre as tentativas acusou os cristãos pelo incêndio de Roma, tendo
em vista que dois dos quatro bairros que não haviam queimado concentravam
mais judeus e cristãos. O próprio Tácito afirma que a acusação contra os cristãos
foi injusta (Anais 15.44). Ele descreve a crueldade com que os cristãos foram
tratados após as acusações de Nero:
20
Além de matá-los (aos cristãos) fê-los servir de diversão para o
público. Vestiu-os em peles de animais para que os cachorros
os matassem a dentadas. Outros foram crucificados. E a outros
acendeu-lhes fogo ao cair da noite, para que a iluminassem.
Nero fez que se abrissem seus jardins para esta exibição, e no
circo ele mesmo ofereceu um espetáculo, pois se misturava com
as multidões, disfarçado de condutor de carruagem, ou dava
voltas em sua carruagem. Tudo isto fez com que despertasse a
misericórdia do povo, mesmo contra essas pessoas que
mereciam castigo exemplar, pois via-se que eles não eram
destruídos para o bem público, mas para satisfazer a crueldade
de uma pessoa (Anais 15:44).
21
limitados à Roma, e os eventos do Apocalipse destacam a região da Ásia Menor.
No caso de uma data no período de governo de Domiciano, as várias referências
históricas espalhadas pelo Apocalipse (1.9; 2.13; 3.10; 6.9; 17.6; 18.24;19.2;
20.4) se encaixam melhor na década de 90. Assim, as perseguições não são
suficientes para datar precisamente a obra, tendo a necessidade de considerar
outros aspectos e informações importantes.
22
Alguns autores pressupõem que o culto imperial desempenha um papel
proeminente no livro de Apocalipse, por esse motivo se atrela a perseguição aos
cristãos presente no livro como sendo originária do conflito com o culto ao
imperador (Cap. 2 e 3; 13.4; 14.9-11; 15.2; 16.2; 19.20). É importante ressaltar,
conforme aponta Carson, Moo e Morris (2017, p.528),
(4) as referências à “sinagoga de Satanás” (2.9; 3.9) podem ser mais bem
23
(5) é possível que a igreja de Esmirna (2.8-11) ainda não existisse na
década de 60;
(6) a “ferida mortal que havia sido curada” (13.3,12,14) pode muito bem
24
CAPÍTULO 3 - CONTEXTO LITERÁRIO: GÊNERO
LITERÁRIO, MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO,
UNIDADE E ESTRUTURA
25
apocalipses cultivam um descrédito dos valores tradicionais, como, no caso, a
obediência à Torá como elemento fundamental para livrá-los dos impérios
opressores, pelo contrário, a história havia demonstrado o domínio dos Assírios,
Babilônios e Persas (COLLINS, 2010, p. 55-61).
O ser humano não consegue chegar a ele sem uma mediação necessária
e desde que transformações sejam feitas. O mundo está, assim, tomado por
forças antagônicas e se desenrola uma árdua batalha que representa uma não-
reconciliação (NOGUEIRA, 2008, p. 20). A história humana é compreendida,
portanto, a partir desta tensão entre oponentes. A única alternativa é a ruptura,
o fim, o juízo.
26
Stuart (2011, p.301-302) destacam as características em comum entre os textos
apocalípticos do judaísmo intertestamentário e o Apocalipse de João:
27
4) As figuras de linguagem da apocalíptica frequentemente são
expressões de fantasia, e não de realidade. Em contrapartida, os
profetas não apocalípticos também faziam uso regular da
linguagem simbólica. Todavia, esse uso, com mais frequência,
envolvia figuras reais como, por exemplo, o sal (Mt 5.13), os
abutres e os cadáveres (17.37), pombas insensatas (Os 7.11),
pães mal assados (Os 7.8), et al. A maior parte das figuras da
apocalíptica, no entanto, pertence à fantasia — como, por exemplo,
uma besta com dez chifres e sete cabeças (Ap 13.1), uma mulher
vestida de sol (Ap 12.1), gafanhotos com caudas de escorpiões e
com cabeças humanas (Ap 9.10), et al. A fantasia não aparece
necessariamente nos itens propriamente ditos (sabemos o que são
bestas, cabeças e chifres), mas sim em sua combinação
sobrenatural.
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o que consequentemente faz com que não se aplique ao gênero apocalíptico.
Conforme aponta Simon J. Kistemaker (2004, p.13),
É importante lembrar que João apresenta seu texto não apenas como
“Revelação”, mas como profecia escrita em forma de “carta”. Assim, podemos
afirmar que Apocalipse é composto pela combinação de três gêneros, a saber,
apocalíptico, profético e epistolar (CARSON, MOO, MORRIS, 2017, p.532).
Embora alguns estudiosos apontem para a impossibilidade de fazer uma
distinção entre profecia e apocalíptica, uma vez que as duas acham-se
combinadas em muitos livros do Antigo Testamento (Daniel, Zacarias, Isaías),
há certas características que, em parte, distinguem os dois gêneros, como
aponta Osborne (2014, p.14),
29
igrejas da Ásia (22.6,9). O chamado de João ao ministério
profético lembra, de certa forma, o chamado de Ezequiel (10.8-
11; ver Ez 2.8-3.3); seu ministério é descrito como profetização
contra “muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10.11). Os
oráculos de Jesus dirigidos através de João às igrejas, usando
a primeira pessoa, acham-se em 1.8,17; 16.15; 22.7,18,19. As
cartas às igrejas estão na terceira pessoa (Jesus é “aquele que
“), mas também trazem conteúdo profético, principalmente no
chamado para que ouçam e na promessa aos vencedores. O
valor do reconhecimento da natureza profética do livro sublinha
que João não está simplesmente redigindo a própria epístola (à
semelhança de Paulo e Pedro), mas é o canal profético de uma
mensagem cuja origem direta está em Deus e Cristo. A fonte do
livro não é a imaginação fértil de João, mas o próprio Deus.
30
3.2.1 ABORDAGEM FUTURISTA
31
retratam o período da grande tribulação - o último período, curto,
mas terrível, da história da igreja, quando o Anticristo
praticamente destruirá o povo de Deus. No ponto de vista
dispensacionalista o povo de Deus é Israel, de volta a
Jerusalém, protegido por um selo divino (7.1-8), com o templo
reconstruído (11.1-3); que sofre a ira do Anticristo. A igreja não
está mais na terra, porque foi reunida ao Senhor nos ares.
32
Joaquim de Fiore alegava ter tido uma visão acerca dos 1260 dias de
Apocalipse, visão esta que revelava que tais dias profetizavam os
acontecimentos da história Ocidental desde os tempos dos apóstolos até o
presente. Assim,
33
os símbolos das visões referem-se todas as pessoas, países e
acontecimentos do mundo da época, e o propósito de João é
mostrar a seus leitores como Deus está na iminência de trazer
juízo sobre aquele mundo que os está oprimindo e, desse modo,
livrá-los para seu reino eterno.
34
Em suma, como atestado anteriormente, não há consenso sobre o
método de interpretação do livro de Apocalipse, mas há estudiosos que apontam
para a necessidade de uma visão eclética dos mesmos. Afirma-se que a solução
está em permitir que os métodos preterista, idealista e futurista interajam de tal
forma que os pontos fortes sejam destacados, se sejam minimizados a
fragilidade de cada um deles. Assim, Ladd (1986) e Gordon Fee (2011, p.24)
propõem que a abordagem preterista e futurista sejam mescladas. Carson, Moo,
Morris (2017), seguem a abordagem futurista, assim como Stanley Horton (2001)
e Antonio Gilberto (1984).
35
Para ele, a melhor opção para as três séries seja pensar que cada série
“nos leva para mais perto do fim, mas o sétimo de cada série não faz a cronologia
avançar tanto, e sim introduz a série seguinte. Ou, melhor dizendo, contém a
série seguinte”. O sétimo selo revela a primeira trombeta, assim como a sétima
trombeta revela as sete taças.
Taças
O
Trombetas F
I
Selos
M
(BLOOMBERG,2019, p.669)
36
Passado Cap.1 Introdução
Presente Caps. 4 e 5
Louvor Celestial
Sete Selos
Sete Trombetas
Caps. 6-19
Sete taças da Ira de
Deus
Futuro
Milênio
37
Um esboço detalhado da estrutura do livro de Apocalipse é proposto por
Ladd (1986, p.15-16):
I. PRÓLOGO (1:1-8)
2. Saudação (l:4-5a)
38
a. O Primeiro Selo (6:1-2)
a. Os 144.000 (7:1-8)
a. Preparação (8:2-6)
39
(3) A Sétima Trombeta (11:14-19)
40
(7) Ação de Graças pelo Julgamento da Babilônia (19:1-5)
41
CAPÍTULO 4 – UMA VISÃO PANORÂMICA DAS
SETE CARTAS
42
12:17; 19:10 (duas vezes); 20.4). Assim, Jesus é aquele que revela a verdade
divina, que somado ao testemunho de João validam a mensagem e as visões
contidas no livro.
O livro introduz uma bem-aventurança para aquele que lê, e os que ouvem
as palavras da profecia (v.3). O termo Μακάριος (bem-aventurado) aparece no
Apocalipse sete vezes (14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7,14). O padrão das bem-
aventuranças é o mesmo encontrado no Evangelho de Mateus, tendo como base
os padrões esperados por Deus e as recompensas concedidas aos fiéis
(OSBORNE, 2014). O destaque proposto por João para o ler e ouvir, implica que
João destina seu livro para ser lido em público, ser uma leitura cultual, litúrgica.
Mas, os ouvintes são classificados como aqueles que “ouvem” e “guardam”. Não
basta apenas ouvir, eles devem guardar “as coisas que nelas estão escritas”.
43
João, assim, depois da Doxologia, apresenta o tema do livro (v.7), a saber,
“Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o
traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém. ”
De acordo com Osborne (2014, p.75):
I. Introdução
III. Conclusão
45
4.2.1.1 A CARTA A ÉFESO (2:1-7)
Éfeso era uma das cidades mais importantes do Império Romano, além
da mais cosmopolita. Ela estava situada na foz do rio Caistro na Ásia Menor,
quase em frente da ilha de Samos. Era um importante centro de tráfego, terrestre
e marítimo entre o Ocidente e o Oriente. Os primeiros habitantes da região
parecem terem sido os Cários. Logo depois, os fenícios teriam fundado no local
um santuário em honra de uma divindade feminina adorada sob o símbolo da
lua. Esse santuário começou a atrair gente de vários países que ali achavam o
direito de asilo.
Sob o domínio dos Jônios, Éfeso tornou-se a principal das doze cidades
que formaram a Confederação Jônica. Passou depois para o domínio dos Persas
e depois Alexandre Magno a conquistou em 334 a.C. Lisímaco, general de
Alexandre, recebeu-a em herança na morte desse. Mas foram os Átalos de
Pérgamo que a embelezaram e enriqueceram.
Sua fama se elevou após a conquista de Croeso da Lídia (550 a.C.), que
contribuiu para a reconstrução do templo de Ártemis e fundou a cidade. Éfeso
se tornou, rapidamente, um dos grandes centros do comércio e negócios da
parte Ocidental do Império, e uma das províncias mais prósperas de todo o
Império Romano.
46
Além desses monumentos, Éfeso também era considerada uma neokoros,
guardiã do culto ao imperador, como atesta Kistemaker (2004, 149)
A expressão οἶδα τὰ ἔργα σου (oida ta erga sou, conheço tuas obras)
expressa o conhecimento específico, incontestável dos fatos. O verbo ocorre
sete vezes nos capítulos 2 e 3, e a frase “conheço tuas obras” aparece em seis
das sete cartas, sempre denotando sentido positivo ou negativo. A princípio,
Éfeso é elogiada por seu trabalho e perseverança diante de perseguições,
oposições e falsos mestres. Os pontos fracos de Éfeso são introduzidos com a
expressão ἔχω κατὰ σοῦ (echo kata sou, tenho contra ti), fórmula que descreve
os problemas morais e espirituais das igrejas. No caso de Éfeso, eles haviam
perdido o entusiasmo e o fervor da primeira geração, acomodando-se numa fria
ortodoxia sem profundidade espiritual.
47
exigida por Cristo, e a ordem “Arrepende-te” (μετανόησον, metanoeson)
expressa a necessidade de voltar às primeiras obras que praticavas no início,
pois o juízo é iminente. Não sabemos muitas coisas sobre os nicolaítas, pois as
únicas informações que possuímos sobre eles se encontra no Apocalipse.
Contudo, aponta Osborne (2014, p.132):
πνεῦμα λέγει ταῖς ἐκκλησίαις (ho echon ous akousato ti to pneuma legei tais
ekklesiais, Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas); e uma
promessa “ao que vencer” (Τῷ νικῶντι to nikonti). No caso de Éfeso, a
promessa é a participação na benção pretendida na Criação, “comer da árvore
da vida”, árvore que Adão e Eva não tiveram a possibilidade de comer (Gn 3:22-
24).
Esmirna foi destruída pelo rei Alíates, da Lídia, em 600 a.C., mas foi
reconstruída por ordem de Alexandre, o Grande, em 290 a.C. Além do culto à
48
deusa Roma, Esmirna também possuía um templo dedicado ao Imperador
Tibério, e templos dedicados a Zeus e a Cibele. A cidade hospedava uma grande
população judaica, o que instigou diversos conflitos entre cristãos e judeus na
cidade, bem como a perseguição aos cristãos por parte do Império Romano, que
em 155 d.C. levou o famoso bispo da cidade, Policarpo, para a fogueira por
negar-se a chamar César de “Senhor” (OSBORNE, 2014).
49
dar fim a esta vida, mas a vida eterna está garantida em Deus, pois não haverá
segunda morte para aqueles que vencem o mundo.
Nesta carta, Jesus é descrito de forma simples como aquele que “possui
a espada”, símbolo da justiça e do juízo divino. O Cristo conhece três coisas: “o
mundo pagão no qual eles vivem, o seu testemunho fiel e sua perseverança
debaixo de perseguição” (OSBORNE, 2014, p.155-156). O lugar onde habitam
está “o trono de Satanás”. Trono, no Apocalipse, é símbolo do exercício de poder
de um governo, portanto, Pérgamo era considerada a sede do poder satânico.
50
em todas as cidades. (4) Pérgamo era o centro da adoração a
Asclépio, e o símbolo de Asclépio era uma serpente, associada
a Satanás em 12.9 e 20.2. Membros desse grupo religioso
chamavam Asclépio de “salvador”. Embora esta interpretação
faça sentido (na realidade, as três últimas são possíveis), não é
tão provável quanto a próxima opção, pois tanto Zeus quanto
Asclépio eram chamados de “salvador”, e muitos deuses eram
importantes para essa cidade. (5) A melhor opção é o culto ao
imperador, o principal problema presente em todo o livro de
Apocalipse (como veremos) é a essência da religião de
Pérgamo. Foi a adoração ao imperador que mais diretamente
provocou as perseguições nos governos de Domiciano e
Trajano, e Pérgamo era o centro desse culto em toda a província
da Ásia (OSBORNE, 2014, p.156).
51
Resumindo, o maná e a pedra branca são símbolos
escatológicos relacionados à festa messiânica no escaton e
também falam da comida espiritual e do novo nome que Deus já
dá aos crentes no presente.
Tiatira, assim como Éfeso, foi elogiada por suas boas obras. No caso de
Tiatira, as obras elogiadas são: o amor, o serviço, a fé e a paciência. Esta é uma
52
igreja amorosa, arraigada numa confiança em Deus em meio à perseguição e à
opressão dos inimigos. Tiatira persevera em tempos difíceis a partir de uma vida
de serviço e cuidado pelos seus companheiros de sofrimento. No caso desta
igreja, seu amor, serviço, fé e perseverança não estava em declínio, como no
caso de Éfeso, mas crescendo.
No entanto, as censuras à igreja de Tiatira (ἔχω κατὰ σοῦ, echo kata sou,
tenho contra ti) eram mais graves que as demais igrejas da Ásia. Ela é
condenada pela tolerância aos hereges. O verbo ἀφεῖς tem o sentido de permitir,
deixar e até perdoar. Uma referência é trazida do Antigo Testamento para
identificar a líder do grupo herege em Tiatira, a saber, “Jezabel”. Jezabel era a
esposa fenícia de Acabe, que programaticamente levou o Reino do Norte à
adoração a Baal e à feitiçaria (lRs 16.31-34; 21.25,26; 2Rs 9.22). Como aponta
Osborne (2014) não há uma identificação definitiva sobre quem seria essa
mulher. Contudo, sua intenção era, aponta Kistemaker (2004, p.187):
53
ensinos da falsa profetisa. Acerca das “profundezas de Satanás, aponta Osborne
(2014):
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4.2.1.5 A CARTA A SARDES (3:1-6)
Sardes era uma das mais belas cidades da Ásia Menor. Ela estava
localizada cerca de 60 quilômetros de Tiatira. Sardes era, também, uma das
cidades mais antigas, foi fundada por volta de 1200 a.C. e tornou-se a capital do
reino da Lídia. A cidade experimentou seu auge com o rei Giges, que reinou no
século VII a.C. Ele foi o principal responsável pela riqueza e pelo poder bélico de
Sardes, sendo um dos mais temíveis governantes de seu tempo. Sob sua
regência dificilmente Sardes perdia uma batalha. Ela foi conquistada por Ciro no
ano de 546 a.C. após um ataque surpresa à cavalaria de Creso, filho de Giges,
e por ocasião da escalada de um precipício por parte dos soldados de Ciro, que
abriram os portões da cidade e Sardes foi capturada.
Sardes sofreu com diversos fracassos militares, até que perdeu sua
importância para Pérgamo, e foi conquista por Roma em 189 a.C. A grande crise
se instaurou quando em 17 d.C. um terremoto de altíssima escala devastou as
cidades de Sardes e Filadélfia. Ela foi reconstruída com a ajuda do Imperador
Augusto. Na cidade havia um templo dedicado à deusa Ártemis, mas sua religião
girava em torno da adoração à natureza, tendo a fonte de águas termais que
ficava localizada a três quilômetros de distância da cidade associada ao deus do
submundo e a temas ligados à morte e a imortalidade.
Havia uma grande comunidade judaica em Sardes, que fora levada por
Antíoco III. Evidências arqueológicas encontraram uma grande sinagoga
construída no segundo século da era cristã na cidade, que fazia parte de um
complexo do ginásio da cidade, o que indica o sincretismo religioso dos judeus
que habitavam naquela região. Assim como os judeus se adaptaram aos
costumes pagãos em Sardes, é possível que os cristãos da igreja também.
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acordo com Ap 1:20 “são os anjos das sete igrejas”. Assim como em Éfeso (que
tem na sua destra as sete estrelas), Sardes deve dobrar-se à soberania de Cristo
e responder só a ele.
Os pontos fortes de Sardes são seus pontos fracos, pois o “conheço tuas
obras (οἶδα τὰ ἔργα σου, oida ta erga sou), na verdade revela sua verdadeira
deficiência. Por esse motivo não há necessidade da fórmula “mas tenho contra
ti” (ἀλλὰ ἔχω κατὰ σοῦ, alla echo kata sou), porque não há pontos fortes. Eles
apenas têm nome de vivo, mas estão mortos (ὄνομα ἔχεις ὅτι ζῇς, καὶ νεκρὸς
Para os fiéis (v.4), Cristo promete uma nova vida (andar) de pureza
(vestes brancas), como demonstração de sua resistência à corrupção espiritual
difundida na igreja de Sardes. Portanto, esses são os vencedores que receberão
três recompensas, a saber, serão vestidos de vestes brancas; terão para sempre
seus nomes escritos no livro da vida; e, finalmente, Cristo confessará seu nome
“diante do Pai e dos seus anjos”. Essa última recompensa é uma clara alusão a
Mateus 10.32: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, eu
também o confessarei diante de meu Pai, que está no céu”.
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se envergonhar de mim...”. A maioria na igreja de Sardes havia
“se envergonhado” de Cristo, provavelmente ao abrirem mão de
seus distintivos cristãos a fim de serem aceitos por seus pares.
Por trás da promessa à minoria fiel em 3.5, existe também uma
advertência de juízo para os infiéis na igreja.
Aos fiéis, Cristo tem uma nova identidade, uma nova cidadania e uma vida
nova e eterna no céu.
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depois de sua visita, em 110 d.C., indicando que ela possuía uma organização
monárquica, com presbíteros e diáconos sob a supervisão de um bispo, e que
havia certa influência judaizante na comunidade.
Jesus é ὁ ἔχων τὴν κλεῖν Δαυίδ (ho echõn tên klein David, o que tem a
chave de Davi). Essa expressão deriva de Isaías 22:22: “E porei a chave da casa
de Davi sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém
abrirá”. No contexto de Isaías, a chave indicava o acesso do rei e a seu palácio.
No Apocalipse, apresenta Jesus,
O “Conheço tuas obras” (οἶδα τὰ ἔργα σου, oida ta erga sou) dito por
Cristo à igreja de Filadélfia ressalta sua fidelidade, pois Jesus enaltece o que
eles estão fazendo de correto. Cristo, que tem o poder sobre as chaves e de
“abrir” e “fechar” concede esse poder aos crentes de Filadélfia Mateus 16.18,19;
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18.18; João 20.23 (as “chaves do reino” = autoridade para “ligar” e “desligar”).
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Filadélfia está cercada pelos atos amorosos de Jesus e por sua proteção.
Em resposta à perseverança dos crentes de Filadélfia, serão guardados “da hora
da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na
terra” (v.10).
A expressão ἔρχομαι ταχύ· (erchomai tachu, eis que venho sem demora)
é enfatizada pela quarta vez até aqui, contudo, a primeira vez de forma positiva.
Para Éfeso (2:5), o retorno de Cristo significaria a remoção de seu candelabro;
para Pérgamo (2:16), o juízo com a espada de sua boca; e, para Sardes (3:3), o
juízo repentino e inesperado, como o assalto de um ladrão à noite. Mas para
Filadélfia, aponta Onsborne (2014, p.216):
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segundo nome, “o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém”,
simbolicamente significa a cidadania na Nova Jerusalém, pois a nossa pátria
está no céu (Fp 3:20). Sua pátria não é Filadélfia, tampouco Neocesariana como
foi chamada após a reconstrução em 17 d.C., mas a “Nova Jerusalém, que desce
do céu”.
O último nome, τὸ ὄνομά μου τὸ καινόν (to onoma mou to kainon, meu
novo nome) não é explicado. Qual seria esse novo nome? Em Apocalipse 19:12,
Cristo tem “um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo”. Seu nome
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Sua religião era sincrética. Zeus e Men Karou (deus do vale e da cura)
eram os principais deuses adorados em Laodicéia, além de uma forte devoção
a Apolo. Acerca da comunidade judaica em Laodicéia, temos evidências que
Antíoco III levou cerca de duas mil famílias judias para Lídia e Frígia em meados
do III século a.C. Nesta carta não há nenhuma evidência de conflitos entre judeus
e cristãos.
verdadeiro (Is 65:16). O verbo hebraico !ֵmָa significa “confirmar”, por isso era
usado frequentemente para confirmar uma oração (1Cr 16:36) ou um hino (Sl
41:13). Essa fórmula foi muito utilizada por Jesus, inclusive em João 5:24, Ele
usa Ἀμὴν ἀμὴν λέγω ὑμῖν (em verdade vos digo) como ênfase na
confiabilidade divina no que diz. Na carta aos crentes de Laodicéia, Jesus está
enfatizando a confiabilidade e autenticidade de seu testemunho em contraste ao
dos laodicenses. Jesus é ὁ μάρτυς ὁ πιστὸς καὶ ἀληθινός (ho martus ho pistos
kei alethinos, a testemunha fiel e verdadeira), ressaltando que ele é o modelo de
de perseverança e fidelidade. No Apocalipse, “testemunho” e “fidelidade” estão
relacionados ao sofrimento e, especialmente ao “martírio”. Em Laodicéia não há
fidelidade, veracidade e testemunho, devem seguir o modelo ideal, Jesus.
O terceiro título, ἡ ἀρχὴ τῆς κτίσεως τοῦ θεοῦ· (he arché tes ktiseos tou
theou, o princípio da criação de Deus) sublinha a soberania de Jesus.
Possivelmente esse conceito da soberania de Cristo e seu poder criador já era
conhecido pelos laodicenses, tendo em vista que em Colossenses 1:15-16 o
Apóstolo Paulo fala de Jesus como aquele que “é imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que
há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações,
sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Ele é o
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ἀρχὴ (Cl 1.18), que não significa apenas “preeminente” ou “soberano”, mas
“fonte” e “origem”. Assim, Jesus é a fonte da criação de Deus e controla,
inclusive, a riqueza e o “poder” dos laodicenses.
Laodicéia não tem ponto forte. O “Conheço tuas obras” (οἶδα τὰ ἔργα
σου, oida ta erga sou) dito por Cristo à igreja de Laodicéia contém ironia. A
declaração οὔτε ψυχρὸς εἶ οὔτε ζεστός (oute psichros ei oute zestos, que nem
és frio nem quente), está relacionada com o abastecimento de água da cidade.
Laodicéia foi fundada no cruzamento das rotas comerciais por causa das
vantagens militares e comerciais. A cidade, portanto, não tinha abastecimento
de água próprio, assim, canalizava água quentes através de aquedutos de
Denizli. A água não tinha tempo suficiente para esfriar nos aquedutos e chegava
morna à cidade, tornando-se imprópria para beber. A metáfora utilizada por
Jesus ressalta que Laodicéia não poderia se igualar ao seu abastecimento de
água, ou seja, assim como as águas mornas eram “inúteis”, as obras “mornas”
deles também eram inúteis e reprovadas por Cristo. Diante disso, Jesus está a
ponto de vomitá-los de sua boca. O juízo de Deus virá de forma iminente.
καὶ γυμνός (oidas hoti su ei ho talaipõros kai eleeinos kai ptõchos kai typhlos kai
gymnos, e não sabes que és um infeliz, e miserável, e pobre, e cego, e nu). Seu
orgulho e arrogância os deixaram cegos, não permitindo que percebessem sua
condição espiritual deprimente. Eles não sofriam com perseguição por parte dos
judeus ou pagãos; não sofriam com ameaças internas de grupos heréticos, mas
sucumbiram em seus deleites e luxuria.
Eles se acham ricos, mas Jesus os chama de pobres (πτωχὸς); sua forte
ligação com a medicina e com a criação de um medicamento para a cura dos
olhos, não é suficiente para curar a si mesmos, pois estão cegos (τυφλὸς); são
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grandes produtores de roupa e lã, mas estão nus (γυμνός). Cristo os aconselha
que visitem a loja correta. Eles compraram tudo que é possível de comerciantes
e mercadores terrenos, mas somente Cristo possui o que eles realmente
precisam, a saber, ouro puro, vestes brancas e colírio para a cegueira espiritual
(v.18).
prometido que καθίσαι μετ᾽ ἐμοῦ ἐν τῷ θρόνῳ μου (kathisai met’ emou en tõ
thronõ mou, se assentará comigo no meu trono). Jesus irá compartilhar o seu
trono com os vencedores. Interessante notar que essa promessa prenuncia o
capítulo 5 de Apocalipse, ou seja, a própria conquista de Cristo e sua
entronização junto ao Pai, como aponta Osborne (2014, p.239):
ἐκάθισα μετὰ τοῦ πατρός μου ἐν τῷ θρόνῳ αὐτοῦ (hõs kago enikêsa kai
ekathisa meta tou patros mou en tõ thronõ autou, assim como eu venci, e me
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assentei com meu Pai no seu trono). Ὁ ἔχων οὖς ἀκουσάτω τί τὸ πνεῦμα λέγει
ταῖς ἐκκλησίαις “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”!
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CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
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