ISSN 1809-6271
https://doi.org/10.14393/RCT174417
IMPLICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO AGRONEGÓCIO NO
BRASIL: a necessidade da agroecologia como alternativa viável
SOCIO-ENVIRONMENTAL IMPLICATIONS OF AGRIBUSINESS
IN BRAZIL: the need for agroecology as a viable alternative
Natália Thaynã Farias Cavalcanti
Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente - PRODEMA, Pernambuco, PE, Brasil.
[email protected] Gilberto Gonçalves Rodrigues
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Zoologia, Centro de Biociências, Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA, Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Pernambuco, PE, Brasil.
[email protected]Resumo
O agronegócio está em pleno e rápido desenvolvimento no Brasil, ocupando posição de
destaque no mundo na produção agrícola (commodities) e de consumo de agrotóxicos. O
modelo de agricultura praticado de forma inconveniente e predatória tem impactos
adversos sobre o meio ambiente e na saúde humana, ocasionando contaminação do solo
e da água, perda da biodiversidade, intoxicações e ocupação de territórios de forma ilegal
e mortes. Desse modo, o objetivo deste artigo é discutir as principais questões da
expansão do agronegócio no Brasil, suas causas e consequências e os seus impactos
socioambientais. Por um lado temos o projeto neocapitalista de exaurir os recursos
naturais e sua forma simplificada de cadeia produtiva e lucrativa, por outro lado, temos a
agroecologia que se apresenta como possibilidade de mudança de paradigma desse
modelo de produção agrícola praticado. Essa breve revisão oferece considerações que
contextualizam a necessidade de integração do crescimento econômico com a promoção
do desenvolvimento social e ambiental, no tocante ao agronegócio brasileiro, sendo dever
do Estado efetivar ações que conciliem essas dimensões.
Palavras-chave: Agrotóxicos. Meio Ambiente. Saúde. Impactos. Agroecologia.
Abstract
Agribusiness is in full and rapid development in Brazil, occupying a prominent position
in the world in agricultural production (commodities) and consumption of pesticides. The
model of agriculture practiced in an inconvenient and predatory way has adverse impacts
on the environment and on human health, causing soil and water contamination, loss of
biodiversity, intoxication, and occupation of territories in an illegal and deadly way. Thus,
the objective of this article is to discuss the main issues of agribusiness expansion in
Brazil, its causes and consequences, and its socio-environmental impacts. On the one
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
hand, we have the neocapitalist project of exhausting natural resources and its simplified
form of a productive and profitable chain; on the other hand, we have agroecology, which
presents itself as a possibility of changing the paradigm of this model of agricultural
production. This brief review offers considerations that contextualize the need for
integration of economic growth with the promotion of social and environmental
development, with regard to Brazilian agribusiness, and it is the duty of the State to carry
out actions that reconcile these dimensions.
Keywords: Pesticides. Environment. Health. Impacts. Agroecology
Introdução
A expansão do agronegócio ocorreu em meados da década de 1960 por meio de
incentivos do Estado em políticas que visavam a promoção de maquinários agrícolas,
crédito rural e uso de fertilizantes químicos a fim de atender as necessidades do
abastecimento de alimentos da crescente população e o processo de desenvolvimento
econômico do país (DELGADO, 2001; MATOS; PESSOA, 2011) voltados a política
desenvolvimentista que agia no Brasil através de uma ditatura militar. Esse modelo,
impulsionado pela revolução verde, introduziu novas variedades de culturas alimentares
de alto rendimento - chamadas de monoculturas, e a adoção generalizada de mecanização,
técnicas de irrigação e outras tecnologias para o setor rural (PAUMGARTTEN, 2020).
Nesse processo histórico, a agricultura no Brasil passou por uma intensa
modernização dissociando-se da (agri)-cultura do cultivo de plantas e alimentos. Na
década de 1970 o Produto Interno Bruto-PIB do agronegócio teve uma expansão de
28,2% no país (GONZALEZ; COSTA, 1998), se acentuando ainda mais fortemente nos
anos 1990 a 2000 devido aos fatores macroeconômicos e o aumento da demanda. Essa
ascensão se mantém na atualidade, o PIB do setor avançou 24,3% em 2020, e alcançou
participação de 26,6% no PIB brasileiro (CNA, 2021)1.
Como projeto nacional, o agronegócio se desenvolve a cada ano no Brasil e se faz
presente nos campos político, econômico e social de forma praticamente hegemônica. A
sua expansão e forma de divulgação criam uma imagem distorcida, vinculando seu
conceito à "modernização" do meio rural, ao "desenvolvimento" econômico brasileiro
1
O PIB do agronegócio é calculado pela metodologia do Centro de Estudos Avançados em Economia
Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, que apresenta o valor com base
na soma da produção agropecuária primária, dos insumos para atividade, da agroindústria e de
agrosserviços, dando ênfase a tudo que envolve a produção agropecuária. O IBGE, responsável oficial pelo
cálculo do PIB brasileiro, aponta que na série histórica (2002-2018) o agronegócio contribuiu com 5,4%
no PIB do país (MITIDIERO JUNIOR; GOLDFARB, 2021).
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
(ZANETE; GUARESI, 2013) e necessidade alimentar. No entanto, a agricultura em
grande escala tem levado ao impacto sobre o meio ambiente e nos alimentos, a perda de
biodiversidade, destruição do solo e assoreamento dos rios (MOREIRA, 2000),
comprometendo os sistemas ecológicos não contemplando às ameaças das mudanças
climáticas e a inclusão social. Outra grave ameaça é à saúde humana, devido a
contaminação dos produtores e consumidores pelo uso extensivo de agrotóxicos e
fertilizantes (RATTNER, 2009), evidenciando demandas do ponto de vista
socioeconômico e ambiental, exploração do trabalho humano e o racismo ambiental
vinculado aos trabalhadores/as do campo.
Desse modo, o objetivo deste artigo é discutir as principais questões da expansão
do agronegócio no Brasil e os seus impactos socioambientais. Além disso, é apresentado
a necessidade da mudança no modelo de produção agrícola praticado no país. Assim, foi
realizado um levantamento em artigos científicos em bases de dados, como Science
Direct, Pubmed, SciELO, Portal de Periódicos CAPES, Google acadêmico e em livros e
sites oficiais do governo abrangendo temática do agronegócio, agrotóxicos, impactos
ambientais e na saúde humana, e sobre agricultura sustentável e agroecologia. Com base
nas informações coletadas serão apresentadas neste artigo sessões com uma análise
situacional do agronegócio brasileiro, em seguida, será tratado sobre a problemática dos
agrotóxicos e os seus impactos socioambientais, por fim, será abordada as possibilidades
da agroecologia, como mudanças de paradigmas.
Esta revisão oferece considerações que contextualizam a necessidade de
integração do crescimento econômico com a promoção do desenvolvimento social e
ambiental, no tocante ao agronegócio brasileiro, sendo dever do Estado efetivar ações que
conciliem essas dimensões.
Os “avanços” do agronegócio e a volta do Brasil ao Mapa da Fome
O crescente e desenfreado interesse no agronegócio vem gerando preocupação nos
ambientes de discussão socioambiental, sendo um modelo desenvolvimentista e sem
garantias de segurança alimentar sustentável. De acordo com Ioris (2018) muitos setores
acreditam que esse modelo de agricultura intensiva é protegido pelo governo, sendo uma
das principais causas de desmatamento, perda de biodiversidade e poluição da água e de
forma mais sistematizada as desigualdades sociais e conflitos no campo, com tragédias
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
sem respostas a sociedade de assassinatos e agressões as comunidades tradicionais e
trabalhadores/as do campo.
O Brasil é o quarto maior produtor de grãos (arroz, cevada, soja, milho e trigo) do
mundo, com 7,8% da produção mundial, as primeiras posições do ranking são ocupadas
pela China, Estados Unidos e Índia (EMBRAPA, 2021). Com essa pesquisa foi observado
que a safra de grãos de 2019/2020 foi uma das maiores registradas nos últimos 10 anos.
Como exibido na Figura 1, com exceção das informações das culturas do café e cana-de-
açúcar, essa última safra apresentou uma produção de 259,922 toneladas (t), a cultura da
soja representou 48,02% do total, com produção de 124,84 t, as maiores toneladas foram
provenientes dos estados do Mato Grosso com 35,88 t e Paraná com 21,59 t; em seguida
o destaque foi a cultura do milho com 102,58 t, 39,46% do total de grãos, com domínio
para os mesmos estado, sendo o Mato Grosso responsável por 34,95 t e Paraná 14,94 t; e
pela cultura do arroz com 11,18 t, 4,30% do total da produção de grãos, sendo os estados
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina responsáveis pelas maiores produções, com 7,86
t e 1,21 t, respectivamente.
Figura 1: Evolução das safras de grãos (t) no Brasil – Período de 2009 a 2020.
Fonte: Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural –
ASBRAER, 2021.
Org.: Autora, 2021.
No que se refere a produção da cana-de-açúcar, de acordo com a Conab (2020a),
a safra de 2019/2020 teve um crescimento de 3,6% comparada a safra de 2018/2019, com
642,7 milhões de toneladas colhidas. A região Sudeste ocupa o primeiro lugar no ranking
de produção, com 415 milhões de toneladas, indicando acréscimo de 3,7% em
comparação a 2018/2019. Na cultura do café, a safra 2020 teve uma área cultivada com
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
café Arábica e Conilon de 2,16 milhões de hectares, aumento de 1,4% comparado a 2019,
do total 277,3 mil hectares foram de lavouras em estágio de formação, enquanto 1,88
milhões de hectares estavam em produção, representando aumento de 3,9%. O maior
destaque foi para o estado de Minas Gerais com 34,65 milhões de sacas, com aumento de
41,1% (CONAB, 2020).
O Brasil ocupa um importante destaque em exportações, sendo o segundo maior
exportador de produtos agrícolas do mundo (EMBRAPA, 2021). Na Figura 2 percebe-se
que o ano de 2018 se configurou como o ano com maior destaque nas exportações de
produtos agropecuários, totalizando US$ 101 bilhões de vendas. No ano de 2019 houve
uma queda de 4,26%, contudo em 2020, embora com cenário da pandemia da COVID-
19, os números nas vendas ultrapassaram US$ 100 bilhões. Por outro lado, o ano de 2020
registrou o menor valor de compras em importações, essa queda foi devido a alta do dólar
e pela redução na atividade econômica (AGÊNCIA BRASIL, 2020).
Figura 2: Balança comercial do agronegócio do Brasil de exportações e
importações – Período de 2009 a 2020
Fonte: AgroSat, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, 2021.
Org.: Autora, 2021.
Vale destacar que, apesar da alta produção e em meio a tantos hectares de áreas
agricultáveis, a população está vivendo em níveis de insegurança alimentar, levando o
país ao Mapa da Fome, esse agravante é reforçado com a pesquisa realizada pela Rede de
Pesquisa em Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). De acordo com Rede
Penssan, entre 2013 e 2018, a Insegurança Alimentar (IA) grave teve um aumento de
8,0% ao ano. Entre 2018 e 2020 esse percentual passa para 27,6%. Esse cenário foi mais
acentuado na área rural, com os efeitos da pandemia da COVID- 19, dos 518 domicílios
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
rurais entrevistados 12% se encontravam em IA grave. Esse dado deve-se as restrições
da pandemia, em que diversos agricultores tiveram seus canais de comercialização
suspensos ou reduzidos, como mercados institucionais, restaurantes, feiras livres e
mercados (RIBEIRO- SILVA et al., 2021).
O hiato entre o agronegócio e a fome no Brasil se acentua mais quando analisado
os dados de 2021. De acordo com o Ministério da Economia (2021) apenas na primeira
quinzena do mês de junho, comparado com junho de 2020, houve o crescimento nas
exportações de 44,4% na balança comercial no setor agropecuário, somando US$ 2,69
bilhões. A expansão das exportações foi registrada pelo aumento nas vendas do café não
torrado (51,3%), soja (44,1%) e algodão bruto (161,9%).
A intensificação da agricultura brasileira se deve aos fortes incentivos do governo
na modernização do setor rural, que significou a reformulação da base técnica da
agricultura com transformação no uso e promoção de insumos modernos e maquinários
agrícolas, visando aumentar a produtividade. Em 1965, as vendas de tratores passaram de
8.401 para 50.195 em 1980, no final da década de 1970 as colheitadeiras atingiram marca
de vendas de 5.000 unidades (GONZALEZ, COSTA, 1998). Para Alves, Contini e
Gasques (2008) três fatores que causaram esta situação: (i) expansão da demanda do
mercado por produtos agrícolas nacional e internacional, (ii) forte migração rural-urbana
e (iii) a criação do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e
Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) em 2000. Nos últimos anos, com
a grande utilização das terras para atender as necessidades do agronegócio, houve um
aumentou da utilização de maquinários agrícolas nas propriedades rurais, as vendas
internas no atacado de tratores de rodas e colheitadeiras de grãos seguiram em
consonância aos dados de exportações. No ano de 2018 houve um elevado número de
vendas dos maquinários, contudo, como exposto na Figura 3, em 2019 ocorreu uma
redução nas aquisições de tratores de rodas (14,57%) e de colheitadeiras de grãos
(3,10%), já em 2020 foi registrado aumento de 6,70% nas vendas de tratores de rodas e
de 0,60% de colheitadeira de grãos.
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
Figura 3: Vendas internas no atacado de tratores de rodas e colheitadeiras de grãos no
Brasil – Período de 2015 a 2020
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores– ANFAVEA,2021.
Org.: Autora, 2021.
A devastação da área para inserção de monocultivos, visando atender as
exportações, ameaça o desaparecimento de espécies vegetais e animais (ALVES, 2020) e
seus respectivos serviços ecológicos e ambientais. O avanço do agronegócio no bioma
Cerrado é presente, também no bioma Amazônico, em agosto de 2018, 19,5% de toda
floresta havia sido desmatada, se a situação de desmatamento se mantiver a temperatura
pode subir até 6−8 °C acima da média de 1996-2005 (PEREIRA et al, 2020). Desse modo,
não resta dúvidas que o agronegócio e sua intensa expansão causam danos no meio
ambiente. Segundo Trevors e Saier (2010) quatro fatores causam esta condição: a terra
usada para o agronegócio é completamente alterada, espécies de plantas nativas são
removidas; espécies invasoras são introduzidas e campos são pastados; a água é retirada
das fontes hídricas e direcionadas para irrigação em altas quantidades, o que altera todo
o ecossistema, podendo, também, provocar a salinização do solo e impedir o crescimento
de determinadas culturas; grandes quantidades de fertilizantes químicos externos fluem
para as fontes hídricas, levando à proliferação de algas e bactérias, provocando a
eutrofização e, por fim, os agrotóxicos utilizados em grande escala causam poluição do
água-ar-terra. Em regiões com clima tropical e subtropical, como é o caso do Brasil, a
alta temperatura e umidade faz com que essas substâncias tóxicas permaneçam no ar
devido à ligação das moléculas de água com as dos produtos químicos (SILVÉRIO et al,
2017).
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Os agrotóxicos no Brasil: um breve panorama
O nome agrotóxico foi inserido na Lei Federal de Agrotóxicos nº 7.802 de 1989
com a finalidade de alertar para os altos perigos desses produtos. Agrotóxicos são
herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematicidas, moluscicidas, rodenticidas, fertilizantes
químicos destinados a prevenir, controlar, eliminar ou mitigar pragas de animais, plantas
ou microrganismos (CALDAS, 2016). A sua funcionalidade ocorre devido a presença de
um ingrediente ativo que atinge os seres vivos vulneráveis a esse composto. Um
ingrediente ativo é um agente químico, físico ou biológico que confere eficácia aos
agrotóxicos e afins (PELAEZ; TERRA; SILVA, 2010).
Atualmente, vários agrotóxicos são usados de maneira indevida, afetando a
microbiota benéfica do solo (MEENA et al., 2020) e alterando as condições edáficas os
processos biológicos com sérios problemas a manutenção dos sistemas ecológicos.
Adicionalmente, o uso dos agrotóxicos tem ocasionado acúmulo de resíduos tóxicos nos
alimentos, solo, ar e água, além do desenvolvimento de resistência a pragas (CAMPOS
et al., 2019), o que compromete a saúde coletiva e a dos ecossistemas.
Um dos métodos de aplicação de agrotóxicos mais utilizado é a pulverização, que
ocorre com frequência em vários cultivos, e na sua maioria, de forma desnecessária e com
altas dosagens, gerando uma forte pressão nos ecossistemas e desestruturando a
biodiversidade (BELCHIOR et al, 2014) e os processos ecossistêmicos. No período de
1991 a 2015, o Brasil esteve entre os países que mais utilizou agrotóxicos, a quantidade
aplicada por hectare aumentou quatro vezes mais nesse período (MORAES, 2019). No
ranking mundial, o Brasil ocupa o primeiro lugar em consumo de agrotóxico,
permanecendo nessa posição desde 2008 (LOPES; ALBUQUERQUE, 2018).
Na Figura 4 observa-se a evolução das vendas de toneladas de ingrediente ativo
de agrotóxicos e afins no Brasil, os anos de 2018 e 2016 apresentaram os maiores registros
comparados com os anos anteriores, com 549,280 t e 541,861 t de ingrediente ativo,
respectivamente. No período 2015-2017, os estados do Mato Grosso, São Paulo, Rio
Grande do Sul e Paraná foram responsáveis por 58% das compras totais de agrotóxicos,
esse percentual eleva-se para 83% se considerarmos Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso
do Sul e Bahia, sendo os oito maiores consumidores (MORAES, 2019).
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
Figura 4: Vendas de agrotóxicos no Brasil em tonelada de ingrediente ativo –
Período de 2009 a 2018
Fonte: IBAMA,2021.
Org.: Autora, 2021.
Destaca-se que os custos de mão de obra, a escolha do método de aplicação e a
expectativa de controle rápido de pragas e doenças provocaram o uso dos agrotóxicos
prejudicial em todo mundo (MEENA et al., 2020). No caso da cultura da soja, a que
apresenta maior destaque na produção no Brasil, Belo et al. (2012) apontam que existem
vários fatores que podem fazer com que a exposição a pesticidas ultrapasse os limites do
ambiente de trabalho, como o alto grau de mecanização associado a esta cultura e a
necessidade de utilização de dispersores com alta vazão; as altas temperaturas observadas
na área aumentam a volatilização e difusão de agentes químicos, tornando-os passíveis
de transporte por ventos fortes na área e/ou se acumulam na nuvem na forma de vapor; a
grande área de terra utilizada tem levado ao uso de aviões ou tratores pulverizadores, o
que aumenta o raio de difusão dos resíduos dos agrotóxicos, essas implicações afetam
diretamente o solo, a água e a saúde humana.
Os três agrotóxicos mais vendidos no país apresentam níveis preocupantes de
limite máximo de resíduo em água, comparando com países europeus o glifosato
apresenta o limite máximo 5.000 vezes maior, o 2,4D é 300 vezes e a Atrazina é 20 vezes
maior (BOMBARDI, 2017). A contaminação da água ocorre por meio do escoamento da
chuva para os cursos d'água, águas superficiais e subterrâneas. Portugal, Burth e Fortuna
(2017), com o objetivo analisar as águas de recursos hídricos em dois municípios situados
no extremo Sul da Bahia, identificaram que dos 56 pontos analisados, sendo 36 poços; 11
cisternas; cinco rios; três nascentes e uma represa, 69,64% encontravam-se acima do
limite máximo de resíduo permitido por lei e apenas 30,36% apresentavam-se abaixo o
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
estabelecido pela legislação. As concentrações de agrotóxicos na água podem contribuir
para eutrofização, uma vez que o fósforo (P) presente na molécula pode se dissociar e
ficar à disposição dos produtores primários, sendo uma ameaça adicional ao meio
ambiente (BROVINI et al., 2021), essa concentração afeta diretamente os animais
aquáticos como peixes, moluscos e crustáceos como representantes de recursos
pesqueiros e a eutrofização destes ecossistemas. Silva et al. (2019) identificaram que o
uso do glifosato leva a redução dos níveis de testosterona de peixes, podendo ocorrer a
feminização dos animais (e.g. tilápia), afetando diretamente da sua reprodução e
comprometendo o desenvolvimento biológicos das espécies de vertebrados e
invertebrados aquáticos.
No solo, os efeitos dos agrotóxicos são prejudiciais na medida em que afeta os
microrganismos benéficos não-alvo, implicando diretamente na sua fertilidade (KAUR et
al., 2017). Várias transformações bioquímicas e físico-químicas ocorrem devido aos
agrotóxicos produzirem diferentes efeitos metabólitos. Os herbicidas causam a
perturbação de metabolismo bacteriano, o que gera a redução de enzimas do solo e a
suspensão da ligação biológica do nitrogênio (WOŁEJKO et al., 2020). O acúmulo de
agrotóxicos em espécies resistentes ou tolerantes pode provocar episódios de toxicidade
para organismos mais elevados na cadeia alimentar (IYANIWURA, 1991); enfatizados
pela bioacumulação.
Algumas instituições científicas alertam para o uso desenfreado de agrotóxicos no
Brasil. A falta de controle do uso dessas substâncias pode ter consequências preocupantes,
devido aos elevados riscos à saúde e ao meio ambiente, assim, é necessário que as
políticas de controle sejam mais rígidas (NUNES; LOUBET, 2020). De acordo com
IBGE (2017), a aplicação dos agrotóxicos, na maioria das vezes, acontece sem
orientações técnica, dos estabelecimentos rurais entrevistados no último Censo
Agropecuário, apenas 20,1% declararam receber orientação técnica para utilização dos
produtos. Essa porcentagem e os números do crescente aumento do produto causam
preocupações devido aos seus efeitos adversos.
De acordo com a legislação, um agrotóxico só pode ser vendido mediante
apresentação de receita emitida por profissional técnico, após visita e avaliação. No
entanto, é comum a prescrição sem o diagnóstico; somado a isso, tem o agravante que as
lojas de produtos agrícolas podem vender os agrotóxicos sem exigir receita (CALDAS,
2016). Esse fato aliado à ausência do uso de Equipamentos de Proteção Individual – EPI,
CAMPO-TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v. 17, n. 44, p. 364-388, abr., 2022, Página 373
Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
o descarte indevido das embalagens por parte dos agricultores e as pulverizações em altas
dosagens, aumentam as possibilidades de contaminação, intoxicação e riscos graves do
produto. Bortolotto et al. (2020), em um estudo transversal com 1.518 indivíduos, no
município de Pelotas no Rio Grande do Sul, verificaram que um quarto da amostra teve
contato com agrotóxicos no último ano e 6% apontaram ter intoxicação, como dores de
cabeça, náuseas, vômito, cólicas e dores abdominais, e fraqueza generalizada. Um estudo
realizado com a etnia indígena Xukuru em Pesqueira no Nordeste pernambucano
identificou sintomas de intoxicação aguda e crônica decorrentes da exposição aos
produtos químicos, 10% dos indígenas já sofreram intoxicação por agrotóxicos e 45,5%
referiram sentir fortes dores de cabeça e tonturas (GONÇALVES et al., 2012). Silvestre
et al. (2020) constataram que existe associações entre a ocorrência da doença de
Parkinson e a exposição aos agrotóxicos em regiões de alto potencial no agronegócio no
estado do Mato Grosso. Ueker et al. (2016) identificaram que a exposição materna e
paterna a pesticidas está associada a malformações congênitas também no estado do Mato
Grosso.
Segundo dados do Ministério da Saúde (2018), em 2014 foi registrada a maior
incidência de notificação de intoxicações por agrotóxicos no Brasil, foram notificados
6,26 casos por 100.000 habitantes. Adentrando os números dos estados a preocupação é
ainda maior, o estado do Tocantins deteve no maior número, 18,71 casos por 100.000
habitantes, Espírito Santo 16,32 casos, Paraná 14,57 casos, Roraima 13,08 casos e Goiás
12,74 casos por 100.000 habitantes. Entre 2007 e 2016, os números de intoxicações por
agrotóxicos dobraram, concentrando 39% do total de mortes por intoxicações exógenas,
configurando 3.196 mortes. A taxa de letalidade foi três vezes maior que a de outras
substâncias tóxicas, como drogas, medicamentos, alimentos e bebidas, produtos químicos
e plantas tóxicas (LARA et al., 2019).
A preocupação reside também no fato que o Brasil tem dado grande flexibilidade
para aprovar o uso de produtos proibidos em diferentes países, o maior ponto fraco está
na ausência nas fiscalizações e medidas tomadas para garantir o cumprimento da
legislação (LOPES; ALBUQUERQUE, 2018). A maioria dos agrotóxicos é considerada
por agências reguladoras internacionais com alto potencial cancerígeno, e são proibidos
pela União Europeia. Além dos grandes riscos à saúde humana, essa flexibilização e,
como consequência, o aumento do número da liberação de agrotóxicos de alta toxicidade,
representa um declínio nas políticas ambientais nacionais (BARBOSA; ALVES;
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
GRELLE, 2021), que se agravou nos últimos 5 anos. Ressalta-se que o Ministério da
Saúde, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é responsável
pela avaliação e classificação toxicológica dos agrotóxicos. O Ministério do Meio
Ambiente, por meio do IBAMA, atua na avaliação ambiental e classificação de potenciais
perigos ambientais, e na concessão do registro dos agrotóxicos. O MAPA é responsável
pelo registro dos agrotóxicos usados na produção de alimentos brasileira (IBAMA, 2016).
Na Figura 5 é possível observar que o ano de 2016 foi configurado pelo salto no número
de registros de agrotóxicos, de 2015 a 2020 foram registrados 354 produtos no Brasil, o
ano de 2020 foi o maior da série histórica.
Figura 5: Número de agrotóxicos registrados no Brasil – Período de 2009-2010
Fonte: MAPA, 2021.
Org.: Autora, 2021.
Os incentivos e aliança contra regulamentações mais rígidas vêm das grandes
empresas que dominam os agrotóxicos, principalmente aqueles com ingredientes ativos
utilizados em culturas importantes, bem como dos fazendeiros latifundiários das culturas
da cana-de-açúcar, soja e milho, que representam três quartos do total de agrotóxicos
utilizados no Brasil (MORAES, 2019). Essa questão é também apoiada por uma grande
quantidade de recursos, gestores públicos, políticos e empresários de mesmo partido que
exercem pressão para garantir sua continuidade sem qualquer interesse em mudar o estado
das coisas (NASRALA NETO; LACAZ; PIGNATI, 2012).
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
A influência e facilidades de alcance do agronegócio são devidas, também, a
chamada Frente Parlamentar Agropecuária, mais conhecida como Bancada Ruralista2, do
atual governo Bolsonaro [2018 – atual]. Atualmente, o Governo prepara um decreto para
mudar a regulação sobre o registro dos agrotóxicos, com o Projeto de Lei 6299/02,
também conhecido como "Pacote do Veneno"3, objetivando atualizar a legislação dos
Agrotóxicos, essa criada em 1989, tonando mais permissiva a fabricação,
comercialização e uso abusivo dessas substâncias tóxicas. O mesmo tem sido seguido por
governistas estaduais alinhados com o governo federal.
De acordo com Möhring et al. (2020), para superar os objetivos conflitantes entre
a produção de alimentos, proteção ambiental, biodiversidade e saúde humana, e evitar
uma solução segregada para cada objetivo político e participante da cadeia de valor
alimentar, as políticas dos agrotóxicos devem ser integradas para uma orientação de
política alimentar. O processo político deve ser dinâmico e as políticas públicas devem
ser constantemente ajustadas para se adaptar às mudanças futuras no sistema agrícola e
as propostas dos objetivos do desenvolvimento sustentável.
As políticas públicas precisam se distanciar do desenvolvimento econômico em
prol apenas de si, de modo a englobar um desenvolvimento que comungue com as
dimensões econômicas, sociais, ambientais, éticas e jurídico-política (GOMES;
FERREIRA, 2018). Por isso, é imprescindível a realização de políticas públicas pautadas
nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS elaborados pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 2015, com prazo de cumprimento até 2030. A Agenda 2030
apresenta 17 objetivos distribuídos em 169 metas, dentre estas estão a de “garantir
sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas
resilientes, que aumentem a produtividade e a produção, que ajudem a manter os
ecossistemas, que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas, às
condições meteorológicas extremas, secas, inundações e outros desastres, e que
melhorem progressivamente a qualidade da terra e do solo” e a de “acabar com a fome e
garantir o acesso a alimentação a todas as pessoas” (ONU BRASIL, 2018).
2
A bancada ruralista tem uma história marcada pela presença do patronato rural e agroindustrial nas
instâncias do Estado e nos espaços de elaboração e de execução de políticas. Ela visa defender a propriedade
latifundista da terra, se constituindo como o aval dos grandes proprietários de terra e empresários rurais e
agroindustriais (BRUNO, 2017).
3
Ver: https://emais.estadao.com.br/blogs/comida-de-verdade/por-que-o-pacote-do-veneno-e-tao-perigoso/
e https://www.abrasco.org.br/site/noticias/movimentos-sociais/lancamento-novo-dossie-
agrotoxicos/57970/.
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
Cabe destacar que, nos ODS, houve críticas de que muitas das metas são retóricas,
sendo consideradas idealistas e visionárias, e há dúvidas sobre a viabilidade dos
indicadores aprovados. Embora os ODS sejam mais ambiciosos do que os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio4 (ODM), com um notável aumento de metas e indicadores,
muitos deles são repetições de antigas promessas que foram adiadas, e por décadas não
estão sendo cumpridas (GIL, 2018).
Para o alcance, acredita- que há uma necessidade de alinhar o paradigma de
desenvolvimento, a sustentabilidade, a qual surge como meta a ser conquistada. Esses
propósitos reforçam o desafio do país na implementação de ações destinadas a mudar os
principais padrões de produção e consumo, a viabilidade precisa ser comprovada com
uma agenda voltada a promoção da agricultura sustentável e da soberania alimentar. Isso
aponta implicações práticas para o atual governo que de forma antagônica ao
desenvolvimento sustentável, amplia e difunde o desenvolvimento agrícola pautado na
promoção de commodities.
Reconhecemos que existe uma ocultação de responsabilidades do Estado no seu
projeto político aliado a ausência de estratégias para dinamização da economia nacional
em alternativas que prese a sustentabilidade. Tendo em vista que, no Brasil, a dimensão
econômica segue como prioridade na tríade do desenvolvimento sustentável (social,
econômico e ambiental). Além do mais, a atuação do atual Governo, apresenta o
agronegócio como salvador da economia, capaz de eliminar a fome no mundo
(MITIDIERO JUNIOR; GOLDFARB, 2021). Na lógica contrária, conforme os dados
apresentados, a atividade vem construindo cenários agravantes de impactos ao meio
ambiente e a população, evidenciando de forma latente a necessidade de uma mudança
de paradigma.
A busca por um novo padrão de produção
A agricultura sustentável vem como alternativa para garantir a conservação dos
recursos naturais, diversos autores trabalham com a definição da agricultura sustentável,
as principais palavras citadas são a preservação dos recursos naturais para as futuras
4
Os ODM foram oito grandes objetivos globais propostos pelos membros da ONU, que juntos visaram
avançar rapidamente para acabar com a pobreza extrema e a fome no mundo. A proposta foi adotada por
unanimidade por 191 chefes de Estado e representantes de alto nível na 55ª sessão da Assembleia Geral da
ONU, a chamada "Cúpula do Milênio da ONU", realizada em setembro de 2000, nos Estados Unidos
(ROMA, 2019).
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
gerações, manutenção da biodiversidade, ciclagem de nutrientes e manejo e conservação
do solo (ALTIERI, 2009; CAPORAL; COSTABEBER, 2003, GLIESSMAN, 2000).
De acordo com Pretty (2020), os sistemas agrícolas sustentáveis exibem uma série
de atributos importantes que minimizam os impactos no meio ambiente, como: evita o
uso desnecessário de insumos externos; possibilita a ciclagem de nutrientes e fixação
biológica de nitrogênio; elimina o uso de tecnologias ou práticas que têm impactos
adversos sobre o meio ambiente e saúde humana, como contaminação da água, perda da
biodiversidade, dispersão de pragas, patógenos e ervas daninha.
Na agricultura sustentável emerge a agroecologia, que envolve metodologias para
resolver os desafios da produção agrícola convencional e sua expansão. A agroecologia
nasceu de diversos movimentos contra o uso de agrotóxicos, visando a valorização dos
conhecimentos tradicionais e a defesa do equilíbrio do ecossistema. Sendo assim, foi
considerada uma forma de resistência e alternativa às mudanças no sistema alimentar
advindos pela Revolução verde na década de 1970. Nos 1980 anos as investigações sobre
a agroecologia se aprofundaram com enfoque na pesquisa agrícola, se fomentando de
forma mais acentuada e participativa nos anos 1990 (GLIESMANN 2018; WEZEL et al,
2009).
Antagônica ao modelo convencional, a agroecologia veio como novo paradigma
de desenvolvimento rural sustentável, com ações voltadas para a construção de uma
agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente correta (LEFF,
2002). Para a práxis da agroecologia, o primeiro passo é a manutenção e ampliação da
diversidade da biodiversidade – elemento fundamental para a coexistência de processos
ecossistêmicos. Desse modo, o enfoque é o redesenho dos agroecossistemas, levando em
consideração os meios bióticos e abióticos e suas relações (CAPORAL, 2008), inter-
relações e interações entre os organismos, populações, comunidades dos sistemas
ecológicos. Nessa lógica, Vandermeer et al. (1998) comentaram que sistemas agrícolas
complexos, ou seja, diversificados, são mais sustentáveis em termos de conservação de
recursos quando comparados com os sistemas simples, os monocultivos. As interações
biológicas e ecológicas mantem a resistência e resiliência dos sistemas ecológicos
mantendo às alterações graduais inerentes aos ecossistemas: a dinâmica de mudanças.
Altieri (2017) aponta os diversos benefícios sociais, econômicos e ambientais que
a adoção de práticas de base agroecológica proporciona nos sistemas produtivos,
apresentados na Tabela 1.
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
Quadro 1: Principais impactos ambientais, sociais e de segurança alimentar de várias
iniciativas agroecológicas implementadas na América Latina
Conservação de recursos naturais: microbacias reflorestadas; fragmentos florestais
reconectados; remanescentes florestais enriquecidos com espécies nativas.
Conservação da água: água suficiente para o consumo familiar; proteção de matas
ciliares; implementação de técnicas de captação de água; enriquecimento de matéria
orgânica do solo para melhorar capacidade de armazenamento de água.
Conservação do solo: restauração de solos degradados; controle da erosão através da
implementação de diversos sistemas de conservação do solo práticas (terraceamento, cultivo
em contorno, cobertura morta, etc.)
Recuperação e conservação de germoplasma nativo: recuperação de espécies e sementes
adaptadas por meio de programas de conservação, feiras de sementes, redes de guardiões de
sementes e projetos participativos de melhoramento genético.
Produção agrícola: implantação de lavouras integradas com rotações, policulturas e
integração animal, produzindo 25% a mais hectare de terra do que as propriedades com
monocultura convencionais. Mais de 70% dos insumos usados nas propriedades são locais,
aumentando a autonomia produtiva
Auto-suficiência alimentar: pelo menos 60% dos alimentos básicos consumidos pela
família ou comunidade são produzidos localmente
Auto-suficiência energética: pelo menos 60% da energia necessária para a produção de
alimentos e cozimento tem origem local fontes (biomassa, biogás de biodigestores, tração
animal, trabalho humano, etc.)
Coesão social: nascimento de organizações sociais locais; esforços coletivos para fins de
restauração e produção; empoderamento de mulheres e jovens; maior coesão social para
resistir a influências externas negativas e para lutar por direitos
Viabilidade econômica: mercados locais; redes solidárias com os consumidores, baixa
dependência de insumos externos; agroecoturismo e comercialização de produtos com
identidade cultural.
Fonte: Altieri; Nicholls; Montalba, (2017).
Em tempo, a agroecologia vem para promover a produção de alimentos
conservando os recursos naturais, a cultura alimentar e garantir a segurança alimentar das
futuras populações, promovendo não somente aspectos de estima individual e social, do
coletivo, mas devido às características inerentes a qualidade e bem-estar, segurança e
soberania alimentar. Para Finatto e Salamoni (2008) a agricultura familiar mostra
características compatíveis com o ideário da sustentabilidade, diante da busca por novos
sistemas produtivos e organizacionais que valorizem estratégias produtivas sustentáveis.
Dessa forma, cabe ao governo maiores investimentos em políticas públicas que
incentivem a produção da agricultura familiar, tendo em vista que a categoria é a principal
responsável pela produção dos alimentos que são disponibilizados para o consumo da
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a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
população brasileira (MAPA, 2019). Conforme o Censo Agropecuário do IBGE (2006) a
agricultura familiar produz em média 70% da produção de feijão, 34% do arroz, 87% da
mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo, na pecuária, 58% do leite, 59%
de suínos, 50% das aves e 30% dos bovinos.
Nesse sentindo, com o crescimento do agronegócio, utilização de defensivos
agrícolas e o desenvolvimento de tecnologias para produção agrícola, torna-se urgente
pensar em maneiras de minimizar os danos ao meio ambiente e a saúde humana. Acredita-
se que a perspectiva de desenvolvimento agrícola no Brasil necessita urgentemente de
reajustes para percorrer com os ideais do desenvolvimento (rural) sustentável. Desse
modo, é necessário a construção de ações que considerem as especificidades e
potencialidades da agricultura familiar na produção de alimentos saudáveis, a fim de
levantar questões para que metodologias e os objetivos das políticas públicas e ODS’s
possam ser (re) definidos para uma reorientação efetiva de ações fomentadoras no Estado,
no sentido de favorecer a sustentabilidade.
Considerações finais
O modo de produção agropecuária disseminado pela revolução verde, baseado na
monocultura, apresenta vantagens econômicas, contudo possui severos danos ambientais
e na saúde humana. Nesse sentido, é fundamental repensar o modelo de desenvolvimento
que vem sendo adotado para a agricultura no Brasil. É crescente a preocupação que o
impacto dos agrotóxicos vem causando na saúde da população e na degradação dos
recursos naturais, tendo em vista que os produtores rurais ignoram a dosagem de
agrotóxicos, essa aplicação de altas doses ocasiona a contaminação da água, penetram no
solo ou nas plantas, movendo do alvo para um local externo. Os resíduos dos agrotóxicos
penetram no corpo humano através do contato com a pele, contato com os olhos, inalação
ou ingestão.
Portanto, para proteger a saúde humana e o meio ambiente é necessário adotar
estratégias sustentáveis. Desse modo, emerge a necessidade de ações pautadas na
mudança de paradigma, que ultrapassem o desenvolvimento unicamente na dimensão
econômica. A narrativa defendida do agronegócio como atividade que gera a produção
de riquezas no país, afeta a compreensão da necessidade de políticas alimentares. A
expansão do agronegócio e a alta produção agrícola, não resolve a problemática da fome,
que está diretamente relacionado a lógica do acesso ao alimento e não a sua escassez.
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Implicação socioambiental do agronegócio no Brasil: Natália Thaynã Farias Cavalcanti
a necessidade da agroecologia como alternativa viável Gilberto Gonçalves Rodrigues
Reconhecemos que o agronegócio não é uma forma de atividade que possui potencial de
superar a insegurança alimentar e de considerar os recursos naturais como fonte esgotável.
Assim, existe uma necessidade de mitigar os seus efeitos e investir em um novo padrão,
que possibilitem a produção de alimentos de forma sustentável.
A agroecologia tem no seu bojo práticas que possibilitam promover resultados
ambientais e sociais positivos, promovendo a redução e extinção do uso de substâncias
tóxicas na propriedade rural, devido a adoção de práticas que evitam o rompimento do
equilíbrio ecológico e proporcionam estabilidade aos ecossistemas naturais.
Evidencia-se que mais pesquisas são necessárias para compreender os efeitos da
aplicação de agrotóxicos na perspectiva social e ambiental e uma maior investigação
acerca dos interesses econômicos que estão por traz do uso e liberação desses produtos.
Desse modo, o governo e a comunidade científica devem trabalhar juntos, além disso,
existe a necessidade de formular novas políticas e marcos regulatórios sobre o uso de
agrotóxicos no ambiente rural.
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