OK - Baumhardt Gabriela Godoi 2021 TCC
OK - Baumhardt Gabriela Godoi 2021 TCC
OK - Baumhardt Gabriela Godoi 2021 TCC
Santa Maria, RS
2021
Gabriela Godoi Baumhardt
Santa Maria, RS
2021
Gabriela Godoi Baumhardt
Santa Maria, RS
2021
Dedico este trabalho aos meus pais que,
com todo amor e esforço, tornaram possível a
minha graduação. Também dedico a todos os
companheiros de quatro patas que fizeram e
fazem parte da minha vida.
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO: As Intervenções Assistidas por Animais têm sido designadas como uma nova
estratégia de trabalho entre as ciências da saúde, sociais e educacionais. Observa-se que este tipo
de intervenção gera benefícios físicos, emocionais e sociais no ambiente em que é aplicada.
OBJETIVO: O presente estudo tem como objetivo investigar as contribuições e presença da
psicologia nas IAAs no contexto hospitalar. MÉTODO: Foi realizada uma pesquisa do tipo revisão
sistemática, que se utilizou de publicações científicas dos anos de 2015 a 2020, retiradas das bases
de dados SCIELO, PEPSIC, LILACS, BVSalud e PUBMED através dos descritores: Intervenções
Assistidas por Animais; Terapia Assistida por Animais; Atividade Assistida por Animais e Hospital.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Nota-se um interesse crescente nas pesquisas na área, porém, no
que refere à Psicologia, apenas menções a benefícios e aspectos psicológicos foram feitas, sem
explicar estes processos e nem mencionar a atuação profissional. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Desta
forma, evidencia-se a necessidade de realizar maiores estudos que investiguem os processos
psicológicos decorrente das IAAs visto que a ciência psicológica tem muitas contribuições a fazer
para aprimorar o entendimento sobre os efeitos da intervenção em pessoas para assim, colaborar na
elaboração da prática em IAAs.
INTRODUCTION: Animal Assisted Interventions has been designated as a new work strategy among
the health, social and educational sciences. It is observed that this type of intervention generates
physical, emotional and social benefits in the environment in which it is applied. OBJECTIVE: This
study aims to investigate the contributions and presence of psychology in AAIs in the hospital context.
METHOD: A systematic review research was conducted, scientific publications from the years 2015 to
2020 were used, taken from the SCIELO, PEPSIC, LILACS, BVSalud and PUBMED databases using
the descriptors: Animal-Assisted Interventions; Animal-Assisted Therapy; Animal-Assisted Activity and
Hospital. RESULTS AND DISCUSSION: There is a growing interest in research in the area, however,
with regard to Psychology, only mentions of benefits and psychological aspects were made, without
explaining these processes or mentioning professional performance. FINAL CONSIDERATIONS: In
this way, the need for further studies to investigate the psychological processes resulting from AAIs is
evident, since psychological science has many contributions to make to improve the understanding of
the effects of intervention on people, in order to collaborate in the elaboration of practice in AAIs.
Keywords: Animal-Assisted Interventions; Health Psychology; Hospital
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
1 INTRODUÇÃO 9
2 OBJETIVOS 10
2.1 OBJETIVO GERAL 10
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 11
3 REFERENCIAL TEÓRICO 11
3.1 A PSICOLOGIA DA SAÚDE NO CONTEXTO HOSPITALAR 11
3.2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO HUMANO-CÃO 14
3.3 AS INTERVENÇÕES ASSISTIDAS POR ANIMAIS (IAAS) 18
4 METODOLOGIA 21
5 RESULTADOS 23
6 DISCUSSÃO 36
6.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS E CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NAS
IAAS.......................................................................................................................... 37
6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXECUÇÃO DO TRABALHO DAS IAAS 40
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 41
REFERÊNCIAS 44
9
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, observa-se que profissionais da saúde cada vez mais
buscam novas maneiras de humanizar o cuidado de usuários dos serviços de saúde
e, devido a este interesse, muitas práticas vistas como não tradicionais estão sendo
progressivamente mais estudadas, sendo um exemplo dessa busca as Intervenções
Assistidas por Animais (FERREIRA; GOMES, 2017).
Destaca-se que as IAAs podem ser realizadas com outros animais
domésticos, além dos cachorros, como: gatos, coelhos, tartarugas, pássaros,
cavalos e hamsters. Porém, o presente trabalho discorre sobre a Intervenção
Assistida por Animais com a utilização de cães, devido ao maior interesse da autora
bem como pelo cão ser o animal mais utilizado.
De acordo com a IAHAIO (Associação Internacional de Organizações de
Interação Humano-Animal) uma Intervenção Assistida por Animais (IAA) é “uma
intervenção estruturada e com objetivos que intencionalmente inclui ou incorpora
animais nas áreas de ciências humanas, saúde e educação, com o propósito de
ganhos terapêuticos em humanos.” (IAHAIO, 2018).
Dotti (2005) fez um levantamento na literatura acerca dos benefícios da
utilização das IAAs em diferentes contextos, dentre eles: melhora na comunicação e
expressão de sentimentos, diminuição de sintomas depressivos, estimulação de
afeto, melhora da cognição e percepção da realidade, melhora no quadro geral de
humor, melhora de sintomas de ansiedade generalizada e aumento da habilidade de
confiança.
É importante mencionar que alguns profissionais da área das IAAs enxergam
a relação entre humano e animal e seus benefícios como algo mágico e que, para a
construção de uma prática mais ética, devemos assumir uma posição crítica e
científica na compreensão dos princípios teóricos que fundamentam o uso dos
animais e o motivo pelo qual se mostra uma prática promissora (RAMOS; PRADO;
MANGABEIRA, 2016).
Kobayashi (2009) também menciona que a utilização de animais no ambiente
hospitalar contribui para a criação de um ambiente mais humanizado, com melhora
nas relações interpessoais e comunicação entre paciente e equipe, proporcionando
um aumento no bem-estar geral e emocional de pacientes.
Os benefícios citados vão ao encontro dos objetivos da Psicologia Hospitalar
10
2 OBJETIVOS
3 REFERENCIAL TEÓRICO
progressiva entre humanos e animais que hoje evoluíram para cães domésticos. Tal
aproximação se deu, majoritariamente, pelo fornecimento de restos de comida, mas
também possíveis outras causas como, por exemplo: a ajuda desses animais na
caça (PAXTON, 2000), a seleção por parte dos humanos de traços morfológicos e
fisiológicos desses animais (MIKLÓSI, 2007), a inserção de filhotes de lobos nas
aldeias (GALIBERT et al, 2011) e a disposição destes animais de interagir e brincar
com seres humanos (KOLM et al 2020; HANSEN, TEMRIN 2020).
Da mesma maneira há indícios de vínculo afetivo dos humanos para com os
cães há muitos anos. Janssens et al. (2018) reexaminaram os restos mortais do “cão
de Bonn-Oberkassel” (com aproximadamente 14 mil anos de idade) e constataram
que o cão morrera por conta de uma infecção com alta taxa de mortalidade e que, se
o cão não tivesse sob cuidados de humanos, não teria sobrevivido o tempo que
sobreviveu. Concluíram então que os humanos possivelmente o ajudaram,
mantendo sua alimentação e higiene, sem pretensão de benefícios aos humanos
visto que o cão não poderia realizar qualquer serviço (como caça ou proteção)
devido a situação de doença. Essa evidência aponta vínculo afetivo desde os
primórdios da domesticação.
Consequentemente, o cão foi tornando-se cada vez mais parte do convívio do
ser humano. Porém, apenas no final da década de 90 o interesse de pesquisadores
sobre o comportamento canino cresceu potencialmente. Pesquisas demonstram
que, além das demais habilidades atribuídas aos cães, a que mais se destaca e
explica a grande relação entre cães e humanos é a grande habilidade social e
competência na interpretação de comportamentos sociais e comunicativos
encontrada em cães, que são até mesmo mais fortes do que as encontradas em
outros canídeos (MIKLÓSI et al, 2003; HARE et al, 2002).
Desta forma, começamos entender a maneira com que cães se relacionam
conosco, visto que ambos possuem sistemas de comunicação muito similares, com
grande ênfase nos sinais visuais do corpo e face (VAS et al, 2005). Além disso,
evidências indicam que essas habilidades sociais e cognitivas foram resultado do
processo de domesticação canina, visto que filhotes de lobos e lobos que foram
criados por seres humanos não possuem as mesmas habilidades de entendimento
de comportamentos e pistas gestuais humanas que um filhotes de cão possui
(HARE et al, 2002).
Devido a todas essas faces da relação humano-cão, outro ponto relevante se
16
com atenção, toque à pessoa) são consistentes com uma resposta empática, de
ajuda e de conforto e não uma ação conduzida apenas pela curiosidade
(CUSTANCE; MAYER, 2012).
Também em 2011, Deputte e Doll realizaram um estudo com o objetivo de
investigar se cães entendiam expressões faciais humanas (raiva, alegria, nojo e
medo) por meio de informação visual. O resultado do estudo indicou que os cães
demonstram comportamentos diferentes (aproximação, evitação e reação
emocional) para cada expressão facial e que, o comportamento variou de acordo
com a idade do cão, pois cães adultos reagiram mais ativamente à expressões de
raiva com comportamentos de evitação e à expressões de medo com
comportamentos voltados à atenção/curiosidade. Isso mostra como a convivência e
exposição interfere na resposta do cão para com o ser humano, exemplificando a
importância da socialização canina.
Em contrapartida, em 2012, Racca et al. realizaram um estudo importante no
qual após analisarem o processamento de imagens em cães referentes a
expressões faciais (amigável, neutra e ameaçadora) tanto de humanos quanto de
outros cães, concluíram que o processamento se dá de maneira dessemelhante, o
que aponta que cães percebem e diferenciam informações faciais das duas espécies
de forma diferente.
De qualquer maneira, o sucesso da relação de cães e humanos se deu
também pela grande simpatia que o ser humano tem para com os cães. Serpell
(2002) explica que, além da teoria da biofilia proposta por Edward Wilson em 1984
na qual o mesmo sugere que os seres humanos possuem uma conexão emocional
inata com outros seres vivos e com a natureza, é provável que os seres humanos
desenvolvem ligações emocionais, interagindo e cuidando de cães, pois assemelha-
se muito ao cuidado com bebês humanos, constituindo o laço de apego.
Desta forma, pode-se entender que cães são capazes de identificar e
responder a sinais visuais, auditivos, comportamentais, emocionais e sociais de
humanos e outros animais. Devido a isso, os cães começaram a ser utilizados para
fins específicos, o que levou à criação de raças com características individuais e
treinamento especial para diferentes propósitos como caça, guarda, pastoreio,
companhia, assistência e intervenção assistida por animais.
18
4 METODOLOGIA
BVSalud.
Foram utilizados os descritores em português e inglês: Intervenções
Assistidas por Animais/Atividade Assistida por Animais/Terapia Assistida por
Animais e Hospital. Para fazer cruzamento entre os termos, foram utilizados os
operadores booleanos “AND” e "OR", de acordo com o sistema de busca de cada
base de dados. Dentre os descritores citados, apenas “hospital” é um descritor
controlado do DeCS (Descritores da Ciência da Saúde), o que mostra a necessidade
de maiores estudos.
A busca ocorreu no mês de janeiro de 2021, sendo os critérios de inclusão: a)
artigos disponíveis na íntegra e gratuitamente; b) nos idiomas português, inglês e
espanhol; c) artigos empíricos, d) artigos inseridos no contexto hospitalar e e)
publicados no período de janeiro de 2015 a janeiro de 2021. A escolha deste período
foi decorrente da necessidade de evidenciar o conhecimento mais recente e atual
sobre a temática. E os critérios de exclusão sendo: a) artigos que não abordem
contribuições da área da psicologia, b) duplicidade e c) artigos que abordam
intervenções assistidas por animais que não utilizam cães.
Desta maneira, foram obtidos ao total 3.400 artigos, sendo 3 artigos
encontrados na base de dados Scielo, 3.128 artigos na base PubMed, 15 artigos na
base Lilacs, 03 artigos na base Pepsic e 251 artigos na base BVSalud.
Primeiramente foram analisados os títulos dos artigos e, desta forma, 3.308 artigos
não foram selecionados, sendo que 459 artigos se tratavam de revisões de
literatura, 1.439 artigos não estavam disponíveis para a leitura (pagos/sem acesso) e
1.410 artigos não tinham relação com o tema. Resultando em 92 artigos
selecionados para o próximo passo.
Na segunda etapa foi realizado a leitura dos resumos dos 92 artigos
selecionados, dos quais 43 não tinham relação com o tema determinado, 02 artigos
tratavam-se de revisões de literatura, 13 artigos não estavam disponíveis para
acesso, 07 artigos encontravam-se duplicados e 06 artigos discorriam sobre
intervenções assistidas com outros animais que não cães.
Por fim, obteve-se 21 artigos selecionados para serem lidos na íntegra
(conforme fluxograma abaixo), visto que a análise dos artigos busca evidenciar as
contribuições da psicologia para as IAAs e se estão presentes na literatura.
23
5 RESULTADOS
Quadro 1 - Descrição dos artigos de acordo com o título, autores, ano e país. Santa Maria, RS, Brasil, 2021.
1 “Can a tu lado”: una MONLEÓN., María Carmen 2017 Espanha Ensaio clínico Adolescentes
intervención canina en Benedito; FONS, Maria randomizado
adolescentes hospitalizados Barberá; BALLARÍN, Paula
con patología psiquiátrica Pacheco; ANDREU, João
Antonio Lopes.
2 Assessing the Outcomes of an ÁVILA-ÁLVAREZ, Adriana; 2020 Espanha Ensaio clínico não Crianças e
Dogs Versus Deliberative Kimberly; DAVIS, Jacob C.; Unidos da randomizado da saúde
Coloring (Art Therapy) to PARRA, Jonathan A.; TODD, América
28
12 The use of Animal-Assisted STEFANINI, M.C.; MARTINO, 2015 Estados Ensaio clínico Adolescentes
Therapy in adolescents with A.; ALLORI, P.; GALEOTTI, F.; acute Unidos da randomizado
mental disorders: A TANI, F. América
randomized controlled study.
13 Visita terapêutica de cães a MILHOMEM, Alyne C.M.; 2018 Brasil Relato de Adultos
Pacientes internados em uma CALEFI, Mariana P.S.S.; experiência
unidade de cuidados paliativos MARODIN, Nayara B.
14 Interação lúdica na atividade PEREIRA, Viviane R.; 2017
Brasil Descritivo Crianças
assistida por cães na pediatria NOBRE, Marcia de O.; exploratório
CAPELLA, Sabrina; VIEIRA,
29
Ana Claudia G.
15 Animal-assisted therapy at a SCHMITZ, Andrea; 2017
Alemanha Análise de Prontuários
University Centre for Palliative BEERMANN, Melanie; conteúdo médicos de
Medicine – a qualitative MACKENZIE, Colin R.; FETZ, adultos
content analysis of patient Katharina; SCHULZ-QUACH, hospitalizados
records Christian.
16 Can therapy dogs improve HARPER, Carl M.; DONG, 2015
Estados Ensaio clínico Adultos
pain and satisfaction after total Yan; THORNHILL, Thomas S.; Unidos da randomizado
joint arthroplasty? A WRIGHT, John; READY, John; América
randomized controlled trial. BRICK, Gregory W.; DYER,
George.
17 Canine-Assisted Therapy MACHOVÁ, Kristýna; 2019
República Estudo cross-over Profissionais
Improves Well-Being in SOUCKOVÁ, Michaela; Tcheca da saúde
Nurses. PROCHÁZKOVÁ, Radka;
VANICKOVÁ, Zdislava;
MEZIAN, Kamal.
18 Controlled clinical trial of KLINE, Jeffrey A.; FISHER, 2019 canine Estados Ensaio clínico Adultos
therapy versus usual Michelle A.; PETTIT, Katherine care to reduce Unidos da randomizado
patient anxiety L.; LINVILLE, Courtney T.; América
30
in the emergency department. BECK, Alan M.
19 Atividade assistida por animais ICHITANI, Tatiane; CUNHA, 2016 Brasil Pesquisa de Crianças e
Quadro 2 - Descrição dos artigos de acordo com o objetivo e os resultados. Santa Maria, RS, Brasil, 2021
1 Avaliar se as IAAs podem ajudar adolescentes com A intervenção assistida por cães diminui a ansiedade dos
transtornos psiquiátricos agudos durante a internação pacientes e os mesmos a consideram útil.
psiquiátrica e se podem acelerar sua recuperação.
2 Avaliar a viabilidade das intervenções assistidas por Os resultados mostraram uma melhora estatisticamente
animais e explorar as percepções de seus resultados significativa no estado emocional dos pacientes após a sessão,
por crianças e pais/responsáveis/acompanhantes. concluindo que a IAAs é uma abordagem eficaz quando se
trata de promover o bem-estar emocional de crianças durante
sua permanência em ambientes de cuidados hospitalares.
3 Avaliar as experiências e respostas das crianças à As respostas das crianças antes da interação mostram uma
TAA, utilizando um cão de terapia como tratamento mudança de foco após a interação com um cão de terapia para
complementar no atendimento hospitalar pediátrico. uma natureza positiva em relação ao auto-relato de sentimento
de bem-estar (aspectos envolvendo alegria, satisfação e alívio
da dor) e experiências de internação hospitalar.
4 Avaliar a viabilidade, aceitabilidade e impacto O estudo demonstrou que programas assistidos por animais
preliminar de um programa de intervenção assistido podem ser um meio de melhorar o humor, bem-estar e diminuir
32
por animais para melhorar o bem-estar de profissionais o esgotamento entre funcionários de saúde.
de saúde.
5 Determinar se a TAA tem um efeito positivo para A inclusão da TAA não afetou os parâmetros fisiológicos, mas
pacientes em tratamento de longo prazo e se esses exerceu efeito significativo no bem-estar psicológico dos
tratamentos afetam parâmetros como pressão arterial, pacientes.
frequência cardíaca e índice de Barthel.
6 Descrever a experiência da terapia assistida por A implementação da terapia assistida por animais como
animais no tratamento odontológico pediátrico de complemento do tratamento odontopediatria teve grande
crianças e jovens com necessidades especiais de aceitação e permitiu o sucesso de procedimentos
saúde. odontológicos invasivos e não invasivos em crianças e jovens
com necessidades especiais de saúde.
7 Analisar as opiniões dos pacientes sobre se eles A maioria dos pacientes indicou que gostaria da visita de um
gostariam de ser visitados por um cão de terapia no cão de terapia e que poderiam querer a visita de um cão de
Departamento de Emergência de um hospital. terapia no DE para reduzir a ansiedade, frustração, bem como
para aumentar o conforto, satisfação e para reduzir a dor.
8 Avaliar se uma IAA tem efeitos positivos adicionais Os resultados mostraram uma tendência de melhoras no
para soldados com TEPT em comparação com o âmbito social e no bem-estar do grupo de intervenção em
tratamento convencional de TEPT sem a IAA. comparação ao grupo controle.
33
9 Compreender melhor o impacto de um programa de A terapia assistida por animais facilitou a rápida recuperação terapia
assistida por animais na resposta de crianças da vigilância e da atividade após a anestesia, modificou a
ao estresse e à dor no período pós-cirúrgico imediato. percepção da dor e induziu respostas emocionais pré-frontais.
10 Avaliar se a interação de médicos e enfermeiras com Os profissionais que interagiram com o cão tiveram uma um cão
de terapia durante o turno em um redução significativa na ansiedade auto-relatada e tiveram um departamento de
emergência pode gerar menores índice menor de cortisol salivar no final do turno em níveis de estresse percebido e
manifestado em comparação com o grupo que participou do exercício de colorir
comparação a um exercício de colorir. e o grupo controle. Estas descobertas sugerem que os cães de
terapia podem reduzir o estresse cognitivo e fisiológico
experimentado por profissionais de emergência durante o
plantão.
11 Compreender as experiências vivenciadas pelos Ao refletir sobre a inserção da TAA na rotina da unidade, os
enfermeiros sobre o uso da terapia assistida por profissionais entendem ser um diferencial para a instituição,
animais (TAA) com crianças hospitalizadas. reconhecendo seus benefícios para a criança, família e
profissionais. A inserção do animal no hospital é uma prática
viável, que deve ser estimulada.
12 Comparar os efeitos da TAA com um protocolo de Os resultados indicam uma melhora estatisticamente tratamento
padrão em crianças e adolescentes significativa no funcionamento global, redução no formato de
internados em hospital psiquiátrico para transtornos atendimento e aumento da frequência escolar normal no grupo
34
13 Relatar a implantação das atividades assistidas por Pacientes, acompanhantes e funcionários mostraram-se
animais em Unidade de Cuidados Paliativos. favoráveis à continuação do projeto.
14 Verificar a interação lúdica entre crianças e cães, no Observou-se que a interação entre crianças e cães
contexto hospitalar, tendo como foco a análise das proporcionou atividades de lazer, relaxamento, diversão,
reações e comportamento delas durante as atividades. interação lúdica e promoveu uma atmosfera acolhedora no
referido contexto.
15 Descrever a prática e a experiência do primeiro ano de Os resultados deste estudo sugerem que os pacientes podem
TAA após a implementação como parte integrante das se beneficiar potencialmente da AAT em termos de
opções de terapia adjuvante oferecidas em um centro comunicação facilitada, respostas emocionais positivas,
de cuidados paliativos. relaxamento físico aprimorado ou motivação para ativação
física.
16 Avaliar o papel da terapia assistida por animais usando O uso de cães de terapia tem um efeito positivo no nível de dor
cães de terapia na recuperação pós-operatória de dos pacientes e na satisfação com a permanência no hospital
pacientes. após procedimento cirúrgico.
17 Avaliar se a terapia assistida por animais (TAA) com a Os resultados mostraram que houve diferença significativa no
35
presença de um cão afeta o nível de estresse de grupo de profissionais, demonstrando o efeito na redução dos
18 Testar se os cães de terapia reduzem a ansiedade em Após contato com o cão houve diminuição nos níveis de
pacientes do departamento de emergência. ansiedade e dor em pacientes que participaram da IAA em
comparação ao grupo controle.
19 Avaliar os efeitos da AAA na sensação de dor em A atividade demonstrou eficácia quanto à redução da dor auto
crianças e adolescentes hospitalizados. referida pelos pacientes, além de melhorar aspectos
emocionais sobre a hospitalização.
20 Avaliar a eficácia de um programa de IAA (cão) na O programa demonstrou ser eficaz, diminuindo a frequência e
prevenção de violência em unidades psiquiátricas. gravidade dos comportamentos agressivos e o recurso a
psicofármacos.
21 Aprender a percepção de profissionais da equipe de A prática é reconhecida como benéfica para os participantes,
enfermagem e responsáveis por crianças e mas estes não compreendem o verdadeiro objetivo terapêutico
adolescentes com câncer acerca da TAA. e aplicações. As percepções dos participantes reforçam
recomendações que podem ser aplicadas no contexto
6 DISCUSSÃO
da confiança na equipe.
A IAA também se mostrou eficaz em melhorar o relacionamento interpessoal
de adolescentes hospitalizados com transtornos mentais agudos (MONLEÓN et al,
2017). Moreira et al (2016) mencionam em seu artigo que, antes da interação com o
cão, havia uma predominância de sintomas de ansiedade e estresse, bem como um
distanciamento com outros pacientes e profissionais da saúde.
Em relação à experiência de hospitalização, crianças relataram que a
presença do cão fez parecer com que o tempo de internação passasse mais rápido
e que conseguiam ter boas memórias após o período hospitalizadas (NILSSON et al,
2020). Além disso, na presença do cão, as crianças mantiveram-se mais tranquilas,
colaborativas em procedimentos dolorosos e motivadas ao tratamento (ex.:
quimioterapia), (ALMEIDA; NASCIMENTO; DUARTE, 2019; PEREIRA et al, 2017)
conforme relato de uma profissional da saúde:
“Geralmente, eles não querem muita conversa, mas no dia que o cachorro
vem, nós mesmos ficamos mais animadas, aí conversamos com eles sobre
isso. Eles passam a ter assunto em comum para conversar e fica muito
mais fácil fazer uma medicação.” (MOREIRA et al, 2016)
mal-estar.
Nos contextos relacionados com departamentos de emergência notou-se que
pacientes experienciaram altas frequências de estresse e altos níveis de ansiedade
durante o cuidado usual e, após a IAA, relataram uma diminuição de 35% na
ansiedade e sensação de dor, concluindo que a implementação de um programa de
IAA no departamento de emergência pode ajudar no alívio da ansiedade em
pacientes assistidos (KLINE et al, 2019). No estudo de Reddekopp et al (2020),
onde foram feitas entrevistas sobre a opinião de pacientes alocados em um setor de
emergência, 80% dos participantes indicaram que gostariam da visita de um cão de
intervenções assistidas por animais visto que a interação poderia reduzir a
ansiedade, frustração e a dor, bem como aumentar o conforto e satisfação.
Em relação aos estudos que abordaram o efeito das IAAs em profissionais da
saúde, notou-se que evidenciaram uma redução significativa na ansiedade auto
referida e nos níveis de cortisol após a IAA em comparação a grupos controles,
concluindo que a intervenção com cães podem reduzir o estresse cognitivo e
fisiológico experimentado por profissionais da saúde (MACHOVÁ et al, 2019; KLINE,
et al 2020) e que pode ser uma estratégia eficaz para diminuir os aspectos de
Burnout no ambiente hospitalar (ETINGEN et al, 2020).
Outros estudos sugerem a implementação de uma IAA no sentido de
humanizar o ambiente hospitalar e, com isso, melhorar processos terapêuticos
(JARA et al, 2020; MARQUES et al, 2015).
É relevante sinalizar que todos os estudos analisados neste trabalho
mencionam resultados relativos à saúde mental e bem-estar das pessoas que
passaram por IAAs. Entretanto, não foi possível localizar nos estudos uma descrição
mais aprofundada sobre as possíveis explicações psicológicas que poderiam estar
relacionadas aos efeitos da IAAs. A produção de conhecimentos que explorem estas
explicações poderia derivar da participação mais efetiva da Psicologia no
delineamento de pesquisas com vistas a consolidar as IAAs como prática
terapêutica que possa contar com profissionais da área.
40
diferentes locais, a prática das IAAs pode se tornar uma terapêutica recorrente no
cotidiano hospitalar.
Pereira et al (2017) concluem que os resultados da IAA executada sugerem
uma perspectiva com muitas potencialidades a serem exploradas, como o efeito na
motivação e bem-estar da equipe, e que essa terapêutica se mostra como uma
alternativa viável no contexto hospitalar.
De todo modo, as IAAs devem ser implementadas como uma prática
complementar ao tratamento padrão (ÁVILA-ÁLVAREZ et al, 2020; NILSSON et al,
2020) e não como uma opção isolada de intervenção para alguns tipos de
tratamento, como manejo da dor por exemplo (ICHITANI; CUNHA, 2016).
Diversos estudos apontam a necessidade de maiores pesquisas em todos os
âmbitos que perpassam a prática desse tipo de intervenção e em diversos contextos
dentro de um hospital geral como em pacientes paliativos (SCHMITZ et al, 2017),
pacientes psiquiátricos (MARQUES et al, 2015) e em profissionais da saúde
(ETINGEN et al, 2020). Ichitani e Cunha (2016) e Ávila-Álvarez et al (2020) apontam
sobre a necessidade de maiores análises acerca da utilização de IAAs como
tratamento complementar no manejo da dor, visto que as evidências sobre a
potencialidade não-farmacológica dessa prática ainda é muito branda, tanto em
pacientes pediátricos quanto em adultos. Nilsson et al (2020) sugere que sejam
feitos maiores estudos em que os próprios pacientes descrevam sua experiência
com a implementação de programas de intervenções assistidas por animais durante
sua internação hospitalar.
Desta maneira, reconhecer as possíveis lacunas e fragilidades na
implementação das IAAs nos permite refletir e aprimorar a prática, com o intuito de
promover interações mais humanizadas e éticas.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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