O Sistema de Estabelecimento Da Filiaã Ã o 2024
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Muito embora a relação de adoção não seja, em rigor, uma relação de filiação, pode dizer-se que hoje
a lei as equipara para quase todos os efeitos.
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Veremos que neste caso se tratará de uma filiação legal/contratual e, em tal medida, formal.
4 Cfr. RITA LOBO XAVIER, «Ideologia e violação de direitos na lei sobre o «direito à autodeterminação
da identidade de género (Lei n.º 38/2018 de 7 de agosto) in Revista Ação Médica, Ano LXXXII, n.º 1,
Abril 2019 (17-22), Porto (https://indd.adobe.com/view/cbaafe45-7ed1-4ea0-b96d-65eb8beab858).
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Cfr. ELÓSEGUI ITXASO, Mª, «Diez Temas de Género, Hombre y Mujer ante los derechos
productivos y reproductivos», Ediciones Internacionales Universitarias, Madrid, 2002); XAVIER, Rita
Lobo, «Questões atuais de Direito da Família, in PINTO, Helena Rebelo; SARDICA, José Miguel
(coords.) - Família Essência e Multidisciplinaridade. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2016. Cap.
5 (103-119), p. 114. Não se podem desconhecer os casos - anómalos e felizmente pouco frequentes -
de pessoas que nascem com o sexo não especificado ou ambíguo, pessoas que passaram a ser
designadas pela expressão intersexuais que substituiu a palavra hermafroditas, mais comum até ao
momento atual.
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Cfr. Diário da República n.º 190/2019, Série II de 2019-10-03.
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Se se tratar da aplicação das técnicas de reprodução medicamente assistida in vitro, é preciso fazer
notar que delas têm resultado embriões humanos que não foram transferidos e se encontram “excluídos
de qualquer projeto parental”. Há muito que se reclama um “estatuto específico” para o embrião
crioconservado. Os embriões in vitro necessitam de ser acolhidos por uma mulher-mãe para chegar a
nascer: a tutela da sua vida terá de envolver não apenas o direito a não ser destruído, mas também o
direito a não ser mantido indefinidamente naquela situação e, por isso, o direito a ser transferido. Esta
consideração pode tornar preferível a substituição da designação mais corrente de “vida extrauterina”
por “vida pré-uterina”, reforçando-se pela linguagem a vinculação absoluta à finalidade inicial da sua
“produção”. A Lei da PMA proíbe a criação de embriões com a finalidade deliberada da sua utilização
na investigação científica, embora permita a utilização dos chamados “embriões excedentários”
(artigos 25.º, n.º 5, e 9.º, n.ºs 1 e 2). Na verdade, embora na fertilização in vitro, apenas deva haver
lugar à criação de embriões em número considerado necessário para o êxito do processo (art. 24.º,
n.º1), e os beneficiários se comprometam a utilizar os embriões não transferidos em novo processo no
prazo máximo de 3 anos (art. 25.º, n.º 1), o certo é que, decorrido esse prazo, os embriões “sobrantes”
“viáveis” que não forem doados (art. 25.º, n.ºs 3, 4 e 5), poderão ser utilizados em investigação. A Lei
da PMA permite hoje a eliminação dos embriões não utilizados nos seis anos subsequentes ao
momento da sua crioconservação por determinação do diretor do centro.
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Cfr. XAVIER, Rita Lobo, «O respeito pela vida humana não nascida e respectiva tradução no
ordenamento jurídico português» in Do início ao fim da vida, Actas do Colóquio de Bioética, Funchal,
18 e 19 Março de 2005, Publicações da Faculdade de Filosofia, Universidade Católica Portuguesa,
Braga 2005 (139-162), p. 156.158.
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Na verdade, antes de responder à pergunta “que fazer dos embriões excluídos de um projeto
parental?”, haveria que questionar esta mesma pergunta, uma vez que ela parte de um pressuposto que
pode ser afastado: “é inevitável a existência de embriões crioconservados excluídos de um projeto
parental, eles são inerentes às técnicas de Reprodução Medicamente Assistida?”. E se resposta for
afirmativa, não será ainda de perguntar se os “tratamentos” de infertilidade não deverão limitar-se às
técnicas de transferência intratubar de gâmetas (GIFT)? Antes de responder à pergunta “como
estabelecer a paternidade das crianças geradas através de PMA com intervenção de dador?” não haverá
que questionar esta mesma pergunta, uma vez que ela parte de um pressuposto que pode ser afastado:
“as técnicas de Reprodução Medicamente Assistida com intervenção do dador podem ser aplicadas sem
violação dos direitos das crianças?”. No que diz respeito às mulheres que querem ter um filho sem pai,
ou que necessitam de uma gestante de substituição a pergunta será até que ponto este meu desejo, por
muito legítimo que seja, só poderá ser satisfeito à custa da compressão dos direitos de outros,
designadamente dos direitos do filho que vai nascer a ter um pai e uma mãe? Ou será que esse direito,
consagrado na Convenção dos direitos das crianças, é só garantido para algumas crianças?
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Note-se que não tendo o conservador do Registo Civil acesso aos dados relativos à PMA (Decreto
regulamentar n.º5/2008, de 11 de Fevereiro),a eventual deteção do impedimento dirimente relativo
depende do pedido de informação da pessoa nascida por PMA com intervenção de dador.
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Estas contradições foram realçadas no Ac. do TC sobre a gestação de substituição que levantou
objeções quanto à «confidencialidade» do dador e da gestante. Assim, foram declaradas
inconstitucionais as normas « (…) do n.º 1, na parte em que impõe uma obrigação de sigilo absoluto
relativamente às pessoas nascidas em consequência de processo de procriação medicamente assistida
com recurso a dádiva de gâmetas ou embriões, incluindo nas situações de gestação de substituição,
sobre o recurso a tais processos ou à gestação de substituição e sobre a identidade dos participantes nos
mesmos como dadores ou enquanto gestante de substituição, e do n.º 4 do artigo 15.º (…)» (cfr.
Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 225/2018, cit. pp. 1945-1946).
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Sobre o ponto, cfr. o parecer do CNECV (104/CNECV/2019 PARECER SOBRE A ALTERAÇÃO
AO REGIME JURÍDICO DA GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO); cfr. RITA LOBO XAVIER, «A
constitucionalização do contrato de gestação de substituição e a traição das imagens: “isto não é uma
gestação de substituição”» in Estudos em Homenagem ao Conselheiro Presidente Joaquim de Sousa
de substituição, com as devidas adaptações, o disposto no artigo 14.º, com exceção do previsto no seu
n.º 4 sobre o consentimento livremente revogável, sendo que nos casos de gestação de substituição o
mesmo pode acontecer, por vontade da gestante, até ao registo da criança nascida».