Escuta e Olhares - Às Linguagens Dos Bebês e Das Crianças
Escuta e Olhares - Às Linguagens Dos Bebês e Das Crianças
Escuta e Olhares - Às Linguagens Dos Bebês e Das Crianças
OLHARES
às linguagens dos bebês
e das crianças
PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA
Rafael Greca de Macedo
SUPERINTENDÊNCIA EXECUTIVA
Oséias Santos de Oliveira
DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA
Maria Cristina Brandalize
COORDENADORIA DE REGULARIZAÇÃO
Eliana Cristina Mansano
COORDENADORIA DE PROJETOS
Andréa Barletta Brahim
Apresentação
Como é que nós escutamos? Como é que nós olhamos? Será que esse caderno faz esse
tipo de provocação ao leitor? É com essas questões que cada profissional da educação que
for interlocutor deste texto deve encaminhar sua leitura. Não procure aqui a receita nem
mesmo os prontos caminhos sobre como se escuta ou como se olha a produção da cultura
infantil, mas pergunte a si mesmo como é que você se abre e permite que essas expressões
o toquem, por meio do que se ouve e do que se vê.
A experiência de cada profissional com a cultura infantil é única, permeada dos sentidos
que é capaz de atribuir nesse tempo. Não será a mesma leitura das ações infantis em 2019
e em 2029. Jamais as possibilidades do que vemos, ouvimos, sentimos e sabemos são as
mesmas em momentos diferentes da nossa existência. Mas pergunte! Seja exaustivo com
as possibilidades que tem à sua frente.
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................9
REFERÊNCIAS............................................................................................................................101
Introdução
(...) o que tenho observado, sentido nas crianças (e em mim), como reflexo do
nosso trabalho, é um grande entusiasmo, os desafios sendo enfrentados com
alegria e prazer. O que nos dá a certeza de que a busca do conhecimento não é,
para as crianças, preparação para nada, e sim vida aqui e agora.
Madalena Freire
1 As primeiras creches públicas inauguradas em 1977: Vila Camargo, Jardim Paranaense, Vila Hauer e Xaxim.
(IPPUC, 1992, citado por MANTAGUTE, 2009, p.39).
9
da Educação Infantil, que pressupõe a ampliação, diversificação e sistematização das
experiências infantis, por meio de uma intencionalidade pedagógica que dê espaço para
a criação, originalidade e, principalmente, rompa com os parâmetros de verticalidade e
hierarquização na relação com as crianças.
Cumpre ressaltar que esses contextos inspiradores são decorrentes dos cursos de
formação, assessoramentos e tutorias realizadas pelo Departamento de Educação
Infantil, NREs e unidades educacionais – que atualmente compõem o Programa Veredas
Formativas – na perspectiva de que cada um dos dez contextos aqui expostos é único e
precisa inspirar outros professores a escutar e olhar as crianças, não se configurando em
algo para mera reprodução ou cristalização de um modelo exitoso.
Ao final de cada texto, os olhares e as escutas podem ser ampliados na seção “Para
ampliar o olhar e a escuta”, que conta com sugestões de textos, livros, brinquedos e materiais
pedagógicos. E, no final do caderno, os detalhes das práticas, nos contextos inspiradores,
podem ser acessados através dos links de vídeos na seção “Fique por dentro”.
2 A escrita deste documento destaca inicialmente os atores do processo educativo em suas formas masculina
e feminina. Deste ponto em diante, apresentaremos apenas a marca do masculino, conforme seu predomínio na Língua
Portuguesa para facilitar a leitura do material, sem, contudo, desconsiderar a importante caracterização de gênero
desejada nos tempos atuais.
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BEBÊS EXPLORADORES: CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DA ESCUTA
Escuta e olhar sensíveis revelam o bebê Ônix e sua turma. Que propostas desafiadoras
podemos possibilitar aos bebês? Como a investigação pedagógica e a postura atenta e
interessada de pedagoga e professores, frente às múltiplas linguagens de bebês, podem
revelar sua competência e a proposição de novos desafios no espaço externo?
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brincante da turma do pré. Diante das expectativas do grupo de crianças, há possibilidade
de apresentar novos desafios considerando as múltiplas linguagens?
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Bebês exploradores: contribuições da
pedagogia da escuta
As crianças pequenas e mesmo os bebês são capazes de nos evidenciar algo novo,
de mostrar o inesperado, solicitando uma atenção aos contextos, aos gestos, aos
sons, ao todo que for possível perceber.
Como aponta Malaguzzi (1999), é essencial ter uma imagem de criança pequena e de
bebê como alguém intelectual, emocional, social e moral, com potencialidades que são
guiadas e cuidadosamente ampliadas e, portanto, considerar que explora seu ambiente a
partir das cem linguagens3, mas, ao mesmo tempo, saber que sua intenção de se comunicar
por essas tantas linguagens se dá em função de outra que possibilita à criança constituir-
se e construir suas experiências.
3 As cem linguagens estão explicitadas no livro “As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio
Emilia na educação da primeira infância”. A obra retrata a educação na primeira infância e documenta o conjunto de
escolas criadas nos últimos 30 anos em Reggio Emilia, no norte da Itália, destacando a relevância em se olhar para a
integralidade da criança e suas múltiplas linguagens.
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profissional é central, já que é ele quem, na relação pedagógica com as crianças,
cria condições para que estabeleçam relações entre elas, com os profissionais,
com os objetos e demais elementos circundantes. (COUTINHO, 2013, p. 9).
4 Pedagoga Ana Beatriz Souza Cerqueira e professoras Giane Alves dos Santos, Eliane de Chan Oliveira e Eliane Bonetti.
14
Assim, a organização do trabalho pedagógico no berçário II foi
se reestruturando na ressignificação das práticas com os bebês,
colocando-os no centro do planejamento, valorizando suas
descobertas e curiosidades e ampliando suas aprendizagens e
experiências.
Assim, conforme se ampliava a regularidade de saída dos bebês para o espaço externo,
as professoras refinavam ainda mais o exercício do olhar e da escuta individual aos bebês,
ao considerarem o tempo das crianças e sua participação ativa e autônoma nos momentos
de proximidade com os diferentes elementos que constituem o espaço do CMEI.
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Do mesmo modo, conforme o diálogo na formação avançava entre a pedagoga e as
professoras, a prática docente se manifestava na valorização, no incentivo às potencialidades
dos bebês da turma e na documentação pedagógica. Mesmo com o olhar sensível das
professoras a todos os 18 bebês da turma de BII, neste momento, traremos à reflexão, o
bebê ônix, com 1 ano e 9 meses.
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Percebemos que, para atingir o êxito do salto, ônix deve ter se desafiado em diferentes
momentos, a fim de ensaiar e se fortalecer na busca do sucesso e da ampliação de sua
experiência, durante o movimento. Nessa mesma direção, Garanhani e Nadolny afirmam que:
Desde que nascem, as crianças se movimentam e, progressivamente, apropriam-
se de possibilidades corporais para a interação com o mundo. Por meio do
movimento, aprendem sobre si mesmas, relacionam-se com o outro e com objetos,
desenvolvem suas capacidades e aprendem habilidades. Portanto, o movimento
é um recurso utilizado pela criança, para o seu conhecimento e do meio em que
se insere, para expressar seu pensamento e também experimentar relações com
pessoas e objetos. (GARANHANI e NADOLNY 2011, p. 65).
Isso nos indica que as experiências de Ônix, expressas em seus movimentos corporais,
possibilitaram que ele ampliasse o seu conhecimento de mundo e sistematizasse suas
ideias e pensamentos.
Mais uma vez, Ônix demonstrou seu maravilhamento ao perceber que sua habilidade motora
dialoga com seus pensamentos e desejos, além da superação de desafios impostos pelo meio
que o cerca. Ele se desafia constantemente em suas experiências e saberes corporais.
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A partir das falas e ações da pedagoga e das professoras, podemos afirmar que a
prática reflexiva possibilitou que a escuta ativa das professoras transcendesse as barreiras
arquitetônicas e humanas, a fim de oportunizar experiências pertinentes ao desenvolvimento
de todas as potencialidades de bebês e crianças bem pequenas.
18
O movimento do corpo infantil: uma linguagem da criança
Marynelma Camargo Garanhani e Lorena de Fátima Nadolny
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Tem bicho na cozinha! – O protagonismo
compartilhado no faz de conta
Willian Corsaro
Alan Felipe da Silva (CMEI Nossa Senhora da Luz – NRE CIC) é um professor que expressa
seus saberes docentes imergindo do universo lúdico, fantástico, criativo, imaginário das
crianças. Como professor de crianças pequenas, compreende a importância da brincadeira
na interação delas com o mundo, e de como o brincar é essencial para o desenvolvimento
da criança e de sua condição de produtora de cultura.
A cada ano que se inicia no CMEI, um novo desafio se estabelece: descobrir, nas interações
e brincadeiras das crianças, o enigma de qual “viagem dramática” vivenciará com os seus
pequenos protagonistas infantis. No entanto, o mundo das crianças é repleto de segredos,
desvendá-los requer escutas e olhares sensíveis dos adultos. E mesmo conhecendo as
crianças da sua turma, que, no ano de 2017, acompanhou para a turma do pré I, Alan se
embrenha como um “detetive” do mundo infantil a investigar, a pesquisar e a observar as
crianças em suas brincadeiras e interações, para conhecer mais sobre seus saberes e
interesses.
Com isso, resolveu iniciar sua jornada pedagógica tirando da sua bagagem de
experiências um personagem que já habitava o imaginário e o cotidiano no CMEI daquele
grupo de crianças, “um velho amigo”, o galo.
20
Imagem 16: As crianças com
o amigo galo.
Fonte: CMEI Nossa Senhora
da Luz, 2016.
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conversas, as crianças sempre imitavam as ações e falavam sobre o programa de televisão
“Master Chef”, que trata de uma competição entre cozinheiros que precisam reproduzir
alguns pratos culinários. A princípio, nas suas elucubrações pedagógicas, o professor
pensou em reproduzir o programa de televisão para as crianças nas brincadeiras de faz de
conta. No entanto, ao assistir e penetrar no mundo mágico de uma peça teatral e no livro
Teatro de Formas Animadas5, assim como refletir sobre a sua prática e os conhecimentos
construídos na formação continuada, o professor, como num relampejo de pensamento
infantil, encontrou nos utensílios da cozinha uma variedade de “bichos animados”, unindo
os interesses das crianças e a linguagem dramática nas práticas pedagógicas que, a partir
daquele momento, começaram a fazer parte do cotidiano da turma do pré I.
Diante da descoberta dos bichos nos utensílios da cozinha, o professor deu início a sua
nova “viagem dramática”, realizando um trabalho fundamental, o planejamento da gestão
do tempo, da definição dos espaços, da organização dos grupos e materiais, para que as
crianças pudessem vivenciar essa grande aventura dos bichos na cozinha. Muitos bichos
saíram da cozinha para ocupar os diferentes espaços do CMEI, passando a interagir de
forma lúdica com o imaginário das crianças.
O primeiro “bicho” que apareceu para as crianças surgiu de um mistério a ser desvendado
por elas. O professor o trouxe em uma caixa coberta de folhas e iniciou a dramatização
dizendo: “Era uma vez...”. Ao retirar o objeto, que representava o bicho e se encontrava
deitado na caixa, as crianças se empolgaram e começaram a gargalhar. Algumas tentaram
5 Esta obra traz uma pesquisa desenvolvida pela autora em termos ensaístico e documental. Os assuntos são
tratados dentro de um prisma muito amplo, tanto do ponto de vista espacial – pois abrange os fenômenos das máscaras,
do teatro de bonecos e do teatro de formas animadas tanto no Ocidente quanto no Oriente – como do ponto de vista
temporal, pois abarca fenômenos diversamente situados quanto ao desenvolvimento histórico. Boa parte desse trabalho
se dedica a correntes modernas na arte das formas animadas. Disponível em: <https://books.google.com.br/books/
about/teatro_de_formas_animadas.html?id=InGKrQSeK1AC&redir_escy>. Acesso em: 10/09/2018.
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identificar que bicho seria aquele, mas a grande maioria se envolveu na narrativa dramática,
que aconteceu através das mãos e sons do professor, e nem se preocuparam na sua
identificação. E quando o “bicho” entrou na caixa, uma menina afirmou: “e assim acabou a
história.”
23
Assim, mais uma vez, ao acolher o gatinho dramatizado pelo menino, o professor se
colocou como um adulto brincante, que demonstrou sensibilidade, habilidade da escuta
ativa, crença de que a criança é capaz, criativa e repleta de conhecimentos. Nessa direção,
ser um professor brincante implica em:
Brincar junto com a criança e assumir personagens fictícios com ela, e para ela,
é adentrar num mundo repleto de fantasias. Experimentar o ser criança e assim
facilitar a sua comunicação com elas. Por vezes, fica nítido o convite da criança,
para com o adulto, a este brincar na aventura de ser outro. Então corpo, imaginação
e expressão ganham sentido nas ações com elas. (LEITE, 2013, p. 28).
24
O professor brincou muito com as crianças na sua “viagem dramática”, utilizando os
utensílios da cozinha. Mas, como um bom viajante, não se esqueceu de documentar essa
maravilhosa viagem com muitas fotografias, filmagens, áudios e registros escritos.
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O espetáculo Tropeço, da Tato Criação Cênica,
aborda o delicado tema da relação do ser humano com
a passagem do tempo e utiliza elementos do teatro
de animação para dar vida aos personagens. Sobre o
cenário, composto por uma mesa, com baús e alguns
pequenos objetos, cria-se um mundo onde dois atores
manipuladores e suas mãos contam a história de duas velhas que moram juntas. A ideia é estimular
a imaginação do espectador ao recriar na visão de duas mãos a imagem de um ser inteiro. Toda a
estrutura cênica foi concebida com simplicidade de modo a valorizar os movimentos das personagens,
já que o roteiro é compreendido por meio de suas ações e onomatopeias, sem a utilização de palavras.
26
Uma criança competente – criando a formiga
Tati
27
Jhullia: Daí a “Tati” ficou enterrando
aqui para fazer um buraco.
Nesse sentido, concordamos com Alessi (2011) quando nos convida a refletir sobre a
disposição corporal das crianças no ato da conversa: será que a roda de conversa é o único
momento do cotidiano em que os diálogos podem se estabelecer? A autora sustenta que via
de regra não se garante a participação efetivamente das crianças nas “rodas de conversa”
como proposta institucionalizada, quando não se observa que há outros momentos em que
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a oralidade se faz presente no cotidiano com os pequenos. O formato “roda” traz consigo
a ideia de circularidade que pressupõe diálogo, no entanto as crianças revelam que não há
necessidade de uma roda rígida para a conversa se estabelecer. A ideia da circularidade é
a inspiração para o diálogo, mas não há necessidade de se impor o formato de roda para
que as crianças exponham suas ideias. Isso é observado na cena descrita anteriormente,
em que Jhullia fala da formiga “Tati”, e a professora mobiliza a conversa com uma pergunta
potente, sem dar mais explicações, alimentando o imaginário para que se estabeleça o
diálogo, acreditando e investindo nas hipóteses da criança, permitindo que a conversa se
estabeleça com o tempo que lhe cabe, respeitando as singularidades infantis.
Tal experiência ganha vida a partir da reflexão de que só existe uma criança competente
se temos um profissional também competente. Isto é apontado por Rinaldi (2014, p.
240) quando aborda questões importantes sobre o significado que assume o termo
desenvolvimento profissional ao pensarmos nos atores envolvidos nesse processo, ou
seja, as nossas crianças, pois é direito delas terem um educador competente e capaz de
entrar num relacionamento de escuta recíproca.
Mas por que a formiga “Tati”? A relevância da proposta está na escuta e na observação
atenta às crianças. Assim, as conversas que surgiram nos diálogos das crianças
proporcionaram aventuras incríveis, a imaginação das crianças fluiu surpreendentemente
com essa personagem, que foi aparecendo em vários momentos do cotidiano.
O gesto de carregar a “Tati” nas mãos e levar consigo a formiga imaginária era constante
na turma do MII, de modo que as professoras ficaram sensibilizadas e aproveitaram os
burburinhos, permitindo que os desejos das crianças ganhassem destaque no contexto
pedagógico. De acordo com Freire (2008, p. 45), “a observação é a ferramenta básica” no
processo de aprendizado, em busca da “construção do olhar sensível” dos profissionais
que inserem as crianças, como aponta Valiati (2012), na centralidade e na mira docente,
com sensibilidade.
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Conforme os interesses, os gestos, as falas e as sugestões das crianças, a proposta
foi ganhando mais espaço no planejamento. Assim, as crianças escolheram um nome
para a formiga, pesquisaram nos espaços as pegadas dela, observaram e construíram
formigueiros (casa da “Tati”). Muitas brincadeiras fizeram parte do contexto, pois o potencial
brincante ganhou novos repertórios com a presença dessa personagem imaginária, na
medida em que:
A riqueza dos diálogos construídos pelas crianças nos revelam as diversas maneiras
que elas têm de ver o mundo em que vivem, suas percepções dos acontecimentos,
das pessoas e coisas que estão a sua volta, revelam as suas singularidades,
resultado da cultura, dos valores e hábitos de suas famílias, deixando as suas
marcas de sujeito social, histórico, com um jeito próprio de sentir, ver e agir sobre o
mundo. Isso tudo se faz transparecer na sua linguagem. (ALESSI, 2011, p. 33).
30
A partir dessa fala, em que as crianças manifestaram
o desejo de levar a Tati para casa, as professoras
providenciaram uma caixinha de fósforo e um caderno
para as famílias registrarem a experiência, veja o relato da
família do Pietro:
Tal registro sinalizou a importância da família dar escuta às falas das crianças,
alimentando seu imaginário. “Cuida bem dela para você não machucar ela tá?” – disse
a mamãe. O diálogo que a mamãe de Pietro estabeleceu com ele dá visibilidade ao
envolvimento e ao acolhimento da família, de forma sensível às experiências das crianças
nos espaços de Educação Infantil.
Os diálogos sobre a “Tati” transbordaram mais ainda no contexto do CMEI, e foi assim que
as famílias também participaram da escrita de um livro sobre as aventuras da formiga “Tati”.
Dessa forma, a história da personagem foi tomando corpo a partir de ideias conjuntas entre
professoras, crianças e seus familiares, favorecendo que o imaginário com a personagem
fosse alimentado a cada encontro com o livro.
31
Imagem 31: Livro sobre as
aventuras da formiga “Tati”.
Fonte: CMEI Moradias Olinda,
Imagem 30: Capa do 2017. Imagem 32: Livro sobre
livro sobre as aventuras as aventuras da formiga
da formiga “Tati”. “Tati”.
Fonte: CMEI Moradias Fonte: CMEI Moradias
Olinda, 2017. Olinda, 2017.
32
[...] chegar perto das crianças por meio de uma escuta empática que, reconhecendo
sua alteridade, busca respeitá-la pelo que ela é, pensa e quer nos dizer através
de uma multiplicidade de linguagens expressivas, simbólicas, lúdicas, cognitivas,
imaginativas e relacionais. (VALIATI, 2012, p. 13).
Assim, conforme o que foi apontado por Valiati (2012) e sistematizado por Gomes & Ciasca
(2015, p. 35), considerar essas crianças implica em “entender o que não é dito ou o que é
dito num gesto, jogo fantástico ou numa ‘palavrinha’ só. É “estar aberto ao que foge à nossa
lógica”, o que nos estranha e nos fascina em seu universo de infância”.
33
As experiências vivenciadas com as crianças do maternal II e suas professoras
oportunizam a reflexão sobre a potencialidade comunicativa dos pequenos e direcionam
os nossos olhares para todos os contextos em que as crianças conversam, como também
indicam a importância de documentar esses momentos espontâneos de fala, pois muitas
vezes apenas um momento denominado de “roda de conversa” não se mostra como a
melhor estratégia para que a conversa se estabeleça:
34
Reggio Emília é uma região da Itália que se destacou com uma
proposta inovadora para a educação da primeira infância. Aqui,
a presidente da instituição Reggio Children, Carla Rinaldi, reúne
palestras, entrevistas e artigos sobre sua experiência em Reggio
e seu trabalho com Loris Malaguzzi, idealizador da abordagem e
referência mundial em educação. Como uma proposta que ganha
o mundo e se expande cada vez mais pelo Brasil, este é um livro
fundamental para pedagogos, educadores e pesquisadores na área
de educação infantil.
35
É só um tecido azul? – O direito de brincar
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil nos trazem a criança como
centro da prática educativa, provocando-nos a olhar para ela como um sujeito capaz e
potente. Embora isso parece estar bem claro em nossos ideais, ainda nos deparamos com
o desafio de pensar sobre como tornamos concreto e cotidiano o princípio da criança como
“sujeito de direitos”.
Carla Rinaldi (2014) nos alerta que, se olhamos para as crianças como únicas e
competentes, como coprotagonistas dos processos de construção de conhecimento, mais
do que “falar”, “explicar” ou “transmitir”, o verbo a ser conjugado nesta prática educativa é
o “escutar”. Essa escuta exige abertura e sensibilidade, no sentido de que:
[...] ouvir não somente com as orelhas, mas com todos os nossos sentidos
(visão, tato, olfato, paladar, audição e também direção). Escuta das cem, das mil
linguagens, símbolos e códigos que usamos para nos expressar e nos comunicar,
e com os quais a vida expressa a si mesma e se comunica com aqueles que sabem
ouvir. (RINALDI, 2014, p. 124).
Saber ver e ouvir as crianças é um dos principais saberes necessários ao profissional que
atua na Educação Infantil. Nosso desafio é direcionar o foco de nossas escutas e olhares
para as crianças, na busca de perceber na forma como elas ocupam o espaço, como se
relacionam, como se expressam e interagem, quais são as possíveis pistas que podem nos
apontar a direção em que o planejamento irá caminhar.
A equipe do CEI Aprendendo com Amor7 se lançou nesse desafio e se propôs a olhar para
o brincar das crianças nos diferentes espaços. Motivadas pela intenção de proporcionar
experiências de encantamento, exploração e investigação para as crianças, a equipe
percebeu a necessidade de organizar o cotidiano da instituição de forma que ele promovesse
tempos e espaços para que as crianças vivessem suas infâncias plenamente no período
em que ali permanecem. Diante dessas reflexões, planejaram contextos organizados a
partir de tempos, espaços, materiais e grupos que promovessem a interação das crianças,
possibilitando a exploração, a investigação e o brincar com autonomia.
36
A partir do momento em que as crianças tomaram posse dos espaços externos da
unidade, a equipe do CEI decidiu explorar outros próximos da unidade. Assim, num
processo que envolveu crianças, famílias e professores, o entorno do CEI também passou
a ser explorado pelas crianças e virou cenário para suas brincadeiras.
Em uma dessas explorações do entorno, as professoras levaram um tecido azul para que
as crianças usassem para sentar e brincar em cima dele. Foi assim que aquilo que parecia
ser apenas um tecido azul se transformou em um importante elemento nas brincadeiras
das crianças, pois, à medida que a brincadeira se desenvolvia, elas inventavam novos usos
para aquele tecido e o exploravam de diferentes formas.
37
se transformar em um barco. É o que vemos na imagem que registra o momento em que as
meninas do maternal I combinavam uma pescaria inusitada:
38
A inserção de um desses personagens está presente em mais um dos registros
realizados pelas professoras, no qual podemos observar o momento em que as crianças
usaram a figura do lobo como personagem em sua brincadeira. Ao tentarem fugir do lobo,
encontraram no tecido o poder mágico de se tornarem invisíveis. Assim que se viram
encurraladas pelo lobo que as perseguia, Larissa disse às amigas: “Venham aqui, com isso
o lobo não vê a gente, ficamos invisíveis.”
Enquanto nós, adultos, à primeira vista, conseguimos ver apenas um tecido azul, as
crianças nos mostraram que são capazes de enxergar além. Como foi apontado por Clélia
Cortez (2012), elas são movidas pela curiosidade e pela vontade de entender o mundo que
as cerca, pela “sensibilidade de olhar para as coisas e encontrar novas referências para
olhar. Elas estão imersas numa entrega para ler o que não está escrito, nem dito”. (CORTEZ,
2012, p. 54).
Diante da riqueza das interações vividas e da beleza dos diálogos estabelecidos pelas
crianças, é necessário destacar o papel do brincar no desenvolvimento e nas aprendizagens.
O brincar que, segundo Ângela Borba,
[...] abre para a criança múltiplas janelas de interpretação, compreensão e ação
sobre a realidade. Nele, as coisas podem ser outras, o mundo vira do avesso, de
ponta-cabeça, permitindo à criança se descolar da realidade imediata e transitar
por outros tempos e lugares, inventar e realizar ações/interações com a ajuda de
gestos, expressões e palavras, ser autora de suas histórias e ser outros, muitos
outros: pai, mãe, cavaleiro, bruxo, fada, príncipe, sapo, cachorro, trem, condutor,
guerreiro, super-herói... São tantas possibilidades quanto é permitido que as crianças
imaginem e ajam guiadas pela imaginação, pelos significados criados, combinados
e partilhados com os parceiros de brincadeira. Sendo esses outros, definindo outros
tempos, lugares e relações, as crianças aprendem a olhar e compreender o mundo e
a si mesmas de outras perspectivas. (BORBA, 2006, p. 46).
É por isso que o brincar das crianças precisa ser objeto de pesquisa e observação dos
professores para que estejam “atentos às diferentes formas de expressão usadas pelas
crianças”, no sentido de que “não somente suas falas demonstram o que elas querem
expressar, mas seus olhares, toques, silêncios, gestos. A linguagem corporal entrelaça-se
com a oral, a fantasia com a realidade, o desejo com a razão”. (COUTINHO, 2003, p. 6).
39
Nessa perspectiva, as experiências das crianças com o tecido azul oportunizaram que
fossem protagonistas de suas brincadeiras. Isso foi possível porque junto a elas estavam
professoras que também são protagonistas de sua prática e estão atentas às manifestações
de interesse das crianças. Ao que parece, a palavra-chave dessa proposta é “acolhimento”
e acolher as crianças e suas diferentes formas de ser e estar no mundo é apontado por
Gianfranco Staccioli como algo que:
Portanto, as crianças puderam se lançar em suas criações, porque tiveram tempo para
criar seus enredos, estavam em um espaço que permitia a liberdade de seus movimentos e
a interação com colegas e professoras, tinham materiais à disposição para serem usados
de acordo com a brincadeira inventada e puderam experimentar tudo isso diversas vezes.
Ainda a esse respeito, Staccioli nos leva a pensar que:
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Para ampliar o olhar e a escuta!
O Território do Brincar é um trabalho de pesquisa,
documentação e sensibilização sobre a cultura da
infância e sua expressão mais genuína: o brincar. Uma
realização do Instituto Alana, que tem como missão
Honrar a Criança.
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Encantos e encontros com a natureza – decifrar,
ler e descobrir o mundo
A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das
avencas de minha mãe –, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu
primeiro mundo. Nele engatinhei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele
mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por
isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras.
Paulo Freire
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construídos historicamente, socialmente transmitidos e que representam patrimônio
cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico da humanidade. (BRASIL, 2009).
Então, decidiu pesquisar com as crianças sobre a vida das borboletas e descobriram
imagens e informações do ciclo de vida, do que se alimentam, curiosidades gerais e sobre
as diferentes espécies, entre outras informações que foram muito apreciadas por todas as
crianças, que ficaram maravilhadas com tantas descobertas sobre as espécies, suas cores e
formas, e passaram a explorar o espaço de uma forma atenta e curiosa, observando cada ser
novo que encontravam, indagando-se como nasciam e viviam e querendo saber sempre mais.
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Também registraram, por meio de desenhos, suas novas descobertas. Com tudo isso,
começaram a respeitar mais o ambiente e a cuidar dos bichinhos e das plantas, não só no
Espaço Ecológico, mas também em outros espaços da unidade.
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Para repertoriar ainda mais as crianças, as professoras apresentaram, por meio de vídeos e
fotografias, obras de arte na areia: esculturas, com os trabalhos de Carlos Pita e Rogean Rodrigues;
e também desenhos, do artista Andres Amador, que foram inspiração para as brincadeiras dos
pequenos.
Outra vivência muito significativa ocorreu quando as crianças encontraram alguns bambus e
uma delas disse: “Que legal! Vamos fazer uma barraca?”. Com a ajuda dos adultos, começaram a
construção, que levou uns dois dias para terminar. Na sequência, as professoras oportunizaram
às crianças que apreciassem imagens de casas e barracas feitas com materiais da natureza.
Assim, elas foram modificando a barraca, conforme encontravam os elementos na natureza.
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Imagem 47: Construção coletiva
Imagem 46: Outro “projeto” da barraca de da barraca de bambu.
bambu desenhado por uma criança do pré.
Fonte: CEI Dr. Leocádio José
Fonte: CEI Dr. Leocádio José Correia, 2017. Correia, 2017.
46
Com a finalidade de aprofundar conhecimentos e promover a reflexão crítica sobre os
processos de aprendizagem da prática educativa Encantos e encontros com a natureza, a
equipe gestora proporcionou aos profissionais uma formação continuada com esse foco,
o que possibilitou um novo olhar e a ampliação das práticas cotidianas de exploração da
natureza para todas as turmas no próprio espaço da instituição. Desse modo, esperavam
sensibilizar os professores em relação à interação criativa que existe no ambiente, onde
todos os seres vivos fazem parte de um sistema de integração, e que um não sobrevive
sem o outro, mostrando que o respeito e o cuidado são de extrema importância para a
permanência da vida no Planeta.
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O comprometimento dos profissionais envolvidos com
essas questões referentes à Educação Ambiental, como
demonstrado, possibilitou que as experiências oportunizadas
às crianças, considerando a transversalidade da Educação
Ambiental na Educação Infantil, se tornasse uma ação
permanente na unidade educacional. A equipe tem observado
Imagem 50: Crianças usando
cordas para escalar barrancos que as crianças estão se sentindo cada vez mais pertencentes
com a ajuda dos professores. à natureza, desenvolvendo maior sensibilidade, qualidade de
Fonte: CEI Dr. Leocádio José
Correia, 2017. interação com outras crianças e com os adultos, e respeito às
diferentes formas de vida, seja o colega ou o inseto que pousou
na parede. Perceberam que, durante os momentos de brincar nos espaços externos, as
crianças demonstram autonomia e saberes sobre o ambiente no qual estão inseridas,
seja ao utilizar pequenos troncos ou gravetos para alguma construção, ao usar areia para
esculpir, cordas para escalar barrancos ou ainda ao observar o desenvolvimento das
diferentes espécies da flora e fauna encontradas.
48
Ao repensar os espaços ao ar livre, os tempos de aprendizagem, a diversidade de
materiais, a interação e as narrativas infantis, os professores repertoriaram as crianças
e valorizaram suas descobertas referentes ao mundo natural e às possibilidades de
elaborações artísticas, bem como demonstraram sua intencionalidade educativa, já que
um planejamento consciente “sustenta e torna coerente as decisões diárias que o professor
irá propor”. (FOCHI, 2015, p. 7).
Nessa perspectiva, ao escutar e olhar para a criança e sua relação com a natureza e
seus elementos, planejando o uso de espaços, tempos, materiais e grupos de crianças,
os profissionais envolvidos asseguraram um conjunto de experiências educativas na
articulação dos saberes das crianças com conhecimentos que fazem parte do patrimônio
da humanidade, em especial, aqueles relacionados ao meio ambiente.
49
Para ampliar o olhar e a escuta!
Profice, Christiana. Crianças e natureza – reconectar é preciso.
Editora Pandorga
50
No livro ‘Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra’, o
autor Leonardo Boff, professor de teologia, filosofia, espiritualidade e de
ecologia e autor de inúmeras obras, busca detalhar o cuidado em suas
várias concretizações: cuidado com a Terra, com a sociedade sustentável,
com o corpo, com o espírito, com a grande travessia da morte. A ótica do
cuidado funda uma nova ética, compreensível a todos e capaz de inspirar
valores e atitudes fundamentais para a fase planetária da humanidade.
51
Entre choros e sorrisos do boneco bebê – uma
proposta a partir do protagonismo dos bebês
O bebê é considerado como capaz, competente, com jeito próprio de sentir e atuar
no mundo e que utiliza inúmeras linguagens para se comunicar.
Por trás do ato de escuta existe normalmente uma curiosidade, um desejo, uma
dúvida, um interesse; há sempre alguma emoção. Escuta é emoção; é um ato
originado por emoções e que estimula emoções. As emoções dos outros nos
influenciam por meio de processos fortes, diretos, não mediados e intrínsecos
à interação entre sujeitos comunicantes. Escutar como forma de aceitar de bom
grado e estar aberto às diferenças, reconhecendo o valor do ponto de vista e da
interpretação dos outros. (RINALDI, 2016, p. 124).
Outro destaque para essa proposta é a estreita relação com os direitos de aprendizagem
e desenvolvimento estabelecidos pela Base Nacional Curricular Comum8 (BRASIL, 2017,
p. 23), ou seja: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Assim, uma
característica da relação educativa com bebês é o processo ativo, pleno de possibilidades
brincantes em que as descobertas vão se constituindo.
Diante disso, a professora Marta Fabiane da Silva iniciou em sua sala uma pesquisa
sobre qual personagem poderia levar para eles, tendo como prioridade a observação
de seus modos de brincar e interagir e as potencialidades dos bebês. Para isso, foi
necessário primeiramente escutar os bebês e, uma vez observado seus interesses, seus
modos de brincar e interagir, percebeu-se que era muito comum o interesse pelas ações
que demonstravam o cuidado com o outro: higienização, troca de fraldas e alimentação.
Possivelmente, porque os bebês desejavam imitar as ações da professora. Assim, o
personagem escolhido por ela para confeccionar foi um bebê, que estaria personificado
num boneco de luva.
52
Isso implica em considerar que nossas escolhas
não passam despercebidas pelas crianças. Nesse caso
específico, ao optar pelo boneco de luva, a professora
demonstrou seu profundo interesse em estreitar as relações
com as crianças por intermédio de um personagem que
tivesse sentido a elas. O boneco de luva é um personagem
Imagem 55: Crianças, em interação, que, ao ser manipulado, ganha vida e se relaciona com os
explorando os espaços ao ar livre.
Fonte: CEI Dr. Leocádio José bebês. Foi assim que a professora construiu o personagem
Correia, 2017.
bebê, na expectativa de que ele pudesse ser um elo entre ela
e as crianças, na convivência diária no berçário.
Percebemos que os bebês são potenciais leitores. Nesse sentido, Freire (1989) salienta
que, no processo crítico do ato de ler, é necessário ir além da ideia da decodificação de
palavras escritas, pois está presente na leitura de mundo. A leitura a que se refere se
presencia desde os momentos vividos na mais tenra infância, pois perpassa pelas nossas
percepções sobre o mundo no qual estamos inseridos. Diante dessa ideia é que acreditamos
no potencial dos bebês, na medida em que perante as nossas escolhas, suas reações são
a expressão de suas formas de ler o mundo. Desse modo, consideramos que:
Apostando na leitura dos bebês, enquanto processo que demanda reações e espaço
para a participação ativa deles, a escolha da professora perpassou, primeiramente, pela
provocação dos sentidos. Assim, a sonoplastia de choros e os sorrisos de bebês foram
inseridos em alguns momentos do contexto da sala de referência, nos remetendo à
indicação de que:
53
Imagem 56: Bebês surpresos
pelos sons.
Fonte: CMEI Atuba, 2015.
Os efeitos sonoros provocaram nos bebês o desejo de saber onde ele estava. A resposta
dada se verificou nas expressões corporais observadas nos gestos e também nas primeiras
verbalizações. Nesse sentido, os gestos dos bebês são o primeiro modo de expressar
seus saberes sensíveis, fundantes de todos os demais conhecimentos, conforme Duarte
Jr. (2010, p. 12), é “um saber direto, corporal, anterior às representações simbólicas que
permitem os nossos processos de raciocínio e reflexão”.
Nessa situação, os bebês sentiam o desejo de tocar, cheirar e acarinhar aquele personagem
que estava sendo apresentado a eles pela primeira vez. Beatriz, ao tocar o rosto do bebê,
54
ficou intrigada pelo fato de não ver o olho do personagem. Ela
apontava, apertava o rostinho e olhava para a professora, para
encontrar respostas sobre isso.
55
Imagem 62: Interagindo com o
personagem bebê.
Imagem 63: O personagem ganha Imagem 64: O
Fonte: CMEI Atuba, 2015. vida, sendo manipulado pela personagem recebendo
professora. cuidados.
Fonte: CMEI Atuba, 2015. Fonte: CMEI Atuba, 2015.
56
O que se percebe ao estabelecer relações com a turma, por meio de um personagem e
enredo baseados nos modos de interagir e brincar dos bebês e em ações valorosas para
esse grupo, como as ações de cuidado, é que a criança ocupa o centro do planejamento.
Diante dessas estratégias de conhecimento do grupo, reunidas aos jeitos próprios das
crianças lerem e interagirem com o mundo por meio do corpo, elas tornam-se protagonistas
juntamente com seus professores. E nessa relação horizontalizada, a continuidade, a
ampliação e a diversificação das experiências infantis acontecem com a presença da
curiosidade, da surpresa e dos sentidos.
57
Para ampliar o olhar e a escuta!
Os bonecos de luva também são manipuláveis e podem participar de vários momentos do dia
a dia com as crianças, tornando-se, assim, um amigo da turma, ou ainda podem estar atrelados a
alguma história. (Elaborado por LEITE , 2017, a partir das experiências de construção de bonecos
com as professoras da Educação Infantil).
58
59
A busca pelo dragão perdido – o registro, a
criação e a expressão das crianças
Uma criança que quer mostrar que conhece as coisas e sabe como fazer as coisas,
e que tem toda a força e o potencial gerados por sua habilidade de se questionar e
se impressionar. Uma criança que é poderosa desde a hora em que nasce, porque
está aberta ao mundo e é capaz de construir o próprio conhecimento. Uma criança
que é vista em sua totalidade, que possui direções próprias e o desejo de saber e
de viver. Uma criança competente!
Carla Rinaldi
60
VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos
culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e
reconhecimento da diversidade;
Ao ler atentamente o referido artigo, como profissionais da Educação Infantil, nos damos
conta de quão complexa é a nossa área de atuação, pois temos a responsabilidade de
descortinar o mundo, não para as crianças, mas com as crianças, fato que amplia nosso
desafio.
61
Nessa perspectiva, apontada pelo autor, de que escutar é complicado e sutil, é válido
ratificar que, quando falamos em escuta, estamos nos referindo a algo muito maior que
simplesmente ouvir, isto é, escutar, nesse texto, assume a dimensão de ter em conta,
considerar, contemplar... Enfim, é uma ação pautada na audição ativa, interessada,
investigativa. Mas como esse processo de escuta ativa se materializa no cotidiano das
instituições de Educação Infantil?
Tal postura nos remete ao protagonismo compartilhado, no qual o professor propõe algo
às crianças e divide com elas essas experiências, assumindo o papel de parceiro brincante.
O sujeito da experiência é aquele que sabe enfrentar o outro enquanto que outro
está disposto a perder o pé e a se deixar tombar e arrastar por aquele que lhe vai
ao encontro. O sujeito da experiência está disposto a se transformar numa direção
desconhecida. (LAROSSA, 2016, p. 197).
Nesse contexto, outro ponto importante a destacar foi esse planejamento que se constituiu
a partir da escuta das crianças e ganhou novos contornos conforme as expectativas
apresentadas por elas. Prova disso é que, passado um tempo, as crianças queriam mais
que simplesmente caminhar sorrateiramente pelos corredores, transformados em caverna,
para não acordar o dragão, ou seja, queriam, na verdade, acordar, desvendar, ver, conhecer
o dragão. Desejos explicitados oralmente nas frases: “Dragão, acorda dragão!”, “Aparece
dragão” e “Ah, esse dragão nem existe...”.
9 Na Escola Municipal CEI José Lamartine Correa de Oliveira Lyra – NRE Pinheirinho.
62
Diante do interesse das crianças pelo dragão, a professora Daniella lançou mão de seus
conhecimentos, de pesquisas e do diálogo com as docentes do curso para incluir em seu
planejamento o encontro da turma com o tão desejado dragão. Figura que compunha o
imaginário das crianças e ganhou vida como boneco de luva.
Talvez fosse fácil e rápido simplesmente apresentar o boneco feito de luva, ou melhor,
o dragão às crianças. Mas quem disse que estar com crianças da Educação Infantil e
compartilhar com elas momentos de interação e brincadeira é tarefa fácil? E é justamente
o percurso trilhado por crianças e professora até o esperado encontro que enriqueceu a
prática pedagógica e ampliou os saberes e as possibilidades de interações e brincadeiras
das crianças.
Após confeccionar o boneco de luva, a professora Daniella elaborou estratégias para unir
o interesse das crianças aos objetivos do trabalho docente de uma professora de Educação
Física da Educação Infantil.
A professora levou para as crianças uma carta do camaleão, na qual ele dizia que ouviu o
pedido de ajuda de um dragão, que foi tirar um cochilo e acabou se perdendo na caverna. E
que eles precisariam cumprir vários desafios para encontrar os pedaços perdidos do mapa
e aí encontrariam a caverna e o dragão. Foi bastante perspicaz a estratégia utilizada pela
professora de inserir uma nova proposta a partir de um personagem com o qual as crianças
já estavam familiarizadas. Tal procedimento imprime significado, pois não se configura
como uma ação desarticulada, realizada pontualmente, mas como uma prática que dialoga
com o contexto vivido pelas crianças na instituição.
10 A criança que representa o camaleão inicia a brincadeira no centro da roda e após todos cantarem e realizarem
os gestos correspondentes à cantiga, ela segura um colega para representar o próximo camaleão.
63
CARTA 1
Estava eu brincando de trocar de cores na minha floresta, ia do
verde das folhas para o marrom dos galhos e o cinza das pedras,
quando, de repente, ouvi um barulho muito estranho! Como
não sabia o que era, me camuflei na hora e fiquei marronzinho
igual a um galho de árvore, paradinho, sem me mexer! De novo
escutei o barulho, mas agora com mais atenção, percebi que
era um eco, um eco que vinha de uma caverna que eu nunca
vi, mas sei que fica pertinho do arbusto onde eu moro. A voz
era meio rouca, mas consegui ouvir a palavra “ajude”. Não sou
das criaturas mais valentes, mesmo assim, tremendo de medo,
fui devagarzinho tentando entender o que estava acontecendo.
Mais uma vez ouvi uma voz que dizia: — “Olá?! Tem alguém aí?
Alôô? Eu só queria tirar um cochilo num cantinho escuro, mas
agora não sei como sair dessa caverna! Alguém me ajude!”.
Depois disso, ouvi um grande ruído e percebi que aquela voz era
de um dragão. Fiquei com tanto medo que saí correndo para
longe, o mais rápido que eu pude. Parei no meio do caminho
para recuperar o fôlego e lembrei do dragão e do seu pedido
de ajuda! Decidi tomar coragem, voltar e ajudar o dragão a sair
da caverna. Mas sozinho não consigo, a floresta guarda muitos
desafios, preciso dos meus amigos aventureiros para me ajudar!
Um passarinho amigo fez esta mensagem chegar a vocês, por
favor, venham me encontrar para juntos também ajudarmos o
dragão! Espero vocês nesta nossa viagem à caverna!
Lambidas,
Camaleão
64
Como pode ser observado, nas imagens anteriores, as crianças tiveram a oportunidade
de manusear, levantar hipóteses, conversar com colegas e com a professora sobre a carta
que receberam do camaleão.
CARTA 2
Meus queridos aventureiros! Um amigo me contou que para entrar
na caverna é preciso um mapa, mas um acidente aconteceu! O
mapa está todo em pedaços. Os pedaços se espalharam e só
vão aparecer quando alguns desafios forem cumpridos! Boa
sorte!
Lambidas,
Camaleão
Na continuidade, cada encontro da professora Daniella com a turma do pré foi permeado
de entusiasmo e euforia, pois expressava a vontade de todos em cumprir os desafios e
encontrar o dragão. Uma brincadeira que os contagiou e fez do dragão um componente
importante na vida das crianças na escola.
O primeiro passo sempre era conversar para tentar decifrar o desafio do camaleão. As
crianças buscavam fazer a leitura das imagens e expunham suas hipóteses sobre cada
tarefa a ser realizada pela turma. Elaboravam histórias, sentidos e exerciam a autonomia
no processo de construção de conhecimentos sobre a linguagem escrita, numa dinâmica
prazerosa que contemplava a interação e a brincadeira.
65
Após as conversas iniciais, durante as quais ora as crianças decifravam, ora se
aproximavam da consigna, a professora realizava a leitura do desafio enviado pelo camaleão.
E todos com muita disposição se propunham a realizar, afinal, tinham um objetivo em
comum: encontrar o dragão. Entusiasmo e interesse ficaram muito evidentes na fala das
crianças:
DESAFIO 1
Vocês são bons de mira? Vocês têm pontaria? É o que eu quero saber! Os desafios são:
Acertar pelo menos 10 bolas no gol e acertar 3 setas ou mais no alvo. Boa sorte! Quando
os desafios forem cumpridos, procurem por um envelope, que estará no lugar11 que bebe
água pelos pés.
DESAFIO 2
Travessia! Atravessar o rio, onde os jacarés adoram tomar banho e se refrescar.
DESAFIO 312
Vocês conhecem um animal que rasteja e que vive na floresta? Então, preparem-se para
atravessar um lugar cheio deles!
12 Atravessar trilhas, compostas por pneus e cordas, saltando sem pisar nas “cobras”.
66
DESAFIO 4
Vocês são bons contorcionistas? O desafio é: passar pela teia da dona aranha sem
incomodá-la e sem encostar na sua teia! Boa sorte!
DESAFIO 5
Qual é o animal que pula para se movimentar? O desafio é fazer igual a esse animal para
atravessar o chão de areia movediça! Boa sorte!
DESAFIO 6
Vocês gostam de altura, são bons escaladores? Espero que sim, pois vamos precisar! O
desafio é atravessar a montanha.
67
DESAFIO 7
Agora que temos todas as partes do nosso mapa, o desafio é: montar o quebra-cabeça
e encontrar o “X” que nos mostrará onde fica a caverna.
DESAFIO 8
Agora que encontramos a caverna, vamos entrar. Mas vocês sabem quem gosta de
morar nas cavernas? Um animalzinho que adora dormir de cabeça pra baixo. O desafio final
é atravessar a revoada dos morcegos.
Imagem 77: Caverna dos Imagem 78: Caverna dos Imagem 79: Caverna dos
morcegos. morcegos. morcegos.
Fonte: Escola Municipal CEI Fonte: Escola Municipal CEI Fonte: Escola Municipal CEI
José Lamartine Correa de José Lamartine Correa de José Lamartine Correa de
Oliveira Lyra, 2017. Oliveira Lyra, 2017. Oliveira Lyra, 2017.
68
e atrelado às necessidades do grupo, unindo, assim, a cultura letrada à cultura infantil.
Durante todo o processo, houve um movimento em que as etapas não foram definidas a
priori, mas organizadas passo a passo a partir das crianças e reapresentadas em diferentes
espaços, na busca de possibilitar experiências mais consistentes que respeitassem as
curiosidades e acolhessem as tentativas de compreensão das crianças.
“Como é o dragão?”
“O dragão é bravo?”
“Dragão, me dá um abraço?”
“O dragão não solta fogo porque ele tomou água!”
Imagem 81: A caverna e o Imagem 82: A caverna e o Imagem 83: Conversas com o
dragão. dragão. dragão.
Fonte: Escola Municipal CEI Fonte: Escola Municipal CEI Fonte: Escola Municipal CEI
José Lamartine Correa de José Lamartine Correa de José Lamartine Correa de
Oliveira Lyra, 2017. Oliveira Lyra, 2017. Oliveira Lyra, 2017.
Mas este não foi o fim da história, ao contrário, foi o começo de muitas outras aventuras,
agora em parceria com o dragão...
69
Para ampliar o olhar e a escuta!
70
Pizzaria veloz – crianças que leem, interpretam,
criam e comunicam o mundo
Pensar na criança como possuidora de direitos representa não apenas reconhecer
os direitos que a sociedade lhe concede, mas também criar um contexto de
“escuta” no sentido mais pleno. Isso quer dizer que devemos reconhecer e aceitar
a singularidade e a subjetividade de cada indivíduo (e assim, de cada criança)
e ainda criar espaços que sejam autogeradores, ou seja, espaços em que cada
criança possa elaborar e produzir novos direitos.
Carla Rinaldi
Conversas para estar juntos, para alegrar, para apoiar, para distrair, para organizar
e planejar o cotidiano, para apreender e transformar o mundo. Nesse contexto, nasce
a prática13 desenvolvida pelas crianças e professoras de educação infantil da turma
de pré II do CMEI Bairro Alto Tarumã. Cientes da importância da organização de
espaços que promovam a ludicidade, a brincadeira, o jogo simbólico na instituição de
educação infantil, e desejosas de incluir cada vez mais as crianças nessa organização,
as professoras lançam a proposta: o que acham de fazermos mudanças nos cantos14
de nossa sala? Que outros cantos poderíamos organizar?
É válido ressaltar que o CMEI e, consequentemente, as casas das crianças estão numa
região em que se concentram muitas pizzarias. Fato que possivelmente interferiu na
escolha realizada por elas, pois revela características do entorno.
Definido qual seria e onde seria construído o novo canto, os investimentos foram no
sentido de estabelecer, em conjunto com as crianças, o que seria necessário para a
construção, e a indagação passou a ser: o que precisamos para montar a pizzaria?
13 Apresentada no 11.º Seminário de Educação Infantil, tendo como autoras Francione Camargo Vicentini, Karla
R. de Oliveira Santos Zucco, Priscila do Socorro Hubie Martins e Regina Celia C. Bastos.
14 Referência aos cantos de atividades diversificadas, cantinhos da educação infantil, espaços para brincar.
71
Para efetivar essa pesquisa, as famílias foram convidadas a participar, auxiliando as
crianças durante o final de semana a identificar as pizzarias presentes no entorno e quais suas
características, pois todos estavam empenhados em construir a mais completa pizzaria do bairro.
Por meio do diálogo, foi escolhido o nome da pizzaria, ouvindo as sugestões das crianças,
que se posicionaram a partir do repertório que possuíam.
E se fosse a princesa
Rapunzel...
72
Já sei! Mats freri!
O que acham da
pizzaria Cinderela?
Depois de muitos debates, sugestões, dissensos e consensos, a escolhida pela maioria foi:
Veloz...!
73
Imagem 89: Publicidade
Pizzaria.
Fonte: CMEI Bairro Alto
Tarumã, 2017.
74
As crianças foram as responsáveis pela
elaboração de cardápios, item que tinham encontrado
nas diversas pizzarias que visitaram e essencial
para que a brincadeira acontecesse. Com auxílio
das professoras, escreveram os nomes das pizzas
e registraram, por meio de desenho, os ingredientes
que compunham cada uma de suas criações. Na
Imagem 93: Cardápio das crianças sequência, o cardápio da Pizzaria Veloz foi transcrito
sistematizado pelas professoras.
Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, 2017. em arquivo digital e impresso.
Com intuito de ampliar o repertório das crianças e tornar mais rica a brincadeira da
pizzaria, as professoras propuseram que fizessem pizzas de verdade. E as crianças
prontamente aceitaram.
Imagem 94: Preparação das Imagem 95: Preparação das Imagem 96: Preparação das
pizzas, mão na massa. pizzas, mão na massa. pizzas, mão na massa.
Fonte: CMEI Bairro Alto Fonte: CMEI Bairro Alto Fonte: CMEI Bairro Alto
Tarumã, 2017. Tarumã, 2017. Tarumã, 2017.
75
Há que se destacar o fato de que mesmo compreendendo, por meio da vivência como
pizzaiolos, que alguns sabores não eram tão palatáveis, as crianças não quiseram retirá-los
do cardápio da Pizzaria Veloz, demonstrando que sabem separar perfeitamente a realidade
do faz de conta. As professoras respeitaram a decisão dos pequenos.
Num processo em que tudo é compartilhado, preparar a brincadeira já faz parte do brincar.
76
Assim, as crianças exercitaram a leitura
intuitiva ao participarem de sua execução e
foram capazes de fazer inferências sobre o que
estava escrito. Esse movimento de valorização
da cultura letrada também partiu das crianças,
uma vez que alertaram para a necessidade de
complementar o cartaz da pizzaria com o número Imagem 103: Identificação dos ingredientes.
do telefone e do WhatsApp. Embora ainda não Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, 2017.
dominassem a leitura das palavras, tinham
muitos conhecimentos sobre o mundo e sobre o
funcionamento das pizzarias. Elas compreendiam
que essa era uma informação essencial para
o sucesso do negócio, afinal muitos pedidos
poderiam ser efetivados por essas ferramentas.
Outra curiosidade é que, ao discutirem sobre as
formas de pagamento, novamente surpreenderam
ao solicitar às professoras a impressão das Imagem 104: Fôlder da Pizzaria Veloz.
bandeiras de cartão de crédito, pois sabiam que Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, 2017.
Imagem 106: Pizzaria Veloz: a Imagem 107: Pizzaria Veloz: a Imagem 108: Pizzaria Veloz: a
todo vapor. todo vapor. todo vapor.
Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã,
2017. 2017. 2017.
77
Imagem 109: Pizzaria Veloz: a todo vapor.
Fonte: CMEI Bairro Alto Tarumã, 2017.
78
A interação criança-criança e criança-adulto, no decorrer do percurso, foi o ponto alto.
E, por fim, missão cumprida: após a inauguração realizada pela turma do pré, as demais
turmas do CMEI puderam também brincar na Pizzaria Veloz.
79
Pequenos escritores – o registro, a criação e a
expressão das crianças
Não é preciso que a criança
compreenda as relações entre fonemas
e grafemas para construir sentidos
ao escutar a leitura de uma história
ou ao elaborar narrativas a partir de
um livro de imagens, por exemplo.
As crianças formulam hipóteses,
criam histórias, inventam sentidos Em O Carteiro Chegou,
atestando, assim, o seu protagonismo
dos autores Janet &
em relação ao processo de construção
de conhecimento sobre a linguagem Allan Ahlberg, é possível
escrita. acompanhar um dia de
trabalho de um jovem
Mônica Correia Baptista
carteiro que, a cada entrega
realizada, se depara com
Na perspectiva apontada por Baptista na epígrafe
personagens clássicos
acima, a prática pedagógica apresentada a seguir
da literatura infantil, entre
revela um trabalho muito singular, em que professoras
eles: Cachinhos Dourados,
e crianças do CMEI Caramuru – NRE CJ15, juntas,
Cinderela, Lobo Mau,
construíram significados e aprendizagens das práticas
entre outros. Além disso,
sociais quanto aos aspectos que envolvem a oralidade,
é interessante perceber
a leitura e a escrita, mas principalmente a experiência
que cada correspondência
da vida em sociedade.
equivale a uma tipologia
Porém, antes de mergulharmos na experiência como, por exemplo, cartão
realizada com as crianças do pré, é importante postal, cartaz/panfleto
destacar que esse trabalho é fruto do investimento comercial, cartão de
em formação e reflexão constantes das profissionais aniversário, um minilivro,
da unidade educativa. Assim, em 2017, foi entre outros. E, ainda, o
lançado o desafio pela pedagoga Cristiane16 mais surpreendente é que
às professoras quanto ao que versa o artigo 9.º da essas correspondências
Resolução n.º 05/2009, que trata das experiências estão materializadas na
que precisam ser garantidas às crianças no contexto obra.
15 Maria Rita de Cassia Massaneiro Delfrate, Iara Regina dos Santos, Claudia Ferreira Fraga da Rosa.
80
da Educação Infantil. O desafio consistia em que cada uma das profissionais analisasse as
práticas que já realizavam com as crianças e encontrassem nelas os incisos do artigo 9.º
já contemplados, como também as necessidades de investimento que poderiam ser feitas
durante o ano.
Dessas reflexões, as professoras Iara Santos e Maria Rita Delfrate planejaram situações
de aprendizagens para garantir às crianças “experiências de narrativas, de apreciação e
interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros
textuais orais e escritos;” enfatizados no inciso III do artigo 9.º. Assim, uma proposta,
a partir da obra “O carteiro chegou”, foi lançada com o título “Pequenos escritores”. A
escolha da obra se deu porque as professoras já conheciam a sua riqueza e potencialidade
e, principalmente, pelo fato de as crianças estarem bastante repertoriadas com alguns
contos abordados na obra, como Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Cachinhos Dourados.
Outra proposta foi o trabalho com cartas, que se distanciam da realidade das crianças,
visto que cada vez mais a tecnologia da informação ocupa um espaço significativo na
comunicação entre as pessoas, levando em consideração que o trabalho com os gêneros
textuais amplia os saberes das crianças. Sobretudo, por se tratar de um direito sustentado
tanto nas DCNEIs como na BNCC.
81
Nesse sentido, a maioria das crianças dessa turma fez desenhos para seus amigos e
esse momento foi respeitado pelas professoras, como podemos observar nas imagens:
82
Nesse sentido, compreendemos que a criança tem o direito de conhecer a cultura
escrita, mas não tem o dever de escrever formalmente aos 5 anos de idade. Portanto, é
indispensável considerar que:
[...] não é na educação infantil que a criança inicia sua alfabetização. Esse
processo se inicia fora das instituições escolares e, muitas vezes, antecede a
entrada da criança nessas instituições. Também não é nessa etapa educativa que a
alfabetização se completará. A educação infantil tem como principal contribuição
para esse processo fazer com que a criança se interesse pela leitura e pela escrita,
que ela deseje aprender a ler e escrever e, ainda, fazer com que ela acredite que é
capaz de fazê-lo. (BAPTISTA, 2010, p. 10).
83
Imagem 120: Desenho dos pontos
turísticos da cidade de Curitiba.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
Dessa conversa, muitas imagens sugiram e, diante da escuta atenta ao que as crianças
diziam, as professoras trouxeram imagens dos lugares citados, no sentido de ampliar o olhar
para as diferentes paisagens da cidade, bem como alguns cartões postais de diferentes
lugares e vídeos da cidade de Curitiba.
84
Imagem 124: Heloísa
desenhando o Bondinho da Rua
XV.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
Imagem 128: Selos dos desenhos dos pontos turísticos construídos pelas crianças.
85
professoras solicitaram àquelas que tivessem cartas antigas guardadas em casa que
mostrassem e lessem para os filhos. Desse momento, a professora Maria Rita relatou que
a mãe do Arthur lhe enviou um vídeo falando sobre a leitura da carta para o filho. A mãe
contou que foi um momento muito especial em família, uma vez que a carta escolhida foi a
que ela havia escrito ao pai de Arthur, quando soube que estava grávida dele. Foi a primeira
vez que Arthur ouviu sobre essa passagem da sua história de vida em família.
Imagem 130: Famílias, no CMEI, Imagem 131: Famílias, no CMEI, Imagem 132: Famílias, no CMEI,
lendo a carta escrita aos seus lendo a carta escrita aos seus lendo a carta escrita aos seus
filhos. filhos. filhos.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017. Fonte: CMEI Caramuru, 2017. Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
A experiência das crianças foi enriquecida ainda mais quando as professoras organizaram
um momento que oportunizou o contato direto com o carteiro do bairro. Reuniram as cartas
das crianças, enviaram ao correio e combinaram com o carteiro para que, no momento da
entrega das cartas ao CMEI, ele conversasse um pouco com elas. E assim aconteceu. O
momento da chegada do carteiro foi uma surpresa, alegria e encantamento para todos!
86
Imagem 134: Entrega Imagem 135: Entrega
das cartas pelas das cartas pelas
crianças. crianças.
Fonte: CMEI Fonte: CMEI
Caramuru, 2017. Caramuru, 2017.
A partir dessa visita e da conversa com ele, brincar de carteiro se tornou uma das
brincadeiras preferidas pelas crianças, e o contato com a escrita nessa etapa da educação
aconteceu como o esperado.
Imagem 136: Ser carteiro virou a brincadeira Imagem 137: Ser carteiro virou a brincadeira
preferida das crianças da turma do pré. preferida das crianças da turma do pré.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017. Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
17 Para Lerner (2002), ao adotar uma perspectiva global das práticas sociais de leitura e escrita, as crianças
constroem sentidos sobre o material escrito mesmo sem saber ler e escrever convencionalmente.
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Elas trocaram ideias sobre as lojas e os produtos que gostariam
de anunciar. A partir daí, começaram a desenhar seus encartes.
Os desenhos foram feitos em etapas, pois o envolvimento das
crianças foi intenso. As professoras perceberam que muitas
delas foram para o mundo da fantasia em suas criações, e o
repertório vivenciado diariamente nas brincadeiras realizadas Imagem 139: Pesquisa em
encartes de lojas e mercados.
nos cantos foi incorporado às suas escolhas. Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
A professora Maria Rita relatou que Wiliam manifestou seu interesse por fazer um
encarte para uma loja de tigres. Ela o questionou: Mas é uma loja de tigres de verdade?
Wiliam disse: Sim!
Esse relato nos faz refletir sobre o modo de produção de cultura para as crianças, que
ocorre entre fantasia e realidade, ou seja, a realidade, nesse caso, seria o encarte, que é
próprio da cultura adulta, mas a forma como a criança traduz isso na sua cultura infantil é
por meio do faz de conta. Assim, é totalmente possível imaginar um encarte para uma loja
de tigres18.
Perante o grande interesse das crianças, novamente as famílias foram envolvidas nas
propostas organizadas para/com elas. Nesse momento, foram convidadas a visitar com
seus filhos algumas das possíveis lojas utilizadas nos encartes, com o intuito de alargar a
experiência para além do contexto do CMEI.
Imagem 141: Encarte da Loja do Dinossauro Imagem 142: Davi com seu pai em uma loja de games
Fonte: CMEI Caramuru, 2017. e seu registro.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
18 A escrita espontânea pode ser compreendida como toda a produção gráfica da criança que se encontra em
processo de compreensão do princípio alfabético, mesmo quando ainda não domina este princípio. O espontâneo
designa essa possibilidade de escrever mais livremente, sem restrição e preocupação de errar, seja na escola ou em
situações cotidianas. Disponível em: <http://www.ceale. fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/escrita-
espontanea>. Acesso em: 17/09/2018.
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Imagem 143: Leonardo com seu pai em lojas de brinquedos, Games Incríveis e
Ótimas Robôs, na seção de robôs. Em seguida, o seu desenho.
Fonte: CMEI Caramuru, 2017.
A pedagoga Cristiane relatou que, a partir da ideia inicial que as professoras tiveram em
seu planejamento do início do ano letivo, o trabalho foi tomando outro rumo, que dependeu
19 Segundo Barbeiro (2012), o processo de aprendizagem da escrita deve envolver uma dimensão emocional, a
qual reflete na atribuição de sentido a esta prática social.
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muito do que as crianças demandavam. Hoje, ao olharem para trás, percebem o quanto
ficou distante do que havia sido inicialmente pensado e, ainda, o quanto isso foi positivo,
já que houve, de fato, o protagonismo compartilhado, de modo que “são as experiências
das crianças que conduzem o trabalho. Se parte de uma ideia inicial e o trabalho vai
sendo conduzido pelo que as crianças vão demandando”, relatou a pedagoga Cristiane.
Nessa perspectiva, reconhecer a dificuldade primeira em sair da lógica de se pensar em
atividades predeterminadas e entrar na lógica das experiências das e com as crianças foi
imprescindível na compreensão da criança como capaz e competente, e que a experiência
delas é alimentada pelas professoras que investigam, organizam, questionam o tempo, o
espaço, os materiais, e aprendem junto com as crianças.
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Nesta nova edição, revista e ampliada, a artista e arte-educadora traz
uma importante reflexão sobre a linguagem gráfica infantil, convidando
o leitor a experimentar o desenho em toda a sua potência criativa – não
esquecendo que a vivência prática é fundamental para a compreensão
do universo gráfico, assim como dos significados contidos no ato de
desenhar das crianças. A linha, a expressividade, o objeto representado
e a relação com os materiais são enfatizados também nas obras de
importantes artistas da história da arte.
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Lelê e os bebês – o encantado r universo da
literatura
Cada final é um começo, uma história
que nasce outra vez, um novo livro.
Assim se abraçam
quem fala e quem escuta,
num jogo que sempre recomeça
e que tem como princípio condutor
o desejo de nos encontrarmos...
Imagem 146: Bebês apreciando o Imagem 147: Bebês apreciando o Imagem 148: Bebês apreciando o
livro digital O cabelo de Lelê. livro digital O cabelo de Lelê. livro digital O cabelo de Lelê.
Fonte: CMEI Cassiopeia, 2016. Fonte: CMEI Cassiopeia, 2016. Fonte: CMEI Cassiopeia, 2016.
– Ehhh!
– Oia lá!
– Edu vê!
– Ahh!
– Ai! Ih!
20 Equipe do CMEI Cassiopeia: professoras Izolete Correia Brasil de Souza e Janete Bezerra de Lima Ramos;
pedagoga Carina Claro e diretora Tatiane Niederheitmann Latoski.
21 BELÉM, Valéria. O cabelo de Lelê. São Paulo: Editora IBEP Nacional, 1. ed., 2007.
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Assim, ao expressar-se por meio do corpo, de gestos, de balbucios e pequenas palavras,
atribuíram sentidos construídos coletivamente acerca da história que, por vezes, habitou
o cotidiano desse grupo. O registro desse momento mostra o quanto o corpo precisa ser
considerado, compreendendo que é:
[...] elemento de comunicação e ação social dos bebês. Isso nos permite reconhecê-
los como ‘atores sociais competentes, tendo em vista que o corpo é para eles não
só meio de comunicação, mas, sobretudo, uma forma de ser e estar no mundo’.
(COUTINHO, 2011, p. 232).
Sensíveis à forma de ser e estar dos bebês no mundo, de acordo com Gerbelli (2006,
p. 23), significa que “compreender que o bebê se comunica por meio do corpo pode ser
o primeiro passo para compreender o que o bebê comunica”. Assim, as professoras, ao
oportunizarem permanentemente a prática de leitura literária, consideraram que, na primeira
infância, os sentidos construídos integram um processo mais amplo de constituição da
linguagem. Para isso, pensar em espaços, tempos e materiais e, principalmente, rever
a postura profissional diante de práticas tradicionais de leitura, em que o adulto lê, e as
crianças, em roda, ficam estáticas e em silêncio, foi decisivo para a construção de novos
significados coletivos no momento da leitura22.
22 Dialógica da escuta – termo utilizado por Bajour (2012) para designar o processo de escuta que faz parte de
todo ato de leitura em que se busque abrir significados coletivos.
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Assim, o tempo da experiência transpassou o cronológico,
transformou-se na intensidade do envolvimento dos bebês
com este processo social desencadeado pela “leitura
compartilhada” (conceito utilizado por Bajour, 2012). No
momento da leitura compartilhada, quem lê e quem frui se
fundem sem distinção a partir da possibilidade de socializar
Imagem 150: Participação dos
bebês. significados disparados pela história.
Fonte: CMEI Cassiopeia, 2016.
Da mesma forma, com o livro em mãos, os bebês também presentificaram a história aos
colegas e às professoras, por meio da linguagem verbal. Ao experienciar narrativas, apreciar
e interagir com a linguagem oral e escrita, a criança desenvolve aspectos relacionados à
oralidade e se apropria da leitura e da escrita.
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Políticos: destaca a necessidade de criar condições nas quais as crianças
aprendam a opinar sobre as descobertas que fazem a respeito do mundo, a
participar criticamente das decisões do cotidiano e, principalmente, que tenham
garantido o seu direito à aprendizagem.
Dessa forma, abriu-se um espaço para estreitar relações com as famílias, agregando
conhecimentos, por meio do brincar e da prática literária.
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o livro preferido em mãos, semanalmente, a turma envolveu-se com novas formas e com
novos parceiros ao desfrutar da leitura compartilhada. Em um momento de leitura com
a família, ampliam-se os sentidos, pois outras pessoas podem presentificar o texto, ao
mesmo tempo em que invocam a autonomia e os saberes dos bebês, colaborando com a
prática social de leitura literária.
24 Um bom livro para crianças é um livro bem escrito, inteligentemente planejado e desenvolvido; lindamente
projetado, ilustrado sensivelmente (ALTAMIRANO, 2014, p. 39) – Literatura na Educação Infantil: acervos, espaços e
mediações.
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Ao atentar-se às diferentes formas de proporcionar a leitura literária às crianças, além
de um momento de leitura compartilhada também se proporciona a experiência estética.
Quem aprecia uma história, ao invés de assumir um papel passivo, tem a ação garantida na
fruição e na construção de sentidos.
Certos encontros nos transformam. Sejam eles com pessoas ou livros – com
ou sem imagens –, eles nos transformam, nos abalam, nos surpreendem, nos
desconcertam, nos desestabilizam... Questionando o sentido de nossas vidas,
eles nos tornam vivos. (RATEAU, 2014, p. 13)25.
25 Artigo Ler com crianças pequenas – Dominique Rateau In: BRASIL. Coordenação-Geral de Educação Infantil:
Literatura na educação infantil: acervos, espaços e mediações/Monica Correia Baptista ... [et al.], org. – Brasília, DF:
MEC, 2015.
97
Para ampliar o olhar e a escuta!
98
O livro apresenta referenciais teóricos a todos que se dedicam
ao estudo da literatura, especialmente a destinada às crianças e aos
jovens, bem como busca apresentar os elementos constitutivos desse
gênero, desde suas origens nos contos da tradição oral até o momento
contemporâneo. A obra oferece ferramentas para auxiliar professores,
pais e acadêmicos a formar o leitor literário. Interessa-se em identificar os
procedimentos estéticos e discursivos na literatura infantil na expectativa
de um leitor mais crítico e competente. Estabelece critérios para análise e
seleção das histórias, tendo em vista a qualidade com que essas narrativas
devam chegar até nossas crianças.
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Referências
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de Bakhtin. Dissertação de mestrado, UFPR, Paraná: 2011. Disponível em: <http://www.
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Editora Pulo do Gato, 2012.
BARBEIRO, L. F. Escrever: processo e emoção nos alunos do ensino básico. Exedra Revista
Científica, dez. 2012. Coimbra. p. 32-45.
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COUTINHO, A. M. S. O corpo e a ação social de bebês na creche. Poiésis, Tubarão, v. 4, n. 8,
p. 221 – 233, jul./dez. 2011.
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SITES CONSULTADOS
www.sercriancaenatural.com
www.institutiroma.org.br
www.criancaenatureza.org.br
102
Ficha técnica
Gerência de Currículo
Ligiane Marcelino Weirich
Gerência de Gestão
Kelly Ester Lopes
ELABORAÇÃO
Alessandra Giacomiti
Arleandra Cristina Talin do Amaral
Dhaiene de Jesus dos Reis Bruno
Elisangela C. de Pinheiro Leite Munaretto
Giselle Troya Saes Müller
Jaqueline dos Santos Rodrigues
Joseane de Fátima Machado da Silva
Marise Jeudy Moura de Abreu
Patricia Sesiuk
Solange Gabre
CONTRIBUIÇÃO
Elidete Zanardini Hofius
Elisângela Iargas Iuzviak Mantagute
Vanessa Pacheco dos Santos
Vera Regina Lunardi
COORDENAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
Joseane de Fátima Machado da Silva
103
VALIDAÇÃO
Adriana do Rocio Collodel Lacerda
Aldacira Batista Santos Bonfim
Aldia Mielniczki de Andrade
Alessandra Giacomiti
Alessandra Caron de Carvalho Quaresma
Aline Aparecida Telles
Aline Faustino da Silva
Ana Beatriz Souza Cerqueira
Ana Paula Pechepiura Maia
Ana Paula Vilella Ribas
Ana Paula Schmitcka Fernandes
Ana Rita Gomes
Andrea Cristina de Freitas Barbosa Benthien
Aparecida Silvino dos Santos
Ariélla Ferreira Véra
Arleandra Cristina Talin do Amaral
Aurora Conceição dos Ramos Santos
Bruna Maria Semchechem Twardowsky
Camila da Luz
Carmen de Navarro Henriques
Cinira Francisca A. Bastos
Claudia Leão
Claudia Margarete Silveira
Claudinei Aparecido Alberto
Cléia de Sousa
Cristiane de Camargo Rodrigues Sampaio
Cristina Rolim Chyczy Brum
Daiane Veiga Czarneski de Oliveira
Daniele Cristine Coutinho
Daiene Veiga C. de Oliveira
Danielle B. Flores
Dayane Cristina Manfron
Denise Fabiana StIko Garszatka
Denise Luciene Lipinski Rutkoski
Dhaiene Jesus Reis Bruno
Edna Maria da Silva Pivovarsky
Elaene Diorake da Silva
Elaine Cristina Cordeiro de Lima
104
Elaine de Almeida Sathler
Eliane Fernandes de Lima
Elidete Zanardini Hofius
Eline de Melo Barbosa
Elisandra Cecília Schwanka de Oliveira
Elisangela Christiane de Pinheiro Leite Munaretto
Elisete Vieira Fracaro
Evelise Zirhut
Fabiane Nogueira
Fabiele do Rocio Novak de Oliveira
Francielle Lima Martinêz
Francine Pereira de Araujo França
Georgia Barbosa Machado de Andrade
Gisele de Lima Leoncio Mucke
Giselle Troya S. Muller
Graziela Tatiana Jardim
Inês Chezanoski
Janedi Costa Santos
Janete Roling Spadari
Jaqueline Aparecida Estella Kotarski
Jaqueline dos Santos Rodrigues
Joseane de Fátima Machado da Silva
Josiane Evelin Cordeiro Pereira
Josiane Nalin Pine
Josieli Farias Barbosa
Juliana Mulek Pezzatti
Kamila Gomes de Oliveira
Karin Cristina Coradin
Karin Priscila Gonçalves Franco Pucovski
Karla da Aparecida R. M. C. de Freitas Dias
Katia Regina Kussik Pereira
Kelen Aleixo Santos
Kelli Maria Ferreira Gevezier
Kelly Ester Lopes
Leda Maria dos Santos Samila
Lidia Aparecida de Bonfim
Luciana Becker
Luciana do Rocio Mazetto
Luciana Muniz
105
Luciene Muchagata Pecile
Luciene Souto da Rocha
Lucinéia Aparecida Jacometti
Marcia Maria da Rosa Sanches da Silva Rizzi
Marcia Pereira da Silva Facioli
Maria Cecília S. Araújo Colatusso
Maria do Carmo Souza Neto Schellin
Maria José Faria
Maria Odete Penteado
Mariângela Brunetti
Marise Jeudy Moura de Abreu
Maridalva de Oliveira
Marise Leonardo Zen
Maristela Teodoro
Marize Aparecida Machado Pereira
Melissa Vaneska Lourenço Silva
Michelle Schiestl da Silva
Michele Francisca Prado
Mônica Angélica Sampaio
Nanci Aparecida Cordova Yasbeck
Nilce Cardoso Malage
Nilcecleia Mastrangelo de Oliveira
Patricia Sesiuk
Pedro Rodrigo Andrade
Priscila de Fátima dos Anjos
Renata Patricia Fritsch Perazolo
Roberta Fabiane de Oliveira
Rosangela GraesserTeixeira
Rosiclea Maria do Amaral
Rozicleia Souza Carvalho
Sandra Dalla Stella Souza Lima
Silmara Lino Lemes Franzke
Silvana de Oliveira M. Guerreiro
Silvana Regina Cordeiro da Cruz
Silvia Letícia de Jesus Clemente Seidel
Solange Pacheco Ferreira
Suelen Girolla Grings
Suzana Andréia Galeazzi
Tamara Juliana P. Andrade
106
Tatiane Niederheitmann Latoski
Teresinha da Silva Medeiros
Thais Thomaz Doring
Ursulina S. Costa
Vanessa Costa
Vanessa Pacheco dos Santos
Vanessa Walter Scuissiato
Vera Regina Lunardi
Vaudilene Marques
Zuliane Keli Bas
Revisão Técnico-pedagógica
Elisângela Iargas Iuzviak Mantagute
107
Prefeitura Municipal de Curitiba
Secretaria Municipal da Educação
Superintendência de Gestão Educacional
Departamento de Educação Infantil