Transição
Transição
ProcesSos de
tr n ição
as
das CrIanças DA
educaçÃo inFAntil
práticas e reflexões
2016
Capa:
Lucas Gabriel Rodrigues Oligini
E. M. CEI Professor Ulisses Falcão Vieira – NRE CIC
PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA
Gustavo Fruet
SUPERINTENDÊNCIA EXECUTIVA
Antonio Ulisses Carvalho
DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA
Maria Cristina Brandalize
Um olhar para as práticas formativas: experiências na formação continuada dos profissionais da RME
de Curitiba......................................................................................................................................................................15
Referências.....................................................................................................................................................................47
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB), de 2013, apontam
que a transição entre as etapas da Educação Básica e suas fases requerem formas de
articulação que assegurem aos educandos, sem tensões e rupturas, a continuidade
de seus processos peculiares de aprendizagem e desenvolvimento. Essa articulação
manifesta-se principalmente nas dimensões orgânica e sequencial:
A dimensão orgânica é atendida quando são observadas as especificidades e
as diferenças de cada sistema educativo, sem perder o que lhes é comum: as
semelhanças e as identidades que lhe são inerentes. A dimensão sequencial
compreende os processos educativos que acompanham as exigências de
aprendizagens definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e
progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior, constituindo-se
em diferentes e insubstituíveis momentos da vida dos educandos. (BRASIL,
2013, p. 19)
Nessa perspectiva, Moss (2008) aponta para diferentes relações entre educação
infantil e ensino fundamental, das quais compactuamos com a relação em que existe
convergência entre ambas as etapas, considerando que:
Para que possam operar juntas, é preciso examinar melhor essas diferenças
e buscar de forma colaborativa novas concepções, valores e práticas
partilhadas, o que pode ser conseguido mediante um ponto de convergência
pedagógica, marcada por respeito mútuo, diálogo e construção conjunta.
(MOSS, 2008, n.p.).
Em 2013, uma das ações desenvolvidas pelas equipes dos Departamentos de Educação
Infantil e do Ensino Fundamental foi promover encontros ao longo do ano, buscando
uma aproximação entre os(as) profissionais que atuam nas duas etapas, bem como o
reconhecimento de suas especificidades a fim de viabilizar a articulação entre as etapas.
Num primeiro momento aconteceu a integração entre os departamentos e, na sequência,
com as equipes dos núcleos regionais da educação (NRE)1, para planejamento de ações
que visassem a visibilidade da importância de um processo equânime de transição,
pautado no acolhimento das crianças.
1 A Secretaria Municipal de Educação de Curitiba possui equipes que atuam nas diferentes regionais
da cidade. As equipes pedagógicas dos Núcleos Regionais da Educação (NRE) desenvolvem ações de
formação com diretores e pedagogos de CMEIs, bem como diretores, pedagogos e professores que
atuam nas turmas de pré das escolas municipais. Além disso, realizam encontros de supervisão mensais
nas unidades.
6
Assim, professores(as) e pedagogos(as) atuantes nas turmas de pré e de 1º ano em 2013
se encontraram, bimestralmente, nas regionais para juntos refletirem sobre o trabalho
realizado nas duas etapas. Nesses encontros, tiveram a oportunidade de conversar sobre
concepções e princípios que subsidiam o trabalho, sobre planejamento e avaliação,
espaços e tempos e sobre práticas desenvolvidas pelos professores tanto dos prés
quanto dos 1º anos.
Esta ação foi alicerçada no artigo 19 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica de 2013, que afirma que:
Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus princípios, objetivos
e diretrizes educacionais, fundamentando-se na indissociabilidade dos
conceitos referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteadora
do projeto político-pedagógico elaborado e desenvolvido pela comunidade
educacional. (BRASIL, 2013, p. 69)
Nesse sentido, esse conjunto de ações repercutiu num maior entendimento das propostas
desenvolvidas em cada etapa, seus propósitos e buscas, aproximando profissionais e
ideias a respeito da necessidade de olharem para as crianças e suas singularidades,
buscando compreender aquilo que realmente é importante para elas, principalmente no
momento em que transitam entre uma etapa e outra da educação básica.
Como profissionais envolvidos com esse processo, somos responsáveis por planejar e
organizar situações que apoiem as crianças e famílias nos momentos de transições e
mudanças, garantindo um olhar contínuo e criando estratégias adequadas aos diferentes
processos de transição por elas vividos.
2 Até o ano de 2015 os Centros de Educação Infantil eram vinculados à Secretaria Municipal da
Educação por meio de convênios. Em 2016 passou a ser vinculado por meio de contratação, por isso
houve alteração no nome de CEI conveniado para CEI contratado, conforme aparece no decorrer deste
documento.
7
- os saberes de sua experiência a fim de organizar práticas que façam sentido;
- o diálogo e observação constantes sobre ela e com ela;
- os laços relacionais entre adultos e crianças, envolvendo as famílias;
- o acolhimento e pertencimento ao novo espaço.
Os profissionais das instituições educativas da RME seguiram desenvolvendo ações
significativas com as crianças, por isso, em 2016, elaboramos este caderno, que é um
conjunto de práticas e reflexões acerca da transição, numa perspectiva de continuidade
desse processo de formação continuada, contribuindo com todos os envolvidos.
8
“A criança não é o futuro homem, uma futura mulher ou um futuro cidadão. Ela é uma
pessoa titular de direitos, com uma maneira própria de pensar e de ver o mundo. A
escola deve propor, desde a educação infantil, as experiências sobre as quais será
possível fundamentar seus saberes, seus conhecimentos e suas habilidades”.
Francesco Tonucci
O ingresso das crianças numa instituição requer uma articulação entre família e
profissionais que possibilite que a criança sinta-se acolhida, reconhecendo aos poucos
novas formas de convivência no coletivo. Já a transição requer uma articulação entre
família e profissionais, entre os(as) profissionais atuais e os que virão a fazer parte da
vida da criança e entre crianças de diferentes faixas etárias. Esse processo de integrar
relações que são importantes para a criança precisa estar no centro do projeto político-
-pedagógico de cada instituição, lembrando sempre de olhar e ouvir as crianças em seu
cotidiano.
As crianças têm muito a nos dizer sobre as relações que estabelecem entre si e com
o mundo, principalmente a respeito de situações que geram curiosidades e anseios.
Conforme o Parecer 20/2009, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (DCNEI)
Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos
relacionamentos e nas interações, de manifestar emoções e curiosidade,
e elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia
desde o nascimento conforme experimenta sensações de desconforto ou de
incerteza diante de aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos,
e lhe exigem novas respostas. Assim busca compreender o mundo e a si
mesma, testando de alguma forma as significações que constrói, modificando-
as continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, seja com
objetos. (BRASIL, 2009, p. 7)
9
A seguir, um exemplo que nos revela a maneira de as crianças verem e viverem o
mundo, num diálogo entre Dante e Enzo sobre o futuro e as mudanças que ocorrerão
quando passarem a frequentar o ensino fundamental, envolvendo na conversa o Clipo,
um jogo de peças de construção:
47. E: “Mas não, aqui está o problema, Clipo não é a única coisa que há no
mundo Há muitas outras coisas, eh?”
48. D: “Eh, o que tu ‘tas a dizer não é verdade. Tu disseste que… isto aqui…
estas coisas não são verdade”.(…)
54. E: “Sim, mas depois, tu vais ver que passado um bocado te vais sentir
chatieado de brincar com Clipo, percebes?”
55. D: “Não, isso não é verdade”
56. E: “Agora tu queres apostar que eu tenho razão, porque quando tu tiveres
vinte anos e já sabes como é que se escreve, já não tens Clipo, já não tens
mais estes joguinhos”(…)
71. D: “Porque, realmente, ouve, eu sempre brinquei com eles para construir
naves espaciais e ver como é que elas funcionam e para ver se é possível
fazê-las. Quando eu crescer, eu vou ser capaz de fazer o trabalho que eu
gosto porque eu…”
72. E: “Sim, mas primeiro tu tens de treinar muito isso. Não é porque tu
escolhes um trabalho para ti quando tu nem sequer sabes como é que ele se
faz” (CORSARO, s/d)
Nessa conversa registrada e discutida por Corsaro (s/d), temos revelada a desenvoltura
das crianças no diálogo e o seu poder de argumentação em que projetam como será o
ingresso no 1º ano e para além dele. Em jogo, estão diversos saberes, a exemplo: que,
quando estiverem nos primeiros anos do ensino fundamental, não brincarão mais com
Clipo assim como esse brinquedo se tornará desinteressante. Na sequência, discutem
ainda sobre as possibilidades do quanto fazer construções com o Clipo os ajudará em
suas futuras profissões.
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A criança é competente, capaz, interpreta o mundo e produz cultura. Nesse sentido, as suas
curiosidades e expectativas precisam ser consideradas, para se pensar e se planejar ações
que as ajudem a perceber a continuidade do seu próprio processo educativo de uma forma
saudável e positiva.
Nessa perspectiva, compartilhamos a experiência da turma do Pré II do CMEI Vila Sandra (NRE
CIC). As crianças receberam a Monique, que frequentava o Pré em 2015 e hoje frequenta o
1º ano na Escola Municipal Heitor Alencar Furtado, escola da região.
Monique, além de responder às questões das crianças do Pré II, falou o que já aprendeu na
escola, contou sobre suas novas amizades, sobre as professoras, o que mais gosta de fazer
na escola e como é o recreio. Falou também sobre as lições que faz na escola e sobre as que
leva para casa. Veja abaixo um pouco desta conversa:
11
Monique: Minha escola é bem grande, tem bastante crianças lá!
Andrei: E o que você aprende lá?
Monique: Eu estudo lín gua portuguesa, matemática, ciências, faço desenhos...
Professora Marli: E você já sabe escrever e ler, Monique?
Monique: Ahaã! Já sei escrever e ler bastante palavras e historinhas, e até fazer continhas!
Pietra: Você come lanche na escola?
Monique: Como. Às vezes eu gosto, mas às vezes não, daí eu não como!
Enzo: Tem parquinho lá?
Andrei: Não tem, né! Lá é escola de criança grande!
Giovanna: Tem sim! Tem parquinho, mas eles só ficam um pouquinho lá, porque eles tem que aprender
a ler, a escrever...
Professora Marilda: Monique, vocês vão muitas vezes no parquinho?
Monique: Vamos no parquinho, mas não como aqui na creche que a gente sempre ia! Na escola a
gente vai pouco. Mas fica lá, brincando também, com os brinquedos... de areia...
Valentina: Tem brinquedos na escola?
João: Tem. Mas tem mais caderno, livro.
Monique: Tem brinquedos, tem caderno, tem livro.
Professora Marilda: E conte para nós como é a sua sala de aula. É igual na creche?
Monique: Tem sala, tem carteira. A mesa é só da professora, a nossa é carteira. E a gente senta
em cadeira alta para escrever no caderno!
Andrei: Cadeira alta a gente não põe o pé no chão! (risos).
Monique: Quando começou a aula eu não colocava. Mas agora eu cresci, já coloco o pé no chão.
Professora Marli: E você fez novos amigos na escola? E a professora é legal?
Monique: Tenho muitos amigos! Alguns que estudam na minha sala e outros da outra sala. Eu tenho
uma professora, eles têm outra. Mas tem umas professoras que são de todas as salas.
Professora Marilda: É que na escola é diferente da creche. Aqui as duas professoras ficam na
mesma sala com as crianças. Lá tem uma professora que dá aula de Lín gua Portuguesa, Matemática,
História, Arte. E tem outra que dá Ciências. Outra que dá Educação Física...
Andrei: Nossa, tem muita professora. Eu ia ficar maluuuuuco! (risos).
Monique: Eu faço lição na escola e levo às vezes lição para casa. Daí minha mãe e minha irmã têm
que me ajudar nas lições.
Giovanna: Você leva os cadernos para casa? Você tem mochilão?
Monique: Tenho. Para caber todas as coisas que eu tenho que levar. Outro dia eu venho aqui na
creche para mostrar para vocês meu material. Vocês querem ver? Eu tenho penal da Moranguinho
que tem lápis de escrever, lápis de cor, canetinhas...”
Conversa registrada pelas Professoras Marilda e Marli do Pré II, CMEI Vila Sandra
(NRE CIC)
12
Essa ação realizada pelas professoras do CMEI Vila Sandra é um exemplo de como
mobilizar uma conversa entre as crianças, de ouvir e considerar suas hipóteses, podendo,
na sequência, promover outras ações que aproximem as crianças do espaço da escola.
A citação anterior nos convida a refletir sobre todos(as) os(as) envolvidos(as) nesse
processo, propondo uma organização conjunta de situações significativas para as
crianças, que contribuam de forma expressiva com sua aprendizagem e desenvolvimento.
É muito comum as crianças criarem expectativas e estarem ansiosas pelo que irão
encontrar na escola do ensino fundamental, pois muitas questões estão em jogo.
Podemos nos encantar com o tema lendo o livro Nu, de Botas, do autor paulistano
Antônio Prata. Nesse livro o autor relata, por meio de crônicas, memórias da infância e
situações inusitadas vividas por ele em casa ou na escola entre as décadas de 70 e 80,
como podemos observar no trecho da crônica intitulada Ca, Ce, Ci, Co, Çu:
13
Era o último dia de aula do Jardim II e a professora nos informou com a devida
solenidade que no semestre seguinte, no pré, aprenderíamos a escrever.
Passei as férias ansioso. Fazer colagens com sucata, modelar cinzeiros de
argila, batucar em latas de Nescau, pintar a mão com guache e estampá-
-la em folhas de sulfite eram atividades muito prazerosas, verdade, mas já
estava mais do que na hora de entender o que diziam os livros, as placas, os
outdoors e as fachadas da cidade sem precisar do auxílio de um adulto.
No dia em que as aulas começaram, almocei rápido e fiquei apressando
minha mãe: tinha medo de me atrasar para a escola e, chegando lá, descobrir
que todos haviam aprendido a ler e escrever, menos eu. Ao entender a razão
da minha ansiedade, ela riu, explicou que a alfabetização era um processo
complexo e demorado e não seria arruinado por sua sobremesa.
Ela tinha razão. Após semanas de esforço, eu não só continuava incapaz de
escrever uma única frase como sequer estava muito seguro em relação às
letras. Nunca sabia quantas perninhas pôr no E, quantas corcovas tinha o
M – sem falar na porcaria do W, um M de ponta-cabeça que a professora
dizia não servir para nada e, portanto, devia existir só para confundir. (PRATA,
p. 60 - 61, 2013)
As crianças precisam ter garantido o seu direito de conviver com adultos que reconheçam
suas potencialidades e necessidades em cada uma das fases de sua vida, enquanto
frequentam as instituições educativas. Nesse sentido, Corsaro (2011) alerta a respeito das
influências emocionais e interpessoais que as crianças tem em seu ambiente familiar:
As relações das crianças pequenas com adultos (professores, treinadores,
conselheiros, outros) e com pares nos ambientes nos quais emergem culturas
de pares são, em muitos aspectos, afetadas pelas rotinas de interação
anteriores, entre pais e filhos, nas famílias (PAKE e LADD, apud CORSARO,
2011, p. 133).
3 O termo cultura de pares, utilizado por Corsaro, se refere ao grupo de crianças que passa tempo
junto quase todos os dias. Refere-se a “um conjunto de rotinas ou atividades, artefatos, crenças e
preocupações que as crianças constroem durante a interação entre elas.” (CORSARO, 2008, p 1)
14
A formação continuada na Educação Infantil da RME de Curitiba é entendida como
um processo que parte de uma atitude investigativa dos profissionais sobre aspectos
específicos do trabalho docente que precisam ser (re)aprendidos, modificados e/ou
ampliados (CURITIBA, 2009).
Entre os destaques apresentados por cada grupo, foram surgindo propostas mais
adequadas para as crianças que priorizavam mais a convivência do que o evento. Em
seguida, foi orientado que as diretoras conversassem com suas(seus) pedagogas(os)
sobre o encontro e indicassem a leitura prévia de dois textos4.
4 Rituais de passagem. Planejamento especial para quem entra e para quem sai de uma instituição
educativa. Revista Avisa lá, n. 5, janeiro de 2001. SISLA, Eliana C.. Formatura na Educação Infantil? Revista
Avisa lá, n.39 de agosto de 2009.
15
Na sequência, foi realizado o encontro de formação com as(os) pedagogas(os), quando
foram retomadas as principais ideias dos textos e elucidada a concepção da RME de
Curitiba sobre o processo de transição. Em grupos, as(os) pedagogas(os) apontaram
destaques dos textos e discutiram possibilidades de propostas que fossem mais
significativas para as crianças, entre elas:
• solicitar aos irmãos que estão na escola para participarem de uma roda de
conversa e/ou trazerem materiais dos irmãos como disparador;
• envolver as famílias no processo de transição do CMEI/CEI para a escola;
• produzir um caderno de recordações com desenhos e fotos;
• organizar acantonamento;
• fazer visitas à escola para conhecer o espaço;
• escrever uma carta às crianças da escola colocando as expectativas das
crianças do CMEI em relação à escola;
• promover visita dos profissionais da escola ao CMEI.
Após esse momento, foi proposto que as(os) pedagogas(os) fizessem uma discussão
com suas equipes sobre o processo de transição e realizassem o planejamento de
ações para essa passagem.
Com as escolas, o assunto foi item de pauta do encontro de formação com as(os)
pedagogas(os) e professoras e professores do pré e da reunião de diretores no mês de
outubro. Foi realizado um breve relato do movimento realizado com os CMEIs do NRE
CIC e apresentada a proposta realizada pelo CMEI Conjunto Atenas II em parceria com
a Escola Municipal Centro de Educação Integral (EM CEI) Ulisses Falcão Vieira, resultado
de um planejamento em conjunto que visou não apenas conhecer o espaço físico da
escola, mas oportunizar a integração entre as crianças e adultos.
16
“As profissionais ressignificaram as ações que envolvem a transição, resultando em
experiências mais significativas para as crianças. No decorrer deste processo, outras
propostas surgiram a partir da parceria entre as EPAs de CMEIs e escolas: peça de
teatro apresentada pelas crianças das turmas do integral, propostas no laboratório de
informática e na biblioteca, apreciação de exposições, visita à horta e outros espaços.
As escolas que são distantes dos CMEIs foram apresentadas às crianças por meio de
fotos e filmagens. Para a continuidade da efetivação deste processo, consideramos
a importância destas propostas estarem previstas no plano de ação das unidades e
incluir como item de pautas de supervisão5 e de reuniões administrativas com a chefia
de núcleo. A qualidade das propostas de transição é resultado de um planejamento
compartilhado entre os profissionais das unidades, crianças e famílias”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE CIC) – 2016
Diante disso, ações formativas foram e são constantemente pensadas com os(as)
profissionais para enriquecer e fortalecer o papel da educação diante da transição,
a fim de garantir continuidade e ampliação. Entre essas ações, estão os espaços de
discussão sobre o tema, levantando o que já se compreende e o que se tem feito a
respeito, conhecendo novas possibilidades de encaminhamentos.
17
Reuniões formativas realizadas em 2016 com equipes de CMEIs e Reuniões formativas realizadas em 2016 com equipes de CMEIs e
escolas envolvendo a equipe de pedagogas e a chefe do NRE escolas envolvendo a equipe de pedagogas e a chefe do NRE
Pinheirinho. Pinheirinho.
Refletindo sobre essas ações desenvolvidas, a equipe do NRE Pinheirinho indica que:
18
Nesses momentos nos quais há a
troca de experiências no coletivo,
“[...] os sentidos construídos
com base nas experiências de
cada um circulam e conferem
ao conhecimento novos
significados, agora partilhados”
(PLACCO; SOUZA, 2006, p.
20). Portanto, são estratégias Relato de experiência sobre a parceria realizada entre CMEI Senador
Affonso Alves de Camargo Netto e Escola Municipal Prefeito Omar
importantes na formação Sabbag.
continuada dos profissionais.
19
“O processo de transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
deve ser organizado de modo a atender as necessidades das crianças e diminuir os
impactos que esta ação produz. Neste sentido, as ações relatadas acima aconteceram
com o compromisso de olhar para a criança que vivenciará este processo.
Reunir as equipes diretivas das instituições, tanto CMEIs quanto escolas, possibilitou
a reflexão sobre como deve ocorrer a transição das crianças entre estas etapas, bem
como o planejamento de ações para dar visibilidade ao processo.
Muitas ideias surgiram neste momento e estão sendo colocadas em prática. Alguns
avanços já são percebidos, como por exemplo: reuniões entre as equipes para além
da que aconteceu com o núcleo; um olhar atento e acolhedor para as crianças que
frequentarão as escolas no próximo ano; trocas entre os profissionais que atuam com a
criança no pré e aqueles que atuarão no 1º ano; produções das crianças do pré sendo
disponibilizadas nas salas do 1º ano para que as crianças se reconheçam neste novo
espaço; etc. No entanto, alguns desafios ainda se impõem como, por exemplo, garantir
que o maior número possível de instituições desenvolva de fato as ações planejadas;
assegurar que o diálogo entre as instituições e as ações planejadas consolidem-se
como projeto institucional das unidades. Temos a convicção de que estas ações trarão
benefícios importantes às crianças pequenas que frequentam os espaços educativos
da nossa cidade”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE Cajuru) – 2016
20
As DCNEI (BRASIL, 2009) nos trazem que, para garantir um olhar contínuo sobre os
processos vivenciados pela criança no seu processo de transição da educação infantil
para o ensino fundamental, é necessário desenvolver ações que favoreçam a integração
entre diferentes profissionais, independentemente de a transição ser feita no interior de
uma mesma instituição ou entre instituições.
Uma dessas experiências é a parceria entre o CMEI Senador Affonso Alves de Camargo
Netto e a Escola Municipal Omar Sabbag no NRE Cajuru, já citado no capítulo anterior.
Desde 2014, as equipes pedagógico-administrativas desenvolvem ações compartilhadas,
a fim de promover o bem estar das crianças durante o processo de transição entre as
duas unidades. Tais ações garantem a articulação e o intercâmbio entre as crianças de
diferentes faixas etárias na transição entre as unidades, desenvolvendo a autonomia e
a identidade delas no processo de adaptação à escola, estabelecendo laços relacionais
e possibilitando que as crianças, se sintam pertencentes ao novo espaço.
21
“Esse é um momento singular, significativo para a criança, que, através de
atividades planejadas, desenvolve atitudes positivas em face da nova realidade
a ser enfrentada, a saber, a transição entre CMEI e Escola. Nesse sentido, a
realização de propostas que marquem positivamente a mudança das crianças para
outra instituição educacional deve ser pensada a partir delas e do que significa
esse momento em suas vidas, sendo, portanto, necessário ouvir a criança e seus
responsáveis, observar suas reações e curiosidades”.
Além disso, compartilhar os registros, os portfólios das crianças e das turmas e o parecer
descritivo entre os profissionais das unidades (CMEI, CEI contratado e Escola) é também
uma ação planejada para a transição da criança. Segundo a equipe pedagógico-
administrativa do CMEI Pimpão (NRE Portão):
Essa ação possibilita aos profissionais que irão atuar com as crianças no Ensino
Fundamental conhecer todo o processo de aprendizagem desenvolvido na Educação
Infantil e dá elementos para subsidiar o planejamento das práticas educativas.
22
Os professores e professoras que atuam nas equipes de permanência7 das escolas
também exercem importante papel no processo de transição das crianças. Na EM
Maringá (NRE Pinheirinho), os(as) professores(as) de Educação Física, ao entenderem
que a escola precisa ser um espaço de múltiplas relações, interações, brincadeira e
aprendizado, refletiram sobre esse processo e propuseram uma nova ação:
Este ano as crianças dos 5º anos é que vão preparar as atividades sob a orientação
dos professores de Educação Física”.
Veridiana Dallarmi Pellanda – Professora de Educação Física da EM Maringá
(NRE Pinheirinho) – 2016.
“Hoje foi um dia especial porque as crianças do Lassalinho vieram nos visitar.
Preparamos muitas brincadeiras: bolinha de gude, brincadeiras com colchonetes,
pneus, fantoches e muito mais. Recebemos elas com muito carinho e amor e nós nos
surpreendemos. No final fizemos uma apresentação e eles gostaram muito. Na hora
que estavam indo embora um aluno da nossa turma ficou emocionado e começou a
chorar. Vamos encerrar este ano com muita felicidade”.
Maria Luiza Haloten – estudante do 5º ano da EM Maringá
(NRE Pinheirinho) – 2016
7 Equipe de permanência refere-se aos profissionais que atuam nas turmas quando os professores
regentes estão realizando seus estudos e planejamentos.
23
Os relatos apresentados reforçam o entendimento de que todos os profissionais que
atuam com as crianças pequenas são responsáveis em planejar e desenvolver ações,
ao longo do ano, que promovam a acolhida e o acompanhamento da criança na escola.
“Com a entrada das crianças de 4 anos na escola, buscamos um novo olhar para
a infância por meio de atividades onde as crianças da Educação Infantil pudessem
compartilhar experiências com crianças de outras faixas etárias, de forma que pudessem
se sentir acolhidas e pertencentes ao espaço da escola”.
Professoras Marion Alves Machado e Viviane Nolli Cardoso –
EM CEI Francisco Frischmann (NRE Pinheirinho) – 2015
Antes do desenvolvimento
das propostas, os
estudantes do 5º ano
apresentaram certo receio
em participar de diferentes
práticas e brincadeiras com
as crianças do Pré:
24
Segundo as professoras, as crianças da educação infantil contribuíram para que
os estudantes do 5º ano repensassem e reelaborassem estratégias para realizar
as atividades, numa interação que envolveu mais afetividade, respeito, estímulo e
acolhimento entre todos.
25
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa identifica alguns significados para o verbete
“integrar”, entre os quais destacamos três deles:
1. Incluir (se) um elemento num conjunto formando um todo coerente;
incorporar(se), integralizar(se).2. Adaptar (alguém ou a si mesmo) a um
grupo, uma coletividade; fazer sentir-se como um membro antigo ou natural
dessa coletividade. 3. Unir-se, formando um todo harmonioso completar-se,
complementar-se. Disponível em: <https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/
v2-3/html/index.htm#1> – Acesso em: 10/10/2016.
Todas as definições acima nos remetem à ideia de movimento. Incluir-se ou incluir algo
num todo exige ações, atitudes, definições tanto no âmbito do conjunto no qual se quer
incluir quanto no que se pretende incluir.
As crianças, ao realizarem a passagem para o ensino fundamental, estarão se inserindo
em um novo espaço, em uma nova forma de organização social.
26
Se a experiência mais interessante No CEI Desafio do Saber, as crianças
da vida dos seres humanos é a
do Pré conheceram a EM Newton
possibilidade do convívio, do amor, da
amizade, enfim da busca da vida em Borges dos Reis, NRE Tatuquara,
comunidade, a educação infantil é a e interagiram com as crianças do
primeira experiência de convivência
primeiro ano. Durante o ano, além
na diversidade. Cabe-lhe acolher as
crianças, encorajando-as em suas de visitar o espaço da escola, elas
descobertas e invenções; ouvindo- tiveram a oportunidade de trocar
as em suas necessidades, desejos e entre si diversas cartas e participar
inquietações; apoiando-as em seus
desafios e ensinando-as a conviver de brincadeiras. Ao final do ano
favorecendo o sucesso das crianças. aconteceu uma confraternização
(BARBOSA, 2009, p. 90). entre as crianças do pré e do 1º ano,
Ao pensar, especificamente, na nas dependências do CEI, com direito
integração entre a educação infantil e o a convite formal aos seus colegas da
ensino fundamental, permitimos que as escola.
crianças conheçam os desafios dessa
nova etapa de suas vidas, construam
novas relações, desmistificando ideias
que geram expectativas e ansiedades
em relação ao novo. A transição entre as
etapas comumente geram nas crianças
sentimentos ambíguos de desconforto
e ansiedade, de estranhamento e
Inspetor da EM Newton Borges dos Reis
euforia, de medo e alegria, pois terão
recebendo as crianças para apresentar o espaço.
que se apropriar de um novo espaço,
construir novas relações e interações
e se sentir pertencentes a este grupo,
principalmente quando mudam de
instituição.
27
Dessa forma, pensar e planejar a integração das crianças entre as etapas educacionais é
essencial para apoiá-las no entendimento do que acontecerá, seja entre instituições ou
dentro de uma mesma instituição. Como dito anteriormente, ações planejadas para este
período auxiliam as crianças a resolverem seus sentimentos de ruptura, bem como permitem
a continuidade de seu processo educativo, uma vez que a educação infantil e o ensino
fundamental são etapas diferentes, com objetivos específicos e rotinas próprias. Conhecer
antecipadamente um pouco deste novo espaço de convívio, conversar e interagir com as
crianças que já pertencem a este grupo ajuda as crianças a passarem por este momento e
permite a construção de novas relações e conhecimentos.
A integração entre elas necessita ser uma ação planejada e permanente.
Podemos observar que estes momentos de integração são práticas já existentes nos
espaços de educação infantil da RME e colaboram para que as crianças das diferentes
faixas etárias interajam entre si e com adultos, seja de uma mesma unidade ou de
instituições próximas, como acontece entre os CMEIs/CEIs contratados e as Escolas
Municipais. Vejamos alguns relatos:
28
“No CMEI Moradias Belém, os momentos de integração entre as diferentes
faixas etárias acontecem desde o ano de 2013. A partir do ano de 2016,
buscou-se uma parceria com a EM Germano Paciornik, com o intuito de
avançar nas práticas que vem sendo realizadas no CMEI. Assim, as crianças do
CMEI e das turmas do pré da escola, bem como dos estudantes do 1º ano
puderam se encontrar em diferentes momentos para brincar. Essa proposta
tem um cronograma específico e, semanalmente, uma turma de pré do CMEI
planeja propostas para brincar com as crianças da escola e vice-versa. A cada
semana, uma unidade é responsável em receber as crianças. E também de
elaborar o planejamento dos momentos de integração nos diferentes espaços
das unidades. Portanto, planejar a organização de espaços para o brincar é
uma ação coletiva que envolve diferentes segmentos da instituição educativa,
na busca do aprimoramento das práticas pedagógicas que promove o
desenvolvimento integral da criança. Além dos momentos de brincadeira, as
crianças do CMEI têm a oportunidade de participar, semanalmente, de
momentos de leitura e contação de histórias na biblioteca da escola.”
EPA CMEI Moradias Belém (NRE Boqueirão) – 2016
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“Na EM Michel Khury, as turmas da Educação Infantil se integram com turmas
do Ensino Fundamental durante todo o ano, brincando nos cantos de
atividades diversificadas no pátio externo, participando de diferentes propostas
de leitura, de brincadeiras e de jogos. A escola também realiza ações de
integração com os CMEIs da região e com o CEI Recanto Feliz Santa Úrsula.
Como o CEI não tem uma localização tão próxima à escola, as equipes das
unidades conversaram e buscaram soluções para que este processo se
efetivasse. Assim, oportunizaram o contato com as crianças do primeiro ano por
meio de cartas e com o espaço da escola por meio de vídeos, onde tem a
possibilidade de se conhecer, de trocar ideias e informações, de questionar e
de se aproximar do espaço escolar.”
EPA EM Michel Khury (NRE Cajuru) – 2016
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EM Julio Moreira e CMEI São Braz (NRE Santa EM Julio Moreira e CMEI São Braz
Felicidade). (NRE Santa Felicidade).
Desse modo, pensar em ações ao longo do ano que propiciem a interação entre as
crianças da educação infantil e do ensino fundamental, bem como com o espaço escolar,
traz novas aprendizagens e familiaridade com este contexto.
Muitas crianças dos CMEIs e CEIs contratados da RME frequentam os diferentes espaços
das Escolas Municipais, como laboratórios de informática, bibliotecas, faróis do saber,
quadras, pátios e parques para desenvolver diferentes propostas, momentos estes que
podemos observar através de algumas imagens.
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Crianças do CMEI Arnaldo Agenor Bertone no
Crianças do CMEI Arnaldo Agenor Bertone no laboratório de
laboratório de informática da EM Dona Lulu (NRE
informática da EM Dona Lulu (NRE Bairro Novo).
Bairro Novo).
A turma do Pré II do CMEI Vila Leonice faz uso do Visita do CMEI Cinderela no Farol do Saber Manoel Bandeira na
Laboratório de Informática do CEI Romário Martins EM Herley Mehl com empréstimo de livros semanalmente (NRE
uma vez por semana (NRE Boa Vista). Boa Vista).
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Integração CMEI Cinderela e EM Herley Mehl (NRE Boa Vista).
Essa prática é ilustrada nas imagens e relatos das Escolas Municipais Sonia Kenski e
Itacelina Bittencourt, onde os profissionais organizam espaço, tempo e materiais, para
as crianças de diferentes turmas e faixas etárias interagirem por meio dos jogos.
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“As crianças da educação Infantil fizeram no primeiro semestre integração com
as turmas de primeiro ano, e nesse momento aproveitamos para ensiná-las a
jogar nossos jogos de preenchimento e de percurso individual que havíamos
confeccionado. A integração aconteceu nos cantos onde um desses era o do
jogo. As crianças das duas turmas interagiram. As do primeiro ano viram o jogo
e queriam saber como jogava, e algumas crianças da Educação Infantil os
ensinaram passando as regras. Participei neste momento como observadora.
Na continuidade deste trabalho fizemos uma integração diferente com a turma
do primeiro ano. Essa turma construiu o jogo do Carro do Monstro no ano
passado e neste, ensinaram a turma do Pré a jogar. A integração foi muito
interessante, as crianças se ajudaram e compartilharam experiências.”
Professora Deise Blank – E M Sonia Kenski (NRE Santa Felicidade) – 2016
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“A turma do pré da E.M. Itacelina Bittencourt realiza
algumas integrações com a turma do primeiro ano de
diversas formas. Geralmente convidamos as crianças
maiores para participar dos momentos de cantos de
atividades diversificadas e no mês de setembro, fizemos
uma integração com jogos de tabuleiro. As crianças do
primeiro ano foram até a sala do pré para aprender os
jogos de tabuleiro. O momento foi muito rico, pois além do
pré ensinar os mais velhos, também puderam aprender
com eles, pois algumas das crianças que foram da turma
do pré no ano anterior, participaram da confecção de
alguns jogos, e relembraram as regras para os menores.”
Professora Renata – Hoeflich E.M. Itacelina Bittencourt (NRE Portão)
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No CEI Começo de Vida (NRE Boqueirão), as crianças
do Pré estão trocando correspondências e desenhos
com as crianças da EM Jardim Europa. Nessas cartas,
conversam sobre suas curiosidades e preferências,
alimentando, assim, o processo de conhecer o outro,
ou seja, outras crianças e o espaço escolar.
No CEI Giacomino (NRE Portão), as crianças das turmas do Pré conversaram com as
crianças Enzo e Camilly que frequentam o projeto Centro de Atendimento Multidisciplinar
Integrado Cusmano (CAMIC) – Contraturno, que fica no mesmo terreno do CEI, num
período e no outro estudam na turma do 2º ano na EM Graciliano Ramos. Conversar
com as crianças mais velhas permitiu que tivessem um olhar da escola em sua totalidade.
Vejamos alguns trechos da conversa das crianças:
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“Elena do Pré A: Quando a professora sai da
sala como vocês ficam?
Enzo: A gente grita e conversa muito quando
a professora sai.
Paulliny da Turma do Pré B: Cada um de
nossos amigos vai para uma turma?
Camily: Não, tem alguns em uma sala e outros
em outra sala, só tem duas salas para cada
turma.”
CEI Giacomino (NRE Portão)
Conversa registrada pela professora Gisele
e Luceni – CEI Giacomino (NRE Portão) –
2016
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Outra possibilidade interessante é que as crianças possam conversar com outras que
já frequentaram o CMEI/CEI contratado e agora estão na Escola, onde podem contar
suas experiências num outro espaço, na nova etapa, com outros colegas e outros
professores. Como exemplo, citamos a conversa que ocorreu no CMEI Vila Sandra (NRE
CIC), onde a turma do Pré recebeu a visita da Monique, que é estudante do 1º ano na
Escola Municipal Heitor Alencar Furtado, como já citado anteriormente.
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“Minha mãe disse que vai me pôr nessa escola...”
Maria Eduarda Melo – CMEI Vera Cruz II (NRE CIC)
Outra razão que justifica a relevância da participação das famílias na transição é que
essa situação é uma marca na vida das crianças, e esse movimento necessita ser pleno
de sentidos para elas. Sensibilizados por tais razões, as instituições educativas, tanto
CMEIs, CEIs contratados quanto Escolas, têm procurado marcar esse momento com
iniciativas em que as famílias são convidadas a participar junto com seus filhos(as).
Essa etapa pode vir acompanhada por registros dos momentos vividos pelas crianças
nas instituições, que podem ser compartilhados e celebrados com os familiares. Esta é
uma forma de demarcar a nova etapa da vida das crianças.
O CMEI Conjunto Araguaia (NRE Cajuru), em sua organização, tem procurado socializar a
caminhada trilhada pelas crianças na instituição através da programação de momentos
com as famílias, conforme relato abaixo:
“Em dezembro, para se comemorar a nova etapa das crianças do CMEI, faremos um
passeio, como confraternização. E um momento com as famílias: café da manhã e/ ou
jantar, para celebrar o ano de 2016 e as lembranças da trajetória no CMEI”.
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As lembranças dessa caminhada no CMEI envolvem momentos de grandes
transformações das crianças, e têm estreita relação com a história de vida delas. Essa
caminhada ao ser partilhada com as famílias, demonstra a parceria existente entre
familiares e as instituições educativas.
Essa parceria se traduz em sinônimo de apoio aos familiares, que vivenciam a transição
junto com seus/suas filhos(as). Ação esta que tem estreita relação com o que propõe
as DCNEI (2010, p. 19) sobre as condições para a organização do fazer pedagógico
que considere “a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias”. Podemos
observar que o CMEI Conjunto Mercúrio (NRE Cajuru), ao compreender a relevância
dessa ação, tem procurado dialogar com as famílias, como pode ser visto, no seguinte
relato:
“No decorrer do ano, fazemos reuniões com as famílias para que as mesmas
compreendam a nova etapa que as crianças passarão no próximo ano. Procuramos no
decorrer dos diálogos que se estabelecem acalmar as famílias quanto à mudança de
espaço e de rotina que os filhos vivenciarão no próximo ano para que possam sentir
segurança quanto às mudanças pelas quais as crianças estão passando, reforçando
que o apoio dos pais, irmãos e responsáveis por elas é de extrema importância para
que elas apreendam bem o novo.”
EPA do CMEI Conjunto Mercúrio (NRE Cajuru) – 2016
É o investimento que o CMEI Conjunto Mercúrio e a EM Irati (NRE Cajuru), têm realizado,
uma vez que são instituições educativas próximas e, portanto, têm se envolvido em
projetos que aproximam as famílias do espaço da escola juntamente com as crianças.
Nas imagens abaixo, podemos visualizar um desses ricos momentos:
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As famílias das crianças do Pré II são acolhidas no CMEI, na sala das crianças, e assim são colocados em pauta
algumas reflexões sobre esse momento tão especial na vida das crianças.
Todos juntos fazem um passeio que se inicia a partir do CMEI até o espaço da escola. Esse espaço é apresentado
pelos professores da escola para as crianças e seus familiares.
Diante dessa experiência, é possível observar que vale investir na parceria entre CMEIs,
CEIs contratados e Escolas próximas, para que esses contextos possam favorecer a
entrada das crianças na nova etapa.
Para que tudo isso possa ocorrer, sugere-se planejamento por parte das instituições
educativas, como pode ser observado no relato das profissionais do CMEI Autódromo
(NRE Cajuru), para que se privilegiem momentos onde essas ações sejam favorecidas.
“Promovemos ações com as crianças e suas famílias como roda de conversas, reuniões,
visitas às escolas, vivências que proporcionam mais esclarecimentos e segurança
neste momento de transição CMEI/Escola.”
EPA do CMEI Autódromo (NRE Cajuru) – 2016
Essas ações são oportunidades para estreitar relações, pois, além das crianças
conhecerem o novo espaço escolar, terão a oportunidade de conhecer aqueles que
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estão nesse lugar e como agem. Dessa forma, alguns receios das crianças, quanto ao
novo, podem ser desmistificados.
Muitas são as estratégias que podem ser realizadas para que esse processo vivido pelas
crianças aconteça da melhor maneira possível. O CEI Desafio do Saber (NRE Tatuquara),
tem investido no projeto institucional Etapas da vida, que tem como foco atuar na
transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. Vejamos abaixo
o relato de uma mãe que expressa seu sentimento sobre esta ação:
“Agradeço ao CEI Desafio do Saber pelo projeto “Etapas da Vida”, que consiste
em apresentar e familiarizar a criança em sua futura escola. Este projeto foi
fundamental na transição da Giovana para a escola, visto que minha filha ainda
era muito pequena (tinha apenas 4 anos durante o projeto). E faria todo o 1º ano
com apenas 5 aninhos. Devido ela ter estado no CEI por 2 anos, criou vínculos
com os amiguinhos e com as ‘prof’s’. Amava os espaços e programações do CEI.
Sentia-se à vontade. Mas essa estrutura física e principalmente emocional temia
perder, já que na nova escola tudo seria muito grande (espaço físico e quantidade
de alunos), novos professores e novos colegas. Isso fazia ela se sentir insegura
e triste. Inicialmente não aceitava de forma alguma a ideia de mudar de escola.
Neste cenário de insegurança veio o abençoado projeto para tranquilizar a minha
pequena e o meu coração apertado de mãe. Ela ‘lia’ o projeto como um passeio à
futura escola. Isso foi muito bom já que as crianças em geral amam fazer passeios. O
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detalhe disso é que todo passeio tende a ser legal e divertido ainda mais pensando
na oportunidade de irem caminhando, contemplando o entorno e na maioria das
vezes comunicando aos colegas o caminho no qual passa para ir ao CEI. E era
exatamente isso que acontecia. Ela chegava em casa feliz contando o que tinham
feito. E o seu olhar mudou com relação à escola. Passou a gostar da ideia de
mudar para uma escola maior, com decoração aconchegante e convidativa, com
quadras para jogos, com andar superior, com pátios maiores para brincadeiras, e
de bônus suas amigas e colegas do CEI também iriam junto... E tudo isso estava
acontecendo porque ela estava ficando mocinha e precisava deixar o CEI para as
crianças menores. O início do 1º ano foi tranquilo, já na escola nova. Ela sentiu-se
confiante e muito animada.”
Helyenara Maia Bello
Mãe de Giovana Maia Bello – CEI Desafio do Saber (NRE Tatuquara) – 2016
Observamos, no relato acima, que o CEI Desafio do Saber tem um interesse muito
particular pelo papel dos familiares nesse momento tão relevante da vida das crianças.
Esse relato, bem como todas as ações exemplificadas ao longo deste documento,
nos inspiram e nos convidam à mobilização de ações em parceria com as famílias e
profissionais para que a transição das crianças possa ser sinônimo de sutileza.
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“Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar,
apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar
de si, do outro, da escola, da natureza, da água, do Planeta. Educar é, enfim,
enfrentar o desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis
e diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia
das relações humanas, neste mundo complexo.” (DCNEB, 2013, p. 18).
Projeto Institucional
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sensível e acolhedor, tais como: a apresentação da turma do pré para outras turmas
da escola, um passeio com as crianças para conhecerem os espaços da escola, e os
profissionais que atuam em tais espaços, a integração entre turmas do pré com as
crianças de outras turmas e professores, a organização do ambiente com as produções
das crianças (desenhos, pinturas ou modelagens), reuniões com os pais no início do ano
para a apresentação de todos os professores que irão trabalhar com a turma, acolhida
das crianças com brincadeiras e uma rotina semelhante à do CMEI. Estes são exemplos
de algumas possibilidades para esse acolhimento. Ainda destacamos que, em alguns
locais, as crianças do pré que vão para o 1º ano escrevem cartas para recepcionar os
novos colegas que iniciarão o pré na instituição. E, ainda que, durante uma semana, no
início do ano letivo, é realizado um período especial, em que os pais acompanham seus
filhos até a sala de referência e participam de algumas propostas juntamente com seus
filhos.
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BARBOSA, M. C. S. Relatório de Práticas Cotidianas na Educação Infantil – Bases para
a reflexão sobre as orientações curriculares. MEC/Brasília, 2009.
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IMBERNÓN, F. Formação permanente do professorado: novas tendências. São Paulo:
Cortez, 2009.
MOSS, P. What future for the relationship between early childhood education and care
and compulsory schooling? In: Research in Comparative and International Education, 3
(3), p.224-234, 2008. Tradução: Tina Amado. Consulta em 18/10/2016: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742011000100008
SISLA, E. C. Formatura na Educação Infantil? In. Revista Avisa lá – O sentido das coisas
na educação infantil. n. 39, agosto, 2009.
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Maria Da Glória Galeb
GERÊNCIA DE CMEIS
Vera Lúcia Grande Dal Molin
GERÊNCIA DE ESCOLAS
Giselle Viviane Barcik
GERÊNCIA DE CURRÍCULO
Claudete Pereira Assunção
GERÊNCIA DE CEIS CONTRATADOS
Danielle Bonamin Flores
ELABORAÇÃO
Ana Cristina Caldas
Ana Dombrowski
Claudete Pereira Assunção
Elisangela Leite
Giselle Viviane Barcik
Janete Spadari
Lorena de Fatima Nadolny