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Prefeitura Municipal de Curitiba

Secretaria Municipal da Educação

ProcesSos de

tr n ição
as
das CrIanças DA
educaçÃo inFAntil
práticas e reflexões

2016
Capa:
Lucas Gabriel Rodrigues Oligini
E. M. CEI Professor Ulisses Falcão Vieira – NRE CIC
PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA
Gustavo Fruet

SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO


Roberlayne de Oliveira Borges Roballo

SUPERINTENDÊNCIA EXECUTIVA
Antonio Ulisses Carvalho

COORDENADORIA DE OBRAS E PROJETOS DO PROGRAMA DE DESCENTRALIZAÇÃO


Luiz Marcelo Mochenski

DEPARTAMENTO DE LOGÍSTICA
Maria Cristina Brandalize

DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO E INFORMAÇÕES


Leandro Antonio Jiomeke

SUPERINTENDÊNCIA DE GESTÃO EDUCACIONAL


Ida Regina Moro Milléo de Mendonça

COORDENADORIA DE ATENDIMENTO ÀS NECESSIDADES ESPECIAIS


Susan Ferst

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO INTEGRADA


Eliane Aparecida Trojan Butenas

COORDENADORIA DE ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DE ENSINO


Eliana Cristina Mansano

COORDENADORIA DE FORMAÇÃO CONTINUADA


Cíntia Caldonazo Wendler

COORDENADORIA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA JOVENS E ADULTOS


Maria do Socorro Ferreira de Moraes

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INFANTIL


Maria da Glória Galeb

DEPARTAMENTO DE ENSINO FUNDAMENTAL


Leticia Mara de Meira

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E DIFUSÃO EDUCACIONAL


Marlon Misael Terres
A construção do nosso percurso................................................................................................................................6

Convite à reflexão sobre a transição........................................................................................................................9

Um olhar para as práticas formativas: experiências na formação continuada dos profissionais da RME
de Curitiba......................................................................................................................................................................15

Unindo saberes e fazeres: profissionais integrados por uma transição de


qualidade.........................................................................................................................................................................21

De olho na integração entre as crianças..............................................................................................................26

Famílias em ação: iniciativas para a transição ....................................................................................................39

Para seguir refletindo..................................................................................................................................................44

Referências.....................................................................................................................................................................47
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCNEB), de 2013, apontam
que a transição entre as etapas da Educação Básica e suas fases requerem formas de
articulação que assegurem aos educandos, sem tensões e rupturas, a continuidade
de seus processos peculiares de aprendizagem e desenvolvimento. Essa articulação
manifesta-se principalmente nas dimensões orgânica e sequencial:
A dimensão orgânica é atendida quando são observadas as especificidades e
as diferenças de cada sistema educativo, sem perder o que lhes é comum: as
semelhanças e as identidades que lhe são inerentes. A dimensão sequencial
compreende os processos educativos que acompanham as exigências de
aprendizagens definidas em cada etapa do percurso formativo, contínuo e
progressivo, da Educação Básica até a Educação Superior, constituindo-se
em diferentes e insubstituíveis momentos da vida dos educandos. (BRASIL,
2013, p. 19)

Nessa perspectiva, Moss (2008) aponta para diferentes relações entre educação
infantil e ensino fundamental, das quais compactuamos com a relação em que existe
convergência entre ambas as etapas, considerando que:
Para que possam operar juntas, é preciso examinar melhor essas diferenças
e buscar de forma colaborativa novas concepções, valores e práticas
partilhadas, o que pode ser conseguido mediante um ponto de convergência
pedagógica, marcada por respeito mútuo, diálogo e construção conjunta.
(MOSS, 2008, n.p.).

Na busca por essa convergência, tem-se discutido na Rede Municipal de Ensino de


Curitiba (RME) o processo de transição das crianças da educação infantil para o ensino
fundamental, investindo na qualidade das práticas desenvolvidas em ambas as etapas
da educação.

Em 2013, uma das ações desenvolvidas pelas equipes dos Departamentos de Educação
Infantil e do Ensino Fundamental foi promover encontros ao longo do ano, buscando
uma aproximação entre os(as) profissionais que atuam nas duas etapas, bem como o
reconhecimento de suas especificidades a fim de viabilizar a articulação entre as etapas.
Num primeiro momento aconteceu a integração entre os departamentos e, na sequência,
com as equipes dos núcleos regionais da educação (NRE)1, para planejamento de ações
que visassem a visibilidade da importância de um processo equânime de transição,
pautado no acolhimento das crianças.
1 A Secretaria Municipal de Educação de Curitiba possui equipes que atuam nas diferentes regionais
da cidade. As equipes pedagógicas dos Núcleos Regionais da Educação (NRE) desenvolvem ações de
formação com diretores e pedagogos de CMEIs, bem como diretores, pedagogos e professores que
atuam nas turmas de pré das escolas municipais. Além disso, realizam encontros de supervisão mensais
nas unidades.

6
Assim, professores(as) e pedagogos(as) atuantes nas turmas de pré e de 1º ano em 2013
se encontraram, bimestralmente, nas regionais para juntos refletirem sobre o trabalho
realizado nas duas etapas. Nesses encontros, tiveram a oportunidade de conversar sobre
concepções e princípios que subsidiam o trabalho, sobre planejamento e avaliação,
espaços e tempos e sobre práticas desenvolvidas pelos professores tanto dos prés
quanto dos 1º anos.

Esta ação foi alicerçada no artigo 19 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Básica de 2013, que afirma que:
Cada etapa é delimitada por sua finalidade, seus princípios, objetivos
e diretrizes educacionais, fundamentando-se na indissociabilidade dos
conceitos referenciais: cuidar e educar, pois esta é uma concepção norteadora
do projeto político-pedagógico elaborado e desenvolvido pela comunidade
educacional. (BRASIL, 2013, p. 69)

Nesse sentido, esse conjunto de ações repercutiu num maior entendimento das propostas
desenvolvidas em cada etapa, seus propósitos e buscas, aproximando profissionais e
ideias a respeito da necessidade de olharem para as crianças e suas singularidades,
buscando compreender aquilo que realmente é importante para elas, principalmente no
momento em que transitam entre uma etapa e outra da educação básica.

Como profissionais envolvidos com esse processo, somos responsáveis por planejar e
organizar situações que apoiem as crianças e famílias nos momentos de transições e
mudanças, garantindo um olhar contínuo e criando estratégias adequadas aos diferentes
processos de transição por elas vividos.

Nessa perspectiva, o Departamento de Educação Infantil deu continuidade às ações com


as equipes dos Núcleos Regionais da Educação (NREs), no sentido de seguir pensando
e realizando práticas que viabilizem uma transição mais significativa para as crianças.

Em 2014 e 2015, foram realizados momentos formativos com as equipes pedagógico-


administrativas de Escolas (EPA), Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs)
e Centros de Educação Infantil conveniados (CEIs)2 para reflexões acerca do que é
possível e importante desenvolvermos nas unidades. Para isso, estabelecemos algumas
premissas que fundamentaram as ações desenvolvidas, entendendo a criança como
protagonista e tendo um olhar sensível para:

2 Até o ano de 2015 os Centros de Educação Infantil eram vinculados à Secretaria Municipal da
Educação por meio de convênios. Em 2016 passou a ser vinculado por meio de contratação, por isso
houve alteração no nome de CEI conveniado para CEI contratado, conforme aparece no decorrer deste
documento.

7
- os saberes de sua experiência a fim de organizar práticas que façam sentido;
- o diálogo e observação constantes sobre ela e com ela;
- os laços relacionais entre adultos e crianças, envolvendo as famílias;
- o acolhimento e pertencimento ao novo espaço.
Os profissionais das instituições educativas da RME seguiram desenvolvendo ações
significativas com as crianças, por isso, em 2016, elaboramos este caderno, que é um
conjunto de práticas e reflexões acerca da transição, numa perspectiva de continuidade
desse processo de formação continuada, contribuindo com todos os envolvidos.

Entendendo a importância das expressões


Nos destaques gráficos
infantis e valorizando-as, compartilharemos,
ao final de cada página,
ao longo do documento, algumas ideias das
veremos algumas ideias
crianças do CMEI Arnaldo Agenor Bertone,
das crianças do CMEI
do NRE Bairro Novo, registradas pelos(as)
Arnaldo Agenor Bertone,
profissionais do Pré II que ouviram e acolheram
nos lembrando o quanto é
as expectativas das crianças em relação à
importante considerarmos
transição, a partir de um trabalho planejado
a escuta ativa e sensível
e em consonância com as premissas citadas
no nosso cotidiano.
anteriormente.

8
“A criança não é o futuro homem, uma futura mulher ou um futuro cidadão. Ela é uma
pessoa titular de direitos, com uma maneira própria de pensar e de ver o mundo. A
escola deve propor, desde a educação infantil, as experiências sobre as quais será
possível fundamentar seus saberes, seus conhecimentos e suas habilidades”.
Francesco Tonucci

As instituições de educação infantil vivenciam todos os anos o ingresso e a saída de


crianças no seu contexto educativo, acolhendo as que chegam e se despedindo das
que vão para outra instituição. Esse transitar das crianças, ou seja, suas trilhas, seus
percursos, suas passagens, suas andanças, suas travessias e caminhadas marcam suas
vidas, portanto os adultos envolvidos nesse processo, família e profissionais, precisam
mobilizar ações que garantam a vivência dessas passagens de forma mais tranquila,
sem angústias ou preocupações.

O ingresso das crianças numa instituição requer uma articulação entre família e
profissionais que possibilite que a criança sinta-se acolhida, reconhecendo aos poucos
novas formas de convivência no coletivo. Já a transição requer uma articulação entre
família e profissionais, entre os(as) profissionais atuais e os que virão a fazer parte da
vida da criança e entre crianças de diferentes faixas etárias. Esse processo de integrar
relações que são importantes para a criança precisa estar no centro do projeto político-
-pedagógico de cada instituição, lembrando sempre de olhar e ouvir as crianças em seu
cotidiano.

As crianças têm muito a nos dizer sobre as relações que estabelecem entre si e com
o mundo, principalmente a respeito de situações que geram curiosidades e anseios.
Conforme o Parecer 20/2009, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (DCNEI)
Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos
relacionamentos e nas interações, de manifestar emoções e curiosidade,
e elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia
desde o nascimento conforme experimenta sensações de desconforto ou de
incerteza diante de aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos,
e lhe exigem novas respostas. Assim busca compreender o mundo e a si
mesma, testando de alguma forma as significações que constrói, modificando-
as continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, seja com
objetos. (BRASIL, 2009, p. 7)

9
A seguir, um exemplo que nos revela a maneira de as crianças verem e viverem o
mundo, num diálogo entre Dante e Enzo sobre o futuro e as mudanças que ocorrerão
quando passarem a frequentar o ensino fundamental, envolvendo na conversa o Clipo,
um jogo de peças de construção:
47. E: “Mas não, aqui está o problema, Clipo não é a única coisa que há no
mundo Há muitas outras coisas, eh?”
48. D: “Eh, o que tu ‘tas a dizer não é verdade. Tu disseste que… isto aqui…
estas coisas não são verdade”.(…)
54. E: “Sim, mas depois, tu vais ver que passado um bocado te vais sentir
chatieado de brincar com Clipo, percebes?”
55. D: “Não, isso não é verdade”
56. E: “Agora tu queres apostar que eu tenho razão, porque quando tu tiveres
vinte anos e já sabes como é que se escreve, já não tens Clipo, já não tens
mais estes joguinhos”(…)
71. D: “Porque, realmente, ouve, eu sempre brinquei com eles para construir
naves espaciais e ver como é que elas funcionam e para ver se é possível
fazê-las. Quando eu crescer, eu vou ser capaz de fazer o trabalho que eu
gosto porque eu…”
72. E: “Sim, mas primeiro tu tens de treinar muito isso. Não é porque tu
escolhes um trabalho para ti quando tu nem sequer sabes como é que ele se
faz” (CORSARO, s/d)

Nessa conversa registrada e discutida por Corsaro (s/d), temos revelada a desenvoltura
das crianças no diálogo e o seu poder de argumentação em que projetam como será o
ingresso no 1º ano e para além dele. Em jogo, estão diversos saberes, a exemplo: que,
quando estiverem nos primeiros anos do ensino fundamental, não brincarão mais com
Clipo assim como esse brinquedo se tornará desinteressante. Na sequência, discutem
ainda sobre as possibilidades do quanto fazer construções com o Clipo os ajudará em
suas futuras profissões.

Assim, entendemos e valorizamos os momentos de transição por ser algo muito


significativo para as crianças, seja do CMEI ou CEI para a Escola, ou mesmo entre as
turmas dentro de uma mesma instituição. Momentos da vida nos quais surgem perguntas,
ansiedades e saberes em meio a sonhos, emoções e imaginação. Como olhar para esse
momento de um jeito sensível e acolhedor? O que fazer para aproveitar a curiosidade
das crianças a favor de um momento tão especial de suas vidas?

10
A criança é competente, capaz, interpreta o mundo e produz cultura. Nesse sentido, as suas
curiosidades e expectativas precisam ser consideradas, para se pensar e se planejar ações
que as ajudem a perceber a continuidade do seu próprio processo educativo de uma forma
saudável e positiva.

Nessa perspectiva, compartilhamos a experiência da turma do Pré II do CMEI Vila Sandra (NRE
CIC). As crianças receberam a Monique, que frequentava o Pré em 2015 e hoje frequenta o
1º ano na Escola Municipal Heitor Alencar Furtado, escola da região.

Monique, além de responder às questões das crianças do Pré II, falou o que já aprendeu na
escola, contou sobre suas novas amizades, sobre as professoras, o que mais gosta de fazer
na escola e como é o recreio. Falou também sobre as lições que faz na escola e sobre as que
leva para casa. Veja abaixo um pouco desta conversa:

“Professora Marilda: Crianças, essa aqui


é a Monique, ela era do nosso CMEI até
ano passado, e agora ela estuda no 1.o
ano, na Escola Municipal Heitor Alencar
Furtado, que fica aqui pertinho do CMEI.
Alguém conhece essa escola?

Giovanna: Sim, meu primo estuda lá! O Vitor

Henrique: Meu irmão já estudou lá.


João: É uma escola bem grandona assim.
ohhhhh!
Professora Marli: Ah, sim, é uma escola
bem grande mesmo!!

João: Não é pequena não, que nem a


creche! É bem grande lá na escola! E tem
criança grande também!
professora Marilda: Sim, as crianças
que vão à escola são maiores que vocês
daqui do Pré II. E sabiam que ano que vem
vocês irão para uma escola parecida com
Pré II do CMEI Vila Sandra (NRE CIC). a escola da Monique? Ela vai falar um
pouquinho como é a escola dela, tá bom?

11
Monique: Minha escola é bem grande, tem bastante crianças lá!
Andrei: E o que você aprende lá?
Monique: Eu estudo lín gua portuguesa, matemática, ciências, faço desenhos...
Professora Marli: E você já sabe escrever e ler, Monique?
Monique: Ahaã! Já sei escrever e ler bastante palavras e historinhas, e até fazer continhas!
Pietra: Você come lanche na escola?
Monique: Como. Às vezes eu gosto, mas às vezes não, daí eu não como!
Enzo: Tem parquinho lá?
Andrei: Não tem, né! Lá é escola de criança grande!
Giovanna: Tem sim! Tem parquinho, mas eles só ficam um pouquinho lá, porque eles tem que aprender
a ler, a escrever...
Professora Marilda: Monique, vocês vão muitas vezes no parquinho?
Monique: Vamos no parquinho, mas não como aqui na creche que a gente sempre ia! Na escola a
gente vai pouco. Mas fica lá, brincando também, com os brinquedos... de areia...
Valentina: Tem brinquedos na escola?
João: Tem. Mas tem mais caderno, livro.
Monique: Tem brinquedos, tem caderno, tem livro.
Professora Marilda: E conte para nós como é a sua sala de aula. É igual na creche?
Monique: Tem sala, tem carteira. A mesa é só da professora, a nossa é carteira. E a gente senta
em cadeira alta para escrever no caderno!
Andrei: Cadeira alta a gente não põe o pé no chão! (risos).
Monique: Quando começou a aula eu não colocava. Mas agora eu cresci, já coloco o pé no chão.
Professora Marli: E você fez novos amigos na escola? E a professora é legal?
Monique: Tenho muitos amigos! Alguns que estudam na minha sala e outros da outra sala. Eu tenho
uma professora, eles têm outra. Mas tem umas professoras que são de todas as salas.
Professora Marilda: É que na escola é diferente da creche. Aqui as duas professoras ficam na
mesma sala com as crianças. Lá tem uma professora que dá aula de Lín gua Portuguesa, Matemática,
História, Arte. E tem outra que dá Ciências. Outra que dá Educação Física...
Andrei: Nossa, tem muita professora. Eu ia ficar maluuuuuco! (risos).
Monique: Eu faço lição na escola e levo às vezes lição para casa. Daí minha mãe e minha irmã têm
que me ajudar nas lições.
Giovanna: Você leva os cadernos para casa? Você tem mochilão?
Monique: Tenho. Para caber todas as coisas que eu tenho que levar. Outro dia eu venho aqui na
creche para mostrar para vocês meu material. Vocês querem ver? Eu tenho penal da Moranguinho
que tem lápis de escrever, lápis de cor, canetinhas...”
Conversa registrada pelas Professoras Marilda e Marli do Pré II, CMEI Vila Sandra
(NRE CIC)

12
Essa ação realizada pelas professoras do CMEI Vila Sandra é um exemplo de como
mobilizar uma conversa entre as crianças, de ouvir e considerar suas hipóteses, podendo,
na sequência, promover outras ações que aproximem as crianças do espaço da escola.

Refletindo sobre as proposições a serem desenvolvidas com as crianças, destacamos


que:
Na transição da criança entre turmas da educação infantil, creche e pré-escola
ou pré-escola e ensino fundamental, também se faz necessário planejar ações
que construam canais de comunicação, que promovam o conhecimento
entre profissionais e o diálogo entre as propostas pedagógicas e instituições.
Pensar juntos no acolhimento das crianças e famílias é essencial para evitar
rupturas e rituais mecanizados de passagem, que pouco contribuem para
a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. Cabe ressaltar que os
registros do processo educativo da criança devem acompanhá-la nessa
transição, subsidiando a continuidade de sua educação. (CURITIBA, p. 79,
2015).

A citação anterior nos convida a refletir sobre todos(as) os(as) envolvidos(as) nesse
processo, propondo uma organização conjunta de situações significativas para as
crianças, que contribuam de forma expressiva com sua aprendizagem e desenvolvimento.

Considerando o compromisso da educação infantil de atuar no desenvolvimento integral


das crianças, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, podemos entender
a educação como espaço de acolhimento e escuta de um sujeito ativo e afetivo, que
reinventa o mundo a partir de seu repertório e suas interpretações. Assim, pensar os
momentos de transição entre as etapas e entre instituições educativas requer sensibilidade
e disponibilidade dos(as) profissionais para garantir propostas enriquecedoras,
contemplando oportunidades de descobertas e familiarização com o novo, aproximando
aos poucos das crianças uma realidade que em breve será parte do seu cotidiano.

É muito comum as crianças criarem expectativas e estarem ansiosas pelo que irão
encontrar na escola do ensino fundamental, pois muitas questões estão em jogo.
Podemos nos encantar com o tema lendo o livro Nu, de Botas, do autor paulistano
Antônio Prata. Nesse livro o autor relata, por meio de crônicas, memórias da infância e
situações inusitadas vividas por ele em casa ou na escola entre as décadas de 70 e 80,
como podemos observar no trecho da crônica intitulada Ca, Ce, Ci, Co, Çu:

13
Era o último dia de aula do Jardim II e a professora nos informou com a devida
solenidade que no semestre seguinte, no pré, aprenderíamos a escrever.
Passei as férias ansioso. Fazer colagens com sucata, modelar cinzeiros de
argila, batucar em latas de Nescau, pintar a mão com guache e estampá-
-la em folhas de sulfite eram atividades muito prazerosas, verdade, mas já
estava mais do que na hora de entender o que diziam os livros, as placas, os
outdoors e as fachadas da cidade sem precisar do auxílio de um adulto.
No dia em que as aulas começaram, almocei rápido e fiquei apressando
minha mãe: tinha medo de me atrasar para a escola e, chegando lá, descobrir
que todos haviam aprendido a ler e escrever, menos eu. Ao entender a razão
da minha ansiedade, ela riu, explicou que a alfabetização era um processo
complexo e demorado e não seria arruinado por sua sobremesa.
Ela tinha razão. Após semanas de esforço, eu não só continuava incapaz de
escrever uma única frase como sequer estava muito seguro em relação às
letras. Nunca sabia quantas perninhas pôr no E, quantas corcovas tinha o
M – sem falar na porcaria do W, um M de ponta-cabeça que a professora
dizia não servir para nada e, portanto, devia existir só para confundir. (PRATA,
p. 60 - 61, 2013)

As crianças precisam ter garantido o seu direito de conviver com adultos que reconheçam
suas potencialidades e necessidades em cada uma das fases de sua vida, enquanto
frequentam as instituições educativas. Nesse sentido, Corsaro (2011) alerta a respeito das
influências emocionais e interpessoais que as crianças tem em seu ambiente familiar:
As relações das crianças pequenas com adultos (professores, treinadores,
conselheiros, outros) e com pares nos ambientes nos quais emergem culturas
de pares são, em muitos aspectos, afetadas pelas rotinas de interação
anteriores, entre pais e filhos, nas famílias (PAKE e LADD, apud CORSARO,
2011, p. 133).

Diante desse cenário, se faz imprescindível o estabelecimento de proximidade com


as famílias, considerando os momentos de transição, nos quais as crianças buscam a
sensação de segurança encontrada num primeiro momento em seu ambiente familiar,
sensação esta que, segundo Corsaro (2011), é a base da formação de cultura de pares3
pelas crianças.

Garantir relações saudáveis e positivas com os espaços e tempos das instituições em


que as crianças farão parte é o desafio que nos propomos a pensar, desenvolvendo
algumas ações com as quais teremos a oportunidade de compartilhar na sequência
deste caderno. Ações que perpassam por experiências na formação dos profissionais
para discutir esse assunto, pelas parcerias entre os profissionais, pela integração entre
as crianças de CMEIs, CEIs contratados e Escolas e pelo envolvimento das famílias.

3 O termo cultura de pares, utilizado por Corsaro, se refere ao grupo de crianças que passa tempo
junto quase todos os dias. Refere-se a “um conjunto de rotinas ou atividades, artefatos, crenças e
preocupações que as crianças constroem durante a interação entre elas.” (CORSARO, 2008, p 1)

14
A formação continuada na Educação Infantil da RME de Curitiba é entendida como
um processo que parte de uma atitude investigativa dos profissionais sobre aspectos
específicos do trabalho docente que precisam ser (re)aprendidos, modificados e/ou
ampliados (CURITIBA, 2009).

Partindo desse entendimento e de um diagnóstico constatado, o Departamento de


Educação Infantil, em parceria com os NREs, deu continuidade às ações de formação
iniciadas em 2013, visando ao planejamento e ao desenvolvimento de práticas que
garantissem uma transição mais significativa para as crianças.

O diagnóstico realizado sobre o processo de transição das crianças da educação infantil


para o ensino fundamental revelou boas propostas que eram realizadas por algumas
unidades, porém indicou também a necessidade de avanços na compreensão de ações
processuais e não pontuais.

A formação continuada precisa oportunizar a desaprendizagem, para que se possa


tornar a aprender (IMBERNÓN, 2009). Com base nisso, a equipe do Departamento de
Educação Infantil percebeu a necessidade de estimular a reflexão sobre propostas de
transição significativas para as crianças. Junto com as equipes regionais, os integrantes
da equipe refletiram a respeito de rituais de passagem por meio de análise de vídeos e
estudo de textos.

Após esse momento, as equipes regionais desenvolveram diferentes ações de formação


com diretores e pedagogos das unidades.

Para dar visibilidade a essas ações, compartilhamos a experiência da equipe do NRE


CIC, que realizou no mês de julho de 2014 uma reunião com diretoras de CMEIs, quando
foi realizado o estudo de textos.

Entre os destaques apresentados por cada grupo, foram surgindo propostas mais
adequadas para as crianças que priorizavam mais a convivência do que o evento. Em
seguida, foi orientado que as diretoras conversassem com suas(seus) pedagogas(os)
sobre o encontro e indicassem a leitura prévia de dois textos4.

4 Rituais de passagem. Planejamento especial para quem entra e para quem sai de uma instituição
educativa. Revista Avisa lá, n. 5, janeiro de 2001. SISLA, Eliana C.. Formatura na Educação Infantil? Revista
Avisa lá, n.39 de agosto de 2009.

15
Na sequência, foi realizado o encontro de formação com as(os) pedagogas(os), quando
foram retomadas as principais ideias dos textos e elucidada a concepção da RME de
Curitiba sobre o processo de transição. Em grupos, as(os) pedagogas(os) apontaram
destaques dos textos e discutiram possibilidades de propostas que fossem mais
significativas para as crianças, entre elas:
• solicitar aos irmãos que estão na escola para participarem de uma roda de
conversa e/ou trazerem materiais dos irmãos como disparador;
• envolver as famílias no processo de transição do CMEI/CEI para a escola;
• produzir um caderno de recordações com desenhos e fotos;
• organizar acantonamento;
• fazer visitas à escola para conhecer o espaço;
• escrever uma carta às crianças da escola colocando as expectativas das
crianças do CMEI em relação à escola;
• promover visita dos profissionais da escola ao CMEI.
Após esse momento, foi proposto que as(os) pedagogas(os) fizessem uma discussão
com suas equipes sobre o processo de transição e realizassem o planejamento de
ações para essa passagem.

Com as escolas, o assunto foi item de pauta do encontro de formação com as(os)
pedagogas(os) e professoras e professores do pré e da reunião de diretores no mês de
outubro. Foi realizado um breve relato do movimento realizado com os CMEIs do NRE
CIC e apresentada a proposta realizada pelo CMEI Conjunto Atenas II em parceria com
a Escola Municipal Centro de Educação Integral (EM CEI) Ulisses Falcão Vieira, resultado
de um planejamento em conjunto que visou não apenas conhecer o espaço físico da
escola, mas oportunizar a integração entre as crianças e adultos.

Nos dois encontros, diretores, diretoras, pedagogos(as) e professores e professoras


relataram que alguns CMEIs já haviam entrado em contato com a escola, agendando
visitas, que as crianças do primeiro ano receberam cartas com perguntas das crianças
do CMEI e que já haviam planejado a utilização do laboratório de informática e biblioteca
para os momentos de integração.

Foi possível observar que as escolas e CMEIs acolheram a proposta e estavam


disponíveis em compartilhar essas ações.

Refletindo sobre o processo iniciado em 2014, a equipe de pedagogas do NRE CIC


analisa que:

16
“As profissionais ressignificaram as ações que envolvem a transição, resultando em
experiências mais significativas para as crianças. No decorrer deste processo, outras
propostas surgiram a partir da parceria entre as EPAs de CMEIs e escolas: peça de
teatro apresentada pelas crianças das turmas do integral, propostas no laboratório de
informática e na biblioteca, apreciação de exposições, visita à horta e outros espaços.
As escolas que são distantes dos CMEIs foram apresentadas às crianças por meio de
fotos e filmagens. Para a continuidade da efetivação deste processo, consideramos
a importância destas propostas estarem previstas no plano de ação das unidades e
incluir como item de pautas de supervisão5 e de reuniões administrativas com a chefia
de núcleo. A qualidade das propostas de transição é resultado de um planejamento
compartilhado entre os profissionais das unidades, crianças e famílias”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE CIC) – 2016

No NRE Pinheirinho, os investimentos para o entendimento e o planejamento de ações


de transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental têm sido
abordados em diferentes momentos e de diversas formas desde 2014. Pedagogos(as),
diretores, diretoras, professores e professoras são envolvidos em reflexões para
considerar a importância e a necessidade da elaboração de ações para a transição,
compondo pauta em encontros de formação, supervisão e em momentos específicos,
como reuniões que tratem desta questão.

“Movimentar reflexões que permitam ampliar as possibilidades de como contribuir


para essa passagem da criança que frequenta o CMEI ou o pré da escola é de suma
importância para que sejam asseguradas questões, tais como: os direitos da criança
no processo de desenvolvimento dentro da instituição, o respeito às culturas infantis,
a acolhida permanente como princípio, o ambiente considerado nas dimensões
emocional, sensorial, motora, mental e sócio-afetiva, o olhar e escuta refinados para
as manifestações diversas expressadas pelas crianças pequenas, enfim, a valorização
desta como sujeito capaz de protagonizar suas ações produzindo sentido pelo mundo”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE Pinheirinho) – 2016

Diante disso, ações formativas foram e são constantemente pensadas com os(as)
profissionais para enriquecer e fortalecer o papel da educação diante da transição,
a fim de garantir continuidade e ampliação. Entre essas ações, estão os espaços de
discussão sobre o tema, levantando o que já se compreende e o que se tem feito a
respeito, conhecendo novas possibilidades de encaminhamentos.

5 Encontros de supervisão acontecem mensalmente nas unidades, a partir de pautas previamente


combinadas entre NRE/EEI e unidades, com o objetivo de aprofundar conceitos, refletir sobre as práticas
e fundamentar o trabalho, tendo por finalidade as aprendizagens das crianças e o seu desenvolvimento
pleno. (CURITIBA, 2009)

17
Reuniões formativas realizadas em 2016 com equipes de CMEIs e Reuniões formativas realizadas em 2016 com equipes de CMEIs e
escolas envolvendo a equipe de pedagogas e a chefe do NRE escolas envolvendo a equipe de pedagogas e a chefe do NRE
Pinheirinho. Pinheirinho.

Refletindo sobre essas ações desenvolvidas, a equipe do NRE Pinheirinho indica que:

“[...] ir além de um momento de comemoração final com a turma, a transição precisa


desse cuidado e atenção planejados durante todo o ano, envolvendo crianças, famílias
e instituição, a fim de exercitar o acolhimento como princípio construído na convivência
e valorização da criança como ser humano, que é sujeito único e integral, inserido
nesse contexto coletivo das instituições, seja na Educação Infantil, seja no Ensino
Fundamental”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE Pinheirinho) – 2016

No mês de agosto de 2016, as pedagogas de educação infantil juntamente com


a chefia do NRE Cajuru realizaram um encontro com CMEIs e Escolas para tratar de
assuntos relativos à transição da educação infantil para o ensino fundamental. O espaço
foi ambientalizado com produções das crianças de algumas unidades, reafirmando o
conceito de criança competente, capaz, sujeito histórico e de direitos.

O encontro iniciou com uma


retomada das ações realizadas nos
anos anteriores no que diz respeito
à transição das crianças entre
estas etapas. A partir das Diretrizes
Curriculares Nacionais tanto da
Educação Infantil como do Ensino
Fundamental de 9 anos, foi mobilizada
a reflexão sobre a necessidade de se
planejar e organizar esse momento de
Reunião formativa realizada em agosto de 2016 com as equipes de
CMEIs e escolas (NRE Cajuru). transição a fim de diminuir o impacto
que ele tem para as crianças.

Algumas unidades compartilharam a parceria que estabeleceram entre Escola e CMEI


para desenvolver ações de sucesso, garantindo uma transição mais tranquila e acolhedo-
ra às crianças.

18
Nesses momentos nos quais há a
troca de experiências no coletivo,
“[...] os sentidos construídos
com base nas experiências de
cada um circulam e conferem
ao conhecimento novos
significados, agora partilhados”
(PLACCO; SOUZA, 2006, p.
20). Portanto, são estratégias Relato de experiência sobre a parceria realizada entre CMEI Senador
Affonso Alves de Camargo Netto e Escola Municipal Prefeito Omar
importantes na formação Sabbag.
continuada dos profissionais.

Na sequência, as unidades se reuniram por proximidade geográfica para planejar ações


sobre a transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental para
o ano de 2016, com vistas ao estabelecimento de um projeto institucional6 para cada
instituição nesta temática.

Planejamento de ações para a transição das crianças da Educação


Infantil para o Ensino Fundamental (NRE Cajuru).

A partir de uma reflexão realizada sobre as ações de formação desenvolvidas, a equipe


de pedagogas do NRE Cajuru considera que:

6 “O Projeto Institucional emerge do Projeto Político-pedagógico e tem como objetivo trazer


mudanças organizacionais necessárias ao aprimoramento de práticas pedagógicas, que venham a
promover a ampliação das diferentes linguagens infantis. É o planejamento de uma ação coletiva,
resultado da identificação de problema relevante, que envolve mudanças organizacionais e vem interferir
positivamente na prática educativa” (CURITIBA, 2013, p. 39)

19
“O processo de transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental
deve ser organizado de modo a atender as necessidades das crianças e diminuir os
impactos que esta ação produz. Neste sentido, as ações relatadas acima aconteceram
com o compromisso de olhar para a criança que vivenciará este processo.

Reunir as equipes diretivas das instituições, tanto CMEIs quanto escolas, possibilitou
a reflexão sobre como deve ocorrer a transição das crianças entre estas etapas, bem
como o planejamento de ações para dar visibilidade ao processo.

Muitas ideias surgiram neste momento e estão sendo colocadas em prática. Alguns
avanços já são percebidos, como por exemplo: reuniões entre as equipes para além
da que aconteceu com o núcleo; um olhar atento e acolhedor para as crianças que
frequentarão as escolas no próximo ano; trocas entre os profissionais que atuam com a
criança no pré e aqueles que atuarão no 1º ano; produções das crianças do pré sendo
disponibilizadas nas salas do 1º ano para que as crianças se reconheçam neste novo
espaço; etc. No entanto, alguns desafios ainda se impõem como, por exemplo, garantir
que o maior número possível de instituições desenvolva de fato as ações planejadas;
assegurar que o diálogo entre as instituições e as ações planejadas consolidem-se
como projeto institucional das unidades. Temos a convicção de que estas ações trarão
benefícios importantes às crianças pequenas que frequentam os espaços educativos
da nossa cidade”.
Pedagogas da Educação Infantil (NRE Cajuru) – 2016

A partir das experiências aqui relatadas, reiteramos que a formação continuada se


constitui como espaço de reflexão sobre as especificidades do trabalho docente,
promovendo ressignificações e mudanças nas ações desenvolvidas com as crianças no
cotidiano das instituições educativas.

20
As DCNEI (BRASIL, 2009) nos trazem que, para garantir um olhar contínuo sobre os
processos vivenciados pela criança no seu processo de transição da educação infantil
para o ensino fundamental, é necessário desenvolver ações que favoreçam a integração
entre diferentes profissionais, independentemente de a transição ser feita no interior de
uma mesma instituição ou entre instituições.

A aproximação entre diferentes profissionais pode mobilizar a reflexão sobre como


essas duas etapas podem articular concepções e práticas educativas para “[...] assegurar
às crianças a continuidade de seus processos peculiares de desenvolvimento e a
concretização de seu direito à educação” (BRASIL, 2009, p. 17).

Diferentes experiências vêm sendo desenvolvidas por instituições da RME de Curitiba,


no sentido de aproximar profissionais para que estes possam conhecer os princípios
e trajetórias de cada etapa educacional e pensar em ações que possam garantir um
processo de transição significativo às crianças.

Uma dessas experiências é a parceria entre o CMEI Senador Affonso Alves de Camargo
Netto e a Escola Municipal Omar Sabbag no NRE Cajuru, já citado no capítulo anterior.
Desde 2014, as equipes pedagógico-administrativas desenvolvem ações compartilhadas,
a fim de promover o bem estar das crianças durante o processo de transição entre as
duas unidades. Tais ações garantem a articulação e o intercâmbio entre as crianças de
diferentes faixas etárias na transição entre as unidades, desenvolvendo a autonomia e
a identidade delas no processo de adaptação à escola, estabelecendo laços relacionais
e possibilitando que as crianças, se sintam pertencentes ao novo espaço.

Entre as ações de transição, houve pesquisas, rodas de conversa, convites, filmagens


entre as crianças das unidades, culminando no encontro delas sendo recebidas
pelas crianças da escola, tendo espaços planejados para garantir a interação entre
elas que, de maneira lúdica, conheceram espaços externos e internos da unidade.

21
“Esse é um momento singular, significativo para a criança, que, através de
atividades planejadas, desenvolve atitudes positivas em face da nova realidade
a ser enfrentada, a saber, a transição entre CMEI e Escola. Nesse sentido, a
realização de propostas que marquem positivamente a mudança das crianças para
outra instituição educacional deve ser pensada a partir delas e do que significa
esse momento em suas vidas, sendo, portanto, necessário ouvir a criança e seus
responsáveis, observar suas reações e curiosidades”.

Equipes pedagógico-administrativas do CMEI Senador Affonso Alves de


Camargo Netto e a EM Omar Sabbag (NRE Cajuru) – 2016.

Ao longo desses anos de parceria entre as duas instituições, as equipes pedagógico-


-administrativas analisam que essas ações contribuíram para a chegada das crianças
à escola, pois elas estabeleceram laços relacionais que possibilitaram se sentirem
acolhidas e pertencentes ao novo espaço.

Uma ação para ampliar o conhecimento de como se dão os processos de aprendizagem


vivenciados na educação infantil e ensino fundamental é oportunizar diálogos entre
os profissionais por meio de encontros e trocas de experiências. A experiência dos
profissionais é o ponto de partida e de chegada da aprendizagem, “é ela que possibilita
tornar o conhecimento significativo, por meio das relações que desencadeia” (PLACCO;
SOUZA, 2006, p. 19).

Partindo desse entendimento, diferentes instituições vêm organizando momentos de


conversas entre professores que atuam nas turmas de pré de CMEIs, CEIs contratados
e escolas e professores que atuam nas turmas de 1º ano das escolas.

Além disso, compartilhar os registros, os portfólios das crianças e das turmas e o parecer
descritivo entre os profissionais das unidades (CMEI, CEI contratado e Escola) é também
uma ação planejada para a transição da criança. Segundo a equipe pedagógico-
administrativa do CMEI Pimpão (NRE Portão):

“Proporcionamos algumas situações com o intuito de aproximar o contato com a escola


no que diz respeito ao conhecimento da criança em suas questões de aprendizagem,
encaminhamentos, atendimentos e outras situações pertinentes, por meio da entrega
pessoalmente dos portfólios para a pedagoga responsável pelas turmas de 1º anos”.
Equipe pedagógico-administrativa CMEI Pimpão (NRE Portão).

Essa ação possibilita aos profissionais que irão atuar com as crianças no Ensino
Fundamental conhecer todo o processo de aprendizagem desenvolvido na Educação
Infantil e dá elementos para subsidiar o planejamento das práticas educativas.

22
Os professores e professoras que atuam nas equipes de permanência7 das escolas
também exercem importante papel no processo de transição das crianças. Na EM
Maringá (NRE Pinheirinho), os(as) professores(as) de Educação Física, ao entenderem
que a escola precisa ser um espaço de múltiplas relações, interações, brincadeira e
aprendizado, refletiram sobre esse processo e propuseram uma nova ação:

“Conforme sugere as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil Municipal de


Curitiba (2006), em relação à passagem da Educação Infantil para o Ensino Fundamental,
na nossa escola sempre é feita a integração com um CMEI e um CEI Contratado por
meio de visita. Em meados de outubro eles vêm para conhecer a ‘nova’ escola. Em
conversa com a equipe pedagógica, sugeri que esta visita fosse mais significativa e
combinamos de fazer uma integração8, na qual as crianças venham até nossa escola
e façam atividades preparadas pelas crianças maiores. Vimos também a necessidade
de planejar ações que envolvam as crianças do Pré da nossa escola.

Este ano as crianças dos 5º anos é que vão preparar as atividades sob a orientação
dos professores de Educação Física”.
Veridiana Dallarmi Pellanda – Professora de Educação Física da EM Maringá
(NRE Pinheirinho) – 2016.

Integração entre os estudantes dos 5º anos


Integração entre os estudantes dos 5º anos da EM Maringá e as da EM Maringá e as crianças do CEI
crianças do CEI Aquarela La Salle (NRE Pinheirinho). Aquarela La Salle (NRE Pinheirinho).

“Hoje foi um dia especial porque as crianças do Lassalinho vieram nos visitar.
Preparamos muitas brincadeiras: bolinha de gude, brincadeiras com colchonetes,
pneus, fantoches e muito mais. Recebemos elas com muito carinho e amor e nós nos
surpreendemos. No final fizemos uma apresentação e eles gostaram muito. Na hora
que estavam indo embora um aluno da nossa turma ficou emocionado e começou a
chorar. Vamos encerrar este ano com muita felicidade”.
Maria Luiza Haloten – estudante do 5º ano da EM Maringá
(NRE Pinheirinho) – 2016
7 Equipe de permanência refere-se aos profissionais que atuam nas turmas quando os professores
regentes estão realizando seus estudos e planejamentos.

8 Na RME de Curitiba, entendemos a Integração como momentos em que as crianças de diferentes


faixas etárias brincam e participam de diferentes propostas juntas.

23
Os relatos apresentados reforçam o entendimento de que todos os profissionais que
atuam com as crianças pequenas são responsáveis em planejar e desenvolver ações,
ao longo do ano, que promovam a acolhida e o acompanhamento da criança na escola.

Nesse sentido, as professoras de Educação Física Marion e Viviane, com o apoio da


pedagoga Simone, desenvolvem, desde o ano de 2015, diferentes propostas que
integram as turmas de Pré e 5º ano da EM CEI Francisco Frischmann (NRE Pinheirinho).

“Com a entrada das crianças de 4 anos na escola, buscamos um novo olhar para
a infância por meio de atividades onde as crianças da Educação Infantil pudessem
compartilhar experiências com crianças de outras faixas etárias, de forma que pudessem
se sentir acolhidas e pertencentes ao espaço da escola”.
Professoras Marion Alves Machado e Viviane Nolli Cardoso –
EM CEI Francisco Frischmann (NRE Pinheirinho) – 2015

Antes do desenvolvimento
das propostas, os
estudantes do 5º ano
apresentaram certo receio
em participar de diferentes
práticas e brincadeiras com
as crianças do Pré:

“Vamos fazer aula com os


EM CEI Francisco Frischmann (NRE PN).
bebês?” Estudantes do 5º
ano.

Após as propostas, ocorreram aprendizagens significativas que resultaram na troca de


experiências entre as crianças:

“Foi a melhor aula!


Posso ir dar um beijo neles?”
Estudantes do 5º ano

“Quando vamos brincar com os


seres mágicos?”
Crianças da Educação Infantil
EM CEI Francisco Frischmann (NRE PN).

24
Segundo as professoras, as crianças da educação infantil contribuíram para que
os estudantes do 5º ano repensassem e reelaborassem estratégias para realizar
as atividades, numa interação que envolveu mais afetividade, respeito, estímulo e
acolhimento entre todos.

É por meio de diferentes ações de aproximação envolvendo profissionais que


podemos diminuir a distância entre a educação infantil e o ensino fundamental, pois “[...]
estudos sobre diferenças e similaridades entre as práticas educativas desenvolvidas
cotidianamente nesses contextos podem subsidiar o diálogo entre esses atores ao
ampliar a compreensão de entraves, rupturas e/ou continuidades vividas pelas crianças
nesses espaços” (NEVES, GOUVÊA, CASTANHEIRA, 2011, p. 123).

Essas experiências indicam possibilidades a serem desenvolvidas, buscando maior


interação entre profissionais, as quais podem se refletir em ações mais significativas
com as crianças.

25
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa identifica alguns significados para o verbete
“integrar”, entre os quais destacamos três deles:
1. Incluir (se) um elemento num conjunto formando um todo coerente;
incorporar(se), integralizar(se).2. Adaptar (alguém ou a si mesmo) a um
grupo, uma coletividade; fazer sentir-se como um membro antigo ou natural
dessa coletividade. 3. Unir-se, formando um todo harmonioso completar-se,
complementar-se. Disponível em: <https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/
v2-3/html/index.htm#1> – Acesso em: 10/10/2016.

Todas as definições acima nos remetem à ideia de movimento. Incluir-se ou incluir algo
num todo exige ações, atitudes, definições tanto no âmbito do conjunto no qual se quer
incluir quanto no que se pretende incluir.
As crianças, ao realizarem a passagem para o ensino fundamental, estarão se inserindo
em um novo espaço, em uma nova forma de organização social.

Essa transição poderá ser


planejada não como um evento,
mas como um processo que
faça parte do cotidiano das
instituições, onde as crianças
terão oportunidade de conviver
com seus pares e com adultos
Crianças do CMEI Monteverdi brincando na EM Sônia Kenski (NRE
em diferentes momentos de
Santa Felicidade). integração.

Conhecer o espaço é um dos passos. Conversar com os (as) profissionais, com as


crianças e transitar pela unidade diminui a ansiedade do desconhecido. Mas, isso não
significa pensar um único momento de visita para que a criança reconheça as diferenças
entre o espaço por ela vivido atualmente e o novo, o qual será vivido futuramente.
Pensar a transição significa dar sentido a esse momento para a criança, promovendo
diversas interações, pois, como aponta Barbosa (2009), ao promover a interação entre as
crianças, quebramos a lógica da institucionalização e centramos o foco na socialização,
uma vez que a formação acontece nos processos de interação, negociação com os
outros ou por oposição a eles. E isso só acontecerá se lhes forem oportunizados, no
cotidiano, experiências que lhes permitam momentos de trocas com outras crianças e de
brincadeiras que promovam aprendizagens, tragam segurança e garantam, assim, o seu
pleno desenvolvimento.

26
Se a experiência mais interessante No CEI Desafio do Saber, as crianças
da vida dos seres humanos é a
do Pré conheceram a EM Newton
possibilidade do convívio, do amor, da
amizade, enfim da busca da vida em Borges dos Reis, NRE Tatuquara,
comunidade, a educação infantil é a e interagiram com as crianças do
primeira experiência de convivência
primeiro ano. Durante o ano, além
na diversidade. Cabe-lhe acolher as
crianças, encorajando-as em suas de visitar o espaço da escola, elas
descobertas e invenções; ouvindo- tiveram a oportunidade de trocar
as em suas necessidades, desejos e entre si diversas cartas e participar
inquietações; apoiando-as em seus
desafios e ensinando-as a conviver de brincadeiras. Ao final do ano
favorecendo o sucesso das crianças. aconteceu uma confraternização
(BARBOSA, 2009, p. 90). entre as crianças do pré e do 1º ano,
Ao pensar, especificamente, na nas dependências do CEI, com direito
integração entre a educação infantil e o a convite formal aos seus colegas da
ensino fundamental, permitimos que as escola.
crianças conheçam os desafios dessa
nova etapa de suas vidas, construam
novas relações, desmistificando ideias
que geram expectativas e ansiedades
em relação ao novo. A transição entre as
etapas comumente geram nas crianças
sentimentos ambíguos de desconforto
e ansiedade, de estranhamento e
Inspetor da EM Newton Borges dos Reis
euforia, de medo e alegria, pois terão
recebendo as crianças para apresentar o espaço.
que se apropriar de um novo espaço,
construir novas relações e interações
e se sentir pertencentes a este grupo,
principalmente quando mudam de
instituição.

“Vivenciar essa mudança desenvolve


uma atitude positiva em face da nova
realidade a ser enfrentada. Nesse Crianças do CEI recebendo as cartinhas

sentido, a realização de algo que


signifique a mudança das crianças Este é o terceiro ano em que
para outro nível educacional deve estabelecemos parceria com a equipe
ser pensada a partir delas e do que da Escola Municipal Newton Borges
significa esse momento em sua vida, e dos Reis para a realização desta
proposta, que vem auxiliando as
tanto crianças como familiares podem
crianças na passagem da educação
participar dessa organização, tornando
infantil para o fundamental, de maneira
essa oportunidade singular”.
tranquila.
EPA CMEI Colombo I (NRE Portão) –
2016 Elyzabet Silva – Pedagoga CEI
Desafio do Saber (NRE Tatuquara) -
2016

27
Dessa forma, pensar e planejar a integração das crianças entre as etapas educacionais é
essencial para apoiá-las no entendimento do que acontecerá, seja entre instituições ou
dentro de uma mesma instituição. Como dito anteriormente, ações planejadas para este
período auxiliam as crianças a resolverem seus sentimentos de ruptura, bem como permitem
a continuidade de seu processo educativo, uma vez que a educação infantil e o ensino
fundamental são etapas diferentes, com objetivos específicos e rotinas próprias. Conhecer
antecipadamente um pouco deste novo espaço de convívio, conversar e interagir com as
crianças que já pertencem a este grupo ajuda as crianças a passarem por este momento e
permite a construção de novas relações e conhecimentos.
A integração entre elas necessita ser uma ação planejada e permanente.

CEI Acácias Unidas sendo recebidas na EM Francisco


Derosso (NRE Boqueirão).

Podemos observar que estes momentos de integração são práticas já existentes nos
espaços de educação infantil da RME e colaboram para que as crianças das diferentes
faixas etárias interajam entre si e com adultos, seja de uma mesma unidade ou de
instituições próximas, como acontece entre os CMEIs/CEIs contratados e as Escolas
Municipais. Vejamos alguns relatos:

28
“No CMEI Moradias Belém, os momentos de integração entre as diferentes
faixas etárias acontecem desde o ano de 2013. A partir do ano de 2016,
buscou-se uma parceria com a EM Germano Paciornik, com o intuito de
avançar nas práticas que vem sendo realizadas no CMEI. Assim, as crianças do
CMEI e das turmas do pré da escola, bem como dos estudantes do 1º ano
puderam se encontrar em diferentes momentos para brincar. Essa proposta
tem um cronograma específico e, semanalmente, uma turma de pré do CMEI
planeja propostas para brincar com as crianças da escola e vice-versa. A cada
semana, uma unidade é responsável em receber as crianças. E também de
elaborar o planejamento dos momentos de integração nos diferentes espaços
das unidades. Portanto, planejar a organização de espaços para o brincar é
uma ação coletiva que envolve diferentes segmentos da instituição educativa,
na busca do aprimoramento das práticas pedagógicas que promove o
desenvolvimento integral da criança. Além dos momentos de brincadeira, as
crianças do CMEI têm a oportunidade de participar, semanalmente, de
momentos de leitura e contação de histórias na biblioteca da escola.”
EPA CMEI Moradias Belém (NRE Boqueirão) – 2016

29
“Na EM Michel Khury, as turmas da Educação Infantil se integram com turmas
do Ensino Fundamental durante todo o ano, brincando nos cantos de
atividades diversificadas no pátio externo, participando de diferentes propostas
de leitura, de brincadeiras e de jogos. A escola também realiza ações de
integração com os CMEIs da região e com o CEI Recanto Feliz Santa Úrsula.
Como o CEI não tem uma localização tão próxima à escola, as equipes das
unidades conversaram e buscaram soluções para que este processo se
efetivasse. Assim, oportunizaram o contato com as crianças do primeiro ano por
meio de cartas e com o espaço da escola por meio de vídeos, onde tem a
possibilidade de se conhecer, de trocar ideias e informações, de questionar e
de se aproximar do espaço escolar.”
EPA EM Michel Khury (NRE Cajuru) – 2016

 e acordo com os Referenciais para Estudo e planejamento na Educação Infantil:


D
Organização de espaços externos:
A instituição de educação infantil é um lugar privilegiado para o encontro e
a interação entre as crianças. Nesse espaço, mesmo aquelas que não tem
oportunidade de conviver com outras no ambiente familiar podem brincar,
conversar e conhecer crianças e adultos, atentos e interessados em interagir
com elas. (CURITIBA, 2013, p. 18)

Esse encontro planejado com frequência ao longo do ano permite a construção de


novos saberes. A transição como um único momento de visita não permite a vivência, o
conhecer o outro.

30
EM Julio Moreira e CMEI São Braz (NRE Santa EM Julio Moreira e CMEI São Braz
Felicidade). (NRE Santa Felicidade).

CMEI Caiua Ilhéus e Escola Estadual Hidelgard Sondhal – participação


no recreio (NRE CIC).

O parecer 20/2009, do Conselho Nacional de Educação (CNE), nos aponta que:


Na história cotidiana das interações com diferentes parceiros, vão sendo
construídas significações compartilhadas, a partir das quais a criança aprende
como agir ou resistir aos valores e normas da cultura de seu ambiente. Nesse
processo é preciso considerar que as crianças aprendem coisas que lhes são
muito significativas quando interagem com companheiros de infância, e que
são diversas das coisas que elas se apropriam no contato com os adultos ou
com crianças já mais velhas. (BRASIL, 2009, p. 7)

Desse modo, pensar em ações ao longo do ano que propiciem a interação entre as
crianças da educação infantil e do ensino fundamental, bem como com o espaço escolar,
traz novas aprendizagens e familiaridade com este contexto.

Muitas crianças dos CMEIs e CEIs contratados da RME frequentam os diferentes espaços
das Escolas Municipais, como laboratórios de informática, bibliotecas, faróis do saber,
quadras, pátios e parques para desenvolver diferentes propostas, momentos estes que
podemos observar através de algumas imagens.

31
Crianças do CMEI Arnaldo Agenor Bertone no
Crianças do CMEI Arnaldo Agenor Bertone no laboratório de
laboratório de informática da EM Dona Lulu (NRE
informática da EM Dona Lulu (NRE Bairro Novo).
Bairro Novo).

A turma do Pré II do CMEI Vila Leonice faz uso do Visita do CMEI Cinderela no Farol do Saber Manoel Bandeira na
Laboratório de Informática do CEI Romário Martins EM Herley Mehl com empréstimo de livros semanalmente (NRE
uma vez por semana (NRE Boa Vista). Boa Vista).

Turma do Pré II do CMEI Nossa Senhora de Fátima


durante a contação de histórias na EM Tanira Crianças do CEI Esperança no Farol do Saber anexo a EM Dona
Regina Schmidt (NRE Boa Vista). Lulu (NRE Bairro Novo).

32
Integração CMEI Cinderela e EM Herley Mehl (NRE Boa Vista).

Crianças do CMEI Jardim Aliança


usam os espaços externos do CEI Turmas do 1° Ano do CEI Romário
Augusto César Sandino (NRE Boa Martins visitam o CMEI Vila Leonice
Vista). (NRE Boa Vista).

As DCNEI afirmam que a criança é compreendida como:


[...] sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas
cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca,
imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e
constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL,
2010, p. 12).

Acreditando no potencial dessa criança, existe um momento de integração organizado


em diferentes escolas que promove trocas e convivência entre crianças, onde as
crianças do pré ensinam crianças do primeiro ou segundo ano a jogar jogos de
tabuleiro criados por elas mesmas. Nessas interações, a criança tem a oportunidade
de experienciar diferentes papéis, compartilhando, negociando, entendendo o ponto
de vista do outro e fazendo-se entender, evidenciando, assim, a cultura de pares que
se dá de forma privilegiada na brincadeira.

Essa prática é ilustrada nas imagens e relatos das Escolas Municipais Sonia Kenski e
Itacelina Bittencourt, onde os profissionais organizam espaço, tempo e materiais, para
as crianças de diferentes turmas e faixas etárias interagirem por meio dos jogos.

33
“As crianças da educação Infantil fizeram no primeiro semestre integração com
as turmas de primeiro ano, e nesse momento aproveitamos para ensiná-las a
jogar nossos jogos de preenchimento e de percurso individual que havíamos
confeccionado. A integração aconteceu nos cantos onde um desses era o do
jogo. As crianças das duas turmas interagiram. As do primeiro ano viram o jogo
e queriam saber como jogava, e algumas crianças da Educação Infantil os
ensinaram passando as regras. Participei neste momento como observadora.
Na continuidade deste trabalho fizemos uma integração diferente com a turma
do primeiro ano. Essa turma construiu o jogo do Carro do Monstro no ano
passado e neste, ensinaram a turma do Pré a jogar. A integração foi muito
interessante, as crianças se ajudaram e compartilharam experiências.”
Professora Deise Blank – E M Sonia Kenski (NRE Santa Felicidade) – 2016

O relato da professora revela a importância de oportunizar às crianças, nos diferentes


espaços da instituição, momentos que possam compartilhar seus saberes de forma a
contribuir para a aprendizagem do outro. Essa prática também nos apresenta um outro
cenário que diz respeito ao planejamento compartilhado de ambas as professoras,
aproximando aquilo que é comum na pré-escola e nos anos iniciais do fundamental,
necessário para a formação integral do sujeito.

No relato a seguir, da professora Renata da Escola Municipal Itacelina Bittencourt (NRE


PR), observa-se que as crianças que hoje estão no 1º ano e que construíram jogos de
tabuleiro, quando frequentaram o pré no ano anterior, sentem-se capazes de ensinar os
mais novos:

34
“A turma do pré da E.M. Itacelina Bittencourt realiza
algumas integrações com a turma do primeiro ano de
diversas formas. Geralmente convidamos as crianças
maiores para participar dos momentos de cantos de
atividades diversificadas e no mês de setembro, fizemos
uma integração com jogos de tabuleiro. As crianças do
primeiro ano foram até a sala do pré para aprender os
jogos de tabuleiro. O momento foi muito rico, pois além do
pré ensinar os mais velhos, também puderam aprender
com eles, pois algumas das crianças que foram da turma
do pré no ano anterior, participaram da confecção de
alguns jogos, e relembraram as regras para os menores.”
Professora Renata – Hoeflich E.M. Itacelina Bittencourt (NRE Portão)

Nesse movimento que acontece em tantas escolas, as crianças do pré constroem um


sentimento de segurança e pertencimento ao espaço como um todo, que não se restringe
apenas à sala de referência a qual frequentam cotidianamente. Essa oportunidade faz
com que as crianças do pré construam uma expectativa do que será o próximo ano.
Promover esses momentos de integração colabora positivamente para o bem-estar
das crianças nesse processo. Essa prática vai além das intenções de aprendizagem
relacionadas ao jogo, ela nos leva a refletir sobre o cuidado, como foi dito anteriormente.
O cuidar do outro significa zelo, desprendimento, preocupação com essa criança, não
apenas na questão da cognição, mas considerando-a sujeito em desenvolvimento, de
forma integral e plena.

Independentemente das propostas que serão planejadas para promover os momentos


de integração, o que permeia é a possibilidade das amizades, do encontro, pois será
marcado pelas experiências, as quais as crianças podem viver dentro dos espaços
educativos. Segundo Corsaro (2011, p. 133), num primeiro momento, a amizade é
caracterizada por um colega específico, segundo influências familiares, porém, para as
crianças “[...] a noção de amizade diz respeito às atividades compartilhadas observáveis
– brincadeiras coletiva, em áreas específicas e proteção da brincadeira”.

O encontro pode acontecer de diferentes maneiras, como podemos observar a seguir:

35
No CEI Começo de Vida (NRE Boqueirão), as crianças
do Pré estão trocando correspondências e desenhos
com as crianças da EM Jardim Europa. Nessas cartas,
conversam sobre suas curiosidades e preferências,
alimentando, assim, o processo de conhecer o outro,
ou seja, outras crianças e o espaço escolar.

CEI Começo de Vida (NRE Boqueirão).

As crianças do CMEI Caramuru


confraternizam com as da EM Donatila
Caron dos Anjos (NRE Cajuru).
Piqueniques ou lanches coletivos
também propiciam a integração,
sendo os momentos de alimentação
um hábito cultural com potencial
para promover encontros, fortalecer
amizades e vínculos.
CMEI Caramuru e EM Donatila Caron dos Anjos (NRE Cajuru).

No CEI Giacomino (NRE Portão), as crianças das turmas do Pré conversaram com as
crianças Enzo e Camilly que frequentam o projeto Centro de Atendimento Multidisciplinar
Integrado Cusmano (CAMIC) – Contraturno, que fica no mesmo terreno do CEI, num
período e no outro estudam na turma do 2º ano na EM Graciliano Ramos. Conversar
com as crianças mais velhas permitiu que tivessem um olhar da escola em sua totalidade.
Vejamos alguns trechos da conversa das crianças:

36
“Elena do Pré A: Quando a professora sai da
sala como vocês ficam?
Enzo: A gente grita e conversa muito quando
a professora sai.
Paulliny da Turma do Pré B: Cada um de
nossos amigos vai para uma turma?
Camily: Não, tem alguns em uma sala e outros
em outra sala, só tem duas salas para cada
turma.”
CEI Giacomino (NRE Portão)
Conversa registrada pela professora Gisele
e Luceni – CEI Giacomino (NRE Portão) –
2016

“No CMEI Vila Macedo, a oportunidade das crianças de diferentes idades se


relacionarem sempre proporcionou a interação e a participação em
diferenciadas atividades, despertando a curiosidade e o questionamento sobre
variados temas. Em conversa, uma das crianças que tem seu irmão estudando
na Unidade de Educação Integral (UEI) João Macedo mostrou curiosidade
sobre o que as crianças faziam no período de contraturno e na escola. A partir
dessa curiosidade, criamos uma parceria entre CMEI/UEI e Escola, na qual foi
iniciada uma troca de cartas e desenhos entre as turmas do Pré-A e do 2º Ano
C. Essa troca incentivou ambas as turmas a produzir textos com relatos e
questionamentos sobre o cotidiano de cada unidade, além de realizar troca de
brinquedos, para que cada uma vivenciasse um momento divertido. A cada
carta recebida pelas crianças do CMEI, era uma alegria e uma ansiedade em
responder.”
EPA CMEI Vila Macedo (NRE Cajuru) – 2016

37
Outra possibilidade interessante é que as crianças possam conversar com outras que
já frequentaram o CMEI/CEI contratado e agora estão na Escola, onde podem contar
suas experiências num outro espaço, na nova etapa, com outros colegas e outros
professores. Como exemplo, citamos a conversa que ocorreu no CMEI Vila Sandra (NRE
CIC), onde a turma do Pré recebeu a visita da Monique, que é estudante do 1º ano na
Escola Municipal Heitor Alencar Furtado, como já citado anteriormente.

Destacamos a importância dos registros e documentação das práticas desenvolvidas


com as crianças, pois essa roda de conversa, por exemplo, nos ajuda a entender um
pouco melhor esse momento de transição através das falas que revelam necessidades,
curiosidades, desejos e expectativas. Com esse diálogo, a Monique pôde trazer um
pouco das novidades que está vivendo na escola, ajudando os colegas a olhar de um
jeito positivo e desejoso aos novos desafios.

“Ao considerar as vozes das crianças, compreende- se que o trabalho pedagógico


realizado nas instituições de Educação Infantil, se concretiza enquanto um encontro
entre as crianças e os adultos num movimento dialético onde uma parte vem das
crianças e outra dos adultos. Nesse sentido, a relação entre os professores e as
crianças é fundamental para a construção dos conhecimentos a respeito de si e do
outro, favorecendo as relações afetivas, de proteção e bem-estar das crianças e
contribuindo para a formação de auto estima e auto imagem positivas.”
Equipe de pedagogas da Educação Infantil (NRE Cajuru) – 2014

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“Minha mãe disse que vai me pôr nessa escola...”
Maria Eduarda Melo – CMEI Vera Cruz II (NRE CIC)

Os profissionais que atuam na Educação Infantil apresentam, segundo Oliveira-


-Formosinho (2002), especificidades que marcam sua profissionalidade docente. Entre
as características demarcadas, estão as interações alargadas com as crianças, com os
familiares e outras instâncias que podem, assim, contribuir com o contexto educativo.
Diante disso, nos perguntamos: em que sentido as famílias são partícipes das ações que
envolvem a transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental? No
acompanhamento da vida educacional dos filhos essa temática em algum momento fará
parte do contexto familiar.

Diante dessas preocupações, por vezes, as famílias comumente se interrogam: será


que meu(a) filho(a) não é muito pequeno para entrar na escola e se relacionar com
crianças maiores que ele(a)? E as lições em cadernos, a alfabetização, o horário do
recreio, a permanência de quatro horas na instituição educativa? Tais dúvidas pairam
nos pensamentos dos familiares das crianças, que justificam, entre outras razões, a
existência de um diálogo profícuo entre as instituições da RME de Curitiba e as famílias.

Outra razão que justifica a relevância da participação das famílias na transição é que
essa situação é uma marca na vida das crianças, e esse movimento necessita ser pleno
de sentidos para elas. Sensibilizados por tais razões, as instituições educativas, tanto
CMEIs, CEIs contratados quanto Escolas, têm procurado marcar esse momento com
iniciativas em que as famílias são convidadas a participar junto com seus filhos(as).

Essa etapa pode vir acompanhada por registros dos momentos vividos pelas crianças
nas instituições, que podem ser compartilhados e celebrados com os familiares. Esta é
uma forma de demarcar a nova etapa da vida das crianças.

O CMEI Conjunto Araguaia (NRE Cajuru), em sua organização, tem procurado socializar a
caminhada trilhada pelas crianças na instituição através da programação de momentos
com as famílias, conforme relato abaixo:

“Em dezembro, para se comemorar a nova etapa das crianças do CMEI, faremos um
passeio, como confraternização. E um momento com as famílias: café da manhã e/ ou
jantar, para celebrar o ano de 2016 e as lembranças da trajetória no CMEI”.

EPA do CMEI Conjunto Araguaia (NRE Cajuru) – 2016

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As lembranças dessa caminhada no CMEI envolvem momentos de grandes
transformações das crianças, e têm estreita relação com a história de vida delas. Essa
caminhada ao ser partilhada com as famílias, demonstra a parceria existente entre
familiares e as instituições educativas.

Essa parceria se traduz em sinônimo de apoio aos familiares, que vivenciam a transição
junto com seus/suas filhos(as). Ação esta que tem estreita relação com o que propõe
as DCNEI (2010, p. 19) sobre as condições para a organização do fazer pedagógico
que considere “a participação, o diálogo e a escuta cotidiana das famílias”. Podemos
observar que o CMEI Conjunto Mercúrio (NRE Cajuru), ao compreender a relevância
dessa ação, tem procurado dialogar com as famílias, como pode ser visto, no seguinte
relato:

“No decorrer do ano, fazemos reuniões com as famílias para que as mesmas
compreendam a nova etapa que as crianças passarão no próximo ano. Procuramos no
decorrer dos diálogos que se estabelecem acalmar as famílias quanto à mudança de
espaço e de rotina que os filhos vivenciarão no próximo ano para que possam sentir
segurança quanto às mudanças pelas quais as crianças estão passando, reforçando
que o apoio dos pais, irmãos e responsáveis por elas é de extrema importância para
que elas apreendam bem o novo.”
EPA do CMEI Conjunto Mercúrio (NRE Cajuru) – 2016

Iniciativas como essas demonstram a preocupação pelos sentimentos infantis, que


podem ser refletidos em ações conjuntas com as famílias. Sisla (2009) afirma a relevância
dessas ações planejadas pelas instituições educativas, pois é através delas que é
possível o estabelecimento de laços que vão além do instituído no contexto escolar.

Dessa forma, o planejamento de passeios, visitas à futura escola, o acolhimento das


famílias com um lanche coletivo, entre outras possibilidades, transformam-se em
oportunidades de habitar esse novo espaço. Nesse sentido, é oportunizada às crianças
e seus familiares a possibilidade de se sentirem pertencentes ao novo espaço.

É o investimento que o CMEI Conjunto Mercúrio e a EM Irati (NRE Cajuru), têm realizado,
uma vez que são instituições educativas próximas e, portanto, têm se envolvido em
projetos que aproximam as famílias do espaço da escola juntamente com as crianças.
Nas imagens abaixo, podemos visualizar um desses ricos momentos:

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As famílias das crianças do Pré II são acolhidas no CMEI, na sala das crianças, e assim são colocados em pauta
algumas reflexões sobre esse momento tão especial na vida das crianças.

Todos juntos fazem um passeio que se inicia a partir do CMEI até o espaço da escola. Esse espaço é apresentado
pelos professores da escola para as crianças e seus familiares.

Diante dessa experiência, é possível observar que vale investir na parceria entre CMEIs,
CEIs contratados e Escolas próximas, para que esses contextos possam favorecer a
entrada das crianças na nova etapa.

Para que tudo isso possa ocorrer, sugere-se planejamento por parte das instituições
educativas, como pode ser observado no relato das profissionais do CMEI Autódromo
(NRE Cajuru), para que se privilegiem momentos onde essas ações sejam favorecidas.

“Promovemos ações com as crianças e suas famílias como roda de conversas, reuniões,
visitas às escolas, vivências que proporcionam mais esclarecimentos e segurança
neste momento de transição CMEI/Escola.”
EPA do CMEI Autódromo (NRE Cajuru) – 2016

Essas ações são oportunidades para estreitar relações, pois, além das crianças
conhecerem o novo espaço escolar, terão a oportunidade de conhecer aqueles que

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estão nesse lugar e como agem. Dessa forma, alguns receios das crianças, quanto ao
novo, podem ser desmistificados.

Quando o assunto é transição, o que podemos verificar é que as escolas do Ensino


Fundamental da RME também se preocupam com a ansiedade dos familiares. Isso
justifica a inserção cada vez maior das parcerias com os CMEIs e CEIs contratados para
que esse processo vivido pelas crianças seja o mais sutil possível.

Esta é uma das iniciativas que os profissionais da EM Professora Cecília Maria


Westphalen (NRE Bairro Novo) têm realizado, todos os anos, quando procuram investir
em estratégias desde os primeiros dias do ano letivo. Entre as ações estão: recepção
dos familiares com mesa de café coletivo, atividades coletivas, dinâmicas de acolhida
com os familiares e as crianças, e orientação aos familiares quanto aos espaços da
escola. Em uma reunião que ocorre anualmente, os familiares têm a possibilidade de
expor suas dúvidas, angústias e ansiedades.

A exemplo do que prevê a equipe da EM Professora Cecília Maria Westphalen, é


necessário pensar em estratégias que favoreçam a transição das crianças. Nesse
sentido, a parceria com os familiares é muito bem-vinda. Abrir as portas da escola para
que algum familiar possa acompanhar a criança até a sala, ao menos nos primeiros dias.
Apresentar os espaços da escola a esses familiares, bem como, aos profissionais que
fazem parte da escola, são iniciativas simples, mas que fazem toda a diferença na vida
das crianças que estão iniciando um novo processo.

Muitas são as estratégias que podem ser realizadas para que esse processo vivido pelas
crianças aconteça da melhor maneira possível. O CEI Desafio do Saber (NRE Tatuquara),
tem investido no projeto institucional Etapas da vida, que tem como foco atuar na
transição das crianças da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. Vejamos abaixo
o relato de uma mãe que expressa seu sentimento sobre esta ação:

“Agradeço ao CEI Desafio do Saber pelo projeto “Etapas da Vida”, que consiste
em apresentar e familiarizar a criança em sua futura escola. Este projeto foi
fundamental na transição da Giovana para a escola, visto que minha filha ainda
era muito pequena (tinha apenas 4 anos durante o projeto). E faria todo o 1º ano
com apenas 5 aninhos. Devido ela ter estado no CEI por 2 anos, criou vínculos
com os amiguinhos e com as ‘prof’s’. Amava os espaços e programações do CEI.
Sentia-se à vontade. Mas essa estrutura física e principalmente emocional temia
perder, já que na nova escola tudo seria muito grande (espaço físico e quantidade
de alunos), novos professores e novos colegas. Isso fazia ela se sentir insegura
e triste. Inicialmente não aceitava de forma alguma a ideia de mudar de escola.
Neste cenário de insegurança veio o abençoado projeto para tranquilizar a minha
pequena e o meu coração apertado de mãe. Ela ‘lia’ o projeto como um passeio à
futura escola. Isso foi muito bom já que as crianças em geral amam fazer passeios. O

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detalhe disso é que todo passeio tende a ser legal e divertido ainda mais pensando
na oportunidade de irem caminhando, contemplando o entorno e na maioria das
vezes comunicando aos colegas o caminho no qual passa para ir ao CEI. E era
exatamente isso que acontecia. Ela chegava em casa feliz contando o que tinham
feito. E o seu olhar mudou com relação à escola. Passou a gostar da ideia de
mudar para uma escola maior, com decoração aconchegante e convidativa, com
quadras para jogos, com andar superior, com pátios maiores para brincadeiras, e
de bônus suas amigas e colegas do CEI também iriam junto... E tudo isso estava
acontecendo porque ela estava ficando mocinha e precisava deixar o CEI para as
crianças menores. O início do 1º ano foi tranquilo, já na escola nova. Ela sentiu-se
confiante e muito animada.”
Helyenara Maia Bello
Mãe de Giovana Maia Bello – CEI Desafio do Saber (NRE Tatuquara) – 2016

Observamos, no relato acima, que o CEI Desafio do Saber tem um interesse muito
particular pelo papel dos familiares nesse momento tão relevante da vida das crianças.
Esse relato, bem como todas as ações exemplificadas ao longo deste documento,
nos inspiram e nos convidam à mobilização de ações em parceria com as famílias e
profissionais para que a transição das crianças possa ser sinônimo de sutileza.

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“Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo acolher, ouvir, encorajar,
apoiar, no sentido de desenvolver o aprendizado de pensar e agir, cuidar
de si, do outro, da escola, da natureza, da água, do Planeta. Educar é, enfim,
enfrentar o desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão imprevisíveis
e diferentes quanto semelhantes, ao longo de uma existência inscrita na teia
das relações humanas, neste mundo complexo.” (DCNEB, 2013, p. 18).

O desafio de elaborar um projeto amplo, com a participação de todos os envolvidos,


pensando na qualidade dos momentos de transição para as crianças se faz presente
no cotidiano de nossas instituições educativas. Por isso, a expectativa na elaboração
deste caderno é de contribuir com os projetos político-pedagógicos das instituições
que ofertam a educação infantil, numa perspectiva de trazer as ações relacionadas
à transição das crianças, possíveis de serem contempladas num projeto institucional,
envolvendo a comunidade educativa como um todo, ou seja, diretores(as), pedagogos(as),
professores(as), outros profissionais da instituição (inspetores(as), apoio), familiares
e crianças, planejando e desenvolvendo propostas mais significativas e favoráveis a
todos os envolvidos.

Projeto Institucional

Os projetos institucionais consistem em diferentes propostas de trabalho


educativo que envolve diversos grupos, tais como, profissionais da
unidade, as crianças, a família e a própria comunidade na qual o CMEI
está inserido. Segundo Carvalho; Klisys; Augusto (2006) projetos
institucionais são aqueles que promovem ações que apoiarão o trabalho
pedagógico da unidade em diferentes áreas, tais como, a alteração do
espaço físico, dos materiais, livros, entre outras.

Ao longo do caderno, pudemos compartilhar boas práticas que marcaram a vida de


crianças, famílias e profissionais, num processo contínuo, promotor de encontros, de
interação, de trocas, de reconhecimento, com possibilidades reais de apoiar os principais
protagonistas desse processo, que são as crianças.

Consideramos ainda que o acolhimento nos novos espaços também é um processo


a ser pensado e planejado pelos profissionais. Não poderíamos deixar de destacar
que várias unidades da RME desenvolvem ações para esses momentos com um olhar

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sensível e acolhedor, tais como: a apresentação da turma do pré para outras turmas
da escola, um passeio com as crianças para conhecerem os espaços da escola, e os
profissionais que atuam em tais espaços, a integração entre turmas do pré com as
crianças de outras turmas e professores, a organização do ambiente com as produções
das crianças (desenhos, pinturas ou modelagens), reuniões com os pais no início do ano
para a apresentação de todos os professores que irão trabalhar com a turma, acolhida
das crianças com brincadeiras e uma rotina semelhante à do CMEI. Estes são exemplos
de algumas possibilidades para esse acolhimento. Ainda destacamos que, em alguns
locais, as crianças do pré que vão para o 1º ano escrevem cartas para recepcionar os
novos colegas que iniciarão o pré na instituição. E, ainda que, durante uma semana, no
início do ano letivo, é realizado um período especial, em que os pais acompanham seus
filhos até a sala de referência e participam de algumas propostas juntamente com seus
filhos.

A intenção primordial com essas reflexões apresentadas é de possibilitar discussões


no interior de cada unidade sobre o processo de transição, na qual se considere a
especificidade da criança pequena em sua integralidade, suas formas de estar no mundo
e interagir, levando em conta o contexto social do qual faz parte. Assim, esperamos que
as ações aqui apresentadas possam servir de inspiração para novas propostas que
venham a constituir o cotidiano das unidades e por conseguinte de todas as crianças.

“Não há transição que não implique um ponto de partida, um processo e um


ponto de chegada. Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De
modo que o nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente.
Temos de saber o que fomos e o que somos, para sabermos o que seremos.”
Paulo Freire

CMEI São Braz e EM CEI Julio Moreira (NRE Santa Felicidade).

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DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Maria Da Glória Galeb
GERÊNCIA DE CMEIS
Vera Lúcia Grande Dal Molin
GERÊNCIA DE ESCOLAS
Giselle Viviane Barcik
GERÊNCIA DE CURRÍCULO
Claudete Pereira Assunção
GERÊNCIA DE CEIS CONTRATADOS
Danielle Bonamin Flores
ELABORAÇÃO
Ana Cristina Caldas
Ana Dombrowski
Claudete Pereira Assunção
Elisangela Leite
Giselle Viviane Barcik
Janete Spadari
Lorena de Fatima Nadolny

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E DIFUSÃO EDUCACIONAL


Marlon Misael Terres
GERÊNCIA DE APOIO GRÁFICO
Lilian Fernanda de Christo
CAPA E PROJETO GRÁFICO
Katherine Kaizu
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Equipe da Telegramática

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