Antigo Testamento Ii

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CURSO CAPACITAÇÃO TEOLÓGICA

ANTIGO TESTAMENTO II

INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS

Como toda poesia de um povo, a hebraica tem algumas características que lhe são
peculiares. Segundo Ellisen, temos as seguintes definições:

I. Área Poética

• Poema é uma composição literária, normalmente feita em forma de versos,
expressando uma idéia ou um sentimento.
• Os hebreus identificavam 3 grandes livros como sendo “poéticos”: Jó, Salmos e
Provérbios.
• Na Vulgata, também entraram nesta categoria 2 outros livros (também chamados
de “didáticos”): Eclesiastes e Cantares.

II. Características da Poesia Hebraica



• A poesia hebraica coloca mais ênfase no ritmo da “idéia” do que no ritmo do
“som”, pois a mente oriental enfatiza mais este lado do ritmo. Tal característica é
conhecida como PARALELISMO. A primeira linha de um determinado poema é
“paralela” ou “equilibrada” com a segunda ou demais linhas seguintes.
• Esta característica do poema hebraico traz um desafio ao leitor, que precisa fazer
um relacionamento com as idéias do texto. O grande benefício deste tipo de poesia
(paralelismo das idéias) é que ele permite a tradução para outras línguas sem alterar a
idéia, pois não está condicionado a um modelo sonoro restrito.

III. Tipos de Paralelismo Hebraico



• Sinônimo – A segunda linha repete ou reproduz a primeira em palavras
semelhantes. Exemplo: Salmo 19:1.
• Antitético – A segunda linha expressa idéia oposta à da primeira linha, fazendo
um contraste. Exemplo: Salmo 1:6; Prov. 10-15.
• Sintético – A segunda linha completa ou amplia a primeira. Exemplos: Salmo
2:6; 2:12; 19:7; 118:9.

QUIASMO – A segunda linha repete a primeira, mas em ordem invertida. Encontramos


muitos quiasmos em toda a Bíblia. Exemplo: Salmo 51:1.
ACRÓSTICO – Cada linha ou estrofe começa com uma letra do alfabeto em sua
sequência natural (Ex.: Salmo 119).

O LIVRO DE JÓ

1. Título
O livro leva como título o nome de seu personagem principal: Jó.

2. Autor
A antiga tradição judaica, embora não em forma unânime, atribuiu o livro a
Moisés. O Talmud babilônico afirma: "Moisés escreveu seu próprio livro, e as passagens
referentes a Balaão e Jó" (Baba Bathra, 14b, 15a). Esta afirmação é rechaçada pela
maioria dos eruditos modernos como também foi por muitos anteriores. Alguns sugerem
a Eliú, Salomão ou Esdras como possíveis autores. Outros acreditam que o livro é obra
de um autor desconhecido, talvez do tempo de Salomão, ou do tempo de Davi, ou do
período do cativeiro. Todas estas afirmações que receberam o amplo apoio de diversos
autores, são tão somente suposições, carentes de suficiente comprovação.
É muito plausível a tradição que atribui o livro a Moisés. Este passou 40 anos no
deserto de Midiã, o qual lhe daria amplos antecedentes que explicam o forte sabor arábico
evidente em todo o livro. A formação egípcia de Moisés também explica as alusões à vida
e práticas egípcias. O quadro de Deus como Criador e Sustentador corresponde bem com
a narração da Criação conservada em outro livro escrito pelo Moisés.
Alguns eruditos não aceitam a Moisés como autor, porque encontram disparidade
de uso entre Jó e outros livros atribuídos a Moisés. O argumento que se apóia no estilo é
débil. Afirmar que Moisés é o autor do livro do Jó não exclui a possibilidade de que uma
boa parte do material tivesse podido estar já em forma escrita - redigido, talvez pelo
mesmo Jó. O tema de Jó é completamente distinto do dos outros livros de Moisés e
portanto requer outro enfoque. Por outra parte, pode demonstrar-se que há semelhanças
notáveis de estilo. Por exemplo, certas palavras usadas no livro de Jó aparecem também
no Pentateuco, mas não em outro lugar do AT. O título El-Shaddai, "o Todo-poderoso",
se usa 31 vezes no livro de Jó e 6 vezes no livro da Gênese, mas não aparece nesta forma
particular em nenhum outro lugar da Bíblia.

3. Marco Histórico
O livro do Jó é um poema a respeito da experiência humana, e seu autor é um
profeta de Deus. O comentário anterior revela o tempo aproximado quando se escreveu o
livro: durante a permanência de Moisés em Midiã. Jó pode haver sido contemporâneo de
Moisés.
O cenário do livro de Jó é próprio do deserto da Arábia. Por estranho que pareça,
não é um ambiente israelita. Havia adoradores de Deus fora dos limites habitados pelos
descendentes de Abraão. O ambiente não é político, militar nem eclesiástico. Jó surge em
um marco doméstico próprio de sua época. Era um rico latifundiário, honrado e amado
por seus compatriotas. Não se pode identificar com nenhuma dinastia ou clã dominante.
Destaca-se como uma figura solitária e majestosa na história, importante por causa de sua
experiência pessoal, muito mais do que por sua relação com sua época ou seus
contemporâneos.

4. Tema
É esta a história de um homem que retorna à vida normal depois de uma série de
reversos terríveis e inexplicáveis. Os elementos do marco histórico que fazem dramática
a situação são: (1) O contraste entre a prosperidade e a ruína de Jó, (2) o repentino de sua
calamidade, (3) o problema exposto pela filosofia do sofrimento, própria de sua época,
(4) a crueldade de seus amigos, (5) a profundidade de seu desânimo, (6) o aumento
gradual de sua confiança em Deus, (7) a dramática aparição de Deus, (8) o
arrependimento de Jó, (9) a humilhação de seus amigos, (10) a restauração de Jó.
Deve observar-se que o predomínio da repetição cessa quando começa a falar
Deus. Compararam-se os discursos dos amigos a diversas rodas que giram sobre o mesmo
eixo. Sua unanimidade faz adequada esta comparação. O discurso de Eliú representa a
emoção reprimida de um jovem entusiasmado pelo que considera uma grande idéia. Os
discursos de Deus são diferentes. Formam uma classe separada. Através de todas as
declarações divinas há progresso. Cada frase está cheia de significado. Os discursos de
Deus são uma revelação do Ser divino, que usa os objetos da Criação como um meio de
expressão.
O estudante do livro de Jó deve reconhecer estes fatos para poder interpretar
corretamente o desenvolvimento do livro.

O LIVRO DE SALMOS

1. Título
O livro dos Salmos, ou Salterio, deriva seu nome em português do título que a
coleção tem na LXX, Psalmói, plural de psalmós, ou seja, uma canção entoada com
acompanhamento de instrumentos de corda. Um manuscrito tem o título Psaltérion, de
onde deriva o término "saltério". Psalmós é a tradução grega do mizmor hebreu, nome
técnico de muitos dos salmos.
Os hebreus dividiam seus escritos sagrados (o AT) em três partes: a Lei (Torah),
os Profetas (Nebi'im) e os Escritos (Kethubim). A divisão chamada Escritos incluía os três
livros poéticos: Salmos, Provérbios e Jó; os cinco cilindros (Megilloth): Cantares, Rute,
Lamentações, Eclesiastes e Ester; e os livros históricos de Daniel, Esdras, Neemias e
Crônicas. Como se considerava que Salmos era o mais importante dos Escritos, esse título
freqüentemente designava a todo o grupo. Por esta razão os hebreus se referiam com
freqüência às três divisões de seus escritos sagrados como "a lei, os profetas e os salmos"
(ver Luc. 24:44).
2. Autor
Os salmos são a obra inspirada de vários autores. Toda a coleção em sua forma
final foi reunida possivelmente por Esdras, Neemias ou alguns dos escribas
imediatamente posteriores.
Oito nomes de pessoas que aparecem nos sobrescritos parecem ser autores,
colaboradores, compiladores, músicos ou outros que se relacionaram com a composição,
compilação e escritura da poesia lírica sagrada. Os nomes são: Davi, Asafe, Coré, Moisés,
Hemã, Etã, Salomão e Jedutum.
O mais destacado destes nomes é o de Davi. Embora alguns críticos modernos
negam que Davi fosse o autor principal do livro dos Salmos e o colaborador mais prolífero
da coleção, podem apresentar-se muitas razões para apoiar a crença tradicional. Davi era
um verdadeiro poeta e músico (1Sam. 16:15-23; 2Sam. 23:1; Amós 6:5). Era um homem
profundamente emotivo, de magnanimidade notável (2Sam. 1:19-27; 3:33, 34), e de
grande fé e sentimentos profundos que acharam sua expressão adorando com entusiasmo
a Jehová. Sob sua direção sábia e benévola floresceu a música em Israel.
Aproximadamente a terça parte dos salmos não leva sobrescrito algum; portanto,
são inteiramente anônimos (chamados de “salmos órfãos”). Alguns têm pensado que entre
os compositores dos salmos houve outros personagens meritórios do AT, tais como:
Esdras, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Ageu.

3. Marco Histórico
Os intentos modernos de descobrir os autores e as datas dos salmos começaram
em meados do século XIX, mediante um estudo das referências que há nos sobrescritos.
Os eruditos conservadores geralmente opinam que os salmos se compuseram em um
período de mil anos. Embora não se podem situar muitos salmos com exatidão, em um
ponto específico da história do povo hebreu que vai desde o Moisés e Davi até os anos
que seguiram imediatamente ao exílio, pode deduzir-se com segurança que o tempo de
sua composição fica dentro destes limites.

4. Tema
O homem está em dificuldades, mas Deus o socorre. Este é o tema - de alcance
universal - do livro dos Salmos. Nestes poemas sagrados ouvimos o clamor não só do
hebreu, mas também do homem universal que se eleva a Deus em procura de ajuda, e
vemos a mão da Onipotência que desce para socorrer. Não é estranho que durante séculos,
tanto para o judeu como para o gentil, o saltério tenha proporcionado material para a
oração privada e para o culto público e tenha servido satisfatoriamente como liturgia
formal do templo e da sinagoga hebreus, como hinário da igreja cristã e como livro de
orações para os solitários filhos de Deus de distintas raças ou credos.
Há salmos para toda pessoa, em cada estado de ânimo e necessidade: para os
frustrados, desanimados, os idosos, desesperançados; para os doentes e para os pecadores;
salmos para o jovem, para o vigoroso, para o que tem esperança, para o filho de Deus fiel
e crente, para o santo triunfante. Há salmos com apenas uma tênue nota de esperança em
sua atmosfera de desespero; por outra parte, há salmos de louvor que não contêm
nenhuma só palavra de rogo. Há salmos nos quais o pecador se detém "no lugar secreto"
da "presença" de Deus "sob a sombra" de Suas "asas", para expressar seus mais íntimos
sentimentos na solidão; e há salmos nos quais o santo de Deus se une à vasta assembléia
de adoradores na grande congregação e, acompanhado com toda sorte de instrumentos,
elogia a Deus em alta voz.
Como vimos anteriormente, a característica principal da poesia hebréia é a
cadência de pensamento, chamada “paralelismo” ou “estrutura equilibrada”, na qual se
juntam versos dentro de uma variedade de moldes. Esta estrutura peculiar se comparou
com o fluxo e vazante do mar, e, em palavras de um escritor alemão, ao "elevamento e
afundamento alternados do coração aflito".

O LIVRO DE PROVÉRBIOS

1. Título
O título, “Provérbios”, tirou-se das primeiras palavras do livro. A palavra
hebréia traduzida como “provérbios” deriva da raiz mashal, que significa “ser
semelhante”, “comparar”.
2. Autor
Parece evidente que Salomão foi o autor do livro (cf. caps. 1:1; 10:1; 25:1).
Também se sabe que Salomão “propôs três mil parábolas” (1Reis 4:32). Mas os eruditos
modernos tendem a atribuir uma data pós-exílica ao livro e negam a paternidade
Salomônica do livro.
Salomão escreveu os Provérbios nos primeiros anos de seu reinado, quando ainda
era obediente ao Espírito de Deus. “Foi a ampla difusão destes princípios e o
reconhecimento de Deus como Aquele a quem pertence tudo louvor e honra, o que fez
dos começos do reinado de Salomão uma época de elevação moral tanto como de
prosperidade material”

3. Marco Histórico
Salomão foi o terceiro rei de Israel. O povo tinha rechaçado a direção de Deus
quando desprezou a Samuel, juiz sábio e piedoso, e quando pediu um rei (1Sam. 8:4-7).
O motivo desta decisão foi o desejo do povo de ter um rei visível que o dirigisse na luta
contra o poder crescente das nações que o rodeavam, e os povos do mar que se
estabeleceram na Palestina (1Sam. 8:20).
Nos começos de seu reinado, Saul conseguiu submeter aos inimigos do Israel. Sua
prosperidade poderia ter continuado, se o mesmo espírito de exaltação própria que tinha
feito que o povo pedisse um rei, não o tivesse feito rebelde ante as repreensões de Deus
(ver 1Sam. 15:22, 23). Davi começou a reinar com boas perspectivas de êxito.
Nos últimos anos de sua vida, Davi procurou fortalecer a Salomão contra os
pecados que o tinham conduzido conseqüências tão trágicas a ele e a seu povo (ver
Patriarcas e Profetas, 816; 1Reis 2:1-4). Salomão começou seu reinado com humildade
e consagração, pelo qual o Senhor o abençoou com uma prosperidade sem par (1Reis 3:5-
15). Sem dúvida, essa foi a idade de ouro da monarquia hebréia. A fama de Salomão se
estendeu por grande parte do mundo, e muitos quiseram escutar sua sabedoria (1Reis
4:31-34; 10:1-13). A poligamia foi um de seus grandes enganos. Muitas de suas esposas
eram idólatras (1Reis 11:1- 4). A influência dessas mulheres o separou de Deus.
4. Tema
O tema do livro dos Provérbios é a exaltação da sabedoria, que se descreve como
“o temor do Senhor” (caps. 1:1-7; 9:10). Embora a sabedoria apóia-se em manter uma
relação correta com Deus, o livro não é na verdade um tratado religioso. A maior parte
de sua instrução é ética e moral, e não espiritual. “Seus princípios de diligência, honradez,
economia, temperança e pureza, são o segredo do verdadeiro êxito. Estes princípios,
segundo os apresenta o livro de Provérbios, constituem um tesouro de sabedoria prática"

O LIVRO DE ECLESIASTES

1. Título
O nome deste livro em hebreu é Qohéleth, “Pregador”. Qohéleth se refere
provavelmente ao que "convoca" uma reunião, ou ao "orador" ou "pregador" oficial de
uma reunião tal. A forma hebréia feminina, e seu uso com uma forma verbal de gênero
feminino no cap. 7:27, sugere a possibilidade de que designe não só a Salomão como
"pregador", mas também à sabedoria divina que fala por seu intermédio. Figuradamente,
a Sabedoria se dirige ao povo (Prov. 1:20). Desta maneira, Qohéleth aparece como
instrumento para a comunicação da sabedoria divina, e também como a Sabedoria
personificada.
O título do Qohéleth em grego e em latim foi Eclesiastes, que possivelmente seja
uma tradução de Qohéleth. O significado é algo similar. Qohéleth deriva do Heb. qahal,
"convocar a uma assembléia", cuja forma essencial significa "reunião", ou
"congregação". Em grego, a palavra que significa "congregação" deriva da raiz verbal
kalés "chamar", cuja forma essencial é ekk'lesía, "igreja".

2. Autor
Dos tempos mais antigos, e por consenso universal, considerou-se ao rei Salomão
como autor do Eclesiastes (ver Profetas e Reis, 62). A frase descritiva hebréia, "filho de
David, rei em Jerusalém" (cap. 1:1), considerou-se como uma prova suficiente da
paternidade literária de Salomão. Martinho Lutero, em sua obra Tischreden, foi o primeiro
em pôr em dúvida que Salomão fora o autor do Eclesiastes.
Dos tempos mais antigos, até Lutero, também foi opinião unânime de todos os que
escreveram sobre o Eclesiastes, que Provérbios, Eclesiastes e Cantares eram obra de um
mesmo autor. Entretanto, notou-se que há diferenças de estilo literário. Mas esta diferença
do estilo do Eclesiastes, quando o compara com o dos Provérbios e Cantares, pode-se
atribuir facilmente ao feito de que tratam temas distintos, ou a uma avançada maturidade
em um período posterior da vida de Salomão. Cantares poderia corresponder ao tempo
do primeiro amor de Salomão para com Deus; Provérbios, com um período posterior, e
Eclesiastes, com sua velhice.
Desprezar a crença de que Salomão é o autor - como o faz a maioria dos escritores
modernos - é ficar completamente à deriva com respeito ao autor de Eclesiastes.
Certamente não há nenhum fundamento para atribuir o livro a nenhum outro autor. Tal
opinião faz que o “Pregador” do cap. 1:1 seja uma mera figura literária que escreveu “com
o espírito e o poder” do rei Salomão (ver Luc. 1:17).
3. Marco Histórico
O fundo histórico de Eclesiastes se estabelece claramente no livro mesmo. Depois
do prólogo, vers. 1- 11, aparece uma breve declaração do próprio Salomão: “Eu o
Pregador fui rei sobre Israel em Jerusalém” (cap. 1:12). Em hebreu o verbo "fui" está em
tempo perfeito, a mesma forma que haveria empregado Salomão ao dirigir a palavra a
uma assembléia convocada em sua velhice.
Como ainda é rei, faz uma declaração com respeito à sua própria experiência
pessoal. Refere-se, não tanto a sucessos históricos, com os quais sem dúvida seus ouvintes
estavam bem familiarizados, como a seu próprio esforço por alcançar a felicidade.

4. Tema
Embora Salomão ocupou um lugar eminente entre os reis hebreus, tanto em
sabedoria como em prosperidade temporária, relata no Eclesiastes a inutilidade de todas
estas vantagens para obter a felicidade verdadeira e estável. E como alcançará o homem
a felicidade? Cooperando com seu Criador e cumprindo assim o propósito divino para a
existência humana.
No livro do Eclesiastes se apresenta ao povo de Deus, não como uma nação
escolhida, mas sim como uma assembléia de indivíduos que se reúne sob a direção do
Qohéleth (Pregador). O debate da assembléia concerne aos interesses do indivíduo como
membro do grupo, responsável ante Deus direta e pessoalmente. O Eclesiastes
proporciona assim uma transição adequada do Israel segundo a carne ao Israel segundo o
espírito.
Portanto, no estudo do livro de Eclesiastes é extremamente importante diferenciar
entre o raciocínio sutil e pervertido ao qual se refere Salomão, e o discernimento mais
claro que seguiu a seu arrependimento. O contexto de uma declaração freqüentemente
demonstra se Salomão se refere ao falso raciocínio de anos anteriores, ou às reflexões
depuradas dos dias de seu arrependimento. Deve notar-se também que Salomão usa a
palavra "sabedoria" para referir-se tanto à sabedoria mundana (caps. 1:18; 7:12; etc.)
como à verdadeira sabedoria (caps. 7:19; 8:1; 10:1; etc.). Quando começou a procurar
deleites e a viver insensatamente, esperava desfrutar de todos os prazeres do pecado e ao
mesmo tempo reter sua sabedoria e são julgamento (cap. 2:3). Em meio de seu “desvio”,
acreditava-se sábio (cap. 2:9), mas não se dava conta de seu auto- engano até já passados
muitos anos e, como o filho pródigo (Luc. 15:17), voltou em si, mas como um homem
mais triste e mais sábio (cap. 7:23). Tal é o engano do pecado, como o compreendeu Eva
para seu desgosto e amarga desilusão (ver Gên. 3:5-7).

O LIVRO DE CANTARES
1. Título

Este livro se conhece usualmente como Cantares de Salomão. Seu nome latino é
Canticum Canticorum, ou seja, o “Cântico dos Cânticos”. Em hebreu se chama Shir-
hashshirim, o “canto dos cantos" ou "o canto por excelência", talvez uma forma
idiomática para significar "o melhor dos muitos cantos de Salomão", assim como "Rei de
reis" significa "o Rei supremo". Salomão "compôs três mil provérbios, e seus cânticos
foram mil e cinco" (1Reis 4:32).
2. Autor
Tanto o título como a tradição favorecem a paternidade literária de Salomão.
Parece algo estranho que não se preservou para nós nenhum só dos muitos cantos escritos
por Salomão (1Reis 4:32). Alguns atribuem a ele os Salmos 72 e 127.

3. Marco Histórico
O Cantares apareceu na idade de ouro da monarquia hebréia. Parece como se o rei
tivesse escrito a respeito de seus próprios amores. E então surge a pergunta em forma
espontânea: para qual de suas muitas esposas ele compôs esta canção de amor? Salomão
amou a muitas mulheres estrangeiras (1Reis 11:1).
Sulamita (Cant. 6:13) deveria provavelmente escrever-se sunamita (ver 1Reis
1:3), conforme o sugere a LXX. Se assim fora, a donzela era oriunda de Suném, povo do
território de Issacar (ver Jos. 19:18), a 11,2 km. ao leste de Megido.

4. Tema
Cantares é uma bela canção amorosa oriental, escrita em forma de diálogo lírico
com certa distribuição ou movimento dramático. Alguns consideram este livro como uma
antologia de canções de amor, possivelmente de diferentes autores, e não como uma obra
com um plano unificado, apoiados na dificuldade para encontrar a relação devida entre
as distintas partes do poema.
Outros advogam por sua unidade. A favor desta última opinião se apresentam as
seguintes considerações: (1) o nome de Salomão ocupa um lugar destacado em todo o
livro (caps. 1:1, 5; 3:7, 9, 11; 8:11, 12); (2) repetem-se palavras, ilustrações e figuras
similares (cap. 2:16, cf, cap. 6:3; cap. 2:5, cf. cap. 5:8); (3) as referências à família da
noiva são conseqüentes; só se mencionam a mãe e os irmãos, nunca ao pai (ver caps. 1:6;
3:4; 8:2).
Embora todo o Cantares é aparentemente uma história de amor entre Salomão e
uma donzela camponesa do norte da Palestina com quem o rei se casou só por amor, serve
como uma formosa ilustração do amor de Cristo pela igreja, tomada em conjunto e
individualmente. Tanto o AT como o NT ilustram a tenra união entre Deus e Seu povo,
mediante a relação de um marido com sua esposa (ver Isa. 54:4, 5; Jer. 3:14; 2Cor. 11:2).
Posto que Cantares é um poema oriental, muitas de suas figuras resultam estranhas
para a mente ocidental, o que deve se ter em conta ao estudá-lo. Também terá que ter
presente o mundo oriental antigo em que se escreveu o poema, pois em dito mundo e
época as pessoas falavam em forma mais direta sobre muitos assuntos íntimos, diferente
do que se faz em nosso mundo ocidental moderno.
INTRODUÇÃO AOS LIVROS PROFÉTICOS

Missão dos Profetas – I

(1) Títulos

Além de serem chamados de “profetas”, também recebiam outros títulos:

1 - Videntes - viam o que ninguém mais via


II Reis 6:8-23
Percebiam o significado dos acontecimentos
Ex.: o caso do rei Ezequias (o sol voltando 10 graus)
I Sam. 9:9 - “profeta” = vidente

2 - Homens de Deus
Deut. 33:1
I Sam. 2:27
I Reis 17:18

3 - Servos de Deus
Josué 1:1, 2
II Reis 17:13, 23
Esdras 9:11
Jeremias 7:25

(2) Atividades

Ser profeta é possuir a faculdade de receber uma revelação especial de Deus e de


comunicá- la aos homens, quer falando, quer escrevendo.
Nabhti - aquele que fala por outro (porta-voz);
A obra de um profeta não está relacionada apenas a anunciar o futuro, mas sim,
relaciona-se com o passado, presente e futuro. Ex.: Ezequiel em visão foi transportado
até Babilônia onde viu o povo de Deus envolvido em idolatrias.
Houve profetas que não fizeram profecias para um futuro distante. Ex.: Elias
(profecia sobre a chuva), Eliseu, João Batista.
O termo profeta é muito amplo e abrangente. Alguns profetizaram apenas em
tempos especiais e curtos; Ex.: João Batista - apenas 1 ano; Ageu 4 meses. Outros
profetizaram durante 50, 60 anos (Ex.: Jeremias, Isaías).
Alguns escreveram, outros não. Alguns foram levantados por Deus em períodos
de grandes crises (Ex.: Elias, Oséias e Jeremias).
Missão dos Profetas – II
(1) Deus usou Seus profetas em diversas atividades

1 - Obra Educacional
Fundaram e incentivaram a escola dos profetas.
2 - Obra de Saúde
Trouxeram cura às pessoas.
Ex.: Naamã (Eliseu), rei Ezequias (Isaías), morte na panela (Elias)
3 - Obra de repreender os pecados
Ex. Natã - Davi
4 - Obra de repreender os líderes por má condução do povo de Deus Ex.: Samuel - Saul;
Elias - Acabe
5 - Produzir reformas entre o povo de Deus Ex.: Isaías e Miquéias - rei Ezequias Elias,
no Carmelo - rei Acabe
6 - Salvar Seu povo em momentos de crise
No reinado de Josafá - ataque dos edomitas, moabitas, amonitas.
Oração, jejum, reunião solene - dom de profecia a Jaaziel, levita - II Cro. 20.
7 - Para escreverem as mensagens de Deus para Seu povo
8 - Para instruir sobre as grandes verdades a respeito de Deus e do homem Ex.: Isaías
9 - Consolar e exortar os que confiavam e obedeciam a Deus
10 - Para a previsão de eventos vindouros

(2) Profecias Condicionais.

Centenas de promessas não se cumpriram para Israel literal, porque se desviaram


do caminho de Deus.

O LIVRO DE ISAÍAS

1. Título
O título do livro do Isaías nos manuscritos hebreus, como também na LXX, é
"Isaías". Em Luc. 4:17, o livro se chama "o livro do profeta Isaías", e em Atos 8:30, o
"profeta Isaías".

2. Autor
O profeta Isaías foi o autor do livro que leva seu nome. O filho de Amoz foi
chamado ao ofício profético sendo jovem, para fins do reinado de Uzías (Azarías, 790-
739 a.C.). Segundo o Talmud babilônico, Isaías foi morto por Manassés (2Crôn. 33); o
mesmo afirma Ellen White (Profetas e Reis, 281), a qual confirma as palavras de Heb.
11:37, que alguns foram serrados, como uma descrição da sorte de Isaías.
3. Marco Histórico
A localização cronológica do livro do Isaías é precisa, e o período do qual provém
é bem conhecido na história do Próximo Oriente. Isaías foi chamado a seu cargo profético
antes de que o fora dada a visão da glória divina que se acha no cap. 6, e levou a cabo seu
ministério durante os reinados do Uzias, Jotão, Acaz e Ezequías (Isa. 1:1).

4. Tema
Isaías viveu em um mundo convulsionado. Tanto para Judá como para Israel foi
um tempo de perigo e crise. O povo de Deus tinha se envolvido em muitos graves
pecados. Em tempo de Azarias (Uzías) de Judá e Jeroboão II de Israel ambas nações
tinham chegado a ser fortes e prósperas. Mas a prosperidade material tinha produzido
decadência espiritual. O povo deixou a Deus e Seus caminhos de justiça. As condições
morais e sociais eram muito parecidas nas duas nações.
Isaías asseverou que o mundo inteiro era governado por um Deus, um Deus que
exigia justiça, não só de parte dos hebreus, mas também de todas as nações da terra, e que
julgaria a todos os povos que persistissem em seus caminhos de impiedade. Os
julgamentos do Senhor cairiam sobre Assíria e Babilônia, sobre Filistéia e Egito, sobre
Moabe, Síria e Tiro. Finalmente, toda a terra seria completamente arruinada como
resultado de sua iniqüidade. Só Deus seria elogiado, e Seu povo Lhe renderia culto em
um mundo novo de gozo e paz perfeitos.
Com justiça se chama a Isaías de “o profeta messiânico”. Nenhum outro parece
haver compreendido tão claramente a santidade e grandeza de Deus, a pessoa e missão de
Cristo, e o propósito glorioso de Deus para Sua igreja. Com justiça Isaías é considerado
rei dos célebres profetas de Israel, e seus escritos são a obra “mestra” de todos os escritos
proféticos.

O LIVRO DE JEREMIAS

1. Título
O livro recebe seu nome de seu personagem principal, Jeremias. Em hebraico, o
nome aparece em duas formas: (1) Yirmeyahu (cap. 1:1, 11; 29:27; 36:4; etc.), e (2)
Yirmeyah (cap. 27:1; 28:5-6, 10-12, 15; 29:1; etc.). O equivalente em grego para ambas
as formas é Ieremías, do qual se deriva “Jeremias” em português.
As primeiras palavras da profecia constituem um título do livro: "As palavras de
Jeremias". Na LXX a frase inicial diz: "A palavra de Deus que veio a Jeremias", a qual é
parecida com outras que se empregam usualmente em outros livros proféticos do AT (ver
Eze. 1:3; Ose. 1:1; Joel 1:1; etc.).

2. Autor
Jeremias é o autor da maior parte do livro. A tarefa de redigi-lo foi confiada a
Baruc, seu fiel secretário, filho de Nerías (cap. 36:4, 27-28, 32). Baruc também pôde ter
redigido, compilado e preservado o material do livro, e ter contribuído nas narrações
biográficas que contém. Seu posto como "o escriba" e secretário de Jeremias implica que
Baruc era muito culto. Segundo o historiador judeu Josefo (Antiguidades X. 9.1), Baruc
descendia de uma família distinta de Judá. Parece que seu irmão era o principal intendente
de Sedequías, quem acompanhou ao rei a Babilônia (ver com. Jer. 51:59).
O capítulo final do livro (cap. 52) consta de um sumário histórico - não uma
profecia - que se estende muito mais à frente do tempo do ministério de Jeremias,
possivelmente escrito posteriormente por outra pessoa. Quem o escreveu foi muito
cuidadoso em esclarecer que este capítulo não era obra do profeta Jeremias. Antes de
acrescentar este apêndice histórico, escreveu: "Até aqui são as palavras de Jeremias" (cap.
51:64).

3. Marco Histórico
Durante os primeiros dias do ministério de Jeremias, três grandes potências
(Assíria, Egito e Babilônia) lutavam por exercer a supremacia. Sob Assurbanipal (669-
627? a.C.) a Assíria tinha chegado a seu apogeu, mas começava já a declinar.
O ministério de Jeremias abrangeu os últimos 40 anos da existência de Judá como
reino. Cinco reis ocuparam o trono durante este período. A cada um deles Jeremias deu
mensagens de reforma e reavivamento espiritual.

4. Tema
O livro de Jeremias se compõe de uma série de sermões proféticos, combinados
com dados históricos e biográficos concernentes aos últimos dias do reino de Judá.
Fazendo uso de quanto estava a seu alcance, Jeremias procurou conter a rápida decadência
de Judá, que rodava pelo pendente da depravação moral para a ruína. Mas seus esforços
em favor da nação foram quase totalmente inúteis. Suas exortações ao arrependimento
caíram em ouvidos surdos.
Jeremias foi o profeta da religião sincera. Suas mensagens convidavam a
abandonar o externo e superficial, para voltar-se para o interno e real. Ensinava que a
corrupção tem sua origem em um coração ímpio (cap. 17:9), e que sem um novo coração,
novas intenções e um novo espírito, o homem é incapaz de fazer o bom (cap. 13:23).

O LIVRO DE LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS

1. Título
A primeira palavra do livro de Lamentações, em hebraico é 'ekah, "como!" Esta
mesma palavra se usa na Bíblia hebréia como o nome do livro. O Talmud indica que os
judeus da Antigüidade também conheciam o livro com o nome de Qinoth,
"Lamentações", título que foi traduzido na Septuaginta como Threnoi. A Vulgata tomou
o título grego e o ampliou com uma declaração da paternidade literária tradicional do
livro.

2. Autor

Desde a Antigüidade, tanto os judeus como os cristãos consideraram as


Lamentações como obra do profeta Jeremias. O testemunho mais antigo a respeito se acha
nas primeiras palavras do livro tal como estão na LXX: "E aconteceu que depois de que
Israel foi levado cativo e Jerusalém foi desolada, Jeremias se sentou a chorar e se
lamentou com esta lamentação por Jerusalém, e disse...". Embora não há evidência de
que esta declaração houvesse estado alguma vez no texto hebreu, entretanto, indica a
crença de uma parte dos judeus pelo menos já no século II a.C. No Talmud, os targuns, e
os escritos do grande erudito cristão hebreu Jerônimo – que traduziu a Bíblia ao latim
perto do ano 400 d.C. – encontram-se testemunhos posteriores que afirmam que Jeremias
é o autor deste livro.
Os eruditos, tanto os críticos como os conservadores, concordam em que as
Lamentações foram escritas nos dias de Jeremias. Além disso, há um notável paralelismo
de estilo e de tema entre a profecia de Jeremias e as Lamentações, que o indicam como
seu autor. Em vista da falta de uma evidência definitiva de que ele não seja o autor, não
há nenhuma razão para não tomar em conta a crença antiga dos judeus de que Jeremias
escreveu as Lamentações (ver Profetas e Reis, 339-341).

3. Marco Histórico
O marco histórico do livro das Lamentações corresponde aos dias finais do reino
de Judá, em maneira especial aos da destruição de Jerusalém e as desgraças que a
acompanharam, tão antes como depois do cerco final da cidade. Depois da morte do bom
rei Josías, a situação política, social e religiosa se deteriorou rapidamente durante os
reinados sucessivos dos que o sucederam. Os habitantes de Jerusalém sofreram as
penalidades mais intensas durante o cerco final da cidade (588-586 a.C.). Virtualmente
toda a população de Judá foi varrida pelas ondas sucessivas da conquista e o cativeiro
babilônico. Só os mais pobres da terra foram deixados, pulverizados por todas as cidades
e o campo semi-despovoados. Por isso não terá que maravilhar-se porque o livro das
Lamentações anuncie em tons tristes a dor e desespero.

4. Tema
As Lamentações são a culminação das profecias anteriores de que a destruição
viria se o povo não se afastasse dos muitos pecados. Dão testemunho do cumprimento
certo dos castigos divinos anunciados. Através do quadro de desolação corre um fio de
esperança de que o Senhor perdoaria e aliviaria os sofrimentos de Seu povo. No capítulo
final, esta esperança chega a converter-se em uma oração (Lam. 5:21).

O LIVRO DE EZEQUIEL

1. Título
Em hebreu o livro recebe seu título do nome de seu autor, Yechezqe'l, que
significa: "A quem Deus fortalecerá".

2. Autor
Até anos recentes a autenticidade e canonicidade do livro de Ezequiel não tinha
sido objeto de sérios ataques. Entretanto, os eruditos conservadores, assim como muitos
da escola mais rigorosamente crítica, ainda mantêm a posição tradicional de que Ezequiel
mesmo foi o autor da compilação dos pronunciamentos proféticos que agora leva seu
nome.
3. Marco Histórico
Ezequiel começou sua profecia em 593/92 a.C. O reino norte de Israel havia
desaparecido fazia mais de 100 anos, e se aproximava rapidamente a queda de Judá. Já
tinha começado o cativeiro babilônico quando em 605 a.C. Nabucodonosor, rei de
Babilônia, veio contra Jerusalém (Dan. 1:1).
Tais foram os tempos turbulentos em que Ezequiel, sendo ainda jovem, foi
chamado ao ofício profético. A perspectiva não era nada boa. O castigo que já tinha caído
sobre Jerusalém, em vez de fazer que repensassem os habitantes de Judá, pareceu só
inundá-los mais profundamente na apostasia e o vício. Tampouco quiseram submeter-se
à "disciplina" (Heb. 12:11) os exilados junto ao rio do Quebar. Eles também continuaram
sendo rebeldes e idólatras (Eze. 2:3; 20:39), e revelaram estarem pouco dispostos a
praticar uma reforma completa.

4. Tema
As mensagens do livro de Ezequiel esclarecem o propósito de Deus para com Seu
povo no transe amargo do cativeiro babilônico. Durante séculos os profetas tinham
aconselhado e admoestado a Israel, e entretanto a nação se tinha submerso cada vez mais
na apostasia. Ao fim resultou evidente que o povo escolhido jamais alcançaria as metas
que Deus lhe tinha proposto como nação, a menos que se empregassem medidas drásticas
para lhe ensinar as lições da obediência e a cooperação com Deus. Portanto, Ele lhe
permitiu que aprendesse em meio da adversidade as lições que tinha recusado aprender
durante os tempos de prosperidade.
O livro do Ezequiel se compõe de duas partes distintas. Na primeira, caps. 1:1 a
33:20, registram-se as mensagens dadas por Ezequiel aos cativos perto do rio Quebar, nas
proximidades de Babilônia, em sua maior parte antes da queda de Jerusalém em 586 a.C.
A segunda (caps. 33:21 a 48:35) antecipa a terminação do cativeiro, e tinha o propósito
de infundir esperança devido a essa restauração. Deus tinha a intenção de exortar
vivamente por meio de Ezequiel a Israel do cativeiro, para que aceitasse finalmente o
plano divino para ele. Uma exortação tal resultava muito apropriada ante os novos
acontecimentos históricos. O plano do livro corresponde com um estilo evangélico
característico. Quão diferente teria sido a história de Israel se tivesse aceitado o veemente
rogo do profeta!
O LIVRO DE DANIEL

1. Título
O livro leva o nome de seu protagonista, Daniel. O costume de dar a vários livros
do AT o nome de seu principal herói pode ver-se nos livros de Josué, Samuel, Ester, Jó,
etc. Mas tal título não indica necessariamente que essa pessoa foi a autora do livro,
embora possa implicar isso, como é o caso do livro de Daniel.

2. Autor
A opinião tradicional tanto de judeus como de cristãos é que o livro foi escrito
no século VI a.C., e que Daniel foi seu autor.

3. Marco Histórico
O livro de Daniel contém (1) um registro de certos incidentes históricos da vida
de Daniel e de seus três amigos, judeus deportados que estavam ao serviço do governo
de Babilônia, e (2) o registro de um sonho profético do rei Nabucodonosor, interpretado
por Daniel, junto com o registro de visões recebidas pelo profeta mesmo. Embora o
livro foi escrito em Babilônia durante o cativeiro e pouco depois dele, não tinha o
propósito de proporcionar uma história do desterro dos judeus, ou nenhuma biografia de
Daniel. O livro relata as vicissitudes principais da vida do estadista-profeta e de seus
companheiros, e foi compilado com fins específicos.

4. Tema
Com justiça poderíamos chamar o livro de Daniel um manual de história e de
profecia. A profecia é uma visão antecipada da história; a história é um repasse
retrospectivo da profecia. O elemento preditivo permite que o povo de Deus veja as
coisas transitivas à luz da eternidade, o põe alerta para atuar com eficácia em
determinados momentos, facilita a preparação pessoal para a crise final e, ao cumprida a
predição, proporciona uma base firme para a fé.
As profecias de Daniel estão estreitamente relacionadas com as do livro do
Apocalipse. Em grande medida o Apocalipse trata do mesmo tema, mas faz ressaltar em
forma especial o papel da igreja cristã como povo escolhido de Deus. Em conseqüência,
alguns detalhes que podem parecer escuros no livro de Daniel com freqüência podem
esclarecer-se ao compará-los com o livro do Apocalipse. Daniel recebeu instruções de
fechar e selar aquela parte de sua profecia referente aos últimos dias até que, mediante
um estudo diligente do livro, aumentasse o conhecimento de seu conteúdo e de seu
importância (cap. 12:4). Embora a porção da profecia de Daniel relacionada com os
últimos dias foi selada, João recebeu instruções específicas de não selar "as palavras da
profecia" de seu livro, "porque o tempo está perto" (Apoc. 22:10). De modo que para
obter uma interpretação mais clara de qualquer porção do livro de Daniel que seja difícil
de entender, devêssemos estudar cuidadosamente o livro do Apocalipse em busca de luz
para dissipar as trevas.
O LIVRO DE OSÉIAS

1. Título
O livro do Oséias se denomina assim pelo nome do profeta que o escreveu. O
nome Oséias (Heb. Hoshea') é uma forma abreviada do Heb. Hosha'eyah (Jer 42:1; 43:2),
que significa "Jeová salvou".

2. Autor
Não se sabe nada mais da história da família de Oséias que o que se diz nos
versículos com que começa sua profecia. O nome do pai do profeta, Beeri (Heb. B'eri,
"meu poço"), não revela a tribo a qual pertencia Oséias. Não sabemos nada dos
acontecimentos dos últimos dias de Oséias, nem do lugar nem o tempo de sua morte.
Entretanto, a evidência interna esclarece que Oséias pertencia ao reino do norte, Israel, e
que ali exerceu seu ministério.

3. Marco Histórico
Os reinados durante os quais Oséias profetizou estão localizados como segue (os
anos são a.C.): Uzías (790-739), Jotão (750-731), Acaz (735-715) e Ezequías (729-686),
reis de Judá; e Jeroboão II (793-753), rei de Israel. Oséias deve ter começado seu
ministério muito antes de 753 a.C., e teve que continuar em atividade até algum tempo
depois de 729 a.C.
Viveu no período mais tenebroso da história do reino do Israel, precisamente antes
de que a nação fora levada a cativeiro pela Assíria. Como o livro de Oséias não faz
menção nenhuma deste acontecimento, é provável que fora escrito antes da ruína final do
reino do norte.

4. Tema
O tema predominante do livro de Oséias é o amor de Deus para com Seu povo
extraviado. As experiências pelas quais passou o profeta em sua vida familiar e os
sentimentos de seu próprio coração para com sua esposa infiel, deram-lhe uma idéia das
profundidades insondáveis do amor do Pai para com Seu povo.
A terrível maldade do reino do norte aparece ainda mais tenebrosa à luz desse
amor divino, e Oséias de maneira nenhuma desculpa ao povo por sua conduta. O profeta
também descreve com tons lôbregos os terríveis castigos que cairiam sobre Jerusalém se
persistisse em sua impiedade. Estas admoestações não são ameaças, mas declarações de
feitos que mostram que o castigo segue em seguida ao pecado. Entretanto, em tudo o que
escreve, Oséias expressa o tenro amor de Deus para com Seu povo extraviado. O livro
está cheio de exortações ao arrependimento e mensagens de esperança para os que
quisessem voltar para seu Pai de amor.
O LIVRO DE JOEL

1. Título
Este livro recebeu seu nome do personagem cujas profecias apresenta – Joel, do Heb.
Yow’el, que possivelmente significa "Jeová é Deus".

2. Autor
Não sabemos nada de Joel exceto o que se revela em seu livro. Sua missão profética se
relacionou com Judá e Jerusalém (cap. 2:1, 15; 3:1, 6, 18, 20-21). Em toda sua profecia
não há uma só menção de Israel.

3. Marco Histórico
À diferença de muitos outros profetas (Isa. 1:1; Ose. 1:1, Amós 1:1; etc.), não nos
diz nada quanto ao rei, ou os reis, em cujo tempo Joel profetizou. Portanto, é necessário
depender da evidência interna do livro para estabelecer a data. Alguns consideram que
Joel é o mais antigo dos profetas maiores e menores; outros o consideram como pós-
exílico. Um terceiro ponto de vista situa Joel no século VII, durante os primeiros anos de
Josias.
Joel ocupa um lugar importante entre os profetas hebreus, e foi classificado com
Isaías e Habacuque por seu estilo sublime e elevado. É notável também por suas vivas
descrições e o pitoresco de sua dicção. Seu estilo é puro e claro.

4. Tema
O desastre nacional, quer seja real ou figurado, dá lugar a uma exortação ao
arrependimento (cap. 1:13-14; 2:1, 12-17), e para uma dissertação sobre o "dia de Jehová"
(cap. 1:15; 2:1-2, 11, 31; 3:14). A visão da glória futura contempla o estabelecimento dos
judeus em sua própria terra, cuja produtividade foi restabelecida, e que goza do favor do
céu tanto temporal como espiritualmente. Apresenta, além disso, a oposição que
despertaria e o esforço das nações inimigas para esmagar a nação próspera, e finalmente
o castigo de Deus sobre esses inimigos e a prosperidade subseqüente e estável da nação
judia.

O LIVRO DE AMÓS

1. Título
Como acontece com outros livros incluídos entre os profetas menores, o título
deste livro corresponde ao nome do autor: Amós. O nome Amós não se acha em nenhuma
outra parte do AT.
2. Autor
Pelo resumo de sua vida (cap. 7:14-15), sabemos que era "boiadeiro" e recolhedor
de "figos silvestres". Fica a impressão de que embora era pobre, era independente; o qual
poderia explicar por que podia deixar seu rebanho por um tempo. Não era um homem
instruído como entendemos hoje este termo, nem tampouco se preparou para sua missão
nas escolas dos profetas. O que faz ao homem idôneo para o serviço divino depende mais
do que ele é, do que do que ele tem.

3. Marco Histórico
Amós foi chamado para cumprir sua missão em um tempo quando Israel e Judá
eram prósperos. Nos dias de Jeroboão II, Israel estava no ponto máximo de seu poder (ver
Ose. 2:8). O rei tinha derrotado aos sírios e alargado o território do reino do norte até o
limite setentrional que possuíra tido quando o reino estava unido.
Como Uzías foi rei do Judá desde 767 até 750 a.C., e Jeroboão II foi rei de Israel
desde 782 até 753 a.C., é provável então que o ministério de Amós transcorresse em
algum tempo entre 767 e 753 a.C. Não há indício algum no livro quanto à duração de sua
obra profética ativa. A declaração "dois anos antes do terremoto" (cap. 1:1) não nos ajuda,
porque não há maneira de descobrir quando aconteceu esse terremoto. Sem dúvida Amós
foi contemporâneo do profeta Oséias, mas de maior idade.

4. Tema
O propósito principal de Amós foi chamar a atenção do povo de Deus a seus
pecados e, até onde fora possível, levá-lo ao arrependimento. Assim como o espírito de
Paulo se comovia em Atenas quando viu quão completamente a cidade estava entregue à
idolatria, assim também Amós deve haver-se comovido pelo luxo e pecados que ele
descreve tão vívida e detalhadamente. Ele repreendeu os pecados causados pela
prosperidade material, os esbanjamentos, as orgias e a libertinagem dos ricos, os quais
oprimiam aos pobres e pervertiam o direito mediante subornos e extorsões. Entretanto,
seu livro termina com um quadro glorioso do triunfo final de justiça sobre a iniqüidade.

O LIVRO DE OBADIAS

1. Título
O livro leva o nome do profeta cuja mensagem apresenta. Obadias (Heb.
'Obadyah) significa "servo de Jeová". Obadias era um nome comum entre os judeus dos
tempos do AT (cf. 1Reis. 18:3-4; 1Crôn. 3:21; 7:3; 12:9; etc.).

2. Autor
Embora se chamavam Obadias uma boa quantidade de pessoas dos tempos do AT,
nenhum pode ser identificado com certeza como o autor do livro profético. Algumas
referências ao reino de Judá (no Sul) indicam que o Obadias do livro pertencia a essa
nação.
3. Marco Histórico
Sendo que Obadias não identifica aos reis durante cujos reinos ministrou, como
fizeram-no Oséias e outros, só dependemos da evidência interna para determinar a data
do livro. A solução do problema depende de saber quando aconteceu o saque de Jerusalém
a que se faz referência nos vers. 10-14.
Segundo uma opinião, isso aconteceu quando Jerusalém foi conquistada pelos
filisteus e os árabes (2Crôn. 21:8, 16-17). Dá-se por aceito que os edomitas estavam
incluídos no termo geral "árabes", já que durante o reinado de Jorão, "rebelou-se Edom
contra o domínio de Judá" (2Reis 8:20-22). Isto localizaria a profecia Obadias no século
IX a.C. De acordo com uma segunda opinião, Obadias se refere às calamidades que
caíram sobre Judá no tempo das invasões babilônicas, o que culminou com a destruição
de Jerusalém em 586 a.C. A similitude da recriminação de Obadias com a de Jeremias
(Jer. 49:7-22) e de Ezequiel (Eze. 25:12-14; 35; cf. Sal. 137:7), contra Edom, empregou-
se como uma razão para apoiar a última data.

4. Tema
O livro descreve o castigo que tem que vir sobre Edom por causa de sua crueldade
com Judá durante um tempo de crise, e o triunfo final do povo e do reino de Deus. Os
edomitas eram descendentes do Esaú (Gên. 36:1), o irmão de Jacó. A hostilidade que
existia entre os edomitas e os judeus era extremamente inflamada, como o são muitas
vezes as rixas familiares. Depois de anunciar a destruição de Edom, o profeta se refere às
promessas de restauração de Israel. A casa de Jacó "recuperará suas posses" (Obad. 17) e
estenderá seus limites (vers. 19-20).

O LIVRO DE JONAS

1. Título
O livro toma seu nome de seu personagem principal, Jonas (Heb. Yonah), que
significa "pomba".
Yonah se emprega como um término carinhoso em Cant. 2:14; 5:2; 6:9.

2. Autor
Embora em nenhuma parte do livro se declara que Jonas foi seu autor, a opinião
tradicional é que foi ele mesmo. Muitos eruditos modernos se pronunciaram por uma
paternidade pós-exílica embora não negam necessariamente a historicidade de Jonas.
Jonas se identifica como oriundo de Gate-Hefer (2Reis 14:25). Foi ele quem predisse a
prosperidade de Israel. Esta predição se cumpriu nos dias de Jeroboão II
(aproximadamente 793-753 a.C.). De modo que as profecias devem ter sido dadas já antes
do reinado de Jeroboão II ou pouco depois do começo desse reinado.

3. Marco Histórico
O período em que Jonas profetizou foi de grande angústia nacional (2 Reis 14:26-27).
Todos os reis que ocuparam o trono de Israel fizeram o mal à vista do Senhor. Mediante
Jonas o Senhor predisse uma recuperação do poderio nacional. Parece que o alívio que
seguiu teve o propósito de ser um estímulo para que a nação se voltasse para Deus. A
prosperidade foi uma demonstração do que a nação poderia alcançar sob a bênção do
Deus do céu. Entretanto, apesar da bênção divina, Jeroboão "fez o mau ante os olhos de
Jeová" (2Reis 14:24), como o fizeram seus sucessores.

4. Tema
O livro de Jonas é o único entre os doze assim chamados “profetas menores” que
têm forma de relato. Relata a missão de Jonas à cidade de Nínive para anunciar sua pronta
destruição por causa de seus pecados. O profeta alberga dúvidas e está perplexo quanto
ao mandato que Deus lhe deu que fora a Nínive. O mero pensamento de dirigir-se a essa
grande metrópole, as dificuldades e aparentes tropeços da tarefa, fizeram-no fugir, e não
levar a cabo a missão divina. Por não ter estado à altura da fé vigorosa que o teria levado
a dar-se conta de que junto com o mandato divino vinha o poder celestial para cumpri-lo,
Jonas se inundou no desalento, o temor e o desespero (ver Profetas e Reis, 199).
Conhecendo a bondade e longanimidade de Deus, Jonas também temeu que se desse a
mensagem divina, e os pagãos a aceitassem, não aconteceria a ameaçadora destruição que
pronunciava sobre eles. Isto seria para ele uma grande humilhação, como em realidade
aconteceu, e não a pôde suportar (cap, 4:1-2). A princípio desobedeceu, mas por meio de
uma sucessão de acontecimentos foi induzido a cumprir com a missão. Os habitantes do
Nínive arrependeram-se, e por um tempo abandonaram seus pecados. Zangou-se Jonas,
mas Deus justificou a bondade divina.
Entre as lições ensinadas pela profecia do Jonas está a verdade que afirma que a
graça de Deus traz salvação a todos (Tito 2:11), que certamente não estava limitada aos
judeus, mas sim tinha que ser revelada também entre os pagãos. "De maneira que também
aos gentis deu Deus arrependimento para vida" (Atos 11:18). Jesus empregou o que
ocorreu a Jonas no mar como uma ilustração de Sua morte e ressurreição (Mat. 12:39-
40). Essa referência ao livro de Jonas confirma a sua veracidade.
Os expositores do livro do Jonas seguiram duas classes de interpretações: (1) a
histórica, e (2) a alegórica. O segundo método foi adotado pelos que negam a
possibilidade dos elementos milagrosos do livro. O qualificam de distintas maneiras:
lenda, mito, parábola ou alegoria. Os Adventistas crêem no caráter histórico do livro de
Jonas.

O LIVRO DE MIQUÉIAS

1. Título
O livro toma seu nome do profeta cuja mensagem apresenta. Miquéias (Heb.
Mikah) é uma forma abreviada de Mikayah, que significa: "Quem se assemelha a Jeová?".

2. Autor
Nada se sabe do profeta exceto o que revela o próprio livro. O fato de que não se
mencione o nome de seu pai poderia sugerir que era homem de origem humilde. Sem
dúvida era da Judéia, o que se pode deduzir porque só menciona os reis de Judá (cap. 1:1).
Embora “menor”, foi contemporâneo de Isaías e Oséias.
3. Marco Histórico
Assim como Isaías, Miquéias levou a cabo seu ministério profético no período
crítico da última metade do século VIII a.C., quando a Assíria era o poder mundial
dominante. O conteúdo de seu livro apresenta as condições morais e religiosas que
imperavam entre o povo durante os reinados mencionados no livro.

4. Tema
Preponderam dois temas principais: (1) a condenação dos pecados do povo e o
castigo resultante no cativeiro, e (2) a liberação de Israel e a glória e o gozo do reino
messiânico. Por todo o livro de Miquéias alternam as advertências e as promessas, o
castigo e a misericórdia.
As profecias de Miquéias e de Isaías têm muito em comum. Sendo que os dois
profetas eram contemporâneos, e portanto tinham que tratar com as mesmas condições e
assuntos, podemos entender com facilidade por que suas palavras e mensagens são
freqüentemente tão semelhantes. Embora nas primeiras palavras de seu livro Miquéias
nos diz "o que viu sobre Samaria e Jerusalém", sua profecia trata mais de Judá que de
Israel. Apesar de que as dez tribos se separaram de Judá e de Jerusalém, que era o centro
do culto de Jehová, aquelas seguiam sendo o povo de Deus e o Senhor procurava que
novamente fossem leais.

O LIVRO DE NAUM

1. Título
O título do livro consiste simplesmente do nome do profeta que foi seu autor.
Naum (Heb. Najum) significa "consolado" ou "que é consolado".

2. Autor
Não há mais informação quanto a Naum do que aquilo que se acha em sua
profecia.

3. Marco Histórico
Um indício do tempo do ministério profético de Naum se acha na referência à
queda de Nô-Amón (cap. 3:8). Esta cidade (conhecida pelos gregos com o nome de Tebas,
e mais tarde como Dióspolis) foi destruída por Assurbanipal, rei de Assíria, em 663 a.C.
Portanto, ao menos uma parte do ministério de Naum deve haver-se efetuado depois desse
tempo.

4. Tema
O livro tem um tema principal: a futura destruição de Nínive. Por esta razão, a
profecia complementa a mensagem de Jonas. Este pregou o arrependimento a Nínive, e
por haver-se humilhado seus habitantes ante Deus, a cidade foi perdoada. Entretanto,
Nínive recaiu na iniqüidade, e a missão de Naum foi predizer a sentença divina de sua
destruição. O orgulho, a crueldade, e a idolatria de Nínive tinham completado sua medida.
Durante muito tempo os reis de Assíria desafiaram ao Deus do céu e a Sua soberania,
colocando ao Criador do Universo no mesmo nível dos ídolos dos países circunvizinhos
(2Reis 18:33-35; 19:8-22), pois esses reis, ao que parece, levavam a cabo os desejos de
seu Deus Asur ao lutar contra outras nações. A derrota das forças assírias em Judá tinha
sido predita antes por Isaías (Isa. 37:21-38), mas a predição de Naum previu a queda final
da capital mesma do império.

O LIVRO DE HABACUQUE

1. Título
O título deste livro, como o de outros livros dos profetas menores, é simplesmente
o nome do autor. Habacuque, Jabaqquq em hebreu, deriva-se do verbo jabaq, "abraçar".
Alguns relacionaram este nome com a palavra. O nome Habacuque não acha-se em
nenhuma outra parte do AT.

2. Autor
Não se sabe mais de Habacuque do que o que se registra em seu livro. Por
exemplo, não se sabe se, como no caso do Amós (ver Amós 7:14), Habacuque foi
chamado por Deus de alguma outra ocupação, ou se foi especialmente preparado para sua
vocação na escola dos profetas.

3. Marco Histórico
Este livro parece ter sido escrito durante um tempo de terrível apostasia (Profetas
e Reis, 285), possivelmente durante a última parte do reinado de Manassés, durante o
reinado de Amon ou durante a primeira parte do reinado de Josías. É muito provável que
o ministério de Habacuque seguisse mais ou menos de perto ao ministério do profeta
Naum. Esta opinião tem a seu favor o lugar em que está colocado o livro tanto no cânon
hebreu como no grego. Em geral, a data 630 a.C. foi atribuída à sua profecia. O profeta
bem conhecia a crise que Babilônia logo teria que provocar a seu povo por causa de seus
pecados, uma crise que finalmente resultaria no cativeiro de Judá. Habacuque admoestou
antecipadamente à nação quanto a essa crise, e também predisse o castigo divino sobre a
Babilônia idólatra e iníqua, o inimigo de Deus e de Seu povo.

4. Tema
Embora Habacuque lamenta os pecados de Judá e sabe que seu povo merece
castigo, está preocupado pelo resultado das aflições de seu povo. Também se preocupa
com o destino do instrumento que Deus usa para impor esse castigo, os caldeus, que
parecem ser abençoados com uma prosperidade sempre crescente.
Deus responde às cordiais pergunta de seu servo, e mostra a Habacuque que o
castigo dos israelitas é para seu bem final, enquanto que a prosperidade material dos
ímpios, representados por Babilônia, desvanecerá-se como resultado do castigo divino.
Este livro chega a seu apogeu na "oração" do cap. 3, por meio de uma descrição gráfica
da sorte dos ímpios e o galardão triunfante dos justos. Neste contraste, Deus tem o
propósito de revelar ao profeta como o crescente orgulho dos caldeus, e também o de
todos os ímpios, conduz à morte, enquanto que conduz à vida a confiada submissão dos
justos ante Deus, através da sua fé. Nesta ênfase sobre a santidade e a fé, Habacuque se
une a Isaías como um profeta evangélico.
Segue a esta oração do cap. 3 uma revelação da glória e o poder divinos que
apresenta a Deus trabalhando para a salvação de Seus filhos fiéis, e para a derrota de seus
inimigos. O livro termina com uma afirmação de confiança de Habacuque na sabedoria e
êxito final do plano divino.

O LIVRO DE SOFONIAS
1. Título
Como as profecias de outros profetas menores, o livro de Sofonías simplesmente
leva o nome de seu autor. Sofonías, Tsefanyah em hebreu, significa "Jeová escondeu", ou
"Jeová entesourou". Este foi também o nome de outros personagens do AT (1Crôn. 6:36;
Jer. 21:1; Zac. 6:10, 14).

2. Autor
Não sabemos nada deste profeta além do que diz de si mesmo em seu livro. Parece
seguro pelo cap. 1:1 que provinha de uma família distinguida. O feito de que remonte sua
ascendência até Ezequias, poderia considerar-se como uma indicação de que se refere ao
rei de Judá, e portanto implica sua ascendência real (ver com. cap. 1:1).

3. Marco Histórico
O profeta localiza o tempo de sua profecia (cap. 1:1) no reinado do Josías, rei de
Judá (640-609 a.C.). Como Sofonías predisse a queda de Nínive (cap. 2:13) - o que
aconteceu em 612 a.C. -, é muito provável que haja profetizado durante os primeiros anos
do reinado de Josías. Talvez foi contemporâneo de Habacuque.

4. Tema
O livro de Sofonías, como o de Joel, concentra-se no “dia de Jehová” (cf. Isa.
2:12). Não só revela o profeta o castigo vindouro sobre Israel, mas também adverte quanto
ao castigo que virá sobre outras nações. Entretanto, se Sofonías alarmar pelos severos
castigos que anuncia, é só para que o povo possa arrepender- se, procurando justiça e
mansidão (cap. 2:3), para escapar assim do castigo.
O LIVRO DE AGEU
1. Título
O título do livro é simplesmente o nome do profeta que foi seu autor. Ageu,
Heb. Chaggai, significa "festivo", o que possivelmente sugere que nasceu em um dia de
festa.

2. Autor
Ageu foi o primeiro dos três profetas menores pós-exílicos. Não se sabe nada
dele mais que o que está revelado em sua profecia e o que dele se diz no livro de Esdras
(Esd. 5:1; 6:14). Alguns acreditam que era tão idoso quando escreveu as profecias de
seu livro, que tinha visto o templo anterior (ver 2:3). Entretanto, qualquer que tivesse
sido o caso, Ageu pode ser considerado como um elo que vincula o templo antigo com o
novo.

3. Marco Histórico
Quando o povo deixou de trabalhar na casa de Deus e dedicou sua atenção a suas
próprias casas e terras, o Senhor castigou-o com uma seca, e o fez fracassar em todos
seus planos. Durante mais de um ano foi descuidado completamente na construção do
templo.
O Senhor chamou a seu serviço aos profetas Ageu e Zacarias para fazer frente a
esta deplorável situação de letargia espiritual. Suas mensagens de admoestação e
repreensão, de exortação e ânimo, levaram o povo à ação, até que finalmente o trabalho
do templo foi reatado no 2º ano de Darío (1:14-15). Foi só depois de que o povo realmente
reatou o trabalho do templo, confiando no amparo de Deus, quando Darío editou outro
decreto oficial para a reconstrução do templo. Isto confirmou e fortaleceu o decreto
original de Ciro (Esd. 5:3 a 6:13). Sob a liderança inspiradora dos profetas Ageu e
Zacarias, de Zorobabel governador dos repatriados, e do sumo-sacerdote Josué (Esd. 5:1-
2; 6:14), o povo prosseguiu seu trabalho com energia e zelo e completou a construção do
templo no 6º ano de Darío (Esd. 6:15). De modo que tendo em conta os resultados
imediatos e evidentes, deve considerar-se Ageu como um dos profetas de mais êxito.

4. Tema
As quatro mensagens que constituem o livro de Ageu tinham o propósito de
reanimar o espírito desfalecido do povo, e lhe inspirar com o desejo de fazer grandes
coisas para Deus. Ageu se deu conta da importância do templo como a sede visível da
presença de Deus, e como o vigoroso vínculo que se necessita para manter unida à nação
em sua lealdade ao pacto e em sua obediência à lei. Ageu inspirou aos repatriados para
que se esforçassem em todo o possível para a reedificação do templo.
A mensagem de Ageu recebeu - tanto de parte do povo como dos governantes -
uma resposta mais favorável e pronta que a que se deu a qualquer outro profeta. Por
contraste, a mensagem de Jeremías foi repudiado aberta e totalmente. Em realidade, a
maior parte dos profetas encontrou oposição, a qual se manifestou em forma de apatia e
até desdém e perseguição. Mas Ageu destaca-se como o profeta de mais êxito, se a
aceitação imediata de sua mensagem pode considerar-se como a medida do êxito de um
profeta.
A casa do Senhor se terminou em um tempo notavelmente breve graças a um
espírito de cordial cooperação entre os israelitas. O mesmo espírito em nossos dias
conduzirá à terminação da construção da casa espiritual de Deus, e ao estabelecimento de
Seu reino eterno (1 Ped. 2:5; cf. Mat. 24:14). A mensagem de Ageu para a igreja de hoje
em dia não é só de advertência e admoestação mas também de grande estímulo.

O LIVRO DE ZACARIAS

1. Título
O livro leva o nome do personagem cujas profecias apresenta. Zacarias, do
hebraico Zekaryah, que significa "Jeová recorda", ou "Jeová Se acordou". Zacarias era
um nome comum entre os judeus.

2. Autor
Zacarias provavelmente era levita, e pode ter sido sacerdote (Nee. 12:16; cf. Zac.
1:1). É quase seguro que Zacarias nasceu em Babilônia, e começou seu ministério 16 anos
depois da volta do cativeiro, ou seja, em 520/519 a.C.

3. Marco Histórico
Zacarias foi contemporâneo de Ageu (Zac. 1:1; Ag. 1:1). Ver o comentário
referente ao marco histórico de Ageu, citado anteriormente.

4. Tema
Tanto Zacarias como Ageu foram chamados por Deus para animar a aqueles
judeus que, devido à oposição e inimizade que culminou nos dias do falso Esmerdis (522
a.C.), tinham deixado de construir o templo. As profecias de Zacarias "chegaram em
tempo de grande incerteza e ansiedade" (Profetas e Reis, 425). Suas mensagens, que
tratam da obra de Deus e os planos divinos para a restauração, tinham por objeto animar
o zelo decadente dos judeus. Como resultado das mensagens inspiradoras e da liderança
de Ageu e Zacarias, a construção do templo logo foi terminada (Esd. 6:14-15).
As mensagens de Zacarias, que descrevem o glorioso futuro de Jerusalém, foram
condicionais (Zac. 6:15). Por causa de que os judeus, quando voltaram do cativeiro, não
cumpriram com as condições espirituais das quais dependia sua prosperidade, não se
cumpriu o propósito original destas profecias. Entretanto, certos aspectos se cumprirão
na igreja cristã.
O LIVRO DE MALAQUIAS

1. Título
Malaquias, Mal'akyi em hebreu, significa "Meu mensageiro". Entretanto, a
palavra poderia ser uma contração de Mal'akiyah que significaria "mensageiro de Jeová".
Por não achar-se em nenhuma outra parte do AT, alguns acreditaram que Malaquias não
era o nome do profeta, a não ser meramente uma designação dele como "mensageiro" de
Deus.

2. Autor
O profeta não faz nenhuma referência biográfica nem nos dá a data de seu
ministério. Entretanto, fica pouca dúvida de que ele fosse o último dos profetas do AT.
Pelo conteúdo de seu livro é evidente que Malaquias profetizou quando o cativeiro quase
tinha passado ao esquecimento e depois de que o templo tinha sido restaurado e seu culto
instituído por algum tempo. Os abusos condenados por Malaquias são muito parecidos
com os que se produziram durante a ausência de Neemias de Jerusalém, enquanto estava
na corte persa (Nee. 13:6). Muito possivelmente o livro foi escrito ao redor de 425 a.C.
De todos os modos, acredita- se que o livro deve levar a data do tempo de Neemias ou
pouco depois.

3. Marco Histórico

Muitos anos depois do retorno original do cativeiro babilônico, Neemias -


"copeiro" do rei Artaxerxes (ver Nee. 1:11) -, ouviu que não eram boas as condições em
Jerusalém e pediu permissão para visitar seus compatriotas que se encontravam ali. O rei
aceitou facilmente ao pedido, e outorgou a Neemias uma licencia por um período que não
conhecemos (Nee. 5-6). Neemias foi nomeado governador e, começando em 444 a.C.,
levou a cabo uma grande obra de reforma entre os repatriados, durante um período de 12
anos (ver com. Nee. 5:14).
Depois que retornou a Babilônia, passaram alguns anos antes de que voltasse para
Judéia. A sua volta, encontrou uma marcada decadência espiritual que procurou corrigir.
Foi durante este lapso, talvez entre os dois períodos em que Neemias atuou como
governador, quando o Senhor suscitou ao profeta Malaquias para que o povo de novo
servisse sinceramente a Deus.

4. Tema
Em contraste com o emocionante desenvolvimento profético de Zacarías em
relação às possibilidades ilimitadas que se brindavam aos Judeus a sua volta do exílio, a
profecia de Malaquias, um século mais tarde, apresenta uma cena lúgubre de decadência
espiritual progressiva. Os exilados haviam retornado da terra de seu cativeiro à terra da
promessa, mas em seu coração permaneciam no longínquo país da desobediência e o
esquecimento de Deus. "Este descumprimento do propósito divino era muito evidente em
dias de Malaquias". Em realidade, as coisas tinham chegado a um ponto tal que até os
sacerdotes menosprezavam o culto e o serviço a Deus e estavam enfastiados da religião
(cap. 1:6, 13). Deus, por Sua parte, estava cansado de sua infidelidade e de maneira
nenhuma podia aceitar seu culto e seu serviço (cap. 1:10, 13; 2:13, 17). Embora na prática
o pacto se havia anulado por negligência, Deus seguia tolerando misericordiosamente a
Seu povo extraviado.
Deus comissionou ao profeta Malaquias para que desse uma severa mensagem de
admoestação que recordasse aos Judeus o que tinham sido antes como nação, e insistisse-
os a voltar para Deus e reconhecer os requisitos do pacto.
Oito vezes, bondosa e pacientemente, o Senhor se dirige ao povo e a seus
dirigentes religiosos, lhes chamando a atenção a um aspecto atrás de outro de sua
apostasia, e oito vezes, impacientemente, eles recusam reconhecer imperfeição alguma
(cap. 1:2, 6-7; 2:13-14, 17; 3:7-8, 13-14). O paciente esforço de Deus para conseguir que
os israelitas reconhecessem seus enganos do passado, junto com a negação cada vez mais
veemente de parte do povo de haver cometido equívoco alguma, constitui o tema do livro.
A mensagem de Malaquias é particularmente apropriada para a igreja de hoje, e é
comparável à mensagem para a Laodicéia do Apoc. 3:14-22. Como os laodiceanos, os
Judeus dos dias de Malaquias eram completamente insensíveis à sua verdadeira condição
espiritual, e não sentiam necessidade "de nada" (Apoc. 3:17). Eram pobres no que
corresponde ao tesouro celestial, cegos quanto a seus enganos, e nus, ou desprovidos do
caráter perfeito de Jesus Cristo (vers. 17). Como o homem da parábola que não tinha o
vestido das bodas (ver com. Mat. 22:11-13), estavam diante do Rei do universo,
desprezando o vestido da Justiça divina, e se contentavam com seus próprios farrapos
morais. Permanecendo nesta situação, não há esperança para eles.

O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO

Entre o último livro do AT e o primeiro do NT houve um período chamado de


“intertestamentário”. Segundo a Bíblia Anotada (de Charles F. Pfeiffer), o estudo deste
período é importante para compreendermos o contexto no qual Jesus iniciou Seu
ministério.

I. Desenvolvimento Político

A Expressão “400 anos de silêncio”, freqüentemente empregada para descrever o


período entre os últimos eventos do A.T. e o começo dos acontecimentos do N.T. não é
correta nem apropriada. Embora nenhum profeta inspirado se tivesse erguido em Israel
durante aquele período, e o A.T. já estivesse completo aos olhos dos judeus, certos
acontecimentos ocorreram que deram ao judaísmo posterior sua ideologia própria e,
providencialmente, prepararam o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação do Seu
evangelho.

Supremacia Persa

Por cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu


controle sobre a Judéia. O período foi relativamente tranqüilo, pois os persas permitiam
aos judeus o livre exercício de suas instituições religiosas. A Judéia era dirigida pelos
sumo-sacerdotes, que prestavam contas ao governo persa, fato que, ao mesmo tempo,
permitiu aos judeus uma boa medida de autonomia e rebaixou o sacerdócio a uma função
política. Inveja, intriga e até mesmo assassinato tiveram seu papel nas disputas pela honra
de ocupar o sumo sacerdócio. Joanã, filho de Joiada (Nee. 12:22), é conhecido por ter
assassinado o próprio irmão, Josué, no recinto do templo.
A Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e
a Judéia, situada entre os dois impérios, não podia escapar ao envolvimento. Durante o
reino de Artaxerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião contra a Pérsia. Foram
deportados para Babilônia e para as margens do mar Cáspio.

Alexandre, o Grande

Em seguida à derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (333 a.C.), Alexandre
marchou para a Síria e Palestina. Depois de ferrenha resistência, Tiro foi conquistada e
Alexandre deslocou-se para o sul, em direção ao Egito. Diz uma lenda que quando
Alexandre se aproximava de Jerusalém, o sumo-sacerdote Jadua foi ao seu encontro e lhe
mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria vitorioso (Dn 8).
Essa narrativa não é levada a sério pelos historiadores, mas é fato que Alexandre tratou
singularmente bem aos judeus. Ele lhes permitiu observarem suas leis, isentou-os de
impostos durante os anos sabáticos e, quando construiu Alexandria no Egito (331 a.C.),
estimulou os judeus a se estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus
súditos gregos.

A Judéia sob os Ptolomeus

Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), a Judéia, ficou sujeita, por algum tempo
a Antígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor.
Subseqüentemente, caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia então
dominado o Egito), cognominado Soter, o Libertador, o qual capturou Jerusalém num dia
de sábado em 320 a.C. Ptolomeu foi bondoso para com os judeus. Muitos deles se
radicaram em Alexandria, que continuou a ser um importante centro da cultura e
pensamento judaicos por vários séculos. No governo de Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus
de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei, isto é, o Pentateuco, para o grego. Esta
tradução seria posteriormente conhecida como a Septuaginta (LXX), a partir da lenda de
que seus setenta (mais exatamente 72 - seis de cada tribo) tradutores foram
sobrenaturalmente inspirados para produzir uma tradução infalível. Nos anos
subseqüentes todo o Antigo Testamento foi incluído na Septuaginta.

A Judéia sob os Selêucidas

Depois de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos


Ptolomeus, Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina aos Ptomeus
do Egito (198 a.C.). Os governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu reino,
construído sobre os escombros do império de Alexandre, fora fundado por Selêuco I
(Nicator).
Durante os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo-
sacerdote continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram
conflitos entre o partido helenista e os judeus ortodoxos. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se
ao partido helenista e indicou para o sacerdócio um homem que mudara seu nome de
Josué para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro. Jasom, todavia, foi
substituído depois de dois anos por uma rebelde chamado Menaém (cujo nome grego era
Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau, Antíoco
marcho contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 a.C.). As
liberdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários forma proibidos e um
altar a Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias das Escrituras foram
queimadas e os judeus foram forçados a comer carne de porco, o que era proibido pela
Lei. Uma porca foi oferecida sobre ao altar do holocausto para ofender ainda mais a
consciência religiosa dos judeus.

Os Macabeus

Não demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua
causa. Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24
quilômetros a oeste de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias, desse bom
exemplo perante o seu povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele, porém, além de
recusar-se a fazê-lo, matou um judeu apóstata junto ao altar e o oficial sírio que presidia
a cerimônia. Matatias fugiu para a região montanhosa da Judéia e, com a ajuda de seus
filhos, empreendeu uma luta de guerrilhas contra os sírios. Embora o velho sacerdote não
tenha vivido para ver seu povo liberto do jugo sírio, deixou a seus filhos o término da
tarefa. Judas, cognominado “o Macabeu”, assumiu a liderança depois da morte do pai.
Por volta de 164 a.C. Judas havia reconquistado Jerusalém, purificado o templo e
reinstituído os sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas, Antíoco morreu na
Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis selêucidas continuaram por quase
vinte anos.
Aristóbulo I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei
dos Judeus”. Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu,
que, por sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi
relativamente pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II, desapossou
seu irmão mais velho. A essa altura, Antípater, governador da Iduméia, assumiu o partido
de Hircano, e surgiu a ameaça de guerra civil. Conseqüentemente, Roma entrou em cena
e Pompeu marchou sobre a Judéia com as suas legiões, buscando um acerto entre as partes
e o melhor interesse de Roma. Aristóbulo II tentou defender Jerusalém do ataque de
Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu,
todavia, não tocou nos tesouros do templo.

Roma

Marco Antônio apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio César


e da morte de Antípater (pai de Herodes), que por vinte anos fora o verdadeiro governante
da Judéia, Antígono, o segundo filho de Aristóbulo, tentou apossar-se do trono. Por algum
tempo chegou a reinar em Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater, regressou de Roma
e tornou-se rei dos judeus com apoio de Roma. Seu casamento com Mariamne, neta de
Hircano, ofereceu um elo com os governantes Macabeus.
Herodes foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o
venerável Hircano (31 a.C.) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois
filhos. No seu leito de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra
esposa. Nas Escrituras, Herodes é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos
em Belém por temer o Rival que nascera para ser Rei dos Judeus.
II. Grupos Religiosos dos Judeus
Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade
do Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de
seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas idéias
que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem
a diversas seitas judaicas.

Os Fariseus

Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam


lutado contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi
provavelmente dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não-conformistas.
Pode, todavia, ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus
compatriotas judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes
produz orgulho e até mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal farisaico
que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro deste grupo ortodoxo do judaísmo
de sua época. (Fp 3:5).

Saduceus

O partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Zadoque,


o sumo sacerdote escolhido por Salomão (1Rs 2:35), negava autoridade à tradição e
olhava com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a
doutrina da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23:3). Eram,
em sua maioria, gente de posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas
da época. Ao tempo do NT controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga,
por outro lado, era a cidadela dos fariseus.

Essênios

O essenismo foi uma reação ascética (busca pela santificação através dos
sacrifícios físicos e desprezo dos prazeres sociais) ao externalismo dos fariseus e ao
mudanismo dos saudceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em isolamento
e celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às lavagens
cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua laboriosidade e
piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão eram contrárias a seus princípios.
O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscritos do Mar
Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio
de estudo no deserto da Judéia. Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam
abandonado as influências corruptas das cidades judaicas para prepararem, no deserto, “o
caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro
Israel para quem Ele viria.

Escribas

Os escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma
profissão. Eram, em primeiro lugar, copistas da Lei. Vieram a ser considerados
autoridades quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de
pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem freqüentemente
associados no NT.

Herodianos

Os herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com


os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a
Palestina em sua época. Os herodianos eram mais um partido político que uma seita
religiosa.
A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas
nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o referencial histórico no
qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos prepararam Israel para o advento do
Messias de Deus, que veio na “plenitude do tempo” (Gl 4:4).

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