FMEA e Metas Internacionais de Segurança Pac
FMEA e Metas Internacionais de Segurança Pac
FMEA e Metas Internacionais de Segurança Pac
RESUMO
Em uma política de qualidade e segurança do paciente é fundamental a sistematização de processos. As
ferramentas de gestão vêm sendo utilizadas como importantes auxílios para reduzir riscos e planejar ações
Palavras-chave
futuras. Este trabalho apresentou uma proposta de utilização do método Análise de Modos e Efeitos de Falhas
FMEA
Metas internacionais de segurança (FMEA) como instrumento de análise de não conformidades e criação de subsídios para a melhoria das
do paciente Gestão de riscos operações dos processos relacionados às metas internacionais de segurança do paciente (meta 1 – identificar o
Gestão em saúde paciente corretamente; meta 2 – promover comunicação efetiva; meta 3 – promover segurança de
medicamentos de alta vigilância; meta 4 – garantir cirurgias com local de intervenção, procedimento e pacientes
corretos; e meta 6 – reduzir os riscos de danos ao paciente decorrentes de quedas). No período de julho 2011
a julho 2012, realizou-se um estudo-piloto descritivo com base na gestão organizacional de um hospital geral,
privado e de alta complexidade, no Nordeste do Brasil. Após a avaliação dos índices, calculou-se o índice de
risco segundo gravidade, ocorrência e detecção, sendo desenhada para cada meta uma matriz de tolerância de
riscos (inaceitável, importante e moderado). Foram consideradas não conformidades inaceitáveis para o paciente:
receber resultado de exame de outro paciente (meta 1); erro na prescrição da medicação prescrita (meta 2);
carro de parada incompleto ou errado (meta 3); erro de lateralidade (meta 4); deixar o paciente
desacompanhado e sem vigilância (meta 6). A metodologia FMEA mostrou-se de fácil utilização, permitindo
identificar no processo analisado os pontos críticos, passíveis de monitoração. Com base nesses pontos, poderão
ser desenvolvidos indicadores.
ABSTRACT
In a quality and patient safety policy is essential the processes systematization. The management tools have
Keywords been used as important aids to reduce risks and to plan future actions. This paper presented a proposal to
FMEA
use the method Analysis Failure Modes and Effects (FMEA) as a tool for analyzing non-compliance and
International patient safety
goals Risk management creating bases to improve process operations related to the international patient safety goals (1 – identify patient
Health management correctly; 2 – improve effective communication; 3 – improve safety of high-alert medications; 4 – ensure
correct-site/ procedure/patient surgery; 6 – reduce patient harm risks resulting from falls). During one year
(July 2011 to July 2012), it was carried out a descriptive pilot study, based on organizational management at
a general private, high complex hospital in Northeast Brazil. After index evaluation, it was calculated the risk
index according severity, occurrence and detection, and for each goal it was designed a risk tolerance array
(unacceptable, important and moderate). It was considered unacceptable non-conformities to the patient:
receiving test result from another patient (goal 1); error in the medication prescription (goal 2); emergency
car stopped incomplete or wrong (goal 3); error of laterality (goal 4); leave the patient unattended and
unsupervised (goal 6). FMEA methodology proved to be easy to use, allowing the process to identify the
critical points discussed, subject to be monitoring. Based on these points, it could be developed indicators.
Trabalho realizado no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) – Recife (PE), Brasil.
1. Médica Infectologista; Coordenadora do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia, da UFPE Coordenadora
Recebido em: do Programa de Qualidade, Gestão de Riscos e Controle de Infecções, Centro de Estudos do Hospital Memorial São José
06/12/2012 – Recife (PE), Brasil.
Aprovado em: 2. Enfermeira; Controladora de Riscos Relacionados à Assistência à Saúde/Qualidade, Centro de Estudos do Hospital Memorial
27/01/2013 São José – Recife (PE), Brasil.
Conflito de interesse:
3. Farmacêutica; Biomédica; Pesquisadora Associada em Gestão de Projetos/Biossegurança e Controle de Infecções Risco
nada a declarar
Fonte de financiamento: Sanitário Hospitalar – Núcleo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Infectologia da UFPE – Recife (PE), Brasil.
nenhuma Endereço para correspondência: Sylvia Lemos Hinrichsen – Rua Jornalista Guerra de Holanda, 158/2601 – CEP: 52061-010 –
Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected]
152 Hinrichsen SL, Possas L, Oliveira CLF, Ramos DM, Vilella
Na definição das não conformidades relativas às importantes, como a avaliação pré-anestésica, anamnese,
metas internacionais de segurança do paciente, foram exame físico e consenti- mento informado, foram realizados
identificadas: t MFUB 1 o JEFOUJfiDBS P QBDJFOUF on time out, uma verificação final, feita no local onde a
DPSSFUBNFOUF (GBMIBT cirurgia ou o
no processo de identificação dos pacientes como
causa de erros graves, como administração de
medi- camentos e cirurgias em pacientes “errados”;
falta de checagem pelo menos de duas
identificações, nome completo e número de
prontuário/registro, nenhuma devendo ser o
número do quarto do paciente, antes da
administração de medicamentos, sangue e hemo-
componentes, coleta de amostras de sangue e
outras amostras para testes clínicos e quando da
realização de tratamentos ou procedimentos,
encontrados na pulseira de identificação do paciente
e nas etiquetas aderidas aos documentos do
prontuário).
t MFUB 2 o QSPNPWFS B DPNVOJDBç·P FGFUJWB: FSSPT EF
comunicação entre os profissionais da assistência
causam danos aos pacientes no momento em que
se faz uma ordem verbal ou telefônica ou se
comunicam resultados críticos de exames, sem a
certificação de que a informação foi compreendida e
registrada corre- tamente por quem a recebeu, por
meio do registro em prontuário do que foi ouvido,
lendo-se de volta a ordem completa ou o resultado
de exame.
t MFUB 3 o QSPNPWFS B TFHVSBOçB EF
NFEJDBçÆFT
de alta vigilância: soluções de eletrólitos em altas
concentrações para uso endovenoso, definidas
como medicamentos de alta vigilância, como o
cloreto de potássio – 19,1%, o cloreto de sódio –
20%, o sulfato de magnésio – 50% e o fosfato de
potássio – 2 mEq/mL, que devem estar facilmente
disponíveis no hospital, devendo ser manipuladas
na farmácia. As medicações de alta-vigilância dos
carros de emergência devem ser identificadas com
etiqueta vermelha e segregadas das demais.
t MFUB 4 o HBSBOUJS DJSVSHJBT DPN MPDBM EF JOUFSWFOç·P
correto, procedimentos e pacientes corretos:
cirurgias ou procedimentos invasivos em locais ou
membros errados são erros que podem ser
prevenidos por meio da marcação do local da
cirurgia ou do procedimento invasivo por um círculo
ou dois círculos circunscritos simulando um alvo.
Além disso, pode-se criar uma lista de verificação
pré-operatória para confirmar que procedimentos
Trivial/Mínima
Não requer ação específica.
Criticidade 1
Inaceitável
Criticidade 10,12–16 Ação não deve continuar até que o risco seja
imediatamente reduzido, sob a pena de serem
cancelados atos/procedimentos clínicos e até
encerrados os serviços clínicos.
Risco/Probabilidade de
Índice Ocorrência
ocorrência
Ocasionalmente,
4, 5, 6 Moderada/Muito provável
algumas vezes
7, 8 Alta Frequente
Inevitável, certamente
9, 10, 12–16 Muito Alta
ocorrerá falha
RESULTADOS
Com base nesses três elementos — gravidade, ocor-
Foram selecionadas cinco estratégias de análise rência e detecção — o método FMEA leva à priorização
dos riscos e criadas suas matrizes de tolerância para de quais modos de falha acarretam os maiores riscos
as metas internacionais de segurança do paciente ao cliente e que, portanto, merecem atenção. Para a
(Quadros 3 a 7). avaliação da gravidade, parece haver concordância de
que esta deva ser realizada a partir do efeito da falha.
DISCUSSÃO Porém, para avaliação da ocorrência e detecção, não
O método FMEA é útil para identificar as falhas se observa consenso entre os autores6,10-21.
atuais e potenciais e seus efeitos em sistemas e Com a aplicação do FMEA, neste estudo, verifi-
processos para definir ações que visem a reduzir ou caram-se a falha (quando um sistema ou parte dele
eliminar o risco associado a cada falha. O FMEA avalia comporta-se de maneira não desejada); o modo (a
a severidade de cada falha relativamente ao impacto maneira na qual a falha pode acontecer ou falhar); o
causado aos clientes e sua probabilidade de ocorrência efeito (os resultados ou as consequências do modo de
e de detecção antes de chegarem às mãos dos clientes. falha); e a análise (o exame detalhado dos elementos
de um processo)6,7,10,20.
Por meio do FMEA, puderam-se observar oportu-
nidades de melhorias nas possibilidades de riscos de
forma preventiva, bases para planos de ações a serem
implementadas com as equipes multiprofissionais.
INACEITÁVEL
Observou-se que o FMEA Meta 1 (identificação
correta do paciente) tem como prioridade evitar erros
no recebimento de exames pela dupla checagem do
nome e registro/número do prontuário do paciente
IMPORTANTE
diante de qualquer procedimento, administração de
medicamentos, impressos/prontuário, entre outros.
Durante a adminis- tração de medicamentos/dietas,
MODERADO deverá ser checada a pulseira de identificação do
Figura. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Matriz de Tolerância de paciente com a prescrição. Notou-se que é
Riscos. Recife, 2011–2012.
fundamental no FMEA Meta 2 (comunicação efetiva)
o treinamento das equipes de
Quadro 3. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 1- identificar os pacientes corretamente. Recife, 2011–2012.
Gestão de risco
Eventos
sentinelas
Probabilidade/ Estimar Risco
Gest
enfermagem/multidisciplinar para a identificação do bem como deve se dar maior atenção ao lacre dos
paciente pelo nome completo e número de prontuário/ carros. A falta de itens não padronizados e/ou consig-
registro diante de qualquer procedimento assistencial. nados sem aviso prévio demanda também treinamentos
Para evitar o recebimento de medicação/dietas de outro com a equipe de farmácia para que se faça o levanta-
paciente, serão também necessários treinamentos para mento prévio de tais itens. Quanto ao armazenamento
a dupla checagem com o paciente e/ou acompanhantes errado, observou-se que essa não conformidade poderá
(repetição/read back), fazendo sempre conferência verbal levar à dispensação errada, assim como à perda de
e/ou por meio da visualização de etiquetas e/ou propriedades físico-químicas. Também é necessária a
pulseira com a identificação do paciente. A equipe de etiquetação segura dos medicamentos, assim como
enferma- gem deverá ser treinada para receber uma o fracionamento correto e seguro dos medicamentos.
prescrição fonada, realizada item a item, fazendo-se São de extrema importância para se evitarem erros:
a releitura do que se escreveu (read back) e a legibilidade das prescrições, a colocação do nome
confirmando o que foi escrito, a qual deve ser correto da medicação, assim como a sua posologia
posteriormente assinada e carimbada com o nome e em miligrama e a via de administração. A medicação
registro do profissional. ou dietas não deverão ser liberadas se não corretas
Em relação ao FMEA Meta 3 (segurança de medi- e completas. O aprazamento do soro dos pacientes
camentos de alta vigilância), observou-se que há deverá ser rigorosamente calculado, segundo horários
necessidade de serem implementados planos de ações de gotejamento pré-estabelecidos.
de melhorias baseados em treinamentos focados nos Quanto ao FMEA Meta 4 (cirurgia segura), é funda-
carros de parada, para que estejam completos com mental a sistematização por parte das equipes da
materiais/medicamentos durante intercorrências e exis- marcação do sítio cirúrgico de forma padronizada (em
tam registros em comandas (manuais ou eletrônicas), X)
Quadro 4. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 2 – melhorar a efetividade da comunicação entre profissionais da assistência . Recife, 2011–2012.
Gestão de risco
Danos Risco
definidos para cada dano* Ocorrência** (R=GxP)
gestão
R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4).
e conhecida por todos os profissionais, a qual deverá adesivos antiderrapantes em piso molhado. Correção
ser feita antes de o paciente ser encaminhado para o do erro de identificação do paciente quanto ao risco de
procedimento cirúrgico/sala de cirurgia. Lembramos quedas deverá ser feita por meio da classificação de
que essa prática deverá ser registrada no prontuário do riscos e uso de pulseira para pacientes e
paciente e repassada nas trocas de plantões. acompanhantes. É fundamental estabelecer uma rotina
No FMEA Meta 6 (reduzir riscos de danos para a manutenção da grade do leito elevada, assim
decorrentes de quedas), não se deve deixar o paciente como o monitoramento se a cama apresenta defeito na
desacompa- nhado e sem vigilância diária. A enfermagem grade.
deverá orien- tar, diariamente, os acompanhantes a Na construção da matriz de segurança dos riscos
chamar a equipe sempre que for necessário e/ou se segundo resultados do FMEA (metas 1, 2, 3, 4 e 6), foi
estes se ausentarem ou tiverem alguma dificuldade no importante focar os escores obtidos relacionados ao
acompanhamento dos pacientes. A barra de segurança inaceitável, importante e moderado. Essas matrizes,
nos banheiros deverá ser uma prioridade institucional, desenhadas em forma de figuras, foram trabalhadas com
assim como o uso de as equipes multidisciplinares em forma de cartazes e
banners, fixados e/ou enviados por meio de
Quadro 5. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 3 – Melhorar a segurança de medicações de alta vigilância. Recife, 2011–2012.
Gestão de risco
Danos Risco
definidos para cada Dano* Ocorrência** (R=GxP)
gestão
Caixa de anestésicos
Administração errada do
incompletos e/ou com itens 4 1 4 Moderado
medicamentos/itens
errados
Carros de parada incompletos Administração errada do
4 4 16 Inaceitável
e/ou com itens errados medicamento/itens
Perda da eficácia do
Medicamentos/itens em estoque medicamento/itens levando à
Dispensação – Medicamentos
2 2 4 Moderado
com prazo de validade vencido não garantia de qualidade e
riscos para o paciente
Falta de solicitação, sem aviso Falta de prescrição no
prévio de medicamentos/itens momento do procedimento
3 4 12 Inaceitável
não padronizados na instituição e/ou administração do
(incluindo os consignados) medicamento
Armazenamento de
medicamentos/itens errados,
acarretando a dispensação Dispensação errada 4 3 12 Inaceitável
errada e a perda de
propriedades Físico-químicas
Contaminação de material
consequente ao retorno de Dispensação de material
medicamento/item contaminado contaminado e riscos de 1 2 2 Aceitável
em carros/bandejas de outro acidente biológico
paciente
Tratamento errado/uso não
Erro de dispensação
racional do medicamento/itens 4 2 8 Importante
Dispensação – Materiais
de
prescritos/falha terapêutica
medicamentos/itens
Dispensação errada/
Abertos
Quadro 6. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 4 – assegurar cirurgias com local de intervenção correto, procedimento correto e paciente
correto. Recife, 2011–2012.
Gestão de risco
Eventos sentinelas
Probabilidade/ Estimar Risco
Gest
Identificação do Identificação
paciente incompleta e/ou errada 4 1 4 Moderado
Equipamentos,
materiais e monitores Equipamentos,
materiais e
monitores
de anestesias 3 1 3 Aceitável
quebrados ou
adequados e
funcionantes danificados
O médico não
questiona sobre a
existência de alergias
Paciente com alergia
no paciente, ou o 4 2 8 Importante
conhecida mesmo desconhece
Time-
Out
Antibioticoprofilaxia
Risco para infecção
nos últimos 60 2 4 8 Importante
minutos pós-cirúrgica
Exames disponíveis,
relacionados ao Risco de erro do local
procedimento e procedimento correto 3 1 3 Aceitável
cirúrgico
Possível troca de
Erro de identificação 4 1 4 Moderado
paciente
Time-Out imcompleto
Erro do procedimento
Erro de diagnóstico 4 1 4 Moderado
cirúrgico
R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4).
Quadro 7. Análise do Tipo e Efeito de Falha. Meta 6 – reduzir o risco de lesões aos pacientes, decorrentes de quedas. Recife, 2011–2012.
Gestão de risco
Estimar
Eventos sentinelas definidos Gravidade do Probabilidade/
Gest
Deixar o paciente
Retirada não programada de diferentes
desacompanhado e 4 4 16 Inaceitável
artefatos terapêuticos
sem vigilância
R: Risco; G: Gravidade; P: Probabilidade; *Mínima (1); Grave (2); Muito grave (3); Morte (4); **Muito improvável (1); Improvável (2); Provável (3); Muito Provável (4).
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