Austempera

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6.3.

CONCEITO DE AUSTÊMPERA
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Austêmpera é um processo de tratamento isotérmico dos aços, cujo objetivo é a
obtenção de peças de alta tenacidade e resistência à fadiga, como origem, por
exemplo, molas de qualquer natureza.
O processo caracteriza-se pela formação de uma microestrutura metalográfica
constituída por bainita.

Para a maioria dos aços, a temperatura de formação da bainita situa-se entre


250°C e 400°C, ou seja entre as temperaturas da formação da perlita e austenita.

Bainita é um constituinte metalográfico formado por ferrita e carbonetos,


resultante da decomposição da austenita superresfriada temperaturas inferiores
aquelas onde a transfomação perlítica torna-se mais lenta.

Trabalhos executados na década de 20 publicados por Hultgren, Robertson e


Bain e Davenport mostraram por meio de estudo da decomposição isotérmica da
austenita que agregados finos de ferrita e carbonetos (cementita) podem ser
formados a partir da austenita, isotermicamente.

Nesses trabalhos, mostrou-se por meio de metalografia no limite de resolução do


microscópio ótico, as diferenças entre os produtos de alta temperatura ( perlita e
ferrita), de baixa temperatura ( martensita) e os produtos de temperatura
intermediária de morfologia acicular e contendo carbonetos em uma matriz
ferrítica que passam a ser denominados de bainita.

Em 1939, Mehl constatou a existência de dois tipos de morfologia da bainita, a


partir de temperaturas intermediárias, bainita inferior e bainita superior
REFERÊNCIA

Desde sua primeira observação, a bainita vem sendo descrita de diferentes


maneiras do ponto de vista cinético e termodinâmico quando se diz respeito à
nucleação e crescimento. Neste contexto, os pesquisadores se dividem ao
classificar a transformação bainítica.

A controvérsia entre as diferentes teorias existe desde que a estrutura bainítica foi
identificada pela primeira vez no trabalho de Bain e Davenport em 1930.
Em um artigo publicado no início da década de 30, Robertson fez a primeira
observação direta da estutura bainítica , porém não conseguiu identificá-la como
uma nova estrutura. Em seu trabalho, Robertson detalhou seu estudo na relação
entre esses constituintes e a taxa de resfriamento seguido de diversas
micrografias as quais ele observava uma estrutura escura e acicular difícil de ser
identificada. Robertson realizou uma comparação entre bainita e perlita,
sugerindo que a transformação acontece por mecanismos difusionais, assim como
a perlita. No caso da perlita Ao ser observada por microscopia óptica, a bainita
pode apresentar-se na forma de agulhas semelhantes a de martensita, ou
esferoidizada. Enquanto a primeira é encontrada indistintamente nas
microestruturas resultantes das transformações isotérmicas ou contínuas, a
bainita esferoidizada ocorre, quase que exclusivamente, como produto de
resfriamentos contínuos.

Uma das formas mais comuns de microestrutura bainítica é a bainita agulhada,


resultante dos tratamentos térmicos de austêmpera, que possui a microestrutura
mais parecida com a martensita, essa por sua vez pode ser classificada em três
grupos: bainita inferior, bainita acircular e bainita superior.

Bainita superior é formada no campo médio da transformação bainítica. A


característica principal da bainita superior é a presença de placas longas de
ferrita, paralelas a carbonetos alongados que somente são visíveis através de
microscopia eletrônica.

A microestrutura metalográfica é similar a da perlita, porém apresenta menor


regularidade geométrica do que esta, e pode sofrer variações metalográficas em
função da maior ou menor presença de carbono e elementos de liga no aço.

Diferenciar a microestutura metalográfica da bainita superior daquela da perlita


fina, por meio de microscopia óptica, é praticamente impossível por microscopia
eletrônica. A diferença é somente que a ferrita presente na bainita superior
apresenta maior densidade de discordâncias do que aquela apresentada pela
ferrita contida na perlita.
Bainita infeirior possui grande semelhança a martensita, o que distingue ambas é
a presença de carbonetos, cuja forma e distribuição depende muito do teor de
carbono do aço.

Típica da bainita inferior é a distribuição ordenada de bastonetes de carbonetos,


que se alinham com ângulos de 50° em relação ao eixo das agulhas de bainita.
Provavelmente estes carbonetos são incicialmente segregados, dando origem a
FeC3 a medida que a tranformação bainítica progride.

A bainita isenta de carbonetos ou ferrita acicular é impossível de ser diferenciada


da ferrita Widmanstatten, por microscopia óptica.

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Observada num microscópio eletrônico, a ferrita acicular é sempre acompanhada
por uma “esponja” de austenita retida e uma leve segregação de carbonetos. As
agulhas são longas, estendem-se, às vezes através de todo o comprimento dos
grãos e partem, normalmente, dos contornos de grão originais da austenita

6.4. PROPRIEDADES DE PEÇAS AUSTEMPERADAS


As propriedades de peças austemperadas poderão ser mais bem compreendidas
quando comparadas aquelas obtidas por peças do mesmo aço, temperadas e
revenidas.

Com base em estudos teóricos peças austemperadas alcançam valores


significativamente maiores de alongamento, estricção e resistência ao impacto.
Já, o limite de escoamento das peças austemperadas é consideravelmente menor
que o alcançado pelas peças temperadas e revenidas, o que não pode ser
desprezado ao dimensionar qualquer tipo de elemento de máquina.

Em relação à resistência à fadiga por flexões alternadas, a austêmpera apresenta


vantagens significativas, mesmo que as peças apresentem regiões com grandes
concentrações de tensões, como por exemplo, entalhes, furações, variações
geométricas abruptas.

A aplicação vantajosa da austêmpera se direciona a aços que apresentem


tendência à fragilidade de revenido, ou seja, aços ligados com cromo ou
molibdênio que, após a têmpera devam ser revenidos entre 350 e 500 graus
celsius. A formação de bainita permite que se alcance a dureza desejada,
evitando-se o intervalo crítico de fragilização.

6.5. LIMITAÇÕES DA AUSTÊMPERA


Excelentes propriedades de resistência à fadiga por flexões alternadas e
tenacidade, obtidas pela austêmpera, limitam-se ao intervalo de durezas ente 40 e
50 HRC. Quando a dureza necessária for inferior a 40 HRC, a têmpera e o
revenimento proporcionarão melhores resultados.

Tanto a profundidade endurecida, quanto a dureza encontrada pela austêmpera


são inferiores áquelas obtidas pelo tratamento de têmpera e revenimento, por esta
razão os aços carbono utilizados na austêmpera devem conter um de carbono
mínimo de 0,5 %, as peças não devem ser mais espessas do que 3 mm, para
espessuras maiores é aconselhável escolherem aços com teores de manganês e
cromo mais elevados.

ARTIGO 1B – JULHO 1998 – LUIZ ROBERTO HIRSCHEIMER -


BRASIMET

A austêmpera requer rígido controle de qualidade do aço e dos parâmetros


(tempo e temperatura) do tratamento térmico. Pequenas variações no teor de
cromo, por exemplo, podem aumentar ou diminuir significativamente o tempo
necessário a transformação isotérmica.

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A temperatura de transformação isotérmica precisa ser cuidadosamente
mantida. Se a dureza final desejada estiver abaixo daquela obtida após a
austêmpera, deve-se retratar o lote, pois, caso seja realizado um simples
revenimento, ocorrerão alterações indesejadas na microestrutura metalográfica
que determinarão uma queda significativa da tenacidade e da resistência à fadiga
das peças, no campo.

6.6. APLICAÇÕES DA AUSTÊMPERA


Para peças confeccionadas em aços com alto teor de carbono e que possuem
como principal característica sua maleabilidade e resistência mecânica, é
sugerido o tratamento térmico de austêmpera.
O tratamento de austêmpera também pode ser utilizado em peças fabricadas em
ferro fundido. Esse procedimento é importante principalmente para o setor
industrial. Ferros fundidos nodulares (ADI – Austempered Ductile Iron) foram
desenvolvidos a partir de classes brutas de fundição, obtendo após o tratamento
de austempera, dando origem a um material de alta resistência mecânica, boa
resistência mecânica e ótima relação entre alongamento e resistência à tração.

O tratamento de austêmpera é realizado utilizando um resfriamento isotérmico na


faixa de 300 a 500 graus Celsius e é executado em tanques, normalmente a base
de sais, na figura 04 pode-se observar um tanque de austêmpera contendo sal de
resfriamento.

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