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© 2015, CIEd - Universidade do Minho
Resumo
Este artigo apresenta uma pesquisa que investigou a aprendizagem sobre
escala representada em gráficos de barras e linhas a partir de uma
intervenção de ensino. Participaram no estudo 69 alunos do 5.º ano
(aproximadamente, 10 anos de idade) de três escolas públicas brasileiras.
Para cada grupo, foram propostas atividades envolvendo diferentes
situações: medida de comprimento, reta numérica e mapas. Todos os alunos
participaram num pré-teste, uma intervenção de ensino e um pós-teste. Os
resultados revelaram um desconhecimento dos alunos, que demonstraram
dificuldades em representar, localizar, analisar, comparar e construir escalas
em gráficos. Porém, após apenas duas sessões de intervenção em cada
turma, foram observados avanços significativos na aprendizagem de todos os
grupos. Assim, podemos afirmar que alunos dos anos iniciais, quando levados
a refletir sobre escalas, são capazes de aprender sobre essa representação.
Dessa forma, evidencia-se a necessidade e a possibilidade de um trabalho
sistemático nas escolas.
Palavras-chave
Escala; Gráfico; Ensino Fundamental; Matemática
Introdução
A crescente necessidade de levar os alunos a se apropriarem de
conceitos estatísticos se justifica pela atual possibilidade de se analisar uma
118 Maria Betânia Evangelista & Gilda Lisbôa Guimarães
O conceito de escala
O conceito de escala pode ser utilizado em diferentes áreas de
conhecimento, como Geografia, Matemática, Cartografia, Engenharia, entre
outras. De forma intencional ou não, lidamos constantemente com a noção de
escala em nosso dia a dia, mediante a leitura de mapas, de gráficos, de
plantas de imóvel, na utilização de instrumentos de medições e outros.
Escalas representadas em gráficos 119
Método
Esta pesquisa foi realizada em três turmas (MC, RN e MP) de
diferentes escolas públicas municipais da Região Metropolitana de Recife -
Brasil. Nessas escolas estudam alunos de baixa renda que moram nas
redondezas. Participaram ao todo 69 alunos do 5.º ano do Ensino
Fundamental (crianças com aproximadamente 10 anos de idade), ou seja,
alunos que estavam finalizando os anos iniciais de escolarização. Nas turmas
dos anos iniciais existe apenas um professor, que ministra conteúdos de
diferentes disciplinas (português, matemática, ciências, história, geografia e
outras).
Assim, iniciámos avaliando o nível de conhecimento dos alunos sobre
escala, solicitando que respondessem, individualmente, a um pré-teste
envolvendo atividades de interpretação e construção de escalas
representadas em gráficos de barras e de linhas. As questões são
apresentadas mais adiante.
Em cada turma foi realizada, por uma das pesquisadoras, uma
intervenção de ensino compreendida de duas sessões. Cada turma teve um
contexto de intervenção: medidas de comprimento (MC); reta numérica (RN)2;
e mapas (MP). Esses contextos estão presentes nas atividades dos livros
didáticos brasileiros, de acordo com Evangelista e Guimarães (2013), como
mencionado anteriormente. Dessa forma, para esse estudo optámos por
realizar a intervenção de ensino considerando os três tipos de situações que
não envolviam diretamente a representação em gráficos, para justamente
investigar a possibilidade dessas atividades, usualmente propostas nos livros
didáticos, contribuírem para a aprendizagem de leitura e interpretação de
escalas representadas em gráficos de barras e de linhas e se cada uma delas
auxiliava de uma forma específica.
122 Maria Betânia Evangelista & Gilda Lisbôa Guimarães
Resultados
Como pode ser observado no Gráfico 1, os três grupos apresentaram
um desempenho muito baixo no pré-teste, uma vez que a pontuação máxima
poderia ser de 9 (nove) pontos. Os desempenhos dos grupos não
apresentaram diferenças significativas [F(2,68) =1,285; p= 0,283]. Esses
dados ratificam estudos anteriores, os quais afirmam a dificuldade de alunos
dos anos iniciais de escolarização em compreender uma escala (Guimarães,
2002; Albuquerque, 2010; Lima, 2010; Silva, 2012).
Entretanto, após a realização da intervenção de ensino, todos os
grupos apresentaram avanços significativos entre o pré e pós-teste: [t (23) = -
4,143; p ≤ 0,000] para o grupo MC, [t (22) = -7,497; p ≤ 0,000] para o grupo
RN e [t (21) = -3,813; p < 0,001] para o grupo MP.
apenas 37% conseguiram acertar. Para nós, esses dados evidenciam que
alunos no início de escolarização já são capazes de compreender essa
relação, cabendo aos professores trabalhar de forma mais sistemática para
uma maior e melhor apropriação de todos.
Na sétima questão (Figura 10), foi solicitado aos alunos que
comparassem gráficos que apresentavam os mesmos dados, mas com
escalas diferentes, e que justificassem suas respostas.
Esta atividade foi muito difícil para os alunos, tanto no pré como no
pós-teste. Apenas um aluno no pré e 4 no pós-teste foram capazes de
perceber a influência da escala. Essa atividade foi proposta por Albuquerque
(2010), a qual também percebeu, em seu estudo, que tanto crianças como
adultos que frequentavam os anos iniciais de escolarização apresentavam
muitas dificuldades. Acreditamos que apesar dessa dificuldade, esse tipo de
atividade precisa ser proposto aos alunos para que os mesmos reflitam sobre
essa variação. Como afirmam Cavalcanti et al. (2010), é fundamental ter um
olhar mais crítico sobre as informações que são veiculadas em nosso dia a
dia, pois frequentemente aparecem na mídia informações em gráficos com
escala manipuladas, as quais podem enfatizar, mascarar ou omitir
determinados aspectos da notícia em função da intenção de quem a
estruturou.
Escalas representadas em gráficos 133
Na oitava questão dos dois testes, foi solicitado aos alunos que
construíssem um gráfico de barras a partir de uma tabela (Figura 11).
Conclusões
Nesse estudo investigámos a possibilidade de aprendizagem sobre
escala representada em gráficos de barras e linhas, por alunos do 5.º ano do
Ensino Fundamental, a partir de três tipos de situação: medida de
comprimento, reta numérica e mapas.
Os alunos, inicialmente, apresentaram um fraco desempenho,
demonstrando dificuldades, como já havia sido observado em outros estudos
(Guimarães, 2002; Lemos, 2002; Albuquerque, 2010; Lima, 2010; Silva, 2012;
entre outros). Entretanto, após terem sido submetidos à intervenção de
ensino, percebemos que houve um avanço significativo no seu desempenho
sobre escalas representadas em gráficos de barras e de linha simples,
independentemente do tipo de contexto (medida de comprimento, reta
numérica e mapas) explorado na intervenção.
Tais resultados nos parecem muito importantes, uma vez que
expressam a facilidade que as crianças apresentam em aprender sobre
escalas quando são estimuladas de forma sistemática. Além disso, podemos
afirmar que os três tipos de contexto por nós propostos (medida de
comprimento, reta numérica e mapas), os quais envolvem diferentes eixos da
matemática, permitiram a aprendizagem sobre escalas e a compreensão
dessas representadas em gráficos de linha e barra. Dessa forma, parece que
uma intervenção sobre escalas pode minimizar diferenças encontradas em
estudos anteriores (Albuquerque, 2010; Bezerra & Guimarães, 2013), entre
gráficos de barras e linhas. Concluímos, assim, que este estudo contribui de
forma clara para demonstrar a necessidade e a possibilidade de um trabalho
sistemático na escola, desde os anos iniciais, relativo à apropriação de
escalas.
Notas
1 Programa Nacional do Livro Didático - Esse Programa do Ministério de Educação do
Brasil tem por objetivo prover as escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio
com livros didáticos e acervos de obras literárias, obras complementares e
dicionários. Um edital especifica todos os critérios para inscrição das obras. Os
títulos inscritos pelas editoras são avaliados pelo MEC, que elabora o Guia do Livro
Didático, composto das resenhas de cada obra aprovada e disponibilizado às
escolas participantes pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE).
2 A representação refere-se a um segmento de reta, apesar de ser nomeada como
reta.
Escalas representadas em gráficos 135
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Abstract
This article presents a study that investigated learning about scales
represented in bar and line graphs after a teaching intervention. 69 students of
the 5th grade (about 10 years old) of three Brazilian public schools participated
in this study. For each group, activities involving different situations were
proposed: length measure, number line and maps. All students participated in
a pre-test, a teaching intervention and a post-test. The results revealed that
students have difficulties to represent, locate, analyze, compare and build
scales on graphs. However, after only two intervention sessions in each group,
significant improvements were observed in the learning of all groups. Thus, we
can say that students in primary school, when involved in thinking about
scales, are able to learn about that representation. In that way, the need and
possibility of a systematic work in schools is evidenced.
Keywords
Scale; Graph; Primary School; Mathematics
Résumé
Cet article présente une étude qui s'est intéressée à l'apprentissage de
l'échelle chez les enfants lorsqu’elle est représentée dans les graphiques à
barres et des lignes. Ont participé de cette étude 69 élèves (environ 10 ans)
de trois écoles publiques au Brésil. Dans chacun des groupes, il a été proposé
des activités impliquant différentes situations: mesure de longueur, droite
numérique et des cartes. Tous les élèves ont participé à un pré-test, deux
138 Maria Betânia Evangelista & Gilda Lisbôa Guimarães
Mots-clé
Échelle; Graphique; École primaire; Mathématiques
Recebido em julho/2014
Aceite para publicação em maio/2015
Toda a correspondência relativa a este artigo deve ser enviada para: Maria Betânia Evangelista, Rua
Cônego Barata, 908 - Bl A5 apto 403, CEP 52110-120 - Recife/PE, Brasil. E-mail:
[email protected]