Historia (AZEVEDO)
Historia (AZEVEDO)
Historia (AZEVEDO)
CURSO DE PSICOLOGIA
PSICOPATOLOGIA
5º PERÍODO
Profª Drª Regina Azevedo
1.1. Pré-história:
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homens primitivos apresentando restauração em volta da abertura, o que indica que o
indivíduo sobrevivera à operação e vivera muitos anos depois dela. A técnica desta
"cirurgia" deixava muito a desejar, sobretudo por apoiar-se inadequadamente na teoria
anticientífica da demonologia. (op. cit.)
As perturbações mentais, continua Coleman (1973, p.57), também eram
mencionadas em antigas obras chinesas e egípcias, bem como de hebreus e gregos que,
como os homens das cavernas, atribuíam a demônios que possuíam o indivíduo.
Provavelmente, a aplicação dessa teoria ao comportamento "estranho" era o modo mais
simples e lógico para compreendê-lo, embora a decisão quanto ao fato de o paciente
estar “possesso” por bons ou maus espíritos, dependesse de seus sintomas. Se as
palavras ou o comportamento da pessoa “possessa” parecessem ter um sentido religioso
ou místico, pensava-se, geralmente, que a pessoa estava tomada por um bom espírito.
Estes indivíduos, continua o autor, eram muitas vezes tratados com grande temor
e respeito, pois se pensava que tivessem poderes sobrenaturais doados por Deus. Por
outro lado, quando o paciente ficava excitado e se comportava de maneira contrária aos
ensinamentos religiosos, era considerado como possuído por maus espíritos, o que
representava a cólera e o castigo de Deus.
Vários tipos de tratamento eram utilizados contra a posse do demônio. O
primeiro era constituído por técnicas que variavam de preces, diversas misturas de
paladar até ruídos que serviam para retirar o espírito mau do corpo da pessoa
atormentada. Tal tratamento era denominado exorcismo, cuja responsabilidade era dos
chamados curandeiros, tendo esta passado, posteriormente, na Grécia, China e Egito,
para as mãos dos sacerdotes, que aparentemente constituíam uma mistura de padres,
médicos, psicólogos e mágicos. Coleman (1973, p.58) ressalta ainda que, apesar de
esses sacerdotes estarem dominados por crenças de demonologia e estabelecerem
práticas de exorcismo, deram início a um tratamento mais humano e científico.
Neste período de descobertas, a loucura é representada, como uma verdade
demoníaca que era tratada e combatida através do exorcismo e outras técnicas, gerando
assim curiosidades e interesses por parte de vários teóricos e estudiosos a respeito da
veracidade dessas suposições, ultrapassando o pensamento da época.
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Mental com um olhar mais científico, pelo menos o que se acreditava neste período. Um
desses célebres representantes foi o médico grego Hipócrates, que viveu em 460 a 377
a. C.
Hipócrates, denominado “pai da medicina moderna”, afirmava que as
perturbações tinham causas naturais e exigiam tratamento como qualquer outra doença,
pois não acreditava na intervenção de deuses e demônios no desenvolvimento da doença
mental. Como explicação básica da doença mental, Hipócrates acentuou que o cérebro
era um centro de atividade intelectual, e as perturbações mentais eram causadas por
patologias deste órgão. A hereditariedade e a predisposição eram por ele consideradas
como suposta causa da psicopatologia e, indicou que os ferimentos na cabeça podiam
causar perturbações sensoriais e motoras (FOUCAULT, 1987, p.15).
Todas as doenças mentais, (op. cit.), foram classificadas por Hipócrates em três
categorias gerais: a mania, a melancolia e a frenite, acompanhado de descrições clínicas
das perturbações específicas em cada categoria, que conceitou em quatro humores:
sangue, bile negra, bile amarela e fleuma, concebendo a noção de um equilíbrio dos
processos fisiológicos como imprescindível para o bom funcionamento do cérebro e da
saúde mental pois, acreditava que, quando os humores se misturavam
desfavoravelmente, produzia-se a doença física ou mental. Embora este conceito
ultrapassasse a demonologia, do ponto de vista fisiológico era imperfeito para que
pudesse ter um grande valor. O autor também ressalta, que Hipócrates compreendeu a
importância clínica dos sonhos para compreensão da personalidade do paciente, o que,
neste ponto, antecipou um dos principais conceitos da psicanálise contemporânea.
Mencionando Hipócrates, o mesmo autor não poderia deixar de citar, também,
os estudos de Platão (429-347 a. C.) acerca das perturbações mentais, que defendia as
pessoas portadoras com tal patologia dizendo que estas não podiam ser responsáveis por
seus atos e não deviam ser castigadas como as pessoas “normais”, fato que contribuiu
para uma melhor compreensão do comportamento humano ao indicar que o homem era
motivado por necessidades fisiológicas; salientou a importância das diferenças
individuais em capacidade intelectual e outras capacidades, e indicou o papel das
influências sócio-culturais na formação do pensamento e do comportamento do
indivíduo. Ele não pôde ultrapassar a ignorância e a superstição de seu tempo, mesmo
com estas idéias “modernas”, pois considerava a doença mental, em parte, como
orgânica, em parte moral e em parte divina.
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Aristóteles (384-322 a. C.), discípulo mas não seguidor de Platão, discutiu e
rejeitou a idéia de que as perturbações mentais poderiam ser causadas por fatores
psicológicos, o que contribuiu para o retardamento do desenvolvimento da
psicopatologia moderna. Ele geralmente seguia a teoria hipocrática das perturbações da
bile acreditando que esta, ao ficar muito quente, provocaria desejos amorosos, sendo
também responsável por impulsos de suicídio. (ibid., p.20).
Como Aristóteles, vários médicos gregos e romanos continuaram os trabalhos de
acordo com estas linhas de Hipócrates, entre eles Fonseca (1987, p.24), assim como fez
Foucault, menciona alguns como Asclepíades, Aretaio e Galeno. Asclepíades foi o
primeiro a observar a diferença entre doenças mentais agudas e crônicas, e a distinguir
entre delírios, manias e alucinações. Além disso, inventou diversos recursos
engenhosos, destinados a proporcionar alívio aos pacientes. O tratamento progressivo
que Asclepíades dava à doença mental, manifestava-se em sua oposição à sangria, às
repressões mecânicas e aos calabouços.
Diferentemente de Platão, que considerava além da dimensão orgânica as
dimensões moral e divina, Aretaio foi o primeiro a tratar as doenças mentais,
exclusivamente, como extensão de processos psicológicos normais, quase no fim do
primeiro século da era cristã. Ele foi o primeiro a descrever as diversas fases da mania e
da melancolia e a considerar esses dois estados patológicos como expressões da mesma
enfermidade. Sua compreensão da importância dos fatores emocionais e da
personalidade pré-psicótica do paciente constituiu um fator extraordinário para a época
em que viveu. (ibid., p.25)
Por outro lado, embora tenha dado muitas contribuições originais à anatomia do
sistema nervoso e tenha conservado uma atitude científica diante da doença mental,
Galeno (130-200), no início da era cristã, não contribuiu com muita coisa nova para a
terapia ou descrição clínica das doenças mentais. (ibid., p.26)
Ao tecer as contribuições desses teóricos, entendemos que a idade antiga foi um
período em que o misticismo continuou a dominar, porém, alguns aspectos como por
exemplo os de Platão, deixam claro que novos pensamentos e descobertas estavam
surgindo, enriquecendo e desmistificando cada vez mais o “mundo” psicopatológico.
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Com sua morte no ano 200, as contribuições de Hipócrates, bem como a dos médicos
gregos e romanos citados anteriormente por Fonseca (1987, p.24), logo se perderam na
confusão das superstições populares, e quase todos os médicos se voltaram para a idéia
de que a doença mental estava relacionada a algum tipo de demonologia.
Com esse retrocesso, tanto a medicina como outros trabalhos científicos ficaram
obscuros, o que resultou em um imenso reflorescimento das superstições mais antigas e
da demonologia, levemente modificadas de modo a moldarem-se às condições
teológicas então dominantes. O homem tornou-se o “campo de batalha dos demônios e
espíritos” que, acreditava-se, travavam guerra eterna pela posse de sua alma.
(FONSECA, 1987, p.36)
Nessa época, o tratamento dos doentes mentais não era muito diferente do que
vimos no período pré-histórico, competindo em grande parte aos padres. Estes davam
muito valor à prece, à água benta, aos santos óleos, à respiração e às suas salivas, ao
toque de relíquias, às visitas a lugares santos e às formas suaves de exorcismo.
Entretanto, diferentemente da pré-história, na idade média existia mosteiros que serviam
de refugio e local de reclusão de muitos pacientes. (op. cit.)
Assim como Fonseca, Coleman (1973, p.56) também salienta o exorcismo,
declarando que esta técnica foi se desenvolvendo, acentuando a crença de que o orgulho
de satanás havia levado o indivíduo “possesso” à sua ruína original, e assim
acreditando-se, a primeira coisa a fazer seria desferir um golpe mortal no orgulho do
demônio, insultando-o. Isto exigia que o demônio fosse chamado por alguns dos
apelidos mais obscenos que as piores imaginações pudessem criar, e os insultos eram
suplementados por pragas. Considerava-se este processo muito eficiente no tratamento
dos possessos.
Torna-se fácil compreender porque paralelamente ao desenvolvimento dessas
crenças teológicas referentes à doença mental, a suavidade e o tratamento bondoso foi
sendo cada vez mais afastado da realidade: a crueldade com os “loucos” era um castigo
ao demônio que continham, e quando o castigo não dava resultado, as autoridades
sentiam-se no direito de tentar a expulsão dos demônios com métodos pouco
agradáveis, a exemplo de açoites, fome, correntes, imersão em água quente e outros
métodos de tortura concebidos, visando tornar o corpo um lugar tão desagradável que
nenhum diabo continuaria a residir nele. As pessoas não só aplaudiam o espetáculo, mas
sentiam que, através desta prática, cumpriam os seus deveres sagrados. (FOUCAULT,
1987, p.25)
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Durante este período, Coleman e Fonseca deixaram claro como as perturbações
mentais eram freqüentes, exaltando a permanência do misticismo e como esta desviou o
caminho da ciência, dificultando seu desenvolvimento.
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homens avançados com relação a seu tempo; homens dos domínios da religião, da
física, da medicina e da filosofia.
No início do referido século, Fonseca (1987, p.41) faz referência à contribuição
de Paracelso e Weyer, médicos que tentaram abolir estas idéias demoníacas dando
importância a algo mais cientifico. Paracelso (1493-1551) formulou o conceito de
causas psíquicas para a insanidade, e defendia a existência de um “magnetismo
corporal”, que mais tarde se traduziu na hipnose. Embora Paracelso respeitasse a
demonologia, suas idéias sobre a doença mental eram confusas, pois acreditava em
influências astrais.
Johann Weyer (1515-1588), psiquiatra holandês, foi um dos primeiros médicos a
se especializar em perturbações mentais, e suas idéias e experiências sobre a doença
mental explicam porque é considerado o verdadeiro fundador da psiquiatria moderna.
Pelo fato de estar muito adiante de seu tempo, Weyer teve a aprovação de alguns
médicos e teólogos importantes do seu tempo, mas enfrentou protestos e forte
condenação da religião, tendo suas obras banidas pela Igreja, as quais permaneceram
nestas condições até o século XX. (op. cit.)
Estes e outros ataques científicos, diz Fonseca (1987, p.45), continuaram ainda
por dois séculos até que a demonologia foi obrigada a ceder, e foi gradativamente
substituída pela observação orientada pela razão, que começaram a alcançar seu auge
com o desenvolvimento da ciência experimental moderna e da psicopatologia. Então,
pelos finais do século XVII começou a ser notável este maior interesse pela
interpretação científica das perturbações do espírito.
Merece destaque nessa evolução científica, os estudo de Thomas Sydenham
(1624 – 1689) sobre histeria, os de Thomas Willis ( 1621-1675) sobre a paralisia geral e
os de George E. Stahl (1660-1734) sobre a etiologia das várias doenças. (STONE, 1999
p. 53)
A idade moderna é marcada, portanto, por essa cisão das superstições místicas e
o avanço cientifico que teve a grande influência de vários estudiosos da mente humana,
gerando uma visão mais racional e lógica da doença mental.
No final do século XVIII e início do século XIX, surge Philipe Pinel (1745-
1826), um médico francês que trouxe novos conceitos e novas formas de tratamento
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para o Doente Mental. Foucault (1987, p.30) enfatiza que Pinel, em 1793, foi nomeado
diretor de La Bicêtre, um hospital para insanos em Paris. Nesse cargo, recebeu a
permissão da Comuna Revolucionária para tirar as correntes de alguns internados,
experimento que conduziu para verificar sua opinião de que os doentes mentais deviam
ser tratados com bondade e consideração, ou seja, como pessoas doentes e não como
feras perversas ou criminosos. O resultado foi espantoso, tendo o barulho, a sujeira e as
injúrias dos antigos mosteiros citados anteriormente por Fonseca (1987, p.36) sido
substituído pela ordem e pela paz.
Mais tarde, Pinel foi encarregado de outro Hospital, este denominado
Salpêtriére, onde a mesma reorganização do tratamento foi realizada, com resultados
igualmente satisfatórios. Desta forma, os Hospitais de La Bicêtre e Salpêtriére foram os
primeiros destinados ao tratamento dos doentes mentais. (FONSECA, 1987, p.30)
O sucesso dos experimentos de Pinel, com métodos mais humanitários,
revolucionou o tratamento dos pacientes em todo o mundo. Finalmente, estava
desaparecendo o medo, provocado pelo mistério e ignorância que sempre cercara o
portador de doença mental. (ibid. p.42)
Além de Pinel, Fonseca (1987, p.56) também enfatiza outras figuras, que
contribuíram para a história da Psiquiatria e ciências afins, como Willian Culler (1712-
1790) que foi o criador do termo neurose, Franz Anton Mesmer (1733-1815) fundador
do magnetismo animal, já anteriormente afirmado por Paracelso com o magnetismo
corporal; Benjamin Rush (1745-1813) “pai da psiquiatria americana” e primeiro norte-
americano a organizar um curso de psiquiatria, e por fim Joseph T. Gall (1758-1828)
criador da chamada cranioscopia que consistia num método que procurava relacionar a
localização das funções cerebrais e as disposições e inclinações humanas com as
protuberâncias e depressões cranianas.
Enquanto isso no Brasil - mais especificamente no Rio de Janeiro - o Imperador
D. Pedro II assina o decreto de fundação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro, o
Hospício D. Pedro II. Quarenta anos mais tarde o médico generalista Nuno de Andrade,
assume a direção do estabelecimento, sendo depois substituído por Teixeira Brandão,
primeiro médico-psiquiatra a ocupar aquele posto. (COSTA, 1976, p.36)
Assim como na França e Inglaterra, foi ao longo do século XIX e começo do
século XX, relata Silva (1998, p.48), que a doença mental passou a ser pensada e
percebida de maneira ainda mais científica também no Brasil. Inúmeras foram as causas
dessas novas formas de pensar, dentre elas a criação destas instituições exclusivas para
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“loucos”, e como afirma Fonseca (1987, p.49), a grande disputa da psiquiatria francesa
entre estudos e terapêuticas das neuroses neste período.
Foi em conseqüência dessa disputa que surgiram os trabalhos do neurologista
Jean Martim Charcot (1825-1893) de investigações sobre a hipnose e a histeria. Graças
a Charcot, o hipnotismo ganha seu lugar no campo da psiquiatria, e Freud, continua
Marques (1998, p.23), estagiando com Charcot, reformula e supera em definitivo os
pontos de vista do seu companheiro e dele parte para a constituição psíquica humana.
Sua obra se torna notória rapidamente, e a Psicanálise vem ampliar e modificar a visão
da loucura com sua nova forma de compreensão do mundo mental.
Além de Freud, vários outros contribuintes merecem destaque no crescimento
clínico da Psiquiatria. Dentre eles, o estudioso psiquiatra Kraepelin, citado por Fonseca
(1987, p.55), que desempenhou papel dominante no estabelecimento do ponto de vista
orgânico; descreveu e esclareceu os tipos de perturbações mentais, formulando o
esquema de classificação que atualmente é muito utilizado.
Foram os trabalhos desses e de outros estudiosos que permitiram designar o
período final do século XIX e começo do século XX como período áureo da
neuropsiquiatria, continuando o século XX a contar com brilhantes e talentosos
contribuídores para a evolução da Psiquiatria. (ibid., p.57)
No Brasil, a Psiquiatria ganha novo ímpeto, no início desse mesmo século, com
a contribuição do diretor do Hospício Nacional, Juliano Moreira. Sob sua influência é
promulgada, em 1903, a primeira Lei Federal de Assistência aos Alienados. Em 1912 a
Psiquiatria torna-se especialidade médica autônoma. Em 1934, é decretada a Lei Federal
de Assistência aos Doentes Mentais. Este clima psiquiátrico deu origem a Liga
Brasileira de Higiene Mental. A partir de então, o Brasil continuou e continua a crescer
de forma bastante satisfatória no campo da Psiquiatria. (COSTA, 1976, p.39).
Conseqüentemente, o movimento de vários ramos da Psiquiatria e da Psicologia
foram tendo grandes avanços. Na Psicanálise, por exemplo, surgiram outros
continuadores, projetando-se progressivamente em vários setores da cultura. Além de
Freud, surgiu Afred Adler (1870-1937), C, G. Jung, Otto Rank, Melaine Klein e outros.
(STONE, 1999, p.139)
Porém, é importante ressaltar que, certos autores, afirma Fonseca (1987, p.78),
com ou sem formação psicanalítica, começaram a defender uma orientação de maior
compromisso. Dentre eles, Eugen Bleuler (1857-1939), um psiquiatra de formação
organicista, que aceitava e defendia a valorização motivacional dos acontecimentos
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psicológicos e a sua participação na causalidade das doenças psíquicas; o que em 1911,
levou a criação do conceito de esquizofrenia, posteriormente confirmado por Kraepelin
no seu Manual de Psiquiatria
No final desta mesma década, J. F. J. Cade, um pesquisador australiano,
começou a usar uma substância de urato de lítio que parecia ter um efeito calmante.
Essa pesquisa marcou o início da era da psicofarmacologia específica às doenças, cuja
maior parte desenvolveu-se em 1950. Essa revolução catalisou um novo e amplo
interesse nos aspectos biológicos da Psiquiatria, e vários outros teóricos foram surgindo
e dando suas contribuições. (STONE, 1999, p.193)
Com relação aos últimos vinte anos, ingressamos nos acontecimentos da
atualidade. Nosso progresso recente, certamente recuará para o passado, tornando-se
material para futuros historiadores da Psiquiatria avaliarem, selecionarem e
incorporarem em seus estudos.
A partir de 1980 houve um progresso significativo na neurociência nas áreas de
memória, modelagem computadorizada de atividades neuronais, neuroimagem, circuito
subjacente ao transtorno obsessivo-compulsivo e a natureza da consciência. Nesse
mesmo período, inúmeros estudos focalizaram-se na correlação entre certas situações
estressantes e o suicídio, depressão e transtornos de personalidade. Nestes estudos, o
foco estava sobre experiências traumáticas em algum ponto na vida do indivíduo. (ibid.,
p.281)
Stone (1999, p.293), nos seus escritos, também destaca que, nos últimos anos do
século XX, a psiquiatria experimentou essa expansão de conhecimento em muitas áreas
tradicionais e na criação de áreas bastante novas, como por exemplo, a Psiquiatria
Forense, que se dedica ao diagnóstico e a tomada de decisão em relação aos psicopatas
e sádicos.
Atualmente, início do século XXI, surgem pesquisas nas subespecialidades
psicobiológicas e de novas drogas na busca da melhora do quadro clínico do paciente,
fato que mostra como a ciência está empenhada nestas questões psiquiátricas e como os
profissionais da área buscam um caminho cada vez mais saudável, menos doloroso e
humano para os mentalmente perturbados. (ibid., p.533)
Neste período, outras abordagens estão cada vez mais se concretizando, tendo
como foco o indivíduo e seus aspectos humanísticos. Os hospitais psiquiátricos estão
gradativamente melhorando seus aspectos físicos e de tratamento, buscando transformar
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a vida do portador, de forma a torná-la o mais normal e comum possível. Aqui surge
também a proposta de uma reforma psiquiátrica.
Mediante o exposto sobre a Evolução Histórica do pensamento psiquiátrico,
observamos que a doença psíquica, além de constituir um fato médico, tem sido
igualmente considerada um fato social, pois observamos como a sociedade constrói suas
representações seguindo os valores e crenças do seu tempo e como esta influencia na
vida dos mentalmente perturbados. Portanto, as ações de saúde nos dias atuais precisam
ser repensadas em alguns aspectos, e os profissionais de saúde devem estar
comprometidos com o exercício da cidadania, buscando o desafio de organizar um
sistema eficiente e operacional que ao menos minimize ainda mais as injustiças
cometidas contra o doente mental.
Referências:
COLEMAN, James C. A Psicología do Anormal e a vida contemporânea. São Paulo:
Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais, 1964.
COSTA, Jurandir Freire. História da Psiquiatria no Brasil. Rio de janeiro: Ed.
documentário 1976
FONSECA, A. Fernandes. Psiquiatria e psicopatologia Volume I. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1985
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Ed.
Perspectiva, 1987.
MARQUES, J. F. Saúde Mental. Sanitas, 3(6):59-64 1° semestre/abril, 1998. Campina
Grande: Edições CCBS/UEPB
STONE, Michael H. Stone. A cura da mente:A história da Psiquiatria da antiguidade até
o presente. Porto Alegre: Editora artmed, 1999
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