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A Primeira Entrevista em Psicanalise Maud Mannoni

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A primeira

entrevista
em
pslcanalise
A primeira
entrevista
em
@SIC dfJd)1SO
KW €I sdt€o da psicanâlise

Segunda Editao

Tradu pto:
Ro be r IO C or tes de La cerda

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Do original
Le Prem ie r Aende z -vous Ave c ie Psych on a lyste
Copyrigh T @ ! 9 79 by Oenoel Gon th ie r

1 980, 2004 , E Isevie r E dilora Lld o.

fodos os dire itos reservod os e prolegidos pela lei n° 9. d 1 0, de 1 9/02/19


98. N enhumo por1e deste livro, sem outorizo§oo prévio por escrito do
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ISBN 13: 978-85-352-1442-0


/SBN T 0: 85-352- dd 2- 9 ' Prefdcio 7
N ono: Muilo zelo e téc nica foro m empregados no edisoo deslo obro. No entanto,
podem ocorrer erros de digi›°s °. 'mpressoo ou duvido conce itual. Em guy Iquer dcs Prologo 35
hi poteses, solicilo mos a conJunico$oo ao nos so Se rvi§o de Atendimento oo Cliente
, pa ra que pos so mos escla recer ou enco m inhor a quesloo.
NJ em a ediloro nem o outor assume m quolquer r esponsa bilidade por even tua i'* Capitiilo J
danos ou perdos a pessop ou bens, orig nodos do uso des to pub)icogoo. A situa9ao 39

Cnpiru/o 2
O sentido do sintoma 79

Cnpitulo 3
Cl P Brash. CojoIogo§6 o’ no l0nle.
S ndicoo Nacona dos E dlores de Liros PJ 0s tested

M2 d 6p Man no ni, Mo ud, 1923• Cupitulo 4


A p rim eira en Irevista em psicano lise: um cl6ssico do
psicano| ise / Maud Man noni; trodubo o de Roberto Cortes de O que e entâ o a entrevista com o psicanalista? 105
Lacerda. Nova ed. — Rio de Jane iro: E Isevier, 2004 .
— 9° reim pressci o. Ce pit kilo 5
1rodu';ñ o d e - be premier rendez-sons ovec le psycho nolbs ie Psicanfilise e pedagogia 117
Inclui bibliogrofia
ISBN: 85-352 -1442 -9
C0ncfusñes 17
I . Psicondlise i nfo mil . 2. C nlrevis to e m psiconñ lise.
3. Psicol ero peulo e pocienle . 1. Tilulo.

CDD — d18.92 8917


A a utora 119
0f10)6 CDU - d15.85 l . 1 -053.2
Peaco

” and Ma9 nFIQ i fl COlette Audr y concederam- me a honra de esc reve r


° p *88cio para este l'V£o. O letter que jâ tenha lido a obra anterior
da aut r —
ice a desapontado. Este prefacip t |pg2 possa parecer’ arduo e com uma
lin -
guagem derrlasiado especiali zada aOS leitores de Maud Mannon i, qqgqt2y
*^ *"!° 8e e6CF€vef de mamma clara e facil. Penso que cfc te ra, porém, inter.es-
se para alguns desses leitores, na medida em que proponho que iñ ct de
profilaxia mental P^^^ °^ distr rbios afetivo s e so era is, questao do men agra-
do e na qual a Psicanalise de errandas nos solicita que pensem os todos
os dial.
O leitor que se sinta aborrecido com o mm estilo devC ñ SS8
r de imediato ao
t€XtO de Maud Mannoni e depois voltar ao meu discurso ,
que the parecera,
entñ o, menos ingrato. For minha inten ao sublinhar e desenvolver as ques-

• A especialidade da psicanalise.
• A especificidade do psicanalista, a sua escuta.
• As rel89ñ es dinâmiGaS in2ppscientespats-filhos. Patogenla on saude mental.
• °Om lexo de Edipo e a sua resolu to. Patogenia. Profilaxia dos seus
disturbios.
• A SOciedade (a escola), o seu papel ?ducaciona1 patogénico ou profiJâtico.
1. ESPECIFICIDADE DA PSICANALISE com a descoberta de processos inconscientes, agindo sem que o sujeito saiba
O livro que o leitor tern nas maos é simplesmente apañon:inte. Contém o e limitando sua liberdade...Esses.ps.Dcessos.inconscientes fortalecem-se m uitas
testem unho de uma longa experiéncia de consultas psicanaliticas. De uma vezes porque criam raizes em processos primordiais da eclosao da personali-
forma viva, permite-nos compulsar, em poucas paginas, uma enorme docu- dade, eta m esma s us tentada peta fun to da linguagem, mod o de rela9ao in te
menta9ao clinica e explica o que é a contribui{ao especlfica da Psicanalise nas r- humano axial a organiza a o da pessoa h umana.
consultas médico -psicol6 gicas. Tratava-se de um ponto bastante importante A. Psicanalise terapé utica é um método de pesquisa da verdade individual
para apresentar, pois, desde o come9o deste século, em conseqiiéncia da des- para além dos acontecimentos cuja realidade nao tern outro sentido para um
coberta da Psicologia experimental, genética, inter-relacional, existe um nu- sujeito salvo a maneira pela qual ele lhe foi associado e por ela se sentiu mo -
mero crescente de pessoas cuja atividade professional esta dedi cada a psicana-
lise, a orienta9ao, a readapta{ño, a conselhos de todas as espécies e, por finn, _ dificado. Pelo método de dizer tudo a quem tudo escuta, o analisando re-
a psico terapia. A fo rma9a o dessas pessoas é extremamenti: polimorfa, os monta aos fundamentos organizadores de sua efetividade de menino on me- '
inéto dos empregados tém a sua justifi ca9ao experimental e iipresentam fra- nina de tenra idade. Inacabado fisiolñgico no nascimento, o ser humano esta .c
cassos e éxitos. A psicotécnica esta hoje de ta1 forma difundida que nao existe, expos to aos confl itos da sua impo ten cia real e do seu insaciavel desejo de '
por assim dizer, nenhuma crian9a das grandes cidades que, no curso de sua amor e comunica9ao pelos pobres meios de snas necessidades, mediante os
escolaridade, deixe de ser submetida a alguns testes individuais ou coletivos. quais, assis tido pelos adultos, cria a il usa o de trocar am or em encontros
Aplicam-se testes aos recrutas, aos empregados das grande!. empresas; jor- corpo a corpo, ciladas do desejo. A capacidade de se encontrar revela-se a etc,
nais e revistas chegam ao ponto de oferecer aos leitores a possibilidade de para além das separa9oes, nas zonas erfigenas que o ligam ao corpo de ou-
fazer um juizo acerca de st mesmos mediante uma série de testes de padrñes trem, no efeito a distancia das sonoridades vocais do outro, que, carinhosas ou
iinprecisos, os quais, com maior o u menor seriedade, difundiram entre o violentas, mimetizam os contatos memorizados no corpo. A fun ao simb6lica
grande publico no9ñes de psicologia. E a Psicanalise? especifica da condi to humana organiza-se como linguagem Essa linguagem,
Dela, no entanto, se fala em toda parte, tanto na impren‹ia de facil leitura portadora de sentido, .apresenta-nos um sujeito cuja existéncia original esta
como em Filosofia. Mas ha tantas opini0es “psi” e dadores ‹Ie conselhos aos revestida de dores e alegrias — sua historia para ele —, do seu encontro com
pais em dificuldade, que esses se convencem cont excessiva ficilidade da pro- “o homem” (sob a forma dos seres humanos masculinos e femininos) que fez
pria incompeténcia educacional e estao prontos, quando se trata dos filhos, a com que se soubesse “Homem” de um ou de outro sexo. Esse saber, esse ver a
depositar as snas responsabilidades em ma os técnicas, conso recorrem aos st mesmo,* pode torna-to surdo, mudo, cego, paralitico, doente, num lugar do
mecanicos quando o objeto em causa sao os automhveis. CI publico, diante seu corpo, por um contratempo do seu encontro. Isso é nada menos do que a
de toda essa maquina estabelecida em institui ñes, confunde o psicanalista restaura9ao da sua pessoa original liberta da sua espera ilusbria, on desses
com o psicotécnico, o psicossocifilogo, o psicossomâtico, o orientador pro- efeitos-choques e contrachoques com o outro, a que visa a Psicanâlise terapéu-
fissional, o reeducador, o u ainda o experimentador (aquele que procura, por tica, restaura9ao que ele as vexes promove. Ciéncia do homem por excelencia,
curiosidade cientifica, provocar rea9ñes). Em todo caso, a maioria das pes- a Psicanalise esta, desde Freud, o seu fundador, em perpétua investiga9ao, e o
soas, assim como muitos médicos, acredita que o psicanalista vat fazer isto o u seu campo de estudo ve os seus limites se ampliarem cada vez mais
aquilo, vai influen ciar, vai moralizar, vat estimular, acon!›elhar, em sum a, abrangendo desordens da saude mental, da conduta e da saude somatica.
agir com as suas palavras como com um medicamento por uma espécie de
sugestao, para levar o sujeito a comportar-se “bem”.
Ora, o psicanalista Rao. acrescenta sum novo dizerc Ele°permite ‹as for9as 2. ESPECIFICIDADE .DII PSICANALIS1A CLINICO
ocionais*ericobertas,.em.jogo,.conf1itivo,';encontrarium;iisaida, -ficando a.
O livro de Maud Mannoni é um documento-testemunho, acessivel a
cargo:do.consultondirigi-las-por.si‹mesmo... A psicanâlise I e continua a ser
muitos. Ele faz com que o leitor coopere na priineira medida tomada poy
o ponto de impacto de um humanismo que vem enriqueci•ndo desde Freud
No tn to Toad u I or: Em fra nets: Cc sa vair re se -b-vair, jogo de palavras que se perde
na tra fi u *o.
°° positivos pelo meio social freq iientemente cego, que valoriza aq uilo
uma pessoa que vem se consultar, podendo o objeto da consulta ser ela mcs-
¿\ , " ma ou um ser querido, e motivada por um pedido de auxilio ao psicanalista. 9°* ° lisonjeia, sâ o, na realidade, patologicos para o sujeito que nñ o possui

'‘ ' Cada leitor, gra as â arte do autor, se sentirfi mais ou menos envolvido, ini- nenhum a alegria, nenhuma op§io criado ra livre, cuja adapta5ao é acompa-
ciado em um modo novo e dinamico de pensar as condutas humanas e os seus nhada de inadaptab ilidade a outras condi oes que nio sejam o seu estrito
desregramentos. Compreendera o que se quer dizer quando se diz, falando mocl us vi vein:li, e sao de fato sina is de neurose in fantil e juvenil atuaI o u
do psicanalista, que o que faz a sua especificidade é a sua receptividade, a sua en quistada. Para o psicanalista, o que importa nñ o sñ o os sintomas aparente-
“escuta”. Ele vera pessoas que vieram, sabendo apenas a quem se dirigiam, merite positivos ou negativos em st mesmos, nio é a satisfa ao ou a angustia
enviadas pelo médico, pelo educador, por alguém que conhece as dificulda- dos pais — que, alias, pode ser inteiramente sadia e justificada — diante de
- des em que estao, mas que nao pode ajuda-las diretamente; essas pessoas, na uma errand a pela quad se sentem responsave is, mas o que significa para
, •, presen$a de um psicanalista, come9am a falar como falariam com qualquer aquele que vive, exprimindo tal ou qual comportamento, o sentido
individ uo e, no entanto, un ica forma de escutar do psicanalista, uma esent a fundamental da sua dinamica assim presentificada e as possibilidades de futuro
no sentido pleno do termo, far com que o discurso se mo difique, adquira um que, para esse sujeito, o presente prepara, preserva ou compromete.
sentido novo a seus ouvidos. O psicanalista nio d1 raziio nem a retira; sem Seja qual for o estado a tual aparente, deficiente on perturbado, o psica - t
_ emitir juizo, esent a. As palavras empregadas pelos consultores sñ o as suas nalista visa a ouvir, por tras do sujeito que fala, aquele que permanece pre-
palavras habituais, rnas a maneira de escutar é portadora de um sentido de sente num desejo que a angtistia autentica e, ao mesmo tempo, mascara,
apelo a uma verdade que os obriga a aprofundar a sua propria atitude funda- presents emparedado nesse corpo e nessa inteligé ncia mais ou menos desen- _
mental em rela9ñ o a essa abordagem que ali fazem e que nao m ostra a meno r volvida, e que busca a comunica9ao com outro sujeito. O psicanalista permi-
semelhan9a com nerih uma ontra abordagem em rela9a o aos psichlogos, edu- te que as angustias e os pedidos de socorro dos pais ou dos ‘jovens sejam
dadores ou médicos. Efetivamente, eles, devido a sua técnica, sao orientados substituidos pela questao pessoal e .especifica .do desejo mais profundo do
para a descoberta e a cura de uma deficiéncia instrumental. Respondem ao sujeito que ltte fala. Esse efeito de revelador, ele obtém pela sua escuta atenta
fenfimeno manifest ado, o sintoma: angu stia dos pais, perturb ahao escolar ou e pela sha nao-resposta direta ao pedido feito de agir para fazer
caracterial da crian$a, por um emprego de dispositivos de socorro especifi- desaparecer o sintoma, para acalmar a angustia. O psicanalista, suscitando
cos, preconizando medidas terapéuticas on corretivas destinadas a reeducar. a verdade do
Até o primeiro encontro com o psicanalista, o problem a sb é, pois, abor- sujeito,'suscita ao mesmo tempo o sujeito e a sua verdade. Numa segunda
dado no nlvel do objeto da solicita§ao, e a solicita9ao existe tao-somente a fase, que nao constitui o objeto deste livro e que é a fase do tratamento psica-
prophsito de objetos de carater negativo para o meio social: o éxito escolar, nalitico, o sujeito descobrira por st mesmo a sua verdade e a liberdade relati-
por exemplo, parece sempre em st um objeto positivo, a ausencia de distur- va que lhe é deixada da sua posi9ñ o libidinal em rela9ao aos que o rodeiam;
bios do carater que perturbam também a tranquilidade do meio social. Ora, essa segunda fase tern como lugar da sua revela9ñ o a transferéncia.’ O que este
essas duas resultantes psicodinamicas sb possuem valor cultural auténtico se livro também ensina é a descoberta, que para muitos leitores sera nova, de
o sujeito é efetivamente criativo e nao apenas submisso â s exigéncias dos adul- que, d urante uma unica entrevista psicanalitica, ja aparece claramen te a
tos, se ele se encontra em comunica§ao linguistica, verbal, afetiva e psicomo- intrica{ao das fork as inconscientes entre genltores, ascendentes e descenden-
tora de sua idade com o meio social, se Esta ao abrigo de tensñ es internas, tes. O leitor compreendera sem dificuldade como um ser humano, desde a
livre, pelo menos nos seus pensamentos e j uizos, da dependéncia do desejo de sua vida pré -natal, j;i esta marcado pela maneira como é esperado, pelo que
outrem, se esta 1 vontade no trato com os companheiros de ambos OG Sexos representa em seguida, pela sua existéncia real diante das proje9ñ es incons-
da sua gera{ao, apto a amar e a ser amado, apto a comurticar os seus senti-
mentos, apto a enfrentar as frustra9ñ es e as dificuldades cotidianas de todas 2 AtranV Encataida ormag+n na,
as espécies sem se descomp ensar, em suma,’ se ele mostra uma elasticida_de
caracterial e mJica que caracteriza a saiide mental. Alguns sintomas aceitos ñco do naam ntopsvanddco. Asua innWa 4o, a sua<voIu ao, o*ud,apa*cm•nto ñnal
, cientes dos pa is, que, servindo de interlocutores e de modelos naturals, alte-
edipia na) o u .a simboliza a o na cri an 9a das suas pulsñes endogenas sâo
. ram com demasiada freqiiéncia na crian9a o sentido das referéncias vividas
a resposta complementar aos desejos reprimi dos de pais insatisfeitos na
’^ :^ com palavras justas, e isso as vezes desde o seu nascimento. Qual é, entao, o
vida social ou conjugal, e Q ue esperam da sua progenitura a cura ou a
" - papel do psicanalista? Acabo de dizer que é o de uma presen#a humana
que ' escuta. Como esse ser humano feito como os outros, oriundo da mesma po- compensa- 7ao para o seu sentimento de fracasso. Quanto mais jovens sao os
pula ao, foi formado de sorte que a sua escuta produ za lais efeitos de verda- seres huma- ns, mais o peso das inibi9oes dinam cas so fridas direta on
' del Pois bem, etc proprio for formado por meto de uma Psi can filise geralmen ndir etam ente pelas tensñes e pelo exemplo dos adultos mutila o seu livre
- ’ te lori ga e de tratamentos conduzidos por ele sob a supervisao de um cllnico jogo de vitalidade emocio al, e menos podem eles se defender criativamente
mais velho. Essa forma ao permitiu -the chegar a uma autenticidade do seu deas; e os gravis- mos dsturbios do desenvolvirrtento psicomotor mental
, ser, por tras do robo que todos rios somos e que devemos um pouco a educa- ou da fragilidadt de saude, por efeito dito ps‹cossoma tico, das crian9as
” Who. Por meio do discurso que ele escuta, a sua sensibilidade receptiva permi- muito jovens, sao a
te-the entender em varios niveis o sentido emocional subjacente ao discurso conse uéncia dessas rela9ñes perturbadas com o mundo — enquanto o mun-
do paciente, e de um modo mais sutil do que em geral podem fazer aqueles _ dog day crian9a esta ainda limitado ao adulto nutriz. Quantas desordens orgñ-
que nño foram psicanalisados. nicas do lactente e da crian a de tenra idade sao a expressao dos confl itos
psicoafetivos da rnae, sendo esses devidos sobretudo a neurose mater na, isto
é, especifica da sua evolut ao perturbada pré-marital, ou a neurose do par,
S. AS RELA§DES DINAMICAS INCONSCIENTES PAIS-FILHOS, que perturba o equilibrio emotional da crian9a pelas experiéncias em ocio-
0 SEU VALOR ESTRUTURANTE SADIO OU PATOGENICO nais sofridas pelo proprio pai e is quais ele submete diariamente sua mulher,
0s exemplos dados por Maud Mannoni mostram esse fenc›meno induzido mae da crian 9a.
na escuta psicanalitica, mostram também que é imposs:ve1 p‹ira a comunica- “Estou com dor de cabe§a”, dizia um filho unico de trés anos. (Ele .me foi
Rao transpor certos limiares. Naquele ponto em que a linguagem termina, é o trazido porque era lmpossivel manté-lo na escola maternal, onde nao parava
compor tamento que continua a falar, e quando se trata de crtan9as per turba- de se queixar da cabe9a, parecia do.ente, .passivo e dDrido..Era, além do
das, é a crian a que, pelos seus sin tomas, encarna e presentifit:a as conseqiien- mars, sujeito a insfi ma, estado para o qual o médico nao encontrava causa
cias de mm conflito”vivo, famfiiar ou conjugal, camuflado e aceito por seus organi- ca.) Comigo, ele repetia o seu soliloquio.
pats. E a crian#a que suporta inconscientementk o peso das* t •nsoes e " “Quem diz isso?”, perguntei-lhe.
interfe- rencias da dinamica emocional sexual inconsci ente em a9ao nos E ele continuava, re petindo em tom de lamu ria: “Estou com do r de
pais, cuJ o eeitofie contarriina ao morbida étanto mais intenso quantci mais* cabe§a.”
se guarda, “Onde? Mostre- me onde é que a sua cabe9a esta doendo.” Era a primeira
ao seu redor, o siléncio e o segredo. vez que ltte faziam ta1 pergunta.
A eloquéncia mud a de uma perturba9ao reativa das crian as torna pre- '' i”, aponta uma regiiio da coxa perto da virilha.
sents, ao mes mo tempo, seu sentido e suas consequéncias dinimicas incors- E:l • e

cientes. Em slntese, é a_ crian_{a _pequena e a adolescente quo: sao porta -vozes a b’ asda re osta, podem crer, estarrece u os pais presentes.
de seus pais. 0s sintomas de impoténcia que a crian{a manifesta sao assim extin Rao dos desejos, ativos on pass‘ivos, da libido (oral, anal ou pre-genital
uma ressonan cia as angustias o u aos processos reativos a angustia de seus
pais. Essa impoténcia é muitas vezes a ilustratao em escala reduzida da impo-
téncia de um dos pats, deslocada do nivel em que ela se manifesta no adulto
para o nivel de organiza9âo libs dinal precoce da personalidade da crian9a,
o ri ainda para o nlvel da organiza9io edipiana erñ curso. A exacerba ao ou a
A crian9a era filho unico de uma enxaqueca sicossomatica, superpro-
tegida por um marido terno; 25 anos mais vélho do quo ed O fato de ser
filho unico significava assim a sua neurose da impoténcia e a sua fobia da
socieda- de, por uma provoca9ao ate entao escutada a finn de ser
superprotegido O contato com o psicanalista permitiu que a crian§a ao
longo de um numero muito restrito de entrevistas, nao mais se alienasse'na
identifica{ao com esse casal ferido por sua vida dificil.
Trata-se quase sempre na primeira inflncia — a nao ser no caso de seqiie-
las obsessivas de doendas ou de traumatismos encefalicos — de disturbios permaneceu incompreendido e que a deixou total pu parcialmente embo ta-
reativos a dificuldades parentais, a d‹sturbios entre os irmaos on do clima da, para nele perder-se por nao ter sido socorrida a tempo. Esse enclave emo-
inter-relational ambiente. No caso de dist urbios posteriores da infancia on tional confuso, mais on menos colmatado, a delxou vulneravel a qualquer
da adolescé ncia, sem perturba9ñ es manifestadas na primeira infancia, os dis- acontecimento que ponha a prova seu narcis is mo e, ta1 como um son a mbu-
turb ios podem ser devidos apenas aos conflitos dinñ micos intrinsecos, em lo que desperta e se atemoriza com a realidade, cada acontecimento ulterior
face das exigé ncias do meio social e das prova§ñ es do complexo de Edipo que a test a a lard cair um pouco mais na confusâ o e na irresponsabilidade
normal, mas as suas“ consequéncias podem provocar uma angustia reativa
nos pais impotentes para ajudar o filho, ou envergonhados de sua crise de Este livro torna de fato compreensivel como a a uséncia cromca de possi-
inadapta§io a sociedade. A erranda, ou o jovem, ja testada em st mesma, nao bilidades de intercñ mbio verdad eiro no decorr er da vida de um ser h
encontra mais seguran{a no seu meio social, tampouco junto aos pais, como umano é tao corrosiva — on até mats — quanto alguns traumatism os
na distante época em que o recurso a eles no perigo era a suprema forma de especificados. Pode-se dizer que muitos seres humanos tém assim a sua
prote9io. A crian9a, mesmo aparentemente mat-amada, so pode sobreviver intui9io j usta “en - volvida” por identifica9ñ es cañ ticas, contraditbrias, e
aos primeiros anos recebendo ajuda e assisté ncia, pelo menos vegetativas. sobrecarregada de trna- gens perturbadas. Essa tor9io, esse desvio da sua
h 0lT6PM d£ It#PtS6âO-fCCU 5O P£lhdM€Cf' CONlO O _1O ilCOPSCPRtP intui ao natural por mo dc- los nio justamente referid os ao mesmo tempo a
d0 todo ser humano (“papat”, “mamae”, “agu a” sao os derrad eiros apelos do let natural e a lei editada, pinsta ura rela ñ es st mbñ licas falseadas. Sao
moribun do as for9as‘ p orei orms). D iante da*inompreensio do meio a sua adultos seria men te n eu ro ticos to mados como mestres e exemplos qu e
volt a, instalam -se re3does em cadeia de decep9ñ es mu tuas, intricadas de an- produzem a confusao, ou a organiza - 9a o enferm a ou perversa na estr utur
gustias reciprocal, processos defensivos e reivindica ñ es insuportaveis. A ener- a da crian pa em creserm en to. Maud
gia residual livre reduz-se cada vez mais, acarretando a incapacidade de aqui- Mannoni nos den numeroso s exemplos.
stories culturais novas no jovem e a per da da autoconfian9a. 0s comporta- Quais sao portanto as condi ñ es necessarias e suficientes no meio em que
mentos em tars grupos familiares — paralelamente â impo téncia social da ' vide uma crian{a para que os conflitos inérentes añ ‘desen9olvimento°de ca da
erranda — nao passam de muralhas de um recinto fortificado, e as palavras use humano possam resolver-se para ela da maneira sadia, ou seja, criador a,
trocadas nada mats sao que projéteis entre atacados e atacantes. V para que se obtenha uma pesso a trabalhadora e responsavel no momento
A angustia e o isolamento, sentimento s ligados â culpa irracional magica ’ deiisivo do°fidipo e da*su a resolu ao‘no remanejamento dos afetos, das idea -
jamais aplacada, acarre tarn, na medidaem que existe instinto de conserva-
Rao, compensa{oes reativas des ulturaliZan te(. depois de transpostas as‘ ida-
dos dos disturbios da deSfiiilade°reativa, apñ s a debilidad e ps‹comotora, apos
a debilidade escolar,. vemos instalar-se o quadro clinico tardio dos dist urbios
do carater com incidéncia social intrafamdiar. A priva§a o de rela ñ es reestru-
turantes provoca o aparecimento das neuroses e da delinqiienera e, a partir
dat, ocorrera a involu9io psicb tica on a criminalidade.
Pelos exemplos citados, Maud Mannoni nos faZ participar das primeiras
entievistas referentes a casos clinicos que ilustram todos os gra us da pertur-
ba9ao, devidos visivelmente â caréncia de uma presen9a sensata logo na pri-
meira idade, a auséncia de uma situa ao triangular socialmente sadia on d
auséncia de esclarecimentos verbais â s perguntas explicitas ou implicitas da
crian§a, sensibilizada tardiamente por um acontecim en to traumâ tico que
PRtrAcio 17

cunstâncias pelos pais profiuz o seu coroli rio, vale Azer, as imagens solitari-
as provocam a audi§ño virtual de palavras parentais, anteriormente ouvidas
errand quando a dependéncia maior do adulto * % ^§ ^ a propñsito de atos ou percep ñes com a mesma tonalidade de prazer ou
qqdl, no inicio, é Apenas dependénc ia em re1a§aO 8o adulto) nunca invade o desprazer. Assim se co nstrñi e se desenvolve, pela auséncia de intercainbio
quadro edomina a importan era em ocional que esse ad ulto da ‹\ afetivi dade verbal, um narcisismo sem referéncia ao outro a tual, mas apenas a um outro
e a presen9a complementar de outro adulto. Se é preferlve] que e!›se adulto virtual, o “superego” sempre na etapa anterior. Além do que se passa na trna-
seja gina ao, provocado por desejos nao verbalizaveis on entao com verbaliza oes
o conjuge, no contexto atua1°d a nossa sociedade, essa condi§ao nñ o é absol u- interditas, h a também o que toca o corpo e o comportamento das pessoas,
tamente indispensavel ao equilibrio da estrutura da crian§a› Q }fT1 OI t8FltC 8 bases da estrutura das lets do mundo humano, as varia{ñes da saude psicos-
que esse adulto, sendo ou nao o conjuge legal, seJ a ° companhei ro '*" *^‘ somâtica dessas pessoas, das quais a crian a é testemunha sem ouvir a propñ-
te complementar, mo 2p2jq 9$ de vida, mas que focalize de fato as emo§ñ es do sito delas verbaliza ‹res justas!
outro. E, no entanto, existem seres humanos q••, *> ^°>° do ! °° *^* ^° ° Cada vez que, antes da idade da resolu§ao edipian a (6-7 anos no mini-
dos acidentes sucedidos durante a sua infancia, sao p'**^ °^ da present a ° mo), um dos elementos estruturantes das premissas da pessoa é atingido na
um dos pais ou de ambos. O seu desenvolvimento pode proce,isar-se * ^" sua dinamica psicossocial (presen§a ou auséncia de um dos pais em um mo-
neira tao sadia, com cara cteristicas distintas, mas tao solidam ente e ^° doen- mento necessario, crise depressiva de um dos pais, morte ocultada, caracte-
§a mental, nem impoté n era, nem neurose, quanto °^*^*'° * °^'° “' risticas anti-so era is do seu comportamento), a experiéncia psicanalitica mos-
crian§aS que tém um a estriit ur a familiar Integra. tra-nos que a crian§a esta totalmente informada disso de maneira inconsci-
ente e é induzida a assumir o papel dinamico complementar regulador como
por uma espécie de homeostase da dinamica triangular pai-mae-filho. E isso
4. A PROFILAXIA MENTAL DE RELACOES FAMILIARES PATtJ GENICAS
9ue the é patogenico. Esse papel patogénico, introduzido pela participa{io
Com efeito, os fatos reais vividos por uma ci ian9a **° °*° *°'" °°^° numa situa ao real ocultada, é sobrepujado, ao contra rio, parcial on total-
poderiam ser testemunhados JOE outros; é "° *^ +° P '^ conjunto “ merite, por palavras verdadeiras que verbalizam a situa9ao dolorosa que é a
percep§ñ es que ela tern deles e o valor simbfilico q•* ^* despre ride ° sentido dela, e que emprestam sentido, para um outro ao mesmo tempo que para ela,
que essas percep9oes assumes para o narcisismo do sujeito. Ei›* •• ° °*^- ao que ela esta vivendo. Assim ocorre com os acidentes, mortes, doengas,
bñ lico depend e km grande parte do encontro de uma experiéncia ”^ ” crises de colera, de embriaguez, destemperos da conduta que provocam a
eleiive recite nova e das palavras justas ou mo q • •*•*• pronunciadas °" interven9ao da justi9a, cenas domésttcas, separa9ñes, divñrcios, tod as as situ-
@ p g S I tj p pp p @5j} Q p elas p esso as OHVJd6S O f. e la , CSSHS R GVI'HS O U 8 a9ñes em que a errand a é envolvida e cuja divulga ao lhe é interditada ou,
Izli z conseiwam-se e se representarao na sua <*<°"° °°^° representativas ptor ainda, cuja realidade ltte é escondida, os quais, nao obstante, eta sofre,
verda deiras ou falsas do experimenta do vivido. A imposi9aO do siléncio as sem que ltte seja permitido neles se reconhecer ou conhecer a verdade que
perguntas e 1s afirma9ñes da crian§a on a auséncia de dialogo a propñsito percebe de maneira m uito sutil e cujas palavras justas, para traduzir a sua
experiéncia com eles compartilhada, ao ltte faltarem, levam-na a sentir-se
do real pela errand a, e deixam casas percep90es e aquele que com etas experi- estranha, objeto de um mat-estar magico, desumanizante.
mentou Qy• ou p razer na m entira OU CIO lDdlZlVCl dO lnDtlSlTlO 8O8 8 magi-

cp. Isso pode produzir-se a prophsito das nao- experiéncias rears, pois o que é
desejado pelo sujeito pode ser, por ele, na sua vida solitaria e silenciosa, per- 5. SUBSTITUICAO DOS PAPEIS NA SITUA§AO TRIANGULAR PAI-MAE-FILHO
cebido imaginariamente, e protegido assim da incongruenci‹i entrevista por Toda substitui to do papel do par pela mie é patogénica, quer a mae
etc de toda palavra verdadeira trocada. Mas, como as palavras geram ima- decrete a insuficiencia do par, colocando-se no lugar dele, quer cfc esteja an-
gens, acontece que, quando uma crian§a sente desejos e imagina fantasmas a sente, ou ainda quer ela nao se refira ao seu desejo a get. Com tfflito, esta
20 A PRTMEI8A ENT REVISTA EM PS ICANALISE
?RtACO, I1

comportanaentos regressivos neuroticos ou psicoticos de seus pais, de valo r a se u pe9ueno .m undo familiar e valor a longo prazo, na esperan§a de
seus avos on das irmas e irmaos rnais velh os.
gerar um da em st mesma filhos do ser que ama on de dar-ltte um filho e é
O complexo de Edipo, cuja organiza9ao se instala desde os tras anos
preciso que, ao chegar aos sete anos, ela renuncie_ a tudo o que a fez crescer, a
com a convic9a o do seu sexo e se resolve (o mais cedo possivel por volta
tudo o que valorizava as suas experién cias, é preciso que ela sacrifique,
dos seis anos) com a reso1u§ao e o desligamento do prazer incestuoso, é a
ao menos que esque9a o prazer feito ao seu aura do. Se a ele nñ o ren uncia,
‹:ncruzilhada das energias da infancia, a par ti r da qual se organizam as
pro-
averiidas da co - niunica9io criadora e da sua fecundidade em sociedade.
duz-se quer um abalo consideravel; quer um bloqueio maci9o na evo1u§a
Acreditam muitos que o complexo de fidipo so diz respeito a alguns ins-
o dessa crian a, perturb ahao irremediavel sem uma psicanalis e. Quer a
tintos de sexualidade de estilo primate, o cio com finn incestu oso, e insurgem-
dissi- niula9ao parta da crian9a on dos pr6prios pais, finge-se que seus
se contra a sua universalidade. “Um menininho diz que quer se casar com a
instintos nao existern, trata-se a crian9a como um aniinal doméstico, eIa prñ pria
mamae, uma garotinha afirma que quer se casar com o papai... Sao palavras
faz dengos para agradar aos pais on os evita, culpada de exprimir-se
de crian has, é engra{ado, nao corresp ondem a ver dade, elas p'roprias na
gestual ou verbalmente mediante observa9ñ es ou juizos colhidos fora do
o acreditain nisso!” Ora, todos os estud os da infancia most ram-nos que
lar familiar. Instavel on excessivamente submissa quando em familia, ela nao
nao somente a crian9a n‹ao fat a por meio de gracejos, mas também que é
gra9as a carnaliza9ao desse desejo, que ainda nao sabe ser incestuoso, que se constrbi em rela9ao a vida mista dos companheiros de sua faixa eta ria,
as crian as constituem o seu corpo na sua totalidade. nao se constroi em relahao ao seu corpo, pode ser muito estudiosa, ter um
O devaneio fantasmado da felicidade conjugal e fecunda com o seu pai alto grau de psi- tacismo escolar, mas, de qualquer forma, é, para a sua
complementar permite-lhe chegar a fala do adulto, ñ linguag‹•m para on- idade, uma impotence sexual. A sua com unica9ao é bloqueada, a sua
irnagina9ao continua a ser a de uma crian 9a em vista desse amor incest
noso inconsciente, vale dizer, se a
crian9a quer ignorar seja o seu prfiprio desejo, seja a lei que lhe proibe para
trem, a identifica ao transitoria necessaria do seu desejo com a imagem do sempre o acesso a ele, o resto da adapta9 o aparente que el parecer
desejo do rival edipian o. A felicidade esperada da satisfa9ao desse desejo pode conservar nao passa de u_ma fachada fragil. Impotente sexual — ou
ser uma alavanca de adapta§ no muito positiva, muitas vezes ti aduzida nos do seu voto de amor, a esperan9a cavilhada no ventre de
contos de fadas, nas poesias e, portanto, “sublimada” na cultura. Contudo, possuir um dia o genitor de sexo complementar; de ser o seu
além desse lado posJ ivo cultural, o desejo ardente de posse e dominio do unico eleito. Essa espera_n da
objeto parental expriine-se em sentimentos que provocam efeitos caracteriais
negativos de extrema violéncia em familia. Muitas garotinhas e menininhos
conseguem fazer explo dir um lar, fr‹a gil .talvez, mas que teria sido duradouro
sem o ciume reativo que a mae desenvolve u em rela9â o a sua crian{a ou o
pai em rela§ao ao filho. Essa dinamica profupda dos instintos das crian§as
que as impele a rivalizar com o genito r de mesmo sexo e a obter os favores
do outro esbarra no caso de saude afetiva dos pais, em uma parede, uma
prova9ao: a inalterabilidade do sentimento e do desejo sexual que os
adultos dedicain um ao outro. fi que a lei da interdi9ao do incesto nao é
apenas um_a lei editada; é uma let interna, endhgena* mcada ser humano e
que, nao respeitada, mutila ‘profundament o sujeito nas suas for§as
vivasysomaticas ou culturais (é a
’ imagem de um*roque retornass*e°a sua nascente) .
Cresce no cora#ao da crian{a a esperan9a de chegar um dia a realiza§ao
potente na sua criatividad e —, ela desmo rona-se diante da primeira pro- vaRao da
rea11dade.
Se o dominio consciente da lei que rege a paternidade e as rela#ñ es fami- liares nao é
adquirido, o que se ve pela auséncia de noRao clara dos termos que as significam, as
emo9ñ es e os atos desse sujeito estao fadados ‹a confu sao e a sua pessoa a desordem e ao
fracasso. A sua moral permanece referenciada' ! â época pré-genital infantil, na qual o bend e
o ma1 dependiam do dizlvel ou do nao-indizivel a mamae ou papai, do nao-visto-nao-
tornado; o “parecer” para “agradar” on “n ao desagradar” é o unico critério da sua moral.
A delin- quéncia é “inocente”, irresponsavel, pois a sobrevivéncia dos desejos incestu- osos
latentes justifica os papéis imaginarios onde ela consegue fazer a sua propria lei na
sociedade. Rao resolvidos aos sete anos, os conflitos edipianos serao reativados com o
impulso fisiolbgico pubertario, provocando a culpa- bilidade e a vergonha diante dos
caracteres sexuais secundarios visiveis, o
Edipo reaparece intenso, desarrumando o equilibrip mantido desde os sete
anos. Se o Edipo nao est* verdadeiramente resolvido aos 13 anos, ha que
prever gravls*simos'disturbio dos 18 anos em dante no momento* m que a
op9io pela vida genital e as emo9ñes do amo_r deveriam orgulhosamente ser_
assumidos e procurar*socializar-se em ambience mrsto. 9Oes a dois ou se desenvolve em brigas em situa oes com varip5 participan tes,
Que é, pois, essa res u9ao efiipana, ess terriio que se vé sempre nos P° crises de cii mcs de estilo homossexual, idéntico ao ciume edipiano a ind a
textos psicanallticos e que interpretamos como sen do a chave de um sucesso, presence que Ihe corrñi o cora9ño. Um notavel fen6meno sociol6gico da np -
o u, ao contra rio, de certa m orbidez nos seres h uman os' Trata-se de uma sa época é que, ao contrario do interdito do canibalismo, que é consciente-
aceita ao dessa let do interdito do incesto, de uma ren uncia ao desejo do mentC Conhecido de todos, O interdito do incesto entre irmaos esta nocional-
corpo-a-corpo genital do sexo complementar e a rivalidade sexual com o de mente desaparecido para muitas crian as, e en deparei co;n va rios casos em
mesmo sexo até na via-imaginaria. Essa aceita{ao, que coincide, alias, com a que, aos 12 anos, o mesmo ocorria com o interdito do incesto da crian9a com
base da queda dos dentes, é tambem, de fato, uma aceitapao do luto da vida os genitores. As cans as sociais desse fato mereciam ser estudadas. Os danos
imaginaria da infancia protegida, ignorance, dita inocente; é também uma 8°^88 ^u8éncia de let editada sño consideraveis, pois a intui9ño do perigo
eventual aceita9ao da morte possivel dos pais, sem culpa magica ao pensar psicogénico do interdito em nossas cidades é varrida por perigos reais de
n¿sso. No caso em que o casal de pais é equdibrado, quero dizer composto de violéncia ou de chantagem oriundos do par provocador perverso, investido
does individuos psicologica e sexualmente sadios, mesmo‘e°ta1vez sfibréiñdo de todo poder pela crian a, e pelo meio circundante amedrontado ou ingé-
se eles nao tém qualquer noRao conscienteWe psicoFogia e de Psicanalise,tu°dñse nuo que condena a nio-submissao cega ao pai abusivo perverso. Confirman-
' pñ‹i nos eixos rios instlniosila crian a*. 0s*pesadelos ou as cenas de oposi9ño do a universalidade no inconsciente do complexo de castra ao, a clinica mos-
*caracterial o u de ciurqe amoroso que traduzem o periodo crltico dos sete tra, cada vez que existe ignorancia conscience do interdito do incesto, graves
anos cessam, ja nño existem esses pequenos sintomas que marcam a vida de disturbios afetivos e mentais em todos os membros da familia. Mais uma vez,
todas as crian9as ao redor desse periodo critico. A crian9a, quando as cir- nño se trata de hereditariedade fatal, visto que a psicoterapia psicanalltica,
cunstancias sao favoraieis, passa a desinteressar-se de maneira m uito cortés, melhor ainda, uma psicanalise, permite ao sujeito, finalmente, explicitar e
mas claramente, pelo efeito que produz no pai, na mae, a desinteressar-se revolver o men Edipo.
pela vida Intima deles, que, até o momento em que eta lhe conheceu o sentido Voltemos a situa9io trinitaria par-mao-filho e seu papel determinante na
(que é corifirmado pelo seu nascimento e pelo nascimento dos irmaos), agu- lu9ao psicolhgica. Cada ser humano é marcado pela re1a§ño real que tern
9avam a sua curiosidade. Ela é muito mais sensivel as condi#0es soerais que a com o pai e a mâ e, do n pr•ori simbblico que herda no instance do seu nasci-
sua filia ao ltte proporciona, mais ocupada em observar os seus pais na sua mento, antes mesmo de ter aberto os olh os. Dessa maneira, tal crian9a é
vida social aparente, com os seus relacionamentos, e transpñe um pouco esperada como devendo eliminar os sentimentos de inferioridade de seu pai,
para a rela9ao com seus colegas preferidos o estilo de companheirismo que os que permaneceu como o menininho inconformado de nao ter nascido num
pais mantém com os amigos. lnteressa-se cada vez mais, quer o demonstre on corpo de menina, produ for de algo que vive nela, como cfc viveu em sua mae.
nao, pela vida das crian9as da sua idade, pela sua escolaridade, por ocupa- Tal filha é esperada como devendo ajudar sua mae a reencont rar a sitra9ao
ñes que the sao pessoa is, e abandona o modo de vida em que centraliza tudo gemina da de dependéncia para com a propria mie, da qual se liberto u com
no juizo que faziam os adultos, tanto em casa quanto no mundo exterior. A muitas dificulda des, e a eliminar a sensa$a o de abandono que experim enta
resolucao do complexo de Edipo como fato aparece de forma indireta quan- com um marido que ltte permanece alheio. Essa errand a necessaria a seu pai,
do a crian9a, deixando de apresentar problemas no far, é capaz de deslocar a necessaria a sua mie, ja estd encetada, se me é licita a expressao, do ponto de
situa$ao emotional trinitaria para transpo rta-la para o mundo ambience, vista simbdlico, na sua for a de desenvolvimento. Em suma, cada crian9a estñ
na escola e nas atividades ludicas; entre inumeros colegas, eta pode fachord marcada por essa situa§ao real. Mas, pode-se argumentar, que existem crian -
am18°' has que nao téiu pai, ou, pelo menos, nio o conhecem; pois bem, se essa
doras. km contrapartida, a crian9a que nao‘resolâ eu o £fiipopermn°°* situa to é a deles, é a pnrtir dessa situa{ao que eles se cons truirio, contanto
muito dominada pela ambiéncia emotional do seu'relacionamento com a” que as palavras que lhes sio ditas pelo meio social sejam as palavras justas
mae‘ oJ com o pai. Com os seus raros companheiros› o sujeito repete situa- referentes a essa auséncia de representante, vivendo ao lado deles, da pessoa
paterna ou da pessoa paterna. Entre oS exemplo s dados por Maud Mannoni
14 ' A PRIMEIRA £NTREvISTA EM PS ICANALISE
vao ser retomadas em acoplamento- gemina9ñ o artificial com
rela ao ao filho, ou com a reativa§ao do £dipo, ou seja, vao se
e entre m uitos outros em que penso, o papel deses truturante ou inibidor de mostrar de tal modo ciumentos do apego dO fllho a‹3 seu
desenvolvimento nao se prende a auséncia dos pais (essa auséncia é sempr e cñ njuge que isso se transforma em sintomas graves. A crian{a
dolo rosa — mas a sua presen{a também pode ser. Em todo o ca!io, toda necessita nesse momen-
dor pode ser sadi a q uan do reconhecida, pois a cri and a pode estru turar
suas defesas comp ensa doras) . Todas as palavras neurotizant es vém das
mentiras que impedem os fatos reais de conter os frutos da aceita§ ao, a partir
da situa- Rao real.
Cada ser humano possui, em consequ éncia de sua prfipria existéncia
en- carnada, uma imagem do homem e da mulher complementare:›; ele
rnolda essa imagem, por meio dos pais que o criam e é por causa desse
empréstimo iniagin ario a pessoas rears que ele vai se desenvolver,
identificando -se com elas segu ndo as possibilidades do seu patrim ñ nio
genético.
Etas sâ o, ao mesmo tempo, portadoras da sua aspira9â o ima ginaria,
seja identificadora se é o pai do mesmo sexo, seja complenientar se é r› pai do
sexo oposto; ora, as emodoes relativas a essa imagem, que nao podem :ier
express as a pessoa real portadora dessa imagem, falsear ao a imagem pessoal
do sujeito e pode-se chegar a situa#ñ es paradoxais de urna erranda que se
constrñ i de maneira invertida, oii totalmente neutra, reprimindo
histericamente a sua vitalidade genital, por exemplo quando a imagem
paterna é carregada pela mae e a imagem materna é carregada pela
pessoa do pai.
O importante nao é isso; o importante é que as palavras que correspo ndem
a experiéncia da crian9a raramente sao pron unciadas pelo semi meio
social, testemunha, como elf, dessa situa ao. A critica que eta poderia fazer
disso em torno dos dez anos de idade torna-se impossivel e eta vive, constroi
a st pro-
pria, sem o perceber, de maneira caotica, carnalizando -se no i eriodo pré-
edipian o de uma forma que prepara, no momento do desinvest.imento
rela- tivo libidinal dos sete anos, um periodo de laténcia neutro, di•
pseudocas-
tra{ao que, sem psicanalise, a condu2ira a procurar na puberdade uma
fixa- Rao a uma opRao de complemento ulterior extrafamiliar nuns estilo
quer investido, quer indeciso, a pessoas que nao serñ o inteiramente
crimplementa- res da sua verdadeira natureza genital que permaneceu
confusa.. Ela arrisca- se muito a escolher pessoas que, a irnagem das que
criaram, sao caoticamente polarizadas e sobretudo apenas em parte
genitalizadas. Sao tais crian9as que se tornam pais abusivos, pots o seu fidipo
malfeito as deixou sedentas de uma libido de puls0es nao diferenciadas que
to da solidez do casal parental para que os seus fantasmas de triunfo edipiano fracassem
diante da realidade, pois, do contrario, corre o risco de ficar mais seriamente
enferma do que o pai ou a mae.
Releia o leitor essas obser va9ñ es nas entrelinhas e entenderl: “Meu mari- do nada
tent de homem nem de pai, cumpre entao que eu seja tudo” ou “Ah! Eu queria tanto
que o meu filho se parecesse com meu pai” ou “que nao fosse igualzinho ao pai” ou
entao “Sem a minha irma en nao posso viver”, “Quero que a minha filha seja que nem
a minha irma, ela deve substitui-la” ou ainda “Eu, que ocupei o lugar de um irmaozinh o
que. nasce u morto antes de mim, e cujo nome ostento, n ao posso saber tomar o lugar del
e, nunca set o que dizer ou o que fazer. Acaso o rnatei? Quem nasceu? Quem sou eu?
Sendo um semi- mo rto, tenho semidireitos” ou ainda “Esse filho nao quero, revejo nele o
rneu odiado irmao”. O utra: “Mamae é tao infeliz com papai que tenho de ser o seu bebé
para consola-la, o seu bebe do tempo em que ela e papai se amavam, e dep ois eta tern
tanta necessidade de se dedicar... é preciso entao que eu esteja doente, pois, do
contrario, para que permaneceria ela em casa... e depois como en sou quase marido
dela, é a mim que ela ama e eu nao quero ninguém entre mam ae e mim”. Cada caso
patologico é a pantomima de um discurso niio -verbalizado que significa a afirma9ii
o ou a anula Rao da dinamica do sujeito que nos trouxeram ao consulthrio. As
descobertas clinicas psicanali- ticas impñ em a compreensao dinamica dos disturbios
infantis pela analise das dificuldades encadeadas que remontam as carencias, na
estrutura9ao edipiana, nao dos pais, mas dos avñ s e, as ve2es, dos bisavos. Nao se
trata de hereditariedade (sena o uma psicanalise nao modificaria as coisas), mas de
uma neurone familiar (tirando desse termo, por outro, qualquer sentido pe- jorativo,
para que ele so conserve o seu sentido dinamico). Trata-se de imatu- ridade libidinal, de
regressñ es on pervers0es sexuais por carencia encadeada, nas resolu{ñ es edipianas
nao realizadas.
Este livro pode comunicar aos leitores novas preocupa ñ es, fazendo com que
vejam evolu90es onde pensavam haver um destino fatal? Isso nio é im- possivel e
seria lamentavel, pois, infelizmente; .as .preocupa#ñ es a respeito de si mesmo
produzem..sem demora o sentimento de culpa e a procura de receitas rapidas para
fazer tudo no señ tido de modificar as aparéncias. Mui- tae familiar vivem num estado -
de simbiose mbrbida. Sem a psicanalise .do
membro indutor dominante, a neurone familiar nao é modificavel. Ora, com
frequéncia, a psicanalise ainda é inacessivel (tempo, lugar, dinheiro). Pode-se temer que
livros que se dirigem a todos despertem rea9ñ es imprevistas. fi senipre o perigo que se
deve recear quando se fala de psicanâ lise, e, rio entan- ..
to, é necessario que o publico desperte para esses problemas. Entre os exem-
plos eita dos, pai ciumento ou indiferente, mae rejeitadora ou desp6tica, ca- liar * 9°*› momentaneamente, se desinteressou por ecu papel de aluno. O
sal morbido prisioneiro de um contra-senso, antepassado no papel por de- drama para as errandas, em nosso pais e em nosso sistema, provtm do
mais respeitado, abu sivo e perver tidor, vio talvez reconhecer o seu retrato e estr)o de instru ao passiva, nos horarios e programas obsessivos e que de
sofrer inutilmente com uma situa ao de fato sobre a qual nao haviam refleti- modo algum deixa a cada qual uma margem de acesso ñ c ultura. As
do. Talvez se sintam culpados, enquanto nao passam, també m eles, de res- li§ñ es e os "*" "^› esquecemo -nos disto com demasiada freqiié ncia, sao
ponsaveis ocasionais, da mesma forma que o condutor de um carro que teve meios mas nñ o
o seu curso desviado pelo estouro de um pneu ou pelo choque de outro veicu-
Io pode provocar acidentes. “0s pais comeram as uvas verdes e por isso os Quantos adultos, validos e criativos, nao passaram, durante a inf3ncia,
filhos ficaram com os dentes embotados.” Essa frase ilustra quase todas as por periodos em que a sua escolaridade nao lhes interessava de forma algu-
histñ rias clinical deste livro. ma, enquanto o seu espirito alerta seguia momentaneamente outro caminho
Essa frase deve, alias, ser entendida nao no sentido de “é culpa dos pais”, que, para sua criatividade, o seu devir social significava que sua liberdade ja
on deste, ou daquele, mas no sentido veridico, que é o de que os pais e os filhos se engajava. Quartos distiirbios sérios do carater seriam evitados se a apreri-
de tenra idade sao dinamicamente participantes, indissociados petas suas res- di*^g* dot signos que per mite a comunica9ao cultural, a leitura e a escrita,
seria ncias libidinais inconscientes. e depois a aprendizagem das combina Oes aritméticas s6 viessern depois da
A aprendiza gem da liberdade em familia e o uso que se deve fazer dela é conquista e do desabrochar da linguagem veicular falada e da motricidade
um longo e solitlrio exercicio de coragem, os proprios adultos sao, com mais ludica livre, totalmente dominada. As for has caudinas das passagens a uma
freqiiéncia do que se cré, induzidos, ainda na idade adult a, em dire{a o, em série mais adiantada, baseadas em conhecimentos aprendidos e numa idade
contradi§ao ou em liga9ao complementar (imagin lria on real) pet a sua fixa- oficial, que interferem um com o outro, sao as mais absurdas condi9oes de
Rao e pela sua dependé ncia em rela9ao â gera§ao anterior, aos seus prbprios vida impostas 1 expressao do en. Ora, essa expressño é aprovada por cada ser
pais. Nio existe falha, mas fato. hu man o com o uma cxigt ncia vital. Qua n tas e nerg ias sufo ca das o u
A psicanalise ensina-nos que todo ato, mesmo nefasto, é solidâ rio de um desperdi ad as inutflmente e que poderiam ser deixadas em liberdade, com
conju nto vivo e que, rflesmo lastimavel, um ato ou um comportamento pode um sistema escolar que confirmasse em vez de infirmar o livre acesso as in icia-
servir de forma positiva para quem saiba dele tirar experiéncia. Infelizmente, tivas e âs curiosidades inteligentes dos futuros cidadaos, que os formasse para
em cada um de nfis o sentimento de culpa é fundamental, provocando as um dominio para eles mesmos, em cada instance carregado de sentido, das
inibi9ñ es e barrando o acesso ao unico ato Libertador, o acesso a uma fata suas capacidades, a uma ordena§ao por e para eles mesmos de conhecimentos
verdadeira a quem é capaz de ouvi-la. Espero que o livro de Maud Mannoni e ttcnicas adquiridos por desejo, e nao por obriga9ao on por submissâo per-
possa dar um testemunho tranqiiilizante a respeito desse ponto. versa ao medo das san9ñes e a imperativos impessoais.
Pe§O 9Ufl os jovens franceses nao sejam mais escravos de programas i -
pessoais impostos e artificialmente paralelos: tal nivel para o câlculo corres-
7. A SOCIEDADE (A ESCOIA). 0 SEU PAPEL PATOG/NICO pondendo a ta1 nivel para a gramâtica. Peto que o ensino da gramâtica fran-
OU PROFlLJtTICO cesa nao se dé antes do uso perfeitamente adquirido da lingua na expressao
Seja-me permitido formular votos de que os psicanalistas clinicos sb te- pessoal. Que a crian{a nao veja sempre o seu ritmo de interesse contrariado
.nham de cuidar dos casos que, com efeito, decorram das desordens por causa das limita9ñes do tempo consagrado a ta1 disciplina ou a ta1 terna
profun- das da vida simb6lica que datam de antes dos quatro anos e nao de ensino. Que é feito agora da introdu‹;Eo ñ musica,.â dan a, â escultura, â
dessas difi- culdades reacionais sadias â vida escolar atualmente efetivamente pintura, â poesia; que t fejto da inicia9io â habilidade e â harmonia das
patogénica. Refiro-me â s reaqñ es ou crises caracteriais sadias de um sujeito rias. A ginastica também esta programada e o 'de-
ocupado em revolver dificuldades rears necessarias na sua vida emocional senvolvimento dos movimentos obedece a imperativos de desempenhos cal-
pessoal e fami- culados; que é feito da introdu§ao ao sentido das artes plasticas, onde esta a
int’rodu9ao ao sentido estético da expressio grâfica on verbal, onde estao as
palestras onde cada um fala, escutado pelo grupo, do que lhe interessa, inte- calculo' Por que devem solicilar a um adulto autoriza§$o para se isof ar, se
ressando os outros e at tomando consciéncia da sua inser§ao so'-rat pessoali ausentar para satisfazer necessidades naturals que, bem sabemos, elas adiariam
Em quantas classes, se as crian§as tivessem permissfio para sair quando dese- por iniciativa prñ pria se a tarefa em que est‹ao ocupadas em classe lhes inte-
jassem, ficariam sentadas em siléncio durante uma hora, escutando ou fin- ressasse' Por que o sentiir ento do valor intangivel da pessoa humana ali presen-
gindo escutar' fi at que se falseia o sentido da verdade do sujeito em SOcleda- te, original e Ii vre, em cada crian §a, respeitada em st propria ind ependente-
de, e onde as energias formidaveis que uma erranda pode desenvo lver pela sua mente do seu potencial familiar, nñ o é o mfivel das menores atitudes do profes-
cult ura e instru Who, se as suas rn otiva§ ñ es a anim am, sao sor em rela9ao a cada um, e, pelo exemplo assim dado, inculcado em todosi
praticamente sufocadas, em nome do bem dos outros, para serem Por que a escola nao é para todas as errandas o lugar de alegria e o refugio
teoricamente dirigi das, enquanto nada sustenta a fonte das motiva§ ñ es, onde ela encontra repouso para as t ensñ es familiar es, a confian§a em si, um
nem a originali dade do su- jeito em busca da sua alegria. O desejo nao se meio social vivo, uma ocupa9ao atraente' Com ou sem pais petturbados, a
comanda. O gravt é que, se as errandas atuais aceitam cada vez menos essa partir dos sete anos o lugar da crian§a ja nao é na familia mas na sociedade,
mentira multiladiara das suas forhas vivas e vao engrossar as categorias de na escola, luga r nao privñ egiad o mas respeitado pelo dimples fato de que eta
disléxicos, discalculicos e retar- dados escolares, sñ o ent ñ o os pais que, é um cida dao. Cada um d os respons aveis pela administra§ao da escola deve-
por angustia do “fu turo”, querem impor a lepra dos deveres obrigados, das ria estar ao servi9o de cada crian§a, e cada crian§a deveria senti-lo, se se 9uiser
li§ñ es engoJidas, vangl'ariam-se das boas coloca§ñ es da crian9a, sentem-se que, em seguida, ela deseje livremente assumir, por sua vez, o seu justo lugar
deprimidos com as suas notas baixas. Diante dos boletins que devem ser criador, segundo as suas capacida des, na sociedade.
assinados todos os sabadc›s, sentem-se como se fossem conferir o cartao da O que se vé' Nao crian{as escolhidas na escola, mas crian9as submeti das
loteria esportiva! Esse desejo dos pais, imposto em nome da sociedade (a as engrenagens anfinimas de uma maquina administrativa. A discipl ina, se-
escola é a sociedade, o para-além do fami- liar edipiano), impede a gundo se diz, faz a for§a dos exércitos, pois cada quad nele deve ser irrespon-
liberta§ñ o instintiva dos pais em rela§ñ o aos se us filhos, e vice-versa, savel pela morte que deve dar, intermediario anñ nimo que é do instituto de
agravando assim o esgotamento na fonte da!› possibilida- des culturais defesa de um grupo national, submetido a uma hierarquia de comando,
verdadeiras. Por que o nosso sistema de inicia ñ ‹a do cidad ao a cultura e a alie- na do por con tra to no seu chefe, a finn de que possa ser prese rvada em
vida social, quero dizer o nosso sistema escolar, obedece a mé- todos e a cada um a hierarquia estruturada para dar a vida e nao para toma-la.
imperativos totalmente estranhos ñ higiene afetiva • mental dos seres No entanto, a disciplina na escola somente pode vir de cada erranda e do
humanos+ Por que motivo errandas que chegam sas de corpo e de espiri- to —
simpler fato de que eta focaliza melhor os seus desejos no que ela prfipria
ha muitas nesse caso — com a idade de trés anos a escola maternal sao com
preten de aprender, e apenas nesse caso. A disciplina pela disciplina é absur-
tanta frequéncia traumatizadas e tantas vezes empobrecidas da esponta- da; quanto a disciplina imposta por um chefe para nao perturbar a atividade
neidade criadora que é o essential do ser humano, para se verern fantasiadas dos outros, instaura a passivida de estéril na categoria de valor. Sñ resta ver
de robos disciplinados e tristes, amedrontadas diante dos pr‹afesso res que como uma crian pa pode se abstrair e brincar sozinha com alguma coisa que a
deveriam lhes prestar servi9o*' cative em meio a maior desordem e ao maior barulho para perceber pronta-
Por que, ainda alegres e comunicativas aos seis anos (ha rnuitas assim), mente que esses “outros” que tém de ser protegidos podem, com proveito, ser
deve a “turma” obrig;i-las a calar-se, a ficar sentadas imñ veis como coisas ensinad os e abstrair-se tanto na escola como nos seus jogos. Aqueles que
on an trnais amestrados, e sobretudo ensinar-Ihes ñ forma, em nome de um ainda nao conseguem focalizar os seus interessesna aula nao seriam desvia-
pro- grama, o que elas ainda nao tiveram desejo de conhecer, a leitura, a
dos destes como o sao por uma disciplina mortlfera. De fato, a esco1ariZa§ao
escrita, o obrigatoria, genial decreto que pode ria conservar criativa toda crian§a sa-
dia, a partir dos trés anos, e Iivra-la das suas experiéncias edipianas, susten-
tando as suas capacidades de sublima aO rlO dia-a-dia, sustentando os seus
int erc‹EmbioS cOm o grupo e o seu acesso a culture, essa escolariza ao obi iga-
tñ ria tornou-se uma tarefa de desritmagem, de competi{ao exibicionista enquanto a estrutura da sua personalidade é concluida no meio parental. Tambérii gstou
de mutilados bem ou mal compensados. A adapta$ao escolar é agora, a
parte rarissimas exce§ñ es, um sintoma maior de neurose. Isso nao quer dizer
que a inadapta§ao seja por st sb um sinal de satide, mas é entre as crian9as
e os jovens alinhados sob essa denomina{ao que se encontram
infelizmente os cidadios atuais validos. Permanecerio eles muito tempo
assim se a introdu- Rao a cultura nio Ihes. é oferecida pela sociedade dos
adultos?
0s instintos sadiamente humanos dos jovens, libertos por st mesmos
da obediéncia parental ultrapassada e desviados do entusiasmo de chegar a
cm- tura, sb podem comprometé-los num gregarismo pulsional fora dos
limited. Como assegurar a substitui9ñ o dos antigos, que, nao os
respeitando, lhes inculcam o irrespeito por st prñ prios e pela sua imagem
futura' Nos meios abastados, o poder aquisitivo devolvido pelos pais permite
o acesso as distra- ñ es mais on menos dispendiosas em que muitos
adquirem valor cultural, muito afortunadamen,te. Nos meios intelectuais,
os valores culturais repre- sentados pelas trocas extra-escolares com o
meio circundante servem ainda de compensa9ao, salvo nos casos de
neurose parental — â caréncia cultural escolar. Contudo, nod meios de
trabalhadores bra$ais, de comerciantes, de funcionarios publicos, o que
podem fazer das suas energias em alqueive rapa- zes e mo9as até os 16 anos
obrigados pela let a uma escolaridade para eles sem interesse, a margem das
trocas que os valorizariam' homo se integrar numa sociedade que os
censura abertamente por nao terem apreciado os bancos escolares, os
conhecimentos livrescos, as lengalengas impessoais dos mestres, a disciplina
passiva e os jogos sem riscos?
Se me pode ser permitido falar assim num prefacio a um livro tao
notavel que sublinha e ilustra o papel do psicanalista, é porque a nossa
pratica nos convida a constatar diariamente efeitos neurotizantes da vida
escolar sobre crian9as que tiveram uma sadia estrutura pessoal em familia
e um Edipo sadiamente vivido. As bases da sua vida simbdlica sao
ordenadas, e é â sua criatividade de rapazes ou mo{as chegados ao estlgio
da vida social que nio logra ser empregada, com as desordens secundâ rias
provocadas pela escola, que os levam aos psicanalistas, desordens â s vezes
graves, por causa da angus-
tia reativa de seus d IS.

Se lan$o esse grito de afarme, é porque estou convencida do poder


emoci- onal da vida de grupo em meio cultural, quando o grupo responds
efetiva- mente ao desejo de criatividade e de fecundidade simb6lica nas
trocas inter- humanas de que uma crian§a é capaz dos sete anos em diante,
convencida, e tive provas disso em certos casos privilegiados, do demented; é o conformismo psitacico efi- ciente, meio perverso de
poder repa- rador que poderia ter em numerosos casos a vida de promo{ñ o social proposto a todos. Nao basta apli- car vacinas contra as
grupo de dois anos e meio a sete anos para a criari9a submetida doen9as do corpo, cumpre pensar em vacinar a crian a contra o desespero e
em familia a influéncias mhrbidas parentais, e isso sem que ela a angustia solitâ ria, em vez de deixa-la afundar-se nas
tenha de deixar o seu meio inicial. Contudo, para isso é preciso . areias movedi$as, entre e aos seus instintos.
que a escola dita maternal corresponda a sua denomina ao e
sirva de pro tese as imagos sadias das crian9as que — em fam:lia
— sñ encon- trem apoios falhos...
fi inadmissivel que errandas de dois anos e meio cujas maes
nao podem por em contato diario com outras crian9as fora da
familia nio sejam admiti- das no grupo social escolar porque sio
demasiado jovens ou porque, seja qual for a sua idade, n$o
adquiriram o controle esfincteriano, enquanto a nñ o-obten§ao do
controls corporal nessa idade é o sinal patents de rela9ñ es
perturbadas da errand a a sua mie no meio familiar. fi
inadmissivel que a errandas que nao falem aos trés anos, on que
nñ o ou9am, tenha sido recusado o livre ingresso em grupo
escolar corrente antes da idade de instru9ao, as quais, de fato,
necessitarao de métodos especiais. L inadmissivel que toda cri-
anda deva ser submetida a instru§io dos signos a partir de seis
anos, quando ainda nao esta aparelhada para isso nem deseja
fazé-to. fi inadmissivel que turmas ditas de aperfei oamento, com
métodos individualizados, so possam aceitar os inadaptados para
a instru9ñ o antes dos or to anos de idade, enquanto dois dos mais
importances anos foram perdidos para o desenvolvimento ver-
bal e psicomotor, e que o sentimento de nao se haver integrado ao
grupo estra- gou o cora§ao dessa crian9a, freqiientemente mais
senslvel e mais vulneravel do que a crian9a dita “inteligente”. A
aquisi ao da autonomia torna-se impossivel para a erranda
triturada nas engrenagens da escola e diante do casal formado
pelos pais. A liberta9ao libidinal da dependéncia aos adultos, que
estimuJa a atra9ñ o das errandas para a sociedade, é eritravada, pois
os professores se con- furidem com os pais. Agradar-lhes, nao
desagradar-lhes, sair-se bem para eles e nao para si proprio —
quer o saibam, quer nio — e sem motiva{ao pessoal, é
perversamente inculcado nos jovens antes e no curso da
adolescencia.
O interesse compartilhado com pais e professores por uma
disciplina cultural e o entusiasmo coletivo pelas letras, pelas
matematicas, pelas cién- cias nao se verificam em horâ rios
mergulhadas numa sociedade onde, com exce9ao do canibalismo,
Se o papel do psicanalista é permitir a um sujeito neurotico on doente todos esses comportamentos define uentes sa o propostos a sua
mental encontrar o seu sentido, é também seu papel dar um grito de observa9ao.
afarme diante da caréncia ptiblica educational, dos métodos e institui‹;0es
escolares freqiientemente patogénicos, em face das caréncias e do papel
patogénico individuais de muitos pais do mundo dito civilizado. A civiliza
ao é um esta- do que sñ se mantém pelo valor de cada um dos seus
membro!' e pelo inter- cambio criativo entre eles. Nao é necessâ rio que o
pre§o da civiliZa9ao seja a existéncia de psicoses e neuroses devastadoras
cada vez mais pt ecoces.
Um imenso trabalho de profilaxia mental deve organizar-st*, e isso nao
é fumao dos psicanalistas clinicos; esse trabalho, porém, nao pode
organiZar- se sent a nova luz que a Psicanalise traz para o mundo
civiliz,ido. O que se poderia fazer a partir da idade conquistada (nao antes
dos sete anos, e variâ - vel para cada individuo) da possibilidade de acesso ñ
cultura, para abrir o caminho a expressao auténtica dos desejos das crian§as
desde a freqiienta9ao escolar, permitir que elas adquirani consciéncia do
seu valor pessoal, inse- paravel do valor pertencimento a um grupo inteiro,
permitir que elas se exprimam, que troquem com os seus semelhantes os
seus di:sejos, os seus projetos de aprendizagem, que exponham os seus juizos
sobre a sua escola, os professores, os proximos, os pais e que se autonomizem
no acesso a insmu§ao pessoalmente motivada? Uma expressao assumida
com confian9a em entre- vistas livres leva consigo uma consciéncia de st e
do outro.
Por que cada esGola nao teria um on vñ rios psicéilogos, sern nenhum
po- der executivo nem legislativo, a servi o exclusivo das entrevistas livres
solici- tadas pelos proprios alunos, desejosos de exprimir as suas esperan9as,
as suas prova9ñ es, as suas @vidas e certos de se sentirem ouvidos,
coinpreendidos e defendidos, sem angustia no seu interlocutor e também
sem cumplicidade, p zru buscarem pessoalmente a so1u{ao das suas
dificuldades'
Falta também a escola, para compensar a caréncia educativa do
exemplo recebido em familia, a instru§a0 formadora social.
Quero dizer que as crian§as civilizadas nunca ouvem da boca do seu
mes- tre, e nunca os seus pais the disseram, por nao sabé-la on por julgar
born dizer-ltte, a formula9ao das lets naturals que regem a espécie }tumana: as
lets da paternidade e da maternidade legais, as leis que regem os instintos
natu- rals e o seu comércio em sociedade, a proibi9ao do canibalismc›, dO
£oubo, dO homicidio, do estupro e do adu}tério. Ora, etas -estio
* ' **!°s civico s e a lC Ecé de to d d$ HS chan t£tgClâs de am or ou de abando no, en quanto
° legislador formulou nao somerite uma declara§fio dos d tt jtp do H omCm mas
também uma declara ao dos di£eitOS da Crian§a. Quantas crian§as conhecem o
recurso que pod em legal mente pedir a let, diante de pais

'"‘* um terreno fl"° P^ °°* revolucionRrio e que efetivam ente o é, mas que é im OSI O,
GPIO a gr avam en to dos dist urbioS da adapta ao social precoce pelo sentimento pun
gente, aqueles que sâ o subm etidos aOS imperatjvp5 le- ga is de uma vida escolar
absurd a, longe das re•1idades q« serian consid ra-
das por um cidadao de sete a 15 an OS homo m Pieced O £aS dO empenho de seu
"‘ ° e de sua coragem, do sacrificio " ^"" génio criativo de filho de ho- " ^+' de
pobres 8 *88 ditos civilizados que nño sabem respeitar 2 vida pps eles gerada, nao
sabem abrir as vias do acesso i verdade a› era ñ e› due lhes
sobrevive reo.
Prologo

R eproduzo ‘q" ^ 8< ^6 n etas sucintas toma das ao término da p ri ni ei ra


Elas resum em, em sua prbpria frieza, uma situa âo.
Q’°* °'PT%esacrin§asruospasvém consultar-me sobre proble-
‘° que vâo desde dificulda des escolares com u m ñ n i fee tab Oct St c Oti ca s
us
€6rac teriza d as'
mas dificeis, crian9as alienadas, errand as em perigo moral, crian§as
rebeldes q• • q« tratamento mé dico, quem sgo

A entrada dos pais com a erranda no cons ultbrio do psicanalista é geraI-


°8te o sinal de que se busca recorrer a tercfll£o. TeS tgmunha de acusa-
Rio, confidente, conselheiro, o psicanalista é igu aI mente visto como jui z, per-
SflgUidor On salvador Supremo. Ele é a pesso a a quem nos dirigimos depots
os fraCñ £SOS, dOS dissabores, das ilUsñ es perdidas, aquele a quem queremos
agarrar-nos, mas também aquele de q•• queremos servir-nos para fomen-
tar querelas pessoais. Ele é, antes de tudo, o t£•l (9jro e desejamos que tpmd
partido.
A tarefa do psicanalista é nio se deixar prender nesses limit€S. g
la sua
Pfesen9a, vai ajudar um individuo a articulaf a sua demanda, a con tiiuir- e

erta seqiitncia, uma mensagem em que poderâ ser veicuJado um ••fltido.


O
analista visa mais a confrontar a tomada de posi ao do sujeito,
p°• alto do
seu mundo fantasm1tiCO, com um sistema que é da ordem do significante
dO que a dar a significa to deste on daquele disturbio.
A I in gu age ni d esen h a um sis tern a em qu e aS palavF8S to main um I u ga r menos determinado. A seqiiéncia da histsria nos é dada pela march a dos
"m determ in ad a orders. O mesmo acontece com a nov âo de parentesco. ° peñ es, pela situa §ñ o de um ,em .re1a§io ao outro.
°°J°"° situa-se riu ma linhagem, e o lugar que nela ocupa sup0e °*^*^ '* ^9 °° As m ulheres censura m -me as vezes por red tizi-las nos meus escri tos a um
°^ diferentes termos desse sistema. Um desses termos, o ^*$"* °"'° * °!• ^!!° papel de escrava submissa a Let do amo. Todos nñ s est amos presos em cer t a
* aI cer ta impor tâ ncia que se revela no discurso do sujeito. A P" "*°^ ° eng rena gem. Para que o mecanismo funcione, cada um deve encontro r-se em
'**"+' tira um sentido relaciona do, por exemplo, com a aceita§ño Ou rflCtiS8 de terniinado lugar. O ser humano forma-se por meio das revolt as, das ilu -
dC ttFF1£1 ordem estabelecida,e rigida, e que é comandada pelo sentido que sñ es perdidas, das aspira9ñ es desesperadas. Esta em rnovimen to dentro de
esse termo jâ adquiriu na mae. E em fun§ño de acidentes n esse registro que um sisterna preexistente ao seu nascim en to. Na vida, etc esbarra nas engren a -
se dediagram z s for mas de neuroses on de psicoses. gens politicas, nas exigéncias do trabalho, nas regras juridicas e socia is.
Todo sujeito acha-se, pOtdRtO, iDSCFtO hUPMa iRha TMJ, S0 UhâO ***/* “Nao ha lugar, no que dizeis“ censuram-me “para a mulher emancipada.
ieis. A analise nos mostra que a sua rela§ao com essas lets adquire uma signi- Ela esta sempre submetida.”
fica9ao na o sñ n o seu desenvolvimento, mas também "° tipo " '* ^9*° q•° E porventu ra existe algum lugar para o homem emancipado Ele tam-
estabelecera em seguida com o outro. bém nao esta sempre submetido a algué m on a alguma coisa, on prestes a
E a Jacques Lacan que cabe o mérito de ter ap urado essas referéncias
essenciais da tipologia fre udiana. Ele nos permite assim ""+ " de uma forma O proprio sentido de cada um nao é poder reencontrar-se numa
orientada no universo do doente. Tenho -me servido de ^°^^ ° * "°*^^ na possibi- lidade de cria9ao, com os seus dissabores, lutas e desilus0es i E, em
minha escuta psicanalitica. Se ressalto a posit âo de +° ° ^*]* +° * rela§âo
toda cria- #ñ o, mesmo a mais hem-sucedida, em toda supera§ao, mesmo a
imagem paterna e a let, nao é um contexto normativo e ideolc›gico, é, lembi e- mais afortu- nada, nao existe-sempre uma parte de st mesmo que se sente
mos, porque o significante paterno, em face de outros significances, ocupa
contida n um espelho, eternamente em busca de uma felicidade sempre
determinado lugar no inconsciente do sujeito, e °° °'°' *°'°* revelam °° ftigidia+ E o c}ue siio, exatamente, a felicidade, o amor e a maternidade?
que BIOS é significa do no nlvel dO diSC£lfS O. S£• a mae p O d C '!8*8<*› P **
O ser humano constitui-se por meio dessas quest0es e do seu suporte
destas linhas, como o unico apoio de todos os *"°^ * " +° °^ °^ *'* °^'
de esperan9as e desesperos. Nem sempre é cfiniodo ver claro nesse ponto.
deve-se procurar nao entender ao pé da letra, no nivel do real, o que en tento,
As paginas que se seguem descrevem, dizia en, urna sitinI{fio. Veremos, em
mu itas vezes desajeitadamente, distingui °°^° °°' °^*°^ "">° top ol°8*"
segui- da, como extrair dela um sentido para que o sujeito chegue a
abstrata. Quer queiramos on nao, estamos inscritos ""< determinado *°**‘
significar-se em re1a{ao a ela e a st prñ prio.
ma de parentesco. A histfiria de cada um reflete a maneira coino ncia se reage.
Segundo um método de exposi ao talvez discutivel, von apurar uma
A crian§a trazida até mim esta situada numa famflia e carrega o peso da
cer- ta dimensio psicanalitica com base em 30 casos de primeira consulta.
historia de cada um de seus pais.
O estudo faz-se em dots niveis diferentes: no primeiro capitulo
Se, nos romances cor-de-rosa, todo final feliz Se realiza com o CaSamonto
e a ch egada de numerosos filhos, na vida o desfecho é as vezes menos exponho uma situa9ao; no segundo, tento, a partir desses dados, dela
otimista: é uma nova entrada num sistema, com as suas lets, os seus vinculos, as extrair um see - tido. O leitor encontro-se diante do seguinte piano:
suas obriga ñes. A vida de um filho levanta um problema para c‹ida UIT1 dOS
dis;
desse mod o, antes mesmo do Sen nascim ento, ja se desenh a para a errand a um ppy tit t9y ty quid o A situa(â o es caracteriais
certo destino. par aparece, nesse jogo Rea9ñ es somaticas
O primeiro relacionamento da crian9a estabelece-ie com a mae› que é, de xadrez, num lugar Desordens Inlcios de uma
nao escolares psicose
um sentido. Esse relacionam ento é fundamental, ocupa uJn lugar definido Dificuldad
O sentido

p 9a
5 89
S I a 65 65 a 75 89 a 92
75 a 78 92 a 95
E a partir da apreensao psicanalitica do que se passa nuina primeira con-
sulta que serio discutidos a seguir alguns problemas de atualidade — os
testes, o problems cscolar — para nos propormos finalmente a questao: o
que se passa durante essa primeira entrevista com o psicanalista. o que esta
em jogo por ocasiâo dessa primeira enirevista' A Situagéo

1. DESORDENS ESCOLARES
Uma alta porcentagem de consultas é motivada, ao que parece› por "dis-
turbios escolares”.
Se ez›sIem dificuldades escolares de origem purarriente pedaghgica, tam-
mo dcixa de ser verdade que esse sintoma encobre, quase sempre. o«trn
fi mo entendendo ao pé da letra o pcdido dos pais que o psicanalista
permitira que a porta se entreabra para o campo da neurone familiar, dissi-
mulada, fixada no sintoma do qual a crian$a se torna o apoio.
O interrogat6rio dos pais, a entrevista com a crian$a, visam essencial-
mente, numa primeira etapa, a um exame do diagndstico elaborado e trazi-
do pela famflia.
A cada vez t imposta a mim a mesma questao: que hâ, pois, de mo comu-
nic4vel em palavras que se imobiliza, se fixa num sintoma? E para essa
inves- tigatâo que convido o leitor. Nela mo chego a qualquer conclusao,
apenas proponho um problems.

Caso 4
- A Sra. Bernardin' veni me consultar a respeito do filho de 11 anos, inca-
paz dc acompanhar uma turma de tcrceira strie. O menino tern dificuldades,
especialmente em câ lculo. “E pensar", acrescenta a m4e, “que tenho um
'- irmao engenheiro e um filho assim.”
E proposta uma tentativa de psicanalise. A mae ja recua. “Temo que tudo
nho ao outro; ou melhor, o mais novo sñ the lembra os seus complexos, o
isso venha mudar os nossos habitos.”
mats velho enche-o de alegria com os seus éxitos.”
“E o senhor, que pensa sobre isso'”
Victor, apesar de possuir um QI superio r â média, fracassa nas provas
“Eu ja lhe disse, renunciei ha muito tempo. Quero paz, minha mulher é
escolares. Pretende ser brilhante, m as tern grande dificuldade. Rejeita todo
litre.”
e qualquer esfor§o, nñ o suporta se cansar diante de um exerctcio. Do seu
Livre para fazer o que quiser de uma crian§a quase nao reconhecida pelo
ñ dio ao irmio mais velho, conserva em st a imagem de um aluno brilhante.
par.
Esfor§a- se inconscientemente por imitar esse irmao mais velho a quem rejeita
Que pode fazer o analista, a nio ser esperar' Se for armos aqui uma
e despre - za. Desejaria poder interessar ao pai... mas o trabalho, na medida
psicanalise, que toca em problem as tao essenciais no nivel do casal,
em que mo passa de um meio de sedu9ao, corre o risco de permanecer sem
correre- mos o risco de cair em dificuldades de outra ordem.
sentido.
No imediato, resta ao menos a possibilidade de expor verbalmente 1 crian-
Victo r imagina que o mundo ltte é hostil, esta revoltado com os adultos
§a' (diante dos pais) a sua situa ñ o e significa9ao dos seus fracassos escolares.
O fracasso escolar é sentido como uma injusti9a.
Um raio de esperan a no menino que se julgava um completo idiota.
Mas serd que vale a pena centralizar tudo no fracasso escolar' Nio existe
Mas uma ansiedade na mae, apenas dissimulada: "Eu vim para que me
porventura mais outra coisa que aflore'
indicasse uma escola. Sinto que tudo isso vat me fazer ficar doente de
Gra§as a sua situa9ñ o a dois com a mñ e, o menino sempre se ajeitou
novo. para nao ter de passar pela Let do Pat, a qual etc recusa tanto na compete ao
Nao, mamaezinha, eu von ficar comportado, vocé vat ver.
esco- lar como nas suas rela§ñ es humanas. Recusa-se a ser dominado, nao
Saida do casal e do menino.
tolera que os seus atos sejam discutidos. Proclama ser forte, sem ter de
Por que, com efetto, mudar o que quer que seja, quando tudo parece estar passar pela prova da fraqueZa e do nao-saber.
no seu lugar° Nao supo rta a duvida e busca uma forma de atenua -la.
Essa é a pergunta que se impñ e, en gostaria de afastfi-la, de exortar esse Um curso de recupera9ao' Sem duvida, mas a erranda so faz isso a par tir
casal a qué' A adotar uma conduta correspondence â minha ética' da 5• série.
S6 posso ficar calado e esperar... Um dia talvez eles voltem e esteJam ma- De fato, enquanto niio se apura a significa9ñ o do bloqueio escolar, toda a
duros para onvir as palavras do analista. reeduca§ñ o corre o risco de favorecer as defesas da errand a,’ e de acentuar
assim curiosamente as dificuldades ligadas a recusa do sujeito em aceitar as
Cd5O 2
provas e o confronto com os irmios mais velhos.
Victor, de 14 anos, é o mais novo de trés filhos. Sempre teve dificuldades Toda idéia de psicanalise t, no entanto, recusada por Victor. “E um ata-
escolares, mas elas se acentuaram no primeiro grau. que â minha personalidade.”
“O mais velho”, diz-me a mae, “satu ao par, é brilhante.” Realmente, etc teme que uma psicanâ lise provoque a perda dos seus
“O ultimo puxou â mae”, dizem os amigos, “e, infelizmente, comecei privi- légios, deñ ando -o assim desarmado diante da adversidade. Agora,
uma série de coisas, mas sem concluir nenhuma.” pratica- mente nao ha fracasso, o individuo “se entrega” a finn de evitar
A filha é sem problemas e autonoma. Victor é dificil, julga-se rejeitado qualquer con-
e p D ato mqa d ldc eg ep mJ ma1 Iho eg t sexes
pg Etc procura esgotar todas as receitas educativas, usar de todos os sub
ter- ftigios, em vez de se envolver no teste de verdade que constituiria para
ele uma psicanalise.
4# :

Agora o psicanalista so pode esperar. Sabe que, por tras dci espectro do O exame intelectual apresenta um resultado muito superior a média,
fracasso escolar, se esconde toda a inseguran§a existencial de Vi'ctor, expressa embora apareda no discurso do.suje.ito .uma .esp.écie de “estup idez neuro tica”.
na sua revolts, na sua oposi§ao. O seu desenvolvimento sexual normal de Apan hado no mundo ma terno, Nicolas vive, como eco da node, o luto
rapaz esta mesmo em perigo, nessa aventura em que todo contronto com o del a. Todo apoio masculino parece faltar-lhe, ele como que parou de
Outro é sistematicamente evitad o, onde todo desejo se fixa no universo fe- viver. Culpado pelos seus fracassos, ele nao pode fazer por conta propria.
chado atras do qual o sujeito se abriga. Examina uma possibilidade de internato, mas logo acrescenta: “O pretexto
para isso n ao deve ser a tris teza no lar. Em que se transformariam os pais
Casp 3
se eu nao
A mite leva ao nosso consulto rio o filho Nicolas, de 15 anos, que tern
estivesse mais la?”
um estroiidoso declinio escolar. “Quando estou deprimida, eu o a judo em
Enquanto Nicolas é para seus pais um objeto de preocupa9ao, eles tém
seus deveres, mas ele nao quer mais saber do men auxilio. O drama é que
com efeito um motivo para apegar-se a vida. “Men marido esta sempre me
ele conta com o apoio do pai e sempre me vence quando ele se acha prese.nte.
dizendo: acabou-se, vou morrer. Eu mesma sou um fracasso, agarro-me ao
Ora, para sua inform a9ao, o pai de Nicolas é nma criatura mole, distraida,
filho.”
cansada, inuti1.”
O decllnio escolar nao passa aqui de uma campainha de alarme, escon-
De fato, o declinio escolar do rapaz é o reflexo de um episoclio depressivo
dendo um risco de depressao num adolescente angustiado pela atmosfera de
sério em ambos os pais incontinén a rea a eceu. O sujeito esta atormen- morte que paira sobre os vivos.
tado pelo panico nesse ambiente fechado em que os adultos p•nsam apenas Somente uma separa ao do meio patogénico apoiado por uma psican
em se deixar morrer' /a- lise pode tira-lo dat. No caso em questao, a coIsa é possivel porque os pais
Passou anos cot rindo inutilmente sua mae de satisfa#ñ es. Atualmente, sa o bastante conscientes do drama para se tratarem e para deixar que seu
“tudo estala dentro dela” e a censura que ela formula é a seguinte: “Eu nao
filho seja tratado.
queria ter filho, receava que isso provocasse a morte de minha irma.”
Quinze anos depots,. a sua (brilhante) irma efetivamente rriorre, e a m aeo-
Caso 4
nNo conse gue recuperar-se desse Iuto (exp ressao inconsciente no plano
Michael tern 19 anos e nñ o consegue ser aprovado no ultimo ano do
/ fantasmatico de desejos infantis de homicidio.)
segundo gran, apesar de possuir um nivel intelectual superior ñ média e de ter
“Minha irma era dotada, mas, quan to a mim, tinha sido menos aqui-
tido uma escolaridade sem problemas.
nhoada em tudo. Qhando minha irma tinha 18/20 anos, eu estava com 12. Pai e filho entendem-se muito mal. O pai desejou que o filho fosse
Meu filho nao é tal qual minha irma, nao amadureceu. Eu tenho o tempera- bein- sucedido num campo em que ele prñ prio havia fracassado
mento de papai, falhava em tudo, e ela era bem-sucedida. Ela se apoderava (Engenharia, Me- dicina) . E é no momento em que a op ao nos estudos
dos meus assuntos de conversa. Eu era a menos brilhante.” corre o risco de tornar- se decisiva que o sujeito, curiosamente,
A morte da irmñ pñ e a mae em tal estado de culpa que ela ja nao se
“estaciona”.
reconhece o direito de viver. “Em casa, é como um cemitério, somos todos “Sb trabalhei por obriga{ao. Nao set o que é ter vontade de trabalhar.”
niortos-vivos.” Sofre por ter decepcionado o pai. “Nao posso fazer de outra forma.” De
De fato, Nicolas nao aban donon a mae até o luto da tia e, no que diz
ato Michael sente se ito des alorizado so po e elac co
respeito a depressao materna, nao pode suporta-la. “fracassados”, procura consolo na@on9a;'no prazer e nas -meninas faceis.
Nao podendo rejeitar a mae, é o trabalho, elo de uniao entre eles, que ele Esse rapaz, muito dotado, nao pode, de fato, superar o pai. Foi incluido
rejeita. em demasia em seus devaneios para ter o prazer de realizar o que quer
O excelente entendimento com o pai (doente grave) n7ao basta, contudo, que seja em seu proprio nome.
para fazer com que o rapaz confie nele. Depressivo, tern a impressao de haver perdido antecipadamente a parti-
da. Ele nada deseja, ‘e é precisamente esse o-seu drama. O
mundo parece-lhe absurdo, “tudo é desprovido de sentido”.
A PRIM L-1 RA ENTRE\'] STA £ M PSICAN4LI SE A STUAtA0 ; #9
48 .

£aso 7 O par tomou uma decisio contra uma possibilidade de tratamento psica-
A mñe quer levar-me a filha Lab ine ( 11 an os), amea9ada de ser exp ulsa da nalitico? Isso pouco impor ta no momento, porque com a .sua recusa, ele se
escola. O par opñe-se a Q ualq uer exame. torna presents a mae e a filha, e decide fazer uma viagem com a ultim a, o que
Acer to receber a rule, mas nao a crian9a. ja é end si uma coisa impo rtante.
Quais os resultados dessa entr evista? Mais tarde, talvez ele venha a concordar cont um tratamen to psicanaliti -
A menininha tern ti ques que se repetem de 30 end 30 segund‹as; eles apare- co se perceber que ta1 tratamento nao vai de encontro a sua autoridade.
ceram ha tres meses, depois de ter sido internada n uma pensao familiar para Se en tivesse come{ado uma psicanfilise, teria me tornado céimplice da
c ria n has, contra a von tade do pai.’ mae. Ao levar em conta a palavra do pai, deixei a cada membro da familia a
De fato, esses tiques existem desde os seis anos de idade (data em que o par possibilida de de reencontra r o seu lugar.
abandons o domicilio conjugal em protesto contra uma opera9a o feita end Na verdade, a escolaridade deficiente somente servisse para mascarar de-
outro filho sem o consultarem). sordens neuro ticas de gravidade bend maior.
A volt a ao far paterno coincide curiosamente com uma recrudescéncia O que nos inipr essio na, nesses casos de desordens escolares, é que a
dos distéirbios de Sabine (recusa escolar e crises fñbicas graves), que acarreta acuidade do sintoma invocado esconde dificuldade de outra ordem. 0s pa
uma nova hospita1iza§ao “para observat ao de disturbios nervosos”, sem o is levam ao psicanalista um diagnostico ja estabelecido. O desconcerto dos
consentimento paterno. pais come9a no momento em que esse “diagnfistico” é questionado.
Ao regressar, Sabine traz, além dos seus tiques, também or dos outros... Descobrem entao que o sintoma escolar servia para mascarar todos os
Diante desse quadro, escrevo ao pai para the pedir autoriza9ao antes de mal-entendidos, as mentiras e as recusas de verdade.
proceder a um exarne. Eis a resposta: Vimos a importa ncia do papel do pai na génese das dificuldades
“Ag rade po sua car ta e aprecio a posit to franca que a sen hora ado ton escola- res. Ou ele é excluido pela mae, e a crian9a sente-se em perigo n uma
nesse caso par ticular. sit ua ao dual, ou entao a imagem paterna aparece n uma situahao conflitu
Cumpie- me informa-la de que certas divergéncias de pontos de vista com osa: de- sencorajado com a idéia de nñ o poder satisfa zer o pai, o filho
minha mulher, quanto ao que foi feito e ao que resta fazer para o desenvolvi- renuncia entao
men to moral dessa erian9a, fazem com que eu me veja obrigado a recusar a a todo desejo proprio, enveredan do assini por um caminho de abandono #‘ (¿
sua oferta de colabora9ao. depressao.
Cuido que cabe aos pais, e somente a eles, fazer com que o filho tenha um O que esta em jogo nao é o sintoma escolar, mas a impossibilidade pa ra a
COIiipor tamento n o rmal para a sua idade.” crian9a de se desenvolver tendo desejos prñ prios, nao alienados nos fantas-
O casal era unido até o nascimento dos fllhos. A vinda deles ao mundo mas parentais. Essa aliena9ao no desejo do Outro manifesta-se por meio de
assinalou o inicio do desentendimento (por ser impossivel paru a mae sapor- toda uma série de disttlrb ios, que vao desde rea9ñ es fobicas leves até distu r-
tar uma situa9ao a trés, isto é, uma situa9ao em que o pai continua a existir na bios psicñ ticos.
mae apesar da presen9a dos filhos). Ao subtrair os filhos a autoridade do mari- De fato, quando a mae recorre ao psicanalista para um sintoma
do, servindo-se de todas as cumplicidades, a Sra. X fez a infelicidade dos seus. preciso, munida de um diagnostico seguro, é geralmente porque ela deseja
A minha cart a, por ter-me recusado a entrar no jogo da rule, foi, em si que nada se altere na ordem estabelecida. A aventura come9a.quando o
analista questio- na a resposta pares tel. .Os .pais 4ém fiificuldnde -em
mesma, uma interven ao terapéutica.
perdoar -the por nao con- tinuar cumplice da mentira que elaboraram.' Eis
por que tantas vezes exigem endere Nos, orienta9ñ es apressadas, em vez da
7. Pode pa recer aberr an ie, é pt jJJjt ira vis ta, que um pai se rec use a hospital izar o filh o. AO be r
as cois as ma is d e pe rto, percebem os que esta recusa (no prcsen te =°°'°i 8 pya f‹strna de pru tentativa de iuna psicanâ lise.
déncia nu m hom em que t em z in turn a0 jUi t a do per igo em que inco rrt o seu filho qu a ndo é
util izado
O s tiq ue s e as
fob ias sa o dis t u rb ios reat ivos a uma sit ua9* o n eurot iza nte
8. A rnt ntira em qut rod a uma vida pode basea r-st c, d c cc rta forma, a txp ressm de urna
ign o rd n cix.
Caso 8 - Um distéxico reeducado
Simon foi examinado aos dez anos de idade, em virtude de dificuldades
escolares. (Canhoto contrariado, t prejudicado por uma forte dislexia e nio m as defesas dO Sujeito. a umentaram a sua inibi âo in rc-
se sai bem nos estudos, apesar de seu QI elevado.) *°‹uaI e chegaram ao seguinte paradoxo: desembara ado d › suas difi
Uma reeduca a o da or tografia e uma reeduca§ao psicomoto ra foram ulda-
°"°* "“" Simon b1oqueou-,e °° seu desenvolvimento ‹ntclectu al
tentados, 1s quais se acrescentaram sessoes de psicodrama.
”" Cdf‹ndp(OpdfdO5tñudQy apesar de um QI elrvado e dc d › mpe-
A crian9a guarda djsso a lembran9a de “li ñes de or tografia, de ginastica nhos feliges no plano da ab tra to.
e de um jo go com um Doutor”. "Eu ja nao tinha mais tempo para fazer nada,
s6 me restava cpi rer da escola para as li oes.”
mClO de que dispu nha para exppimi r a rnas d ificuld a-
“Por que vocé faz essas Ii§ñes?” des, rids o pusemos e Pflfigo, e é de outra maneira que, desde entao, as suas
“Q uanto â ortogra fia, esta melhor agora, mas nño fur admitido na 5• defesas vñp
série quando tinha idade para isso.” Atualmente com 14 anos, Simon esta no
UiRtO PRO t APCO 0fd âO’ P, d0 /atO, CVf' rflCunCial a QStUdOSSCCund
2. DIFICULDADES CARACTERIAIS
IiOS
Caso 9
O que surpreende num exame afetivo a tento é a estrutura obsessiva" em Thierry, d• oito anos, vem consult a r-Se por “dificulda dev cara cteria is
que o sujeito parece fixar-se. Tudo o que ele enuncia é sistematicamente anu- e in adapta no escolar”.
lado no momento seguinte. A crian9a é sem desejos, parece blindada contra O segundo de trés filhos, unico filho homem entre dnas me
ninas, for adu-
todo e qualquer sofrimento e questionada. tado pela baba até os cinco anos, vale diZer, até o nascimen tp
clv i imazinha.
Muito fixada aos pais, niio tern nenhuma vida pessoal além da que eles Esse naserm e"'° °°*"°* *° infelizmente com o retorno de Thierry ao } t. Ao
organizam para eta. Nenhum a emo9ao é traduzivel em palavras, tudo é iso- chegar a casa da mae, teve py pt fl com um. Mas a inn possib th da de, para
lado. Uma nño-li{ao constante aparece entre o que ela diz e o que faz a
Toda a gama das p,rovas intelectuais enfatiza o fator "superdotado”... mas ^*P°^*"' " "gressivi d8dC dO filho, nio tardo u a in tdl£t I SOlldam en te
“isso nio redundou em nada”. *^** 8ltimo numa “maid a dc” “dCFi Ltnciada” pelo adul to.
A questao que temos o direito de formular é saber se a indica ao de ree- D•prei›iva desde O £lSSCifTlento do primogénito, essa mie I hrfa desde or
duca9oes maci as nao,se den cedo demais, refor§ando assim mecanismos de sete anos) nao era feita para ter uma familia numerosa,
na medid a
defesa de tipo obsessivo. isso the tirava toda possibilidade de vida profissi onal. “Nño sou fei
Atualmente, a estrutura obsessiva é tao rigida que praticamente nao ve- ta
dona-de-casa. *°° "°^*°^"› sâo os filh os que apanham.”
mos o que uma psicanalise n ao desejada pela errand a poderia proporcionar.
Realmente, é sobretudo o menino
Aos dez anos, a errand a apresentava, segundo nos dizem, “tra§os fobicos
*^P'* °› ^ * ^, com as palavras da mae: 'Quando en era pequeno, quem apa-
acentuados”, talvez tivesse sido entao desejavel come9ar por uma psicanalise, nhava era a irmj skis velha; agora, é a minha vrz.”
e nao nos ocuparmos dos sintomas propriamente ditos a nao ser numa se- OS SO nhos da crian qa sap semp re de estilo persecuto
rio. EU deseja ppb
gunda fase. Infelizmente, sob pressio social, o paciente procura muitas vezes necer pequena para ter pais menos maus que batam
g- menos na gents .
“ganhar tempo”, ocupando-se apenas do que ele acredita ser mais urgente. Id
" ° ^88 mie, Thierry, no entanto, so con •y• “irrit£t-la”. F zen do
eco âs p£llavra
s dna, eJ0 me diz: “Papai esta Sempre
atorment£tndo m ay it €•
todas as vontades dos J5p,.
"°g Na verdade, cfc p2p2ura insinuar-se entre os dois pais,
reivindica o pri-
c d o d tse jo. *
metro lugar jun to a pie e sb flea satisfeito quando provoca
brigas.
Satisfeito
Todavia, as readies anoréxicas e fobicas do fil ho a aborrecem; e depois ha
e in fel iz ao tempo, pois acaba sendo rejeit do por todos e lo go se as amea9as do divo rcio por parte do marido enervado.
mesmo
esfor{a para assumir um ar de "falso durao". Os sintomas da crian9a sao, no caso, antes de tudo a expressâo das dificul-
uito cedo e o casamen-
O casal parental i unido, ambos ficaram o rfaos m dades de um casal e da mae em particular. Realizando ja tarde o seu desejo de
0s Jhos vieram trans-
to para eles era antes de tudo uma seguran9a a dots, me nina (ter uni filho sem marido), ela cria uma situa9ao insustentavel para
for mar os seus pianos. poder ajudar aqui urna crian9a perturf›ada que co- amb os.
Uma psicanalise vai Na entrevista, o analista nao pode precipitar as coisas. Nao pode deixar
ma dis to r#ao
mega a traduzir, ali as,:as suas di ficulda des no plano de U de sublinhar o absurdo de urna situa9ao que aparece no discurso da mae, e
grafica
(escrita em espelh o)." denunciar-ltte os maleficios.
De inteligéncia superior a média, Thierry, sem ajuda psica n alitica, corre Mas nao era isso que a mae vinha buscar; ela desejava o uvir uma senten§a
ém num mau aluno.
o risco de se transformar num revoltado e tamb que lhe confirmasse os direitos. Talvez ja este ja a procura de outro analista...
as dificuldades de um filho sâo a expr‹'ssâo tanto mais que ela necessita encontrar uma garantia para a sua mentira...
Caso 10 - Onde
das dificuldades de um tasal Caso i I
“Eu tinha necessidade
Lucien meio ao mundo apos 24 anos de matrimñnio. Catherine é uma revoltada, dizem os adultos. Ela consegue ser expulsa de
de um filh o", diz-me p mae, “porque havia um vazio.” desde esse tudo quanto é lugar. Dezesseis anos, rab ugenta, mal-a mad a. Na verda de,
fato, o nascimento de um filho deu-the todos os direitr›s:
De uma crian$a abandonada pelo par ainda na primeira infancia. “Por que é que
nada tern de fazer la
eita, o marido ja mo conta. “O filho é assunto meu, ele eu vou me chatear por causa de cr ian9as, farei o utras em outro lugar.” A
clentro.” Toda a vida dos pai‹: passa a girar menina tinha entao cinco anos...
Todas as saidas do casal sao eliminadas. Quando bebé, a baba a fazia comer o que vomitava, amarrava-a em um
entao, excluirlo, como que
em torno da vida do filho. O pai sente-se, desde penlco para poder se dedicar melhor aos seus afazeres.
m filho que o‹:upa todos os
exp ulso de stia casa”. A mae esta na "dela”, com uquando menina, fazia com O divo rcio dos pais é seguido por um episodio depr essivo da mâe e pot
seus momentos e record a-lhe as brincadeiras que, uma rnudan9a de vida cornpleta. Catherine cresce numa atm os fera cheia de
nOS.
o irmaozinho, morto quando ela tinha 12 a ra n cor. Agarrad a ao pai, eta fica ressentid a quando ele mostra prefer én cia
O menino, de n:ve1 intelectual superior a rrlédia (QI 125) , é com pleta- pelo irm ao1‘ e a abandona a uma mae depressiva.
piano psicomoior . Ligado ao par, mo ousa,
mente disrltmado e deficiente no “Para mim teria sido melhor se mamae tivesse se casado de novo, pois
voluntariamente a todos OS
porém, desenvolver-s”e de forma yini, esquiva- se assim ela sentiria menos necessidade de mim. En sou de tal forma tudo para
ele (jogos). Ob‹•dece, por te-
intercambios motores q•• F deriam ter com ela, e por isso, quando ela esta presente, nio son mais nada, estrago tudo.”
ue vale é o que a mamâe deci-
mod, a um ideal mater no, gentil, passivo. “O q De inteligéncia superior a média, essa menina sente-se desanimada, sem
coisas o pñe inst guro. Procura
de”, diz-me Lucien. No entanto, esse estado de edronta. “O melhor seria for 9a, e vive, por identifica9ao com a mae, o abandono dela.
am
refugiar-se numa cond uta regressiva. Tudo o Esse divorcio de certo modo a deixou orfa: ela perdeui de uma so vez,
nada ver, nada ouvii de desagiadavel!' A mae pressente o perigo uma imagem paterna e uma imagem materna estruturante e ficou, ao mesmo
Lucien é a causa do desentendimento do casal. com o r°f1‹t idos n u m ‘esp/1h°- '
op oe—se. 0 qrie ela deseja é i n. r i‹ri t t m esp elho: eSeri ta que rt prod u z °’ car actere s tal
que representaria para ela a analise do filho e
continuaria a ser ‹tona.
guardai, sfi para si, um brinquedo do qual
tempo, ptivada da companhia de um irmâo dinamico.
..=

i 1. A guard a do irmao foi, com t ftito, confiada ao pai, a pedido dtle, c a menina, por sc r men in i,
• dtñ ada sob os cuidados de uma mae neuropa\a. Catherine tern, desde esse momento, a
impres •
,;: sao de qut deve esse abandono â sua condi9do de mtnina. ”
Reivindicadora, insatisfeita, Catherine nao se integra em nenhum lugar e
faz tudo para ser sempre expulsa e detestada. preen ao on de um mci-Cntendido com os pais. Mai-estar e mat-ent endido
Somente uma assisténcia psicanalitica pode aqui salvar um individuo Odem -se r se nao sao com preen did oS› podem -se tra d uzi r em
aqcen^t
alienado na historia da mñ e e que, de certa forma, repete uma situa§ao de disto
' ' ’° ^ *^' ° dePois ° comportamentos agressivo s.
abandono vivida em outra gera9ñ o. NaO e comum encontrar-se, no nivel do casal parental, a fal ta de pres
enda
Caso 12 - Crian em perigo moral paterna. A presen a real do pai nao é indispensp;ivel: guy

Simon tern 13 anos, furta e é recusado no exame de admissao a 5• série. vel • pre›en9a do par no discurso da mie. Quando o par nio faz a Le1 para a
Ele é o mais velho de trés filhos, seu par é um homem de grande valor, que
Inta muito pelo seu pais (jovem Estado que aIcan9ou a independéncia), mas no. Essa introduz-SC ng
a crian9a nao tern a menor participa§ao em algo que poderia entusiasmar um sse jogo de dissensiio parental, ou de cum pmcid ade
jovem dessa idade (a revolu§ao vitoriosa, a conquista da estabilidade materna; faz g£•1'R}fnCnte a Let para a mae (po identifica9ño com ela), $2gupi -
r
politi- ca, a constru9io do pais). Nñ o, etc pertence a uma turma “que se do aSS1m O caminho das inversñ es, das fobias on da delinquén iq.
bronzeia ao sol e freqiienta assiduamente as prostitutas”. “A gente vat Insatisfeito, pouco egtiro de St, tendo renuncia do â s verdadeiras compe-
assaltando e rou- ti§ñ CS, §P6ejoso de conservar todas aS vantagens da
infñ ncia (apego edipiano
bando de brincadeira.”
O par nada sabe sobre o comportamento do filho. A mñ e, com efeito, na o-liquidado) e de nñ o ter nenh urna ao de adulto, mas todos os
obriga
esfor§a-se por camuflar, por esconder todas as mas a§oes do filho mais velho, O adolescente em perigo moral, o delinqiiente, foram errandas dificeis em determinado
que, desse modo, torñ a consciéncia do seu poder. momento. A crise, caracterial a princlpio, pode nao ser mais
Um dia, o drama: o par toma conhecimento de tudo e resolve enviar o
filho a Europa para livra-lo da influéncia moral de um grupo de adolescentes
transviados. O nivel intelectual de Simon é bem mediano. Ele possuia um
lado “pseudo-adulto” muito acentuado; a sua honestidade é desconcertante:
“Q uando estou aborrecido, quebro os lampiñ es de rna. Nada me interessa,
salvo as mo§as, a dan9a, o cinema.” A cumplicidade da mie é incessantemente
buscada. “Ah, se um dia en conseguisse assaltar um banco sem ser preso.” Por
tras de tudo isso, encontramos o desvario de um adolescence insatisfeito de
poder assim enganar seu par, insatisfeito de ter tao pouca present a paterna.
Na medida em que a mae nao soube introduzir no seu discurso o nome do
par, â por identifica9io com uma mae abandonada que a erranda vat cons-
truir-se, em vez de se mostrar o fdho digno de um par valoroso.
Uma psicanalise for aconselhada, assim como uma viagem ao exterior.
O prognbstico, no entanto, é reservado: 13 anos, nivel de 4• série, um estilo
de vida falso adulto, a recusa a todo e qualquer esfor o e um desejo muito
reIa- tivo de fazer uma psicanalise. O par, consciente do perigo quo mh ‹
‹, deixa, portm, sua mulher pilotar o barco; ele necessitava, para a sua
propria tranquilidade, escapar a toda confronta ao com uma verdade
penosa.
direr Nos, tpjct to Pnvereda entao por uma via que o afasta
do social, e o “ " condena. ^* °^^°
encadeam ento é progressivo, as ocasioes sao ltiplas quando
ainda ha tempo para intervir, para salvar o que nñ o passa

de uma crian a desorientada e infeliz.


CdSo T3 - Ciéme de um irmâo mais maka
"""' " ^°** anos, ° ° ° velha de * °^ irmaos. e descrita como insta-
*ct› ma, exigente, bulimica. Ela tentou estrangular a irmizinha
de tres anos. Em conseqiiéncia de dificuldades de
alojamento, essa menina n unca dor-
*° *m casa, por falta de lugar. SofnCnte com o nascimento do
terceiro filho,
milie pode reincorporar-se ao lar, gra9as a uma mudan9a de
residéncia.
'"P°°**› * ^ * birrH COm o bebé, He the lembra
confusamente o nasci-
€Rfo do 1{JaoZinho (doin anos) que provocou a sua saida de
casa.
A nñ o-aceita9ao dos irmaos mais novos for alimentada pela
avo paterna, que nunca perdoou a nora por ter tido varios filhos
e por se achar na obriga- Who de repar tir aiiim “os bens” da farnilia.
Mais vale, repe tia ela, “conservar as vacas do que as errand as .
Emil/R amda m tlj[Q jovem, favoreceu assim
involuntariamenie a dissen- sio dos adultos, e ¿ homo inimiga da
mae que e}a se reintegra â familia com seis anos. (.
Embora possua inteligéncia normal, o seu aproveitamento
escolar é nut o. O que aparece sobretudo durante o exams é o
ecu desejo de permanecer pe-
S 6 ; A f'8IMEI pA EMRE\/1 STA EM PS ICANALISE
O primciro efeito de uma psicanâ lise seria esclarecer o prbprio conflito
— — • - - - • M < fi o • I rn rn o ri N ri e do oai — ajiidandc› o filho, dessa

quena para poder ser muito mimada". Ela, além disso, tern “medo dOS trens
que podem cortar a gente em dots”. “Medo de crescer, pois isso traz a morte.”
Nao the é possivel situar-se no presente ou no futuro. “Nao seria man se
en me tornasse a pessoa de bem que mo posso.”
Emilie porventur a é ma? N: o. Perigosa? Talvez.
Trata-se, antes de tudo, de urna crian§ a insatisfeita, separada i:edo dernais
tjniCa
da m ‹ae. O seu ciume “utilizado” pela fansilia do pai, converteu-se na
possibiIidade de que dispunha para se comun icar. Emilie mor‹ie, arranha,
reivindica, estrangula. De fato, eta procura ser o unico bebé da mae e tenta,
ao mesmo tempo, eliminar a imagem do pai.
Ela guard a ressentimen to contra o casal paren ta1, a quem imagine
de- testar, ao mesmo tempo que procura ama -los (mas ela perde u a
possibili- dade de resolver corretamente o seu Edipo). Somen te uma
psicanalise pode tirar de dificuldade uma crian9a em perigo de ser rejeitada
por :›ua Bank ilia e
pela sociedade.

Caso 14
Pierre, de sete anos, so pensa em “matar” o irmRao...
O mais velho de trés irmaos, sente-se infeliz em casa e na es cola. Tern
em toda parte rea9ñ es persecutorias. Essa perse guidao trad uz-se no!›
sonhos, nos quais ele faz que “os touros o chifrem e os cavalos o derrubem”.
A presen9a dos i+maos mais moNos perturb a-o em todas as suas ativida-
cies. Reclania um quarto so para si. “Gosto de ficar sossegado, tenho horror
de que me sigam por toda parte. Tenho horror de que se metam com os mens
iiegficios.”
De fato, Pierre encontra apoio para as suas reivindica9 ñ es junto ao avo
materno. Para ele, Pierre é “o seu unico netinho”. As outras crian9as
pratica-
mente nada representam. Na casa dos avos, Pierre é rei. “Sou”, diz
ele, “o filho de vovo”... ou seja, filho edipiano de uma mae ainda muito
ligada ao semi
proprio pai...
O desconforto de Pierre, a inseguran$a que sente em re1a;ao ao pai, na
verdade nao passa de expressñ es da inquietude materna. “Nao posso
deixar conta pra
de comparar meu marido com meu pai; é meu pai que
mim.”
A crian9a, por isso, é submetida a palavra do avñ , que faz
a Lei para a
mite, mas recusa com panico a palavra do pai. “Foi por causa
dele que en
quebrei a perna, é ele que me manda faZer coisas perigosas.”
forma, a colocar-se corretamente numa situa9io edipiana tomada confusa pela
culpabilidade da Brae, que sente nao ter o di feito de ser a dona de sua casa e de deixar
o marido ser o senhor do far.
E no desejo de assassinar os mais mo9os que Pierre exprime da rnelhor maneira a
su a rejeiRao do casal parental, isto é, a rejeteao inconsci ente d a mie ao seu proprio
casamento.
Pierre é o filho que a mae desejarla ter tido quando era menina... Essa criama,
nascida de um sonho, so pode deparar com uma realidade embara- 9osa...
Toda crian9a, quando nasce um irmao main mono, sente um ciume que, em si, nada
tern de patologico. Esse ciume, em geral, é apenas a expressao de uni sentimento in
terror de perigo diante dos mecanismos de identificap3 o (que levam a crtanpa a
renunciar aos seus progressos para regred ir a condi- Rao de bebé, on a sentir-se amea
ada de ser comida, ta1 como a mae o é pelo bebé). A crian9a, confusa, reage entñ o por
meio de mecanismos de defesa que a levam a se mostrar agressiva (trata-se, na
realidade, de uma prote9ao iar- cisista do sujeito, lutando pelo seu direito de .viver).
Uma atitude compreensiva do meio circundante ajuda a crian pa a supe- rar esse
mal-es tar, a atravessar uma etapa necessaria a sua forma9ao de ser social.
Ocorre, entretanto, que os sentimentos de ciume correspondem a dificul- dades nao
resolvidas num dos dois pais. Desde esse momento, a crian 9a deixa a experiencia normal de
um conflito de ciume para entrar no terreno patologi- co. Exprime entñ o, de maneira
violenta, aquilo que, na mâ e, permaneceu “inconfessavel”. F esse inconfessavel, esse
nao-sublimave1, que a crian9a vai mandar pelos arcs, produzindo o panico no mundo
adulto.

Caso \5 - Conduta associal


Christian tern dez anos. fi o mais velho de trés irmaos. “Faz maldades deliberadas e
pñ e as crian#as em perigo. Morde o professor e tambem os colegas. Ja foi expulso do
colégio tres vezes...”
O que logo surprcende quando é examinado é a ponsterra{io do par e a expressao
de contentamento da mae, “que acha tudo muito divertido”.
As condi oes de habita9ao sao mls, a crian9a sofre com isso.
De inteligéncia claramente superio r a média, Christian, por tras da rude- za, esconde
uma sensibllidade a flor da pele. Indispñ e-se com todos os ami- . gos; suscetivel, perseguido,
pode-se dizer que eIe esta, sempre, a espreita do
mat que alguém se sentiria tentando a infligir-the.
De fato, Christian sofre de uma inse uran a materna to taI. A mae, pOuCO
Etienne sente -se, Q$$ jm› na impossibilida de total de fazer o qq2 qqd p qq2
inteligente, intervém nas brigas das errandas entre si e agrava uma situa9ao seja, qualqug p projeto ja se acha abortado antes mesmo de ter podido ama-
que, sem ela, se resolveria por st mesma.
durecer.
O par é o unico que defende Christian. Mas ele, em seus pesadelos, vé o E é d€ tlrfl modo persecutfiriO que ele vat se desenvolver, ja que a sua
bravo do irmao converter-se num forcado amea§ador; em outros momen- maldade nao passa da expressao de uma defesa contra uma imagem materna
tos, tern a impressao de ser atirado numa taverna. sentida como obst;iculo a toda possibilidade de evolu9ao viril.
Christian nio quer crescer. “Quando a gente cresce, nao pode fazer O que impressiona nesses dois casos é o conteudo neurhtico de um
mais nada.”
com- portamento q•• (^*< interven ao psicanalitica) corre o risco de se
Inconsciente das suas Polices, nao se sentindo nunca envolvido pelo
consoIi- dar nQ C8£ate£ asspcial que o adulto lhe conferira. Q uando se
mal que pode fazer, o menino isola-se e desenvolve ternas persecutdrios.
denuncia a maldade em C£ian§as desse tipo, nao se pode deixar de
Somente uma psicanalise pode chegar a dar uma estocada certeira
desenvolver urn state- ma de defesas que é, para etas, uma pro tento
nesse comportamento associal e ter assim efeitos felizes antes que um mal- narcisista contra uma agrees ao
entendi- do se instale para sempre entre a crian{a e o m undo adulto. adulta sentida comp perigosa.
Christian apare- ce, com efeito, sobretudo como um doente. As suas rela§iies °°^!ra a mite que essas crian has guardam ressentimento. N ao ten do
com a mie sao do tipo “de abandono”; ele reclama e reivindica um fato podido encontrar as palavp2$ para expressar a sua sede de amor, é por
afetivo que nunca p6de existir em virtude da caréncia materna. meio de atos destruidores que cias se esfor§am por iniciar o dialogo...
As dificuldades entre irmaos descambaram para o drama, por causa do
intervencionism o adulto, responsdvel por essa situa to de “irmaos inimi- Caso T7
gos”, que favoreceu no mais velho a eclosao de sentimentos persecutñ rios. Denis, nove anos de idade, o main velho de doin irmaos, rouba, poe fo go,
descent os mbvets, é ex UlSo de todos Os lugares...
Caso 16 Casal desuflido. O pai diz ao filho: “As mulheres foram feitas para comer
Etienne, de dez anos, t o mais velho de quatro irmñ os. OS homens, nunca se case.” E a mae transforma Denis em testemunha da sua
“Etc corta o rosto do irmio, quebra o bravo da irma, pñ e os outros em fnfelicidade: “Papai nunca quer sair conosco.” A erranda, apanhada entre os
perigo. Furta e marturba-se abertamente.” pois› faz, com palavras de adulto, censuras ora a um, ora a outro.
De inteligéncia superior â média, Denis sd aspira a uma coisa: voltar a
De infeligéncia superior â média, Etienne diz sempre estar cnnsado. So-
nha com uma cabana e com uma casa cheia de animate. Sonha com mar, com ser bem pequenino, para escapar â tristeza do mundo adulto. "Se houvesse
so1. De fato, ele procura sobretudo escapar de uma atmosfera familiar nefas- uma fada, eu lhe pediria para faZer com que os pais fossem gentis uns
com os
ta: odeia a mñ e ao ponto de lhe recusar dgua â mesa, enquanto passa vinho
para o pai. Contudo, trata -se apenas de um longo mal-entendido: m ae
Co£lfidente do par, o menino rejeita qualquer identifica ao masculina.
perfeccionista," que se colocou no caminho do filho mais velho, para impor Hipersens:ve1, sente-se culpado pela situa9io imposta a mie: procura a qual-
o seu desejo em vez do dele. Deseja ele sair de bicicIeta+ Ela lhe propñ e um quer preco uma evasñ o.
trabalho no campo. Quer ficar sozinho? Ela comida um bando de errand as. A delinqiiéncia nada mais é aqui do que a expressao de uma desordem.
Somente uma p5icanâ lise pode conseguir ajudar o menino a fazer uma
evoluRao autonOma, a ter desejos prbprios nao alienados nos desej os dos
adultos.

Caso !8
An!Oine, de 15 anos, atcon fogo na flbrica do par. 5endo o segundo de
888 lhosy U-i• ainda muito mono envolvido nos dramas famñ iares, dos
6 0 . A PRII\\ £I kA ENTk EVISTA EN PSICANAf 15 E

quais foi motivo. Rejeita do pela fatnilia do pai como “fl 1 o da nc›ra”, Antoine, “So gosto dos vadios, na o q uero fazer nada.”
em contato com um par que se proclarna fracassado, tomon-se J›o Eco comu - Suas 1embran{as de infancia?
nicativo, taci tu rno. Os fracassos escolares acentuaram o carater depressivo “Tenho apenas uma: a infñ ncia é um enibuste. Aos nove anos, estava de
do sujeito. “Eu bo ter logo tal como poderia ter me suicidado, ter me matado.” férias com minha niae, ela levara consigo o amante. Quando papai vinha ver-
Individuo intelige nte, em quem se pode rece ar u ma evol u9iii› psicop atica. nos no finn de semana, o amante desaparecia, e en ouvia a zelado ra cantar:
Todas essas crian as que té m precocemente procedimentos associais n ao ‘Eis o corno subindo.’ Isso en jamais ltte perdoei. Se voltar a vé -lo algum dia,
sao perversas,' ’ mas zujeitos cuja evol u ao é comprometida por uma situa - en o mata rei.”
Rao familiar nociva que as impede de resolver corretamente o seu Edipo. O tern a em torno do quad Sam uel c ristz I i zo u tudo fo i o de e m Ie ter
Identifi cadas alterna damente com o pai ou com a mae “vitimrs”, num mo- zombado do pai, chegan do até a identifica r-se coin essa mae odiada, escarne-
mento so acham a violé ncia para escapar ao perigo de se tornar, por sua vez, cendo por sua vez da autoridade para se vingar.
“vitimas” on “fracassados”. De fato, Sam uel sempre foi uma crian9a mal-a mad a, proteslda por um
O que caracteri za esses sujeitos é a rejei9ao da evolu9a o no sen tido do pai que nao di tava a Lei em casa.
devir do seu sexo. A imagem materna é sempre eminentemen te castradora, “Po sso muito hem morrer”, diz ele, “ninguém ira chorar.”
hâ carencia afetiva total nas trocas mae-filho. Em segundo plano, perfila-se a sombra do irinao ca$ula, menino bem-
Nao é a desriniao do far que cria dist urbios graves, mas o carater pato- comportado, querido de todos... Samuel nao pode suporta-lo, quer-lhe ma1
gé nico de um dos pais que comparece para refor9ar urna situa# ao real peno- por ser o preferido da mae.
sa; e introduzir esse algo insustentavel que cria na crian9a um panico e uma Intelectualmente dotado, esse adolescents sabota a si prâprio, em todos os
fuga nurn ncting otit' de suicida on de assassin o. exercicios escolares, como se apenas o fracasso fosse desejado. Muito sensivel,
E porque, end dv terminado momento, toda referéncia de identifica9io acha -se em permanente estado de revolta e de persegui9ao.
falha nesse ponto, que o sujeito busca numa a9ao um meio d° sair de uma A sua delinqiién cia manifest a-se, para testemunhar ao mundo a sria con-
ang ustia, como se, em ultima analise, ele tivesse necessidade desse ato bri- dirao de mat-amado.
lhante, para poder em seguida falar e fazer intervir esse terceiro, que parece Toda psicanalise no momento presente é recusada. “Tudo isso sao tolices,
ter sempre lhe faltado (nos casos 17 e 18, é a partir do ato incendiario que a o mundo inteiro é tolo, e eu tenho de lhes dizer isso.”
crian9a, servindo-se indiretamente da consulta psicanalitica, pode formular Essa palavra, que ele nao pode dizer, é traduzida pelos seus atos.”
o seu problema em face de pais até entao inconscientes do drama que se apre-
sentava) . ’ Caso 20
René, 15 anos, expulso de varios internatos e do I. M. P.* “Ele quebra
Caso 19 — 0 delinqiiente tudo em casa, furta, bate em nñs e, se deñassemos, botaria fogo na casa.”
Samuel, 15 anos de idade, pais divorciados. Furta, provoca a policia. Foi O par reage a esse comportamento com episfidios depressivos.
expulso de alguns estabelecimentos escolares. Fracassou no C. II. P.* — desde Uma irma deixou a familia. “Todos ficam doidos quando ele esta em
essa ocasiao, porta facas afiadas e se veste de mulher. casa.” A madrasta amea9a divorciar-se. i‘
Com trés anos, René,.n ca9ula de .trés .irmaos,.ficou ñrfao de .mie. Até os
oito, for criado por uma sucessao de eTT1 Tegadas e tras.‘Etc era tao dificil
1 3. Um pe rve rso é aq uele que se situa, de ce tta to rma, n uma est ru t ura psicopatof 6g ica. O que :?i que ninguém queria ctiidar “dele”, e foi mm TOSario de consultas psiquiatricas.
st man ifes t a na an ali st t a posi9a o do sujeito nu ma relahao tant as mâ ti ca end qu e t1e
procur a fornar-se objeto e da r o que nao tern. A constru ao perve rsa organiza -se em forno do Aos
significante fal o q uc st a prescn ta c omo sim hot o do desejo m'arer n o.
14.d ciirig ouf (passages ao at o]: converse o em a ao de uma Exp rtssa o verbal rjue nao cncontr ON
me i o de sc to rm uIa r ou dt se fazer ouvir.
Ohiotn âo Trnâut or: C.E.F.: Cert ifica t d’It ud ts Prim a irts -. 15. O progn6sti co é sombri o na mtdida tm que a cria n $a rt cusa qualquer inv*stiga ao anali iica.
“ No In do Trad u for: I: M. P.: I nstitut M t dical Psychiatrique.
1 6. Ela casou -se co m o' p ai dc Rem quan do o menino es tava com oi to an os.
oito anos, permanece u varios meses na serao de homens do hospicio. Aos
destruiu mâ quinas fotograficas. Estimam-se em cerca de um milhao os preju -
nove, internou-se num hospital que o envio u a um I. M. P., que o transferiu
para outro etc. Aos 15 anos, foi devolvido a sua familia. +>^ causados por essa erranda no espa9o de um ano.”
Que fazer? De uma psicanalise ja nem se cog ita. " s psiquiatras me conhe- Mac ObseSsiva, tendo criado a filha com toda a higien e, sem o men
cem, e en nao vou lhes dizer nem uma palavra.” or contato afetivo. Desejo u um marido, para ter um filho, mantendo ao
A‘s nica saida imediata para esse rapaz é a poss ibilidade de forma9ao mesmo
profissional, e que ele saiba que o dia em que tiver necessidade de ser ouvido tempo timn profissao brilhante.
estamos dispostos a fazé-to. Até eta completar quatro anos, diz a mae, “estavamos esquecidos de que
Atualmente, René sente o mundo adulto unido contra ele. Necessita po-to tinhamos uma filha”” Essa foi, com efeito, “emprestada” a uma amiga intima
a prova e, dessa maneira, avaliar att onde pode ir o amor do O utro para da mñ e e em seguida “retomada” depois de uma desaven a com a amiga.
r tav - se, efetivamente, de rela9ñ es homossexuais inconscientes e a briga for
A depressa o do par, o panico da madrasta, a fuga da irma, a revol ta dos ainda mais violenta.
educadores sao, de cert a forma, a prñ pria expressao da queixa do adolescen- A trna gem paterna nio im por ta: nos primeiros anos foram inuteis os
ts. “Vejam o que minha mae fez comigo, abandonando -me com tres anos de esfor9os do par, no sentido de opor-se a que Emilien ne passasse o tempo todo
idade.” na casa da amiga da mae, tanto mais que essa o desprezava, como desprezava
Enquanto houver ’um Outro a perturba-Io, René continuarl... qualquer individuo do sexo masculino.
Ele talveZ nao seja mais inteiramente o mesmo no dia em que, sozinho, Com quatro anos, a menina deixo u de ser “emprestada” â amiga in tima
for responsavel pelo seu trabalh o e sustento, embora pudéssemos prever re- da mae e vem tornar o lugar do marido em sua cama. “Preciso dela para ficar
la ñ es complicadas entre empregado e empregador. quen te.”
Sera que René se tornarl de fato um delinqiiente? Um psicanalista esta A menina é admitida como animal, mas rejeitada como objeto de ternu-
muito mal situado para auxiliar um sujeito que acaba de recorrer a uma série ra. A mie nao é dada a esse sentimento, taI como é estranha a toda sexualida-
de estabelecimentos com as suas equipes de educadores e psiquiatras. de: “De vez em 9uando temos rela9ñ es, mas en de born grado as dispense ria.”
A psicanalise deveria ter sido tentada muito antes dos oito anos. Talvez O tinico amor da mae sao zs flores: for quando a filha come$ou a investor
até aos tres anos, na idade da eclosao dos disturb ios. contra as flores que se considero u a hipotese de interna-la.
Citei aqui toda uma gama de disturbios que vao desde a dificuldade ca- Emilienne nao é infeliz: muito dotada, sente prazer em ver “o que aeon te-
racterial até. a delinquéncia caracterizada. Basta, as vexes, um exaesso de mal- ce quando fato uma arte”... Eta sempre procede com mao de mestre, nunca
entendidos para transformar um neurotico que pede ajuda num delinqiiente podemos pega-la em Oagrante.
que a recusa.
A psieanHis e enceta da for trite rromp ida pela m ae apñ s trés sess ñ es.
Quando o sintoma se torna a unica possibilidade de comunica9ao do Por qué°
sujeito, ele nao quer abrir mao dele. Trata-se da sua linguagem, e ele quer que
Ela incumbira Emilienne de me prestar uma homenagem em nome dela
ela seja reconhecida como tal. Ou melhor, esta decidido a sñ oferecer uma
(flotes) . De imediato, a crian§a for o instrumento utilizado para me seduzir.
mascara fechada impenetravel, indecifravel para aquele que nao lhe possui o
Quando chamei a aten ao da mae para o fato de que a menininha parecia
segredo.
vir, nao em seu nome (ela era antes de tudo negativa em rela9io a mim), mas
alienada no presente materno, o que tornava entao impossivel toda e qual-
Caso 21 - Crian{a perversa
quer expressao de palavra auté ntica, -interromperam-se as entrevistas. A cri-
Emilienne tern cinco anos. -- anha for “colocada” ma institui â o.
“Nio se pode mais manté-la em casa. Eta deu surni9o em todas as jdias
da mae, rasgou casacos de pele, a licen9a do carro e carteiras de E porque Emilienne se sente elirninada no piano simbdlico, ou seja, na
identidade, mensagem-mesma que ela pode dar, que procura fazer chegar a sua mensa-
gem prdpria em tentativas sistematicas de destrui9ao.
64 - A PRI M£I kA £NTkEVISTA EM PS1CAN4NS £

Toda exis téncia de individuo the é de cer ta maneira recusada. Eta so tern “Mamfie é que cuida disso, nfio eu.”
sentido para a mae quando serve ao desejo dessa. O men ino admira o .pai, mas esse aparece distante demais, e Christian
Emilien ne, u ma pequena dona-de-casa de cinco anos, conserva no fun - pressente que a unica pessoa corn quem esta envolvido é a mae.
do das suas mentiras uma calma, uma tranqiiilidade que o delinquente nao Todas as figuras femininas do T. A. T.i’ sao vistas como mas, “pois sao
poss ui. contra os meninos e contra as bagumas”.
lvluito bem dotada intelectualmente, nao tarda a se tornar uma aluna A natureza do perigo vem quase a consciéncia do individuo. Etc deseja
exemplar. b impossl0el reintegra-la, mesmo por apenas um dia, ao crescer e tornar-se senhor do seu sexo desde que ltte deixemos a possibilidade.
ambiente familiar, sem que recor ece a tarefa de destrui9ñ o. Uma psicanalise pode ajudar . a crian9a numa arrancada que a atitude
hiperansiosa da mite tornou impossivel.
Caso 21 - Fobia Pelo seu sintoma, a crian9a exprime de maneira bastante clara a ansieda-
Christian, de cinco anos, nao pode deixar a mae, sendo tornado de pani- de materna. Podemos inclusive apontar de passagem o sentido desta frase:
co toda vez que se separa dela. Ora, o que me surpreende de imediato é a “Men sexo diz respeito a mamñ e e nao a mim.” Essa mae, sempre a beira
que ponto esse comportamento fobico é induzirto pela mae. “Vocé vai ficar
do desfalecimento, recebe aqui do filho um sexo masculino de presente.
sozi- nho enqu a nt o e u v ou falar com a se nhora . N ao tenha me do Estabele- ce-se um elo em que um nao pode dispensar o outro sem se sentir
, meu
em perigo.
cora9ao zinho, nao vira nenhuma pessoa ma.” O tema fantasmatico construido pelo menino parece girar em torno de
Urros da erranda, até entao muito calma. uma recusa a vislumbrar o problema da castra#iio no O utro. Ao dar o seu
Quando bebé, Christian era um pequeno vomitador. For em seguida
sexo a mae, ele a institui como mae poderosa, mas isso provoca em
con- fiado a uma baba nao afetuosa que mo falava. Quando a mae o retoma
Christian uma recusa a propor-lhe o problem a do seu lugar. A crian§a
aos quatro anos e meio, o menino apresenta um sério atraso de linguagem.
quer que essa garanfia de mie poderosa derive da garantia de que eta mo
Na pracinha, nega-se a brincar com as crian§as: “A senhora entende, ele
seja perigosa, e isso pode ser cornprovado .pelos .seus..pedidos .de ajuda.
gosta de brigar, mas en nao quero.” Para conservar o amor da mae, Christian inicia um jogo de engodo muito
O pai de Christian foi marcado na juventude por um d rama familiar especial. Existe cumplicidade mae-filho em tomo do sintoma e recusa quanto a
sobre o qual nio quer falar. Ele sñ vive para o trabalho, é I aciturno, sem ver instaurar-se uma ordem diferente na qual o lugar do pai estaria marcado.
amigos. Christian tern muita vontade de identificar-se com um pai valoroso, mas
A mñ e sofre de desmaios desde os 15 anos. Nao tern amiga, o casamento a teme deixar a mae sozinha, em luta contra os s.eus desmaios... e arriscar assim
isolo u de todos. com ela Deus sabe o qué.
O menino acalmou-se; quando volto a trazer a mñ e, esta ocupado com
revistas ilustradas que a secretaria lhe deu. 3. REA§0ES SONATICAS
Pelo a Christian que me siga para batermos um papo. I-evanta-se sem
dificuldades, quando a mae de novo intervém: “Var, meu anjo, men santinho, Caso 23 - A incontinéncia
nao vao te dar inje9ao.” Charles, seis anos, é trazido ao consult6rio por incontinéncia. 0 pai do
Urros do menino. menino passa a rnaiur parte do ano ma Africa: A mae vive sozinha com os dois
especial de
Sem ter examinado o sujeito, ja posso registrar um tipo muito filhos (Charles e uma menina de um ano). A vida de dona-de-casa, as
relacionamento mae-filho: sao os fantasmas de agressñ o da rnae que mergu- longas
vem a fusao
lham a crianga na angustia repentina de ser agredida, de onde
com a mae para evitar qualquer amea9a. 17. T.A.T.: Tñcma rir Ape rcep tran Test. deste projctivo elaborado em 1935 por Morgan e Mur ray. Em
1943, Murray p ublicou-o em sua forma d tfinitiva, acompanhado por um manual dc utiliza9 ao.
Durante a entrevista, Christian informa-me que é enuré tico. Uma edi9ao brnsile ira do'.trabalho de Murray foi publ icada pela Ed. Mestre Jon, cont o' titulo
de
.Tests de Apt rcep in Tctn ñtie (T.A. T.). Sao Paulo, 1973, trad. dc Hvaro Cabral. *-
auséncias do marido a “abateram”. “Se nio tivesse tido filhos, poderia ter O que é e ntao que eta veio procura r? Aju da pa ra s i prop ria por me io
acompanhado men marido em suas mudan§as.”
desse ;jqgp jp2, que é um testem unho da afli ao em que ela se encontra. Uma
D esorientada, isolada, sem trabalho e sem amigos, a Sra. X vat fazer as ajuda* — nem mesmo isso é certo.
crian9as pagarem o onus da sua presen a.
Ela ja nio sabe por que veto, desde o instance em que algo de post tivo lhe
Charles nao tern a menor liberdade psicomotora. Instavel, desrit mado, é
é proposto. “Nao ag iiento mais, e é no filho que a gen te pensa.”
castigado tanto em casa como na escola. Entretanto, nada ltte parece dizer
For somente por esse filho que a Sra. X pode form ular o seu probleina,
respeito. “Ele é blindado”, diz a mñ e; realmente ele esta “em outro lugar”; esta
sem, no entanto, esta r mad ura para uma ana1ise pessoaI: ela necessita desse
em outro lugar, mesmo na consciéncia que poderia ter do seu corpo. filho cOmO um fetiche, para tradu zir a sua afli§ñ o. Se lhe tiram, sen te-se to-
“Quan- do vat ao banheiro”, acrescenta ela, “nunca sabe se fez xixi on nao. Ele mada de angustia.
passaria o dia inteiro sem fazer se nio o obrigassemos.” Mas at esta, nos o No presente caso, em virtu de da auséncia do pai, so se pode espe rar que a
obrigartios, o menino aceita e, ao mesmo tempo, se esquiva: esse sexo lhe diz mie seja capaz um dia de aceitar a idéia de uma existéncia prdpria, rude pen-
tao pouco respeito que nñ o pode dizer o que fez com ele. E depois, devo falar dente da dos fiIhos. Somente nesse momento e com essa condi ao, a c ura da
disso' O que etc faz com o seu sexo, afinal de contas, diz respeito somerite a erranda on mesmo a assisténcia a mñ e seriam possiveis.
ele.
A incontinéncia noturna torna-se um estado de fato diante do qual a Caso 24 — Enxaqueca
crian§a nio reage. Por que reagiria? A sua uurea forma de nao entrar no Monique é uma menina de 12 anos que foi levada a consuItar-se em
desejo da mae nao é j ustamente fazer-se de morto, guardar uma distancia em razao de sofrer freqiientemente de uma enxaqueca rebelde a todos os
rela§io a esse corpo que, em grau tñ o elevad o, diz respeito â mñ e' Que a tratarnentos. O rendimento escolar dessa errand a inteligente acha-se
envolve de tal maneira que ela nao lé mais, que ela ja nñ o existe fora dos comprometido.
filhos. Charles, em contrap ar tida, nao tern pensamento s fora de sua mae Monique apresenta-se a mim por meio das suas desventuras soma ticas:
“Nao posso saber, porque nao aprendi as palavras necessarias; nao me disse- do res de cabe9a aos seis anos, ao entrar para a escola, tornando-se, ao mesmo
ram a idéia que eu devia ter, entao nao posso.” tempo, asmatica. Essa asma é associada pela crian9a â asma da mie; explica
Contudo Charles tagarela, tagarela muito. Cerca-se de um mar de pala- como a mae vem ficar junto dela na cama, nas noites em que a asma e as do res
vras â guisa de defesa contra uma situa9ao sentida como perigosa (relaciona- de cabe9a sao violentas demais.
mento com uma mñ e proibidora, sem interven§ao de imagem paterna). O pai aparece afastado, numa familia em que dominam a mñe e os anos
“En quero”, dizCharles, “me tornar uma pessoa grande que nem mamae.” maternos. “Men par nunca esta em casa, nada tern a dizer. Ele nao fala mais.
No entanto, ele se opñ e a ela, revolta-se e a desafia: “Vocé pode me dar paIma- Esquece a sua tristeza no trabalho.” “Mais tarde”, acrescenta a menina, “quan-
das que en nao vou chorar.” do en me casar, nao you levar atras de mim os mens pais, como a mamae.
O pai existe nao obstante, visto que o menino relata as suas viagens e Mamñe, alias, tern sempre necessidade de alguém. Quando nño sño os pais
be’i ios. Tern orgulho do pai, o qual, porém, continua a ser uma imagem dela, sou eu. E, é claro, como estou o tempo todo doente, ela se aproveita.”
mas- culina insituavel: Charles nñ o consegue aceitar-se num devir de homem. Ele Objeto f6bico da mae nño autñnoma mas autoritaria, assim se apresenta
permanece voluntariamente esquivo, tanto no plano intelectual, como numa Monique. A exclusio do par é por ela ludicamente sublinhada.
tomada de consciéncia do seu corpo de menino. “De 15 em 15 minutos mamñe me pergunta se estou com dor de cabe9a.
O sintoma incontinéncia é aqui, para o sujeito, a expressao de urna recusa Papai nao quer, mas nao é cfc que manda. Entao, mamñe me interroga, me
de confronto com uma imagem masculina. “O men corpo”, parece dizer-me faz tornar comprimidos, sempre para o men bem ela quer me fazer alguma
a crian$a, “eu deixo para minha mae, eu fujo, é dessa maneira que fico coisa.”
protegi- do das amea as e do medo.” Monique nño tern direito de praticar esporte ou de dedicar-se â mus tea.
SOmente uma psicanalista pOdfl ffl8tñ f 6O COISO 8 88*a>V+' A < > Tudo ltte é proibido em fun{ao da sua enfermidade organica. Monique nao
entanto, s6 encontra lâgrimas para responder 1s proposfas de tratamento. tern desejos, ela é o desejo mater no.
68 ' PRIMEIRA £NTREVISTA EM PS1CANALIS E

O seu mat -estar orga nico é a expressao da ansiedade da v1ae. A Ao ser exam inado, mostra-se temeios
cr1an{a, com o seu corpo, traduz uma angustia que tern sua sede na mae. A o, em estado de pinico, sempre que
u ma opiniao pessoal the é pedida. Rei
ausencia de um par que proibe introduz, na crian9a, a auséncia de todo as unhas, desviando o olhar. De inte1i -
mi:diado r simbo - tico.” O q ue mo pode ser expresso em palavras é vi vid o géncia normal, esse menino de $ ete anos tern o comportamento
Iñ o regressiva é a sua cond u la. Toda afetivid
ciz mo mat-es tar corpo rat. ade é desprovi da dfl
retardado,
CO t, ha falt a
de vida. Toda evolu9ao viril esta bloqueada:
4lonique parece entrever o perigo ao come far uma ano rexia: “Na casa nos desenh os, as arvores estao
cortadas, os cornbatentes nao tém bra9os, e as crian9as aparecem sem
dos outros eu posso comct, mas nao na minha.” Arth ur mais parece uma esta ma que um ser vivo e foi dessa as maos.
Mas, responde a mae, o que fazer “se ela me disser um dia: Na casa dos forma que ele
caiu nas grayas da mae (criada sem pai por um casal homossexual).
outros eu posso viver, mas nao na minha”?
Ali se encontra, com efeito, o proprio no do problem a, e a mae parece te r n o p ara entrar °°^° i,1Ji fd«o no univ,fs dos signos.

finalniente querer tornar consciéncia dele. “Eu sempre lhe disse”, replica o
marido, “que a menina servia para vocé se afastar de mim.” A mae chora entao
baixinho, ela nao quer que tudo isso possa ser verdadeiro. Cr›nfessa enfinn,
a contragosto, as suas crises fbbicas, e a maneira como ela se defende delas
usando os filhos (o mais velho é uma crian9a-problema, o rnais novo tai-
bém come9a uma anorexia).
Uma psicanalise para Monique? Talvez, mas, a parte Monique, se a mñ e
nao se modifica, é todo o equilibrio familiar que .corre o risc‹a de se
compro- meter cada vez mais. Os sintomas de Monique surgem aqui como
sinal de alarme, anunciam um mat-estar que se localiza em outra parte.

Caso 2S - lncontinéncia - magreza patoldgica


Arthur, de sete•anos, chamado pelos seus de “Bebé”, é o segundo de quatro
irmaos. Ele nao distingue “o avesso do direito, nem a esquerda da direita”. Em
estado de grande depressao durante a gravidez, a jovem mulher receou
que ele nascesse idiota:
Criado por uma série de babas rigorosas, em regiñ es e ‹:1imas
diferentes, Arthur “cresce” mat; anorético até os trés anos, so come9a a
falar aos quatro. O irmao mais velho, inteligente, é rejeitado pelos pais e
quase nao vive com eles (é criado pelos avos). Arthur vé-se assim como o
unico varao entre duas irmis mais jovens. E como crian9a doente que ele
encontrou o seu lugar na familia.

18. O ensinamento de Lacan centralizou-se tm 1950 n a dist in 9a o entre o simbb tico, o trna ginârio
e o real. Ele estu dou a posi9ao do Pai n a rela9âo man - filho e ap uro u os f:itores que per mite
m o acesso â “ordt m da culture, d a linguagtm, da Lei”, isto / o acesso a un m un d o
carregad o d e stn tido. Esse po mo d e re ter e n cia que é O Sign i fica n te p ate rno cons i i tu i
para a c ri an 9a u m elem en to esre ncial q uc va i pcrmi iir-the d e ixar o m un do fechado ma
FñbiCo, em pranto diante do men Or ata que dos colegas, Arthur tern m uita
dificulda de em efetuar urna evol u(ao correta.
Uma psicanalise é indica da, mas so pode ser posta em pra tica se a mae
aceitar ser questionada dentro dela. A enfermidade organica da crianpa no
tapa,
caso, a angustia materna; é em lingu agem corporal que a crian{a
exprime On
traduz o desconcerto da mñ e. “Men filho sou eu, somos frase
parecidos. Essa
suporta
resume, na sua prñ pria simplicidade, o vinculo mae-filho no que
ele
poderosamente homo drama, incompreensao, mal-entendi
tra -senso. dos e con-
Em todos esses casos, Os pais esta o ausentes, talvez porque
ja tenh am
desistido de se fazer ouvir.

Caso 16 — Anorexia - insânia


Paul, de dois anos e meio, esta as vésperas de
U£TI0 HOva hospitaliza9ao. O
pediatr a, diante da indecisao do pai, sugere que O
se consulte um psicanalista.
mais novo de seis irmaos, Paul é insonioso desde 9ue nasceu. Come{a uma
anorexia no momento do exame. NaSCido com urna alergia de pele, aos dez meses
come9ou a ter crises de violé ncia contra si mesmo: batia na prop cabe9a com o
ria
risco de se ferir (isso coincicle curiosamente com a cura da alergia). lvlinistra-se
libritim a crian9a, mas espasmos de so1u§O logo Ham a aparecer. Diante da
come-
mae transtornada, a crian9a chega a perder de todo a consciéncia, corre ey issao de
urina. O psiquiatra consultado nessa época sentenciou: “Essa crian a vat acabar
com a senhora, se antes a senhora nao acabar com ela. Nio ha tempo a perder.“ E
numa rela9ao de forma que mae e
filho veio desde entiio se enfrentar.
Paul esta entao com dez meses: “Em cada crise, dao-lhe brometo”,
acres- centa
a rriae.
Como ele reage a isso?
“Com ere9ao e mas'turba ao aos 18 meses.”
O psiquiatra, novamente consultado, explica diante da erranda em que
consiste a ere9ao e a dor. Essa dor que aswstn. Don ñ *° ° ›eguintes conselhos:
Paul completou dois anos. Sai dessa consulta guardando o ensinamento •
LiberdadC IOtal, pepqq to eira liberda de nñ o perturba os outro› (dirci to
do médico: desde entiio todas as noites a mite vat ser acordada por Lima crian- * °8o 8*£ C£tS tiga do, de nio comer, de nao Se lavar, desde que um ri t mo de
9a em ere ñ o que ltte diz: “Esta doeudo”, e volta a adormecer... depois de lhe "” "' ”"”"’ )° ° °#° °* °*° funCâo dos caprichos da crian
a)
• S€ Paul chama d urante a noite, qut•m deve levanta r-se é o pai. Vocé ppdp
O equilibrio nervoso da mae acha-se comprometido, e, para que ela
vol'e a recuperar o sono, o bebé é enviado a uma institui9io infantil. Se etc "^" ° 8°’ 9"*^*^' "^ * deixe dormir com minha m ulher... rios pre-
ciamosdormi.”
at consegue (â semelhan9a da mae) conciliar o sono, perde a fala.
Reintegrado a familia aos dois anos e meio, recome9a a falar, mas perde S*m que en tenha tido ngcessidade de ver a crian a, todos os disturbioi
o sono e rejeita a comida, fazendo oposi9io a tudo. °°^^^< como que por encanto.
Exclusivista em rela ao a mñ e, nao admite que ela cuide de outra Q••< * *°° ulher'”, pergunta Paul ao par.
erranda a mo ser ele. Sem demora, a angtistia de ser remetido para essa
institui9io vat traduzir-se em diversas indisposi9ñ es somaticas, entre as quais , “ › °°°- Ela e minha mulher.”
uma laringite estridente que instala o panico na mente da mae. Uma "’ de ••*•g* • es tridulosa provo ca pos
Diante dessa angustia que a crian9a tern o dom de provocar na mente teriormente cimento dos antigos distñ rbios, e concordo em ver
da mae, essa tern a impressio confusa de j1 ter vivido alguma coisa dessa o menipp.
ordem durante a gravidez: “Desde o quinto més, eu fiquei com a barriga %°‘° °°^ "^ ñ P fl fato-the, em linguagem de adulto, a sintese dos seus
muito dura, tinha tars contra9ñ es do utero que Julgava que perdera o filho. distu£blos desde que nasceu, salientando a situa9ao a dois que se criou assim
D urante o par to, ele nio queria vir, for preciso ir busca-lo.” °° 8 miv, e sobre o cara ter incâmodo da auséncia de linguagem no bebé. A
E é desde o principio que Paul, lembremos, vai mostrar-se vomitador, J'"8a deixa entño o colo dH mje e inicia um longo dialogs totalniente in-
insonioso, contraditor. A sua fragilidade fisica o destina a ser o objeto da compreensivel para mim.
mae, sem interven§io suficiente da imagem paterna. As multiplas consultas Respondo: "Eu gostaria muito de falar a respeito disso tudo com papai.”
médicas criam um conluio de adultos em torno da erranda, na auséncia do “Ah› nao. Paul é que é p c}ip{ap.
par. Respondo: “Nao, o chefao é papai. Ele achou que a mamae ja
era velha
Quando a mat vem consultar-me, Paul encontra-se, lembremos, â r vés- demais para levar umas palmadas e por isso d eixou que Pa ul e mamie se
peras de uma hospitaliza9ao por uma série de distu rbios psicossomâ ticos, virassem. Mas papai bem sabe que Se isso vat mal demais, e1e pode
dar uma
(entre os quais insonia e anorexia) que deixam os médicos perplexos. O par 8U££ñ gJ Jdmie e em Paul, pois todos doin tém de the obedecei.”
op0e-se a toda idéia de hospitaliZa{io, como se opusera a mandar a crian{a “Ah, nñ o, mamae é boaZinha. Paul t o chefao de mamae.”
para uma institui9ao infantil. Na sQ$bip tqgtlirlte (dez dias depois), Paul entrega-me uma carta de
seu par.
E em torno do feinn do par que vai desenvolver-se o essencial das duas $atlS%*{j jJQ Tom a mudansa, eIe nota "um progr•i so assombroso na
con-
entrevistas que tenho com a mae, em particular. Isso a leva, por sua vez, â *ersa9do’1 NesSe meio-tempo, Paul freqiienta a escola maternal do bairro...
seguinte reflexao. "Com os mens filhos mais velhos, eu me esque§o de Paul, Espontaneamente, a crian$a traz o tema “Paul é chefio, papai nao deve
é quando ele se mostra dificil que me lembro da sua existéncia.” dad HS ordenS’I IssO mg é confirmado pela mñe quando me fala do abandono
Paul t muito ligado ao par, a quem raras veZes vé. O horario do menino tot£Ll €£Tl Que se achou a crian$a ao nascer: “En entregava o cuida
do de Paul a
é concebido de tal maneira que cfc praticamente naO tern COntatoS Com minha filha e â 5 empregadas.”
A crian a prossegue: “Nio QUerer dormi Rao é born.'
oS adultos. A mae faz questio absoluta de respeitar um programa
RespoDdo: “Nao h;i Mnf algum em nñ o dormir: é apenas inc6modo. St-
estabelecido de modo arbitrlrio, por temer “que a crian§a a domlne”.
gUt•-SC tOdO um animado discurso da crfan§a, que nio compreendo, mas
Trés ou quatro consultas psicanallticas foram suficie ntes para evitar tude rlgida do pai (no entanto, o estado doentio do bebé faz
que recometasse o rosari o das hospitaliza9ñ es e os seus efeitos n‹!urOticos dele o objeto
desa- gi adñveis. eletivo da mbe).
Paul conserva certamente a sua disposi ao uma felicidade enorme de con-
versao psicossomatica. Ao isolarmos a doen9a, na mente de u ma crian
9a
para quem essa doen9a tern um sentido no seu relacionamento no seio da
familia, provocamos mal-entendidos, e the fecham os uma possibilidade de i
acesso ao mundo simbolico.
0s sintomas de Paul desapareceram porque o analista deles se serviu como
de u ma linguagem, procurando introduzir um sentido no ponto em que a
crian9a havia parado, imobilizada pelo p$nico diante da am{›litude das
suas exigéncias libidinais. Ao culpar essas exigéncias, sé› podiamos levar a
crian9a a prosseguir a luta no campo somatico, refor9ando as defesas. Foi
precisa- mente isso que procurei evitar.
Somente o acesso a palav ra (revelando o desejo oculto de Paul: ser o
chefao de mamae) pode ajuda-lo a afastar-se de uma angus via vivida corno
mat-estar do corp9.

Caso 27 - Mutismo
Raoul tern quatro anos e nao fala. E o ca9ula de uma familia de seis
crian- has. Alegre, de trato facil, aceita as bagun as com os irmaos. Muito
laborio- so, as suas atividades sao exclusivamente calcadas nas da m.ie.
Procura mo- nopolizar a aten ao dela e, longe da sua presen9a, tern mecto
de escuro, da agua, dos animais.
Uma septicernia aos 15 dias de vida veio prejudicar o desenvolvimento
fisico da crian9a. Uma separa9ao com um ano de idade, pot razao de sau de,
encerrou um periodo penoso em que os cuidados com a sau‹Je do bebé
pren- diam a aten{ao dos que o cercavam.
Raoul retorna da institui§ao infantis ja sabendo andar, embora nao
utili- ze os bra{os, como se fossem para etc um corpo estranho e iricfirnodo.
.Aos 18 meses, instala-se uma anorexia que cede de modo espontaneo no
dia em que o pai volta a incorporar-se a famllia. O menino inicia entao uma
fase de cñ leras ruidosas seguidas de sono. As cenas terminam facilmente
quando o
pai aparece.
A hipersolicitude materna acha-se felizmente contrabalan9ada pela ati-
O exame da crian#a é quase impossivel de efetuar. Quando vejo Rao u1 na present a
da mae,.ele chupa o .polegar, a parasiteia. Se o vejo sozinh o, ele rota no chao, contrapñ e
um “nao” sonoro a todas as minhas perguntas, alternan- do pontapés com uma atitude
regressiva. Quando chamo de volta a niae, ele se encontra n tim estado de ansiedade
patologica, rejeita qualquer atividade e procura refugio no colo materno, onde
adorniece, en rolado em si mesmo, de polegar na boca. Se lhe dirijo a palavra, Rao ul
projeta-se sob re a rnae e cho- ra. Se lhe pelo que desenhe, estende o papel e o Iapis a
mñ e, para que ela fa a o desenho. Ele acaba me desen hando um boneco, representa ao
da imagem de um corpo fragmentado. Se utilize massa de modular,.tudo fica igualmente
fragmentado. O nivel intelect ual de Rao ul parece normal, a auséncia de lin- guagem
vem aqui acentuar uma estrutura de grande fobico. A crian§a mo pode assumir a sua
agressividade, sob pena de ter medo de perder a mae.
Das s uas produ9ñ es plasticas, que, como dissemos, eram todas elas inta- gens de
corpos fragmentados, o tema central era um disco encimado por um fat o tirrancado de
sua base. Pod emos pergunta r aos nossos botñ es se a separa- Rao precoce da crian9a nñ o
for vivid a por ela como uma mutila§ao imposslvel de assumir. Para Que a mae continue
a viver para Raoul, ele tern de introduzir entre ela e a sua pessoa alguma coisa da
ordem da morte (o seu sono, o seu mutismo). F nessa morte que o individuo
encontra uma possibilidad e de eternizar o seu désejo, podendo assim a1can§ar o
mundo dos simbolos que havia corrido o risco de desaparecer com a Ferda da mñ e. As
suas cbleras e a
sua rejei9io da mae nada mais sao que o inverso do desejo da presen9a mater-
na. Se as coleras com a mae terminam em sono (on seja, numa espécie de uniao com
a nice), as que visam ao pai tern por objetivo a introdu9ao de um terceiro termo:
uma instancia superior que lhe fala a lei e o devolva assim ao seu estado de indivldu
o.
Rao ul procura visivelrriente ser marcado pela amea9a paterna para que, por meio
dela, o seu desejo possa formular-se. Mas ele esbarra entao na mñ e, que teme para o
filho doente toda e qualquer interven9ao da Lei, privando- o ao mesmo tempo de toda
possibilidade de identifica#ao com o pai.
O papel de uma psicanalise aqui seria justainente levar a crian{a a resol- ver
corretamente o seu Edipo; introduzindo-o na linguagem dos desejos de morte ou
homicidio vividos no nivel do corpo.
€ tao-somente numa dialética verbal que Raoul pode chegar a assumir-se num sexo
de menino, a palavra tomando entao o lugar de um sintoma, para superar os seus
efeitos neurdticos.
As informa§oes recebidas posteriormente (da psicanalise que se encarre-
sao soma tlca que a separa§io foi vivid a.) Presentenien te, a inda ltte falta a
gou da crian9a) vieram confirmar a exatidao da compreensao psicanalitica
linguagem: no dia em Q ue, pela Palavra, Lina pnder exprimir o seu
do caso, ta1 como me for possivel ob ter na primeira consulta.
desespero (agressividade), eta nao tera mais necessidade de parasitear um
For no dia em que os desejos de morte puderam ser conscientes que a
adulto para sentir-se em seguran9a.
crian§a, sem demora, adquiriu a linguagem, e isso, por meio de urna in versñ o
toda/ de sons. No dia em que o comkonto com o pai for possivel, Raoul
aban- donon uma forma de dislexia puramente reativa. 4. INICIOS DE UMA PSICOSE
CaSo 29
Caso 28 - Atraso da linguagem
NoelJa, de quatro anos, é a pen ultima de cinco irmaos (os dots Oltirnos
Lina tern quatro anos. Inteligente e viva, ela apresenta um sério atraso
nasceram por descuido).
da linguagem. A sua instabilidade e os seus dist urbios caracteriais tornam
A mae, muito ocupada com a vida profissional, nao desejava ter mais do
pro- blematica toda e qualquer inser9ao escolar. A erranda tern uma irma trés
que trés filhos. Uma quarta gravidez colocou-a em grave estado de depres-
anos mais velha, grande fñ bica. Nasceu numa fase particularmente
sao. “Eu tinha a impressao”, diz eta, “de que alguma coisa acabaria.”
dramatica da vida da mie (divorciada, sem ter onde dormir, sem recursos).
Desde o nascimento, o bebé fico u separado da niae, ainda nesse momento
Indesejada, Lina cresceu entretanto sem problemas até completar um ano
em tratamento psiquia trico pelo episo dio depressivo que, com o pa°!o, ^*
de idade. Co- locada entñ o em uma institui§ñ o infantil serrana, a crian a at
traduziu num acesso delirante.
perde a sua alegria. Permanece por mais de um ano nesse lugar e definha
Entregue a uma ama-de-leite, a crian9a apresenta, desde o inicio, diftcul-
fisicamente (sem que os médicos deseubram qualquer causa para isso).
dades alimentares. “Quanto ao mais”, dizia o par, “era uma pequerrucha que
‹ A mae recupera a filha com dois anos e meio, coberta de furunculos e
nio-se iexia.”-
com incontinéncia diurna e noturna. Nesse meio -tempo eIa se casou pela
Quando NoElla completa seis meses, a mae reintegra-se ao lar› retoman-
segunda vez. Lina passa a dividir um quarto com a irma na nova moradia.
do a sua vida profissional. Engravida pouco tempo depois (supo rta essa gra-
Uma pes- soa idosa cuida das crian as e Lina, pouco a pouco, vat
videz com resigna9ao), deixando Noella aos cuidados de uma ama-de-Ieite,
reencontrando certo equilibrio e recupefando sobretudo a saude.
que também cuidara do futuro irmaozinho. A mae escolher ente meio -ter-
Linguagem, praticamente nao ha. A mae, com grande participa9ao na vida
mo: acer tar ter as duas crian has, mas nao criar aquelas que nio quis po r no
profissional do marido, so cuida das crian9as aos domingos. “O domingo”,
mundo. Sen marido, hrfio de pai desde muito cedo, trata bem das errand as e
diz ela, “é para mim um verdadeiro pesadelo, Lina se agitrra a mim, nao me
é particularmente apegado a Noella. Faz tudo o que eta quer, deixa-se arra-
da um momento de descanso.”
nhar, morder. Censura a mulher por naO ama-la, durante os raros momen-
0s dois pais tiveram uma infñ ncia triste, marcada tanto para um como
tos em que a menina vem passar com eles.
para outro pelo divorcio dos prdprios pais e pelo quase estado de
“O que a senhora quer”, diz-me a mie, “aquela menina nño me at rat, nao
abandono em que o divñ rcio os mergulhou. Com poucos atributos para
ha nada que me empurre para eta.” Mimada durante a juvent ude, a Sra. X
serem pais, pouco amadurecidos para o serem tao cedo, nao toleram o
nunca pode decidir-se a se tornar, como era de agra do do marido, “uma
menpr constran- gimento por parte das crian9as.
dona- de-casa”.
Lina, menininha esperta e persistence nos seus jogos, flea perdida sem a
“Ser uma dona-de-casa, ter sempre um po uco menos de dinheiro do que
pre- sen{a de um adulto. Eta passa a parte mais importante do seu tempo a
se necessita, ter sempre de privar as crian9as e a st prdpria de alguma coisa é
que- brar os objetos, a perdé-los. Trata-se, de fato, de assegurar assim a
uma armadilha na qual me rccuso a cair. Dizem que sou uma mñe ma. No
perenida- de de uma presen9a.
rest urqjqtg, $pjj ;•p5pp n$avel per 30 refei9ñes dramas. Quase nao sou ajuda da.
Uma psicanâ lise parece aqui indispensavel para ajudar a crian§a a supe-
O meu tempo livre é para os meus filhos. Gostaria de nao ter to do o tempo
rar um periodo traumatico (perda da mie) quando ela sb teve â sua
livre devorado por eles. Ler um pouco, ficar em contato com o mundo. Os
disposi- Rao o seu corpo para exprimir o seu sofrimento. (E, lembremos,
como agres-
76 A PRI MEI kA ENTRE\/ISTA PM P SICANA£ I SE
um lugar definido nos
fantasna as m a ternos.
tres mais velhos en assumo. 0s dois ultimos, os que vieram depois, estñ o
acima das minhas forkas. Se eu perder a razao, quem ganhara cc›m isso? Moro
numa cidade isolada, meu marido sñ vai em casa duas vezes por semana.
Son capaz de cui dar ao mesmo tempo de tudo o que eu quis. Tend o agora
a im- pressao de ter de lutar para me salvar.”
“Essa pequerrucha”, acrescent a o pai, “provocou a nossa desunia o.”
E, aproveitan do-se disso, fala-rue da sua infancia infeliz, dii perda de
um par “amado pelos homens e pelos animais”, de uma tia invalida, que
ocupou para eye o lugar de uma mñ e pouco afetuosa.
Que a sua mulher nao queira nunca mais ter filho é sentid c› por ele
como o sinal de que ela, a exem p1o de sua propria mae, é uma m ae m a. (
O internamento dos mais velhos evoca para ele a Previdéncia S‹icia1... ou
seja, as profecias da tia: “Tua mae é bem capaz de te entregar a uni orfanato
da Previdéncia, agora que ten pobre pai nao esta mais entre nos. ’)
O problem a de Noella, menina psicopata, nao tardou a desaparecer por
tras do sério problem a do casal. E foi o problema do casal que eu examinei
durante uma entrevista de mais de trés horas. Era importante antes de
tudo mostrar ao pai o drama pessoal que se desenrolava na pessoa da filha
invali- da, e revalorizar aos seus olhos sua mae, neurotica sern duvida, mas
cujo equilibrio devia ser mantido no que ela era capaz de dar e de assumir.
Noella arcava com o onus de ter sido, com a sua vinda ao mundo, a
marca da dischrdia do casal. Isso a mae nao lhe perdoou de modo algum; e
ela foi sempre, no casal, o motivo das brigas, o objeto de um aumento de
amor ou de odio. Em resposta, Noella fazia-se ausente, a toda presen9a
humana.
Uma psicanalise da crian9a impñ e-se sern a menor duv.ida. Mas com o
fazer isso, a 300 km de Paris? Tudo o que se podia fazer era dev‹i1ver um
pouco de paz ao cora ao dos pais.

Caso 30 — Uma crian{a psicética


Henri, de oito anos, foi levado ao meu consultñ rio por um parente afas-
tado. Etc é o membro mais novo de uma familia numerosa (1:odos oS
irmaos sao casados, salvo um deficiente mental grave de 25 anos, que mora
com os pais). Henri é o ca9ulinha; vive numa cidade distante, entre pais
idosos; um pai “ausente”, obcecado pela idéia da morte prñ xima, uma m ie
hiperanslosa, que sufoca a crian9a com um excesso de aten9ñ es. E o
confidente da mae e participa dos seus temores, esperan§as e sonhos. Tern
# slTuéU\o ; 77

Ou#amos o seu discurso:


“Papai devia set .cirurgiao, mas .fizeram dele um clinico-geral. Depois o
aposentaram, e ele cultiva macieiras. Atualmente ele passou a ser médico da
Previdéncia Social. Meu irmao de 25 anos fez progressos: ele aprendeu a lim-
par a casa. Sern pre lhe damos alguma coisa para fazer, e ele nao leva uma vida
infantil. Nao é que nem a tia de minha nora. Ela nao sabe ler apesar de ter 40
anos, e brinca de boneca. Meu irmao doruse e toma rem édios, coisa que,
alias, também fato: estou cansado i o que é um mau sinal para mim, sin to sede
o tempo todo. Vocé vai me dizer o que é preciso. Tenho também uma coisa
curiosa, é meu pai que trata dela: ele me passa pomada.. Toda vez que ha um
homem que mata sua mulher, ela me anuncia. Entao eu digo a mamae: 'Por
que é que o pessoal daqui se casa, se tern de brigar?' Nos sonhos, quem morre é
a mamae, entre meu irmao infantil e meu pai eu nao posso viver. Entao,
mandam-me escolher com quem eu quero viver. Se é com a minha irma que a
senhora ja conhece ou com a minha cunhada. Uma crian9a sern pais, eu ei-
tendo por que ela tern vontade de partir com a sua filha.”
“As pessoas que se separam, é assim a 0. A. S.:* as pessoas brigam, mas
aquek qcre est ateado nao quer se separar, entio tudo continua. Enquan-
to, para o divdrcio, nada se pode fazer. A gente passa a ser dois sozinh os
numa casa, para sempre; .o .casamento .é .feito para isso.
Vemos Henri alienado nas preocupa9ñ es maternas ao ponto de nao po-
der mais situar-se numa linhagem: é ele o filho, a filha, o pai ou o companhei- ro
da mae? Ele é, talvez, tudo isso ao mesmo tempo e, enquanto tal, perdido
como sujeito.
Esse discurso nao é a sua palavra, é uma 'palavra impessoal, que nao the
pertence, a palavra de outro, de todos os outros: o registro que ele da at nao
é de sua autoria.
Nesse discurso que nao lhe pertence, a crianga expñ e no entanto o seu dra-
ma, o drama de espectador numa famllia qi2e despiu a vida de todo o seu
sentido. Que é o casamento? “A gente passa a ser dois, numa casa, sozinhos
para sempre, o casamento é feito para isso.”
Tamb ém Hem i ‘escolheu urna ’forma de so1id'ao para nao sofrer com o
papel de fantoche que lhe é atribuido. Ele ingressou no mundo da loucura.
Somente uma psicanâ lise pode tir5-lo de la.
Por sorte, uma parenta esta prestes a acolhé-lo em Paris a fun de permitir
que ele prossiga um tratamento. Quanto aos pais, nao percebem muito bem

* No tn to F•n d i i re r: O.A .S.: O r g an i s m o de 1'A r m te S t c r é t e, “--


78 , A PRIMEIRA ENTflEvlSTA EM PSICAN4LISE

2
o que lhes aconteceu. Ja romperam re1a{oes com os seres h uman os, a vida e a
morte sao para eles um mesmo mundo. Essa crian9a os encantava, mas, se é
melhor que ela va embora, assim seja. Entretanto, com eta, quem parte é o
ultimo interlocutor que restava aos pais. Desse momento em diante, somente
o retardado esta presente para receber as confidéncias deles e cultivar com
eles as flores e as plantas da propriedade.
O Sentido do Sintoma
Trinta consultas... Todos os pais me sao encaminhados por médicos, pe-
diatras on psiquiatras que, um dia, diante de ta1 crian9a, hesitaram em pros-
seguir um tratamento tradicional. Eles levantaram a ques tao de saber o
que o sintoma podia ocultar como tensoes on como dramas. “L necessario”,
di- zem-lhes, “mandar aplicar testes ao seu filho. Depois veremos o que
convém fazer.”
Testes, por que nao? Nao se trafa, no espirito do publico, de alguma
coisa de objetivo, de impessoal, que permite dar uma resposta aos
problemas dos pais, poss ibilitando até aliviar esses ultimos de toda e
A grupei ao acaso as entrevistas pr ecedentes, obedecendo ao mo tivo da
rofisuffa. Dela se extra i uma classifica9ao for 9osamente arbitraria (u ma
ver que a queixa parental encobie com freq uéncia six to mas mais sérios, on
qualquer preocupa9ao. Texros, dirao alguns, isto é, uma regra escrita, que vira pelo menos diferentes daqueles que motivam a consulta), classifica9ao que,
substituir a Lei Parental. A Instancia Superior, é a isso que os pais recorrem, no entanto, vou respeitar atendendo a comodidade da exposi9ao.
prontos para se demiti- rem on para- passarem n seu encargn a outro Pegando por acaso as min has fichas, tro uxe â luz o problema das di
Respo vet... “0s serihores devem passar a tratar”, parecem dizer, “dessa dades escola res e das di ficulda des cabacteria is (que vao desde os distur bios do
crian9a (ou seja, da nossa an- gustia) .” comportamento até a conduta associal e a delinqiiéncia). Aflor ei a questao
En sou psicanalista. Isso me marco u para sempre nas minhas re1a{ñ es. da perversrio, a /odia, abordei casos de rea9âes somâticas e o problem a da
Nao acredito nos in§trumentos de medida, on melhor, so os utilizo durante psicose.
uma entrevista ou, se dispuser de muito tempo, procuro, antes de mais Essas crian9as, repitamos, e u as vi em primeira consulta, o que equivale
nada, aprender, compreen der, o discurso do Outro. I por meio da mentira a declarar a insuficiéncia do material para trata-las em seguida de maneira
que uma certa verdade pode ser apreendida. Verdade de hoje que talvez te6rica. A minha inten ao nao é, evidentemente, desenvolver aqui a teoria
nao seja mais a de amanhi, mas verdade em movimento, em busca de uma psicanalitica das neuroses e das psicoses, mas, antes, circunscrever uma
autentici- dade. For isso que eu tentei apresentar nas paginas precedentes. ques- tao que os proprios psicanalistas sao is vezes levados a deixar de lado.
Vamos tentar agora, indo além da concisñ o dessas notas tomadas, apurar Em psicanalise infantil, por ocasiio da primeira consulta, estam os
um sentido. submetidos ao pedido dos pais, que pode ser extremamente urgente.
Tendem os, pois, em rela ao aos pais, a resvalar para uma posi9io de
psiquiatria ou de psicope- dagogo, com o risco de deixar escapar a dimensio
essencial, que é justamente a apreensao psicanalltica do caso. b da .sua.posi
ao . de .analista que o consul- tor pode evi tar orienta$ñ es agodadas, coloca
ñ es precipitadas, e tambem pode tentar mostrar uma verdade num lugar que
esta ocupado por uma mentira. Para isso, é ainda preciso que ele alcance uma
compreensio suficien- temente aprofundada da situa$ao familiar. Nem todas
as consultas resultam
80 ¿ A£RlMElRA 0ñND00D06 l0mA ' 81
ENTR5Vl6TAfMD5lCAwAt5E

na indica dito dc uma psicanalise, mas em todas é certamente pr›ssivel salva- 1. DESORDENS ESCDLÉ RM
guardam a dimensiio psicanalitica, on até vir em a uxilio do pediatra ou
do médico de familia, que tern a seu cargo o tratamento da familia. O u9amos em primeiro lugar o discurso da mae:
“Dizer”, acTescent a ela, “q ue tenho um irmao en genheiro e um filho as-
Muitas ve2es, é numa segunda fase que os pais poderao de maneira corre- sim.” (caso 1) _
te form iilar a sua pergunta, de um modo que permits a entracla do sujeito “O mais velho”, dizem-me, “satu ao par, é brilhante. O mais novo puxou a
nu ma psicanalise. mâe; e infelizm ente en comecei uma série de coisas, mas nada terminei.” (csso 2)
As minhas notas,' tomadas ao término da primeira consuit a, resumes, “Q uando estou deprimida, eu o aju do em seus deve es, mas ele mo quer
dizia eu, na sua propria concisao, Lima situn ño. Tentei explicar isso. Neste mais saber do meu auxi 1 io... Ora, para sua infornia9ao, o pai de Nicolas é
momento pretendo tentar compreender o que, nessa situa9ñ o, p‹5de determi- uma criatura mole, distraida, cansada, in util.” (caso 3)
nar, na crian#a, ta1 ou qual disturbio. E comum ouvir dizer que, a toda crian- “Quando a gente sabe tudo”, con fessa Bernadette, seis anos c!e idade,
§a-prob1ema, correspondem pais-problemas. E raro, com efeito, que nao se “o que existe no find é a morte.” (caso 5)
perceba, por tras de um sintoma, certa desorâein familiar. Entr‹•tanto, “Meu marido um chato”, “Que idéia ter r asado com um cara assim”, diz
certo que essa desordem familiar tenha, por si mesma, uma rela9ao direta de
i
a menina. (caso 6)
causa e efeito com os disturbios da crian§a. “Trago-the minha filha, por indi ca9ao do Dr. X, sem o consentimento
O que se mostra prejudicial ao sujeito é a recasa dos pais a vr:r essa desor- do pai.” (caso 7)
dem, o esfor o deles em palavra, para ai substituir uma ordem que nao é Essas amostras sio muito modestas para que possamos, a partir dai, fazer
apenas uma. um estud o exaustivo do problema dos disturbios escolares. homo en ja disse,
é
Nao é tanto o confro nto da crian#a com uma verdade pen osa que desde o corrte •nâ o é essa a minha inten9ao. Desejo chegar a salientar
traumatizante, mas o seu confronto com a “mentira” do adulto (vale dizer, ape- nas certo time que,. mm geial, se torna a encontrar em toda situa ñ o
o seu fantasnia). No seu sintoma, é exatamente essa mentira que elt:
nen- rotizant e.
preseritifica. O que lhe faz ma1 niio é tanto a situa9a o real quanto aquilo
O que nos impressiona aqui?
que, nessa situa- Rao, nao foi clarameqte verbalizado. fi o ri‹io-dito quc De pronto somos apresentados (pelo “sintoma escolar”) ao mundo fan-
assume aqui um certo tasmatico da mae. A crian9a tern por missao realizar os seus sonliqs
relevo .
na O seu erro reside quase sempre em nao aceitar colocar-se no lugar que lhe
Por meio da situa§a o familiar, a minha atenRao vai, portanto, recair esta
palnvra dos pais e na Qa mae em particular, pois veremos que a posi{ao do p ai
, reservado de antemao. Porque, se jogasse o jogo da mae, a crian9a se
para a crian a vai depender do lugar que eta ocupa no discurso materno. veria imediatamente exposta a outros problemas bem mats graves,
isso tern importancia para a maneira como a crian{a vai poder, desde entao, principalmen- te o de um Edipo impossivel. Assim é que Francois (caso 1)
bem-
resolver corretamente on n ao o seu Edipo, chegar on nao a processos rejeita a imagem do tio materno (proposta como ideal do eu pela mae),
sucedidos de sublima{ao.
centralizando, como que por acaso, as suas dificuldades na matematica.
Tentemos agora rever os casos apresentados no capitulo anterior.
Todavia, pela culpa, ele se identifica com tudo aquilo que, na mae, é
aleijado, colocando-se no final das contas sob a dependéncia dela, em vez de
pñ r-se sob z Lei do Pai. A identifica- Rao com uma imagem masculine parece
impossivel, em fun9ao da demissñ o paterna. “Quero tranqiiilldade”, diz o
pai, deixando desse modo a esposa como unica responsavel pelo destino
tilta a o d e fe ituri s3 aco n selh a nd o do filho.
me d ida s re a is. O ra , esse gé nero de in ie roen ao na o e Resignado, velho antes do tempo, ta1 se afigura Francois. 0s seus
fracas- sos sao uma forma desajeitada de se defender contra a influéncia
da mae. Uma forma desajeitada, ja quo, de fato, eIe se converter
a no “seu” objeto exclusivo de solicitude.
0 SENTIDO DO SINTOMA 89

Casal perfeito? Aos olhos do mundo, sem duvid a. O que se deñ ava em do destino. De fato, vimos que aquilo
que Victor teme é tornar-se um
siléncio era o lugar impossivel reservado pela mñ e ao marido. “Ele teria dado
fracas- sado, refletindo assim a angustia parental: “Ele so lembra ao meu
um padre born e timido." Isso equivaleria a convidar a crian{a a questionar
a posi9ao do pai e a sua propria. Para fazer isso, somente uma assisténcia marido os seus complexos”, afirma-me a mae...
TOda idéia de psican llise é, sem duvida, recusada
psica- nalitica poderia ser verdadeiramente eficaz, ainda que fosse necessa rio pelo sujeito, homo se
se tratasse da propria confissio de sua fraqueza.
que a mae pudesse supor tar. A crian 9a, nesse caso, estava pres tes a esse género de conflito que produz, infelizmente, os compo rtamentos
entrar num circuito no qual seria incluida para ela uma imagem masculina associais, por nao ter o meio
SoCial sabido apreciar a tempo a sua gravidade.
estruturante; entretanto, o medo de, com a sua propria cura, causar a Teria sido necessario preocupar-se com a situa ao de Victor aos sete
doen§a da mñ e, o mandava para um lugar que ele desejaria ter
anos de idade. Agora o adolescente, amargurado pelos fracassos, e por um
abandonado. Esse pai era sem duvida uma pessoa valida, mas, para a
futuro escolar claramente comprometido, pos em a9ao defesas de cunho
crianpa, ele como que havia renun- ciado a viler. Ele queria para si uma
obsessivo.
paz total que ja possula o antegosto da m orte. E a resposta que ele traz. Esta longe de aceitar que alguém a questione.
En-
Lembremos aqui como a entrevista sublinhou a prñ pria historia da quanto Nicolas (caso 3), â s voltas com dificuldades aparentemente
idénticas,
mñ e, que, nñ o marcada por um par morto demasiado cedo, nao esteve CSta pron to, na mesma idade, para permitir que alguém aj
o ude, e mesmo
disponivel para debar falar nela o marido. Embora se defenda disso, ela para romper cOrrt um meio familiar sentido como patogén ico. D e fato, a
preferia a mae ao marido, colocando de fato o filho no lugar menor situa9ao dos dois meninos é inteirarriente distinta. Se Victor cresce u
como um
ocupado por eIa, na infancia. A imagem do irmao ideal achava-se assim estranho para seu pai, Nicolas sempre se senti u muito perto
salvagu ardada mesmo por meio do filho. Para ele, toda e qualquer do seu. 0 declinio
escolar so se verjficou aos I S anos de idade, como eco, lembremos, â
identifica§ao masculina era recu- sada, ”En nao“so’u’um idiota”, responde a
incapa- cidade da friae de se resignar a perda da irmfi (ao perdé-la, ela
crian a, depois de eu'ter verbalizado o conteu do fantasmatico da historia
perde u todo o desejo de viver) . Na verdade, um feixe de circu nstancias
familiar. A consul ta decer to nao foi inutil. Ela ressalto u, aos olhos de
provocou nos pais um episñ dio depressivo agud0 com uma angustia de
Francois, a fragilidade de uma mae todo- poderosa, e o papel impossivel
morte, que Nicolas nao podia suportar viver. Ele so pede que o deixem fugir
que ele era obrigado a desempenhar nesse contexto familiar. Entretanto, dessa atmosfera lugubre,
para que os pais aceitem a idéia de uma an alise para o filho, é também t somente uma culpabili dade o reteria no lar. Sente confusam ente que é a ra-
necessario que tenham a coragem de ser desalojados (pelo filho) do zao de vida dos seus pais, mas, ta1 como eles, percebe que, se
se tornar o
conforto que da a cumplicidade da mentira. objeto utilizado para lhes tapar a angñ stia, estara fadado
ao fracasso.
Vimos, no caso 2, que as dificuldades escolares de Victor ocultavam um O sintoma do dec1:nio escolar é, na verdade, um grito de afar
me lan9ado
por um adolescente que clama por ajuda. Os pais de Nicolas,
conflito de ciume com o irmio mais velho, que, com os seus éxitos, ao contrario
dos de Victor, estao cñ nscios de um perigo e é mesmo, paradoxalmente,
monopo- lizava toda a aten to do pai, impedindo assim que o capula, por
causa da afli9â o do filho que aceitam por conta prfipria um tratamento
acreditava, tives- se qualquer acesso ao mundo paterno. psi-
quiatrico; mas, para que se sintam conscios de seu proprio drama, é
Essa situa ao de irmaos inimigos sd pode, porém, instalar-se em conse- mister
que o filho o exprima.
qiiéncia da inabilidade do meio circundante, fixando na realidade o primo- AS dlfiCuldades escolares estrepitosas de Martine (caso 6) so surgiram
génito e o ca9ula num estatuto inamovixel. Um achava-se designado, not para salientar uma situa{ao familiar impossivel. Elas sio, para a
menina, um
olhos dos outros, como tendo saido ao pai, e o outro como tendo puxado â apelo ao pai no sentido de que ele a reconhe9a, e ela utllizava
todos os
mae. Se, para o mais velho, o caminho da identifica9ao masculina se achava ao seu alcance para conseguir o que queria; para a mae,
rneios uma espécie
inteiramente tra9ado, o mesmo nao acontecia com Victor. Renunciando a
de adver- téncia obrigando-a a desmascarar-se. “Meu marido é um chato”,
ficar preso nos limites maternos, ele procura numa conduta de falso durao' ter casado com um éara assim , diz a rrieriina... Para
uma afirma{io viril, como se tentasse dessa maneira desviar de si a fatalidade “Que idéia Martins,
trata-se quase de um convite ao divfircio endere ado a mae.
84 : APRlMEl¥$fNlRF?NAEVeSlCANA(Sf

Foi preciso essa crise para que percebesse qual era efetivamerite o proble-
apelo a opiniao surge at quase serrt o conhecimento
ma em casa. dele.' A angustia eo seu
e o o u a
b tamb ém por causa de mm declinio escolar, refor ado por per pedido de attida. Em todos OS Casos,
trata-se, para o sujeito, da busca de um
turba90es nervosas, que Sabine (caso 7) designa a mentira dos pais. reconhecimento — eu quase diria de uma
tentative de ñ firmar
“Vejam” parece ela dizer, “o lugar impossivel que ocupo no cora9ao da use o de un simbol
mamae; lugar impossivel na medida em que, para ela, eu vim substituir men POS ISSO k jDQ§O£t8 Dtg, para a cons ult a, extender
essa mensagem no nivel
em 9ue ela é efetivamente formulada {nives simbolico)
pai.” O carater de u rgéncia enfatiza aqui mais um limiar de tolerancia do e evitar o perigo de
que a gravidade do mal. E por esse motivo que era importante, na primeira fe€har uma possibilidade de difilogo intervindo no nivel do
real‘ (isto é, em
consulta, que eu rc mpesse, me- diante o meu apelo ao pai, um processo de falso), pois é uma porta aberta a todo género de
mat-entendido.
cumplici dade mae-rnédico, mae- professor, que transformava essa
menininha no objeto exclusivo de uma mae neurñ tica. A recusa do pai ao 2. DIFICULDADES CARACTERIAIS
tratamento psicanaliti co é, nas suas conseqii én- cias, menos grave do que a
entrada nesse tratamento em cumplicidade com a m?ae-m édico contra o No primeiro capitulo, dei exeinplos cllnicos de gravidade
crescente de
pai; isso equivaleria a ter criado para a crian9a uma situa ao pervertida, crian a s revolta das, mat-amadas, incompreendidas, em
permanente estado
sem outra saida para ela a nao ser o nascim‹'nto de novos sintomas que de afli ao moral, cuja atitude de prot esto, em
re1a§ao ao adulto on ao m tin-
parecem aparecer com tantas mensagens endered:adas ao pai a
fim de torna-lo ciente do que Ihe foi mantido oculto. b essa tomada de do, as transformou, um belo dia, em delinq
irrecuperaveis, a nao ser que comecem a ser iientes. Nesse estagio, etas sao
cons- ciéncia de alguma cojsa que poderia ser verdadeira (mas 9ue nNo the tratadas bastante cedo, antes que
foi for- inulada) que provocou em Bernadette (caso 5) essa brtisca recusa o meio da reeduca9ao as marque talvez para sempre, num papel de fora-da-
escolar sob a forma de uma ciise fobica. Eta nos diz claramente, lembremos., lei.'
O que #stâ em causa nessas crian9as a vontade de ver o desejo delas
que a apren- dizagem escolar, o snfier, constitui um perigo. reconhecido ,p.or uma:luta ,de.p.resDgio, é sern
”Q d b t d f A questao do .U£ .podido exprimi-lo no
domi- nio da palavra. E nos simbolos do sintoma (atitude caracterial on
Nome ho Pa i' foi com efeito levantada diante dela, eu diria quase para ela, era) que o individuo vai desde entao exprimir-
delinquén- sc. O gut Se apura
na escola. Como dizé-lo a mae, sem que ela morra de desgosto? Tal é a
nesses casos é a maneira pela qual essas crian9as fracassem em de
questao proposta por Bernadette (a sua mae) no momento em que um maI-
terminada fase de seu desenvolvimen to. Elas se recusam a ser marcadas pela
estar se faz sentir no relaciortamento das duas. Essa testemunha que e1:a
prova da Lei, on, como dizem os psicanalistas, pela amea9a de castra{a o. 0s
busca para o seu mal-estar acha-se na pessoa da analista que ela finalmentr! as diversas formas de comportamento de
encontrou. eleiios d essa recusa sio
protesto.
No entanto, a causa dos disturbios que devemos estudar reside na rela âo
Ela precisava de um terceiro para que a sua questa o ganhasse forma.
Alguns meses de analise permitiram a essa crian a sair das dificuldades (é do sujeito corn aquilo que, durante o seu desenvolviment é
o, chamado a
m esmo certo que eta teve necessidade dessa crise fñ bica para poder marca -lo, a sujeita-lo. fi por esse motivo que aquilo que nos
interessa no
equacionar a sua rela9a o impossivel perante a Lei). sintoma nao é o objeto SObre o qtial as dificuldades parecem
canalizadas, mas
Viinos, ao longo dessas entrevistas centradas em dificuldades escolares, a certa forma de rela9a o no mundo do suJ’eito.
que ponto o sintoma é uma linguagem que nos cabe decifrar. O individuo
propñ e a sua questao por intermédio dos pais, para eles ou contra eles. O
3. A saber, a b usca, p
S*°*° !° Ouwo, dr uma rrsposa ,o senGdo das ,q, di£icul dadts.
impedin d o assi m ni*el d o rta 1 s up§t q ue o a n a I is ta tome o ped ido d os pais ao pt da 1 etr a,
2. homo vimos na p. 46, a crjan $a, tend o sido reconheci da pelo pa*, ostentava men nO FRt. AU entrar pa ra
a e scol a, er a ch ama da ptl o no me dt sua m ac. O in gresso na tscola *°* co incid ir com a a q uts tao (q ue subt ende o ped id o) de se form ular.
S. L a in flué ncia dos
hub ito de con side r° -ie solidd rio dos “o p rim ‹dos” {os
' ’’’ ’ ’ ’ ’ ’ ’’’ ’ s##TlDODO5lNTOMA, 87

fi mérito da Lacan ter insistido no fato de que um sintoma se endereda a


uma espécie de anonimato a “essa essoa”; que etc é subjacente a um desejo, "°'°› ° objeto excluhvo desua
que nao é desejo de um objeto, mas desejo de uma falta, que no outro designa quem o marido abandonou. Catherine
um outro desejo”.^ Isso equivale a dizer mars uma vez como é importante abandono na mi•. Lembremo› as tqgt
para o psicanalista evitar intervir no campo da realidade, a finn de deixar
ao sujeito a possibilidade de uma dimensio nsva que o tire de uma rela9ao
de servilismo ou dependtncia para com o Outro. ”””# f€dCOnamPntQ
QUalquer possibil idade de relacionamentp cpu p p•i› O 9ue fecho u depois
Ora, quando uma crian9a tern disturbios caracteriais, o consultor é, de
P•'• ° • a possibilidade normal d€ identifica9ño fem jpijq 2 (por nao ter tido
diversos lados, solicitado a responder por meio de receitas educativas.
Aqui, mais do que em outros lugares, importa salvaguardar uma dimensao de confrontar
’^" °° “86ignias” do par.'). 0s abandonos, em Catherine,
simbo- lica, ajudar o individuo a articular o seu pedido, para que possa foram tgp
nio sonbe °^ contrar mais tarde em
dar-the um sentido. Nao se pode evidentemente, numa unica consulta, P° P^*^ °> que simbolizar o que
apurar o que
, _ seria revelado ao longo Para Sjmon (caso 12), a° *ont£ario, todos Os pedidos semQg
on qual significance quedeIhe
uma psicanalise,
serve a saber,o aseu
par a articular fixa§ao do Pode-se,
pedido. sujeito a ta1
no feitos, mat eles pgp tjppt e foram
de esb8f£Aj• no significante paterno (ja que a satis-
ni ae,
entanto, quando nao >e intervém em um nivel pedagñ gico, deixar em aberto lemb£€fTlOS, empenhava-
^° °< canter o pai afastado de qualquer san âo .
uma questao e, com ela, a possibilidade de acesso a uma psicanalise. Nao marcado achou -se inca-
Procuremos agora compreender o sentido dos sintomas caracteriais e pan de dar aos Seus pedidos uma 5ignificapao distinta
da 9ue tinha no plano
delinqiientes medianie casos clinicos presented no capitulo anterior. da estrita realidad Nñ o h;i lugar nele para uma assun
• “Nñ o son feita para ser uma dorra-de-casa. Free nervosa, sao os filhos que ! e.
dade. Por Ihe ° *" *< P®*interditor, ele contin ua
Rao da s ua mascuIini-
a ser o adolescence
apanham”, diz-nos, convém lembrarmos, a mae de Thierry (caso 9). mente insatisfeito. Lembremos aqui esta
eterna- frase: “Q ua£1 do esto u ab
Pode-se dizer que a erranda exprime, pelos seus disturbios, o mal-estar quebro 8 I £1fT1 10QS dC £U £t”, j5tp j, y2{p 2
o rreci do, minha for a •m itñdO
materno. Se a mae reagiu ao nascimento de filhos nao desejados por um bFuto e nao
S uPOi"tO encontrar um interlocutor nesse nivel. Uma psicanalise fpt
“nervosismo”, esse nervosismo é de fato subjacente a uma vontade de substi- did a por SimOn, mas ela se revelou dificil, empreen-
pois o sujeito ja encontrara uma
tuir pelo seu desejo o desejo dos filhos. Thierry sente-se esmagado pela espécie de equilibrio em atos delinq iientes que se inscrevem numa ideologia
im- possibilidade de exprimir o negativo sem provocar de imediato um ^8Of8CiSta. E1e havia tentacto encontrar
esse par, de quem a mae • s••i« subtrai -
drama. Sensibilizado para a rejei§ao materna, tornou-se, por do, ppr meio de uma
>"°8°< e for a politica, a partir da qual uma pstcp -
compensa9ao› o “du-
rao” que pode dispensar a ajuda de todos, mas que, na realidade, traduz no logia simplista o a reduzir todo pedido ao nivel das necessidades, acer-
seu comportamento uma af1i§ao moral. tando assim a violé ncia e o roubo.
Ao contrario de Thierry, Lucien (caso desprovido de "mordacida- De fato, para Sirri pty, p ilp •'!"£1te é e£l contrar
a qualq
uer
de” para tornar-se caracterial, é o objeto p de uma mae que decreta “o Outro na verdade,
filho é assunto men”, “ele (o par) nada tern de faZer la dentro”. Ele naO
tern desejos, nao pede um reconhecimento. Entretanto, existe um mal- sa cumplicidade mid-{}]]q que, na falta de identifica ño masCulina vali-
estar, uma vez que cfc sente a necessidade de traduzi-lo em disturbios da resulta em cpmportamentos o,delinqiientes, é encontrada também •ni« «ian-
anoréxicos e fobicos. E mesmo dessa forma que cfc esbo9a uma tentativa ' ,.. ' $a e av6s maternos (os casos 13 e 14 sio u g
timida para sair do circui- to materno. ilustr8 Bo d‹sSQ). AS mas a9oes
ov›mDoooiwom : 89
88 . ADRWtlRAENTRFvlUAEMPSlCANAt&t

i-
deles que aparecem nesses casos sao idénticas, pois a crian{a nac enojado dos médicos, educadores, assistentes sociais, em suma, de tudo aqui-
marcada pelo das as suas expe lo que poderia ter sido, para. ele, .o simbolo de uma tentativa de recupera9ao
pai é entregue a todos os seus caprichos e a to
riéncias. A sua Eta vive de ou de cura. Essa angustia que voltamos a encontrar dentro do delinqiiente
onipoténcia é o reflexo da onipotencia materna.
certa maneira pre- born praticamente nao existe no per verso. Tentei salientar esse fato no caso
sa n um sonho que, por vezes, tern as cores de um 21. Emilienne, crian9a perversa, acha-se suprimida no plano simbolico, nao
faroeste.
‹1e uma falta de existe como individuo, serve ao desejo materno, em fun9io do que ela se
Esse mesmo esquema familiar, copia de uma caréncia ou entrega com toda a tranqiiilidade ao seu jogo predileto: a destrui9ao as
precip ita cond uta associa is, que sao de 1:ato
reivindica- materna,
afetividade protesto ocultas dos obje- tos preciosos e das flores. Nao ha nenhum pedido de
9ñ es de amor. Elas so' encontram para se exprimir um
estrepitoso. socorro, nenhuma men- sagem para fazé-lo chegar. Enquanto no delinqiiente,
Mal-instaladas em sua crise d£• oposi§ao, essas crian§as esta o
frequentemente mesmo o mais revolta- do, existe sempre — ao que parece — um brilho de
prontas para serem ajudadas. O absurdo ou a gravidade dos pedido de socorro que se faz ouvir no fundo da sua aflipao e do seu
.seus gestos (in- céndio, cidentes provocados) é muitas vezes o equivalente
a fracasso.
di! um suicidi o. L pela morte de alguma coisa on de alguém que esses
individuos tentam fazer e
nascer um processo de simboliza9ao que os
ajudaria a viver (mas que talvez 3. REACHES SOMATICAS
nao passe de uma tentativa no sentido de
eternizar os seus d i•sejos). uran9a e urna perseve rank a Relatei, no primeiro capitulo, dois casos de incontinéncia (um dos quais
Se o delinquente oferece, de um lado, certa seq
fazer nada” (CaS0 19) associado a uma magreza patolñ gica), um caso de enxaqueca numa
na vontade do mal — “5ñ gosto dos vadios, nao quero
de uma af1i§â o
— isso nao é mars do que o avesso ira chorar.” Poderiam'us rnuitas vezes pungente: crian9a asmatica, um caso de insonia numa crian9a alérgica, ins6nia
uém acrescentar a seguida de anorexja. P pouco demais para tratar esse problema de
“Posso muito bem morrer, nin g
be um Outro? Ji que nao ha maneira pertinente (estudado, de outro lado, por autores coriio Balint e, na
isso: para que serve ter desejos, na auséncia
menor possibñ idade de ser reconhecido Frank a, Valabrega) . Mas, como ja disse, trata-se apenas para mim de dar
Outro existente para ele, nñ o ha a tOli- !
como sujeito. A partir dat, nada tern mais imp ortancia: “Tu dO ISSO SaO um testemunho sobre o que o sujeito pode trazer na primeira consulta.
lhes ñizer is$o.” O u seja, lhes dizer
ces, o mundo inteiro é tolo e eu tenho de Essas crian{as, vindas com sintomas or ganicos, foram-me encaminhadas
isso a poSi9ao de Samuel (caso
com seus atos delitupsos. L essa, como vimos, pelo pediatra, preocupado com o numero de consultas médicas de que ja
19). lhes dizer nem uma
“0s psiquiatras me conhecem, e en nao vou haviam sido objeto.
palavra.” Aqui como em outras partes, vejo-me quase que de imediato
sintomas; gozo u de sete anos de confronta- da com a palavra da mâ e: “Se eu nao tivesse tido filhos, poderia
be fato, Rene nunca foi entendido pelos seus impossivel qualquer ex-
uma casa de reeduca9ao. Reeduca§ao que tornou ter acompa- nhado men marido em suas viagens” (caso 22). Que fazer, “se ela
pressao do pedido na fala, dai o drama de ter diante de si, aos l5 anos, um (a filha) me disser um dia: ‘Na casa dos outros eu posso viver, mas n5o na
que somente o seu sinto-
delinqiiente fortalecido, por haver compreendido
expressao, ou melhor, de protPStO, minha’?” (caso 24). “Men filho sou eu, somos parecidos” (caso 25).
de A doen9a, nesses casos,libidinais;’
parece sempre
ma
numlhe permitia
mundo umapor
sentido ele como perigosamente hostil.
possibilidade as suas prñ prias tensors ela seser uma gnranfin
inscreve para a mñfñebico.
num contexto contra
O
Foi aconsulta.
partii dosF sete
por sintoma da crian{a mascara a angustia da mâ e; a principal preocupa@o des-
Esse exemplo é, para nñ s, extremamente instrutivo.
entrou no c:rculo da primeira
anos de idade que o menino pOr das suas ta torna-se, .como. observou . Freud. para .a.. histeria .de conversâo, o combate
contra o sintoma. £ste serve as vezes i mie de pretexto para se eximir as
nao ter ouvido a tempo o seu pranto e o seu desespero,
mn{O
ltadci fortalecido, que,
crises caracteriais, que chegamos a fazer dele um revo médico”’ e esta farto, so1icita{0es do mundo exterior (a fragilidade -da crian{a é invocada para nao
meio
segundo suas palavras, “conhece um bocado do

9. A ma e de Charles (caso 23) sofre com a a use ncia do marido, a mat de Monique (caso 24) rcjc ita .
educado rts tornou para o suje it o, nO }a£1o i» irJgirifirio, o as rela§oes sex uais comm o dela, a mdc dc Arch ur (caso 25) sc angustia com a ids ia dna dc es t8 r
pgtt da trna ge ni pa te rna. A jp irodu ao de u m (p$ j5an al ise) teria erm it id o' g r lvi d a , a mâe de Pa ul* se n t iu -se e nverg o n had a de e ng rev idar n u ma tpo ca e m que o se u fi1 h
a0 o
ma is velho tinha 25 a nos.
viajar, nao sair, nao trabalhar) . Se nao se compreende a tempo a natureza do
A mae, po r pusar viver com o marido, enquanto esta alienada nos seus
sintoma na vida fantasma tica mae-filho, corr.- .i d ru proprios pais, on a filha, por sentir em si o direito de ngo ser mais para g ygp
individuo estruturar-se num modo de defesa obsessiva, sendo o beneficio um objeto contrafob ico'
secundario para a mae o prolongamento da repressao. Mñe e filho escapam A questio nunca * ^* P °8 nesses casos em que mie e filha sofrem n os seus
assim pela docuja da situa§ao de perigo presente na angustia. co rpos idé ntico mat-estar.
Quando a mie de Charles (caso 22) vem 'me ver é para falar antes de tudo
Para Arthur I°°^° 25), a solu ao nao é facil. demos ñs vezes o direito de
da sua solidao e da spa magoa de ser separada do marido “por ca usa dos
•°g•• •° • “<' mesmos se a doenda da errand a nao intervém como uma pela
filhos”. Ela acrescenta que desejaria trabalhar, mas que nao pode fazé-to “por
essencial ao equilibrio da mae: ”Meu filho son en, nñs somos parecidos.” Tal
ter de tornar conta, de cuidar das errand as”. Ela nem sequer encontra tempo
resp osta evo ca uma s itua$ao em que a mñe e a crian9 a tém, no pla n o
para ler, ja que Charles monopoliza todos os seus instantes com a sua incon-
“"+"^ ***°› quase 9ue um sñ e mesmo corpo. A mae frequentemente é muito
tinéncia. Ela deve, em ultima analise, pensar nas necessidades fisicas do fi-
mais afetada do que o filho, mas ele paga perigosamente com o ecu cprpp a
lho," e vimos como a unica forma que etc tinha para escapar do desejo mater-
neurose materna. O caso de Paul (caso 26) é interessante na medida em que
no era nño ter mais corpo nem desejos. A recusa, por parte da mae, a um
*^^^ "› relativamente equilibrada, nao teve aborrecimentos graves com os
tratamento psicanalitico parece aqui ainda’mais curiosa na medida em que o
seats oLttrOS filhos. A chegada de um ultimo bebé, no momento em que ñs
sintoma da crian9a ja constitui o objeto de tantas consultas médicas. Propor-
mais velhos estio em idade de se casar, encheu a mae de culpa e de vergon ha.
ltte alguma coisa que correria o risco de ter éxito coloca brutalmente a mae
“Q ue vio elas dizer (as outras mulheres) quando virem que fiquei gravida na
diante do seu prdprio problema (a saber, a sua angñstia); “é cedo demais”, minha idade?”
parece ela me dizer, “nao se precipice, deixe-me mais algum tempo em segu-
E é dDSde os primeirps mesDS' COmO \'imos, que Paul vat manifestar
rank’ (eg s,eguran a: prot9gida pelo sintoma do filho).
sinto- mas ruidosos (urrya impressionante alergia cutanea, solu{os espasm
Vimos a gravidade das enxaquecas de Monique (caso 24) que to rnam
odicos,
quase invalida uma menininha de 12 anos (classes de tempo parcial, auséncia
insonia e, maps tarde, appre2ia) em eco, ao que tudo indica, a angustia ma-
de esportes). A asma é compartilhada com a mñe, de ta1 forma que nao se te rna.
sabe mais quem inau ura a crise e a prophsito comida o outro a comparti-
Criou-se uma rela9ao fdbica mae-filho, que cedeu brusCamente com a
lhar sua cama. F acaso a ansiedade da crian a que chama a mae? Nño creio. €
introdu to do par na vida mae-filho. A analista, ao ajudar a mae a apelar a um
antes o contrario que é posto em evidéncia, e é a palavra da crian9a que nos
terceiro termo (o par, que estabelecia a Let para eta e o filho), permitiu â
faz apreender uma cefta verdade. Lembremos (caso 24): “De 16 em 15 minu-
errand a e a mae nño mais continuarem a se interrogar ansiosamente sobre seu
tos, mamae me pergunta se estou com dor de cabe9a. Papai nao quer, mas nao
desejo recip2pco e porem finn a uma questao que nio podia permanecer sem
é cfc que manda. Entao, mamae me interroga, me faz tornar comprimidos,
resposta (“Que quer etc de mim para me chamar desse modo'”). A partir
sempre para o men bem eta quer me fazer alguma coisa.”
desse momen ro, o filho pñde ter desejos externos â mae, e a mie ocupa§ñes
Se a errand a pode sustentar esse discurso, com tamanha lucidez, é porque
out ras que n ño esse filho. A situa to pode ajeitar-se facilmente porque se
ela ja esbo9a, com a sua anorexia, uma fuga para fora do universo fechado
tratav6, lCmbremos, de uma frlae rglati•amente equilibrada, em afli$ao pas-
mater no. O sentido das suas dificuldades for explicado ao casal, em referéncia sageira, af1i§ño ensa gravada pelas profecias do médlCo tal como a mae as
ao mundo fantasmâtico da mae, e é o pni e nao o analista que diz a sua mulher
ouvir a: “Essa crian{a vat acabar com a senhora, se antes a senhora nao acabar
que “a menina servia para vocé se afastar de mim” (de fato, na maioria das com eta.” Somente o apelo ao par podia romper essa rela ao de for9 as, que se
vezes, p8rB evitar as rela§oes sexuais) .
instalou desde entao entre mae e filho para tapar a angustia de um e de outro
Qual dos dois necessita aqui de uma psicanâlise? diante das suas respectivas exigéncias.
Esses exemplos sublinham a utilidade, para o pediatra, do recurso a uma
investiga§ao psicanalitica quando os casos sao strios e rebeldes a todo trata-
mento traditional.
0S1NT100D05NI0MA ’ 9D

A formahao psicanalitica do pediatra permits -ltte ( como nos lembra o parece ter guar tado eiii si urna -pcssibilidade de sirnboliza9ao.
Dr. P. Berno'it) 'i fazer frente a casos de urgé ncia nos 9uais a crian‹;a, em peri- rejeitar a mae, para aferrar-se tiranicamente a sua present a. Ele brinca de
go de vida, é claramente salva pela Palavra do médico (endere pada ao indivi- Quanto a Lina, nunca exis tin para sua mte. A separa§ao vai provo
car
du o ou â familia). E decifrando o seu segredo inelmdo no sintoma que lhe urna ifli(ño fi’Sica: e no seu corpo q ie a crian{a se definha. Els é
devolvida
dD en te a s pa.. m.ae. A presen a de um adul to seguro permi te-die rec
permitiinos exprimir-se numa linguagem diferente da do corpo."
certa saude, mas e pelo seu m utism o que ela con tinua a exprimir a sua
uperar
Essas crian9as sño um pesadelo”, diz a mae. Lembremos que ela
afli9ao.
4. INICIOS DE UMA PSICOSE
nunca toma conta dos filhos, salvo aos domingos, e nesse dia Lina se agarra
Se, nos casos de psicossomatismo, o sujeito exprime em terinos de desesperada- mente a ela; a mae, em resposta a esse apelo, so encontra
mat- estar corporal dificuldades que nao chega a traduzir em linguagem palavras de rejei9ao. nuns casal de pais nhn ndânicos que a menina esbarra,
articula- da, o psico tico vive ao nivel do corpo toda amea9a que urna rela ela nao é, com o Raoul, “impelida a viver” po r um pai que tern existé ncia na
ao com o O utro inn plica pa(a.EU. mae. O seu transtor no é
mais intenso, a sua oposi§ao caractericial, apesar de tudo, protege-a de uina
O que existe de perturbado na inae, para que a resposta do *.ndividuo psicose. Ela basta na sua rela ao com o Outro uma possibilidade de comu ni-
ao seu discurso seja a a1iena{ao? Que lugar a crian9a ocupa no mito ca9ño. Nao seria mesmo inexato dizer que ela existe agressivamente,
em face
familiar, para ser nesse ponto condenada a certo papel, de onde nada nem de um casal depressivo, e que é a sua maneira de obriga-los a ser.
ninguém possa desalojñ -la? A gravidez foi para a mae de Noella o sinal de um perigo vivido no
seu
Temos at quest0es, entre outras, que se impñ em por ocasiati das proprio corpo; “alguma coisa acontecera”, diz para si mesmo... e
pouco tem-
minhas entrevistas com a familia do p'sicñ tico/ Relatei no piimeiro po depois desen ca deia -se para eI a um episodio depressivo agudo.
capitulo dois ca- sos de mutismo psicoge nico. Se Raoul (caso 27) teve Se Lina for ’rejeitada, Noell a, antes m esmo de n ascer, pits em perigo a rnte
urna arrancada fisica
penosa desde o seu nascimento, ao qual se acrescentou (leml›remos) uma P fOl a ca u sa da desagrega a o do far. “Essa pequerrucha provoco u
a nossa
separa9ao da mae com um ano de idade, Lina (caso 28) nasceu em boa desunia o”, diz o pai. Noella, efe tivamente, herda a incumbéncia de traduzir
forma fisica, e nao teve de sofrer, durante o primeiro ano de vida, aos pais o seu proprio mal-enten dido. Ela ocupa na fratria o primeiro
elo de
nenhuma agres- sao somatica. Foi da*mesma forma com um ano que uma urna corrente, onde, a partir dela, os futuros filhos, de acordo com a
confis-
separa9ao the foi imposta. sao materna, nao serao mais assumidos por ela. Noella, antes mesmo de nas-
L em funpao, ao que parece, do primeiro relacionamento com a mñ e cer, poe a prova a saude e a razâo maternas. E é na fenda dessa ferida
que ela
que a separa§ao tanto na mente de um como da outra vai ad quirir uma deve se desenvolver. Para responder ao discurso da mae, a crian9a
encontro
marca signifi cativa determinante para a sua evo1u{a o futura. apenas a a1iena§ao, faz-se de to do a usente, de todo indiferente a qualquer
Raoul perde, com o desaparecimento de stia mae, o interlricutor de presen 9a humana.
seus mal-estares somaticos; a separa9ao permite-ltte refazer a saude, mas é Vimos, por outro lado, como Henri (caso 30), em seu discurso, exprime
a sua aliena§ao. Nao pude, nesse caso, ver a famllia, mas o menino soube
como fobico grave que ele se reintegra ao far. Ele ja mo sabe, por outro
situa-la admiravelmente e presume-se em que clima familiar ele soube esco-
lado, que uso fazer dos seus bra9os. O traumatismo da separa#ao é vivido
em lingua- gem do corpo (o qual perde toda e qualquer fun#ao dinamica), 1 er a ms a resposta psicfi tica.
Apenas uma psicanifise pode, nesses casos, tentar restituir o sujeito a
mas Raoul
razio desalienando -Tt;ta,p lavra.. M:NDe11a.nao tern linguagem .a sua dispo-
si9io, Henri nos submerge numa linguagem que exclui toda fala suscetlvel
de
pertencer somente a ele.
1 I. Numa ob ra de prbxi ma publi cada o. Noella é, por acaso, uma crian9a com retardo mental grave? Como
1 2. Isso ev ident em ente so c vâ lid o para casos visivclm t me g ravés (se m organic:idade francame rite estar
estab cl ecid a) que ap rest n ta m rtlacionsm entos perturb ad 06 cOm um m ei o ci r cu nd ante patoIo- certo do
compreender o lugar ocupado pelo indivlduo no mito amiliar a finn de, se *see vinculo tao especial mic-filhO nem Sempre podemos pe ccc bñ- I o na
ainda ha tempo, poder dar-lhe uma significa9ao distinta de que era fixada hqora, melhor, a mñ e nao é livre para fazer parte dele, fora da presen§d
o
exclusivamente pelo devaneio materno? d ehs s a tn y a . A Li
s a present a permit e-Ihe chegar a urry
• r• eta v0rda de
Rao u1 e Lina vao poder escapar por meio de uma ajuda psicanalitica. discurtp.
Para Noélla, por ocasiao da primeira consulta, alguma coisa de importance no Q " ’V aP*b°§°maernapemielheSiniKar a um
" mo do de relacionam en tp com o Outro, é com o seu corpo que
foi compreeridida pelo’ casal paiental, e cfc podera talvea desse mod.q nos mostra como deseja formar apenas um ser com sua mae; trata-se, up
rrâ o prolongar o seu mal-gntendido. Quanto â crian a, estñ muito entanto, de uITIL forma de parasita g o a 9ue ambos se a garrana. A co us-
comprometi- da, talvez mesmo condenada a nio se curar, em virtude da
distancia geogra- fica que separa os pais de um centro psicanalitico. Henri £8tlCamente nao é pang p par mae-filho. O tratamento da crian a,
› mm de
tern mais possibili- dade, sao antes os seus pais que deixamos entregues a ser aplicad o, nao pode desenvolver-se, nesses casos, senao na p
resen 9a da
noite deles, en diria quase: tendo a morte por companheira... mñ e; tanto a necessidade de um tern neCCss idddg dO Outro para se fazer
eptpp -
As entrevistas com os pais de errandas psicñ ticas podem revelar-se nao sñ der m uitas *’*°^ ^°' som ente ao longo do p rocesso an aI1 tico que
o
pungent as” cemo desesp eradamente “vazias”. Uma crian9a muito afetada, drama fa miliar pod era ser clara ente Vi6ltlmbra dO. Na primeira cpn3q}t9
duas horas de conñ ersa corriqueira com a mñ e, uma impotsibili dade de caps esse tipo de rn oferece-nos certa rp5 pp5ta que ltte teme“ de solu ao para
o que quer que seja np génese do caso: tudo aparece como normal. A analista dP termina da i'lai!
procura em vao confrontar uma anamnese “po bre” com os resul tados de etc esteja vivo, e entao, quanto ao resto; aceitamos tudo.”
exames psicologico s as vezes completamente precarios, hesita em fazer um
diagnbstico... A introdu§ao da crian{a no local â s vezes basta para
modificar uma situa§aW, on méRer; para fazé-la aparecer sob a sum luz verda
deir3. Se existem crian as esquizo frénicas que “falam” na a uséncia da mñ e,
oferecendo um discurso de surpreendente riqueza, sao também numerosos
os que nao tém sequer lingua gem a sua disposi§ao. Separados de suas maes,
ficam perdi- dos, e elas ficam também perdidas, ja que siio incapazes de se
lembrar de qualquer coisa patolñ gica na histbria do sujeito, fora da presen a
deste. A entrada da crian§a d,â imediatamente a mae possibilidade de
expressao. Ha, em primeiro lugar, o encontro dos corpos: a crian{a procura
enterrar-se no seio materno, refugia-se claramente nela antes de tornar
conhecimento dos objetos da sala. A mae pode entao comentar a situa§ao:
“En me esqueci de dizer que ela precisa sempre de um intermediario para
exprimir a fome, a sede, os desejos.”
“I curioso, basta que etc esteja presente, para eu me lembrar... Ele sempre
for alvo de muitas aten{ñ es, foge a cada colherada de alimento. O que etc quer
é alimentar-se no meu colo. Como esta doente, obrigatoriamente men mari-
do nunca intervém”...
Em outros momentos, ela encontra ensejo dg se desculpar: "Estou
acostumada que me esque o de como etc é tirano, ficamos contented de que yJ /o
gar a examinar, jqao sern algumas dificuldades (ppi$ 2 “5q;-q
da crian9a vat

Para criap§q$ piic6ticas, crian9as com retardo mental, a primeira


cons ulta gode ser
a pportunidade de efjtrar pela primeira. ver em diâ logo a partir uma auséncia de
de
disCti£SO. L Uma situa9ñ o familiar que cumpre aqui chegar a verbalizar, a finn de
desmistificar liga9oes e revelar um relacionamento impp5- sivel, onde nenhum lugar
g$tâ previsto para a crian§a enquanto individuo.
3
0s Testes

S e a anamnese, no momento da entrevista com os pais, permits ao paciente


fixar cer ta estrutura familiar, a entrevista com a crian9a enriquece a com-
preensa o de uma situa§a o e e e a se na aio pa te do tern o de no
i o a de ois e tabele er se .' O exame da crian9a
adquire para 'os -pais va1err de testenuinh o. Sao textos, dirao alguns, neles
poderemos ler, como n um radio, o quadro das deficiéncias, a causa do ma1.
“A avalia9ao da ap tidñ o”, tendo em vista o melhor rendimento possivel, é
uma idé ia que agrada ao publico, convencido de que o psicologo deté m o
segredo de uma orienta9ao bem-sucedida.
Em inglés, a palavra “teste” significa “prova”, e é exatamente sob o signo
do exame que a crian9a situa a entrevista com o psicñ logo. No decorrer dos
ultimos 50 anos, o esfor9o dos pesquisadores concentrou-se nas possibilida-
des diversas de avalia9ao das aptidñ es mentais; a inteligéncia nao é apenas
avaliada quantitativamente, mas analisada qualitativamente. Procura-se
apreciar com precisiio as possibilidades de aten§ñ o, de memdria, do indivi-
duo. Provas de lateralidade sao, por outro lado, postas a funcionar para
compreender a organiza ao no espa9o da crian§a, provas motrizes sao utili-
zadas para avakar ci seu .desenvolvimento.motor. Em sintese, existem possibi-
lidades multiplas de “avalia{ñ es” tanto no plano intelectual como no pedago-

1. Na qualidade de nao -médica, dirijo sempre o dossic da primei ra consul ta (entrevista com os
pais, exa me da cria ma) a um psicanalista médito, a urn ps iquiatra ou a um pediatra. Sio tlts
que, dt alguma forma, sancionam o que posso ap urar como pcrspectivas. Esse trabalho de
zquipe mostra- se muito valioso, da aos 'pais e â crianpa o tempo pa ra se prcparar, depois de um
qucstionamento
gico. A isso, veio acrescentar-se uma gama nao menos consideravel de testes
“O que nâqa; 4°°néovaipaacasa”
para avaliar o cara ter, até mesmo a "moralidade" do individuo. Em suma, "”’”-
procura -se cada vez mais entender a sua personalidade, que, de resto, nao se *tram de ltte dizer isso, qipi
hesita em avaliar com o auxilio de critérios estatisticos. A crian§a, verdadei-
rO 8fl*mal de laboratorio, é quase fichada segundo critérios ' escola, 'eles’ nio e tio contented em casa, brigam comigo.
”Isso o aborrece›
universalmente fCCOnheCfd OS. b Oñ V4fiq;gtigp.-u/rr£ exame desse gjp2pp tgt de “DeCldidd J2p te, nño es tip con tentes
Saida akance
diferente conforme seja efetuado por um psicfi logo ou por um psicanalista. “ °°* 9"°'' entao, que procurem ver u£l tO5 UJ a forma d e ajuda -to'”
Nao t minha inten§a o criticar aqui aquisi§ñ es psicolñ gicas de importa ncia “Benn, quero sim.
primordial. O que farei intervir é a dimensao psicanalitica, que somente o geralmente assim s°° '*m inicio o dial
°8° °° uma errand a que, quase
psicanalista pode introdu zir por ocasiñ o do estabelecimento de um balan - sempre, na hora, se ti b)^ em rela9io ao dese7° parental. “Q ue querem,
o psicolñ gico. COm efeito, ele nao pode deixar de ser imediatamente sensivel demim,°9°"P* aerpaame|hor
a essa “testagem" da crian9a, e ao perigo que implicaria toda cota ao impes- entño, entrar no ionho deter*’{ /5sa
soal. Quer o queira, quer nao, cfc, de certa maneira, ocupa, na qualidad,e questño
""'^ * '°q8°ntemente o ponto de partida das efltrevistas. Ao despreza-
de Os
meio e nño ° <!< >! !izo-os num dialo o, durante o
Waminador, •um:1 ‹r&fi1â4rña parent. Pede nos que mecei 9 #P' °roapurar
essa um sentido, um sentido,
e› pois, ao discii no do› 8Cm dljvida, em fun9ao de certo esqug
jeito que, sobretUdo, vO u prender-me. ^pp;familiar.
i$bp E
crian a, que a fa amos sair de uma penumbra, para com ela fazermos o qué?
Orienta-la, trata-la, decer to. Entretanto, jamais se trata exclusivamente dis-
so. Trata-se sobretudo, ao nosed-fa, de dissolver, na mesma oportunidade, a me a °emc ”â* *'°*OnivHdoQI,ap=cuo
angustia parental. . dos dist urbios ”“
8S dificuldades no dominio da ab›tra§io, um dist0r-

d a
_ A crian9a, imobilzada âs vezes numa espécie de panico, espera também a blO escolar definido, tudo '»° ›8 ‹flm Sentido Situado numa
palavra do psicñ logo, o seu verédicto,' como uma liberta§ao. Liberta9ao de histo ra.
algo que nao estl claro. “Vocé vat me dizer o que desen a fazer.” “Vocé vat me A queda esco]at p
tamanha que o cp]jgip 2 '•» ta-o" a conselhando
dizer o que acha que devo fazer.” Quer o examinador queira ou nao, é propos- sé - o a a bandon8 r os estu dos...
to, em ultima anllise, incluir essa crian a no seu prbprio fantasma funda- ^°j° to esta na 8• rie. N‹V€•l intelectual acima da média. DotadO up p}2p p

mental, fazé-la testemunha das suas exigéncias pessoa is. E justamente nessa “Por que vocé vem' Que deseja'”
armadilha que temos de nos es orfar para nao cair. “Nada, Ievam-me, é tudo.”
A errand a deve aer ay udada a se reconhecer e,para isso cumpre, que
evitemos declarar o que ela deve ser (pois, desse modo, ela toma o lugar do
significante do Outro e nao pode mais significar-se). Nio fazemos, entao,
mais do que perpetuar certa histbria familiar em rela9ño â qual a crian9a,
justamente, nao chega a tornar o distanciamento necessario. A exemplo dos
pais, corremos o risco de lhe designar um lugar, o vazio que ela é convidada a
preencher. Esse vazio, se é o do Outro, eta sñ pode preenché-lo â custa de
distor9ñes intelectuais, escolares on caracteriais. O exame da mais anbdina
sempre impulsiona, pois, imediatamente ressonancias familiares.
"Quem é vocé que vem me ver?”
“Vocé vat me dizer qiiem son eu.”
de abs t£8§3Q, mas nulo escolQrmente, assim
apdFecC O a#OCSCPRt9, ¿ Q,
por outro lado, numa estrutura obsessiva.
Na minha famili todos SSO LlfTla nulidade”,
«, diz um dia.
enheiro. Depois ninguém mais const Jj chegar a tan ro.” “Tive um avo
u
Que fazer* Encamiflha-to para as Le tr S› em fun ao de ser
rna to para a
Matematica›
For escolhi da uma psicanalise, aqui, para ajudar o sujeito a sair
identifica9ao com um pai cujo valor nunca for reconhecido de uma
pe}o $gq p;-
@ prio psi.
Era uma vez um avñ engenheiro... Desde cut ao,
icou preso na ñtltUde que a neurose lhe conferiu.
Enquanto Robert permanece no,lugs, designa
do pe]p*ppi, Rao pode dci-
t•e desempenha o conflito de Outra
8°'°9*°- “ ° meu par me tivesse tffltado de outro modo, en nio „tp ',p .
8xado’ CQmO SOti’* diz o pai de RObgrt, que, sern saber, utiiiza o „q ypp
^*^ *° ° em reivindica ñ es esttfern. E o fracasso que Robert dflV0 Slgnificar;
j00 ; gPRlAitRAENT#fVlSTAEVP1CANA0St

filho que, com o seu em considera;io o-desejo dos famifias, as possibilidades da crian{a,
ent retanto, esse pai sonha ao mesmo tempo com uni
raiva impotente, e os encami- nha esta para o setor que se sup0e ser o mel hor para as suas
éxito, o vingaria do seu prñ prio fracasso; dat as crises de
dOS resultad os aspira90es. Ques- tione toda orienta9a o, todo exame, efetuado n uma
dramas familiares em torn o das mas notas. A verbaliza9ao
dOS testes apresen ta-se antes de tudo como uma reform ula9a O, para o erranda sujeita a dificul- dades neuroticas. h em semelhante caso que a
par, de orienta9a o corre quase sempre o risco de se fazer a partir de um fracasso, em
significado dos dist£irbios do filho. Com a ajlida indireta do exame
psicologi- vez de se basear nas possibilida- des reais do sujeito . L aqui que uma
pelo individno no niito
co, pode ser denunciado o lugar ocupado mensagem deve ser ouvida acima de qualq uer ava lia{a o .
trouxemos a cura do pai,
farnilia r; é certo que nem por isso, no entanto, A ma organiza9a o espa9o -tempo ral, a descoordena§ao psicom o tora do
mas o esvazia- sujeito nao necessitam automaticamente de uma reeduca9ao. Acontece
mos de certa mentira, o que permitiu em seguida ajudar o
filho a evolJ “por que para a crian9a esse pode ser o seu unico medo de expressa o: "Veja",
em Matematica a finn d° parece dizer, “esse corpo que mo me pertence. Nao son o seu dono, entao
sua propria conta". Tornar ao pé da letra o fracasso
dos estudos pouco me importa minha posi ao num dado ponto de espa9o. Vivo sern
orientar o sujeito para as Letras (ou para o abandono
secundari- pontos de referéncia. A ola esta em poder de minha mae.“ Q ue deseja
os) é nao extender a mensagem fiCluida no sintoma, que serve minha mae? £ a pergunta que ela parece fazer, mas responde-lhe impedindo
p ara garantir a
fun#ao do pai. A seqiiéncia da historia ensina-nos efetivamente a motricidade. O seu corpo se imobiliza. Um estudo mais ousado ensina-
coterapéutico, vai
que o pai, aba- lado pelo sucesso do filho em curso psi nos efetivamente a importancia dos fantasmas de agressñ o nessas
desempenhar com da
outro filho o mesmo tema familiar, colocando-o crian9as para quem o voto materno “que ele seja inteligente e agil”
mesma Iorma no. lugar do mau alun o. Essa situa9ao nao se to rna, de fato, encobre as vezes um outro desejo: “que ele morr Ao reeducarmos de uma
possivel porque se perfila, além disso, por tras ’da imagem paterna, da so vez o unico sintoma, corremos o Cisco de imobilizar a crian9a numa
figura da may, IYlWlt main fixada estrutura obsessiva, de tal sorte que ela nem sequer podera utilizar o que
a seu proprio pai do que a seu marido, foi “reeducado", donde a importancia para a analista de chegar a extrair da
m as isso é outra hist‹iria. Ba sta-nos,
por enquanto, estao sensibilizados anamnese e dos testes:
para as ressonancias inconscientes desse exame psicologico a finn de
perrnite
podermos dar- lhe a unica dimensao que a sua utiliza Rao eventual, l . O sintoma que tern valor de mensagem (e que tern necessidade de ser en-
a sua dim
a saber,exame ensao historica. psicanalista nunca sera um tendido durante uma psican alise).
O psicolbgico estabelecido por um
relato rigoroso de “medidas intelectuais
ou escolares”, nao mais que a 2. O sintoma que nao tern valor de mensagem e que pode ser reeducado sern
descri- resenta#â o mo perturbar o sujeito na sua rela9ao com o mundo.
Rao de um comportamento. Nao é por meio da ap
sujeito ou do O que me é
seu rendimento que o balan9o sera estabelecido.
dado, proCurO
numa dinamica que consider a o jogo reciprtico do pedido e
:iS “orienta9ñ es" Se éum
utilremédio
poder investigar
sempre
do desejo situa-lo
nos elos par-filhOS.
oriento” e fico sempre espantada com oriental oes que nos trazer a isso, naoa étempo
menosasimportante
diversas formas de inaptidao
desdramatizar tars para
exa-
A priori, jamais “
imperativas dadas a algumas pessoas. E o fracasso dessas e
permite compreender que o psicologo, ao pronunciar-s ao nivel de uma mes, on, antes, compreender o alcance psicol6gico dessas “avalia#ñ es da inte-
das dificuldades familiares. Reorien- ligéncia” tanto na crian9a como jonto â familia. I sempre num certo conteu-
objetiva9‹ao dos resultados, fez o jogo na armadilha, no interior de
tada”, a crian§a encontra-se as vezes apanhada do fantasmatico que esses resultados se encontram em suspense. Se pode ser
se mede suficientemente o alcance ou benéfico dizer a um pai que “Seu filho nao é o que vocé pensa, etc é inteligente,
um mal-entendi do do qual
rograma
nem sempre
escolar for concebido pill
extensao. O p todos, as causas de fracas- mesmo se, em aula, se mostra um mau aluno". Isso so pode ser entendido a
a
antes de qualquer prOpOStB dades”de orienta9ao. Ha, medida que o adriflo esta .disposto a ,ouvir. Quantas vezes nao nos apodera -
so merecem ser estudadas em Mateml-
alunos dotados e os medlocres; as “nuli mos de trechos de provas escolares para dizer: “Eu bem sabia, ele nao pode
evidentemente, os os
deficiéncia escolar nega-la;
signifi-
tica, os “cé-dé-efes" e disortograficos. Nem toda
intelectual existe e nao pretendo
deixar de ser assim”. nao em outro que o meu filho ou a minha senhora o transfira daqui.” A
Isto é: “L nesse lugar e filha deve ficar, nao me agrada que a
ca “pertuTba§ao efetiva’" A deficiéncia
tipo de orienta9ao ofi‹:ia1 que, levando crian9a, por seu Iado, é sensivel a todo acredito que corrobgore a condena âo
imbem nao .procuro questionar um
decifran do essa palavra”, diz-nosp p
i q@@ Freud recueon tro u a lingu a que eu nao daria uma resposta mutilante para o seu ser Nao Q\jg gp php qQ pg
ini cial dOS SJITI b O] OS qU g pjpp J-y p 5p /p} y2 j-} t do homem e da civiliza ao dirigir os P^*^› ° " *sse 0 interesse deles nem o da crian a. Mas ten ho
p
Cuida do de reapeitar "con fiSS@e$" que iém um sentido, FtaO po rque p er te n
(hie£bglifos da histeria, brasñes da loucura).”
Ham
Essa palavra £1Prr1 $2mpre é facil de Marg ridge, porque o homem ui‹liza a o utro *°7** ' mas p8'q8e recons tro em, a pad tir dat, O sujeito de q}g tj
. multa5 vezes a linguagem para mascara -la on p t2 2(pga-}2. Rodo. O que para uma crian a é pe rigp$o é a mentira da mñe a st prop pi2.
Este nio é o lugar para exa minarmos o que e uma Psicanalise. Eu quis’ “Eu ' *" 9°° *^^" crian9a ^ ° era de men marido, mm riao qiieriri
* '
nlgariza9ao simplista e virtude Estao CoFlSClgnte disso e também assunni-lo plenamente no men destino de mae
e de esposa. fi porque isso lhe diz respeito que é prejudicial que eta proceda
estudane,"que°°*'â°##°°#°seriaassm, nâomededareienvo °° ° ^° ^^° ^>° h" *»*sse respeito. A errand a é sempre sentivq{ a tttg
r.”
Espero”, disse-me pti tj-o, "que a senhora seja sucessivalydp tQ jqqQp p especie de mentira. E sensivel, alias, a tudo o que riao ie dix.
minha mie, rrieu irmao e a mulher de minha vida.” al
,
“Muito joVCm", diZ-me uma errand a de sete anos, a quem ninguém havia
' P ""”" na ^*^ con duta * no seu discurso, vai libertar em primeiro ainda falado do divo rcio dos pais, “en era arrastado por to dos ps pp tp3

lugar esse folclore psi«analitico. Etc precisa de tempo para compreender que _ @uayd o eSta9a berrl instala do, tinha de ir para outro l ugar. Eu era arrastadp,
a sua verdade se situa além, e nem sempre é facil para um ana lista poder ah!... rriinha mae prometia vir e nao vinha. A principlo, en a chamava, depore
restituI-la ao paciente. compreendi que isso nao era muito normal.
Se aborda essas no§oes, é porque a entrevista efetuada numa primeira Sua mae estava drogada, sera que cfc nño sabia disso?
consulta, tanto com a ,ti Q Ft$" como com os pais, traz a marca da minha “Mamae estava sempre deitada, se fazia de doente. En nunca ia a escola,
esctita psicanalitica. I em fun9ao de certa esent a que uma rnñe muitp segura, talvez uns 15 dias por ano. Desde o tempo em que tinha trés anos, fato por eIa
equilibrada, deixou esrapar <€Fto dia, FtO fim de uma consulta, esta palavra- os trabalhos da cozinha e da casa.”
chave: Essa crian a me des asta, naO O3sO mais com ela, nao agiiento mais Nem toda crian9a tern a oportunidade de guardar de um modo tao claro
esse papel de mae dona-de-casa, eu gostaria de trabalhar.” Essa palavra nao é na memoria a lembran$a do que a marcou. E da perda da lembran§a dessas
abandonada em momento algum. Eta aparece freqii2pt2j-jqgnte depois de uma coisas que pode nascer a neurose.
verbaliZ8{aO CIQ exame da crian9a feita por mim aos pais. O dialogo que NaS maes de errand as psicoticas, a con fissiio de uma sit0a ñ o farniliar
per turbadora as vezes so é dada apos algum acidente espetacular, cpmp py
entao mantenho com eles é u1 la continu a§ao da entrevista inicial. Muitas
vezes essa entrevista teria de ser inteiramente repetida, de ta1 forma o primei- S tltcidio. O marido describe como “gentil", “de admiravel dedica9ao", apa rece
depois, cpm uma natureza diferente. “So agora é que vejp como ele era um
ro discurso dos pais é, antes de mais nada, o discurso dos outros. O iofrimen-
to deles somente pode ser exptd$so na medida em que podem assegurar-se de tirano, batia, ofendia, dizia sern parar que en o enganava, eu nao ousava mats
que sao ouvidos. Por que uma crian{a nao seria “desgastante”" Por que uma sair, e o menino nem sequer ousava .chorar mais, ficava imobilizado diante
mae nao estaria tao bem na fabrica ou nO escritdrio quanto na cozinha? Essas dgle, como uma estatua de mar more.”
perguntas s6 podem ser feiiai 1 medida que o Outro se tome educador ou Num fi]me recente, mandou-se cada um dos atores de um drama senti-
juiz, â medida que o Outro, enfinn, aceite que brote uma verdade nao necessa- mental representar a sua histbria, dando assim duas vis0es diferentes de um
riamente conforme a sua. acontecimento comum. Uma situa9io familiar é geralmente vivida por cada
”Eu nio disse a ninguém que esse filho nao é de meu marido.” Se essa membro da familia de um modo pessoal. Vivem juntos um do outro e efetiva-
* * p°d° ° * -<° *^^a °°nfi›sao, ei eociol enquanto confissao dela pr0- mente nao sabem nada um do outro. Dividir os t 9£9$› um teto, prazeres,
p via, e nao como fato em st› penurb ador para a ‘crian9a, é porque eIa sabia uma cama, parece que isso basta, ja que poucos seres procuram saber de que
é verdadeiramente feito aquela com quem dizem “vive£". Talvez esteja at a
verdadeira forma de,pudor: o intimo de cada indi duo nao é dado tño
facil- mgnte em partilha, a come9ar por st prdprio. Eis por que a
primeira entrevis-
ta com o psicanalista é mais reveladora nas distor90es do discurso do que no
doutor. Men marido e eu deixamos de ter uma vida prñpria. fi inevitdvel que
proprio conteudo. Esse conteu do — e isso por vezes nos surpi eende — varia
fiquemos o tempo todo espreitando a sua respira§ao.
de sessao para sessio, de analista para analista, e isso acontece, jamais o repe-
“Ha realmente um médico que ficou surpreso ao verificar que, be rtinnei-
tiremos suficientemente, porque é n o Outro que a verdade desse discurso
ra inesperada, quando a gente nao esta de olho nela, a menina passa a respirar
(como nos lembra Lacan) se constitui, sempre mediante certo engodo. ”E
n ormalmente. Nao acredito nisso. Temos de evitar as coleras, as contrarieda-
curioso, percebo que lhe digo coisas que sño o contra rio do que digo ao des, o citime de minha filha: ‘Vocé é minha mamae’, diz-me eta, ‘nao quero
dividir vocé com ninguém.’ Tenho de ficar atenta, pois a menina nao gosta
“Contrario, por qué?” que eu me ocupe do pai. Eta, de resto, lhe diz: ‘Para mamiie vocé tern palavras
“Porque fiquei surpresa e disse em primeiro lugar o que julgava que tinha carinhosas, e para mim, nada.’ Minha vida esta estragada. Toda hora estou
de dizer, tive agora tempo de me refazer e de confessar a mim mesma o que en pensando nos seus brñnquios, quero aplicar en mesma os supositñrios, cerca-
preferia manter escondido.” la de cuidados, mas nao ha jeito. Por outro lado, venho vé-la, mas vocé, como
No entanto, ratas sao aquelas que percebem com tanta nitidez que co- outros, nada poderâ /nzer.”
municam dois discursos diferentes... O que podemos acrescentar a esse discurso que, em alguns m omentos,
Ao viver com o filho, a mae acaba as vezes se esquecendo do ser que se tern ressonancias poéticas' Etc esta marcado, sublinhado pela propria neuro-
esconde atras do objeto que deve ser cuidado. Falta -the em rela ao a si pr0- se da mae. Antes mesmo de nascer, essa errand a é a sede do fantasma mater
pria certo distanciamento que the permitiria as vezes espantar-se com de- no. Essa necessidade de amor imenso porventura também nao evoca a an
terminado estilo de comportamento. Como perfeita dona-de-‹:asa, ela se sente gustia, o perigo do asfrxiamento mais completo' Essa errand a esta de tal
tranquila quando cada objeto esta no lugar; marido e filh os desempenham forma incor- porada a mae que essa sabe que ninguém podera fazer nada. De
certa fund ao nesse universo fechado que exclui uma possib ilidade de evasao. fato, ela nio deseja que seja de outra forma. Carrie de sua carne, sofrimento do
Acontece que a errand a, nao tendo melhor escolha, procura na doenda essa seu cora- gño, mortifica ao intima, é preciso que seu filho permane§a
evasao. Submetida a mae como objeto que deve ser cuidado, a crian§a the da assim dentro dela. Transtornada pela idéia de que possa ser assim, a Sra.
a entender ao mesmo tempo que a mae nada pode fazer por eta, nada salvo Robertin me diz: “P cedo demais para que eu possa lhe dar essa errand a,
ter desejos exteriores a ela. quero recuperar o men prñprio dominio, depois virei sozinha. Nao the falei
Escutemos os depoimentos dessas maes: das min has angtistias, tinham desaparecido com a docuja de minha filha, é
“Minha filha sofre de uma asma que nao tern cura. 0s médicos sao unani- tudo isso que esta arris- cado a reaparecer, tenho medo. E horrivel a idéia
mcs em dizer: é o subconsciente dela. Chorei quando essa menina veio ao que me ocorre de repents, é absurda, é como se alguém me pedisse ue
mundo. D izia aos meus botñ es que nunca teria bastante em mim para pro - escolhesse entre a minha morte e a de minha filha. Que contra-senso, nao
mesmo+ Quando a gente flea tanto
porcionar-the a imensidao de desen ava lhe dar. Ela se minha Cha me diz, isso me pñe louca, e eu me apresso em consultar outro
recusava a comer, sim, ela me fazia isso, a mim que tinha tanto cuidado com
eta. En ‘a colocava perto de minha cama para vigia-la, e ela nño dormia. Ah!
Quantas lagrimas derramadas por ela! E entao, cis que um dia eta se pos a
tossir, a sentir-se oprimida. Nesse dia, a asma entrou nela. Disseram- me que
nao era uma as ma verdadeira, apenas um mal-estar respiratñrio. Deram-lhe
cor- tisona, nio tinha o menor efeito. A menina tornava-se exigerite. Abandonei
o men trabalho para me dedicar inteiramente a e1a. Desde cut ao tudo for pio-
rando. Disseram-me um dia: ‘E uma doente graVe, esta c‹im a respira§ao
bloqueada em toda a parte inferior do tdrax.’ ‘Sci que nunca vou ficar boa’
tempo assim em casa, acaba por desarrazoar, por perder todo
o born senso.”
Ora, se temos de perder alguma coisa no confronto
com o analista, é Certa mentira; por meio desse abandono, o
Sujeito recebe de volta, com o verdadeira dadiva, o acesso a
verdade.
Limiter-me a primeira entrevista. Deixo portanto em
suspenso a sequen- era das sessñes, insistindo, porém, rio
seguinte: quando os pais fazem uma consulta em nome do-
filho, .cabe, ao znalista. apura.pars além desse objeto
trazido, o sentido do seu sofrimento on da sua perturba9ao,
na pr6pria histñ- ria de ambos os pais. Lmpreender uma
psicailâlise da crian a nem por isso obriga
_\, ‘ os pais n rrazer ñ bail‹i a sua prâpria vida. E no inicio, antes de
a crian§a entrar na sua prñpria ariâlise, que convém pensar no
lugar que a crian9a ocupa no fan-
’ *-*' ^- tasma parental. A precauCa o é necessaria para que os pais
possam aceitar
que, em seguida, o filho fiquc entregue ao seu destino. Uma crian a sadia
arranca essa autonomia da necessidade por meio de crises caracteriais, de

A crian$a neur6tica paga esse desejo de evolu93o da sua pessoa ate no


dano orginico mais scrio. Certas afec9t›es (epilepsia) encontram-se desse modo
agravadas pela ansiedade do meio social, comprometendo o iucecso dt um Psicanalise e Pedagogia
tratamento mcdico. jvtâe e filha tcm entao de ser ucutadas no terreno psica-
nalitico, a evolu{io de uma sd é possivel se pode ser aceita pela outra.
"Essa crian9a”, diz-me a mae, ”devorou toda nossa vida pessoal, ela car,
n4o podemos deixl-la sozinha. Ela nio sabe utilizar as maos. Contrai-se, Foi
muito afetada. Neo podia cscrever. De tanto ficarmos atrls dela, pusemo-
nos os tres a faze-la progredir, att que conseguimos. Ela vive num mundo so
dela. fi uma responsabilidade tt-la sob nossos cuidados. Deveriamos amarri-
• • .v la. Eston sempre com a idtia fixa de qut ltte vai acontecer um acidente, tenho
medo de que ela morra, fico assim o tempo todo. Ela parece anquilosada, a apenas meio stculo, os professores iinham o p '*‹ *8'° <• °•'•< °°
com essa cabe9a parx a frente, sempre, E um pesadelp, essa cabe{a arrasta o unicos responsâveis pela orienta$ao dos seus ° *^°° Algumas conside-
corpo dela. Neo posso set amlvel. Vejo-me obrigada a ser dura para acordi- ra#Ocs de classes sociais tinham, sern dii*ida› ° °°* PHP° . ° '*^*^ * °°>P'°
la. Ela passa o tempo todo caindo. Pensei em fazé-la vestir um espartilho. em aconselhar estudos dispendiosos a uma crian9a de familia pouco abasta-
Temos de fatet alguma coisa. A vida 9ue ltte don mo é facil. Di8p-lhe, minha
da; o filho de burgués› em contrapartida, ^°^ ^*+* *+^ contrariado *° °^'
senhora: o que ela precisa t de um espartilho de ferro. Meu marido me afirma
“ minho escolhido pelos pais. O numero limitado de ° °°°° P°^'*'• que °°
que estou tirando doente. E assim, o que t que a gente pode fazer' Quando cla
mestres conhecessem melhot os stu5 mflnlnD * ° *ab° °°°°°°>' °°< < '*°°
car, eu the bato. O que t que a gente pode fazer, de 15 em 15 minutos acontece-
erros, um progn6stico de sucesso. O aU>°^!° d°° ° °* *°°' ° °°b °°° $° °°
lhe alguma coisa. £tepois de tanto tempo, t de fato surpreendente que ele
turmas em todos os niveis de ensino, alterou as pr6prias modalidades da
ainda mo tenha se matado.“
Essa crian§a, estragada por crises convulsivas, redo ccvc o menor probtcma instru ao. la nio se trata i•nto d• conh•cer o• • °• o •^*° d• <'•P•°•• -
lhes da melhor maneira posilvel, em condi9fies que P's °< °°> cessar, um
no internato. A mie,nao quer admiti-lo: “Se voct a prouder, vera que ela
saber que assimilam com crescents hesita9ao. Tcnta-se amenizar °
cai." O discurso entrecortado da m4e deixa transparecer aqui a sua pr6pria insufici*n- cia dos mestres utilizando os métodoâ audiovisuais — ^ * **'^*<
angustia quase assassina. Ainda mo se rem plena certcza sobre se I a crian a
que esid exposta a um impulso de queda, ou se t a mâe .que é como que ** seu ingresso nos cstabelecimentos escolares. Diversificam-se °° méiodos
de ensi-
impelida a fazer cair o filho, amâvel, gentil, habitado no seu corpo pelo
pâni-‘ no, recorre-se alternadamente â cria$ao d0 °!°°°°°•P °*°› °°° <**°d°° °*'
co mais completo. vos. A prcocupa go dos mestres parece estar em cons°g ir qu° °° ° *^°°
A entrevista com o psicanalista I um encontro, por meio do Outro,’com participem do seu trabalho e por ele se interessem.
@ gpjpjj{a, ptt•d{dp pp}p j•tjg, pp}p ClTlotnd, JOE dtV0MSDS ñ ttY‘idñ dAS CDltR•
a sua pr6pria mentira, Quanto a essa mentira, a crian$a apresenta no seu j.py5, pjp yppj i , dj$•5p, § ptj]p. ”JS ;jjtlttOS (ORRdm•S0 tltllldAd9Sy GUI TlOS5a
indo gera qo”, diz-« um professor, “devcres desse tipo nunca teriam alcan ado a
o que non I dito e, nesse riâo-dito, quantos dramas que mo podem ser tradu-
-_ média.” A crise esta no Ensino, mo podemos mais cscondt-la. Ela atimcñta as
zidos em palavras, quantas loucuras disfar adas por um equiltbrio aparente,
nossas leituras cotidianas da mesma forma que o csc5ndato da habitay9o, as
mas pelo qual a crian§a sempre tern de pagar tragic ente. O analista ali est5
para permitir, pelo reexarie de .tima situa‹;ao, que a criansa enyerede pop um
caminho que ltte delve pertencer a.tttulo exclusiyq.‘'.’
melhores (que abandonamos em seguida por falta de confian§a) , disfar§a- remédio para esse mat.
mos a tragédia de um corpo discente qne nñ o quer mare exercer o seu oficio.
“O diretor”, diz-me certa mae, “nao pode me receber, pois nao tern tem-
po. Disseram-me no ginasio que é uma sor te o men filho est:ir ali, mas os
aJunos sao numerosos demais para que possam cuidar de tod‹os.” “Nao so-
mos psicologos”, diz-me um probes sor, “nio temos tempo. Se etc nao faz nada,
procure o D epar tarrtento de O rienta ao.”
Os professores que, apesar de tudo, proctiram dispo r de tempo sao der-
rotados pelo numero de crian9as, a sua a9ñ o isofn Art revela-se quase sempre
incficaz. Em nossos dias, é ponto pacifico que, “se uma crian{a 'nao rende' a
unica solu9ao é coloca-la num colégio particular”. Alguns colégios indepen-
dentes suprem assim, em certos casos, a caréncia das Escolar do Estado, mas a
crise come9a também a atingi-los, e a falta de pessoal qualificad o faz-se sentii
particularmente nas classes primarias, confiadas cada vez mais a principian-
tes, quando se trata de uma forma de ensino que esta longe de ser dimples.
Os “departam entos de orienta§ao” desemp enham um papel impo rtante em
cer- tas cidades do intern r; neles se ministram, em lugar dos mest res,
conselh os de orienta9ao escolar. “O que a gente pode fazer, se o seu filho é
pregui§os o; abandone a idéta de manda-Io estudar. O que ele acharia de urna
atividade ao ar livre onde pudesse gastar as suas energias i”
O psicologo escolar (fun§ao instituida numa certa fase, mas depois elimi-
nada) também é chamado a iniciar, em lugar do professor, urn dialogo com
pais preocupados. Alguns estabeleclm entos enviam todo case› diflcil a uma
consulta psicanalitica. Verifica-se uma mobi1iZa§ao do grupo familiar em tor-
no do “mo 9uerer” escolar, mobiliza9ao muitas vezes antecedida de tentati-
vas routers de reeduca9ñ es diversas. O problema hoje levantado pelos efeitos
nefastos de um ensino preocupado antes de mais nada com salvar as
aparén- cias é, em primeiro lugar, um problem‹i politico. E, de fato, tarefa da
Educa§ao Nacional dar aos mestres as possibilidades de exercer a sua fun§ñ o.
Enquanto isso nao acontece, os "estudantes desajust ados” vém engrossar i
odos os anos o efetivo das consultas publican e privadas. Oferecem-se aos pais
paliativos, sob a forma de cursos privados, cursos de recupera§ao etc.
Recorri•-se até mesmo ao auxilio da Previdéncia Social para subvencionar
escolar esy›ecializadas nas técnicas de recupera§a o escolar. Longe de mim a
idéia de criti‹:ar a contribui- Rao indiscut(vel desses diversos orgaos. Eles
testemunh am, porém, com a sua prspri e téncia, a faléncia do Ensino. E,
dessa maneira, a Medicina recebe, em nossos dias, a pgrga ingrata dc dar o
Por outro lado, os progressos alcan§ados no diagnostico dos distu rbios
dist Mr bio de dis}exia, de discalcu companham em geral g eves desordens no domlnip da leitura, da orto ra-
fato essencial: ¿ pp arnbito da fia, do ° ° ° ImpOe-ie entao uma psicanalise, antes de qualquer forma de
EScola Ptiblica que deveri• ter dad, p
reed uca§ao; a trtariuten Rao da crian9a no estabelecimptjto fieqiientado é pe-
set bill -
dade de um ensino
de poucos alunOS, cop professoresque nâO d$tejam sobrecar-
regados cue A" # #' ’ ’ " *°' 9°' **° +•'* ° +' os ,o nosso Curso

° °*° °" P'• com as sua* ob igi ozs. O


estar ma is bem info rmado do q3g QtblRlmente dos per turba ñes
que podem sobrcvir no dom‹nio da UJ 88at da oI{Ogrd fia, do
calctllo. A crian§a assistida tern maiores possibilidades de s‹
fair bem do q ›e for ; uda-
da aos dez 888s, tendo ja, contra st, um passado de fracasso e
scolar.
Antes de
Psicanal ise pode oferecer a pedagogia, é
iJjqpp tt2p t2,
digamos mais
possivel. E sempre melhor para uma crian a str recuperada" no
seu amb‹enie escolar do que no hospital, mesmo que eta fosse
la somente de dia.'
A mLtltlplica ao de casds “médicas" para estudantes desajusta dos
é end st
pr oblema desta é OCa. A SOlicitude materna de que essas
crian has sao
objeto cr
" "'^ *" °' °"'°° uma P*>°'•*o do
comportamento. Da
namento com o Outro, .negar .toda fOrma de obriga9ao on de
dever. Esses
casos especiais” formam uma categoria de
privilegiadosa quem tudo é devi- do• O futuro £1OS dira o que
essa nova forma de educa9iio reierva. Mais uma
*ez, Rouge de rnim a idéia de deter a expansio atual dos extern«toi
médico-
pedago gicps. Também rlao deixa de Sf•£ VQtQ2Q2 Qtyg
*ssh
expansao levanta
um proble<° 8o mesmo género daquele da falta de ensino. fi
evidente guy,
para a crian{a, a melhor so19{ é receber “a instru9ao de todo o
aO
mundo”,
mas ainda seria preciso que essa instru9ao respondesse as suas
dificuldades. A reflexao psicanalitica permite-nos esclarecer p
iignificado dos distur-
bios espa o-temporais junto a certa categoria de crian§as. (Esses
neste caso, é bem-
2• O sintoma sern valor de mensagem: a reeduca ao,
sucedida. Se tern poucos alunos, um professor pode dar impo rt:incia, em seu
a
ens ino, a dificuldades especificas (no domlnio da ortografi e dti calculo), ou
ate repensar esse ensino em fun9iio das descobertas recentes nesse campo. A
perder de vista as crian -
cria9ao de hospitais diurnos nao nos deveria levar a
ser ro tuladas de “doentes”
has norma is que, atualmcnte, esperam as vezes com as suas dificulda- ’ ’‘ ’ ’ ’‘
para poderem tirar partido de um ensino conveniente
uma lei de obriga-
des. Por outro lado, penso que nño basta a cria9ao de
“de impe-
toriedade escolar: cumpre toina-la aplicavel na pratica. Esse apelo
em q ue as nossas
rativos pedagogicos” tern o seu lugar neste livro, na medida
de casos benig-
consultas sao insuficientes para enfrentar o numero excessivo
resolvidos TIO anibito de
nos de inadapta§ao escolar que poderiam ter sido
tradicional normal, se esse ñltimo estivesse mais ad:ip tado as ext-
um ensino
gencias de cada iridividuo. primeira entrevista com o psicanalista é, antes de tudo, uni encontro
com o nosso proprio en, um en que procura sair da falsidade. O analis-
ta esta presente para devolver ao sujeito, como dadiva, a sua verdade. Se a
crian9a-problerria levanta implicitaniente o problema do casal parental, nao
convém contudo enfrentar isso com métodos de grtipo. (A familia, sern duvida
nao é um “grupo” no sentido em que se toma esse vocab ulo na expressao
psicologica. O que importa nao é a vida coletiva dos individuos que a com-
pñem, mas as estruturas ocultas que essa vida impñe a cada individuo.) Se o
casal parental formula a sua questao por meio do seu filho, é em referéncia a
prñpria his tdria desse casal que ela deve assumir um sentido. O analista esta
presente, nio tanto para trazer so1u#ñes quanto para permitir que a questao
se form ule com base na angustia revelada pelo abandono das prote9ñes men-
tirosas. E numa dialética sobre um plano relaci onal que se trava o debate. A
fo rma$a o do interlo cutor o colo ca ao abrigo da onipoté ncia dada pela
investidura (ele pode, com efeito, nio ser nem médico, nem professor), a sua
fork a reside no simpler fato de que ele se aceita como ponto de encontro: é,
por eIe, para aléro dele,.que uma.xerdade podera ser apreendida pelo Outro.
Ele nao é rem chefe espiritual, nem guia, nem. sobretudo educador. Nao tern
a preocupa{ño de dar uma ordem ou desejar um sucesso. O seu papel é permi-
tir que o verho se fala.
Esta nao sera jamais qualquer palavra. A a utoconfissao nao se faz em
qualquer situa§io. A quem vou entregar o mais intimo do men ser? Certa-
mente nio vou fazé-lo a qualquer um. Nao é a investidura que importa aqui,
mas a qualidade do interlocutor capaz de situar o debate num n'vet difer eiite
daquele da pura re1a§ao dual. A primeira entrevista quase sempre nio passa
de uma prepara{io, de uma ordena ao de pet as de um jogo de xadrez. Tudo
flea para se fazer ma is tarde, mas as personagens puderam ser postas em
campo. O que, finalmente, pode ser desenhado é o indi vidtio, perdido,
esque- cido nos fantasmas parentais. O seu aparecimento como ser
autonomo, nio alienado nos pais, é, em st, um momento importante.
Quantas questñes de orienta ao, de escofaridade tém de ser form uladas é,
A Autora
em si, um detalhe. O que importa é a sua inser9ao numa dinamica do
reconhecimento.
A psicanâlise nâo é am devido. L por essa razio que, antes de considerar a
sua extensio como se poderia fazer numa preoc upa9ao do progresso social,
convém examinar seriamente os problemas que ela levanta.
Em nossos dias, as dificuldades psicolhgicas de uma errand a dao â familia
direitos, sern que com isso, no entanto, os deveres dos pais (ou de individuos)
sejam suficientemente destacados. A consulta publica, util e necessaria, corre ” 8Scida f3O /eilao, onde passou a primeira infñ ncia, Maud
Mannoni veio
contudo o risco de -validar no casal parental uma espécie de solicita ño cega, em seguida mora r com a familia nos Parses Baixos. Fez estudos
de Cri-
que visa a conservar as mascaras em vez de relevar o verdadeiro problema. *°olog1H Cm B ruxCI8s e estudou Psiquiatria sob a dlFe§fio de Nyssen (Bruxe-
Uma consulta psicanalitica somente tern sentido se os pais estiverem prontos las) e de D ellaert (Antuérpia).
para retirar as mascaras, para reconhecer a inadequa9ao do seu pedido e para, Deve a sua forma ao de Sicanalista de errand as a Fran9oise
Dolto, que
de certa maneira, se questionarem. A Psicanalise, se deve manter o seu senti-
do e o seu valor proprio, continua a ser, de certa forma, exterior âs organiza- elaborou um método terapéutico para crian{as psico ticas mais seriamente
§ñes institucionais, mesmo que nao lhes seja estranha. A primeira entrevista atingidas. Seguiu e •h método em suas consul tas hospitalares com
com o psicanalista continua a ser, na sua banalidade aparente, um encontro 8* form8Fldos de Medicina, beneficiando-se assim de uma forma dr n,ino
verdadeiramente exceptional. Trata-se, como dissemos, de um encontro *^°°P°'onal em psicanalise infantil.
con- sigo mesmo, isto é, com um outro em st que ignora. “O que o analista Mated Mannoni pñ de levar a cabo a elabora ao t€b£ica de sua experién-
da”, diz- nos Lacan, “t o qy existe no outro.” Essa reve1a§ño desse outro era gray as aos ensinamentos de Jacques Lacan.
em nbs, nds a recebemos em raros momentos fecundos, nesse instante Seu marido, além de escritor, é também psicanalista.
eletivo de nossa his- t6ria em que jâ podemos assumir a aventura que
representa para nñs a rup- tura com um discurso mentiroso, aquele que
sempre for o nosso.
Nada se fara durante a consulta psicanalitica para proporcionar ao sujti-
to o que ele pede. Ore, £ esse mesmo pedido que o conduz para o médico ou o
educador, os quais podem responder a isso de maneira valida. O papel do
psicanalista é considerar o carater enganador desse procedimento, a finn de
ajudar o sujeito a se situar corretamente em rela ao a st prdprio e aos outros.
A crian a, senslvel, como vimos, a indo o que ndo se diz, retira de ta1
confronto a possibñidade de uma nova arrancada, até mesmo de uma pri-
meira arrancada como ser autñnomo, nio alieriado no desejo dos pais. ’ -
Biblio9rafia

L’erJarif nrriére ci sn m ere. Paris, 5eu il, 1964.


L’eriJarit, s« “malndie” ct Yes autres. Paris, Seuil, 1967. (Ed. brasileira. A "°
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Vi1la§a.)
Le psFchia tre, son “Jett” et In psycbannlyse. ^"^› Seuil, 1970. (Ed. °^* ""^
Psi qu ia tra, ecu Louco e a Psicanâ IUse. °› Zahar, 197 I . Tradu9âo °
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Enfance aliénée (obra coletiva). Paris, col. 10-18, 1972.
Education impossible Paris, Seuil, i973. (Ed. Brasileira: "°°f ° ^fi°" **
Rio, Francisco Alves, 1977. Tradu âo de Alvaro Cabral.)

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