Aib Quaresmeira

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Scientia Agraria

ISSN 1519-1125 (printed) and 1983-2443 (on-line)


NICKNICH, R., et al. Influência do ácido...

INFLUÊNCIA DO ÁCIDO INDOLBUTÍRICO NO ENRAIZAMENTO DE ESTACAS


DE QUARESMEIRA

INDOLEBUTYRIC ACID INFLUENCE ON THE ROOTING OF Tibouchina


fothergillae (D. C.) Cogn.

Rodrigo NICKNICH1
Arthur Hermann WEISER2
Katia Christina ZUFFELLATO-RIBAS3

RESUMO
Tibouchina fothergillae (D. C.) Cogn., popularmente conhecida por quaresmeira, é uma espécie nativa do
Brasil, de grande valor paisagístico, que pode alcançar até 1,5 metros de altura. Visando a elaboração de um
protocolo de enraizamento da espécie, o objetivo deste trabalho foi verificar a influência de diferentes
concentrações de ácido indolbutírico (AIB) na indução radicial em estacas caulinares de quaresmeira. Em
15/04/2011 foram coletadas estacas semilenhosas de plantas matrizes localizadas nos jardins do Campus III da
Universidade Federal do Paraná, as quais foram confeccionadas com 8 cm de comprimento mantendo-se duas
folhas cortadas ao meio na porção apical. As estacas foram submetidas aos seguintes tratamentos veiculados
na forma de talco: 0 mg Kg-1, 1000 mg Kg-1 e 2000 mg Kg-1 de AIB, sendo plantadas em tubetes com
vermiculita de granulometria média e casca de arroz carbonizada (1:1) como substrato e mantidas em casa de
vegetação com nebulização intermitente. Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, com 5
repetições e 20 estacas por unidade experimental. Após 60 dias, foram avaliadas as seguintes variáveis:
porcentagem de estacas enraizadas; número de raízes por estaca; comprimento médio das três maiores raízes
por estaca (cm); porcentagem de estacas com calos, vivas e mortas. Não houve diferença significativa entre os
tratamentos, tendo como maior média de enraizamento 92%, para os tratamentos com 0 e 2000 mg Kg -1 de
AIB, sendo possível concluir que não é necessária a aplicação de auxina exógena no enraizamento de estacas
de Tibouchina fothergillae.
Palavras-chave: Tibouchina fothergillae; auxina; paisagismo; propagação vegetativa

ABSTRACT
Tibouchina fothergillae (D. C.) Cogn. is a Brazilian native species, reaching 1,5 meters in height, with great
landscape value. Aiming to develop a rooting protocol for the species, the objective of this study was to evaluate
the indolebutyric acid (IBA) influence on the rooting induction of semi hardwood Tibouchina fothergillae cuttings.
The shoots were collected in 15/04/2011 at the gardens of the Federal University of Paraná, Campus III, and cut
to 8 cm in length, keeping two half leaves on the apex. The cuttings were submitted to the following treatments:
0 mg Kg-1, 1000 mg Kg-1 and 2000 mg Kg-1 of IBA in powder, planted in tubes containing medium size
vermiculite and carbonized rice husk (1:1) and maintained in greenhouse with intermittent mist. Data were
analyzed using a completely randomized design, with 5 replications of 20 shoots per experimental unit. After 60
days, were evaluated: the percentage of rooted cuttings; number of roots per cutting; average length of the three
biggest roots per cutting (cm); percentage of cuttings with calluses, alive and dead. The difference between the
treatments was not significant, with the higher average of rooting being 92% for the treatments with 0 and 2000
mg Kg-1 of IBA, leading to the conclusion that exogenous auxin is not necessary on the rooting of Tibouchina
fothergillae cuttings.
Key-words: Tibouchina fothergillae; auxin; landscape; vegetative propagation

1
Eng. Agr., Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil. Bolsista de Iniciação Tecnológica Industrial do CNPq – Nível A. Email:
[email protected]
2
Eng. Agr., Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil. Bolsista de Iniciação Científica do CNPq.
3
Bióloga, Pós-Doutora, Departamento de Botânica, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil.
E-mail: [email protected]

Scientia Agraria, Curitiba, v.14, n.2, p.65-67, Mar./Ago. 2013 65


NICKNICH, R., et al. Influência do ácido...

INTRODUÇÃO com hipoclorito de sódio 0,5% por 10 minutos, sen-


Tibouchina fothergillae (D. C.) Cogn. é uma do posteriormente lavadas em água corrente por 5
planta da família Melastomataceae, nativa da Mata minutos. Na base das estacas foram aplicados os
Atlântica Brasileira. Apresenta porte arbustivo, com tratamentos com ácido indolbutírico (AIB) veiculado
cerca de 1,5 metros de altura e flores de coloração na forma de talco, nas concentrações de 0, 1000 e
púrpura. Floresce e frutifica em quase todos os me- 2000 mg Kg-1 de AIB, as quais foram plantadas em
ses do ano, sendo os mais representativos abril e tubetes de polipropileno de 53 cm3, com vermiculita
maio (Silva e Affonso, 2005) e sendo por isso co- de granulometria média e casca de arroz carboniza-
nhecida popularmente por quaresmeira. do na proporção de 1:1 como substrato, sendo en-
Por apresentar belíssimas flores e em abun- tão levadas para casa de vegetação com nebuliza-
dância, a quaresmeira tem altíssimo potencial orna- ção intermitente.
mental, sendo recomendada em projetos paisagísti- Após 60 dias, verificou-se a porcentagem de
cos, na arborização de ruas estreitas e sob redes enraizamento, número de raízes por estaca, compri-
elétricas. Além disso, apresenta grande capacidade mentos das três maiores raízes por estaca, porcen-
de se adaptar, sobreviver e se desenvolver no local tagem de estacas com calos, vivas e mortas.
do plantio, sendo por estes motivos, muito utilizada O delineamento experimental foi inteiramente
na arborização urbana (Lorenzi, 2002). casualizado, com 5 repetições de 20 estacas por
Suas sementes são minúsculas, dificultando a unidade experimental. As variâncias dos tratamen-
coleta e manuseio, além de existir grande número tos foram testadas quanto à homogeneidade pelo
de sementes abortadas e com baixa germinabilida- teste de Bartlett. Aquelas que se mostraram homo-
de (Elisson et al., 1993; Barroso et al., 1999). As- gêneas foram submetidas à análise de variância e
sim, faz-se necessária a utilização de meios mais comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5%.
eficientes de propagação.
A propagação vegetativa pode ocorrer de diver- RESULTADOS E DISCUSSÃO
sas formas, bastando-se promover a regeneração As variáveis porcentagem de enraizamento,
de uma parte qualquer retirada de uma planta- número de raízes por estaca, comprimento das três
matriz a fim de formar um novo indivíduo por meio maiores raízes por estaca e porcentagem de esta-
da indução do enraizamento adventício (Janick, cas mortas se mostraram homogêneas e foram
1966; Hartmann et al., 2002). Uma das formas de submetidas à comparação de médias pelo teste de
propagação vegetativa é a estaquia, a qual permite Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
a obtenção de um grande número de mudas com Foram verificadas médias de enraizamento de
alta uniformidade a partir de uma planta-matriz, 92% para os tratamentos com 0 mg Kg-1 e 2000 mg
além de antecipar o período de florescimento por Kg-1 e 87% para o tratamento com 1000 mg Kg-1
reduzir o período juvenil da mesma (Hartmann et (Tabela 1), não sendo esta diferença significativa. O
al., 2002). sucesso de enraizamento da T. fothergillae foi ob-
Para que a estaquia tenha sucesso, é necessá- servado também por Mayer et al. (2003), tratando
rio que ocorra a formação de raízes adventícias. O estacas semilenhosas com 0, 2000, 4000 e 8000
principal hormônio vegetal envolvido no enraiza- mg L-1 de AIB em solução, obtendo 100% de enrai-
mento é a auxina. A aplicação de auxinas exógenas zamento para todos os tratamentos com exceção
em estacas estimula a formação de raízes adventí- da aplicação de 8000 mg L-1 de AIB (89,6%). Borto-
cias, aumentando a porcentagem de estacas enrai- lini et al. (2005) observaram 100% de enraizamento
zadas e o número de raízes por estaca (Hartmann tratando estacas caulinares de T. fothergillae com 0,
et al., 2002), sendo que o ácido indolbutírico (AIB) é 1500 e 3000 mg L-1 de AIB, enquanto Ribeiro et al.
a auxina sintética mais utilizada devido a sua baixa (2007) observaram enraizamento de 94% das esta-
mobilidade, maior estabilidade química e, quando cas testemunhas de T. fothergillae. Essa facilidade
aplicado em concentrações adequadas, não ser de enraizamento pode estar relacionada à presença
fitotóxico (Audus, 1963) satisfatória de auxina endógena na planta e à pre-
O presente trabalho teve como objetivo desen- sença de folhas nas estacas, que servem como
volver um protocolo de enraizamento de Tibouchina fontes de auxinas, carboidratos e outras substân-
fothergillae (D. C.) Cogn. pela aplicação de diferen- cias (Hartmann et al. 2002).
tes concentrações de ácido indolbutírico aplicadas Para o número de raízes por estaca, foram
via talco. observadas médias de 7,46 para o tratamento com
0 mg Kg-1, 9,23 para o tratamento com 1000 mg Kg-
1
MATERIAL E MÉTODOS e 7,57 para o tratamento com 2000 mg Kg-1
Foram coletados ramos semilenhosos de uma (Tabela 1). Bortolini et al. (2005) encontraram maior
planta-matriz localizada nos jardins do Centro Poli- número de raízes para todos os tratamentos, tendo
técnico da Universidade Federal do Paraná, na ci- 22,41 raízes no tratamento testemunha. As médias
dade de Curitiba-PR, em 15 de abril de 2011. de comprimento das 3 maiores raízes por estaca
Foram confeccionadas estacas semilenhosas foram de 5,87 cm para o tratamento com 0 mg Kg-1,
de 8cm de comprimento, com corte em bisel na 5,09 cm para o tratamento com 1000 mg Kg-1 e 4,81
parte inferior e corte reto na parte superior, manten- cm para o tratamento com 2000 mg Kg-1 (Tabela 1).
do duas folhas na porção apical com sua área redu-
zida à metade.
As estacas foram submetidas à desinfestação
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NICKNICH, R., et al. Influência do ácido...

TABELA1 – Porcentagem de estacas semilenhosas de Tibouchina fothergillae (D. C.) Cogn. enraizadas (EE),
número médio de raízes por estaca (NRE), comprimento médio das 3 maiores raízes por estaca
(CMR), porcentagem de estacas com calos (EC), vivas (EV) e mortas (EM). Curitiba – PR, 2011

AIB (mg Kg-1) EE (%) NRE CMR (cm) EC (%) EV (%) EM (%)

0 92,0 a 7,5 a 5,9 a 0 3,0 5,0 a

1000 87,0 a 9,2 a 5,1 a 0 3,0 10,0 a

2000 92,0 a 7,6 a 4,8 a 0 0 8,0 a

Média geral 90,3 8,1 5,3 0 2 7,7


Coeficiente de varia-
9,3 19,6 22,4 - - 114,8
ção (%)
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5%
de probabilidade.

A porcentagem de estacas mortas foi baixa e de vegetação.


dentro da normalidade dos padrões para a estaquia, Não houve formação de calos em nenhum tra-
sendo vertificadas médias de 5% para o tratamento tamento e a porcentagem de estacas vivas (sem
com 0 mg Kg-1, 10% para o tratamento com 1000 raízes e sem calos) foi de 3% para os tratamentos
mg Kg-1 e 8% para o tratamento com 2000 mg Kg-1 com 0 e 1000 mg Kg-1 de AIB, não ocorrendo esta-
(Tabela 1). A presença de estacas mortas pode ter cas vivas no tratamento com 2000 mg Kg-1 de AIB,
sido causada pelo baixo grau de lignificação do uma vez que a maioria das estacas enraizaram e
material utilizado, causando uma maior perda de uma pequena porcentagem morreu.
água e consequentemente, morte das estacas, sen-
do este o motivo atribuído por Nachtigal et al. CONCLUSÕES
(1994) para a alta mortalidade de estacas semile- Nas condições em que o experimento foi
nhosas de araçazeiro. Outra explicação possível foi realizado, pode-se concluir que T. fothergillae é
o longo tempo em casa de vegetação que pode ter uma espécie de fácil enraizamento. O uso de AIB
favorecido a desidratação das estacas, visto que não é recomendado, visto que o tratamento teste-
Bortolini et al. (2005) obtiveram 100% de enraiza- munha apresentou alta porcentagem de enraiza-
mento com apenas 30 dias de experimento em casa mento.

REFERÊNCIAS
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apicais e medianas de quaresmeira (Tibouchina fothergillae Cogn.). Revista Brasileira de Horticultura Ornamental,
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Recebido em 06/12/2011
Aceito em 05/08/2013

Scientia Agraria, Curitiba, v.14, n.2, p.65-67, Mar./Ago. 2013 67

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