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UNIDADE I: A EMERGÊNCIA DO FILOSOFAR

1.O QUE É A FILOSOFIA?


O homem é naturalmente filósofo, amigo da sabedoria. Desejoso de saber não se
contenta em aceitar passivamente as informações fornecidas pela experiência imediata
como fazem os animais. Ele quer conhecer o porquê das coisas, sobretudo da própria
vida.
Etimologicamente o termo filosofia provem do grego, Filos = amor, e Sofia = saber,
sabedoria. Assim sendo, define-se a filosofia como o amor a sabedoria, como o amor ao
saber. Portanto, Filosofia é um tipo de saber, uma forma de conhecimento e filósofo é
aquele que procura a sabedoria, que ama o saber, que indaga a verdade das coisas.
1.1. Outras tentativas da definição da filosofia
Para Sócrates: A filosofia é uma pedagogia.
Para Aristóteles: A filosofia é a ciência do ser enquanto ser.
Epicuro: A filosofia é uma ginástica do espírito, é uma prática da felicidade, é um
contínuo exercício e esforço por manter o espírito são (limpo) e em forma. Deste modo
aprender a filosofia é aprender a viver feliz.
Para Karl Jaspers: filosofar é estar a caminho, uma atitude de busca permanente.
Conclusão: o filósofo não é o sábio, mas aquele que ama o saber. A alma da filosofia é
a busca da verdade e não a sua posse.
2. A FILOSOFIA COMO NECESSIDADE PRIMÁRIA DO ESPÍRITO
HUMANO
Por natureza todos os homens aspiram o saber. Ora, por quê o homem sentiu a
necessidade de filosofar? Porque faz parte da sua natureza humana. A filosofia nasce da
capacidade humana de Admiração. A raíz da filosofia é o Maravilhar-se, o querer saber
a origem, o fim, o autor de todas as coisas. Por isso o homem enquanto vivente não
pode renunciar a filosofia o que seria igual a renunciar a si mesmo, o que é impossível.
3.ONDE NASCEU A FILOSOFIA?
A filosofia é considerada pela quase totalidade dos estudiosos como uma criação própria
do génio grego, é pura invenção dos gregos. Os outros povos orientais tinham sua
sabedoria, sua crença, seus cultos religiosos, suas manifestações artísticas, vários
conhecimentos técnicos, suas organizações políticas..., mas a filosofia é pura invenção
dos ocidentais. É a filosofia uma novidade que difere dos outros tipos de saberes.
Existem defensores de que a filosofia começou na áfrica antiga, isto é, no oriente. Não
faltaram tentativas de querer situar no oriente a origem da filosofia, tentativa essa que é
movida sobretudo por razões de orgulho nacionalista, ou seja, para atribuir em benefício
de sua cultura esse especial título de glória. Mas está sim comprovado que os povos
orientais com os quais os gregos tinham contacto possuíam verdadeiramente uma forma
de sabedoria feita de convicções religiosas, mitos e cosmogonias, mas não uma ciência
filosófica baseada na razão. Possuíam um tipo de sabedoria semelhante a que os
próprios gregos possuíam antes de criar a filosofia.
Resumindo: A filosofia nasceu na Grécia por volta dos séculos VIII-VII a.C. com os
filósofos jônios concretamente em Mileto mais tarde chamados filósofos da natureza, e
são eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Nos filósofos da natureza já se manifesta o
esforço da explicação racional dos fenómenos da natureza.

4. O QUE DIFERE A FILOSOFIA DAS OUTRAS FORMAS DE


SABER OU DE SABEDORIA?
As outras formas de saber usam na explicação dos seus problemas existenciais o Mito, a
Poesia a Religião, enquanto a filosofia usa a Razão.
4.1. AS CONDIÇÕES OU FORMAS DE VIDA QUE DERAM ORIGEM AO
SURGIMENTO DA FILOSOFIA GREGA: ARTE, RELIGIÃO E AS
CONDIÇÕES SÓCIO POLÍTICAS E ECONÓMICAS.
4.1.2. Os Poemas Homéricos e os Poetas Gnómicos: antes do nascimento da filosofia,
os poetas tinham imensa importância na educação e na formação espiritual do homem
grego mais do que tiveram os outros povos. Os gregos buscavam seu alimento espiritual
nos poemas homéricos (na Ilíada e na Odisseia) e em Hesíodo e nos poetas gnómicos do
século VII e VI a.C. Com efeito, é de lembrar que tais poemas exerceram nos gregos
uma influência semelhante a que a Bíblia exerceu entre os Hebreus.
Os poetas já narravam com base nas suas imaginações sobre a harmonia do universo,
pesquisavam as causas e razões das coisas, buscavam apresentar a realidade na sua
inteireza ainda que de forma mítica.
4.1.3. A Religião Pública e os mistérios Órficos: a religião entre os gregos se
distinguia entre religião pública e religião dos mistérios, e entre ambas existia
semelhanças e diferenças. Para a Religião pública tudo é divino porque tudo que ocorre
é explicado em função da intervenção dos deuses. Ora, é da mesma religião pública que
nasceu a filosofia naturalista, pois a natureza se tornou uma constante no pensamento
grego ao longo de todo o seu desenvolvimento.
O Orfismo introduziu nos gregos um novo esquema de crenças e nova interpretação de
existência humana proclamando a imortalidade da alma e a reencarnação da alma.
Portanto, sem o orfismo não existiriam Heráclito, Pitágoras, Platão nem Empédocles
que estudaremos mais em frente.
4.1.4. Condições sócio políticas-económicas: entre os gregos havia liberdade política
diferentemente dos orientais que eram obrigados a uma cega obediência ao poder
religioso e político. Foram os gregos os primeiros povos da história a construir
instituições políticas livres.
Outro tanto, a Grécia, de um país predominantemente agrícola passou a desenvolver a
indústria artesanal e o comércio. As cidades tornaram-se centros comerciais e com
grande crescimento demográfico.
Todavia, há que destacar que a filosofia nasceu primeiro nas colónias orientais da Ásia
Menor (em Mileto) e depois nas colónias ocidentais da Itália Meridional, e só depois se
instalou na Pátria Mãe, isto porque as colónias com o comércio alcançaram em primeiro
uma situação de bem-estar e puderam construir instituições livres.
5. CONTEÚDO, MÉTODO E OBJECTIVO DA FILOSOFIA
5.1. Conteúdo: enquanto é fácil dizer qual é a esfera de competências das várias
ciências experimentais, não é igualmente fácil delimitar o campo de pesquisa da própria
filosofia, pois é sabido que a medicina estuda a doença, a história os factos, a botânica
as plantas. Mas a filosofia o que estuda? No entender dos filósofos a filosofia estuda
Tudo, estuda o Todo. Segundo Aristóteles, a filosofia estuda as causas últimas e
primeiras de todas as coisas.
Estuda o tudo porque além de todas as coisas serem examinadas a nível científico
podem ser avaliadas também a nível filosófico. E enquanto as ciências estudam esta ou
aquela dimensão da realidade, a filosofia estuda toda realidade ou procura apresentar
uma explicação completa e exaustiva de um domínio particular da realidade.
Resumindo: a filosofia estuda o Todo. Pretende explicar a Totalidade das coisas, toda a
realidade sem exclusão das sus partes. Estuda o todo buscando descobrir qual é o
primeiro princípio, o porquê das coisas. Estuda as partes que as outras ciências rejeitam.
Ora, as ciências particulares diferentemente da filosofia se limitam a estudar certas
partes dos fenómenos ou da realidade.
5.2. Método: o método que a filosofia usa no seu estudo é a razão, a pura razão, o
raciocínio puro como diz Platão. Não se serve de máquinas, telescópios nem
microscópios. O trabalho de pesquisa filosófico é realizado através da e apenas pela
razão. Vai além das experiências para encontrar as causas precisamente através da
razão.
Resumindo: o método de estudo filosófico é essencialmente raciocinativo, embora em
algum momento não exclua a intuição. Usa o método dedutivo e indutivo. A filosofia
busca a explicação puramente racional da totalidade em estudo. Busca as causas e
explicação através da razão. Para a filosofia o que vale é a explicação racional. É o
logos que faz da filosofia uma ciência. A arte e religião buscam a explicação de todo
por meio do mito, da fantasia e da crença, mas a filosofia busca explicação da realidade
através do Logos, da Razão...
5.3. Objectivo ou Fim: a filosofia tem como único objectivo o conhecimento. Tem em
vista simplesmente pesquisar a verdade em si mesma. Em outras palavras, a filosofia
tem um objetivo puramente teorético, ou seja, contemplativo. A filosofia satisfaz-se na
contemplação do verdeiro.
Resumindo: o fim último da filosofia está no puro desejo de conhecer e contemplar a
verdade. É um amor desinteressado pela verdade, não busca alcançar nenhum proveito
próprio. Portanto, a verdade procurada, contemplada e desfrutada é o fim último da
filosofia.

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