Betinho Lieratura
Betinho Lieratura
Betinho Lieratura
Estudante:
Betinho Bito Jorge Chiquire
Docente:
Msc. Arsénio dos Aflitos Jorge Adriano
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Análise literária
Segundo Julia Kristeva, "todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é
absorção e transformação de um outro texto". (Kristeva, 1974, p.64).
Todo texto tem origem a partir de uma "colagem" de textos anteriores a ele. Ou seja, o
texto transforma-se e absorve novas ideias. Então, nos textos que analisaremos podem
não ocorrer a intertextualidade directa, mas aqui analisaremos de modo a abordar as
suas estruturas externas e internas. Então, por um lado temos o grande poema da
literatura brasileira, Canção do Exílio de Gonçalves Dias, que é popularmente
conhecido em Moçambique por ʺMinha terra tem palmeirasʺ e de outro lado temos o
poema português de Almeida Garrett ʺanjo ésʺ.
O poema "Canção do Exílio" foi escrito pelo poeta Gonçalves Dias em 1843, quando o
poeta se encontrava em Portugal na cidade de Coimbra, o referido poema encontra-se no
livro Primeiros Cantos. Canção do Exílio é considerada por muitos teóricos como
sendo a obra-prima do autor, que era pertencente à primeira geração romântica da
literatura brasileira, sendo considerado um dos poemas mais famosos da língua
portuguesa. (Faraco & Moura, 1998, p. 100). Produzido numa época na qual se vivia
uma forte onda de nacionalismo, que se devia ao rompimento do Brasil com a colónia
Portugal.
E, Almeida Garrett (1799-1854) foi um poeta, português que teve um importante
papel como o iniciador do movimento romântico em Portugal com a publicação do
poema Camões. Almeida Garrett, foi o escritor que deu início ao romantismo
em Portugal. Um dos autores mais importantes da literatura do país, teve intensa
actuação também na vida política tido, por muitos especialistas, como o pai do
português moderno. No poema "Anjo és", Garrett, enaltece a mulher no Romantismo,
exagerando no poder da figura feminina.
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Nos poemas em análise, encontramos características marcantes do romantismo, como é
o caso de:
O saudosismo
O nacionalismo
A exaltação à natureza
A idealização da pátria.
O exagero do sentimentalismo.
Bastante descrição.
Egocentrismo (o único tema a ser tratado é a figura feminina)
Individualismo.
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mulher amada, relatada no texto como se fosse misteriosa mas poderosa. Onde o autor
questiona se era anjo ou um ser. No entanto a outra característica presente no poema é o
individualismo e subjectivismo; o eu-lírico romântico trata dos assuntos de uma forma
pessoal, de acordo com o modo como vê e sente o mundo dizemos que sua arte é
subjectiva porque expressa uma visão particular da realidade. As terceiras
características que podemos encontrar também no poema são o culto a natureza;
podemos verificar que o eu-lírico usou fortemente a natureza com recurso de expressão
de seus sentimentos fazendo a citação dos elementos como “estrelas e rosas”.
ʺ Das alvas rosas do céu.
Cor de noite sem estrela…ʺ
Segundo, Fátima Marinho (Jpn, entrevista- 2005) Garrett, recria o estereótipo
feminino do romantismo, retratando a dualidade da mulher, que tanto é anjo, como
demónio, contando um pouco da sua experiência amorosa, no poema “Anjo és”, no qual
diz:
“Mas que anjo és tu
Em nome de quem vieste
De Jeová ou Belzebu?”.
Garrett, que viveu, na altura, amores socialmente condenáveis, como o relacionamento
adúltero que manteve nos últimos anos de vida com a Viscondessa da Luz.
Uma vez que os românticos da primeira geração ainda estavam muito ligados ao s
árcades.
Almeida Garrett (Português) e Gonçalves Dias (Brasil) estão entre os principais autores,
dessa época, da 1ª geração de românticos.
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Também há no poema repetições de palavras.
Anáfora - “ Nosso céu tem...”, “Nossas várzeas tem...”, “ Nossos bosques tem...”, “
Nossa vida...”
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Na 2ª estrofe, no primeiro verso nota-se a idealização e ufanismo que significa elogiar
ou falar com orgulho sobre um lugar, uma coisa ou ate mesmo de uma pessoa, nesse
caso o autor exalta a pátria:
ʺ Nosso céu tem mais estrelas…
Nossa vida mais amores ʺ ….
Na 5ª estrofe retrata a saudade, o sentimento de retornar era tanto que ele escreveu: ʺ
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Inclusive notamos aqui a religiosidade.
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Mas, na 1ª estrofe, nota-se a característica da primeira fase romântica. Assim, apesar de
aparentar resistência aos encantos e o poder da mulher, o eu-lírico se rende, e confirma
a submissão, na mesma estrofe, nota-se a presença do exagero sentimental e da forte
idealização da mulher, por exemplo nos versos:
ʺ Minha razão insolente
Anda humilde ao teu poder. ʺ
Anjo és tu, não és mulher
Anjo és. Mas que anjo és tu?
Na 3ª estrofe, o autor refere à mulher como anjo que está relacionado com a idealização
e religiosidade, com questionamentos feitos pelo poeta sobre o anjo-mulher pela qual
esteve sentido amores por ela, nota-se no trecho:
ʺEm nome de quem viés
De Jeová ou Belzebu?ʺ
Ainda nessa estrofe o eu-lírico demonstra a sua inteira rendição a este amor angelical,
que é característico no romantismo.
Ao decorrer de todo o poema um ponto de vista pessoal e singular do autor o que vem
a ser descrito como individualismo e subjectivismo.
Verifica-se no poema as seguintes figuras de estilos:
Gradação crescente -ʺQueima, abrasa, ulcera.ʺ
Anáfora - ʺ Jamais o teve mulher… Jamais o há-de ter em mimʺ
Personificação - ʺ Em que mistérios se esconde...Teu fatal, estranho serʺ
Eufemismo -ʺA chama é vivaz e é bela ʺ
Metáfora - ʺAnjo és tuʺ
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Anexo:
Canção do Exílio
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Anjo és
Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher, Não respondes - e em teus braços
Jamais o há-de ter em mim. Com frenéticos abraços
Anjo és, que me domina Me tens apertado, estreito!...
Teu ser o meu ser sem fim; Isto que me cai no peito
Minha razão insolente Que foi?... Lágrima? - Escaldou-me
Ao teu capricho se inclina, Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
E minha alma forte, ardente, Dou-me a ti, anjo maldito,
Que nenhum jugo respeita, Que este ardor que me devora
Covardemente sujeita É já fogo de precito,
Anda humilde a teu poder. Fogo eterno, que em má hora
Anjo és tu, não és mulher. Trouxeste de lá... De donde?
Em que mistérios se esconde
Anjo és. Mas que anjo és tu? Teu fatal, estranho ser!
Em tua frente anuviada Anjo és tu ou és mulher?
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu. Almeida Garrett
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?
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Conclusão
Nos poemas em estudo como é o caso do poema de Gonçalves Dias apresenta uma
visão romântica, exagerada e ufanista, a uma pátria perfeita que por sinal e a sua terra
natal. Já, na obra de Almeida Garrett apresenta o sentimentalismo; O eu- lírico expressa
de uma forma amorosa aos sentimentos que ele tem pela mulher amada, de uma forma
romântica, por outro lado, o sujeito poético vê que revela grande envolvimento
emocional. Ambos os textos pertencem a mesma corrente literária que e o romantismo
da 1ª geração, apesar o objecto de análise interior serem assuntos diferentes, nota-se
varias semelhanças nas suas c características, elementos, linguagem e estrutura física do
mesmo (versos e estrofes).
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Referências bibliográficas
Faraco, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto. Literatura Brasileira. 15 ed.
rev. ampl. São Paulo: Ática, 1998.
Kristeva, Julia. Introdução à semanálise.São Paulo: Perspectiva, 1974.
Marques, Wilton José. O Poema e a Metáfora. Revista Letras, Curitiba, n. 60, p.
79-93, jul./dez. 2003.
https://www.jpn.up.pt/2005/01/13/garrett-foi-um-marco-na-literatura-
portuguesa/.
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