Betinho Lieratura

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INSTITUTO SUPERIOR MUTASSA

UNIDADE ORGÂNICA DE CHIMOIO

2º TRABALHO DE LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA.


1oAno; II Semestre

ANÁLISE INTERTEXTUAL COMPARATIVA

LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS COM HABILIDADES EM


FRANCÊS

Chimoio, Outubro de 2022


INSTITUTO SUPERIOR MUTASA
UNIDADE ORGÂNICA DE CHIMOIO

2º TRABALHO DE LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA.


1oAno; II Semestre.

ANÁLISE INTERTEXTUAL COMPARATIVA


(Anjo és vs canção do exílio)

Estudante:
Betinho Bito Jorge Chiquire

Docente:
Msc. Arsénio dos Aflitos Jorge Adriano

Chimoio, Outubro de 2022


Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4
Análise literária............................................................................................................. 5
Gonçalves Dias-canção do Exílio x Almeida Garrett-Anjo és. .................................... 5
Estrutura externa: .......................................................................................................... 5
Estrutura interna ........................................................................................................... 8
Anexo: ............................................................................................................................ 11
Canção do Exílio ............................................................................................................ 11
Anjo és ............................................................................................................................ 12
Conclusão ....................................................................................................................... 13
Referências bibliográficas .............................................................................................. 14
Introdução
O presente trabalho avaliar analisar ou fazer uma avaliação das produções artísticas de
duas obras populares, analisar consiste em fazer um estudo das características de cada
texto, o crítico literário é o responsável por apontar os acertos e as falhas de
determinada produção em termos estéticos, linguísticos e retóricos.
É através das apreciações críticas que melhor se pode identificar as diferentes obras
literárias. Tendo em conta que os principais movimentos literários estão Barroco,
Arcadismo, Romantismo, Realismo, Simbolismo, Parnasianismo, Modernismo e
Concretismo. Durante a permanência de cada movimento, vieram a público várias obras
literárias que se calhar teriam surgido através da inspiração de outras obras, partindo do
pressuposto de que nenhuma obra literária surge sem a consulta de uma outra obra.
Entre os textos em análise pode não haver uma influência directa, mas podemos
encontrar neles semelhanças ou características que determinam a corrente que ambos
fazem partem.

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 Análise literária

Segundo Julia Kristeva, "todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é
absorção e transformação de um outro texto". (Kristeva, 1974, p.64).
Todo texto tem origem a partir de uma "colagem" de textos anteriores a ele. Ou seja, o
texto transforma-se e absorve novas ideias. Então, nos textos que analisaremos podem
não ocorrer a intertextualidade directa, mas aqui analisaremos de modo a abordar as
suas estruturas externas e internas. Então, por um lado temos o grande poema da
literatura brasileira, Canção do Exílio de Gonçalves Dias, que é popularmente
conhecido em Moçambique por ʺMinha terra tem palmeirasʺ e de outro lado temos o
poema português de Almeida Garrett ʺanjo ésʺ.

.1. Gonçalves Dias-canção do Exílio x Almeida Garrett-Anjo és.


.2. Estrutura externa:

O poema "Canção do Exílio" foi escrito pelo poeta Gonçalves Dias em 1843, quando o
poeta se encontrava em Portugal na cidade de Coimbra, o referido poema encontra-se no
livro Primeiros Cantos. Canção do Exílio é considerada por muitos teóricos como
sendo a obra-prima do autor, que era pertencente à primeira geração romântica da
literatura brasileira, sendo considerado um dos poemas mais famosos da língua
portuguesa. (Faraco & Moura, 1998, p. 100). Produzido numa época na qual se vivia
uma forte onda de nacionalismo, que se devia ao rompimento do Brasil com a colónia
Portugal.
E, Almeida Garrett (1799-1854) foi um poeta, português que teve um importante
papel como o iniciador do movimento romântico em Portugal com a publicação do
poema Camões. Almeida Garrett, foi o escritor que deu início ao romantismo
em Portugal. Um dos autores mais importantes da literatura do país, teve intensa
actuação também na vida política tido, por muitos especialistas, como o pai do
português moderno. No poema "Anjo és", Garrett, enaltece a mulher no Romantismo,
exagerando no poder da figura feminina.

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Nos poemas em análise, encontramos características marcantes do romantismo, como é
o caso de:
 O saudosismo
 O nacionalismo
 A exaltação à natureza
 A idealização da pátria.
 O exagero do sentimentalismo.
 Bastante descrição.
 Egocentrismo (o único tema a ser tratado é a figura feminina)
 Individualismo.

A ʺ Canção do Exílio ʺ na sua estrutura externa apresenta uma linguagem Apelativa,


Expressiva ou emotiva e também o poema é premonitório quando retrata acções futuras
como:
ʺ Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá
Diz se premonitório quando o eu-lirico manifesta uma previsão de uma acção futura,
neste caso o eu-lirico prevê voltar a terra natal, antes da sua morte.
Quanto ao número de versos apresenta cinco estrofes, das quais três são quartetos
(quatro versos) e dois são sextetos (seis versos), o poema tem no total vinte e quatro
versos. Gonçalves Dias, estava estudando direito em Portugal quando escreveu o
poema, reflectindo assim o sentimento de saudade e patriotismo. Como forma de
exaltação da natureza, Gonçalves dias usa termos que exprimem a grandiosidade e
beleza do Brasil, ele utiliza o termo "palmeiras" símbolo de riqueza; e "sabiá", um
pássaro que complementa a fauna de Brasil).
Segundo, Marques (2003, p. 79-93), A terra natal é vista um pouco de exagero, pois o
poema é estruturado em contrastar a paisagem do Brasil comparado com a terra do
exílio (Portugal).
O sentimentalismo, religiosidade, e o nacionalismo são as características presentes.
Enquanto, na obra anjo és, de Almeida Garrett, encontramos três estrofes composto na
primeira estrofe por 12 versos, 15 versos na segunda estrofe e na última estrofe 14, que
podem ser designados de estrofes irregulares ou bárbaros por possuir maior número de
versos. O poema apresenta rimas misturadas e opostas em cada uma das estrofes. O eu-
lírico neste poema expressa de uma forma amorosa os sentimentos que ele tem pela

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mulher amada, relatada no texto como se fosse misteriosa mas poderosa. Onde o autor
questiona se era anjo ou um ser. No entanto a outra característica presente no poema é o
individualismo e subjectivismo; o eu-lírico romântico trata dos assuntos de uma forma
pessoal, de acordo com o modo como vê e sente o mundo dizemos que sua arte é
subjectiva porque expressa uma visão particular da realidade. As terceiras
características que podemos encontrar também no poema são o culto a natureza;
podemos verificar que o eu-lírico usou fortemente a natureza com recurso de expressão
de seus sentimentos fazendo a citação dos elementos como “estrelas e rosas”.
ʺ Das alvas rosas do céu.
Cor de noite sem estrela…ʺ
Segundo, Fátima Marinho (Jpn, entrevista- 2005) Garrett, recria o estereótipo
feminino do romantismo, retratando a dualidade da mulher, que tanto é anjo, como
demónio, contando um pouco da sua experiência amorosa, no poema “Anjo és”, no qual
diz:
“Mas que anjo és tu
Em nome de quem vieste
De Jeová ou Belzebu?”.
Garrett, que viveu, na altura, amores socialmente condenáveis, como o relacionamento
adúltero que manteve nos últimos anos de vida com a Viscondessa da Luz.
Uma vez que os românticos da primeira geração ainda estavam muito ligados ao s
árcades.
Almeida Garrett (Português) e Gonçalves Dias (Brasil) estão entre os principais autores,
dessa época, da 1ª geração de românticos.

Rima e esquema rimático:


O poema canção do exílio apresenta a seguinte esquema e rima:

1ª Estrofe ABCD, 2ª Estrofe ABCB, 3ª Estrofe DEFE, 4ª ABCBDB e 5ª ABCBDB

Que determina a Rima alternada, por exemplo:

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

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Também há no poema repetições de palavras.

Quanto às figuras de linguagem existentes no poema, podemos observar, por exemplo,


nas expressões:

Comparação - “ As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.”

Metáfora - “Minha terra tem primores,”

Antítese - “ As aves que aqui gorjeiam”

Anáfora - “ Nosso céu tem...”, “Nossas várzeas tem...”, “ Nossos bosques tem...”, “
Nossa vida...”

Diferentemente do texto anjo és, onde apresenta versos com irregularidades


apresentando deste modo uma mistura de rimas, mas a determinante é emparelhada
apresentando também alguns recursos estilísticos como Eufemismo, gradação
crescente, personificação e metáfora, etc.

.3. Estrutura interna


Gonçalves das tinha duas características principais nas suas obras que eram o
nacionalismo e exaltação a natureza. A obra, Canção do Exílio pertence à primeira
geração romântica da literatura brasileira, como a referimos produzido numa época na
qual se vivia uma forte onda de nacionalismo, que se devia a separação de Brasil com
Portugal.

Na 1ª estrofe, do poema verificamos a presença da característica nacionalista, quando


o autor se refere do Brasil como ʺ Minha Terra…ʺ, na mesma estrofe encontramos a
exaltação a natureza se referindo da fauna e flora representada pelo Sabiá e as
Palmeiras:
ʺMinha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiáʺ
Na mesma estrofe o autor compara dois países diferentes, quando ele diz ʺ lá ʺ se refere
ao Brasil, e ʺ aqui ʺ se refere a Portugal, onde ele se encontrava quando escreveu o
poema.

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Na 2ª estrofe, no primeiro verso nota-se a idealização e ufanismo que significa elogiar
ou falar com orgulho sobre um lugar, uma coisa ou ate mesmo de uma pessoa, nesse
caso o autor exalta a pátria:
ʺ Nosso céu tem mais estrelas…
Nossa vida mais amores ʺ ….

Na 3ª estrofe, o autor expressa o sentimento de saudade destacando ainda, a solidão que


sentia em Portugal, ate mesmo que parecia estar inseguro naquela terra, precisando
assim que urgentemente fosse para a terra natal, e sentir aquele calor de casa, onde estão
os nossos amigos e familiares:
ʺEm cismar, sozinho, à noite
…Mais prazer encontro eu lá ʺ

Na 4ª estrofe, Gonçalves Dias retrata mais ainda a saudade ilusão e exaltação a


natureza, quando ele se refere:
ʺ Minha terra tem primores
Mais prazer encontro eu lá,
Minha terra tem palmeira
Onde canta o Sabiá
Aqui da-nos entender que em Portugal dificilmente ouve-se o cantar dos sabiás, talvez
haja por lá a entoação de outros pássaros nativos de Portugal.

Na 5ª estrofe retrata a saudade, o sentimento de retornar era tanto que ele escreveu: ʺ
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Inclusive notamos aqui a religiosidade.

No poema “Anjo és” do autor português Almeida Garrett considerado introdutor do


Romantismo em Portugal. O poema é composto por três estrofes, onde notamos a
exaltacao da figura feminina, diferentemente da obra de Gonçalves Dias.
No poema nota-se a dualidade que é um contraste de preto e o branco, um sim e o não,
como é o caso no verso:
ʺ Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu? ʺ Essa dualidade não encontra na obra de canção do exílio.

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Mas, na 1ª estrofe, nota-se a característica da primeira fase romântica. Assim, apesar de
aparentar resistência aos encantos e o poder da mulher, o eu-lírico se rende, e confirma
a submissão, na mesma estrofe, nota-se a presença do exagero sentimental e da forte
idealização da mulher, por exemplo nos versos:
ʺ Minha razão insolente
Anda humilde ao teu poder. ʺ
Anjo és tu, não és mulher
Anjo és. Mas que anjo és tu?

2ª Estrofe, o autor refere à valorização através de metáforas acerca de características da


mulher, nos versos:
ʺ Em tua fronte anuviada
Cor de noite sem estrela. ʺ

Na 3ª estrofe, o autor refere à mulher como anjo que está relacionado com a idealização
e religiosidade, com questionamentos feitos pelo poeta sobre o anjo-mulher pela qual
esteve sentido amores por ela, nota-se no trecho:
ʺEm nome de quem viés
De Jeová ou Belzebu?ʺ
Ainda nessa estrofe o eu-lírico demonstra a sua inteira rendição a este amor angelical,
que é característico no romantismo.
Ao decorrer de todo o poema um ponto de vista pessoal e singular do autor o que vem
a ser descrito como individualismo e subjectivismo.
Verifica-se no poema as seguintes figuras de estilos:
Gradação crescente -ʺQueima, abrasa, ulcera.ʺ
Anáfora - ʺ Jamais o teve mulher… Jamais o há-de ter em mimʺ
Personificação - ʺ Em que mistérios se esconde...Teu fatal, estranho serʺ
Eufemismo -ʺA chama é vivaz e é bela ʺ
Metáfora - ʺAnjo és tuʺ

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Anexo:

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Gonçalves Dias

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Anjo és
Anjo és tu, que esse poder
Jamais o teve mulher, Não respondes - e em teus braços
Jamais o há-de ter em mim. Com frenéticos abraços
Anjo és, que me domina Me tens apertado, estreito!...
Teu ser o meu ser sem fim; Isto que me cai no peito
Minha razão insolente Que foi?... Lágrima? - Escaldou-me
Ao teu capricho se inclina, Queima, abrasa, ulcera... Dou-me,
E minha alma forte, ardente, Dou-me a ti, anjo maldito,
Que nenhum jugo respeita, Que este ardor que me devora
Covardemente sujeita É já fogo de precito,
Anda humilde a teu poder. Fogo eterno, que em má hora
Anjo és tu, não és mulher. Trouxeste de lá... De donde?
Em que mistérios se esconde
Anjo és. Mas que anjo és tu? Teu fatal, estranho ser!
Em tua frente anuviada Anjo és tu ou és mulher?
Não vejo a c'roa nevada
Das alvas rosas do céu. Almeida Garrett
Em teu seio ardente e nu
Não vejo ondear o véu
Com que o sôfrego pudor
Vela os mistérios d'amor.
Teus olhos têm negra a cor,
Cor de noite sem estrela;
A chama é vivaz e é bela,
Mas luz não tem. - Que anjo és tu?
Em nome de quem vieste?
Paz ou guerra me trouxeste
De Jeová ou Belzebu?

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Conclusão
Nos poemas em estudo como é o caso do poema de Gonçalves Dias apresenta uma
visão romântica, exagerada e ufanista, a uma pátria perfeita que por sinal e a sua terra
natal. Já, na obra de Almeida Garrett apresenta o sentimentalismo; O eu- lírico expressa
de uma forma amorosa aos sentimentos que ele tem pela mulher amada, de uma forma
romântica, por outro lado, o sujeito poético vê que revela grande envolvimento
emocional. Ambos os textos pertencem a mesma corrente literária que e o romantismo
da 1ª geração, apesar o objecto de análise interior serem assuntos diferentes, nota-se
varias semelhanças nas suas c características, elementos, linguagem e estrutura física do
mesmo (versos e estrofes).

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Referências bibliográficas
 Faraco, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto. Literatura Brasileira. 15 ed.
rev. ampl. São Paulo: Ática, 1998.
 Kristeva, Julia. Introdução à semanálise.São Paulo: Perspectiva, 1974.
 Marques, Wilton José. O Poema e a Metáfora. Revista Letras, Curitiba, n. 60, p.
79-93, jul./dez. 2003.
 https://www.jpn.up.pt/2005/01/13/garrett-foi-um-marco-na-literatura-
portuguesa/.

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