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Poder Judiciário

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

RECURSO ESPECIAL EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 5002030-14.2014.4.04.7006/PR


RECORRENTE: FUNDACAO FACULDADE VIZINHANCA VALE DO IGUACU - FACULDADE VIZIVALI (RÉU)
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (AUTOR)
RECORRIDO: UNIÃO - ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO (RÉU)
INTERESSADO: ESTADO DO PARANÁ (RÉU)
INTERESSADO: IESDE BRASIL S/A (RÉU)

DECISÃO

De saída, registro que no presente caso não se aplica o Tema 928/STJ,


porquanto a questão jurídica envolve a legitimidade da IESDE BRASIL S/A (RÉU).

Por outro lado, é de rigor consignar que o Tema 928/STJ estabelece a


legitimidade da União, Estado do Paraná e Vizivali, conforme seu envolvimento na
responsabilidade.

Decido.

Trata-se de recurso especial interposto com apoio no art. 105, III, "a" e "c" da
Constituição Federal, contra acórdão proferido por Órgão Colegiado desta Corte, ementado nos
seguintes termos:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ENSINO SUPERIOR. CURSO SEMIPRESENCIAL REALIZADO PELA


FACULDADE VIZIVALI NO ÂMBITO DO PROGRAMA ESPECIAL DE CAPACITAÇÃO PARA A
DOCÊNCIA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDMAMENTAL E DA EDUCAÇÃO
INFANTIL INSTITUÍDO PELO ESTADO DO PARANÁ. PEDIDO INDENIZATÓRIO.
INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PRECEDENTES DO STF.
SENTENÇA EXTINTIVA. REEXAME NECESSÁRIO. IMEDIATO JULGAMENTO (TEORIA DA
CAUSA MADURA). ART. 1.013, § 3º, DO CPC/2015. LITISPENDÊNCIA. RECONHECIMENTO
PARCIAL. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL.
INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE. TEMA STJ Nº 928. DANO MATERIAL.
PROFESSORES COM VÍNCULO FORMAL. IMPROCEDÊNCIA. DANO MORAL.
PROCEDÊNCIA. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. Na esteira dos precedentes do Supremo Tribunal Federal, há de ser conformada a decisão


proferida ao entendimento pelo qual se reconhece o interesse da União em demandas que digam
respeito às consequências das condutas comissivas ou omissivas relacionadas à expedição de
diplomas por entidades integrantes do Sistema Federal de Ensino, ainda que a pretensão seja
limitada ao pagamento de indenização, atraindo, com isso, a competência da Justiça Federal nos
termos do art. 109, I, da Constituição Federal.

2. De acordo com o art. 1.013, § 3º, inciso I, do CPC/2015, o Tribunal deve decidir desde logo o
mérito quando reformar sentença que extingue o feito, sem resolução do mérito, desde que o
processo esteja em condições de imediato julgamento (teoria da causa madura).

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3. Consoante já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por "aplicação analógica da primeira
parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças de improcedência de ação civil pública
sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário" (REsp 1.108.542/SC, Rel. Ministro Castro
Meira, j. 19.5.2009, DJe 29.5.2009). Nesse sentido: AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 25/04/2011.

4. A emenda à inicial apresentada pelo autor após determinação do juízo para adequação do
pleito ao que decidido pelo STJ no REsp 1.344.771 é acolhida parcialmente apenas quanto à
inclusão da União e do Estado do Paraná no polo passivo haja vista a impossibilidade inovação
nos pedidos e na causa de pedir disposta no art. 264 do CPC/73 aplicável à época da prática do
referido ato processual.

5. Nos termos dos artigos 5º, I, da Lei n. 7.347/1985, e 82 da Lei n. 8.078/1990, o Ministério
Público ostenta legitimidade para propor ação coletiva que vise à proteção de interesses ou
direitos difusos, interesses ou direitos coletivos e interesses ou direitos individuais homogêneos.

6. O Termo de Convênio entre a Vizivali e a Iesde Brasil S/A não atribui a esta legitimidade
passiva na medida em que tinha por finalidade o desenvolvimento de ações conjuntas para a
implantação e a oferta, pela instituição de ensino, do Programa de Capacitação de Docentes,
sendo, pois, daquela entidade, a legitimidade passiva por ter permitido a matrícula de alunos
que não se adequavam à autorização recebida pelo órgão estadual.

7. Para que se caracterize a litispendência há a necessidade de que a ação na qual arguida a


causa impeditiva apresente as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido
daquela ação já em curso (art. 337, §2º e §3º do CPC).

8. Registra-se que a jurisprudência do STJ possui entendimento de que, nas ações coletivas, "por
se tratar de substituição processual por legitimado extraordinário, não é necessária a presença
das mesmas partes para configuração da litispendência, devendo somente ser observada a
identidade dos possíveis beneficiários do resultado das sentenças, dos pedidos e da causa de
pedir". (REsp 1.726.147/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 14/05/2019, DJe 21/05/2019)

9. À época do ajuizamento desta ação já não mais vigia a Portaria nº 634/2004, que havia
prorrogado a vigência da autorização dada pelo Conselho Estadual de Educação do Paraná à
Vizivali para a oferta do aludido curso e, além disso, já havia sido exarado o Parecer CNE/CES
nº 139/2007, o qual veio a encerrar a discussão acerca da competência para aquele ato
autorizativo, reconhecendo a incompetência da autoridade que autorizou sua oferta, impedindo,
portanto, a continuidade daquela situação fática, tornando desnecessário a veiculação em
âmbito judicial de pretensão relativa à lide já pacificada no âmbito administrativo.

10. Conformando o entendimento da 2ª Seção desta Corte à tese fixada pelo Superior Tribunal de
Justiça relativa ao Tema 928, a responsabilização pelo pagamento da inedenização por danos
morais deve ser assim observada: (a) a União é responsável exclusivamente pelo pagamento da
indenização aos alunos que detinham vínculo formal como professores perante instituição
pública ou privada; (b) a União e o Estado do Paraná são responsáveis de forma solidária pela
indenização aos alunos que detinham vínculo apenas precário perante instituição pública ou
privada; (c) a Fundação Faculdade Vizinhança Vale do Iguaçu - Vizivali é responsável pela
indenização relativamente aos alunos estagiários. O valor da indenização em todos os casos é
fixado em R$ 10.000,00 (dez mil reais) nos termos do precedente desta Corte.

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11. Tanto à condenação imposta à Vizivali como à Fazenda Pública, tratando-se de indenização
extrapatrimonial, a correção monetária há de ser observada a partir da quantificação do
montante indenizatório (Súmula 362 do STJ), devendo-se em relação à primeira observar os
critérios previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal e, em relação à Fazenda Pública, aplicar-se o IPCA dada a tese fixada pelo STF ao
julgar o Tema 810.

12. Com relação aos juros de mora, a condenação imposta à Vizivali também observará os
critérios previstos no Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça
Federal, os quais deverão ser computados a partir de sua citação tendo em vista a
natureza contratual do litígio, não se aplicando ao caso a Súmula 54 do STJ.

13. Distintamente se dá no que tange à origem dos danos morais causados pela Fazenda
Pública, pois não há relação contratual na espécie, atraindo, assim, o conteúdo da Súmula 54 do
STJ, a fim de que os juros moratórios sejam contabilizados a partir do evento danoso,
observando-se sua fixação em parâmetros idênticos aos juros aplicados à caderneta de
poupança dada sua constitucionalidade, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
artigo 1º-F da Lei 9.494/1997 com a redação dada pela Lei 11.960/2009.

Sustenta a parte recorrente, em sede preambular, a nulidade do acórdão


impugnado, por suposta persistência das omissões apontadas nos embargos, configurando-se
violação ao disposto no art. 1.022, II, do Novo CPC. No mérito, discorre sobre tema
relacionado com os fundamentos do acórdão ora impugnado.

Em que pese a alegação de afronta ao art. 1.022 do Novo CPC, tendo em conta a
ausência de suprimento da omissão indicada nos embargos declaratórios - ainda que opostos
para efeito de prequestionamento - cumpre observar, quanto à questão de fundo, que o presente
recurso não reúne as necessárias condições de admissibilidade, tornando despiciendo o exame
da violação, em tese, ao apontado dispositivo infraconstitucional, consoante se infere da
fundamentação.

A pretensão não merece trânsito, pois o acórdão impugnado harmoniza-se com a


jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de Justiça, incidindo, na espécie, o óbice da
Súmula 83 (não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do
tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida), que se aplica também ao
permissivo do artigo 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal.

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE. DEMANDA ENVOLVENDO INSTITUIÇÃO
PARTICULAR DE ENSINO SUPERIOR. EMISSÃO DE DIPLOMA.
INTERESSE DA UNIÃO. CASO CONCRETO. DEMANDA INDENIZATÓRIA. EXPEDIÇÃO DE
DIPLOMA PREJUDICADO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. ARGUMENTOS
INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE MULTA.
ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015.
DESCABIMENTO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime
recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. In
casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 2015.

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II - A jurisprudência desta Corte Superior definiu que, nas causas que envolvam instituições de
ensino superior, a União possui interesse, a ensejar o reconhecimento da competência da Justiça
Federal, quando se tratar de registro de diploma perante o órgão público competente, incluindo
o credenciamento junto ao Ministério da Educação. Por outro lado, não há falar em interesse da
União nas ações que digam respeito a questões privadas concernentes ao contrato de prestação
de serviço firmado entre essas instituições e seus alunos, sendo estas processadas e julgadas
perante a Justiça Estadual.
III - A 1ª Seção desta Corte, em recente julgamento (08.11.2017), julgou o Tema Repetitivo n.
928, nos Recursos Especiais Repetitivos ns. 1.487.139/PR e 1.487.719/PR, da relatoria do
Ministro Og Fernandes, reconhecendo: (i) que a União é responsável, civil e
administrativamente, e de forma exclusiva, pelo registro dos diplomas e pela consequente
indenização aos alunos que detinham vínculo formal como professores perante instituição
pública ou privada, diante dos danos causados; e (ii) que a União e o Estado do Paraná são
responsáveis, civil e administrativamente, e de forma solidária, pelo registro dos diplomas e pela
consequente indenização aos alunos que detinham vínculo apenas precário perante instituição
pública ou privada, diante dos danos causados.
IV - A presente demanda foi proposta em face do Estado do Paraná, da Faculdade de Vizinhança
do Vale do Iguaçu - VIZIVALI e IESDE Brasil S/A (fls. 06/27e), os autos tramitaram inicialmente
na Justiça Federal suscitada, a qual à vista da Autora ter recebido o diploma, reconheceu a
perda superveniente do interesse processual do pedido de entrega do diploma e excluiu a União.
Conflito de Competência reconhecido, para para declarar competente o Juízo suscitante - o
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
VI - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a decisão recorrida.
V - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, § 4º, do Código de Processo
Civil de 2015, em razão do mero improvimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo
necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou improcedência do recurso a
autorizar sua aplicação, o que não ocorreu no caso.
VI - Agravo Interno improvido.
(AgInt no CC 161.407/PR, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 29/10/2019, DJe 04/11/2019)

Por outro viés, nos termos delineados, não socorre melhor sorte os ditames das
Súmulas 5 e 7 do STJ.

Por fim, observo que a parte recorrente não combate os fundamentos do acórdão
esgrimido de maneira frontal, direta e objetiva, o que atrai a incidência das Súmulas 283 e
284/STF.

Ante o exposto, não admito o recurso especial.

Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por FERNANDO QUADROS DA SILVA, Vice-Presidente, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de 2010. A conferência da
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php,
mediante o preenchimento do código verificador 40003169949v5 e do código CRC 5f9b6200.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): FERNANDO QUADROS DA SILVA
Data e Hora: 5/4/2022, às 15:52:6

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