Direito Processual Civil

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CONCURSO DE CREDORES

Decorridas as fases dos articulados e da penhoçà, inicia-se, em regra, a fase do concurso de


credores, que é o objecto da exposição subsequente, embora esta fase corresponda a um
enxerto de qrna acção declarativa que corre os seus termos por apenso a acção executiva.

Nesta fase tem lugar, não só a convocação dos credpres, mas 'também convocação do cônjuge
do em certos casos.
o Cód. Proc.' Civil regula o concurso dos credores nos arts. 864.0 a 871.% podendo nesta
regulamentação distinguirern-se os seguintes após penhora, reclamações, verificação e
gra*duação dos créditos.
CITAÇÕES FINALIDADES
a) Junção da certidão de direitos, ónus e encargos.
O art. 8641.° , n.° 1 faz referência a'uma ceitidão de e encargos inscritos que deve ser junta ao
processo pelo exequente.

Porém, este preceito refere a possibilidade de essa junção não ser necessária, pelo que se deve
entender que aquela certidão só deve ser junta ao processo quando na acção executiva
tiverem sido efectuadas , penhoras sujeitas a regist0é
Isto é assim porque se torna necessário comprovar que esse registo foi efectivamente feito, o
que se consegue mediante a referida certidãQ de direitos, ónus e encargos 'inscritos, do qual
constam as pessoas que tern direitos sobre os bens penti0tados (quer direitos reais de gozo,
quer direitos reais de garantia),

b) Citações e finalidades
As citações a que se refere o art. 864,0 basicamente, a dois grupos: por lado, ado cônjuge
reconduzem-se,do executado e, por outro lado, a dos seus restantes creçlores, em
determinadas cõndiçõee-
Sempre.que haja 'lugar citação do cônjuge dó executado, nos termos .da ai. a) do n.0 t do art.
864, 0, pode concluir-se que a execuçüo foi apenas proposta contra dos cônjuges.
Esta citação tem lugar em duas situaçóes distintas:
- Por um l?do, cita-se o cônjuge do executado quando a penhora tiver recaído sobre bens
imóveis que o executado não possa alienar livremente, o que pode suceder quando a iodos os
imóveis o regime de bens do caSamento não for o da separação - art. 1682.0-A, n.0 1, als a)
do Cód. Civil -ecom acasa de morada de família- art. 1682.0-A, n.0
2 do Cód. Civil, embora a lei tenha em vista sobretudo os bens imóveis próprios do cônjuge,
já quê quanto aos bens comuns, estes estão previstos no arti 825. 0 , adiante referido:
Esta citação tem como finalidade permitir ao cônjuge participar nu
fase de alieriação 'executiva desses imóveis, assegurando assim a intervenção do casal ( 86).
- Por um lado, deve citar-se o cônjuge do executado quando o exequente utiliya a.faculdade
do art. 825,0, n.0 1 (penhora de-bens comuns), embora esta citação tenha lugar ainda na fase
da penhoral

Ponto controverso era, antes da revisão do o de sabei qual a medida dos poderes processuais
do cônjuge do executado.

(86) No fundo Cuma exigencia congénere da prevista no actual artigo 283A do Cód. de
Processo Civil, embora não destinada a assegurar g legilimidade.
167

A este respeito alguns autores entendiam que o cônjuge, 'Orno parte principal, podia
contestár os créditos reclamados,

Actualmente, o artigo 864.0-B„'intróduzido pelo Dec. Lei 329* A/95, define o âmbito do
estatuto processual do cônjuge do executado, conferindo-lhes podeteS para deduzir a
oposição à penhora e exercer, após a sua citação, os mesmos poderes que a lei concede ao
execÚtado,
Atém do ç6njuge do executado, determinam as alíneas b), c) e d) do n: I do art. 864.0 que
sejam citados, respectivamente, ot credores conhecidos comagarantia real sobre os bens
penhorados, as entidades fiscais que representem a Fazenda nacional (que pode ser çredOra
priyilegiêda) e;por último, os credores desconhecidos (que têm também de ser titulares de
uma garantia não sujeita@registo e, por
1. da certiéão de
O actüal- artigo 864.0:A, introduzido pela ,revisõo do estabêI€¿€Aiae20 juiz poderá
dispensar a convocação destes crédotes, quand6 a penhora tenha incidido apenas sobre
vencimentos, abonos ou -z pensõesou quando tenha sido penhorados'm6veís não sujeitos a
registo e de Eduzido valor, não conste dós autos'que sóbre eles incidamdire4tog reais de
garantia.
No entanto; o credor que tiver garantia real sobre es_tes bens poderá vir a reclamar o seu
crédito, espontaneamente, até à transmissão -desses bens.
2. Também o n.0 1 do artigo 2.0 do Decreto Lei n.0 274/97 de 8 de OutubrO, não
admite, regra geral, esta reclamação de créditos, nas execuções baseadas em qualquer título
(judicial' ou extra judicial) destinadas a pagamento de quantia certa, de valor não superior à
alçada

da I.E instância,-se a penhora recair sobre bens móveis ou direitos que não tenham sido dados
ern penhor, com excepção dC) estabelecimento comercial. Eicepcionalrnente, a referida
reclamação é admitida 'nos' caso; previstos no n.0 2 daquele artL 2,0.

(87) J. A. Reis, ob. cit., págs230 e 231 e Lopes Cardoso "Manual da Acção•Executívg", púge
496.
168

No Código de 1939 admitia-se nesta fase a dos • credorescomuns, juntamente com os


privilegi ados (isto é detentores de garantias reais).
Ó sistema aétual, que admite, exclusivamefite, a payticipação dos credores privilegiadós,
pretende evitargue os pagamentos que surgirão na acção executiva venham a prejudicar as
preferências que as garantias reais conferem aos seus detentores.
No entanto, ó legislador foi suficíentemente equilibrado (8%), para 'não cair na solução
oposta (a de a execução sátisfazer_apenas o crédito do exequente).
Se tal sucedesse, a falta de intervenção dos credores privilegiados determinaria a perda da
protecção-especial cônferida pelas garantias
Com efeito, os bens penhorados sobre ous quais incidem as garantias reais são alienados na
acção executiva livres dessas garantias, as quais cadücam sobre esses bens, pass-ando a ter
por objecto o_produto d-as alienações (art.• 824- 0 do Código • Civil)Ç este preceito da lei
substantiva é o que explica a razão de ser do concurso dé credoreS no actual Cód. Proc. Civil.
Mas a lei não desprotegeu os CreãOres comuns; a estes está assegurado o recurso a uma
acção executiva ou então ao processo especial de recuperação da empresa ou de falência do
devedor, que poderá determinar uma execução universal com participação de•todos os
credores abrangendo todo o património do devedor.
Por tudo isto pode dizer-se que o sistema actual da nossa lei i assenta nurna execução
tendencialmente mista ( 90), ( 1) 1 ) .

3. Castro Mendes, ob. cit., pág. 1 58.


4. No fundo trata-se daco?respondência, no plano processual,àrazüo deserdas
garantiasltais, expressa na lei civil, cuja finalidade é precisamente a de proporcionar.com
aquele intuito,. urna protecção suplementar do intereSse do credor; J. A, Reis, ob. cit.,
5. Não se trata, consequentemente, de um sistema de execução colectiva, máS:tañhbém
não se configura como sendo urna execução singular pura. U 174.
Vide quanto ao direito comparado, A decastrd, ob. cit., pá..

SO- CONFIGURAÇÃÓ JURIDICÁ DO—€ONCURSO DE


CREDORES
Através da con€ocação destes credores privilegiados euabele cem-se'relaç6es processuais,
não só entre os-convocados e o executado, mas também entre eles e o exequente, atém das
rélações que se estabelecem entre os credoies assim chamados à execução, entre si,
No entanto, saliente-se, que a essas relações processuais s6 corkespondem telações de direito
substantivo entre o exequen!e e o executado e entie este e os réfe-ridos credores; nas relações
•entre os credores entre si, e entre estes e o exequente, apenas existemnaços processuais,

O concurso de credores Cria, assim, um cohflito entre os vários credores e o exequeñte,


sendo certo queeste conflito se situa tão somente no plano fáctico, e não no plano jurídico,
pois resulta da circunstância de todos quererem -obter pagamento pelos. mesmos -bejs, que
podem revelar-se insuficientes para o efeito.
Esta situação explica que cada credor e o exequente tenham interesse processual e
legitimidade para impugnar os créditos dos restantes (90). •
Alguns autores„proVavelrnente motivados por estasituação de pluralidade de partes e de
pedidos na execução (coligação "sui generis"), embora de incidência meramente processual,
formularam teses que apontavam para algo semelhante a uma comunhão "pro indiviso", que
cessaria depois dos pagamentos.
Este entendimento não é, no entanto, aceitável, pois não se . verifica urna cornunhão
substantiva entre os credores e o exequente, mas
(92) É claro que cada um dos credores convocados só tem interessee legitimidade para
impugnar os créditos de•outro ou outros credores com garantia real sobre o mesmo ou
mesmos bens sobre os quais incide a garantia real'do impugnante.

tão somente relaçóes substantivas entre os credores (e una lado, e o executado, por outro lado.
51 • AS GARANTIAS REAIS E SEMELHANTES QUE SER-
VEM DE FUNDAMENTO À INTERVENÇÃO DOS CREDORES
SegUndo um certo entendimento doutrinal, poderão considerar-se dois casos:
| Caso) Garantias reais
a) Hipotecas•c
-Legais (arts. 704, 0 a 709.0 do Cód. Civil); . • - Judiéiais (artS 710.0 e 71 1 . 0 do Cód.
CivilY,noutr
- Voluntárias (art. 712.0 a 717. 0 do Cód. .Civil)',
b) Consignação de rendimentos (arts. 656.0 e segs. do
c) Pênhor - (arts. 666. 0 e segs. do Cód. Civil);
d) Privilégios creditórios (arts. 733. 0 e
e) Direito de retenção (arts. 754.0 e quandohncide sobre móveis tem os mesmos
'do Cód. Civil) e sobre imóveis, da hipoteca
f) Arresto não convertido em' penhora (art. 622. 0 , n.0 2 do Cód.
Civil;
g) Penhora (quando efectuada sobre os mesmos bens noutra acção

executiva) (93)
2.0 Caso) Preferências resultantes da separaç¿io de patrim6Hlos

Estas Situações sãb equiparadas por algums autores para p efeito de citação dos credores, às
gaiañtias. reais, embora de admissibilidade duvidosa.
São fundamentálrnente dois casos:
- - A separação do património próprio e comum dos%cônjuges (dada a preferênciãdos
credores comuns/dos cônjuges sobre os bens cornuns do casal* deVefn estesiparticipar na
execução movida contra Vim dos cônjuges@uando sejag) penhorados bens.corrñns) ( 94).
: A,Separação do património do "de cujus" e do próprio herdeiro; (devem intervir os
credores da herança, dada a preferência de que gozam sobre os credores pessoais do herdeiro,
quandO se trata dê penhorar bens da±erança em execução por dívidas próprias do herdeiro)
(art. 2070. 0 do Cód. Civil) e5) (96)
FORMAS DE CITAÇÃO DOS CREDORES
A forma de citação é variável, consoante se trata de credores conhecidos ou desconhecidqs
O conhecimento.da existência dos credoies opera-se pela certidão de direitos, énus e
encargos inscritos no registo, a cuja função já fizemos féferência,
(93) Dada a possibilidade de os mesmos béns poderem ser objecto de diversas penhoras etn
processo: difereptes (víde art. 871 to do C,P.C.).

(94) A. de Castro, ob. cit., pág. 179; embora este regime não esteja expressnrnente
consignado na lei, seria uma coñsequência da afectgçno do património comum às dfvidns
cotrwns do casal,
6. Ae.de Castro, ob. cit., pág.' 179 a 180,
L L. de Freitas,.ob, cit., pág, 256, em sentido contrário,

Tratando-se de, credoreres conhecidos (isto é, cujos direitos, por.


estarem sujeitos a registo, constam da referida certidão), a citação fazse no domicílio que
consta do registoou em outro q-úe seja conhecido ( I .a parte do n.0 2 do art. 864.0 do
C.P.C.).
Se, pelo contrário, houver que citar credores desconhecidos, ou sucessores dos credores
preferentes, já a citação.se faz pela forma edital (à.a parte do n.0 2 do art. 864.0).'
53 EFEiTOS DA CITAÇÃO Dós CREDORES
Se algü ns dos credores citados não fizer réélamação do seu Crédito, não obstante -terem
'Sido cumpridas todas as formalidades do- seu chamamento à execução, nomeadamente da
citação, coloca-se numa situação de revelia ( 97) que tem como principal efeito a perda da
garantia real ou semelhante.
Mantém-se o direito de crédito despido da protecção especial de que anteriormente gozava
(9.8).
Esia Solução explica-se melhor à luz do princípio já referido de que a transmissão dos _bens
penhorados se opera, com estes livres -de quaiSquer ónus o encargos (art. 824.0 do Código
Civil).
54 - -CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE CITAÇÃO DOS CREDORES
As consequências da falta de citação dos credores estão prévistas no arte 864,0, n.0 3.
(97) Revelia a que Anselmo de Castro (ob. Cit., pág. 186)
(98) Passa a ser o credor comum, e não já privilegiado.
173

A lei equipara a falta de citação do credor na acção executiva, à falta de citação do réu na acç\
o declarativa.
Consequentemente, trata-se de uma nulidade deq grau, prevista n-o art. 194.0, ale a) e que
tem com efeito a anulação de todo o processado posteri0F à irregularidade (vide no
entanto'solução diferente sustentada
por Anselmo de Castro - ob. cit.,' pág. 1841 87).
Verifica-se, apesar desta equiparação de regime, uma excepção, dado que as vendas,
adjudicações, remições ou' mesmo pagamentos já efectuados são considefados válidos, desde
que o exequente não tenha sido -o exclusivo heneficiáÊio.-Se, pelo contrário, tais actos
apenas resultam em faç•or do exequente, mantérn-se a regra geral de equiparação de efeitós,
considerando-se, portanto, que eles estão feridos de nulidade:
Na hipótese dê as vendas, adjudicações ? remições e pagamentos serem tónsiderados válidos,
o credor não citado- tem o direito de ser indemñizado pelo exequente, pelo dario que haja
sofrido, como consequência de não ter•podido Obter o pagargento que lhe era devido atenção
à preferência inerente à sua garantia real que cauucou-
Este regime tem a sua justificação no princípio da auto-responsabilidade do exequente na
acção executiva, que o responsabiliza pelo seu andamento e regularidade.
É assim justificável que o exequente sofra as consequênáias das omissões e irregularidades
nela ocorridas, havendo quem afirme que tar responsabilidade é objectiva (não é sequer
exigível culpa), solução no
entanto controversa e que suscita reservas, dada a natureza excepcional da responsabilidade
objectiva
Por fim, assinale-se a possibilidade do Conhecimento oficioso da falta de citações de
credores, em qualquer estado do processo executivo,
Castro, ob. cit., pág- .1 88.

como resulta do disposto nos artS•, 202.0 e 2CÍ4.0 , ri. 0 2 do Cód. Péoc. Civil crunnto falta
de citaçÃô do réu, por reiniss{io Fara o art. 1 94. 6
55 RFCV,AMAeÃO VERIFICAÇÃO CRÉDITOS
55.1. PRAZO FARA AS RECLAMAÇÓES
O prazo geral de que dispõem os credores para reclamarem os seus créditos é de 15 dias, a
contar da sua citação, conforme dispõe o art. 865.0, n.0 2 do Cód. Proc. Civil; acrescenta este
preceito.que o prazo será de 25 diasi se se tratar de. créditosda Fazenda.Nacional,
cu•ja.reclamaç'ãQ compete ao Ministério Públicdi em sua representação.
REQUISITOS
Mas não basta, para reclamar créditoS numa acção executiva, que -o credor esteja munido de
uma garantia real.
Este será, apensas, um dos requisitos Substantivos exigidos por lei/ além de outros 'que
iremos analisdr.
Com efeito, exige também o . 0 , n.0 2, que o credordisponha de um título executivo.
A falta de título executivo é, porém, 'suprível, na medida em que o credor pode tgrnbéril
pedir, dentro do prazo para a reclamação, que a graduação dos créditos aguarde,
relativamente aos bens sobre os quais incide a sua garantia, que ele obtenha, em acção
própria, sentença exequível (art. 869.0, n.0 1) e portanto um título executivo judicial
(sentença condenatória). Vide, adiante, n.0 55.5.
Por lil(irno, como requisito final, o créditói\que se reclamür deve ser certo e líquido (art.
865.0, n.0 3 détC,P.C,),.
175

Note-se quê a lei, eal rela-ção aos -requisitos que-exigia-para a obrigação exequenda,
apresenta aqui um desvio, ao dispensar a exigibilidade do crédito a reclamar ( IDG).' Assim
se compreende o art. 868.0; n,0 3, que preceitua que a sentençq de graduação deve determinar
que , na cônta final para pagamento, se efectue o desconto cprrespondente ao- benefício da
antecipação,
Quanto à certeza e liquidez do crédito reclamado, eStabelece o art.

865:0, n.0 3 que, na falta de alguma' daquelas características, dispõe o credor reclamante dos
mesmoS meios de que dispõe o-exequente para tornar a•obrigafão certa•e líquida, ou•seja
dosnineiOS previstos nos arts.• 803. 0 e seguintes - -Vide supra, n:os 37 a 39.
Atenta a- dificuldade que pode existir em usar desses meios dentro do prazo para reclarfiàr-o
seu crédito? deverá entender-se que na própria petição de reclamação poderá formular o
pedido de liquidaçãó ou formular os pêdidos Érevistos no art. 803. 0 para tornar certa a
Em resumo, constituem pressupost'os específicos da reclamação de Créditos na acção
executiva, a existência de garantia real sobre os bens penhorados (art. 865. 0, n. 0 1), a
existência de título executivo (art. 865.e, 3)?
Os dois últimos requisitos, como se viu, têm apenas de ser susceptíveis de verificação no
momento da reclamação, já que a sua verificação pode ser posterior (art. 869. 0 , n. 0 e art.
865. 0 , n.0 3 "in fine", respectivamente para o título executivo e para ter à certeza e liquidez).
Mas existern outros requisitos para a' reclamação de créditos, embora agora de índole
exclusivamente proeesSuaI,

(100)A não exigência do requisito da "exigibilidade do crédito", justifica-se pela natureza


imperativa. do concurso de credores; os Credores reclamnrn os ;eus créditos, $lão por sua
iniciativa, mas em face dà convocação imposta por lei, atento O princípio da caducidade das
garantias reais com a alienação executiva (art. 824.0 do C. Ciyil),

Assim, a petiçio de rectamaçno de créditos deve obedeqer aos requisitos de forma e de


conteúdo de uma petiçno inicial, o que se justifica na medida em que vai iniciar urna ncçno
declarativa enxertada na execução.
De encue estes uequisiios saliente-se, entre outros, a deduçao da fundamentação por artigos
numerados (art. 15 1 .0, n.0 2 do apresentação de um duplicado destinado ao tribunal (os
restantes duplicados parece que são dispensáveis, até porque não se sabe ainda. ao certo,
quais serão as partes contrárias) - vide art. 152,0.
O credor reclqmahte deve ainda indicar a origem e 9 montante•do seu crédito, juntar se
possível o título executivo e precisar qual a garantia real de que desfruta.
Por último, nos termos do art. 60. 0, n.0 2, a petição pode ser assinada peto próprio
credor,'dado que apenas se exige o patrocínio judiciário se o crédito reclamado for de valor
superior à alçada da instâñcia e vier a ser impugnido e a partir do momento da impugnaçao,
para o credor reclamante poder responder a essa impugnação ( tot).
55.3. TRAMITAÇÃO
O credor reclamante deve pagar, nos I O dias subsequentes à apresentação da petição na
secretaria do tribunal, taxa de justiça inicial for devida. Todas as reclamaçóes apresentadas
sao incorporadas num apenso à execução,

pelo que o processo de reclamaçao é materialmente diverso (artigo 865, 9, n.0 4),
Este regicne ju stjfjca-se para que, na medida do possível, a execuçáo possa prossegui' os
seus termos com autonomia, o mesmo se
( O I ) O art. 60.0, 2 ref e 'c upenos para afgec:iuçiodele", Oca a apreciação pelo juiz da
existencia do crédito rectatnado só é necessária, em regra, se a reclamação tiver sido
868', 2 e 4)

com o apenso de verificação e graduação de créditos.


O processo em apenso é posteriormente concluso ao juiz, para q-ue este profira-despacho
liminar, o qual, nos termos do art. 866. 0, n. 0 J 'pode ser de .admissão ou de reJeição das
reclamações apresentadas; mas poderá
ser ainda despacho de aperfeiçoamento (art. 81 1 . 0 B). Se a opção for no sentido da rejeição
liminar da petição da reclamação, é aplicável, paralhe -servir de fundamento, o disposto no
artigo 81 1 A, quanto ao
indeferimento liminar do xequerimento inicial do exequente.
As reclamações de Créditos qu.e forem aceites liminarmente são, seguidamente, notificadaS
ao eEquente ? ao executado (artigó 866.0, n.0 2).
'Feitas as notificações a que houver lugar, o exequente e o executado podem contestar ou'
impugnar as reclamações de créditos no prazo de l*dias (art. 86&.6-, n. 0 2). Idêntica
possi.bilidade 'conferida pela lei aos credores que desfrutem de•garantiareal sobre os
mesmo•S bens (Sôbre os quais incidiam as garantias reais dos credores reclamantes) art.
8660, n. 0 '3 - na medida ern que -só esses podem vir a ser prejudicados ( 102).
A fundamentação das impugnações dos créditos reclamados varia consoante a natureza do
título executivo que certifica o crédito a impugnar, de acordo com o estabelecido no n.0 4 do
artigo 866.0, entendendo-se que é aplicável o mesmo regime dos fundamentós dos executado,
e. além destes', os destinados a impugnar a existência da garantia real.
Na sequência do processamento deste apenso de verificação e graduação de crédi tos, podem
ser apresentadas reSpostas às impugnações,
•previstas• no art. 867.0 e os credores reclamantes, ora impugnados,
(J 02)0 preceito é pouco claro, na medida em que parece [ião exigir a notiticação aos credores
da decisão liminar do jyiz sobre as reclamações. Mas o n.0 3 do art. 866.0 equipara-os ao
exequente, -para efeitos do prazo de impugnação, pelo que deve entender-se. que também os
credores deverão ser notificados,
178

podem responder no prazo&de IO dias a contar da data em que notificados das impugnações,
sa quando estas contiverem defesa por excepção e, portan¿o, só quanto a esta defesa.
Para -a apresentação dêste articulado, o patrocínio judiciáfio já pode ser obiigatório [Cfr. art.
60,0 , n.0 2;' vide, supra, nota (101)].
A falta de impugnação tem como efeito o reconhecimento dos créditos não impugnados, sem
prejuízo do conhecimento de questões justificativas da rejeição liminar e.das excepções
ao_efeito cominatório da revelia vigentes no processo declarativo (n. 0 4 do. artigo "868.0).
Estas excepções, após .a revisão da C.P;C., são as previstas no artigo 485.0 , embora só para
o efeito cominatório semi-pleno, dado ter sidó suprimido o efeito cominatório pleno.
Terminada esta fase dos articulados, - há lugar a um despacho saneador,- no qual devem logo
ser reconhecidos os créditos que o poderem ser, ou por não terern sido impugnádos Qu
porque o juiz pode desde logo reconhecê-los, em função das proVas produzidas até aí (art.
868. 0 , n.0 1 , 2.2 parte e n. 0 2).
Se por hipótese todos os créditos reclamados estivessem nesta situação, proferir-se-ia logo
sentença que conhecesse da sua existência e efectuasse a gYaauação (art. 868. 0 , n.0 2).
Mas esta hjpótese será de rara verificação, pelo que, normalmente. haverá lugar a instrução,
discussão e verificação de créditos não reconhe-

cidos no saneador, conforme dispõe o n. 0 1. do art. 868. 0 (I . a parte).


Corn efeito, seguir-se-ão, após o saneador, os termos do processo declarativo, sumário,
posteriores fase dos articulados.
179

55.4. GRADUAÇÃO FINAL DE TODOS OS CRÉDITOS


A graduação dos créditos•reclamados só se faz depois de se S}ber aqueles que, feita a
verificação ou reconhecimento, pódem ser efectivaniente Satisfeitos na acção executiva (art.
868. 0, n. 0 1 , 2? parte). A graduação dos c.rédito.s constitui parte da decisão final deste
'ápenso de verificação e graduação de créditos, que correu' em apenso ao processo executiva
(a outra parte é a do reconhecimento dos créditos).
A graduação Faz-se em separado para os móveis e imóveis, e segue basicamente as regrasdo
direito substantivo.
entanto, pélo produto da vendados beñs penhorados na aêção executiva são sempre•pagas em
primeiro lugar as custas do processo.

*Estas, de acdtdd com o art.• 455. 0 do- Cód. Proc.- Civil, saem precípuas do produto dos
bens* penhorados, pelo que•o seu pagamento é-_feito cc_fora do concurso ou da graduação".
-Vejamos agora a ordem de graduação que deverá ser efectuada separadamente, como disse,
para Us%benSñ-n6veis e" imóveis.
a) Ordem de graduação quanto a bens móveis.
I .0 - Créditos privilegiados por despesas de justiça no interesse comum dos credores para a
conservação, execução e liquidação dos bens (arts. 746.0 do Cód.-Civil);
2.0 Créditos privilegiados por impostos (art. 747.0, n.0 1, al. a) do Cód. Civil);
- Primeiro, os devidos ao Estado;
Depois, os devidos às Autarquias Locais.
180

3.0 - Outros créditos nrivileiiados peta ordem indicada nas alo b) a n n.0 1 -do art%747.0 do
Cód. Civil.
4.0 - Créditos com garantia de penhor, direito de retenção sobre-
i móveis, penhora e arresto, segundo ordem da gua antiguidade,
b) Ordem df graduaçao quantp a bens ihlóveis,
I - Créditos privilegiados por despesas de justiça (art. 746.0 do
Civil);
2. - Créditos privilegiados por dívidas de impostqs:

Primeiro, os ciéditos do Estado (art. 748, 0, ai'. Cód. Civil); .


-Depois, os créditos das Autarquias Locais [arti 748.0, ala b) do
3.- Outros créditos com garantia de consignação de rendimentos, direito de retenção sobre
imóveis, arresto e penhora, de de antiguidade (a do registo).
entanto que atender a legislação avulsa espeçial que a estas regras.

55.5. CASOS ESPÉCIAIS DE RECLAMAÇÃO DE CRÉDITOS


Estes casos especiais de reclamação não previstos nos arts, 869,0 Proc. Civil.
a) Art. 869,0: é o caso de um credor que embor{l titular de;urna garantia real, não dispõe de
título executivo (vide, supra, 55.2),
(103)Os impostos referido$ nestes preceitos estúo degactualizados, em parte, em face da nova
legislação sobre as contribuições autárquicas.
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O Cód. Proc. Civil vem perníitir a este ¿redor que nela tentêobter o título executivo, para
intervir na execução e obter nela pagamento.
Para Tanto, deve apresentar um requerimento no qual solicite que a graduação de créditos
aguarde que ele obtenha', na acção declarativa própria, uma sentença exequível (n.0 1 do art.-
869.0).
Essa acção declarativa pode já estar propostá ou ter ainda de ser proposta'.
No primeiro casp,.o n.0 2 do. arte 869.0 estabeleçe que o credor, auto,r nessa acção, deve
pedir nela a intervenção principal do eXequente e dos demais'credores interessados prevista
no artl 325.4, n.0 J. No: segUndo caso, deverá propôr essa acção'contra o executado; o
exequente e os credores interessados (na execução), para possibilitar a impugnação do seu
crédito, já. que na execução não se vai.poSterior_mente proceder à sua verificação, até
porque só.se suspende a graduação.
A verificação é feita, portanto, na acção declarativa com interyenção dos legítimos
contraditores (exequente, execütado e demais credores com garantia real sobre os. beris
objecto de garantia real do reclamante).
7. Este requerimento, assim apresentado. na acção executiva, não suspende a veri-
ficação dos demais créditos, nem a venda ou adjudicação dos bens pelo que continuará a sua
marcha normal a "expropriação" dos bens do executado (as vendas e adjudicações).
8. No entanto, o requerente é admitido a exercer 40 processo os mesmos direitos que
competem ao credor cuja reclamação tenha sido

admitida (artigo 869,0, ri: 3) - vide, adiante, n.0 56 e 57.2.


De qualquer forma, o credor deverá agir com toda a diligência -na acção declarativa, sob
pena de o seu requerimento caducar na execução,(n° 4 do art. 869°.)

pluralidade b) Quanto de execuções ao art. 871.sobre 0, os este mesmos preceítogrev¿


bens. urna gitoação de

Como nele se estabelece, a execução etn que a penhora foi feita hiais tardeé 'suspehs.a
quanto a esses,benst, e se o exequente não degígtir da penhora; poderá reclamar o seu crédito
na onde penhorn foifeita em primeiro lugar.
Para este efeito o que interessa é a data da penhora (quando está sujeita a registo, atende-se à
data do registo) e não.a data da propositura da acção executi va.
Nos termos glo n. 0 2 do art. 871T, o credor dispéedo prazo de 15, dias a contar da sua
citação pes'oal para reclamar o crédito (se apenhora maiS recente constar. da certidão de
ónus, direitos e encargoé), ou do
prazo@e 15 dias a contar da notificação do despacho do juiz que mandou süstar a execução
em que foi feita a ppnhora mais recente (se esta ñão constar da referida:certidão•)..
A reclamação deste crédito suspende tafnbém os efeitos da graduação de créditos que já
existia e, quando seja átendida, provocará nova graduação na qual será incluído este
novo'crédito.
O credor que intentara uma acção executiva, e, que per força dos mecanismos que
descrevemos, se vê obrigado a intervir na outra execu ção em 'que a penhora era mais antiga,
assumé nesta urna posição processual idêntica à do exequente.

Esta solução tem grande alcance prático, pois os direitos do exequente e dos credores
reclamantes têm extensão diversa.
Com efeito, embora todos desfrutem de poderes de çontroje da legalidade da alienação
executiva dos bens penhorados, di sponíbilidade da relação jurídí¿a
processuabperténce«eygtudo; ao exequente (v,g. direito de nomeação de bens à penhora).
SS muito excepcionalmente os etedo•res tec18tnantes podem ossua posiçao de exequente
(efr. art. 920.0, n.0 3 (o mesmo nesses casosnso detêm a faculdade de nomearem beng a
penhora • vide, adiante,
55.6. CONSEQV€NCIAS DA CONVOCAÇÃO DOS crwoonrs
9. A de bens na execução (actos de alienação, que
fazem parte fase do pagamento) corre a pat da verificação e de créditos nó respectivo apenso
(artigo 873,0, n. 0 1);
Os direitos dos Scredofes adm_itidos liminarmente (não é ne¿es sério•qpe tenham Sido
verificados ou reconhecidos) a participarem na "exfropriaçüo" dos bens do executado,
reconduzem-se, esm geral, ao contiole da legalidáde e escolha das respectivas formas de
alienação;
- Os credores reclamantes, em geral, não podem nomear bens à penhora;
10. A disponibilidade da acção executiva pertence fundamentalmente ao exequente.
(sobre a força do caso julgado da sentença de verificação e graduação dos créditos, vide Prof.
Lebre de Freitas - obra citada - pág.
263 a 266:
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