Aula 4 - Princípios Recursais

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PRINCÍPIOS RECURSAIS

I N T RO D U Ç Ã O
Sob o aspecto etimológico, o vocábulo princípio pode
significar início, começo, ponto de partida. Visto por outro
ângulo, contudo, pode o vocábulo ser admitido como
mandamento nuclear de um sistema, alicerce básico a
irradiar influência sobre diferentes normas.
Em razão disso, a violação de um princípio é de gravidade
muito superior à transgressão de uma norma, como simples
regra. O princípio é também uma norma, mas não se
confunde com simples regra, por ser mais abrangente. De
sorte que de um princípio é possível extraírem-se regras, ao
passo que uma regra não gera princípios.
PRINCÍPIO DO DUPLO
GRAU DE JURISDIÇÃO
O princípio do duplo grau de jurisdição
consiste no direito concedido à parte de
exigir a revisão do julgamento que lhe
fora contrário por uma instância
jurisdicional superior. O princípio visa o
controle da atividade do juiz, por
conseguinte, a segurança jurídica, a fim
de evitar que decisões contrárias à lei ou
à prova dos autos sejam impostas à parte,
sem que seja conferida ao jurisdicionado
a possibilidade de sua revisão.
• Para Cassio Scarpinella, o Duplo Grau
de Jurisdição decorre do sistema recursal
previsto no texto constitucional e da
cláusula geral do devido processo legal.
O devido processo legal é uma cláusula
geral ou enunciado normativo aberto,
isto é, seu conteúdo é definido pelo juiz
de acordo com as circunstâncias
histórico-culturais do momento judicial.
P O N T O S N E G AT I V O S D E S S E
PRINCÍPIO:

• dificuldade de acesso à justiça;


• desprestígio da primeira instância;
• quebra de unidade do poder jurisdicional;
• dificuldade na descoberta da verdade mais
próxima possível da real e
• inutilidade do procedimento oral.
Não obstante, ainda que relevantes, as críticas não desqualificam o duplo
grau de jurisdição como princípio constitucional, ainda que implícito.
Todavia, a sua aplicação deve ser ponderada em situações concretas,
obedecendo ao princípio da proporcionalidade, podendo, assim, ser
excepcionado para que a legislação infraconstitucional restrinja ou até
elimine recursos em casos específicos.
P R I N C Í P I O D A L E G A L I D A D E / TA X A T I V I D A D E
(TIPIFICAÇÃO)

Também chamado de princípio da legalidade, o


princípio da taxatividade consiste na exigência
constitucional (art. 22, I, da CF/88) de que a
enumeração dos recursos seja taxativamente
prevista em lei federal. Não é deixada ao arbítrio
das partes, nem para a competência dos Estados
ou Municípios, tampouco para os regimentos
internos dos tribunais, a tarefa de criar recursos,
modificá-los ou extinguí-los.
PRINCÍPIO DA
UNICIDADE/SINGULARIDADE

De acordo com o princípio, também conhecido


como princípio da unirrecorribilidade, não é
possível a utilização simultânea de dois recursos
contra a mesma decisão. Por conseguinte, há no
sistema processual apenas um recurso adequado
para cada decisão em determinado momento
processual.
Importante observar que o princípio
em análise comporta exceções, já
que, por exemplo, o art. 1.031 do
Código de Processo Civil prevê a
possibilidade de utilização do
recurso extraordinário e especial
contra o mesmo decisum.
PRINCÍPIO DA
EFETIVIDADE/
FUNGIBILIDADE

O princípio da
fungibilidade dos
recursos consiste na
possibilidade de que,
existindo dúvida objetiva
a respeito de qual o
recurso cabível, o juiz
competente receba,
processe e conheça o
recurso equivocadamente
interposto pela parte, tal
como se o recurso correto
tivesse sido interposto.
Trata-se do recebimento de um recurso
como outro, adaptando-se o nomen
juris e o procedimento. Nesse
sentido, registre-se que muito
embora, o princípio da
fungibilidade não decorra de
qualquer regra expressa, ele
encontra-se em consonância com o
princípio da instrumentalidade das
formas, previsto no art. 277 do
Código de Processo Civil. Todavia,
a dúvida da parte com relação ao
recurso cabível a justificar a
interposição do recurso indevido
deve ser razoavelmente aceita, ou
seja, a partir de elementos objetivos,
como a equivocidade de texto da lei
ou divergências doutrinárias. Se o
erro da parte se afigurar grosseiro, o
princípio da fungibilidade não é
aplicável.
A existência de dúvida fundada ou objetiva sobre
o recurso cabível conduz a uma necessidade de
flexibilização do sistema recursal para que sejam
admitidos todos os recursos abrangidos pela
dúvida. Não obstante, conforme jurisprudência
sedimentada no Superior Tribunal de Justiça, deve
o indivíduo interpor o recurso no menor prazo,
entre aqueles prazos conferidos aos recursos
abrangidos pela dúvida.
PRINCÍPIO DISPOSITIVO
Também conhecido como princípio da inércia
da jurisdição, o princípio dispositivo
preconiza que o juiz não pode conhecer de
matéria a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte. Nas lições de Fredie
Didier, a inércia se restringe apenas à
iniciativa do processo, pois uma vez
provocada a Jurisdição, ou seja, uma vez
ajuizada a demanda, haverá o impulso
oficial para o andamento do processo.
PRINCÍPIO DA
V O L U N TA R I E D A D
E (RENÚNCIA
DESISTÊNCIA)
Não apenas se exige a
iniciativa da parte interessada
para a interposição do
recurso, como, também,
confere-se a esta a liberdade
de delimitar o âmbito do
recurso, podendo impugnar
total ou parcialmente a
decisão que lhe fora
desfavorável. É também
manifestação desse princípio
a regra contida no art. 998 do
CPC, segundo a qual o
recorrente poderá, a qualquer
tempo, sem a anuência do
recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do
recurso por ele interposto.
PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA
R E F O R M AT I O I N P E J U S
A reformatio in pejus consiste na reforma da decisão judicial
por força de um recurso interposto, capaz de resultar para o
recorrente uma situação de agravamento, de piora, em relação
aquela que lhe fora imposta pela decisão recorrida. Ou seja,
traduz-se num resultado exatamente contrário aquele
pretendido pelo recorrente. Assim, o princípio da proibição da
reformatio in pejus tem como objetivo impedir que essa
situação de piora ocorra por força do julgamento do recurso da
parte. Evidentemente, sendo a sucumbência recíproca e
havendo recurso de ambas as partes, a situação de qualquer
delas poderá ser agravada como resultado do recurso interposto
pela parte contrária, mas não do seu próprio recurso.
PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE O recurso, como todo e qualquer discurso, deve
ser dialético, isto é, deve apresentar
argumentos. Não basta ao interessado
manifestar, apenas, a vontade de recorrer;
deve, também, dar os motivos pelos quais
recorre, alinhando as razões de fato e de direito
que embasam o inconformismo, assim como o
pedido de nova decisão, se for o caso.
PRINCÍPIO DA Decorre da aplicação dinâmica dos princípios do contraditório e
COLEGIALIDADE do juízo natural, que, apesar da possibilidade de delegação de
poderes monocráticos para o relator, viabiliza a interposição de
agravo interno para o colegiado como instrumento de aplicação
de um contraditório dinâmico sucessivo. Ressalta-se que a
aplicação desse princípio está condicionada ao esgotamento das
instâncias ordinárias para o alcance das esferas extraordinárias
de recorribilidade uma vez que a decisão monocrática não seria
de “última instância” (Art. 102, II e III, e Art. 105, II e III,
CRFB/88).
JURISPRUDÊNCIA 1
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. PROTOCOLIZAÇÃO, NA SEQUÊNCIA,
DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO E DE RECURSO ESPECIAL
EM FACE DO MESMO ACÓRDÃO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO
DA UNIRRECORRIBILIDADE. SEGUNDO RECURSO. NÃO
CONHECIMENTO. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. 1. “Em virtude
do princípio da unirrecorribilidade, não é possível a interposição de
recurso especial quando ainda pendente de julgamento outro recurso
no Tribunal de origem” (AgRg no REsp 1.201.550/RJ, Rel. Ministro
Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 13/10/2010). No mesmo
sentido: REsp 1.013.364/TO, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda
Turma, DJe 11/09/2008. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no
AREsp 396.576/PI, Rel. Ministro BENEDITO GONCALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe 02/12/2014).
JURISPRUDÊNCIA 2
AGRAVO DE INSTRUMENTO – SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA
PARCIAL – DECISÃO IMPUGNÁVEL POR APELAÇÃO –
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA – ERRO GROSSEIRO – RECURSO NÃO
CONHECIDO. (...) Cuida-se de Agravo de Instrumento exprobando a R.
Decisão de fls., que em feito de Indenização por Danos Morais e Materiais, deu
pela parcial procedência da ação, para o fim de condenar as Requeridas a
restituírem, de forma solidária, os valores pagos pelos Requerentes a título de
danos materiais, no importe de R$ 6.877,40, bem como o valor de R$ 677,78,
referente às taxas condominiais que os Requerentes foram obrigados a pagar no
período de atraso da entrega do imóvel. (...) O recurso não pode ser conhecido.
A sentença julgou parcialmente procedente a ação, devendo ser desafiada por
meio do recurso de apelação. Logo, havendo expressa previsão legal sobre o
recurso cabível, não há como sustentar eventual dúvida objetiva sobre o recurso
a ser manejado, tratando-se de erro grosseiro, o que impede a aplicação do
Princípio da Fungibilidade e dá causa ao não conhecimento do recurso. Assim,
por ausência de pressuposto objetivo, NÃO SE CONHECE do recurso. (TJSP -
Agravo de Instrumento nº 2155110-02.2016.8.26.0000, - Rel. Des. Giffoni
Ferreir – j. 31.08.2016).
CONCLUSÃO DA AULA
O sistema jurídico não se limita à lei, mas é
igualmente formado pelo sistema principiológico.
A tarefa do juiz consiste na aplicação da lei
abstrata ao caso concreto. Tal processo de
aplicação é denominado de subsunção.
Para que seja realizada a subsunção, o juiz deve
passar por um processo de interpretação da lei
abstrata. Desta forma, os princípios servem como
diretrizes fundamentais para que o julgador
aplique corretamente a norma ao caso concreto.
Ademais, os princípios jurídicos são fundamentais para
as hipóteses em que a lei se revele lacunosa ou de
interpretação dúbia, além de ser de extrema relevância
para promover a adaptação da lei às mudanças que
constantemente se verificam na realidade social. Assim,
é tamanha a relevância dos princípios que a sua
aplicação pode resultar na alteração do sentido literal da
norma.
AGORA
RESPONDA:
QUANTO AOS PRINCÍPIOS RECURSAIS,
a) o princípio da taxatividade recursal tem sido mitigado, admitindo-se a criação de recursos não previstos
expressamente em lei, desde que as partes criem tais recursos de comum acordo, como negócio jurídico-
processual.
b) pelo princípio da singularidade ou unirrecorribilidade afirma-se que só se admite uma espécie recursal
como meio de impugnação de cada decisão judicial, mostrando-se defeso interpor sucessiva ou
concomitantemente duas espécies recursais contra a mesma decisão.
c) o princípio da dialeticidade diz respeito ao elemento volitivo, ou seja, à vontade da parte em recorrer,
expressa na interposição do recurso correspondente à situação jurídica dos autos.
d) o princípio da fungibilidade não foi previsto normativamente no atual ordenamento jurídico processual,
não mais se podendo receber um recurso por outro em situações de pretensa dúvida.
e) o princípio da reformatio in pejus, ou seja, reforma para piorar a situação de quem recorre, não foi
admitido em nenhuma hipótese no atual processo civil brasileiro.
GABARITO: B
PEDRO INGRESSOU COM UMA AÇÃO
C ON TR A ANTÔ N IO . A AÇÃ O FO I J UL GADA
TOTALMENTE PROCEDENTE, SENDO QUE A
DECISÃO ESTÁ NO PRAZO DE RECURSO.
DIANTE DESSE Q UA D RO , ASSINALE A
A L T E R N A T I VA C O R R E T A

a) Apenas Pedro poderá recorrer pelo princípio da


sucumbência, sendo que o recurso correto é o de Apelação.
b) Se a ação tratar sobre demarcação de terras, Pedro poderá
interpor Apelação que não terá efeito suspensivo.
c) Caso a sentença confirme a antecipação de tutela, Pedro
poderá interpor Agravo Retido contra a decisão.
d) Apenas Antônio poderá recorrer pelo princípio da
sucumbência, sendo que o recurso correto é o de Apelação.
e) Em se tratando de decisão que estabeleça convenção de
arbitragem, Antônio e Pedro terão interesse em recorrer por
meio de Recurso Especial, que não receberá efeito
suspensivo.
GABARITO: D
O PRINCÍPIO ________ CONSISTE NA POSSIBILIDADE DO JULGADOR
APROVEITAR UM RECURSO INTERPOSTO DE FORMA EQUIVOCADA PELO
RECURSO ADEQUADO, OU SEJA, A SUBSTITUIÇÃO DE UM RECURSO POR
OUTRO PARA EVITAR A SUA INADMISSIBILIDADE.

Agora marque o item correto.

a) da fungibilidade dos recursos


b) da disponibilidade dos recursos
c) da taxatividade dos recursos
d) da unirrecorribilidade recursal
e) do duplo grau de jurisdição
GABARITO: A

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