Producao de Ovinos de Corte

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DOCÊNCIA EM

SAÚDE
PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil


Triagem Organização LTDA ME
Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167
Portal Educação

P842p Produção de ovinos de corte / Portal Educação. - Campo Grande: Portal


Educação, 2013.

268p. : il.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-8241-499-6

1. Ovinocultura. 2. Ovino - criação. I. Portal Educação. II. Título.

CDD 636.311
SUMÁRIO

1 A ESPÉCIE OVINA: HISTÓRICO E PERSPECTIVAS ............................................................10

1.1 Histórico da Ovinocultura Brasileira......................................................................................10 2

1.2 Mercado da carne ovina ..........................................................................................................15

2 CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA...............................................................................................18

3 CATEGORIAS ZOOTÉCNICAS DOS OVINOS ........................................................................19

4 DENTIÇÃO DOS OVINOS ........................................................................................................20

5 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DOS OVINOS ..............................................................23

6 CARACTERÍSTICAS DE UM ANIMAL PRODUTOR DE CARNE ............................................24

6.1 Aprumos ...................................................................................................................................26

6.2 Má oclusão em ovinos ............................................................................................................28

7 IDADE DE ABATE ....................................................................................................................30

7.1 Crescimento e desenvolvimento ............................................................................................30

7.2 Idade X Peso de abate .............................................................................................................33

8 QUALIDADE DA CARNE .........................................................................................................37

8.1 Palatabilidade ..........................................................................................................................38

8.2 Aspecto ....................................................................................................................................39

8.3 Maciez .......................................................................................................................................39

8.4 Gordura ....................................................................................................................................41

8.5 Suculência................................................................................................................................41

8.6 Sabor e aroma ..........................................................................................................................42

9 CARNE OVINA .........................................................................................................................43

9.1 Fatores que afetam as características da carcaça e a qualidade da carne Ovina ............44
10 SISTEMAS DE PRODUÇÃO ....................................................................................................47

11 SISTEMA EXTENSIVO .............................................................................................................49

12 SISTEMA SEMI-INTENSIVO ...................................................................................................52

13 SISTEMA INTENSIVO .............................................................................................................54

14 SISTEMA MISTO OU INTEGRADO..........................................................................................56 3

14.1 Entre animais ...........................................................................................................................56

14.2 Agrossilvopastoril ...................................................................................................................56

15 DEFINIÇÕES DE TERMOS USADOS NESTA AULA ..............................................................58

16 INSTALAÇÕES PARA OVINOS ...............................................................................................59

17 HOMEOTERMIA .......................................................................................................................60

18 LOCALIZAÇÃO E DIREÇÃO ....................................................................................................62

19 CERCAS ...................................................................................................................................63

19.1 Cercas para pastagens ...........................................................................................................63

19.2 Cercas para os currais ............................................................................................................64

20 PORTEIRAS..............................................................................................................................66

21 ABRIGOS (APRISCOS) ............................................................................................................67

21.1 Suspenso .................................................................................................................................67

21.2 Chão batido ..............................................................................................................................70

22 CABANHA ................................................................................................................................72

23 PRÉ-PARTO E MATERNIDADE ...............................................................................................75

24 GALPÕES PRÉ-DESMAME .....................................................................................................78

25 CONFINAMENTO .....................................................................................................................80

26 CURRAIS DE MANEJO ............................................................................................................83

26.1 Tronco ou brete de contenção ...............................................................................................85

26.2 Funil ou seringa .......................................................................................................................86


26.3 Pedilúvio...................................................................................................................................87

26.4 Balança .....................................................................................................................................88

27 ESTERQUEIRA .........................................................................................................................89

28 COCHOS ...................................................................................................................................90

29 BEBEDOUROS .........................................................................................................................92 4

30 SALEIRO...................................................................................................................................94

31 ENFERMARIA...........................................................................................................................95

32 OUTRAS ...................................................................................................................................96

33 RAÇAS OVINAS .......................................................................................................................97

34 RAÇAS RÚSTICAS...................................................................................................................99

34.1 Corriedale .................................................................................................................................99

34.2 Ideal .........................................................................................................................................100

34.3 Romney Marsh .......................................................................................................................101

34.4 Morada Nova ...........................................................................................................................102

34.5 Santa Inês................................................................................................................................103

35 RAÇAS ESPECIALIZADAS NA PRODUÇÃO DE CARNE .....................................................105

35.1 Dorper ......................................................................................................................................105

35.2 Hampshire Down ...................................................................................................................106

35.3 Ile de France............................................................................................................................106

35.4 Suffolk .....................................................................................................................................107

35.5 Texel ........................................................................................................................................108

36 PUBERDADE ...........................................................................................................................110

37 CICLO REPRODUTIVO ...........................................................................................................111

38 EFEITO DO FOTOPERÍODO ...................................................................................................112

38 GESTAÇÃO .............................................................................................................................113
40 RELAÇÃO CANEIRO/OVELHA...............................................................................................114

41 ASPECTOS REPRODUTIVOS NOS CARNEIROS .................................................................115

42 SUBSTITUIÇÃO DE REPRODUTORES ..................................................................................116

43 CRITÉRIOS DE DESCARTE PARA OVELHAS .....................................................................117

44 MÉTODOS DE REPRODUÇÃO ...............................................................................................118 5

44.1 Monta natural livre ..................................................................................................................118

44.2 Monta natural controlada .......................................................................................................118

44.3 Inseminação artificial ............................................................................................................119

44.3.1 Coleta do sêmen ......................................................................................................................119

44.3.2 Utilização do sêmen .................................................................................................................121

45 Controle de fêmeas em cio ....................................................................................................123

46 ESTAÇÃO DE MONTA ............................................................................................................125

47 SISTEMAS DE REPRODUÇÃO...............................................................................................126

48 FATORES QUE AFETAM A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA, CONTRIBUINDO PARA UM


LONGO INTERVALO ENTRE PARTOS ............................................................................................130

48.1 Efeito alimentar .......................................................................................................................131

48.1.1 Importância da alimentação......................................................................................................132

48.1.2 Períodos críticos .......................................................................................................................132

48.1.3 Escore corporal ........................................................................................................................136

49 INDICAÇÕES DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA ....................................................................138

50 MANIPULAÇÃO ARTIFICIAL DA REPRODUÇÃO .................................................................138

50.1 Luz artificial.............................................................................................................................138

50.2 Efeito carneiro ........................................................................................................................139

50.3 Uso de hormônios .................................................................................................................140

51 MANEJO PRÉ-PARTO E PARIÇÃO .......................................................................................142

52 CUIDADOS COM OS RECÉM-NASCIDOS .............................................................................142


52.1 Ingestão do colostro ..............................................................................................................143

52.2 Hipotermia ...............................................................................................................................146

53 CURA DO UMBIGO .................................................................................................................147

54 CUIDADOS COM AS INSTALAÇÕES.....................................................................................148

55 VERMINOSE ............................................................................................................................149 6

56 ALIMENTAÇÃO DO CORDEIRO ATÉ AO DESMAME ...........................................................150

56.1 Aleitamento artificial .............................................................................................................151

57 DESMAME ...............................................................................................................................151

57.1 Tipos de desmame .................................................................................................................153

58 DESEMPENHO DOS CORDEIROS ATÉ O DESMAME ..........................................................155

59 HÁBITOS ALIMENTARES .......................................................................................................157

60 PASTAGENS ..........................................................................................................................157

60.1 Tipos de pastejo .....................................................................................................................157

60.1.1 Pastejo em lotação contínua ....................................................................................................158

60.1.2 Pastejo rotacionado ..................................................................................................................160

60.1.3 Pastejo diferido .........................................................................................................................161

60.2 Gramíneas para ovinos ..........................................................................................................162

60.2.1 Brachiaria spp...........................................................................................................................163

60.2.2 Cynodon spp ............................................................................................................................164

60.2.3 Panicum maximum ...................................................................................................................166

60.2.4 Andropogon gayanu .................................................................................................................167

60.2.5 Pennisetum purpureum ...........................................................................................................168

60.3 Leguminosas ..........................................................................................................................172

60.4 Plantas forrageiras do semiárido ..........................................................................................173

61 SILAGENS E FENOS...............................................................................................................173
61.1 Silagens ...................................................................................................................................173

61.1.1 Silagem de milho (zea mays) ...................................................................................................174

61.1.2 Silagem de sorgo (sorghum spp.) .............................................................................................175

61.2 Fenos .......................................................................................................................................176

61.3 Cana-de-açúcar .......................................................................................................................177 7

62 CONCENTRADOS ...................................................................................................................177

62.1 Concentrados energéticos ....................................................................................................177

62.2 Concentrados proteicos ........................................................................................................179

63 MINERAIS E VITAMINAS ........................................................................................................179

63.1 Minerais ...................................................................................................................................181

63.2 Vitaminas.................................................................................................................................182

64 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS .................................................................................................182

64.1 Categoria animal .....................................................................................................................182

64.1.1 Manutenção ..............................................................................................................................183

64.1.2 Puberdade e época de monta ..................................................................................................183

64.1.3 Ovelhas gestantes e em lactação .............................................................................................184

64.1.4 Cordeiros ..................................................................................................................................185

64.1.4.1Creep feeding .......................................................................................................................186

64.1.5 Carneiro ....................................................................................................................................187

65 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE NUTRIÇÃO DE OVINOS............................................187

65.1 Degradabilidade ruminal da proteína e terminação de ovinos ...........................................187

65.2 Suplementação e ganho de peso ..........................................................................................187

65.3 Importância da fibra na dieta de animais terminados em confinamento ...........................189

66 CÁLCULO DE RAÇÃO ............................................................................................................190

66.1 Exigências dos cordeiros X nutrientes dos alimentos ........................................................190


66.2 Substituição da silagem por milho .......................................................................................191

66.3 Comparação da dieta com as exigências energéticas ........................................................192

66.4 Substituição do milho por farelo de soja .............................................................................192

66.5 Comparação da dieta com as exigências proteicas ............................................................193

66.6 Verificação dos valores de cálcio e de fósforo ....................................................................193 8

66.7 Correção do cálcio .................................................................................................................194

66.8 Ração completa com base na matéria seca do alimento ....................................................195

66.8.1 Cálculo da base .......................................................................................................................195

66.8.2 Percentagem final .....................................................................................................................196

66.9 Exemplo da quantidade de alimento fornecido ...................................................................197

67 MANEJO SANITÁRIO..............................................................................................................199

67.1 Animais doentes e animais sadios .......................................................................................200

68 PRINCIPAIS DOENÇAS, PROFILAXIA E TRATAMENTO .....................................................201

68.1 Infecciosas ..............................................................................................................................201

68.2 Doenças parasitárias..............................................................................................................214

68.3 Banho ......................................................................................................................................220

68.4 Distúrbios metabólicos ..........................................................................................................221

69 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................226

70 HISTÓRICO DO MELHORAMENTO GENÉTICO NO BRASIL ...............................................227

71 PROBLEMAS NA REALIZAÇÃO DOS TRABALHOS DE MELHORAMENTO PARA


PRODUÇÃO DE CARNE OVINA .......................................................................................................229

72 CRUZAMENTOS UTILIZADOS NA OVINOCULTURA ...........................................................230

72.1 Cruzamento industrial ............................................................................................................230

72.1.1 Resultados de cruzamentos industriais no Brasil .....................................................................231

72.1.2 Cruzamento rotativo ou alternado.............................................................................................242

72.4 Cruzamento absorvente .........................................................................................................243


REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................247

9
1 A ESPÉCIE OVINA: HISTÓRICO E PERSPECTIVAS

A criação de ovinos é uma das atividades pecuárias mais antigas, antecedendo a


história escrita. É o primeiro animal doméstico citado na Bíblia, aparecendo em mais de 450
referências no Antigo Testamento. Existem evidências de que a criação doméstica desta espécie
10
tenha começado na Ásia Central, mas a localização exata do local onde a domesticação dos
ovinos ocorreu ainda não é totalmente clara. Primeiramente o homem se interessou pelo
consumo da carne ovina e posteriormente pelo seu leite.

Os ovinos selvagens possuíam pelo, a lã apareceu tempos depois, originada por


mutação ou seleção, não se sabe ao certo. Atualmente existem no mundo mais de 800 raças de
ovelhas domésticas, sendo a troca de animais que ocorria entre as tribos nômades e o
cruzamento entre ovelhas domésticas com outras subespécies fatores que contribuíram
largamente para o aparecimento desta grande variedade de raças.

1.1 Histórico da Ovinocultura Brasileira

Historicamente a ovinocultura brasileira se concentrava em dois polos distintos:

 Região nordeste  enfoque para a carne, com utilização de raças deslanadas


nacionais e mistas (Morada Nova, Santa Inês, Somalis Brasileira, entre outras),
onde grande parte dos produtores criava ovinos como forma de subsistência;
 Rio Grande do Sul  exclusivamente voltado para a produção de lã, onde os
rebanhos eram constituídos por raças laneras (Merino) ou de dupla aptidão
(Corriedale, Ideal e Romney Marsh), sendo estes rebanhos criados em sistema
extensivo, cuja fonte alimentar, basicamente, era constituída de pastagens de
campo nativo.

Com o aparecimento das fibras sintéticas, a indústria têxtil passou a contar com um
produto de menor preço e de oferta constante, fazendo com que a lã perdesse parte do mercado
consumidor, diminuindo seu preço de venda, já que a quantidade de produto oferecido era maior
que a demanda por ele. Com o baixo preço da lã e a concorrência das fibras sintéticas, a
ovinocultura lanera entrou numa fase bastante instável.

A partir da década de 80, os ovinocultores gaúchos começaram a importar elevadas


quantidades de animais de raças especializadas na produção de carne (Suffolk, Hampshire,
11
Texel e Ile de France), sendo parte destes animais utilizados em cruzamentos indiscriminados, e
sem orientação técnica, com rebanho existente. Como a principal fonte de alimentação dos
ovinos era o campo nativo, que não possui um elevado nível nutritivo, e por causa da maior
exigência alimentar das raças especializadas na produção de carne, estes produtores se
depararam com um grave problema: falta de comida para os animais. Os produtores que tinham
mais recursos financeiros introduziram pastagens melhoradas, que possuem maior aporte
nutricional, para poderem comportar tais raças em seus rebanhos. Contudo, isto gerou um novo
problema: diminuição dos campos naturais, Pampa, e ameaça às espécies silvestres locais.

Com isso muitas pesquisas foram realizadas para a melhoria das carcaças das raças
de dupla aptidão, principalmente Corriedale e Ideal, visando a utilização destas como animais
produtores de carne e/ou como linha materna em cruzamentos programados com raças de
carne. Estas raças de dupla aptidão estão extremamente adaptadas ao ambiente deste estado,
apresentam um bom desempenho na produção de carne, quando selecionadas geneticamente,
além de serem menos exigentes nutricionalmente. Outro ponto a favor das raças de dupla
aptidão é a lã que representa sempre mais um incremento para a lucratividade da ovinocultura,
já que o mercado diminuiu, mas não acabou.

Porém, a produção e comercialização de carne ovina gaúcha esbarram no problema


da estacionalidade reprodutiva das fêmeas ovinas, sendo seu período de acasalamento restrito à
época de diminuição do fotoperíodo (diminuição do número de luz por dia), ou seja, em grande
parte do Brasil o acasalamento destas fêmeas vai ocorrer no final do mês de março, no mês de
abril e no início do mês de maio. Com isto, a venda de carne ovina oriunda de animais abatidos
jovens fica limitada a uma época do ano, o que desfavorece a sua comercialização, já que o
hábito de consumo está ligado à disponibilidade de um produto no mercado.

Já no Nordeste brasileiro, com o investimento no melhoramento das raças nacionais


deslanadas, principalmente da Santa Inês, houve um grande aumento na produção de carne
ovina nesta região. Hoje a ovinocultura para carne é encarada como uma atividade rentável,
deixando de ser basicamente de subsistência. Na Figura 1 podemos observar a evolução do
rebanho ovino nas regiões Sul e Nordeste antes e depois da crise da lã.

12

Figura 1: Evolução do efetivo ovino nas regiões Sul e Nordeste, em


milhões de cabeças. Fonte: Souza, 2008.

A raça Santa Inês teve também papel fundamental na disseminação da produção de


carne ovina em outras regiões do Brasil, pois, apesar de não ter, ainda, uma carcaça ideal para
um animal produtor de carne, estes animais não são estacionais podendo reproduzir durante
todo o ano, o que pode garantir oferta constante desta carne para o mercado consumidor.
O primeiro estado a investir na ovinocultura na região Sudeste foi São Paulo.
Atualmente a produção de carne ovina tem crescido muito nesta região, sendo considerada uma
excelente oportunidade para o produtor. A criação é principalmente da raça Santa Inês e de suas
cruzas com Suffolk, Ile de France e Dorper. Atualmente o rebanho nacional de ovinos é de
aproximadamente 15 milhões de cabeças, representando 1,4% do efetivo mundial, onde 55%
estão na Região Nordeste, 34,5% no Sul, 5% no Centro-Oeste, 2,5% no Norte e 3% no Sudeste.
13

Figura 2: Distribuição geográfica do rebanho ovino no Brasil, segundo a participação de cada


região. Fonte: Adaptado de SEBRAE, 2005.
14

Figura 3: Distribuição geográfica do rebanho ovino no Brasil, segundo número


de animais por estado. Fonte: Barros; Cavalcante; Vieira, 2005.

A ovinocultura está difundida em praticamente todo o território brasileiro, contudo, as


regiões Nordeste e Sudeste se destacam atualmente pelo aumento da produção de carne ovina,
principalmente pela adoção de tecnologias que permitem aumentar a eficiência e a produtividade
dos rebanhos.
Tabela 1: Evolução do rebanho ovino brasileiro (em milhões de cabeças) nos principais estados
produtores

Estados 1990 1995 1998 2000

Rio Grande Sul 10.648 9.284 5.143 4.812


15
Bahia 3.088 2.772 2.644 2.922
Ceará 1.470 1.368 1.492 1.606
Piauí 1.211 1.259 1.342 1.395
Pernambuco 675 540 564 753
Paraná 385 598 573 548
Paraíba 380 302 282 343
Rio Grande Norte 332 289 342 389
Mato Grosso do Sul 233 271 359 378
São Paulo 238 223 229 233
Santa Catarina 231 250 204 207
Total 20.014 18.336 14.268 14.784

Fonte: IBGE, 2003.

1.2 Mercado da Carne Ovina

A carne ovina representa atualmente 3,2% do total mundial de carnes, sendo utilizada
universalmente, não sofrendo restrições religiosas como algumas outras carnes, a exemplo da
carne suína e bovina, pelos povos judeus e hindus, respectivamente, e não sofrendo tanto com
propagandas negativas relativas a segurança alimentar relacionada com sanidade e/ou uso de
substâncias promotoras de crescimento.
Em países onde a ovinocultura é desenvolvida, o consumo médio de carne ovina varia
entre 20 e 28 kg/pessoa/ano, enquanto que no Brasil este consumo é de 0,7 kg/pessoa/ano,
podendo este baixo consumo ser explicado pela má qualidade do produto comercializado, que
geralmente é oriundo de animais velhos, bem como pela falta constante na oferta do mesmo.
Contudo, o consumo de carne ovina, principalmente da carne de cordeiro abatidos
entre a 16ª e a 22ª semana de idade, tem aumentado, viabilizando economicamente a
ovinocultura brasileira e tornando-a uma boa alternativa para elevar a rentabilidade das
propriedades rurais, o que tem incentivado o produtor a investir na produção de carcaças com 16
qualidade. Este aumento no consumo pode ser observado ao se comparar a quantidade de
carne importada e exportada pelo Brasil, onde na década de 80 havia maior exportação do que
importação, quadro oposto do atual, o que denota um aumento do mercado interno (Tabela 2).

Tabela 2: Evolução das exportações e importações de carne ovina (ton.) pelo Brasil

1980 1990 1999 2000


Exportações 567 772 1 9
Importações 35 3.370 4.299 8.519
Fonte: Adaptada de FAO, 2002

Embora a produção de carne ovina tenha aumentado nos últimos anos, a demanda por
este produto ainda supera a oferta nacional (Figuira 4), fazendo com que boa parte
(aproximadamente 50%) da carne de ovinos consumida oficialmente no país seja importada,
principalmente do Uruguai, Argentina e Nova Zelândia.
Figura 4: Produção e consumo de carne ovina no mercado brasileiro, em mil
toneladas. Fonte: Souza, 2008.
A produção de carne ovina tem demonstrado um grande potencial, apresentando-se
como uma boa opção para o agronegócio brasileiro, sendo uma alternativa viável para
incrementar o desenvolvimento rural, inclusive dentro de programas de desenvolvimento da
agricultura familiar, já que ainda existe uma lacuna a ser preenchida no consumo interno e o
Brasil possui os requisitos para ser um exportador desta carne. 17

Embora a procura pela carne ovina esteja aumentando, as informações sobre esta
produção ainda são muito escassas, sendo assim, conhecer os principais aspectos produtivos da
ovinocultura, bem como aumentar a capacidade produtiva e, consequentemente, o desfrute dos
rebanhos ovinos brasileiros é essencial para que se possa atender às necessidades do mercado
consumidor. Somam-se a estas pesquisas as avaliações sobre as condições de criação
(alimentação, clima, sanidade, sistemas de terminação, etc) e cruzamento (escolha dos
genótipos mais adaptados e produtivos) visando obter cordeiros com pesos maiores em menor
espaço de tempo, com alto rendimento de carcaça, com qualidade de carne superior e que
possuam preço compatível com o mercado alvo.

A carne ovina é produzida nas mais diversas regiões do mundo, sendo oriunda de uma
enorme variação de tipos de animal (raça, idade, sexo, etc) e práticas de criação (estratégia de
alimentação, desmame, etc). As combinações destes fatores geram uma imensa gama de
sistemas de produção e tipos de cordeiro, originando uma grande variabilidade de carcaça e
qualidade de carne disponível para o consumidor. Esta variação é extremamente vantajosa para
a comercialização desta carne por oferecer ao mercado produtos diversificados, a fim de
satisfazer as preferências do consumidor nas diferentes regiões geográficas. Contudo, é
extremamente necessário o conhecimento do tipo apropriado para cada mercado consumidor,
levando em consideração o material genético disponível, as condições ambientais da localidade
e a lucratividade do sistema.
2 CLASSIFICAÇÃO ZOOLÓGICA

O tronco original dos ovinos domésticos deve ser procurado no gênero Ovis, nos
grupos de ovinos selvagens:
18
 Argali (Ovis ammon) - Ásia e Europa
 Urial (Ovis vignei) -Afeganistão, Irã, Índia e Tibet
 Mouflon (Ovis musimon) - Córsega e Sardenha

A classificação zoológica para a espécie ovina doméstica conhecida na atualidade


pode ser observada no quadro abaixo:

Reino: Animal Sub-reino: Vertebrada Filo: Chordata

Subordem: Artiodactyla Ordem: Ungulata Classe: Mammalia

Grupo: Ruminantia Família: Bovidae Subfamília: Ovinae

Espécie: Ovis aries Gênero: Ovis

Fonte: Encyclopædia Britannica


Online, 2008.
3 CATEGORIAS ZOOTÉCNICAS DOS OVINOS

A categoria dos ovinos é dada de acordo com sua idade, sendo:

19
 Cordeiro ou cordeira = é o filhote, vai desde o nascimento até os seis meses
(dentes de leite);
 Borrego ou borrega = desde os seis meses até por volta de um ano a um ano e
meio (de dentes de leite a dois dentes);
 Fêmeas são consideradas borregas até o primeiro parto;
 Ovelha = fêmea adulta em idade reprodutiva (quatro dentes a boca cheia);
 Carneiro = macho adulto inteiro em idade reprodutiva (quatro dentes a boca
cheia);
 Capão = macho castrado, pouco usado nos sistemas de produção de carne.
4 DENTIÇÃO DOS OVINOS

A utilização da dentição para determinação da idade dos animais é uma prática muito
comum, possibilitando obter esta informação de forma prática no campo e com boa margem de 20
segurança.

A evolução da dentição dos ovinos pode ser descrita em quatro etapas:

 Nascimento dos dentes de leite;


 Rasamento e nivelamento dos dentes de leite;
 Muda dos dentes de leite para dentes permanentes;
 Rasamento e nivelamento dos dentes permanentes.

Os ovinos jovens possuem 20 dentes de leite, sendo esta dentição composta por:

Mandíbula Maxila Total


Incisivos 8 0 8
Caninos 0 0 0
Pré-molares 0 0 0
Molares 6 6 12

A erupção dos incisivos de leite se dá da seguinte forma:

 Nascimento: nascem sem dentes;


 3º a 4º dia: aparecem as pinças e os primeiros médios;
 10º dia: aparecem os segundos médios;
 20º ao 30º dia: aparecem os extremos.
O desgaste (rasamento e nivelamento) dos dentes de leite é bastante irregular, sendo
dependente da idade de desmame e da dureza dos alimentos que consomem. Os dentes de leite
possuem menor tamanho e forma mais retangular quando comparados com os incisivos
permanentes. Os incisivos permanentes apresentam uma forma mais piramidal, estreitando-se
desde a coroa até a raiz, razão pela qual, quando desgastados, parecem estar mais separados.
21

Os ovinos possuem 32 dentes permanentes, sendo esta dentição composta de:

Mandíbula Maxila Total


Incisivos 8 0 8
Caninos 0 0 0
Pré-molares 6 6 12
Molares 6 6 12

Os 8 dentes incisivos, tanto na dentição de leite quanto na permanente, podem ser subdivididos
em:

 2 Pinças;
 2 Primeiros médios;
 2 Segundos médios;
 2 Extremos;
 Os ovinos não possuem dentes incisivos no maxilar.

A troca dos incisivos de leite pelos incisivos permanentes se dá da seguinte forma:

 Dentes de leite: mais ou menos até 1 ano;


 Muda das pinças permanentes: 12 a 13 meses (2 dentes trocados);
 Muda dos primeiros médios: 21 a 22 meses (4 dentes trocados);
 Muda dos segundos médios: 26 a 28 meses (6 dentes trocados);
 Muda dos extremos: 30 a 36 meses (8 dentes trocados – animal "boca cheia").
As figuras abaixo são da visão frontal da mandíbula de ovinos, onde podem ser
observadas as substituições dos incisivos de leite pelos incisivos permanentes:

Dentição de leite;
22

Substituição das duas pinças de leite por permanentes;

Substituição dos dois primeiros médios;

Substituição dos dois primeiros médios;

Substituição dos dois extremos, animal com boca cheia (oito dentes
incisivos permanentes).

O desgaste dos dentes permanentes começa por volta dos quatro anos, estando o
grau de desgaste relacionado à dureza dos alimentos que consomem. O nivelamento ocorre por
volta dos nove anos, mas após seis anos se torna mais difícil e impreciso estabelecer a idade
dos animais pela dentição.
5 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DOS OVINOS

 Temperatura corporal normal: 38,5 a 40,0 ºC;


 Frequência respiratória: 12 a 20 movimentos/minuto;
 Frequência cardíaca: 80 batimentos/minuto; 23
 Capacidade do rúmen: ± 24 litros.
6 CARACTERÍSTICAS DE UM ANIMAL PRODUTOR DE CARNE

Antes de vermos quais as características devem estar presentes em um animal


especializado na produção de carne e os defeitos indesejáveis nestes animais, vamos observar 24
na figura abaixo as partes do corpo dos ovinos:

Fonte: Adaptada de Animal Science Resource Room, 2008.

Um animal para ser considerado um bom produtor de carne deve apresentar as


seguintes características:
 Paletas devem ser largas e musculosas, paralelas entre si e bem ligadas ao
corpo;

 Peito largo e profundo;


 Membros deverão ser robustos, com boa distância entre si, com bons aprumos
e com fortes articulações;
 Garupa deve ser larga e longa.
 Quarto traseiro (pernas) deve ser carnudo, com entrepernas musculosas e
profundas;
 Tronco longo, profundo e largo;
 Costelas bem arqueadas;
 Lombo largo e cheio; 25
 Linha dorso-lombar bem longa e reta;
 Boa área de olho de lombo (AOL);
 Deve possuir uma camada fina de gordura bem distribuída (uniformemente) por
todo corpo, não devendo apresentar acúmulo de gordura localizada em qualquer
parte do corpo.

São considerados defeitos em uma raça especializada em produção de carne:

 Problemas de aprumo;
 Fêmeas reprodutoras com cara coberta por lã, pois possuem menor habilidade
materna;
 Constituição muito débil;
 Pouca massa muscular;
 Prognatismo e retrognatismo, pois dificultam a apreensão dos alimentos,
fazendo com que os animais comam menos e consequentemente ganhem
menos peso;
 Machos reprodutores apresentando criptorquidismo, monorquidismo, hipoplasia
testicular, acentuada assimetria testicular, pois, comprometem a reprodução
destes animais;
 Cifose, lordose, escoliose - quando a linha dorso-lombar não é reta a quantidade
de carne na carcaça é menor, principalmente se a garupa for caída a quantidade
de carne de traseiro (carne nobre) ficará bem comprometida.
6.1 Aprumos

Os aprumos também são de origem genética, passando de pais para filhos, logo,
reprodutores que apresentam um aprumo inadequado passarão esta característica indesejável
26
para sua prole. Animais que apresentam problema no aprumo possuem dificuldade para fazer a
monta (saltar sobre a fêmea – reprodução), para caminhar e consequentemente para buscar
alimentos. Quando se trata de animais especializados para produção de carne, e portanto mais
pesados, este problema se torna ainda maior.

Nas figuras abaixo podemos observar os aprumos dianteiros, traseiros e laterais


corretos e os defeitos que podem ocorrem em cada um.

APRUMOS LATERAIS

Correto

Defeitos:

Membros anteriores e
Jarretes muito oblíquos posteriores para dentro Membros anteriores e
(sentado) (remetido) posteriores para fora (plantado)
Pés horizontais (Boletos longos) Pés muito verticais (Boletos curtos)
27

APRUMOS DIANTEIROS

Correto

Defeitos:

Joelhos muito Joelhos muito Apenas uma perna Pés muito Pés muito
para dentro para fora torta (manco) fechados separados

APRUMOS TRASEIROS

Correto
Defeitos:

28
Jarretes muito Jarretes muito Apenas um jarrete Pés muito Pés muito
para dentro para fora torto (manco) fechados separados

6.2 Má Oclusão em Ovinos

Os defeitos de má oclusão mais comuns são:

 Prognatismo;
 Retrognatismo.

O prognatismo ocorre pelo prolongamento da mandíbula (mais comum) ou pelo


encurtamento da maxila. Enquanto que o Retrognatismo ocorre devido ao encurtamento da
mandíbula (mais comum) ou ao prolongamento da maxila.
29

Fonte: Adaptada de Animal Science Resource Room, 2008.

Estes defeitos são de origem genética, sendo assim, os animais com estas
características devem ser eliminados do rebanho. Animais que apresentam prognatismo ou
retrognatismo têm dificuldade para apreender os alimentos e para mastigá-los, por isso
consomem menos e ganham menos peso. Em alguns casos mais extremos o animal pode
cessar o consumo e chegar a óbito. As figuras abaixo mostram a posição normal e as más
oclusões nos ovinos:

Normal Retrognata Prognata


7 IDADE DE ABATE

O ponto ideal de abate é aquele que resulta numa carcaça que apresente uma máxima
proporção de músculo, uma mínima de ossos e uma proporção de gordura adequada para
assegurar uma boa conservação da carne e conferir aroma, suculência e sabor a esta carne, 30
levando sempre em consideração o mercado a qual esta carne se destina. Sendo assim, para
entender como uma idade de abate é definida é necessário conhecer como funciona o
crescimento e o desenvolvimento dos animais.

7.1 Crescimento e Desenvolvimento

Faremos agora uma pequena revisão bibliográfica a respeito das curvas de


crescimento e desenvolvimento dos ovinos. O crescimento ocorre pela multiplicação das células
(hiperplasia) e pelo aumento no tamanho das mesmas (hipertrofia), com consequente ampliação
de tecidos estruturais e órgãos, acompanhada por uma mudança no peso corporal até que o
tamanho maduro seja alcançado. Já o desenvolvimento pode ser definido como um conjunto de
modificação na conformação corporal do animal até que a maturidade seja alcançada,
envolvendo diferenciação celular e mudanças na forma do corpo.
A curva de crescimento total que representa graficamente o peso em função da idade é
sigmoide desde a concepção até a maturidade fisiológica, ou seja, a velocidade de crescimento
de cada região e de cada tecido do organismo aumenta até alcançar o máximo e começa a
decrescer à medida que o animal vai adquirindo tamanho adulto. Quanto ao desenvolvimento
dos cortes, a paleta e a perna são precoces, o costilhar é tardio e o pescoço é precoce para
fêmeas e tardio para machos.

O desenvolvimento dos tecidos também não ocorre de forma uniforme e isomérica,


diferentes tecidos e partes do corpo apresentam taxas de crescimento variáveis em função das
fases de crescimento e maturidade fisiológica do animal. A ordem de crescimento dos tecidos
segue uma sequência determinada pela importância fisiológica, sendo sistema nervoso central,
ossos, tendões, músculos, gordura intermuscular e gordura subcutânea. Para a indústria de
carne, o osso, músculo e gordura são os tecidos de maior preocupação, sendo que os ossos têm
desenvolvimento precoce, os músculos desenvolvimento intermediário e os tecidos adiposos
desenvolvimento tardio.

Com o aumento da maturidade dos animais, determinado pelo aumento de peso,


31
ocorre uma maior deposição de gordura nas carcaças e uma diminuição da porcentagem de
ossos, sem alterar a de músculos. O osso é de desenvolvimento precoce, independentemente
de sexo e método de alimentação. A proporção de ossos na carcaça decresce continuamente à
medida que o peso do animal aumenta. O crescimento do tecido muscular é caracterizado até o
momento antes do nascimento, pelo aumento do número de células e, após o nascimento, pelo
aumento do tamanho das células.

Ao nascimento, os músculos representam uma alta proporção do peso total do animal,


aumentando ligeiramente e passando a decrescer à medida que se inicia a fase de deposição de
gordura. Imediatamente após o período pós-natal a maioria dos músculos dobram de peso num
curto espaço de tempo, sendo que alguns chegam a quadruplicar, tendendo a diminuir essa taxa
de crescimento na pré-puberdade e puberdade.

A velocidade de crescimento dos músculos é semelhante à do peso vivo, sendo que na


fase próxima à maturidade diminui a proporção de músculo em relação ao peso vivo. Desta
forma, a porcentagem de músculos na carcaça aumenta inicialmente, decrescendo à medida que
passa a predominar o desenvolvimento do tecido adiposo, com a elevação da proporção de
gordura na carcaça. O tecido adiposo é o de maior variabilidade no animal, tanto
quantitativamente como em função da sua distribuição, sendo influenciado principalmente pelo
genótipo e pela nutrição.

Os adipócitos, células especializadas em armazenar lipídios, não se multiplicam num


indivíduo adulto, sendo assim o crescimento do tecido adiposo ocorre pelo acúmulo de lipídio
nas células adiposas já existentes, as quais foram formadas durante a vida embrionária e num
período curto após o nascimento. A gordura apresenta um crescimento tardio, que independe do
nível alimentar ou do sexo. Raças de maturação tardia apresentam menor teor de gordura em
relação às raças de maturação mais precoce quando comparadas a um mesmo peso vivo.
Os principais depósitos de gordura são: gordura subcutânea – localizada debaixo da
pele –, gordura intermuscular, gordura intramuscular, marmoreio e a gordura abdominal,
principalmente ao redor do rim e da pélvis, sendo que a deposição da gordura se dá na seguinte
ordem: abdominal, intermuscular, subcutânea e intramuscular. A deposição da gordura
subcutânea ocorre primeiramente no traseiro e dianteiro, avançando em direção à coluna
vertebral e descendo posteriormente para a parte inferior das costelas. 32

A deposição de gordura pode ser um indicador do estado fisiológico e de maturação do


animal, uma vez que os tecidos ósseo e muscular têm prioridade. A quantidade e a distribuição
de gordura estão intimamente ligadas aos custos de produção, sendo ponto fundamental para
determinar o peso ótimo de abate e podendo afetar profundamente o valor da carcaça, onde o
seu excesso propicia a depreciação do produto. A composição e distribuição dos tecidos
corporais mudam durante a vida dos animais, sofrendo influência de vários fatores, sendo os
mais importantes o sexo, a raça, o tipo de animal, o peso corporal, a idade e o nível nutricional.

Em relação ao sexo, machos inteiros são mais tardios, apresentando-se mais pesados
e produzindo uma carcaça com mais músculo e osso e com menor deposição de gordura, a uma
determinada idade, quando comparados às fêmeas e aos machos castrados. Os machos inteiros
apresentam também melhor conversão alimentar. Nas fêmeas a fase de deposição de gordura
inicia-se com pesos menores que nos machos castrados e estes com pesos menores que nos
machos inteiros.

Em um mesmo peso de carcaça, as raças de menor peso na maturidade tendem a


produzir carcaças com mais gordura e menos músculo e osso do que as raças de maior peso na
maturidade. A alimentação pode influir de diversas maneiras sobre a qualidade da carcaça, seja
atuando sobre o crescimento do animal, influindo no grau de engorduramento ou condicionando
as características da carne e da gordura. Animais alimentados com dietas ricas em energia
apresentam menores percentagens de músculo e maiores percentagens de gordura, se
comparados a dietas de baixa energia.

O manejo nutricional tem grande importância na composição da carcaça, pois está


intimamente relacionado com a quantidade de gordura corporal, podendo ser utilizado como
ferramenta para alterar a composição da carcaça de acordo com os objetivos propostos. A um
mesmo peso de carcaça, o grau de maturidade e/ou a composição corporal varia de acordo com
os diferentes tipos de animais. A velocidade de crescimento muscular depende do nível de
consumo de energia em qualquer fase específica do desenvolvimento, influindo também, o
genótipo, o peso e tamanho adulto, onde os animais de formato grande possuem uma menor
proporção de músculos tardios em relação à musculatura total.

As variações na deposição e distribuição da gordura podem ser relacionadas à


33
utilidade para qual o animal foi desenvolvido ou aos diferentes ambientes no qual o animal foi
originado. Conhecendo o potencial de crescimento de cada raça e sexo, em função do tipo de
alimentação, e possível determinar que tipo de cordeiro produzira a carcaça desejada, com um
determinado sistema de produção. Contudo, não deve-se apenas levar em conta a velocidade de
crescimento do animal, mas deve-se considerar o perfil de crescimento do animal até atingir a
qualidade adequada de acabamento para o abate.

7.2 Idade X Peso de Abate

A idade de abate preconizada para ovinos especializados na produção de carne está


entre 120 e 150 dias de idade. Para a raça Santa Inês é comum vermos abates um pouco mais
tardios por volta dos 180 dias de idade. Contudo, a idade ao abate, bem como o peso, estão
estritamente relacionados com a raça, sexo e com a alimentação que estes animais recebem
antes e após o desmame.
Cordeiros que recebem, além do leite materno, alimentação de melhor qualidade
(creep feeding – ver aula sobre nutrição) desde bem jovens, aproximadamente 15 dias de idade,
terão o desenvolvimento ruminal mais rápido e, portanto, estarão mais cedo adaptados aos
alimentos sólidos, possibilitando um desmame precoce. Já animais que dependem somente do
leite materno até o desmame terão seu desenvolvimento ruminal mais tardio e se forem
desmamados precocemente sentirão muito, podendo perder peso nas primeiras semanas após o
desmame.
O desmame precoce (60 dias) é importantíssimo nos sistemas de abate mais
prematuros, pois se estes animais forem desmamados tardiamente, por volta dos 100 dias, não
estarão terminados para serem abatidos com 120-150 dias. Após o desmame, a engorda destes
cordeiros em diferentes sistemas de terminação também resultará num ganho de peso
diferenciado. Animais confinados recebendo volumoso de boa qualidade e concentrado proteico
e enérgico balanceado para suas necessidades ganharão mais peso e estarão prontos para o 34
abate mais cedo. Cordeiros criados exclusivamente a pasto terão seus ganhos de pesos
atrelados à quantidade e a qualidade da forragem consumida, sendo esta influenciada pelo
clima. Ou seja, na época das águas tem-se pastagem de boa qualidade e quantidade e o animal
ganha peso, mas na época da seca a pastagem é escassa e de baixa qualidade e o ganho de
peso fica estagnado ou é negativo (perda de peso).
O genótipo utilizado, seja raça pura ou cruzamento, também influencia na idade e no
peso de abate, sendo que raças especializadas na produção de carne são mais precoces,
estando prontas para o abate mais cedo. Contudo, estas raças são mais exigentes
nutricionalmente e menos tolerantes aos parasitos e só vão expressar seu potencial genético se
o ambiente (nutrição, manejo sanitário, entre outros) for o ideal.
Para definirmos a idade de abate devemos levar em conta:
 Mercado
 Qual o peso de cortes desejado;
 Qual a quantidade de gordura;
 Raça que vamos criar
 Especializada;
 Rústica;
 Sistema de acasalamento
 Raças puras;
 Cruzamentos;
 Quantidade e qualidade de alimento que podemos ofertar aos animais
 Somente pastagem nativa de baixa qualidade nutricional;
 Pastagem melhorada com adubação do solo;
 Pastagem + concentrado no cocho;
 Confinamento  concentrado + volumoso (feno, silagem, verde picado) no
cocho.

O Instituto de Zootecnia, localizado em Nova Odessa, SP, tem preconizado o cordeiro


superprecoce onde o animal é abatido com menos de 100 dias. Contudo, para que os animais
fiquem prontos para serem abatidos em idade tão precoce é necessário que os mesmos sejam 35
criados em condições intensivas:
 Utilização de forrageiras de alta produtividade e elevado valor nutritivo, tanto
para as mães (gestação e lactação) como para os filhotes lactantes;
 Engorda dos cordeiros em sistema de confinamento;
 Desmame muito precoce (45 dias);
 Raças especializadas na produção de carne e/ou seus cruzamentos.

A tabela abaixo mostra alguns índices zootécnicos encontrados para animais criados
neste sistema:

Índices médios no sistema de abate super precoce


Peso ao nascer (kg) 4,5
Idade de desmame (dias) 45
Peso ao desmame (kg) 17,1
Ganho de peso pré-desmame (g/dia) 280
Peso vivo ao abate (dias) 28-30
Idade de abate (dias) 95
Ganho de peso pós-desmame (g/dia) 240
Na tabela abaixo podemos observar a idade e o peso de abate encontrados em
experimentos com raças produtoras de carne e seus cruzamentos no Brasil:

Idade ao Peso ao
Raça abate abate Alimentação Autor
(Kg) (Kg)
Capim elefante + concentrado
26,6 de milho em grão e farelo de
Dorper x Santa soja (1,5% do peso vivo). Barros et al.,
129
Inês Capim elefante + concentrado 2005.
31,8 de milho em grão e farelo de
soja (3,5% do peso vivo).
Silagem de capim elefante + 36
Texel x Santa Inês 46,4 concentrado de milho
desintegrado com palha e
Furusho-Garcia
180 sabugo + grão moído de milho
et al., 2000.
Santa Inês pura 37,6 + Farelo de soja (2.472 de
energia metabolizável e 15,8
de proteína bruta).

Texel 126 37,73


Feno de Tifton-85
+concentrado com 15,1% de Carvalho et al.,
Suffolk 128 43,92
proteína bruta e 60,8% de 2005.
NDT.
Texel x Suffolk 128 48,25

Selaive-Villarroel
Caatinga raleada + ração
Santa Inês x SRD 180 21,12 e Souza Júnior,
comercial (18% de PB).
2005.
Ideal 23,6
Ideal x Suffolk 33,7
Ideal x Ile de
28,5 Silagem de milho +
France
concentrado de milho, farelo de Cunha et al.,
Corriedale 150 25,6 algodão, soja, trigo (21,3% de 2000.
Corriedale x proteína – 2,55 do peso vivo).
31,4
Suffolk
Corriedale x Ile de
31,3
France
Dorper x Santa
137 37,4
Inês
Confinamento (não informou Chagas et al.,
Suffolk x Santa
153 36,1 tipo de alimentação) 2007.
Inês
Santa Inês pura 170 35,8
8 Qualidade da Carne

O conceito sobre a qualidade de uma carcaça é bastante variável e dependente dos


diversos segmentos da cadeia produtiva, sendo que entre os segmentos e mesmo dentro de 37
cada segmento a carcaça de qualidade será aquela que atender suas necessidades e
expectativas. Contudo, a qualidade de uma carcaça, não importando por qual ângulo está sendo
avaliada, deve sempre visar suprir às exigências do consumidor, pois este segmento da cadeia é
quem paga por esta qualidade e mesmo a carcaça não chegando até este segmento, à carne
proveniente dela deverá satisfazer plenamente o consumidor.

Resumidamente, pode-se caracterizar a qualidade das carcaças nos diferentes


segmentos como:

 Sob ponto de vista do consumidor, a qualidade da carcaça depende da


qualidade da carne que é avaliada em relação a sua aparência; a sua
composição, ou seja, a proporção entre músculo, osso e gordura; o sabor da
carne, a maciez e a suculência;
 Sob o ponto de vista de quem prepara a carne é levada em consideração a
facilidade de preparo, a forma que se apresenta o corte, a aptidão de um
determinado corte para um determinado preparo e o rendimento na preparação
da carne;
 Sob o ponto de vista do açougueiro é considerado o rendimento da carcaça na
separação dos cortes, quantidade de carne dos cortes, sendo esta em função
do peso da carcaça, estado de engorduramento e conformação;
 Sob o ponto de vista do produtor o peso vivo e o estado corporal dos animais é
levado em consideração.

O fato de que cada segmento tem sua própria definição sobre qualidade de carcaça e
que às vezes os interesses entre eles são contraditórios e torna complicado um consenso entre
os diversos segmentos da cadeia produtiva. Uma forma de promover o entendimento é através
da criação de uma denominação específica de qualidade onde ocorreria uma reestruturação da
cadeia de produção de carne a fim de abastecer o mercado com produto de qualidade, o que
agregaria valor às carcaças e com a valorização da mesma incentivaria ao produtor buscar
melhorias na produção.

E não somente o produtor investiria para melhorar a qualidade do produto fornecido


38
como também os outros segmentos da cadeia até a comercialização, já que para a carcaça
receba o selo da denominação, ou seja, o seu aval para venda ela necessitaria cumprir com os
requisitos pré-determinados pelo conselho regulador da denominação específica de carne de
qualidade. Do ponto de vista do consumidor, a qualidade da carne está relacionada,
principalmente, com:

 Quantidade de gordura intramuscular (marmoreio);


 Quantidade de músculo x quantidade de osso;
 Consistência e coloração da carne;

A aceitação de uma carne pelo consumidor é a resposta final sobre o valor desta
carne, porém a intensidade de satisfação que resulta do consumo desta carne é singular de cada
indivíduo e está relacionada com respostas psicológicas e sensoriais. A sensação de prazer ou
desprazer causada pelo consumo desta carne é medida por uma escala hedônica (gostar ou não
gostar) e alguns dos fatores que interferem nesta medida são a aparência, aroma, maciez,
suculência, porção comestível e valor nutritivo.

8.1 Palatabilidade

As características que contribuem para que uma carne seja palatável são aquelas
agradáveis à vista, ao olfato e ao paladar. Dentro destas características pode-se ressaltar a
aspecto, maciez, teor de gordura, suculência, sabor e aroma, sendo que a palatabilidade como
um todo será a inter-relação de todos estes atributos.

39
8.2 Aspecto

Considerando os fatores que compreendem o aspecto físico da carne sua coloração


tem uma dos papéis mais relevantes. Geralmente o consumidor relaciona a cor da carne com a
sua frescura. A cor vermelho brilhante está relacionada com sua frescura e a carne escura com a
falta dela, muito embora esta coloração escura esteja mais influenciada pela carne proceder de
um animal velho ou de um abate sob estresse. Outro aspecto é a coloração da gordura, sendo a
mais aceitável a de cor branco cremoso. A gordura de cor amarela não é bem aceita na maioria
das vezes.

A coloração do produto cozido também influencia a opinião do consumidor, quando a


coloração é atrativa, esta estimula as glândulas salivares e dá a impressão de ser gostosa
mesmo antes de prová-la. A proporção do músculo em relação ao osso e a gordura também
influencia a palatabilidade. Carnes com grande quantidade de gordura proporcionam menor
prazer ao consumi-la e também reduz a proporção de carne comestível.

8.3 Maciez

Este é o atributo considerado mais importante para carne. A variabilidade da maciez do


músculo pode ser devido à quantidade e natureza do tecido conjuntivo e a os efeitos a
actinomiosina. O tecido conjuntivo é formado principalmente por colágeno, contendo também
elastina e reticulina, que também contribuem para dureza da carne. Músculos com grande
quantidade de colágeno possuem menos maciez. O conteúdo de tecido conjuntivo no músculo
está relacionado com a atividade funcional durante a vida do animal, sendo que músculos que
possuem maior atividade apresentam uma maior quantidade de tecido conjuntivo.
40
Em animais mais velhos a carne se torna menos macia e pode-se associar isso a
modificações do tecido conjuntivo. A quantidade deste tecido varia muito pouco após a
maturidade, porém é provável que ocorra um aumento nas ligações intermoleculares cruzadas
nas fibras de colágeno, observando uma diminuição na solubilidade deste colágeno. Em geral o
ambiente fisiológico orgânico do animal indica de forma mais precisa a maciez do que a idade
cronológica do animal.

Existem muitos métodos para superar a dureza do tecido conjuntivo, como enzimas de
origem vegetal, como a papaína, estas degradam proteínas como colágeno e elastina. Existem
também tratamentos mecânicos e sua eficiência depende da destruição da estrutura dos tecidos
conjuntivos. Em relação às fibras musculares, a sua maciez é determinada pelo estado de
contração que segue a rigidez, e esta é em grande parte controlada pela tensão do músculo
durante a instauração do rigor mortis.

Pode-se modificar a tensão de um músculo colocando a carcaça em posição distinta


durante o processo de rigidez. O grau de tensão e a temperatura alcançada antes do rigor
influenciam a largura final do sarcômero e sua maciez. A percepção da maciez pode ser descrita
baseando-se nas seguintes condições da carne durante sua mastigação:

 Maciez na língua: é a sensação tátil que se nota no contato da carne com a


língua;
 Resistência à pressão dental: refere-se à força necessária para cravar o dente
na carne;
 Facilidade de fragmentação: é a capacidade dos dentes de cortar
transversalmente as fibras, romper os sarcolemas;
 Farinhosidade: é o tipo de fragmentação exagerada em que pequenas partículas
se pegam na língua dando a sensação de secura;
 Adesão é a força com que as fibras se mantêm unidas e depende da resistência
dos tecidos conjuntivos que as rodeia;
 Resto de mastigação: detectam-se como tecido conjuntivo que permanecem
depois de se ter mastigado a maioria da amostra.

41

8.4 Gordura

A gordura intramuscular (marmorização) contribui para a maciez da carne. É possível


que durante a mastigação de uma carne menos tenra a gordura atue como lubrificante,
melhorando a maciez e facilitando a deglutição. A gordura também está bastante relacionada
com a suculência da carne.

8.5 Suculência

A suculência da carne exerce um papel importante na impressão total da palatabilidade


e contém componentes do aroma e interferem no processo de fragmentação durante a
mastigação. A primeira impressão da suculência é a umidade notada nas primeiras mordidas
produzidas pela liberação rápida de fluidos. A segunda consiste numa suculência devida ao
potencial de efeito estimulador da gordura na produção de saliva.

As principais fontes de suco da carne são gordura intramuscular e conteúdo aquoso. As


gorduras fundidas em combinação com a água constituem um caldo que é liberado ao mastigar
a carne. Durante o processo culinário a gordura se desloca ao longo das bandas de tecido
conjuntivo. Esta distribuição faz uma barreira frente às perdas de umidade e consequentemente
carne com certo marmoreio durante o processo culinário perde menos água e se apresenta mais
suculenta. A suculência também varia com a idade dos animais e isto provavelmente está
relacionado com a diferença de quantidade de gordura em carcaças de várias idades.

42

8.6 Sabor e Aroma

O sabor e o aroma da carne estimulam a liberação da saliva e de suco gástrico,


ajudando o processo digestivo, sendo percebido pelas terminações nervosas da superfície da
língua, sendo essas sensações salgado, doce, ácido e amargo. O aroma é percebido quando
materiais voláteis estimulam as terminações nervosas da mucosa dos condutores nasais.
Existem muitos componentes de tecido que uma vez aquecido se convertem em agentes do
sabor. Substâncias como inosinmonofosfato e hipoxantina, que são produtos da degradação de
ATP, aumentam o sabor e o aroma, sendo assim, músculos com grandes reservas energéticas
tenham sabor mais pronunciado.

Durante o amaciamento podem aparecer sabores desagradáveis devido ao


crescimento microbiano, a decomposição proteica e oxidação da gordura. A rancidez da gordura
ocorre quando se rompem ligações duplas das cadeias de ácidos graxos pela adição química de
oxigênio ocorrendo formação de aldeídos voláteis responsáveis pelo gosto de ranço e aroma
característico. Muitos fatores podem originar sabores diferentes à carne, porém é preciso
reconhecer que um sabor desagradável para um consumidor pode ser agradável para outro,
portanto não existem normas para o sabor da carne. A idade dos animais e o sexo também
afetam o odor da carne.
9 CARNE OVINA

A carne ovina oriunda de animais jovens (cordeiros abatidos até 180 dias) possui uma
coloração vermelha clara (rosada), aroma e sabor suave e pouca gordura. Na Tabela 1 43
encontramos uma comparação entre a composição da carne de ovinos (100 gramas de carne
assada) com a carne de outras espécies consumidas no Brasil.

Tabela 1 - Composição de tipos de carne

Gordura Proteína Ferro


Origem Calorias Gordura (g)
Saturada (g) (g) (g)
Ovino adulto 252 17,14 7,82 24 1,5
Ovino precoce 163 9,5 - 19 -
Caprino 131 2,76 0,85 25 3,54
Bovino 263 17,14 7,29 25 3,11
Suíno 332 25,72 9,32 24 2,9
Frango 129 3,75 1,07 24 1,61
Avestruz (85g) 97 1,70 0,049 21,2 -
Peru (85g) 135 3,00 0,059 27 -
Fonte: Nogueira e Nogueira, 2006.

Embora, Nogueira e Nogueira (2006) citem um percentual de 9,5% de gordura, vários


autores, como Zapata e colaboradores (2001) e Zeola e Silva Sobrino (2006) têm citado um
percentual entre 3 e 4% de gordura na carne ovina oriunda de animais jovens.
9.1 Fatores que Afetam as Características da Carcaça e a Qualidade da Carne Ovina

A qualidade da carne ovina é afetada por diferentes fatores como alimentação,


genótipo, sexo e idade e peso ao abate. Ao se fornecer alimentação de melhor qualidade 44
também se tem um melhor acabamento destes animais. Animais semelhantes criados em
diferentes sistemas de nutrição apresentam maior peso vivo ao abate, melhor conformação,
maior peso de carcaça e consequentemente dos cortes de maior valor econômico.

Ao comparar sistemas alimentares (campo nativo, pastagem e confinamento) pode-se


observar que animais criados sob pastagem cultivada e confinamento, onde a alimentação era
de melhor qualidade apresentaram peso de carcaça superior ao do campo nativo. Animais
criados em diferentes sistemas de produção produzem diferentes concentrações de ácidos
graxos voláteis no rúmen. Esta diferença pode afetar o pH final, a cor e o aroma da carne. O
alimento tem grande influência na quantidade de ácidos graxos saturados e monoinsaturados no
tecido adiposo subcutâneo, por exemplo, o uso de ração peletizada de elevado teor energético
limita o acúmulo destes ácidos, melhorando o grau de aceitação da carcaça (carne) pelo
consumidor.

A coloração é afetada pela nutrição, sendo que ovinos criados em pastagem podem
apresentar carne mais escura do que os que são terminados recebendo concentrado. Esta
diferença na coloração pode ser explicada pelo fato que pastagens são mais ricas em fibra do
que em amido, o que faz com que a taxa de acetato-propionato fique alta, afetando o pH final da
carne.

Uma das diferenças mais acentuadas entre carcaças provenientes de animais


terminados a pasto e com concentrado e a deposição de gordura, a coloração da gordura
subcutânea e o sabor e aroma da carne. Ao melhorar a qualidade da dieta também aumenta seu
consumo e sua digestibilidade, pois mesmo que o animal esteja recebendo quantidade suficiente
de forragem, se esta for de baixo valor nutritivo sua utilização pelos microorganismos do rúmen
ficará comprometida, com isso o tempo de permanência da digesta no rúmen será maior (taxa de
passagem mais lenta) e pelo limite físico de capacidade do rúmen haverá uma menor ingestão
de alimentos. Este fator vai afetar diretamente o crescimento dos animais bem como a
terminação dos mesmos para o abate, ocasionando perda na qualidade do produto.

Genótipos (raças ou cruzamentos) diferentes mesmo sendo criados em ambientes


semelhantes (manejo, nutrição, entre outros) e abatidos a uma mesma idade podem apresentar
peso vivo, peso e características de carcaça e até mesmo qualidade de carne muito distinta. Isto
45
se deve principalmente a dois pontos. O primeiro seria a base genética de formação de um
determinado genótipo e os cruzamentos feitos nesta raça. Um segundo ponto seria o processo
de seleção que cada raça sofre ao longo do tempo onde foi enfocada uma determinada
característica produtiva (lã, carne, leite, etc). Sendo assim, estes diferentes genótipos também
possuem idade a maturidades diferentes. E consequentemente diferentes velocidades de
crescimento.

As influências genéticas sobre o crescimento dos animais começam ainda no


desenvolvimento embrionário onde existem diferenças na velocidade da divisão celular entre
embriões de raças pequenas e raças grandes. O efeito do genótipo também está evidenciado no
peso ao nascimento, pois além da influência do tamanho das raças no peso ao nascer tem-se a
influência do tipo de gestação, simples ou gemelar, que é altamente afetado pela raça. O peso
ao desmame é outro ponto que é afetado pela genética, estando relacionado à habilidade
materna, principalmente pela quantidade de leite produzido pela ovelha, que é bastante
diferenciada entre as raças.

Efeitos dos fatores genéticos são observados também em relação à compatibilidade ou


incompatibilidade que determinadas raças têm a certos ambientes. Neste ponto podem-se
observar diversos aspectos, alguns deles são: diferenciação entre raças em relação às
exigências nutricionais; resistência a parasitos e ao calor ou frio. Estes dois últimos aspectos
estão diretamente ligados ao ganho de peso e ao crescimento a partir do momento que afetam
grandemente o consumo de alimentos.

Comercialmente, a diferença da deposição de gordura entre os genótipos é um dos


aspectos importantes, sendo que as raças mais precoces tendem a ter uma maior deposição de
gordura que os tardios. O sexo influencia a qualidade da carcaça e da carne, pois machos
inteiros possuem taxa de crescimento e de deposição de gordura distinta das fêmeas. Sendo
assim, quando abatidos com mesma idade os machos, por serem mais tardios e por possuírem
uma melhor conversão alimentar, apresentam-se mais pesados e produzem uma carcaça com
menor deposição de gordura do que as fêmeas.

A idade e o peso de abate exercem uma grande influência sobre a composição


corporal e consequentemente sobre a qualidade da carcaça e da carne, pois, como visto no
tópico sobre crescimento e desenvolvimento as regiões do corpo (perna, paleta, pescoço e
46
costela), bem como a composição tecidual (músculo, osso e gordura) possuem desenvolvimento
diferenciado. Desta forma, animais mais jovens terão uma maior quantidade de músculo em
relação à gordura e de perna em relação à percentagem de costela. Ao passo que animais mais
velhos, perto do ponto de maturação fisiológica, terão maior deposição de gordura e
percentagem maior de costela.
10 SISTEMAS DE PRODUÇÃO

Os sistemas agrários são resultado da interação entre fatores ecológicos e


socioeconômicos. Dentre os fatores ecológicos podemos citar a região, clima, recursos nutritivos,
47
interação com outros sistemas pecuários ou agrícolas e como socioeconômicos os custos de
produção, acesso a tecnologias, natureza da produção, mercado e projeção econômica e
cultural. Um sistema de produção pode ser definido como conjunto de técnicas de manejo,
alimentação e seleção aplicadas ao rebanho em função da ecologia e das condições
socioeconômicas da zona geográfica em que se pretende produzir.

Um sistema de produção pode ser definido com base na raça, sexo, regime alimentar e
idade de abate. A carne ovina é produzida nas mais diversas regiões do mundo, oriunda de uma
enorme variação de tipos de animal (raça, idade, sexo, etc) e práticas de criação (estratégias de
alimentação, desmame, etc), gerando através das combinações destes fatores uma imensa
gama de sistemas de produção e tipos de cordeiro e consequentemente uma grande
variabilidade de carcaça e qualidade de carne disponível para o consumidor, o que tem
implicações importantes para aceitação do produto em regiões geográficas diferentes. Existe
mais diversidade nos sistemas de produção de carne ovina do que em qualquer outro sistema de
produção de carne.

Para definirmos qual sistema de produção é mais indicado para determinada


propriedade podemos nos basear nas seguintes informações:
 Propriedade:
 Tamanho;
 Quantidade de instalações já existentes;
 Facilidade de escoamento da produção (distância até a rodovia);

 Fatores edafoclimáticos:
 Tipo de solo;
 Topografia (plana, montanhosa) da propriedade;
 Clima (temperatura, umidade, pluviometria);

 Recursos para alimentação:


 Qualidade e quantidade de pastagem;
 Facilidade de utilização de subprodutos (polpa cítrica, restos do
48
beneficiamento de trigo, de arroz, entre outros);
 Possibilidade de plantio de capineiras, milho, etc;

 Custo econômico da produção:


 Mão-de-obra (especializada ou comum);
 Instalações e equipamentos que podem ser construídos;
 Serviços veterinários;
 Mercado
 Que tipo de carcaça (pesos e espessura de gordura) este mercado deseja;
 Ele paga mais por uma carne de melhor qualidade;

 Programas de apoio financeiro do governo:


 Existência de financiamento para a atividade que desejamos desenvolver;
 Custo deste financiamento.
11 SISTEMA EXTENSIVO

Sistema mais utilizado no Brasil para a produção de ovinos de corte. Contudo, para a
ovinocultura comercial de corte não é muito eficiente economicamente. As principais 49
características deste sistema são:

 Grande quantidade de terra disponível;


 Principal fonte (na maioria das vezes a única) de alimentação é a pastagem
natural;
 Existe uma grande variabilidade das plantas forrageiras quanto a sua produção
e valor nutritivo;
 A produção das pastagens é baixa devido à fertilidade solo, clima e ou
condições topográficas;
 Normalmente não existe adubação ou correção do solo;
 Produção das forragens é estacional com escassez na época das secas, ou
seja, neste período do ano falta comida;
 Baixa densidade de animais por área, com rebanhos em grandes superfícies:
 A taxa de lotação é baixa, de1 a 4 animais por hectare;
 A pressão de pastejo deve ser no nível que permita a seleção da forragem
ingerida, assegurando níveis aceitáveis de sobrevivência animal e
rendimentos de acordo com as circunstâncias socioeconômicas;
 Utilização de animais de baixa produtividade, rústicos, sem uma aptidão 50
completa (dupla ou tripla aptidão);
 Sistema de reprodução por monta natural, ou seja, o carneiro fica com as
ovelhas no pasto durante todo o ano:
 Falta de controle sobre a fertilidade;
 Ineficiência no descarte e reposição de matrizes e reprodutores;
 Baixa utilização dos machos;
 Manejo sanitário insatisfatório.

As principais vantagens do sistema extensivo:

 Baixo custo para ser implantado;


 Permite o aproveitamento de áreas de baixo recurso e que não são utilizadas
por outras atividades agrícolas;
 As exigências de capital e mão-de-obra são pequenas e a rentabilidade em
relação ao capital investido é alta;
 Pouca exigência em instalações.

As principais desvantagens desse sistema são:

 A estacionalidade da produção:
 O animal fica sujeito a variação de quantidade e qualidade das pastagens,
sendo que na época seca muitas vezes estes animais perdem peso;
 O abate dos animais cuja engorda atravessou o período seco é tardio (animais
mais velhos);
 Ciclos produtivos muito longos;
 Menor capital de giro na propriedade;
 O acabamento das carcaças é heterogêneo
 Não é fácil ter sempre a mesma qualidade (quantidade de gordura e de
músculo) de carcaça e carne, já que o abate é realizado com animais de
idades diferentes.
51

Cuidados a serem tomados neste sistema:

 Mesmo sendo o animal criado a pasto, de forma mais simples, o produtor não
pode esquecer-se de providenciar uma área de sombreamento para que o
animal possa se refugiar nas horas mais quentes do dia;
 Pode ser com árvores ou construções em meia água;
 A falta de planejamento na capacidade de suporte das pastagens pode levar ao
uso de altas taxas de lotação nestas áreas, acarretando na degradação dessas
pastagens;
 Essa degradação se inicia com o aparecimento de espécies invasoras;
 Desaparecimento do pasto original;
 Aparecimento de espécies de baixo valor forrageiro;
 A produtividade por área tende a ser cada vez menor, até o ponto de tornar a
atividade insustentável.
12 SISTEMA SEMI-INTENSIVO

Esse sistema é o resultado de algumas melhorias que podem ser realizadas em relação
ao sistema extensivo:
52
 Planejamento dos recursos alimentares:
 Emprego do sistema de rotação de pastagens:
 Melhor utilização das pastagens;
 Diminuição da carga parasitária;
 Menor degradação da área
 As pastagens ficam vazias pelo tempo necessário para sua
recuperação;
 Implantação de pastagens melhoradas:
 Maior valor nutritivo;
 Maior produtividade;
 Utilização de suplementação estratégica na época seca do ano:
 Utilização de silagem e/ou feno;
 Ração comercial;
 Aproveitamento de subprodutos:
 Em áreas produtoras de cereais, pode se utilizar o restolho como
fonte adicional de alimentação;
 Polpa cítrica;
 Resíduos do beneficiamento de trigo e de arroz;
 Entre outros;
 Melhor aproveitamento da mão-de-obra;
 Melhorias nos manejos reprodutivo e sanitário:
 Utilização do sistema de monta natural controlada;
 Maior controle sobre fertilidade, época de parição; reposição de matrizes e
reprodutores;
 Otimização do uso do macho;
 Maior controle sobre endo e ectoparasitas;
 Maior índice de vacinação;
 Entre outros.
As principais características deste sistema são:

 A propriedade deve possuir áreas com melhor topografia, com solos mais ricos
53
ou com correção desses solos através de adubação;
 A superfície utilizada é menor em comparação ao sistema extensivo;
 A taxa de lotação é maior, de 6 a 20 animais por hectare
 Isto ocorre por causa da utilização de pastagens melhoradas que são
mais produtivas e nutricionalmente melhores;
 Maior produtividade por animal;
 Este sistema comporta animais de alta produtividade, com aptidão específica.
13 SISTEMA INTENSIVO

Este sistema produtivo possui exploração animal de alta tecnologia, de forma a permitir
a obtenção de animais com altos rendimentos produtivos no menor tempo possível, buscando 54
uma produtividade máxima por cabeça e por área. Além das melhorias realizadas no sistema
semi-intensivo, encontramos neste sistema as seguintes características:

 Grande nível de estabulação;


 Elevado manejo nutricional
 Pastos de alta qualidade
 Solos corrigidos e adubados;
 Utilização de suplementação estratégica
 Período seco
 Para todas as categorias;
 Gestação e lactação;
 Utilização de creep feeding (suplementação para cordeiros – ver aula
sobre nutrição);
 Aleitamento artificial (quando necessário)
 Uso de raças de grande produtividade e muito especializadas na produção de
carne:
 Emprego de melhoramento genético animal
 Utilização de biotecnologias reprodutivas
 Inseminação artificial;
 Transferência de embriões (para matrizes e reprodutores);
 Manejo sanitário
 Alto índice de vacinação;
 Enfermarias para separação de animais doentes;
 Controle parasitário intenso.

O emprego deste sistema é justificado, principalmente:


 Quando não se tem disponibilidade de terra;
 Tem-se alta produtividade;
 Mercado paga por esta qualidade de produto, compensando o alto investimento.

Os principais limitantes e que não devem ser considerados como desvantagens:


55
 Mão-de-obra especializada;
 Alto investimento financeiro (principalmente pelos gastos com infraestrutura).

As principais vantagens deste sistema são:


 Diminui a idade do abate;
 Aproveita produtos alimentícios da fazenda ou forragem do verão (que é
normalmente perdida), armazenando-a;
 Permite a comercialização dos animais com peso e carcaça uniforme;
 Produz carcaça terminada com camada de gordura uniforme e ideal para evitar
o ressecamento durante o processo de refrigeração, ou de acordo com a
exigência do mercado;
 Proporciona a engorda dos animais durante o período da entressafra, quando
falta o cordeiro de pasto, aproveitando épocas de preços mais altos.
14 SISTEMA MISTO OU INTEGRADO

Podemos integrar a produção de ovinos com outras espécies animais ou vegetais,


como forma de aumentar a lucratividade e a eficiência de utilização das áreas das propriedades 56
rurais.

14.1 Entre Animais

As associações com outros animais são convenientes principalmente em relação ao


controle das infestações parasitárias, em espécies onde não ocorram infestações cruzadas. Para
este fim a integração pode ser feita com bovinos adultos ou equinos. Também podemos utilizar o
sistema integrado com a finalidade de promover um aproveitamento mais eficiente das espécies
forrageiras, melhorando a distribuição da pressão de pastejo e o uso de maior número de
componentes da vegetação. Esta integração pode ser com bovinos, bem como com caprinos.
Outra vantagem da associação com bovinos é em relação à proteção contra predadores. Neste
caso as duas espécies devem pastar ao mesmo tempo, pois quando ameaçados por
predadores, os ovinos, circulam no meio dos bovinos.

14.2 Agrossilvopastoril

A integração agrossilvopastoril, ou seja, de ovinos com espécies vegetais, resulta num


incremento do ganho (lucro) por área cultivada, sem que haja danos às espécies vegetais. Esta
associação pode ser feita com cafezais, seringueiras, coqueiros, mangueiras, macieiras,
eucaliptos, entre outras. A associação com milho também é viável, mas a introdução dos ovinos
deve ser feita quando a planta de milho já estiver com altura mais elevada, neste ponto os ovinos
só ingerem as gramíneas entre as plantas de milho e as folhas mais baixas do mesmo, não
prejudicando a cultura.
57
Diversas pastagens podem ser utilizadas, desde forrageiras mais rústicas (nativas ou
naturalizadas) que brotam espontaneamente nas entrelinhas do cultivo até forrageiras
melhoradas como o Tifton. Estas forrageiras melhoradas podem ser utilizadas principalmente
nas áreas onde a vegetação nativa é escassa ou de baixo valor nutritivo. Pode ser usado o
sistema de rotação de pastagens, que permite aumentar a capacidade de suporte, bem como
auxilia na recuperação das forragens, já que as mesmas ficam sem animais por um determinado
período. Para o sistema de rotação de pastagens nas integrações agrossilvopastoris a cerca
mais recomendada é a móvel, pois pode ser deslocada para o piquete que será utilizado.

Fonte: Guimarães Filho, Soares e Albuquerque, 2000.


15 Definições de termos usados nesta aula

 GANHO POR ÁREA: O ganho por área é o produto do ganho de peso por animal
pelo número de animais por unidade de área. 58

 TAXA DE LOTAÇÃO: É o número de animais por hectare, não tendo ligação alguma
com disponibilidade de forragem. Via de regra, aumentos na taxa de lotação
provocam reduções no ganho por animal; em contrapartida, o rendimento por área
aumenta.

 PRESSÃO DE PASTEJO: A pressão de pastejo é kg de forragem disponível/100 kg


de peso vivo ou o número de animais por unidade de forragem disponível,
apresentando também a relação da pressão de pastejo associado com a resposta
animal.
16 INSTALAÇÕES PARA OVINOS

O tipo de instalações necessárias para a criação de ovinos vai depender do tipo de


59
criação, do manejo empregado no rebanho, do número de animais e do clima local. Para
rebanhos com menos que 50 cabeças não se justifica a construção de instalações somente para
os ovinos. A construção das instalações visa minimizar o estresse dos animais, proporcionando
um ambiente protegido, confortável e sadio, diminuindo os problemas sanitários do rebanho e
aumentando sua produtividade. Além disso, instalações bem planejadas facilitam o manejo do
rebanho, maximizando a utilização da mão-de-obra e diminuindo os custos de produção.
17 HOMEOTERMIA

Os animais homeotermos necessitam manter a temperatura corporal dentro dos limites


de variação para que possam viver com saúde e serem produtivos. Esta variação para ovinos,
60
como vimos no tópico sobre características fisiológicas, é de 38,5 a 40,0 ºC. Sendo assim, criar
os animais dentro da zona de conforto térmico (temperatura do ar adequada à fisiologia do
animal) é fundamental para que os mesmos possam expressar seu potencial.

Fonte: Adaptado de Müller, 1989.

Animais criados em temperaturas acima da zona de conforto passam mais tempo na


parte sombreada, diminuem seu metabolismo assim como o consumo de alimentos, gastam
energia para dissipar calor, e consequentemente, ganham menos peso (ou até perdem peso).
Estes animais também consumem mais água e se esta não estiver disponível as consequências
do estresse por calor são agravadas. Se forem submetidos a temperaturas acima do crítico
superior, os mecanismos de dissipação de calor não conseguem controlar a temperatura
corpórea levando este animal a hipertermia e morte.
Já animais criados em áreas muito frias, abaixo da temperatura mínima da zona de
conforto, aumentam o consumo de alimentos, mas como o metabolismo também aumenta, na
tentativa de produzir calor, gastam mais energia para manter a homeostase. A situação de
estresse por frio é mais exacerbada em animais que não estão recebendo uma nutrição
adequada. Nos ovinos, a zona de conforto térmico varia de 15 a 30 ºC, sendo o limite crítico
inferior 5 ºC e superior de 40 ºC. As raças de ovinos lanados suportam uma temperatura um
pouco mais baixa, ficando seu limite crítico inferior por volta de –15 ºC.
Os cordeiros são muito sensíveis ao frio e principalmente ao vento. A temperatura ideal
(zona de conforto) para esta categoria é de 25 a 30 ºC e os limites críticos superior e inferior são
6 ºC e 34 ºC, respectivamente. Em regiões frias estes animais devem ser aquecidos
artificialmente, através do uso de lâmpadas próprias. 61
18 LOCALIZAÇÃO E DIREÇÃO

A localização das instalações deve ser seca, perto das pastagens e perto da sede para
evitar predadores. Em regiões muito frias, ventosas, com excesso de chuvas ou
62
demasiadamente ensolarada se faz necessária a construção de abrigos, principalmente para os
cordeiros recém-nascidos. As instalações (abrigos, cabanhas, etc) devem ser construídas no
sentido leste-oeste na maioria das regiões. Contudo, para decidir a direção em que a construção
deve ser feita temos que considerar o clima do local, por exemplo, a direção dos ventos mais
frios. Em alguns casos a literatura tem indicado a construção no sentido norte-sul, principalmente
para galpões de cama ou chão batido.
19 CERCAS

19.1 Cercas para pasagens

63
Para a construção das cercas das pastagens deve ser usado preferencialmente arame

liso, ovalado, galvanizado, nº 15 / 17. As cercas devem ter aproximadamente 1,20 m de altura.
Para ovinos deslanados utilizar altura de 1,30 a 1,50 m. As cercas podem ser de 5, 6 ou 7 fios,
devendo o primeiro fio estar no máximo 10 cm do chão para evitar fuga dos animais. Os
mourões podem ser de cimento ou madeira e devem medir de 10 cm a 15 cm de diâmetro ou
lado (redondo ou quadrado, respectivamente). O espaçamento entre os mourões é de 10 m
entre eles, com o uso de balancins de arame a cada 2 m. Os mourões devem ser enterrados de
40 a 60 cm do solo.

 Exemplo de espaçamento das cercas de pastagens:


64

Fonte: Própria autoria, 2008.

Pode se usar cerca elétrica com dois fios, estando o primeiro a 10-15 cm do solo e o
segundo a 20 cm do primeiro. Se forem ovelhas lanadas uma área de aprendizagem com vários
fios poderá ser necessária.

19.2 Cercas para os currais

Deve ser construído preferencialmente com madeira resistente, tendo as tábuas 10 cm


de largura e a primeira deve estar a 5 cm do solo. A altura deve ser de 1,0 m a 1,5 m, sendo a
mais alta para ovinos deslanados. Os mourões devem medir de 10 cm a 15 cm de diâmetro ou
lado e estarem enterrados de 40 a 60 cm abaixo do solo. A distância entre mourões é de 2 m.
 Exemplo de espaçamento para cerca de curral:

1ª tábua = 5 cm

2ª tábua = 5 cm
65
3ª tábua = 10 cm

4ª tábua = 15 cm

5ª tábua = 15 cm

Fonte: Própria autoria, 2008.


20 PORTEIRAS

As porteiras para os pastos devem ter de 3 a 3,5 m de comprimento. A altura deve ser
a mesma da cerca. Estas porteiras podem ser construídas em madeira ou ferro. As porteiras
66
para os currais devem ser feitas de madeira, com tábuas de 10 cm, começando a 5 cm do chão
e com espaçamento semelhante ao da cerca para currais. A altura deve ser a mesma da cerca
do curral. Os portões de entrada do abrigo devem ter de 1,0 a 1,5 m e os portões das baias por
volta de 50 a 80 cm. Contudo, o tamanho das porteiras e portões vai depender do manejo
empregado.
21 ABRIGOS (APRISCOS)

Os abrigos são construídos visando o conforto dos animais e também para proteger os
67
animais dos predadores na parte da noite. Pode ser ripado e suspenso ou de chão batido. Se o
animal passar muitas horas no aprisco o mesmo deve conter cocho e bebedouro.

21. 1 Suspenso

Quando utilizado somente como abrigo não precisa ter divisórias internas. Deve ser
construído elevado a uma altura de 0,8 a 1,0 m do solo para facilitar a limpeza do terreno. O
chão é feito com ripas de madeira de 4 cm largura, espaçadas a 1,5 cm (quando for para
cordeiros muito jovens deve-se diminuir o espaçamento para 1,0 cm). As paredes podem ser de
alvenaria, madeira, tela, bambu ou o material mais facilmente encontrado e com menor custo em
sua região. As paredes podem ser inteiras ou meia parede, depende do clima da sua região. Se
for muito frio aconselha-se paredes inteiras e se for mais quente meia parede com o restante em
tela. Em locais muito quentes a utilização do sistema de cortinas (tipo de galpão para aves) pode
ser bastante eficiente. O pé direito é de 2,5 m a 3 m, as telhas podem ser metálicas, de barro,
etc. Deve ter um beiral de 1,5 m a 1,8 m para proteger dos raios solares e das chuvas de vento.

O espaço deve ser considerado de acordo com a categoria animal:

Categoria Área (m2/animal)


Matrizes 1,0 a 1,5
Ovelhas com cria 2,0 a 2,5
Animais jovens 0,8 a 1,0
Crias 0,5
Reprodutores 3,0 a 3,5
68

Abaixo podemos observar um esquema de aprisco suspenso confeccionado com


sistema de tela e lona (observar que a rampa de acesso deve possuir saliências para os animais
não escorregarem):
69

Fonte: Própria autoria, 2008.


Cuidado com a utilização de aprisco suspenso (ripado) em encostas de morro onde
venta muito, pois o vento pode entrar pelas frestas e tornar o ambiente muito frio. Principalmente
para cordeiros que não toleram ambientes com muito vento.

70

Fonte: Borges et al., 2007

21.2 Chão Batido

Para construção de apriscos de chão batido pode ser com área coberta ou descoberta.
Pode ser direto no chão ou em cima de camas (areia, maravalha, palha, etc). Contudo, o piso
deve ser de material que permita uma boa compactação e boa drenagem, com declive em torno
de 2 % a 5 %. O pé direito deve ser por volta de 2,5 m a 3 m, dependendo do clima e da
ventilação. O telhado e as paredes são construídos de forma semelhante ao do aprisco
suspenso. Para área coberta usar o mesmo espaçamento do aprisco suspenso. Já para apriscos
com área descoberta recomenda-se utilizar o dobro da área coberta para cada categoria de
animal. As cercas para o abrigo e cabanha devem ser de tela e arame para evitar os predadores.

71

Fonte: Revista Fator Brasil, 2008.


22 CABANHA

A construção da cabanha é destinada aos reprodutores e animais de exposição. Sua


construção é semelhante à do abrigo, podendo ser suspenso ou no chão. Contudo, diferente do
72
abrigo, a cabanha deve possuir divisões internas (baias) com comedouro e bebedouro. O
comedouro é dimensionado de acordo com a categoria (descrito em tópico próprio mais adiante).
O dimensionamento das baias deverá ser realizado observando a categoria animal, cuja área por
animal é a mesma descrita para abrigos.

As baias podem ser individuais ou coletivas, com exceção dos carneiros que devem ser
mantidos separados, ou seja, em baias individuais, para evitar acidentes e brigas. As divisórias
das baias (cercas) podem ser de madeira ou bambu. Deve ter por volta de 1 m de altura e
mourões a cada dois 2 m. Os portões medem de 50 a 80 cm de largura e a altura é a mesma da
cerca.

Fonte: Própria autoria, 2008.

* Depende se é coletiva, ou individual, se o cocho está fora ou dentro da instalação,


por exemplo, de for coletiva para 5 matrizes com cocho externo seu dimensionamento será:

 Área total da baia = 1,5 m por matriz x 5 matrizes = 7,5 m2


Começar calculando o comprimento da frente pelo comprimento do cocho (0,4 m por
matriz): cocho = 0,4 por matriz x 5 = 2 m e portão= 50 cm ou 0,5 m

 Frente = 2 m + 0,5 = 2,5 m

 Lado = 7,5 / 2,5 = 3m 73

Fonte: Própria autoria, 2008.

As baias dos carneiros não devem ser de madeira e sim de alvenaria ou concreto com
portão de ferro e divisórias de 1,5m de altura, para garantir a segurança dos animais. Como nos
sistemas mais intensivos os reprodutores ficam nestas instalações por períodos longos é
necessário que, além da área coberta, seja construído um solário (local descoberto onde o
animal pode ficar exposto ao sol). O solário para carneiros é individual e deve ter 5 m2.
74

Fonte: Própria autoria, 2008.


23 PRÉ-PARTO E MATERNIDADE

As instalações para pré-parto e maternidade possuem o mesmo dimensionamento que


o abrigo e a cabanha. Faremos então algumas considerações mais importantes a respeito
75
destas instalações. As baias para pré-parto podem ser coletivas, para 4 ou 5 ovelhas, não deve
ter muito mais que isso. Precisa estar em local tranquilo, silencioso, seco e protegido do frio e
vento, bem como dos predadores. Deve possuir cochos e bebedouros.

Pré-maternidade.

Fonte: Arquivo pessoal, 2006.


As baias para a maternidade devem ser individuais para mães e recém-nascidos e
pode ser coletiva para cordeiros um pouco mais velhos. No momento de dimensionar as baias,
considere a possibilidade de nascimento gemelar.

76

Baia individual (ovelha + cordeiro).

Fonte: Arquivo pessoal, 2006.

Esquema de baia coletiva para ovelhas + cordeiros.


Fonte: Própria autoria, 2008.
No local destinado aos filhotes é aconselhável usar um estrado de madeira para o piso,
com ripas de 3,0 cm de largura e espaçadas de 1,0 cm entre si, visando manter o local mais
aquecido. Devem ser usadas lâmpadas para aquecimento, se o clima for frio. Para cordeiros a
partir de 15 dias de idade pode começar o fornecimento de suplementação, neste caso é
necessário construir ou comprar uma gaiola para creep feeding. Esta gaiola permite somente a
passagem dos filhotes, evitando que as mães consumam o alimento do cordeiro. 77

Fonte: Arquivo pessoal, 2008.


Fonte: ITC do Brasil, 2008.
24 GALPÕES PRÉ-DESMAME

Logo que nascem os filhotes ficam em tempo integral com suas mães e se forem
separados bruscamente podem sofrer muito e perder peso, sendo assim esta separação deve
78
ser gradativa. Num primeiro momento, as ovelhas ficam na pastagem e vão amamentar os
cordeiros duas vezes por dia. Depois passam a amamentá-los uma vez ao dia e enfim são
separados. A idade desta separação está muito relacionada com o tipo de manejo nutricional
que os cordeiros recebem, pois, quanto mais cedo começarem a consumir alimento sólido de
boa qualidade, mais cedo terão o seu rúmen desenvolvido (ver aula sobre nutrição) e estarão
prontos para o desmame.

Os galpões pré-desmame são instalações coletivas destinadas à separação gradativa


dos cordeiros das suas mães. As dimensões são as mesmas usadas anteriormente (abrigo,
cabanha, maternidade). Devem possuir bebedouro e cocho coletivo para alimentação dos
cordeiros.
79

Fonte: Arquivo pessoal, 2006.


25 CONFINAMENTO

O confinamento poderá ser a céu aberto (sem cobertura) ou em galpão fechado (mais
caro). Se for aberto deverá conter áreas sombreadas e os cochos e saleiros deverão ser
80
cobertos. As cercas podem ser de arame ou de madeira, levando em conta o tamanho e o custo
da construção. O tamanho das porteiras, bem como dos corredores centrais, dependerá do tipo
de implementos que passarão por eles. Poderá ser de chão batido, mas a área em volta do
cocho de alimentação deverá ser, preferencialmente, de cimento para facilitar a limpeza. Em
qualquer sistema de confinamento todos os cochos devem ser voltados para um corredor
central, visando facilitar o manejo. Para o confinamento deve se levar em conta um espaçamento
de 0,8 a 1,0 m2 por animal.

Fonte: Fazenda Invernada, 2008.


Esquema de baias coletivas para confinamento de cordeiros (engorda).
Fonte: Própria autoria, 2008.
81
82

Fonte: Barros, Cavalcante e Vieira, 2005.

OBSERVAÇÃO: As instalações para maternidade, galpão de desmame e confinamento em


galpão precisam ter um SOLÁRIO construído em anexo, pois os animais ficam presos nestas
instalações por muito tempo e precisam de sol.
26 CURRAIS DE MANEJO

Como o próprio nome menciona, esta instalação é utilizada para manejar os animais
(vacinar, casquear, vermifugar, separar lotes, entre outros). O formato e a disposição do curral
83
vão depender do manejo empregado na propriedade. Contudo, independente da forma é
primordial que os cantos sejam arredondados.

Certo Errado

É recomendado que o curral seja dividido em vários curraletes para facilitar o manejo.
O dimensionamento é feito com base em 1 m2 por animal e vai depender do tamanho do
rebanho ou dos lotes que utilizarão ao mesmo tempo esta instalação. Pode ser de chão batido,
contudo é importante (se possível) ter pelo menos um curralete lavável (pode usar cimento
rústico - 9 partes de saibro e 1 de cimento). Pode ser descoberto, mas é altamente indicado que
pelo menos a parte do tronco, onde normalmente fica a balança, tenha cobertura. As cercas para
curral podem ser de tábuas de madeira resistentes ou de cordoalha de aço e suas dimensões
estão descritas acima, em tópico próprio.
84

Fonte: Cepen, 2008.

Fonte: Cepen, 2008.

São necessárias para o curral as seguintes partes: curraletes, seringa (funil) e tronco
coletivo e/ou individual. Outros acessórios, como balança e pedilúvio, podem auxiliar muito o
manejo, podendo estar associados ou não ao tronco.
85

Esquema exemplo de modelo de curral.


Fonte: Própria autoria, 2008.

26.1 Tronco ou Brete de Contenção


O tronco não deve possuir frestas entre as ripas de madeira, para evitar que o animal
machuque ou mesmo quebre a perna. O chão deve ser de cimento. Deve ser dimensionado de
modo a passar somente 1 animal por vez. Seu comprimento deve ser em torno de 12 m
(dependendo do número de animais que vão entrar no tronco), sua altura de 90 cm, a largura
inferior de 25 cm e a largura superior de 35 cm (para ovinos lanados a largura inferior de 30 cm e
a largura superior de 50 cm). A balança e o pedilúvio podem estar acoplados ao tronco para 86
facilitar o manejo.

Esquema de brete.
Fonte: Própria autoria, 2008.

26.2 Funil ou Seringa

O funil começa no curral e vai até o tronco, sendo um estreitamento que liga as duas
instalações. Sua função é facilitar a entrada dos animais, que estão no curral, no tronco. A parte
do funil que está próxima ao tronco deve ter as laterais fechadas para evitar acidente com os
animais. Sua altura é a mesma da cerca do curral.
26.3 Pedilúvio

Pode estar acoplado ao tronco (no início) para facilitar o manejo. Contudo, não há
impedimento de ter pedilúvio separado do tronco. Deve ser coberto para evitar que a água da 87
chuva dilua a solução usada no pedilúvio. O dimensionamento mais usado é: 10 a 15 cm de
profundidade, 2 m de comprimento e largura igual a do tronco. Deve ser feito em cimento e
possuir sistema de esgotamento para troca da solução.

Pedilúvio sem estar associado ao tronco

Fonte: Barros, Cavalcante e Vieira, 2005.

Pedilúvio associado ao tronco

Fonte: Arquivo pessoal, 2006.


26.4 Balança

Existem balanças individuais e coletivas. Podemos colocá-las no tronco ou em outro


ponto do curral, dependendo do tipo de manejo empregado na propriedade. Contudo, é 88
importante que o local escolhido seja coberto para aumentar a durabilidade da balança.

Fonte: Balanças Cauduro, 2008. Fonte: Coimma, 2008.


27 ESTERQUEIRA

A esterqueira é uma construção reservada para depósito de esterco, tem como


vantagem:
89
 Melhor aproveitamento do esterco;

 Melhorar as condições higiênicas da criação.

A esterqueira não deve ficar muito próxima das instalações, para prevenir qualquer
fonte de contaminação. Pode ser de alvenaria, medindo 4,0 m de largura x 2,0 m de
profundidade e 1,5 m de altura.
28 COCHOS

Os cochos podem ser de plástico, cimento ou madeira e são, preferencialmente,


colocados do lado de fora das baias (voltados para o corredor) para facilitar o manejo.
90
Recomenda-se o uso de canzis para limitar o acesso, evitando que os animais subam no cocho.
Devem ser cobertos para evitar que caia água da chuva e danifique o alimento. O
dimensionamento é feito de acordo com a categoria animal:

Categoria Área (m linear/animal)

Cordeiros em terminação (engorda) 0,2 a 0,25

Matrizes (secas e gestantes) 0,3 a 0,4

Matrizes com cordeiro 0,4 a 0,5

Animais jovens (creep-feeding) 0,05

Reprodutores 0,3 a 0,4

O cocho ainda deve ter as seguintes dimensões: 30 cm de profundidade, 40 cm de


largura e o fundo do cocho deve estar a 20 cm do solo para cordeiros e 50 cm para animais
adultos.

Esquema de cocho dimensionado para 10 cordeiros.


Fonte: Própria autoria, 2008.
91

Fonte: Agroads, 2008.

Fonte: Arquivo pessoal, 2008.

Fonte: Quissamã, 2008.


29 BEBEDOUROS

A água é muito importante na produção animal, a restrição de água implica em


diminuição do consumo de alimentos e consequentemente menor ganho de peso. Portanto, a
92
água deve estar sempre disponível, limpa e fresca. O consumo de exigência de água pelos
ovinos varia de 1,5 a 2,5 litros/kg de alimento consumido. Essa variação ocorre em função do
estado fisiológico do animal, sendo que fêmeas no final da gestação e na lactação necessitam
consumir maiores quantidades de água. A temperatura ambiente também interfere no consumo
de água, sendo maior ingestão observada em locais quentes.

Nas instalações de chão batido é recomendado colocar cimento ou cascalho em volta


do bebedouro, para evitar a formação lama. Um sistema simples e eficiente de bebedouros é o
com bóia interna, pois à medida que os animais vão consumindo a água a bóia desce e abre a
entrada de água que novamente enche o compartimento. Neste sistema a água está sempre
limpa e fresca.

Fonte: Arquivo pessoal, 2008.

Se o bebedouro não for com sistema de bóia deve-se dimensionar o seu tamanho de
acordo com a quantidade de água consumida:
Categoria Consumo litros/dia

Ovelhas secas e inicio de gestação 4,0 a 5,0

Ovelhas em final de gestação e lactação 15,0

Cordeiro em aleitamento 0,5 a 1,0


93
Cordeiro em terminação 3,0 a 5,0
30 SALEIRO

Saleiro é um cocho específico para o fornecimento de mistura mineral. O saleiro é


coletivo e como os animais não vão até ele ao mesmo tempo não há uma necessidade de
94
dimensionamento por animal. As dimensões recomendadas para os saleiros são: 30 cm a 40 cm
de altura acima do piso, 20 cm de profundidade, 30 cm de largura e o comprimento de, no
máximo, 2 metros.
31 ENFERMARIA

Área ou instalação recomendada para isolamento dos animais cometidos por


95
enfermidades, principalmente as contagiosas. Deve ser distante das demais instalações para
não haver propagação da doença. Deve ser construída com materiais que permitam uma
limpeza fácil e eficiente.
32 OUTRAS

Dependendo do sistema produtivo empregado, a propriedade poderá contar com


outras estruturas tais como: silos e/ou galpão para feno, garagem para máquinas, laboratório de
96
reprodução (inseminação e transferência de embriões), farmácia e escritório. Em animais criados
a pasto existe a necessidade de um local de sombreamento, principalmente em regiões mais
quentes. Este sombreamento pode ser fornecido pela copa das árvores e, caso não haja árvores
suficientes, pode ser providenciar uma construção em meia água.
33 RAÇAS OVINAS

O genótipo, assim como idade e sexo, é uma das principais fontes de variação quanti-
qualitativa da carcaça e da carne. Todos os genótipos podem produzir carcaças com carne de 97
boa qualidade desde que abatidos no seu peso ótimo econômico, ou seja, quando a proporção
de músculo é máxima, a de osso capaz de suportar os órgãos e tecidos vitais para a
sobrevivência do animal permitindo a sua funcionalidade e a de gordura é suficiente para conferir
a carcaça e a carne propriedades de conservação e organolépticas que satisfaçam ao
consumidor.

A utilização de uma raça pura ou de um determinado cruzamento dependerá das


condições ambientais, bem como do sistema produtivo empregado na fazenda, principalmente
em relação ao manejo nutricional e sanitário. O cruzamento industrial ocorre entre duas raças
definidas, sendo indicado o uso de raça materna rústica, predominante na região ou que se
adapte melhor às condições oferecidas localmente e como linha paterna raças exóticas
especializadas para produção de carne.

Em geral, as raças nativas ou naturalizadas do nordeste brasileiro são adaptadas às


nossas condições edafoclimáticas, menos susceptíveis a problemas sanitários, como
verminoses, foot-rot, miíases, entre outros, de ciclo reprodutivo não-estacional, porém carecem
de precocidade de acabamento e qualidade de carcaça o que pode ser conseguido através de
seu cruzamento com raças produtoras de carne.

A resistência aos endoparasitos também é um fator importante no desempenho dos


animais, pois se os mesmos estiverem parasitados diminuirá a taxa de ganho de peso. Parte da
resistência aos parasitos é devido à genética, onde os genótipos mais adaptados, como a raça
Santa Inês, possuem uma menor suscetibilidade quando comparadas às raças especializadas
na produção de carne, apresentando nos sistemas de criação completamente extensivos, com
pouco ou nenhum controle da verminose, uma melhor produção.

A raça paterna pode ser muito variada e depende das características de carcaça e
carne do produto final desejado. Carneiros de elevado peso adulto, como Suffolk, Hampshire
Down e Poll Dorset (origem norte-americana), aumentam o peso ao nascer e à desmama e
conferem elevado ganho de peso para suas crias, contudo, são mais tardios para deposição de
gordura de cobertura. Animais de raças compactas e de peso adulto médio, como Ile-de-France,
garantem bom ganho de peso e permitem um acabamento mais precoce das carcaças. A raça
Texel pode ser utilizada quando se pretende melhorar a conformação das carcaças, com
aumento de massa muscular (lombo e perna), com maior proporção de cortes nobres. Raças 98
ultracompactas como o Dorper imprimem excelente conformação e cobertura de gordura na
carcaça (BUENO; CUNHA; SANTOS, 2006).

OBSERVAÇÃO: As descrições das raças descritas abaixo foram retiradas do padrão racial da
ARCO (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos).
34 RAÇAS RÚSTICAS

As principais raças adaptadas às condições edafoclimáticas brasileiras são Corriedale,


Ideal e Romney Marsh, criadas, principalmente no Rio Grande do Sul, e as deslanadas Morada
99
Nova, Santa Inês e Somalis Brasileira. A raça Santa Inês tem se difundido por todo o país, sendo
amplamente utilizada como linha mãe em cruzamentos industriais, principalmente pela sua não
estacionalidade reprodutiva, pela sua produção leiteira – permitindo desmamar cordeiros mais
pesados – e por sua maior tolerância às alterações climáticas.

34.1 Corriedale

Exemplar da raça Corriedale.


Fonte: New Zealand Sheepbreeders' Association(NZSHEEP), 2007.

A raça Corriedale teve origem na Nova Zelândia, através do cruzamento entre ovelhas
da raça Merino e carneiros Lincoln (ou Leicester). O sistema de cruzamento foi desenhado para
que fosse obtida uma raça com 1/2 de sangue Merino e 1/2 de sangue Lincoln, resultando em
um equilíbrio zootécnico orientado para 50% para a produção de lã e 50% para a carne.
Contudo, esta raça tem sido amplamente utilizada no Rio Grande do Sul como produtora de
carne através de animais puros ou como linha materna em cruzamentos com raças carniceiras,
como a Ile-de-France e a Suffolk.

São animais com bom porte, apresentando um esqueleto bem constituído,


manifestando sua conformação própria para a produção de carne e lã. Possuem velo pesado,
extenso e de boa qualidade. O peso adulto médio é de 65 a 80 kg nas ovelhas e 85 a 105 kg nos
100
carneiros.

34.2 Ideal

Exemplar da raça Ideal.


Fonte: New Zealand Sheepbreeders' Association (NZSHEEP), 2007.

Também conhecida como Polwarth, a raça Ideal é proveniente da Austrália e, assim


como a raça Corriedale, também foi formada a partir do cruzamento de ovelhas Merino com
carneiros Lincoln através do cruzamento entre animais da raça Merino e Lincoln (ou Leicester).
Contudo, o cruzamento para a formação da raça Ideal foi desenhado para originar um animal 3/4
sangue Merino e 1/4 sangue Lincoln, com equilíbrio zootécnico de 70% lã e 30% carne.

São ovinos de porte médio, bem constituídos e rústicos, produzindo no sistema


extensivo. Em boas condições de alimentação dá origem a um bom cordeiro para o abate.
Também possuem uma boa fabricação de lã fina de elevada qualidade, com velo volumoso e
101
muito uniforme quanto à finura, o que agrega mais uma fonte de renda ao produtor gaúcho. O
peso adulto médio é de 60 Kg na ovelha e 90 Kg no carneiro.

34.3 Romney Marsh

Exemplar da raça Romney Marsh.


Fonte: New Zealand Sheepbreeders' Association (NZSHEEP), 2007.

Embora seja de origem inglesa, foi selecionado na Nova Zelândia para animal de duplo
propósito, melhorando a sua aptidão laneira, resultando na formação de uma raça com equilíbrio
zootécnico de 60% para carne e 40% para lã grossa e longa. Os animais Romney Marsh devem
ser rústicos e apresentar boa carcaça, membros fortes e vigorosos, sendo a sua conformação
carniceira e constituição robusta seus principais atributos. Os cordeiros são bastante precoces,
chegando a produzir, em pastagem, de 28 a 30 Kg aos 5 meses. O peso adulto médio é de 75 a
90 kg nas ovelhas e 100 a 120 kg
102
nos carneiros.

34.4 Morada Nova

Exemplar da raça Morada Nova.

Raça do grupo dos ovinos deslanados, foi selecionada naturalmente no nordeste


brasileiro. É, provavelmente, descendente da raça Bordaleiro de Portugal. São animais muito
rústicos, desprovidos de lã, mochos, de pelagem vermelha ou branca e com pele escura o que
os torna mais resistentes ao clima tropical. Possuem aptidão para a produção de carne e peles
de alta qualidade. As ovelhas, muito prolíferas, apresentam boa taxa de partos gemelares. O
peso adulto médio é de 30 a 50 kg nas ovelhas e 40 a 60 kg nos carneiros.
34.5 Santa Inês

103

Exemplar da raça Santa Inês.

Fonte: Caroatá, 2007.

Esta raça também é do grupo dos ovinos deslanados e foi desenvolvida no nordeste
brasileiro, resultante do cruzamento entre as raças Bergamácia, Morada Nova, Somalis e outros
ovinos sem raça definida (SRD). Apresentam alguma gordura em torno da implantação da
cauda, quando o animal está muito gordo, evidência da participação da raça Somalis na sua
formação. Os animas da raça Santa Inês devem possuir grande porte, com excelente qualidade
de carne, baixo teor de gordura e pele de altíssima qualidade. Devem ainda ser rústicos e
precoces, adaptáveis a qualquer sistema de criação e pastagem e às mais diversas regiões do
país.

As fêmeas possuem boa habilidade materna, produzem boa quantidade de leite


(herança da raça Bergamácia, que é uma raça leiteira) e são muito prolíferas, com altas taxas de
partos gemelares, em alguns rebanhos o índice de nascimento chega a ser de 180% até 200%.
O peso médio do adulto é de 60 a 90 kg nas ovelhas e 80 a 120 kg nos carneiros.

34.6 Somalis Brasileira


104

Exemplar da raça Somalis brasileira.

A raça Somális pertence ao grupo dos ovinos de "garupa gorda", originário da região
formada pela Somália e Etiópia. A Somális Brasileira já se afastou bastante do tronco original,
sendo mais prolífero, de garupa menos gorda e com alguma lã pelo corpo, o que sugere ter
havido muita infusão de raças sem garupa gorda e com alguma lã. São ovinos de porte médio,
deslanados, mochos e com anca e base da cauda gorda. Possuem cabeça e pescoço negros ou
pardos e corpo branco. São animais rústicos, adaptando-se bem às condições climáticas da
região semiárida. Possuem aptidão para produção de carne e pele. As fêmeas têm boa
prolificidade. O peso adulto médio é de 30 a 50 kg nas ovelhas e 40 a 60 kg nos carneiros.
35 RAÇAS ESPECIALIZADAS NA PRODUÇÃO DE CARNE

35.1 Dorper

105

Exemplar da raça Dorper.

Fonte: Fazenda Jataí, 2007.

A raça Dorper foi desenvolvida na África do Sul, através do cruzamento do Dorset Horn
com o Blackhead Persian (conhecida no Brasil por Somális) visando à produção de carne em
regiões semiáridas e áridas. Essa raça apresenta alta velocidade de crescimento, carcaça de
boa conformação e bom rendimento de carcaça de 48,8% a 52,6%. Também devem apresentar
tronco longo, profundo e largo, costelas bem arqueadas, um lombo largo e cheio, linha dorso-
lombar bem longa e reta e uma fina camada de gordura distribuída uniformemente sobre a
carcaça e entre as fibras musculares (marmoreio). As fêmeas são sexualmente precoces e de
boa prolificidade, por volta de 140%. O peso adulto médio é de 50 a 80 kg nas ovelhas e 90 a
120 kg nos carneiros.
35.2 Hampshire Down

106

Exemplar da raça Hampshire down.


Fonte: Sheep101, 2007.

Raça oriunda da Inglaterra, foi formada a partir do cruzamento de ovinos primitivos


pertencentes às raças Wiltshire e Berkshire Knots com a raça Southdown, produtora de carne.
Estes ovinos são especializados na produção de carne, atingindo rendimentos de carcaça de 45
a 50%. Possuem tamanho grande, sendo compactos e musculosos. As fêmeas têm boa
fertilidade e prolificidade, atingindo índices de nascimento de 140%. O peso adulto médio é de
90 a 100 kg nas ovelhas e 110 a 130 kg nos carneiros.

35.3 Ile-de-France
107

Exemplar da raça Ile-de-France.


Fonte: INAPG, 2007.

A Ile-de-France foi formada na França, através de cruzamentos entre ovelhas Merino


Rambouillet e reprodutores New Leicester importados da Inglaterra, objetivando reunir a
qualidade laneira do Merino com a aptidão carniceira do New Leicester. É um ovino de grande
formato, constituição robusta e conformação harmoniosa, típica do animal produtor de carne.
São bastante precoces, produzindo uma carcaça pesada e de muita qualidade. As ovelhas são
muito prolíferas, atingindo médias de nascimentos de 160%. O peso adulto médio é de 70 a 90
kg nas ovelhas e 110 a 150 kg nos carneiros.

35.4 Suffolk
108

Exemplar da raça Suffolk.

Fonte: KIMM, 2007.

Originária dos condados de Norfolk, Cambridge, Essex e Suffolk, no sudoeste da


Inglaterra, foi formada a partir do cruzamento de carneiros Southodown com ovelhas selvagens
de Norfolk. O Suffolk é um ovino de grande porte especializado na produção de carne, com boa
adaptação a diferentes climas, mas que necessita de alimentação adequada. Possui constituição
robusta, sendo seu corpo comprido e musculoso. Apresentam um excelente rendimento de
carcaça, por volta de 50 a 60%, com ótima conformação e com pouca gordura externa.

As fêmeas são prolíferas, com índices de nascimento de até 165%. As ovelhas têm
muita aptidão materna. Os cordeiros nascem inteiramente pretos, e vão branqueando até os 4 à
5 meses de idade. Os animais adultos possuem corpo coberto com lã branca e extremidades
desprovidas de lã e revestidas de pelos negros e brilhantes. O peso adulto médio é de 80 kg nas
ovelhas e 100 kg nos carneiros, mas em boas condições de criação estes ultrapassam
facilmente os 150 Kg.

35.5 Texel
109

Exemplar da raça Texel.

Fonte: Tyny Bryn Farms, 2007.

A raça Texel é originária da ilha de mesmo nome, na Holanda, a partir do cruzamento


entre ovelhas locais com carneiros de raças inglesas (provavelmente foram utilizados
reprodutores Leicester, Border Leicester e Lincoln). Ovino de tamanho médio, tendendo para
grande, muito compacto, com massas musculares volumosas e arredondadas, constituição
robusta, produzindo uma ótima carcaça, com gordura muito reduzida. As fêmeas muito são
prolíferas, atingindo índices de nascimento de 160%, tendo atingido na França índices de 190
até 200%. O peso adulto médio é de 80 a 90 kg nas ovelhas e 110 a 130 kg nos carneiros, mas
em boas condições de criação estes ultrapassam os 160 Kg.
36 PUBERDADE

Embora as fêmeas da espécie ovina possam apresentar cio dos 6 aos 9 meses, a
idade da primeira cobertura está muito relacionada com o manejo nutricional que a borrega
110
recebe, já que a mesma deve ser acasalada quando atingir 70% do peso adulto (exemplo: raça
Santa Inês - 45 Kg peso vivo). Logo, borregas que recebem uma melhor nutrição entram em cio
mais cedo e consequentemente possuem uma vida produtiva maior. Os machos atingem a
puberdade ao redor dos 6 meses (com 40 a 60% do peso vivo adulto), porém só chegam a
maturidade sexual aos 18 meses época onde devem começar a ser usados com maior
intensidade.
37 CICLO REPRODUTIVO

Em grande parte das raças ovinas, a fêmea é poliéstrica estacional de dias curtos, ou
seja, são influenciadas pelo fotoperíodo e somente entram em reprodução quando os dias ficam 111
mais curtos (entre o final de março e o início de maio). As raças deslanadas não são estacionais,
podendo reproduzir durante todo o ano. O ciclo estral da ovelha é de 17 dias, com duração de
cio de 24 a 36 horas e com momento da ovulação de 24-30 horas após o início do cio. As
ovelhas apresentam cio pós-parto em torno de 45 a 60 dias. Contudo, este período de anestro
depende muito das condições em que esta fêmea chegou ao parto, da sua produção de leite, da
idade ao desmame de suas crias, bem como da incidência de doenças do aparelho reprodutivo.
38 EFEITO DO FOTOPERÍODO

A intensidade luminosa influencia a reprodução através de uma integração onde os


sinais externos, ligados ao fotoperíodo, desencadeiam reações internas por meio de um
112
mediador específico, no qual a glândula pineal e a melatonina desempenham um importante
papel. Os sinais do fotoperíodo são recebidos pela retina e transformados em mensagem
biológica via nervo ótico para o gânglio superior cervical e então para a glândula pineal. A
melatonina é secretada durante a noite pela glândula pineal e age como uma medição biológica
para o comprimento do dia.

Animais oriundos dos trópicos têm menor estacionalidade do que aqueles nascidos em
regiões de maior latitude. Esta diferença de estacionalidade ocorre porque mamíferos oriundos
de latitudes mais altas possuem a glândula pineal mais desenvolvida que nos trópicos. Quando
animais de mesma raça e origem são enviados para diferentes ambientes as fêmeas que vão
para mais perto dos polos têm sua estação reprodutiva diminuída em relação às fêmeas que vão
para mais próximo de regiões equatoriais.

Tal fato se torna muito importante quando se deseja importar animais de raças
estacionais oriundos de clima temperado. Se esses animais forem introduzidos durante a
estação de monta natural em sua região de origem a tendência é que eles continuem em
atividade sexual mesmo em climas adversos. Porém, se a mudança de latitude ocorrer durante o
anestro fisiológico das ovelhas essas fêmeas poderão ficar sexualmente inativas por um longo
período.

Outro fator relevante em relação às raças estacionais é o cuidado que devemos ter com
a alimentação das borregas, pois se estas não atingirem peso corporal suficiente para serem
encarneiradas (cobertas pelo macho) até a estação reprodutiva só poderão ser acasaladas no
ano seguinte.
39 GESTAÇÃO

A gestação na espécie ovina dura em torno de 150 dias.

113
40 RELAÇÃO CARNEIRO/OVELHA

A quantidade de carneiros por ovelha depende do método de reprodução, bem como


da libido do carneiro. No método de monta natural (a campo) podemos ter até 25 ovelhas para
114
cada carneiro, enquanto que na monta controlada 1 macho cobre até 50 fêmeas. Colocar
excesso de fêmeas para um mesmo macho, principalmente no sistema de monta natural, poderá
gerar falha na cobertura das ovelhas e um grande número de fêmeas retornando ao cio.
41 ASPECTOS REPRODUTIVOS NOS CARNEIROS

Carneiros que apresentam alta fertilidade podem aumentar a produção de cordeiros


por servir a um maior número de ovelhas e por produzir mais partos múltiplos por ovelha. Já
115
carneiros com baixa fertilidade, subfertilidade ou infertilidade quando permanecerem por longo
tempo no rebanho trazem muitos prejuízos à produtividade, principalmente quando o método
utilizado é o da monta natural. A circunferência escrotal é a característica mais importante
associada à eficiência reprodutiva, sua herdabilidade (capacidade da característica passar de pai
para filho) está estimada em 35%. A circunferência escrotal está correlacionada com a produção
de esperma, idade e puberdade, taxa de ovulação e número de partos múltiplos produzidos.

A capacidade reprodutiva do carneiro é dada pela produção, qualidade do sêmen e


libido, por isto é fundamental que os machos designados para serem os reprodutores em um
rebanho sejam submetidos a um exame andrológico:

 Exame da condição física: avalia-se os aprumos, a condição corporal, a

incidência de doenças, entre outros;


 Exame do trato reprodutivo: avaliam-se os órgãos genitais internos e externos,

que devem ser livres de qualquer anormalidade;


 Libido: avalia-se a libido do macho, ou seja, o seu desejo de procurar a fêmea e

completar a monta.
 Sêmen: o sêmen deve ser avaliado pela suas características físicas (volume,

aspecto, cor, pH, motilidade, vigor, turbilhonamento, concentração e


percentagem de espermatozoides vivos e mortos) e por suas características
morfológicas (anormalidades nos espermatozoides).
42 SUBSTITUIÇÃO DE REPRODUTORES

Os reprodutores não devem continuar em serviço com mais que 6 anos, exceto quando
o animal possui alto mérito genético aliado a um elevado valor comercial.
116
43 CRITÉRIOS DE DESCARTE PARA OVELHAS

Assim como devemos descartar machos que apresentam problemas no exame


andrológico, realizar um descarte orientado das fêmeas é fundamental para manter a eficiência
117
reprodutiva dos rebanhos. Devemos sempre lembrar que na cadeia de produção de carne o
nosso produto é o cordeiro para ser engordado e abatido, logo se houverem falhas na
reprodução teremos menos cordeiros por fêmea e o nosso sistema produtivo se torna ineficiente
e caro.
Abaixo podemos encontrar alguns critérios para descarte das fêmeas:
 Animais com problemas de doenças infecto-contagiosas;

 Úberes perdidos (Mastites);

 Animais que falharam no segundo período da estação da monta;

 Fêmeas com aborto;

 Fêmeas que não acompanham o escore do rebanho;

 Fêmeas com baixa habilidade materna;

 Fêmeas cujos cordeiros estão sempre abaixo da média, mesmo quando

oriundos de parto simples.


44 MÉTODOS DE REPRODUÇÃO

44.1 Monta Natural Livre

118

Neste método as ovelhas ficam junto com os carneiros nos piquetes para serem
cobertas. Este é o método reprodutivo que exige menos mão-de-obra. Contudo, ele não
possibilita um controle de informações (escrituração zootécnica), já que não sabemos com
certeza o dia que a fêmea foi coberta e se tivermos mais de um carneiro no piquete teremos
problema na identificação de quem é o pai, o que inviabilizará o registro na ARCO, além de que
podermos ter brigas entre os machos. Pelo fato de ficarem por longos períodos com o carneiro,
este método também inibe o efeito macho (veremos mais adiante).

44.2 Monta Natural Controlada

Também é chamada de monta natural dirigida. As ovelhas ficam separadas dos


carneiro e junto com os rufiões. Quando uma fêmea entra em cio o rufião monta nesta fêmea
indicando que ela já está pronta para ser coberta. Então a ovelha é elevada até o carneiro
designado para cobri-la. Este método,quando comparado ao da monta natural, permite um maior
controle da reprodução e também otimiza o uso reprodutor.
44.3 Inseminação Artificial

A utilização da técnica de inseminação artificial possui inúmeras vantagens, como:

119
 Máximo aproveitamento dos reprodutores (um reprodutor pode produzir até 10

vezes mais do que na monta natural);


 Preserva os reprodutores da transmissão de doenças contagiosas;

 Facilita o cruzamento entre raças de diferentes tamanhos, peso ou idades;

 Dispensa a manutenção de grande número de reprodutores;

 Propicia a disseminação de material genético de alta qualidade, elevando a

produtividade dos rebanhos.

Para a realização da inseminação artificial na propriedade é necessário ter um local


apropriado contendo a sala para coleta de sêmen e inseminação e um laboratório com
microscópio para avaliar as características físicas e morfológicas do sêmen. O primeiro passo
para a inseminação é determinar, com antecedência, quais carneiros serão utilizados como
doadores. Estes animais devem ser de elevado valor zootécnico (possuir todas as características
desejáveis para um animal produtor de carne) e deve ter obtido um bom resultado no exame
andrológico (realizar tal exame antes da estação de monta). Somente devemos usar sêmen de
boa qualidade. Escolhidos os machos, estes devem receber boa pastagem ou suplementação,
água e local sombreado.

44.3.1 Coleta do sêmen

A coleta do sêmen pode ser realizada utilizando vagina artificial ou eletroejaculação:


a. Vagina artificial
Na coleta com vagina artificial o carneiro será induzido a saltar sobre uma fêmea
manequim, contudo o pênis será desviado para um recipiente preparado para receber o sêmen
(vagina artificial). A vagina artificial é constituída por um tubo rígido de borracha externamente,
um tubo flexível na parte internamente e preso ao tubo externo por elástico e por um copo
coletor, graduado em milímetros, que receberá o sêmen. 120

Vagina artificial (1) e látex para reposição (2)

Fonte: walmur.com.br, 2008.

As etapas para coleta com vagina artificial são:

 Montar a vagina artificial (que deve estar bem limpa e seca):

 Entre o tubo externo e o interno deverá ser colocada água quente


(aproximadamente 40ºC) para imitar a temperatura da vagina;
 Pode ser usado lubrificante à base de água na parte externa da vagina
artificial, contudo, deve-se tomar cuidado com o excesso para o mesmo não
se misture ao sêmen;
 Conter a fêmea no tronco (esta deve preferencialmente estar no cio para induzir

o carneiro a saltar);
 Limpar e secar bem o prepúcio do carneiro;

 Levar o macho até a fêmea;


 O funcionário que realizará a coleta deve segurar a vagina artificial com uma

das mãos numa inclinação de 45º e deixar a outra livre para desviar o pênis do
macho em direção à vagina artificial;
 Esperar o momento do salto;

 Quando o carneiro saltar sobre a fêmea segurar o prepúcio com uma das mãos

e levar até a vagina, fazendo com que o pênis penetre na vagina artificial e aí 121
seja depositado o sêmen;
 Testar a qualidade do sêmen (volume, motilidade, densidade, movimento e

integridade dos espermatozoides).

b. Eletroejaculação
Este processo de coleta é realizado através da introdução de um eletrodo no reto do
animal, onde uma corrente elétrica alternada (em torno de 30 volts) passa pelos centros
ejaculadores, situados na medula espinhal, levando o animal a ejacular. Para que este método
seja seguro é necessário conter bem o macho, seja em pé ou decúbito lateral (deitado de lado).
Para facilitar a entrada do eletrodo no ânus do animal deve se lubrificar o mesmo.

Este método causa bastante estresse no macho, sendo seu uso mais indicado para
carneiros, que embora sejam férteis, estão incapacitados de realizar a monta ou que não
consigam se adaptar a vagina artificial. O volume normal do sêmen dos carneiros é de 0,8 a 1
ml. O mesmo deve ser diluído até 1:2 (1 parte de sêmen para 2 de diluente). O volume utilizado
por fêmea 0,05 ml (cada 1 ml contém de 2 a 3 bilhões de espermatozoides).

44.3.2 Utilização do sêmen

O sêmen pode ser utilizado de três formas: fresco, resfriado ou congelado.


a. Sêmen recém-colhido (inseminação a fresco)
O sêmen é coletado, analisado, diluído e utilizado logo em seguida. É o método de
inseminação que obtém o maior índice de prenhez, contudo, não permite difundir a genética do
macho já que este sêmen não pode ser utilizado por propriedades que estejam distantes.

122
b. Sêmen resfriado
Após a análise e diluição, podemos manter o sêmen em temperatura de geladeira por
períodos superiores a 24 horas para depois ser utilizado. Este método ainda conserva uma boa
taxa de prenhez e permite transporte a longas distâncias.

c. Sêmen congelado
O sêmen analisado e diluído é estocado em equipamento próprio a –196 ºC. O tempo
de estocagem é indeterminado, ultrapassando décadas. Contudo, a utilização da inseminação
artificial em ovinos é limitada pelos baixos índices de fertilidade que se consegue quando é
utilizado sêmen congelado. Isso ocorre por causa da anatomia da cervix das ovelhas que não
permite a passagem da pipeta.

Para obtermos índices de prenhez superiores a 70% com sêmen congelado é


necessário que, após o descongelamento, o mesmo seja colocado diretamente no útero da
ovelha empregando-se para isto a técnica de laparoscopia, que é um procedimento caro e que
só pode ser feito por médicos veterinários. Inseminações feitas com a deposição do material
fecundante na porção externa da cérvix uterina só atingem índices satisfatórios quando se
emprega sêmen recém-colhido ou resfriado por até 48 horas.
45 CONTROLE DE FÊMEAS EM CIO

Um modo prático para observar quando o rufião (monta controlada e inseminação


artificial) ou o carneiro (monta natural) realizou monta sobre a fêmea é utilizar tinta para marcar
123
as ovelhas.
 Faz-se uma mistura com quatro partes de graxa (não pode ser muito cremosa) e

uma de tinta em pó xadrez clara;


 Besunta-se a região da barriga e do prepúcio dos rufiões ou dos carneiros

diariamente com essa mistura;


 Deixar as fêmeas no pasto com rufião (monta controlada e inseminação

artificial) ou com o carneiro (monta natural);


 Ao montar na fêmea, o carneiro ou o rufião deixará a garupa desta marcada

com a tinta;
 No caso da monta natural, as fêmeas marcadas pelos carneiros devem ser

separadas e seu número anotado para controle;


 No caso da monta controlada ou da inseminação artificial, as fêmeas marcadas

pelos rufiões devem ser inseminadas ou levadas aos carneiros para serem
cobertas e depois separadas e seu número anotado para controle;
 Se forem marcadas pela manhã, separar do rufião e inseminar à tarde;
 Se forem marcadas à tarde, separar do rufião e inseminar no dia seguinte pela
manhã;
 Separar as fêmeas submetidas à monta controlada ou inseminação do resto das

fêmeas (em outro piquete);


 Depois de 10 a 15 dias colocar as fêmeas separadas (que já haviam sido

cobertas ou inseminadas) com rufiões para verificar se alguma fêmea voltou ao


cio;
 Usar de tinta mais escura para marcar por cima da tinta do primeiro controle;

 Cobrir ou inseminar novamente as ovelhas marcadas;

 Em relação às fêmeas não prenhes após a segunda inseminação pode-se tomar

uma destas decisões:


 Esperar dez dias da última inseminação e repassar com carneiro em monta
controlada. Com este intervalo não tem como confundir com os cordeiros
nascidos da inseminação artificial;
 Esperar a próxima estação para cobrir estas fêmeas. Só que se perde um
cordeiro nesta estação;
 No caso de haver repetição da falha em ficar prenhe deve-se descartar esta 124
fêmea.

Rufiões são machos submetidos à vasectomia, desvio lateral do pênis ou epididimectomia caudal ou, ainda,
fêmea e capões submetidos a tratamento hormonal.
46 ESTAÇÃO DE MONTA

O sistema de monta natural onde o carneiro permanece no rebanho durante todo o ano
possui algumas desvantagens:
125
 Manejo das matrizes e das respectivas crias mais difícil;

 Ocorrência de nascimentos em épocas inadequadas;

 O desenvolvimento dos cordeiros pode ser prejudicado;

 Dificuldade nos controles zootécnico e sanitário do rebanho;

 Entre outras.

Sendo assim, a utilização de estações de monta programadas, onde serão definidas


datas para o acasalamento das matrizes, pode auxiliar o produtor no manejo do rebanho tendo
como vantagens:

 Facilitar o manejo reprodutivo;

 Permitir realizar o exame ginecológico e andrológico com mais eficiência;

 Facilitar e baratear o diagnóstico de gestação;

 Permitir ajustar o período de maior exigência nutricional com o de maior

disponibilidade de forrageiras de melhor qualidade, de modo a reduzir a


necessidade de suplementação alimentar;
 Melhorar o controle de nascimento dos cordeiros e de manejo até a desmama;

 Facilitar o esquema de vacinação e de vermifugação;

 Facilitar a marcação e a visita do técnico para registro;

 Permitir melhor controle da eficiência reprodutiva do rebanho;

 Possibilitar identificar as fêmeas de melhor desempenho reprodutivo.

A estação de monta para os ovinos deve ser de no mínimo 45 dias e no máximo 90


dias.
47 SISTEMAS DE REPRODUÇÃO

O sistema de reprodução a ser usado vai depender do manejo empregado na


propriedade. Se tivermos um manejo mais intenso, com suplementação alimentar estratégica e
126
bom controle sanitário poderemos ter for um número maior de partos por ano, com um menor
intervalo entre eles, e consequentemente maior número de cordeiros por fêmea para ser
engordado.

Os tipos de sistema reprodutivos empregados na ovinocultura de corte estão listados


abaixo:

a. 1 parto por ano


 É o utilizado nos sistemas mais tradicionais;

 Menor exigência de manejo;

 Intervalo entre partos muito longo;

 Período improdutivo longo (4 meses);

 Pouco eficiente na produção de cordeiros.

b. 2 partos por ano


 Intervalo entre partos de 6 meses;

 Muito exigente no manejo;

 Elevado custo com alimentação;

 Necessita de desmame precoce e aleitamento artificial;

 Pouco viável economicamente.

c. 3 partos em 2 anos
 É o mais indicado quando se deseja aumentar a produção de cordeiros;
 Muito eficiente, permitindo um bom número de cordeiros sem sacrificar demais

as matrizes;
 Intervalo entre partos de 8 meses;

 1,5 parto por ovelha/ano;

 Desmama com 2 meses;

 1 mês de descanso; 127


 Se o manejo da propriedade permitir pode-se dividir o rebanho:

 Dividido em 2 tem-se parto a cada 4 meses;

d. 4 partos em 3 anos
 Semelhante ao sistema acima, mas um pouco menos eficiente, pois possui

intervalo entre partos mais longo (9 meses);


 Dividindo o rebanho em 4 tem-se parto a cada 3 meses.

e. CAMAL
 Mesmo manejo do sistema 3 partos em 2 anos;

 4 grupos de fêmeas;

 Partos a cada dois meses;

 Mais complicado, somente é indicado para propriedade que tenha divisões

suficientes para todos os lotes e que tenha um manejo muito controlado.

f. STAR
 Divide o ano em 5 períodos de 75 dias (metade da gestação);

 5 partos em 3 anos;

 Intervalo entre partos e 7,2 meses;

 Muito complicado para ser executado.

A escolha de um sistema reprodutivo que seja adequado ao nosso manejo é


fundamental. Porém, sempre que as condições, principalmente econômicas, possibilitarem um
manejo que propicie um menor intervalo entre partos o retorno financeiro será maior. Abaixo
podemos encontrar um trabalho sobre as vantagens econômicas ao se trabalhar com um menor
intervalo entre partos, escrito pelo pesquisador Joselito Araújo Barbosa para o III Encontro de
Caprino-Ovinocultores de Corte da Bahia (Manejo Reprodutivo em Ovinos para Intervalo entre
Partos de Oito Meses):

128
Considerando um rebanho com mil matrizes e com os índices abaixo, teremos:

 Fertilidade = 90%

 Prolificidade = 1,3 cordeiros/partos

 Número de partos por ano de acordo com o IEP (intervalo entre partos):

 IEP 8 meses  1,5 parto/ano


 IEP 9 meses  1,3 parto/ano
 IEP 10 meses  1,2 parto/ano

Cordeiros nascidos = nº de ovelhas x fertilidade x parto por ano x prolificidade

 IEP 8 meses: 1000 ovelhas x 90% fertilidade x 1,5 parto/ano x 1,3 cordeiro/parto

= 1755 cordeiro/ano.

 IEP 9 meses: 1000 ovelhas x 90% fertilidade x 1,3 parto/ano x 1,3 cordeiro/parto

= 1521 cordeiro/ano.

 IEP 10 meses: 1000 ovelhas x 90% fertilidade x 1,2 parto/ano x 1,3

cordeiro/parto = 1404 cordeiro/ano.

Observe o quanto se ganha em cordeiros/ano à medida que reduzimos o IEP no


rebanho:

 De 10 meses para 8 meses - 351 cordeiros/ano


 De 9 meses para 8 meses - 234 cordeiros/ano

129
48 FATORES QUE AFETAM A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA, CONTRIBUINDO PARA UM
LONGO INTERVALO ENTRE PARTOS

 Rebanho acima de 6 anos de idade;

 Relação muito alta de fêmeas por reprodutor; 130


 Pastejo em áreas muito grande (monta natural);

 Ausência de descarte orientado;

 Baixa eficiência na detecção do cio;

 A falta de observação ou a observação de forma incorreta das fêmeas em cio


é um dos principais erros que afetam a eficiência reprodutiva de um rebanho;
 Infelizmente este é um erro muito comum entre os produtores;
 Ao aumentar a detecção de cio mais cordeiros nascem por ovelha e o
descarte devido a problemas reprodutivos diminui;
 Problemas sanitários;

 Má condição nutricional das ovelhas

 Existe uma elevada correlação entre a condição corporal ao parto e o


desempenho reprodutivo no pós-parto;
 Ovelhas com boas condições corporais ao parto retornam ao cio mais cedo e
apresentam maiores índices de concepção;
 Para avaliar a condição corporal pode-se utilizar a tabela de escore corporal
(ver adiante);
 Fêmeas prenhes que estiverem muito magras (escore abaixo de 3) deverão
receber suplementação alimentar para que atinjam uma melhor condição
corporal ao parto.
48.1 Efeito Alimentar

48.1.1 Importância da Alimentação

131

Fornecer uma alimentação adequada para as matrizes de um rebanho é pré-requisito


para se obter bons índices reprodutivos. O cuidado com a nutrição das matrizes deve começar
cedo, quando as fêmeas ainda são jovens (borregas), pois existe uma associação entre o
crescimento corporal e o desenvolvimento sexual das borregas. Sendo assim, fêmeas que
recebem uma melhor nutrição atingem a puberdade mais cedo.

A puberdade é influenciada pela dieta consumida pelas borregas durante a fase de


maturação sexual, sendo a puberdade mais influenciada pela quantidade de energia fornecida
na dieta do que pela quantidade proteica ou pelo nível nutricional total recebido. A restrição
alimentar e a diferença do peso corporal na puberdade têm significante efeito na taxa de
ovulação, sendo as borregas mais pesadas as que mostram maiores taxas de ovulação. Após o
período de puberdade a alimentação continua sendo fundamental para que o intervalo entre
partos seja o menor possível, já que longos intervalos de parto diminuem a quantidade de
cordeiros para serem engordados e a performance reprodutiva é incrementada com o aumento
da condição corporal no período de pré-acasalamento.

A taxa de ovulação tem mostrado ser positivamente relacionada com a condição


corporal na época do acasalamento e não significantemente afetada pelo nível nutricional pré-
acasalamento quando as ovelhas se encontram em condições corporais boas ou
moderadamente boas, porém se a condição corporal da fêmea é baixa ou ruim no período de
acasalamento a taxa ovulatória passa a ser positivamente relacionada com o nível nutricional no
pré-acasalamento.

Ocorre uma maior resposta da taxa de partos ao aumento do nível nutricional pré-
acasalamento em ovelhas com condição corporal média do que em fêmeas muito gordas ou
muito magras. Ovelhas que perdem peso no período de acasalamento produzem menos
cordeiros do que aquelas que mantêm seu peso e estas menos do que as que ganham peso.
Além disso, ovelhas que são alimentadas de forma incorreta têm crias mais leves o que
compromete o manejo do rebanho.

132

48.1.2 Períodos críticos

Os períodos onde é preciso ter mais atenção com a nutrição da ovelha para não
comprometer sua eficiência reprodutiva são:

 Estação de monta (encarneiramento);

 Primeiro mês de gestação;

 Restrições alimentares nesta fase podem provocar perdas embrionárias;


 Terço final da gestação (50 últimos dias);

 75% do crescimento do feto ocorre neste período;


 Deficiência alimentar nesta fase pode causar parto antecipado e ainda pode
acarretar no nascimento de cordeiros mais leves e fracos, com grande
frequência de óbitos no período de 3 a 5 dias de idade;
 Durante a lactação;

 Plano de nutrição durante a lactação tem significante efeito no atraso do início


da atividade ovariana normal – fêmeas que recebem uma melhor alimentação
produzem mais leite e consequentemente a frequência de mamada é
diminuída, retornando ao cio mais rapidamente.

48.1.3 Escore corporal


O escore da condição corporal tem sido utilizado como forma de avaliar o estado
nutricional dos animais. É uma medida subjetiva, de fácil avaliação e que não requer nenhum
tipo de equipamento especial, já que a mesma é determinada através da apalpação da parte
superior e lateral da região lombar da coluna vertebral, onde os seguintes pontos devem ser
examinados:
133

Locais corretos para avaliação da condição corporal nos ovinos

Fonte: Sá e Sá, 2001.

A escala mais utilizada para medir o escore corporal na ovinocultura é a que vai de
zero a cinco. Onde zero é dado para animais caquéticos, extremamente magros, beirando a
morte por desnutrição e cinco é dado para animais obesos. Os esquemas abaixo caracterizam
os diversos escores para condição corporal nos ovinos, sendo AE = apófises espinhosas, ML =
músculo Longissimus dorsi (lombo) e AT = apófises transversas:

Animal caquético, extremamente magro, próximo a


morte. Não se detecta músculo nem tecido
adiposo entre a pele e o osso.
AE e AT estão proeminentes e agudas. É possível
palpar facilmente a parte ventral dos processos
transversos e os espaços entre as vértebras. A
musculatura é delgada e sem cobertura de
134
gordura.

AE ainda estão proeminentes, mas suaves.


Podem ser sentidas como uma pequena
ondulação. AT estão suaves e arredondadas,
sendo possível palpar a parte ventral dos
processos transversos com uma leve pressão.

Os músculos têm volume moderado e pouca


cobertura de gordura.

AE estão pouco proeminentes, suaves e


arredondadas e os ossos são individualizados com
certa pressão. AT estão suaves e apresentam boa
cobertura, sendo necessário pressionar
firmemente para apalpar os extremos.

Os músculos dorsais estão cheios e tem uma


moderada cobertura de gordura.

Não existem ondulações e somente AE são


sentidas com uma forte pressão. Não se pode
apalpar as terminações de AT, mesmo fazendo
uma pressão mais forte. Os músculos estão cheios
e tem uma boa cobertura de gordura.
Não se pode apalpar AE mesmo pressionando
com força. Há uma depressão (onde normalmente
se sentem as apófises espinhosas) formada por
causa da elevação do músculo e da gordura. Não
se podem sentir AT. A musculatura mostra-se
135
volumosa e tem uma cobertura de gordura muito
grossa. Pode haver, dependendo da raça,
depósitos de gordura sobre a anca e a cola.

O escore entre 3 e 4 é o desejável para época do encarneiramento, bem como para o


período de gestação. No desmame o escore não deve estar abaixo de 2. Se o escore estiver
aquém do desejável deve entrar com suplementação alimentar para as fêmeas.

Período de Mortalidade de
Escore Fertilidade Prolificidade
serviço (dias) crias (%)
<1 68 56,3 1,11 20
2 59 72,0 1,17 9,5
3 48 72,7 1,17 3,6
>4 56 71,4 1,20 6,7

Fonte: Adaptado de Gonzalez-Stagnaro, 1991.


49 INDICAÇÕES DA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA

Os índices reprodutivos são avaliações que funcionam como indicadores da eficiência


reprodutiva e que devem ser acompanhados no rebanho. Os principais são:
136
 Idade à puberdade;

 Tempo, em meses, que a borrega leva para apresentar o primeiro estro com
ovulação;
 Está relacionado com o tempo que esta fêmea demora para atingir peso
compatível com a reprodução (60-70% do peso de fêmea adulta);
 É influenciado pela raça e, principalmente, pelo manejo nutricional;
 Taxa de concepção:

 É a relação entre o número de fêmeas prenhes e o número de fêmeas


inseminadas ou cobertas em um único ciclo (multiplica-se por 100 para dar a
resposta em percentual).
 Expressa a fertilidade de cada serviço, seja cobertura ou inseminação
artificial;
 Em outras palavras, é a probabilidade que uma fêmea possui de tornar-se
gestante uma vez inseminada ou coberta;
 É influenciado pela fertilidade das ovelhas, fertilidade do macho ou da
qualidade do sêmen, condição nutricional, período pós-parto, estresse,
problemas individuais e sanitários, precisão na detecção do cio; eficiência da
técnica de inseminação artificial;
 Exemplo: 200 fêmeas foram inseminadas e 180 ficaram prenhez. Qual a taxa
de concepção? (180/200) x 100 = 90%;
 Período de serviço
 É o tempo gasto desde o início da estação de monta para emprenhar uma
fêmea.
 Taxa de Serviço
 É a relação entre o número de fêmeas efetivamente inseminadas ou cobertas
em relação ao número de fêmeas disponíveis para serem inseminadas ou
cobertas (multiplica-se por 100 para dar a resposta em percentual);
 É influenciada a condição corporal no pré e no pós-parto, pela idade de
desmame dos cordeiros, pela eficiência na detecção de cio, entre outras;
 Exemplo: Um rebanho possui 500 disponíveis para serem acasaladas e 400 137
fêmeas foram cobertas. Qual a taxa de serviço? (400/500) x 100 = 80%;
 Fertilidade

 É o percentual de fêmeas gestantes do total de fêmeas expostas a um período


de cobertura (estação de monta), podendo compreender vários ciclos;
 Fêmeas cobertas/reprodutor/ano

 Avalia a quantidade de fêmeas acasaladas com determinado reprodutor por


ano;
 Intervalo de partos

 Período, em meses, compreendido entre um parto e outro subsequente;


 Taxa de parição

 Relação entre o número de fêmeas que pariram e o total de fêmeas cobertas


ou inseminadas (multiplica-se por 100 para dar a resposta em percentual);
 Exemplo: 250 fêmeas foram acasaladas e 210 fêmeas pariram. Qual a taxa de
parição? (210/250) x 100 = 84%;

 Perda fetal

 Percentual de animais que não pariram após terem sido diagnosticados


gestantes;
 Período de gestação

 Intervalo em dias entre o acasalamento e o parto;


 Prolificidade

 Número de filhotes por ovelha/parto.


50 MANIPULAÇÃO ARTIFICIAL DA REPRODUÇÃO

50.1 Luz Artificial

138

Para raças de ovelhas que apresentem poliestria estacional, uma técnica que pode ser
empregada para favorecer a reprodução em outros períodos do ano é fornecer um ambiente
artificialmente iluminado que imite o fotoperíodo negativo (16 horas de luz e 8 horas de escuro).
Indicada para unidades de larga produção comercial, pois é um sistema bastante dispendioso.

50.2 Efeito Carneiro

Denomina-se de efeito carneiro ou efeito macho a reação ovulatória provocada pela


introdução de machos em lotes de fêmeas que ficaram por um período sem contato (visual,
auditivo e olfativo) com carneiros ou rufiões. Os machos devem ficar afastados do rebanho por
um período de aproximadamente 60 dias e após este período são re-introduzidos no lote de
fêmeas. A resposta ovulatória à introdução dos machos ocorre dentro de 54 h (24 a 60 h).

Contudo, esta introdução não deve ser muito cedo, pois, as ovelhas são incapazes de
ovularem devido à incompleta involução uterina ou ao anestro lactacional. Se o macho for
introduzido durante o período de anestro estas fêmeas vão demorar mais para restabelecerem
sua atividade reprodutiva. O uso do efeito carneiro pode estar associado ao manejo de luz
artificial e ao uso de hormônios para sincronização de cio.

Um cuidado que se deve tomar em relação ao efeito macho é com o primeiro estro, pois
pode ter baixa fertilidade pela não ocorrência de ovulação ou ovulação de folículos velhos. Logo
é recomendado deixar as fêmeas com rufião e levar a fêmea até o macho para ser coberta ou
inseminá-la a partir da manifestação do segundo estro.

139
50.3 Uso de Hormônios

A utilização de hormônio tem sido uma metodologia bastante difundida para sincronizar
o cio das ovelhas. Quando a propriedade faz acasalamentos em estações de monta pré-
determinadas, o uso de hormônios se torna uma ferramenta importante para viabilizar que as
fêmeas entrem em cio ao mesmo tempo (períodos próximos). Existem vários esquemas para
sincronização de cio com utilização de hormônios, abaixo pode ser observado um exemplo de
esquema:

 Impregnar esponjas cilíndricas - 2,5 cm de base por 3 cm de altura - com 1 ml

de (50 mg) de Acetato de Medroxi-progesterona;


 Secar e armazenar as esponjas;

 Colocar as esponjas no interior da vagina das ovelhas e deixar por 14 dias;

 Retirar as esponjas e aplicar 200 UI de Gonadotrofina coriônica equina (PMSG

ou eCG);
 Inseminar entre 55 a 60 h.
51 MANEJO PRÉ-PARTO E PARIÇÃO

Para que o manejo reprodutivo seja eficiente numa propriedade é fundamental que as
fêmeas tenham boas condições corporais e sanitárias no momento do parto, por isso um mês
140
antes desta data devemos começar a tomar alguns cuidados:
 Colocar estas fêmeas em instalações limpas, tranquilas (sem muita
movimentação, para evitar que as fêmeas fiquem estressadas, o que pode
provocar um aborto), seguras contra predadores, de fácil acesso e perto do
centro da propriedade para facilitar a observação.
 Nos sistemas mais extensivos, onde não existem instalações para pré-parto e/ou

maternidade, as fêmeas podem ficar no pasto, mas devem ficar num piquete
destinado a este grupo e não misturadas a outras categorias do rebanho.
Preferencialmente este piquete deve ter forrageira de boa qualidade, ser de
tamanho pequeno para facilitar a observação das fêmeas e estar próximo das
instalações da propriedade. Os piquetes maternidades devem oferecer proteção
contra o vento e a chuva;
 Ter funcionário(s) encarregado(s) na observação periódica destas fêmeas para

evitar que os filhotes e até mesmo as mães morram por problemas no momento
do parto;
 As fêmeas prenhez devem estar com as vacinas em dia;

 Se for possível, deve ser fornecido volumoso (pastagem, verde picado, silagem

ou feno) de boa qualidade e suplementação com concentrado energético e


proteico, vitaminas e minerais. Se isso não for compatível com o sistema
produtivo da propriedade, deve-se separar um piquete com boa quantidade de
pastagem de boa qualidade e suplementação com sal mineral;
 Próximo ao dia da parição deve-se manter a região da vulva limpa, pois este

manejo permite uma maior higiene, reduzindo a incidência de miíases após o


parto;
 Também se deve limpar a região do úbere para facilitar as primeiras mamadas.
Normalmente durante o parto as ovelhas não necessitam de ajuda, contudo, se após a
bolsa estourar o cordeiro demorar a sair (mais de 3 horas) é necessário interferir e auxiliar a
ovelha no parto, pois pode acontecer do filhote não estar na posição correta (patas estendidas
em direção à vagina e a cabeça no meio delas) ou ser muito grande não conseguindo passar.
Fêmeas primíparas e idade avançada possuem maior probabilidade de parto distócico. Após o
parto a maioria das fêmeas limpa as suas crias com lambidas, se isto não acontecer deve-se 141
auxiliar a fêmeas limpando e secando a cria. Procede-se a limpeza e a secagem com um pano
seco, começando pelas fossas nasais e friccionando-se a cria para estimular a respiração e a
circulação.
52 CUIDADOS COM OS RECÉM-NASCIDOS

Cuidar bem dos cordeiros recém-nascidos até o momento do desmame perpassa o


sucesso da cadeia de produção ovina. 142

O cordeiro é o nosso produto!

Maior quantidade de cordeiros nascidos e bem criados = mais animais prontos para o abate e mais
produção de carne.

A maior parte dos problemas com os cordeiros que trazem prejuízos econômicos e que
muitas vezes levam as crias a óbito pode ser minimizada com adoção de práticas muito simples.

52.1 Ingestão do Colostro

Após o nascimento, o cordeiro leva em média 15 minutos para se levantar e


normalmente mama pela primeira vez dentro de uma hora. As primeiras mamadas são muito
fundamentais para a ingestão do colostro. O colostro é rico em imunoglobulinas, sendo fonte
natural e eficiente de proteção contra muitas doenças intestinais, respiratórias e outras. Os
anticorpos transmitidos por ele protegem o cordeiro, que ao nascer em contato com os agentes
infecciosos presentes no ambiente, e ainda estimulam gradualmente o desenvolvimento do seu
próprio sistema imune.
Cordeiros que não ingerem o colostro ficam desprotegidos contras os organismos
infecciosos, podendo adoecer e até morrer. Além dos anticorpos, o colostro também possui na
sua constituição duas vezes mais sólidos totais, três vezes mais minerais, boa quantidade de
gordura e altas concentrações de vitaminas A, D e E quando comparados ao leite comum. É
ainda uma grande fonte de energia para o cordeiro, ajudando o recém-nascido a ficar aquecido.
143
Por causa do exposto acima é vital que o cordeiro seja observado após o nascimento
para termos certeza de que o mesmo mamou o colostro nas primeiras horas de vida. Após as
primeiras 24 horas o cordeiro fica impossibilitado de receber os anticorpos via colostro, pois
como os anticorpos são moléculas grandes não poderão mais cruzar a parede do intestino para
entrar na circulação sanguínea. Se o cordeiro não puder mamar o colostro na mãe (por morte da
ovelha ou rejeição do cordeiro), este deve ser fornecido em mamadeira ou garrafa com bico
numa média de 100 ml de colostro de 3 em 3 horas.

Se o cordeiro estiver muito fraco e não conseguir mamar o colostro deve ser dado via
sonda estomacal. O ideal é utilizar o colostro de ovelhas saudáveis, preferencialmente de
ovelhas mais velhas, pois, possuem uma maior taxa de anticorpos, pela probabilidade de terem
sido expostas a um número maior de agentes infecciosos. Embora não seja o ideal, se não tiver
colostro de ovelha disponível pode-se usar de vaca ou de cabra, sendo o leite de raças leiteiras
mais indicado por conter maior quantidade de gordura. Se o colostro tiver sido armazenado
congelado deve ser descongelado à temperatura ambiente e não expor o colostro a calor
excessivo, pois pode haver destruição dos anticorpos.

52.2 Hipotermia

Cordeiros recém-nascidos de tamanho pequeno, com pouco peso (abaixo de 3 kg) de


parto gemelar e que nascem no inverno, em regiões mais frias e ventosas, podem apresentar
hipotermia (quando a temperatura corporal do cordeiro desce a menos de 37ºC) e se estes
cordeiros não forem socorridos podem vir a óbito nas primeiras 72 horas de vida. A hipotermia
ocorre pela exposição do cordeiro a um ambiente frio e úmido associado com uma quantidade
de energia insuficiente para promover a termorregulação (manter o recém-nascido aquecido).

Para evitar que ocorra hipotermia podemos tomar algumas precauções: 144

 Fornecer boa alimentação para as ovelhas no terço final da gestação, pois uma

boa nutrição promoverá uma maior produção de leite por estas fêmeas;
 Fazer a estação de monta que resulte em nascimentos fora da época mais fria e

chuvosa;
 Manter as ovelhas no pré-parto em local seco e protegido do vento para que os

cordeiros nasçam neste ambiente e ali permaneçam nas primeiras semanas de


vida. Nos sistemas mais extensivos podemos reservar um piquete que possua
proteção natural ou providenciar proteções artificiais;
 Se o nascimento for em dia de chuva, secar bem o cordeiro (com toalha limpa) e

levar mãe e cria para local coberto;


 Fazer o cordeiro mamar o colostro em quantidade suficiente.

Exemplo de piquete com proteção contra vento.

Fonte: Martin, 2001.


Se o cordeiro estiver com hipotermia devemos proceder com o seguinte tratamento:
a. Cordeiros com menos de 5 horas de vida:
 Levar mãe e filhote para local seco e aquecido;

 Se o cordeiro estiver molhado devemos secá-lo;

 Aquecer o cordeiro;

 Induzir o cordeiro a mamar o colostro na mãe e se não for possível fornecer o 145
colostro.

b. Cordeiros com mais de 12 horas de vida:


 Como cordeiros com mais de 12 horas de vida e com hipotermia têm falta de

glicose (hipoglicemia) não devemos aquecê-lo antes de elevar a taxa de glicose


sanguínea, para evitar que este cordeiro tenha convulsões, entre em coma e
morra;
 Fornecer glicose

 Passar a sonda estomacal e fornecer colostro (50ml/kg de peso vivo);


 Se não for possível passar a sonda, aplicar injeção intraperitoneal com 10
ml de glicose a 20% (aquecer a solução até a temperatura sanguínea que é
de 39 ºC);
 Aquecer o cordeiro;

 Quando estiver recuperado, retorná-lo para a ovelha.

Passagem da sonda estomacal.

Fonte: Martin, 2001.


146

Injeção intraperitoneal - aplicar a injeção dois centímetros atrás do cordão umbilical.

Fonte: NADIS, 2003.

51.3 Cura do Umbigo

A cura do umbigo é uma prática de fácil realização e de extrema importância para


evitar a contaminação, ao servir de porta de entrada para agentes infecciosos gerando onfalites,
podendo levar a onfaloflebites e até a morte, principalmente quando as condições de higiene no
local de parição e na maternidade são precárias. Nas primeiras horas de vida, o umbigo deve ser
cortado, com tesoura desinfetada, na medida de dois dedos (aproximadamente 4 cm) e colocado
em imersão durante 2 a 3 minutos numa solução de iodo a 10%. A aplicação da tintura de iodo
deve ser realizada duas vezes ao dia até secar e ocorrer a queda do coto umbilical.
52.4 Cuidados com as Instalações

Outro cuidado que devemos ter é em relação à maternidade quando esta é de piso
147
ripado, pois se o espaçamento entre as ripas for muito grande os cordeiros recém-nascidos e os
muito jovens podem prender as patas não podendo mamar e ficando expostos ao pisoteio. Uma
forma de solucionar este problema é utilizar uma tela sobre o chão da baia onde o filhote recém-
nascido ficará com sua mãe.

Baia maternidade
Fonte: Arquivo pessoal, 2006.

O excesso de ventos, de umidade e as baixas temperaturas aumentam muito a taxa de


mortalidade dos filhotes nos seus primeiros dias de vida, por isso o local onde estes animais vão
ficar deve ser protegido do vento e aquecido.
51.5 Verminose

A verminose é uma das maiores causas de mortalidade entre os cordeiros. O principal


endoparasito envolvido com a verminose nos ovinos é o Haemonchus contortus. A melhor
148
maneira de controlar este parasito é vermifugar as fêmeas 30 dias antes do parto, fazer rotação
de pastagens, evitar muitos animais em uma mesma área, manter limpa as instalações onde os
cordeiros ficam com suas mães e se possível evitar o contato excessivo dos cordeiros com
ovinos adultos. Para informações mais detalhadas sobre vermifugação olhar a aula de manejo
sanitário.
56 ALIMENTAÇÃO DO CORDEIRO ATÉ O DESMAME

O período de desmame é um período crítico da passagem do pré-ruminante para


149
ruminante, sendo altamente influenciado pela alimentação que é fornecida ao cordeiro
concomitantemente com o leite materno. Assim que nasce o cordeiro se comporta como
monogástrico, consumindo escassas ou nulas quantidades de alimentos sólidos até a segunda
semana de vida, onde os consumos de alimentos sólidos começam ser apreciados. Nesta fase
começa o desenvolvimento do rúmen, sendo a velocidade deste desenvolvimento determinada
pelo tipo do alimento e pela quantidade do mesmo.

Durante o período de amamentação, o crescimento do cordeiro está correlacionado


com a quantidade de leite consumido, principalmente nas três primeiras semanas de vida, sendo
importante que a ovelha seja bem nutrida para que possa produzir uma boa quantidade de leite.
Ao redor da sexta semana de vida a alimentação sólida pode representar até 25% do total de
energia consumida pelo cordeiro e na nona semana em torno de 70%.

A deficiência de energia na dieta é a principal causa da redução do desenvolvimento


ponderal do cordeiro lactante e isto é mais marcante quando a época de nascimento coincide
com o período de escassez de forragem. A qualidade da fibra é um fator importante na dieta,
considerando que cordeiros são bastante susceptíveis a acidose aguda. Sendo assim, mesmo
cordeiros que são criados em instalações sem acesso a pastagem devem receber verde picado,
silagem ou feno além do concentrado.

Os cordeiros podem ser criados somente a pasto quando este é de boa qualidade e
possui um elevado valor nutricional. Contudo, se não houver adequada disponibilidade de
forragem ou se esta for de baixa qualidade é necessário oferecer suplementação (creep feeding
ou creep grazing – ver aula 8 sobre manejo nutricional) para esses cordeiros. Animais que
recebem pouca alimentação ou alimentação de baixa qualidade, além do leite materno, depois
do desmame precisarão aumentar de forma gradual o consumo de concentrado. Estes animais
normalmente demoram a se acostumar com a nova alimentação, perdendo peso após o
desmame, podendo inclusive apresentar diarreia.
56.1 Aleitamento Artificial

Nem sempre a ovelha aceita cuidar de sua cria. Quando isso ocorre podemos tentar
induzir esta aceitação colocando-a com sua cria em um local pequeno e obrigando-a a deixar o
150
cordeiro mamar. Quando a ovelha morre ou não produz leite ou por qualquer outra razão não
pode alimentar seus filhotes podemos tentar introduzir este filhote ao convívio de outra ovelha
(que só teve uma cria ou que perdeu a cria. Não tentar colocar o cordeiro com uma mãe que já
possui dois filhotes). Para tentar fazer a ovelha aceitar o cordeiro pode-se passar sobre o
cordeiro leite ou urina desta fêmea ou ainda colocar sobre o cordeiro a pele do filhote morto.

Se não for possível introduzir este cordeiro a uma nova família deve-se proceder à
alimentação artificial através de mamadeira com leite de ovelha livre de doenças. Se não estiver
disponível leite de ovelha pode-se fornecido leite de vaca acrescido de óleo de soja (01 colher
sopa/500 ml de leite). Deve ser acrescido o óleo, pois o leite ovino é mais rico em gordura do
que o leite bovino. O leite deve ser fornecido, preferencialmente, morno (por volta de 35 ºC). O
oferecimento de leite frio diminui o consumo. Até a terceira semana de vida o fornecimento de
leite deve ser à vontade e a partir desta idade (21 em média) deve ser restrito a 1,5 kg de leite
por dia.

Balde para fornecimento de leite.

Fonte: ITC do Brasil, 2008.


57 DESMAME

A idade ao desmame está correlacionada com o tipo de alimentação que o cordeiro


151
recebe. Quanto mais cedo (a partir da segunda semana de vida) for oferecida uma alimentação
de boa qualidade mais cedo se desenvolve o rúmen e mais precoce pode ser o desmame. A
produção de leite da ovelha começa a decair gradativamente a partir da quarta semana após o
parto e a partir da oitava cai de forma brusca. Sendo assim, nesta idade o cordeiro já deve ser
capaz de consumir quantidades adequadas de alimento sólido.

O desmame tradicional, que é praticado nos sistemas mais extensivos, ocorre por volta
de 100 dias de idade. Enquanto que o desmame precoce ocorre entre 45 e 60 dias. O desmame
precoce somente poderá ser realizado em sistemas onde o cordeiro recebe alimentação sólida
de boa qualidade e em boa quantidade a partir da segunda/terceira semana de idade. Quando
não se pode oferecer alimento de boa qualidade é melhor realizar o desmame tradicional.

O desmame precoce traz algumas vantagens:

 Menor infestação parasitária nos cordeiros separados das mães;

 Mais tempo para engorda consumindo alimentos sólidos;

 Volta mais rápida da ovelha a reprodução.

57.1 Tipos de Desmame

a. Desmame abrupto
Neste sistema,quando chega a época do desmame, o cordeiro é separado da mãe de
forma brusca. Não deve ser realizado, pois o cordeiro sente muito a separação da mãe, mesmo
aqueles que já consomem boa quantidade de sólido. Neste tipo de desmame, normalmente, os
cordeiros perdem peso.

152
b. Desmame interrompido

É o mais recomendado. Neste sistema o cordeiro é desmamado gradualmente e,


portanto, não sente tanto a separação da mãe, evitando ou minimizando a perda de peso. No
desmame interrompido, os cordeiros passam somente algumas horas com a mão e tempo de
separação vai aumentando gradativamente.

Este desmame ocorre da seguinte forma:

 Antes do desmame os cordeiros ficam com as mães em tempo integral;

 No pré-desmame os cordeiros são separados das mães por algumas horas;

 Numa primeira fase as mães são trazidas duas vezes ao dia para os
cordeiros mamarem;
 Numa etapa posterior somente uma vez por dia, normalmente à noite para
mamadas;
 No desmame, os cordeiros são definitivamente separados das mães.

Nas horas que os cordeiros estão separados da mãe devem receber alimentação de
boa qualidade à vontade.
58 DESEMPENHO DOS CORDEIROS ATÉ O DESMAME

O desempenho dos cordeiros é determinado principalmente pela alimentação recebida,


mas também pode ser influenciado pelo genótipo, pelo sexo e pela sanidade. O genótipo
influencia o desempenho dos cordeiros devido à maior eficiência genética em ganhar peso, o 153
que está em parte ligado a uma melhor conversão alimentar que algumas raças possuem. Outro
ponto que é influenciado pela raça é a maior produção de leite da mãe, já que existem raças
mais leiteiras do que outras. Cordeiros alimentados por mães que produzem maior quantidade
de leite ganharão mais peso.

Em relação ao sexo, geralmente, os machos possuem um ganho de peso maior do que


as fêmeas. Na tabela abaixo podemos observar alguns índices de desempenho dos cordeiros do
nascimento até a desmama, segundo a raça e o sexo dos animais.

Peso ao Idade ao
Peso ao Ganho de peso
desmame
Raça nascer (kg) desmame (kg) (g/dia) Autor
(dias)
Macho Fêmea Macho Fêmea Macho Fêmea Macho Fêmea
Dorper x Barros et al.,
4,67 4,50 18,16 17,29 70 182,49 170,59
Santa Inês 2005.
Sousa e Leite,
Dorper 5,00 4,70 36,2 32,4 90 346,6 307,7
2000.
Texel 3,33 21,8 63 291,0
Suffolk 4,82 24,42 60 325,0 Carvalho et al.,
2005.
Texel x
5,20 31,90 69 387,0
Suffolk
Selaive-
Santa Inês Villarroel e
- - 12,50 11,13 90 - -
x SRD Souza Júnior,
2005.
Santa Inês Selaive-
2,87 11,37 90 85,0
x SRD Villarroel et al.,
Texel x 2006.
3,25 11,68 89,0
SRD
Ideal 3,70 3,30 12,50 11,80 149,0 169,0
Ideal x
4,30 4,10 16,00 15,60 194,0 191,0
Suffolk
Ideal x Ile 154
4,10 3,70 14,20 13,60 169,0 166,0
de France
Cunha et al.,
Corriedale 4,30 3,70 12,50 11,70 60 137,0 135,0 2000.
Corriedale
4,30 4,00 13,80 13,60 181,0 160,0
x Suffolk
Corriedale
x Ile de 4,40 4,10 15,20 13,90 190,0 164,0
France
Dorper x
4,50 3,97 18,9 18,3 64 65 236 226
Santa Inês
Suffolk x Chagas et al.,
4,53 3,77 17,8 17,9 67 72 206 202
Santa Inês 2007.
Santa Inês
3,81 3,44 17,8 17,4 71 79 201 184
pura
59 HÁBITOS ALIMENTARES

A apreensão da forragem nos ovinos é feita pela língua, dentes e lábios possibilitando
um pastejo rente ao solo, o que os torna mais seletivos do que os bovinos que apreendem a 155
forragem somente com a língua. Os ovinos têm preferência por forragens mais baixas (inferior a
1 metro), diminuindo o pastejo quando colocados em meio a pastagens altas. As forragens
lenhosas ou alimentos grosseiros também diminuem o consumo, contudo as raças de ovinos
deslanadas são “mais tolerantes” a estas forragens.
O ciclo de pastejo é descontínuo, ocorrendo no início da manhã e entre o final da tarde
e o anoitecer. O tempo de pastejo é em média de 9 horas por dia, podendo ocorrer variações
entre 4,5 h e 14,5 h. Esta variabilidade está bastante relacionada com a disponibilidade da
pastagem, se a forragem é escassa aumenta tempo de pastejo, pois aumenta o número de
bocados (quantidade de vezes que o animal apreende a forragem), mas diminui a quantidade de
forragem apreendida em cada bocado.

A regulação do consumo de forragem pelos ovinos é regulada principalmente por:

 Qualidade da planta – plantas mais lenhosas diminuem o consumo por terem

menor digestibilidade;

 Disponibilidade da forragem – se a disponibilidade é pouca o animal tem que dar

mais bocados para apreender a mesma quantidade de alimento e também


precisa andar mais, diminuindo o consumo;

 Capacidade física do rúmen – se o rúmen já esta cheio não tem como o animal

consumir mais. Plantas de menor digestibilidade têm taxa de passagem mais


lenta e por isto o rúmen demora mais a esvaziar, diminuindo o consumo;

 Microorganismos ruminais – qualquer anormalidade nos microorganismos

ruminais vai ocasionar uma deficiência na digestão, diminuindo a taxa de


passagem e consequentemente diminuindo o consumo;
 Fatores ambientais – animais submetidos a situações de estresse por calor

consomem menos. Dias muito quentes ou muito chuvosos diminuem o consumo


de alimentos.

156
60 PASTAGENS

Uma forrageira para ser considerada de boa qualidade deve apresentar as seguintes
157
características:

 Adaptação ao clima, solo e manejo da propriedade;

 Deve ser perene, pois se precisar ser replantada a cada ano encarece muito o

custo da produção;

 Ter boa produtividade e persistência,

 Possuir alta relação folha x caule (muita folha em relação ao caule);

 Elevado valor nutritivo;

 Tolerar pastejo baixo;

 Deve ser resistente a pragas e doenças.

60.1 Tipos de Pastejo

60.1.1 Pastejo em lotação contínua

Fonte: Própria autoria, 2008.


Neste sistema os animais ficam em um único piquete durante todo o ano. É o tipo de
pastejo mais usado no sistema de produção extensiva. Pode-se usar neste piquete carga fixa,
mesmo número de animais durante todo o ano, ou carga variável, o número de animais muda de
acordo com a disponibilidade das pastagens. Como a produção de forragem é sazonal, quando
se utiliza o sistema com carga fixa pode ocorrer superpastejo (degradando a pastagem e não
permitindo a recuperação adequada da mesma) ou subpastejo desta pastagem. 158
Pode-se minimizar o problema da quantidade de forragem variando o número de
animais por área ao longo do ano de acordo com a quantidade de pasto. Na época das águas
que tem maior disponibilidade de pasto aumenta-se a taxa de lotação e na época seca, quando a
disponibilidade é menor, reduz-se o número de animais por área. Como os animais ficam sempre
na mesma área aumenta a incidência de verminose e consequentemente os gastos com
vermífugo.

60.1.2 Pastejo rotacionado

Fonte: Própria autoria, 2008.

No pastejo rotacionado a área de pastagem é dividida em piquetes menores, onde


ocorre um rodízio dos animais nos piquetes. A rotação de pastagem é indicada para diminuir a
infestação por parasitos. Este método também favorece a rebrota da forragem, pois enquanto os
animais pastejam num piquete os demais descansam. O número de piquetes deve ser calculado
com base no número de dias de utilização e de descanso dos piquetes. O período de descanso
varia de acordo com a forragem usada, sendo em torno de 20 a 45 dias. O período de ocupação
também é variável, mas não deve ser maior do que 7 dias para não prejudicar a rebrota e para
minimizar a verminose por autoinfestação, com a exposição dos animais às larvas infestantes, 159
eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo. Pode-se determinar o momento de entrada e de
saída dos animais do piquete pela altura da pastagem.

Tabela 1: Período de descanso e altura de pastagens na época das águas

Período de descanso Altura de entrada Altura de saída


Gramínea
(dias) (cm) (cm)
Tanzânia 30-35 70 20-30
Aruana 30-35 40-50 10-20
Braquiária 28-32 25-30 10-15
Coast-cross ou Tifton 20-25 25-30 10-15
Fonte: Quadros, 2007.

A quantidade de animais por hectare depende da forragem utilizada (quantidade que


produz de matéria verde) e do animal que irá pastar no piquete, já que cada categoria animal
tem consumo diferenciado. Para exemplificar este cálculo tomaremos como base o manejo
utilizado na Embrapa Semiárido (SALVIANO; SALVIANO, 2005).
 Período de pastejo: 4 dias

 Período de repouso: 24 dias

 Capim usado: Tifton

 Animais usados: Cordeiros desmamados

 Quantidade de animais: 70 cabeças/ha

Calculando a quantidade de piquetes:


Se cada piquete ficará 4 dias ocupado e 24 dias descansando  4 + 24 = 28 dias de
ciclo de cada piquete. Para que os animais só tornem ao primeiro piquete após 24 dias temos
que dividir pelo número de dias de pastejo  28/4 = 7. Dividiremos a área então em sete
piquetes. Outra forma de fazer este cálculo é:

160

Fonte: Própria autoria, 2008.

Tamanho dos piquetes:


Se tivermos 140 cordeiros desmamados pastando no Tifton: 1 hectare = 70 animais 
para 140 animais = 2 hectares

60.1.3 Pastejo diferido

Separa-se uma área e nela é plantada forragem de elevada qualidade nutricional.


Muitas vezes faz-se nesta área um banco de proteína através do plantio de leguminosas. É
utilizada para categorias com maior exigência nutricional. O pastejo diferido tem sido muito
usado no creep grazing, onde somente os cordeiros têm acesso a este piquete de melhor
qualidade.
161

Fonte: Própria autoria, 2008.

60.2 Gramíneas para Ovinos

Muitas gramíneas podem ser usadas para o pastejo dos ovinos, desde que não sejam
muito altas, muito lenhosas ou de baixa qualidade nutricional. Forrageiras com hábito de
crescimento prostrado (estoloníferas), têm sido muito utilizadas na criação de ovinos, pois
toleram o pastejo baixo, possuem sistema radicular bem desenvolvido, o que garante boa
fixação ao solo e apresentam boa capacidade de rebrota através das gemas basais. Devido ao
modo de apreensão dos alimentos, os ovinos consomem a planta até próximo ao solo e se as
gêmeas forem apicais a rebrota da pastagem será mais lenta. Porém, a formação destas
pastagens é mais cara e trabalhosa, já que a maioria dessas forrageiras apresenta propagação
por muda. Outro ponto negativo é que o tipo de crescimento prostrado cria um microambiente
quente e úmido, favorecendo a sobrevivência dos helmintos e dificultando o controle da
verminose.
Embora as forrageiras de crescimento prostrado sejam mais utilizadas, as forrageiras
de crescimento cespitoso são preferíveis, pois favorecem o controle da verminose através da
incidência solar direta no solo, onde as fezes se encontram, diminuindo o potencial de
reinfestação da pastagem. Porém, deve-se tomar cuidado com o manejo destas forrageiras em
relação à sua altura, já que os ovinos diminuem o consumo quando são colocados em piquetes
com forrageiras altas (maior que 1 metro).

Abaixo podem ser vistos alguns exemplos de pastagem usadas para ovinos.
60.2.1 Brachiaria spp

As forrageiras deste gênero estão disseminadas por quase todo o território nacional.
Embora bastante rústicas e agressivas, fechando bem o terreno, estas forragens não têm sido 162
muito recomendadas para a alimentação de ovinos por causa da sua baixa qualidade nutricional.
Quando trabalhamos com pastagens de Brachiaria decumbens precisamos ter cuidado com a
presença do fungo Pithomyces chartarum, que pode causar fotossensibilidade nos ovinos. Para
evitar que este fungo se prolifere é necessário manejar esta planta em uma altura baixa. Para
mais informações sobre fotossensibilidade ver aula sobre manejo sanitário.

Brachiaria brizantha Brachiaria decumbens

Fonte: Tropical Forages, 2005.


60.2.2 Cynodon spp

As forragens do gênero Cynodon têm sido bastante recomendadas por apresentarem


elevado valor nutricional, boa cobertura de solo e por serem bem aceitas pelos ovinos. O maior 163
limitante de sua utilização é o custo de implantação, já que é necessária a utilização de mudas
para o plantio. Os principais representantes deste grupo são os capins Tifton-68, Tifton-85,
Coastcross e Estrela-africana.

Estrela-africana
Fonte: Tropical Forages, 2005.

Tifton
Fonte: Agronomia.com.br, 2008.
Coastcross 164
Fonte: Tropical Forages, 2005.

60.2.3 Panicum maximum

O principal representante deste gênero é o Colonião, contudo, pastejo exclusivo por


ovinos nesta forragem não é recomendado por ser de porte alto. O capim Tanzânia e o Aruana
são outros dois representantes que têm sido bastante usados atualmente. As forragens deste
gênero possuem uma boa qualidade nutricional, boa produção de massa verde, perfilhamento
rápido e são bem aceitas pelos ovinos. Uma vantagem do gênero Panicum maximum em relação
ao Cynodon é o plantio por sementes, o que torna a implantação mais barata e rápida.
165

Colonião
Fonte: Tropical Forages, 2005.

Aruana
Fonte: Sementes Rancharia, 2008.
Tanzânia 166
Fonte: InfoBibos.com, 2008.

60.2.4 Andropogon gayanu

O capim Andropogon possui boa tolerância a solos de baixa fertilidade e resiste bem à
cigarrinha-das-pastagens. Para ser utilizado por ovinos deve se evitar o crescimento exagerado,
manejando a taxa de lotação dos ovinos.
Andropogon
167
Fonte: Tropical Forages, 2005.

60.2.5 Pennisetum purpureum

O capim elefante é considerado uma importante forrageira tropical, principalmente pela


sua elevada produção, chegando a produzir entre 90-120 toneladas de matéria verde /ha/ano.
Possui excelente valor nutritivo quando colhido entre 35-40 dias (1,5 m de altura), sendo entre 8-
12% de proteína bruta e 55-60% de nutrientes digestíveis (NDT). É muito bem aceito pelos
animais, contudo, devido à sua altura é mais indicado como volumoso para corte do que para
pastejo direto. É bastante usado em conjunto com o milho ou com poupa cítrica, na forma de
silagem.
168

Capim Elefante
Fonte: Tropical Forages, 2005.

60.3 Leguminosas

As leguminosas possuem boa quantidade de proteína e podem ser usadas


consorciadas com gramíneas, como creep feeding ou como banco de proteína. As principais
leguminosas usadas para ovinos são: Alfafa (Medicago sativa L.), Calopogônio (Calopogonium
mucunoides Desv.), Soja perene (Neonotonia wightii), Leucena (Leucaena leucocephala),
Amendoim forrageiro (Arachis pintoi) e Feijão Guandu (Cajanus cajan). Como os ovinos
possuem preferência por pastagens mais baixas deve-se tomar cuidado com o manejo da altura
da Leucena e o Feijão Guandu.
169

Alfafa
Fonte: Tropical Forages, 2005.

Calopogônio
Fonte: Tropical Forages, 2005.
170

Soja perene
Fonte: Tropical Forages, 2005.

Amendoim forrageiro
Fonte: Tropical Forages, 2005.
171

Feijão Gandú
Fonte: Tropical Forages, 2005.

Leucena
Fonte: Tropical Forages, 2005.
60.4 Plantas Forrageiras do Semiárido

Existem muitas plantas do semiárido brasileiro que podem ser utilizadas para a
alimentação de ovinos. Contudo, a que vem sendo bastante utilizada é a Palma forrageira 172
(Opuntia ficus-indica).

Palma forrageira
Fonte: www.agricultura.al.gov.br, 2008.
61 SILAGENS E FENOS

Silagem é um método de conservação da forragem verde por meio de um processo de


fermentação anaeróbica, onde a forragem verde é picada, colocada em silo, compactada e 173
vedada até o consumo. Quando bem realizada conserva o valor nutritivo do alimento. Como o
processo não melhora a qualidade do alimento e sim conserva a característica perto do alimento
fresco, é necessário que seja usada forragem de boa qualidade.

61.1 Silagens

61.1.1 Silagem de milho (Zea mays)

É um alimento de valor energético muito bom, mas seu valor proteico é baixo. Possui
boa fermentação e tem ótima aceitação pelos animais. Sua produção é, em média, de 20-30
ton/ha de massa verde.
174

Milho Silagem de milho


Fonte: Tropical Forages, 2005. Fonte: Lacto Silo-E

61.1.2 Silagem de sorgo (Sorghum spp.)

É um excelente alimento, possuindo valor energético similar à silagem de milho. Sua


produção é, em média, de 30-40 ton/ha de massa verde.
175

Sorgo
Sorgo
Fonte: Estación Experimental Agropecuaria Balcarce –
Fonte: Aboissa
INTA, 2008.

61.2 Fenos

Um feno para ser considerado de boa qualidade deve possuir cor esverdeada, grande
quantidade de folhas, macio ao tato, ter acima de 10% de proteína bruta e ser bem aceito pelos
animais. Assim como a silagem um feno para ser de boa qualidade deve ser feito a partir de uma
forragem de bom valor nutricional. Bons fenos são conseguidos utilizando Alfafa, Coast-cross,
Tifton e Aruana.
176

Feno
Fonte: Wikipédia, 2008.

61.3 Cana-de-Açúcar

É considerada uma forrageira que se conserva “em pé”. Tem como inconveniente:
 Possuir grande quantidade de açúcar altamente solúvel no rúmen, o que

prejudica a digestão da fibra do bagaço;


 Possuir baixo teor proteico, o que pode ser melhorado suplementando com

farelos de oleaginosas ou uréia.


É mais indicada para animais menos exigentes, como ovelhas e animais adultos em
geral.
62 CONCENTRADOS

62.1 Concentrados Energéticos


177

São considerados concentrados energéticos os alimentos que possuem menos de 18%


de fibra e menos de 20% de proteína bruta na matéria seca.
São exemplos de concentrados energéticos usados para ovinos:
 Milho em grão e desintegrado com palha e sabugo (MDPS);

 Sorgo em grão;

 Farelo de o trigo;

 Polpa cítrica.

62.2 Concentrados Proteicos

São considerados concentrados proteicos os alimentos que possuem menos de 18%


de fibra e mais de 20% de proteína bruta na matéria seca.
São exemplos de concentrados proteicos usados para ovinos:
 Farelo de soja (45 a 47% de proteína bruta);

 Farelo de algodão (28 a 38% de proteína bruta);

 Farelo de amendoim (52% de proteína bruta);

 Farelo de girassol (44 a 49% de proteína bruta).


Na alimentação de ruminantes é muito comum a utilização de nitrogênio não proteico
como fonte de proteína, já que estes animais são capazes de transformá-lo em proteína
microbiana. A uréia é um exemplo de nitrogênio não proteico que têm sido muito utilizado para
aumentar o teor proteico de dietas a base silagem de milho ou sorgo, polpa cítrica, cana-de-
açúcar, fenos de qualidade inferior, entre outras.
178
Porém, alguns cuidados precisam ser tomados para utilizar a uréia:
 Os animais precisam ser adaptados gradativamente a uréia, pois, ela pode ser

tóxica;
 Só podem ser fornecidas depois que o rúmen está completamente

desenvolvido;
 Usar preferencialmente com animais adultos;

 Cordeiros com elevado ganho de peso precisam de proteína verdadeira e por

isso a uréia não deve ser a única fonte proteica.


63 MINERAIS E VITAMINAS

63.1 Minerais
179

Os minerais são muito importantes para o metabolismo dos animais, atuando como
constituintes de vários tecidos e órgãos, auxiliam no equilíbrio ácido base dos fluídos corporais,
além de atuar na regulação de várias enzimas e hormônios. Sendo assim, o fornecimento de
minerais deve ser bem planejado. Como o teor de minerais pode ser variável nas pastagens
devido a espécie forrageira utilizada e ao solo, o mais recomendado é que se faça uma análise
para saber o teor de minerais na pastagem e que se suplemente com os minerais que estão em
déficit. Caso isto não seja possível, deve-se então utilizar sal mineral comercial.
Devemos ter cuidado com o excesso de alguns minerais, pois podem tornar
indisponíveis a absorção ou potencializar a ação de outros minerais, originando carência ou
toxidade. Por exemplo, grande quantidade de enxofre reduz a absorção de selênio, enquanto
que altos níveis de ferro reduzem o aproveitamento do fósforo e zinco. Ovinos são
particularmente intolerantes ao excesso de cobre, sendo o excesso deste mineral tóxico
principalmente quando o teor de molibdênio e de enxofre estiver baixo, já estes elementos são
antagônicos ao cobre.
Tabela 2: Exigências minerais para ovinos:

180

Fonte: NRC, 1985 apud Fernandes, 2007.

As gramíneas são pobres em fósforo, sendo assim, animais que são alimentados
exclusivamente a pasto precisam receber suplementação deste mineral. As leguminosas são
ricas em cálcio. Já alimentos como milho e farelos de trigo, algodão e soja são ricos em fósforo e
pobres em cálcio. A maioria das pastagens e grãos possui boa quantidade de potássio, mas
baixa quantidade de sódio, sendo a principal fonte deste mineral o sal comum. Na tabela 3
podemos observar a composição mineral de alguns alimentos usados para ovinos.

Tabela 3: Composição mineral de alguns alimentos

Mg Zn Fe Cu Co
Alimentos Ca (%) P (%) K (%)
(%) (ppm ) (ppm) (ppm) (ppm)
Colonião 0,58 0,15 0,28 1,58 31 154 4,2 0,09
Elefante 0,43 0,11 0,36 0,34 33 100 18 0,14
B. decumbens 0,209 0,089 0,168 0,59 4,2 151 2,9 0,02
B. brizantha 0,37 0,09 0,24 0,82 24 130 5 0,14
Silagem de milho 0,36 0,21 0,22 1,60 24 60 4,8 0,02
Farelo de soja 0,36 0,65 0,25 2,2 55 - 20 -
Farelo de algodão 0,30 1,00 0,57 1,23 60 - 20 0,15
Milho grão 0,02 0,09 0,14 0,333 20 - - 0,02
181
Soja grão 0,25 0,58 0,25 1,8 55 - 15 -

Fonte: BARBOSA, GRAÇA E SILVA JÚNIOR, 2008

63.2 Vitaminas

Os ruminantes podem sintetizar as vitaminas hidrossolúveis e a vitamina K


(lipossolúvel) através dos microorganismos do rúmen. Contudo, estas vitaminas precisam ser
fornecidas aos animais jovens já que os mesmos, por não terem o rúmen desenvolvido, não
podem sintetizar tais vitaminas. As vitaminas lipossolúveis A, D e E precisam ser ingeridas, via
alimentos, por animais jovens e por animais adultos. A falta de vitaminas pode originar algumas
doenças e também interferir na absorção de alguns minerais. Por exemplo, a presença de um
derivado da vitamina D controla a síntese da proteína que transporta o cálcio através do epitélio
digestivo.
64 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS

Normalmente as dietas dos caprinos, ovinos e bovinos no Brasil são calculadas com
base nas tabelas de exigências do National Research Council - NRC (1985), que é um órgão
182
americano, ou então pelo Agricultural Research Council – ARC, que é Sul Africano. No Brasil
somente existem alguns trabalhos isolados sobre exigências nutricionais. Contudo, seria
desejável que possuíssemos nossas próprias tabelas, já que as condições ambientais e de
manejo brasileiras (clima, solo, pastagens, animais criados, entre outros) diferem das condições
norte americanas.

Alguns outros países já estruturaram suas próprias tabelas como:


 Agricultural Research Council - ARC (1980) e AFRC (1993);

 Institut National de la Recherche Agronomique – INRA (1981);

 Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization – CSIRO (1990).

64. 1 Categoria Animal

64.1.1 Manutenção

É a categoria de menor exigência nutricional, já que suas exigências são somente para
manter os processos fisiológicos normais. Para esta categoria, se tivermos uma pastagem de
boa qualidade e quantidade não é necessário suplementar com concentrado, verde picado no
cocho, silagem, entre outras. Porém, mesmo para esta categoria a suplementação com sal
mineral é importante.
64.1.2 Puberdade e Época de Monta

A alimentação da borrega é muito importante, pois a primeira cobertura está


183
relacionada com o peso da fêmea (por volta de 70% do peso adulto). Logo, borregas que
passam por restrição alimentar serão cobertas mais tardiamente, o que não é econômico, já que
esta fêmea estará comendo, sendo vacinada, vermifugada, e não produzindo. Se no momento
da estação reprodutiva as fêmeas estiverem com escore corporal não abaixo de 3 uma
pastagem de boa qualidade é suficiente. Se o escore estiver menor que o desejado estas
fêmeas devem receber suplementação. É muito comum em ovinos realizar uma tosquia nas
ovelhas antes do período de monta, pois as mesmas ficam com frio e aumentam o consumo
voluntário – “flushing natural”.

64.1.3 Ovelhas Gestantes e em Lactação

Os momentos de maiores exigências na gestação ocorrem no primeiro mês e no terço


final da gestação, onde sobrevém de 75% a 80% do crescimento do feto. Fêmeas que passam
por privação alimentar durante a gestação chegam ao parto com escore corporal baixo, o que
pode atrasar o retorno ao cio. Além disso, parem cordeiros leves e produzem pouco leite para
amamentá-los.
Se a fêmeas estiverem apresentando uma má condição corporal, com uma
alimentação abaixo das exigências, haverá uma menor produção de leite, o que fará com que o
filhote mame mais vezes ao dia para suprir suas necessidades. Este aumento na frequência de
mamada atrasa o retorno ao cio, já que o hormônio da lactação é antagonista dos hormônios da
reprodução.
Na tabela 3 podemos observar as exigências nutricionais das fêmeas ovinas do
nascimento ao final da gestação.
Tabela 4: Exigências nutricionais das fêmeas ovinas em diferentes idades:

184

Fonte: Perez, Geraseev e Quintão, 2008

64.1.4 Cordeiros

No início da vida os cordeiros se comportam como monogástricos. O uso de dieta


exclusivamente de leite ou de sucedâneos líquidos do leite atrasa o desenvolvimento normal do
rúmen. Enquanto que o consumo de alimento sólido (volumoso e concentrado), de boa
qualidade, estimula o desenvolvimento ruminal. Com duas a três semanas o cordeiro já pode
começar a consumir forragem. Na cadeia de produção de carne é necessário que os animais
possam consumir o quanto antes alimento sólido já que os mesmos são responsáveis pela maior
parte do ganho de peso até o abate. Também quanto mais cedo estes animais estiverem aptos
para consumir alimento sólido mais cedo poderão ser desmamados, o que é fundamental para
que a ovelha retorne ao cio.
Outro fator a se observar é a curva de lactação que começa a decrescer após um
determinado tempo de lactação e se esta for a única fonte de alimentação do cordeiro seu
crescimento ficará comprometido. Quando deseja-se realizar um desmame precoce é
fundamental que os cordeiros recebam boa alimentação através de pastagens de alta qualidade
e suplementação (Creep feeding ). Como no início da vida o rúmen ainda não está desenvolvido,
o cordeiro não é eficiente na digestão de alimentos fibrosos. Ao mesmo tempo esta é uma 185
categoria bastante exigente nutricionalmente. Sendo assim, é fundamental que estes animais
recebam alimentos de boa palatabilidade e digestibilidade.

Tabela 5: Exigências nutricionais para engorda de cordeiros desmamados precocemente:

Consumo de
Peso Necessidades de nutrientes por animal
Mudança MS/animal
vivo
no PV % do NDT ED
(PV) Kg PB Ca (g) P (g)
PV (kg) (Mcal)
(g) % 4,0 1,9
10 200 0,5 5,0 0,40 1,8 127 12,7 5,4 2,5
20 250 1,0 5,0 0,80 3,5 167 16,7 6,7 3,2
30 300 1,3 4,3 1,00 4,4 191 19,1

Fonte: NRC, 1985

64.1.4.1 Creep feeding

A suplementação deve começar por volta de duas semanas, ainda com o cordeiro
lactente. Como visto na aula sobre instalações, pode-se usar diversos tipos de creep feeding,
onde somente o cordeiro consegue entrar e consumir o alimento do cocho. A ração deve ser
primeiramente oferecida moída e posteriormente pode ser peletizada. O milho (energético) e o
farelo de soja (proteico) são alimentos bastante empregados para a alimentação desta categoria.
Também existem várias rações comerciais para cordeiros lactentes.
É importantíssimo oferecer, juntamente com o concentrado, um volumoso de boa
qualidade e palatabilidade, já que a parte fibrosa exerce importante função na digestão (ver
tópico 7.3 abaixo). Os minerais também devem ser ajustados para satisfazer as exigências
nutricionais dos cordeiros. 186

64.1.5 Carneiro

Para os carneiros uma boa pastagem ou volumoso de boa qualidade é suficiente.


Contudo, se for fornecida suplementação deve-se ter cuidado com a relação ração
concentrada/volumoso. A quantidade de concentrado não deve passar de 250 g por dia. Se
houver excesso de concentrado e pouco fornecimento de volumoso pode-se ter uma situação de
alta ingestão de fósforo, levando a urolitíase obstrutiva, podendo esta ser ainda mais grave na
ausência do fornecimento de água limpa e fresca à vontade.
65 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE NUTRIÇÃO DE OVINOS

65.1 Degradabilidade Ruminal da Proteína e Terminação de Ovinos

187

A proteína dietética é degradada no rúmen pelos microorganismos. A proteína


disponível no intestino delgado é composta pela proteína microbiana sintetizada no rúmen e pela
proteína dietética que escapou da degradação ruminal, também chamada de proteína de escape
ou “by-pass”. A percentagem de proteína degradada depende, entre outros fatores, do tipo de
proteína dietética e da população microbiana do rúmen. A proteína “by-pass” é a proteína que
escapa da degradação ruminal, através da proteção de algum tipo de tratamento ou pela baixa
degradabilidade ruminal do alimento. Animais com alta produção ou em fase de crescimento
possuem elevado requerimento de aminoácidos, os quais não podem ser supridos se a única
fonte de proteína a chegar ao intestino for a proteína microbiana, ou seja, se somente esta fonte
de proteína estiver disponível a produção animal não pode ser máxima.
O uso de proteínas de baixa degradabilidade é mais eficiente quando se tem uma
pastagem com alta disponibilidade, mas que apresenta baixa qualidade, consequentemente
baixa quantidade de proteína. A proteína “by-pass” também é indicada quando ocorre uma
deficiência energética. O desejável na terminação de cordeiros, como também de outros animais
que estejam em fase de alta produção, é que no intestino se encontre uma mistura de proteína
microbiana e proteína dietética que não sofreu degradação ruminal. Para isso pode-se utilizar
alimentos que possuam proteínas de menor degradabilidade ruminal. Uma das formas utilizadas
para diminuir a degradabilidade ruminal da proteína é submeter os alimentos a tratamento
térmico.

65.2 Suplementação e Ganho de Peso


Quando a pastagem não supre as exigências nutricionais do animal faz-se necessário
fornecer outros alimentos com intuito de suprir estas deficiências nutricionais, visando melhorar a
produção e/ou reprodução animal. Além disso, existe também a correção de deficiências
minerais que nem sempre é retificada através de um alimento propriamente dito e sim por meio
de fonte deste mineral. O objetivo da suplementação é através do fornecimento de todos os
nutrientes ou de alguns específicos permitir ao animal consumir maior quantidade de matéria 188
seca e digerir a forragem ingerida de maneira mais eficiente. Suplementos ricos em proteína
tendem aumentar a digestibilidade da forragem com baixa qualidade e consequentemente o seu
consumo.
Suplementos ricos em energia podem diminuir o consumo e também a digestibilidade
da forragem, sendo que o consumo vai diminuir mais na medida em que a planta está mais
lignificada e menos palatável. O fornecimento de concentrados ricos em energia provoca queda
no pH ruminal, o que diminui a atividade das bactérias celulolíticas, provocando um decréscimo
na digestibilidade e por consequência no seu consumo. A baixa digestibilidade faz com que a
taxa de passagem seja mais lenta e isto reflete em um maior tempo de permanência da digesta
no rúmen, provocando uma queda de consumo pelo efeito físico limitante do tamanho rúmen.
O consumo da forragem pode diminuir devido à suplementação. Isso ocorre pelo efeito
da substituição. Havendo um aumento do consumo de concentrado igual ao decréscimo do
consumo de forragem o coeficiente de substituição será igual a um (1) e a suplementação não
será eficiente. Quanto mais próximo de zero estiver o coeficiente de substituição mais eficaz será
a suplementação. A substituição está ligada à qualidade da forragem, sendo que quanto maior
for a qualidade da forragem maior será o coeficiente de substituição. Nas pastagens com baixa
disponibilidade de forragem, a suplementação energética apresenta melhores resultados,
principalmente se o suplemento é rico em fibras de alta digestibilidade.
Se a forragem apresenta alta disponibilidade o fornecimento de suplemento energético
irá aumentar o consumo total, mas irá diminuir o consumo de forragem devido ao alto grau de
substituição e somente haverá resposta se a suplementação de forragem for de baixa qualidade.
O fornecimento de uma suplementação proteica aumenta a digestibilidade das forragens de
baixa qualidade, aumentando a taxa de passagem e assim aumentando o seu consumo. Quando
as quantidades de nitrogênio disponíveis no rúmen são baixas limitam a atividade dos
microorganismos celulolíticos e isto diminui a digestibilidade da fração fibrosa forragem,
acarretando uma menor produção de ácidos graxos voláteis que uma importante fonte
energética para os ruminantes. Esta baixa digestibilidade também provoca um decréscimo no
consumo e induz a baixos valores de ganho de peso dos animais.
Os suplementos devem ser fornecidos de tal forma a oferecer proteína e energia de
forma balanceada para otimizar a fermentação e favorecer uma produção máxima de proteína
microbiana, sendo que o fornecimento de suplementos com grande quantidade de proteína mas
com déficit de energia resulta na perda de nitrogênio pelas fezes, o que é antieconômico. O 189
fornecimento da suplementação possibilita um aumento da carga animal no pastejo.

65.3 Importância da Fibra na Dieta de Animais em Confinamento

A taxa de passagem interfere sobre a fermentação e consequentemente sobre a


produção de ácidos graxos voláteis. A duração e a intensidade da ruminação dependem
principalmente do nível e da forma da forragem consumida. Quando os ruminantes recebem um
alimento rico em amido e açúcar e de baixo teor de fibra o pH ruminal decresce bastante,
inibindo as bactérias celulolíticas. O fornecimento de fibra na dieta é indispensável para o
desenvolvimento das bactérias celulolíticas. Mesmo sendo supridas as necessidades de proteína
e energia, uma alimentação com boa quantidade de fibra deve ser oferecida para que se
mantenha a flora ruminal intacta.
O fornecimento de alimento fibroso é necessário para o desenvolvimento do rúmen e
para o seu bom funcionamento. Também reduz a taxa de passagem, o que permite uma melhor
utilização dos constituintes da digesta. A motilidade ruminal é reduzida nos animais que recebem
concentrado se comparado com os que recebem alimentação rica em fibra. A inclusão de certa
quantidade de fibra na alimentação também evita a aparição de alterações digestivas.
66 CÁLCULO DE RAÇÃO

Tomaremos como exemplo para o cálculo de uma ração um cordeiro com 20 kg de


peso vivo, 0,250 kg de ganho de peso diário e desmamado precocemente. Exigências 190
nutricionais para esta categoria, segundo o NRC Sheep (1985):

 Consumo de matéria seca: 1,0 kg ou 5% do peso vivo


 Energia: ED (Mcal) = 3,5
 Proteína bruta (g) = 167
 Cálcio (g) = 5,4
 Fósforo (g) = 2,5
 Vitamina A (IU) = 940

Alimentos a serem utilizados:

 Volumoso
• Silagem de sorgo
 Concentrados
• Milho (energético)
• Farelo de soja (proteico)

66.1 Exigências dos Cordeiros X Nutrientes dos Alimentos

ED Caroteno Vit. A
Item PB (%) Ca (%) P (%)
(Mcal/kg) (mg/kg) (IU/kg)

Exigências do cordeiro 3,5 16,7 0,54 0,25 - 940


Nutrientes dos alimentos
Silagem de sorgo 2,34 10,8 0,13 0,06 30 -
Milho 3,66 9,0 0,06 0,24 - -
191
Farelo de soja 3,88 49,9 0,30 0,63 3 -

66.2 Substituição da Silagem por Milho

Começaremos a dieta considerando como 100% de volumoso, no caso silagem de


sorgo. Como ela não atende nem as exigências energéticas, nem proteicas, precisamos corrigir.
Se já atendesse todas as exigências poderíamos usar somente ele como alimento. O primeiro
cálculo que vamos fazer é substituir parte da silagem de sorgo por milho para retificar a
exigência energética:

a) ED exigência - ED da silagem = diferença 1  3,50 – 2,34 = 1,16 Mcal ED/kg

b) ED do milho - ED da silagem = diferença 2  3,66 - 2,34 = 1,32 Mcal ED/kg

c) Diferença 1 / diferença 2 = substituição pelo milho  Substituição: 1,16 / 1,32 = 0,88

Será substituído 88% da silagem de sorgo por milho


66.3 Comparação da Dieta com as Exigências Energéticas

Item % da dieta ED (Mcal/kg) PB (%)


192

Exigências 100 3,50 16,7

Silagem de sorgo 12 0,28 1,3


Milho 88 3,22 7,9
TOTAL 100 3,50 9,2

Déficit - - 7,5

As exigências energéticas são supridas com a substituição de 88% da silagem de


sorgo pelo milho.

66.4 Substituição do Milho por Farelo de Soja

Como os ingredientes não suprem as necessidades em proteína, parte do concentrado


energético (milho) terá que ser substituído pelo concentrado proteico (farelo de soja).

a) PB (%) da soja - PB (%) milho = diferença 3  49,9 – 9 = 40,9


b) Déficit de proteína / diferença 3  7,5 / 40,9 = 0,18

Será substituído 18% milho por farelo de soja

193

66.5 Comparação da Dieta com as Exigências Proteicas

Item % da dieta ED (Mcal/kg) PB (%)

Exigências 100 3,50 16,7

Silagem de sorgo 12 0,28 1,3


Milho 70 2,60 6,3
Farelo de soja 18 0,70 9,0
TOTAL 100 3,58 16,6

Déficit - - -

Com esta constituição de dieta, as exigências energéticas e proteicas estão supridas.

66.6 Verificação dos Valores de Cálcio e de Fósforo


Item % da dieta Ca (%) P (%)

Exigências 100 0,54 0,25

194

Silagem de sorgo 12 0,06 0,007


Milho 70 0,04 0,17
Farelo de soja 18 0,05 0,11
TOTAL 100 0,15 0,29

Déficit - 0,39 -

O valor de fósforo está suprido, mas será necessário suplementar com uma fonte de
cálcio.

66.7 Correção do Cálcio

Para ajustar o valor de cálcio às exigências dos cordeiros será usado Calcário calcítico
como fonte de cálcio. Esta fonte possui 40% de Ca.

a) Déficit de Ca / valor de Ca na fonte usada  0,39 / 0,4 = 1,0


66.8 Ração Completa com Base na Matéria Seca do Alimento

Cada alimento tem um teor de matéria seca (MS) diferente, então para ajustarmos as
quantidades de cada alimento na dieta precisamos levar esta diferença de MS em consideração. 195
Por exemplo, a silagem de sorgo é mais úmida (tem maior teor de água), sendo a percentagem
de matéria seca de 28%. Enquanto o farelo de soja é mais seco (90% de MS).

% de MS no Percentagem
Item Parte da dieta Base
alimento final
Silagem de sorgo 12 28 42,9 29,7
Milho 70 87 80,5 55,7
Farelo de soja 18 90 20,0 13,9
Calcário 1 100 1 0,7

TOTAL (em %) 144,4 100

66.8.1 Cálculo da Base

Este cálculo serve para ajustar a quantidade (percentagem) a ser utilizada do alimento
de acordo com a percentagem de matéria seca que o mesmo possui. Para isso é necessário
dividir a parte do alimento utilizada na dieta pela percentagem de matéria seca.
a) Silagem de sorgo = 12 / 0,28 = 42,9 (usa-se 0,28, pois, é igual a 28%)
b) Milho = 70 / 0,87 = 80,5 196
c) Farelo de soja = 18 / 0,90 = 20,0
d) Calcário = 1 / 1 = 1,0

66.8.2 Percentagem Final

Contudo, se somarmos as novas quantidades veremos que o valor é maior que 100%.

42,9 + 80,5 + 20,0 + 1,0 = 144,4

Sendo assim, é necessário ajustar para 100%.

Para isto basta fazer uma regra de três, vejamos o exemplo da silagem de sorgo:
a) Milho = 80,5 / 1,444 = 55,7
b) Farelo de soja = 20,0 / 1,444 = 13,9
c) Calcário = 1,0 / 1,444 = 0,7

A dieta terá então:


197
Silagem de sorgo .................. 29,7%
Milho ..................................... 55,7%
Farelo de soja ....................... 13,9%
Calcário................................... 0,7%

TOTAL .................................. 100%

66.9 Exemplo da Quantidade de Alimento Fornecido

Sabendo-se que cada cordeiro desta categoria consome 5% do seu peso vivo, que é
de 20 kg, logo cada um consumirá 1 kg de alimento/dia.

Se tivermos 100 cordeiros e quisermos calcular a quantidade para 30 dias:

 100 cordeiros x 1 kg de alimento/dia = 100 kg de alimento/dia

 Em 30 dias: 100 kg de alimento/dia x 30 = 3.000 kg de alimento

a) Silagem de sorgo = 3.000 x 29,7% = 891,0 kg


b) Milho = 3.000 x 55,7% =1.671,0 kg
c) Farelo de soja = 3.000 x 13,9% = 417,0kg
d) Calcário = 3.000 x 0,7% = 21 kg
Para suprir estes 100 cordeiros por 30 dias, precisaremos de:

Silagem de sorgo..... ............... .891,0 kg


Milho
...........................................................
1.671,0 kg 198

Farelo de soja ......................... .417,0 kg


Calcário................................... ...21,0 kg

TOTAL
...........................................................
3.000,0 kg

Para calcular rações para outras categorias utilizando outros alimentos basta
consultar as tabelas do NRC ou outras tabelas que tenham as exigências da
categoria desejada e o valor nutricional dos alimentos a serem usados e seguir o
modelo acima.
67 MANEJO SANITÁRIO

A saúde do rebanho está diretamente ligada à lucratividade do mesmo. Um rebanho


199
isento de doenças, quer sejam infecciosas, quer sejam metabólicas ou parasitárias, utilizam os
alimentos com melhor eficiência, produzindo consequentemente melhor, e utilizam menor
quantidade de medicamentos, diminuindo os gastos coma produção. Para que o nosso rebanho
se mantenha saudável algumas medidas devem ser tomadas:

 Iniciar a produção com ovinos sadios e sempre que comprar animais certificar que

estes são livres de doenças;


 Separar animais ao primeiro sinal de doença;

 Revisar o rebanho constantemente;

 Fazer um planejamento de descarte de animais velhos e/ou com defeitos;

 Fazer revisão periódica dos cascos, cortá-los e tratá-los se necessário;

 Proceder a todos os cuidados com o recém-nascido;

 Limpar, desinfetar e tratar qualquer ferimento para evitar que funcionem como

porta de entrada secundária para bactérias e parasitos (miíase);


 Fornecer uma alimentação adequada à categoria animal e fonte de água limpa e

fresca;
 Observar o escore corporal dos animais;

 Manter as instalações, bem como todos os equipamentos, limpos e desinfetados;

 Possuir enfermaria para isolar animais doentes e quarentenário para alojar os

animais recém chegados à propriedade;


 Manter cochos e bebedouros limpos e fora da instalação para evitar que os

animais subam nelas (pode se usar canzil);


 Evitar superlotação e umidade nas instalações e nas pastagens;

 Se possível, ter esterqueiras para colocar o esterco;

 Vacinar os animais de acordo com calendário da região, evitando imunizar nas

horas mais quentes do dia;


 Sacrificar os animais portadores de zoonoses;
 Controlar endoparasitos e ectoparasitos;

 Fazer OPG e vermifugar os animais toda vez que se fizer necessário.

67.1 Animais Doentes e Animais Sadios 200

Sinais de saúde Sinais de doença

Vivacidade e altivez;  Tristeza;


 Diminuição do apetite ou apetite
 Apetite normal;
depravado;
 Boa condição corporal e porte  Emagrecimento e/ou retardo no
compatível com a idade e a raça; crescimento;
 Temperatura corporal variando de 38,5
 Temperatura acima de 40 ºC;
a 40,5 ºC;
 Pelos arrepiados, sem brilho e com
 Pelos lisos, sedosos e brilhantes;
queda;
 Fezes de consistência firme e em  Fezes pastosas ou diarreicas, com
forma de bolotas; mau cheiro e/ou presença de sangue;

 Urina de coloração amarelada, odor  Urina de coloração escura ou


forte e em volume dentro da avermelhada e cheiro não
normalidade. característico.
68 PRINCIPAIS DOENÇAS, PROFILAXIA E TRATAMENTO

68.1 Infecciosas

201
Etiologia

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Doença

É uma zoonose! É transmitida ao Profilaxia:


homem, principalmente, pelo
• Exigir atestado de negativo para
consumo de leite cru, proveniente de
brucelose;
fêmeas contaminadas. • Impedir a entrada de animais
positivos em um rebanho sadio;
Acomete ovinos de todas as idades.
• Manter baias maternidades
Brucela abortus ou Brucela suis.

sempre limpas e desinfetadas.


Brucelose ovina

Transmissão:
Brucela ovis.

Tratamento:
• Ingestão de alimentos e água
contaminada por restos placentários; • Não existe tratamento.
• Ingestão de leite de fêmeas • Animais positivos devem ser
doentes; eliminados.
• Através do acasalamento com
animais contaminados.

Sintomas:

• Provoca aborto nas ovelhas;


• Epididimite nos carneiros.
Transmissão:

• O modo mais comum de infecção Profilaxia:


é pela via oral, podendo ocorrer por
ingestão ou inalação. • Cremar animais antes de enterrar.
• Cadáveres de animais
carbunculosos, uma vez enterrados,
Sintomas: infectam o local.
Carbúnculo hemático

Bacilus anthracis

• Único meio seguro de evitar 202a


• Apoplexia cerebral; enfermidade é a vacinação.
• Hemorragias.

A rápida evolução da doença Tratamento:


raramente permite um tratamento.
• Não possui tratamento.
Etiologia

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Doença

Profilaxia:

• Colocar 1% de sulfato de cobre no


Dermatophilus congolensis.

Sintomas: banho sarnicida.


(Dermatomicose)
Dermatofilose

• Lesão (com aparecimento de


crostas) no focinho, orelhas, Tratamento:
podendo atingir todo o corpo;
• As mechas de lã se aglutinam; • Animais devem ser tosquiados e
• Ocorrem pruridos, abrindo tratados com penicilina (pelo médico
caminho para instalação de miíase. veterinário).
• As peles provenientes de animais
abatidos com esta doença devem
ser cremadas (incineradas).
Afeta ovinos de todas as idades, mas
sua ocorrência é maior entre o
terceiro e o sexto mês de idade Profilaxia:
(cordeiros). • Isolar os animais por 2 a 3
semanas. Animais que chegam à
É uma zoonose! propriedade;
• Limpar e desinfetar as instalações;
• Vacinação: 203
Transmissão:  Cordeiros aos dois meses na
face interna da coxa;
• Contato direto com animais  Em áreas endêmicas, vacinar
doentes; as fêmeas prenhes de 2 a 3
semanas antes do parto e duas
Vírus dermotrópico
Ectima contagioso

• Uso de equipamentos, instalações


(Parapoxvírus)

e pastagens por animais doentes e semanas após o parto;


(Boqueira)

sadios.  Todo o rebanho uma vez, pois


a imunidade é duradoura.

Sintomas:
Tratamento:
• Ulcerações com formação de
crostas, principalmente nos lábios, • Isolamento dos animais doentes;
podendo também ocorrer nas • Tratar as lesões aplicando
gengivas, bochechas, língua, glicerina iodada (partes iguais de
narinas, olhos, úbere, língua, vulva, glicerina e solução de iodo a 10%)
região perianal, ou solução de permanganato de
espaços interdigitais e coroas potássio a 3% (970 ml de água
dos cascos. destilada e 30 gramas de
Permanganato de potássio)
• Cordeiros deixam de mamar ou
podem transmitir a doença para as
tetas das ovelhas (mamites)
Etiologia

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Doença
Bactéria encontrada no solo e no Profilaxia:
trato intestinal dos ovinos.
• Vacinação das ovelhas no terço
Em animais alimentados com dietas final da gestação;
ricas em carboidratos pode haver • Cordeiros com 45 a 60 dias de
idade e reforço após 30 dias;
uma multiplicação exagerada do
• Cordeiros filhos de mães não
bacilo, com produção de exotoxina, vacinadas podem receber a primeira
Clostridium perfringens

que atua nos intestinos. dose aos 15 dias de idade, conforme


204
Enterotoxemia

recomendação da bula.
• Reprodutores e fêmeas vazias
anualmente.
Sintomas:

• Cólicas;
Tratamento:
• Diarreia fétida;
• Sintomatologia nervosa, com • Deve ser realizado por médico
excitabilidade até convulsão, ranger veterinário
de dentes, movimentos de pedalar;
• Pode provocar morte súbita.
Etiologia

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Doença
Esta doença se difunde rapidamente e Profilaxia:
causa prejuízos econômicos, já que os
produtos oriundos de animais infectados • Por determinação do Ministério da
não podem ser comercializados. Agricultura e Pecuária, caprinos e
ovinos não devem ser vacinados,
É uma zoonose! para que funcionem como animais
sentinelas da doença na espécie
Acomete ovinos de todas as idades. bovina.
• Realizar quarentena com 205 os
animais que chegam à propriedade;
• Pedilúvio à base de sulfato de
Transmissão: cobre ou zinco ou formol para evitar
a propagação da doença;
Ingestão de alimentos contaminados • Eliminação imediata dos animais
pelos vírus. doentes.
RNA-vírus do gênero Aphtovirus
Febre Aftosa

A contaminação ocorre através de Tratamento:


saliva, urina, fezes, secreções
respiratórias, sêmen e produtos (leite, • Não deve ser realizado
carne, etc) de animais com aftosa. tratamento;
• Animais acometidos devem ser
sacrificados.

Sintomas:

• Vesícula na boca (língua e


gengivas), espaços interdigitais e no
úbere;
• Falta de apetite;
• Salivação intensa;
• Apatia;
• Febre.

Lesões são porta de entrada para


infecções secundárias e para miíases.
Etiologia

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Doença
Precisa de agentes irritantes aos Profilaxia:
olhos como inseto, gravetos secos na
• Isolamento dos doentes;
pastagem e poeira.
• Vacinação (com vacinas feitas
com a cepa da bactéria que está
causando a doença na propriedade).
(Queratoconjuntivite)
Oftalmia contagiosa

Sintomas: Aplicar no início do surto em 2 doses


com 15 dias de intervalo.
• Fotofobia; 206
• Conjuntivite;
• Lacrimejamento; Tratamento:
• Vermelhidão e inchaço dos olhos;
• Alteração da córnea (opacidade • Deve ser realizado por médico
da córnea); veterinário
Moraxella

• Podendo levar à cegueira


Acomete ovinos de todas as Profilaxia:
idades. Evoluindo rapidamente (2
• Vacinação das ovelhas no
a 3 dias).
terço final da gestação;
• Cordeiros com 45 a 60 dias de
idade e reforço após 30 dias;
Transmissão: • Cordeiros filhos de mães não
vacinadas podem receber a
Clostridium septicum,, Clostridium sordellii, Clostridium novyi.

• Através de contaminação de primeira dose aos 15 dias de 207


feridas por fezes ou terra, idade, conforme recomendação
sobretudo no caso de acidentes, da bula.
castração, corte de cauda, • Reprodutores e fêmeas vazias
vacinação não asséptica, parto, anualmente.
corte do cordão umbilical dos • Cuidados com o manejo.
recém-nascidos, tosquia e
Gangrena gasosa
(Edema maligno)

injeções intramusculares.

Sintomas:

• Lesões gangrenosas na pele;


• Edema subcutâneo;
• Abatimento;
• Febre;
• Perda de apetite;
• Manqueira;
• Taxa de mortalidade
extremamente elevada.

Lesões mais características


(manchas necróticas) são
encontradas no fígado, intestino
delgado, colo e reto.

Epidemiologia, transmissão e
Doenç

Profilaxia e tratamento
Etiolo

sintomas
gia
a
O C. pseudotuberculosis pode
permanecer no meio ambiente por
períodos de 4-8 meses,
principalmente quando protegido
do sol direto, e morre quando Profilaxia:
exposto a 70°C, aos desinfetantes
comuns, bem como ao sol direto. Evitar infecções, através de
medidas higiênicas com os 208
A bactéria penetra no organismo instrumentos de tosquia, castração
através de ferimentos, arranhões e assinalação.
ou mesmo da pele intacta. A
transmissão se dá por contato • Ovinos jovens devem ser
direto com o abscesso dos tosquiados antes dos adultos.
animais doentes ou indiretamente • Vacinação pode ser eficiente
diminuindo o número de animais
pela ingestão de água ou
com abscessos.
alimentos contaminados com o • Isolar animais infectados.
pus do abscesso. A doença
geralmente se manifesta em
animais mais velhos ou Tratamento:
Corynebacterium pseudotuberculosis.

debilitados. É uma zoonose!


O mais recomendado é:
Linfadenite caseosa

• Lavar a área do abscesso com


(Mal-do-caroço)

Sintomas: água e sabão;


• Raspar os pelos da área;
• Presença de linfonodos • Passar álcool e iodo no local;
periféricos aumentados de • Fazer a incisão de cima para
tamanho; baixo;
• Abscessos se rompem • Pressionar o abscesso até a
drenando pus espesso e retirada de todo o pus (deve ser
esverdeado; recolhido em saco plástico);
• Vísceras das cavidades • Limpar o abscesso por dentro
torácica ou abdominal - com gaze (ou algodão) embebida
emagrecimento progressivo. em iodo a 10%;
• Injetar solução de iodo (10%)
dentro do abscesso com ajuda de
Diagnóstico: uma seringa;
• Aplicar repelente ao redor da
O diagnóstico presuntivo realiza- abertura para evitar miíase;
se pela presença de abscessos • Fazer curativo até a completa
nos linfonodos. cicatrização.

Para o diagnóstico definitivo


realizar punção ou biópsia com Deve ser realizado por médico
agulha, coleta na necropsia ou no veterinário.
abate. O material colhido deve ser
enviado para laboratório para
proceder ao cultivo microbiológico
para a identificação da bactéria.
Solução de iodo 10% = 950 ml de álcool absoluto + 50 ml de água destilada + 100gr de
Iodo ressublimado + 60 gr de iodeto de potássio

209
Epidemiologia, transmissão e
Doenç

Profilaxia e tratamento
Etiolo
sintomas
gia
a

Transmissão:

A principal forma é através de um Profilaxia:


mosquito pertencente ao gênero
Culicoides (borrachudo ou mosquito 210
pólvora). • Compra de animais livres
dessa doença;
• Quarentena para os animais
que estão chegando à
Sintomas propriedade;
• Teste sorológico;
• Edema da face;
• Controle da população de
• Febre
insetos vetores;
Língua Azul

• Corrimento nasal com


Orbivirus

• Vacinação com vacina feita


aparecimento de crostas; com o sorotipo da região.
• Vesículas na boca e lábios;
• Claudicação;
• Degeneração hialina da
musculatura esquelética;
• Aumento dos linfonodos; Não vacinar ovelhas nos estágios
• Anorexia; iniciais de gestação (até a 10ª
• Perda de peso;
semana), pois podem ocorrer abortos e
• Morte.
má-formação fetal.

Embora seja um sintoma mais


raro, a língua pode se apresentar Os animais positivos devem ser
edemaciada e cianótica, o que deu sacrificados assim que diagnosticados.
o nome a doença.
Pode ser causada por diversas
bactérias, mas os principais agentes
etiológicos são o Staphylococcus Profilaxia:
aureus e a Pasteurella haemolytica. • Limpar e secar o úbere antes
da ordenha;
• O ordenhador deve estar com
as mãos limpas;
Transmissão:
• Ordenhar os primeiros jatos na 211
• Ferimentos nas tetas; caneca telada;
• Não deixar leite no úbere;
Diversas bactérias

• Falta de higiene na ordenha;


• Retenção de leite; • Mergulhar as tetas em solução
Mastite

• Entre outros. antisséptica após a ordenha;


• Isolar fêmeas doentes e
ordenhá-las por último;
Sintomas: • Evitar que o leite de fêmeas
contaminadas caia na superfície
• Úberes inchados, quentes e da plataforma de ordenha
duros;
• Leite anormal, com presença
de grumos, coágulos ou pus; Tratamento:
• Falta de apetite;
• Claudicação; • Deve ser realizado por médico
• Não deixa o cordeiro mamar. veterinário.

Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento


Etiologia
Doença
Afeta ovinos de qualquer idade,
Profilaxia:
ocorrendo com maior frequência nos
períodos chuvosos. • Pedilúvios (1% de detergente
doméstico + princípio ativo
As bactérias que causam a desinfetante*);
pododermatite não permanecem • Instalações adequadas (sem
viáveis no ambiente fora do casco do umidade);
animal por mais de uma semana. • Aparar frequentemente os cascos
212
(3 a 4 vezes ao ano);
Traumatismo no casco ou • Rotação de pastagem;
(Foot-rot, manqueira, podridão dos cascos)

permanência em solo muito úmido • Isolar os doentes.


são fatores predisponentes. • Seleção de animais resistentes
geneticamente.
Dichelobacter nodosus
Pododermatite

Sintomas: Tratamento:

• Claudicação; • Colocar o animal em local seco e


• Inflamação e inchaço do espaço limpo;
interdigital; • Limpar o casco retirando as partes
• Se não for tratado ocorre necrosadas;
ulceração; • Fazer curativos diários com
• Descola do estojo córneo; solução de tintura de iodo a 10%,
• Necrose do tecido; sulfato de cobre a 5% (950ml de
• Exudação fétida, água destilada + 50 gr de sulfato de
• Formação de grandes coleções cobre), sulfato de zinco a 5% ou
purulentas. pomadas existentes no mercado
para tratamento de cascos.
• Nos casos graves, onde existe a
necessidade de uso de antibióticos,
deve ser realizado por médico
veterinário.
* Princípios ativos desinfetantes para pedilúvios:

 Sulfato de zinco 10% = 900ml de água destilada + 50 gr de sulfato de zinco


 Ou sulfato de cobre 10% = 900ml de água destilada + 50 gr de sulfato de cobre
 Ou formol 5% = 950ml de água destilada + 50 ml de formol
Etiologia
Epidemiologia, transmissão e sintomas Profilaxia e tratamento
Doença

A raiva é uma encefalite que acarreta Profilaxia:


lesões no tecido nervoso de animais. 213
• Vacinação anual do rebanho
• Promover a redução da população
de morcegos hematófagos em
É uma zoonose! Em caso de regiões endêmicas;
suspeita não toque no animal, esta • Avisar as autoridades sobre os
doença mata e não tem cura! Chame casos suspeitos.
um médico veterinário.
Tratamento:

• Não existe tratamento;


Transmissão:
• Sacrificar, queimar e enterrar
• Principalmente por mordedura de animais com suspeita de raiva.
morcegos hematófagos portadores
do vírus (principal vetor);
Raiva

• Por mordedura de animais


infectados (cães, raposas, esquilos,
entre outros).

Sintomas:

• Mudanças no comportamento;
• Pelos arrepiados;
• Ansiedade;
• Agressividade (em alguns casos);
• Salivação intensa;
• Diminuição do apetite;
• Dificuldade de deglutição;
• Balançar de cabeça;
• Ranger de dentes;
Lyssavirus

• Incoordenação motora nas


extremidades;
• Paralisia dos membros.
68.2 Doenças Parasitárias

Etiologia, epidemiologia,
Profilaxia e tratamento
Doença

transmissão e sintomas 214

A principal espécie de carrapatos que


Profilaxia:
parasita ovinos é o Amblyomma
cajennese, porém também podem ser • Limpeza dos campos infestados
parasitados por carrapatos da espécie e controle do parasitismo em
Boophilus microplus. bovinos.

Parasitam principalmente animais Tratamento:


recém tosquiados ou deslanados.
Carrapatos

• Aplicação periódica de
inseticidas: injetáveis, aspersão,
Sintomas: "pour-on", submersão, brincos ou a
colocação de sacos com inseticida
• Irritação; nos locais de passagem dos animais
• Perda de apetite; (princípios ativos: ivermectinas,
• Emagrecimento. triclorfon, amitraz, diazinon e
cumafós);
Protozoário Elmeria arloingi
Profilaxia:

• Isolamento e tratamento dos


Ataca ovinos de qualquer idade, mas
animais doentes;
acomete com maior frequência animais
• Separar animais jovens de
mais jovens e que permanecem
adultos;
estabulados.
• Limpeza de instalações, 215
comedouros e bebedouros;
• Não manter os animais em
Eimeriose ou Coccidiose

Transmissão:
instalações úmidas.
• Através do consumo de água ou
alimentos contaminados por oocistos
(forma infectante). • Para cordeiros criados em
sistema intensivo recomenda-se o
Sintomas: uso de salinomicina na dose de 1
mg/kg misturada ao leite ou ração
• Diarreia fétida com presença de dos 14 a 210 dias de vida.
sangue e muco;
• Falta de apetite;
• Desidratação; Tratamento:
• Pelos arrepiados;
• Perda de peso; • Não é muito eficaz;
• Crescimento retardado. • Deve ser feito por médico
veterinário com medicamentos à
base de sulfa.
Se não for tratada pode levar à morte.

Etiologia, epidemiologia,
Profilaxia e tratamento
Doença

transmissão e sintomas

Podemos ter três tipos diferentes de Tratamento:


miíases:

• Infestações por larvas de moscas


do gênero Cochliomya hominivorax: • Infestações por larvas de
Míiases

- Causa a comumente conhecida Cochliomya:


como bicheira; - Limpeza da região atingida
- A mosca deposita seus ovos em com água e sabão;
feridas e crostas de sangue; - Retirada das larvas com pinça;
- As larvas se alimentam do tecido - Aplicação de água oxigenada
vivo, penetrando na carne e 20 volumes ou mata bicheira
aprofundando a ferida; até a cicatrização completa.
- Produzem líquido sanguinolento e - Se as larvas estiverem
localizadas em local de difícil
de mau cheiro. retirada deve-se utilizar
antibióticos sob orientação de
um médico veterinário.
• Infestações por larvas de moscas
Dermatobia hominis:
- Causa a comumente conhecida • Infestações por larvas de
como berne; Dermatobia hominis:
- As larvas entram na pele do - Limpeza da região atingida
hospedeiro formando nódulos. com água e sabão; 216
- Fazer pressão com os dedos
ao redor dos nódulos até a
• Infestações por larvas de moscas expulsão da larva;
Oestrus ovis: - Aplicação mata bicheira até a
- Causa a comumente conhecida cicatrização completa.
como oestrose;
- As larvas são depositadas ao
redor das narinas e migram para • Infestações por larvas de Oestrus
as cavidades nasais e seios ovis:
frontais e maxilares; - O tratamento deve ser
- Causam muita irritação e realizado por médico
inquietude nos animais; veterinário.
- Pode ocorrer secreção nasal
purulenta;
- Respiração ruidosa;
- Perda de apetite;
- Emagrecimento;
- Ranger de dentes;
- Salivação espumosa.

Se não tratado leva à morte.

Se atingir o sistema nervoso, o


animal apresentará incoordenação
motora e andar cambaleante.
Etiologia, epidemiologia,
Doença

Profilaxia e tratamento
transmissão e sintomas

Insetos da ordem Anoplura (focinho, Tratamento semelhante ao da sarna.


orelha e membros) e mallofaga
(partes cobertas de lã. 217
Piolho

Sintomas:

• Perda de peso,
• Coceira,
• Aglutinação da lã.

Pode ser de três tipos: Profilaxia:

• Psotóptica - ocorre na fase interna • Separar animais infestados;


até a borda da orelha - causada por • Banhar os animais que chegam ao
ácaros do gênero Psoroptes; rebanho;
• Demodécica - ocorre na região do • Banhar o rebanho quando
pescoço, paleta e costelas - causada necessário.
por ácaros do gênero Demodex;
• Sarcóptica - ocorre na região dos
olhos e narinas - causada por ácaros Tratamento:
do gênero Sarcoptes.
• Limpar a área afetada, tirando
Sarna

todas as crostas;
Transmissão: • Banhar os animais acometidos
com produto sarnicida (olhar tópico
• Através do contato entre animais específico).
sadios e doentes.

Sintomas:

• Lesões externas;
• Placas;
• Crostas;
• Prurido;
• Inquietação;
• Nódulos na pele;
• Queda do pelo ou da lã.
Etiologia, epidemiologia, 218
Doença

Profilaxia e tratamento
transmissão e sintomas
O principal parasito é o nematoide
Profilaxia:
Haemonchus contortus
• Fazer rotação de pastagem;
• Utilizar pastagem com crescimento
Este nematoide aloja no abomaso e é
cespitoso;
causa mais frequente de mortalidade
• Consórcio com outras espécies
entre os ovinos, especialmente dos
animais; 219
cordeiros.
• Se possível, separar os cordeiros
dos adultos;
• Alimentar bem os animais;
Outro endoparasito importante
• Manter as instalações, cochos e
encontrado nos ovinos é o
Trichostrongylus, que se localiza na bebedouros limpos;
• Colocar bebedouro e cocho para
porção anterior do intestino delgado.
fora das baias ou usar canzil para
evitar que os animais subam no
Sintomas: cocho;
• Fazer coletas periódicas (a cada
• Anemia; dois meses no mínimo) para exame
• Prostração; de fezes (OPG) com amostragem de
• Inapetência; 10% do rebanho por categoria;
• Diarreia; • Vermifugar todos os animais
• Lã áspera pela falta de lanolina.
Verminose

recém adquiridos antes de incorporá-


los ao rebanho;
Alguns fatores estão correlacionados • Vermifugar todos os animais de
com a verminose: idade ou estado terminação antes de serem colocados
fisiológico do animal, condições na pastagem ou serem confinados
climáticas, lotação de pastagem, para engorda;
alimentação, tipo de exploração. • Vermifugações estratégicas:
fêmeas terço final da gestação*, logo
após o parto e no desmame;
• Após as vermifugações deixar o
animal preso por pelo menos 12
horas antes de soltá-los nas
pastagens.
* Cuidado com os vermífugos à base
de organofosforados e Closantel, pois
podem provocar abortos.

Tratamento:

• Vermifugação dos animais


parasitados;
• Repetição do OPG após
vermifugação;
• Caso o medicamento não tenha se
mostrado eficaz vermifugar
novamente com outro princípio ativo.
68.2.1 Banho

 Banhar uma vez ao ano, com dois banhos seguidos, com intervalos de 7 a 10
dias; 220
 O banho pode ser por aspersão ou imersão;
 Para o banho por imersão:
• Preparar o banho 2 a 3 dias de antecedência, limpando o banheiro, checando

os boxes de secagem e o sistema de drenagem e medindo corretamente a


quantidade de água a ser usada;
• Manter os animais após o banho nos boxes de drenagem até o término do

escorrimento da água, deixando-os secar completamente;


 Deixar presos os animais na noite anterior, com suficiente água, para reduzir a
contaminação do banheiro pelas fezes e evitar a ingestão do produto pelo
consumo de água;
 Banhar todos os animais, pois bastam poucos parasitas num animal não
banhado para provocar uma infestação em todo o rebanho;
 Não banhar ovelhas no terço final de gestação e cordeiros com menos de1
mês.
68.3 Distúrbios Metabólicos

221
Doença

Causa e sintomas Profilaxia e tratamento

Doença originada pelo acúmulo de filoeritrina


(derivado da clorofila) na pele associada à Profilaxia:
incidência de raios solares.
A clorofila existe nas plantas que os animais • Manejo correto da B.
ingerem e normalmente é metabolizada no decumbens. Mantendo a
fígado. forragem baixa por pastoreio
intensivo dificilmente o fungo se
Causa: desenvolve.
• Lesões hepáticas em decorrência,
principalmente, da intoxicação pela
esporodesmina, toxina produzida pelo Tratamento:
fungo Pithomyces chartarum;
• Este fungo se desenvolve, • Retirar imediatamente os
principalmente, em pastagens de animais das pastagens de
Brachiaria decumbens.
Fotossensibilização (eczema facial)

Brachiaria decumbens;
• Levar o animal para uma área
Sintomas: coberta, livre da incidência direta
• Irritação; de raios solares;
• Orelhas edemaciadas; • Tratamento tópico das lesões
• Forma uma crosta grossa nas orelhas e com soluções ou pomadas
cabeça (eczema); antissépticas;
• Com a evolução do processo há a • Uso de protetores hepáticos.
morte do tecido cutâneo;
• Ocorrência de miíases secundárias
também é comum.
Doença

Causa e sintomas Profilaxia e tratamento

Ocorre devido a uma diminuição nos níveis de


cálcio no sangue no terço final da gestação e
no início da lactação. Profilaxia: 222
• Fornecimento correto de
Causa: suplementação mineral;
• Suplementação mineral • Boa alimentação em todo o
desbalanceada ou ausência de período gestacional e de
suplementação. lactação.

Sintomas:
Tratamento:
• Apatia;
Hipocalcemia (Tetania da lactação)

• Isolamento do rebanho; • Deve ser realizado pelo


• Falta de apetite; médico veterinário.
• Tremores musculares;
Com o agravo da doença: Como a evolução do processo
• Aumento da frequência respiratória e culminando na morte do animal é
cardíaca; muita rápida o tratamento deve
• Ranger de dentes; começar imediatamente após a
• Distúrbios locomotores; observação dos primeiros sintomas.
• Estiramento dos membros posteriores;
• Coma e morte.
Doença

Causa e sintomas Profilaxia e tratamento

223
Acomete ovelhas no terço final da Profilaxia:
gestação ou no parto, principalmente com
fetos duplos ou triplos e que receberam • Alimentação adequada
durante toda a gestação;
nutrição inadequada durante a gestação. • Descarte de fêmeas velhas;
• Controle de verminose.
224
Desequilíbrio nutricional, com alteração
Tratamento:
do metabolismo energético, causando
hipoglicemia e aparecimento de corpos • Deve ser realizado por médico
cetônicos (acetonemia secundária) e veterinário.
podendo levar a lesões cerebrais.

Causas:

• Escassez de alimentos ou forragens


de má qualidade no terço final da
gestação;
• Elevado nível de verminose;
• Condições de estresse que resultem
na diminuição do consumo de forragem;
• Má oclusão ou má dentição por idade
Toxemia da prenhez

avançada (dentes muito gastos).


Sintomas iniciais:

• Sinais clínicos nem sempre são


visíveis nas fases iniciais;
• Odor de acetona no fôlego dos
animais afetados;
• Apatia;
• Diminui o consumo de alimentos e
água;
• Apresenta fezes secas, duras e
escassas;
• Inquietude;
• Quando se agrava:
• Perda dos reflexos;
• Falta de coordenação;
• Elevação dos membros anteriores ao
caminhar;
• Tremores musculares;
Doença

Causa e sintomas Profilaxia e tratamento

Acomete, principalmente, carneiros Profilaxia: 225


alimentados com níveis elevados de
concentrado na dieta. • Nutrição balanceada, com
fornecimento de concentrado e
volumoso em proporções
corretas.
• Uso de sal mineral
balanceado para ovinos, cuidado
com excesso de fósforo;
• Fornecimento constante de
Causas: água limpa e fresca.
Urolitíase obstrutiva

• Baixa ingestão de volumoso e água


associado à elevada ingestão de Tratamento:
concentrado, causando desequilíbrio entre
a relação cálcio-fósforo (alta ingestão de • Deve ser realizado por médico
fósforo); veterinário.

Sintomas iniciais:

• Cálculo na uretra;
• Dificuldade de urinar;
• Cólica;
• Apatia;
• Diminui o consumo de alimentos por
causa da dor;
• Pode levar à morte.
69 MANEJO GENÉTICO

Diversas raças e tipos de ovinos vêm sendo introduzidos no Brasil com a intenção de
promover o melhoramento da produção. Entretanto, para que o melhoramento genético desta
espécie seja eficiente é necessário que ocorra a organização da cadeia produtiva, através de 226
ações integradas dos produtores e da criação de políticas sustentáveis para o desenvolvimento
da ovinocultura. Também é fundamental conhecer melhor os recursos genéticos disponíveis para
a definição dos métodos mais eficientes para sua conservação e melhoramento. Assim,
adequados programas de seleção devem ser desenvolvidos para o melhoramento genético
destas espécies no Brasil.
Ainda há uma lacuna entre os produtores e os pesquisadores no Brasil. O processo de
transferência de tecnologia não é tão eficiente e o desenvolvimento de programas de seleção
não é fácil, pois uma boa parte dos produtores não faz nenhum tipo de anotação do desempenho
dos seus animais, impossibilitando a seleção genética de animais superiores e avaliações das
raças e cruzamentos.
70 HISTÓRICO DO MELHORAMENTO GENÉTICO NO BRASIL

No ano de 1942 foi fundada a ARCO, Associação Riograndense de Criadores de


Ovinos, que depois se tornou a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, sem modificar a 227
antiga sigla. As primeiras seleções para ovinos visavam a qualidade e produção de lã e tiveram
seu início em 1977 com o PROMOVI (Programa de Melhoramento Genético dos Ovinos),
desenvolvido pela ARCO (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos) em parceria com a
Embrapa Pecuária Sul (CPPSUL). Trabalhos de seleção, aliados a esclarecimentos sobre
nutrição e sanidade realizados pela ARCO elevaram a produção média de lã dos ovinos no
Brasil, de 1,5 kg nos anos 40, a 2,5 kg nos anos 70, e daí para 3,0 kg na década de 90.

Com o declínio do mercado de lã no início da década de 90 muitos criadores do Rio


Grande do Sul começaram a importar reprodutores das raças especializadas em produção de
carne (Hampshire Down, Suffolk, Ile-de-France e Texel). Estes reprodutores foram utilizados no
cruzamento industrial com ovelhas Corriedale e Ideal para produzir cordeiros “meio sangue” para
o abate, bem como em cruzamentos absorventes, na intenção de atender ao mercado já ávido
por animais para corte. No período de 1991 a 1996, 2.267 animais de raças especializadas na
produção de carne foram importados, correspondendo a 96,55% do total de ovinos importados
no período. Esta tendência fez com que a ARCO alterasse o PROMOVI em 1991 com a inclusão
do TVC (Teste de Velocidade de Crescimento), específico para essas raças e atendendo a
propriedades nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Contudo,
em 1995 o PROMOVI foi encerrado.
O primeiro trabalho efetivo de melhoramento da raça Santa Inês, dentre outras raças
ovinas nacionais, teve início em 1990 e foi coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa de
Caprinos Embrapa-CNPC. O projeto intitulado “Seleção de ovinos deslanadas para o
melhoramento genético dos rebanhos experimentais e privados no Nordeste do Brasil” precisou
ser encerrado apenas cinco anos após ter se iniciado por falta de adesão de criadores e
associações.
O primeiro trabalho de melhoramento específico para raças produtoras de carne
começou em1995, realizado pela Embrapa Pecuária Sul, localizada em Bagé, em parceria com a
ARCO. O Teste Centralizado de Ovinos Tipo Carne desempenhava avaliações de machos
superiores dentro das raças Texel, Suffolk, Hampshire Down e Ile-de-France durante 60-90 dias,
no período pós-desmama. Contudo, a pouca procura por parte dos produtores fez com que este
teste fosse encerrado no ano de 2000.
Atualmente tem sido desenvolvido o GENECOC - Programa de Melhoramento
Genético de Caprinos e Ovinos de Corte, coordenado pela Embrapa Caprinos, cujo principal 228
objetivo é dar suporte ao produtor na utilização dos recursos genéticos disponíveis visando
melhorar seu sistema de produção. Este programa realiza avaliações genéticas de reprodutores,
matrizes e animais jovens, de caprinos e ovinos, de raças puras e mestiças, para características
produtivas e reprodutivas. Os produtores enviam as informações coletadas na propriedade, em
formulário próprio, para o programa.
Estas informações são avaliadas e devolvidas para o produtor na forma de relatórios
técnicos com informações a respeito da eficiência reprodutiva (número de serviços por
concepção, fertilidade ao parto, prolificidade, previsão de nascimentos, intervalo de partos, idade
à primeira cria, taxa de desmama e quilogramas de crias desmamadas em relação ao número de
fêmeas expostas, entre outros) e produtiva (pesos e ganhos de peso). Também são
disponibilizados, ao produtor, relatórios com as DEP’s das características previamente
escolhidas pelos técnicos do programa em conjunto com o produtor associado (exemplos destas
características são: idade à primeira cria, intervalo de partos, prolificidade, perímetro escrotal,
pesos e ganhos de peso em diferentes idades).
71 PROBLEMAS NA REALIZAÇÃO DOS TRABALHOS DE MELHORAMENTO PARA
PRODUÇÃO DE CARNE OVINA

Existem algumas particularidades da cadeia de produção de carne ovina que, ainda 229
nos dias atuais, limita a execução nacional de programas de melhoramento de ovinos:

 Os elos da cadeia produtiva que existiam na produção de lã ainda não acontecem

com perfeição na produção de carne ovina;


 Escassez de frigoríficos específicos para o abate de ovinos, inibindo a criação

comercial em larga escala;


 Técnicas de inseminação artificial ainda não são muito eficientes quando se utiliza

sêmen congelado;
 Falta de rebanhos multiplicadores, dificultando a passagem de material genético de

alta qualidade dos rebanhos núcleo para os rebanhos comerciais;


 O elevado valor de animais de alta genética induz a utilização dos mesmos somente

nos rebanhos de elite;


 Carneiros campeões de exposições continuam sendo mais valorizados que os

testados e de alto valor genético, mesmo em regiões onde já se realizam avaliações


objetivas há algum tempo.
72 CRUZAMENTOS UTILIZADOS NA OVINOCULTURA

72.1 Cruzamento Industrial

230

É o principal cruzamento utilizado na cadeia de produção de carne. Neste cruzamento


utiliza-se duas raças puras geneticamente diferentes. O mais recomendado é o emprego de
raças rústicas, bem adaptadas a região de criação, prolíficas e de boa habilidade materna para
linha materna e raças especializadas na produção de carne como linha paterna. As raças mais
usadas como linha materna no Brasil são Corriedale, Ideal e Santa Inês e as raças utilizadas
como linha paterna Suffolk, Ile-de-France, Dorper, Texel e Hampshire Down. A F1 (primeira
geração de filhos) deste cruzamento é terminal, ou seja, todos (machos e fêmeas) vão para o
abate.

Fonte: Própria autoria, 2008.


A grande vantagem deste tipo de cruzamento é que permite máxima obtenção de
heterose, originando animais mais rústicos, resistentes ao clima e aos parasitos da região,
menos exigente em alimentos do que as raças especializadas em produzir carne e mais
precoces, com maior ganho de peso e melhor conformação de carcaça que as raças maternas.

231
Para este tipo de cruzamento podemos ter dois tipos de manejo distintos:

 Reposição de reprodutores oriundos da própria propriedade:

• Neste caso é necessário dispor de dois tipos de rebanho na propriedade: um

plantel de raça pura de linhagem materna para ser acasalado com reprodutores
da mesma raça a fim de gerar fêmeas para reposição e outro lote de fêmeas para
serem acasaladas com as raças produtoras de carne.
 Compra de matrizes puras:

• Neste sistema todas as fêmeas são acasaladas com machos produtores de carne.

Não há necessidade de se manter na propriedade machos de raças de linhagem


materna.

Uma variação do cruzamento industrial é o Tricross. Neste sistema somente os


machos vão para o abate, as fêmeas meio sangue são aproveitadas como matrizes, sendo
cobertas por machos puros de uma terceira raça. Neste cruzamento a geração F2, tanto machos
como fêmeas, vão para o abate.

72.1.1 Resultados de Cruzamentos Industriais no Brasil

Este tópico tem o intuito de abordar alguns resultados de cruzamentos entre a raça
Santa Inês e raças especializadas na produção de carne, bem como compará-los com
resultados das raças puras. CARVALHO et al. (2005), trabalhando com as raças Texel e Santa
Inês e com seu cruzamento, encontrou melhor desempenho dos animais ½ Texel ½ Suffolk,
sendo este justificado pela heterose, aumentando a velocidade de crescimento e
consequentemente aumentando a produtividade tanto na fase de recria como de engorda
(Tabela 1).

232
Tabela 1. Peso vivo ao nascimento (PV-N), peso vivo ao desmame (PV-D), peso vivo ao
abate (PV-A), idade de desmame (ID) e idade de abate (IA) dos cordeiros, de acordo com os
diferentes genótipos:

Genótipos
Variáveis
Texel Suffolk Texel x Suffolk
PV-N 3,33b 4,82 a 5,20 a
PV-D 21,80 b 24,42 b 31,90 a
PV-A 37,73 b 43,92 a 48,25 a
ID 63,33 60,25 69,25
IA 126 128,5 128,5
Médias seguidas por letras diferentes, na mesma linha, diferem (P<0,05) pelo teste t.

Fonte: Adaptado de CARVALHO et al. (2005).

Em relação ao ganho de peso pode-se observar na Tabela 2 que os animais cruzados


tiveram um maior consumo de matéria seca, proporcionado um maior ganho de peso, já que a
conversão alimentar não diferiu entre os grupos os animais.

Tabela 2. Ganho de peso diário do nascimento ao desmame (GPD-D), ganho de peso diário
do desmame ao abate (GPD-A), ganho de peso diário do nascimento ao abate (GPD-
TOTAL), consumo de matéria seca (CMS) e conversão alimentar (CA) dos cordeiros, de
acordo com os diferentes genótipos:

Variáveis Genótipos
Texel Suffolk Texel x Suffolk
GPD-D 0,291b 0,325 a 0,387 a
GPD-A 0,255 0,281 0,276
GPD-TOTAL 0,274 b 0,304a b 0,335 a
CMS 0,981 b 0,988 b 1,254 a
CA 3,85 3,59 4,60 233
Médias seguidas por letras diferentes, na mesma linha, diferem (P<0,05) pelo teste t.
Fonte: Adaptado de CARVALHO et al. (2005).

Com relação ao rendimento de carcaça, não foram observadas diferenças entre os


genótipos, como pode ser observado na Tabela 3.
Tabela 3: Peso de carcaça quente (PCQ) e rendimento de carcaça quente (RCQ) dos
cordeiros, de acordo com os diferentes genótipos:

Genótipos
Variáveis
Texel Suffolk Texel x Suffolk 234
PCQ (Kg) 18,25 21,45 24,11
RCQ (%) 48,38 48,56 49,91
Fonte: Adaptado de CARVALHO et al. (2005).

Contudo, este desempenho dos animais cruzados só foi possível porque estes
animais, mães a partir do terço final da gestação e cordeiros, receberam suplementação
alimentar com ração contendo 21% de proteína e 70% de NDT, o que propiciou que pudessem
expressar seu potencial genético. Corroborando com estes resultados, CARVALHO et al. (2007)
estudaram o efeito da alimentação sobre o desempenho ponderal na raça Texel e observou que
os animais que recebiam uma alimentação de melhor qualidade se mostravam superior tanto
para ganho de peso quanto para rendimento de carcaça (Tabela 4).

Tabela 4. Valores médios para ganho de peso diário (GPD), peso de carcaça quente (PCQ) e
rendimento de carcaça quente (RCQ), de acordo com o sistema nutricional para cordeiros
Texel puros abatidos aos 144 dias de idade:

Alimentação
Variáveis Pastagem com Pastagem sem
Confinamento
suplementação suplementação
GMD (Kg) 0,171 0,161 0,072
PCQ (Kg) 15,10 15,25 10,17
RCQ (%) 44,27 44,93 36,82
Pastagem: Tifton-85; Suplementação: 21% de PB, 70% de NDT; Confinamento: feno de Tifton-
85 e concentrado na proporção de 40:60 na matéria seca.

Fonte: Adaptado de CARVALHO et al. (2007).

FURUSHO-GARCIA et al. (2004) estudando o consumo de alimentos, a conversão 235


alimentar e o ganho de peso em cordeiros de quatro genótipos (Santa Inês pura e cruzas de
Santa Inês com Bergamácia, Texel e Ile-de-France), em três intervalos de peso (15 kg a 25 kg,
25 kg a 35 kg e 35 kg a 45 kg) observaram que o ganho de peso dos cordeiros ½ Texel ½ Santa
Inês e dos cordeiros ½ Ile-de-France ½ Santa Inês foi superior ao dos outros dois grupos. A dieta
fornecida foi balanceada de acordo com as exigências do ARC (1980) para ganho de 300 g/dia,
composta de 80% de concentrado e 20% de feno de coastcross (Cynodon dactylon) moído.

No primeiro intervalo não houve diferenças significativas entre os quatro grupos. Os


cordeiros ½ Santa Inês ½ Bergamácia apresentaram os piores resultados para ganho de peso,
nos demais intervalos. Os cordeiros Santa Inês puro, no intervalo de 25 kg a 35 kg,
apresentaram ganhos semelhantes aos cordeiros oriundos dos cruzamentos com as raças Texel
e Ile-de-France. Contudo, no intervalo entre 35 e 45 Kg as raças especializadas na produção de
carne obtiveram resultados muito superiores aos demais genótipos.

Tabela 5. Média de ganho de peso (Kg) para cordeiros (machos) segundo os genótipos:

Variáveis
Genótipos
15-25 kg 25-35 kg 35-45 kg
Santa Inês puro 0,205 0,261 0,183
½ Santa Inês ½ Texel 0,237 0,277 0,261
½ Santa Inês ½ Ile-de-France 0,244 0,307 0,244
½ Santa Inês ½ Bergamácia 0,218 0,167 0,173
Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).
Tabela 6. Média de ganho de peso (Kg) para cordeiras (fêmeas) segundo os genótipos:

Variáveis
Genótipos
15-25 kg 25-35 kg 35-45 kg
Santa Inês puro 0,172 0,143 0,116
236
½ Santa Inês ½ Texel 0,206 0,192 0,191
½ Santa Inês ½ Ile-de-France 0,234 0,194 0,199
½ Santa Inês ½ Bergamácia 0,200 0,127 0,127
Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).

O consumo dos cordeiros ½ Texel ½ Santa Inês e dos cordeiros ½ Ile-de-France ½


Santa Inês, principalmente nos últimos dois intervalos, foi superior ao dos outros dois grupos,
fato que corrobora com o maior ganho de peso encontrado para estes genótipos, neste trabalho
(Tabela 7 e 8).

Tabela 7. Média de consumo de matéria seca (g/Kg0,75/dia) para cordeiros (machos)


segundo os genótipos:

Variáveis
Genótipos
15-25 kg 25-35 kg 35-45 kg
Santa Inês puro 74,82 76,24 64,94
½ Santa Inês ½ Texel 71,63 75,59 77,62
½ Santa Inês ½ Ile-de-France 77,61 79,51 71,00
½ Santa Inês ½ Bergamácia 74,13 62,91 64,01
Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).
Tabela 8. Média de consumo de matéria seca (g/Kg0,75/dia) para cordeiras (fêmeas) segundo
os genótipos:

Variáveis
Genótipos
15-25 kg 25-35 kg 35-45 kg
Santa Inês puro 76,85 63,24 54,29 237

½ Santa Inês ½ Texel 69,49 69,34 73,38


½ Santa Inês ½ Ile-de-France 86,35 77,09 71,87
½ Santa Inês ½ Bergamácia 78,07 61,71 63,35
Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).

Outro fator que contribuiu para que os animais cruzados com raças especializadas na
produção de carne (Texel e Ile-de-France) ganhassem mais peso foi a sua melhor eficiência em
utilizar os alimentos, como é observado nas tabelas 9 e 10.

Tabela 9. Média de conversão alimentar (g) para cordeiros (machos) segundo os genótipos:

Variáveis
Genótipos 35-45 kg
15-25 kg 25-35 kg

Santa Inês puro 3,51 4,23 5,93

½ Santa Inês ½ Texel 2,94 3,50 4,79

½ Santa Inês ½ Ile-de-France 3,07 3,51 4,72

½ Santa Inês ½ Bergamácia 3,29 5,08 6,06

Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).


Tabela 10. Média de conversão alimentar (g) para cordeiras (fêmeas) segundo os genótipos:

Variáveis
Genótipos
15-25 kg 25-35 kg 35-45 kg
Santa Inês puro 4,33 5,83 7,67
238
½ Santa Inês ½ Texel 3,29 4,71 6,17
½ Santa Inês ½ Ile-de-France 3,63 5,08 5,77
½ Santa Inês ½ Bergamácia 3,88 6,78 8,26
Fonte: Adaptado de Furusho-Garcia et al., (2004).

CUNHA et al., (2000) em seu experimento, acasalaram ovelhas Corriedale e Ideal


como carneiros das raças Suffolk ou Ile-de-France e constataram que a utilização de raças
especializadas para corte, sobre fêmeas lanígeras, resulta em aumento no peso da carcaça de
suas crias (Tabelas 11 e 12).

Tabela 11. Valores médios para peso ao nascer (PN), peso ao desmame (PD), ganho de
peso diário do nascimento ao desmame (GPD-1), peso aos 150 dias de idade (P150) e
ganho de peso diário (GPD-2), de acordo com os genótipos para cordeiros (machos):

Variáveis
Genótipos PN PD GPD-1 P150 GPD-2
(Kg) (Kg) (g/dia) (Kg) (g/dia)
½ Suffolk ½ Corriedale 4,3 13,8 181 32,3 188
½ Suffolk ½ Ideal 4,3 16,0 194 35,0 191
½ Ile-de-France ½ Corriedale 4,4 15,2 190 34,4 158
½ Ile-de-France ½ Ideal 4,1 14,2 169 30,5 143
Corriedale puro 4,3 12,5 137 26,2 148
Ideal puro 3,7 12,5 149 24,5 121
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2000).
Tabela 12. Valores médios para peso ao nascer (PN), peso ao desmame (PD), ganho de
peso diário do nascimento ao desmame (GPD-1), peso aos 150 dias de idade (P150) e
ganho de peso diário (GPD-2), de acordo com os genótipos para cordeiras (fêmeas):

Variáveis
Genótipos PN PD GPD-1 P150 GPD-2 239
(Kg) (Kg) (g/dia) (Kg) (g/dia)
½ Suffolk ½ Corriedale 4,0 13,6 160 30,4 206
½ Suffolk ½ Ideal 4,1 15,6 191 32,3 213
½ Ile-de-France ½ Corriedale 4,1 13,9 164 28,1 213
½ Ile-de-France ½ Ideal 3,7 13,6 166 26,5 181
Corriedale puro 3,7 11,7 135 25,0 152
Ideal puro 3,3 11,8 142 22,7 133
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2000).

Quando usadas em cruzamentos com raças rústicas (como a Santa Inês), as raças
Suffolk e a Ile-de-France apresentaram aumento do comprimento e da compacidade da carcaça
(CUNHA et al., 2000). SELAIVE-VILLARROEL et al. (2006), estudaram o cruzamento de
carneiros das raças Texel e santa Inês com ovelhas sem raça definida. Os animais, após o
desmame, foram alimentados com pastagem nativa melhorada (caatinga raleada) durante o dia
e confinados no final da tarde, onde recebiam suplementação alimentar de concentrado
comercial com 20% de proteína, à base de farelo de trigo, soja, milho, leucena e uréia, além do
sal mineral.

Para todos os parâmetros de desempenho os animais oriundos do cruzamento com


Texel foram superiores, demonstrando a capacidade das raças especializadas na produção de
carne em aumentar a velocidade de crescimento e a qualidade da carcaça (Tabela 13, 14 e 15).
Tabela 13. Valores médios para peso ao nascer (PN), peso ao desmame (PD) e peso final
(PF), de acordo com os genótipos:

Variáveis
Genótipos
PN (Kg) PD (Kg) PF (Kg)
Santa Inês x SRD 2,87 11,37 20,70
Texel x SRD 3,25 11,68 23,70 240
O desmame foi realizado com 90 dias e peso final de 240 dias.
Fonte: Adaptado de Selaive-Villarroel et al. (2006).

Tabela 14. Valores médios para ganho de peso diário do nascimento ao desmame (GPD-1),
ganho de peso diário do desmame ao peso final (GPD-2) e ganho de peso diário do
nascimento ao peso final (GPD-total), de acordo com os genótipos:

Variáveis
Genótipos
GPD-1 (g/dia) GPD-2 (g/dia) GPD-total (g/dia)

Santa Inês x SRD 85 63 72

Texel x SRD 89 80 83

O desmame foi realizado com 90 dias e peso final de 240 dias.

Fonte: Adaptado de Selaive-Villarroel et al. (2006).

Tabela 15. Valores médios para peso de carcaça quente (PCQ) e rendimento de carcaça
quente (RCQ), de acordo com os genótipos:

Variáveis
Genótipos
PCQ (Kg) RCQ (%)

Santa Inês x SRD 8,41 39,91

Texel x SRD 9,81 40,39

O desmame foi realizado com 90 dias e peso final de 240 dias.

Fonte: Adaptado de Selaive-Villarroel et al. (2006).


FURUSHO-GARCIA et al (2000) estudaram o desempenho da raça Santa Inês em
comparação com suas cruzas com Texel e Bergamácia. Os animais receberam rações com
média de 15% de proteína e 2,3% de energia metabolizável. Neste trabalho, os animais ½
Bergamácia se apresentam mais pesados, diferindo dos resultados anteriormente mostrados.
Contudo, os cordeiros de cruzas oriundos de raça especializada na produção de carne tendem a
ser mais exigentes em termos de nutrição, para que possam desenvolver suas potencialidades, 241
podendo indicar que, no presente trabalho, a energia consumida não tenha atendido às
exigências para ganhos mais altos dos animais cruzados com Texel (Tabela 16).

Tabela 16. Valores médios de consumo de matéria seca (CMS), ganho de peso diário
(GPD), conversão alimentar (CA) e peso de abate (PA), de acordo com o grupo genético:

Genótipos
Variáveis
Bergamácia x Santa Inês Texel x Santa Inês Santa Inês puro

CMS (g/kg 0,75/dia 70,0 75,0 86,0

GPD (g/dia) 224,0 208,0 166,0

CA (kg) 5,46 6,50 7,22

PA (kg) 49,3 45,1 36,7

Fonte: Adaptado de FURUSHO-GARCIA et al., (2000).

BARROS et al. (2005) avaliaram o desempenho de animais ½ Santa Inês ½ Dorper


frente a diferenças nutricionais. As fêmeas, nos últimos 50 dias de prenhez e nos primeiros 30 de
lactação receberam suplementação com 300 g/animal/dia de concentrado, com 22,33% de
proteína bruta e 78,12% de NDT. Após o desmame, as crias foram divididas, aleatoriamente, em
três grupos de dez animais. Onde os tratamentos constaram da adição de concentrado (a base
de milho e farelo de soja) à dieta dos animais, nas seguintes proporções: 1,5% (T1), 2,5% (T2) e
3,5% (T3) do peso vivo. Os resultados encontrados podem ser observados na Tabela 17.
Tabela 17: Peso e ganho de peso diário (GPD) em cordeiros ½ Dorper ½ Santa Inês:

Nascimento Desmame
Variáveis
T1 T2 T3
P1 (Kg) 19,3 19,5 20,3
242
P30 (Kg) 22,6 25,0 26,9
GPD30 (g dia –1) 108,1 183,2 220,4
P50 (Kg) 26,6 28,7 31,8
GPD (g dia –1) 144,3 184,4 234,0
Fonte: BARROS et al. (2005).

FURUSHO-GARCIA et al (2000) relataram que em sistemas com menor aporte


nutricional os animais oriundos de cruzamento com raça especializada têm seu desempenho
limitado, concordando com BARROS et al (2005), que relataram que os níveis de concentrado
utilizados foram insuficientes para que cordeiros ½ sangue Dorper x ½ sangue Santa Inês
expressem seu potencial máximo de ganho em peso. Como podemos observar nos resultado
acima o potencial produtivo das raças mais especializadas para produção de carne só será
expresso se as condições de manejo permitirem, sendo assim o uso de cruzamento com estas
raças deve ser atrelado à melhorias no manejo nutricional e sanitário.

72.2 Cruzamento Rotativo ou Alternado

Neste tipo de cruzamento utilizam-se, de forma alternada, reprodutores de raças


diferentes. As fêmeas são incorporadas ao rebanho e os machos destinados ao abate. Este
sistema de cruzamento mantém um nível elevado de heterose e permite uma maior pressão de
seleção das fêmeas, podendo ser feito com duas ou três raças. Seus principais limitantes são a
exigência de um elevado nível de manejo e a manutenção de reprodutores diferentes a cada
geração. É mais utilizado para sistemas de produção leiteira onde existe a necessidade de
absorção de um grande número de fêmeas.

243

Fonte: Própria autoria, 2008.

72.3 Cruzamento Absorvente


Neste tipo de cruzamento as fêmeas mestiças são cobertas por reprodutores puros de
uma determinada raça e as fêmeas (filhas) das gerações sucessivas são cobertas por machos
desta mesma raça. Com o acasalamento das fêmeas mestiças com os reprodutores da raça
pura escolhida esta vai absorvendo o patrimônio genético. Se continuar ao cruzamento chega-se
ao puro por cruza.
244
245

Fonte: Própria autoria, 2008.


Este cruzamento é realizado quando se deseja ampliar o rebanho de animais puros de
uma determinada raça, cuja população de fêmeas seja muito pequena. Não é em todas as raças
que este tipo de cruzamento é aceito, é necessário que o registro ainda seja “livro aberto”, ou
seja, que se possa registrar animais mesmo sem “pedigree”. Para Santa Inês ainda se pode
registrar fêmeas assim, mas o registro de machos só é realizado se este for oriundo do
acasalamento entre fêmeas e machos registrados. Logo, todos os machos resultantes dessas 246
várias gerações de cruzamentos devem ser descartados.As fêmeas que alcançam o padrão
zootécnico da raça, mas que são de origem desconhecida são registradas como Base.
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