História Do Registro de Imóveis - Alberto Gentil de Almeida Pedroso - 2020
História Do Registro de Imóveis - Alberto Gentil de Almeida Pedroso - 2020
História Do Registro de Imóveis - Alberto Gentil de Almeida Pedroso - 2020
PRIMEIRAS PÁGINAS
COLEÇÃO DIREITO IMOBILIÁRIO - VOL. I
HISTÓRIA DO REGISTRO DE
IMÓVEIS
Coordenação
Autor
ISBN 978-65-5614-168-8
EXPEDIENTE
EXPEDIENTE
Expediente
Gerente de Conteúdo
Produção Editorial
Coordenação
Coordenação
Analistas: Gabriel George Martins, Jonatan Souza, Maria Cristina Lopes Araujo
e Rodrigo Araujo
Ficha catalográfica
6 Mb ; ePUB
Bibliografia
ISBN 978-65-5614-168-8
Prefácio da coleção
Ao longo dos últimos 170 anos de sua história, o Brasil arquitetou um adequado
sistema de Registro de Imóveis, hoje reconhecido por sua segurança e eficiência
em todo o planeta. Suas bases teórico-conceituais, doutrinárias e jurisprudenciais,
objeto de longa e minuciosa elaboração, mostram-se consistentes e sólidas,
hábeis a suplantar muitos outros sistemas.
Afirmo, com ânimo e orgulho, ser “o nosso” Registro, porque, mercê dos
imprescindíveis e constantes aprimoramentos demandados por sua gestão
constitucionalmente privatizada, ele adquiriu singular estágio de maturidade. Valeu
a pena o esforço de doutrinadores, juristas e legisladores ao longo dos últimos dois
séculos. O resultado pode ser considerado uma real conquista. Verdadeiro triunfo,
uma vitória do Brasil e de todos nós, brasileiros.
Deveras, a inserção do serviço registral numa economia cada vez mais digital e
dinâmica, ao lado da necessidade de adoção de estruturas jurídico-imobiliárias
desjudicializantes, faz com que o aprofundamento do estudo do Direito Imobiliário
obtenha significativa e crescente importância. Há de se preservar a tradição
experimentada, sem receio de ousar e de encarar o futuro pleno de novas
perspectivas pós-pandemia COVID-19.
Outra matéria que tem despertado paixões ao longo dos últimos anos é a da
REURB e ela não poderia ficar de fora da presente obra. No Volume V, é tratada
sob o título “Regularização Fundiária Urbana e seus Mecanismos de Titulação dos
Ocupantes: Lei nº 13.465/2017 e Decreto nº 9.310/2018”, a cargo da brilhante e
prestigiada registradora Paola de Castro Ribeiro Macedo.
Em síntese, é uma obra que suscitará reflexões e da qual poderão provir ainda
mais avanços para o já vitorioso Registro de Imóveis da República Federativa do
Brasil.
Flaviano Galhardo
Apresentação da coleção
No Volume VI, o tema tratado com qualidade elogiável foi “Os Bens Públicos e
o Registro de Imóveis”, pelos queridos autores Dr. Caleb Matheus Ribeiro de
Miranda, Registrador de Imóveis de São Vicente, Carolina Baracat Mokarzel de
Luca, Registradora de Imóveis de São José do Rio Pardo, e Lorruane
Matuszewski, Registradora de Imóvel de Palmital.
Apresentada a obra, é certo que terão o melhor de cada tema para estudo e
consulta. Desejo aos leitores que aproveitem!
Um abraço.
Sobre o coordenador
Estrutura da coleção
Marcelo Benacchio
Lorruane Matuszewski
Leonardo Brandelli
Leonardo Brandelli
Lorruane Matuszewski
Marcelo Benacchio
Apresentação
A despeito disso, em que pese haja ainda algo da dissertação nesta obra, o
texto foi praticamente quase todo reescrito. Em doze anos, quem quer que
continue estudando um determinado assunto, aprende algumas coisas novas aqui
e ali. Além disso, a passagem do tempo permite a tomada de consciência da
existência de outras fontes, além do que, novas obras vão sendo produzidas.
Por outro lado, doze anos é tempo suficiente para que algumas opiniões
mudem após uma reflexão mais madura, implicando na necessária reelaboração
por inteiro de muitos trechos.
Dessa maneira, não só muito conteúdo foi acrescido, como trechos inteiros
foram reescritos e reformulados.
Espera-se que a presente obra possa contribuir para situar o leitor não apenas
no quadro mais amplo da evolução histórica dos sistemas de registro, mas também
quanto à sua atual conformação, em especial no Brasil. Por exemplo, a Lei 13.097,
de 2015, mudou substancialmente o sistema, e, infelizmente, ainda não parece ter
sido totalmente assimilada pela doutrina e pela jurisprudência.
e dê estabilidade ao orbe.
1
Sobre o autor
Introdução
O Registro de Imóveis1 é a peça fundamental da criação das titularidades reais
imobiliárias, mediante o uso da publicidade imobiliária.
Para isso, a exposição se inicia com a definição dos atributos que tornam a
publicidade imobiliária um fenômeno jurídico específico e distinto de outras formas
de publicidade ou de notoriedade, para a seguir enunciar as várias manifestações
da publicidade imobiliária – ou de seus sintomas – ao longo dos tempos.
Tem, portanto, o Direito Registral Imobiliário um objeto com uma dupla face:
normas que tratam da organização e do funcionamento do próprio registro, que,
em grande parte, são dirigidas ao registrador, e normas que tratam dos efeitos
jurídicos advindos deste e das posições jurídicas assumidas pelas partes.
Nota Prévia: Em cada página, as referências conterão todos os dados da obra citada, sendo o
prenome do autor apresentado em primeiro lugar, seguido do patronímico (v.g., “Fustel. de
Coulanges, A Cidade Antiga: Estudo sobre o Culto, o Direito, as Instituições da Grécia e de Roma,
São Paulo, Hemus, 2000”), ressalvadas as hipóteses dos autores espanhóis (em que o
patronímico não ocupa a última posição). Já na bibliografia, o sobrenome pelo qual o autor é
conhecido será sempre grafado em maiúsculo, de forma anteposta a seu prenome ou sobrenomes
intermediários.
2
O Código Civil Brasileiro de 2002 prescreve a necessidade da escritura pública para os negócios
jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre
imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País (art. 108). Ainda,
reafirma a eficácia constitutiva do registro nas transferências entre vivos (art. 1.245).
3
Cf. Victor Ehrenberg, Rechtssicherheit und Verkehrssicherheit, mit besonderer Rücksicht auf das
Handelsregister, in, Jherings Jahrbücher (47) (1904).
5
Cf. Victor Ehrenberg, Rechtssicherheit und Verkehrssicherheit, mit besonderer Rücksicht auf das
Handelsregister, in, Jherings Jahrbücher (47) (1904).
6
Cf. Victor Ehrenberg, Rechtssicherheit und Verkehrssicherheit, mit besonderer Rücksicht auf das
Handelsregister, in, Jherings Jahrbücher (47) (1904).
7
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1a Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p.
119.
8
Cf., e.g., Maria Helena Leonel Gandolfo, O Direito Registral Imobiliário Brasileiro – Princípios
Gerais, in, Registro de Imóveis: Estudos de Direito Registral Imobiliário – XXVII Encontro de
oficiais de registro de imóveis do Brasil – Vitória/2000, Porto Alegre, SAFe, 2002; R. DIP, Do
Conceito de Direito Registral Imobiliário, in, Registro de Imóveis (Vários Estudos), Porto Alegre,
Safe, 2005, p. 49.
9
Cf. José Luís Lacruz Berdejo; Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario
Registral, 2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 20.
10
Cf. Fritz Baur, Sachenrecht, 17a Ed., Munique, Beck, 1999, p. 144.
11
Cf. Hans Josef Wieling, Sachenrecht, 5a Ed., Berlin, Springer, 2007, pp. 267 e 279.
12
Cf. Jan Wilhelm, Sachenrecht, 2a Ed., Berlin, Walter de Gruyter, 2002, p. 214.
13
Cf. Emmanuel Besson, Les livres fonciers et la réforme hypothecaire – Étude historique et critique
sur la publicité dés transmissions immobiliéres em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. Ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 4.
14
Cf. Emmanuel Besson, Les livres fonciers et la réforme hypothecaire – Étude historique et critique
sur la publicité dés transmissions immobiliéres em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. Ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 87-89.
15
A discussão sobre a natureza e efeitos da posse, assim como das ações possessórias, é intensa e
longeva. Nesta distinção, acompanha-se o entendimento de MOREIRA ALVES que, com base no
proposto por BONFANTE, considera a posse um fato, e não um direito (Cf. José Carlos Moreira
Alves, Direito Romano (História do Direito Romano – Instituições do Direito Romano: A) – Parte
Geral; B) Parte Especial: Direito das Coisas), Vol. I, 13ª. Ed., Rio de Janeiro, 2000, p.262). A
despeito disso, o Código Civil de 2002 não inclui a posse no rol dos direitos reais. Ainda, no Brasil,
como regra, não ingressa no Registro de Imóveis, por sua natureza e falta de previsão legal no
elenco de direitos registráveis da Lei 6.015/73, bem como, no passado, dos Decretos 18.527, de
1928 e 4.857, de 1939, e da Lei 1.237, de 1864, e regulamento. Ressalte-se, todavia, que nas
últimas décadas a posse passou a excepcionalmente ser suscetível de ingresso no registro no
caso da imissão provisória na posse em favor da União, estados, Distrito Federal e Municípios, ou
suas entidades delegadas (Lei 6.015/73, artigo 167, I, 36), ou com o fim de ser convertida em
propriedade nos procedimentos de regularização fundiária (Lei 6.015/73, artigo 167, I, 43).
16
Cf. José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario
Registral, 2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 21.
18
Cf. José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario
Registral, 2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 21.
19
Cf. Ricardo Dip, Do Conceito de Direito Registral Imobiliário, in, Registro de Imóveis (Vários
Estudos), Porto Alegre, Safe, 2005, pp. 40-42.
20
Cf. José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario
Registral, 2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 22. Importante notar que os autores afirmam que, no
Direito Espanhol, a aquisição da posição registral não se confunde com a aquisição do direito
material: a primeira se dá por uma relação entre a pessoa privada e a autoridade exercente da
jurisdição voluntária – o oficial do registro; e a segunda ocorre entre pessoas privadas. O raciocínio
não se aplica ao direito brasileiro contemporâneo, no qual a propriedade imóvel, o próprio direito
material, não se adquire por força do contrato, mas sim pelo registro. Por outro lado, esta sujeição
ao registro da aquisição do próprio direito material torna bastante evidentes os efeitos do chamado
“direito registral imobiliário material”, mais do que na Espanha. Tal ocorre porque, como se verá,
desde o Código de 1916 o Brasil adota um sistema cujo direito material tem matriz no direito
germânico. E foi a Alemanha o berço da distinção entre direito formal e material do registro. O
critério é aplicável a outros sistemas, e esta filiação não é plena; mas, em geral, tem-se o direito
alemão como ponto de referência. Sobre isto, cf. Miguel Maria Serpa Lopes, Tratado dos Registros
Públicos, vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp 43-50; Soriano Neto, Publicidade
Material do Registro Immobiliário (Efeitos da Transcripção), 1ª. Ed., Recife, 1940, p. 57.
21
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 13.
CAPÍTULO 1. O REGISTRO DE IMÓVEIS E A PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA
CAPÍTULO 1. O REGISTRO DE IMÓVEIS E A PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA
No entanto, mesmo nesses sistemas, o registro gera algum efeito, ainda que
por exclusão: a regra negativa da inoponibilidade, ou seja, de que os efeitos do
negócio não são oponíveis a terceiros sem o registro; do que decorre
necessariamente um segundo efeito, de preferência: havendo dois negócios
contraditórios entre si sobre o mesmo bem, tem preferência aquele registrado em
primeiro lugar, já que o outro – não registrado –, ainda que firmado em data
anterior, não projetava seus efeitos contra quem dele não fosse parte. Este é o
“efeito relativo” da publicação no Sistema Francês5.
Um direito real vale mais do que um direito pessoal cujo conteúdo econômico
seja o mesmo – por exemplo, o gozo de um certo bem – porque os direitos reais
permitem que o exercício de suas faculdades seja exigido em cumprimento
forçado, de maneira mais fácil do que os direitos pessoais. Veja-se, por exemplo, o
usufruto e a locação sem efeitos reais quando confrontados com a situação de o
bem vir a ser vendido a um terceiro; ou a locação, com ou sem efeitos reais, na
mesma situação. Ainda que a locação sem efeitos reais possa permitir algum tipo
de compensação financeira ao locatário pelo locador que vendeu o bem, o direito
real, ou o direito pessoal com eficácia real, permitem a manutenção do vínculo com
a coisa. O mesmo ocorre com as garantias6.
A publicidade também projeta seus efeitos quanto a fatos que estão fora do
registro, e isso constitui seu aspecto negativo: os fatos sujeitos a registro, e não
registrados, são inoponíveis a terceiros14.
Nos sistemas em que o registro é constitutivo isto é uma obviedade: se o direito
real nem mesmo chegou a constituir-se (ou seja, nem mesmo chegou a existir
como direito real – a questão se dá no plano da existência), evidentemente não
poderá produzir qualquer efeito de direito real, não obstante relações jurídicas do
plano obrigacional possam restar preservadas.
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1a Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p.
117.
2
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1a Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp.
117-118.
3
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1a Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p.
119.
4
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 253.
5
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1a Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp.
119-120.
6
Benito Arruñada, Instituciones del intercambio impersonal: Teoría y método de los registros
públicos, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2013, pp. 46-47.
7
Cf. Renato Corrado, La Pubblicità Nel Diritto Privato, Vol. I, 1ª Ed., Turim, Giappichelli, 1947, pp.
44-45.
8
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 253.
9
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 29.
10
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 379-380.
11
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 382-383.
13
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 255.
14
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 260.
15
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, pp. 274-275.
16
Cf. José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro, Publicidade e Princípios do Registo, in, Temas de
Registos e de Notariado, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2010, p. 18.
17
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 4.
18
Cf. José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro, Publicidade e Princípios do Registo, in, Temas de
Registos e de Notariado, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2010, p. 17.
19
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 277-278.
CAPÍTULO 2. ANTECEDENTES DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA ENTRE OS POVOS DA
ANTIGUIDADE
CAPÍTULO 2. ANTECEDENTES DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA ENTRE OS POVOS DA
ANTIGUIDADE
2.1. Introdução
Esclarece Max Weber que a própria palavra fundus, que, na época da Roma
Imperial, designava terrenos que atendessem certos requisitos, tinha, em sua
origem, um sentido de pertencimento do indivíduo a uma coletividade13.
Com tudo isso, conclui Coviello que a observação dos povos antigos deixa
claro que não há um vínculo histórico linear que encadeie estes costumes e o
moderno sistema de publicidade16. Não se deve ir tão longe. Como afirma
Salvatore Pugliatti, identificam-se nos sistemas arcaicos gérmens dos modernos
sistemas, cujo estudo permite uma melhor valoração daquilo que se tem na
contemporaneidade. Adotar uma compreensão demasiado técnica e restrita do
fenômeno da publicidade imobiliária como parâmetro – seja a de uma
compreensão doutrinária compreensiva dos vários sistemas modernos, ou, por
outro lado, a de um sistema jurídico específico que esteja em vigor – impediriam
qualquer pesquisa útil neste campo17.
Uma vez que estes costumes são, ainda que por simples analogia,
relacionados com os modernos sistemas de transmissão imobiliária, e podem
trazer luzes sobre o funcionamento do tráfico imobiliário em geral, deles se tratará
adiante.
Note-se, contudo, desde já, que, como adverte Salvatore Pugliatti, as fontes
primárias são escassas, e de maneira geral à modernidade somente chegaram
indícios de práticas e costumes análogos ao que conhecemos por publicidade
imobiliária18. Assim, a análise é inafastavelmente fragmentária e sem pretensões
de qualquer sistematização ou completude.
Há, na Bíblia, certas passagens que tratam de negócios que envolvem imóveis,
nas quais se pode perceber preocupação, no mínimo, com a reafirmação da
soberania coletiva sobre a terra, ainda que se trate de uma soberania “familiar” –
entendendo-se a família aqui como uma coletividade hierarquicamente superior ao
indivíduo19.
Não se pode, porém, dizer que este depósito no vaso era efetivamente um
registro de imóveis. Ao invés, tinha-se aí uma preocupação com a sobrevivência
física do documento26, pelo que a conservação a que se refere aqui é literal.
Pretende-se conservar o suporte material do negócio, seu instrumento; e não o
negócio em si, os direitos, ou a relação jurídica, noções que somente viriam a ser
construídas pelos juristas milênios depois. Ainda que se vislumbre uma finalidade
jurídica de conservação de um meio de prova, não se pode confundir esta
finalidade com os propósitos de um moderno sistema de registro.
Com isso, a Babilônia surge como civilização em período mais antigo do que a
Assíria, e sua formulação mostra uma influência mais óbvia da Civilização
Suméria33. A Suméria estava situada, geograficamente, no mesmo local em que
posteriormente viria a se assentar a Civilização Babilônica. O Povo Sumério
enfrentava condições ambientais muito difíceis, já que a terra em que viviam era
extremamente árida, quente, desprovida de minerais, pedras e de madeira. No
entanto, este povo compensava estas dificuldades com inventividade,
desenvolvendo técnicas de irrigação que lhes permitiram canalizar as águas
barrentas das enchentes dos rios Tigre e Eufrates de maneira a fertilizar seus
campos e jardins. Para compensar a falta de pedras e outros minerais,
aprenderam a transformar, com o uso de fornos, a lama das enchentes em jarros,
potes e ferramentas agrícolas, e, posteriormente, em tijolos. E para compensar a
falta de madeira amarravam feixes de juncos que colhiam das margens do rio. Por
fim, desenvolveram um sistema de escrita em tabletes de argila que acabou por
ser utilizado em todo o Oriente Próximo pelos dois mil anos seguintes. A
dependência da irrigação para a sobrevivência do povo, e a necessidade de
esforços coletivos para sua implementação e manutenção, levou ao crescimento
das instituições governamentais, e à ascensão de um Estado Sumério, tudo isto
em época anterior ao terceiro milênio antes de Cristo34.
Essa primeira geração de kudurrus contém textos mais simples e mais diretos.
Tais kudurrus não contêm proibições ou maldições imprecadas contra
transgressores, e, em geral, não contêm relevos ou representações de deuses51.
Podiam ser feitos de pedra calcária, diorito, alabastro, gipsita, ônix, e outros, e no
formato de uma tabuleta quadrada, retangular ou arredondada; de uma laje; de um
obelisco; de uma estela; ou outras. Deve-se observar que eram objetos criados
para serem expostos em público52.
A despeito disso, tem sido sugerido que os kudurrus escritos tinham por função
tornar pública uma aquisição imobiliária por sua exposição não nos campos
diretamente, mas em um local público em que os vários kudurrus eram reunidos,
ao passo que os limites entre os campos eram estabelecidos por pedras sem
inscrições. Apoia essa conclusão o fato de que o formato da base dos kudurrus
parece sugerir que estes eram feitos para serem encaixados e exibidos sobre
algum tipo de plataforma, bem como a praxe babilônica de se ter em arquivos
públicos os tabletes de argila que instrumentalizavam contratos63.
Por outro lado, é difícil afirmar que tal publicidade fosse efetivamente – ou
exclusivamente – jurídica. É verdade que as inscrições na pedra, provavelmente
copiadas de outra igual feita em um tablete de argila, geravam uma prova durável
da aquisição, que podia, até mesmo, demonstrar o direito adquirido por seus
herdeiros. Mas estava bastante presente também o papel de advertir o público de
que aquela aquisição era chancelada e protegida pelos deuses, pelo que
usurpadores se sujeitavam aos efeitos de sua ira64. A despeito disso, não parece
que esta publicidade representasse qualquer condição de validade da aquisição65.
Em razão das chuvas torrenciais nas terras altas africanas, o Nilo alagava
anualmente. O pico das inundações ocorria do final de julho até o início de
setembro, e o imenso fluxo de água depositava em seu leito e margem um mínimo
de 10 cm a cada século de um riquíssimo lodo negro. Assim, a inundação
anualmente trazia para os egípcios terra fresca propícia para a agricultura, bem
como reservas de água que podiam ser distribuídas em canais e armazenada em
reservatórios para uso posterior. Esta terra negra, chamada Kmt, deu ao Egito seu
nome originário, e onde esta findava começava Deshret, a terra vermelha – o
deserto. Como a área da terra negra estava sujeita a inundações, os egípcios
tiveram de ter o cuidado de construir suas cidades e cemitérios fora do alcance das
águas, por vezes construindo em pontos mais altos, e por vezes construindo na
região desértica77.
Por essa razão, muito do que é sabido acerca das transações imobiliária no
Egito Faraônico chegou até nós de maneira muito indireta, como, por exemplo, a
narração nas paredes de uma tumba dos atos praticados em vida pelo defunto.
Como as tumbas eram criadas para durar por toda a eternidade, acabaram
também por servir como um meio fundamental de se conhecer o funcionamento do
mundo dos vivos.
Assim, se, por um lado, nas origens do período dinástico o único possuidor da
terra era o soberano, a prática de o faraó realizar doações acabou por constituir
um regime feudal, e a propriedade fundiária viria a ser a fortuna principal daqueles
que ocupavam os altos cargos no Estado82.
Quanto às “terras privadas”, não é possível precisar qual era exatamente seu
regime jurídico91, bem como que extensão tinha a autonomia de seu titular.
Possivelmente, estas terras eram residuais e surgiam de maneira quase acidental,
abrangendo pequenas hortas e jardins, túmulos, pequenos edifícios de moradia
etc., sempre estando sujeitas ao controle e tributação reais92.
A concessão dessa isenção faz concluir, a contrario sensu, que a regra quanto
à concessão de terras implicava uma série de obrigações para o adquirente, de
natureza tributária, ou mesmo de realização de trabalhos e serviços ao Estado99.
Novamente, é difícil afirmar com segurança que tipo de direito tinham esses
donatários. De todo modo, é possível vislumbrar aí uma concessão de terras pelo
soberano, o qual mantem o seu domínio eminente simbolizado pela imposição do
tributo diretamente sobre a propriedade, bem como a manutenção do uso do
cadastro como mecanismo fiscal.
Ainda, se, tradicionalmente, o doador indicado nas estelas dessa natureza era
sempre o rei, neste momento passa a haver estelas com doações feitas por
templos, chefetes líbios e particulares, o que particularmente sugere um notável
enfraquecimento da distinção entre a figura do faraó e a de seus súditos105.
Com isso, pode-se dizer que estes cadastros tinham uma função vagamente
publicitária107.
Durante o Período Tardio os faraós das Dinastias XXV e XXVI lutavam para
resgatar a antiga grandeza do Egito de seus antepassados. Além de construções
novas, buscavam restaurar construções antigas, bem como copiar o estilo das
tumbas e murais do Antigo e Médio Império. Os ancestrais estavam sendo
invocados para legitimar o poder real e lembrar o povo do que o Egito havia sido.
Todavia, vários estados estrangeiros disputavam o poder na Ásia e na porção
oriental do Mediterrâneo, e, com isso, em 525 a.C. os Persas, guiados por
Cambises, derrotaram os egípcios em Pelúsio, e Cambises e deus descendentes
formaram a XXVII Dinastia. Após a morte de Cambises ouve uma tentativa de
sublevação pelos egípcios, mas esta foi rapidamente esmagada por Dario, o rei
seguinte. O domínio persa seguiu até o ano 332 a.C., quando Alexandre, o
Grande, derrotou os persas e invadiu o Egito. Alexandre foi entronizado como o
novo soberano, tendo sido coroado no templo de Ptah, em Mênfis. Alexandre
também visitou o oráculo de Amon, no templo de Siuá, onde foi saudado como
filho de Amon e legítimo faraó do Egito. Após fundar uma nova capital na margem
norte do Delta, Alexandria, Alexandre morreu na Babilônia, aos 33 anos, em 323
a.C. Seus associados dividiram os espólios de seu império, cabendo o Egito a um
de seus generais, Ptolomeu, dando origem à última casa real do Egito
independente, no período que recebeu seu nome109.
Isso faz com que esse período seja relevante não apenas para o conhecimento
do Direito Egípcio, como também para o conhecimento do direito das poleis
gregas. Grande parte das fontes disponíveis para este estudo, com efeito, consiste
em papiros egípcios112.
O Egito tinha, desde ao menos o século VII a.C., uma tradição de notariado
privado que os romanos, após a conquista, desenvolveram, notadamente pela
criação de uma série de ofícios notariais nas cidades do interior egípcio. Assim,
mesmo uma cidade de aproximadamente 700 habitantes, como Soknopaiou
Nesos, na região do Oásis de Faium, contava com um notário116.
Com base nas diferentes declarações que iam sendo levadas a registro, o
registrador elaborava fichas relativas às propriedades de cada indivíduo. Assim,
passaria a ser impossível a um devedor dar em garantia uma gleba de terras que
não lhe pertencia mais, ou então que já fôra outorgada a outro credor124.
Para Coviello, não restam dúvidas que também na Grécia – assim como em
muitos outros lugares da antiguidade – a propriedade do solo teria sido
originariamente coletiva, na forma de uma propriedade familiar, e, portanto,
inalienável134.
Não obstante os textos citados por L. F. Del Pozo indiquem que, de fato, havia
um costume de dar publicidade a determinadas situações jurídicas, isto não
demonstra que, mais do que publicidade de fato, estes mecanismos eram
destinados a dar publicidade jurídica a elas. Com mais razão, não demonstram que
se tratava de um mecanismo de proteção a terceiros e à boa-fé – pilar do moderno
sistema de publicidade.
O uso de templos para arquivar leis ou outros documentos com efeitos jurídicos
não era novo. Já desde o século VII a.C. os templos de Apolo em Mileto e Argos
recebiam em depósito leis, decretos e atos jurídicos, e no templo de Diana, em
Éfeso, arquivavam-se transações e segregações imobiliárias147.
Não era esta a única finalidade destas pedras. Os horói eram comuns na Ática,
e, de modo geral, tinham três funções. A primeira delas, mais comum, era a de
servir de marco físico que aclarava os limites entre propriedades ou então que
chamava a atenção a certo objeto, como uma tumba ou um santuário. A segunda
finalidade era relacionada ao arrendamento de propriedades. E a terceira
finalidade era a de tornar pública a existência de alguma oneração, ou vínculo, que
gravasse a propriedade152.
Muitas centenas desses objetos foram escavadas. Os mais antigos cuja data é
conhecida são de 363 a.C.; os mais recentes de entre 267 e 259 a.C.155 Podiam
ser feitos de qualquer tipo de pedra: mármore, pedra calcária, pedra vulcânica, ou
qualquer outra que estivesse disponível, e eram implantados em locais
apropriados. A qualidade do trabalho de cantaria aplicado à pedra variava do
trabalho claramente amador feito por um camponês, ao profissional, comparável às
melhores estelas gregas. Mas nem sempre diziam respeito a hipotecas. Na
verdade, em um primeiro momento tais objetos eram utilizados como um simples
marco geodésico indicativo dos limites de um imóvel. Posteriormente, com o
passar do tempo, começaram a ser utilizados, também, como um aviso sobre a
existência de ônus gravando o imóvel156, ou mesmo para gerar notícia outros tipos
de notícia. Em um distrito rural da Ática foi encontrado um horós que dizia “Horós
da terra da Fraternidade de Eikadeis. Ninguém deve fazer qualquer tipo de
empréstimo garantido por esta terra”157.
Quanto aos ônus noticiados nos horói, estes não se restringem às hipotecas.
Há, também, mais duas modalidades de garantia, conhecidas como Prasis Epi
Lysei e Apotimema.
Há, com efeito, em Roma formas solenes, como a mancipatio e a in iure cessio,
que são públicas, pois delas participavam o libripens e as cinco testemunhas na
primeira; e o magistrado e o público do fórum, na segunda. Porém, segundo
Coviello, o objetivo da participação destas pessoas no ato não era a publicidade176,
e, de fato, é inadequado falar aqui em publicidade em sentido jurídico.
Também entre os romanos, tal como se viu com outros povos da antiguidade,
seriam estas formalidades vestígios de um passado de terras comunais.
Segundo Besson, em boa hora os romanos chegaram à propriedade privada,
mas é temerário afirmar que as populações italianas a conheciam e praticavam
desde a mais remota antiguidade. O coletivismo antigo deixou numerosas marcas
nas instituições da Roma Antiga, dentre as quais as formas solenes de
transmissão da propriedade, e as próprias categorias res mancipi e res nec
mancipi. A mancipatio se dava na presença de cinco cidadãos romanos, no papel
de testemunhas, e um oficial público, o libripens, portando uma balança de cobre.
Começava-se pela pesagem de metal bruto, que simbolizava o imóvel. Então, era
feita a entrega do metal, e as partes declaravam, com palavras sacramentais, que
a coisa, doravante, pertenceria ao comprador, ex jure quiritum, pelo bronze e a
balança – per aes et libram. Com o tempo, passou-se a realizar a pesagem do
metal antes da cerimônia, colocando-se na balança, após, apenas um seu
fragmento; até que, com a introdução da moeda, deixou de haver qualquer
pesagem. Com a introdução da moeda, o comprador batia na balança com esta, e
a mancipatio passou a ser uma venda ficta, não perdendo, no entanto, o caráter
solene, e a presença das testemunhas e do libripens. Nessa etapa da civilização
romana, a mancipatio era, de fato, um modo de transferência de propriedade
privada (ainda que a terra se tratasse de res mancipi), sem implicar um direito
eminente da cidade. Mas são fáceis de perceber, aí, os traços do coletivismo
primitivo. Poder-se-ia mesmo concluir que as rei mancipi eram o capital inalienável
das antigas comunidades do Lácio; e que as cinco testemunhas representavam as
cinco classes em que Sérvio Túlio havia dividido a população, significando uma
remota necessidade de um consenso da comunidade para a alienação em antigas
assembleias177.
Se, por um lado, podiam gerar publicidade de fato que atendia aos anseios de
um sistema de publicidade imobiliária de uma sociedade primitiva, certamente já
eram inadequadas para este mister na Itália de Augusto ou no orbis romanus de
Caracala185. Como afirma Schulz, as cinco testemunhas e o libripens necessários à
mancipatio eram substitutos bastante precários da registração186.
Esse “registro” significava a cópia do ato de doação nos gesta ou acta publica,
arquivos ou livros mantidos pelos magistrados romanos. Origina-se na professio
apud acta, formalidade facultativa e mais antiga que era destinada a gerar prova
autêntica da liberalidade feita pelo doador. No entanto, essa formalidade se tornou
obrigatória por determinação do imperador Constâncio Cloro, e recebeu a forma da
insinuatio por edito de Constantino, datado de 323 d.C. Este exigia a formulação
de um documento com o nome do doador e a natureza da coisa doada, seguida da
sua traditio material e solene diante de testemunhas da vizinhança. Por fim, tudo
era consignado nos acta do juiz do domicílio do doador, ou da localização do bem.
A sanção pela falta da formalidade era a nulidade da doação: a insinuação era
elemento intrínseco da doação190.
Essa também é a posição sustentada por José Luís Lacruz Berdejo e Francisco de Assis Sancho
Rebullida. Cf. José Luís Lacruz Berdejo e Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho
Inmobiliario Registral, 2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 23. Em sentido oposto cf. Ippolito Israele
Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del códice civile
italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LII; e E. BESSON, Lês livres fonciers et la reforme
hypothécaire – etude historique et critique sur la publicité dês transmissions immobilières em
France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 5.
Este último, no entanto, deixa claro que, não obstante haja um encadeamento entre as formas
antigas e as contemporâneas, as razões das práticas não permanecem as mesmas. Ou seja, há
alguma filiação histórica; mas a equiparação é mais analógica do que ontológica.
2
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 14.
3
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp.
73-74.
4
Cf. Benito Arruñada, Instituciones del intercambio impersonal: Teoría y método de los registros
públicos, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2013, pp. 42-43.
5
Cf. Nebi Bardhoshi, Family Property in Albanian Customary Law, in, Albania – Family, Society and
Culture in the 20th Century, 1ª Ed., Zurique, LIT, 2012.
6
Cf. Fatri Islamaj; Engjëll Likmeta, Historical Aspects of Sale Contract according to Albanian
Customary Law, in, Journal on European History of Law (02) (2019).
7
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica del Derecho de Propiedad
Privada e Ingeniería Jurídica del Intercambio Personal, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, 74-81.
8
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p.17.
9
Cf. Marcel Mauss, Sociologia e Antropologia, 1ª. Ed., São Paulo, Cosacnaify, 2003, p. 267.
10
Cf. Marcel Mauss, Sociologia e Antropologia, 1ª. Ed., São Paulo, Cosacnaify, 2003, p. 271.
11
Cf. Marcel Mauss, Sociologia e Antropologia, 1ª. Ed., São Paulo, Cosacnaify, 2003, p. 290.
12
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p.17. No mesmo sentido
Émile De Laveleye, De la proprieté et de sés formes primitives, 1831, trad. Ing. De G. R. L.
MARRIOT, Primitive Property, 1ª. Ed., Londres, Macmillan and Co, 1878 e Emmanuel Besson, Lês
livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique sur la publicité dês
transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a nos jours, 1ª. ed.,
Paris, J. Delamotte, 1891, p. 12. Este último relata que a etnografia comparada dá conta que os
povos nômades ou que viviam do pastoreio, por seu próprio modo de vida, não chegaram a
conhecer a apropriação individual da terra. A propriedade imobiliária – com um sentido de que
certa porção da terra pertence a uma pessoa determinada, e que, por exclusão, não pertence às
demais – somente teria surgido quando os povos se tornaram sedentários, e o regime agrícola,
intimamente ligado à passagem do tempo e à fixação no espaço, passou ao centro da atividade
econômica. Num primeiro momento, já nessa fase, a terra teria pertencido à tribo, ao clã. E, num
segundo momento, passaria, então, a pertencer à família, entendida esta como um grupo de
pessoas aparentadas, descendentes de um ancestral comum, sob a autoridade de um patriarca. A
organização patriarcal, contudo, ainda inviabilizaria a apropriação privada da terra. Os bens eram
de todos, e constituíam um capital necessário à sobrevivência do grupo. Isso teria dado lugar ao
surgimento da classe das rei mancipi no direito romano, cuja alienação estava sujeita ao
consentimento do grupo, materializado na solenidade e formalismo da mancipatio. Ainda, Henry
James Sumner Maine (Ancient Law – Its connection to the history of early society, and its relation
to Modern Ideas, 5ª. Ed., Nova Iorque, Henry Holt and Company, 1864) afirma que, ao invés do
que ocorria no Direito Romano já maduro – em que a copropriedade era excepcional – na Índia
antiga o estado excepcional era a propriedade individual, a qual sempre permanecia tendente a,
mediante certos acontecimentos, retornar ao domínio comum. As pequenas comunidades eram
compostas por irmandades, as quais formavam mais do que um grupo de parente ou de parceiros
associados. Representavam uma sociedade organizada, com um patrimônio comum, que se
aproximava da gens romana, uma extensão da família baseada em razões perdidas na noite dos
tempos.
13
Cf. Max Weber, História Agrária Romana, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 1994, pp. 70-71.
14
Cf. Ettore Salvi, Storia del Diritto di Proprietà, 1ª Ed., Milão, Ulrico Hoepli, 1915, pp. 32-33.
15
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 15-16
16
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 15-16
17
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 34.
18
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 37.
19
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 56.
20
Cf. Ettore Salvi, Storia del Diritto di Proprietà, 1ª Ed., Milão, Ulrico Hoepli, 1915, pp. 106-112.
21
“Respondeu-lhe Efrom: Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata,
que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta. Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a
prata, de que este lhe falara diante dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda
corrente entre os mercadores. Assim o campo de Efrom, que estava em Macpela, fronteiro a
Manre, o campo, a caverna e todo o arvoredo, que nele havia, e todo o limite ao redor, se
confirmaram por posse a Abraão, na presença dos filhos de Hete, de todos os que entravam pela
porta da sua cidade. Depois sepultou Abraão a Sara, sua mulher, na caverna do campo de
Macpela, fronteiro a Manre, que é Hebrom, na terra de Canaã. E assim, pelos filhos de Hete, se
confirmou a Abraão o direito do campo e da caverna que nele estava, em posse de sepultura”
(Gênesis 23, 14-20).
22
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 56-57.
23
“Disse, pois, Jeremias: Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Eis que Hananeel, filho de teu tio
Salum, virá a ti, dizendo: Compra o meu campo que está em Anatote, pois a ti, a quem pertence o
direito de resgate, compete compra-lo. Veio, pois, a mim, segundo a palavra do Senhor, Hananeel,
filho de meu tio, ao pátio da guarda, e me disse: Compra agora o meu campo que está em
Anatote, na terra de Benjamim; porque teu é o direito de posse e de resgate; compra-o. Então
entendi que isto era a palavra do Senhor. Comprei, pois, de Hananeel filho de meu tio o campo
que está em Anatote; e lhe pesei o dinheiro, dezessete siclos de prata. Assinei a escritura, fechei-a
com selo, chamei testemunhas e pesei-lhe o dinheiro numa balança. Tomei a escritura da compra,
tanto a selada segundo mandam a lei e os estatutos, como a cópia aberta; dei-a a Baruque, filho
de Nerias, filho de Maaséias, na presença de Hananeel, filho de meu tio, e perante as
testemunhas, que assinaram a escritura de compra, e na presença de todos os judeus que se
assentavam no pátio da guarda. Perante eles dei ordem a Baruque, dizendo: Assim diz o Senhor
dos Exércitos, o Deus de Israel: Toma esta escritura, esta escritura da compra, tanta a selada
como a aberta, e mete-as num vaso de barro, para que se possam conservar por muitos dias”
(Jeremias 32, 6-14)
24
Cf. Douglas A. Knight, Law, Power and Justice in Ancient Israel, 1ª Ed., Louisville, WJK, 2011, p.
204.
25
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 18-19.
27
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 58.
28
Cf. Marc Van de Mieroop, A History of the Ancient Near East, 1ª Ed., Oxford, Blackwell, 2004, pp.
1-2.
29
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization,1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, pp. 35-36.
30
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization,1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, p. 37.
31
Cf. Harriet Crawford, Sumer and the Sumerians, 1ª Ed., Cambridge, Cambridge University Press,
1991, p. 13.
32
Cf. Marc Van de Mieroop, A History of the Ancient Near East, 1ª Ed., Oxford, Blackwell, 2004, p.
39.
33
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization,1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, pp. 37-39.
34
Cf. Samuel Noah Kramer, The Sumerians: Their History, Culture, and Character, 1ª Ed., Chicago,
The University of Chicago Press, 1963, pp. 3-5.
35
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 44-46.
36
Cf. Edouard Cuq, Études sur le Droit Babylonien – Les Lois Assyrienes et Les Lois Hittites, 1ª Ed.,
Paris, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, 1929, p. 78.
37
Cf. <https://www.louvre.fr/oeuvre-notices/obelisque>.
38
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 47.
39
Uruk, ou Warka é uma cidade localizada a quatro milhas da margem leste do rio Eufrates, cujas
ruínas são consideravelmente maiores que as das cidades de Ur ou de Larsa. O nome “Warka” é
uma corruptela do original, introduzida após a sua conquista pelos árabes. No passado, chamara-
se “Erech” ou “Orech” para os hebreus, “Huruk” nos atlas geográficos escritos em escrita
cuneiforme, e “Orchoe” para os gregos. A respeito, cf. George Rawlinson, The seven great
monarchies of the ancient eastern world: The history, geography and antiquities of Chaldaea,
Assyria, Babylon, Media, Persia, Parthia and Sassanian or New Persian Empire, with maps and
illustrations, vol. I.
40
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 20-21
41
Cf. Edouard Cuq, Études sur le Droit Babylonien – Les Lois Assyrienes et Les Lois Hittites, 1ª Ed.,
Paris, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, 1929, p. 79.
42
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 20-21.
43
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p. 47.
44
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization, 1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, pp. 281-282.
45
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization, 1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, p. 282.
46
Cf. A. Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization, 1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, p. 282.
47
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 48-49.
48
Cf. Edouard Cuq, Études sur le Droit Babylonien – Les Lois Assyrienes et Les Lois Hittites, 1ª Ed.,
Paris, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, 1929, p. 87.
49
Cf. Kathryn E. Slanski, The Babylonian Entitlement Narûs (Kudurrus): A Study in Their Form and
Function, 1ª Ed., Boston, American School of Oriental Research, 2003, p. 251.
50
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, pp. 1-2.
51
Cf. Kathryn E. Slanski, The Babylonian Entitlement Narûs (Kudurrus): A Study in Their Form and
Function, 1ª Ed., Boston, American School of Oriental Research, 2003, p. 250.
52
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 5.
53
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 2.
54
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 11.
55
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 17.
56
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 17.
57
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 17.
58
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, Vol. I, 1ª Ed., Chicago, The Oriental Institute of the University of
Chicago, 1991, p. 23.
59
Cf. Marc Van de Mieroop, A History of the Ancient Near East, 1ª Ed., Oxford, Blackwell, 2004, pp.
166-167.
60
Cf. Kathryn E. Slanski, The Babylonian Entitlement Narûs (Kudurrus): A Study in Their Form and
Function, 1ª ed., Boston, American School of Oriental Research, 2003, pp. 1-8.
61
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 49; A. Leo
Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization,1ª Ed. Chicago, University of
Chicago Press, 1977, p. 286.
62
Cf. Kathryn E. Slanski, The Babylonian Entitlement Narûs (Kudurrus): A Study in Their Form and
Function, 1ª Ed., Boston, American School of Oriental Research, 2003, pp. 57-59.
63
Cf. Giorgio Buccellati, The Kudurrus as Monuments, in, Cinquante-deux reflexions sur le Proche-
Orient ancien offertes en hommage a Leon de Mayer, Vol. II, 1ª Ed., Louvain, Peeters, 1994.
64
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 49-50.
65
Cf. Edouard Cuq, Études sur le Droit Babylonien – Les Lois Assyrienes et Les Lois Hittites, 1ª Ed.,
Paris, Librairie Orientaliste Paul Geuthner, 1929, pp. 86-87.
66
Cf. Kathryn E. Slanski, The Babylonian Entitlement Narûs (Kudurrus): A Study in Their Form and
Function, 1ª Ed., Boston, American School of Oriental Research, 2003, pp. 70-74.
67
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization,1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, p. 287.
68
Cf. Albert Kirk Grayson, Assyrian Civilization, in, The Cambridge Ancient History, Vol. 3-2, 2ª Ed.,
Cambridge, Cambridge University Press, pp. 210-212.
69
Cf. Marc Van de Mieroop, A History of the Ancient Near East, 1ª Ed., Oxford, Blackwell, 2004, p.
169.
70
Cf. Adolf Leo Oppenheim, Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization, 1ª Ed. Chicago,
University of Chicago Press, 1977, p. 164.
71
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 51-52.
72
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 51.
73
Cf. Albert Kirk Grayson, Assyrian Civilization, in, The Cambridge Ancient History, Vol. 3-2, 2ª Ed.,
Cambridge, Cambridge University Press, p. 211.
74
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, p. 1.
75
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, pp. 3-4.
76
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, p. 4.
77
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, pp. 6-7.
78
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, pp. 58-59.
79
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, pp. 69-70.
80
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 59.
81
Cf. Luis Fernandez. Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
30-31.
82
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 59.
83
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p. 34.
84
Cf. Jaromir Malek, The Old Kingdom, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed., Oxford,
Oxford University Press, 2003, pp. 99-101.
85
Cf. Jaromir Malek, The Old Kingdom, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed., Oxford,
Oxford University Press, 2003, p. 101.
86
Cf. Jacobus Van Dijk, The Amarna Period and Later New Kingdom, in, The Oxford History of
Ancient Egypt, 1ª Ed., Oxford, Oxford University Press, 2003, p. 298.
88
Cf. Luís Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
56-58.
89
Cf. Alan B. Lloyd, The Ptolemaic Period, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed., Oxford,
Oxford University Press, 2003, pp. 404-405.
90
Cf. Alan B. Lloyd, The Ptolemaic Period, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed., Oxford,
Oxford University Press, 2003, p. 409.
91
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 62.
92
Cf. Luís Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p. 50.
93
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 62-63.
94
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 64.
95
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 66-67.
96
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 68.
99
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p. 37.
100
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
121-133.
101
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
134-135.
102
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
137-138.
103
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 70.
104
Cf. John Taylor, The Third Intermediate Period, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed.,
Oxford, Oxford University Press, 2003 p. 344.
105
Cf. John Taylor, The Third Intermediate Period, in, The Oxford History of Ancient Egypt, 1ª Ed.,
Oxford, Oxford University Press, 2003 p. 341.
106
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 71.
107
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 71.
108
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 86.
109
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, pp. 111-112.
110
Cf. Salima Ikram, Ancient Egypt: An Introduction, 1ª Ed., New York, Cambridge University Press,
2009, p. 112.
111
Cf. Hans-Albert Rupprecht, Greek Law in Foreign Surroundings, in, The Cambridge Companion to
Ancient Greek Law, 1ª Ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2005.
112
Cf. Hans-Albert Rupprecht, Greek Law in Foreign Surroundings, in, The Cambridge Companion to
Ancient Greek Law, 1ª Ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2005.
113
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 87.
114
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 88-89.
115
Cf. Hans-Albert Rupprecht, Greek Law in Foreign Surroundings, in, The Cambridge Companion to
Ancient Greek Law, 1ª Ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2005.
116
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
117
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
118
Cf. Georges Posener, Dictionnaire de la civilisation égyptienne, 1ª Ed., Paris, Fernand Hazan,
1959, p. 192.
119
Cf. Guy Rachet, Dictionnaire de la civilisation égyptienne, 1ª Ed., Paris, Larousse, 1992, p. 177.
120
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 107.
121
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 110.
122
Cf. Jose Luis Alonso, The Bibliotheke Enkteseon and the Alienation of Real Securities in Roman
Egypt, in, The Journal of Juristic Papyrology, (40) (2010).
123
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 111.
124
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
125
Cf. Jose Luis Alonso, The Bibliotheke Enkteseon and the Alienation of Real Securities in Roman
Egypt, in, The Journal of Juristic Papyrology, (40) (2010).
126
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
127
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
128
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 108.
129
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 109-110.
130
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 112.
131
Cf. François Lerouxel, Le Marché du Crédit Privé, la Bibliothéque des Acquêts et les Tâches
Publiques en Egypte Romaine, in, Annales. Histoire, Science Sociales, (67) (2012).
132
Cf. Michael Gagarin, The Unity of Greek Law, in, The Cambridge Companion to Ancient Greek
Law, 1ª Ed., Cambridge, Cambridge University Press, 2005.
133
Teofrasto viveu entre 372 e 288 a.C., e a conservação do fragmento que trata das transmissões
imobiliárias se deve ao antologista do século V d.C. Joannes Stobaeus, o qual reuniu em uma
mesma obra trechos educativos oriundos da literatura grega. É o seguinte o teor do documento,
com versão livre para o português a partir da tradução do grego para o espanhol de Luis
Fernandez Del Pozo: “Certas legislações querem que as vendas sejam proclamadas por um
arauto público e que sejam anunciadas com vários dias de antecedência; outras exigem que estas
ocorram perante um magistrado. Assim, a lei de Pittacos ordena que a venda seja realizada
perante um magistrado. Há as que prescrevem que a venda seja publicada no local onde tem sede
o magistrado por ao menos sessenta dias, como em Atenas, e que o comprador pague a
centésima parte do preço, para liberar-se de todo aquele que possa vir a reclamar ou discutir seu
direito, e que se saiba pelo pagamento do preço quem é o justo adquirente. Em outras, ainda, as
vendas devem ser anunciadas durante cinco dias consecutivos antes de confirmadas, com escopo
de dar aos interessados o tempo para intervir e reclamar a propriedade ou a casa. Tais são as leis
de Cízica. Os túrianos suprimiram todas estas formalidades e não publicam as vendas ou outros
atos em praça pública, mas obrigam vendedor e adquirente a reunirem-se e dar a três dos vizinhos
mais próximos uma pequena moeda, como memória e testemunho do fato. Com isso, os
magistrados, em um caso, e os vizinhos, no outro, são responsabilizados ao se negarem a
receber, ou ao receberem duas vezes da mesma pessoa, ou, ainda, se, havendo recebido, se
negam a indicar o nome do comprador. Ademais, não convém esquecer que os anúncios,
proclamações, e tudo que envolver as oposições, não são, na maior parte dos casos, senão
expedientes empregados para remediar a ausência de outra norma. Com efeito, em todos os
lugares onde está estabelecida a inscrição das propriedades e dos contratos, é fácil saber por ela
se os bens são livres e sem ônus, e se o vendedor é realmente proprietário porque o magistrado
inscreve imediatamente o comprador no lugar do vendedor. Como por vezes existem terceiros que
se passam por compradores e vendedores, convém que existam normas sobre este particular.
Existe em algumas cidades previsões para evitar estes abusos, e, ao mesmo tempo, para
assegurar a publicidade do direito de propriedade. Segundo tais normas, aquele que compra uma
casa deve sacrificar sobre o altar de Apolo que preside o distrito, e aquele que compra um campo
deve sacrificar na cidade que mora, e jurar perante o magistrado encarregado da inscrição, e três
moradores da cidade, que adquiriu justamente, sem fraude, simulação, ou vício de qualquer
ordem. O vendedor deve jurar da mesma maneira, que vende sem dolo. Quem não residir na
cidade, deve sacrificar e prestar juramento sobre o altar de Júpiter Agoraios. Os necessitados
podem livrar-se do juramento com uma oferenda de perfumes. Na falta destas formalidades, o
magistrado nega a inscrição.” Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro
de la propriedad em el egipto faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y
Mercantiles de Espana, s.d., pp. 155-157.
134
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 24-30.
135
Cf. Moses I. Finley, The World of Odysseus, 3ª Ed., Londres, The Folio Society, 2002, pp 48-49.
136
Cf. Sarah B. Pomeroy, Stanley M. Burstein, Walter Donlan, Jennifer Tolbert Roberts, Ancient
Greece – A Political, Social, and Cultural History, 1ª Ed., Oxford, Oxford University Press, 1999, p.
72.
137
Cf. Moses I. Finley, Ancient Sicily, 2ª Ed., Londres, Chatto & Windus, 1979, p. 36-37.
138
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 24-30.
139
. Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
159-160.
140
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 75.
141
São conhecidas como “Katagrafé” as solenidades que continham um elemento que revestia de
autoridade pública os acordos privados. Em alguns casos, como é o de Atenas, adiante descrito,
darão ao acordo oponibilidade contra terceiros, mediante o pagamento de um tributo. Cf. Luis
Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto faraônico,
Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p. 167.
142
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 75.
143
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p.
169.
144
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 76.
145
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 77.
146
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p.
170.
147
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., p.
171.
148
Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad em el egipto
faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de Espana, s.d., pp.
170-172.
149
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p. 28.
150
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 78-79.
151
Cf., e.g., Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro
III del códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LII; Affonso Dionysio Gama, Da
hypotheca (theoria e pratica), 1ª. Ed., São Paulo, Saraiva, 1921, pp. 9-10; Jose Luís Lacruz
Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral, 2ª. Ed., Madrid,
Bosch, 1984, p. 21.
152
Cf. John V. A. Fine, Horoi – Studies in Mortgage, Real Security, and Land Tenure in Ancient
Athens, 1ª Ed., Baltimore, J. H. Furst, 1951, pp. 42-43.
153
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 4.
154
Cf. Ignace J. Gelb, Piotr Steinkeller, Robert M. Whiting Jr., Earliest Land Tenure Systems in the
Near East: Ancient Kudurrus, p. 24.
155
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, pp. 6-7.
156
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 4.
157
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 5.
158
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, pp. 31-37.
159
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, pp. 38-52.
160
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 83.
161
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 83-84.
162
Com isso concorda L. F. DEL POZO, afirmando que os marcos em pedra não constituíram um
sistema de publicidade propriamente dito, e nem garantiram eficácia constitutiva ou publicidade
erga-omnes. Cf. Luis Fernandez Del Pozo, La propriedad inmueble y el registro de la propriedad
em el egipto faraônico, Madrid, Colégio de Registradores de la Propriedad y Mercantiles de
Espana, s.d., p. 170. Entre nós, no mesmo sentido, cf. LYSIPPO GARCIA, O Registro de Imóveis:
A Transcripção, Vol. I, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 27.
163
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 84.
164
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 10.
165
Cf. Moses I. Finley, Studies in Land and Credit in Ancient Athens, 500-200 BC, 2ª Ed., New
Brunswick, Rutgers University Press, 1951, p. 15.
166
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 92.
167
LUZZATI afirma que na Grécia se encontrava muito desenvolvido o conceito da publicidade das
alienações, uma vez que, nas várias partes do país, a venda não existia independentemente de
certas formalidades mais ou menos solenes. Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione –
Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet,
1905, p. LIV.
168
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 103.
169
Cf. Vincenzo Arangio-Ruiz, Istituzioni di Diritto Romano, 11ª Ed., Napoli, Jovene, 1952. p. 267.
170
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, pp. 383-384.
171
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, p. 384.
172
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, p. 385.
173
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, p. 385.
174
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, p. 386.
175
Cf. Raymond Monier, Manuel Elementaire de Droit Romain, Vol. II, 4ª Ed., Paris, Editions Domat –
Montchrestien, p. 323.
176
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 30-33.
177
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 29-31.
178
Cf. José Carlos Moreira Alves, Direito Romano (História do Direito Romano – Instituições do Direito
Romano: A) – Parte Geral; B) Parte Especial: Direito das Coisas), Vol. I, 13ª. Ed., Rio de Janeiro,
2000, pp. 306-307.
179
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 32-34.
180
Cf. Matteo Marrone, Istituzioni di Diritto Romano, 3ª Ed., Palermo, Palumbo, 2015, pp. 133-134.
181
Cf. Matteo Marrone, Istituzioni di Diritto Romano, 3ª Ed., Palermo, Palumbo, 2015, p. 134.
182
Cf. Ignacio Maria Poveda Velasco, Proteção do Comprador no Direito Romano, 1ª Ed., São Paulo,
Livraria Paulista, 2002, p. 17.
183
Cf. Biondo Biondi, Istituzioni di Diritto Romano, 3ª Ed., Milão, Giuffrè, 1956, pp. 242-243.
184
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LVI.
185
Cf. Vincenzo Arangio-Ruiz, Istituzioni di Diritto Romano, 11ª Ed., Napoli, Jovene, 1952. p. 189.
186
Cf. Fritz Schulz, Derecho Romano Clásico, 1ª Ed., Barcelona, Bosch, 1960, p. 353.
187
Cf. Matteo Marrone, Istituzioni di Diritto Romano, 3ª Ed., Palermo, Palumbo, 2015, p. 561.
188
Cf. William Warwick Buckland, A Text Book of Roman Law from Augustus to Justinian, 3ª Ed.,
Cambridge, Cambridge University Press, 1966, pp. 255-256.
189
Cf. Matteo Marrone, Istituzioni di Diritto Romano, 3ª Ed., Palermo, Palumbo, 2015, p. 139.
190
Cf. Emmanuel Besson, Les livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 37-38. Para o autor, a insinuação demonstraria
que os romanos não elegeram a clandestinidade, mas perceberam a utilidade do princípio da
publicidade. Segundo ele, o grande objetivo da insinuação era a garantia dos terceiros, e, ainda,
os registros romanos estavam abertos de forma facultativa a outros atos, como os testamentos,
emancipações e mesmo as vendas. Quanto aos testamentos, a autoridade intervinha na sua
confecção e abertura: somente podiam ser abertos na presença do magistrado, que o recebia do
testador. Ressalta, ainda, que a semelhança da insinuação com algumas formas germânicas de
transferência da propriedade mostra que não se pode filiar a publicidade a uma ou outra
legislação, mas sim a uma tradição comum dos povos, sendo, portanto, temerário pretender que a
doutrina alemã foi uma força exclusiva na sua evolução. Não obstante as razões do autor, a
intervenção da autoridade na insinuação está muito mais próxima da função notarial do que
efetivamente dos registros públicos, como se tratará adiante.
191
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 116.
192
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LVIII.
194
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 93.
CAPÍTULO 3. ANTECEDENTES DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA NA IDADE MÉDIA E INÍCIO DA
IDADE MODERNA EUROPEIAS
CAPÍTULO 3. ANTECEDENTES DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA NA IDADE MÉDIA E INÍCIO DA
IDADE MODERNA EUROPEIAS
Estas novas instituições, como as envolvidas nas relações feudais, não eram
propriamente nem romanas, nem germânicas, mas resultantes da interação entre
os direitos destes dois povos, submetidos às forças atuantes no decorrer destes
séculos3. O que restou da organização romana somou-se à Igreja e suas
instituições, e à tradição escolar da antiguidade tardia4.
No século IX, Carlos Magno criou as bases para uma unidade jurídica e política
em uma tentativa de resgate do Império Romano do Ocidente, denominada Sacro
Império Romano. Nesta época, ocorreu o florescimento do feudalismo, mediante o
estabelecimento de vínculos de dependência entre os poderosos do reino, assim
como entre o rei e eles5.
A transição do século XI para o século XII foi marcada por muitas mudanças na
sociedade e na cultura, notadamente a reforma das ordens religiosas, o aumento
da população, a ampliação das áreas de terras cultiváveis, a introdução de novas
técnicas agrícolas, o reflorescimento do comércio e do artesanato, o renascimento
das cidades, e o fortalecimento das monarquias. Essas mudanças também
deixaram suas marcas no Direito, pela sua redescoberta como ciência pelas
universidades. Essa velha-nova ciência teve sua origem em um centro de estudos
em Bolonha, cujos métodos difundiram-se pela Europa a partir do século XII. As
doutrinas e normas assim criadas passaram a constituir o que se chama o “direito
comum”6.
Testemunham esse novo ambiente jurídico, nas décadas finais do século XI, as
escrituras de compra e venda, permuta, doação e de instituição de dote, cujas
fórmulas, até então desconhecidas, demonstram o preparo dos notários que as
lavraram. Por exemplo, o notário Pietro di Arezzo – autoqualificado como legis
amator – incluía em suas escrituras expressões extraídas do Codex e das
Institutas, demonstrando que conhecia bem o Corpus Juris Civilis 9.
Por outro lado, além do Direito Romano, dos direitos dos povos bárbaros, e do
Direito Canônico, compunham o cenário também os direitos locais. Algumas
cidades conquistaram autonomia política e jurídica, e passaram a legislar, seja pela
redução a escrito de costumes preexistentes, seja propriamente pela via da lei.
Isso, juntamente com as obrigações que os cônsules e demais magistrados
juravam cumprir ao assumir seus cargos, – materializadas em instrumentos
notariais chamados brevia – compôs aquilo que ficou conhecido como “estatutos”
da cidade12.
A propriedade plena ficava restrita aos bens alodiais, que existiam em número
muito reduzido39. Algumas das terras sob esse regime pertenciam à Igreja, e seu
caráter alodial precedia o próprio feudalismo. Outras delas eram pertencentes a
particulares, que, inicialmente, as haviam recebido sob as amarras do sistema
feudal, mas cuja tenure havia, por ato do suserano, sido convertida em doação de
propriedade plena. Outras, ainda, haviam sido adquiridas por ocupação de terras
conquistadas aos sarracenos, que invadiram o sul da França. Essas terras, livres
das obrigações feudais, podiam ser alienadas livremente, bem como transmitidas
hereditariamente. Apesar de tudo, o titular de um bem alodial podia ter
dificuldades. Como se tratava de uma anomalia no mundo feudal, nas regiões em
que o feudalismo havia deitado raízes mais profundas, como Poitou, Touraine,
Blésois e a região de Senlis, cabia ao proprietário provar – prova esta nem sempre
fácil – seu direito, e a natureza de seu bem, já que vigorava a máxima nulle terre
sans seigneur 40.
Contudo, restrita às doações a princípio, foi estendida por edito de Henrique II,
de maio de 1553, às vendas, permutas, cessões, rendas e outras obrigações que
ultrapassassem 50 libras. A extensão tornou-se, porém, letra morta por encontrar
viva resistência dos parlamentares. Foi somente durante o reinado de Luís XIV,
com edito publicado por este em dezembro de 1703, que seu uso se tornou
definitivamente obrigatório para todas as transmissões de imóveis59. Os registros
eram públicos e acessíveis a qualquer pessoa60.
Por isso, um edito de junho de 1771 substituiu essa modalidade pelas “Cartas
de Ratificação” (lettres de ratification). Tendo, no fundo, os mesmos efeitos dos
decretos voluntários, aliviavam sensivelmente as formalidades a realizar. Nesse
novo regime, bastava que o adquirente depositasse seu título no greffe do juízo da
situação dos bens. Um extrato ficava ali afixado por dois meses, como aviso para
os credores do vendedor. Os que não demonstrassem a existência de sua hipoteca
no prazo perderiam o direito; e os que demonstrassem, as teriam inscritas, por
ordem de data. Os greffiers tinham de fornecer certidões por extrato das oposições
apresentadas, ou certidões negativas de oposição. Após o prazo, as cartas de
ratificação seriam escritas pelo greffier, e remetidas à chancelaria do tribunal da
situação dos bens, contendo as oposições eventualmente levantadas. A partir
desse momento, o imóvel estaria livre de todas as hipotecas não opostas e
inscritas regularmente64. Sistema análogo já tinha existido em Veneza, na Idade
Média, e ficou conhecido como giudizio dele grida 65.
Pode-se ver, também, já nesta lei, um princípio que será incorporado no Code
Napoleon e leis posteriores, e marcará o Sistema Francês e todos os que dele
derivaram: o consensualismo. Uma vez que a prática das transmissões imobiliárias
envolvia uma tradição ficta do bem, substituída por cláusulas de desapossamento
ficto ou implícito, o dogma da potência criativa da vontade – em voga entre os
jusnaturalistas – conduziu à teorização da superfluidade da atribuição do direito
real depender de um ato externo, e, portanto, de se dar eficácia real ao consenso.
Os filósofos jusnaturalistas, em especial Hugo Grotius, Heineccius e Pufendorf,
criticavam a noção canonístico-feudal do jus ad rem – o direito à coisa – negando
que pudesse este ser um intermediário entre o crédito e a propriedade. De maneira
particular, se deve a Hugo Grotius a afirmação de que pelo Direito Natural o puro
consenso transmite a propriedade. Mesmo em seu tempo, contudo, isso não era
pacífico, e outros jusnaturalistas, como os jesuítas Luís de Molina e Pedro de
Oñate afirmavam que natural era precisamente a costumeira separação entre título
e modo. A despeito disso, quando o sentimento do leigo quanto à superfluidade do
modo de aquisição se juntou com uma sistematização teórica do tema, criara-se os
pressupostos para a positivação do novo princípio80.
A situação era tão grave que um banqueiro e político chamado Casimir Périer
ofereceu, em 1827, um prêmio de 3.000 francos ao autor de um relatório que
melhor indicasse os meios de melhoramento do sistema hipotecário francês,
sintetizados nas respostas a três questões: “1) Quais são os vícios e lacunas das
disposições legislativas e administrativas relativas à hipoteca? 2) Quais são os
obstáculos que afastam os capitais deste emprego? 3) Quais seriam as melhores
disposições a estabelecer para formar o mais completo projeto de lei, e, ao mesmo
tempo, mais harmônico com as necessidades do Fisco, dos credores e das
garantias exigíveis dos mutuários etc.?”91.
Cinco anos depois, em 07 de maio de 1841, uma circular enviada pela Corte de
Cassação às cortes de apelação e faculdades de direito pedia suas opiniões sobre
as condições gerais da revisão da legislação hipotecária. Os resultados foram
publicados em três volume de documentos, constituindo rica fonte de visões
teórica sobre o tema. À exceção das cortes de Bordeaux, Toulouse e metade dos
membros da de Rouen, que se manifestaram pela manutenção do sistema do
Code Napoleon, todas as demais cortes e faculdades reclamaram o retorno à
publicidade da Lei de 11 brumário do ano VII. As únicas divergências tratavam da
forma da publicidade, e sua extensão – por exemplo, a maior conveniência da
transcrição do contrato verbo ad verbum ou da inscrição analítica do seu conteúdo.
Seis cortes e três faculdades pediram a extensão da publicidade às transmissões
causa mortis, divisões e outros atos declaratórios. Ainda, a corte de Montpellier e
as faculdades de Caen e de Paris indicaram as vantagens de um sistema de base
real, combinado com a criação de um cadastro. Ainda assim, pretendiam manter
os efeitos jurídicos presentes na Lei de 11 brumário: ser a transcrição apenas um
meio de gerar oponibilidade a terceiros93.
Ainda, continua não havendo controle de validade dos atos registrados. Não
obstante as sucessivas reformas submeteram à transcrição certos fatos que antes
não eram registrados, como as aquisições causa mortis e as ações judiciais.
Ainda, impuseram uma coordenação do registro com o cadastro, estabeleceram
um detalhado arquivo imobiliário e adotaram uma espécie de continuidade, em
virtude da qual um certo do título não pode ser registrado se o título do alienante já
não houver sido104.
Por fim, o registro no Sistema Francês não gera qualquer tipo de presunção em
favor do titular registral de que o direito existe e lhe pertence, já que não há
controle de validade dos atos registrados. Ainda, não obstante o titular que tenha
registrado seu título esteja protegido contra aqueles que não registraram, não há
qualquer proteção contra a inexistência do direito de quem lhe transmitiu. Não há,
portanto, fé pública registral106.
A evolução dos livros de registro da cidade de Colônia e sua eficácia pode ser
dividida em algumas etapas, as quais são ilustrativas da evolução do próprio
Sistema Germânico122.
Os registros nos livros especiais passaram a ter eficácia igual à que tinha o
antigo testemunho judicial e seu título justificativo, e nisso consiste a fé pública do
Sistema Alemão: é a fé pública do livro de registro que protege os terceiros que
nele confiam. Com isso, o registro – a princípio meio de prova da transmissão do
direito – acabou por se tornar parte do suporte fático constitutivo da transmissão.
Assim, as transmissões bem como as instituições de gravames e ônus sobre
imóveis passaram a depender de um acordo declarado perante o tribunal, somado
ao seu registro no livro próprio123.
Em 1783, foi promulgada uma lei que ficou conhecida como a “Lei Hipotecária
Prussiana”, a qual muito mais do que tratar de hipotecas, determinava a instituição
e organização de ofícios de registro que recebessem inscrições de toda sorte de
direitos reais imobiliários. A finalidade principal expressa da organização deste
sistema seria facilitar os empréstimos com garantia imobiliária, mediante a
consolidação da propriedade, inspirando a confiança do público. A Lei tinha 457
artigos, divididos em quatro títulos. O Título I tratava da forma interna e externa
dos registros; o Título II tratava da administração pelos tribunais superiores de
todos os assuntos relacionados ao registro; o Título III tratava do procedimento a
ser seguido pelos tribunais inferiores, em matéria de registro; e o Título IV tratava
da criação de novos registros onde antes não houvesse, bem como da restauração
daqueles desaparecidos por algum incidente. Assim, instituía um verdadeiro
organismo destinado à publicidade imobiliária, e a gerar segurança para a
propriedade e o crédito. A lei já contemplava os princípios registrais da publicidade,
especialidade e legalidade, e a maior parte dos artigos da lei tratava de quais atos
jurídicos eram suscetíveis de inscrição, quais eram os requisitos formais dos
documentos apresentados, quais eram os procedimentos de registro para cada ato
etc. Estavam abrangidos pela necessidade de registro todos os atos inter vivos ou
mortis causa que constituíssem, alterassem ou extinguissem direitos reais sobre
imóveis, assim como os que pactuassem condições ou reservas em favor de uma
certa pessoa. Os atos deveriam ser instrumentalizados em forma autêntica; e,
mantendo-se a ideia da Auflassung, antes do registro deveria o tribunal analisar a
legalidade do seu conteúdo. Os efeitos da inscrição eram substantivos: aquele que
inscreveu seu título era tido como proprietário verdadeiro e exclusivo. Mas a
segurança completa e absoluta somente se atingia quando a aquisição havia se
dado em hasta pública (Afgebot), ou após a obtenção de uma sentença no juízo
conhecido como Präklusion 129.
Esta teoria, que vigorava na Alemanha até o século XIX, foi desenvolvida pelos
cultores do usus modernus pandectarum, em especial Apel, segundo a qual a
relação entre os planos obrigacional e real se coordenava pela conjugação entre
título e modo de aquisição. O titulus, ou título, negócio obrigacional, seria a justa
causa da transmissão, operada pelo modus, ou modo156.
Ainda segundo Savigny, deve-se ter em conta que o verdadeiro sentido da justa
causa da traditio não é aquele que ordinariamente se lhe atribui – a necessidade
de uma obrigação dirigida à realização da traditio, ou de ser a traditio a solução de
uma obrigação. O verdadeiro sentido da justa causa, segundo ele, é a intenção
com a qual alguém realiza uma traditio, que pode ser diferente quando se entrega
a coisa a alguém para transmiti-la, ou para alugá-la, ou para dá-la em garantia. Em
alguns casos, portanto, quer-se transferir a propriedade; em outros, não. Disso
decorre, por um lado, que a traditio transfere a propriedade pelo acordo unânime
das partes, e, por outro, que não transfere sem esse acordo161.
A inovação foi bem recebida por juristas como Jhering, Zittelmann, Von Tuhr,
Oertmann e outros, que a viam como um mecanismo a serviço da segurança da
propriedade e do tráfico dos bens163. Por outro lado, foi criticada por muitos
romanistas que, de maneira geral, viam a abstração como uma invenção, e não
como algo que, efetivamente, estava nas fontes romanas (que teriam permanecido
fiéis ao sistema de título e modo até o fim)164.
O adquirente fica protegido pela fé pública registral, desde que de boa-fé, e que
tenha adquirido o bem por negócio jurídico. Isso significa que o eventual vício no
título aquisitivo de quem lhe transmitiu seu direito, se era o titular registral, não lhe
atinge. Assim, pode-se dizer que a fé pública, quando opera, tem um efeito positivo
(de suprir a eventual falta de direito do alienante) e um negativo (de tornar
inexistente tudo aquilo que não conste do registro e possa limitar ou invalidar o
direito inscrito)168.
Teve-se, com isso, uma superação da regra de que ninguém transfere mais
direitos do que possui, e, por conseguinte, um efeito de natureza substancial: o
terceiro adquire a propriedade ainda que o alienante não a tivesse. Essa regra
vigora no Brasil desde, ao menos, o Código Civil de 1916 (artigo 622), mantendo-
se no Código Civil de 2002 (artigo 1.268). A transmissão da propriedade feita por
quem não é proprietário que aliena a coisa oferecendo-a ao público, em leilão ou
estabelecimento comercial, ao adquirente de boa-fé, é precisamente a
transposição à modernidade do princípio da segurança do tráfico das feiras
medievais alemãs.
No que diz respeito aos sistemas derivados do Sistema Germânico, uma breve
exposição deve ser feita quanto o Sistema Austríaco.
Essas tábuas eram destinadas, em princípio, aos bens nobres, fossem feudos,
sujeitos a fideicomisso ou mesmo alodiais. Para os demais bens foram criados,
posteriormente, outros livros de registro (Grundbücher), um destinado a imóveis
situados nas cidades da circunscrição, e outro destinado a imóveis rústicos
situados na circunscrição. Registros dessa natureza, por exemplo, existiam em
Praga desde o século XIV173.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII as tábuas fundiárias foram introduzidas nas
outras províncias então submetidas ao Sacro Império Romano Germânico, ou à
Monarquia Habsburgo174.
No final do século XVIII a organização dos livros foi reformulada pela Lei
Hipotecária de 1794, mas o cerne do sistema permaneceu intacto. Foi criado um
Livro Principal – Hauptbuch – no qual todos os imóveis deveriam ser registrados
em uma folha especial, destinada conter sinoticamente todas as notícias
relacionadas à propriedade ou a ônus sobre ele incidentes; e se tentou coordenar
este livro com o cadastro – o fólio de um determinado imóvel deveria estar
coordenado com sua inscrição cadastral. O Código Civil Austríaco de 1811, ainda
em vigor, também não trouxe qualquer mudança. Apenas estabeleceu a
necessidade do registro para a aquisição da propriedade e constituição de direitos
reis sobre imóveis, remetendo à legislação especial no que dizia respeito à
organização e funcionamento do registro175.
O sistema, então, foi integrado pela Lei Geral Austríaca de 1871, e regulamento
de 1872, a qual, por sua vez, após sucessivas reformas deu origem à
Grundbuchgesetz de 1955, ainda em vigor176. Em 1874 foi criado também um livro
para registro das hipotecas das estradas de ferro (Eisenbahnbuch), e em 1975
outro para registro de direitos minerários (Bergbuch)177.
Essa causalidade significa que a aquisição depende de um título, que pode ser
um contrato, uma disposição mortis causa, uma decisão judicial ou uma disposição
legal; e o modo, que é o registro, e o negócio jurídico real (Verfüngsgeschäft) ou de
disposição – no qual as partes, em cumprimento da obrigação, acordam sobre a
constituição, transferência, modificação ou extinção do direito real – que é
pressuposto da inscrição, e cuja validade depende da validade do título179.
Para Coviello, o “notatorio” tinha como função unicamente dar certeza à data
dos atos, e, portanto, não tinha semelhança com os modernos livros de registro.
Ainda, a apresentação do ato para registro não era obrigatória, mas facultativa,
gerando proteção ao apresentante em relação a certos prazos de prescrição, como
direitos de preferência oriundos da antiga copropriedade familiar201. No entanto,
esclarece Pugliatti que era função do notatorio, além de autenticar a data, também
salvaguardar a boa-fé nos contratos202.
Em 1757, Parma já não mais pertencia aos Estados Pontifícios, mas integrava
o Ducado de Parma. E por um decreto de 26 de agosto de 1757, acompanhado de
um edito de 17 de dezembro do mesmo ano, e confirmado por outro de 21 de
março de 1758, o Duque Felipe de Bourbon criou um rigoroso e sofisticado sistema
de publicidade imobiliária, constituído por arquivos especiais onde seriam mantidos
os registros públicos. Nesses arquivos seriam registrados os contratos, de maneira
que, com facilidade, se tivesse acesso aos dados do patrimônio alheio, de maneira
a evitar as fraudes217.
Esse novo ofício levava o nome de Ufficio dela R. Notulazione, e nele deveriam
ser registrados todos os atos inter vivos, ou testamentos, tanto notariais, quanto
particulares218.
Seu sucessor, o Papa Urbano VIII, modificou essa bula, estabelecendo que a
venda pública não poderia ser feita se o vínculo ou inalienabilidade houvesse sido
previamente registrada no ofício de registro pertinente. Estes registros eram
públicos, e qualquer um poderia solicitar cópias de seu conteúdo. Já em 1689 o
Papa Inocêncio XI outorgou uma constituição segundo a qual estes vínculos,
quando constituídos, deveriam ser comunicados por meio de afixação de editais
nas várias subsedes do ofício, a fim de que os eventuais interessados no bem
estivessem melhor informados sobre sua situação221.
Por fim, na Sicília, no começo do século XVII, foi introduzida uma modalidade
de venda chamada Vendita sub Verbo Regio, que, de maneira análoga à do
Giudizio delle Grida de Veneza, tinha por finalidade purgar imóveis cuja situação
jurídica abrangesse servidões, hipotecas ou outros direitos mal esclarecidos. O
antecedente desta medida foi a já mencionada bula do Papa Clemente VIII, de
1596.
A despeito disso, por vezes introduz exceções à regra de que ninguém pode
transferir mais direitos do que possui ao proteger um terceiro adquirente de boa-fé,
em face da eficácia retroativa da anulabilidade fundada em incapacidade legal do
alienante, ou da nulidade do ato pelo qual este adquiriu o imóvel. Isso ocorreria se
as ações judiciais que impugnavam o ato não houvessem sido levadas ao registro
antes da transcrição da aquisição pelo terceiro em questão, e desde que tenham
transcorrido já cinco anos da data do fato atacado226.
Este sistema é caracterizado pela organização com base real e não pessoal;
pelo princípio de inscrição, segundo o qual o registro é constitutivo para aquisições
inter vivos; pelo princípio da legalidade, ou seja, há rigoroso controle formal e, em
parte, substancial, da validade do título por um juiz tabular que determina o registro
ou sua denegação; pela fé pública registral, protegendo terceiros adquirentes de
boa-fé; e pelo princípio do antecessor tabular, pelo qual não é possível a inscrição
se essa não for justificada por um título em favor de quem a requisita emanado
daquele contra quem a inscrição é requerida, ou seja, do alienante em favor do
adquirente231.
Todavia, ao longo de quase toda sua existência o Reino Visigodo foi marcado
por instabilidade. Houve um período de estabilidade a partir do reinado de
Gundemaro, iniciado em 610, e o reino atingiu seu auge no reinado de
Chindasvinto (642 - 649). Neste período o rei dedicava-se a reorganizar o reino,
promulgar novas leis e preparar uma reestruturação do Direito Visigodo, que foi
concluída por seu filho, Recesvindo (649 - 672). O Reino Visigodo de Toledo
acabou em 711, após seu último rei, Rodrigo ser derrotado pelos muçulmanos que
então invadiam a Península235.
A traditio per chartam não se confunde com a traditio ficta do Direito Romano
Justinianeu238. O objeto não é o documento em si, mas a coisa cuja propriedade se
pretende transmitir. A despeito disso, a entrega do documento não é simbólica,
mas física, efetiva. Por isso, o instituto não se confunde com a traditio chartae, cujo
objeto é o próprio documento239.
Nas Ilhas Baleares, por uma Ordenação do ano 1413, criou-se um juízo
liberatório de cargas, que, assim como outros institutos, se assemelhava ao
Giudizio Delle Grida veneziano. Nas vendas, se o comprador quisesse ter
segurança de adquirir o imóvel livre de hipotecas, vínculos ou outras onerações,
assim como de obrigações, poderia obter a liberação destes mediante um
procedimento judicial de caráter intimatório. Para tanto, publicava-se um edital
convocando todos que pretendessem ter direitos sobre o imóvel a apresentá-los à
cúria durante um certo prazo, sob pena de caducidade251.
Fora relatado nessas Cortes que abusos vinham sendo cometidos por pessoas
que vendiam como livres bens que estavam gravados por hipotecas, censos,
vínculos e tributos, o que gerava muitos pleitos judiciais. Assim, para remediar
esses inconvenientes, se propôs a criação de um sistema de registros. Assim, em
cada cidade, vila ou sede de comarca deveria haver uma pessoa que mantivesse
um livro em que fossem registrados todos os contratos de censo, tributos e
hipotecas. Os contratos que não fossem registrados no prazo de seis dias não
fariam fé nem obrigariam coisa alguma. O registro em si não seria exibido a
ninguém; mas caberia ao registrador dar fé se havia ou não alguma oneração
dessa natureza sobre o bem253.
No entanto, a disposição não foi cumprida, situação que somente foi remediada
com a aprovação de um regulamento que criava Contadurías de Hipotecas, em
1768254. Antes disso, porém, a petição foi recordada nas Cortes de Valladolid em
1548 e 1555, nas quais se pediu, inclusive, que fosse sancionada criminalmente a
conduta de quem vendesse como livre coisa onerada. Ainda, uma Pragmática de
Felipe V, de 1713, já havia disposto sobre a organização destes registros, sem
êxito255.
A Real Pragmática de 1768, por fim, criou os Ofícios de Hipotecas,
denominados Contadurías de Hipotecas, com força de lei e valendo como lei geral
em toda a Espanha, com exceção de Navarra. Não obstante o sistema previsse
apenas o registro das onerações, e, portanto, não se tratasse de um registro geral,
na Catalunha o sistema foi estendido a todos os atos de alienação de imóveis256.
Assim, em 1861 foi promulgada uma Lei Hipotecária com inspirações ecléticas,
abrangendo tanto elementos originariamente espanhóis, como também aspectos
registrais do Sistema Germânico e do chamado Sistema “Romano”. Assim, a Lei
mantinha o costumeiro sistema de título e modo que sempre vigorou na Espanha,
e, tal como era nas Contadurías de Hipotecas, a escrituração se fazia por extrato,
mediante inscrição. Do Sistema Germânico foram importados os princípios da
publicidade, rogação, especialidade e trato sucessivo, bem como o fólio real, a
necessidade da qualificação registral, e, em embrião, a fé pública registral diferida
no tempo. No entanto, não se adotava o princípio de inscrição: o registro não era
constitutivo, mantendo-se o princípio do Direito Romano Justinianeu de aquisição
pela traditio 260.
Isso se manteve em Portugal até o século XIX, não apenas para a transmissão
da propriedade, como também para a constituição de garantias. O máximo de
publicidade que se concebia era a realização de uma solenidade perante
testemunhas.
Esse sistema sofria clara influência do Code Napoleon e dizia respeito, quanto
ao objeto, a embarcações matriculadas na circunscrição do respectivo julgado e a
prédios nele situados, e, quanto à matéria, apenas relativamente às suas
hipotecas, à sua litigiosidade por ação real ou penhora, ou então às suas doações
ou alienações, de qualquer natureza, com reserva de usufruto. Ainda, havia tantas
exceções, que o registro poderia ser considerado exclusivamente hipotecário; e os
registros conservavam seus efeitos por apenas dez anos, após, deveriam ser
renovados sob pena de caducidade. O sistema todo resultou em uma despesa
sem qualquer resultado útil277.
A nova lei hipotecária veio em 1863, impondo o registro como requisito absoluto
de eficácia. Sem a registração, os fatos sujeitos a registro não poderiam ser
invocados em juízo nem mesmo entre as próprias partes280. Aqui, tem-se uma
situação curiosa. A Lei não elevou o registro a modo de aquisição, nem o impôs
como necessário à constituição do direito real. Por isso, não se pode dizer que
tenha tornado a registração constitutiva em Portugal. Por outro lado, esse sistema
que impede as partes de invocarem seu direito não registrado até mesmo inter
partes não pode ser chamado declaratório. Tinha-se, assim, uma situação na qual
o direito real poderia ter surgido, o título não ter sido registrado, e, por nunca
precisar ser invocado em juízo, ter assim se mantido. Tratava-se de um direito,
contudo, esvaziado de eficácia281.
O Código Civil de 1867, conhecido como “Código Seabra”, pôs fim ao regime
“semiconstitutivo” de 1863, ao incorporar o consensualismo do Sistema Francês.
Assim, o registro passa a ser meramente declarativo e condição de oponibilidade
em relação a terceiros. Os sucessivos regulamentos de 1868, 1870, 1898, o
Código Do Registo Predial de 1922 e o Código de 31 de março de 1928
mantiveram o mesmo sistema. A reforma do Código do Registo Predial de 1959
manteve como regra o registro meramente declaratório, mas tornou constitutiva a
inscrição das hipotecas, as quais, antes da registração, não são eficazes nem
mesmo inter partes 283.
A partir do final do século IV d.C. o Império, já debilitado, começou a receber investidas de hordas
de bárbaros, impelidos pelos hunos. Estes, espalhando-se pela Europa central, forçavam os godos
contra as fronteiras, o que acabou até mesmo levando ao saque de Roma pelo visigodo Alarico.
Os visigodos, bem como outros povos bárbaros, traziam em seus espíritos um sentimento coletivo
de proteção do grupo e respeito às tradições. Entretanto, o contato com o que restara do Império
do Ocidente modificou sua cultura, em especial no concernente ao direito romano. Isso gerou as
leges barbarorum, as quais combinavam o direito consuetudinário dos povos bárbaros com
preceitos oriundos do direito romano. Cf. Luiz Carlos De Azevedo, Introdução à História do Direito,
1ª. Ed., São Paulo, RT, 2005, pp. 97-100.
2
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, p. 13.
3
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, p. 13.
4
Cf. Franz Wieacker, História do Direito Privado Moderno, 3ª Ed., Lisboa, Calouste, 2004, p. 15.
5
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 39-40.
6
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 59.
7
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 63-64.
8
Cf. Franz Wieacker, História do Direito Privado Moderno, 3ª Ed., Lisboa, Calouste, 2004, p. 40.
9
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, p. 61.
10
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 75; 81-82.
11
Cf. Franz Wieacker, História do Direito Privado Moderno, 3ª Ed., Lisboa, Calouste, 2004, p. 17.
12
Cf. Antonio Padoa Schioppa, História do direito na Europa da Idade Média à Idade
Contemporânea, 1ª Ed., São Paulo, Martins Fontes, 2004, pp. 126-127.
13
Cf. Franz Wieacker, História do Direito Privado Moderno, 3ª Ed., Lisboa, Calouste, 2004, pp. 79-80.
14
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, pp. 1-4.
15
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, p. 16.
16
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, pp. 193-196.
17
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, pp. 193-196.
18
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, pp. 197-198.
19
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, pp. 199-205.
20
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, p. 209.
21
Cf. Raymond Van Dam, Merovingian Gaul and the Frankish Conquests, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, p. 210.
22
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, p. 30.
23
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 45.
24
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 146.
25
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 48-50.
26
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, p. 45.
27
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 48-50.
28
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 51.
29
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, p. 48.
30
Cf. Paul Fouracre, Frankish Gaul to 814, in, The New Cambridge Medieval History, Vol. II, 1ª Ed,
Cambridge, Cambridge University Press, 2006, p. 106.
31
CF. Constance Brittain Bouchard, The Kingdom of the Franks to 1108, in, The New Cambridge
Medieval History, Vol. IV-II, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2006, p. 121-124.
32
Cf. Janet L. Nelson, Kingship and Royal Government, in, The New Cambridge Medieval History,
Vol. II, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2006, p. 389.
33
Cf. Hans-Werner Goetz, Social and Military Institutions, in, The New Cambridge Medieval History,
Vol. II, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2006, pp. 471-472.
34
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 52-53.
35
“Echevin” era o nome dado a um antigo magistrado municipal francês. Cf. Émile Littré, Dictionaire
de la langue française, Vol. II, Paris, Hachette, 1885, p. 1277. A palavra deriva de scabinus,
singular do plural scabini, de que já se tratou.
36
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 53-54.
37
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 147.
38
Para um bom resumo sobre o tema da Gewere, cf. José Carlos Moreira Alves, A “Gewere” – Um
Instituto do Antigo Direito Germânico, in, Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, (63) (1968).
39
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 147.
40
Cf. Henri Regnault, Manuel d`Histoire du Droit Français, 5ª Ed., Paris, Recueil Sirey, 1947, pp. 107-
108.
41
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 56.
42
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 55.
43
COVIELLO dá conta de que a expressão abrangia uma gama de formalidades com nomes
próprios em cada costume, como devesture e vesture, deshéritance e adhéritance, dessaisine e
saisine, werpissement, devestissement, inaeredatio, erfvenisse ende onderfvenisse, wert et
adhéritement, droiture, investiture, devoirs de loi, ouvres de loi, realisation etc. Cf. Nicola Coviello,
Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p. 43.
44
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 57-58.
45
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 151.
46
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 59.
47
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 60-61.
48
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 62.
49
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 151-152.
50
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 151-153.
51
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 63-65.
52
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 153.
53
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 63-65.
54
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 63-65.
55
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 66.
56
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 154.
57
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 67-69. Segundo o autor, a sobrevivência da
insinuação é atestada por Placentin, Durandi, Johanus Faber, Pierre de Belleperche, Guido Papa,
e por cartas de doação que chegaram até seu tempo, como uma doação da Condessa Beatriz ao
Conde de Toulouse, datada de 1172, que foi objeto de insinuação.
58
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 155.
59
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 67-69.
60
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 155.
61
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 70-71.
62
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 72-73.
63
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 74-75.
64
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 76-78.
65
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 156.
66
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 76-78.
67
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 79-82.
68
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 83-86.
69
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 83-86.
70
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 158.
71
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 83-86.
72
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 89-92.
73
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 158.
74
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 89-92.
75
Cf. Louis Gabriel Michaud, Biographie Universelle Ancienne et Moderne, Vol. XXI, 2ª Ed., Paris,
Madame C. Desplaces, 1854, p. 114.
76
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 159.
77
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 92-97.
78
O autor explica que quanto à disponibilidade das informações aos interessados e sua forma de
funcionamento há dois sistemas básicos e opostos: o primeiro, tradicional da Alemanha, chamado
de “publicidade real”, consiste na matrícula de cada imóvel em um registro feito a partir de um
cadastro das terras, de modo que todas as buscas se iniciam a partir do próprio imóvel. O segundo
sistema, da “publicidade pessoal”, agrupa os atos não em torno do imóvel, mas do nome de seu
proprietário. Na França optou-se pela publicidade pessoal. Há, em cada sede de comarca, um
bureau de conservação das hipotecas, gerenciado por um conservador. Este não é um magistrado,
mas um funcionário público. O legislador revolucionário optou por manter a tradição da publicidade
pessoal porque a prática – que exige profundo conhecimento dos arquivos para o exercício de
uma função delicada – demonstrou a competência dos administradores de registros, os quais
acabavam por diminuir os inconvenientes do sistema. Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et
la reforme hypothécaire – etude historique et critique sur la publicité dês transmissions
immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a nos jours, 1ª. ed., Paris, J.
Delamotte, 1891, pp. 161-162.
79
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 92-97.
80
Cf. Edoardo Ferrante, Consensualismo e trascrizione, 1ª Ed., Padua, CEDAM, 2008, pp. 19-22.
81
Para Troplong, o regime hipotecário será sempre a parte mais árdua do Código, por envolver
numerosos e graves interesses, pondo em conflito razões opostas, mas ao mesmo tempo dignas
de atenção. Segundo ele, quando a civilização leva a um povo um grande volume de transações e
negócios e a legislação é simples, com solenidades claras e dirigidas pela ideia de utilidade, e seu
rigor amenizado pela equidade, tem-se, na verdade, uma funesta e fecunda fonte de decepções.
Com esse espírito Napoleão teria proferido as seguintes palavras de advertência sobre a matéria
hipotecária no Código: “Depuis que j’entends deiscuter le code civil, je me suis souvent aperçu que
la trop grande simplicité dans la législation est l’ennemie de la proprieté. On ne peut rendre les lois
extrêmement simples, sans couper le nouer plutôt que de le délier, et sans livrer beaucoup de
choses à l’incertitude de l’arbitraire...que la loi soit moins simple, pourvu qu’elle soit conforme aux
principes de la justice civile”. Com efeito, para Troplong seria muito criticável a excessiva
simplicidade do regime hipotecário francês, principalmente no sistema de alienação dos direitos
reais, expondo a desastres adquirentes e credores. Assim, dois preconceitos deveriam ser
evitados: o desejo de simplicidade, incompatível com a matéria das hipotecas; e, o outro, aceitar
como único ponto de partida possível o estado de coisas sancionado pelo Code Napoleon. Quem
quisesse deixar ao legislador o livre emprego das formas, subjugando as transações civis a uma
simplicidade arbitrária, desconheceria por certo os progressos da ciência legislativa; e quem
quisesse remontar ao passado para ressuscitar as instituições do antigo direito hipotecário teria
perdido as lições da experiência. Cf. Raymond-Theodore Troplong, Le droit civil expliqué suivant
l’ordre des articles du code, depuis et y compris le titre de la vente: des priviléges et hypothèques,
ou, Commentaire du titre XVIII du livre III du Code Civil, Vol. I, 2ª Ed., Paris, Charles Hingray, 1835,
pp. II-V. Para BIANCHI, a grande maioria dos autores do Código pendia pelo retorno à
clandestinidade do direito romano. A publicidade era vista como um retorno à barbárie feudal,
como uma ultrapassada desconfiança da posse. Os que defendiam a publicidade, por outro lado,
apoiavam-se nos efeitos práticos do princípio, afirmando-o necessário à segura e proveitosa
alienação dos imóveis, bem como ao progresso da agricultura e solidez no emprego dos capitais.
Cf. Emilio Bianchi, Delle ipoteche, v. I, 2ª Ed., Turim, Utet, 1914, pp. 68-69.
82
Como já se viu, já na época das discussões sobre a Lei de 11 brumário do ano VIII, um princípio
crescente começava a dominar: os jusnaturalistas haviam combatido a tradição real, tendo mesmo
o próprio Pothier militado em favor da transmissão pelo mero consentimento. Por outro lado, a
regra já havia sido bastante modificada pela prática da tradição ficta. Assim, tudo leva a crer,
segundo RIVIÈRE e HUGUET que o princípio espiritualista do código já havia triunfado quando da
redação da Lei de 11 brumário. Nesta lei, por um lado, havia a transmissão do direito real entre as
partes pelo mero consenso; e, por outro, a necessidade de uma formalidade para sua
consolidação perante terceiros. Cf. Henry. F. Riviére – Auguste Huguet, Questions theoriques et
pratiques sur la transcription em matière hypothécaire dans l’ordre des articles de la loi du 23 mars
1855, 1ª ed., Paris, Marescq e Dujardin, 1856, pp. 10-11.
83
Segundo Troplong, a nova redação foi abandonada por influência de Tronchet, o qual dizia ser a
emenda “desastrosa”. Para Tronchet, a segurança dada pela Lei bastava: o interessado poderia
consultar os títulos, e a posse do vendedor. Não se poderia, a pretexto de dispensar esse exame,
comprometer a propriedade de um cidadão que se apoiava na segurança de um contrato
legalmente firmado. A Lei de brumário teria tido interesse puramente fiscal, não tendo apoio nos
princípios da matéria hipotecária. Cf. Raymond-Theodore Troplong, Le droit civil expliqué suivant
l’ordre des articles du code, depuis et y compris le titre de la vente: des priviléges et hypothèques,
ou, Commentaire du titre XVIII du livre III du Code Civil, Vol. I, 2ª Ed., Paris, Charles Hingray, 1835,
p. XXXVIII.
84
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 98-103.
85
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 159.
86
Cf. Edoardo Ferrante, Consensualismo e trascrizione, 1ª Ed., Padua, CEDAM, 2008, pp. 23-25.
87
Para TROPLONG, a luta acerca das reformas se definiria entre os defensores de inovações ao
que já havia no Code, como a ampliação do princípio da publicidade, e os defensores da
manutenção do status quo. Segundo ele, não se poderia levar em conta a “seita” que tinha a alta
pretensão de reformar a família, a propriedade, as sucessões e todas as demais relações da vida
social, capitaneada por Decourdemanche, para quem a hipoteca seria contrária aos princípios da
justiça por atentar contra o crédito público não levar em conta a boa-fé. Cf. Raymond-Theodore
Troplong, Le droit civil expliqué suivant l’ordre des articles du code, depuis et y compris le titre de la
vente: des priviléges et hypothèques, ou, Commentaire du titre XVIII du livre III du Code Civil, Vol.
I, 2ª Ed., Paris, Charles Hingray, 1835, pp. V-VIII. Interessante observar que no Brasil posição
semelhante à de Decourdemanche foi defendida por José de Alencar, como se verá.
89
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 108-109.
90
Cf. Henry F. Riviére – Auguste huguet, Questions theoriques et pratiques sur la transcription em
matière hypothécaire dans l’ordre des articles de la loi du 23 mars 1855, 1ª ed., Paris, Marescq e
Dujardin, 1856, p. 1.
91
Cf. Raymond-Theodore Troplong, Le droit civil expliqué suivant l’ordre des articles du code, depuis
et y compris le titre de la vente: des priviléges et hypothèques, ou, Commentaire du titre XVIII du
livre III du Code Civil, Vol. I, 2ª Ed., Paris, Charles Hingray, 1835, pp. XXVIII-XXIX.
92
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 110.
93
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 111-115.
94
Cf. France – Paris, 29 Juillet, in, Journal des Débats Politiques et Littéraires (29-30 de julho de
1845).
95
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 116.
96
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p. 122.
97
Essa também é a posição de TROPLONG. Segundo ele, a origem do sistema não está em teorias
imaginadas em escritórios e deduzidas dialeticamente, sem levar em conta o estado dos povos,
mas sim nos velhos costumes. Quando uma nação ainda está na época feudal, em que as ideias
abstratas de moral e equidade ainda não penetraram nos recônditos da sociedade, o legislador
tem de recorrer a formas palpáveis, que captem, pelo simbolismo, a atenção dos homens,
sinalizando sua importância. O direito, aí, é um drama, em que cada contrato se exterioriza por
gestos, emblemas, palavras sacramentais etc., como ocorria em inúmeras cerimônias da idade
média. Assim, não se poderia conceber em tal época a alienação de um direito pelo mero
consenso, sem recurso a um ato exterior, alegórico. Nessas antiguidades se originariam o
nantissement, o vest e devest etc. As formas teriam sido modificadas pelo progresso dos povos,
mas o senso permaneceria: a alienação de imóveis nunca poderia se dar prescindindo de uma
solenidade. Estes costumes, porém, teriam sido objeto de duras críticas do jurista Bigot de
Preaumeneu, o qual afirmava serem resultado da opressão dos senhores feudais, que buscavam o
entrave das alienações por meio de formalidades, a fim de que ninguém pudesse escapar de sua
fiscalização. TROPLONG rebate as críticas, afirmando que os costumes são independentes de
sua motivação, originando-se na intimidade dos anseios do homem da idade média. Cf. Raymond-
Theodore Troplong, Le droit civil expliqué suivant l’ordre des articles du code, depuis et y compris
le titre de la vente: des priviléges et hypothèques, ou, Commentaire du titre XVIII du livre III du
Code Civil, Vol. I, 2ª Ed., Paris, Charles Hingray, 1835, pp. XIX-XXII.
98
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 116-123.
99
Cf. Henri de Page, Traité Élémentaire de Droit Civil Belge, Vol. 07-1, Bruxelas, Émile Bruylant,
1943, pp. 843-852.
100
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 155.
101
Cf. Comission de Réforme de la Publicité Fonciére, Pour une modernisation de la publicite
fonciére, 2018, p. 7.
102
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 229-230.
105
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 234.
106
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 238-239.
107
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 248-249.
108
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXIII-LXV.
109
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 39.
110
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXIII-LXV.
111
Cf. Rudolph Sohm, Lex Ribuaria et Lex Francorum Chamavorum ex Monumentis Germaniae
Historicis Recusae, 1ª Ed., Hannover, Impensis Bibliopolii Hahniani, 1883, pp. 87-88.
112
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXIII-LXV.
113
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 40.
114
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 40.
115
Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme hypothécaire – etude historique et critique
sur la publicité dês transmissions immobilières em France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a
nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, pp. 248-249.
116
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 42.
117
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., p. 131.
118
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 47.
119
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 131-
132.
120
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 50-51.
121
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p. 58.
122
Sobre todas as etapas, cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica
y diferencias com el nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles
de España, 2012, pp. 48-50.
123
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., p. 132.
124
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 51.
125
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 132-
133. LUZZATI dá conta que a recepção do direito romano na Alemanha proporcionou estudos
importantes no direito público e privado, mas sem a paixão e o caráter revolucionário que obteve
em outras terras. Segundo o autor, tal ter-se-ia se dado por uma maior potência da organização
feudal, advinda da maior proximidade com seu centro de origem, ou da índole natural da mente
alemã em fazer críticas tenazes, lentas e seguras, não levando os juristas alemães a desprezar ou
odiar as instituições vigentes. Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-
pratico al titolo XXII, libro III del códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. CXXII.
Para BESSON, pelos esforços da igreja, imperadores e jurisconsultos, o direito romano fora
penetrando, no século XV, na prática dos tribunais. Era ensinado como lei viva, e do ponto de vista
de sua aplicação no cotidiano. Com isso, o Corpus Iuris Civilis substituia a autoridade dos
costumes locais. Estes, atacados pelos romanistas, foram perdendo o significado, e ao fim
sucumbiram. Assim, nos lugares que receberam esta influência – cujo exemplo maior é a Prússia –
a transmissão dos bens imóveis se daria pela tradição, real ou ficta, sem investidura ou inscrição.
O único efeito das inscrições era gerar presunção de anterioridade em relação às aquisições não
inscritas, nada agregando em sua eficácia. Cf. Emmanuel Besson, Lês livres fonciers et la reforme
hypothécaire – etude historique et critique sur la publicité dês transmissions immobilières em
France et a l’etranger depuis lês origines jusqu’a nos jours, 1ª. ed., Paris, J. Delamotte, 1891, p.
252.
126
Cf Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. CXXI.
127
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 234.
128
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, pp. 236-
237.
129
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 68-73.
130
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 240.
131
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 75-77.
132
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 77-78.
133
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 78.
134
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 78.
135
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 197.
136
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 78.
137
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 198.
138
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 78-80.
139
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 78-80.
140
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 243.
141
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 132-
134.
142
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, pp. 200-201.
143
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., p. 134.
144
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, pp. 200-201.
145
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., p. 134.
146
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 135-
187.
147
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 135-
139.
148
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 139-
142.
149
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 142-
150.
150
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 150-
183.
151
Cf. Martin Wolff, Tratado de Derecho Civil, T. III, Vol. I, 32ª. Ed., Barcelona, Bosch, s.d., pp. 184-
250.
152
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 183.
153
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 185.
154
Cf. Philipp Nicolai Heck, El Negocio Juridico Real Abstracto, in Revista Critica de Derecho
Inmobiliario (Separata) (1965).
155
Cf. Sebastian Martens, Introduction before Art 18:201, in, Commentaries on European Contract
Laws, 1ª Ed., Londres, Oxford University Press, 2018, p. 1975.
156
Cf. Astrid Stadler, Gestaltungsfreiheit und Verkehrsschutz durch Abstraktion, 1ª Ed., Tübingen, J.
C. B. Mohr, 1996, p. 49.
157
Cf. Astrid Stadler, Gestaltungsfreiheit und Verkehrsschutz durch Abstraktion, 1ª Ed., Tübingen, J.
C. B. Mohr, 1996, p. 48.
158
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
pp. 108-109.
159
Cf. Astrid Stadler, Gestaltungsfreiheit und Verkehrsschutz durch Abstraktion, 1ª Ed., Tübingen, J.
C. B. Mohr, 1996, p. 49.
160
Cf. Friedrich Carl Von Savigny, System des heutigen Römischen Rechts, Vol. III, 1ª Ed., Berlim,
Veit und Comp, 1840, pp. 312-316.
161
Cf. Friedrich Carl Von Savigny, Das Obligationenrecht als theil des heutigen Römischen Rechts,
Vol. II, 1ª Ed., Berlim, Veit und Comp, 1853, pp. 256-257.
162
Cf. Philipp Nicolai Heck, El Negocio Juridico Real Abstracto, in, Revista Critica de Derecho
Inmobiliario (Separata) (1965).
164
Para um resumo das críticas formuladas pelos romanistas, cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación
del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de
Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012, pp. 149-193.
165
Cf. Justus Wilhelm Hedemann, Derechos Reales, Vol. II, 1ª Ed., Madri, Editorial Revista de
Derecho Privado, 1955, pp. 118-116.
166
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 190.
167
Cf. Justus Wilhelm Hedemann, Derechos Reales, Vol. II, 1ª Ed., Madri, Editorial Revista de
Derecho Privado, 1955, p. 127.
168
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 191.
169
Cf. Justus Wilhelm Hedemann, Derechos Reales, Vol. II, 1ª Ed., Madri, Editorial Revista de
Derecho Privado, 1955, p. 183.
170
Cf. Vincent Nossek, Das Konzept “Grundbuch”, 1ª Ed., Tübingen, Mohr Siebeck, 2019, p. 11.
171
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 192.
172
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 164.
173
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 192.
174
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 193.
175
Cf. Orlando Tiraboschi, Catasto e Trascrizione, 1ª Ed., Roma, Stamperia Reale, 1894, p. 193.
176
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 200.
177
Cf. Franz Gschnitzer, Österreichisches Sachenrecht, 2ª Ed., Viena, Springer, 1985, pp. 33-34.
178
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 165.
179
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 201-203.
180
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 205-206.
181
Cf. Franz Gschnitzer, Österreichisches Sachenrecht, 2ª Ed., Viena, Springer, 1985, p. 28.
182
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXI-LXII.
183
Cf. Steven C. Fanning, Lombards, Kingdom of, in, Dictionary of the Middle Ages, Vol. 7, 1ª Ed.,
Nova Iorque, Charle`s Scribner Sons, 1986, pp. 654-657.
184
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXI-LXII.
185
Cf. Katherine Fischer Drew, Ostrogoths, in, Dictionary of the Middle Ages, Vol. 7, 1ª Ed., Nova
Iorque, Charle`s Scribner Sons, 1986, pp. 289-293.
186
Cf. John Moorhead, Ostrogothic Italy and the Lombard Invasions, in, The New Cambridge Medieval
History, Vol. I, 1ª Ed, Cambridge, Cambridge University Press, 2005, p. 145.
187
Cf. Katherine Fischer Drew, Ostrogoths, in, Dictionary of the Middle Ages, Vol. 7, 1ª Ed., Nova
Iorque, Charle`s Scribner Sons, 1986, pp. 289-293.
188
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXI-LXII.
189
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXI-LXII.
190
Cf., e.g., Federigo Sclopis, Storia della legislazione italiana, v. I; F. SCHUPFER, Delle istituzioni
politiche dei Longobardi, Florença, 1863.
191
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
codice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXIII.
192
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 145.
193
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXV-LXVI.
194
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXI-LXX.
195
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 122-123.
196
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 123-124.
197
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, p. 36.
198
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXXII-LXXVI.
199
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 37-38.
200
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 125.
201
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 37-38.
202
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 125.
203
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 127.
204
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 126.
205
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 38-39.
206
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 126.
207
Cf. Ippolito Israele Luzzati, Della Trascrizione – Commento teorico-pratico al titolo XXII, libro III del
códice civile italiano, vol. I, 4ª. ed., Turim, Utet, 1905, p. LXXX.
208
Cf. Nicola Coviello, Della Trascrizione, Vol. I, 2ª. Ed., Turim, Utet, 1924, pp. 38-39.
209
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 126.
210
Cf. Giovanni Villani, Matteo Villani, Filippo Villani, Croniche, Vol. II, Trieste, Sezione Letterario-
Artistica del Lloyd Austriaco, 1858, pp. 181-182.
211
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 127.
212
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 127.
213
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 134.
214
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 134.
215
Cf. Ercole Franco, La Dote Romana Negli Statuti di Parma, in, Archivio Storico per Le Provincie
Parmensi, (7) (1907), pp. 90-91.
216
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 134.
217
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 135.
218
Cf. Ercole Franco, La Dote Romana Negli Statuti di Parma, in, Archivio Storico per Le Provincie
Parmensi, (7) (1907), p. 91.
219
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 135.
220
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, pp. 135 e 140.
221
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 136.
222
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 141.
223
Cf. Salvatore Pugliatti, La Trascrizione, Vol. I, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 1957, p. 142.
224
Cf. Vincenzo Roppo, Diritto Privato, 3ª Ed., Turim, Giappichelli, 2013, pp. 251-252.
225
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 250.
226
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 252.
227
Cf. Vincenzo Roppo, Diritto Privato, 3ª Ed., Turim, Giappichelli, 2013, pp. 254.
228
Cf. Vincenzo Roppo, Diritto Privato, 3ª Ed., Turim, Giappichelli, 2013, pp. 256-257.
229
Cf. Michele Cuccaro, Lineamenti di diritto tavolare, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 2010, p. 4.
230
Cf. Michele Cuccaro, Lineamenti di diritto tavolare, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 2010, p. 5.
231
Cf. Michele Cuccaro, Lineamenti di diritto tavolare, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 2010, pp. 1-2.
232
Cf. Michele Cuccaro, Lineamenti di diritto tavolare, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 2010, pp. 70-71.
233
Cf. Michele Cuccaro, Lineamenti di diritto tavolare, 1ª Ed., Milão, Giuffrè, 2010, p. 89.
234
Cf. Bruno Aguilera Bachet, Historya y Derecho – Manual de iniciación, Vol. I, 1ª Ed., Barcelona, C.
Moreno y J. Serra, 1994, p. 181.
235
Cf. Bruno Aguilera Bachet, Historya y Derecho – Manual de iniciación, Vol. I, 1ª Ed., Barcelona, C.
Moreno y J. Serra, 1994, p. 264-269.
236
Cf. Estevam Lo Ré Pousada, Preservação da Tradição Jurídica Luso-Brasileira: Teixeira de Freitas
e a Introdução à Consolidação das Leis Civis, Dissertação de Mestrado, São Paulo, USP, 2006, pp.
198-202.
237
Cf. Lino Rodríguez Otero, La gestación del sistema registral alemán: Crítica y diferencias com el
nuestro, 1ª Ed., Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2012,
p. 41.
239
Cf. Paulo Merêa, A Traditio Cartae e os documentos medievais portugueses, in, Estudos de Direito
Hispânico Medieval, Vol. II, 1ª Ed., Coimbra, Universidade de Coimbra, 1953, p. 116.
240
Cf. Paulo Merêa, A Traditio Cartae e os documentos medievais portugueses, in, Estudos de Direito
Hispânico Medieval, Vol. II, 1ª Ed., Coimbra, Universidade de Coimbra, 1953, p. 122.
241
Cf. Paulo Merêa, A Traditio Cartae e os documentos medievais portugueses, in, Estudos de Direito
Hispânico Medieval, Vol. II, 1ª Ed., Coimbra, Universidade de Coimbra, 1953, pp. 123-124.
242
José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral,
2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 37.
243
José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral,
2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 37.
244
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 46-
47.
245
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 46-
47.
246
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 46-
47.
247
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 46-
47.
248
José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral,
2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 37.
249
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 47-
48.
250
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 48.
251
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 49.
252
José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral,
2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 38.
253
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 51.
254
José Luís Lacruz Berdejo – Francisco de Assis Sancho Rebullida, Derecho Inmobiliario Registral,
2ª. Ed., Madrid, Bosch, 1984, p. 38.
255
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 51.
256
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 52.
257
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, p. 53.
258
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 54-
55.
259
Cf. Ramón Maria Roca Sastre, Derecho Hipotecario, Vol. I, 6ª Ed., Barcelona, Bosch, 1968, pp. 58-
59.
260
Cf. Juan Carlos Monterde García, Génesis de la Ley Hipotecaria de 8 de Febrero de 1861, 1ª Ed.,
Madri, Colegio de Registradores de la Propiedad y Mercantiles de España, 2008, pp. 279-281.
261
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 296-297.
262
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 301-302.
263
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 303.
264
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 308-311.
265
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, pp. 17-18.
266
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, p. 18.
267
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, p. 19.
268
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, p. 25.
269
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, pp. 20-29.
270
Cf. Bernardo Vasconcelos e Sousa, I PARTE – IDADE MÉDIA (SÉCULOS XI – XV), in, História de
Portugal, 7ª Ed., Lisboa, A esfera dos livros, 2012, pp. 38-42.
271
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 330.
275
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 147.
276
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 147.
277
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 331.
278
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 332.
279
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 333.
280
Cf. Carlos Ferreira de Almeida, Publicidade e Teoria dos Registos, 1ª Ed., Coimbra, Almedina,
1966, p. 150.
281
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 336.
282
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 340.
283
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 150.
284
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 349.
285
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 405.
286
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, pp. 414-415.
CAPÍTULO 4. HISTÓRIA DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA NO BRASIL
CAPÍTULO 4. HISTÓRIA DA PUBLICIDADE IMOBILIÁRIA NO BRASIL
O critério proposto para a construção das linhas históricas de análise baseia-se na tradicional divisão do direito
imobiliário alemão em “direito formal do registro” e “direito material do registro”.
Com efeito, aquilo que se entende por Direito Registral Imobiliário abrange normas de mais de uma natureza. Há
normas de direito civil e outras procedimentais, ou administrativas, todas elas teleologicamente reunidas em um mesmo
conjunto.
No entanto, por suas diferenças essenciais, não podem ser incluídas em uma mesma linha de desenvolvimento, sob
pena de se sacrificar, de um lado ou de outro, contribuições importantes para a história da publicidade imobiliária no
Brasil.
Desse modo, a exposição será feita de maneira a distinguir, de um lado, o procedimento, assim como os vários
sistemas construídos para a registração, e, de outro, os efeitos do registro, que dizem respeito à matéria substantiva.
4.2. Um não antecedente da publicidade imobiliária no Brasil Independente: o Registro das Terras Possuídas ou
“Registro do Vigário”
Pronunciando-se sobre o tema do “Registro do Vigário”, o agrarista Linhares de Lacerda1 leciona que a expressão é
destinada a uma modalidade de registro criada pela Lei de Terras – Lei 601, de 1850 –, segundo a qual todo possuidor
ficava sujeito a declarar sua posse perante cada freguesia do Império.
“Registro do Vigário” é denominação popular e algo sarcástica. Tecnicamente, trata-se do Registro das Terras
Possuídas, tal como é chamado pelo Regulamento da Lei 601.
O Regulamento da lei, Decreto 1.318, de 1854, fixou prazos para referidas declarações, determinando aos vigários
das paróquias que se encarregassem de tomá-las, e, a partir delas, lavrassem registros. Os prazos iniciavam-se e
encerravam-se em datas diferentes conforme a província do Império, pois quem fixava os termos iniciais eram os
presidentes de cada uma delas. Assim, havia prazos sucessivos para a prestação das declarações, a saber, dois anos
da data inicial, três anos da data inicial, ou três anos e seis meses da data inicial. Se perdido o prazo de um ano pagava-
se multa; se perdido o de três anos, a multa era duplicada; e, se perdido o prazo de três anos e seis meses, a multa era
quadruplicada.
As declarações seriam prestadas pelos possuidores ou pessoas em seu nome, ou, em sendo incapazes, por seus
representantes legais.
Deveriam essas declarações conter o nome do possuidor, a freguesia de localização das terras, a extensão da posse
e o nome e os limites do imóvel. A declaração deveria ser feita em duas vias, uma das quais ficaria arquivada com o
registro, e outra seria devolvida ao possuidor anotada com o número de livro e folha em que fora registrado.
A realização desses registros incumbia aos vigários das paróquias. Uma vez que a religião católica era a oficial do
Estado, os sacerdotes eram intimamente relacionados com o governo, razão por que receberam esta atribuição.
O registro era realizado uma só vez, não havia previsão de cancelamentos ou averbações, nem de transmissões ou
onerações. Não se esperava qualquer dinamismo a partir da declaração. Uma vez preenchidos os livros, estes eram
encerrados e remetidos para a formação do registro geral das terras possuídas2.
O Registro do Vigário não tinha valor como título de domínio, apenas consignando as declarações de posse. Por
isso, nada valia como documento de domínio. Acolhia declarações de proprietários, mas também as prestadas por
posseiros. Portanto, não se pode em nenhuma hipótese afirmar que acrescenta qualquer valor ao domínio, ou que o
prova. Contudo, por vezes se faz confusão a esse respeito, dando-se a entender que o registro prova uma posse
legítima, lastreada na propriedade, o que não é verdade.
Antes de mais nada, é importante que se diga: o Registro do Vigário nada tem que ver com o Registro de Imóveis.
Seu conteúdo não diz nada sobre a situação jurídica dos imóveis, nem mesmo no precário nível da posse. Na verdade, o
seu objeto não é a posse, mas sim declarações acerca da posse.
Ainda, não há na lei ou no decreto qualquer previsão no sentido de que caberia ao vigário fornecer algum tipo de
certidão quanto ao conteúdo dos livros, ou mesmo de que devesse franquear os livros à consulta pública. O vigário age,
em relação a esses livros, tão somente como um coletor de informações para o governo.
Ao desenvolver seu trabalho, praticava um levantamento, destinado tão somente a fornecer informações ao Poder
Público; não havia a preocupação com se proporcionar um meio de, por si, gerar publicidade a negócios jurídicos
praticados entre particulares, ou tornar os negócios mais seguros. Não tinha qualquer relação com o direito privado, nem
gerava quaisquer efeitos nessa seara.
Observe-se que mesmo os procedimentos de legitimação previstos na Lei 601 não estão condicionados ao registro
da declaração de posse, nem são por elas afetados. Não se concede nenhum tipo de preferência a quem declarou sua
posse.
Como já relatava Teixeira de Freitas, o conteúdo consistia em mera descrição estatística, não demonstrando títulos
legítimos ou encargos incidentes sobre os bens3.
Por isso, realizar a declaração não é um ônus, mas um dever jurídico: o possuidor declara para não pagar as multas
previstas no artigo 95 do Regulamento, e não para obter alguma modificação benéfica em sua situação jurídica de
possuidor.
Dessa maneira, é duvidoso até mesmo se é possível falar aqui em publicidade imobiliária de fato, não obstante após
a passagem do tempo estes livros tenham sido disponibilizados aos interessados em arquivos públicos.
Mesmo como prova de posse, o conteúdo desses livros não é nem mesmo um meio privilegiado: seu valor é o
mesmo de um testemunho interessado, já que a declaração foi feita pelo suposto possuidor.
Em 1975, o Supremo Tribunal Federal enfrentou a questão dos efeitos do registro das terras possuídas, no Recurso
Extraordinário 80.416, de Goiás, em sede de ação demarcatória. Em primeiro grau o processo havia sido extinto sem
julgamento de mérito, por carência de ação, e, em segundo grau, o pedido fora julgado improcedente. O fundamento era
o mesmo, contudo: a ausência de prova da propriedade, já que os títulos apresentados consistiam tão somente em
declarações lançadas no “Registro do Vigário”. Em seu voto, o relator, Ministro Cunha Peixoto afirmou que este registro
não tinha finalidades puramente estatísticas, mas sim um papel de “consolidação das posses que, bem ou mal, foram
tomadas em terras às províncias”. Com isso, encaminhava o recorrente à via da usucapião – admitida pelo STF
iterativamente para as posses de mais de quarenta anos anteriores ao Código Civil de 1916 – servindo seus
documentos não como títulos, nem como prova da propriedade, mas como meio de prova de posse. Com isso, o recurso
nem mesmo foi conhecido, por unanimidade.
Assim, quando muito, pode-se admitir que o vigário exercia uma atividade semelhante à notarial4, autenticando o
recebimento de uma declaração. Tratava-se de um simulacro imperfeito, contudo, dado que não tinha o vigário fé
pública.
Em suma o “Registro do Vigário” não deve ser considerado um antepassado nem mesmo remoto do registro de
imóveis brasileiro, nem como um antecedente da publicidade imobiliária. As solenidades medievais de traditio simbólicas
perante testemunhas estão mais próximas da publicidade imobiliária e do registro de imóveis do que esta instituição.
4.3.1. Período anterior à Lei Orçamentária de 1843, regulamentada pelo Decreto 482, de 1846
Até 1846 não havia no Brasil qualquer meio de publicidade imobiliária que produzisse efeitos jurídicos, quer quanto à
constituição dos direitos reais e transmissão da propriedade, quer quanto a seus efeitos em relação a terceiros.
Com efeito, no direito anterior à codificação civil, materializado nas Ordenações Filipinas e na legislação
extravagante, o domínio se transmitia com a tradição do bem. Isto é reproduzido no artigo 908 da Consolidação das Leis
Civis5: Art. 908 – Para aquisição do domínio não basta simplesmente o titulo, mas deve acceder a tradição; e sem esta
só se tem direito a acções pessoaes.
Assim, o Brasil mantinha-se fiel à doutrina do titulus e modus da Escola do Usus Modernus Pandectarum, pela qual a
traditio era necessária para que o adquirente se tornasse titular das ações reais, e, por conseguinte, dos direitos reais
em si mesmos. Diante das próprias limitações do instituto e do princípio enunciado por Ulpiano (Digesto 50.14.54) de
que ninguém transfere mais direitos do que possui – Nemo plus iuris ad alium transfere potest, quam ipse haberet – a
traditio feita pelo verdadeiro titular transmitia o domínio; já a realizada a non domino apenas servia como justo título para
a usucapião.
Nisso mantinha-se o costume peninsular, já que, como já se viu, a tradição – à moda visigótica, ou à moda romana –
era o meio de aquisição da propriedade na Península Ibérica desde a Alta Idade Média.
Pela tradição, o titular do domínio de um bem o transferia a alguém, renunciando a toda posse sobre a coisa. Recaía
o direito, portanto, sempre sobre coisas corpóreas, e tratando-se de tradição de direitos – e não de coisas – adotava-se
o termo “quase tradição”. Para Trigo de Loureiro, que demonstrava simpatia pela doutrina jusnaturalista do
consensualismo, se tratada racionalmente a questão da transmissão do domínio, dever-se-ia reconhecer que basta à
transferência uma palavra das partes, ou mesmo nem isso: bastaria qualquer outro ato externo que significasse esta
vontade de transferir por parte de seu titular. Porém, na experiência do Direito Romano sempre se exigiu, para a
transmissão, algum ato externo, e no Direito Romano Justinianeu, em especial, um ato material de tradição. Assim, este
ato externo mostrava-se como uma necessidade inafastável, que deveria acompanhava o justo título. Por conta da
influência romana, o mesmo teria ocorrido no Direito Português, e, por conseguinte, no Direito Brasileiro, tal como consta
do Título 7 do Livro 4 das Ordenações Filipinas e do Alvará de 4 de setembro de 18106.
O Título 7 do Livro 4 das Ordenações, seguindo disposições semelhantes que já constavam das ordenações
anteriores, trata do clássico problema em matéria de transmissão da propriedade consistente na venda do mesmo bem a
duas pessoas diferentes – ou “desvairadas pessoas”, na dicção das Ordenações. Estabelece o Título 7 que se o
proprietário de alguma coisa de qualquer natureza – as Ordenações não distinguem móveis e imóveis – a vender a
pessoas diferentes, adquirirá a propriedade aquela que, em primeiro lugar, “houver a entrega della”, ou seja, recebê-la
pela tradição, desde que tenha pago o valor do preço. Ainda, se o proprietário vendesse a coisa a alguém, recebesse o
preço, mas não a entregasse, e a vendesse posteriormente a outra pessoa, recebesse o preço, e a entregasse, caberia
ao primeiro comprador tão somente demandar do vendedor a restituição do preço e “seu interesse” (a saber, os juros),
ou seja, teria meramente direito pessoal. Não tem, contudo, qualquer direito sobre a coisa propriamente dita. Tem-se, aí,
a separação relativa entre os planos obrigacional e real. A venda é válida e obriga o vendedor; mas, por si só, não
produz efeitos reais, que depende do modo de aquisição.
O Alvará de 04 de setembro de 1810 reforçou a separação entre os dois planos ao revogar uma regra contida no
título 5, § 2º, do Livro 4. Este parágrafo tratava das vendas a prazo, em que a tradição da coisa já fora feita mesmo antes
do pagamento do preço. Segundo a regra então vigente, havendo o inadimplemento, poderia o vendedor cobrar o preço
ou reclamar a coisa do comprador ou de qualquer outra pessoa em cujo poder se achasse. O Alvará revogou a regra,
determinando que, em caso de venda a prazo – e na qual somente se tenha pactuado a concessão do prazo, e não uma
condição, por exemplo – somente restassem ao vendedor ações pessoais para exigir o pagamento do preço. Nesse
sentido, o Alvará distinguia as ações ex empto e ex vendito da ação reivindicatória, sendo as primeiras pessoais, e a
última real. Ficava, assim, ainda mais claro o papel da tradição como modo de aquisição.
Coelho da Rocha dá conta de que a posse e a propriedade das coisas eram transmitidas por meio de fatos materiais
de apreensão, por meio dos quais compreendia-se que o adquirente se tornara legitimado a dispor daquilo que recebeu.
Esta apreensão não necessariamente se revelava em um ato físico, e poderia se dar por mais de um meio, por exemplo,
naturaliter, ou seja, pela entrega efetiva, a qual, em se tratando de bens imóveis, se representava pelo cultivo, pela
demarcação, ou ainda pela ocupação da área, mediante entrada em seu recinto com a intenção de tomar posse;
symbolice, ou seja, pela entrega de chaves pelo alienante e sua aceitação pelo adquirente; longa manu, ou seja, pela
exibição da coisa pelo alienante com a intenção de transmitir, e a visão dela pelo adquirente, com a intenção de receber;
brevi manu, na situação em que o antigo possuidor declarava ao novo possuidor – que já tinha a coisa sob seu poder –
que lhe transmitia a posse; e, finalmente, ficta, situação em que o possuidor antigo – que ainda tinha a coisa sob seu
poder material, mas que agora o fazia em nome do novo titular – declarava que transmitia ao adquirente a coisa. Esta
declaração poderia ser expressa, como no constituto possessório – também conhecido como cláusula constituti –, ou
poderia até mesmo ser presumida, nas situações em que o antigo titular passava a ser arrendatário da coisa7. Assim, o
domínio se transmitia independentemente da entrega real da coisa quando a alienação era contratada por instrumento
público (ou nas hipóteses em que a lei admitia o instrumento particular) e o alienante fazia consignar que renunciava e
transmitia ao adquirente o domínio e a posse que sobre a coisa tinha8.
Tenha-se em mente, contudo, que a tradição ficta e a simbólica não deixavam de ser tradição, razão por que não se
podia afirmar que no Brasil, em qualquer época, o mero contrato tenha tido força translativa de direitos reais.
A aquisição da propriedade se dava pela conjugação de título e modo de aquisição, e isto se manteve ao longo de
toda a história do Direito Brasileiro.
Contudo, em grande parte do país a maneira mais comum de detenção da terra era a mera posse, sem propriedade.
Afrânio de Carvalho9, contextualizando a história da publicidade imobiliária no Brasil, afirma que o nascimento do registro
de imóveis no país dependia de que o seu território estivesse povoado de forma tão intensa que se tornasse necessário
o conhecimento da extensão e da titularidade de cada gleba de terra, a fim de se proteger a propriedade e o crédito
oriundo de um bem que, em si, representava valor de mercado. Por isso, por longa data predominou no país a mera
posse da terra. Esta foi legitimada oficialmente pela Lei 601, de 1850, e seu Regulamento 1.318, de 1854, mas toda a
documentação resultante desta tentativa de regularização era extremamente desordenada. Isto tornava complexa e
insegura a atividade de se buscar a titularidade verdadeira de um dado imóvel, que dependia de um levantamento da
cadeia filiatória do imóvel mediante o encadeamento dos proprietários, título a título. O problema era agravado pela
dispersão e falta de centralização dos dados sobre cada imóvel, e pela existência de hipotecas ocultas e gerais,
abrangendo bens presentes e futuros de certas pessoas arroladas pela lei.
Se a traditio tinha a aptidão de transmitir a propriedade somente se o alienante fosse o proprietário do bem,
adquiriam máxima importância os demais modos de aquisição da propriedade, já que, em algum momento do passado,
deveria ter ocorrido alguma aquisição originária que tivesse dado início a uma cadeia filiatória legítima. Até a Lei de
Terras de 1850, o meio legítimo de aquisição originária da propriedade por um particular era a obtenção de uma
concessão de terras feita pela Coroa pelo instituto da sesmaria, o qual atribuía domínio pleno ao concessionário após o
preenchimento de algumas condições. A Lei de Terras de 1850 autorizou a revalidação da concessão de sesmarias que
não houvessem preenchidos certos requisitos exigidos pela legislação anterior para a aquisição plena da propriedade, e
a legitimação de posses mansas e pacíficas, mediante a realização de um procedimento de medição e demarcação10.
Assim, a aquisição da propriedade acabava por depender não apenas do titulus e do modus, como também da
legitimidade do alienante para alienar, o que pressupunha que ele, ou aquele de quem havia adquirido a propriedade do
bem, ou ainda algum anterior titular, o tivesse recebido em sesmaria, o tivesse adquirido por ocupação11 antes da Lei de
Terras de 1850, ou por usucapião quando tal era cabível12, ou, após a Lei de Terras, o tivesse comprado do Estado.
4.3.2. O período compreendido entre a Lei Orçamentária 317, de 1843, regulamentada pelo Decreto 482, de
1846, e a Lei 1.237 de 1864 e o regulamento do Decreto 3.453, de 1865
Assim como em Portugal e na Espanha, a publicidade imobiliária, no Brasil, não teve o início de seu desenvolvimento
baseado na publicidade da propriedade em si, mas sim na da hipoteca. A hipoteca foi o grande instituto do direito civil
oitocentista, marcadamente pelas necessidades de garantia da circulação do crédito. Até a edição da Lei 1.237, de
1864, as transmissões de direitos reais sobre imóveis continuaram a ser feitas pelo contrato seguido de tradição, sem
qualquer publicidade.
Era o propósito do registro tornar público o estado da fortuna dos cidadãos quanto à situação jurídica de seus bens
imóveis, de maneira a reprimir fraudes que poderiam afligir terceiros e prestigiar a boa-fé. Com isso, pretendia-se criar
mecanismos mais eficazes de satisfação dos credores, por meio da obtenção, na excussão do bem, do valor que lhes
era devido. Estas melhorias dependiam da existência de um bom sistema hipotecário, instituição que já vinha sendo
criada, nesta altura, em muitos países europeus. Sem o arranjo jurídico e institucional que representa um sistema
hipotecário – isto é, a conjugação de regras claras e meios eficientes e seguros de publicidade – as hipotecas não
seriam eficazes nem poderiam gerar efeitos contra terceiros13.
Entretanto, se, por um lado, se pode dizer que havia no século XIX um clamor generalizado por sistemas dessa
natureza, por outro se deve reconhecer que não era unânime o sentimento acerca das vantagens da disseminação das
hipotecas no país. Em monografia sobre a propriedade, José de Alencar bradava contra o instituto da hipoteca, a qual
considerava mecanismo pelo qual se operavam grandes injustiças14. Para o romancista, a hipoteca legal fora criada com
os mais nobres intuitos, ou seja, a proteção dos bens das mulheres e dos órfãos. Mas o instituto, insinuando-se na
legislação, espraiou-se em outros recintos, passando a abranger os bens do Estado, das vítimas de crimes, coerdeiros e
das corporações de mão-morta. A forma que se deu à hipoteca legal acabou por atrair grandes críticas, uma vez que,
por seu próprio mecanismo, gerava injustiças contra outros credores legítimos, ainda que estes fossem protegidos por
outras hipotecas convencionais15.
Cinquenta anos antes da publicação da monografia de José de Alencar, um primeiro projeto, com singelos seis
artigos, foi apresentado, em 03 de julho de 1830, pelo deputado Ernesto Pereira França. Propunha a criação de “livros
das hipotecas” por todo o Império, nos quais seriam lançadas tão somente as hipotecas. Caberia ao “primeiro tabelião
do lugar” assumir a função concomitante de registrador de hipotecas. As hipotecas constituídas após a publicação da lei
e não lançadas no livro seriam “nullas”, assim como as anteriores que não o fossem no prazo de dois anos16.
Outro projeto foi elaborado pelo deputado João Manuel Pereira da Silva, o qual o defendeu perante a Comissão de
Justiça Civil no dia 18 de março de 1843. Afirmava o deputado que era absolutamente necessária a adoção de uma lei
que estabelecesse regras claras e invariáveis para a constituição e o funcionamento das hipotecas, de maneira a se
assegurar a propriedade individual e coibir abusos. O deputado apresentou o projeto em 1º de abril de 1843, mas este
foi esquecido, não tendo servido nem mesmo de base para a elaboração de projetos posteriores17.
A despeito disso, em 21 de outubro de 1843 foi editada a Lei Orçamentária 317, a qual continha em seu artigo 35
uma única disposição criando um “registro geral de hipotecas, nos lugares e pelo modo que o Governo estabelecer nos
seus regulamentos”.
Observe-se que o dispositivo não determina propriamente a criação de um sistema hipotecário, ou de uma lei
hipotecária. Na verdade, não apenas determina, mas cria um registro hipotecário, atribuindo ao Governo toda a sua
regulamentação.
Por aviso de 27 de março de 1844, a Seção de Justiça do Conselho de Estado foi encarregada de organizar esse
regulamento. Em seu parecer, datado de 09 de dezembro do mesmo ano, a Comissão, integrada por Honório Hermeto
Carneiro Leão, pelo Visconde de Monte Alegre e pelo Bispo de Anemúria, advertia, preliminarmente, sobre a
conveniência de se realizar uma reforma completa do sistema hipotecário, e não apenas estabelecer um registro
hipotecário. Todavia, uma vez que a Lei 317 já havia criado o registro, apenas atribuindo ao Governo a missão de
regulamentá-lo, entendiam que apenas lhes cabia dar execução à ordem. Reconheciam, contudo, que o projeto de
regulamento era apenas um ensaio, e que, fatalmente, estaria repleto de imperfeições, o que seria agravado por ser a
matéria “complicadíssima” e por faltar aos membros da Seção meios, tempo e conhecimentos necessários para seu
estudo. O modelo mais facilmente accessível – o Código Civil Francês – não era guia seguro, já que mesmo os juristas
franceses nesta altura o criticavam neste ponto, clamando por reformas. Assim, tomando como missão do Governo,
neste momento, tão somente o estabelecimento dos lugares e modo de instalação dos registros de hipotecas, focam o
projeto e o parecer nestes temas. Trata, por exemplo, da conveniência de que haja um registrador de hipotecas por
comarca – e não um por município, ou um por província – e de que o registrador seja formado em direito e possa
oferecer garantia de que tem meios de responder pelos prejuízos eventualmente causados por ele. O parecer ainda
cuida de dois pontos importantes: esclarece que a Seção optou por manter a validade das hipotecas legais dos menores
órfãos e das mulheres casadas sob regime dotal independentemente de registro, para proteção destas pessoas; e
afirma categoricamente que cabia ao registrador “uma tal ou qual jurisdicção ou autoridade”, destinada à deliberação
“sobre a validade dos títulos com os quais se lhe requer o registro de hypothecas, ou de sua baixa e extincção”18.
Recebido o parecer, o Imperador determinou, em 07 de junho de 1845, que fosse ouvido o Conselho de Estado. Em
25 de setembro de 1845, o Conselho de Estado encaminhou um texto com emendas ao projeto, consolidadas em um
substitutivo19. Curiosamente, das várias críticas formuladas pelo Conselho de Estado, nenhuma delas dizia respeito ao
ponto que ensejaria mais críticas nos anos seguintes: a ausência no regulamento do registro das transmissões.
O regulamento foi editado pelo Decreto 482 em 14 de novembro de 1846, adotando, como base, o texto proposto
pela Seção de Justiça, incorporando algumas sugestões do Conselho de Estado, e acrescentando alguns elementos
novos.
A legislação brasileira somente exigia a inscrição das hipotecas convencionais, não o fazendo quanto às legais e às
judiciais, o que seria muito proveitoso20. Com isso, o artigo 35 da Lei Orçamentária 317, de 21 de outubro de 1843,
regulamentado pelo Decreto 482, de 14 de novembro de 1846, acabou introduzindo muito acanhadamente o registro de
hipotecas no Brasil21.
A despeito disso, o sistema de 1843 constitui efetivamente publicidade imobiliária. Mais do que sintomas de
publicidade, a publicidade gerada era qualificada, e produtora de efeitos jurídicos. Tem-se em 1843, portanto, a primeira
manifestação do fenômeno do registro imobiliário no Brasil.
Com efeito, a inscrição das hipotecas no registro gerava os efeitos legais, enumerados no artigo 13 do regulamento.
Eram eles a “nulidade”, em favor do credor, das alienações de bens dados em hipoteca posteriores ao registro, a título
gratuito ou oneroso; a possibilidade de o credor penhorar e executar os bens dados em hipoteca, com quem quer que se
encontrassem; e garantir ao credor cuja hipoteca foi registrada sua prioridade em relação a outros credores22.
Teixeira de Freitas deixa claro que não se tratava propriamente da nulidade das alienações, mas sim de uma
ineficácia perante o credor hipotecário. O ato em si não era nulo, e, extinta a hipoteca pelo pagamento, por exemplo, o
bem continuaria nas mãos do adquirente23.
O regulamento, ainda, condicionou os efeitos das hipotecas anteriores à lei ao registro. Quanto a estas, fixou prazo
de um ano após a instalação do registro para que os credores com títulos anteriores as registrassem, a fim de manter
seus direitos. Ultrapassado este prazo, o registro não mais retroagiria seus efeitos à data da constituição do gravame, e
a hipoteca valeria a partir da data da inscrição, fazendo com que o credor perdesse seu direito de prioridade24. O que
garantia a prioridade era a data do registro, mas, se registradas duas hipotecas no mesmo dia, a prioridade seria
determinada pela data das escrituras25.
Esse estranho preceito deixou marcas que persistem até hoje em nossa legislação registral. O artigo 192 da Lei
6.015/1973 excepciona a regra de prioridade determinada pela prenotação nas hipóteses em que se tenha escrituras
públicas, lavradas na mesma data, apresentadas na mesma data, e que determinem a hora de sua lavratura, caso em
que a prioridade será dada não à prenotação anterior, mas sim à escritura lavrada em primeiro lugar.
O sistema, porém, carregava a grande falha de não abrigar as transmissões de bens imóveis, ou a constituição de
direitos reais limitados, com a exceção das hipotecas, com o que, no Brasil, o crédito precedeu a propriedade26. Com
isso, não se tinha a segurança da propriedade e nem das próprias hipotecas, uma vez que o credor não dispunha de
meios para saber se o hipotecante realmente era titular da propriedade do bem. Ademais, não foram extintas as
hipotecas gerais sobre bens futuros, absolutamente incompatíveis com um sistema de publicidade. A reforma em si já
nasceu imperfeita, exigindo nova mudança27.
Segundo Lafayette, a legislação de 1843 e 1846 foi um ensaio de publicidade, imperfeito e manco, e os interesses
agrícolas do país exigiam um sistema que “organizando a hipoteca sobre a larga base da publicidade, assegurasse ao
crédito territorial a força e a expansão de que era capaz”28.
Em relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa em 1847, o então ministro da justiça José Joaquim
Fernandes Torres tratou do recém-instituído registro de hipotecas. Afirmava que não teria sido possível chamar ao
registro as hipotecas legais, dado o estado em que se encontrava a legislação, pois nem mesmo havia um consenso
acerca de seu significado. Entretanto, reconhecia que as medidas adotadas no regulamento de 1846 não atendiam aos
anseios da sociedade, já conclamando uma reforma que extirpasse o intrincado jogo de prioridades que se dava entre
vários gêneros de hipotecas e privilégios29.
Com isso, um ano após a vigência do sistema instituído pelo Decreto 482 já se percebia a necessidade de sua
reforma.
4.3.3. O período compreendido entre a Lei 1.237, de 1864, e o regulamento do Decreto 3.453, de 1865, os
Decretos 169-A e 370, de 1890, e o Código Civil de 1916
A primeira tentativa de reforma hipotecária destinou-se a desenvolver o crédito imobiliário, tornando o imóvel um
capital vivo – ou seja, apto a garantir dívidas – com a finalidade de se gerar riqueza pública e privada. A lavoura
brasileira sofria sob o peso de dívidas subordinadas a juros altíssimos, e a hipoteca do imóvel, feita com segurança,
poderia proporcionar ao proprietário condições mais favoráveis. Para isso, foi necessário revogar a legislação sobre as
hipotecas que até então havia, com base em qual os prestadores de capitais não tinham segurança em emprestar, por
falta de garantias do pronto reembolso. Mesmo as dívidas garantidas por hipotecas convencionais inscritas não tinham
segurança, pois eram preteridas em benefício de hipotecas ocultas e gerais, dos privilégios e dos ônus que incidissem
sobre o bem hipotecado. Como se não bastasse, devedores, por vezes, injustamente negavam a existência de dívidas,
algumas contraídas até mesmo por instrumento público. Nos dizeres de Perdigão Malheiro, “A chicana e as tricas
forenses ostentavão-se soberbas contra o credor, e mil outros embaraços, que o desanimavão de sujeitar seus capitaes
a tantas eventualidades.” 30
Com isso, a propriedade imobiliária restava à margem do crédito, o que gerava para os credores uma tendência a
optar pelo crédito pessoal, baseado na fiança, a despeito da precariedade desta modalidade de garantia. A mudança na
legislação era urgente; e, a fim de que se fomentasse o surgimento de sociedades de crédito real, também era urgente
que a estas se desse prioridade sobre quaisquer outros créditos ou privilégios.
O sistema do registro das hipotecas de 1846 não havia surtido os efeitos esperados. A falta dos princípios da
especialidade e da publicidade, e os problemas gerados por isso, acabaram por contribuir para a criação de um
mecanismo de registro que proporcionasse uma base segura para as garantias, pelo que era fundamental que
contemplasse também as transmissões imobiliárias. Assim, as críticas à Lei de 1843 catalisaram os anseios por
mudança31.
É uma medida interessante do anseio por mudanças a importância que o próprio Imperador Dom Pedro II dava ao
tema. A Lei Hipotecária aparece na “Fala do Trono” – discurso anual em que o imperador abria e encerrava a sessão
legislativa – nada menos do que sete vezes entre 1850 e 1864, mais precisamente nos anos de 1854, 1855, 1857, 1859,
1860, 1863 e 186432.
No intuito de se empreender uma reforma, foram analisados e buscados elementos nos sistemas conhecidos de
publicidade imobiliária, com vistas a se realizar no Brasil uma combinação daquilo que de melhor cada um poderia
oferecer. E este intuito deve guiar a interpretação dos dispositivos que constam da Lei de 1864 e seus regulamentos.
Incumbiu-se de elaborar um projeto de reforma o Ministro da Justiça, Conselheiro Nabuco de Araújo, que já assumiu
sua posição no gabinete com este intuito. O Conselheiro Nabuco compreendia que era preferível uma reforma de toda a
legislação civil; mas diante das dificuldades desta empreitada e da crença de que a melhoria da proteção dos direitos
naquele momento não impedia que o codificador no futuro a fundisse em moldes mais perfeitos, levou a cabo seu
intento33.
A lei tinha alguns eixos centrais. O primeiro deles era o de que a hipoteca é um instituto que deveria gravar imóveis,
somente; poderia gravar também seus acessórios – até mesmo escravos – desde que isso se fizesse juntamente com o
principal. O segundo eixo determinava que toda hipoteca, quer fosse legal, quer fosse convencional, deveria ser
especial, ou seja, dizer respeito a um imóvel, ou a imóveis, específicos (e não a todo o patrimônio do devedor), e deveria
ser registrada, sob pena de não valer contra terceiros. Algumas exceções permaneceriam, contudo, como as hipotecas
legais concedidas à mulher casada, aos menores e aos interditos, que poderiam permanecer válidas, ainda que gerais,
e, por conseguinte, não registradas. Como uma tentativa de se remediar os riscos gerados por essas exceções, previa-
se que a hipoteca geral não poderia concorrer com as especiais enquanto houvesse outros bens livres do devedor – ou
seja, a hipoteca convencional prevalecia sobre aqueles bens específicos, desde que o crédito garantido pela hipoteca
geral pudesse ser satisfeito pela execução de outros bens. O terceiro eixo, e mais importante, foi a necessidade de
transcrição das aquisições de bens hipotecáveis, bem como das instituições dos ônus reais constantes do rol da lei.
Com isso, pretendia-se, o registro acabaria funcionando como uma espécie de cadastro da propriedade, evitando aos
credores hipotecários e aos adquirentes de boa-fé surpresas quanto ao estado patrimonial de um devedor ou quanto à
propriedade de um bem alienado. Entretanto, o registro não provaria o domínio – este sempre ficava a salvo de quem
fosse. Um último eixo, também importante para os fins a que a reforma se propunha, foi a extinção dos privilégios
creditórios. Por exemplo, nas situações em que um imóvel hipotecado fosse arrematado ou adjudicado em sede de
execução, não mais subsistia o chamado “privilégio de senhor de engenho”, que impedia que propriedades pertencentes
a tais pessoas fossem arrematados em execuções; também não mais subsistiria a proibição de um bem ser alienado em
execução quando o seu valor excedesse o dobro da importância da dívida. O credor passaria a ter direito de pagar-se
pela forma que lhe fosse mais conveniente34. Isto representava um grande rompimento com a tradição, e até mesmo
uma mudança de mentalidade sobre o sentido e as funções da propriedade35.
Para tanto, o Conselheiro apresentou à Câmara o seu projeto de reforma hipotecária, na sessão de 25 de julho de
1854. Esse projeto estabelecia três classes de hipotecas: privilegiadas, legais e convencionais. Ainda, o projeto regulava
a matéria da preferência, e, principalmente, criava o registro das transferências de domínio e das constituições de ônus
reais, a cargo de um “Conservador”, consagrando o princípio da não indução de prova de domínio pela transcrição36.
Observe-se que “conservador” e “transcrição” fazem parte da terminologia do Sistema Francês de registro, o que não
significa, como se verá, que o Brasil tenha adotado este sistema. Na verdade, eram simplesmente termos muito em
voga. Recorde-se que ainda hoje em Portugal o registrador é conhecido como Conservador do Registo Predial, no Chile
como Conservador de Bienes Raíces, e na Bélgica ainda há o Conservateur des Hypotheques.
Em 22 de agosto de 1854, foi emitido um parecer da comissão de deputados, afirmando que o projeto trazia para o
Brasil dois princípios inovadores e nascidos na Alemanha: a publicidade e a especialidade. Ainda, afirmava o desejo da
comissão de se dar à transcrição o valor de prova da propriedade37.
Um dos nós górdios do debate era, precisamente, a adoção ou não da transcrição como prova suficiente, e, quiçá,
irrefutável da propriedade. É preciso compreender o que isto significava. Dar à transcrição a eficácia de prova da
propriedade autorizaria o adquirente que obtivesse a transcrição a fundar na certidão do registro uma ação
reivindicatória, por exemplo, ainda que a prova gerada por ela não fosse irrefutável. Em um tempo acostumado à ideia
da probatio diabolica da propriedade, e à posse como solução costumeira de litígios dominiais, atribuir qualquer tipo de
presunção de propriedade ao registro era uma inovação revolucionária.
Por conta disso, e das demais disposições do projeto, havia também grande preocupação com a formulação de um
todo coerente. Uma discussão ocorrida na Câmara em 06 de junho de 1855 acerca de dever o projeto ser discutido em
bloco, ou artigo por artigo, é reveladora sobre a mentalidade da época. São as palavras do deputado cearense Araujo
Lima: “Porque é impossível a discussão artigo por artigo? A camara sabe que em debates semelhantes se essa
discussão devesse versar artigo por artigo, seria mui difícil ou quasi impossivel obter-se um resultado definitivo. Nesta
materia são tantas as cabeças quantas as opiniões. Uns adoptarão o systema francez; seguirão outros o systema
allemão; agradará a outros o systema mixto, e a outros a nenhum dos systemas de que se trata. O corpo legislativo,
composto de tantas intelligencias, em que as opiniões divergem sobre tantos assumptos, não poderia apresentar um
systema de legislação seguido, um systema uniforme, apresentaria uma machina desmantelada, apresentaria um
monstro de Horácio”38. “O Monstro de Horácio” é um ser descrito na Ars Poetica, com cabeça de mulher humana,
pescoço de cavalo, penas nos membros e “pés” de peixe, simbolizando os poemas malfeitos. Ou seja, receava-se que,
ao se discutir artigo por artigo o projeto, a coerência dada pelo Conselheiro Nabuco se perdesse, dando lugar a uma
monstruosidade.
Em segunda discussão, ainda em 1855, manifestaram-se favoráveis ao valor probante da transcrição Nunes
Gonçalves, Ferraz Rodrigues e Barreto Pedroso. Este último afirmou que o Registro Hipotecário de 1846 – de sua
autoria – não rendera os resultados esperados exatamente por lhe haverem faltado a publicidade e a especialidade.
Na sessão de 09 de julho de 1856, foi apresentado substitutivo, que foi enviado ao Senado, onde foi apresentado
parecer, datado de 11 de setembro de 1857, da lavra de Silveira da Motta, Muritiba e Souza Ramos39. Note-se que o
projeto teve uma tramitação bastante acidentada, que se arrastou por dois anos na Câmara, e mais sete no Senado.
Quando da tramitação no Senado até mesmo foram apresentados novos projetos. Além do substitutivo de 1856, também
outro, de 1859, de autoria do próprio Ministro da Justiça, Muritiba40.
Nesse meio tempo, em sessão de 20 de agosto de 1856, o Conselheiro Nabuco compareceu no Senado, para a
terceira discussão do projeto. Afirmava a urgência e a importância do projeto, em especial pelas contingências em que
se via o credor hipotecário quanto à existência de “hypothecas occultas, posteriores, infinitas e arbitrárias”. O registro de
1846 não oferecia muito alento, já que, ainda que o credor tivesse a informação de não haver hipotecas convencionais
sobre o bem, nada lhe garantia que não houvesse hipotecas privilegiadas e ocultas, ou mesmo que a propriedade já não
havia sido alienada. Quanto aos efeitos da transcrição, afirmava que se ter a transcrição como prova inafastável de
domínio dependeria de decisão fundada em jurisdição contenciosa, com citação das partes e dos interessados, exibição
dos títulos de domínio, discussão das provas e prolação de decisão que abrangeria a validade do contrato, a
legitimidade dos contraentes e a legitimidade da propriedade. Isto faria com que cada transcrição fosse uma demanda e
com que toda a propriedade ficasse em litígio, o que seria agravado pela intenção, de alguns deputados, de determinar a
transcrição não da vigência da lei em diante, mas sim de toda a propriedade.
O Conselheiro Nabuco, como se pode ver, refere-se a um procedimento judicial de liquidação de domínio bastante
semelhante ao que será proposto, três décadas depois, por Ruy Barbosa em seus decretos acerca do Registro Torrens.
Prosseguia Nabuco afirmando que pela inviabilidade de se instituir no Brasil de então um sistema de publicidade
absoluta, tinha-se o registro, no projeto, a missão de atestar o fato da alienação. E, apesar de incompleto, este registro
não seria inútil, já que ministrava o necessário a um sistema hipotecário, pois com base nele seria possível saber se
teria havido alienação, se havia outras hipotecas, e se havia ônus reais sobre o imóvel; mas não poderia, naquele
momento, informar se era legítimo o proprietário, se era válido o contrato ou se era capaz o contratante.
O ministro da justiça consultou Teixeira de Freitas a respeito, opinando este, em resposta datada de 06 de março de
186042. O Jurisconsulto inicia seu parecer manifestando seu desconforto com a distração que a consulta gerara em seu
espírito, na ocasião em que, segundo ele, “todas as faculdades do meu espírito se achão absorvidas com o trabalho do
Projeto do Código Civil”. O primeiro ponto analisado por ele foi o de ser ou não exequível no Brasil, naquele momento,
uma reforma geral do regime hipotecário baseada na especialidade e na publicidade. A isso respondia enfaticamente
que sim, não apenas no Brasil, como também em qualquer país politicamente constituído e cuja propriedade imóvel
tivesse uma organização qualquer, já que a questão da necessidade da publicidade e da especialização das hipotecas já
havia sido “peremptoriamente resolvida pela história, pelo raciocínio, pelas legislações contemporâneas e até pela nossa
legislação actual”43.
Observe-se que ao falar em especialidade nesse parecer, Teixeira de Freitas não tratava do princípio registral da
especialidade, intimamente relacionado com a determinação do imóvel. Na verdade, tratava da necessidade de que as
hipotecas recaíssem sobre bens específicos do devedor, e não sobre todo o seu patrimônio. Isto fica claro quando afirma
que se deve tratar da especialidade e da publicidade de maneira separada, já que a especialidade se refere somente às
hipotecas, e a publicidade não apenas às hipotecas, como também à transmissão da propriedade e à constituição de
direitos reais limitados44.
O segundo ponto tratado por Teixeira de Freitas no parecer diz respeito à necessidade de que também fossem
inscritas no registro, além das hipotecas, as transmissões dos imóveis. Quanto a isso afirma que se, por um lado, o
Sistema Germânico é aquele que contém prova irrecusável da propriedade com todos os ônus a que esta possa estar
sujeita, por outro há sistemas que mais ou menos realizam esta ideia, ainda que com efeitos menos amplos, que, nem
por isso, deixam de ter suas vantagens assim como inconvenientes. A respeito disso, opinava que o exequível e
apropriado no Brasil daquele momento seria a criação de um sistema que contemplasse também as transmissões da
propriedade e a constituição de outros direitos reais, sistema esse que, se, por um lado, não desse certeza legal da
propriedade – o que, naquele momento, era impossível – por outro criasse um modo público e uniforme de tradição e
aquisição de direitos reais45. A despeito disso, entendia que o ideal seria aguardar o advento do Código Civil, já que
“tudo estreitamente se liga na harmonia das relações jurídicas”46.
A seguir, o projeto passou pelas Comissões de Legislação e Fazenda, as quais exararam parecer em 20 de julho de
1861 e 28 de julho de 1862. Em primeiro de março de 1864 foi posto em segunda discussão no Senado. Retornou às
comissões porque o Conselheiro Nabuco – tendo realizado mais estudos sobre o tema – apresentaria emendas. Em 23
de maio de 1864 é emitido novo parecer das Comissões Reunidas de Legislação e Fazenda, acompanhado de
substitutivo. Então, o projeto do Conselheiro Nabuco foi aprovado com poucas emendas e remetido à Câmara, que o
aprovou sem discussão e o converteu na Lei 1.237, de 24 de setembro de 186447.
Segundo Furtado de Mendonça, o regime da Lei de 1864 trazia elementos do Sistema Francês e do Sistema Alemão,
como que os tentando conciliar. Aproveitava o que havia de melhor em cada um para melhorar o crédito imobiliário, e, ao
mesmo tempo, garantir o patrimônio da família. O sistema submetia-se às leis preexistentes em matéria de transmissões
causa mortis, isentando-as de qualquer formalidade para a aquisição dos direitos. Mas as alterava quanto à aquisição
nos atos entre vivos, os quais antes dependiam apenas da tradição48.
Essa ideia de o sistema brasileiro ser um “híbrido” dos sistemas francês e alemão é algo que perdura, e, não
obstante, não descreve adequadamente o Sistema Brasileiro. O Sistema Francês é um sistema de título; o Sistema
Alemão, após a introdução da abstração, tornou-se um sistema de modo; e o Sistema Brasileiro é um sistema de título e
modo, e, portanto, algo distinto dos dois. Considerar que por adotar o princípio da inscrição, mas não a fé pública
registral, tem-se um híbrido entre os sistemas francês e alemão, é desconsiderar os traços essenciais do sistema.
Em se tratando de direitos reais limitados, estes dependiam de transcrição para valer contra terceiros. Assim, a
servidão, o uso, a habitação, a anticrese, o usufruto, o foro, e o legado de prestação ou alimentos expressamente
consignados no imóvel. Quaisquer outros ônus não poderiam ser transcritos, sendo havidos como meros direitos
pessoais. Por outro lado, não dependiam de transcrição os privilégios do fisco, por decorrerem de dívidas de impostos
incidentes sobre os imóveis49.
Nesse ponto, a Lei 1.237, de 1864, mostra-se como um marco fundamental não apenas do Direito Registral
Imobiliário, como também da própria disciplina dos direitos reais no Brasil. Até então, não havia um rol legal de direitos
reais, aplicando-se, na matéria, essencialmente o Direito Romano Justinianeu, como direito subsidiário às Ordenações
Filipinas, que muito pouco tratavam do tema.
No sistema da Lei 1.237, os direitos reais limitados não poderiam ser opostos a credores de hipotecas inscritas
anteriormente a eles. No entanto, ônus instituídos por atos causa mortis valiam independentemente de transcrição,
mesmo contra os credores hipotecários. Neste ponto – tratando dos direitos reais limitados – o Sistema Brasileiro se
assemelhava ao Sistema Alemão, já que se adotava o princípio da inscrição50.
As transmissões causa mortis não teriam sido submetidas à transcrição, segundo Furtado de Mendonça, por duas
razões: em primeiro lugar, não era exigido pelo crédito, vez que as fraudes não ocorriam tal como se dava nas
transmissões entre vivos; em segundo lugar, porque o Alvará de 9 de Novembro de 1754 dava aos herdeiros legítimos e
testamentários a posse civil dos bens herdados, com os mesmos efeitos da posse natural. De forma que, segundo o
pensamento dominante, não poderia o legislador sujeitar estas transmissões a uma tradição legal, da qual os herdeiros
já eram isentos anteriormente, ao menos que pretendesse revogar esta isenção, o que deveria fazer de maneira
expressa51.
Quanto à transmissão da propriedade por ato inter vivos, havia polêmica sobre a natureza e os efeitos do registro.
Para Teixeira de Freitas, o Brasil filiara-se aos países que tinham no registro a tradição legal do bem. Na França, em
virtude da doutrina do consensualismo, bastava o consentimento das partes para a transmissão da propriedade,
servindo a data do contrato para fixar o momento da aquisição. Já em outros países – como ocorria no Brasil – havia a
necessidade de registro para haver prova oficial do domínio, publicidade, gerando prioridade àquele que primeiro
registrara, e era o ato inoponível a terceiros até que o registro fosse realizado52.
A mesma opinião tinha Albuquerque Sobrinho53, afirmando que a transcrição formalizava a tradição da coisa, mas
não tinha o poder de gerar direito real, nem muito menos purgar vícios do negócio; e, com isso, não derrogava o
brocardo segundo o qual não poderia ninguém transferir mais direitos do que possuísse. Por isso, via a transcrição como
uma formalidade extrínseca, voltada à publicidade, nada agregando ou retirando da substância do próprio título que
transmitia o domínio. Não o supria ou retificava. Assim seria o direito racional, depreendido na interpretação do
parágrafo 4º do art. 8º da lei.
Opinião semelhante tinha ainda Furtado de Mendonça, para quem, quanto aos efeitos do registro, o regime brasileiro
adotara o princípio da inscrição do Sistema Germânico, pelo que a transcrição dos títulos translativos de domínio nos
atos entre vivos era constitutiva. Com isso, segundo a doutrina majoritária, acabou por substituir o ingresso na posse
pela tradição do bem, necessário à aquisição. Por essa razão, segundo ele, poder-se-ia dizer que no regime da Lei
1.237 a transcrição operava a tradição dos títulos translativos de propriedade, e a quase tradição dos direitos reais
limitados54.
Isso seria demonstrado pelo artigo 8º da Lei, o qual, por fazer, em última instância, prevalecer a transcrição da
alienação em favor de certa pessoa, em face da tradição feita a outra, acabaria por revogar a Ordenação do Livro 4º,
Título 7º, parágrafo, segundo, a qual era a tradição que servia como de aquisição da propriedade55.
No mesmo sentido, Martinho Garcez, para quem a tradição e a transcrição eram dois fatos externos que
manifestavam a transferência da propriedade, segundo a lei. A lei sujeitava as transmissões a atos externos por ser o
domínio um direito absoluto, oponível a terceiros, e que, portanto, deveria ter suas mutações conhecidas por todos. A
tradição em si era insuficiente para dar esse conhecimento, podendo haver tradições secretas do mesmo prédio a
pessoas diferentes. Por isso, foi criada a transcrição, garantia dos adquirentes e base do sistema hipotecário. Assim, a
transcrição era o modo legal de transmissão da propriedade de imóveis, ao passo que a tradição transmitia a
propriedade dos bens móveis. Seria, portanto, a transcrição uma tradição solene dos imóveis alienados, e até sua
realização o domínio não se transmitia ao adquirente. Sem ela, este não poderia dispor do bem, gravá-lo de ônus reais,
hipotecá-lo, reivindicá-lo, ou mesmo opor exceções de domínio56.
Para Lafayette, na mesma linha, a natureza dos direitos reais e sua oponibilidade a terceiros exigiria que sua
transmissão se realizasse por atos materiais e visíveis. A fim de obrigar a todos, o ato de transmissão deveria ser
conhecido por todos. A publicidade seria necessária para evitar fraudes que poderiam ser perpetradas sob o manto da
clandestinidade e da ocultação dos direitos. No Direito Francês, as ideias de Hugo Grotius, Wolf, Puffendorf, Burlamaque
e outros fizeram com que se eliminasse do sistema a tradição, dando ao contrato eficácia de transmitir o domínio.
Entretanto, a legislação é uma obra prática, e, esta praticidade não pode ser sacrificada para dar lugar a especulações
filosóficas. Por isso, o Código Napoleão restabeleceu, para bens móveis, a tradição como modo de aquisição, e, em
1855, foi instituído na França o regime da transcrição para dar publicidade às transferências de bens imóveis57.
No entanto, ainda segundo Lafayette, a tradição pura não geraria publicidade suficiente. Por isso, no seu regime, um
mesmo prédio poderia ser alienado clandestinamente a mais de uma pessoa. Essa possibilidade deu azo ao surgimento
de um novo sistema de publicidade: a transcrição dos títulos aquisitivos em registros públicos. A transcrição seria
inaplicável a bens móveis, pela incessante circulação a que estão sujeitos, bem como pela dificuldade na fixação de sua
identidade; mas para os imóveis seria adequada, já que estes podem ser perfeitamente identificados, e estão sujeitos,
ao longo de sua história, a bem menos mutações jurídicas do que os bens móveis. Por essa razão, a transcrição seria
empregada, em alguns sistemas, como verdadeiro modo de transmissão da propriedade. Já em outros sistemas, por
timidez e receio de se abandonar costumes, a transcrição seria apresentada como mero requisito de oponibilidade a
terceiros, como se deu na lei francesa de 1855. Em qualquer das modalidades, a transcrição geraria publicidade e daria
segurança ao adquirente no esclarecimento de pontos que poderiam vir a comprometer a segurança da aquisição, por
exemplo, informar se o alienante ainda figurava como proprietário, se o domínio se mantinha igual ou se havia sido
desdobrado pela instituição de direitos reais limitados etc. Por outro lado, seria a transcrição também um pilar do regime
hipotecário, sendo o conhecimento do estado jurídico da propriedade imobiliária fundamental ao credor garantido pela
hipoteca: não sabendo se o devedor é ou não proprietário do bem, ou se já deu o bem em garantia a outro credor que
goze de preferência, não há como ter segurança de que, em caso de inadimplemento, terá seu crédito satisfeito pela
excussão58.
Em suma, a transcrição era, no Brasil, na vigência da lei de 1864, o modo legal de transmissão da propriedade de
bens imóveis. A tradição permanecia no sistema apenas para transmissão da propriedade dos bens móveis ou da posse
dos imóveis. A transcrição, em sua essência, nada mais seria do que a tradição solene do imóvel alienado. Portanto, até
a transcrição do título, o domínio continua a ser do alienante59.
Entretanto, uma outra corrente defendia que a transcrição não representava realmente a tradição legal do bem, mas
seria somente meio de publicidade, nos moldes do Direito Francês. Para Perdigão Malheiro, a escritura bastava à
transferência do domínio. O registro, por não provar a propriedade, não gerava efeitos entre as partes, e sua ausência
não implicava a não transmissão do domínio60. Esta interpretação era baseada na interpretação literal do artigo 8º da Lei
1.237, o qual afirmava que “A transmissão entrevivos por titulo oneroso ou gratuito dos bens susceptiveis de hypothecas
(art. 2.º § 1.º) assim como a instituição dos onus reaes (art. 6.º) não operão seus effeitos a respeito de terceiros, senão
pela transcripção e desde a data della.”. Com isso, entendia o autor que, na falta de transcrição, os efeitos da
transmissão apenas não se operariam contra terceiros, não deixando de ocorrer, por outro lado, a transmissão do
domínio entre as partes.
Também sustentava a adoção do Sistema Francês Oliveira Machado61, para quem a ideia principal do registro era
garantir o comprador ou o credor contra a fraude e a má-fé, as quais eram maximizadas pelo desconhecimento do
estado das mutações reais da propriedade. A transcrição, portanto, somente geraria efeitos perante terceiros, pois cada
ato em si já era do conhecimento das partes que o praticaram – por conseguinte, nada poderia acrescentar entre elas.
Mesmo antes da transcrição, segundo ele, poderia o adquirente que não recebeu a coisa propor uma ação
reivindicatória contra o alienante; no entanto, se este vendeu a coisa uma segunda vez, e o segundo adquirente a
transcreveu antes do primeiro, prevaleceria o direito daquele em face deste. Portanto, a produção de efeitos entre as
partes não dependia da transcrição, sendo esta necessária apenas para oponibilidade a terceiros.
Tinham o mesmo entendimento Joaquim José Rodrigues Torres, senador e Visconde de Itaboraí, e o Conselheiro
Andrade Figueira62.
Curiosamente, há representantes dessa corrente também entre os autores mais modernos. Caio Mário da Silva
Pereira63 e Washington de Barros Monteiro64 consideravam que no Direito Civil Brasileiro pré-codificado vigorava o
Sistema Francês.
A respeito disso, em resposta a seus contemporâneos, argumentava Lafayette que a Lei Hipotecária Brasileira falava
em terceiro, sem fazer qualquer restrição. Por isso, seria impossível ao adquirente reivindicar o imóvel de qualquer
pessoa, salvo do próprio alienante. Nem mesmo de um usurpador poderia o adquirente reivindicá-lo. Ora, o domínio é
um direito absoluto oponível contra todos, e, não existindo perante terceiros, também não poderia existir entre as partes.
Uma propriedade que existisse entre os contratantes mas não perante terceiros seria uma monstruosidade que repugna
a inteligência humana. A lei francesa, nesse ponto, não era igual à brasileira – os efeitos do domínio antes da transcrição
não seriam negados perante qualquer terceiro, mas somente aqueles que tinham direitos ou interesses sobre o imóvel.
Por isso, antes da transcrição o domínio já havia sido transmitido perante terceiros não titulares de direitos sobre o bem,
como esbulhadores e credores quirografários 65.
Já pela lei brasileira, na verdade, não haveria domínio perante quaisquer terceiros até a transcrição, e, portanto, não
o havia também entre os contratantes. O mero contrato não transferia domínio. Isso poder-se-ia se depreender do artigo
257 do Decreto 3.453, que afirmava que “até a transcripção, os referidos actos são simples contractos que só obrigam
as partes contractantes”, donde se deduz que o contrato não transcrito apenas gera direitos e obrigações pessoais. Em
suma, diferentemente da lei francesa, que gerava grandes complicações sobre saber quais terceiros foram obrigados e
quais não, a lei brasileira adotava um princípio claro: antes da transcrição não havia domínio.
Acrescentava Martinho Garcez, também em resposta, que a expressão “a respeito de terceiros” teria gerado
sentenças errôneas, as quais entendiam que a lei restringiria a terceiros os efeitos da transcrição, sendo esta
desnecessária à geração de efeitos perante as partes, seus herdeiros e sucessores. O erro estava no fato de se
desnaturar a propriedade, admitindo que esta valesse e existisse entre as partes, mas não perante terceiros. Ora, se até
a transcrição o título somente gerava efeitos entre as partes, tais efeitos somente poderiam ser pessoais, nunca reais,
não tendo havido, portanto, transferência de domínio nem mesmo entre as partes66.
Antes da transcrição não poderia o adquirente reivindicar de quem quer que fosse, alienar, gravar de hipoteca, e nem
mesmo opor exceções de domínio a ações reais promovidas por terceiros.
Por outro lado, ainda segundo Martinho Garcez, a eficácia da transcrição dependia de certas formalidades, e também
de certas condições, como a capacidade das partes e a legitimidade do título que deu causa à transferência. Quanto à
capacidade, aplicar-se-iam as regras da tradição. Se o alienante não era proprietário do imóvel, tal como na tradição a
transcrição não sanava o vício67. Este saneamento era próprio do Sistema Germânico, o qual não fora adotado no Brasil.
Nos debates anteriores à lei de 1864 houve quem defendesse a adoção deste último, o que seria temerário e
incompatível com o estado da organização da propriedade imobiliária do Brasil, e também com alguns princípios do
direito nacional. Em primeiro lugar, eram incertos os títulos de propriedade brasileiros quanto à origem e aos limites da
propriedade, em especial nas aquisições por sucessão, repletas de dubiedades. Por isso, eram muitas as usurpações de
terras, e o saneamento de vícios por uma formalidade erigida em modo de aquisição poderia legalizar inúmeras
situações de espoliação e fraude. Em segundo lugar, a Constituição de 1824 garantia no inciso 22 do seu artigo 179 a
propriedade e a perpetuidade do domínio. Este, uma vez adquirido, não poderia ser expropriado contra a vontade do
dono, salvo por motivo de utilidade pública. Ora, a transcrição com eficácia de firmar o domínio na pessoa do adquirente
de forma absoluta geraria muitos casos de uma verdadeira expropriação, o que, como se viu, era vedado. Em terceiro
lugar, a implantação do Sistema Alemão demandaria a criação de uma jurisdição especial para liquidação do domínio, e,
com isso, cada transcrição tornar-se-ia um processo contencioso. O processo nasceria da intervenção da autoridade, e
não da iniciativa das partes, o que, em si, já pervertia o sistema processual. Ainda, a verdade sobre o domínio somente
surgiria com a presença de todos os interessados, o que demandaria citações, provas etc. Em quarto lugar, sempre
segundo Martinho Garcez, somente teria havido um bom funcionamento do sistema na Alemanha porque lá a
propriedade era constituída por grandes domínios, os quais, por substituições fideicomissárias e morgados, acabaram
por se manter por gerações com as mesmas famílias. Assim, sendo poucas as mutações do estado jurídico do bem, ter-
se-ia tornado possível a formulação de um cadastro que organizasse o conjunto de imóveis. No Brasil, em que as
alienações ocorriam em número muito maior, e com muito maior fracionamento, o sistema seria inaplicável68.
Há de se reconhecer que o Brasil nunca adotou o Sistema Francês, nem muito menos o consensualismo. Se a
transcrição não era, no regime da Lei 1.237, modo de aquisição da propriedade, então este posto continuaria cabendo à
tradição. A instituição de um sistema de registro em si não pode ser vista como uma mutação do regime jurídico dos
direitos pessoais e reais, sob pena de o acessório subordinar o principal. Não se pode, de modo algum, presumir que
uma vez criado um sistema de registro que prevê a oponibilidade a terceiros, os contratos tenham passado a ter eficácia
real, sem previsão expressa nesse sentido. Ainda, ao que parece, efetivamente a transcrição do sistema da Lei 1.237
era modo de aquisição da propriedade, em especial porque o artigo 257 do regulamento do Decreto 3.453 claramente
trata de uma separação, ainda que relativa, dos planos obrigacional e real. Isto é o compatível com os efeitos propostos
para a transcrição, ou seja, tornar um direito oponível erga omnes, o que significa transformar um direito pessoal em
direito real. Se é certo que o contrato não foi elevado ao status de produtor de direitos reais; e se é certo que é a
transcrição, e não a tradição que marca a data da aquisição; então deve-se concluir forçosamente que o modo de
aquisição era a própria transcrição.
Observe-se que considerar a transcrição como tradição solene é uma maneira de se adequar o sistema das
transcrições ao disposto nas Ordenações: a propriedade ainda se adquiria pela tradição, todavia a tradição agora
passava a ter um novo formato, entre os muitos que já havia tomado ao longo da História. Entretanto, ao se observar a
dinâmica da transmissão da propriedade essa afirmação se mostra inadequada. Em um sistema de separação relativa
entre os planos obrigacional e real, se o negócio se inicia por um contrato obrigacional – por exemplo, de compra e
venda – no qual o alienante se obriga a transmitir a propriedade, o cumprimento da obrigação deverá acontecer também
por uma conduta do alienante. Tratando-se de bens móveis, isto se dá pela tradição, e não há maiores problemas. A
questão se coloca quando se tem em vista bens imóveis, já que a transcrição não é conduta das partes, mas ato
administrativo de um agente público. A transcrição, em si, portanto, é ato do Estado, e não das partes não podendo ser
confundida com a tradição. Trata-se, em suma, especialmente em um sistema de registro constitutivo, como, conclui-se,
foi o da Lei 1.237, de ato de soberania, que atribui a propriedade a alguém.
Reforça essa noção a previsão contida no artigo 68 do Decreto 3.453, segundo a qual “Os officiaes do registro não
podem examinar a legalidade dos titulos apresentados antes de tomarem nota da sua apresentação e de lhes conferirem
o numero de ordem, que lhes compete em razão da data da mesma apresentação”. Ou seja, após o protocolo, ou, nas
palavras do Decreto, a tomada de nota e conferência de um número de ordem, deveriam os registradores examinar a
legalidade dos títulos apresentados. Isto significa que a atividade do registrador não era passiva, de mero receptor de
títulos que, em si, já produziram seus efeitos, e que seria típica de um Sistema de Registro de Documentos. Ao
contrário, cabia ao registrador examinar a legalidade e decidir sobre sua aptidão para ingressar no registro. Assim, o
registro era ato jurídico do Estado representado pelo registrador, condicionado a requisites próprios de validade, e não
um mero fato jurídico.
O Regulamento do Decreto 3.453, também elaborado pelo Conselheiro Nabuco de Araújo69, revela a maturidade do
agora ex-ministro, solucionando questões que haviam permanecido em aberto na Lei 1.237, como uma maior clareza na
elevação do registro a modo de aquisição da propriedade.
Independentemente de uma concepção ou de outra, não havia prazo para transcrição das transmissões ou
instituições de direitos reais limitados, mas seria a data da transcrição que definiria sua eficácia contra terceiros,
princípio este encontrado já na lei francesa de 11 brumário do ano VII, derrogado pelo Código Napoleão, e restaurado
quando da reforma da legislação hipotecária francesa. Outra questão refere-se ao modo de escrituração do título no
registro. Nas normas da família germânica, o ato padrão para a publicidade é a inscrição, ao passo que no Brasil, tal
como na França, adotou-se a terminologia transcrição. Entretanto, a transcrição brasileira se fazia por extrato, o que a
torna pouco diferente da inscrição germânica. Vale dizer, no entanto, que havia no Brasil um livro de inscrições destinado
somente às hipotecas; e que se as partes assim pedissem, o ato também seria transcrito por extenso em livros
auxiliares. Em tal caso, porém, as mutações subsequentes se dariam no livro escriturado por extrato, e não no das
transcrições por extenso70.
O Decreto 169-A, de 1890, não trouxe grandes mudanças para o direito material do Registro que já vigorava desde a
Lei 1.237, de 1864. Permaneceu a ideia da transcrição como modo de aquisição da propriedade, ou, como prefere
Martinho Garcez, tradição solene do bem71. No art. 10 do Decreto 169-A, de 1890, havia uma expressão mal
empregada, “proprietário primitivo”, que poderia levar a confusões quanto aos efeitos da transcrição no regime da nova
legislação. Ora, até a transcrição ele seria proprietário atual, e não primitivo, ainda titularizando as ações decorrentes do
domínio. O contrato dava ao adquirente direitos pessoais, somente. Por outro lado, a transcrição não purgava vícios do
domínio, apesar de ser condição essencial da transferência da propriedade.
A única mudança de maior impacto foi a imposição da obrigação da inscrição e especialização das hipotecas legais
de órfãos e mulheres casadas, sob pena de não serem eficazes contra terceiros. Não se devia censurar a lei; contudo, a
desídia fazia com que fossem raríssimas ou mesmo inexistentes hipotecas dessa qualidade regularizadas, incorrendo na
caducidade.72
Após uma clamor de que a lei de 1864 – em especial em seus aspectos processuais – deixava o devedor indefeso na
mão do credor hipotecário, ávido e impaciente por obter seu lucro, tentou-se equilibrar a situação, dispensando o
sequestro como condição de ação e dando ao devedor o direito de opor embargos, tanto os fundados nas nulidades
constantes da lei quanto os demais embargos autorizados pelos artigos 577 e 578 do regulamento 737, de 1850. No
entanto, a lei de 1890, ainda que reproduzindo parte da Lei 3.272, de 1885 – que tratava da execução das hipotecas, e
não propriamente de matéria registral – tomou do executado os embargos que eram previstos no Regulamento 737.
Disso resultou grande divergência na doutrina e na jurisprudência73.
Com 408 artigos dedicados especificamente ao Registro de Imóveis e ao crédito real (o que inclui também
dispositivos processuais relacionados à execução das hipotecas), o Decreto 370, que regulamentava o Decreto 169-A,
também não inovou quanto aos efeitos do registro, mas continha alguns dispositivos de interesse, e não
necessariamente por uma boa razão.
Quanto ao dispositivo de interesse por uma boa razão, o artigo 234 previa que até a transcrição “os referidos actos”,
isto é, os atos de transmissão inter vivos, a título oneroso ou gratuito, de imóveis suscetíveis de hipoteca, “são simples
contractos, que só obrigam as partes contractantes”. Ou seja, mais uma vez a separação relativa entre os planos
obrigacional e real era reafirmada, estando expresso que selo o modo de aquisição o contrato é somente um contrato, e,
portanto, somente produz obrigações que, por definição, valem inter partes.
Já os dispositivos que são de interesse, mas não por uma boa razão, são dois. O primeiro deles é o tristemente
célebre artigo 11, parágrafo único, que ordenava a incineração dos antigos livros de transcrição do penhor de escravos,
transportando-se eventuais outros registros para os livros correntes. Tristemente célebre em virtude do evidente
desrespeito pelo passado e pela História, além de possíveis interesses escusos na supressão destes registros.
Outro, ou melhor, os outros, são os artigos 44 a 46, que tratam de prioridade, mantendo algo que já constava dos
artigos 47 a 49 do Decreto 3.453, de 1865. Segundo o artigo 44, quando duas pessoas “concorrem ao mesmo tempo” os
títulos apresentados são prenotados sob o mesmo número de ordem. E esclarece o artigo 45 que “o mesmo tempo” quer
dizer de manhã, das 06 às 12 horas, e de tarde, das 12 às 6 horas. Não há prioridade entre títulos que têm o mesmo
número de ordem; e, neste caso, a preferência se regula pela data do título. Tenha-se, assim, uma situação na qual uma
pessoa apresenta a registro um título às 07 horas da manhã, e outra, no mesmo dia, apresente um título sobre o mesmo
imóvel às 11 horas da manhã. Esta apresentação seria considerada “ao mesmo tempo”, pelo que a preferência
abandonaria o registro e passaria à data do título. Além dos evidentes riscos e confusões que um dispositivo dessa
natureza gerava, tem-se, ainda, como seu fruto um dispositivo incompreendido – e anacrônico – da Lei 6.015, de 1973, o
artigo 192. A fattispecie do dispositivo é a situação na qual duas escrituras públicas, que tenham sido lavradas no
mesmo dia, que tenham sido apresentadas no mesmo dia, e na qual se mencione a hora em que foram lavradas, terão
sua prioridade regulada pelo título, e não pela apresentação a registro. Com efeito, não há qualquer sentido em um
sistema que adota fólio real e no qual o protocolo dos títulos é praticamente imediato, abandonar a segura regra de
prioridade estabelecida pelo número de ordem no protocolo, para outra que sofra tantos condicionantes.
O terceiro Decreto de 1890, 451-B, trata do Registro Torrens, mas deste sistema não se falará neste momento.
4.3.4. O período compreendido entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002
O Código Civil de 1916 foi decisivo para que fossem lançadas as bases do sistema de registro que vigorou no Brasil
ao longo de todo século XX e parte do século XXI, e, logo após sua entrada em vigor, já começou a gerar vívida
polêmica na doutrina civilista nacional no campo da eficácia do Registro de Imóveis. Com autores, em geral, filiando-se a
uma de duas posições, a discussão durou, ao menos, até os anos 194074.
O problema girava em torno da interpretação do artigo 859 do Código, copiado do Código Civil Alemão. O dispositivo
prescrevia que “Presume-se pertencer o direito real à pessoa em cujo nome se inscreveu, ou transcreveu”, constituindo
o cerne do problema saber se, com isso, ter-se-ia transplantado para o Brasil o Sistema Germânico de publicidade
imobiliária, e, de maneira específica, a fé pública registral. Em caso positivo, haveria, no Brasil, os efeitos da fé pública
do registro, dando respaldo às aquisições de terceiros de boa-fé, ainda que, posteriormente, se constatasse que o
alienante não era o real proprietário da coisa.
Capitaneou a corrente em defesa da fé pública Lysippo Garcia, afirmando que o projeto do Código Civil tinha como
objetivo obter a consolidação da propriedade imóvel, modificando o sistema existente e conferindo ao registro força
probante em relação a terceiros. Submetido a uma comissão composta por Olegário Herculano de Aquino e Castro,
Joaquim da Costa Barbosa, Amphilophio Botelho Freire de Carvalho, Francisco de Paula Lacerda de Almeida e João
Evangelista Sayão de Bulhões Carvalho, o projeto fora emendado, sendo acrescentado um parágrafo único ao artigo
530, prescrevendo que “A inscrição não induz prova de domínio que fica a salvo a quem de direito”75.
Essa emenda gerou grandes debates na Câmara dos Deputados. O conselheiro Andrade Figueira manifestou-se
contrário à necessidade da inscrição para transferência do domínio entre as partes contratantes. Ainda, discordava do
parágrafo único, pois seria contraditório haver uma inscrição ou transcrição essencial, e, ao mesmo tempo, não induzir
prova do domínio. O autor do projeto, em reunião em 29 de novembro de 1901, apresentou resposta, afirmando que a
ideia original era mesmo a de o registro ser prova cabal e não mera presunção do domínio, o que foi rechaçado pela
comissão revisora, por se achar que o país não estava preparado para esta reforma. Na reunião de 02 de dezembro
acrescentou que o Código seria a ocasião propícia de se introduzir, se não o Sistema Germânico em sua plenitude (o
qual dependia da elaboração de um cadastro), ao menos o que este tivesse de essencial e de aplicável sem o cadastro.
Enfim, por proposta do senador Luiz Domingues foi suprimido o parágrafo, vingando o sistema primitivo que, no artigo
859, consagraria a força probante dos livros de registro, tal como no Código Civil Alemão76.
Contudo, um parecer de Sylvio Romero dava conta que havia na comissão e entre os juristas pátrios da época três
posições: os que acreditavam dispensável a inscrição das transmissões de imóveis; os que a tinham como necessária
tão somente à publicidade; e os que a proclamavam prova irrecusável de domínio. A primeira corrente não chegou a
prosperar; a segunda era a proposta pelos revisores do projeto; e a terceira a que constava do projeto primitivo e que
permaneceu com o abandono do parágrafo único. Com isso, a inscrição seria uma tradição mais cercada de cautelas,
mais solene, à qual, não obstante, dever-se-iam aplicar os mesmos princípios77.
Em 26 de fevereiro de 1902, a Câmara homologou o trabalho da comissão, e o projeto foi remetido ao Senado. O
senador Azevedo Marques apresentou parecer, afirmando que a inscrição era indispensável à transmissão da
propriedade começada pela escritura, mesmo entre as partes contratantes. Contudo, não tinha o condão de sanar
nulidades do título aquisitivo. Para o senador Andrade Figueira, esta depuração de nulidades nunca passou pelo espírito
de nenhum jurisconsulto. Respondendo, Clóvis Beviláqua afirmou que nunca se pretendeu dar à inscrição esta eficácia
depuradora. A intenção era apenas fazer da inscrição a tradição solene dos imóveis; e, como toda tradição, não
transmitiria direitos que o alienante não possuísse. Por fim, por emenda do senador Rui Barbosa, mudou-se o termo
“inscrição” para “transcrição”, ficando a primeira designação reservada às hipotecas78.
Assim, afirmava Lysippo Garcia que o Código Civil de 1916 tinha atentado para o problema que afligia todos os
países calcados no Sistema Francês, reconhecidamente mais imperfeito79. Ora, o que definia o Sistema Germânico era
a força probante dos livros, com inscrições tidas por verdadeiras até prova em contrário; a legalidade, ou seja, o
encarregado do registro deveria examinar os títulos apresentados, podendo recusá-los se não fossem exatos; e a
publicidade, ou seja, o registro consistia em base segura de conhecimento e de fácil demonstração do estado da
propriedade imóvel. E nesse sentido trabalhou o autor do Código de 1916, o que se percebia especialmente pela
retirada do parágrafo único do artigo 530, a qual expelia do Código o Sistema Francês80.
Ainda, o Sistema Germânico não seria incompatível com o caráter de tradição solene dado à inscrição, pois o que o
definia, como se disse, era a força probante dos livros calcada na legalidade, e não a depuração da propriedade. Da
força probante resultaria uma consequência muito importante: a anulação da inscrição do título pelo qual o alienante
adquiriu o bem não atingiria o direito de terceiros adquirentes de boa-fé, que contrataram a título oneroso. Assim, em tal
sistema ficariam expostos os contratantes, quem adquiriu de proprietário não inscrito, e os terceiros de má-fé, ou que
adquiriram o imóvel a título gratuito; e ficariam protegidos os terceiros adquirentes de boa-fé, que contrataram a título
oneroso. O Sistema Francês quase condicionava a propriedade à probatio diabolica dos glosadores, ensejando a
necessidade de investigação da genealogia da propriedade. Mesmo a prescrição – remédio do sistema – trazia os
problemas de saber se a posse era de boa-fé, e se teria sido interrompida ou suspensa. Não se poderia admitir tamanha
insegurança, gerada por uma propriedade vacilante que colocava o interesse de um à frente do interesse de toda a
sociedade. Por isso, o Código de 1916 teria acolhido o sistema da força probante, calcado na legalidade da inscrição e
na presunção relativa de propriedade81.
A mesma posição era defendida por Clóvis Beviláqua. Segundo ele, no Código Civil a transcrição era modo de
adquirir, e não apenas meio permanente de publicidade. Era a criação de direito real pelo ato do registro. Por isso, o
Código adotara o Sistema Germânico, adequando-os às condições do país. Esta adequação, contudo, não prejudicava o
maior mérito do sistema, que era a força probante do registro. Eram princípios fundamentais do Sistema Alemão a
publicidade; a força probante, fundada na fé pública do registro, presumindo-se a titularidade do direito por aquele em
nome de quem se inscreveu ou transcreveu, presunção esta que poderia ser afastada pela anulação do registro; e a
legalidade, consistente na atribuição do encarregado dos registros de opor dúvidas e fazer exigências para assegurar a
legalidade dos títulos apresentados. Os três princípios estavam no Código de 1916, e, portanto, este teria se filiado ao
Sistema Germânico82.
Arnoldo Medeiros da Fonseca também acompanhou a corrente que defendia a incorporação do Sistema Germânico
no Código Civil de 1916. Para ele, a interpretação não podia reduzir-se a pura arte dialética, mas deveria levar em conta
as necessidades práticas da vida em sociedade. Assim, ao ler o dispositivo que afirmava se presumir pertencer o direito
real àquele que estava inscrito como titular – em oposição ao sistema anterior, pelo qual a transcrição não induzia prova
de domínio – deveria o intérprete entender que o Código adotara a força probante dos livros de registro, de forma a não
prejudicar os terceiros adquirentes de boa-fé que confiaram nas informações prestadas pelo registro. Esta interpretação
também se deveria obter levando-se em conta o elemento sistemático, de defesa da boa-fé, presente no Código como
um todo. Isto se observava, por exemplo, na disciplina da ação pauliana, do pagamento indevido, da alienação pelo
herdeiro aparente etc. Assim, entre as partes contratantes, contra terceiro adquirente de má-fé ou terceiro adquirente a
título gratuito, aplicar-se-ia a regra de que ninguém poderia transferir mais direitos do que possuísse. Contudo, uma vez
surgidos direitos de terceiros adquirentes de boa-fé a título oneroso, vigorava plenamente a presunção do artigo 859 do
Código. Contra estes, nem mesmo a usucapião surtiria efeitos; no entanto, o instituto era mantido no Código, pois
aplicar-se-ia em relação aos próprios contratantes, nas aquisições a título gratuito, ou em situações de alienação em que
o título anterior não houvesse sido transcrito, não gerando o benefício da fé pública ao adquirente83. O autor
colacionava, ainda numerosos acórdãos de tribunais brasileiros reconhecendo a impossibilidade da reivindicação contra
o terceiro adquirente de boa-fé84.
Serpa Lopes85 também endossou a posição de Lysippo Garcia, acatando a tese da força probante dos livros de
registro como critério distintivo dos sistemas de publicidade. Em primeiro lugar, haveria, de fato, no Sistema Germânico,
uma sincronia entre o direito formal e o direito material. Contudo, não havia um real vínculo de necessidade entre os
efeitos materiais da publicidade e a existência de um cadastro, nem entre referidos efeitos e a adoção de um sistema de
base real. Seria exagerada a ideia de que qualquer sistema de publicidade não baseado no cadastro, sujeito a uma
constante necessidade de sincronia entre o estado jurídico e o estado geodésico dos imóveis, estivesse fadado ao
insucesso.
A função do cadastro era fixar o conteúdo, os limites e a situação do imóvel; a do livro imobiliário, fixar o direito de
propriedade e suas modificações. A falta de cadastro não seria óbice à prova absoluta ministrada pela transcrição. Em
primeiro lugar, os limites e característicos do imóvel sempre foram requisitos do registro de imóveis brasileiro, cuja falta a
jurisprudência fazia ensejar a nulidade da inscrição. Havia, portanto, um cadastramento – ainda que indireto – da
propriedade que a individualizava, fosse ela urbana, fosse rural. Por outro lado, ainda que com base real, o livro
imobiliário era complementado por um repertório de nomes dos titulares, permitindo facilmente saber quais imóveis
pertenciam a uma dada pessoa. E no sistema de base pessoal havia, seguindo a mesma ideia, um repertório de imóveis
objeto das transcrições e inscrições realizadas naquele livro imobiliário86.
O direito material esperava do direito formal elementos de certeza e visibilidade para prova do domínio. Assim,
mesmo na Alemanha adotava-se a base pessoal nas regiões de grande fracionamento da propriedade, como
Wurtenberg, Hesse e o Palatinado Bávaro. Portanto, a visibilidade do direito se assegurava tanto no sistema de base
pessoal quanto no sistema de base real. Em segundo lugar, a abstração ou a causalidade do contrato que originava a
inscrição não eram requisitos essenciais do sistema, uma vez que o Sistema Alemão baseava-se na abstração do
registro em relação ao título aquisitivo, ao passo que o sistema suíço era causal – e, no entanto, ambos pertencem à
família do Sistema Germânico de publicidade imobiliária, e em ambos vigorava a fé pública registral. Em terceiro lugar, o
princípio da continuidade, longe de afastar os efeitos a força probatória dos livros de registro, os auxiliava, por gerar
precisão e visibilidade do domínio. Em quarto lugar, a existência da “dúvida” dava ao encarregado do registro
prerrogativas semelhantes às que tinha o encarregado do Sistema Germânico, afirmando o princípio da legalidade. Em
quinto lugar, a responsabilidade do Estado pelas faltas ocorridas quando da transcrição – apontada como requisito do
Sistema Germânico – seria matéria dissociada da eficácia probatória dos livros de registro; e, ainda, dever-se-ia dizer
que talvez os oficiais fossem melhores fiadores de seus atos do que o próprio estado, cuja responsabilidade por seus
atos era matéria polêmica, não estando totalmente afastada87.
Serpa Lopes acrescentava que a objeção de direito material à adoção do Sistema Germânico – a qual afirmava que o
parágrafo 891 do Código Civil Alemão, reproduzido no artigo 859 do Código Civil Brasileiro de 1916, conteria uma
presunção meramente processual – não poderia estagnar o direito brasileiro no Sistema Francês. Dar ao artigo 859 uma
função puramente processual seria criar um corpo estranho no organismo jurídico, gerando um sistema que não
participa nem do “esplendoroso” Sistema Germânico, nem do “bisonho” Sistema Francês. A função processual do
parágrafo 891 do Código Civil Alemão direcionar-se-ia à fé pública. Haveria uma presunção de direito, e uma proteção
processual que equivaleria a uma faculdade material de conduzir-se temporariamente como titular do bem imóvel. No
direito brasileiro, considerar que o artigo 859 repeliria a fé pública seria eivar o dispositivo de inutilidade. Se a transcrição
não provava o domínio, não agregava qualquer proteção. A presunção já resultaria do título causal, da escritura em si, e
a transcrição seria mero veículo de publicidade. Tivesse o artigo 859 esse papel puramente processual, nem a este tipo
de defesa se prestaria, na hipótese, por exemplo, de estarem presentes na lide dois títulos transcritos em nomes de
proprietários diferentes88.
Além do mais, não se poderia aceitar que o texto do artigo 859 tivesse implícita a ressalva do direito anterior, tendo
em vista as reiteradas afirmações de seu autor em sentido contrário. Na verdade, havia uma efetiva intenção de se ter
no dispositivo uma presunção absoluta de domínio. A omissão da reprodução de outros dispositivos do Código Civil
Alemão, que complementassem o artigo 859, não poderia ensejar conclusões opostas à intenção do artigo, deslocando-
o totalmente de sua função. Ainda, uma vez que o Código Civil Brasileiro afirmava a aquisição da propriedade pela
transcrição, não se poderia dar a esta o regime do direito anterior, de mero veículo de publicidade e oponibilidade a
terceiros. Não se poderia admitir que a usucapião e a acessão fossem modos absolutos de aquisição de propriedade, e
a transcrição não89.
Outro argumento em favor da força probatória da transcrição seria a prevalência do direito do terceiro adquirente de
imóvel recebido indevidamente pelo alienante em virtude de pagamento indevido, o que, em si, já ensejaria uma
aplicação analógica, transpondo-se os efeitos do artigo que trata do pagamento indevido para todos os terceiros
adquirentes de boa-fé. Esta analogia – a qual geraria estabilidade na circulação de riqueza – não se prestaria a suprir
uma lacuna, mas sim a completar um sistema já firmado no artigo 85990.
Por fim, seriam argumentos, também, em favor da tese da adoção do Sistema Germânico a ação pauliana contra
terceiros de má-fé, e a preservação dos direitos do adquirente de bem alienado por herdeiro aparente, nas quais
prevalece a boa-fé. A interpretação nesse sentido se inseria numa tendência do chamado “fenômeno da legitimação”,
que se dava no âmbito dos móveis e dos imóveis. Com este, ruiu a distinção entre os bens quanto à circulação e
aquisição a non domino, em favor do terceiro de boa-fé. Como ponto central, tinha-se a doutrina da crença, da
confiança, baseada na aparência. Ligava-se com a publicidade numa relação de causa e efeito, tendo a publicidade o
papel de gerar esta aparência, a qual geraria expectativas e segurança do direito. Todo o movimento pela força
probatória dos livros de registro calcava-se na segurança, na precisão na circulação dos imóveis, e na crença que tem a
coletividade na situação jurídica aparente. Serpa Lopes ainda reunia alguns julgados, tratando do problema em vários
sentidos. A partir da análise destes concluiu que, para a jurisprudência, o sistema era híbrido, nem francês, nem
germânico: a transcrição seria uma primeira linha de defesa processual, somente, o que, para o autor, significava grave
recuo91.
A outra corrente – defendendo que o Código Civil de 1916 não implantou no Brasil o Sistema Germânico – teve sua
defesa definitiva em trabalho da lavra de Soriano Neto, catedrático de direito civil da Faculdade de Direito do Recife.
Para ele, em primeiro lugar, o parágrafo 891 do Código Civil Alemão – vertido para o artigo 859 do Código Civil Brasileiro
– representaria presunção processual, somente, não servindo de base à fé pública. Segundo ele, a unanimidade dos
juristas alemães afirmava que a fé pública não estava no parágrafo 891 do Código Civil Alemão, mas no parágrafo 892,
o qual prescreve: “§ 892: Reputa-se exato o teor do registro fundiário a favor daquele que adquire, por ato jurídico, um
direito sobre um imóvel ou um direito sobre um tal direito, a menos que não esteja inscrita uma contradita contra a
exatidão ou não seja conhecida do adquirente a inexatidão.” Assim, como se disse, o parágrafo 891 geraria apenas
presunção iuris tantum de verdade do registro, regulando o ônus da prova. Poderia aquele cujo nome constava do
registro propor ações reais sem necessidade de provar a exatidão da inscrição, legitimado pela aparência de legalidade.
Porém, poderia qualquer interessado afastar esta presunção, provando a inexistência do direito aparente92.
A seguir, o autor apresentava uma plêiade de autores alemães que defenderiam esta ideia, como Wolff, Dernburg,
Biermann, Gierke, Strecker, Heymann, Heck, Staudinger, Heilfron e Pick, e Endemann93.
Em segundo lugar, seria impensável, do ponto de vista do sistema de publicidade como um todo, transplantar para o
Direito Brasileiro da época ou para o Direito Francês a regra da fé pública registral. A fé pública registral seria inerente
ao registro fundiário, ou seja, um sistema baseado em matrículas individualizadas de todos os imóveis da circunscrição,
cadastro atualizado com elementos de agrimensura e cartografia, e legalidade no exame dos títulos94.
Porém, na legislação vigente no Brasil as transcrições eram feitas em ordem cronológica, sem atender a qualquer
das regras do direito formal germânico. Os livros fundiários alemães forneciam a base de segurança do sistema,
refletindo todas as mutações no estado jurídico do bem, e assegurando uma grande coincidência entre a realidade e seu
conteúdo. Era, portanto, a fé pública subordinada e dependente do direito formal do Sistema Germânico95.
Um terceiro argumento de Soriano Neto baseava-se no risco à segurança jurídica gerada pela fé pública. Se, por um
lado, gerava segurança para o tráfego jurídico, por outro poderia fazer com que um proprietário perdesse seu bem sem
culpa e sem direito a indenização. Isto seria ainda mais agravado, à época, por não haver no Brasil responsabilidade do
Estado por danos causados por dolo ou culpa de tabeliães e oficiais de registro no exercício da função96.
A deficiência no direito formal aumentaria os riscos de dano aos titulares de direitos, sacrificando-se a segurança
jurídica no altar da segurança do tráfego. Com isso, ter-se-ia tão somente um deslocamento do problema: dos terceiros
adquirentes de boa-fé, a insegurança passaria a ser dos proprietários97.
Finalmente, não havia no Sistema Brasileiro a abstração do Sistema Alemão: a transcrição do direito brasileiro era
causal, depende do título que lhe dava origem. Assim, tal como no direito anterior, a transcrição na vigência do Código
Civil de 1916 era, ainda uma tradição solene do imóvel98.
Em suma, para Soriano Neto, não havia fé pública no direito brasileiro; a transcrição do direito brasileiro era causal; e
houve no Código Civil de 1916 simples reforço da transcrição por ser ela constitutiva na transmissão do direito.
Essa ideia de simples reforço também foi defendida por Virgílio Sá Pereira, segundo o qual não era o pensamento de
Clóvis Beviláqua fazer mudanças radicais. Houve uma mudança – a transcrição deixou de ser meio de publicidade, para
passar a ser modo de aquisição de propriedade. No entanto, não foi instituída no Brasil a depuração do direito de
propriedade operada pela inscrição do título, própria do Sistema Germânico, por falta do cadastro e seus outros
requisitos formais. Transcrição e tradição fundiram-se. E, respeitados os princípios da tradição, de que ninguém
transmite mais direitos do que possui, retira-se tudo o que possa haver de germânico99.
Outro professor de Recife, Joaquim Guedes Correia Gondim Filho, também afirmou ter sido mantida no Código a
tradição causal do direito romano: o direito não se transferia sem a transcrição, mas, uma vez transcrito, os efeitos eram
gerados pelo próprio ato, e não pela transcrição. Assim, concluiu que, sem seguir qualquer orientação definida, não
houve aumento ou diminuição na segurança do comércio pelo advento do Código Civil de 1916100.
Fernando Euler Bueno, em monografia sobre o problema, criticou Lysippo Garcia e seus seguidores, afirmando que
uma das bases de sua argumentação – as discussões travadas na elaboração do Código – não deveria ser levada em
conta, pois devia o intérprete sempre buscar a vontade da própria lei, e não do legislador concreto. Porém, ainda que se
levasse em conta, os argumentos extraídos da discussão eram fracos. Em primeiro lugar, Clóvis Beviláqua estaria
impressionado pelas críticas contundentes feitas ao sistema de publicidade francês, o que o teria feito sentir-se
compelido a tentar mudar o regime no Direito Brasileiro. Contudo, ao importar somente o artigo do Código Civil Alemão
que tratava da presunção em favor do inscrito, acabou por efetivamente não mudá-lo. Em segundo lugar, a simples
exclusão do parágrafo único do artigo 605 – que afirmava que a inscrição não induz prova de domínio, que fica a salvo a
quem de direito – não poderia levar à conclusão de que, com isso, adotara-se o Sistema Germânico. Seria uma
conclusão excessiva extraída a partir de um não dizer. Ainda, afirmava que Clóvis Beviláqua, quanto a esse objeto,
abrira um parêntese na excelência inigualável de suas teses, claudicando, e proferindo em cada momento, uma posição,
restando estas, ao final inconciliáveis entre si. Por outro lado, o autor tinha reservas com a extensão demasiada da
proteção da boa-fé – isto poderia gerar a espoliação de um direito de alguém que nem mesmo podia manifestar sua
vontade, nem contribuiu para a ocorrência: o proprietário do bem. Tal regra, pelas consequências, deveria vir em texto
legal expresso, e não ser inferida a partir de uma leitura sistemática do código. Ainda, o autor apresentou três outros
argumentos oriundos de interpretação sistemática, contra a implantação do Sistema Alemão: I) a existência no Código
do usucapião ordinário, dependente de justo título e boa-fé, seria inútil, pois a força probante dos livros – purgando o
domínio – dispensaria o requisito do tempo para a aquisição da propriedade por aquele que a recebeu de quem não era
dono, ou não podia alienar; II) a circunstância de somente os adquirentes de boa-fé poderem demandar pela evicção,
pois, com a adoção do Sistema Germânico, o terceiro de boa-fé já estaria abrigado contra a reivindicação, e, portanto, a
evicção perderia sua utilidade; e III) a manutenção no Código de Processo Civil de 1939 do registro Torrens, o qual seria
inútil em um sistema que já garantisse a purgação do domínio pela transcrição101.
Philadelpho Azevedo – autor do decreto regulamentador dos registros públicos de 1928 – reconheceu a erudição, o
brilhantismo, e o conhecimento da cultura alemã de José Soriano Neto. No entanto, propôs-se, em defesa da corrente
de Lysippo Garcia, a “procurar atenuar o golpe e de sustentar a absoluta conveniência, senão necessidade, de se
reforçar aquela corrente, em benefício dos interesses nacionais, sejam quais forem as falhas de origem, verificadas no
exame teórico do problema”102. Então, reconheceu que, de fato, na Alemanha a inscrição era abstrata, sendo
independente do título causal obrigacional; que a marca do sistema era a proteção de terceiros pela força probante do
registro, e não um presunção absoluta e erga omnes da exatidão do registro; e que, no Código Civil Alemão, esta força
probante estava no parágrafo 892, não reproduzido no Código Civil Brasileiro. No entanto, ao invés de reconhecer que
estas falhas retiravam o Brasil da família germânica de publicidade imobiliária, fez exatamente o contrário: propôs que se
deveria extrair do artigo 859 do Código Civil toda a eficácia que este pudesse oferecer. A força probante, segundo ele,
tinha de prevalecer no Brasil, em benefício da segurança das transações e do crédito, não obstante as falhas de origem.
O próprio Sistema Alemão não era perfeito – por exemplo, a existência de um negócio no contrato de compra e venda, e
outro no ato de transmissão, o que seria um excesso da técnica, distante da realidade; o enorme desprezo pela posse; a
possibilidade de ausência de indenização se o encarregado do registro praticasse o erro sem culpa, pela impossibilidade
de perceber uma falsificação sofisticada; e a ocorrência ocasional de o mesmo imóvel figurar em mais de uma folha de
registro, com proprietários diferentes. Isso não fazia com que o Sistema Alemão deixasse de ser o melhor, mas mostrava
que o ideal seria inatingível em qualquer lugar, e que, portanto, os eventuais riscos não poderiam impedir o
desenvolvimento do sistema também no direito brasileiro103.
O Sistema Brasileiro não seria totalmente baseado no francês, pois sempre existira nos ofícios de registro,
juntamente com o índice pessoal, um índice baseado nos próprios imóveis. Assim, não seria tão diferente do Sistema
Germânico; e algumas mudanças nos modelos dos livros utilizados os tornariam ainda mais próximos. Quanto ao
cadastro, a realização deste seria impossível a curto prazo, e dependeria de levantamentos cartográficos e geodésicos.
Mas isto não tornaria o sistema de força probante dos livros impossível no Brasil. Em primeiro lugar, a identificação de
imóveis urbanos era fácil, o que muito contribuiria para a regularização dos títulos. E mesmo quanto aos imóveis rurais,
muitos deles já estavam perfeitamente individualizados e identificados, especialmente os mais valiosos, pois o interesse
econômico seria acompanhado de cautelas e garantias104.
Também seria conveniente ao Sistema Germânico o princípio da continuidade do registro, introduzido no Brasil no
Decreto 18.542, de 1928. Após ampla discussão, concluiu que este decreto não inovou no direito, mas apenas tornou
claro um princípio que já existia no sistema105.
Quanto à usucapião, esta existiria – tal como na Alemanha – para remediar as eventuais falha no sistema, como a
duplicidade de inscrições do mesmo imóvel. Por exemplo, na Alemanha ter-se-ia o chamado usucapião tabular, pelo
qual quem possuísse, fundado em registro, por 3 anos, não poderia ter sua propriedade questionada nem mesmo pelo
alienante106. Quanto ao Sistema Torrens, este seria inviável – em especial nas propriedades de pequeno valor – sem a
criação e manutenção de um fundo público de custeio. Por exemplo, na Tunísia a modalidade fora suprimida, também
por sua inviabilidade. E, por isso, a solução para o Brasil deveria, mesmo, ser buscada no sucessor do velho registro
hipotecário, que deveria ser aperfeiçoado, especialmente pela adoção da força probatória dos livros de registro107.
Era a opinião também do registrador Francisco Bertino de Almeida Prado, para quem o Código Civil de 1916 adotara
os princípios mais importantes do Sistema Germânico, ou seja, a publicidade absoluta – a necessidade de registro para
transmissão da propriedade ou para sua disponibilidade em hipóteses de aquisição causa mortis, por exemplo; o
princípio da prova, pelo qual o titular indicado no registro era presumidamente o proprietário, salvo prova em contrário,
valendo os direitos adquiridos de boa-fé até a data da impugnação; e o princípio da legalidade, que dava ao oficial
atribuição para recusar o título se este não se adequasse às exigências legais108.
Pontes de Miranda apresentou sua opinião em seu Tratado. Não levou em conta as discussões travadas na doutrina
brasileira, e, com base em argumentos inusitados, sustentou que a fé pública do registro protegeria até mesmo o terceiro
adquirente de má-fé.
Segundo o autor, em primeiro lugar o registro não teria nada a ver com a tradição ou com a posse. Era meio de
publicidade, traduzindo em livros situações jurídicas externas. A fé pública do registro daria validade às transmissões
posteriores, bem como geraria a nulidade das transmissões contrárias àquilo que estivesse registrado109. No Código Civil
e legislação posterior de direito material estaria o direito material do registro, abrangendo modificação dos direitos,
pretensões, ações e exceções com efeito real; já nas leis sobre registro estaria o direito formal do registro, com regras
sobre competência dos oficiais, pedido e procedimento de registro, regras sobre o fornecimento de certidões etc.110.
O Código Civil apresentaria uma presunção, que seria menos do que fé pública: a presunção não protegeria o
terceiro, como a fé pública fazia. Seria passível de eliminação pelo cancelamento do registro, ao passo que, havendo fé
pública, os direitos adquiridos antes do cancelamento seriam preservados. Não havia tal presunção no Decreto 169-A,
de 1890, nem na legislação anterior. Nestes, a transcrição não induzia prova do domínio. A presunção do Código Civil
nada teria com a fé pública, e sua relevância seria quase que exclusivamente processual111.
Contudo, não obstante o art. 859 contenha presunção somente, a fé pública dos registros derivaria do próprio ofício
do registro. Todo ofício de registro teria, por definição, fé pública. A aquisição pela transcrição seria amparada pela fé
pública do registro, somente não valendo se pleiteada a declaração de sua inexatidão. Esta fé pública não alcançaria o
negócio das partes, pois se destinaria a proteger o tráfico imobiliário, os terceiros adquirentes112. Assim, o registro
imobiliário no direito brasileiro não seria simples meio de publicidade. Mais do que isso, seria meio de aquisição da
propriedade. Por isso, os terceiros de boa-fé adquiririam pelo registro ainda que o alienante não fosse dono. Insista-se,
para o autor era absolutamente necessário que um registro constitutivo fosse dotado de fé pública. Portanto, a aquisição
independia até mesmo da boa-fé – pelo registro, adquirentes de boa e má-fé adquiririam, pois a fé pública viria do
registro, e não da boa ou má-fé do adquirente. O terceiro adquirente de má-fé poderia ser responsabilizado de forma
pessoal, mas ainda assim adquiriria o bem, se baseado estava na fé pública113.
Ambas as correntes apresentaram bons argumentos. Por um lado, os defensores do Sistema Germânico viam no
Código Civil uma oportunidade de implantá-lo no Brasil, com uma argumentação minimamente consistente. Mas, por
outro, após o trabalho de José Soriano Neto, de um ponto de vista estritamente jurídico-normativo fica mais ou menos
claro que esta corrente se baseia mais em um wishful thinking do que em bases jurídicas sólidas.
E, apesar dos esforços em defesa da implantação do Sistema Germânico, ao final prevaleceu com unanimidade a
ideia de que o artigo 859 apenas gerava uma presunção relativa, equivalente ao princípio alemão da legitimação, com o
que os terceiros adquirentes de boa-fé não estavam protegidos contra a evicção. Esta prevalência se percebe nos
próprios manuais de direito civil, como no de Silvio Rodrigues114, Washington de Barros Monteiro115 e no de Caio Mário
da Silva Pereira116.
Entretanto, apesar da não implantação no Brasil do Sistema Germânico, não se pode dizer que o advento do Código
Civil de 1916 foi despido de mudanças no aspecto material da publicidade imobiliária. Apesar de não haver o princípio
da força probante dos livros, ou da fé pública registral, o Código declarou a transcrição constitutiva, pondo fim ao dúbio
regime do direito pré-codificado, o qual, como se viu, foi objeto de bastante discussão pela doutrina.
Ainda, o Código Civil de 1916 determinou, no artigo 532, o registro também das aquisições causa mortis ou a título
judicial, para sua disponibilidade, e, mais importante de tudo, estabeleceu o princípio da legitimação: a presunção
relativa de que aquilo que está no registro vale, até que o registro venha a ser cancelado. Por essa razão, tem-se aqui o
Código Civil de 1916 como um marco relevante na linha da história da publicidade imobiliária no direito brasileiro em seu
aspecto material.
Um último ponto de interesse diz respeito aos elementos que compõem a mutação real no Sistema Brasileiro de
Registro de Imóveis. Observe-se que estas observações, não obstante digam respeito a um debate que se iniciou na
vigência do Código Civil de 1916, são válidas também para o período da vigência do Código Civil de 2002.
A grande maioria dos autores que consideraram o registro constitutivo, como se viu, o compreendiam como a própria
tradição do bem. O registro seria modo de aquisição porque a antiga tradição havia assumido a sua forma. Contudo, isto
não é pacífico, e houve notáveis entendimentos em sentido diverso na doutrina civilista do Século XX.
Como expunha Pontes de Miranda, quem vende não consente, só por isso, na transmissão. Com a venda, obrigou-
se a cumprir uma obrigação; mas ainda não a cumpriu. O cumprimento da obrigação se dá pelo acordo de transmissão,
que, não obstante possa ser apresentado concomitante à venda na escritura, tecnicamente não se confunde com ela.
Assim, quando a escritura menciona que “e, recebido o preço, disseram que desde já transferem o domínio, direito, ação
e posse...”, têm-se, em sequência, um acordo de transmissão da propriedade e um acordo de transmissão da posse,
que, novamente, não se confundem com a compra e venda117.
O acordo de transmissão também não se confunde com o registro, e, na verdade, há ainda um terceiro elemento, o
consentimento para o registro, que, salvo ressalva, está implícito no acordo de transmissão. O acordo de transmissão é
negócio jurídico cujo conteúdo é precisamente a vontade de se modificar o direito: transmitir a propriedade. Já o
consentimento para o registro é a outorga de um poder para que se solicite ao registrador a prática do registro. O ato de
registro, por fim, é “ato jurídico estatal”, ou seja, ato administrativo118.
Observe-se, por fim, que para Pontes de Miranda o acordo de transmissão era abstrato, ou seja, a nulidade do
negócio jurídico causal, de natureza obrigacional, nenhum efeito projetaria nele119.
Objetando a isso, Clóvis do Couto e Silva afirmava que o Código Civil Brasileiro havia adotado um sistema de
separação relativa – e não absoluta – entre os planos obrigacional e real. Assim, em princípio, a vontade de adimplir, ou
seja, de transmitir, pode ser considerada codeclarada no negócio jurídico obrigacional antecedente. Todavia, se, no
plano psicológico, estas vontades possam ser inseparáveis, no plano jurídico dão origem a negócios jurídicos distintos,
um obrigacional, e outro de direito das coisas, destinado ao adimplemento. Isto não se confunde com os pré-contratos:
na promessa de venda e compra, por exemplo, o objeto é realizar a compra e venda, ou seja, uma obrigação de fazer. A
compra e venda é que terá por objeto a obrigação de dar, e que, por conseguinte, será cumprida por um negócio jurídico
de disposição120.
A admissão da abstração implicaria a aceitação de uma separação absoluta entre os planos obrigacional e real em
um sistema que, tradicionalmente, e no entendimento da grande maioria da doutrina e jurisprudência, sempre foi
causal121.
É perfeitamente adequado – mesmo ao sistema do Código Civil de 2002 – o pensamento de Clóvis do Couto e Silva.
Em que pese não haver no Brasil abstração, é inegável que a mutação real contempla não apenas o negócio
obrigacional – já que o sistema é causal – como também o real, antes da realização do registro.
Eventuais invalidades do negócio jurídico obrigacional, que funciona como etapa anterior à disposição, e serve como
sua causa, contaminam o negócio jurídico de disposição. No mesmo sentido, mas segundo outra perspectiva, a
atribuição patrimonial gerada pelo negócio de disposição necessariamente deve ser justificada122.
O registro, como bem disse Pontes de Miranda, é ato administrativo praticado pelo registrador; e não ato das partes.
Seria uma visão demasiadamente privatística considerar que os autores do registro são as partes, cabendo ao
registrador tão somente receber sua vontade, o que seria o caso se o registro fosse considerado apenas uma tradição
solene.
Sendo o registro constitutivo, como é entre nós, deverá integrar o processo transmissivo de outra maneira.
Assim, a vontade das partes de transmitir é manifestada no acordo de transmissão, e não no registro; e o registro
significa, novamente, um ato de soberania do Estado que o registrador, como agente público, pratica, ao qualificar
positivamente o título que lhe foi apresentado. Os dois momentos integram o modo de aquisição.
A admissão dessa separação relativa explica, na verdade, a possibilidade da venda de imóvel futuro, já que ainda se
está no plano meramente obrigacional; e a impossibilidade do acordo de transmissão desse imóvel, condicionado à
efetiva possibilidade de transmissão da propriedade. No mesmo sentido, a possibilidade de se estipular obrigações
alternativas, ou de dar coisa incerta, em vendas imobiliárias: novamente, as restrições atingiriam o negócio de
transmissão, mas não a compra e venda.
Ainda, coloca em seu devido lugar o numerus clausus dos direitos reais, que não se aplica aos negócios causais: a
compra e venda pode ser da propriedade ou do usufruto123, já que a transmissão ou a instituição do direito real limitado
dependerá da etapa seguinte, o negócio de disposição.
Muitos outros institutos se tornam mais operativos com a adoção sistemática da distinção, e a isso se voltará em
outro momento.
4.3.5. O período compreendido entre o Código Civil de 2002 e a Lei 13.097, de 2015
Tomando-se como premissa o acerto da corrente predominante, o Código Civil de 2002 não inovou em relação ao
Código Civil de 1916 quanto à existência ou não no Direito Civil Brasileiro da Fé Pública Registral.
Contudo, é válida a referência, uma vez que, de forma expressa, o novo Código pôs fim à vexata quaestio que se
desenvolveu ao longo da primeira década do século XX.
O parágrafo único do artigo 1247 prescreve que “Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.”.
Ou seja, o dispositivo claramente contém a fattispecie que em geral condiciona o funcionamento da fé pública
registral: a aquisição por terceiro de boa-fé. A seguir, prescreve que este adquirente não está protegido da evicção nas
situações em que um proprietário não inscrito obtém o cancelamento de um registro, e reivindica o bem.
Com isso, toma posição no clássico conflito entre o proprietário de algum modo espoliado pelo registro e o terceiro
adquirente de boa-fé, que, como já visto na introdução, foi sintetizado por Victor Ehrenberg como um conflito entre a
segurança do direito e a segurança do tráfego. Havendo este conflito, o dispositivo assume a defesa do proprietário, em
prejuízo do terceiro de boa-fé.
Deve-se observar, contudo, que, se por um lado, é amplamente majoritário o entendimento de que o sistema do
Código Civil de 2002 não contemplava os efeitos materiais do registro, ele, entretanto, não é unânime. Para Leonardo
Brandelli, a tutela do terceiro adquirente de boa-fé não é uma decorrência da publicidade registral, mas da tutela da
aparência jurídica. Segundo ele, mesmo no Direito Alemão, ainda que não houvesse no BGB o § 892, que trata da fé
pública registral, estariam protegidos aqueles que confiam na informação registral em virtude, exatamente, da proteção
da aparência. O Direito Brasileiro também contempla o princípio da proteção da aparência, que se manifesta, por
exemplo, no que diz respeito ao herdeiro aparente (Código Civil, artigo 1.827), do casamento aparente (Código Civil,
artigo 1.563), e do credor aparente (Código Civil, artigo 309). O fato de ser o registro em regra constitutivo no Direito
Brasileiro, a existência de uma qualificação jurídica rigorosa fundada no princípio a legalidade, a natureza de agente
público do registrador, e outras circunstâncias, fazem com que o público tenha uma confiança legítima naquilo que
consta do registro. Assim, em que pese o registro não ter um efeito saneador – os eventuais vícios que tornem em rigor
falso algum dado que conste do registro, mas não é disso que se trata – terceiros serão protegidos pela aparência de
regularidade, com o que no Brasil, para Brandelli, efetivamente vigora a fé pública registral124.
Ainda, houve no Código Civil de 2002 um pequeno reforço da eficácia do registro, pelo interessante dispositivo
constante do artigo 1.242, parágrafo único, que, salvo melhor juízo, tem sido mal compreendido pela doutrina brasileira.
Uma leitura apressada poderia sugerir que a modalidade de usucapião descrita nesse parágrafo tem, como
pressuposto fático, a posse por cinco anos, com justo título oneroso, boa-fé e moradia ou investimentos de quem obteve
o registro no Registro de Imóveis, e, por alguma razão, não adquiriu. Ou seja, ter-se-ia, aqui uma usucapião tabular.
Todavia, o parágrafo, quando compreendido como uma unidade, não permite esta interpretação. O ponto central é a
compreensão do significado de “adquirido, onerosamente, com base no registro”. Ora, não se pode pretender que isto
signifique que o título tenha sido registrado. Se há necessidade de usucapião para a aquisição da propriedade, isto
significa que a aquisição não aconteceu com o registro. Compreender que “adquirido, onerosamente, com base no
registro” significa simplesmente que o título chegou a ser registrado, implicaria uma dupla aquisição, se o registro
transmitiu a propriedade; ou uma impossibilidade de usucapir, se não transmitiu (já que, neste caso, não se “adquiriu
com base no registro”).
Na verdade, “com base no registro” deve ser interpretado como “confiando no registro”, ou seja, a aquisição onerosa
teve como alienante aquele que figurava no registro como proprietário; e, por alguma razão, a propriedade não pôde ser
transmitida pela via derivada, donde a necessidade de recurso ao usucapião.
Tem-se, assim, uma situação na qual um terceiro adquirente a título oneroso e de boa-fé, se tiver a posse do bem
acompanhada de moradia ou investimentos, verá a consolidação do seu direito no prazo de vinte anos, o pondo a salvo
de eventuais defeitos na cadeia filiatória que, de alguma maneira, influíssem no direito do alienante que figurava como
proprietário do registro.
E, não obstante não se tenha aqui tecnicamente fé pública registral – já que pressupõe o exercício de posse e a
solução é data pelo usucapião, e não diretamente pelo registro – os efeitos serão os mesmos de uma fé pública registral
diferida, tal como se dava no Sistema Austríaco, em prestígio da confiança no registro.
A Lei 13.097 foi promulgada no dia 19 de janeiro de 2015, e trouxe disposições importantes para a matéria do
registro de imóveis em seus artigos 53 a 62. No entanto, os dispositivos já estavam em vigor, e tiveram sua origem na
Medida Provisória 656, de 2014.
A exposição de motivos da Medida Provisória revela a intenção presente na criação dos dispositivos: “O Projeto de
Medida Provisória visa também adotar o princípio da concentração de dados nas matrículas dos imóveis, mantidas nos
Serviços de Registro de Imóveis”. Este princípio, defendido desde muito tempo por Décio Antonio Erpen e João Pedro
Lamana Paiva, significa que todos os atos ou fatos vinculados a um certo objeto devem ser publicitados por um mesmo
e único órgão125. Ainda, que a matrícula do imóvel no registro deve conter informações tão completas sobre a situação
jurídica do bem que se torne prescindível qualquer outra diligência com a finalidade de apurá-la. Segundo os autores,
“nenhum fato jurígeno ou ato jurídico que diga respeito à situação jurídica do imóvel ou às mutações subjetivas pode
ficar indiferente à inscrição na matrícula”126, abrangendo não apenas a transmissão da propriedade, ou a instituição de
direitos reais, mas também atos judiciais, restrições administrativas à propriedade, decretos de utilidade pública etc. Pelo
princípio, portanto, devem convergir ao registro de imóveis e nele estarem reunidas quaisquer informações relevantes do
imóvel, sejam elas jurídicas, ou, em alguns casos, até mesmo, fáticas127, donde o nome concentração.
Essa reunião de informações no registro foi justificada, ainda nos termos da exposição de motivos da Medida
Provisória, por razões econômicas, marcadamente a assimetria de informação. E isto é assim porque o legislador
considerava que as informações estavam dispersas em muitos órgãos distintos, fenômeno a que Ricardo Dip e Nancy
Andrighi denominaram “Dispersão Publicitária”128. A ideia de “assimetria de informações” (information assimetry) foi
desenvolvida por economistas norte-americanos na década de 70, e aparece, pela primeira vez, em um artigo de
GEORGE AKERLOF129. Este artigo tratava dos problemas criados para o mercado de veículos usados pelos “lemons”.
Lemon, segundo o autor, seria a maneira como, popularmente, era conhecido, na época, um carro ruim. O estudo de
Akerloff pretendia responder uma questão bastante concreta: por que um carro que acaba de sair da concessionária vale
consideravelmente menos do que aqueles que são vendidos diretamente por ela? Segundo o autor, a explicação
habitual seria a de que as pessoas aceitam pagar mais pela sensação de ter comprado um carro novo. No entanto,
segundo ele, haveria também uma outra explicação possível. E esta outra explicação levava em conta a existência dos
lemons. Assim, o autor propunha um modelo de mercado no qual existissem carros com apenas quatro qualidades:
novos, usados, bons e ruins, pelo que um carro poderia ser novo e bom; novo e ruim; usado e bom; ou usado e ruim.
Neste mercado, quando um carro novo fosse vendido pela concessionária, ninguém saberia ainda se aquele carro
específico seria bom ou ruim, já que ninguém ainda o utilizara. Então, todos os carros novos seriam vendidos pelo
mesmo preço. Lembre-se que dentre as quatro qualidades possíveis somente uma é conhecida por todos: a de se tratar
de um carro novo. Uma vez vendido o carro, o comprador do carro novo, ao usá-lo – por pouco que fosse – passaria a
ter mais informações sobre ele, tendo, então, mais chances de saber se comprou um carro bom ou um lemon. Se
resolvesse vendê-lo, no entanto, esta informação (a probabilidade de se tratar de um carro bom) seria absolutamente
desconhecida pelo comprador; e, com isso, também os carros usados – bons ou ruins – seriam vendidos pelo mesmo
preço, já que aos olhos do comprador o carro teria apenas uma qualidade: a de se tratar de um carro usado. Assim, o
carro usado necessariamente deve valer menos do que o novo.
Esse fato traz para o mercado de carros usados uma consequência grave: a possibilidade de se estar comprando um
carro usado ruim – ou seja, a incerteza sobre a qualidade do carro – acabará por eliminar, ou dificultar, a venda dos
carros usados bons.
Algumas dessas incertezas têm relevância jurídica. Segundo Fernando Mendez González130, a única maneira de se
obter uma diminuição destas incertezas que assegure proteção à propriedade e liquidez de suas alienações é a
realização de uma intervenção direta do Estado, de maneira normativa e institucional, como já se viu.
As inovações trazidas pelos artigos 53 a 62 da Lei 13.097, de 2015, contribuíram para a consagração, no Brasil, de
um verdadeiro sistema de registro de direitos, tendo como modificação mais relevante, um reforço da eficácia do registro
de imóveis.
Isso foi feito pelo emprego de dois mecanismos diferentes: a inoponibilidade e a fé pública registral. Por meio da
“concentração” necessária na matrícula dos fatos e atos jurídicos que atinjam imóveis, instituiu três modalidades de
proteção gerada pelo registro, as quais variam em requisitos e efeitos, conforme a situação da pessoa protegida.
A primeira modalidade de reforço de eficácia está presente no artigo 54 caput da lei, e consiste na proteção ao
adquirente, credor ou terceiros, independentemente de boa-fé, relativamente aos atos expressamente indicados no
dispositivo: negócios jurídicos em geral, que tenham por objeto constituir, transferir ou modificar direitos reais sobre
imóveis, são eficazes em relação a atos jurídicos precedentes nas situações constantes dos seus incisos I a IV, e
somente elas.
Assim, quem eventualmente venha a adquirir o bem, ou venha a recebê-lo em garantia, fica protegido contra ações
reais e pessoais reipersecutórias, constrições judiciais, execuções ajuizadas ou ações em geral em fase de cumprimento
de sentença, restrições administrativas ou convencionais ao gozo do direito registrado, ordens de indisponibilidade, ou
quaisquer outras ações judiciais cujos resultados possam reduzir o titular do bem à insolvência, desde que qualquer
destas circunstâncias não tenha sido levada à matrícula no registro de imóveis.
Trata-se, ainda, de mera inoponibilidade, e não de fé pública, estando presente nesta hipótese apenas a sua primeira
dimensão, na dicção de Mônica Jardim. Seu objetivo é assegurar a eficácia de negócio que constitua, modifique ou
transfira direitos sobre o imóvel (alienações, constituição de direitos reais limitados etc.), recebendo a proteção aquele
que deles se beneficie. E a proteção se dá contra atos precedentes, sejam eles relativos ao alienante, diretamente; ou a
anteriores titulares do bem.
No entanto, esta modalidade protege essas pessoas apenas em relação às hipóteses já mencionadas, e que foram
previstas de maneira expressa no artigo 54 da lei. De maneira geral, estas dizem respeito a riscos à solvência dos
anteriores titulares; à existência de restrições sobre o gozo do bem; ou à litigiosidade da coisa (existência de ações reais
ou pessoais reipersecutórias em curso).
Por outro lado, caberá ao interessado na oponibilidade ao adquirente dos atos anteriores providenciar a sua inscrição
na matrícula dos imóveis que queira ver atingidos por eles, sob pena de inoponibilidade. Assim, inoponíveis são os
direitos mencionados nos incisos ao artigo 54, se não publicitados mediante sua inscrição na matrícula.
Pode-se dizer, com isso, que há um ônus jurídico imposto a estes interessados de levar ao registro o fato que os
beneficia. Não o fazendo, abrem mão de sua oponibilidade.
Em regra, esta inscrição não depende de decisão judicial específica, bastando que se apresente ao registro
requerimento instruído com certidão que comprove o ato. Contudo, excepcionalmente nas hipóteses do inciso IV, há
necessidade de decisão judicial específica. Este diz respeito a outros tipos de ação, isto é, ações judiciais que não sejam
execuções, nem estejam em fase de cumprimento de sentença, mas cujos resultados ou responsabilidade patrimonial
possam reduzir o proprietário do bem à insolvência. Caberá a este, preferencialmente, indicar os bens sobre os quais a
averbação deverá recair; e deve o juiz restringi-la a quantos bastem para garantir a satisfação do direito. Recebida a
ordem, o oficial a prenota e a cumpre, ou devolve com exigências em cinco dias; e, após o cumprimento, deve
comunicar o fato ao juiz, no prazo de dez dias.
A segunda modalidade de reforço de eficácia que foi trazida pela lei tem sua sede no parágrafo único do artigo 54,
pelo qual os terceiros de boa-fé que adquiram ou recebam o imóvel em garantia ficam protegidos, inclusive para fins de
evicção, contra situações jurídicas não inscritas, salvo certas exceções, previstas expressamente pela lei. Esta segunda
modalidade, portanto, protege os terceiros contra quaisquer outras situações jurídicas, como, por exemplo, a de
verdadeiro proprietário, que foi espoliado pela transmissão. Com isso, limita a possibilidade de reivindicação do bem, por
um lado, bem como da sua evicção, por outro.
Há aqui, efetivamente, fé pública, estando contempladas a segunda e terceira dimensões da inoponibilidade de que
trata Mônica Jardim. Ainda que o alienante não fosse o verdadeiro proprietário, e ainda que houvesse um título viciado
na cadeia de transmissões, fica o terceiro protegido. Vale dizer, o registro terá eficácia material, criando, em alguns
casos, direito onde ele não havia.
Essa segunda modalidade tem por objetivo proteger terceiros de boa-fé que venham a adquirir ou receber em
garantia direitos sobre imóveis, contra “situações jurídicas” não constantes da matrícula – por exemplo, a situação de
proprietário; ou a situação jurídica de credor.
Como se disse, diferentemente do que ocorre na primeira modalidade, há aqui exigência de boa-fé. Neste último
caso não há ainda uma ação judicial ajuizada, uma ordem de indisponibilidade proferida, ou uma restrição convencional
ou administrativa que atinja diretamente o bem. No entanto, há uma situação que gera risco – por exemplo, um defeito
na cadeia de transmissões por conta da falsidade de uma escritura, a existência de um crédito ainda não ajuizado etc.
Desse modo, não havia ainda um título que pudesse ser levado ao registro, não vigorando, para o credor, ou para o
verdadeiro proprietário, o mesmo ônus que vigora na primeira modalidade. Essa a razão, portanto, da exigência de mais
um elemento como requisito da proteção: a boa-fé do adquirente.
O ônus de demonstrar a má-fé do adquirente caberá ao titular da situação jurídica não inscrita prejudicial ao
adquirente. Contudo, terá este interessado a possibilidade de fazê-lo, diferentemente do que ocorre na primeira
modalidade de proteção, em que a má-fé do adquirente é irrelevante se o fato em questão não foi publicitado na
matrícula.
O que significa “terceiro” aqui? Por terceiro entende-se alguém que não adquiriu o bem ou direito diretamente
daquele que teve sua situação jurídica violada. Assim, por exemplo, se “B” compra o bem de alguém que se passa por
“A”, proprietário do bem, esta pessoa “B”, mesmo que esteja de boa-fé, não contará com a proteção da eficácia material
do registro. Já se “B” comprou de “A” – que se passou pelo proprietário tabular – e vendeu o bem a “C”, então “C”, se de
boa-fé, contará com a proteção.
Há, contudo, exceções muito relevantes. A primeira exceção trata das hipóteses de aquisição ou extinção da
propriedade que independam de registro, como as aquisições originárias, ou causa mortis. Assim, se alguém adquire
imóvel do titular tabular e registra a transmissão, ainda assim o perderá em favor de quem outra pessoa que já o tenha
adquirido por meio de usucapião, ainda que a ação não constasse da matrícula, ou mesmo que não houvesse sido ainda
ajuizada. O mesmo ocorrerá se adquirir o bem de herdeiro aparente, e o verdadeiro herdeiro vier a reivindicá-lo.
A segunda exceção diz respeito ao disposto nos artigos 129 e 130 da Lei 11.101/2005 (Lei de Falências), que tratam
da ineficácia de certos negócios praticados pelo falido em relação à massa falida. Assim, ainda que não haja na
matrícula qualquer notícia da falência, o credor beneficiado pela garantia real não poderá opô-la contra os credores da
massa se o negócio foi realizado dentro do termo legal da falência. Também serão ineficazes em relação à massa falida
as aquisições gratuitas desde dois anos antes da decretação da falência, bem como as aquisições ou constituições de
direitos reais, a título gratuito ou oneroso, registradas após a decretação, salvo prenotação anterior. Ainda, serão
revogáveis, nos termos do artigo 130, quaisquer atos que tiverem por objetivo prejudicar credores, mediante prova do
conluio fraudulento entre devedor e terceiro. Quanto à esta última situação, a Lei 13.097 já não seria aplicável
independentemente da formulação de exceção expressa, uma vez que a proteção concedida por esta segunda
modalidade exige a boa-fé do adquirente.
E a terceira exceção, constante do artigo 58 da Lei 13.097, trata da aquisição e oneração de imóveis públicos,
pertencentes à União, Estados, Distrito Federal, Municípios, suas fundações e autarquias. Dessa maneira, ainda que um
imóvel esteja registrado como pertencente a um particular, se, posteriormente, mediante os instrumentos próprios, se
constata que na verdade se trata de imóvel público, o terceiro que o adquiriu de quem figurava como proprietário tabular
não ficará protegido, ainda que estivesse de boa-fé.
É importante destacar que essa terceira exceção tem um alcance maior, atingindo todas as modalidades de proteção
previstas pela Lei 13.097. Assim, aplicam-se também à terceira modalidade, que se verá adiante, e à primeira, da qual já
se tratou. E, quanto a esta, deve-se ressaltar que os créditos tributários inscritos em dívida ativa continuam sendo
oponíveis ao adquirente, ainda que não constem da matrícula do bem, o que se depreende da conjugação do artigo 58
da Lei 13.097 com o artigo 185 do Código Tributário Nacional (Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou
oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito
tributário regularmente inscrito como dívida ativa).
São, portanto, exceções de grande importância, e que acabarão por comprometer a segurança do registro, e o
alcance dos objetivos declarados na exposição de motivos da nova lei, sendo salutar, de lege ferenda, a discussão sobre
a conveniência ou inconveniência de sua manutenção no sistema.
A Terceira modalidade de reforço de eficácia está prevista no artigo 55 da Lei 13.097, e tem por objetivo proporcionar
a proteção da eficácia material do registro mediante o preenchimento de menos requisitos em duas situações especiais.
São estas a situação em que a alienação ou oneração têm por objeto unidade autônoma, integrante de incorporação
imobiliária ou instituição de condomínio edilício regularmente registrados; ou lote oriundo de regular procedimento de
parcelamento do solo.
Novamente, há proteção contra evicção ou decretação de ineficácia, e também, efetivamente, fé pública. Ou seja, o
adquirente, nestes casos, fica protegido contra a possibilidade de o “verdadeiro proprietário” reivindicar o bem, bem
como contra a possibilidade de os credores do alienante (os quais ficam sub-rogados no preço pago, ou no crédito)
buscarem a ineficácia da alienação.
A diferença desta proteção “facilitada” em relação à modalidade geral de proteção pela eficácia material está em não
ser exigida a boa-fé do adquirente; nem serem aplicáveis as exceções mencionadas no artigo 54, a saber, aquisições
que independem de registro e alienações ocorridas no bojo de falências. No entanto, é aplicável a exceção que diz
respeito ao Poder Público, já que o artigo 58 é claro ao dizer que “o disposto nesta lei” não se aplica a imóveis de sua
propriedade.
A razão de ser dessa modalidade especial é a de se estimular os empreendimentos imobiliários, sob a forma de
loteamento ou de condomínio edilício, mediante um incremento da segurança pela redução da assimetria de
informações, da qual já se tratou. Deve-se ter em vista, também, que a qualificação registral destes procedimentos já
envolve a exigência e análise de uma grande quantidade de documentos que dizem respeito, em suma, à saúde jurídica
e financeira do empreendimento131.
Finalmente, apesar de a lei não fazer esta restrição, esta modalidade especial de proteção somente faz sentido se o
dispositivo que a concede for interpretado de forma a ser aplicado exclusivamente às transmissões feitas pelo
empreendedor132. Assim, as transmissões posteriores, feitas pelo adquirente do lote ou da unidade autônoma, ou por
quem dele adquira, não estarão protegidas por esta terceira modalidade especial, mas somente pela segunda, de
caráter geral.
O Superior Tribunal de Justiça, não obstante não se tenha invocado a Lei 13.097, de 2015, no acórdão, já decidiu de
maneira a reconhecer a eficácia material do registro em proteção de terceiro adquirente de boa-fé, e, portanto, em
admitir a fé pública registral, no Recurso Especial 1.424.275 – MT. Tratava-se de alienação de imóvel comum por um
homem, sem a participação de sua ex-companheira. O imóvel fora adquirido na vigência da união, mas a companheira
não figurou no negócio aquisitivo, nem no registro. Não obstante, pelo regime de bens em vigor – a comunhão parcial de
bens – tratava-se de bem comum.
É fundamental observar que, pelas razões apontadas, o Tribunal considerou que o caso era de venda a non domino:
uma vez que o bem era comum, e o ex-companheiro o alienou integralmente sem participação de sua então
companheira, acabou alienando coisa que não lhe pertencia. Todavia, não se admitiu a anulação do negócio pela
preocupação com os interesses de terceiros de boa-fé e com a segurança jurídica. Com isso, concluiu que a anulação
do negócio com este fundamento somente seria possível se a existência da união estável houvesse sido levada ao
registro de imóveis. Ainda, “não havendo o referido registro da relação na matrícula dos imóveis comuns, ou não se
demonstrando a má-fé do adquirente, deve-se presumir a sua boa-fé, não sendo possível a invalidação do negócio que,
à aparência, foi higidamente celebrado”.
Ora: proteger um terceiro adquirente de boa-fé, que confiou no registro, de maneira a fazê-lo adquirir algo que o
alienante, em princípio, não poderia transmitir é precisamente a superação dos riscos da traditio e do velho princípio de
Ulpiano segundo o qual Nemo plus iuris ad alium transferre potest, quam ipse haberet (Dig. 50.17.54), ou seja, ninguém
pode transmitir mais direitos do que possui.
Observe-se que no caso não havia dúvidas quanto aos direitos da ex-companheira sobre o imóvel. Em uma
situação de conflito entre dois interesses legítimos, a solução deveu-se à opção – positivada na Lei 13.097 de
2015 – pela segurança do tráfego jurídico e pela proteção do terceiro adquirente de boa-fé.
4.4.1. Período anterior à Lei Orçamentária de 1843 (Lei 317, de 1843) e Decreto 482, de 1846
Entendida a publicidade imobiliária como um meio de salvaguardar direitos de terceiros pelo conhecimento do estado
da propriedade dos bens, ou seja, como uma publicidade qualificada, que produz efeitos jurídicos próprios, é possível
afirmar que esta não existia no Brasil até 1846.
Contudo, havia já tabeliães, cujas escrituras públicas podem levar erroneamente ao entendimento contrário.
O Tabelião de Notas era o empregado público encarregado de instrumentalizar contratos ou últimas vontades em
livros que deveria guardar. Ainda, lhe cabia lavrar outros documentos ou traslados, firmando-os com um sinal público
que os revestia de autenticidade133.
Segundo as Ordenações Filipinas, somente o rei poderia criar os cargos. O fidalgo donatário de uma capitania que
necessitasse de um novo tabelionato em suas terras deveria representar ao soberano, que entregaria o ofício a alguém
de sua vontade. As nomeações posteriores, porém, poderiam ser feitas pelo donatário, se este tivesse a faculdade de
prover ofícios. Não a tendo, sempre caberia ao rei. E, ainda que nomeados pelo donatário, deveriam sempre se auto
intitular “Tabeliães por El-Rei Nosso Senhor”. Juravam perante a chancelaria mor do reino, em regra; mas, se providos
pelo Corregedor da Comarca, jurariam perante seu chanceler.
Para a obtenção do ofício não bastava a nomeação. O nomeado deveria ser submetido a exame, se encartar, jurar,
prestar fiança, adotar um sinal público, e pedir seu regimento.
Em regra, o exame era feito na Mesa do Desembargo do Paço, onde se avaliava se sabiam ler e escrever bem.
Quaisquer abreviações eram proibidas. E, se passassem a escrever mal após o provimento do ofício, os Corregedores
das Comarcas poderiam suspendê-los134.
A carta que lhe permitia trabalhar era, em regra, passada pelo Desembargo do Paço, depois de pagos os direitos.
Em seguida, juravam bem e verdadeiramente servir seus ofícios, guardando seu regimento a serviço de Deus, do rei e a
bem das partes. O exercício sem carta e regimento era apenado, conforme L. 1, T. 80, parágrafo 19, e Lei de 08 de
dezembro de 1649. Porém, no impedimento de algum tabelião, outro poderia servir sem nova carta, recebendo o ofício
das mãos do Corregedor da Comarca.
Em seguida, deveria o tabelião habilitar-se com escritura de fiança, lavrada por outro tabelião e registrada no livro da
câmara135.
Cabia ao tabelião escolher um sinal público difícil de imitar, o qual ficaria arquivado em livro em poder da Casa de
Suplicação ou do Governador do Porto; ou da Chancelaria da Comarca, para os nomeados pelo Corregedor. O sinal não
era estilo: Deveria ser posto no livro de notas, traslados e outros instrumentos, sem o qual não eram reputados
autênticos136.
Então, deveriam pedir seu regimento, e guardá-lo, podendo os Corregedores exigir sua exibição. O regimento dos
tabeliães estava previsto no Livro 1, Títulos 78, 80 e 84 das Ordenações Filipinas.
Os tabeliães deveriam ter um livro onde escreveriam as escrituras e os testamentos, o qual deveria ser numerado,
rubricado e encerrado pelo juiz do lugar, conforme o estilo. Deveriam ser guardados por toda a vida, embora a lei tivesse
suposto uma vida curta, pois não exigia a guarda dos livros findos há mais de 40 anos. Entretanto, nenhum tabelião
cuidadoso deixaria de guardá-los, ainda mais se neles houvesse contratos relativos a prazos, censos, morgados ou
outras relações jurídicas de longa duração. O novo tabelião deveria exigir a entrega dos livros velhos mediante um
inventário, sob pena de responder pelos descuidos do antecessor137.
Aquele que obtinha o ofício deveria ter 25 anos (mas, tendo 22, poderia obter uma dispensa do requisito pelo
Desembargo do Paço), e casar-se em um ano após o recebimento, sob pena de perdê-lo (embora o Desembargo do
Paço pudesse conceder mais dois anos para atendimento do requisito)138.
Não poderia o tabelião portar coroa, ainda que pequena. E deveria residir na cidade, vila ou concelho em que fosse
exercido seu ofício. Poderia se ausentar até oito dias por ano sem autorização do juiz, ou três meses se houvesse quem
o substituísse. Em regra, exerciam pessoalmente seus ofícios, mas poderiam receber serventuários do Desembargo do
Paço, que os substituiriam, os quais deveriam ser examinados e aprovados pelo juiz local. Estes serventuários deveriam
ter seu provimento renovado constantemente, e somente perderiam o ofício por culpa judicialmente provada, ou por
notória incapacidade. Enquanto realizassem a substituição deveriam entregar até 1/3 do rendimento do ofício ao titular
afastado139.
O tabelião deveria ter algumas virtudes, as quais eram ser verdadeiro, desinteressado, diligente e perito.
Verdadeiros, porque a falsidade leva a suspeita às escrituras por eles produzidas, e, com isso, dele fugiriam as partes.
Desinteressados, porque deveriam contentar-se com seu salário, fixado por regulamento. E, por essa razão, ao fim das
escrituras lançavam o valor recebido. Se cobrassem a mais, receberiam a pena de perder o ofício, ou outras mais
graves. Diligentes, porque prontos para ir à casa das partes, especialmente das pessoas que não podem ou devem ir a
seu escritório; e também prontos e velozes para passar os traslados solicitados. Por isso, convinha que tivessem
ajudantes, que redigiriam os traslados, ao final dos quais assinaria o tabelião. Enfim, peritos porque deveriam aprender
ortografia, para não comprometer o entendimento dos textos dos atos, e também porque deveriam conhecer a matéria
jurídica pertinente aos atos praticados140.
Os tabeliados eram ofícios personalíssimos, não se podendo transmitir direito ou domínio algum de pais a filhos.
Contudo, era estilo do paço não destituir o filho do antigo tabelião, se ambos eram idôneos141.
A escritura pública – seus atos mais frequentes – eram testemunhos autênticos dos contratos ou atos
extrajudicialmente feitos, outorgados pelas partes ou pelo tabelião em nome delas, os quais deviam ser escritos nos
livros de notas. Era tida por essencial na venda dos bens de raiz, e o vendedor deveria declarar se havia foro, servidão
ou qualquer outro gravame desconhecido do comprador142. Uma vez que os bens se presumiam alodiais, a existência de
quaisquer ônus ocultos autorizava o comprador a propor a ação quanti minoris, pelos vícios da cosia comprada. Mas,
ainda assim, deveria suportar os ônus143.
Havendo temor do comprador de a coisa estar hipotecada, poderia requerer depósito judicial do preço, e que fossem
citados eventuais credores do devedor para verem a quem o bem passava a pertencer. Se, por outro lado, receassem
que outro reivindicasse a propriedade, deveriam pedir um fiador da evicção. Deveria sempre verificar antes da compra
se a coisa realmente pertencia ao vendedor, pois, se fosse furtada, a perderia sem nada receber. Ainda, era útil que
houvesse a imissão na posse o quanto antes, pois se o vendedor vendesse a mesma coisa duas vezes, a preferência
estaria com quem primeiro tomou posse. Por isso, convinha declarar na escritura que a posse seria tomada sem
autoridade de justiça, bem como a cláusula constituti, a qual transferiria domínio e posse144.
Portanto, não havia qualquer publicidade, devendo o comprador resignar-se a somente ter ações pessoais na defesa
de seus interesses, bem como confiar nas declarações do vendedor. O tabelião tão somente garantia a autenticidade do
ato, nunca sua publicidade.
4.4.2. Período compreendido entre a Lei Orçamentária de 1843 (Lei 317, de 1843) e Decreto 482, de 1846; e a
Lei 1.237, de 1864, e o Decreto 3.453, de 1865
Como já se viu, o registro criado em 1846 tinha por objeto apenas as hipotecas.
A inscrição da hipoteca no registro se fazia por uma nota da dívida e bens hipotecados lançada em livro criado pela
lei para este fim, cuja escrituração ficava a cargo de um oficial. Dessa forma, constavam em livros oficiais dados sobre o
patrimônio e o estado das finanças dos cidadãos, disponíveis a quem tivesse interesse, que os poderia obter sem
grande custo ou esforço145.
O fim de um registro hipotecário era a notícia ou publicação de uma dívida, e dos bens dados em hipoteca para
assegurá-la, bem como a publicação ou notícia das transmissões entre vivos de imóveis hipotecáveis, ou da instituição
de ônus reais. Tais notícias eram lançadas em certos livros especialmente destinados a este fim pelo oficial de registro, a
fim de constar para qualquer um que nisto tivesse interesse. A finalidade última era a garantia da segurança contra maus
devedores, a fim de movimentar a circulação das riquezas pelos empréstimos lastreados em garantias reais. Ainda, levar
a geral conhecimento o estado jurídico atual dos bens imóveis, novamente elevando o volume de crédito garantido por
eles.
Até a criação do sistema de registro não havia entre nós qualquer publicidade das hipotecas que desse aos terceiros
percepção do estado do patrimônio de seus contratantes, vez que nem o Direito Romano, nem a legislação portuguesa
prescrevia formalidades com esse intuito. O comprador de um imóvel não tinha certeza de se ver livre de uma execução
hipotecária por um credor anterior, e os credores não tinham como saber a quantos outros e por quanto o imóvel já havia
sido dado em garantia anteriormente146.
Em Portugal o registro foi criado por lei de 26 de outubro de 1836, mas esta era tida por muito defeituosa, e não
fixara as prioridades entre os credores. Já no Brasil, o registro surgiu no artigo 35 da Lei 317, de 21 de outubro de 1843,
regulada pelo Decreto 482, de 14 de novembro de 1846. Mas também fora insuficiente para garantir os credores.
O Código Comercial Brasileiro – no artigo 265 – tratou do registro das hipotecas por dívidas comerciais. E tal foi
reiterado nos artigos 62 a 71 do regulamento 738, de novembro de 1850, sujeitando as hipotecas comerciais a registro
no registro geral, na forma do decreto de 1846. Estas disposições foram revogadas pela Lei 1.237, segundo a qual
qualquer hipoteca é regulada apenas pela lei civil.
No regime da Lei de 1843, somente as hipotecas convencionais ingressavam no registro. Por isso – dada a grande
ampliação dos direitos sujeitos ao registro na vigência da nova lei – fez-se necessário criar um novo registro, o Registro
Geral147.
Na vigência do Registro Geral de Hipotecas, estas deveriam ser inscritas no Registro Geral da Comarca de situação
do bem148.
Se compreendessem bens situados em diferentes comarcas, ou se o mesmo bem se espalhasse por mais de uma
comarca, deveriam ser registradas em cada uma delas. A prioridade seria fixada pela data do primeiro registro, desde
que não se demorasse para fazer os outros nas outras comarcas. Para isso, fixava-se um prazo de um dia para cada
duas léguas de distância do lugar do primeiro registro para os outros149.
No entanto, se os municípios de situação dos bens passassem para outra comarca, não seria necessário fazer novo
registro150.
Os tabeliães do Registro Geral das Hipotecas deveriam ter um livro para o registro geral das hipotecas (número 1),
um de protocolo (número 2), e um de índice (número 3). Todos deveriam ser abertos, rubricados, numerados e
encerrados não pelo tabelião, mas sim pela “autoridade competente” – o Juiz de Direito da Comarca151.
O livro de registro teria todas as páginas divididas em duas colunas, por um traço perpendicular. Na parte esquerda
seriam feitos os registros, e a parte direita ficaria em branco, aguardando o lançamento de alterações, baixas, remoções,
substituições e notas sobre certidões a eles relativas passadas pelo tabelião152.
Tinham legitimidade para solicitar o registro, diretamente ou por procuradores, os credores e devedores, ou outras
pessoas interessadas na conservação dos direitos hipotecários153. Para tanto, deveriam apresentar ao registro o título
constitutivo da hipoteca, no original ou por traslado, e uma cópia fiel destes assinada e selada154.
As assinaturas seriam reconhecidas pelo Tabelião do Registro, ou por duas pessoas suas conhecidas, de confiança,
que reconhecessem como próprias das partes155. Então, o título seria protocolado, mediante a inscrição no livro de
protocolo, e lançamento nas cópias do título do número e folhas em que foi protocolado, bem como sua data. Uma das
cópias ficava arquivada no registro, e outra era entregue às partes156.
A seguir os títulos seriam inscritos no Livro do Registro Geral, seguindo a numeração do protocolo e sua data. Sua
forma era a transcrição literal verbo ad verbum da escritura, com as formalidades praticadas pelos tabeliães de notas.
Entre cada registro não deveria haver espaço maior que o necessário para os distinguir157. Uma vez registrado, o
tabelião anotaria no título dado as partes as folhas e livro do registro, bem como sua data158.
Deveriam ser averbadas no Registro Geral de Hipotecas as baixas ou extinções das hipotecas registradas; sua
substituição ou transferência para outro devedor ou credor, ou para outros bens; e quaisquer alterações, ou novações do
contrato ou da obrigação hipotecária159.
As baixas seriam feitas a partir do consentimento das partes, ou de sentenças passadas em julgado. As partes
apresentariam ao tabelião do Registro Geral de Hipotecas o título do contrato e quitação ou a sentença que extinguia,
alterava ou inovava a hipoteca registrada. Todos os títulos deveriam ser autênticos, com a forma prescrita pela lei160.
Os Tabeliães do Registro passavam certidão dos seus livros, independentemente de autorização judicial. Nestas
deveriam transcrever o assento do registro e todas as mais averbações e anotações a ele relativas que existissem em
seus livros, declarando, ainda, a requerimento de quem haviam sido passadas161.
As certidões negativas, declarando a inexistência de hipotecas relativamente a certa pessoa, ou certos bens, teriam
prazo máximo de validade de seis meses, e somente poderiam ser entregues aos donos dos bens, ou seus
procuradores. Ao longo do prazo de validade não poderia o tabelião passar outra certidão do mesmo teor, ainda que as
partes alegassem ter se extraviado a primeira162.
Estas certidões negativas deveriam ser exigidas pelos tabeliães de notas na lavratura de escrituras versando sobre
bens imóveis, e incorporadas em seus textos. E as escrituras de hipoteca apresentadas para registro ao tabelião do
registro geral de hipotecas, se não incorporassem a certidão negativa, deveriam ser recusadas e somente aceitas com
sua exibição. Recusando-se a parte exibi-la, o registro seria feito consignando este fato, sem prejuízo de que fosse
registrada uma segunda hipoteca em cuja escritura estivesse incorporada uma certidão negativa dentro do prazo de
validade163.
Os tabeliães do registro geral das hipotecas eram pessoalmente responsáveis pelos danos que causassem às
partes, e ainda incorriam nas penas imputadas a seus erros, omissões e prevaricações. Não poderiam recusar ou
demorar os registros das hipotecas ou averbações requeridos, nem a expedição de certidões164.
A despesa do registro ficava a cargo do devedor hipotecário, e a das averbações e certidões, a cargo de quem as
requeresse165. Os tabeliães do Registro Geral de Hipotecas eram remunerados por emolumentos no mesmo valor dos
percebidos pelas escrituras dos tabeliães de notas. Receberiam ainda metade do valor fixado, tratando-se de
averbações. E, pelas certidões, o mesmo que recebiam os tabeliães de notas pelas que passavam. Já as certidões
negativas tinham valor fixo: mil réis. Deveriam sempre lançar nos títulos ou certidões a conta do que receberam166.
Com isso, tinha-se o primeiro sistema de publicidade imobiliária implantado no Brasil. Era restrito às hipotecas, mas
já contemplava os princípios registrais da instância e da prioridade, além da publicidade gerada pela expedição das
certidões.
Era escriturado na forma de transcrições em inteiro teor dos títulos apresentados, forma esta que seria abandonada
já na reforma de 1864. Ainda, o livro era dividido em duas colunas, diferentemente dos modelos impressos com várias
colunas dos sistemas posteriores. Esta forma de escrituração dificultava a compreensão dos assentos, uma vez que
cada elemento não estava em uma coluna própria, e, por vezes, a redação era confusa.
Ainda, é bastante claro que a lavratura dos atos seguia o estilo próprio dos tabeliães, o que, como se viu, era
recomendado pela lei, incluindo-se aberturas e fechos nos atos, tal como se dava nas escrituras167.
4.4.3. Período compreendido entre a Lei 1.237, de 1864, e o Decreto 3.453 até a Lei de Registros Públicos
(6.015/1973)
Promulgada a Lei 1.237 em 1864, e baixado o Regulamento pelo Decreto 3.453, de 26 de abril de 1865, o primeiro
passo dado foi a instalação do Registro Geral. Pelo regulamento, este ficava criado em todas as comarcas do Império –
tal como já era na lei anterior – ficando a cargo de um dos tabeliães da Cidade ou Vila principal da comarca, designado
pelos Presidentes da Província, mediante informações prestadas pelos juízes de direito.
Ficavam autorizados a assumir os Ofícios do Registro Geral os tabeliães que já haviam sido designados para o
Registro Hipotecário, bem como os “Tabeliães Especiais”, que haviam sido criados especificamente para aquele
encargo, por nomeações na Corte e capitais das províncias, segundo fosse conveniente.
A data da instalação foi marcada para três meses após a data do regulamento, a partir da qual cessava o
funcionamento dos Registros Hipotecários. Esta mesma data fixava o termo inicial da eficácia dos registros dos títulos
segundo a nova modalidade, bem como da necessidade do novo registro para valer contra terceiros.
O encarregado de fazer a instalação foi o Juiz de Direito (um aviso de 1865, constante do apêndice, declarou que,
onde houvesse mais de um juiz, a instalação seria presidida pelo juiz da 1ª vara; e a este também incumbiria
desempenhar as demais atribuições judiciais do regulamento, as quais eram privativas dele, dada a necessária unidade
que a matéria exigia), o qual devia apregoa-la por editais, assistir na celebração, e mandar lavrar no protocolo do ofício,
na página seguinte à do termo de abertura, um auto de instalação, contendo informações como a que título serve o
oficial, o número e tipos de livros do antigo registro (os quais ficariam arquivados para serem inseridas averbações nas
hipotecas já inscritas), o número e tipo dos livros que passariam a servir no novo Registro Geral.
Na hipótese de, na data prevista, não estar designado o oficial, ou não estarem prontos os livros, a instalação não
seria adiada. Deveria o juiz nomear interinamente um dos tabeliães ou escrivães para desempenhar a função, fazendo
auto de instalação, e sendo lavrados os registros em cadernos legalizados nos termos do regulamento, até que
chegassem os livros e os dados fossem transferidos para estes. A partir disto, os cadernos seriam inutilizados. Tamanha
era a pressa do governo em instalar os registros que um aviso da Fazenda, constante do apêndice, foi encaminhado às
alfândegas, ordenando que estas não atrasassem a liberação dos livros importados destinados aos ofícios de registro.
O juiz deveria, então, ordenar ao oficial que extraísse cópia do auto de instalação, e a remetesse ao Governo da
Corte, bem como aos Presidentes das províncias168.
Os responsáveis pelo registro geral eram tabeliães que receberam uma denominação que os diferenciava – Oficiais
do Registro Geral – e estavam sujeitos somente ao juiz de direito. Os ofícios eram, por sua natureza, únicos, privativos e
indivisíveis. Mas os oficiais poderiam ter os escreventes juramentados necessários ao desempenho do serviço. Estes
eram denominados “suboficiais”, e poderiam realizar toda a escrituração do registro geral. Todos os atos, contudo,
deveriam ser subscritos pelo Oficial, exceto o protocolo, cuja escrituração caberia, a princípio, exclusivamente a este.
O Registro Geral da Lei 1.237 era formado por muitos livros, indicados no regulamento do Decreto 3.453 de 1865, e
enumerados a seguir:
Havia, ainda, dois livros auxiliares, um para o livro número 2, e outro para o livro número 4169.
A lei anterior, diferentemente, compreendia apenas três livros – um registro geral de hipotecas, destinado ao registro
das hipotecas convencionais sobre bens localizados na comarca, averbações a eles relativas, e certidões positivas que
fossem fornecidas; um de protocolo, onde apontavam-se as minutas, averbações, e certidões negativas fornecidas; e um
índice, que facilitasse o acesso a todos os bens hipotecados registrados naquele cartório.
No texto da lei anterior, os livros eram abertos, rubricados, numerados e encerrados pela “autoridade competente”, a
qual era o Juiz de Direito da Comarca; já na nova lei, a atribuição do Juiz para prática destes atos era declarada
expressamente. Todos os livros deveriam ter grande formato, e deveriam ser uniformes em todas as comarcas, segundo
os anexos do regulamento. O fornecimento seria feito de uma vez só pelo Governo, na Corte, e pelos Presidentes, nas
Províncias, devendo os oficiais indenizá-los pelos gastos dispendidos. Uma vez encerrados, deveriam ser substituídos
pelo oficial. A quantidade de folhas variava segundo o tamanho da localidade170.
Na Corte e capitais das províncias em que houvesse tabeliães especiais, os livros seriam da 1ª classe, com o número
de folhas indicado no regulamento – 300; as comarcas de segunda e terceira entrância teriam livros de 2ª classe, com
metade do número de folhas indicado; e as comarcas de primeira entrância teriam livros de 3ª classe, com um terço do
número indicado171.
O protocolo era a chave do registro, no qual este começava, servindo para apontamento dos títulos apresentados
para serem inscritos, transcritos, prenotados e averbados. O livro de inscrição especial era destinado às hipotecas
especializadas; o de inscrição geral, destinado à inscrição das hipotecas gerais dos menores, interditos e mulheres
casadas; e o da transcrição das transmissões explica-se por seu título, tal como o da transcrição dos ônus reais. O da
transcrição dos penhores de escravos era destinado às transcrições dos penhores de escravos pertencentes às
propriedades agrícolas, celebrados com cláusula constituti. O Livro Auxiliar nº. 2 destinava-se às hipotecas gerais ou
privilegiadas anteriores à execução da nova lei, mas especializadas e inscritas em conformidade com esta. E o Livro
Auxiliar nº. 4, à transcrição por extenso dos títulos apresentados, mediante pedido expresso das partes172.
O Indicador Real era um repertório dos imóveis que figurassem de modo direto ou indireto nos livros 2, 4, 5 e 6.
Seriam destinadas folhas específicas para cada freguesia pertencente à comarca. E sobre cada imóvel deverão ser
inseridos dados acerca de sua denominação, se rural, ou rua e número, se urbano; o nome do proprietário; as
referências aos livros que dele tratem; e eventuais anotações. O indicador pessoal era um índice alfabético de todas as
pessoas que figurassem nos livros de registro, das quais indicaria o nome, domicílio, profissão, e referências aos livros
em que eram mencionadas173.
Diferentemente da lei anterior, que restringia o fornecimento de certidões negativas, a nova lei determinava que os
oficiais deveriam fornecer certidões dos atos registrados a qualquer um que as solicitasse, independentemente de seu
interesse. Deveriam, além disso, mostrar os livros aos que pedissem, prestando esclarecimentos com urbanidade174.
Os oficiais eram remunerados por emolumentos, fixados previamente pela autoridade. Seriam suspensos de um mês
a um ano se violassem seus deveres legais, conforme o caso, o que não os eximia de responsabilidade civil e criminal
pelos atos praticados, em especial quando deles resultasse falsidade ou nulidade que gerasse dano aos interessados175.
Eram funcionários públicos a quem incumbia inscrever em livros próprios os títulos de aquisição da propriedade e as
instituições de ônus reais sobre imóveis. Ambas funções eram ligadas; havia, porém, diferenças, como o fato de o
registro das aquisições ser denominado transcrição, ao passo que a instituição das hipotecas se denominava inscrição.
A transcrição era facultativa, sempre; porém, havia inscrições que eram obrigatórias, como nas hipotecas legais. A
inscrição sempre era feita por extrato; já a transcrição poderia ser feita por inteiro teor, no livro auxiliar número 4. Por
isso, seria, em tese, inteiramente possível desdobrar o cargo de oficial em oficial do registro geral e oficial do registro de
hipotecas, o que não ocorria porque a lei o declarou uno e indivisível176.
Esperava-se do oficial que conhecesse os deveres do cargo, que escrevesse corretamente, fosse prático em
contabilidade; conhecesse o sistema métrico decimal, o direito dos contratos, e os direitos reais limitados. Ainda, que
conhecesse a legislação tributária pertinente à função, e tivesse noções de geografia do Brasil. Quanto a suas
características pessoais, deve ser polido e urbano com as partes, pontual, circunspecto, verdadeiro, discreto, leal,
desinteressado e respeitoso177.
O oficial deveria estar sempre em seu escritório, disponível às necessidades das partes, vez que uma hora a menos
poderia prejudicá-las em problemas de prioridade. No entanto, em hipóteses de viagem ou quaisquer outras de ausência
do oficial, este pode servir-se de cadernos que serão transcritos nos livros, segundo aviso do governo. Esta prática
deveria ser evitada, porém, pois seria perigosa: o registro daí oriundo seria atrasado e imperfeito.
Os oficiais na corte e capitais de província tinham ofícios privativos, somente existindo quando se conferia a seus
titulares a serventia privativa. Para Oliveira Machado, pela importância do ofício, este deveria ser privativo em todas as
comarcas, e não somente na corte e capitais de província. Seria uma temeridade entregá-lo, ainda que
temporariamente, aos tabeliães do interior, os quais, muitas vezes, tinham conhecimentos medíocres. O desejável seria
a sujeição dos candidatos a um concurso especial, austero e exigente178.
Na Corte e nas capitais, eram sempre conhecidos como “Oficiais do Registro Geral”. O cargo, em tais circunstâncias,
era um “ofício de justiça”, pois estava na classe dos serventuários vitalícios, e era sujeito a concurso. Já em outras
comarcas a situação era diversa. Não se tratava de ofício privativo, mas de comissão temporária, cometida aos
tabeliães. Não dependia de provimento vitalício e definitivo, e não estava submetido ao concurso público, mas sim à
designação do presidente da província. A designação não era permanente, podendo ser cassada por motivos de serviço
público; era obrigatória a quem se ordenasse que a executasse; somente poderia ser exercida por tabelião. Com isso,
fora da corte e capitais, a delegação acabava por ser um presente de políticos e juízes, mudando com a mudança
destes179.
Tal situação era ruinosa, pois a escrituração não era uniforme, e desaparecia o arranjo dos livros e papéis do serviço.
Por isso, o aviso n. 347 de 18 de agosto de 1875, constante do apêndice, declarou que convinha manter o titular no
cargo tanto quanto fosse possível, somente sendo cassada a designação nas hipóteses de mudança de sede da
comarca. Por outro lado, o regulamento de 1885 determinava a criação de ofícios privativos também nas demais
localidades, o que aumentaria a credibilidade da instituição. A criação do cargo de oficial do registro geral nas capitais
incumbia às assembleias legislativas provinciais, tendo em vista que o ato adicional, em seu artigo 10, parágrafo 7º
atribuiu a essas a competência para criação ou supressão dos ofícios de justiça. No entanto, o legislativo federal
delegou essa possibilidade aos presidentes das províncias, o que leva a crer que legislativo e executivo estaduais
poderiam criá-los, concorrentemente. Pelas regras da unidade e indivisibilidade, não poderiam ser criadas duas vagas
na mesma cidade, nem se dividir o ofício entre inscrições e transcrições, nem o anexar a qualquer tabelião da capital180.
Não poderiam ser providos no ofício o estrangeiro, o menor de 21 anos, o menor de 30 anos que não houvesse
satisfeito as obrigações do serviço militar; o proibido de ocupar emprego, por sentença crime; o furioso, demente ou
pródigo legitimamente privados da gestão de seus bens; o que não estivesse livre de culpa e pena. O provimento
demandava um exame de suficiência, exames de língua portuguesa e aritmética, folha corrida, certidão de idade,
atestado médico de capacidade física, e certidão, para os menores de 30 anos, de não ter sido refratário ao serviço
militar se convocado181.
O exame de suficiência era uma prova prática de habilitação para o exercício da atividade, prestado perante o juiz de
direito que tinha jurisdição sobre o ofício. Este nomearia para participar dele dois advogados formados, solicitadores,
serventuários de justiça ou mesmo pessoas sem ligação com a justiça, mas idôneas. O exame seria presidido pelo juiz,
e realizado nas formas oral e escrita. Após sua realização, os examinadores e o juiz discutiriam seu valor, e,
secretamente, votariam. A aprovação poderia ser plena – se unânime; simples, se por maioria; e haveria reprovação se
houvesse maioria de votos contra. Cada exame deveria ser feito separadamente, a fim de que um examinado não
seguisse as respostas de outro. Seriam dispensados do exame os doutores ou bacharéis em direito, os formados em
direito por universidades estrangeiras mas licenciados para advogar no Império; os advogados, ainda que provisionados;
os serventuários de ofícios de igual natureza. Não estavam dispensados os graduados em medicina, náutica,
matemáticas, milícia, farmácia, ou ordenações clericais, pois não possuíam em si uma presunção de perícia para o
cargo182.
Os candidatos deveriam, também, se submeter a exame de português e matemática, os quais foram instituídos com
a manifesta intenção de afugentar os ineptos, em benefício dos estudiosos e hábeis. Porém, este intuito foi frustrado
pela criação de comissões locais de avaliação para os residentes a mais de dez léguas das capitais. Estas comissões –
compostas, em tese, por um professor e duas pessoas idôneas – acabavam por desvirtuar o sistema pela camaradagem
e amizade existente entre moradores de circunscrições do interior. O exame, com isso, acabava se tornando mera
formalidade183.
Na Corte o exame deveria ser prestado perante a inspetoria geral de instrução pública; as escolas politécnica, militar,
naval ou normal; perante o tesouro nacional ou outra repartição que exigisse as disciplinas para preenchimento de seus
quadros. Já nas capitais de províncias as provas deveriam ser prestadas perante o curso preparatório das faculdades de
direito; as delegacias de instrução secundária; as escolas oficiais de minas ou farmácia; as escolas normais, liceus,
institutos ou outros estabelecimentos de instrução pública geridos pelos governos provinciais. Estavam dispensados das
provas de português e matemática os doutores e bacharéis em direito, os doutores e bacharéis em medicina,
matemáticas, ciências ou artes, os bacharéis em letras pelo Colégio Dom Pedro II, e os serventuários providos depois de
1881184.
Havia várias graduações de oficial de registro: o efetivo, o sucessor, o substituto, e interino. O efetivo era aquele que
outrora era chamado proprietário, denominação incorreta. Com efeito, antes da Lei de 11 de outubro de 1827 o ofício era
objeto de venda, e era transmitido na herança do titular falecido. Porém, desde referida lei, firmara-se entendimento de
que o ofício era um cargo, e, portanto, ainda que vitalício, não passaria da pessoa de seu titular. O sucessor assumiria o
ofício nas hipóteses de impossibilidade física absoluta ou moral do efetivo, como a surdez total, no primeiro caso, e a
senilidade, no segundo. Ficaria respondendo até o restabelecimento, morte ou renúncia do titular, após o que seria
nomeado um interino, que responderia até que o cargo fosse novamente provido. Em situações de substituição
temporária do titular, assumia o oficial substituto, designado pelo governo imperial, na Corte, e pelo juiz de direito nos
demais lugares185.
A transcrição era feita pela apresentação do título ao oficial do registro, acompanhado de dois resumos que
contivessem os requisitos presentes na lei e fossem assinados pela parte ou advogado. Recebido o título, este era
lançado no protocolo, recebendo um número de ordem o qual – juntamente com a data – fixava sua prioridade no
registro. Passada a fase preliminar, o oficial fazia a transcrição, escrevendo no Livro das transcrições o número de
ordem, a data da apresentação, a freguesia de situação do imóvel; a denominação do imóvel, se rural, e rua e número,
se urbano; as confrontações e características do bem; os nomes e domicílios de adquirente e alienante; a natureza do
negócio translativo, sua forma, e o tabelião que lavrou o instrumento; e, finalmente, as condições e o valor do contrato. A
falta de qualquer dos requisitos ensejava a nulidade da transcrição, ainda que os dados não constassem também do
extrato. A nulidade não dependia de nenhuma prova, verificando-se pela observação da própria transcrição. Após
realizar a transcrição propriamente dita, o oficial consignava no protocolo este fato, inseria as remissões necessárias nos
índices real e pessoal, e retornava à parte um dos extratos com a expressão “registrado no livro tal, número tal, folha
tal”186.
Para serem aceitos, os títulos deveriam atender à forma legal. Deveriam ser lavrados por instrumento público, ou,
nas hipóteses permitidas, por instrumento particular assinados pelas partes, as quais deveriam ser reconhecidas pelo
oficial. Ainda, deveria o título ser acompanhado do selo devido, e do recibo do pagamento do imposto de transmissão de
propriedade. O mesmo tratamento era dado a atos autênticos lavrados no exterior, legalizados pelos consulados
brasileiros e traduzidos para o vernáculo por tradutor habilitado187.
O fim principal da transcrição era levar às pessoas o conhecimento das mutações reais sofridas por um certo bem
imóvel, como um mecanismo de publicidade que gerasse informação sobre a titularidade e a existência de ônus ou
direitos limitados que restringissem o valor e a disponibilidade dos bens. Por isso, abrangia os atos entre vivos, a título
oneroso ou gratuito, o fazendo por presumir que, por suas formas próprias, não alcançariam um grau apreciável de
publicidade. Pela mesma razão, não abrangia os direitos sobre imóveis adquiridos por sucessão, legítima ou
testamentária, presumindo a lei que as formalidades que margeavam estas transmissões já conteriam suficiente
notoriedade. Ainda, a sucessão transferiria o domínio desde sua abertura, e independentemente da tradição. Para
Lafayette, submeter a transmissão a uma formalidade derrogaria de modo inútil um princípio já aceito e determinado por
necessidades práticas188.
Porém, havia certos atos dispensados de transcrição pelo decreto que não gozavam desta publicidade: eram atos
judiciais, como a arrematação e a adjudicação, as sentenças proferidas nas ações divisórias, as sentenças que
adjudicavam bens de raiz aos que pagassem dívidas comuns nos inventários e partilhas. Não havia razões fortes para
serem excluídos da transcrição, podendo gerar fraudes. A simples publicidade do ato judicial não era a publicidade
demandada pela lei para as mutações reais imobiliárias, cuja fonte era o registro. A publicidade dos atos judiciais era tão
insuficiente que a própria lei exigia a inscrição da sentença para validade perante terceiros da hipoteca judicial189.
O Registro Geral teve grande importância por ter aberto as portas da publicidade imobiliária às transmissões por atos
entre vivos de direitos reais sobre imóveis. Quanto ao direito formal, apresentou inovações em relação ao direito anterior,
como a grande ampliação do número de livros, designando séries específicas para a hipoteca, e para as transcrições.
Ainda, estes passaram a ser escriturados de forma padronizada, em livros impressos segundo modelos previstos no
Regulamento e adquiridos pelos oficiais por intermédio do governo. E a escrituração passou a ser feita por extrato, não
obstante a designação “transcrição” aplicada ao registro dos atos translativos de direitos sobre imóveis.
Esta forma de escrituração, bem como as características gerais do sistema quanto ao Direito Formal do Registro
permaneceram fiéis às linhas assentadas pela Lei 1.237 e seu regulamento ao longo dos anos restantes do século XIX e
de boa parte do século XX.
Poucas foram as mudanças operadas pelos sucessivos regulamentos de registros que antecederam a Lei 6.015, de
1973.
O Decreto 370, de 1890, eliminou o livro da Transcrição do Penhor de Escravos, como já se viu. Quanto ao mais,
suas disposições eminentemente repetem tudo aquilo que já constava da Lei 1.237, de 1864. Sem inovar ou acrescentar
à disciplina do registro, era perfeitamente prescindível a substituição da lei anterior, o que demonstra uma tentativa de se
construir a nova realidade do país, sob regime republicano, parasitando-se os espólios da monarquia.
O Decreto 18.542, de 1928, autorizado pelo Decreto Legislativo 4.827, de 1924, e pelo Decreto Legislativo 5.053, de
1926, e o Decreto 4.857, de 1939, a despeito de consistirem em regulamentos destinados a tratar do Direito Formal de
Registro acabam ingressando no âmbito do direito material, ao prever as hipóteses de atos de registro e de averbação.
A rigor, esta matéria deveria, por seu conteúdo, estar tratada no Código Civil, já que, em essência, diz respeito às
situações jurídicas às quais se pretende ligar os efeitos da publicidade imobiliária.
O Decreto 18.542 manteve os mesmos livros que já constavam do Decreto 370, exceto quanto ao livro auxiliar, que
passou a ser único. Isto foi repetido no Decreto 4.857, ressalvado que este criou também um livro-talão de cédulas
pignoratícias. Quanto a seu tamanho, eliminaram a divisão em classes que era prevista no Decreto 370, e que repercutia
no seu número de páginas. Todos os livros, agora, passariam a ter o mesmo tamanho, independente da entrância da
comarca em que situado o registro.
Ainda, o Decreto 18.542 eliminou a necessidade da apresentação de extratos, ou seja, de resumos estruturados do
título que eram apresentados concomitantemente a este. Consistiam tais extratos em uma transposição a nosso sistema
do bordereau do Direito Francês. Se, no Sistema Francês, faziam algum sentido, já que o conservateur poderia praticar
o ato tão somente com base no bordereau, no Brasil significavam retrabalho e risco, já que necessariamente o
registrador teria de concertar o título e o extrato a fim de verificar se eram coincidentes190. Nas palavras de Lysippo
Garcia, sua “única serventia é pejar os cartórios, e fornecer pasto às traças”191.
Como já se disse, coube também ao Decreto 18.542 consagrar de maneira expressa o princípio do trato sucessivo
em seu artigo 206, ao dispor que se o imóvel não estiver registrado em nome do outorgante, deve o oficial exigir o prévio
registro do título anterior, qualquer que seja sua natureza, a fim de manter a continuidade do registro. É interessante
observar a clara ligação deste dispositivo com a inovação do Código Civil de 1916 que determinou o registro também
das aquisições a título judicial, ou causa mortis. Isto também é visível no fato de o Decreto 18.542 trazer uma nova
categoria de títulos formais que poderiam ingressar no registro: as cartas de sentença, mandados, formais de partilha e
certidões extraídas de processos.
Ao tratar das situações em que o título fosse nulo ou falso, e do dever de recusa do oficial em registrar por duvidar da
sua legalidade, o Decreto 370 previa que o cancelamento do registro deveria se dar necessariamente por decisão
judicial ou acordo entre as partes. O Decreto 18.542 não tratou apenas do cancelamento, mas também da possibilidade
de retificação do registro, distinguindo casos em que esta poderia ser realizada pelo próprio oficial – quando houvesse
erro evidente na transposição dos dados do título – daquelas em que a jurisdição era necessária.
Ainda quanto aos títulos, os Decretos 18.542 e 4.857 vão progressivamente incorporando novas modalidades de
instrumento particular. Mudam, também, os requisitos formais que estes devem conter: se pelo Decreto 370 os
signatários deveriam ser “reconhecidos pelo oficial de registro” – o que atribuía ao registrador uma anômala função
tipicamente notarial – os Decretos 18.542 e 4.857 passam a exigir a firma reconhecida e a assinatura também por
testemunhas.
Finalmente, os Decretos 18.542 e 4.857 trouxeram uma disciplina mais pormenorizada sobre os elementos de
escrituração dos atos de transcrição e inscrição, bem como dos livros de protocolo e indicadores, e, por tratar também
de outras especialidades registrais, subtraíram da disciplina específica do Registro de Imóveis temas de interesse geral,
como a publicidade e o fornecimento de certidões, a responsabilidade, o regime funcional dos registradores etc.
Um projeto de reforma da legislação anterior, de autoria de Afrânio de Carvalho, foi encaminhado ao governo em
1947. No entanto, este não teve andamento, já que compunha um tema maior, tratando da reforma agrária.
O projeto previa a instituição de livros de registro com base real e, paralelamente, de um cadastro, o qual,
teoricamente, já seria viável na época graças às possibilidades criadas pela aerofotografia192.
Nova tentativa foi feita pelo autor em 1969. O anteprojeto seria incorporado ao novo regulamento, o qual recebera
também sugestões das Corregedorias de Justiça dos tribunais da Guanabara e de Sergipe. Previa uma espécie de fé
pública registral, operada pela presunção absoluta da existência do direito em favor do adquirente que desconhecesse a
inexatidão do registro, ao qual não se opusera oportuna contradita, e adquirisse a título oneroso. Previa, ainda, a criação
de um livro fundiário, estabelecendo os registros com base real, a “matrícula” do imóvel como inscrição aquisitiva, ou
seja, aquela que ocuparia o primeiro lugar no fólio, e a coordenação do registro com o cadastro, o qual disciplinava como
uma seção do registro de imóveis. E, em suas disposições finais, entre outros pontos extinguia o Registro Torrens.
No entanto, muito pouco do pré-projeto foi aproveitado na reforma, que se materializaria no Decreto-Lei 1.000, de 21
de outubro 1969. A norma como um todo foi elaborado em sigilo, sem apreciação pela opinião pública, o que levou à
positivação em texto legal cheio de graves erros193. Segundo Elvino Silva Filho, sobre o projeto, “...ninguém viu, ninguém
previamente o conheceu para que pudesse estudá-lo, debatê-lo, e, assim, apresentar sugestões que viessem melhorá-
lo, escoimando-o de imperfeições e obstáculos insuperáveis que, fatalmente, ocorrerão na sua execução prática”194.
Elvino criticava, ainda, a afoiteza do projeto, bem como destacava a importância de que a criação de uma nova lei de
registros fosse feita em compasso com a reforma do Código Civil que então já se iniciava195.
O Decreto-Lei 1.000 mantinha a escrituração em folha corrida. No entanto, concentrava no Livro 2, de Registro Geral,
os atos relacionados à transmissão da propriedade e constituição de direitos reais limitados, abrangendo as hipotecas.
Previa, ainda, livros específicos para emissões de debêntures, loteamentos, incorporações, cédulas de crédito rural e
cédulas de crédito industrial.
Segundo Elvino, a criação do livro de Registro Geral era uma canhestra tentativa de implantação do Brasil do fólio
real, a qual, estabeleceu um modelo prévio com este fim, no anexo do Decreto-Lei mas, sem maiores cuidados, manteve
como disciplina da escrituração as disposições do Decreto 4.857 de 1939, tornando impossível o cumprimento da
norma196.
O artigo 5º autorizava o uso de livros impressos e de folhas soltas. Todavia, como apontava Elvino, na sistemática
dos livros então em uso, de folha corrida, impressos eram somente as divisões das colunas e os dizeres comuns e
usuais. A escrituração era manual. Quisesse o legislador efetivamente autorizar o uso de folhas soltas, e, portanto,
permitir a escrituração datilográfica ou mecânica – e, segundo Elvino, era esta a intenção – deveria tê-lo feito de modo
mais explícito197. Com efeito, entre os “consideranda” formulados pelo então Ministro da Justiça, Gama e Silva, figurava
a ideia de “um registro próprio para cada imóvel”, de maneira a facilitar uma futura “cadastração”.
Quanto aos atos, os distinguia, de forma confusa, em transcrição, inscrição e averbação. A nova norma modificava a
longeva classificação que já vinha desde a Lei 1.237, sem um critério claro que justificasse a inovação.
Dessa maneira, por inovar sem qualquer critério razoável na natureza dos atos praticados pelo registrador, e não
inovar naquilo que se fazia mais necessário – a implantação do fólio real – não é de espantar que o Decreto-Lei 1.000
tenha tido sua execução adiada sucessivamente pelos Decretos 65.905, de 1969, 69.803, de 1971 e 72.406, de 1973,
até ser revogado expressamente pela Lei 6.064, de 1974.
Uma nova tentativa de reforma, que daria origem à Lei 6.015, de 1973, se deu pelo Projeto de Lei 2.267, de 1970,
apresentado ao Plenário da Câmara em 19 de agosto de 1970 pelo deputado paranaense Francisco Accioly Rodrigue da
Costa Filho, conhecido como Accioly Filho. Na justificativa198, Accioly Filho afirmava que o projeto era baseado em
trabalho elaborado por Ruy Ferreira da Luz, que fora durante longos anos, antes de se aposentar, registrador no 1º
Registro de Imóveis de Curitiba. Esclarecia o deputado que os redatores do projeto que resultou no Decreto-Lei 1.000
não haviam compreendido as intenções do Ministro da Justiça para a reforma. A reforma não exigia, a rigor, “um registro
para cada imóvel”, mas sim uma “matrícula para cada imóvel”, e registro, na matrícula, dos atos que tivessem por objeto
o imóvel matriculado. A matrícula diria respeito “à caracterização do imóvel e à indicação de seu proprietário”; e o
registro corresponderia “às anotações das transferências e dos ônus relativos ao imóvel matriculado”. Quanto à
terminologia, a justificativa defendia a substituição dos termos transcrição e inscrição por registro.
Ruy Ferreira da Luz entendia que a mais importante inovação seria, efetivamente, a matrícula dos imóveis, de
maneira a facilitar as pesquisas sobre a situação jurídica do bem – que até então dependia da análise de vários livros
distintos, cada um destinado a uma espécie de assentamentos – e autorizando a mecanização da escrituração. O
registrador remete a Lysippo Garcia a ideia da adoção da matrícula, e deixa claro que, se, por um lado, a matrícula não é
um cadastro, por outro a inovação acabaria por suprir algumas das deficiências da inexistência de um cadastro, e a
perfeita execução da lei poderia contribuir para seu aperfeiçoamento199. Com efeito, já em 1922 Lysippo Garcia, na
observação final de sua obra sobre “A Transcripção”, tratava da conveniência da redução do número dos livros de
registro, de maneira a aproximá-los de um livro fundiário. Para tanto, apresentava um modelo de “indicador Real,
transformado em verdadeira matrícula, na qual a cada folha corresponderá um imóvel, dela constando todos os actos
que o possam affectar”200.
A justificativa deixava claro, no entanto, que não se tratava da implantação do regime imobiliário alemão, mas apenas
o sistema de escrituração utilizado na Alemanha – ou seja, adotava-se o fólio real, mas não se adotava a abstração.
Ainda quanto à escrituração, a justificativa defendia a adoção de folhas soltas em formato distinto daquele que era
adotado nos antigos livros de transcrição, já que “o principal inconveniente do livro reside, precisamente, no seu
tamanho exagerado”. Mas ainda apontava outros inconvenientes, como, por exemplo, o espaço exíguo para lançamento
em algumas colunas. Assim, compreendia que deveria caber ao registrador a liberdade de projetar o modelo das folhas
de acordo com os padrões que julgasse convenientes, desde que autorizados pela autoridade judiciária competente.
Entre as vantagens das folhas soltas apontava a maior facilidade para extração de certidões, e a maior facilidade no
arquivamento.
Com o fim da legislatura, o projeto foi arquivado em 02 de abril de 1971, nos termos do artigo 104 da Resolução da
Mesa de 22 de janeiro de 1964, que consolidava o então vigente Regimento Interno da Câmara. Poucos dias depois, em
22 de abril de 1971 o deputado paranaense Italo Conti requereu ao Presidente da Câmara seu desarquivamento, o que
foi deferido no dia 26 do mesmo mês.
Na Comissão de Constituição e Justiça o relator, Deputado José Sally, do Rio de Janeiro, não apenas sugeriu uma
série de emendas à proposta – algumas de sua autoria, outras sugeridas pela Corregedoria Geral da Justiça de São
Paulo - como apontou a própria conveniência de, mais do que reformar o Decreto-Lei 1.000, revogá-lo e promulgar-se
um novo diploma legal sobre a matéria. Entre as sugestões, dentre muitas outras, estavam a possibilidade de
apresentação de títulos para exame e cálculo dos emolumentos, sem protocolo e a desnecessidade de apresentação de
requerimento escrito para a prática de atos de registro, já que, no Brasil, “o título é indispensável para a validade do ato
e basta para o procedimento do registro, independentemente do pedido formal dos interessados”. A requerimento do
relator, o parecer e a proposta de substitutivo foram publicados, para estudo, em 01º de dezembro de 1971. Após vista
do deputado Hamilton Xavier, o parecer do relator foi aprovado por unanimidade na Comissão em 31 de maio de 1972.
O substitutivo previa a existência de um Livro e Registro Geral, destinado a matrícula dos imóveis e registros e
averbações dos atos atribuídos ao registro de imóveis. Previa, também, a existência de livros específicos para
debêntures, loteamentos, incorporações, cédulas de crédito rural e cédulas de crédito industrial.
O texto e o parecer foram submetidos à primeira discussão na Câmara em 05 de setembro de 1972, e foram
apresentadas duas emendas relativas ao título que disciplinaria o Registro de Títulos e Documentos. Com isso, o projeto
retornou à Comissão de Constituição e Justiça. Foi encaminhado, também, à Comissão de Constituição e Justiça, pelo
presidente da Associação dos Advogados de São Paulo, Waldemar Mariz de Oliveira Jr., o artigo escrito por Elvino Silva
Filho a respeito do Decreto-Lei 1.000, já citado anteriormente. Em novo parecer o relator manifestou-se pelo acolhimento
das emendas, e o parecer, uma vez mais, foi aprovado pela Comissão em 23 de agosto de 1972.
No Senado foi proposto um novo substitutivo pelo agora senador Accioly Filho, aproveitando, segundo ele, emendas
dos senadores Carvalho Pinto, Nelson Carneiro e Carlos Lindenberg, assim como sugestões “dos professores Almiro
Couto e Silva e Rui Ferreira Luz”. O substitutivo representava, em parte, um retorno a alguns preceitos do Decreto-Lei
1.000 – como a divisão dos atos em transcrição, inscrição e averbação – e propunha a divisão dos livros principais em
“Registro Geral”, “Auxiliar”, e “Registros Diversos”. Segundo Ruy Ferreira da Luz, o retorno à terminologia transcrição e
inscrição se deu a pedido do Ministério da Justiça, levando em conta o fato de que eram os termos que apareciam em
toda a legislação civil, com o que a adoção do novo termo “registro” dependeria da alteração também das outras
normas201.
Caberia ao Registro Geral, nos termos do substitutivo, a matrícula dos imóveis bem como a realização de registros e
averbações que não fossem destinados expressamente aos outros livros. Já o Livro Auxiliar – que já constava do projeto
primitivo de Accioly, com as mesmas funções, sem figurar entre os livros numerados - seria dividido em colunas, e nele
seriam registradas, por extrato, as convenções antenupciais, assim como os contratos-padrão de que trata o artigo 61 da
Lei 4.380, de 1964. No livro de Registros Diversos seriam debêntures, cédulas de crédito e outros atos de competência
do registro de imóveis que não se referissem a imóveis determinados. Os livros destinados especificamente aos
registros de incorporações e de loteamentos eram mantidos.
O substitutivo do Senado instituía de maneira expressa, também, a regra segundo a qual a matrícula seria realizada
por ocasião do primeiro registro praticado na vigência da nova lei, mediante elementos do título e do registro anterior, e
deixava claro que o encerramento dos livros já abertos não excluía a validade dos atos já registrados, nem impedia que
neles se praticassem averbações e anotações posteriores. Também constavam do substitutivo regras mais detalhadas a
respeito da abertura, desmembramento e cancelamento das matrículas. Por fim, em capítulos próprios, propunha a
disciplina de procedimentos como a instituição de bem de família, a remição de imóvel hipotecado, e o Registro Torrens.
O substitutivo foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que acatou algumas emendas de
redação, e retornou à Câmara, cuja Comissão de Constituição e Justiça, após também propor emendas de redação,
manifestou-se favoravelmente.
Então, foi submetido ao plenário da Câmara em 04 de dezembro de 1973, para discussão única. Nessa ocasião, o
deputado Aldo Fagundes, da Bancada da Minoria, requereu o adiamento da discussão por dez sessões. Em apoio do
pleito manifestou-se o deputado Walter Silva, em razão da extensão do projeto e de ter este retornado do Senado mais
do que emendado: substituído. Contra o pedido, manifestou-se o deputado Sinval Guazzelli, afirmando que a Bancada
da Maioria compreendia que a matéria já estava esclarecida, e, portanto, apta a ser votada.
Consta da transcrição da sessão no Diário Oficial que o requerimento foi aprovado após os deputados, instados pelo
presidente da Câmara, terem permanecido como se encontravam; todavia a votação foi feita no mesmo dia, à tarde. Nas
discussões, afirmou o Deputado Francisco Amaral que o projeto havia hibernado na Câmara e no Senado, o que
ocorrera, segundo acreditava, “por inspiração do Executivo ou de alguém do Executivo”. A despeito disso, na semana
anterior à votação, com extraordinária rapidez o Senado aprovara um substitutivo total que foi devolvido â Câmara “na
sexta-feira, à última hora, às horas sombrias da noite”. Assim, protestava o parlamentar contra “a volúpia, o desejo
incontido, a ânsia, a aflição do partido majoritário, nesta Casa, no sentido de fazer aprovar, sem que os Parlamentares
tenham conhecimento integral da matéria, um substitutivo que, na verdade, é inteiramente ignorado pela maioria dos
membros da Câmara dos Deputados”. A contrariedade do deputado não dizia respeito ao mérito do projeto, mas sim ao
fato de que a Arena prevalecia-se “de sua esmagadora maioria para obrigar a Minoria a votar, a decidir, a deliberar sobre
um projeto que a maior parte dos Srs. Deputados desconhece”. Em resposta, o Deputado Sinval Guazzelli afirmou que a
Comissão de Constituição e Justiça havia examinado o substitutivo todo e recomendado sua aprovação por
unanimidade. Retorquiu o Deputado Francisco Amaral que a Comissão havia tomado conhecimento do substitutivo na
véspera, apenas por seus nove integrantes – se é que tinham tomado – razão por que o MDB votaria contrariamente à
aprovação. Em resposta, o Deputado Cantídio Sampaio afirmou ser “absolutamente lírica” a tese do Deputado Francisco
Amaral de que deveriam todos os deputados ter conhecimento em profundidade de todas as proposições. Segundo ele,
se assim fosse, “haveria aqui 310 técnicos em Direito Processual Civil, e todos conheceríamos profundamente o novo
Código de Processo Civil. Sabe S. Ex.ª que isto é uma utopia; que é justamente essa divisão de esforços e de trabalho
que caracteriza o procedimento desta Casa em todas as ocasiões em que legisla”.
O Presidente da Câmara, Deputado Flávio Marcílio, submeteu o substitutivo à votação, e este foi aprovado, sendo
encaminhado à sanção presidencial. Com a sanção, converteu-se o Projeto 2.267, de 1970 na Lei 6.015, de 1973.
Quanto ao seu grau de minúcia, Afrânio de Carvalho afirmava que o diploma o tinha demasiado para uma lei, e, por
outro lado, como regulamento, carecia de profundidade. E ainda trazia matéria estranha ao seu contexto, como o
Sistema Torrens202.
Antes do início de sua vigência a lei já seria alterada. Pela Mensagem nº 37, de 1975 – CN, de 24 de abril de 1975, a
Presidência da República encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de lei alterando numerosos dispositivos da Lei
6.015, de 1973. Na exposição de motivos o Ministro da Justiça, Armando Falcão, tratando especificamente das
disposições concernentes ao registro de imóveis afirmava que “acolhendo sugestões do Instituto de Registro Imobiliário
do Brasil, reformula o Projeto todo o Título V (“Do Registro de Imóveis”) da Lei nº 6.015, a fim de aperfeiçoar o sistema
da matrícula que esse Diploma introduziu, em caráter geral, no nosso ordenamento jurídico”.
Para isso, o projeto reduzia o número de livros a cinco, eliminando os livros destinados a “registros diversos”,
“registro de incorporações” e “loteamentos”. Tudo aquilo que não coubesse no Livro 2, por não refletir diretamente em
imóvel matriculado, seria lançado no Livro 3, de Registro Auxiliar. O projeto também eliminava a distinção entre
transcrição e inscrição, englobando-as sob a terminologia registro.
Em 29 de abril a Mensagem foi lida no plenário do Senado Federal, e, no mesmo dia, foi designada comissão mista.
Integrava a comissão, entre outros, o Deputado José Sally, que já havia figurado como relator na passagem do Projeto
2.267, de 1970, pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Numerosas emendas foram apresentadas, entre
outras uma do Deputado Francisco Amaral e do Senador Tarso Dutra, para inclusão do parágrafo único no atual artigo
173, autorizando a substituição dos livros 2, 3, 4 e 5 por fichas; e uma apresentada pelo próprio relator na Comissão,
Senador Italivio Coelho, que deu origem ao atual artigo 217 da Lei 6.015, de 1973, com o que, para a rogação do
registro, não se exigiria mais qualquer interessado, mas sim qualquer pessoa, incumbindo-lhe as despesas respectivas.
O relator, ainda, apresentou um substitutivo integral, reorganizando o texto da lei. A Comissão aprovou o parecer e o
substitutivo em 22 de maio de 1975, e o texto foi encaminhado ao plenário, para discussão em sessão conjunta.
A discussão, em turno único, se deu no dia 04 de junho, e o substitutivo foi aprovado, ressalvado o destaque dos
parágrafos 2º a 6º do artigo 57, permitindo a averbação do sobrenome do companheiro no registro de nascimento da
companheira, que suscitou um intenso debate entre os parlamentares.
Com isso, a Lei 6.015, de 1973, com as alterações da Lei 6.216, de 1975, adotou efetivamente o fólio real no livro
chamado “Registro Geral”. Foi admitido o desdobramento dos livros nos cartórios de grande movimento, e também a
escrituração em folhas soltas, que podem ser escrituradas mecanicamente.
Para Afrânio de Carvalho, o sistema de folhas soltas teria inserido no sistema um elemento de grande risco, pela
possibilidade de extravio, de boa ou má-fé, das folhas, além do desgaste natural que sofrem ao serem manuseadas
neste formato. O autor ainda criticava a nova terminologia “registro”, que, segundo ele, não tinha nenhuma tradição em
nosso direito. Ainda segundo ele, a criação de um assento distinto dos outros – a matrícula - gerava dificuldades, pois
nenhum texto legal brasileiro afirmava que a propriedade se adquiria pela “matrícula” 203.
A despeito das críticas, deve-se reconhecer que a Lei 6.015, de 1973, representou um marco importante na história
da publicidade brasileira pela introdução do sistema de base real. A partir dela, cada imóvel passou a constar de um
determinado fólio real, o qual é aberto com a matrícula. Independentemente do cadastro, este novo sistema forneceu as
bases para o desenvolvimento do regime registral brasileiro em direção a uma maior segurança e precisão.
Todavia, a matrícula em papel tem o defeito de gerar uma aparência de se confundir com o próprio registro, o que
não é verdade. Soma-se a isso a praxe de as certidões serem expedidas em inteiro teor. O inconveniente disto é que, ao
invés de certificar a situação jurídica atual e consolidada do imóvel, acaba o registrador por apresentar ao solicitante um
longo varal, em que foram pendurados, ao longo do tempo, os títulos registrados. De certa maneira, é como se no
interior do sistema de matrícula ainda funcionasse o velho motor do sistema das transcrições.
A adoção definitiva de um sistema de registro de direitos depende da certificação pelo registrador dos direitos que
incidem sobre o imóvel, em especial aqueles que incidem no momento em que a certidão é solicitada. Os atos
praticados compõem o acervo que integra o histórico do imóvel; mas cabe ao registrador, como mediador, informar ao
público o resultado das sucessivas mutações jurídico-reais.
O próximo passo nessa evolução situa-se, pelo que se pode vislumbrar para o futuro, na estruturação dos dados
constantes das matrículas e em sua transposição a um Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis, por meio da primeira
qualificação eletrônica de que trata o artigo 10, III, do Provimento 89, de 18 de dezembro de 2019, da Corregedoria
Nacional de Justiça. Este será, provavelmente, o próximo capítulo de nossa História.
1
Manoel Linhares De Lacerda, Tratado das Terras do Brasil, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Editora Alba Limitada, 1960.
2
Cf. Marcelo Salaroli de Oliveira, Publicidade Registral Imobiliária, 1ª Ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 107.
3
Cf. Augusto Teixeira De Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 431.
4
Cf. Sérgio Jacomino, Registro do Vigário – um conto sem fim, 2011, Disponível em: <https://arisp.wordpress.com/2011/03/19/registro-do-vigario-
um-conto-sem-fim/>.
5
Cf. Augusto Teixeira De Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 433.
6
Cf. Lourenço Trigo De Loureiro, Instituições de Direito Civil Brasileiro, Vol. I, 4ª Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1871, pp. 253-254.
7
Cf. Manuel Antônio Coelho Da Rocha, Instituições de Direito Civil Portuguez, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, H. Garnier, 1907, p. 31.
8
É interessante observar a praxe tabelioa, que, mesmo após a vigência do Código Civil de 1916 e consequente necessidade do registro para a
transmissão dos direitos reais sobre imóveis, seguiu inserindo nos modelos das escrituras públicas expressões como “os outorgantes desde já
cedem e transferem ao outorgado toda a posse, domínio, direitos e ações que sobre o aludido imóvel ora vendido exerciam, para que possa o
mesmo outorgado dele usar, gozar e livremente dispor como seu que é e fica sendo de hoje em diante, por força desta escritura”, ou “os
outorgantes lhe cedem e transferem todo domínio, direito, ação e posse que tinham sobre o dito imóvel”. Para os modelos, confrontar,
respectivamente Sylvio Brantes De Castro, Novo Manual dos Tabeliães (Teoria e Prática), 5ª Ed., São Paulo, Edições e Publicações Brasil,
1963, p. 96 e Carlos Alberto de Motta, Manual Prático dos Tabeliães, 9ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 2004, p. 111. Se isso, por um lado, valia
como tradição ficta antes da criação do Registro Geral, por outro, após a criação do registro, acabou por conter verdadeiro negócio jurídico real
de disposição, em que o alienante manifesta a vontade de transmitir, e o adquirente de adquirir.
9
Cf. Afranio de Carvalho, Registro de Imóveis – Comentários ao sistema de registro em face da Lei No 6.015, de 1975, 3ª Ed., Rio de Janeiro,
Forense, 1982, pp. 1-15.
10
Para mais detalhes, cf. Ivan Jacopetti do Lago, O tratamento jurídico da venda de imóvel com divergência de área na evolução do Direito
Brasileiro; venda ad corpus e ad mensuram, Tese de Doutorado, São Paulo, USP, 2014, p. 32 e seguintes.
11
Cf. Ivan Jacopetti do Lago, O tratamento jurídico da venda de imóvel com divergência de área na evolução do Direito Brasileiro; venda ad
corpus e ad mensuram, Tese de Doutorado, São Paulo, USP, 2014, pp. 47-48.
12
Cf. Ivan Jacopetti do Lago, O tratamento jurídico da venda de imóvel com divergência de área na evolução do Direito Brasileiro; venda ad
corpus e ad mensuram, Tese de Doutorado, São Paulo, USP, 2014, p. 656.
13
Cf. Lourenço Trigo De Loureiro, Instituições de Direito Civil Brasileiro, Vol. II, 4ª Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1871, p. 124.
14
Com um estilo mais literário do que jurídico, o autor cita um exemplo de grande injustiça que a hipoteca poderia causar: “Um homem exhausto
de forças, miserável, talvez enfermo, é socorrido por outro, que lhe empresta o necessário para a sua cura e subsistência até que possa voltar
ao trabalho. Nesse acto o credor é movido, é certo, pelo seu interesse pela confiança que deposita na perícia do artista enfermo; mas não deixa
de consultar os estímulos nobres do coração. O devedor não tem outra garantia a dar, além de esperanças; e essas não são matéria
hypothecavel. Correm os tempos. O artista restabelecido adquire de repente pela sua industria, ou por doação alguns bens e, impellido pela
ambição ou por qualquer circumstancia fortuita, hypotheca estes bens a um novo credor mediante juros enormes. O dinheiro proveniente desse
ultimo empréstimo é consumido na satisfação, quem sabe? – de torpes vícios e paixões desregradas. Como são essas relações jurídicas
apreciadas pela lei civil, por essa mesma lei que em breve se vai mostrar ridiculamente sentimental, sacrificando a justiça a uma falsa
compaixão?Ao homem que conservou uma existência à sociedade e à família; que, promovendo o seu interesse, praticou uma obra de
caridade; ao primeiro credor que, socorrendo o artista, foi o garante da acquisição posterior; a esse a lei nega o direito real, e concede-lhe
apenas um misero direito pessoal, sujeito a mil eventualidades. Ao outro, ao usurário talvez, ao segundo credor, que, no rigor da justiça, fez um
contracto nullo sobre haveres que o artista já não possuía; a esse, talvez usurário e especulador, que veio acoroçoar o vicio e a improbidade; a
lei confere-lhe o direito real, e como corollário infallivel – a preferência. Nem sequer partilha; a um tudo, a outro nada. A quem restituiu a
sociedade um membro útil, a sociedade paga, despojando do que é rigorosamente seu. A quem, ao contrario, prescindiu da creatura racional, e
ateve-se unicamente à cousa, à matéria bruta, a sociedade protege e privilegia! Como é generosa e animadora uma lei que esmaga assim o
coração humano, sob o peso da mais sórdida cobiça! A jurisprudência não cura de homens, mas de proprietários. (...).Em outros termos, o
primeiro credor tinha a hypotheca natural, legitima, racional, que é o resultado lógico do empréstimo: o segundo tem a hypotheca artificial, nulla
e absurda, imposta à força pelo legislador.” Cf. José De Alencar, A Propriedade, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1883, pp. 72-74.
15
Cf. José De Alencar, A Propriedade, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1883, p. 72.
16
Cf. Sérgio Jacomino, PL 1830 – Ernesto Ferreira França, 2009, Disponível em <https://arisp.wordpress.com/2009/05/14/pl-1830-ernesto-
ferreira-franca/>.
17
Cf. Júlia Rosseti Picinin Arruda Vieira, Transmissão da Propriedade Imóvel Pelo Registro do Título e Segurança Jurídica: Um Estudo de História
do Direito Brasileiro, Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2007.
18
Cf. José Prospero Jehovah da Silva Caroatá, Resolução de 07 de Junho de 1845, in, Imperiaes Resoluções Tomadas Sobre Consultas da
Secção de Justiça do Conselho de Estado, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1884, pp. 50-53.
19
Cf. José Prospero Jehovah da Silva Caroatá, Resolução de 07 de Junho de 1845, in, Imperiaes Resoluções Tomadas Sobre Consultas da
Secção de Justiça do Conselho de Estado, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1884, pp. 53-64.
20
Cf. Lourenço Trigo De Loureiro, Instituições de Direito Civil Brasileiro, Vol. II, 4ª Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1871, p. 124.
21
Wilson de Souza Campos Batalha, Comentários à Lei de Registros Públicos – Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, Vol. I, 3ª. Ed., Rio de
Janeiro, Forense, 1984, pp. 16-17.
22
Decreto 482, de 1846, artigo 13: São effeitos legaes do registro das hypothecas: 1.º tornar nulla, a favor do credor hypothecario, qualquer
alienação dos bens hypothecados, que o devedor possa fazer, posteriormente ao registro, por titulo, quer gratuito, quer oneroso: 2.º poder o
credor hypothecario com sentença, penhorar e executar os bens registrados, em qualquer parte que elles se acharem: 3.º conservar ao credor
hypothecario o privilegio de preferencia, nos bens registrados que, pela hypotheca, possa haver adquirido.
23
Cf. Augusto Teixeira De Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 617.
24
Decreto 482, de 1846, artigo 17: Os credores hypothecarios, por titulos de data anterior á installação do Registro geral das hypothecas, na
Comarca onde forem situados os bens hypothecados, conservarão todos os direitos que, a esse tempo houverem adquirido, huma vez que
procedão ao competente registro, dentro de hum anno subsequente á dita installação. As hypothecas referidas que forem registradas depois de
hum anno, só começarão a contar os seus effeitos legaes da data do seu registro.
25
Decreto 482, de 1846, artigo. 14: Depois da installação do Registro das hypothecas, em qualquer Comarca, os effeitos legaes das hypothecas
dos bens n'ella situados, só começarão a existir da data do registro das mesmas hypothecas. Artigo 15: No caso, porêm, em que duas
hypothecas do mesmo devedor sejão registradas no mesmo dia, não terá huma preferencia sobre a outra, ainda que o Tabellião declare que
huma foi registrada de manhã, e outra de tarde. Valerá, em tal caso, em igualdade de circunstancias, a data das escripturas.
26
Cf. Décio Antônio Erpen e João Pedro Lamana Paiva, Panorama Histórico do Registro de Imóveis no Brasil, in, RDI 43 (1998).
27
Cf. Affonso Dionysio Gama, Da Hypotheca (Theoria e Pratica), 1ª Ed., São Paulo, Saraiva, 1921, p. 14.
28
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, p. 406.
29
Cf. Relatório da Repartição dos Negócios da Justiça Apresentado à Assembléia Geral Legislativa na 4ª Sessão da 6ª Legislatura em 1847 pelo
Respectivo Ministro e Secretário d’Estado José Joaquim Fernandes Torres, Rio de Janeiro, Typographia do Mercantil, 1847, pp. 8-11.
30
Cf. Augustinho Marques Perdigão Malheiro, Repertório ou Índice Alphabetico da Reforma Hypothecaria e Sobre Sociedades de Crédito Real (L.
n.º 1237 de 24 de Setembro de 1864; Reg. n.º 3741 de 3 de Junho de 1865), 1ª Ed., Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1865, p. V.
31
Cf. Afranio de Carvalho, Registro de Imóveis – Comentários ao sistema de registro em face da Lei nº 6.015, de 1975, 3ª Ed., Rio de Janeiro,
Forense, 1982, pp. 1-15.
32
Cf. Senado Federal, Falas do Trono – Desde o ano de 1823 até o ano de 1889, 1ª Ed., Brasília, Edições do Senado Federal, 2019.
33
Cf. Joaquim Nabuco, Um Estadista do Império, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Garnier, 1897, p. 270.
34
Cf. Augustinho Marques Perdigão Malheiro, Repertório ou Índice Alphabetico da Reforma Hypothecaria e Sobre Sociedades de Crédito Real (L.
n.º 1237 de 24 de Setembro de 1864; Reg. n.º 3741 de 3 de Junho de 1865), 1ª Ed., Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1865, p. VI-VII.
35
Cf. Teresa Cristina de Novaes Marques, Eram os senhores de engenho caloteiros? Reflexões sobre o crédito e os direitos de propriedade no
mundo luso, in, história econômica & história de empresas, (17) (2014).
36
É este o texto do parecer: “No Brasil estes princípios não se haviam introduzido na legislação; a especialidade não se conhecia, e a publicidade
só nos últimos tempos fora admitida e assim mesmo incompleta e manca, não trazendo portanto as vantagens que a deviam acompanhar. Fixar
o direito de propriedade deve ser a primeira condição de um bom sistema hipotecário. Aqui desejaria a Comissão dar à transcrição maior valor
do que lhe dá o projeto; a transcrição deve importar a prova da propriedade e não uma simples presunção.” Cf. Lysippo Garcia, O Registro de
Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 90.
37
É este o texto do parecer: “No Brasil estes princípios não se haviam introduzido na legislação; a especialidade não se conhecia, e a publicidade
só nos últimos tempos fora admitida e assim mesmo incompleta e manca, não trazendo portanto as vantagens que a deviam acompanhar. Fixar
o direito de propriedade deve ser a primeira condição de um bom sistema hipotecário. Aqui desejaria a Comissão dar à transcrição maior valor
do que lhe dá o projeto; a transcrição deve importar a prova da propriedade e não uma simples presunção.” Cf. Lysippo Garcia, O Registro de
Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 90.
38
Cf. Sérgio Jacomino, Reforma hipotecária de 1854: o “monstro de Horácio”, 2010, Disponível em:
<https://arisp.wordpress.com/2010/03/14/reforma-hipotecaria-de-1854-o-monstro-de-horacio/>.
39
“A Comissão não desconhece que seria muito proveitoso para a consolidação e certeza do domínio o registro público dos títulos de
propriedade, de maneira a considerar-se o adquirente, ou o credor hipotecário, perfeitamente seguro e inatacável a respeito do objeto adquirido
ou hipotecado, e dos encargos a que está sujeito; porém, o meio do sistema não produz estes resultados. A propriedade continua sujeita às
variadas ações reais, não só do próprio cedente, mas às que este era obnóxio, visto como, segundo o disposto no projeto, o registro não prova
o domínio, que fica a salvo a quem o tiver. Nos países em que essa formalidade foi adotada, acontece o contrário, porque em alguns constitui a
mutação das propriedades um ato judiciário, em que se liquida o domínio, servindo-lhe de prova; em outros, o solo está demarcado, cadastrado
e dividido cuidadosamente. Se estas condições não existem entre nós, como transplantar o sistema que nelas se baseia?”. Cf. Lysippo Garcia,
O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 91.
40
Cf. Sérgio Jacomino, Projeto Nabuco, 2010, Disponível em: <https://arisp.wordpress.com/2010/03/06/projeto-nabuco/ >.
41
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 92.
42
Cf. Didimo Agapito da Veiga, Direito Hipotecário – Comentário ao Decreto 169-A de 19.01.1890, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Laemmert, 1899.
43
Cf. Augusto Teixeira de Freitas, Pareceres do Dr. Augusto Teixeira de Freitas, in, Reforma Hypothecaria – Projectos e Pareceres mandados
coligir pelo Exmo. Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça João Lustosa da Cunha Paranaguá, Rio de Janeiro, Tipografia
Nacional, 1860, pp. 88-89.
44
Cf. Augusto Teixeira de Freitas, Pareceres do Dr. Augusto Teixeira de Freitas, in, Reforma Hypothecaria – Projectos e Pareceres mandados
coligir pelo Exmo. Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça João Lustosa da Cunha Paranaguá, Rio de Janeiro, Tipografia
Nacional, 1860, p. 89.
45
Cf. Augusto Teixeira de Freitas, Pareceres do Dr. Augusto Teixeira de Freitas, in Reforma Hypothecaria – Projectos e Pareceres mandados
coligir pelo Exmo. Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça João Lustosa da Cunha Paranaguá, Rio de Janeiro, Tipografia
Nacional, 1860, p. 92.
46
Cf. Augusto Teixeira de Freitas, Pareceres do Dr. Augusto Teixeira de Freitas, in, Reforma Hypothecaria – Projectos e Pareceres mandados
coligir pelo Exmo. Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça João Lustosa da Cunha Paranaguá, Rio de Janeiro, Tipografia
Nacional, 1860, p. 92.
47
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 89-92.
48
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
49
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
50
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
51
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
52
Cf. Augusto Teixeira De Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª Ed., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 281. É o teor do artigo 534 da
Consolidação, no qual se baseia o autor: Vendida a mesma cousa a duas differentes pessoas, prefere o comprador à quem primeiro se fez a
entrega, se à esta accedeu o pagamento do preço, ou o vendedor se deu por pago.
53
Cf. Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque Sobrinho, Regimen Hypothecario Brazileiro (Legislação e Doutrina), 1ª Ed., Porto Alegre,
Typographia da Livraria Americana, 1906, p. 26 (nota 9).
54
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
55
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
56
Cf. Martinho Garcez, Do Direito das Coisas Segundo o Projeto de Código Civil Brazileiro, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Commercio, 1915, pp. 111-112.
57
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2a. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, s.d., p. 103 (nota 02).
58
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2a. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, pp. 104-107.
59
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2a. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, pp. 104-116.
60
Cf. Agostinho Marques Perdigão Malheiro, Repertório ou Índice Alphabetico da Reforma Hypothecaria e Sobre Sociedades de Crédito Real (L.
n. o 1237 de 24 de Setembro de 1864; Reg. n. o 3741 de 3 de Junho de 1865), 1ª Ed., Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1865, p. VI.
61
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado complete sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc., 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 256.
62
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 94.
63
Segundo o autor, o Direito Brasileiro pré-codificado admitiu a transmissão da propriedade imóvel pelo consenso das partes, independentemente
de tradição, seguindo a doutrina do direito francês e dos demais que a este se filiaram. No entanto, pelos riscos deste regime, foi criado um
sistema de publicidade, para que a transferência tivesse valor contra terceiros. O autor reconhece que haveria aí uma contradição essencial, e
uma incongruência no direito de propriedade, o que, segundo ele, levou a que se preparasse no Código Civil de 1916 uma mudança que a
sanasse. Cf. Caio Mário Da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, Vol. IV, 13ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1998, p. 90.
64
Para ele, vigorava no Brasil até o advento do Código Civil o Sistema Francês, pelo qual a propriedade imóvel se adquire pelo contrato, servindo
a transcrição para dar publicidade e oponibilidade a terceiros. Nessa época, a escritura de compra e venda, por si mesma, transmitia o domínio,
e, por isso Teixeira de Freitas e Lafayette prepararam a reforma, consubstanciada no Código Civil. Cf. Washington de Barros Monteiro, Curso
de Direito Civil – Direito das Coisas, Vol. 3, 22ª Ed., São Paulo, Saraiva, 1983, pp. 104-105.
65
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, p. 116 (nota 02).
66
Cf. Martinho Garcez, Do Direito das Coisas Segundo o Projeto de Código Civil Brazileiro, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Commercio, 1915, p. 115.
67
Cf. Martinho Garcez, Do Direito das Coisas Segundo o Projeto de Código Civil Brazileiro, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Commercio, 1915, p. 117-120.
68
Cf. Martinho Garcez, Do Direito das Coisas Segundo o Projeto de Código Civil Brazileiro, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Tipografia do Jornal do
Commercio, 1915, p. 120 (nota 02).
69
Cf. Relatorio do Ministério da Justiça. Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1865, p. 33.
70
Cf. José Furtado De Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 41-53.
71
Cf. Martinho Garcez, Da Hypotheca e das Acções Hypothecarias – Annotações ao Código Civil Brasileiro (Arts. 809 a 862), 1ª. Ed., Rio de
Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, 1918, p. 135.
72
Cf. Manuel Antônio de Alvarenga, Consolidação das Leis Hypothecarias, 1a. Ed., São Paulo, Andrade, Mello & Comp., 1899, pp. VII-XI. Afirma
o autor: “Funcionários da justiça, obrigados a promover de ofício esta especialização, ao deixar de faze-lo, quantos patrimônios e legítimas
arruinaram! Assim, teria sido melhor a continuação do regime de 1864, pelo qual ficavam gravados de hipoteca todos os bens presentes e
futuros dos reponsáveis, os quais teriam o cuidado de promover a especialização”.
73
Cf. Manuel Antônio de Alvarenga, Consolidação das Leis Hypothecarias, 1a. Ed., São Paulo, Andrade, Mello & Comp., 1899, pp. V-VI.
74
Cf., por exemplo: Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942; Fernando
Euler Bueno, Effeitos da Transcripção no regime do Código Civil Brasileiro, 1ª. Ed., São Paulo, RT, 1941; Soriano Neto, Publicidade Material do
Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna, 1940.
75
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 119-130.
76
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 119-130.
77
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 119-130.
78
Para Rui Barbosa, a mudança de um termo consagrado – transcrição – não se justificava, tendo ares de modismo. Clóvis Beviláqua refutou a
crítica, afirmando ser frágil o argumento da manutenção pela simples tradição. O termo somente faria sentido onde realmente o título fosse
transcrito integralmente, o que não era o caso, pois, no sistema vigente, a inscrição era feita por extrato, pela inclusão num formulário de dados
específicos constantes do título. Contudo, prevaleceu o argumento posto por Rui Barbosa. Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis: A
Transcripção, Vol. I, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 142-143.
79
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 103-109.
80
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 119-130.
81
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis, Vol. I: A Transcripção, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, pp. 119-130.
82
Cf. Clóvis Beviláqua, Direito das Coisas, 1º. Vol., 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1956, pp. 124-125.
83
Cf. Arnoldo Medeiros Da Fonseca, O registro immobiliario e sua força probante em face do Código Civil – Effeitos da Transcripção, in, Archivo
Judiciário, XLII (1937).
84
Cf. Arnoldo Medeiros Da Fonseca, O registro immobiliario e sua força probante em face do Código Civil – Effeitos da Transcripção, in, Archivo
Judiciário, Vol. XLII, 1937, pp. 33-34.
85
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
86
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
87
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
88
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
89
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
90
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 70-85.
91
Cf. Miguel Maria de Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, pp. 85-88.
92
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, pp. 125-
127.
93
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, pp. 128-
158.
94
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, pp. 61-70.
95
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, pp. 162-
163.
96
A responsabilidade do Estado por atos dos notários e registradores sempre foi objeto de muita polêmica, tendo em vista as grandes
dificuldades teóricas em classificá-los como funcionários públicos ou como simples particulares que respondem por seus próprios atos. Serpa
Lopes, nos anos 1960, afirmou que era inegável o seu status de funcionários públicos, e que, portanto, a tese da responsabilidade do Estado
tinha bastante força (Cf. Miguel Maria Serpa Lopes, Tratado dos Registros Públicos, Vol. I, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1960, p. 74).
Maria Sylvia Zanella di Pietro os classifica como “Particulares em colaboração com o Poder Público”, ao lado dos leiloeiros e tradutores
juramentados (Cf. Maria Sylvia Zanella di Pietro, Direito Administrativo, 14ª Ed., São Paulo, Atlas, 2002, p. 437; e Hely Lopes Meirelles os
classifica como “Agentes Públicos Delegados”, ladeados por leiloeiros e tradutores juramentados, e também pelos concessionários e
permissionários de serviços públicos. O autor manifesta-se acerca do tema da responsabilidade do Estado por seus atos, entendendo ser esta
subsidiária, aplicável uma vez comprovada a insolvência do Agente Delegado. Contudo, apresenta decisão do Tribunal de Justiça de São
Paulo, na Apelação Cível 159.914-5, que reconheceu a responsabilidade solidária da Fazenda do Estado por um ato lesivo causado por
tabelião (Cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 32ª Ed., São Paulo, Malheiros, 2006, p. 81). E a linha desta decisão é a que
tem prevalecido em reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, sustentando que para efeitos de responsabilidade os notários e
registradores tem status de servidores públicos, e, portanto, o Estado tem responsabilidade direta por seus atos. O Estado mantém a
titularidade da prestação do serviço, o fiscaliza, e o controla. Portanto, não se pode excluir sua responsabilização (Cf. Hércules Augusto da
costa Benício, Responsabilidade Civil do Estado Decorrente de Atos Notariais e de Registro, 1ª Ed., São Paulo, RT, 2005, pp. 243-244). O autor
da citada monografia sobre o tema, à página 250, fixa seu posicionamento contrário à responsabilização direta do Estado, devendo este
somente responder subsidiariamente. Cita o Recurso Extraordinário 201.595/SP – à época em trâmite perante o Supremo Tribunal Federal –
como um possível leading case deste novo posicionamento. Contudo, a decisão manteve a posição já consolidada, sendo, portanto, pacífica na
jurisprudência a responsabilização direta do Estado por atos notariais e de registro. Todavia, no Recurso Extraordinário 842.846, de Santa
Catarina, julgado em 2019, fixou-se a tese de que o Estado responde objetivamente pelos atos dos notários e registradores que, no exercício
de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, em caso de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa.
97
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, pp. 167-
169.
98
Cf. Soriano Neto, Publicidade Material do Registro Immobiliario (Effeitos da Transcripção), Recife, Officina Gráfica da Tribuna 1940, p. 183.
99
Cf. Virgílio de Sá Pereira, Manual do Código Civil, Vol. VIII, Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, 1924, p. 110.
100
Cf. Gondim Filho, Transcrição e Domínio no Código Civil, in, Revista de Direito, Vol. 68, p. 257-263.
101
Cf. Fernando Euler Bueno, Effeitos da Transcripção no regime do Código Civil Brasileiro, 1ª. Ed., São Paulo, RT, 1941, pp. 24-36.
102
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, p. 6.
103
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, p. 11.
104
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, pp. 49-51.
105
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, pp. 64-67.
106
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, p. 83.
107
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Livraria Jacintho, 1942, pp. 88-89.
108
Cf. Francisco Bertino de Almeida Prado, Eficácia Probatória do Registro, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1943, pp. 121-122.
109
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Direito das Coisas: Propriedade. Aquisição da
propriedade imobiliária., Vol. XI, 1ª. Ed, Rio de Janeiro, Borsoi, 1955, pp. 206-207.
110
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Direito das Coisas: Propriedade. Aquisição da
propriedade imobiliária., Vol. XI, 1ª. Ed, Rio de Janeiro, Borsoi, 1955, p. 211.
111
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Direito das Coisas: Propriedade. Aquisição da
propriedade imobiliária., Vol. XI, 1ª. Ed, Rio de Janeiro, Borsoi, 1955, pp. 234-235.
112
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Direito das Coisas: Propriedade. Aquisição da
propriedade imobiliária., Vol. XI, 1ª. Ed, Rio de Janeiro, Borsoi, 1955, pp. 237-238.
113
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado – Parte Especial – Direito das Coisas: Propriedade. Aquisição da
propriedade imobiliária, Vol. XI, 1ª. Ed, Rio de Janeiro, Borsoi, 1955, pp. 248-249.
114
Para o autor, a transcrição do título no registro de imóveis corresponde à tradição solene do bem, que os individualiza e dá publicidade.
Presume-se pertencer ao inscrito no registro o domínio da coisa. Não obstante, a presunção é relativa, revertendo o ônus da prova, e
facilitando a defesa do inscrito. Cf. Sílvio Rodrigues, Direito Civil – Direito das Coisas, Vol. V, 5ª Ed., São Paulo, Saraiva, 1975, pp. 92-93.
115
Após o advento do Código Civil, teria o direito brasileiro se aproximado do sistema da família germânica, por ter se tornado a transcrição
formalidade essencial à transmissão do domínio. No entanto, no Brasil não há organização imobiliária semelhante à da Alemanha, e por essa,
razão, a transcrição apenas geraria presunção relativa de domínio em favor do titular inscrito. Contudo, não se trata da mera publicação do
Sistema Francês – é tradição solene do imóvel, transmitindo o domínio ao adquirente. Cf. Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil
– Direito das Coisas, Vol. 3, 22ª Ed., São Paulo, Saraiva, 1983, p. 105.
116
Para CAIO MÁRIO, no projeto de Código Civil, Beviláqua tentou criar um método que adaptasse o Sistema Germânico às condições do Brasil,
resultando na técnica germânica de aquisição pelo registro, mas sem todos os efeitos gerados em tal sistema. Assim, o registro no Brasil cria o
direito real. Não tem, porém, a natureza de negócio jurídico abstrato do direito germânico. É ato jurídico causal, dependente do título que lhe
deu causa, somente operando a transmissão dentro dos limites deste. A presunção gerada seria, portanto, relativa, diferentemente da alemã. O
registro tem, contudo, certa força probante, entendida esta no sentido de que o registro indica um titular de direito real e institui a presunção
relativa de propriedade. Cf. Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, Vol. IV, 13ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1998, pp. 90-94.
117
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Vol. XI, 1a Ed., São Paulo, RT, 2012, pp. 410-445.
118
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Vol. XI, 1a Ed., São Paulo, RT, 2012, pp. 410-445.
119
Cf. Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, Vol. XI, 1a Ed., São Paulo, RT, 2012, p. 427.
120
Cf. Clóvis do Couto e Silva, A Obrigação Como Processo, 1a Ed., Rio de Janeiro, Editora FGV, 2007, pp. 52-53.
121
Cf. Clóvis do Couto e Silva, A Obrigação Como Processo, 1a Ed., Rio de Janeiro, Editora FGV, 2007, pp 54-55.
122
Cf. Rafael Domingos Faiardo Vanzella, O Contrato e os Direitos Reais, 1ª Ed., São Paulo, RT, 2013, p. 261.
123
Cf. Rafael Domingos Faiardo Vanzella, O Contrato e os Direitos Reais, 1ª Ed., São Paulo, RT, 2013, p. 261.
124
Cf. Leonardo Brandelli, Registro de Imóveis – Eficácia Material, 1a Ed., Rio de Janeiro, Forense, 2016, pp. 273-317.
125
Cf. Décio Antonio Erpen, João Pedro Lamana Paiva, Princípios do Registro Imobiliário Formal, in, DIP, Ricardo (coord.), Introdução ao Direito
Notarial e Registral, 1ª Ed., Porto Alegre, SafE, 2004.
127
Cf. Marcelo Augusto Santana de Melo, O meio ambiente e o Registro de Imóveis, in, Registro de Imóveis e Meio Ambiente, 1ª Ed., São Paulo,
Saraiva, 2010, p. 39.
128
Cf. Nancy Andrighi, Ricardo Dip, Apontamentos Acerca dos Registros Públicos – Lei Nº 13.097/2015, disponível em
<http://www.irib.org.br/files/obra/20150327_artigo_nancy_desembargador_1.pdf >.
129
Cf. George Akerlof, The Market For “Lemons”: Quality Uncertainty and the Market Mechanism, in, The Quarterly Journal of Economics, (84 – 3)
(1970).
130
Cf. Fernando Pedro Méndez González, Fundamentación Económica Del Derecho de Propiedad Privada e Ingeniería Jurídica Del Intercambio
Impersonal, 1ª. Ed., Cizur Menor, Editorial Aranzadi, 2011, pp. 112-138.
131
Cf. Marcelo Augusto Santana de Melo, Teoria Geral do Registro de Imóveis: Estrutura e Função, 1ª Ed., Porto Alegre, SAFe, 2016, p. 137.
132
No mesmo sentido, cf. Marinho Dembinski Kern, A Lei 13.097/15 adotou o princípio da fé-pública registral?, in, RDI (78) (2015), p. 53.
133
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 5.
134
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 5.
135
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 6-7.
136
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 8-9.
137
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 8-9.
138
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 8-9.
139
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 9-11.
140
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 11-12.
141
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, pp. 9-11.
142
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 14.
143
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 24.
144
Cf. José Homem Correia Telles, Manual do Tabelião ou Ensaios de Jurisprudência Eurematica Contendo a Coleção de Minutas dos Contratos e
Instrumentos Mais Usuais, e das Cautelas Mais Precisas nos Contratos e Testamentos, 1ª Ed., Lisboa, Imprensa Nacional, 1859, p. 28.
145
Cf. Lourenço Trigo de Loureiro, Instituições de Direito Civil Brasileiro, Vol. II, 4ª Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1871, p. 123.
146
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., RIO DE JANEIRO, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 81-82.
147
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., RIO DE JANEIRO, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 83-84.
148
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 2º; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 615.
149
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 3º; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 616.
150
Cf. Augusto Teixeira de Freitas , Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 617.
151
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 22. A lei fala tão somente em “autoridade competente”. Há, no entanto, no apêndice deste trabalho, uma transcrição
do termo de abertura do Livro de Inscrições do das Hipotecas Anteriores à Instalação do Registro do 1º Registro de Imóveis da Capital do
Estado de São Paulo, subscrito pelo Juiz de Direito da Comarca, Manoel de Castro Menezes, o que indica ser esta a autoridade a que a lei se
refere.
152
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 18; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 622.
160
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 19; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 622.
161
Cf. Dec. 482 de 1846, arts. 24 e 25; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 623.
162
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 26; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 624.
163
Cf. Dec. 482 de 1846, arts. 27 e 28; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 624.
164
Cf. Dec. 482 de 1846, arts. 29 e 30; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 625.
165
Cf. Dec. 482 de 1846, art. 33; Augusto Teixeira de Freitas, Consolidação das Leis Civis, 2ª E., Rio de Janeiro, Laemmert, 1865, p. 626.
166
Por exemplo, o encerramento do registro transcrito no apêndice: “O referido hé verdade, de que dou fé a presente. Escrevi, conferi e assigno
nesta Imperial Cidade de São Paulo. Aos quatro de agosto do Anno de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil, oitocentos e
quarenta e sete. Fortunato José da Silva, tabellião as escrevi, conferi e assigno.”
168
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., RIO DE JANEIRO, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 85-86.
169
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, p. 87.
170
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 88.
171
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 89.
172
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 90-91.
173
Cf. José Furtado de Mendonça, Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 92-93.
174
Cf. José Furtado de Mendonça , Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 101-102.
175
Cf. José Furtado de Mendonça , Direito Hypothecario do Brasil, 1ª Ed., Rio de Janeiro, A. A. Da Cruz Coutinho Editor, 1875, pp. 103-104.
176
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 13.
177
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 13-17.
178
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 18-21.
179
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 22-23.
180
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 24-26.
181
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, pp. 38-39.
182
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, pp. 40-42.
183
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 43-44.
184
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, p. 43-48.
185
Cf. Joaquim de Oliveira Machado, Manual do Official de Registro Geral e das Hypothecas – Tratado completo sobre a definição, criação,
concurso, provimento, virtudes, direitos e deveres, permuta, graduações, férias, licenças, penalidades do cargo, bem como sobre a inscripção
de hypotheca ou penhor e transcripção de transmissão de immoveis ou constituições de ônus reaes. Acompanhado de um formulário de
instalação do registro, prenotação, especialisação, recursos, extractos, etc, 1ª. Ed., Rio de Janeiro, B. L. Garnier, 1888, pp. 71-73.
186
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, s.d., pp. 128-130.
187
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, s.d., p. 132.
188
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2ª. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, s.d., p. 122.
189
Cf. Lafayette Rodrigues Pereira, Direito das Cousas, 2a. Ed., Rio de Janeiro, Jacintho Ribeiro dos Santos, s.d., p. 123.
190
Cf. Sérgio Jacomino, Os extratos e o antigo bordereau do Direito Francês, 2010, Disponível em: <https://arisp.wordpress.com/2010/03/08/os-
extratos-e-os-antigos-bordereaux-do-registro-frances/>.
191
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 337.
192
Cf. Afrânio de Carvalho, Registro de Imóveis, 3ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1982, pp. 482-492.
193
Cf. Afrânio de Carvalho, Registro de Imóvei, 3ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1982, pp. 21-28.
194
Cf. Elvino Silva Filho, Considerações em torno da Nova Lei dos Registros Públicos (Decreto-Lei 1.000, de 21 de Outubro de 1969), in, RT (413)
(1970).
195
Cf. Elvino Silva Filho, Considerações em torno da Nova Lei dos Registros Públicos (Decreto-Lei 1.000, de 21 de Outubro de 1969), in, RT (413)
(1970).
196
Cf. Elvino Silva Filho, Considerações em torno da Nova Lei dos Registros Públicos (Decreto-Lei 1.000, de 21 de Outubro de 1969), in, RT (413)
(1970).
197
Cf. Elvino Silva Filho, Considerações em torno da Nova Lei dos Registros Públicos (Decreto-Lei 1.000, de 21 de Outubro de 1969), in RT (413)
(1970).
198
O dossiê completo da reforma está disponível no website da Câmara dos Deputados, no link
<https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=5C99D662062B81261A9DAA2213703D43.proposicoesWebExterno2?
codteor=1192155&filename=Dossie+-PL+2267/1970>.
199
Cf. Ruy Ferreira da Luz, Prática do Registro de Imóveis, 1ª Ed., São Paulo, Sugestões Literárias, 1974, pp. 12-13.
200
Cf. Lysippo Garcia, O Registro de Imóveis – A Transcripção, Vol. I, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1922, p. 350.
201
Cf. Ruy Ferreira da Luz, Prática do Registro de Imóveis, 1ª Ed., São Paulo, Sugestões Literárias, 1974, p. 48.
202
Cf. Afrânio de Carvalho, Registro de Imóveis, 3ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1982, pp. 21-28.
203
Cf. Afrânio de Carvalho, Registro de Imóveis, 3ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1982, pp. 1-15.
CAPÍTULO 5. O SISTEMA TORRENS
CAPÍTULO 5. O SISTEMA TORRENS
Torrens atuou entre 1841 e 1852 como Coletor nas aduanas da Austrália do
Sul, e sua experiência com a transmissão de navios fez com que passasse a
acreditar que poderia reformar a legislação inglesa de transmissões imobiliárias
com base nos princípios da transmissão de navios. Nomeado registrador geral de
Deeds em 1853, candidatou-se nas eleições para a Assembleia da Austrália do Sul
de 1857, como representante de Adelaide. O eixo de sua campanha foi
precisamente a reforma imobiliária2.
Quando Torrens iniciou seu trabalho na Austrália do Sul, ainda como Collector,
em 1841, a colônia estava em vias de encerrar, em 1842, um malfadado
experimento de colonização baseado nas ideias de Edward Gibbon Wakefield10.
Segundo Wakefield, em brevíssima síntese, as terras da colônia outorgadas a
particulares deveriam ser vendidas em leilões públicos, e não doadas,
empregando-se o dinheiro arrecadado com a venda no financiamento das
despesas de viagem de novos colonos, o que asseguraria um suprimento contínuo
de mão de obra. O sistema fracassou de forma retumbante, quase levando a
colônia à ruína em 1839, em razão da especulação imobiliária, da venda da maior
parte das terras a pessoas que não viviam, nem se encontravam, na Austrália do
Sul, e de graves problemas na identificação dos imóveis vendidos. A partir de
1842, imigrantes alemães começaram a chegar, e nos quatro anos seguintes a
população local aumentou em 64%. A partir dos anos 1850, um novo problema
relacionado a terra ganhou relevo: a situação dos squatters, meros ocupantes sem
título11.
Eram também fontes do novo sistema, o registro que já existia nas cidades da
Liga Hanseática, na Prússia, Holanda e Baviera, que estão nas origens do Sistema
Germânico; o Merchant Shipping Act inglês, de 1854; e o informe da Registration
of Title Comission do Parlamento Inglês, de 1857. Em especial, Torrens afirmava
sua admiração pelo sistema da cidade de Hamburgo, o qual, segundo ele, além de
superior, contava então com uma vigência de mais de seiscentos anos17. Quanto a
este último ponto, permanece em aberto a polêmica sobre o quanto pode ter
influenciado esta opinião, assim como a própria concepção da Lei sancionada em
1858, o contato de Torrens com o jurista alemão emigrado para a Austrália do Sul
Ulrich Hübbe, que em 1857 chegou a publicar um livro intitulado “The Voice of
Reason and the History brought to bear against the present absurd method of
transferring and encumbering Immovable Property”, no qual propunha a adoção do
modelo de Hamburgo18.
Eram, por outro lado, aspectos originais do projeto apresentado por Torrens à
criação de um fundo de seguro destinado a indenizar prejudicados pelo registro; a
não interferência dos tribunais, já que, enquanto em Hamburgo havia uma etapa
judicial, em que a propriedade era abandonada pelo proprietário e depositada nas
mãos do adquirente (Verlassung) com pregão público (Ausrufung), o sistema de
Torrens concentrava todo o procedimento no registro; e o chamado “Sistema de
Duplicados”, pelo qual cada nova registração é feita em um livro no registro, e
também em uma cópia, que permanece com o adquirente. A cada nova transação,
a via do adquirente deve ser apresentada ao registro para ser atualizada; e a falta
da via duplicada, ou sua desatualização, impediam a negociação20.
O Sistema Torrens foi introduzido no Brasil pelo Decreto 451-B de 1890, e foi
apontado, na justificativa apresentada ao então presidente Deodoro da Fonseca,
assinada pelo Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, da Justiça, Campos Salles, e
dos Transportes e Agricultura, Francisco Glicério, como “a mais adeantada phase
das idéas contemporaneas quanto à propriedade territorial, o mais bemfazejo de
todos os regimens para o seu desenvolvimento e fructificação nas sociedades
hodiernas”. Pretendiam, com o projeto, reunir os vários “institutos da publicidade”
então existentes, como registro de hipotecas, transcrições, cadastros, e, com isso
constituir “uma especie de estado civil da propriedade immobiliaria”. Segundo eles,
o sistema da Áustria e de outras legislações germânicas adotava um mecanismo
sábio, assegurando a propriedade, mas insuficiente, já que não atendia às
necessidades da facilidade da circulação dos direitos. O Sistema Torrens teria a
virtude de combinar uma “publicidade perfeita dos imóveis”, isto é, gerar segurança
dos direitos, com a facilidade de sua circulação21.
Todavia, após algum tempo veio Ruy Barbosa a mudar de opinião quanto a
este ponto, vindo a saber que, mesmo na Austrália, o sistema era obrigatório em
alguns casos, como o das concessões feitas pela Coroa após sua vigência. Assim,
concluiu que a facultatividade deveria ser um estágio inicial da implantação do
sistema, após o que, deveria haver sua generalização coercitiva. Por isso, acabou
propondo o registro obrigatório na então Capital Federal, e o facultativo nas outras
partes do país22, pretendendo, na capital, atribuí-lo “a uma sociedade em
comandita, ou anônima, autorizada pelo ministro da fazenda na Capital Federal”23.
Também seria obrigatório o registro no Sistema Torrens das aquisições de terras
públicas alienadas depois da publicação do Regulamento.
Este tratamento do tema pelo Código Civil de 1939 pôs fim a uma polêmica que
gravitava em torno de ter o artigo 1.807 do Código Civil de 1916 promovido a
revogação dos decretos de 189029, já que o Sistema Torrens, aparentemente, era
incompatível com o sistema geral de transmissão de propriedade pela transcrição
constante dos artigos 531 a 535.
Esta sobrevida, todavia, teve curta duração, já que no mesmo ano foi
promulgada a Lei 6.015/73, revogando tacitamente os dispositivos do Código de
1939 em virtude de ter regulamentado inteiramente a matéria.
A Lei 6.015/73 manteve a exclusividade do Registro Torrens para os imóveis
rurais, tal como já constava do Código de Processo Civil de 1939. Ainda,
estabeleceu requisitos técnicos para a elaboração dos levantamentos e plantas,
como escalas, orientação, e o uso de goniômetro, de maneira a possibilitar a
incorporação dos mapas em cartas gerais de cadastro.
Não indica, contudo, a Lei 6.015/73 quais seriam estes efeitos do Registro
Torrens a que o imóvel fica submetido, os quais, por essa razão, somente podem
ser os do artigo 43 do Decreto 451-B de 1890, ou seja, a exoneração do
adquirente ou cessionário contra “[...] reclamações, relativas a direitos, que não
constem do registro”, ou, mais tecnicamente, a inoponibilidade ao proprietário de
quaisquer direitos – ou pretensões – não constantes do registro quando da
submissão do imóvel aos efeitos do sistema. Tem-se, com isso, uma sobrevivência
indireta de parte do Decreto, ainda que tenha sido revogado expressamente pelo
Decreto 11, de 18 de janeiro de 1991.
Não se trata, com isso, de mera presunção juris et de jure de domínio, como se
tem afirmado, mas de, juntamente com a fé pública registral trazida pela Lei 13.097
de 2015, exemplo de eficácia material do registro de imóveis no Direito Brasileiro.
1
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p. 19.
2
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 20-21.
3
Cf. Bruce H. Ziff, Principles of Property Law, 2ª Ed., Toronto, Carswell, 1996, p. 408.
4
Cf. Benito Arruñada, Instituciones del intercambio personal: Teoría y método de los registros
públicos, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2013, p. 98.
5
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 20-21.
6
Cf. Greg Taylor, Is the Torrens System German, in, The Journal of Legal History, (29) (2009).
7
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p. 21.
8
Cf. Bruce H. Ziff, Principles of Property Law, 2ª Ed., Toronto, Carswell, 1996, pp. 411-412.
9
Cf. Greg Taylor, Is the Torrens System German, in, The Journal of Legal History, (29) (2009).
10
Para mais detalhes sobre o sistema de Wakefield, e sua repercussão no Brasil cf. Ivan Jacopetti do
Lago, O tratamento jurídico da venda de imóvel com divergência de área na evolução do Direito
Brasileiro; venda ad corpus e ad mensuram, Tese de Doutorado, São Paulo, USP, 2014, pp. 56 e
seguintes.
11
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 23-24.
12
Cf. Robert Richard Torrens, The South Australian System of Conveyancing by Registration of Title,
1ª Ed., Adelaide, Register and Observer General Printing Offices, 1859, p. 8.
13
Cf. Robert Richard Torrens, The South Australian System of Conveyancing by Registration of Title,
1ª Ed., Adelaide, Register and Observer General Printing Offices, 1859, p. 9.
14
Cf. Robert Richard Torrens, The South Australian System of Conveyancing by Registration of Title,
1ª Ed., Adelaide, Register and Observer General Printing Offices, 1859, p. 9.
15
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p. 45.
16
Cf. Bruce H. Ziff, Principles of Property Law, 2ª Ed., Toronto, Carswell, 1996, pp. 53-54.
17
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, p. 45.
18
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 47-55.
19
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 61-66.
20
Cf. Nicolás Nogueroles Peiró, El Establecimiento del Sistema Torrens em Australia del Sur y sus
Orígenes, 1ª Ed., Cizur Menor, Aranzadi, 2011, pp. 66-68.
21
Cf. Ruy Barbosa, Manuel Ferraz de Campos Salles, Francisco Glicério de Cerqueira Leite, Decreto
451-B, de 31 de maio de 1890 – Justificativa, disponível em
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/518779>. Acesso em: 06/07/2020.
22
Cf. Ruy Barbosa, Lei Torrens, in, Obras Completas de Rui Barbosa, Vol. XVIII – II, 1ª Ed., Rio de
Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1949, p. 301-303.
23
Cf. Ruy Barbosa, A Execução da Lei Torrens na Capital Federal, in, Obras Completas de Rui
Barbosa, Vol. XVIII – II, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Saúde, 1949, p. 24.
24
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro,
Livraria Jacintho, 1942, p.85.
25
Cf., por exemplo, Spencer Vampré, Registro Torrens – Sua Inconstitucionalidade, in, RT (43)
(1922).
26
Cf. Décio Antônio Erpen, O Registro Torrens e o Sistema Imobiliário Atual, in, RDI (19/20) (1987).
27
Cf. João Afonso Borges, O Registro Torrens no Direito Brasileiro, 1ª Ed., Goiânia, 1957, p. 46.
28
Cf. Philadelpho Azevedo, Registro de Imóveis (Valor da Transcrição), 1ª. Ed., Rio de Janeiro,
Livraria Jacintho, 1942, p.84.
29
Cf. Afrânio de Carvalho, Registro de Imóveis, 1ª Ed., Rio de Janeiro, Forense, 1976, p. 478.
30
Cf. Décio Antônio Erpen, O Registro Torrens e o Sistema Imobiliário Atual, in, RDI (19/20) (1987).
32
Cf. Maria Helena Diniz, Sistemas de Registro de Imóveis, 9ª Ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 571.
Para Jacy de Almeida, no entanto, o que tem eficácia erga omnes é a matrícula, e não a sentença.
A respeito, cf. Cf. Jacy de Assis, Do Registro Torrens, in, RT, (371) (1966).
A TÍTULO DE CONCLUSÃO: AS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA BRASILEIRO DE REGISTRO
DE IMÓVEIS
A TÍTULO DE CONCLUSÃO: AS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA BRASILEIRO DE REGISTRO
DE IMÓVEIS
Quanto aos efeitos, tem-se que o titular registral é protegido pela legitimação,
ou seja, a presunção relativa; e, como regra, os terceiros adquirentes de boa-fé
são protegidos pela fé pública registral, nos termos da Lei 13.097 de 2015.
O registro das aquisições mortis causa foi introduzido pelo Código Civil de
1916, em seu artigo 532, I, como maneira de se dar aos adquirentes a
disponibilidade do bem em virtude da extinção do estado de indivisão pela partilha.
Com isso, abriu caminho para a introdução da continuidade ou trato sucessivo, que
foi reconhecida expressamente no artigo 234 do Decreto 18.542 de 1928.
O fólio real foi introduzido pela Lei 6.015 de 1973, o que, juntamente com a fé
pública registral de que já se tratou, dotou o Sistema Brasileiro de todas as
características de um sistema de registro de direitos.
1
Cf. Mónica Vanderleia Alves de Sousa Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial – Terceiros
para Efeitos de Registo, 1ª Ed., Coimbra, Almedina, 2015, p. 150.
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