Whiskas - O Mistério Do Ronronado - 0

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Vocês devem estar pensando: quem sou eu? Bom, eu sou um gato, como podem ver.

E sabe essa coisa de dizer que gatos têm muitas vidas, umas sete? Eu posso provar.

Já vivi coisas demais, e como acabei aqui? Eu vou contar para vocês.
Tudo começou com uma dúvida: o ronronado existe?
Sabem? Aquele rom-rom que todo gato faz? Todo não, porque é aí que começa o meu
problema, eu sou gato, disso eu tenho quase certeza, mas nunca ronronei.

E então eu resolvi ir atrás, desbravar e descobrir o que era, como sentir esse tal
ronrom. E eu vou contar para vocês uma coisa, as vidas de gato não são fáceis.
Mas eu não me importo – Já me acostumei a ser sozinho. Vagar pelas
ruas, afastar as pessoas. Eu sou a Noite, o Mistério, as Trevas.

Meu nome? Tenho vários: Coisica, Saidaqui, Gatoderua, Lamacento,


Chispa, Caifora, Creindeuspai.
Apesar de eu ter tantos nomes, nenhum eu acho que combina muito
comigo, eu gostaria mesmo de ser chamado de: BÁTIMA.
Ainda estão por aqui? Não vão embora, ainda tenho muito para contar.

Já que não foram embora... eu vou aproveitar e continuar a contar sobre a


minha busca pelo ronrom. Mas já vou avisando: é uma história com reviravoltas
e aventuras. Mas eu sei que vocês vão conseguir acompanhar sem problemas,
vocês são espertos, assim como eu!

Tudo começou quando eu era muito novo. Um filhotinho, um pinguinho de gato.


Eu não lembro da minha mãe, nem dos meus irmãozinhos, lembro só que era
quentinho e confortável. Mas me tiraram logo de lá e me jogaram num lugarzão
frio e assustador. Sozinho.
Hoje eu sei que tinha o nome de teto-velho, ou era ferro-velho?

Eu não sabia o que era ronronar, mas, naquele dia, eu aprendi o que era medo.
Era um dia meio que como esse, chuvoso, escuro, frio.
Eu mal sabia andar e ficava dando uns miadinhos, achei que dessa forma minha
mãe pudesse me encontrar. Foi nada, eu já devia estar bem longe dela.

E então foi assim que começou a minha primeira vida. Caçava o que dava, me
escondia da chuva, e fugia dos meninos que jogavam pedrinhas em mim.
Sabe como é, nunca tive muita vocação para alvo.
Depois de um tempo, chegaram umas pessoas no ferro-velho, eu tentei
me esconder, usei minhas garras tenebrosas, que na época eram uns
fiapos de garra, e tentei fazer a minha maior cara de mau.
Não assustei ninguém, me levaram mesmo assim.

E mais uma vez, eu estava acompanhado do meu velho amigo medo.


Mas sem perder minha pose de mau.
E quando me tiraram da jaula, cheguei num lugar que nunca tinha visto
antes. Um montão de gatos de todos os jeitos, todas as cores e tamanhos.
Achei até que estava no céu dos gatos, mas não era, chamavam aquele lugar
de amigo, ou era abrigo? Começava a minha segunda vida.

E foi lá que conheci ele, o famoso e incompreensível RONRONADO.

Era rom-rom de um lado, purr-purr do outro. Todos os gatinhos vibravam como


se eu estivesse numa concessionária de minicarrinhos aquecendo o motor.
Eu achei fascinante!
Cheguei tão perto de um gato mal-humorado, para escutar o seu ronronado, que ele
até soltou:
- Dois gatos não ocupam o mesmo espaço, garoto.

Eu queria saber o que era aquilo, como funcionava, como sentia?

Os outros gatos não sabiam muito bem, uns diziam que era cura, outros que era
felicidade, alguns diziam até que era um brinquedo que tinham engolido.

Ninguém parecia entender muito bem como funcionava.


Eu tentei, e tentei, e tentei, dia e noite, noite e dia fazer o ronronado aparecer.

Mas não consegui.


Pensei que talvez tivesse nascido com defeito, sem um pedaço, vai saber...

Aí chegou um dia que um rapaz veio até o abrigo. Ele olhou para mim, eu olhei
para ele e ele apontou para mim, fui com ele.
Ele me colocou um lação rosa no pescoço e me enfiou numa caixa.
Eu destruí o laço em poucos segundos. Mais um inimigo derrotado!

Quando uma moça abre a caixa, e faz uma cara não muito feliz ao me ver.
Talvez eu não devesse ter destruído o laço...
Enfim, estava começando a minha terceira vida. E parecia que não ia durar muito,
a tal moça, que me ganhou de presente, mal olhava para mim e me dava uns restos
de comida. Ficava o tempo todo tirando fotos dela e de mim... ela não gostava de
nenhuma, falou que eu não ficava bem nas fotos e que eu fazia muita bagunça.

E mandou me devolver, assim, sem mais nem menos.


Lá também não encontrei o ronronado, aliás, quem estragava as minhas fotos era
ela, não eu, humpf.
E lá vou eu de novo para o abrigo. Começar a minha quarta vida.
Aproveitei para aprofundar minhas pesquisas e conhecimentos sobre o
ronronado. Eu já estava começando a achar que era um delírio coletivo, que
o ronronado não existia.

E um dia chegou uma família no abrigo. Com duas crianças grandonas, me


levaram para casa delas, e eu já estava muito desconfiado, sabe como é, gato
escaldado tem medo da água fria. E então, eu não deixava que chegassem perto
de mim. Mas acho que eles não entenderam muito bem. Puxavam meu rabo, me
pegavam sem eu querer, aí eu tirava as minhas garras e “iá”, “raiá”, “uiá”.
Aí me prendiam, não me deixavam sair, acho que um dia eles
ficaram tão bravos, que passaram dias sem aparecer. Já não
tinha água, a comida já não dava. Aí bolei um plano e me
escapuli daquele lugar, eu hein.

E lá fui eu de novo enfrentar o perigo das ruas. Perigo? Tsc. Eu rio


na cara do perigo!
E aqui estou eu! Depois de fugir encontrei com vocês e resolvi contar sobre a
busca do meu ronronado. Por aqui é um pouco frio, não tem muita comida, mas
tenho o meu espaço! A minha liberdade!

Já é a minha sexta vida e nada de encontrar o tal ronronado, mas paciência...

Gato:
- Ei! O que é isso? Nããão...
- Mãe, posso levar ele para casa? Ele parece machucado.
- Pode, mas antes vamos levar para o veterinário.
Gato:
- Onde estou? O que aconteceu?
Menina:
- Olha, tem uma caminha, comidinha e aguinha para você.
Gato:
- FSSS!
Chegando na casa eu não conseguia entender nada. Sentia dor e meu velho
amigo medo tinha crescido muito. Eu não queria deixar ninguém se aproximar.
Eu só queria ficar sozinho.
Mas era uma casa muito esquisita aquela.

Eles me davam umas comidas gostosas. E me deixavam descansar o quanto


eu quisesse. Quando queriam se aproximar, esticavam a mão e só me davam
carinho se eu chegasse perto, se permitisse.

E tinham coisas mais esquisitas ainda.


Quando eu derrubava alguma coisa ou quebrava um copo, ou ainda arranhava o
sofá, eles sorriam e falavam que eu era fofo.
Eu fofo? Eu sou a Noite!

A menina era a mais esquisita de todas. Trazia sempre as comidas mais gostosas
e ficava olhando para mim, falando coisas bonitas. Falando que eu ia melhorar,
que eu era um gatinho muito esperto e corajoso. Com o tempo o medo foi
diminuindo, diminuindo e desapareceu. E eu comecei a gostar muito deles.
Até que um dia, eu fui até a menina sem ela me chamar e me enrosquei na
perna dela e subi no seu colo. Ela olhou para mim, perguntou se podia fazer
carinho, esticando a mão.

E eu deixei. E ela ficou tão feliz, mas tão feliz que me deu o abraço mais gostoso
que eu já tinha recebido.
E de repente eu fui sentindo uma coisa na garganta, uma coisa que eu nunca
tinha sentido antes. Uma coisa boa. E... e... e soltei o meu primeiro ronronado!

Foi aí que eu descobri que o ronronado apareceu porque eu era amado do


jeitinho que eu sou. E que eu amava aquela família esquisita do jeitinho deles.

Menina:
- Você precisa de um nome, acho que você tem carinha de... Bátima!

É, essa é a minha sétima vida, mas do jeito que vai, tenho certeza de que vai
durar por muuuuito tempo.

E vocês? Já encontraram o seu ronronado?

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