Incendio 1

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LESÕES

STEFHANI DOS SANTOS RA.: 20206791


Profº JOSÉ L. DE GODOY E V.
Efeito da temperatura na composição química do concreto

Como resultado da elevação de temperatura sobre os componentes do concreto está o


esfarelamento da superfície calcinada, a delaminação ou descamação profunda e os lascamentos
explosivos.

O esfarelamento do concreto ocorre devido à exposição constante do material a altas


temperaturas, enfraquecendo o concreto e reduzindo sua resistência à abrasão.

O lascamento pode ocorrer de duas formas:

O lascamento explosivo (explosive spalling) é o destacamento de placas pequenas de


forma violenta e bruta, com grande liberação de energia. Normalmente ocorre nos primeiros 30
minutos do incêndio, a temperaturas entre 250ºC e 400ºC. Os lascamentos explosivos costumam
ocorrer devido à evaporação da água presente nos poros não permeáveis que conduzem a uma
elevação considerável da pressão interna.

A delaminação (sloughing) é o destacamento de placas de concreto em grande extensão


da superfície, perdendo todo o material, e possui efeito progressivo, deixando novas camadas de
concreto à exposição das chamas que levam a perda de aderência entre a armadura e seu
cobrimento e a novos descascamentos sucessivos.

Algumas causas desses efeitos são a taxa de aquecimento, que em consequência da


baixa condutividade do concreto há o aumento dos gradientes térmicos que provocam diferentes
temperaturas entre o interior frio do concreto e a superfície aquecida em tempo menor. No
entanto as tensões térmicas surgem, aumentando o risco de lascamentos precoces.

O concreto ao sofrer com temperaturas elevadas de forma lenta faz com que não ocorra a
degradação imediata, como fissuração e delaminação, já que não se desenvolve grandes
gradientes.

Quando somente uma ou duas faces do elemento estrutural são aquecidas, há gradientes
térmicos assimétricos e elevados. Na superfície exposta ao fogo surgem tensões térmicas de
compressão que ao serem elevadas distribuem de forma irregular as temperaturas na peça e
podem causar lascamentos explosivos.

O uso de peças mais esbeltas faz com que a estrutura perca massa e volume, isso acelera
a propagação de calor no interior da peça, ou seja, a temperatura será maior no centro do
elemento. Esse fator faz com que a perda de resistência e rigidez seja maior, por isso o efeito de
lascamento é maior nas seções finas.

É difícil ocorrer lascamentos em pilares de seção circular quando ocorrem incêndios,


devido à forma da seção não permitir acúmulos das tensões térmicas nos cantos vivos, induzindo
o desprendimento do cobrimento da armadura nessas regiões.

O concreto por ser um material poroso é preenchido por água e ar, sendo assim, com o
aquecimento as propriedades materiais são afetadas. As massas de ar e água durante um
incêndio se movem do interior à superfície do concreto para serem liberados, ou ao contrário,
para o centro da peça. A transferência das massas de ar, água na forma liquída e vapor através
dos poros aumentam os gradientes de pressão e produzem os lascamentos explosivos violentos.

Existem outros danos decorrentes do concreto submetido à ação do fogo, como a


calcinação superficial, movimentos de dilatação e retração estrutural e a movimentação da
armadura devido à dilatação do aço.

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Efeito da temperatura nas propriedades físicas do concreto

Os efeitos provenientes da elevação de temperatura podem ser apresentados por Rosso


(1975) através do esquema de comportamento da Tabela 1:

São apresentadas mudanças de cor do concreto em função de altas temperaturas, mas a


presença dos agregados influencia sobremaneira na coloração, pois eles integram a maior parte
do concreto.

Pequenas quantidades de óxido de ferro, hidróxidos ou óxidos de ferro hidratados tem a


função de alterar a cor dos agregados em elevadas temperaturas, porém as rochas sedimentares,
metamórficas e ígneas dificilmente alteram a cor.

O concreto a partir de 150ºC perde resistência à tração, em consequência da desidratação


do gel de cimento e do aumento da microfissuração. Até 250ºC a resistência à compressão do
concreto não é muito afetada, contudo, a partir de 300ºC sofre uma redução brusca, além de
alteração na tonalidade de cor quando a mesma ocorre.

Segundo Brandão (1998) se a temperatura se mantiver elevada por um período curto,


como uma hora, é possível que ocorra uma recuperação lenta da resistência.

Quando a temperatura atinge 600ºC a situação se torna crítica em caso de incêndios, pois
se inicia uma degradação progressiva do concreto, começando pela superfície e se propagando
para o interior da massa, causada pela desidratação do gel de cimento e por transformações que
ocorrem na sua composição química.

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Temperaturas elevadas também provocam aumento do volume dos agregados. A partir de
aproximadamente 500ºC, as dilatações no concreto com agregados silicosos (mais sensíveis ao
fogo do que os calcários e os leves) e no aço são semelhantes.

Até atingir os 600ºC a tonalidade varia de tons róseos a vermelho pálido, por causa da
alteração dos compostos de ferro. Acima de 600ºC a tonalidade varia de cinza claro a amarelo
claro (ROSSO, 1975) [12].

Os aços empregados em concreto armado reagem de forma distinta do concreto, não


sofrendo alterações entre temperaturas de 30ºC a 430ºC, porém, a partir de 430ºC há uma queda
brusca de resistência e a 600ºC observa-se perda de cerca de metade do limite de escoamento.

As armaduras, além de propagarem calor, aumentam de forma significativa o volume


quando expostas a temperaturas extremas, provocando o colapso do concreto que as envolve.

Além desses fatores, o concreto em altas temperaturas sofre com a redução no modo de
elasticidade, com isso, peças com pequena espessura como as lajes, mesmo que não sofram
destruição, suas flechas aumentam consideravelmente, comprometendo o bom desempenho da
estrutura em serviço (BRANDÃO, 1998).

Além da alteração da tonalidade, a observação visual das superfícies sujeitas a sinistros


pode revelar informações importantes, conforme apresentado a seguir na Tabela 2 feita por
Rosso (1975):

Na Figura 2, apresenta como a tonalidade de cor pode identificar a condição do concreto devido à elevação de
temperatura, além da redução que houve em sua resistência.

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Figura 2– Efeito do Fogo no Concreto.

Restauração

A recuperação de estruturas danificadas por incêndios, apesar de possível, é complexa e


requer o uso de técnicas que possibilitem a restituição das características mecânicas do concreto,
levando em consideração também a restituição da vida útil de projeto.

O primeiro passo em direção a recuperação de uma estrutura incendiada é a realização de


testes de resistência do concreto e do aço, cuja finalidade é determinar o grau de
comprometimento e dano causado pelo fogo. Os testes permitirão identificar as partes que irão
precisar ser reforçadas ou demolidas, pois dependendo do grau de dano a solução mais
recomendada é demolir e construir novamente. Em se tratando do restabelecimento da
durabilidade, o concreto deve passar por tratamentos.

A realização dos estudos requer a criação de uma situação hipotética e teórica, que é
válida para a compreensão do comportamento das estruturas em relação ao gradiente térmico,
colaborando para a realização do diagnóstico de estruturas danificadas por incêndios reais.
Apesar disso, o estudo dos efeitos se torna limitado em virtude de, em uma situação real, existem
inúmeras variáveis relacionadas, por exemplo, aos materiais combustíveis, ventilação, barreiras,
mecanismos de combate ao incêndio da edificação e agilidade no serviço de combate ao
incêndio.

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A reutilização de uma estrutura após a ocorrência de um incêndio só deve ocorrer caso tal
estrutura seja inspecionada, devendo ser verificada a capacidade restante, bem como, após
diagnóstico, sejam projetadas e executadas as soluções para sua recuperação de seu
desempenho mecânico. A recuperação deve atender às capacidades últimas e de serviço da
estrutura antes do evento.

Há a possibilidade dos danos causados pelo incêndio serem irreversíveis, fazendo com
que quaisquer medidas de recuperação se tornem inviáveis e dispensáveis, sendo a demolição e
reconstrução o caminho mais correto.

O concreto pode ser projetado de forma a resistir elevadas temperaturas sem que se
deteriore. Algumas formas de realizar isso são: através da utilização de cimentos à base de
alumínios, uso de agregados silicosos, de preferência que sejam calcários ou escorias de alto
forno, bem como agregados leves como a argila expandida. A adoção de maior relação água
cimento, como também ao uso de aço recozido (tipo A) nas armaduras, com barras de menores
diâmetros e cobrimento mínimo de 3 centímetros, também são formas de proteger o concreto
para ocasiões de incêndio.

Também há estruturas que não são tão prejudicadas, que geralmente ocorre quando o
incêndio é de menor proporção ou a estrutura foi projetada e executada com maiores
mecanismos de proteção. Nesses casos ainda que superficialmente as estruturas pareçam
intactas, ainda é necessário verificar se não houve perda de aderência entre o aço e o concreto.

Ensaios

A realização do diagnóstico requer o uso de métodos investigativos que determinarão o


estado que a estrutura se encontra. Após a realização dos ensaios e da conclusão a respeito do
estado da estrutura é que a intervenção é planejada e projetada de forma restituir as
características de resistência iniciais da estrutura.

A necessidade de intervenção varia conforme as condições da estrutura, sendo tais


condições serem determinadas por ensaios como a ultrassonografia, pacometria, extração de
testemunho de concreto e carbonatação, a seguir descritos.

Ultrassom

O ensaio de ultrassom é um método não invasivo ou destrutivo que tem por principal
finalidade identificar se internamente a estrutura se encontra homogênea e sem vazios, falhas ou
defeitos. Para isso é utilizada a propagação de onda e é medido o intervalo de tempo entre suas
velocidades de propagação, conforme a Figura 3,

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Ensaio de Ultrassom.

Este método é muito utilizado para analisar a resistência mecânica e o módulo de


elasticidade dinâmico para estimar parâmetros e calcular a profundidade das fissuras.

A norma 8802 aborda o método do ensaio de ultrassonografia para elementos em


concreto. Segundo a norma os pulsos ultrassonoros, além de serem capazes de verificar a
homogeneidade do concreto e detectar as falhas internas, podem monitorar variações no
concreto ao longo de sua vida útil e, com isso, detectar variações resultantes de mecanismos
agressivos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1994)

O objetivo principal do ensaio é determinar a velocidade com a qual as ondas são


propagadas. Um transmissor ligado junto ao elemento estrutural emite ondas ultrassonoras que
são recebidas pelo receptor. A velocidade da propagação indica as descontinuidades internas.
Quanto maior for a velocidade, mais homogênea está a peça e com maior qualidade.

A partir da Tabela 3 abaixo, NBR 8802 (1994), é possível classificar a qualidade do


concreto de acordo com a velocidade de propagação da onda:

Pacometria

O ensaio de pacometria é utilizado para localização das barras de aço em estruturas de


concreto. É um ensaio não destrutivo, cuja detecção dos materiais no interior de elementos
estruturais e paredes ocorre com a criação de um campo magnético que provoca a
movimentação desses materiais.

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O ensaio é de excelente acurácia para detecção de objetos magnéticos, mas outros
materiais também podem ser detectados, tais como: fiações elétricas, tubos de cobre, tubulações
hidráulicas de PVC e madeiras.

Para a realização deste ensaio são utilizadas bobinas que geram um campo magnético
que pode ser de alta ou baixa frequência. O campo de alta freqüência é produzido na interação
entre o campo magnético da bobina e da corrente eddy na barra para gerar um campo magnético
capaz de medir o comprimento da barra, conforme figura 4. Já o campo de baixa freqüência é
gerado a partir de uma bobina primaria que induz corrente em uma bobina secundária e assim
detecta objetos magnéticos.

Na pacometria existem os modos de medição denominados Modo de Localização Básico


(localiza-se a barra com uso de sonda), Medição do diâmetro (o equipamento, posicionado em
cima da barra lê seu o diâmetro). No primeiro, deve-se mover a sonda na estrutura até que o LED
central se acenda, a linha central do display deve encontrar-se de maneira precisa sobre a barra.
Posiciona-se a sonda sobre a barra e entre os estribos e pressiona-se o botão que existe na
lateral, que indicará a leitura do diâmetro. Dependendo do equipamento, a influência exercida por
barras próximas pode ser corrigida.

Influências de Barras Próximas.

É possível obter outras informações através do Modo SnapShot (cobrimentro e diâmetro),


Modo Estatística (cobrimento em forma de porcentagem), Visualizações Distintas (verificação dos
alinhamentos das barras), Medição Multilinha (visualiza-se o layout das barras).

As principais aplicações deste ensaio são localizar barras para subsequentes ensaios,
como ultrassom e resistividade; extração de um corpo de prova; análise do cobrimento para

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identificação de pontos críticos de corrosão; verificação da densidade da armadura com a
finalidade de avaliar e calcular o reforço estrutural; e analisar se a obra foi executada segundo o
projeto.

Extração de testemunho de concreto

Extração de testemunho de concreto é o ensaio mais preciso por permitir a avaliação das
condições reais, mesmo sendo o ensaio que mais danifica a estrutura, sendo seu método de
extração, preparo e análise definidos segundo a NBR 7680 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2015).

Para extração de testemunhos cilíndricos é utilizada sonda rotativa ou broca de material


abrasivo. Já para extração de testemunhos prismáticos é utilizada serra com disco diamantado ou
de carbureto de silício. Esse processo não deve aquecer nem vibrar o local, por isso o material
cortante dele ser resfriado para que as amostras não sejam modificadas.

Devem ser recolhidos, no mínimo, 2 testemunhos, por segurança dos resultados, segundo
NBR 12.655. Para saber os locais em que devem ser recolhidas as amostras nas estruturas,
recomenda-se a divisão em lotes identificados na concretagem ou o uso de ensaios não
destrutivos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015).

As amostras que demonstrarem falhas de concretagem não são considera para avaliação
de resistência a compressão.

Os relatórios, segundo a norma 5739, devem indicar o posicionamento dos testemunhos


na estrutura, suas dimensões, a resistência de ruptura à compressão, suas condições de
umidade, indicando se os ensaios ocorreram em estados secos do ar ou saturados com
superfície seca e tipo da estrutura analisada. Devem-se incluir as dimensões dos testemunhos, as
condições de umidade e o tipo de estrutura. Os fatores de correção para testemunhos com
densidade me massa acima de 1.600 kg/m³ devem seguir a Tabela 4 (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2007).

Ensaio de Carbonatação

O concreto normalmente possui o pH entre 12,6 e 13,5. Esses números são reduzidos para
valores próximos de 8,5 ao se carbonatar. A carbonatação é formada por duas zonas, sendo uma
com pH básico e outra neutra, na qual inicia-se na superfície da estrutura. Este processo
prossegue em direção ao interior do concreto e quando atinge a armadura ocorre a
despassivação do aço e este se torna vunerável.

O ensaio de carbonatação mostra a alteração do pH do concreto de cobrimento, o que é


possível pela aspersão de um indicador de pH.

Geralmente é utilizada uma solução de fenolftaleína (1 g da fenolftaleína em 50 ml de


álcool etílico e diluição desta mistura em água destilada até completar 100 ml). Para realizar o
ensaio, o concreto de cobrimento é fraturado e, após a limpeza da área, feita a aspersão da
solução.

No procedimento, pode ser também apresentado o estado e o diâmetro efetivo da


armadura e definida a espessura efetiva do concreto de cobrimento.

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A norma DIN EN 14630 (2007) recomenda a aspersão da solução de fenolftaleína
perpendicularmente à área fraturada, até que o concreto esteja saturado (o escorrimento da
solução na superfície deve ser evitado). A frente de carbonatação é o valor médio da espessura
da camada incolor.

Com o uso de fenolftaleína, é detectada a região carbonatada do concreto que é aquela


que não apresenta alteração de coloração, tendo pH inferior a 8,3. A região não carbonatada
apresenta cor entre rosa a vermelho-carmim, de pH entre 8,3 e 9,5, ou somente vermelho
carmim, de pH superior a 9,5.

Sabendo-se que o aço carbono pode despassivar-se em pH por volta de 11,5 , há


possibilidade que na região de coloração vermelho-carmim o aço esteja despassivado ou com
corrosão já estabelecida. Portanto, embora o ensaio de carbonatação com solução de
fenolftaleína seja adequado para investigar a corrosão, recomenda- se que os seus resultados
sejam analisados em conjunto com outros ensaios, especialmente exame visual da armadura.

Tratamentos

Conforme abordado, a intervenção nas estruturas danificadas é realizada após a inspeção


técnica. Existem três abordagens a respeito das formas de intervenção em estruturas que se
resumem a reforço, recuperação e reparo.

O reforço está relacionado com o desempenho mecânico da estrutura que precisa ser
restituído para garantir que a estrutura volte ou continue a resistir aos esforços pelos quais ela foi
projetada para resistir. A Tabela 4, apresenta algumas formas para realizar o reforço estrutural.

A recuperação é a restituição das características iniciais da estrutura. Alguns exemplos de


formas de recuperação estrutural podem ser encontrados abaixo:

a) Argamassa estrutural modificada com polímeros: São argamassas altamente aderentes e que
possuem também alta resistência mecânica, utilizadas para recomposição estrutural.

b) Revestimento polimérico e primer inibidor de corrosão: São recomendados para reparo e


recuperação, devendo ser aplicados com uso de pistola ou pincel. Garantem proteção ao aço e
concreto, tanto contra corrosão quanto contra a água.

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c) Argamassa de recomposição de base poliéster: Massa para preenchimento de vazios para
estruturas que tiveram grandes danos superficiais por abrasão, ataque químico ou outros
agentes.

O reparo é feito para casos de danos localizados com pequenas intervenções e técnicas
corretivas. A Tabela 5, apresenta alguns exemplos de formas de reparo.

BIBLIOGRAFIA:
https://pt.linkedin.com/pulse/recupera%C3%A7%C3%A3o-de-estruturas-concreto-armado-ap%C3%B3s-de-
s%C3%A1-yarid-almeida

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