(Daniel Pereira de Sales) - TCC Versão Final - BEE-PEP

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO

PAULO - CÂMPUS PRESIDENTE EPITÁCIO


CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

DANIEL PEREIRA DE SALES

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA INSERÇÃO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM


SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

PRESIDENTE EPITÁCIO
2022
DANIEL PEREIRA DE SALES

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA INSERÇÃO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM


SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Bacharelado em Engenharia Elétrica do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Câmpus
Presidente Epitácio, como parte dos requisitos para
obtenção grau de Bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. José Guilherme Magalini Santos Decanini

PRESIDENTE DE EPITÁCIO
2022
Ficha catalográfica elaborada pela Coordenadoria de Biblioteca, IFSP
Câmpus de Presidente Epitácio, com dados fornecidos pelo autor.

S163a Sales, Daniel Pereira de.

Avaliação da influência da inserção da geração distribuída em


sistemas de distribuição de energia elétrica / Daniel Pereira de Sales. –
Presidente Epitácio : D. P. de Sales, 2022.
85 f. ; il.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia
Elétrica) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo, Presidente Epitácio/SP, 2022.
Bibliografia: f. 80-83.
Orientador: Prof. Dr. José Guilherme Magalini Santos Decanini.

1. Geração Distribuída. 2. Sistema de Distribuição de Energia Elétrica.


3. Geradores Fotovoltaicos. 4. Energia renovável. 5. Software OpenDSS.
6. Automação de Sistema Elétrico de Potência. I. Autor.

CDD – 621.47

Roberta Caroline Vesu Alves


CRB 8-7593
DANIEL PEREIRA DE SALES

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA INSERÇÃO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM


SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de


Bacharelado em Engenharia Elétrica do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - Câmpus
Presidente Epitácio, como parte dos requisitos para
obtenção grau de Bacharel em Engenharia Elétrica.

Este trabalho foi defendido e aprovado pela banca em 14/12/2022.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
Prof. Dr. José Guilherme Magalini Santos Dacanini
IFSP Câmpus Presidente Epitácio
Orientador (Presidente)

_______________________________________________________
Prof. Dr. Fernando da Cruz Pereira
IFSP Câmpus Presidente Epitácio
Avaliador

_______________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Ataide Carniato
IFSP Câmpus Presidente Epitácio
Avaliador
Dedico este trabalho aos meus pais, que não
pouparam esforços para que eu pudesse
concluir meus estudos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por me dar força e discernimento para enfrentar as


batalhas da vida, batalhas que me fizeram chegar até aqui.
Agradeço aos meus pais, Almeri e Nanci, por toda a dedicação com a nossa família por
todos esses anos, sem vocês isso não seria possível.
Agradeço ao meu filho, Marcos Benicio, ele foi a principal fonte de inspiração para
passar por essa etapa em minha vida.
Às minhas irmãs, Camila e Bianca, que de suas formas diretas e indiretas sempre me
apoiaram para prosseguir no meu caminho.
Agradeço à minha noiva, Gabriella Barella, por toda a paciência nos momentos de
ausência e pela coragem nos momentos de tristeza e insegurança. Essa conquista também é sua!
Agradeço aos meus amigos do “Quarteto Fantástico”, composto pelo Gustavo Liske,
Júlio Cesar e Mateus Guelfi, com certeza a nossa parceria foi essencial para o nosso
desenvolvimento, amizade que será levada para a vida.
Agradeço aos meus amigos da graduação, Adriano, Bruno, Clodoaldo, Evaldo, Ewerton
e Renan, por toda a parceria e amizade construída ao longo dessa jornada.
Agradeço ao meu sócio Thiene, por todo o apoio no término dessa jornada e à Foton
Energia Sustentável por me mostrar o amor pela Engenharia Elétrica.
Agradeço imensamente aos professores que passaram pela minha graduação, somente
com eles foi possível acumular bagagem suficiente para alcançar meus objetivos.
Agradeço ao IFSP de Presidente Epitácio e a todos os servidores e terceirizados pela
infraestrutura fornecida para os alunos, sem eles não seria possível ofertar uma educação
pública e de qualidade.
E por fim, agradeço grandemente o meu orientador Prof.º Dr.º José Guilherme por toda
a atenção, compreensão e amizade no desenvolvimento desse trabalho.
“Não esconda os seus talentos. Para o uso eles
foram feitos. O que é um relógio de sol na sombra?”

Benjamin Franklin
RESUMO

Com o passar dos anos o Brasil avançou no que tange a implantação de tecnologias da
informação e digitais, e isso beneficiou a confiabilidade e automação dos Sistema Elétricos de
Potência (SEP), principalmente as redes de distribuição. Além disso, a implantação da
resolução normativa (REN) 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
tornou possível a geração de energia para os consumidores cativos instalados junto à sua carga
ou de maneira remota, em razão disso, verificou-se no cenário brasileiro um aumento
significativo de sistemas instalados de fontes renováveis como a solar, eólica e biomassa. As
tecnologias embarcadas nas redes de distribuição até o vigor da REN nº 482/2012 não
considerava um fluxo de potência bidirecional em seus sistemas de distribuição, com isso,
fluxos bidirecionais começaram a surgir, consequentemente, impactos técnicos e operacionais
podem ocorrer devido à inserção das fontes de geração distribuída (GD), por exemplo, elevação
de tensão, sobrecorrente em horários de alto fluxo de geração e inversão de fluxo de potência.
Dentro deste contexto, nesse trabalho é elaborado um estudo e análise das redes de distribuição
e os impactos oriundos da inserção de fontes de geração distribuída. Nessa circunstância, por
meio da ferramenta computacional OpenDSS, realizaram-se simulações em quatro cenários
diferentes variando os níveis de penetração de GD em função do total da carga instalada no
alimentador, as simulações realizadas nesses cenários não consideraram uma variação temporal
e seus resultados representam um ponto de operação específico. Por fim, simulou-se o mesmo
alimentador com fontes geradoras fotovoltaicas distribuídas em barras junto às cargas
instaladas, com o intuito de analisar a característica temporal da geração solar em função da
demanda exigida pela carga. Com a aquisição dos resultados das simulações, foi possível
analisar, interpretar e destacar os impactos que a inserção da GD produz nos sistemas de
distribuição de energia elétrica. Evidenciou-se, por meio das simulações, que o aumento da
penetração de GD ocasionou variação no perfil de tensão do alimentador, a inversão do fluxo
de potência e bem como redução das perdas elétricas no alimentador. Os resultados obtidos
serviram de amparo para analisar e comprovar os impactos da geração distribuída nas redes de
distribuição, além de mostrar que a inserção da geração distribuída oriunda de fontes renováveis
é uma realidade brasileira e um caminho a ser seguido, já que a diversificação da matriz
energética em consonância com o uso de novas tecnologias, como as smart grids, proverá aos
sistemas elétricos de potência maior segurança, eficiência operacional e qualidade no produto
entregue aos consumidores.

Palavras-chave: Geração Distribuída. Sistema de Distribuição de Energia Elétrica. Geradores


Fotovoltaicos. Impactos Técnicos.
ABSTRACT

Over the years, Brazil has advanced in terms of the implementation of information and digital
technologies, and this has benefited the reliability and automation of the Electric Power Systems
(EPS), especially the distribution networks. In addition, the implementation of normative
resolution (REN) 482/2012 of the Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), made it
possible to generate energy for captive consumers installed next to their load or remotely,
because of this, there was a significant increase in systems installed from renewable sources
such as solar, wind and biomass. The technologies embedded in the distribution networks until
the vigor of REN No. 482/2012, did not consider a bidirectional power flow in their distribution
systems, with this, bidirectional flows began to emerge, consequently, technical and operational
impacts may occur due to the insertion of distributed generation (DG) sources, for example,
voltage rise, overcurrent at times of high generation flow and power flow reversal. Within this
context, this work presents a study and analysis of distribution networks and the impacts arising
from the insertion of distributed generation sources. In this circumstance, through the OpenDSS
computational tool, simulations were performed in four different scenarios varying the DG
penetration level as a function of the total load installed on the feeder, the simulations performed
in these scenarios did not consider a temporal variation and their results represent a specific
operating point. Finally, the same feeder was simulated with photovoltaic generating sources
distributed in bars along the installed loads, in order to analyze the temporal characteristic of
solar generation as a function of the demand required by the load. With the acquisition of the
results of the simulations, it was possible to analyze, interpret and highlight the impacts that the
insertion of DG produces on the electric power distribution systems. It was evidenced, through
the simulations, that the increase of DG penetration caused a variation in the voltage profile of
the feeder, the inversion of the power flow and as well as a reduction of the electrical losses in
the feeder. The results obtained served as support to analyze and prove the impacts of
distributed generation on distribution networks, in addition to showing that the insertion of
distributed generation from renewable sources is a Brazilian reality and a path to be followed,
since the diversification of the matrix energy in line with the use of new technologies, such as
smart grids, will provide electrical power systems with greater safety, operational efficiency
and quality in the product delivered to consumers.

Keywords: Distributed Generation. Electrical Power Distribution System. Photovoltaic


Generators. Technical Impacts.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ‒ Participação da Geração Distribuída no Brasil de 2013 a 2021. ............................. 16


Figura 2 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 1970 a 2021 (%)................................ 19
Figura 3 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 1970 a 2021 por fontes (%). ............. 20
Figura 4 ‒ Topologia de um SEP. ............................................................................................ 26
Figura 5 ‒ Exemplo de Rede de Distribuição: (a) Radial Sem Laterais, (b) Radial Com
Laterais e (c) Fracamente Malhada. ......................................................................................... 27
Figura 6 ‒ Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede. ................................................................ 31
Figura 7 ‒ Definição de Elemento. ........................................................................................... 38
Figura 8 ‒ Representação de Elemento Passivo. ...................................................................... 39
Figura 9 ‒ Representação de Elemento Ativo. ......................................................................... 39
Figura 10 ‒ Alimentador de Distribuição de Energia Elétrica. ................................................ 42
Figura 11 ‒ Alimentador de Distribuição de Energia Elétrica GPR_04 e EPE_01. ................. 51
Figura 12 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência sem GD. ............................................................. 62
Figura 13 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência no Sistema de Distribuição com Penetração de
40% de GD. .............................................................................................................................. 64
Figura 14 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência com Penetração de 50% de GD. ........................ 66
Figura 15 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência com Penetração de 60% de GD. ........................ 67
Figura 16 ‒ Presença dos Geradores Fotovoltaicos no Sistema de Distribuição para Análise do
Fluxo se Potência com Variação Temporal. ............................................................................. 71
Figura 17 ‒ Ilustração do Alimentador. .................................................................................... 85
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 2021 por fontes (%). ....................... 21
Gráfico 2 ‒ Capacidade Instalada no SIN: (a) em 2022 (b) em 2026. ..................................... 24
Gráfico 3 ‒ Crescimento da Capacidade Instalada entre 2022 e 2026. .................................... 24
Gráfico 4 ‒ Valores da Curva de Consumo Normalizada. ....................................................... 44
Gráfico 5 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 sem GD.......................... 52
Gráfico 6 ‒ Perfil de Tensão do Alimentador Sem GD. ........................................................... 53
Gráfico 7 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 40% de GD. ........... 54
Gráfico 8 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 40% de GD. .............................................. 55
Gráfico 9 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 50% de GD. ........... 56
Gráfico 10 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 50% de GD. ............................................ 57
Gráfico 11 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GRP_04 e EPE_01 com 60% de GD. ......... 58
Gráfico 12 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 60% de GD. ............................................ 59
Gráfico 13 ‒ Comparação do Perfil de Tensão nos 4 Cenários. ............................................... 60
Gráfico 14 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Considerando os 4
Cenários. ................................................................................................................................... 70
Gráfico 15 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Incluindo um Novo
Cenário com Penetração de 70% de Geração Distribuída. ....................................................... 70
Gráfico 16 ‒ Curva de Potência do Gerador Fotovoltaico. ...................................................... 72
Gráfico 17 ‒ Consumo de Potência sem GFV Operando no Modo Daily. .............................. 73
Gráfico 18 ‒ Consumo de Potência com GFV Operando no Modo Daily. .............................. 74
Gráfico 19 ‒ Fluxo de Potência Consumida pelo Alimentador. ............................................... 75
Gráfico 20 ‒ Consumo de Potência sem GFV na Barra 1053. ................................................. 75
Gráfico 21 ‒ Consumo de Potência com GFV na Barra 1053.................................................. 76
Gráfico 22 ‒ Fluxo de Potência na Barra 1053. ....................................................................... 77
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ‒ Produção de Energia Primária em 2021. ................................................................ 20


Tabela 2 ‒ Fluxo Elétrico em GWh em 2021. .......................................................................... 22
Tabela 3 ‒ Relação das Cargas. ................................................................................................ 43
Tabela 4 ‒ Curva de Consumo Normalizada. ........................................................................... 44
Tabela 5 ‒ Características dos Cabos. ...................................................................................... 45
Tabela 6 ‒ Comprimento das Linhas e Conexões. ................................................................... 45
Tabela 7 ‒ Irradiação em PU ao Longo do Dia. ....................................................................... 48
Tabela 8 ‒ Temperatura de Operação dos Painéis Fotovoltaicos ao Longo do Dia. ................ 48
Tabela 9 ‒ Potência de Saída dos Painéis Fotovoltaicos versus Temperatura de Operação. ... 49
Tabela 10 ‒ Curva de Eficiência do Inversor Fotovoltaico em Função da Potência Fornecida
Pelos Painéis – Valores Normalizados em pu. ......................................................................... 49
Tabela 11 ‒ Tensão nas barras do alimentador GPR_04 e EPE_01 sem GD. .......................... 52
Tabela 12 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 40% de GD. .......... 54
Tabela 13 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 50% de GD. .......... 56
Tabela 14 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GRP_04 e EPE_01 com 60% de GD. .......... 58
Tabela 15 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador sem GD. ........................................................ 62
Tabela 16 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador sem GD. ........................................................... 63
Tabela 17 ‒ Fluxo de Potência na Subestação e nos Geradores Fotovoltaicos com 40% de
Penetração. ................................................................................................................................ 63
Tabela 18 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 40% de GD. ...................... 64
Tabela 19 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador com 50% de Penetração de GD. ................... 65
Tabela 20 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 50% de GD. ...................... 66
Tabela 21 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador com 60% de Penetração de GD. ................... 67
Tabela 22 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 60% de GD. ...................... 68
Tabela 23 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Considerando os 4
Cenários. ................................................................................................................................... 69
Tabela 24 ‒ Potências Fornecidas pelos Geradores Fotovoltaicos. .......................................... 73
Tabela 25 ‒ Coordenadas das Barras do Alimentador ............................................................. 84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica


BEM Balanço Energético Nacional
CGH Central Geradora Hidrelétrica
EPE Empresa de Pesquisa Energética
GD Geração Distribuída
GFV Gerador Fotovoltaico
MME Ministério de Minas e Energia
ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico
PRODIST Procedimento de Distribuição de Energia Elétrica do Sistema Integrado Nacional
PU Por Unidade
QEE Qualidade de Energia Elétrica
REN Resolução Normativa
SEP Sistema Elétrico de Potência
SFCR Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede
SIN Sistema Interligado Nacional
TEP Tonelada Equivalente de Petróleo
UC Unidade Consumidora
UG Unidade Geradora
LISTA DE SÍMBOLOS

% Porcentagem
GWh Consumo de energia em gigawatts-hora
kcal/kg Unidade de energia por massa
km Unidade de distância em metros
kV Tensão em quilovolts
kVA Potência aparente em quilovoltampère
kVAr Potência reativa em quilovoltampère reativo
kW Potência em quilowatts
kWp Potência em quilowatts pico
MVA Potência aparente em megavoltampère
MW Potência em megawatts
TEP Tonelada equivalente de petróleo
Ω/m Resistência elétrica por metro
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15
2 MATRIZ ENERGETICA BRASILEIRA.......................................................... 18
2.1 MATRIZ ENERGÉTICA DE PRODUÇÃO ..................................................... 19
2.2 MATRIZ ENERGÉTICA DE CONSUMO ....................................................... 21
3 CAPACIDADE DE GERAÇÃO E CRESCIMENTO DA GERAÇÃO
DISTRIBUÍDA NO BRASIL .............................................................................. 23
4 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ...................... 26
5 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ................................................................................ 30
5.1 PRINCIPAIS TIPOS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA .................................... 30
5.2 REGULAMENTAÇÃO ....................................................................................... 32
5.3 IMPACTOS NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO .................................................. 35
6 OPEN DSS ............................................................................................................ 37
6.1 CONCEITOS BÁSICOS ..................................................................................... 38
6.2 SINTAXE DA LINGUAGEM DE COMANDO ................................................ 40
7 DESCRIÇÃO DO CASO ..................................................................................... 42
7.1 CARGAS ............................................................................................................... 43
7.2 CABOS E CONEXÕES ....................................................................................... 44
7.3 TRANSFORMADORES ..................................................................................... 46
7.4 GERADORES....................................................................................................... 46
8 SIMULAÇÃO E RESULTADOS ....................................................................... 50
8.1 PERFIL DE TENSÃO ......................................................................................... 50
8.1.1 Cenário Base – Sem GD........................................................................................ 51
8.1.2 Cenário – Penetração de 40% de Geração Distribuída ....................................... 53
8.1.3 Cenário – Penetração de 50% de Geração Distribuída ....................................... 55
8.1.4 Cenário – Penetração de 60% de Geração Distribuída ....................................... 57
8.1.5 Comparação do Perfil de Tensão Considerando os 4 Cenários .......................... 59
8.2 FLUXO DE POTÊNCIA E PERDAS ELÉTRICAS ........................................ 60
8.2.1 Cenário Base – Sem Geração Distribuída ............................................................ 62
8.2.2 Cenário – Penetração 40% de Geração Distribuída ............................................ 63
8.2.3 Cenário – Penetração 50% de Geração Distribuída ............................................ 65
8.2.4 Cenário – Penetração de 60% de Geração Distribuída ....................................... 67
8.2.5 Comparação Entre os 4 Cenários ......................................................................... 68
8.2.6 Análise do fluxo de potência com variação temporal .......................................... 71
9 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 78
9.1 PESQUISAS FUTURAS ...................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 80
ANEXO A – Coordenadas das Barras.................................................................................. 84
ANEXO B – Alimentador ...................................................................................................... 85
15

1 INTRODUÇÃO

Dentro de todos os recursos a energia elétrica desempenha um papel importantíssimo


no desenvolvimento humano. A sua existência está diretamente conectada à evolução
econômica de um país e à qualidade de vida da população, por meio dela conseguimos garantir
segurança, saúde, conforto e o desenvolvimento de todas as classes sociais. Visando esse
aspecto, a qualidade de energia elétrica (QEE) torna-se aliada para o fornecimento de uma
energia segura e ininterrupta aos usuários. Dentro desta perspectiva, as normas preestabelecidas
pelas agências reguladoras, a desverticalização do setor elétrico para o mercado livre, o
consequente aumento da competitividade de mercado e a crescente exigência quanto à
qualidade do produto recebido pelos consumidores corroboram para o progresso. A automação
dos sistemas elétricos de potência em conjunto com as novas tecnologias que embarcam
equipamentos eletrônicos inteligentes pode tornar as redes ativas, que consiste um novo
contexto para a operação e planejamento dos sistemas.
Décadas atrás, o sistema elétrico era formado primordialmente por unidades
centralizadas, na totalidade composta por usinas hidrelétricas. Os sistemas de transmissão são
responsáveis por levar a energia gerada na unidade geradora (UG) até os grandes centros
consumidores. A distância entre a unidade geradora e os centros consumidores exige que o
sistema de transmissão tenha um considerável nível de confiabilidade.
Nos centros consumidores, a energia chega por meio do sistema de transmissão e passa
para o sistema de distribuição, onde a concessionária de energia local fará a alimentação de
pequenos e grandes consumidores, cada um com seu nível de tensão mais adequado para a sua
demanda de consumo. Em síntese, podemos dizer que o sistema de distribuição é composto
pelas redes elétricas primárias que alimentam os clientes em média tensão, e as redes elétricas
secundárias que alimentam os pequenos clientes em baixa tensão.
Nos últimos anos o aumento e o desenvolvimento de tecnologias relacionadas à geração
de energia fizeram com que os sistemas elétricos de energia sofressem mudanças significativas
(NARUTO, 2017). Consequentemente, a Resolução Normativa (REN) nº482/2012 da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) possibilitou que consumidores de pequeno e médio
porte gerassem sua própria energia elétrica, essa resolução de maneira geral abriu as portas para
a expansão e desenvolvimento da Geração Distribuída (GD) no Brasil, mas em contrapartida
trouxe novos desafios para as concessionárias de energia, principalmente em relação à QEE.
16

A princípio as redes de distribuição foram dimensionadas para operar em apenas um


único sentido, e desde que a REN nº482/2012 foi regulamentada o fluxo de potência passa a ser
bidirecional.
Com a mudança do mercado e a regulamentação da REN nº 482/2012, as unidades
consumidoras com geração distribuída não pararam de aumentar no Brasil. Dados coletados da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) relativos ao ano de 2021 mostram que o Brasil possui
um total de 804.288 unidades consumidoras (UC) conectadas com GD, que representa um total
de 8.965 MW de potência instalada. As fontes de geração dessas unidades geradoras são
divididas em quatro, pode-se definir elas e suas potências instaladas como:

• CGH (Central Geradora Hidrelétrica) – 63 MW


• EOL (Central Geradora Eólica) – 15 MW
• UFV (Central Geradora Fotovoltaica) – 8.771 MW
• UTE (Central Geradora Termelétrica) – 115 MW

Podemos notar na Figura 1 que a grande maioria dessas unidades geradoras são de
origem fotovoltaica. Além disso, dentro das unidades geradoras notamos que a participação em
potência é majoritariamente gerada na própria unidade consumidora e na sua grande maioria
alocadas em residências e comércios (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2021).
Desta forma, percebe-se a grande quantidade de potência instalada dentro dos grandes centros
consumidores.

Figura 1 ‒ Participação da Geração Distribuída no Brasil de 2013 a 2021.

Fonte: EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (2021).

Segundo PABLA (2005), a maior parcela das perdas elétricas está concentrada nos
sistemas de distribuição, perdas que acontecem tanto nos alimentadores primários,
17

transformadores de distribuição e na rede secundária. As alternativas para reduções das perdas


são: o redimensionamento das linhas, redimensionamento e mudança de localização de
transformadores, reguladores de tensão e instalação de banco de capacitores para o controle de
fluxo reativo.
O aumento da demanda de consumo vem crescendo de maneira expressiva nos últimos
anos. Se analisarmos os dados e as variações das quatro regiões do Sistema Interligado Nacional
(SIN), temos um crescimento de 3,8% no subsistema Norte, o Sudeste/Centro Oeste, que
concentra boa parte das indústrias do país fechou com aumento de 0,9%. O Sul registou apenas
0,1% de aumento, enquanto o Nordeste ficou com zero porcento de incremento de carga de
energia, o crescimento foi reflexo do comportamento atrativo da economia e da expansão da
carga industrial (ONS, 2021).
Nesse sentido, a utilização e implantação de unidades de geração distribuída podem
auxiliar na diminuição das perdas elétricas nos alimentadores, uma vez que a geração de energia
feita próxima aos grandes centros consumidores corroboram para auxiliar no suprimento de
energia nos horários de ponta, isso contribui com o sistema centralizado, evitando ou até
postergando a sua reestruturação.
Por conseguinte, neste trabalho de conclusão de curso busca-se estudar e analisar os
impactos da penetração da geração distribuída fotovoltaica no sistema de distribuição de energia
elétrica. Dentro desta perspectiva, as simulações foram realizadas via software OpenDSS®, o
qual é de código livre e aberto e amplamente empregado em empresas de consultoria,
concessionárias e centros de pesquisa para simulação e análise de redes de distribuição. Mais
especificamente, objetiva-se analisar os impactos da inserção da geração distribuída no que
tange às perdas elétricas, fluxo de potência e perfil de tensão do alimentador.
18

2 MATRIZ ENERGETICA BRASILEIRA

Mundialmente o uso de energia é fundamentado na utilização de fontes não renováveis,


como carvão, petróleo e gás natural. Recursos esgotáveis e que colocam em risco a
sustentabilidade do planeta além de serem geradores de gases do efeito estufa.
No que diz respeito a energia renovável, Lellis (2007, p.34) diz:

Uma fonte é de energia renovável quando emprega como matéria-prima


elementos que podem ser recompostos na natureza em um processo
inesgotável, ou em processos cujas reposições são realizadas em curto prazo,
ou, ainda, quando a fonte de suprimento é considerada inesgotável em longo
prazo (como o Sol). Isso significa que a fonte de energia poderá durar para
sempre, desde que se tenha o cuidado de recolocar na natureza aquilo que é
retirado. Assim fontes renováveis de energia são formas inteligentes de
aproveitamento dos recursos do planeta (LELLIS, 2007, p.34).

Já no Brasil, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério


de Minas e Energia (MME), a matriz energética de produção é composta por todas as fontes de
energia disponíveis para consumo e mercado, já a matriz energética de consumo, por sua vez,
abrange o grupo de fontes energéticas disponíveis para geração de energia, por consequência,
a matriz energética de consumo compõe a matriz energética de produção.
Nesse sentido, vale ressaltar que os dados podem ser interpretados por diferentes
ângulos, uma vez que a produção de energia representa a matriz energética de produção, e o
consumo de energia representa a matriz energética de consumo. Em função disso, percebe-se
que a matriz energética de consumo está integrada na matriz energética de produção, porém são
divergentes, uma vez que a energia produzida não obrigatoriamente deve ser consumida dentro
do país. Como exemplo, no ano de 2019 no Brasil, o petróleo acumulou 81% das exportações
de energia.
Para uma melhor apresentação dos dados, o tópico foi dividido em duas partes, assim
serão expostos os dados referentes à matriz energética de produção e, em seguida, os dados da
matriz energética de consumo de energia elétrica.
19

2.1 Matriz Energética de Produção

Dados retirados do site do Balanço Energético Nacional (BEM), gerenciado pela


Empresa de Pesquisa Energética, mostra a produção de energia primária no Brasil desde 1970
até o ano de 2021.
Em concordância com a Empresa de Pesquisa Energética e Ministério de Minas e
Energia (2022), energia primária compreende todas as fontes de recurso naturais que podem ser
aplicadas para a geração de energia, pode-se citar o carvão mineral, o petróleo, a água, a
biomassa, o vento, a irradiação solar e muitos outros.
Em função disso, nas Figuras 2 e 3 apresenta-se a produção de energia primária no
Brasil, distinguindo-a apenas por energia renovável e não renovável, e a produção de energia
primária no Brasil separada por tipos de fontes, respectivamente.

Figura 2 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 1970 a 2021 (%).

Fonte: EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (2021).

Nota-se que até os anos 2000 o Brasil manteve sua matriz energética majoritariamente
composta por fontes renováveis. Todavia, a partir deste período o país mudou o seu cenário e
apresentou um aumento na produção de energia de fontes não renováveis.
Na Figura 3 verifica-se que a produção de petróleo cresceu, tal fato se deve pelos
crescentes investimentos nas extrações de petróleo impulsionados pelo pré-sal (PETROBRAS,
2022). De modo que em 2021, representava 45% da produção de energia primária, seguido pela
cana-de-açúcar com 15%, o gás natural com 14% e a energia hidráulica com 9%, já a energia
primária proveniente do sol na matriz energética de produção apresenta como 0% devido baixa
contribuição.
20

Figura 3 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 1970 a 2021 por fontes (%).

Fonte: EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (2021).

Na Tabela 1, também disponibilizada pela EPE, dispõe-se em valores absolutos a


produção de energia primária no Brasil no ano de 2021, separada por fontes de energia. Nesta
ocasião, 60,5% da produção de energia primária era proveniente de fontes não renováveis e
39,5% da produção por fontes renováveis. Os dados da Tabela 1 são apresentados na escala
106 TEP, Tonelada Equivalente de Petróleo (TEP), que é a unidade comumente utilizada para
converter as diferentes formas de energia utilizadas no BEM. Os fatores de conversão são
calculados com base no poder calorífico superior de cada energético em relação ao do petróleo,
de 10.800 kcal/kg.

Tabela 1 ‒ Produção de Energia Primária em 2021.


PRODUÇÃO DE ENERGIA PRIMÁRIA - 2021
GRUPO

NÃO RENOVÁVEL
Petróleo 150386
Gás Natural 48462
Carvão Vapor 2640
Carvão Metalúrgico 0
Urânio (U308) 343
Outras Não Renováveis 1829
RENOVÁVEL
Energia Hidráulica 31202
Lenha 26083
Produtos da Cana 49423
Eólica 6217
Solar 1441
Outras Renováveis 18525
Fonte: EPE (2021) – Adaptada pelo autor.
21

Analisando os dados expostos é possível notar que a produção de energia do Brasil é


predominantemente proveniente de fontes não renováveis. O contexto que explica essa matriz
é a de que foi aberta a exploração do pré-sal destinado para exportação para arrecadação de
recursos para investimento interno, ou seja, o Brasil não está de fato consumindo e apenas
produzindo para consumo externo (LA ROVERE et al., 2018; VIGLIO et al., 2019).

2.2 Matriz Energética de Consumo

Quando se trata da matriz energética de consumo, o Brasil se destaca pelo uso de fontes
renováveis. Isso é reflexo dos investimentos que aconteceram na década de 1990 que
permitiram uma melhor estruturação da infraestrutura, que consequentemente incentivou o
consumo.
No Brasil, em 2021, a matriz energética de produção, na qual se insere as fontes de
energia destinadas à transporte e à eletricidade, era composta por 39,5% de fontes renováveis.
Já na ótica da matriz energética de consumo (matriz elétrica), o percentual do uso das fontes
renováveis aumenta para 75%, para o mesmo ano (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA,
2021; KRELL e SOUZA, 2021).
As fontes de geração de energia consumida no Brasil no ano de 2021, em porcentagem
e em GWh, são mostradas no Gráfico 1 e Tabela 2, respectivamente.

Gráfico 1 ‒ Produção de Energia Primária Brasileira de 2021 por fontes (%).

Fonte: EPE (2021).


22

Tabela 2 ‒ Fluxo Elétrico em GWh em 2021.


Fontes de Geração GWh
Gás Natural 86.957,27
Carvão Vapor 17.585,08
Óleo Diesel 7.873,31
Óleo Combustível 9.453,36
Gás de Coqueria 1.666,16
Outras Sec. 2.919,08
Outras Não Renováveis 7.369,37
Urânio 14.704,59
Lenha 2.240,03
Bagaço de Cana 34.326,15
Lixívia 15.144,33
Biodiesel 705,54
Outras Renováveis 3.308,17
Eólica 72.285,97
Solar 16.752,28
Hidráulica 362.818,45
Fonte: EPE (2021) – Adaptada pelo autor.

Ferraz e Codiceira (2017) destacam que o Brasil é um país considerado acima da média
global, em vista da sua participação de energias renováveis na distribuição da matriz energética,
porém existe a necessidade de diversificar a matriz energética a fim de tornar mais eficiente a
produção de energia. Ademais, os autores expressam políticas de incentivos sancionadas pelo
governo, que tem como princípio ajudar a crescer a instalação de energias renováveis como a
energia solar em residências.
23

3 CAPACIDADE DE GERAÇÃO E CRESCIMENTO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA


NO BRASIL

A humanidade evoluiu durante anos, e essa evolução conduziu o sistema elétrico de


potência para outro estágio, levando em consideração que o sistema precisou se adaptar aos
novos panoramas e realidades da população. Em contrapartida, a evolução da produção de
energia elétrica não foi a única que se adaptou, mas os tipos de geração também se adaptaram
às condições ambientais, como é o caso da transição energética para o controle de emissão de
gases do efeito estufa, como o caso do Protocolo de Kyoto (OPERADOR NACIONAL DO
SISTEMA ELÉTRICO, 2021)
No Brasil, segundo a Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a previsão de carga
do Sistema Interligado Nacional (SIN) observa um crescimento na ordem de 20% para o ano
de 2026 quando comparado à máxima carga, verificada em 2020. Esse aumento pode variar
entre 26% para a região Nordeste e a mínima de 17% para a região Sudeste e Centro-Oeste.
Em consequência, o Brasil, no ano de 2022, com 178.555 MW de capacidade instalada
no SIN, dos quais 109.127 MW são de usinas hidroelétricas, 24.886 MW são de usinas
termoelétricas e nucleares e 28.713 MW são de eólicas e fotovoltaicas. A estimativa é que no
ano de 2026 a capacidade instalada do SIN chegará a 200.255 MW, com um aumento de
geração nas usinas solares de 114%, que totalizam 13.511 MW, e de aproximadamente 32,5%
em usinas eólicas, que totalizarão 29.670 MW.
No Gráfico 2 apresentam-se os valores em porcentagem das capacidades instaladas no
Brasil no ano de 2022 e a previsão para a capacidade instalada no ano de 2026, respectivamente.
No Gráfico 3 mostra-se o aumento em porcentagem de cada fonte de geração de energia.
24

Gráfico 2 ‒ Capacidade Instalada no SIN: (a) em 2022 (b) em 2026.


a) b)

Fonte: ONS (2022) – Adaptado pelo autor.

Gráfico 3 ‒ Crescimento da Capacidade Instalada entre 2022 e 2026.

Fonte: ONS (2022) – Adaptado pelo autor.

Como visto anteriormente, as gerações eólicas e solares terão uma perspectiva de


crescimento, consequência dos esforços dos agentes governamentais e das políticas públicas e
mundiais de descarbonização da matriz energética, tornando cada vez mais presente as fontes
de geração renováveis, como disposto no Gráfico 3.
De acordo com o Plano de Operação Elétrica de Médio Prazo do SIN, é de interesse
aumentar a capacidade instalada em 2026, por meio de novos parques eólicos e usinas
fotovoltaicas. Todavia, tem-se algumas preocupações, como a confiabilidade e inércia do
sistema (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2022).
25

De modo geral, o acelerado crescimento das gerações eólicas e fotovoltaicas faz


necessário entender as mudanças e impactos que o crescimento dessas tecnologias podem
ocasionar no sistema elétrico, especialmente nas redes de distribuição no que tange a Micro e
Minigeração Distribuída, que serão abordadas no Capítulo 5.
26

4 SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

É incontestável a necessidade da energia elétrica nos dias de hoje, nesse contexto, um


sistema que seja capaz de fornecer de maneira integral a eletricidade a todos se faz
imprescindível. Desse modo surge a definição do Sistema Elétrico de Potência (SEP):

“Uma infraestrutura que englobe todos os equipamentos e instalações responsáveis por


gerar energia elétrica, transmitir por todo o território nacional, e distribuir para os
consumidores finais” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
1992).

O SEP vem se desenvolvendo durante anos e passa por diversas transformações em


função do crescimento acelerado da demanda, mudanças dos tipos de cargas e acompanhamento
das normas e legislações vigentes. Além disso, o SEP é dividido em três grandes subdivisões:
Geração, Transmissão e Distribuição. Na Figura 4 é apresentada a representação de um SEP.

Figura 4 ‒ Topologia de um SEP.

Fonte: VASCONCELOS (2017).

O SEP não se restringe apenas a estrutura apresentada na Figura 4, órgãos de


regulamentação, fiscalização e comercialização monitoram e estabelecem regras de
funcionamento do setor elétrico, isso permite uma boa prestação de serviço e por consequência
uma melhor qualidade do produto ofertado, consequência das regulações e fiscalizações do
setor (VASCONCELOS, 2012).
27

Concentrando nas redes de distribuição, pode-se afirmar que o objetivo é distribuir a


energia elétrica proveniente da rede de transmissão para os consumidores finais, sendo eles,
comerciais, industriais e residenciais.
Essas redes são bem características pois são organizadas de forma radial, e as topologias
comumente encontradas são as radiais sem laterais, radiais com laterais e fracamente malhadas,
na Figura 5 estão ilustradas as topologias supracitadas.

Figura 5 ‒ Exemplo de Rede de Distribuição: (a) Radial Sem Laterais, (b) Radial Com Laterais e (c)
Fracamente Malhada.

Fonte: VASCONCELOS (2012).

A tendência é a expansão e a modernização desse setor em razão das novas tecnologias


em desenvolvimentos, todavia, essas redes devem ser capazes de atender os requisitos de
qualidade de energia elétrica (QEE) estabelecidos no Procedimentos de Distribuição de Energia
Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST), de responsabilidade da Agência Nacional
de Energia Elétrica, o qual contempla normas que devem ser acatadas tanto pelas
concessionárias como pelos consumidores (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA
ELÉTRICA, 2012).
28

O modulo 8 do PRODIST trata diretamente das diretrizes que garantem a qualidade da


energia fornecida, entretanto, sabemos que muitas das vezes as redes de distribuição operam
fora das faixas toleradas, além de ofertar um produto de má qualidade, acaba colaborando para
o aumento das perdas técnicas.
Existem diversas metodologias para se obter maior eficiência no sistema de distribuição,
as quais são amplamente pesquisadas e implementadas por concessionárias de energia elétrica.
Desta forma, Laflamme e Simard (2004) sugerem uma lista em ordem decrescente de prioridade
para a correção da qualidade de energia, sendo elas:
• Transferência de carga;
• Correção do desbalanço de carga;
• Instalação de capacitores shunt;
• Reestruturação dos condutores de trechos de linhas;
• Reconstrução de segmentos monofásicos e/ou bifásicos para circuitos trifásicos;
• Instalação ou realocação de reguladores de tensão.
Ressalta-se também as ações arroladas abaixo visando a performance adequada do
sistema:
• Emprego de religadores na rede de distribuição;
• Sistemas automatizados para diagnóstico de distúrbios no sistema de
distribuição.
O emprego de novas tecnologias e o anseio de modernizar e melhorar as redes de
distribuição, fez surgir um conceito chamado Smart Grid. Existem muitas definições para esse
termo, e em síntese, serve para a aplicação de novas tecnologias digitais e de comunicação nas
redes de transmissão e distribuição de energia elétrica, com o objetivo de melhorar e ampliar o
nível de controle e operação dos agentes responsáveis, por meio de dados enviados em tempo
real para os mesmos (AMIN; WOLLENBERG, 2005).
Então, com o conhecimento em tempo real das curvas de carga dos consumidores e
consequentemente dos padrões de consumo, poderá ser capaz de agregar novas fontes de
geração de energia próximas ao consumidor, melhorando a qualidade de energia, em razão da
facilidade de gerenciamento de pacotes de carga promovido pela Smart Grid. Portanto, o
significado de Redes Inteligentes é a transição de um modelo caracterizado pela geração
centralizada composto por redes passivas de distribuição de energia para um modelo
caracterizado pelo gerenciamento e controle de geração que será realizada pelas diferentes
fontes alocadas próximas as cargas, que passarão a fazer parte das chamadas microredes, e o
29

controle do trânsito de carga pela rede de transmissão e de distribuição passará a ser definida
como macrorede. De tal forma, atinge-se o objetivo de aumentar a capacidade de integração de
geração distribuída das centrais de microgeração ou microprodução de energia nas redes
elétricas (CHIANG et al., 2008). Além disso, a implantação dessas tecnologias para o
gerenciamento das redes poderá favorecer a redução das perdas e o aumento da eficiência dos
sistemas como um todo (SMART E-NERGY, 2010).
Dentro desta perspectiva, no próximo capítulo será apresentada a geração distribuída,
contemplando de forma macro os impactos na qualidade de energia elétrica, e sua contribuição
para que as redes de distribuição operem respeitando as diretrizes preestabelecidas pelos órgãos
reguladores.
30

5 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

No Brasil e no Mundo, a Geração Distribuída (GD) ganhou força e incentivo a partir


dos anos 2000. Pesquisas por novas tecnologias, investimentos e políticas públicas colocaram
o Brasil em uma significativa crescente na expansão da geração distribuída.
É nítido nos Capítulos 2 e 3 que o Brasil é uma referência mundial quando trata-se de
fontes renováveis, reflexo do seu potencial hídrico. Porém, deve-se pontuar que a forte
dependência de apenas uma fonte de energia para geração pode ocasionar riscos no que diz
respeito a confiabilidade do fornecimento. A diversificação da matriz energética no processo
de geração de energia elétrica em conjunto com a prioridade pelo uso de fontes renováveis
propicia maior segurança energética para o desenvolvimento do país e contribui para o bem-
estar da sociedade, visto que, ocorrendo crises temporárias em fontes específicas de geração de
energia há a flexibilidade para compensação via aumento de geração por outras fontes.
Em função disso, políticas públicas passaram a serem desenvolvidas a partir do início
do milênio, como forma de reduzir a participação de grandes fontes centralizadas e estimular a
entrada de fontes distribuídas de menor capacidade instalada.

5.1 Principais Tipos de Geração Distribuída

Segundo o Instituto Nacional de Eficiência Energética (2021), qualquer uso de fonte


renovável, além da cogeração qualificada, é chamado de GD, e dentro da geração distribuída
temos dois grandes grupos.

• Microgeração Distribuída: Central geradora com potência instalada até 75kW;


• Minigeração Distribuída: Central geradora com potência superior a 75kW e
menor ou igual a 3MW – para fonte hídrica – e menor ou igual a 5MW para as
demais fontes renováveis.

Ambas, conectadas na rede de distribuição por meio de Unidades Consumidores (UC).


31

No contexto que se insere a Micro e Minigeração Distribuída, tem-se a definição dos


principais tipos de fontes utilizadas na geração distribuída no Brasil, as quais são discutidas a
seguir:

• Energia solar fotovoltaica

O Brasil possui um potencial energético solar bastante favorável, em razão da sua


localização. Esse potencial pode ser aproveitado por meio de células fotovoltaicas.
A energia fotovoltaica é a energia proveniente da conversão direta da irradiação em
eletricidade, também conhecido como efeito fotovoltaico, sendo a célula fotovoltaica um
dispositivo fabricado com material semicondutor (PINHO; GALDINO, 2014).
De modo geral, os sistemas conectados à rede, conhecidos como On-Grid, basicamente
tem a função de injetar diretamente na rede elétrica a energia fornecida pelo gerador
fotovoltaico. Para esse tipo de conexão, se faz necessário a utilização de um inversor que atenda
as exigências de qualidade e segurança, a fim de garantir a qualidade do sistema elétrico e a sua
segurança (PINHO; GALDINO, 2014).
Os Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede (SFCR), foram incluídos na
regulamentação estabelecida pela ANEEL, decorrente da Resolução nº 482 de abril de 2012,
que estabeleceu critérios mínimos para a conexão e acesso da micro e minigeração distribuída
aos sistemas de energia elétrica (PINHO; GALDINO, 2014).
Na Figura 6 é apresentado o esquema de um Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede.

Figura 6 ‒ Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede.

Fonte: PINHO E GALDINO (2014).


32

• Energia Eólica

A produção de energia eólica acontece em função da energia cinética dos movimentos


das massas de ar, movimento motivado pelos aquecimentos das camadas de ar pelo Sol e pelo
movimento de rotação do planeta Terra (REIS, 2011).
Para a conversão da energia cinética em energia elétrica teremos duas etapas; a primeira
dispõe de pás e uma turbina que absorvem a energia cinética das massas de ar e transformam
em energia mecânica, e a segunda etapa que consiste em um gerador que transforma a energia
mecânica em energia elétrica (IBERDROLA, 2019).

• Energia de Biomassa

A energia de biomassa, segundo Esfera (2021), é consequência da queima de matérias


primas orgânicas, mas essa definição de biomassa é válida apenas para derivados recentes de
matéria orgânica. Essa definição, no entanto, não considera os combustíveis fósseis, apesar de
estes serem derivados do ramo vegetal e mineral, como o carvão, o petróleo e o gás natural.
A geração de energia elétrica oriunda da biomassa é majoritariamente por meio da
termeletricidade, ou seja, a energia térmica, proveniente da queima da biomassa que é
convertida em energia mecânica e, por último, em energia elétrica (EPE, 2018).

5.2 Regulamentação

Como comentado anteriormente, a GD no Brasil se iniciou no começo dos anos 2000.


Mas até março de 2012, se o consumidor quisesse implementar uma GD, só era permitido se
fosse uma unidade geradora off-grid, ou seja, não poderia ser conectada à rede elétrica
tradicional.
O que acabou mudando quando a micro e minigeração distribuída ganharam uma nova
perspectiva com a REN nº 482/2012 da ANEEL. Com essa resolução normativa transferiu-se a
decisão de implementação da UG para o consumidor, corroborando para o processo de
viabilização do mercado.
33

• Resolução Normativa da ANEEL nº 482/2012

A REN nº 482/2012 estabeleceu condições de acesso a micro e minigeração aos sistemas


de distribuição e a participação no sistema de compensação de energia elétrica. A REN não
permitiu o acessante comercializar a energia, em contrapartida, permitiu o acessante injetar o
excedente de energia elétrica na rede de distribuição e retornar no final do mês na conta a
quantidade de energia elétrica injetada, definida como créditos, sem monetização ou troca
financeiras. Dessa forma, toda a energia ativa, em watts, injetada na rede pela unidade geradora,
é emprestada gratuitamente para a distribuidora local e, posteriormente, compensada sobre o
consumo de energia elétrica ativa, também em watts, dessa mesma UC ou outra.
Essa resolução restringe apenas o uso de créditos a unidades consumidoras de mesma
titularidade, seja CPF ou CNPJ. Em caso de saldo positivo após o abatimento na fatura de
energia elétrica, a unidade consumidora teria até 36 meses para utilizá-lo, se não utilizasse, ele
zerava, olhando para essa linha de raciocínio, a distribuidora de energia funcionaria como um
backup ou armazenador, semelhante a uma bateria, visto que a energia da rede de distribuição
só abasteceria a unidade quando a oferta de energia do gerador não fosse o suficiente.
A REN estabeleceu algumas definições e regras referentes à potência e à carga instalada,
como por exemplo, a microgeração distribuída era limitada em até 100 kW e a minigeração
entre 100 kW a 1 MW. Estabeleceu que a potência instalada da UG ficaria limitada à carga
instalada na UC, todavia, se fosse de escolha do solicitante uma potência maior, seria necessário
solicitar um aumento de carga instalada. Em contraponto, eventuais custos de ampliação e
reforço no sistema de distribuição em função da GD seriam inteiramente da distribuidora de
energia elétrica local.
Como a UC continuaria conectada à rede de energia elétrica da distribuidora, seria
cobrada uma taxa mínima para cada grupo consumidor. Para o grupo A (consumidores de média
a alta tensão conectados acima de 2,3 kV), o valor mínimo a ser cobrado é a demanda
contratada, ou seja, caso a UG produzir igual ou superior à demanda de energia faturada naquele
mês, o consumidor teria que pagar esse valor mínimo pré-estabelecido. Para os consumidores
do grupo B (consumidores conectados abaixo de 2,3 kV, isto é, em baixa tensão) quando não
fosse faturado nenhum consumo ativo, seria cobrado o custo de disponibilidade da rede.
Com o passar do tempo, pontos negativos começaram a aparecer e com objetivo de
reduzir custos operacionais, diminuir o tempo de conexão e adequar o sistema de compensação
de energia elétrica, a ANEEL providenciou uma audiência pública, que resultou na Audiência
Pública nº 26/2015. Essa audiência refletiu na Resolução Normativa – REN nº 687/2015, a qual
34

revisou a REN nº 482/2012 e a seção 3.7 do Módulo 3 dos Procedimentos de Distribuição de


Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST) (AGÊNCIA NACIONAL DE
ENRGIA ELÉTRICA, 2012).

• Resolução Normativa da ANEEL nº 687/2015

Após a mudança da REN nº 482/2012, e a tramitação da REN nº 687/2015, impactou


significativamente o andamento da micro e minigeração distribuída no Brasil, pois criou
diversas possibilidades de modelos de negócios (AGÊNCIA NACIONAL DE ENRGIA
ELÉTRICA, 2015).
Das alterações, destacam-se o aumento do prazo para uso dos créditos energéticos,
alterou de 36 meses para 60 meses e a mudança de potência limite para micro e minigeração
distribuída. A microgeração limitada a uma potência inferior ou igual a 75 kW, e a minigeração
limitada a uma potência superior a 75 kW e menor ou igual a 3 MW – somente para fontes
hídricas. E menor ou igual a 5 MW para as demais fontes renováveis – solar, eólica, biomassa
e geração qualificada.
As mudanças da REN, abriram diversas portas para novas modalidades de negócios,
incentivando o investimento no mercado de energia elétrica, isso devido às modalidades de
negócios na REN nº 482/2012 serem muito restritivas, como por exemplo, só podem enviar
créditos excedentes para outras UC de mesma titularidade, CPF ou CNPJ.
Com isso, surgiram diversas oportunidades, são elas:
a) Autoconsumo: consumidor pessoa física ou pessoa jurídica, instala a UG na
própria UC individual, onde será compensado a energia produzida. Essa
modalidade já era permitida pela REN nº 482/2012;
b) Autoconsumo remoto: consumidores de mesma titularidade, CPF ou CNPJ que
possuem várias unidades consumidoras, instalam uma UG em umas das UC e
utiliza a energia excedente para compensar o consumo de outras unidades
consumidoras, as unidades serão separadas entre matriz e filiais inclusas. Esse
modelo só é permitido dentro da área de concessão da mesma distribuidora de
energia elétrica. Essa modalidade já era permitida pela REN nº 482/2012;
c) Empreendimento com múltiplas unidades consumidoras: em condomínios,
situados em mesma área ou área contígua, a UG é instalada nas áreas comuns do
condomínio e a energia gerada deverá atender as UC localizadas na mesma
propriedade ou em áreas contíguas. Desse modo, os créditos de energia serão
35

divididos entre os condôminos participantes e a área comum do


empreendimento, tudo sob a responsabilidade do condomínio. Em razão disso,
não é necessário estabelecer nenhum tipo de consórcio ou associação pois a
própria administração do condomínio já representa a entidade – CNPJ.
d) Geração compartilhada: consumidores de CPF ou CNPJ distintos, de
diferentes regiões, mas atendidos pela mesma concessionária, podem se reunir
em um consórcio ou cooperativa para instalar uma UG em local diferente das
unidades consumidoras compensatórias e compartilhar a energia gerada. Nessa
modalidade é preciso estabelecer um consórcio, associação ou cooperativa para
que a entidade (CNPJ) represente, administre e estabeleça o rateio dos créditos
energéticos.

• Lei nº 14.300 – Marco Legal da Microgeração e Minigeração Distribuída

Sancionada no dia 6 de janeiro de 2022, a lei 14.300 institui o marco legal da geração
distribuída no Brasil, de tal forma que as unidades consumidoras ainda poderão produzir sua
própria energia que utilizam a partir de fontes renováveis.
As principais mudanças em relação aos benefícios cedido pela ANEEL são em função
da carga instalada das minigerações distribuídas, onde o limite de potência anteriormente era
de 5MW, agora passa para 10MW, outro ponto relacionado a transição é a cobrança de tarifas
em cima dos encargos da distribuição (o chamado “Fio B”), esses pagamentos serão relativos à
remuneração dos ativos do serviço de distribuição, da depreciação dos equipamentos da rede e
dos custos de operação e manutenção do serviço (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS,
2022).

5.3 Impactos na Rede de Distribuição

A rede de distribuição foi projetada para operar em um único sentido de fluxo de


potência, da geração até o consumidor final. Entretanto, com o aumento da GD o fluxo passa a
ser bidirecional e contribui para alguns impactos na rede.
36

Como exposto no Capítulo 3, a energia fotovoltaica vem crescendo muito e é uma das
mais presentes aos meios urbanos, por conta da sua facilidade e fácil acesso. Todavia, esses
impactos foram estudados por Shayani (2010) e serão apresentados a seguir:

• Distorção harmônica;
• Regulação de tensão;
• Estabilidade do sistema elétrico;
• Ilhamento não-intencional;
• Faltas à terra;
• Escoamento capacitivo de inversores sem transformadores.

Embora existam fatores importantes que influenciam de maneira negativa a rede de


distribuição de energia elétrica, pode-se ressaltar diversos benefícios na utilização da GD.
Segundo Filho (2012), o uso em larga escala de conversores na GD faz com que a
eletrônica de potência tenha um papel importante na rede de distribuição, em função que a
conjunção desses conversores pode realizar funções adicionais, tais como: melhoria na
qualidade de potência ativa, utilizando filtros ativos de harmônicos, redução do desequilíbrio
de tensão, regulação do fator de potência, controle de energia ativa e reativa, e controle de nível
de tensão, redução da demanda no horário de ponta e melhoria da confiabilidade.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Focus (2021) afirma que a implementação da
GD tem aspectos positivos na diversificação da matriz energética e aspectos positivos na esfera
social, como geração de empregos, aumento do crescimento da cadeia produtiva nacional, e
maior eficiência energética nos empreendimentos.
37

6 OPENDSS

O software OpenDSS, que em inglês significa Open Distribution System Simulator, ou


simulador aberto de sistema de distribuição, é muito utilizado pela comunidade acadêmica
como ferramenta de simulação de redes de distribuição de energia elétrica. O software suporta
quase todas as análises de sistemas de distribuição. Além disso, ele permite novos tipos de
simulações para expansões futuras em sistemas que supostamente precisarão passar por
expansões. As razões desses estudos são reflexos da expansão mundial da geração distribuída
e das Smart Grids. Dentro das aplicações suportadas pelo programa, muitas delas foram criadas
especialmente para analisar demandas e necessidades provenientes da geração distribuída, além
dessas aplicações, também pode citar algumas outras ferramentas do software que permitem
estudar a eficiência energética, fluxo de potência, aplicações de smart grids, análise de
harmônicos e perdas no sistema. Por ser um software aberto, é projetado para ser expansível,
de maneira que se adapta facilmente às necessidades futuras (DUGAN, 2016).
Dentre os diversos modos de solução pode-se destacar: o fluxo de potência instantâneo
– Snapshot Power Flow – que resolve um único fluxo de potência instantâneo para as condições
estabelecidas, esse modo não considera variações temporais nas cargas ou elementos; e o fluxo
de potência diário ou anual – Daily/Yearly Power Flow – que realiza uma série de soluções
baseadas nas curvas diárias de carga e geração especificadas (DUGAN, 2016).
O programa permite ao usuário programar em simultâneas janelas, com isso ele pode
executar um script inteiro ou partes dele, independente da janela que esse script esteja,
proporcionando uma melhor separação e organização dos scripts. Eles podem ser executados
selecionando suas linhas ou trechos, clicando com o botão direito e selecionando a opção “Do
Selected”.
Os resultados dos modos de operação podem ser solicitados no próprio script, utilizando
os comandos Show ou Export. Os resultados podem ser apresentados como arquivos *.CSV,
*.TXT ou como gráfico, podendo ser configurado para apresentar diferentes tipos de resultados.
Para o estudo de fluxo de potência, as cargas e geradores são tratados como fontes de
injeção de corrente. Deste jeito, no modo de solução direta, ou seja, sem interação, tais
elementos são incluídos como admitâncias na matriz de admitância e são resolvidos
diretamente. Ao final da simulação as perdas, tensões, fluxos e outras informações são
disponibilizadas, como de cada componente e de certas áreas pré-determinadas. No modo daily
e yearly, como comentado anteriormente, para cada instante de tempo serão apresentadas as
38

informações que foram solicitadas, como por exemplo as perdas do sistema. Para uma análise
mais detalhada dessas informações, medidores de energia podem ser instalados em pontos
estratégicos para apresentar os fluxos no decorrer de um intervalo de tempo.
Com essas informações é possível também gerar gráficos onde as espessuras das linhas
representaram os fluxos, tensões, correntes ou perdas que foram medidas, entretanto para
representar graficamente essa função é necessário declarar as coordenadas espaciais das barras
do sistema (DUGAN, 2016).

6.1 Conceitos Básicos

Dentro do sistema elétrico de potência, cada elemento seja ativo ou passivo, é composto
por um ou mais terminais, e cada terminal pode ter um ou mais condutores. Desse modo, um
dispositivo polifásico, de N fases, terá os seus primeiros terminais representando as fases, em
sequência os outros terminais serão neutros ou não transmite potência, como apresentado na
Figura 7.

Figura 7 ‒ Definição de Elemento.

Fonte: DUGAN (2016).

Para o OpenDSS uma barra é apenas um ponto de conexão dos condutores provenientes
de elementos dos circuitos, ou seja, o barramento não existe para o programa, até que seja
necessário à sua utilização para a conexão de elemento, com isso, para declarar uma nova barra,
basta declarar um elemento conectado a ela.
39

Os elementos assim que criados terão uma quantidade definida de terminais, e serão
nomeados em ordem numérica, sendo ela [1, 2, 3, ...], e sua conexão entre o elemento e o
barramento pode ser feita de todas as formas de conexões já existentes. Em vista disso, o
barramento que possuir um elemento trifásico, suas conexões serão realizadas nos nós 1, 2, 3 e
o nó 0 sempre será a tensão de referência, o neutro ou aterramento do sistema (zero volts).
Os elementos passivos na grande maioria possuem dois ou mais terminais polifásicos,
onde a função básica desses elementos é o transporte de energia, e sua representação no
programa é feita por meio das suas impedâncias, como disposto na Figura 8.

Figura 8 ‒ Representação de Elemento Passivo.

Fonte: DUGAN (2016).

Já os elementos ativos convertem a energia elétrica em algum outro tipo de energia,


comumente apresentam apenas um terminal polifásico, como apresentado na Figura 9.

Figura 9 ‒ Representação de Elemento Ativo.

Fonte: DUGAN (2016).


40

No início de todo circuito será criado automaticamente um elemento de tensão trifásica


chamada “Source”, que será conectada à sua barra, comumente chamada de “SourceBus”. Esse
elemento composto pela fonte mais a barra de conexão não pode ser apagado do circuito, pois
é fundamental para a solução do fluxo, além disso, esse elemento deve conter uma potência
razoável de curto-circuito (DUGAN, 2016).

6.2 Sintaxe da Linguagem de Comando

Os comandos do OpenDSS podem ser aplicados por meio de códigos de comandos,


deste modo, a sintaxe de comando segue o seguinte padrão:

Comando parâmetro1, parâmetro2, parâmetro3...

O código a seguir mostra um exemplo da construção da sintaxe do OpenDSS, onde tem-


se o comando New, o elemento Line e os parâmetros que compõem a criação do elemento.
Como exposto anteriormente, o elemento Line é um elemento passivo, ou seja, responsável pelo
transporte de energia e sua matriz de impedância é descrita em Ω/𝑚.

New Line.1 Bus1=1 Bus2=2 R1=0.222 X1=0.402 R0=0.396 X0=1.87 length=2.96


units=km

Dentre os comandos, citam-se os mais comuns, que são: New, Set, Edit, Show e Export.
O comando Set é utilizado para alteração ou configurações de opções que serão aplicadas em
todo o circuito, pode ser empregado para estabelecer tipos de soluções, como selecionar modos
de soluções de fluxo, modo Daily e Snap, também estabelecer valores de tensões de base para
simplificação na apresentação dos resultados. Exemplos:

Set mode= Snap


Set Voltagebases=”0.22 13.8 66”

Os comandos Show e Export servem para a exibição de resultados. O comando Show


apresentará os resultados em formato *.TXT com as informações que foram solicitadas, já o
41

comando Export salvará na pasta (onde o arquivo fonte está localizado) um arquivo no formato
*.CSV, também com as informações solicitadas. Exemplos:

Show Powers
Show Voltages
Show Losses
Export Voltages
Export Losses

Dentre os principais elementos, o PVSystem é um dos mais importantes para a validação


desse estudo, pois por meio dele será possível modelar os geradores de energia fotovoltaicos.
Desta forma, os principais parâmetros desse comando são os seguintes:

• kV – Tensão nominal da linha em kV


• Bus1 – Nome da barra que está conectado o terminal
• kVA – Potência nominal do inversor
• Pmpp – Potência nominal no ponto de máxima potência do arranjo fotovoltaico
• PF – Fator de potência
• Irrad – Irradiação nominal
• Temperature – Temperatura de operação do módulo
• Effcurve – Curva de eficiência por potência
• P-Tcurve – Curva de potência por temperatura, em pu(t)
• Daily – Irradiância diária, em pu(t)
• Tdaily – Temperatura diária

Como exemplo, a sintaxe do elemento PVSystem ficará da seguinte maneira:

New PVSystem.PV phases=3 bus1=barraPV kV=0.22 kva=75 irrad=0.98 pmpp=80


temperature=25 PF=1 Effcurve=MyEff P-Tcurve=MyPvsT Daily=MyIrrad Tdaily=MyTemp

Os parâmetros, Effcurve e P-Tcurve, são curvas de dados que são fornecidos pelos
fabricantes dos módulos fotovoltaicos e os parâmetros Daily e Tdaily, são respectivamente
valores em pu da irradiação e a temperatura do ambiente, ambos em um intervalo de 24h.
42

7 DESCRIÇÃO DO CASO

Como forma de averiguação do tema apresentado neste trabalho, escolheu-se um


sistema de distribuição de energia elétrica de dimensões reais, mas com cargas e geradores
hipotéticos, que permitisse avaliar por meio do OpenDSS os impactos da GD em um
alimentador de distribuição quando varia-se o seu nível de penetração. O alimentador
apresentado na Figura 10 também foi estudado em Silva Junior (2010).
Percebe-se que os geradores fotovoltaicos foram alocados nos finais das linhas do
alimentador, i.e., nas barras 1093, 1023, 1024, 1043 e 1053.
A priori serão analisados os perfis de tensão, fluxo de potência e perdas elétricas no
alimentador sem a presença dos geradores, posteriormente verificar-se-ão as mudanças e os
impactos da inserção gradativa da geração distribuída no alimentador.

Figura 10 ‒ Alimentador de Distribuição de Energia Elétrica.

Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.

É importante salientar que no presente trabalho serão abordados dois modos de


simulação. Inicialmente serão analisados diferentes cenários com diferentes níveis de
penetração da GD, considerando valores fixos de geração, como exposto no capítulo anterior,
utilizando o modo Snap. Posteriormente, serão analisados os resultados da conexão de um
43

gerador fotovoltaico, utilizando o elemento PVSystem, no qual haverá interações variáveis


dentro de um intervalo de 24 horas, para tal feito, será empregado o modo Daily.
No modo Snap, a porcentagem de penetração vai ser determinada pela quantidade total
de carga alocada no sistema. Assim, serão considerados os seguintes níveis de penetração:

• 1º Cenário – Cenário base, sem a presença de GD;


• 2º Cenário – Penetração de 40% da potência da carga em GD;
• 3º Cenário – Penetração de 50% da potência da carga em GD;
• 4º Cenário – Penetração de 60% da potência da carga em GD.

7.1 Cargas

As cargas estão alocadas em diferentes barramentos do sistema de distribuição,


conforme estabelecido na Figura 9. Considerou-se uma curva de consumo normalizada por
unidade que permite que o consumo de energia no alimentador variasse ao longo do dia – modo
Daily. Nas Tabelas 3 e 4, apresentam-se respectivamente, os dados das cargas instaladas
relativos às suas potências e a barra de conexão, e os dados normalizados de carga onde todas
as cargas terão o mesmo perfil. Considerou-se que todas as cargas operam com fator de potência
igual a 0,92.
Tabela 3 ‒ Relação das Cargas.
CARGA CARGA
BARRA BARRA
MVA MVA
1061 0,3 1091 0,39
1062 0,45 1092 0,75
1031 0,15 1093 1,05
1032 0,62 1051 0,65
1071 0,21 1052 0,9
1072 0,79 1053 0,37
1073 1,25 1054 1,1
1081 0,34 1021 0,26
1041 0,34 1022 0,39
1042 0,45 1023 1,25
1043 0,45 1024 0,95

TOTAL 13,41

Fonte: Elaborada pelo autor.


44

Tabela 4 ‒ Curva de Consumo Normalizada.


HORAS CARGA (PU) HORAS CARGA (PU)
0 0,2908 12 0,8855
1 0,2653 13 0,9172
2 0,2639 14 0,9382
3 0,2562 15 1
4 0,251 16 0,9621
5 0,2632 17 0,9407
6 0,305 18 0,8216
7 0,4547 19 0,7497
8 0,6167 20 0,6411
9 0,739 21 0,5357
10 0,8475 22 0,4705
11 0,882 23 0,3688

Fonte: CAMARGOS (2016) – Adaptada pelo autor.

No Gráfico 4 mostra-se a curva de consumo normalizada, em pu, das cargas.

Gráfico 4 ‒ Valores da Curva de Consumo Normalizada.

Fonte: Elaborado pelo autor.

7.2 Cabos e Conexões

Os parâmetros dos cabos utilizados no alimentador estão apresentados na Tabela 5.


Ressalta-se que as susceptância capacitivas foram desconsideradas.
45

Tabela 5 ‒ Características dos Cabos.


Sequência Positiva Sequência Zero
Condutor
r [Ω/m] x [Ω/m] r [Ω/m] x [Ω/m]
336.4 0,222 0,369 0,402 1,87
3/0 0,443 0,428 0,616 1,89
1/0 0,705 0,459 0,879 1,92
Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.

Na Tabela 6 estão dispostos para cada seção do alimentador o comprimento e o condutor


empregado.

Tabela 6 ‒ Comprimento das Linhas e Conexões.


Alimentador Barras Cabo Comprimento do cabo (km)
GPR_01 1200-1061 336.4 1,22
GPR_01 1061-1062 336.4 2,06
GPR_01 1062-2200 3/0 1,46
GPR_02 1032-2200 336.4 2,96
GPR_02 1931-1032 3/0 0,68
GPR_02 1031-1931 3/0 1,78
GPR_02 1200-1031 3/0 1,26
GPR_03 1073-2100 336.4 4,12
GPR_03 1072-1073 336.4 2,04
GPR_03 1071-1072 3/0 0,87
GPR_03 1971-1071 3/0 0,47
GPR_03 1200-1971 3/0 1,08
GPR_04 1081-2100 336.4 1,11
GPR_04 1200-1081 336.4 3,87
CPC_01 2100-1051 3/0 1,24
CPC_01 1051-1054 1/0 0,8
CPC_01 1051-1052 1/0 0,55
CPC_01 1052-1053 1/0 0,92
CPC_02 2200-1021 3/0 0,24
CPC_02 1021-1921 3/0 2,14
CPC_02 1921-1022 3/0 0,36
CPC_02 1022-1023 1/0 3
CPC_02 1022-1922 3/0 0,46
CPC_02 1922-1024 1/0 1,86
EPE_01 2100-1041 336.4 2,98
EPE_01 1041-1941 336.4 1,86
EPE_01 1941-1042 3/0 2,06
EPE_01 1042-1043 1/0 1,75
EPE_02 2200-1091 336.4 1,86
EPE_02 1091-1991 3/0 0,36
EPE_02 1991-1092 3/0 1,25
EPE_02 1092-1093 3/0 7,22

Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.


46

7.3 Transformadores

O barramento infinito – barra 1000 – possui um transformador que abaixa a tensão de


66 𝑘𝑉 para 13,8 𝑘𝑉. Este transformador apresenta os seguintes parâmetros:

• Nome – TR1
• Tensão (kV): Primário – 66, Secundário – 13,8
• Impedância (pu): 14,03
• Potência (MW): Primário – 20, Secundário – 20
• Conexão: Primário – Delta, Secundário – Estrela

Já os geradores e os geradores fotovoltaicos apresentam tensão nominal de 0,22 𝑘𝑉, em


função disso, torna-se necessário a utilização de transformadores de acoplamento.
Os transformadores utilizados para o devido acoplamento apresentam os mesmos
parâmetros, i.e., são idênticos, cujos parâmetros são apresentados abaixo:

• Tensão (kV): Primário – 0,22, Secundário – 13,8


• Indutância de dispersão (XHL): 2
• Percentual de perdas totais (%loadloss) – 0,5
• Percentual de perdas a vazio (%noloadloss) – 0,2
• Potência (kW): Primário – 500, Secundário – 500
• Conexão: Primário – Estrela, Secundário – Estrela

7.4 Geradores

Nas simulações no OpenDSS foram utilizados dois tipos de geradores distribuídos,


inicialmente foram utilizadas fontes geradoras que fornecem um valor fixo de potência para a
rede, tendo em vista que eles não sofrerão oscilações na potência ao longo do dia, desse modo
foram utilizados para calcular no modo Snap o perfil de tensão, fluxo de potência e as perdas
elétricas variando os níveis de penetração da potência do gerador.
47

Os geradores foram alocados nas barras finais de alguns ramos alimentadores, i.e.,
barras 1093, 1023, 1024, 1043 e 1053. A representação da localização dos geradores também é
apresentada na Figura 10.
Como comentado anteriormente, é importante ressaltar que a potência dos geradores
sofrerá mudanças nos diferentes cenários a serem simulados.
Todos os geradores utilizados para o devido estudo apresentam os mesmos parâmetros
e são dispostos abaixo:

• Fases: 3
• Tensão (kV): 0,22
• Potência Trifásica (kW):
o 40% de Penetração: 1072 kW
o 50% de Penetração: 1340 kW
o 60% de Penetração: 1600 kW

Em uma segunda etapa, os geradores fotovoltaicos foram empregados para verificar o


fluxo de potência diário do alimentador no modo Daily, em razão de que o gerador fotovoltaico
não fornece potência com valor constante ao longo do dia, concentrando-se mais nos horários
de pico da irradiação solar.
Com o propósito de estudar o fluxo de potência diário quando a GD está alocada junto
às cargas, especificou-se como potência base de geração o equivalente à 70% da potência da
carga e distribuiu-se de forma igualitária em todas as barras que apresentam cargas alocadas.
Assim, com a característica temporal da carga apresentada na Tabela 4 e a variação de geração,
característica natural dos geradores fotovoltaicos, pode-se analisar os impactos no que tange o
consumo de potência nas barras e o fluxo de potência proveniente da subestação.
Portanto, apresenta-se a seguir os parâmetros essenciais para representar os geradores
fotovoltaicos no OpenDSS.

• Fases: 3
• Tensão (kV): 0,22
• Potência do Inversor (kVA): 500
• Máxima potência dos painéis (kVA): 432
48

Como trata-se de um gerador com características temporais, há variáveis em função do


tempo, i.e., a irradiação e a temperatura. A irradiação é representada com valores normalizados
em pu e a temperatura apresenta valores ao longo do dia em intervalos de uma hora.
Nas Tabelas 7 e 8 estão dispostos, respectivamente, o comportamento da irradiação e da
temperatura empregada para o estudo com o gerador fotovoltaico.

Tabela 7 ‒ Irradiação em PU ao Longo do Dia.


Horas Irradiação (pu) Horas Irradiação (pu)
0 0 12 1
1 0 13 1
2 0 14 0,99
3 0 15 0,9
4 0 16 0,7
5 0 17 0,4
6 0,1 18 0,1
7 0,2 19 0
8 0,3 20 0
9 0,5 21 0
10 0,8 22 0
11 0,9 23 0
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 8 ‒ Temperatura de Operação dos Painéis Fotovoltaicos ao Longo do Dia.


Horas Temperatura ºC Horas Temperatura ºC
0 25 12 60
1 25 13 60
2 25 14 55
3 25 15 40
4 25 16 35
5 25 17 30
6 25 18 25
7 25 19 25
8 35 20 25
9 40 21 25
10 45 22 25
11 50 23 25

Fonte: Elaborada pelo autor.

Além dos valores em função do tempo, tem-se mais duas variáveis que caracterizarão
um comportamento temporal e oscilatório para o gerador fotovoltaico, a curva de potência
versus temperatura, a qual dispõe a proporção de potência que será fornecida pelos painéis em
função da temperatura que os painéis estão operando, que está totalmente relacionada ao vetor
49

de temperatura diária apresentado na Tabela 8. E por fim, a curva de eficiência do inversor


fotovoltaico, que interpola os valores em pu da eficiência do inversor em função da potência
fornecida pelos painéis, também em pu.
Nas Tabelas 9 e 10, apresenta-se respectivamente, os dados das curvas potência versus
temperatura e a curva de eficiência do inversor fotovoltaico em função da potência fornecida
pelos painéis.

Tabela 9 ‒ Potência de Saída dos Painéis Fotovoltaicos versus Temperatura de Operação.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 10 ‒ Curva de Eficiência do Inversor Fotovoltaico em Função da Potência Fornecida Pelos


Painéis – Valores Normalizados em pu.

Fonte: Elaborada pelo autor.


50

8 SIMULAÇÃO E RESULTADOS

O presente estudo visa avaliar os impactos no sistema de distribuição de energia elétrica


decorrente da inserção da geração distribuída. Dentro deste contexto, realizou-se a simulação e
estudo de um sistema de distribuição teste, no qual executou-se o incremento na penetração da
geração distribuída e avaliou-se as consequências no que tange o perfil de tensão, o fluxo de
potência e as perdas elétricas. Por conseguinte, apresenta-se nos próximos tópicos dados da
simulação e os resultados obtidos.

8.1 Perfil de Tensão

Segundo a ANEEL, os níveis de tensão em sistemas alimentados com tensão nominal


entre 1 𝑘𝑉 e 69 𝑘𝑉, em regime permanente, são classificadas em adequados, críticos ou
precários. Os valores considerados adequados estão entre 0,93 pu e 1,05 pu. Tensões na faixa
de 0,90 pu a 0,93 pu são consideradas precárias. Já valores abaixo de 0,90 pu ou acima de 1,05
pu são chamados de críticos (ANEEL, 2010).
Para acessar os resultados das tensões após a simulação do circuito, basta utilizar o
comando Show Voltages, que na pasta raiz do arquivo OpenDSS será criado um arquivo *.TXT
com os dados dos níveis de tensão de cada barra.
Nessas simulações busca-se obter a inversa proporcionalidade entre valor da tensão e
distância da fonte alimentadora, e analisar se os valores das tensões das barras cumprem os
padrões preestabelecidos pela ANEEL.
Portanto, em princípio, selecionou-se para avaliação o ramo alimentador GPR_04 e
EPE_01, devido ao fato que, entre todas as combinações de ramos alimentadores analisados
previamente, o GPR_04 e o EPE_01 apresentou resultados satisfatórios no seu perfil de tensão
principalmente em razão da sua distância, além de representar de maneira clara os impactos nas
barras onde os geradores são conectados. As simulações terão o intuito de apresentar o perfil
de tensão das barras desse ramo alimentador considerando a operação sem geração distribuída
e com a inserção e incremento da mesma no alimentador. Dentro desta perspectiva, torna-se
possível constatar graficamente e averiguar no relatório, de forma clara e objetiva, o impacto
51

da inclusão da geração distribuída no perfil de tensão do alimentador e os níveis de tensão das


barras com enfoque na distância para a fonte alimentadora. Para uma melhor visualização a
Figura 11 apresenta o ramo alimentador GPR_04 e o EPE_01.

Figura 11 ‒ Alimentador de Distribuição de Energia Elétrica GPR_04 e EPE_01.

Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.

Por fim, será empregado o modo Snap, por meio do qual serão utilizados valores fixos
de carga e geração.

8.1.1 Cenário Base – Sem GD

Nesse cenário, tem-se o alimentador operando em suas características normais, livre de


inserção de GD.
Na Tabela 11 apresentam-se os valores das tensões das barras que estão conectadas no
ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.
52

Tabela 11 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 sem GD.


Tensão
Barra
(PU)
1000 1,00
1200 0,9860
1081 0,9538
2100 0,9455
1041 0,9376
1941 0,9341
1042 0,9278
1043 0,9241
Fonte: Elaborada pelo autor.

Nota-se que as barras 1041 e 1941 operam no limite dos valores de tensão classificados
como adequados pela ANEEL, já as barras 1042 e 1043 operam com níveis de tensão precários,
resultando em uma operação inadequada.
Para facilitar a visualização, no Gráfico 5 está disposta a curva do perfil de tensão do
ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.

Gráfico 5 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 sem GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O perfil de tensão de todo o alimentador em função da distância, operando nesse cenário


sem a inserção da geração distribuída, é apresentado no Gráfico 6, por meio do qual observa-se
a inversa proporcionalidade entre o nível de tensão e a distância da fonte.
53

Gráfico 6 ‒ Perfil de Tensão do Alimentador Sem GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

8.1.2 Cenário – Penetração de 40% de Geração Distribuída

Neste cenário será avaliada a penetração de 40% de GD em barras pré-definidas do


alimentador. Dentro deste contexto, apresentar-se-ão os resultados obtidos com enfoque para o
mesmo ramo alimentador e para todo sistema visando realizar uma clara comparação, a
posteriori, dos impactos do incremento da geração distribuída em sistemas de distribuição de
energia elétrica, mais especificamente, no que tange o perfil de tensão, perdas elétricas e fluxo
de potência.
Na Tabela 12 consta os valores das tensões das barras que estão conectadas ao ramo
alimentador GPR_04 e EPE_01, obtidos via simulação no software OpenDSS considerando a
inclusão de 40% de geração distribuída.
54

Tabela 12 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 40% de GD.

Tensão
Barra
(PU)
1000 1,00
1200 0,9887
1081 0,9632
2100 0,9567
1041 0,9524
1941 0,951
1042 0,9498
1043 0,9531
Fonte: Elaborada pelo autor.

Nesse cenário já se torna possível analisar os impactos da GD nas redes de distribuição.


Conforme Filho (2012), a utilização de GD resulta em elevações da tensão nas barras
alimentadoras, o que torna nítido quando analisa-se a barra 1043, no cenário anterior ela se
enquadrava como precária, por conta do seu nível de tensão. Já nesse cenário, a barra 1043 está
operando respeitando os valores pré-especificados como adequados pela ANEEL.
Para facilitar a visualização, no Gráfico 7 está apresentada a curva do perfil de tensão
do ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.

Gráfico 7 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 40% de GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Deve-se enfatizar que analisando o gráfico acima é possível constar com facilidade a
inversão do sentido do fluxo no que tange o trecho relativo às barras 1042-1043, i.e., o fluxo de
55

potência flui da barra 1043 para a 1042, onde se nota que ao invés de se ter uma queda de tensão
da barra 1042 para 1043, há uma elevação da tensão (inversão do sentido do fluxo
potência/corrente, consequentemente inversão no sentido da queda de tensão).
No Gráfico 8 está disposto o perfil de tensão de todo o alimentador, operando nesse
cenário, em função da distância.
Gráfico 8 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 40% de GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

8.1.3 Cenário – Penetração de 50% de Geração Distribuída

Não diferente dos cenários anteriores, agora tem-se um aumento de penetração da GD,
cujos resultados expressarão os valores de tensão nos ramos alimentadores quando o nível de
penetração operar em 50%.
Na Tabela 13 estão dispostos os valores de tensões nas barras que estão conectadas no
ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.
56

Tabela 13 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 50% de GD.

Tensão
Barra
(PU)
1000 1,00
1200 0,9894
1081 0,9655
2100 0,9595
1041 0,956
1941 0,9552
1042 0,9553
1043 0,9603
Fonte: Elaborada pelo autor.

Nos cenários atual e anterior, com penetração de 50% e 40% de GD, respectivamente,
tem-se todas as barras do ramo alimentador selecionado operando dentro dos padrões aceitáveis
estabelecidos pela ANEEL. Assim, pode-se inferir que este ramo alimentador em análise
propicia maior confiabilidade e estabilidade para um adequado suprimento da carga.
Para facilitar a visualização, no Gráfico 9 está apresentada a curva do perfil de tensão
do ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.

Gráfico 9 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GPR_04 e EPE_01 com 50% de GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Avaliando a Tabela 13 e o Gráfico 9 observa-se que houve uma inversão do fluxo de


potência mais considerável, visto que analisando as tensões das barras 1941, 1042 e 1043 tem-
se um perfil de tensão crescente no sentido da barra 1941 para a 1043, corroborando a inversão
da corrente e da queda de tensão neste trecho do alimentador.
57

O perfil de tensão de todo o alimentador em função da distância é mostrado no Gráfico


10.
Gráfico 10 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 50% de GD.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

8.1.4 Cenário – Penetração de 60% de Geração Distribuída

A inserção de 60% de geração distribuída corresponde ao último cenário a ser analisado


neste trabalho de conclusão de curso. Por conseguinte, realizou-se a devida simulação no
software OpenDSS e se obteve os resultados arrolados abaixo no que diz respeito ao perfil de
tensão do sistema.
Na Tabela 14 estão apresentados os níveis de tensões das barras que estão conectadas
ao ramo alimentador GPR_04 e EPE_01.
58

Tabela 14 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GRP_04 e EPE_01 com 60% de GD.
Tensão
Barra
(PU)
1000 1,00
1200 0,99
1081 0,9677
2100 0,9621
1041 0,9595
1941 0,9593
1042 0,9606
1043 0,9672
Fonte: Elaborada pelo autor.

É nítido que a penetração da GD propiciou uma melhoria no perfil de tensão do ramo


alimentador em questão, salienta-se que as barras que não atendiam ao nível de tensão
considerado adequado pela ANEEL passaram a operar com níveis adequados de tensão com a
inserção da GD.
O Gráfico 11 apresenta a curva do perfil de tensão do ramo alimentador GRP_04 e
EPE_01.
Gráfico 11 ‒ Tensão nas Barras do Alimentador GRP_04 e EPE_01 com 60% de GD.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A mesma análise relativa à inversão do fluxo e perfil de tensão é válida para este caso,
no qual é ainda mais acentuado visto o aumento da inserção da GD. Deve-se ressaltar, que o
mesmo procedimento de avaliação é válido para todos alimentadores/trechos deste sistema de
distribuição teste, o qual pode ser aplicado e observado via análise do Gráfico 12.
59

O perfil de tensão de todo o alimentador em função da distância é apresentado no


Gráfico 12.
Gráfico 12 ‒ Perfil de Tensão no Alimentador com 60% de GD.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Analisando o Gráfico 12, observa-se que todas as barras do sistema de distribuição de


energia elétrica teste estão operando com níveis de tensão de até em torno de 0,95 pu, i.e., no
máximo aproximadamente 5% de queda de tensão.

8.1.5 Comparação do Perfil de Tensão Considerando os 4 Cenários

Nesta seção será realizada a comparação dos níveis de tensão das barras do ramo
alimentador em análise operando nos quatro cenários supracitados, a fim de se verificar de
forma gráfica o impacto do incremento da geração distribuída no perfil de tensão do sistema.
Portanto, apresenta-se no Gráfico 13 os perfis de tensão do ramo alimentador GPR_04 e
EPE_01 obtido via simulação no software OpenDSS considerando a rede de distribuição sem
GD, e com a inserção de 40%, 50% e 60% de GD.
60

Gráfico 13 ‒ Comparação do Perfil de Tensão nos 4 Cenários.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Avaliando o Gráfico 13 nota-se claramente uma melhoria nos níveis de tensão quando
se aumenta a penetração de GD no alimentador, ressalta-se que foi selecionado para esta análise
mais detalhada um ramo alimentador que possuía barras em operação com níveis mais críticos
de tensão.
Desse modo, pode-se concluir que a presença de geradores próximos a carga provê
melhoria no perfil de tensão do sistema, tendo em vista que se reduz a corrente advinda
(solicitada) do sistema de transmissão, ocasionando consequentemente menores quedas de
tensão nos condutores do sistema de distribuição, proporcionando assim, uma melhoria do
perfil de tensão da rede. Salienta-se que, a inserção de geração distribuída oriunda de fontes
renováveis é de extrema importância para o desenvolvimento socioeconômico do país, mas
especificamente, a geração fotovoltaica por possui maior capacidade de suprimento nos
períodos em que há maior consumo, i.e., possibilita desafogar o atual sistema energético
brasileiro.

8.2 Fluxo de Potência e Perdas Elétricas

Após o circuito ser simulado no OpenDSS, executando o comando Show Powers, será
criado um arquivo *.TXT, o qual apresenta todos os elementos presentes no circuito ativo, o
61

valor de potências ativas (kW), potências reativas (kVAr) e as perdas totais no sistema. No
arquivo consta a potência que entra no terminal do elemento e a potência que sai, com isso é
possível analisar as perdas de cada elemento individualmente.
Ressalta-se que considerou que as GD e cargas sempre estão despachando e
demandando seus valores máximos de potência (modo Snap), respectivamente.
Nos geradores fotovoltaicos modelados por meio do elemento PVSystem a potência
injetada está diretamente relacionada à irradiação e temperatura preestabelecidas e as cargas
obedecem a curva de consumo diária conforme descrito no Capítulo 7. Para tais simulações,
espera-se analisar o impacto do comportamento temporal dos geradores fotovoltaicos ao longo
do dia. Deste modo, empregou-se na simulação o modo Daily.
Desta maneira, as simulações que fundamentam esta seção apresentarão os fluxos de
potência do sistema, possibilitando verificar as alterações das potências circulantes e seus
sentidos decorrentes do aumento da penetração da geração distribuída. Concomitantemente,
avaliam-se as reduções das perdas nos condutores, visto que a inserção dos geradores será
realizada próxima às cargas, diminuindo consequentemente a corrente demandada da
concessionária de transmissão que circulará pelo sistema de distribuição de energia elétrica.
Deve-se enfatizar que com uma penetração considerável de geração distribuída há a
necessidade de reavaliar os níveis de corrente em cada ramo e tronco do alimentador, e
obviamente as bitolas dos cabos da rede, isto se deve ao fato que pode ocorrer uma notória
diminuição de corrente advinda da fonte (início do alimentador), onde se tinha condutores de
maiores bitolas antes da inserção da GD, e um acréscimo nos valores das correntes circulantes
nos trechos próximos ao local onde foi alocada a GD, onde antes podem ser compostos por
condutores de bitolas menores, visto que havia menos corrente circulante (principalmente em
fim de trecho). Consequentemente, podendo ocasionar aumentos significativos nas perdas
elétricas. Neste sentido, deve-se avaliar possibilidades/necessidades de troca de condutores.
Portanto, os resultados relativos ao fluxo de potência e às perdas no sistema de
distribuição considerando os cenários previamente especificados são apresentados nos
próximos tópicos, assim como será apresentada a perda elétrica no trecho de linha de
distribuição que conecta a barra 1042 à barra 1043, na qual está alocada um gerador
fotovoltaico.
62

8.2.1 Cenário Base – Sem Geração Distribuída

Nesta seção serão apresentados os fluxos de potência e perdas no sistema de distribuição


de energia elétrica teste, sem a inserção da geração distribuída, operando no modo snap.
O arquivo texto, no que tange o fluxo de potência, gerado pelo OpenDSS, estabelece
sinal positivo para as potências que entram nos terminais das linhas e elementos do alimentador,
e sinal negativo para as potências que saem. Nesta perspectiva, na Tabela 15 estão dispostas as
potências, ativa e reativa, relacionadas à subestação, i.e., elemento VSource.

Tabela 15 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador sem GD.


Fluxo de Potência
BARRA Potência Ativa (kW) Potência Reativa (kVAr)
SE 1000 -13517,30 -6457,70
Fonte: Elaborada pelo autor.

Uma ferramenta presente no software OpenDSS, que possibilita uma fácil visualização
e interpretação gráfica do fluxo de potência no sistema, corresponde à função Plot. Esta função
apresenta a proporção de potência que circula no alimentador por meio das espessuras das linhas
do diagrama da rede. Neste sentido, o fluxo de potência no sistema de distribuição sem inclusão
da geração distribuída é mostrado na Figura 12.

Figura 12 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência sem GD.

Fonte: Elaborada pelo autor.


63

Em relação às perdas elétricas, neste cenário base, no qual não se tem penetração de
GD, estão dispostas na Tabela 16.

Tabela 16 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador sem GD.


Perdas nos Cabos Perdas Totais Percentual Total de
Perdas nos Transformadores (kW)
(kW) (kW) Perdas (%)
558,3 145,7 704,1 5,49

Fonte: Elaborada pelo autor.

No que tange as perdas elétricas no trecho de linha que conecta a barra 1042 à barra
1043, neste cenário base, no qual não se tem penetração de GD, foi de 0,22 kW.
Analisando este cenário base, no qual o sistema de distribuição não possui geração
distribuída, observa-se que toda a potência que alimenta as cargas é advinda da subestação,
elemento VSource. Consequentemente, nota-se a concentração de fluxo de potência no início
do alimentador, i.e., próximo à subestação, conforme facilmente verificado avaliando a Figura
11. Assim, com a circulação de correntes de altos valores por grandes trechos do alimentador
tem-se maiores perdas elétricas nos elementos do sistema.

8.2.2 Cenário – Penetração 40% de Geração Distribuída

Neste cenário avaliar-se-á o impacto da penetração de 40% de geração distribuída no


que tange o fluxo de potência, ativa e reativa, e as perdas no sistema de distribuição de energia
elétrica. Salienta-se que a inserção da geração distribuída impacta não somente na redução da
corrente e fluxo de potência advinda da subestação, mas também pode ocasionar inversão do
fluxo de potência em trechos do sistema. Dentro deste contexto, apresenta-se na Tabela 17 o
fluxo de potência na subestação e relativos aos geradores fotovoltaicos.

Tabela 17 ‒ Fluxo de Potência na Subestação e nos Geradores Fotovoltaicos com 40% de Penetração.
64

Fluxo de Potência
BARRA Potência Ativa (kW) Potência Reativa (kVAr)
SE 1000 -8331,20 -6288,70
GFV1 1093 -1072,00 0,00
GFV2 1023 -1072,00 0,00
GFV3 1024 -1072,00 0,00
GFV4 1043 -1072,00 0,00
GFV5 1053 -1072,00 0,00
Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura 13 está disposto o fluxo de potência no sistema de distribuição de energia


elétrica, considerando 40% de penetração de geração distribuída.
Figura 13 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência no Sistema de Distribuição com Penetração de 40% de
GD.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Quanto às perdas elétricas, neste cenário atual, no qual se tem a penetração de 40% de
GD, estão descritas na Tabela 18.

Tabela 18 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 40% de GD.

Perdas nos Cabos Perdas Totais Percentual Total de


Perdas nos Transformadores (kW)
(kW) (kW) Perdas (%)
231 129,7 360,7 2,71

Fonte: Elaborada pelo autor.

No que tange as perdas elétricas no trecho de linha que conecta a barra 1042 à barra
1043, neste cenário, no qual se tem penetração de 40% de GD, foi de 5,28 kW, i.e., aumento
das perdas elétricas em relação ao cenário base de 24 vezes.
65

Avaliando este cenário, com 40% de GD, observa-se que o fluxo de potência não é mais
totalmente provido por meio da subestação, ou seja, os geradores fotovoltaicos presentes nos
finais das linhas, próximos às cargas, atuam injetando potência, conforme disposto na Tabela
17, e consequentemente reduzindo a corrente advinda da subestação que circulava por todo o
alimentador, ocasionando redução de perdas. Comparando os resultados mostrados nas Tabelas
16 e 18 corrobora com o relatado anteriormente, i.e., redução de perdas de 5,49% para 2,71%.

8.2.3 Cenário – Penetração 50% de Geração Distribuída

O impacto da inserção de 50% de geração distribuída no que tange o fluxo de potência


no sistema de distribuição será analisado nesta seção. Assim, na Tabela 19 dispõe-se os valores
relativos ao fluxo de potência relativos à subestação e aos geradores fotovoltaicos.

Tabela 19 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador com 50% de Penetração de GD.


Fluxo de Potência
BARRA Potência Ativa (kW) Potência Reativa (kVAr)
1000 -7031,10 -6285,00
1093 -1340,00 0,00
1023 -1340,00 0,00
1024 -1340,00 0,00
1043 -1340,00 0,00
1053 -1340,00 0,00
Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura 14 apresenta-se o fluxo de potência no sistema de distribuição de energia


elétrica, considerando 50% de penetração de geração distribuída.
66

Figura 14 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência com Penetração de 50% de GD.

Fonte: Elaborada pelo autor.

As perdas elétricas, considerando este cenário com penetração de 50% de GD, estão
descritas na Tabela 20.

Tabela 20 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 50% de GD.


Perdas nos Cabos Perdas Totais Percentual Total de
Perdas nos Transformadores (kW)
(kW) (kW) Perdas (%)
202 129,1 331,1 2,47

Fonte: Elaborada pelo autor.

No que tange as perdas elétricas no trecho de linha que conecta a barra 1042 à barra
1043, considerando esse cenário com penetração de 50% de GD, foi de 8,72 kW, i.e., aumento
das perdas elétricas em relação ao cenário base de 39 vezes.
Analisando e comparando as Tabelas 18 e 20, observa-se que com um acréscimo de
10% de penetração da GD houve redução de perdas de 2,71% para 2,47%, ou seja, mais carga
sendo alimentadas pelas fontes próximas (descentralizadas), que ocasionam reduções de
correntes nos ramos e consequente redução de perdas.
67

8.2.4 Cenário – Penetração de 60% de Geração Distribuída

Por fim, será analisada a inserção de 60% de geração distribuída no que tange o fluxo
de potência e as perdas no sistema de distribuição teste. Realizando-se as devidas simulações
no software OpenDSS, obtiveram-se os resultados relativos ao fluxo de potência na subestação
e nos geradores fotovoltaicos apresentados na Tabela 21.

Tabela 21 ‒ Fluxo de Potência no Alimentador com 60% de Penetração de GD.


Fluxo de Potência
BARRA Potência Ativa (kW) Potência Reativa (kVAr)
SE 1000 -5733,10 -6287,20
GFV1 1093 -1600,00 0,00
GFV2 1023 -1600,00 0,00
GFV3 1024 -1600,00 0,00
GFV4 1043 -1600,00 0,00
GFV5 1053 -1600,00 0,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Figura 15 encontra-se o fluxo de potência no sistema de distribuição de energia


elétrica, considerando 60% de penetração de geração distribuída.

Figura 15 ‒ Ilustração do Fluxo de Potência com Penetração de 60% de GD.

Fonte: Elaborada pelo autor.


68

As perdas elétricas, considerando este cenário com inclusão de 60% de GD, estão
descritas na Tabela 22.

Tabela 22 ‒ Perdas Elétricas no Alimentador com Penetração de 60% de GD.

Perdas nos Cabos Perdas Totais Percentual Total de


Perdas nos Transformadores (kW)
(kW) (kW) Perdas (%)

193,2 131,2 324,4 2,42

Fonte: Elaborada pelo autor.

No que tange as perdas elétricas no trecho de linha que conecta a barra 1042 à barra
1043, considerando esse cenário com penetração de 60% de GD, foi de 12,83 kW, i.e., aumento
das perdas elétricas em relação ao cenário base de 58 vezes.
Observa-se que neste cenário houve uma pequena redução das perdas elétricas quando
comparado ao cenário com 50% de geração distribuída, porém pode-se inferir que novos
acréscimos na geração distribuída poderão ocasionar aumento de perdas, tendo em vista que
poderá haver circulação de maiores correntes por cabos de bitolas inferiores (fim de trecho)
visando o suprimento de cargas presentes no início do alimentador, ou seja, a ideia básica da
geração distribuída, a priori, é o suprimento das cargas situadas próximas à esta geração. Uma
inversão considerável do fluxo de potência ocasionará possivelmente problemas de sobretensão
no sistema e extrapolará o limite de capacidade de condução de corrente dos condutores
presentes no fim de linha, onde estão alocados os geradores fotovoltaicos. Dentro deste
contexto, realizou-se uma breve simulação para averiguação apenas das perdas considerando a
inserção de 70% de geração distribuída, os resultados comprovam o que foi inferido acima, i.e.,
as perdas nos cabos foram de 206 kW, nos transformadores de 132,4 kW, perdas totais de 338,5
kW, e percentual total de perdas de 2,52%, ou seja, comprovando que um aumento
indiscriminado de inserção de geração distribuída ocasiona uma inversão no sentido da curva
de perdas (aumento das perdas).

8.2.5 Comparação Entre os 4 Cenários

Por fim, analisando e comparando os 4 cenários, observa-se claramente que com o


aumento da geração distribuída há uma redução do fluxo de potência e corrente demandada da
69

subestação, ocasionando redução das perdas elétricas do sistema. Deve-se enfatizar que a
depender do nível de penetração da geração distribuída, pode alterar substancialmente o fluxo
de potência e as correntes circulantes pelos ramais da rede, devendo ser realizado novos estudos
e verificações no que tange a capacidade limite de condução dos condutores presentes em cada
ramal, uma reavaliação da coordenação e seletividade do sistema e as perdas elétricas podem
aumentar.
Em uma análise micro, considerando o sistema sem GD e com penetrações de 40%,
50% e 60%, obteve-se uma redução na potência ativa proveniente da subestação de 38%, 48%
e 58%, respectivamente.
As perdas elétricas no sistema considerando os cenários supracitados são apresentadas
na Tabela 23.

Tabela 23 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Considerando os 4 Cenários.


Perdas nos Cabos Perdas nos Perdas Totais Percentual Total de
SEM GD (kW) Transformadores (kW) (kW) Perdas (%)
558,3 145,7 704,1 5,49

Perdas nos Cabos Perdas nos Perdas Totais Percentual Total de


40% (kW) Transformadores (kW) (kW) Perdas (%)

231 129,7 360,7 2,71

Perdas nos Cabos Perdas nos Perdas Totais Percentual Total de


50% (kW) Transformadores (kW) (kW) Perdas (%)
202 129,1 331,1 2,47

Perdas nos Cabos Perdas nos Perdas Totais Percentual Total de


60% (kW) Transformadores (kW) (kW) Perdas (%)

193,2 131,2 324,4 2,42

Fonte: Elaborada pelo autor.

No Gráfico 14 encontra-se a comparação gráfica das perdas elétricas para os diferentes


níveis de penetração de GD.
70

Gráfico 14 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Considerando os 4


Cenários.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Analisando o gráfico acima observa-se uma redução considerável das perdas elétricas
no sistema com a inserção da geração distribuída, mais especificamente, houve redução 49%,
53% e 54% das perdas considerando os cenários de inclusão da GD, 40%, 50% e 60%, em
relação ao sistema sem GD, respectivamente. É importante observar o comportamento da curva
de perdas, destacada em vermelho, há uma redução considerável de perdas com o início da
inclusão da geração distribuída, e há uma tendência de inversão do sentido da curva quando se
observa o seu comportamento considerando a inclusão de 50% e 60% de geração distribuída.
Assim, realizou-se a simulação do sistema com a presença de 70% de geração distribuída, com
intuito de verificar o quantitativo de perdas com este acréscimo de 10% de geração distribuída
e o comportamento da curva de perdas no que tange o índice de penetração de GD, o qual pode
ser constatado no Gráfico 15.
Gráfico 15 ‒ Comparação das Perdas Elétricas no Sistema de Distribuição Incluindo um Novo Cenário
com Penetração de 70% de Geração Distribuída.

Fonte: Elaborado pelo autor.


71

Analisando o gráfico acima, constata-se a inversão no sentido da curva de perdas do


cenário de 60% de penetração de GD para o cenário de 70% de geração distribuída, i.e.,
ocorrendo aumento de perdas com o aumento da inserção da geração distribuída.

8.2.6 Análise do Fluxo de Potência com Variação Temporal

A análise sobre a ótica do comportamento temporal segue os mesmos padrões das


avaliações das simulações anteriores, a diferença é que os geradores fotovoltaicos (GFV) foram
distribuídos igualmente em todas as barras que apresentam cargas alocadas, e terão uma
penetração de 70% de geração distribuída em relação à carga total instalada. Na Figura 16
observa-se o mesmo alimentador estudado anteriormente e as posições dos geradores
fotovoltaicos.

Figura 16 ‒ Presença dos Geradores Fotovoltaicos no Sistema de Distribuição para Análise do Fluxo
se Potência com Variação Temporal.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Dentro desta perspectiva, o objetivo desta análise consiste em apresentar o


comportamento e impacto no fluxo de potência quando se tem variação temporal no circuito,
visto que nas simulações anteriores foram considerados valores fixos de carga e geração. Por
72

conseguinte, analisar-se-á o fluxo de potência advindo da subestação e gerado pelos sistemas


distribuídos no decorrer de um dia de operação.
Primeiramente, dar-se-á enfoque no que tange a barra 1053, que possui 370 kW de carga
instalada, a escolha dessa barra é simplesmente devido a sua potência instalada, visto que se
busca analisar os efeitos quando se tem unidades geradoras com potências maiores que suas
cargas instaladas. As simulações terão o intuito de demonstrar o fluxo de potência negativo, ou
seja, fornecimento de potência ativa para a rede de distribuição elétrica que ocorre quando a
geração supera o consumo da carga.
Realizando a simulação do gerador fotovoltaico sem a influência das cargas, obteve-se
o Gráfico 16 que mostra a quantidade de potência injetada pelo gerador. i.e., a curva da potência
de apenas um gerador fotovoltaico em questão.

Gráfico 16 ‒ Curva de Potência do Gerador Fotovoltaico.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se que às 13h, 14h e 15h cada gerador fotovoltaico fornece, respectivamente,
346,5 kW, 346,5 kW e 351,3 kW. Todavia, vale ressaltar que no sistema de distribuição há 22
geradores fotovoltaicos idênticos, assim apresenta-se na Tabela 24 os valores totais de potência
ativa injetada na rede nos horários supracitados.
73

Tabela 24 ‒ Potências Fornecidas pelos Geradores Fotovoltaicos.


Potência Fornecida
Horário
pelo GFV (kW)
13 h 7.623
14 h 7.623
15 h 7.728,6
Fonte: Elaborada pelo autor.

Consequentemente, avalia-se o fluxo de potência consumido do alimentador sem a


operação dos geradores fotovoltaicos distribuídos, observa-se claramente que a curva de
potência fornecida pela subestação tem oscilações ao longo das 24 horas e sua curva segue o
mesmo padrão da curva de consumo normalizada expressa na Tabela 4 (com início às 0h),
presente no tópico 7.1, e esses resultados estão ilustrados na Gráfico 17 (com início às 1h).

Gráfico 17 ‒ Consumo de Potência sem GFV Operando no Modo Daily.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Analisando o gráfico acima observa-se que o horário com o maior pico de fornecimento
de energia é às 16h, de modo que cada fase fornece para o circuito uma potência de 4,5 MW,
totalizando uma potência total nesse período de 13,5 MW. Ressalta-se que o gráfico apresenta
os valores das potências fornecidas por fase, e por se tratar de um sistema trifásico composto
por linhas e cargas equilibradas faz com que as curvas das outras fases fiquem sobrepostas.
Em seguida, foram inseridos os geradores fotovoltaicos de maneira distribuída, a fim,
de demostrar os efeitos dessa implantação. Dentro dessa perspectiva, percebe-se uma notória
74

alteração no horário de pico de consumo advindo da concessionária de distribuição, haja vista


a operação da geração distribuída, conforme exposto no Gráfico 18.

Gráfico 18 ‒ Consumo de Potência com GFV Operando no Modo Daily.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Realizando uma análise micro desse cenário observa-se a completa mudança na


característica do fluxo de potência advindo da concessionária após a operação dos geradores
fotovoltaicos. O primeiro aspecto a destacar é a mudança do horário do pico de consumo
demandado da subestação, alterando-se das 16h para 19h. Ainda, em função da implementação
dos geradores, percebe-se a mudança da magnitude de potência solicitada à concessionária,
onde o cenário sem GFV obteve um pico de 13,5 MW e o cenário com GFV atingiu um pico
de 10,5 MW, sendo 3,5 MW em cada fase. Assim, ressalta-se que a inserção de GFV além de
corroborar com a diminuição do fluxo de potência, também alterou a característica do consumo
do alimentador advindo da subestação, visto que o pico de consumo foi deslocado para outro
horário.
O horário de pico das 16h, antes da inclusão da GFV, apresentou um consumo na casa
dos 13,5 MW, já nesse mesmo horário com GFV o consumo foi de 6,12 MW, uma redução
significativa de 54% na potência consumida, propiciando alívio aos sistemas elétricos de
potência como um todo.
Para uma melhor visualização, no Gráfico 19 apresenta-se a sobreposição dos gráficos
de consumo advindo da concessionária, sem GFV e com GFV (gerando a “curva do pato”), que
permite verificar facilmente os impactos no fluxo de potência principalmente no horário de
maior irradiação solar.
75

Gráfico 19 ‒ Fluxo de Potência Consumida pelo Alimentador.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Neste momento será realizada a análise da barra 1053, por meio da qual pode-se
observar a potência que a carga está solicitando da rede ao longo do dia e comparar o
comportamento do fluxo de potência depois da inserção do GFV conectado à barra. Nesta
perspectiva, observa-se a mudança do fluxo de potência quando se tem uma alta geração de
energia ocasionada pela alta irradiação solar versus um consumo menor do que a potência
injetada pelo gerador.
No Gráfico 20 ilustra-se a característica inicial da potência consumida pela carga
alocada na barra 1053, sem a interação do gerador fotovoltaico.

Gráfico 20 ‒ Consumo de Potência sem GFV na Barra 1053.

Fonte: Elaborado pelo autor.


76

Analisando o gráfico acima, observa-se as características do fluxo de potência por fase


consumida por essa carga, no horário de pico, às 16h, o consumo de potência é de 370 kW.
Como o gerador fotovoltaico instalado na barra 1053 tem uma potência instalada de 432 kWp,
pode-se afirmar que o fluxo de potência irá alterar o formato da curva e mudar o sentido do
fluxo de energia após a implantação do gerador na barra supracitada. Em razão disso, apresenta-
se o resultado desta nova análise no Gráfico 21.

Gráfico 21 ‒ Consumo de Potência com GFV na Barra 1053.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se nesse cenário uma grande mudança no fluxo de potência demandado à


subestação pela barra 1053. O primeiro aspecto a destacar é a redução significativa do pico de
potência solicitada à concessionária, antes da implantação do GFV a carga instalada na barra
1053 consumiu uma potência de pico de aproximadamente 370 kW às 16 h e após a implantação
do GFV a carga demandou à subestação um pico de potência de 275 kW às 20 h, provendo uma
redução de 25%. Nota-se também que no cenário sem o GFV já havia demanda de 120 kW a
partir das 7 h e com o GFV a barra passa a necessitar da concessionária potência maiores do
que 120 kW somente após às 17 h.
Ainda avaliando o gráfico de consumo de potência com o GFV, percebe-se a inversão
do fluxo de potência entre as 12h e 15h, decorrente de se ter geração maior que consumo na
própria barra, ocasionando inversão do fluxo de potência, i.e., o gerador fotovoltaico passa a
fornecer potência ativa para a rede de distribuição, salientando para a importância de se ter
77

maior geração do sistema fotovoltaico coincidente com os horários de pico de consumo no


alimentador, o que propicia alívio na rede e maior garantia de confiabilidade e disponibilidade
do sistema.
Por fim, para elucidar os impactos do fluxo de potência no que tange a barra 1053,
apresenta-se no Gráfico 22 a sobreposição dos gráficos de consumo de potência advinda da
concessionária, sem e com GFV, possibilitando verificar facilmente os impactos no fluxo de
potência, principalmente no horário de maior irradiação solar.

Gráfico 22 ‒ Fluxo de Potência na Barra 1053.

Fonte: Elaborado pelo autor.


78

9 CONCLUSÃO

Neste trabalho realizou-se a análise da influência da inserção da geração distribuída


fotovoltaica em sistemas de distribuição de energia elétrica no que tange o perfil de tensão, o
fluxo de potência e as perdas elétricas da rede. Mais especificamente, os impactos da inclusão
da GD foram avaliados considerando a penetração de 40%, 50% e 60% de GD, assim como o
comportamento do fluxo de potência com variação temporal considerando a inclusão de
geradores fotovoltaicos distribuídos em todas as barras que apresentam cargas alocadas, com
penetração de 70% de geração distribuída em relação à carga total instalada.
As simulações do sistema com a presença da geração distribuída demonstraram que tal
inclusão propiciou melhoria no perfil de tensão do sistema, tendo em vista que há uma redução
da corrente demandada da subestação e uma consequente redução de quedas de tensões nos
condutores da rede. Pôde-se observar que níveis de tensão de barras do sistema teste sem a
presença de GD estavam fora do padrão adequado estabelecido pela ANEEL e com a inclusão
da GD todas as barras do sistema passaram a operar dentro do nível estabelecido como
adequado pela agência reguladora. Assim, infere-se que a geração de energia próxima às cargas
contribui para uma operação adequada da rede no que se refere aos níveis de tensão.
Outros aspectos analisados foram o fluxo de potência e as perdas elétrica, neste estudo
de caso a geração distribuída proveu redução do fluxo de potência pelos trechos do alimentador
e uma consequente redução de perdas elétricas.
Deve-se frisar que o aumento indiscriminado da geração distribuída pode ocasionar
sobretensões, aumento das perdas elétricas e sobrecarga em condutores, em geral, localizados
em fim de linha, onde houve instalação da geração distribuída, esses impactos decorrem
basicamente da inversão do sentido do fluxo de potência e da maior circulação de corrente em
condutores de bitolas inferiores. Dentro desta perspectiva, deve-se sempre ocorrer estudos da
influência da geração distribuída nos sistemas elétricos de potência, objetivando adequação da
coordenação e seletividade do sistema de proteção, troca de condutores, reavaliações de
instalações de banco de capacitores (local e potência) e de reguladores de tensão, entre outros.
Por fim, a inserção da geração distribuída oriunda de fontes renováveis em sistemas de
distribuição de energia elétrica corresponde à realidade brasileira e o caminho a ser seguido,
visto que a diversificação da matriz energética e o uso de novas tecnologias, i.e., smart grids,
proverá maior confiabilidade de fornecimento de energia elétrica aos consumidores, segurança
energética e contribuirá para o desenvolvimento socioeconômico do país.
79

9.1 Pesquisas Futuras

Como sugestões para pesquisas futuras baseado na análise dos impactos da inserção da
geração distribuída nas redes de distribuição, tem-se:

• Estudo baseado em um alimentador real, com cargas e geradores reais;


• Estudo coordenação e seletividade do sistema de proteção da rede com inserção
de fontes de geração distribuída;
• Estudo de implantação de micro redes ou redes inteligentes para a operação de
redes de distribuição com a participação de geração distribuída;
• Estudo considerando outros tipos de fontes geradoras com diferentes curvas de
geração, bem como cargas com diferentes tipos de curvas de consumo;
• Estudo das correntes de curto-circuito em alimentadores com sistemas de
geração distribuída;
• Estudo para analisar o limite de penetração de geração distribuída no
alimentador sem prejudicar seu funcionamento.
80

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84

ANEXO A – Coordenadas das Barras

Tabela 25 ‒ Coordenadas das Barras do Alimentador

Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.


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ANEXO B – Alimentador

Figura 17 ‒ Ilustração do Alimentador.

Fonte: SILVA JUNIOR (2010) – Adaptada pelo autor.

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