Tradução - Jung, C. G. Homem Moderno em Busca de Uma Alma
Tradução - Jung, C. G. Homem Moderno em Busca de Uma Alma
Tradução - Jung, C. G. Homem Moderno em Busca de Uma Alma
Mas as pessoas esquecem-se que até analistas possuem escrúpulos morais, e que as confissões
de certos pacientes são difíceis de engolir até para aqueles. Contudo o paciente não se sentirá
aceito até que o que de mais ignóbil que houver nele for também aceito. Ninguém pode
realizar tal feito através de meras palavras; isso se dá somente por meio da sinceridade do
analista e da sua atitude para consigo mesmo e para com seu próprio lado maligno. Se o
analista pretende oferecer orientação a outrem, ou mesmo acompanha-lo uma parte do
caminho, ele precisa está em contato com este outro lado da vida psíquica dessa pessoa. E ele
nunca estará em contato se ele a julgar; quer o médico expresse esse julgamento ou o mantém
para si mesmo não faz a mínima diferença.
Tomar a posição oposta, de concordar com o paciente prontamente, também não tem
utilidade alguma e os estranha- analista e paciente- tanto quanto a condenação. Só podemos
conectar-nos com outra pessoa por meio de uma postura de objetividade sem preconceitos.
Isto pode soar como um preceito científico, e pode ser confundido com uma atitude mental
puramente intelectual e desprendida. Mas o que eu quero comunicar é algo bem diferente: É
uma qualidade humana- um tipo de profundo respeito pelos fatos e eventos e pela pessoa que
sofre por causa deles- um respeito pelo mistério de tal vida humana. A pessoa
verdadeiramente religiosa possui essa atitude; ela sabe que Deus faz toda sorte de coisas
estranhas e inconcebíveis acontecerem e busca das maneiras mais curiosas adentrar no
coração do homem. Assim sendo, ela sente em tudo a presença invisível da vontade divina. É
isto a que me refiro com “objetividade sem preconceitos”; é uma conquista moral por parte do
analista, o qual não deve deixar-se repelir pela doença e corrupção.
Não podemos mudar coisa alguma se não a aceitarmos primeiro. A condenação não
liberta, mas oprime. Eu sou o opressor daquele que condeno, não seu amigo e companheiro
em sofrimento. Não quero, de maneira alguma, dizer que nós nunca devemos fazer
julgamentos nos casos de pessoas as quais desejamos auxiliar e melhorar, porém se o analista
intenta ajudar um ser humano ele precisa ser capaz de aceitar este como ele é. E o médico é
capaz de fazer isso de verdade somente quando ele já observou-se e aceitou-se a si próprio da
maneira que é.
Talvez isso pareça simples demais. Mas as coisas simples são sempre as mais difíceis.
Na vida real é necessário a disciplina maior para ser simples, e a aceitação de si é a essência
do problema moral e a epítome de uma visão completa da vida. Que eu dê de comer aos que
têm fome, que eu perdoe uma ofensa, que eu ame meu inimigo em nome de Cristo- todas
essas são indubitavelmente grandes virtudes. Aquilo que faço ao mais pequenino de meus
irmãos, a Cristo o faço. Mas e se eu houver de descobrir que o mais diminuto dentre eles
todos, o mais miserável de todos os mendigos, o mais imprudente de todos os caluniadores, o
pior dos inimigos, que todos esses estão em mim, e que eu mesmo estou em necessidade da
ação de minha própria benevolência- que eu mesmo sou o inimigo que precisa ser amado- e
então? Via de regra, a atitude cristã é invertida; não há mais qualquer questão de amor ou
longanimidade; nós dizemos para o irmão em nós “Raca”, e condenamo-nos e enfurecemo-
nos contra nós mesmos. Nós o escondemos do mundo; recusamos admitir sequer ter
conhecido este mais ínfimo entre os pequenos dentro de nós. Se fosse o próprio Deus que se
aproximasse de nós nessa forma desprezível, nós haveríamos de negá-lo mil vezes antes que o
galo proferisse canto algum.
O homem que usa a psicologia moderna para olhar por detrás das cenas não somente
da vida de seus pacientes mas, mais especificamente, de sua própria- e o psicoterapeuta
moderno precisa fazer isso se ele não pretende ser meramente uma fraude inconsciente-
haverá de admitir que aceitar-se em toda sua miséria é a mais árdua das tarefas, e uma que é
quase impossível de concluir. Só de pensar em tal coisa pode deixar-nos lívidos de medo.
Nós, portanto, não hesitamos, mas despreocupadamente optamos pela intricada conduta de
permanecer em ignorância sobre nós mesmos enquanto nos ocupamos com outras pessoas,
seus problemas e pecados. Esta atividade nos concede um ar de virtude, e assim engana a nós
e àqueles ao nosso redor. Dessa forma, graças à Deus, conseguimos escapar de nós mesmos.
Existem incontáveis pessoas que conseguem lográ-lo com impunidade, mas não todo mundo,
e estes poucos desfalecem na estrada para Damasco e sucumbem a uma neurose. Como eu
posso ajudar essas pessoas se eu mesmo sou um fugitivo, e quem sabe também sofro do
morbus sacer de uma neurose? Somente aquele que aceitou plenamente a si mesmo possui
“objetividade sem preconceitos”.
We Protestants must sooner or later face this question Are we to understand the
"imitation of Christ" in the sense that we should copy his life and, if I may use the expression,
ape his stigmata; or in the deeper sense that we are to live our own proper lives as truly as he
lived his in all its implications? It is no easy matter to live a life that is modeled on Christ's,
but it is unspeakably harder to live one's own life as truly as Christ lived his. Anyone who did
this would run counter to the forces of the past, and though he might thus be fulfilling his
destiny, would none the less be misjudged, derided, tortured and crucified. He would be a
kind of mad Bolshevist who deserved the cross. We therefore prefer the historically
sanctioned imitation of Christ which is transfigured by holiness. I should never disturb a
monk in his practice of identifying himself with Christ, for he deserves our respect. But
neither I nor my patients are monks, and it is my duty as a physician to show my patients how
they can live their lives without becoming neurotic. Neurosis is an inner cleavage—the state
of being at war with oneself. Everything that accentuates this cleavage makes the patient
worse, and everything that mitigates it tends to heal the patient. What drives people to war
with themselves is the intuition or the knowledge that they consist of two persons in
opposition to one another. The conflict may be between the sensual and the spiritual man, or
between the ego and the shadow. It is what Faust means when he says "Two souls, alas, dwell
in my breast apart." A neurosis is a dissociation of personality.
Healing may be called a religious problem. In the sphere of social or national relations,
the state of suffering may be civil war, and this state is to be cured by the Christian virtue of
forgiveness for those who hate us. That which we try with the conviction of good Christians
to apply to external situations, we must also apply to the inner state in the treatment of
neurosis. This is why modern man has heard enough about guilt and sin. He is sorely enough
beset by his own bad conscience, and wants rather to learn how he is to reconcile himself with
his own nature—how he is to love the enemy in his own heart and call the wolf his brother.
The modern man, moreover, is not eager to know in what way he can imitate Christ,
but in what way he can live his own individual life, however meagre and uninteresting it may
be. It is because every form of imitation seems to him deadening and sterile that he rebels
against the force of tradition that would hold him to well-trodden ways. All such roads, for
him, lead in the wrong direction. He may not know it, but he behaves as if his own individual
life were instinct with the will of God which must at all costs be fulfilled. This is the source of
his egoism, which is one of the most tangible evils of the neurotic state. But the person who
tells him he is too egoistic has lost his confidence, and rightly so, for that person has driven
him still further into his neurosis.
When one has several times seen this development take place one can no longer deny
that what was evil has turned to good, and that what seemed good has kept alive the forces of
evil. The archdemon of egoism leads us along the royal road to that ingathering which
religious experience demands. What we observe here is a fundamental law of life—
enantiodromia—the reversal into the opposite; and this it is that makes possible the reunion of
the warring halves of the personality and thereby brings the civil war to an end.